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CAMPANHA NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE - Cartilha -

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  • CAMPANHA NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAO DA SADE

    - Cartilha -

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    2 DENEM - Campanha Nacional VS a Privatizao da Sade Cartilha - 2011

    Sumrio

    Introduo............................................................................................3

    A lgica de metas, o ensino e o servio..............................................3

    Contratao de trabalhadores via CLT................................................4

    Autonomia de gesto ou fim dos HUs.................................................4

    Ainda sobre a autonomia e a autonomia universitria.........................5

    HU 100% $U$......................................................................................6

    Mas e se mudarmos a pergunta........................................................7

    E o movimento estudantil..................................................................8

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    3 DENEM - Campanha Nacional VS a Privatizao da Sade Cartilha - 2011

    Introduo

    Esta cartilha se destina a compartilhar com os estudantes de medicina as discusses que vem sendo feitas nos fruns da DENEM a partir da Medida Provisria 520 (MP 520) e os impactos que visualizamos para o ensino principalmente.

    Alm do dficit no pagamento dos procedimentos a falta histrica de reposio de pessoal atravs de concursos leva os hospitais a utilizarem a maior parte de sua verba de custeio para a contratao de pessoal terceirizado. Durante algum tempo essa contratao se deu via fundaes de apoio ou cooperativas, sem garantia alguma de direitos aos trabalhadores e com baixssimas remuneraes.

    Em 2006, o Tribunal de Contas da Unio (TCU) declarou ilegal essa situao dos contratos, dando como prazo mximo ao governo Lula o final do ano de 2010 para sua resoluo. O governo no promoveu os concursos pblicos para os quais lhe foram dados 4 anos de prazo e, em 31 de dezembro de 2010 publicou a MP 520. Esta, alm de no resolver as graves questes de financiamento dos HUs, extrapola as transformaes para alm do seu pretexto inicial, que era regularizar a situao dos terceirizados. Ela envolve o estabelecimento de metas, a flexibilizao das relaes de trabalho e o menor investimento possvel, tudo isso potencializado pela profissionalizao da gesto.

    A lgica de metas, o ensino e o servio

    Funcionando na lgica da produtividade, com os trabalhadores submetidos ao cumprimento de metas, no difcil enxergar que os HUs passaro a assumir um carter muito mais de hospitais de servio, e o ensino - sua funo primordial e para a qual foram concebidos - ficar em segundo plano. Ou seja, a tendncia certamente no aumentar qualitativamente nossas possibilidades de experincia em servio dentro do HU. Muitos de ns, alm dos pacientes, j vivemos a desconfortvel desproporo entre o nmero de alunos e o de pacientes em funo da reduzida capacidade de sustentar um nmero

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    maior de leitos funcionantes pelos nossos HUs. A lgica de metas soma-se a isso negativamente, pois a pragmatizao de condutas e procedimentos reduz espao para o processo criativo tanto dos alunos quanto dos professores.

    Contratao de trabalhadores via CLT e o ensino

    A contratao de trabalhadores da sade para os HUs com a EBSERH se dar via Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT), que o regime de contrato das empresas privadas, e no mais pelo Regime Jurdico nico (RJU), sob o qual so regidos os funcionrios pblicos, e tambm poder se dar por contratos temporrios de 2 anos. Tal mudana acaba com a estabilidade, implementando a lgica de rotatividade tpica do setor privado no servio pblico, comprometendo a continuidade e qualidade do atendimento. Com a possibilidade de contratos temporrios h a quebra do vnculo do trabalhador com seu local de trabalho, caracterstica to importante quando pensamos nas especificidades do trabalho em sade.

    No podemos esquecer o protagonismo poltico que historicamente os trabalhadores da sade vm tendo na luta pela sade enquanto um direito. O movimento de reforma sanitria brasileira, que culminou com importantes conquistas como o captulo da sade da constituio e na lei orgnica 8080 que criaram o SUS, contou de forma decisiva com a mobilizao desses trabalhadores. E hoje eles ainda cumprem um papel importantssimo organizados em alguns sindicatos que, apesar do forte apelo do governo para a defesa da misria do possvel, vem se opondo ao processo de desresponsabilizao do Estado com as necessidades do povo (contra-reforma do Estado) que tem subtrado cada vez mais direitos da populao. extremamente ttico para a o aprofundamento da privatizao que esses trabalhadores tenham instabilidade no emprego e temam sua demisso, reduzindo na prtica sua liberdade de organizao e reivindicao.

    Autonomia de gesto ou fim dos HUs?

    A Portaria Interministerial no 1000 de 15 de abril de 2004, a

    primeira que abre caminho para a extino dos HUs conforme eles

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    existem hoje. Essa portaria passa a unificar hospitais universitrios (vinculados e geridos por universidades), hospitais escola (vinculados e geridos por escolas mdicas isoladas) e hospitais auxiliares de ensino (hospitais gerais que desenvolvem atividades de treinamento em servio, curso de graduao ou ps-graduao atravs de convnio com instituio do ensino superior) sob a mesma denominao: hospitais de ensino. Sua regulao e as requisies para sua certificao tambm passam a ser iguais. Na prtica isso rebaixou o estatuto dos hospitais universitrios, que na sua relao orgnica com as universidades reconhecidamente sempre garantiram melhores condies de formao com indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extenso.

    Esse processo, no entanto, no se trata de autonomia, palavra de conotao positiva sempre reivindicada pelo movimento organizado da comunidade universitria. Trata-se sim de uma extino dos hospitais universitrios, que passam a ser igualados a qualquer hospital que exera atividades de ensino, favorecendo o ensino privado e abrindo portas para o estabelecimento de fundaes na gesto.

    Ainda sobre autonomia, e a autonomia universitria?

    A EBSERH ir administrar todos os HUs do pas, passando ento a intermediar a relao dos hospitais escola com as universidades. Esses hospitais podero celebrar contratos com quaisquer instituies de ensino, no sendo garantido que as escolas cujos alunos estejam inseridos no hospital sejam as mesmas que desenvolvem pesquisa. Alis, os hospitais escola tambm podero celebrar contratos para apoio a pesquisa de instituies de ensino superior e outras instituies congneres, no s desobrigando o vnculo entre ensino-pesquisa-assistncia, como tambm claramente permitindo o investimento privado em pesquisa neles.

    Os HUs so hoje responsveis pela pesquisa de ponta no campo da sade no pas e perder a autonomia sobre o que e para quem pesquisar algo grave. O desenvolvimento e disponibilizao populao brasileira de transplantes de medula ssea, por exemplo, somente foi possvel nos ambientes acadmicos dos HUs. Sabemos que as demandas de pesquisas que visam ao lucro no possuem compromisso com os conhecimentos cujo produo a sade da populao demanda, muitas vezes sem potencial lucrativo. A Fundao Zerbini, criada para dar suporte ao Incor (parte do HC da USP, a Fundao Zerbini recentemente foi condenada ressarcir mais de R$ 50.000.000,00 para o SUS por servios irregulares no seu convnio), tem entre a sua lista de parceiros

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    apoiadores empresas como o Instituto Avon, o Grupo Alfa, a Fundao Ford e a Dixtal Biomdica. Fica ento a reflexo: com tais financiamentos, para quem e com qual finalidade o Incor, um hospital pblico, realiza suas pesquisas? Portanto, a desobrigao com o pblico e a abertura para o privado se afastam dos interesses da maioria da populao.

    HU 100% $U$

    Uma das maiores crticas MP 520 o fato de ela abrir brecha para que os HUs se tornem hospitais dupla porta (com o financiamento pblico dos leitos, mas o uso pelas instituies privadas, reduzindo os j escassos leitos para a populao carente). Apesar de em seu

    texto afirmar que a empresa prestaria servios gratuitos de assistncia, em nenhum momento se fala em exclusividade desses servios. Alm disso, como consta na exposio de motivos dos Ministros para justificar a MP, a mesma teria sido inspirada nos bons indicadores do Hospital de Clnicas de Porto Alegre (HCPA), que, mesmo tendo sido construdo com recursos

    pblicos, j reserva at 30% de seus servios aos planos privados de sade (dados de 2007). Muitos justificam essa prtica afirmando que os planos privados que garantem recurso financeiros para o Hospital, porm essa alegao falaciosa, j que no mesmo ano os planos contriburam com apenas 6,06% do oramento.

    O HCPA fere frontalmente os princpios norteadores do SUS, de universalidade e equidade, quando os pacientes beneficirios dos planos privados furam a fila de espera e recebem atendimento diferenciado (acomodaes, alimentao, acesso a visitas) em relao aos pacientes do SUS. No mesmo HCPA a prtica da dupla porta acaba afetando o ensino, j que os estudantes da UFRGS no possuem acesso aos andares e leitos dos pacientes privados, reduzindo ainda mais o cenrio de prtica das universidades e reproduzindo a velha prtica das escolas mdicas de aprender nos pobres para cuidar dos ricos

    A presena dos planos privados em hospital pblico no exclusividade do HCPA. Em dezembro passado foi aprovado em So

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    7 DENEM - Campanha Nacional VS a Privatizao da Sade Cartilha - 2011

    Paulo (ALESP Assemblia Legislativa de SP) um projeto de lei que reserva 25% dos leitos para pacientes com planos privados, nos hospitais pblicos de alta complexidade administrados por OSs no estado. Mais recentemente noticiou-se um aumento de 300% nos atendimentos privados no HC da Faculdade de Medicina da USP, que gerido por uma Fundao.

    O governo cria perguntas cuja lgica exige a sua resposta como a melhor resposta. Mas e se mudarmos a pergunta?

    Em relao ao financiamento as concluses de documento publicado pela OMS (Organizao Mundial da Sade) so de que os HUs so 12% mais caros do que hospitais no-universitrios de alta tecnologia, o que natural se alm de servios assistenciais eles tambm desenvolvem ensino e pesquisa. Segundo dados de 2001, os HUs realizaram 50% das cirurgias cardacas, 70% dos transplantes, 50% das neurocirurgias e 65% dos atendimentos na rea de malformaes craniofaciais.

    Para resolver essa questo Mdici aponta como a soluo para a OMS, primeiro uma maior integrao as redes locais de sade, alegando a possibilidade de um desperdcio de recursos no excesso de uso de tecnologia nesses hospitais. Mesmo sendo uma soluo proposta para economizar gastos com sade, a maior integrao, que poderia trazer benefcios inclusive para os pacientes, no foi o foco das transformaes em curso nos HUs. O que significa que algo precede os menores gastos, e isso que precede evidenciado pelo foco da EBSERH: a expanso cada vez maior dos tentculos da iniciativa privada sobre a coisa pblica, obviamente na medida em que lhe lucrativo. Por que ningum se props a comprar a estrutura fsica de um HU para ter um hospital em sua totalidade, por exemplo? Manter a estrutura de um hospital muito caro, ela fica rapidamente obsoleta e carece reformas. mais vantajoso que o Estado entre com a estrutura e a iniciativa privada se preocupe em apenas usufru-la: administrar, orquestrar indstrias farmacuticas e planos de sade, realizar compras sem licitao.

    Mesmo para a ANDIFES (Associao Nacional das Instituies Federais de Ensino Superior), que defende novos modelos de gesto, o problema do financiamento anterior. Nenhum modelo de gesto pode resolver automaticamente os problemas colocados para os HUs que tem na falta de recursos financeiros e humanos a natureza principal de seus impasses, ainda que possam existir eventualmente problemas na sua gesto.

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    8 DENEM - Campanha Nacional VS a Privatizao da Sade Cartilha - 2011

    A pergunta que o governo faz a si mesmo : como me

    desresponsabilizo pela sade? A resposta, para contemplar a iniciativa

    privada, passa por flexibilizao das relaes de trabalho, superao

    constante de metas, e o menor investimento possvel, tudo isso catalizado

    pela profissionalizao da gesto. Mas se nos sentirmos na autonomia de

    reformular a pergunta, se nos perguntarmos: como garantir que a

    populao tenha melhoras significativas nas suas condies de

    sade? Nossa resposta ir na contra-corrente do que vem sendo proposto

    para os HUs: aumento do financiamento pblico, trabalhadores em sade

    com bons salrios, plano de carreira e estabilidade, manuteno do vnculo

    entre ensino-pesquisa-assistncia, portanto, manuteno do vnculo com

    suas respectivas universidades e ruptura do vnculo com a iniciativa

    privada. Posicionar-se contrariamente a EBSERH e outros modelos de

    gesto privatizantes parte importante da resistncia contra essa lgica de

    sociedade que transforma tudo em mercadoria.

    E o movimento estudantil

    O movimento estudantil tm tido

    vrias iniciativas de luta contra a

    privatizao da sade, nos ltimos, ECEM

    (Encontro Cientfico dos Estudantes de

    Medicina), 2010 e 2011, a DENEM

    organizou atos contra a privatizao da

    sade, alm de diversas importantes

    discusses que ocorreram e que esto por

    vir nos encontros da executiva. Centros

    acadmicos tem feito debates,

    e movimentaes em suas

    universidades, como o Leilo

    do HU pelo CALIMED da

    Universidade Federal de

    Santa Catrina e o Maro do

    HU realizado pelo CA XXII de

    maio da Universidade Federal

    do Cear.

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    9 DENEM - Campanha Nacional VS a Privatizao da Sade Cartilha - 2011

    Outras executivas de curso tambm tm travado embates contra

    essas medidas assim como entidades como a FASUBRA (Federao dos

    Sindicatos dos trabalhadores das Universidades Brasileiras) dentre outras.

    Durante o ECEM Uberlndia 2011, discutiremos novamente essa

    pauta, em busca de mais mobilizaes junto s executivas da sade,

    Frente Nacional VS a privatizao, e aos movimentos sociais para

    impedir que a privatizao da sade ocorra!!!

    EXECUO:

    Ingrid Antunes Coordenadora de Polticas de Sade 2011

    Hugo Crasso Coordenador Geral 2011