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Fernanda Aparecida Ferreira .DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: O USO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO RECURSO METODOLÓGICO EM UM CURSO DE LICENCIATURA DE MATEMÁTICA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Belo Horizonte 2008

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Page 1: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

Fernanda Aparecida Ferreira

.DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: O USO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO RECURSO METODOLÓGICO EM

UM CURSO DE LICENCIATURA DE MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ensino de Matemática

da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Ensino

de Ciências e Matemática.

Belo Horizonte2008

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À

Você, que hoje mora além do

horizonte, em um lugar tranqüilo

e bonito, dedico minha

dissertação. Espero que esteja

orgulhoso pai.

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AGRADECIMENTOS

A minha querida mãe (Fátima) e irmã (Flávia), por serem fonte de inspiração e

compreenderem minha ausência durante a realização da Pesquisa.

Ao meu cúmplice de vida Ériks Vargas, pelas palavras de incentivo nos

momentos certos e carinho incondicional.

Ao grande mestre, Dr. Dimas Felipe de Miranda, que iluminou minhas idéias

com suas preciosas considerações e conhecimentos. Agradeço sua confiança

no meu trabalho.

Ao corpo docente do Mestrado por contribuir com meu aprofundamento teórico.

Aos amigos do Mestrado, pelos momentos compartilhados e força nas horas

difíceis.

Ao amigo Dr. João Bosco Laudares por ser o impulsionador da minha

caminhada em direção a produções acadêmicas.

A todos os funcionários do Programa de Pós-Graduação em ensino de

Ciências e Matemática da PUC/MG pelo suporte. Em especial a prestativa

Ângela Augusta, secretária e amiga.

A direção da Fundação Helena Antipoff por permitir que a pesquisa fosse

realizada nas suas dependências.

Aos alunos do 4º período do curso de Licenciatura em Matemática sem os

quais este trabalho não teria acontecido.

A ajuda dos familiares e amigos.

E por fim, agradeço a Deus pelo consolo, conforto e abertura de novas portas

no meu caminho. A ELE meu maior agradecimento.

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“A arte de raciocinar consiste em

agarrar o assunto na ponta certa,

apoderar-se das poucas idéias gerais

que iluminam o todo e arregimentar

persistentemente todos os fatos

subsidiários ao redor... Creio que para

esta espécie de treinamento a

Geometria seja melhor que a Álgebra”.

Whitehead

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RESUMO

A experiência profissional e pesquisas realizadas em educação matemática

constatam as dificuldades que alunos de licenciatura em matemática sentem

ao se depararem com problemas geométricos que envolvem demonstrações.

Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da

demonstração em geometria euclidiana, focando aspectos de ordem teórica e

pedagógica, de forma que esta auxilie na compreensão do que é uma

demonstração e sua importância na teorização da matemática. O intuito do

trabalho é apresentar uma estratégia metodológica que contribua para suavizar

as dificuldades constatadas. Para tal, foi elaborada, aplicada e analisada uma

seqüência didática em um curso de formação de professores de matemática,

na qual a demonstração se caracterizou mais como uma hierarquização de

processos do que como uma hierarquização de conteúdos, elucidando sua

engenharia com o uso de “técnicas de demonstração”. O aporte teórico baseia-

se nas idéias de Raymond Duval sobre o conhecimento geométrico e a

importância dos registros de representação semiótica para a aquisição e a

compreensão do mesmo. Conhecimentos acerca da demonstração

matemática, seu ensino, suas particularidades e características também foram

abordadas, norteando e direcionando o desenvolvimento da seqüência

didática.

Palavras-chave: demonstração, geometria, técnicas de demonstração, registros

de representação, atividades geométricas, formação de professores.

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ABSTRACT

The professional experience and research carried through in mathematical

education evidence the difficulties that students of licenciatura in mathematics

feel to if coming across with geometric problems that involve demonstrations.

This research has as work proposal to make a boarding concerning the

demonstration in Euclidean geometry, focusing aspects of theoretical and

pedagogical order, so that this assists in the understanding of what is a

demonstration and its importance in the theorization of mathematics. The

intention of the work is to present a methodology strategy that contributes to

minimize the evidenced difficulties. For such, it was elaborated, applied and

analyzed a didactic sequence in a course of formation of mathematics

professors, in which the demonstration if it characterized more as a hierarchy of

processes than as a hierarchy of content, elucidating its engineering with the

use of "demonstration techniques". It arrives in port it theoretical is based on the

ideas of Raymond Duval on the geometric knowledge and the importance of the

representation registers semiotics for the acquisition and the understanding of

it. Knowledge concerning the mathematical demonstration, its education, its

particularitities and characteristics had also been boarded, guiding and directing

the development of the didactic sequence.

Key words: demonstration, geometry, techniques of demonstration, registers of

representation, geometric activities, formation of professors.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Processos cognitivos, segundo Duval (1995)...............................................................................20 Figura 2: Problema de área.................................................................................................................24Figura 3: Representação gráfica de uma circunferência..............................................................................28Figura 4: Representação geométrica: retas..................................................................................................31Figura 5: Representação geométrica: ângulos.............................................................................................31Figura 6: Modelo utilizado para trabalhar técnicas de demonstração..........................................................78Figura 7: Esboço comum entre os alunos que fizeram a Seqüência didática............................................127Figura 8: Representação figural dada pelo aluno.......................................................................................134Figura 9: Representação geométrica feito por um dos alunos para a questão 2........................................148Figura 10: Alunos discutindo sobre as atividades......................................................................................173Figura 11: Alunos resolvendo as atividades em dupla...............................................................................173Figura 12: Alunos realizando individualmente as atividades....................................................................174Figura 13: Parte da turma pensando nas atividades...................................................................................174Figura 14: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos......................................................175Figura 15: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos......................................................176Figura 16: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos......................................................177Figura 17: Parte da Atividade II da seqüência feita por um dos alunos....................................................178Figura 18: Parte da Atividade II da seqüência feita por um dos alunos....................................................179Figura 19: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos...................................................180Figura 20: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos...................................................181Figura 21: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos...................................................182Figura 22: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos...................................................183Figura 23: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos...................................................184Figura 24: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos...................................................185Figura 25: Parte da Atividade V da seqüência feita por um dos alunos....................................................186

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Formação Básica ..............................................................................................................67Gráfico 2: Análise quantitativa da questão 1...............................................................................................68Gráfico 3: Análise quantitativa da questão 2...............................................................................................68Gráfico 4: Análise quantitativa da questão 3...............................................................................................69Gráfico 5: Análise quantitativa da questão 4...............................................................................................69Gráfico 6: Análise quantitativa da questão 5...............................................................................................69Gráfico 7: Análise quantitativa da questão 6...............................................................................................70Gráfico 8: Análise quantitativa da questão 7...............................................................................................70Gráfico 9: Análise quantitativa da questão 8...............................................................................................70Gráfico 10: Análise quantitativa da questão 9.............................................................................................71Gráfico 11: Análise quantitativa total..........................................................................................................71

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Solução apresentada por um dos alunos para a demonstração do teorema 3...........................140

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 12 1.1 Nossa proposta ................................................................................................................................... 12 1.2 Procedimentos metodológicos da pesquisa ........................................................................................ 14

1.2.1 Engenharia didática ..................................................................................................................... 14 1.2.2 Caracterização do processo da pesquisa ..................................................................................... 15

Primeira Fase – Análises preliminares ......................................................................................................... 15 Segunda Fase – Análise a priori e formulação da seqüência didática ......................................................... 16

Terceira Fase – Experimentação .............................................................................................................. 16 2 CONSTRUINDO NOSSOS FUNDAMENTOS ...................................................................................... 19

2.1 Raymond Duval ................................................................................................................................. 19 2.2 As funções das representações no ensino/aprendizagem da matemática ........................................... 26 2.3 Obstáculos em procedimentos ........................................................................................................... 32 2.4 O ensino de geometria: o papel da demonstração .............................................................................. 33 2.5 A demonstração nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) .................................................... 39 2.6 A formação de futuros professores de matemática ............................................................................ 42

3 DEMONSTRAÇÃO MATEMÁTICA: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS, FILOSÓFICAS E EPISTEMOLÓGICAS ................................................................................................................................. 46

3.1 O surgimento da demonstração .......................................................................................................... 46 3.2 O papel da demonstração no olhar da filosofia .................................................................................. 51

3.2.1 Intucionistas ................................................................................................................................ 52 3.2.2 Logicismo ................................................................................................................................... 55 3.2.3 Formalistas .................................................................................................................................. 58

3.3 Estudo epistemológico ...................................................................................................................... 60 4 PROBLEMATIZAÇÃO E HIPÓTESES DE PESQUISA ....................................................................... 66

4.1 Questionário ....................................................................................................................................... 66 4.1.1 População ................................................................................................................................... 66 4.1.2 Dados e análise ........................................................................................................................... 67 4.1.3 Análise das respostas dos alunos - dados quantitativos .............................................................. 67 4.1.4 Análise qualitativa das respostas dos alunos ............................................................................. 71

4.2 Problemática ...................................................................................................................................... 73 4.3 Hipóteses levantadas .......................................................................................................................... 74

5 A SEQÜÊNCIA DIDÁTICA .................................................................................................................... 76 5.1 Finalidade da seqüência didática ....................................................................................................... 76 5.2 Concepções do modelo proposto ....................................................................................................... 78 5.3 Engenharia da seqüência didática ...................................................................................................... 81 5.4 Aplicação da seqüência didática ........................................................................................................ 84 5.5 Atividades da seqüência – Apresentação e Descrição ....................................................................... 85

................................................................................................................................................................... 124 6 ANALISANDO OS RESULTADOS ..................................................................................................... 124 6.1 Análise individual das atividades da seqüência didática ..................................................................... 125

6.2 Análise geral das atividades da seqüência didática .......................................................................... 150 6.2.1 Retomando nossa problemática ................................................................................................ 150 6.2.2 Retomando alguns dos obstáculos enfrentados ......................................................................... 152 6.2.3 Retomando nossas hipóteses de pesquisa ................................................................................. 154 6.2.4 Retomando nossas expectativas com a aplicação da seqüência ................................................ 156

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO ..................................................................................... 158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 163 Referências Complementares ..................................................................................................................... 169 APÊNDICE A – Questionário aplicado aos alunos ................................................................................... 171 ANEXO A – Fotos dos alunos desenvolvendo a seqüência didática ......................................................... 172 ANEXO B - Atividades produzidas pelos alunos ...................................................................................... 175

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Nossa proposta

No decorrer de nossa experiência acadêmica, inquietações têm surgido

acerca da demonstração em Geometria. Dificuldades de várias ordens são

observadas e apontadas por profissionais da área, tanto no que se refere ao

uso da demonstração no ensino de Geometria quanto à sua aprendizagem.

Atuamos em um curso de formação de professores de Matemática,

lecionando a disciplina Geometria Espacial. Preocupa-nos a forma como

futuros professores vêm estudando e se preparando para ensinar Geometria,

especialmente no que se refere ao envolvimento e ao tratamento que

dispensam às dificuldades apresentadas, quando se deparam com problemas

geométricos que abordem uma demonstração. Tais dificuldades, normalmente,

fazem com que os futuros professores desistam da solução desses tipos de

problemas ou simplesmente os ignorem. Isso acontece pelo fato de eles não

estarem preparados para entender e organizar um encadeamento de

conhecimentos ou processos exigidos para a constatação ou prova de uma

proposição Matemática.

Quando se fala em Matemática, é comum que o termo “demonstração”

esteja associado a esse conhecimento. A demonstração desempenha um

papel central na teorização da matemática e no desenvolvimento do raciocínio

lógico dedutivo. Mas, por motivos de limitações diversas, constatamos que, de

maneira geral, o processo de formação de professores nesta área pouco está

contribuindo para que o formando se prepare e desenvolva habilidades para

lidar com a teoria e o raciocínio matemáticos.

Por isso, nesta pesquisa, decidimos trabalhar com “técnicas de

demonstração” no ensino de Geometria Euclidiana, envolvendo alunos de um

curso de formação de professores de Matemática. A nossa proposta foi

preparar, testar, analisar e disponibilizar um material didático de alcance

formativo (aprendizagem) e pedagógico (ensino). A intenção é a de que o

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trabalho contribua para o desenvolvimento de habilidades e de conceitos

geométricos, de raciocínio lógico e, em suma, de compreensão do processo de

demonstração em Geometria.

Para tal finalidade, elaboramos uma seqüência didática em cinco

sessões, cada qual com seu objetivo específico e suporte teórico, conforme

relatados no corpo deste trabalho.

Após este capítulo de Introdução, o trabalho apresenta mais seis

capítulos, a saber: Construindo nossos fundamentos; Demonstração

matemática: considerações históricas, filosóficas e epistemológicas;

Problematização e hipóteses de pesquisa; A seqüência didática; Analisando os

resultados obtidos e, por fim, as Considerações finais e conclusão.

Em “Construindo nossos fundamentos”, apresentamos as considerações

de Raymond Duval sobre os processos cognitivos envolvidos na aquisição de

conceitos geométricos e as funções das representações semióticas neste

processo. Expomos também considerações da Educação Matemática acerca

do ensino das demonstrações e da formação de professores para tal fim.

Evidenciamos as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, no que

tange ao trabalho com as demonstrações.

Elucidamos a evolução da demonstração no capítulo “Demonstração

matemática: considerações históricas, filosóficas e epistemológicas” ao longo

da história da Matemática, considerando o posicionamento de matemáticos,

filósofos e educadores.

A partir de nossa fundamentação teórica e experiência profissional,

delimitamos nossa “Problematização e as hipóteses de pesquisa”,

apresentando também um diagnóstico que corrobora nosso posicionamento.

No capítulo “Seqüência didática”, expomos sua concepção, bem como

finalidades e objetivos. Uma descrição de cada atividade da seqüência é

apresentada, assim como os procedimentos de sua aplicação.

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Posteriormente, apresentamos “Analisando os resultados obtidos” com a

aplicação da seqüência. Retomamos nossa problemática, nossas hipóteses e

nossas expectativas, à luz do referencial teórico.

Finalmente, no capítulo “Considerações finais e Conclusão”, refletimos

sobre os resultados alcançados e as contribuições da aplicação da seqüência

didática, sugerindo novas abordagens no modelamento das atividades, com a

intenção de minimizar as dificuldades percebidas ao longo da pesquisa.

1.2 Procedimentos metodológicos da pesquisa

1.2.1 Engenharia didática

Nossa metodologia de trabalho tem como premissa o fato de que uma

investigação baseada em realizações didáticas de uma disciplina deve ser

norteada pelo duplo movimento entre teorização e validação experimental.

Sendo assim, orientamos nosso trabalho pela teoria de Duval e pelos

procedimentos característicos de uma engenharia didática (Artigue, 1992) que,

como metodologia de pesquisa, se propõe a esquemas experimentais

baseados na concepção, na realização, na observação e na análise de

seqüências didáticas (Chevallard, 1982).

A engenharia didática, conceito que surgiu em meados da década de

1980, é apresentada por Artigue (1989) como um trabalho que se assemelha

ao do próprio engenheiro. Isto é, ao realizar um projeto, o engenheiro apóia-se

sobre o conhecimento científico de seu domínio, submete-se a um controle

científico e, ao mesmo tempo, encontra-se obrigado a trabalhar com objetos

menos precisos que os científicos. Com o professor não é diferente, uma vez

que, ao elaborar ou a escolher uma seqüência didática, devem ser levados em

conta de forma integral: o domínio do conhecimento (científico), o

conhecimento prévio do aluno (não científico) e o papel do professor e dos

seus alunos (submissão de controle).

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O processo experimental da Engenharia Didática é composto de quatro

fases:

• análise preliminar: fase que fundamenta a construção da seqüência

didática;

• análise a priori: momento de decisão sobre quais variáveis didáticas

serão trabalhadas, fase composta de uma parte descritiva e outra de

previsão de resultados;

• experimentação: realização das seqüências didáticas e da observação

dos alunos e professor;

• análise a posteriori e validação: confrontação entre as análises e

validação das hipóteses de pesquisa.

Por meio da concepção de Engenharia Didática, que pressupõe uma

produção para o ensino, elaboramos uma Seqüência Didática, orientando o

trabalho de acordo com as fases do processo experimental.

1.2.2 Caracterização do processo da pesquisa

Primeira Fase – Análises preliminares

• Fundamentação teórica baseada nos trabalhos de Duval sobre registros

de representação e suas relações com a aquisição de conhecimento

matemático, prioritariamente no processo de demonstração.

• Estudos históricos, epistemológicos e filosóficos sobre o papel da

demonstração na matemática e no ensino de Matemática.

• Análise das propostas curriculares para o ensino de Matemática e,

especificamente, o de Geometria.

• Estudo sobre o atual ensino de Geometria e como a demonstração tem

sido trabalhada.

• Estudo sobre a formação dos professores de matemática no que tange

ao ensino de Geometria, focando o papel da demonstração.

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• Estudo sobre as concepções dos futuros professores com relação ao

ensino de Geometria e das demonstrações (levantamento de dados

através de questionário).

• Delimitação da problemática e de nossas hipóteses de pesquisa.

Segunda Fase – Análise a priori e formulação da seqüência didática

• Criação e formatação da seqüência, de acordo com o objeto de estudo.

• Controle da situação didática por meio de escolhas pré–determinadas na

formatação da seqüência didática, conforme referencial teórico.

Ressaltamos que, nesta fase, de acordo com o que se propõe a

metodologia da engenharia didática, deveríamos fazer uma análise a priori dos

resultados esperados pelos alunos durante o desenvolvimento da seqüência

didática. Porém, na elaboração da seqüência, tentamos fazer com que as

atividades escolhidas, em cada situação, conduzissem ao objetivo geral do

trabalho: apreender e compreender técnicas de demonstração. Dessa forma,

nossa análise a priori se restringirá à descrição de cada uma das atividades

que compõem a seqüência didática.

Destacamos o fato de que as situações que trabalham efetivamente com

as demonstrações podem ter mais de uma solução, uma vez que, ao se

demonstrar um teorema, divergentes caminhos podem ser trilhados, porém,

estes devem convergir para um único resultado: a tese.

Terceira Fase – Experimentação

• Aplicação da seqüência didática.

A aplicação da seqüência foi realizada em uma instituição de ensino

superior, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Os

participantes foram 20 alunos que já haviam cursado e sido aprovados nas

disciplinas de Geometria Plana e Espacial. Este foi o único critério para a

determinação de escolha dos envolvidos.

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A seqüência didática foi dividida em 4 blocos, descritos de acordo com

seus objetivos:

• 1º bloco - composto de duas atividades com o foco em: trabalhar a

noção de um sistema formal, distinção entre os elementos de um

sistema formal e seus respectivos estatutos, apresentação de diferentes

registros de representação e suas congruências, figura geométrica,

desmembramento de um teorema em hipótese e tese e suas

representações em dois/três registros de representação;

• 2º bloco – atividade em que foi trabalhado o recíproco de um teorema, a

unificação de um teorema com seu recíproco, sua legitimidade por meio

de contra-exemplos e reforço dos diferentes registros de representação;

• 3º bloco - composto de duas atividades que privilegiam o processo de

demonstração matemática por meio de apresentação e criação de uma

caixa de ferramentas, técnicas de demonstração, mobilização e sinergia

de registros de representação distintos. Estas atividades contemplaram,

ainda, todos os objetivos definidos nas atividades anteriores.

Uma melhor descrição do processo de aplicação e desenvolvimento da

seqüência, assim como seus objetivos, é realizada no capítulo “A seqüência

didática” e seus resultados analisados posteriormente.

Quarta fase – Análise a posteriori e validação

• Analisar as respostas dos alunos durante as atividades

desenvolvidas na seqüência didática.

• Dialogar com os referenciais teóricos no processo de análise das

respostas dos alunos.

• Confrontar as análises a priori (descrição) e a posteriori.

• Corroborar as hipóteses levantadas.

Com a utilização desses procedimentos que contribuem para a

investigação da prática educativa, esperamos que este trabalho sirva de

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modelo e incentivo aos educadores matemáticos que, assim como nós, sentem

desejo de propor alternativas metodológicas para o ensino e a aprendizagem

da Matemática. Esperamos também que se multipliquem as reflexões sobre a

importância das demonstrações matemáticas, principalmente nos cursos de

formação de professores e que surjam novas idéias as quais sejam colocadas

em prática, contribuindo, assim, para a discussão dos diversos

problemas/dificuldades com o ensino e a demonstração em Geometria.

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2 CONSTRUINDO NOSSOS FUNDAMENTOS

Objetivando um trabalho voltado para o ensino de demonstrações em

Geometria, com base em processos relacionados a uma atividade seqüencial e

lógica do pensamento, foram utilizadas, como referências bibliográficas,

estudos e pesquisas relacionados à demonstração, seu ensino e os

procedimentos inerentes, na engenharia, de se demonstrar.

Ressaltamos os trabalhos de Duval na sustentação do nosso objetivo e

enfocamos alguns obstáculos didáticos, epistemológicos e lingüísticos no

ensino das demonstrações. Finalizamos com algumas considerações sobre o

ensino de Geometria e o papel que a demonstração tem desempenhado neste

ensino.

2.1 Raymond Duval

Duval1 (1995) acredita que o aprendizado em Geometria envolve três

tipos de processos cognitivos intimamente conectados e que preenchem

específicas funções epistemológicas. São eles:

• processo de visualização: relacionado com a representação espacial.

Nele ocorre o exame do espaço representativo, passando da

ilustração de uma afirmação para a exploração heurística de uma

situação complexa, isto por meio de uma interpretação ou uma

verificação subjetiva;

• processo de construção (por instrumentos): realizado por meio de

ferramentas como régua, compasso, softwares, etc. O processo de

construção é caracterizado pela execução de configurações,

podendo ser trabalhada com um modelo. As ações e os resultados

observados durante a execução associam-se aos objetos

matemáticos representados;

1Filósofo e psicólogo de formação, Raymond Duval é autor de vários trabalhos sobre a psicologia cognitiva e sobre os registros de representação semiótica na aquisição do conhecimento matemático. Sua principal obra é Sémiosis et pensée humaine (1995).

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• processo de raciocínio: é a extensão do conhecimento para a prova e

a explicação, mediante o discurso. Baseia-se nos teoremas, nos

axiomas e nas definições.

Segundo Duval, esses processos podem ser realizados

independentemente uns dos outros. Sendo assim, a visualização não depende

da construção, pois ela é uma passagem às figuras por qualquer caminho que

se esteja construindo. O processo de construção depende, exclusivamente, da

conexão entre as propriedades matemáticas do conceito que se quer construir

e as técnicas de construção que precisam ser utilizadas. E, finalmente, o

raciocínio depende de um corpo qualquer de proposições (definições,

teoremas, axiomas), pois se a visualização é um apoio intuitivo que, em

algumas vezes, é necessária para se achar a prova, devemos entender que

ela, em alguns casos, pode levar a interpretações errôneas.

Uma esquematização desses processos cognitivos encontra-se na

Figura 1.

Figura 1: Processos cognitivos, segundo Duval (1995)Fonte: Autora, 2008

Mesmo que os processos cognitivos, segundo Duval (1995), possam ser

realizados individualmente, os mesmos estão entrelaçados em sua sinergia e

são cognitivamente indispensáveis para o aprendizado em Geometria.

Para Duval, os raciocínios exigidos na resolução de problemas em

Geometria dependem da consciência de distinção das formas de se assimilar e

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registrar as figuras. Ressalta-se que o raciocínio geométrico ou dedutivo

formal, utilizado nas resoluções de problemas que envolvem demonstrações,

difere totalmente do raciocínio discursivo natural, utilizado em outros contextos.

Em Geometria, o raciocínio com vistas à demonstração requer duas

condições críticas:

1. uso de proposições, sendo que as mesmas têm como partida um

estatuto teórico: axiomas, definições, teoremas, hipóteses,

conjecturas, etc.;

2. utilização de axiomas, teoremas ou definições para cada avanço

feito em direção à conclusão.

Duval (1991) considera que o raciocínio utilizado para construir

conjecturas plausíveis é o "raciocínio argumentativo", enquanto o raciocínio

utilizado para validar tais conjecturas é o "raciocínio dedutivo". Dessa forma,

para formular uma conjectura, bastam a observação de alguns casos

particulares e a percepção de uma característica que se mantém invariante,

baseando-se os argumentos nesses casos particulares. Para demonstrar, a

exigência é maior e mais especifica, pois os argumentos utilizados devem ser

"gerais", "resistentes", "convincentes2" e "rigorosos".

O mesmo autor distingue os processos discursivos naturais dos

processos discursivos teóricos, característicos do raciocínio dedutivo formal,

afirmando que, neste último, "as proposições estão ligadas de acordo com seu

estatuto" e que esta organização "funciona por substituição de proposições

como num cálculo e não por associação ou oposição como no discurso

natural".

Para Duval, não existe pretensão em se demonstrar a verdade de uma

afirmativa, nem estabelecer a validade lógica de um raciocínio por meio da

argumentação, apenas obter do "outro" a concordância na validade de uma

2 Convincentes à comunidade de matemáticos

21

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afirmativa dada. O objetivo da argumentação é o de obter a concordância do

interlocutor, convencendo-o. O objetivo da demonstração é o de garantir a

verdade. Porém, nem sempre os argumentos que convencem são válidos

(Balacheff, 1988; Duval, 1992). Para Balacheff (1999), a argumentação está

para a conjectura assim como a demonstração está para o teorema.

Todavia, a "heurística" dos problemas que envolvem a Geometria

baseia-se em registros espaciais que permitem formas de interpretações

autônomas e, para tais, Duval classificou as apreensões das figuras em quatro

tipos:

• seqüencial: com o objetivo de reproduzir uma figura; é utilizada nas

atividades de construção ou descrição;

• perceptiva: é a interpretação das formas de uma figura em uma

determinada situação geométrica;

• discursiva: é a interpretação dos elementos da figura geométrica,

privilegiando as articulações dos enunciados; relaciona semanticamente

as propriedades inerentes aos enunciados à figura;

• operatória: centrada nas modificações possíveis de uma figura inicial

(de partida) e sua reorganização perceptiva determinada pelas

modificações.

Qualquer que seja a figura geométrica desenhada no contexto de uma

atividade é possível estabelecer duas atitudes:

1. a apreensão perceptiva das formas (instantâneo, automático);

2. e a apreensão discursiva dos elementos e propriedades da figura

(verificação).

Essas atitudes, às vezes, se opõem, pois a figura pode mostrar objetos

que não são explicitados nos enunciados e os objetos enunciados pelas

hipóteses não são, necessariamente, os espontaneamente determinados pelos

alunos. Em acordo com as idéias de Duval, Fainguelernt (1999) aponta para o

22

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problema da percepção das características geométricas, por meio de um

enunciado e a imagem que se faz do mesmo, pois, para ele:

"A grande complexidade do papel da percepção

no processo de formação e desenvolvimento de

conceitos geométricos, atua em duas direções.

Por um lado, não podemos formar uma imagem

de um conceito, identificar suas características e

dar exemplos sem visualizar seus elementos. Por

outro lado, esses elementos visuais podem

empobrecer a imagem atual que se quer

construir" (p.56).

Para Duval, o problema das figuras geométricas se concentra nas

diferenças entre a apreensão perceptiva e a apreensão discursiva

(interpretações comandadas necessariamente pelas hipóteses), pois, nem

sempre o objeto que aparece na figura é o objeto que a situação geométrica

(enunciado) exige ver.

"... os alunos lêem o enunciado, constroem a

figura e em seguida se concentram na figura sem

voltar ao enunciado" (DUVAL, 1998, p.61).

Conseqüentemente, o abandono do enunciado contribui para a ausência

de interpretação discursiva do problema (figura). Um dos fatores que podem

ser os responsáveis por esse abandono é o fato de que a grande maioria dos

problemas geométricos acessíveis aos alunos tem enunciado semanticamente

congruente com a figura construída, ressaltam Pavanello (1989), Bertonha

(1989) e Mello (1999).

A apreensão operatória das figuras, segundo Duval, depende das

modificações que a mesma pode sofrer e são classificadas da seguinte

maneira:

23

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• mereológica: relação da parte e do todo. A figura pode ser separada

em partes, gerando subfiguras da mesma;

• ótica: transformação da figura em outra chamada sua imagem;

• posicional: deslocamento da figura em relação a um referencial.

As modificações são realizadas tanto graficamente quanto mentalmente.

O fracionamento de uma figura (modificação mereológica) ou uma análise por

meio de partes elementares da figura está relacionado com a "operação de

reconfiguração intermediária3". Dessa forma, partes elementares da figura

podem ser obtidas por fracionamento e reagrupadas em várias subfiguras,

todas inerentes à figura inicial. Por meio dessa operação, o tratamento

matemático de problemas que envolvem área (por exemplo) pode ser adaptado

pela equivalência de reagrupamentos intermediários ( Figura 2):

Figura 2: Problema de área

Porém, se, pelo fracionamento da Figura 2, decisões locais forem

tomadas somente com o uso de operações visíveis, apoiadas na "apreensão

perceptiva", é bem provável que ocorra um erro na determinação da solução do

problema, pois, visualmente, podemos concluir que a área A é diferente da

área B.

Agora, caso uma análise das hipóteses inerentes ao problema,

sugeridas pela "apreensão discursiva" (note que, no problema sugerido,

podemos utilizar o fato da diagonal do retângulo, dividi-lo em partes

congruentes) for realizada, a "apreensão operatória", baseada nas 3 Operação que consiste em organizar uma ou várias subfiguras diferentes de uma figura dada em outra figura (Duval, 1988).

24

Se um problema geométrico pede para

determinar se a área da região A é igual ou

diferente da área da região B, sendo EFGH

um retângulo, podemos, segundo Duval,

fracionar e reagrupar as figuras geradas em

subfiguras da figura original e reconfigurá-

las de forma a estabelecer a igualdade das

áreas sugeridas.

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modificações e reorganizações visuais das figuras, necessária para a solução

do problema, poderá ser percebida.

Generalizando as "cadeias de processos" envolvendo as apreensões

sugeridas por Duval na "heurística" dos problemas geométricos, podemos

adequar as propostas metodológicas sugeridas por Descartes (1596-1650) em

"O Discurso do Método" (1978) com as idéias até então apresentadas.

Simplificando, Descartes considera como verdadeiro apenas o que for

evidente, ou seja, o que for intuitível com clareza e precisão. Porém, a

ampliação da área do conhecimento nem sempre oferece um panorama

permeável à intuição e, conseqüentemente, adequado à pronta aplicação do

preceito da evidência. A fim de contornar tal situação, são propostos os

seguintes recursos metodológicos: o preceito da análise que consiste em dividir

cada uma das dificuldades que se apresentem em tantas outras parcelas que

sejam necessárias para se resolver um problema (operação de reconfiguração

intermediária); o da síntese, que consiste em conduzir ordenadamente os

pensamentos, começando dos objetos mais simples e mais fáceis de serem

percebidos/conhecidos, para depois tentar gradativamente o conhecimento dos

mais complexos (apreensões perceptiva e discursiva) e, por fim, o da

enumeração, em que se devem realizar enumerações de modo a verificar que

nada foi omitido (apreensão operatória). Dessa forma, a construção do

conhecimento se opera por intuições e por análises.

Voltando a Duval, este considera que a maioria das dificuldades

encontradas pelos alunos na utilização das transformações geométricas está

na não congruência entre o tratamento matemático do problema e a apreensão

operatória da figura.

"A apreensão operatória das figuras é uma

apreensão central sobre as modificações

possíveis de uma figura de partida e por

conseqüência as reorganizações perceptivas que

essas modificações sugerem. A produtividade

25

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heurística de uma figura, num determinado

problema geométrico, tem como fato, que existe a

congruência entre uma de suas operações e um

dos tratamentos matemáticos possíveis do

problema dado" (DUVAL, 1988, p.62).

O autor ainda afirma que "... a figura desvia, de algum modo, um

fragmento do discurso teórico" (1988, p.69) e, assim, distintos fatores

interferem, facilitando (ver de prontidão) ou ocultando (não ver) a percepção da

relação de congruência entre a apreensão operatória e um tratamento

matemático possível.

Duval considera que, analisando o problema de congruência entre a

figura e o enunciado e a congruência entre a figura e o tratamento matemático,

passamos pelo problema do estatuto das figuras geométricas. Ou seja, as

propriedades das figuras estão subordinadas às hipóteses do enunciado de um

problema e, conseqüentemente, a apreensão perceptiva está subordinada à

apreensão discursiva, por ser esta uma teorização da representação da figura.

Os elementos e propriedades que aparecem em uma figura estão

condicionados pelas definições, axiomas e teoremas estabelecidos. O mesmo

desenho pode representar distintas figuras geométricas se o enunciado das

hipóteses for alterado. Duval conclui que a teorização das figuras geométricas

constitui um dos princípios do acesso à demonstração.

2.2 As funções das representações no ensino/aprendizagem da matemática

De acordo com as idéias de Duval, ensinar matemática é, antes de tudo,

propiciar situações para o desenvolvimento geral das capacidades de

raciocínio, de análise e de visualização. E, para isso, "não é possível estudar

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os fenômenos relativos ao conhecimento sem recorrer à noção de

representação4" (DUVAL, 1995, p.15).

Para o autor, a distinção entre um objeto matemático e a representação5

que se faz dele é fundamental para o funcionamento cognitivo do sujeito frente

a uma situação de ensino. Este funcionamento é estudado por meio de uma

abordagem cognitiva que leva em consideração a importância das

representações semióticas6 na Matemática e a variedade de representações

semióticas nela utilizadas.

As representações podem ser mentais, computacionais ou semióticas.

As mentais "... ocultam o conjunto de imagens e, mais globalmente, as

concepções que um indivíduo pode ter sobre um objeto, sobre uma situação e

sobre o que lhes está associado” (DUVAL, 1993, p.38). São internas e

conscientes; geralmente são representações semióticas interiorizadas. As

computacionais, assim como as mentais, são internas, porém, não conscientes.

As semióticas "... são produções constituídas pelo emprego de signos

pertencentes a um sistema de representação que têm dificuldades próprias de

significância e de funcionamento" (DUVAL, 1993, p.39). As representações

semióticas não são internas nem externas, mesmo que muitos confundam as

representações semióticas como meras exteriorizações das representações

mentais. "Não se pode considerar as representações

semióticas como simplesmente subordinadas às

representações mentais, uma vez que essas

últimas dependem de uma interiorização das

primeiras e sozinhas as representações

semióticas permitem certas funções cognitivas

essenciais, como a do tratamento" (DUVAL, 1993,

p.44).

4 Um registro de representação é, segundo Duval (1993), um sistema semiótico que tem as funções cognitivas fundamentais no funcionamento cognitivo consciente.5 Duval considera três tipos de registros de representação: o figural, o simbólico e o da língua natural.6 As representações semióticas têm dois aspectos: a forma (representante) e o conteúdo (representado).

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Para o autor, a mobilização dos vários registros de representação é

fundamental para a função cognitiva do pensamento humano. Na Matemática,

é a articulação dos registros que conduz ao acesso à compreensão matemática

e esta compreensão sugere a coordenação de ao menos dois registros de

representação semiótica, dos quais um é a utilização pelo aluno da linguagem

natural. Porém, a coordenação entre os registros, apesar de ser fundamental

para a compreensão, não é suficiente. É essencial não confundir os objetos

matemáticos com suas distintas representações.

Por exemplo, considere uma circunferência e seus distintos registros de

representação:

(a) representação na língua natural: lugar geométrico, no qual os pontos

do plano são eqüidistantes de outro ponto, chamado centro;

(b) representação algébrica: 222 )()( rbyax =−+− ;

(c) representação gráfica:

Figura 3: Representação gráfica de uma circunferência

Um aluno pode ser capaz de resolver um problema envolvendo a

circunferência algebricamente ou de outra forma, mas nada garante que ele

tenha a compreensão desse objeto matemático.

"O ponto comum à grande maioria dos bloqueios

dos alunos, quaisquer que sejam os domínios de

atividade matemática e qualquer que seja o nível

do currículo, é a incapacidade de converter a

representação de um objeto em uma outra

28

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representação do mesmo objeto" (DUVAL, p.53,

1993).

Para resolver esse problema, Duval ressalta a necessidade de duas

operações cognitivas relacionadas ora ao objeto matemático, ora à sua

representação. Uma delas é a "semióse" que está associada à produção e à

apreensão de uma representação semiótica. A outra, "noésis", refere-se à

apreensão conceitual do objeto. Ambas mobilizarão diferentes atividades

cognitivas, que deverão ser interligadas e examinadas entre si. "Não há noésis

sem semiósis, é a semiósis que determina as condições de possibilidade e de

exercício da noésis" (CASTRO, 2001, p.12). Duval ainda insiste que muitos

registros devem ser mobilizados para que os objetos matemáticos não sejam

confundidos com suas representações, de forma que venham a ser

reconhecidos em cada uma delas.

Normalmente, os sistemas semióticos têm como primeiro registro de

representação a língua natural e, por meio desta, criam-se outros sistemas

semióticos que coexistem. Geralmente, o progresso dos conhecimentos é

sempre acompanhado pela criação e pelo desenvolvimento de sistemas

semióticos novos e específicos. Na Matemática, mais do que "meios de

comunicação", as representações semióticas possibilitam realizar tratamentos

em objetos matemáticos que dependem exclusivamente do sistema de

representação utilizado. Dessa forma, as representações semióticas são

necessárias e primordiais ao desenvolvimento da própria atividade matemática.

Segundo Duval, a transformação de um sistema de representação em

outro, atividade ligada à semióse, pode ser de dois tipos: o tratamento e a

conversão. O primeiro é uma transformação que ocorre no mesmo sistema de

representação; é uma transformação estritamente interna a um registro.

Existem tratamentos que são específicos a cada registro e que não necessitam

de nenhuma contribuição externa para serem feitos ou justificados. Um

exemplo de um tratamento é a transformação da equação 35 =+x em x = -2.

O segundo é uma transformação que muda de sistema de representação,

fazendo referência ao mesmo objeto, ou seja, muda-se a representação, mas

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não se muda o conteúdo. Um exemplo de conversão é a transformação de uma

função na forma algébrica para a forma gráfica.

O autor ainda ressalta que o tratamento normalmente é a transformação

que mais se prioriza no ensino, privilegiando a forma mais que o conteúdo. Não

se é dada a importância devida às conversões e os tratamentos são escolhidos

na forma que mais convém, isto é, de uma forma que seja mais fácil a

compreensão pelos alunos. Para Duval, é na conversão que mecanismos

subjacentes à compreensão serão desvelados. São nas conversões que as

mudanças dos registros de representação se mostram mais eficazes para a

formação conceitual - aquisição de conceitos.

A conversão não é uma transformação trivial; é um processo

cognitivamente complexo, pois exige uma compreensão global e qualitativa das

representações de registros utilizados. A complexidade da conversão só será

compreendida se os sistemas semióticos forem vistos em sua relação entre

conhecimento/representação. Mudar de um registro para outro não significa

apenas mudar o tratamento de um objeto; significa também explicar suas

propriedades ou seus distintos aspectos.

O processo de conversão enfrenta dois fenômenos que fatalmente

contribuem para as dificuldades enfrentadas pelos alunos na coordenação e

compreensão dos registros de representação: a congruência e a não-

congruência.

Para que dois sistemas semióticos sejam congruentes é preciso que

haja uma correspondência semântica entre as unidades significantes, ou seja,

é preciso que a representação terminal (representação de chegada)

transpareça na representação de saída (representação de partida). Por outro

lado, se a representação terminal não transparece a representação de saída,

temos o fenômeno da não-congruência.

Podemos exemplificar esses fenômenos conforme as situações

apresentadas a seguir:

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a) Representação na linguagem natural: duas retas são paralelas se

forem coplanares e não se interceptarem.

Representação da Figura:

Figura 4: Representação geométrica: retas

b) Representação na linguagem natural: se dois ângulos são opostos

pelo vértice, então eles são congruentes.

Representação da Figura:

Figura 5: Representação geométrica: ângulos

No primeiro exemplo, existe uma correspondência semântica entre o

enunciado inicialmente apresentado e a figura final. Se, a partir da figura,

quiséssemos chegar ao enunciado, é bem provável que não haveria problemas

em fazê-lo. Sendo assim, as representações utilizadas no primeiro exemplo

são congruentes. Já no segundo exemplo, mesmo que a figura faça referência

ao enunciado, ela também pode ser interpretada para outros objetos

matemáticos, como retas perpendiculares, ângulos retos são congruentes,

enfim, não existe uma congruência imediata entre as representações utilizadas.

É necessário mobilizar os registros para associá-los ao mesmo “objeto

matemático”.

Por isso, um trabalho envolvendo a compreensão e a coordenação de

vários registros de representação é essencial para a aprendizagem. Suas

vantagens na economia de tratamento (o recurso a uma figura pode resolver

31

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um problema geométrico com economia de memória ou mesmo de processos

heurísticos) e na complementaridade das representações são fatores

determinantes na conceitualização e apreensão do conhecimento.

2.3 Obstáculos em procedimentos

Pesquisas relacionadas ao ensino de demonstrações em geometria

destacam alguns obstáculos enfrentados na compreensão e aquisição dos

procedimentos envolvidos em uma demonstração (Gouvêa, 1998; Sangiacomo,

1996; Mello, 1999). Esses obstáculos, conforme apontam os pesquisadores,

podem ser de origens epistemológicas, didáticas e lingüísticas.

Em nossa pesquisa, consideraremos como “obstáculo” a definição dada

por Brosseau (1983) que, substanciado por trabalhos de Bachellard (1965) e

Piaget (1967), analisa o “erro” apoiando-se na noção de obstáculo.

Para Brosseau, o erro é uma manifestação explícita de concepções que

podem, ou não, ser espontâneas, relacionadas a uma rede coerente de

representações cognitivas, que passam a ser “obstáculos” para a aquisição de

novos conceitos.

“O erro não é somente efeito da ignorância, da

incerteza, do azar, como acreditam as teorias

behavioristas e empiristas da aprendizagem, e

sim, efeito de um conhecimento anterior, que

mobilizava seu interesse, seu sucesso, mas que

agora se revela falso ou inadaptado”

(BROUSSEAU, 1983, p.171).

Para o autor, um obstáculo se caracteriza por um

conhecimento/concepção e não pela falta do mesmo. Este, em determinadas

situações, produz respostas adaptadas a certo contexto e, fora dele, produz

respostas falsas. Dessa forma, cada conhecimento pode se mostrar um

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obstáculo em potencial. Um “obstáculo” pode apresentar resistências ao ser

confrontado com um novo conhecimento que mostra sua inexatidão, assim, sua

identificação é fundamental para a incorporação de um novo saber.

Considerar o “obstáculo” como um conhecimento associado à

incapacidade de compreensão de certos problemas e na dificuldade de

resolvê-los constitui um meio necessário para desencadear o processo de

aprendizagem do aluno, bem como do professor (Gouvêa, 1998). Assim,

estudaremos os obstáculos relativos ao ensino da demonstração (como

técnica) para considerá-los na elaboração de nossa seqüência didática,

evidenciando seus aspectos didáticos, epistemológicos e lingüísticos.

2.4 O ensino de geometria: o papel da demonstração

A produção de pesquisas relacionadas ao ensino de Geometria no Brasil

tem aumentado consideravelmente. Isso é o que relata a pesquisa feita por

Andrade e Nacarato (2003) sobre as “Tendências Didático-pedagógicas para o

ensino de Geometria”. Nesta pesquisa, os autores fizeram um estudo dos anais

dos Encontros Nacionais de Educação Matemática (ENENs), no período de

1987 a 2001, com o objetivo de analisar e identificar as atuais tendências para

o ensino de geometria no Brasil. Ao categorizar os trabalhos selecionados, ao

todo 363, os pesquisadores concluíram que, dentro das categorias

identificadas, a “Geometria Experimental” e a “Geometria em Ambientes

Computacionais” emergiam como as principais novas “vocações”.

Na categoria “Geometria Experimental”, dentre vários assuntos

discutidos, destacamos os relacionados com a demonstração matemática,

definidos pelos autores da pesquisa em uma subcategoria intitulada “Ensino de

Geometria na perspectiva das provas e argumentações/refutações”. Nesta,

alguns trabalhos discutiam o papel da prova no ensino de Geometria, tendo

como ponto de partida as mudanças significativas ocorridas com seu ensino,

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até então moldado no modelo euclidiano, promovidas pelo Movimento da

Matemática Moderna7, que ocorreu no Brasil nos anos 1960.

Segundo Pavanello (1989), a idéia central do movimento era a de

adaptar o ensino da Matemática às novas concepções surgidas com a

evolução deste ramo de conhecimento. O ensino constituiu-se em priorizar, em

sala de aula, as estruturas algébricas, desenvolvendo-os sem qualquer relação

com os geométricos em uma linguagem simbólica da teoria dos conjuntos.

Para muitos, foi neste momento que um abandono substancial ocorreu no

ensino de geometria.

Este abandono, segundo Pavanello (1989), tem aspectos de natureza

tanto científica quanto educativa. A autora aponta as razões levantadas pelos

matemáticos e as de caráter educacional, considerando:

• O abandono do ensino de geometria (euclidiana), de acordo com

os matemáticos, está fundamentado nos próprios avanços da

matemática como ciência. A dicotomia entre visualização e rigor,

presente na teorização da geometria euclidiana, foi fundamental

na subordinação da mesma à álgebra. Com o modelo da busca

da verdade na matemática, cada vez mais formal e rigoroso,

aspectos intuitivos presentes na formulação da Geometria

Euclidiana, como é o caso recorrente à visualização, não seriam

suficientes para o desenvolvimento do conhecimento matemático,

uma vez que atrelava o estudo somente a duas e três dimensões,

induzindo, às vezes erradamente, a certos resultados. Dessa

forma, o espaço destinado ao ensino de geometria em diferentes

níveis de ensino, diminuiu, dando lugar a sua subordinação à

álgebra e ao cálculo.

7 O Movimento da Matemática Moderna iniciou-se nas discussões sobre a reforma do ensino de matemática, nos anos 1950. Efetivamente se desenvolveu nos anos 1960 e os líderes principais das discussões desencadeadas foram os franceses Dieudonné, Choquet e Lichnerowics. Expandiram-se as discussões para a Bélgica, Canadá, Grã-Bretanha e Polônia e, posteriormente, para o mundo. Ver mais em Pires (2000).

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“... atualmente é muito complexo falar do ensino

da geometria porque dentro da matemática a

geometria está quase extinta. Hoje em dia,

nenhum matemático se reconhece como

geômetra, não se fazem investigações em

geometria, pois esta foi absorvida por teorias mais

gerais, onde aí sim há investigações” (SAIZ, 1993,

p.45).

• No aspecto educacional, o abandono do ensino de Geometria tem

fortes relações com a formação do educador matemático, esta

baseada em aspectos quase que puramente formais. Por não

entender a complexidade das demonstrações algébricas feitas

durante os cursos de geometria, não associando as relações

existentes entre as duas representações, o educador acaba

relegando o ensino de Geometria ao segundo plano, por não se

sentir preparado para ensiná-la.

Preocupados com o crescente abandono do ensino da Geometria,

movimentos que questionavam a Matemática Moderna surgiram, propondo

uma retomada ao seu ensino. Porém, a tentativa estava mais impermeada na

busca de motivações para esse ensino e, dessa forma, a ênfase recorreu mais

para os aspectos empíricos, abandonando quase que totalmente o raciocínio

dedutivo envolvido nos métodos de validação da Geometria (Andrade e

Nacarato, 2003).

Para Andrade e Nacarato (2003), analisando as produções referentes ao

ensino de Geometria, esse quadro começou a mudar, especialmente na última

década, em decorrência da Avaliação Nacional do Livro Didático. Segundo

Nasser e Tinoco (2001), com o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),

muitos livros se adaptaram aos guias, propondo atividades envolvendo

processos de inferência, análise, argumentação, tomada de decisões, crítica e

validação de resultados. Juntamente com esse programa, produções da

comunidade de educadores matemáticos também contribuíram para um novo

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olhar sobre o papel da demonstração (prova) no ensino de Geometria,

especialmente na educação básica. As questões que mais inquietavam eram:

Qual o sentido de se falar em demonstrações em Geometria nesse nível de

escolaridade? Como trabalhar as demonstrações de forma significativa8?

O que se percebeu nas produções acadêmicas era que muitas delas

recorriam à intuição, à experimentação e às argumentações para “demonstrar”

os teoremas da Geometria, porém, a sistematização do processo na linguagem

formal da matemática não estava ocorrendo. Por qual motivo a transposição

didática não ocorria? Para Almouloud (1999), as dificuldades de se trabalhar

com a sistematização estão associadas a obstáculos de naturezas

epistemológicas, pois muitos professores entendem que uma demonstração é

um processo de validação e, como tal, justificativas, argumentações e provas,

mesmo que baseadas apenas em representações figurais, já seriam suficientes

para se caracterizar uma demonstração matemática. Mas, e o seu aspecto

formal?

A demonstração matemática é um processo de validação, que visa

comprovar a veracidade de um enunciado, assim como explicar e elucidar essa

comprovação (de Villiers, 2001). Porém, a demonstração também tem um

aspecto de comunicação e, como tal, utiliza uma linguagem específica de

domínio da ciência matemática: a algébrica. Dessa forma, para fazer uma

demonstração matemática, é necessário se apropriar da linguagem utilizada e

saber operacionalizar dentro da mesma.

“O modo de argumentação por excelência é a

prova rigorosa ou demonstração formal, envolta

em paradoxos, mas com o objetivo de firmar,

definitivamente, a veracidade das afirmações

Matemáticas” (GARNICA, 2002, p.97).

8 Significativa: ter sentido dentro da própria matemática.

36

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“A demonstração é um texto argumentativo da

matemática (com estrutura particular, com

argumentos tomados entre os resultados já

enunciados) cujo significado está ligado à prova”

(BALACHEFF, 1987, p.45).

Para Pais (1996), existem três aspectos epistemológicos que compõem

o conhecimento geométrico: o intuitivo, o experimental e o teórico. O trâmite

entre tais aspectos tem como objetivo final o aspecto teórico, ou seja, o

conceito geométrico. A demonstração matemática tem como ponto de partida a

intuição, a especulação de propriedades por meio de situações experimentais

e, por fim, a sistematização teórica do conceito geométrico trabalhado.

Porém, esse é um processo lento e trabalhoso. A sistematização de

conceitos geométricos por meio de demonstrações, de acordo com a conclusão

da pesquisa feita por Andrade e Nacarato (2003), é um processo social,

decorrente da atividade de comunicação estabelecida em sala de aula entre os

vários atores do ato pedagógico, explicitada pela dinâmica permeada por

processos dialógicos (seja entre professor e aluno, seja entre formador e

professor).

E mais, o trabalho com diferentes registros de representação foi

apontado como um facilitador para a articulação argumentativa no ato de

demonstrar. A passagem de um registro para outro em atividades de

demonstração permite a exploração ativa de conceitos, proporcionando o

estabelecimento de novas relações e a compreensão dos processos

necessários para a teorização do conceito.

Com relação às mudanças ocorridas nos livros didáticos, Gouvêa (1998)

realizou um trabalho de análise de livros didáticos de matemática, com a

intenção de entender as evoluções ocorridas nos mesmos, com relação à

valorização do raciocínio dedutivo e à demonstração. Para isso, ela fez sua

análise baseada nas produções dos últimos 50 anos.

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A autora constatou que, antes do advento do “Movimento da Matemática

Moderna”, os livros analisados apresentavam todas as demonstrações de uma

forma “estável” e “organizada”, porém, o ensino estava caracterizado na

memorização dos teoremas e das provas que eram apresentadas nos livros.

Com o “Movimento da Matemática Moderna”, os livros sofreram influência das

discussões que estavam sendo estabelecidas naquela época, em sua grande

maioria centrada na atividade ativa do aluno. Com isso, as demonstrações em

duas colunas surgiram, sugerindo um ensino mais divertido e criativo. Todavia,

as atividades ainda se centravam na memorização de procedimentos e na

repetição exaustiva de atividades idênticas, não contribuindo para a

compreensão dos processos da demonstração.

Por fim, Gouvêa, analisando os livros após a influência da Matemática

Moderna, constatou que alguns deles não procuram despertar o

desenvolvimento do raciocínio lógico, pois grande parte dos exercícios

envolvendo demonstração ainda se restringia à memorização, porém, em

consonância com a constatação de Andrade e Nacarato (2003), outros livros

traziam atividades que instigavam o raciocínio lógico-dedutivo, com exercícios

de “justificar”, “provar” e “demonstrar”. De acordo com dados levantados por

Gouvêa, a maioria das tarefas envolvendo este tipo de raciocínio tem como

ponto de partida a atividade experimental. Fundamental para o processo

argumentativo na aquisição parcial de uma prova, a atividade experimental se

mostra um grande avanço no ensino de Geometria, contudo, a sistematização

do processo, nos livros analisados, se mostra mais como um modelo de

demonstração acabada, “acessível por imitação, sem possibilidade de

trabalhá-la, participando com ações e reflexões” (GOUVÊA, 1998, p.78).

A autora conclui que, apesar de melhorias ocorridas na evolução do

tratamento dado a problemas envolvendo demonstrações, a grande maioria

dos professores, além de não trabalhar a Geometria, quando o faz, abandona

quase que exclusivamente as demonstrações, pois afirmam que o rigor e a

formalização dificultam a criatividade do aluno.

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2.5 A demonstração nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

Na proposta para o ensino fundamental, de acordo com os PCNs (1997,

1998), o ensino de Geometria encontra-se distribuído em dois blocos: “Espaço

e forma”, “Grandezas e medidas”. No primeiro, a ênfase é dada ao

desenvolvimento de habilidades que levem o aluno a compreender o mundo

em que vive, aprendendo a descrevê-lo, representá-lo e localizar-se nele. O

segundo se destaca por sua relevância social e seu evidente caráter prático e

utilitário, justificada nos PCNs pela gama de situações cotidianas vivenciadas

pelos alunos com relação a problemas que envolvem a necessidade de medir,

compreender o que é medir e estabelecer unidades de medida padronizadas.

Inicialmente, as orientações didáticas dos PCNs para o ensino de

Geometria se baseiam no aspecto experimental, pois é a partir de suas

experiências que o aluno aprenderá a construir uma rede de conhecimentos

que, posteriormente, lhe possibilitará distanciar-se do espaço sensorial ou

físico, dando espaço ao conhecimento geométrico a partir de relações

abstratas.

“É o aspecto experimental que colocará em

relação esses dois espaços: o sensível e o

geométrico. De um lado, a experimentação

permite agir, antecipar, ver, explicar o que se

passa no espaço sensível, e, de outro lado,

possibilita o trabalho sobre as representações dos

objetos do espaço geométrico e assim,

desprender-se da manipulação dos objetos reais

para raciocinar sobre representações mentais”

(BRASIL, 1997, p.126).

A preocupação na fase inicial do ensino fundamental é o

estabelecimento das relações do conhecimento geométrico com o mundo

sensível por meio da visualização, da experimentação e da observação.

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“O pensamento geométrico desenvolve-se

inicialmente pela visualização: as crianças

conhecem o espaço como algo que existe ao

redor delas (....). Por meio da observação e

experimentação elas começam a discernir as

características de uma figura, e a usar as

propriedades para conceituar classes de

formas” (BRASIL, 1997, p.127).

Neste estágio, o objetivo não é a formalização dos conceitos

geométricos e, sim, uma exploração dos mesmos por meio de estratégias tanto

pessoais quanto instrumentais (uso de material concreto). As informações

devem ser tratadas de forma a instigar os alunos a perguntarem, justificarem e

desenvolverem o “espírito de investigação”.

É a partir do quarto ciclo (7ª e 8ª séries) que se propõem atividades que

favoreçam o raciocínio dedutivo e a introdução da demonstração,

apresentando, ainda, verificações empíricas.

“Embora no quarto ciclo se inicie um trabalho com

algumas demonstrações, com o objetivo de

mostrar sua força e significado, é desejável que

não se abandonem as verificações empíricas, pois

estas permitem produzir conjecturas e ampliar o

grau de compreensão dos conceitos envolvidos”

(BRASIL, 1998, p.86).

É nos problemas de Geometria que os alunos perceberão a necessidade

e as exigências que são estabelecidas por um raciocínio dedutivo, porém, as

orientações indicam que isso não significa que um estudo absolutamente

formal e axiomático deva ser feito. Ressalta-se que um trabalho na construção

de argumentos plausíveis vem sendo desenvolvido ao longo dos ciclos

anteriores e, dando continuidade ao trabalho, a prática da argumentação é

fundamental para a compreensão das demonstrações.

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“Mesmo que a argumentação e a demonstração

empreguem os mesmos cognitivos lógicos, há

exigências formais para uma demonstração em

matemática que podem não estar presentes numa

argumentação. O refinamento das argumentações

produzidas ocorre gradativamente pela

assimilação de princípios da lógica formal,

possibilitando as demonstrações” (BRASIL, 1998,

p.86).

Os PCNs enfatizam que as atividades de Geometria são muito propícias

para que o professor construa, a partir de experiências concretas, juntamente

com seus alunos, caminhos que os levem a compreender a importância e a

necessidade da prova matemática. Evidenciam, ainda, as funções que um

desenho desempenha na busca de uma prova, orientando que suas principais

funções são o de ajudar o aluno a: visualizar, resumir, fazer conjecturas e

provar. Destacamos, com isso, a importância dos registros de representação

da figura.

“Quando os alunos têm de representar um objeto

geométrico por meio de um desenho, buscam

uma relação entre a representação do objeto e

suas propriedades e organizam o conjunto do

desenho de uma maneira compatível com a

imagem global que têm do objeto” (BRASIL, 1998,

p. 125).

Devemos observar que, mesmo que as experimentações com materiais

concretos constituam um forte mecanismo para o convencimento dos alunos,

elas não podem ser tratadas como provas matemáticas, apesar de as mesmas

serem aceitas como tais no terceiro ciclo (5ª e 6ª). As experimentações no

quarto ciclo devem ser vistas como desencadeadoras de conjecturas e

processos que levem às justificativas mais formais.

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Ao orientar para a concretização de um teorema e posteriormente para a

formalização de sua demonstração, os PCNs sugerem para que as conjecturas

e o discurso teórico se relacionem. O tratamento dado ao papel e as funções

que o desenho (figura) desempenha na prova matemática e a utilização de

registros de representação constitui um fator positivo na aquisição de uma

demonstração. Contudo, não percebemos no estudo feito dos PCNs, tópicos

relacionados com a aprendizagem de técnicas de demonstração e, até mesmo,

da “engenharia” envolvida no processo demonstrativo (estatuto dos elementos

de um sistema formal) e sobre a importância das mudanças de registros de

representação.

2.6 A formação de futuros professores de matemática

Há algum tempo que a comunidade de educadores matemáticos vem

discutindo sobre a aprendizagem da Matemática, insistindo que a mesma não

deve estar limitada ao ensino de técnicas, fórmulas, repetição e memorização

de procedimentos. O ensino deve propor o desenvolvimento de habilidades

relacionadas à capacidade de interpretação, criação e construção de

instrumentos para a resolução de situações problemas.

Muitos acreditam ser na Geometria que o desenvolvimento dessas

habilidades seja favorecido (Pavanello, 2002). A Geometria é um dos campos

da matemática no qual os conhecimentos permitem ampla aplicação em

problemas do cotidiano e em outras áreas e mais, o desenvolvimento de

capacidades cognitivas relacionadas à habilidade de abstrair, o que é

imediatamente sensível.

Porém, pesquisas mostram que o trabalho feito no ensino de Geometria

não tem alcançado seus objetivos: propiciar aos alunos o desenvolvimento de

um tipo de pensamento que favorece a compreensão, a descrição, a

representação e a organização do mundo em que vivem, utilizando para isso

do raciocínio hipotético-dedutivo (PCNs, 1998).

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Pavanello (2002) aponta que um dos problemas envolvendo o ensino de

Geometria é a própria formação dos professores de matemática,

principalmente “porque os professores consideram sua formação em relação a

este conteúdo bastante precária” (p.80).

Os motivos levantados pela autora como determinantes para essa

constatação, no que tange os cursos de licenciatura, são:

• os alunos aprendem muito pouco sobre Geometria;

• os conteúdos que posteriormente devem ser abordados na

prática profissional (educação básica) não são abordados, ou

essa abordagem é muito superficial;

• prioriza-se a teoria e despreza-se a prática como fonte de

conteúdos de formação;

• falta de articulação entre o saber matemático e o saber

pedagógico;

• trabalho exaustivo em temas mais complexos (acredita-se que

trabalhar temas mais complexos automaticamente possibilitará

aos alunos a compreensão de temas mais elementares).

Para Lorenzato (1995, p.4), corroborando as idéias de Pavanello, “nos

cursos de licenciatura em Matemática a Geometria possui uma fragilíssima

posição”. Sendo assim, a formação do futuro professor fica prejudicada,

desencadeando, conseqüentemente, uma deficiência de conhecimentos, tanto

em termos de conteúdos como em termos de metodologia. Lorenzato conclui

que, por isso, muitos professores, não tendo um conhecimento razoável sobre

a Geometria, muitas vezes preferem não ensiná-la em suas aulas.

“O professor que não conhece Geometria também

não conhece o poder, a beleza e a importância

que ela possui para a formação do futuro cidadão,

então, tudo indica que, para esses professores, o

dilema é tentar ensinar Geometria sem conhecê-la

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ou então não ensiná-la” (LORENZATO, 1995, p.

3-4).

Então, como ensinar Geometria para os futuros professores? Como

propor, nas licenciaturas, um espaço para a construção de conhecimentos que

atrelem a especificidade da Geometria a uma reflexão sobre métodos para

transpor didaticamente os conceitos geométricos?

Pavanello (2002) afirma que o redimensionamento da atividade docente

“necessita de professores que tenham desenvolvido novas competências não

só para trabalhar com alunos em diferentes níveis de conhecimento

matemático, mas para organizar situações de aprendizagem mais amplas e

significativas” (p.82). Para ela, essa organização pode ser traduzida de acordo

com a seguinte adaptação metodológica:

• conhecer o conteúdo geométrico a ser ministrado, assim como os

objetivos de sua aprendizagem;

• estabelecer, sempre que possível, conexões entre a Geometria e

outros campos de conhecimento, inclusive da própria Matemática;

• trabalhar a partir das representações dos alunos, compreendendo

situações-problemas ajustadas a cada nível e possibilidades;

• trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;

• planejar e propor dispositivos didáticos para a aprendizagem

(seqüências didáticas);

• envolver os alunos em atividades e projetos de pesquisa com o

objetivo de construírem conceitos geométricos;

• observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem,

numa concepção formativa, possibilitando a correção de rumos do

trabalho desenvolvido em sala de aula.

Porém, no que se refere à construção axiomática da Geometria, parece

ser o desafio ainda maior, pois esta axiomatização tem sido construída de

forma automática, recorrendo apenas à memorização procedimental sem

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significação alguma para os alunos. Logo, a rejeição pelo ensino das

demonstrações geométricas na Licenciatura é um fato que, inevitavelmente, se

refletirá na prática pedagógica do licenciando , quando este, efetivamente,

atuar na sala de aula da Educação Básica. É necessário que os formadores

alinhem, em sua prática pedagógica, atividades que favoreçam a construção

gradativa dos conhecimentos matemáticos (geométricos) para, finalmente,

sistematizá-los por meio das demonstrações.

“Se na licenciatura deve haver uma construção

axiomática da geometria, e não se discute que

isso seja necessário, esta não pode acontecer

desligada de um trabalho de construção de

conceitos através de atividades, pois esta

construção e a axiomática não são

independentes” (PAVANELLO, 2002, p.83).

A formação do futuro professor de matemática é determinante da forma

como o mesmo irá atuar durante sua prática profissional. É fundamental

conceber a formação como um trabalho abrangente, pois a atividade a ser

desenvolvida em sala de aula exige uma sólida formação teórica e

interdisciplinar que os habilite, não só na compreensão do fenômeno

educacional, mas também no domínio de conteúdos a serem ensinados, como

afirmam Fiorentini, Nacarato e Pinto:

“O saber docente é um saber reflexivo, plural e

complexo porque histórico, provisório, contextual,

afetivo, cultural, formando uma teia, mais ou

menos coerente e imbricada, de saberes

científicos – oriundos das ciências da educação,

dos saberes das disciplinas, dos currículos – e de

saberes da experiência e da tradição pedagógica”

(FIORENTINI, NACARATO e PINTO, 1999, p.55).

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3 DEMONSTRAÇÃO MATEMÁTICA: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS, FILOSÓFICAS E EPISTEMOLÓGICAS

É sabido que a Matemática, como ciência, ainda hoje, tem se apoiado no

método axiomático-dedutivo para construir seu conhecimento. A demonstração

tem papel primordial neste método por ser ela parte do "produto" dos

conhecimentos matemáticos. É por meio da demonstração que se constrói

(produz) os conhecimentos matemáticos; que se busca a verdade na

matemática. No referido método, a demonstração é um encadeamento lógico

de raciocínios determinados por dedução de outras verdades estabelecidas,

algumas delas também determinadas pelo mesmo encadeamento lógico

(Machado, 2001; Caraça, 2003; Boyer, 1996; Domingues, 2002). Resumindo,

uma demonstração consiste em um conjunto de raciocínios feitos a partir de

verdades já demonstradas ou aceitas sem demonstrações.

À primeira vista, esse método pode parecer um "circulo vicioso", porém,

o que garante a finitude dos procedimentos na formalização de uma

demonstração são os "polêmicos" axiomas, cujas discussões acerca dos

mesmos geraram controvérsias e posicionamentos distintos sobre a busca da

verdade em matemática (Barker, 1969; Silva, 1999; Bicudo, 2002).

Porém, essa visão reducionista do que vem a ser "demonstração" não

nos permite um vislumbre geral sobre como a demonstração surgiu e as

distintas concepções acerca da mesma em Matemática.

Para tal, uma análise histórico-filosófica será feita, seguida de outra não

menos importante, a epistemológica.

3.1 O surgimento da demonstração

Precisar o surgimento da demonstração em matemática não é algo fácil,

tendo em vista a precariedade de documentos. Porém, muitos autores

concordam que a demonstração teve início na Grécia do séc. VI, utilizando-se

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de relatos posteriores de historiadores gregos por meio de textos não

matemáticos da época.

Considerando-se que o papel da demonstração seria o de validar

alguma hipótese, provar algo, então, seu surgimento precederia aos gregos,

uma vez que babilônios e egípcios, sem se valerem de qualquer estrutura

axiomática, garantiam verdades por meio de procedimentos práticos.

Basicamente, o conhecimento para esses povos se valia da evidência física, da

tentativa e erro, da analogia, etc. (Boyer, 1996; Eves, 1992). Vale ressaltar que,

mesmo se valendo da experiência sensorial, o papiro de Moscou, comprado no

Egito, em 1893, mostrou a sofisticação com que os egípcios encontraram uma

regra para calcular o volume do tronco de pirâmides de bases quadradas.

Como eles fizeram isso, não se sabe, apenas se especula.

Mas, graças aos gregos, estes dotados de espírito crítico e criativo, a

demonstração se tornou o pilar da verdade em matemática. O Sumario

Eudemiano9, uma das poucas fontes sobre a produção grega do período

helênico, relata as contribuições de Pitágoras de Samos (C. 523 a.C.) e de sua

escola à matemática. De acordo com Domingues (2002, p.58), "essa escola

teria sido a responsável pela criação da matemática pura, movida por razões

intelectuais e na esteira do estudo de problemas abstratos". Dessa forma, a

escola pitagórica havia imprimido à sua matemática um caráter mais dedutivo,

mesmo que nenhuma base axiomática tenha sido utilizada para tal.

Mas, foi com Euclides (C. 300 a.C.), em seus "Elementos", que o método

axiomático-dedutivo, mesmo contendo falhas lógicas, marcou para sempre a

busca da verdade em matemática e a demonstração se firmou como a

ferramenta principal para essa busca (Domingues, 2002, p.59-60). Mesmo que

erros lógicos nas demonstrações dos teoremas e até mesmo nas escolhas dos

postulados e axiomas estivessem presentes nos Elementos, o método utilizado

por Euclides perdurou por muito tempo, quando, nos séculos XVII e XVIII, um

abandono considerável do método ocorreu, alavancando avanços

consideráveis na matemática e discussões intermináveis sobre a "busca da

9 Ver mais em BOYER. História da Matemática. p. 32.

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verdade", por meio das demonstrações (Caraça, 2003; Courant, 2000; Davis e

Hersh, 1995; Milodnow, 2004). Ressalta-se, nesta fase, a criação da geometria

analítica (Descartes 1596-1651) e o cálculo diferencial integral (Newton

1643-1727 e Leibiniz 1646-1716).

De acordo com Courant (2000), o ideal grego cristalizado na

axiomatização e na dedução sistemática não parecia relevante para os novos

pioneiros da ciência. Em um processo intitulado por Domingues (2002) de

"ilógico”, por meio de um autêntico trabalho de "adivinhação" intuitiva, de

raciocínios irrefutáveis entremeados de misticismo sem sentido (metafísica),

com uma confiança cega no poder sobre-humano do procedimento formal, eles

conquistaram um mundo matemático de imensas riquezas.

Essa visão ingênua, declarada por uns demasiadamente metafísica, não

pareceu ser, para alguns, suficiente para ser o método da busca da verdade

em matemática (Boyer, 1996; Lakatos, 1978). A intuição e os raciocínios

heurístico-geométricos já não bastavam para explicar resultados

aparentemente paradoxais. Assim, no século XIX, uma retomada no método

utilizado por Euclides ressurge em uma nova roupagem, inclinando-se ainda

mais para o lado da pureza lógica e da abstração (Domingues, 2002, p.62).

Até perto do final do século XIX, a demonstração

em matemática tinha um caráter grandemente

material. A demonstração de uma proposição era

uma atividade intelectual que visava a nos

convencer e a convencer os outros, racional, mas

também psicologicamente, da veracidade dessa

proposição (DOMINGUES, 2002, p.62).

Em função da tentativa de compreender paradoxos10 que se

apresentavam cada vez mais nos fundamentos da Matemática, o conceito

clássico da demonstração não resistiu e a nova reformulação da idéia de

10 A teoria dos conjuntos de Cantor é um exemplo disso. Sua teoria dos números transfinitos, que mais tarde ficou conhecida como "Paradoxo de Cantor", sofreu severas críticas, principalmente de Russel, que revelou uma inconsistência fundamental no centro da teoria dos conjuntos (ver BARKER, Filosofia da Matemática, p. 111-114).

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demonstração surgiu sob o novo conceito de demonstração formal. Entre os

matemáticos que contribuíram para essa nova perspectiva, devem-se citar

Frege (1848-1925) e Russel (1872-1970) que, por meio de princípios

"puramente" lógicos, mostravam a possibilidade de se demonstrar uma

proposição, por mais complexa que essa fosse, recorrendo única e

exclusivamente às leis gerais da Lógica, com o auxílio de algumas definições.

“Toda matemática pura trata exclusivamente

de conceitos definíveis em termos de um

número muito reduzido de conceitos lógicos

fundamentais e que todas as suas proposições

são redutíveis a um número muito pequeno de

princípios lógico” (KORNER, 1974, p.42).

Mesmo com o grande avanço em relação aos procedimentos anteriores,

os logicistas carregavam consigo o gérmen de alguns revezes futuros para os

especialistas nos fundamentos da Matemática.

Com as geometrias não-euclidianas e as álgebras não convencionais no

final do século XIX, uma grande liberdade de produção matemática tinha sido

inaugurada e a axiomatização de sistemas matemáticos diversos emergiam

(Boyer, 1996; Domingues, 2002).

Nesse período, a Matemática era vista como uma ciência das deduções

formais, o que pressupunha destituí-la de toda e qualquer conotação material.

Um dos pioneiros nessa nova tentativa de consolidar o conhecimento

matemático por meio da nova "axiomatização" foi Pasch (1843-1931), que

sugeriu uma geometria calcada em alguns conceitos primitivos e fez dos

axiomas que introduziu apenas enunciados formais que serviam para

caracterizar implicitamente esses conceitos. Caso os axiomas pudessem, de

alguma forma, ser pronunciados pela experiência, "as demonstrações que se

seguiam em hipótese alguma deveriam ter qualquer conotação

material" (DOMINGUES, 2002, p.63).

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Mas, foi com Hilbert (1852-1934) que a nova axiomatização utilizada na

Geometria teve maior sucesso e, no afã de estabelecer não só na Geometria,

mas também nos outros campos da matemática o seu método axiomático,

Hilbert e seus seguidores criaram a "teoria da demonstração formal", um

método que objetivava determinar a consistência de qualquer sistema formal.

Porém, Gödel (1906-1978) provou a impossibilidade11 de estabelecer a

consistência de qualquer sistema matemático. O projeto de Hilbert e sua escola

estavam com os dias contados e a "Crise dos Fundamentos" restabelecida.

Trabalhos de Zermelo (1871-1953), aprimorados por Fraenkel (1891-1965),

tentaram contornar esta crise, porém, mesmo que seus trabalhos tentassem

evitar a "queda" em paradoxos, o sistema criado por ambos estava muito mais

impermeado em fé do que uma adoção matemática (Domingues, 2002; Barker,

1969; Machado, 2001).

A nova axiomatização sugerida por Zermelo e Fraenkel perdurou

soberanamente no século XX, quando um estranho no ninho, o computador,

surgiu e, com ele, uma nova idéia de demonstração, constrangendo os mais

puristas (Domingues, 2002; Davis e Hersh, 1995). Objeções foram feitas, mas

com a ciência cada vez mais dependente do computador e com os

matemáticos não podendo se isolar cientificamente, uma nova idéia do papel

da demonstração parece surgir e inevitavelmente deverá ser aceita: a idéia de

que a demonstração deve mais que convencer - deve instigar a investigação e

a descoberta de novos resultados, mediantes a exploração de novas

oportunidades (de Villiers, 2001).

Historicamente, percebemos o caráter não absolutista da demonstração,

uma vez que nuances distintas na busca da verdade em matemática

aconteceram e ainda acontecem. Mesmo que, no âmago de cada uma das

posições, o papel da demonstração não se desvirtue totalmente, não se pode

esquecer que a sua função não é apenas gerar produto (teoria) matemático,

mas também explicar tais produtos, como resume a colocação de Steen:

11 Gödel estabeleceu um método de associar certas "fórmulas" do sistema formal de Hilbert a enunciados metamatemáticos acerca do sistema, fazendo-o de tal modo que cada uma dessas fórmulas, interpretada normalmente, expressaria um enunciado verdadeiro a propósito dos números apenas no caso de ser verdadeira também a asserção metamatemática a ela associada (Barker, 1969, p.127).

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"Sua tarefa [dos matemáticos] está clara agora:

não devem eles gastar tempo e energias na

busca do fogo fátuo da verdade que

constantemente lhes foge das mãos. Ao contrário,

deverão encarar suas criações pela óptica da

utilidade e da adaptabilidade às circunstâncias,

com o espírito sempre aberto a possíveis métodos

que possam levar a esses fins. O fato de certos

métodos levarem a contradições, quando usados

indiscriminadamente, não significa que devam ser

abandonados, tal situação apenas aponta para a

necessidade de determinar as áreas nas quais

esses métodos se mostram seguros" (Apud

DOMINGUES, p.55, 2002).

3.2 O papel da demonstração no olhar da filosofia

Polêmicas sobre a busca da verdade em matemática, em especial a

"crise dos fundamentos" (Silva, 1999; Barker, 1969; Caraça, 2003; Courant,

2000), impulsionaram discussões não só no campo da Matemática, mas

também no da Filosofia. As inconsistências dos sistemas sugeridos pelos

matemáticos para a construção do conhecimento, em que a demonstração tem

papel fundamental, desencadearam a criação de "escolas" com visões distintas

sobre a atividade matemática. Um breve ensaio sobre as escolas Intucionistas,

Logicistas e Formalistas será feito, a fim de apontar as divergências e

congruências das mesmas e mostrar como a demonstração é vista por essas

escolas.

Começamos com uma citação de LAKATOS, impulsionando o ensaio a

ser feito:

"Não deveria existir nenhum desacordo acerca da

demonstração matemática. A gente olha com

inveja a suposta unanimidade dos matemáticos,

mas de fato existe uma controvérsia

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consideravelmente grande na matemática. Os

matemáticos puros negam as demonstrações dos

matemáticos aplicados, enquanto que os lógicos,

por sua vez, repudiam as dos matemáticos puros.

Os logicistas desprezam as demonstrações dos

formalistas e alguns intucionistas rejeitam com

desdém as demonstrações de logiscistas e

formalistas" (1987, p.21).

3.2.1 Intucionistas

Ligados a uma escola filosófica fundamentada especialmente pelas

idéias de Kant e Brower (Barke, 1969; Machado, 2001), os intucionistas

acreditam que a Matemática é uma construção de entidades abstratas, feitas a

partir da intuição do matemático, de forma que a construção prescinde de uma

redução à linguagem lógica ou de uma formalização rigorosa, característica de

um sistema dedutivo.

"O primeiro ato do intucionismo separa por

completo a Matemática da linguagem matemática,

em particular dos fenômenos da linguagem que

descreve a lógica teórica e reconhece que a

matemática intucionista é essencialmente uma

atividade sem linguagem...”(KORNER, 1974, p.

155).

Kant sustentava que as leis que regiam os números e a geometria

euclidiana eram, ao mesmo tempo, a priori e sintéticas12. Um exemplo desse

tipo de conhecimento, de acordo com Kant, são nossas intuições sobre o

tempo e espaço. Ele explica a natureza a priori afirmando que aquelas

intuições são propriedades inerentes da nossa mente e que o nosso

conhecimento sobre o tempo e o espaço é sistematizado pela aritmética e pela

12 Conhecimento será a priori quando não for justificável pela experiência sensorial e será sintético quando não for justificável pela conexão intrínseca dos conceitos empregados, ou seja, pela maneira de entender os termos empregados. Para melhores esclarecimentos, ver BARKER (1969, p.23).

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Geometria Euclidiana, respectivamente (Hersh e Davis, 1995, p.309). Nessa

perspectiva, a explicação para a existência do conhecimento sintético e a priori

estaria baseado no fato de que, ao conhecer as leis dos números (aritmética),

por meio da consciência do tempo, o espírito ganha uma visão de seu próprio

funcionamento interior e não da realidade objetiva, possuindo a capacidade

mental de repetir, seguidamente o ato de contar. No caso da Geometria

Euclidiana, conhecimento este baseado na consciência do espaço como forma

de intuição, o espírito manifesta em torno de sua própria capacidade de

construir, "puramente", as figuras espaciais (Barker, 1969, p. 99).

A concepção kantiana, baseada na intuição13, apóia-se na idéia de que

todo o conhecimento matemático deve ser "construído" com o auxílio de uma

atividade puramente intuitiva (finita). Sendo assim, a Matemática começa

sempre pelo intuitivo, o finito, e deve conter apenas o que for obtido de um

modo construtivo deste ponto de partida intuitivo (Hersh e Davis, 1995, p. 317).

Para os intucionistas, os entes matemáticos não têm suas existências

postuladas, como acreditam os platonistas, nem é necessário que emerjam do

empírico. Tais entes devem ser construídos passo a passo e constituem um

mundo a parte na filosofia intucionista (Machado, 2001, p. 40).

Tal construção, do ponto de vista dos intucionistas, associada ao que

eles denominam demonstração construtiva (qualquer enunciado matemático

deve ser demonstrado construtivamente), é fator determinante para dizer

acerca da verdade de um enunciado. Dessa forma, se um enunciado afirma a

existência de "algo matemático", devemos saber como construir ou computar

esse "algo" por meio de processos finitos. Se um enunciado classifica esse

"algo" como tal ou qual, deve-se estar em condições de demonstrar, usando-se

apenas um número finito de processos, de qual classe pertence esse "algo". E,

de forma semelhante, é preciso dispor-se de uma contra demonstração

construtiva de qualquer que seja um enunciado, para poder dizer a cerca de

sua falsidade. Logo, "a questão da veracidade da Matemática coloca-se, então,

como um problema interno seu e não como decorrência de sua relação com o

mundo exterior" (MACHADO, 2001, p. 40). 13 Intuição para contar, somente isso.

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Em casos que não são possíveis demonstrações/contrademonstrações

construtivas, os intucionistas admitem uma terceira possibilidade, sustentando

que um enunciado pode ser falso ou verdadeiro, rejeitando, assim, a lei do

"terceiro excluído” 14. Para eles, um enunciado pode ser dotado de significado

e, ainda sim, não ser nem verdadeiro ou falso. Podemos pensar que, por meio

dessa postura, os intucionistas se viram a salvo de qualquer problema com

relação à consistência do método utilizado, porém, a doutrina segundo a qual

os "entes matemáticos" surgem da pura intuição do processo de contagem é

toda ela muito vaga e discutível.

A penumbra deixada pelos intucionistas sobre a dinâmica das "intuições"

que conduziam os matemáticos à criação de seu mundo autônomo e sobre o

modo como se mesclavam as concepções sobre o espaço e o tempo é uma

deficiência visível da teoria intucionista, se esta for considerada ao "pé da letra”

(Barker, 1969; Machado, 2001).

"... ponto de vista "Kantiano" não existe qualquer

problema de consistência. Infelizmente, contudo,

o corpo real da matemática não pode ser

colocado neste esquema filosófico simples. Os

intucionistas da Matemática moderna não

dependem da "intuição pura" no amplo sentido

Kantiano. Eles aceitam o infinito enumerável como

filho legítimo da intuição, e admitem apenas

propriedades construtivas; porém assim,

conceitos básicos como o do contínuo numérico

seriam banidos, partes importantes da Matemática

existente excluídas e o restante quase

irremediavelmente complicado" (COURANT, 2000,

p.263).

14 Princípio da lógica tradicional que afirma ser um enunciado ou verdadeiro ou falso, não havendo terceira hipótese.

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3.2.2 Logicismo

A escola logicista tem em Leibniz importantes raízes de sua

fundamentação filosófica (Silva, 1999; Davis e Hersh, 1995). Para ele, existem

duas classes de verdades: as verdades da razão e as verdades dos fatos. As

primeiras são verdades chamadas necessárias e essa necessidade se exprime

por meio de uma análise15 que gera, conseqüentemente, uma decomposição

em proposições mais simples até que se chegue a um ponto em que a

necessidade lógica seja explícita (tautologias). As verdades da razão são

impossíveis de serem negadas, sem que incorram em contradições (Machado,

2001).

As chamadas verdades dos fatos são aquelas cujas proposições são

comprovadas empiricamente, cuja negação não encontra obstáculos, do ponto

de vista lógico. Por exemplo: é uma verdade da razão que o teclado em que

digitamos é um teclado e é uma verdade de fato que a cor do teclado é preta.

Porém, encontram-se nas verdades dos fatos dificuldades de redução a lógica

Leibniziana, uma vez que seu propósito era "criar um método de representar o

pensamento através de signos, de caracteres relacionados com o que se está

pensando” (Machado, 2001, p.23).

Frege (1848-1925), Russel (1872-1970) e Whitehead (1861-1947),

seguindo a doutrina deixada por Leibniz, tentaram fazer com que a Matemática,

em sua totalidade, fosse reduzida a lógica. Em uma primeira tentativa feita por

Frege, este tentou demonstrar que as leis da aritmética são todas elas

reduzíveis às leis da lógica, de forma analítica por meio de uma visão racional

(Barker, 1969, p.107).

"Na Aritmética não nos preocupemos com objetos

que chegamos a conhecer de fora, como algo

alheio... mas com objetos que se apresentam

15 A regulamentação das análises é feita a partir do princípio da não-contradição e por meio de identidades.

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diretamente à Razão e que, por se assemelharem

a ela, são inteiramente transparentes à Razão"

(MACHADO, 2001, p.26)

Russel e Whitehead vão além. Para eles, não só as leis da aritmética

poderiam ser demonstradas apelando a leis da lógica, mas toda a matemática

o poderia (Davis e Hersh, 1995; Russell, 1974; Silva, 2002). Em “Principia

Mathematica”, os dois se “lançam na tarefa de esvaziar a Matemática, ou pelo

menos parte dela, de conteúdo próprio, reduzindo-a a lógica e, portanto à teoria

das formas vazias do pensamento correto” (SILVA, 1999, p.47).

Na perspectiva lógica, diferentemente da intucionista, as demonstrações

podem e devem ter um caráter não-construtivo e não parece haver qualquer

justificativa para pensar que um enunciado não seja verdadeiro nem falso, uma

vez que a lei do terceiro excluído aniquila esse tipo de pensamento (Russel,

1974; Körner, 1974; Barker, 1969).

Os logicistas adotam uma posição realista, não admitindo que o "reino

das entidades abstratas" esteja limitado pelos insuficientes poderes criadores

do espírito, pois as entidades existem em si e por si e não como construções

da mente. Dessa forma, o matemático não pode criar ou inventar os objetos

dos quais fala, pois eles estão por aí para serem descobertos e descritos.

Como o próprio Russell afirmou:

"Todo o conhecimento deve ser reconhecido, sob

pena de não passar de ilusão; a Aritmética precisa

ser descoberta exatamente no mesmo sentido em

que Colombo descobriu as Índias Ocidentais, e

não criamos os números, assim como ele não

criou os índios... Tudo que o puder ser imaginado

existe, e o ser é anterior e não resultado do fato

de ter sido pensado" (apud BARKER, 1969, p.

105).

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Por meio dessa concepção filosófica realista, os lógicos se viram

exploradores de um terreno até então desconhecido da realidade abstrata,

onde a vasta área da realidade matemática não passava de uma ilha do amplo

continente da realidade lógica. Porém, "quanto maior o sonho maior é a queda"

e as idéias logicistas começaram a se desfazer, antes mesmo de ganharem

contornos definidos (Hersh e Davis, 1995; Barker, 1969; Silva, 1999).

A fim de contornar os paradoxos da Teoria dos Conjuntos de Cantor,

Russel-Whitehead desenvolveram a Teoria dos tipos16, cujo objetivo principal

era formular de modo técnico e rigoroso, o princípio do "círculo vicioso” 17. A

teoria dos tipos foi, sem dúvida, um avanço considerável na lógica matemática,

mas um fracasso com relação aos objetivos iniciais (Barker, 1969; Davis e

Hersh, 1995). Ao tentar excluir os paradoxos da Teoria dos Conjuntos, a

estrutura gerada se tornou tão complicada, que mal podia ser identificada com

a lógica (regras de raciocínio correto). A proposta resultou em uma indesejável

duplicação de entidades, tornando difíceis ou impossíveis a enunciação e a

demonstração de alguns teoremas tradicionais da Matemática. Dessa forma,

"tornou-se insustentável dizer que a matemática nada mais é do que lógica -

que a matemática é uma enorme tautologia" (DAVIS E HERSH, 1995, p.312).

O próprio elaborador da Teoria dos tipos escreveu:

"Queria a certeza da mesma maneira que as

pessoas querem a fé da religião. Pensava que a

certeza seria encontrada mais provavelmente na

matemática do que em qualquer outro lado. Mas

descobri que muitas demonstrações matemáticas,

que os meus professores queriam que eu

aceitasse, estavam cheias de falácias e que, se,

na verdade, a certeza pudesse ser encontrada na

matemática, teria de ser num novo campo, com

fundamentos mais sólidos do que os que até aí

16 Ver mais em Russell, Introdução a Filosofia da Matemática (1974).17 Para Russel, os paradoxos da Teoria dos Conjuntos de Cantor tinham raízes findadas no fato de violarem a regra do "Princípio do círculo vicioso" que, segundo Russel dizia: "Se, admitindo que uma dada coleção tivesse um total, ela teria elementos definíveis apenas em termos desse total, então, a coleção não tem um total". Na tentativa de definir o número de números cardinais, Cantor contradiz o "princípio do círculo vicioso", uma regra indiscutivelmente válida (Barker, 1969, p.112-119).

57

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tinham sido julgados seguros... cheguei à

conclusão que não podia fazer mais nada para

tornar o conhecimento matemático isento de

dúvida" (apud DAVIS E HERSH, 1995, p.

312-313).

3.2.3 Formalistas

Assim como para os intucionistas, a escola formalista tem raízes nas

concepções de Kant, porém, para eles não existem objetos matemáticos. A

matemática consiste apenas em um emaranhado de definições, axiomas e

teoremas, meras "fórmulas", estas destituídas de qualquer significado e relação

com a realidade objetiva (Lakatos, 1978; Körner, 1974).

A pretensão inicial dos formalistas era a de se obter um sistema formal

em que toda a matemática clássica pudesse estar alocada de forma

consistente e completa, estabelecendo a matemática como a "ciência dos

sistemas formais", estes destituídos de qualquer interpretação, considerados

apenas como um "jogo sem sentido". As peças desse jogo não têm significado

próprio, ou seu significado não interessa para o matemático/jogador.

Segundo Silva (1999), o formalismo "propõe-se a esvaziar o discurso

matemático, ou partes substanciais dele, de qualquer referência, significado ou

verdade, reduzindo-o a um discurso vazio" (p.48). Parafraseando Russel, a

matemática passa ser um discurso do qual “não sabemos do que estamos

falando nem se aquilo que falamos é verdade".

Foi com Hilbert a primeira tentativa significativa de transformar toda a

Matemática em um "sistema formalizado", com a criação do "programa de

demonstração e teoria", em que a atenção está voltada apenas para o arranjo

das cadeias de fórmulas que constituem os teoremas do sistema,

negligenciando interinamente o significado de qualquer uma das fórmulas e a

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verdade daquilo que, eventualmente, querem dizer (metamatemática)18. Seu

programa, na realidade, era uma tentativa de demonstrar matematicamente a

consistência de toda matemática. Basicamente, seu programa fundamentava-

se da seguinte maneira (Machado, 2001, p.29):

1. a Matemática compreende descrições de objetos e construções

concretas, extralógicas;

2. estas construções e estes objetos dever ser enlaçados em teorias

formais em que a Lógica é o instrumento fundamental;

3. o trabalho do matemático deve consistir no estabelecimento de

teorias formais consistentes, cada vez mais abrangentes até que se

alcance a formalização de toda a Matemática.

Dessa forma, encarando a Matemática como um sistema formalizado, a

demonstração passa a ser caracterizada como qualquer seqüência de fórmulas

bem formadas, cada uma dessas fórmulas sendo um axioma ou um teorema,

este último obtido finitamente por aplicação de alguma regra de transformação,

por meio de fórmulas bem formadas anteriormente na seqüência.

De acordo com Hilbert, os problemas de inconsistência estariam

resolvidos se toda a Matemática fosse estabelecida "formalmente".

"O objetivo da minha teoria é estabelecer de uma

vez por todas a certeza dos métodos matemáticos

(...). A presente situação, em que encontramos

paradoxos, é intolerável. Imaginem só, as

definições e métodos dedutivos que toda a gente

aprende, ensina e utiliza na matemática, o modelo

da verdade e da certeza, conduzem a absurdos!

Se o raciocínio matemático é defeituoso, onde

vamos encontrar a verdade e a certeza?”

(Apud DAVIS E HERSH, 1995, p.316-317).

18 Teoria das propriedades combinatórias da linguagem formal hilbetiana, encarada como um conjunto finito de símbolos, sujeitos a permutações e arranjos segundo as regras de inferência, estas como regras para transformar fórmulas. (Davis e Hersh, 1995, p.315)

59

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Porém, Godel e os teoremas da incompletude demonstraram que era

impossível alcançar o programa de Hilbert. Utilizando-se de uma engenhosa

cadeia de raciocínios metamatemáticos, Godel provou que a consistência é

incompatível com a completação. Ou seja, era impraticável determinar a

consistência de toda matemática (completude) por meio de fórmulas de um

sistema, no qual as mesmas refletiam asserções metamatemáticas do próprio

sistema de que faziam parte (Barker, 1969, p.126).

Talvez, a teoria metamatemática de Hilbert já estivesse fadada ao

fracasso mesmo antes de se consolidar, pois, diferentemente dos que pensam

os formalistas puros, Hilbert acreditava que os problemas matemáticos

estavam relacionados com a realidade finita e possuíam significados (Davis e

Hersh, 1995; Silva, 1999). Ele inventou a metamatemática com o propósito de

justificar a matemática do infinito, a matemática por ela mesma, a matemática

sem sentido, contradizendo o que ele mesmo acreditava.

Em verdade, podemos dizer que todos os formalistas devem se sentir

desconfortáveis e com dificuldades de explicar como, sendo a matemática o

que eles crêem ser, se adaptar tão bem à realidade objetiva, como é o caso

das aplicações nas ciências empíricas e em nossa vida cotidiana.

3.3 Estudo epistemológico

Vimos que, ao longo dos séculos, determinar o que é, e como se

alcança a verdade em matemática, foi motivo de discussões e mudanças

significativas de pensamentos acerca do que é uma demonstração e seu papel

na matemática. Porém, tais discussões, além de não chegarem a um

"veredicto", criaram um campo vasto de significações e finalidades da

demonstração em matemática. Dessa forma, não seriam notáveis os

problemas epistemológicos enfrentados para responder a uma pergunta: O que

é uma demonstração matemática?

60

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Ao tentar responder essa pergunta, enfatizando os aspectos

epistemológicos, faremos nossas considerações baseadas no ensino, pois

acreditamos que uma análise mais profunda desses aspectos irá

inevitavelmente se relacionar com as idéias da filosofia da Ciência e

Matemática, estas já suscitadas no tópico anterior.

De maneira simplista, temos algumas respostas acerca do problema

exposto no início, que são conflitantes e que interessam ao nosso estudo:

Um matemático diria: É um procedimento utilizado para

"convencer" um grupo de especialistas, através de uma

linguagem formal e regras de transformações;

Um educador matemático diria: É uma forma de "esclarecer",

"explicar" as teorias matemáticas, através de evidências tanto

físicas quanto abstratas. Utilizando-se de especulações e

argumentações;

O estudante de matemática diria: Eh... Bem... Então... Não sei

dizer muito bem o que é uma demonstração matemática. O que

é?

Responder a essa pergunta não é tarefa fácil. Talvez ela nem tenha uma

resposta correta e uma análise de pontos de vistas distintos é fundamental

para um posicionamento crítico e reflexivo sobre o papel da demonstração na

matemática.

Direcionemos a discussão para dois pontos importantes sobre a função

da demonstração: "Convencer" e "Esclarecer".

Barbin (1988), em seus estudos epistemológicos e didáticos sobre a

demonstração, ressalta o seu papel "discursivo" na civilização Grega. Para ela,

a demonstração surge para ser a regulamentadora de um debate contraditório,

público, de acesso a todos, de discussões argumentadas, tornando-se

também, regras de um jogo intelectual. Para a autora, com os assuntos das

cidades sendo postos em discussão pública, a demonstração aparece como

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ato social que visa a "convencer" o outro. Esse espírito parece ter sido

incorporado pela matemática que surgia naquela época. "Conhecer, é

conhecer por intermédio da demonstração, ou seja, a demonstração é de

ordem da convicção num debate contraditório" (ARSAC, 1988).

Essa visão da demonstração, calcada no discurso e no ato de

"convencer" socialmente, parece ser reconhecida por vários matemáticos.

Afinal, há outros aspectos envolvidos na maneira como os próprios

matemáticos validam suas descobertas, não recorrendo exclusivamente a

"demonstração formal".

"Deveríamos reconhecer que as demonstrações

humanamente compreensíveis e humanamente

verificáveis que atualmente fazemos, são as mais

importantes para nós, é que elas são muito

diferentes da "demonstração formal". Atualmente,

as demonstrações formais são inacessíveis e em

grande parte irrelevantes, temos bons processos

humanos para verificar a validade matemática."

(TRURSTON, 1994, p.171).

"Considero a demonstração como forma de

discurso. È uma maneira de falar própria da

matemática e de ser reconhecido por tradição."

(WHELLER, 1990, p.3).

A convicção de que sabemos a verdade, por meio do discurso, para

alguns autores é o que impulsiona a demonstração matemática. Desse modo, a

demonstração tem um papel de verificação. A demonstração passa a ser um

argumento necessário para validar uma afirmação, um argumento que pode

assumir várias formas, desde que seja convincente.

Vejamos algumas funções da demonstração, de acordo com Polya

(1995), Lakatos (1978), Hanna (1989), Guarnica (1996) e de Villiers (2001),

entre outros:

62

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♦ verificação/convencimento: dizem respeito à verdade de uma afirmação.

Podem ser feitos por meio de procedimentos empíricos e de raciocínio

indutivo;

♦ explicação/clarificação: têm a função de explicar a verdade de uma

afirmação. Não se satisfaz somente pela evidência empírica;

♦ sistematização: organização de resultados num sistema formal;

♦ descoberta: invenção de novos resultados;

♦ comunicação: transmissão do conhecimento matemático;

♦ desafio intelectual: realização pessoal, gratificação da construção de uma

demonstração.

A demonstração como processo de explicação, de esclarecimento, tem

sido defendida por Hanna (1990) em seus trabalhos sobre demonstrações no

currículo. Resumindo, Hanna sugere que o ensino de demonstrações deve ser

apoiado nas demonstrações que explicam, pois elas, diferente das

demonstrações que simplesmente provam a veracidade de um teorema,

explicam por que é que um teorema é verdadeiro.

Poderíamos dizer que a demonstração que convence, vinculada ao

discurso e aos métodos empíricos, é um pontapé inicial para as demonstrações

que explicam, clarificam. Mesmo que estejamos convencidos, por processos

heurístico-empíricos, que a soma dos ângulos internos de um triângulo

euclidiano seja 180º (demonstração que convence), necessitamos de algo que

nos explique, além da evidência física, o porquê desse fato (demonstração que

explica).

Dessa forma, o aspecto de explicação de uma demonstração para

muitos matemáticos tem maior valor do que o de verificação (de Villiers, 2001).

Podemos fazer uma analogia desses dois aspectos da demonstração

com a atividade matemática e o produto desta atividade. A atividade

matemática tem como pressuposto a criação de conceitos matemáticos

63

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(demonstração como verificação) e a estes conceitos, chamamos de produto

(demonstração como explicação). Segundo POLYA:

"... o resultado do trabalho criativo de um

matemático é um raciocínio dedutivo, uma

demonstração; mas a demonstração é descoberta

por raciocínio plausível, pela especulação

(guessing). Se a aprendizagem da matemática

reflete, em alguma medida, a invenção

matemática, tem de haver lugar para a

especulação, para a inferência plausível" (1954, p.

83).

No que diz respeito ao ensino de demonstrações, vimos que o processo

de demonstrar, de acordo com os autores pesquisados, passa por várias

etapas até que se chegue a um produto que explique, sem sombra de dúvidas,

um determinado problema. Porém, esse produto pode ser representado de

distintas formas e cada uma delas apresentada corretamente. Então, o que

devemos considerar? Como determinar o que é certo ou errado? Como

estabelecer um padrão de demonstração se podemos estabelecer uma

verdade de várias maneiras?

O desconhecimento das discussões sobre a "Educação Matemática",

por parte dos profissionais da educação, e mais precisamente sobre o papel da

demonstração, gera conflitos epistemológicos na medida em que, ao se

desconsiderar as nuances da atividade matemática e dos produtos gerados,

somos podados uma teoria única, formal, em que a demonstração é algo

pronto, acabado. Como ressalta GARNICA sobre o papel das demonstrações

na Matemática:

"Matemática, portanto, em seu regime de

verdade, é uma outra Matemática, radicalmente

distinta daquela vista sob a perspectiva da prática

profissional dos matemáticos. Distintos regimes

de verdade falam de distintas matemáticas, não

64

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de uma única Matemática, plena, onipresente,

onipotente, onisciente, que pode ser atingida de

diferentes formas. Isso não tem sido explicitado

de modo claro, ou falando de outro modo, pode

estar sendo sistematicamente negligenciado"

(2002, p.99).

65

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4 PROBLEMATIZAÇÃO E HIPÓTESES DE PESQUISA

Ressaltamos, no referencial teórico, algumas considerações sobre o

processo de ensino/aprendizagem das demonstrações em Geometria e como

esta tem sido abordada no ensino em geral. Consideramos também as

orientações nacionais para o estudo de demonstração e as suas concepções

na história, na filosofia e na epistemologia.

De posse deste aporte teórico, focamos nosso trabalho nas idéias de

Duval sobre a aquisição dos conceitos geométricos e sobre a importância dos

registros de representação nesta aquisição.

Para situarmos melhor nossa problemática, aplicamos um questionário

para os alunos da instituição de ensino na qual a pesquisa foi realizada, com o

objetivo de obter dados concretos que pudessem vir a corroborar algumas das

afirmações e conjecturas expostas nas discussões iniciais e no referencial

utilizado. Procedemos também a uma análise desse questionário.

4.1 Questionário

A fim de verificarmos a relação/conhecimento dos futuros professores de

matemática com a demonstração e seu papel no ensino de Geometria, um

questionário estruturado contendo nove questões fechadas19 e uma aberta foi

elaborado (ver apêndice A, p.170). Sua análise consistirá de uma leitura

quantitativa (para as questões fechadas) e qualitativa (para a questão aberta)

dos dados obtidos.

4.1.1 População

Os alunos de um curso de licenciatura plena em matemática da região

metropolitana de Belo Horizonte foram escolhidos para responder ao

questionário proposto. O referido curso está no seu quarto ano e a primeira

19 As opções de respostas para essas perguntas são apenas sim ou não.

66

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Formação Básica

66%

12%

12%

10%

Científ ico Técnico Supletivo Magistério

turma irá se formar no segundo semestre de 2007. Para responder ao

questionário, optamos pelos alunos do 3º ao 7º períodos, pois, de acordo com

a grade curricular da instituição que oferece o curso, as disciplinas de

Geometria Plana e Geometria Espacial já teriam sido ofertadas, com exceção

dos alunos do terceiro e quarto períodos que fizeram apenas geometria plana,

mas, estariam com a geometria espacial em curso.

Após uma preleção do pesquisador, 100 questionários foram distribuídos

e, destes, 49 foram respondidos e analisados.

4.1.2 Dados e análise

Acreditando ser fundamental, para a análise das respostas, o tipo de

formação básica feito pelos pesquisados, pedimos que os mesmos

identificassem de que forma concluíram o ensino médio, a saber: científico,

técnico, supletivo e ou magistério. O Gráfico 1 estabelece aproximadamente o

percentual para cada modalidade:

Gráfico 1: Formação Básica

4.1.3 Análise das respostas dos alunos - dados quantitativos

Os gráficos a seguir apresentam os resultados quantitativos das

respostas dos alunos para as questões de 1 a 9 do questionário, divididos por

sua formação básica.

67

Dos 49 alunos pesquisados,

32 fizeram o científico, 6 um

curso técnico equivalente e o

supletivo e 5 concluíram o

curso de habilitação ao

magistério.

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05

1015202530

Sim Não

Questão 2

Científ ico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 4 alunos - 15%Supletivo: 1 alunos - 50%Técnico: 2 alunos - 67%Magistério: 1 alunos - 50%

Resposta: NãoCientífico: 23 alunos - 85%Supletivo: 1 alunos - 50%Técnico: 1 alunos - 33%Magistério: 1 alunos - 50%

Gráfico 2: Análise quantitativa da questão 1

Gráfico 3: Análise quantitativa da questão 2

Obs.: A questão de número dois está condicionada à questão anterior

Gráfico 4: Análise quantitativa da questão 3

68

0

5

10

15

20

25

30

Sim Não

Questão 1

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 27 alunos - 84%Supletivo: 2 alunos - 33%Técnico: 3 alunos - 50%Magistério: 2 alunos - 40%

Resposta: NãoCientífico: 5 alunos - 16%Supletivo: 4 alunos - 67%Técnico: 3 alunos - 50%Magistério: 3 alunos - 60%

05

101520253035

Sim Não

Questão 3

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 32 alunos - 100%Supletivo: 5 alunos - 83%Técnico: 6 alunos - 100%Magistério: 4 alunos - 80%

Resposta: NãoCientífico: 0 aluno - 0%Supletivo: 1 aluno - 17%Técnico: 0 aluno - 0%Magistério: 1 aluno - 20%

Questão 1: Durante a educação básica você teve aulas de

geometria?

Questão 2: Caso sua resposta tenha sido sim na primeira questão, responda: Você fez alguma demonstração nas aulas

de geometria na educação básica?

Questão 3: Na graduação, você trabalhou ou trabalha com

demonstrações na disciplina de geometria?

Page 69: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

05

1015202530

Sim Não

Ques tão 4

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 10 alunos - 31%Supletivo: 0 alunos - 0%Técnico: 0 alunos - 0%Magistério:2 alunos - 40%

Resposta: NãoCientífico: 22 alunos - 69%Supletivo: 6 alunos - 100%Técnico: 6 alunos - 100%Magistério: 3 alunos - 60%

05

1015202530

Sim Não

Questão 5

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

05

101520253035

Sim Não

Questão 6

Científ ico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 32 alunos - 100%Supletivo: 6 alunos - 100%Técnico: 6 alunos - 100%Magistério: 4 alunos - 80%

Resposta: NãoCientífico: 0alunos - 0%Supletivo: 0 alunos - 0%Técnico: 0 alunos - 0%Magistério: 1 alunos - 20%

Gráfico 5: Análise quantitativa da questão 4

Gráfico 6: Análise quantitativa da questão 5

Gráfico 7: Análise quantitativa da questão 6

69

Resposta: SimCientífico: 25 alunos - 78%Supletivo: 2 alunos - 33%Técnico: 4 alunos - 67%Magistério:2 alunos - 40%

Resposta: NãoCientífico: 7 alunos - 22%Supletivo: 4 alunos - 67%Técnico: 2 alunos - 33%Magistério: 3 alunos - 60%

Questão 4: Você sabe o que é um sistema formalizado?

Questão 5: Você se acha capaz de definir “axioma”,

“postulado” e teoremas”?

Questão 6: Você acha que demonstrar é importante para o

ensino de geometria?

Page 70: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

05

101520253035

Sim Não

Questão 7

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

0

10

20

30

sim não

Questão 9

Científ ico

Supletivo

Técnico

Magistério

Gráfico 8: Análise quantitativa da questão 7

Gráfico 9: Análise quantitativa da questão 8

Gráfico 10: Análise quantitativa da questão 9

70

Resposta: SimCientífico: 32 alunos - 100%Supletivo: 6 alunos - 100%Técnico: 6 alunos - 100%Magistério: 3 alunos - 60%

Resposta: NãoCientífico: 0aluno - 0%Supletivo: 0 aluno - 0%Técnico: 0 aluno - 0%Magistério: 2 alunos - 40%

05

101520253035

sim não

Questão 8

Científico

Supletivo

Técnico

Magistério

Resposta: SimCientífico: 31 alunos - 97%Supletivo: 6 alunos - 100%Técnico: 4 alunos - 67%Magistério: 5 alunos - 100%

Resposta: NãoCientífico: 1 aluno - 3%Supletivo: 0 aluno - 0%Técnico: 2 alunos - 33%Magistério: 0 aluno - 0%

Resposta: SimCientífico: 20 alunos - 62%Supletivo: 3 alunos - 50%Técnico: 4 alunos - 67%Magistério: 1 aluno - 20%

Resposta: NãoCientífico: 12 alunos - 38%Supletivo: 3 alunos - 50%Técnico: 2 alunos - 33%Magistério: 4 alunos - 80%

Questão 7: Você acha necessário o uso de demonstrações

no ensino de geometria?

Questão 8: Você sente dificuldades em demonstrar?

Questão 9: Você acha que sua formação em geometria lhe dá subsídios para trabalhar futuramente com as

demonstrações no ensino?

Page 71: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

Gráfico 11: Análise quantitativa total

4.1.4 Análise qualitativa das respostas dos alunos

Considerando a questão em aberto, na qual os alunos discorrem sobre o

que entendem ser uma demonstração matemática, percebemos que a maioria

a vê como um processo lógico, que tem a finalidade de “provar e esclarecer”

teorias matemáticas. Seguem algumas respostas que comprovam a análise

feita:

“Demonstração matemática, para mim, é conseguir provar de

maneira lógica, através de raciocínios coerentes, a construção

da matemática” (aluno do 5º período).

“A demonstração é o processo passo a passo de como surgiu a

fórmula... é a forma de chegar ao original” (aluno do 6º período).

“Forma pela qual se verifica a veracidade ou não de um

pressuposto” (aluno do 4º período).

“É o processo utilizado para provar como se chegou a alguma

fórmula ou resultado” (aluno do 3º período).

Porém, parece que as repostas dadas, em sua maioria, são reproduções

do discurso do professor e dos livros estudados, pois os alunos não

71

01020304050

Sim Não

Total -Independente da Form ação Básica Ques. 1

Ques. 2

Ques. 3

Ques. 4

Ques. 5

Ques. 6

Ques. 7

Ques. 8

Quest. 9

Resposta: SimQues.1: 34 alunos - 69%Ques.2: 8 alunos - 24%Ques.3: 47 alunos - 96%Ques.4: 12 alunos - 24%Ques.5: 33 alunos - 67%Ques.6: 48 alunos - 98%Ques.7: 47 alunos - 96%Ques.8: 46 alunos - 94% Ques.9: 28 alunos - 57%

Resposta: NãoQues.1: 15 alunos - 31%Ques.2: 26 alunos - 76%Ques.3: 2 alunos - 4%Ques.4: 37 alunos - 76%Ques.5: 16 alunos - 33%Ques.6: 1 aluno - 2%Ques.7: 2 alunos - 4%Ques.8: 3 alunos - 6%Ques.9: 21 alunos - 43%

Page 72: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

reconhecem um sistema formal e a relação entre os elementos inerentes do

mesmo, fato este destacado com as respostas às questões 4 e 5 do

questionário. Entre os entrevistados, 76% não sabem o que é um sistema

formal, porém, 67% dizem ser capaz de definir alguns dos elementos

subjacentes do sistema.

Achamos considerável o número de alunos que não tiveram, durante a

educação básica, aulas de Geometria, no total 15 alunos. Destes, 4 foram

alunos de supletivo, representando 67% do total dos que passaram por essa

modalidade de ensino. Podemos relacionar este fato com as pesquisas que

comprovam o abandono da Geometria na educação básica (Pavanello, 1989).

Dos 26 alunos que tiveram aulas de Geometria na educação básica,

apenas 24% afirmam ter feito alguma demonstração nas aulas de Geometria.

Na graduação, este número aumenta consideravelmente para 47 alunos.

Porém, acreditamos que os alunos não tenham uma idéia clara do que seja

uma demonstração, pois 2 alunos responderam não terem tido contato com

demonstrações em suas aulas de Geometria, apesar de colegas do mesmo

período afirmarem o contrário.

Mesmo com pouco conhecimento do que seja uma demonstração e dos

processos envolvidos no ato de demonstrar (especulações feitas a partir das

respostas da questão em aberto e das questões 4 e 5 do questionário), os

alunos, quase em sua totalidade (98%), acham importante se fazer

demonstrações em Geometria. A exceção foi um único aluno, um daqueles que

afirmaram não terem feito nenhuma demonstração em Geometria na

graduação. Este número reflete na posição dos mesmos com relação à

necessidade de trabalhar as demonstrações no ensino de Geometria; 47

alunos consideram ser fundamental este trabalho.

Com relação à questão 8, 96% dos alunos afirmaram sentir dificuldades

em fazer uma demonstração, porém, destes, 57% destacam que a formação

recebida em Geometria lhes dá subsídios para trabalhar posteriormente com as

demonstrações no ensino. Contraditório ou não, conjecturamos que, por

72

Page 73: DEMONSTRAÇÕES EM GEOMETRIA EUCLIDIANA: … · momentos certos e carinho incondicional. ... Esta pesquisa tem como proposta de trabalho fazer uma abordagem acerca da ... 134 Figura

acharem importante e necessário o ensino de demonstrações em Geometria,

os alunos, apesar de apontarem dificuldades em demonstrar (46 alunos), se

sentem preparados (28 alunos) para trabalhar com as demonstrações mais em

função da “obrigação” que posteriormente crêem ter.

Evidenciamos que 100% dos alunos que passaram pelo magistério na

educação básica (5 no total) relataram ter dificuldade em demonstrar e dois

destes acham não ser necessário o ensino de demonstração em Geometria.

Ressaltamos que um destes alunos, mesmo achando não ser necessário o

trabalho com demonstrações no ensino, afirma que este é importante.

No geral, a análise dos dados obtidos com a aplicação do questionário

vem corroborar o que já tem sido constatado por várias pesquisas na área de

educação matemática: o ensino de Geometria é precário tanto na educação

básica quanto nas licenciaturas, no que tange ao trabalho com as

demonstrações dos conceitos geométricos.

A não compreensão dos alunos sobre o que é um sistema formal, os

elementos inerentes a este sistema e a forma de operacionalização do mesmo,

destaca que a demonstração vem sendo tratada na licenciatura como algo

destituído de qualquer significado e sentido. Apenas como mais uma parte de

um “jogo” no qual os participantes, mesmo jogando, não conhecem a “regra”.

4.2 Problemática

Baseados em nosso referencial e no questionário aplicado aos alunos,

percebemos que o ensino de Geometria não tem alcançado seus objetivos

referentes ao desenvolvimento de habilidades de análise, crítica,

posicionamento, argumentação e validação. Enfim, o desenvolvimento do

raciocínio lógico dedutivo, fundamental no ensino da matemática, parece não

estar sendo efetivamente considerado para que o desenvolvimento dessas

habilidades seja concretizado. As demonstrações matemáticas desempenham

um papel importante nesse sentido, pois a hierarquização dos processos que

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envolvem o ato de demonstrar contribui para uma reflexão crítica dos passos a

serem dados na busca de uma constatação de um determinado enunciado.

Mais que isso, as demonstrações explicitam a lógica existente na construção

de conceitos matemáticos.

Dessa forma, acreditando ser fundamental um trabalho com o ensino de

demonstrações, principalmente nos cursos de formação de professores, pois é

a partir desta formação que reflexos serão percebidos na educação básica,

como fazer para que esse trabalho tenha significado e que realmente ofereça

contribuições na aquisição de conceitos geométricos? Como desenvolver, por

meio de atividades que envolvam demonstrações, a noção do sistema formal e

dos elementos que o compõem? Por fim, como trabalhar as demonstrações

caracterizando-a mais como um processo, com o objetivo principal de validar

teoricamente a veracidade de um teorema?

4.3 Hipóteses levantadas

• É possível, dentro de qualquer contexto escolar, criar e elaborar

estratégias e situações que possam minimizar as dificuldades que

os alunos enfrentam ao fazer uma demonstração (seqüência

didática).

• A compreensão dos processos que envolvem uma

demonstração é facilitada em atividades que exigem formulação e

redação em diferentes registros de representação, sendo que:

a) A coordenação entre os registros de representação

natural, algébrico e figural é determinante na

compreensão dos conceitos geométricos necessários

para efetivar uma demonstração;

b) O papel heurístico com as figuras geométricas é

fundamental para que o aluno ultrapasse a apreensão

perceptiva e alcance, por meio da apreensão discursiva,

a apreensão operatória (Duval).

74

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• A criação de ferramentas lógicas contribui para a decisão sobre

os passos a serem tomados na redação de uma demonstração.

A aplicação e a análise do questionário, de maneira geral, nos trouxeram

a confirmação das dificuldades que os licenciandos enfrentam ao se fazer uma

demonstração matemática. Isto se associa ao não conhecimento dos

elementos e processos envolvidos no ato de demonstrar e na formação

recebida durante a educação básica e no curso de licenciatura. Coincidem com

considerações elaboradas em pesquisas já realizadas e citadas nesta

dissertação. O levantamento e a análise dos dados nos permitiram ter uma

visão sistematizada da situação e um embasamento para nossas conjecturas.

75

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5 A SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

Neste capítulo apresentaremos nossa seqüência didática, destacando

sua concepção, os procedimentos adotados na execução da seqüência, a

descrição das atividades propostas, os objetivos de cada atividade e,

finalmente, os resultados obtidos analisados de acordo com as propostas

almejadas.

Ressaltamos que, neste trabalho, não temos a pretensão de determinar

a melhor forma de trabalhar as demonstrações matemáticas no ensino de

Geometria Euclidiana, mas, sim, de criar propostas metodológicas alternativas

para a formação de futuros professores de matemática, despertando um olhar

“crítico” na aquisição de técnicas de demonstração e na compreensão dos

conceitos geométricos envolvidos no processo de demonstrar. Destacamos

que as atividades propostas podem ser estendidas para a educação básica,

desde que adaptações sejam feitas, de acordo com o objetivo delimitado.

5.1 Finalidade da seqüência didática

Adotar uma proposta metodológica para introduzir “técnicas de

demonstração” em um curso de licenciatura em Matemática para alunos

que já cursaram as disciplinas de Geometria Plana e Espacial. Para

conduzirmos nosso trabalho na elaboração da seqüência didática,

consideramos os seguintes aspectos:

• motivar os alunos, realizando uma abordagem histórica sobre o

sistema formal seus elementos e a importância da demonstração

matemática na Geometria. Usamos textos para desempenhar

este papel;

• apresentar aos alunos os diferentes registros de representação e

como mobilizá-los na aquisição de uma demonstração;

76

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• trabalhar o estatuto do teorema, definindo hipóteses e teses e a

importância de distingui-los no teorema;

• expor e solicitar figuras geométricas associadas a teoremas,

propriedades e definições;

• evidenciar a seqüência lógica envolvida em esquemas de

demonstrações e a necessidade da mesma durante todo o

processo;

• oferecer subsídios que levem o aluno a redigir uma

demonstração em dois registros de representação: natural e

algébrico, com o auxílio da representação figural.

Para alcançarmos os objetivos traçados, utilizando-se das teorias

estudadas, organizamos nossa seqüência de acordo com o modelo abaixo:

Figura 6: Modelo utilizado para trabalhar técnicas de demonstração Fonte: Dados da Pesquisa

77

Determinação das dificuldades dos alunos:Experiência profissional e diagnóstico

Apresentação do sistema formal: reconhecimento do estatuto de seus elementos, a saber: postulados, definições, propriedades e teoremas.

Destacar/ determinar as hipóteses e teses de um teoremaElaboração da seqüência

Registros de representação

Congruência e não-congruência entre os registros de representação.Justificações entre relações estabelecidas

Estatuto das figuras geométricas; identificação de elementos implícitos nos teoremasAquisição parcial da prova

Aquisição integral da prova

Redação da demonstraçãoVisualizaçãoo

Caixa de ferramentas

RaciocínioX

Visualização

Caixa de ferramentas

Tratamento das informações

Transposição didática

Demonstração

Mobilização dos registros de representação figural, algébrico e natural; mudanças de registros

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5.2 Concepções do modelo proposto

De acordo com o levantamento bibliográfico realizado, percebemos que

o ensino de Geometria tem sugerido várias discussões no âmbito do seu

ensino e aprendizagem, porém, no que diz respeito ao ensino efetivo das

demonstrações em Geometria (euclidiana), as discussões, em sua maioria,

estão alicerçadas no papel que a prova matemática desempenha neste ensino

e sobre as diversas facetas que se pode atribuir à demonstração matemática.

Trabalhamos com a idéia de que a demonstração matemática é um processo e

não um produto. Uma atividade do pensamento que, por meio de uma

seqüência lógica, conectada ao estatuto dos elementos inerentes ao processo,

procura, por meio de argumentações, produzir um discurso que convença os

outros da veracidade de um enunciado.

Em nossa seqüência, tentamos trabalhar a demonstração, de acordo

com o conceito dado por Balacheff (1987), caracterizando a demonstração

como uma atividade complexa do raciocínio, intervindo em capacidades

“cognitivas’, “metodológicas” e “lingüísticas”. Para tal, buscamos, na teoria de

“Registros de Representação Semiótica” de Duval, adaptar nossa proposta na

busca de atividades que contribuíssem para a aquisição/compreensão de

técnicas de demonstração.

Duval acredita que a Geometria envolve três processos cognitivos,

sinergicamente imbricados: a visualização, a construção e o raciocínio (c.f.

Cap. 2) e estes são indispensáveis para a sua aprendizagem. Para ele, um dos

maiores problemas relacionados à aprendizagem da Geometria são as formas

de apreender e registrar as figuras geométricas e, no caso da demonstração,

na distinção do “raciocínio argumentativo” e o “raciocínio dedutivo”.

No raciocínio dedutivo, com vistas à demonstração, Duval afirma que as

proposições estão organizadas de acordo com seu estatuto e que esta

organização ocorre por substituições de proposições, como em um cálculo.

Todavia, a heurística de problemas envolvendo a Geometria está baseada em

registros espaciais que permitem interpretações autônomas, classificadas por

78

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Duval em: apreensão seqüencial, apreensão discursiva, apreensão perceptiva

e apreensão operatória. É pela distinção das apreensões da figura que a

resolução de um problema geométrico e o tipo de raciocínio que este exige

serão determinadas.

A distinção entre as apreensões perceptivas e discursivas é, para Duval,

um dos problemas centrais na compreensão dos conceitos geométricos por

meio das figuras, pois nem sempre é possível visualizar todas as informações

que um enunciado estabelece pela sua representação figural. Dessa forma, a

apreensão operatória é fundamental, pois é nela que “ajustes” serão feitos, na

busca da solução do problema, utilizando-se da operação de “reconfiguração

intermediária”.

Para que ocorra uma compreensão do estatuto das figuras geométricas

e das formas de apreensões das mesmas, é necessário um trabalho com

distintos registros de representação. Duval afirma que a mobilização desses

registros é fundamental para a função cognitiva do pensamento humano.

Assim, a consciência do que vem a ser uma demonstração somente ocorre

numa articulação de dois registros, em que um deles é a linguagem natural.

Essa tomada de consciência “surge” da interação entre a representação não–

discursiva produzida e o discurso expresso. O reconhecimento dos “objetos

matemáticos” e suas características, fator necessário na articulação de

conhecimentos para aquisição de uma prova, só serão apreendidos na “união”

de diferentes registros desses objetos.

“Para os sujeitos, uma representação pode

apenas funcionar como representação, isto é, lhes

dar acesso ao objeto representado, quando duas

condições forem preenchidas: que eles

disponham ao menos de dois sistemas semióticos

diferentes para produzir a representação de um

objeto, de uma situação ou de um processo e, que

eles possam converter “espontaneamente” um

sistema semiótico em outro” (DUVAL, 1995, p.22).

79

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Com base nas idéias de DUVAL e nas produções estudadas,

percebemos que “obstáculos” foram evidenciados na tentativa de trabalhar as

demonstrações no ensino de Geometria. Dentre eles, destacamos os de

natureza epistemológica, didática e lingüística:

1. Obstáculos epistemológicos: inerentes ao próprio conhecimento sobre

demonstração, às suas características e ao seu desenvolvimento.

Obstáculos apontados:

• a coordenação de diferentes registros de representação não

ocorre espontaneamente;

• o conceito de demonstração (vimos, no capítulo destinado ao

estudo da demonstração, que matemáticos, filósofos e

educadores têm opiniões diferentes sobre a demonstração

matemática e o papel que ela desempenha);

• a figura geométrica pode se destacar como um obstáculo, pois,

ao mesmo tempo em que contribui na exploração de conceitos na

obtenção de uma demonstração, ela nem sempre facilita

“enxergar” as propriedades atribuídas à hipótese de um

enunciado;

• o aluno não entende a necessidade de “provar” algo que ele

observa na figura;

• a falta de compreensão entre a relação semântica entre os

registros de representação utilizados em uma demonstração pode

constituir um obstáculo na percepção da seqüência lógica

envolvida no processo de demonstrar.

2. Obstáculos didáticos: relacionados com as estratégias de ensino.

Destacamos:

• a formação dos professores, baseada na analogia (modelos), não

permite um trabalho crítico e compreensivo da demonstração;

80

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dessa forma ocorre um obstáculo na mobilização dos conceitos

envolvidos em um determinado problema (Pavanello, 2002);

• os livros didáticos não costumam apresentar problemas que

envolvam, efetivamente, a demonstração (Gouvêa, 1998);

• os problemas geométricos têm sido tratados de forma

experimental, sem uma preocupação com a sistematização do

processo.

3. Obstáculos lingüísticos: relacionados à compreensão dos textos

apresentados, seja em linguagem natural ou matemática:

• leitura fragmentada dos enunciados matemáticos, acarretando em

dificuldades de entender o problema;

• os alunos conseguem raciocinar corretamente na solução de um

problema, mas não conseguem responder a questionamentos

com argumentos precisos.

Fundamentados e orientados pelas idéias expostas, desenvolvemos

nossa seqüência didática, no intuito de trabalhar técnicas de demonstração. O

fizemos de tal forma que a demonstração se caracterizasse mais como uma

hierarquia de tarefas do que uma hierarquia de conteúdos, privilegiando a

compreensão dos processos e de habilidades a serem desenvolvidas para a

aquisição e a articulação de conceitos geométricos.

5.3 Engenharia da seqüência didática

Com a finalidade de trabalhar técnicas de demonstração de forma

significativa, a seqüência didática proposta tem como objetivos principais:

• trabalhar, inicialmente, os postulados, propriedades, definições e

teorema como objetos de estudo de um sistema formal;

• clarificar o estatuto do teorema, de forma que as hipóteses e a tese

sejam reconhecidas e distinguidas no mesmo;

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• esclarecer que o recíproco de um teorema nem sempre é verdadeiro;

• evidenciar o estatuto da figura geométrica, de forma que seus

atributos fundamentais estejam associados às hipóteses de um

teorema;

• utilizar os postulados, definições, propriedades e teoremas como

ferramentas indispensáveis na produção de uma demonstração;

• estabelecer uma rede semântica e lógica entre os esquemas de

demonstrações, os enunciados, as figuras geométricas e as

ferramentas utilizadas.

Para alcançarmos nossos objetivos, dividimos a seqüência em cinco

atividades, cada qual com um objetivo específico.

a) Objetivos da Atividade 1:

• apresentar os elementos de um sistema formal;

• fazer as distinções dos elementos de um sistema formal;

• trabalhar os diferentes registros de representação;

• apresentar ferramentas necessárias para se fazer uma

demonstração;

• evidenciar hipóteses e teses de um enunciado;

• trabalhar as relações entre os conceitos primitivos por meio dos

postulados.

b) Objetivos da Atividade 2:

• destacar a congruência e a não-congruência entre os registros de

representação;

• reforçar a mobilização entre os registros de representação;

• determinar do estatuto da figura geométrica da hipótese e da tese a

partir de teoremas.

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c) Objetivos da Atividade 3:

• apresentar o recíproco de um teorema;

• escrever o recíproco de um teorema e o teorema unificado;

• apresentar ferramentas de "justificação";

• trabalhar a veracidade do recíproco através de contra-exemplos.

d) Objetivos da Atividade 4:

• ressaltar os tipos de demonstrações;

• trabalhar as hipóteses de um teorema como ferramenta fundamental

na obtenção de uma demonstração;

• apresentar caixas de ferramentas auxiliares para a demonstração de

um teorema;

• apresentar esquemas de demonstração em registros de

representação distintos;

• destacar a congruência semântica dos registros de representação

até então trabalhados.

e) Objetivos da Atividade 5:

• criação de caixa de ferramentas para demonstração;

• elaboração de esquemas de demonstração.

Esperamos que, ao final da seqüência, os alunos sejam capazes de:

• reconhecer a lógica de um sistema formal;

• trabalhar na mobilização de diferentes registros de representação;

• reconhecer o estatuto de um teorema;

• reconhecer o estatuto da figura geométrica;

• desenvolver habilidades de raciocinar logicamente em problemas

envolvendo demonstrações;

• conseguir redigir uma demonstração.

83

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5.4 Aplicação da seqüência didática

Nossa seqüência didática foi aplicada a alunos do 4º período de um

curso de licenciatura plena em matemática na região metropolitana de Belo

Horizonte do período noturno. A turma foi escolhida por se tratar de alunos que

já haviam cursado a disciplina de Geometria Plana e estava cursando a

disciplina de Geometria Espacial, da qual a pesquisadora era a professora.

Assim escolhemos, no intuito de tentar amenizar as dificuldades que os

mesmos relataram, ao responder o questionário, a respeito de se fazer uma

demonstração em geometria e sobre o que é realmente uma demonstração.

A turma escolhida tem um total de 20 alunos, todos regulares

curricularmente. O fato dos alunos conhecerem a pesquisadora contribuiu para

um discurso mais aberto durante a aplicação da seqüência.

Para a aplicação da seqüência, contamos com 8 aulas, cada uma delas

com uma hora e quarenta minutos de duração. O tempo foi suficiente para a

apresentação das atividades que compunham a seqüência e para todas as

discussões que surgiram durante a aplicação. Os encontros com a turma eram

semanais.

Todas as atividades da seqüência foram entregues pela própria

pesquisadora que, ao final de cada aula (aplicação de uma atividade), recolheu

as atividades feitas pelos alunos.

Os alunos tiveram a liberdade de fazer as atividades individualmente ou

em duplas, porém, as duplas foram supervisionadas constantemente pela

pesquisadora, para que os alunos não fizessem cópias uns dos outros. Apenas

na última atividade a pesquisadora solicitou que os alunos a desenvolvessem

individualmente.

Ressaltamos que estabelecemos como regra que os alunos fizessem

ordenadamente as atividades de nossa seqüência e, caso percebessem que

erros foram cometidos ao longo do desenvolvimento das tarefas, estes não

84

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deveriam ser retomados, a não ser oralmente. Assim foi determinado, para que

as dificuldades encontradas nas soluções dos problemas servissem de fonte de

informações para melhor analisarmos o progresso dos alunos na execução da

seqüência.

5.5 Atividades da seqüência – Apresentação e Descrição

• Atividade I

Atividade I - Sistema formal: reconhecendo o estatuto dos conceitos,

postulados, definições, teoremas e os registros de representação

Como os objetivos da primeira atividade estavam centrados no

reconhecimento de um sistema formal, seus elementos e as relações entre os

mesmos, inicialmente apresentamos um breve texto-histórico, evidenciando a

criação feita por Euclides de uma formatação lógica dos conceitos geométricos.

Ressaltamos a noção de ponto, reta e plano e apresentamos alguns postulados

e definições que seriam, posteriormente, ferramentas fundamentais para o

aprendizado da técnica de demonstração, assim como o reconhecimento do

estatuto dos elementos inerentes de um sistema formal.

Trabalhamos também com a representação desses elementos em

linguagem natural, algébrica e figural por achar importante a mobilização

destes registros como um facilitador da aquisição do processo de se

demonstrar (c.f. fundamentação teórica).

A organização lógica da geometria euclidiana:

"Euclides é, provavelmente, o autor científico melhor sucedido

que já existiu. Seu famoso livro, Os Elementos, é um tratado

sobre geometria e teoria dos números. Por cerca de dois mil

anos, todo estudante que aprendeu geometria, aprendeu-a de

85

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Euclides. E durante todo este tempo, Os Elementos serviram

como modelo de raciocínio lógico para todo o mundo.

Ninguém sabe, hoje, exatamente, o quanto da geometria contida

nos Elementos é trabalho de Euclides. Alguma parte dela pode ter

sido baseada em livros que já existiam antes e algumas das

idéias mais importantes são atribuídas a Eudoxus, que viveu mais

ou menos na mesma época. De qualquer forma, dos livros que

chegaram até nós, Os Elementos é o primeiro que apresenta a

geometria de uma forma lógica, organizada, partindo de algumas

suposições simples e desenvolvendo-se por raciocínio lógico"

(Moise e Downs, 1971).

Elementos e conceitos fundamentais

Conceitos primitivos: Termos simples e fundamentais que não são definidos,

"nascem" em nossa mente pela observação e experiência (intuitivamente).

Nossos conceitos primitivos serão o ponto, a reta e o plano.

Registro de representação (linguagens): Nossos registros serão feitos na

linguagem natural, algébrica e geométrica (figura), buscando compreender a

sinergia entre as mesmas.

Linguagem natural Linguagem algébrica Linguagem geométrica

Ponto

Letras do nosso alfabeto

Maiúsculas. Ex: A, B e C. A

Reta

Letras do nosso alfabeto

minúsculas. Ex: r, s e t

Plano

Letras gregas minúsculas. Ex:

α,β e γ

Postulados: Nossas afirmações mais simples e fundamentais de uma

determinada teoria (nosso caso a Geometria) aceita sem demonstrações serão

as verdades incontestáveis.

86

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Feito isso, criamos situações para trabalhar os conceitos primitivos e as

relações entre os mesmos.

O objetivo da situação 1 era verificar a noção que os alunos tinham

sobre os entes primitivos, uma vez que os mesmos já haviam cursado a

disciplina de Geometria Plana e estavam cursando a disciplina de Geometria

Espacial. Não ressaltamos, na atividade, tratar-se de uma figura plana, pois

nosso objetivo geral era trabalhar com as demonstrações no espaço.

Situação 1: Trabalhando os conceitos primitivos

1) Dada a figura 01, respondas às questões apresentadas:

Figura 01

Em seguida, apresentamos alguns postulados e definições que auxiliariam

e justificariam as respostas da situação 1, acreditando que os alunos de

prontidão fariam tal relação. Esses postulados e definições também seriam

importantes para a próxima tarefa.

Postulado da existência:

1. Em uma reta e fora dela existem quantos pontos quisermos.

2. Dados dois pontos distintos de uma reta, existe pelo menos outro ponto

entre os dois pontos dados.

3. Em um plano e fora dele, existem tantos pontos quanto quisermos.

87

a) Quantos pontos nomeados temos sobre a reta r?

b) Quantos pontos temos fora da reta r?c) Podemos afirmar que P está entre M

e N?d) Quantos pontos há entre Q e M?e) Considerando a folha de papel a

representação de um plano, quantos pontos temos neste plano?

f) Quantos pontos temos fora do plano?

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Definição: Determina os atributos essenciais e específicos de um ente, de tal

forma que o torne inconfundível com outro.

Definição 1: Pontos distintos são colineares se estiverem sobre uma mesma

reta.

Na situação 2, buscamos estabelecer, por meio de perguntas e figuras, o

estatuto dos postulados, definições e a importância dos mesmos nas relações

entre os entes primitivos, de tal forma que uma reflexão sobre os conceitos

apresentados seria fundamental na resolução das atividades, além de uma

noção espacial. Também nessa situação, trabalhamos diferentes registros de

representação.

Situação 2: Utilizando postulados/definições e estabelecendo relações:

2)Dada a figura 02, faça o que se pede:

Figura 02

3) Estabeleça, por meio da figura 03, as soluções para as questões

apresentadas, justificando-as:

Figura 03

88

a) Represente na figura a reta que passa por L e M.

b) Quantas retas distintas passam por Q e M?

c) Os pontos Q, L e P são colineares?d) Os pontos Q, M e P são colineares?e) Dados dois pontos distintos, estes

serão sempre colineares?f) Dados três pontos distintos, estes

sempre serão colineares?

a) Os pontos O e P pertencem ao plano α?

b) Os pontos O, P e L pertencem ao plano α?

c) A reta que passa por O e L, pertencem ao plano α?

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Com o objetivo de mostrar a lógica e a consistência necessárias de um

sistema formal (c.f. Cap.3), a atividade 4 pressupunha um postulado ainda não

trabalhado e que, posteriormente, foi apresentado junto com outros postulados.

Estes seriam fundamentais para a solução da atividade 5.

4) Os pontos P e Q são pontos distintos. O ponto P está na reta a e na reta b.

O ponto Q está na reta a e na reta b. O que se pode concluir a respeito de a e

b? Que postulado garante sua conclusão?

Postulado da determinação:

4. Dois pontos distintos determinam uma única reta que os contém.

5. Três pontos distintos e não colineares determinam um único plano que os

contém.

Postulado de pertinência:

6. Uma reta está contida em um plano, se dois de seus pontos pertencem ao

plano.

• Representação de reta, segmento de reta e semi-reta.

Linguagem natural Linguagem algébrica Linguagem geométricaSegmento de reta de

extremidades A e B AB

Semi-reta de origem em A

que contém B ABReta suporte do segmento

AB AB5) Dados uma reta r e um ponto P, conforme a figura 04, responda às

perguntas, justificando a opção:

Figura 04

89

a) Existe um plano que contém a reta r e o ponto P?

b) Existe um único plano que contém a reta r e o ponto P?

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Reforçando a necessidade da consistência de um sistema formal, as

atividades 6 e 7 também necessitavam de postulados ainda não apresentados.

A fim de fazer com que os alunos inferissem o resultado, pedimos que a figura

referente à atividade fosse esboçada.

6) As retas r e s são retas distintas. O ponto P pertence à reta r e a reta s. O

ponto Q pertence à reta r e a reta s. O que podemos concluir a respeito de P e

Q? Qual postulado justifica sua conclusão. Faça uma representação

geométrica da situação.

7) Os planos α e β são planos distintos. A reta r pertence aos dois planos

simultaneamente. O que podemos concluir sobre a reta r? Que postulado

justifica sua conclusão? Faça a representação geométrica da situação.

Postulado da Interseção:

7. Se duas retas distintas se interceptam, a interseção é um único ponto.

8. Se dois planos distintos de interceptam, a interseção é uma única reta.

A próxima situação evidencia o estatuto dos teoremas e os diferentes

registros que podem ser utilizados para representá-los. Criamos situações para

que os alunos reconhecessem as hipóteses e teses e pudessem, dessa forma,

representá-las de formas distintas.

Situação 3: Teoremas: hipóteses, teses e registros de representação

Teorema: Uma proposição matemática que, para ser aceita como verdade,

deverá ser demonstrada. O teorema compõe-se em duas partes:

Hipótese: Informações conhecidas

Tese: O que se deseja concluir, provar.

Todo teorema poderá ser escrito na forma condicional:

"Se [hipóteses], então [tese]”.

90

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As hipóteses e teses poderão ser representadas na linguagem natural,

algébrica e geométrica.

• Identificando as hipóteses e tese de um teorema, fazendo o registro e

reescrevendo o enunciado na forma condicional.

Exemplo:

Teorema: Dadas duas retas que se interceptam, existe exatamente um plano

que as contém.

Forma condicional: se duas retas se interceptam, então existirá um único

plano que as contém.

Registros de representação:

Teorema Linguagem

natural

Linguagem

geométrica

Linguagem

algébrica

Hipótesesr e s são retas que

se interceptam

Tese

r e s determinam

um plano α que as

contém.

r ∩ s = P

r ⊂ α, s⊂ α e (r,s) =

α

8) Dado o teorema, determine sua forma condicional e registre as hipóteses e

tese nas linguagens natural, geométrica e algébrica.

Teorema 1: Uma reta e um ponto fora dela determinam um único plano que os

contém.

Forma condicional: ............................................................................................

..............................................................................................................................

Registros de representação:

91

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Teorema Linguagem

natural

Linguagem

geométrica

Linguagem

algébrica

Hipóteses

Tese

Teorema 2 : Duas retas paralelas a uma terceira são paralelas entre si.

Forma condicional: ..........................................................................................................................................................................................................................

Registros de representação:

Teorema Linguagem natural

Linguagem geométrica

Linguagem algébrica

Hipóteses

Tese

Teorema 3: Por um ponto dado, fora de uma reta, existe uma única reta

perpendicular à reta dada.

Forma Condicional:....................................................................................................................................................................................................................

Registros de representação:

92

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Teorema Linguagem natural

Linguagem geométrica

Linguagem algébrica

Hipóteses

Tese

• Atividade II

Atividade II - Associando às propriedades, definições e teoremas à figura

geométrica adequada: transposição didática dos registros de

representação.

A atividade II foi elaborada com a intenção de trabalhar o conceito de

figura geométrica na mobilização dos registros de representação, destacando,

assim, a congruência ou não das formas representadas. Reforçamos, nesta

atividade, a determinação das hipóteses e tese de um teorema e suas

representações.

Iniciando a atividade, apresentamos novamente alguns conceitos já

trabalhados apenas para retomar a proposta da atividade anterior.

Lembrando alguns conceitos fundamentais

Definição: Determina os atributos essenciais e específicos de um ente, de tal

forma que o torne inconfundível com outro.

Teoremas: Verdades aceitas mediantes demonstrações pela comunidade de

matemáticos.

Na primeira situação, exploramos a figura geométrica e seus atributos,

pedindo que os alunos correlacionassem, a partir da representação na

linguagem natural, as definições apresentadas à figura correspondente.

93

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Tentamos criar situações de forma que as representações figurais pudessem

gerar interpretações dúbias. Esta situação foi feita na questão 1. Na segunda

questão, além de explorar a associação de enunciados com suas respectivas

figuras geométricas, pedimos que as hipóteses e tese fossem determinadas.

Assim fizemos para trabalhar a questão da congruência dos registros de

representação, fator determinante para a compreensão dos processos

envolvidos na construção de conhecimento e, conseqüentemente, no processo

de demonstrar (c.f. referências DUVAL).

Situação 1: Congruência dos registros de representação

1)Associe a cada definição a representação geométrica que mais lhe convier.

Definições Figura Geométrica( 1 ) A distância de um plano com um

ponto exterior a ele, é o comprimento do

segmento perpendicular do ponto ao

plano.

( )

( 2 ) Duas retas são concorrentes, se a

interseção entre as duas for um único

ponto.

( )

( 3 ) Duas retas são perpendiculares, se

forem concorrentes e o ângulo entre as

retas for um ângulo reto.

( )

( 4 ) Mediatriz de um segmento é a reta

perpendicular ao segmento passando

pelo seu ponto médio.

( )

94

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( 5 ) Um ponto M é ponto médio de um

segmento, se pertencer ao segmento e

for eqüidistante de suas extremidades.

( )

( 6 ) Um conjunto M é chamado convexo

se, para todo par de pontos P e Q do

conjunto, o Segmento PQ está

inteiramente contido no conjunto.

( )

( 7 ) Um conjunto de pontos se diz

coplanar se existe um plano que contém

todos os pontos do conjunto.

( )

2) Escreva na linguagem algébrica as hipóteses e teses dos teoremas

apresentados e associe a cada um deles a figura geométrica correspondente.

Teorema Linguagem algébrica Linguagem geométrica(1) Se uma reta é

perpendicular a um

plano, então, qualquer

reta paralela à reta dada

também será

perpendicular ao plano

Hipótese:

Tese:

()

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(2) Duas retas em um

plano são paralelas se

ambas forem

perpendiculares a uma

mesma reta

Hipótese:

Tese:

( )

(3) Se um plano

intercepta dois planos

paralelos, então, as

interseções são duas

retas paralelas

Hipótese:

Tese:

( )

(4) Duas retas

perpendiculares a um

mesmo plano são

paralelas

Hipótese:

Tese:

( )

(5) Se duas retas são

perpendiculares a uma

terceira, então, elas são

paralelas entre si.

Hipótese:

Tese:

( )

(6) Duas retas

perpendiculares a um

mesmo plano são

coplanares.

Hipótese:

Tese:

( )

96

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Na situação 2, trabalhamos a criação da figura geométrica para

destacarmos a diferença entre figura20 e desenho21. Propositalmente, criamos

situações em que a figura desenhada poderia representar mais de uma

situação. Também pedimos que as hipóteses e tese fossem destacadas para

frisar a congruência ou não dos enunciados e suas representações.

Situação 2: Desenho e figura geométrica: distinção associada às propriedades

geométricas.

1) Dados os teoremas, preencha o quadro abaixo com o que se pede:

Teorema 1: Teorema fundamental do perpendicularismo

• Se uma reta é perpendicular a duas retas que se interceptam em seu ponto

de interseção, então, ela é perpendicular ao plano que as contém.

Representação algébrica Figura geométricaHipótese:

Tese:

Teorema 2:

• Se uma reta e um plano são perpendiculares, então, o plano contém toda

reta perpendicular à reta dada no seu ponto de interseção com o plano

dado.

20 Figura é a classe de todos os desenhos possíveis do objeto matemático (DUVAL, 1993)21 Desenho é o traçado sobre o suporte material (DUVAL, 1993)

97

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Representação algébrica Figura geométricaHipótese:

Tese:

Teorema 3:

• Duas retas perpendiculares a um mesmo plano são coplanares.

Representação algébrica Figura geométricaHipótese:

Tese:

Teorema 4:

• Duas retas em um plano são paralelas se ambas forem perpendiculares a

um mesmo plano.

Representação algébrica Figura geométricaHipótese:

Tese:

98

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• Atividade III

Atividade III: Teoremas recíprocos: "se e somente se"

A atividade III tem como objetivo apresentar aos alunos o recíproco de

um teorema. Começamos a atividade destacando, por meio de um breve

esquema, o que é um recíproco, ressaltando que o mesmo não

necessariamente é verdadeiro.

Apresentamos nesta atividade ferramentas de justificação para

estabelecer a veracidade/falsidade de um recíproco, utilizando, para isso,

definições e figuras geométricas. Frisamos que o uso de mais de um registro

de representação se apóia em nossas hipóteses de pesquisa, que determina

que os conceitos geométricos envolvidos na obtenção de uma demonstração,

só serão compreendidos na mobilização de mais de um registro (Duval, 1995).

Dado dois teoremas, estes serão chamados de "teoremas recíprocos",

se a hipótese e a tese de um dos teoremas forem trocadas, respectivamente,

pela tese e a hipótese do outro.

Teorema 1: 11 TeseHipótese ⇒ e Teorema 2: 22 TeseHipótese ⇒

Teorema 1 e Teorema 2são recíprocos

21 TeseHipótese = e 12 TeseHipótese =

Se um teorema e seu recíproco são verdadeiros, então, podemos

combiná-los em um teorema único, usando a frase “se, e somente se".

Porém, nem todo recíproco de um teorema é verdadeiro e, para mostrarmos

que o recíproco é falso, utilizamos de um contra-exemplo, ou seja, um exemplo

que o contradiz, isto é, mostra que o recíproco é falso.

99

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Na situação 1, propomos uma atividade para que os alunos

determinassem, por meio de um teorema dado, o seu recíproco. Não nos

preocupamos inicialmente em estabelecer se os recíprocos eram verdadeiros

ou não. Pretendíamos somente que os alunos fossem capazes de distingui-los,

reforçando, com isso, o estatuto de um teorema. Pedimos também que

escrevessem o teorema e o recíproco em uma expressão unificada e que a

figura do teorema fosse feita. Nas atividades propostas, criamos situações que

poderiam confundir os alunos na hora de estabelecer o recíproco, por isso

pedimos que a figura fosse feita, no intuito de que a associação dos registros

fosse percebida e verificada.

Situação 1: Escrevendo o recíproco de um teorema

Exemplo:

Teorema: Se uma reta é paralela a um plano, então, ela é paralela a uma reta

do plano

Hipótese 1: r // α recíproco Hipótese 2: r // s, s⊂ α, r ⊄ α

Tese 1: r // s, s⊂ α. Tese 2 : r // α

Teorema Recíproco: Se uma reta não contida em um plano é paralela a uma

reta do plano, então, ela é paralela ao plano.

Teorema unificado: Uma reta é paralela a um plano se, e somente se, ela for

paralela a uma reta deste plano.

Figura:

Nota: Nem sempre todas as informações que temos na hipótese e tese de um

teorema serão exatamente as mesmas que teremos no seu recíproco, pois

algumas informações estão implícitas no teorema. A escrita da expressão

unificada é importante neste aspecto.

100

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1) Dados os teoremas, escreva seu recíproco e o teorema unificado seguindo

as orientações:

Teorema 1: Se um plano contém duas retas concorrentes, ambas paralelas a

um outro plano, então, esses planos são paralelos.

Preencha o quadro utilizando a representação algébrica:

Teorema RecíprocoHipótese

Tese

Faça a figura geométrica do teorema:

Escreva na linguagem natural

Recíproco do

teorema: ...............................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

................

Teorema unificado:

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

101

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Teorema 2: Se uma reta é perpendicular a duas retas concorrentes, em seu

ponto de interseção, então, ela é perpendicular ao plano que contém as duas

retas.

Preencha o quadro utilizando a representação algébrica:

Teorema RecíprocoHipótese

Tese

Faça a figura geométrica do teorema:

Escreva na linguagem natural

Recíproco do

teorema: ...............................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

Teorema unificado:

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

Na situação 2 apresentamos ferramentas para que fosse estabelecido se

um recíproco era falso ou não. Nesta atividade, a necessidade de

102

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compreensão dos conceitos geométricos envolvidos era fundamental. Mais

uma vez reforçamos o papel da figura para tentarmos comprovar nossas

hipóteses de trabalho, colocando a figura como âncora no estabelecimento das

atribuições de propriedades dos conceitos geométricos.

Na primeira atividade da situação 2, apresentamos, como ferramentas

de justificação, apenas algumas definições. Nem todas seriam utilizadas na

atividade. Optamos por elucidar conceitos (definições) que poderiam gerar

dúvidas aos alunos, porém, a figura geométrica pedida poderia ser a

ferramenta que facilitaria a resolução do problema.

Situação 2: Verificando a veracidade do recíproco através dos contra-

exemplos

Para contradizer um recíproco de um teorema podemos utilizar de postulados,

definições, propriedades, figuras geométricas.

Exemplo:

Teorema: Se duas retas são paralelas, então, elas são coplanares.

Recíproco: Se duas retas são coplanares, então, elas são paralelas.

Contra-exemplo: Duas retas concorrentes também são coplanares.

1) Escreva o recíproco dos enunciados e justifique se o recíproco é falso ou

verdadeiro, utilizando as definições abaixo como contra-exemplos.

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r ∩s = Pr ⊂ α s ⊂ α(r,s) =α

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Definição 1: Retas reversas são retas que não se interceptam e não são

coplanares.

Definição 2: Retas ortogonais são reversas e formam um ângulo reto.

Definição 3: Retas perpendiculares são concorrentes e formam ângulo reto.

Definição 4: Retas concorrentes são retas que se interceptam em um único

ponto.

a) Enunciado 1: Se duas retas são perpendiculares, então, elas formam um

ângulo reto.

Recíproco:.............................................................................................................

...............................................................................................................................

.

( ) verdadeiro ( ) falso

Justificativa: ..........................................................................................................

...............................................................................................................................

Esboce a figura que justifica a veracidade/falsidade.

b) Enunciado 2: Se duas retas são paralelas, então, elas não se interceptam.

Recíproco: ............................................................................................................

...............................................................................................................................

...................

( ) verdadeiro ( ) falso

Justificativa:

...............................................................................................................................

......................................................................................................................

104

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Esboce a figura que justifica a veracidade/falsidade.

c) Enunciado 3: Se duas retas são perpendiculares, então, elas são

concorrentes.

Recíproco:

...............................................................................................................................

......................................................................................................................

( ) verdadeiro ( ) falso

Justificativa: ..........................................................................................................

...............................................................................................................................

Esboce a figura que justifica a veracidade/falsidade.

A atividade II faz apelo apenas à figura geométrica na tentativa de

justificar a falsidade dos recíprocos apresentados, de forma que os alunos

pudessem perceber as propriedades que as figuras “mostram” que contrapõem

o recíproco dado.

2) Correlacione as colunas, para justificar a falsidade dos recíprocos por meio

das figuras geométricas.

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Enunciados/recíprocos Figuras geométricas(1) Enunciado: Se uma reta é

concorrente com um plano, então, ela é

concorrente com pelo menos uma reta

do plano.

Recíproco: Se uma reta é concorrente

com pelo menos uma reta do plano,

então, ela é concorrente com o plano.

( )

(2) Enunciado: Se uma reta está

contida em um plano, então, eles têm

um ponto em comum.

Recíproco: Se uma reta e um plano

têm em comum um ponto, então, a reta

está contida no plano.

( )

(3) Enunciado: Se uma reta é

perpendicular a um plano, então, ela

forma ângulo reto com pelo menos uma

reta do plano.

Recíproco: Se uma reta forma ângulo

reto com uma reta de um plano, então,

ela é perpendicular ao plano.

( )

Reforçamos na atividade III, além do recíproco, o papel fundamental da

figura em atividades geométrica que visam à verificação e ao estabelecimento

de verdades. O fizemos, pois as atividades que se seguem terão na

representação figural um apoio na obtenção de uma demonstração.

• Atividade IV

Atividade IV – Demonstrando teoremas: utilização de ferramentas na

construção de um raciocínio lógico dedutivo.

A quarta atividade tem foco central nas demonstrações de propriedades

e conceitos geométricos. Na tentativa de auxiliar os alunos na obtenção de

uma demonstração, apresentamos caixas de ferramentas que julgamos

106

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importantes na redação de uma demonstração (hipóteses de trabalho) e

algumas “técnicas de demonstração”. Trabalhamos os diferentes registros de

representação na busca da demonstração dos teoremas, reforçando a

congruência semântica dos mesmos.

Para que os alunos compreendessem o significado e os objetivos de

uma demonstração, um texto explicativo foi abordado, explicitando, também, a

lógica subjacente de um sistema formal e a importância de conhecimento

operacional no mesmo para se “alcançar” uma demonstração matemática.

Apresentamos também uma caixa contendo símbolos que usualmente são

utilizados nas demonstrações em registro algébrico, além de outros que foram

utilizados na atividade com significados atribuídos pela pesquisadora.

Um exame mais detalhado do que vem a ser uma demonstração

matemática.

Ao longo das atividades desenvolvidas, apresentamos alguns elementos

que compõem um sistema formal e, mais especificamente, aqueles

fundamentais para o processo de se demonstrar. Destacamos, por meio de

situações, a necessidade do reconhecimento desses elementos para uma

operacionalização em um sistema formal, explicitando a consistência lógica

envolvida na “Engenharia da Demonstração” em teoremas da geometria

euclidiana.

A atividade que se segue tem como foco “técnicas de demonstração” e,

para fazermos uma demonstração matemática de um determinado teorema, é

necessário que compreendamos seu significado, a hierarquização dos

processos envolvidos nesta tarefa, os elementos adjacentes explícitos e

implícitos no teorema e que saibamos mobilizar, além dos registros de

representação, as ferramentas necessárias para o processo de se demonstrar.

Sendo assim, alguns pontos seguem esclarecidos:

• O que é demonstrar?

107

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De acordo com o método do qual se vale a matemática para se criar

teorias, demonstrar é provar, sem qualquer dúvida, que um enunciado é

verdadeiro, de tal forma que esta prova seja aceita por uma comunidade de

matemáticos.

Utilizando a definição dada por Balacheff (1987), podemos dizer que uma

demonstração matemática é uma atividade de raciocínio lógico, encadeada

por uma seqüência de enunciados organizados numa regra de dedução,

interferindo nas capacidades cognitivas, metodológicas e lingüísticas,

objetivando validar teoremas por meio de uma explicação que leva a

convicção.

• Para que demonstrar?

Para explicar, verificar, esclarecer, validar e convencer a si e a outros que

um enunciado matemático é verdadeiro.

• Como fazer uma demonstração?

Na matemática, para fazermos uma demonstração, utilizamos postulados,

definições, propriedades e teoremas já estabelecidos em um critério lógico

e seqüencial. Estas serão nossas ferramentas de trabalho na obtenção de

uma demonstração. Nossas demonstrações também deverão seguir uma

hierarquização na utilização das ferramentas, organizadas de acordo com

regras determinadas.

• Tipos de demonstração

As demonstrações podem ser diretas ou indiretas (redução por absurdo).

As diretas são feitas no sentido de hipóteses para a tese, ou seja,

admitindo que as informações nas hipóteses de um teorema sejam

verdadeiras, então, a partir de uma organização lógica de procedimentos,

chegaremos à conclusão também verdadeira.

108

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As indiretas são feitas no sentido oposto das demonstrações diretas (da

tese para hipótese), com a particularidade de se negar a tese intentando

chegar à negação da hipótese gerando, assim, um absurdo.

Alguns símbolos importantes:

Símbolo Significado símbolo significado∈ Pertence ⊃ contém∉ não pertence ∀ para todo∃ Existe ∴ logo⊥ Perpendicular ⇒ implica// Paralelas ⇔ se, e somente se⊂ está contido ≅ congruente⊄ não está contido ⁄ tal que

Significado das simbologias utilizadas na atividade IV:

Simbologia Significado

(A,B) = r Os pontos A e B determinam a reta r.

(A, B, C) = α Os pontos A, B e C determinam o plano α.

( r, A) = α A reta r e o ponto A determinam o plano α.

(r, s) = α As retas r e s determinam o plano α.

Na situação 1 da atividade IV, apresentamos alguns esquemas de

demonstração na linguagem figural, algébrica e natural. O objetivo da

representação figural é destacar a relação entre apreensão perceptiva e

discursiva (relacionada aos dados do teorema) por meio da apreensão

operatória. Colocamos à disposição dos alunos, caixas de ferramentas

auxiliares para justificar os passos da demonstração, logicamente. A

mobilização dos registros de representação também desempenhava esse

papel. A hierarquização dos passos evidência nosso objetivo em destacar a

demonstração mais como “uma hierarquização de passos do que uma

hierarquização de conteúdos”.

Situação 1: Utilizando uma caixa de ferramentas para justificar os passos de

esquemas de demonstração

109

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1) Dado o teorema, preencha o que se pede utilizando seus

conhecimentos adquiridos até o momento e a caixa de ferramentas

apresentada.

Teorema 1: Dados uma reta r e um ponto P fora dela, existe

exatamente um plano α que os contém.

a) Preencha o quadro.

linguagem natural linguagem algébricaHipóteses

Tese

b) Utilizando a caixa de ferramentas apresentada e as hipóteses do

teorema 1, justifique os passos da demonstração feita a partir da

mobilização das figuras, completando os espaços em branco.

Caixa de ferramentas (CF):

Postulado 1: Dois pontos distintos determinam uma única reta que os contém.Postulado 2: Três pontos não colineares determinam um único plano que os contém.

Figuras:

Passo 1: Passo 2: Passo 3:

Justificativa:

Justificativa:

Justificativa: Justificativa: Justificativa:

Dado na hipótese ....................................... ...................................

c) complete a redação da demonstração na linguagem natural:

110

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∃ r e ∃ ..... / P∉.....

∃ A e .... ∈ ...com .....≠...... / (A, B) = .....

(P,A,B) = ..... (r,P) = ....

Temos que, por hipótese, existe uma reta r e um ponto P não pertencente a

................ . Em r, existem os pontos ........ e ......., pois dois

pontos .................... determinam uma única reta (postulado 1 da CF). Os

pontos .......,........ e ......... determinam o plano ......., pois três pontos não

colineares determinam um ...................................... que os contém

(postulado 2 da CF). Como os pontos ...... e ...... pertencem à reta ......,

então, temos que r e ......, determinam o plano ...... .

d) Complete os espaços em branco do esquema demonstração na

linguagem algébrica:

e) A demonstração feita é direta ou indireta? Justifique sua escolha.

.........................................................................................................................

.........................................................................................................................

.........................................................................................................................

Teorema 2: Se duas retas r e s são concorrentes, então, elas

determinam um único plano α que as contém.

Definição: Retas concorrentes são retas que se interceptam em um único

ponto.

a) Preencha o quadro.

linguagem natural linguagem algébricaHipóteses

Tese

b) Utilizando a caixa de ferramentas apresentada e as hipóteses do

teorema 2, justifique os passos da demonstração feita a partir da

mobilização das figuras, completando os espaços em branco.

111

Post. 1 (C.F)

...............

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Caixa de ferramentas (CF) :

Postulado 1: Dois pontos distintos determinam uma única reta que os contém.Postulado 2: Três pontos não colineares determinam um único plano que os contém.Postulado 3: Se dois pontos de uma reta estão em um plano, então, a reta está contida neste plano.

Figuras:

Passo 1: Passo 2: Passo 3:

Justificativa: Justificativa: Justificativa:

.................................. ................................ ................................

.................................. .................................. ................................

c) complete a redação da demonstração na linguagem natural:

Temos que as retas ........ e ........ são concorrentes por ......................., logo, a

interseção entre elas é um ...............P. (definição de retas ......................).

Existe na reta r um ponto ....... e na reta ...... um ponto ......., de tal forma que

os pontos ....... e ...... são diferentes do ponto ...... .(Postulado 1 da CF). Então,

temos que os pontos ......, ....... e ...... determinam um único plano .......

(postulado ...... da CF). Como os pontos ...... e ...... determinam a reta ..... e os

pontos ....... e ....... determinam a reta ......, temos que as retas ...... e .......

estão contidas no ...............α. (................................... da CF). Logo, as

retas ....... e ........ determinam o plano ...... e nele estão contidas.

d) Complete o esquema da demonstração na linguagem algébrica:

112

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r∩s = .................................

............

e) A demonstração feita é direta ou indireta? Justifique sua escolha.

...............................................................................................................................

Teorema 3: Se duas retas r e s distintas se interceptam, a interseção é um

único ponto P.

a) Preencha o quadro. linguagem natural linguagem algébricaHipótesesTese

b) utilize a caixa de ferramentas e as hipóteses do teorema 3 para completar

os espaços em branco do esquema de demonstração abaixo:

Caixa de ferramentas (CF) :

Postulado 1: Dois pontos distintos determinam uma única reta que os contém.

DemonstraçãoAfirmativas/construções Justificativas

Suponha que a interseção entre as retas sejam

os pontos distintos P e Q.

Temos que P e Q pertencem à reta r e à

reta .......

P e Q determinam uma única reta.

As retas r e s são coincidentes.

Como ainda não sei quantos pontos tem a

interseção das retas, posso supor a

quantidade que quiser.

Como P e Q estão na ........................ de r e

s, então, pertencem as duas ..............

...................................................................

...................................................................

Absurdo, pois, por hipótese, temos que r e ...... são retas .......................

Logo, a interseção de ..... e ..... só pode ser um único ponto.

c) Escreva na linguagem natural a demonstração do teorema, utilizando o

esquema da letra b como referência.

113

Post. 1 (C.F)

∃ A ∈....../ A ≠ .....

∃ ...... ∈...../.....≠ P

(A,B,P)=α

(A,P) = r e(B, P) =.......

r e ...... ⊂ ......∴ (r, s) = .......

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(P,Q)= r e ......

Suponha que r ∩ s = P e Q /P≠Q.

P ∈..... e .....

...... ∈ r e s

.................Construção

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

d) Complete o esquema da demonstração na linguagem algébrica:

Absurdo, pois, por hipótese, ...... ≠ ......, ∴ r ∩ s = ........

e) A demonstração feita é direta ou indireta? Justifique sua escolha.

...............................................................................................................................

.....................................................................................................................

f) A figura correspondente à demonstração não foi feita. É possível fazer a

figura referente aos passos dados na demonstração feita? Justifique.

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

Na situação 2, desenvolvemos uma demonstração fora de ordem para

que os alunos a organizassem logicamente, justificando com o auxílio da caixa

de ferramentas e das hipóteses do teorema às opções feitas. Na atividade

proposta, o aluno, após organização dos passos, deveria apresentar, nos três

registros de representação (figural, algébrico e natural), a demonstração feita,

uma vez que a coordenação destes registros é importante para a compreensão

dos conceitos geométricos envolvidos nos problemas (hipóteses de trabalho).

Situação 2: Organizando logicamente o esquema de demonstração

114

r = s

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1)Dado o teorema, faça o que se pede:

Teorema: Se dois planos são perpendiculares e uma reta de um deles é

perpendicular à interseção dos planos, então, essa reta será

perpendicular ao outro plano.

Palavra–chave: Planos perpendiculares são concorrentes.

Caixa de ferramentas (CF):

Postulado 1: Em um plano e fora dele existem tantas retas quanta desejarmos.Postulado 2: A interseção de dois planos é uma única reta.Postulado 3: A interseção de uma reta e um plano é um único ponto.Teorema 1: Dois planos são perpendiculares se uma reta contida em um deles é perpendicular ao outro.Teorema 2: Se duas retas são paralelas e uma delas é perpendicular a um plano, então, a outra reta também o será.Teorema 3: Duas retas perpendiculares ao mesmo plano são paralelas.Teorema 4: Se uma reta é perpendicular a um plano, então, ela é perpendicular a toda reta deste plano no seu ponto de interseção.Teorema 5: Duas retas em um plano são paralelas se ambas forem perpendiculares a uma mesma reta.

a) Enumere corretamente de 1 a 6 para obter a redação da demonstração, sem

deixar de justificar os passos que julgar ser necessário. Para isso, utilize a

caixa de ferramentas apresentada.

( ) Sendo r perpendicular à reta s e r’ perpendicular à reta s, ambas

contidas em α, teremos que r e r’ são retas paralelas.

Justificativa:......................................................................................................

( ) Ainda por hipótese, existe uma reta r contida em α, de modo que r é

perpendicular à reta s. Justificativa:.............................................................

( ) Logo, a reta r e perpendicular a β.Justificativa: ........................................

( ) Por hipótese, temos que os planos α e β são perpendiculares e que a

interseção dos mesmos é uma reta s.

Justificativa: .........................................

( ) Como α é perpendicular a β, então, existe uma reta r’ em α, tal que r’ é

perpendicular a β. Justificativa: .......................................................................

( ) Se r’ é perpendicular a β, então, r’ é perpendicular à reta s no ponto P.

Justificativa:...............................................................................................

b) Utilizando a demonstração feita no item a, complete o quadro:

115

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r ⊂ α e r⊥s

r//r’

linguagem natural linguagem algébricaHipóteses

Tese

c) Faça as figuras do esquema de demonstração feito no item a,

justificando os passos.

Figura 1 Figura 2 Figura 3

Justificativa: justificativa: justificativa:

.......................... ............................ ...........................

.......................... .............................. ............................

Figura 4 Figura 5 Figura 6

Justificativa Justificativa Justificativa

........................... ................................ ............................

........................... ................................. ..............................

d) Complete o esquema de demonstração algebricamente. Justifique os

passos

116

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e) Redija a demonstração na linguagem natural

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

Nas situações realizadas na quarta atividade, reforçamos, a todo o

momento, o estatuto do teorema e a importância da definição das suas

hipóteses para que os alunos a reconhecessem como ferramentas

indispensáveis na demonstração de um teorema.

• Atividade V

A proposta da quinta atividade é que o aluno coloque em prática tudo que

foi apreendido com as outras atividades, criando ele mesmo seus esquemas de

demonstração, suas caixas de ferramentas para justificação dos passos

adotados e coordene os registros de representação até então trabalhados.

Atividade V: Criando esquemas de demonstração: utilizando todas as

ferramentas anteriores.

Informações adicionais:

Postulado 1: Em um plano e fora dele existem quantos pontos quisermos.

Postulado 2: A interseção de dois planos é uma única reta.

Postulado 3: Dados dois triângulos, se dois lados e o ângulo determinado por

eles em um dos triângulos forem congruentes aos elementos correspondentes

do outro triângulo, então, esses triângulos são congruentes.

Teorema 1: Por um ponto fora de uma reta, existe um único plano que os

contém.

Teorema 2: Se um plano intercepta dois planos paralelos, então, as

interseções são duas retas paralelas.

117

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Teorema 3: Se uma reta é perpendicular a duas retas concorrentes em seu

ponto de interseção, então, ela é perpendicular ao plano que as contém.

Teorema 4: Em um plano, se uma reta é perpendicular a uma de duas retas

paralelas, então, é perpendicular à outra.

Teorema 5: Se uma reta e um plano são perpendiculares, então, o plano

contém toda reta perpendicular à reta dada, no seu ponto de interseção com o

plano dado.

Na primeira atividade, foi solicitado que os alunos associassem aos passos

apresentados a figura geométrica mais adequada. Para resolver a atividade, é

necessário que, a partir da apreensão discursiva, o aluno consiga relacionar a

figura geométrica associada às propriedades de cada enunciado.

Implicitamente, trabalhamos a apreensão operatória nas “reconfigurações”

feitas nas figuras de acordo com cada passo.

Com os conhecimentos e técnicas adquiridos ao longo das atividades,

resolva as situações apresentadas de acordo com o que se pede.

1) Dado o teorema abaixo, associe a cada um dos passos apresentados a

figura correspondente mais adequada.

Teorema: Se uma reta é perpendicular a um de dois planos paralelos,

então, ela é perpendicular ao outro.

(1) Dados os planos paralelos α e β e a reta r perpendicular a β.

(2) Seja A um ponto qualquer do plano α não pertencente a r.

(3) O ponto A e a reta r determinam um plano γ que os contém.

(4) O plano γ intercepta os planos α e β nas retas t e s, respectivamente, tal

que t e s são retas paralelas.

(5) A reta r é perpendicular as retas s e t.

(6) Seja B um ponto qualquer do plano α não pertencente a r.

(7) O ponto B e a reta r determinam um plano φ que os contém.

(8) O plano φ intercepta os planos α e β nas retas u e v, respectivamente,

tal que u e v são retas paralelas.

(9) A reta r é perpendicular às retas v e u.

118

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( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

119

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( ) ( )

( )

A partir da numeração feita, pedimos aos alunos que fizessem a

demonstração do teorema, se orientando pelas figuras, não esquecendo de

justificar cada passo. A criação de uma caixa de ferramentas também foi

solicitada nesta atividade.

Para que os passos apresentados constituam uma demonstração, são

necessárias algumas informações adicionais que justifiquem tais passos. Tente

identificar tais informações e crie uma caixa de ferramentas para esse teorema

(utilize as informações dadas no início da atividade). Antes, preencha o quadro

com as hipóteses e tese do teorema.

120

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linguagem natural linguagem algébricaHipóteses

Tese

Caixa de ferramentas:

Utilize os passos apresentados, as hipóteses e a caixa de ferramentas criada

para escrever a demonstração do teorema na linguagem algébrica.

Na atividade 2, um problema envolvendo congruência de triângulos foi

sugerido. Os ajustes na figura apresentada se mostrariam como ferramentas

úteis na solução do problema, caso os alunos conseguissem mobilizar as

informações dadas no enunciado (discursivo) com a figura dada. Novamente

pedimos que uma caixa de ferramentas fosse criada para justificar as opções

escolhidas na resolução da tarefa. Deixamos que os alunos escolhessem o

esquema de demonstração a ser feito.

2) Seja a figura 1. Sabendo que A, B e C estão no plano α ,que P é externo

a α , α⊥PA e ABAC ≅ , demonstre que PBPC ≅ .

121

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Figura 1

Caixa de ferramentas:

Demonstração do problema:

A última tarefa da atividade 5 trabalha com todos os itens destacados

nas atividades anteriores: o estatuto do teorema e das figuras geométrica, os

diferentes registros de representação, a congruência semântica entre as

representações utilizadas, a caixa de ferramentas como auxílio nas

justificações dos passos adotados na obtenção de uma demonstração, a

apreensão operatória e as “reconfigurações intermediárias” na figura. Todos

eles com o objetivo de facilitar a redação de uma demonstração.

122

Faça as modificações que achar necessário na

figura para resolver o problema. Justifique suas

conclusões utilizando seus conhecimentos e as

informações adicionais no início da atividade. Crie

uma caixa de ferramentas para esse problema.

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3) Faça a demonstração do enunciado abaixo de acordo com o que se pede:

Enunciado: Sabendo que as retas ↔BC e ↔

BD estão em um plano α, que o

plano β⊥ ↔BD em B, o plano γ⊥ ↔

BC em B e que α e β se interceptam em ↔AB ,

demonstre que ↔AB ⊥α.

a) Preencha o quadro:

linguagem natural linguagem algébricaHipóteses

Tese

b) Faça uma figura para o enunciado e os ajustes necessários para obter a demonstração do teorema:

c) Crie uma caixa de ferramentas para esse problema:

Caixa de ferramentas:

123

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d) Demonstre algebricamente o enunciado:

e) Escreva na linguagem natural a demonstração feita no item anterior.

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

124

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6 ANALISANDO OS RESULTADOS

Nossa seqüência didática teve como objetivo principal apresentar aos

alunos “processos histórico-didático-metodológicos de demonstrações” no

ensino de Geometria Euclidiana, de forma que a mesma auxiliasse no

desenvolvimento de habilidades geométricas e no desenvolvimento do

raciocínio lógico dedutivo. Para alcançarmos os objetivos delimitados,

trabalhamos com o papel heurístico da figura e suas apreensões (Duval, 1995),

o estatuto do teorema e com os registros de representação natural, algébrico e

figural, apresentando a demonstração matemática mais como uma

hierarquização de tarefas do que de conteúdos.

Analisaremos nossa seqüência focando cada uma das atividades

desenvolvidas e, posteriormente, faremos uma análise mais geral das

observações feitas. Finalmente, retomaremos nossas hipóteses de pesquisa

procurando, a partir da análise elaborada, validá-las ou não.

Em nossos resultados, consideraremos também as observações e os

diálogos feitos pela pesquisadora com os alunos que participaram do processo,

uma vez que os comentários e os comportamentos em sala de aula se

mostraram fontes ricas de dados.

Não faremos nesta análise um escore de quantidade de acertos e erros,

apenas consideraremos qualitativamente os pontos que julgamos ser

importantes para uma compreensão dos resultados obtidos com a aplicação da

seqüência didática.

6.1 Análise individual das atividades da seqüência didática

• Análise da atividade I

A primeira atividade de nossa seqüência apresentou aos alunos algumas

ferramentas necessárias para se fazer uma demonstração e como

125

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associar/relacionar as mesmas na resolução de problemas geométricos. Como

os alunos já haviam passado pela disciplina de geometria plana e estavam

cursando a disciplina de geometria espacial (c.f cap. 4), os mesmos não

apresentaram muitas dificuldades para resolver os problemas propostos.

Uma das questões (situação1-1) que geraram dúvidas e que poucos

alunos erraram estava relacionada ao conceito de pontos, retas, planos e suas

associações. Supomos que o erro esteja relacionado a um obstáculo

epistemológico na conceituação do infinito e na sua representação figural. A

atividade em questão pedia para que os alunos indicassem, utilizando uma

figura, quantos pontos havia entre dois pontos dados em uma reta. Como na

figura nenhum ponto estava destacado, alguns afirmaram que não havia ponto

algum.

Na mesma questão outro erro ocorreu quando perguntamos quantos

pontos havia fora da reta e os alunos responderam de acordo com a

quantidade de pontos que estavam feitos e nomeados na figura, não

estendendo, assim, a representação com o conceito de infinito. Especulamos

também que os erros cometidos estejam relacionados com a proposta da

pergunta anterior, em que se pede para quantificar os pontos “nomeados”

sobre a reta da figura. A palavra “nomeados” pode ter sido outro obstáculo

lingüístico (c.f Cap. 5) na resolução da atividade, pois os alunos podem ter

associado à palavra a todas as perguntas, mesmo que ela não aparecesse.

Apresentamos, na atividade I de nossa seqüência, postulados e

definições necessários para a resolução de alguns problemas, tentando, com

isso, evidenciar a lógica existente em um sistema formal. Porém, o fizemos de

tal forma que a solução das atividades (situação 2 – 4, 6, 7) dependia desses

postulados/definições, mas os mesmos foram expostos após as tarefas em que

eles eram solicitados.

Nossa intenção era a de que os alunos inferissem um possível resultado

e percebessem a necessidade de um postulado para justificar suas respostas.

Para facilitar a percepção, pedimos que a figura do problema fosse esboçada,

126

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trabalhando, assim, com dois registros de representação distintos (discursivo e

figural) e a relação semântica entre os mesmos. Todos os alunos, sem

exceção, perceberam de prontidão a falta de “algo” que justificasse as

respostas determinadas e foram capazes de representar geometricamente a

situação.

Acreditamos, como Duval, que essa percepção realmente tenha sido

facilitada com a figura geométrica do problema, uma vez que a visualização e a

construção são processos cognitivos fundamentais para a aprendizagem e a

compreensão de conceitos geométricos e determinantes na distinção entre o

raciocínio argumentativo e o raciocínio dedutivo, este último relacionado à

demonstração matemática.

Na situação 3, trabalhamos com o estatuto do teorema e os diferentes

registros que podemos utilizar para representá-lo. Novamente, optamos por

focar em mais de um registro de representação para que os alunos

começassem a criar o hábito de associar a cada um deles o mesmo “objeto

matemático”. “A compreensão de um conceito se dá na mobilização de pelo

menos dois registros de representação semiótica distintos”.

As tarefas solicitavam que os alunos determinassem as hipóteses e tese

de teoremas dados e os representassem na linguagem natural, figural e

algébrica. A fim de orientar na determinação do estatuto do teorema,

apresentamos sua forma condicional para que as hipóteses e tese ficassem

explícitas no enunciado. Alguns alunos apresentaram dificuldades em

transcrever os teoremas da atividade na sua forma condicional, porém,

percebemos que ela estava mais relacionada a um problema gramatical

(conjugação verbal) do que um problema matemático. Isso porque todos os

alunos conseguiram determinar corretamente as hipóteses e a tese do

teorema, com exceção do teorema 2: Duas retas paralelas a uma terceira, são

paralelas entre si.

Neste teorema, acreditamos que a representação figural pode ter sido

um obstáculo na obtenção da hipótese, pois a apreensão perceptiva parece

127

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não ter sido associada à apreensão discursiva (dados do teorema). A Figura 7

retrata o esboço mais realizado pelos alunos:

Figura 7: Esboço comum entre os alunos que fizeram a Seqüência didática

Apenas um dos alunos conseguiu determinar corretamente as hipóteses

e a tese do teorema, em todas as linguagens solicitadas. Os outros alunos

determinaram que a hipótese do teorema era a de que as retas r, s e t fossem

paralelas, sendo a tese a mesma relação. Neste caso, pensamos como Duval,

quando afirma que muitos dos problemas na compreensão de conceitos

geométricos estão associados à forma de apreender e registrar as figuras

geométricas, não estabelecendo uma relação entre os dados do problema e

sua representação figural, utilizando-a apenas como referência para a

conclusão.

Conclusão: No geral, cremos que os objetivos delimitados para a atividade 1

de nossa seqüência foram alcançados, pois os alunos conseguiram relacionar

os postulados/definições apresentados com a solução dos problemas

propostos e perceber a necessidade dos mesmos na obtenção de justificativas

para suas respostas, explicitando, assim, a lógica do sistema formal. A

mobilização entre os registros de representação utilizados contribuiu para

compreensão dos conceitos geométricos envolvidos nos problemas

trabalhados, uma vez que, por meio das representações feitas, os alunos

conseguiram estabelecer as relações necessárias para resolver os problemas e

determinar o estatuto do teorema.

• Análise da Atividade II

A fim de reforçarmos as relações semânticas entre os registros de

representação e as atribuições dadas às figuras geométricas a partir de

definições e teoremas, na segunda atividade focamos a congruência e a não-

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congruência entre as representações. Novamente, pedimos que as hipóteses e

a tese de teoremas fossem destacadas na linguagem algébrica, tendo como

referência a linguagem natural e figural.

Trabalhamos com definições e teoremas que poderiam ter mais de uma

representação figural, estabelecendo, assim, a necessidade dos alunos em

relacionarem a apreensão discursiva com a perceptiva, de tal forma que a

solução do problema fosse única. Ressaltamos também, com essa atividade, o

reconhecimento do estatuto da figura geométrica.

Na primeira tarefa da situação 1 da atividade II, os alunos deveriam

relacionar, a cada definição dada, uma figura mais apropriada aos dados do

enunciado. Todos os alunos fizeram corretamente as associações.

Trabalhamos insistentemente com a figura, pois, segundo Duval, a teorização

das figuras geométricas constitui um dos princípios de acesso à demonstração.

Os PCN também ressaltam a importância da visualização (concretização),

afirmando que é através dela que o pensamento geométrico inicialmente se

desenvolve (c.f Cap. 2).

Com essa tarefa, as relações entre as apreensões perceptiva e

discursiva não se mostraram um obstáculo na obtenção da solução do

problema proposto, mesmo que a congruência entre o enunciado e a figura não

se mostrasse tão explicitamente. A conversão entre os registros, tarefa nem

sempre trivial, foi estabelecida corretamente pelos alunos apesar da

congruência dos mesmos não ter sido tão evidente.

No segundo problema, apresentamos alguns teoremas de forma que

estes fossem associados à sua representação figural e que se destacassem as

hipóteses e a tese dos mesmos na linguagem algébrica. Orientando nosso

trabalho para o estabelecimento semântico entre as representações, expomos

figuras que poderiam representar mais de um teorema. Sendo assim, os alunos

deveriam novamente fazer a associação mais apropriada, recorrendo, dessa

forma, a um “discurso mais teórico”, atribuído às propriedades do enunciado.

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Esta atividade gerou dúvidas quanto à determinação do estatuto do

teorema, pois os alunos não sabiam se deveriam determiná-lo pela figura ou

pelo enunciado, que se contrapunham na mesma linha do quadro apresentado

na tarefa. Neste momento, a leitura da atividade com os alunos pela

pesquisadora foi importante para estabelecer como deveria ser feita a atividade

e reforçar que a figura geométrica pode ocultar dados do enunciado. Logo,

utilizá-la como referência pode ser um problema na enunciação das hipóteses

e tese do teorema.

Mesmo com a intervenção da pesquisadora, ressaltando a “limitação”

das figuras geométricas para a determinação do estatuto de um teorema,

verificamos que os alunos se orientavam pela figura para estabelecer a solução

do problema. Este abandono ao enunciado acarretou em erros, pois a

representação figural, assim como afirma Duval, está subordinada e

condicionada às hipóteses de um enunciado.

A maior parte dos erros cometidos estava na ocultação de informações

associadas às hipóteses do teorema. Também houve erros em que nenhuma

congruência entre o enunciado e as hipóteses do mesmo foi estabelecida. Esse

fato, de acordo com Duval, ocorre “porque a figura desvia de algum modo, um

fragmento do discurso teórico” (c.f p. 26) e uma figura geométrica pode

representar mais de um enunciado, se a coordenação dos registros de

representação utilizados não ocorrer simultaneamente.

Pensamos que, ao apresentarmos os teoremas em sua forma

condicional, facilitaríamos a determinação das hipóteses e tese e que os alunos

espontaneamente conseguiriam determiná-los. Como isso não ocorreu,

acreditamos que, se pedíssemos na atividade a redação na linguagem natural

do estatuto do teorema, a associação (congruência) entre os registros

utilizados poderia ser mais bem percebida pelos alunos.

Na situação 2, queríamos reforçar as atribuições da figura associada aos

enunciados e evidenciar que a mesma representação figural pode ser

relacionada com outros teoremas. Dados alguns teoremas, pedimos que os

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alunos destacassem as hipóteses e a tese na linguagem algébrica e fizessem a

representação figural da situação.

Durante a realização da tarefa, percebemos que os alunos começaram

fazendo a figura do problema para, depois, destacar as hipóteses e a tese. As

figuras foram condizentes com o enunciado, porém, sentimos falta de uma

melhor percepção espacial, uma vez que os teoremas trabalhados

extrapolavam o plano. Novamente, erros ocorreram na determinação das

hipóteses e da tese e concluímos que os mesmos estavam relacionados com

os motivos expostos na situação anterior.

Utilizando essa premissa, moldamos as atividades que se seguiram,

recorrendo à linguagem natural como fundamental na compreensão dos

conceitos envolvidos na engenharia das demonstrações.

Conclusão: Um dos objetivos da atividade, centrado em destacar a

congruência e não-congruência entre registros distintos de representação, foi

parcialmente alcançado, pois os alunos não cometeram erros ao associar os

enunciados (linguagem natural) à sua representação figural. Porém, não foram

capazes de relacionar as associações feitas com a determinação das hipóteses

e tese na linguagem algébrica. Com isso, acreditamos que o estatuto da figura

geométrica, subordinado às hipóteses, não foi totalmente compreendido e que

uma “inversão” dos papéis tenha comprometido o desenvolvimento da

atividade, mesmo com a explicação feita pela pesquisadora. A representação

na linguagem natural dos elementos de um teorema se mostrou fundamental

para o estabelecimento da congruência semântica entre os registros de

representação utilizados.

• Atividade III

Em nossa terceira atividade, trabalhamos o recíproco de um teorema,

sua redação e ferramentas que justificariam se o mesmo era verdadeiro ou

falso. Com essa atividade, reforçaríamos o estatuto do teorema, das figuras

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geométricas e a mobilização entre registros distintos para o entendimento dos

conceitos geométricos envolvidos nas tarefas propostas.

Na primeira situação, pedimos que os alunos, a partir de um teorema

dado, redigissem, na linguagem natural, o seu recíproco e a expressão

unificada entre teorema/recíproco. Ainda, solicitamos que os alunos

destacassem os elementos do teorema e do recíproco na linguagem algébrica

e que representassem graficamente a situação. Um exemplo dos passos foi

exposto nessa tarefa para auxiliar na realização da atividade.

Percebemos, novamente, uma dificuldade dos alunos em redigirem em

linguagem natural o recíproco e a expressão unificada. Apesar de identificarem

corretamente o recíproco do teorema 1 (observação feita pela pesquisadora

durante a aplicação da seqüência), a redação, tanto do recíproco quanto da

expressão unificada, era incoerente gramaticalmente. Algumas respostas dos

alunos confirmam a afirmação feita:

• Recíproco

“Se dois planos são paralelos, então um deles contém retas

concorrentes que ambas são paralelas ao outro.”

“Se dois planos são paralelos, então existirão duas retas em um plano e

paralelas ao outro.”

“Se dois planos são paralelos então existe duas retas concorrentes em

um deles e que é paralelo ao outro.”

• Expressão unificada

“Dois planos são paralelos se e somente se, duas retas concorrentes de

um dos planos for paralela ao outro plano.”

“Se dois planos são paralelos se e somente se duas concorrentes em

um dos planos e as retas serão paralelas ao outro plano.”

Especulamos que essa incoerência pode ter acarretado nos erros

cometidos na obtenção das hipóteses e da tese do recíproco, uma vez que, ao

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tentar estabelecer uma correspondência com os dados definidos na redação do

recíproco, o aluno ocultou ou usou informações errôneas acerca do enunciado.

Chamou a atenção o fato de todos os alunos escolherem a forma

condicional para escrever o recíproco. Acreditamos que os mesmos tenham

percebido nesta um facilitador para obter os elementos de um teorema.

A figura geométrica da situação foi corretamente esboçada por todos os

alunos, porém, os que erraram as hipóteses e a tese, caso fizessem a

associação dos registros, deveriam perceber o erro. Essa visão fragmentada

mostra que a produção e a apreensão de uma representação (semióse)

ocorrem, mas isso não significa que apreensão conceitual (noésis) tenha

acontecido. Como Duval, apoiamos nossas idéias na mobilização de vários

registros, para que o aluno crie o hábito de relacioná-los e reconhecer em cada

um deles o “objeto matemático” trabalhado.

Na mesma atividade, os alunos apresentaram dificuldades semelhantes

no desenvolvimento com o teorema 2 e, novamente, erraram na obtenção das

hipóteses e tese do teorema, porém, o número de erros foi consideravelmente

menor. Como vínhamos trabalhando a conversão entre os registros de

representação, assumindo que esta “só será compreendida, se os sistemas

semióticos forem vistos em sua relação entre conhecimento/representação (c.f

p. 30 ), e que “mudar de um registro para outro não significa apenas mudar o

tratamento de um objeto, significa também explicar suas propriedades ou seus

distintos aspectos.”(c.f p. 30 ), acreditamos que a relação semântica entre os

mesmos começou a ser vista pelos alunos como uma necessidade lógica.

Ressaltamos que alguns conceitos tiveram que ser retomados pela

pesquisadora, pois nem todos os alunos tinham compreensão dos mesmos,

impossibilitando a execução da tarefa.

Na situação 2 da atividade em questão, abordamos a

veracidade/falsidade do recíproco, apresentando ferramentas de justificação.

Em uma primeira atividade, exibimos alguns enunciados e solicitamos que seu

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recíproco fosse determinado, de forma que os alunos apontassem se o mesmo

era falso ou verdadeiro e justificassem a opção.

Para justificar, algumas definições deveriam ser utilizadas como contra-

exemplos acompanhados de sua respectiva figura. Diferente da atividade

anterior, na qual todos os recíprocos eram verdadeiros (mesmo que não

tenhamos trabalhado essa relação explicitamente), os enunciados

apresentados na atividade 1 tinham como recíproco uma afirmação falsa. Mais

do que trabalhar o recíproco, esta atividade contribuiu para reforçar alguns

conceitos geométricos e suas atribuições.

Poucos alunos erraram a questão 1 e acreditamos que os erros

ocorridos estejam condicionados a três fatores. O primeiro, associado à

conversão das definições dadas em recíprocos das mesmas. Segue a solução

dada por um dos alunos que não acertou uma das tarefas, referente ao

enunciado 3:

Enunciado 3: Se duas retas são perpendiculares, então elas formam um

ângulo reto.

Recíproco: Duas retas que formam ângulo reto são perpendiculares

(verdadeiro)

Justificativa: Retas perpendiculares são concorrentes e formam ângulo reto.

Figura:

Figura 8: Representação figural dada pelo aluno

134

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Acreditamos que, ao justificar, o aluno tenha “lido” a definição

apresentada como justificativa da tese para hipótese, ou seja, determinado seu

recíproco. Dessa forma, ele assumiu que se duas retas formam ângulo reto,

então estas, são perpendiculares.

O segundo fator relaciona-se com o próprio enunciado do problema, pois

pedimos que as definições fossem utilizadas para contradizer o recíproco e não

confirmá-lo. Logo, acreditamos que os alunos que erraram não souberam

interpretar a questão.

O terceiro e último, o mais preocupante, é ligado à não compreensão

dos conceitos necessários para a solução do problema. Como afirma

Pavanello, o abandono do ensino de Geometria na educação básica ou a

precária aprendizagem da mesma nos cursos de formação de professores se

mostram como obstáculos na aquisição dos conceitos geométricos que,

normalmente, são apreendidos por memorização e repetição de processos,

destituídos de qualquer sentido para os alunos.

Apesar de alguns erros, todos os alunos conseguiram escrever

corretamente o recíproco e os que acertaram a justificativa de sua falsidade

conseguiram esboçar corretamente a figura como contra-exemplo.

Ressaltamos que a pesquisadora orientou os alunos no traçado de retas

reversas, mostrando aos alunos as interseções das paredes da sala de aula

como exemplo.

Na última tarefa da atividade III ressaltamos a importância da figura

como suporte de verificação/refutação de propriedades e relações de um

enunciado. Apresentamos três enunciados com seus respectivos recíprocos e

pedimos que os alunos justificassem a falsidade dos recíprocos, utilizando as

figuras que estavam esboçadas na atividade.

Para o terceiro enunciado, todos os alunos fizeram corretamente a

associação com a figura que contradizia o recíproco. Porém, no primeiro e

segundo enunciados, a turma ficou dividida nas soluções apresentadas.

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Supomos que os alunos que erraram utilizaram o enunciado e não seu

recíproco para associar com a figura mais adequada. Novamente, uma não

compreensão dos conceitos envolvidos no enunciado pode ter acarretado nos

erros cometidos. E, se não há reconhecimento do objeto matemático tratado no

problema, não é possível que os alunos estabeleçam relações entre os

registros de representação abordados.

Conclusão: Delimitamos, para essa atividade, a apresentação do recíproco de

um teorema e como determiná-lo, além de ressaltarmos que nem sempre os

mesmos são verdadeiros. Acreditamos que não alcançamos efetivamente

nossos objetivos, por termos esbarrado em obstáculos de natureza lingüísticas

e didáticas. Mesmo que os alunos argumentassem com coerência sobre o

recíproco, a teorização do mesmo foi comprometida. A conversão entre os

registros de representação, mesmo que estabelecida corretamente na maioria

dos casos, ainda não nos convenceu de que os alunos estejam

mobilizando/coordenando os mesmos espontaneamente.

• Atividade IV

Efetivamente, começamos a trabalhar com as demonstrações nesta

atividade. Nas que a precederam, tentamos enfatizar alguns dos elementos

importantes do sistema formal, a operacionalização lógica do mesmo, a

coordenação de diferentes registros de representação e suas relações

semânticas, o estatuto do teorema e das figuras geométricas e algumas

ferramentas que julgamos indispensáveis na obtenção de uma demonstração.

Em uma primeira situação, apresentamos esquemas de demonstração

nas linguagens figural, algébrica e natural. Porém, estes esquemas estavam

incompletos para que os alunos obtivessem parcialmente a prova de alguns

teoremas. Reforçamos, com esta atividade, a necessidade de justificar cada

escolha feita na redação da demonstração, recorrendo, para isso, à caixa de

ferramentas apresentada e as hipóteses do enunciado.

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Nos três teoremas dados na atividade, os alunos conseguiram

estabelecer corretamente as hipóteses e a tese por meio dos enunciados na

linguagem natural. Na linguagem algébrica, houve “encobrimento” de dados

para os três teoremas. Acreditamos que esta falha tenha ocorrido pelo fato de

os alunos não conhecerem simbologia matemática suficiente para transpor os

dados, apesar de apresentarmos na atividade uma quantidade de símbolos

para auxiliar este trabalho. Cremos que não foi a falta de relação entre os

registros que acarretou no erro, pois os alunos mostraram compreender o

estatuto do teorema nas atividades que haviam sido desenvolvidas. Logo,

representá-lo não seria um problema, a não ser que o conhecimento de um

determinado tipo de registro fosse desconhecido ou insuficiente.

Para os teoremas 1 e 2, apresentamos um esquema figural de

demonstração, no qual reconfigurações da figura inicial havia sido feito. Para

cada nova figura esboçada, pedimos que os alunos justificassem as

modificações feitas, utilizando, para isso, ferramentas que lhes foram exibidas.

Todos os alunos justificaram corretamente as alterações expostas, revelando

assim que a apreensão operatória, relacionada às modificações que uma figura

pode sofrer, foi percebida e reorganizada “perceptivamente” e

“discursivamente” com o auxílio da caixa de ferramentas.

Esta atividade também serviu para reforçar com os alunos que as figuras

geométricas são construídas a partir de conceitos e fundamentos sólidos, que

não surgem do nada. Sendo assim, o que se vê em uma figura não é suficiente

para provar um teorema; é necessário que se exponham os passos dados para

a “sistematização” da prova. A figura auxilia, mas não contempla.

Estabelecidas as justificativas das modificações da figura, pedimos que

os alunos completassem um esquema de demonstração na linguagem natural,

sem deixar de justificar cada afirmação. Não houve erros nessa tarefa.

Observamos que os alunos voltaram à figura para completar o esquema,

estabelecendo relações entre os registros, associando, logicamente, cada

passo determinado. O mesmo ocorreu quando solicitamos que um esquema

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algébrico de demonstração fosse completado com informações para obtermos

a prova do teorema, de forma que todas as escolhas feitas fossem justificadas.

Acreditamos, como Duval, que a mobilização de registros de

representação são fundamentais para a compreensão de conceitos

matemáticos e a articulação dos mesmos em atividades que promovam o

desenvolvimento de raciocínio lógico. Logo, os alunos mostraram entender

melhor os passos de uma demonstração e sua importância na teorização da

Geometria, relacionando e coordenando com mais consciência os registros de

representação.

As demonstrações utilizadas no teorema 1 e 2 foram “diretas”. Um texto

explicativo sobre tipos de demonstração foi exposto. Os alunos parecem ter

compreendido o que é fazer uma demonstração direta, pois todos confirmaram

este fato nos teoremas citados.

Para o terceiro teorema da atividade, apresentamos um esquema de

demonstração (indireta/absurdo) em duas colunas, de tal forma que, em uma

delas, apresentamos os passos (construção) para a demonstração e, na outra,

as justificativas para cada passo estipulado. Reforçamos, novamente, com

essa tarefa, a necessidade de justificar logicamente cada decisão tomada na

aquisição de uma prova, recorrendo, assim, às ferramentas dadas.

A resolução dessa tarefa foi a que provocou mais discussão entre os

alunos na hora de completar os espaços em branco e justificar as opções

definidas. Não explicitamos se tratar de uma demonstração indireta; logo,

supomos que este fato possa ter contribuído para as dúvidas que surgiram.

Gostaríamos de frisar que não definimos as demonstrações “indiretas”

como demonstrações por “absurdo”, mesmo que exista uma correlação entre

as mesmas. Utilizamos a definição dada por Polya (1995) para cada uma

delas, a saber: Indireta: Estabelece a verdade de uma afirmativa por revelar a

falsidade da suposição oposta; Absurdo: Mostra a falsidade de uma suposição

derivando dela um absurdo flagrante (p.52).

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As dificuldades apresentadas pelos alunos, de acordo com Polya, têm

raízes mais profundas, uma vez que, na história da matemática, alguns

filósofos já mostravam objeções a esses tipos de demonstração, não nos

surpreendendo a aversão dos alunos em utilizá-las.

Atingir uma demonstração, utilizando a forma indireta (a que focamos

em nosso trabalho), requer um grande esforço intelectual para conquistá-la e

para compreendê-la perfeitamente. Sendo assim, é natural que, como fruto de

tanto esforço, desejemos que o “conhecimento” alcançado seja inserido em

nosso “HD” intelectual, porém o que se alcança com a demonstração indireta

deve ser descartado, “deletado”, pois se trata de uma conjectura que se

mostrou falsa.

Ao fazermos a demonstração indireta, somos obrigados a concentrar

profundamente nossa atenção em uma suposição falsa que posteriormente

deveremos esquecer, e não no teorema que deverá ser apreendido (Polya,

1995).

Logo, acreditamos que os alunos se perderam durante o processo,

justamente por não se concentrarem na afirmativa falsa, contrapondo

conhecimentos verdadeiros e absurdos. Intuitivamente, como trabalharam

apenas a demonstração direta nos problemas anteriores, os mesmos podem

ter associado à demonstração apresentada no teorema 3 com as outras,

acreditando que algum erro havia sido cometido na demonstração por focarem

seus passos nos dados do teorema. Um exemplo da solução apresentada por

um aluno e que corrobora o que foi dito encontra-se no Quadro 1.

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DemonstraçãoAfirmativas/construções Justificativas

Suponha que a interseção entre as retas

sejam os pontos distintos P e Q.

Temos que P e Q pertencem à reta r e à reta

s

P e Q determinam uma única reta.

As retas r e s são coincidentes.

Como ainda não sei quantos pontos tem a

interseção das retas, posso supor a

quantidade que quiser.

Como P e Q estão na mesma reta de r e s,

então pertencem às duas retas

Logo, P e Q são um único ponto

Absurdo, pois, por hipótese, temos que r e s são retas concorrentes

Logo, a interseção de r e s só pode ser um único ponto.

Quadro 1: Solução apresentada por um dos alunos para a demonstração do teorema 3

As palavras grifadas e em negrito correspondem à resposta dada pelo

aluno. Notamos, com essa resposta, que a suposição feita na primeira coluna,

acerca da interseção das retas, em momento algum foi considerada, uma vez

que o aluno usa o fato de os pontos P e Q serem iguais na demonstração feita.

Parece que o mesmo se apoiou nos dados do teorema para completar o

esquema apresentado, nem percebendo a incoerência das justificativas para as

construções explicitadas. O abandono total da afirmativa falsa ocorreu.

Pensamentos do tipo “Como queremos provar a veracidade de algo, é

necessário utilizarmos de afirmações verdadeiras” podem ter sido

determinantes na forma como o aluno apresentou sua solução.

Destacamos que grande parte dos alunos apresentou problemas

similares e, quando pedimos que redigissem na linguagem natural a

demonstração feita, os que erraram o preenchimento do esquema de duas

colunas, apresentaram textos totalmente desconectados com o quadro e não

concluíram o que o teorema exigia, ou seja, que a interseção de duas retas

distintas era um único ponto. Algumas respostas:

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Redação da demonstração na linguagem natural pelos alunos

“Existem duas retas concorrentes; os pontos P e Q pertencem às retas,

logo P e Q são um único ponto.”

“A interseção entre duas retas é um ponto P e Q, que determinam uma

única reta, então as retas são coincidentes.”

“Existem P e Q pertencentes a r e s, onde P e Q determinam uma única

reta, logo r e s são coincidentes”.

Não acreditamos, neste caso, que o estatuto do teorema não tenha sido

compreendido, pois, mesmo que a demonstração estivesse errada, os alunos

acertaram as hipóteses e tese. Observamos a inquietação dos alunos, quando

não conseguiram associar a redação apresentada aos dados do teorema.

Conseqüentemente, os mesmos alunos também erraram a

demonstração no esquema algébrico, não percebendo que o absurdo gerado

era que as retas r e s eram coincidentes, uma vez que, por hipótese, elas eram

distintas. Eles concluíram que o absurdo era que o ponto P era igual ao ponto

Q, mesmo afirmando, no esquema do quadro, que os mesmos eram iguais.

Acreditamos que esses alunos responderam que a demonstração era

indireta, utilizando a palavra “absurdo” como evidência, uma vez que, ao

definirmos a demonstração indireta na atividade, destacamos esta palavra.

Realmente acreditamos que eles não tenham compreendido o porquê daquela

demonstração apresentada ser do tipo “indireta” e não conseguiram justificar se

a figura dos passos poderia ser ou não feita. Grande parte deles deixou em

branco esta pergunta.

Devemos salientar que houve acertos para essa tarefa, mesmo que em

baixa proporção. Poucos alunos conseguiram completar corretamente todos os

itens da tarefa, estabelecendo uma rede semântica e lógica entre todos os

esquemas de demonstrações utilizados.

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Para a situação dois, apresentamos (letra a) passos da construção de

uma demonstração fora de ordem, para que os alunos os organizassem

logicamente, sem deixar de justificar cada construção/afirmação feita.

Intencionalmente, não pedimos que as hipóteses e a tese do teorema

fossem destacados, para analisarmos se a falta dos mesmos acarretaria em

alguma dificuldade na organização seqüencial da demonstração. Além disso,

nenhuma figura geométrica foi esboçada para que os alunos se orientassem.

Notamos que a falta dessas “ferramentas” constituiu um problema na

solução da tarefa. Acreditamos que, como não ocorreu uma mobilização entre

mais de um registro de representação, os alunos sentiram dificuldade em

“abstrair” mentalmente as afirmações feitas e não sabiam exatamente o que

queriam demonstrar, pois não se destacou explicitamente a conclusão do

enunciado.

Acreditamos que a frase “por hipótese” ajudaria os alunos a iniciarem

corretamente a ordem seqüencial da demonstração, uma vez que o estatuto do

teorema havia sido intensamente trabalho. Contudo, alguns alunos (poucos)

iniciaram a numeração dos passos erradamente.

A maioria dos alunos numerou os dois primeiros passos corretamente,

porém, perderam-se nas outras informações. Supomos que o número de

atividades nas quais a mobilização e a coordenação de diferentes registros de

representação ocorreram não foi suficiente para que os alunos

desenvolvessem uma habilidade mental mais apurada, sem que a necessidade

de verificação experimental tivesse que ser realizada. Como ressalta Duval, é

preciso um trabalho intenso com vários registros de representação, pois esta

articulação entre os registros é fundamental para o desenvolvimento do

raciocínio e de funções cognitivas do pensamento humano.

Notamos que os alunos que acertaram a ordem seqüencial dos passos

da demonstração apresentada recorreram a figuras e às hipóteses do teorema,

uma vez que estas “ferramentas” estavam explicitadas no corpo da atividade,

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mesmo que não tenhamos solicitado tais “informações” até aquele momento.

Sendo assim, acreditamos que eles tenham percebido a importância dessas

ferramentas para a obtenção de uma demonstração, relacionando

semanticamente às representações distintas da mesma, apreendendo

operatoriamente a representação geométrica, usando, para isso, os dados

estabelecidos pelas hipóteses do enunciado.

Outros alunos que acertaram a questão, o fizeram sem recorrer

visualmente a ferramentas. Dessa forma, especulamos que os mesmos tenham

alcançado um nível de abstração superior à dos demais alunos. O

desenvolvimento da seqüência didática pode não ter sido o único fator

determinante no que tange às habilidades de abstração alcançadas, porém,

acreditamos que tenha contribuído consideravelmente neste aspecto.

Posteriormente a essa tarefa (letra b), pedimos que os alunos

determinassem os elementos do teorema em linguagem natural e algébrica e

fizessem o esboço da figura para cada passo estabelecido na tarefa anterior.

Surpreendeu-nos o fato de alunos utilizarem os dados explicitados nos passos

na questão anterior para determinar as hipóteses e a tese do enunciado, uma

vez que escreveram identicamente as informações contidas na mesma.

Inclusive, os alunos que erraram a ordem dos passos naquela questão,

determinaram as hipóteses corretamente utilizando os dados explicitados, sem

perceberem os erros cometidos na numeração apresentada. O estatuto do

teorema parece não ter chamado a atenção dos alunos para esse fato.

Supomos que não seja uma incompreensão deste estatuto o motivo para a

falta de associação passos/hipóteses/incoerência, pois, nas atividades

anteriores, nas quais reforçamos o estatuto, os alunos mostraram compreender

a importância dos elementos de um enunciado e as hipóteses como referência

inicial para começarmos uma demonstração.

Assim como apontado por Pavanello, Duval e Gouvêa, entre outros

citados em nosso referencial, acreditamos que obstáculos epistemológicos,

143

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didáticos e lingüísticos contribuíram para os erros e as faltas de associações

entre as duas questões apresentadas.

Na mesma questão (letra c), pedimos que os alunos utilizassem a

numeração feita na letra a para esboçar a figura geométrica de cada um dos

passos estipulados. Os alunos que não acertaram a ordem lógica dos passos

para obter a demonstração do teorema começaram a esboçar as figuras,

porém, nenhum deles ultrapassou o quarto passo, não determinando, assim,

todos os esboços solicitados. Acreditamos que, ao traçar as representações

gráficas de acordo com a numeração feita, os alunos perceberam a incoerência

e a falta de padrão lógico nos esboços das figuras.

Outros alunos nem iniciaram essa tarefa, não conseguindo associar aos

passos da demonstração apresentada com suas respectivas figuras.

Pensamos que por se tratar de figuras nas quais uma boa noção espacial fosse

requerida, alguns alunos, por limitações de habilidades de desenho geométrico,

não conseguiram executar a tarefa. Esse fato já vem sendo discutido por

Pavanello que, além de questionar a precariedade do ensino de geometria nos

vários níveis da educação, também ressalta o abandono de aulas de desenho

geométrico, comprometendo, assim, o desenvolvimento de aptidões no traçado

de enunciados por meio de suas características e propriedades.

Realmente percebemos a falta de noção espacial em algumas figuras,

um obstáculo epistemológico que, segundo Duval, só será minimizado com a

coordenação dos vários registros de representação de uma determinada

situação, mas que não deve ser apresentada “acabada” para o aluno. É

necessário que ele mesmo visualize, construa para com isso, desenvolver, por

meio desses mecanismos, o raciocínio exigido para se fazer uma

demonstração.

Mesmos os alunos que acertaram as letras a e b da atividade

apresentaram dificuldades em esboçar as figuras. As reconfigurações

intermediárias ocorreram de forma fragmentada, pois, para cada figura

apresentada, os alunos ocultavam informações das figuras anteriores. Essa

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fragmentação nos passos já havia sido percebida na execução de outras

tarefas.

Devemos salientar que houve alunos que fizeram corretamente os

esboços, justificando coerentemente cada passagem, sem deixar de associar

as figuras esboçadas as suas antecedentes. A apreensão perceptiva,

discursiva e operatória ocorreu sinergicamente na obtenção da solução da

tarefa.

Nas letras d e e, ainda na mesma questão, solicitamos que a

demonstração do teorema fosse feita algebricamente e que sua redação na

linguagem natural fosse apresentada. Os alunos que erraram os itens

anteriores não solucionaram estas tarefas, deixando-as em branco.

Especulamos que, por perceberem os erros cometidos inicialmente, logo

desistiram de concluir a atividade, uma vez que eles não poderiam “voltar” para

fazer acertos nas tarefas anteriores (c.f cap.5).

Os alunos que acertaram as tarefas anteriores não apresentaram

dificuldades em redigir naturalmente a demonstração, tanto que utilizaram a

própria redação expressa na letra a. Algebricamente, novamente destacamos

os erros de alunos em preencher o esquema de demonstração, estes mais

relacionado à falta de conhecimento de simbologia matemática e

operacionalização da mesma.

Conclusão: Na atividade 4, tínhamos como foco principal trabalhar com

esquemas distintos de demonstração, de forma que os alunos associassem à

congruência das mesmas, à complementaridade envolvida em cada uma delas

e a importância de trabalhá-las conjuntamente. As ferramentas apresentadas

para efetivar as demonstrações sugeridas foram uma forma de explicitar a

utilização dos elementos de um sistema formal (postulados, definições,

teoremas) na dinâmica dos processos envolvidos na engenharia de uma

demonstração. Os resultados obtidos nos mostram que os alunos perceberam

a lógica necessária nos passos de uma demonstração, a necessidade de

justificar cada construção realizada e como é fundamental coordenar mais de

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um registro de representação, de forma a perpassar por informações que, às

vezes, estão implícitas em um registro, mais em outro se mostra claramente.

• Atividade V

Na quinta e última atividade, pretendíamos analisar como os alunos

compreenderam as atividades anteriores e os conceitos trabalhados nas

mesmas. Uma liberdade maior de escolha foi estabelecida nas tarefas

estipuladas, de forma que os próprios alunos criassem seus esquemas de

demonstração e uma caixa de ferramentas para justificar as opções

determinadas. Buscamos contemplar, com esta atividade, as abordagens e as

discussões até então realizadas.

Inicialmente, apresentamos um quadro contendo alguns postulados e

teoremas para auxiliar a construção de caixa de ferramentas e ressaltar a

importância destes na consistência lógica do sistema formal.

Em uma primeira tarefa, apresentamos um teorema com passos que

caracterizariam a demonstração do mesmo. Pedimos que os alunos

associassem a cada passo apresentado uma figura que melhor contemplasse

as informações determinadas por estes. É importante ressaltar que muitos dos

esboços apresentados poderiam representar mais de um passo, caso o aluno

não associasse a apreensão discursiva e perceptiva em uma relação muito

próxima de congruência. As reconfigurações intermediárias também deveriam

ser vistas na sua totalidade para que cada apreensão operatória não se

fragmentasse ao longo da demonstração, chegando a um esboço final que

vislumbrasse a tese do teorema.

Todos os alunos associaram corretamente os passos às figuras

esboçadas, correlacionando as propriedades de cada informação nos dois

registros apresentados (natural e figural). A compreensão de um “objeto”

tratado em determinados problemas, segundo Duval, só é estabelecida quando

um sujeito é capaz de representá-lo em mais de um registro, pois, dessa forma,

ele tem que “explicar” os conceitos envolvidos quando faz a transposição de

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uma representação para outra. Logo, acreditamos que os alunos tenham

apreendido os conceitos trabalhados nesta tarefa.

Notamos que quando apresentamos a figura pronta, os alunos mostram

uma dificuldade menor em fazer associações entre registros e reconfigurações.

Concluímos, assim, que se eles não apresentassem dificuldades em esboçar

figuras espaciais (problema citado nas atividades III e IV), a percepção de

passos a serem tomados em uma demonstração seria minimizada.

Em seguida, solicitamos que os alunos apresentassem as hipóteses e a

tese do teorema na linguagem natural e algébrica. Não houve erros nesta

tarefa. Como a representação algébrica havia sido reforçada em todas as

atividades, percebemos que os alunos operacionalizaram melhor os dados.

Vale ressaltar que os símbolos utilizados nesta tarefa são mais comumente

trabalhados em Geometria.

Após determinarem os elementos do teorema, os alunos deveriam criar

uma caixa de ferramentas que justificasse os passos evidenciados na tarefa.

Alguns teoremas apresentados poderiam justificar um único passo; isso pode

ter sido conflitante para os alunos estabelecerem qual seria a melhor opção.

Mesmo assim, os alunos conseguiram criar a caixa de ferramentas com as

informações necessárias para justificar a demonstração realizada. Porém, nem

todos escolheram os mesmos teoremas.

Queríamos mostrar para os alunos que as demonstrações não precisam,

necessariamente, conter as mesmas informações; somente é necessário que a

lógica do processo seja evidenciada e que “ferramentas” legais sejam utilizadas

no intuito de se chegar à tese.

Para finalizarmos a tarefa em questão, pedimos que um esquema

algébrico de demonstração fosse feito. Muitos alunos erraram. Como este

esquema exigia uma complexidade maior de operacionalização simbólica, os

alunos se perderam em alguns passos, ora ocultando informações, ora não

conseguindo estabelecer uma relação coerente entre os dados e sua

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representação algébrica. Acreditamos, como Pavanello, que um trabalho

voltado apenas para a memorização desses símbolos, no ensino, tenha

contribuído para as dificuldades que surgiram durante todas as atividades, pois,

simplesmente o conhecimento da simbologia não significou que os alunos

soubessem utilizá-los com significação.

Na segunda questão da atividade V apresentamos um problema que

poderia ser resolvido por congruência de triângulos. A fim de induzirmos para

este fato, apresentamos uma figura na qual evidenciamos o traçado de dois

triângulos.

Achamos interessante que alguns alunos tenham “separado” a figura em

duas partes, talvez para visualizarem melhor e direcionarem suas decisões na

solução do problema. Segue um exemplo da figura feita por um dos alunos,

que confirma a afirmação acima (Figura 9):

Figura 9: Representação geométrica feito por um dos alunos para a questão 2

Esperávamos que os alunos fizessem reconfigurações na figura

apresentada, utilizando as informações do problema. A maioria fez acréscimos

na figura corretamente, justificando o porquê das modificações. Poucos alunos

não fizeram nenhum ajuste na figura.

Para demonstrar o problema proposto, também pedimos que os alunos

criassem uma caixa de ferramentas para a situação. Apenas um aluno não

tentou fazer a demonstração, logo, não criou nenhuma caixa de ferramentas.

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Todos os demais alunos tentaram demonstrar e, nas caixas de

ferramentas criadas, o postulado 3 aparecia em todas. Na realidade, a maioria

dos alunos só citou este postulado na caixa apresentada. Acreditamos que o

desenho tenha contribuído para a decisão de trabalhar com a congruência de

triângulos e, por isso, a citação deste postulado tenha ocorrido, uma vez que

ele era o único que evidenciava a relação entre triângulos.

Não pedimos que a demonstração fosse feita em um esquema

específico; deixamos a critério do aluno esta decisão. As demonstrações

apresentadas, em geral, foram feitas simultaneamente em linguagem natural e

algébrica. Creditamos este aspecto às dificuldades que os alunos têm em

relacionar algebricamente dados. Entretanto, essa dificuldade não caracterizou

o abandono total da representação algébrica nas demonstrações. Acreditamos

que os alunos tenham percebido, neste tipo de esquema (algébrico), uma

economia no tratamento de informações, aspecto este já citado por Duval.

Nem todos os alunos acertaram integralmente a solução deste

problema, mas uma melhor coordenação entre informações e registros de

representação foi notada pela pesquisadora no desenvolvimento da atividade.

Na terceira e última tarefa da V atividade, apresentamos um teorema, o

qual deveria ser demonstrado em todos os registros de representação

trabalhados ao longo da seqüência didática.

O destaque dos elementos do teorema não foi fácil, principalmente a

determinação das hipóteses, as quais continham uma grande informação de

dados. Neste teorema, apresentamos uma redação mesclada de linguagem

natural e algébrica, a fim de analisar se os alunos compreendiam os

significados dos símbolos matemáticos explicitados. Isso porque a

representação geométrica deveria ser feita imediatamente após trabalharem

com o estatuto do teorema.

Alunos que acertaram as hipóteses do teorema tentaram fazer a figura

que retratava a situação, mas novamente esbarraram em dificuldades de

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percepção espacial. Notamos que alguns alunos apresentaram melhoras no

traçado do desenho. Esta melhora pode estar associada ao desenvolvimento

de habilidades ou os alunos podem ter utilizado os esboços da primeira

questão como referência.

Salientamos que alguns alunos fizeram uma figura muito condizente com

a situação do enunciado, associando as propriedades discursivas com as

perceptivas. Porém, nem todos conseguiram demonstrar o teorema.

Os alunos que não fizeram o desenho não esboçaram nenhuma

tentativa para demonstrar em outros registros. Os que fizeram uma

representação geométrica aproximada ao problema tentaram criar a caixa de

ferramentas com as informações para justificar os possíveis passos da

demonstração, porém, também não conseguiram demonstrar o teorema.

Dos alunos que retrataram melhor a representação figural do teorema,

apenas dois conseguiram criar uma caixa de ferramentas adequada para as

demonstrações que eles apresentaram. Na linguagem algébrica, nenhuma das

demonstrações estava completa, porém, na linguagem natural, os dois alunos

citados conseguiram obter corretamente a demonstração, inclusive,

justificando, com as “ferramentas”, a seqüência das construções realizadas na

obtenção da demonstração.

Conclusão: A quinta atividade buscava contemplar todas as outras, de forma

que os alunos fossem capazes de criar suas ferramentas e redigir uma

demonstração em diferentes esquemas. Acreditamos que as atividades

ajudaram os alunos a criar estratégias na busca de uma demonstração,

coordenando melhor as informações dos enunciados, por meio de registros

distintos de representação. Apesar de alguns alunos não alcançarem os

objetivos delimitados para a atividade, cremos que todos começaram a ver a

importância das demonstrações e que a mesma se trata de um processo

lógico, constituído de sentido e regras que não podem ser ignoradas.

150

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6.2 Análise geral das atividades da seqüência didática

6.2.1 Retomando nossa problemática

Ao desenvolvermos nossa seqüência, queríamos propor uma estratégia

metodológica para o ensino de demonstrações em Geometria Euclidiana,

voltando a atenção para os cursos de formação de professores. Nesta proposta

pretendíamos evidenciar a importância das demonstrações na teorização da

Geometria, de tal forma que o trabalho realizado levasse à compreensão dos

conceitos geométricos e dos processos lógicos envolvidos em uma

demonstração. Além disso, buscamos caracterizar um sistema formal,

explicitando seus elementos e destacando a demonstração mais como um

processo, no qual seu objetivo principal é estabelecer a veracidade de um

determinado enunciado.

Assim, optamos por apresentar algumas técnicas de demonstração,

trabalhando o estatuto do teorema e das figuras geométricas, o papel

heurístico das figuras, a mobilização de diferentes registros de representação,

por meio de ferramentas que ressaltariam a rede semântica e lógica entre

esquemas de demonstração e todos os outros itens destacados acima.

Não era nossa intenção que a seqüência didática desenvolvida

habilitasse todos os alunos a fazer uma demonstração matemática, mas que

esta despertasse uma posição mais crítica com relação às verdades

estabelecidas na Geometria, de tal forma que os alunos percebessem a

necessidade de justificar as afirmações que lhes eram apresentadas,

recorrendo, para isso, às demonstrações matemáticas.

Acreditamos que a seqüência contribuiu consideravelmente para um

novo olhar no ensino/aprendizagem das demonstrações, pois os alunos fizeram

comentários favoráveis à sistemática utilizada. Eles disseram que somente

agora entendiam porque se usavam os postulados, definições e teoremas para

se fazer uma demonstração.

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Também afirmaram que as caixas de ferramentas ajudaram a esclarecer

as decisões que deveriam ser tomadas e que um trabalho com mais de um

registro facilitou a compreensão de conceitos geométricos focados em cada

tarefa.

Muitos alunos assumiram que não sabiam que a ordem seqüencial que

utilizaram era característica de um sistema formal, o que já havíamos

constatado com a aplicação do questionário, uma vez que a maioria dos alunos

afirmou não saber o que era um sistema formal.

Os próprios alunos salientaram suas dificuldades em trabalhar os

registros algébricos e geométricos, reconhecendo que essas defasagens

refletiram no desenvolvimento que os mesmos apresentaram nas execuções

das tarefas.

O fato mais considerável foi os alunos confirmarem que a demonstração

não é algo assim tão complicado, assumirem que têm dificuldades, mas que

estas não são tão intransponíveis como acreditavam ser. Inclusive, muitos

afirmaram que utilizaram dos processos apresentados na atividade, para tentar

sistematizar outros conceitos geométricos, praticando algumas das técnicas de

demonstração.

6.2.2 Retomando alguns dos obstáculos enfrentados

Em nosso referencial citamos alguns obstáculos que, normalmente,

ocorrem no ensino, evidenciando os de natureza epistemológica, didática e

lingüística.

Ultrapassar o obstáculo epistemológico da figura geométrica foi um

desafio da seqüência didática, pois, como citado na análise das atividades,

muitos alunos, nas primeiras tarefas, recorriam apenas às figuras para

solucionar grande parte dos problemas. Dessa forma, o abandono do

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enunciado acarretava em erros que, provavelmente, não ocorreriam se os

alunos mobilizassem, no mínimo, dois registros de representação.

Outro obstáculo epistemológico relacionado à figura se situou no nível

de congruência entre registros de representação; uma fragmentação parecia

ocorrer quando os alunos necessitavam coordenar as figuras para estabelecer

logicamente alguns passos na construção de esquemas de demonstração.

Como afirmou Duval, a mobilização entre registros de representação não

ocorre espontaneamente. Então, para transpormos os obstáculos citados,

recorremos a vários registros de representação em todas as atividades para

que os alunos conscientemente estabelecessem as relações entre os mesmos.

Conclui-se, assim, que as figuras estão subordinadas às propriedades e às

características de um enunciado e não o contrário.

Percebemos que os obstáculos de natureza lingüística comprometeram,

em geral, as atividades nas quais os alunos precisavam redigir em linguagem

natural os teoremas, seus recíprocos e a própria demonstração. Os alunos

pareciam não possuir um vocabulário adequado e conhecimentos gramaticais

suficientes para que as redações apresentadas tivessem coerência.

As leituras fragmentadas dos enunciados também constituíram um

obstáculo lingüístico, pois os alunos, quando não entendiam corretamente um

enunciado, comprometiam a solução das atividades.

Percebemos, ainda, que muitos alunos raciocinavam corretamente, mas

não conseguiam formalizar seus raciocínios. Tentamos trabalhar com esses

obstáculos, exigindo constantemente a representação na linguagem natural

nas várias atividades da seqüência. Para auxiliarmos a compreensão dos

enunciados, fazíamos leituras, com os alunos, das tarefas apresentadas.

Didaticamente, um dos maiores obstáculos enfrentados foi o

conhecimento dos alunos sobre conceitos geométricos e linguagem

matemática. Alguns conceitos matemáticos trabalhados os alunos afirmaram

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não conhecer, apesar de terem passado, na própria graduação, pelas

disciplinas de Geometria Plana e Espacial (conceitos iniciais). Acreditamos que

o conhecimento havia sido trabalhado. No entanto, outras variáveis que podem

ter comprometido a compreensão dos alunos em associar conceitos com suas

propriedades não são foco de nosso estudo.

Foi necessário que retomássemos muitos conceitos geométricos para

facilitar a solução de algumas tarefas. Com relação à falta de conhecimento de

simbologia matemática e de significação da mesma, tentamos ultrapassá-la

trabalhando insistentemente com a representação algébrica, de forma que esta

fosse relacionada a outros registros de representação.

No final da seqüência, percebemos uma melhor coordenação e

operacionalização do registro algébrico.

Quando criamos nossa seqüência, já havíamos pensado em alguns

obstáculos que poderiam ocorrer, apoiando nossas suposições nos referenciais

teóricos. Assim, criamos atividades que buscavam contornar estes obstáculos

e, ao longo do desenvolvimento da seqüência, fomos modelando as atividades

que se seguiram, baseando em outros obstáculos que eram percebidos.

No geral, acreditamos que contribuímos para que os alunos

ultrapassassem alguns obstáculos e, para outros, cremos que apresentamos

situações para que estes fossem minimizados.

6.2.3 Retomando nossas hipóteses de pesquisa

Ao definirmos nossa pesquisa, nossa preocupação se centrou nas

dificuldades apresentadas por professores e alunos em fazer e explicar o que

era uma demonstração matemática e sua importância no contexto da

geometria.

154

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A fim de contornar essas dificuldades, apresentamos como proposta de

trabalho o desenvolvimento de uma seqüência didática, na qual o objeto de

estudo foram as “técnicas” de demonstração.

Consideramos que, independente do contexto escolar, é possível

realizar estratégias para minimizar dificuldades e concluímos que isso

realmente é possível. Porém, é fundamental que um trabalho intenso de

fundamentação teórica e técnica seja realizado para que a estratégia tomada

reflita em modificações consideráveis e perceptíveis.

Assumimos que a compreensão de uma demonstração e dos conceitos

geométricos envolvidos na mesma estava relacionada com a mobilização e a

coordenação de registros de representação natural, da figura e algébrico.

Acreditamos que o trabalho com diferentes registros de representação

contribuiu consideravelmente para que os alunos ultrapassassem alguns

bloqueios na efetivação de uma demonstração, uma vez a relação semântica

entre os registros foi fundamental na compreensão dos objetos matemáticos

tratados.

O papel heurístico das figuras foi primordial para que os alunos

alcançassem uma apreensão discursiva e operatória, por meio da apreensão

perceptiva. Nas tarefas percebemos que os alunos começaram a orientar-se

pelas informações apresentadas nas hipóteses de um teorema, para relacionar

as propriedades dos conceitos com as figuras esboçadas ou construídas.

O uso de ferramentas lógicas auxiliou os alunos na tentativa de justificar

os passos de uma demonstração, extenuando também a lógica existente em

um sistema formal e a relação entre seus elementos.

Porém, em nossas atividades, apresentamos aos alunos postulados,

definições e teoremas que deveriam ser utilizados para que eles criassem suas

próprias caixas de ferramentas. Pelo que foi percebido nas atividades,

acreditamos que os alunos não atingiram um nível para que estabeleçam, por

meio de seus próprios conhecimentos, a identificação de ferramentas ideais e a

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articulação adequada das mesmas para justificar logicamente uma

demonstração. Esse exercício do raciocínio exige prática e discussões de uma

quantidade razoável de problemas geométricos que envolvam a demonstração.

6.2.4 Retomando nossas expectativas com a aplicação da seqüência

Com o desenvolvimento da seqüência, esperávamos que os alunos,

além de compreenderem uma demonstração, desenvolvessem habilidades

geométricas de raciocínio lógico e de obtenção de uma prova matemática.

Para que isso ocorresse, outros aspectos deveriam ser considerados

neste processo caracterizado pela hierarquização de passos e não de

conteúdos.

De acordo com o desempenho dos alunos no desenvolvimento da

seqüência didática, acreditamos que os mesmos compreenderam o estatuto do

teorema e das figuras geométricas, conseguiram coordenar os diferentes

registros de representação observando suas relações semânticas,

reconheceram a necessidade lógica de um sistema formal, perceberam a

importância de justificar teorias matemáticas e foram capazes de compreender

os esquemas de demonstrações apresentados.

Porém, acreditamos que o número de atividades trabalhadas na

seqüência não foi suficiente para que os alunos alcançassem sozinhos a

redação integral de uma demonstração.

Acreditamos que os alunos tenham alcançado um raciocínio dedutivo

mais apurado, mas não o suficiente para formalizar logicamente os conceitos

geométricos.

Achamos necessário que uma quantidade maior de atividades

envolvendo técnicas de demonstração seja desenvolvida para que os objetivos

da seqüência didática sejam todos alcançados.

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Concorre para a validação do processo a constatação de que os alunos

que participaram da pesquisa mostraram uma crescente desenvoltura ao

trabalhar com problemas geométricos que envolvem demonstração. Podemos

registrar e afirmar que a seqüência didática contribuiu consideravelmente nos

seguintes aspectos:

• os alunos compreenderam a lógica necessária de um sistema formal e a

relação entre seus elementos;

• conseguiram estabelecer e reconhecer o estatuto de um teorema;

• coordenaram registros de representação distintos, estabelecendo entre

eles relações semânticas e de congruência;

• perceberam na figura geométrica um apoio para obter uma

demonstração;

• compreenderam a subordinação da figura às propriedades de um

enunciado (ultrapassaram a apreensão perceptiva);

• melhoraram o tratamento algébrico de dados;

• reconheceram o ordenamento lógico dos esquemas de demonstração

trabalhados;

• enxergaram a demonstração como fundamental na teorização da

geometria;

• utilizaram coerentemente “ferramentas” lógicas para provar um

enunciado;

• perceberam a necessidade de justificar cada passo trilhado na

efetivação de uma demonstração;

• sentiram-se mais seguros para desenvolver problemas de

demonstração.

Devido aos aspectos citados, concluímos que a aplicação da seqüência

didática foi de grande valia para a reflexão dos futuros professores sobre a

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importância do papel da demonstração no ensino de Geometria.

Experimentaram um ambiente metodológico em que ela pôde ser trabalhada e

o desenvolvimento de habilidades geométricas foi alcançado em atividades nas

quais procedimentos técnicos, porém, de significação, foram focados.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

Propusemos nossa pesquisa e trabalhamos as demonstrações

matemáticas, com alguns tópicos da Geometria Euclidiana, com a intenção de

apresentar uma metodologia focando as dificuldades que os alunos

apresentam em fazer uma demonstração. O acúmulo de dificuldades acaba

gerando, conseqüentemente, uma rejeição ao seu ensino e à sua

aprendizagem, o que, posteriormente, pode acarretar o abandono deste

conteúdo na educação básica. O mais preocupante: a ausência desse

conteúdo impossibilitaria o desenvolvimento de habilidades geométricas,

ligadas ao crescimento progressivo do raciocínio lógico dedutivo, fundamental

na construção do conhecimento matemático.

A fim de levar alguma contribuição e contornar esses revezes,

pensamos em elaborar uma seqüência didática, na qual evidenciaríamos a

lógica subjacente na teorização da Geometria Euclidiana, apresentando,

construtiva e gradualmente, um sistema formal, seus elementos e relações. A

partir disso, trabalhamos algumas técnicas de demonstração, usando

ferramentas lógicas que auxiliariam no processo da obtenção de uma prova

matemática.

Ressaltamos que a elaboração da seqüência e o acompanhamento de

seu desenvolvimento pelos alunos não foram processos fáceis. A própria

pesquisadora sentiu dificuldades em orientar discussões e elucidar, de

imediato, algumas dúvidas dos alunos, com o devido rigor matemático. Por se

tratar de assunto complexo, em algumas atividades, os alunos descobrem ou

suspeitam de caminhos diferentes de solução que, às vezes, não nos parecem

ser assim, tão evidentes. Isso ocorre porque os alunos envolvidos no processo

passam a participar da construção formal dos conceitos e procedimentos

abordados. Ao se envolver numa busca, cada vez mais consciente de

elementos para a organização da elaboração de uma demonstração, o aluno

aprende a percorrer o trajeto que o professor percorreria e, às vezes, o faz com

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muita eficiência. Alguns de nossos alunos manifestaram o desenvolvimento de

habilidades nesta direção.

Registramos também uma evolução de nossas próprias habilidades para

lidar com o tema, pois sentimos que a herança de nossa formação foi,

inicialmente, um dificultador na elaboração das tarefas das atividades. Nossas

experiências com a demonstração, no ensino básico e na graduação, não nos

deram subsídios para criar estratégias diferenciadas, uma vez que seu ensino

foi caracterizado pela memorização dos rígidos procedimentos de uma

demonstração, não carecendo necessariamente de sentido.

Para que a seqüência criada contemplasse os aspectos citados acima,

nos baseamos nas principais idéias de Duval sobre a aquisição dos conceitos

geométricos. Consideramos também as propostas definidas pelos PCN e

alguns posicionamentos da educação matemática, com relação ao ensino de

demonstrações e à formação de futuros professores, no que se refere à

aprendizagem das demonstrações. Orientamos-nos também por um estudo

evolucionista da demonstração, considerando os olhares da ciência, filosofia e

educação.

Ultrapassados os obstáculos, acreditamos que alcançamos, com a

aplicação da seqüência, um novo posicionamento daqueles futuros

professores, sujeitos de nossa pesquisa, diante das demonstrações

matemáticas. Estes começaram a enxergá-las como fundamental na criação de

conceitos matemáticos e importantes no ensino de Geometria.

Cremos que, ao trabalharmos com diferentes registros de

representação, contribuímos para o estabelecimento de relações entre as

várias formas de tratarmos um objeto matemático, dando-lhe significado e

possibilitando uma flexibilidade maior de solucionar problemas de

demonstração, ora pela economia de tratamento, ora pela evidenciação de

características que uma determinada representação pode externar.

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O uso constante das figuras e a construção das mesmas mostraram-nos

a evolução que os alunos apresentaram em associá-las com suas definições, a

partir dos enunciados. Acreditamos que os alunos ultrapassaram com essa

estratégia o obstáculo epistemológico da figura, vendo-a como âncora na

engenharia da demonstração e não como determinante na justificação e

constatação de uma verdade matemática.

As ferramentas que ressaltamos para justificar passos de uma

demonstração desempenharam um papel significativo nas execuções das

tarefas; os alunos se mostraram mais seguros em fazer uma demonstração

quando conseguiram explicitar suas escolhas, utilizando ferramentas e

entenderam como se concretiza logicamente uma prova.

As técnicas apresentadas demonstraram para os alunos algumas formas

de trabalhar as demonstrações na sua própria formação e durante sua prática

profissional. Notamos que a estratégia da seqüência didática motivou os alunos

no desenvolvimento das tarefas, pois eles ressaltaram que não pensavam que

fazer uma demonstração envolvia várias “etapas” lógicas. Porém,

compreendiam agora, o porquê de demonstrar e que não é tão complicado

realizar uma demonstração.

Mesmo não sendo uma intenção explicitada na pesquisa, percebemos

que os alunos refletiram sobre novas abordagens de ensino, pois retrataram

que as atividades que fizeram fugiram às aulas tradicionais e que perceberam

uma desenvoltura melhor na execução das tarefas.

Sabemos que quando esbarramos em problemas, principalmente na

educação e nos propomos a ultrapassá-los, variáveis de diversas naturezas se

mostram no nosso caminho. Ao encararmos tais dificuldades como desafios,

uma energia imensa deve ser dispensada em idéias que possam, se não

resolver, pelo menos, minimizar tais problemas. Sabíamos do desafio de

trabalhar com as demonstrações, mas não desistimos; seguimos em frente e

vislumbramos, no final de todo trabalho realizado, objetivos alcançados:

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• Os futuros professores conseguiram entender a lógica de um sistema

formal e reconhecer seus elementos; estabeleceram relações entre

estes elementos, coordenaram e mobilizaram semanticamente distintos

registros de representação; compreenderam o papel heurístico da figura

geométrica; utilizaram e criaram coerentemente ferramentas lógicas de

justificativa; entenderam as “técnicas” de demonstração apresentadas e

alguns foram capazes de redigir suas próprias demonstrações.

Concluímos, então, que a aplicação da Seqüência foi de grande valia e

contribuiu para reflexões acerca da importância do papel da demonstração não

só na Geometria, mas na própria matemática. A forma como apresentamos a

engenharia da demonstração nos revelou, com base em nossas análises, que

os alunos se viram como construtores do processo de criação dos conceitos

geométricos e que esta diminuiu a rejeição e as dificuldades que apresentavam

ao se deparar com problemas que envolviam demonstrações.

Já salientamos, na análise feita da seqüência didática, que o número de

atividades trabalhadas não nos pareceu ser suficiente para que todos os alunos

desenvolvessem habilidades geométricas suficientes para redigir uma

demonstração. Além disso, percebemos certas dificuldades que contribuíram

para tal e que poderiam ser trabalhadas com um número maior de atividades

que as abordassem. Sendo assim, gostaríamos de sugerir, para pesquisas

posteriores que tenham um direcionamento convergente com nossa pesquisa,

os seguintes aspectos:

• trabalhar a escrita na linguagem natural em todas as atividades, para

que os alunos coordenem melhor seus raciocínios argumentativos e os

discursivos;

• explorar um número maior de construção de figuras espaciais, a fim de

desenvolver habilidades de percepção e desenho;

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• operacionalizar as atividades sugeridas e os objetos matemáticos, em

tratamento algébrico, para que os alunos mobilizem e compreendam

melhor a linguagem algébrica;

• promover mais atividades de demonstrações indiretas, pois estas têm

um alcance intelectual considerável;

• fazer leituras das atividades com os alunos, propondo discussões

coletivas sobre os objetivos de cada tarefa.

Diante do realizado, das análises e reflexões, nosso sentimento não é de

apresentar aqui um trabalho como encerrado. Pretendemos dar continuidade à

nossa pesquisa na prática cotidiana, aprimorando nossa seqüência didática na

introdução de técnicas de demonstração no ensino de Geometria. Talvez,

desenvolver um trabalho de investigação, no qual os alunos criem suas

próprias técnicas de demonstração, considerando as particularidades e as

exigências formais da ciência matemática.

Apresentamos aqui apenas um ensaio. Uma entre diversas outras

formas de se conduzir o processo da demonstração. A nossa proposta e

experiência, no entanto, carregaram um fato novo: considerar o aluno no

centro, como sujeito de um processo, na construção de conteúdo complexo e

intricado.

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APÊNDICE A – Questionário aplicado aos alunos

Questionário destinado a alunos do Curso de Licenciatura em Matemática que já passaram pela disciplina de Geometria sobre "Demonstrações"

Nome ( caso queira): _____________________________________________________Período que cursa: ___________

1. Durante sua Educação Básica ( Ensino Fundamental e Médio) você teve aulas de Geometria?

( ) sim ( ) não

2. Caso sua resposta tenha sido "sim" na primeira questão, responda: Você fez alguma demonstração nas aulas de geometria?

( ) sim ( ) não 3. Na Graduação, você trabalhou ou trabalha com "demonstrações" na disciplina de

Geometria?( ) sim ( ) não

4. Você sabe o que é um sistema formalizado?( ) sim ( ) não

5. Você se acha capaz de definir "axioma", "postulado" e "teoremas"?( ) sim ( ) não 6. Você acha que demonstrar é importante para o ensino de Geometria?( ) sim ( )não

7. Você acha necessário o uso de demonstrações no ensino de Geometria?( ) sim ( ) não

8. Você sente alguma dificuldade em demonstrar? ( ) sim ( ) não

9. Você acha que sua formação em Geometria lhe dá subsídios para trabalhar futuramente com as demonstrações?

( ) sim ( ) não

10. Discorra sobre o que você entende ser uma "Demonstração Matemática"?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO A – Fotos dos alunos desenvolvendo a seqüência didática

Figura 10: Alunos discutindo sobre as atividades

Figura 11: Alunos resolvendo as atividades em dupla

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Figura 12: Alunos realizando individualmente as atividades

Figura 13: Parte da turma pensando nas atividades

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ANEXO B - Atividades produzidas pelos alunos

Figura 14: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 15: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 16: Parte da Atividade I da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 17: Parte da Atividade II da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 18: Parte da Atividade II da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 19: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 20: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 21: Parte da Atividade III da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 22: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 23: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 24: Parte da Atividade IV da seqüência feita por um dos alunos

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Figura 25: Parte da Atividade V da seqüência feita por um dos alunos

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