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Jacqueline del Pilar Contreras Ferraz DELIBERAÇÕES SOBRE A REFORMA TRABALHISTA: A LEI TRABALHISTA EM FUNÇÃO DO CONTEXTO HISTÓRICO E SÓCIO-ECONÔMICO Orientador: Prof. Luciano Viveiros Rio de Janeiro 2004

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Jacqueline del Pilar Contreras Ferraz

DELIBERAÇÕES SOBRE A REFORMA TRABALHISTA: A LEI TRABALHISTA EM FUNÇÃO DO CONTEXTO

HISTÓRICO E SÓCIO-ECONÔMICO

Orientador: Prof. Luciano Viveiros

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DELIBERAÇÕES SOBRE A REFORMA TRABALHISTA: A LEI TRABALHISTA EM FUNÇÃO DO CONTEXTO

HISTÓRICO E SÓCIO-ECONÔMICO

OBJETIVOS: Divulgar a importância da necessidade de adequação da lei trabalhista à realidade sócio-econômica atual, entretanto inserindo-a no conceito dos Direitos Humanos e Fundamentais. Avaliar o Direito do Trabalho em função da história e das lutas pela preservação da dignidade humana, no contexto da globalização, reforçando a demanda de uma reforma trabalhista no Brasil, hoje proposta pelo Governo Federal através do Fórum Nacional de Trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Aos fundadores, ao corpo docente do Projeto “A Vez do Mestre”, às assistentes da Secretaria do Curso pelo incentivo e dedicação em melhorar cada vez mais esta instituição. Aos meus professores e, em especial, ao meu orientador, Luciano Viveiros, que contribuíram para o cumprimento de mais esta etapa e, especificamente, para o desenvolvimento e conclusão deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido Heloyr, que se demonstrou paciente todas as vezes que precisei sacrificar nossas horas de convívio e lazer. Igualmente, a Douglas, meu filho, pelas alegrias e vitórias que vem nos dando a cada conquista de sua trajetória.

Jacqueline del Pilar Contreras Ferraz

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5 RESUMO

O objetivo desta dissertação é avaliar a premente necessidade de uma

Reforma Trabalhista no Brasil, questão social, na dimensão dos Direitos

Humanos e Fundamentais, particularmente, dos direitos sociais do trabalhador

desde os primeiros embates, entre os interesses do capital e do trabalho,

particularmente, entre empregadores e empregados. Momentos historicamente

retratados através de nossas Constituições e comprovadamente influenciados

pela política dos países desenvolvidos, na demanda por insumos e mão-de-

obra, desde fins do século XVIII e, acentuadamente, na década de 19801, com

o fortalecimento da globalização, na imposição de novos critérios de eficiência

e produtividade, com o aumento do desemprego, do grupo de excluídos

econômica e socialmente.

Nesta linha de raciocínio, alcançar os tempos atuais, descrevendo a

situação presente, neste caso, referindo-nos à demanda por políticas

governamentais urgentes, visando a diminuição, senão controle dos graves

problemas causados pela abertura de nossas fronteiras, isto é, privilegiando

uns poucos em detrimento da classe trabalhadora, que está deixando de

acreditar nas instituições, na preservação dos Direitos Humanos e

Fundamentais, na manutenção de condições dignas de trabalho, que lhe

garantam o exercício de uma cidadania plena e efetiva.

Os cidadãos exigem e demandam que o Governo intervenha

efetivamente e eficazmente, colocando-se no status de garantidor das

conquistas anteriores e impedindo que os trabalhadores se tornem os escravos

do século XXI.2

1 In: Gazeta Mercantil: Legal & Jurisprudência, de 12/11/2003, página 2. Considerações sobre a Reforma Trabalhista no Brasil, por Claudia Brum Mothé. 2 In: Jornal O Dia, página 20, de 23/09/2004. “Escravos do Século 21”, por Raphael Gomide.

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6 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 9

RESENHA HISTÓRICA 10

CAPÍTULO II 17

AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 18

CAPÍTULO III 22

OS DIREITOS SOCIAIS 23

CAPÍTULO IV 28

A GLOBALIZAÇÃO 29

CAPÍTULO V 40

A NOSSA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA (ARBITRARIEDADES) 41

CAPÍTULO VI 49

A REFORMA TRABALHISTA 50

CAPÍTULO VII 60

O FÓRUM NACIONAL DO TRABALHO 61

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7 CONCLUSÕES 78

ANEXO 81

BIBLIOGRAFIA 91

ÍNDICE 94

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8 INTRODUÇÃO

Ocupa a Reforma Trabalhista, ao longo de nossa história, no transcurso

das lutas operárias e das sucessivas Cartas Constitucionais, questão de vital

importância, devido às exigências do mercado de trabalho globalizado e pela

crucial necessidade em preservar os direitos sociais, especificamente, os

direitos do trabalhador. Direitos, hoje também inseridos, no conceito dos

Direitos Humanos e Fundamentais, conquistados pela luta de classes, do

confronto de interesses entre o capital e o trabalho, e que tendem a ser

massacrados, na atualidade, pelo fenômeno da globalização, a provocar o

aumento do desemprego, das arbitrariedades contra os trabalhadores, do

desrespeito à legislação trabalhista.

Nossa legislação trabalhista, ainda base para a defesa da classe

operária, vem sendo aprimorada gradativamente, em função do cenário político

e sócio-econômico, com aportes que evidenciam sua reforma, tentando torná-la

mais adequada à realidade, na tentativa de diminuir as desigualdades, como

evidenciado pelas seguintes inovações: Instituição de piso salarial (LC nº103,

de 14/07/01); Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei

nº 9.841, de 05/10/1999); Contrato de Trabalho por Tempo Determinado (Lei nº

9.601, de 21/01/1998); Participação dos Trabalhadores nos Lucros ou

Resultados da Empresa (Lei nº 10.101, de 19/12/2000), entre outros avanços.

Urge ao Estado, através do Governo Federal, retomar e concluir a

Proposta de Reforma Trabalhista, iniciada no Governo de Fernando Henrique

Cardoso e continuada pelo atual Governo Lula. Trata-se do Fórum Nacional de

Trabalho, criado e instituído para buscar condições, estabelecer prerrogativas

para que finalmente se efetivem as negociações entre empregadores e

empregados, culminando numa Reforma Sindical e Trabalhista. Buscam-se

novas formas e modalidades de trabalho, diminuição do desemprego,

entretanto, procurando a flexibilização sem provocar desregulamentação,

garantindo os direitos trabalhistas mínimos, para manutenção da dignidade

humana, e, assegurando a soberania de nosso Estado.

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CAPÍTULO I

Resenha Histórica

Ninguém pode livrar os homens da dor,

mas será bendito aquele que fizer

renascer neles a coragem para para a suportar.

(Selma Lagerlof).

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RESENHA HISTÓRICA

Historicamente o reconhecimento de direitos aos trabalhadores é

iniciado pelo período da escravidão. Fato comum na idade antiga, entre

romanos, gregos, e demais povos da época, somente observando-se uma

evolução do direito dos trabalhadores a partir da Idade Média, com

conseqüências nas Idades Moderna e Contemporânea, culminando em

grandes momentos, o Renascimento, a Revolução Francesa, a Revolução

Industrial e a Revolução Russa.

Inicialmente as grandes invenções e descobrimentos do Renascimento

propiciaram na mentalidade do homem, uma primeira revolução,

especificamente, quanto a aspectos de liberdade religiosa e intelectual que,

mais tarde, gerariam concepções sociais, que seriam reformuladas.

Marco histórico, a Revolução Francesa (1789) apontou firme pela

bandeira do trabalho livre, provocando, no mundo, o repensar sobre a nódoa

histórica da escravidão3, entretanto, sabemos que outros tipos de servidão

mantiveram-se em épocas posteriores à própria Revolução Francesa, a

exemplo da pouca independência que possuíam os trabalhadores das

corporações de ofício. Contudo, este momento histórico sublime desfigurou a

subordinação física e servil do trabalhador, transformando-a em uma

subordinação contratual, reconhecendo a autonomia de vontade, consagrando

a liberdade de contratar.

A Revolução industrial provocou no homem a busca desenfreada pelo

lucro, com a criação da máquina a vapor, que levou à intensificação industrial,

mecanização, que desenvolveu a metalurgia, a indústria naval, ferroviária e a

extração de carvão. Trata-se do limiar histórico que provocou mudanças

profundas nas relações de trabalho. A utilização de máquinas levou à dispensa

de trabalhadores e ao conseqüente desemprego, com o aumento do número

3 Sobre a evolução da escravidão para o trabalho livre: OLEA, Manoel Alonso. “Da escravidão ao contrato de trabalho”, trad.Sebastião Antunes Furtado, Curitiba: Juruá, 1990.

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11 de trabalhadores submissos a qualquer tipo de trabalho, em condições

subumanas, inclusive a exploração do trabalho infantil e de mulheres.

A situação degradante, que atingiu os trabalhadores com o advento da

indústria, agravada pela omissão do Estado, arraigada nas idéias do

liberalismo econômico, do capitalismo emergente, não ensejou preocupações

de investimentos em qualquer tipo de assistência social. Adam Smith4, teórico

do liberalismo, apoiava a acumulação, entretanto defendia que o capital

acumulado fosse utilizado em maquinaria que propiciasse a divisão do trabalho

e a divisão da energia produtiva do homem. Como a burguesia crescente

adotou as leis do mercado, lucro e acúmulo de riquezas, estes apoiaram a

abolição da escravatura, entretanto devido aos altos custos.

Não obstante, para que a situação de desigualdade pudesse ser

minorada, o Estado passou a intervir, evitando que interesses individuais de

uma minoria fossem sobrepostos em detrimento de uma maioria. Assim, os

trabalhadores começaram a organizar-se na defesa de seus interesses, com

início dos movimentos operários, criação de sindicatos, eventos precursores

para o reconhecimento da legislação social.

Se o Estado não se configurasse em mediador dos conflitos e

procurasse o equilíbrio entre os atores sociais, os interesses continuariam a ser

individuais, relegando-se à classe trabalhadora os direitos mínimos. Ocorrência

característica das classes oprimidas, como exemplo, a Revolução Russa

(1917), que transformou operários em classe dominante, contrariando o cenário

até então vivenciado. O marxismo revelou ao mundo capitalista a visão

concreta sobre a dignidade dos trabalhadores, proteção de seus direitos, a

integração do próprio homem. Países não socialistas passaram a se preocupar

em assegurar os direitos trabalhistas, um aprimoramento da teoria o bem-estar

social.

4 À época da revolução industrial apenas a parte de sua teoria que interessava aos industriais foi absorvida pelos mesmos (SMITH, Adam “A riqueza das nações. Investigação sobre sua natureza e suas causas”, trad.de Winston Fritsch, São Paulo: Nova Cultural, 1996.

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12 São importantes também as duas Grandes Guerras Mundiais (de

1914/1918 e 1939/1945) que exigiram nova estruturação econômica da

sociedade, afetando a situação dos trabalhadores, retratados através de dois

importantes instrumentos escritos: o Tratado de Versalhes (1919), com aportes

das Encíclicas Papais, como a Rerum Novarum (1891) e as normas e

regulamentos decorrentes da criação da OIT (Organização Internacional do

Trabalho).

A revolução no mundo do trabalho continuaria sendo implementada, com

o surgimento de conceitos modernos, como a reengenharia, a qualidade total,

somada aos avanços tecnológicos, que alterariam a estrutura econômica da

sociedade atual e, particularmente, sofrendo a influência da globalização que

hoje atinge o mercado mundial, repercutindo e exigindo novos contornos para

as relações trabalhistas.

No Brasil, diferentemente do contexto das lutas travadas em outros

países, os direitos consagrados aos trabalhadores brasileiros foram frutos de

governos paternalistas, na intenção de angariar apoio popular, na busca de sua

legitimação e de fatores externos e internos, que influíram na formação do

direito do trabalho no Brasil.

Destacamos, entre as influências externas que exerceram alguma

pressão, levando o Brasil a elaborar leis trabalhistas, as transformações que

ocorreram na Europa e a crescente elaboração legislativa de proteção ao

trabalhador em muitos países, reforçada pelo compromisso internacional

assumido pelo nosso país ao ingressar na Organização Internacional do

Trabalho, criada pelo Tratado de Versailles (1919), com proposta de observar

as normas trabalhistas.

O fator interno mais influente foi o movimento operário de que

participaram imigrantes com aspirações anarquistas, gerando inúmeras greves

em fins de 1800 e início de 1900; o surto industrial, os efeitos da Primeira

Guerra Mundial, com a elevação do número de fábricas e de operários e a

política trabalhista de Getúlio Vargas (1930).

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13 De fato, a história do Direito do Trabalho no Brasil pode ser dividida em

três etapas: 1) O período que compreende da Independência até a Abolição da

Escravatura; 2) O período que abrange os anos de 1888 a 1930; e, por fim, 3)

O terceiro período, desde a Revolução de 1930 até os dias de hoje.

No período da independência até a abolição da escravatura, com o

trabalho escravo, não houve condições para o desenvolvimento da legislação

trabalhista. Embora sob a Constituição de 1824, que consagrava a filosofia

liberal da Revolução Francesa, assegurando a liberdade do trabalho, não visou

os direitos sociais do trabalhador, entretanto proibia as corporações de ofício.

O fato marcante dessa época é a Abolição da Escravatura, em 1888. Sobre a

Lei Áurea, Maurício Godinho Delgado afirma5: “...ela pode ser tomada, em

certo sentido, como o marco inicial de referência da História do Direito do

Trabalho brasileiro. É que ela cumpriu papel relevante na reunião dos

pressupostos à configuração desse novo ramo jurídico especializado. De fato,

constitui diploma que tanto eliminou da ordem jurídica a relação de produção

incompatível com o ramo justrabalhista (a escravidão), como, via de

conseqüência, estimulou a incorporação pela prática social da fórmula então

revolucionária de utilização da força de trabalho: a relação empregatícia”.

Entre 1888 a 1930, visualizamos fatos isolados, como ocorrência de

greves esporádicas, visando redução da jornada de trabalho, melhores salários

e condições de trabalho. Assim, o início da República Velha, a influência dos

imigrantes nos primeiros movimentos grevistas, dando origem ao movimento

sindical, como Amauri Mascaro Nascimento declara6: “A ação dos anarquistas

foi intensa, com reflexos no âmbito trabalhista, especialmente sobre o

movimento sindical. No I Congresso Operário de 1906 predominou o

pensamento anarquista, que preconiza a resistência ao patronato, a oposição à

beneficiência, ao mutualismo ou a cooperativismo, tidos como contrários aos

interesses do operariado. Até 1920, os trabalhadores, em grande parte, eram

5 Delgado, Maurício Godinho. Introdução do Direito do Trabalho. 2.ed., p.52. 6 Nascimento, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, 16a .ed., p.53.

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14 influenciados pelos anarquistas, cuja preponderância é devida à origem dos

imigrantes: Itália, Espanha, Portugal etc.”.

Com o advento da República, em 24/02/1891, e a nova Carta

Constitucional, que sofreu influência da Constituição norte-americana, o Estado

brasileiro adotou a forma federal republicana, presidencialista e liberal, não

cuidando de matéria relativa aos direitos sociais do trabalhador, exceto para o

artigo 72, § 24, a garantir “o livre exercício de qualquer profissão moral,

intelectual e industrial”. Por exemplo, a Constituição de 1891 sofre reforma em

07/09/1926 e atribui competência ao Congresso Nacional para “legislar sobre o

trabalho”, no artigo 34, nº 28. Neste período o movimento sindical não era forte

nem organizado e as normas, de cunho específico, eram voltadas para

determinados setores ou grupos de operários, não havendo regras aplicáveis a

todos os trabalhadores.

É a partir da Revolução de 1930 que se inicia a fase de oficialização do

Direito do Trabalho. O governo paternalista de Getúlio Vargas, com o ideal de

intervenção estatal nas relações de trabalho, sendo influenciado pelo modelo

corporativista italiano, passa a ter aceitação do povo. O Decreto nº 19.433/30

cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

Getúlio Vargas é considerado o mentor de direitos, particularmente, em

decorrência da criação da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, embora

estas aspirações versassem sobre inovações que faziam parte do conjunto de

reivindicações pretendidas pelos trabalhadores. Segundo Tarso Genro a CLT é

fruto de um processo de lutas internas da mobilização operária e externamente

pelas pressões internacionais advindas de países capitalistas avançados.

A história do movimento operário no Brasil retrata embates em períodos

anteriores à Revolução de 1930, demonstrando que os trabalhadores se

organizaram pela consolidação desses direitos.

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15 O modelo político, centralizador prevaleceria até 1945, sob uma matriz

corporativa e autoritária. Efetivamente, o modelo justrabalhista construído há

60/70 anos se manteve intocado nas décadas posteriores, fase que se estende

até a Constituição de 1988.

É com redemocratização do Brasil, na década de 80 que se consolidam,

na Carta Magna de 1988, alguns aspectos, no avanço de reforma, normas

jurídicas no âmbito trabalhista, entre as quais citamos: a livre criação de

sindicatos, sem a necessidade de prévia autorização do Estado – princípio da

auto-organização sindical (art.8º, I); entidades sindicais com plena autonomia

quanto à sua administração, podendo deliberar sobre os seus estatutos, órgãos

de direção, deliberações de assembléia, etc.; a negociação coletiva,

incentivada como meio de solução de conflitos coletivos de trabalho, além de

constituir-se em fonte normativa para a busca de novas condições de trabalho

(art.7º, XXVI); a ampliação do direito de greve, competindo aos trabalhadores a

decisão quanto à oportunidade do seu exercício e dos interesses a serem

defendidos, e dos abusos dela decorrentes sujeitos às responsabilidades

previstas em lei (art. 9º), bem como a ampliação dos direitos individuais dos

trabalhadores (art. 7º I a XXXIV).

Atualmente, a busca de um novo modelo de tutela para o trabalhador é

preocupação primordial em discussões doutrinárias, jurisprudenciais e legais

devido às novas dimensões que decorrem das relações sociais e econômicas e

seus reflexos nas relações individuais e coletivas de trabalho. Ponto primordial

é que a nova fase que se formou não está de acordo com o sistema fechado

derivado do espírito corporativista.

A evolução do Direito do Trabalho anseia por novo modelo de tutela,

baseado na autonomia coletiva privada, na valorização da negociação coletiva

como meio para a reformulação normativa das condições de trabalho,

entretanto há dificuldades em se definir qual será o Direito do Trabalho mínimo,

isto é, as matérias que não poderão ser objeto de alteração.

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16 O Estado tem proposto novas leis devido às transformações provocadas

pela globalização, pelo avanço tecnológico e pelo desemprego, na tentativa de

atenuar os efeitos negativos desta nova realidade e procurar chegar a um

consenso entre as partes, empregadores e empregados, mediados pelo

Governo, em revitalizar novos modelos no campo jurídico que ao flexibilizar, ao

mesmo tempo, permitam garantir aos trabalhadores os direitos sociais

conquistados, mas até o presente momento os adeptos da desregulamentação

não sabem indicar mecanismos seguros para que os países em

desenvolvimento possam continuar a garantir ou incrementar o acesso dos

trabalhadores a uma política de emprego concreta.

Por um outro lado, a enorme dependência do Brasil, em face dos

mercados e interesses internacionais nos leva a acreditar que qualquer

atividade estatal brasileira planejada e regulamentada para o implemento das

políticas públicas em prol dos direitos sociais seja inviável. São severas as

críticas ao legislador constituinte de 1988 e os agentes econômicos nacionais e

internacionais exigem do governo federal “a desregulamentação das relações

laborais”, com a retirada de vários direitos sociais trabalhistas da Carta Magna

de 1988 e alguns juristas chegam a enfatizar a total supressão do art.7º do

atual texto constitucional.

É contraditório aceitar a desregulamentação das relações trabalhistas,

quando começamos a vivenciar o descumprimento das normas mínimas de

proteção ao trabalhador, além de colocar em jogo a própria essência do Direito

do Trabalho como direito social.

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CAPÍTULO II

As Constituições Brasileiras

A única verdade é a realidade

(Aristóteles)

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18 AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

É necessário, para poder vislumbrar a evolução do direito do trabalho,

no Brasil que analisemos a trajetória através das suas constituições, fiel

representação do cenário político e sócio-econômico que retrata cada época de

nosso processo constitucional, tendo sofrido influências externas e internas,

que contribuíram para a atual estrutura, organização e consolidação como Ente

participante da sociedade global.

Analisando as Constituições brasileiras, Cesarino Jr.e Marly Cardone

defendem que antes do Império só existiam leis fragmentárias sobre o trabalho,

não podendo ser consideradas como uma “legislação social”, por isso os

autores referem-se ao período que vai de 1500 a 1888, como pré-histórico para

a legislação social7.

O período correspondente à primeira Constituição brasileira deve ser

analisado em consonância com o seu momento histórico, em que predominava

a escravidão, sem dar importância aos direitos de trabalhadores livres. Mesmo

assim, a Constituição de 1824, outorgada pelo Imperador, D. Pedro I, tratou de

abolir as corporações de ofício e assegurou a liberdade de trabalho não

contrário aos costumes, à segurança e à saúde dos cidadãos, no art.179, § 24,

“que nenhum gênero de trabalho, cultura, indústria ou comércio pode ser

proibido”.

É importante ressaltar que as duas primeiras Constituições brasileiras

foram influenciadas pelo liberalismo. A Constituição de 1891, embora sem

grandes inovações, trouxe o embrião do direito à sindicalização ao reconhecer

a liberdade de associação. O país após a abolição dos escravos, em 13 de

maio de 1888, saía deste episódio sem ter uma noção nítida das alterações

7 CESARINO JR. Antônio Ferreira e CARDONE, Marly A. “Direito Social”, 2a.ed., São Paulo: LTr, 1993. p.77. Os autores dividem, para efeitos didáticos, motivo pelo qual não pode ser visto de maneira mecanicista a história do movimento social no Brasil em seis períodos, de acordo com a maior influência política vigorante à época: o primeiro, intitulado pré-histórico; o segundo, chamado de capitalista, que vai de 1888 a 1930; o terceiro, intitulado socialista, que vai de 1930 a 1934; o quarto, denominado social-democrático, que vai de 1934 a 1937; o quinto, denominado corporativo, de 1937 a 1946 e o sexto, chamado de revisionista, de 1967 até os dias de hoje.

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19 que seriam causadas pelo trabalho livre. Foi, entretanto, durante a vigência

daquela Constituição que surgiu o direito do trabalho em nível constitucional,

quando em 1926, durante a reforma constitucional, no art.34, estabelecia-se a

competência privativa do Congresso Nacional para legislar sobre o trabalho.

A Constituição de 1934 é considerada um marco importante para a

legislação social8. Dentre os diferentes aspectos que caracterizaram as

Constituições do Brasil, destaca na de 1934, o pluralismo sindical, autorização

para criação, na mesma base territorial de mais de um sindicato da mesma

categoria profissional ou econômica, enquanto as demais adotariam o princípio

do sindicato único. Algumas de suas conquistas foram mantidas nas

Constituições que a seguiram, ou seja, a de 1937, 1946 e 1967. Importante

norma consubstanciada no art.115: “A ordem econômica deve ser organizada

conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo

que possibilite a todos existência digna”. Dentro desses contornos, prevalece a

liberdade econômica, aspecto que foi garantido no direito pátrio, assim como a

pluralidade sindical e a aceitação das convenções coletivas de trabalho.

Consagração ainda do princípio da isonomia salarial, instituindo o salário

mínimo, a proteção ao trabalho de mulheres e menores, o repouso semanal, as

férias anuais remuneradas, entre outros direitos, trazendo como grande

novidade, a criação da Justiça do Trabalho, embora, à época, não integrante

do Poder Judiciário.

A Constituição de 1937 recebeu grande influência da Constituição

italiana com um retrocesso à liberdade sindical, à medida que os sindicatos

foram encarados como exercentes de funções delegadas do Poder Público,

distorcendo suas atividades para aspectos assistencialistas e encarando

movimentos grevistas como anti-sociais. Em suma, esta Constituição

expressou a concepção política do Estado Novo e as restrições que impôs ao

movimento sindical, segundo uma idéia de organização da economia pelo

Estado, nas quais foi proibido mais de um sindicato representativo dos

8 VAZ DA SILVA, Floriano Corrêa. Constitucionalismo social, in ROMITA, Arion Sayão, coord.. “Curso de direito constitucional”. São Paulo: LTr, 1991, p.51.

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20 trabalhadores, a proibição da greve como recurso anti-social e nocivo à

economia e a continuidade da elaboração de leis trabalhistas.

A Constituição de 1946, considerada uma Constituição democrática9

acolheu princípios liberais, na ordem política, mas conservou, embora

restabelecendo o direito de greve, as mesmas diretrizes, na medida em que

respaldou o direito coletivo do trabalho. Destaca-se na mesma Constituição, a

transformação da Justiça do Trabalho, até então de natureza administrativa,

em órgão do Poder Judiciário (art.94, V), mantendo os vogais (hoje juízes

classistas) e instituindo o seu poder normativo. Esta Constituição trouxe

avanços quanto ao entendimento de que o trabalho realizado em

circunstâncias especiais mereceria novas implicações, ocasionando a regra de

salário noturno superior ao recebido em trabalho diurno e estabeleceu, ainda, a

participação do trabalhador nos lucros da empresa, norma que não recebeu

regulamentação sob a égide da citada Constituição.

A Constituição de 1967 apresentou poucas inovações, exprimindo os

objetivos dos governos militares iniciados em 1964 e introduziu o Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço, que havia sido criado por lei ordinária de 1966.

Deu ao Tribunal Superior do Trabalho a feição de corte máxima em matéria

trabalhista, salvo se as normas fossem contrárias à Constituição; instituiu

salário-família e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, dando ao

instituto da estabilidade dos trabalhadores um claro golpe de morte; repetiu o

preceito da participação nos lucros, ampliando tal conotação com a previsão de

co-gestão, normas que continuaram sem regulamentação e aplicabilidade, e

limitou o direito de greve, tudo em consonância com a doutrina da segurança

nacional.

A Emenda nº 1, também chamada de Constituição de 1969, a questão

prioritária passou a ser o desenvolvimento econômico, sendo que o

esmagamento das liberdades políticas em muito deteriorou os movimentos

9 Segundo BONAVIDES, Paulo & Andrade, Paes. A Constituição de 1946 trouxe a certeza de que toda ditadura tem um fim. Acresce, entretanto a linguagem moderada em relação aos direitos sociais. “Atentemos para o aspecto social da Constituição”.

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21 trabalhistas, que foram ressurgindo, aos poucos, acompanhando o processo de

redemocratização.

Podemos resumir afirmando que todas as Constituições brasileiras

desde a de 1934 passaram a ter normas de direito do trabalho. As

Constituições que foram aprovadas em 1937, 1946, 1967, com a Emenda

Constitucional de 1969 e em 1988, com o avanço nos direitos dos

trabalhadores, valorizando o direito coletivo, proibindo a interferência do Poder

Público na organização sindical, embora mantendo o sistema do sindicato

único, iniciando, deste modo, uma tentativa de ampliação dos espaços do

movimento sindical.

As linhas básicas adotadas pela nossa Constituição atual são as

seguintes: 1) Adoção de um modelo prescritivo, não omissivo, segundo a

diretriz do constitucionalismo social e seus objetivos fundamentais, que

compreendem a idéia da inclusão de direitos sociais nas Constituições; 2)

Opção por um texto constitucional não sintético, de certo modo extenso e que,

apesar de poucos artigos, contém inúmeros incisos dispondo sobre uma

variedade de direitos trabalhistas, em dimensão até hoje desconhecida em

nossas Constituições; e 3) Inclusão, na Constituição, de novos direitos

trabalhistas, assim considerados aqueles até agora não previstos em nossa

ordem jurídica, como também aqueles que o eram apenas em nível de

legislação ordinária, passando com a Constituição, a nível maior.

A Constituição de 1988, em seus aspectos gerais, é inovadora, nela

configura-se a essência do Estado Democrático de Direito, que pressupõe a

intervenção organizada do Estado na atividade econômica, assegurando o

bem-estar e o reconhecimento dos direitos sociais, assim como é inegável que

a valorização e a dignidade do trabalhador sempre irão depender da política

econômica que se adote. O efetivo alcance dos direitos sociais depende em

muito das medidas estatais na área da política econômica.

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CAPÍTULO III

Os Direitos Sociais

Apenas pelas palavras o ser humano alcança a compreensão mútua.

Por isso, aquele que quebra sua palavra atraiçoa toda a sociedade

humana (Michel de Montaigne).

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23 OS DIREITOS SOCIAIS

O direito ao trabalho como direito social está entre os Direitos Humanos

e Fundamentais, representa a essência de um verdadeiro Estado democrático

de direito.

Como demonstra a história, a partir da luta para alcançar a liberdade do

homem em relação ao Estado, os direitos de primeira geração, são os direitos

de liberdade, direitos civis e políticos, oponíveis ao Estado, que dimensionam o

homem como ente individual.

Quando o homem partiu para uma perspectiva social e coletiva, surgiram

novas teses e novas necessidades fundamentais, em prol de seu

desenvolvimento, surgindo, portanto os direitos de segunda geração, referentes

aos direitos sociais, culturais e econômicos, correspondentes à busca de

igualdade material e formal. E os direitos de terceira geração, inerentes ao

lema da fraternidade da Revolução Francesa, consubstanciados o direito ao

desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o

patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. Fala-se, ainda,

da quarta dimensão dos direitos fundamentais, a democracia, recomendada a

todos os povos que buscam sua efetividade.

A atuação do Estado é diferenciada para os direitos de primeira geração,

os chamados direitos de liberdade, e para os direitos de segunda geração, os

direitos sociais. Para o exercício dos primeiros basta que o Estado contenha

um sistema de normas que previna ou reprima o seu desrespeito. Enquanto

que para os segundos, demanda-se do Estado uma atuação que implique não

só em um sistema de coerção que limite o seu descumprimento, mas também

uma atuação que repercuta na própria sociedade, principalmente em suas

relações econômicas.

Os direitos sociais, em especial os trabalhistas, são os que exigem não

uma omissão, mas uma ação do Estado. O que nos leva a perceber porque as

atuais propostas neoliberais defendem a omissão do Estado e a liberdade do

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24 mercado, pregam também a desregulamentação das leis de proteção ao

trabalhador, na tentativa de debilitar e até extinguir direitos anteriormente

adquiridos.

É no caput do art. 7º da Constituição Federal brasileira é um exemplo de

meta a ser alcançada na melhoria das condições sociais dos trabalhadores

urbanos e rurais. A sua verificação real exige uma política econômica e social

que englobe empresas e particulares de um modo geral, situação que deve ser

liderada, dirigida e organizada pelo Estado, como vem sendo feita no Fórum

Nacional do Trabalho atualmente.

Subentende-se que os direitos sociais não se concretizam simplesmente

com a liberdade, mas reivindicam questão de igualdade, prestações do Estado,

principalmente no que tange às garantias dos direitos teoricamente existentes.

Eis a maior dificuldade em tornar eficaz o direito trabalhista. É que

simplesmente seu reconhecimento não lhes dá plenitude. São necessários

mecanismos institucionais e uma política voltada para a questão social.

Norberto Bobbio afirma que a consecução dos direitos trabalhistas não é de

esfera moral ou filosófica, nem mesmo jurídica; “é um problema cuja solução

depende de um certo desenvolvimento da sociedade e, como tal, desafia até

mesmo a Constituição mais evoluída e põe em crise até mesmo o mais perfeito

mecanismo de garantia jurídica”.10

É preciso entender que mesmo quando o Estado alega limitações, da

mais variada ordem, seja financeira, política, para cumprir suas obrigações

relativas aos direitos sociais, seus planos econômicos devem apresentar

estreita vinculação com os objetivos constitucionalmente consagrados. O que

na visão do professor português, João Caupers11, o que a Constituição pode

fazer é garantir o empenho do Estado quanto aos direitos sociais, mas compete

10 BOBBIO, Norberto. “A era dos direitos”, trad.de Carlos Nélson Coutinho. Rio de Janeiro, Campus, 1992, p. 45. 11 CAUPERS, João. “Os direitos fundamentais dos trabalhadores e a Constituição”. Lisboa, Almedina, 1985, p.18.

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25 ao próprio Estado assegurar as transformações socioeconômicas e

organizativas indispensáveis.

Enuncia José Afonso da Silva12: Na busca de elementos para a definição

do que vem a ser direito social, com razão “São prestações positivas

proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciativas em normas

constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos,

direitos que tendem a realizar a equalização de situações sociais desiguais.

São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade. Valem como

pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam

condições materiais mais propícias à obtenção da igualdade real, o que, por

sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da

liberdade”.

Os direitos sociais representam uma dimensão dos direitos

fundamentais do homem, logo, são direitos de todos; porém, o exercício de tais

direitos pressupõe um tratamento diferente para as pessoas que, em função de

condições sociais, físicas ou econômicas, não possam gozar desses direitos.

José Afonso da Silva entende que os direitos sociais pela ótica do direito

positivo, não adotando uma classificação rígida, podem ser agrupados em: a)

Direitos do trabalhador; b) Os direitos relativos à seguridade social (saúde,

previdência e assistência social); c) Os direitos pertinentes à cultura e à

educação; d) Os direitos vinculados à moradia; e) E os direitos que se

relacionam com a família, adolescente e idoso; f) Os direitos relativos ao meio

ambiente.

Os direitos sociais dos trabalhadores, na Constituição de 1988 são

divididos em: a) direitos relativos às relações individuais de trabalho (art.7º,

CF); b) direitos concernentes às relações coletivas de trabalho (art. 8º a 11,

CF).

12 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 18a. ed., p. 289.

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26 O art.1º, IV da Carta Política de 1988 estabelece os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa como um dos fundamentos do Estado Democrático

de Direito. O art. 170 da Constituição Federal assegura que a ordem

econômica será fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa. Em face da conjugação desses dispositivos, torna-se evidente que o

trabalho humano e a livre iniciativa são os fundamentos da ordem

constitucional econômica.

Os princípios previstos na Carta Política de 1988, os quais norteiam a

atividade econômica, são os seguintes: a) Soberania nacional; b) Propriedade

privada; c) Função social da propriedade; d) Livre concorrência; e) Defesa do

consumidor; f) Defesa do meio ambiente; g) Redução das desigualdades

regionais e sociais; h) Busca do pleno emprego; i) Tratamento favorecido para

as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que

tenham sua sede e administração no País (art.170, I a IX, CF).

O art.193, caput, da Constituição Federal estabelece que a ordem social

tem como base o primado do trabalho e, como objetivos, o bem-estar e a

justiça sociais. A ordem social deve ser vista como um sistema de proteção da

força de trabalho. Os direitos sociais são previstos no art. 6º da Carta Política

de 1988, sendo que o trabalho é um deles. O art. 7º da Constituição Federal

estabelece quais são os direitos sociais específicos dos trabalhadores.

Assim, não se pode dissociar a ordem econômica da ordem social. A

ordem econômica menciona a valorização do trabalho humano, enquanto que a

social menciona o primado do trabalho. A efetivação dos direitos sociais exige

a participação do Estado nas relações econômicas. Não basta o simples elenco

dos direitos sociais nas Constituições. É necessário que o Estado, através de

seus órgãos, faça a alocação de recursos e de mecanismos para o implemento

das condições mínimas de vida digna para o ser humano.

Na verdade, não se consegue desvincular a realidade dos direitos

sociais da efetiva distribuição de rendas, do pleno emprego e de condições

dignas de trabalho e de salário para os cidadãos. A simples reversão de uma

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27 ideologia intervencionista para uma liberal não irá assegurar ao universo dos

trabalhadores brasileiros a solução dos seus problemas históricos.

No entanto, os críticos estão corretos quando afirmam que o vasto

elenco dos direitos individuais não assegura, de fato, a valorização do

trabalhador brasileiro como cidadão. Basta olhar a marginalidade do

trabalhador brasileiro na economia informal, o desemprego alarmante, os

baixos salários, etc.

Todavia, não se pode afirmar que o modelo liberal, se adotado, sem

qualquer restrição, possa resgatar a dignidade do trabalhador brasileiro, a

exemplo das políticas monetária, fiscal e social que foram adotadas pelo

governo federal, nos últimos anos.

O constituinte de 1988 entendeu caber aos empresários não apenas a

preocupação com o lucro, mas também e principalmente no que é relativo ao

papel social perante os cidadãos, assegurando-se a prevalência do social,

conforme o art. 5º, XXIII e inciso III, do art. 170 e taxativamente no art.193,

todos da CF.

Os direitos não podem ser desrespeitados, flexibilizados, excluídos,

como pretende a ideologia neoliberal do capital especulativo transnacional, até

mesmo perante a prevalência do princípio da proibição do retrocesso social,

ratificado no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,

que os Estados partes, inclusive, o Brasil, no livre e pleno exercício de sua

soberania, observa o princípio da aplicação progressiva dos direitos sociais.

J.J. Gomes Canotilho manifesta que o princípio da proibição do retrocesso

social pode formular-se assim: o núcleo essencial dos direitos sociais já

realizado e efetivado através de medidas legislativas deve considerar-se

constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas que,

sem a criação de esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na

prática em uma anulação, revogação ou aniquilação pura e simples desse

núcleo essencial.

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CAPÍTULO IV

A Globalização

Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e

tempestades (Epicuro).

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29 A GLOBALIZAÇÃO

As transformações, pelas quais passa o mundo nos dias de hoje, leva à

caracterização de uma sociedade nova, que denota a transnacionalização dos

mercados, com o incremento das relações industriais, financeiras e comerciais,

em que o eixo das decisões escapa aos governos locais, considerando a

interdependência dos diversos países do globo. O Estado nacional deixa de ter

o pleno controle sobre a gestão das políticas públicas internas, como

aconteceu no início do segundo mandato do presidente, Fernando Henrique

Cardoso, quando houve uma sensível desvalorização do dólar em face do real,

ocasionando uma acentuada diminuição na atividade da economia nacional.

Esta crise complexa, associada à extinção do conceito da modernidade,

fundada nas premissas de liberdade, igualdade e fraternidade, ideais que não

foram cumpridos, requer que haja uma significativa ruptura cultural, capaz de

provocar o surgimento de novos paradigmas.

A globalização da economia foi o principal fator de consolidação da

hegemonia planetária alcançada pelo capitalismo, na segunda metade do

século XX e que veio a afetar inclusive os conceitos de Estado nacional e de

soberania, denominações hoje ambíguas e instáveis. Todavia, a globalização é

vista como a causa central do desequilíbrio estrutural do sistema capitalista,

pois o fenômeno, em grande medida, inviabilizou a realização completa e

ampla do projeto revolucionário-liberal de 1789.

O processo de globalização da economia, acentuado após o fim da

guerra fria, favoreceu o ressurgimento das idéias liberais, mormente no que

tange à internacionalização da economia, exigindo maior liberdade de mercado

e menor intervenção do Estado.

A globalização, ao contrário do que pode parecer, é um processo muito

antigo, que vem se desenvolvendo há milhares de anos e que tende à

eliminação das fronteiras nacionais e fusão das inúmeras culturas locais para a

formação de um núcleo cultural homogêneo comum.

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30 É possível identificar no processo de globalização quatro grandes saltos

qualitativo-quantitativos, entremeados por períodos de avanço lento, de

estagnação e até retrocesso.

O primeiro grande salto ocorreu no século IV a.C., com a implantação do

Império da Macedônia. Alexandre fundou um dos maiores impérios de todos os

tempos, que ia da Grécia até o Oceano Índico, e com isso contribuiu para

helenizar o Oriente e disseminar o Oriente na Europa.

O chamado neoliberalismo não representa uma categoria autônoma na

economia e expressa, no principal, as idéias do modelo teórico liberal, o que se

pode perceber na análise de suas principais teorias. Um dos temas

preponderantes na doutrina do liberalismo é atribuir ao mercado o papel de

formação e organização das forças econômicas, relegando ao Estado um papel

secundário. A função primordial do Estado é garantir o livre funcionamento do

mercado. Entre dois princípios básicos como a liberdade e a igualdade, a

primeira é sempre prioritária à segunda, não sendo considerado justo o ganho

de igualdade em detrimento da liberdade.

O termo neoliberalismo ou liberalismo novo prega o retorno das idéias

liberais, defendidas por novas pessoas, grupos e contexto histórico.

As conotações, extraídas das idéias liberais apresentam, a princípio, uma

separação entre o econômico e o social, entre o Estado e o mercado,

esquecendo-se de que o mercado, para funcionar, exige condições sociais

propícias, contudo o próprio Estado é o mantenedor do neoliberalismo por ser o

responsável por toda a estrutura jurídica, política e institucional, além de

garantir que as leis do mercado possam agir com liberdade.

É importante lembrar que na América Latina a intervenção do Estado

estimulou a atuação do mercado, quase inexistente diante da ausência de uma

forte burguesia industrial, que foi constituída a partir da intervenção e não da

omissão do Estado.

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31 Todavia, no início dos anos 70, se dá a revitalização do liberalismo nas

relações econômicas. O Estado deve se retirar da economia, passando a

gestão de uma série de atividades econômicas para as mãos dos particulares.

Foram, inclusive, várias as críticas aos custos monetários dos diversos planos

de políticas públicas do Estado, na consecução efetiva dos direitos sociais.

Assim, em vários países da Europa foram adotadas medidas de política

econômica, com o objetivo de privatizar as empresas públicas, fato que passou

a ocorrer no Brasil, de forma mais intensa, a partir do governo do Presidente

Fernando Collor, tomando maiores dimensões no mandato do Presidente

Fernando Henrique Cardoso.

Existe a necessidade de identificar-se dentre as micro-culturas advindas

da cultura moderna, identificar novos caminhos e novos paradigmas que

possam auxiliar o jurista na busca de soluções para os problemas atuais,

principalmente, os ocasionados no âmbito das relações de trabalho por causa

da globalização da economia.

No campo das relações trabalhistas, prega-se a diminuição da atividade

regulamentar do Estado, deslocando o eixo normativo da regulação para a

autocomposição e redimensionando o valor histórico da liberdade e da

autonomia das partes, seja no campo dos direitos individuais como dos

coletivos.

Segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho (1997),

mais de 900 milhões de pessoas no mundo ficaram desempregadas ou

subempregadas. Diversas são as causas, como o avanço da tecnologia, que

permitiu maior produtividade, com menor número de trabalhadores, a

globalização da economia, que aumentou a competitividade do processo

produtivo em escala internacional, e as transformações, que afetaram o

mercado de trabalho, com o crescimento da informalidade em lugar dos

empregos formais, problema que também atingiu o Brasil.

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32 O mercado globalizado clama por uma adequação da legislação

trabalhista brasileira, editada na década de 1940, às necessidades sócio-

econômicas atuais, mas também porque há preocupação quanto aos Direitos

Sociais, ou os direitos dos trabalhadores, que se inserem no conceito dos

Direitos Humanos e Fundamentais.

Como se observa o aumento do grupo de sujeitos situados à margem do

mercado formal de trabalho, estes supérfluos ao paradigma econômico vigente

e, portanto, atingidos em seus Direitos Humanos e Fundamentais,

especialmente aqueles Direitos de caráter Social. Entendemos, assim, a

necessidade de novas demandas, com a ampliação das configurações dos

Direitos Humanos e Fundamentais, aí incluídos os Direitos Sociais, direitos que

foram consubstanciados, em última análise, como produto da história e fruto

das lutas pela preservação da dignidade humana. Daí, a importância em exigir-

se uma Reforma Trabalhista brasileira.

Questionam-se os problemas causados pela globalização moderna que

apesar de ter a economia como principal motor, afeta diretamente todos os

setores de vida humana: o político, o social, o cultural, o ambiental, o das

relações de trabalho etc. Assim, a crise que atinge as relações de trabalho é

possível através da análise do fenômeno da globalização e de seus efeitos,

principalmente no que se refere à dissolução do conceito de soberania, ao

declínio do Estado Nacional, ao surgimento de uma nova cultura e de uma

sociedade civil global e sobre a questão da governabilidade planetária.

Obviamente que a cultura pós-moderna representa o fim daquela

estrutura ordenada e previsível da modernidade e a oferta de produtos e o

desejo de lucro cresceram assustadoramente, entretanto com uma queda na

procura em face do aumento do proletariado e do empobrecimento da classe

média, vasta camada da população.

Segundo Boaventura de Sousa Santos destaca os dois problemas que

considera mais importantes: 1) a explosão demográfica e 2) a degradação

ambiental, ambos aumentados em decorrência da globalização, ocasionando

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33 uma mudança significativa (antes Oriente e Ocidente) provocando uma

polarização Norte / Sul. Conclui Boaventura: Referimo-nos “à primazia total das

empresas multinacionais, enquanto agentes do “mercado global”, que

deslocam os seus setores de produção para os países subdesenvolvidos (Sul),

mantendo os centros de decisão e de acumulação de capital nos países

setentrionais (Norte).

Dos traços perversos da globalização da economia, podemos considerar

os seguintes:

1. “Erosão da eficácia do Estado na gestão macroeconômica”, que

provoca o próprio enfraquecimento do conceito de Estado

Nacional, em função da trans-nacionalização da economia;

2. O avanço tecnológico em todas as áreas da atividade humana,

inclusive na agricultura e na indústria robótica, que serviu para

acentuar as diferenças entre Norte e Sul, considerando que os

países subdesenvolvidos não conseguem acompanhar a

evolução tecnológica dos países ricos, colocando-os em posição

de grande desvantagem na concorrência internacional;

Ao final do processo, o todo repercute no campo das relações

trabalhistas. A atividade do trabalhador está intimamente associada a tais

fatores econômicos, quando o maior o menor domínio da tecnologia determina

a quantidade e, por conseguinte, a qualidade dos postos de trabalho,

disponíveis para a população, afetando os setores da indústria de ponta, mas

também o setor primário da economia.

Os produtos dos países do Sul representam baixa competitividade

internacional, o que aumenta o desemprego e nível de pobreza destes países,

forçando a redução dos salários e escassez do trabalho, de um trabalhador que

acaba submetendo-se a condições profissionais degradantes a permanecer

desempregado. É o atual círculo vicioso hoje presente nos países

subdesenvolvidos.

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34 Houve a desvalorização necessária e imposta do trabalho humano nos

países subdesenvolvidos, que alcançou tal desnível que os próprios governos e

representantes dos trabalhadores passam a defender a redução dos direitos

trabalhistas de modo a baratear os produtos e assim permitir a inserção destes

no mercado internacional. Por isso, chega-se a discutir sobre a introdução nos

tratados comerciais internacionais de cláusulas mantenedoras de “padrões

sociais e trabalhistas mínimos”, que seriam observados pelos países

signatários, permitindo que seus produtos fossem aceitos pelos demais países

membros.

Entretanto se os países ricos lutam pelo estabelecimento de “padrões

mínimos” como forma de diminuir essa “vantagem” dos países pobres,

enquanto estes são contra as cláusulas que visam proteger o seu próprio

trabalhador. É a lógica da concorrência capitalista que se guia apenas pelo

vetor econômico e ao qual Milton Santos chama de “motor único” da história e

denominado também de “mais-valia universal”.

Assim, a política de redução dos custos trabalhistas, adotada pelos

países subdesenvolvidos, “afoitos por se tornarem integrantes do primeiro

mundo capitalista, os leva, a todos, sem exceção, ao fundo do poço

econômico, político e social, com a tendência de se tornarem, ao longo do

tempo, descartáveis, sem força ou poder, para uma reação”. É, por exemplo, o

que aconteceu com determinados países, em determinado tempo, quando

favorecidos com a entrada de capital externo. Não investiram estes recursos no

aperfeiçoamento das condições sociais, culturais e éticas do povo e ao término

do ciclo favorável, retornaram imediatamente à situação de pobreza e

dependência econômica. Exemplos: O ciclo das grandes navegações e do

tráfico de escravos que enriqueceu Portugal, nos séculos XV e XVI, o tráfico de

metais que beneficiou a Espanha nessa mesma época e principalmente do

enorme poderio econômico das nações mediterrâneas orientais, resultante do

domínio de imensas reservas petrolíferas que, contudo, não conseguem

proporcionar qualquer melhoria na qualidade de vida daqueles povos.

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35 Conclui-se que pode haver apenas “uma aparente vantagem” obtida

pelos países periféricos ao tornar precárias as relações de trabalho e de

salário, que não os leva a nada. O verdadeiro desenvolvimento e o acesso à

condição de país desenvolvido dependem mais da correta aplicação das

divisas e não de como estas são obtidas.

4.2 - A Crise de Paradigmas

Boaventura nos informa que o projeto da modernidade, o cerne do

nascimento e desenvolvimento do capitalismo moderno, é sustentado sobre

dois pilares:

1. O pilar da regulação, baseado nos princípios do Estado (Thomas

Hobbes), do mercado (John Locke) e da comunidade (Jean

Rousseau).

2. O pilar da emancipação se constitui por três lógicas de

racionalidade: a racionalidade estético-expressiva da arte e da

literatura, a racionalidade moral-prática da ética e do direito; e a

racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e da técnica.

O paradigma desse projeto foi extinto, após ter atravessado um longo e

complexo processo de superação ao mesmo tempo de obsolescência: de

superação quanto às promessas que a modernidade cumpriu (com excesso) e

de obsolescência no que tange às promessas que por incapacidade não pode

mais cumprir.

Os excessos e o déficit no cumprimento de tais promessas são a causa

radical da crise que castiga o mundo atualmente. Estamos diante da

necessidade de um novo paradigma que permita ultrapassar os limites da

modernidade. Os excessos e descumprimentos de promessas devem ser

compreendidos e averiguados no pilar da regulação.

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36 Nos países centrais, a evolução histórica do capitalismo apresenta três

fases:

1. Capitalismo liberal, no século XIX, correspondente ao surgimento

dos direitos políticos e, portanto, da cidadania política;

2. Capitalismo organizado, entre 1880 e 1970, que corresponde ao

aparecimento dos direitos sociais;

3. Capitalismo financeiro, monopólico ou desorganizado, no qual se

buscava afirmar os chamados “novos direitos” de cidadania, de

natureza difusa.

Entretanto, à medida que essas fases aconteceram, o projeto liberal foi

se afunilando em alguns pontos e excedendo-se em outros aspectos que

conseguia realizar.

O período do capitalismo organizado foi marcado, no começo, pela

expansão vertiginosa do princípio do mercado e, mais para o final do século

XIX, é contido pelo princípio do Estado, estabelecendo um certo equilíbrio entre

ambos, que juntos se sobrepunham ao princípio da comunidade.

No período do capitalismo monopólico, o princípio do mercado volta a se

expandir e adquire força sem precedentes, colonizando o princípio do Estado e

o princípio da comunidade. É a fase da flexibização da vida econômica, social e

política, assinalada pela “hipertrofia do princípio do mercado”. O discurso

capitalista passa a convencer os cidadãos de que é possível, para o projeto da

modernidade e também o único, mascarar o déficit relativo às promessas não

cumpridas, através de um processo de “concentração / exclusão”.

O liberalismo clássico propunha uma cidadania centrada no mercado. O

marxismo defendia uma cidadania centrada no Estado. O novo liberalismo

econômico, também conhecido como social-democracia, propõe uma cidadania

centrada na comunidade, isto é, no sujeito.

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37 O positivismo da modernidade difunde a idéia de uma ciência jurídica

dogmático-formalista. Positivimos pretensamente neutro e apolítico, que chega

ao seu clímax com a Teoria pura do direito, de Hans Kelsen, publicada em

1962, quando há uma ruptura violenta entre o senso científico e o senso

comum, entre a cultura erudita e a cultura de massas, entre o discurso teórico e

o discurso comum. As ciências e as artes partem para uma especialização

crescente e perdem a visão holística da totalidade.

Assim os excessos de especialização e de pretensa neutralidade do

discurso capitalista são o reverso de déficit de totalidade, de valoração e senso

político de que hoje se ressente a sociedade ocidental.

As promessas da modernidade que não foram cumpridas são colocadas

em dois grandes grupos, a saber:

1. As que se referem à solução dos problemas da distribuição

econômica, os quais estão na base das desigualdades sociais;

2. As que acenavam com a implantação de uma democracia política

substancial, que promovesse a incorporação efetiva dos cidadãos

no sistema político mediante participação não limitada apenas ao

fato (às vezes puramente simbólico) do voto.

O cumprimento dessas promessas depende do estabelecimento de um

novo paradigma global que reoriente a civilização do século XXI, entre o

Neoliberalismo e o Garantismo jurídico.

4.3 - O Garantismo

Teoria jurídica que surge na Itália e que no Brasil vem se difundindo há

algum tempo, adquirindo realce através da obra Estado de direito de

legitimidade: uma abordagem garantista, de Sérgio Cademartori, publicada em

1999.

O postulado trata sobre o ordenamento jurídico dos países democráticos

da atualidade que está baseado em parâmetros de racionalidade, justiça e

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38 legitimidade e que são desatendidos em todos os âmbitos e níveis do poder

estatal e, na atualidade, também pelos poderes privados, a chamada

onipotência do mercado, segundo Ferrajoli.

O Estado moderno apresenta uma grave discrepância no plano de seu

ordenamento jurídico, embora seu “modelo normativo” seja por tendência

garantista, sua “prática operativa” é antigarantista e mostra “inclinações neo-

absolutista”, evidenciadas através de práticas antigarantistas embasadas em

normativas de emergência e de exceção, oriundas de interesses setoriais da

sociedade”.

Há divergência entre o nível normativo operacional e níveis operativos

inferiores, que compõem o centro da “crise profunda e crescente do Direito”,

manifestada através das seguintes formas:

1. Crise da legalidade, que se mostra por meio do gigantesco

sistema de corrupção que atingem os governos de quase todos

os países do mundo. Esta crise provoca, por sua vez, a crise

constitucional, revelada pelo desgaste do valor das normas

constitucionais, do esvaziamento do papel dos parlamentos, dos

conflitos constantes entre os Poderes Executivo e Judiciário e o

enfraquecimento dos Poderes do Estado e da Constituição;

2. Crise do Estado Social, advinda da contradição fundamental entre

o conceito fundamental entre o conceito de Estado de direito, que

pressupõe um conjunto de limites e proibições ao poder público, e

o de Estado Social, que pressupõe a interferência discricionária

do Estado para satisfazer direitos sociais mediante prestações

positivas. A crise é evidente quando considerada na legislação

casuística, setorial e corporativa que vem se disseminando nos

países ocidentais, sob a justificativa da situação de emergência;

3. Crise da soberania e do constitucionalismo, que acentuada pelo

processo de globalização, deslocou para fora das fronteiras do

Estado nacional a sede das decisões que antes eram tomadas no

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39 âmbito interno, como as políticas sociais e monetárias ou os

programas de caráter militar. O que afeta o conceito de soberania

nacional.

A proposta de garantismo jurídico visa enfrentar a contradição entre o

modelo normativo e a prática operativa, de modo a diminuir a crise hoje

existente no direito.

4.4 - A Norma e sua Validade

O garantismo aponta para os critérios de valoração das normas

jurídicas, estabelecendo a distinção entre validade, efetividade e vigência,

máximas baseadas na teoria do direito de Norberto Bobbio, ao expandi-la no

campo do exercício valorativo oferecido ao intérprete e ao aplicador da norma,

numa distinção entre validade, efetividade e justiça.

Nos nteressa quanto ao liberalismo garantista, o que se impõe perante a

democracia política ou formal, sejam vínculos negativos, gerados pelos direitos

de liberdade, que nenhuma maioria pode violar, ou pelos vínculos positivos,

gerados pelos direitos sociais, que nenhuma maioria pode deixar de satisfazer.

O Estado e direito perdem sua posição de valores em si mesmos e

passam a ser vistos não como fins, mas como meios para a realização de

determinados fins extrajurídicos e politicamente justos.

Afinal, o direito, sob uma ótica liberal, serve para compelir as instituições

do Estado a garantir os direitos fundamentais, valoração que consiste em

analisar se uma norma ou decisão jurídica ofende algum direito fundamental

assegurado por norma superior. O garantismo é uma teoria positivista, o direito

positivo, seu objeto, no qual o cidadão busca a garantia de seus direitos

fundamentais e, além disso, o garantismo considera o direito positivo tanto em

sua função descritiva de antinomias e lacunas, como em sua função prescritiva

de auto-reforma, mediante a invalidação das normas inferiores e a integração

das normas superiores.

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40

CAPÍTULO V

A Nossa Legislação Trabalhista (Arbitrariedades)

Cometer injustiças é pior que sofrê-las (Sócrates).

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41 A NOSSA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

(ARBITRARIEDADES)

É necessário observar-se que o Direito do Trabalho nasceu da

necessidade social de se buscar mecanismos que servissem para intermediar

os conflitos entre o capital e o trabalho, assegurando ao trabalhador, a parte

mais fraca da relação de emprego, uma proteção capaz de equilibrar a sujeição

ao poder total de submissão e domínio do dono do capital.

No Brasil, o legislador constituinte idealizando a construção de uma

sociedade livre, justa e solidária, estabeleceu princípios para tentar atingir o

desenvolvimento nacional, para tentar conseguir a erradicação da pobreza e a

marginalização, para reduzir as desigualdades sociais e regionais, para

promover o bem comum, função primordial do Estado. A função social da

propriedade ao desenvolvimento da ordem econômica (CF, art. 5º, XXIII e art.

170, III), valorizando o direito de cidadania, garantindo-se o direito ao salário e

ao trabalho (CF, art.1º, III e IV e art. 7º, IV, V, VI, VII, X).

Se considerado o nível alarmante de desemprego, ainda crescente, é

relevante o papel da Justiça do Trabalho e vital a aplicação do princípio de

proteção ao hipossuficiente. Trabalhadores que organizados em sindicatos,

conquistaram importantes vantagens, como a jurisprudência dos tribunais

trabalhistas que passou a reconhecer como integrante do contrato de trabalho

também os direitos decorrentes de Acordos, Convenções Coletivas e Decisões

Normativas (CF, art.114, parte final do § 2º e inciso XXVI do art. 7º).

O constituinte de 1988 entende caber também aos empresários, além da

preocupação com o lucro, seu papel social diante da sociedade, conforme

expõe taxativamente o caput do art.193 (anteriormente citado) da Constituição

Federal.

Entende-se que os direitos trabalhistas não podem ser diminuídos,

flexibilizados, excluídos, como quer a ideologia neoliberal do capital

especulativo transnacional, até mesmo diante da prevalência do princípio da

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42 proibição do retrocesso social, ratificado no Pacto Internacional dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, que os Estados partes, dentre eles o Brasil,

no livre e pleno exercício de sua soberania, observando-se o princípio da

aplicação progressiva dos direitos sociais (in Proteção Internacional dos

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais).

José Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da

Constituição, Livraria Almedina, Coimbra, 1998 manifesta “O princípio da

proibição do retrocesso social pode formular-se assim – o núcleo essencial dos

direitos sociais já realizados e efetivados, através de medidas legislativas deve

considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer

medidas que, sem a criação de esquemas alternativos ou compensatórios, se

traduzam na prática em uma anulação, revogação ou aniquilação pura e

simples desse núcleo essencial. A liberdade do legislador tem como limite o

núcleo essencial já realizado”.

O ordenamento constitucional brasileiro é de cunho garantista, por

proteger os valores éticos políticos do trabalho e da dignidade humana do

trabalhador, entretanto a prática operativa e parte da legislação

infraconstitucional, atuam, às vezes, de modo antigarantista, através de um

processo chamado de flexibilização, mas que, na verdade, faz com que sejam

enfraquecidas as relações trabalhistas.

Apesar do entendimento flexibilizador da jurisprudência em favor das

exigências da economia de mercado que objetiva o afastamento do Estado das

relações capital-trabalho para que tudo se regule pela “autonomia da vontade”,

defendida, inclusive nas propostas tidas como de “consenso” no âmbito do FNT

– Fórum Nacional do Trabalho. Não se pode priorizar o lucro em detrimento do

social, da responsabilidade coletiva das empresas em face das necessidades

gerais dos cidadãos. É que a incorporação ao patrimônio jurídico do

trabalhador, das vantagens de cláusulas normatizadas em acordos /

convenções estão no art. 7º, VI da CF, tal como a irredutibilidade salarial e sua

supressão ofende o princípio da intangibilidade contratual “in pejus” aos

operários (CLT, art. 468).

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43 Se no debate sobre a reforma sindical e trabalhista houve avanços,

quanto à legislação trabalhista pouco se avançou no âmbito do FNT. O antes

ministro Jacques Wagner havia chegado a se contrapor à ampliação do prazo

do seguro-desemprego (compromisso eleitoral do Governo Lula) e chegou a

propor o fim da multa de 40% do saldo do FGTS para o trabalhador demitido

sem justa causa. O que provocou reações até pelo fato da multa ter sido

proposta, na Constituinte de 1988, pelo, então deputado, Luis Inácio Lula da

Silva.

Jacques Wagner chegou a anunciar sua intenção de promover uma

“limpeza” na CLT. Referiu-se a um anteprojeto de lei que eliminaria quase 100

dos seus 922 artigos, que entre outros extinguiria o artigo 384, que garante à

mulher descanso de 15 minutos entre o término da jornada normal e o início da

adicional, bem como o art. 138, que proíbe a prestação de serviços no período

de férias.

Não interessam ao trabalhador nenhuma supressão de seus direitos e

toda discussão sobre alteração da CLT deve ser feita no Fórum Nacional do

Trabalho.

Projetos anteriores ao Governo Lula foram arquivados, entre estes, o de

FHC que impunha a prevalência do negociado sobre o legislado, resultando em

um duro golpe aos direitos trabalhistas e do projeto de lei nº 4.302 que

institucionalizava a terceirização e ampliava a duração dos contratos

temporários. Contrariamente, Lula lançou o Programa Primeiro Emprego, que

evita a falta de oportunidade de trabalho para os mais jovens e defende a

redução da jornada de trabalho.

Questiona-se o fato da CLT proteger apenas 40% dos trabalhadores,

devido ao aumento da informalidade, dos que não têm benefícios como 13º

salário e férias remuneradas, além de jornada de oito horas diárias. O novo

mundo do trabalho que toma o lugar do “emprego”.

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44 A informalidade não pára de crescer, impede o acesso dos

trabalhadores aos direitos e reduz o nível de renda, funcionando como um

instinto de sobrevivência, exigindo competitividade e versatilidade, para garantir

ao trabalhador o mínimo para sobreviver.

As empresas buscam reduzir gastos e para isso se utilizam de diversos

meios:

a) Subcontratam serviços descentralizando atividades, especializadas

ou não, que antes eram próprias, com o que dividem tarefas, reduzem

gastos e o número de empregados; abusos, nessa prática, levaram os

Tribunais do Trabalho (Enunciado n. 331 do TST) a proibir a

subcontratação de atividades-fim, permitindo, apenas, a das atividades-

meio, que são as de apoio à empresa;

b) Preferem cooperados no lugar de empregados, valendo-se da

autorização legal (CLT, art.442, parágrafo único), que possibilita, em

qualquer ramo de atividade, o contrato entre empresas e sociedades

cooperativas sem vínculo de emprego entre estas e seus associados

nem entre estes e aquelas;

c) Revêem as formas de salários para substituir remunerações fixas por

variáveis com o propósito de repartir, com os empregados, os riscos da

atividade econômica e suportar as oscilações salariais do mercado,

instituindo, em alguns casos, planos de participação nos lucros ou

resultados desvinculados dos salários e sem encargos sociais,

negociados com as representações de trabalhadores;

d) Se empresas públicas são privatizadas, levam para seus adquirentes

elevado passivo trabalhista, fruto de concessões previstas em

regulamentos internos de pessoal ou acordos coletivos, e defasagens

atuariais de previdência privada complementar dos seus empregados

segurados, fomentando litígios sobre responsabilidade sucessória por

esse passivo;

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45 Assim, o desemprego motivou inovações, como contrato de trabalho

para desempregados; contrato a tempo parcial; suspensão temporária do

contrato de trabalho, bolsa de requalificação profissional, ampliação do seguro-

desemprego e outras modificações, dentre as quais a compensação anual de

horas.

Quanto aos sindicatos fortes, estes foram enfraquecidos diante de

diversos fatores:

a) O desemprego, sombra que lhes tirou a possibilidade de lutar pela

melhoria das condições dos trabalhadores, obrigou-os a voltar-se para a

defesa dos empregos, a reivindicação de políticas de desenvolvimento

econômico e a redução – não conseguida – da jornada de trabalho;

b) A descentralização das empresas e o surgimento de novas

profissões antes concentradas em categorias, fenômeno que provoca o

fracionamento das categorias profissionais e dificulta a união e a ação

dos trabalhadores;

c) A queda da inflação, estabilizante da moeda, afastando os pleitos,

antes freqüentes, de atualização dos valores dos salários corroídos pela

desvalorização do dinheiro;

No entanto, o trabalhador ainda precisa se adequar a esta nova

realidade, se modernizar, ser competitivo, diversificar suas habilidades num

mercado complexo. A nova dinâmica exige mais do trabalhador que

desempenha um leque de funções. O trabalhador deve demonstrar

conhecimento e apresentar resultados ou exercer várias funções para se

manter no mercado.

Por um outro lado, a terceirização preocupa a Justiça do Trabalho,

especialmente, em empresas estatais, onde a proporção assumiu níveis

inaceitáveis. A princípio tratava-se de uma opção válida, para complementar a

mão-de-obra própria ou então para prover atividades temporárias ou não

relacionadas com o objetivo básico da empresa.

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46 O tempo ainda fez com que se tornasse uma autêntica dor de cabeça,

em razão da deturpação de objetivos. A terceirização envolve perda de direitos

para os empregados, busca frenética de redução de custos pela empresa, com

o sacrifício do pagamento de direitos garantidos a mão-de-obra direta e burla

ao princípio constitucional que exige concurso público para acesso às

empresas estatais.

Em Furnas, os terceirizados chegaram a representar número superior ao

do pessoal direto – um absurdo gerado pela gestão de Fernando Henrique

Cardoso, que não realizava concursos, pois pretendia extinguir a empresa, mas

tinha de contratar gente diante das tarefas a serem cumpridas. O mesmo

acontece na Petrobras, questão que o presidente da companhia, José Olívio

Dutra tem intenção de resolver, sabendo que não pode fazê-lo de uma hora

para outra, onde o número de contratados pode superar a 30 mil pessoas.

Muitas empresas não pagam INSS, FGTS e outras obrigações legais. O

que tem gerado muitas sentenças de condenação à empresa-mãe, em

substituição a empresas terceirizadas, com baixo patrimônio para responder

pelas condenações. O que mostra que o artifício de se buscar redução de

custos não está sendo atingido.

A terceirização é usada em todo mundo, mas deve obedecer a regras

rígidas. Não se deve substituir a mão-de-obra direta da empresa pela

terceirização, como por exemplo, algumas empresas de telefonia fixa, que

optam por contratar gente terceirizada, com baixos salários e acabam por ver o

número de ações na justiça multiplicadas pela má prestação de serviços,

denegrindo a imagem dessas empresas.

O país precisa repensar o uso da terceirização, afirma o juiz Mello Porto,

deixando de adotar essa prática como subterfúgio para evitar contratações

diretas.

As cooperativas também representam uma nova relação de trabalho em

debate, que vem sendo utilizadas enquanto não se resolvem os custos do

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47 trabalho, usando-se a cooperativa para que uma determinada empresa não

pague os direitos que a CLT proporciona. A cooperativa pode até vir a suprir

esses direitos, em tendo sobra, mas é um condicionante e não um direito

garantido e que para o cooperativismo fosse uma solução, o governo teria de

confeccionar um plano gigantesco de incentivos de recursos, mudança de

legislação para obter competitividade em licitação de compras etc. o que

levaria muito tempo.

Desde que o cooperativismo (inicialmente agrícola) foi criado no Brasil,

com a Lei nº 5.764, de 1971, a sua atividade, nos últimos 20 anos, atraiu outros

ramos, típicos de áreas urbanas, tais como consumo, educacional,

habitacional, infra-estrutura, produção, saúde, turismo, transporte e trabalho.

O debate tem sido a normatização e a fiscalização das cooperativas para

distinguir as verdadeiras das falsas. A cooperativa deve agir em conformidade

com a lei, que rege o setor e estar em dia com os órgãos governamentais

(Receita Federal, Estadual e Municipal, FGTS e INSS), evitando irregularidades

ou fraudes, tendo um procedimento normal de autogestão, afinal são mais uma

alternativa para a geração de emprego, apesar de também, assim como a

terceirização serem consideradas um modo precário do trabalho, por levar a

uma substituição das normas da CLT pelo não pagamento dos direitos.

Marta Reis, presidente da CTI, vê vantagens no cooperativismo, a

empresa paga menos encargos e o trabalhador ganha mais poder de fogo para

reivindicar remuneração melhor, ressaltando como conquista a possibilidade de

negociação entre cooperados e empresas do reembolso de benefícios como

planos de saúde, seguros e previdência privada. No sistema de cooperativas

não se fala em terceirização de serviços, e, sim, em secundarização, uma vez

que a relação se dá diretamente entre empresa e profissional, e o trabalhador

não é contratado da cooperativa, mas associado a ela. A legislação estabelece

que o cooperado recolha à Previdência como autônomo, e que seja orientado

pela cooperativa para tal.

Contudo, uma grande ameaça das cooperativas, que gerou um certo

descrédito em relação ao setor, são as falsas cooperativas de trabalho,

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48 chamadas coopergatos. São empresas que, para burlar a CLT, atraem pessoas

com a proposta de associação, mas não estabelecem com elas uma relação de

cooperação verdadeira. O profissional não obtém as vantagens garantidas pelo

regime, é subordinado a uma chefia e submetido a condições iguais às

impostas a um empregado regido pela CLT, prática cada vez comum, às vezes,

até por falta de conhecimento.

A gravidade da situação atual reside no fato da legislação proteger quem

tem emprego, mas sem proteger a quem tem trabalho. Assuste e preocupa aos

especialistas conjeturar sobre o futuro dos trabalhadores que não possuem

carteira assinada, que não terão nenhum tipo de assistência social.

O trabalho informal possui sua importância por garantir a sobrevivência

dos que estão à margem do novo sistema, entretanto é preciso rever a

legislação e dar estímulos à formalização do trabalho, da fragilidade do

trabalhador devido aos altos níveis de desemprego.

Decerto é que o direito do trabalho não pode mais ser compreendido

isoladamente, diante da crescente complexidade do sistema cultural, social e

jurídico e os operadores do direito trabalhista precisam estar preparados para

as novas estradas do atual sistema, mantendo-se pelos verdadeiros ideais da

justiça, em prol dos menos favorecidos, mantendo sua força sem agir além de

suas fronteiras.

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49

CAPÍTULO VI

A Reforma Trabalhista

O verdadeiro rebelde é aquele que propõe alternativas (Julián Marías)

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50 A REFORMA TRABALHISTA

Atualmente, numa fase de transição democrática, na evolução do Direito

do Trabalho, na ordem jurídica nacional, estamos em busca de um novo

modelo de tutela para o trabalhador, questão de debate em qualquer discussão

doutrinária, jurisprudencial ou legal.

Novas dimensões decorrem das relações sociais e econômicas, com

reflexos nas relações individuais e coletivas que colocam os operadores de

direito em alerta permanente. O fato é que a nova fase, que se inicia, abdicou

do sistema fechado e hermético advindo do espírito corporativista. E o novo

modelo de tutela será baseado na autonomia coletiva privada, valorizando a

negociação coletiva como fórmula para o redimensionamento normativo das

condições de trabalho, entretanto as dificuldades residem em se definir qual

será o Direito de Trabalho mínimo, isto é, das matérias que não poderão ser

objeto dessa nova realidade.

O Estado de encontro às transformações provocadas pela globalização,

pelo avanço tecnológico e pelo desemprego, tem proposto novas leis para

atenuar os efeitos negativos destes fatores.

Nesse sentido, a reforma trabalhista no Brasil já vem acontecendo, como

pode ser observado, nas seguintes disposições, entre outras:

1) A Lei Complementar n. 103, de 14.07.2001 que autoriza os Estados e

o Distrito Federal a instituir o piso salarial a que se refere o artigo 7º,

inciso V, da Constituição Federal;

2) A Lei n. 9.841, de 05.10.1999 – Estatuto da Microempresa e da

Empresa de Pequeno Porte, cujo art. 11 dispensa a micro e a

pequena empresa do cumprimento de diversos deveres impostos

pela legislação do trabalho às empresas em geral;

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51 3) A Lei n.10.244, de 27.06.2001, que revoga o art.3766 da

Consolidação das Leis do Trabalho – CLT para permitir o trabalho

extraordinário da mulher;

4) A Lei n.9.601, de 21.01.1998, que dispõe sobre os contratos de

trabalho por tempo determinado a serem instituídos por convenções

e acordos coletivos de trabalho e também sobre a compensação

anual das horas de trabalho – banco de horas;

5) A Lei n. 10.101, de 19.12.2000 que dispõe sobre a participação dos

trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, conforme

estabelecido em negociação coletiva;

6) Emendas Constitucionais – EC n.19 e EC n.20, com alterações

sensíveis na Administração Pública e na Previdência Social;

7) A Lei n. 9.957, de 12.01.2000, que introduz na CLT uma seção

(art.852-A e seguintes) com a finalidade de regular o procedimento

sumaríssimo na Justiça do Trabalho;

8) A Lei 9.958, de 12.01.2000, que introduz na CLT um Título (art.625-A

e seguintes) destinado a regular as Comissões de Conciliação

Prévia.

9) A Emenda Constitucional – EC n.24, de 09.12.1999, que extingue a

representação classista na Justiça do Trabalho.

Como de pode verificar acima, o processo de reforma trabalhista no

Brasil iniciado precisa continuar, não bastam somente alterações legislativas

feitas até hoje, ainda há muito por fazer no sentido de adequação à realidade

sócio-econômica atual.

O trabalhador brasileiro precisa lutar pela sua autonomia e

independência, apoiado por uma legítima entidade sindical, assim como já vem

acontecendo com as novas formas e modalidades de trabalho que a legislação

trabalhista deverá abranger de algum modo.

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52 Como a análise histórica demonstra os direitos trabalhistas, como direito

social, vêm de desenvolvendo através da intervenção estatal, na atuação do

Estado para que haja o reconhecimento normativo desses direitos, sem os

quais não se pode falar em Estado democrático de direito, considerando que

haveria a transgressão às regras e princípios que norteiam a Carta Magna.

A Constituição de 1988, em seus aspectos gerais, é inovadora, ou, pelo

menos, é esse o seu traço marcante. Há regras gerais e específicas na

Constituição de 1988, regras gerais de direito constitucional, aplicáveis ao

direito do trabalho, como as seguintes:

1. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada – art. 5º, XXXVI;

2. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de

norma regulamentar torne inviável o exercício dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania – art. 5º, LXXI;

3. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata – art. 5º, LXXVII, § 1º.

Além dos princípios acima, há normas específicas de direito do trabalho

e que abrangem o direito individual, o direito coletivo e o direito processual do

trabalho, conforme enumeramos abaixo:

1. Elevação de 10% para 40% da indenização sobre os depósitos do

FGTS na dispensa imotivada do empregado, atualmente, com a

criação de um acréscimo de 10% com o nome de contribuição

social a ser depositada na conta do empregado;

2. Redução da jornada semanal de trabalho para 44 horas;

3. Redução para 6 (seis) horas da jornada normal, nos sistemas de

revezamento ininterrupto de jornada, salvo negociação coletiva;

4. Adicional de horas extras de 50%;

5. Acréscimo de 1/3 da remuneração das férias;

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53 6. Irredutibilidade do salário, salvo negociação coletiva;

7. Licença-paternidade de 5 (cinco) dias;

8. Idade mínima de 16 anos para empregados e 14 anos para

aprendizes – EC n.20, de 1998;

9. Isonomia salarial entre avulsos e empregados;

10. Isonomia salarial favorecendo empregados deficientes;

11. Estabilidade da gestante desde a confirmação da gravidez até 05

meses após o parto;

12. Estabilidade do membro que exerce cargo de direção da CIPA, na

mesma dimensão atribuída aos dirigentes sindicais;

13. Fixação da contribuição pela assembléia do sindicato,

independentemente da contribuição sindical;

14. Direito de greve para os trabalhadores das empresas privadas,

inclusive em atividades essenciais, dependendo de lei a greve

nos serviços públicos civis e a forma de atendimento inadiável;

15. Criação de sindicatos sem necessidade de prévia autorização de

lei ou do Poder Público, bastando o registro no órgão competente,

que é, enquanto não houver outra definição, o Ministério do

Trabalho;

16. Autonomia da administração das entidades sindicais, vedada a

intervenção e a interferência do Poder Público;

17. Novo prazo para prescrição das ações trabalhistas, para as

reclamações ainda não propostas em juízo.

Necessário observar-se que a regulamentação da Constituição de 1988

foi incompleta, considerando que diversos dispositivos importantes não foram

seguidos de leis complementares e infraconstitucionais, destacando-se o art.

7º, I que prevê a proteção contra dispensa arbitrária ou sem justa causa;

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54 Outras normas constitucionais que não foram regulamentadas

oportunamente, como:

§ O aviso prévio proporcional;

§ O adicional de atividades penosas;

§ A proteção em face da automação.

Sendo a Carta Magna de 1988 rica em minúcias, nesse ponto contrasta

com as idéias informadoras dos modelos jurídicos nos quais a Carta Magna é

sintética ou até mesmo omissiva, entretanto pela amplitude dedicada ao tema,

representa um papel de consolidação do direito do trabalho em nível

constitucional.

A atual Constituição consagrou direitos de difícil concretização, a saber:

1. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações – art. 5º, I

2. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as

qualificações profissionais que a lei estabelecer – art. 5º, XIII;

3. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter

paramilitar –art. 5º, XVII;

4. Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado –

art. 5º, XXI.

Se as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata, é no campo específico do Direito do Trabalho que se

apresentam as melhores, conforme art. 6º, caput da CF: “são direitos sociais a

educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção da maternidade e infância, a assistência aos desamparados na forma

desta Constituição”.

Assim como hoje é vedada a diferença de tratamento para o homem e a

mulher, salvo exceções constitucionais propriamente ditas, não há mais

distinção alguma entre trabalhadores urbanos e rurais, salvo a questão da

prescrição, que é de dois anos para estes últimos, conforme art. 6º, XXIX, b.

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55 Revolucionária é a disposição contida no item XXXIV do art.6º: “igualdade

de direitos entre trabalhador com vínculo empregatício permanente e

trabalhador avulso”. Não há dúvidas que o Direito do Trabalho brasileiro sofreu

uma extraordinária expansão, tanto que não se pode mais falar em trabalho

exclusivamente subordinado.

Mencione-se ainda a relação de emprego protegida contra despedida

arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que prevê

indenização compensatória, entre outros direitos – Disposições Constitucionais

Transitórias, art. 10.

Demais direitos trabalhistas, descrevemos resumidamente a seguir:

Art.7º, II: seguro desemprego, em caso de desemprego involuntário;

Art.7º, III: “fundo de garantia do tempo de serviço”, agora universalizado,

independente da opção do trabalhador.

Art.7º, IV: salário mínimo nacional;

Art.7º, V: Piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho e

no item VI do mesmo, “irredutibilidade do salário, salvo o disposto em

convenção ou acordo coletivo” (flexibilização do Direito do Trabalho)

Art.7º, VII: Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem

remuneração variável;

Art. 7º, VIII: décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no

valor da aposentadoria;

Art.7º, IX: Remuneração do trabalho noturno superior ao diurno;

Art.7º, X: Proteção do salário na forma de lei, constituindo crime sua retenção

dolosa;

Art.7º, XI: Participação nos lucros ou resultados, desvinculada da remuneração,

e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido

em lei;

Art.7º, XII: Salário-família para os dependentes;

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56 Art.7º, XIII: Duração do trabalho normal não superior a 08 horas e 44 semanais,

facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo

ou convenção coletiva do trabalho.

Outra novidade ligada à flexibilização: redução do salário em decorrência da

redução da jornada de trabalho (outrora absolutamente inadmissível).

Art.7º, XIV: Jornada de 06 horas para o trabalho realizado em turnos

ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva. Note-se que a

duração do trabalho dependerá do que se estabelecer em negociação coletiva;

Art.7º, XV: Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

Art.7º, XVI: Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em

50% (por cento) à do normal;

Art.7º, XVII: Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a

mais do que o salário normal;

Art.7º, XVIII: Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário normal,

com a duração de 120 dias e XIX: Licença-paternidade de 05 dias;

Art.7º, XX: Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos

específicos, nos termos da lei;

Art.7º, XXI: Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de

30 dias;

Art.7º, XXIV: Aposentadoria;

Art.7º, XXV: Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento

até 6 anos de idade em creches e pré-escolas;

Art.7º, XXVI: Reconhecimento das convenções e acordos coletivos;

Art.7º, XXVII: Proteção em face da automação, na forma de lei;

Art.7º, XXVIII: Seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador,

sem excluir a indenização, a que este está obrigado, quando incorrer em dolo

ou culpa;

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57 Art.7º, XXIX: ação quanto a créditos resultantes de relação de trabalho, com

prazo prescricional de cinco anos, item a) para o trabalhador urbano, até o

limite de dois anos, após a extinção do contrato de trabalho; até dois anos

após a extinção do contrato, para o trabalhador rural, item b)

Art.7º, XXX: Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de

critério de admissão do trabalhador por motivo de sexo, idade, cor ou estado

civil;

Art.7º, XXXI: Proibição de qualquer discriminação no tocante a salários e

critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência.

Art.7º, XXXII: Proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual

ou entre profissionais respectivos;

Art.7º, XXXIII: proibição do trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos

menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo

na condição de aprendiz;

Art.7º, XXXIV: Igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo

empregatício e o trabalhador avulso.

Os itens mencionados no parágrafo único do art.7º, bem como

integração à previdência social foram assegurados aos trabalhadores

domésticos.

A associação profissional é livre. A lei não poderá exigir autorização do

Estado para a fundação do sindicato, ressalvado o registro no órgão

competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na

organização sindical. Territorialmente, o sindicato não pode abranger área

inferior à de um município, mas fica assegurada a unidade sindical – art.8º, II.

Art.8º, III: o sindicato representa os membros da categoria em questões

judiciais e administrativas;

Art.8º, IV: a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de

categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema

confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da

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58 contribuição prevista em lei (antigo imposto sindical) – que vem provocando

polêmicas.

Art.8º, V: ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

Art.8º, VI: é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas

de trabalho;

Art.8º, VIII: é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do

registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se

eleito, ainda que suplente até um ano após o final do mandato, salvo se

cometer falta grave nos termos da lei.

O artigo 8º, da Carta Maior, aplica-se à organização de sindicatos rurais e de

colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer - § único

do art.8º.

O artigo 9º garantiu o direito de greve: competindo aos trabalhadores decidir

sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio

dele defender. “A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá

sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade - § 1º.

Art.9º, § 2º: “É assegurada a eleição de um representante, nas empresas com

mais de duzentos empregados, com a finalidade exclusiva de promover-lhes o

entendimento direto com os empregadores (art.11).

Assim, de um lado, a Constituição de 1988 é louvável em garantir as

melhores condições de trabalho para o empregado brasileiro, por outro, sem

desconhecer a realidade da competitividade internacional, admitiu a

possibilidade da “flexibilização” de direitos como instrumento de adequação da

norma à realidade fática em que se vive, de modo a implementar uma Justiça

Social que, efetivamente, dê a cada um o que lhe pertence.

Admitindo-se a flexibilização do salário e da jornada de trabalho, pilares

básicos do Direito do Trabalho, todos os demais, ainda que não previstos

expressamente, são suscetíveis de flexibilização, na medida em que

constituem vantagens de natureza salarial ou garantias do descanso periódico

ou circunstancial.

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59 Decerto, admitindo a Constituição o princípio da flexibilização para os

Direitos Sociais, reconhece que não constituem cláusulas pétreas (CF, art. 60,

parágrafo 4º), sendo passíveis de alteração e redução por Emenda

Constitucional. O que, na realidade, mostra que se assegura ao trabalhador o

direito a um salário justo e uma jornada de trabalho limitada. Sua

“quantificação” é suscetível de acordo com as circunstâncias de cada

momento”.

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60

CAPÍTULO VII

O Fórum Nacional do Trabalho

Somos mais pais do nosso futuro do que filhos do nosso passado (Miguel

de Unamuno).

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61 O FÓRUM NACIONAL DO TRABALHO

O atual Governo Federal fez sua plataforma de gestão, baseado na

necessidade, de modificações estruturais do Estado, entre as quais a reforma

tributária, a previdenciária, a trabalhista e a política, todas justificáveis por si e

que resumem anseios nacionalmente unânimes. A sociedade, com senso

comum quanto a seus males e pretensões, procura soluções adequadas que

se mostram diversas e, na maioria das vezes antagônicas, deixando para o

Poder Executivo e para o Congresso Nacional a árdua tarefa de sintonizar os

interesses. Falta direcionar as propostas de reforma e as políticas de Governo,

com o objetivo de atender às expectativas da maioria dos brasileiros,

principalmente a partir do Governo Lula.

Embora a reforma tributária e previdenciária tenham sido lançadas com

estrutura e lógica muito próximas às traçadas pelo Governo anterior, de

Fernando Henrique Cardoso (FHC) que provocou mobilização nacional, devido

à mudança de foco do recém eleito Governo Lula, a reforma trabalhista adotou

uma sistemática oposta. O atual Governo não possui uma proposta

estruturada, mas entende sobre a necessidade premente de mudanças. Por

isso sugeriu que a proposta, que deverá ser apresentada ao Congresso

Nacional, seja resultante de amplo debate popular, razão pela qual, foi lançado

em Brasília, o FÓRUM NACIONAL DO TRABALHO e também por todos os

Estados, que servirão de porta-vozes das opiniões dos diversos segmentos

sociais.

Quanto ao projeto de reforma trabalhista, iniciado por FHC, no qual se

pretendia uma desregulamentação absoluta, com a prevalência do

convencionado sobre o legislado, transferia-se aos empregadores e

empregados, nos conflitos de interesses coletivos, a missão e a

responsabilidade de conciliar a melhor forma para regulação de convivência

harmônica e produtiva. O claro objetivo de criar naturalmente as condições

legais para permitir o debate e a flexibilização dos direitos trabalhistas, que não

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62 garantiria a redução de custos do emprego e nem competitividade das

empresas, na geração de postos de trabalho.

A preocupação do Governo atual, em contrário, preocupa-se em

modernizar o sistema sindical e buscar meios mais eficazes de proteção do

emprego, tentando assegurar a imutabilidade de todos os institutos

conquistados pela classe trabalhadora ao longo de nossa história, além de uma

política de geração de empregos.

Compreende-se que a adoção do modelo de pluralidade sindical, o

reconhecimento das grandes centrais sindicais e a extinção gradativa da

contribuição sindical obrigatória são temas essenciais à atualização do modelo

sindical do Brasil. Aguardam-se, portanto, sugestões em cada Fórum Nacional

do Trabalho, que foi dividido em quatro grandes grupos, abrangendo a reforma

do Direito Material do Trabalho, do Direito Processual do Trabalho, Sindical e, a

de geração de empregos e combate à informalidade da relação empregatícia.

Sobre a reforma do Direito Material do Trabalho, da necessidade de

mudança dos direitos assegurados aos trabalhadores, estipula art.468, CLT:

Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas

condições, por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem,

direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da

cláusula infringente dessa garantia.

O dispositivo acima possui a mais eficaz amarra das relações de

emprego, sendo dotado de elevado caráter de subjetividade (prejuízos diretos

ou indiretos) e ao qual se tem emprestado status de norma constitucional

pétrea.

Há constatação de que ainda quando se oponha ao próprio texto

constitucional (Art.7º, inciso XXVI – assegura o reconhecimento das

convenções e acordos coletivos), o art.468 da CLT, impede movimento no

sentido de aprimorar o ajuste e aproxima a regulação legal da realidade fática,

é usualmente invocado pelos trabalhadores e acolhido pelo Judiciário.

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63 7.2 - Visão Atual do Fórum Nacional do Trabalho

A reforma sindical e trabalhista é uma das prioridades do atual governo

e para implementá-la foi criado o Fórum Nacional do Trabalho (FNT),

coordenado pela Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho

e Emprego.

O FNT conta a participação de 600 representantes e trabalhadores,

governo e empregadores, tendo como objetivo, promover a democratização

das relações de trabalho por meio da adoção de um modelo de organização

sindical baseado em liberdade e autonomia. Atualizar a legislação do trabalho e

torná-la mais compatível com as novas exigências do desenvolvimento

nacional, de maneira a criar um ambiente propício à geração de emprego e

renda.

O FNT pretende, ainda, modernizar as instituições de regulação do

trabalho, especialmente a Justiça do Trabalho e o Ministério do Trabalho e

Emprego; Estimular o diálogo, assegurando a justiça social no âmbito das leis

trabalhistas, da solução de conflitos e das garantias sindicais.

Por exemplo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo

e Hospitalidade, reunidos em Goiás, nos dias 2 e 3 de junho de 2003,

debateram a Reforma Trabalhista, discutiram e aprovaram documentos e

recomendações a respeito dos temas objeto da plenária, conforme destacamos

a seguir:

a) Defesa dos direitos sociais dos trabalhadores urbanos e

rurais inscritos nas Constituição Federal de 1988 como a base e a

síntese de proteção da classe trabalhadora no que concerne a direitos

de trabalho, salário e vida;

b) Imediata regulamentação dos direitos fundamentais dos

trabalhadores, em especial os direitos sociais dos trabalhadores urbanos

e rurais do Artigo 7º da Constituição Federal, inclusive e prioritariamente

o da proteção contra a despedida imotivada;

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64 c) Defesa da CLT e da legislação trabalhista que regulamenta

os direitos sociais fundamentais da Constituição, como 13º salário,

FGTS, e a multa de 40%, aviso prévio, férias mais um terço, adicionais

de remuneração, entre outros;

d) Presume-se inadimplente, relativamente às

correspondentes obrigações tributárias, trabalhistas e fiscais, o

empregador, urbano ou rural, que omite o registro do vínculo

empregatício de seus empregados;

e) Manutenção do direito do trabalho, como norma de ordem

pública e caráter irrenunciável, com suas atuais fontes: i) a lei, incluindo

a constituição, as leis ordinárias e complementares, bem como os

acordos, convenções de tratados internacionais; ii) negociação coletiva,

com acordo e convenção adicionais à lei, e iii) sentenças normativas e

jurisprudência em favor dos assalariados;

f) Revogação da legislação sobre banco de horas, com

adoção de adicional de 100% sobre horas extras, como forma de coibir a

prática abusiva desse expediente;

g) Jornada de trabalho de 36 horas semanais, sem redução

salarial com o objetivo de gerar empregos;

h) Instituição de sistema de acompanhamento, esclarecimento

e fiscalização para o cumprimento da lei, dos acordos e convenções,

com o aumento do número de auditores de trabalho;

i) Fortalecimento das instâncias de orientação e mediação do

Ministério do Trabalho e Emprego e da Procuradoria do Trabalho,

efetivação das normas constitucionais por lei complementar;

j) Mudanças no sistema processual do trabalho,

reorganização da Justiça do Trabalho e sua modernização; e

k) Eliminação do parágrafo único do Art.42, da CLT;

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65 l) Em alternativa aos encargos trabalhistas, propõe-se a

redução ou eliminação da parte patronal de tais encargos, que se crie

uma contribuição social a ser paga pelos empresários;

m) Que sejam incluídas no sistema de ensino as matérias

trabalhistas e previdenciárias, desde o primeiro grau;

n) Extinguir a previsão legal que concede ao presidente do

Tribunal Superior do Trabalho – TST, a prerrogativa de suspender os

julgados, em dissídios coletivos, provenientes dos Tribunais Regionais

do Trabalho;

o) Também somos favoráveis à empregabilidade dos

adolescentes no sentido de não permitir que sejam assumidos pelo

mundo do crime, no entanto não concordamos que seja por renúncia

fiscal de impostos.

A situação acima sugerida nos mostra que as relações entre o capital e

trabalho precisam ser revistas. O Direito do Trabalho em crise, requerendo

período de reavaliação em face de problemas como o desemprego, trabalho

informal, condições de trabalho, reformas da legislação do trabalho, sindical,

previdenciária, agrária e tributária, relações entre empregados e

empregadores, pacto social e outros dilemas na atual conjuntura, em uma

sociedade marcada pelos profundos desequilíbrios econômicos, sociais,

educacionais e culturais.

O projeto de reforma trabalhista, iniciado por FHC, foi questionado

porque pretendia uma desregulamentação absoluta, da prevalência do

convencionado sobre o legislado. Assim, o projeto do Governo anterior que

alterava o artigo 618, da CLT, estabelecendo a predominância do negociado

sobre o legislado, foi retirado do Congresso Nacional, e o que for discutido no

Fórum poderá propiciar em uma nova proposta legislativa.

O debate no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho, no campo da

reforma trabalhista e sindical, é um dos caminhos para tentar se conseguir,

chegar a um consenso, quanto às questões sindicais, em torno de propostas

Page 66: DELIBERAÇÕES SOBRE A REFORMA TRABALHISTA: A LEI ... DEL PILAR CONTRERAS FERRAZ.pdf · das lutas operárias e das sucessivas Cartas Constitucionais, questão de vital importância,

66 básicas, entretanto não representa por si só a solução para as questões

enfrentadas pelo impasse entre o capital e o trabalho.

A preocupação do Governo atual, em contrário, preocupa-se em

atualizar o sistema sindical e buscar meios mais eficazes de proteção do

emprego, tentando assegurar a imutabilidade de todos os institutos

conquistados pela classe trabalhadora ao longo de nossa história, além de uma

política de geração de empregos.

O antes ministro, Jaques Wagner esperava que as reformas trabalhista

e sindical tivessem sido realizadas até o fim do ano, tendo em vista que a

prioridade do governo é a geração de empregos, em especial do primeiro

emprego e afirmou que “o presidente Lula quer o novo contrato social no Brasil,

a partir do Fórum Nacional do Trabalho”. ...”Trata-se de agenda da economia

solidária (cooperativas, empresas familiares), do “primeiro emprego” para a

juventude, semelhante ao programa implantado no sul do Brasil pelo Olívio

Dutra. O governo precisa avaliar o estoque de recursos de que dispõe para

implementá-lo. A prioridade é a erradicação do trabalho infantil e também do

trabalho escravo”.

7.3 - Quanto ao Direito Material do Trabalho

Sobre a reforma do Direito Material do Trabalho, da necessidade de

mudança dos direitos assegurados aos trabalhadores, estipula art.468, CLT:

Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas

condições, por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem,

direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da

cláusula infringente dessa garantia.

O dispositivo acima possui a mais eficaz amarra das relações de

emprego, sendo dotado de elevado caráter de subjetividade (prejuízos diretos

ou indiretos) e ao qual se tem emprestado status de norma constitucional

pétrea.

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67 Há constatação de que ainda quando se oponha ao próprio texto

constitucional (Art.7º, inciso XXVI – assegura o reconhecimento das

convenções e acordos coletivos), o art.468 da CLT, impede movimento no

sentido de aprimorar o ajuste e aproxima a regulação legal da realidade fática,

é usualmente invocado pelos trabalhadores e acolhido pelo Judiciário, se e

quando, sob o argumento de sofrerem prejuízos indiretos, pretendem anular

cláusulas de convenções ou acordos coletivos e inclusive de ajustes pessoais

que, no passado, mantiveram com seus empregados, disseminando a

insegurança jurídica nas implementações de alterações contratuais por mais

consensuais, singulares e necessárias que sejam.

A permanência dessa restrição, desta tolerância, da própria

inobservância à hierarquia das normas, na continuidade do engessamento do

Direito do Trabalho e, no caso, alteração do art.468, da CLT ou retirada, não

implicaria necessariamente na supressão de direitos do trabalhador, entretanto

significaria a efetiva possibilidade de adequação da lei às situações práticas

vivenciadas no dia-a-dia.

Outro aspecto que se discute é a necessidade de adaptação da CLT, da

legislação trabalhista. Há opiniões que estimam que pelo menos 300 dos 922

artigos deveriam ser retirados deste Diploma devido à inadequação ou por

estarem ultrapassados e citam como exemplos, o indevido critério das

profissões regulamentadas (bancários, telefonistas, telegrafistas, médicos,

ferroviários, jornalistas, professores, químicos etc.), cujas condições de

trabalho seriam e são melhor estipuladas em instrumentos coletivos ou ainda

as inócuas e detalhistas regras de medicina e segurança do trabalho que, no

intuito de proteger a saúde do trabalhador, adotam critérios ultrapassados,

como o de fixar as dimensões internas e a espessura da prateleira, destinada a

separar as roupas do empregado no armário a ele disponibilizado pelo

empregador, o que consta na NR-24.

Nossa lei trabalhista precisa se tornar mais adequada e menos densa,

lhe permitir a flexibilização, de modo a observar as diferenças regionais

inerentes a um país continental como o Brasil. O intervalo intrajornada,

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68 destinado a refeição e descanso, por exemplo, não pode ser fixado de maneira

rígida para todo o território nacional (no mínimo de uma e no máximo de duas

horas). Dr. Gelson de Azevedo adita que o trabalhador rural gaúcho prefere tão

apenas 15 minutos de intervalo, o suficiente para comer antes que o frio torne

sua marmita uma geladeira enquanto que no Nordeste, o camponês

pernambucano que inicia sua jornada por volta das 05:00 horas, se a lei

permitisse, seria mais bem atendido com um intervalo das 09:00 às 14:00

horas, quando retornaria de sua atividade, fugindo do sol escaldante.

A jornada diária normal de trabalho, atualmente estabelecida em 08

horas, admitindo-se a prorrogação por no máximo outras 02, ou talvez até

proibir a execução de horas extras habituais, ou ainda reduzir a carga semanal

de 44 horas ( o que, em princípio, teoricamente, geraria mais empregos), mas

igualmente importante é se consagrar a possibilidade de ajuste através de

acordo coletivo e o reconhecimento de escalas de revezamento de 12x36

horas ou 24x48 horas, imprescindíveis para as atividades industriais sazonais,

para as extratoras e as refinadoras de petróleo, para as empresas de vigilância,

para os hospitais, etc.

A viabilidade do parcelamento das férias e do 13º salário, promovidos

também através de acordos ou convenções coletivas, desde que não haja

supressão de direitos para o trabalhador é outro imperativo merecedor de

ressalva.

Não podemos esquecer que o art. 7º, I da atual Constituição Federal,

relaciona como direito social a relação de emprego protegida contra a dispensa

arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que irá prever,

dentre outros direitos, indenização compensatória, que seria a grande

reivindicação da classe trabalhadora, isto é, a estabilidade no emprego compõe

a pauta de discussão da reforma.

Tenta-se também unificar e equalizar o tratamento legal, a ser

dispensado, à categoria das empregadas domésticas, no intuito de

proporcionar à classe, por justiça, os mesmos direitos em relação aos

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69 trabalhadores rurais na Constituição de 1988, tais como FGTS obrigatório,

estabilidade da gestante, férias de 30 dias, horas extras, seguro desemprego,

obrigatoriedade de homologação sindical de haveres rescisórios etc.

Destaca-se também a urgente necessidade de extinção do sistema de

reserva de mercado de mão-de-obra portuária. Atualmente, só os detentores

de registro e/ou cadastrado nos chamados órgãos gestores de mão-de-obra

(OGMO) podem exercer as atividades portuárias. Assim, os sindicatos viciados

formam quase máfias que manipulam os trabalhadores, elevam o custo

portuário, investem contra a modernização dos portos, impedindo nossa

competitividade internacional.

7.4 - Quanto ao Direito Processual do Trabalho

Vale ressaltar a diferenciação entre a reforma estrutural da Justiça do

Trabalho – que será objeto da reforma do Poder Judiciário, atualmente em

tramitação no Congresso Nacional através da PEC nº 29/2000.

Entende-se que as composições dos tribunais trabalhistas superiores, o

financiamento do custeio da Justiça do Trabalho, a preparação profissional dos

juízes e as garantias e controles da magistratura trabalhista não tenham que

ser objeto restrito da reforma trabalhista, mas em face de seu caráter sistêmico

de interligação com os demais órgãos judicantes, ao contrário, serão mais bem

tratados através da grande avaliação do Poder Judiciário, já entregue ao Poder

Legislativo.

Quanto ao Direito Processual do Trabalho, a primeira alteração que se

mostra imperativa está no parágrafo 2º do Art. 114, da Constituição Federal:

Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado

aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do

Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições

convencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho.

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70 Trata-se do tão criticado “poder normativo da Justiça do Trabalho”.

Dispositivo constitucional que credencia os senhores juízes a estabelecer

normas de aplicação, como nas relações entre trabalhadores e empregadores,

sejam questões sobre o reajuste salarial que o padrão “pode” conceder, a

produtividade que o empregado é “capaz” de desenvolver, o número de

empregados que empresa “deve” contratar, entre outros quesitos. Prerrogativa,

na maioria das vezes exercida sem o necessário conhecimento técnico e/ou

específico das peculiaridades que envolvem a atividade econômica em

questão, no caso, afastando-se do ideal de justiça ensejado pelas partes. O

poder normativo da Justiça do Trabalho ultrapassa o conceito de estado de

direito, representando uma invasão legal de competência. Não de pode permitir

ao Judiciário, mais que aplicar o direito, isto é, legislar, quando seus membros

não são detentores de mandato popular.

Extirpar o famigerado poder normativo nos coloca diante da necessidade

de construirmos uma legislação própria para a solução dos conflitos de

interesse coletivos. Solução que deve contemplar tanto o incentivo à

autocomposição (negociação coletiva) direta ou mediada entre as partes, com

possibilidade (não imposição) de se recorrer à arbitragem, quanto aos

pressupostos e rito do dissídio em caso de frustração das negociações. As

regras processuais decorriam da Instrução Normativa nº 4 do TST, cancelada

em março 2004, assim como o Enunciado nº 310 do TST, que orientava e

limitava, no âmbito do Direito do Trabalho, a possibilidade de substituição

processual dos integrantes dos integrantes de certa categoria pelo respectivo

sindicato. Uma vacatio legis que não traz segurança jurídica ou social, que nos

deixa sem regramento em matéria de direito coletivo, perante a lei do mais

forte.

As Comissões de Conciliação Prévia (criadas pela Lei nº 9.958/2000),

instâncias administrativas privadas, de composição paritária, entre

empregados e empregadores, destinadas à prevenção de litígios e promoção

da conciliação direta entre patrões e empregados, mesmo apresentando

resultados irrefutavelmente relevantes e positivos, inclusive contribuindo para a

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71 diminuição do “sufoco” a que está sujeita a Justiça do Trabalho, nunca foram

bem aceitas pelos integrantes do Poder Judiciário Trabalhista. E, sem sombra

de dúvidas, serão alvos de pressão e lobby contra os quais devemos manter

nossa resistência.

Questiona-se a exigência do depósito recursal como pressuposto

extrínseco de admissibilidade do apelo. Apesar de que alguns empregadores

(particularmente os domésticos e de pequenas empresas), ainda quando

protegidos pelo direito, são vítimas de sentenças imperfeitas contra as quais

não podem se insurgir por falta de absoluta falta de condições financeiras para

efetuar o depósito recursal. Por outro lado, a limitação do valor (com correção

periódica) não está sendo suficiente para frear a indústria da reclamação

trabalhista.

É necessária uma nova lógica e sistema para a garantia do Juízo na

fase de execução. Se, de um lado, a Justiça do Trabalho sofre com os maus

empregadores que, cada vez mais e eficientemente, encontram formas

criativas de ocultação patrimonial, na tentativa de obter elisão dos débitos

trabalhistas (o que não é razoável e precisa ser coibido). Assim, de outro, não

podemos ser coniventes, aceitando o abusivo poder expropriante, autoritário e

corporativo de que se investem os Juízes do Trabalho. Não devemos ficar a

mercê do humor de um juiz que, a partir de um toque no teclado tenha acesso

aos ativos financeiros dos empregadores, com poderes, inclusive, para

bloquear e transferir valores antes mesmo de se ter certeza do valor líquido do

potencial crédito executado, eis que ainda pendentes de serem apreciados os

embargos à execução.

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72 7.5 - Da Reforma Sindical

O modelo brasileiro de relações de trabalho, inspirado da Carta de

Lavoro, é acentuadamente intervencionista, com grande participação estatal e

baseando-se na tríade legislação protecionista, Justiça do Trabalho (com poder

normativo, inclusive) e organização sindical (unicidade sindical e direito de

greve).

Obviamente o nosso país experimentou uma grande evolução com a

promulgação da Constituição de 1988 que elevou à condição de direitos

constitucionalmente consagrados a vedação da interferência do poder público

na organização sindical, a valorização da negociação coletiva e a permissão do

amplo exercício do direito de greve, com restrições entendidas como aceitáveis

nas democracias.

É consenso, de igual modo, a herança sindical italiana, retratada na

unicidade sindical obrigatória (só pode haver um sindicato por categoria na

mesma base territorial), a proibição de sindicatos por empresa, pois a base não

pode ser inferior ao município e a contribuição sindical compulsória.

Apesar do relevante salto de qualidade advindo da Carta Magna de

1988, as anomalias demonstram estar comprometida a estrutura sindical

brasileira, impossibilitando a ratificação e conseqüente implementação da

Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho – OIT (que trata da

liberdade sindical e que está tramitando no Congresso Nacional, com

aprovação na Câmara dos Deputados desde 1984, atualmente tramitando no

Senado Federal), que alimenta a manutenção de cúpulas no poder dos órgãos

de representação sindical (sindicatos, federações e confederações).

As conseqüências imediatas da reserva de mercado sindical, como

obedecer a oito ou dez convenções coletivas diferentes; (da atividade

predominante, das categorias diferenciadas; dos profissionais liberais; dos

autônomos etc.), os conflitos entre sindicatos envolvendo o direito de

representação (e arrecadação) na base territorial, gerando mais processos na

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73 Justiça Comum e na Justiça do Trabalho (incidentalmente) e finalmente o

preenchimento de espaços por centrais sindicais, muitas vezes completamente

distantes da base.

Há sindicalistas que preferem sindicatos vazios, que subsistem das

contribuições compulsórias e não se preocupam com a assistência social do

sindicalizado. Há federações que não aceitam as centrais sindicais por mais

representatividade que elas possam congregar. E, há entidades patronais e de

trabalhadores, que se opõem ao fim da contribuição sindical compulsória (fonte

de fisiologismo e nepotismo).

Em cada Fórum de Trabalho que tem acontecido se fala que a reforma

sindical deve preceder às do direito material e do processual trabalhista, pois

somente com sindicatos fortes é que se podem estipular negociações

adequadas, entretanto há os que resistem ao fim da unicidade sindical e da

contribuição compulsória. A idéia da legitimação e reconhecimento das grandes

centrais de trabalhadores, de outro lado, agrada mais ao conjunto de forças

envolvidas.

Os entendidos observam que há necessidade de manter-se alerta

quanto os direcionamentos que permeiam as propostas de inserção das

centrais sindicais, como aquela oriunda da PEC nº 29/2003, dos deputados

Vicentinho e Maurício Rands, que prevê pluralidade sindical e a extinção

gradual da contribuição sindical. Conforme a PEC, em cinco anos, prevê-se

que não mais teríamos a contribuição compulsória (aceitável). Contudo, a

proposta também confere às centrais sindicais o “poder” de dirimir as questões

de disputa de representatividade entre sindicatos. O que representa, em

matéria de organização e criação de sindicatos, um perigo ditatorial e

oligárquico, nossa submissão aos critérios únicos das centrais.

Devemos, sim, adotar além da pluralidade sindical, a liberdade para

criação dos sindicatos por empresa, da extinção da contribuição compulsória,

incrementar os mecanismos de autocomposição negociada, para solução dos

conflitos jurídicos individuais e coletivos, através do estímulo das comissões de

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74 conciliações prévias e da mediação e arbitragem, como já ocorre na França,

Espanha, Argentina e outros países.

7.6 - Os Riscos da Reforma Trabalhista

A intenção de promover uma profunda reforma trabalhista e sindical,

conforme vem sendo anunciado desde o início do mandato do presidente Lula,

como uma das prioridades de seu governo, vem preocupando todos os setores

estratégicos da sociedade brasileira. Esta preocupação que se justifica pelo

fato da almejada reforma visar alteração das normas da Consolidação das Leis

do Trabalho, hoje, com 60 anos, o que influiria também na Constituição de

1988. Tema dos mais polêmicos porque interfere nas relações antagônicas

entre capital e trabalho. Trata-se em suma do futuro do trabalho no Brasil.

Como em todo debate acirrado, há dois extremos. De um lado, os que

defendem a reforma, alegando que resultará no aperfeiçoamento da legislação

vigente e de outro, estão os descrentes que enxergam a reforma como uma

perigosa armadilha contra os direitos trabalhistas e a organização sindical.

Os primeiros, embora a favor, apresentam enfoques contraditórios, como

o entendimento que o patronato quer a reforma para flexibilizar os direitos

trabalhistas e para reduzir o poder dos sindicatos, argumentando que é

necessário modernizar as relações de trabalho. Há, inclusive, parte dos

sindicalistas que acreditam que a vitória de Lula seja uma oportunidade

histórica para avanços na atual legislação trabalhista e sindical, inclusive no

que tange a conquistas como a redução da jornada e do direito de organização

no local de trabalho.

Os contrários à reforma trabalhista temem a crescente liderança dos

trabalhadores, entretanto há opiniões diversas a respeito. Alguns destes

querem somente manter o “status quo”, enquanto outros analisam a correlação

de forças adversas e a natureza híbrida do governo Lula, panorama que

desaconselha quaisquer mudanças nesta seara. Observam que a reforma em

curso no Brasil está inserida numa onda mundial de regressão do trabalho, no

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75 desmonte dos sindicatos, ocorrências que provocam confrontos em vários

países.

Perante as diferenças de interpretação, que demonstram as próprias

contradições de classes, surgiram várias instâncias de discussão sobre o tema,

como a criação do Fórum Nacional do Trabalho (FNT), instituído pelo Decreto

nº 4.796, de 30/07/2003, com a finalidade de coordenar a negociação entre os

representantes dos trabalhadores, empregadores e governo sobre a reforma

sindical e trabalhista no Brasil. Este organismo tripartite é composto por setenta

e dois integrantes e funciona com oito grupos temáticos, além da sua comissão

e sistematização. Reuniões quase semanais expressam a complexidade e

urgência em consolidar a proposta de reforma trabalhista no país.

Em outubro o governo instalou a Comissão Nacional de Direito e

Relações de Trabalho como órgão auxiliar do FNT, reunindo especialistas na

área e membros de entidades de pesquisa, como o DIAP (Departamento

Intersindical de Assessoria Parlamentar). O jurista Arnaldo Sussekind, único

sobrevivente do grupo que redigiu a CLT, foi nomeado presidente de honra. E

também o Grupo de Trabalho da Reforma Trabalhista no Conselho de

Desenvolvimento Econômico e Social, outro fórum tripartite criado pelo

Executivo. Além destas foi constituída uma Comissão Especial da Reforma

Trabalhista, dirigida pelo deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, ex-

presidente da CUT.

Todas estas instâncias e mais a pressão dos “lobbies” patronais forçam

o sindicalismo a se mexer. Participam do Fórum seis centrais sindicais (CUT,

FS, CGT, SDS, CGTB e CAT) que têm atuado de forma unitária, sob

coordenação do Dieese, tendo encaminhado ao Governo o documento

conhecido como “Pauta do Crescimento”, que contém vinte e uma propostas

para a “retomada do desenvolvimento e geração de postos de trabalho”.

Há ainda um outro bloco formado por quatorze confederações de

trabalhadores, que após criticarem o fato de ter sido excluídas do FNT, criaram,

em meados de outubro 2003, o Fórum Sindical dos Trabalhadores.

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76 Retrógrados às mudanças, defendem a manutenção do sistema confederativo,

da unicidade sindical e das contribuições compulsórias. Passaram a ter lugar

no FNT após esta legítima pressão.

Contudo, o tema mais controvertido é o que versa sobre a futura

estrutura sindical. O Governo colocou, inclusive, este assunto em primeiro lugar

no FNT, sob o “slogan” de que “antes de fazer a reforma trabalhista é preciso

saber quem são os interlocutores”. E o único consenso até agora é sobre a

legalização das centrais sindicais a partir de certos critérios de

representatividade. Fala-se em representação de pelo menos dez ramos de

atividade, um piso de sindicalizados e com presença no mínimo em 15 estados.

Teriam acesso às verbas públicas somente as centrais sindicais legalizadas,

como as que constam no FAT.

Controvérsia que tem dificultado o consenso refere-se à questão da

unicidade sindical. As confederações de trabalhadores insistem na manutenção

do existente e as centrais sindicais estão divididas; a maioria aceita um misto,

como unicidade nas entidades de primeira instância (sindicatos de base) e

pluralismo nos órgãos intermediários (federações, confederações e centrais),

desde que respeitados alguns critérios de representatividade. Mesmo a CUT

que é a favor do pluralismo expresso na Convenção 87 da OIT, está debilitada.

Como pregar a liberdade plena se a maioria dos sindicalistas é contra esta

idéia?

O Governo, no entanto, parece uníssono, conforme informa no

“Diagnóstico sobre a reforma sindical e trabalhista”, no qual o Ministério do

Trabalho é a favor da “adoção do modelo de organização referenciado na

liberdade e autonomia sindical, sob inspiração das convenções da OIT”. Não

obstante, falte consenso entre as entidades patronais. Alguns apóiam o

Governo no fim imediato da unicidade, mas há outros que receiam a

fragmentação. Os que tentam unir o bloco patronal, chegam a apresentar

sugestão de unicidade para o patronato e pluralismo para os trabalhadores.

Esta contradição persiste também na questão das contribuições compulsórias.

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77 Enquanto a reforma sindical já apresenta um direcionamento, houve

poucos avanços quanto à legislação trabalhista. Conjetura-se muito, mas

pouco de concreto existe no âmbito do FNT e dos outros fóruns que tem

acontecido, exemplo disto foram as contradições do ex-ministro Jacques

Wagner, quando chegou a se contrapor à ampliação do prazo do seguro

desemprego (compromisso eleitoral de Lula) e ao propor o fim da multa de 40%

do saldo do FGTS para o trabalhador demitido sem justa causa (também

proposta pelo então deputado Luís Inácio Lula da Silva).

O que se requer é a adaptação da CLT à nova realidade sócio-

econômica e política e não supressão de direitos conquistados pelos

trabalhadores. Toda e qualquer discussão sobre as leis trabalhistas deve ser

feita no Fórum Nacional do Trabalho.

As medidas até agora adotadas demonstram o interesse do Governo na

questão, contrário a medidas de regressão no trabalho, tem adotado atitudes

progressistas, como ter recusado o PEC de FHC que impunha a prevalência do

negociado sobre o legislado, resultando, obviamente, em duro golpe nos

direitos trabalhistas. Idem para a recusa do projeto de lei nº 4.302 que

institucionalizava a terceirização e ampliava a duração dos contratos

temporários de trabalho. Lula lançou o Programa Primeiro Emprego que,

embora limitado, está longe de provocar a impopularidade do trabalho, como

também defender a redução da jornada de trabalho.

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78 CONCLUSÕES

Nada há de permanente, exceto a mudança.

(Heráclito, 450 a.C).

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79

A globalização, que se intensificou a partir dos anos 80 no Brasil,

provocou problemas na nossa sociedade que hoje exigem ações urgentes do

Estado. Comprova-se que a situação atual é fruto não apenas da falta de

investimentos em políticas de formação educacional e profissional condizentes,

mas também decorre da crise econômico-financeira que afeta o mundo e no

nosso país agravada pela explosão demográfica e a alta tecnologia que é ainda

estranha a maior parte da população, excluidos do mercado de trabalho atual.

O Governo Lula ciente das difuldades que terá de enfrentar congregou

trabalhadores, empresários e o Congresso para discutir as reformas sindical e

trabalhista, objetivando diminuir, senão atenuar os graves problemas que

afetam nossa sociedade e que nos impedem de sair da estagnação econômica.

Programas como o Primeiro Emprego para jovens, o Plano de Erradicação do

Trabalho Escravo, Campanha contra a Fome e, principalmente, a criação do

Fórum Nacional do Trabalho demonstram que o Governo espera já em 2005

aprovar estas reformas de base para tentar adaptar nossas políticas à

realidade sócio-econômica atual.

A tendência é flexibilizar, desregulamentar, entretanto existe a

preocupação do Governo Lula em manter condições dignas ao trabalhador,

que lhe garantam a condição de cidadão, no contexto dos Direitos Humanos e

Fundamentais, como adaptar nossa legislação trabalhista, que não mais

corresponde à realidade de 60 anos atrás e inserir e adequar novas

modalidades laborativas (terceirização, cooperativas, trabalho a domicílio etc.)

O Fórum Nacional do Trabalho está abarcando temas foco como a

organização sindical, a negociação coletiva, a composição de conflitos, outras

formas de trabalho, legislação do trabalho e normas administrativas sobre as

condições de Trabalho. Estas questões polêmicas têm levado seus

participantes a acirradas discussões, nem sempre chegando ao consenso, e

que inevitavelmente serão que ser dirimidas pelo Congresso Nacional.

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80

O novo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, está imbuido em acelerar

as negociações entre trabalhadores e empresários no FNT e pretende-se, no

máximo, até março 2005. O projeto de reforma sindical (pluralidade ou

unicidade sindical, representatividade, autonomial, fim do imposto sindical,

organização, greve) antecede o da reforma trabalhista e denota pontos

convergentes e divergentes perante as facções contrárias e a favor das

mudanças.

A reforma trabalhista apresenta questões divergentes, não menores às

polêmicas das controvérsias sindicais. Mudanças significativas, como a

redução da jornada de trabalho, questionamentos sobre os custos trabalhistas,

flexiblidade nas contratações, papel da justiça do trabalho, diretrizes para o

setor público, enfim objetivando novos ppostos de trabalho e manutenção das

garantias mínimas, que foram conquistadas em momentos históricos de nossa

história e do mundo.

O embate entre o capital e o trabalho, entre neoliberais e garantistas,

demonstram que embora vivamos numa democracia representativa, não basta.

Temos que juntos construir bases para nosso crescimento sócio-econômico

que somado às reformas sindical e trabalhista nos levarão a um crescimento

sustentado, numa política protetora de nossa classe trabalhadora, que é a

verdadeira mola propulsora do progresso de uma nação.

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ANEXO

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82 PORTARIA Nº 1.029, DE 11 DE AGOSTO DE 2003.

Publicada no DOU de 12/08/2003

O MINISTRO DE ESTADO DO TRABALHO E EMPREGO, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso II, parágrafo único do art. 87 da Constituição Federal, e pelo art. 5º do Decreto nº 4.796, de 30 de julho de 2003, e tendo em vista o Decreto nº 4.764, de 24 de junho de 2003, resolve:

Art. 1º Fica aprovado o Regimento Interno do Fórum Nacional do Trabalho, na forma do anexo da presente Portaria.

Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

JAQUES WAGNER

ANEXO

TÍTULO I

DA CONSTITUIÇÃO, OBJETIVOS E FINALIDADES.

Art. 1º O Fórum Nacional do Trabalho (FNT), é o espaço de diálogo instituído pelo Decreto nº 4.796, de 30 de julho de 2003, com a finalidade de coordenar a negociação entre os representantes dos trabalhadores, empregadores e governo federal sobre a reforma sindical e trabalhista no Brasil.

Art. 2º São objetivos do FNT:

I - atualizar e reformar as leis sindicais e trabalhistas, assim como as instituições que regulam o trabalho para torná-las mais compatíveis com a realidade econômica, política e social do país;

II - fomentar o diálogo social;

III - promover o tripartismo;

IV - assegurar o primado da justiça social no âmbito das relações de trabalho; e

V - criar um ambiente institucional favorável à geração de emprego e à elevação da renda da população brasileira.

Art. 3º São finalidades do FNT:

I - promover o entendimento entre os representantes dos trabalhadores e empregadores e o governo federal, com vistas a construir consensos sobre temas relativos ao sistema brasileiro de relações de trabalho, em especial sobre a legislação sindical e trabalhista;

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83 II - subsidiar a elaboração de projetos legislativos de reforma sindical e trabalhista nas esferas constitucional e infraconstitucional; e

III - submeter ao Ministro de Estado do Trabalho e Emprego os resultados e conclusões sobre matérias aprovadas no âmbito do FNT.

TÍTULO II

DA ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO.

CAPÍTULO I

COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA FUNCIONAL DO FNT.

Art. 4º O FNT é composto de forma tripartite e paritária, com representantes de trabalhadores, empregadores e governo federal, e, na forma estabelecida neste Regimento Interno, de representantes de pequenos e micro-empreendimentos e de novas formas de produção responsáveis pela difusão de novas modalidades de relações de trabalho.

Art. 5º A estrutura funcional do FNT comporta os seguintes órgãos:

I - Coordenação;

II - Plenária de Representantes;

III - Comissão de Sistematização;

IV - Grupos Temáticos, constituídos para discutir os seguintes temas:

a) Organização Sindical;

b)Negociação Coletiva;

c) Sistema de Composição de Conflitos;

d) Legislação do Trabalho;

f) Organização Administrativa e Judiciária do Trabalho;

g) Normas Administrativas Sobre Condições de Trabalho;

h) Qualificação e Certificação Profissional; e

i) Micro e Pequenas Empresas, Autogestão e Informalidade.

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84 CAPÍTULO II

COMPOSIÇÃO, COMPETÊNCIAS E FUNCIONAMENTO DAS INSTÂNCIAS.

Seção I

Composição

Art. 6º A Coordenação do FNT será composta pelos seguintes membros:

I - Jaques Wagner (Presidente);

II - Osvaldo Martines Bargas (Coordenador Geral);

III - Marco Antonio de Oliveira (Coordenador Geral Adjunto);

IV - José Francisco Siqueira Neto (Coordenador Técnico)

V - Coordenadores Adjuntos:

a) Fernando Roth Schmidt;

b) Ruth Beatriz Vilela; e

c) Otávio Brito Lopes;

Art. 7º A Plenária de Representantes será composta por 72 (setenta e dois) membros, assim distribuídos:

I - 21 (vinte e um) membros indicados pelas entidades representativas de trabalhadores de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade;

II - 21(vinte e um) membros indicados pelas entidades sindicais de empregadores, de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade;

III - 21(vinte e um) membros indicados pelo MTE; e

IV - 9 (nove) membros indicados pelo Grupo de Trabalho sobre Micro e Pequenas Empresas, Autogestão e Informalidade, criado no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), representando diferentes formas de empreendedorismo responsáveis por novas modalidades de relações de trabalho;

§ 1º As representações de trabalhadores e de empregadores deverão nomear, dentre seus membros, um Coordenador e um Coordenador Adjunto.

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85 § 2º As representações de trabalhadores e de empregadores deverão nomear um Suplente para cada membro efetivo.

§ 3º As representações dos micros e pequenos empreendedores deverão respeitar o princípio da composição paritária, com a nomeação de 3 (três) representantes do lado dos empregadores; 3 (três) representantes do lado dos trabalhadores e 3 (três) representantes do governo

Art. 8º A Comissão de Sistematização será composta por 21 (vinte e um) membros, assim distribuídos:

I - 6 (seis) representantes dos trabalhadores, indicados de entidades representativas de trabalhadores de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade;

II - 6 (seis) representantes dos empregadores, indicados pelas entidades sindicais de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade;

III - 6 (seis) membros indicados pelo MTE; e

IV - 3 (três) membros indicados pelo Grupo de Trabalho sobre Micro e Pequenas Empresas, Autogestão e Informalidade, criado no âmbito do CDES, representando diferentes formas de empreendedorismo responsáveis por novas modalidades de relações de trabalho, garantido o mesmo critério estabelecido no parágrafo 3º, inciso IV, do Art. 7º.

§ 1º As representações de trabalhadores e de empregadores deverão nomear, dentre seus membros, um Coordenador e um Coordenador Adjunto.

§ 2º As representações de trabalhadores e de empregadores deverão nomear um Suplente para cada membro efetivo.

Art. 9º Cada Grupo Temático será composto por 18 (dezoito) membros, assim distribuídos:

I - 6 (seis) representantes dos trabalhadores, indicados pelas entidades representativas de trabalhadores de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade;

II - 6 (seis) representantes dos empregadores, indicados pelas entidades sindicais de âmbito nacional, que desfrutam de reconhecimento público e de notória representatividade; e

III - 6 (seis) membros indicados pelo MTE.

§ 1º As representações de trabalhadores e de empregadores deverão nomear, dentre seus membros, um Coordenador e um Coordenador Adjunto.

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86 § 2º Cada Grupo Temático contará com 1 (um) mediador e 1 (um) relator, indicados pela Coordenação do Fórum Nacional do T rabalho.

§ 3º As representações de trabalhadores e de empregadores nos Grupos Temáticos deverão nomear um Suplente para cada membro efetivo.

§ 4º Cada representação deverá envidar esforços no sentido de assegurar que pelo menos 1/3 (um terço) de seus membros com assento no Grupo Temático sobre Organização Sindical participe também dos Grupos Temáticos sobre Negociação Coletiva e Sistema de Composição de Conflitos.

§ 5º Cada representação deverá envidar esforços no sentido de assegurar que pelo menos 1/3 (um terço) de seus membros com assento no Grupo Temático sobre Legislação do Trabalho participe também do Grupo Temático sobre Normas Administrativas sobre Condições de Trabalho.

Art. 10. Na impossibilidade de participação de qualquer membro da representação do governo nas reuniões dos órgãos, a indicação do substituto caberá ao Coordenador Geral do FNT.

Art. 11. O credenciamento dos suplentes será assegurado mediante a solicitação por escrito do respectivo titular à Coordenação Geral do FNT.

Art. 12. Os membros da Plenária de Representantes não integram obrigatoriamente as bancadas da Comissão de Sistematização ou dos Grupos Temáticos, que poderão contar com a participação de outros membros indicados pelas respectivas representações.

Art. 13. Somente terão assento na Plenária de Representantes os membros que para ela foram indicados.

Seção II

Competências

Art. 14. À Coordenação do FNT compete:

I - coordenar e assegurar as atividades e o bom funcionamento dos trabalhos;

II convocar as reuniões ordinárias da Plenária de Representantes, assim como as extraordinárias, a seu critério ou por solicitação de mais de uma bancada representativa;

III - presidir as reuniões da Plenária de Representantes na forma deste Regimento;

IV convocar e presidir as reuniões da Comissão de Sistematização;

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87 V - convocar as reuniões dos Grupos Temáticos;

VI - promover, quando necessário, reuniões especiais com setores de atividade econômica e da sociedade civil sobre as questões relevantes aos temas em discussão nos Grupos Temáticos;

VII nomear os relatores e mediadores dos Grupos Temáticos; e

VIII resolver os casos omissos e dirimir dúvidas de interpretação deste Regimento.

Art. 15. À Plenária de Representantes compete:

I - propor, com base no temário de discussões, novos temas para discussão nos Grupos Temáticos; e

II - apreciar os Relatórios Preliminares dos Grupos Temáticos, bem como o Relatório Final, que será elaborado pela Comissão de Sistematização.

Art. 16. À Comissão de Sistematização compete:

I - acolher e apreciar contribuições referentes aos temas do FNT, encaminhadas pela Comissão Nacional de Direito e Relações de T rabalho do MTE, pelo Poder Judiciário do Trabalho, pelo Ministério Público do Trabalho, por instituições públicas e privadas, e por especialistas em direito e relações de trabalho;

II acolher e apreciar os Relatórios das Conferências Estaduais do Trabalho, bem como o resultado de outras atividades promovidas pelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs);

III - discutir e sistematizar os Relatórios Preliminares, buscando ampliar a base de consenso alcançada pelos Grupos Temáticos;

IV - solicitar à Coordenação do FNT a convocação, quando necessário, de reuniões especiais com setores de atividade econômica e da sociedade civil sobre as questões relevantes concernentes aos temas em discussão;

V - solicitar à Coordenação do FNT a participação e o apoio técnico da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras instituições governamentais ou não-governamentais; e

VI preparar o Relatório Final a ser submetido à apreciação da Plenária de Representantes, com base nas conclusões dos Grupos Temáticos e dos Relatórios Parciais.

Art. 17. Aos Grupos Temáticos competem:

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88 I - discutir e negociar os assuntos específicos de sua agenda, com base nos Relatórios Temáticos preparados pela Coordenação do FNT, de acordo com os prazos estabelecidos no Cronograma de Atividades apresentado no início dos trabalhos; e

II elaborar um Relatório Parcial, a cada reunião, contendo as questões acordadas e divergentes, expressamente assinaladas.

Seção III

Funcionamento

Art. 18. Sob a orientação do Ministro do Trabalho e Emprego, a Coordenação responderá integralmente pelo FNT, especialmente pela organização do temário de discussão, e pela articulação com os demais atores sociais e instituições públicas e privadas interessadas em participar e oferecer contribuições técnicas e materiais para o desenvolvimento dos trabalhos de todos os seus órgãos.

Art. 19. A Plenária de Representantes reunir-se-á ordinariamente, duas vezes ao ano, e extraordinariamente, sempre que convocada pela Coordenação do FNT na forma deste Regimento.

§ 1º As reuniões do FNT serão presididas pelo Ministro de Estado do Trabalho e Emprego (MTE) e, na sua ausência, pelo Secretário-Executivo do MTE.

§ 2º As matérias submetidas ao debate serão consideradas cidas mediante o consenso ou a explícita e incontornável divergência declarada pela(s) parte(s) interessada(s).

Art. 20. A Comissão de Sistematização reunir-se-á ordinariamente, conforme calendário de reuniões previamente definido pela Coordenação do FNT em comum acordo com os seus integrantes, e extraordinariamente, quando convocada pela Coordenação na forma deste Regimento.

§ 1º O Coordenador-Geral do FNT, ou na sua ausência, o Coordenador-Geral Adjunto, presidirá as reuniões da Comissão de Sistematização.

§ 2º O Coordenador Técnico do FNT será o relator das reuniões da Comissão de Sistematização.

§ 3º A Comissão de Sistematização concluirá as atividades da primeira fase do FNT até o último dia do mês de dezembro de 2003.

Art. 21. Os Grupos Temáticos reunir-se-ão ordinariamente, conforme calendário previamente definido pela Coordenação do FNT, e extraordinariamente, quando convocados pelo Coordenador Geral após

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89 consulta prévia a seus membros, obedecido o Cronograma de Atividades do FNT.

§ 1º As reuniões contarão com mediadores e relatores indicados pela Coordenação do FNT.

§ 2º As reuniões serão preparadas pelos coordenadores das respectivas representações, de acordo com a seguinte pauta:

a) avaliação da reunião anterior;

b) identificação das questões que serão objeto de negociação; e

c) definição da metodologia e detalhamento da pauta e do tempo de duração de cada reunião.

§ 3º Os debates de cada Grupo Temático serão precedidos de um Relatório Temático elaborado pela Coordenação do FNT, que apresentará os temas mais relevantes a serem debatidos e gozará de preferência nas discussões.

§ 4º Os Relatórios Preliminares, que resultarem de cada reunião dos Grupos Temáticos, serão aprovados na reunião subseqüente.

§ 5º O Grupo Temático sobre Qualificação e Certificação Profissional desenvolverá seus trabalhos até o final do mês de abril de 2004.

§ 6º Observado o Cronograma de Atividades do FNT, o Grupo de Trabalho Micro e Pequenas Empresas, Auto-gestão e Informalidade, criado no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, encaminhará as conclusões de seus trabalhos diretamente à Comissão de Sistematização.

Seção IV

Participação das Assessorias

Art. 22. Cada representação poderá inscrever assessores junto a Secretaria do FNT, sendo que somente três de cada representação poderão ter acesso, sem direito a voz e voto, à sala de reuniões dos Grupos Temáticos e da Comissão de Sistematização.

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90 TÍTULO III

Das Disposições Gerais

Art. 23. As matérias e questões acordadas no FNT serão submetidas à apreciação da Plenária de Representantes e, posteriormente, encaminhadas ao Presidente da República.

§ 1º Os projetos legislativos serão elaborados pela Coordenação do FNT e encaminhados pelo Ministro do Trabalho e Emprego ao Presidente da República.

§ 2º Na hipótese de impasse entre os integrantes do FNT sobre qualquer um dos temas em questão, prevalecerão nos projetos as posições do governo federal.

Art. 24. Este Regimento entra em vigor na data de sua publicação

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94 ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

RESENHA HISTÓRICA

CAPÍTULO II

AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

CAPÍTULO III

OS DIREITOS SOCIAIS

CAPÍTULO IV

4.1 – A GLOBALIZAÇÃO

4.2 – A Crise de Paradigmas

4.3 – O Garantismo

4.4 – A Norma e sua Validade

CAPÍTULO V

A NOSSA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA (ARBITRARIEDADES)

CAPÍTULO VI

A REFORMA TRABALHISTA

CAPÍTULO VII

7.1 - O FÓRUM NACIONAL DO TRABALHO

7.2 – Visão Atual Do Fórum Nacional Do Trabalho

7.3 – Quanto ao Direito Material do Trabalho

7.4 – Quanto ao Direito Processual do Trabalho

7.5 – Da Reforma Sindical

7.6 – Os Riscos da Reforma Trabalhista

CONCLUSÕES

ANEXO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

8

9

10

17

18

22

23

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29

35

37

39

40

41

49

50

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63

66

69

72

74

78

81

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95 FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Título: Deliberações sobre a Reforma Trabalhista: A Lei Trabalhista em Função

do Contexto Histórico e Sócio-Econômico.

Data da Entrega: ____________________

Auto Avaliação:

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Avaliado por:_________________________________ Grau____________.

Rio de Janeiro, _____de _____________________ de 2004