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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/049/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 8 de setembro de 2014, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma exposição subscrita pelo utente H.F., visando a atuação do Hospital Garcia de Orta, E.P.E (HGO), estabelecimento prestador de cuidados de saúde registado no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados da ERS (SRER) sob o n.º 10931, versando sobre questões atinentes ao agendamento e realização de cirurgia no âmbito Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC). 2. Concretamente, a reclamação versa sobre alegados constrangimentos de agendamento de uma cirurgia do foro ortopédico, a qual no âmbito do

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de

supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades

económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo

5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/049/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 8 de setembro de 2014, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou

conhecimento de uma exposição subscrita pelo utente H.F., visando a atuação do

Hospital Garcia de Orta, E.P.E (HGO), estabelecimento prestador de cuidados de

saúde registado no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados da ERS

(SRER) sob o n.º 10931, versando sobre questões atinentes ao agendamento e

realização de cirurgia no âmbito Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para

Cirurgia (SIGIC).

2. Concretamente, a reclamação versa sobre alegados constrangimentos de

agendamento de uma cirurgia do foro ortopédico, a qual no âmbito do

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funcionamento do SIGIC terá determinado a emissão de um vale cirurgia por

incapacidade de resposta do hospital de origem – HGO – pretendendo o utente

utilizar tal vale para realização da cirurgia proposta no Hospital St. Louis (HSL),

estabelecimento prestador de cuidados de saúde registado no SRER sob o n.º

13063.

3. Para uma análise preliminar da reclamação supra referida, foi aberto o processo de

avaliação n.º AV/284/2014.

4. Subsequentemente, a ERS tomou ainda conhecimento das seguintes reclamações,

todas elas versando sobre questões atinentes ao agendamento e realização de

cirurgias no âmbito do sobredito programa SIGIC:

(i) A 20 de agosto de 2014, reclamação on-line subscrita pelo utente J.F.;

(ii) A 24 de outubro de 2014, reclamação subscrita por A.N., na qualidade de mãe

do utente D.P.;

(iii) A 3 de fevereiro de 2015, reclamação subscrita pelo utente F.V.;

(iv) A 3 de fevereiro de 2015, reclamação subscrita pelo utente L.N.;

(v) A 26 de fevereiro de 2015, reclamação subscrita por M.F., na qualidade de

filha da utente M.S.;

(vi) A 10 de março de 2015, reclamação subscrita por A.T., na qualidade de mãe

do utente H.T.F.;

(vii) A 10 de março de 2015, reclamação subscrita por I.G. na qualidade de mãe

da utente M.G.;

5. Pelo que, atenta a similitude das questões identificadas em cada uma das referidas

reclamações foi determinada a sua apensação ao supra referido processo de

avaliação AV/284/14, para tratamento conjunto da matéria em análise.

6. Paralelamente, em 08 de fevereiro de 2015 e em 13 de março de 2015,

respetivamente, a ERS tomou conhecimento das exposições subscritas pela utente

M.C.S. e pelo utente F.N., ambas visando a atuação do HGO e versando sobre

questões atinentes ao agendamento e realização de cirurgias no âmbito do

programa SIGIC, tendo nessa sequência sido determinada a abertura do processo

de avaliação AV/087/15.

7. Assim, e face à necessidade de uma averiguação mais pormenorizada de todos os

casos em presença, ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o Conselho

de Administração deliberou, por despacho de 2 de setembro de 2015, o

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arquivamento dos referidos processos de avaliação e a abertura conjunto do

processo de inquérito registado sob o n.º ERS/049/2015.

I.2. Diligências

8. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da

ERS relativa ao registo do Hospital Garcia de Orta, E.P.E;

(ii) Pedidos de informação enviados ao Hospital Garcia de Orta, E.P.E, em 11 de

fevereiro de 2015, 22 de abril de 2015 e 27 de maio de 2015 e análise das

respostas endereçadas à ERS;

(iii) Pedido de informação enviado ao Hospital St. Louis por ofício de 11 de

fevereiro de 2015 e análise da resposta endereçada à ERS;

(iv) Comunicação de abertura de Processo de Inquérito, remetida ao Hospital

Garcia de Orta, E.P.E por ofício de 2 de outubro de 2015.

II. DOS FACTOS

II.1. Do teor das reclamações apresentadas na ERS

II.1.1 Da reclamação do utente H.F.

9. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente:

“ […]

(i) estou inscrito no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia

(SIGIC) pelo Hospital Garcia de Orta (HGO-Ortopedia) e denominado como

prioritário;

(ii) tendo recebido o vale de cirurgia […] iniciei todo o processo tendo em

vista a minha cirurgia no Hospital de S. Louis […];

(iii) realizei consulta com o médico […] no dia 27/08/2014, análises, Raio X e

eletrocardiograma no dia 02/09/2014;

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(iv) no que diz respeito à minha situação profissional e familiar, organizei a

minha vida em função deste evento, que ficou agendado [para dia 8/9/2014]

conforme comprova a ficha de internamento do HSL;

(v) no dia 4-09-2014, fui informado pelo HSL, que já não iria realizar a

cirurgia na data marcada;

(vi) após encetar vários contatos com as entidades envolvidas, HSL, HGO e

SIGIC foram prestadas várias justificações que no entanto não resolvem a

situação do utente, entre as quais foram apontadas: falta de aval do diretor

clínico do HGO, provavelmente por este se encontrar de férias; recusa do HGO

em autorizar cirurgias encaminhadas para outro hospital, nomeadamente para

o HSL; erro na codificação por parte do médico codificador do SIGIC; alteração

ao protocolo da cirurgia feita pelo HSL […].”

10. Face à necessidade de obtenção de esclarecimentos adicionais, por ofício de 11

de fevereiro de 2015, foi solicitado ao HGO:

“[…]

(i) Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor da reclamação que se

junta e respetiva documentação anexa;

(ii) Descrição pormenorizada das etapas percorridas pelo utente, com indicação

das datas (i) das consultas de especialidade realizadas, (ii) da decisão clínica

de procedimento cirúrgico, (iii) da inscrição do utente em LIC, (iv) dos contactos

eventualmente realizados para e pelo utente, com indicação do seu teor e dos

meios de comunicação utilizados para esse fim, sempre com a identificação

dos profissionais de saúde envolvidos (v) dos procedimentos atinentes ao

processo de transferência do utente, acompanhado dos respetivos elementos

documentais de suporte, designadamente da proposta cirúrgica em causa;

(iii) Indicação da situação atual da inscrição do utente em LIC, incluindo

indicação da data de efetivação da cirurgia, caso a mesma já tenha ocorrido.”.

11. Nessa sequência veio aquele prestador, por ofício rececionado a 25 de fevereiro

de 2015, esclarecer que:

“[…]

(i) o utente entrou em [LIC] em 08/07/2013 no [HGO];

(ii) em 12/07/2014 foi emitido Vale de Cirurgia pela Unidade Central de Gestão

de Inscritos para Cirurgia;

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(iii) em 25/08/2014 o utente cativou o Vale Cirurgia no Hospital de S. Louis;

(iv) no mesmo dia 25/08/2014 o Hospital S. Louis pede ao Hospital Garcia de

Orta o processo clínico do utente;

(v) 4/09/2014 o Hospital Garcia de Orta envia o processo clínico;

(vi) 4/09/2014 o Hospital S. Louis faz pedido de alteração de códigos;

(vii) 2/10/2014 o Hospital Garcia de Orta autoriza a alteração de códigos

através de resposta […] do Diretor do Serviço de Ortopedia ;

(viii) 21/10/2014 o utente é operado no Hospital S. Louis.”

12. Também por ofício de 11 de fevereiro de 2015 foi solicitado ao HSL:

“[…]

(i) Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor da reclamação que se

junta e respetiva documentação em anexo;

(ii) Confirmação da situação de entidade protocolada com o SNS, do Hospital

St. Louis, no âmbito do SIGIC, com indicação das especialidades clínicas

contratadas e envio de cópia dos elementos documentais que confirmam essa

mesma qualidade;

(iii) Descrição pormenorizada das etapas percorridas pelo utente, com

indicação das datas (i) da cativação do “vale cirurgia”, (ii) da transferência, (iii)

da(s) consulta(s) de avaliação da proposta cirúrgica;

(iv) Indicação dos fundamentos existentes para o cancelamento/ recusa do

vale cirurgia em causa, incluindo os esclarecimentos prestados ao utente, bem

como indicação de reporte à URGIC territorialmente competente e/ou à UCGIC

da impossibilidade de realização da cirurgia proposta, acompanhado do

suporte documental de todas as comunicações existentes;

(v) Confirmação sobre se o utente terá sido informado das alternativas

existentes no SNS para acompanhamento da sua situação clínica e, no caso

afirmativo, indicação dos meios de comunicação utilizados para esse fim e das

respetivas datas, bem como identificação dos profissionais de saúde

envolvidos;

(vi) Indicação da situação atual do utente em LIC, incluindo indicação da

data de efetivação da cirurgia, caso a mesma já tenha ocorrido.”

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13. Assim, veio aquele prestador, por ofício rececionado a 3 de março de 2015,

esclarecer que:

“[…]

(i) O utente foi contactado para ativação do vale de cirurgia em 25/08/2014,

ficando a consulta marcada para o dia 27/08/2014.

(ii) O GDH previsional da proposta foi o GDH 443, que deu erro de diagnóstico

não corresponde ao procedimento.

(iii) Após o qual foi solicitada alteração de códigos ao Hospital Garcia d'Horta

que foi aceite em 02/10/2014.

(iv) O utente foi operado a 24/10/2014.

(v) As consultas pós operatórias foram efetuadas a 05/11/2014 e 17/12/2014.

(vi) Informamos ainda que o utente faltou à consulta que estava agendada

para 03/12/2014 [...].”

II.1.2 Da reclamação do utente J.F.

14. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente na

reclamação subscrita a 18 de março de 2014:

“[…]

Após consulta de neurocirurgia efetuada em 10/02/2014 fiquei com indicação

de intervenção cirúrgica. Com o agravamento progressivo do meu estado de

saúde tentei, quer pessoalmente em 18/8/2014, quer via correio eletrónico em

datas anteriores, ser informado sobre a minha posição relativa na lista de

inscritos para tal intervenção bem como da previsível data da mesma, não

tendo até ao presente obtido qualquer informação sobre o assunto.”.

15. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 11 de fevereiro 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

O utente […] [se] encontrava em lista de espera para cirurgia de ambulatório-

patologia degenerativa da coluna vertebral, desde Fevereiro deste ano [2014].

Veio a solicitar entretanto um pedido de informação relativamente à data

provável da cirurgia e segundo informação que consta do processo, a mesma

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foi cancelada no início de Dezembro [de 2014], pelo facto de o doente optar por

ser operado noutra instituição”.

II.1.3 Da reclamação da utente M.S.

16. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pela exponente na

reclamação subscrita a 26 de fevereiro de 2015:

“[…]

a minha mãe foi a última vez à consulta em 2013, sendo proposta a cirurgia, sendo

eu informada […] que a mesma não podia ir além de um ano após a proposta.

Decidi ir ao serviço de oftalmologia no início de fevereiro […] para receber

informação que aguardasse chamada. Como não fiquei convencida insisti com a

funcionária que me direcionou para um gabinete […] onde se fartou de procurar o

processo e lá estava no fim de uma pasta esquecido. Quando me vinha embora

encontrei [a médica] que vai operar a minha mãe e fez uma admiração e disse à

funcionária para lhe por o assunto que quando voltasse veria o que se passava até

hoje não obtive qualquer resposta.”

17. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 24 de março de 2014 o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de Oftalmologia […]

lamentamos o tempo de espera e gostaríamos de informar que se prevê que a D.

M.S. seja operada no próximo mês de abril.”.

II.1.4 Da reclamação do utente H.T.F.

18. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 10 de março de 2015:

“[…]

O meu filho, desde bebé tem algumas dificuldades respiratórias […] todavia

encontra-se na lista de espera para cirurgia desde 01/07/2014 e até ao

momento não foi chamado para a realização da mesma. Pelo que o médico me

informou […] neste momento encontram-se muitos utentes na lista de espera,

anteriores ao meu filho, e que no serviço de otorrino não têm autorização de

emitir vale cirúrgico para ser operado noutro hospital […].”

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19. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 20 de março de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de

Otorrinolaringologia […], lamentamos o tempo de espera, motivado pelo

número significativo de doentes propostos para cirurgia, com prioridade

urgente, face ao reduzido número de horas de bloco disponíveis. A cirurgia do

seu filho está agendada para o dia 15/04/2015.”.

II.1.5 Da reclamação da utente M.G.

20. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pela exponente, na

reclamação subscrita a 9 de março de 2015:

“[…]

Venho por este meio pedir esclarecimentos sobre o atraso na cirurgia pediátrica de

otorrino da minha filha […] pois ela encontra-se em lista de espera desde 30-01-

2014. Após várias tentativas para falar com alguém responsável foi-me dito que a

minha filha se encontra intransferível por ordem médica. Por esse motivo ela não

tem direito ao cheque cirurgia […].”

21. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 20 de março de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de

Otorrinolaringologia […], lamentamos o tempo de espera, motivado pelo

número significativo de doentes propostos para cirurgia, com prioridade

urgente, face ao reduzido número de horas de bloco disponíveis. A cirurgia do

seu filho está agendada para o dia 13/04/2015.”.

II.1.6 Da reclamação do utente F.V.

22. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 3 de fevereiro de 2015:

“[…]

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Venho pelo exposto tentar perceber porquê a demora de cirurgia a hérnias uma

vez que recebido vale cirurgia por duas vezes eram negativos por parte dos

hospitais particulares porque tenho pacemaker […].”

23. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 23 de fevereiro de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de Cirurgia Geral

[…], gostaríamos de esclarecer que, lamentavelmente, os tempos de bloco

operatório disponíveis não são suficientes para fazer face à lista de espera

existente, tal como desejávamos.

Constatámos que V. Exa. foi inscrito para cirurgia a hérnia inguinal em Dezembro

de 2013, com prioridade normal. Embora, à data, não lhe possamos dar uma

previsão da data da cirurgia, tudo faremos para que aconteça o mais rapidamente

possível.”.

II.1.7 Da reclamação do utente L.N.

24. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 24 de abril de 2015:

“[…]

Venho por este meio pedir que resolvam o meu caso pois mais uma vez saí de

uma cirurgia em que os médicos não conseguiram meter stent uretral e não

conseguem resolver o meu caso por falta de material […] este caso já se arrasta

há quatro anos […].”

25. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 15 de maio de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

No caso concreto, a sua exposição foi objeto de análise por parte da Direção do

Serviço de Urologia […], tendo-se constatado que foi proposto em 02/04/2014 para

cirurgia de correção de obstrução congénita de J.P.V. e litotrícia de cálculo renal

por Uretroscopia Flexível, aparelho esse que não existe neste hospital.

Lamentamos a situação descrita e informamos que o seu caso irá ser avaliado no

sentido de se proceder ao seu encaminhamento para outra instituição hospitalar.”.

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II.1.8 Da reclamação do utente D.P.

26. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 24 de outubro de 2014:

“[…]

[o utente] levou uma bolada nos testículos […] pensei vou ás urgências do

Garcia da Horta pois tá lá o processo todo, deve ter sido 05/2012, foi visto por

médico geral e depois visto por um urologista da mesma unidade, que

diagnosticou hidrocelo esquerdo […], fomos nesse dia ao serviço de urologia

que lhe marcou consulta externa no dia 11/06/2012, fomos e o mesmo

procedimento "é normal, fazer a vida normal marcado cirurgia não urgente lista

de espera", marcou vários exames […].

Dois anos depois em 02/10/2014, […] dirigiu-se ao serviço de urologia para

perguntar se ainda vai demorar muito tempo para ser operado, qual não é o

espanto quando lhe diz não estar na lista de cirurgia, e a dizer como se o

utente tivesse culpa, a sra resolveu marcar consulta para 2015, mas como o

D.insistiu a sra. marcou para dia 16/10/14 ás 9horas […]. o Dr pergunta a que

se deve a consulta e baixa a cabeça escrevendo e eu a falar, o Dr. levanta a

cabeça e diz com uma certa arrogância ,que "isso é tratado com a secretaria

dos urologista", em menos de 1 minuto já estávamos outra vez fora sem ser

consultado, a sra. vai outra vez ver e diz não está em lista tem de falar com o

Dr para o colocar na lista, eu digo á sra que ela é que o tem que o ir fazer,

depois de ela ir falar com ele, ele sai do consultório dirigindo-se para o

"guichet" com uma folha e manda o D.(meu filho assinar), o D. mesmo em pé

disse educadamente ao Dr "Não me vai ver?" o que reponde é hidrocelo não

preciso ver e ele disse " viu-me aquase á três anos atrás!" leva-o para dentro

do consultório depressa faz a averiguação e eu entretanto pergunto á sra esse

papel quer dizer que ele começa na lista em zero tempo, em que a sra me

informa que sim […] entretanto o Dr J.B. lá dentro perguntou pela prova de

inscrição de cirurgia em 2012, nós não temos como não temos esta ,o meu

filho assinou ontem e nenhuma parte do documento nos foi dado, deve ter sido

a mesma coisa em 2012. É fácil agora meter a culpa nos outros(utentes ) o

"guichet" não tem mais que 50 cm e com os papeis todos lá em cima , estamos

a falar com a sra e estamos com os braços em cima de documentos

importantes que deviam estar na parte de dentro do "guichet" […].”.

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27. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 9 de junho de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Lamentamos a situação descrita e confirma-se que o utente D.P. se encontra

novamente em lista de espera para cirurgia desde 23/10/2014. Do ponto de vista

clínico, a situação não apresenta gravidade nem urgência, contudo, levaremos em

conta o tempo decorrido e procuraremos agendá-lo com a maior brevidade

possível.”.

II.1.9 Da reclamação da utente M.C.S.

28. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 8 de fevereiro de 2015

“[…]

Em 22/11/2014, decorrente de uma consulta de oftalmologia, foram-me prescritos

vários exames e análises, com a finalidade de ser submetida a cirurgia

oftalmológica em princípios de janeiro de 2015. Informaram-me que teria

conhecimento do dia da intervenção nos primeiros dias de Novembro. […] Fui

tentando obter informações por telefone, tal revelou-se impossível alegando que

não dão informações sem permissão da […] médica assistente. Receando que os

exames e análises efetuados percam a validade venho solicitar a data da cirurgia

com a maior brevidade possível.”.

29. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 20 de fevereiro de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de Oftalmologia […]

gostaríamos de informar que a sua cirurgia será agendada o mais rapidamente

possível, de acordo com a prioridade atribuída.”.

II.1.10 Da reclamação do utente F.N.

30. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente, na

reclamação subscrita a 12 de março de 2015:

“[…]

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Depois da vinda a este hospital várias vezes durante o ano de 2014, e fazendo

TAC em Outubro e marcada cirurgia em Novembro […] o problema de saúde que

me afeta tem-se agravado bastante […]. No início do mês presente a bolsa que

mantenho junto ao olho esquerdo inchou bastante […] por iniciativa minha porque

era sexta feira procurei uma farmácia […] na segunda feira fui à médica de família

que me mandou imediatamente para a urgência, munido de carta dirigida ao

diretor se serviço de ORL […] o médico depois de me drenar bolsa que quase me

fechava o olho disse-me para continuar com o antibiótico. Agradeço a quem de

direito que tenham em consideração o meu caso […].”

31. Tendo tal reclamação recebido da parte do HGO, a 20 de março de 2015, o

esclarecimento de que:

“[…]

Depois de averiguações internas junto da Direção do Serviço de

Otorrinolaringologia […] lamentamos o tempo de espera, motivado pelo número

significativo de doentes propostos para cirurgia, com prioridade urgente, face ao

reduzido número de horas de bloco operatório disponíveis. O Sr. Francisco Noivo

encontra-se em lista de espera para cirurgia desde 05/11/2014, com prioridade

normal.”.

32. Atenta a necessidade de obtenção de informação sobre os factos alegados foi

enviado pedido de informação ao HGO em 22 de maio de 2015, concretamente

solicitando-se que:

“[…]

1. Pronunciem-se, de forma fundamentada, sobre o teor das reclamações

que se juntam, de forma autonomizada para cada um dos utentes em

questão;

2. Descrição pormenorizada, de forma autonomizada para cada um dos

utentes em questão, das etapas percorridas pela(o) utente, com

indicação das datas (i) das consultas de especialidade realizadas, (ii) da

decisão clínica de procedimento cirúrgico, (iii) da inscrição da(o) utente

em LIC;

3. Envio de cópia do certificado de inscrição da(o) utente em LIC, de forma

autonomizada para cada um dos utentes em questão;

4. Indicação da situação atual da inscrição da(o) utente em LIC, incluindo

indicação da data de efetivação da cirurgia, caso a mesma já tenha

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ocorrido, de forma autonomizada para cada um dos utentes em

questão;

5. Enumeração de todas as (eventuais) estruturas – humanas ou

institucionais – existentes no Hospital Garcia de Orta, E.P.E., bem como

dos procedimentos administrativos aí cumpridos habitualmente (com

indicação, designadamente, dos meios de comunicação utilizados e dos

colaboradores responsáveis, dos tempos de resposta observados), para

contacto e informação aos utentes sobre as etapas e os demais

aspetos relevantes relativos ao funcionamento do SIGIC, designada

mas não limitadamente, sobre a data da cirurgia, documentos

necessários, eventuais reavaliações clínicas, direitos e deveres dos

utentes.”.

33. Assim, veio aquele prestador, por ofício rececionado a 30 de junho de 2015,

esclarecer que:

“[…]

Utente: F.N.

1- O utente teve consulta de Otorrinolaringologia de primeira vez no dia 30/07/2014

em que foram solicitados exames complementares.

2- Em 05/11/2014 o utente teve nova consulta onde após avaliação dos exames foi

inscrito em LIC.

3- Em 12/03/2015 o utente fez uma reclamação através do gabinete do utente do

HGO.

4- A reclamação foi respondida pelo Diretor do Serviço de Otorrinolaringologia

cumprindo com os prazos estabelecidos.

5- 07/05/2015 o utente foi intervencionado no Hospital Garcia de Orta.

6- 15/05/2015 o utente foi avaliado em consulta pós-operatória.

7- 19/06/2015 o utente foi reavaliado em consulta pós operatória.

Utente: M.C.S.

1- A utente teve consulta de Oftalmologia Diabetes Oculares de primeira vez no dia

22/10/2014 em que foram solicitados exames complementares.

2- Os exames complementares foram realizados nos dias 05/01/2015 e 8/04/2015.

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3- Em 08/02/2015 o utente fez uma reclamação através do gabinete do utente do

HGO.

4- A reclamação foi respondida pela médica assistente cumprindo com os prazos

estabelecidos.

5- Apesar da resposta dada á reclamação de 18 de Fevereiro pela médica

assistente a cirurgia dependia da realização de exames complementares que só

foram realizados em Abril.

6- Após validação dos exames complementares a utente foi inscrita em LIC no dia

08/04/2015 não constituindo prioridade clínica significativa ou seja foi inscrita com

prioridade clínica normal.

7- A utente vai ser intervencionada nas primeiras semanas de Julho.

A estrutura existente no Hospital Garcia de Orta, EPE, é a Unidade Hospitalar de

Gestão Inscritos para Cirurgia (UHGIC), que tem por missão principal a

monitorização, controlo e supervisão dos utentes inscritos para cirurgia nos

serviços cirúrgicos do Hospital Garcia de Orta, EPE, em todas as fases do

processo de gestão dos episódios cirúrgicos, desde o acesso à primeira consulta

da especialidade no Serviço até à conclusão do episódio conforme a Portaria

45/2008, de 15 de Janeiro, Regulamento do SIGIC, os elementos da UHGIC são

nomeados pelo Conselho de Administração. Em anexo remetem-se os

documentos respeitantes a estes factos, cumpre-nos ainda informar que todos os

procedimentos foram cumpridos dentro dos prazos estabelecidos.”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

34. De acordo com o n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, esta tem por missão

“[…] a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

35. Ainda, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos seus Estatutos, as

atribuições da ERS compreendem “[…] a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…]

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b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à

prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais

direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos

operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

36. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º

dos seus Estatutos “[...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, do setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua

natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde,

consultórios, laboratórios de análises clinicas, equipamentos ou unidades de

telemedicina, unidades móveis de saúde e termas.”.

37. O que é o caso do Hospital Garcia de Orta, E.P.E., prestador de cuidados de

saúde inscrito no SRER da ERS sob o número 10931.

38. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos

cuidados de saúde, a alínea a) do artigo 12.º do mesmo diploma legislativo

estabelece ser incumbência da ERS “ assegurar o direito de acesso universal e

equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do

Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos estabelecimentos publicamente financiados,

bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no

âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados,

acrescentando a alínea b) do mesmo artigo o dever de “prevenir e punir as práticas

de rejeição e discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos

do SNS, nos estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos

estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas

ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados”.

39. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão

consubstanciado no dever de “zelar pela aplicação das leis e regulamentos e

demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das

suas atribuições”, bem como na emissão de ordens e instruções, bem como

recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre

quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,

incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências

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necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. al. a)

e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

40. E, no que concretamente respeita à obrigação de assegurar o cumprimento dos

critérios de acesso aos cuidados de saúde, se é certo que a violação do direito de

acesso, como direito complexo, pode surgir sob diferentes formas, ou ser originada

por diferentes causas, é igualmente certo que uma das suas violações mais

gravosas e últimas se consubstancia na rejeição infundada de pacientes.

41. É também competência da ERS, prevenir e punir as práticas de rejeição e

discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos

estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos

contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas

públicos de saúde ou equiparados (cfr. alínea b) do artigo 12.º dos Estatutos da

ERS).

42. Sendo estabelecido na alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, que

“Constitui contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou de

1500 EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva:

[…]

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista

na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que

visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem

como práticas de rejeição ou discriminação infundadas, em estabelecimentos

públicos, publicamente financiados, ou contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde ou

equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 12.º”.

43. Já quanto ao objetivo regulatório de zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade, previsto na alínea d) do artigo 10.º, incumbe à ERS, entre outras, a

garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde qualidade,

conforme estatuído na alínea c) do artigo 14.º dos Estatutos da ERS.

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III.2 Do modelo de funcionamento do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos

para Cirurgia

III.2.1 Os direitos dos utentes

44. O direito de acesso aos cuidados de saúde encontra-se constitucionalmente

consagrado no artigo 64.º, sob a epígrafe “direito à proteção da saúde”, nos termos

do qual tal direito é garantido pela criação de um SNS assente no respeito pelos

princípios fundamentais da universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial e

impõe-se a toda a rede nacional de prestação de cuidados de saúde.

45. Com efeito, nos termos da Base XXIV da Lei de Bases da Saúde (LBS), o SNS

deve prover pela garantia de “equidade no acesso dos utentes, com o objetivo de

atenuar os efeitos das desigualdades económicas, geográficas e quaisquer outras

no acesso aos cuidados”, o que implica que, nos estabelecimentos integrados no

SNS, os cidadãos em situação idêntica devem receber tratamento em iguais

circunstâncias, e em função das necessidades de cuidados de saúde.

46. A universalidade assenta na atribuição a todos do direito à proteção da saúde e

nessa medida, deve ser assegurado a todos os cidadãos, no âmbito do SNS, o

direito de acesso “[...] independentemente da sua condição económica, aos

cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação”, o que implica que

todos os cidadãos, sem exceção, possam aceder aos serviços prestadores de

cuidados de saúde.

47. A generalidade impõe que o SNS garanta, com maior ou menor grau, uma

prestação integrada de cuidados globais de saúde aos seus beneficiários. O

princípio da generalidade aponta para o direito dos cidadãos a obter todo o tipo de

cuidados de saúde, pelo que o Estado, com o intuito de assegurar a realização do

direito à proteção da saúde, deverá “garantir uma racional e eficiente cobertura de

todo o país em recursos humanos e unidades de saúde”. A este respeito a LBS

determina que o cidadão tem direito a que lhe sejam prestados de forma integrada

todos os cuidados de saúde, sejam primários, secundários, continuados ou

paliativos.

48. Por outro lado, a Lei n.º 15/2014, de 21 de março, que consolidou a legislação em

matéria de direitos e deveres do utente dos serviços de saúde, determina no seu

artigo 4.º que a prestação dos cuidados de saúde pelo Serviço Nacional de Saúde e

pelas entidades convencionadas ocorra em tempo considerado clinicamente

aceitável para a condição de saúde de cada utente, igualmente instituindo tal

normativo que, a Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos

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Utentes do Serviço Nacional de Saúde, define “[…] os tempos máximos de resposta

garantidos [e] o direito do utente à informação sobre esses tempos”, impondo aos

estabelecimentos do SNS e aos do setor convencionado a obrigação de informarem

o utente do tempo máximo de resposta garantido para a prestação de cuidados de

saúde de que necessita, bem como de afixação de informação atualizada relativa

aos TMRG para os diferentes tipos de prestação e grupos de patologia.

49. Nesse sentido, a Portaria n.º 87/2015, de 23 de março estabelece assim os TMRG

para prestações sem carácter de urgência, nomeadamente ambulatório dos centros

de saúde, cuidados domiciliários, consultas externas hospitalares, meios

complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT) e cirurgia programada.

50. Por seu turno, cada estabelecimento do SNS fixará anualmente, dentro dos limites

máximos estabelecidos a nível nacional por via da referida Portaria, os seus tempos

de resposta garantidos por tipo de prestação e por patologia ou grupo de

patologias, que igualmente deverão constar dos respetivos planos de atividades e

contratos-programa.

51. Assim, também neste âmbito se estrutura a necessidade da relação que se

estabelece entre os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e os seus

utentes se pautar pela verdade, completude e transparência em todos os aspetos e

momentos da mesma, incluindo nos momentos que antecedem a própria prestação

de cuidados de saúde.

52. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar –

surge aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural na

própria relação criada entre utente e prestador, não se limitando ao que prevê a

alínea e) do n.º 1 da Base XIV da LBS, para efeitos de consentimento informado e

esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e evolução do estado clínico,

motivo pelo qual a alínea d) do artigo 27º da Lei 15/2014, de 21 de Março

estabelece a obrigação do utente ser informado sempre que “[…] a capacidade de

resposta dos estabelecimentos do SNS estiver esgotada e for necessário proceder

à referenciação para os estabelecimentos de saúde do setor privado […]”.

53. Veja-se a propósito do cumprimento desta obrigação de informação do utente, o

recém publicado Despacho n.º 987/2016, de 15 de janeiro, o qual visa reforçar os

mecanismos ínsitos à disponibilização pública de informação atualizada sobre o

cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos.

54. Tudo concorrendo para a conclusão de que o direito à informação assume

particular relevância nos mercados de serviços de saúde, na medida em que estes

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são caracterizados pela informação imperfeita que, regra geral, as pessoas

possuem relativamente à saúde e à doença, existindo uma assimetria de

informação resultante do facto de os profissionais de saúde serem mais

conhecedores dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes;

55. Encontrando-se intrinsecamente ligado ao direito à liberdade de escolha, na

medida em que só com base na absoluta transparência e completude de

informação é que poderá ser salvaguardado o direito de um qualquer utente de

escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde (alínea a), do n.º 1,

da Base XIV da LBS).

56. Com efeito, tal preocupação esteve sempre subjacente à criação do SIGIC,

constando desde logo do Regulamento anexo à Portaria n.º 45/2008, de 15 de

janeiro o direito do utente “[…] dispor de uma garantia de tratamento dentro do

tempo máximo de espera garantido para o nível de prioridade, por patologia ou por

grupo de patologias”; aceder a todo o tempo junto da unidade hospitalar de gestão

de inscritos para cirurgia (UHGIC) do seu hospital e a seu pedido aos dados que lhe

respeitem registados na lista de inscritos para cirurgia (LIC), nomeadamente o nível

de prioridade que lhe foi atribuído e o seu posicionamento relativo na prioridade

atribuída [e] escolher, quando haja lugar a transferência, de entre os hospitais

indicados para a realização da cirurgia de que carece […]” – cfr. Parte III do

Regulamento.

57. Por fim, também o direito à reclamação previsto no artigo 9.º da Lei 15/2014, de

21 de março, surge como reforço do já estipulado no Regulamento do SIGIC,

enfatizando a necessidade do integral e atempado cumprimento de todas as fases

do processo de acesso à prestação dos cuidados cirúrgicos de que o utente

necessita.

III.2.2 As regras do SIGIC

58. Conforme descrito na Portaria n.º 45/2008, de 15 de janeiro1, o SIGIC é um

sistema de regulação da atividade relativa “[…] a utentes propostos para cirurgia e

a utentes operados, assente em princípios de equidade no acesso ao tratamento

cirúrgico, transparência dos processos de gestão e responsabilização dos utentes e

dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos estabelecimentos de

1 Alterada por via da publicação da Portaria n.º 179/2014, de 11 de setembro.

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saúde que contratam e convencionam com aquele a prestação de cuidados de

saúde aos seus beneficiários.”;

59. Sendo elegíveis para efeitos de inscrição na lista de inscritos para cirurgia (LIC)

“[…] todos os utentes dos hospitais do SNS e os utentes beneficiários deste Serviço

referenciados para os estabelecimentos de saúde do sector privado e do sector

social, ao abrigo dos contratos e convenções celebrados.”.

60. Pelo que toda a programação cirúrgica é registada no SIGLIC e deve obedecer

aos critérios:

(i) da prioridade clínica estabelecida pelo médico especialista, em função da

doença e problemas associados, patologia de base, gravidade, impacto na

esperança de vida, na autonomia e na qualidade de vida do utente,

velocidade de progressão da doença e tempo de exposição à doença; bem

como

(ii) da antiguidade na LIC, sendo, em caso de igual prioridade clínica,

selecionado em primeiro lugar o utente que se encontra inscrito na lista há

mais tempo – cfr. § 73. do Regulamento.

61. Cumprindo a este propósito ressaltar que, cronologicamente, a inscrição dos

utentes em LIC é precedida da consulta da especialidade e da consequente

elaboração de um plano de cuidados, ou seja da elaboração de uma proposta de

abordagem de um ou mais problemas de saúde do utente, onde se inscrevem e

caracterizam os eventos necessários à sua resolução, ordenados de forma

cronológica, não havendo limitação ao registo na proposta quanto ao número de

diagnósticos descritos ou procedimentos a realizar, cfr. § 3.2.1.1. e 3.2.1.2.1 do

Manual de Gestão de Inscritos para Cirurgia (MGIC).

62. Concretamente, prevê o MGIC de forma taxativa as causas de exclusão de

inscrição de atos a realizar, como sendo os atos praticados fora do bloco operatório

(BO), por não cirurgiões ou pequenas cirurgias que não necessitem de utilização do

BO;

63. Elencando igualmente os elementos de menção obrigatória no preenchimento da

proposta de cirurgia, nos quais consta, entre outros a caracterização dos problemas

a abordar, incluindo patologias associadas, em termos de descrição, codificação e

respetiva lateralidade, e episódio antecedente se aplicável cfr. § 3.2.1.2.1 do MGIC.

64. Igualmente prévia à inscrição do utente em LIC, uma vez concluído o

preenchimento da proposta de cirurgia, é a recolha do consentimento informado do

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utente, garantindo que o mesmo atesta a concordância com a proposta e respetiva

inscrição em LIC.

65. Por outro lado, “[…] todos os atos relacionados com a inscrição do utente em LIC,

desde a efetivação da primeira consulta em serviço hospitalar relacionada com a

proposta cirúrgica até à realização da intervenção cirúrgica e respetiva alta, são

registados no SIGLIC, de acordo com as regras previstas no MGIC”, devendo

qualquer registo na LIC respeitar os procedimentos ali considerados, mormente os

constantes dos § 58 a 75.

66. Pelo que, “[…] após a emissão de certificado de inscrição, dá-se lugar à ativação

da inscrição do utente na LIC do serviço/unidade funcional da instituição hospitalar.”

– cfr. § 3.2.1.2. do MGIC.

67. Ademais, aos utentes é reconhecido, nomeadamente, o direito de obter um

certificado comprovativo da sua inscrição e de obter informação a todo o tempo

junto da Unidade Hospitalar de Gestão de Inscritos para Cirurgia (UHGIC) do seu

hospital e a seu pedido, sobre os dados que lhe respeitem registados na LIC, como

seja o nível de prioridade que lhe foi atribuído e o seu posicionamento relativo na

prioridade atribuída – cfr. § 44. do Regulamento.

68. Assim, a UHGIC é o principal elo de ligação do utente com o hospital, e todos os

contactos com aquele e outros factos são registados no SI, competindo-lhe a

informação aos utentes ou seus representantes, sobre o estado da inscrição, o teor

dos deveres e direitos e qualquer outra sobre as diferentes fases do processo. – cfr.

§ 3.3.3. e § 3.3.5. do MGIC que remetem para o Volume II – Área da gestão.

69. Compete ainda aos responsáveis pelas unidades ou serviços dos hospitais

envolvidos nos procedimentos cirúrgicos zelar pela atualização permanente da lista

de procedimentos cirúrgicos suscetíveis de serem realizados pelos seus serviços,

garantindo que a cada um está corretamente associado o código do sistema de

codificação em vigor e ainda, garantir a seleção dos utentes inscritos em LIC para

efeito de programação cirúrgica de acordo com os critérios de antiguidade e

prioridade estabelecidos no MGIC e neste Regulamento – cfr. alíneas b) e c) do §

57 do Regulamento.

70. Pelo que, “[…] sempre que a instituição hospitalar de origem não consegue

garantir ou a realização da cirurgia ou o seu agendamento até 100% do TMRG, o

serviço/UF tenha perdido ou a capacidade técnica para realizar a cirurgia ou

apresente piores tempos de acesso do que outro que se lhe equipare e ainda por

conveniência justificada do utente, estão criadas as condições para se dar início à

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etapa de transferência. Seja qual for o tipo de transferência, esta só pode ocorrer

com o acordo expresso do utente […]”. – cfr. § 3.2.1.4. do MGIC.

71. Concretamente, no que à transferência cirúrgica diz respeito, é “[…] operada pela

emissão e cativação de NT/VC [nota de transferência/vale cirurgia2], implica apenas

a transferência da prestação dos procedimentos cirúrgicos relativos ao(s)

problema(s) identificado(s) e às eventuais intercorrências da responsabilidade da

instituição hospitalar ou complicações identificadas até sessenta dias após a alta

hospitalar […] “- cfr. § 3.2.1.4. do MGIC.

72. Ainda, “[…] a transferência de utentes através da emissão de NT/VC para outras

unidades hospitalares integradas no SNS ou unidades convencionadas é

obrigatória sempre que o hospital de origem, com os seus recursos, não possa

garantir a realização da cirurgia dentro dos TMRG estabelecidos por prioridade

clínica, por patologia ou grupo de patologias, presumindo-se a falta de garantia

quando a cirurgia não for agendada até ao limite do prazo estabelecido para cada

nível de prioridade, a contar da data de inscrição na LIC. […]”,- cfr. § 3.2.1.4.1.1. do

MGIC.

73. Decorridos os prazos para agendamento da cirurgia, tal como previstos nos n.ºs

79 e 80 da Parte V do Regulamento3 sem que o agendamento no Hospital de

Origem tenha ocorrido, “[...] e não existindo HD do SNS disponível nos termos do

[...] Regulamento, a UCGIC emite de imediato um vale cirurgia a favor do utente.” –

cfr. n.º 108 da Parte V do Regulamento;

74. Competindo, com efeito, à Unidade Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia

(UCGIC), nos termos da alínea l) do.º 49 da Parte IV do Regulamento do SIGIC

“[e]mitir e enviar vales cirurgia.”.

75. Efetivando-se essa mesma transferência mediante a emissão pela UCGIC de “[...]

nota de transferência a favor do utente, propondo-lhe a selecção de uma das

unidades hospitalares constante da listagem anexa de hospitais disponíveis” – cfr.

n.º 98 da Parte V do Regulamento .

2 “[…] Quer a nota de transferência, quer o vale cirurgia, habilitam o utente a marcar a cirurgia

diretamente numa das entidades de destino […] a diferença reside no facto da primeira permitir

apenas a sua utilização no âmbito do SNS e a segunda poder ser utilizada quer nos hospitais

do SNS, quer nas instituições convencionadas do sector privado e social.” – cfr. § 3.2.1.4.1.7

do MGIC.

3 Nos termos dos n.ºs 79 e 80 da Parte V do Regulamento do SIGIC, o agendamento das

cirurgias deve ocorrer até ao limite de 50 % e 75 % do tempo de espera, respetivamente se os

utentes estiverem classificados com nível 2 e nível 1.

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76. Sendo que a emissão de vale cirurgia pela UCGIC pressupõe a aplicação de um

algoritmo automático que procura as instituições hospitalares do SNS com

capacidade para realizar o procedimento cirúrgico, indicando em primeiro lugar as

instituições do concelho de residência, seguido das instituições dos concelhos

limítrofes e por último do distrito.

77. No que tange à preparação dos episódios para transferência o HO “[…] é

responsável pela preparação do processo clínico do utente, para […] envio ao

hospital de destino selecionado […] para o que deve “[…] proceder de acordo com

as legis artis para que o processo clínico se encontre suficientemente completo e

actual, de modo a permitir documentar o médico”, cfr § 3.2.1.4.1.3. do MGIC.

78. Após a cativação do vale cirurgia o Hospital de Destino (HD) deve convocar o

utente transferido […] para avaliar a proposta cirúrgica e desencadear os

mecanismos necessários à realização da cirurgia […] o HD deve dispor dos exames

complementares necessários à caracterização cabal da patologia e órgãos

afetados, de forma a poder executar os procedimentos propostos […] o HD deve

proceder à avaliação da situação clínica actual do utente, realizando os meios

complementares inerentes á rotina pré-operatória […]”, cfr. § 3.2.1.4.2.3. do MGIC;

79. No âmbito da avaliação pré-operatória pelo HD prevê o MGIC que HD possa não

considerar os procedimentos propostos os mais indicados, podendo solicitar ao HO

ou à URGIC a sua alteração.

80. Concretamente, no § 3.2.1.4.2.3 do MGIC prevê-se que “[…] O HD pode entender

que os procedimentos para os quais o utente foi proposto já não são os mais

indicados ou que o utente necessita de outros procedimentos adicionais aos

propostos face à situação clínica actual” e que “[…] ao detectar a necessidade de

um ou mais procedimentos cirúrgicos que não constam na proposta de origem, o

HD deve avaliar se tem capacidade para realizar esses novos procedimentos […]

para o que […] deve pedir autorização ao HO através do SIGLIC para actualizar a

proposta cirúrgica, justificando detalhadamente o proposto.”

81. Ademais, “[…] a URGIC deve através do SIGLIC analisar e validar os pedidos de

devolução do HD e devolver o episódio ao HO, para que esta possa validar a

necessidade de atualização da proposta”, sendo que “[…] os procedimentos que

forem realizados sem autorização prévia do HO, URGIC ou UCGIC não podem ser

facturados, uma vez que correspondem a prestações que não foram solicitadas–

cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC.

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82. Após realização da cirurgia, a qual deve obedecer ao programa Cirurgia Segura

da Direção Geral de Saúde, aquando do registo da alta de internamento, deve ser

fornecida nota de alta ao utente e médico assistente, a qual deve conter, entre

outros elementos, identificação das cirurgias realizadas.

83. Após o tratamento cirúrgico em HD, o HO deve […] convocar o utente para

prosseguir com os tratamentos ou consultas posteriores necessárias” e […] avaliar

o utente, concluir sobre a prestação no HD e verificar se há necessidade de outras

acções.”- cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3;

84. E, “[…] sempre que o HO identifique situações de negligência, má prática,

prestações insuficientes, procedimentos desnecessários, incongruências ou

insuficiências nos registos é obrigado a registar as mesmas no relatório de consulta

de revisão disponibilizado no SIGLIC.” cfr. § 3.2.1.4.2.3 do MGIC 3.2.3..

85. Refira-se, ainda, que O SIGIC assenta numa estrutura orgânica constituída a nível

central pela Unidade Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia (UCGIC), a nível

regional, junto de cada uma das Administrações Regionais de Saúde (ARS), pela

Unidade Regional de Gestão de Inscritos para Cirurgia (URGIC) e a nível de cada

hospital UHGIC, cujas competências se encontram definidas na Parte IV do já

mencionado Regulamento, sendo que das mesmas cumpre em síntese destacar:

86. As UHGIC ficam integradas nos hospitais, competindo-lhes:

a) Zelar pelo cumprimento das normas aplicáveis à LIC e respetivo

Regulamento;

g) Prever e identificar os casos dos utentes que deverão ser transferidos

para outra unidade prestadora de cuidados de saúde […] – cfr. § 54.º e

56.º do Regulamento.

87. As URGIC ficam integradas nas Administrações Regionais de Saúde, competindo-

lhes:

a) Monitorizar, avaliar e controlar a evolução de inscritos para cirurgia nas

unidades hospitalares, designadamente os tempos de espera;

j) Autorizar a emissão de vales cirurgia para a realização de

procedimentos cirúrgicos propostos pelo HD, quando sejam

complementares de procedimentos cirúrgicos realizados anteriormente,

apos auscultação do HO;

m) Decidir nas situações em que se verifiquem conflitos entre HO e HD;

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n) Verificar se a facturação emitida pelas entidades convencionadas

corresponde à actividade realizada no âmbito dos vales cirurgia […] –

cfr. § 50.º e § 52.º do Regulamento.

88. Ainda, a UCGIC fica integrada na ACSS, competindo-lhe:

j) Selecionar os utentes a transferir e garantir o cumprimento e

monitorização dos protocolos de transferência definidos por parte dos

restantes intervenientes;

l) Emitir e enviar vales cirurgia;

m) Autorizar o […] HD a elaborar propostas cirúrgicas e a realizar os

procedimentos que lhes correspondam – cfr. § 47.º e 49.º do

Regulamento.

III.3. Análise da situação concreta

89. Recorde-se que os factos em análise se reportam aos constrangimentos

verificados no acesso de vários utentes à realização de cirurgias, de diferentes

especialidades, para as quais haviam sido propostos pelo HGO;

90. Sendo que o universo de situações trazidas ao conhecimento da ERS evidenciam

a necessidade de uma intervenção regulatória à luz das suas competências no

sentido de serem corrigidas as falhas existentes nos procedimentos adotados pelo

HGO subjacentes ao funcionamento do SIGIC, designada mas não limitadamente

dos procedimentos ínsitos à gestão dos agendamentos em cumprimento dos TMRG

fixados;

91. Porquanto, assumindo o SIGIC um papel central na gestão de cirurgias no SNS,

qualquer entropia na implementação dos respetivos procedimentos é suscetível de

impactar com o direito dos utentes à prestação tempestiva e integrada de cuidados

de saúde.

92. Ora, compaginando todo o quadro legal supra referido e o enquadramento

normativo dos direitos dos utentes à prestação de cuidados de saúde - in casu,

cuidados do foro cirúrgico - com os procedimentos adotados no caso concreto dos

diferentes utentes que subscreveram as reclamações em apreço, conclui-se que

ainda que alguns dos mesmos já tenham tido acesso à prestação de cuidados de

que necessitavam por via da realização da respetiva cirurgia, a mesma não ocorreu

dentro dos tempos máximos de resposta garantidos instituídos.

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93. Com efeito, e a titulo meramente exemplificativo, verifica-se que:

(i) O utente H.F. entrou em LIC pelo HGO em 08 de julho 2013 como prioritário,

tendo sido operado a 21 de outubro 2014 no Hospital S. Louis, após emissão

de vale cirurgia – pelo que, sendo que o TMRG fixado para a prioridade em

causa é 60 dias, foi o mesmo largamente ultrapassado;

(ii) O utente J.F. entrou em LIC pelo HGO a 10 de fevereiro de 2014 tendo em

dezembro de 2014 sido cancelada a sua inscrição por ter optado recorrer a

outra instituição hospitalar – pelo que, não obstante não exista nos autos

informação quanto à prioridade com que o mesmo foi inscrito, sempre se

considera que ainda que tivesse sido com prioridade normal, o TMRG fixado de

270 dias, teria sido ultrapassado.

(iii) O utente H.T.F. entrou em LIC pelo HGO a 1 de julho de 2014, tendo a

respetiva cirurgia sido agendada para o dia 15 de abril de 2015 – pelo que, não

obstante não exista nos autos informação quanto à prioridade com que o

mesmo foi inscrito, sempre se considera que ainda que tivesse sido com

prioridade normal, o TMRG fixado de 270 dias, teria sido ultrapassado.

(iv) A utente M.G. entrou em LIC pelo HGO a 30 de janeiro de 2014, tendo a

respetiva cirurgia sido agendada para o dia 13 de abril de 2015 - pelo que, não

obstante não exista nos autos informação quanto à prioridade com que a

mesma foi inscrita, sempre se considera que ainda que tivesse sido com

prioridade normal, o TMRG fixado de 270 dias, teria sido ultrapassado.

(v) O utente F.V. entrou em LIC pelo HGO em dezembro de 2013, com prioridade

normal, sendo que a 3 de fevereiro de 2015 subscreve reclamação dando

conta que “[…] Venho pelo exposto tentar perceber porquê a demora de

cirurgia a hérnias uma vez que recebido vale cirurgia por duas vezes eram

negativos por parte dos hospitais particulares porque tenho pacemaker”, tendo

tal reclamação recebido a 23 de fevereiro de 2015 a alegação por parte do

HGO de que “[…] embora, à data, não lhe possamos dar uma previsão da data

da cirurgia, tudo faremos para que aconteça o mais rapidamente possível.” -

pelo que sendo o TMRG fixado para a prioridade em causa de 270 dias, foi o

mesmo ultrapassado;

(vi) O utente L.N. entrou em LIC pelo HGO a 2 de abril de 2014, sendo que só a

15 de maio de 2015 recebe por parte do HGO a alegação de que “[…] tendo-se

constatado que foi proposto […] para correção de obstrução congénita de

J.P.V. e litotrícia de cálculo renal por Uretroscopia Fléxivel, aparelho este que

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não existe nesta Hospital […] informamos que o seu caso irá ser avaliado no

sentido de se proceder ao seu encaminhamento para outra instituição

hospitalar.” - pelo que sendo o TMRG fixado para a prioridade em causa de

270 dias, foi o mesmo ultrapassado;

94. Ora, a ocorrência de tais entropias no processos de gestão de inscrição e

realização de cirurgias não se compadece com o desiderato do SIGIC de “minimizar

o período que decorre entre o momento em que um doente carece de uma cirurgia

e a realização da mesma”, estando por isso alicerçado em mecanismos que

permitem obviar a períodos de espera que ultrapassem o TMRG fixado para

efetivação da prestação de cuidados de saúde de que o utente necessita.

95. Assim se concluindo pela necessidade de adoção da atuação regulatória infra

delineada por forma a garantir o reforço dos procedimentos de controlo existentes

para cumprimento dos TMRG fixados, para o que não é despiciendo recordar ser

missão das UHGIC “[…] zelar pelo cumprimento das normas aplicáveis à LIC e

respetivo Regulamento [e] prever e identificar os casos dos utentes que deverão ser

transferidos para outra unidade prestadora de cuidados de saúde […] – cfr. § 54.º e

56.º do Regulamento.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

96. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo para o efeito sido chamados a pronunciarem-se relativamente ao projeto de

deliberação da ERS o Hospital Garcia de Orta, E.P.E., e os utentes M.S., M.C.S.,

L.N., F.V. e D.P..

97. Assim, por ofício rececionado a 1 de março de 2016, tomou a ERS conhecimento

da pronúncia aduzida pelo HGO, da qual cumpre, em suma, ressaltar:

“[…]

1. O processo de inquérito identificado em epígrafe, aglutina dez reclamações

atinentes ao agendamento e realização de cirurgias no âmbito do Sistema

Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), conectadas com diferentes

especialidades.

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2. Atenta a similitude das questões em causa foi seguida a metodologia da sua

apensação para tratamento conjunto da matéria.

3. Muito embora a factualidade subjacente ao processo de inquérito em apreço

tenha já sido alvo de esclarecimentos prestados por parte do HGO, parcelarmente,

e aquando da apresentação das reclamações individuais, como se encontram

plasmadas no Projeto de Deliberação ora objeto de pronúncia, ainda assim, e

porque no seu todo, considera-se, nesta sede, ser relevante destacar das

situações sub judice, o seguinte:

i. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, em carta

rececionada a 25 de Fevereiro de 2015, traçando o percurso cronológico,

institucional e burocrático do utente [H.F];

ii. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 11 de

Fevereiro de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [J.F.];

iii. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pela utente, a 24 de

Março de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático da

utente [M.S.];

iv. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 20 de

Março de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [H.T.F.];

v. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pela utente, a 20 de

Março de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático da

utente [M.G.];

vi. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 23 de

Fevereiro de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [F.V.];

vii. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 15 de

Maio de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [L.N.];

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viii. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 9 de

Junho de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [D.P.];

ix. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pela utente, a 20 de

Fevereiro de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático da

utente [M.C.S.];

x. O HGO respondeu às questões formuladas pela ERS e pelo utente, a 20 de

Março de 2015, traçando o percurso cronológico, institucional e burocrático do

utente [F.N.];

4. Dos citados esclarecimentos destaca-se que o prestador de cuidados de saúde,

HGO, encontrou vários impedimentos, nos casos concretos, que obstaculizaram o

bom cumprimento regra da sua missão, nomeadamente no que diz respeito à

observância de todas as regras estabelecidas no quadro legal relativo aos tempos

máximos de resposta garantidos.

5. Tanto assim é que o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia

(SIGIC), no âmbito do HGO, representa cerca de 1300 atos cirúrgicos externos por

ano, sendo assim bom de realçar que apenas tenham merecido relevância 10

reclamações e, ainda assim, relativas a anos diversos.

6. Com efeito e, como se extrai desses mesmos esclarecimentos:

a) Existem outros prestadores de cuidados (nomeadamente outros hospitais) e

outras entidades que são direta ou indiretamente responsáveis pela eficácia

prática da implementação de todas as medidas em torno do agendamento e

realização de cirurgias no âmbito do SIGIC e que muitas dessas situações são

externas ao HGO;

b) Revela-se, simultaneamente, em várias especialidades, que o atraso se deve a

um número significativo de doentes propostos para cirurgia, face ao reduzido

número de horas de bloco disponíveis;

c) E, por último, números significativos de doentes propostos para cirurgia, com

prioridade de urgentes, bem como a por demais conhecida transversal falta de

anestesistas. […]

[…]

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Ora, o HGO, em nenhum dos casos, ameaçou o direito de acesso universal e

equitativo à prestação de cuidados de saúde, bem como, nesta e noutras matérias,

recusa, perentoriamente, quaisquer práticas de rejeição e discriminação

infundadas de utentes.

Tal é assim, e ainda por cima na presente matéria, que o HGO instituiu, a título

interno um regulamento próprio para acompanhamento do SIGIC.

Como, aliás, em sede própria se justificou, e tal como resumidamente se expõe

nos números 4 a 6 dos "FACTOS" acima descritos, os atrasos relativos aos

tempos máximos de resposta garantidos nunca se firmaram em qualquer tipo de

discriminação ou rejeição dos utentes.

Antes, pelo contrário e já hoje, maioritariamente, resolvidos à exceção de um que

não foi operado no hospital de Ordem Terceira e foi devolvido ao HGO por

Incapacidade para realizar a cirurgia.

Assim sendo, em momento algum de cada um dos casos trazidos à colação,

existiu, da parte do HGO dolo ou sequer negligência. Motivos aliás, dos quais

cientes, nos levam a declinar uma eventual subsunção da factualidade descrita

pela ERS, nas previsão e estatuição constantes na alínea b), do n.° 2 do artigo

61.° dos Estatuto ERS que prevê uma contraordenação para os casos de:

a) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista na alínea

a) do artigo 12°; ou,

b) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que visem

garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem como

práticas de rejeição ou discriminação infundadas.

A ERS, ao elencar os direitos dos doentes, destaca o direito de acesso, previsto na

alínea a) do artigo 64.° da Constituição da República, sob a epígrafe "Direito à

Proteção da Saúde":

Para assegurar o direito à proteção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado:

a) Garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição

económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação;

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Ora, o HGO não negou o direito dos utentes, consagrado no artigo 64.° da CRP,

não tendo havido violação do direito de acesso ou dos princípios da

universalidade, generalidade e gratuitidade: o que se destaca do próprio processo

ERS/049/2015, e de cada um dos casos nele descritos, é a falta de alguns meios,

a priorização de casos urgentes em detrimento de outros e o consequente não

cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos e ainda assim, com

base em 10 reclamações, entre cerca de 1300 atos cirúrgicos externos/ano.

Relativamente à Deliberação da ERS […]

Quanto ao disposto na alínea i) refira-se que o HGO tem vindo a implementar

paulatinamente medidas de adoção de comportamentos que visam garantir,

efetivamente, o rigoroso cumprimento de todas as regras estabelecidas no quadro

legal relativo aos Tempos Máximos de Resposta Garantidos, em coordenação com

todos os intervenientes, havendo inclusive, conforme anexo, um regulamento

interno complementar das normas legais, tendo sido criada, e até já reforçada uma

equipa de monitorização;

Aliás, a partir do momento em que se constituiu a equipa de monitorização e de

entre o cumprimento possível dos limites temporais para a realização de cirurgia, a

opção foi continuar o esforço na recuperação do atraso. Porém, desde 2012/2013

a falta grave de anestesistas (exposição feita por diversas vezes ao Ministério da

Saúde, devido à redução de 24 anestesistas para 8) não tem permitido operar os

doentes em tempo útil. As medidas preconizadas pelo Ministério da Saúde à data,

só ao longo de 2016 irão permitir a melhoria da situação de forma a iniciar-se a

reposição dos TMRG nos níveis preconizados;

Quanto ao disposto na alínea ii) o HGO tem procurado garantir que o

agendamento e a realização das cirurgias se processem dentro do estrito

cumprimento das regras de funcionamento do programa SIGIC. Mais, sem prejuízo

do mérito que um eventual processo de monitorização proposto possa lograr e que

já existe e está em fase de desenvolvimento, conforme explicitado supra, no caso

em apreço afigura-se-nos que ainda assim as ocorrências que determinaram a

abertura do processo de inquérito em apreço, sempre poderão existir aqui e acolá,

não se podendo garantir nunca que voltem a ocorrer, não obstante os esforços

para assegurar o mais rápido e eficaz procedimento até porque o HGO dá

prioridade aos casos com patologias urgentes ou de índole oncológica, por

exemplo;

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Quanto ao disposto na alínea iii), e como corolário do supra exposto, o HGO já se

esforça em garantir que todo e qualquer procedimento por si adotado seja capaz

de promover a informação completa, verdadeira e inteligível, com antecedência,

rigor e transparência a todos os utentes, sobre todos os aspetos relativos ao

acompanhamento e alternativas existentes no SNS para garantia de um acesso

adaptado à sua condição clínica, com clara explicitação do papel que compete a

cada estabelecimento prestador na rede nacional de prestação de cuidados de

saúde;

No que respeita ao disposto na alínea iv), o HGO dará, em anexo conhecimento à

ERS da situação atualizada da inscrição dos utentes por si designados de M.S..

F.V., L.N., P.P. e M.C.S.. conforme solicitado, da data em que ocorreram as

respetivas cirurgias;

A título de conclusão, o HGO, não obstante as carências que se verificam quer ao

nível de recursos humanos, transversais aos demais estabelecimentos e serviços

do Serviço Nacional de Saúde, quer em matéria de infraestruturas e outros, pugna

pelo cumprimento das regras e orientações veiculadas, quer pela Tutela, quer

pelas demais entidades que atuam no âmbito do SNS.

Desenvolvendo-as, internamente, como, inclusive, é o caso do já referido e que se

envia em anexo, regulamento interno do SIGIC o qual visou, precisamente,

melhorar as normas e regras a nível da sua intrusão e respetiva monitorização

interna. […]

[…] O HGO ao aferir internamente desta e daquela situação, procurou alterar os

procedimentos, uma vez mais, repita-se, de entre as suas limitações,

apresentando um manual interno de SIGIC, constituído uma equipa específica

para o efeito e iniciou a respetiva monitorização.

Logo, tomou, com zelo e adequação as medidas tendentes à melhoria do sistema.

Todas estas ponderações são de per si, mais do que suficientes para afastar a

tipificação de qualquer elemento subjetivo e, concomitantemente, afastar o dolo e

a própria negligência.

Entende-se, assim, sem prejuízo do que melhor vier a ser entendido por V. Exa.

que a conduta do HGO, não merece, in casu, qualquer censura, pois não se

tipificam causas diretas ou indiretas de dolo, nem sequer de negligência. […].”.

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98. Mais se refira que a ERS não rececionou nenhuma pronúncia de qualquer um dos

utentes notificados em sede de audiência dos interessados, até à presente data.

99. Assim, analisada a pronúncia do HGO cumpre antes de mais acolher o enfase

depositado pelo prestador no propósito de dar cumprimento a todo o quadro legal e

regulamentar que conforma o SIGIC, sendo por isso de ressaltar positivamente a

implementação do “[…] regulamento interno do SIGIC o qual visou, precisamente,

melhorar as normas e regras a nível da sua intrusão e respetiva monitorização

interna […].”;

100. Igualmente se acolhendo a adoção de medidas corretivas preconizadas pelo

prestador o qual garante que […] ao aferir internamente desta e daquela situação,

procurou alterar os procedimentos, uma vez mais, repita-se, de entre as suas

limitações, apresentando um manual interno de SIGIC, constituído uma equipa

específica para o efeito e iniciou a respetiva monitorização […].”

101. Diferentemente, quanto aos factos alegados pelo HGO para justificar os

constrangimentos ocorridos nos casos concretos objeto de análise nos presentes

autos, não são de acolher os argumentos invocados de que “[…] encontrou vários

impedimentos que obstaculizaram o bom cumprimento regra da sua missão,

nomeadamente no que diz respeito à observância de todas as regras estabelecidas

no quadro legal relativo aos tempos máximos de resposta garantidos […] existem

outros prestadores de cuidados (nomeadamente outros hospitais) e outras

entidades que são direta ou indiretamente responsáveis pela eficácia prática da

implementação de todas as medidas em torno do agendamento e realização de

cirurgias no âmbito do SIGIC e que muitas dessas situações são externas ao HGO

[…] revela-se, simultaneamente, em várias especialidades, que o atraso se deve a

um número significativo de doentes propostos para cirurgia, face ao reduzido

número de horas de bloco disponíveis; […] e números significativos de doentes

propostos para cirurgia, com prioridade de urgentes, bem como a por demais

conhecida transversal falta de anestesistas. […]

102. Com efeito, e ainda que se aceite o argumento invocado de que “[…] os

atrasos relativos aos tempos máximos de resposta garantidos nunca se firmaram

em qualquer tipo de discriminação ou rejeição dos utentes”;

103. Não se pode deixar de recordar que o acesso aos cuidados de saúde deve ser

avaliado, pelo menos, numa quádrupla perspetiva, a saber, económica, temporal,

qualitativa e geográfica;

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104. Surgindo a vertente temporal do direito de acesso associada à necessidade de

obtenção de cuidados de saúde de forma não discriminatória e em tempo útil, isto

é, dentro do tempo medicamente aceitável e tendente à sua recuperação.

105. Para tanto, os prestadores de cuidados de saúde devem prestar todos os

cuidados de saúde, a cada um dos utentes que a si se dirigem, dentro do tempo

considerado útil e necessário, sendo que conforme visto a Lei 15/2014, de 21 de

março determina no seu artigo 4.º que a prestação dos cuidados de saúde pelo

Serviço Nacional de Saúde e pelas entidades convencionadas ocorra em tempo

considerado clinicamente aceitável para a condição de saúde de cada utente,

igualmente instituindo tal normativo que, a Carta dos Direitos de Acesso aos

Cuidados de Saúde pelos Utentes do Serviço Nacional de Saúde, define “[…] os

tempos máximos de resposta garantidos [e] o direito do utente à informação sobre

esses tempos”, impondo aos estabelecimentos do SNS e aos do setor

convencionado a obrigação de informarem o utente do tempo máximo de resposta

garantido para a prestação de cuidados de saúde de que necessita, bem como de

afixação de informação atualizada relativa aos TMRG para os diferentes tipos de

prestação e grupos de patologia.

106. Ora, é precisamente pelo facto de os TMRG fixados preverem a sua

diferenciação de acordo os diferentes tipos de prestação e grupos de patologia,

adaptando-se à premência do cuidado a prestar, que não se vislumbra que o

argumento invocado pelo prestador de que “[…] o HGO dá prioridade aos casos

com patologias urgentes ou de índole oncológica […]” possa amenizar os efetivos

constrangimentos ocorridos nos casos vertentes e cuja não repetição urge

acautelar.

107. Por todo o exposto se concluí que a pronúncia ora aduzida não é de molde a

infirmar a decisão projetada a qual se mantém, porquanto se considera necessária

a manutenção da intervenção regulatória proposta, tendo em vista, desde logo, a

garantia de uma interiorização e assunção das obrigações legais em causa, bem

como, a adequação permanente do comportamento do prestador, para que no

futuro se possa aferir se as diligências levadas a cabo se coadunam com o

conteúdo da referida intervenção.

108. Não obstante, atenta a informação prestada na pronúncia relativamente aos

utentes L.N. D.P. e M.C.S., e verificando-se que os mesmos tiveram já acesso à

prestação de cuidados de saúde de que necessitavam;

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109. Verifica-se a necessidade de adaptação do Ponto IV da decisão projetada, do

qual apenas passará a constar a obrigatoriedade do HGO dar conhecimento à ERS

da situação atualizada dos utentes M.S. e F.V., designadamente da data em que

ocorreram as respetivas cirurgias.

V. DECISÃO

110. O Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do

preceituado na alínea a) do artigo 24.º e das alíneas a) e b) do artigo 19.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma instrução ao Hospital Garcia de Orta, E.P.E. nos seguintes termos:

(i) O Hospital Garcia de Orta, E.P.E. deve garantir, sempre e em qualquer

momento, adoção de todos os comportamentos que garantam,

efetivamente, o rigoroso cumprimento de todas as regras estabelecidas

no quadro legal relativo aos Tempos Máximos de Resposta Garantidos;

(ii) O Hospital Garcia de Orta, E.P.E. deve garantir que o atendimento dos

utentes se processe dentro do estrito cumprimento das regras de

funcionamento do programa SIGIC, garantindo a efetiva implementação

de mecanismos de controlo e monitorização da evolução de inscritos

para cirurgia, antecipando e assegurando assim a oportuna decisão nas

situações em que se verifiquem desconformidades nos procedimentos

adotados;

(iii) O Hospital Garcia de Orta, E.P.E. deve garantir que todo e qualquer

procedimento por si adotado seja capaz de promover a informação

completa, verdadeira e inteligível, com antecedência, rigor e

transparência a todos os utentes, sobre todos os aspetos relativos ao

acompanhamento e alternativas existentes no SNS para garantia de um

acesso adaptado à sua condição clínica, com clara explicitação do

papel que compete a cada estabelecimento prestador na rede nacional

de prestação de cuidados de saúde;

(iv) O Hospital Garcia de Orta, E.P.E. deve dar conhecimento à ERS da

situação atualizada da inscrição dos utentes M.S., F.V.,

designadamente da data em que ocorreram as respetivas cirurgias;

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(v) O Hospital Garcia de Orta, E.P.E. deve dar cumprimento imediato à

presente instrução, comunicando à ERS, no prazo máximo de 30 (trinta)

dias úteis contados da presente deliberação, os procedimentos

adotados para o efeito.

111. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º

1 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com

coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da

ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou

sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos

14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

112. Da presente deliberação será dado conhecimento à Unidade Regional de

Inscritos para Cirurgia de Lisboa e Vale do Tejo e à Unidade Central de Inscritos

para Cirurgia, considerando as respetivas competências.

Porto, 14 de março de 2016

O Conselho de Administração.