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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – IB CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “lato sensu” ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PERÍCIA AMBIENTAL NAIARA CAMILA RIL DEGRADAÇÃO DE NASCENTES EM DECORRÊNCIA DO AVANÇO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS CUIABÁ – MT 2016

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i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – IB

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “lato sensu” ESPECIALIZAÇÃO EM

GESTÃO E PERÍCIA AMBIENTAL

NAIARA CAMILA RIL

DEGRADAÇÃO DE NASCENTES EM DECORRÊNCIA DO

AVANÇO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

CUIABÁ – MT

2016

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NAIARA CAMILA RIL

DEGRADAÇÃO DE NASCENTES EM DECORRÊNCIA DO

AVANÇO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

Monografia apresentada ao Depto de

Botânica e Ecologia do Instituto de

Biociências da Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito final para

obtenção do Grau de Especialista em

Gestão e Perícia Ambiental.

PROF. DR. ANDRÉ PANSONATO

Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

CUIABÁ – MT

2016

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NAIARA CAMILA RIL

DEGRADAÇÃO DE NASCENTES EM DECORRÊNCIA DO

AVANÇO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

Monografia apresentada ao Depto de

Botânica e Ecologia do Instituto de

Biociências da Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito final para

obtenção do Grau de Especialista em

Gestão e Perícia Ambiental.

Banca Examinadora:

_______________________________________ Prof. Dr. André Pansonato – UFMT

________________________________________ Profa. Dra. Rosina Djunko Miyazaki – UFMT

_________________________________________ Profa. MSc. Iolanda Antônia da Silva – UFMT

Local: Cuiabá – MT

Data Aprovação: 30 de março de 2016

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Ril, Naiara Camila

Degradação de nascentes em decorrência do avanço das atividades agropecuárias. Naiara Camila Ril, Monografia sob a orientação do Prof. Dr. André Pansonato – Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2016, 45 f.

ISBN

1. Degradação Ambiental 2. Nascentes 3. Sensoriamento Remoto

CDD

Índices para catálogo sistemático

1. Degradação Ambiental

2. Nascentes

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v

Dedico

“A Deus,

que nos concedeu o dom de viver, competindo a nós viver bem. ” – Voltaire

A meus pais,

Marcio Antonio Ril

Elizabete Vitor Ril

Ao meu irmão,

João Vitor Ril

Ao meu amor,

Hygor Fernando Garcia Abbadie

Aos meus amigos,

Bruno França, Ivan Luna, João Miranda, Maria Juliana, Rayanne Viana, Ricardo

Silva, Silvana Gabriele, Silviosmar Dias, Tatiane Mazzardo e Thays Lopes.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar sou grata a Deus, por permitir a conclusão de mais essa etapa

em minha vida.

Agradeço em especial a minha família, por todo amor dedicado e confiança

depositada. Sem eles nada disso seria possível, o que seria de mim nas horas difícil se não

fosse eles, meu porto seguro e minha fonte inesgotável de força de vontade!

Agradeço ao meu amor Hygor, por sempre acreditar no meu potencial e me

incentivar nos momentos de desânimo. Obrigada por todo amor, carinho e paciência

dedicados todos os dias. Graças a você esta trajetória se tornou mais suave e mais bonita.

Aos amigos que tornaram a correria do dia-a-dia mais leve e saudável. Em especial

ao meu amigo Ricardo Silva, pela ajuda e apoio ao longo do curso.

E por fim, ao meu orientador André Pansonato, pela oportunidade de

aprendizagem e confiança depositada.

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RESUMO

O estudo teve como objetivo o uso do sensoriamento remoto na avaliação espacial e temporal da degradação ambiental em nascentes de diferentes bacias hidrográficas no Estado do Mato Grosso. Para avaliação do dano, realizou-se a dinâmica temporal das nascentes estudadas desde 1985 até 2015. As nascentes e seus cursos hídricos tiveram suas Área de Preservação Permanente Degradada (APPD) quantificados e também foi verificado o tempo de ocorrência do dano ambiental. Com estas informações foram realizados os cálculos para estimativa dos valores de Perda de Funções e Serviços Ambientais (PFSA), causada pelo avanço descontrolado das atividades agropecuárias. Todas as nascentes apresentaram alto grau de degradação, tanto para as APPD quanto no tempo de ocorrência do dano, onde a média de ocorrência foi cerca de 26 anos, e consequentemente, os valores indenizatórios referentes aos danos ambientais encontrados foram elevados, onde o menor valor calculado foi de R$ 1.058.416,52 referente às perdas de funções e serviços ambientais deixados de serem prestados ao meio ambiente. No comparativo entre as bacias, a do Paraguai pode ser considerada a mais degradada.

Palavras-chave: Georreferenciamento, olhos-d’água, dano ambiental.

ABSTRACT

Key words: georeferencing, springs, environmental damage.

The study had as objective the use of remote sensing in the spatial and temporal evaluation of environmental degradation in springs of different river basins in the State of Mato Grosso. For assessment of the damage, was held the temporal dynamics of springs studied from 1985 to 2015. The springs and their water courses had their Degraded Permanent Preservation Area (DPPA) quantified and was also verified the time of occurrence of the environmental damage. With this information were performed calculations to estimate the values of functions losses and Environmental Services (PLES), caused by the uncontrolled advance of farming activities. All springs presented a high degree of degradation, both on DPPA and the damage duration, where the average time of occurrence was nearly 26 years, and consequently, the indemnification amounts related to environmental damage were high, considering that the lowest value was R$ 1,058,416.52 related to the losses of environmental functions and services not rendered to the environment. In the comparison between the basins, Paraguay’s can be considered the most degraded.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Metodologia adotada para cálculo de valoração ambiental. ...................................... 29

Tabela 2 - Valores de Perda de Funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica Amazônica. .................................................................................................... 30

Tabela 3 - Valores de Perda de Funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica do Paraguai. ................................................................................................... 30

Tabela 4 - valores de perda de funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia. ...................................................................................... 31

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa com a distribuição das baias hidrográficas estudadas no Estado de Mato Grosso. ..................................................................................................................................................... 11

Figura 2 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica Amazônica. ..................................................................................................................................................... 12

Figura 3 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica do Paraguai. ..................................................................................................................................................... 14

Figura 4 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia. ..................................................................................................................................... 15

Figura 5 - Dinâmica temporal da nascente do Córrego da Flor com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. ................................................................................................................................ 17

Figura 6 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Rio Teles Pires, do tributário do Córrego das Queixadas, do tributário do Ribeirão Guarantã e do Rio São Francisco com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. .................................................................................................. 18

Figura 7 - Dinâmica temporal da nascente do tributário do Córrego Grande com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. ................................................................................................................. 19

Figura 8 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Córrego do Caramujo, do Córrego do Roncador, do tributário do Córrego Brilhante e do tributário do Córrego Estreito com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. .................................................................................................. 20

Figura 9 - Dinâmica temporal da nascente do tributário do Rio Preto com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. ...................................................................................................................... 21

Figura 10 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Córrego Grande, do Córrego Gordura, do Córrego Gariroba e do Ribeirão Zacarias com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015. ............................................................................................................................................ 22

Figura 11 - Dano ambiental da nascente do Córrego da Flor. ..................................................... 23

Figura 12 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Rio Teles Pires, do tributário do Córrego das Queixadas, do tributário do Ribeirão Guarantã e do Rio São Francisco. ............... 24

Figura 13- Dano ambiental da nascente do tributário do Córrego Grande. ................................. 25

Figura 14 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Córrego do Caramujo, do Córrego do Roncador, do tributário do Córrego Brilhante e do tributário do Córrego Estreito..................... 26

Figura 15 - Dano ambiental da nascente do tributário do Rio Preto. .......................................... 27

Figura 16 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Córrego Grande, do tributário do Córrego Gordura, do Córrego Gariroba e do Ribeirão Zacarias. ................................................ 28

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 3

3. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 10

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 17

5. CONSIDERAÇÃOES FINAIS ......................................................................................... 32

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 34

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o uso desordenado e insustentável dos recursos naturais passou

a ser alvo de estudos de pesquisadores, dentre estes, temos o monitoramento ambiental

por meio de sensoriamento remoto, ciência da qual se obtém informações sobre um

objeto, área ou fenômeno, por meio da análise de dados coletados por aparelhos

denominados sensores, que não entram em contato direto com os alvos em estudo

(Crepani, 1983).

As informações obtidas através de sensoriamento remoto são de extremo valor

para diversas e importantes aplicações, entre as quais destacamos a avaliação de

exploração madeireira e reflorestamentos, análise de cobertura do solo, suporte à previsão

de safras, monitoramento ambiental, entre outros (Conceição, 2004).

O uso de sensoriamento remoto no monitoramento ambiental possibilita atingir

grandes áreas de difícil acesso e fazer o imageamento de grande altitude, proporcionando

uma visão sinóptica de diferentes áreas, em diferentes épocas, viabilizando o

monitoramento e acompanhamento de grandes áreas (Machado, 2002). Com isso, a

obtenção e análise de informações necessárias para o estudo do uso dos recursos naturais,

como água, solo e vegetação são facilitadas e aprimoradas (Rosa et al., 2011).

O uso inadequado do solo, o desmatamento, a destruição dos recursos hídricos, a

poluição da água e da atmosfera, entre outros, correspondem alguns dos problemas

ambientais mais intensos no mundo e incentivam a sensibilização da sociedade a fim de

que as devidas providências sejam tomadas, o quanto antes, promovendo com prioridade

à conservação dos recursos essenciais à qualidade de vida do planeta (Oliva Júnior, 2012).

Segundo Guerra e Guerra (1997), a degradação ambiental é provocada pelo

homem e engloba não só a erosão dos solos, como também a extinção de espécies vegetais

e animais, a descaracterização de nascentes, poluição de cursos hídricos, além do

assoreamento e outros impactos prejudiciais ao meio ambiente.

Nesta seara a degradação ambiental nos induz a encontrar prováveis soluções que

venham a diminuir ou estabilizar estes impactos ambientais, que acarretam em uma série

de danos, podendo ser considerados irreparáveis ao meio ambiente, em razão da ação

antrópica e a exploração de forma incorreta dos recursos naturais.

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Dentre os recursos naturais existentes, as nascentes ou olhos d’água são ambientes

impares que apresentam uma complexidade ambiental que ainda não está totalmente

desvendada. É um conjunto de elementos hidrológicos que apresenta uma importância na

dinâmica fluvial, pois revelam a passagem da água subterrânea para a superficial. Sendo

assim responsáveis pela origem da maioria dos recursos hídricos de fácil acesso às

populações e aos setores econômicos (Felippe e Magalhães Júnior, 2009).

Segundo Lima (1986), é de suma importância a preservação da vegetação em

torno das nascentes e cursos d’água, visto que a cobertura vegetal age de maneira positiva

sobre a hidrologia do solo, auxiliando nos processos de infiltração, percolação e

armazenamento de água pelos lençóis, reduzindo processo de escoamento superficial e

colaborando para o processo de escoamento subsuperficial, sendo que estas interferências

norteiam a diminuição do processo erosivo.

Esta peculiaridade ambiental atribuída as nascentes deixa claro a necessidade da

sua proteção para a conversação do equilíbrio hídrico e do meio ambiente. Posto isto,

desde 1965 o Brasil possui legislações que visam a proteção das nascentes, sendo elas

consideradas Áreas de Preservação Permanente (Felippe e Magalhães Júnior, 2009).

Segundo Tessler (2004), atribuir o valor de determinado recurso natural, ou seja,

estimar por meio de uma medida monetária o valor de um dano ecológico é de suma

importância, pois torna possível disciplinar a apropriação dos recursos naturais, com base

nos princípios do poluidor-pagador, da responsabilidade por danos e do desenvolvimento

sustentável. O gerenciamento responsável e eficiente do uso dos recursos naturais, a busca

pela conservação ou preservação desses recursos para as gerações futuras só será possível

quando forem notórios os limites de seu aproveitamento e os custos da utilização destes

recursos.

Através do uso de sensoriamento remoto, o presente estudo tem por objetivo

realizar a avaliação espacial e temporal de nascentes degradadas em diferentes bacias

hidrográficas no Estado do Mato Grosso. Com o intuito de mensurar o dano ambiental

para posterior valoração da degradação ambiental causada pelo avanço descontrolado das

atividades agropecuárias.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. SENSORIAMENTO REMOTO

Segundo Steffen (1996), o sensoriamento remoto pode ser compreendido como o

conjunto de técnicas relacionadas com a aquisição e a análise de dados de sensores

remotos, os quais são sistemas óptico-eletrônicos capazes de detectar e registrar sob a

forma de imagens, o fluxo de radiação eletromagnética refletida ou emitida pelos objetos

terrestres.

Os alvos naturais possuem propriedades que se manifestam de forma característica

em relação ao fluxo de radiação eletromagnética que refletem ou emitem, tais imagens,

quando obtidas em faixas espectrais adequadas, permitem um máximo de discriminação

entre os alvos e sua vizinhança, constituindo assim um meio rápido, econômico e eficiente

para a detecção dos mesmos na área a ser analisada (Ponzoni e Shimabukuro, 2007).

As imagens de satélite são úteis na avaliação das mudanças ocorridas nos recursos

naturais ao longo do tempo, pois registram fielmente a paisagem num dado momento e

possuem características que as diferenciam de outras imagens digitais (Barros et al.,

1991).

O uso das imagens de satélite é uma maneira viável de caracterização e

monitoramento ambiental em escalas locais, regionais e globais, devido à rapidez, à

eficiência, à periodicidade e à visão sinóptica que qualificam tais imagens. Nesse aspecto,

as técnicas de sensoriamento remoto disponíveis atualmente, auxiliam na caracterização

dos recursos naturais, através da interpretação de imagens de satélite.

2.1.1. Satélite LANDSAT

Segundo Alvarenga e Morais (2014), entre os principais satélites lançados, o

programa LANDSAT foi desenvolvido pela NASA, no final da década de 60, com o

intuito de coletar dados sobre os recursos naturais renováveis e não renováveis da

superfície terrestre. A família Landsat contou com o lançamento de 8 satélites, onde

atualmente encontram-se em operação o Landsat-7 (em condições precárias) e o Landsat-

8, este último, o mais moderno da família Landsat.

O imageamento realizado pelo satélite LANDSAT, auxilia na estimativa de safras

agrícolas, no monitoramento de áreas florestais e de pastagens. As imagens do sensor

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TM, possuem uma resolução espacial de aproximadamente 30 metros, tendo assim

condições para identificar, quantificar, avaliar e acompanhar as alterações provocadas aos

recursos naturais no decorrer do tempo (Alvarenga e Morais, 2014).

2.1.2. Satélite SPOT

Segundo a EMBRAPA (2013), os satélites SPOT tiveram início no final da década

de 70 sob liderança do governo francês, pelo Centre National d´Etudes Spatiales (CNES)

e apoio da Suécia e Bélgica. Estes satélites foram desenvolvidos para operar com sensores

ópticos, em bandas do visível, infravermelho próximo e infravermelho médio. Ao todo

foram lançados 6 satélites, divididos em três gerações, com alterações em suas cargas

úteis.

Atualmente, a família de satélites SPOT conta com três satélites em operação (4,

5 e 6) que atuam em conjunto. Suas imagens podem ser utilizadas nas mais variadas áreas

científicas e comerciais, no monitoramento de fenômenos e recursos naturais,

acompanhamento do uso agrícola das terras, apoio ao monitoramento e definição de áreas

de preservação, atualização de mapas e cartas, entre outros (EMBRAPA, 2013).

2.2. LEGISLAÇÕES AMBIENTAIS

Atualmente vigora no Brasil o Novo Código Florestal, Lei nº 12.651, de 25 de

maio de 2012, onde entende-se por Área de Preservação Permanente:

“Art. 3° - Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

(...)

II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida,

coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar

os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e

assegurar o bem-estar das populações humanas; (BRASIL, 2012. Art. 3º,

II).”

Esta mesma lei dispõe no capítulo II sobre a Delimitação das Áreas de Preservação

Permanente, a qual estabelece:

“Art. 4º - Considera-se Área de Preservação Permanente, em

zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

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I - As faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito

regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10

(dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50

(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de

200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham

largura superior a 600 (seiscentos) metros;

II - As áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com

largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água

com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50

(cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

(...)

IV - As áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água

perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50

(cinquenta) metros; (BRASIL, 2012. Art. 4º, I, II e IV).”

Quanto às penalidades, vigora no Brasil a Lei de Crimes Ambientais n° 9.605, de

12 de fevereiro de 1998, a qual determina que:

“Art. 38º - Destruir ou danificar floresta considerada de

preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com

infringência das normas de proteção:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas

cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à

metade (BRASIL, 1998. Art. 38).”

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2.3. NASCENTES

Nascentes são conhecidas popularmente como o ponto inicial de um curso hídrico,

sendo caracterizada como o ponto onde ocorre o afloramento das águas subterrâneas,

dando início ao canal de drenagem. Também, são denominadas como olhos d’água, fonte,

cabeceiras ou mananciais, podendo ocorrer isoladas ou de forma intermitente (SMA/

DPB, 2009)

Segundo Valente e Gomes (2002), as nascentes, que definem os cursos d’água,

podem ser classificadas de acordo com a persistência de seus fluxos, em:

• Perene: ocorrência de água durante todo o ano;

• Intermitente: ocorrência de água corrente apenas na estação chuvosa;

• Efêmeras: ocorrência de água apenas após fortes chuvas, sinalizando que os

lençóis não estão sendo convenientemente abastecidos durante o período chuvoso,

armazenando água em quantidades insuficientes para manterem as nascentes ao longo do

ano;

No Novo Código Florestal, a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, nascentes são

definidas como:

“Art. 3° - Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

(...)

VII - nascente: afloramento natural do lençol freático que

apresenta perenidade e dá início a um curso d’água; (BRASIL, 2012. Art.

3º, XVII). ”

Segundo Felippe e Magalhães Júnior (2009), as nascentes são elementos de suma

importância na manutenção dos recursos hídricos, pois controlam a passagem das águas

subterrâneas para a superfície, vindo a formar os canais fluviais, desta forma, entende-se

como nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água

de acúmulo ou cursos d’água.

Segundo Calheiros (2004), devido ao seu valor inestimável deve ser tratada com

cuidado especial, pois para que uma nascente seja caracterizada como ideal a mesma

deverá fornecer água de boa qualidade, de maneira abundante e contínua, estar localizada

próxima do local de uso e de cota topográfica elevada, possibilitando que sua distribuição

se dê por gravidade, sem gasto de energia.

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No entanto para que uma nascente seja considerada como degradada, basta a

ocorrência de apenas um dos aspectos abaixo (DMAE, 2011):

• Canais de drenagem ou construção de barragens;

• Cobertura vegetal comprometida por desmate, uso do fogo ou estradas;

• Invasão de plantas exóticas, como o capim brachiaria;

• Aterro, gradeação, erosão ou assoreamento;

• Pisoteio de gado, que provoca a compactação do solo (a água é que deve ir ao

gado e não o contrário);

• Água pouca ou turva e presença de taboas;

• Fossas sépticas próximas e em cota superior de aterro;

• Recebe afluentes de pocilgas, currais ou granjas ou que contenham agrotóxicos;

• Recebe qualquer tipo de lixo;

• É usada indiscriminadamente;

2.4. DANO AMBIENTAL

Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de

1.981, o dano ambiental é definido como a alteração adversa das características do meio

ambiente, de tal maneira que prejudique a saúde, a segurança e o bem-estar da população,

crie condições prejudiciais às atividades sociais, afete desfavoravelmente a biota,

prejudique condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente ou, por fim, lance rejeitos

ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Desta maneira, o dano

ambiental existe toda vez que houver alteração das características do meio ambiente.

Em virtude da maneira desordenada da ocupação e o uso dos recursos naturais no

território brasileiro, muitos recursos naturais são danificados em decorrência dos

impactos gerados pela antropização desorganizada e/ou descompromissada com o meio

ambiente. Sendo possível constatar uma série de problemas ambientais: a devastação das

florestas, a contaminação das águas, particularmente em áreas de mananciais, a

degradação dos solos em virtude do vasto uso de produtos agrícolas que acabam por afetar

também toda a água subterrânea nas regiões das nascentes, o que ocasiona em águas de

baixa qualidade e inapropriadas ao consumo humano (Oliva Júnior, 2012).

A ocupação antrópica no estado de Mato Grosso, se deu em meados da década de

60, onde incentivados pelo slogan nacionalista pregado pelo governo de “integrar para

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não entregar”, cuja ideia inicial era vencer a floresta e povoar as porções desconhecidas

da Amazônia Brasileira, milhares de colonos chegavam com suas famílias vindas do sul

e alguns do sudeste do país, atraídos pela promessa de terras baratas e riquezas. (WWF

Brasil, 2006)

Em decorrência disso, a floresta foi substituída rapidamente pelos imensos

campos de grãos e pastagens, não se levando em consideração as restrições legais quanto

ao uso das matas nativas, de proteção das nascentes, limites das margens dos cursos

d’água, encostas com declives acentuados e topos de morros, e consequentemente

causando degradação ao meio ambiente (Araújo, 2008).

Segundo Rodrigues e Gandolfi (2001), a degradação ambiental pode ser dividida

em dois níveis, o superficial e o profundo. A degradação ambiental superficial se dá

quando é possível a recuperação de maneira natural da área afetada, já da degradação

ambiental profunda se dá quando a área afetada não consegue se recuperar naturalmente,

tornando-se necessária a interferência humana.

Conforme Oliva Júnior (2012), entre os problemas atribuídos ao avanço

descontrolado das atividades agropecuárias, uns dos principais problemas são causados

pelo desmatamento das margens dos cursos hídricos e nascentes, que acarretam na não

infiltração da água, gerando um grande volume de água a ser escoada, provocando

inundações e enchentes, podendo assim, influenciar mudanças no ciclo hidrológico.

2.5. VALORAÇÃO AMBIENTAL

Segundo Heidrich (2010), a valoração de danos ambientais fundamenta-se na

delegação da perda dos serviços ambientais em unidades monetárias, assunto cujo

interesse tem aumentado no território nacional. Os impactos ambientais recorrentes, em

sua grande maioria derivados da atividade industrial, incentivam o pagamento de

indenizações sugeridas por órgãos governamentais de proteção ao meio ambiente. O

cumprimento dessas indenizações encontra impedimentos decorrentes da dificuldade de

valoração ambiental. O desacordo entre as entidades e empreendedores acarreta

repetidamente a judicialização desses dilemas e a definição de valores arbitrários, na

maioria das vezes contraditória com a perspectiva do prejuízo ambiental.

O valor econômico total de um recurso natural pode ser classificado em (Tessler,

2004):

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• Valor de uso: é o atribuído ao ambiente pelas próprias pessoas que usam de fato

ou ocasionalmente os recursos naturais, pagando ou não;

• Valor de uso do produto: é atribuído aos recursos negociados no mercado, os que

se compram e vendem;

• Valor de uso do consumo: é atribuído aos bens consumidos sem passar pelo

mercado, por exemplo, o extrativismo, a pesca de subsistência;

• Valor de opção: é um valor indireto atribuído ao ambiente com base no risco de

perda. A sociedade valoriza as atividades conservacionistas, então, o valor de opção

significa o quanto consentimos em pagar hoje para ter direito de exploração desse recurso

no futuro;

• Valor de existência: o valor em si, é a dimensão ética e a parcela mais difícil de

ser conceituada. Representa o valor atribuído ao meio ambiente em si, é o valor intrínseco.

É a utilidade que se extrai pela observação de uma beleza única, uma paisagem, um curso

d’água, cachoeiras, animais, florestas, etc.;

A maior dificuldade da valoração ambiental é que comporta variadas soluções.

Não há mercado oficial para os bens ambientais, dificultando a obtenção de valores de

mercado e favorecendo o estabelecimento de métricas que correlacionam o meio

ambiente as unidades financeiras (Heidrich, 2010).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. SÁTELITES E IMAGENS

Para a escolha e estudo das nascentes foram utilizadas as imagens do satélite

LANDSAT 5 do ano de 1985, imagens do satélite SPOT do ano de 2007 e imagens do

satélite LANDSAT 8 do ano de 2015.

3.2. BANCO DE DADOS

Para a identificação das nascentes, cursos hídricos e bacias hidrográficas, foram

utilizados os seguintes dados:

• Shapefile de rios do estado de Mato Grosso levantamento realizado pelo SEPLAN

em 2012;

• Shapefile de Bacias Hidrográficas do estado de Mato Grosso levantamento

realizado pelo SEPLAN em 2012;

3.3. METODOLOGIA

Os procedimentos para elaboração deste trabalho foram divididos em etapas:

3.3.1. Processamento das Imagens

Para a parte de processamento de imagem, foi realizado:

• Aquisição das imagens de satélites na página oficial do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais – INPE.;

• Composição no Software ENVI 4.7 - bandas 5, 4 e 3 das imagens LANDSAT5;

• Composição no Software ENVI 4.7 - bandas 6, 5 e 4 das imagens LANDSAT 8;

• Georreferenciamento no Software ENVI 4.7 das imagens RGB tendo como base

de georreferenciamento o produto GEOCOVER da NASA;

As imagens do satélite SPOT de resolução 2,5 m foram utilizadas para o

levantamento e identificação das nascentes e cursos hídricos, tendo em vista que este

satélite possui ótima resolução de imagem, possibilitando assim uma maior exatidão na

delimitação dos cursos hídricos.

As imagens do satélite LANDSAT de resolução 30 m foram analisadas através de

técnicas computacionais de geoprocessamento considerando épocas diferentes. Com isso

foi possível realizar dinâmica temporal das nascentes escolhidas, onde foram comparadas

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as imagens de 1985 e 2015, a fim de se verificar o avanço da degradação ambiental ao

longo dos anos.

3.3.2. Escolha das Nascentes

Cinco nascentes por bacia hidrográfica localizadas no estado de Mato Grosso

foram selecionadas para avaliar o grau de impacto ambiental. O estado de Mato Grosso é

contemplado pela Bacia Hidrográfica Amazônica, Bacia Hidrográfica do Paraguai e

Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia (Figura 1).

As nascentes foram selecionadas de maneira aleatória, optando-se por diferentes

regiões de cada bacia, totalizando 15 nascentes.

Com o auxílio do banco de dados dos rios de Mato Grosso, levantado pelo

SEPLAN em 2012, e baseado no conceito previsto em lei para nascentes, as mesmas

foram selecionadas com o auxílio da imagem Spot, tendo em vista que este satélite possui

ótima resolução de imagem, possibilitando assim uma maior exatidão na escolha das

nascentes e olhos d’água.

Após seleção das nascentes foi realizado sua vetorização e de seus respectivos

cursos hídricos também com o auxílio da imagem SPOT.

Figura 1 – Mapa com a distribuição das baias hidrográficas estudadas no Estado de Mato Grosso.

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3.3.2.1. Bacia Hidrográfica Amazônica

Na Bacia Amazônica foram selecionadas as seguintes nascentes (Figura 2):

I. Nascente do Córrego da Flor: Localizada na região leste do município de

Campo Novo do Parecis, a nascente em questão dá origem ao Córrego da Flor, um dos

tributários do Rio das Flores, este por sua vez é um dos afluentes do Rio Ponte Preta que

deságua no Rio do Sangue, um dos principais rios da Bacia Amazônica;

II. Nascente do tributário do Córrego das Queixadas: Localizada na região

oeste do município de Canarana, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego

sem denominação que é um dos tributários do Córrego das Queixadas, este por sua vez é

um dos afluentes do Rio Sete de Setembro que deságua no Rio Xíngú, um dos principais

rios da Bacia Amazônica;

III. Nascente do tributário do Rio Teles Pires: Localizada na região norte do

município de Sorriso, a nascente em questão dá origem a um córrego sem denominação

que é um dos tributários do Rio Teles Pires, este por sua vez é um dos principais rios da

Bacia Amazônica;

IV. Nascente do tributário do Ribeirão Guarantã: Localizada no extremo norte

do município de Nova Maringá, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego

Figura 2 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica Amazônica.

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sem denominação que é um dos tributários do Ribeirão Guarantã, este por sua vez deságua

no Rio Arinos um dos principais rios da Bacia Amazônica;

V. Nascente do Rio São Francisco: Localizada na região nordeste do

município de Santa Carmem, a nascente em questão dá origem ao Rio São Francisco, este

por sua vez é um dos tributários do Rio Arraias D’Oeste, que é um dos afluentes do Rio

Arraias que deságua no Rio Manissauá – Miçu um dos principais rios da Bacia

Amazônica;

3.3.2.2. Bacia Hidrográfica do Paraguai

Na Bacia do Paraguai foram selecionadas as seguintes nascentes (Figura 3):

I. Nascente do Córrego Roncador: Localizada na região leste do município

de Itiquira, a nascente em questão dá origem ao Córrego Roncador, este por sua vez é um

dos tributários do Rio Itiquira, que é um dos principais rios da região e da Bacia do

Paraguai;

II. Nascente do tributário do Córrego Grande: Localizada na região oeste do

município de Barra do Bugres, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego

sem denominação que é um dos tributários do Córrego Grande, este por sua vez é afluente

do Córrego Vermelho que deságua no Rio Paraguai, o principal rio da Bacia do Paraguai;

III. Nascente do tributário do Córrego Brilhante: Localizada na região oeste

do município de Jaciara, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego sem

denominação, que é um dos tributários do Córrego Brilhante, este por sua vez é um dos

afluentes do Córrego Amaral que deságua no Rio São Lourenço, um dos principais rios

da Bacia do Paraguai;

IV. Nascente do triburário do Córrego Caramujo: Localizada na região leste

do município de Mirassol D’Oeste, a nascente dá origem a um pequeno córrego sem

denominação, que é um dos tributários do Córrego Caramujo, este por sua vez é um dos

afluentes do Córrego Padre Inácio que deságua no Rio Paraguai;

V. Nascente do tributário do Córrego Estreito: Localizada na região sul do

município de Itiquira, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego sem

denominação, que é um dos tributários do Córrego Estreito, este por sua vez é um dos

afluentes do Ribeirão Sozinho que deságua no Rio Itiquira;

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3.3.2.3. Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia

Na Bacia Tocantins-Araguaia foram selecionadas as seguintes nascentes (Figura

4):

I. Nascente do tributário do Rio Preto: Localizada na região sudeste do

município de Canabrava do Norte, a nascente em questão dá origem a um pequeno

córrego sem denominação que é um dos tributários do Rio Preto, este por sua vez é um

dos afluentes do Córrego Xavantinho, que deságua no Rio Tapirapé que é um dos

principais afluentes do Rio Araguaia, um dos principais rios da Bacia Tocantins-

Araguaia;

II. Nascente do tributário do Córrego Grande: Localizada na regia leste do

município de Novo São Joaquim, a nascente em questão dá origem a um córrego sem

denominação que é um dos tributários do Córrego Grande, este por sua vez deságua no

Rio das Mortes, um dos principais rios da Bacia Tocantins-Araguaia;

III. Nascente do Córrego Gariroba: Localizada na região nordeste do

município de Campo Verde, a nascente em questão dá origem ao Córrego Gariroba, este

por sua vez é um dos afluentes do Córrego Galheiro que deságua no Rio das Mortes;

Figura 3 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica do Paraguai.

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IV. Nascente do Córrego Gordura: Localizada na região leste do município de

Alto Araguaia, a nascente em questão dá origem ao Córrego Gordura, este por sua vez

deságua no Rio Araguaia;

V. Nascente do tributário do Ribeirão Zacarias: Localizada na região leste do

município de Nova Xavantina, a nascente em questão dá origem a um pequeno córrego

sem denominação, este por sua vez é um dos tributários do Ribeirão Zacarias que é um

dos afluentes do Rio Pindaíba que deságua no Rio das Mortes;

3.3.3. Dinâmica Temporal

Foi realizada a comparação entre as imagens dos anos de 1985, 2007 (melhor

resolução) e 2015, onde analisou-se e verificou-se a evolução da degradação ambiental

ao longo dos anos. Foi identificada o ano de ocorrência da degradação das nascentes para

a elaboração dos cálculos de valoração do dano ambiental.

3.3.4. Dano Ambiental

Após vetorizadas as características hidrográficas das nascentes selecionadas, foi

realizada a delimitação das Áreas de Preservação Permanente (APP). Para isto, foi

Figura 4 - Mapa com a distribuição das nascentes estudadas na Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia.

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utilizada a ferramenta operacional ‘Buffer’ do ArcGis 10.1, cujo objetivo é gerar uma área

de influência a partir de área selecionada conforme a largura determinada.

Nas nascentes as Áreas de Preservação Permanente foram as áreas no seu entorno

no raio mínimo de 50 metros. No caso dos cursos hídricos as Áreas de Preservação

Permanente foram as áreas a partir da borda da calha do leito regular numa largura mínima

de 30 metros. Já nos casos das lagoas as Áreas de Preservação Permanente foram as áreas

a partir de sua borda numa largura mínima de 50 metros. Para ambos os casos, foram

obedecidos os critérios estipulados pelo Novo Código Florestal.

Com as Áreas de Preservação Permanente delimitadas, definiu-se como Áreas de

Preservação Permanente Degradadas (APPD) as áreas que não possuíam vegetação

conforme a imagem atual de cada nascente. Após isso foi realizado o cálculo do

quantitativo de área de APPD através da ferramenta operacional do ArcGis 10.1.

3.3.5. Valoração Ambiental

Em razão do valor inestimável dos recursos ambientais, para o cálculo do valor

do dano ambiental foram considerados os fatores como perda de bens e serviço e funções

ambientais (IBAMA, 2002). Para isto, foi utilizada uma metodologia adaptada idealizada

pelo Professor Dr. Josimar Ribeiro de Almeida, a qual usa os parâmetros descritos para a

valoração econômica dos impactos ambientais em Unidades de Conservação (IBAMA,

2002).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. DINÂMICA TEMPORAL

4.1.1. Bacia Hidrográfica Amazônica

A nascente do Córrego da Flor encontra-se sem cobertura vegetal desde de 1985,

apesar disso é possível identificar o local do afloramento de água e o seu curso hídrico

natural, onde mesmo após a remoção total da vegetação a delimitação do curso d’água é

notória, principalmente na imagem do ano de 2007 (Figura 5).

Dano semelhante ocorreu com a nascente do tributário do Rio Teles Pires que teve

a cobertura vegetal removida em 1986. Nas demais nascentes a remoção da vegetação

ocorreu a partir da metade da década de 90 (Figura 6).

A remoção da vegetação da nascente tributário do Córrego das Queixadas ocorreu

em 1997, já na nascente do tributário do Rio Guarantã e na nascente do Rio São Francisco

tiveram a vegetação removida nos anos de 2005 e 2004, respectivamente.

Figura 5 - Dinâmica temporal da nascente do Córrego da Flor com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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Figura 6 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Rio Teles Pires, do tributário do Córrego das Queixadas, do tributário do Ribeirão Guarantã e do Rio São Francisco com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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4.1.2. Bacia Hidrográfica do Paraguai

Em 1985, a nascente do tributário do Córrego Grande tinha cobertura vegetal

preservada sendo possível identificarmos o local do afloramento de água e o seu curso

hídrico natural (Figura 7).

O dano ambiental teve início em 1994 com a remoção da vegetação ciliar, o que

acarretou em perda da vazão hídrica da nascente, e conseqüentemente, do curso hídrico.

Outro fator importante é o surgimento de lagoas em decorrência do barramento para a

construção de estradas

Da mesma forma ocorreu na nascente do tributário do Córrego do Caramujo que

também teve sua cobertura vegetal removida em 1994. Já a nascente do Córrego do

Roncador teve sua vegetação removida em 1989, o que se agravou no decorrer dos anos

(Figura 8).

Figura 7 - Dinâmica temporal da nascente do tributário do Córrego Grande com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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Figura 8 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Córrego do Caramujo, do Córrego do Roncador, do tributário do Córrego Brilhante e do tributário do Córrego Estreito com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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Diferente da Bacia Amazônica, a Bacia do Paraguai apresentou duas nascentes, a

do tributário do Córrego Brilhante e a do tributário do Córrego Estreito, que tiveram sua

cobertura vegetal removida anterior ao ano de 1985. Todavia nas imagens é possível

identificar o local do afloramento de água e o seu curso hídrico natural, que apesar de não

possuir vegetação ciliar apresenta sua demarcação é perceptível (Figura 8).

4.1.3. Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia

Em 1985 a nascente do tributário do Rio Preto apresentava sua cobertura vegetal

totalmente preservada, contudo em 1992 sua vegetação foi removida (Figura 9).

Semelhante a Bacia do Paraguai, nesta bacia duas das nascentes estudadas, a do

tributário do Córrego Grande e a do Córrego Gordura, o dano ambiental teve início antes

do ano de 1985, sendo possível identificar o local do afloramento de água e o curso hídrico

natural mesmo com a vegetação removida (Figura 10).

As nascentes do Córrego Gariroba e do tributário do Ribeirão Zacarias tiveram

sua vegetação removida em 1997 (Figura 10).

Figura 9 - Dinâmica temporal da nascente do tributário do Rio Preto com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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Figura 10 - Dinâmica temporal das nascentes do tributário do Córrego Grande, do Córrego Gordura, do Córrego Gariroba e do Ribeirão Zacarias com imagens dos anos de 1985, 2007 e 2015.

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4.2. DANO AMBIENTAL

4.2.1. Bacia Hidrográfica Amazônica

Dentre as nascentes da bacia Amazônica, a nascente do Córrego da Flor apresenta

o maior quantitativo de Área de Preservação Permanente Degrada (APPD) com 572.400

m² e tempo de ocorrência do dano por cerca de 31 anos (Figura 11).

Na nascente do tributário do Córrego das Queixadas o quantitativo encontrado foi

de 258.000 m² de APPD, metade do encontrado na nascente anterior, e com tempo de

ocorrência do dano de 19 anos (Figura 12).

As nascentes do Rio Teles Pires e Rio São Francisco também apresentaram

valores de APPD semelhantes, sendo 71.900 e 75.700 m², respectivamente, apresentando

diferença no tempo de ocorrência do dano, 30 e 12 anos, respectivamente (Figura 12).

O tempo de atuação do dano mostra que, apesar da quantidade de área degradada

ser próxima, a gravidade do dano é maior nas nascentes em que o dano ocorreu a mais

tempo. A nascente do tributário do Ribeirão Guarantã apresentou a menor quantidade de

APPD, 59.700 m², durante o menor tempo de atuação do dano, 11 anos, podendo assim

ser considerada como o menor grau de degradação (Figura 12).

Figura 11 - Dano ambiental da nascente do Córrego da Flor.

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Figura 12 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Rio Teles Pires, do tributário do Córrego das Queixadas, do tributário do Ribeirão Guarantã e do Rio São Francisco.

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4.2.2. Bacia Hidrográfica do Paraguai

Na bacia do Paraguai as nascentes que apresentaram menor dano ambiental foram:

tributário do Córrego Grande e tributário do Córrego Caramujo, sendo 37.900 e 80.200

m², respectivamente, de área degradada durante 22 anos (Figura 13).

Considerando os valores de APPD das nascentes acima, as demais nascentes

apresentaram quantitativos de APPD bem maiores, onde a nascente do tributário do

Córrego Brilhante apresentou uma área degradada de 104.100 durante 31 anos de

ocorrência do dano (Figura 14).

A nascente do Córrego Roncador apresentou um quantitativo de 204.500 m²

ocorrido durante 27 anos, caracterizando dano ambiental maior que a nascente anterior

(Figura 14).

O maior dano ambiental foi encontrado na nascente do tributário do Córrego

Estreito que há 31 anos possui 219.300 m² de área degradada (Figura 14).

Figura 13- Dano ambiental da nascente do tributário do Córrego Grande.

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Figura 14 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Córrego do Caramujo, do Córrego do Roncador, do tributário do Córrego Brilhante e do tributário do Córrego Estreito.

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4.2.3. Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia

O menor dano ambiental encontrado nesta bacia foi na nascente do tributário do

Rio Preto com 60.800 m² de área degradada durante 24 anos (Figura 15).

As nascentes do tributário do Córrego Grande e Córrego Gordura tiveram o

mesmo tempo de ocorrência, 31 anos, divergindo consideravelmente no quantitativo de

APPD com 59.400 e 110.900 m², sendo assim, a área degradada na nascente do tributário

do Córrego Grande equivale à metade da área degradada na nascente do Córrego Gordura

(Figura 16).

O mesmo ocorre com as nascentes do Córrego Gariroba e do tributário do Ribeirão

Zacarias que há 19 anos apresentam 77.000 e 221.500 m² de área degradada. O mesmo

tempo de atuação do dano configura que, apesar da quantidade de área degradada ser o

dobro uma da outra, o grau de degradação a ser esperado é semelhante (Figura 16).

Figura 15 - Dano ambiental da nascente do tributário do Rio Preto.

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Figura 16 - Dano ambiental das nascentes do tributário do Córrego Grande, do tributário do Córrego Gordura, do Córrego Gariroba e do Ribeirão Zacarias.

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4.3. VALORAÇÃO AMBIENTAL

Com o quantitativo de área degradada e o tempo de ação do dano foi possível

estimarmos através da metodologia de valoração ambiental adotada, a Perda de Funções

e Serviços Ambientais (PFSA).

A tabela abaixo demonstra a metodologia utilizada na valoração ambiental.

Tabela 1 – Metodologia adotada para cálculo de valoração ambiental.

Perda de Funções e Serviços Ambientais (PFSA)

Função e Serviço Ambiental VFA1¹

(US$/m².ano) APFA²

(m²) Tempo³ (anos)

Regulação Atmosférica 0,0007

572.400 31

Regulação das águas 0,0006 Suprimento de água* 0,1610 Formação de solo 0,0001 Reciclagem de Nutrientes 0,0130 Tratamento de rejeitos 0,0087 Polinização 0,0025 Controle biológico * 0,0042 Habitat/refúgio * 0,0112 Controle de distúrbios climáticos ** 0,0178 Armazenagem de água em bacia hidrográfica ** 0,1691 Regulação de gases poluentes ** 0,0134 Regulação de fluxos hidrológicos ** 0,0111 Fontes de matéria prima (comb. Fósseis, minerais) ** 0,0072 Regulação de gases que afetam o clima ** 0,0068 Fonte de Material genético para melhoramento ** 0,0008 Proteção de habitats ** 0,0012 Intemperismo de rocha e pedogênese ** 0,0005 Controle de erosão e armazenagem de sedimentos ** 0,0057

TOTAL 0,4356 ¹ Valor das Funções Ambientais para o Cerrado (IBAMA, 2002) ² Área de Perda de Função Ambiental (m2) – 57,24 ha (10% da área) ³ Tempo desde o dano até a efetiva reparação Câmbio aplicado em: US$ 1,00 = R$ 3,80 * Valor para Mata Atlântica - não disponível para o Cerrado ** Valor dos Serviços ambientais (apostila Prof. Dr. Josimar R. Almeida)

PFSA = (0,4356 x 3,80) x 572.400 x 31 = R$ 28.599.004,37

O valor de R$ 28.599.004,37 refere-se a maior Perda de Funções e Serviços

Ambientais encontrado neste estudo, trata-se da valoração ambiental do dano encontrado

na nascente do Córrego da Flor, a qual consequentemente apresentou o maior dano

ambiental com maior tempo de ocorrência.

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A nascente do córrego da Flor não só foi o maior dano ambiental da Bacia

Amazônica, como também, foi o maior dano ambiental entre as bacias.

Tabela 2 - Valores de Perda de Funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica Amazônica.

Bacia Hidrográfica Amazônica

Nome APPD

(m²)

Tempo

(anos) PFSA

Nasc. Córrego da Flor 572.400 31 R$ 28.599.004,37

Nasc. Trib. Rio Teles Pires 71.900 30 R$ 3.476.480,04

Nasc. Trib. Córrego das Queixadas 258.000 19 R$ 7.900.651,44

Nasc. Trib. Ribeirão Guarantã 59.700 11 R$ 1.058.416,52

Nasc. Rio São Francisco 75.700 12 R$ 1.464.086,45

Na Bacia do Paraguai, a nascente do tributário do Córrego Estreito, apresentou o

maior valor indenizatório referentes ao dano ambiental encontrado (R$ 10.956.956,08)

referente às perdas de funções e serviços ambientais deixados de serem prestados ao meio

ambiente.

Tabela 3 - Valores de Perda de Funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica do Paraguai.

Bacia Hidrográfica do Paraguai

Nome APPD

(m²)

Tempo

(anos) PFSA

Nasc. Trib. Córrego Grande 37.900 22 R$ 1.343.852,14

Nasc. Trib. Córrego Caramujo 80.200 22 R$ 2.843.718,77

Nasc. Córrego Roncador 204.500 27 R$ 8.899.111,98

Nasc. Trib. Córrego Brilhante 104.100 31 R$ 5.201.181,61

Nasc. Trib. Córrego Estreito 219.300 31 R$ 10.956.956,08

Já na Bacia Tocantins-Araguaia, a nascente do Tributário do Ribeirão Zacarias,

apresentou o maior valor indenizatório referentes ao dano ambiental encontrado

(R$6.782.923,62).

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Tabela 4 - valores de perda de funções e Serviços Ambientais para as nascentes estudadas da bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia.

Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia

Nome APPD

(m²)

Tempo

(anos) PFSA

Nasc. Trib. Rio Preto 60.800 24 R$ 2.351.821,82

Nasc. Trib. Córrego Grande 59.400 31 R$ 2.967.821,21

Nasc. Córrego Gordura 110.900 31 R$ 5.540.932,19

Nasc. Córrego Gariroba 77.000 19 R$ 2.357.946,36

Nasc. Trib. Ribeirão Zacarias 221.500 19 R$ 6.782.923,62

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5. CONSIDERAÇÃOES FINAIS

O uso dos recursos naturais no Estado de Mato Grosso dá-se de maneira acelerada

e inconsciente, principalmente nas regiões onde as atividades agropecuárias são

praticadas em escala comercial. Em especial para as Áreas de Preservação Permanente

(APP) no entorno de nascentes, onde o grau do dano ambiental foi considerado alto em

todas as nascentes estudadas, sendo que na maioria a vegetação ciliar foi removida no

início da década de 90, configurando assim cerca de 26 anos de ocorrência do dano

ambiental, podendo ser considerado um processo ainda em constante evolução.

Quando nascentes e cursos hídricos perdem suas matas ciliares, além de

receberem toda contaminação e poluição, sofrem com o processo de erosão e

assoreamento, o que resulta na perca gradativa da vazão hídrica e consequentemente afeta

a manutenção dos recursos hídricos, tendendo a se agravar ao longo dos anos.

A fim de garantir as funções ambientais deste recurso natural, o novo código

florestal considera como APP o raio mínimo de 50 metros no entorno de nascentes e olhos

d’água, no entanto, para as nascentes que foram degradadas anteriormente a 22 de julho

de 2008, a recomposição da vegetação é obrigatória apenas para o raio mínimo de 15

metros, podendo ainda ser admitida a manutenção de atividade agrossilvipastoris, de

ecoturismo ou de turismo rural em seu entorno. Sabidos desta especificidade das

nascentes, não há garantias de que a recomposição definida pela lei supracitada irá

proporcionar a manutenção e qualidade ambiental deste recurso natural.

O estudo de diferentes graus de degradação em nascentes promove o planejamento

ambiental e a determinação das metodologias a serem adotadas para o Plano de

Recuperação de Áreas Degradas e/ou Alteradas (PRADA), previsto no Código Florestal,

além do monitoramento frequente das áreas em recuperação, o que pode ser realizado

através da utilização de técnicas de geoprocessamento.

No comparativo entre as bacias, ao considerarmos a média dos resultados, a Bacia

do Paraguai apresentou os valores mais altos de área de preservação permanente

degradada, tempo de ocorrência do dano e perda das funções e serviços ambientais

(PFSA), sendo considerada a mais degradada do estado. Isso pode ser atribuído tanto a

sua localização geográfica, pois foi a primeira região a ser ocupada durante a colonização

do estado, bem como quanto a predominação do bioma Cerrado nesta região, tipologia

vegetal onde é permitido que 65% da área total de cada imóvel rural tenha a vegetação

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nativa suprimida para uso alternativo do solo, desde que autorizado pelo órgão ambiental

competente.

Já o desrespeito à legislação ambiental pode ser atribuído tanto a fiscalização

precária associada ao desconhecimento da legislação e à falta de conscientização sobre a

importância ambiental, como também pode estar atribuído a época em que ocorreu a

supressão da vegetação, onde antigamente não se fazia uso das tecnologias de

sensoriamento remoto para identificação das áreas a serem preservadas. Sendo assim,

cabe aos órgãos ambientais competentes que a lei seja cumprida, melhorando a

fiscalização e incentivando o uso de sensoriamento remoto no monitoramento dos

recursos naturais renováveis e não renováveis.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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