deficiencia de riboflavina

Upload: samycarvalho

Post on 14-Feb-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    1/6

    PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K. 79

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina...

    DEFICINCIA DE RIBOFLAVINA EM FRANGOS DE CORTE (Gallusgallus) RELATO DE CASO

    Patrcia Franco Gonalves Previato do Amaral1

    Luciana Kazue Otutumi2

    PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K. Decincia de riboavina em frangos de corte (Gallus gallus) relatode caso. Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012.

    RESUMO: Os micronutrientes executam funes bioqumicas especcas nos seres vivos, algumas das quais so fundamen-tais vida. Dentre os micronutrientes, as vitaminas merecem ateno por participarem como cofatores de reaes metablicase permitirem maior ecincia dos sistemas de sntese no organismo animal. Em meio s vitaminas, a riboavina apresentaalgumas particularidades, especialmente para aves, por ser provavelmente a vitamina mais limitante nesta espcie. A ribo-avina est envolvida no metabolismo de carboidratos, gorduras e protenas, apresentando papel preponderante na cadeiatransportadora de eltrons, no processo de respirao celular e no processo de obteno de energia por parte da clula, atuan-do na manuteno da integridade das membranas mucosas, pele, olhos e sistema nervoso. A decincia de riboavina resultaem alteraes no metabolismo e efeito patolgico em vrios tecidos, sendo a epiderme e a bainha de mielina dos axnios asmais comprometidas. O principal sinal clnico da decincia de riboavina em aves jovens a paralisia dos dedos curvos.O trabalho tem como objetivo relatar a ocorrncia de um caso clnico de decincia de riboavina em um lote comercial de

    frangos de corte (Gallus gallus) alimentado exclusivamente com dieta de origem vegetal, que apresentou paralisia dos dedoscurvos aos quatro dias de idade. Aps diagnstico presuntivo, o lote foi suplementado com 2,5mg/Kg de riboavina via guade bebida, e apresentou melhora signicativa horas aps o incio da suplementao, em que 95% das aves se recuperaram atos doze dias ps suplementao e os 5% restante persistiram com os sinais clnicos at o abate.PALAVRAS CHAVE: Dieta; Vitamina B

    2; Bainha de mielina; Paralisia dos dedos curvos.

    RIBOFLAVIN DEFICIENCY IN BROILER CHICKENS (Gallus gallus) A CASE REPORT

    ABSTRACT: Micronutrients perform specic biochemical functions in living organisms, some of which are essential tolife. Among the micronutrients, vitamins deserve special attention for participating as cofactors in metabolic reactions andallowing greater efciency of synthesis systems in an animal organism. In the midst of vitamins, riboavin presents some

    particularities, especially for poultry, because it is probably the most limiting vitamin in this species. Riboavin is involved in

    the metabolism of carbohydrates, fats and proteins, presenting key role in the electron transport chain, the process of cellularrespiration and in the process of obtaining energy from the cell, acting in the maintenance of the integrity of mucous membra-nes, skin, eyes and nervous system. Riboavin deciency results in changes in metabolism and pathological effect in varioustissues in which the epidermis and the myelin sheath of axons are the most involved. The main clinical sign of riboavindeciency in young poultry is the curled toe paralysis. This paper aims to report the occurrence of a clinical case of riboavindeciency in a batch of commercial broiler chickens (Gallus gallus) fed exclusively with vegetable diet that had curled toe

    paralysis at four days of age. Following presumptive diagnosis, the batch was supplemented with 2.5 mg/kg of riboavin indrinking water, and showed signicant improvement some hours after the beginning of supplementation; 95% of the poultryrecovered up to twelve days after supplementation and the remaining 5% had persistent clinical signs until slaughter.KEYWORDS: Diet; Vitamin B

    2; Myelin sheath; Curled toe paralysis.

    DEFICIENCIA DE RIBOFLAVINA EN POLLOS DE ENGORDE (Gallus gallus) RELATO DE CASO

    RESUMEN: Los micronutrientes desempean funciones bioqumicas especcas en los seres vivos, algunas de las cualesson fundamentales a la vida. Entre los micronutrientes, las vitaminas merecen atencin por participaren como cofactores dereacciones metablicas y permiten mayor eciencia de los sistemas de sntesis en el organismo animal. Entre las vitaminas,la riboavina presenta algunas peculiaridades, especialmente para las aves, siendo probablemente la vitamina ms limitanteen esta especie. La riboavina est implicada en el metabolismo de carbohidratos, grasas y protenas, presentando papel im-

    portante en la cadena de transporte de electrones, en el proceso de respiracin celular y en el proceso de obtencin de energade la clula, actuando en el mantenimiento de la integridad de las membranas mucosas, piel, ojos y sistema nervioso. Ladeciencia de riboavina resulta en alteraciones en el metabolismo y efecto patolgico en varios tejidos, siendo la epidermisy la vaina de mielina de los axones las ms comprometidas. La principal seal clnica de la deciencia de riboavina enaves jvenes es la parlisis de los dedos curvados. El estudio tiene como objetivo relatar la ocurrencia de un caso clnico dedeciencia de riboavina en un lote comercial de pollos de engorde (Gallus gallus), alimentados exclusivamente con dietade origen vegetal, que mostr parlisis de los dedos curvados en cuatro das de edad. Despus del diagnstico presuntivo,

    1Mdica Veterinria, Especialista em Cincia Avcola, e-mail: [email protected]. Rua: Marialva, n 4704, Apto 03. CEP: 87502-100, Umuarama,Paran.2Mdica Veterinria, Professora do curso de Medicina Veterinria e do Mestrado em Cincia Animal da Universidade Paranaense - UNIPAR, e-mail: [email protected] . Rua: Praa Mascarenhas de Moraes, n 4282. Campus Sede. CEP: 87502-210, Umuarama, Paran.

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    2/6

    80

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina... PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K.

    el lote fue suplementado con 2,5 mg / kg de riboavina va agua potable, y present mejora signicativa horas despus delinicio de la suplementacin, donde 95% de las aves se recuperaron hasta los doce das pos suplementacin y los 5% restante

    persistieron con seales clnicos hasta la matanza.PALABRAS CLAVE: Dieta; Vitamina B2; Vaina de mielina; Parlisis de los dedos curvados.

    Introduo

    A sobrevivncia e bom desempenho ontogenticodas aves dependem da obteno adequada de energia e com-postos qumicos (gua, sais minerais, lipdios, carboidratos,vitaminas e aminocidos) pelo organismo (BOLELI, et al.,2002).

    Alm disso, Burgos et al. (2006) descrevem que asade e o bem estar dos frangos de corte dependem da inte-rao entre seu potencial gentico e fatores exgenos, comonutrio e ambiente adequado de crescimento, menor exposi-o a situaes estressantes e prticas adequadas de manejo.Particularmente a nutrio apresenta um papel preponderantena promoo do desenvolvimento, crescimento, imunidade ereproduo, no entanto, a alimentao corresponde ao maior

    percentual (75%) do custo de produo dentro de um sistemade produo de aves (RUTZ, et al., 1998).

    Dentre os componentes da rao, as vitaminas en-contram-se em forma quantitativamente reduzidas (0,1% dovolume total), porm de importncia fundamental para o me-tabolismo e consequente desempenho dos animais (RUTZ,et al.,1998). Isso se deve ao fato das vitaminas participaremcomo cofatores em mais de trinta reaes metablicas a nvelcelular e permitirem maior ecincia dos sistemas de snteseno organismo animal (RUTZ, 2002), sendo, portanto essen-ciais para a tima sade e desempenho animal (FELIX, etal., 2009).

    Rutz et al. (1998), Souza et al. (1996), e Toledo eNascimento (2010) descrevem que apesar das vitaminas es-tarem presentes nos ingredientes de origem vegetal e animal,a suplementao vitamnica nas raes de frangos de corte reconhecidamente necessria, pois a quantidade das vita-minas nesses ingredientes so insucientes para atender asnecessidades das aves, alm de haver grande variao na pr-

    pria quantidade de vitaminas devido a fatores como clima,solo, e processamento dos gros e subprodutos de origemanimal.

    Em relao ao custo, Rubin et al. (1990) descrevemque as vitaminas respondem por 3% do custo da dieta, j To-ledo e Nascimento (2010) relatam que o custo com a suple-mentao vitamnica viapremix cerca de 1% do custo totaldas raes.

    A decincia de uma ou mais vitaminas nas raespode levar a distrbios metablicos, resultando em queda naprodutividade, no crescimento e desenvolvimento de doen-as (SOUZA, et al., 1996).

    Segundo Felix et al. (2009) e Rutz et al. (1998) a de-cincia da vitamina B

    2 uma das carncias mais provveis

    a campo, j que as dietas a base de milho e farelo de soja, oua base de cereais e suplementos proteicos de origem vegetal,apresentam valores abaixo dos nveis mnimos preconizados

    pelo NRC (1994), sendo que sua decincia afeta adversa-

    mente as reaes de oxirreduo (RUTZ, et al., 1998), tra-zendo como consequncia reduo no ganho de peso, diar-reia, alta mortalidade e paralisia dos dedos curvos.

    Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo

    relatar a ocorrncia de um caso clnico de decincia de ri-boavina em um lote comercial de frangos de corte (Gallus

    gallus) alimentado exclusivamente com dieta de origem ve-getal que apresentou paralisia dos dedos curvos aos quatrodias de idade.

    Relato de Caso

    Um lote com 23.500 frangos de corte mistos (ma-chos e fmeas), da linhagem Cobb500, recebendo exclusi-vamente dieta inicial de origem vegetal desde o alojamentoat os 21 dias de idade, apresentou aos quatro dias de idade

    problemas locomotores e incio de queda de pernas. Aossete dias de idade aproximadamente 50% das aves apresenta-vam-se cadas e a diculdade de locomoo permanecia. Noexame clnico as aves apresentavam-se pouco responsivas aoteste de propriocepo, porm ainda apresentavam sensibi-lidade preservada nos membros inferiores (pernas e dedos)conforme observado na Figura 1A.

    Neste perodo realizou-se exame de necropsia emcinco aves, no entanto, no foram observadas alteraes sig-nicativas.

    Aos treze dias de idade, 80% das aves apresenta-vam-se com diculdade de manter-se em estao, perma-neciam cadas e com paralisia dos dedos curvos conformeobservado na Figura 1B, o que levou a suspeita de decin-cia de vitamina B

    2 (riboavina). Ao exame clnico as aves

    evidenciaram sensibilidade bastante reduzida, decinciaproprioceptiva e baixo desenvolvimento.Na necropsia realizada aos treze dias, a nica alte-

    rao macroscpica signicativa foi uma leve enterite ines-pecca, no entanto, procedeu-se a colheita de bolsa cloacal,bao, timo, fgado, rins, duodeno, sistema nervoso central,nervo citico, articulaes e msculo, em soluo de formal-dedo a 10% para avaliao histopatolgica.

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    3/6

    PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K. 81

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina...

    Figura 1: A Decincia propioceptiva com incio de torodos dedos causada pela degenerao da bainha de mielinadevido decincia de vitamina B

    2.

    B Paralisia dos dedos curvos, com diculdade da ave em

    manter-se em estao, apoiando-se sobre jarretes e com osdedos retorcidos para dentro, sugestivos de decincia devitamina B

    2.

    Mesmo sem conrmao do diagnstico deniti-vo foi instituda imediata suplementao polivitamnica viagua de bebida, contendo 2,5mg/Kg de vitamina B

    2, forneci-

    das durante todo o dia por um perodo de cinco dias conse-cutivos. Realizou-se ainda a substituio da rao inicial queestava sendo consumida, por outra contendo 8mg/Kg de vi-tamina B

    2, e algumas aes de manejo, como baixar a altura

    das linhas de bebedouro tipo nipple e comedouro para facili-tar o acesso e consequentemente a ingesto de gua e rao.

    Alm do material colhido para anlise histopatol-gica, foram coletados dois quilos de amostras de rao em 12

    pontos alternados nas trs linhas de comedouros da granja,bem como amostra dopremixvitamnico mineral para anli-se quantitativa de vitamina B

    2e do anticoccidiano contido no

    premix(nicarbazina).Parte da amostra da rao coletada na granja (75g)

    foi direcionada para realizao de uma anlise qualitativarpida de nicarbazina utilizando um kit comercial, o Nicar-zazin First Test1, que detecta nicarbazina a partir de 2ppm,considerando-a como positiva. O resultado mostrou-se nega-tivo para presena de nicarbazina, o que induziu ao diagns-

    tico presuntivo de decincia de vitamina B2por ausncia depremixvitamnico-mineral na rao.

    Cinco dias aps o trmino da suplementao poli-vitamnica, 85% das aves acometidas apresentaram melhoraclnica, 10% ainda apresentavam alguma diculdade em selocomover e 5% restante persistiam com a sintomatologiadescrita anteriormente. Doze dias aps o trmino da suple-mentao polivitamnica, 95% das aves acometidas apresen-tavam-se recuperadas, e os outros 5% restante ainda apresen-tavam algum tipo de decincia locomotora, sinal este que

    persistiu at o abate.No exame histopatolgico no houve alteraes

    signicativas no nervo citico e demais rgos, no entantoa possibilidade de decincia de vitamina B2no pde ser

    descartada, pois as alteraes histopatolgicas esto somen-te presentes em quadros severos da doena. O diagnsticodenitivo foi conrmado com as anlises quantitativas, emque opremixapresentou 9.023mg/Kg de nicarbazina (espe-rado 10.000 mg/Kg) e 1.636 mg/Kg de vitamina B

    2(esperado

    1.600mg/Kg) e rao apresentou ausncia de nicarbazina (es-perado 50ppm) e 0,78mg/Kg de vitamina B

    2(esperado 8mg/

    Kg). As aves foram abatidas aos 37 dias de idade, atin-gindo um peso mdio de 1,606Kg, 43,19g de ganho de pesodirio, com uma converso alimentar de 1,689 e mortalidadede 3,73%, obtendo um ndice de ecincia produtiva de 246

    pontos, demonstrando desta forma um atraso de aproximada-mente quatro dias no desenvolvimento destas aves.

    Discusso

    Segundo Faria e Junqueira (2000), Faria et al.(2009), Lesson (2001), McDowell (2000), Hoffman-La Ro-che (1989), Hoffman-La Roche (2000) e Rutz (2002) a ri-

    boavina uma vitamina hidrossolvel que pode aparecernos organismos na forma livre, ou nas formas coenzimticascomo FAD (avina adenina dinucleotdeo) e FMN (avinamononucleotdeo), sendo essenciais para produo de ener-gia via cadeia respiratria, pois atuam como catalizadores natransferncia de eltrons em inmeras reaes essenciais deoxirreduo.

    As coenzimas da riboavina so tambm essenciaisna converso de piridoxina (vitamina B

    6) e cido flico (vita-

    mina B9) em coenzimas ativas, e transformao do triptofano

    em niacina (vitamina B3ou vitamina PP) (ALBERS, et al.,2002; LESSON, 2001; MCDOWELL, 2000; OLIVEIRA,

    2008; HOFFMAN-LA ROCHE, 2000; SPITZER, 2007).Segundo Spitzer (2007) a vitamina B2 tambm

    responsvel pelo crescimento normal, auxilia na sntese deesteroides, clulas vermelhas do sangue e glicognio. Almdisso, atua na manuteno da integridade das membranasmucosas, pele, olhos e sistema nervoso, e est envolvida na

    produo de adrenalina pelas glndulas adrenais. Atua comoantioxidante e tambm como parte da glutationa redutase edo sistema xantina oxidase, sendo que este sistema de defesatambm pode ajudar a defender contra infeces bacterianase clulas tumorais. Assim a riboavina desempenha impor-tante funo na liberao energtica dos alimentos, na assi-milao de nutrientes (OLIVEIRA, 2008; REGINA, 2010) ena proteo das bainhas de mielina dos nervos (OLIVEIRA,2008).

    Segundo Felix et al. (2009), Oliveira (2008), Rutzet al. (1998) e Rutz (2002) a riboavina pode ser consideradaa vitamina mais provavelmente limitante em aves, devido a

    baixa concentrao nos gros e cereais, no qual dietas commilho e farelo de soja fornecem de 2,0 a 2,6mg/Kg (FELIX,et al, 2009) com aproximadamente 60% da vitamina B

    2es-

    tando biodisponvel (ALBERS, et al, 2002; LESSON, 2001),tornando-se imprescindvel a suplementao de riboavinana dieta das aves.

    McDowell (2000), Hoffman-La Roche (2000) e

    Spitzer (2007) descrevem que a riboavina mais biodis-ponvel em produtos de origem animal do que em vegetal,

    1Nicarzazin First Test, Elanco Sade Animal, Lasing Michigan.

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    4/6

    82

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina... PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K.

    pois o complexo avina em plantas mais estvel digesto,sendo portanto, menos digestvel que as fontes animais. Nocaso relatado, as aves receberam exclusivamente rao deorigem vegetal.

    McDowell (2000) e Hoffman-La Roche (2000) re-latam que os requisitos de riboavina variam de acordo coma hereditariedade, crescimento, ambiente, idade, atividade,

    sade e outros componentes da dieta.Em relao idade, McDowell (2000) e Hoffman--La Roche (1989) relatam que pintos recebendo dietas ape-nas parcialmente decientes em riboavina se recuperamespontaneamente, indicando que a exigncia diminui com oavano da idade.

    Em termos de exigncia, Flix et al. (2009) descre-ve que a literatura apresenta grandes variaes nos nveis devitaminas empregados comercialmente para frangos de cor-te, sendo que os nveis sugeridos pelos rgos de pesquisacomo o NRC (1994) apresentam apenas as exigncias mni-mas, as quais geralmente no so sucientes em condiesde campo, tendo pouca correlao com os nveis empregadoscomercialmente.

    O NRC (1994) sugere um requerimento de 3,6mg/Kg de alimento, j Andriguetto et al. (1990) citam 5 mg/Kgna fase inicial e 4mg/Kg na fase nal. Por outro lado, Rutz etal. (1998) descrevem que houve um melhor desempenho emfrangos de corte suplementados com 4 mg/Kg de riboavi-na. No entanto, Hoffman-La Roche (1989) descreve que osrequerimentos de riboavina aumentam para frangos criadosem ambiente tropical, ultrapassando o requerimento de 7 mg/Kg para se evitar sinais de decincia.

    Rutz (2002) relata ainda a existncia de uma inte-rao entre a riboavina e o selnio, em que a suplementa -

    o de selnio melhora o desempenho produtivo de frangosde corte quando os mesmos recebem dietas contendo nveismarginais de riboavina. Outro fator tambm mencionado a quantidade de energia presente na dieta, na qual se aumen-tando o nvel energtico, as exigncias vitamnicas tambmaumentam (McDOWELL, 2000; RUTZ, 2002).

    Alm disso, Lesson (2001), McDowell (2000),Hoffman-La Roche (2000) e Spitzer (2007) relatam que osanimais parecem no ter a capacidade de armazenar quanti-dades signicativas de riboavina, no entanto, rins, fgado ecorao apresentam as maiores propores, sendo que o f-gado representa 1/3 da riboavina total do corpo (LESSON,2001; MCDOWELL, 2000).

    A hipovitaminose por riboavina resulta em efeitopatolgico em vrios tecidos, sendo a epiderme e a bainhade mielina dos axnios as mais lesionadas (LESSON, 2001;RUTZ, 2002), justicando a paralisia dos dedos curvos queas aves apresentaram no relato acima descrito.

    Segundo Albers et al. (2002), Back (2010), Burgoset al. (2006), Faria e Junqueira (2000), Faria et al. (2009),Hoffman-La Roche (1989), Hoffman-La Roche (2000),Klasing e Austic (2003), Larbier e Leclercq (1992), Lesson(2001), McDowell (2000), Nunes (1998), Oliveira (2008),Regina (2010), Rutz et al. (1998), Rutz (2002), e Toledo e

    Nascimento (2010) o sinal caracterstico da decincia de ri-

    boavina no pinto a paralisia dos dedos curvos.Precocemente se observa ausncia de movimenta-

    o nas aves, exceto quando so forados a faz-los, e quandoso as aves caminham como se estivessem agachadas sobre

    seus jarretes, com os dedos curvados para dentro, caracteri-zando a paralisia dos dedos curvos, sinais estes presentes nocaso relatado.

    Em relao idade, McDowell (2000) e Hoffman--La Roche (2000) relatam que a decincia de riboavinana dieta mais marcada em pintos jovens e em galinhas emreproduo.

    Oliveira (2008) e Rutz (2002) relatam que avesjovens recebendo dietas decientes em riboavina apresen-taram, entre sete e oito dias, a paralisia dos dedos curvos.

    No caso relatado as aves apresentaram a paralisia dos dedoscurvos a partir do quarto dia, o que sugere que a exclusivadieta vegetal possa ter contribudo para o desenvolvimento

    precoce deste sinal clnico.Segundo Burgos et al. (2006), Faria e Junqueira

    (2000), Faria et al. (2009), Klasing e Austic (2003), Les-son (2001), McDowell (2000), Hoffman-La Roche (1989),Hoffman-La Roche (2000) e Rutz (2002) ocorre um alarga-mento acentuado das bainhas de mielina dos nervos citicoe braquial, com o citico atingindo de quatro a seis vezes o

    tamanho normal. A histologia demonstra alteraes degene-rativas nas bainhas de mielina, que quando graves, podemcomprimir o nervo produzindo um estmulo permanente quecausa paralisia dos dedos curvos. No caso relatado o examehistopatolgico no evidenciou tais alteraes, no entanto a

    possibilidade de decincia de vitamina B2no poderia ser

    descartada, pois tais alteraes so somente observadas nosquadros mais severos da decincia.

    Faria e Junqueira (2000), Lesson (2001), McDowell(2000) e NRC (1994) relatam que pintos recebendo dietasmarginalmente decientes de riboavina na maioria das ve-zes se recuperam, pois a condio reversvel no estgio ini-

    cial, mas no na fase aguda, o que justica a recuperao de95% das aves acometidas no caso clnico relatado.Outros sinais clnicos comumente descritos por Al-

    bers et al. (2002), Lesson (2001), McDowell (2000), Olivei-ra (2008), Hoffman-La Roche (1989), Hoffman-La Roche(2000) e Rutz (2002) so retardo no crescimento, posturaespalmada sobre os jarretes durante o descanso, paralisia das

    pernas, diarria entre oito e dez dias e mortalidade aps trssemanas de decincia. As aves acometidas tambm apre-sentaram retardo no crescimento, postura espalmada sobre os

    jarretes, paralisia das pernas e diarria aos treze dias.Segundo Oliveira (2008), McDowell (2000), Ho-

    ffman-La Roche (1989), Hoffman-La Roche (2000) e Rutz(2002) as aves com uma dieta deciente em riboavina apre-sentam apetite normal, porm apresentam crescimento lento,

    j Faria e Junqueira (2000) relatam que as aves apresentamdiminuio no consumo da rao. No caso relatado as avesapresentavam apetite normal, sendo que o baixo consumo derao era justicado pela diculdade que as mesmas encon-travam para alcanarem os pratos comedouros, sendo poste-riormente corrigido o manejo, facilitando assim o acesso dasaves ao alimento.

    McDowell (2000) e Hoffman-La Roche (2000) des-crevem que os nveis de suplementao de riboavina devemser adaptados, especialmente para compensar a reduo ou

    excluso de ingredientes ricos em riboavina devido a for-mulaes que buscam um menor custo da dieta por ave, sen-do desta forma, os animais connados os mais susceptveis.A forma mais comumente empregada a suplementao via

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    5/6

    PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K. 83

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina...

    premix, em que a riboavina tem se mostrado estvel. A su-plementao de 2mg/Kg de riboavina na dieta para aves jo-vens sugerida por Lesson (2001). No entanto, Rutz et al .,(1998) relatam que 4mg/Kg de riboavina so necessrios

    para se maximizar o desempenho produtivo em frangos decorte, sendo que os mximos nveis plasmticos de riboa-vina foram obtidos quando a suplementao foi igual a 2mg/

    Kg. As aves que apresentaram o quadro clnico de de-cincia estavam recebendo uma dieta contendo apenas0,78mg/Kg de riboavina, sendo que o valor esperado seria8mg/Kg. Segundo Back (2010) a suplementao na fase ini-cial da decincia produz bons resultados. Faria et al.(2009),Klasing e Austic (2003), e Lesson (2001) relatam que duasdoses de 100g de riboavina devam ser sucientes para otratamento de pintainhos ou aves jovens, seguido pela suple-mentao adequada da vitamina na rao.

    Por outro lado, quando a decincia de riboavinana dieta por um longo perodo a paralisia dos dedos curvos crnica, ocorrendo um dano irreparvel aos nervos, no

    respondendo desta forma a suplementao com riboavina(BACK, 2010; FARIA; JUNQUEIRA, 2000; FARIA, et al.,2009; KLASING; AUSTIC, 2003; LESSON, 2001; McDO-WELL, 2000; HOFFMAN-LA ROCHE, 1989; HOFFMAN--LA ROCHE, 2000), fato que justica o porque 5% das avesacometidas persistiram com o sinal de paralisia dos dedoscurvos at o abate.

    A riboavina tem se mostrado bastante segura, noentanto Nunes (1998) relata que a riboavina administrada

    parenteralmente mais txica do que a oral. Por outro lado,Lesson (2001), Oliveira (2008), McDowell (2000), Hoffman--La Roche (1989), Hoffman-La Roche (2000), Rutz (2002) e

    Spitzer (2007) relatam que a intoxicao por riboavina pouco provvel, pois quando grandes quantidades de ribo-avina so administradas por via oral, apenas uma pequenafrao ser absorvida, sendo o restante excretado.

    Lesson (2001), Oliveira (2008), McDowell (2000),Hoffman-La Roche (1989), Hoffman-La Roche (2000), Rutz(2002) e Spitzer (2007) descrevem que provavelmente atoxicidade no acontece porque o sistema de transporte ati-vo para absoro de riboavina na mucosa gastrointestinaltorna-se saturado, limitando a absoro da vitamina. Outro

    ponto relevante que a capacidade de armazenamento da ri-boavina e de suas coenzimas nos tecidos parece ser limitadaquando quantidades excessivas de riboavina so adminis-tradas, o que predispe as aves a apresentarem quadros dedecincia de vitamina B

    2quando submetidas a uma dieta

    deciente como no caso clnico relatado.

    Concluso

    Os micronutrientes executam especcas funesbioqumicas nos seres vivos, algumas das quais so funda-mentais vida. Dentre as vrias funes realizadas impor-tante mencionar as da riboavina, em especial para aves, porser provavelmente a vitamina mais limitante nesta espcie,tendo em vista as suas baixas concentraes nos ingredientes

    comumente utilizados em suas dietas. Os animais no apre-sentam capacidade de armazenar quantidades signicativasde riboavina, sendo que a administrao de doses superioresaos requerimentos so rapidamente excretadas. A riboavina

    est envolvida no metabolismo de carboidratos, gorduras eprotenas, apresentando papel preponderante na chamada ca-deia transportadora de eltrons, no processo bsico de respi-rao celular e no processo de obteno de energia por parteda clula, atuando na manuteno da integridade das mem-

    branas mucosas, pele, olhos e sistema nervoso. Desta forma,a ingesto contnua de riboavina na dieta essencial para o

    metabolismo, desenvolvimento e bem estar das aves.Referncias

    ALBERS, N. et al. Vitamins in animal nutrition. Bonn:Arbeitsgemeinschaftfr Wirkstoffe in der Tierernhrung(AWT), 2002. 77 p.

    ANDRIGUETTO, J. M. et al. Normas e padres denutrio e alimentao animal. Curitiba: Nutrio, 1990.146 p.

    BACK, A. Manual de doena das aves. Cafelndia:

    Integrao, 2010. 311 p.

    BOLELI, I. C. et al. Estrutura funcional do trato digestrio.In: MACARI, M. et al. Fisiologia aviria aplicada afrangos de corte.Jaboticabal: FUNEP/UNESP, 2002. p.75-95.

    BURGOS, S. et al. Vitamin deciency-induced neurologicaldisease of poultry. International Jornal of PoultryScience, v. 5, n. 9, p. 804-807, 2006.

    FARIA, D. E.; JUNQUEIRA, O. M. Enfermidadesnutricionais. In: BERCHIERI JNIOR, A.; MACARI, M.Doena das aves. Campinas: FACTA, 2000. p. 431-448.

    FARIA, D. E. et al. Enfermidades nutricionais. In:BERCHIERI JNIOR, A.; MACARI, M. Doena das aves.2. ed. Campinas: FACTA, 2009. p. 927-971.

    FELIX, A. P.; MAIORKA, A.; SORBARA, J. O. B. Nveisvitamnicos para frangos de corte. Cincia rural, v. 39, n. 2,

    p. 619-626, 2009.

    HOFFMAN-LA ROCHE. Vitamin nutrition for poultry.Nutley: Roche Vitamins Inc, 1989. 122 p.

    HOFFMAN-LA ROCHE. Vitamin nutrition compendium.Cambridge: Roche Vitamins Inc, 2000. CD-ROM

    KLASING, K. C.; AUSTIC, R. E. Nutricional deiseases. In:SAIF, Y. M. Diseases of poultry. 11. ed. Iowa: Iowa StateUniversity State, 2003. p. 1027-1053.

    LARBIER, M.; LECLERCQ, B. Nutrition and feedingof poultry.Loughborough: Nottingham University Press,1992. 305 p.

    LESSON, S. Nutrition of the chicken.4. ed. Guelph:University Books, 2001. 591 p.

    McDOWELL, L. R. Vitamin in animal and human

  • 7/23/2019 Deficiencia de Riboflavina

    6/6

    84

    Arq. Cinc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 1, p. 79-84, jan./jun. 2012

    Decincia de riboavina... PREVIATO DO AMARAL, P. F. G.; OTUTUMI, L. K.

    nutrition.2. ed. Iowa: The Iowa University State Press,2000. 793 p.

    NATIONAL RESERARCH COUNCIL NRC. Nutrientrequirements of poultry.9. ed. Washington, DC: NationalAcademy of Sciences, 1994. 155 p.

    NUNES, I. J. Nutrio animal bsica. 2. ed. BeloHorizonte: FEPMVZ, 1998. 387 p.

    OLIVEIRA, A. F. G. Vitamina B2(Riboavina) na

    alimentao de no-ruminantes. Revista EletrnicaNutritime, v. 5, n. 6, p. 741-748, 2008.

    REGINA, R. Vitaminas. In: REGINA, R. Nutrio animal,principais ingredientes e manejo de aves e sunos. SoPaulo: Fundao Cargil, 2010. p.154-171.

    RUBIN, M. A. et al. Efeitos de diferentes nveis vitamnicossobre o desempenho de frangos de corte em estao vero.

    Revista Brasileira de Zootecnia,Viosa, v. 19, n. 4, p. 347-353, 1990.

    RUTZ, F. Absoro de vitaminas. In: MACARI, M.et al. Fisiologia aviria aplicada a frangos de corte.Jaboticabal: FUNEP/UNESP, 2002. p.149-165.

    RUTZ, F. et al. Repleo com riboavina em pintosLeghorndepletados neste nutriente. Revista Brasileira deAgrocincia, v. 4, n. 3, p. 197-200, 1998.

    SOUZA, A. L. P. et al. Efeito de diferentes nveis dasvitaminas, tiamina, riboavina e piridoxina sobre odesempenho de frangos de corte. Cincia rural,v. 26, n. 3,

    p. 497-500, 1996.

    SPITZER, V. Vitamins basic, the facts about vitamins innutrition.3. ed. Burger Druck: DSM Nutritional ProductsAG, 2007. 97 p.

    TOLEDO, R. S.; NASCIMENTO, A. H. Vitaminas eminerais. In: SIMPSIO BRASIL SUL DE AVICULTURAE BRASIL SUL FAIR, 11.; 2., 2010, Chapec. Anais...Chapec: Chapec: Ncleo Oeste de Mdicos Veterinriosde Santa Catarina, 2010. p.72-83.