defesadesocrates_para0403

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Filosofia: Razão e Modernidade Marina Falcão – Sala 401 Direito | Praça da Liberdade A DEFESA DE SÓCRATES 01. al é a temática central da obra e como ela se estrutura? A temática da obra é baseada no julgamento e na defesa de Sócrates. Nela, tanto o ponto de vista dos acusadores quanto do acusado são explicitados e é aberta a possibilidade de argumentação, tanto a favor quanto contra a acusação. Sócrates, dessa forma, utilizando do seu direito de defesa, busca estabelecer diálogos com seus acusadores a fim de desconstruir a veracidade das denúncias que lhe eram dirigidas, da mesma maneira como atuava em seus diálogos em praça pública. 02. “Cumpre, Atenienses, me defenda, em primeiro lugar, das primeiras aleivosias contra mim e dos primeiros acusadores; depois, das recentes e dos recentes. Com efeito, muitos acusadores tenho junto de vós, há muitos anos, que nada dizem de verdadeiro. A esses tenho mais medo que aos da roda de Ânito, posto que estes também são terríveis.”(DS, p. 6). Considerando essas palavras de Sócrates, quais foram as principais acusações feitas ao referido filósofo? Sócrates foi acusado de não acreditar inteiramente nos Deuses e de corromper a juventude. 03. Cite pelo menos 4 argumentos usados na defesa de Sócrates. Sócrates alega o desconhecimento de sua voluntariedade perante a ação de corromper os jovens. Em função disso, afronta Meleto dizendo que sua atitude é arbritária, pois estava julgando quem deveria ser instruído; Sócrates estabele um diálogo junto a Meleto e chegam a conclusão que, de maneira geral, o homem não se aproxima daquilo que poderá lhe causar algum mal. Mostrase, portanto, a voluntariedade dos jovens em seguílo, não consistindo uma situação de corrompimento, como defendido pelo acusador. Meleto acusa Sócrates de não acreditar inteiramente nos Deuses, mas alega que o filósofo acredita em coisas demoníacas. Entretanto, para que estas existam, é necessário que os demônios existam. Sendo os demônios também Deuses, tornase ilógico acusar Sócrates de não crer inteiramente nos Deuses. Sócrates expõe a contradição do discurso de Meleto quando o acusador alega que é necessário ter cuidado para não ser enganado pelo filósofo, pois ele é “hábil no falar”. Sócrates intervém a partir da própria concepção vigente de que aqueles considerados hábeis no falar correspondem aos que dizem a verdade. Defendese, ainda, alegando o não uso de floreios em seus diálogos e sim o uso de uma linguagem clara e concisa. 04. “Afinal, Sócrates, qual é a tua ocupação? Donde procedem as calúnias a teu respeito? Naturalmente, se não tivesses uma ocupação muito fora do comum, não haveria esse falatório, a menos que praticasses alguma extravagância. (...)”

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  • Filosofia:RazoeModernidadeMarinaFalcoSala401Direito|PraadaLiberdade

    ADEFESADESCRATES

    01. alatemticacentraldaobraecomoelaseestrutura?

    A temtica da obra baseada no julgamento e na defesa de Scrates. Nela, tanto o ponto de vista dos acusadores quanto do acusado so explicitados e aberta a possibilidade de argumentao, tanto a favor quanto contra a acusao. Scrates, dessa forma, utilizando do seu direito de defesa, busca estabelecer dilogos com seus acusadores a fim de desconstruir a veracidade das denncias que lhe eram dirigidas, da mesma maneira comoatuavaemseusdilogosempraapblica.

    02. Cumpre, Atenienses, me defenda, em primeiro lugar, das primeiras

    aleivosias contra mim e dos primeiros acusadores depois, das recentes e dos recentes. Com efeito, muitos acusadores tenho junto de vs, h muitos anos, que nada dizem de verdadeiro. A esses tenho mais medo que aos da roda de nito, posto que estes tambm so terrveis.(DS, p. 6). Considerando essas palavras de Scrates, quais foram as principais acusaes feitas ao referido filsofo?

    Scrates foi acusado de no acreditar inteiramente nos Deuses e de corromper a juventude.

    03. Citepelomenos4argumentosusadosnadefesadeScrates. Scrates alega o desconhecimento de sua voluntariedade perante a ao de

    corromper os jovens. Em funo disso, afronta Meleto dizendo que sua atitude arbritria,poisestavajulgandoquemdeveriaserinstrudo

    Scrates estabele um dilogo junto a Meleto e chegam a concluso que, de maneira geral, o homem no se aproxima daquilo que poder lhe causar algum mal. Mostrase, portanto, a voluntariedade dos jovens em segulo, no consistindoumasituaodecorrompimento,comodefendidopeloacusador.

    Meleto acusa Scrates de no acreditar inteiramente nos Deuses, mas alega que o filsofo acredita em coisas demonacas. Entretanto, para que estas existam, necessrio que os demnios existam. Sendo os demnios tambm Deuses, tornaseilgicoacusarScratesdenocrerinteiramentenosDeuses.

    Scrates expe a contradio do discurso de Meleto quando o acusador alega que necessrio ter cuidado para no ser enganado pelo filsofo, pois ele hbil no falar. Scrates intervm a partir da prpria concepo vigente de que aqueles considerados hbeis no falar correspondem aos que dizem a verdade. Defendese, ainda, alegando o no uso de floreios em seus dilogos e sim o uso deumalinguagemclaraeconcisa.

    04. Afinal, Scrates, qual a tua ocupao? Donde procedem as calnias a teu respeito? Naturalmente, se no tivesses uma ocupao muito fora do comum, no haveria esse falatrio, a menos que praticasses alguma extravagncia.(...)

  • Atenienses,devoessareputaoexclusivamenteaumacincia.(...)Para testemunhar a minha cincia, se uma cincia, e qual ela, vos trarei o deus de Delfos. Conhecestes Querefonte, decerto. Era meu amigo de infncia e tambm amigo do partido do povo e seu companheiro naquele exlio de que voltou conosco. Sabeis o temperamento de Querefonte, quo tenaz nos seus empreendimentos. Ora, certa vez, indo a Delfos, arriscou essa consulta ao orculo repito senhores no vos amotineis ele perguntou se havia algum mais sbio do que eu respondeu a Ptia que no havianingummaissbio.(DS,p.7)

    Considerando o trecho acima, quais as reflexes o filsofo Scrates levantou a partir da afirmativa do orculo de Delfos? Qual foi a sua atitude? E por fim,qualaconclusodeScratessobreaafirmativadoorculo?

    Scrates de mediato no acreditava na inexistncia de algum que no fosse mais sbio que ele. A partir disso, o filsofo buscou cidados que eram considerados mais sbios a fim de testlos e comprovar para o Oraculo que existia, de fato, homens mais detentores de saber que ele prprio. Entretanto, em meio a suas buscas, Scrates percebeu que a maioria dos homens se diziam sbios ate mesmo sobre fatores que desconheciam, configurando um estado de ignorncia segundo o filsofo. Dessa forma, por possuir a capacidade de reconhecimento de sua prpria incapacidade de saber sobre tudo,ScratescompreendeeaceitaopropostopeloOrculo.

    05. QualfoiadiscussofeitaporScratessobreaspenasdotribunalateniense?Scrates discorre a partir de todas as possibilidades de punio, alm da definida por Meleto, durante seu discurso. Notase, no entanto, a presena da caracterstica ironia socrtica observada em seus discursos em praa pblica: ocorre toda uma desconstruo das possibilidades e o filsofo evidencia que nenhuma pena seria de fato justa, pois, em suaconcepo,eleinocente.

    06. Qualapostura(deScrates)diantedalei?Scrates se mantm fiel ao cumprimento das leis. Ainda que considerasse sua penalidade injusta, o filsofo cumpriu com o que lhe foi designado, e mesmo quando seus discpulos lhe propuseram uma fuga, ele negou. Segundo Scrates, a fuga seria um mecanismo de confirmao de que os acusadores estavam certos, e dessa forma, ele no abandonaria seus princpios ticos por pensarse injustiado, pois isso faria com que o prpriocometesseumainjustia.

    07. Considerando os dois fragmentos abaixo, como podemos definir a justia naperspectivadeScrates?

    A verdade, Atenienses, esta: quando a gente toma uma posio, seja por a considerar a melhor, seja porque tal foi a ordem do comandante, a, na minha opinio, deve permanecer diante dos perigos, sem pesar o risco de morteouqualqueroutro,salvoodadesonra.(DS,p.14)O juiz no toma assento para dispensar o favor da justia, mas para julgar ele no jurou favorecer a quem bem lhe parea, mas julgar segundo as leis. Ns no vos devemos habituar ao perjrio, nem vs deveis contrairessevcioseriaimpiedadenossaevossa.(DS,p.20)

  • Para Scrates a justia corresponde a um fator imparcial, cuja responsabilidade est pautada no cumprimento do previsto em lei. Ou seja, no cabe ao juiz realizar julgamentosdevalor,apenaslhecabeseguirocdigo.

    08. Na sua opinio, qual o significado do julgamento e da condenao de Scratesparaareflexosobreajustianaatualidade?

    A partir do julgamento e condenao de Scrates, mostrase a histrica necessidade que a aristocracia possui de eliminar fatores que o incomodam. Lamentavelmente, esse jogo de poder ainda observado nos dias atuais. Portanto, mostrase necessria uma modificao da atuao do Direito na escala contempornea, na qual a justia no seja efetivaapenasparagruposprivilegiados,esimparatodos.

    09. Cite uma das ideias de Scrates que mais lhe chamou a ateno? Justifique

    suaresposta.Uma das passagens mais impressionantes sobre Scrates consiste na manuteno da sua tica ao longo de seu julgamento e condenao. Mesmo consciente de sua inocncia, acatou as ordens que lhe foram impostas e nem cogitou a possibilidade de burlar o sistema,comofora,inclusive,propostopelosseusdiscpulos.

    10. A partir do texto Filosofia e poltica, de Hannah Arendt, explique a afirmativa: O abismo entre filosofia e poltica abriuse historicamente com ojulgamentoeacondenaodeScrates...(p.91)

    O julgamento de condenao de Scrates configurou em um descontentamento de Plato da vida na plis e dos princpios fundamentais socrticos. A partir da incapacidade de Scrates de persuadir os juzes e a seus prprios amigos, Plato pe em dvida a validade da persuaso do filsofo. Sendo esta a forma poltica de falar (a retrica), evidenciouse que a cidade no precisaria de um filsofo, e sim de um fator objetivo que desprezasse opinies e obtivesse padres absolutos que possibilitariam julgamentosimparciaiseseguros.

    11. Comente a afirmativa: A oposio entre verdade e opinio foi sem dvida a maisantisocrtica concluso que Plato tirou do julgamento de Scrates. In:Filosofiaepoltica,deHannahArendt,p.92.

    A partir do fracasso de Scrates em convencer a cidade, esta mostrouse como um local no seguro para o filsofo. Isso afirmado a partir de duas proposies: primeiramente, por no haver garantia de vida em virtude da verdade que ele possui e, ainda, pelo fato delanoconfigurarumambienteseguropreservaodamemriadofilsofo. A concluso antisocrtica apresentase pela contraposio entre o governo do sbio e do filsofo. Plato alega que o sbio aquele que sequer sabe o que bom para ele, dessa forma, no teria capacidade de saber o que seria bom para a cidade. Alm disso, ele idealiza o governo comandado pelo filsofo, porque apenas ele seria capaz de enxergar a verdade, sem deixarse abalar pelos reflexos da opinio. Nesse contexto, apresentase, ainda, a Alegoria da Caverna, para demonstrar a maior predisposio do filsofo imparcialidade fator considerado por Plato como essencial para a vida poltica. Entretanto, o ideal platnico no era bem visto pela cidade, dito que, segundo a plis, devido ao fato do filsofo no se preocupar com as questes humanas (o que lhe atribui o carter de imparcialidade), ele correria o risco de tornarse intil manuteno dacidade.