defesa multa de transito
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Defesa Multa de transitoTRANSCRIPT
2 – DEFESA PRÉVIA – AUTUAÇÃO POR UTILIZAÇÃO
DE CELULAR
Trata-se de Defesa Prévia contra Autuação por Infração de Transito cometida por
utilização de aparelho celular dirigindo veículo em via pública.
Objetiva a nulidade da infração, primeiro por restar cerceado o direito de defesa
vez que a autuação não descreveu minuciosamente o fato cometido, bem como não
traz informações sobre quem foi o agente autuador, sua qualificação completa o
que impede verificar sua competência para a autuação e por fim ataca o caráter
confiscatório da multa arbitrada, razão que fundamenta o pedido de redução do
valor.
SUMÁRIO DOS ITENS CONTIDOS NO MODELO
1. DOS FATOS
2. DO DIREITO
2.1. PRELIMINARMENTE: NULIDADE DA AUTUAÇÃO
2.2. DA INEXIGIBILIDADE DA MULTA BASEADA EM
MERA PRESUNÇÃO
2.3. DO EFEITO CONFISCATÓRIO DA MULTA
COMINADA
3. DO PEDIDO
ILMO. SR. DIRETOR GERAL DO DETRAN/PR
DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DO ESTADO DO XXXXX
AUTO DE INFRAÇÃO 000XXX-E000000XXX
XXXX XXXX, brasileira, portadora da Carteira de
Identidade/RG nº XX.XXX-X, devidamente inscrita no
CPF/MF sob o nº XXX.XXX.XXX-XX, com endereço na Rua
XXX, nº X, em XXXXX – XX, CEP XX.XXX-XXX, condutora do
veículo marca/modelo Gol, placa XXX-0000, muito
respeitosamente comparece perante Vossa Senhoria para
oferecer
DEFESA PRÉVIA
AO AUTO DE INFRAÇÃO 000XXX-E000000XXX, LAVRADO
EM 15/01/20XX, pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas:
1. DOS FATOS
No dia 15 de janeiro de 20XX, XXXX XXXX, doravante
chamada impugnante, que nunca cometeu nenhum tipo de
infração de trânsito de natureza grave desde que sua
habilitação foi expedida, dirigiu veículo de propriedade de
XXX XXX pela Avenida XXX, na cidade de XXXXX, sem ter
havido problema algum no seu deslocamento.
Contudo, no mesmo mês do corrente ano, a impugnante foi
surpreendida ao receber, através do Correio, uma
Notificação de Autuação por Infração de Trânsito, na qual
tenta-se cobrar uma multa no valor de R$ 85,13 (oitenta e
cinco reais e treze centavos), bem como cominar a perda
de 04 (quatro) pontos na carteira de motorista.
Tal multa fundamenta-se numa suposta infração que a
impugnante teria praticado na avenida acima referida, que
seria a seguinte: “dirigir o veículo utilizando-se de fones,
telefone celular.”
Por tal motivo, foi lavrado o auto de infração ora
impugnado, embasado no art. 252, inciso VI, da Lei 9.503
de 23 de setembro de 1997, que instituiu o novo Código de
Trânsito Brasileiro.
A infração prevista pelo artigo supracitado é de natureza
média, tendo prevista como sanção, conforme já
mencionado, a perda de 04 (quatro) pontos na Carteira de
Habilitação e o pagamento de multa no valor de R$ 85,13
(oitenta e cinco reais e treze centavos).
Entretanto, no presente caso, a sanção prevista acima não
possui fundamento para que possa ser exigida, conforme
doravante demonstrar-se-á.
2. DO DIREITO
2.1. PRELIMINARMENTE: NULIDADE DA AUTUAÇÃO
A ilustrada Autoridade omitiu a fundamentação legal em
que baseou a imposição, bem como omitiu a descrição da
infração supostamente cometida, resultando totalmente
nula tal exigência, não passando de um juízo temerário
caracterizador de cerceamento de defesa, impeditiva do
direito de discutir a legalidade da autuação.
Limitou-se tão somente a citar o artigo 252, inciso VI do
Código de Trânsito Brasileiro, sem motivar a autuação ora
impugnada.
Como efeito, configurou se frontal violação do art. 280,
inciso V, da Lei 9.503/97, que regula o Processo
Administrativo, "in verbis":
"Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação
de trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual
constará:
(...)
V - identificação do órgão ou entidade e da
autoridade ou agente autuador ou equipamento que
comprovar a infração"
(...)
§ 2º A infração deverá ser comprovada por declaração
da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito,
por aparelho eletrônico ou por equipamento
audiovisual, reações químicas ou qualquer outro
meio tecnologicamente disponível, previamente
regulamentado pelo CONTRAN.”(grifamos)
Ora, a desobediência aos preceitos acima transcritos é
patente. Com efeito, a impugnante sequer tem
conhecimento de como foi autuado. Em nenhum momento
foi abordado por Autoridade Policial Competente, Agente
de Trânsito, Fiscal, etc... O que ocorreu, sim, foi o infeliz
recebimento de descabida autuação por parte de um
carteiro, o qual, despiciendo inclusive mencionar, não tem
competência para autuar ninguém!
Se a "autuação" foi realizada por um policial militar,
deveria constar na Notificação a completa identificação do
agente autuador, como nome, patente, número da Carteira
Profissional, propiciando, desta maneira, o exercício do
constitucional direito da ampla defesa e do contraditório.
Ademais, o parágrafo 2º do artigo 280 é expresso ao
estabelecer que “a infração deverá ser comprovada por
declaração da autoridade ou do agente da autoridade
de trânsito, por aparelho eletrônico ou por
equipamento audiovisual, reações químicas ou
qualquer outro meio tecnologicamente disponível,
previamente regulamentado pelo CONTRAN.”
Tendo sido lavrado o auto por um policial militar, conforme
disposto na Notificação de Autuação, não se verifica no
corpo da mesma qualquer espécie de declaração oriunda
da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito,
conforme requer o dispositivo legal acima transcrito.
Também não existe a fotografia (prova obtida por meio de
equipamento audiovisual) da suposta infração.
Assim, o ato administrativo que exarou o auto de infração é
manifestamente ilegal, não alcançando a presunção de
validade que lhe é característica, eis que omitiu requisitos
materiais intrínsecos que o maculam de nulidade.
Apreciando a espécie, SEABRA FAGUNDES assim se
manifestou:
“O ato administrativo inclui cinco elementos básicos:
competência, motivo, objetivo, finalidade e forma. Ao
praticar ato administrativo vinculado está a
autoridade vinculada à lei em relação a todos os
elementos do ato. A autoridade administrativa, no
entanto, quando pratica ato discricionário escolhe o
motivo e o objeto do ato administrativo. Este
referente ao conteúdo do ato e aquele relativo a
razões de oportunidade e conveniência,
caracterizando assim o chamado mérito
administrativo. ("in" O Controle dos Atos
Administrativos pelo Poder Judiciário, 2ª ed., J.
Konfino, Rio, 1950, página 88 e segs.).
E, como salienta HELY LOPES MEIRELLES:
"Em se tratando de motivo vinculado pela lei, o
agente da Administração, ao praticar o ato, fica na
obrigação de justificar a existência do motivo sem o
que o ato será invalidado ou, pelo menos, invalidável,
por ausência de motivação."("in" Direito
Administrativo Brasileiro, 2ª ed., Rev. dos Tribunais,
pág. 159).
Com efeito, restou violado o inciso LV, do art. 5º, uma vez
que tal dispositivo legal assegura aos litigantes em
processo administrativo, o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes; vejamos:
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E
COLETIVOS
"ART. 5.º Todos são iguais perante a Lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo se aos
cidadãos brasileiros e estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes."
Tal princípio, deve estar presente no Processo
Administrativo porque o contraditório está ínsito na
própria administração de justiça, igualando as partes,
mesmo dentro do contencioso administrativo, e
consubstancia se que ambas as partes devem tomar ciência
do que é feito ou do que se pretende fazer no processo e
ter sempre a possibilidade de contrariar.
Vê se, pois, que a obrigação que se busca constituir junto à
impugnante não merece prosperar, porque a exigência em
tela é nula de pleno direito.
Com efeito, se compete privativamente à autoridade
administrativa proceder à fiscalização e autuação, não
menos verdade é que o ato deve ser caracterizado pela
obediência estrita e estreita a todos os dispositivos que
regem a espécie.
Assim, no ato praticado pela autoridade competente
deveriam constar, detalhadamente, todos os fundamentos
que o motivaram, ou seja, a fundamentação precisa da
imposição ora impugnada.
Pois bem, se a increpação é falha ou omissa, tal
comportamento da autoridade administrativa, influenciará
certamente na qualidade da defesa apresentada pelo
administrado.
Por conseguinte, havendo uma defesa parcial, o julgador
do processo, seja no âmbito administrativo, seja no judicial,
não disporá de elementos suficientes para julgar com
eqüidade o feito que lhe é submetido.
Segue se que a tutela jurisdicional será incompleta,
tendendo ser até parcial, inclinando se, por falta de
maiores informações, em favor da administração, em
detrimento do contribuinte.
É direito do administrado que a exigência esteja de tal
modo composta que lhe propicie contestá-la, ponto por
ponto, item por item. Na ausência de uma discriminação e
uma circunstanciação dos dispositivos infringidos, não há
uma delimitação do campo de luta. O administrado é
impedido de exercer sua defesa de forma ampla e
irrestrita.
Há no caso uma negativa, que afronta a Carta Magna, ao
"due process of law", direito inalienável do administrado.
Condição "sine qua non" a um justo julgamento, que
torna o processo inquisitório.
Pelo até aqui exposto, a impugnante espera sejam
acolhidos os argumentos de absoluta nulidade,
proclamando se a desconstituição e cancelamento do auto
de infração lavrado, tendo em vista o comprometimento do
contraditório, violando o proverbial principio: "actor probt
actionem, reus exceptionem", passando a apresentar as
razões de fato e de direito quanto ao mérito da exação,
para a hipótese em que, "ad argumentandum", sejam
rejeitadas as considerações vestibulares.
2.2. DA INEXIGIBILIDADE DA MULTA BASEADA EM
MERA PRESUNÇÃO
Conforme já mencionado, o artigo 280 da Lei nº 9.503/97,
no seu parágrafo 2º, estabelece que “a infração deverá
ser comprovada por declaração da autoridade ou do
agente da autoridade de trânsito, por aparelho
eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações
químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente
disponível, previamente regulamentado pelo
CONTRAN.”
Com base em tal dispositivo legal, verifica-se que a
exigência impugnada baseia-se em mera presunção de que
a infração tenha sido praticada. Isso porque não se sabe
quem foi o policial militar responsável pela autuação. Não
há prova obtida por equipamento audiovisual (fotografia)
de que a infração tenha sido cometida. Não há declaração
motivada do agente que fundamente a exigência indevida.
Enfim, falta a correta configuração do auto de infração
que, da forma como se encontra na Notificação de
Autuação, não passa de mera presunção de que o ilícito
tenha sido praticado.
É óbvio que uma mera presunção não pode embasar uma
exigência feita por um ente público a um particular.
Fazendo um paralelo com o Direito Administrativo
Tributário, no qual também se configura a relação jurídica
“ente público versus particular”, denominado de
contribuinte nesse caso, verifica-se que o direito deste ter
contra si o auto de infração configurado na forma da lei
possui respaldo nos Tribunais Brasileiros. Nesse sentido,
vejamos como se posicionou o extinto TFR no julgamento
do Recurso de Apelação no Mandado de Segurança nº
85.450, com base em trecho do voto do Min. Rel. Geraldo
Sobral:
"(...) como se vê do procedimento administrativo, os
lançamentos, para anulação do débito, baseiam-se em
mera presunção, contrariando a lei, a doutrina e a
jurisprudência que tem diversa orientação:
(...)
Mera presunção não baseada em documentos
idôneos ou fatos discutíveis, constantes do processo,
não podem servir de base em lançamento de
imposto".
(AC nº 9.123, 2a. C – 1º CC. DOU-IV- de 11.04.72)
Ademais, também pode ser feito um paralelo com o Direito
Penal, da mesma forma pertencente ao Direito Público, no
qual está consagrado o princípio do in dubio pro reo, ou
seja, de que em caso de dúvidas quanto à prática do ato
caracterizado como ilegal o julgamento deve ser favorável
ao réu.
Assim sendo, recordemos: 1) Sabe-se quem foi o policial
militar responsável pela autuação? Não. 2) Há prova obtida
por equipamento audiovisual (fotografia) de que a infração
tenha sido cometida?? Não. 3) Há declaração motivada do
agente que fundamente a exigência imposta à
Impugnante??? Não.
Como verificamos, várias dúvidas ainda existem em relação
à suposta infração cometida pela impugnante. Nesse caso,
não se pode compactuar com as flagrantes arbitrariedades
existentes no auto de infração ora impugnado, o que
caracterizam sua inconsistência.
Nesse sentido, vejamos o que dispõe o artigo 281, I, do
Código Brasileiro de Trânsito:
“Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da
competência estabelecida neste Código e dentro de
sua circunscrição, julgará a consistência do auto de
infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e
seu registro julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou
irregular;”(grifamos)
Assim sendo, ante a total insubsistência do auto de
infração ora impugnado, requer-se o arquivamento do
mesmo.
2.3. DO EFEITO CONFISCATÓRIO DA MULTA
COMINADA
No Auto de Infração a zelosa fiscalização cominou
ilegalmente a multa de R$ 85,13 (oitenta e cinco reais e
treze centavos) em razão da suposta infração do condutor
do veículo.
A sanção pecuniária, assim como qualquer sanção jurídica,
tem por escopo desestimular o possível infrator do
descumprimento da correta conduta a que estiver sujeito,
estimulando se assim o "andar" correto, em total sintonia
com a legislação vigente.
Tem pois, a sanção pecuniária, essa finalidade, mas só
essa. A multa não pode ser utilizada com intuito
arrecadatório, valendo se como tributo disfarçado.
Conforme o entendimento do Egrégio Supremo Tribunal
Federal, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
5511/600, "in verbis", considera se multa confiscatória
aquela que cause ao contribuinte risco de dano, de difícil
reparação:
"Ação Direta de Inconstitucionalidade. Parágrafos 2º
e 3º, do Art. 57, do ADCT do Estado do Rio de Janeiro,
que dispõem sobre a multa punitiva nas hipótese de
mora e sonegação fiscal. Plausibilidade da irrogada
inconstitucionalidade, face não apenas à
impropriedade formal da via utilizada, mas também
ao evidente caráter confiscatório das penalidades
instituídas. Concorrente risco de dano, de difícil
reparação, para o contribuinte. Cautelar deferida."
No Recurso Extraordinário nº 81.550/MG, o Egrégio
Supremo Tribunal Federal considerou a multa moratória
imposta ao contribuinte de feição confiscatória,
determinando a sua redução a nível compatível, "in verbis":
"1. ICM. Cooperativa de consumo. Incidência do
tributo desde o advento do Dec. Lei 406/68,
consoante orientação ultimamente firmada no
Supremo Tribunal. 2. Multa moratória de feição
confiscatória. Redução a nível compatível com a
utilização do instrumento da correção monetária. 3.
Recurso Extraordinário conhecido e provido, em
parte."
Mesmo que assim não se entenda, a multa imposta à
ordem de R$ 85,13 (oitenta e cinco reais e treze centavos),
ainda que prevista em legislação específica, tal como no
presente caso, assume o caráter nitidamente confiscatório,
conclusão que se chega pela análise da Jurisprudência e
Doutrina, desrespeitando o Princípio do Não Confisco,
previsto na Constituição Federal.
3. DO PEDIDO
DIANTE DO EXPOSTO, requer a impugnante seja
conhecida a preliminar argüida, declarando-se
necessariamente a nulidade do Auto de Infração
impugnado, pela ausência dos requisitos necessários à sua
lavratura, o que implica em cerceamento de defesa.
Acaso seja ultrapassada a preliminar argüida, o que se
admite apenas em atenção ao princípio da eventualidade,
no mérito requer a impugnante o arquivamento do auto de
infração impugnado ante a sua total insubsistência,
reconhecendo-se a procedência das razões colacionadas ao
longo da presente peça impugnativa, anulando-se a multa
de R$ 85,13 (oitenta e cinco reais e treze centavos) e a
perda de 04 (quatro) pontos na Carteira de Habilitação.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Curitiba, 01 de fevereiro de 20XX
XXXX XXXX
RG nº XX.XXX-X