Defesa de Criação

Conceito Criativo

A conscientização de que a diversidade nos caracteriza como sociedade e como indivíduos, instiga a procura de formas de reconhecê-la de modo a fazer com que ela (e a pluralidade que a acompanha) possa configurar um fator de enriquecimento e de desestabilização das relações opressoras de poder. A diversidade volta-se para a abertura em relação ao novo, o reconhecimento da legitimidade da diferença. É isso que move o Museu da Diversidade Sexual, é isso que moveu a criação dessa campanha.

E foi no léxico das formas geométricas e do tangram que a solução criativa foi encontrada. Um universo que ao primeiro momento parece exclusivamente habitado pelo padrão. Mas que quando é observado com mais profundidade, evidência que formas geométricas são singulares, são diferentes. Elas coexistem. E o melhor de tudo, há composição, harmonia e beleza nessa diferença.

Um quadrado é uma forma completamente distinta de um triângulo. Mas, um quadrado também é o resultado composto pela soma de dois triângulos. A campanha “ o plural de cada um” é antes de tudo um convite para que se traduza a pluralidade das formas, na puridade dos indivíduos e de suas perspectivas.

Em um dos textos clássicos do design gráfico, F.T. Marinetti diz que “[...] o lirismo é a capacidade de colorir o mundo com as cores únicas de nossas personalidades mutantes”. (1913, p. 6).

Desse lirismo citado pelo artista futurista que o conceito criativo adotado para a campanha do Museu da Diversidade Sexual nasceu. Um conceito que busca lançar olhares plurais, coloridos e mutantes para o cotidiano do gênero e da sexualidade. Pois para o Museu da Diversidade Sexual, somos únicos, mas somos vários. E isso é fantástico.

Direção de Arte

Em uma sociedade, como a brasileira, constituída e estruturada pela diversidade, e em que as diferenças são, com frequência, produzidas e percebidas no curso de relações assimétricas, a promoção da cultura do reconhecimento da diversidade representa um compromisso com a humanização.

Esse conceito do diverso e do plural foi traduzido visualmente através de construções semânticas compostas por formas geométricas e pela referência plástica do tangram.

Na elaboração das peças foi utilizado um conjunto de pictogramas que expressam a diversidade através da substituição do formato tradicional da cabeça por diferentes formas geométricas. A análise semiótica pressupõe a compreensão do significado dessa sobreposição. Utilizando recursos como a metonímia e a sinédoque substitui-se um signo por outro, com os referentes de ambos em uma relação autêntica.

A referência para essa composição veio do artista gráfico alemão Otl Aicher, especificamente, do seu conceituado trabalho produzido para as Olimpíadas de Munique, em 1972, que englobou um sistema de pictogramas universalmente reconhecíveis. Onde a criação gráfica consistia em trocar as posições físicas tradicionais dos pictogramas por uma simplificada estrutura modular de três elementos: cabeça, tronco, braços e pernas, todos definidos em várias posições de movimento do atletismo.

Outra referência visual presente na criação das peças sintetiza a composição através da diversidade das formas e trouxe unidade para o conceito criativo da campanha. Constituído por sete peças no formato de figuras geométricas (5 triângulos, 1 quadrado e 1 paralelogramo) com tamanhos diferentes, o tangram surgiu na antiga Arte Oriental Chinesa e tem como objetivo básico a construção de uma determinada figura, que pode ser qualquer coisa, usando somente a combinação das diferentes formas geométricas.

A escolha da cartela de cores adotada levou em consideração a temática da campanha. Tem inspiração no maior símbolo da diversidade sexual, a bandeira LGBT, desenhada pelo artista Giblert Baker, em 1977. A bandeira é formada por listas horizontais de seis cores diferentes (roxo, laranja, amarelo, verde, azul e vermelho) e representa a diversidade sexual humana. Também foram adicionadas duas cores extras retiradas da bandeira Quoi, que representa pessoas que não possuem definições de orientação e gênero, e da bandeira Lésbica.

Com relação à tipografia, foi eleita para os títulos a fonte Century Gothic, uma fonte popular, classificada como sem-serifa geométrica. E para o texto a opção foi a fonte Corbel Regular, conhecida por facilitar a leitura.

Redação

A diversidade desmistifica lugares comuns, estereótipos e preconceitos. Ela nos faz avançar criticamente, olhar com profundidade e conhecer novas versões do mundo e de nós mesmos. Pensando nisso, que foi elaborada a assinatura da campanha “O plural de cada um”. Frase que em essência é um jogo semântico, o plural de um só, de uma verdade absoluta, de um único ponto de vista. Uma analogia visual/verbal em que o referente expresso no texto tem o sentido semelhante às representações visuais das peças, de forma que complemente e reforce o conceito.

O texto default (padrão) reforça a assinatura promovendo o respeito à diversidade e informa sobre o museu e suas atividades. “Somos todos iguais, independente do que fazemos, expressamos e, principalmente, do que amamos. O Museu da Diversidade é o único na América Latina voltado para a cultura, memória e estudos da diversidade sexual e de gênero com exposições, palestras e projetos especiais. Não importa quem você é, o Museu da Diversidade é sobre você. ”

As propostas dos títulos vão de encontro com os objetivos criativos da campanha, “Não importa quem você é, o Museu da Diversidade é sobre você” promove a inclusão e o sentimento de pertencimento nas peças. Um local onde as pessoas são aceitas e respeitadas. “ Existe uma forma. E todas as outras” amadurece a proposta da existência do múltiplo e do diverso e estabelece um paralelismo verbal/visual com a imagem da peça. A afirmação verbal é descrita pela ilustração de uma única forma, seguida por várias outras formas distintas.

Referências Bibliograficas

Fundamentos Gráficos Para um Design Consciente – Raquel Matshshita ,2011

Propaganda & Linguagem – Elizabeth Moraes Gonçalves 2006

Design e Comunicação - Heartz Wendel de Camarg, Janiclei Mendonça 2004

Textos Classicos do Design Gráfico - Michael Bierut, jessica Helfano, Steven heller e Rick Poynorn, 2010

O que é semiótica - Lucia Santaella, coleção 103

http://www.unfpa.org.br/Arquivos/guia_diversidades.pdf