defensivos agrÍcolas e seus impactos

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS SOBRE O MEIO AMBIENTE DANIELE COSTACURTA GASPARIN CURITIBA JUNHO / 2005 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia Curso de Engenharia Ambiental

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Page 1: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

SOBRE O MEIO AMBIENTE

DANIELE COSTACURTA GASPARIN

CURITIBA

JUNHO / 2005

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia Curso de Engenharia Ambiental

Page 2: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

SOBRE O MEIO AMBIENTE

DANIELE COSTACURTA GASPARIN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sob orientação do Prof. MSc. Nicolau Leopoldo Obladen.

CURITIBA

JUNHO, 2005

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia

Curso de Engenharia Ambiental

Page 3: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

ii

SUMÁRIO

SUMÁRIO ...................................................................................................... ii

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................... v

LISTA DE TABELAS .................................................................................... vi

LISTA DE QUADROS ................................................................................... vii

LISTA DE SIGLAS ........................................................................................ viii

AGRADECIMENTOS .................................................................................... xii

RESUMO ....................................................................................................... xiii

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1

2 OBJETIVOS .............................................................................................. 3

2.1 Objetivo geral ................................................................................... 3

2.2 Objetivos específicos ...................................................................... 3

3 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 4

3.1 Histórico ............................................................................................ 4

3.1.1 Histórico no Brasil ........................................................................... 6

3.2 Conceitos e definições ..................................................................... 9

3.3 Normas e legislação ......................................................................... 11

3.3.1 Constituição Federal ....................................................................... 11

3.3.2 Lei Federal ...................................................................................... 12

3.3.3 Lei Estadual .................................................................................... 13

3.3.4 ABNT Norma 10004 ....................................................................... 15

3.4 Usos e aplicações ............................................................................. 18

3.4.1 Usos ...............................................................................................

3.4.2 Aplicações ......................................................................................

18

22

3.4.2.1 Formulação ............................................................................. 22

3.4.2.2 Formas de aplicação ............................................................... 25

3.4.2.2.1 Aplicação via sólida .............................................................. 25

3.4.2.2.2 Aplicação via líquida ............................................................. 27

3.4.2.3 Equipamentos e técnicas de aplicação ................................... 27

3.5 Embalagens vazias ........................................................................... 30

3.5.1 Programa Terra Limpa ................................................................... 30

Page 4: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

iii

3.5.2 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias ....... 32

3.5.3 Responsabilidades ......................................................................... 33

3.5.3.1 Fluxo do sistema ..................................................................... 34

3.5.4 Características das embalagens .................................................... 38

3.5.4.1 Tipos de embalagens .............................................................. 38

3.5.4.2 Evolução das embalagens ...................................................... 39

3.5.5 Tríplice lavagem e lavagem sob pressão ....................................... 40

3.5.5.1 Importância ............................................................................. 40

3.5.5.2 Procedimentos ........................................................................ 41

3.5.5.2.1 Tríplice lavagem .................................................................... 41

3.5.5.2.2 Lavagem sob pressão .......................................................... 42

3.5.6 Procedimentos para as embalagens não laváveis ......................... 43

3.5.7 Formas de destinação final ............................................................ 43

3.5.7.1 Incineração ............................................................................. 43

3.5.7.2 Reciclagem controlada ........................................................... 44

3.5.8 Sobras de produtos vencidos ......................................................... 44

3.5.9 Fiscalização e licenciamento ..........................................................

3.6 Descrição da ASSIPAR .....................................................................

45

46

3.6.1 Localização ..................................................................................... 46

3.6.2 A unidade central ............................................................................ 47

3.6.3 Recolhimento das embalagens vazias ........................................... 49

3.6.4 Transporte ...................................................................................... 53

3.6.5 Destinação final .............................................................................. 53

3.6.6 Projeto futuro .................................................................................. 54

3.7 Impactos dos defensivos agrícolas ................................................ 55

3.7.1 Toxicidade ...................................................................................... 55

3.7.2 Impacto ecológico no ambiente ...................................................... 58

3.7.2.1 Impactos no ar ........................................................................ 59

3.7.2.2 Impactos no solo ..................................................................... 59

3.7.2.3 Impactos na água ................................................................... 62

3.7.2.4 Efeitos sobre outras espécies ................................................. 64

3.7.2.5 Aumento do número de pragas resistentes ............................ 65

Page 5: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

iv

3.7.3 Impacto no homem ......................................................................... 66

3.7.3.1 Tipos de agressões à saúde ................................................... 70

3.7.4 Impacto nos alimentos ................................................................... 72

4 MATERIAIS E MÉTODO ........................................................................... 75

5 RESULTADOS ......................................................................................... 77

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 79

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................... 83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 85

ANEXOS ....................................................................................................... 93

Page 6: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

v

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Classificação dos Resíduos Sólidos Segundo ABNT NBR 10004 17

Figura 2. Técnica de Pulverização por meio de Aviões ................................ 30

Figura 3. Técnica de Pulverização Manual ................................................... 30

Figura 4. Síntese do Processo de Destinação Final no Brasil ...................... 37

Figura 5. Procedimentos para Efetuar a Tríplice Lavagem ........................... 42

Figura 6. Procedimentos para Efetuar a Lavagem Sob Pressão .................. 42

Figura 7. Localização da Unidade Central de Recebimento de Embalagens

Vazias de Agrotóxicos da ASSIPAR .............................................................. 46

Figura 8. Vista do Barracão da ASSIPAR ..................................................... 48

Figura 9. Vista do Depósito dos Big-bags ..................................................... 48

Figura 10. Vista dos Big-bags Estocados com Material Contaminado (Não

Tríplice Lavados) ............................................................................................ 50

Figura 11. Vista dos Fardos Prensados de PEAD e COEX ......................... 50

Figura 12. Vista dos Fardos de Metal ............................................................ 51

Figura 13. Vista da Prensa Compactadora e a Constituição dos Fardos ...... 51

Figura 14. Vista dos Fardos de Papelão ....................................................... 52

Figura 15. Vista das Tampas Separadas das Embalagens Flexíveis ........... 52

Figura 16. Produtos Transformados a partir da Reciclagem das

Embalagens Vazias de Agrotóxicos ............................................................... 53

Figura 17. Vista Externa dos Fundos do Barracão em Períodos de Super

Lotação ........................................................................................................... 54

Figura 18. Vista Externa Lateral do Barracão em Períodos de Super

Lotação ........................................................................................................... 55

Figura 19. Movimento dos Agrotóxicos em Ecossistemas Aquáticos ........... 62

Figura 20. Dados Levantados Referente aos Defensivos Agrícolas ............. 78

Figura 21. Percentual de Distribuição das Áreas em Agricultura Orgânica

no Mundo, Segundo os Diferentes Continentes ............................................. 81

Figura 22. Prática da Agricultura Orgânica na Cultura da Uva no Município

de Colombo/PR .............................................................................................. 82

Page 7: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

vi

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Evolução da Produção Brasileira de Agrotóxicos (1964-1980)...... 8

Tabela 2. Consumo de Defensivos Agrícolas no Brasil em 1984 (toneladas)

por Região ...................................................................................................... 8

Tabela 3. Recolhimento de Embalagens Vazias por Estado (Kg) em Abril

de 2005 ........................................................................................................... 33

Tabela 4. Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos Segundo DL50 ........... 56

Tabela 5. Toxicidade de Alguns Compostos Organoclorados Utilizados

como Defensivos Químicos (Aguda Oral) ...................................................... 57

Tabela 6. Persistência de Alguns Pesticidas no Solo .................................... 61

Tabela 7. Estimativa de Risco de Câncer pela Ingestão de Alimentos

Contaminados com Residual de Pesticidas ................................................... 74

Page 8: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

vii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Tipos de Bicos e Suas Aplicações ............................................ 28

Quadro 2. Tipo de Embalagem Rígida quanto à Matéria Prima ................ 38

Quadro 3. Tipo da Embalagem Flexível quanto à Matéria Prima ............... 38

Quadro 4. Classe Toxicológica e Cor da Faixa no Rótulo de Produto

Agrotóxico ................................................................................................... 56

Quadro 5. Efeitos da Exposição Prolongada a Múltiplos Agrotóxicos ........ 67

Quadro 6. Sintomas de Intoxicações .......................................................... 71

Page 9: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

viii

LISTA DE SIGLAS

ABAG Associação Brasileira de Agribusiness

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AENDA Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas

ANDAV Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e

Veterinários

ANDEF Associação Nacional de Defesa Vegetal

ASSIPAR Associação dos Revendedores de Insumos Agropecuários da Região

Metropolitana de Curitiba

BHC Benzeno hexaclorado

CDA Controlled Drop Application

CE Concentrado Emulsionável

CEPI Centro de Epidemiologia

CF/88 Constituição Federal de 1988

CL Concentração Letal

CNA Confederação Nacional da Agricultura

COEX Polietileno Co-extrudado Multicamada

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CP Comprimido

CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

DCA Direct Contact Application

DCBP Diclorobromopropano

DCDD Hexaclorodibenzodioxina

DDT Diclorodifeniltricloretano

DL Dose Letal

DNOC Dinitro-ortocresol

EMATER Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

EPA U.S. Environmental Protection Agency

ETU Etileno-Etiluréia

FP Fibras Plásticas

GCPF Federação Global de Proteção de Plantas

Page 10: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

ix

Gr Grânulo

GRDA Grânulos Dispersíveis em Água

ha/h Hectare por hora

IAP Instituto Ambiental do Paraná

IFOAM Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica

IUPAC Internation Union of Pure and Applied Chemistry

inpEV Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

Kg Quilos

mm Milímetros

MS Ministério da Saúde

NBR Norma Brasileira

ºC Graus Celsius

OCB Organização das Cooperativas Brasileiras

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

P Pó Seco

PA Pastilha

PEAD Polietileno de Alta Densidade

PEBD Polietileno de Baixa Densidade

PET Polietileno Tereftalato

PM Pó Molhável

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNDA Programa Nacional de Defensivos Agrícolas

ppm Partes por milhão

PR Paraná

PS Pó Solúvel

PT Pasta

PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná

RJ Rio de Janeiro

RMC Região Metropolitana de Curitiba

S/A Sociedade Anônima

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná

SAqC Solução Aquosa Concentrada

Page 11: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

x

SC Suspensão Concentrada

SC Suspensão Concentrada

SEAB Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

SEDU Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SESA Secretaria de Estado da Saúde do Paraná

SINDAG Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola

SNCR Sistema Nacional de Crédito Rural

SP São Paulo

SUDERHSA Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e

Saneamento Ambiental

SUREHMA Superintendência dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente

TB Tablete

UVB Ultra Baixo Volume

Page 12: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

xi

"Nós permitimos que esses produtos químicos fossem

utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia

sobre seu efeito no solo, na água, animais

selvagens e sobre o próprio homem".

(Primavera Silenciosa - Silent Spring

Rachel Carson)

Page 13: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

xii

AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidão a todos que contribuíram das mais diversas maneiras

para a realização deste trabalho:

A Deus, pelo qual recebi o dom da vida e que deu-me forças diante às

dificuldades;

Aos meus pais, Vera e Dirceu, pela compreensão, ensinamentos, apoio,

paciência e amor, por dedicarem a sua vida pela minha formação, e por sempre me

darem o apoio de que precisei, acreditando fielmente em meus sonhos;

Ao meu mestre, professor e orientador, Nicolau Leopoldo Obladen, por todo o

ensinamento transmitido, dedicação, orientação e incentivo em todo o

desenvolvimento deste trabalho;

À professora Renata de Paula Xavier Moro, pela imensa colaboração na

busca e empréstimo de referenciais teóricos;

A todos os professores de graduação do curso de engenharia ambiental da

PUCPR, pela contribuição à formação científica e pessoal;

A ASSIPAR, em especial, a Joceli Deki, pelas informações cedidas e pela

disposição em contribuir para a elaboração deste trabalho;

Ao Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, pelos dados

fornecidos;

A todos os meus colegas de turma, pela amizade e companheirismo durante

todos esses anos;

E, a todos que me ajudaram, direta ou indiretamente, na concretização deste

trabalho.

A todos o meu muito obrigado!

Page 14: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

xiii

RESUMO

Os produtos fitossanitários são insumos modernos de alta tecnologia que o homem deve usar para proteger a sua lavoura quando qualquer agente nocivo venha a atacar e provocar um dano econômico à sua produção. Este trabalho tem a importância de conceituar, por meio de diferentes percepções, os defensivos agrícolas, bem como caracterizar seus usos e aplicações. Caracterizar os possíveis impactos ambientais sobre o ar, solo e água, os impactos sobre os alimentos e os danos à saúde do trabalhador rural ao consumidor final, discorrer sobre as repercussões do incorreto manejo e destinação final das embalagens vazias e propor alternativas para a minimização e/ou erradicação dos defensivos agrícolas, por meio da prática do desenvolvimento agrícola sustentável. A pesquisa teve início com a fundamentação teórica por meio da revisão bibliográfica e posterior realização de entrevista e visita técnica a Central de Recebimento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos situada em Colombo-PR. Embora o uso dos agroquímicos seja bastante prejudicial ao meio em que se insere, tais insumos são necessários para que a agricultura possa assegurar uma maior produção e qualidade dos alimentos. Diante de tal fato concluí-se que a prática de técnicas sustentáveis nos sistemas agrícolas são necessários, e uma alternativa bastante recomendável para a produção de pequena e média escala é a adoção da prática da agricultura orgânica, otimizando o uso agrícola da terra com a conservação do meio ambiente.

Page 15: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

1

1. INTRODUÇÃO

A busca da produção de mais e mais alimentos fez a nossa agricultura

desbravadora. Florestas naturais foram derrubadas para ceder lugar à produção de

alimentos sem nenhuma orientação técnica conservacionista, explorando

desordenadamente os espaços agricultáveis, solo e recursos hídricos. Isso provocou

um enorme desequilíbrio entre flora e fauna e, com o decorrer do tempo, surgiram as

conseqüências: baixa fertilidade do solo e agentes nocivos à planta cultivada.

Recursos técnicos e científicos passaram, então, a ser aplicados em busca da

melhoria da produção dos cultivos, principalmente mediante o uso de fertilizantes e

pesticidas. Com isso passaram a produzir grandes quantidades e ao mesmo tempo

evitavam as perdas agrícolas (NISHIMURA, 1995, p. 07).

Nas últimas décadas, a agricultura tem feito um grande esforço para

aumentar, a cada ano, a produção de alimentos para o mercado interno e externo.

Porém, por falta de informação ou pelo interesse capitalista e sem pensar em

conseqüências para o meio ambiente, a produção agrícola contribui de forma efetiva

para a contaminação do ar, solo, água e alimentos.

Um grande problema com relação ao agrotóxico é que nem sempre o

produtor rural sabe usar a quantidade recomendada. Este fato explica o número

crescente de doenças causadas por intoxicações por agrotóxicos no país.

“Pesquisas realizadas revelam que o produtor não está preparado para o uso correto de agrotóxicos, a maioria ignora os efeitos nocivos dos produtos, ao próprio agricultor e ao meio ambiente, não usa equipamentos de proteção e desrespeita o prazo de carência para a venda da produção agrícola ao consumidor final, transformando em vítimas desta situação o agricultor e todo consumidor final do produto” (MACÊDO, 2002, p. 191). O grande desafio do produtor rural atualmente está em aumentar a sua

produtividade, acrescendo ofertas dos produtos agrícolas de modo sustentado,

progressivo, garantindo ao mesmo tempo a manutenção dos recursos de produção e

evitando a sua degradação. Para atingir esse objetivo, o agricultor deve procurar

empregar nas lavouras tecnologias de controle de insetos, doenças e ervas

daninhas, mas sem que para isso tenha que colocar em risco a saúde do

trabalhador e a do meio ambiente que está a sua volta.

Page 16: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

2

Segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

(inpEV, 2005a, [ _ ]) nesse novo cenário nacional a maior preocupação está

relacionada com o uso correto e racional dos defensivos agrícolas incluindo a

destinação final das embalagens vazias. O uso indevido e errôneo dos produtos

fitossanitários é fator agravante no processo da sustentabilidade agrícola, devido ao

seu alto custo, alto poder contaminante de ambientes e de envenenamento crônico

e/ou agudo de pessoas e animais.

Este trabalho pretende discorrer sobre os impactos ambientais gerados pelos

defensivos agrícolas, bem como recomendar diretrizes para uma produção agrícola

sustentável, por meio da conscientização do produtor rural, da adoção de sistemas

conservacionistas, do desenvolvimento da agricultura orgânica e descarte adequado

das embalagens vazias.

Page 17: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

3

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo geral conceituar, por meio de

diferentes percepções, os defensivos agrícolas, bem como caracterizar seus usos e

aplicações.

2.2 Objetivos específicos

Como objetivos específicos, citam-se:

a) Caracterizar os possíveis impactos ambientais dos defensivos agrícolas sobre

o meio natural (ar, solo e água), os impactos sobre os alimentos e os danos à

saúde do trabalhador rural ao consumidor final;

b) Discorrer sobre as repercussões ambientais, sob o aspecto físico e legal, do

incorreto manejo e destinação final das embalagens vazias de defensivos

agrícolas, tendo como referência a Unidade Central da ASSIPAR no

município de Colombo-PR; e

c) Propor alternativas para a minimização e/ou erradicação do uso dos

defensivos agrícolas, por meio da prática do desenvolvimento agrícola

sustentável.

Page 18: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

4

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Histórico

O uso de substâncias químicas orgânicas ou inorgânicas na agricultura

remonta a Antigüidade clássica. O uso de produtos como o arsênico e enxofre para

o controle de insetos, eram mencionados nos escritos de romanos e gregos nos

primórdios da agricultura. A partir do século XVI até fins do século XIX o emprego de

substâncias orgânicas como a nicotina (extraída do fumo) e o piretro (extraído do

crisântemo) eram constantemente utilizados na Europa e Estados Unidos para a

mesma finalidade. A partir do início do século XX iniciaram-se os estudos

sistemáticos buscando o emprego de substâncias inorgânicas para a proteção de

plantas. Deste modo, produtos à base de cobre, chumbo, mercúrio, cádmio, etc.,

foram desenvolvidos comercialmente e empregados contra uma grande variedade

de pragas.

A Segunda Guerra Mundial foi o marco decisivo para o avanço científico. As

pesquisas começaram a desenvolver-se e trouxeram consigo conseqüências

importantes para a vida do homem. Com a descoberta do extraordinário poder

inseticida do organoclorado Diclorodifeniltricloretano (DDT), aclamado como

pesticida universal e tornando-se o mais amplamente utilizado dos novos pesticidas

sintéticos, antes que seus efeitos ambientais tivessem sido intensivamente

estudados e, do organofosforado Sharadam, inicialmente utilizado como arma de

guerra, deu-se início à grande disseminação dessas substâncias na agricultura

(LUNA, SALES e SILVA, [ _ ], p. 03).

Com o crescimento populacional e econômico do pós-guerra, a demanda por

alimentos e matérias primas aumentou. Já na década de 1950, em todo mundo,

especialmente nos países fornecedores de produtos agrícolas, ocorre um expressivo

aumento das áreas agricultáveis. Em termos mundiais o objetivo era acabar com a

fome existente no mundo, desde que, para isso, fossem utilizados os componentes

do pacote tecnológico da agricultura moderna, ou seja, máquinas, implementos

agrícolas, fertilizantes sintéticos, sementes melhoradas e defensivos agrícolas.

Page 19: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

5

A tecnologia imposta pela Revolução Verde (a partir dos anos 60)

fundamentada na melhoria do desempenho dos índices de produção agrícola, e

disseminada entre os agricultores maximizou, num primeiro momento, a

produtividade; porém, criou-se estreita dependência a essa tecnologia, fazendo-se

aumentar o custo do cultivo agrícola (MORAGAS e SCHNEIDER, 2003, p. 27).

Socialmente, a Revolução Verde representou uma grande ilusão; pois

aumentou a concentração de terra e tornou precária a vida dos pequenos

agricultores descapitalizados, como também não solucionou o problema da fome no

mundo.

Ambientalmente, esta revolução provocou intenso processo erosivo, perda de

fertilidade dos solos, perda de diversidade genética e utilização de matriz energética

fóssil (altamente poluidora), além da contaminação de corpos hídricos, solo,

alimentos, animais e o próprio homem, pelos venenos agrícolas (MORAGAS e

SCHNEIDER, 2003, p. 33).

Cronologicamente, segundo seu aparecimento, os inseticidas podem ser

assim colocados, segundo uma sucessão de gerações (MACÊDO, 2002, p. 192,

citando BATIPSTA, 1999, [ _ ])1:

a) 1ª Geração: I) Inorgânicos – enxofre (S), arsênico (As), Fluoretos, etc.; II)

Botânicos – nicotina, piretrinas naturais, etc.; III) Organo minerais – óleos

minerais.

b) 2ª Geração: Organo Sintéticos – I) Fumigantes: brometo de metila (CH3Br),

fosfina (PH3), etc.; II) Organofosforados: paration, malation, diclorvos,

disulfoton, etc.; III) Carbamatos: carbaril, aldicarb, carbofuran, etc.;

Piretróides: permetrina, deltametrina, etc.

c) 3ª Geração: I) Microbianos: fungos, bactérias e vírus; II) Feromônios sexuais:

Gossyplure, Grandlure.

d) 4ª Geração: Hormônios juvenis: juvabiona.

e) 5ª Geração: I) Vegetais: precocenos; Microrganismos: lactonas (evermectin).

1 BAPTISTA, G. C. Toxicologia, Meio Ambiente, Legislação. Brasília: Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS). Curso de Especialização por Tutoria a Distância (Módulo 8), 1999, p. 33.

Page 20: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

6

Atualmente os biocidas estão sendo largamente utilizados em todo o mundo,

como um dos meios mais rápidos e eficientes de se aumentar à produtividade

agrícola.

3.1.1 Histórico no Brasil

Devido ao modelo agrícola adotado e a ampla diversidade biológica,

predominante na maior parte do seu território, que favorece a incidência de pragas e

moléstias, o Brasil é um dos países que mais consomem agrotóxicos nas suas

culturas.

Segundo MORAGAS e SCHNEIDER (2003, p. 35) citando PASCHOAL (1979,

[ _ ])2:

“No Brasil, desde o século passado, eram utilizados venenos caseiros, à base de soda cáustica, querosene, carvão mineral, azeite de peixe entre outros produtos. Até a década de 40, deste século, foram muito usados produtos botânicos (piretro, retenona e nicotina), que eram até exportados. Venenos inorgânicos também foram usados, como o sulfato de tálio, cianeto de cálcio, carbonato de bário e sulfato de cobre (até hoje utilizado)”.

O primeiro agrotóxico introduzido no país foi o Benzeno Hexaclorado (BHC),

em dezembro de 1946, para exterminar gafanhotos, em Caçador, Santa Catarina.

Logo depois, este produto foi empregado à broca do café e entrou na composição

das primeiras misturas no combate às pragas em lavouras de algodão. Em seguida

veio o DDT, o parathion e o toxafeno, que abriram caminho para os demais

(PARANÁ, 1992, p. 07).

Com o objetivo de introduzir inseticidas fosforados para substituir o uso do

DDT, foi estabelecido que para misturá-lo (formulado como pó solúvel na água), o

agricultor deveria usar o braço, com a mão aberta girando meia volta em um e outro

sentido, facilitando assim a mistura. Somente quinze anos mais tarde os problemas

de saúde começavam a aparecer. Contudo, quando o agricultor tentava repetir a

técnica com o Parathion, primeiro fosforado introduzido no Brasil, caía morto,

2 PASCHOAL, A. D. Pragas, praguicidas e a crise ambiental: problemas e soluções. Rio de Janeiro: FGV, 1979.

Page 21: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

7

fulminado; fato que se repetiu em diversas regiões do país (PLANETA ORGÂNICO,

[ _ ], [ _ ]).

Com a sintetização de novas substâncias químicas para o emprego na

agricultura, e o poder das indústrias fabricantes, a partir de 1970, intensificaram-se

as propagandas e foram colocados milhares de representantes em todo o país, com

o objetivo de aumentar as vendas significativamente (PARANÁ, 1992, p. 07).

Em 1975 com a edição pelo Ministério da Fazenda do Programa Nacional de

Defensivos Agrícolas (PNDA) vinculado ao 1º Plano Nacional de Desenvolvimento

implantado em 1972 (PND), ocorreu a grande explosão das indústrias de biocidas no

país. O principal objetivo do PNDA era tornar o país auto suficiente na produção de

agrotóxicos, pois grande parte dos produtos ainda eram importados. Dezenas de

formulações foram colocadas no mercado brasileiro, sem a preocupação da

interferência destas substâncias na diversidade ecológica das regiões tropicais

(MORAGAS e SCHNEIDER, 2003, p. 35).

Os agrotóxicos chegaram ao sul do país junto com a monocultura da soja,

trigo e arroz, associados à utilização obrigatória desses produtos para quem

pretendesse usar o crédito rural previsto no Sistema Nacional de Crédito Rural

(SNCR), onde a venda desses insumos era financiada pelo governo, que exigia dos

produtores rurais, a aplicação em tecnologias modernas de pelo menos 15% do total

aplicado ao custeio de safras. Hoje em dia, os agrotóxicos encontram-se

disseminados na agricultura convencional, como uma solução de curto prazo para a

infestação de pragas e doenças (PLANETA ORGÂNICO, [ _ ], [ _ ]).

Conforme MORAGAS e SCHNEIDER (2003, p. 36) citando PASCHOAL

(1983)3 o aumento da produção de biocidas no país foi crescente de 1960 a 1980

(Tabela 1), tornando-se o terceiro maior consumidor do mundo na década de 70 e

ocupando a quarta posição em 1980. A quantidade de formulações entre 1970 e

1980 era de 36 tipos diferentes, quase dobrando para 51, em 1985.

3 PASCHOAL, A. D. O ônus do modelo da agricultura industrial. Revista Brasileira de Tecnologia. Brasília, 14 (1): 28-40, jan./fev. 1983.

Page 22: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

8

Tabela 1 - Evolução da Produção Brasileira de Agrotóxicos: 1964 -1980 (*)

AGROTÓXICOS 1964 1969 1974 1976 1978 1980

Inseticidas 4201 12.198 13.719 7.740 53.798 59.028

Fungicidas -- 1.595 7.863 9.328 30.191 32.226

Herbicidas -- -- 886 1.500 25.090 32.262

TOTAL 4.201 13.793 22.468 18.568 109.079 123.516

(*) toneladas de ingrediente ativo

(--) sem leitura

Fonte: MORAGAS e SCHNEIDER (2003, p. 37) modificado de PASCHOAL (1983, [ _ ])3

Com relação ao consumo dos estados brasileiros, o balanço do ano de 1984,

registrou que São Paulo consumiu 36% do total dos defensivos agrícolas, seguido

do Paraná com 21% e de Santa Catarina e Rio Grande do Sul com 18%, (Tabela 2).

Tabela 2 - Consumo de Defensivos Agrícolas no Brasil em 1984 (Toneladas)

por Região

REGIÃO INSETICIDAS FUNGICIDAS HERBICIDAS TOTAL %

Norte 310 57 234 601 0.48

Nordeste 5.294 1.306 2.723 9.323 7.52

Sudeste 7.192 1.577 2.404 11.173 9.0

Centro Oeste 3.060 271 2.670 3.736 3.0

M. Grosso do

Sul 2.556 379 2.833 5.768 5.0

São Paulo 21.439 13.723 9.255 44.387 36.0

Paraná 6.232 4.259 10.565 25.541 21.0

S. Catarina e

R. G. do Sul 8.847 1.613 11.902 22.362 18.0

Total Brasil 59.415 23.185 42.556 125.156 100.0

Fonte: GOELLNER ([ _ ], p. 07)

Segundo MACÊDO (2002, p. 192), o mercado mundial de agroquímicos

movimenta atualmente 30 bilhões de dólares. O Brasil na atualidade é o quinto maior

Page 23: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

9

consumidor de pesticidas e movimenta 2,5 bilhões de dólares. Os herbicidas

representam a maior parcela tanto em âmbito mundial como no Brasil.

A intenção de tornar o Brasil agroexportador utilizando tecnologias modernas

teve sérios reflexos econômicos, sociais e ambientais.

3.2 Conceitos e definições

Existe uma ampla literatura e várias terminologias sobre os biocidas, o que

exemplifica a multiplicidade de visões que cercam essas substâncias químicas

utilizadas na agricultura.

O dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999, p. 613) conceitua defensivo como

aquilo: “1) que serve para defesa, 2) que visa à defesa, a resistir ao ataque, 3)

defensivo agrícola: produto químico utilizado no combate e prevenção de pragas

agrícolas; agrotóxico“. Esta terminologia é bastante adotada pelas indústrias

produtoras desses compostos, pois o termo utilizado traz a idéia de proteção

(defesa) dos produtos agrícolas da ação de pragas e doenças que poderiam causar

prejuízos econômicos.

Os defensivos agrícolas compreendem uma categoria especial de insumos.

Promovem benefícios indiretos à produtividade, uma vez que o objetivo de sua

utilização é o de evitar a perda nas safras, provocada pelo ataque prejudicial de

pragas e doenças às culturas. Diferem, portanto, das outras categorias de insumos

agrícolas, como fertilizantes, corretivos e sementes melhoradas, produtos que, se

bem utilizados, promovem aumentos substanciais de produtividades. Distribuem-se

em três grandes categorias, de acordo com a sua destinação específica de uso:

inseticidas, que controlam as pragas; fungicidas, que controlam doenças fúngicas e

herbicidas para o controle de ervas e outras plantas consideradas invasoras

(RÜEGG et al, 1991, p. 22).

O termo mais popular, usado atualmente no meio agrícola e na sociedade

como um todo, é agrotóxico. Conforme LIMA-E-SILVA et al (2002, p. 07) agrotóxico

é “a substância química utilizada na agricultura para combater os diferentes tipos de

pragas que atacam as lavouras (exemplo: insetos, fungos e ervas daninhas)”.

Page 24: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

10

Essa terminologia não foge do sentido ‘tóxico de uso agrícola’ (agro + tóxico),

sendo a toxicologia a ciência que estuda seus efeitos. Se admitirmos que agro seja

um designativo daquilo que se refere às atividades humanas dedicadas ao cultivo

das plantas, e tóxico aquilo que tem a propriedade de envenenar, deduz-se,

portanto, por agrotóxicos, aqueles que são utilizados no controle de parasitas e

moléstias que atacam as plantas, ou de plantas outras que concorram com a cultura

comercial implantada (ervas daninhas que estejam prejudicando a cultura)

(MARTINS, [ _ ], [ _ ]). A opção pela terminologia ‘agrotóxico’ geralmente apoia-se

na abrangência do conceito descrito acima e na facilidade de identificação pela

sociedade.

Contudo, para MORAGAS e SCHNEIDER (2003, p. 28), talvez o termo

tecnicamente mais indicado para representar as substâncias que agem no controle

de organismos nocivos devesse ser biocida. Pois, a palavra biocida significa “mata a

vida”. Este termo inclui os organismos não alvos, mas que também são atingidos

pelos mecanismos nocivos destes produtos químicos.

Os biocidas são definidos por LIMA-E-SILVA et al (2002, p. 30) como:

“Substância química, natural ou sintética, utilizada para controlar ou eliminar organismos considerados nocivos a uma atividade humana ou determinada região. Qualquer químico tóxico, usado para matar organismos vegetais ou animais que causam danos econômicos às colheitas, ou criação de plantas, ou animais domésticos. Os herbicidas, inseticidas e pesticidas são exemplos de biocidas. Os pesticidas artificiais geralmente causam danos ambientais significativos por seus efeitos colaterais indesejados e desarmonia com os processos naturais”.

Para MORAGAS e SCHNEIDER (2003, p. 28) citando BULL e HATHAWAY

(1986, [ _ ])4, as diversas designações como agrotóxico, defensivo agrícola,

praguicida, pesticida e biocida são usados de maneira geral para indicar os produtos

químicos sintetizados artificialmente para conter a ação das pragas invasoras

(animais, vegetais, fungos, insetos, etc.), que interferem na qualidade ou quantidade

de lavouras, alimentos, rações, flores, madeiras, forragens, fibras; tanto na

produção, como na armazenagem ou transporte destes produtos, provocando

perdas econômicas consideráveis.

4 BULL, D.; HATHAWAY, D. Pragas e Venenos: Agrotóxicos no Brasil e no Terceiro Mundo. Petrópolis: Vozes/OXFAN/FASE, 1986.

Page 25: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

11

Segundo a Lei Federal Brasileira de Agrotóxicos (7.802/89), no seu artigo 2º,

inciso I, são considerados agrotóxicos e afins:

“a) os produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) as substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento”.

BULL e HATHAWAY (1986, [ _ ])4 citado por MORAGAS e SCHNEIDER

(2003, p. 28), incluem, em seu conceito, somente as substâncias artificiais,

entretanto, os demais autores ampliam o entendimento e mencionam também as

substâncias de origem natural e biológica, como se refere à legislação brasileira

sobre biocidas. A referida lei é o melhor referencial de conceituação para este

trabalho por sua abrangência. Pode-se notar que as definições descritas se

manifestam sobre substâncias produzidas ou manipuladas pelo homem para conter

a ação de quaisquer organismos que possam, por ventura, causar dano as plantas,

animais e ao homem.

Todavia, essas mesmas substâncias também podem causar danos ao meio

ambiente, onde estão inseridas as plantas, os animais, os seres humanos e outros

organismos, alvos e não alvos destes agentes.

3.3 Normas e legislação

3.3.1 Constituição Federal

Como o homem passou a sentir os efeitos danosos advindos da utilização

abusiva e errônea dos defensivos agrícolas, instaurou-se a necessidade de proteger

juridicamente tais produtos.

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) (BRASIL, 1988, [ _ ]) regulamenta a

política agrícola pela ordem econômica (art. 170), prevendo o respeito ao princípio

da defesa do meio ambiente (inciso VI).

Page 26: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

12

Desta forma, as substâncias agrotóxicas estão reguladas no artigo 225, � 1º,

V, da CF/88, que incumbe ao Poder Público “controlar a produção, a

comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem

risco para a vida e ao meio ambiente”.

Os agrotóxicos podem ser utilizados legalmente, no entanto deve-se ter um

controle do uso, para que possa assegurar o direito que todos têm ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado e a sadia qualidade de vida (art. 225, caput).

3.3.2 Lei Federal

A Lei Federal 7.802 de julho de 1989 (BRASIL, 1989, [ _ ]), além de

conceituar os agrotóxicos, dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção,

a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a

propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos

resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a

fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, a qual foi alterada pela Lei

9.974 de 06 de junho de 2000 (BRASIL, 2000, [ _ ]) , e posteriormente

regulamentada pelo Decreto 4.074, de 04 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002, [ _ ]).

O Decreto 4.074/02, nos seus artigos 2º, 3º e 4º, tratam da competência

administrativa conjunta dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,

Saúde e Meio Ambiente e do que cabe a cada um desses ministérios em particular

em relação aos agrotóxicos (arts. 5º, 6º e 7º).

O Decreto também institui o Comitê Técnico de Assessoramento para

Agrotóxicos (art. 95), o qual tem, dentre outras competências, “assessorar os

Ministérios responsáveis na concessão do registro para uso emergencial de

agrotóxicos e afins e no estabelecimento de diretrizes e medidas que possam reduzir

os efeitos danosos desses produtos sobre a saúde humana e o meio ambiente”

(inciso VI).

A Lei 7.802/89, em seu artigo 3º, caput, prevê que só se pode produzir,

comercializar, exportar, importar e utilizar agrotóxicos caso haja um registro prévio

em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais

responsáveis pelos setores da saúde, meio ambiente e agricultura.

Page 27: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

13

O transporte de agrotóxicos é tido como transporte perigoso (art. 63, Decreto

4.074/02), submetendo-se às regras e procedimentos estabelecidos na legislação

específica de transporte de produtos perigosos.

A Lei de Crimes Ambientais, a Lei 9.065/98 (BRASIL, 1998, [ _ ]), prevê a

responsabilidade penal do condutor do veículo e da pessoa jurídica (proprietário do

veículo ou a transportadora) quando não observadas as cautelas mínimas exigidas

pela legislação vigente referente ao transporte de produtos perigosos.

O artigo 6º da Lei 7.802/89, parágrafo 2º, determina que os usuários de

agrotóxicos e afins têm a obrigação de devolver as embalagens vazias de

agrotóxicos, aos estabelecimentos que foram adquiridos, devendo ser submetidas

pelo usuário à operação de tríplice lavagem (§ 4º). Neste caso as embalagens

vazias lavadas estão isentas das exigências legais e técnicas para o transporte de

produtos perigosos (ver item 3.5 referente às embalagens vazias de defensivos

agrícolas).

3.3.3 Lei Estadual

O Estado do Paraná, que é responsável por grande parte da produção

agrícola brasileira, regulamentou a situação dos agrotóxicos em 29 de dezembro de

1983, com a Lei 7.827/83 (PARANÁ, 1983, [ _ ]). Posteriormente instituiu-se o

Decreto 3.876, de 20 de setembro de 1984 que regula a referida Lei (PARANÁ,

1984, [ _ ]).

A Lei 7.827/83, em seu artigo 1º, regulamenta que a distribuição e

comercialização de produtos agrotóxicos e outros biocidas, no Estado do Paraná,

devem ter prévio cadastramento na Secretaria de Agricultura, que passou a

denominar-se Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB) e na

Secretaria do Interior, transformada em Secretaria de Estado do Desenvolvimento

Urbano (SEDU). Além disso, só serão admitidos à comercialização e distribuição

desses produtos no território estadual, quando já estiverem cadastrados no órgão

federal.

A Lei determina que os agrotóxicos só podem ser comercializados

diretamente aos usuários, mediante a apresentação da Receita Agronômica,

Page 28: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

14

fornecida por um Engenheiro Agrônomo registrado no órgão de classe, ou seja, no

Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA).

O artigo 20 da referida Lei prevê que, o proprietário agrícola que aplicar

agrotóxicos, deverá se utilizar ou fornecer, para aqueles que para ele trabalharem

equipamentos de proteção para a aplicação dos mesmos nas lavouras.

O Decreto 3.876/84, nos seus artigos 12, 15 e 16, determina as competências

de cada Secretaria. Cabe à Secretaria de Estado da Agricultura a competência de

fiscalizar, à Secretaria do Estado da Saúde e do Bem-Estar Social, dentre outras

competências, realizarem amostragem dos alimentos para análise de resíduos e

realizar estudos epidemiológicos para identificar problemas de saúde ocupacional na

agricultura, e, por fim, à Secretaria de Estado do Interior realizar amostragem de ar,

água e solo para identificação de resíduos de agrotóxicos e dar as normas para a

destinação final de materiais que tenham apresentado resíduos contaminantes de

agrotóxicos acima das tolerâncias permitidas, dentre outras competências.

A Lei 12.493, de 22 de janeiro de 1999 (PARANÁ, 1999, [ _ ]), que estabelece

princípios, procedimentos, normas e critérios referentes à geração,

acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final

dos resíduos sólidos no estado do Paraná, visando controle da poluição, da

contaminação e a minimização de seus impactos ambientais e adota outras

providências, prevê, no seu artigo 12 que:

“As empresas produtoras e/ou comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, em todo o território do estado do Paraná, são responsáveis pelo estabelecimento de mecanismos de coleta e recebimento e pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e/ou comercializados, bem como pelos produtos apreendidos pela ação fiscalizatória e pelos tornados impróprios para utilização, obedecidas às condições e critérios estabelecidos pelo Instituto Ambiental do Paraná – IAP”.

O artigo 14 da referida Lei proíbe, no estado do Paraná, as seguintes formas

de destinação final de resíduos sólidos: lançamento “in natura” a céu aberto; queima

a céu aberto; lançamento em corpos d’água, manguezais, terrenos baldios, redes

públicas, poços e cacimbas; lançamento em redes de drenagem de águas pluviais,

de esgotos, de eletricidade, e de telefone. A disposição no solo ou subsolo poderá

ser adotada, desde que autorizada mediante as condições e critérios estabelecidos

Page 29: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

15

pelo IAP (§ 1º), aplicando-se, da mesma forma, para o lançamento em poços

desativados (§ 3º).

3.3.4 ABNT Norma 10004

Segundo a Norma Brasileira (NBR) 10004 da Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT, 2004, [ _ ]), que classifica os resíduos quanto aos seus

riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública indicando quais resíduos

devem ter manuseio e destinação mais rigidamente controlados, os resíduos

provenientes dos defensivos agrícolas são considerados classe I, ou seja, perigosos.

São aqueles que podem apresentar, dentre outras características, toxicidade,

podendo acarretar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para um

aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentar efeitos adversos

ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada.

A Norma define por agente tóxico “qualquer substância ou mistura cuja

inalação, ingestão ou absorção cutânea tenha sido cientificamente comprovada

como tendo efeito adverso (tóxico, carcinogênico, mutagênico, teratogênico ou

ecotoxicológico)”.

Um resíduo é caracterizado como tóxico, segundo a NBR 10004, quando uma

amostra representativa dele, obtida segundo a ABNT NBR 10007, que fixa os

requisitos exigíveis para amostragem de resíduos sólidos, apresentar uma das

seguintes propriedades:

a) O extrato obtido desta amostra, segundo a ABNT NBR 10005, que “fixa os

requisitos exigíveis para a obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos,

visando diferenciar os resíduos classificados pela ABNT NBR 10004 como

classe I – perigosos e classe II – não perigosos”, apresentar qualquer um dos

contaminantes em concentrações superiores aos valores constantes no anexo

F da referida Norma (concentração – limite máximo no extrato obtido no

ensaio de lixiviação5);

5 Lixiviação: processo para determinação da capacidade de transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no resíduo sólido, por meio de dissolução no meio extrator (NBR 10005, 2004).

Page 30: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

16

b) Possuir uma ou mais das substâncias constantes no anexo C a referida

Norma (substâncias que conferem periculosidade aos resíduos) e apresentar

toxicidade;

c) Ser constituída por restos de embalagens contaminadas, ou resultar de

derramamentos ou de produtos fora de especificação ou do prazo de

validade, com substâncias constantes nos anexos D (substâncias

agudamente tóxicas) ou E (substâncias tóxicas) da referida Norma;

d) Ser comprovadamente letal ao homem ou que demonstrem uma DL50 oral6

para ratos menor que 50 mg/Kg ou CL50 inalação7 para ratos menor que 2

mg/L ou uma DL50 dérmica8 para coelhos menor que 200 mg/Kg.

6 DL50 (oral, ratos): Dose letal para 50% da população dos ratos testados, quando administrada por via oral (DL – dose letal) (NBR 10004, 2004). 7 CL50 (inalação, ratos): Concentração de uma substância que, quando administrada por via respiratória, acarreta a morte de 50% da população de ratos exposta (CL – concentração letal) (NBR 10004, 2004). 8 DL50 (dérmica, coelhos): Dose letal para 50% da população de coelhos testados, quando administrada em contato com a pele (DL – dose letal) (ABNT, 2004, [ _ ]).

Page 31: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

17

����������

CLASSE I Perigosos

CLASSE II Não Perigosos

D001 – Caracteriza o resíduo como Inflamável

D002 – Caracteriza o resíduo como Corrosivo

D003 – Caracteriza o resíduo como Reativo

D004 – Caracteriza o resíduo como Patogênico

D005 a DA052 – Caracteriza o resíduo como Tóxico

Classe II B Inertes

Classe II A Não Inertes

Anexo H

Anexos A e B

NBR 10007

USEPA-SW 846

NBR 1208

Anexo F

Anexo C

Anexos D e E

NBR 10005

NBR 10006 NBR 10007

Anexo G

Biodegradabilidade Combustibilidade

Solubilidade em Água

Figura 1. Classificação dos Resíduos Sólidos Segundo ABNT NBR 10004.

FONTE: Adaptado de SCHERMAK (2004, [ _ ])

Page 32: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

18

3.4 Usos e aplicações

3.4.1 Usos

Dada a grande diversidade dos produtos, cerca de 300 princípios ativos em

duas mil formulações comerciais diferentes no Brasil, é importante conhecer a

classificação dos agrotóxicos quanto à sua ação e ao grupo químico a que

pertencem.

Segundo MICHELOTO e PEREZ (1985, p. 02), os agrotóxicos podem ser

classificados de acordo com as pragas a que se destinam, ou seja, quanto à

finalidade:

a) lnseticidas: usados no controle de insetos. Englobam os larvicidas (atacam as

larvas dos insetos), ovicidas (atingem os ovos dos insetos), formicidas

(atacam as formigas) e bernicidas. Os inseticidas pertencem a quatro grupos

químicos distintos:

− Organofosforados: são compostos orgânicos derivados do ácido

fosfórico, do ácido tiofosfórico ou do ácido ditofosfórico. Ex.: Folidol,

Azodrin, Malation, Diazinon, Nuvacron, Tamaron, Rhodìatox;

− Carbamatos: são derivados do ácido carbâmico. Ex.: Carbaril, Tentfk,

Zeclram, Furadan;

− Organoclorados: são compostos à base de carbono, com radicais de

cloro. São derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do

ciclodieno. Foram muito utilizados na agricultura, como inseticidas,

porém seu emprego tem sido progressivamente restringido ou mesmo

proibido. Ex.: Aldrin, Endrin, MtIC, DUr, Endossulfan, Heptacloro,

Lindane, Mirex;

− Piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas

semelhantes a piretrina, substância existente nas flores do

Chrysanthmum (pyrethrum) cinenariaefolium. Alguns desses

compostos são: aletrina, resmetrina, decametrina, cipermetrina.

Page 33: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

19

b) Fungicidas: usados no combate aos fungos. Economicamente, este grupo é

menos importante que os inseticidas e herbicidas. Os principais grupos

químicos são:

− Etileno-bis-ditiocarbonatos: Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb,Tiram;

− Trifenil estânico: Duter e Brestan;

− Captan: Ortocide a Merpan;

− Hexaclorobenzeno.

c) Herbicidas: usados como extirpadores de ervas daninhas ou plantas

invasoras. Nas últimas duas décadas, este grupo tem tido uma utilização

crescente na agricultura. Seus principais representantes são:

− Paraquat: comercializado com o nome de Gramoxone;

− Glifosato: Round-up;

− Pentaclorofenol;

− Derivados do ácido fenoxiacético: 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) a

2,4,5 triclorofenoxiacético (2,4,5 T). A mistura de 2,4 D com 2,4,5 T

representa o principal componente do agente laranja, utilizado como

desfolhante na Guerra do Vietnã. O nome comercial dessa mistura é

Tordon;

− Dinitrofenóis: Dinoseb a DNOC.

Outros grupos importantes compreendem:

d) Raticidas: utilizados no combate a roedores;

e) Acaricidas: usados no combate aos aracnídeos (aranhas, escorpião e

ácaros);

f) Nematicidas: ação de combate a nematóides;

g) Molusquicidas: usados no controle dos caracóis (caramujos). Como por

exemplo, no controle da Schistossoma, parasita causador da

esquistossomose.

Outra classificação sugerida por UASKA et al (1987, p. 13) refere-se à

maneira dos agrotóxicos agirem sobre as pragas, podendo ser por:

a) Ingestão: a praga deve ingerir a planta com o produto;

b) Contato: ao tocar o corpo da praga o produto já faz efeito;

Page 34: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

20

c) Fumigante: agem no sistema respiratório, são substâncias em forma de gases

usados para matar espécies subterrâneas e pragas em produtos

armazenados;

d) Microbiano: o produto contém microorganismos que atacarão a praga ou o

agente causador da doença.

Os agrotóxicos também podem ser classificados, em relação a sua

constituição química, em inorgânicos e orgânicos.

Os inorgânicos incluem os produtos arsenicais, os produtos fluorados, os

óleos minerais, os compostos de antimônio, de bário, de boro, de chumbo, de

mercúrio, de tálio, além da calda sulfocálica. Os arsenicais, os fluorados e outros

compostos minerais agem por ingestão; os óleos minerais agem por contato,

matando as pragas por asfixia.

Os orgânicos compreendem os de origem vegetal ou botânico e os orgânico-

sintéticos. Os primeiros, muito utilizados por algumas correntes da agroecologia são

de baixa toxicidade e de curta permanência no ambiente (como o piretro contido no

crisântemo e a rotenona extraída do timbó). Já os organo-sintéticos, além de

persistirem muitos anos nos ecossistemas, contaminando-os, também trazem uma

série de problemas de saúde para os seres humanos, o que torna seu uso proibido

pelas correntes agroecológicas. São subdivididos em: clorados, clorofosforados,

fosforados e carbamatos (UASKA et al, 1987, p. 14).

Os clorados compreendem o grupo químico dos agrotóxicos compostos por

um hidrocarboneto clorado que tem um ou mais anéis aromáticos. Embora seja

menos tóxico (em termos de toxicidade aguda que provoca morte imediata) que

outros organo-sintéticos, são mais persistentes no corpo e no ambiente, causando

efeitos patológicos no longo prazo, daí a necessidade de um controle mais rígido

sobre estes produtos. O agrotóxico organoclorado atua no sistema nervoso,

interferindo nas transmissões dos impulsos nervosos. São agrotóxicos que agem por

contato, ingestão e fumigação. São bastante estáveis e tóxicos, lipossolúveis, sem

ação sistêmica, nem de profundidade, podem permanecer no ambiente por mais de

30 anos. São empregados como inseticidas, acaricidas, nematicidas e, às vezes,

fungicidas. Os mais usados são: Aldrin, Dieldrin, Endossulfan, Endrin, Confector,

Clordano, DDT, Heptacloro, Lindane, Mirex, Metoxicloro e BHC.

Page 35: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

21

Os clorofosforados possuem um éster de ácido fosfórico e outros ácidos à

base de fósforo, que em um dos radicais da molécula possui também um ou mais

átomos de cloro. Apresentam toxidez aguda (são capazes de provocar morte

imediata) atuando sobre uma enzima fundamental do sistema nervoso (a

colinesterase) e nas transmissões de impulsos nervosos, têm ação residual

moderada, possuem maior dificuldade de acumulação nos organismos, têm ação de

penetração nos tecidos vegetais e não são dotados de ação sistêmica.

Os fosforados são formados apenas por ésteres de ácido fosfórico e outros

ácidos à base de fósforo. Em relação aos agrotóxicos clorados e carbamatos, os

organofosforados são mais tóxicos (em termos de toxidade aguda), mas se

degradam rapidamente e não se acumulam nos tecidos gordurosos. A maioria dos

ésteres organofosforados são rapidamente hidrolisados por água fornecendo

produtos solúveis, não deixando, portanto, resíduos permanentes após o

espargimento. Atua inibindo a ação da enzima colinesterase na transmissão dos

impulsos nervosos. Incluem produtos de ação sistêmica e não sistêmica. Possuem

ação de contato, ingestão, fumigação e profundidade. São geralmente muito tóxicos

ao homem, principalmente os sistêmicos. Têm dificuldades de acumulação

(MICHELOTO e PEREZ, 1985, p. 02).

Os carbamatos são compostos por ésteres de ácido metilcarbônico ou

dimetilcarbônico. Em relação aos pesticidas organoclorados e organofosforados, os

carbamatos são considerados de toxicidade aguda média, sendo degradados

rapidamente e não se acumulando nos tecidos gordurosos. Os carbamatos também

atuam inibindo a ação da colinesterase na transmissão dos impulsos nervosos

cerebrais. Muitos desses produtos foram proibidos em diversos países também em

virtude de seu efeito altamente cancerígeno. Esses produtos têm ação de contato e

ingestão não apresentando ação sistêmica, nem de profundidade (MICHELOTO e

PEREZ, 1958, p. 03).

No site <http://www.pr.gov.br/agrotoxico> da SEAB, está disponível no link

listas, para download, o inventário dos agrotóxicos aptos para uso e comércio no

estado do Paraná, o qual é atualizado diariamente. Neste, estão os agrotóxicos

liberados no estado e suas restrições de uso. Há cerca de 1200 marcas comerciais

Page 36: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

22

em todo o país, mas no Paraná estão liberadas ou liberadas com restrição de uso

apenas 743.

Na primeira parte, a lista é composta por uma tabela que contém as

marcas comerciais organizadas em ordem alfabética, bem como uma coluna de

observações indicando se o agrotóxico possui ou não restrições para o uso e

comércio no estado. Nessa mesma tabela encontram-se as seguintes informações:

classe de uso, classe toxicológica, número do registro no Ministério da Agricultura,

unidade, ingrediente ativo e sua concentração, empresa registrante e grupo químico

ao qual pertence o ingrediente ativo. A segunda parte é composta de dois anexos. O

anexo 1 informa quais são as restrições de uso daqueles que possuem tais

restrições. O anexo 2 fornece para quais culturas e alvos biológicos o agrotóxico

está liberado, nos casos em que o número de restrições é bastante elevado.

O arquivo não foi anexo ao trabalho devido ao grande número de páginas que

possui, 47 aproximadamente.

3.4.2 Aplicações

3.4.2.1 Formulação

Segundo ARAÚJO (1997, p. 05), formular um produto fitossanitário consiste

em preparar os ingredientes ativos na concentração adequada, adicionando

substâncias coadjuvantes, tendo em vista que o produto final deve ser disperso em

determinadas condições técnicas de aplicação, para poder cumprir eficazmente sua

finalidade biológica, mantendo estas condições durante o armazenamento e

transporte. O produto resultante do ato de formular denomina-se formulação.

As formulações, quanto à forma de uso, podem ser:

a) Formulação pré-mistura: são formulações que necessitam ser diluídas até

uma concentração adequada, no ato da aplicação. Via de regra esta diluição

se faz com adição de água. Algumas mudanças nesta formulação já foram

realizadas com o objetivo de facilitar o processo de preparação da calda e

remoção dos resíduos internos das embalagens;

Page 37: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

23

b) Formulação de pronto uso: são formulações cuja concentração já está

adequada para a aplicação em campo.

Os agrotóxicos, segundo MATUO (1990, p. 11), apresentam-se no comércio

em diversos tipos de formulações. Dentre elas destacam-se as seguintes:

a) Pó Seco (P): é formulação sólida de pronto uso, para aplicação via sólida. Na

sua elaboração, partículas sólidas finamente moídas de um material

adsorvente (mineral de argila), são impregnados com o ingrediente ativo.

Essas partículas sofrem diluição com partículas de material inerte (talco) para

aumentar-lhe o volume e possibilitar a distribuição através de máquinas

polvilhadoras. Somente os inseticidas são formulados como pós-secos,

podendo, eventualmente, encontrar alguns fungicidas;

b) Pó Molhável (PM): é uma formulação sólida para ser diluída em água, para

posterior aplicação via líquida. O pó-molhável, quando diluído em água, forma

uma mistura homogênea de sólido no meio aquoso (suspensão). A

suspensão não é tão estável e necessita de agitação contínua para que a

calda9 se mantenha homogênea. Por outro lado, o atrito de partículas sólidas

nas passagens estreitas do pulverizador (válvulas, bicos), provoca desgaste

acentuado do equipamento, principalmente se o veículo da formulação

apresentar alto grau de dureza. Apesar de suas limitações, o pó-molhável é

uma formulação mais barata que outras equivalentes. É uma formulação

largamente utilizada para fungicidas, herbicidas e inseticidas;

c) Pó Solúvel (PS): é uma formulação sólida destinada à diluição em água e

posterior aplicação via líquida. É uma formulação pouco comum, pois o

ingrediente ativo deve ser solúvel em água. O resultado da diluição de um pó

solúvel na água é uma solução verdadeira, o que é interessante na aplicação,

pois, uma vez dissolvida, a calda resultante sempre se mantém homogênea,

sem a necessidade de agitação constante. A solução é translúcida podendo

ser colorida ou não.

d) Concentrado Emulsionável (CE): é uma formulação líquida destinada à

diluição em água. Para sua elaboração o ingrediente ativo é primeiramente

dissolvido em um solvente apropriado, resultando uma solução concentrada.

9 Calda: líquido na concentração de aplicação, resultante da diluição de uma formulação.

Page 38: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

24

O resultado da diluição do concentrado emulsionável na água é uma mistura

homogênea, onde glóbulos líquidos da formulação ficam dispersos na fase

aquosa (emulsão), constituindo uma calda de aspecto leitoso. Esta

formulação é bastante comum para inseticidas e encontrada também em

alguns herbicidas;

e) Solução Aquosa Concentrada (SAqC): é uma formulação líquida para ser

diluída em água. Na sua elaboração, o ingrediente ativo solúvel, geralmente

na forma de sal, é dissolvido em água, até próximo do limite de saturação.

Esta formulação é muito pouco comum;

f) Grânulo (Gr): formulação de pronto uso, para aplicação via sólida. Na sua

elaboração, partículas sólidas são impregnadas pelo ingrediente ativo. Essas

partículas são relativamente grandes e podem ser de materiais os mais

diversos: silicatos, argila granulada, gesso, resíduos, vegetais triturados e

homogeneizados (sabugos, bagaço), plásticos, etc. Dentre as formulações

granuladas predominam os inseticidas sistêmicos, sendo mais raros os

fungicidas e os herbicidas;

g) Suspensão Concentrada (SC): é uma formulação líquida para ser diluída em

água. Surgiu para contornar as dificuldades apresentadas pelo pó-molhável,

sendo elas: dificuldade de se medir a dose, a necessidade de se preparar

uma pasta à parte antes de diluição final, desgaste e entupimento de bicos

pulverizadores, além do perigo de inalação do pó durante a preparação da

calda. Essas dificuldades foram superadas e a suspensão concentrada pode

ser diretamente despejada no tanque do pulverizador, estando o agitador

ligado. Esta formulação é bastante utilizada para herbicidas e fungicidas;

h) Ultra Baixo Volume (UBV): é uma formulação líquida de pronto uso, para

aplicação em pulverização a ultra baixo volume. Na sua elaboração, o

ingrediente ativo é dissolvido em um solvente que deve possuir as seguintes

propriedades: volatilidade muito baixa; alta capacidade de dissolução do

ingrediente ativo; baixa viscosidade; não fitotóxico e compatível com o

ingrediente ativo. Esta formulação era bastante popular entre 1965 e 1975,

época em que muitos inseticidas foram empregados em pulverização a UVB,

Page 39: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

25

tanto por equipamentos terrestres como por meio de aeronaves. Atualmente,

ainda existem alguns inseticidas e fungicidas nesta formulação.

Além de formulações citadas existem outras menos comuns, geralmente

destinadas a usos específicos, como: comprimido (CP), tablete (TB), pastilha (PA),

pasta (PT), fibras plásticas (FP), grânulos dispersíveis em água (GRDA), etc.

(MATUO, 1990, p. 16).

A apresentação do produto deve ser cuidadosamente observada e a

aquisição feita mediante receituário agronômico, isto evitará desperdícios, riscos à

saúde humana e ao meio ambiente.

3.4.2.2 Formas de aplicação

A aplicação ocorre através de equipamentos especiais, dependendo do

estado físico do material a aplicar. Os métodos de aplicação dividem-se,

basicamente, em aplicações via sólida, via líquida ou via gasosa. Dentre esses, a

aplicação via líquida com o preparo da calda, é o método predominante. A aplicação

via gasosa é bastante restrita, devido às dificuldades associadas ao processo.

3.4.2.2.1 Aplicação via sólida

Segundo MATUO (1990, p. 17), uma de suas principais vantagens dessa

aplicação, é a não utilização da água, o que dispensa diluição pelo usuário. Nessas

aplicações, as formulações estão prontas para o uso, isto é, já se encontram diluídas

em concentrações adequadas para o campo.

Dependendo da granulometria do material, a aplicação de sólidos comporta

duas modalidades: aplicação de pó e aplicação de grânulo.

a) Aplicação de pós:

A aplicação de pó, conhecida como polvilhamento, consiste na utilização da

formulação pó seco. Esta prática está entrando em desuso, devido a algumas

Page 40: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

26

desvantagens que a tornaram inviável nos dias atuais, sendo substituído por outros

processos mais eficientes.

Sendo constituído de partículas finas (abaixo de 30 µm) de pequena massa, a

aplicação do pó encerra aspectos bastante críticos, pois essas partículas são

facilmente carregadas pelas correntes de ar, podendo alcançar a dezenas de

quilômetros (MATUO, 1990, p. 17).

Uma outra desvantagem está relacionada a pouca tenacidade do depósito

sobre a superfície tratada. O pó adere com pouca força e qualquer distúrbio (chuva,

vento, etc.) é capaz de removê-lo com facilidade.

A heterogeneidade na distribuição do ingrediente ativo é outra grande

desvantagem. Na maioria das formulações de pó seco, somente uma parte das

partículas carrega na sua superfície o ingrediente ativo, a grande maioria das

partículas funcionam como diluente. Durante a aplicação através da corrente de ar,

as partículas de densidades diferentes se separam, depositando-se a diferentes

distâncias, isto é, dentro de uma faixa existirão regiões onde a proporção do

ingrediente ativo é maior que as outras.

Além dessas desvantagens, cita-se o risco de contaminação para o aplicador

no processo de polvilhamento, devido ao tamanho das partículas.

Dentre as vantagens destaca-se a alta capacidade operacional expressa em

hectares por hora (ha/h), ou seja, rendimento das máquinas polvilhadoras, devido a

grande largura de tratamento que é possível alcançar (MATUO, 1990, p. 18).

b) Aplicação de grânulos:

A aplicação de grânulos tem aumentado consideravelmente nos últimos anos.

São bastante utilizados para aplicação no solo para controle de pragas que se

alimentam da seiva (insetos e ácaros), larvas de brocas, etc. Inseticidas de contato

são granulados e aplicados no controle de pragas da parte aérea das gramíneas.

Herbicidas granulados estão cada vez mais presentes, e fungicidas também são

experimentados nessa formulação (MATUO, 1990, p. 19).

Uma das vantagens dos granulados é que por suas partículas serem

suficientemente pesadas, conseguem resistir à ação do vento durante a aplicação,

Page 41: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

27

tornando o processo mais seguro, sendo que até os produtos altamente tóxicos

podem ser aplicados com relativa segurança.

A aplicação pode ser efetuada com equipamentos mais simples, fazendo com

que seja mais facilmente aceita nas regiões subdesenvolvidas.

O desenvolvimento do processo de aplicação de granulados tem sido lento,

porém progressivo. Uma das causas dessa lentidão é a inexistência de máquinas

aplicadoras, que por serem demasiadamente simples não despertam o interesse dos

grandes fabricantes (MATUO, 1990, p. 20).

3.4.2.2.2 Aplicação via líquida

Nesta modalidade, geralmente uma formulação é diluída em um líquido

apropriado antes da aplicação. O diluente mais aplicado é a água e as formulações

empregadas são: pó molhável, suspensão concentrada, pó solúvel, concentrado

emulsionável e solução concentrada. A calda, resultante da adição do diluente à

formulação, possui a concentração adequada para a aplicação. Há casos em que a

aplicação via líquida se faz sem a adição do diluente, sendo, neste caso, o UBV.

Via de regra, a aplicação é feita na forma de gotas (pulverização), havendo,

no entanto, casos em que se faz na forma de filete líquido (rega ou injeção) ou na

forma de gotas muito diminutas formando neblina (nebulização).

A adesividade das partículas líquidas no alvo é muito superior à do pó, bem

como a sua tenacidade, o que leva a recomendação de dosagens muito baixas.

Como o método é bastante antigo, existem muitos tipos de equipamentos

apropriados para as mais variadas situações, bem como as formulações existentes

estão bem desenvolvidas para serem miscíveis à água (MATUO, 1990, p. 21).

3.4.2.3 Equipamentos e técnicas de aplicação

Os equipamentos para a aplicação de defensivos agrícolas são numerosos e

podem ser classificados segundo o material que aplicam. Assim a polvilhadora aplica

pó; a granuladora, os grânulos; o pulverizador, as gotas, e o nebulizador, a neblina.

Page 42: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

28

As polvilhadoras aplicam a formulação pó seco, de pronto uso. A base do

processo consiste em assoprar o pó sobre a área a ser tratada. Portanto, o

equipamento deve possuir, no mínimo, um reservatório para se colocar o pó e um

sistema de ventilação. Para poder controlar a vazão do pó, um sistema dosador

regula a quantidade de saída do pó. As polvilhadoras costais manuais foram, muito

utilizadas em cafezais para o controle da broca. As polvilhadoras de grande porte,

tratorizadas, foram empregadas na lavoura de algodão. Hoje, praticamente, estes

equipamentos estão em desuso, substituído por outros processos mais seguros e

eficazes (MATUO, 1990, p. 39).

Ao contrário do que ocorre com o polvilhamento, a aplicação de granulados

vem crescendo gradativamente. A máquina aplicadora é ainda mais simples que as

polvilhadoras, pois dispensa o ventilador.

Os aplicadores via líquida podem ser divididos em injetores, pulverizadores e

nebulizadores. Os injetores aplicam filete líquido (sem fragmentação em gotas), os

pulverizadores aplicam gotas e os nebulizadores, neblina (gotas menores que 50

µm).

No Brasil a utilização de injetores e nebulizadores, são de pouco uso. As

atenções concentram-se em pulverizadores, que aplicam a maior parte dos

defensivos agrícolas (Figuras 2 e 3).

Os pulverizadores possuem três pontos em comum: o líquido armazenado no

tanque é conduzido por meio de uma bomba (às vezes por gravidade) até uma ou

mais saídas, denominadas bicos. O bico é a peça final do pulverizador e tem por

função formar gotas (Quadro 1) (MATUO, 1990, p. 53).

Quadro 1 – Tipos de Bicos e Suas Aplicações

(Continua)

ENERGIA TIPO USOS

Hidráulica Impacto

Bico de baixa pressão

com gotas grandes.

Aplicação de herbicida.

Page 43: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

29

Quadro 1 – Tipos de Bicos e Suas Aplicações

(Conclusão)

ENERGIA TIPO USOS

Leque

Para pulverização de

superfícies planas como

solo e parede. Hidráulica

Cone Para pulverização de

folhagens.

Gasosa Pneumático

Pulverização de

folhagens, especialmente

árvores e arbustos.

Centrífuga Disco ou gaiola rotativa

Aplicação de volumes

mínimos com controle do

tamanho de gotas.

Baixa rotação para gotas

grandes.

Alta rotação para gotas

pequenas.

Cinética Vibratório

Gotas grandes e

uniformes para evitar

deriva.

Térmica Tratamento espacial em

armazéns e florestas

Elétrica Eletrostático

Gotas eletricamente

carregadas e atraídas por

objetos aterrados.

Fonte: MATUO (1990, p. 54) adaptado de MATTHEWS (1979, [ _ ])10

Citam-se ainda outras formas de aplicação inovadoras, porém pouco usuais,

sendo elas: processo de aplicação de gotas controladas (Controlled Drop Application

– CDA), pulverização eletrostática, sistema de suspensão de barras auto-estáveis,

10 MATTHEWS, G. A. Pesticide application methods. London, Longman, 1979, p. 334.

Page 44: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

30

controle eletrônico dos pulverizadores, aplicação por contato direto (Direct Contact

Application – DCA), entre outras (MATUO, 1990, p. 102).

Figura 2. Técnica de Pulverização por Meio de Aviões

Fonte: PLANETA ORGÂNICO ([ _ ], [ _ ])

Figura 3. Técnica de Pulverização Manual

Fonte: PARAÍBA (2004, [ _ ])

3.5 Embalagens vazias

3.5.1 Programa Terra Limpa

A utilização dos agrotóxicos traz consigo a geração de uma nova categoria de

resíduos, as embalagens vazias de defensivos agrícolas, as quais eram indicadas,

por Lei Federal, a serem enterradas em covas a camadas geologicamente estáveis,

especialmente abertas para esta finalidade.

Page 45: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

31

Porém, grande parte das embalagens eram descartadas em rios, queimadas

a céu aberto, abandonadas nas lavouras, enterradas sem critério algum, inutilizando

áreas agricultáveis e possibilitando a contaminação de lençóis freáticos, solo e ar,

quando não eram recicladas sem controle ou até utilizadas para o acondicionamento

de água e alimentos (PELISSARI et al, 1999, p. 01).

Com a saturação das propriedades quanto à capacidade de enterrar

quantidades contínuas de embalagens e a preocupação com a ausência de

informações sobre os perigos potenciais dessas embalagens contaminadas pelo

resíduo do produto agroquímico, iniciaram-se, em 1992, os estudos do Governo do

Estado do Paraná, dando origem ao programa Terra Limpa, que tinha por objetivos:

a) Envolver as entidades governamentais e não governamentais;

b) Divulgar o programa e principalmente o método da tríplice lavagem das

embalagens de agrotóxicos;

c) Levar a educação ambiental aos agricultores, profissionais e estudantes;

d) Construir cerca de 30 Unidades Regionais de Recebimento e Triagem das

embalagens tríplice lavadas;

e) Treinar os operadores das unidades;

f) Estabelecer termos de colaboração entre municípios;

g) Cadastrar todas as propriedades rurais que fazem uso de agrotóxicos e seus

tipos;

h) Efetuar a reciclagem deste material em indústrias licenciadas;

i) Fomentar o estabelecimento e licenciamento de indústrias que se adaptem a

reciclagem destes materiais tríplice lavados no Estado;

j) Orientar a correta comercialização do material reciclado; e

k) Limpar por completo todas as propriedades rurais das embalagens

contaminadas, estacadas anteriormente.

Com a implantação do projeto as áreas rurais contaminadas por esta classe

de resíduos, seriam reabilitadas e na seqüência não seria permitido o

armazenamento de embalagens não tríplice lavadas nas propriedades rurais

novamente. O projeto também visava um levantamento de dados, que resultaria em

um diagnóstico do Estado em relação ao uso de agrotóxicos, como também, o

Page 46: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

32

volume potencial ainda existente de embalagens não tríplice lavadas ou produtos a

serem recolhidos (PELISSARI et al, 1999, p. 06).�

3.5.2 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

Para atender às novas exigências legais da Lei Federal 9.974/00, que passou

a distribuir responsabilidades dentro da cadeia produtiva agrícola, ou seja, agricultor,

fabricante, sistema de comercialização e, envolvendo ainda, o poder público, uma

consultoria foi contratada, em meados de 2001, para avaliar os principais processos

de trabalho, chegando-se à conclusão de que seria necessária a criação de uma

entidade capaz de coordenar todo o processo de destinação final das embalagens

vazias. Assim, em 14 de dezembro de 2001 foi fundado o Instituto Nacional de

Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), uma iniciativa da indústria como

forma de atender às responsabilidades sociais e ambientais no que se refere à

destinação final das embalagens dos produtos fitossanitários comercializados.

Em março de 2002, o inpEV passou a operar com o apoio de 22 empresas

pioneiras e encerrou o ano com 3.700 toneladas de embalagens vazias devolvidas.

O ano de 2003 foi finalizado com 230 unidades de recebimento espalhadas por todo

o país e um total de recolhimento de 7.855 toneladas de embalagens vazias de

defensivos agrícolas.

Até o final do ano de 2004 o número de unidades de recebimento era cerca

de 300, todas licenciadas pelo órgão ambiental do estado (IAP), e com um total de

recebimento de embalagens de 14.824 toneladas, ou seja, mais de 61% do volume

colocado no mercado brasileiro e quase 100% de crescimento em relação ao ano

anterior. O mês de abril de 2005 totalizou 1.554.824 embalagens vazias devolvidas

em 13 estados brasileiros (Tabela 3).

O inpEV possui em seu rol de associados, 99% das empresas fabricantes de

defensivos agrícolas do Brasil e as 7 principais entidades de classe do setor.

Como associados do inpEV, podemos citar: Associação Nacional de Defesa

Vegetal (ANDEF); Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas

(AENDA), Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola

(SINDAG), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Organização das

Page 47: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

33

Cooperativas Brasileiras (OCB), Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos

Agrícolas e Veterinários (ANDAV) e Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG).

O instituto possui parceria com 13 empresas recicladoras que transformam as

embalagens vazias de defensivos agrícolas em mais de 15 materiais como conduíte

corrugado, madeira plástica, barricas para incineração, dutos corrugados,

economizadores de concreto, sacos plásticos para lixo hospitalar, tampas, luvas

para emenda, dentre outros (inpEV, 2005a, [ _ ]).

Tabela 3 – Recolhimento de Embalagens Vazias por Estado (Kg) em Abril de

2005

ESTADO LAVADAS CONTAMINADAS TOTAL

Mato Grosso 263.030 6.000 269.030

Rio Grande do Sul 247.100 0 247.100

Paraná 210.078 13.190 223.268

São Paulo 221.740 0 221.740

Goiás 162.300 20.272 182.572

Minas Gerais 115.250 11.400 126.650

Mato Grosso do Sul 112.100 2.350 114.450

Bahia 90.289 2.400 92.689

Espírito Santo 10.679 9.300 19.979

Santa Catarina 19.960 0 19.960

Alagoas 17.210 0 17.210

Pernambuco 12.836 0 12.836

Roraima 7.340 0 7.340

TOTAL 1.489.912 64.912 1.554.824

Fonte: inpEV (2005b, [ _ ])

3.5.3 Responsabilidades

A Lei Federal de agrotóxicos define responsabilidades a todos os setores da

cadeia produtiva agrícola.

Page 48: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

34

Ao agricultor, cabe efetuar a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão da

embalagem vazia de defensivo agrícola, inutilizá-la a fim de evitar o

reaproveitamento, armazená-las temporariamente na propriedade em recinto

coberto, ao abrigo da chuva, ventilado, semi aberto ou no próprio depósito das

embalagens cheias, e devolvê-las na unidade de recebimento indicada na nota fiscal

até um ano após a compra, após haver acumulado uma quantidade de embalagens

que justifique o seu transporte de uma forma economicamente viável.

As embalagens poderão ser armazenadas com ou sem suas respectivas

tampas. Neste último caso, as tampas deverão ser armazenadas, separadamente,

em sacos plásticos novos e resistentes (PELISSARI et al, 1999, p. 22).

Os canais de distribuição devem, ao vender o produto, indicar o local de

entrega da embalagem na nota fiscal. Cabe aos mesmos, disponibilizar e gerenciar o

local de recebimento, emitir o comprovante de entrega da embalagem e orientar e

conscientizar o produtor rural.

A indústria tem a responsabilidade de recolher as embalagens vazias

devolvidas às unidades de recebimento, dar a correta destinação final (reciclagem

ou incineração). Também devem implementar, em colaboração com o Poder

Público, programas educativos de orientação e conscientização do agricultor (inpEV,

2005c, [ _ ]).

3.5.3.1 Fluxo do sistema

a) Comércio de produtos agrícolas: no ato da venda do produto, o usuário deve

ser informado sobre os procedimentos de lavagem, acondicionamento,

armazenamento, transporte e devolução de embalagens vazias. O endereço

da unidade de recebimento de embalagens vazias mais próximo deve ser

informado ao usuário e deve constar no corpo da Nota Fiscal de venda do

produto;

b) Tríplice lavagem ou lavagem sob pressão no momento de preparo da calda: o

usuário deve preparar as embalagens vazias para devolvê-las às unidades de

recebimento. As embalagens são classificadas em laváveis (embalagens

rígidas: plásticas, metálicas e de vidro) e não-laváveis (embalagens flexíveis:

Page 49: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

35

sacos plásticos, de papel, metalizadas, mistas ou de outro material flexível e

embalagens secundárias não-contaminadas) e aquelas que não utilizam água

como veículo de pulverização (embalagens para tratamento de sementes,

UBV e formulações oleosas). Como a maioria das embalagens são laváveis, é

fundamental a prática da tríplice lavagem ou lavagem sob pressão no

momento do preparo da calda para destinação final correta. A embalagem

deve ser inutilizada com o fundo perfurado;

c) Aplicação de produto fitossanitário: após a realização da dosagem no tanque

e da prática da tríplice lavagem ou lavagem sob pressão, o produto pode ser

aplicado de acordo com as recomendações de rótulo e bula;

d) Armazenamento provisório na propriedade em local apropriado: as

embalagens vazias podem ser armazenadas temporariamente na propriedade

rural com suas respectivas tampas e rótulos nas caixas de papelão original,

no mesmo local destinado ao armazenamento dos produtos cheios ou em

local coberto, ventilado e ao abrigo de chuva. Sempre guardar as embalagens

longe de residências, alojamentos e nunca junto com alimentos ou rações;

e) Transporte apropriado até o posto de recebimento: e de responsabilidade do

usuário o transporte das embalagens vazias até a unidade de recebimento

indicada na nota fiscal de compra, no prazo de um ano da data da compra.

Se, após esse prazo, remanescer produto na embalagem, é facultada sua

devolução em até seis meses após o término do prazo de validade. Esse

transporte não pode ser junto com pessoas, animais, alimentos,

medicamentos ou ração animal, como também não deve ser transportada

dentro das cabines dos veículos automotores;

f) Posto de Recebimento de Embalagens: são construções geralmente

menores, geridas por uma Associação de Distribuidores e realizam os

seguintes serviços:

− Recebimento de embalagens lavadas e não lavadas;

− Inspeção e classificação das embalagens entre lavadas e não lavadas;

− Emissão de recibo confirmando a entrega das embalagens;

− Encaminhamento das embalagens às centrais de recebimento;

Page 50: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

36

g) Transporte das embalagens à Central de Recebimento: O inpEV é

responsável pelo transporte adequado das embalagens devolvidas de Postos

para Centrais através de um telefone 0800 informado quando do

credenciamento do posto. Alguns usuários devolvem as embalagens

diretamente às centrais separadas em lavadas e não lavadas, de acordo com

legislação de transportes. As embalagens provenientes de postos chegam às

centrais separadas em lavadas e não lavadas e também por matéria-prima;

h) Unidade Central de Recebimento de Embalagens Vazias: são construções

maiores, bem estruturadas, geridas usualmente por uma Associação de

Distribuidores com o co-gerenciamento do inpEV e realizam os seguintes

serviços:

− Receber as embalagens lavadas e não lavadas (de agricultores, postos

e estabelecimentos comerciais licenciados) que devem ser

armazenadas separadamente das lavadas, em local segregado,

identificado com placas de advertência, ao abrigo das intempéries, com

piso pavimentado, ventilado, fechado e de acesso restrito;

− Inspecionar e classificar as embalagens entre lavadas e não lavadas;

− Emitir o recibo confirmando a entrega das embalagens;

− Separar as embalagens por tipo (PET, COEX, PEAD, Metálica,

papelão);

− Compactar as embalagens por tipo de material;

− Emitir a ordem de coleta para que o inpEV providencie o transporte

para o destino final (reciclagem ou incineração);

i) Separação das embalagens por tipo de material para posterior prensagem e

confecção de fardos: as centrais de recebimento realizam o trabalho de

Inspeção e classificação das embalagens entre lavadas e não lavadas;

emissão de recibo confirmando a entrega das embalagens; separação das

embalagens por tipo (PET, COEX, PEAD, Metálica, papelão), compactação

das embalagens por tipo de material e emissão de ordem de coleta para que

o inpEV providencie o transporte para o destino final (reciclagem ou

incineração);

Page 51: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

37

j) Descarregamento de fardos de embalagens em recicladoras: o transporte dos

fardos de embalagens plásticas, metálicas e tambores contendo vidro moído

entre centrais de recebimento e o destino final é de responsabilidade do

inpEV. As embalagens não lavadas são transportadas em big bags de 1.000

litros. Para gerir o processo logístico, o inpEV utiliza o conceito de logística

reversa, que consiste em disponibilizar o caminhão que leva os agrotóxicos

(embalagens cheias) para os distribuidores e cooperativas do setor e que

voltaria vazio, para trazer as embalagens vazias (a granel ou compactadas)

armazenadas nas unidades de recebimento. Esta forma de logística foi

viabilizada através da parceria com a empresa do Grupo Luft, líder no

transporte de defensivos agrícolas no Brasil.

k) Recicladora: o sistema de destinação final de embalagens vazias possui

empresas parceiras que realizam o trabalho de reciclagem das embalagens

que são lavadas e devolvidas pelos agricultores e produzem uma variedade

de mais de 10 diferentes artigos;

l) Incineradora: as centrais de recebimento realizam o trabalho de Inspeção e

classificação das embalagens entre lavadas e não lavadas; emissão de recibo

confirmando a entrega das embalagens; separação das embalagens por tipo

(PET, COEX, PEAD, Metálica, papelão), compactação das embalagens por

tipo de material e emissão de ordem de coleta para que o inpEV providencie o

transporte para o destino final (reciclagem ou incineração) (inpEV, 2005d,

[ _ ]).

Figura 4. Síntese do Processo de Destinação Final no Brasil

Fonte: inpEV (2005e, [ _ ])

Gestão do Processo de Destinação no Brasil

Recebimento

Armazenagem

nos postos

Transporte dos postos às centrais

Armazena- gem nas centrais

Transporte das centrais à

destinação final

Destinação final

(reciclagem ou incineração)

Page 52: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

38

3.5.4 Características das embalagens

3.5.4.1 Tipos de embalagens

a) Embalagens rígidas: são aquelas que não utilizam como veículo de

pulverização – embalagens de produtos para tratamento de sementes, UVB e

formulações oleosas.

Quadro 2 – Tipo da Embalagem Rígida Quanto à Matéria Prima

TIPO COMPOSIÇÃO DESTINO

Metal

Aço

Folha de flandres

Alumínio

Tarugos de aço

Vergalhões

Alumínio reciclado

Plástico

PEAD *

COEX **

PET ***

Conduítes

Conduítes

Fios para escovas e carpetes

Vidro VIDRO VIDRO

Fibrolata Aparas de madeira Queima

* Polietileno de alta densidade

** Polietileno co-extrudado multicamada

*** Polietileno tereftalato

Fonte: MACÊDO (2002, p. 265)

b) Embalagens Flexíveis: sacos ou saquinhos de papel, metalizados, mistos ou

de outro material flexível.

Quadro 3 – Tipo da Embalagem Flexível Quanto à Matéria Prima

(Continua)

TIPO COMPOSIÇÃO DESTINO

Papelão Celulose Queima

Papel

Multifolhado Celulose Incineração

Page 53: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

39

Quadro 3 – Tipo da Embalagem Flexível Quanto à Matéria Prima

(Conclusão)

TIPO COMPOSIÇÃO DESTINO

Cartolina Celulose Queima

Plástico PEBD *

Papel + plástico metalizado

Incineração

Incineração

Mista Papel + alumínio Plastificado

Papel Plastificado

Alumínio reciclado /

incineração

Incineração

* Polietileno de baixa densidade

Fonte: MACÊDO (2002, p. 266)

c) Embalagens secundárias: refere-se às embalagens rígidas ou flexíveis que

acondicionam embalagens primárias, não entram em contato direto com as

formulações de agrotóxicos, sendo consideradas embalagens não

contaminadas e não perigosas, tais como, caixas coletivas de papelão,

cartuchos de cartolina, fibrolatas e as embalagens termomoldáveis. São

consideradas embalagens de transporte (MACÊDO, 2002, p. 255).

3.5.4.2 Evolução das embalagens

A indústria de produtos fitossanitários tem direcionado esforços e

investimentos visando à melhoria das embalagens tradicionais, priorizando não

apenas a segurança no transporte, armazenamento e manuseio, quando a

formulação encontra-se concentrada, mas principalmente com a introdução de novas

tecnologias para facilitar o destino final das embalagens.

O “design” atual das bombonas plásticas, por exemplo, segue o padrão da

Federação Global de Proteção de Plantas (GCPF), para capacidade superior a 3

litros, que permita o completo esvaziamento sem riscos de respingos, onde as

principais características são: bocal mais largo (63 mm) para facilitar a saída do

líquido e a entrada de ar, antes era de 38 mm; formato tipo funil; cantos

Page 54: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

40

arrendodados e alça bloqueada, uma vez que a alça oca facilita a retenção do

produto e dificulta a lavagem.

Esta nova concepção reduziu o tempo médio de limpeza em três vezes e o

nível de resíduos após o esgotamento em até 18 vezes (MACÊDO, 2002, p. 262).

3.5.5 Tríplice lavagem e lavagem sob pressão

3.5.5.1 Importância

Após serem esvaziadas, as embalagens rígidas de agrotóxicos normalmente

retém quantidades variáveis de produto no seu interior, de acordo com a superfície

interna, formato e formulação. A quantidade média de sobras no interior de uma

embalagem é de aproximadamente 0,3% do volume da embalagem após o

esvaziamento, conforme dados de trabalhos científicos realizados em laboratório.

Embalagens com produtos formulados como suspensão concentrada normalmente

retém quantidades maiores.

A lavagem das embalagens vazias seja através de processo manual ou

mecânico (sob pressão), é fundamental para redução dos resíduos internos, além de

ser o primeiro passo para a destinação final.

Após o processo de tríplice lavagem das embalagens, os resíduos de

produtos reduzem-se, aproximadamente, às concentrações:

− 1º lavagem: 1,2%;

− 2º lavagem: 0,0144%;

− 3º lavagem: 0,0001728%.

Segundo pesquisa realizada em análise de resíduos, comprovam que os

níveis de resíduos encontrados na 4º água de lavagem de embalagens de produtos

fitossanitários estão dentro dos parâmetros internacionalmente aceitos, sempre

abaixo de 100 ppm, como é estabelecido em Normas adotadas em países como a

Holanda e a França (PELISSARI et al, 1999, p. 18).

Quando as embalagens de agrotóxicos são processadas após a realização da

tríplice lavagem, os riscos de contaminação tornam-se desprezíveis e os benefícios

com este processo são, segundo PELISSARI et al (1999, p. 04):

Page 55: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

41

a) Economia: assegura total aproveitamento do conteúdo da embalagem, uma

vez que a calda resultante da lavagem é despejada no tanque do

pulverizador;

b) Segurança: reduz significativamente os riscos para a saúde das pessoas;

c) Ambiente: Protege o meio ambiente e reduz os riscos de contaminação, além

de facilitar o encaminhamento para pontos de coleta e viabilizar a reciclagem

do material.

d) Normativos: permite classificar as embalagens como resíduo não-perigoso.

3.5.5.2 Procedimentos

3.5.5.2.1 Tríplice lavagem

As embalagens rígidas (metálicas, plásticas e de vidro) que acondicionam

formulações líquidas de defensivos agrícolas miscíveis ou dispersíveis em água,

podem e devem ser submetidas à tríplice lavagem, isto é, enxaguadas internamente

três vezes, logo após o esvaziamento da embalagem, e as águas da lavagem

vertidas no tanque do pulverizador.

A tríplice lavagem deve ser realizada durante a operação de preparo da calda,

na ocasião em que o conteúdo da embalagem é totalmente despejado no tanque do

pulverizador (PELISSARI et al, 1999, p. 19).

O processo de fazer a tríplice lavagem, passa pelas seguintes etapas (Figura

5) (MACÊDO, 2002, p. 257):

a) Esvaziar completamente a embalagem no tanque do pulverizador;

b) Adicionar água limpa à embalagem até ¼ do seu volume;

c) Tampar a embalagem e agitá-la por 30 segundos;

d) Despejar a calda resultante no tanque do pulverizador;

e) Repetir a mesma operação três vezes;

f) Inutilizar a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.

Page 56: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

42

Figura 5. Procedimentos para Efetuar a Tríplice Lavagem

FONTE: inpEV (2005f, [ _ ])

3.5.5.2.2 Lavagem sob pressão

O processo de lavagem sob pressão, só pode ser realizado em

pulverizadores com acessórios adaptados para esta finalidade.

O equipamento desenvolvido pela Jacto Máquinas Agrícolas S/A e a Novartis,

utiliza a própria bomba do pulverizador para gerar a pressão para o bico de lavagem.

A água limpa utilizada para lavagem das embalagens é captada pela própria bomba

do pulverizador de um tanque extra que pode ou não ser integrado ao equipamento

(PELISSARI et al, 1999, p. 21).

O processo de lavagem sob pressão consiste nas seguintes etapas (Figura 6)

(MACÊDO, 2002, p. 257):

a) Encaixar a embalagem vazia no local apropriado do funil instalado no

pulverizador;

b) Acionar a alavanca para liberar o jato de água;

c) Direcionar o jato d’água para todas as paredes internas da embalagem por 30

segundos;

d) A calda da lavagem é transferida automaticamente para o interior do tanque

pulverizador;

e) Inutilizar a embalagem plástica ou metálica, perfurando o fundo.

Figura 6. Procedimentos para Efetuar a Lavagem Sob Pressão

Fonte: inpEV (2005f, [ _ ])

Page 57: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

43

3.5.6 Procedimentos para as embalagens não laváveis

As embalagens flexíveis primárias (que entram em contato direto com as

formulações de agrotóxicos: sacos ou saquinhos plásticos, de papel, metalizados ou

mistos), deverão ser acondicionadas em embalagens padronizadas (sacos plásticos

transparentes) todas devidamente fechadas e identificadas, que deverão ser

adquiridas pelos usuários nos canais de comercialização de agrotóxicos.

As embalagens flexíveis secundárias, não contaminadas, como caixas

coletivas de papelão, cartuchos de cartolina e fibrolatas, deverão ser armazenadas

separadamente das embalagens contaminadas e poderão ser utilizadas para o

acondicionamento das embalagens lavadas ao serem encaminhadas para as

unidades de recebimento.

As embalagens rígidas primárias (cujos produtos não utilizam água como

veículo de pulverização) deverão estar completamente esgotadas, adequadamente

tampadas e sem sinais visíveis de contaminação externa antes de serem

acondicionadas em caixas coletivas de papelão todas devidamente fechadas e

identificadas (GHIZZI, 2005, p. 19).

3.5.7 Formas de destinação final

3.5.7.1 Incineração

Os resíduos são incinerados por processo de combustão completa e

controlada, transformando-os em cinzas inertes e em gases de natureza conhecida e

ambientalmente aceitáveis.

Apesar de ser uma alternativa técnica e ambientalmente viável, apresenta

limitações econômicas, principalmente pelos elevados custos de transporte.

A incineração, no entanto, deve ser preferencialmente adotada para as

embalagens contaminadas que não apresentam em destino alternativo menos

oneroso (MACÊDO, 2002, p. 268).

Entende-se por embalagens contaminadas aquelas que “apresentam resíduos

do produto incrustado, em virtude da não execução da prática da tríplice lavagem”,

Page 58: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

44

ou seja, que não passaram pelo processo de tríplice lavagem (PELISSARI et al,

1999, p. 12).

3.5.7.2 Reciclagem controlada

As matérias primas normalmente utilizadas nas embalagens que

acondicionam produtos fitossanitários são potencialmente recicláveis. Porém, deve-

se considerar que o contato do produto tóxico com a embalagem exige maiores

cuidados, considerando as etapas de lavagem e redução de resíduos, preparação e

destinação final do artefato reciclado.

A reciclagem controlada é uma das alternativas mais viáveis para o destino

final de embalagens vazias de agrotóxicos, pois possui a característica de ser uma

opção lucrativa para o reciclador (MACÊDO, 2002, p. 271).

As embalagens metálicas e as de vidro são facilmente recicláveis, sendo

utilizada respectivamente pelas siderúrgicas e pelas indústrias vidreiras. Os fornos

das siderúrgicas operam com temperaturas acima de 1600 ºC e as indústrias

vidreiras operam com temperaturas acima de 1300 ºC, temperaturas suficientes para

degradar as moléculas dos ingredientes ativos e solventes das formulações dos

agrotóxicos, estando assim todas, devidamente licenciadas para esta operação.

As embalagens plásticas, não são facilmente recicláveis, sendo utilizadas

apenas pelas recicladoras de plásticos. Estas recicladoras devem estar licenciadas

pelo órgão fiscalizador. Estas empresas operam com temperaturas em torno de 200

ºC, não suficiente para degradar as moléculas ativas destes produtos que possam

ainda estar presentes, conseqüentemente o produto final deste material poderá

conter ainda resquícios do ingrediente ativo, estando por isso, limitada a sua

reciclagem, não podendo ser matéria-prima para fabricação de produtos para área

de alimentos ou de saúde (PELISSARI et al, 1999, p. 10).

3.5.8 Sobras de produtos vencidos

O volume da calda deve ser calculado adequadamente para evitar grandes

sobras no final de uma jornada de trabalho, caso pequeno volume de calda sobre no

Page 59: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

45

tanque do pulverizador este deve ser diluído em água e aplicado nas bordaduras da

área tratada ou nos carreadores. As sobras ou restos de produtos nunca devem ser

jogados em rios, lagos ou demais coleções de água.

O produto concentrado que sobra deve ser mantido em sua embalagem

original, esta deve estar fechada adequadamente e ser armazenada em local

seguro.

Os produtos fitossanitários normalmente apresentam prazo de validade,

colocados nos rótulos e bulas, de dois a três anos, tempo suficiente para que sejam

comercializados e aplicados. A compra de quantidades desnecessárias ou falha na

rotação de estoque poderão fazer com que expirem os prazos de validade.

Caso o produto venha a se tornar impróprio para utilização ou em desuso, o

registrante deve ser consultado através do telefone indicado no rótulo para sua

devolução e destinação final (GHIZZI, 2005, p.22).

3.5.9 Fiscalização e licenciamento

A fiscalização é uma das mais importantes atividades, pois garante o bom

funcionamento da prática da tríplice lavagem das embalagens, garantindo também o

controle do licenciamento, regulamentado pela Resolução do Conselho Nacional do

Meio Ambiente, CONAMA nº 334/03, que dispõe sobre os procedimentos de

licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de

embalagens vazias de agrotóxicos.

Outro ponto de vital importância é quanto as recicladoras clandestinas, que

operam sem licenciamento para este fim.

É importante que o usuário mantenha em seu poder, para fins de fiscalização,

os comprovantes de entrega das embalagens (um ano), a receita agronômica (dois

anos) e a nota fiscal de compra do produto (PELISSARI et al, 1999, p. 12).

Page 60: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

46

3.6 Descrição da ASSIPAR

3.6.1 Localização

A Unidade Central de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos,

administrada pela Associação dos Revendedores de Insumos Agropecuários da

Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a ASSIPAR, está situada à Rua João

Gusso, nº 05, no bairro Poço Negro, CEP 83415-060, região rural do município de

Colombo-PR (Figura 05). O telefone para contato é o (41) 3656-7151, sendo o

senhor Fabio Wilson o responsável pela Central. O horário de expediente é de

segunda a sexta-feira das 08:00 às 17:00 horas, com uma hora de almoço. O

número de funcionários registrados é de quatro, sendo que dois trabalham na

própria Central e os outros dois na coleta itinerante em outros municípios da RMC.

A associação tem como presidente o senhor Laercio Nakamura e como

responsável técnica, a senhora Joceli Aparecida Deki. A sede da Associação

localiza-se na Avenida dos Pinheiros, nº 3451, bairro Estação Araucária, CEP

83705-570 (inpEV, 2005g, [ _ ]).

Figura 7. Localização da Unidade Central de Recebimento de Embalagens Vazias

de Agrotóxicos da ASSIPAR.

Fonte: PARANÁ (2003a, p. 42)

Estado do Paraná

Page 61: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

47

3.6.2 A unidade central

Teve início com o programa do governo estadual Terra Limpa, com o

propósito de evitar o armazenamento e reutilização incorreta das embalagens vazias

de agrotóxicos.

Hoje o barracão, com 160 m2 de área construída, é administrado e custeado

pela ASSIPAR. O terreno e o barracão pertencem à Prefeitura Municipal de Colombo

que os cedeu a Associação por meio de um Termo de Permissão de Uso. O custo

de manutenção do barracão é dividido pelos 41 associados da ASSIPAR (a lista com

o nome de todos os associados segue em anexo), sendo que a Central só recebe as

embalagens dos produtos adquiridos em tais revendoras associadas.

O depósito é devidamente licenciado pelo órgão ambiental do estado, IAP, e

está autorizado a receber embalagens tríplice lavadas e embalagens contaminadas

(não tríplice lavadas).

O depósito serve de abrigo às intempéries. Possui piso impermeável,

ventilação, paredes de alvenaria e telas de alambrado. É de acesso restrito, sendo

toda a área entorno cercada com palanques e tela.

Além do barracão existe um escritório com um sanitário (lado direto da Figura

8), que também serve de refeitório aos empregados e um pequeno depósito de

madeira para armazenar os big-bags (Figura 9). O esgoto sanitário proveniente do

banheiro é tratado por um sistema de fossa séptica.

A Associação tem sofrido muitos furtos, principalmente de equipamentos e

materiais, como computadores, cadeiras, mesas, arquivos e também das próprias

embalagens devolvidas, que possuem grande valor comercial.

Page 62: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

48

Figura 8. Vista do Barracão da ASSIPAR.

Figura 9. Vista do Depósito dos Big-bags.

O barracão atende a RMC e municípios da região litorânea do estado, como

Paranaguá, Antonina e Morretes. Nas cidades mais distantes da RMC a coleta é

itinerante. Em Campo Largo, por exemplo, a coleta é feita duas vezes no mês, onde

o caminhão fica, por um período de tempo, estacionado próximo aos comércios de

produtos agropecuários, recebendo as embalagens dos agricultores que foram

comunicados sobre o dia e a hora pelo revendedor, associado a ASSIPAR. O

objetivo é recolher as embalagens vazias de agrotóxicos dos pequenos produtores

Page 63: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

49

de olerícolas11 da região, que pela distância nem sempre acabam devolvendo as

embalagens vazias.

A ASSIPAR conta com a assistência técnica prestada pela Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural, a EMATER, que orienta os agricultores a

utilizar de forma correta os agroquímicos e a evitar o desperdício, reduzindo seu

consumo e, conseqüentemente, a quantidade de embalagens vazias produzidas.

3.6.3 Recolhimento das embalagens vazias

O estado do Paraná encerrou o ano de 2004 com 3.482.480 Kg de

embalagens vazias recolhidas. A ASSIPAR recolheu no ano de 2003 e 2004, 36.044

e 43.654 Kg respectivamente, o que representa uma evolução de 21% de

embalagens recolhidas em um ano (inpEV, 2005g, [ _ ]).

A média mensal de recebimento de embalagens tríplice lavadas e

contaminadas da RMC e região litorânea é de 30.000/mês, sendo que deste total

cerca de 60% são embalagens contaminadas, ou seja, 18.000 embalagens/mês.

O município de Colombo, em média, devolve de 3 a 5% das embalagens

vazias de agrotóxicos, os outros 95% a ASSIPAR não sabe explicar o que é feito.

A Central emite um recibo confirmando a entrega das embalagens pelo

agricultor e se esta foi tríplice lavada ou não pelo mesmo.

As embalagens não tríplice lavadas, as embalagens não laváveis

(embalagens flexíveis), como sacos de papel, metalizados e de plásticos e os rótulos

das embalagens são armazenados em big-bags (Figura 10), cedidos pela empresa

Luft, e posteriormente encaminhados às empresas Clariant, na cidade de Suzano e

Basf em Guaratinguetá, ambas em São Paulo, para incineração. A cada 35 big-

bags, 3400 Kg, aproximadamente, uma carga já pode ser completada.

11 Também conhecidas como hortaliças. Os termos verdura, legumes, hortifrutigranjeiros e hortifrutícolas são populares, mas inadequados (DAROLT, 2002, p. 53).

Page 64: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

50

Figura 10. Vista dos Big-bags Estocados com Material Contaminado (Não Tríplice

Lavados).

Das embalagens contaminadas recebidas na Central, aproximadamente 70%

corresponde ao plástico flexível e 30% as embalagens rígidas que não foram

submetidas a tríplice lavagem.

As embalagens tríplice lavadas são separadas de acordo com o tipo de

material, ou seja, plásticos (PEAD, COEX e PET) (Figura 11) e metais (aço e

alumínio) (Figura 12). Embalagens de vidro não são tão usuais na região.

A cada 100 fardos de plástico rígido, aproximadamente 500 Kg, uma carga já

pode ser completada.

Figura 11. Vista dos Fardos Prensados de PEAD e COEX.

Page 65: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

51

Figura 12 . Vista dos Fardos de Metal.

Depois de triadas, as embalagens lavadas seguem para a prensa (Figura 13),

onde o objetivo é reduzir o volume do material e minimizar os custos no transporte.

Figura 13. Vista da Prensa Compactadora e a Constituição dos Fardos.

Page 66: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

52

As embalagens secundárias de papelão que acondicionam às embalagens

primárias, consideradas não contaminadas, são enfardadas e posteriormente

encaminhadas para a reciclagem (Figura 14). Também são utilizadas para formar as

bases dos fardos prensados das embalagens rígidas.

Figura 14. Vista dos Fardos de Papelão.

As tampas são separadas das embalagens e são enviadas para Xerém no

Rio de Janeiro para a empresa Garboni. (Figura 15). Para cada tampa nova

fabricada, 50% é matéria-prima virgem e 50% é proveniente da reciclagem das

tampas já utilizadas.

Figura 15. Vista das Tampas Separadas das Embalagens Flexíveis.

Page 67: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

53

Quando o produto passou da validade e ainda possui uma quantidade

razoável de formulação a Central não recebe e indica para o agricultor ligar para o

0800 contido no rótulo da embalagem, que informa como este deve proceder.

3.6.4 Transporte

O transporte da Central para as unidades de destinação final é feito pela

empresa do grupo Luft. A Associação emite uma ordem de coleta para que o inpEV

providencie o transporte para o destino final (reciclagem ou incineração), e, em um

prazo de uma semana o caminhão retira a carga. Todo o custo do transporte é

mantido pelos fabricantes de agroquímicos, ficando sob a administração do inpEV.

É importante destacar que o transporte das embalagens contaminadas não é

feito em conjunto com as embalagens tríplice lavadas, justamente para se evitar o

risco de contaminação destas embalagens.

3.6.5 Destinação final

As embalagens tríplice lavadas são encaminhadas para a reciclagem. As

embalagens de COEX são recebidas pelas empresas, Metalúrgica Barra do Piraí

(Rio de Janeiro – RJ) e Cimflex (Maringá – PR). O PEAD é destinado a Dinoplast

(Louveira – SP) e a Cimflex (Maringá – PR). As empresas recicladoras transformam

as embalagens vazias em produtos como conduíte, madeira plástica,

economizadores de concreto, dutos corrugados, etc. (Figura 16).

Figura 16. Produtos Transformados a partir da Reciclagem das Embalagens Vazias

de Agrotóxicos.

Fonte: inpEV (2005h, [ _ ])

Page 68: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

54

As embalagens metálicas são encaminhadas para a Companhia Siderúrgica

Belgo Mineira (Piracicaba - SP) e o papelão para a empresa Pinho Past Ltda

(Guarapuava - PR).

O papelão é vendido por R$ 0,25/Kg e as embalagens plásticas recicláveis

por R$ 0,60/Kg. Esse dinheiro é revertido para a manutenção do barracão e demais

despesas da Associação.

3.6.5 Projeto futuro

Há um projeto de ampliação futura do depósito para que esse venha a ter

maior capacidade de armazenamento, visto que a ASSIPAR tem enfrentado grandes

problemas para estocar o material recebido (Figura 17 e 18).

A nova área fica no município de São José dos Pinhais próxima à fábrica da

AUDI. O projeto prevê a construção de dois barracões, um para embalagens

contaminadas e outro para as não contaminadas, totalizando uma área de 560 m2.

Figura 17. Vista Externa dos Fundos do Barracão em Períodos de Super Lotação

Page 69: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

55

Figura 18. Vista Externa Lateral do Barracão em Períodos de Super Lotação.

3.7 Impactos dos defensivos agrícolas

3.7.1 Toxicidade

Os agrotóxicos podem se classificados, ainda, segundo seu poder tóxico. A

maneira mais simples de se expressar à toxicidade é por meio de dose letal (DL50),

isto é, a dose necessária para matar 50% de uma população, sob determinadas

condições. No Brasil, a classificação toxicológica está a cargo do Ministério da

Saúde (MS) (MACÊDO, 2002, p. 198).

A Toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das

interações de substâncias químicas com o organismo.

Segundo TCHERNITCHIN ([ _ ], [ _ ]), Toxicologia Ambiental é:

“a área da ciência da Toxicologia que estuda os efeitos deletérios decorrentes da interação entre os toxicantes, presentes no meio ambiente (estressores de natureza química ou física), e os diversos sistemas biológicos. Portanto, a toxicologia ambiental estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no macroambiente (ar, água, solo), tendo como objetivo principal o estabelecimento da magnitude dos danos potenciais e o uso seguro das substâncias químicas”.

Page 70: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

56

Define-se por toxicidade a “capacidade inerente e potencial do agente tóxico

de provocar efeitos nocivos em organismos vivos”, sendo o agente tóxico ou

toxicante, a “entidade química capaz de causar dano a um sistema biológico,

alterando uma função ou levando-o à morte, sob certas condições de exposição”.

(PARANÁ, [ _ ], [ _ ]).

A Tabela 4 relaciona as classes toxicológicas com a DL50, comparando-a com

a quantidade suficiente para matar uma pessoa adulta.

Tabela 4 - Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos Segundo DL50

GRUPOS DL50 DOSE CAPAZ DE MATAR UMA PESSOA

ADULTA

Extremamente

tóxicos 5mg/Kg Uma pitada - algumas gotas

Altamente tóxicos 5-50 Algumas gotas -1 colher de chá

Medianamente

tóxicos 50-500 Uma colher de chá - 2 colheres de sopa

Pouco tóxicos 500-5000 Duas colheres de sopa - um copo

Muito pouco tóxicos 5000 ou + Um copo - litro

Fonte: OPAS/OMS (1996, p. 22)

Por determinação legal, todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma

faixa colorida indicativa de sua classe toxicológica, conforme mostra o Quadro 4.

Quadro 4 - Classe Toxicológica e Cor da Faixa no Rótulo do Produto

Agrotóxico

CLASSE CLASSIFICAÇÃO COR

Classe I Extremamente tóxicos Faixa Vermelha

Classe II Altamente tóxicos Faixa Amarela

Classe III Medianamente tóxicos Faixa Azul

Classe IV Pouco ou muito pouco tóxicos Faixa Verde

Fonte: OPAS/OMS (1996, p. 22)

Page 71: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

57

Em geral os biocidas produzem dois tipos de toxicidade (FEIJÓ, 1988, p. 20):

a) Aguda: neste tipo a intoxicação pode ser fatal ou temporária. A toxicidade

aguda é a mais comum em pessoas que manipulam o agrotóxico

(trabalhadores rurais). Ocorre também as intoxicações acidentais com

pessoas ou animais domésticos. Decorre de um único contato (dose única) ou

múltiplos contatos (efeitos cumulativos) com o agente tóxico, num período de

tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos surgem de imediato ou no decorrer

de alguns dias, no máximo duas semanas. Estuda a relação dose/resposta

que conduz ao cálculo da DL50 (Tabela 5).

Tabela 5 - Toxicidade de Alguns Compostos Organoclorados Utilizados como

Defensivos Químicos (Aguda Oral)

TÓXICO DL50 AGUDA ORAL (mg.Kg-1)

(ratos)

Aldrim 67

BHC 800-1000

Clordane 457-515

DDD 2500

DDT 250

Dieldrim 89

Endossulfã 110

Heptacloro 90

Lindane 125

Metoxicloro 5000

Pentaclorofenol 78

Fonte: MACÊDO (2002, p. 200)

b) Crônica: na toxicidade crônica, pode haver ou não sintoma de intoxicação,

dependendo do nível de administração do defensivo e a duração da

exposição. Além dos produtores rurais que manipulam o produto, pode

ocorrer contaminação dos alimentos advindos, daí, a intoxicação crônica.

Resulta efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do

Page 72: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

58

toxicante ou agente tóxico, num período prolongado, geralmente maior de três

meses a alguns anos.

3.7.2 Impacto ecológico no ambiente

Os agrotóxicos e seus produtos em decomposição acham-se amplamente

distribuídos na biosfera. Segundo UASKA et al (1987, p.17), há várias maneiras de

introdução dos agrotóxicos no ambiente, quer diretas, quer indiretas.

A contaminação direta resulta, em sua maioria, da aplicação do agrotóxico

para controle de pragas agrícolas. Já a contaminação indireta, resulta de outras

fontes não resultantes da aplicação direta para o controle de pragas. Citam-se como

exemplos para este caso, os resíduos industriais contendo praguicidas ou

compostos relacionados que são freqüentemente lançados aos rios, as partículas de

agrotóxicos suspensas no ar após pulverizações e polvilhamentos que podem ser

depositadas a grandes distâncias, sendo que, somente de 10 a 20% dos agrotóxicos

aplicados em polvilhamento e de 25 a 50% em pulverizações, são depositados sobre

a superfície da planta. A erosão do solo também pode transferir restos de

praguicidas para áreas não tratadas, as enxurradas que transportam um grande

volume de resíduos tóxicos de áreas agrícolas para os oceanos, mares e rios, o

descarte de sobras de agrotóxicos e lavagem dos aplicadores na água, o

lançamento de agrotóxicos em esgoto doméstico e ainda o descarte de animais

mortos por intoxicação e de alimentos contaminados.

De acordo com MACÊDO (2002, p. 212) citando MATOS (2001, [ _ ])12, sabe-

se que, em média, apenas 1% dos pesticidas aplicados consegue atingir

efetivamente as pragas ou insetos a que se destina, o restante vai para o solo, ar e

água. Na sub-bacia do Pirapó, bacia do Paraná, 97,2% das amostras de água de

abastecimento e 100% das amostras procedentes dos mananciais apresentou

resíduos de pesticidas.

12 MATOS, A. T. Uso racional dos recursos naturais e seus reflexos no meio ambiente – Poluição Ambiental e seus Efeitos. Módulo 6. Brasília: ABEAS – Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior, 2001, p.121.

Page 73: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

59

Os problemas causados pela falta de rigidez no controle sobre a produção,

comercialização e emprego dos produtos químicos nas culturas têm causado sérios

danos ao meio ambiente.

3.7.2.1 Impactos no ar

De acordo com UASKA et al (1987, p.20), a presença e a persistência de

agrotóxicos no ar depende da natureza química e física dos tóxicos, do método de

aplicação e das condições atmosféricas.

Alguns herbicidas com alta pressão de vapor volatilizam-se facilmente,

mesmo durante as aplicações. Foi atestada a contaminação do ar através da

volatização de organoclorados e organofosforados. Seus resíduos permanecem na

parte posterior da terra e com a chuva ou irrigação intensifica-se a vaporização,

fazendo com que as partículas tóxicas elevem-se aos ares, onde acabam ficando

depositadas.

Os ventos podem levar para a atmosfera grande quantidade de partículas

tóxicas, conduzindo-as por longas distâncias, para depois lançá-las novamente no

solo.

Aplicações aéreas, efetuadas sem os cuidados necessários, acarretam a

perda de 10 a 70% dos produtos aplicados, poluindo gravemente o ar e afetando as

populações das cidades próximas às culturas tratadas.

Além destes aspectos há ainda a luz ultravioleta que promove a

fotodegradação de muitos inseticidas na atmosfera (RÜEGG et al, 1991, p.43).

3.7.2.2 Impactos no solo

O solo é o compartimento do agroecossistema considerado mais complexo e

cuja probabilidade de contaminação por pesticidas é a maior, principalmente porque

é onde as aplicações são feitas, ou onde cai a folhagem tratada ou água de chuva

que lavou a superfície dessa folhagem tratada. Os resíduos podem interagir com as

fases sólida, líquida e gasosa, e com a porção viva do solo, isto é, com a microbiota

(ANDRÉA, 1999, [ _ ]).

Page 74: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

60

Os solos podem ser contaminados tanto por aplicação direta de agrotóxicos

como por aplicação aérea. A persistência dos agrotóxicos nos solos dependem das

propriedades físicas e químicas dos tóxicos, da temperatura e da umidade do solo,

da cobertura vegetal, da intensidade da cultura e aplicação do veneno, de

microorganismos e da formulação dos praguicidas.

Os hidrocarbonetos clorados são muito mais persistentes do que os

organoclorados e carbamatos, levando meses, anos ou mesmo décadas para se

decomporem. Gradativamente, eles são transferidos do solo para as culturas

seguintes, passando também para as pastagens que ocupam posteriormente esses

solos. Deste modo, os resíduos passam para a carne bovina e para o leite de vaca,

através da alimentação (RÜEGG et al, 1991, p.48).

Para UASKA et al (1987, p.20), as mais importantes propriedades dos

agrotóxicos em relação ao ambiente são: estabilidade química, solubilidade e

volatilidade.

A solubilidade de um produto tóxico está relacionado com a sua persistência;

os mais insolúveis são os mais persistentes, isto porque não são facilmente

lixiviados ou adsorvidos. O DDT é o mais persistente no solo e é o menos solúvel na

água (0,0002 ppm), segue o Dieldrin (menos de 0,1 ppm), o Aldrin (menos de 0,05

ppm) e o Lindane (10 ppm).

Deve-se ainda considerar a solubilidade orgânica, ou seja, a deposição e

acumulação de agrotóxicos nos tecidos adiposos de animais e plantas, que os

organoclorados têm por serem lipossolúveis.

Venenos com pressão de vapor alta desaparecem do solo em menor tempo,

por volatilização.

Podem ser considerados como fatores importantes à volatilidade dos

organoclorados que aumenta com a umidade relativa do ar sobre o solo, com o

aumento da temperatura e com o movimento do ar sobre o solo; a formulação dos

agrotóxicos e o tamanho das partículas, os grânulos tendem a persistir mais do que

pós-molháveis ou pós-secos.

A persistência de um defensivo agrícola é medida em termos de meia vida,

que é o tempo necessário para que 50% da massa química do produto seja

decomposta no solo (Tabela 6). A persistência dos praguicidas nos solos não está

Page 75: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

61

ligada às características do produto em si, mas também às características físicas,

químicas e biológicas do solo.

Tabela 6 – Persistência de Alguns Pesticidas no Solo

PESTICIDA

QUANTIDADE

APLICADA

(Kg.ha-1)

TEMPO DE MEIA VIDA

(Anos)

95% DE

DESAPARECIMENTO

(Anos)

DDT 1 – 2,5 2,8 4 – 30

BHC -- 1,0 --

Aldrin 1 – 3,0 0,3 1 – 6

Dieldrin 1 – 3,0 2,5 5 – 25

Endrin -- 2,2 3 – 20

Heptacloro 1 – 3,0 0,8 3 – 5

Lindane 1 – 2,5 1,2 3 – 10

Telodrin 0,25 – 1,0 -- 2 – 7

Clordane 1 – 2,0 1,0 3 – 5

(--) sem leitura

Fonte: MACÊDO (2002, p. 213) citando NETO MACHADO (1991, [ _ ])13

A temperatura do solo é bastante importante, pois o aumento da temperatura

acelera a degradação dos agrotóxicos no solo, principalmente por volatização e por

decomposição química e bacteriológica.

Na maioria das vezes, os microorganismos são o único meio pelo qual os

produtos tóxicos são eliminados dos ecossistemas, através da biodegradação, e

constituem, portanto importante fator controlador da persistência (UASKA et al,

1987, p.21). Sabe-se que a maioria dos compostos orgânicos adicionados ou que

atingem o solo terá taxas de degradação diminuídas na ausência de

microrganismos, mas, de modo geral, o ambiente edáfico oferece condições para

proliferação de grande variedade de microrganismos. Estes, mesmo presentes em

13 NETO MACHADO, J. G. Ecotoxicologia de agrotóxicos. Jaboticabal: Fundação de Estudos e Pesquisas em Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia – FUNEP, 1991, p. 49.

Page 76: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

62

baixas concentrações, como no subsolo, podem exercer grandes efeitos catalíticos

(ANDRÉA, 1999, [ _ ]).

3.7.2.3 Impactos na água

Segundo KREIN et al (1993, p. 14), as águas superficiais são mais facilmente

contamináveis que os lençóis freáticos. A contaminação acontece normalmente de

aplicações diretas, ou seja, de forma intencional nas margens dos rios e córregos

para controlar mosquitos e vetores; ou indiretas, pelo carreamento de produtos

aplicados no solo para o tratamento da área, ou ainda por despejos industriais das

fábricas produtoras de agrotóxicos (Figura 19).

Figura 19. Movimento dos Agrotóxicos em Ecossistemas Aquáticos.

Fonte: TOMITA e BEYRUTH (2002, p. 02)

A lixiviação dos agrotóxicos através do perfil dos solos pode ocasionar a

contaminação de lençóis freáticos, portanto, além de afetar os próprios cursos de

água superficiais, os agrotóxicos podem alcançar as águas subterrâneas, cuja

descontaminação é de grande dificuldade (poluição difusa).

Uma vez na água, dependendo das características físico-químicas, o resíduo

do agrotóxico pode tanto se ligar ao material particulado em suspensão, como se

Page 77: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

63

depositar no sedimento do fundo ou ser absorvido por organismos aquáticos

(TOMITA e BEYRUTH, 2002, p. 03).

De acordo com LUNA, SALES e SILVA ([ _ ], p. 06) citando GARCIA (1996,

[ _ ])14, um levantamento nacional realizado pela Agência de Proteção Ambiental dos

Estados Unidos (U.S. Environmental Protection Agency – EPA) concluiu que,

aproximadamente 10,4% dos 94.600 reservatórios comunitários de água e 4,2% dos

10.500.000 poços domésticos da zona rural apresentam resíduos de agrotóxicos,

sendo que 0,6% acima dos limites permitidos.

No Estado do Paraná, no período de 1976 a 1984, de 1825 amostras de água

coletadas nos rios, sem finalidades estatísticas, mas para atender a outros fins, a

Superintendência dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SUREHMA) constatou

que 84% apresentaram resíduos e 78% ainda estavam contaminadas após os

tratamentos convencionais de água (LUNA, SALES e SILVA , [ _ ], p. 06).

Nos mananciais, os níveis de agrotóxicos são controlados pela Resolução do

CONAMA nº 357 de 2005 (BRASIL, 2005, [ _ ]) e nas águas tratadas para

abastecimento público, pela Portaria 1469, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001,

[ _ ]).

O grande risco provocado pela presença dos pesticidas nos cursos de água,

além dos danos à fauna e flora, é a sua transferência e acumulação nas cadeias

alimentares.

É de interesse destacar que alguns biocidas persistentes, quer pela aplicação

direta nas águas, quer pelo carreamento de produtos aplicados no solo, os

pequenos organismos aquáticos (plâncton) absorvem esses compostos. Esse

plâncton, servindo de alimento para outros animais invertebrados aquáticos,

transfere para estes os resíduos de pesticidas. Posteriormente, os peixes, ao se

alimentarem de invertebrados aquáticos absorvem junto os pesticidas que

permanecem em seu tecido gorduroso. Assim, quanto mais elevado for o animal na

cadeia alimentar, maior será a concentração de resíduos de tóxicos em seu

organismo (KREIN et al, 1993, p. 14).

14 GARCIA, E. G. Segurança e Saúde no Trabalho Rural. 1996. 233 f. Dissertação de Mestrado, USP.

Page 78: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

64

A mortandade de peixes, em muitos casos, é devida à poluição das águas por

biocidas altamente tóxicos. Entre as causas deste tipo de poluição destacam-se:

− Lançamento nas águas de restos de formulações;

− Lavagem dos equipamentos de pulverização em águas de riachos, rios

e lagoas;

− Culturas feitas à margem das águas;

− Lavagem e carreamento dos pesticidas pelas chuvas;

− Respingos acidentais de formulações de pesticidas em poços, tanques,

caixas d’ água, fontes, riachos, rios e lagoas;

− Aplicação direta de pesticidas nas águas para controlar larvas e

mosquitos, caramujos (hospedeiros intermediários da

esquistossomose) e vegetação aquática excessiva.

As melhores indicações da poluição das águas por agrotóxicos são dadas

pelas análises dos resíduos em peixes. Os inseticidas organoclorados são

bioacumulados e bioconcentrados na cadeia alimentar (plâncton, microcrustáceos,

crustáceos, peixes, homens), ocorrendo acúmulos progressivos que alcançam níveis

milhares de vezes maiores nos animais aquáticos do que nas águas. É interessante

notar que os peixes que se alimentam no fundo dos rios, como o Mandí, por

exemplo, apresentam teores de resíduos de inseticidas organoclorados maiores do

que os peixes que se alimentam em águas superficiais (RÜEGG et al, 1991, p. 45).

3.7.2.4 Efeitos sobre outras espécies

O uso de agrotóxicos acabam tornando-se inimigos de outras espécies do

que propriamente as pragas a que se destinam. A razão disto é a estrutura das

comunidades nos diferentes níveis tróficos das cadeias alimentares.

Segundo GHIZZI (2005, p. 25) citando COSTA (2004, [ _ ])15, as complexas

reações químicas que ocorrem no solo são possíveis pela presença de diversas

espécies de organismos (bactérias, fungos, algas, actinomicetos, vermes,

15 COSTA, M.G. Poluição ambiental: herança para gerações futuras. Santa Maria: Orium, 2004, p. 256.

Page 79: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

65

protozoários, minhocas, térmitas, entre outros) que concentram-se, de modo geral,

nos primeiros 40 centímetros de profundidade do solo. Camada esta, em que

grande parte dos vegetais retiram nutrientes necessários ao seu desenvolvimento,

formando desta maneira, um elo na cadeia alimentar e concretizando o processo de

ciclagem de nutrientes. Esta camada também é a mais atingida pelos compostos

tóxicos quando utilizados de forma errônea, causando a morte de organismos e

comprometendo todo o equilíbrio do ecossistema.

Muitos animais dos agroecossistemas são resistentes à ação dos agrotóxicos.

Por exemplo, os caramujos, lesmas e répteis podem acumular em seu organismo

uma quantidade significativa de produtos tóxicos sem sofrer qualquer ação tóxica.

Animais que visitam periodicamente os agroecossistemas podem se

contaminar diretamente por contato com os agrotóxicos, ou por ingerir alimentos

contaminados, insetos mortos ou iscas envenenadas.

Animais domésticos, nas proximidades de áreas tratadas podem também

sofrer contaminação (UASKA et al,1987, p. 23).

O uso indevido de pesticidas, assim como seu transporte pela atmosfera,

além de eliminar inimigos naturais das pragas das culturas envenenam também

insetos úteis, como as abelhas e polinizadores de um modo geral. Estes insetos

podem ser afetados por pesticidas por três maneiras diferentes: contato, ingestão

por alimentos e fumigação, sendo que alguns agrotóxicos podem afetar as abelhas

por mais de uma maneira (RÜEGG et al, 1991, p. 53).

3.7.2.5 Aumento do número de pragas resistentes

Com o emprego de agrotóxicos um certo número de pragas é destruído.

Entretanto, sempre há indivíduos numa população que são naturalmente mais

resistentes, quer por mecanismos fisiológicos, quer por particularidades

morfológicas. Com uso continuado de um inseticida, indivíduos naturalmente

resistentes permanecem e se multiplicam. Se o produto for usado de modo

excessivo e indiscriminado, mais fácil e mais rápido ainda é o desenvolvimento das

populações resistentes.

Page 80: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

66

Existe um verdadeiro círculo vicioso, dos pesticidas tornarem as pragas

resistentes e novos produtos serem sintetizados para combater novas linhagens

que, em pouco tempo, por pressão de seleção, se tornarão resistentes também a

esses novos produtos (RÜEGG et al, 1991, p. 51).

3.7.3 Impacto no homem

Nem mesmo o homem escapa a ação dos agrotóxicos. Cada ano várias

pessoas morrem intoxicadas por manuseio inadequado destes produtos nas

lavouras. Os casos de óbitos por contaminação de produtos tóxicos vêm crescendo

assustadoramente, em todo o mundo. Calcula-se que 2 a 10% dos envenenamentos

acidentais sejam provenientes de agrotóxicos mau preparados, ou mal aplicados

(UASKA et al, 1987, p. 24).

Segundo a Organização Pan-Americana (OPAS/OMS, 1996, p. 23), a

notificação e a investigação das intoxicações por agrotóxicos são ainda muito

precárias em nosso país. Dificuldade de acesso dos trabalhadores rurais aos centros

de saúde, diagnósticos incorretos e a negligência, na maioria dos estados e

municípios brasileiros pelos sistemas de vigilância epidemiológica e/ou sanitária, são

alguns dos fatores que influem no registro.

De acordo com o Centro de Epidemiologia (CEPI) da Secretaria de Estado da

Saúde do Paraná (SESA) (PARANÁ, [ _ ], [ _ ]), os agrotóxicos aparecem em

segundo lugar como causa de intoxicação humana, nos anos de 1993 e 1994, tendo

sido registrados 1141 e 1059 casos, respectivamente.

Os agrotóxicos podem determinar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda

e crônica.

Na intoxicação aguda os sintomas surgem rapidamente, algumas horas após

a exposição excessiva. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave,

dependendo da quantidade de veneno absorvido. Os sinais e sintomas são nítidos e

objetivos.

A intoxicação subaguda ocorre por exposição moderada ou pequena a

produtos altamente tóxicos ou medianamente tóxicos e tem aparecimento mais

Page 81: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

67

lento. Os sintomas são subjetivos e vagos, tais como dor de cabeça, fraqueza, mal-

estar, dor de estômago e sonolência, entre outros.

A intoxicação crônica caracteriza-se por surgimento tardio, após meses ou

anos, por exposição pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos

produtos (Quadro 5), acarretando danos irreversíveis, do tipo paralisias e neoplasias

(OPAS/OMS, 1996, p. 26).

Quadro 5 - Efeitos da Exposição Prolongada a Múltiplos Agrotóxicos

(Continua)

SISTEMA/ÓRGÃO EFEITO

Sistema Nervoso

Síndrome asteno-vegetativa, polineurite, radiculite,

encefalopatia, distonia vascular,esclerose cerebral,

neurite retrobulbar, angiopalia da retina

Sistema respiratório

Traqueíte crônica, pneumofibrose, enfisema pulmonar,

asma brônquica

Sistema cardiovascular

Miocardite tóxica crônica, insuficiência coronária crônica,

hipertensão, hipotensão

Fígado

Hepatite crônica,colecistite, insuficiência hepática

Rins

Albuminúria, nictúria, alteração do clearance da

uréia,nitrogênio e creatinina

Trato gastrointestinal

Gastrite crônica, duodenite, úlcera, colite crônica

(hemorrágica, espástica, formações polipóides),

hipersecreção e hiperacidez gástrica, prejuízo da

motricidade

Sistema

hematopoiético

Leucopenia, eosinopenia, monocitose, alterações na

hemoglobina

Page 82: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

68

Quadro 5 - Efeitos da Exposição Prolongada a Múltiplos Agrotóxicos

(Conclusão)

SISTEMA/ÓRGÃO EFEITO

Pele

Dermatites, eczemas

Olhos

Conjuntivite, blefarite

Fonte: OPAS/OMS (1996, p. 39)

As intoxicações devem levar em conta fatores como:

a) Características do produto: características toxicológicas, forma de

apresentação, estabilidade, solubilidade, presença de contaminantes,

presença de solventes, etc.

b) Características do indivíduo exposto: idade, sexo, peso, estado nutricional,

escolaridade, conhecimento sobre os efeitos a medidas de segurança, etc.

c) Condições de exposição: condições gerais do trabalho, freqüência, dose,

formas de exposição, etc.

O grupo dos inseticidas organofosforados é responsável pelo maior número

de intoxicações e mortes no país, citam-se como pertencentes deste grupo o Folidol,

Azodrin, Malanion, Diazinon, Nuvacron, Tamaron e Rhodiatox.

Agem como inibidores de enzimas colinesterases, no sistema nervoso central,

nos glóbulos vermelhos, no plasma e em outros órgãos, porém não se acumulam no

organismo (OPAS/OMS, 1996, p. 27).

Os Inseticidas organoclorados, como o Aldrin, Endrin, BHC, DDT,

Endossulfan, Heptacloro, Lindane, Mirex, Toxafeno, podem ser absorvidos por via

dérmica, via digestiva e respiratória. Devido à grande lipossolubilidade e à lenta

metabolização, esses compostos acumulam-se na cadeia alimentar e no tecido

adiposo humano. A eliminação se faz pela urina, cabendo destacar também a

eliminação pelo leite materno.

Atuam sobre o sistema nervoso central, de que resultam alterações do

comportamento, distúrbios sensoriais, do equilíbrio, da atividade da musculatura

involuntária e depressão dos centros vitais, particularmente da respiração.

Page 83: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

69

Em casos de intoxicação aguda, após duas horas aparecem sintomas

neurológicos de inibição, hiperexcitabilidade, parestesia na língua, nos lábios e nos

membros inferiores, desassossego, desorientação, fotofobia, escotomas, cefaléia

persistente (que não cede aos analgésicos comuns), fraqueza, vertigem, alterações

do equilíbrio, tremores, ataxia, convulsões tônico-crônicas, depressão central severa,

coma e morte.

Em casos de inalação ou absorção respiratória, podem ocorrer sintomas

específicos, como tosse, rouquidão, edema pulmonar, irritação laringotraqueal,

rinorréia, broncopneumonia (complicação freqüente), bradipnéia, hipertensão

(OPAS/OMS, 1996, p. 29).

Os inseticidas piretróides são facilmente absorvidos pelo trato digestivo, pela

via respiratória e pela via cutânea. São pouco tóxicos, porém, irritantes para os olhos

e mucosas, e principalmente hipersensibilizantes, causando tanto alergias de pele

como asma brônquica (OPAS/OMS, 1996, p. 31).

Os fungicidas que contêm manganês, como o Maneb e o Dithane, podem

ocasionar parkinsonismo pela ação no sistema nervoso central. Outro aspecto

importante refere-se à presença de etileno-etiluréia (ETU), já se tendo observado

efeitos carcinogênicos16, teratogênicos17 e mutagênicos18 em animais de

laboratórios.

As intoxicações por esses compostos freqüentemente ocorrem pelas vias oral

e respiratória, podendo também ser absorvidos por via cutânea. Nos casos de

exposição intensa provocam dermatite, faringite, bronquite e conjuntivite

(OPAS/OMS, 1996, p. 32).

Os herbicidas do grupo Dipiridilos, como exemplo o Paraquat, são absorvidos

pela ingestão ou através da pele irritada ou lesionada. Provoca lesões hepáticas,

renais e fibrose pulmonar irreversível. Em casos graves, a fibrose pulmonar pode

16 Carcinogênicos:produzem ou propiciam o desenvolvimento de câncer. O câncer é resultado de processo anormal, não controlado de diferenciação e proliferação celular, podendo ser iniciado por alteração mutacional. 17 Teratogênicos: causam efeitos na formação do feto, como má formação física ou deficiências funcionais. 18 Mutagênicos: causam danos ao material genético, podendo provocar ou aumentar a freqüência de defeitos genéticos (ABNT, 2004, [ _ ]).

Page 84: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

70

levar à morte por insuficiência respiratória em até duas semanas (OPAS/OMS, 1996,

p. 33).

O Glifosato causa problemas dermatológicos, principalmente dermatite de

contato. Além disso, é irritante de mucosas, principalmente da mucosa ocular.

O Pentaclorofenol é absorvido pelas vias cutâneas, digestiva e respiratória.

Esses compostos possuem na sua formulação impurezas chamadas dioxinas,

principalmente a hexaclorodibenzodioxina (DCDD), que é uma substância

extremamente tóxica, cancerígena e fetotóxica (OPAS/OMS, 1996, p. 34).

Os derivados do ácido fenoxiacético têm dois representantes, o 2,4

diclorofenoxiacético (2,4 D) e o 2,45 tricorotenociacético (2,4,5 T). É bem absorvido

pela pele, por ingestão e inalação, podendo produzir neurite periférica e diabetes

transitória no período da exposição.

A mistura do 2,4 D com o 2,4,5 T representa o principal componente do

“agente laranja”, utilizado como agente desfolhante na Guerra do Vietnam,

responsável pelo aparecimento de cânceres e de mal formações congênitas

(OPAS/OMS, 1996, p. 36).

Quanto aos fumigantes, são bem absorvidos pela via respiratória e menos

pela via dérmica. São excelentes irritantes de mucosas.

O brometo de metila causa edema pulmonar, pneumonite química,

insuficiência circulatória e perfurações neuropsicológicas, como psicoses e tremores

(sintomas extrapiramidais).

A Fosfina causa lesões herpéticas, por alterações no metabolismo dos

carboidratos, lipídios e proteínas. Provoca edema pulmonar e arritmia cardíaca.

Os raticidas são absorvidos por via oral. São anticoagulantes, inibindo a

formação da protombina. Assim, promovem hemorragias em diversos órgãos

(OPAS/OMS, 1996, p. 37).

3.7.3.1 Tipos de agressões a saúde

Alguns sintomas típicos de intoxicações estão relacionados no Quadro 6 a

seguir:

Page 85: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

71

Quadro 6 – Sintomas de Intoxicações

DANOS A SAÚDE DEFENSIVO CAUSADOR

Lesões Hepáticas Inseticidas clorados e orgânicos

Lesões renais Inseticidas clorados e orgânicos

Fungicidas fenilmercúrios e metoximercúrios

Neurite periférica Certos herbicidas (2,4 D e 2,4,5-T)

Alguns inseticidas organo-fosforados

Ação neurotóxica retardada Inseticidas organo-fosforados

Agentes desfolhantes (DEF ou Folex)

Atrofia testicular Fungicida tridemorfo (ou Calixin)

Esterilidade masculina Nematicida diclorobromopropano (DCBP ou

Nemagon)

Cistite hemorrágica Acaricida clordimeforme (Galecron ou

Fundal)

Hiperglicemia ou Diabete

Transitória Herbicidas (2,4-D e 2,4,5-T)

Hipertermia Pesticidas do grupo dos dinitrofenóis e pelo

pentaclorofenol

Diminuição das defesas orgânicas Fungicidas trifenilestânicos (Duter e

Brestan)

Fibrose pulmonar irreversível com

freqüentes casos mortais Herbicida paraquat (Gramoxone)

Reações de hipersensibilidade

(urticária, alergia e asma)

Inseticidas piretróides e por diversos outros

pesticidas

Teratogênese Fungicidas mercurianos orgânicos

Dioxina presente no 2,4,5-T

Mutagênese Exposições ao dinitro-ortocresol (DNOC),

trifluralina (Treflan), DDT e malation

Carcinogênese Exposição ao aminotriazol (Amitrol) e aos

compostos arsenicais inorgânicos.

Fonte: Adaptado de RÜEGG et al (1991, p. 74)

Page 86: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

72

3.7.4 Impacto nos alimentos

Segundo RÜEGG et al (1991, p. 57) citando ALMEIDA (1974, [ _ ])19, a

contaminação de alimentos por agrotóxicos vem assumindo uma posição bastante

relevante na pauta de pesquisas de diversos países. Preocupam-se, principalmente,

pela quase inexistência de produtos domésticos livres desses resíduos tóxicos.

Os primeiros relatos sobre resíduos de inseticidas organoclorados nos

alimentos datam da década de cinqüenta. Esses produtos mostram-se altamente

persistentes, havendo bioconcentração e bioacumulação da cadeia alimentar, o que

resulta em altos teores no homem.

Os organoclorados devido a sua maior estabilidade e persistência no

ambiente devem ser considerados os mais perigosos e problemáticos dos

componentes orgânicos, deixando resíduos tóxicos em quase todos os alimentos em

que são utilizados, portanto os alimentos são a principal fonte de contaminação

pelos organoclorados. Calcula-se que 90% do DDT ingerido pelo homem provenha

dos alimentos. A água e o ar contribuem com os outros 10% (UASKA et al, 1987, p.

24).

Muitos países têm estabelecido limites de tolerância para resíduos de

agrotóxicos em alimentos de origem vegetal e origem animal. O Decreto 4074/02

(BRASIL, 2002, [ _ ]), no seu artigo 1º, XXI, considera Limite Máximo de Tolerância

(LMR) a quantidade máxima de resíduos de agrotóxicos, expressa em ppm ou

mg/Kg, permitida em produto alimentar estando este no estágio de transporte,

armazenamento, industrialização e comercialização. A Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA/MS), como órgão que participa do Sistema de Registro

de Agrotóxicos, componentes e afins, realiza a avaliação toxicológica e de risco,

estabelecendo os LMRs para a cultura agrícola a qual se destina a substância tóxica

(PARANÁ, 2003b, p. 06).

Para o cálculo da tolerância considera-se a ingestão diária aceitável e o teor

de resíduo presente no alimento. A ingestão diária aceitável exprime a quantidade

19 ALMEIDA, W. F. Acúmulo de inseticidas no homem e sua significação epidemiológica. O Biológico, 40 (6): 171-183, 1974.

Page 87: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

73

de um biocida, que pode ser ingerido diariamente pelo homem sem que apresente

sinais clínicos de advertência.

A carência, que é o período estabelecido entre a última aplicação do

agrotóxico e a colheita do produto, tem alta importância na segurança quanto a

presença de resíduos abaixo dos limites de tolerância permitidos.

A falta de conhecimentos por parte da maioria dos agricultores e a ausência

de orientação técnica são fatores que contribuem para o desrespeito aos prazos de

carência e como conseqüência, aparecem níveis de resíduos acima dos limites

toleráveis nos alimentos.

A nível de comércio internacional, os países do terceiro mundo que são

exportadores de alimentos para países desenvolvidos, tem enfrentado uma série de

dificuldades como impedimento de compra ou devolução dos produtos, devido aos

mesmos estarem com limites acima dos toleráveis de resíduos.

Os países desenvolvidos geralmente possuem alta tecnologia, no que diz

respeito à análise de resíduos nos alimentos e seus efeitos sobre a saúde humana.

Desta maneira, estão periodicamente revisando e atualizando suas legislações a

respeito de resíduos de agrotóxicos nos alimentos (FEIJÓ et al, 1988, p. 35).

Níveis de resíduos destes produtos em quantidades superiores às toleradas

pela legislação brasileira podem ser evitados, observando-se o número correto de

aplicações, dosagens recomendadas e intervalo de tempo adequado entre a última

aplicação do pesticida e a colheita (RÜEGG et al, 1991, p. 57).

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA),

no Estado do Paraná, coletou e analisou, no período de junho de 2001 a junho de

2002, um total de 407 amostras de nove diferentes tipos de hortaliças e frutas

oriundas da produção agrícola paranaense e de outros estados da federação. Do

total de 407 amostras analisadas no período, 225 (55,3%) apresentaram resíduos de

agrotóxicos em algum grau. Chama-se a atenção os resultados encontrados para o

tomate, maçã e morango, que mostraram-se positivos para a presença de resíduos

de agrotóxicos em mais de 90% das amostras.

Do total de 225 amostras cujos resultados foram positivos quanto à presença

de resíduos de agrotóxicos, 118 apresentaram alguma irregularidade: 65 (55%)

acusaram a presença de resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura,

Page 88: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

74

incluindo agrotóxicos que deveriam ser proibidos no Brasil, como o dicofol e o

endossulfan por se tratarem de substâncias tóxicas do grupo químico dos

organoclorados, conforme classificação da Internation Union of Pure and Applied

Chemistry (IUPAC) e 53 (45%) amostras com limites de resíduos acima dos valores

permitidos pela legislação vigente (PARANÁ, 2003b, p. 48).

Os resultados obtidos pelo Programa no período demonstram claramente a

necessidade de ser implementado o controle da comercialização e do uso dos

agrotóxicos e afins no país, em especial, no Estado do Paraná (PARANÁ, 2003b, p.

49).

Tabela 7 – Estimativa de Risco de Câncer pela Ingestão de Alimentos

Contaminados com Residual de Pesticidas

ALIMENTOS RISCO DE CÂNCER

Tomate 8,75 x 10-4

Carne de boi 6,49 x 10-4

Batata 5,21 x 10-4

Laranja 3,76 x 10-4

Alface 3,44 x 10-4

Maçã 3,23 x 10-4

Pêssego 3,23 x 10-4

Carne de porco 2,67 x 10-4

Trigo 1,92 x 10-4

Feijão de soja 1,28 x 10-4

OBS.: Exemplo de estimativa de risco de 8,75 x 10-4 significa que a cada 10000 habitantes teremos

em média 8,75 casos de câncer em função da ingestão de alimentos por pesticidas.

Fonte: MACÊDO (2002, p. 215) citando RAVEN, BERG e JOHNSON (1995, [ _ ])20

20 RAVEN, P. H., BERG. L. R., JOHNSON, G. B. Environment. Orlando: Saunders College Publishing, 1995, p. 569.

Page 89: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

75

4. MATERIAIS E MÉTODO

O trabalho teve início com a fundamentação teórica por meio de revisão e

pesquisa bibliográfica disponível sobre o assunto, onde foram pesquisados livros,

artigos, trabalhos técnicos, publicações, revistas, entre outros. Para a aquisição do

conteúdo referencial foram percorridos vários órgãos, dentre eles, a biblioteca da

sede da Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), a biblioteca do IAP, a

biblioteca da EMATER e a biblioteca Central e a do Campus II (São José dos

Pinhais) da PUCPR.

Também foi realizada a entrevista com o senhor Rui Leão Mueller, engenheiro

agrônomo e diretor do Departamento de Tecnologia de Saneamento, da

Superintendência Estadual de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e

Saneamento Ambiental (SUDERHSA), órgão envolvido com o programa estadual de

devolução das embalagens vazias de agrotóxicos.

Posteriormente foi feita uma visita técnica a Unidade Central de Recebimento

de Embalagens Vazias da ASSIPAR, a qual foi acompanhada pela técnica

responsável, a agrônoma Joceli Deki, que foi entrevistada, cedendo todas as

informações referentes aos procedimentos de recebimento, armazenamento,

transporte e destinação final das embalagens vazias recolhidas pela associação.

Cita-se também, pesquisa realizada em bibliotecas virtuais e sites referentes

ao assunto, dentre eles, Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

(inpEV), onde foram levantados informações gerais sobre o recolhimento das

embalagens vazias de defensivos agrícolas, bem como dados e estatísticas

nacionais; Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB); Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Secretaria de Estado da Saúde do

Paraná, onde foram encontrados dados toxicológicos e de contaminação por

agrotóxicos; Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF); Organização Pan-

Americana da Saúde (OPAS), entre outros.

Também foi feita uma busca sobre normas e legislação vigentes ao tema,

tanto a nível estadual, quanto a nível federal.

Procurou-se, de forma geral, reunir o maior número de bibliografias

pertinentes ao tema, bem como aplicar a interdisciplinaridade dos conteúdos que os

Page 90: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

76

programas de aprendizagem já estudados nos proporcionaram. Destaca-se,

principalmente, o controle dos resíduos sólidos, saúde ambiental, impactos

ambientais e controle da poluição, através da adoção de medidas alternativas e

ecologicamente corretas.

Finalizada a coleta de dados, deu-se início ao processo de estruturação do

trabalho, sendo necessário para isso, o uso de computador com software Microsoft

Office 2000 e com acesso à Internet, impressora colorida, folhas de papel A4,

disquetes, CDs e materiais de escritório em geral.

O trabalho foi desenvolvido paralelamente com a pesquisa bibliográfica, a

discussão do assunto e a redação propriamente dita.

As discussões foram realizadas juntamente com o professor orientador, por

meio de encontros semanais, onde eram revistas as etapas do trabalho, as

correções pertinentes, a estruturação e as melhorias contínuas com acréscimo de

informações.

Page 91: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

77

5. RESULTADOS

Os agroquímicos são produtos modernos de alta tecnologia que o homem

deve usar para proteger a sua lavoura, quando qualquer agente nocivo venha a

atacar e provocar um dano econômico à sua produção. Também são conhecidos

como: defensivo agrícola, veneno, agrotóxico, biocidas, remédio de plantas, entre

outros.

A escolha e a aplicação do uso correto dos defensivos agrícolas deve ser

orientada por um engenheiro agrônomo responsável, por meio de um receituário

agronômico.

Quando aplicados nas culturas, os defensivos geram resíduos que, de acordo

com a norma, já citada anteriormente, são classificados como resíduos perigosos ou

classe I. Tais resíduos podem causar impactos no ar, no solo e na água, alterando o

equilíbrio do meio, contaminar os alimentos e prejudicar a saúde do trabalhador

rural, principalmente quando usado de forma indiscriminada e errônea.

As embalagens vazias de agrotóxicos podem gerar a contaminação do solo e

de rios. Segundo MACÊDO (2002, p. 253), “atualmente o país produz 115 milhões

de embalagens para 250 mil toneladas de agrotóxicos”. Em função deste volume

produzido há a preocupação com o descarte aleatório deste resíduo agroquímico no

meio ambiente.

Desde o ano 2000 as embalagens de defensivos passaram a ser regidas por

Lei Federal, a qual disciplina a destinação final (reciclagem ou incineração) das

embalagens devolvidas pelos produtores rurais, determinado responsabilidades

distintas para todos os setores envolvidos, ou seja, agricultor, canais de distribuição

(revendas), fabricante e poder público.

Ao produtor rural cabe realizar a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão,

inutilizar e transportar as embalagens até à Central ou Posto de recebimento

indicada na nota fiscal, que neste caso, tomou-se como referência a Central de

Recebimento de Embalagens Vazias da ASSIPAR – Colombo/PR, que tem por

responsabilidade realizar a triagem das embalagens recebidas, e a indústria, por sua

vez, encaminhá-las para a destinação final.

A síntese dos resultados encontra-se na Figura 20 a seguir:

Page 92: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

78

Observação de Critérios de Segurança

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Central da ASSIPAR

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Contaminação dos Alimentos

a) Papelão

b) Metais

c) Plásticos

d) Vidros

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Ação Fiscalizatória

Programas Educativos

Triagem � �� � ��� � � ����� ��

Programas Educativos (EPI’s)

Resíduos no Meio Ambiente

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���������

Lei nº 7082/89

Produtor Rural

Figura 20. Dados Levantados Referente aos Defensivos Agrícolas.

Page 93: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

79

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O uso de defensivos agrícolas sob certos aspectos deve ser considerado

como um progresso na defesa da humanidade. No entanto a utilização

indiscriminada dessas substâncias sem as devidas precauções ocasiona poluição

ambiental acarretando riscos à saúde humana e animal.

O consumo de agrotóxicos vem tomando dimensões cada vez maiores, sua

utilização em larga escala é responsável por um grande número de mortes e

doenças dos trabalhadores, além das conseqüências ao meio ambiente e do agravo

nas condições de saúde da população consumidora de alimentos contaminados.

O uso abusivo de agrotóxicos no processo produtivo da agricultura e seu

impacto para saúde e meio ambiente é de natureza complexa e envolve aspectos,

políticos, econômicos e sócio-ambientais.

Tendo em vista o exposto neste trabalho, a interpretação que se faz, é que a

questão dos agrotóxicos extrapola as atribuições das organizações públicas ou

privadas. Infelizmente, não há tecnicamente a possibilidade da agricultura erradicar,

o uso dos agroquímicos nas culturas.

O próprio homem do mesmo modo que desestruturou os ecossistemas

agrícolas pela implantação de monoculturas tem por dever encontrar os caminhos

para restabelecer o seu equilíbrio.

A consideração levantada é que, apenas através do envolvimento e da

incumbência de responsabilidades a todos os setores da sociedade é que

poderemos encontrar soluções definitivas a curto, médio e longo prazo.

A indústria, no tocante de sua responsabilidade caberia estabelecer as metas

de redução gradativa da toxidade e persistência dos agrotóxicos, por meio de

pesquisas e tecnologias sustentáveis; ao governo, capacitar os técnicos da área,

revisar e adaptar periodicamente a legislação, implementar programas educativos

para os agricultores e monitorar os resíduos de agrotóxicos presentes nos alimentos

e no meio ambiente; aos produtores rurais, a responsabilidade de não extrapolar os

limites estabelecidos pelo técnico durante a aplicação do defensivo, bem como

utilizá-lo de forma racional e estar coerente com a cultura cultivada; e a sociedade

civil, por meio de campanhas educativas, cabe alertar ao consumidor sobre os riscos

Page 94: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

80

dos agrotóxicos, principalmente quanto aos danos à saúde e dar preferência aos

produtos livres de tais insumos.

Para LUNA, SALES e SILVA ([ _ ], p. 08), ao analisar tais aspectos na

questão dos agrotóxicos, faz-se necessário considerar que os impactos maléficos ao

meio ambiente, através desses produtos, na saúde humana ou animal, podem

originar-se em diversos pontos: na fonte, na trajetória e no alvo.

Na fonte, o controle poderia ser feito através de medidas legais que

estipulassem metas a serem atingidas pelas indústrias produtoras ou registrantes,

com vistas à obtenção de produtos cada vez com menor índice de toxidade para os

seres vivos e de menor capacidade de persistência no ambiente.

Na trajetória, durante o transporte, comercialização e o uso inadequado dos

agrotóxicos, cabe aos autores a responsabilização pelos danos que venham a

ocorrer. Envolve, também, a questão da ação educativa por parte de instituições

como a EMATER, SENAR, IAP, etc.

No alvo, a proteção individual dos aplicadores deve ser estimulada através da

conscientização dos trabalhadores. Paralela à ação educativa do agricultor, poderia

haver incentivos para a instituição de “Selos Verdes” com o intuito de comercializar

produtos agrícolas com resíduos de agrotóxicos dentro dos limites legais aceitáveis.

A produção de alimentos para uma população em constante crescimento é

hoje o desafio básico da agricultura, que passa necessariamente pelo compromisso

com a utilização de procedimentos e tecnologias capazes de assegurar o respeito

pela saúde humana e pelo meio ambiente e também a sustentabilidade da

agricultura.

Para DAROLT (2002, p. 13), aceitar não usar agrotóxicos, adubos químicos,

sementes melhoradas para alta produtividade e continuar produzindo em harmonia

com a natureza, significa uma profunda mudança tecnológica ou, talvez muito mais,

uma mudança de percepção e de valores. Alternativas promissoras têm surgido,

como é o caso da agricultura orgânica. Atualmente, as justificativas para continuar

com o processo convencional de produção já não são tão convenientes.

Segundo a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica

(IFOAM), o sistema orgânico já é praticado em centenas de países ao redor do

mundo. Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento de custos da

Page 95: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

81

agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência

dos consumidores por produtos “limpos” ou livre de agrotóxicos (DAROLT, 2002, p.

27).

Segundo DAROLT (2002, p. 27), citando PASCHOAL (1994, [ _ ]) , a

qualidade dos alimentos orgânicos é assegurada pela existência de um Selo Oficial

de Garantia fornecido pelas associações de agricultura orgânica e de um sistema de

certificação de agricultores e firmas acompanhado de assessoramento técnico e

controle fiscalizador, envolvendo todos os atores – produto, industrial e comerciante.

É interessante destacar que a agricultura orgânica privilegia sistemas de

produção mais diversificados, o que torna os métodos mais complexos do que

aqueles usados na agricultura convencional. As técnicas e métodos aplicados são

modernos e seguem princípios ecológicos e de conservação de recursos naturais.

Por isso, não pode ser considerada como um retorno ao passado, mas significa um

avanço em direção ao futuro (DAROLT, 2002, p. 94).

A Figura 21 abaixo, mostra que, dos 15,7 milhões de hectares administrados

organicamente no mundo, a América Latina ocupa o terceiro lugar em termos

percentuais, perfazendo cerca de 21% da superfície total manejada no sistema

orgânico de produção.

Figura 21. Percentual de Distribuição das Áreas em Agricultura Orgânica no Mundo,

Segundo os Diferentes Continentes.

Fonte: Adaptado de IFOAM, DAROLT (2002, p.39) citando WILLER e YUSSEFI (2001)

América do Norte 6,40%

Europa 23,60%

Oceania 48,51%

América Latina 21,02%

Page 96: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

82

O Brasil ocupa atualmente a segunda posição na América Latina em termos

de área manejada organicamente. Estima-se que já estão sendo cultivados perto de

275 mil hectares em cerca de 14.866 unidades de produção orgânica.

Aproximadamente 70% da produção brasileira encontra-se nos estados do Paraná,

São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Nos últimos anos o

crescimento das vendas chegou a 50% ao ano (DAROLT, 2002, p. 44).

No país, os produtores orgânicos são divididos basicamente em dois grupos:

pequenos produtores familiares, que representam 90% do total dos agricultores, e

grandes produtores empresariais (10%) (DAROLT, 2002, p. 47).

Atualmente, o Paraná está entre os estados brasileiros com o maior número

de agricultores orgânicos certificados, cerca de 3.000 o que corresponde a

aproximadamente 20% do número total de agricultores orgânicos do país, centrada

basicamente em três produtos: a soja, as olerícolas e o açúcar mascavo (DAROLT,

2002, p. 55).

Figura 22 . Prática da Agricultura Orgânica na Cultura da Uva no Município de

Colombo/PR.

Fonte: SETUR (2001, [ _ ])

Page 97: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

83

7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Conclui-se, após o término deste trabalho, que houve nos últimos anos, uma

nova discussão acerca das questões ecológicas, que tem despertado a atenção das

autoridades governamentais e do público em geral para o problema do uso abusivo

e errôneo dos defensivos agrícolas, cujos resíduos permanecem tanto nos

alimentos, quanto no meio ambiente, afetando o homem e o equilíbrio natural dos

ecossistemas.

Os defensivos agrícolas são, indiscutivelmente necessários para a agricultura,

principalmente nas extensas monoculturas, sendo importante insumo para assegurar

a maior produção e qualidade dos alimentos.

As autoridades mundiais estão convencidas de que, os métodos de controle

químico continuarão a desempenhar, significativamente, o seu papel nos programas

de controle de pragas e de doenças agrícolas no decorrer dos próximos anos.

Há de se admitir que os defensivos agrícolas são de suma importância para o

desenvolvimento econômico do país, porém o uso de técnicas sustentáveis nos

sistemas agrícolas empregados é fundamental tanto do ponto de vista ambiental,

como econômico e social, uma vez que apresentam propriedades tóxicas, deixando

resíduos persistentes nos alimentos e no meio ambiente, podendo causar problemas

de saúde pública.

Uma atenção ética e científica para estudar os tipos e quantidades destes

defensivos e sua persistência se faz necessária, visto que o controle e a avaliação

dos resíduos envolvem a publicação de regulamentos para aplicações, avaliações

detalhadas da natureza dos produtos, os locais dos resíduos persistentes, os níveis

de tolerância e estabelecimento de intervalos mínimos entre as aplicações e a

colheita. A chance de contaminação de uma dada população pelo consumo de

alimentos contendo tais resíduos é dessa forma menor onde a fiscalização é

presente e eficaz.

Em geral, pouca informação técnica chega ao agricultor. Esta situação pode

melhorar através de cursos de extensão para capacitar o agricultor à escolha

adequada do praguicida, armazenamento, técnicas de aplicação, medidas

Page 98: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

84

adequadas de proteção e, muito importante, a disposição segura das embalagens

vazias.

Uma alternativa bastante recomendável para minimizar a intervenção dessas

substâncias no ambiente e nos processos naturais, otimizando o uso agrícola da

terra com a conservação do meio ambiente, é a adoção de medidas agrícolas

conservacionistas, dentre elas a prática da agricultura orgânica, aliada à utilização

de técnicas de compostagem e de vermicompostagem, aplicadas a produção de

alimentos em pequena a média escala.

A gestão ambiental é fundamental para manutenção da capacidade produtiva

das áreas agrícolas, mas, por outro lado, ainda faltam pesquisas no emprego de

tecnologias limpas e que resultem em menos impactos sobre o meio ambiente, e

que, ao mesmo tempo, permitam atender a crescente demanda por alimentos e a

necessidade do desenvolvimento econômico do país.

Citam-se ainda outras recomendações possíveis para tentar solucionar a

problemática dos defensivos agrícolas:

a) Criar sistemas de monitoramento para análise das águas subterrâneas e

superficiais que estão sujeitas à contaminação por agrotóxicos;

b) Controlar com maior rigidez a liberação para comercialização e uso de novos

agrotóxicos;

c) Desenvolver pesticidas de controle biológico, ou seja, vírus, fungos e insetos

patogênicos a outros alvos que prejudicam a cultura;

d) Desenvolver seleções de variedades de plantas resistentes;

e) Instituir legislação específica e mais rigorosa que discipline o uso e controle

dos agrotóxicos em todos os estados e municípios brasileiros.

Talvez a palavra chave é a parceria. Só deste modo, com as

responsabilidades eqüitativamente distribuídas, serão encontrados os caminhos que

no futuro, nos conduzam ao desenvolvimento agrícola ecologicamente sustentável.

As informações compiladas e apresentadas neste trabalho, não pretendem

em absoluto, esgotar o assunto, mas o tema será de utilidade como uma informação

inicial para aqueles profissionais de diferentes áreas, que se interessam pelo

problema que identifica os defensivos agrícolas como fonte de contaminação

ambiental.

Page 99: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

85

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produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a

comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o

destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a

inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras

providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 8 jan.

2002.

_________. Lei n. 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre as pesquisa, a

experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o

armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a

importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a

classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus

Page 100: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

86

componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da República

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de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem

e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda

comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e

embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de

agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da

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comercialização, no território do Estado do Paraná, de produtos agrotóxicos e outros

biocidas, na forma do Anexo que faz parte integrante do presente Decreto. Diário

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Page 104: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

90

_________. Lei n. 12.493, de 22 de janeiro de 1999. Estabelece princípios,

procedimentos, normas e critérios referentes à geração, acondicionamento,

armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos

sólidos no Estado do Paraná, visando controle da poluição, da contaminação e a

minimização de seus impactos ambientais e adota outras providências. Diário

Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 24 jan. 1999.

_________. Lei n. 7.827, de 29 de dezembro de 1983. Dispõe que a distribuição e

comercialização no território do Estado do Paraná, de produtos agrotóxicos e outros

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_________. Secretaria do Meio Ambiente e Superintendência de Recursos Hídricos

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SCHERMAK,Márcio. Fluxograma das Normas Técnicas sobre resíduos sólidos.

Curitiba, 2004. 05 f. Trabalho de Graduação (Programa de Aprendizagem de Análise

de Resíduos Sólidos) – Curso Seqüencial de Química Ambiental Aplicado à

Indústria, Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade

Católica do Paraná (PUCPR).

SECRETARIA ESPECIAL DE TURISMO (SETUR) – Colombo/PR. Prática da

Agricultura Orgânica na Cultura da Uva no Município de Colombo/PR. 2001. 1

fot.: color.

TCHERNITCHIN, Andrei. Toxicologia ambiental: um problema de saúde pública.

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UASKA, Ângela do Rocio et al. O uso indiscriminado de agrotóxicos: Uma

reflexão sobre o município de Morretes - Pr. 1987. 105 f. Trabalho de Conclusão

de Curso (Bacharel em Ciências Sociais) – Centro de Ciências Jurídicas e Sociais,

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, 2004.

Page 107: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

93

ANEXO

LISTA DE ASSOCIADOS ASSIPAR

REVENDEDOR MUNICÍPIO 1 ADUBOS BOUTIN LTDA Curitiba - Loja Centro

2 ADUBOS BOUTIN LTDA Curitiba - Loja Pinheirinho

3 AGRÍCOLA CANTELLI LTDA Lapa

4 AGRÍCOLA MARIENTAL LTDA Lapa

5 AGRO COMERCIAL GIRARDI LTDA Curitiba

6 AGRODEFE Araucária

7 AGROHORT COMERCIAL AGROPECUÁRIA LTDA Colombo

8 AGROREGIONAL Curitiba

9 ALEIXO KMIECIK AGRÍCOLAS LTDA Quitandinha

10 ASSOCIAÇÃO DOS PROD. RURAIS DO SUL DO PR Piên

11 ASSOCIATED TOBACOS COMPANY BR LTDA Canoinhas

12 BATISTA COMERCIAL AGROPECUÁRIA LTDA Lapa

13 BIOAGRO Araucária

14 BUSCHLE & LEPPER S.A Curitiba

15 CASA CASTRO LTDA Cerro Azul

16 CDA AGRÍCOLA LTDA Curitiba - Ceasa

17 CENTRAL DO ADUBO São José dos Pinhais

18 COMERCIAL COLOMBENSE DE ADUBOS Colombo

19 CONTAGRO Contenda

20 CONTINENTAL TOBACOS ALIANCE S.A Irati

21 COOPERATIVA AGRÍCOLA CAMPO DO TENENTE Campo do Tenente

22 COOPER HF Araucária

23 DIMON DO BRASIL União da Vitória

24 DISTRIBUIDORA DE FERTILIZANTES CAMPO LARGO Campo Largo

25 DISTRIBUIDORA PITANGUEIRAS Curitiba

26 ECOLAB QUÍMICA LTDA Curitiba

27 FUTURAGRO Curitiba - Ceasa

Page 108: DEFENSIVOS AGRÍCOLAS E SEUS IMPACTOS

94

28 FUTURAGRO Campo Largo

29 GOTA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA Contenda

30 JÚLIO BASTOS ME Lapa

31 LCP-COMÉRCIO DE INSUMOS AGRÍCOLAS LTDA Campo Largo

32 MÁRIO GONDEK E CIA LTDA-CASA DO AGRICULTOR Araucária

33 MERIDIONAL DE TABACOS LTDA Rio Azul

34 MURIAGRO São José dos Pinhais

35 PREMIUM TABACOS DO BRASIL LTDA Irati

36 SANDRO PORFÍRIO-CASA PARANÁ Cerro Azul

37 SOUZA CRUZ S.A Rio Negro

38 SUL DEFENSIVOS AGRÍCOLAS LTDA Araucária

39 SUL DEFENSIVOS AGRÍCOLAS LTDA Curitiba - Ceasa

40 TECNIGRAN Curitiba

41 TISCOSKI AGROPECUÁRIA LTDA Curitiba