declaraÇÕes · 3.3 gestão estratégica e organização do turismo em portugal 75 3.3.1 gestão e...
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[DECLARAÇÕES]
Declaro que esta Tese é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.
O candidato,
____________________
Março de 2013
Declaro que esta tese/Dissertação / Relatório / Trabalho de Projecto se encontra em condições de ser apreciado pelo júri a designar.
Os orientadores,
____________________
Lisboa, Março de 2013
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Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Geografia e Planeamento Regional, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Jorge Umbelino e co-orientação do Professor Doutor
Carlos Costa.
Investigadora do e-Geo, UNL. Apoio financeiro da FCT.
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[RESUMO]
O planeamento turístico é uma actividade essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos. Os profissionais de planeamento turístico desenvolvem, no âmbito local, um conjunto de actividades para promover o desenvolvimento das comunidades envolvidas ao mesmo tempo que dinamiza o turismo local. Esta tese tem como principal objectivo analisar a relação entre a formação destes profissionais e a prática das suas funções no contexto laboral. Foram aplicados questionários em todos os cursos de turismo que formam profissionais que actuam na gestão e planeamento turístico e as informações recolhidas foram analisadas conjuntamente com as respostas do questionário aplicado junto aos planeadores que actuam nos municípios do Alentejo e Algarve. Entre os principais resultados obtidos, foi constatado que os cursos de turismo que formam os planeadores turísticos, em termos de conteúdo, estão adequados às funções, sendo, no entanto, necessário o desenvolvimento de mais actividades práticas e mais aproximação da realidade laboral.
Planeamento Turístico em Portugal: Abordagem relacional entre a
Formação Superior em Turismo e a efectivação do Planeamento a nível
Local.
PALAVRAS-CHAVE: Planeamento Turístico, Formação Superior, Planeamento
Local.
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[ABSTRACT]
The tourism planning is an activity essential to achieving sustainable development of tourist destinations. The tourism planning professionals in the local level develop a number of activities to promote the development of the communities involved and the local tourism. This thesis has as main objective to analyze the relationship between the education of these professionals and the practice of their activities in the workplace. There were applied questionnaires to all tourism courses forming professionals working in tourism planning and management and the information gathered was analyzed together with the responses of the questionnaire addressed to the planners operating in Alentejo and Algarve regions. Among the main results, it was found that tourism courses that form the planners are appropriate in terms of content being, however, necessary to develop more activities and more practical approximation of reality work.
Tourism Planning in Portugal: Relationship between Tourism
Education and Local Planning.
KEY-WORDS: Tourism Planning, Tourism Education, Local Planning.
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Índice de Conteúdos Capítulo 1. Introdução 01 Capítulo 2. Planeamento Turístico
2.1 Introdução 05 2.2 Planeamento Turístico - uma abordagem teórico-conceptual 07
2.2.1 Cidade e Destino Turístico 11 2.3 Planeamento – Teoria e Conceito 18
2.3.1 O que é planear? 21 2.4 Planear o Turismo, por quê? 28 2.5 Os novos paradigmas da Gestão e Planeamento do Turismo 38 2.6 Funções de Planeamento 54
2.6.1 O turismo e a sua Contribuição para o Desenvolvimento Local
59
2.6.2 Modelos de Desenvolvimento, Qualidade e Competitividade do Turismo
61
2.7 Considerações Finais 70
Capítulo 3. Turismo em Portugal
3.1 Introdução 72 3.2 Caracterização do Turismo em Portugal 73 3.3 Gestão Estratégica e Organização do Turismo em Portugal 75
3.3.1 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Nacional 77 3.3.2 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Regional 78 3.3.3 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Local 87 3.3.3 Outros Instrumentos de Planeamento do Turismo 88
3.4 Considerações Finais 92
vi
Capítulo 4. Formação Superior em Turismo
4.1 Introdução 94 4.2 Educação e Formação 95
4.2.1 Formação Superior - uma proposta de Educação que deve ser voltada para o indivíduo?
96
4.2.2 Em torno dos conceitos de Qualificação Profissional e Competências
101
4.2.3 Educação e Currículo 103 4.2.4 Modelo e desafios da Educação sem fronteiras 104
4.3 Educação Superior em Turismo 116 4.3.1 O Turismo como Disciplina Científica 117 4.3.2 Conteúdos e Competências na área do Turismo 118
4.4 Enquadramento da Formação Superior em Turismo em Portugal 130 4.5 Relação entre o Planeamento e a Formação em Turismo em
Portugal 140
4.6 Considerações Finais 143 Capítulo 5. Metodologia
5.1 Introdução 145 5.2 Planeamento da Investigação 146 5.3 A Investigação Científica 148 5.3.1As Variáveis de Análise 151 5.3.2 A Problemática que define os Objectivos e Hipóteses 152 5.4 O Universo e Amostragem 155 5.5 Instrumento de Recolha de Dados 156 5.5.1 Instrumentos de Recolha de Dados: o Questionário 160
5.6 Considerações Finais 174 Capítulo 6. Análise e Discussão dos Resultados
6.1 Introdução 176 6.2 Uma breve caracterização das Regiões em análise 176 6.3 Apresentação e Discussão dos Resultados obtidos 187
6.3.1 Resultados dos inquéritos dos Cursos Superiores em Turismo
187
6.3.2 Resultados dos inquéritos dos Responsáveis pelo Planeamento Turístico nas Câmaras Municipais
201
6.3.3 Relação entre a Formação em Turismo e as Actividades Laborais do Planeador do Turismo
214
6.4 Considerações Finais 218 Capítulo 7. Nota Final 220 Referências 223 Anexos (Modelos dos Inquéritos aplicados) 248
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Índice de figuras
Figura 1. Participação da comunidade no processo de desenvolvimento
Figura 2. Fluxo do Planeamento
Figura 3. O Planeamento na Estrutura Organizacional do Turismo
Figura 4. Dimensão do processo de Planeamento e suas principais atribuições
Figura 5. Regiões de Turismo
Figura 6. Pólos Turísticos de Portugal
Figura 7. Objectivos para alcançar o Modelo de Desenvolvimento Sustentável
do Turismo
Figura 8. Sistema de Gestão Territorial
Figura 9. Territorialização da oferta de alojamento na Região (Norte)
Figura 10. Desenvolvimentos do Quadro Nacional de Qualificações no âmbito
do Ensino Superior
Figura 11. Organograma do Sistema de Ensino Superior Português de acordo
com os Princípios de Bolonha
Figura 12. Localização dos Cursos de Turismo analisados
Figura 13. Disciplinas de Entrada para os cursos superiores em Turismo ou
Gestão em Turismo
Figura 14. Disciplinas de Acesso para os cursos superiores em Turismo e
Gestão do Turismo, por sistema de ensino (%)
Figura 15. Disciplinas de entrada nos cursos superiores de Turismo e Gestão
do Turismo (públicos e privados), combinação das disciplinas (%)
Figura 16. Áreas que compõem os cursos superiores de Turismo e Gestão do
Turismo (Público e Privado/ Universidade e Politécnico) (%)
Figura 17. Disciplinas que compõem os cursos superiores em Turismo e
Gestão em Turismo, por sistema de ensino
Figura 18. Estrutura do Processo de Investigação da Tese
Figura 19. Desenvolvimento de um plano qualitativo
Figura 20. P1. No curso superior em turismo oferecido na instituição em que
trabalha, as disciplinas de planeamento turístico utilizam métodos de
ensino compostos por (%)
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Figura 21. P4. Existem parcerias estabelecidas entre o curso de turismo que
coordena e algumas entidades locais ou regionais de turismo, públicas
ou privadas, por exemplo no âmbito de protocolos para estágios
relacionados com actividades em gestão e planeamento do turismo? (%)
Figura 22. P5. É desenvolvida, através do curso de turismo que coordena,
alguma actividade de âmbito aplicado no domínio da gestão e
planeamento do turismo para um município, região ou país? - Quais?
(%)
Figura 23. P6. É desenvolvida, através do curso de turismo da sua instituição
de ensino, alguma actividade junto com a comunidade? - Quais?
Figura 24. P7. Existe algum factor diferenciador no curso que coordena em
relação aos demais que conhece? - Qual? (%)
Figura 25. P8. Na opinião que tem em relação à formação dos profissionais de
planeamento turístico, de um modo geral, qual (is) o (s) ponto (s) fraco
(s) da formação oferecida nos cursos superiores em turismo em
Portugal? (%)
Figura 26. P9. Na opinião que tem em relação à formação dos profissionais de
planeamento turístico, de um modo geral, qual (is) o (s) ponto (s) forte
(s) da formação oferecida nos cursos superiores em turismo em
Portugal? (%)
Figura 27. P2. Idade (%)
Figura 28. P5. Instituição onde obteve o seu grau de Licenciatura (%)
Figura 29. P5. Caso se aplique, indique o curso e a instituição onde obteve a
sua pós-graduação (%)
Figura 30. P6. Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que
foram desenvolvidas durante a sua formação
Figura 31. P6. Quais destas actividades em planeamento e gestão do turismo
estão incluídas nas suas funções profissionais? (%)
Figura 32. Representação conjunta das respostas da P2 (Quais as actividades
práticas em planeamento turístico realizadas no âmbito do curso de
turismo oferecido na sua instituição de ensino?), aplicada nos cursos de
turismo, e da P6 (Quais destas actividades desenvolve actualmente no
âmbito das actividades em gestão e planeamento do turismo designadas
para a sua função profissional?), aplicada aos profissionais de
planeamento nas Câmaras Municipais (%).
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Índice de tabelas
Tabela 1. Compromissos dos agentes turísticos com a sustentabilidade
Tabela 2. Variáveis de avaliação do Processo de Planeamento
Tabela 3. Elementos de recolha de dados relativos ao turismo
Tabela 4. Cronograma da Política Estratégica de Turismo em Portugal
(1992/2011)
Tabela 5. Portugal Continental, por NUTS
Tabela 6. Objectivos do QEQ e dos ECTS
Tabela 7. Quadro Europeu de Qualificações
Tabela 8. Síntese das figuras profissionais
Tabela 9. Áreas de conhecimento requeridas no trabalho (por ordem de
frequência)
Tabela 10. Perfis Profissionais
Tabela 11. Perfil das licenciaturas analisadas
Tabela 12. Vantagens e Desvantagens dos principais instrumentos de recolha
de dados
Tabela 13. Vantagens e Desvantagens das Entrevistas e Questionários
Tabela 14. Funções da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, organizadas
segundo o processo de planeamento
Tabela 15. Funções da Entidade Regional de Turismo do Algarve organizada
segundo o processo de planeamento
Tabela 16. Frequência - P2. Quais as actividades práticas em planeamento
turístico realizadas no âmbito do curso de turismo oferecido na
instituição em que trabalha?
Tabela 17. P3. Classifique os conteúdos a seguir, de acordo com a realidade
vivida no curso que coordena (escala Likert)
Tabela 18. P6. Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que
foram desenvolvidas durante a sua formação
Tabela 19. P6. Quais destas actividades em planeamento e gestão do turismo
estão incluídas nas suas funções profissionais?
Tabela 20. P7. A lista abaixo contém alguns conteúdos ligados à actividade
turística. Marque as alternativas segundo a maior ou menor importância
que lhes reconhece no seu dia-a-dia laboral, sendo as opções.
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Capítulo 1
Introdução
O objectivo geral desta tese é relacionar as funções de planeamento turístico
ao nível local com a formação superior em turismo, em Portugal, de forma a
conhecer a coerência entre a formação e a actuação no mercado laboral.
A proposta desta investigação surgiu, inicialmente, da continuação da
investigação realizada pela investigadora no Mestrado em Gestão e
Desenvolvimento em Turismo, realizado na Universidade de Aveiro (UA), em
2006. Na dissertação de mestrado, que tinha como principal objectivo
identificar as principais razões que levavam os municípios brasileiros de
pequena e média dimensão a planear em turismo, ou não, surgiram algumas
ideias que vieram a ser consideradas para a tese de doutoramento.
Entre os principais problemas identificados no caso brasileiro, estava a
formação inadequada dos profissionais que exerciam as funções de
planeamento turístico. Por razões de ordem pessoal, o contexto brasileiro não
foi considerado para esta investigação. No entanto, com base em leituras
prévias e em conversas com diversos profissionais da área, a mesma
problemática encontrada no Brasil parecia ser pertinente na realidade
portuguesa. Foi assim decidido que a proposta de investigação seria
continuada mas aplicada à realidade de Portugal.
Por limitações financeiras e de tempo, foi também necessário fazer um recorte
geográfico na investigação. A proposta de analisar, simultaneamente, a
perspectiva dos cursos de turismo e a realidade das funções laborais no nível
local contou com a aplicação de questionários na totalidade dos cursos de
turismo portugueses que formam profissionais de planeamento turístico
(totalizando 33 cursos, com 82% de respostas obtidas), mas apenas foi
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aplicado aos profissionais actuantes nas Câmaras Municipais das regiões do
Alentejo e Algarve (total de 74, com 78% de de respostas obtidas).
Os resultados obtidos oferecem evidências empíricas e pistas futuras de
investigação, e pesquisas futuras podem ser alargadas a todo o país. Acredita-
se que a base desta investigação pode contribuir para a melhoria das
propostas educativas na área do turismo, bem como na própria estrutura da
gestão e planeamento turístico.
Como objetivos específicos foram considerados: a análise das principais
funções desempenhadas ao nível do planeamento turístico (Capítulo 2); a
contextualização do planeamento turístico português, identificando e
analisando os pontos relevantes das políticas públicas e de gestão,
planeamento turístico e ordenamento territorial que se encontrem associados
ou interfiram na efectivação do planeamento ao nível local (Capítulo 3); a
contextualização da formação superior em turismo em Portugal (Capítulo 4); a
identificação dos principais aspectos teóricos, práticos e metodológicos da
formação superior em turismo, destacando os aspectos relativos ao
desenvolvimento pessoal, bem como as necessidades sociais e de mercado
que interferem na prática do planeamento turístico municipal na área de estudo
(Capítulo 6).
A principal hipótese de trabalho é “A Educação Superior em Turismo está
relacionada com o desempenho das funções do Planeamento Turístico, no
âmbito local”.
Esse mesmo objetivo geral, com conotação de situação problemática, pode
constituir a pergunta de investigação, que norteia toda a pesquisa que é
desenvolvida: Existe uma relação entre as funções de planeamento em
turismo nos municípios portugueses e a formação dos profissionais
técnicos que actuam no planeamento do turismo nestes mesmos
municípios?
Para além destas, foram também trabalhadas outras hipóteses
complementares que contribuíram para atingir os objectivos desta tese, como:
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“A disciplina de planeamento turístico utiliza métodos de ensino compostos por
mais aspectos teóricos do que práticos”; “Não existe grande aproximação entre
os cursos de turismo e os organismos públicos responsáveis pela gestão e
planeamento local/regional do turismo em Portugal”; “Não há um significativo
envolvimento dos cursos de turismo com os organismos locais através de
desenvolvimento de atividades práticas de gestão e planeamento no nível
local”; “Os profissionais responsáveis pelo planeamento turístico nas Câmaras
dos Municípios do Alentejo e Algarve possuem pouca experiência na área em
que actuam”; “A maior parte dos profissionais que desempenham funções de
planeamento turístico possuem licenciatura”; “Durante a formação dos
profissionais responsáveis pelo planeamento turístico, as actividades práticas
desenvolvidas estão mais relacionadas com a elaboração de planos turísticos
ou de marketing”; “Nos municípios das regiões do Alentejo e Algarve o turismo
é gerido através de organismos/secretarias conjuntos com outras áreas”.
Os principais resultados obtidos apontam para uma aproximação entre aquilo
que é enfocado nos cursos de turismo que formam os profissionais de
planeamento turístico e aquilo que é requerido para a prática das suas funções
laborais. Entretanto, é verificado que, apesar de ser evidenciado um equilíbrio
entre os conteúdos teóricos e práticos, estes profissionais ainda precisam de
uma formação que contemple mais aspectos práticos importantes no contexto
do planeamento turístico, o que não somente possibilitará uma formação mais
sólida destes profissionais como uma actuação mais competente, quando
efectivamente estiverem no mercado.
Este primeiro capítulo é introdutório, sendo seguido do Capítulo 2, que aborda
aspectos teóricos e conceptuais sobre o planeamento turístico. A discussão do
planeamento na perspectiva do turismo, debatendo os principais conceitos, os
diferentes modelos e as funções de planeamento. Além disso, são também
discutidos os benefícios de planear um destino e quais as eventuais
consequências para os destinos que o não fazem.
O Capítulo 3 é dedicado ao turismo em Portugal, fazendo uma breve
caracterização e contextualizando os aspectos ligados à gestão e planeamento
4
do turismo no país, como a estrutura de suporte e os instrumentos que a
viabilizam.
O Capítulo 4 é dedicado à discussão da formação superior em Turismo. São
apresentados os principais conceitos nessa área e o capítulo culmina com a
apresentação de conteúdos e competências na área de turismo, o que
especialmente interessou para o relacionamento entre a formação e a prática
do planeamento turístico.
No Capítulo 5 foram apresentados os aspectos metodológicos desta tese.
Trata-se de um capítulo que funciona como uma introdução ao trabalho
empírico, que possibilita aos leitores conhecerem quais as opções tomadas e
as justificações para tais escolhas. Nele foram apresentados os objectivos, o
problema, as variáveis, as hipóteses e discutidos os instrumentos de recolha e
análise de dados.
O Capítulo 6 incluí a análise e discussão dos resultados obtidos com a
aplicação dos questionários. Quando tal se justificava, esses resultados foram
também apresentados graficamente, facilitando a compreensão e o
acompanhamento da discussão textual.
Por fim, o Capítulo 7 apresenta as considerações finais, em forma de uma
síntese final do conteúdo que foi previamente apresentado e discutido ao longo
da tese.
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Capítulo 2
Planeamento Turístico
2.1 Introdução
Existe um grande reconhecimento nos domínios empresarial e governamental
acerca dos benefícios do planeamento para o aumento da competitividade,
sustentabilidade e alcance dos objectivos institucionais. O que há anos atrás
era considerado um “luxo” das grandes organizações, hoje representa uma
necessidade para enfrentar o cada vez mais complexo, competitivo e exigente
mercado. Planear deixa de ser luxo e passa a ser factor-chave para atingir
objectivos e metas e, em muitos casos, para manter-se, ou mesmo sobreviver,
no mercado.
Considerando as crises financeiras e sociais (envolvendo desde questões
políticas e religiosas a questões ligadas ao terrorismo ou pandemias de gripe)
que afectam fortemente a economia mundial, é verificado um declínio
económico que, inevitavelmente, impacta no turismo. Apesar de representar
um sector sólido e, até hoje, crescente, o turismo é igualmente um sector muito
competitivo. O que fazer para quem pretende manter-se no mercado, perante
este cenário? É coisa certa que, além de outras medidas, é necessário planear.
Como o objectivo desta tese é relacionar o planeamento turístico com a
formação superior em turismo, destacando aspectos relacionados com a
função do planeador, é importante compreender a actividade do planeamento,
como um todo, mas também os aspectos que tocam a formação em turismo.
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Na parte inicial deste capítulo será discutido o conceito e destacada a
importância do desenvolvimento local, apontado como um dos principais
objectivos do planeamento. Além disso, também se buscou debater como é
que o turismo pode contribuir para o alcance desse mesmo desenvolvimento,
sustentando que se trata de uma condição almejada. Nesse contexto, os
modelos de desenvolvimento e os aspectos relacionados com a
competitividade dos destinos configuram-se como ferramentas-chave para
delinear as formas de gestão do turismo, resultando em apostas particulares de
uma actividade turística que possibilita a promoção do desenvolvimento.
Justifica-se, portanto, perceber a ligação do planeamento com o território, a sua
definição e importância no contexto do turismo, ou seja, no que consiste, em
termos práticos, a actividade de planear. Por fim, as definições e teorias
apresentadas e discutidas irão também alicerçar a compreensão do que
constitui a função de um planeador na perspectiva do turismo.
Espera-se que, no final deste capítulo, o planeamento e a gestão turística
sejam compreendidos como actividades necessárias para possibilitar a
promoção do desenvolvimento deste sector, destacando que o planeamento é
a “arte” da organização das acções, espera-se, também, esclarecer como deve
decorrer o processo de planeamento e quais são as funções associadas ao
planeamento do turismo.
Este capítulo tem por base informações recolhidas em documentos científicos e
documentos publicados por organismos oficiais, recolhidos no âmbito nacional
e internacional. A discussão destes conteúdos permitirá que, no capítulo
posterior, sejam apresentados e analisados a gestão e o planeamento do
turismo em Portugal, contribuindo, de forma significativa, para o alcance do
objectivo geral desta tese, que, recordamos, é o de relacionar a efectivação do
planeamento na escala local com a formação dos profissionais que o exerce.
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2.2 Planeamento Turístico - uma abordagem teórico-conceptual
O turismo é reconhecido ao nível mundial como uma actividade
economicamente promissora e propulsora de desenvolvimento. Muitos destinos
encontram no turismo a oportunidade de gerar benefícios para toda a
comunidade. Todavia, o turismo, se não for adequadamente planeado, pode
ocasionar uma série de efeitos adversos, alguns deles irreversíveis.
Numa lógica de sustentabilidade e competitividade, o planeamento turístico
constitui uma actividade fundamental para os destinos, como forma de gerir o
produto (para os turistas), mas também para o desenvolvimento local (para os
residentes e empresas locais).
A contribuição do planeamento para a sustentabilidade dos destinos turísticos
explica-se na medida em que envolve a reflexão sobre a utilização dos espaços
e das dinâmicas locais, o que resulta em ambientes mais harmónicos, que
permitem uma articulação optimizada dos factores socioeconómicos,
ambientais, políticos e culturais.
Por exercer grande impacto na economia, o sector do turismo não pode
funcionar sem a presença das empresas, das populações e de diversas
organizações não-governamentais, mas também não dispensa a participação
do próprio Estado, que desempenha um papel de gestor e planeador,
essencialmente das atrações, infraestruturas e meios de transporte, sob pena
de não atingir os objectivos de desenvolvimento (Gunn e Var, 2002: 29).
No que concerne à intervenção do Estado no mercado turístico, mesmo
considerando o actual contexto, em que cada vez mais se verifica a redução do
papel dos poderes públicos na economia, ela justifica-se no sentido em que as
falhas do mercado requerem este tipo de intervenção estatal, nomeadamente
no que respeita à competitividade, aos direitos individuais, à redução de riscos
e incertezas, ao apoio a projectos, à promoção da formação especializada e à
produção de informação estatística (Matias, 2007: 298). Juntando a estas
intervenções os aspectos de infraestruturação e equipamento, podemos
reconhecer no Estado um verdadeiro co-produtor em turismo.
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Matias (2007: 329) defende que, em matéria de planeamento turístico, o
Estado necessita de intervir em dois planos, com um grau adequado de
descentralização decisória, a saber: administração central, onde ocorre o
planeamento de topo, de carácter macroeconómico; administração local, onde
é realizado o planeamento turístico de base, que tem impactes de carácter
microeconómico. É importante ter em conta que o planeamento turístico no
âmbito local é determinante e, devido às singularidades de cada local e região,
a gestão estratégica assegura melhores resultados quando realizada, pelo
menos, de forma partilhada com técnicos locais, devidamente qualificados, com
conhecimento da realidade local e da região na qual está inserido. É esse, aliás,
um dos principais pressupostos que fundamenta a componente empírica desta
tese, que mais adiante serão desenvolvidos.
As decisões de carácter económico também estão presentes no ambiente
público, embora a sua racionalidade seja composta de valores diferentes
daqueles que permeiam no ambiente empresarial, já que o primeiro tem como
principal objectivo o alcance do bem-estar social, enquanto o segundo objectiva
o lucro.
A ocupação de um determinado espaço não deve ser concebida apenas com
base nos retornos económicos gerados pelas actividades projectadas, mas
antes por um conjunto de factores que extrapolam o ambiente económico e
atingem aspectos ambientais, sociais e culturais, por exemplo. É o contexto em
que a comunidade e o seu bem-estar são os focos. Sobre esse aspecto,
Rezende e Castor (2005: 7) esclarecem que
partindo do pressuposto de que uma cidade tem um tecido social e
humano entrelaçado, que é o que lhe confere ‘convivialidade’, muitas
escolas de urbanismo contemporâneo abandonaram completamente
essa visão econômica e funcional da cidade organizada para gerar
economias e se concentraram em criar condições para a proliferação
de múltiplos enclaves sociais que favoreçam o convívio entre os
habitantes e ao mesmo tempo enfatizem a qualidade dos
ecossistemas; para essas tendências do pensamento urbanístico, o
importante é melhorar os sistemas de transporte coletivo para
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minimizar os tempos de viagem, aumentar o conforto e reduzir o
atrativo dos veículos individuais para deslocamento; reduzir ao
máximo possível a geração de lixo; controlar a geração e disposição
de efluentes; distribuir fisicamente de maneira adequada aos locais
de trabalho e de moradia. Talvez algumas ou muitas dessas
estratégias e soluções sejam menos racionais em termos puramente
econômicos do que outras, mas ainda assim seriam mais racionais
na ótica dos planejadores municipais ao lembrar que seu objetivo
final é a preservação e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Os conceitos de desenvolvimento local e regional são muito utilizados e
discutidos actualmente, comparando e relacionando com a ideia do global.
Dependendo da perspectiva, o desenvolvimento no âmbito local e global pode
assumir uma posição antagónica ou, ao invés, complementar-se.
Guibernau (1997) discute a lógica do local e do global como uma perspectiva
que surge num contexto de mundo globalizado, constituindo-se como um
processo pelo qual os eventos são transformados e modelados sob a influência
da expansão das conexões sociais que se estendem através do tempo e do
espaço. Ao mesmo tempo, os acontecimentos locais possuem um significado
diferente quando são distantes do tempo e do espaço percebidos em que
ocorrem. O local e o global confundem-se e formam uma rede em que os
elementos são transformados como resultado das suas interconexões. A
globalização expressa-se através da tensão entre as forças da comunidade
global e as da particularidade cultural, entre a segmentação de factores étnico-
culturais e as características homogéneas.
Fischer (2002) caracteriza o “local” partindo da “inércia” e, ao mesmo tempo, do
“movimento”. O “local”, numa primeira perspectiva, remete para a ideia de
estática, devida à configuração geográfica, já o “movimento” passa a ideia de
dinâmica e interacção num espaço global.
Entretanto, autores como Trevizan e Simões (2006: 9) apontam esse contraste
no que concerne à aparente dicotomia do global/local, ao afirmarem que o
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global e o local têm sido vistos como tendências opostas. A ideia da dinâmica
no contexto global teria surgido como resultado das crescentes mudanças
tecnológicas nos transportes e comunicações, permitindo minimizar os efeitos
das distâncias espaciais. No outro extremo, a lógica do local resguarda a
identidade e deve manter-se alerta em relação à ameaça de ter as suas
individualidades vitimadas pelo processo de globalização, assegurando, desta
forma, a sua identidade e o património, sejam materiais ou imateriais.
Numa outra abordagem, Trevizan e Simões (2006: 9, citando Hannerz, 1999:
51) discutem uma faceta diferente da concepção de global versus local,
destacando que, ao descobrir e dar vida às especificidades locais, pode-se
promover a atracção do global para o local, sem esquecer uma outra
perspectiva, a de que a cultura mundial pode ser encarada como um
entrelaçamento de culturas locais diversificadas.
A relação entre o território e as suas qualidades com todo o sistema produtivo
do turismo representa um referencial para a qualidade do desempenho deste
sector, sendo certo que uma alta percentagem de turistas tem uma percepção
de qualidade ligada ao aspecto geográfico, no sentido paisagístico e
sociocultural (Bercial e Timón, 2005:29).
No sistema turístico existem três vertentes territoriais: origem ou área emissora;
regiões de trânsito ou linhas de ligação; destino ou áreas receptoras, sendo
nestas últimas os locais onde ocorre o essencial da experiência turística, bem
como onde ocorrem os principais impactos e onde deve ser reunido o maior
esforço em termos de gestão e planeamento (Leiper, 1990).
A teoria de que a globalização é um fenómeno que, em algum horizonte
temporal, virá a uniformizar os lugares parece já ter reduzido a sua força. Num
sentido inverso e abordando o contexto do turismo, os lugares buscam cada
vez mais a manutenção das suas particularidades e diversidades porque são,
justamente, essas diferenças e originalidades que atraem os turistas. Como
ilustra Luchiri (1998:16, citado por Fratucci, 200: 128),
11
as discussões sobre a questão global-local ou local-global
avançaram e já não se coloca com tanta certeza que a globalização
implica no fim do local, na destruição das diferenças e peculiaridades
locais: tanto as peculiaridades locais, os localismos, os regionalismos
emergiram deste global, quanto a própria globalização económica
passou a valorizar as diferenciações dos lugares, fazendo dessa
diferenciação um atractivo para o capital.
Actualmente, são cada vez menos destacadas as ameaças da globalização às
individualidades; ao contrário, estas individualidades tendem até mesmo a ser
reforçadas. Para além disso, a globalização hoje é vista como um factor que
complementa e se confunde com o lugar. Não existem, de facto, os lugares
isolados, mas um conjunto de lugares que formam o global (Castrovani, 2007:
3).,
Para Fischer (2004), a noção de “local” contém ideias complementares e
antagónicas. Sendo o “local” a referência espacial delimitada e podendo ainda
ser identificado como base, território ou micro-região indicado por outras
designações que sugerem constância ou uma certa inércia, por outro lado,
contém, também, o sentido de espaço abstracto de relações sociais e indica
movimento e interacção de grupos sociais que se articulam e se opõem em
torno de interesses comuns.
2.2.1 Cidade e Destino Turístico
O entendimento das diferenças entre destino turístico e cidade, assim como a
definição de destino turístico possibilitará uma discussão mais clara e objectiva
acerca do planeamento turístico nos destinos.
O turismo tem uma inquestionável relação com o território. De maneira primária,
o relacionamento destes conceitos pode ser feito apelando ao facto de que a
concretização de uma experiência turística exige uma deslocação e esta acção
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ocorre no contexto territorial. Para além desta tão óbvia ligação, é no território
que ocorrem as mudanças, os impactos físicos e a própria experiência turística.
Muitas vezes, também, são as características do território que motivam a
deslocação, tal como Vallbona e Costa (2006: 11) ilustram, ao afirmarem que
la actividad turística requiere de la existência de ciertos recursos que
tengam capacidad de atracción para el consumidor y puedan
satisfacer sus expectativas durante la experiencia turística.
Em 2011, cerca de 41% da população europeia vivia no meio urbano (Eurostat,
2012). Esta realidade exige que o olhar esteja atento às cidades, sobretudo
quando o assunto é planeamento de destinos turísticos. Reconhece-se a
fragilidade dos destinos não - urbanos, mas é o ambiente urbano que mais atrai
turistas e, por consequência, muito sofre com os efeitos negativos do turismo.
Assim sendo, o que vem a ser uma cidade?
Sabe-se que não há uma definição consensual, a começar por divergências
quantitativas quanto ao número de habitantes. Compreende-se que realidades
diferentes exigem posturas diversas, não sendo possível, por exemplo,
apresentar os mesmos critérios em países como o Brasil, com 180 milhões de
habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2009), e
Portugal, com 10,6 milhões de habitantes (Instituto Nacional de Estatística -
INE, 2011a).
Henriques (2003: 33) documenta o conceito da Comissão Europeia para definir
a cidade, ao afirmar que vê a cidade “como uma aglomeração mais ou menos
regular de edifícios e vias públicas, onde as pessoas podem viver e trabalhar, e
também onde há muitas actividades sociais, culturais, e tem, pelo menos,
10000 residentes”. A autora destaca que esta proposta de definição engloba
critérios como número de habitantes, tipo de actividades desenvolvidas por
esses mesmos habitantes (peso relativo de indivíduos que se dedicam ao
comércio e à indústria, em oposição aos que se dedicam à agricultura), nível de
concentração das suas habitações, entre outros, além de deixar implícita a
13
confluência de várias dinâmicas no espaço, nomeadamente a económica,
social, cultural e política.
Em alinhamento com essa discussão, Henriques (2003:32-33) caracteriza os
centros urbanos e salienta a diferença entre estes e a própria cidade,
afirmando que
as áreas/centros urbanos podem apresentar várias dimensões,
desde grandes cidades a pequenos centros que dificilmente podem
ser chamados de cidade. Os perímetros fixados às áreas/centros
urbanos raramente coincidem com a cidade geográfica – entendida
enquanto forma de ocupação dos solos e entidade individualizada
com certa dimensão e densidade – onde se desenrola um conjunto
expressivo e diversificado de actividades várias indissociáveis do
modo de vida dos habitantes. Os perímetros são, regra geral,
menores que os limites administrativos ou de planeamento, embora
em áreas/centros urbanos de grande vitalidade económica e
demográfica a cidade geográfica ultrapasse os limites fixados pela
divisão administrativa ou política.
Henriques (2003: 33, citando Bonello, 1996) complementa que a cidade
ultrapassa a perspectiva geográfica, económica, sociológica ou histórica, uma
vez que nasce da interacção entre os indivíduos.
No âmbito das relações sociais, do território e da discussão acerca do sentido
de cidade, Fischer (2004) conclui, citando o autor Milton Santos, que
quando quisermos definir qualquer pedaço do território, devemos
levar em conta a interdependência e a inseparabilidade entre a
materialidade, que inclui a natureza e o seu uso, que inclui a acção
humana, isto é, o trabalho e a política.
No contexto do turismo, o destino nem sempre corresponde à limitação
geográfica ou política-administrativa de uma cidade, região ou país. Um destino
14
turístico pode ser uma cidade ou um conjunto delas, sem que haja a
coincidência com delimitações de outra natureza. Portanto, ao tratar-se do
planeamento de cidades, deve-se ter em conta que este poderá ocorrer no
âmbito da gestão da própria cidade, em conjunto com outras cidades ou, pelo
contrário, numa menor escala, nos bairros ou atractivos turísticos. A
compreensão de destino é muito mais ampla e corresponde ao local que reúne
uma estrutura suficiente para fornecer uma experiência turística. Como
esclarece Valls (2006: 15), também citando outros autores,
as políticas de turismo encontram no destino a unidade básica de
gestão. Há uma série de características que o configuram e que
devem ser levadas em conta no momento de defini-lo. A primeira
delas é o espaço geográfico homogéneo, com características
comuns, capaz de suportar objectivos de planeamento. Numa
perspectiva muito restrita, vem-se identificando o destino como uma
localidade (Scaramuzzi, 1993) ou como um núcleo turístico, uma
área turística, um município, uma região ou qualquer espaço
geográfico (Sancho, 2002).
O mesmo autor complementa, ainda, que o conceito de destino turístico está
associado a qualquer unidade territorial que possua vocação de planeamento
assim como capacidade administrativa para a desenvolver.
Por outro lado, Valls (2006: 16) comenta que o conceito de destino turístico se
relaciona com uma versão já consolidada da oferta, condicionando a existência
de um destino turístico à presença de três elementos: grandes unidades
geográficas agrupadas ou áreas que disponham de atracções e serviços;
população que aumenta extraordinariamente durante a temporada turística,
graças aos transeuntes e visitantes; e economia dependente, numa
percentagem elevada, das transacções que os turistas realizam.
15
Entretanto, a WTO (World Tourism Organisation) (2002) define destino turístico
como
un espacio físico en el que un visitante pasa al menos una noche.
Incluye productos turísticos tales como servicios de apoyo y
atractivos, así como los recursos turísticos a los que se puede
acceder haciendo un viaje de ida y vuelta en el día. Tiene unos
límites físicos y administrativos que definen su gestión e imágenes y
percepciones que determinan su competitividad en el mercado. Los
destinos turísticos locales incorporan a diversos grupos, entre los que
se cuenta a menudo la comunidad anfitriona, y pueden establecer
lazos y redes entre sí para constituir destinos mayores.
A definição da WTO é complexa e aproxima-se da definição apresentada por
Valls, englobando tanto os aspectos geográficos, como os aspectos
administrativos, sem, entretanto, vincular uns aos outros, isto é, o planeamento
e a gestão dos destinos turísticos podem ter uma afirmação geográfica
específica e não coincidente com limites definidos com outros propósitos.
Vallbona e Costa (2006: 12) chamam a atenção para o facto de as variações
territoriais dentro do sistema turístico apresentarem diferenças, a saber:
1. Espaço Turístico, definido como o lugar geográfico onde assenta a
oferta turística e onde pode ser encontrado o espaço de atracção (área
onde se concentram os elementos e atractivos que motivam a viagem);
o espaço complementar (onde estão localizadas as empresas turísticas);
e o espaço residencial (onde reside a população local);
2. Município Turístico, espaço delimitado por questões administrativas, o
que acaba por definir as competências dos agentes públicos locais no
que tange às políticas do turismo; apesar disso, na prática, o turismo
não compreende estas delimitações espaciais, podendo ir além dos
limites municipais ou, ao contrário, referenciar-se num âmbito inferior;
3. Destino Turístico, definido como um território para o qual o turista se
desloca ou, ainda, a concentração de instalações e serviços disponíveis
para satisfazer as necessidades dos turistas.
16
É importante destacar que a actividade de planeamento e gestão é de tamanha
importância para a competitividade, qualidade e sustentabilidade do destino
turístico que está contemplada na sua própria definição. Outro ponto para o
qual se deve tomar a atenção é o risco de tornar o turismo demasiado
aproximado do campo económico e desprezar os factores interdisciplinares e
multidisciplinares (sociológicos, ambientais, culturais, etc.) que devem estar
presentes, inclusive, quando são tratados os conceitos. O destino turístico,
antes de constituir-se como tal, é composto por aspectos económicos mas
também de aspectos sociais, ambientais, históricos. Definir destino turístico
apegando-se, essencialmente, ao local que foi estruturado como produto pode
não levar em conta as outras dimensões que têm substancial importância.
No âmbito da classificação dos destinos turísticos, Valls (2006: 56-57) define
uma tipologia que pode ser estabelecida segundo:
1. A especialização do território, como, por exemplo: agroturismo, turismo
de neve, caça e pesca, turismo de saúde, turismo cultural, dentre outros;
2. A procedência do turista: local, regional, nacional e internacional;
3. A principal motivação genérica do turista: praia; rural/interior; património
e cultura; desporto; descanso; saúde e cuidados corporais; relações;
negócios; eventos; formação e informação; descobrimento e aventura.
4. A utilização do território: destino único, o que se utiliza como meta de
viagem; destino base, ponto de partida para excursões e visitas; destino
que constitui parte de um circuito que não requer unidade temática; e
destino de percurso temático, que tem a sua razão de ser por fazer parte
de uma unidade temática particular (citando Ejarque, 2003).
5. A exigibilidade de aplicação do plano: indicativa, obrigatória parcial ou
obrigatória total.
6. O grau de especialização: monoproduto – destinos especializados;
multiproduto - corresponde a destinos que dispõem de vários produtos
turísticos complementares;
7. A fase do ciclo de vida: emergente, desenvolvido, em expansão, maduro
ou em declínio;
17
8. A importância da actividade turística no conjunto da economia: muito
baixa (menor que 4% do PIB), baixa (4-6% do PIB), média (6-8%),
elevada (8-10%), alta (10-12%) ou muito alta (acima de 12%);
9. O nível de desenvolvimento organizativo dos entes coordenadores, ou
seja, segundo as funções que realizam no nível estratégico e nos níveis
operacionais: estágio base, estágio médio ou estágio superior;
10. O grau de concentração da oferta, da procura e da distribuição:
monopolística, oligopolística ou fragmentada.
Então, longe de constituir um sinónimo de cidade, estado ou país, o conceito
de destino turístico é, como foi dito anteriormente, perfeitamente aplicável a um
lugar, uma ou mais cidades, estados ou países. O conceito é mais amplo e
flexível do que a definição de cidade e tem mais relação com a estrutura dos
produtos turísticos do que com a estrutura político-administrativa da unidade
geográfica, embora a capacidade de gestão e planeamento seja um factor
relevante.
Quando a cidade assume a capacidade de manter os seus próprios habitantes
e, além disso, de atrair turistas, são criados os alicerces para a constituição de
um destino turístico (Henriques, 2003: 43).
Há necessidade de ressaltar estas distinções, visto que, apesar de o
planeamento turístico aqui tratado se referir ao planeamento político e
submetido à ordem administrativa das cidades, regiões e países, é igualmente
necessário perceber a existência de outros níveis de planeamento, que se
interpõem e reflectem no desenvolvimento do destino, e não somente aqueles
institucionalizados nas escalas geográficas mais tradicionais.
Compreende-se, portanto, que a definição de cidade é complexa, porque
envolve diversos critérios, sejam objectivos, como o número de habitantes,
sejam subjectivos, como o tipo e a intensidade das relações humanas
existentes. No que concerne ao destino turístico, conclui-se que os parâmetros
de definição são ainda mais subjectivos e incluem uma abordagem da condição
18
estrutural que possibilite uma experiência turística, independente da sua
dimensão ou organização política e social.
2.3 Planeamento – teoria e conceito
O início do planeamento contemporâneo está associado à Revolução Industrial.
Esse período foi marcado, entre outras coisas, pelo surgimento de inúmeros
problemas urbanos decorrentes do rápido aumento populacional ocasionado
pelo êxodo rural. Acreditava-se que os problemas tinham surgido das
estruturas das cidades não suportarem a crescente ocupação ocasionada pelo
crescimento populacional. Como resposta a estas dificuldades, o planeamento
no período pós-Revolução Industrial foi marcado por propostas e soluções
físico-espaciais. Com o final da Segunda Guerra Mundial, a sociedade esteve
novamente confrontada com problemas relacionados com as estruturas das
cidades; neste período pós-Guerra, houve a necessidade de reconstrução dos
espaços que se encontravam destruídos (Costa, 1996: 24) e isso implicava
reflexão e acções ponderadas.
Com a entrada na segunda metade do século XX, difundiu-se o planeamento
económico entre os países do bloco socialista e, um pouco mais tarde, entre os
países classificados como subdesenvolvidos, como forma de alcançar o
desenvolvimento e passando, então, o planeamento a ser considerado como
instrumento orientador das economias (Dias, 2003).
19
Foi também no período pós-Segunda Guerra Mundial que o turismo se
expandiu rapidamente (Inskeep, 1993). Hughes (2004: 557) ilustra esta
afirmação, ao dizer que
na passada década de 1940, no rescaldo da Segunda Guerra
Mundial, o turismo foi estimulado para ajudar a restaurar a
normalidade social, por toda a Europa Ocidental. Contra o cenário de
fundo das profundezas traumáticas do conflito recente, a asserção de
que o turismo poderia fazer contribuição válida para a pacificação era
altamente credível. Ao que acrescentou rapidamente o mérito do
potencial económico do turismo, à medida que os países ocidentais,
no esforço de regenerarem suas economias destruídas pela guerra,
reagiam ao vigoroso crescimento pós-guerra do número de turistas.
Em muitas áreas foi encorajado o turismo de massas, sem uma reflexão prévia
e acções de planeamento, o que levou a importantes consequências sociais e
ambientais (Inskeep, 1993).
Entre as décadas de 1960 e 1970, o planeamento turístico ganhou espaço,
numa fase de grandes mudanças nesta actividade. Com o rápido crescimento
do mercado que marca este período, muitos destinos, com o intuito de alcançar
um rápido desenvolvimento social e económico, investiram no turismo e
acabaram por sentir relevantes impactos negativos, sobretudo no subsistema
ambiental. Além disso, o sedutor desenvolvimento económico e social foi alvo
de inúmeras críticas que acusavam o turismo de desagregar as economias
locais, criando empregos sazonais, com baixos salários e que exigiam pouca
qualificação (Costa e Buhalis, 2006: 193-194). A partir dos anos 70, as antigas
formas de planeamento começaram a ser questionadas. Neste período,
chegou-se à conclusão de que o planeamento é influenciado por situações
específicas de cada lugar, pela actuação política e das organizações e pela
capacidade de interceder nas decisões por parte de determinados grupos. Foi
a época em que se preconizaram intervenções mais específicas, relacionadas
com: melhoria da qualidade de vida em determinadas áreas geográficas e
envolvendo grupos sociais particulares; recuperação de unidades e grupos
20
urbanos com características arquitectónicas bem identificadas; aumento e
melhoria das áreas de lazer, recreio e comércio; melhoria da acessibilidade, etc.
(Costa, 2001).
Na década de 1980, é a própria WTO quem relata a baixa qualidade do
desenvolvimento do turismo até aquele momento, visto que não ocorreu com o
devido planeamento, causando danos ao meio ambiente, além dos danos
sociais.
O desafio do planeamento do turismo era encontrar formas de ajustar a
organização territorial e, ao mesmo tempo, considerar os interesses dos
sectores privados. O modelo, conhecido por PASOLP (Product’s Analysis for
Outdoor Leisure Planning, desenvolvido por Baud-Bovy e Lawson), pioneiro
nesse domínio, propunha uma visão integrada e sustentável, além de noções
de planeamento estratégico e territorial, destacando a necessidade de
benefícios a longo prazo em todo o sistema turístico. Defendia-se, então, que o
turismo era capaz de gerar benefícios sem causar tantos danos aos destinos e
que o sucesso da actividade dependia da visão sustentada e sustentável.
Ainda nos anos 1980, um outro modelo, o “Alberta”, desenvolvido por Clare
Gunn, além da visão integrada e sustentável, introduziu a necessidade de um
inventário e análise detalhada do território e da participação do sector privado e
da população no processo. Nos anos 1990, Inskeep apresenta uma evolução
dos modelos de planeamento existentes e propõe a gestão e o planeamento
físico, social e económico. A partir de 2000, a literatura acerca do planeamento
evoluiu muito, acompanhando linhas de pensamento que defendiam a
necessidade da gestão e do planeamento com uma abordagem integral, de
forma a assegurar um turismo sustentável e competitivo (Costa e Buhalis, 2006:
195 -196).
Em síntese, (Inskeep, 1993; Costa, 1996; Gunn e Var, 2002) concluem que de
1980 em diante os modelos elaborados tenderam a considerar que o
planeamento turístico deve estar pautado por princípios de racionalidade e rigor
técnico e perspectivar-se num contexto de abrangência dos sectores públicos e
privados.
21
2.3.1 O que é planear?
O planeamento é hoje reconhecido como actividade determinante para o
sucesso e sustentabilidade dos destinos turísticos. Entretanto, na prática,
apesar de o planeamento ser extremamente necessário para o turismo,
proporcionando diversos benefícios e constituindo um instrumento
imprescindível nas gestões com base no modelo de sustentabilidade, muitos
destinos ainda não implementam um processo de gestão e planeamento do
turismo ou fazem-no de forma inadequada.
O primeiro passo de qualquer processo de gestão é o planeamento e a gestão
do planeamento é o primeiro estágio para a tomada de decisão (Murphy e
Murphy, 2004:86).
Carvalho Jr. (2002: 1) define planeamento como
um esforço para dirigir a energia humana, objectivando uma
finalidade racionalmente predeterminada, ou seja, representa uma
ação coordenada de esforços para atingir um determinado objectivo”
e, para que seja alcançado, de facto, “é necessário que os agentes
sociais façam diagnósticos e previsões, procedam a
acompanhamentos e avaliações, e construam cenários sobre o
presente e o futuro com base na reflexão sobre o passado, nas
experiências presentes e nas expectativas de futuro.
Planear envolve reflectir previamente acerca das situações de forma a
assegurar o alcance dos objectivos pré-estabelecidos. Essa reflexão, no
entanto, pressupõe a aplicação de um conhecimento científico para resolver os
problemas e assegurar que os objectivos e metas serão atingidos (UNCRD,
2002: 52).
O turismo, por envolver sectores distintos e estratégicos, é uma actividade que
é principalmente planeada pelo sector público, mas com a participação do
sector privado e da comunidade. No entanto, a interferência pública varia
22
conforme a importância do turismo para a economia de um país (Cooper et al,
2001).
A participação pública assume, assim, novos contornos face à necessidade de
reduzir custos, de planear de forma mais pragmática, de garantir o
estreitamento das relações entre o sector público e as organizações privadas e
de planear num novo contexto mundial, mais informado e mais democrático
(Costa, 1996)
Inskeep (1993) sublinha, ainda, que o planeamento turístico visa o benefício da
comunidade e que esta também deve estar envolvida no planeamento e
desenvolvimento de locais turísticos. A população residente, que conhece
melhor a localidade e a organização da sociedade, pode, por isso, dar um
contributo positivo para o desenvolvimento do turismo na região (WTO, 1998;
Gunn e Var, 2002).
O processo de planeamento do turismo reflecte o uso racional do território e
dos recursos, traduzindo o crescente interesse em controlar os impactos da
actividade (Vera, Palomeque, Marchena e Anton, 1997). O espaço não tem
apenas dimensão territorial e física, mas também importância demográfica,
económica, social, cultural e, por isso, o ordenamento do território afecta o
espaço e influencia a distribuição e a forma de organização das actividades
nele implantadas (Vieira, 2007).
Para Fonseca e Ramos (2006), o desenvolvimento territorial apresenta-se
perante uma nova realidade que exige respostas mais eficazes por parte dos
instrumentos de planeamento vigentes, a fim de que sejam assegurados o
desenvolvimento económico e social sustentado. Os autores defendem a
reformulação do conceito do planeamento convencional, utilizando uma visão
estratégica capaz de responder às complexidades dos fenómenos indutores de
incertezas e de mutações aceleradas.
O turismo é composto por três dimensões (Valls, 2006: 100): a dimensão
operacional, que envolve a prestação dos serviços; a dimensão de suporte, que
sustenta a operacional e se constitui através de processos intermediários entre
23
estes e os estruturais; e a dimensão estrutural, que afecta as decisões
estratégicas, envolvendo as direcções e o conjunto da organização - no caso
dos destinos, são processos estruturais os relativos ao consenso e às decisões
estratégicas em matéria de marketing, de recursos humanos, de tecnologias,
de logística, de construção, de planeamento dos recursos financeiros, etc.
Na dimensão estrutural, inclui-se o processo de planeamento, que, por sua vez,
depende do reconhecimento e da articulação de outras três dimensões
(Carvalho Jr, 2002):
1. Técnica: visa o acesso a informações e conhecimentos
multidisciplinares para a elaboração de diagnósticos e prognósticos,
formulação e implementação de planos e programas; as funções de
planeamento são ligadas ao desenvolvimento e promoção de produtos
turísticos, integrando e articulando os recursos locais e desenvolvimento
e dinamização do turismo local, etc. (IQF, 2005);
2. Financeira: garante a execução das acções planeadas ao nível técnico;
3. Política: envolve a escolha de alternativas, uma vez que planear é um
acto político que implica tomar decisões sobre acções presentes e
futuras; sendo o planeamento uma actividade eminentemente política
(Henriques, 2003 citando Gunn, 1988; Carvalho Jr., 2002: 2), deverá ser
estratégico e integrador, orientado para a acção, proactivo e contínuo,
não sendo, portanto, uma mera elaboração de planos.
As informações relativas ao passado e ao presente são os alicerces para o
planeamento (pensar para o futuro), já que este processo tem bases racionais.
Reflectir sobre acontecimentos futuros envolve incertezas e,
consequentemente, riscos, pelo que quanto mais informações seguras sejam
reunidas e analisadas, menor risco envolverá o processo. As instituições de
investigação surgem, então, como importante fonte de informações e apoio à
tomada de decisão, fornecendo dados estatísticos, indicadores, índices, textos
analíticos, etc., fundamentais para a elaboração de diagnósticos, prognósticos
e montagem de cenários (Carvalho Jr., 2002: 3).
24
Na figura 1, Carvalho Jr. (2002: 4) demonstra a importância das instituições
produtoras de informação, tanto no início do processo de planeamento como
no final, defendendo que a fase de avaliação do processo constitui um novo
diagnóstico e, portanto, um momento em que serão levantadas e analisadas
novas informações.
Figura 1
Fluxo do Planeamento
Fonte: Carvalho Jr., 2002: 4
Na fase de implementação, que implica a viabilização do planeamento, e a
concretização de uma visão sustentável, o destino deve contar com uma série
de facilitadores, entre eles: um coordenador da estrutura organizacional; o
observatório de turismo, para levantamento de informações que suportarão a
tomada de decisão; a imagem da marca, para identificação do destino entre os
stakeholders, assim como entre os seus clientes e concorrência; e o painel de
controlo integral, para acompanhar o processo estratégico (Valls, 2006:147).
Instituições de
Pesquisa
Concepção
Identificação do
Problema
(Diagnóstico,
Prognóstico,
Avaliação dos
riscos)
Instituições de
Pesquisa
Avaliação (novo
Diagnóstico)
Monitorização
Execução
Planeamento (Plano,
Programa, Projecto)
25
O papel do coordenador do destino estabelece-se em dois níveis: estratégico,
que consiste na iniciativa de planeamento; e o operacional, nos domínios das
políticas e estratégias. Na dimensão estratégica serão tomadas decisões como
o modelo de desenvolvimento a ser seguido; bases de cooperação; valores.
Por outro lado, na dimensão operacional, as funções envolvem a
implementação do modelo de desenvolvimento. O seu papel operacional é
compreendido por quatro áreas de acção: o planeamento dos recursos
económico – financeiros; a criação de produto; comercialização e gestão da
marca; e o fomento das demais políticas (Valls, 2006: 149-151).
A visão estratégica do planeamento do desenvolvimento turístico permite
(Vieira, 2007, p. 50-51):
1. Orientar o destino turístico para alcançar a sua missão e objectivos
estratégicos;
2. Apoiar a gestão estratégica;
3. Obrigar a uma reflexão estratégica sobre o destino turístico e a sua
envolvente e as alterações que no decurso do tempo se vão verificando;
4. Obrigar a uma abordagem sistémica dos vários planos estratégicos,
unificando as decisões e o esforço da organização;
5. Mobilizar a estrutura administrativa para a missão e a visão de uma
forma proactiva;
6. Envolver toda a estrutura no mesmo processo e com os mesmos
objectivos;
7. Proporcionar meios de controlo e avaliação permanente da evolução dos
vários planos estratégicos (marketing, formação, etc.);
8. Definir objectivos estratégicos, financeiros ou outros, sempre
temporizados e quantificados de forma a possibilitarem a avaliação do
seu cumprimento e do desempenho dos responsáveis por esse
cumprimento;
9. Definir uma estratégia de diferenciação abrangente (mais do que apenas
a diferenciação do produto turístico compósito) e dos padrões de acção
que a definem quanto ao posicionamento no mercado, no confronto com
a concorrência, às relações com os clientes e os fornecedores, à
expansão de produtos e serviços, etc.
26
Entretanto, apesar de reconhecida a necessidade do planeamento estratégico
em turismo, a verdade é que, à escala mundial, apenas 56% dos projectos e
planos estratégicos elaborados chegam a ser implementados e isso deve-se,
principalmente (Valls, 2006: 62, citando WTO, 1994): ao elevado custo do
processo de planeamento estratégico; à dificuldade de harmonização dos
interesses de todos os actores envolvidos; à percepção subjectiva do marco de
desenvolvimento por parte dos envolvidos; às condições particulares de cada
destino e de cada empresa, que desencadeiam contextos que distorcem, em
muitos casos, os critérios de planeamento; ao comodismo da inércia do não-
planeamento.
Outro impasse à efectivação do planeamento estratégico é que este tem a
necessidade de equilibrar, ao máximo, o carácter político e técnico, uma vez
que um plano mais aproximado do contexto técnico pode ser inviável por não
contemplar as necessidades das diferentes perspectivas. No entanto, um plano
essencialmente político pode agradar em demasia mas não possibilitar que os
objectivos de desenvolvimento possam vir a ser atingidos (Rezende e Castro,
2005: 13).
Num tempo actual, em que o planeamento tem evoluído de uma perspectiva
tradicional, estática e fragmentada, para uma dimensão estratégica, processual
e sistémica (Gunn, 1988), acrescentando valor à competitividade e
sustentabilidade dos destinos, tem surgido a necessidade de compreender em
que medida a formação dos técnicos em turismo tem acompanhado as
exigências inerentes ao novo paradigma do planeamento turístico.
Em forma de síntese, a figura 2 faz convergir as visões acima apresentadas,
nas quais o turismo é composto pelas dimensões operacional, de suporte e
estrutural, estando o planeamento dentro desta última. Nela é possível
identificar o planeamento dentro da estrutura organizacional do turismo.
Também se pode perceber, conforme a apresentação a seguir, a relação entre
a vertente técnica do planeamento (dimensão estrutural) e a educação e
formação (dimensão de suporte).
27
Figura 2
O Planeamento na Estrutura Organizacional do Turismo
Fonte: Elaboração própria com base em diversos autores
A tabela 1 enumera variáveis que funcionam como parâmetros, no âmbito
técnico e político, para aferir a efectivação do planeamento nos destinos
turísticos. Ou seja, as variáveis identificadas representam quais os aspectos
que devem ser contemplados em cada uma das dimensões representadas. A
presente tese pretende apenas analisar o primeiro item da dimensão técnica, a
“equipa técnica com formação adequada”.
28
Tabela 1
Variáveis de avaliação do processo de planeamento
Dimensão Técnica
Equipa técnica com formação adequada
Elaboração de planos e projectos de desenvolvimento turístico
Planeamento em longo prazo
Levantamento e compilação de informações da localidade e do entorno – inventário
Criação de dados estatísticos para dar suporte à investigação científica e à tomada de decisão
Implementação dos planos e projectos de desenvolvimento turístico
Participação da comunidade nas decisões
Envolvimento das instituições em empresas nos processos de decisão
Análise sistémica do destino turístico
Participação activa da cidade nas decisões nas Regiões de Turismo
Promoção e gestão da marca
Dimensão Política
Selecção do modelo de desenvolvimento a ser seguido
Leis, orientações e normas ligadas ao turismo
Prioridade do Turismo na agenda governamental
Fonte: Elaboração própria com base em diversos autores.
2.4 Planear o Turismo, por quê?
O planeamento é um dos principais instrumentos para viabilizar o alcance do
desenvolvimento, uma vez que somente através de uma gestão previamente
pensada e organizada é possível atingir determinados objectivos económicos e
sociais. Apesar de o desenvolvimento se constituir como um objectivo que é,
normalmente, pretendido para um local/região/país, assim como acontece, por
exemplo, com a sustentabilidade, é considerado, por muitos, uma utopia.
Sempre a ser seguido, mas nunca algo alcançável. A verdade é que, sem um
planeamento adequado, o desenvolvimento é um “sonho impossível”, pelo que
a sua promoção constitui um dos principais objectivos do planeamento turístico.
São muitas e diversificadas as abordagens ao conceito de desenvolvimento,
apesar de, actualmente, já se poder dizer que ganhou consistência e real
29
significado. Muitas vezes foi (e ainda é) utilizado num campo seccional, como
quando, por exemplo, se fala do desenvolvimento económico, mas o conceito
de desenvolvimento constitui algo muito mais profundo e abrangente.
A tomada de consciência do conceito de desenvolvimento e a assunção da
“necessidade” de o alcançar emergiu sobretudo quando os países ricos
decidiram auxiliar as nações pobres nos processos de descolonização e,
consequentemente, pela necessidade de os novos Estados transformarem as
velhas burocracias em instrumentos de mudança social. Inicialmente, esta
ajuda aos países pobres deu-se através dos órgãos governamentais dos
países desenvolvidos e, posteriormente, ocorreu através de programas de
ajuda mútua e acordos bilaterais com recursos empregues em áreas como
educação, saúde, agricultura, comunicações e capacitação técnica (Fischer,
2004).
No âmbito local, Fischer (2002) destaca alguns dos problemas e barreiras
enfrentadas no que tange ao processo de desenvolvimento, a saber:
A descontinuidade política, que extingue muitas iniciativas ao fim do
mandato do gestor que as criou, além das interferências político-
partidárias locais, regionais e nacionais;
As dificuldades de articulação entre governos, entre governo e
sociedade e entre os próprios agentes sociais;
O facto de as estratégias de desenvolvimento serem construídas
externamente (nos meios governamentais ou através de representação
no segundo e terceiro sector – empresarial ou Organizações Não-
Governamentais - ONGs), o que reforça situações como serviços de má
qualidade, estruturas ineficientes e onerosas, obsolescência e
inadequação;
Fragilidades metodológicas dos tipos de intervenção em
desenvolvimento local, modismos e mimetismos;
30
Estruturas de interesses na constituição de agências promotoras do
desenvolvimento local e consultores que substituem meios por fins, ao
adoptarem metodologias que se sobrepõem aos resultados e criam
dependência nas comunidades apoiadas;
Sobreposição de programas e projectos de diferentes instituições, sobre
os mesmos espaços, onerando as comunidades, que multiplicam
agendas e fragmentam esforços, para não perder oportunidades de
financiamento.
Neste contexto, as agências internacionais agregam um conjunto de princípios
de base para a estratégia de desenvolvimento sustentável que buscam a fim de
coordenar e tornar mais eficiente a empreitada rumo ao desenvolvimento
(Fischer, 2004):
Consideração das necessidades humanas, de modo a garantir efeitos
benéficos a longo prazo para grupos marginalizados;
Uma intenção de longo prazo amplamente compartilhada, dentro de
espaços e tempos relativamente delimitados;
Um processo global e integrado, que concilie objectivos económicos,
sociais e ambientais, com previsão de regulação e arbitragem, mediadas
por negociação.
A autora complementa que alguns estudos acerca do desenvolvimento no
Mundo, levados a cabo pelo Banco Mundial, apontam o futuro do
desenvolvimento de forma pessimista, o que não obsta a que tenham sido
traçadas algumas directrizes que estabelecem:
Os objectivos do desenvolvimento devem ser múltiplos e a qualidade de
vida inclui, além de rendimento, também saúde, educação e maior
participação na vida pública;
31
As políticas de desenvolvimento são interdependentes e devem ter
medidas de acompanhamento;
O Estado tem um papel intransferível na gestão e regulação dos
processos de desenvolvimento.
Fernandes e Coelho (2002, citados por Almeida, 2006: 24) esclarecem que o
crescimento económico é uma medida quantitativa de incremento do Produto
Nacional Bruto (PNB) e/ou PNB per capita, sendo percebida uma mudança
económica, sem, porém, clarificar se houve ou não uma distribuição dos
recursos. No que se refere ao desenvolvimento económico, há uma indicação
de que o crescimento económico causou uma melhoria no padrão geral de vida
e no bem-estar da população de um país.
Por outro lado, o crescimento económico é determinado por factores como o
emprego, a energia e diversos recursos materiais que podem variar consoante
factores como a educação, a investigação e o desenvolvimento, bem como os
bens disponíveis para cada trabalhador (Bolwell e Weinz, 2008: 83). Pode-se,
então, concluir que não sendo o crescimento económico sinónimo de
desenvolvimento, o primeiro é componente importante na indução do segundo.
O termo “desenvolvimento” é designado como um processo de melhoria,
mudança, evolução, crescimento. Nesse sentido, serão discutidos
posteriormente os termos: desenvolvimento local, desenvolvimento sustentável
e desenvolvimento integrado, assim como os conteúdos teóricos relacionados.
François Perroux, economista francês destacado como teórico do
desenvolvimento, elaborou a teoria dos pólos de desenvolvimento que, no seu
início, foi formulada de forma ampla e, depois, destinada à análise regional
(Silva, Lima e Piffer, 1999). Para Perroux, a competição perfeita e o livre
mercado constituíam aspectos teóricos e, na realidade, existia um grupo de
unidades económicas poderosas que exerciam grande influência sobre o meio.
Desta forma, Perroux definiu o fenómeno da polarização e as suas
repercussões, ao concluir que o crescimento não surge em todos os lugares ao
32
mesmo tempo, mas manifesta-se em pontos ou pólos de crescimento, com
intensidades variáveis. O seu crescimento transmite-se através de diversos
canais e com efeitos variáveis para o conjunto económico (Silva, Lima e Piffer,
1999).
Numa abordagem mais recente, Perroux considerou que os espaços
económicos foram reduzidos a três classificações básicas (Silva, Lima e Piffer,
1999):
1) o espaço económico que possuía características homogéneas, tal como um
espaço contínuo com características semelhantes de densidade, de estrutura
de produção, de nível de rendimento, entre outras;
2) o espaço económico definido como um campo de forças ou de relações
funcionais, no qual há trocas entre os espaços homogéneos, ou seja, que
consistem em centros (pólos) dos quais emanam forças centrípetas (de
atracção) e centrífugas (de repulsão); cada centro possui um campo de
actuação próprio, sendo o espaço ou região polarizada o lugar onde há
intercâmbio de bens e serviços, tendo a intensidade do intercâmbio interior um
nível superior, em cada um dos seus pontos definidos, em relação à
intensidade exterior;
3) o espaço económico como plano ou programa; apesar de não coincidir com
a região polarizada, tem como vocação a criação de regiões polarizadas novas,
de rendimento económico superior às antigas.
A partir das décadas de 60 e 70, Perroux procura distinguir pólo de crescimento
e de desenvolvimento (Leite, 1983, citado por Silva, Lima e Piffer, 1999):
Pólo de crescimento: corresponde a certos pólos que, mesmo motivando
o crescimento do produto e do rendimento, não provocam
transformações significativas nas estruturas regionais;
Pólo de desenvolvimento: são aqueles que conduzem a modificações
estruturais que abrangem toda a população da região polarizada.
33
Matias (2007: 151 – 164) discute o mercado turístico à luz das teorias
económicas, numa perspectiva ampla. Da teoria clássica, explica as vantagens
absolutas de Smith (1776, citado por Matias, 2007: 152), destacando a
premissa de que cada país tende a especializar-se na produção para a qual se
encontra mais apto, assumindo que cada país deve concentrar-se naquilo em
que é mais competitivo. Entretanto, esta abordagem não contempla o contexto
do comércio internacional de um país que não possua vantagem absoluta na
produção de nenhum bem. David Ricardo complementa esta abordagem,
introduzindo os princípios das vantagens comparativas, no qual define a teoria
de que (Matias, 2007: 151 - 164):
cada país será levado a especializar-se, não nas produções em que
detém vantagem absoluta, mas sim naquelas em que detém maior
vantagem comparativa ou menor desvantagem comparativa.
Na prática, as características da teoria clássica podem ser verificadas no
turismo na tendência para a especialização dos países por produto, além de
permitirem explicar um grande número de trocas turísticas internacionais, já
que a diferença de custos é também factor determinante no turismo
internacional.
A teoria neoclássica do comércio internacional considera as vantagens
comparativas num ambiente de concorrência; entretanto, não pondera a
diferença entre os custos de produção, mas sim a diferença entre a abundância
dos factores de produção de cada país. Assim, a teoria neoclássica assenta no
pressuposto de que os países irão especializar-se na produção dos bens e
serviços que mais utilizarem os factores de produção de que dispõem em maior
quantidade (Matias, 2007: 155). Posteriormente, a teoria contemporânea
analisa o impacto da concorrência imperfeita, das economias de escala e da
diferenciação do produto na natureza e amplitude dos fluxos comerciais
internacionais (Matias, 2007: 158), incluindo a vertente da gestão empresarial,
além da recente teoria das vantagens competitivas de Michael Porter. A teoria
das vantagens competitivas, na realidade económica actual, vem assumindo
34
cada vez mais importância no contexto económico e empresarial, visto que as
dotações iniciais de recursos das nações, por si só, não constituem factores
decisivos de desenvolvimento, como prega a teoria das vantagens
comparativas. Perante a realidade de um mundo globalizado, o foco sai da
localização dos recursos, que são facilmente acessíveis, mas no potencial de
crescimento da produtividade e, particularmente, no factor humano. Assim, são
as vantagens adquiridas as mais importantes, e não as já obtidas
anteriormente.
O modelo de Porter é baseado no conceito de cluster, onde há uma
proximidade geográfica (aglomeração) de empresas interconectadas ou
instituições associadas que, juntas, constituem uma mais-valia e um sentido de
complementaridade. Indo ao encontro desta teoria, Matias (2007: 163) define o
cluster turístico como
um grupo de atracções turísticas, infraestruturas, equipamentos e
outros serviços directa ou indirectamente relacionados com a
actividade turística e concentrados numa área geográfica
determinada.
Vale destacar que as vantagens comparativas podem determinar a vocação
turística de um destino; mas as vantagens competitivas, relacionadas com a
inovação e a qualidade, são hoje mais preponderantes quando o assunto é o
sucesso no mercado e o alcance do desenvolvimento. O tema competitividade
será aprofundado no subcapítulo que a discute no campo do turismo. Para já,
reconhecemos que estas teorias económicas evidenciam algumas das razões
pelas quais o desenvolvimento ocorre de forma mais expressiva em
determinados locais do que em outros.
O conceito de desenvolvimento endógeno foi proposto nos anos setenta do
século passado, negando a imitação dos modelos das sociedades industriais e
evidenciando a necessidade de se levarem em consideração as
especificidades de cada país e de cada local (Fischer, 2004 citando Sachs,
2001).
35
Segundo Barros, Silva e Spínola (2006), o desenvolvimento de um determinado
espaço em consequência de factores exógenos é caracterizável no contexto do
desenvolvimento regional, o que sugere um planeamento centralizado de um
Estado Nacional, também conhecido por desenvolvimento “de cima para baixo”
(Garrido, 2002).
Por outro lado, o desenvolvimento local parte de factores internos, ou factores
endógenos, obedecendo a uma visão territorial (e não funcional) dos processos
de crescimento e de mudança estrutural, que parte de uma hipótese de que o
território não é apenas um mero suporte físico de objectos, actividades e
processos económicos, mas também que ele é um agente da sua própria
transformação (Barros, Silva, Spínola, 2006, citando Agnew e Duncan, 1989;
Giddens, 1991; Albalgi, 1999, citado por Lastres e Cassiolato, 2000). Portanto,
este modelo de desenvolvimento, também caracterizado como
desenvolvimento “de baixo para cima”, possui a intenção de promover as
potencialidades socioeconómicas próprias da localidade.
Se, por um lado, a abordagem de desenvolvimento “de cima para baixo”
propõe o desenvolvimento de um modo centralizador e partindo de esfera
superior, por outro lado, a abordagem do desenvolvimento “de baixo para cima”
considera “a coerência interna, aderência ao local e sintonia com o movimento
mundial dos fatores” (Amaral Filho, citado por Garrido, 2002).
No turismo, Almeida (2010: 167, citando OMT, 2004b: 4) conclui que a
combinação entre as abordagens “de cima para baixo” e “de baixo para cima” é
a mais adequada, justificando que a primeira abordagem tende a ser
substituída pela segunda em termos de flexibilidade e horizontalidade,
permitindo uma melhor interacção entre os intervenientes, coisa que a gestão e
planeamento centralizado não conseguem e muito menos se aproximam de
uma abordagem sustentável.
36
Assim, Barros, Silva e Spínola (2006, citando Barquero, 2002) admitem que
os processos de desenvolvimento endógeno ocorrem graças à
utilização produtiva do potencial de desenvolvimento possibilitado
quando as instituições e mecanismos de regulação do território
funcionam eficientemente. A forma de organização da produção, a
estrutura familiar, a estrutura social e cultural e os códigos de
conduta da população condicionam os processos de
desenvolvimento favorecendo ou limitando a dinâmica econômica e,
em definitivo, determinam o rumo específico do desenvolvimento das
cidades e das regiões.
Na década de 1990, o foco do modelo de desenvolvimento endógeno era a
compreensão da variação do nível de crescimento entre as diferentes regiões e
nações, mesmo quando estas dispunham de condições produtivas
semelhantes, como capital financeiro, mão-de-obra ou tecnologia. Foram,
então, identificados factores de produção actualmente decisivos, como o capital
social, o capital humano1, o conhecimento, a pesquisa e desenvolvimento, a
informação e as instituições. Estes factores eram determinados dentro da
região e não de forma exógena, como até então era entendido, e concluiu-se
que as regiões que dispusessem destes factores em quantidade e qualidade ou
possuíssem condições de desenvolvê-los detinham melhores condições para
atingir um desenvolvimento acelerado e equilibrado (Souza Filho, 2009: 1).
Parente e Zapata (1998) apontam o desenvolvimento local integrado como uma
estratégia de intervenção social que busca, considerando os impactes da
globalização, novas alternativas de desenvolvimento, mais sustentáveis, mais
presentes, que respondam, no âmbito do espaço territorial, aos desafios do
1
O conceito de Capital Humano envolve os conhecimentos, habilidades e competências adquiridos através da educação e do treinamento. Esse conceito, discutido por Becker (1993), está relacionado com a temática discutida nesta tese, uma vez que é exatamente esta a ideia central da investigação: analisar o indivíduo na sua capacidade de actuação no contexto profissional das funções de gestão e planeamento do turismo.
37
desemprego, da exclusão social, da cidadania e da melhoria de qualidade de
vida.
Então, o que se pretende através da inclusão social é a melhoria da qualidade
de vida das famílias, ou seja, uma comunidade mais organizada, com mais
participação nas estruturas do poder, o exercício da cidadania e da democracia
participativa, a utilização racional do meio ambiente e o resgate das
identidades culturais locais integradas num mundo globalizado (Parente e
Zapata, 1998).
Figura 3
Participação da comunidade no processo de desenvolvimento
Fonte: United Nations Centre for Regional Development (UNCRD), 2002: 01
Como ilustra a figura 03, o desenvolvimento perpassa os domínios sociais,
ambientais, económicos e políticos, assumindo que só através da participação
de todos os actores da comunidade é possível a sua promoção.
38
2.5 Os novos paradigmas da gestão e planeamento do turismo
O modelo de desenvolvimento do planeamento estatal, no qual o Estado reúne
para si toda as decisões relativas ao processo de gestão e planeamento,
perdeu força à medida que a perspectiva dos Estados globalizados se foi
fortalecendo. Desde então, todo o processo vertical, tal como era gerido, a
partir do poder central do Estado, foi perdendo força e dando lugar a uma
perspectiva de desenvolvimento horizontal, com características mais
participativas e com foco na qualidade de vida.
Aliás, é o próprio conceito moderno de políticas públicas que nos remete para a
ideia da participação colectiva, uma vez que consiste num conjunto de acções
governativas conduzidas em prol do bem-estar dos indivíduos. Ora, quem
melhor sabe o que quer e precisa do que os próprios cidadãos?
A diferenciação surge, também, como uma necessidade num contexto cada
vez mais competitivo e exige a compreensão de que cada situação reúne as
suas próprias necessidades de planeamento e desenvolvimento.
Jafari (2001, citado por Weaver, 2004: 571) defende que a evolução do turismo
sofreu influências daquilo a que chama de “plataformas”. Numa outra obra,
Jafari (2005) e Jafari (2007) sistematizam as fases do processo evolutivo do
turismo, dividindo-o em cinco plataformas:
1. De defesa, na qual são evidenciados os factores positivos do turismo,
nomeadamente pelos chamados “grupos de interesse’”, que destacavam,
sobretudo, os benefícios económicos gerados pelo sector;
2. De precaução, que, em contraste com a plataforma anterior e com base
em investigações, se inicia num período em que são evidenciados os
malefícios que o turismo poderia trazer, essencialmente nos
subsistemas cultural e ambiental, além de questionar os benefícios
económicos venerados pela plataforma de defesa;
3. De adaptação, as plataformas anteriores apontavam os impactos
positivos e negativos do turismo; a plataforma adaptativa defende
formas alternativas de turismo, as que causam menos impactos nos
39
ambientes naturais, culturais e sociais, além das modalidades de turismo
que gerem mais impactos positivos para a comunidade local;
4. De conhecimento, as discussões ocorridas nas plataformas anteriores
possibilitaram a consciência dos impactos que o turismo pode gerar,
sejam eles positivos ou negativos; apesar de aquelas apresentarem
visões limitadas sobre o todo (sistema turístico) contribuíram
significativamente para o desenvolvimento da teoria do turismo, além do
reconhecimento geral da dimensão, da importância e das implicações da
actividade turística; esta plataforma, também conhecida como científico-
cêntrica, ocupada geralmente pela comunidade científica e investigadora,
marca a formação do corpo científico de conhecimentos sobre o turismo,
além de uma abordagem mais sistémica do fenómeno;
5. De interesse público, na qual Jafari levanta o questionamento de se
estar a formar uma nova plataforma de desenvolvimento científico e
social do turismo; como principais indícios do surgimento desta nova
etapa, são apontadas as respostas a grandes acontecimentos mundiais,
como a SARS e o Tsunami na Ásia; a necessidade de reagir aos
ataques de “11 de Setembro”, nos EUA, ou de “11 de Março”, em
Espanha, veio confirmar esta ideia de Jafari, reforçando novas questões
no contexto das viagens e do turismo, sobretudo nos aspectos ligados à
segurança; trata-se de um momento em que surgem, globalmente,
elementos significativos de instabilidade política e social.
Considerando a realidade dinâmica, num contexto económico e social, por
vezes, demasiado complexo e instável, é necessário que as empresas e
governos estejam sempre preparados para responder de forma rápida e eficaz,
mas, ao mesmo tempo, é necessário que exista um alicerce que suporte e
oriente todas as acções e assegure que quer em tempos de crise, quer de
estabilidade e crescimento, a gestão seja adequada aos processos de
desenvolvimento. Por outras palavras, não existe um modelo de gestão ideal
ou formatos a serem copiados; na verdade, existe apenas um conjunto de
características que necessitam de ser discutidas e implementadas consoante
40
cada realidade, devendo ser levados em consideração, no ambiente interno e
externo, factores ligados ao contexto económico, social, ambiental, cultural e
político. Dessa forma, poderão ser definidos modelos “ideais” de gestão
ajustados à cada realidade.
Rezende e Castor (2005: 72) esclarecem que, no contexto municipal, o modelo
de gestão está interligado ao sistema organizacional e à forma de conduzir os
serviços municipais, podendo o modelo adoptado influenciar significativamente
no desempenho das câmaras e dos serviços oferecidos. Nesse contexto, são
considerados quatro modelos de gestão:
autoritária, concentrada na figura do Presidente da Câmara Municipal
(eventualmente, envolvendo outros membros do Executivo), no qual as
decisões são tomadas sem a participação de outros funcionários ou da
comunidade;
democrática, onde deve prevalecer a soberania popular e a divisão
equitativa do poder, permitindo a consulta e participação;
participativa, havendo envolvimento popular ao nível da delegação de
tarefas e decisão, para além da consulta;
e, por fim, a situacional, utilizada em momentos específicos, quando o
Presidente da Câmara Municipal decide e impõe a aceitação e
cumprimento das determinações.
Apesar destes modelos bem definidos, não é incomum a utilização simultânea
de vários deles. Existem, no entanto, algumas linhas orientadoras que servem
para traçar, com base tanto em estudos científicos como em casos práticos,
quais seriam as características mais adequadas para estruturar um modelo de
gestão em determinadas áreas. Com o tempo e com a verificação da realidade,
muitas dessas linhas vão sendo modificadas ou aperfeiçoadas e,
consequentemente, a estrutura de gestão também se adapta às novas
realidades, com a finalidade de melhor atingir os objectivos propostos.
41
Outro ponto a discutir é que a intensificação de cada factor relacionado com a
gestão do turismo também depende do contexto em que ocorre, podendo,
assim, ser mais ou menos participativo, mais ou menos centralizado, etc.
O modelo de gestão do turismo será mais adequado quanto mais satisfeitos
estiverem os turistas e a comunidade, uma vez que o planeamento e a gestão
eficazes impactam directamente na experiência turística e na qualidade de vida
dos residentes.
Dentre os aspectos norteadores do planeamento e gestão do desenvolvimento
do turismo mais discutidos e considerados de grande importância, na
actualidade, estão: i) o planeamento e a gestão estratégica; ii) participação da
comunidade; iii) as parcerias entre o sector público e privado; iv) modelo
integrado e; v) modelo de sustentabilidade territorial.
i) Planeamento e gestão estratégica
A gestão estratégica é um processo contínuo e interactivo que busca manter a
organização adequadamente integrada ao seu ambiente, de forma a assegurar
que as metas organizacionais possam ser alcançadas (Rezende e Castro,
2005: 25).
Seguindo esta lógica, vale destacar que a abordagem estratégica do
planeamento possui diferentes perspectivas (Baptista, 2003: 197):
clássica, inicialmente formula-se a estratégia e, posteriormente,
implementa-se a acção, seguindo a sequência de fases do planeamento;
processual, processo contínuo e pragmático de aprendizagem,
acidentes, políticas e compromissos de execução;
sistémica, encara o planeamento estratégico como enquadrado nas
estruturas sociais, económicas e políticas.
42
Pode-se dizer, então, que o planeamento estratégico evoluiu de uma
perspectiva clássica, na qual o planeamento era idealizado e implementado
através da consecução de etapas ordenadas, para uma perspectiva processual,
incutindo a ideia de continuidade e de ligação entre as fases do planeamento;
por fim, a abordagem actual envolve uma “contextualização” do planeamento,
na qual se reconhece que não se trata de uma actividade isolada, mas inserida
num contexto social, económico e político e, portanto, influencia e é
influenciada por eles.
Gunn (1994: 21, citada por Firmino, 2007: 220) complementa a ideia acima
apresentada quando diferencia o planeamento convencional do planeamento
que denomina de interactivo:
Planeamento convencional, que se caracteriza pelo retorno da
informação, podendo haver alguma consulta; há interacção, desde o
início, com os agentes que implementam o plano, mas os interessados
não estão envolvidos até ao fim; assume-se que a melhor informação
conduz a melhores decisões; o especialista em planeamento é neutro;
há uma focalização na manipulação dos dados; o plano é o que
devemos fazer; o sucesso é medido pela concretização dos objectivos
do plano;
Planeamento interactivo, que inclui retorno da informação, consulta e
negociação; a interacção ocorre desde o início, no e através do
processo de planeamento, com um amplo leque de intervenientes do
sector de turismo; assume-se que a participação aberta conduz a
melhores decisões; quem planifica assume compromissos; há um
enfoque na mobilização de apoios; o plano é o que concordamos fazer;
o sucesso é medido pela concretização de acordos postos em prática e
que resultaram em mudança.
Aplicando a realidade do planeamento estratégico à actividade turística, a OMT
(1998, 2004b, citado por Almeida, 2010: 147) conclui que o planeamento
estratégico é menos abrangente do que o planeamento a longo prazo mas está
43
mais orientado para as acções e, portanto, pode ser utilizado com eficácia nas
políticas e planeamento a longo prazo.
Enquanto o planeamento estratégico nos níveis nacional e regional possui uma
orientação para o desenvolvimento, é no nível local que a gestão e o
planeamento estratégico do turismo se aproximam mais da operacionalização,
englobando a organização da oferta dos produtos turísticos que inclui:
actividades turísticas, serviços/organização/gestão, infraestruturas,
equipamentos, recursos primários/atracções (Silva, 2009, citado por Almeida,
2010: 152).
O que se verifica é que o planeamento turístico tem evoluído de uma vertente
tradicional, estática, fragmentada e imediatista, para uma vertente estratégica,
processual, sistémica e de longo prazo (Gunn, 1988), o que acrescenta valor à
competitividade e sustentabilidade dos destinos.
ii) Participação da comunidade
A nova abordagem da gestão e do planeamento configura o papel do Estado
de forma mais flexível e descentralizada, envolvendo todos os interessados. O
processo de planeamento, para ser eficaz, deve traduzir os desejos e as
necessidades da comunidade residente, visto que é a esta que mais interessa
a conservação do ambiente físico e o desenvolvimento económico e social.
Desta forma, para assegurar que, de facto, os interesses da comunidade
residente estão sendo defendidos, bem como os rumos do desenvolvimento
local estão de acordo com as expectativas da comunidade, é muito importante
que a população faça parte da gestão e planeamento. Além disso, a
participação das comunidades pode: atrair investimentos de capitais locais,
reduzir os conflitos entre os interesses dos visitantes e os interesses locais e
contribuir para a autenticidade da comunidade (Baptista, 2003; Ateljevic, 2010;
Haugland, S.; Ness, Bjorn-Ove, Aarstad, 2011).
Outro benefício evidente é o fortalecimento do capital social, uma vez que, num
processo participativo, são reduzidas as divergências, já que se trata de um
44
processo em que são discutidas ideias e, portanto, tem uma natureza
conciliadora.
Entretanto, Firmino (2007: 364) chega à mesma ideia por um outro caminho, ao
afirmar que uma das limitações do modelo actual de gestão estratégica resulta
do facto de
a política do turismo excluir a população residente no processo de
planeamento, partindo do pressuposto de que a população local tem
um papel pouco activo durante a estadia dos turistas.
Savati (2004: 17 – 18) explica que
as comunidades locais têm o direito de manter e controlar a sua
herança cultural e assegurar que o turismo não tenha efeito negativo
sobre ela. O turismo deve, então, respeitar os direitos e desejos dos
povos locais e prover a oportunidade para que amplos setores da
comunidade contribuam nas decisões e nas consultas sobre o
planejamento e a administração do turismo. Deve-se levar em
consideração as tradições locais nas construções, ou seja, é preciso
que o desenvolvimento arquitetonico seja harmónico com o ambiente
e a paisagem. O conhecimento e a experiência das comunidades
locais em manejo sustentável dos recursos podem trazer uma grande
contribuição para o turismo responsável. O turismo deve respeitar e
valorizar o conhecimento e as experiências locais, buscando
maximizar os benefícios para as comunidades e promover o
recrutamento, formação e emprego de pessoas do lugar.
Muitos autores incluem a participação da comunidade no processo de
planeamento e gestão do turismo como um indicador de sustentabilidade social
e a evidência de um processo não somente democrático, mas de inclusão
social (Nel e Binns, 2002: 185).
45
Apesar de fundamental em termos de desenvolvimento, o planeamento
participativo encontra barreiras de dificuldades de implementação. Além de
aumentar os custos do processo de planeamento, a participação popular pode
tornar o processo mais lento, devido a divergência de interesses. Por vezes, o
choque de interesses pode provocar a pouca participação, bem como a
sensação de que a participação não resultará, realmente, numa gestão e
planeamento segundo os interesses da comunidade.
Sheehan e Lorn (2005: 717 - 718), ao investigarem o envolvimento dos
diversos actores (incluindo, principalmente, a própria comunidade) no processo
de planeamento e gestão dos destinos, enumeram algumas condições para
facilitar a colaboração, neste caso, dos residentes: os residentes devem
acreditar na interdependência dos envolvidos; os residentes devem beneficiar
com a colaboração; as decisões devem ser implementadas; deve ser
assegurado o envolvimento dos grupos - chave (Governo, Associações de
Turismo, Organização de Residentes, Agências Sociais e Grupos de Especial
Interesse); o mediador deve possuir experiência, recursos e autoridade; o
processo deve ser efectivamente para colaboração.
Também é importante estar atento ao facto de que, apesar das cidades de
maior dimensão estarem, de uma forma geral, mais organizadas política e
administrativamente, é nas cidades de pequena e média dimensão que a
comunidade reúne melhores condições de participar, devido a proximidade
entre os governantes e os cidadãos. Assim, as cidades de pequena e média
dimensão têm a oportunidade de desenvolver processos de planeamento e
gestão mais interactivos e atentos (Sanfeliu e Torné, 2004: 573).
É importante esclarecer, portanto, quem são os actores turísticos (Vieira, 2007:
37):
46
Nível de
Intervenção Actores do Poder Público Actores Privados
Nacional
- Governo - Organismos do Governo - Grandes empresas públicas
- Grandes empresas de transporte
aéreo, ferroviário e rodoviário - Grandes grupos hoteleiros. Agentes
de viagens e operadores turísticos - Organizadores de grandes eventos - Associações empresariais e
profissionais de âmbito nacional
Regional
- Governos Regionais - Entidades Regionais de
Turismo
- Empresas de transporte rodoviário
regional e de transporte fluvial - Organizadores de eventos
desportivos, religiosos, etc. - Associações empresariais regionais
Local
- Câmaras Municipais - Empresas Municipais
- População - Hoteleiros autónomos - Restauração - Agentes de viagens independentes - Empresas de animação turística - Organizadores de eventos locais
(festas, feiras, romarias)
Conclui-se, portanto, que a participação da comunidade é um factor muito
importante para o desenvolvimento do turismo nas localidades. Se, por um lado,
cria condições favoráveis para a experiência turística, impactando na qualidade
e competitividade dos destinos, por outro, garante à comunidade local o direito
de decidir e participar dos rumos da sua localidade.
É interessante também destacar que, quanto mais forte for o capital social,
mais simples, eficaz e menos dispendioso (tempo e dinheiro) será o processo
que envolve a participação comunitária.
iii) Parcerias entre o sector público e o sector privado
Em muitas localidades, a eficiência na gestão pública deriva não somente do
aprimoramento das suas instituições, mas também do desenho de um modelo
que envolva o sector privado, a comunidade, entidades de classe e a academia,
47
para uma gestão compartilhada. Cabe à administração local a responsabilidade
da liderança do processo de desenvolvimento turístico, orientando e balizando
o poder privado na execução de seus projectos e actividades económicas,
avaliando e controlando o impacto da actividade na comunidade e no meio
ambiente e assegurando a participação dos mais diferentes segmentos sociais
no processo de planeamento (Dias, 2003, citado por Salazar, 2004: 179).
Hall (2004: 633) aponta uma mudança significativa da postura do Estado no
novo contexto de um mundo globalizado. O declínio da influência do Estado e o
aumento da importância das alianças comerciais resulta num ambiente mais
competitivo que exige iniciativas mais fortes, incluindo as parcerias entre os
sectores público e privado.
Estas parcerias têm sido promovidas como o modelo adequado ao
desenvolvimento do turismo, uma vez que permitem uma maior aproximação
com a realidade do sector, envolvem uma parte com grandes interesses no
turismo (sector privado) e financiam parte dos investimentos (Costa, 1996;
Mihalic, 2009) Estas parcerias são vistas como um grande desafio para o
sector do turismo, uma vez que este envolve diversos subsistemas (Hall, 2004:
633, citando Jamal e Getz, 1995: 187). Firmino (2007: 226) defende que a
parceria entre os sectores público e privado tende a fortalecer a confiança entre
os parceiros.
iv) O modelo integrado
O turismo é formado por diversas partes que interagem entre si e que,
conjuntamente, compõem o sistema turístico. Nessa lógica, ao afectar uma das
partes, todo o sistema será igualmente afectado. Esta linha de raciocínio
permite a compreensão da abordagem sistémica e integrada. Ao gerir ou
planear o turismo, é necessário ter em conta todo o sistema e não apenas
actuar de forma parcial ou segmentada. Uma vez afectado o subsistema
económico, por exemplo, o subsistema social será afectado também (Beni,
1998).
48
O planeamento do turismo, procurando a integração dos factores de
desenvolvimento, surgiu como consequência e reacção aos planos
excessivamente voltados para aspectos específicos, como o económico e o
físico. O reconhecimento da amplitude do turismo e a abrangência dos seus
factores, além do carácter interdisciplinar da actividade, tornaram
imprescindível o planeamento integrado nas localidades receptoras
(Ruschmann, 2006).
No período após Segunda Guerra Mundial, alguns autores, como o sociólogo
Karl Mannhein, influenciaram substancialmente a teoria e a prática do
planeamento. Foi verificado, através de diversos estudos, que uma das causas
da irracionalidade na trajectória das sociedades era o excesso de
especialização exigida à mão-de-obra, o que levava a que os especialistas
tivessem uma visão restrita que os impedia de perceber as reais dimensões da
realidade. Ao actuarem apenas sobre a sua área, estes especialistas faziam-no
sem avaliar as consequências nas restantes partes que compunham um
sistema ou realidade. A visão e o comportamento do especialista, numa macro
perspectiva, tornava-se irracional (Molina e Rodriguez, 2001).
Para estes autores, o especialista tende a encapsular a realidade à sua própria
perspectiva, identificando e manipulando as variáveis a partir de um único
ponto de vista (por exemplo, o económico). Lembram, também, que são
inúmeros os casos em que o espaço geográfico foi ocupado e os recursos
naturais explorados, ao mesmo tempo, pelo turismo e por certas actividades da
indústria de transformação (com desvantagem para o turismo), apesar de o
projecto e funcionamento interno de cada um, vistos separadamente, serem
coerentes. Porém, quando se integram e se relacionam afectam-se
mutuamente, porque não existe coerência no funcionamento conjunto. Neste
caso, prevalecem a especialização e a incapacidade de compreender a
situação como um todo (Molina e Rodriguez, 2001, citados por Almeida, 2006:
13).
Butler (1999) define o planeamento e desenvolvimento integrado do turismo
como o processo de o introduzir numa área de forma a que ele se funda com
os elementos já existentes de maneira harmoniosa e adequada, a fim de obter
49
uma comunidade aceitável e um modo funcionalmente equilibrado, tanto em
termos ecológicos quanto humanos. Isto porque o planeamento e
desenvolvimento integrados têm ampla abrangência e integram todas as
formas de planeamento – económico, físico, social e cultural (Cooper et al,
2001). O planeamento do turismo deve ter como objectivo o desenvolvimento
integrado de todas as partes do sistema turístico2 e, para o sistema funcionar
mais efectivamente e trazer os benefícios desejados, deve ser planeado de
maneira integrada, com desenvolvimento coordenado de todos os
componentes do sistema (Inskeep, 1993).
Ejarque (2005: 366) relaciona, ainda, a gestão integral à qualidade e define que
o conceito “integral” refere-se à qualidade apreciada pela procura e engloba
tanto a qualidade da oferta no destino como os próprios agentes do sector de
turismo.
Alguns autores, como Cooper et al (2001), defendem que no contexto do
planeamento e desenvolvimento já estão incutidas as ideias de integração e
sustentabilidade, ou estes mais não poderiam promover do que o crescimento
económico.
O planeamento de um destino turístico ocorre dentro de um contexto, pelo que
devem ser considerados não somente os aspectos ligados à actividade turística,
mas também os que indirectamente a influenciam. Ou seja, dentro do
planeamento turístico serão considerados todos os aspectos do destino:
económicos, socioculturais, ambientais e político.
v) O modelo de sustentabilidade territorial
A concepção da ideia de sustentabilidade surge em confronto com um contexto
em que a prioridade é o aspecto económico, sem responsabilidade e
comprometimento, omitindo que a busca do crescimento económico, nestas
2 Beni (1998) define sistema como “o conjunto de procedimentos, doutrinas, idéias ou princípios
logicamente ordenados e coesos, com a intenção de descrever, explicar ou dirigir o funcionamento de um
todo” e coisa que se aplica à actividade turística, que é considerada como um sistema aberto, composto
por partes interdependentes.
50
condições, afecta os aspectos sociais, culturais e ambientais. Em oposição a
esta situação, o conceito de sustentabilidade surge como forma de defender a
integridade física e social das localidades (Beni, 1998).
Os princípios do desenvolvimento sustentável podem ser identificados nos
diferentes subsistemas (Marques e Bissoli, 2000; Jimenéz, 2006:4):
1. Sustentabilidade ambiental, a conservação do ambiente, de forma a
que este não se deteriore ou venha a sofrer danos irreversíveis;
2. Sustentabilidade sociocultural, a conservação dos valores, cultura e
da identidade da comunidade;
3. Sustentabilidade económica, desenvolvimento economicamente
eficiente, recursos geridos de tal maneira que possam manter gerações
futuras; a sustentabilidade económica pressupõe uma economia
consolidada, com efeitos do desenvolvimento positivos e duradouros.
No contexto específico da sustentabilidade turística, Marques e Bissoli (2000)
consideram os campos:
1. Económico, a abordagem da estrutura económica, e dos seus impactos
na actividade turística; as estruturas da oferta e procura turística; o nível
dos preços, a rentabilidade económica, a diversificação e especialização
do produto, a sazonalidade e a competitividade do destino;
2. Sociocultural, abordagem de questões como o rendimento da
população, a qualidade de vida dos habitantes, a integração e coesão
social, comportamento, valores, tradição, equilíbrio populacional,
educação, saúde, trabalho, segurança;
3. Ambiente, considerando o património natural e a biodiversidade, o
urbanismo, planeamento e construção, as paisagens, a atmosfera, a
energia, a geração de resíduos, os patrimónios histórico e cultural.
51
Os preceitos da sustentabilidade devem ser aplicados em todos os aspectos do
sistema turístico, já que todos os factores estão interrelacionados e possuem
um limite de “utilização”. A sustentabilidade ambiental, em particular, refere-se
à utilização dos recursos de forma a que sejam mantidos e/ou preservados
para as gerações futuras. A preocupação com a utilização dos recursos para as
próximas gerações parte do pressuposto de que esses recursos não pertencem
apenas à população actual, mas também às próximas gerações.
A importância do desenvolvimento sustentável para o turismo é evidenciada
quando se considera, por exemplo, que o desenvolvimento depende de
atracções e actividades relacionadas com o ambiente natural ou o património
histórico e cultural das localidades. Se estes recursos são degradados ou
destruídos a área turística não atrairá mais visitantes ou, então, o turismo não
será bem-sucedido. Os turistas procuram, geralmente, destinos que tenham um
alto nível de qualidade ambiental, pois apreciam visitar locais que são
atractivos, limpos e não poluídos. Também é importante assegurar que tanto os
residentes como as áreas turísticas não sofram com a deterioração do
ambiente e consequentes problemas sociais (Inskeep, 1993; Ateljevic, 2010;
Pender e Sharpley, 2005).
Brito e Silva (2005), ao relacionarem o planeamento e o turismo, destacam que
a actividade turística utiliza os recursos naturais e histórico-culturais e que
estes recursos podem ser modificados nas suas características ou mesmo
esgotados. A Organização Mundial de Turismo (WTO, 1998) defende que o
planeamento do turismo deve ser direccionado no sentido de trazer benefícios
socioeconómicos para a sociedade, ao mesmo tempo, que assegura a
sustentabilidade do sector turístico.
Em suma, o princípio da sustentabilidade está ligado a todo o sistema turístico,
assim como a todos os agentes envolvidos e, portanto, cada um possui os seus
compromissos, tal como esquematiza Quintana (2006: 225-226) (Tabela 2):
52
Tabela 2
Compromissos dos agentes turísticos com a sustentabilidade
Acções que os Governos devem realizar a favor do Desenvolvimento Turístico Sustentável
Trabalhar conjuntamente com os empresários no estabelecimento de políticas sustentáveis;
Proporcionar uma política de incentivos que favoreça o crescimento equilibrado;
Elaborar um programa de avaliação de impactos sobre os destinos turísticos;
Controlar a capacidade de carga dos destinos turísticos;
Criar auditorias de qualidade ambiental;
Incluir o turismo nos planos de governo.
Papel das Comunidades Locais no Desenvolvimento Sustentável
Proporcionar interacções culturais entre a comunidade local / visitantes;
Proporcionar serviços ao visitante;
Potencializar os produtos locais;
Tomar decisões acerca das elaborações dos projectos;
Tomar iniciativas a respeito das acções;
Proteger normas culturais.
O que deve fazer a Indústria Turística
Eliminar o uso de herbicidas;
Desenvolvimento equilibrado do uso do solo, da água e das florestas;
Tratamento adequado dos resíduos sólidos e líquidos;
Adoptar técnicas energéticas eficientes;
Realizar práticas de marketing verde;
Minimizar riscos de intoxicações;
Proporcionar um guia de informações aos turistas, com a finalidade de os orientar para um comportamento responsável;
Incorporar valores a favor do meio ambiente nos processos de decisão empresarial;
Criar as suas próprias auditorias ambientais.
O que podem fazer os Turistas
Escolher destinos com responsabilidades ambientais;
Integrar-se nas comunidades locais;
Realizar actividades que causem baixo impacto ao destino;
Apoiar as actividades de conservação do meio ambiente.
O que podem fazer as ONGs
Participar dos Comités de controlo ambiental;
Criar acções de apoio ao desenvolvimento sustentável;
Controlar os impactos das comunidades locais.
Fonte: Quintana, 2006: 225-226
Quintana (2006: 226 – 227) observa, ainda, que o modelo de crescimento
baseado na sustentabilidade deve ser abrangente e conter as premissas:
Ecologicamente aceitável, que seja respeitoso com o entorno e reduza
os impactos negativos;
53
Socialmente justo, no qual toda a população beneficia da actividade
turística e agrega valor às populações locais;
Economicamente viável, que sirva para incrementar o nível económico,
a criação de empregos e a qualidade de vida da população local;
Durável, economicamente viável a longo prazo, planeado e bem gerido,
que não implique a massificação e tenha um baixo impacto;
Respeite o meio ambiente, adoptando a capacidade de carga dos
espaços naturais e culturais, minimizando os efeitos da sazonalidade;
Integrado e diversificado, adaptado à realidade local, com utilização de
empresas locais e que não gere dependência exclusiva do turismo;
Participativo, com a inclusão de todos os actores e o envolvimento da
comunidade local.
Esta abordagem integra os modelos anteriores e reafirma a ideia de que a
sustentabilidade deve englobar todas as áreas, assim como todos os agentes,
já que a actuação é sistémica e os efeitos seccionais afectam o todo. Defende-
se, aqui, a sustentabilidade no turismo atribuindo responsabilidades a todos,
assim como os benefícios que serão alcançados devem favorecer a todos.
Além disso, o turismo sustentável está associado ao conceito de
competitividade, uma vez que a saturação de um destino, por questões
ambientais ou por excesso de procura, traduz uma ameaça para esse destino e
pode constituir uma oportunidade para outros (Baptista, 2003: 64).
Salienta-se, ainda, que, dentre as vantagens do turismo sustentável para o
desenvolvimento local, destaca-se (Quintana; 2006: 229): melhoria da
compreensão dos impactos turísticos no ambiente, na cultura e no
comportamento humano; segurança de uma distribuição mais justa dos custos
e benefícios; geração de empregos locais no sector de turismo e em outros
sectores; estímulo ao comércio local; captação de recursos e injecção de novos
investimentos na economia local; diversificação da economia; estímulo a
melhorias nas redes de transporte, comunicação e outras infraestruturas;
54
criação de áreas de lazer que podem ser utilizadas pela população local e
pelos visitantes; destaque de importância dos recursos naturais e culturais.
2.6 Funções de planeamento
Compreender o papel do planeador e conhecer as principais actividades por
ele desempenhadas constitui um passo importante para atingir o objectivo geral
desta tese, já que se trata de traçar o perfil do planeador, enumerar as funções
para as quais ele deve estar apto e, a partir desta análise, tornar possível a
identificação, compreensão e relacionamento entre os conhecimentos,
habilidades e competências fundamentais que o planeador deve receber na
sua formação.
Esta metodologia constitui uma forma eficaz de assegurar uma formação
profissional baseada nas competências: partir da análise das actividades
diárias laborais e, posteriormente, elaborar um plano de formação profissional.
Recordamos, de qualquer modo, que o objectivo desta tese não é a elaboração
de um plano de formação, mas antes apenas estabelecer a relação entre a
função de planeamento turístico e as formações existentes, em Portugal, neste
domínio.
Por outras palavras, considerada a necessidade de um planeamento eficaz
para atingir os objectivos propostos pelas organizações, é necessário
desempenhar, de forma eficiente, um conjunto de funções ligadas ao
planeamento e à gestão. Pressupõe-se que, para desempenhá-las
adequadamente, seja necessário reunir conhecimentos teóricos e experiências
práticas que possibilitarão que o profissional adquira e desenvolva habilidades
e competências. Para tanto, é necessário conhecer a fundo quais as
actividades que competem ao profissional responsável pelo planeamento
turístico.
Em todo o Mundo, as actividades turísticas geram cerca de 225 milhões de
empregos directos e indirectos, o que corresponde entre 6 e 7% da totalidade
de empregos (Panrotas, 2010, citando OMT, 2010).
55
No entanto, o emprego no turismo reúne uma série de especificidades já
apresentadas por diversos estudos. Desempenhar funções no sector de
alojamentos, em lazer e entretenimento, agência de viagens, entre outros,
significa trabalhar principalmente nos períodos habituais de férias e de
descanso. Além disso, outras questões proporcionam desencanto pela área,
como o impacto da sazonalidade, que gera muitos empregos temporários, a
remuneração geralmente pouco atractiva e os horários por turnos, que
provocam alta rotatividade nas empresas e dificuldade em manter os padrões
de qualidade dos serviços.
Ao realizar uma análise das carreiras profissionais e emprego na área do
turismo, considerada a diversidade de oportunidades de emprego disponíveis
neste ramo de actividade, bem como a capacidade de criar novos empregos,
Ladkin (2008: 589) considera como ponto de partida o treinamento e
desenvolvimento do capital humano, o que se relaciona directamente com as
áreas de educação e turismo.
O autor considera, portanto, que para compreender as carreiras e profissões
em turismo é necessário compreender, anteriormente, as características do
mercado de trabalho, a natureza do emprego e a dimensão do turismo. Apesar
disso, reconhece a dificuldade em dimensionar e definir o mercado de trabalho,
de uma forma geral, considerando o tamanho absoluto e diversidade, e mais
complicado, ainda, quando consideradas especificamente as funções da
actividade turística. As divergências são relativas ao próprio conceito de
turismo, aliadas à diversidade organizacional e empregatícia, à dinâmica do
mercado, diversidade ocupacional, baixos salários, alto índice de jovens nas
ocupações, alta mobilidade e baixa especificidade de habilidades (Ladkin, 2008:
590).
Jones e Haven-Tang (2005: 8, citando Baum, 1997) compartilham da ideia
acima e resumem os indicadores de análise dos recursos humanos
internacionais no sector do turismo às seguintes referências: tendências
demográficas; mercado de trabalho e habilidades profissionais; imagem e
percepções do emprego em turismo; remuneração; rotatividade no trabalho;
atitudes em relação à educação e treinamento; políticas e práticas de recursos
56
humanos. Os mesmos autores afirmam que, embora existam áreas com
características comuns nestes aspectos citados, alguns factores, como, por
exemplo, as habilidades em sectores operacionais de linha de frente, têm
compreensão subjectiva e a percepção de “falta de habilidade” pode diferir
quando comparamos um país desenvolvido com um país em desenvolvimento.
No âmbito do recrutamento, os autores destacam que, nos países
desenvolvidos, o contraste entre o nível educacional e as necessidades do
sector de turismo resulta numa dificuldade derivada do baixo limiar de entrada
face ao preparo profissional; nos países em desenvolvimento, as necessidades
educacionais, técnicas e linguísticas do turismo acabam por ser determinantes
na (im)possibilidade de ingresso de profissionais.
A globalização exerceu influências na gestão dos recursos humanos,
modificando o mercado de trabalho em turismo. A oferta de trabalho pouco
remunerada para as pessoas com baixo nível educacional foi reduzida, ao
mesmo tempo que aumentou a oferta de trabalho, também mal remunerada,
para as pessoas com níveis educacionais mais elevados, criando uma nova
relação entre o trabalho disponível e o perfil da procura existente (Pender e
Sharpley, 2005: 94).
De uma forma genérica, a oferta de emprego na área de turismo é classificada
como de baixa remuneração, sendo a procura composta por trabalhos que
exigem poucas habilidades, maioritariamente preenchida por mulheres (Baum,
2001; Wood, 1997; Pender e Sharpley, 2005; Ladkin, 2008). Os aspectos
negativos estão geralmente focados nas exigências físicas do trabalho, em
funções que exigem profissionais pouco qualificados, mas disponíveis para
multiactividade, num alto nível de absentismo, além da componente da
sazonalidade e/ou do regime de part-time (Jones e Haven-Tang, 2005; Pender
e Sharpley, 2005, Ladkin, 2008).
Os profissionais que trabalham em regime de part-time tendem a não
considerar o emprego em turismo como uma opção para longo prazo e, por
conseguinte, não investem no desenvolvimento de habilidades, competências e
57
qualificações nas áreas relacionadas com a sua função (Jones e Haven-Tang,
2005: 9; Pender e Sharpley, 2005: 92).
Considerada uma actividade económica tão diversificada e de difícil delimitação,
que inclui profissionais do sector de alojamento, até restauração, transportes,
atracões turísticas, eventos, serviços de informação turística, etc., é importante
ressaltar que os empregos em turismo não são somente aqueles em que o
profissional está em contacto directo com o turista. Também estão incluídas
funções que, apesar de não resultarem de um contacto com o turista, são
actividades essenciais para que a actividade funcione, como, por exemplo,
estabelecimentos de ensino, ONGs, repartições públicas, dentre outros (Riley,
M.; Ladrink, A.; Szivas, E., 2002:12, Ladlik, 2008: 591).
É no ambiente de suporte e estrutural que estão os profissionais fora da linha
operacional, como os ligados à gestão pública sectorial. Nos diferentes níveis
territoriais, estes profissionais possuem distintas responsabilidades, tal como a
regulação, o ordenamento e planeamento, a gestão estratégica, a promoção, a
formação, a produção e prestação de informação.
Pela natureza das funções referidas, a maioria destes profissionais detém
formação superior, sendo direccionados para o sector a partir de formações
mais generalistas como a Economia/Gestão, o Direito, a Geografia ou a
Sociologia (Umbelino e Pais, 2006: 216).
Os profissionais inseridos no âmbito da gestão pública possuem um perfil
distinto do observado entre os profissionais de turismo, em geral. Normalmente,
estes cargos são ocupados com recurso a concursos públicos ou por indicação.
Dependendo da condição de ingresso e também de aspectos políticos, é, ainda
assim, mais estável e permite desenvolvimento de carreira profissional ou, em
outras situações, com prazo previsto e possibilidade de renovação.
O Instituto para Qualidade na Formação (IQF) (2005: 118-119) evidencia que
há um conjunto de profissionais da administração pública capaz de viabilizar
projectos turísticos integrados e sustentáveis de maior valor acrescentado para
o desenvolvimento de um turismo de qualidade. Ainda o IQF (2005: 119),
58
defende que o profissional do sector de turismo, de uma forma geral, deve ser
capaz de criar serviços e produtos turísticos integrados com outros recursos
onde estão inseridos, para além de ser responsável por actividades como o
planeamento, a concepção, o desenvolvimento e a promoção de produtos com
interesse turístico, a fim de incrementar, fomentar e promover o turismo na
região. O trabalho deste profissional deve ser entendido de modo articulado
com todos os demais que também estejam ligados ao sector. Este profissional
deve reunir competências para desempenhar o papel de técnico de turismo e
ser capaz de: analisar e compreender os mercados, identificando as tendências
de evolução do mercado turístico nacional e internacional, novas motivações,
novas necessidades, inovações no produto, estudo da viabilidade de
investimento em novos pacotes turísticos; definir e operacionalizar estratégias
de marketing e promoção de produtos turísticos com reforço das competências
em estratégia, marketing e vendas (IQF, 2005: 119).
As actividades laborais envolvem muitas competências das áreas de gestão e
marketing. Compreende-se, portanto, que o profissional de planeamento tenha
um conjunto de actividades inerentes à sua função que extrapolam a ideia de
que o planeador elabora e implementa um plano. Essa lógica contém uma ideia
envolvente do ambiente teórico e desvaloriza um conjunto de actividades que
viabilizam a “gestão pensada” e são, de facto, desempenhadas. Incluem-se,
aqui, actividades executadas antes do processo formal de elaboração do plano
de desenvolvimento turístico normalmente descrito, além de actividades
concretizadas durante e após a fase de implementação.
A figura 4 cruza a abordagem de Carvalho Jr. (2002) acerca das dimensões do
planeamento, com a perspectiva de Valls (2006), na qual são apresentadas as
principais funções em cada uma das dimensões que compõem o processo de
planeamento.
59
Figura 4
Dimensão do processo de Planeamento e suas principais atribuições
Fonte: Elaboração própria a partir de Carvalho Jr., 2002 e Valls, 2006.
2.6.1 O turismo e a sua contribuição para o desenvolvimento local
O turismo é uma opção económica interessante para a promoção do
desenvolvimento (Ejarque, 2005: 145). Contudo, deve-se ressaltar que, assim
como qualquer outra actividade, o turismo também pode acarretar impactes
negativos e, nesse sentido, o planeamento é uma importante ferramenta para
alcançar, em determinados destinos, os resultados positivos esperados do
turismo.
Dimensão
Política
Dimensão
Técnica
Dimensão
Financeira
Escolha do modelo
de desenvolvimento
Definição dos
principais objectivos
e estratégias
Tomada de decisões
estratégicas com
base nas
informações
disponíveis
Elaboração do plano turístico:
levantamento de informações/
Elaboração de diagnósticos e
prognósticos/ Elaboração de objectivos e
metas/ Implementação/ Controlo e
avaliação
Processo de envolvimento da comunidade
e do sector privado
Marketing: concepção, incremento,
fomento, promoção e venda do destino;
análise e compreensão dos mercados e do
consumidor; identificação de tendências
de evolução do mercado; motivação;
necessidades; inovação de produtos;
estudo de viabilidade de investimentos;
definição e operacionalização de
estratégias de marketing
Financiamentos públicos
de projectos
Financiamentos privados
de projectos públicos
Financiamentos em
parceria público-privado
Financiamentos com
fundos comunitários
60
Como já discutido, o desenvolvimento está directamente ligado à qualidade de
vida e envolve factores relacionados como o acesso à saúde e à educação,
segurança, infraestruturas e rendimentos. O turismo é uma actividade
económica capaz de gerar muitos e diversos empregos e, por conseguinte,
rendimentos que terminarão por se reflectir na saúde e educação.
No entanto, há-de levar-se em conta que o termo “qualidade de vida” é muito
amplo. Se, por um lado, significa que, ao existir qualidade de vida, tanto as
pessoas vivem com boas condições como são alcançados os objectivos do
planeamento regional e urbano, por outro lado, pode também dizer-se que,
com qualidade de vida, os habitantes têm acesso a alternativas de emprego,
serviços médicos e educacionais, serviços públicos essenciais, um conjunto
significativo de opções comerciais, culturais e de recreio. O conceito de
“qualidade de vida” engloba, portanto, um conjunto de condições de vida
materiais, económicas, sociais e ecológicas que são consideradas
fundamentais para alcançar uma vida adequada e feliz. Estas questões
admitem alguma variabilidade de entendimento, visto que enquadram aspectos
culturais, económicos e sociais que são próprios do local em questão (UNCRD,
2002: 09 -10).
No que se refere à segurança e infraestruturas, pode considerar-se que, por
intermédio do turismo, há uma preocupação acrescida em manter a segurança
dos destinos, além de os dotar de condições apropriadas e atraentes, o que
acaba por beneficiar turistas e residentes.
Como bem ilustra Matias (2007: 197), o impacto do desenvolvimento
económico nos destinos turísticos beneficia todos os envolvidos e, num
raciocínio virado para o mercado, poderemos então dizer que o factor
«desenvolvimento económico» influencia o turismo quer pelo lado da oferta
quer pelo lado da procura: a) do lado da oferta o crescimento económico é
sinónimo de investimento em criação de equipamentos e infraestruturas
turísticas, sendo o inverso igualmente verdadeiro, ou seja, em períodos de
recessão económica os agentes tendem a investir menos; b) do lado da
procura, o crescimento económico corresponde a criação de riqueza e também
ao aumento do emprego e do rendimento dos indivíduos e, consequentemente,
61
a uma maior propensão para o consumo de bens e serviços de turismo.
Também aqui em caso de recessão económica acontece ao contrário.
Na mesma linha de pensamento, Martins (2004) também aponta o Turismo
como uma opção de desenvolvimento. De um lado, a orientação para a oferta,
considerando que esta primeira opção prioriza o sector privado e, portanto, os
lucros e o retorno de investimentos. Já a segunda opção, pautada no sector
público, tem preocupações com o uso adequado dos recursos, com a
conservação e preservação, com a coordenação e compatibilização de
interesses. Por fim, o autor defende que a melhor política de desenvolvimento é
uma mistura entre as duas vertentes, que apresentarão, obviamente, variações,
consoante as orientações políticas, ideológicas e económicas de cada destino
turístico.
A promoção do desenvolvimento nos destinos pode ser afectada por diversos
factores característicos da actividade turística, como cita Costa (2001): forte
sazonalidade, grande dependência em relação a determinados mercados e
produtos, despesas médias baixas, crescimentos negativos, forte concentração
geográfica ao longo da linha da costa, estrutura organizacional fraca e, em
particular, a estrutura regional e local do turismo, além de pouca tradição e
conhecimento na área de planeamento do sector, dentre outros. Devido a isso,
destaca-se a importância de medidas que promovam o turismo de forma mais
equilibrada, tendo em vista que, de outra forma, os malefícios podem superar
os benefícios trazidos para os locais turísticos.
2.6.2 Modelos de Desenvolvimento, Qualidade e Competitividade do
Turismo
O desenvolvimento pode ser promovido segundo diferentes modelos que, em
algumas situações, podem ser não apenas distintos, mas divergentes. Ainda
antes desta discussão, no entanto, releva analisar os temas da competitividade
e sustentabilidade dos destinos turísticos, já que estes estão directamente
relacionados com os tipos de desenvolvimento. Por outro lado, a
62
competitividade e sustentabilidade são factores que moldam as opções de
planeamento e gestão do turismo, condicionam as suas propostas de acção e
consistem em importantes indicadores de eficiência na actividade de planear.
A competitividade pressupõe a existência de uma oposição, ou adversário, e
pode estar associada aos domínios organizacionais, mas também aos
territórios e às pessoas (Costa, Rita e Águas, 2004: 138).
Contudo, quando se fala em competitividade em turismo, a ideia mais presente
é de competição e concorrência entre empresas, sendo que o estudo da
competitividade entre destinos turísticos surge da aplicação das teorias dos
contextos industriais e empresariais. No campo da competitividade empresarial,
há um conjunto de características que determinam uma maior vantagem de
uma unidade em relação a outra, e o turismo não é excepção.
Dwyer e Kim (2003) definem a competitividade aplicada aos destinos turísticos
como a performance geral de um destino face a outros e apontam quatro
factores fundamentais no âmbito da competitividade: a performance
económica, a sustentabilidade, a satisfação do visitante e a estratégia de
acção.
Firmino (2007: 163) destaca três ideias relacionadas com a competitividade,
que julga essenciais e complementares entre si: (1) a atractividade de um
destino; (2) a competitividade genérica dos destinos do país em apreço; (3) a
sustentabilidade do modelo de crescimento e a inerente definição do modelo no
turismo.
É interessante notar que a abordagem conceptual da competitividade entre
destinos turísticos envolve aspectos referentes ao ambiente interno, por
exemplo, a sustentabilidade, mas também questões relativas ao ambiente
externo, como a satisfação do visitante, o que aproxima esta abordagem à
competitividade da que se verifica no ambiente empresarial.
A competitividade em turismo depende do desempenho de todos os
componentes que integram o produto turístico, e não apenas que as empresas
63
e instituições estejam coordenadas de maneira harmoniosa, dinâmica e
comprometida.
Apesar de muitas análises apresentarem avaliações isoladas de indicadores, a
competitividade só pode ser mensurada numa perspectiva integral, uma vez
que os indicadores se influenciam mutuamente e criam um ambiente único,
mais ou menos competitivo (World Economic Forum - WEF, 2011a).
O produto turístico é um composto de actividades e, assim sendo, quando o
turista compra a sua viagem ele pretende, para além da experiência no destino,
uma prestação de serviços gerada por um conjunto de empresas. Desta forma,
o turista não tem a visão segmentada dos componentes da viagem, mas uma
visão global de produto que possibilitará a sua experiência turística. Essa visão
integral é mais facilmente percebida nas abordagens de Sistema Turístico,
onde há uma melhor compreensão do funcionamento dos distintos
componentes.
Como discutiremos mais adiante, os modelos de desenvolvimento do turismo
incluem diversas variáveis que deverão ser ajustadas à realidade de cada país
ou região e que reflectirão o tipo de política e de turismo desejado.
Na disputa global entre mercados turísticos, a qualidade é factor decisivo para
a escolha (atracção) dos turistas que os buscam. Além disso, essa experiência
exprime a percepção do turista acerca do destino e exige uma preocupação,
estratégia e decisões por parte dos profissionais, bem como uma intervenção
sistémica, envolvendo todas as dimensões e os stakeholders (Manente e
Furlan, 1998; Go e Govers, 2000 citados por Campos, Mendes e Silva, 2006).
Aplicando as abordagens económicas apresentadas, Matias (2007:163) conclui
que, com base no modelo de Porter, a competitividade não pode ser
comparada entre países mas entre os destinos turísticos, ou produtos
turísticos, dada a tendência para a concentração destes em áreas geográficas,
onde se reúnem empresas que se interrelacionam, formando um cluster
turístico.
64
Assim sendo, o sucesso do mercado turístico, baseado no modelo de cluster,
tem, cada vez menos, dependência das vantagens comparativas preexistentes
e, cada vez mais, dependência das vantagens competitivas criadas por meio
do processo de produção turística, a saber: alteração dos processos de
produção; melhorias no marketing ou nas formas de distribuição; melhoria da
qualidade da oferta turística; melhoria da qualidade e da produtividade dos
factores envolvidos (Matias: 2007: 164).
Ritchie e Crouch (1993: 35 – 36) exemplificam como vantagens comparativas
no âmbito da competitividade dos destinos turísticos: o clima, a paisagem, a
flora, a fauna; por seu lado, as vantagens competitivas, referem-se aos
recursos criados, como: infraestrutura turística, festivais e eventos, qualidade
da gestão, competência dos trabalhadores, políticas governamentais.
Quando está em causa a competitividade dos destinos, é preciso ter em
consideração que mesmo que estes possuam vocação para o turismo, isso, por
si só, não é determinante de sucesso. É preciso que os destinos estejam
voltados para aspectos importantes para se tornarem e manterem competitivos,
nomeadamente, a qualidade e a inovação. Além disso, a competência dos
profissionais envolvidos na gestão e planeamento do turismo é um factor
competitivo fundamental.
A vantagem competitiva decorre, portanto, da combinação de factores como
tecnologia, recursos financeiros, talentos, capital social e capital psicológico
(Cunha et. al, 2010:45).
O modelo criado por Porter (1990), que aborda a competitividade entre
produtos ou empresas, considera que, para ser competitivo, é preciso manter
uma elevada capacidade de inovação, além de assegurar a sua qualidade.
Quando Porter se refere aos factores de produção como o trabalho, a terra, o
capital, os recursos naturais e o conhecimento científico, defende, entretanto,
que mão-de-obra abundante, barata e não-qualificada, assim como a
abundância de algumas matérias-primas, já não são constituídas como
vantagem competitiva em muitas actividades económicas. No contexto do
turismo, considerando a característica de que o produto turístico é, na verdade,
65
um agregado de vários produtos, a competitividade envolve o sector económico
de forma mais ampla, já que, para ser competitivo, é preciso que exista
dinamismo entre as empresas e os produtos. Já nos destinos turísticos, a
competitividade não depende apenas das qualidades e limitações para a
atracção dos turistas, mas também de factores de produção e de
regulamentação favoráveis à actividade (Matias, 2007: 161).
É evidente o aumento da competitividade entre destinos turísticos, ao nível
global, assim como a necessidade de olhar o mercado de forma estratégica e
sustentável. Num mercado dinâmico e com inúmeras opções, não possui mais
destaque e procura aquele que oferece essencialmente o melhor preço, por
exemplo, mas aquele que disponibiliza um leque de opções que,
conjuntamente, irá atrair e satisfazer melhor o cliente. Esse facto é aplicável ao
mercado como um todo e com o turismo não funciona de modo diferente. Para
ser competitivo, é necessário estar atento ao funcionamento do mercado e,
muito mais do que reagir às suas mudanças, antever essas mudanças e,
criativamente, criar oportunidades e/ou soluções.
A competitividade possui ligação directa com a qualidade e essa ligação é
facilmente perceptível, na medida em que há o foco na satisfação do cliente,
hoje considerado um ponto crucial para o sucesso das organizações.
Nesta mesma linha de análise, Campos et. al (2006) consideram a cultura
voltada para a qualidade, em que também se incluem os destinos turísticos,
como uma condição na actual conjuntura organizacional e mercadológica. Os
autores destacam, ainda, características inerentes ao novo perfil de
consumidor, mais informado, exigente e questionador, como uma grande
marca actual das alterações sofridas e que se reflectem no mercado com um
referencial para maior nível de competitividade.
Numa análise mais especificamente dirigida ao Turismo, Henriques (2003,
citando Ashworth e Voogd, 1990) destaca critérios para aferir a competitividade
dos destinos, sublinhando que estes critérios afectam a escolha dos
consumidores, a saber:
66
Custos e benefícios monetários, como incentivos de investimento,
taxas reduzidas, custos de vida, descontos;
Custos e benefícios em termos de tempo, como duração da
viagem, tempo de espera para obter informação, admissão,
permissão, acesso a transportes públicos, etc.;
Custos e benefícios no lugar, como ruas cénicas, laços de
vizinhança, sinalética adequada, lugares acessíveis;
Custos e benefícios psíquicos, como sentimento de segurança
pessoal, média de crimes, graffiti ofensivos, aprovação de colegas,
amigos e familiares.
Por outro lado, Fayous et al. (citado por Valls, 2006: 28) consideram que, para
a estrutura turística ser competitiva, devem ser considerados os elementos que
compõem o produto turístico:
Segmentação e profissionalismo;
Desenvolvimento e introdução de novas tecnologias (tanto em marketing
como em operações);
Questões de segurança;
Situações sociopolíticas de interesse nacional e internacional;
Surgimento de um grande número de destinos e de forças qualitativas
dos destinos maduros;
Crescimento da competição nos níveis regionais e local e delegação do
poder central nas instâncias supranacionais;
Globalização das empresas, receitas e mercados;
Privatização de actividades tradicionalmente vinculadas às esferas
públicas.
Enquanto Henriques (2003) mede a competitividade segundo a perspectiva do
turista (o consumidor), Fayous et. al (2006) abordam o tema direccionando a
atenção para os componentes da estrutura turística. Entretanto, ambas as
67
abordagens confluem num mesmo ponto, na excelência da experiência turística
como factor-chave para aumentar a competitividade dos destinos.
Nesse contexto, a qualidade constitui um elemento essencial para aumentar a
competitividade dos destinos e, dentro destes, pode-se considerar que a
qualificação profissional é fundamental para atingir um serviço de excelência3.
Para identificar um serviço de qualidade são considerados alguns critérios
relacionados com os recursos humanos: profissionalismo e habilidades;
atitudes e comportamento; flexibilidade; credibilidade. Apesar de estes critérios
estarem relacionados com os recursos humanos, são igualmente relevantes
para a qualidade dos serviços em turismo, se considerarmos que a qualidade é
determinante em termos de competitividade e, por sua vez, que os recursos
humanos são decisivos para a qualidade do produto turístico (Pender e
Sharpley, 2005: 92).
Considerando que o turismo utiliza o espaço, ou seja, o destino turístico, a
qualidade desse destino será sentida pelo turista no contexto da qualidade
integral. Ou seja, a qualidade do turismo num determinado local inclui a
qualidade dos serviços prestados, mas também a qualidade dos atractivos, da
hospitalidade, a qualidade de toda a oferta.
Como destacam Bercial e Timón (2005: 35 - 36), a qualidade deve ser
compreendida como ferramenta de gestão, retroalimentação e melhoria dos
destinos em todas as suas fases, pelo que defendem a implantação de
processos de certificação como forma de regular os padrões de qualidade, que
podem ocorrer com amparo de organismos ligados ao sector de turismo, ou
criados e implementados pelos próprios agentes do sector e aplicados tanto
nas empresas como nos destinos turísticos.
Outro ponto importante é perceber que a qualidade não deve ser vista apenas
como uma questão de gestão estratégica, envolvendo uma abordagem técnica,
mas também uma questão cultural, induzindo a conduta de discussão, debate e
desenvolvimento. No contexto organizacional, já é incutida a cultura da
3 No caso desta investigação, a adequada formação do profissional de planeamento
turístico pode ter impacto na qualidade do próprio destino turístico.
68
qualidade, envolvendo as dimensões da sustentabilidade e competitividade. No
âmbito dos destinos, contudo, é praticamente inexistente, seja em termos
conceptuais ou operacionais (Campos et. al, 2006).
Bercial e Timón (2005: 29) defendem que a oferta de um turismo de qualidade
não significa necessariamente a oferta de um turismo caro, mas uma nova
forma de organizar os serviços tendo em vista a satisfação dos clientes e a
adequação daquilo que é oferecido com as suas expectativas e necessidades,
a fim de manter uma posição competitiva no mercado.
O WEF (2011a:4) conceptualiza a competitividade como um conjunto de
instituições, políticas e factores que determinam o nível de produtividade de um
determinado país que, por conseguinte, determina o nível de prosperidade
sustentável que pode ser ganho numa dada economia. Ou seja, as economias
mais competitivas tendem a produzir mais rendimentos para os seus cidadãos.
No contexto mundial, este organismo definiu 12 pilares relativos à
competitividade económica, a saber: instituições; infraestruturas; ambiente
macroeconómico; saúde e educação primária; educação superior e
treinamento; eficiência no mercado; eficiência no mercado laboral;
desenvolvimento do mercado financeiro; tecnologia; dimensão do mercado;
sofisticação dos negócios; inovação.
No ranking de competitividade global, Portugal ocupa, em 2010-2011, a 46ª
posição, perdendo três posições (era 43º) com relação ao ano anterior (WEF,
2011a: 15). Os destaques positivos são nos quesitos infraestruturas, inovação,
educação superior e aspectos tecnológicos, enquanto os negativos incidiram,
principalmente, em aspectos como a eficiência do mercado laboral e no
ambiente macroeconómico (WEF: 2011a:22).
O WEF também publica, bianualmente, o Relatório de Viagens em Turismo que
aborda a competitividade entre 130 países, especificamente na área do turismo.
O relatório é justificado pela aproximação mundial, por intermédio da
globalização e, através do turismo, há o estímulo ao desenvolvimento,
aceleração de investimentos locais e geração de emprego. No entanto, a
69
competitividade neste sector está a crescer e, além disso, existem ocorrências
mundiais que afectam negativamente o sector, como pandemias e terrorismo.
Nessas condições, é importante conhecer o que é preciso fazer para promover
o turismo e o desenvolvimento (Bolwell e Weinz, 2008: 27)
O Índice de Competitividade no Sector de Viagens e Turismo (Travel and
Tourism Competitiveness Index - TTCI) mede os factores e políticas que
tornam mais atractivo o desenvolvimento do sector, em diferentes países. São
englobados 14 factores de competitividade que podem ser agrupados em três
categorias, referentes ao sector de Viagens e Turismo: rede de regulação do
sector; infraestrutura e ambiente de negócios; recursos humanos, culturais e
naturais – a saber: políticas e regulações; sustentabilidade ambiental;
segurança; saúde e higiene; priorização do sector de viagens e turismo; infra-
estrutura aeroportuária; infraestrutura de transportes; infraestrutura de turismo;
infraestrutura de informação e comunicação; competitividade dos preços;
recursos humanos; afinidade em relação às viagens e turismo; recursos
naturais; recursos culturais (Bolwell e Weinz, 2008: 22; WEF, 2011b: 32).
É importante ressaltar que os indicadores vão além dos facilmente perceptíveis
pelos turistas, como a sustentabilidade ambiental, segurança e preços, sendo
também incluídos factores relacionados com o ambiente político e empresarial,
como legislações e regulações no sector e ambiente de negócios. Na verdade,
a avaliação da competitividade do turismo também ocorre de forma integral,
respeitando a condição sistémica do turismo, uma vez que estes outros
quesitos irão igualmente provocar impactes em diversos outros componentes
da oferta do turismo, na sustentabilidade, eficácia, lucro e promoção do
desenvolvimento.
De entre os países mais competitivos no sector de turismo, estão: Suíça,
Alemanha, França, Áustria, Austrália, Suécia, Estado Unidos, Reino Unido,
Espanha, Canadá e Singapura. Portugal ocupa a 18ª posição (WEF, 2011:17).
Entre os factores mais relacionados com a competitividade nos diferentes
países, são citados: estabilidade política e alto nível de segurança; segurança
dos investimentos do sector, adoptando leis e regulações favoráveis;
70
manutenção de altos níveis de saúde e higiene entre os cidadãos e turistas;
implementação e monitorização das legislações ambientais (Bolwell e Weinz,
2008: 28).
Neste sentido, Matias (2007: 163) esclarece que
a competitividade de um destino não depende apenas de factores como as
limitações/facilidades concedidas à entrada dos turistas, mas também das
características qualitativas dos factores de produção e da regulamentação
da actividade das empresas. Nesta medida, a existência de empresas
turísticas ou de regiões que competem entre si para atrair a procura (como
acontece, por exemplo, entre Algarve e o Sul de Espanha), permite o
desenvolvimento da criatividade, inovação e diversificação dos destinos
turísticos em causa.
Muitos autores defendem que a chave da competitividade no sector de turismo
está na qualidade da prestação dos serviços, visto que o turismo é
essencialmente composto por serviços. Contudo, sendo certo que a prestação
de um serviço de qualidade é fulcral no que tange a satisfação do cliente, não é
possível conceber que todo o sistema turístico (e, portanto, toda a estrutura
que o suporta) se resume aos serviços prestados.
A percepção do turista irá perpassar por todos os aspectos envolvidos na
experiência turística e, assim sendo, são importantes tanto aqueles que fazem
linha de frente e que estão directamente em contacto com o turista, como
aqueles que possibilitam e melhoram esta experiência. A qualidade representa
um factor crucial na competitividade dos destinos, traduzida em preparo,
coerência, harmonia e sustentabilidade em todo o sistema turístico.
2.7 Considerações Finais
A evolução dos modelos de planeamento, assim como os tipos de abordagens
ao destino apresentados neste capítulo, levam a crer que as opções de gestão
que mais respeitam e beneficiam todos os envolvidos com o turismo são as
71
abordagens que reúnem características integradoras, participativas e
sustentáveis. Também são essas as características que podem, de facto,
fomentar o desenvolvimento local, destacando o princípio da equidade e o
fortalecimento do capital social, uma vez que há o compromisso com o
envolvimento de todos, com a durabilidade dos efeitos positivos e com o bem-
estar social.
Uma proposta pautada nestes princípios permitirá que o destino tenha um
planeamento que alcance aquilo que, de facto, se pretende, quando se decide
planear: racionalidade da utilização dos recursos, com a finalidade de alcançar
um melhor aproveitamento e benefícios. No caso do planeamento de destinos
turísticos, os benefícios entrelaçam-se nos campos da sustentabilidade
ambiental, social e económica.
Além disso, o planeamento potencia a competitividade, seja através dos
princípios da sustentabilidade ou, ainda, de algo que o turista, como
consumidor, cada vez mais exigente, espera na sua experiência turística: a
qualidade. A qualidade ambiental, a qualidade dos serviços, a qualidade das
actividades de lazer e entretenimento: a qualidade do produto global. A
qualidade é um factor fundamental para o sucesso dos destinos turísticos e só
pode ser assegurada através da gestão e do planeamento sustentável.
Os planeadores desempenham funções ligadas à gestão e ao planeamento do
destino com o objectivo de assegurar uma actividade turística que cause
menos impactos negativos e, numa melhor hipótese, que os benefícios dos
impactos positivos sejam mais importantes do que os efeitos dos impactos
negativos e, assim, se justifique e valide o turismo no destino. Considerada
esta responsabilidade, o planeador deve estar apto para melhor desempenhar
as suas funções.
Foram descritas as principais funções ligadas ao planeamento turístico,
verificando-se que a maioria se relaciona com as áreas da gestão e marketing.
A temática será retomada parcialmente no capítulo 4, onde é discutido o tema
“Formação Superior em Turismo”.
72
Capítulo 3
Turismo em Portugal
3.1 Introdução
A estrutura política e de gestão do turismo em Portugal tem vindo a evoluir de
forma notável nos últimos anos, sendo que, talvez, a medida mais visível desta
realidade talvez tenha sido a criação do Turismo de Portugal, em 2007. Esta
solução integradora da Administração Pública do Turismo interfere tanto na
estrutura do organismo público quanto em todo o sistema turístico e afecta,
directa ou indirectamente, todas as questões relacionadas com os modelos de
desenvolvimento sectorial.
Apesar da importância do processo histórico do turismo português, este
capítulo não pretende analisá-lo de uma forma exaustiva, contendo-se num
objectivo muito menos ambicioso que apenas pretende contextualizar o turismo
em Portugal, abordando informações que permitam caracterizar esta actividade,
designadamente em Portugal Continental, assim como delinear a estrutura
organizacional do turismo e o seu actual funcionamento.
Uma reflexão ampla da actividade turística fundamenta os pressupostos da
relação entre o planeamento e a formação superior em turismo e, desta forma,
fornece meios para conhecer o grau de relação entre estes dois aspectos,
objectivo primordial desta investigação.
Apesar de a proposta da investigação empírica, de que mais adiante
trataremos, estar concentrada em apenas duas regiões portuguesas, Algarve e
Alentejo, releva-se a importância de contextualizar o turismo português como
73
um todo. O objectivo de relacionar as funções específicas da actividade
turística com a formação que lhes é exigida melhora a compreensão de
questões ligadas com a gestão e planeamento do turismo em Portugal e, dessa
forma, ajuda a compreender a estrutura de gestão da actividade turística nos
diferentes níveis. A limitação do estudo aos municípios destas duas regiões
(Alentejo e Algarve) é apenas uma necessidade prática para a viabilização
desta investigação. É justificada, ainda, pelo facto de que, submetidas ao
mesmo regime legal, as competências associadas ao desempenho laboral na
escala regional são similares, além de fornecerem subsídios para considerar o
contexto local.
Espera-se, com esta análise, atingir o objectivo específico de contextualizar o
planeamento turístico português, identificando e analisando os pontos
relevantes das políticas públicas e de gestão, planeamento turístico e
ordenamento territorial que se encontrem associados ou interfiram na
efectivação do planeamento ao nível local.
3.2 Caracterização do Turismo em Portugal
O turismo é um dos sectores mais importantes da economia portuguesa, com
um peso significativo na economia global nacional – cerca de 9,2% de
participação no consumo privado do PIB (Produto Interno Bruto) (Turismo de
Portugal, 2011b). Outros dados do Turismo de Portugal (2011b) confirmam a
importância do turismo na economia portuguesa, ao apontarem que, em 2008,
o emprego no sector representou 8,2% do total de empregos.
Relativamente ao contributo do turismo para a Balança de Pagamentos, em
Portugal, dados do INE (2011b: 23) apontam que, em 2010, as receitas
turísticas alcançaram 7611 milhões de euros e as despesas turísticas atingiram
2953 milhões de euros, o que resulta num saldo positivo de 4658 milhões de
euros.
Apesar da instabilidade internacional, principalmente na área económica e
financeira, segundo dados do INE (Turismo de Portugal, 2010), após uma
74
ligeira queda do turismo no ano de 2009, em 2010 foi retomado o crescimento
no número de hóspedes. No entanto, ficou abaixo do crescimento mundial
divulgado pela OMT que, em 2010, registou um percentual de crescimento
mundial de 6,7% no número de chegadas internacionais (OMT, 2011).
Em 2006, as projecções do PENT (Plano Estratégico Nacional de Turismo)
apontavam para um forte aumento da contribuição do turismo para a economia
nacional, com expectativa de crescimento de 5% ao ano, em número de
turistas, alcançando os 20 milhões de turistas em 2015, e 9% de crescimento
anual das receitas, atingindo, também nesse ano de 2015, cerca de 15 mil
milhões de euros. As regiões de Lisboa, Algarve e Porto eram apontadas como
as que mais contribuiriam para esse crescimento, sendo que o Alentejo seria a
região com maior contribuição relativa, atingindo crescimentos anuais de cerca
de 11% (PENT, 2006: 6).
No entanto, a realidade mostrou-se diferente e tanto o cenário internacional, já
citado, como as dificuldades económicas, financeiras e políticas do ambiente
interno perturbaram o cenário esperado. Na verdade, no período de 2006 a
2010, apesar dos excepcionais desempenhos dos primeiros anos, o turismo
português cresceu apenas 2,3% em relação ao número de turistas.
De qualquer modo, Portugal é um país com inequívoca vocação de oferta
turística, recebendo, anualmente, cerca de 13 milhões de turistas (nacionais e
estrangeiros) (INE, 2011b).
Apesar de possuir um território de pequena dimensão, quando comparado com
os principais países receptores de turistas à escala global, apresenta uma
oferta turística diversificada. Também em termos populacionais, Portugal
possui uma população diminuta, com cerca de 10,5 milhões de habitantes (INE,
2012), mas este facto não impediu o País de reunir um legado cultural rico e
uma atractiva e longa história.
No campo socioeconómico, Portugal possui um bom nível de qualidade de vida,
com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ocupando o 40º lugar no
ranking mundial, entre 169 países, o que o classifica como país de “muito alto
75
desenvolvimento humano” (PNUD, 2010). Sob outro ponto de vista, Portugal é
o país com mais baixo IDH da Europa Ocidental (Observatórios das
Desigualdades, 2009: 1).
Em termos económicos, Portugal enfrenta, desde 2008, uma grave crise
interna, com origem em razões próprias mas também no impacto de motivos
internacionais, que se estendeu estruturalmente aos sectores social e político.
O desemprego atingiu níveis muito elevados.
Neste período apelou-se exaustivamente, por exemplo, para que os
portugueses consumam produtos nacionais como forma de dinamizar a
economia interna, o que também inclui os produtos turísticos.
Além do potencial do turismo em gerar emprego e rendimentos, é reconhecido
que ele gera um forte e rápido efeito multiplicador na economia, requerendo
menos investimento específico do que a maior parte das actividades
económicas. Daí que se veja no turismo uma das soluções para esta
conjuntura de crise.
3.3 Gestão Estratégica e Organização do Turismo em Portugal
Não se pretendendo realizar um percurso histórico acerca das políticas de
turismo em Portugal, por se entender que este não se constitui como um
objectivo nesta tese, mas reconhecendo a necessidade de contextualizar estas
políticas para compreender o desenrolar das actuais acções e o modelo de
gestão e planeamento vigente, apresenta-se, no quadro abaixo, uma síntese
com alguns destaques das políticas de turismo em Portugal entre 1992 e 2011
(Tabela 4).
76
Tabela 4
Cronograma da Política Estratégica de Turismo em Portugal (1992/2011) – alguns destaques
Período Acções
1992-1995 - ICEP (Investimento e Comércio Externo de Portugal) promove a
imagem de Portugal;
- Crença no funcionamento automático do mecanismo do multiplicador e
lógica de continuidade nos tipos de apoios financeiros às empresas e no
funcionamento das 19 Regiões de Turismo;
- Volume de chegadas de turistas crescente.
1996-2002 - Lógica de continuidade nos tipos de apoios financeiros às empresas e
no funcionamento das 19 Regiões de Turismo;
- Promoção externa permanece como função do Estado, mas em
parceria com o sector privado;
- Volume de chegadas de turistas sempre crescente;
- Expo 98 e respectivos ganhos de visibilidade.
2002-2004 - Contratualização com entidades privadas da promoção turística
internacional;
- Governo assume formalmente o turismo como prioridade nacional;
- Redução no volume de chegadas de turistas em 2002;
- Euro 2004 e respectivos ganhos de visibilidade;
- Criação do Ministério do Turismo e do Instituto de Turismo de Portugal
(ITP).
2006-2011 - Fim do Ministério do Turismo;
- Reestruturação do papel e da área de actuação das administrações
regionais de Turismo, com a criação das Entidades Regionais de
Turismo (ERT);
- Turismo de Portugal com a competência de promoção do turismo
nacional e apoio às ERT; ERT assumem gestão do Turismo Regional.
Fonte: Firmino, 2007: 240-241, com actualização pessoal dos dados a partir do ano de
2004.
77
Numa avaliação resumida, destaca-se alguma instabilidade nas formas de
organização e gestão da Administração Pública do Turismo, que se tem
encaminhado no sentido de uma concentração de estruturas (e.g. Turismo de
Portugal) e numa visível dificuldade de protagonismo das Entidades Regionais.
3.3.1 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Nacional
O turismo é considerado “como um factor estratégico de desenvolvimento da
economia portuguesa e está fortemente empenhado na criação e consolidação
de estruturas públicas fortes, modernas e dinâmicas, preparadas para
responder aos desafios que o turismo enfrenta” (Preâmbulo do Decreto – Lei nº
67/ 2008, de 10 de Abril).
A legislação turística definiu a necessidade de criar um único organismo central,
responsável pela Política de Turismo Nacional — o Turismo de Portugal, I. P.
—, e de reformular as anteriores regiões de turismo. Deixaram de existir 29
Estruturas Regionais e Locais de Turismo, dando espaço, em Portugal
Continental, a uma organização estruturada com base nas cinco Áreas
Regionais e seis Pólos Turísticos (Turismo de Portugal, 2010: 18).
A organização, a gestão e o planeamento do turismo em Portugal passou a
ocorrer por intermédio do Turismo de Portugal, Instituto integrado no Ministério
da Economia (nas suas várias designações). Apesar de autores como Cooper
(2001) considerar que o modelo de organização da gestão do turismo num país
reflecte a importância dada ao sector, as várias soluções políticas encontradas
no passado recente, em Portugal, nunca significaram, objectivamente, um
ganho ou perda de notoriedade no reconhecimento da importância deste sector
no nosso País.
O Turismo de Portugal é responsável pela promoção, valorização e
sustentabilidade da actividade turística e tem como missão: qualificar e
desenvolver as infra-estruturas turísticas; desenvolver a formação de recursos
humanos; apoiar o investimento no sector; coordenar a promoção interna e
externa de Portugal como destino turístico; regular e fiscalizar os jogos de
78
fortuna e azar (sítio Internet do Turismo de Portugal, consultado em 2009). São,
portanto, responsabilidades do Turismo de Portugal (sítio Internet do Turismo
de Portugal, consultado em 2011):
propor linhas estratégicas e planos de concretização para o
desenvolvimento do turismo; garantir a transparência do mercado e
dos serviços prestados aos turistas; qualificar os profissionais e
melhorar a qualidade dos serviços turísticos; consolidar a imagem de
Portugal como um destino com grande diversidade paisagística e
cultural e rico em experiências; representar Portugal nas
organizações internacionais de turismo; gerir instrumentos de apoio
financeiro ao sector turístico; mobilizar os agentes públicos e
privados para a implementação do PENT; acompanhar a actividade
dos casinos e bingos e combater o jogo clandestino e ilegal.
3.3.2 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Regional
O anterior modelo de gestão regional do turismo (pré-2008) era questionado
por ser inadequado ou ineficiente, dado, por exemplo, não cobrir todo o
território português ou por haver sobreposição de funções, fosse com a
hierarquia superior, de nível nacional, fosse com o nível local.
Firmino (2007: 248), por exemplo, ainda chama a atenção para o facto de que
algumas das atribuições formais das antigas Regiões de Turismo ficavam
comprometidas por falta de recursos financeiros, técnicos e humanos. Além
disso, o autor aponta como um ponto fraco o elevado número de Regiões que
existia num território tão pequeno como Portugal.
O actual modelo de Gestão Regional dividiu Portugal em ERTs que têm como
principais objectivos: contribuir para o alcance dos objectivos da Política
Nacional de Turismo; dinamizar e potencializar os recursos turísticos;
monitorizar a oferta turística (Turismo de Portugal, 2009).
O modelo estatístico regional na União Europeia estabeleceu uma classificação
comum para os Estados-Membros, as chamadas NUTS (Nomenclaturas das
79
Unidades Territoriais para Fins Estatísticos), que foi desenvolvida desde o
início dos anos 70 mas só em 2003 adquiriu uma base legal. Segundo essa
classificação, as NUTS possuem 3 níveis regionais, de acordo com um número
mínimo e máximo do tamanho da população das regiões. No caso da estrutura
do País não corresponder a nenhum dos 3 níveis regionais, torna-se
necessário identificar um nível adicional que não possui, funcionando apenas
para fins estatísticos e não tendo, portanto, qualquer função administrativa
(Eurostat, 2008: 5-6).
Em Portugal Continental, os três níveis estatísticos são assim representados e
servem de base para a gestão e organização do turismo no país visto que as
NUTS II coincidem com as Entidades Regionais de Turismo (tabela 5):
80
Tabela 5
Portugal Continental, por NUTS
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Portugal Continental Norte Minho – Lima
Cávado
Ave
Grande Porto
Tâmega
Entre-Douro e Vouga
Douro
Alto Trás-os-Montes
Algarve Algarve
Centro Baixo Vouga
Baixo Mondego
Pinhal Litoral
Pinhal Interior Norte
Dão-Lafões
Pinhal Interior Sul
Serra da Estrela
Beira Interior Norte
Beira Interior Sul
Cova da Beira
Oeste
Médio Tejo
Lisboa Grande Lisboa
Península de Setúbal
Alentejo Alentejo Litoral
Alto Alentejo
Alentejo Central
Baixo Alentejo
Lezíria do Tejo
Fonte: Eurostat, 2008: 6
81
Considerando a realidade de dispersão, sobreposição de poder e
desorganização do sector, foi proposta e implementada uma nova estrutura
organizacional do turismo, com base na já existente divisão administrativa do
território, a divisão em NUTS II.
O Decreto-Lei n.º 67/2008, de 10 de Abril, redefine a estrutura organizacional
do turismo em Portugal e, para efeitos de planeamento, divide o Continente em
cinco áreas regionais que coincidem com as unidades territoriais utilizadas para
fins estatísticos, as NUTS II (Figura 5): Norte; Centro; Lisboa e Vale do Tejo;
Alentejo; Algarve.
Figura 5
Regiões de Turismo
Norte
Centro
Alentejo
Lisboa e Vale do Tejo
Algarve
82
São, ainda, criados Pólos de Desenvolvimento Turístico (Figura 6), que são
integrados nas áreas regionais supracitadas, a saber (sítio Internet do Turismo
de Portugal, consultado em 02 de Dezembro de 2008):
1. Douro:
Unidade territorial do Douro — Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães,
Freixo de Espada à Cinta, Lamego, Mesão Frio, Moimenta da Beira,
Murça, Penedono, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião,
S. João da Pesqueira, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Torre de
Moncorvo, Vila Real e Vila Nova de Foz Côa;
2. Serra da Estrela:
Unidade territorial da serra da Estrela — Fornos de Algodres, Gouveia e
Seia;
Unidade territorial da Beira Interior Norte) — Almeida, Celorico da Beira,
Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal
e Trancoso;
Unidade territorial da Cova da Beira — Belmonte, Covilhã e Fundão;
3. Leiria – Fátima
Unidade territorial de Leiria-Fátima — Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha
Grande, Nazaré, Ourém (que inclui Fátima), Pombal e Porto de Mós;
4. Oeste:
Unidade territorial do Oeste — Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral,
Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte
Agraço e Torres Vedras;
5. Litoral Alentejano:
Unidade territorial do Litoral Alentejano — Alcácer do Sal, Grândola,
Odemira, Santiago do Cacém e Sines;
6. Alqueva — Terras do Grande Lago, Alandroal, Barrancos, Portel,
Reguengos de Monsaraz, Moura e Mourão.
83
Alqueva Litoral Alentejano Leiria – Fátima Oeste Serra da Estrela Douro
Figura 6
Pólos Turísticos de Portugal
Os Pólos de Desenvolvimento foram criados sob a óptica de desenvolvimento
da oferta de turismo internacional (Douro, Litoral Alentejano, Oeste4) e numa
óptica de desenvolvimento nacional (todos os Pólos); tratou-se de uma criação
que pretendia diversificar a oferta e reduzir a dependência face às três
principais regiões de turismo nacionais, assim como dar resposta às principais
motivações de procura, possibilitando a melhoria de imagem do país,
4 Também o Porto Santo, na Madeira.
84
dinamizando o turismo nacional e fortalecendo a economia regional (PENT,
2006: 83).
Vale esclarecer que, para efeitos da divisão de Portugal em ERT, tendo por
base a divisão inicial das NUTS (de 1999), a Região de Lisboa e Vale do Tejo
agregou os municípios integrantes das sub-regiões do Oeste, do Médio Tejo e
da Lezíria do Tejo, tal como na composição das CCDR (Comissão de
Coordenação do Desenvolvimento Regional). Com o intuito de evitar que as
citadas sub-regiões fossem prejudicadas no âmbito da distribuição dos fundos
do Quadro Comunitário de Apoio (IV), estas sub-regiões foram deslocadas, em
2006, para outras NUTS II. Assim, a Lezíria do Tejo passou a integrar, para
este fim de gestão de financiamentos, a região Alentejo, que será um dos
objectos de estudo do trabalho empírico desta Tese; no entanto, para fins de
ordenamento do território e acompanhamento do turismo, esta sub-região, tal
como o Oeste e o Médio Tejo, continuam a pertencer à região de Lisboa e Vale
do Tejo, pelo que não será incluída na nossa recolha e análise de informação.
A organização em ERTs e Pólos não é consensual (Fonseca, 2009; Baptista,
2003). Por exemplo, Céu (2008: 35) acredita que a gestão do turismo seria
mais beneficiada com regiões que coincidissem perfeitamente com as cinco
regiões de Portugal Continental e apenas será neutralizada caso as Entidades
Regionais e os Pólos que as integram sejam capazes de trabalhar
conjuntamente. Também António Fonseca Ferreira, ex-Presidente da CCDR-
LVT (Lisboa e Vale do Tejo), considera que a criação de Pólos dentro das
Regiões de Turismo, bem como Agências Regionais para promoção destas
regiões no exterior, é pouco racional e conveniente para um país com as
dimensões de Portugal (Fonseca, 2009: 22). O actual Governo, pela voz da
Secretária de Estado Cecília Meireles, também já deu sinais de algum sentido
crítico em relação ao actual modelo de gestão regional do turismo (Jornal
Expresso, 2012).
O modelo organizacional do turismo, constituído em 2008, tinha, entre outras
finalidades, a de assegurar que os órgãos regionais de turismo tivessem
capacidade de se autofinanciar, estimulando o envolvimento dos agentes
privados e estabelecendo parcerias com o Turismo de Portugal, para que fosse
85
possível o desempenho de actividades e projectos na esfera central. Por outro
lado, a reestruturação da disposição das entidades públicas regionais fazia-se
necessária com o intuito de dar os devidos suportes para o Turismo de
Portugal, assegurando a implementação da política nacional de turismo. Esta
nova organização surge para dar sentido ao modelo de gestão, ao nível
regional e local, visto que o modelo até então vigente era disperso, aleatório e
incoerente (sítio Internet do Turismo de Portugal, consultado em 18 de
Setembro de 2008).
São atribuições das ERTs (Decreto – Lei nº 67/ 2008, de 10 de Abril):
Colaborar com os órgãos centrais e locais com vista à prossecução dos
objectivos da política nacional que for definida para o turismo;
Promover a realização de estudos de caracterização das respectivas
áreas geográficas, sob o ponto de vista turístico e proceder à
identificação e dinamização dos recursos turísticos existentes;
Monitorizar a oferta turística regional, tendo em conta a afirmação
turística dos destinos regionais;
Dinamizar e potencializar os valores turísticos regionais.
Apesar de se reconhecer que cada ERT se apresentava num estágio
específico de maturidade, foram atribuídas a todos estes organismos regionais
as mesmas funções: promoção do mercado interno; incremento do produto
turístico; apoio ao sector empresarial no desenvolvimento de projectos de
investimento e requalificação (Turismo de Portugal, 2010: 18).
Aos Pólos de Desenvolvimento Turístico eram atribuídas competências para
valorizar o turismo e o aproveitamento sustentado dos recursos turísticos nas
suas respectivas áreas, estando, assim, de acordo com as orientações e
directrizes da Política Nacional de Turismo. Além disso, os Pólos de
Desenvolvimento podem criar uma entidade dinamizadora e interlocutora junto
dos órgãos centrais de turismo (Turismo de Portugal, 2008).
86
Como já antes referido, a bondade dos argumentos e critérios utilizados na
constituição e formatação das competências das ERTs e Pólos nem sempre se
revelou consensual. Ao contrário, muitas dúvidas e críticas foram sendo
lançadas, ao ponto de, apenas quatro anos volvidos, se tornar natural a
necessidade da sua revisão, independentemente da diversidade das opiniões
sobre esta matéria e das consequentes soluções propostas.
No âmbito da linha de pensamento em que é definida a sustentabilidade como
modelo de desenvolvimento do turismo português, são apresentados os
seguintes objectivos (Figura 7):
Figura 7
Objectivos para alcançar o modelo de desenvolvimento sustentável do turismo
Fonte: Turismo de Portugal, 2010: 33
Os objectivos a serem alcançados pelos organismos regionais de turismo são
válidos e compatíveis com o modelo seleccionado, que se pretende seja
sustentável. São contempladas as principais variáveis (sociais, económicas e
ambientais) onde o turismo pode incidir positivamente: geração de emprego,
dinamizar as empresas e a actividade como um todo, preservação da cultura e
do meio ambiente.
87
Por outro lado, apesar do reconhecimento de que as acções decorrem no nível
local, a definição de objectivos talvez ganhasse com uma abordagem
geograficamente mais ampla, definindo-se uma postura estratégica mais eficaz
e adequada para alcançar os resultados pretendidos.
Também é importante referir que é prevista, por Lei (Decreto – Lei nº 67/ 2008,
de 10 de Abril), a abertura de postos de turismo, no nível local, sendo estes
sujeitos à gestão das ERTs.
O mesmo diploma legal estipula, em relação ao acesso aos programas
públicos de financiamento na área de turismo através de fundos
exclusivamente nacionais, que este está condicionado à participação dos
municípios nas respectivas Entidades Regionais de Turismo. Esta iniciativa
constitui-se como um factor positivo, uma vez que, apesar da autonomia
municipal, há um estímulo à criação das ligações em teias regionais que,
posteriormente, estão interligadas no nível nacional. Esta ligação em rede dá
coerência ao modelo seleccionado, bem como aumenta as oportunidades de
sucesso da proposta de desenvolvimento do turismo no país.
3.3.3 Gestão e Planeamento do Turismo ao nível Local
É no nível local que o turismo ocorre e é nesse nível que se verificam os
primeiros impactos turísticos. As acções de gestão e planeamento que se
elaboram nos níveis superiores têm por objectivo promover o sucesso do
turismo no seu nível mais inferior, o local (Cooper et al, 2001; Inkeep, 1993;
Costa, 1996; Beni, 1998; Hall, 2002; Gunn, 2002). Apesar disso, cada uma das
hierarquias superiores de gestão e planeamento do turismo possui as suas
próprias responsabilidades, que possibilitarão que os municípios alcancem o
sucesso das suas actividades de forma sustentável e sustentada.
Em Portugal, como foi evidenciado durante a apresentação das atribuições das
ERT, a legislação prevê, através da participação dos municípios nestas
estruturas regionais, uma efectiva articulação entre estes dois níveis de
administração.
88
Um exemplo que poderá acrescentar dados à questão acima apontada é o
facto de a Entidade Regional de Lisboa e Vale do Tejo ter delegado na
Associação Turismo de Lisboa todas as suas atribuições e competências
relativas ao território dos municípios de Lisboa, Cascais, Oeiras, Sintra e Mafra
(Turismo de Lisboa, 2009: 7). A proposta foi apresentada pelos representantes
da Câmara Municipal de Sintra, do Turismo do Estoril, da Câmara Municipal de
Mafra e Associação do Turismo de Lisboa, que também são membros da
Entidade Regional. Com a aprovação, foram transferidos os recursos
financeiros e humanos para esta associação (Turismo de Lisboa, 2009: 7).
Assim, a gestão turística dos municípios acima citados fica concentrada num
único organismo.
As situações variam muito de município para município, principalmente de
acordo com a importância do turismo para a economia local. Desta forma, a
organização e o funcionamento do turismo com base local será melhor
abordada após a investigação empírica.
Os municípios turísticos portugueses desenvolvem, com frequência, planos de
desenvolvimento do turismo. Como será visto no tópico seguinte, os Planos
Directores Municipais (PDM), documento obrigatórios nos municípios, muitas
vezes a área de turismo numa abordagem mais voltada para a componente
física e territorial.
Os planos de desenvolvimento turístico que incluem uma proposta de reflexão
do turismo sob o ponto de vista sistémico constituem uma importante
ferramenta para o desenvolvimento sustentável nas localidades. Contudo, este
tipo de documento não é obrigatório e observa-se que nem todos os municípios
reconhecidamente turísticos reúnem recursos humanos e financeiros para o
implementar. Muitos destes municípios não possuem, sequer, o conhecimento
da sua própria oferta turística.
Algumas iniciativas interessantes estão a ser levadas a cabo, como a proposta
alentejana de enviar uma equipa da ERT para alguns municípios turísticos para
realização do diagnóstico local (Turismo do Alentejo, 2011a; Turismo do
Alentejo, 2011b; Turismo do Alentejo, 2011c) Melhor seria que esta tarefa
89
tivesse uma origem genuinamente local, mas não deixa de ser uma importante
acção para que estes municípios conheçam e possam reflectir a sua oferta
turística.
3.3.4 Outros instrumentos de Planeamento do Turismo
Na perspectiva do Ordenamento do Território, é possível, ainda considerar
outros instrumentos, como programas, planos e projectos que prevêem acções
na área do turismo.
Figura 8
Sistema de Gestão Territorial
Fonte: Elaboração própria, a partir da Lei nº 48/98, de 11 de Agosto, na sua versão
actual
90
É conveniente observar que o Programa Nacional de Política de Ordenamento
do Território (PNPOT), enquanto expoente máximo das Políticas Nacionais do
Ordenamento do Território, prevê objectivos dentro da área do turismo, como,
por exemplo (Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do
Desenvolvimento Regional, 2007; CCDR Norte, 2008):
1. O aproveitamento sustentável do potencial turístico de Portugal às
escalas nacional, regional e local;
2. A promoção de modelos de desenvolvimento de turismo para cada um
dos destinos turísticos;
3. A definição de mecanismos de articulação entre o desenvolvimento das
regiões com elevado potencial turístico e as políticas de ambiente e
ordenamento do território.
Esta ligação inclui, ainda, como medidas prioritárias (Ministério do Ambiente,
do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, 2007; CCDR
Norte, 2008)
1. A elaboração de um Plano Estratégico Nacional de Turismo (já
elaborado);
2. Elaboração de Planos Sectoriais de Turismo que definam as linhas
orientadoras dos modelos de desenvolvimento pretendidos para as
áreas com maiores potencialidades de desenvolvimento turístico (ainda
não concretizados).
No nível regional, o PROT (Plano Regional de Ordenamento do Território) é o
documento que instrumentaliza o processo de planeamento, por região, com
base territorial (CCDR Algarve, 2007), o que permite a reflexão da actividade
em cruzamento com o território de suporte.
Um exemplo de territorialização do turismo é apresentado na figura 9, partindo-
se, neste caso, da visualização da oferta de estabelecimentos hoteleiros com
base no território.
91
Figura 9
Territorialização da oferta de alojamento na Região (Norte)
Fonte: CCDR Norte, 2008.
No nível local, os Planos Municipais de Ordenamento de Território variam na
área e na escala de intervenção e podem ser (Ministério do Planeamento e da
Administração do Território, 1990):
1. Os planos intermunicipais de ordenamento do território;
2. Os planos municipais de ordenamento do território: Planos Directores
Municipais (PDM), que abrange todo o município; Planos de
Urbanização, abrangendo áreas urbanas e urbanizáveis, áreas não
urbanizáveis intermédias ou envolvente; Planos de Pormenor, sobre
área de intervenção que são, em princípio, subáreas do PDM e dos PU.
O Plano Director Municipal é considerado um instrumento de referência para
elaboração de outros planos e programas, a saber: demais planos municipais
92
de ordenamento do território; para o estabelecimento de programas de acção
territorial; para o desenvolvimento das intervenções sectoriais da administração
do Estado no território do município (Câmara Municipal de Lisboa, 2010).
Pela importância deste instrumento de gestão e planeamento local, tem
elaboração obrigatória e com participação popular. Nele são previstas a
ocupação, uso e transformação do território municipal pelos sectores de
actividades desenvolvidas nos municípios, bem como a programação das
realizações e dos investimentos. O PDM deve estar de acordo com as
directrizes dos documentos hierarquicamente superiores, regional e nacional,
sendo este instrumento operacionalizado através do PU e PP (Câmara
Municipal de Lisboa, 2010).
Em situações de municípios com importância turística, o Turismo de
Portugal integra a Comissão de Acompanhamento, apoiando, assim, os
trabalhos de elaboração do PDM (Turismo de Portugal, 2011a).
3.4 Considerações Finais
O turismo constitui uma actividade fundamental para a economia portuguesa,
com cerca de 11% de participação no consumo do PIB nacional. Portugal pode,
no entretanto, atrair ainda mais turistas e, consequentemente, aumentar as
vantagens económicas e sociais promovidas pela actividade.
Contudo, como visto no capítulo 3, o turismo acarreta também impactes
negativos que podem ser minimizados através de uma adequada gestão e
planeamento. A proposta de gestão portuguesa é um modelo de
desenvolvimento baseado nos princípios da sustentabilidade e competitividade.
A identificação deste modelo e do cenário da actividade nas regiões e
principais destinos são fundamentais para qualquer estudo sobre a realidade
do turismo local.
Não sendo objectivo deste trabalho realizar uma análise aprofundada do
sistema de ordenamento do território vigente em Portugal, a sua contribuição
93
para esta tese é a abordagem simplificada das formas de gestão e
planeamento do turismo nos diferentes níveis administrativos. Foi apresentado
o Plano Estratégico Nacional de Turismo e a estrutura organizacional que dele
emanou. No entanto, reconhece-se que ao nível local não foram apresentados
e discutidos em profundidade os modelos vigentes para a gestão e
planeamento do turismo, uma vez que há muitas disparidades de município
para município.
É importante destacar que a reestruturação da organização do turismo
português se preocupou, de forma positiva, com o modelo de gestão
hierárquico, em que houvesse pouca sobreposição de poderes (com excepção
do caso dos Pólos de Desenvolvimento do Turismo, cuja identidade não
resultou bem esclarecida). No entanto, verificou-se uma tendência para
preocupações locais no nível regional, o que pode vir a gerar sobreposição de
atribuições e acções, caso não haja harmonia entre os diferentes níveis de
gestão.
Actualmente, estão previstas mais alterações no modelo de gestão das regiões
portuguesas, nomeadamente no que diz respeito aos pólos turísticos. No
então, ainda não há detalhes suficientes para a inclusão e discussão desse
novo contexto do turismo português.
94
Capítulo 4
Formação Superior em Turismo
4.1 Introdução
Os recursos humanos constituem o centro da prestação de serviço, pelo que a
qualidade da formação dos profissionais implica directamente no valor dos
serviços prestados. Esta constatação aplica-se ao turismo, em geral, e, da
mesma forma, às funções específicas de gestão e planeamento do turismo. Ao
relacionar directamente a formação e a qualidade dos serviços, evidencia-se a
importância da educação no mercado de trabalho, o que esclarece a razão pela
qual a discussão em torno do processo educativo (incluindo princípios,
conteúdos, metodologias e práticas) é tão importante e presente. Releva dizer-
se que este reconhecimento da importância da educação para o turismo não
transforma a sua análise num objectivo central desta tese; é nosso
entendimento que se trata de um valor muito importante, mas de natureza
instrumental.
Numa altura em que há um importante processo de mudança na educação,
com grandes debates acerca das direcções a serem tomadas, torna-se
necessário compreender, essencialmente, até que ponto deve a educação
estar voltada para o mercado, tornando pertinente a sua investigação no
contexto específico dos vários profissionais, neste caso dos que se ocupam da
gestão e planeamento turístico.
Assim, o principal objectivo deste capítulo é debater a formação superior em
turismo e, mais especificamente, aquela que é realizada em Portugal, o que
95
possibilitará, posteriormente, a compreensão e o relacionamento da formação
com a prática do planeamento turístico, o principal objectivo desta tese.
Neste capítulo, serão abordadas algumas questões teóricas relacionadas com
a formação superior, nomeadamente as abordagens educacionais, bem como
serão debatidos os conceitos de qualificação, competências, educação versus
formação, a educação no modelo europeu comum, currículo e competência em
turismo, entre outros. Posteriormente, será apresentada e analisada a
investigação realizada junto dos cursos de turismo em Portugal.
A fim de apresentar a realidade dos cursos com presença nas áreas de gestão
e planeamento do turismo, foi realizada uma análise, que permitiu conhecer o
perfil desses cursos.
Este capítulo pretende atingir os objectivos específicos de: contextualizar a
formação superior em turismo em Portugal; identificar os principais aspectos
teóricos, práticos e metodológicos da formação superior em turismo,
destacando os aspectos relativos ao desenvolvimento pessoal, bem como as
necessidades sociais e de mercado que interferem na prática do planeamento
turístico municipal.
4.2 Educação e Formação
O novo contexto profissional e as novas exigências do mercado de trabalho,
aliados a grandes dificuldades no ambiente económico e financeiro, têm, nos
últimos anos, estimulado discussões acerca da proposta de formação superior.
Se, por um lado, há quem defenda que os profissionais devem ter uma
formação superior mais voltada para o mercado de trabalho, o que implica mais
concentração nas competências profissionais e maior preparo para o
desenvolvimento do seu ofício, por outro lado, há quem defenda que a melhor
formação superior é aquela que possibilita a autonomia ao profissional e,
portanto, a formação mais adequada seria aquela que mantém o foco no
desenvolvimento das competências sociais e pessoais, ao mesmo tempo em
96
que promove indirectamente a formação profissional (Zafarian, 2003; Werner,
2006; Perrenoud, 2000)
A educação pressupõe um percurso de desenvolvimento pessoal ao longo da
vida. É um processo que se inicia desde a infância e tanto ocorre no ambiente
de educação formal como em contexto familiar e informal. A educação não é
mais do que o desenvolvimento de competências pessoais e sociais que
permitam que cada indivíduo possa conviver adequadamente no seu ambiente
social e, numa fase posterior, na vida adulta, venha também a desenvolver
competências profissionais. Na formação superior (tendo a formação como
componente da educação), é promovido o desenvolvimento das competências
profissionais e, em simultâneo, das competências pessoais e sociais. Trata-se,
no fundo, de uma questão de enfoques e de gestão de equilíbrios nos objetivos
pedagógicos (Zarifian, 2003; Salgado, 2007; Perrenoud, 2000)
Parece haver um ponto de convergência quando se compreende que os
processos devem ter por base quatro pilares, a saber: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver em comum e aprender a ser (Salgado, 2007).
Para este debate, interessa compreender as propostas de formação superior e,
numa fase posterior, qual o contexto actual do mercado de trabalho e quais as
implicações para o indivíduo e para as empresas dessas propostas de
formação.
4.2.1 Formação Superior - uma proposta de Educação que deve ser
voltada para o indivíduo?
É evidente a acelerada mudança no sistema de ensino, sobretudo, na
formação de nível superior, onde, além de uma oferta mais diversificada e mais
acessível, também são verificadas mudanças nas propostas educacionais.
As novas características do ambiente socioeconómico, com cada vez mais
dinamismo e competitividade, acabaram por influenciar, também, o ambiente
educacional, exigindo uma reflexão acerca das propostas de ensino. Hoje,
97
quem conclui um curso de formação superior já não tem garantia de emprego,
como acontecia há poucas décadas atrás. Actualmente, o profissional precisa
de “algo mais”, para além do diploma, para obter um emprego, para sobressair
e para alcançar a sua realização profissional (Pacheco, 2005; Maranhão, 2001;
Ladkin, 2008).
A globalização também modificou e influenciou o ensino superior, exigindo a
reestruturação dos cursos face às novas necessidades. Se na Europa há uma
pressão para o ajustamento da educação no espaço comum, com a principal
finalidade de garantir a mobilidade dos docentes e discentes, o restante do
mundo também acaba por sentir esta necessidade de reformulação dos cursos
e reestruturação, para um modelo que facilite a comparabilidade e,
consequentemente, a mobilidade e a empregabilidade (Zarifian, 2003; Pacheco,
2005; Formica, 1996).
Estas novas variáveis inseridas no contexto educacional estimulam e, em
momentos, determinam novos rumos, originando reflexões e debates
fundamentalmente acerca da essência da formação superior e do objectivo do
ensino neste nível.
A percepção do indivíduo como centro do processo educativo pressupõe ter
como parâmetro o ser humano e compreender a sua formação como um
processo de conhecimento e realização individual, mais abrangente do que a
formação voltada exclusivamente para o mercado (Ramos, 2002).
No outro extremo, há quem defenda uma formação superior que garanta a
empregabilidade e, portanto, tenha uma grande preocupação com as
necessidades imediatas do mercado, preparando, desta forma, os indivíduos
para ocuparem postos de trabalho. Para os defensores desta abordagem
educacional, o estudante procura, através da obtenção do diploma, a inserção
no mercado de trabalho e uma “prova” desta constatação seria, pelo inverso, a
baixa procura tendencial dos cursos com pouca aceitação no mercado de
trabalho.
98
De facto, esta realidade pode ser constatada com relativa facilidade. No
entanto, é preciso reflectir acerca de algumas questões: não estaria, desta
forma, a educação superior a confundir-se com a formação profissional? Não
estaria o mercado a fundir as propostas nestes diferentes âmbitos educacionais?
Estarão os estudantes cientes da abordagem da formação voltada para o
mercado em detrimento de uma proposta de desenvolvimento pessoal?
Estas são algumas das muitas questões que poderiam ser levantadas acerca
do tema e acerca das diversas propostas de formação. Ramos (2002: 27)
esclarece e defende o seu ponto de vista, que se baseia numa formação
centrada no sujeito, na qual:
(…) o processo de formação humana pressupõe o desenvolvimento
do indivíduo como particularidade e generalidade, ou seja, como ser
social individual, que reúne em si o modo de existência subjetivo da
sociedade pensada e sentida para si, do mesmo modo que também
na efetividade ele existe tanto como intuição e gozo efetivo do modo
de existência social, quanto como uma totalidade de exteriorização
de vida humana. Dessa forma, esse processo visa promover a
possibilidade de o Homem desenvolver-se e apropriar-se do seu ser
de forma global, de todos os seus sentidos e potencialidades como
fonte de gozo e de realização. Sob o modo de produção capitalista,
os sentidos humanos foram subjugados à lógica da propriedade
privada, que atrela o gozo e a realização à posse dos objetos como
capital – valorizáveis e geradores de lucro – ou como meio de
subsistência socialmente determinado – destinados à satisfação de
necessidades de diversas ordens. Igualmente, as potencialidades
humanas – físicas, intelectuais e emocionais – foram alienadas do
Homem e apropriadas pela classe capitalista como mercadoria força
de trabalho.
Uma proposta de formação na qual o indivíduo deixa de ser o centro do
processo e passa a ser apenas um formando, não com um fim em si mesmo,
mas por necessidades do mercado, é considerada pela autora como uma
99
evolução voltada para o ambiente externo. Neste modelo de formação, as
pessoas perdem o sentido da educação para desenvolvimento e realização
pessoal e passam a ser formadas para ocupar um posto de trabalho, perdendo
as rédeas do processo educativo ao qual se submetem. O indivíduo passa a
ser formado para o mercado e para desenvolver, principalmente, competências
profissionais, e não mais como assumindo o principal objectivo de desenvolver
competências que lhe confiram mais consciência de si e da sociedade e,
consequentemente, mais independência.
Como já se deixou expresso anteriormente, as recentes abordagens
educacionais, voltadas para o mercado de trabalho aliado à educação para a
cidadania e para o desenvolvimento pessoal, contrastam com os modelos
tradicionais de educação que focavam essencialmente o indivíduo. Na nova
ordem educacional, a educação está atenta à lógica do mercado, bem como o
sistema económico à lógica da educação, a fim de que a Escola se torne
competitiva e auto-sustentável (Maranhão, 2001).
Houais e Villar (2001, citado por Mota, 2005: 36) definem:
1. Educação (p. 1110): acto ou processo de educar; qualquer estágio
desse processo; aplicação dos métodos próprios para assegurar a
formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser
humano, pedagogia, didáctica, ensino; conjunto desses métodos,
pedagogia, instrução, ensino; conhecimento, desenvolvimento resultante
desse processo, preparo;
2. Formação (p. 1372): acto, efeito ou modo de formar, construir, criação,
construção, constituição; maneira como uma pessoa é criada, origem,
educação; conjuntos de conhecimento habilidades específicos a um
determinado campo de actividade prática ou intelectual; conjunto dos
cursos concluídos e graus.
A educação inclui, para além de conteúdos que concorrem para a formação
profissional, outros aspectos com a finalidade do desenvolvimento pessoal,
100
enquanto que a formação está mais centrada no campo profissional. É
importante frisar que, em Portugal, é comum a utilização do termo “formação”
como indicação da “educação” no nível superior, sendo, portanto, comum a
referência de “formação superior” para os cursos de nível universitário.
Vale destacar a abordagem de Salgado (2007: 34), que reafirma esta
perspectiva, aproximando e integrando os conceitos de educação e formação,
quando aponta que
(…) a educação e a formação têm sido objecto de preocupações em
todas as sociedades e culturas tendo em consideração o lugar
determinante que ocupam na organização e na estruturação social,
numa perspectiva dicotómica, com a educação a assumir um
significado mais global, remetendo para todas as dimensões do agir
humano onde a formação contém um significado mais especifico e
mais próximo do processo produtivo. […] Em termos genéricos, a
educação é vista como um processo natural e espontâneo, inerente à
existência humana, e resulta da aquisição cumulativa de saberes e
competências de um sujeito, em situação de contacto com o seu
meio habitual. Também é diversificada, enquanto processo, porque
acontece em todas as idades e tem lugar em múltiplos contextos,
mediante a acção de diversos agentes formativos.
Como afirma Hegarty (1999: 6, citado por Salgado, 2007: 36),
formar é também educar, e vice-versa. Os dois conceitos possuem
características comuns mas a relação entre eles é complexa (…) o
equilíbrio depende de uma linha ténue que se estabelece entre o
desenvolvimento pessoal e a eficiência profissional.
Ao citar Adam Smith, em a Riqueza das Nações, Ramos (2002: 31) destaca a
conveniência de quase toda a população obter os conhecimentos essenciais
(ler, escrever, contar e rudimentos de geografia e mecânica), admitindo a
101
dualidade do poder da educação que tanto pode libertar quanto aprisionar,
conforme os processos. No caso da proposta de Smith (Ramos, 2002: 31),
a educação dos trabalhadores pobres teria por função discipliná-los
para a produção, proporcionando à maioria da população somente o
mínimo necessário para fazer do trabalhador um cidadão passivo
que, apesar de tudo, tivesse alguns poucos direitos.
4.2.2 Em torno dos conceitos de Qualificação Profissional e competências
Historicamente, a educação para o trabalho moldou, desde a Revolução
Industrial, os indivíduos a partir da infância, facilitando, assim, o
comprometimento com uma profissão básica e a geração de pouca capacidade
crítica. Contudo, a tendência para a universalização de técnicas básicas entre
as indústrias de ramos diferentes foi exigindo a necessidade do domínio de
conhecimentos e destrezas para que os trabalhadores se pudessem inserir em
qualquer profissão. Desta forma, as escolas passaram a assumir não somente
o papel de socialização, mas também de transmissão do saber técnico, o que
remetia para as escolas não apenas o papel de disciplinar, mas também o de
transmitir o domínio de um ofício (Pacheco, 2005; Maranhão, 2001; Ladkin,
2008; Ramos, 2002; Zarifian, 2003).
O acto de se qualificar estava relacionado com os métodos de análise
ocupacional, referindo-se a relação entre as características do posto de
trabalho e o perfil ocupacional do trabalhador, buscando, desta forma, o tipo de
qualificação que o indivíduo deveria ter para ocupar aquele cargo. Neste
processo, na óptica do posto de trabalho, a qualificação estava relacionada
com o saber acumulado que seria expresso através da execução das tarefas a
ele designadas. Já na óptica do trabalhador, mesmo não apresentando as
qualificações adequadas, poderia vir a obtê-las através de cursos de formação
profissional (Ramos, 2002).
Voltando a Mota (2005, e ainda citando Houais e Villar, 2001), os conceitos de
qualificação e qualificar, no contexto deste trabalho, surgem do seguinte modo:
102
1. Qualificação (p. 2345): acto ou efeito de qualificar; conjunto de atributos
que habilitam alguém ao exercício de uma função, cabedal;
2. Qualificar (p. 2345): considerar qualificado, apto, idóneo ou demonstrar
que possui qualidade; indicar a qualidade de, classificar, considerar.
Os conceitos de qualificação e de qualificar estão associados ao de qualidade
e, neste caso, a reunião de qualidades individuais. É preciso estar atento ao
facto de que, quando há referência a um indivíduo qualificado, há uma relação
directa com a educação e/ ou a formação adquirida ao longo da vida e, de uma
forma geral, o diploma (ou certificado) representa o atestado destas
qualificações.
Nesta perspectiva, tal como salienta Yorke e Knight (2003: 7), existe um
conjunto de objectivos – competências, conhecimentos e atributos pessoais –
que torna os graduados mais aptos a empregar-se e a obter sucesso na sua
ocupação, que pode trazer benefícios para eles próprios, para a empresa, para
a comunidade e para a economia.
Assim, Zafarian (2003) define que, enquanto a qualificação envolve os recursos
adquiridos pelo indivíduo por intermédio da formação ou do exercício de
atividades profissionais, tal como o conhecimento, as habilidades e o
comportamento, por exemplo, a competência consiste na utilização prática
desses mesmos recursos.
Em síntese, possuir competência implica ser capaz de mobilizar os próprios
recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar,
com pertinência e eficácia, uma série de situações (Perrenoud, 2000).
Ainda o mesmo autor, defende que a descrição das competências deve partir
da análise de situações, das acções e, posteriormente, da derivação do
conhecimento. O autor cita o contexto da formação profissional, na qual deve
haver uma análise da situação de trabalho de uma dada profissão e só depois
a elaboração de um referencial de competências, que fixa os objectivos da
formação (Perrenoud, 2000: 20).
103
A primeira grande crise socioeconómica que atinge o mundo neste século
serve para acentuar os problemas relacionados com o emprego, reafirmando a
importância de o indivíduo reunir competências para se conseguir manter no
emprego ou regressar ao mercado de trabalho em novas funções. As duas
hipóteses educacionais não se encerram apenas nas competências individuais,
mas num conjunto de variáveis internas (controláveis) e externas
(incontroláveis). Diante desta nova conjuntura, o que se pode afirmar é que se
verifica a necessidade do investimento individual em qualificação (e/ou
diferenciais), sendo esta a variável de controlo, de forma a aumentar a própria
empregabilidade (Zafarian, 2003).
Mas o que significa “ser empregável”? Qual a importância da formação
profissional, do desenvolvimento de competências, da experiência e do
desenvolvimento pessoal no âmbito do mercado laboral? Que implicações tem
o currículo no desempenho das funções profissionais?
4.2.3 Educação e Currículo
Os recursos humanos são o centro da prestação dos serviços, pelo que o
preparo dos profissionais para o desempenho das suas funções é fundamental,
na perspectiva da organização, para a qualidade e competitividade e, na
perspectiva pessoal, para o sucesso profissional e, em muitos casos, para a
realização pessoal (Baum, 2001; OMT, 2002)
Neste contexto, é interessante abordar o conceito de capital humano que,
segundo Ostrom (2000), consiste no conhecimento e nas habilidades que os
indivíduos trazem para as suas actividades e é formado, de forma consciente,
através da educação e treinamento e, inconscientemente, através da
experiência. Sendo assim, o capital humano é criado por intermédio da
mudança pessoal através das capacidades e habilidades que possibilitam que
se actue de forma distinta (Coleman, 2000; Fidgeon, 2010).
O conhecimento, as habilidades e o desenvolvimento de competências
ocorrem, informalmente, no decorrer da vida, ao longo das experiências vividas
104
de cada indivíduo e, formalmente, através do acompanhamento de um projecto
educacional, o que nos remete para a ideia do currículo.
Pacheco (2005) evidencia o conflito e a necessidade de conceituar e distinguir
o currículo e a instrução. Para o autor, o currículo consiste na orientação de
ensino, indicando o que deve ser aprendido. Já a instrução relaciona-se com
aquilo que deveria ser aprendido, correspondendo aos instrumentos e recursos,
através de modelos, métodos e técnicas de instruir.
Em relação aos conceitos de currículo e didáctica, enquanto o currículo está
ligado ao estudo dos processos e práticas pedagógicas institucionalizados, a
didáctica relaciona-se com os estudos dos elementos substantivos e nucleares
do currículo, tais como os objectivos, conteúdos, actividades, recursos,
avaliação. Este esclarecimento torna-se importante, visto que é comum a
associação do currículo ao conteúdo, ao programa dos processos de formação,
bem como a associação da didáctica ao processo de implementação dos
mesmos (Pacheco, 2005).
Ainda o mesmo autor, conclui que o currículo é um termo mais abrangente e
engloba questões institucionais e funções internas, como o quadro normativo
definidor do trabalho dos professores, e as funções externas, a relação da
escola com a sociedade, constituindo, assim, os parâmetros institucionais de
decisão e justificação do projecto educativo. Por outro lado, mesmo
reconhecendo que este é um conceito menos estável, o autor indica que a
didáctica corresponde à planificação, realização e avaliação do processo de
ensino – aprendizagem.
4.2.4 Modelo e desafios da Educação sem fronteiras
No contexto da globalização e, posteriormente, da criação de grandes blocos
económicos, como é o caso da União Europeia, é natural que, numa
determinada altura, os países tenham sentido a necessidade de adaptação de
aspectos importantes do ambiente social, como forma de viabilizar alguns dos
principais objectivos que levaram a esta aproximação. Se a aproximação entre
os países europeus possibilita, por exemplo, maior competitividade no mercado
105
global, por outro, exige uma série de adaptações por parte dos países
signatários. Princípios como a livre circulação de estudantes e profissionais no
espaço comum europeu necessitaram de reflexão e actuação num contexto
muito mais complexo do que simplesmente eliminar as fronteiras físicas
(Benelux Bologna Secretariat, 2010).
Em 1999, 29 países europeus assinaram a declaração de Bolonha, na qual era
estabelecido como objectivo a estruturação da educação superior europeia, de
forma coerente e coesa, até 2010. Em 2007, após a assinatura do Comunicado
de Londres, 46 países europeus já faziam parte deste processo (Benelux
Bologna Secretariat, 2010: 13).
Na fase do debate intergovernamental, houve convergência e as propostas
tornaram-se muito homogéneas. À medida que houve avanço para os níveis
nacionais e locais, cada país desenvolveu a sua própria legislação adaptada ao
processo de Bolonha, levando em consideração as diferenças e estruturas,
assim como diferenças na realidade social e política (Munar, 2007).
Quando o projecto completou uma década, os ministros europeus na área de
educação reconheceram que o espaço educacional europeu ainda não era
uma realidade totalmente conseguida. Foram, por isso, estabelecidas novas
prioridades para a década seguinte, além de reflectidas as acções realizadas
até então pelos países signatários (Benelux Bologna Secretariat, 2010: 13).
São assinalados progressos decisivos no âmbito da utilização dos créditos
(1998), a evolução para o sistema de ECTS (European Credit Transfer and
Accumulation System) (1999) e, posteriormente, a acumulação desses créditos
ao longo do percurso educativo (2003). Já no que respeita à organização
educacional em ciclos educativos (1998), destaca-se o conceito de educação
ao longo da vida (2001), e o desafio maior que é a estruturação dos Quadros
Nacionais de Qualificação (QNQ) (2009) (European Commission, 2002).
Não é possível, actualmente, abordar a educação superior deixando de lado
esta nova realidade que afecta não somente a relação entre os futuros
profissionais e o mercado, mas também introduz inúmeras e significativas
106
alterações no ensino em toda a Europa, de forma a torná-los coerentes e
compatíveis e possibilitando, assim, dentre outras coisas, facilitar a mobilidade
docente e discente.
O processo de Bolonha teve o ano de 2010 como prazo final de adaptação dos
cursos e trouxe consigo um conjunto de soluções e vantagens, mas também
críticas relativas à introdução de uma nova realidade nas instituições de ensino
superior e na vida dos estudantes e dos profissionais.
Vale, portanto, destacar que o sistema criado para tornar a rede educacional
transparente e compatível, no âmbito da graduação e da pós-graduação, está
baseado nas habilidades gerais e académicas, conteúdos e conhecimentos
básicos, sistema de acumulação de créditos (ECTS) e nos métodos de ensino,
de aprendizagem, avaliação, desempenho e qualidade (European Commission,
2002: 5-6).
Com “Bolonha”, foi reconhecida a importância do debate dos conceitos de
educação/formação, envolvendo os académicos, os licenciados e os
empregadores, ou seja, a visão da educação/formação sob a perspectiva de
cada um dos envolvidos (European Commission, 2002). É também destacado
neste documento que as contribuições por parte desses diferentes pontos de
vista se complementam umas às outras, permitindo a discussão de
competências académicas e profissionais ajustadas à perspectiva da
empregabilidade, da formação activa da cidadania e do desenvolvimento
pessoal.
A proposta de uma educação “aproximada ao mercado” suscita dúvidas e
problemas, causa ânimo e esperança. Com argumentos a favor e contra no
que diz respeito às propostas de curso, objectivos e filosofias mas desperta,
igualmente, o maior receio provocado pelo termo “globalização”, o receio da
homogeneização, da perda de características próprias, da produção
(educacional) em escala industrial. Em outras palavras, que a educação venha
a ser apenas uma “commodity” (Formica, 1996)
107
Contudo, esta ideia é refutada por Munar (2007). O autor acredita que estes
novos contornos no ambiente educacional nos remetem para o fenómeno da
globalização, sem, no entanto, serem sinónimos de estandardização, como
evidenciado no ponto de encontro entre o global e o local.
Para ilustrar tal constatação, destaca-se o trabalho da jornalista Carla Aguiar,
ao entrevistar diversos professores ligados a universidades e institutos
politécnicos em diferentes partes do país. O retrato da realidade portuguesa é
que a mudança está a acontecer, mas com uma preocupação maior em
cumprir as metas acordadas em termos de duração e estrutura dos cursos, não
havendo uma reflexão estruturada e global sobre a matéria (Aguiar, 2009).
Em conjunto com a proposta de fazer convergir os projectos educacionais nos
países aderentes, surgiu a necessidade de criar novos instrumentos e
terminologias, como o ECTS - o sistema de acumulação e transferência de
créditos que viabiliza a mobilidade- o suplemento do diploma e a Estrutura de
Qualificação Europeia (EQF), dentre outros instrumentos, como, por exemplo, o
modelo de apresentação curricular denominado Europass5 (Munar, 2007: 75).
Na perspectiva de Sellin (2007: 6, citando o Comunicado de Helsínquia, 2006),
a Comissão Europeia e o Conselho dos Ministros da Educação têm grandes
expectativas em relação ao QEQ (Quadro Europeu de Qualificação),
considerando que exercerá uma acção positiva, por exemplo: no aumento da
mobilidade para formação inicial e fins laborais; no aumento da
comparabilidade das qualificações; no fornecimento de melhores estatísticas
comparativas ao Eurostat6 no campo da educação e formação; no aumento da
transparência dos sistemas de educação, formação e qualificação nacionais;
no aumento da competitividade e da coesão social no espaço comum europeu.
5 Curriculum Vitae com base nas competências e qualificações, num modelo
uniformizado e compreensível em todo espaço europeu http://europass.cedefop.europa.eu/europass/home/hornav/Introduction.csp 6 Serviço Oficial de estatística da União Europeia (http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/about_eurostat/corporate/introduction)
108
É interessante observar os instrumentos QEQ e ECTS, segundo os seus
objectivos, como forma de compreender a contribuição de cada um deles para
este novo modelo educacional (tabela 6):
Tabela 6
Objectivos do QEQ e dos ECTS
Instrumentos
Objectivos
QEQ
ECTS
Transparência
Maior transparência das
qualificações e
aprendizagem ao longo da
vida
Maior transparência dos
títulos do ensino superior
Promoção do
espaço europeu
Tornar a Europa até 2010
a economia baseada no
conhecimento mais
dinâmica e competitiva
Atractividade
internacional do ensino
superior na Europa
Mobilidade
Explicitamente sem
relação directa nos
documentos analisados
Promoção da mobilidade
estudantil;
Desenvolvimento de
currículos internacionais.
Comparabilidade Comparabilidade das
qualificações
Comparabilidade dos
programas de estudo
Transferibilidade
(transferência,
acumulação)
Transferibilidade das
qualificações
Transferibilidade dos
pontos de crédito
Reconhecimento/
Validação
Reconhecimento e
validação da
aprendizagem não formal
e informal
Facilita o reconhecimento
académico
Cooperação
Promoção da cooperação
e reforço da base de
confiança entre os
respectivos actores
Promoção da cooperação
e da base de confiança
entre os estabelecimentos
de ensino superior
Fonte: adaptado de Dunkel e Le Mouillour, 2008: 207.
109
Os créditos ECTS representam o volume de trabalho por um ano/semestre
num determinado curso (Dunkel e Le Mouillour, 2008), sendo regulado, por
convenção europeia, que 60 créditos equivalem ao volume de trabalho de um
estudante a tempo inteiro durante um ano lectivo. Noutra perspectiva, cada
crédito ECTS corresponde de 25 a 30 horas de um curso a tempo inteiro que
contabiliza um total de 1500 a 1800 horas anuais. Desta forma, o volume de
trabalho e o tempo de aprendizagem estimado são os dois princípios que
compõem o sistema de créditos (Dunkel e Le Mouillour, 2008: 217).
Por outro lado, Bjornavold e Coles (2007) acreditam que o meio mais adequado
para coordenar os cursos de diferentes países é através dos QNQ. Devido à
importância para o desenvolvimento do QEQ, os QNQ são instrumentos
indispensáveis para a viabilização da política europeia de consolidação do
espaço europeu comum na área da educação, por constituírem um meio de
assegurar a comparabilidade das qualificações nacionais.
Bjornavold e Coles (2007: 228) definem os Quadro de Qualificações como
(…) uma seriação de qualificações de acordo com um conjunto de
critérios de definição dos níveis de aprendizagem alcançados (No
âmbito nacional, um QNQ é considerado) um instrumento concebido
para a classificação de qualificações segundo um conjunto de
critérios para níveis específicos de aprendizagem atingidos, visando
integrar e coordenar os subsistemas nacionais de qualificações e
melhorar a transferência, o acesso, a progressão e a qualidade das
qualificações em relação ao mercado de trabalho e à sociedade civil.
Dentre os principais objectivos dos QNQ, estão (Bjornavold e Coles, 2007: 229,
citando Coles, 2006):
Estabelecer normas de âmbito nacional para os resultados das
aprendizagens (competências);
Fomentar a qualidade da educação e da formação através da regulação;
Funcionar como matriz da correlação entre qualificações;
110
Promover o acesso à aprendizagem e, no âmbito desta, a transferência
e a progressão.
O QEQ possui oito níveis de qualificações (Tabela 7), especificando, de forma
resumida, características pessoais e profissionais, entre outras. O nível 1
corresponde à conclusão da escolaridade obrigatória, ao passo que o nível
mais elevado, o 8, corresponde à conclusão de uma tese de doutoramento.
Nota-se que o foco é nos resultados de aprendizagem e estes são mensurados
com base nos conhecimentos, aptidões e competências adquiridos (Sellin,
2007: 6).
111
Tabela 7
Quadro Europeu de Qualificações
112
113
É importante atentar nos conceitos fundamentais inseridos no QEQ, no qual os
referenciais se baseiam nos conhecimentos teóricos e/ou factuais; as aptidões
podem englobar as cognitivas (pensamento lógico, intuitivo e criativo) e as
práticas (destreza manual e uso de métodos, materiais, ferramentas e
instrumentos; competência, conceito associado ao nível de responsabilidade e
autonomia) (Sellin, 2007: 17).
O QNQ funciona no sentido de garantir os níveis de qualidade, validação e
orientação, através de um ponto de referência nos sistemas de qualificação.
Desta forma, os QNQ são instrumentos para viabilizar a comparabilidade das
qualificações entre sistemas e quadros de referência nacionais e sectoriais. Na
sequência da aprovação e implementação do QEQ, actualmente, os Estados-
membros estão em fase de implementação e consolidação deste instrumento
ao nível nacional.
No âmbito do Estado português, o Sistema Nacional de Qualificações (SNQ)
engloba todas as entidades do sistema de ensino, sobretudo o ensino superior.
Vale destacar a criação da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), em
2007, reunindo as competências da Direcção-Geral de Formação Vocacional
(Ministério da Educação) e do Instituto para a Qualidade na Formação
(Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social) (DGES, 2011).
Considerada a necessidade de adequar o ensino superior português à ordem
educacional definida em Bolonha, foram tomadas medidas legislativas e
políticas que permitiram a realização desta reforma e enquadramento no QNQ
(DGES, 2011). A reestruturação do ensino superior, conforme os parâmetros
estabelecidos em Bolonha, iniciou-se em 2005, ajustando-o à criação do
Espaço Europeu para o Ensino Superior. Posteriormente, foi alterada a Lei de
Bases do Sistema Educativo e definido o quadro genérico de qualificações,
organizado em 3 ciclos de estudo. Este modelo já vigora em Portugal desde
2009/2010. Numa fase seguinte, foram definidos os descritores genéricos de
qualificação, por ciclo, tendo por base as competências adquiridas. Em 2006, o
sistema português de ensino superior foi submetido à avaliação internacional,
do que resultou um relatório com recomendações da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Económico), publicado em 2007. Também
114
neste ano foi apresentado o quadro orientador e os princípios de orientação do
sistema de ensino. (DGES, 2011) (Figura 10).
Figura 10
Desenvolvimentos do Quadro Nacional de Qualificações
no âmbito do Ensino Superior
Fonte: DGES, 2011
115
Markowitsch e Luomi-Messerer (2007: 47) apontam que a orientação para as
competências surge de uma interpretação incorrecta do QEQ, concentrada no
que os formandos são capazes de fazer e deixando de lado duas outras
variáveis importantes: os saberes e aptidões.
Acerca da hierarquia profissional, a quarta coluna na tabela do QEQ (tabela 7)
descreve as responsabilidades e autonomia nos níveis educacionais, fazendo
referência aos contextos funcionais ou organizacionais e o modo como estes
podem ser identificados no mundo do trabalho (Markowitsch e Luomi-Messerer,
2007).
Em relação à hierarquia da aquisição de aptidões ou desenvolvimento de
competências, o QEQ tem foco nos resultados de aprendizagem, em forma de
indicadores como conhecimentos, aptidões e competências. Apesar de não ser
o objectivo, o QEQ permite a descrição individual de aptidões e competências,
aproximando-o de uma hierarquia de aquisição ou a sua classificação, podendo
esta última ser no nível técnico ou em termos de conteúdo. Entretanto, para a
especificação técnica ou de conteúdos são necessárias análises do ambiente
do trabalho, tal como apresentada no modelo VQTS (sistema de transferência
de qualificações profissionais), no qual são determinadas competências e o seu
desenvolvimento, tomando por base as actividades profissionais investigadas.
Como explicam Markowitsch e Luomi-Messerer (2007: 55 - 57), neste modelo,
desenvolvido no âmbito do projecto Leonardo da Vinci, várias vezes premiado,
“Vocational qualification transfer system” (VQTS), são determinadas
competências e o seu desenvolvimento com base em actividades profissionais
empíricas investigadas. Estas competências e as suas fases de
desenvolvimento são formuladas em relação ao processo de trabalho. Uma
matriz de competências representa as tarefas centrais (domínios de
competência), numa área profissional especial, e a progressão do seu
desenvolvimento (fases de desenvolvimento das competências) de forma
estruturada num quadro. Com a ajuda desta matriz de competências, as fases
de desenvolvimento a atingir, no quadro de uma formação, ou as fases já
percorridas por uma pessoa num determinado momento podem ser
organizadas num perfil de competências. Este instrumento pode ser utilizado,
116
nomeadamente, para comparar as qualificações entre si e, provavelmente,
também para facilitar a classificação em quadros de qualificação.
O modelo VQTS foi desenvolvido entre 2004 e 2006 e tem como objectivos: a
transferência vocacional de competências; transferir e reconhecer as
competências adquiridas no treinamento vocacional e educacional, assim como
as competências adquiridas no ensino não-formal e informal; desenvolvimento
de qualificações; composição de perfil de trabalho; melhoria da visibilidade das
diferenças das qualificações (VQTS, 2010).
Como parte do modelo VQTS, é proposta a descrição estruturada das
competências, o que inclui a elaboração de uma matriz relativa ao trabalho
numa área ocupacional específica. Esta matriz de competências é elaborada
com base no debate que envolve especialistas da área em questão, na qual
são temas centrais as competências de trabalho para determinados campos
vocacionais (VQTS, 2010).
4.3 Educação Superior em Turismo
Assim como em outras áreas, o profissional de turismo deve reunir um conjunto
de conhecimentos, habilidades e competências específicos para que seja
possível um adequado desempenho das suas funções, sendo que, no caso da
presente investigação, essas funções são as de planeamento turístico. Esta
matéria remete para o principal objectivo desta tese, que é relacionar as
funções de planeamento ensinadas nas Escolas de Ensino Superior em
Portugal com a sua prática nos destinos turísticos, a fim de conhecer os níveis
de interacção efectivamente verificados.
Em relação à área de planeamento turístico, os profissionais com formação
superior em turismo reúnem, teoricamente, as competências técnicas,
cognitivas, sociais e relacionais que traduzem o perfil adequado ao
desempenho das funções que com ele se relacionam (IQF, 2005). Sem
prejuízo disso, é importante reflectir e compreender o contexto em que esse
ensino, de facto, se realiza.
117
4.3.1 O Turismo como Disciplina Científica
Apesar dos grandes avanços na área de turismo, muitas são os debates em
torno da legitimidade do turismo como disciplina científica. Estes debates
acabam por enveredar por temas como a interdisciplinaridade e
multidisciplinaridade, o que dá margem a muitas das divergências. Grandes
acontecimentos mundiais que afectaram a indústria do turismo também o
evidenciaram, no início do século XXI, ocasionando o que muitos autores
nomeiam de consciência ou interesse público. (Jafari, 2005:1; Hall, Williams e
Lew, 2004, OMT, 2002).
Na década de sessenta do século passado, por exemplo, o turismo vivenciou
um crescimento enquanto objecto de estudo autónomo, matéria de estudo de
diplomação, graduação e pesquisa, impulsionado por factores como o aumento
do número de turistas ao nível global, a partir do final da Segunda Guerra
Mundial; o aumento da oferta turística, que ocasionou a expansão dos serviços
turísticos como companhias aéreas, redes hoteleiras, operadoras de viagem; e
da especialização dos voos comerciais (Airey e Tribe, 2005).
Toda a segunda metade do século XX foi de grande progresso para o turismo,
que hoje se apresenta como uma das principais indústrias mundiais; assume
uma enorme importância ao nível global e o seu rápido desenvolvimento
impulsionou a criação de um corpo doutrinal interdisciplinar que pretende
abordar o turismo no seu planeamento e desenvolvimento, além de nas suas
diversas fases e níveis, sejam estes locais, regionais ou internacionais (Jafari,
2005).
Jafari (2005) afirma que o turismo é hoje considerado por muitos como uma
área legítima e importante para a investigação e que os estudos e debates
acerca do turismo no passado, no presente e no futuro contribuem para um
turismo mais sustentável e sustentado, gerando benefícios para todos os
envolvidos, sejam eles as empresas privadas, agências públicas, os turistas, os
residentes, etc. Numa análise ao processo de evolução do turismo como
ciência, o autor aponta que o turismo possui hoje quase todas as propriedades
118
e ferramentas geralmente associadas aos campos de investigação mais
desenvolvidos.
Hall et al (2004:28), numa reflexão acerca da revisão da geografia anglo-
saxónica elaborada por Johnston (1991, citado por Hall et al, 2004: 28),
identificam as características essenciais de uma disciplina, a saber:
1. Uma presença bastante firme nas universidades e escolas superiores,
incluindo a nomeação de cargos docentes;
2. Estruturas formais de associações académicas e departamentos
universitários;
3. Vias para publicações académicas, em termos de livros e revistas.
Em analogia ao turismo, Hall et al (2004: 29) concluem que o conjunto de
características referido é, no período actual, amplamente aplicável ao turismo,
em escala global, com expansão significativa nos três itens abordados por
Johnston a partir da década de setenta do século passado.
Existem vários outros autores que validam a ideia de o turismo se configurar e
afirmar como disciplina científica e com características interdisciplinares e
multidisciplinares (Airey e Tribe, 2008, Jafari, 2005; Hall et al, 2004; Tribe, 1997;
OMT, 2002).
Na abordagem discutida por Tribe (1997: 638), no actual contexto de evolução,
expansão e profundidade das investigações em turismo, a sua credibilidade
académica e a sua força nos âmbitos económico, social e político reforçam a
exigência de mais conhecimento e produção de ciência no contexto turístico.
4.3.2 Conteúdos e Competências na área do Turismo
Apesar de o objectivo central desta tese se situar próximo, não é nosso
propósito elaborar uma proposta de modelo curricular para a formação superior
em turismo. De qualquer modo, a literatura e o mercado de trabalho
119
reconhecem competências fundamentais para o exercício das profissões, pelo
que a sua apresentação e discussão possibilitarão a posterior reflexão acerca
das propostas curriculares dos cursos superiores em turismo com foco na
gestão e planeamento.
As características de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade têm marcado
fortemente a forma como os cursos de turismo são estruturados, os tipos de
pesquisa, as características dos professores, a saída profissional, dentre outros.
É muito comum, por exemplo, cursos com perspectivas muito amplas, o que
aumenta o número de opções de saídas profissionais. Por outro lado, essas
opções curriculares diminuem o foco da formação (Hobson, 1995; Hjalager,
2003; Busby, 2003).
O rápido crescimento da oferta de cursos de turismo despertou o interesse
académico nesta área. Investigadores de diferentes disciplinas aplicaram os
seus conhecimentos e metodologias, consubstanciando a característica da
multidisciplinaridade do turismo. Além disso, a própria constituição da
actividade turística estimula que os académicos que se interessam por ela
recorram a mais de uma disciplina de base, o que lhes determina uma
condição de natural interdisciplinaridade (Airey, 2008:43 in Airey e Tribe¸
Hobson, 1995; Mayaka e Akama, 2005; Busby, 2003).
Airey (2008:44) defende que a oferta de cursos de turismo é essencialmente
profissionalizante e orientada para as empresas, facto que justifica a grande
procura dos estudantes por estes cursos. No entanto, o autor evidencia que a
excessiva ligação à prática profissionalizante não irá fornecer mais do que uma
reflexão acerca do mundo do trabalho; um grande distanciamento do sector de
turismo das práticas de investigação e produção de novo conhecimento é um
aspecto negativo para a educação em turismo, pelo que a aposta deverá situar-
se algures num ponto entre estes dois extremos.
Airey e Tribe (2008:58, citando Bums, 1992) destacam as orientações da
educação em turismo voltadas para a necessidade e para o mercado. A
proposta de orientação voltada para a necessidade visa desenvolver o currículo
em turismo no contexto social, cultural e económico do destino no qual está
120
inserido, levando em conta, também, as necessidades dos estudantes, bem
como da indústria do turismo. Compartilhando desta posição e atentos aos
efeitos da globalização, Lewis e Tribe (citado por Airey e Tribe, 2008: 58)
defendem a necessidade do currículo da educação em turismo reflectir
“singularidade, cultura e história”, ou seja, estar relacionado com a realidade
local.
A dificuldade de entendimento entre os cursos de turismo e as empresas é
evidenciada por desajustes detectados no mercado de trabalho. Muitos
profissionais com formação dentro e fora da área de turismo são recrutados e
só depois treinados nas habilidades específicas que não foram desenvolvidas
nos seus programas de estudo. Esta situação permite que Cooper e Westlake
(1998, citado por Molina e Cervera 2008: 61) concluam que os cursos de
turismo (ou todos aqueles que para ele queiram concorrer) precisam
demonstrar eficiência, flexibilidade e responsabilidade para com os
stakeholders.
Barreto, Tomio, Sgrott e Pimenta (2004) defendem que a academia é um lugar
para reflexão e não deve voltar-se para o aspecto técnico das profissões,
deixando esta condição para os cursos profissionalizantes; na opinião destes
autores, os cursos de turismo devem promover o pensamento crítico e analítico
da actividade turística, proporcionando uma visão sistémica e holística. Sendo
assim, os autores diferenciam as funções na indústria turística e na pesquisa
científica ao referir que
trabalhar ou ser profissional de turismo é desempenhar alguma
função dentro dos vários componentes da oferta turística, prestando
serviços para equipamentos turísticos, ou fazendo parte da
superestrutura jurídica administrativa responsável pelo planejamento,
execução e controle da dita oferta, pela criação de atrativos ou pela
utilização dos existentes, sejam eles naturais ou culturais. Já estudar
turismo é lançar um olhar, a partir de alguma disciplina específica,
sobre o fenômeno turístico e suas implicações, as relações entre o
turista e a população visitada, os impactos da chegada de
contingentes de não residentes no meio ambiente no seu sentido
amplo, que abrange natureza e cultura.
121
Um outro facto que também pode ser citado é a diversidade de áreas
profissionais de algum modo relacionados com o turismo, as quais, muitas
vezes, se distanciam muito em termos de formação e actuação, como, por
exemplo, o planeador em turismo e um profissional que desenvolva actividade
na área de Alimentos e Bebidas. Muitas instituições de ensino optam por
oferecer um conjunto base de disciplinas e, a partir de uma determinada altura,
convidam à opção por disciplinas da área profissional a seguir. Se estruturada
de forma adequada, esta é uma forma de oferecer a diversidade de propostas
dentro da complexa área do turismo, considerando, também, a viabilidade
financeira dos cursos.
No âmbito mais restrito do objectivo desta tese, deve ter-se em consideração
quais os conhecimentos, habilidades e competências imprescindíveis para um
profissional que desenvolve funções na área de gestão e planeamento turístico.
Antes de confrontar a situação da formação superior nesta área, é pertinente
destacar que o IQF (2005, p.119), analisando a necessidade da criação de
serviços e produtos turísticos integrados, reconhece a necessidade da
existência de uma função no sector de turismo que seja responsável pelo
planeamento, concepção, desenvolvimento e promoção de produtos com
interesse turístico, de forma a incrementar, fomentar e promover o turismo da
região, função essa que deve desenvolver trabalho de forma articulada com as
de outros profissionais de áreas correlacionadas ao turismo. O IQF considerou,
portanto, que a efectivação da gestão e planeamento do turismo ainda carece
de melhor quadro de referência e desenvolvimento.
Para o desempenho desta função, o IQF (2005: 119) defende que o
profissional deve reunir competências como: análise e apreensão dos
mercados (identificação das tendências de evolução do mercado turístico
nacional e internacional, novas motivações, novas necessidades, inovação no
produto, estudo da viabilidade de investimento em novos pacotes turístico);
definição e operacionalização de estratégias de marketing e promoção de
122
produtos turísticos com reforço das competências em estratégia, marketing e
vendas.
Além disso, o mesmo Instituto complementa que, para actividades relativas ao
desenvolvimento regional, são necessários, ainda, conhecimentos de economia
local, produtos e serviços disponíveis ou a desenvolver, além de marketing,
política ambiental e ordenamento de território. Também fundamentais para a
concepção de produtos turísticos locais e regionais são os conhecimentos em
etnografia, história, cultura, património, ambiente e actividades culturais e
artesanais locais.
No que se refere às competências sociais e relacionais, o profissional deve
possuir capacidade para desempenhar a função de facilitador dos agentes
locais e regionais, dinamizador entre agentes, gestor de parcerias, de
comunicação, dos saberes interpessoais, de cooperação e negociação (IQF,
2005).
Em suma, o IQF (2005: 119) define como competências para o desempenho de
actividades profissionais no âmbito do planeamento e desenvolvimento turístico:
Conhecimentos da actividade turística, suas actividades e tendências de
mercado;
Conhecimentos dos diversos tipos de turismo (rural, ambiental,
gastronómico, cultural,etc.)
Conhecimentos dos diversos produtos turísticos;
Conhecimentos da economia local, regional e nacional;
Conhecimentos de política ambiental e de ordenamento do território;
Conhecimentos de desenvolvimento sustentável;
Conhecimentos de marketing territorial;
Conhecimentos de marketing turístico;
Conhecimentos de etnografia, história, cultura, património, gastronomia
e artesanato;
Conhecimentos em gestão de projectos e análise da sua viabilidade
económica;
Conhecimentos de gestão da procura turística;
123
Conhecimentos de promoção e divulgação de produtos turísticos;
Capacidades de facilitação, cooperação;
Capacidade de dinamização e gestão de parceiras;
Capacidade de negociação;
Capacidade de comunicação.
Rezende e Castor (2005: 18-19) definem a figura do gestor como uma função
ou um papel e não um cargo ou profissão, e afirmam que as habilidades
requeridas para a função estão compreendidas em três grandes competências:
recursos humanos; serviços, processos ou actividades ou projectos; e recursos
diversos, como, por exemplo, domínio dos aspectos tecnológicos, financeiros,
materiais, gestão do tempo, etc.
As habilidades técnicas podem vir a ser adquiridas na formação do profissional,
através de cursos académicos ou similares, estando estas relacionadas com as
metodologias a serem empregues, as ferramentas e recursos tecnológicos. As
habilidades de serviços são relacionadas com a experiência profissional
adquirida ao longo do desempenho da função, englobando funções de
administração, de processos, procedimentos, idiomas, etc. Já as habilidades
humanas ou relacionais são adquiridas ao longo da vida social e pessoal de
cada indivíduo, da educação, cultura, filosofia de vida e com os
relacionamentos pessoais e corporativos (Rezende e Castor, 2005: 18-19).
O currículo em turismo enfrenta dois desafios fundamentais: a escolha de quais
os aspectos do turismo que serão estudados; e quais os conhecimentos que
serão utilizados para a abordagem destes aspectos (Tribe, 2008a: 79).
Airey e Tribe (2008: 78) definem currículo “como um programa completo de
experiências educacionais, organizadas como um curso de graduação. As suas
partes constituintes envolvem diversos módulos ou disciplinas, os quais, por
sua vez, podem ser especificados como uma série de conteúdos de curso.
Com isso, propõe-se um conceito mais amplo de espaço curricular, para captar
tanto o que é ensinado quanto o que é excluído.
124
Tribe (2008a: 84), baseado na proposta de diversos autores (Tyler, Eraut, Goad
e Smith, Rowntree, Manwaring e Elton), sugere uma sequência para
elaboração do projecto curricular: estabelecimento do fundamento lógico;
realização da pesquisa de mercado e consultas de mercado; definição dos
propósitos e objectivos; estabelecimento da estrutura modular; selecção dos
módulos; definição dos resultados de aprendizagem por módulos; definição da
estratégia de ensino e aprendizagem; desenvolvimento do sistema de
validação, avaliação, revisão e aperfeiçoamento. Para avaliação, o autor
sugere que sejam respondidas questões relativas à coerência do currículo, à
amplitude, ao equilíbrio, à integração entre os diversos módulos, à progressão
de conteúdos.
Com base num estudo apresentado no Reino Unido, em 2000, no qual são
definidos os padrões de referência para os cursos de turismo, Tribe (2008a: 86
- 87) relaciona as seguintes áreas básicas de estudo: conceitos e
características do turismo como área de estudo académico e aplicado;
natureza e características dos turistas; estrutura e interacções da indústria do
turismo; papel do turismo nas comunidades e ambientes afectados.
Com base nesta proposta, a comunidade académica, com o aval da Quality
Assurance Agency (QAA – Agência de Garantia de Qualidade, para a
Educação Superior), definiu as directrizes de conteúdo para os cursos de
turismo (Airey e Tribe, 2008a: 36).
Tribe (2008a: 86-87) analisa esta abordagem atribuindo-lhe como principal
ponto forte o equilíbrio dos enfoques, não sendo demasiado profissionalizante
ou científico, além do facto de que o conhecimento disciplinar, as comunidades,
os ambientes e a ética terem recebido o devido valor. Como ponto fraco, o
autor destaca que a teoria e a metodologia não estão em primeiro plano, bem
como o risco da limitação da oferta curricular por parte das instituições de
ensino, podendo causar a homogeneização dos cursos.
Tribe (2008b: 90 – 91) desenvolveu uma proposta curricular na área de turismo
que abrange quatro domínios principais: actuação profissional, reflexão
125
profissional, reflexões sobre cultura geral e acções relativas à cultura geral.
Com esta estrutura, o autor considera que
os profissionais filosóficos seriam graduados que prestariam serviços
eficientes e efetivos em turismo, os quais procurariam entendimento
abrangente do fenómeno turístico enquanto também cumpririam o
papel da gestão para o desenvolvimento de um mundo turístico mais
amplo, no qual esses serviços são prestados. […] Assim, por
exemplo, o marketing de um local de destino ou de uma atração
turística, bem como a gestão de um hotel ou de um restaurante,
envolvem atuações profissionais. Os propósitos e objectivos da
atuação profissional são definidos como preparação para a
efetividade no trabalho. No aspecto da reflexão profissional do
espaço curricular de Tribe, enfatiza-se a reflexão, a avaliação e a
modificação das habilidades e do conhecimento da indústria do
turismo. O desenvolvimento do conhecimento individual ou pessoal é
estimulado, uma vez que se trata do conhecimento desenvolvido com
base na experiencia e na atuação no mundo.
Stergiou (2008: 391) considera que Airey e Tribe contribuíram muito no campo
curricular do turismo, confirmando a natureza profissionalizante da oferta regida,
fundamentalmente, por objectivos empresariais, gerenciais e instrumentais. O
mesmo autor (2008: 391 - 392) acredita haver sólidos argumentos a favor da
educação profissionalizante em turismo, visto que esta atende, pelo menos no
curto prazo, às necessidades dos empregadores, estudantes e educadores; por
outro lado, o autor reconhece a existência de outros factores importantes,
definindo a educação com cunho profissionalizante como imediatista. Neste
contexto, argumenta, ainda, que a educação deve ter uma proposta para
atender às necessidades futuras, ultrapassando a abordagem da prática
profissionalizante rumo a um projecto educacional que estimule a competência
profissional.
De acordo com Tribe (2002c), o profissional filosófico é formado com um
currículo abrangente que atende às necessidades do mercado de trabalho, do
126
público final e também ao bem-estar económico e social, desempenhando as
suas funções de forma activa e, ao mesmo tempo, agindo de forma crítica.
A proposta resultante da investigação de Stergiou (2008) sustenta-se numa
educação superior em turismo que ultrapasse a proposta de educação para a
indústria e emprego imediato ou se apegue, simplesmente, a factos e
realidades existentes. Assim, a educação em turismo, segundo a sua
perspectiva, deve envolver numa aprendizagem baseada em pesquisa, nas
actividades apoiadas pelos pares, na utilização criteriosa de estudos de caso,
em exercícios e projectos em grupo e trabalhos de conclusão de curso. No
entanto, o autor considera um equívoco que, tratando-se da educação em nível
superior, os elementos profissionalizantes, ensino de habilidades e
desenvolvimento de competências sejam desprezados em detrimento das
exigências individuais e sociais relativas à busca de aprendizagem e
conhecimento para a efectividade do trabalho (Stergiou, 2008: 397).
No que toca à educação em turismo, Munar (2007: 72, citando Airey, 2006)
acredita que o grande crescimento neste sector deve-se a um conjunto de
mudanças estruturais na educação superior, a saber: o contexto do
desenvolvimento da educação vocacional; a compreensão da educação como
forma de manter uma vantagem competitiva; a tomada de consciência, por
parte dos estudantes, do aumento do potencial de empregabilidade, consoante
o seu nível de estudo; um conjunto de políticas que promoveu a competição
entre as instituições de ensino superior; reconhecimento, por parte das
instituições de ensino, de que o curso de turismo é um meio fácil de aumentar o
número de estudantes quando comparado com outros cursos; além do grande
crescimento da actividade turística por todo o mundo.
Salgado (2007:169, citando King, 1994: 271) define que o objectivo do curso
superior de turismo é preparar para uma carreira que começa no nível de
supervisão e progride até ao de gestão e que, entretanto, não prepara
especificamente para um sector do turismo mas para a função de supervisão e
gestão. Na tabela 8, são apresentadas as principais funções dos profissionais
de turismo e respectivos cargos profissionais ocupados no sector público.
127
Tabela 8
Síntese das figuras profissionais
Subsector Funções Figuras Profissionais
Sector Público Administração Turística Técnico de análise de projectos
Promoção Turística Promotor de turismo
Informação Turística Recepcionista/ técnico de informação
turística
Fonte: Salgado (2007: 197) citando Ferreira (1991: 24-25) (adaptado)
Churchward et al. (2002: 78, citado por Salgado, 2007: 202) examinaram o
conteúdo de cada profissão do turismo, num esforço para determinar a relação
da indústria turística com a formação profissional, tendo identificado que as
áreas de conhecimento mais valorizadas pelos profissionais estão associadas
à gestão do turismo (tabela 9).
128
Tabela 9
Áreas de conhecimento requeridas no trabalho (por ordem de frequência)
Posição Variável Frequência
N=153
1 Marketing 61
2 Recreio e Lazer 50
3 Negócios e Finanças 42
4 Economia 27
5 Gestão de Recursos Humanos 18
6 Administração Hoteleira 17
7 Planeamento Regional e Urbano 15
8 Educação 14
9 Tecnologias de Informação
Geografia
13
13
10 Transportes 7
11 Sociologia
Psicologia
6
6
12 Antropologia 4
13 Agricultura e Desenvolvimento
Agrário
3
14 Ciência Política
Direito
2
2
15 Ecologia 1
Fonte: Salgado, 2007: 202, citando Churchward et al., 2002:81
Com a finalidade de adequar o ensino em turismo, em Espanha, às exigências
de Bolonha, em especial a mobilidade e a empregabilidade, a ANECA (Agência
Nacional de Evaluación de la Calidad y Acreditación) (2004: 185-205, citado
por Salgado, 2007: 223) desenvolveu um documento intitulado de “Título de
Grado en Turismo”, no qual articula os conteúdos em blocos de matérias que
se relacionam com a lista de competências necessárias para uma graduação
em turismo.
Este documento, pioneiro na transição do modelo anterior ao contexto
acordado com o Tratado de Bolonha, reconhece a diversidade do mercado
129
laboral em turismo e, portanto, a complexidade que isso implica no âmbito da
formação, ora tendendo ao generalismo, ora tendendo à especialização. No
entanto, o relatório sugere que o mercado pede, de forma crescente,
formações mais especializadas, sendo, contudo, possível encontrar desde
ofertas formativas com primeiros ciclos mais generalistas, seguidos dos
segundos ciclos mais especializados, como o caso da França, até ofertas mais
flexíveis que oferecem uma vasta opção de disciplinas para o aluno seleccionar
o perfil desejado, como o caso do Reino Unido (Aneca, 2004: 59).
A Aneca reconhece, também, a mudança no mercado do turismo, que passa a
valorizar o profissional com formação em gestão e planeamento do turismo e a
considerar estas áreas como de “perfis básicos”. Em outras palavras, considera
que qualquer profissional de turismo deve ter conhecimentos nestas áreas e
afirma que (Aneca, 2004: 67)
por otra parte, es común a todos los perfiles [profissionais] formar un
gestor: gestor de empresas y gestor de planificación (turística o de
actividades o de recursos). Es cierto que el primer perfil ha ido
repitiéndose en los otros planes de estudios y tiene una larga
tradición docente, respaldada por la experiencia de las Diplomaturas
y Licenciaturas de empresariales, mientras que el segundo perfil
queda diluido dentro de numerosos campos del saber y sin práctica
anterior porque es una especialidad que también ha entrado
recientemente en el mundo universitario y laboral.
Uma adequada compreensão das diversas actividades que compõem o turismo,
enquanto um dos principais fenómenos globais, é necessária para o
planeamento curricular e desenvolvimento de curso; por um lado, Airey (2008:
372) acredita que, apesar das tentativas de diferenciação, os currículos dos
cursos de turismo permanecem muito semelhantes. Por outro, Salgado (2007:
298) conclui que
os planos curriculares dos cursos são diversificados, mas,
normalmente, incluem um conjunto de cadeiras nucleares no domínio
130
da gestão: contabilidade, gestão financeira, gestão comercial,
marketing e gestão de recursos humanos, bem como cadeiras
específicas da área hoteleira: gastronomia, enologia, gestão de
alojamentos, animação turística; legislação do turismo; e inclui
cadeiras de base e/ou complementares, como línguas estrangeiras,
informática, matemática, direito ou economia.
Esta abordagem acaba por confirmar que os cursos de turismo estão inclinados
para o aspecto profissionalizante, ficando isso ainda mais evidente nos cursos
que dedicam períodos para colocação profissional na indústria do turismo
(Airey, 2008: 372).
No caso de Portugal, o turismo possui significativa importância no sistema de
ensino superior, apresentando uma grande diversidade de objectivos e saídas
profissionais dos cursos. Na perspectiva da oferta formativa, Salgado (2007:
343) defende que os planos curriculares devem abordar de forma equilibrada
as Ciências Sociais e as Ciências Empresariais, além das línguas estrangeiras
e do conhecimento em turismo, bem como outras áreas importantes para a
orientação curricular do curso.
4.4 Enquadramento da Formação Superior em Turismo em Portugal
A organização do sistema de ensino no nível superior em Portugal conta com
uma rede de instituições públicas (35) e privadas (94) com um total de 400 mil
alunos, num sistema organizado conforme a figura 11 (DGES, 2011).
131
Figura 11
Organograma do Sistema de Ensino Superior Português de acordo
com os Princípios de Bolonha.
Fonte: DGES, 2011
Em relação ao nível educacional, aquele que interessa a este estudo e que
será analisado de forma mais aprofundada é a licenciatura, tanto do ensino
politécnico, como universitário. A maioria dos cursos de turismo em Portugal é
oferecida pelos Institutos Politécnicos, através das licenciaturas (1º ciclo) ou
mestrados (2º ciclo), com a possibilidade de vir a cursar os dois ciclos de modo
integrado. O primeiro ciclo apresenta, habitualmente, uma abordagem mais
generalista, enquanto no segundo ciclo são apresentados conteúdos e
132
desenvolvidas competências de carácter mais especializado (Salgado, Martins
e Gomes, 2011).
Como já foi antes referido, um dos objectivos específicos desta investigação é
a contextualização da formação superior em turismo em Portugal, tendo em
vista a relação entre as funções de planeamento turístico ao nível local com a
formação superior em turismo, de forma a conhecer os níveis de interacção
entre escola - destino, bem como a capacidade de actuação dos profissionais
formados para exercerem funções de planeamento. Desta forma, o que
julgamos necessário reunir e analisar acerca do ensino superior em Portugal é:
1) A forma como está organizado o ensino superior em Portugal – uma
vez que esta informação ajuda a compreender o papel do profissional formado
nestes cursos, situa a pesquisa e contextualiza o ensino superior;
2) A oferta formativa na área de turismo, neste nível de ensino –
identificando geograficamente as instituições de ensino, o plano de estudos,
bem como outras informações relevantes relativas à formação ou saída
profissional.
Da definição dos perfis profissionais em turismo para os quais é exigível
formação de nível superior, destacamos as referências incluídas na tabela 10.
Tabela 10
Perfis Profissionais
Sub-áreas Perfil Subsistema Prescritores dos principais actos
Turismo Técnico de Turismo
(generalista)
Universidade
e Politécnico
Coordenação e operacionalização
de actividades/ operações turísticas
em instituições públicas e privadas
Técnico de Turismo
(especialista)
Universidade
e Politécnico
Concepção, organização e gestão
de operações turísticas
especializadas
Fonte: adaptado de Salgado (2007: 347), citando Gonçalves et. al. (2005: 6).
133
A crescente oferta dos cursos de turismo pelo mundo, e mais especificamente
em Portugal, surge em resposta à progressiva importância da actividade no
contexto económico. A qualificação dos recursos humanos em turismo surge,
desta forma, como resposta às crescentes necessidades do mercado de
trabalho.
Apesar do reconhecimento da necessidade de novos profissionais qualificados
no mercado, são muitas as dúvidas acerca da sua adequada formação no
contexto educacional e, no caso desta tese, no contexto educacional português
no nível da educação superior em turismo.
Do total de 74 cursos superiores de turismo portugueses (considerando o
ensino público e privado, universitário e politécnico (Direcção-Geral do Ensino
Superior, 2011), foram analisados os cursos que incluíam na saída profissional
o desempenho de actividades nas autarquias, actividades de consultoria,
gestão ou planeamento do turismo. Os cursos analisados foram 33, o que
totaliza 44,6% de toda a oferta formativa do ensino superior.
Do total destas 33 licenciaturas, a maioria integra-se no ensino politécnico
público, sendo certo que todos os subsistemas têm presença neste ensino
sectorial (tabela 11).
Tabela 11
Perfil das Licenciaturas analisadas
Tipo de ensino Público Privado
Universitário 5 3
Politécnico 15 10
Total 20 13
Fonte: Elaboração própria com base na Direcção-Geral do Ensino Superior, 2011
Quanto à localização destes cursos, na região Norte foram identificados 12; na
região Centro, 11; na região do Alentejo, 3; na região de Lisboa e Vale do Tejo,
5; e na região do Algarve foram identificados 2 cursos (Figura 12)
134
Figura 12
Localização dos Cursos de Turismo analisados
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da DGES, 2011 e websites das
instituições.
As disciplinas mais frequentes para acesso aos cursos analisados são
Português, Geografia, História e Economia (Figura 13)
1 UNIV
1 UNIV
1 POLITEC
2 POLITEC
1 POLITEC
1 UNIV
1 POLITEC
1 UNIV
1 POLITEC
1 POLITEC
3 POLITEC
2 UNIV
3 POLITEC
1 UNIV
6 POLITEC
1 POLITEC
2 POLITEC
1 POLITEC
1 UNIV
2 POLITEC
135
Figura 13
Disciplinas de acesso aos cursos superiores em Turismo ou Gestão em Turismo
Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.
Uma análise mais detalhada mostra alguns dados curiosos quando se
consideram o sistema público e privado, isoladamente. No sistema público de
ensino, a disciplina de Geografia é a mais requisitada, seguida do Português,
Economia e História. No ensino particular, a Língua Portuguesa é,
expressivamente, a mais exigida. É seguida de Geografia que, apesar de ser a
segunda disciplina tem, praticamente, a mesma percentagem que no ensino
público. Na verdade, a força dada à Língua Portuguesa como disciplina de
acesso no ensino privado é razão da menor frequência da inclusão de outras
disciplinas, como mostra a Figura 14.
Em termos concretos, as disciplinas mais solicitadas no ensino público, por
ordem de importância são: Geografia, Português, Economia, História,
Matemática e Inglês. Já no ensino privado são: Português, Geografia, História,
Economia, Matemática e Inglês.
136
Figura 14
Disciplinas de acesso aos cursos superiores em Turismo e Gestão do Turismo, por sistema de ensino (%)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.
Por outro lado, considerando a combinação de três disciplinas, seja no ensino
público ou privado: 33% dos cursos consideram o conjunto de disciplinas
Português/Geografia/História como disciplinas de entrada; 22%
Economia/Português/Geografia. Estes dois grupos representam as disciplinas
de entrada de mais da metade dos cursos analisados (Figura 15).
Estes dados permitem concluir que, no que respeita às condições de ingresso,
e sem prejuízo de outras referências, os cursos possuem uma abordagem mais
voltada para as ciências sociais e humanas, nomeadamente para a Geografia.
137
Figura 15
Disciplinas de entrada nos cursos superiores de Turismo e Gestão do Turismo (públicos e privados), combinação das disciplinas (%)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.
Para a análise dos planos de estudo destes cursos foi elaborado um
agrupamento das disciplinas, que resultou do seguinte modo: ciências sociais e
humanas; ciências económicas e empresariais; novas tecnologias; idiomas
estrangeiros; turismo – gestão e planeamento; turismo – outras; outras.
Nas ciências sociais e humanas foram incluídas disciplinas como: Geografia,
História, Comunicação, Sociologia, Psicologia. Em ciências económicas e
empresariais, disciplinas como: Gestão, Economia, Recursos Humanos,
Marketing. Nas novas tecnologias foram reunidas disciplinas como: Matemática
e Ciência da Informação. Em idiomas estrangeiros foram considerados todos
os idiomas oferecidos, excepto o Português. A disciplina “Português” foi
considerada no contexto da “Comunicação” e, portanto, em ciências sociais e
humanas. No bloco de disciplinas do “Turismo – Gestão e Planeamento” foram
envolvidas as disciplinas de Gestão, Planeamento, Marketing, Consultoria e
Gestão de Projectos. No grupo das disciplinas de “Turismo – outras” foram
incluídas todas as disciplinas específicas de turismo, mas que não estavam
138
relacionadas com a área de Gestão e Planeamento do Turismo. Em “outras”
foram incluídas disciplinas ligadas à “Metodologia Científica”, “Estágio
Supervisionado”, disciplinas de Acompanhamento de Monografia, entre outras
que não se enquadravam nas categorias já citadas.
Considerando os planos curriculares da totalidade dos cursos e os grupos
disciplinares antes referidos e constantes na Figura 16, as disciplinas gerais do
Turismo representam 23% do curso e as disciplinas específicas de Gestão e
Planeamento 18%. No entanto, quando consideradas as outras áreas, os
“idiomas estrangeiros” representam 19%; as “ciências económicas e
empresarias” representam 16%; as “ciências sociais e humanas”, 10%; e as
“outras”, 7% (ver figura 16). Observa-se, assim, que o peso das ciências
sociais e humanas é muito maior enquanto disciplinas de acesso,
principalmente quando consideradas em conjunto , do que como parte dos
planos de estudos. Em sentido inverso, os idiomas estrangeiros e as disciplinas
ligadas à Gestão e Planeamento do Turismo e à Economia e Gestão
Empresarial têm maior presença nos planos de estudos do que como disciplina
de acesso a estes cursos.
Figura 16
Áreas que compõem os cursos superiores de Turismo e Gestão do Turismo (Público e Privado/ Universidade e Politécnico) (%)
Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.
139
Em termos da análise comparada dos sistemas politécnico e universitário, é
relevante destacar uma maior preponderância no primeiro dos “idiomas
estrangeiros” e das “ciências sociais e humanas”, enquanto que no segundo se
evidenciam as disciplinas gerais do turismo e as de “Turismo – Gestão e
Planeamento” (Figura 17).
Figura 17
Disciplinas que compõem os cursos superiores em Turismo e Gestão em Turismo, por sistema de ensino
Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.
Verifica-se, assim, que em Portugal os cursos de turismo com saídas
profissionais para a gestão pública e/ou áreas que envolvam gestão e
planeamento do turismo possuem um foco de formação na área de turismo:
gestão e planeamento e nas ciências económicas e empresariais para além de
grupos abrangentes como turismo: outras áreas e idiomas estrangeiros. Estes
dados significam que apesar de as disciplinas de entrada estarem
concentradas na área de “ciências humanas e sociais”, estes cursos possuem
planos de estudos com outras orientações, o que demonstra incoerência, mas
suposta vantagem face às oportunidades e desafios profissionais. Entendendo-
se as razões desta situação, não pode deixar de se evidenciar o potencial de
dificuldades e conflitualidades decorrentes da incoerência entre os perfis de
140
ingresso dos alunos e a expectativa em relação às competências que lhes são
solicitadas durante o ensino.
4.5 Relação entre o Planeamento e a Formação em Turismo em Portugal
A tendência, nos anos mais recentes, tem ido no sentido de uma maior
aproximação entre os cursos superiores e o mercado. No caso do turismo,
essa aproximação tem-se dado de diversas formas e apresentando vantagens
tanto do lado académico (docentes, discentes e os próprios cursos), como do
lado do mercado (empresas, instituições públicas, privadas, turistas e
comunidade).
Em Portugal, para além de estruturas curriculares e orientações pedagógicas
mais dirigidas às necessidades dos meios empresariais e profissionais, é
possível identificar alguns casos concretos desse novo papel social da
Academia. Um exemplo disso é a Idtour, empresa spin-off da Universidade de
Aveiro que, através das actividades desenvolvidas principalmente no âmbito da
investigação e consultoria (gestão e planeamento do turismo), procuram
fomentar a partilha de conhecimentos entre a sociedade e a universidade (Idtur,
2011).
Outro exemplo é a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, na qual
foi criado o Centro de Estudos em Turismo (CESTUR), uma associação com o
objectivo de realizar, promover e patrocinar actividades científicas, educativas e
culturais na área de turismo que venham a contribuir no domínio técnico-
científico para o turismo nacional, assim como a organização de formações e
encontros científicos na área de turismo. Através desta actuação fora dos
limites do ensino, a associação pretende agregar valor ao docente e discente
da instituição, além de promover benefícios também para os demais envolvidos
(Cestur, 2011).
Estas situações, dentre outras mais que seria possível destacar em Portugal e
no Mundo, demonstram possibilidades de aproximação entre dois ambientes
que vinham (vêm?) revelando pouca capacidade de diálogo e interacção. De
141
um lado o meio académico, baseado na reflexão e nos conhecimentos teóricos
e, do outro, o “mundo profissional”, baseado na experiência, na vivência da
realidade. Como em tantas outras situações, o resultado sai fortalecido com a
cooperação mútua e quando a Universidade se aproxima do mercado,
beneficia os seus alunos e o seu corpo docente com a experiência vivida.
Quando o mercado abre as portas para a Universidade, beneficia-se do
conhecimento e ajuda a proporcionar melhor formação para os futuros
profissionais.
Os exemplos acima citados desenvolvem actividades relacionadas com a
gestão e planeamento do turismo, a saber: avaliações de mercado,
certificações de destinos, elaboração de relatórios estatísticos e estudos
analíticos, dentre outras actividades.
Um estudo desenvolvido pelo investigador brasileiro Carlos Silveira procurou
relacionar a formação superior com o planeamento turístico, com recorte na
cidade de Curitiba (Brasil). O autor investigou o contexto dos cursos de turismo,
focando as disciplinas relacionadas com o planeamento do turismo, na
tentativa de definir um perfil dos docentes, dos cursos e das metodologias
utilizadas, bem como conhecer a importância do profissional de turismo no
contexto das actividades do planeamento (Silveira, 2007).
Silveira, Gândara e Medaglia (2008) constatam que o planeamento turístico é
uma das principais saídas profissionais promovidas pelos cursos de turismo no
Brasil. Além de haver mercado profissional nesta área, há uma resposta
académica, uma vez que os cursos de turismo brasileiros possuem a disciplina
de planeamento, mesmo quando esta não é a principal saída profissional do
curso. O facto é justificado pela importância da disciplina para a compreensão
do contexto do turismo.
Outro estudo sobre a temática, intitulado “A municipalização do turismo e a
qualificação dos recursos humanos”, desenvolvido na Escola Superior de
Turismo e Hotelaria (ESTH) da Guarda, no projecto “Observatório Nacional de
Educação em Turismo”, em 2009, produziu uma reflexão interessante no
contexto da relação entre a formação dos profissionais de turismo e a prática
142
das funções em gestão e planeamento em instituições públicas, ao nível local.
Esta é uma investigação também muito aproximada dos objectivos desta tese,
uma vez que, assim como aqui proposto, relaciona a educação com o
desempenho laboral nas autarquias portuguesas.
Interessa, assim, apresentar os seguintes dados relevantes e transversais com
o tema da presente tese (Salgado et al., 2011: 10-14):
1) Considerando o vínculo contratual com a entidade empregadora, a maior
parte dos recursos humanos da área de turismo nas autarquias
portuguesas (67,8%) possui um contrato de quadro; por outro lado, uma
percentagem significativa (21,5%) possui contratos a termo resolutivos e
4,6% de Estágios Profissionais – uma vez que a maioria dos
funcionários municipais de turismo consta no quadro de efectivos, é
possível deduzir que há uma preocupação com o turismo ao ponto de
manter, no mínimo, 1 funcionário desempenhando funções
especificamente nesta área em, pelo menos, 2/3 dos municípios
respondentes;
2) Em relação à formação académica destes profissionais, 55,6%
possuíam formação superior, dos quais 11% ainda possuía pós-
graduação e 3,3% mestrado. Apesar deste número significativo de
profissionais com formação superior, é de destacar, pela inversa, que o
turismo, em muitas autarquias, tem funções desempenhadas por
profissionais com habilitações ao nível do 12º ano (26,4%);
3) As categorias profissionais correspondem, principalmente, a “Técnico
Superior de Turismo”, “Técnico de Turismo”, “Técnico Profissional de
Turismo”, “Auxiliar Técnico de Turismo”;
4) Relacionando as habilitações académicas com as categorias
profissionais, 72,4% referiram existir correspondência entre as funções e
as habilitações académicas pessoais, enquanto 24,6% afirmaram que
não.
143
Apesar da importância de compreender a relação entre a formação dos
profissionais e as funções desempenhadas em gestão e planeamento em
turismo, com especial relevo no caso de Portugal, não há estudos
aprofundados que permitam reflectir a complexidade desta área e a diversidade
das funções profissionais por ela requeridas, o que pode implicar directamente
na qualidade do turismo do país.
Os resultados obtidos no estudo citado de Salgado et al (2011) correspondem
à expectativa em termos de profissionalização e qualificação dos serviços
prestados nos municípios. Contudo, é relevante, ainda, aprofundar algumas
questões no âmbito da relação entre a formação académica e as funções
laborais desempenhadas.
4.6 Considerações Finais
A formação superior sofreu recentemente uma reforma importante, no contexto
europeu e nacional. A introdução de novos conceitos como o de educação ao
longo da vida ou de ECTS surgiram no sentido de aproximar a educação
oferecida nos diferentes países da UE e criar bases para a mobilidade.
O receio da uniformização dos cursos não é confirmado e, inclusive, a análise e
reforma espanhola, pioneiras na área do turismo, apontam para sistemas de
ensinos diferentes entre os países, assim como propostas de cursos também
diferentes.
Em relação aos critérios de admissão nos Cursos Superiores em Turismo, em
Portugal, as disciplinas mais exigidas são Português, Geografia e História, o
que concentra a entrada na área das ciências sociais e humanas. Contudo,
quando analisados os planos curriculares dos cursos, verifica-se que estes
estão bastante voltados para as ciências empresarias, uma vez que
aproximadamente 1/3 das disciplinas dos cursos analisados se inserem nas
categorias de “ciências económicas e empresariais” ou “turismo-gestão e
planeamento”. Este facto permite concluir que estes cursos de turismo são
coerentes com as propostas de saída profissional, mas incoerentes em relação
144
às disciplinas de ingresso, o que cria relevantes dificuldades nos processos de
ensino e aprendizagem. Talvez se possa sugerir uma maior concentração em
disciplinas como Economia, o que apesar de ter alguma relevância como
disciplina de ingresso, é menos solicitada do que a História, o que seria uma
decisão relevante para o percurso académico e para o próprio desempenho
profissional dos diplomados.
Por fim, são apresentados alguns estudos que relacionam o planeamento
turístico com o ensino superior. No caso brasileiro, o estudo realizado junto das
instituições de ensino superior aponta a importância da disciplina que aborda o
“Planeamento do Turismo”, ao ponto de ser obrigatória no plano de estudos,
mesmo nos cursos de turismo em que a saída profissional não inclui a área de
gestão e planeamento.
No caso português, o estudo realizado junto das Câmaras Municipais constata
que os profissionais responsáveis pelo turismo, na sua maioria, possuem
cursos superiores e estes profissionais afirmam que a sua formação está
relacionada com as funções profissionais desempenhas. É esta informação que
se pretende analisar mais aprofundadamente nos capítulos seguintes desta
tese.
145
Capítulo 5
Metodologia
5.1 Introdução
Uma investigação bem estruturada exige um planeamento dos passos
metodológicos, considerando as opções disponíveis dentro das possibilidades
do investigador. Portanto, a apresentação de um capítulo metodológico é
fundamental para a sistematização das informações, tanto para o próprio
investigador como para um eventual leitor.
Nos capítulos anteriores foram tratados os aspectos teóricos relacionados com
a temática central desta tese. No capítulo 2, foi discutido o Planeamento
Turístico; no capítulo 3, debatido o Planeamento Turístico aplicado à realidade
portuguesa; e no Capítulo 4, a Educação Superior em Turismo. Este corpo
teórico forneceu bases para a elaboração dos questionários aplicados aos
profissionais responsáveis pela gestão e planeamento nos municípios, assim
como os questionários aplicados aos cursos de turismo que formam estes
mesmos profissionais.
Este capítulo tem como principal objectivo descrever os procedimentos
metodológicos utilizados nesta investigação. Serão defendidas as opções da
discussão teórica relacionando-as com a proposta de investigação empírica.
Além disso, serão apresentados os objetivos geral e específicos, o problema e
as hipóteses, as variáveis e os instrumentos de recolha de dados.
146
5.2 Planeamento da Investigação
Antes de iniciar a discussão metodológica, é interessante revisitar a estrutura
desta tese, que pode ser ilustrada conforme a figura 18:
Figura 18
Estrutura do Processo de Investigação da Tese
Componente Empírica
Análise e discussão dos resultados
Referencial Teórico
Aplicação de questionários
aos responsáveis pelo
turismo nas Câmaras
Municipais das regiões do
Alentejo e Algarve
Aplicação de questionários
aos coordenadores dos
cursos de Turismo que
formam gestores e
planeadores de turismo
Planeamento Turístico Formação Superior em
Turismo
Relação entre o Planeamento
Turístico e a Formação Superior
em Turismo
147
No referencial teórico foram discutidas duas grandes áreas científicas que,
apesar de muito distantes no contexto académico ou profissional, encontram
convergências em pelo menos um ponto, a relação entre a Formação Superior
com as Funções de Planeamento, o principal objetivo desta tese (Figura 18).
Quando abordámos teoricamente o Planeamento Turístico, realizámos uma
discussão conceptual e teórica de forma a possibilitar o tratamento do principal
ponto de interesse - uma abordagem mais operacional envolvendo as funções
de planeamento.
Na abordagem da outra grande área científica, a Formação Superior em
Turismo, mais uma vez sentimos a necessidade de discutir conceitos relativos
à educação, apresentar alguns modelos vigentes, alguns pontos de vista
acerca das suas vantagens e desvantagens, até chegar à Educação Superior
em Turismo. Apesar de não ambicionarmos uma discussão exaustiva desta
temática, uma vez que tal não se constituiu como um objectivo desta tese,
aquilo que pode ser chamado de contextualização funciona como suporte para
a discussão da Formação Superior em Turismo em Portugal, no contexto dos
cursos que formam os profissionais de gestão e planeamento turístico.
Reconhece-se que não são apresentados estudos exaustivos acerca das duas
temáticas e justifica-se este facto:
1. Por se tratarem de duas grandes áreas temáticas que, pela natureza,
complexidade e quantidade de informações associadas, isoladamente,
representam estudos com conteúdos para teses integrais;
2. A análise exaustiva de cada uma destas áreas temáticas não constitui a
proposta desta investigação que, por isso, se concentrou na discussão
das temáticas associada aos objetivos definidos.
É importante destacar que a natureza da investigação, que envolve dois
questionários distintos e em quantidades diversas, inviabilizou a realização de
análises estatísticas mais aprofundadas. Alguns métodos e técnicas requeriam
um número maior de questionários, algo impossível face ao universo da
148
pesquisa previamente selecionado, a qual, por sua vez, se relaciona com as
limitações de tempo e recursos financeiros. Pode-se considerar, portanto, a
componente empírica desta investigação como uma base ou piloto para outras
investigações, seja para todo o País seja para outras realidades, o que
permitiria a aplicações de métodos quantitativos mais expressivos.
5.3 A Investigação Científica
O conceito de ciência está alicerçado no rigor da investigação, que só é
possível de ser alcançado através da utilização de métodos, técnicas e
linguagens adequadas, enfatizando características como fiabilidade e
objectividade, que conferem o carácter científico e a validade da investigação
(Gil, 1999; Pardal e Lopes, 2011).
O rigor é determinante para que o conhecimento tenha validade científica, pelo
que a elaboração de uma metodologia de investigação inadequada
compromete os resultados obtidos (Coutinho, 2011; Silvestre e Araújo, 2012;
Freixo, 2011).
Um conhecimento classificado como científico, contudo, não pode ser
necessariamente considerado verdadeiro, uma vez que a ciência tem por base
a probabilidade de ocorrência e não a certeza absoluta. As ciências sociais
(área que inclui o turismo) constituem uma área caracterizada pela
aproximação e não pela precisão, uma vez que têm por base de investigação
as relações humanas (Coutinho, 2011).
Algumas características específicas desta área adicionam alguma
complexidade no que respeita ao rigor científico. Trata-se de uma área
relacionada com o comportamento humano, o que implica na impossibilidade
de prever situações, quantificar fenómenos e, portanto, dificuldade em analisar
e apresentar os dados. Além disso, há a possibilidade de os resultados serem
influenciados pelas perspectivas próprias do investigador (Gil, 1999).
149
O processo de conhecimento evoluiu a partir de dois caminhos distintos: o
indutivo, que parte da observação dos fenómenos até formular princípios gerais;
o dedutivo, que parte da formulação e análise dos princípios gerais (teoria) e
reafirma os objectivos até chegar ao caso particular (Almeida: 2006 citando
Dencker, 2000).
De uma forma geral, as etapas de uma investigação são: formulação do
problema; revisão das investigações e literaturas existentes; definição dos
conceitos, variáveis e hipóteses; selecção do método de investigação; coleta
de dados; análise dos dados; elaboração da escrita (Gil, 1999).
A pesquisa científica pode ser classificada de diferentes formas, e dentre elas,
segundo o objectivo empírico, é possível identificar as seguintes tipologias (Gil,
1999; Dencker, 2000):
1. Exploratória, que tem como principal objectivo desenvolver, esclarecer
e modificar conceitos e ideias que irão suportar outras investigações;
pode ser feita através da formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis e é indicada para abordar temas pouco
investigados; utiliza como métodos de recolha de dados o levantamento
bibliográfico, a análise documental, entrevistas não-padronizadas e
estudos de caso; é de baixa dificuldade por, usualmente, não utilizar
técnicas quantitativas de recolha de dados;
2. Descritiva, que apresenta como principal objectivo a descrição das
características de determinada população ou fenómeno, ou mesmo o
estabelecimento de relações entre variáveis; utiliza técnicas
padronizadas de recolha de dados, como o questionário e a observação
sistemática; é comum, também, que este tipo de pesquisa pretenda
analisar características de um determinado grupo ou conhecer a opinião,
atitudes e crenças de uma população;
3. Explicativa, tenta explicar os factores que venham a contribuir ou
determinar a ocorrência dos fenómenos; é classificada como um tipo de
investigação mais aprofundada e complexa, uma vez que tenta explicar
a realidade; é considerada a base do conhecimento científico.
150
Esta investigação pode ser classificada como um estudo descritivo, na medida
em que pretende tratar a relação entre as variáveis envolvidas (“Formação
Superior em Turismo” e “Planeamento Turístico” nas Câmaras Municipais das
regiões Alentejo e Algarve, Portugal); e, simultaneamente, explicativa, por
tentar identificar factores que contribuem para diagnosticar a realidade do
planeamento turístico local em Portugal.
Além disso, pode ser classificada como investigação aplicada, uma vez que
está voltada para a resolução de um problema prático sem, no entanto,
pretender generalizar os resultados (Coutinho, 2011: 37, citando Charles, 1998;
Wiersma, 1995).
Na investigação em Ciências Sociais podem ser, também, consideradas duas
grandes perspectivas metodológicas, classificadas segundo a obtenção e
tratamento de dados: a quantitativa e a qualitativa. No entanto, o processo de
investigação, por si só, não pode ser considerado quantitativo ou qualitativo,
mas sim os paradigmas adoptados pelo investigador e a natureza do seu
problema (Dencker, 2000).
Coutinho (2011: 24) define a perspectiva quantitativa como uma pesquisa que
tem por base a análise de factos e fenómenos observáveis e a
medição/avaliação de variáveis comportamentais e/ou socioafectivas passíveis
de serem medidas, comparadas e/ou relacionadas no decurso do processo de
investigação empírica. Em termos metodológicos, a autora aponta que esta
perspectiva está baseada no modelo hipotético-dedutivo, na qual o investigador
considera que os problemas sociais possuem soluções objectivas que podem
ser alcançadas com a utilização de métodos científicos.
Esta ideia é sintetizada por Silvestre e Araújo (2012), que definem o enfoque
quantitativo como o método de pesquisa em que a recolha, análise de dados e
teste de hipóteses se baseia em análises estatísticas. Nesta abordagem,
portanto, há um contexto de neutralidade do investigador associado à
objectividade e ao rigor científico, com bases estatísticas, que reconhece na
perspectiva quantitativa uma característica mais científica.
151
Por outro lado, a perspectiva qualitativa surge em resposta à pretensa
esperança exagerada na objectividade da análise dos indivíduos. Qualquer
investigação não embasada nos preceitos da investigação quantitativa ou na
utilização de instrumentos de recolha e análise de dados com base estatística
pode ser enquadrada como investigação qualitativa. Ou seja, este tipo de
investigação utiliza descrições e observações não-numéricas que não utilizam
os recursos de quantificação e medidas (Pardal e Lopes, 2011; Coutinho, 2011;
Silvestre e Araújo, 2012).
É interessante ter em consideração que os estudos estatísticos são entendidos
como sendo apresentações que tanto podem consistir na simples análise de
dados, por exemplo, através de tabelas de frequências ou como a aplicação de
técnicas de análise muito mais aprofundadas (Pardal e Correia, 2003).
Do ponto de vista da pesquisa qualitativa, mais importante do que o impacte
das técnicas é a relevância dos significados, contrastando, assim, o foco da
generalização dos resultados na pesquisa quantitativa com a evidência da
particularização no caso da pesquisa com base qualitativa (Coutinho, 2011: 27).
5.3.1 As Variáveis de Análise
As variáveis são “atributos que reflectem ou expressam um conceito ou
constructo e pode assumir diferentes valores, opondo-se ao conceito de
‘constante’” (Coutinho, 2011: 67).
Nessa perspectiva dos atributos, no caso desta investigação, as variáveis
consideradas são: o “Planeamento Turístico”, a variável dependente (principal
fenómeno a ser analisado); e a “Formação Superior em Turismo”, a variável
independente. Pretende-se conhecer a relação entre a “Formação Superior em
Turismo” e o “Planeamento Turístico”, ou seja, relacionar aspectos da formação
do profissional de turismo com as funções de planeamento nas Câmaras
Municipais. Pretende-se relacionar a variável dependente, o “Planeamento
Turístico”, com a variável independente, a “Formação Superior em Turismo”, a
fim de conhecer o grau de interacção entre elas.
152
Em relação a cada uma das variáveis, pretende-se:
1. Formação Superior em Turismo: conhecer se o técnico de turismo
tem, ou não, formação superior em turismo; conhecer características do
curso de turismo frequentado;
2. Planeamento Turístico: identificar as funções desempenhadas no
âmbito das Câmaras Municipais.
No que se refere à classificação das variáveis, estas podem ser classificadas
como escala (Pestana e Gageiro, 2008: 36-37):
1. Nominal (atributos ou qualidades – categorização de elementos);
2. Ordinal (referente a diferentes graus do mesmo atributo, diferenciando
apenas em termos de graus, mas respeitando uma ordem);
3. De intervalo (utiliza os números para classificar elementos, de forma a
que diferença entre os números corresponda à diferença nas
quantidades do atributo medido e sendo o zero um valor arbitrário e sem
indicação de ausência do atributo);
4. De rácio (difere da anterior porque o zero, neste caso, representa a
ausência do atributo).
Os autores afirmam que as variáveis nominais e ordinais são classificadas
como qualitativas, enquanto as variáveis de intervalo e de rácio são de
natureza quantitativa. A variável dependente “Planeamento Turístico” e a
variável independente, a “Formação Superior em Turismo”, são nominais e,
portanto, podem ser consideradas como de natureza qualitativa.
5.3.2 A Problemática que define os Objectivos e a Hipóteses
O problema consiste na situação a ser analisada e pode ser traduzido naquilo
que é chamado de pergunta de partida, ou mesmo através do objectivo geral.
153
A função da determinação de ambos é a orientação da investigação, dando
coerência, foco e delimitando o estudo (Silvestre e Araújo, 2012; Coutinho,
2011).
Esta investigação pretende analisar a coerência entre a formação superior do
profissional de turismo e as funções de planeamento turístico ao nível local,
tendo como situação problemática a relação existente neste domínio, ou a falta
dela, nos profissionais que exercem as funções de planeamento nos
municípios portugueses. Portanto, o objectivo geral é relacionar as funções de
planeamento turístico ao nível local com a formação superior em turismo em
Portugal, de forma a conhecer a coerência entre a formação e a actuação no
mercado laboral.
Esse mesmo objetivo geral, com conotação de situação problemática, pode
constituir a pergunta de investigação, que norteia toda a pesquisa que é
desenvolvida: Existe relação entre as funções de planeamento em turismo
nos municípios portugueses e a formação dos profissionais técnicos que
actuam no planeamento do turismo nestes mesmos municípios?
É importante referir que esta investigação pretende analisar a capacidade de
actuação tendo por base a formação em turismo. É evidente que muitos
profissionais possuem condições de desempenhar estas funções tendo
adquirido os conhecimentos, habilidades e competências necessários em
outros cursos e/ou através de experiências profissionais, mas estas situações
não serão consideradas.
Como objetivos específicos que possibilitam o alcance do objectivo geral,
foram definidos:
1. Analisar as principais funções desempenhadas ao nível do planeamento
turístico (Capítulo 2);
2. Contextualizar o planeamento turístico português, identificando e
analisando os pontos relevantes das políticas públicas e de gestão,
planeamento turístico e ordenamento territorial que se encontrem
154
associados ou interfiram na efectivação do planeamento ao nível local
(Capítulo 3);
3. Contextualizar a formação superior em turismo em Portugal (Capítulo 4);
4. Identificar os principais aspectos teóricos, práticos e metodológicos da
formação superior em turismo, destacando os aspectos relativos ao
desenvolvimento pessoal, bem como as necessidades sociais e de
mercado que interferem na prática do planeamento turístico municipal
(Capítulo 6).
A investigação tem recorte geográfico em Portugal Continental, centrando-se
na análise dos municípios portugueses localizados nas regiões do Alentejo e
Algarve. Por outro lado, serão analisados todos os cursos de formação superior
em turismo com saídas profissionais para área da gestão e planeamento
turístico.
Considerando as variáveis “Formação Superior em Turismo” (X) e
“Planeamento Turístico” (Y) é possível determinar as hipóteses, (Silvestre e
Araújo, 2012):
H1, onde X influencia Y:
H1 A Educação Superior em Turismo está relacionada com o desempenho
das funções do Planeamento Turístico, no âmbito local.
Além desta hipótese principal, são ainda consideradas:
H2 A disciplina de planeamento turístico utiliza métodos de ensino
compostos por mais aspectos teóricos do que práticos.
H3 Não existe grande aproximação entre os cursos de turismo e os
organismos públicos responsáveis pela gestão e planeamento
local/regional do turismo em Portugal.
155
H4 Não há um significativo envolvimento dos cursos de turismo com os
organismos locais através do desenvolvimento de actividades práticas de
gestão e planeamento no nível local.
H5 Os profissionais responsáveis pelo planeamento turístico nas
Câmaras dos Municípios do Alentejo e Algarve possuem pouca
experiência na área em que actuam.
H6 A maior parte dos profissionais que desempenham funções de
planeamento turístico possui licenciatura.
H7 Durante a formação dos profissionais responsáveis pelo planeamento
turístico, as atividades práticas desenvolvidas estão mais relacionadas
com a elaboração de planos turísticos ou de marketing.
H8 Nos municípios das regiões do Alentejo e Algarve o turismo é gerido
através de organismos/secretarias conjuntos com outras áreas.
5.4 Universo e Amostragem
Em termos gerais, reconhece-se que o método de selecção de uma amostra
pode seguir um princípio aleatório (probabilístico) ou dirigido (não-
probabilístico). As principais diferenças entre estes dois métodos incidem nos
custos, no tempo necessário e na precisão dos resultados (Reis et. al, 2008:
39).
O primeiro método apresenta maior vantagem em termos de confiabilidade dos
resultados obtidos, mas também desvantagens como a necessidade de mais
recursos(tempo e dinheiro), bem como a dificuldade na obtenção das listagens
de base para definição da amostra. Outro factor negativo a referir é o risco de
uma alta taxa de não-respostas, que acaba por determinar a necessidade de
novas tentativas de resposta, facto que encarece ainda mais o processo de
investigação (Reis et. al, 2008: 39).
156
O segundo método não permite a generalização dos resultados da investigação
mas tem, no entanto, a vantagem de reduzir o custo e o tempo necessário para
aplicação. Este método configura-se adequado em estudos em que: se pratica
uma primeira experiência ou primeira fase de um estudo mais alargado; a
maior preocupação é aperfeiçoar um questionário; ou quando é impossível
utilizar qualquer tipo de amostragem aleatória (Reis et. al, 2008: 39).
No caso desta tese, a problemática da definição do objecto de estudo limitou-
se ao domínio territorial de aplicação, isto é, à escolha entre a totalidade dos
municípios portugueses ou apenas algumas regiões. Como já antes referido,
devido a limitações de tempo e recursos financeiros a opção recaiu sobre duas
regiões: Algarve e Alentejo.
Se admitirmos que este tese poderia ser aplicável a Portugal como um todo,
pode-se considerar que a decisão pela análise destas duas regiões ocorreu de
forma não-probabilística intencional; no caso do Algarve, devido ao facto de
constituir a principal região receptora de turistas do país; já o Alentejo foi
seleccionado por ser uma região que, apesar de apresentar um relativo baixo
fluxo turístico actual vem desenvolvendo um interessante trabalho na gestão do
turismo regional e demonstra um elevado potencial de crescimento da procura.
Conclui-se, assim, que são regiões turísticas fortemente contrastadas entre si,
o que é uma vantagem para a validação dos resultados, para além de servirem
a conveniência de uma razoável proximidade em relação à residência da
autora.
Considerando apenas as regiões analisadas, foram aplicados questionários na
totalidade dos municípios, não sendo, portanto, utilizado qualquer método de
amostragem neste domínio.
As unidades estatísticas a serem utilizadas são os indivíduos responsáveis
pela gestão e planeamento turístico dos municípios localizados nas regiões
turísticas do Alentejo e Algarve.
157
5.5 Instrumentos de Recolha de Dados
Fortin (2003) define que os instrumentos de recolha de dados associados à
investigação qualitativa são a observação, a entrevista e o registo, o que leva a
considerar que os outros instrumentos de recolha de informações podem
determinar a sua classificação como quantitativa.
As opiniões sobre esta matéria são diversas, mas têm evoluído no sentido de
se considerar que, nas ciências sociais, têm predominado as investigações em
que se utiliza uma combinação dos métodos quantitativo e qualitativo (Coutinho,
2011; Freixo, 2011; Pardal e Lopes, 2011).
Destacamos a observação de Pardal e Lopes (2011: 22), quando afirmam que
a investigação qualitativa não deixa de o ser por usar dados
numéricos e socorrer-se da matemática no seu trabalho. O simples
uso de dados quantitativos não justifica a associação de uma
qualquer investigação a investigação quantitativa. É o quadro de
análise e o modelo de leitura da informação, mais do que qualquer
técnica, que melhor permite a caracterização de uma investigação.
A tabela 12, apesar de não exaustiva, reúne as principais diferenças entre os
dois tipos de investigação.
158
Tabela 12
Comparação entre a investigação quantitativa e qualitativa
Quantitativa Qualitativa
Preocupação com a explicação causal de
fenómenos
Preocupação com a compreensão dos
acontecimentos. Valorização dos
significados.
Ênfase em modelos matemáticos na
recolha e tratamento dos dados
Diversidade de modelos de recolha e
tratamento dos dados, incluindo
quantificação
Ênfase no produto da investigação Ênfase no processo de investigação
Objectividade: distanciamento do objeto
de estudo
Subjectividade: compreensão do
fenómeno
Preocupação com a neutralidade Valorização da sensibilidade do
investigador
Amostra probabilística Amostra não-probabilística
Amostra representativa Amostra não representativa
Abordagem superficial Abordagem aprofundada
Análise estatística Análise de conteúdo
Fonte: Fontin, 2003; Pardal e Lopes, 2011: 26; Dencker, 2000
A figura 19 evidencia um modelo de investigação desenvolvido de forma
qualitativa. É importante destacar o conjunto de instrumentos de recolha de
dados e, no que respeita à análise, apesar de prever a redução dos dados,
categorização e teste de hipóteses, ainda assim, deve ser classificado como
um estudo qualitativo. Coutinho (2011:191) sugere, portanto, nesta figura, o
conjunto de fases que orientam uma pesquisa de natureza qualitativa.
159
ANÁLISE DE DADOS
Redução dos dados
Organização dos dados
Categorização
PLANO DE TRABALHO
Sujeitos
Local
Duração
HIPÓTESES DE TRABALHO
Problema a deslindar
Questões a investigar
Gerar teorias
RECOLHA DE DADOS
Entrevistas
Relatos orais
Observação
Figura 19
Desenvolvimento de um plano qualitativo
Fonte: Coutinho (2011:191 adaptado de Wiersma, 1995:218).
Segundo os autores consultados, a tese que agora apresentamos pode ser
classificada como um estudo quantitativo. Primeiro, pelo instrumento de recolha
de dados seleccionado, o questionário. Segundo, porque, apesar da
impossibilidade de utilizar técnicas estatísticas mais avançadas, foi utilizada a
criação de tabelas de frequências e a apresentação gráfica com percentagens
de resposta, por exemplo.
A utilização de bases estatísticas mais avançadas para a análise dos dados
somente seria possível com a aplicação de um número maior de questionários,
o que não foi o caso desta investigação. Assim, utilizou-se a recolha de dados
através de questionário, realizando, depois, a tabulação e a apresentação dos
dados, sobretudo, com base nas percentagens das respostas e respectivos
160
gráficos. Desta forma, não se trata de uma análise puramente subjectiva e de
base não-numérica, apenas não foi possível utilizar outros métodos estatísticos
de análise.
Por possuir perguntas abertas e fechadas, transcorrendo pelo método de
análise qualitativa e quantitativa, pode-se considerar que esta tese se baseia
numa abordagem mista.
5.5.1 Instrumento de Recolha de Dados: o Questionário
O instrumento de recolha de dados deve ser selecionado na dependência dos
objetivos de cada investigação. Entre os principais instrumentos de recolha de
dados nas Ciências Sociais encontram-se (Fontin, 2003; Silvestre e Araújo,
2012; Dencker, 2000):
Inquérito por entrevista, que consiste num processo de interacção
onde uma ou mais pessoais assumem o papel de entrevistador (lendo
as perguntas) e uma, ou mais, o papel de entrevistados, apresentando
as perguntas um grau de estruturação previamente definida, a fim de
obter informações de pesquisa. Pode ser realizada face a face ou por
telefone, sendo esta última menos dispendiosa, porém mais impessoal.
Formulário, que consiste no controlo da observação, relacionando os
elementos a serem observados e efectuando o registo.
Inquérito por questionário, instrumento respondido pelos entrevistados
que reúne questões sistemáticas e ordenadas, envolvendo as variáveis
de investigação. Neste tipo de inquérito, são os entrevistados que leem
as questões e escrevem as respostas.
A tabela 13 apresenta as principais vantagens e desvantagens das entrevistas
e dos questionários:
161
Tabela 13
Vantagens e Desvantagens das Entrevistas e Questionários
Instrumentos de recolha
de dados
Vantagens Desvantagens
Questionário Pode ser aplicado a um
grande número de pessoas;
Anonimato;
Uniformidade das respostas,
o que facilita a tabulação e
análise dos dados;
Possibilidade de analisar
informações objectivas e
subjectivas;
Mais baratos do que as
entrevistas;
Pode cobrir uma grande área,
uma vez que pode ser
enviado pelo correio.
Baixa taxa de respostas;
Perguntas pré-estabelecidas
e sem possibilidade de
flexibilização.
Entrevista Maior flexibilidade na
formulação de questões;
Adequação das questões ao
indivíduo;
Taxas de respostas mais
elevadas.
Mais dispendiosas;
Necessidade de mais tempo
para recolha e análise de
dados;
Necessidade de
competências específicas
para a aplicação;
Dificuldade em comparar as
entrevistas.
Fontes: Fontin, 2003, Denker, 2000; Silvestre e Araújo, 2012.
162
Optou-se pela utilização do questionário enviado através de correio electrónico,
uma vez que o número de Instituições de Ensino e de Câmaras Municipais é
grande e disperso. Esta opção também reduz o tempo necessário para a
recolha dos dados, assim com o custo desta fase da investigação.
Por outro lado, a desvantagem da baixa taxa de respostas foi neutralizada por
acções específicas associadas ao envio do questionário por correio electrónico,
como as ligações telefónicas directamente aos destinatários bem como, no
caso das Câmaras Municipais, visita aos stands dos municípios na Bolsa de
Turismo de Lisboa (2012). Ambos os questionários tiveram períodos de
aplicação de Novembro de 2011 a Abril de 2012.
Como o questionário foi o instrumento de recolha de dados utilizado nesta
investigação, este será abordado de forma mais aprofundada neste capítulo.
Num questionário, é possível elaborar diferentes tipos de perguntas (Dencker,
2000; Fontin, 2003): fechadas, ou com alternativas fixas, quando as respostas
são limitadas às alternativas apresentadas; abertas, quando o entrevistado tem
a liberdade de responder como desejar; semi-abertas, quando dispõe de
perguntas fechadas mas com a opções de resposta aberta.
Dentro dos modelos de perguntas fechadas, podem ser consideradas (Dencker,
2000; Fontin, 2003):
Dicotómicas, na qual é respondido “sim” ou “não”;
Escolha múltipla, na qual podem ser seleccionadas uma série de
respostas;
Perguntas encadeadas, ou pergunta-filtro, quando a resposta da
questão seguinte está condicionada à questão anterior;
Perguntas com escala, que pretende medir graus como, por exemplo,
os graus de satisfação.
163
A tabulação dos dados é realizada segundo o tipo de resposta dada, podendo
ser (Dencker, 2000; Fontin, 2003):
Tabulação simples, quando só há uma possibilidade de resposta;
Tabulação de respostas múltiplas, na qual é possível indicar mais do
que uma resposta à pergunta;
Tabulação de perguntas encadeadas, onde a primeira pergunta é feita
de forma generalizada, mas a segunda somente a um grupo específico e
a análise é feita em função das duas perguntas;
Tabulação de perguntas em aberto, na qual as respostas são feitas de
forma livre e, para análise, devem ser categorizadas e tabuladas de
forma simples ou múltipla;
Perguntas com escalas, estabelecer uma pontuação que permita
avaliar a resposta de forma numérica, como, por exemplo, a escala de
Likert;
Tabulação por grupos separados, através da separação da amostra
em grupos com características semelhantes e relevantes;
Tabulação electrónica, recorrendo à utilização de programas
estatísticos.
Uma vez que utilizámos a escala de Likert, é importante esclarecer que esta
consiste na proposição de opções de resposta com igual número de
possibilidades positivas e negativas e uma opção neutra, atribuindo,
posteriormente, um valor a cada opção de resposta. Às respostas positivas são
atribuídos valores maiores do que às respostas negativas. Ao obter as
respostas, deverão ser somados os valores obtidos e analisados os resultados.
(Fontin, 2003).
Uma vez que o objectivo principal desta tese é relacionar a “Formação Superior
em Turismo” com as funções de “Planeamento Turístico” ao nível local, de
forma a conhecer os níveis de interacção entre Escola - Destino, bem como a
capacidade de actuação dos profissionais formados para exercerem funções
de planeamento, foi necessário recolher informações sobre o Ensino Superior
164
em Turismo (Q1) e das práticas das funções de Planeamento no âmbito das
Câmaras Municipais (Q2).
Q1: Questionário aplicado aos responsáveis pelos Cursos de Turismo
(Anexo 1)
O questionário 1 foi aplicado junto das instituições de ensino superior que
oferecem cursos de turismo que, entre as saídas profissionais, tenham
explicitado o profissional de planeamento turístico.
A lista disponibilizada no sítio Internet da Direcção-Geral do Ensino Superior
(2011) reúne um total de 74 cursos de turismo. Desse total, foram contactados
os coordenadores de 33 cursos de turismo com base na requisito “saída
profissional para desempenho de funções de planeamento turístico”.
O questionário tem como principal objectivo recolher informações sobre o
conteúdo e a metodologia de ensino associado ao Planeamento Turístico, para
que este seja relacionado com as informações obtidas no questionário 2
(aplicado às Câmaras Municipais de Turismo).
O questionário é composto por 9 perguntas, dentre as quais:
2 são fechadas com resposta única;
4 são fechadas com respostas dicotómicas mas com possibilidade de
explicitar o porquê de responder “sim” e incluindo a possibilidade de
listar “outras”;
1 pergunta é fechada com respostas múltiplas;
e 2 perguntas são abertas.
A pergunta 1 (No curso superior em turismo oferecido na sua instituição
de ensino, a disciplina de planeamento turístico utiliza métodos de ensino
compostos por) pretende conhecer de que forma os conteúdos da disciplina
165
de Planeamento Turístico são ensinados no âmbito do curso de turismo em
questão. Trata-se de uma pergunta de escolha única, fechada mas com
conteúdo escalar, em que as opções são: Somente por aspectos teóricos; Mais
aspectos teóricos do que práticos; Equitativamente aspectos teóricos e práticos;
Mais aspectos práticos do que teóricos; Somente aspectos práticos.
Esta pergunta também procura responder à H2 A disciplina de planeamento
turístico utiliza métodos de ensino compostos por mais aspectos teóricos
do que práticos.
A pergunta 2 (Quais as actividades práticas em planeamento turístico
realizadas no âmbito do curso de turismo oferecido na instituição em que
trabalha?) é classificada como fechada de múltipla escolha e pretende
identificar se algumas funções do planeamento turístico são praticadas no
âmbito do ensino superior em turismo. Esta questão é, posteriormente,
relacionada com as funções desempenhadas pelos planeadores, conforme
será explicitado mais adiante. Entre as opções de respostas, encontram-se
aquelas identificadas na revisão da literatura, além da opção aberta para definir
“outras”:
1. Elaboração de inventário turístico;
2. Elaboração de planos de marketing;
3. Elaboração de diagnósticos e prognósticos;
4. Elaboração de planos de desenvolvimento turístico;
5. Estudo de viabilidade de produtos turísticos;
6. Análise de tendências de mercado;
7. Actividades de sensibilização e/ou consciencialização da comunidade
com relação ao turismo;
8. Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado;
9. Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na área de gestão e
planeamento do turismo;
10. Implementação do plano de desenvolvimento do turismo;
11. Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo.
166
A pergunta 3 (Classifique os conteúdos a seguir, de acordo com a
realidade encontrada no seu curso. A depender da forma como o
conteúdo for leccionado, marque: 1 - somente com bases teóricas; 2 -
mais com base teórica do que prática; 3 - equilíbrio entre a componente
teórica e a prática; 4 - mais prático do que teórico; 5 - somente teórico.
Caso o conteúdo não seja leccionado no seu curso, marque 0 – não se
aplica) trata-se de uma pergunta fechada com resposta única. Com esta
pergunta, pretende-se compreender se os conteúdos identificados como
fundamentais, identificados na revisão da literatura, possuem uma abordagem
mais teórica ou prática.
É interessante perceber que, apesar de esta questão ser apresentada como
uma única questão, ela solicita uma classificação (resposta única) graduada de
um conjunto de conteúdos associados à disciplina.
As perguntas de 4 a 7 são fechadas e dicotómicas, com opção de resposta
aberta, em caso de a resposta ser positiva.
A pergunta 4 (Existem parcerias estabelecidas entre o curso de turismo
que coordena e algumas entidades locais ou regionais de turismo,
públicas ou privadas, por exemplo no âmbito de Protocolos para estágios
relacionados com actividades em gestão e planeamento do turismo?) tem
como objectivo identificar se existe algum tipo de ligação entre o curso de
turismo e as instituições que desenvolvem actividade no mercado turístico.
Também é objectivo desta questão confirmar ou não a hipótese H3 Não existe
grande aproximação entre os cursos de turismo e os organismos
públicos responsáveis pela gestão e planeamento local/regional do
turismo em Portugal.
A pergunta 5 (É desenvolvida, através do curso de turismo que coordena,
alguma actividade de âmbito aplicado no domínio da gestão e
planeamento do turismo para um município, região ou país?) procura
conhecer se o curso desempenha alguma actividade prática de planeamento, o
que indica uma maior ou menor aproximação do curso ao mercado. Essa
167
questão também tem como objectivo testar a hipótese H4 Há pouco
desenvolvimento de atividades práticas de gestão e planeamento no nível
local por parte dos cursos de turismo.
A pergunta 6 (É desenvolvida, através do curso de turismo da sua
instituição de ensino, alguma actividade junto com a comunidade?) tem
como objectivo conhecer a interacção do curso de turismo com a comunidade.
A pergunta 7 (Existe algum factor diferenciador no curso que coordena em
relação aos demais que conhece?) foi realizada no intuito de obter alguma
característica ou actividade do curso de turismo em questão com relação aos
demais cursos.
As perguntas 8 e 9 são perguntas abertas. A pergunta 8 (Relativamente à
formação dos profissionais de planeamento turístico, de uma forma geral,
qual (is) o(s) ponto(s) fraco(s) da formação oferecida nos cursos
superiores em turismo?) procura conhecer os pontos fracos da formação dos
cursos de turismo, de uma forma geral, enquanto que a pergunta 9
(Relativamente à formação dos profissionais de planeamento turístico, de
uma forma geral, qual (is) o(s) ponto(s) forte(s) da formação oferecida nos
cursos superiores em turismo?) procura saber os pontos fortes. Estas
perguntas foram realizadas a fim de complementar as informações sobre o
perfil dos cursos de turismo, sob a perspectiva daqueles que os estão a gerir.
Q2: Questionário aplicado aos Responsáveis pela Gestão e Planeamento
do Turismo nas Câmaras Municipais (Anexo 2)
O questionário 2 foi aplicado aos responsáveis pela gestão e planeamento do
turismo nas Câmaras Municipais. Foi feito um levantamento dos emails,
através do site da Associação Nacional dos Municípios Portugueses e,
posteriormente, no site de cada município o email do órgão/departamento
responsável pelo turismo.
168
Na região do Alentejo foram contactados, por correio electrónico, 58 municípios.
Na região do Algarve foram contactados 16 municípios. Um dos municípios
declarou não possuir responsável técnico pelo planeamento turístico, pelo que
apenas foi possível considerar um total de 15 municípios algarvios. Através do
Q2 foi possível recolher informações para: conhecer as principais funções de
planeamento desempenhadas no âmbito das funções profissionais; conhecer o
perfil académico e profissional do técnico responsável pelo planeamento
turístico; recolher informações para, posteriormente, relacionar as funções
desempenhadas pelo técnico responsável com a Formação Superior em
Turismo que, em Portugal, forma estes quadros profissionais com as propostas
formativas nesta área.
O Q2 está dividido em duas partes: a primeira procura reunir informações
pessoais acerca do profissional, enquanto a segunda foca os aspectos relativos
ao desempenho da actividade laboral.
A primeira parte é composta por 6 questões, das quais 3 são abertas e 3 são
fechadas, sendo que 2 são de resposta com alternativa única e 1 de múltiplas
alternativas.
A questão 1 pede para identificar o sexo (questão dicotómica de escolha única:
feminino ou masculino) e a questão 2 a idade do técnico respondente do
inquérito (questão aberta mas que, na tabulação, foi agrupada).
A questão 3 (Quantos anos de experiência profissional possui na área de
gestão e planeamento do turismo?), pergunta fechada de única escola,
pretendia conhecer o tempo de experiência dos profissionais técnicos afectos
nas Câmaras Municipais. As opções de resposta foram: menos de 1 ano; de 1
a 5 anos; de 5 a 10 anos; mais de 10 anos.
As questões 4 e 5 são abertas e buscam identificar o grau de instrução dos
entrevistados (questão 4), assim como a instituição onde esse grau foi
conferido (questão 5). Na tabulação, estas respostas foram agrupadas.
169
A questão 6 (Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que
foram desenvolvidas durante a sua formação superior) é fechada, de
múltipla escolha e com opção de resposta aberta. Dentre as opções, estão:
1. Elaboração de inventário turístico;
2. Elaboração de planos de marketing;
3. Elaboração de diagnósticos e prognósticos;
4. Elaboração de planos de desenvolvimento turístico;
5. Estudo de viabilidade de produtos turísticos;
6. Análise de tendências de mercado;
7. Actividades de sensibilização e/ou consciencialização da comunidade
em relação ao turismo;
8. Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado;
9. Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na área de gestão e
planeamento do turismo;
10. Implementação do plano de desenvolvimento do turismo;
11. Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo;
12. Outra (s). Qual (is)?
A segunda parte contém 8 questões, das quais 4 são abertas, 3 são fechadas
com alternativa única de resposta e 1 fechada com opção de múltiplas
respostas. Esse grupo de perguntas está relacionado especificamente com o
local de trabalho e as funções desempenhadas por estes profissionais.
As questões de 1 a 3 são abertas. A questão 1 pede que seja identificada a
Entidade que o profissional está ligado; na questão 2, o cargo que o
profissional ocupa; e na questão 3, o Departamento ou Organismo ao qual
está ligado. Estas questões pretendem reunir informações sobre o contexto de
trabalho dos profissionais de planeamento turístico ligados às Câmaras
Municipais.
A questão 4 (Tempo que ocupa o cargo) procura identificar a experiência
deste profissional naquela função e locais específicos. Trata-se de uma
170
pergunta de resposta única e entre as opções estão: Menos de 1 ano; de 1 a 5
anos; de 5 a 10 anos; mais de 10 anos.
A pergunta 5 (No seu município existe um órgão especificamente
responsável pela gestão e planeamento do turismo?) foi elaborada com o
objectivo de conhecer como o Turismo é visto dentro desses órgãos públicos e
se está associado à alguma outra área em específico. Trata-se de uma
pergunta fechada e de resposta única (“sim”, “não”, “não sei”).
A pergunta 6 (Quais destas actividades desenvolve actualmente no âmbito
das actividades em gestão e planeamento do turismo designadas para a
sua função profissional?) é uma pergunta fechada e de opção de respostas
múltiplas:
1. Ordenamento territorial e urbanismo;
2. Elaboração de inventário turístico;
3. Elaboração de planos de marketing;
4. Elaboração de diagnósticos e prognósticos;
5. Elaboração de planos de desenvolvimento turístico;
6. Estudo de viabilidade de produtos turísticos;
7. Análise de tendências de mercado;
8. Concepção, incremento e fomento de destinos turísticos;
9. Promoção e venda de destinos turísticos;
10. Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado com o
turismo;
11. Implementação do plano de desenvolvimento do turismo;
12. Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo;
13. Consultadoria na área de gestão, marketing ou planeamento turístico;
14. Inspecção e certificação de qualidade dos destinos turísticos;
15. Outros. Quais?
É importante ter em atenção que as respostas são semelhantes às opções
oferecidas na questão 6, da primeira parte deste mesmo questionário. No
171
entanto, na primeira parte pretendia-se saber se estas actividades fizeram
parte da formação destes profissionais, enquanto nesta questão se pretende
conhecer se essas actividades fazem parte das funções como planeador do
turismo.
As respostas dadas à questão 6 foram inseridas numa tabela de frequência, na
qual é possível identificar tanto o valor absoluto como o valor relativo das
respostas dadas e identificar as funções mais desempenhadas por estes
profissionais.
A questão 7 (Abaixo seguem listados alguns conteúdos da área de turismo.
Marque as alternativas segundo a maior ou menor importância do
conteúdo no seu dia-a-dia laboral, sendo a opção 1 – sem qualquer
importância; 2 – pouca importância; 3 – importante; 4 – Muito importante;
5 – fundamental importância) procurou apresentar um conjunto de conteúdos
da área do turismo, identificados através da literatura, e classificar, sob a
perspectiva do profissional de planeamento turístico, a sua importância no
âmbito das funções que desempenha. Trata-se de uma questão fechada, com
opção de múltiplas escolhas, entre elas:
1. Contextualização da actividade turística;
2. Tendências de mercado;
3. Tipos de Turismo;
4. Produtos turísticos;
5. Economia local, regional e nacional;
6. Política ambiental;
7. Ordenamento do território;
8. Desenvolvimento sustentável;
9. Marketing territorial;
10. Marketing turístico;
11. Etnografia;
12. História;
13. Cultura e património;
14. Gastronomia e artesanato;
15. Gestão de projectos e análise da sua viabilidade económica;
172
16. Gestão da procura turística;
17. Promoção e divulgação de produtos turísticos;
18. Dinamização e gestão de parceiras;
19. Negociação;
20. Comunicação.
As respostas da questão 7 foram tabuladas através da média ponderada das
respostas obtidas, o que permite criar uma tabela em ordem decrescente de
importância destes mesmos conteúdos.
Por fim, a questão 8 (Caso exista algum conteúdo que não esteja acima
listado mas que julgue ter importância no seu dia-a-dia laboral, por favor
refira indicando o seu grau de importância) procura complementar a
questão anterior, dando a opção, em forma de pergunta aberta, de identificar e
classificar algum conteúdo que o profissional julgue importante mas que não
constava na lista criada com base na revisão bibliográfica. Os resultados desta
questão foram tabulados e inseridos com os demais apresentados na pergunta
anterior.
Compreendendo a relação entre a formação superior em turismo e as
funções de planeamento local.
Como anteriormente apresentado, o objectivo geral desta tese é relacionar as
funções de planeamento turístico ao nível local com a formação superior em
turismo em Portugal, de forma a conhecer a capacidade de actuação dos
profissionais formados para exercerem funções de planeamento.
Após a aplicação dos dois questionários, foi realizada uma análise mais ampla
e considerando, de forma conjunta, as respostas obtidas.
No que se refere ao objectivo geral desta tese, foram consideradas,
principalmente, a questão 2 do questionário aplicado aos cursos de turismo
(Quais as actividades práticas em planeamento turístico realizadas no
âmbito do curso de turismo oferecido na sua instituição de ensino?) e a
173
questão 6 da segunda parte do questionário aplicado aos profissionais de
planeamento que exercem funções nas Câmaras Municipais (Quais destas
actividades desenvolve actualmente no âmbito das actividades em gestão
e planeamento do turismo designadas para a sua função profissional?). .
Fontin (2003) explica que os estudos correlacionais possuem o objectivo de
relacionar variáveis e consistem num estudo inicial descritivo-correlacional,
com o intuito de relacionar e descrever as relações entre as variáveis; seguido
de um estudo correlacional, de natureza explicativa e que busca determinar a
natureza das relações entre as variáveis; verificação de modelos teóricos,
adequando o modelo teórico aos dados empíricos. Contudo, a autora destaca
que um dos pressupostos do estudo correlacional é que a amostra deve ser
grande e representativa, porque só assim é possível a exploração das relações
entre as variáveis.
Como não foi possível realizar técnicas estatísticas mais aprofundadas, pelas
razões já anteriormente explicitadas, optou-se pela criação de um gráfico onde
constam as curvas com as respostas das duas questões acima, de forma a
permitir a visualização e análise dos resultados. Nota-se que, apesar de
apresentarem algumas possibilidades de resposta distintas, nesta parte da
análise foram mantidas apenas as opções que estão disponíveis em ambas as
questões.
Por um lado, a questão aplicada aos cursos de turismo procura evidenciar se
as actividades práticas do planeamento, identificadas na revisão da literatura,
são, de facto, trabalhadas durante a formação. Por outro lado, a questão
aplicada aos profissionais de planeamento local procura confirmar se estas
actividades fazem realmente parte das funções destes mesmos profissionais.
Por não ter representatividade cientificamente comprovável, este estudo não
pode ser considerado como um retrato da realidade portuguesa, nesta matéria,
mas pode uma primeira representação para a realização de um estudo mais
abrangente.
174
5.6 Considerações Finais
As informações apresentadas neste capítulo compreendem a estrutura
metodológica da investigação realizada e que auxiliam no entendimento da
proposta desta tese.
Foram apresentados e explicados não somente as razões da discussão e a
estrutura dos conteúdos teóricos, mas também, detalhadamente, a abordagem
metodológica utilizada, os objetivos de investigação e resultados esperados.
A presente tese pode ser classificada como um estudo descritivo e explicativa.
Foram definidas as variáveis “Formação Superior em Turismo” e “Planeamento
Turístico” de forma a instrumentalizar o objectivo geral que é relacionar as
funções de planeamento turístico ao nível local com a formação superior em
turismo em Portugal, de forma a conhecer a coerência entre a formação e a
actuação no mercado laboral. Desta forma, busca-se compreender se existe
coerência entre as funções de planeamento em turismo nos municípios
portugueses e a formação dos profissionais técnicos que actuam no
planeamento do turismo nestes mesmos municípios, sendo esta a pergunta de
partida.
Foram aplicados dois diferentes questionários. O primeiro, aplicado a todos os
cursos de turismo que incluíam o planeador de turismo como saída profissional,
tem como principal objectivo recolher informações sobre o conteúdo e a
metodologia de ensino associado ao Planeamento Turístico. O segundo
questionário, aplicado a todos os municípios da região do Algarve e Alentejo,
tem como objectivo conhecer as principais funções de planeamento
desempenhadas no âmbito das funções profissionais; conhecer o perfil
académico e profissional do técnico responsável pelo planeamento turístico.
Ambos os questionários tinham também como objectivo a recolha de
informações para relacionar as funções desempenhadas pelo técnico
responsável que ocupam funções nestas Câmaras com a Formação Superior
em Turismo que, em Portugal, forma estes quadros profissionais com as
propostas formativas. Este capítulo explicou, portanto, os métodos de recolha
175
de dados e é, portanto, fundamental para que seja compreendida a análise que
segue no capítulo 6.
176
Capítulo 6
Análise dos Resultados
6.1 Introdução
Após a apresentação do método de recolha de dados, o presente capítulo visa
apresentar e discutir os resultados da investigação empírica. Esta fase
envolveu a aplicação de dois questionários distintos: o primeiro, com os
profissionais responsáveis pela gestão e planeamento do turismo nas Câmaras
Municipais da região do Alentejo e Algarve; o segundo, com os responsáveis
pelos cursos de turismo portugueses que formam profissionais para o
desempenho dessas mesmas funções.
Assim, inicialmente será feita uma breve caracterização das regiões
analisadas. Esta caracterização serve apenas para situar o leitor nas
conjunturas encontradas nas regiões quando foi realizada esta investigação,
destacando a situação do turismo nas regiões do Alentejo e Algarve e o
contexto da gestão do turismo destas mesmas regiões.
Posteriormente, são apresentadas as análises dos resultados obtidos com a
aplicação dos questionários e a análise da hipótese de investigação.
6.2 Uma breve caracterização das Regiões em análise
Como o recorte geográfico desta investigação envolve as regiões portuguesas
do Alentejo e Algarve, faz-se necessária uma breve caracterização das
177
mesmas em termos turísticos, apresentando os dados mais relevantes relativos
tanto à procura quanto às informações organizacionais e da oferta.
Alentejo
O ano de 2011 foi o melhor ano de sempre para o turismo no Alentejo. A região
recebeu cerca de 620 mil turistas (Turismo de Portugal, 2013), vindos,
maioritariamente, de Portugal (77% das dormidas). A região apresenta grande
crescimento no número de dormidas (6,1%), ficando, neste indicador, atrás
somente dos Açores (INE, 2012). Apesar disso, em termos turísticos é a região
com menor número de turistas estrangeiros e menor capacidade média de
alojamento (7,6%), menor estada média (1,7 dias) e menor ocupação média
(28,3%) (INE, 2011b).
Por outras palavras, o Alentejo é hoje uma região com pouca expressividade
em termos turístico mas que revela um grande potencial, além de estar
paulatinamente a progredir na estruturação do seu produto.
O Alentejo tem investido na promoção e imagem da região, em diferentes
meios de comunicação e promoção, tanto dentro de Portugal como fora do
país. Em 2011, por exemplo, foi proposta a criação de uma marca que está a
ser trabalhada e que está associada ao segmento do “Turismo Cultural, o
Alentejo Património do Tempo” (Esteves, 2011: 30). Também foi proposta uma
associação da região com o Turismo Gastronómico, através da marca “Alentejo
Bom Gosto” (Silva, 2011: 3), para além da proposta de outras rotas turísticas,
totalizando 10 rotas alentejanas, até 2015. Também se tem mantido uma
agenda com diversos eventos no sentido de promover e atrair mais turistas.
Por outro lado, a região tem estado envolvida em momentos que se julgam
estratégicos para a promoção do Alentejo, nomeadamente, a Bolsa de Turismo
de Lisboa (BTL), bem como em outros países como Brasil, Espanha (FITUR –
Feira Internacional de Turismo en España), Alemanha, Bélgica. Os eventos
seleccionados buscam, de uma forma geral, promover os destinos, apontando
o que há de melhor em cada um deles. A maioria está relacionada com
178
aspectos culturais e gastronómicos. Há também um estímulo às boas práticas
e, anualmente, a Entidade Regional distingue os melhores com o prémio
“Turismo do Alentejo” nas categorias: Melhor empreendimento turístico;
Animação Turística; Melhor Turismo Rural; Melhor Enoturismo; Melhor evento;
Melhor Gastronomia; Melhor projecto público; Comunicação Alentejo; Melhor
Operador Incoming (Turismo do Alentejo, 2011a).
No sentido de estruturar o produto, são realizadas acções que procuram o
envolvimento do tecido empresarial para captar investimentos ou melhorar os
meios já existentes, como, por exemplo, o convite ao sector privado para
conhecer e se envolver nas acções de turismo da região do Alentejo. Outra
acção fundamental para apoiar a gestão pensada é o Observatório do Turismo,
liderado pela Universidade de Évora. Este organismo tem realizado o
levantamento de dados e monitorizado e divulgado os principais dados
relativos ao turismo no Alentejo, com destaque para a Conta Satélite do
Turismo para a região. Esta acção, além de levantar dados para o suporte da
gestão e do planeamento, também envolve a universidade (grupos
académicos) com o Turismo. Em 2011, o Observatório realizou o primeiro
inquérito para conhecer o perfil do turista que visita a região (Turismo do
Alentejo, 2011a).
Em relação à acessibilidade aérea, o novo Aeroporto de Beja representa uma
possibilidade de incrementar o turismo no interior alentejano. Segundo a ERT
do Alentejo, foi definida uma estratégia de captação de ligações aéreas com
base em um conjunto de produtos turísticos com potencial de comercialização,
ou seja, pautado pela definição de quais os mercados que poderiam ser
promovidos e seleccionando agentes turísticos, operadores e outros parceiros
para operacionalizar a estratégia (Turismo do Alentejo, 2011a).
Em termos de planeamento, forma identificadas algumas acções de
diagnóstico como, por exemplo, um projecto denominado “Conhecer para agir”,
no qual os dirigentes e técnicos de turismo procuraram conhecer a oferta
turística regional no âmbito das actividades de promoção, estruturação do
produto e do apoio ao empresário e ao investimento. A proposta deste projecto
é visitar e analisar a oferta turística local e, posteriormente, disponibilizar um
179
relatório técnico com a caracterização do local, bem como os constrangimentos
identificados e as possíveis soluções (Turismo do Alentejo, 2011b).
Analisando este projecto sob outra perspectiva, é possível questionar os
benefícios destes relatórios caso os municípios não possuam Recursos
Humanos capacitados, reconheçam o benefício de planear o turismo ou
possuam recursos financeiros destinados a dar continuidade a esta iniciativa.
Uma outra iniciativa que fortalece este reconhecimento e coesão regional é o
Encontro anual dos técnicos de turismo.
A gestão regional do turismo no Alentejo possui uma forte visão estratégica,
facto que pode ser reconhecido seja através das acções implementadas ao
longo desses anos de gestão regional institucionalizada, seja através dos
prémios recebidos em 2010: Melhor Destino Nacional (World Travel Market –
WTM); Melhor Região de Turismo Nacional, pela Publituris Portugal Travel
Awards; Medalha de Ouro e Mérito Turístico, pela Secretaria de Estado do
Turismo (Turismo do Alentejo, 2010: 05).
Sobre os problemas relacionados com o turismo no Alentejo, o presidente da
ERT, António Ceia da Silva, aponta: a infraestrutura de apoio e atendimento,
com grande parte da oferta encerrada ao público; falta de ligação em rede do
sistema de informação regional; a baixa taxa de permanência média dos
turistas; falta de sistematização da oferta. O presidente confirma, ainda, a
importância do mercado português no turismo alentejano, onde 70% dos
turistas são portugueses com tendência a aumentar ainda mais (Alfaia e
Domingos, 2011: 30-31).
Numa abordagem mais operacional, a ERT do Alentejo definiu as suas funções
no âmbito da gestão e planeamento turístico (Turismo do Alentejo, 2009), aqui
agrupadas segundo a fase do processo de planeamento, a saber:
180
Tabela 14
Funções da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, organizadas segundo o processo de planeamento
Fase do Planeamento Actividade desenvolvida
Diagnóstico Identificar e gerir os principais produtos turísticos regionais.
Elaboração de planos
turísticos/ marketing
Promover a realização de estudos de caracterização das
respectivas áreas geográficas, sob o ponto de vista turístico, e
proceder à identificação e dinamização dos recursos turísticos
existentes;
Promover a realização de estudos e de projectos de investigação
que contribuam para a caracterização e a afirmação do sector
turístico regional;
Definir e implementar uma estratégia turística para a área regional
de turismo;
Colaborar com os órgãos centrais e locais com vista à prossecução
dos objectivos da política nacional que for definida para o turismo;
Participar na elaboração de todos os instrumentos de gestão
territorial que se relacionem com a actividade turística;
Elaborar e executar planos de dinamização e gestão para os
principais produtos turísticos;
Definir e executar uma estratégia regional de promoção turística
dirigida ao mercado interno;
Definir e implementar uma estratégia regional de comunicação e
marketing turístico;
Criar e gerir postos de turismo na área regional de turismo, de
forma autónoma ou em parceria com os municípios;
Apoiar e organizar eventos com conteúdo turístico;
Participar na definição da estratégia nacional de promoção interna;
Participar na execução da estratégia nacional de promoção
externa, através de entidades em que participe e que sejam
reconhecidas pelo Turismo de Portugal, I. P.;
Avaliação
Recomendação
Criar e gerir um observatório da actividade turística, visando
acompanhar a implementação da estratégia turística regional e
avaliar o desempenho do sector turístico regional;
Implementação
Monitorização
Monitorizar a oferta turística regional, tendo em conta a afirmação
turística dos destinos regionais;
Dinamizar e potencializar os valores turísticos regionais;
Fonte: Adaptada a partir do Turismo do Alentejo, 2009
181
Na área do planeamento turístico, a ERT do Alentejo reúne competências para
definir e implementar uma estratégia turística para a área regional de turismo,
reunindo as condições para a sua implementação. Foi considerada necessária
a promoção dos estudos e de projectos de investigação que contribuam para a
caracterização e a afirmação do sector turístico regional, como o Observatório
do Turismo (já anteriormente citado). No entanto, o foco das propostas está
voltado para a promoção regional, o que pode suscitar dúvidas como, por
exemplo: Como comercializar um produto ainda pouco estruturado e que
sequer possui um diagnóstico turístico?
Apesar da reflexão acima identificada, ainda verificamos algumas dificuldades
ao nível das bases do planeamento. O levantamento e discussão de
informações a fim de levar ao diagnóstico do destino, por exemplo, deveria ser
realizado anteriormente à definição de meios de promoção. Por outro lado, é
constatada uma influência positiva no papel de gestão estratégica dos
municípios, apoiando projectos municipais de desenvolvimento turístico, bem
como a definição objectiva da participação dos players, com mais ou menos
importância, no processo de discussão da gestão e planeamento do turismo.
Algarve
Ao contrário do Alentejo, na região do Algarve os estrangeiros representam a
maioria dos turistas, totalizando 71% das dormidas. A estada média é de 4,6
dias (ficando atrás somente da Madeira, que tem 5,1), a ocupação média de
41,1% (ficando atrás de Madeira, 48,2%, e Lisboa, 44,3%) (INE, 2011b). A
região do Algarve recebeu, em 2012, cerca de 2.9 milhões de turistas (Turismo
de Portugal, 2013).
Desde a criação da Entidade Regional de Turismo do Algarve, alguns projectos
voltados para o turismo foram idealizados e/ou implementados. O Manual de
Qualidade, por exemplo, foi elaborado para garantir a qualidade dos serviços
nos postos de turismo da região. No entanto, não foi identificada nenhuma
proposta concreta ou acção no sentido de implementar um Sistema de
182
Qualidade nos destinos Algarvios, numa perspectiva regional (Turismo do
Algarve, 2011b: 15).
Outra iniciativa, que começou em 2010, conhecida como Ciclo de Debates, tem
como objectivo a promoção de debates acerca de temáticas do turismo
pertinentes à realidade algarvia, tendo presente a participação de entidades
públicas e privadas. Temas como Oportunidades para o Turismo, Turismo
acessível, Turismo de nicho e Legislação Turística foram discutidos por
especialistas e empresários da área (Turismo do Algarve, 2010).
Numa síntese dos temas discutidos em 2010, o Turismo do Algarve (2011c)
chegou a diversas conclusões, de entre as quais merece destaque a posição
de gestor regional com perspectiva estratégica. Apesar de definir como suas
competências os papéis de gestão e planeamento numa abordagem
estratégica e integradora da região turística, a ERT ainda está muito focada na
promoção turística. Essa tendência promocional foi questionada, por exemplo,
no documento “Alinhamento do Plano Regional do Algarve com o PENT”7, e
7 O “Alinhamento do Plano Regional de Turismo do Algarve com o PENT” foi elaborado
em colaboração dos diversos agente regionais, a saber: Entidade Regional de Turismo
do Algarve (ERTA) e Associação de Turismo do Algarve (ATA); Entidades públicas
locais com responsabilidade pela gestão local, gestão do património natural, cultura e
formação; – Entidades e Associações Regionais e Nacionais ligadas ao Turismo;
Empresas de hotelaria, promoção de empreendimentos turísticos; e Operadores
turísticos (Turismo do Algarve, 2009: 2). O projecto estratégico foi proposto para 7
áreas de implementação distintas: Desenvolvimento de acessibilidades; Qualificação
dos recursos físicos; Qualificação da oferta e do serviço dos agentes; Animação,
eventos e conteúdos; Recursos Humanos; Promoção; Evolução da ERTA para DMO
(Destination Management Organisation) (Turismo do Algarve, 2099: 29). É
interessante destacar que um dos projectos de intervenção, a proposta de “Evolução
da ERTA para DMO” previa a necessidade de uma visão mais estratégica e sistémica
por parte do Organismo Regional de Turismo do Algarve As competências da Entidade
Regional deviam evoluir de uma actuação enfocada na promoção para uma proposta
de gestão integral do destino, onde a promoção seja mais uma das competências,
dentre outras de carácter estruturantes do destino.
183
um sinal desta mudança do padrão de actuação pode ser verificada nas
conclusões dos debates.
Dentre diversas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças associadas aos
produtos turísticos algarvios, o Turismo do Algarve (2011c) propõe, conduz e
encomenda estudos específicos, mobiliza o trade e envolve parceiros nas
discussões do turismo regional, identifica a região do Alentejo como possível
parceiro regional, apela à necessidade de sensibilização e envolvimento da
comunidade local, reconhece a necessidade de mobilização dos municípios
algarvios. Por outro lado, o Plano de actividades 2011 (Turismo do Algarve,
2011a) tem uma proposta de actuação com fortes perspectivas de marketing,
com uma actuação mais aproximada do marketing empresarial.
A análise do Plano de actividades evidencia tais características. Inicialmente, é
feita uma caracterização da procura, sendo apresentados os números relativos
à procura, receitas, estada média, números relativos ao golfe e comparação
com outros mercados, estatísticas referentes à actuação dos postos de
informação turística, dentre outros. Posteriormente, é apresentada uma análise
da satisfação do cliente com o atendimento específico dos postos de
informação turística.
O Plano parte, então, para apresentação dos eixos de actuação. Apesar do
diagnóstico apresentado pelo PENT identificar como produtos estratégicos os
segmentos “Sol e Mar” e “Golfe” e, como produtos em desenvolvimento, os
segmentos “Turismo de Negócios”, “Resorts integrados e Turismo Residencial”,
“Turismo Náutico” e o “Turismo de Natureza”, a ERTA, considerando que estes
segmentos já possuem destaque e que há “vocação” regional, decide
considerar o desenvolvimento de outros produtos complementares, sugerindo:
Turismo de Natureza, Saúde e Bem-estar, Turismo Cultural e Gastronomia.
Vale aqui relembrar que o PENT (Turismo de Portugal, 2006: 77) identificou a
contribuição de cada produto turístico prioritário, por região. O segmento “Sol e
Mar” é o que mais contribui, sendo classificado como de 1º nível. No segundo
nível de contribuição encontra-se o “Turismo de negócios”; no 3º nível o
“Turismo de Golfe”; no 4º nível o “Turismo náutico”, “Resorts Integrados e
184
Turismo Residencial” e o “Turismo Náutico”. Os segmentos “Turismo de
Natureza”, “Touring” e “Gastronomia e Vinhos”, definidos pelo Turismo do
Algarve como produtos a serem desenvolvidos, não possuem qualquer nível de
contribuição (ao menos significativo) nesta classificação definida pela PENT.
Em relação às acções propostas, é prevista a elaboração do “Plano Estratégico
para a Promoção do Turismo Acessível”, o apoio ao investimento no turismo da
região e a dinamização de projectos relevantes para a economia local, dar
continuidade ao Barómetro da ERTA e ao Ciclo de debates, acções de
formação. Na área do Marketing, serão realizadas acções promocionais dos
produtos estratégicos prioritários e complementares. No que se refere à Gestão
da Qualidade, a ERTA comprometeu-se, em 2011, a certificar os postos de
informação turística algarvios e a alargar esta proposta para o sector da
restauração (Turismo do Algarve, 2011c).
Não foram identificadas acções especificamente estruturantes, seja dos
produtos já existentes, seja dos novos produtos considerados pela região.
Apesar de propor um papel mais estratégico no nível regional, não ficou
evidente uma liderança regional forte que possibilitasse orientar os municípios
algarvios e, ao mesmo tempo, promover a coesão e sinergia regional. Foi
identificada uma vertente promocional muito forte mas desproporcional às
funções de gestão e planeamento regional.
A tabela 15 classifica as competências da ERT do Algarve, definidas pela
própria, segundo as fases do planeamento. É possível notar que existem
propostas de actuação da entidade como gestora regional do turismo com uma
abordagem mais integral e não apenas especializada na promoção turística.
185
Tabela 15
Funções da Entidade Regional de Turismo do Algarve organizada segundo o processo de planeamento
Fase do Planeamento Actividade desenvolvida
Diagnóstico Realizar estudos de caracterização do Algarve sob o ponto de vista turístico
e proceder à identificação e ao fomento da gestão sustentável dos recursos
turísticos;
Identificar os produtos turísticos regionais, tendo em conta a desejável
cooperação e complementaridade com os de outras entidades regionais de
turismo;
Promover a realização de estudos e investigação, do ponto de vista turístico,
com vista à dinamização e valorização da oferta;
Elaborar itinerários turísticos da Região e proceder à sua divulgação;
Colaborar nos inventários de monumentos, palácios, casas antigas e outros
elementos do património cultural com interesse turístico e proceder à sua
divulgação;
Elaborar e divulgar o inventário gastronómico da Região.
Elaboração de planos
turísticos/marketing
Definir uma estratégia para o sector turístico, coerente com as orientações
do Plano Nacional para o Turismo;
Elaborar os planos de acção promocional de turismo em consonância com a
nova dinâmica de gestão definida no Decreto -Lei n.º 67/2008, de 10 de
Abril;
Reforçar a promoção no mercado interno através de acções de grande
visibilidade e impacte, com vista ao aumento da procura e consolidação da
imagem do destino;
Propor a classificação de sítios e locais de interesse para o turismo;
Promover conferências, congressos, seminários, colóquios ou outras formas
de debate, sob temas considerados de interesse para o turismo;
Promover a oferta turística e colaborar com os órgãos centrais e locais de
turismo com vista à promoção da região;
Fomentar a divulgação do património natural, arquitectónico e cultural,
assim como o estímulo à tradição local em matéria de artesanato,
gastronomia e criação artística, desde que assumam relevância do ponto de
vista turístico;
Dinamizar os postos de turismo na óptica da disponibilização de informação,
vendas e apoio ao turista;
Elaborar o Plano Regional da Turismo do Algarve, no quadro das grandes
opções definidas pelo Governo, bem como as suas revisões bienais, a
submeter à assembleia-geral para aprovação;
Elaborar os planos de promoção turística do Algarve, a submeter à
assembleia-geral para aprovação;
Aprovar as medidas destinadas a fomentar o investimento, construção e
melhoria do alojamento turístico da região, bem como de todos os demais
186
empreendimentos de interesse para o seu desenvolvimento;
Promover a realização de seminários, exposições, concursos, certames,
festas, feiras, eventos culturais e desportivos e outras manifestações de
interesse para o turismo, e ainda elaborar calendários das manifestações
turísticas da Região;
Promover a elaboração e a edição de publicações destinadas à divulgação
da Região;
Organizar, divulgar e manter actualizado o inventário da produção de
artesanato, bem como a relação dos artesãos em actividade;
Divulgar o património natural da Região;
Criar e manter serviços e postos de turismo, para atendimento público;
Participar, através da emissão de pareceres, na elaboração, implementação
e revisão de planos de ordenamento territorial;
Participar, através da emissão de pareceres, na elaboração e revisão dos
PDM dos municípios integrantes da Turismo do Algarve;
Deliberar sobre a concessão e forma de subsídios a manifestações
destinadas a promover o desenvolvimento turístico da região;
Participar na concepção e nas decisões relativas aos sistemas de incentivos
e dos fundos destinados ao desenvolvimento turístico local e regional;
Participar, através da emissão de pareceres, no licenciamento ou
autorização de empreendimentos e actividades com impactes na dinâmica
da oferta turística local e regional, através dos mecanismos legais, em
concertação com as entidades locais, regionais e supra -regionais;
Participar na gestão de fundos financeiros através da emissão de pareceres,
quando solicitados, a candidaturas de projectos relacionados, directa ou
indirectamente, com o turismo, tendo em consideração a dotação e a
capacidade da região, o conhecimento de desempenho das diversas áreas
de actividades turística na região, as condicionantes e outros factores que
influenciem a aprovação dos projectos;
Participar e acompanhar o registo de alojamento turístico e alojamento local
disponível nos termos da legislação aplicável e proceder à sua divulgação.
Avaliação e Recomendação Avaliar o desempenho e política de turismo de destinos concorrentes, na
óptica do desenvolvimento da estratégia para o mercado interno;
Implementação
Monitorização
Implementar mecanismos que permitam a operacionalização eficaz do
Plano Regional de Turismo, decorrente do alinhamento com a estratégia
identificada na alínea anterior;
Monitorizar e avaliar conjuntamente as dinâmicas da contratualização com a
consequente adaptação do modelo em função dos resultados;
Monitorizar e avaliar o desempenho da actividade turística regional em
cooperação com entidades do sector;
Acompanhar as actividades turísticas da região e promover a correcção das
anomalias ou propor às entidades responsáveis as medidas adequadas;
Fonte: Adaptado a partir do Turismo de Algarve, 2009.
187
Até meados de 2011, foram apresentados e desenvolvidos pela ERT do
Algarve alguns projectos, tais como: o Alinhamento do Plano Regional de
Turismo do Algarve com o PENT; a implementação do Sistema de Gestão de
Qualidade nos Postos de Turísticos, visando a melhoria da qualidade dos
serviços prestados; Realização de um Plano de Acção (2011) onde é feito um
diagnóstico regional, análise da concorrência, análise do desempenho dos
Postos de Turismo instalados em território nacional e no estrangeiro, avaliação
da satisfação do turista; além da apresentação das actividades a serem
realizadas ao longo do ano, que envolvem promoção, formação, sensibilização
(debates de temas), actividades promocionais específicas por produto regional
prioritário, dentre outros (Turismo do Algarve, 2011).
6.3 Apresentação e Discussão dos Resultados obtidos
Como referido anteriormente, a pesquisa empírica envolveu a aplicação de dois
questionários: o primeiro, aplicado aos cursos de turismo em Portugal que
definem a função de planeador e gestor do turismo como uma das
possibilidades profissionais do aluno que o conclui; o segundo, aplicado aos
profissionais responsáveis pelo planeamento turístico ligados às Câmaras
Municipais de Turismo das regiões Alentejo e Algarve. Ambos estes
questionários são apresentados em anexo. O objectivo principal foi relacionar
os resultados obtidos nos dois inquéritos aplicados, de forma a melhor
compreender a relação entre a formação superior em turismo e a planeamento
turístico municipal em Portugal.
6.3.1 Resultados dos inquéritos dos Cursos Superiores em Turismo
O capítulo 4 discutiu a Formação Superior em Turismo em Portugal e, entre o
total de 74 cursos, foram identificados 33 que consideravam as funções de
gestão e planeamento em autarquias como uma possibilidade de saída
profissional. Este número representa 44,6% da oferta formativa no Ensino
Superior em turismo, em Portugal.
188
Foram enviados 33 questionários, através do email, e obtidas 27 respostas
válidas, o que representa 82% do universo. As respostas foram recepcionadas
entre 29 de Novembro de 2011 e 07 de Março de 2012.
Ao analisar estas respostas, pretende-se estabelecer um perfil do ensino
nestes cursos relacionados com as actividades de gestão e planeamento, bem
como recolher dados para conhecer a relação entre a formação superior dos
profissionais responsáveis pelo planeamento turístico e a capacidade de
actuação no âmbito do planeamento turístico local em Portugal.
A pergunta 1 (No curso superior em turismo oferecido na sua instituição de
ensino, a disciplina de planeamento turístico utiliza métodos de ensino
compostos por), 70% das respostas apontam que a oferta formativa envolve,
equitativamente, aspectos teóricos e práticos; 26% mais aspectos teóricos do
que práticos; 4% (valor relativo igual a 1), mais aspectos práticos do que
teórico (Figura 20).
O conjunto de possibilidades de respostas incluíam duas situações extremas,
“somente aspectos teóricos” e “somente aspectos práticos”. Nenhum dos
responsáveis de curso respondeu uma destas duas alternativas.
Numerando de 1 a 5 (escala de Likert), onde o valor 1 é atribuído para a opção
“somente aspectos teóricos”, o valor 2 para “mais aspectos teóricos do que
práticos”, 3 para “equitativamente aspectos teóricos e práticos”, 4 para “mais
aspectos práticos do que teóricos” e 5 para “somente aspectos práticos”, é
possível chegar a uma média de 2,78 na escala de 0 a 5. Assim, é possível
concluir que, apesar de a maioria dos respondentes apontar para um curso
com “equitativamente aspectos teóricos e práticos”, essa resposta tende mais
para os aspectos teóricos do que para os práticos.
189
Figura 20
P1. No curso superior em turismo oferecido na instituição em que
trabalha, as disciplinas de planeamento turístico utilizam métodos de
ensino compostos por (%):
As respostas obtidas para a pergunta 2 (Quais as actividades práticas em
planeamento turístico realizadas no âmbito do curso de turismo oferecido na
instituição em que trabalha?) estão representadas na tabela de frequência
(Tabela 16). As actividades que envolvem elaboração de inventários, planos,
tendências, diagnósticos e prognósticos são apontadas como as mais
desenvolvidas nos cursos em questão. Por outro lado, as actividades que
requerem um maior acompanhamento e envolvimento com as comunidades
locais são as menos contempladas pelos cursos, como: sensibilização da
comunidade, implementação, avaliação e controlo de planos turísticos.
É possível considerar a classificação das actividades citadas em quatro fases:
1) Actividades que antecedem a elaboração do plano: Actividades de
sensibilização e/ou consciencialização da comunidade em relação ao
turismo; Estudo de viabilidade de produtos turísticos;
2) Elaboração de planos/marketing: Análise de tendências de mercado;
Elaboração de diagnósticos e prognósticos; Elaboração de inventário
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Somente aspectos teóricos
Mais aspectos teóricos do que práticos
Equitativamente aspectos teóricos epráticos
Mais aspectos práticos do que teóricos
Somente aspectos práticos
190
turístico; Elaboração de planos de desenvolvimento turístico; Elaboração
de planos de marketing;
3) Actividades a serem desenvolvidas após a elaboração do plano:
Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo;
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo;
4) Actividades processuais e de suporte: Apoio técnico aos municípios ou
regiões de turismo na área de gestão e planeamento do turismo;
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado.
Desta forma, é possível observar que as principais actividades práticas
desenvolvidas no contexto formativo destas instituições contemplam,
essencialmente, o item 2. Ou seja, há uma concentração de actividades que
envolvem a elaboração de planos turísticos, de marketing, análise de mercado,
diagnóstico e prognóstico. Por outro lado, verifica-se a deficiência nas demais
actividades do processo de planeamento.
191
Tabela 16 – Frequência
P2. Quais as actividades práticas em planeamento turístico realizadas no
âmbito do curso de turismo oferecido na instituição em que trabalha?
Actividades Práticas Valor
Absoluto
Valor
Relativo
(%)
Elaboração de inventário turístico 22 81,5
Análise de tendências de mercado 21 77,8
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico 19 70,4
Elaboração de diagnósticos e prognósticos 18 66,7
Elaboração de planos de marketing 16 59,3
Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na
área de gestão e planeamento do turismo 15 55,6
Estudo de viabilidade de produtos turísticos 15 55,6
Actividades de sensibilização e/ou
consciencialização da comunidade com relação ao
turismo
12 44,4
Processo de envolvimento da comunidade e do
sector privado 12 44,4
Implementação do plano de desenvolvimento do
turismo 8 30,0
Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento
do turismo 8 30,0
Outra (s). Qual (is)? 2 7,4
A pergunta 3 solicita que o docente classifique os conteúdos acima citados,
segundo as características do curso que coordena, sendo possível responder:
0 – caso não se aplique; 1 - somente com bases teóricas; 2 - mais com base
teórica do que prática; 3 - equilíbrio entre a componente teórica e a prática; 4 -
mais prático do que teórico; 5 - somente teórico. Todos os respondentes
atribuíram respostas com classificação de 1 a 5, o que significa que todos os
conteúdos apresentados fizeram parte das suas formações no nível superior.
192
A tabela 17 apresenta o conteúdo e a sua respectiva classificação, segundo a
escala de Likert. Considerando todas as disciplinas conjuntamente, o valor
obtido é de 2,81, o que significa que está próximo de um conjunto de
disciplinas com equilíbrio entre a componente teórica e prática, tendendo para
o lado teórico.
Do total de 20 diferentes conteúdos, apenas quatro atingiram o valor 3 ou
superior, o que reforça a tendência para a equidade entre os aspectos teóricos
e práticos sendo, contudo mais voltada para o lado teórico. Os conteúdos que
obtiveram mais componentes práticas foram: Produtos Turísticos; Gestão de
projectos e análise da sua viabilidade económica; Dinamização e gestão de
parcerias; Comunicação. Já aqueles que mais se aproximaram da perspectiva
teórica foram: História e Política Ambiental.
193
Tabela 17
P3. Classifique os conteúdos a seguir, de acordo com a realidade vivida
no curso que coordena (escala Likert)
Conteúdo
Classificação média
na escala de Likert
(0 a 5)
Contextualização da actividade turística 2,81
Tendências de Mercado 2,77
Tipos de turismo 2,78
Produtos turísticos 3,07
Economia local, regional e nacional 2,59
Política ambiental 2,48
Ordenamento do território 2,63
Desenvolvimento sustentável 2,84
Marketing territorial 2,67
Marketing turístico 2,92
Etnografia 2,73
História 2,38
Cultura e património 2,89
Gastronomia e artesanato 2,96
Gestão de projectos e análise da sua viabilidade económica 3,00
Gestão da procura turística 2,89
Promoção e divulgação de produtos turísticos 2,81
Dinamização e gestão de parcerias 3,00
Negociação 2,77
Comunicação 3,15
Total do curso 2,81
194
A questão 4 pretende conhecer se existe algum tipo de ligação entre o curso de
turismo e as instituições que desenvolvem actividade no mercado turístico.
Esta pergunta permite perceber as ligações entre os cursos e a realidade
turística. A Figura 21 apresenta os principais agentes envolvidos nas parcerias
com os cursos de turismo analisados. Como principais parceiros são apontados:
as Entidades Regionais de Turismo (23%), os Municípios Turísticos (19%) e os
Operadores Turísticos (17%). Por outro lado, apenas 3% possuem parcerias
para estágios com este tipo de instituições.
A hipótese 3 (H3) está associada à pergunta 4 (P4), na qual H3 considera que
“Não existe grande aproximação entre os cursos de turismo e os organismos
públicos responsáveis pela gestão e planeamento local/regional do turismo em
Portugal”. No entanto, conforme as respostas obtidas na P4, entre as parcerias
estabelecidas entre os cursos de turismo analisados e outros organismos
externos, verificou-se um baixo percentual de parcerias, apesar de a maior
parte delas se dá justamente com as Entidades Regionais de Turismo (23%) e
com os Municípios (19%). Desta forma, H3 é confirmada.
Figura 21
P4. Existem parcerias estabelecidas entre o curso de turismo que
coordena e algumas entidades locais ou regionais de turismo, públicas
ou privadas, por exemplo no âmbito de protocolos para estágios
relacionados com actividades em gestão e planeamento do turismo? (%)
14
3
3
4
6
10
17
19
23
0 5 10 15 20 25
Outras
Associações de Desenvolvimento
Estágios
Empresas de Animação Turística
Hoteis
Empresas de consultoria
Operadores turisticos
Municipios
Entidades Regionais de Turismo
195
A pergunta 5 procura conhecer as actividades aplicadas que se praticam no
âmbito destes cursos de turismo, ou seja, a proximidade do curso com o
mercado do turismo (P5. É desenvolvida, através do curso de turismo que
coordena, alguma actividade de âmbito aplicado no domínio da gestão e
planeamento do turismo para um município, região ou país? - Quais?).
As actividades mais desenvolvidas são aquelas que envolvem o nível municipal
(33%), seguida da opção “Outras”, que representa 27%. Dentre as opções
“Outras”, foram citadas, com igual frequência (valor absoluto 1): Avaliações do
potencial turístico do território; Desenvolvimento de actividades com
golfe/resorts; Desenvolvimento de actividades com hotéis; Desenvolvimento de
actividades com instituições ambientais; Desenvolvimento de um Observatório
Regional do Turismo; Empreendedorismo; Planos de marketing; Projecto de
Unidade Curricular.
A hipótese 4 (H4) procura confirmar se “Não há um significativo envolvimento
dos curso de turismo com os organismos locais através de desenvolvimento de
atividades práticas de gestão e planeamento no nível local” e está associada à
pergunta 5 (P5). Segundo as respostas obtidas na P5, verifica-se que 33%
desenvolvem atividades relacionadas com o município, o que representa cerca
de 1/3 das respostas. Trata-se de um número significativo de cursos a
desenvolver atividades práticas de gestão e planeamento com organismos
municipais na área do turismo, o que torna falsa a hipótese levantada.
196
Figura 22
P5. É desenvolvida, através do curso de turismo que coordena, alguma actividade de âmbito aplicado no domínio da gestão e planeamento do
turismo para um município, região ou país? - Quais? (%)
A questão 6 tem como objectivo conhecer o envolvimento do curso com a
comunidade local. As respostas foram, em termos percentuais (Figura 23):
Participação e organização de eventos (ex: Conferências, Feiras) (25,7%);
Relações/parcerias com instituições ou empresas (22,9%); Seminários e
Workshops (17,1%); Estudos e Projectos (11,4%); Visitas de estudo (8,6%);
Fórum (5,7%); Componente lectiva (2,9%); Dinamização de recursos e
atrativos turísticos (2,9%); Turismo temático (2,9%).
Curiosamente, todas as actividades referidas como parte do envolvimento do
curso com a comunidade local estão relacionadas com a realização de eventos,
estudos e projectos. Não foi citada nenhuma actividade, por exemplo, de
sensibilização da comunidade para o turismo, uma das funções do profissional
de turismo na área da gestão e planeamento.
Outra actividade importante no âmbito do turismo, o seu debate comunitário
como opção económica, que deve ser conduzida por profissionais de gestão e
planeamento, não é referida. Apesar de poderem estar incluídas nos “Fora”,
apenas 5,7% das respostas indicam envolvimento com esta actividade.
0 5 10 15 20 25 30 35
Análise Produtos e Serviços Turísticos
Desenv. de estudos e projectos
Desenv. de actividades - internacional
Desenv. de actividades - regional
Desenv. de actividades - municipal
Desenv. de outras actividades
197
Figura 23
P6. É desenvolvida, através do curso de turismo da sua instituição de
ensino, alguma actividade junto com a comunidade? - Quais?
Quando perguntado aos responsáveis dos cursos, na questão 7, quais eram os
factores diferenciadores dos demais cursos (Figura 24), a maior parte aponta
para os estágios curriculares nacionais e internacionais (16,3%); integração
dos alunos em projectos de investigação (14,3%); e a componente prática do
curso (12,2%). Apenas 4,1% dos cursos acredita que o seu corpo docente é
um factor diferenciador, sendo esse o menor percentual de resposta obtido
nesta questão. Entretanto, como vimos, na questão 4, apenas 3% afirmam
possuir parcerias para estágios nos domínios da gestão e planeamento
turístico.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Outras actividades
Visitas de estudo
Seminários e Workshops
Participação e organização de eventos (ex:…
198
Figura 24
P7. Existe algum factor diferenciador no curso que coordena em relação
aos demais que conhece? - Qual? (%)
A Figura 25 ilustra os principais pontos fracos apontados pelos coordenadores
dos cursos investigados no que respeita às funções de planeamento turístico. A
maioria dos coordenadores (56%) acredita que a articulação entre as
componentes práticas e teóricas é deficiente; 12%, a docência não
especializada/adequada às necessidades do curso; 12% apontam a fraca
relação com as autarquias e empresas; 8% consideram a desadequação dos
conteúdos programáticos; 8% as fragilidades em algumas áreas do
conhecimento; e, por fim, 4% a fraca oferta de estágios remunerados/não
remunerados.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Outros factores diferenciadores
Corpo docente
Empreendedorismo
Visitas de estudo
Componente de gestão
Participação e organização de eventos
Componente lectiva
Relações/parcerias com instituições
Componente prática
Integração de alunos em proj investigação
Estágios nacionais e internacionais
199
Figura 25
P8. Na opinião que tem em relação à formação dos profissionais de
planeamento turístico, de um modo geral, qual(is) o(s) ponto(s) fraco(s) da
formação oferecida nos cursos superiores em turismo em Portugal? (%)
Por outro lado, quando abordados sobre os pontos fortes relacionados com a
formação destes mesmos profissionais, os coordenadores dos cursos
investigados apontaram (Figura 26): Oferta curricular multidisciplinar adequada
às necessidades actuais (54%); Forte componente teórica (17%); Boa
articulação entre as componentes teóricas e práticas (13%); Articulação com
entidades externas (4%); Adequação dos conteúdos programáticos (4%);
Existência de bibliografia adequada às necessidades actuais (4%); Diversidade
da oferta formativa (4%).
0 10 20 30 40 50 60
Articulação deficiente entre ascomponentes teórica e prática
Desadequação dos conteudosprogramáticos
Docencia não especializada/adequadaàs necessidades do curso
Fraca oferta de estágiosremunerados/não remunerados
Fraca relação com as autarquias eempresas
Fragilidades em algumas áreas doconhecimento
200
Figura 26
P9. Na opinião que tem em relação à formação dos profissionais de
planeamento turístico, de um modo geral, qual(is) o(s) ponto(s) forte(s) da
formação oferecida nos cursos superiores em turismo em Portugal? (%)
Ou seja, se, por um lado, a desarticulação entre os aspectos teóricos e práticos
é considerada como a maior deficiência na formação em turismo em Portugal,
por outro, o maior ponto forte é a oferta formativa multidisciplinar adequada às
necessidades do mercado. Na perspectiva dos coordenadores dos cursos
investigados, os cursos possuem um perfil equitativamente teórico e prático,
tendendo para o teórico.
No contexto da gestão e planeamento do turismo, as actividades mais
desenvolvidas durante a formação dos profissionais nestas instituições são
referentes à elaboração de planos turísticos e de marketing ou actividades
relativas às fases de diagnóstico do turismo, como: análise de viabilidade e
análise de tendências de mercado. Por outro lado, as actividades que exigem
maior contacto com a comunidade (e com a realidade), ou um
acompanhamento de médio e longo prazo, como actividades de sensibilização
da comunidade ou implementação de planos turísticos, são menos
desenvolvidas no ambiente académico.
0 10 20 30 40 50 60
Articulação com entidades externas
Boa articulação entre as componentesteórica e prática
Adequação dos conteudosprogramáticos
Existência de bibliografia adequada àsnecessidades atuais
Forte componente teórica
Diversidade da oferta formativa
Oferta curricular multidisciplinaradequada às necessidades atuais
201
Verifica-se, também, uma fragilidade na relação com o mercado quando, por
exemplo, as parcerias para estágios profissionais são apontadas como a mais
fraca relação destes cursos. Apesar dessa realidade, os coordenadores
acreditam que estes mesmos estágios constituem a maior mais-valia nas suas
instituições.
Compreende-se que haja a dificuldade em desenvolver determinados tipos de
actividades que requerem mais envolvimento dos alunos com as realidades.
Mas, por outro lado, estes mesmos alunos precisarão de aplicar estas funções
no contexto profissional, pelo que seria mais conveniente que a sua realização
pela primeira vez (envolvendo mais risco) fosse efectuada num contexto mais
descomprometido e com acompanhamento.
6.3.2 Resultados dos inquéritos dos Responsáveis pelo Planeamento
Turístico nas Câmaras Municipais
O questionário 2 (anexo II) foi aplicado aos profissionais responsáveis pela
gestão e planeamento do turismo das Câmaras Municipais das regiões do
Alentejo e Algarve.
Foram enviados 74 questionários a todas as Câmaras Municipais das Regiões
do Alentejo (58) e Algarve (16), mas um município algarvio afirmou não haver
profissional responsável pela gestão e planeamento do turismo, de forma que o
total corrigido passou a ser de 73 municípios. Foram obtidas 57 respostas, o
que representa 78% do universo. Se considerarmos as sub-regiões, dos 15
municípios algarvios foram obtidas 11 respostas (73%), enquanto 46
municípios alentejanos (79%) responderam, o que significa que os resultados
estão equilibrados dentro das duas regiões analisadas.
O questionário está dividido em duas partes: a primeira busca informações
relativas às características dos responsáveis técnicos ligados à gestão e
planeamento do turismo nas Câmaras Municipais, tendo em vista a definição
do seu perfil; a segunda parte está relacionada com as funções que estes
profissionais exercem.
202
Na parte 1, na tentativa de delinear um perfil deste tipo de profissionais,
verifica-se que este é predominantemente do sexo feminino (74%) (P1. Sexo).
Tem idade compreendida entre 31 e 40 anos (53%) seguida da faixa etária de
41 a 50 anos (19%), o que significa que 72% dos profissionais da área nestas
regiões possuem entre 31 e 50 anos (Figura 27) (P2. Idade).
Figura 27
P2. Idade (%)
Em relação à experiência (P3. Quantos anos de experiência profissional
possui na área de planeamento e gestão do turismo?), cerca de 38%
afirmaram ter mais de 10 anos a desenvolver estas funções, 26% entre 5 e 10
anos de experiência e 30% de 1 a 5 anos de experiência. Apenas 6%
afirmaram ter menos de 1 ano de experiência. Verifica-se, portanto, que 64%
destes profissionais possuem mais de 5 anos de experiência na área da gestão
e planeamento turístico.
A hipótese 5 (H5) está relacionada com a pergunta 3 (P3). A hipótese
levantada é que “Os profissionais responsáveis pelo planeamento turístico nas
Câmaras dos Municípios do Alentejo e Algarve possuem pouca experiência na
0 10 20 30 40 50 60
20 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50
acima dos 50 anos
N/R
203
área em que actuam”. No entanto, esta hipótese não se confirma, conforme os
resultados apresentados acima.
No que respeita ao nível de instrução (P4. Qual o seu nível de instrução?), a
maioria (63%) afirmou possuir licenciatura, seguido por pós-graduados (21%) e
mestres (16%). Na pergunta 5, foi solicitada a indicação de qual a instituição e
o curso frequentados (P5. Caso se aplique, indique o curso e a instituição
onde obteve o seu grau de…)
A hipótese 6 (H6) está relacionada com a pergunta 5 (P5) considerando que “a
maior parte dos profissionais que desempenham funções de planeamento
turístico possuem licenciatura”. Conforme as respostas obtidas, esta hipótese é
confirmada já que 63% dos responsáveis pelo planeamento turístico nos
municípios analisados são licenciados e outros têm, até, graduação mais
elevada.
A Figura 28 reúne as instituições frequentadas pelos profissionais inquiridos,
demonstrando a concentração em instituições das próprias regiões analisadas.
No que se refere aos cursos, apenas 13% frequentaram um curso fora da área
do turismo (Sociologia e Relações Internacionais).
Figura 28
P5. Instituição onde obteve o seu grau de Licenciatura (%)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Esc Sup Educação de Portalegre
Esc Sup Tecnologia e Gestão de Beja
Esc Sup Tecnologia e Gestão de Bragança
Esc Sup Tecnologia e Gestão de Portalegre
Fac Ciências Sociais e Humanas - UNL
Instituto Politécnico de Tomar
Instituto Superior de Ciências Educativas
Instituto Superior de Línguas e Adm
Instituto Superior de Novas Profissões
Universidade de Évora
Universidade do Algarve
Universidade Lusíada
NS/NR
204
As pós-graduações também foram feitas, maioritariamente, em instituições das
regiões analisadas, com destaque para a Universidade do Algarve e a
Universidade de Évora. E com relação aos cursos, todos possuíam relação
com o turismo ou com a economia e desenvolvimento local.
Figura 29
P5. Caso se aplique, indique o curso e a instituição onde obteve a sua
pós-graduação (%)
No que se refere ao grau de mestrado (P5. Caso se aplique, indique o curso
e a instituição onde obteve o seu grau de Mestrado), como foi referido
anteriormente, 16% dos profissionais inquiridos indicaram possuir este grau
académico. As instituições frequentadas foram ISCTE (25%), Universidade de
Aveiro (25%) e Universidade de Évora (50%). Quanto ao tipo de cursos, 25%
estava ligado à área do turismo, 25% a outras áreas e 50% dos inquiridos não
respondeu à questão.
Na questão 6, de escolha múltipla, os profissionais foram questionados acerca
da sua formação relacionada com o desempenho da função de gestão e
planeamento do turismo (P6. Das actividades abaixo listadas, marque todas
0 5 10 15 20 25 30
Fac Ciências Sociais e Humanas - UNL
INESLA/ISCTE
ISSS
Universidade Católica Portuguesa
Universidade de Évora
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Universidade do Algarve
Universidade Lusofona
205
as opções que foram desenvolvidas durante a sua formação) (Tabela 18).
É possível identificar uma concentração nas actividades de elaboração dos
planos turísticos, como a elaboração dos planos de desenvolvimento turístico
(70,8%) e planos de marketing (70,8%), enquanto as actividades que devem
ocorrer antes e após a elaboração destes documentos são contempladas
menos vezes, como o caso da implementação do plano de desenvolvimento
turístico (25%) e o controlo e avaliação do plano de desenvolvimento turístico
(27,1%).
Para analisar a respostas dos profissionais, será utilizada a mesma
classificação usada na análise do questionário dos cursos de turismo, a saber:
1. Actividades que antecedem a elaboração do plano: Actividades de
sensibilização e/ou consciencialização da comunidade com relação ao
turismo; Estudo de viabilidade de produtos turísticos;
2. Elaboração de planos turísticos/ marketing: Análise de tendências de
mercado; Elaboração de diagnósticos e prognósticos; Elaboração de
inventário turístico; Elaboração de planos de desenvolvimento turístico;
Elaboração de planos de marketing;
3. Actividades a serem desenvolvidas após a elaboração do plano:
Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo;
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo;
4. Actividades processuais e de suporte: Apoio técnico aos municípios ou
regiões de turismo na área de gestão e planeamento do turismo;
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado.
Assim como respondido pelos coordenadores de cursos, a formação dos
profissionais com funções em planeamento contemplou, maioritariamente,
actividades de Elaboração de planos. As actividades menos praticadas durante
a formação são as de implementação e controlo e avaliação dos planos de
desenvolvimento turístico.
A hipótese 7 (H7) está relacionada com a pergunta 6 (P6) e procura
compreender se “Durante a formação dos profissionais responsáveis pelo
206
planeamento turístico as atividades práticas desenvolvidas estão mais
relacionadas com a elaboração de planos turísticos ou de marketing”. Pela
experiência pessoal da investigadora, era esta a tendência dos cursos de
turismo, o que se verificou ser verdadeira.
Tabela 18
P6. Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que foram desenvolvidas durante a sua formação
Actividades Valor
Absoluto
Valor
Relativo
(%)
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico 34 70,8
Elaboração de planos de marketing 34 70,8
Elaboração de diagnósticos e prognósticos 28 58,3
Elaboração de inventário turístico 28 58,3
Análise de tendências de mercado 28 58,3
Actividades de sensibilização e/ou consciencialização
da comunidade em relação ao turismo 24 50,0
Processo de envolvimento da comunidade e do sector
privado 24 50,0
Estudo de viabilidade de produtos turísticos 20 41,7
Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na
área de gestão e planeamento do turismo 17 35,4
Controlo e avaliação do plano de desenvolvimento do
turismo 13 27,1
Implementação do plano de desenvolvimento do
turismo 12 25,0
Total 48 100
NS/NR 9
Total 57
A Figura 30 fornece uma perspectiva gráfica desta realidade. Ao visualizar que
quanto mais afastado do centro da figura, maior a percentagem de
207
desenvolvimento da actividade, é possível identificar que as actividades de
elaboração de planos turísticos e de marketing são as que apresentam, de
facto, as percentagens mais relevantes.
Figura 30
P6. Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que foram desenvolvidas durante a sua formação (%)
Na parte 2 do questionário, a primeira pergunta solicitava a identificação da
Câmara Municipal na qual o profissional exercia as suas funções. Não existe a
intenção de divulgar estes dados, pelo que a pergunta foi feita meramente por
razões de controlo.
Na pergunta 2 (P2. Cargo que ocupa), a grande maioria ocupa o cargo de
Técnico Superior em Turismo (45,6%), seguido dos Chefes de
Divisão/Gabinete (19,3%).
0
20
40
60
80
Actividades desensibilização e/ou
consciencialização da…
Análise de tendências demercado
Apoio técnico aosmunicípios ou regiões de
turismo na área de gestão…
Controlo e avaliação doplano de desenvolvimento
do turismo
Elaboração de diagnósticose prognósticos
Elaboração de inventárioturístico
Elaboração de planos dedesenvolvimento turístico
Elaboração de planos demarketing
Estudo de viabilidade deprodutos turísticos
Implementação do planode desenvolvimento do
turismo
Processo de envolvimentoda comunidade e do sector
privado
208
Na pergunta 3, foi solicitada a identificação do Departamento ou Organismo ao
qual o profissional está ligado (P3. Departamento ou Organismo ao qual está
ligado), sendo possível identificar que 53,8% estava num departamento que
associava o Turismo à Cultura; 23,1% associava o Turismo às actividades
económicas, ao planeamento ou ao desenvolvimento local; e 17,3% trabalham
num Departamento exclusivamente dedicado ao turismo.
Em relação à sua permanência no cargo (P4. Há quanto tempo ocupa o
cargo), 41,8% está de 1 a 5 anos, 27,3% há mais de 10 anos e 18,2% de 5 a
10 anos, o que indica que a maioria desses profissionais (45,5%) tem mais de
5 anos de experiência.
A questão 5 procura identificar se o município possui um organismo
exclusivamente para o turismo (P5. No seu município existe um órgão
especificamente responsável pelo planeamento e gestão do turismo?).
Conclui-se que, nas duas regiões analisadas, 57,4% não possui um organismo
exclusivamente voltado para o turismo, enquanto 42,6% afirma que há, indo de
encontro às respostas da questão 3.
A hipótese 8 (H8) está relacionada com a pergunta 5 (P5), na qual se pretendia
verificar se “nos municípios das regiões do Alentejo e Algarve o turismo é
gerido através de organismos/secretarias conjuntos com outras áreas”. A
resposta dos profissionais responsáveis pela gestão e planeamento do turismo
indica que a maioria dos municípios destas regiões (57,4%) não possui uma
unidade orgânica exclusivamente dedicada ao turismo, pelo que esta hipótese
é confirmada.
Na pergunta 6, os profissionais responsáveis pela gestão e planeamento
ligados às Câmaras Municipais foram convidados a responder quais das
actividades listadas faziam parte das suas funções (P6. Quais destas
actividades em planeamento e gestão do turismo estão incluídas nas
suas funções profissionais?). Note-se que as actividades listadas são
propositadamente semelhantes às referenciadas no questionário aplicado aos
cursos de turismo, com a finalidade de, posteriormente, se cruzarem os dados
209
da oferta formativa com os da prática da função de gestão e planeamento do
turismo.
A actividade mais citada foi “Processo de envolvimento da comunidade e do
sector privado com o turismo” (75,5%) (Tabela 17), mas esta actividade fez
parte da formação de apenas 50% dos entrevistados (segundo os mesmos
profissionais). Por outro lado, na perspectiva dos cursos superiores em turismo,
apenas 44% deles contempla esta actividade.
210
Tabela 19
P6. Quais destas actividades em planeamento e gestão do turismo estão incluídas nas suas funções profissionais?
Actividades Valor
Absoluto
Valor
Relativo
(%)
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado com o
turismo 40 75,5
Promoção e venda de destinos turísticos 38 71,7
Elaboração de inventário turístico 37 69,8
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico 29 54,7
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo 25 47,2
Concepção, incremento e fomento de destinos turísticos 22 41,5
Elaboração de diagnósticos e prognósticos 21 39,6
Estudo de viabilidade de produtos turísticos 21 39,6
Análise de tendências de mercado 19 35,8
Elaboração de planos de marketing 18 34,0
Controle e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo 17 32,1
Consultoria na área de gestão, marketing ou planeamento turístico 3 5,7
Inspecção e certificação de qualidade dos destinos turísticos 3 5,7
Ordenamento territorial e urbanismo 2 3,8
Elaboração de materiais promocionais 1 1,9
Licenciamento de empreendimentos turísticos 1 1,9
Registo de estabelecimentos de alojamento local 1 1,9
Total 53 100
NS/NR 4
Total 57
A figura 31 ilustra a função do planeador turístico sob outra perspectiva.
Através desse gráfico, é possível identificar as actividades e o seu efectivo
211
desempenho no contexto profissional. Quanto mais distante do centro da figura,
maior a percentagem de desempenho destas funções. Actividades como
“Elaboração de materiais promocionais”, “Consultoria na área de gestão,
marketing ou planeamento turístico” e “Registo de estabelecimentos de
alojamento local” são praticamente nulas. Por outro lado, a “Promoção e venda
de destinos turísticos”, “Processo de envolvimento da comunidade e do sector
privado com o turismo” e “Elaboração de inventário turístico” apresentam uma
percentagem elevada de desempenho entre os municípios analisados.
Figura 31
P6. Quais destas actividades em planeamento e gestão do turismo estão
incluídas nas suas funções profissionais? (%)
A Tabela 20 reúne os conteúdos do dia-a-dia laboral e a classificação da sua
importância no desempenho da função do planeador do turismo, na óptica
destes mesmos profissionais (P7. A lista abaixo contém alguns conteúdos
0
20
40
60
80
Análise de tendências demercado
Concepção, incremento efomento de destinos
turísticosConsultoria na área degestão, marketing ouplaneamento turístico
Controle e avaliação doplano de desenvolvimento
do turismo
Elaboração de diagnósticose prognósticos
Elaboração de inventárioturístico
Elaboração de materiaispromocionais
Elaboração de planos dedesenvolvimento turístico
Elaboração de planos demarketing
Processo de envolvimentoda comunidade e do sector
privado com o turismo
Promoção e venda dedestinos turísticos
Registo deestabelecimentos de
alojamento local
212
ligados à actividade turística. Marque as alternativas segundo a maior ou
menor importância que lhes reconhece no seu dia-a-dia laboral, sendo as
opções). O entrevistado foi convidado a marcar dentre as seguintes opções: 1-
Sem qualquer importância; 2- Pouca importância; 3- Importante; 4- Muito
importante, 5- Fundamental importância. Por fim, foi utilizada a escala de Likert
para ordenar os conteúdos laborais por ordem de importância.
Segundo os planeadores, os principais aspectos a serem considerados no
desempenho das suas funções estão relacionados com os conteúdos das
áreas da Comunicação, Cultura e Marketing. Assim como foi evidenciado na
questão anterior, a promoção turística é apontada como uma das principais
actividades desenvolvidas no âmbito da actividade de gestão e planeamento
turístico. Por outro lado, as consideradas menos importantes estão
relacionadas com a “Política ambiental” e a “Contextualização da actividade
turística”.
Se confrontamos estes dados com as principais actividades desenvolvidas no
âmbito das funções de gestão e planeamento, onde há destaque para a
promoção e marketing e elaboração de planos turísticos e de marketing é
possível perceber uma associação entre os conteúdos apontados e as
actividades desenvolvidas.
213
Tabela 20
P7. A lista abaixo contém alguns conteúdos ligados à actividade turística. Marque as alternativas segundo a maior ou menor importância que lhes
reconhece no seu dia-a-dia laboral, sendo as opções.
Actividade
Classificação média na
escala de Likert (0 a 5)
Comunicação 4,4
Cultura e património 4,4
Promoção e divulgação de produtos turísticos 4,4
Gastronomia e artesanato 4,3
Dinamização e gestão de parceiras 4,2
Desenvolvimento sustentável 4,1
Produtos turísticos 4,1
Economia local, regional e nacional 4,1
História 4,1
Marketing turístico 4,0
Marketing territorial 3,9
Etnografia 3,8
Tipos de Turismo 3,8
Gestão da procura turística 3,8
Tendências de Mercado 3,7
Ordenamento do território 3,7
Negociação 3,6
Gestão de projectos e análise da sua viabilidade económica 3,5
Contextualização da actividade turística 3,3
Política ambiental 3,2
214
6.3.3 Relação entre a Formação em Turismo e as Actividades Laborais do
Planeador do Turismo
O principal objectivo desta tese é relacionar a formação superior em turismo
com as actividades de planeamento turístico desempenhadas no âmbito
municipal.
Nos tópicos acima, foram apresentados os resultados obtidos com a aplicação
de um questionário junto dos coordenadores dos cursos que formam
planeadores em turismo e de um outro aplicado junto dos responsáveis pelo
planeamento turístico dos municípios algarvios e alentejanos. No entanto, para
alcançar o objectivo geral desta tese, é preciso ter uma visão conjunta entre o
lado daqueles que formam os profissionais e o lado daqueles que actuam no
mercado, a fim de conhecer se há uma coerência entre estas duas
perspectivas.
A Figura 32 apresenta os resultados da pergunta 2, do questionário aplicado
aos coordenadores de curso (Quais as actividades práticas em planeamento
turístico realizadas no âmbito do curso de turismo oferecido na sua instituição
de ensino?) assim como as respostas da pergunta 6, do questionário aplicado
aos profissionais (Quais destas actividades desenvolve actualmente no âmbito
das actividades em gestão e planeamento do turismo designadas para a sua
função profissional?).
Esta figura permite analisar a hipótese de trabalho proposta:
H1 A Educação Superior em Turismo está relacionada com o desempenho
das funções do Planeamento Turístico, no âmbito local.
215
Figura 32
Representação conjunta das respostas da P2 (Quais as actividades
práticas em planeamento turístico realizadas no âmbito do curso de
turismo oferecido na sua instituição de ensino?), aplicada nos cursos de
turismo, e da P6 (Quais destas actividades desenvolve actualmente no
âmbito das actividades em gestão e planeamento do turismo designadas
para a sua função profissional?), aplicada aos profissionais de
planeamento nas Câmaras Municipais (%).
Assim, considerando as hipóteses e os resultados obtidos com os
questionários, não há uma concordância exacta entre o que é ensinado e
aquilo que é requerido no dia-a-dia laboral da função de planeamento. No
contexto educativo há uma maior valorização da “Análise de tendências de
mercado” em relação com o que é realizado no ambiente laboral. Por outro
lado, há uma desvalorização excessiva de actividades como “Implementação
do plano de desenvolvimento turístico” e “Processo de envolvimento da
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Actividades práticas emplaneamento turísticorealizadas no âmbito do cursode turismo
Funções de planeamento egestão do turismodesempenhadas nas CâmarasMunicipais
Q2
Q6
216
comunidade e do sector privado com o turismo” por parte dos cursos de
turismo.
As demais actividades parecem ter uma importância relativamente similar, o
que permite identificar, ainda assim, alguma coerência entre a formação e a
prática destas actividades.
Numa análise global, confirma-se a hipótese de que há uma relação entre a
educação em turismo e a prática do planeamento turístico nos municípios (H1),
sem, contudo, deixar de se reconhecer que existem alguns desajustamentos
visíveis entre o que é ensinado e a função profissional do planeador em turismo.
6.4 O perfil da Formação Superior em Turismo e dos Profissionais de
Planeamento Turístico
Os cursos superiores de turismo em Portugal, de uma forma geral, possuem
uma componente equitativamente teórica e prática. Em relação às actividades
práticas do planeamento turístico, é verificado que a maior parte delas está
relacionada com a elaboração de planos turísticos e de marketing, ficando de
fora outros tipos de actividades relacionadas com o planeamento turístico. É
também interessante relembrar que nos planos curriculares da totalidade dos
cursos de turismo em Portugal, os grupos disciplinares as disciplinas
específicas de Gestão e Planeamento representam 18%.
Tal como evidenciado na revisão da literatura, o planeamento turístico envolve
diversas actividades, desde a sensibilização dos stakeholders, levantamento e
diagnóstico da situação até as fases de implementação e constante
acompanhamento das situações em questão.
O envolvimento com a comunidade não demonstrou ser um ponto alto na
formação em turismo, evidenciando deficiências tanto no desenvolvimento de
actividades práticas durante a formação, como em termos de conteúdos para
discussão teórica. Negligenciar actividades como a sensibilização da
comunidade, implementação, avaliação e controlo de planos turísticos durante
217
a formação dos profissionais que actuarão futuramente na área da gestão e
planeamento do turismo pode comprometer aspectos já anteriormente
discutidos, como os relacionados com a sustentabilidade social, ambiental,
cultural e económica, bem como a própria viabilidade dos planos elaborados.
Verificou-se que, apesar de ainda residuais, existem algumas parcerias entre
os cursos e os organismos públicos responsáveis pela gestão e planeamento,
sejam essas parcerias em forma de estágios ou de apoios em organização de
eventos; como foi muito citado, a formação mais aproximada da realidade dá
maior capacidade ao profissional para actuar com competência. Entretanto, há
que levar em conta se estas actividades realmente contribuem de forma
expressiva para a formação nesta área específica – por exemplo, fornecer
apoios a eventos não suporta uma função de planeamento turístico, mas sim
de organização de eventos.
Por outro lado, em menor quantidade há interesse visível em aproximar os
cursos do mercado através do desenvolvimento de actividades diversas, como
a avaliação do potencial turístico do território; Desenvolvimento de actividades
com golfe/resorts; Desenvolvimento de actividades com hotéis;
Desenvolvimento de actividades com instituições ambientais; Desenvolvimento
de um Observatório Regional do Turismo; Empreendedorismo; Planos de
marketing; Projecto de Unidade Curricular.
Em relação aos profissionais que actuam nas Câmaras Municipais sendo
responsáveis pela área do planeamento turístico, foi possível estabelecer que o
perfil é maioritariamente composto por mulheres, com idade entre 31 e 50 anos
e com mais de 5 anos de experiência nas funções que exercem, ocupando
funções de Técnicos Superiores em Turismo em órgãos ou departamentos que
tratam do turismo juntamente com outras áreas.
Nas suas formações, estes profissionais confirmam o que foi exposto através
da investigação junto dos cursos. O foco das actividades formativas estava na
elaboração de planos turísticos e de marketing, enquanto as demais
actividades tiveram pouca relevância no contexto formativo. Curiosamente, a
função mais citada pelos profissionais de planeamento turístico foi o “Processo
218
de envolvimento da comunidade e do sector privado com o turismo”, uma
função pouco contemplada nos cursos de turismo.
6.6 Considerações Finais
Os cursos de turismo portugueses que formam planeadores turísticos possuem
uma organização formal equitativamente teórica e prática, mas tendem a uma
abordagem sobretudo teórica. Concentram as actividades na área de
elaboração de planos turísticos e planos de marketing e outras actividades
relacionadas. De uma forma geral, e como poderia ser esperado, as
actividades práticas tendem a ser menos trabalhadas no ambiente académico
do que as actividades que apenas exigem reflexão e discussão.
Quando considerada a hipótese de trabalho de que há uma relação entre a
formação e a prática do planeamento, verificou-se a confirmação da hipótese,
identificando, entretanto, que é necessário fazer ajustes na formação desses
profissionais.
É compreensível que o ambiente académico nem sempre consiga ser o mais
adequado para o ensino de actividades de cunho sobretudo prático, mas, se a
proposta de formação inclui o desempenho específico de determinadas
funções laborais, estes futuros profissionais devem estar aptos para tal e não
para entrarem no ambiente profissional para ainda necessitarem de fazer
novas experiências.
Além disso, acredita-se que os resultados obtidos, apesar de fiáveis, se
submetidos a um estudo ainda mais aprofundado poderiam debater-se com
outras questões preocupantes. Com base em experiências pessoais da
investigadora, acredita-se que muitos alunos concluem a sua formação sem
nenhum contacto com a realidade do mercado na área de planeamento
turístico e que muitas das actividades consideradas como “práticas” pelos
coordenadores de curso são, na realidade, actividades sem qualquer ligação
com o ambiente real.
219
Nessa perspectiva, sugere-se que sejam realizados mais estudos nesta área,
no sentido de melhorar tanto a oferta formativa como o desempenho das
funções dos profissionais de planeamento e a qualidade do turismo, como um
todo.
220
Capítulo 7
Nota Final
O planeamento é uma actividade essencial para que seja possível promover e
optimizar o desenvolvimento através do turismo. Somente através da gestão
racional é possível proporcionar uma actividade turística responsável e
sustentável, melhorando os benefícios por ela gerada.
No que se refere aos processos de desenvolvimento, os modelos de gestão
que envolvem todos os stakeholders e nos quais o foco está na qualidade e na
sustentabilidade têm-se mostrado mais adequados às comunidades turísticas.
Ou seja, têm proporcionado mais qualidade de vida e maiores benefícios
sociais e económicos às comunidades. Mas é interessante ressaltar que estes
modelos que proporcionam mais benefícios para o destino são, da mesma
forma, mais interessantes para os turistas. A base da gestão e planeamento
sustentável acaba por proporcionar a oferta de um produto de maior qualidade
e, portanto, essencialmente mais competitivo no mercado turístico.
Dentro deste contexto e do objectivo da tese, foi importante compreender as
funções desempenhadas pelos profissionais de gestão e planeamento dos
destinos, a fim de alcançar esses objectivos de desenvolvimento,
sustentabilidade e gestão do negócio turístico. Numa análise mais aprofundada,
compreendeu-se que as funções estão mais associadas às áreas da gestão e
do marketing, tanto na perspectiva da formação dos profissionais, como no
efectivo desempenho das funções nos destinos.
A pesquisa empírica foi desenvolvida de forma a analisar as duas perspectivas
da mesma situação. Por um lado, a formação recebida pelos profissionais de
221
gestão e planeamento, auscultada através de um questionário junto aos
cursos de turismo. Por outro lado, as funções desempenhadas pelos
profissionais de planeamento turístico no dia-a-dia do seu desempenho laboral,
conhecidas através de um inquérito aos responsáveis por esta matéria nos
municípios das regiões do Alentejo e Algarve. Na perspectiva dos cursos, a
realidade da formação turística destes profissionais incide numa abordagem
equilibrada entre a componente teórica e prática. Entretanto, o que é
considerado como abordagem prática refere-se, muitas vezes, à elaboração de
planos turísticos e de marketing e não exactamente a um contacto mais
próximo com as realidades locais. Sugere-se que, em novas investigações,
sejam identificadas quais e como são realizadas as actividades práticas no
âmbito da formação destes profissionais.
Esta preocupação surge porque há indícios de que alguns cursos podem
considerar a simples elaboração de planos turísticos, mesmo num contexto
fictício, como uma atividade prática, quando, na verdade, se trata de um
exercício essencialmente teórico e distante da realidade em que estes
profissionais terão que pensar e actuar. Compreende-se a dificuldade em
desenvolver certas atividades dentro do ambiente académico, como o número
de alunos das turmas, a limitação de tempo e de outros recursos disponíveis,
não sendo este ponto, contudo, o foco desta discussão.
A reflexão aqui proposta envolve a capacidade de actuação destes
profissionais, considerando o contexto formativo a que tiveram acesso. Fica
evidente, apesar de se reconhecer o benefício de um maior detalhe, que estes
profissionais possuem carência de formação num contexto mais real, com
aproximação das comunidades turísticas.
A aproximação entre os cursos de turismo que formam os profissionais de
planeamento turístico deveria ocorrer através de parcerias entre os organismos
municipais e regionais e os cursos em questão. Evidentemente, reconhece-se
a dificuldade, muitas vezes encontrada, em estabelecer estes tipos de
parcerias, uma vez que envolvem esferas distintas que, em princípio,
apresentam objectivos institucionais divergentes. Mas vale a pena evidenciar e
222
insistir nesse tipo de parcerias institucionais que, no final, beneficiarão tanto a
instituição de ensino, como os alunos, os destinos e a comunidade.
Os alunos poderiam contar com uma formação mais sólida, com base em
modelos reais, mas num contexto em que há um certo controlo dos riscos,
através do acompanhamento por parte dos docentes e de outros profissionais
afectos às Câmaras Municipais e outras instituições relevantes. A proposta é
colocar os futuros profissionais em campo, para conhecer de perto as funções
que poderão vir a desempenhar.
Já os destinos turísticos beneficiariam durante este tipo de formação, por
poderem contar com o apoio de docentes e discentes no desenvolvimento de
algumas actividades, como o inventário turístico, apoio nas análises
diagnósticas, sensibilização da comunidade, apoio em questões ambientais,
etc.
Por outro lado, estes mesmos destinos poderiam contar, futuramente, com o
trabalho de profissionais mais bem preparados para as funções de
planeamento turístico, uma vez que haviam contado, na sua formação, com as
importantes reflexões académicas e conteúdos teóricos, mas também
experienciado a realidade concreta das comunidades turísticas.
223
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L/1_multipart_xF8FF_2_PENT_Revis%C3%A3o.pdf/C58EA28C-18C0-
4a97-9AF2-036E93DDAFB3/PENT_Revis%C3%A3o.pdf?attach=1 [Último
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compromisso, uma organização para o desenvolvimento do turismo
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do turismo para a economia portuguesa. Disponível em:
http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/ProTurismo/estat%C3%
ADsticas/an%C3%A1lisesestat%C3%ADsticas/contasat%C3%A9litedoturis
mo/Anexos/Relat%C3%B3rio%20Conta%20Satelite%20Turismo%202000-
2010%20base2006.pdf [Último Acesso em: 27 de Março de 2012].
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http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/ProTurismo/estat%C3%
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245
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visitante já foi realizado. Newsletter – Abril de 2011. Disponível em
www.turismodoalentejo-ert.pt/newsletter/abril2011.pdf [Último acesso em 12
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Turismo do Alentejo (2011b) “Conhecer para agir” chega a Évora. Newsletter
março de 2011. Disponível em: www.turismodoalentejo-
ert.pt/newsletter/marco2011.pdf [Último acesso: 12 de Julho de 2011].
Turismo do Alentejo (2011c) Santiago do Cacém acolhe “Conhecer para agir”.
Newsletter fevereiro de 2011. Disponível em: www.turismodoalentejo-
ert.pt/newsletter/fevereiro2011.pdf [Último acesso: 12 de Julho de 2011].
Turismo do Alentejo (2010) Alentejo conquista título de melhor destino nacional.
Newsletter dezembro de 2010. Disponível em: www.turismodoalentejo-
ert.pt/newsletter/dezembro2010.pdf [Ultimo acesso: 12 de Julho de 2011].
Turismo do Alentejo (2009) Plano Operacional de Turismo do Alentejo (POTA).
Disponível em www.turismodoalentejo-ert.pt/pdf/pota-relatoriofinal.pdf
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Turismo do Algarve (2011a) Plano de Actividades 2011. Disponível em:
www.turismodoalgarve.pt/ficheirosSite/118/118_0_PlanoActiv_2011.pdf
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Turismo do Algarve (2011b) Manual de Qualidade. Disponível em:
www.turismodoalgarve.pt/ficheirosSite/33/33_0_MANUAL_QUALIDADE_v1.
pdf [Último acesso: 12 de Julho de 2011].
Turismo do Algarve (2011c) Novas Perspectivas para o Algarve – Turismo de
Nichos. Ciclo de Debates Turismo do Algarve 2011. Disponível em:
www.turismodoalgarve.pt/ficheirosSite/202/202_1_conclusoes_debate.pdf
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Turismo do Algarve (2010) Projectos e Iniciativas – Ciclo de debates.
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debates.html [Último acesso em 15 de Junho de 2011].
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Algarve com o PENT. Disponível em:
www.cimaal.rtalgarve.pt/NR/rdonlyres/15382237-8582-4EAB-8767-
9EF704A98680/0/alinhamento_PRTA_PENT.pdf [Último acesso: 14 de
Julho de 2011].
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Departamento de Economia, Algarve.
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Competitiveness Report_2010-11.pdf [Último acesso em 24 de Agosto de
2011].
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Report 2011- Beyond the Downturn. Disponível em:
http://www3.weforum.org
/docs/WEF_TravelTourismCompetitiveness_Report_2011.pdf [Último
acesso em 26 de Agosto de 2011].
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WTO - World Tourism Organization (2002) Human Resource in Tourism:
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www.funadesp.org.br/downloads/publicacoes/Reforma_da_ Educacao.pdf.
[Último Acesso: 01 de Fevereiro de 2011].
247
Carvalho, J. (2008) Entrevista – José Eduardo Carvalho. Entrevistadora Carla
Amaro, Revista LVT, nº 7, Lisboa, P. 19 - 25.
Jornal Expresso (2012) Reforma radical das Regiões de Turismo – Entrevista
com a Secretária de Estado Cecília Meireles. Edição impressa de 14 de
Janeiro de 2012.
Notícias de Fátima (2005) Médio Tejo pode sair do Centro. Notícias de Fátima,
Disponível em: www.noticiasdefatima.pt/portal/index.php?id=1341 [Último
acesso em 16 de Novembro de 2009].
Panrotas (2010) OIT reconhece papel do turismo na geração de empregos.
Disponível em: www.panrotas.com.br/noticia-turismo/politica/oit-reconhece-
papel-do-turismo-na-geracao-de-empregos_63519.html [Último acesso em
02 de Junho de 2011].
Silva, A. (2011) …a propósito de uma visita ao megalitismo … a questão da
melhoria do produto. Newsletter Turismo do Alentejo – Abril de 2011.
Disponível em: www.turismodoalentejo-ert.pt/newsletter/abril2011.pdf
[Último acesso em 12 de Julho de 2011].
248
Anexos
249
Anexo I
Questionário aplicado aos responsáveis pelos Cursos de Turismo
Questionário
Cursos de Turismo
Este questionário é parte integrante da investigação realizada no e-GEO,
Centro de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
(FCSH), da Universidade Nova de Lisboa e tem o apoio da Fundação para
a Ciências e a Tecnologia (FCT). Tem como objectivo principal conhecer
os métodos de ensino na área de planeamento turístico, bem como a
capacidade de actuação dos profissionais formados nos cursos
superiores de turismo.
Neste questionário constam apenas 9 questões e a estimativa do tempo
necessário para respondê-lo é de cerca de 10 minutos. Conto com o seu
apoio para reunir as informações necessárias para a conclusão desta
investigação. Será garantida a confidencialidade das informações
fornecidas.
Agradeço antecipadamente a colaboração,
Msc. Ericka Amorim
250
1. No curso superior em turismo oferecido na sua instituição de ensino, a
disciplina de planeamento turístico utiliza métodos de ensino compostos:
1 – Somente por aspectos teóricos
2 – Mais aspectos teóricos do que práticos
3 – Equitativamente aspectos teóricos e práticos
4 - Mais aspectos práticos do que teóricos
5 - Somente aspectos práticos
Caso o seu curso tenha alguma componente prática, responda a
questão 2. Caso não haja, passe para a questão 3.
2. Quais as actividades práticas em planeamento turístico realizadas no
âmbito do curso de turismo oferecido na sua instituição de ensino?
Elaboração de inventário turístico
Elaboração de planos de marketing
Elaboração de diagnósticos e prognósticos
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico
Estudo de viabilidade de produtos turísticos
Análise de tendências de mercado
Actividades de sensibilização e/ou consciencialização da comunidade
com relação ao turismo
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado
Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na área de gestão e
planeamento do turismo
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo
Controle e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo
Outra (s). Qual (is)?
3. Classifique os conteúdos a seguir, de acordo com a realidade
encontrada no seu curso. A depender da forma como o conteúdo for
leccionado, marque 1 - somente com bases teóricas; 2 - mais com
base teórica do que prática; 3 – equilíbrio entre a componente teórica e
a prática; 4 – mais prático do que teórico; 5 . somente teórico. Caso o
conteúdo não seja leccionado no seu curso, marque 0 – não se aplica.
Contextualização da actividade turística
Tendências de mercado
Tipos de Turismo
Produtos turísticos
251
Economia local, regional e nacional
Política ambiental
Ordenamento do território
Desenvolvimento sustentável
Marketing territorial
Marketing turístico
Etnografia
História
Cultura e património
Gastronomia e artesanato
Gestão de projectos e análise da sua viabilidade económica
Gestão da procura turística
Promoção e divulgação de produtos turísticos
Dinamização e gestão de parceiras
Negociação
Comunicação
4. Existe alguma parceria estabelecida entre o curso de turismo e alguma
entidade local ou regional de turismo no âmbito de actividades em
gestão e planeamento do turismo?
Sim. Qual (is)?
Não
Não sei
5. É desenvolvida, através do curso de turismo da sua instituição de ensino,
alguma actividade no âmbito da gestão e planeamento do turismo para
um município, região ou país?
Sim. Qual (is)? Listar…
Não
Não sei
6. É desenvolvida, através do curso de turismo da sua instituição de ensino,
alguma actividade junto com a comunidade?
Sim. Qual (is)? Listar…
Não
Não sei
7. Existe algum factor diferencial no seu curso em relação aos demais?
252
Sim. Qual (is)
Não
Não sei
8. Relativamente à formação dos profissionais de planeamento turístico, de
uma forma geral, qual (is) o(s) ponto(s) fraco(s) da formação oferecida
nos cursos superiores em turismo?
9. Relativamente à formação dos profissionais de planeamento turístico, de
uma forma geral, qual (is) o(s) ponto(s) forte(s) da formação oferecida
nos cursos superiores em turismo?
253
Anexos II
Questionário aplicado aos Responsáveis pela Gestão e Planeamento do
Turismo nas Câmaras Municipais
Questionário
Responsável pela Gestão e Planeamento do Turismo nas Câmaras
Municipais
Este questionário é parte integrante da investigação realizada no e-GEO,
Centro de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
(FCSH), da Universidade Nova de Lisboa e tem o apoio da Fundação para
a Ciências e a Tecnologia (FCT). Tem como objectivo principal conhecer a
relação entre a formação superior em turismo e a prática das funções de
planeamento no contexto das Câmaras Municipais de Turismo.
Neste questionário constam apenas 13 questões e a estimativa do tempo
necessário para respondê-lo é de cerca de 10 minutos. Conto com o seu
apoio para reunir as informações necessárias para a conclusão desta
investigação. Será garantida a confidencialidade das informações
fornecidas.
Agradeço antecipadamente a colaboração,
Msc. Ericka Amorim
Parte 1. Informações relativas à formação pessoal
1. Sexo
Feminino
254
Masculino
2. Idade ___
3. Quantos anos de experiência profissional possui na área de gestão e
planeamento do turismo?
Menos de 1 ano
De 1 a 5 anos
De 5 a 10 anos
Mais de 10 anos
As questões 4 e 5 devem ser respondidas pelos profissionais que
concluíram o curso superior (bacharelo e/ou licenciatura). Caso não
tenha concluído o curso superior, passa para a questão 6
4. Qual o seu nível de instrução?
Bacharelato
Licenciatura
Pós-graduação
Mestrado
Doutoramento
5. Caso se aplique, indique o curso e a instituição onde obteve o seu grau
de
Bacharelato
Licenciatura
Pós-graduação
Mestrado
Doutoramento
6. Das actividades abaixo listadas, marque todas as opções que foram
desenvolvidas durante a sua formação superior
Elaboração de inventário turístico
Elaboração de planos de marketing
Elaboração de diagnósticos e prognósticos
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico
Estudo de viabilidade de produtos turísticos
Análise de tendências de mercado
Actividades de sensibilização e/ou consciencialização da comunidade
com relação ao turismo
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado
Apoio técnico aos municípios ou regiões de turismo na área de gestão e
planeamento do turismo
255
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo
Controle e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo
Outra (s). Qual (is)?
Parte 2. Informações relativas ao trabalho
Justificação: as perguntas que seguem estão relacionadas ao cargo e as
funções exercidas no âmbito da gestão e planeamento do turismo.
1. Entidade:
2. Cargo que ocupa:
3. Departamento ou Organismo ao qual está ligado:
4. Tempo que ocupa o cargo:
Menos de 1 ano
De 1 a 5 anos
De 5 a 10 anos
Mais de 10 anos
5. No seu município existe um órgão especificamente responsável pela
gestão e planeamento do turismo?
Sim
Não
Não sei
6. Quais destas actividades desenvolve actualmente no âmbito das
actividades em gestão e planeamento do turismo designadas para a sua
função profissional?
Ordenamento territorial e urbanismo
Elaboração de inventário turístico
Elaboração de planos de marketing
Elaboração de diagnósticos e prognósticos
Elaboração de planos de desenvolvimento turístico
Estudo de viabilidade de produtos turísticos
Análise de tendências de mercado
Concepção, incremento e fomento de destinos turísticos
Promoção e venda de destinos turísticos
Processo de envolvimento da comunidade e do sector privado com o
turismo
Implementação do plano de desenvolvimento do turismo
256
Controle e avaliação do plano de desenvolvimento do turismo
Consultadoria na área de gestão, marketing ou planeamento turístico
Inspecção e certificação de qualidade dos destinos turísticos
Outros. Quais?
7. Abaixo seguem listados alguns conteúdos da área de turismo. Marque
as alternativas segundo a maior ou menor importância do conteúdo no
seu dia-a-dia laboral, sendo a opção 1 – sem qualquer importância; 2 –
pouca importância; 3 – importante; 4 - Muito importante; 5 – fundamental
importância.
Contextualização da actividade turística
Tendências de mercado
Tipos de Turismo
Produtos turísticos
Economia local, regional e nacional
Política ambiental
Ordenamento do território
Desenvolvimento sustentável
Marketing territorial
Marketing turístico
Etnografia
História
Cultura e património
Gastronomia e artesanato
Gestão de projectos e análise da sua viabilidade económica
Gestão da procura turística
Promoção e divulgação de produtos turísticos
Dinamização e gestão de parceiras
Negociação
Comunicação
8. Caso exista algum conteúdo que não esteja acima listado mas que
julgue ter importância no seu dia-a-dia laboral, favor referir indicando o
seu grau de importância.