decis.es de 1a. inst.ncia - trt da 3ª região · em dano estético, pois, aparentemente o autor...

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483 ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 621/98 Data: 14.08.1998 DECISÃO DA 17ª JUNTA DE CONCILIACÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MG Juíza Presidente: Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZA Aberta a audiência foram, de ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadas as partes, ausentes. Passou-se a proferir a decisão: denunciação da lide e inépcia da inicial e pugnando pela improcedência dos pedidos. Produzida prova pericial. Razões finais orais. Renovada, sem êxito, a tentativa conciliatória. Em síntese, é o relatório. II - FUNDAMENTAÇÃO II.1 - Denunciação da lide A denunciação da lide é incompatível com o Processo do Trabalho, cabendo ao pólo ativo escolher contra quem vai demandar e arcar com o ônus da escolha incorreta, se for o caso. Afasta-se. II.2 - Inépcia da petição inicial Requer o Réu seja julgada inepta a exordial. Sem razão, contudo. O pedido que permite a apresentação de contestação não pode ser considerado inepto. Ademais, o art. 840, da CLT, exige que a petição inicial contenha, apenas, “uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio”. Rejeita-se. II.3 - Suspensão da ação A preliminar de suspensão da ação eriçada pelo Réu não merece prosperar. Rev. TRT - 3ªR. - Belo Horizonte, 28 (58): 483-593, Jan.98/Dez.98 I - RELATÓRIO ROGÉRIO LUIZ TEODORO NOVAIS, já qualificado, ajuizou ação trabalhista em face de BEMGE - BANCO DO ESTADO DE MINAS GERAIS S/A, também já individualizado, dizendo-se admitido em 26.05.88, como caixa, tendo sido afastado para tratamento de doença do trabalho em 01.09.93 e permanecido em licença até 07.03.96, sendo que a CAT foi emitida pelo Reclamado. Afirmou, ainda, que retornou ao trabalho em 28.03.96, mas houve agravamento das lesões, o que ocasionou sua aposentadoria por invalidez em 23.03.97; pelo que requereu: pensão mensal vitalícia; indenização pelo dano moral sofrido; indenização pelo dano estético; indenização pelo dano físico e assistência médica, farmacológica e fisioterápica; reembolso de despesas; juros e correção monetária e os benefícios da justiça gratuita. Deu à causa o valor de R$10.000,00. Juntou procuração e documentos. Impossível a conciliação na audiência de inauguração, tendo o Reclamado desistido da preliminar de incompetência absoluta da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar o pedido de indenização por danos morais, estéticos, materiais e pensão vitalícia decorrentes de acidente do trabalho (ata de f. 42), constante da peça de defesa, e contestado a ação, eriçando preliminares de suspensão e carência da ação,

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ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 621/98Data: 14.08.1998DECISÃO DA 17ª JUNTA DE CONCILIACÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuíza Presidente: Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZAAberta a audiência foram, de ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadas as partes,ausentes.Passou-se a proferir a decisão:

denunciação da lide e inépcia da inicial epugnando pela improcedência dospedidos.

Produzida prova pericial.Razões finais orais.Renovada, sem êxito, a tentativa

conciliatória.Em síntese, é o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

II.1 - Denunciação da lide

A denunciação da lide éincompatível com o Processo doTrabalho, cabendo ao pólo ativo escolhercontra quem vai demandar e arcar com oônus da escolha incorreta, se for o caso.

Afasta-se.

II.2 - Inépcia da petição inicial

Requer o Réu seja julgada inepta aexordial.

Sem razão, contudo.O pedido que permite a

apresentação de contestação não podeser considerado inepto. Ademais, o art.840, da CLT, exige que a petição inicialcontenha, apenas, “uma breve exposiçãodos fatos de que resulte o dissídio”.

Rejeita-se.

II.3 - Suspensão da ação

A preliminar de suspensão da açãoeriçada pelo Réu não merece prosperar.

Rev. TRT - 3ªR. - Belo Horizonte, 28 (58): 483-593, Jan.98/Dez.98

I - RELATÓRIO

ROGÉRIO LUIZ TEODORONOVAIS, já qualificado, ajuizou açãotrabalhista em face de BEMGE - BANCODO ESTADO DE MINAS GERAIS S/A,também já individualizado, dizendo-seadmitido em 26.05.88, como caixa, tendosido afastado para tratamento de doençado trabalho em 01.09.93 e permanecidoem licença até 07.03.96, sendo que a CATfoi emitida pelo Reclamado. Afirmou, ainda,que retornou ao trabalho em 28.03.96, mashouve agravamento das lesões, o queocasionou sua aposentadoria por invalidezem 23.03.97; pelo que requereu: pensãomensal vitalícia; indenização pelo danomoral sofrido; indenização pelo danoestético; indenização pelo dano físico eassistência médica, farmacológica efisioterápica; reembolso de despesas; jurose correção monetária e os benefícios dajustiça gratuita.

Deu à causa o valor deR$10.000,00.

Juntou procuração e documentos.Impossível a conciliação na

audiência de inauguração, tendo oReclamado desistido da preliminar deincompetência absoluta da Justiça doTrabalho para conhecer e julgar o pedidode indenização por danos morais,estéticos, materiais e pensão vitalíciadecorrentes de acidente do trabalho (atade f. 42), constante da peça de defesa, econtestado a ação, eriçando preliminaresde suspensão e carência da ação,

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A suspensão do contrato detrabalho é matéria de mérito, que ali seráanalisada e não tem o condão de acarretara suspensão da ação, direito garantidoconstitucionalmente de deduzir em Juízopretensão que acha justa.

Preliminar que se rejeita, por faltade amparo legal.

II.4 - Extinção do processo semjulgamento do mérito

Há interesse de agir por parte doReclamante, uma vez que este cinge-seà utilidade e à necessidade da prestaçãoda tutela jurisdicional, havendo in casu

interesse do autor em ajuizar a demandapara que o Poder Judiciário decida pelaexistência ou não de redução salarial.

Afasta-se.

II.5 - Mérito

Pretende o Reclamante receberpensão mensal vitalícia até os 70 anosde idade, pensão esta que deverá serigual ao último salário recebido antes daaposentadoria.

Sua pretensão é desprovida dequalquer fundamento jurídico, d.m.v., umavez que, conforme demonstrativos depagamento colacionados aos autos peloReclamado (f. 59/72), a aposentadoria porinvalidez não importou em diminuiçãosalarial, pois, a instituição seguradora dosempregados do Reclamado proporcionouao obreiro, desde então, salário idênticoao que recebia quando em atividade.

Assim, inexiste o prejuízo, que, nosmoldes do artigo 159, do Código Civil,justificaria a pensão requerida.

Ademais, diferentemente doalegado na exordial, a prova técnicaproduzida e necessária ao deslinde daquestão manifestou-se no sentido de não

estar o Autor impedido do exercício daoutra atividade que desempenha, a saber,professor (f. 108, quesito 8).

É mister, ainda, ressaltar que aaposentadoria por invalidez não põe fimao contrato de trabalho, apenas,suspende-o (artigo 42, caput da lei 8.213/91 c/c o 475, da CLT); sendo certo que oobreiro, tão logo se recupere (laudomédico de f. 110 e 111), terá condiçõesde voltar a trabalhar.

Todavia, não restam dúvidas dodano causado pelo Banco-reclamado àsaúde do Reclamante, como se verificado Parecer Médico (f. 110/111), in verbis:

“O autor encontra-se incapaz para otrabalho anteriormente desenvolvido naempresa reclamada uma vez que a suaintegridade produtiva está comprometida.Seguramente há reflexos de ordempsicológica em seu comportamento faceao estigma da aposentadoria por invalideze a sensação de inutilidade, principalmentepor ser ainda jovem (39 anos).

É possível o seu retorno ao trabalho,com condicionamento físico mínimo,suporte psicoterapêutico, motivação parao trabalho e carga de trabalho compatívelcom o seu perfil físico e psicológico, emposto de trabalho ergonomicamenteadequado.”

Desta forma, existindo nexo causalentre a conduta do Reclamado - tipo deatividade exigida do Autor - e os malefícioscausados ao Reclamante, nexo esteentendido como: “uma relação decausalidade entre a antijuridicidade daação e o dano causado” (PEREIRA, CaioMário da Silva, in Instituições de Direito

Civil, vol. II, 1ª ed., Editora Forense, RJ/RJ, 1991, p. 236), cabe ao autor do atoilícito reparar o dano causado.

Não merece prosperar a alegaçãodo Reclamado no sentido de que a lesãonão ocorreu exclusivamente por sua

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culpa, isto porque, para a Lei dosBenefícios da Previdência Social, bastauma concausa, para que estejacaracterizada a doença do trabalhoequiparada ao acidente do trabalho (art.20, II, da Lei 8.213/91), sendo certo, ainda,que o INSS estabeleceu o nexo entre otrabalho exercido para o ora Reclamadoe a doença sofrida (docs de f. 21 e ss).

Destarte, embora não se possa falarem dano estético, pois, aparentemente oAutor não apresentou deformidades, odano moral e o pessoal causados a eleforam comprovados (Parecer de f. 110/111, supratranscrito), danos estes que,como nos ensina João de Lima TeixeiraFilho, citando Miguel Reale (in Instituições

de Direito do Trabalho, volume I, 16ª ed.Editora LTr, SP/SP, 1996, p. 622 e 623)definem-se como:

“O dano moral - prossegue - ‘quese refere propriamente a estados d’alma,a sofrimentos ou sensações dolorosasque afetam os valores íntimos dasubjetividade’ e

O dano pessoal - arremata - umtertium genus, que corresponde ‘àimagem social’.

Mesmo não rechaçando essaclassificação, Miguel Reale opta pordistinguir o dano moral objetivo do danomoral subjetivo. O primeiro atinge adimensão moral da pessoa no meio socialem que vive, envolvendo o (dano) de suaimagem. O dano moral subjetivo que secorrelaciona com o mal sofrido pelapessoa em sua subjetividade, em suaintimidade psíquica, sujeita a dor ousofrimento intransferíveis, porque ligadosa valores de seu ser subjetivo, que o ilícitoveio penosamente subverter, exigindoinequívoca reparação”.

In casu, por óbvio que, emborareversível, paira sobre o Reclamante oestigma da aposentadoria por invalidez,

sem falar que sua saúde foi prejudicada,pois, como nos informou o i. expert, paraque volte a suas atividades normaisnecessário será que se submeta atratamento físico e psicoterapêutico (f.110, in fine).

Assim, com fincas no artigo 159,caput do Código Civil e

Considerando-se o art. 5º, X, CF/88c/c o art. 114, caput, do mesmo diplomalegal;

Considerando-se que o dano in

casu ocorreu em razão do contrato detrabalho;

Considerando-se sua repercussãona vida do Autor e a evidente culpa do Réu;

Considerando-se a situaçãoeconômica do Reclamante e a doReclamado;

Considerando-se que o Reclamantecontinua recebendo salário mensal, comose laborando estivesse e

Considerando-se que a importânciaem dinheiro não tem por objetivoenriquecer quem a recebe e, sim, mitigara dor sofrida, sobre o que, aliás, assimescreve Caio Mário da Silva Pereira(PEREIRA, Caio Mário da Silva, in

Instituições de Direito Civil, vol. II, 1ª ed.,Editora Forense, RJ/RJ, 1991, p. 236):

“Uma vez verificados ospressupostos essenciais da determinaçãodo dever de reparação, arma-se umaequação, em que se põe o montante daindenização como correlato do bemlesado. O que predomina nesta matéria éque a indenização id quod interest nãopode ser fonte de enriquecimento, não seinstitui com o objetivo de proporcionar aocredor uma vantagem - de lucro capiendo- porém se subordina ontologicamente aofundamento de restabelecer o equilíbriorompido pela prática do ato culposo, edestina-se a evitar o prejuízo, de damno

vitando”.

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Arbitra-se a indenização emR$50.000,00 (cinqüenta mil reais).

Os juros deverão incidir a partir doajuizamento da ação, aplicando-se oEnunciado 200, do C.TST.

Quanto à correção monetária,devida a partir da data da publicaçãodesta sentença, pelos mesmos índicesaplicáveis aos débitos trabalhistas emgeral.

Não há que se falar em parcelasfiscais ou previdenciárias, face à naturezaindenizatória da verba.

Improcedente o pedido deassistência médica, farmacológica efisioterápica, bem como o de reembolsocom as despesas desta natureza; a uma,porque os documentos de f. 15 e 73comprovam que referida assistência deveser prestada pela FASBEMGE, que temefetuado os descontos devidos, o queestá em consonância com o Enunciado342, do C.TST, e a duas, porque o autornão provou outras despesas além dasobjeto de desconto pela FASBEMGE, jámencionadas. Caso haja descumprimentodas normas disciplinadoras da assistênciaque enseja a presente discussão,compete ao Reclamante acionar aFASBEMGE, responsável por referidaassistência.

Quanto ao pedido de justiça gratuitarestou prejudicado em face da solução dademanda, mas, mesmo que assim nãofosse, restaria indeferido, vez que

ausentes os requisitos insertos no artigo14, da Lei 5.584/70.

III - DISPOSITIVO

Ex positis, tudo visto e examinado,resolve a 17ª JCJ desta Capital, àunanimidade, afastar as preliminares dedenunciação da lide, inépcia da exordial,suspensão da ação e carência da açãoe, no mérito, julgar os pedidosPROCEDENTES, EM PARTE, paracondenar o Reclamado a pagar aoReclamante, no prazo legal, umaindenização no valor de R$50.000,00(cinqüenta mil reais), nos moldes dafundamentação, que passa a integrar opresente dispositivo.

Os juros são devidos desde oajuizamento da ação, aplicando-se oEnunciado 200, do C.TST, e a correçãomonetária deverá incidir a partir da datade publicação desta sentença pelosmesmos índices aplicáveis aos débitostrabalhistas em geral.

Não há que se falar em parcelasfiscais ou previdenciárias, face à naturezaindenizatória da verba.

Custas pelo Reclamado, no importede R$1.000,00 (mil reais), fixadas combase no valor de R$50.000,00 (cinqüentamil reais) dado à condenação.

Intimadas as partes nos moldes doEnunciado 197, do C.TST.

Encerrou-se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 856/98Data: 18.12.1998DECISÃO DA JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE ARAGUARI - MGJuiz Presidente: Dr. EMERSON JOSÉ ALVES LAGEAberta a audiência, foram, de ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadas as partes,ausentes.Apreciada a matéria versada nos autos e submetida a proposta de solução do dissídioaos senhores juízes classistas, passou a MM. Junta a proferir a seguinte decisão:

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1 – RELATÓRIO

NILTON CÉSAR PIRES DOSSANTOS, qualificado na inicial, ajuizou apresente reclamatória trabalhista contraWILMAR DE JESUS GUILHEM, alegandoque foi contratado em 09.03.97, paratrabalhar em lavoura de hortaliças,recebendo dois salários mínimos,cumprindo jornada das 7 às 17 horas, comintervalo de uma hora para refeição, desegunda a sábado; que por três meseschegou a trabalhar aos domingos, das 6às 20 horas, com intervalo de descansode uma hora; que não teve a CTPSanotada e após 7 ou 8 meses de trabalhoo reclamado exigiu que se filiasse naCooperativa de Serviços Rurais eUrbanos Ltda, providenciando, elemesmo, reclamado, toda a documentaçãonecessária para este fim; que apósassinar recibos em nome da Cooperativa,passou a receber cerca de R$286,00mensais, mas os pagamentos eram feitos,na verdade, pelo próprio reclamado oupelo gerente da fazenda; que semprerecebeu por dia de trabalho, jamais porprodução; que não recebeu o adicionalde produtividade fixado pela CCT de suacategoria; que em 04.08.98 foidispensado, sem justa causa.

Feitas suas alegações, apresentouseu rol de pedidos.

Atribui à causa o valor de R$500,00.Juntou a procuração de f. 39 e os

documentos de f. 07/38.Em aditamento à inicial, disse o

reclamante, ainda, que até 30.09.97trabalhou na chácara para os Srs. LuizCarlos e seu irmão, vindo o reclamante,a partir de 01.10.97 a assumir estachácara, por aquisição, que em 30.09.97fez composição com os Srs. Luiz Carlose seu irmão, esclarecendo que se iniciaem 01.10.97 o seu pedido, não

pretendendo manter as pretensõesrelativas ao período anterior a estamesma data.

Regularmente notificado,compareceu o reclamado à audiênciadesignada, mostrando-se infrutífera, nestaoportunidade, a tentativa de conciliação.

Ato contínuo, apresentou a defesade f. 45/55, através da qual argúi,preliminarmente, a inépcia da inicial, pelaausência de pedido de anulação dafiliação do reclamante junto à Cooperativae reconhecimento do vínculoempregatício. Argúi, ainda, carência deação, pela inexistência de relação deemprego entre cooperados e cooperativase tomadores de seus serviços. Afronta, aseguir, o mérito de todo o pedido.

Acompanham a defesa osdocumentos de f. 56/180.

Procuração de f. 181/182 epreposição de f.

Manifestação do reclamante de f.184/186.

Produzida prova oral às f. 191/192e prova emprestada de f. 193/195, comnova manifestação do reclamante às f.197/198.

Sem mais provas, encerrou-se ainstrução processual.

Razões finais orais.Conciliação renovada e recusada.É o relatório.

2 – FUNDAMENTOS

A questão a ser decidida nesteprocesso prende-se à regularidade ou nãoda contratação do reclamante porintermédio da Cooperativa de Serviçosdos Trabalhadores Rurais e UrbanosAutônomos Ltda – COOPERSETRA,sustentando o autor que fora compelidoa filiar-se a esta Cooperativa, porimposição do próprio reclamado, ao passo

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que este, além de negar tal atitude, buscademonstrar a regularidade deste ajuste,com apoio no parágrafo único, do art. 442/CLT, que prevê a possibilidade decontratação de serviços desta natureza,sem que este ajuste crie entre as partes(cooperado e cooperativa, ou cooperadoe tomador de serviços), vínculoempregatício.

Mas, antes mesmo de decidirmosesta questão, necessário se faz apreciaras argüições de inépcia da inicial ecarência de ação, apresentadas peloreclamado; a primeira, amparada na tesede não ter o reclamante requerido,expressamente, e como era de seu dever,a declaração judicial de nulidade darelação cooperativa/cooperado, etambém, no reconhecimento do vínculoempregatício para com o reclamado,assuntos estes, no seu entender, decaráter principal, e com base neledecorrerem todos os demais formuladosna exordial, que se revestem, portanto,de natureza nitidamente acessória. Nasegunda argüição, aponta para a carênciade ação do reclamante diante doreclamado, dada a sua visão deinexistência de vínculo empregatício entreas partes.

Analisadas, pois, as duas argüições,parece-nos, no entanto, não ter como seracolhidas.

Grande celeuma se estabeleceudoutrinariamente acerca da necessidadedo manuseio da ação meramentedeclaratória para apuração da certeza dedeterminada relação jurídica, seja ela decaráter principal ou incidental, de forma,portanto, independente ou autônoma, ouse o autor, já dispondo da açãocondenatória, dispensado estaria dedecisão judicial de conteúdo puramentedeclaratório, para somente depois atingirseu escopo principal, que seria o de ver-

se reparado até os limites da transgressãosofrida (condenação).

Alguns autores, que preferiramestabelecer a independência completa decada uma das espécies das ações(condenatórias, constitutivas oudeclaratórias), sempre defenderam aposição de que, para se obter a prestaçãojurisdicional oferecida pelo Estado, misterfar-se-ia que o autor manuseasseadequadamente cada um destesinstrumentos processuais, e, do resultadode cada um, poder-se-ia obter asconseqüências almejadas. Assim, sedúbia a relação jurídica entre as partes,primeiro dever-se-ia buscar posiçãojurisdicional que afastasse a incertezadesta situação, e superada esta fase,havendo transgressão de direito, deveriao ofendido buscar nova manifestação doEstado-juiz, agora para alcançar asatisfação material (reparação do dano),por meio de outra sentença, esta deconteúdo condenatório.

Cindia-se, pois, de forma clara, astrês espécies ou formas de ação,destacando-se que cada uma delas tinhasua finalidade e objetivo específico, ecomo tal deveriam ser manuseadasespecífica e independentemente.

Mas, pela concepção germânica,“como toda sentença condenatória étambém formalmente declaratória em suaprimeira parte, preencherá a açãocorrespondente todas as necessidades doautor, isto é, poderá ele obter do réu ocumprimento da obrigação logo após asentença, pois a execução é apenaspotencial, dependendo de iniciativa doautor, que dela prescindirá se os fatos ademonstrarem desnecessária” (In, BARBI,Celso Agrícola. Ação Declaratória Principal

e Incidental, 6ª ed. rev, aumentada e atual.,de acordo com o CPC de 1973 e legislaçãoposterior. Ed. Forense, RJ 1987, p. 132).

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E prossegue o renomadoprocessualista: “Por todos essesfundamentos, não se deveria admitir apropositura da ação declaratória quandojá possível a da condenatória sobre amesma relação jurídica ou documento”,fazendo esta referência o autor da obramencionada, quanto ao aspecto danecessidade da propositura distinta daação condenatória e declaratória paraobtenção de manifestação jurisdicionalacerca de certa relação jurídica oudocumento, uma sendo, portanto,subsidiária mas independente da outra.Vale dizer, deveria a parte interessada,obter, passo a passo, a manifestação doEstado-juiz para cada uma de suaspretensões (declaratória, constitutiva ousatisfativa/condenatória), jamais podendoser elas cumuladas em uma só pretensão,que por seu conteúdo já abrangesse umadas demais.

Por esta posição (do direitoalemão), claro está, a nosso ver, quepodendo o autor, desde já, lançar mão daação de conteúdo apenas condenatório,e assim sendo de sua preferência,desnecessário é o uso da ação deconteúdo puramente declaratório, poisque, para se atingir aquele,necessariamente (se duvidosa a situaçãojurídica entre as partes) deve haverpronunciamento pela forma desta, valedizer, e como ressaltado acima, a decisãode conteúdo condenatório, em sua grandemaioria, senão todas as vezes, terá, emsua primeira parte, essência formalmentedeclaratória.

E não é, a nosso ver, outra a visãoque se pode ter da legislação processualbrasileira, quando se interpreta o art. 4º,do CPC, quando este diz que “o interessedo autor pode limitar-se à declaração”,acrescentando, no parágrafo único destedispositivo, que “é admissível a ação

declaratória, ainda que tenha ocorridoviolação do direito” (grifos de nossooriginal).

A lei processual está, portanto, afacultar ao detentor do direito de ação, aeleição da via meramente declaratória, sedela dispuser e assim o quiser, mas nãose pode negar, também, e pela expressãoda lei, que ela faculta o exercício diretoda ação condenatória, que neste aspectoabrange a declaratória, obtendo, com aprimeira, de forma direta, mas semconteúdo jurisdicional específico nestesentido, a declaração de certeza.

Nos autos, optou o reclamante poresta conduta. Vale dizer, manuseou aação condenatória, que em seu bojoconterá, obrigatoriamente, a manifestaçãodeclarativa do Estado-juiz quanto àcerteza da relação jurídica ocorrida entreas partes. Não necessitava, por estanossa visão, dividir as ações por suasespécies, se seu objetivo final jáenglobava uma delas.

Inexiste inépcia na inicial, pois, pornossa concepção, preenchidos foram osrequisitos exigidos pelo art. 295, I, eparágrafo único, do CPC, ficando rejeitadaa preliminar.

As posições jurisprudenciaisapresentadas pelo reclamado em suadefesa, com respeito aos seusdefensores, parecem-nos ultrapassadas,além do que ferem princípios do direitoprocessual, e em especial, o referente àeconomia processual, impondo o usomais esmiuçado do aparelhamentoestatal, de forma desnecessária.

A apoiar esta nossa posição, aindaé pertinente invocar o adágio latino quediz “da mihi factum, dabo tibi ius”. Meraschicanas processuais (no sentidomeramente de protelar a solução dosconflitos sociais) não podem sobrepujaro objetivo maior do processo, que é o de

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dar aos jurisdicionados um resultado útilàs suas desavenças.

Quanto à argüição de carência deação por inexistência de relação deemprego, neste ponto também nos pareceinfundada a preliminar suscitada.

Diz-se carente do exercício dodireito de ação aquele que não for partelegítima para propositura desta, nãoapresentar interesse de agir, ou o queformular pretensão juridicamenteimpossível.

Todos esses requisitos estãopresentes, pois o reclamante postuladireito seu, em seu próprio nome; é visívela necessidade de se mover o Estado-juizpara assegurar seu suposto direito; e,segundo as regras de direito hojevigentes, pode-se afirmar que seu pedidoimediato é juridicamente possível.

A posição do reclamado deentender ser o autor carecedor do direitode ação pela inexistência de vínculoempregatício entre as partes, por nossaconcepção dessa defesa indireta, éerrônea, permissa maxima venia, postoque tal matéria está afeta ao mérito desuas pretensões, sendo prejudicial aanálise dos pedidos decorrentes doreconhecimento do vínculo empregatício,mas jamais como condicionante do direitodo exercício da ação.

Da mesma forma que a preliminaranterior, rejeita-se também essa.

No mérito, e como já dissemos noinício desta fundamentação, a discussãoprende-se à análise da regularidade ounão da contratação do autor porintermédio da Cooperativa de Serviçosdos Trabalhadores Rurais e UrbanosAutônomos Ltda – COOPERSETRA,estando o reclamante defendendo aposição de que teria sido forçado peloreclamado a filiar-se à referidaCooperativa, da qual efetivamente jamais

participou, tendo a este prestado serviçode forma direta e subordinada,caracterizando-se portanto o vínculoempregatício e, com base nesse fato,acaba por pleitear as reparações legaispara este tipo de liame. Já o reclamado,de seu lado, defende a legalidade dacontratação do autor pelo sistema decooperativa de trabalho, que forainstituído e legalizado pela introdução doparágrafo único do art. 442/CLT, nãopodendo, agora, ser “penalizado” por suaconduta que se consolidou dentro dodireito posto. O ato jurídico por elerealizado foi formal e legalmente apto paraproduzir os efeitos jurídicos almejados,pois as partes eram capazes, o objetolícito e a forma prescrita ou não defesaem lei. Nega a presença dos requisitosnecessários para a relação de emprego.

Diante de tal quadro, parece-nos, noentanto, que o foco de atenção das partesé equivocado para análise dascircunstâncias que envolvem a matériasub judice. Não se pode negar que, pelonosso atual sistema legal, prevista está apossibilidade da prestação de serviço pormeio de cooperativas de trabalho, e seassim se realizou esta prestação deserviço, prevê a mesma legislação ainexistência de vínculo de naturezaempregatícia entre o tomador de serviçoe o cooperado, e entre este e acooperativa.

Mas, como dissemos acima,estabeleceu- se, de forma clara, sistemade trabalho por cooperativa. E para assimconcluirmos, mister se faz delimitarmos oque seja efetivamente este sistema outrabalho cooperativo, ou por meio desociedades cooperativas, verificando, aofinal, se isto ocorreu no nosso caso.

Define-se cooperativa segundo oart. 3º, da Lei 5.764, de 16 de dezembrode 1971, nos seguintes termos:

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“Celebram contrato de sociedadecooperativa as pessoas quereciprocamente se obrigam a contribuircom bens ou serviços para o exercício deuma atividade econômica, de proveito

comum, sem objetivo de lucro.” (grifosnossos)

Saindo da mera conceituação legal,para ferirmos a definição jurídica,extraímos do Vocabulário Jurídico de “DePlácido e Silva”, que: “COOPERATIVA.Derivado do latim cooperativus, decooperari (cooperar, colaborar, trabalharcom outros), segundo o próprio sentidoetimológico, é aplicado na terminologiajurídica para designar a organização ousociedade, constituída por váriaspessoas, visando a melhorar ascondições econômicas de seusassociados”.

Pelo que se vê até aqui, ascooperativas têm uma finalidade nobre,que é a de agrupar, pelo princípio dasolidariedade e cooperativismo, pessoascom interesses comuns, para,trabalhando em conjunto, coletivamenteou em sistema de cooperação, poderemalcançar, de forma mais satisfatória, estesseus objetivos. As cooperativas existem,pois, para prestação de serviços paraseus associados, em proveito deles(assim entendido o fruto desta prestaçãode serviço), a fim de atingirem seusobjetivos comuns, sem qualquerfinalidade de lucro. Há, portanto, umaCOORDENAÇÃO de interesses, onde oscooperados almejam, pela reunião deseus esforços, atingir um resultadocomum, em proveito de todos.

No presente caso, não se vislumbraesta situação.

O que se tem de concreto, é umentrechoque de interesses, contrários eantagônicos, que jamais podem sercompreendidos na definição do espírito

cooperativo. O reclamado, para odesenvolvimento e exploração de sualavoura, necessitava da mão-de-obra doreclamante (ou de qualquer outrotrabalhador), e desta necessidade,“contratou” o reclamante, por meio da“instituída” Cooperativa de Trabalhadoresrurais e urbanos, para desempenhar asatividades suas.

O reclamante, necessitando dotrabalho, entregou-se à prestação deserviço pela forma que lhe fora oferecida,defendendo interesse seu, próprio, jamaisem comum. Visou, obviamente, extrairdessa sua prestação de serviço, o lucroou benefício que ela poderia lheproporcionar para sua sobrevivênciapessoal, nunca espiritualizando ouobjetivando, a produção de algo emcomum.

De outro lado, o serviço que foiprestado, não se reverteu em benefíciodessa cooperativa (e obviamente, paraseus filiados), que dele nada auferiu, masem prol do tomador do serviço.

As cooperativas ou o espíritocooperativista, em especial ascooperativas de trabalho, têm, comodissemos, fim nobre, que deve estarvoltado para a melhoria das condições detrabalho dos seus filiados, permitindo umaconsolidação de uma estrutura ou sistemade trabalho mais ordenado, tudo no afãde melhorar as condições sociais eeconômicas de seus integrantes. Jamaispodem servir, como se percebeclaramente dos autos, para fins deminimização de custos operacionais, oumesmo, racionalização de procedimentosadministrativos dos tomadores de serviço,atitude esta que se vê tomando camponas relações de trabalho, e às vezes como beneplácito perigoso e impensado doJudiciário Trabalhista, infelizmente.

Trabalho publicado pelo Juiz do

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Trabalho Jorge Luiz Souto Maior,integrante do quadro de juízes do TRT da15ª Região, citado por Larissa CarottaMartins da Silva Scarabelim e HamiltonLuiz Scarabelim, na obra Direito do

Trabalho Rural, Estudos em homenagema Irany Ferrari, sob a coordenação deFrancisco Alberto da Motta PeixotoGiordani, Melchíades Rodrigues Martinse Tarcio José Vidotti, 1ª Ed., SP, Ed. LTr,1998, p. 146, diz-nos: “Note-se, assim, ototal descompasso do atual sistemacooperativista – e mesmo sobre o seuaspecto conceitual – com aincrementação de cooperativas detrabalho, quando o objetivo destas seja amera prestação de serviços a terceiros.Isso, repita-se, somente se visualizapossível diante do ordenamento jurídicovigente à época do Decreto n. 22.239/32,sob a égide da Constituição Federal de1824, que nada dispunha sobre Direito doTrabalho. (...) Mesmo que se pudesse,ainda que indevidamente, visualizar nascooperativas de trabalho uma espécie decooperativa de produção, isso não seriasuficiente para se remontar o sistemajurídico ante o Direito do Trabalho, nosentido de se considerar possível aformação de cooperativas de trabalhocom o fim de prestar serviços a terceiros.(...) Neste sentido, ‘cooperativas detrabalho’ em que o resultado do trabalhoutilizado por terceiro (construção de casaspara uma construtora, colheita de laranjapara citricultores, colheita de lixo para oMunicípio e prestação de serviçosmédicos para empresa de saúde ou umMunicípio, por exemplo) não sãopropriamente cooperativas. Adesfiguração, aliás, é ainda maior quandoa vinculação a uma cooperativa é tidacomo requisito essencial para a prestaçãode um determinado trabalho, pois issocontraria frontalmente o princípio básico

cooperativo de associação por atovoluntário e livre ...”.

As cooperativas de trabalho,portanto, devem existir para melhorar acondição de trabalho de seus filiados,permitindo uma consolidação de umaestrutura ou sistema de trabalho maisordenado, com fincas a melhorar ascondições sociais e econômicas de seusintegrantes.

No caso em exame, sabe-se, porexperiência de anos de análise e decisõessobre os conflitos trabalhistas em nossaregião, que nada disso ocorreu.

Se se permitiu, aos empregadoresafastar a figura do “intermediário”, do“gato”, do “turmeiro” entre outrasdenominações usuais, do lado dostrabalhadores rurais nada trouxe de novo.Continuam eles, como antes, a trabalharde forma descontínua, recebem a mesmaremuneração, por dia ou por produção,continuam sem patrão, como criaturasespúrias e renegadas, uma categoriainferior e desqualificada de mão-de-obra.O sistema cooperativo, comopreconizado, nada acrescentou na vidadestes trabalhadores. Continuam comoantes, desorganizados em seu meio, mascom a diferença de que agora, sob ummanto de legalidade, têm a estruturajurídica de cooperativa ou cooperativados,que na verdade não os representa, o quepode ser melhor vociferado pela sábia efeliz expressão/título de trabalho levadoa público pelo Juiz Márcio Túlio Viana,Cooperativas de Trabalho: um Caso de

Fraude Através da Lei (Obra: O que há

de novo em Direito do Trabalho”, emhomenagem a Ísis de Almeida, MessiasPereira Donato e Paulo Emílio Ribeiro deVilhena, Ed. LTr, 1997).

As cooperativas mencionadas noparágrafo único, do art. 442, da CLT, quetêm suas razões para estar no cenário

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jurídico, não são as defendidas eutilizadas pelo reclamado. Não é questãode justiça ou eqüidade na aplicação danorma, mas de adequação, de corretasubsunção do fato à norma jurídica, o quenão ocorre com o caso vertente.

À luz do referido artigo de lei, comlamentável constatação, vê-se salpicar,aqui e acolá, e em cada vez maior númerode ocorrências, a criação e utilização demão-de-obra por intermédio destas ditascooperativas de trabalho, que na verdadeindicam ou evidenciam forma ilegal eabusiva de contratação de mão-de-obra.Sob o manto de legalidadeinstitucionalizada pelo referido artigo delei, passou-se a eliminar o “fantasma” dosbóias-frias ou trabalhadores braçais docampo, elevando-os à elite decooperados. De um grupo desorganizadoe desordenado de trabalhadores, a umaclasse de cooperados, com estruturaempresarial invejável.

No entanto, sabe-se que a realidadesocial é bem outra.

O que se vê é uma submissãodestes trabalhadores a estas novascondições impostas pelo mercado detrabalho cada vez mais voraz. Se de umlado está a imposição de maiorcompetitividade, que implica para ostomadores dos serviços, redução decustos e maior produtividade, regra demercado que está cada dia mais apressionar os empregadores, de outrolado estão os trabalhadores, que cada diamais se sujeitam às condições domercado de trabalho, que exige,diuturnamente, a flexibilização dasnormas do Direito do Trabalho,fragilizando ou eliminando direitosconstituídos ao longo de vários anos.

É o autêntico processo do “mais-valia”.

Nei Frederico Cano Martins, em

artigo publicado pela Revista LTr, ediçãode julho/95, de forma serena faz-nos umcomentário sobre a flexibilização dasnormas trabalhistas, diante do contextoaté aqui enfocado, quando diz: “Aflexibilização, portanto, consiste na idéiade afrouxar a rigidez do Direito doTrabalho, propiciando à classeempresarial facilidades para oenfrentamento dos períodoseconomicamente não propícios.

Através desse processo, osdetentores do capital teriam maior espaçopara a redução dos custos da produção,o que se obteria até com eventualsupressão temporária ou definitiva dedireitos consagrados em leis ou emnormas coletivas.

Existe nesta tendência, a nossojuízo, uma autêntica mutação da naturezadas coisas: o capitalismo, que secaracteriza pela presença da livreiniciativa, onde deve imperar o risco donegócio, busca dividir esse risco entre asclasses empresariais e obreiras.

Nos momentos de prosperidadeeconômica, não se lembraram as classesdetentoras do capital de transferir partedas vantagens auferidas para a classetrabalhadora.

Basta lembrar que no Brasil aparticipação nos lucros das empresas foiinserida na Constituição de 1946 e nasseguintes, só tendo sido objeto deregulamentação recente, assim mesmoatravés de medida provisória, mecanismoinadequado para essa finalidade.Passaram-se, portanto, quase cinqüentaanos, ao longo dos quais a normaconstitucional restou ineficaz, por absolutafalta de regulamentação pelo legisladorordinário, quase sempre comprometidocom os interesses do capital.

Agora, quando os lucros deixaramde aflorar com a mesma intensidade de

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antanho, lembram-se os defensores docapital de compartilhar com ostrabalhadores os ônus decorrentes doenfrentamento da crise.

Nada mais injusto.”As cooperativas de trabalho, tal

como previstas no art. 442, parágrafoúnico, da CLT, são uma realidade emnosso ordenamento jurídico, e,observados os seus estreitos limites deaplicação, elas podem ser de utilidadepara a constituição de forma de trabalhoque tenha por objetivo a coordenação deinteresses comuns e para o proveitocomum. Mas nunca para os fins colimadosneste processo.

Se se serviu o reclamado da mão-de-obra do reclamante, o único veículolegal de que dispunha para isto seriaatravés do contrato de trabalho, que orafica reconhecido, pelo prazo ou vigênciaapontada na inicial, vale dizer, admissãoem 01.10.97 e saída em 04.08.98,mediante o salário mensalcorrespondente a R$286,00, devendo oreclamado proceder ao registro da CTPSdo reclamante, com ofícios pelaSecretaria da Junta ao INSS e MTb, paraos fins do Prov. 01/70/TST.

Pela prova oral produzida, deve-seter como horário de trabalho do autor ajornada das 7 às 18 horas, de segunda asexta-feira, e por três meses no decorrerdo período, o mesmo horário nos sábadose domingos, não podendo ser reconhecida,de forma integral, a duração de trabalhoapontado na peça preambular. O intervalode refeição sempre será considerado comode uma hora.

Por esta jornada, chegava a realizaro reclamante um total de 50 horassemanais, em período de entressafra, epor três meses/ano, quandoconsideraremos este como de colheita, amesma jornada aos sábados e domingos,

o que em uma realização de mais 12horas extras semanais (10 horas dosábado e duas horas extras no domingo),que deverão ser remuneradas comadicional de 100% sobre a hora normal,segundo previsão das CCT da Categoria,integrando estas horas o salário, paratodos os fins, gerando os reflexospostulados na exordial.

Reconhecido o trabalho em dias dedomingos (por 3 meses no período), deveser deferida ao reclamante a pretensãode dobra dos descansos trabalhados (jáhavia pagamento de forma simples).

Negados o vínculo e a dispensa, eraônus do empregador provar a inexistênciadeste último fato, imposição da qual nãose desincumbiu. Diante de tal situação,devidas se mostram as verbas de avisoprévio (com sua integração ao tempo deserviço); 03/12 de 13º salário/97; 08/12de 13º salário proporcional/98; 11/12 deférias proporcionais + 1/3; FGTS + 40%de todo o contrato aqui reconhecido,inclusive sobre as verbas rescisóriasdeferidas (exceção feita às fériasproporcionais); e liberação das guias doseguro-desemprego, sob pena deconversão desta obrigação de fazer emindenização correspondente, uma vezque tal benefício é de naturezaprevidenciária, não havendo como deferir,de plano, a indenização pretendida, quesó terá cabimento se se provar a omissãodo reclamado em fornecer adocumentação necessária para o gozodeste, ou ainda, mesmo assim agindo oempregador, ficar caracterizado que oimpedimento para o recebimento deveu-se ao seu comportamento omisso emregularizar a situação do trabalhadorenquanto vigente a relação entre aspartes.

Não tendo o reclamado efetuado opagamento do adicional de produtividade

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fixado nas CCT da categoria profissionaldo reclamante, impõe-se a condenaçãodeste ao pagamento desta parcela, quefica deferida como pretendida.

Não comprovou o reclamantepreencher as condições mínimas fixadasem lei para recebimento do PIS, nãohavendo como deferir-lhe indenizaçãosubstitutiva ao possível abono a que teriadireito.

Não se tem como deferir acompensação solicitada pelo reclamadoquanto às contribuições vertidas àPrevidência Social, pois o recolhimentoinadequado por ele realizado não foi frutode ato do empregado. O recebimentodestes recolhimentos deverá ser feito porele, diretamente junto à Previdência, e pormeio processual (administrativo oujudicial) específico.

3 – DECISÃO

Ante o exposto, resolve a MM.JUNTA DE CONCILIAÇÃO EJULGAMENTO DE ARAGUARI-MG julgarPARCIALMENTE PROCEDENTE opedido, para, reconhecendo o vínculoempregatício entre as partes pelo períodode 01.10.97 a 04.08.98, mediante osalário mensal de R$286,00, condenarWILMAR DE JESUS GUILHEM a pagar aNILTON CÉSAR PIRES DOS SANTOS asverbas de horas extras e reflexos; dobrados domingos trabalhados; aviso prévio;3/12 de 13º salário proporcional/97; 8/12

de 13º salário proporcional/98; 11/12 deférias proporcionais + 1/3; FGTS + 40%de todo o contrato; e adicional deprodutividade de todo contrato, tudoconforme se apurar em execução, porcálculo, observada a fundamentaçãosupra, e com o acréscimo legal dos jurosde mora e a atualização monetária, naforma prevista em lei.

Deverá o reclamado proceder aoregistro da CTPS do reclamante, segundoos dados constantes da parte expositivadesta decisão, bem como fornecer-lhe asguias TRCT/01 e CD/SD, no prazo quevier a ser-lhe assinado na fase executiva,para recebimento por parte do reclamantedo benefício do seguro desemprego, sobpena de conversão desta obrigação emindenização correspondente,considerados os motivos estampados nafundamentação, oficiando a Secretaria daJunta ao INSS e MTb, para fins do Prov.01/70/TST, observada a dedução dascontribuições previdenciárias e fiscais, naforma prevista nas legislações aplicáveis,com comprovação de seu recolhimento,pelo reclamado, na forma do Prov. 02/93/TST, oficiando a Secretaria da Junta aoINSS, ainda, para os fins da Lei n. 8.620/93, e à Receita Federal, ambos, senecessário.

Custas, pelo reclamado, no importede R$80,00, calculadas sobre R$4.000,00,valor estimado à condenação.

Intimem-se as partes.Encerrou-se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 407/98Data: 23.06.1998DECISÃO DA 34ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: Dr. MARCUS MOURA FERREIRAAberta a audiência, por ordem do MM. Juiz Presidente foram apregoadas as partes,ausentes.Colhidos os votos, passou a JCJ a proferir a seguinte decisão:

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RELATÓRIO

O Ministério Público do Trabalhopropôs a presente ação civil pública contraa Cooperativa de Trabalho de MinasGerais Ltda. (COOTRAMIG), aosseguintes fundamentos: Segundodispõem os artigos 114, da ConstituiçãoFederal, e, 83, inciso III, da LeiComplementar n. 75, de 20.05.93, aJustiça do Trabalho é competente, ex

ratione materiae, para julgar a ação civilpública que vise à defesa de interessescoletivos, quando desrespeitados osdireitos sociais constitucionalmentegarantidos; aquela norma da LeiComplementar 75/93 e o art. 129, daConstituição, conferem ao MinistérioPúblico do Trabalho a condição de partelegítima para ingressar em juízo com apresente ação; já a competência funcionalé da Junta de Conciliação e Julgamento,tendo em vista o disposto no art. 2º, daLei 7.347, de 1985; quanto aos aspectosde mérito, propriamente considerados,trouxe à tona o fato de que a ProcuradoriaRegional do Trabalho, atuando emsessões ordinárias de Turmas do TribunalRegional do Trabalho da Terceira Região,constatou a existência de fraudes àsnormas de proteção ao trabalho, levadasa efeito pela ré e detectadas emprocessos judiciais; demais disso, juízesdo trabalho encaminharam à ProcuradoriaRegional cópias de sentenças em que severificaram fraudes igualmenteperpetradas pela mesma Cooperativa;diante disso, o Colegiado de Defesa dosInteresses Difusos e Coletivos daProcuradoria Regional do Trabalho houvepor bem determinar a abertura deInquérito Civil Público, “paracomplementar a instrução do processo”,seguindo-se à aprovação dessa medidapelo ilustre Procurador Chefe, conforme

a Portaria n. 76, de 11.12.96; aCooperativa de Trabalho de Minas Gerais(COOTRAMIG) foi intimada da aberturadas investigações e tomou conhecimentodos fatos, tendo apresentado documentose prestado esclarecimentos, através deseus representantes; em curso asinvestigações, verificou-se que a rédesenvolve atividades que não seconformam ao ordenamento jurídico“fugindo inteiramente aos propósitoscooperativistas, pois suas atividadeslimitam-se à intermediação ilegal da forçade trabalho dos seus associados aterceiros"; em nome da flexibilização dodireito laboral, absurdos estão sendocometidos, principalmente depois que aLei 8949/94 acrescentou parágrafo únicoao art. 442, da CLT, dispondo que“Qualquer que seja o ramo da atividadeda sociedade cooperativa, não existevínculo empregatício entre ela e seusassociados, nem entre estes e o tomadorde serviços daquela;” mas esta normasomente se aplica às verdadeirassociedades cooperativas, e não àquelasempresas que fazem a intermediação demão-de-obra, revestindo-se da forma decooperativas; a ré, com efeito, temfinalidade lucrativa, negocia diretamenteos contratos de prestação de serviçoscom terceiros sem qualquer participaçãodos supostos cooperados, transfere paraestes os encargos decorrentes dotrabalho, coloca-os em situação desubordinação jurídica e, por conseguinte,na condição de empregados, mas nãolhes reconhece os direitos sociaisassegurados na Constituição, tais comoos que se dirigem aos trabalhadoresurbanos e rurais, previstos no art. 7º; trata-se, na realidade, de atividade ilegal, poisnão se enquadra nas hipóteses previstasnas Leis 6019/74 e 7102/93 e no próprioEnunciado 331, do TST; deste modo, a

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223), com as alegações a seguirresumidas: argüiu a ilegitimidade ativa doMinistério Público do Trabalho, porinexistir, na espécie, defesa de direitocoletivo, mas de direitos individuaishomogêneos, quando muito, o que, naesfera da Justiça do Trabalho não autorizaa propositura da ação civil pública; é queos supostos “direitos sociais” doscooperados têm natureza divisível,“podendo ser separados por cada um dosseus respectivos titulares”; não há normalegal que atribua poderes ao MinistérioPúblico para pedir em nome de (supostos)empregados direitos individuais,“absolutamente divisíveis e destacáveis”;cita, a propósito dessa questão preliminar,autores de nomeada e diversos arestosdo Superior Tribunal de Justiça parademonstrar quão incabível se revela aação civil pública no presente caso;sustenta também a impossibilidadejurídica do pedido, a ausência deindicação precisa de causa de pedir, jáque era necessário que a pretensãoestivesse assentada em lei específica, enão em normas genéricas, conforme secolhe da doutrina de Hely Lopes Meirellese outros autores citados; demais disso,não há norma legal que proíba aconstituição de cooperativas de trabalho,aspecto que também importaria aimpossibilidade jurídica argüida; deduziumais, em sede de preliminar ainda, que apresente ação “fere frontalmente oprincípio da livre iniciativa” e toda apreceituação constitucional sobre oincentivo que o Estado deve dar aocooperativismo; o Ministério Público “tentaanular” esse “estímulo à formação efuncionamento de cooperativas”, por issoque a demanda encontra obstáculo naprópria Constituição Federal. No mérito,disse a ré que é uma cooperativaconstituída de acordo com a Lei 5.764/

ré viola “direitos e garantias fundamentaise sociais, constitucionalmenteassegurados aos trabalhadores”, bemcomo os previstos na legislaçãotrabalhista, cometendo portantoirregularidades que ultrapassam “asfronteiras do direito individual, autorizandoa intervenção do Ministério Público doTrabalho, nos termos dos artigos 127 e129, III, da Constituição Federal, e artigos83, III, e seguintes da Lei Complementarn. 75/93, como guardião da ordem jurídicae dos direitos sociais e individuaisindisponíveis dos trabalhadores"; nãobastassem as irregularidadesconstatadas, a ré ainda mantém em seusquadros menores de 21 anos “em totalafronta à lei”. Ao final, pleiteia acondenação da ré nas seguintesobrigações: “a) não proceder àintermediação de mão-de-obra detrabalhadores, sejam eles seusassociados ou não, em atividade-meio ouatividade-fim, sem que lhes sejamassegurados o registro como empregadose as demais garantias trabalhistas,previdenciárias e fundiárias; b) asseguraraos seus empregados todos os direitostrabalhistas previstos na ConstituiçãoFederal, Consolidação das Leis doTrabalho e legislação ordinária.” Pede afixação de multa (art. 287, do CPC), nabase de 500 UFIR por obrigaçãodescumprida em relação a cadaempregado, com a reversão dos valorespara o Fundo de Apoio ao Trabalhador,ou para a União, em caso de extinçãodeste. Requereu ainda que o eventualdescumprimento das obrigaçõesimpostas à ré possa ser apurado pelopróprio Ministério Público do Trabalho oupelo Ministério do Trabalho. Deu à causao valor de R$20.000,00 e instruiu a inicialcom os documentos de f. 13/194.

Citada, defendeu-se a ré (f. 198/

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71, sendo certo que os seus atosconstitutivos e estatuto social foramregularmente arquivados na JuntaComercial do Estado de Minas Gerais;citou o magistério de Antônio Miranda deMendonça, para dizer que a ação doMinistério Público provém do equívoco de“... presumir de emprego qualquer relaçãode trabalho”; alegou que o seu objetivo éoferecer trabalho para os seusassociados, destinando-lhes benefícios eserviços; os seus associados sãotrabalhadores autônomos, razão pela qualnão fazem jus às parcelas típicas docontrato de trabalho; teceu consideraçõessobre a história do cooperativismo e citoua propósito deste tema diversos autores;tornou à questão da inexistência derelação de emprego e trouxe à colaçãodiversos julgados que a seu ver teriamtratado do problema sob uma corretaperspectiva; disse que os associados sãosegurados da previdência social, nostermos da legislação em vigor; insistiu naquestão de não haver subordinaçãojurídica dos associados, frisando que talrequisito é pedra de toque da relação deemprego; acrescentou que os serviçoscontratados em benefício de seusassociados estão sempre inseridos naatividade-meio do tomador, o quedemonstra que não se trata deintermediação de mão-de-obra; requereuao final a improcedência do pedido e fezmenção expressa aos documentoscolacionados. Com a defesa vieram aosautos os documentos de f. 224/ 1105.

O Ministério Público se manifestouàs f. 1106/1120.

A ré trouxe aos autos cópias deacórdãos do TRT da 3ª Região (f. 1122/1129), versando matéria pertinente aotema discutido nos autos. Posteriormente,juntou cópia de laudo pericial elaboradoem reclamação trabalhista (f. 1135/1147),

sobre o qual o Ministério Público foi ouvidoàs f. 1150/1153.

As partes se propuseram aexaminar a possibilidade de uma soluçãoconciliatória, que, entretanto, não seconcretizou (f. 1160).

Encerrou-se a instrução.É o relatório.

A DECISÃO E SEUS FUNDAMENTOS

Das preliminares argüidas pela ré

A defesa suscita questões de ordeme cumpre examinar desde logo a argüiçãode incompetência da Justiça do Trabalho,fundada na alegação de inexistência derelação de emprego entre ostrabalhadores e a Cooperativa deTrabalho de Minas Gerais Ltda.

Editada a Lei Complementar n. 75,de 20 de maio de 1993, a Justiça doTrabalho passou a ter competência parajulgar a ação civil pública para a proteçãode interesses coletivos vinculados aosdireitos sociais dos trabalhadoresgarantidos pela Constituição (art. 83, III).Mas o invocar a jurisdição trabalhista,qualquer que seja o objeto da tutelapretendida, inclusive por meio da açãocivil pública, supõe que a matériaveiculada na pretensão seja cabível nacompetência da Justiça do Trabalho. Porisso, o art. 114, da Constituição, regra decompetência material, condiciona oexercício da ação civil pública no forotrabalhista, o que significa dizer que ointeresse coletivo, que se pretende tutelar,deve ligar-se a direitos decorrentes derelação jurídica sobre a qual possa essaJustiça prover. E é manifesto que amatéria atinente à existência ou não derelação de emprego entre ostrabalhadores e a ré é da competência daJustiça do Trabalho, igualmente

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competente para assegurar ocumprimento dos direitos sociais dostrabalhadores previstos nos artigos 7º e8º, da Constituição Federal. Isto é oquanto basta, no plano processual, parafixar-se a competência dessa Justiça paraconhecer e julgar a intentada ação civilpública. De toda sorte, a existência ou nãode relação de emprego entre ostrabalhadores e a Cooperativa,constituindo questão prejudicial de mérito,neste será examinada.

Diz a defesa que o MinistérioPúblico seria parte ilegítima “... para adefesa de direitos coletivos”,acrescentando que, no caso dos autos,haveria, “... quando muito, direitosindividuais homogêneos”, e estes nãoautorizam o exercício da ação civil pública,“... ao menos no âmbito trabalhista”.

Cumpre inicialmente dizer que a LeiComplementar 75/93 conferiu aoMinistério Público do Trabalho alegitimidade para promover, através daação civil pública, não direitos, masinteresses coletivos.

Definir o que seja interesse constituitema que, por summa capita, sempredesafiou as mais lúcidas inteligências dafilosofia e do direito. Não sendo o casode prospectar amplamente a doutrinasobre o conceito de interesse, não sepode deixar de citar o jurista que expendepor todos, o professor Aroldo PlínioGonçalves. Com clareza, expressa-seassim:

“No Direito Processual, o sentido deinteresse já se encontra bem delineado,quando se cogita do legítimo interessepara se propor uma demanda ou para seinterpor um recurso. A conotação que seressalta, então, é da utilidade conjugadacom a necessidade da proteçãojurisdicional, da utilidade e danecessidade de determinada via

processual para se obter a proteção deum direito.

Aí o interesse desponta comopressuposto para o exercício do direito deação, considerado como o direito deprovocar a demanda e das partes nelaatuarem,participando dos momentos doprocesso.

Hoje, a tutela jurisdicional abre-senão apenas para direitos mas tambémpara interesses e, nesse ponto, ointeresse aparece não apenas comomotivação ou escolha justificada da buscada via jurisdicional, mas como objeto daproteção que através dela se intentaobter. Nesse aspecto, o interesse apareceem seu sentido objetivo, como 'aquilo quetem importância', corporificado no objetoque se traduz em um bem que se procuraproteger. Surge ele não mais em seumomento de pressuposto do exercício dedireitos, mas, sim como conteúdo dapretensão deduzida em Juízo.” (A Ação

Civil Pública do Tribunal Regional do

Trabalho da Terceira Região, n. 53, p. 35/43)

Tomemos pois a sério a disposiçãodo art. 83, III, da Lei Complementar 75/93, no que concerne à competência doMinistério Público do Trabalho para“Promover a Ação Civil Pública no âmbitoda Justiça do Trabalho, para a defesa deinteresses coletivos, quandodesrespeitados os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos”.

Tal disposição normativa já colocaem ordem de relevância uma espécie deinteresse geral, público e institucional deprimeiríssima importância, que é arealização dos direitos constitucionais dostrabalhadores previstos nos arts. 7º e 8º.À sua vez, é suficientemente incisivoAroldo Plínio Gonçalves: “O que seobjetiva, através da ação civil pública naJustiça do Trabalho é a defesa do

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interesse coletivo que decorre daobservância dos direitosconstitucionalmente assegurados aostrabalhadores, ou seja, a própria defesada ordem jurídica”. (ob. cit. p. 43)

No caso dos autos, a se admitir quea ré não cumpre os direitos sociaisconstitucionalmente assegurados, éinelutável a conclusão de que assim elaprocede em relação a todos os seustrabalhadores e assim procederá emrelação também aos que a ela sevincularem - os atuais e os futurosprestadores, o que é decisivo paradestituir de efeitos o argumento da defesade que a ação civil pública fora intentadaapenas para satisfazer “direitosindividuais, decorrentes de origemcomum”. Essa alegação tem um caráterreducionista, porque objetiva fragmentarinteresses ou direitos aos quais olegislador conferiu, para os fins da tutelacoletiva, o caráter de indivisibilidade.

Nem se argumente, como faz adefesa, que dentro em pouco o MinistérioPúblico poderá “... pleitear pagamento dehoras extras, décimo terceiro salário,férias etc.”. A asserção é equivocada ebanaliza a ação civil pública comoinstrumento de defesa da ordem jurídica.Quanto ao Ministério Público, a sociedadeorganizada ainda não lhe descobriueqüivalente para promover o interessepúblico. Sem ele, talvez já descaíssempara o ocaso direitos indisponíveis e osinteresses coletivos.

Em suma, presentes ospressupostos que legitimam o MinistérioPúblico do Trabalho, rejeita-se a argüidapreliminar.

Alega mais a ré que o pedido éjuridicamente impossível, porquanto, emresumo, a inicial não teria indicado anorma legal específica a proibir aconstituição de cooperativas de trabalho,

“... que prestam serviços aos seuscooperados, oferecendo-lhesoportunidade de trabalho, sem vínculo deemprego”, ressaltando que essa omissãotorna improsperável a ação, por faltar-lhea referida condição.

Não se trata disso e é precisoentender o quadro delineado peloMinistério Público. O que este afirma éque a ré promove a intermediação demão-de-obra, resultando dessa atividadeprejuízo manifesto para os trabalhadores,diante da inobservância de direitosgarantidos na Constituição e na legislaçãoordinária. O autor, em verdade, nãoinvoca uma “norma legal específica”, mas,em sua estruturação geral, a disciplinajurídica tutelar da relação de emprego. Oque o Ministério Público pretende, nadefesa do interesse coletivo de que sejamresguardados direitos sociaisconstitucionalmente assegurados, éobstruir o fluxo de situação que, em tese,contrapõe-se à ordem jurídica e à tutelada relação de trabalho. Ora, é incontesteque a providência judicial requerida(condenação da ré em obrigação de fazer)é admissível, em abstrato, segundo asnormas do direito positivo, algo bastantepara atender, no campo processual, aorequisito da possibilidade jurídica dopedido. Em perspectiva reversa, não háno ordenamento jurídico vigente previsãoalguma que torne inviável o exame dapretensão.

A propósito ainda dessa questãopreliminar, é incabível a alegação da réde que a presente ação encontrariaobstáculo nos princípios e normasconstitucionais de estímulo aocooperativismo. O autor, reconhecendo aóbvia importância das sociedadescooperativas, investe, isto sim, contra oque considera desvio e inversão deobjetivos, atribuindo à ré, refrise-se, a

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prática de atividade ilegalconsubstanciada na intermediação demão-de-obra. É evidente que provocar-se a jurisdição para pedir providênciajudicial que assegure o cumprimento dosdireitos constitucionais dos trabalhadoresnão significa, ao contrário do que diz adefesa, interferência do poder público nofuncionamento da cooperativa orademandada. O livre exercício da vidaassociativa não cria, em sua latitude,exceção ao princípio insuprível deatuação da função jurisdicional sempreque houver lesão ou ameaça a direito.

Rejeitam-se, portanto, todas aspreliminares argüidas na defesa.

MÉRITO

O trabalho é pedra angular da vidaeconômica e social, pois é através deleque o homem coloca sua capacidade deprodução a serviço do seu semelhante eda coletividade. Dimensão transcendenteda vida humana, no trabalho fundamenta-se a civilização, assertiva que secomprova com o repercorrer o longoprocesso histórico da humanidade. Otrabalho produz a riqueza e realiza aexistência mesma do homem.

No Brasil, a Constituição declaraque a ordem econômica funda-se na “...valorização do trabalho humano” (art.170), conferindo-lhe assim prevalênciasobre todos os demais valores daeconomia de mercado, valendo ressaltarque o trabalho não é fundamento apenasda ordem econômica, mas o é daRepública Federativa do Brasil (art. 1º, IV).

Manifestação plena deessencialidade e, ao mesmo tempo,realidade vasta e complexa, o trabalho éobjeto de tutela especialíssima, que tempor finalidade promover os valores sociaisque dele resultam. Mas é preciso tornar

efetivos estes valores, dar-lhesconcretude, para que não se revelem umconjunto inútil de proclamações retóricasou tema de mera reflexão das diversasciências que se envolvem com o trabalhohumano. A rigor, a ciência mesma étrabalho da sua base ao vértice.

Tais considerações vêm a propósitodo debate que se trava na presente açãocivil pública, pois o autor, o MinistérioPúblico, afirma, enfaticamente, que, emnome da “... flexibilização do direitolaboral, absurdos passaram a sercometidos”, o que é verdade, infelizmente,tanto que nesse campo situaçõesrecorrentes de fraude têm sido detectadaspela Justiça do Trabalho. Encobremessas maquinações as empresas deserviços terceirizados, que se criam semqualquer lastro econômico e patrimonial,desprovidas de atividade própria, cujoobjetivo é o de desonerar de encargos eresponsabilidades os empregadores queintentam ocultar-se sob o rótulo detomadores apenas da força de trabalho.

Entretanto, é imperativo reconhecerque a realidade mais profunda dodesemprego cíclico ou permanentelegitima o processo de terceirização,ainda que isso custe ao trabalhador umaperda na margem de renda, de garantiasjurídicas e de proteção social. Em termosrelativos, é preferível a “precarização” doemprego à inexistência deste, um dilemasemelhante à opção revelada pela “Curvade Phillips” (PHILLIPS, A. W., da London

School of Economics e da Australian

National University, citado por JohnKenneth Galbraith, in Sociedade Justa,edição brasileira, p. 50/1) entre empregoelevado e inflação versus desemprego epreços relativamente baixos.

Por outro lado, há experiênciasmuito bem sucedidas, emboralocalizadas, no campo da terceirização.

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São empresas que desempenhamcorretamente essa atividade e cumpremcom êxito etapas importantes do processode produção de bens, de prestação deserviços e de comercialização, gerandoempregos e contribuindo para o progressosocial. Isso ocorre, por exemplo, naindústria automobilística e na decomponentes eletrônicos. É preciso,portanto, distinguir as técnicas eprocedimentos que promovem amodernização e o fortalecimento dasrelações de trabalho daquelas queexacerbam, via da supressão pura esimples de garantias vitais, a pobreza e amarginalidade de milhares detrabalhadores.

No caso dos autos, o MinistérioPúblico é incisivo no increpar à ré oexercício de atividade irregular, ilegal evioladora das normas e princípiosjurídicos de proteção aos trabalhadores,sob o manto de pretenso cooperativismoque jamais existira. Segundo a inicial, oinquérito civil precedentementeinstaurado coligira elementosdefinitivamente esclarecedores sobre aatividade realmente exercida pela ré, qualseja, a intermediação de mão-de-obra eseu efeito nefasto de obliterar os direitossociais dos empregados, assegurados naConstituição.

O certo é que, percorridos eexaminados os quatro volumes dedocumentos que se contêm nestes autos,não há dúvida fundada de que a ré atendeaos requisitos formais estatuídos nalegislação de regência das sociedadescooperativas, tanto que se constituiu sobessa forma, arquivando os seus atosconstitutivos nos órgãos públicoscompetentes, mantendo em ordem adocumentação atinente aos estatutos,livros e atas, sendo certo que laudospericiais produzidos em duas

reclamações trabalhistas atestam aregularidade formal desses mesmosaspectos e de outros procedimentosrelacionados, por exemplo, aos registroscontábeis, à integralização de capitais, aobalanço anual etc. (f. 873/889 e 1135/1147)

Acresce um outro dado importante,que é a disposição do art. 90, da Lei 5.764/71, repetido no parágrafo único, do art.442, da CLT (“Qualquer que seja o tipode cooperativa, não existe vínculoempregatício entre ela e seusassociados...”), de cujos termos a ré sevale para inculcar que seriam“trabalhadores-autônomos” os que a elase associaram.

Cabe indagar, então: se concorremditos requisitos formais e a referida normada CLT; essa combinação para logo nãodefiniria a questão em prol da ré (ou emdesfavor do autor)?

Tocou nesse problema a JuízaTaísa Maria Macena de Lima, redatora doacórdão que se acha às f. 130/134:“Entendo, contudo, que, a despeito daliteralidade do artigo 90, a questão deveser analisada sob a ótica do contrato-realidade, eis que não se pode pré-excluira possibilidade de fraude”, referindo-se,nesta passagem, aos artigos 9º e 444, daCLT, 131, do CPC, e 102 e 120, do CCB.

O insígne Márcio Túlio Viana, emassertiva de concisão magistral, vai aoponto central: “O que a lei quer dizer éexatamente o que está nela escrito, ouseja, que não importa o ramo dacooperativa. Mas é preciso que se traterealmente de cooperativa, não só no planoformal, mas especialmente no mundo real.Ou seja: que o contrato se execute nalinha horizontal, como acontece em todaa sociedade, e não na linha vertical, comono contrato de trabalho. Em outraspalavras, é preciso que haja obra em

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comum (co-operari) e não trabalho sob adependência do outro (sub-ordinare).”(Cooperativas de Trabalho: Um caso de

fraude através da lei. Revista do TRT daTerceira Região, n. 55/56, p. 48)

Ao tempo em que se julga esta açãocivil pública, tais afirmações indicam comprecisão a direção que se deve seguir. Éinescusável que se exerça contrastesobre aspectos formais, quando estes nãorevelam toda a realidade jurídica dacausa. Com efeito, compete ao juiz dizero em que consistem os fatos para não seencobrirem os efeitos legais deles.

Na realidade prática, o que a ré fazé recrutar trabalhadores de diversasprofissões, como faxineiros,balconistas, açougueiros, digitadores,marceneiros, carpinteiros, garçons,cantineiros, office-boys, domésticas evigias, entre outros, para os repassar àsempresas e órgãos da administraçãopública, na medida em que estestomadores necessitam de taisprofissionais para o provimento de vagasem seus quadros funcionais (cf. contratoscelebrados pela ré com entidadesdiversas, para essa referida finalidade,cujas cópias foram acostadas à inicial,entre os quais o de f. 68/88, firmado como Município de Belo Horizonte; cf. aindaos documentos atinentes às profissõesdos trabalhadores recrutados, às f. 225/363).

Os trabalhadores recrutados ecolocados à disposição dos tomadoresprestam serviços nas empresas, nasmesmas condições em que o fazem osempregados regularmente admitidos,trabalhando com estes lado a lado, deforma não-eventual e em igual situaçãode pessoalidade e subordinação, comose verifica dos contratos já referidos, dodocumento de f. 39/40, produzido nocurso do Inquérito Civil Público, dos

laudos periciais de f. 873/ 889, levados aefeito em reclamações trabalhistas, sendocerto que ambos constatam a curiosasituação de os trabalhadores sesubmeterem a duplo poder diretivo (dostomadores de serviço e dos diretores daCooperativa) e dos demais elementos deprova levados ao conhecimento daCoordenadoria da Defesa dos InteressesDifusos e Coletivos da ProcuradoriaRegional do Trabalho da Terceira Região(f. 13 e seguintes). Daí a óbvia inferênciade constituir-se a mais completaintegração, nas atividades das empresas,destes trabalhadores recrutados paraserviços permanentes e necessários. Eao manifestar-se essa integração, dá-seo encontro da força de trabalho com osdemais elementos que normalmente umaempresa mobiliza para o seufuncionamento regular.

Ocorre ainda que os trabalhadoressão remunerados pela Cooperativa combase nos pisos das ConvençõesColetivas, somando-se ainda osadicionais noturnos e a concessão devale-transporte. Portanto, refrise-se, elesprestam pessoalmente serviços não-eventuais, em situação de subordinaçãojurídica e mediante salário.

Não obstante, a ré os trata e a elesse refere, nestes autos, como“trabalhadores autônomos”. Nesse passo,cumpre observar que a defesa é umapeça bem articulada, perspícua, a revelara cultura jurídica dos ilustres advogadosque a elaboraram; do fato de contrastá-lanão se deve inferir que a sua significaçãose ache diminuída, já que as alegaçõesdas partes e a própria sentença estãoexpostas ao embate respeitoso, masenérgico, da causa. Mas, com o devidorespeito, referir-se àqueles trabalhadorescomo autônomos é desviar-se deperspectiva jurídica para raciocinar com

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a radical supressão do conceito legal,doutrinário e jurisprudencial, assentadoentre nós há mais de meio século, do queseja o trabalho subordinado, numarecusação infundada à espinha dorsal doDireito do Trabalho, que se nãoapresenta, pelo menos ainda, comoformulação declinante.

O certo é que, presentes ossupostos de que trata o art. 3º, da CLT,não se está diante de quem presteserviços “por conta própria”, mas de quemos presta “por conta de outrem”, nacondição, portanto, de empregado(empregado da Cooperativa ou dasempresas tomadoras, ou ambassolidariamente responsáveis pela relaçãode emprego, a teor do art. 1518, parágrafoúnico, do Código Civil; o que importa éque se trata de empregado).

Um outro ponto inconciliável com arealidade dos fatos é o de atribuir-se à réa natureza jurídica de sociedadecooperativa. Salvo aspectos formais járeferidos, condições substanciais aoregime jurídico das cooperativas ela nãoas cumpre.

A Lei 5.764/71, no seu art. 86,admite expressamente que se organizemcooperativas para prestar serviços aterceiros. Suprime-se a figura do patrão,elimina-se o regime assalariado eassegura-se ao trabalhador o direito dedispor do produto do seu trabalho. Aoconformar-se aí uma sociedade, de cujasorte partilham igualmente os seusmembros, ocorreu ao legislador acompreensão jurídica desse quadro paraexcluir o vínculo empregatício entre acooperativa e os seus associados, comoestá na Lei 5.764/71 (art. 90) e noparágrafo único, do art. 442, da CLT.

Contudo, se há uma noção firmadaé a de que tal disposição legal se aplicasenão às cooperativas que não se

desviam dos verdadeiros objetivos docooperativismo e atuam visando àelevação da renda ou à condição socialdos seus filiados; conjugando, em affectio

societatis, os propósitos comuns do grupode trabalhadores; abrindo-se à amplaparticipação destes em todos os assuntosde interesse da corporação; distribuindoas sobras líqüidas de cada exercício.

Por outro lado, não se aplica adisposição do parágrafo único do art. 442,da CLT, às empresas de marchandage,embora possam estar revestidas da formadas sociedades cooperativas. O princípioé que a norma não incide sobre relaçãojurídica cujo sujeito se colocasimuladamente para escapar aos efeitosda regra de direito que realmente devealcançá-lo em algum momento do tráficojurídico. Isso não está expresso naqueladisposição legal específica, mas nela estáimplícito.

Ora, o que a ré faz, já o dissemos, épura e simplesmente a intermediação demão-de-obra. Os pretensos cooperadosnão fazem parte de uma determinadaprofissão, ou de ofício, ou de ofíciosvários de uma mesma classe (art. 24,do Decreto 22.239/32), mas de várias evariadíssimas profissões que não serelacionam, nem mesmo integram umadada classe profissional (carpinteiros,domésticas, açougueiros, digitadores,técnicos em contabilidade etc). O que lhesé comum é o fato de servirem aos quadrosfuncionais permanentes das empresaspara as quais são recrutados.

É de tal modo claro que a répromove apenas a intermediação detrabalho alheio, sem qualquer propósitocooperativista, que ela própria afirma estefato, como se colhe da ata da audiênciarealizada pelo Ministério Público, à épocado Inquérito Civil: “... que a Taxa deAdministração da Cooperativa pelo

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serviço intermediado pela contratação doassociado gira em torno de 8%...”.(f. 39)

A cooperativa é uma organizaçãosocial destinada à fruição, pelos seuscooperados, das vantagensproporcionadas pelo empreendimentocomum a todos eles. Atuando embenefício dos que a organizam, asociedade cooperativa não se elevaacima dos seus membros, que não seacham subordinados a ela, nem uns aosoutros, mas todos em relação decoordenação. Se uma cooperativa atendea esse e aos demais princípios, jámencionados, do cooperativismo, nostermos da Lei 5.764/71, nada impede queela participe do processo de terceirizaçãodos serviços de empresas, e tal já ocorrecom as cooperativas que têm umaatividade própria e especializada; poroutro lado, desviando-se completamentedaqueles supostos para, na realidade,atuar como empresa de mão-de-obra,como é o caso da ré, o que se revela é aprofligada intermediação, com evidenteprejuízo para os direitos sociais dostrabalhadores, com grave repercussão noFGTS e na Previdência Social.

Na esfera dos fatos, não se podeser menos peremptório: a ré não se dá anenhuma finalidade característica de umacooperativa. É, nem mais, nem menos,uma empresa de intermediação de mão-de-obra.

O Direito repele situações em quese possa auferir proveito especulando-sesobre a força de trabalho. Salvo os casosexpressamente previstos em lei (v.Enunciado 331, do TST), a contrataçãode trabalhadores por empresa interpostaé ilegal. Nesse sentido, a atividadeexercida pela ré, desvirtuando-se dosditames da Lei 5764/71, é do mesmomodo ilegal. A persistir tal situação,continuarão desrespeitados os direitos

sociais constitucionalmente asseguradosaos trabalhadores, o que cumpre coibirexatamente através da ação civil públicana Justiça do Trabalho (Lei Complementarn. 75/93, art. 83, III).

O Ministério Público do Trabalhopede que a ré seja condenada nasseguintes obrigações:

“a) Não proceder à intermediaçãode mão-de-obra de trabalhadores, sejameles seus associados ou não, ematividade-meio ou atividade-fim, sem quelhes sejam assegurados o registro comoempregados e as demais garantiastrabalhistas, previdenciárias e fundiárias;

b) Assegurar aos seus empregadostodos os direitos trabalhistas previstos naConstituição Federal, Consolidação dasLeis do Trabalho e legislação ordinária.”

O pedido deve ser entendido emtermos. A ação civil pública, na Justiçado Trabalho, é cabível para a defesa deinteresses coletivos ligados aodescumprimento dos direitos sociaisconstitucionalmente garantidos, como jáse frisou repetidas vezes. Assim,condenar-se a ré a “não proceder àintermediação de mão-de-obra”, a não serque ela cumpra os direitos sociais, comodecorre literalmente da pretensão,equivaleria a legitimar-lhe, sob condição,o exercício da atividade, que émanifestamente ilegal. E simplesmenteproibir-lhe a atividade significaria operar-lhe a extinção, o que é incabível nestaação civil pública, pois tal solução só éadmissível, em tese, em ação própria nojuízo competente.

Portanto, o pedido é procedente emparte para condenar-se a ré em obrigaçãode fazer, qual seja, a de assegurar aostrabalhadores que a ela se vinculam(associados ou não) os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos(Constituição Federal, arts. 7º e 8º) e, por

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extensão, todos os direitos trabalhistasprevistos na legislação ordinária e suasrepercussões no âmbito da previdênciasocial e do FGTS (compreendem-se aí asduas alíneas em que se articulou opedido).

Em consonância com o que dispõeo art. 287 do CPC, fixa-se em 100 UFIR amulta por obrigação descumprida pela réem relação a cada trabalhador, revertendo-se os correspondentes valores ao Fundode Amparo ao Trabalhador (FAT), ou àUnião, em caso de extinção deste.

O Ministério Público do Trabalho ficaautorizado a fiscalizar o cumprimento dasobrigações impostas à ré, podendodelegar a atribuição ao Ministério doTrabalho, tal como requerido na petiçãoinicial.

CONCLUSÃO

Por esses fundamentos, resolve, àunanimidade, a 34ª JCJ de Belo Horizontejulgar procedente em parte a ação civilpública intentada pelo Ministério Públicodo Trabalho contra a Cooperativa de

Trabalho de Minas Gerais Ltda., paracondenar a ré na obrigação de cumprir eassegurar efetivamente a todos ostrabalhadores que a ela se vinculam(associados ou não) os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos(Constituição Federal, arts. 7º e 8º) e, porextensão, os direitos trabalhistas previstosna legislação ordinária e suasrepercussões no âmbito da previdênciasocial e do FGTS.

A ré responderá pela multa de 100UFIR por obrigação descumprida emrelação a cada trabalhador, revertendo-se os respectivos valores ao Fundo deAmparo ao Trabalhador (FAT), ou àUnião, em caso de extinção do referidoFundo.

O Ministério Público do Trabalho ficaautorizado a fiscalizar o cumprimento dasobrigações impostas à ré, podendodelegar tal atribuição ao Ministério doTrabalho, como requerido na inicial.

Custas, pela ré, no importe deR$400,00, calculadas sobre R$20.000,00,valor dado à causa.

Intimem-se as partes.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 880/98Data: 23.11.1998DECISÃO DA JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE PONTE NOVA - MGJuiz Presidente: Dr. MARCELO MOURA FERREIRAAberta a audiência, foram, de ordem do MM. Juiz Presidente apregoadas as partes,ausentes.Proposta a solução do dissídio e colhidos os votos dos Senhores Juízes Classistas,proferiu a Junta a seguinte sentença:

RELATÓRIO

Adalmir Silva, qualificado na inicial,ajuizou reclamatória trabalhista contraMunicípio de Ponte Nova e CaixaEconômica Federal, alegando,resumidamente, que foi admitido em

18.08.76, passando a estatutário em01.07.90; que, apesar de ter optadoretroativamente pelo regime do FGTS, aoapresentar à segunda reclamada asolicitação para saque dos depósitos, teveseu pedido negado; requer a declaraçãodo direito ao FGTS e a liberação do

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mesmo. Deu à causa o valor deR$1.000,00. Juntou documentos.

Regularmente notificados osreclamados apresentaram defesasescritas, acompanhadas de documentos.O primeiro, Município de Ponte Nova,argüiu a prescrição total e sustentou queo FGTS foi corretamente depositado. Asegunda, Caixa Econômica Federal,argüiu incompetência absoluta eilegitimidade passiva ad causam. Aduziu,em síntese, que a ação é improcedente.

Sem outras provas, encerrou-se ainstrução processual.

Razões finais orais.Propostas conciliatórias recusadas.É o essencial a relatar.

FUNDAMENTOS

Incompetência absoluta –Ilegitimidade passiva

Preliminares suscitadas pelasegunda reclamada, em contestação, aoargumento de que inexistira, entre ela e oreclamante, relação de emprego.

A regra jurídica, que fixa acompetência da Justiça do Trabalho emrazão da matéria, encontra assento no art.114, da Constituição Federal,pressupondo, na quase totalidade doscasos, vínculo empregatício entre aspartes, hipótese que não condiz com ados autos.

Exceção à regra, entretanto, existe,e se contém no corpo do mesmodispositivo. Com efeito, a competêncianão se desloca, deste para outro foro,desde que o litígio verse a relação detrabalho, lato sensu, contanto que haja,nesse contexto, expressa previsão legal.

A lei, de seu turno, existe. Referimo-nos ao decreto n. 99.684, de 08.11.90,cujo art. 69 diz ser competente esta

Especializada para julgar os dissídiosdecorrentes da aplicação da lei n. 8036,de 1990, ainda que a União e a CEFfigurem, no processo, como litisconsortes.

A expressividade do texto não dáensejo à dúvida.

Rejeitam-se.

Interesse de agir – Ausência –Carência de ação

A lei ordinária e o respectivoregulamento, ao estatuírem que a Uniãoe a CEF serão notificadas das açõesjudiciais que tenham por objeto o fundode garantia, não visaram a contemplar,com a exigência, uma nova modalidadede litisconsórcio necessário entre aspartes em litígio e essas pessoasjurídicas.

Estamos em que esse litisconsórciodeva ser facultativo, sob a forma deassistência, segundo as regras doprocesso, presumindo, na circunstância,que o terceiro-interveniente tenhainteresse jurídico em ingressar na relaçãoprocessual, pugnando por uma sentençafavorável a qualquer das partes (arts. 50e segs., do CPC).

Nessa esteira, a CEF, na condiçãode agente operador do sistema, poderia,sponte propria, integrar a lide, comoauxiliar da parte principal, com idênticospoderes e ônus, para vindicar, do seucontendor, os direitos correlatos a suaesfera legal de atribuições.

Não nos parece, todavia, seja estasua vontade. E não há como lhe impor oexercício da faculdade, mormente comoré na ação, sob pena de o juízo anuir aoprocedimento do autor, data venia,tumultuário e de duvidosaconstitucionalidade, neste passo.

Preliminar que se argúi, de ofício,para se excluir da lide a segunda

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reclamada, ficando o processo, quanto àmesma, extinto sem exame do mérito.

Mérito

As ações, quaisquer que sejam,revestem-se de conteúdo declaratório,visando, de início, ao reconhecimento deuma relação jurídica pré-constituída. Sea pretensão, como um todo, esgotar-sena declaratividade da existência, ou não,do direito, a ação respectiva serádeclaratória, pura e simples.

Se encerrar a constituição oudesconstituição desse direito, ou a suasatisfação, será, no primeiro caso,constitutiva, e, no segundo, condenatória.Pressupõe-se, nessas duas hipóteses,que o direito, em si, seja incontroverso,para que, ao depois, se possa conhecerdo pedido, proferindo-se sentença denatureza jurídica idêntica à açãocorrespondente. Noutro passo, secontrovertido o direito, decidir-se-á sobreeste, em caráter prejudicial, a pedido daspartes ou ex officio, ficando o exame dapretensão, no caso, adiado para momentoposterior, se necessário, por se tratar dequestão prejudicada.

Essas considerações sãooportunas, tendo em vista a situaçãoparticularizada nos autos.

O autor, equivocadamente, deduz adeclaração do direito, para em seguidapostular a condenação do réu emobrigação de fazer, consistente nosdepósitos de FGTS em conta vinculada.

Ora, se a ação vertente tem,insofismavelmente, conteúdocondenatório, desnecessária se nosafigura a declaração do direito nelacontido, cuja existência se presume. Nãovemos como declará-lo incidentalmente,se o incidente em torno da existência, ounão, da relação jurídica ainda inexiste. A

pretensão, vazada nesses termos, porqueconfusa, data venia, presta-se àinterpretação, até certo ponto fundada, deque nem o próprio autor tem convicçãoplena do seu direito.

Uma vez contestada a ação,havendo controvérsia em torno dessedireito, que constitui fundamento dopedido, sim, poderá o autor requerer quesobre ele o juiz profira sentença incidente,se dele depender, no todo ou em parte, ojulgamento da lide (art. 325, do CPC). Nãooptando pela ação declaratória incidental,nem por isso haverá prejuízo a qualquerdas partes, por ausência da prestaçãojurisdicional, porquanto o juiz, nacircunstância, vê-se instado a manifestar-se sobre a prejudicialidade do tema,independente de haver ou não postulaçãonesse sentido.

Ocorre, todavia, de inexistir, naespécie, a proclamada controvérsia. Emmomento algum o reclamado contestoua condição de optante do reclamante peloFGTS – é este o direito em que se fundao autor. Muito ao contrário, reconheceu-lhe o direito, expressamente, atestando,em certa época, a opção retroativa peloregime à data de admissão do autor (f.10).

Não há até aqui, conforme se estáa ver, questão incidente sujeita àequação.

Há, sim, argüição de fato extintivodo direito do autor, consistente emprescrição total do direito de ação. Emsuma, a alegação da defesa é de que,com a implantação do regime jurídicoúnico, estatutário, no âmbito municipal,em 1990, os contratos de trabalho dosservidores viram-se extintos, facultando-se-lhes o direito de vindicar em juízo oscréditos patrimoniais, oriundos da relaçãode emprego, até o limite de dois anos quese seguirem à mudança do regime.

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Entendemos, sem hesitação,assistir-lhe razão. A extinção da relaçãojurídica em apreço operou-se por força delei (ope legis). Direitos trabalhistas podiame deviam ser reclamados dentro do biênioposterior ao término do contrato. O FGTSnão foge à regra. Encarado sob a acepçãojurídica de direito trabalhista, como formade poupança forçada do empregado paraacudi-lo em determinadas situações, navigência do contrato de trabalho ou emseguida à ruptura deste, prescreve,consoante norma supralegal, como todoe qualquer crédito desta natureza, emcinco ou dois anos, conforme se ache ounão em vigor o contrato (art. 7º, XXIX, “a”,da CF).

A opção retroativa pelo sistema, emépoca subseqüente à cessação dovínculo empregatício, não altera emabsolutamente nada a situação jurídica.Prevalece, como marco prescricional, adata do término do contrato, e não, daopção. E ainda que assim não fosse, estaocorreu nos idos de 1994, ou, quandomuito, em 1995, com sua homologaçãopor esta JCJ, em sua anterior composição(f. 11). Prescrito estaria, mesmo assim, odireito de ação.

A pretensão, em sua plenitude, estáfadada à improcedência.

Nada obstante, o reclamante temdireito a proceder ao saque dos depósitos,relativamente ao período contratual detrabalho - 18.08.76 a 30.06.90 - em razãode sua jubilação, muito embora não possaexercê-lo neste foro, pelas razões jáexpostas.

Verifica-se da documentaçãocolacionada pelo próprio reclamado,inexistir prova de que os créditos, a taltítulo, tenham sido efetuados no período

de agosto de 1976 a dezembro de 1983e, ainda, no ano de 1986 (f. 47/112).

Incumbindo ao Ministério doTrabalho exercer intensa fiscalização noque pertine ao cumprimento dasdisposições da lei n. 8036/90,notadamente, apuração dos débitos doempregador para com o FGTS, deverá seroficiado, por este juízo, para procedercomo de direito.

Outrossim, incumbindo àProcuradoria Geral da Fazenda Nacionala representação judicial do FGTS, parafins de cobrança, com a inscrição dosdébitos respectivos em dívida ativa, seráa mesma oficiada (art. 2º, da lei n. 8844/94).

Na mesma esteira, incumbindo aoTribunal de Contas do Estado exercerfiscalização sobre as contas do Município(art. 31, § 1º, da CF), a esse órgão,também, encaminhar-se-á ofício.

CONCLUSÃO

Tudo isso posto, resolve a Junta deConciliação e Julgamento de Ponte Nova- MG, à unanimidade, EXTINGUIR OPROCESSO SEM EXAME DO MÉRITOquanto à reclamada Caixa EconômicaFederal; julgar, quanto ao mais,IMPROCEDENTE a reclamação.

Após o trânsito em julgado, oficie-se à DRT, ao Tribunal de Contas doEstado e à Procuradoria Geral daFazenda Nacional, para que esses órgãospossam agir como de direito.

Custas, pelo reclamante, no importede R$20,00, calculadas sobreR$1.000,00, valor atribuído à causa.

Intimem-se as partes.Encerrou-se a audiência.

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ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 62/98Data: 20.04.1998DECISÃO DA 2ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE CONGONHASJuíza Presidente: ADRIANA GOULART DE SENAAberta a audiência foram, por ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadas as partes,ausentes.Após proposta a solução do dissídio, colhidos os votos dos Srs. Juízes Classistas, aJunta proferiu a seguinte decisão:

I - RELATÓRIO

Martinho Magno Ribeiro, qualificadoà f. 03, ajuizou Ação Trabalhista (art. 7º,XXIX, CF/88), em face de Cia. SiderúrgicaNacional, dizendo-se admitido em05.09.89, tendo sido demitido, sem justacausa, em 17.06.97.

Diz que sofreu acidente de trabalhoem 28.03.90, causando-lhe os danosfísicos que elenca, sendo certo que areclamada não obedeceu ao prazo legalpara a realização do exame demissional,requerendo indenização por perdas edanos.

Giza a presença de minutosanteriores e posteriores, sem a devidapaga.

Assevera que laborava em localinsalubre/periculoso sem o percebimentodo adicional respectivo.

Afirma que era transportado pelaReclamada, de sua residência até o localde trabalho, que é de difícil acesso e nãoservido por transporte regular público,sendo-lhe devidas horas in itinere.

Aduz que a reclamada não refletiaas horas noturnas, extras e suasbonificações nos RSR, tampoucointegrava ao seu salário as parcelas deATS, prêmio qüinqüenal acordo eadicional de qüinqüênio para cálculo dasparcelas que elenca.

Diz que a reclamada não acatava ahora noturna reduzida e que os 52%relativos a férias proporcionais foram

remunerados incorretamente.Alega que fazia trabalho igual aos

paradigmas que elenca.Portanto, elenca uma a uma as

parcelas que entende devidas.Deu à causa o valor de R$500,00.Colacionou os documentos de f. 18/

57.Instrumento de procuração à f. 59.

Declaração de pobreza à f. 58.Regularmente notificada (f. 60)

apresentou a Reclamada defesa escritaargüindo prescrição, a compensação,além de quitação quanto ao pagamentodas horas de transporte por força doaditivo ao contrato de trabalho. Requer aaplicação do En. 330, do TST.

No mérito, diz que os pedidosrelacionados ao acidente de trabalho sãoindevidos pelas razões que elenca.Declina a situação fática que entendepertinente.

Afirma que os minutos ocorrem emface da impossibilidade de todos osempregados consignarem o pontoconjuntamente, ademais, referidosminutos também são gastos com higienepessoal, até porque não são consideradosextras.

Assevera que o autor não estavaexposto a agentes insalubres oupericulosos que ensejassem o pagamentodos adicionais respectivos.

Alega não serem devidas horas initinere, porque o local de trabalho é defácil acesso e servido por transporte

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público.Aduz que as integrações devidas

foram feitas, sendo certo que abonificação sobre férias proporcionais foicorretamente quitada.

Acrescenta que a hora noturnareduzida foi paga juntamente com oadicional noturno, mesmo porque o autornão laborou em horário noturno noperíodo laboral não prescrito.

Diz ser se indevido o pedido deequiparação salarial pelas razões queexpende.

Impugna todos os demais pedidos.Carreou aos autos os documentos

de f. 87/171, impugnados às f. 180/202.Preposições às f. 172 e 240,

procuração à f. 175 e substabelecimentosàs f. 176 e 256.

Quesitos do reclamante, f. 203/205e 206/208 e da reclamada à f. 209/210.Laudos periciais às f. 212/220 e 221/230.Manifestações do reclamante, f. 232/233e 234/236 e da reclamada, f. 237.Esclarecimentos da perícia médica às f.242/244 e de insalubridade às f. 245/246.Manifestações do autor às f. 247 e 248/253.

Depoimento comum quanto a horasin itinere, f. 61.

Não havendo mais provas a seremproduzidas, ficou encerrada a instruçãoprocessual.

Razões finais orais.IMPOSSÍVEL A CONCILIAÇÃO.Tudo visto e examinado.É o relatório.

II - FUNDAMENTOS

Desistência

À f. 199, o reclamante requereu ahomologação da desistência do pedido dehoras extras decorrentes da não

observância da hora noturna reduzida ereflexos, tendo a reclamada concordadocom referida desistência (f. 257).

Assim, o Colegiado, nestaoportunidade, a homologa para queproduza seus jurídicos e legais efeitos,extinguindo-se o pedido sem julgamentodo mérito nos termos do art. 267, VIII, doCPC.

Fixação da litiscontestação

Insta salientar, primeiramente, quea fim de elidir a incompatibilidade entreos pedidos de reflexos em parcelasrescisórias, reintegração e nulidade dedispensa, o Colegiado considerará que osmesmos são alternativos, consoantepedido de letra “e”. Assim, em que pese ainicial não primar pela melhor técnicaprocessual, considerando-se, no entanto,a informalidade que rege o Processo doTrabalho, se indeferidos os primeiros,proceder-se-á, então, à análise dosreflexos dos pedidos da exordial nasparcelas rescisórias.

Prescrição

Argüida na instância própria(Enunciado 153/TST), acata-se aprescrição a incidir sobre todas as verbasporventura deferidas concernentes aoperíodo anterior a 19.01.93. Aliás, tesesufragada pelo Enunciado 308, do TST.

Saliente-se que até 04.10.86 anorma prescricional vigente estavainsculpida no art. 11, Consolidado. A partirde 05.10.88 a prescrição passou a serregida pelo art. 7º, XXIX, “a".

Concessa venia do entendimentoem contrário, in casu, está a se observara aplicação imediata da Carta Magna, asoberania Constitucional e os direitosadquiridos.

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Citado por Caio Mário da SilvaPereira, Gabba aduz que é “adquirido umdireito que é conseqüência de um fatoidôneo a produzi-lo em virtude de leivigente ao tempo em que se efetivou”.

Desse modo, quer as normas dedireito material, quer as normas de direitoprocessual, assimilam a natureza materiale substantiva da prescrição, que, a partirdo momento de sua consumaçãoconfigura-se típico direito adquirido.

O passado rege-se pelo passado.Injurídica e ilegal a pretensão do

autor de ver a prescrição declarada apartir de sua saída e não da data deajuizamento da ação, porquanto malfereos diplomas legais pertinentes, além defazer tábua rasa de toda a doutrina deescol.

Não se acolhe, posto que se estariainstituindo uma sistemática que o tempoque o autor porventura demorasse noajuizamento não seria levado em conta,malferindo prazo constitucional deajuizamento da demanda.

A jurisprudência uníssona assimnos pontua:

"PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL.Conta-se da data do ajuizamento daação, não da data do término docontrato." (TRT/RO/06206/95 - Rel.Juiz Fernando Procópio de LimaNetto. DJ/MG 20.10.95 - p. 38)

"PRESCRIÇÃO. Conta-se o prazoda prescrição qüinqüenal a partir domomento em que o empregadoajuíza a ação e não da data em quefoi dispensado." (TRT/RO/12570/93- Rel. Juiz José Murilo de Morais.DJ/MG - 09.10.93 - p. 83)

"PRESCRIÇÃO. O marco paracontagem do prazo prescricional é

definido pela data da propositura daação e não a partir da ruptura docontrato de trabalho. Inteligência doart. 7º, inciso XXIX, da ConstituiçãoFederal." (TRT/RO/01359/95 - Rel.Juiz José Eustáquio de VasconcelosRocha - DJ/MG 21.04.95 - p. 53)

Enunciado 330 do TST

Argumenta a reclamada que asparcelas pleiteadas foram objeto depagamento na rescisão contratualhomologada pelo Ministério do Trabalho,pelo que incide soberano o Enunciado330, do Colendo TST.

Todavia, horas extras pagas ou nãopagas durante o pacto laboral e adicionalde insalubridade/periculosidade sãomatérias impossíveis de se pretenderressalva em termo de rescisão, já queestas não estavam ali sendo quitadas.

As parcelas pleiteadas, decorrentesdo acidente de trabalho, indenização pordano físico e moral, horas extrasdecorrentes da não observância dajornada noturna reduzida, são matériasque dependem de pronunciamento peloColegiado, não se podendo falar, destafeita, em ressalva quanto à parcela quepode ou não ser vindicada em Juízo. Certoé que a ressalva diz respeito às parcelasque naquele termo são quitadas.

A jurisprudência uníssona assimnos pontua:

“ENUNCIADO 330 - QUITAÇÃO -VALIDADE - REVISÃO DOENUNCIADO N. 41. A quitaçãopassada pelo empregado, comassistência de Entidade Sindical desua categoria, ao empregador, comobservância dos requisitos exigidosnos parágrafos do art. 477, da CLT,tem eficácia liberatória em relação

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às parcelas expressamenteconsignadas no recibo, nãopodendo ser liberadas quando nãoocorre o contrário, ou seja, nãohouver ressalva ou pedidoespecífico.” (TRT/RO/2479/94 - Rel.Juiz Israel Kuperman - DJ/MG30.04.93 - p. 104)

“ENUNCIADO 330, DO TST. O En.330, do Col. TST, proclama que aquitação dada pelo trabalhador aoreceber suas verbas rescisórias,desde que assistido por suaentidade sindical, e sem oporressalva expressa e específica,libera o empregador de obrigaçãoquanto aos valores e parcelas alidiscriminados no recibo rescisório(como, no caso, horas extrasprestadas ao longo do pacto laboralcom reflexos) não são alcançadaspor pretensa quitação, apenasporque naquele ato o reclamantenada ressalvou a respeito.” (TRT/RO/2013/95 - Rel. Juiz Pedro LopesMartins - DJ/MG 17.10.95 - p. 75)

Rejeita-se.

Compensação

Argüida oportunamente (Enunciado48/TST e art. 767, da CLT), acolhe-se acompensação de todas as verbasquitadas a idêntico título pela reclamada.Apenas por dever de ofício, frise-se quese não houver verba quitada a idênticotítulo, nada a ser compensado, é claro.

Mérito

Readmissão - Doença profissional

O direito não é uma ciência estática,

desenvolve-se no movimento de umprocesso que obedece a uma formaespecial de dialética, na qual seimplicam, sem que se fundem, ospilares de que se compõe.

A realização da Justiça é o fim parao qual se volta toda a atividadejurisdicional. No Juiz o fazer aJustiça é o alvo, a meta, a tarefa, amissão, o sacerdócio. (Trecho dodiscurso de posse de autoria destaJuíza Presidente)

O art. 118, da lei 8213/91, que cuidada estabilidade do acidentado, não tutelaaquele que está normalmente trabalhandoe é dispensado sem justa causa. Para quepossa ter direito à ESTABILIDADE, oempregado deve ter retornado do gozodo auxílio-doença acidentário, nãohavendo qualquer impedimento para adespedida com o vínculo em andamento.(TRT/RO/15472/93 - DJ/MG 11.02.94)

“O direito é ciência e como toda

ciência possui vocábulos,

expressões e institutos com

sentidos próprios, devendo-se ter

presente que a pureza da

linguagem é meio indispensável a

uma melhor compreensão.” Min.

Marco Aurélio Mendes de Farias

Mello.

Não há dúvidas que, para se falarem ESTABILIDADE, temos que estardiante de hipótese de RETORNO do gozodo auxílio-doença acidentário. Mas, ainicial não vem fundamentada, APENAS,no pedido de reintegração porestabilidade (pedido de letra “b”), tem,também, causa de pedir, no tocante ànulidade da rescisão contratual (pedidode letra “a”).

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A outorga de qualquer direito vemcondicionada a toda ordem jurídica criada,em que se circunscreve o referido direito,até porque deve vir acompanhada dosmeios indispensáveis ao exercício. E,assim o é, porquanto o direito é umamanifestação cultural e, portanto, só écompreensível no reino das liberdades(Windscheid e León Duguit).

Mister pontuar que o Colegiado nãose filia à corrente que entende serinconstitucional a estabilidade concedidaao acidentado e, isto, porque sãoargumentos falaciosos, sendo que aordem jurídica deve ser lida globalmente,considerando, também, os princípios queregem a Constituição e as disposiçõesgerais da seguridade social - art. 194, daCF/88.

O art. 104, inciso I, da Lei 8213/91,é taxativo quando estabelece que nasações referentes a acidente, AINCAPACIDADE SERÁ VERIFICADA EMPERÍCIA MÉDICA A CARGO DAPREVIDÊNCIA SOCIAL. Outro não é oposicionamento do referido diploma legal,em seu art.20, §1º quando consigna quenão são consideradas como doença dotrabalho, dentre outras, a que não produzaincapacidade laborativa. Diz o § 2º, do art.20, da Lei 8213/91, que “Em casoexcepcional, constatando-se que adoença não incluída na relação previstanos incisos I e II deste artigo resultou dascondições especiais em que o trabalho éexecutado e com ele se relacionadiretamente, A PREVIDÊNCIA SOCIALDEVE CONSIDERÁ-LA ACIDENTE DETRABALHO.” (grifou-se)

Todavia, no caso dos autos, crucialressaltar que o autor não percebe auxílio-doença, mas, sim, auxílio-suplementar(auxílio-acidente), com início de vigênciaem 26.06.90. Tal benefício é vitalício, nãosubstituidor dos salários, sem natureza

alimentar, devido ao segurado que sofreuacidente do trabalho e fruiu o auxílio-doença acidentário e que após a altamédica permaneceu com seqüela comoas elencadas no Anexo III do RBPS, istoé, pessoa portadora de diminuição dacapacidade laboral, verificada na épocada cessação daquele benefício provisório.

Ora, a lei é clara e taxativa nosentido de que a estabilidade do art. 118,da Lei 8213/91, é garantida APÓS ACESSAÇÃO DO AUXÍLIO-DOENÇAACIDENTÁRIO, ou seja, a manutençãodo seu contrato de trabalho na empresapelo prazo mínimo de doze meses pertineao segurado que sofreu acidente dotrabalho, sendo que o prazo somenteinicia vigência após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentementede percepção do auxílio-acidente.

No caso dos autos, o autor pretendeestabilidade acidentária; todavia, frise-se,NÃO PERCEBEU AUXÍLIO-DOENÇA-ACIDENTÁRIO, mas, tão-somente,auxílio suplementar, estando excluído dahipótese prevista na referida Lei.

Dessarte, não há como atribuir aoobreiro a vantagem preconizada no art.118, da citada lei, se o mesmo nãopreenche os requisitos da norma, já que,conforme preleciona o eminente mestreCarlos Maximiliano em sua clássica obraHermenêutica e Aplicação do Direito“presume-se que a lei não contenhapalavras supérfluas; devem ser todasentendidas como escritas adrede parainfluir no sentido da frase respectiva.”(Forense, RJ, 9ª ed., 3ª tiragem, p. 110)

Insta salientar que se houveconcessão do auxílio-doença acidentárioeste ocorreu no lapso temporalcompreendido entre o acidente detrabalho (28.03.90) e a data em que oautor recebeu alta de acidentado(25.06.90) - f. 101. E, a consignação do

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“se”, deve-se ao fato de inexistir qualquerprova consistente no sentido depercepção do auxílio-doença-acidentário.

Assim, a pretendida estabilidade dedoze meses prevista no art. 118, da Lei8213/91, se o reclamante fizesse jus àmesma, escoar-se-ia em 25.06.91.Dessarte, indevido o pedido, já por esseângulo, conquanto tal instituto teriarestado respeitado, já que o obreiro foidemitido anos após a referida data, ouseja, em 17.06.97.

Mas, por outro lado, a Lei 8213/91,que instituiu a estabilidade provisóriaacidentária, foi promulgada em 24.07.91,o que equivale dizer: passou a viger apósescoar o prazo em que o autor estariasupostamente estável. Impossívelpretender que a lei tenha aplicação emfatos pretéritos, exceto se assim dispuserexpressamente.

O Direito do Trabalho, por óbvio,submete-se ao princípio jurídico geral querege o conflito das normas jurídicas notempo: a norma jurídica emergente teráefeito imediato, respeitando assim, odireito adqüirido, o ato jurídico perfeito ea coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF/88).Apenas por exceção, desde queexpressamente previsto no próprio textoconstitucional, é que uma norma jurídicapoderá afrontar situações passadas jádefinitivamente constituídas, vindo a regê-las de maneira alternativa àquela jáconsumada no tempo (v.g. art. 46,parágrafo único, do ADCT, da CF/88). Oque, com certeza, não é o caso dos autos.

Improcedem, desta feita, os pleitosformulados à f. 13 de letras “c” e “d”.

No mesmo diapasão, os pedidos dedeclaração de nulidade da rescisãocontratual e reintegração do obreiro (letras“a” e “b”) não se aperfeiçoam ao caso dosautos, porquanto a Previdência Social nãoconsiderou que o autor fosse portador de

doença profissional, tendo indeferido opedido de benefício, conforme deflui dosautos - f. 100. Tanto assim que oreclamante interpôs recurso à Junta deRecursos da Previdência Social, tendoentão sido concedido o auxíliosuplementar.

Dessarte, não foi o autorconsiderado incapaz para o trabalho,tendo continuado a laborar para areclamada, com o devidoredirecionamento para a execução deserviços mais leves, compatíveis com asua condição física. Veja-se que o velhotexto celetista já tratava da temática dereadaptação em função diversa, ao negarefeitos equiparatórios (art. 461, § 4º, daCLT). Ademais, a Srª expert foi taxativaao aduzir a aptidão do autor para otrabalho, ressalvando apenas a questãosocial que o obreiro deverá enfrentar naprocura de novo emprego, a qual seráoportunamente analisada.

Se o autor não estava doentequando da rescisão, esta não pode serconsiderada nula, uma vez que atestadaa aptidão do autor, constituindo ademissão exercício de direito de naturezapotestativa do empregador.

Mister ressaltar a presença deequívoco hermenêutico por parte do autorem sua impugnação (f. 185) no tocante àredação do § 2º, do art. 152, do Decreto2.172 de 05.03.97. Com efeito, preceituao indigitado dispositivo legal que “oauxílio-acidente será devido a contar dodia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquerremuneração ou rendimento auferido peloacidentado. Todavia, isso não quer dizer,como pretende o autor, que além doreferido benefício o reclamante tenhadireito compulsivamente à remuneraçãomensal. O que se determina, ao reverso,é que o auferimento de remuneração ou

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rendimento não impeça o percebimentodo auxílio-acidente suplementar.

Improcedem, desta feita, os pedidosde letras “a” e “b”.

Indenização por dano físico emoral

“O trabalho é um meio de ganhar enão de perder a vida. O trabalhadoré muito mais valioso (a vida não tempreço!) do que a máquina maissofisticada utilizada na empresa edevia receber do empregador, pelomenos, atenção semelhante.”(OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de,in Proteção Jurídica à Saúde do

Trabalhador)

Mister salientar que sendonecessário o estabelecimento de umarelação de causalidade entre o dano físicocausado e o pedido de indenizaçãopecuniária daí decorrente, este Colegiadodeterminou a realização de períciamédica, tendo sido o laudo pericialanexado às f. 221/228.

A Srª perita aduziu em seu laudopericial que o autor “... do ponto de vistaocupacional, encontra-se APTO paraexercer as atividades que lhe eraminerentes na Companhia SiderúrgicaNacional, posteriores ao seu acidente, jáque não requeriam deles esforços físicos;porém, do ponto de vista social econsiderando o advento da Portaria n. 24de 29.12.94, que obriga as empresas àrealização de exames admissionais maisrigorosos, poderá ter dificuldade em serecolocar no mercado de trabalho, tendoem vista as seqüelas adquiridas quandodo acidente” - f. 228.

O acidente de trabalho e assituações equiparáveis podem acarretarvárias conseqüências jurídicas para o

empregador. Destas, a de maiorrepercussão econômica é a indenizaçãoao acidentado ou a seus dependentes, emrazão do dano sofrido, com fundamentona responsabilidade civil.

Hodiernamente, a discussãoexistente na doutrina e jurisprudência, notocante à autonomia da reparação civilacidentária, inexiste, uma vez quedissipadas eventuais dúvidas a respeito,ante o Texto Constitucional incidente,sendo direito dos trabalhadores urbanose rurais o seguro contra acidentes detrabalho, a cargo do empregador, semexcluir a indenização a que está obrigado,quando incorrer em dolo ou culpa (art. 7º,XXVIII, CF /88).

Como salienta o jurista SebastiãoGeraldo de Oliveira, em sua preciosa obraProteção Jurídica à Saúde do

Trabalhador, “O seguro social, entretanto,não exime o empregador do dever dediligência, de garantir o direito aoambiente de trabalho saudável e àredução dos riscos inerentes ao trabalho,por meio de normas de saúde, higiene esegurança. Assim, quando o empregadordescuidado dos seus deveres concorrerpara o evento do acidente com dolo ouculpa, fica caracterizado o ato ilícito,gerando o direito à reparação de naturezacivil, independentemente da coberturaprevidenciária. A rigor, a causa doacidente, nesta hipótese, não decorre dotrabalho, mas do descumprimento dosdeveres legais atribuídos aoempregador1.”

Na etiologia da responsabilidadecivil, estão presentes três elementos, ditosessenciais na doutrina subjetivista: aofensa a uma norma preexistente ou erro

1 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. Proteção

jurídica à saúde do trabalhador, Ed. LTr, 1996,p. 185.

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de conduta; um dano; e o nexo decausalidade entre uma e outra.

A culpa tem como substrato aviolação de uma regra de condutaestabelecida, a não observância de umdever legal, configurando ato ilícito. ParaAguiar Dias, “A culpa é a falta de diligênciana observância da norma de conduta, istoé, o desprezo, por parte do agente, doesforço necessário para observá-la, comresultado, não objetivado, mas previsível,desde que o agente se detivesse naconsideração das conseqüênciaseventuais da sua atitude2.”Por outro lado,configura-se dolo quando o agenteintencionalmente atua para violar algumdireito, ou praticar o ato ilícito.

A lesão à integridade física constituiilícito previsto, tanto no Código Civil, art.1538, como no Código Penal, art. 129, eobjetiva-se pelo dano anatômico, quepoderá ou não acarretar perturbaçãofuncional.

O dano à integridade corporal e àvida humana é direto e extrapatrimonial,mas pode, não há dúvidas, provocarindiretamente uma lesão patrimonial,constitutiva de dano emergente e de lucrocessante.

O corpo humano, ao lado do valormoral que representa, pode originar umvalor econômico que deve ser indenizado.A integridade física é um bem suscetívelde apreciação pecuniária, de modo quesua perda deverá ser reparada, levando-se em conta não só todas asmanifestações, atuais e futuras daatividade que possam ser avaliadas, mastambém as circunstâncias relativasàqueles que pleiteiam a indenização.

O art. 159, do Código Civil, aoprescrever que todo aquele que violar

direito ou causar prejuízo a outrem poração ou omissão voluntária, negligênciaou imprudência, deve reparar o dano,admite a reparação civil do dano ao corpo,por constituir este um ato ilícito.

“O art. 159, do Código Civil,caracteriza a culpa como decorrenteda ação ou omissão voluntária, danegligência ou da imprudência. Doenunciado deste artigo pode-seextrair como espécies de culpa anegligência, a imperícia e aimprudência. ‘A negligência é ainobservância de normas que nosordenam agir com atenção,capacidade, solicitude ediscernimento; a imperícia é a faltade habilidade ou inaptidão parapraticar certo ato; e a imprudênciaé a precipitação ou o ato deproceder sem cautela3.”

Assim, não basta que o agente hajaprocedido contra jus, isto é, não se definea responsabilidade pelo fato de cometerum “erro de conduta”. Não basta que avítima sofra um dano, que é o elementoobjetivo do dever de indenizar, pois, se nãohouver um prejuízo, a conduta antijurídicanão gera obrigação de indenizar.

É mister que se estabeleça umarelação de causalidade entre ainjuridicidade da ação e o mal causado,ou, na feliz expressão de Demogue4, “Épreciso esteja certo que, sem este fato, odano não teria acontecido. Assim, não

2 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade

civil, Ed. Forense, 1995, v. 1, p. 120.

3 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção

jurídica à saúde do trabalhador, Ed. LTr, 1996,p. 186.4 DEMOGUE, (Traité des obligations en

général, vol. IV, 66) citado por Rui Stocco,Responsabilidade civil e sua interpretação

jurisprudencial, Editora Revista dos Tribunais.

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basta que uma pessoa tenha contravindoa certas regras: é preciso que sem estacontravenção, o dano não ocorreria.”

O nexo causal torna-seindispensável, sendo fundamental que odano tenha sido causado pela culpa dosujeito. Adverte-nos o mestre Caio Márioda Silva Pereira ser este o mais delicadodos elementos da responsabilidade civile o mais difícil de ser determinado. Aliás,sempre que um problema jurídico vai terna indagação ou na pesquisa da causa,desponta a sua complexidade maior.Mesmo que haja culpa e dano, não existeobrigação de reparar, se entre ambos nãose estabelecer a relação causal.

Como explica Genévièvie Viney5,“Cabe ao jurista verificar se entre os doisfatos conhecidos (o fato danoso e opróprio dano) existe um vínculo decausalidade suficientementecaracterizado.”

O caso dos autos, após preciosa eminuciosa análise, autoriza-nos areconhecer a presença dos trêselementos essenciais à caracterização daresponsabilidade civil: presente erro deconduta (culpa), um dano e o nexo decausalidade entre um e outra.

A culpa da reclamada revela-se nofato de ter ocorrido o acidente em suasdependências, causado por outroempregado, uma vez que inobservadasas normas legais e técnicas de segurançado trabalho, sendo obrigação legal daempresa fazer cumprir tais normas,instruindo os empregados quanto àsprecauções a tomar, no sentido de evitaracidentes do trabalho. Neste particular, o

Colegiado não chega à mesma conclusãoda perita no ponto em que a mesmaaduziu que não houve condição insegurado equipamento e, sim, ato inseguro deoutro empregado, o que levaria àinexistência de culpa da reclamada. Ora,se estava tal empregado laborando paraa reclamada, no interior de suasinstalações, cumpria a esta dar-lhetreinamento adequado a fim de se evitaracidentes como aquele que ocorreu,sendo, sim, culpa sua o acidente ocorrido.

Jurisprudências recentes a respeitode responsabilidade de shopping centers

no tocante a carros estacionados sob suaguarda são mais do que esclarecedorasquanto aos rumos da responsabilizaçãopor nossas Cortes brasileiras. Ora, se umcarro furtado há de ser indenizado pelodono do local onde ele estavaestacionado, mais ainda será aresponsabilidade de um empregador queteve um empregado acidentado em suasdependências, em seus equipamentos, nohorário de trabalho, por ato de colega.

Por outro lado, precioso oensinamento abaixo:

“No caso do acidente do trabalho,haverá culpa do empregador quando nãoforem observadas as normas legais,convencionais, contratuais ou técnicas desegurança, higiene e saúde do trabalho.É obrigação legal da empresa cumprir efazer cumprir tais normas, instruindo osempregados quanto às precauções atomar, no sentido de evitar acidentes dotrabalho ou doenças ocupacionais,prestando informações pormenorizadassobre os riscos da operação a executar edo produto a manipular.

Os gerentes e prepostos devemestar habilitados e conscientizados paraa necessidade de cumprimento dasnormas mencionadas, sob pena decaracterizar a culpa in eligendo do

5 VINEY, Genévièvie. (Traité de droit civil) citadopor Rui Stocco, Responsabilidade civil e sua

interpretação jurisprudencial, Editora Revistados Tribunais.

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empregador, isto é, a má escolha que fezda pessoa a quem confiou uma tarefadiretiva. Demais, a ausência defiscalização das condições de trabalho eda implementação das medidas, paraneutralização ou eliminação dos agentesperigosos ou nocivos, caracteriza culpain vigilando, ou seja, descuido do deverde velar pelo cumprimento da norma, oumesmo culpa in omittendo, diante daomissão ou indiferença patronal.

Não basta tão-somente fornecer osequipamentos de proteção individual.Haverá culpa no acidente ou doençaocupacional se o empregador nãodiligenciou na exigência do uso de taisequipamentos e nas medidas necessáriaspara que o trabalho seja prestado emcondições saudáveis6”.

Observa-se um processo dehumanização e objetivação da teoria daresponsabilidade civil. “... a idéia de quetodo o risco deve ser garantido, visandoa proteção jurídica à pessoa humana, emparticular aos trabalhadores e às vítimasde acidentes, contra a insegurançamaterial, e todo dano deve ter umresponsável . A noção de risco prescindeda prova da culpa do lesante,contentando-se com a simples causaçãoexterna, bastando a prova de que oevento decorreu do exercício da atividade,para que o prejuízo por ela criado sejaindenizado. Baseia-se no princípio do ubi

emolumentum ibi us (ou ibi onus), isto é,a pessoa que se aproveitar dos riscosocasionados deverá arcar com suasconseqüências7”.

Comprovada a culpa da reclamada,

tem o reclamante o direito às reparaçõesdos danos sofridos, englobando não só oque ele perdeu (dano emergente), comotambém o que razoavelmente deixou deganhar (lucro cessante). E, como doacidente resultou defeito pelo qual oofendido teve o valor do seu trabalhodiminuído, na indenização há de se incluiruma pensão correspondente àimportância da depreciação que sofreu.E “essa pensão tem sido deferida emcaráter vitalício, ou seja, o pensionamentohá de subsistir enquanto a vítima viver.Assim, defere-se a indenização pelo danofísico que engloba o dano emergente(todas as despesas médicas ehospitalares que realizou às suasexpensas, isto a partir do acidente detrabalho, observado o prazo prescricionalacolhido) e uma pensão correspondenteà remuneração percebida na reclamada,parcelas vencidas e vincendas, como sena ativa estivesse (todos os reajusteslegais, normativos e espontâneosconcedidos aos empregados dareclamada na ativa deverão serobservados quando da execução desentença), durante toda a sua vida (emcaráter vitalício), com início em 18 de julhode 1997, dia seguinte à data final do avisoprévio indenizado, aviso este que integrao tempo de serviço para todos os efeitos.Não se defere o lucro cessante, pois seporventura deixou de receber algumsalário, algum valor, isto ocorreu em 1990,período este abrangido pela prescrição.

Em que pese o porte da reclamada,sabe-se que “o futuro a Deus pertence”;assim, prudente e de bom alvitre, que seconstitua um capital na forma prelecionadapelo art. 602, do CPC, para que a rendaassegure o seu cabal cumprimento. Assim,determina-se, após o passado em julgado,o cumprimento das disposições pertinentespresentes no art. 602, do CPC.

6 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. Proteção

jurídica à saúde do trabalhador, Ed. LTr, 1996,p. 186.7 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

Brasileiro, Ed. Saraiva, 1994,v. 7, p. 10.

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Insta salientar que restousobejamente comprovada a limitaçãofísica que passou o autor a sofrer após oacidente de trabalho, tendo sidotransferido para a realização de serviçosque não exigiam força física. Ademais,somente o controle alimentar a que estavasujeito o autor (f. 229/230), sujeitando-oa uma dieta rígida, com horários ealimentos pré-determinados, além de servedado o consumo de inúmerosalimentos, por si só denota a extensão dosdanos decorrentes do acidente sofrido.Machucado o lado externo da pessoa e,também, o interno. Limitada a suasituação pessoal, familiar e social e tudopor causa de uma displicência patronal.Ora, impossível não acolher o pedido.

Ademais, conforme aduzido pela Srªexpert, logicamente o autor terádificuldades em encontrar nova colocaçãoprofissional, considerando-se as seqüelasperpetradas, que nos autorizam oraciocínio de que o obreiro será preteridoem favor de outros candidatos a empregoque estejam em gozo pleno de suacapacidade física, mormente em seconsiderando a saturação do mercado detrabalho, onde a procura é maior que aoferta. Cumpre registrar que o seu estadofísico para fins de trabalho torna-seevidente, haja vista a legislação pertinenteno que tange à admissão detrabalhadores, que determina a realizaçãode exames rigorosos.

No que tange ao dano moral, estetambém se encontra presente, uma vezque as restrições que foram impingidasao autor, a partir do acidente de trabalho,alteraram toda a sua vida, com restriçãoalimentar, restrito o convívio social efamiliar. A pecha de inválido, o medo dese exceder em alguma atividade física, ofantasma da morte, os pesadelosdecorrentes do desemprego, o

desamparo diante de um mercado detrabalho felino e discriminatório, são doresque afligem e afligiram o autor.

“O dano moral consiste na penosasensação de ofensa, na humilhaçãoperante terceiros, na dor sofrida,enfim, nos efeitos puramentepsíquicos e sensoriaisexperimentados pela vítima dodano, em conseqüência deste, sejaprovocada pela recordação dodefeito ou lesão, quando não tenhadeixado resíduo mais concreto, sejapela atitude de repugnância oureação de ridículo tomada pelaspessoas que o defrontam8.”

Assim, configurado também o danomoral sofrido pelo autor, mister areparação. Hoje pacificada a questão dacumulatividade do dano moral e do danomaterial oriundos do mesmo fato,conforme verbete n. 37, do Colendo STJ,de 12 de março de 1992.

Mas, não há dúvida de que o pontoextremamente delicado é o da fixação doquantum a ser arcado pela reclamada afim de indenizar o dano moral sofrido,sendo certo que inexistem dispositivoslegais que estabeleçam o valor destedano a ser reparado. O valor da reparaçãodo dano moral deve ser fixado porarbitramento (art. 1553, CC), visto que oCódigo Civil não estabelece parâmetroobjetivo a respeito. Na expressão lapidarde Cunha Gonçalves, “Não é remédio,que produza a cura do mal, mas sim umcalmante. Não se trata de suprimir opassado, mas sim de melhorar o futuro9.”

Preleciona Wilson Melo da Silva a

8 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade

civil, Ed. Forense, 1995, v. 1, p. 730.

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respeito da indenização em dano moral:

“Se o dinheiro não paga diretamente

o preço da dor, pode, no entanto,

indiretamente, contribuir para

aplicá-la, o que é outra coisa.” “...

em todas as decisões judiciais, há

sempre alguma parcela de

arbitrário. Mas nas indenizações por

danos morais [...] esse arbítrio é

pleno. O campo dos danos morais

é o interior de cada indivíduo. Não

dispomos de meios científicos que

nos auxiliem a aquilatar da extensão

dos nossos sentimentos morais. Os

testes, abundantes em Psicologia e

Psiquiatria são um caminho para

isso. Talvez algum dia se possa,

com precisão, determinar-se a

enormidade da dor de cada qual e

então, fácil será ao Juiz estabelecer

a compensação de maneira menos

subjetiva. Por ora, temos de nos ater

às inevitáveis contingências da vida

humana. E o direito aplicado tem de

sofrer, com a obra humana, as

conseqüências da própria

imperfeição humana”. (O dano

moral e sua reparação - p. 378)

Todavia, este Colegiado,considerando o dano sofrido peloempregado, a sua limitação física e asdificuldades profissionais daí advindas,arbitra o valor da indenização a ser pagaao autor em 16 vezes a maior remuneraçãodo obreiro (7 anos, 9 meses e 12 dias,equivalem em termos trabalhistas a 8 anos- art. 478, da CLT, sendo duasremunerações por cada ano trabalhista).

Observe-se, para cálculo do salário,que servirá para cômputo da indenizaçãotodas as parcelas de natureza salarial,entendendo-se como tal o salário-base,prêmio qüinqüenal, ATS, gratificaçãoespecial e demais valores pagos quecomponham a maior remuneração doobreiro, tudo devidamente atualizado.

Sucumbente no objeto da períciamédica, arcará a reclamada com opagamento dos honorários periciais, oraarbitrados em R$1.200,00.

Minutos excedentes à jornadanormal

Em que pese o esforço da defesa,verifica-se a presença de laborextraordinário em face dos minutos queantecedem ou sucedem à jornada detrabalho; assim sendo, deferem-se sobeste aspecto as horas extras pretendidas.

Diz a defesa que o reclamante nãoera obrigado a chegar fora do horário, nãoestando aguardando ou cumprindoordens. Todavia, se a própria empresacoloca o cartão de ponto em determinadolocal em que o funcionário há de sedeslocar para trabalhar e para retornar, éde sua inteira responsabilidade estetempo, estando sim, o autor, a partir daconsignação do ponto, à sua disposição.

Ver a propósito o cartão de pontorelativo ao mês de outubro/93 - f. 104 -doc. 01 - que denota chegada do autoràs 06:51 horas (dia 25, por exemplo) esaída às 16:16 horas, sendo certo que norecibo salarial correspondente inexistequitação a título de horas extras - f. 127.

Reste certo que para análise dosminutos excedentes verifica-se sepresente ou não fração superior a 5minutos, quer anterior, quer posterior aohorário de trabalho determinado pelaempresa. Todavia, segundo a doutrina e

9 GONÇALVES, Luiz da Cunha. Tratado de

Direito Civil, Ed. Max Limonad, v. 12, tomo II,p. 543.

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jurisprudência abalizada, em especial oprecedente n. 23 da Comissão deJurisprudência da Seção de DissídiosIndividuais do Tribunal Superior doTrabalho, se ultrapassa o referido limite -5 minutos - como extra será consideradaa totalidade do tempo que exceder ajornada normal.

A propósito:

“CARTÃO DE PONTO -REGISTRO. Não é devido opagamento de horas extrasrelativamente aos dias em que oexcesso de jornada não ultrapassade 5 minutos antes e/ou após aduração normal do trabalho (seultrapassado o referido limite, comoextra será considerada a totalidadedo tempo que exceder a jornadanormal).” (Precedente n. 23-SDI/TST. Brasília, 25 de novembro de1996)

Assim nos posiciona este EgrégioTribunal, com a eterna precisão esabedoria:

“HORAS EXTRAS - MINUTOS QUESUCEDEM OU ANTECEDEM ÀMARCAÇÃO DE PONTO. Ajurisprudência trabalhista tementendido que os poucos minutosque antecedem ou sucedem àmarcação de ponto não são, emregra, computáveis como horasextras, nas empresas de grandeporte, com inúmeros empregados,dada a impossibilidade do registrosimultâneo dos cartões. Ocorre queesse período residual deverápermanecer dentro darazoabilidade, e o C. TST temconsiderado como tal oelastecimento de 5 minutos,

exigindo que o empregador criecondições para que o empregadonão seja tido como retardatário oupermaneça à sua disposição maisdo que o tempo necessário.Ultrapassando os 5 minutos, oresíduo é justificável, ao contrário,trata-se de período à disposição,posto que foge à razoabilidade.”(Precedentes TST-E.RR 3742.1-Ac.SDI 1319/90.1, DJU 08.03.91, p.2279; E-RR-0910/85.1, Ac.SDI5184/89, DJU 01.08.90, p. 7179.TRT/RO/4339/93 - Rel. Juíza AliceMonteiro de Barros - DJ/MG03.12.93, p. 110)

“HORAS EXTRAS - MINUTOSANTES E APÓS O INÍCIO DAJORNADA NORMAL DETRABALHO. Considerando que obom senso é o melhor companheirodo julgador, tendo como normal oexcesso de 5 minutos de jornada,relativamente ao período que aantecede e sucede. Todavia, umavez ultrapassado esse limite, todaa jornada excedente deverá serremunerada, porque ao final do mêstraduzem grande diferença. É quenão se pode penalizar o empregadopela má administração da empresa,caracterizada pelas filas de ponto,e falta de fiscalização do momentoem que registrada a jornada. Nessecaso, alegações de que oempregado gastou o tempo em telatrocando de roupa, banho e filas nãofavorecem o empregador.” (TRT/RO/09943/94 - Rel. Juiz CarlosAlberto Reis de Paula - DJ/MG10.09.94, p. 106)

Argumentou a reclamada que osminutos posteriores à jornada normal de

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trabalho eram destinados a compensaremendas de feriados. Todavia, nãocarreou aos autos nenhum documentoque comprovasse as suas alegações, oque a ela cumpria fazer para prova desuas alegações (art. 818, da CLT).

Assim, apreendendo-se a presençade horas extraordinárias por minutosexcedentes, resta procedente, em parte,o pedido de letra “f”. Todavia, os valoresfinais serão apurados em execução desentença, conforme parâmetrosestabelecidos nestes fundamentos.

Observe-se os dias efetivamentetrabalhados com minutos anteriores eposteriores, conforme controles de pontoe cálculo acima determinado, o saláriobase do autor e o adicional normativo; naausência, utilize-se o legal, a épocaprópria, os limites e determinações supra,no período imprescrito, tudo em liqüidaçãode sentença.

Por mero corolário da condiçãosalarial da verba, são devidos os reflexosdestas horas no aviso prévio, 13º salários,férias + 52% Acordo, FGTS, 40% deFGTS e repousos semanaisremunerados.

Vale salientar que os documentosacostados aos autos pela reclamadaprevalecem em todos os meses,inexistindo qualquer possibilidade de suadesconsideração, até porque o próprioobreiro confessou que correspondiam àjornada laborada.

Transação - Acordo sindical -Súmula 90 do TST - Documento de f.145/147 - Efeitos

A transação é ato bilateral (ouplurilateral), pelo qual se acertam direitose obrigações entre as partes acordantes,mediante concessões recíprocas(despojamento recíproco), envolvendo

questões fáticas ou jurídicas duvidosas(res dubia). Exatamente a hipótese quedos autos deflui, no que tange ao termoaditivo de f. 145/147.

Os requisitos jurídico-formais datransação no Direito Individual doTrabalho são os clássicos relativos a essafigura no Direito Civil e próprios a qualquerato jurídico em geral: capacidade doagente, higidez da manifestação devontade, objeto válido e forma prescritaou não proibida por lei.

Vale salientar que somente serápassível de transação lícita parcelajuridicamente não imantada porindisponibilidade absoluta (e nãoindisponibilidade relativa),independentemente do respeito aosdemais requisitos jurídico-formais do ato.

Inquestionável na esferajuslaborista a diferenciação entreindisponibilidade relativa e absoluta.Somente esta última poderia viciar atransação efetivada, diga-se depassagem.

Absoluta será a indisponibilidade,do ponto de vista do Direito Individual doTrabalho, quando o direito enfocadomerecer uma tutela de nível de interessepúblico, por traduzir um patamarcivilizante MÍNIMO firmado pelasociedade política em um dado momentohistórico.

Relativa será a indisponibilidade, doponto de vista do Direito Individual doTrabalho, quando o direito enfocadotraduzir interesse individual ou bilateralsimples, que não caracterize padrãocivilizante geral mínimo firmado pelasociedade política em um dado momentohistórico. As parcelas de indisponibilidaderelativa PODEM SER OBJETO DETRANSAÇÃO (não de renúncia,obviamente), desde que a transação nãoresulte em efetivo prejuízo ao empregado

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- art. 468, da CLT.Tais são noções que guardam

inquestionável consistência científica noDireito do Trabalho. Em primeiro lugar,são as únicas noções que, combinadas,permitem se apreender, com clareza, avalidade e extensão das alteraçõesproduzidas pelas normas autônomascoletivas no interior das normasheterônomas estatais trabalhistas.

Magistral o Prof. Maurício GodinhoDelgado, da nossa querida Faculdade deDireito da UFMG, “essa linha, a unificaçãodas duas categorias de atos suprimiria àCiência do Direito um relevanteinstrumental para compreender-se o novo(e seguramente crescente) processo dedemocratização do Direito do Trabalho,com o maior espaço aberto àautonormatização das relaçõestrabalhistas pela sociedade civil.” (InIntrodução ao Direito do Trabalho, ed. LTr,1995, p. 170)

In casu, o objeto da transação foi“eventual direito oriundo da Súmula 90,do TST”, é o que deflui dos termosdaquele Termo de Transação Geral deDireitos - f. 145.

Ora, eventual direito a ser discutidoem esfera judiciária que pode ou não seracolitado, que poderia ou não ser objetode ação por parte do obreiro, em hipótesealguma se reveste deINDISPONIBILIDADE absoluta.

A propósito:

“HORAS IN ITINERE - OBJETO DETRANSAÇÃO ENTRE AS PARTES- IMPOSSÍVEL DEFERIMENTO.Deixando claro a cláusula primeirado Termo Aditivo ao Contrato deTrabalho que a transação envolviaa quitação de eventuais direitos evantagens decorrentes da súmula90, do Colendo TST, relativamente

a todo o período de vigência docontrato de trabalho e ainda, ante oque, taxativamente, dispõe acláusula segunda acerca daextensão da quitação, impossíveldeferir ao reclamante as horas detransporte pleiteadas.” (TRT/RO/6229/96 - Rel. Juiz Carlos EduardoFerreira - DJ/MG 19.11.96)

Aduziu o obreiro que o termo lhecausa sensíveis prejuízos. Bem, aqui háde ser pontuado que o prejuízo a quealude a norma trabalhista não é omeramente econômico ou hipotético (v.g.- aceitou R$200,00, sendo que poderialograr êxito em ação que alcançariaR$600,00), até porque o AUTOR NÃOTINHA E NÃO TEM NENHUMAGARANTIA QUE A SUA TESE SERÁACOLHIDA PELO PODER JUDICIÁRIO.

Os demais requisitos - capacidadedo agente, higidez na manifestação devontade e forma prescrita ou não defesaem lei - encontram-se presentes, pelo quenão há falar em nulidade do atotransacional.

A presunção que gera o termoaditivo de f. 145/147 é que foi assinadopelo Sindicato, pela pessoa cujo nome alise encontra acostado. O fato de serrubrica, até porque nem se pode aduzircom certeza que aquela não sejaassinatura do Sr. Anivaldo, não faz comque seja invalidado.

Por outro lado, se tal pessoa nãorepresenta o Sindicato, bastaria o obreirojuntar uma declaração da referidaentidade profissional declarando tal fato.A tentativa de subversão pelo autor dosônus probatórios é flagrante. Como nocaso dos autos não há prova de que oreferido senhor não tivesse poderes paraproceder ao acordo coletivo firmado,prevalece hábil aquele instrumento.

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Ante a hipótese de negociaçãocoletiva, tendência forte, com contornosde flexibilização, presente a possibilidadede composição coletiva quanto à jornada/duração do trabalho.

É o que deflui do Texto Magno.Assim, normas autônomas, derivadas denegociação coletiva, com a participação,portanto, do respectivo Sindicatoprofissional, poderão dar validade jurídicaa semelhantes mecanismos desubstituição dos horários - art. 7º, XIII, CF/88.

A flexibilização pela elaboração dasnormas através da negociação coletivaentre as entidades representativas dosinteressados é reclamo dademocratização, como disse AmauriMascaro Nascimento (pronunciamento noFórum de Debates sobre Anteprojetos de

Negociação Coletiva, in O Estado de SãoPaulo, de 5.9.85:

“... a democracia só chegará àsrelações de trabalho por meio danegociação coletiva, e somente por estavia conseguiremos modificar as estruturasultrapassadas da legislação”.

E está de acordo com a tendência,que vem se acentuando, da prevalênciado coletivo e da denominada “autonomiada vontade coletiva”.

Na relação entre contrato individuale contratação coletiva, vigora o “princípioda inserção”, segundo o qual as normascoletivas se inserem nos contratosindividuais a que elas se reportam.

Por outro lado, é certo que aConstituição Federal consagra a hipótesede acordo ou convenção coletiva visandoa fixação e redução de horário.

O art. 7º, inciso VI, da Carta Magna,consagra de FORMA IMPERATIVA apossibilidade de NEGOCIAÇÃO COLETIVAquando há horário de trabalho envolvido,SEM QUALQUER RESTRIÇÃO.

De outra forma, o sindicato detentorda possibilidade da negociação davontade coletiva pactuou o que entendeupertinente ao conjunto de trabalhadores,da categoria. Sopesou, com certeza,todas as variantes incidentes sobre atemática, avaliou vantagens edesvantagens, tendo procedido acordocoletivo livre e legal, sendo certo que avontade individual não prevalece sobre acoletiva. (art. 8º, da CLT)

Tal é conhecido na doutrina comoprincípio do conglobamento, sendogarantia da unidade da negociação, paraque as partes JAMAIS percam de vista oconjunto da negociação.

A norma coletiva, mais do que anorma dos contratos individuais, há de serinterpretada em atenção aos seus finssociais mais amplos, não se ajustando aela a particularização de sentido ematenção a pretensões individuais sem quese proceda uma visão macro do problemaque ela encerra.

E, é exatamente neste ponto em queplenamente cabível a invocação do art.8º, supra-referido, para que o interessecoletivo, em harmonia com o interessepúblico, sobreponha-se aos interessesindividuais, em caso de conflitos entreeles.

A natureza dinâmica do direito dotrabalho, que exige a negociação coletivacomo técnica mais eficiente e rápida doque a lei para solver conflitos e criardireitos e obrigações de interesse daspartes, exige especial disciplina ética docomportamento dessas mesmas partesna negociação.

Após a promulgação da CartaMagna, o intérprete e o aplicador do direitodepararam-se com a prevalência danegociação coletiva, conquanto a partir doseu preâmbulo, a Constituição de 1988incentiva “a solução pacífica das

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controvérsias”, tendo em vista aconstrução de uma sociedade fraterna.Para tanto, no campo das relações detrabalho, insiste, PEDAGOGICAMENTE,no uso da negociação coletiva, inclusiveabrindo campo à utilização da flexibilidadelaboral em sede pátria.

O sempre culto Ministro OrlandoTeixeira da Costa, assim nos posiciona,com peculiar condição de síntese:

“No Brasil, a ‘flexibilidade’ adotadapela Constituição parece ter sido a de‘adaptação’. Previu a Lei Maior, em seutexto, a possibilidade de, através denegociação coletiva, serem reduzidos ossalários, até então irredutíveis (art. 7º,VI), diminuída a jornada de trabalho (art.7º, XIII) ou instituídos turnos derevezamento superiores a seis horas (art.7º, XIV).

Com isso, abriu-se o caminho paramuitas adaptações, pois combinandofatores diversos - salários e jornada detrabalho - na realidade permitiram-sereformas e correções normativas, aindasem alterar os fundamentos dogmáticosem que se apóia o Direito do Trabalho.”(In A negociação coletiva no Brasil, p. 371/377, Ed. LTr, Relações Coletivas deTrabalho - Estudos em homenagem aoMinistro Arnaldo Süssekind, ed. 1989)

Nunca se deve esquecer que nomundo do trabalho as transformações sãode tal índole e amplitude, produzem-secom a rapidez das convulsõesgeopolíticas dos últimos anos, quesacudiram senão os alicerces, pelomenos a eficácia dos métodos tradicionaisdo Direito do Trabalho. O mundo de hoje,a não restar dúvidas, não é mais o mundobipolar da época em que nasceu o Direitodo Trabalho.

A economia de mercado converteu-se em norma universalmente aceita. Emvirtude da mundialização da economia,

uma infinidade de inovações técnicas,indispensáveis ao desenvolvimento,elimina empregos, cria necessidade denovas qualificações técnicas dotrabalhador e invalida estruturas deorganização, não deixando de atingirninguém. Em suma, o mundo está setransformando e não há possibilidade deparar. (Conforme Cássio Mesquita BarrosJúnior, Flexibilização no Direito do

Trabalho, Trabalho e Processo, Ed.Saraiva, n. 2, setembro de 1994)

A jurisprudência não destoa e temassente:

“INSTRUMENTOS NORMATIVOS -TEORIA DE FLEXIBILIZAÇÃO. Aproteção dos trabalhadores não sefaz apenas pela imposição daobservância rígida aos preceitos deleis, que regem as relações deemprego, mas sobretudo pelaproteção de seu maior direito, queé o direito ao trabalho, sendo esta,a tendência de pensamentouniversal consubstanciada naTeoria da Flexibilização.” (TRT/RO/10056/94 - Rel. Juiz Paulo RobertoSifuentes Costa - DJ/MG 14.10.94 -p. 112)

“CONVENÇÃO COLETIVA - TEOROBRIGATÓRIO INFENSO AQUESTIONAMENTOS. Adisposição de convenção coletivade trabalho obriga os representadosdas Entidades Sindicais firmatáriasao seu fiel cumprimento, não sendoadmitido o questionamento danorma inserida no instrumentodiante da garantia e eficáciareconhecidas pela ConstituiçãoFederal. O objeto de negociaçãocoletiva que consubstancia oinstrumento tem caráter normativo-

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obrigacional, e inadmite discussãopara descumprimento ouinobservância da clausulação.”(TRT/RO/2831/91 - Rel. JuizAntônio Fernando Guimarães - DJ/MG 27.03.92 - p. 115)

“ACORDOS COLETIVOS -RECONHECIMENTO. Os acordos econvenções legitimamente firmadospelas representações sindicais hãode ser reconhecidos e fielmenteobservados, por força do art. 7º,XXVI, da Constituição Federal,ainda que eventualmente menosfavoráveis ao empregado que odisposto em lei. É que a negociaçãocoletiva se procede através deconcessões mútuas, em que secede num dado aspecto para sebeneficiar em outro, não sendocrível que um sindicato tenha comoescopo a deterioração dascondições de trabalho da categoriaque representa, negociandocláusulas que lhe sejam prejudiciais.Interpretar de forma diversa o quefoi livremente pactuado pelas partesou ignorar o que foi assimestipulado, além de implicar emviolência ao disposto no aludidopreceito constitucional, seria aprópria negação das prerrogativassindicais consubstanciadas nosincisos III e VI, do art. 8º, da MagnaCarta.” (TRT/RO/05216/95 - Rel.Juiz Antônio Álvares da Silva - DJ/MG 18.07.95, p. 37)

“ACORDO COLETIVO. A existênciade acordo coletivo, onde se regulousituações específicas ao contrato detrabalho, deve ser prontamenteobservada, nos termos do art. 7º,XXVI, da Constituição Federal.

Recurso a que se nega provimento.”(TRT/RO/08522/95 - Rel. JuizEduardo Augusto Lobato - DJ/MG20.10.95, p. 44)

“ACORDO. O Acordo Coletivo deTrabalho, obtido depois de longasdiscussões, dissecando-se, a maisnão poder, as cláusulas, merece serhomologado, como nele se contém,declara e determina. Ninguémmelhor do que as próprias partespara estabelecerem as novascondições de trabalho.” (TRT/DC/00131/94 - Rel. Juiz DárcioGuimarães de Andrade - DJ/MG21.04.95 , p. 51)

“ACORDO COLETIVO - ART. 619,DA CLT. Nos termos do art. 619, daCLT, as condições estabelecidasem convenções ou acordo coletivodevem prevalecer sobre ascondições do contrato individual detrabalho.” (TRT/RO/17079/95 - Rel.Juiz Antônio Miranda de Mendonça- DJ/MG 26.04.96 - p. 46)

“NEGOCIAÇÃO COLETIVA. ANegociação Coletiva, fruto de longadiscussão dos líderes, merece serprestigiada pelo JudiciárioTrabalhista, como ordena a própriaLei Magna. Vale integralmente noperíodo pactuado.” (TRT/RO/03327/94 - Rel. Juiz Dárcio Guimarães deAndrade - DJ/MG 16.04.94, p. 95)

“CONVENÇÕES E ACORDOSCOLETIVOS - RECONHECIMENTO.Segundo nosso ordenamentojurídico, não há como negar validadea cláusula de convenção ou acordocoletivo. Imputar-lhe a pecha de ilegalseria admitir a estratificação do direito

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do trabalho e afronta ao princípioconstitucional insculpido no art. 7º,XXVI, da Magna Carta, que estipula,como direito dos trabalhadores, oreconhecimento das convenções eacordos coletivos.” (TRT/RO/09451/94 - Rel. Juiz Luiz Philippe Vieira deMello Filho - DJ/MG 24.09.94 - p. 122)

“NEGOCIAÇÃO COLETIVA ELEGISLAÇÃO IMPERATIVAESTATAL - HARMONIZAÇÃO. Oprincípio da adequação setorialnegociada autoriza a prevalênciadas normas juscoletivas negociadassempre que se tratem de direitos deindisponibilidade relativa (verbassalariais acima do mínimo legal,jornada etc.). Contudo, tratando-sede direitos de indisponibilidadeabsoluta (salário mínimo, anotaçãode CTPS, normas de medicina esegurança do trabalho, porexemplo), os quais traduzem umpatamar civilizatório mínimogarantido na comunidade, essasnormas juscoletivas negociadas nãopodem prosperar, afrontando taisdireitos.” (TRT/RO/00612/95 - Rel.Juiz Maurício Godinho Delgado - DJ/MG 25.03.95, p. 51)

Portanto, acolita-se como válida anegociação coletiva conjuminada com oaditivo ao contrato de trabalho queestabeleceu a indenização pelasdenominadas horas in itinere etransacionou o tempo posterior, conformeretro exposto.

Acolhida a presença de transaçãoexistente entre as partes, extingue-se opedido de letra “h”, com julgamento domérito nos termos do art. 269, III, do CPC,de inequívoca aplicação subsidiária - art.769, da CLT.

Equiparação salarial

Requer o autor o pagamento dediferenças salariais, ao argumento de queexercia as mesmas funções que osparadigmas que elenca, percebendosalário inferior.

Analisando-se detidamente asfichas funcionais anexadas aos autos,verifica-se que razão não ampara o autor.

No tocante ao paradigma RobertoLourenço dos Reis, depreende-se que omesmo jamais exerceu as mesmasfunções que o reclamante, quais sejam,servente e operador. Pontue-se que provadiversa não veio aos autos, prevalecendoos referidos documentos.

No que tange ao paradigma TarcísioTomaz de Oliveira, tem-se que o mesmopassou a exercer a função de ajudanteem 01.07.83 e de operador em 01.08.89,ao passo que o autor foi guindado a taisfunções em 05.09.89 e 01.03.92, ou seja,com diferença no exercício da funçãosuperior a dois anos.

Diante da desigualdade legaltemporal na função, não há comocorroborar o pedido de EQUIPARAÇÃOSALARIAL, quanto a este paradigma, poistal instituto jurídico requer a inexistênciade tempo superior a dois anos na função,situação fática que inexistia.

Por fim, quanto ao paradigmaFrancisco Emeterino da Cruz, as fichasfuncionais denotam que o mesmo exerceuas mesmas funções que o autor, semdesnível temporal de dois anos. Todavia,os mesmos documentos revelam queambos percebiam salários idênticos,sendo improcedente o pedido.

Presente, in casu, óbice legalintransponível à isonomia salarialpretendida (art. 461, § 1º, da CLT), sendoimprocedente o pleito de equiparaçãosalarial (letra “m”).

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Adicional de insalubridade

O laudo pericial - f. 212/220,mereceu aquiescência do autor - f. 232/233, tendo a reclamada o impugnado - f.237.

Referido laudo apurou que o autoresteve exposto a ruído excessivo,caracterizando-se a insalubridade emgrau médio, nos moldes preconizadospela NR-15, anexo 01, da Portaria 3214de 08.06.78, do Ministério do Trabalho -f. 219, durante todo o pacto laboral.

Apurando a prova técnica - legal eobrigatória - art. 195, da CLT, ainsalubridade, defere-se o adicionalrespectivo, no importe de 20%, por todoo pacto laboral não prescrito, a sercalculado sobre o salário mínimo de quetrata o art. 76, da CLT, conformeEnunciado 228, do TST.

Saliente-se que as argumentaçõesexpendidas pela reclamada à f. 237,alegando que o protetor auricular ésuficiente para neutralizar o ruído, nãopodem ser acolhidas. E assim se diz jáque, conforme salientado pelo Sr. expert

à f. 245, não houve prova de que oreclamante tenha utilizado tais EPI,inexistindo nas instalações da reclamadaplacas alusivas quanto à suaobrigatoriedade, sendo certo que inexistiuCertificado de Aprovação emitido peloMinistério do Trabalho, além de não tersido produzida prova quanto àsreposições periódicas dos referidosequipamentos.

Ressalte-se, apesar de não ter sidomotivo de argumentação pela Defesa, quenão há falar em cálculo da parcela sobreo salário mínimo de referência (Decreto-lei 2351/87) e vinculação de cada SMR a40 BTN, posto que não se encontratacitamente derrogado o art. 192, da CLT,que estatui a base de cálculo do adicional

de insalubridade.No período em que vigente o

referido Decreto, tal não produziuqualquer efeito modificador no artigoConsolidado, porquanto a incidir oprincípio da hierarquia das leis. Noperíodo de vigência do Decreto-lei 2351/87, a base de cálculo do adicional deinsalubridade é o piso nacional de salário,já que, por lei, a incidência foi sempre aremuneração mínima devida aotrabalhador, em jornada normal, e essapaga mínima é o salário mínimo ou pisonacional de salário (a depender domomento legislativo histórico) e, não, osalário mínimo de referência.

No que toca à comum alegação devedação de vinculação do salário mínimo,tem a jurisprudência e a doutrina maisabalizada entendido que o salário mínimonão pode sofrer vinculação quandoutilizado como fator de atualizaçãomonetária e, não, como no caso daparcela dos autos.

A corroborar o acima aduzido,destaca-se brilhante ementa desteEgrégio Tribunal, em voto da lavra daJuíza e Profª Alice Monteiro de Barros:

“ADICIONAL DE INSALUBRIDADE- BASE DE INCIDÊNCIA. Oadicional de insalubridade incidesobre o salário mínimo a que aludeo art. 76, do diploma consolidado,não sofrendo alteração a base deincidência pela Constituição Federalde 1988. A Carta Magna menciona'adicional de remuneração' para asatividades insalubres (art. 7º, XXIII)e não adicional 'sobre' aremuneração. Logo, enquanto nãofor regulamentado esse dispositivo,prevalece o cálculo sobre o saláriomínimo, que não encontra obstáculono inciso IV, do mesmo art. 7º, o qual

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veda a vinculação ao saláriomínimo, como fator de indexação.”(TRT/RO/17609/95 - Rel. Juíza AliceMonteiro de Barros - DJ/MG12.04.96, p. 36)

Abordada a questão por todos osângulos em que as partes a colocaramnos autos, resta finalizar aduzindo quenão há que se falar em inaplicabilidadedo Enunciado 228, do TST, já que anteriorao Decreto 2351/87, pois os Enunciadosrefletem entendimento cristalizado daColenda Corte do Trabalho, sendorepositório de interpretação, não sendoobjeto de averiguação temporal de“vigência”, até porque não são atosnormativos, não possuindo forçavinculativa. Tratando-se de umacorporificação de entendimentos da maisalta corte especial não se configura lei etampouco detém força normativa (TRT/3ªRegião/RO n. 6991/91).

Não há falar, também, em cálculodo adicional de insalubridade sobre aremuneração, pois o texto constitucionalnão é auto-aplicável, sendo certo queenquanto não sobrevier lei regulando amatéria, o art. 76, da CLT, é que rege atemática. Ver expressos termos do artigoconstitucional em questão.

A jurisprudência assim nos pontua:

“ADICIONAL DE INSALUBRIDADE- CONTROVÉRSIA SOBRE ABASE DE CÁLCULO -REMUNERAÇÃO OU SALÁRIOMÍNIMO - INTELIGÊNCIA DO ART.7º, XXIII, CF 88. A normaconstitucional não revogou o artigo192, da Consolidação das Leis doTrabalho. Com efeito, dispõe aConstituição da República de 1988:“Art. 7º - São direitos dostrabalhadores (...) XXIII - adicional

de remuneração para as atividadespenosas, insalubres ou perigosas,'na forma da lei'. Relembrando regraelementar de hermenêutica, nosentido de que as disposiçõesconstantes ao final de um texto atodo ele se referem e sendo a leireguladora do adicional deinsalubridade - até o momento - aCLT, impossível é entenderrevogada a norma à qual a própriaLei Maior endereça a disciplina damatéria. Assim, em última instância,mais do que entender revogado oartigo 192/CLT, estar-se-ianegando, na verdade, eficácia aopróprio texto constitucional ou, pelomenos, à sua parte final, o que vema dar na mesma coisa. De outrolado, como sabido, as expressões'remuneração' e 'salário mínimo' nãose eqüivalem no Direito doTrabalho. Se o artigo 192, da CLT,não foi revogado, então estariaaberta uma antinomia noordenamento jurídico, por isto quea norma constitucional e a leiordinária se referem a figurasdistintas - e, no caso, até mesmoincompatíveis - estando ambas aregular o mesmo tema. Contudo,esta aparente antinomia é superadapelo entendimento de que a mençãoà 'remuneração' no textoconstitucional traduz a mens legis

no só sentido de garantia, paratodos os efeitos, a integração daverba aos salários. Reforça estainterpretação o fato de que a normaconstitucional não alude a adicional'sobre' a remuneração, mas sim aadicional 'de' remuneração, o que écoisa bem diversa”. (TRT/RO/09454/95 - Rel. Juiz Hiram dos ReisCorrêa - DJ/MG 24.11.95 - p. 68)

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“ADICIONAL DE INSALUBRIDADE- BASE DE INCIDÊNCIA. Oadicional de insalubridade incidesobre o salário mínimo a que aludeo art.76, do diploma consolidado,não sofrendo alteração a base deincidência pela Constituição Federalde 1988. A Carta Magna menciona'adicional de remuneração' para asatividades insalubres (art. 7º, XXIII)e não adicional 'sobre' aremuneração. Logo, enquanto nãofor regulamentado esse dispositivo,prevalece o cálculo sobre o saláriomínimo, que não encontra obstáculono inciso IV, do mesmo art. 7º, o qualveda a vinculação ao saláriomínimo, como fator de indexação.”(TRT/RO/17609/95 - Rel. Juíza AliceMonteiro de Barros - DJ/MG12.04.96, p. 36)

Procede o pedido de pagamento deadicional de insalubridade no grau médio(20%), a ser calculado sobre o saláriomínimo de que trata o art. 76, da CLT, aoautor, pelo pacto laboral não prescrito.

Devidos os reflexos em aviso prévio,férias, 52% Acordo, 13º salários, FGTS e40% de FGTS, por mero corolário dacondição salarial da verba - adicional deinsalubridade.

E, isto, pelo princípio do art. 59, doCódigo Civil Brasileiro, de que o acessóriotem a mesma sorte do principal:

Acessorium sequitur principale.

Depreende-se do precedente n. 47,da Seção de Dissídio Individual, que abase de cálculo das horas extras écomposta do salário contratual mais oadicional de insalubridade, sendo este oentendimento cristalizado da mais altaCorte Trabalhista, a saber:

“HORA EXTRA - ADICIONAL DE

INSALUBRIDADE - BASE DECÁLCULO. É o resultado da somado salário contratual mais oadicional de insalubridade, estecalculado sobre o saláriomínimo.”

No entanto, o autor pede o inverso,ou seja, que o adicional de insalubridadeseja calculado sobre as horas extras, oque resta indeferido, uma vez que a basede cálculo do adicional de insalubridadeé o salário mínimo de que trata o art. 76,da CLT, e não o que pretende o autor, ouseja, que a base de cálculo consideradaseja a sua remuneração. Portanto,impossível falar em pagamento deinsalubridade sobre horas extras, tendoesta (insalubridade) base de cálculo fixamensal. Raciocínio inverso, levar-nos-iaà insustentável tese de que na hipótesede faltas ou atrasos o adicional deinsalubridade haveria de ser quitado,também, proporcionalmente.

E nem se diga de modo inverso, queo autor pretende que o pagamento dainsalubridade seja feito com base emhoras extras; o que ele efetivamente queré a alteração da base de cálculo daparcela.

Sucumbente no objeto da períciaarcará a reclamada com os honoráriospericiais que são arbitrados no importe deR$1.000,00 - Enunciado 236, do TST.

Diferença de abono de férias

Requer o autor o pagamento daparcela em epígrafe ao argumento de quea mesma não incidiu corretamente sobreas férias pagas em rescisão. Emcontrapartida, a reclamada alega que aparcela referente a férias proporcionaisquitadas no TRCT, sob o código 29, estáacrescida de 8,33% referente à

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gratificação especial, parcela esta quenão é considerada para bonificação dos52% de férias.

Todavia, inexiste qualquer previsãode exclusão da parcela de gratificaçãoespecial para cálculo do abono de férias.

Dessarte, defere-se o pedido dediferença de abono sobre as fériasquitadas em rescisão, conforme se apurarem liqüidação, considerando-se comobase de cálculo o valor integral pago atítulo de férias proporcionais.

Reflexos das horas extras, dasbonificações de horas extras e dosadicionais noturnos pagos durante opacto laboral

Argumentou a reclamada que osreflexos das horas extras nos repousossemanais remunerados foram pagosenglobados nas parcelas de horas extrase bonificações de horas extras.

No entanto, o pagamento de váriasparcelas sob a mesma rubrica refere-seindiscutivelmente, a salário complessivo,procedimento vedado por nossoordenamento jurídico.

Dessarte, defere-se o pedido depagamento de reflexos das horas extrase bonificações de horas extras pagasdurante o pacto laboral em repousossemanais remunerados.

Todavia, estes reflexos não refletemna parcela de FGTS, sob pena de seestabelecer um verdadeiro círculo vicioso.Ou seja, os reflexos refletem em outros,que refletem em outros e, assim,sucessivamente.

No tocante ao adicional noturno,impossível o deferimento do pleito,porquanto o autor não recebia referidaparcela, já que no período laboral nãoprescrito trabalhou em horárioadministrativo.

Parcialmente procedente o pedidode letra “i”.

Integração do adicional portempo de serviço - ATS, prêmioqüinqüenal, acordo e adicional deqüinqüênio

Pretende o autor a integração dasparcelas em epígrafe na base de cálculodas horas extras, inclusive sobre minutosanteriores e posteriores e horas detransporte e também nas horas noturnas(letra “j”).

A leitura atenta do TextoConsolidado - art. 59 - conjuminado como art. 7º, XVI, da Constituição daRepública, além das cláusulas coletivas,não nos autoriza as integraçõespretendidas, porquanto a base de cálculodas horas extras é o salário-hora normal.

Ora, impossível confundir saláriocom remuneração, sendo termos jurídicose legalmente distintos. Assim, aquelesadicionais pretendidos integram aremuneração e, não, o salário do autor,indeferindo-se a integração dos mesmosnas horas extras pagas, idem nos minutosanteriores. A parcela denominada horasde transporte foi objeto de transação,nada havendo a apreciar.

Como retro asseverado, o autor, noperíodo laboral não prescrito, não laborouem horário noturno, não havendo falar emreflexos em horas noturnas.

No mesmo diapasão as normascoletivas especificam a base de cálculodos adicionais supra referidos, sendocerto que por se tratar de benesses hãode ser interpretadas restritivamente.Ademais, as verbas têm razões diversas,não se intercomunicando.

Indevidas as integrações requeridas- letra “j” - e, via de conseqüência, osreflexos pretendidos.

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Art. 467, da CLT

A presença de controvérsiaacirrada, além da ausência de salárioretido stricto sensu, não nos autoriza aincidência do artigo supramencionado,sendo indeferido o pedido de letra “o”.

Correção monetária

No tocante à correção monetária, oJuízo tem entendimento que a Lei 8.177/91 reza em seu artigo 39 que aatualização monetária, do débito nãosatisfeito à época própria, faz-se pelaaplicação do índice de correçãoeqüivalente à TRD (TR) acumulada noperíodo compreendido entre a data devencimento da obrigação e seu efetivopagamento.

A partir da promulgação da Lei8.177/91, a questão mereceu tratamentodiverso, uma vez que restou abandonadaa unidade mês para a correção. Acorreção monetária passou, assim, a sercomputada diariamente.

Vale a transcrição do artigo 39, dareferida Lei:

“Os débitos trabalhistas de qualquernatureza, quando não satisfeitos peloempregador nas épocas próprias assimdefinidas em lei, acordo ou convençãocoletiva, sentença normativa ou cláusulacontratual, sofrerão juros de moraeqüivalente à TRD acumulada no períodocompreendido entre a data do vencimentoda obrigação e o seu efetivo pagamento."

Tal dispositivo, além de instituir acorreção diária (variação da TRD) fixouos marcos temporais para efetuar acorreção do débito: “... o períodocompreendido entre a data do vencimentoda obrigação e o seu efetivo pagamento”.

Dessarte, efetivamente torna-seincorreto tomar como referência o mês da

constituição do crédito ou o mês dopagamento, porquanto o que importa é odia do vencimento e o dia do efetivopagamento.

Torna-se incoerente utilizar,também, o “mês de competência” para omarco final e o “dia do pagamento” parao marco final.

Desta feita, a fixação do marco inicialdo período de correção será feito conformeo texto elucidativo do artigo 39, da Lei8.177/91, ou seja, “... nas épocas própriasdefinidas em lei”. O artigo 2º, do DecretoLei n. 75/66, fixou o que deve ser entendidocomo “época própria”, ou seja, é a datafixada em lei para o empregador pagar osdébitos trabalhistas. Com isto, deve serverificada a data de vencimento de cadaparcela, pois há vencimentos diversos paraos pagamentos de salário, das férias, do13º salário e das parcelas rescisórias.

In casu, nos comprovantes depagamento anexados consta a data emque foram quitados. Assim, o índice decorreção monetária a ser utilizado éexatamente o do dia posterior aoconsignado nos referidos recibos.

Como preciosamente explicitadopelo Eminente Jurista Dr. SebastiãoGeraldo de Oliveira, em seu artigoCorreção Monetária dos Direitos

Trabalhistas, na Revista do Direito doTrabalho, de fevereiro de 1995 - p. 47/48:

“Adquire-se o direito ao salário pelaprestação dos serviços, mas o pagamentorespectivo caracteriza-se como obrigaçãoa termo, subordinada a evento futuro ecerto, qual seja, a data do vencimento.”

Enfatiza MARIA HELENA DINIZ serde “... grande importância a determinaçãodo instante em que se deve pagar odébito, visto que ele só será exigívelquando se vencer. O momento em quese pode reclamar a dívida designa-sevencimento”. (In Curso de Direito Civil

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Brasileiro, 5ª edição, 2º volume, EditoraSaraiva, São Paulo, 1989, p. 196). Poresta razão o Código Civil estabelece que“O termo inicial suspende o exercício, masnão há aquisição do direito.” (artigo 123)

Ocorre o vencimento quando odébito se torna legalmente exigível (actio

nata), conforme a data ajustada para opagamento (artigo 952, do Código Civil).Daí porque o devedor só seráconsiderado em mora quando não efetuaro pagamento no tempo, lugar e formaconvencionados (artigo 955, do CódigoCivil). Pode-se concluir, portanto, que ofato gerador do direito à correçãomonetária ocorre no exato momento emque o empregador é constituído em morasalarial e renova-se diariamente até o diado efetivo pagamento.

A jurisprudência assim nos baliza:

“CORREÇÃO MONETÁRIA -CRITÉRIO DE CÁLCULO. Após apublicação da Lei n. 8.177, de01.03.91, a Correção Monetária dosdébitos trabalhistas passou a serdiária, quando foi abandonado oantigo critério do mês decompetência. A recomposiçãosalarial será calculada diariamentedesde o vencimento da obrigaçãoaté a data do efetivo pagamento.Quando o pagamento do salário éfeito no 5º dia útil do mêssubseqüente, somente a partir dodia imediato haverá incidência daatualização monetária.” (TRT 3ªRegião - 2ª Turma - Acórdão AP0080/94 - Rel. Juiz SebastiãoGeraldo de Oliveira, julgado em26.04.94)

Ofícios

Determina-se a expedição de ofício

somente ao INSS, já que, das parcelasdeferidas, restaram devidas contribuiçõesprevidenciárias, não se verificandonenhum descumprimento de obrigaçãolegal que enseje comunicação àDelegacia Regional do Trabalho.Parcialmente procedente o pedido de letra“p”.

Assistência judiciária

Após o advento da lei 7510/86, osatestados de pobreza tornaram-sedesnecessários para fins judiciais. Mas,não obstante referida exclusão, oadvogado, ao postular os benefícios daassistência judiciária, deverá fazê-lodeclarando ser o reclamante pobre, “sobas penas da lei”. Tendo sido feito, defere-se o pretendido (f. 58).

III - CONCLUSÃO

RESOLVE a 2ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Congonhas, àunanimidade, consignar a homologação dadesistência do pedido de letra “k”; declararprescritos eventuais direitos anteriores a19.01.93; rejeitar o pedido de aplicação doEnunciado 330, do TST; acolher o pedidode compensação nos termos do art. 767,da CLT, e Enunciado 48, do TST; acolhera presença de transação existente entreas partes, extinguindo-se o pedido de letra“h”, com julgamento do mérito, nos termosdo art. 269, III, do CPC e, no mérito, julgarPROCEDENTE, EM PARTE, a açãotrabalhista que Martinho Magno Ribeiroajuizou em face de Cia. SiderúrgicaNacional, para condenar esta última a lhepagar, no prazo legal, as seguintesparcelas: indenização pelo dano físico queengloba o dano emergente (pagamentopela reclamada de todas as despesasmédicas e hospitalares que o reclamante

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realizou às suas expensas, isto a partir doacidente de trabalho, observado o prazoprescricional acolhido) e uma pensãocorrespondente à remuneração percebidana reclamada, parcelas vencidas evincendas, como se na ativa estivesse(todos os reajustes legais, normativos eespontâneos concedidos aos empregadosda reclamada, na ativa, deverão serobservados quando da execução desentença), durante toda a sua vida (emcaráter vitalício), com início em 18 de julhode 1997; indenização pelo dano moral, àbase de 16 vezes a maior remuneraçãodo obreiro; horas extras, em face dapresença de minutos excedentes à jornadacontratual do autor, no período nãoprescrito, a serem apurados em liqüidaçãode sentença, observando-se osparâmetros estabelecidos nosfundamentos, computando-se os minutosanteriores e posteriores à jornadacontratual, com o adicional normativo; naausência, utilize-se o legal; reflexos dashoras extras supradeferidas por minutosexcedentes em aviso prévio, repousossemanais remunerados, férias, 52% deférias, 13º salários, FGTS e 40% de FGTS;reflexos das horas extras e bonificaçõesde horas extras nos repousos semanaisremunerados; adicional de insalubridadeno grau médio (20%), a ser calculado sobreo salário mínimo de que trata o art. 76, daCLT, ao autor, pelo pacto laboral nãoprescrito; reflexos do adicional deinsalubridade em aviso prévio, férias, 52%Acordo, 13º salários, FGTS e 40% deFGTS; diferença de abono sobre as fériasquitadas em rescisão, conforme se apurarem liqüidação, considerando-se comobase de cálculo o valor integral pago a títulode férias proporcionais. Sucumbente nosobjetos das perícias, arcará a reclamadacom os honorários periciais, que sãoarbitrados no importe de R$1.200,00 -

perícia médica e R$1.000,00 - períciasobre insalubridade. Observe-se paracálculo das indenizações de dano material,moral e estabelecimento do valor daremuneração do obreiro, todas as parcelasde natureza salarial, entendendo-se comotal o salário-base, prêmio qüinqüenal, ATS,gratificação especial e demais valorespagos que componham a maiorremuneração do obreiro, tudo devidamenteatualizado. Observem-se os fundamentosda decisão que ficam fazendo parteintegrante deste dispositivo.

As verbas resultantes de sentençaserão apuradas em liqüidação,autorizados os descontos legais,observando-se os termos da lei 8212/91,em especial os arts. 43 e 44.

Determina-se a dedução dascontribuições previdenciárias, a cargo doempregador, incidentes sobre as verbassalariais. Passada em julgado a sentençade liqüidação, ao reclamado caberádiligenciar os recolhimentosprevidenciários pertinentes, devendo aJunta encaminhar ofício àquele órgãodando-lhe ciência dos termos destadecisão para imediato recolhimento dascontribuições ao INSS, para os fins dosartigos 33 e 44, da Lei 8212/91, comredação dada pela Lei 8620/93.

Todos os valores serão atualizadosmonetariamente até a data do respectivopagamento, incidindo juros de mora apartir da data do ajuizamento da ação,observado o disposto no Decreto-lei 2322/87 e na Lei 8177/91 e Enunciados 200 e307, do TST, no que couber. Tudo naforma especificada nos fundamentos.

Custas, pela reclamada, no importede R$3.000,00, calculadas sobreR$150.000,00, valor arbitrado àcondenação, considerando-se a pensãodeferida, a idade do autor, a vida médiado brasileiro (60 anos), a indenização

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relativa ao dano moral, a indenização pelodano emergente e todas as demaisparcelas objeto da condenação.

Partes cientes, nos termos doEnunciado 197, do TST.

Encerrou-se a audiência.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 581/98Data: 31.07.1998DECISÃO DA 33ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuíza Presidente: Drª VANDA LÚCIA HORTA MOREIRAAberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadas as partes,AUSENTES.Colhidos os votos dos Srs. Classistas, passou a MM. Junta a proferir a seguinte decisão:

EMENTA: PRINCÍPIO DA BOA-FÉ –DANO MORAL. “No comérciojurídico, como na vida social, há umelemento subjetivo que informa,estrutura e vivifica todas as relações- é a boa-fé” (Andreas Von Thur). ”Nãoé ao lado do que anda de má-fé quese deve colocar o direito” (Clóvis,Código Civil, art. 5457). “A boa-fé e ahonestidade são pressupostos detodas as relações de direito” (LIMA,Franzen de). “ON NE PEUT ABUSER

QUE DES CHOSES QUI SONT

BONNES" (MONTAIGNE, Essais, De

L’lexercitation). “A indiferença às másconseqüências, se no caso era deexigir-se cuidado, pode ser tida comofalta de boa-fé” (MIRANDA, Pontesde). Na hipótese sub litis, inexistecomprovação convincente de que areclamante tivesse sido acometida dedoença profissional, capaz desufragar a sua juventude e impedi-lade exercer suas atividadeslaborativas. A empresa, neste caso,não pode ser penalizada, máximequando se extrai que a reclamantecolocou-a em situação “de bodeexpiatório”, data venia. Inexistindo odano moral, indevida a indenizaçãopleiteada. Ação julgada Procedenteem parte.

I - RELATÓRIO

GRAZIELA MAIA DE SIQUEIRATITO ajuizou reclamação trabalhista emface de CEMIG - COMPANHIAENERGÉTICA DE MINAS GERAIS,dizendo-se admitida em 17.07.89, nafunção de auxiliar de escritório, sendoclassificada como auxiliar administrativoem 08.90 e, em 01.05, novamenteclassificada para o cargo de Técnico deApoio Administrativo. Nos últimos trêsanos e dez meses, a reclamante laborouna área de instalação e adequação deescritório, na função de decoradora,apesar de seu cargo ser o Técnico deApoio Administrativo, ocorrendo que areclamada nunca reconheceu a função dedecoradora exercida, idênticas às dasdecoradoras INÊS COSTA PEREIRA eMÁRCIA MARIA VALLE DORNAS e,ainda, em desacordo com a lei, a Srª INÊSMARIA FERREIRA COUTINHO começoua atuar na àrea em que a reclamante jáatuava há mais de dois anos, exercendoas funções de decoradora, as mesmas dareclamante, asseverando que, taisinformações servem para arrimar acaracterização do desvio de função, bemcomo a sua equiparação com a colegaINÊS MARIA FERREIRA COUTINHO.Aduziu que, em 01.09.97, ao sair da

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toalete, nas dependências da reclamada,escorregou e caiu no piso molhado,ocasionando a fratura linear longitudinaldo joelho direito, sendo certo que, nãohavia aviso de qualquer tipo deinformação de que a toalete estavainterditada ou que seu piso estavaescorregadio, tendo em vista o sabãoutilizado na limpeza durante o expediente.Sustentou que, embora tenha sesubmetido a tratamento, não obteve ainda100% de melhora, continuando a sentirdores e, segundo informações médicas,não se vislumbra possibilidade derecuperação total. Em 24.11.97, foidispensada, quando recebiaremuneração à razão de R$ 1.257,12 pormês. Asseverou que os prejuízos sofridos,tanto materiais quanto morais, tiveramorigem na relação de emprego que existiuentre as partes. Daí, nos termos do art.114, da CF/88, esta Justiça Especial é ainstância competente para apreciar ejulgar o presente feito. Em arrimo de suatese, citou entendimento jurisprudenciale doutrinário. Em face ao exposto,postulou as parcelas elencadas às f. 15/17. Requereu o benefício da justiçagratuita. Juntou documentos einstrumento de mandato, às f. 19/101.

Atribuiu à causa o valor deR$1.000,00.

Defendeu-se a reclamada, atravésda peça de f. 104/112, argüindo,preliminarmente, a incompetência destaJustiça Especializada para conhecer ejulgar o pleito sobre dano moral. Nomérito, contestou, uma a uma, as parcelaspostuladas. Quer seja observada adeterminação contida no En. 330/TST.Quanto à equiparação, pugna para queseja reconhecido o salário da modelo,com a expressa exclusão das vantagenspessoais. Coligiu documentos f. 113/231,credenciamento e instrumento de

mandato às f. 232 e 244.Impugnação da autora às f. 234/

236.Deferida a prova pericial, a expert

apresentou o laudo às f. 254/275, commanifestação das partes às f. 283/285 e288/293.

Aberta a audiência emprosseguimento, a Junta ouviu as partese as testemunhas da reclamante.

Sem mais provas, encerrada ainstrução processual, com razões finaisORAIS.

Embalde os esforços, impossível aconciliação.

Tudo bem visto e examinado.DECIDE-SE.

II - FUNDAMENTOS

1 - Da competência da Justiça doTrabalho

Argúi o reclamado a prefacial deincompetência desta JustiçaEspecializada para conhecer, instruir ejulgar o pedido referente a dano moral.

Não obstante a tese expendida, semembargo de opiniões em contrário, esteColegiado entende desassistir razão aoreclamado.

Como cediço, a competênciaratione materiae decorre da naturezacontrovertida que, por sua vez, é fixadapelo pedido e pela causa de pedir.

Ora, a ação que envolve direitodecorrente do liame empregatício,ajuizada por empregado em face doempregador, deve ser apreciada pelaJustiça do Trabalho, por aplicaçãointeligente do art. 114/CF/88.

É que, o pedido de dano moral,vinculado à relação de emprego, podendoensejar a caracterização de falta grave doempregador ou do empregado,

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acarretando, portanto, conseqüênciasindenizatórias trabalhistas, somentepoderá ser apreciado pelo JudiciárioTrabalhista, considerando-se, destarte, aspartes envolvidas no litígio, bem como orelacionamento havido ou existente entreelas.

Nesse sentido, manifestou-se oExcelso Pretório, cujo acórdão da lavrado Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE: “Adeterminação da competência da Justiçado Trabalho não importa que dependa asolução da lide de questões de DireitoCivil, mas, sim, no caso, que a promessade contratar, cujo alegado conteúdo é ofundamento do pedido, tenha sido feitaem razão da relação de emprego,inserindo-se no contrato de trabalho.”(Revista LTr 59-10, p. 1.370)

Nesse diapasão, nossa EgrégiaCorte tem entendido:

“DANO MORAL – COMPETÊNCIADA JUSTIÇA DO TRABALHO.Versando a lide sobre dano moralexperimentado pelo obreiro nocontexto da relação empregatícia,competente é a Justiça do Trabalhopara apreciar a matéria (art. 114/CF/88).” (TRT/3ª Região - RO-1827/97 -Rel. Juiz Maurício Godinho Delgado)

Deste modo, fixada a competênciadesta Especializada, passa-se à decisãoda lide.

2 - Da eficácia liberatória doEn.330/TST

Rejeita-se a argüição de carência deação, haja vista a pretensão sobre aaplicação dos termos do En. 330, doC.TST.

Não é caso de aplicação do aludidoenunciado, pois o pleito exordial não foi

objeto do TRCT. Daí não se confundir oefeito liberatório das parcelas resilitóriasque constam naquele documento com asverbas elencadas na postulação.

Cabível, como uma luva, o arestoabaixo transcrito:

EMENTA: QUITAÇÃO DASVERBAS RESCISÓRIAS -ENUNCIADO 330/TST -IRRENUNCIABILIDADE DOSDIREITOS TRABALHISTAS.Continua inadmissível a renúnciagenérica e indiscriminada dedireitos trabalhistas quando darescisão do contrato de trabalho,nos claros termos da parte final doparágrafo 2º, do artigo 477/CLT. Arecente edição do Enunciado n.330, do TST, não alterou esteprincípio básico. Nele se proclamaapenas, de forma mais ampla queo En. 41, do C.TST, que a quitaçãodada pelo trabalhador ao recebersuas verbas rescisórias, desdeque devidamente assistido porsua entidade sindical e sem oporressalvas expressa ou específica,libera o empregador de qualquerobrigação não só quanto aosvalores ali discriminados, mastambém quanto àscorrespondentes parcelas.Direitos trabalhistas nãodiscriminados no reciborescisório não são alcançados porpretensa quitação apenas porquenaquele ato o reclamante nadaressalvou a respeito. (TRT- 3ªREGIÃO - Rel. Juiz Júlio Bernardodo Carmo) (sublinhou-se)

3 - Do enquadramento funcionalda obreira - Da isonomia e daequiparação salarial

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Assegura a reclamante o exercíciona função de DECORADORA,asseverando que laborava em equipe,juntamente, com as colegas INÊS COSTAPEREIRA e MÁRCIA MARIA VALLE,pretendendo, portanto, a isonomiasalarial, com a percepção deremuneração pelo trabalho de igual valor.

Ainda, quer receber salárioequitativo, assegurando o preenchimentodos requisitos preconizados no art. 461/CLT, em relação ao modelo INÊS MARIAFERREIRA COUTINHO, a partir dejaneiro de 1996 até a sua dispensa.

Por sua vez, a reclamada resiste àpretensão, embora tenha firmado odocumento de f. 42, onde se encontraestampada a real função exercida pelaautora, desde 1994.

Com efeito, “Função, para o direitodo trabalho, corresponde a tipo legalpreciso e coerente, como um conjuntocoordenado de tarefas, atribuições,poderes conferidos pelo empregador aoobreiro de modo a posicioná-lo e distingui-lo no contexto da divisão de trabalhopraticada no estabelecimento e empresa.”(Juiz Maurício Godinho Delgado)

Ora, na hipótese sub litis, a provaoral foi clara e precisa sobre a efetivafunção exercida pela obreira, ou seja, emequipe, no exercício de tarefas eatribuições de decoradora, corroborandocom o documento fornecido pelareclamada de f. 42.

Assim, a promiscuidade contratual,advinda da relação havida entre osempregadores, permite à autoridadejudicial buscar salário eqüitativo, aqueleatravés do qual se corrige desequilíbrios,estabelecendo o salário resultante daisonomia, por previsão contida no art. 5º,da CLT, e norma constitucional (artigo 7º,incisos XXX, XXXI e XXXII).

Sabido que, pelo princípio da

isonomia, não se deve tratar comdiscriminação os que labutam emcondições idênticas, prestando serviçosno mesmo local, exercendo as mesmasatividades, sujeitos aos mesmos horários,enfim, convivendo no mesmo ambiente detrabalho. E, nada mais justo que umempregado que exerça a mesma função,no mesmo pé de igualdade, usufrua dobônus (Qui habet commoda, ferre debet

onera).Conceituando o princípio da

isonomia ou igualdade formal, CELSORIBEIRO BASTOS (In Comentários à

Constituição do Brasil, 2º volume, Ed.Saraiva, 1989, p. 05 e seguintes) adverteser ele o mais vasto dos princípiosconstitucionais, não se vendo recantoonde não seja impositivo. Não asseguranenhuma situação jurídica específica,mas na verdade garante o indivíduocontra toda má utilização que possa serfeita da ordem jurídica. Tratando de igualforma todos os que estejam em idênticasituação perante a lei, estar-se-iaprevenindo o cidadão contra o arbítrio ea discriminação infundada. E o PoderPúblico deve ser o primeiro a dar o bomexemplo, não se utilizar de “politicagem”para tratar iguais como desiguais... Nãopode, pois, a Junta afastar-se do “justo”,pois,”o grande mal da época atual,consiste na perda da consciência e doverdadeiro”, segundo adverte RobertoBarreto Prado, LTr, v. 58, n. 2, fevereirode 1994, p.160/166.

Registre-se que o princípio daisonomia que se constitui em cânonconstitucional não admite a distinção ediscriminação. “E o Direito deve sobrepor-se às manipulações dos seusdestinatários, erguendo-se para além doalcance das possíveis manobras acombinatórias dos indivíduos quetecnicamente o procuram afeiçoar aos

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seus desígnios, ocupando o seu lugar decomando.” (c.f. a respeito, as observaçõesdo Prof. João Batista Machado, in nota

Preambular – A Justiça e o Direito natural

- Kans Kelsen - p. XXIII, Armênio AmadoEd., Coimbra, 1979)

Deste modo, à reclamante, por forçado princípio isonômico, defere-se adiferença salarial, desde janeiro 94,tomando-se por base o salário igual aode suas colegas de equipe, com reflexonas férias + 1/3, a partir 01.94, nos 13ºsalários, FGTS + 40% e verbas resilitórias.

No que pertine à equiparaçãosalarial com a paradigma apontada (InêsMaria Ferreira Coutinho), sem margem adúvida, a prova revela que a reclamante,já trabalhando com a equipe dedecoradora, viu-se surpreendida quandoda aposentadoria da empregada InêsCosta Pereira, com a vinda para odepartamento de pessoa sem opreenchimento dos requisitos para afunção, com o salário superior, em totalinobservância ao insculpido no artigo 461/CLT.

Pois bem: como é sabido, para sedar a equiparação salarial, regulada peloreferido artigo, é indispensável queestejam preenchidos, um a um, todos osrequisitos constantes do próprio preceito:trabalho de igual valor, prestado à mesmaempresa, no mesmo local, funçãoidêntica, diferença de tempo de serviçoinferior a dois anos e inexistência dequadro de carreira.

Destarte, à luz da farta comprovaçãopor parte da obreira, somada à aceitaçãoda reclamada, considerando-se queadmite, entrelinhas, o direito vindicado,neste particular, conclui-se pelaprocedência do pleito, para deferir àreclamante as diferenças salariais, dejaneiro de 96 até a data de sua saída, comos reflexos pretendidos na peça vestibular.

4 - Do dano moral – Indenizaçãopor dano físico e moral

Contando uma história “triste”, areclamante afirma ter sido acometida dedoença em sua pessoa, após sofrer umaqueda no banheiro.

Afirmou prejuízo em sua vida normale profissional, pretendendo, portanto, aindenização por dano moral físico/material.

Determinou-se a realização deperícia médica para que se pudesse ter aextensão concreta do alegado prejuízo,considerando-se que, pela primeira vez,tal ocorrência se dá na reclamada.

Registre-se, em primeiro plano, quea reclamante sofreu o acidente nobanheiro, sendo certo que permaneceurecebendo pelo infortúnio e, emtratamento, permaneceu licenciada,retornando ao trabalho, aderindo ao Planode Demissão Voluntária, passando peloexame demissional, constatada apta aotrabalho (laudo pericial de f. 255/256).

Ressalte-se, mais, a reclamante nãofoi submetida a qualquer cirurgia, punçãodo joelho, tendo sido indicado tratamentoconservador, sem qualquer intervençãomais agressiva (f. 256).

Em resposta aos quesitos de n. 06/07/08/09, f. 257/258, a ilustre expert,afirmou que os danos sofridos pela obreiranão geraram deformação estética a pontode causar-lhe constrangimento em termosde convívio no seu meio social; assegurouque não ficou com sequelas a ponto deimpedi-la permanentemente de usufruirdas academias de ginástica... de usarsaltos...; afirma a douta perita que areclamante não teve gastos com médicos,ou seja, com o tratamento.

Por fim, pelo que conclui o laudo (f259/261), a reclamante pode levar umavida normal no trabalho, bem como em

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sua vida rotineira e quotidiana, tendo,apenas, de se cuidar, tal como já vinhafazendo, desde quando apurada aARTRITE PATELO FEMURAL, anteriorao acidente na reclamada.

Importa, no entanto, salientar que,contra o laudo pericial, nenhuma outraprova foi feita. Aliás, nem mesmo a oralfoi capaz de elidir a técnica elaborada porquem realmente está apta a dar o“veredito” sobre as condições físicas emorais da obreira, considerando-se queo Juiz nada entende sobre a questão,sendo mero expectador do expert,curvando-se frente às suas brilhantes ecompletas conclusões. Acresce-se que oJulgador não pode delirar da prova, nemse confundir ou se impressionar com a“febre” das indenizações por danosmorais, agora tão em voga no Brasil. Oimportante é que se observe um mínimode procedimento moral, para nãoconverter um instrumento de justiça emum instrumento injusto.

Insta, ainda, ressaltar que: na liçãode CARMEN GARCIA MENDIETA, “Danomoral, é o que sofre alguém em seussentimentos. Em sua honra, em suaconsideração social ou laboral, emdecorrência de ato danoso.”

Como se vê, o dano moral é aqueleque incide sobre bens de ordem não-material, surtindo efeitos na órbita internado ser humano, causando-lhe uma dor,uma tristeza ou qualquer outro sentimentocapaz de lhe afetar o lado psicológico,sem qualquer repercussão de carátereconômico.

Na definição do Juiz e ProfessorCARLOS ALBERTO BITTAR, em sua teseReparação civil por danos morais: “Danosmorais são lesões sofridas pelas pessoas,físicas ou jurídicas, em certos aspectosda sua personalidade, em razão deinvestidas injustas de outrem. São

aqueles que atingem a moralidade e aafetividade da pessoa, causando-lheconstrangimentos, vexames, enfim,sentimentos e sensações negativas.”

E, por tudo o que dos autos consta,máxime a prova técnica/médica, tem-seque a situação da reclamante não seenquadra em nenhum dos conceitos ousituações previstas, muito menos seencaixa na teoria da responsabilidade civilou trabalhista.

Vale, in casu, a observância aoPRINCÍPIO DA BOA-FÉ, não sendoocioso citar doutrina que se adapta, comouma luva, à hipótese pretendida nesteprocessado: - “No comércio jurídico, comona vida social, há um elemento subjetivoque informa, estrutura e vivifica todas asrelações - é a boa-fé” (Andreas Von Thur).”Não é ao lado do que anda de má-fé quese deve colocar o direito.” (Clóvis, Código

Civil, art. 5457) “A boa-fé e a honestidadesão pressupostos de todas as relaçõesde direito.” (LIMA, Franzen de) “ON NE

PEUT ABUSER QUE DES CHOSES QUI

SONT BONNES.“ (MONTAIGNE, Essais,

De L’lexercitation) “A indiferença às másconseqüências, se no caso era de exigir-se cuidado, pode ser tida como falta deboa-fé.” (MIRANDA, Pontes de)Inexistindo, portanto, comprovação cabal,bem como convincente de que areclamante tivesse sido acometida dedoença capaz de causar-lhe sofrimentoou sufragar a sua juventude, impedindo-lhe de exercer suas atividades laborais,não há como penalizar a reclamada,tampouco colocá-la como “bodeexpiatório”, data maxima venia,considerando-se a inocorrência, ainda, dereflexos produzidos por ação ou omissãona personalidade da obreira.Descaraterizado o tão pretendido danomoral e físico, indevida a indenizaçãopleiteada e suas conseqüências.

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Vencida que foi a reclamante noobjeto da perícia médica (En. 236/TST),fixam-se os honorários da expert emR$800,00.

5 - Da assistência judiciária

Não obstante o resultado dademanda, defere-se a assistênciagratuita, mas tão-somente em relação acustas processuais, não despesasjudiciais, nos termos da Lei 5.584/70.

III - CONCLUSÃO

Por tais fundamentos, resolve a MM.33ª JCJ de Belo Horizonte/MG, àunanimidade, concluir pelaPROCEDÊNCIA, PARCIAL, DA AÇÃO,condenando a reclamada, a pagar àreclamante, no prazo legal, as diferenças

salariais em decorrência da isonomia eequiparação salarial reconhecidas, bemcomo os reflexos correspondentes, tudocomo pretendido na peça vestibular,observando-se os fundamentos queintegram o decisum. Deverá ser observadoo salário da equipe e da paradigma, sem ainclusão de qualquer vantagem pessoal, naapuração das diferenças deferidas. Tudocomo se apurar em liqüidação de sentença.Acréscimos e deduções legais. Índice decorreção monetária, conforme precedentejurisprudencial. Juros moratórios, a partir doajuizamento da ação. A cargo dareclamante os honorários periciais (En.236/TST), fixados em R$ 800,00.

Custas, pela reclamada, no importede R$ 200,00, calculadas sobreR$10.000,00, valor arbitrado à condenação.

INTIMEM-SE AS PARTES.Encerrou-se a audiência.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 1652/97Data: 26.06.1998DECISÃO DA 16ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: Dr. SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRAAberta a audiência foram, por ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadas as partes,ausentes.Proposta a solução do dissídio, após colhidos os votos dos Juízes Classistas, a Juntapassou a proferir a seguinte decisão:

1 - RELATÓRIO

BERNADETE ATHAÍDE EGUIMARÃES, qualificada na inicial de f.02/24, ajuizou reclamação trabalhista emface de BANCO DO BRASIL S.A.,alegando que foi admitida em 25.03.80 eque, em decorrência de exaustivoexercício diário de trabalho, contraiu LER,o que a levou a ser afastada de suasatividades laborativas em novembro/95,passando a perceber o benefício doauxílio-doença por acidente de trabalho,

ante o diagnóstico de “síndrome do túnelde carpo”; um ano após seu primeiroafastamento foi aposentada por invalidez.Sustenta que, em virtude dos descuidosdo reclamado quanto às normasregulamentares e de ergonomia,trabalhava sentindo dores e correndorisco de ter outros membros afetados,além do comprometimento sofrido nasfunções normais dos músculos das mãos,braços, antebraços, ombros, peitoral esupra-espinhoso. Tece comentários sobrea LER, os fundamentos jurídicos da

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responsabilidade do empregador e faltade cumprimento por parte do reclamadodas normas de ergonomia. Pelo exposto,pleiteia indenização por danos físicos,morais, estético; pensão mensal vitalícia;pagamento e reembolso das despesasmédicas e farmacológicas; justiça gratuita,atribuindo à causa o valor deR$500.000,00. Com a petição inicialvieram os documentos de f. 27/68.

Defendeu-se o reclamado argüindopreliminarmente inépcia da inicial,incompetência da Justiça do Trabalhopara apreciar a demanda e, ainda,impossibilidade jurídica do pedido. Nomérito, nega que a reclamante tenha sidoacometida de LER por descumprimentodo reclamado quanto às normas deergonomia; o afastamento da reclamanteocorreu logo após o Banco ter tomadociência do seu estado de saúde,permanecendo em licença médica até asua aposentadoria. Sustenta que aresponsabilidade no caso não é objetiva,recaindo sobre a autora o ônus da prova.Contesta todos os pedidos formulados,requerendo a improcedência total dareclamação.

Com a defesa vieram osdocumentos de f. 93/282, sobre os quaisse manifestou a reclamante às f. 287/303.

Às f. 305/308 foi apreciada apreliminar de incompetência, decidindo-se pela competência desta Junta parainstruir e julgar a presente ação até o final.

Determinou-se a realização deprova pericial, cujo laudo oficial foi juntadoàs f. 331/349 e o parecer do assistentetécnico às f. 351/365, sobre os quais semanifestou a autora às f. 385/389 e oreclamado às f. 391/394.

Esclarecimentos prestados pelaperita oficial às f. 397/398, commanifestação da reclamante às f. 420/421e do reclamado à f. 429. Novos

esclarecimentos periciais foram prestadosàs f. 456/457, com manifestação daspartes às f. 468/469 e 470/477.

Na audiência em prosseguimento,foram inquiridas duas testemunhasarroladas pela reclamante e sem outrasprovas a produzir, encerrou-se a instruçãoprocessual, seguindo-se as razões finaisorais (f. 530/533).

Resultaram infrutíferas as tentativasde conciliação.

É o relatório.

2 - FUNDAMENTAÇÃO

2.1 - Da exceção de incompetênciaargüida

A exceção de incompetência já foiapreciada, conforme fundamentosexpendidos na decisão de f. 305/308,quando foi declarada a competência destaJunta para instruir e julgar a presente açãoaté final. É oportuno transcrever a seguiros fundamentos daquela decisão querejeitou a exceção.

Discute-se qual a Justiçacompetente para apreciar o pedido dereparação decorrente de doença dotrabalho equiparada pela legislação aacidente do trabalho.

Enquanto vigia a ConstituiçãoFederal de 1967, era pacífico oentendimento de que a competência parajulgar as controvérsias referentes àindenização por responsabilidade civil,decorrentes de acidente do trabalho, erada Justiça Comum Estadual. Isso porqueo art. 142, que fixava a competência daJustiça do Trabalho, contemplava umaexceção no § 2º com o seguinte teor: “Oslitígios relativos a acidentes do trabalhosão de competência da justiça ordináriados Estados, do Distrito Federal e dosTerritórios, salvo exceções estabelecidas

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na Lei Orgânica da MagistraturaNacional.”

Com o advento da ConstituiçãoFederal de 1988, a questão mereceutratamento diverso que não pode serignorado. Primeiramente, porque o art.114 não repetiu a ressalva acimaregistrada, não devendo o intérprete criardistinção onde a lei não distinguiu; emsegundo lugar, porque a indenização acargo do empregador, proveniente doacidente do trabalho, foi incluída no roldos direitos dos trabalhadores comoexpressamente prevê o art. 7º, XXVIII.Conseqüentemente, os dissídiosindividuais entre empregados eempregadores, referentes àsindenizações derivadas do acidente dotrabalho, estão no âmbito da competênciada Justiça do Trabalho.

O Professor JOSÉ AUGUSTORODRIGUES PINTO menciona que aConstituição de 1946 (art. 123, § 2º) e ade 1967 (art. 142, § 2º) expressamenteexcluíam o acidente do trabalho dacompetência da Justiça do Trabalho. Eacrescenta: “Considerando não haver naConstituição atual nenhuma normaconservando essa exclusão dacompetência trabalhista para conhecer dedissídios de acidentes no trabalho,parece-nos fora de dúvida que eles devempassar a ser julgados pelos órgãos daJustiça do Trabalho, em harmonia com aregra geral e natural da competência emrazão da matéria.” (Cf. Processo

Trabalhista de Conhecimento. Ed. LTr.1993, p. 113)

Por outro lado, os danos sofridospelo empregado provenientes dosacidentes do trabalho estão diretamenterelacionados à execução do contrato detrabalho, mormente porque a culpa doempregador, nessa hipótese, quandocomprovada, normalmente resulta da não

observância das normas regulamentaresde segurança, higiene e saúde noambiente de trabalho previstas nalegislação trabalhista.

É oportuno registrar, em apoio aesse entendimento, parte dosfundamentos de acórdão do SupremoTribunal Federal, em sua composiçãoplenária, abordando a questão dacompetência da Justiça do Trabalho.Assinala-se o voto vencedor do MinistroSepúlveda Pertence:

“7 - Para saber se a lide decorre darelação de trabalho não tenho comodecisivo, data venia, que a suacomposição judicial penda ou não desolução de temas jurídicos de direitocomum, e não, especificamente, deDireito do Trabalho. 8 - O fundamental éque a relação jurídica alegada comosuporte do pedido esteja vinculada, comoefeito à sua causa, à relaçãoempregatícia, como pareceinquestionável que se passa aqui, nãoobstante o seu conteúdo específico sejao de uma promessa de venda, institutode Direito Civil.” (Cf. BRASIL. STF.Sessão Plenária. CJ 6.959-6 - DF).Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Ac.de 23 maio de 1990. Revista LTr, SP, v.59, n. 10, p. 1375, 1995)

As decisões que estão atribuindocompetência à Justiça Comum dosEstados para apreciar tais controvérsias,data venia, só têm como sustentáculo oapego às construções jurídicas dopassado. Não há qualquer disposiçãoconstitucional atribuindo à JustiçaEstadual essa competência, razão pelaqual há de prevalecer a norma genéricado art. 114, da Lei Maior, combinada como art. 652, da CLT, que estabelece:“Compete às Juntas de Conciliação e

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Julgamento: a) conciliar e julgar: ... IV -os demais dissídios concernentes aocontrato individual de trabalho”.

O Juiz do Trabalho Substituto da 3ªRegião, VANDER ZAMBELI VALE, emlúcido e cuidadoso artigo doutrinárioassinala:

“Data maxima venia, incidem emdeslize de interpretação, passando aolargo de noções básicas deprocessualística, os que argumentam pelaincompetência da Justiça especial para ojulgamento de ação de (ex) empregadoem face do (ex) empregador, quando sepede indenização por dano decorrente deacidente do trabalho. Seu raciocínio eiva-se de simplismo na medida em queprocuram primeiramente enquadrar amatéria no âmbito de competência daJustiça comum, sabidamente residual,sem antes verificarem o campo delimitadopara as Justiças especiais. Ora, se acompetência comum é eminentementeresidual, para fixação de seu âmbito, oprimeiro passo há de ser a delimitaçãodas competências das especiais,adotando-se obviamente em tal mister oscritérios estabelecidos pela Constituiçãoe demais leis, situando-se, assim, porexclusão, o campo de atuação daJurisdição comum. A inversão da ordematenta contra a Constituição e fere o sensológico quando se procura a competênciaresidual sem se considerar aexpressamente prevista.” (Cf. Acidente do

Trabalho - Culpa do Empregador -

Indenização - Competência da Justiça do

Trabalho. Jornal Trabalhista, v. 13, n. 601,p. 392, 1996)

Pode-se argumentar que o art. 109,I, da Constituição, exclui da competênciada Justiça Federal as causas relativas aoacidente do trabalho, bem como aquelas

sujeitas à Justiça do Trabalho. Entretanto,esse dispositivo apenas registra umaexceção à regra geral, qual seja, sempreque participar da relação processualentidade autárquica federal - como é ocaso do INSS - a competência é daJustiça Federal, exceto quando se tratarde causas relativas a acidentes dotrabalho, causas sujeitas à JustiçaEleitoral e à Justiça do Trabalho.

Ademais, o art. 129, da Lei 8.213,de 24 de julho de 1991, que dispõe sobreos Planos de Benefícios da PrevidênciaSocial, fixa a competência da JustiçaEstadual para os litígios decorrentes dosacidentes do trabalho apenas no quetange aos direitos previdenciários. Issoporque, esses litígios, ainda queprovenientes da execução do contrato detrabalho, não têm o empregador comoparte, já que a ação é ajuizada em faceda Previdência Social.

Logo, a conclusão inarredável éque, após a Constituição Federal de 1988,os litígios referentes às indenizações pordanos materiais e/ou danos moraispostuladas pelo acidentado, provenientesde acidente do trabalho ou situaçõesequiparáveis em que o empregador tenhaparticipado com dolo ou culpa, devem serapreciados pela Justiça do Trabalho.

2.2 - Da inépcia da inicial -Impossibilidade jurídica do pedido

Aduz o reclamado que a petiçãoinicial é inepta, ante a falta de indicaçãode quais direitos legais e convencionaisforam descumpridos ao longo do períodoem que a autora se manteve nodesempenho normal de suas atividades.Em conseqüência, sustenta aimpossibilidade jurídica dos pedidos e aextinção do feito.

Não prospera a argüição de inépcia.

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A petição inicial preenche os requisitoslegais do artigo 840, § 1º, da CLT, e doartigo 282, do CPC, tendo possibilitado àreclamada produzir ampla defesa,contestando o mérito de todos os pedidos,inclusive, daqueles que ensejaram aargüição da preliminar.

Demais, não há que se falar emimpossibilidade jurídica de quaisquer dospedidos formulados, uma vez que osmesmos são contemplados, em tese, peloordenamento jurídico-trabalhista nacional;logo, há viabilidade jurídica de seremacolhidos. O exame da possibilidadejurídica é feito no plano do direito objetivo,abstratamente, como condição da ação.Já a análise do direito subjetivo éprocedida na apreciação do mérito daação, diante do caso concreto.

Rejeita-se a preliminar.

2.3 - Do valor da causa

O valor atribuído à causa pelareclamante está coerente com o pedidoformulado, não havendo qualquer razãopara arbitrá-lo em valor inferior.

2.4 - Das indenizações postuladas

Pretende a reclamante indenizaçãopor danos físicos, morais e estéticos, bemcomo a pensão vitalícia juntamente como reembolso de despesas médicas efarmacológicas, em razão da doençaocupacional - LER - de que foi acometida.

No caso dos autos toda acontrovérsia gira em torno da síndromemais recente das Lesões por EsforçosRepetitivos - LER, reconhecidaoficialmente pela Previdência Social comodoença do trabalho, equiparando-se,portanto, quanto aos efeitos, ao acidentedo trabalho, em razão do que prevê oartigo 20, da Lei n. 8.213/91.

O fenômeno da LER tornou-sevisível e mais intenso nos anos recentescomo efeito colateral das mudançasaceleradas da era contemporânea. Asmáquinas de escrever e as calculadoras,praticamente, sofreram inesperada“aposentadoria precoce por invalidez” eabruptamente cederam lugar aosterminais dos computadores, comteclados modernos, que permitemoperações de dados em alta velocidadee estão espalhados por todos os escalõesdas empresas e das instituições. Osantigos datilógrafos, escriturários oucalculistas passaram a trabalhar comodigitadores, operando sofisticadosequipamentos que exigem númeroacentuado de microdecisões por minuto,com múltiplos controles e variadosrecursos. O trabalho do “Caixa bancário”,função exercida pela reclamante, é umexemplo típico, conforme levantamentosepidemiológicos realizados pelo NUSAT-MG. Tudo isso levou ao fenômeno dadensificação do trabalho, pelo aumentoda carga cognitiva, com diversos efeitosprejudiciais para a saúde, que foramestudados com vagar pelo ergonomistafrancês Alain Wisner (In A inteligência no

Trabalho, Fundacentro, 1991, p. 43-52).Essa revolução tecnológica, o

progresso da informática e da robótica,as contingências da vida moderna, asrápidas alterações socioeconômicas etantas outras mudanças concomitantesestão afetando o ambiente de trabalho ea síndrome da LER aparece comosubproduto dessas ocorrências,praticamente no mundo inteiro, em maiorou menor intensidade. Assinala a médicae pesquisadora Ada Assunção que aslesões por esforços repetitivos constituemum fenômeno universal de grandesproporções e em franco crescimento(ASSUNÇÃO, Ada Ávila. Sistema

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Músculo-Esquelético: Lesões por

Esforços Repetitivos, in MENDES, René.Patologia do Trabalho, 1995, p. 176).

No mesmo sentido, asseveram osprofessores Francisco de Paula e Maria

Elizabeth Antunes Lima, em importanteobra sobre o assunto, que “as lesões poresforços repetitivos podem serconsideradas como um dos mais gravesproblemas no campo da saúde dotrabalhador neste fim de século”(ARAÚJO, José Newton G., LIMA, MariaElizabeth A., LIMA, Francisco de PaulaA. L.E.R. - Dimensões Ergonômicas e

Psicossociais, 1997, p.11).A reclamante, após vários

afastamentos, foi aposentada pelaPrevidência Social por invalidez. Osexames médicos realizados demonstramque a autora foi acometida por uma dasespécies da LER, denominada “Síndromedo Túnel do Carpo”, constatada porexames clínicos e até mesmo pelosexames complementares, comoevidenciam as eletroneuromiografiasjuntadas.

Só mesmo o desconhecimento damatéria ou então a indiferença pela doralheia pode explicar a alegação doreclamado no item 8 da defesa: “... a LERé uma doença do trabalho, reconhecidapelo INSS desde 1987, e, somente aspessoas mais propensas, com estadopsicológico debilitado é que adquirem amoléstia...”.

Os inúmeros documentos dosautos, tanto aqueles juntados pelareclamante, quanto os outros trazidos peloreclamado, dão conta da ocorrência dapatologia alegada na petição inicial,valendo ressaltar que no documento de f.53 há comprovação dos afastamentospromovidos pelo empregador, antes daaposentadoria, a título de acidente dotrabalho.

Sendo incontroversas a patologia ea aposentadoria da reclamante porinvalidez, impõe-se apreciar o cabimentodas indenizações postuladas.

Cabe registrar neste passo queatualmente está solucionada a discussãosobre o cabimento da reparação civil,independentemente da indenizaçãoacidentária a cargo da Previdência Social.Desde o Decreto-lei n. 7.036/44 teve inícioa previsão legal da reparação civil noscasos de acidente de trabalho e situaçõesequiparáveis, quando o empregador agiacom dolo. A Súmula 229, do SupremoTribunal Federal, estendeu o direito daindenização quando o empregadortivesse dolo ou culpa grave no evento. AConstituição Federal de 1988 dissipou asdúvidas a respeito prevendo o direito doempregado ao seguro contra acidente dotrabalho, a cargo do empregador, semexcluir a indenização a que este estáobrigado, quando incorrer em dolo ouculpa (art. 7º, XXVIII), sem qualificar anatureza desta culpa. Assim, mesmoquando ocorre culpa de naturezalevíssima, é cabível a indenização.Finalmente, o art. 121, da Lei n. 8.213/91, estabeleceu que “O pagamento, pelaPrevidência Social, das prestações poracidente do trabalho não exclui aresponsabilidade civil da empresa ou deoutrem.”Como se vê, não há maisquaisquer dúvidas de que as reparaçõessão distintas e podem ser acumuladas.

O direito ao ressarcimento dosdanos materiais e/ou morais, decorrentesde acidentes do trabalho ou situaçõesequiparáveis, requer a presença depressupostos específicos para serreconhecido: ato ilícito, culpa, implementodo dano e, conseqüentemente, doprejuízo para ensejar a reparação.

No caso dos autos, o dano e osprejuízos são evidentes porque a

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reclamante está aposentada por invalidezpela Previdência Social recebendo obenefício por acidente do trabalho, desde17.12.96. Ademais, os exames médicosjuntados e o laudo pericial confirmam quea reclamante é portadora da patologiaalegada e está inabilitada para a funçãoque exercia. Anteriormente, a reclamanteestava afastada recebendo o benefício doauxílio-doença acidentário. Não podemais a autora exercer qualquer atividadeque a exponha a movimentos repetitivos- a grande maioria das atividades exigetais movimentos, em maior ou menorgrau - e acaba ficando marginalizada pelomercado de trabalho, pela sociedade eaté mesmo no seio familiar. A sensaçãode invalidez precoce altera ocomportamento normal do portador daLER e os reflexos de ordem psicológicasão inevitáveis, como relatam osespecialistas na área. Numa época dedificuldades de toda ordem para os“sadios” encontrarem emprego, aquelesafetados pela LER, mesmo que estejamnos sintomas iniciais, sãoperemptoriamente excluídos de qualquerpossibilidade de contratação.

Segundo o professor de fisiologiaHudson de Araújo Couto, em apertadasíntese, “As lesões por esforçosrepetitivos são ocasionadas basicamentepor quatro fatores biomecânicos e trêsfatores contributivos principais. Os quatrofatores biomecânicos são: força excessivacom as mãos, posições desconfortáveisno trabalho, repetitividade de um mesmopadrão de movimentos e compressãomecânica das delicadas estruturas dosmembros superiores. Os fatorescontributivos são: tensão excessiva,desprazer e postura estática.” (COUTO,Hudson Araújo. Medidas simples para

reduzir a tenossinovite (LER) nas

empresas. Revista CIPA, v. 16, n. 185, p.

93, 1995)Comprovado o dano, cabe

investigar a presença do ato ilícito e daculpa subjetiva por parte do reclamado,já que o nexo causal da patologia com otrabalho exercido pela reclamante foiconfirmado tanto pela Previdência Social,quanto pela prova pericial realizada.

Com relação ao ambiente detrabalho, qual é o direito do empregado eo dever do empregador? A constituiçãoanterior no art. 165, IX, assegurava aostrabalhadores “higiene e segurança notrabalho”. A Constituição de 1988, afinadacom a tendência internacional deassegurar a eliminação dos riscos naorigem, deu um passo a mais, já queassegurou no art. 7º, XXII, a “Redução dosriscos inerentes ao trabalho, por meio denormas de saúde, higiene e segurança.”A segurança visa à integridade física dotrabalhador, a higiene tem por objetivo ocontrole dos agentes do ambiente dotrabalho para a manutenção da saúde noseu amplo sentido.

Pela primeira vez, o texto da CartaPolítica menciona “normas de saúde” e,por isso, não pode ser relegada a segundoplano a amplitude do conceito de saúde,abrangendo o bem-estar físico, mental esocial. Aliás, a Convenção n. 155, da OIT,ratificada pelo Brasil, no art. 3º, esclarecea extensão do conceito de saúde, comrelação ao trabalho, mencionandoexpressamente os “elementos mentais”.Logo, a conclusão que se impõe é a deque o trabalhador tem direito à reduçãode todos os riscos (físicos, químicos,biológicos, fisiológicos e psíquicos) queafetam a sua saúde no ambiente detrabalho. Além disso, a Lei Orgânica daSaúde estabelece que dizem respeito àsaúde as ações que “... se destinam agarantir às pessoas e à coletividadecondições de bem-estar físico, mental e

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social”. (Art. 3º, parágrafo único, da Lei n.8.080/90)

Das normas de saúde obrigatóriaspara o empregador, a mais importantepara as funções exercidas pelareclamante é a Norma Regulamentadoran. 17, da Portaria n. 3.214/78, doMinistério do Trabalho, com asmodificações promovidas pela Portaria n.3.751/90. Logo no primeiro item da NR-17 está previsto: “Esta NormaRegulamentadora visa estabelecer osparâmetros que permitam a adaptaçãodas condições de trabalho àscaracterísticas psicofisiológicas dostrabalhadores de modo a proporcionar ummáximo de conforto, segurança edesempenho eficiente.” O empregadortem obrigação de realizar a análiseergonômica do trabalho (art. 17.1.2),avaliando os aspectos relacionados como levantamento, transporte e descarga demateriais, mobiliário, equipamentos econdições do posto de trabalho e a própriaorganização do trabalho (art. 17.1.1).Essa norma detalha, também, ascaracterísticas de bancadas, mesas,escrivaninhas, assentos, suporte para ospés e equipamentos utilizados noprocessamento eletrônico. Cabeinvestigar, portanto, se o reclamadocumpriu as normas ergonômicasmencionadas.

Informa a Perita Oficial no laudo def. 333 que “... houve mudançassignificativas em todo o layout da agência,com adequações das bancadas detrabalho, após estudos ergonômicoscontratados pelo Banco, restandoprejudicadas as avaliações do ex-postode trabalho da autora”. Nesse mesmosentido o documento emitido pelo próprioreclamado, juntado à f. 231, confirma quesó mais recentemente foram feitasmudanças no mobiliário da agência, tanto

que anteriormente a reclamante utilizavaum banco giratório sem encosto. Pode-se concluir, portanto, que só foram feitasmudanças porque as condiçõesanteriores não estavam em sintonia comas disposições da NR-17 já mencionada.Para dissipar quaisquer dúvidas arespeito, os depoimentos dastestemunhas arroladas pela reclamantedão conta de que somente a partir de1994 tiveram início as mudanças paraadequação do mobiliário, mesmo assim,de forma parcial.

Além do mobiliário inadequado e datensão normal da atividade bancária, astestemunhas inquiridas esclareceram ocomportamento da direção do reclamado,tornando o ambiente ainda mais tenso edesgastante. O trabalho no caixa já tema pressão inevitável da fila dos clientes,mas no caso da autora, havia umapressão particular da chefia imediata paramais produtividade e um excesso dehoras extras. Se o legislador reduziu aduração normal da atividade bancáriapara permitir um menor desgaste e parapropiciar um maior tempo de descanso, aexigência de horas extras,paradoxalmente chamadas de habituais,anula o benefício legal, com maisestresse, estafa, neuroses e outraspatologias de origem ocupacional. Emépoca de campanhas para plano dedemissão voluntária, de ameaça deredução do quadro, de competiçãoacirrada da atividade bancária e baixalucratividade, essas cobranças tornam-semais incisivas e potencializam osmalefícios provocados pelos fatorescausais da patologia, acarretando efeitostardios perversos.

Deve-se ressaltar a segurança dosdepoimentos prestados pelastestemunhas arroladas pela reclamante,tanto que o Banco reclamado, por

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conformação ou mesmo por antever queas “suas testemunhas”, prestandodepoimento mediante compromisso dedizer a verdade, só iriam corroborar taisinformações, estrategicamente desistiu daoitiva, mesmo em se tratando de açãodesta envergadura.

Os efeitos danosos do estresse sómais recentemente estão sendopercebidos. Na avaliação da OIT, oestresse é um dos mais graves problemasde saúde do século XX, que só nosEstados Unidos tem um custo superior a200 bilhões de dólares por ano,representando dez vezes mais do que ocusto de todas as greves reunidas,enquanto, no Reino Unido, a previsão éde que o custo do estresse atinja 10% doPNB; no Japão, o psiquiatra Dr. Tetsunojo

Uehata, que criou o vocábulo karoshi -

morte causada pelo excesso de trabalho- informou em 1992, que os problemas doestresse quadruplicaram nos últimos dezanos (Cf. EL TRABAJO en el mundo.

Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo,1993, v. 6, p. 79-82).

VITTORIO DI MARTINO, doDepartamento de condições e meioambiente de trabalho da OIT, asseveraque “Hoy día se ve claramente que el

estrés es un fenómeno mundial que afecta

a todos los países, tanto industrializados

como en desarrollo, y a la mayoría,

cuando no a todas, las categorías de

trabajadores, en especial a los obreros.

(...) Un estudio realizado en 1990 por el

Instituto de compensaciones laborales de

California (CWCI) da cuenta de un

aumento de 700% de las demandas de

indemnización por razones de orden

psíquico-mental entre 1979 y 1988”.(Cf.El estrés cuesta caro. Trabajo - Revistade la OIT, n. 2, p.14, 1993)

Informa, também, Gregory Härtl quea OIT está desenvolvendo, em seu

departamento de Condições de Trabalho,um programa para avaliação e prevençãonas empresas das causas do estresse eoutros transtornos que geram problemasde saúde, perda de resultados e,inclusive, violência no posto de trabalho.(Cf. Control de las fuentes de estrés en

grupos de alto riesgo. Trabajo - Revistade la OIT, n. 18, p. 15, 1996)

Os estudos desenvolvidos pelaescola francesa, especialmente porChristophe Dejours e colaboradores,asseveram que: “Num trabalho repetitivosob pressão de tempos ou no trabalho porpeças, não há absolutamente lugar paraa atividade fantasiosa; ou as aptidõesfantasiosas não são utilizadas e a via dedescarga psíquica está fechada. Aenergia psíquica se acumula, setransformando em fonte de tensão edesprazer, até que aparecem a fadiga,depois a astenia e, a seguir, a patologia.”(Cf. DEJOURS, Christophe, DESSORS,Dominique, DESRIAUX, François. Por um

trabalho fator de equilíbrio. Revista deAdministração de Empresas, v. 33, n. 3,p. 104, 1993)

Assim, a culpa do reclamado ficaevidenciada por não ter cumprido umaregra de conduta estabelecida, o que secaracteriza como ato ilícito. É obrigaçãolegal do empregador cumprir e fazercumprir as normas de segurança, higienee saúde do trabalhador, instruindo osempregados quanto às precauções atomar, no sentido de evitar acidente dotrabalho ou doença profissional. Nestesentido, também, a jurisprudência:

“Age com culpa o empregador, antea inobservância das normasregulamentadoras da atividade laborativa,respondendo civilmente na hipótese dedoença profissional conhecida como

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tenossinovite, adquirida pelo empregado,sendo devida a indenização a partir dadata em que iniciou o tratamento médico.”(Tribunal de Alçada - MG. 7ª Câm. Cível.Apelação Cívil 166.096-0; Rel. Juiz JoséBrandão, in Revista de Julgados doTAMG, vol. 53, p. 174, 1993)

“Comprovando-se que a doençaprofissional denominada tenossinovite foicontraída em decorrência de excessivajornada de trabalho e da inobservânciadas normas de segurança peloempregador, resta caracterizada aconduta culposa deste, ensejadora dapensão que deverá ser vitalícia e nãolimitada aos 65 anos de idade doacidentado.” (Tribunal de Alçada-MG. 2ªCâm. Cível. Apelação Cível n. 216.697-4, Rel. Juiz Carreira Machado, in Revistade Julgados do TAMG, vol. 63, p. 260,1996)

Presentes todos os pressupostos,cabe, então, arbitrar o montante daindenização. A idéia central da reparaçãoresume-se na recomposição dopatrimônio da vítima ao mesmo patamarexistente antes da instalação da doençaocupacional. A doença interrompeu asucessão natural da atividade dareclamante acarretando aposentadoriaprecoce, sensação de inutilidade emarginalização.

Os arestos indicados peloreclamado para negar a indenização nãopodem ser considerados porque sereferem a ações anteriores à Constituiçãode 1988, quando o ordenamento jurídicoda questão era diferente. Vale citar umacórdão paradigma do Eg. SuperiorTribunal de Justiça a respeito:

“ACIDENTE NO TRABALHO -INDENIZAÇÃO - DIREITO COMUM -

AUTONOMIA - DIREITO DE ACRESCER.1. A indenização devida pelo empregador,fundada na responsabilidade civil dodireito comum, por seu dolo ou culpa,mesmo leve, é autônoma em relação àindenização paga pelo seguro obrigatório,que são parcelas cumuláveis. Para o seucálculo não se leva em consideração oque é devido em razão da outra. Súmula229/STF e art. 7º, inc. XXVIII, daConstituição da República. Precedentesdo STJ. 2. O beneficiário remanescentetem o direito de acrescer à sua pensão oque era a esse título devida a outrem, emrelação ao qual se extinguiu o vínculo.Recurso conhecido e provido.” (Cf. STJ.4ª T. R. Esp. n. 17.738-0-SP. Relator:Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Acórdãode 04.04.95, DJ 22.05.95, p. 14.407)

Essa indenização, conformereiterados pronunciamentos dos tribunaise, ainda, com fulcro no artigo 159 e 1539,do Código Civil, será eqüivalente àremuneração mensal da autora, incluindoos salários líqüidos e demais vantagens,abrangendo parcelas vencidas evincendas, desde a data da aposentadoriapor invalidez, com os reajustes normaisda categoria profissional, enquanto areclamante vida tiver. Todavia, como apetição inicial limitou o pedido até quandoa autora vier a completar 65 anos, emobediência aos limites da lide, assimdeverá ser considerado. Não cabe,porém, a compensação dos “valorespagos a título de gratificação de funçãodo período em que a reclamante esteveafastada por motivo de licença saúde”,porque o deferimento da indenização sótem início após a aposentadoria.

Não cabe igualmente o arbitramentoda indenização de forma proporcionalporque o INSS concedeu aposentadoriaintegral. Naqueles casos passíveis de

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recuperação ou quando se podeaproveitar o segurado em outra funçãocompatível, a Previdência encaminha oprocesso de reabilitação paraaproveitamento da capacidade residualdo lesionado. Não foi isso o que ocorreucom a reclamante, mormente em razãoda dificuldade corrente de readaptar olesionado em funções compatíveis com adignidade que o processo requer. Oacometimento dos membros superioresdificulta sensivelmente a reabilitação,porque quase todas as atividadescompatíveis com a função anteriormenteexercida pela reclamante exigem o usode tais membros.

É oportuno registrar, todavia, que areclamante poderá eventualmenterecuperar sua capacidade de trabalho eter cancelada a sua aposentadoria porinvalidez, até mesmo por ocasião dascampanhas periódicas, realizadas pelaPrevidência Social, de avaliação dasaposentadorias. Nessa hipótese, opensionamento deferido poderá serrevisto ou até mesmo cancelado, comapoio no que prevê o art. 471, I, do Códigode Processo Civil.

Convém esclarecer que aindenização deferida abrange os pedidosde n. 1 e 4 da petição inicial, porquanto otorrencial entendimento da jurisprudência,no caso da responsabilidade civildecorrente do acidente do trabalho, é nosentido de que a reparação dos danosmateriais ocorre pelo pensionamentomencionado, sendo incabível acumulação pretendida pela reclamante.Demais, a reparação não pode ser de talmonta que se torne um meio deenriquecer a vítima e empobrecer oofensor, mormente quando o ato ilícitodecorre da modalidade culposa.

Não vinga, também, a pretensão doreclamado de compensação dos valores

pagos a título de complementação deaposentadoria. Este benefício areclamante já teria independentemente dacausa do afastamento, pois estavagarantido no contrato de trabalho e temnatureza distinta da indenização oradeferida.

Cabível, no entanto, a cumulaçãodos danos materiais com os danosmorais, mesmo quando oriundos domesmo fato, conforme entendimento jásedimentado pelo Eg. STJ, na Súmula 37,adotada em 12.03.92.

Da leitura atenta do laudo pericial edos demais documentos dos autos pode-se constatar que a reclamanteexperimenta enorme sofrimento e atétranstornos mentais em razão da doençaou mesmo potencializados por ela. Comoadvertiu o saudoso médico Chrysóstomo

R. de Oliveira, ex-Coordenador doNUSAT-MG, “A LER cronificada e jáestabelecida tem uma faceta socialterrivelmente excludente. Marginaliza oindivíduo. Reduz sua renda. Interfere nosatos da vida diária. Afeta seus valores,reduz e dificulta a realização dos sonhos.Coloca o paciente à margem do processode produção, quando ele se encontra noesplendor de sua idade mais produtiva.Deprime e revolta o lesado.” (OLIVEIRA,Crysóstomo Rocha. Manual Prático de

LER, 1998, p. 7)O dispositivo constitucional deixou

patente que a reparação do dano moralocorre pela indenização. Não se trata,porém, de estabelecer um preço para ador sofrida pela vítima, mas de criarpossibilidades para que esta desenvolvanovas atividades ou entretenimentos paravencer as recordações dolorosas esuperar a dor. Na expressão lapidar deCunha Gonçalves, “... não é remédio, queproduza a cura do mal, mas sim umcalmante. Não se trata de suprimir o

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passado, mas sim de melhorar o futuro”.(In Tratado de Direito Civil. 1957. v. 12,tomo II, p. 543)

É preciosa a lição de Caio Mário daSilva Pereira a respeito:

“Na reparação por dano moral estãoconjugados dois motivos, ou duasconcausas: I) punição ao infrator pelo fatode haver ofendido um bem jurídico davítima, posto que imaterial; II) pôr nasmãos do ofendido uma soma que não é opretium doloris, porém o meio de lheoferecer a oportunidade de conseguir umasatisfação de qualquer espécie, seja deordem intelectual ou moral, seja mesmode cunho material o que pode ser obtido‘no fato’ de saber que esta soma emdinheiro pode amenizar a amargura daofensa e de qualquer maneira o desejode vingança. A isso é de acrescer que nareparação por dano moral insere-se asolidariedade social à vítima.” (PEREIRA,Caio M. S., Responsabilidade Civil, 6ª ed.,Rio de Janeiro, Forense, 1995, p. 317-318)

Na fixação do dano moral, a doutrinae a jurisprudência vêm indicando quedeverá ser considerado o grau de culpado empregador, o dano em si e ascondições econômicas da vítima e doempregador. Assim, a solução serásempre casuística, mas pode-se invocaranalogicamente os preceitos do art. 1538,§ 2º, do Código Civil e o art. 53, da Lei n.5.250/67.

Como observou com sabedoria oJuiz Páris Pena do Tribunal de Alçada deMinas Gerais “Em matéria de dano moral,o valor da indenização há de ser suficientetanto para facilitar a que o ofendidoobtenha lenitivos para sua dor, não pelaquantificação em termos materiais, como,também, porque, mercê da indenização

respectiva, poderá cercar-se decondições de sobrevivência maiscompatíveis com sua dignidade depessoa humana, tornando-a mais apta aoenfrentamento diuturno de suadeficiência. Além disso, tal condenaçãotem o efeito pedagógico, no sentido detornar a sociedade efetivamente maishumana, colocando-a sob a égide dosprincípios éticos impedientes edissuasivos de condutas quais a que tevea ré.” (TAMG, 1ª Câm. Cível. Ap. Cível213.381-9, julgada em 11.06.96, relator:Juiz Páris Pena)

Conjugando todos esses fatores,arbitra-se o dano moral em R$150.000,00a ser pago em parcela única, como formarápida de amenizar o sofrimento da autorae propiciar-lhe alguma melhoria de vida.Aqui também cabe o esclarecimento deque o dano moral engloba os pedidos 2 e3, até porque não cabe deferimentoisolado e cumulado de dano moral comdano estético.

Resta apreciar o pedido dereembolso das despesas médicas efarmacológicas. Todos os danosemergentes oriundos da doença devemser reparados pelo reclamado, comoprevê o art. 1538, do Código Civil -“despesas de tratamento” - desde quedevidamente comprovados osdesembolsos. Ainda que o reclamadotenha serviço médico, este fato nãoimpede o deferimento. A síndrome da LERé recente, exige conhecimentos técnicosespecializados e são poucos osprofissionais habilitados para tratar oassunto de forma adequada,especialmente pelo boicote quaseemocional de uma parte dos médicosdiante desta patologia. Por cautela, noentanto, só serão reembolsáveis asdespesas efetivas despendidasdiretamente pela reclamante,

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devidamente comprovadas, conforme seapurar em liqüidação de sentença.

O reclamado, para garantir o integralcumprimento da pensão fixada atéquando a reclamante vier a completar 65anos, deverá constituir capital cuja rendaassegure o seu cabal cumprimento,conforme previsto no art. 602, do CPC.

Insiste o reclamado na assertiva deque ocorreu “fraude na aposentadoria dareclamante”, requerendo, emconseqüência, a expedição de ofício àPrevidência. Não se vislumbra tal fraudenos documentos juntados aos autos.Mesmo ficando o segurado comcapacidade residual, mas não sendopossível seu aproveitamento em funçãocompatível, respeitando a dignidade dotrabalhador, a aposentadoria deve serdeferida. “A aposentadoria por invalidezé o benefício devido à mulher que, emrazão da perda anatômica na mão, passaa sofrer de distúrbios psíquicos que nãodesaparecem após a tentativa dereabilitação profissional.” (2º TACSP - Ap.s/ 249.407 - 8ª Câm. - Rel. Juiz MartinsCosta - Julgado em 08.11.89)

Todavia, como será mesmo oficiadoà Previdência Social para os fins do artigo120, da Lei n. 8.213/91 (“Nos casos denegligência quanto às normas padrão desegurança e higiene do trabalho indicadospara proteção individual e coletiva, aPrevidência Social proporá açãoregressiva contra os responsáveis.”),após o trânsito em julgado, defere-se aexpedição de ofício remetendo cópia dointeiro teor desta sentença, do LaudoPericial e seus esclarecimentos, dosdepoimentos das testemunhas e dapetição do reclamado juntada às f. 468/469, para que a Previdência adote asprovidências que entender cabíveis.

Os honorários periciais, ora

arbitrados em R$1.800,00, considerandoa extensão, complexidade e importânciada prova para a solução do litígio, serãosuportados pelo reclamado, sendo o valoratualizável a partir da publicação destasentença, pelos mesmos índicesutilizados para recomposição do créditotrabalhista.

3 - CONCLUSÃO

Pelos fundamentos expostosresolve a 16ª JCJ de Belo Horizonte, àunanimidade, julgar PROCEDENTES, EMPARTE, os pedidos formulados paracondenar o reclamado BANCO DOBRASIL S.A. a pagar à reclamanteBERNADETE ATHAYDE E GUIMARÃES,no prazo legal e conforme discriminadona fundamentação, as parcelas seguintes:a) pensão mensal no valor eqüivalente àremuneração líqüida da reclamante,desde a data da aposentadoria porinvalidez até quando esta completar 65anos; b) indenização por danos morais emparcela única no valor de R$150.000,00;c) reembolso das despesas médicassuportadas diretamente pela reclamante,relacionadas à patologia ocupacional,devidamente comprovadas; tudo a serapurado em liqüidação de sentença, porcálculo, computando-se a correçãomonetária e os juros legais. O reclamadodeverá constituir capital que assegure ocabal cumprimento desta sentença, naforma prevista no artigo 602, do CPC.

Os honorários periciais no importede R$1.800,00 serão suportados peloreclamado (Enunciado 236/TST).

Custas, no importe de R$4.000,00,calculada sobre R$200.000,00, valorarbitrado à condenação, pelo reclamado.

Em seguida, encerrou-se aaudiência.

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ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 506/98Data:25.05.1998DECISÃO DA 2ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: DR. MARCELO FURTADO VIDALAberta a audiência, por ordem do MM. Juiz Presidente, foram apregoadas as partes.Partes ausentes. Conciliação final prejudicada.Submetido o processo a julgamento, foi proferida a seguinte sentença:

Escola Infantil Mundo Encantado e aAssociação Educativa Arca de Noé; queos cooperados também prestam serviçosem atividade-meio, como ocorre com aAssociação Mineira de Engenharia; queos cooperados ingressam na cooperativaatravés de seleção; que a ré temfinalidade lucrativa, recebendo pelaintermediação da mão-de-obra, sendoque 5% da receita é destinada aosDiretores; que a Ré tem como finalidadeproceder a intermediação de mão-de-obracom baixos custos para as empresas; queo parágrafo único do artigo 442, da CLT,não autoriza a intermediação procedida,devendo prevalecer o princípio daprimazia da realidade; que o artigo emquestão deve ser interpretado emconjunto com as demais normas doordenamento jurídico; que o objetivo dacooperativa, à luz da legislação que regea espécie, deve ser a prestação deserviços aos associados, visando afortalecer o grupo e cada um dosindivíduos; que se o objetivo da sociedadenão é prestar serviços aos cooperados,mas a terceiros, não se está diante deuma cooperativa; que a cooperativa nãotrabalha para os cooperados, mas estesé que trabalham para os tomadores,gerando pró-labore para os diretores; queos trabalhos são executados de formasubordinada, nas condições avençadasentre a cooperativa e os tomadores; queos cooperados não são donos dequalquer meio necessário à realização dotrabalho, atuando como qualquer

1 - RELATÓRIO

O Ministério Público do Trabalho,através da Procuradoria Regional doTrabalho da 3ª Região, ajuizou Ação CivilPública em face de Cooperativa Nacionalde Trabalho de Profissionais e ServiçosGerais Ltda. - Coopgeraes, ressaltando,inicialmente, a competência desta JustiçaEspecializada e a legitimidade ativa doMinistério Público do Trabalho.

Alega, nesse correr, que o Sindicatodos Professores do Estado de MinasGerais apresentou denúncia noticiandoque a Cooperativa de Trabalho deProfessores - Procop e a Cooperativa-réestavam prestando serviços deintermediação de mão-de-obra; que nocurso do procedimento investigatório foiconstado que a Procop havia encerradosuas atividades, prosseguindo asinvestigações somente em relação àCooperativa-ré; que os cooperados nãoexercem nenhuma profissão, ofício ouatividade em comum; que os diretores nãoexerciam a mesma atividade profissionalantes da criação da cooperativa; que apósa sua constituição, a cooperativa éadministrada pela sua diretoria, tal comouma empresa comum; que os cooperadosnão possuem nenhuma autonomia naprestação de serviços, conformecontratos celebrados entre o tomador e acooperativa; que os cooperadosexecutam atividade-fim de váriostomadores, notadamente o SESI, oInstituto Educacional Novos Tempos, a

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empregado que vende sua força detrabalho e que a intermediação de mão-de-obra só é permitida pela Lei 6.019/74,Lei 7.102/83 e Enunciado 331/TST.

Ao final, requereu a condenação daRé a não proceder a intermediação demão-de-obra, assegurando aos seusempregados todos os direitos trabalhistasprevistos na Constituição Federal,Consolidação das Leis do Trabalho elegislação ordinária, sob pena de multapecuniária diária, atribuindo à causa ovalor de R$10.000,00.

Juntou os documentos de f. 17/1.174.

Defendeu-se a Ré argüindo,inicialmente, exceção de incompetênciaem razão da matéria, ao fundamento deque esta Justiça Especializada éabsolutamente incompetente paraprocessar a ação ajuizada.

Alegou, ainda, que não concordacom o valor da causa; que o Autor écarecedor de ação, já que vedada aintervenção estatal no funcionamento dascooperativas; que o rito da CLT implicaem cerceio do direito de defesa; que aargumentação do Ministério Público estátotalmente divorciada da Lei 5.764/71;que o Ministério Público do Trabalho nãoconstatou irregularidade alguma; que oSindicato dos Professores apresentoudenúncia leviana, porque está perdendoreceita; que a criação da Ré está emconsonância com o inciso XVIII, do artigo5º, da CF; que não há imposição legal nosentido de que os diretores tenham queter a atividade comum; que a Ré é umacooperativa multidisciplinar, como facultaa Lei 5.764/71, no parágrafo segundo, doartigo 10º, que os cooperados participamde todas as assembléias; que acooperativa organiza o trabalho doscooperados negociando os contratos deprestação de serviços, gerindo e

orientando os seus associados noatendimento das demandas enecessidades do tomador; que acooperativa é o elo de ligação entre otomador de serviços e o trabalhadorcooperado que vai executá-lo; que otrabalho se reveste de impessoalidade, jáque o cooperado, pode, a qualquer tempo,não executar o serviço, desde quecomunique com antecedência; que ocooperado não é subordinado aotomador; que a remuneração éproporcional à produção; que a cargahorária não é necessariamente cumpridapor um mesmo profissional; queprevalecendo o entendimento doMinistério Público nenhuma prestação detrabalho pelo cooperado poderia serconsiderada como lícita; que o artigo 5º,da Lei 5.764/71, preleciona que acooperativa poderá adotar por objetoqualquer gênero de serviço, operação ouatividade; que a seleção não éexcludente, visando apenas a identificaro perfil do cooperado; que o cooperadotem vantagens de cunho social, comoseguro saúde, sem falar na colocação deseu tabalho no mercado, o que se revelavital em face do desemprego; que a Ré éconstituída nos moldes do artigo 3º, daLei 5.764/71, celebrando contrato com ostomadores; que nada existe de ilegal naforma de remuneração do Presidente,Vice e Diretores; que o trabalhocooperado, como oferecido pelaRequerida, vem demonstrando ser umaforma de profissionais autônomoscolocarem-se cada vez mais no mercado,e mantendo ainda vínculo empregatíciocom terceiro; que não se aplica no caso oEn. 331/TST; que o fato de os cooperadospossuírem apenas a força de trabalho nãosignifica irregularidade; que o benefício éa colocação dos cooperados no mercadode trabalho, cuja tônica é a redução de

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custas com o enxugamento drástico dosquadros funcionais e que a adesão é livre.

Requereu a improcedência dospedidos da inicial.

Juntou os documentos de f. 1200/1515, sobre os quais, o Autor manifestou-se às f. 1516/1521.

Definiu-se a instrução sem outrasprovas a produzir.

Razões finais orais, pelo Autor, eescritas, pela Ré, consoante memorial def. 1524/1542.

Sem êxito as propostas deconciliação.

É o relatório.

2 - FUNDAMENTAÇÃO

2.1. Incompetência absoluta

Sustenta a Ré que esta JustiçaEspecializada é absolutamenteincompetente para processar e julgarAção Civil Pública.

Este não é, entretanto, oentendimento da Junta.

A Justiça do Trabalho temcompetência material para conhecer,instruir e julgar ação civil pública quepersiga a defesa de interessesmetaindividuais em que estejamenvolvidos trabalhadores e/ouempregadores, ainda mais quando sepretende investigar a presença ou não defraude a princípios celetizados relativosà relação de emprego e outros direitoslaborais.

A competência decorre diretamentedo inciso III, do artigo 73, da LeiComplementar 75/93, e, também, doartigo 114, da CF, que faz referênciaexpressa a “outras controvérsiasdecorrentes da relação de trabalho”.

Impertinente, nesse contexto, acircunstância de o desenlace da questão

envolver análise de matéria disciplinadana Lei 5.764/71, que disciplinou ascooperativas.

Nesse sentido, é oportuno registraros fundamentos de parte do Acórdão doSupremo Tribunal Federal, em suacomposição plenária, abordando aquestão da competência da Justiça doTrabalho, conforme voto vencedor doMinistro Sepúlveda Pertence: “Para saberse a lide decorre da relação de trabalhonão tenho como decisivo, data venia, quea sua composição judicial penda ou nãode solução de temas jurídicos de direitocomum, e não, especificamente, deDireito do Trabalho. O fundamental é quea relação jurídica alegada como suportedo pedido esteja vinculada, como o efeitoà sua causa, à relação empregatícia,como parece inquestionável que passaaqui, não obstante o seu conteúdoespecífico seja o de uma promessa devenda, instituto de Direito Civil.” (Cf.Sessão Plenária. Cj 6.959-6 (DF). Ac. de23 de maio de 1990. Revista LTr. v. 59, n.10, p. 1375, 1955)

Por tais fundamentos, rejeita-se apreliminar de incompetência absolutadesta Justiça Especializada.

2.2. Ilegitimidade ativa doMinistério Público

A Ré, no memorial de f. 1.524 eseguintes, emendou a defesa, passandoa sustentar a tese da ilegitimidade ativado Ministério Público do Trabalho noajuizamento da presente ação.

Alega, nessa conformidade, que oartigo 129, inciso III, da ConstituiçãoFederal, delimita a legitimidade ministerialno horizonte do interesse difuso e coletivo,tão-somente: “Promover o inquérito civile a ação civil pública para a proteção dopatrimônio público e social, do meio

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subumanas, perigosas, insalubres oudegradantes (In LTr. 60-09/1185).

Fala-se, portanto, em meio ambientede trabalho, objeto de proteção explícita daConstituição Federal, tanto que no artigo200, VIII, estabelece que uma dasatribuições do sistema único de saúdeconsiste em colaborar na proteção doambiente, nele compreendido o do trabalho.

Em outra quadra, mesmo que seentenda que o Ministério Público possamanejar a ação pública somente nadefesa de interesses ou direitos coletivos,ainda assim, a razão não estaria com aRé.

O Autor, com efeito, ao pretender aimediata paralisação da intermediação damão-de-obra realizada pela Ré, emrelação aos seus cooperados, está, àevidência, pretendendo cessarprocedimento genérico e continuativoprejudicial a todos associados, na medidaem que viola a garantia dos direitossociais previstos no artigo 7º, daConstituição Federal, dentre eles oseguro-desemprego (inciso II), o fundo degarantia por tempo de serviço (inciso III),a irredutibilidade de salário (inciso VI), odécimo terceiro salário (inciso VIII), aremuneração do trabalho noturno superiorà do diurno (inciso IX), férias remuneradas(inciso XVII), proibição de distinção entretrabalho manual, técnico e intelectual ouentre os profissionais respectivos (incisoXXXII) etc.

A alegação de que tal pretensão sóseria viável, através de ações individuais,bem como a pretensão de traçardistinções entre direitos coletivos edireitos individuais homogêneos, comoforma de brecar a legitimidade do parquet,nas lições de Ives Gandra Martins Filho émeramente civilista, não tendo sentido noprocesso do trabalho. Segundo ele, osintesses coletivos distinguem-se dos

ambiente e de outros interesses difusose coletivos.”

Tal exegese restritiva não temprocedência, tanto que o inciso VII, letra“d”, do art. 6º, da Lei Complementar 75/93, deixou claro que compete aoMinistério Público da União, do qual éparte o Ministério Público do Trabalho,“Promover o inquérito civil e a ação civilpública para: outros interesses individuaisindisponíveis e homogêneos, difusos ecoletivos.” No mesmo sentido, a letra “a”,do inciso IV, do artigo 25, da Lei 8.625/93. Incumbe-lhe também “Instaurarinquérito civil e outros procedimentosadministrativos, sempre que cabíveis,para assegurar a observância dos direitossociais dos trabalhadores.” (Artigo 84, II,da Lei Complementar 75/93)

De resto, a melhor doutrina jáassentou que o rol de interesses tuteláveispelo artigo 1º, da Lei 7.347/85, não serevela em numerus clausus, não tendosentido imprimir-se taxatividade na AçãoCivil Pública.

Mas não é só.O dispositivo constitucional citado

pela Ré (artigo 129, inciso III), aomencionar os interesses protegíveisatravés da Ação Civil Pública de manejoministerial, faz referência expressa aomeio ambiente.

O conceito de meio ambiente,conforme alerta Rodolfo de CamarcoMancuso, expandiu-se para além domundo da natureza, para alcançar outrasdimensões onde o homem vive, relaciona-se e desenvolve-se potencialmente. Oconceito holístico de meio ambiente nãose compadece com situações onde osrecursos naturais sejam preservados,mas sem que o ser humano ali radicadoseja objeto de iguais cuidados, comoquando ele se vê constrangido a trabalharem condições discriminatórias,

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individuais homogêneos, na esferatrabalhista, por caracterizarem-se osprimeiros “... pela existência de vínculojurídico entre os membros da coletividadeafetada pela lesão e a parte contrária,origem do procedimento genéricocontinuativo, que afeta potencialmentetodos os membros dessa coletividade,presentes e futuros, passíveis dedeterminação, e os segundos pordecorrerem de uma origem comum, fixano tempo, correspondente a ato concretolesivo ao ordenamento jurídico, quepermite a determinação imediata de quaismembros da coletividade foram atingidos”.Esclarece, ainda, que “... enquanto naótica meramente processual civilista osinteresses individuais homogêneospossuem como pedra de toque paradistingui-los dos coletivos o fato depossibitarem o ajuizamento de açõesindividuais pelos lesados, já sob o prismatrabalhista tal elemento distintivoinexistiria, pois também os interessescoletivos se revestem, da mesmapossibilidade jurídica (CLT, arts. 195, §2º, e 872, parágrafo único). Na verdade,a figura dos interesses individuaishomogêneos foi introduzida pelo Códigode Defesa do Consumidor (artigo 81,parágrafo único, III), sendo perfeitamentedispensável no âmbito do ProcessoLaboral, já que o conceito de interessescoletivos já albergava implicitamenteo dos individuais homogêneos. Comefeito, a ação de cumprimento de umasentença normativa pode ser ajuizadatanto por um sindicato, em substituiçãodos seus associados, como pelos própriosempregados, e versa sobre interessescoletivos, de vez que a coletividadeabrangida pela sentença normativa, eposteriormente, pela recusa patronal emcumpri-la, é passível de determinação,mas não perfeitamente delimitável, pois

os empregados, que durante a suavigência, se demitiram, não mais serãoatingidos por ela, enquanto que aquelesque forem admitidos posteriormente,estarão sujeitos aos seus ditames e,conseqüentemente, às lesões patronais.Tendo em vista tais nuanças, próprias doProcesso Laboral, é que propusemoscomo elemento diferenciador dosinteresses coletivos frente aos individuaishomogêneos o fato de, nos primeiros, aprática lesiva se estender no tempo, istoé, constituir procedimento genérico econtinuativo da empresa, enquanto, nossegundos, sua origem se fixa no tempo,consistente em ato genérico, mas isolado,atingindo apenas alguns ou todos os quecompunham a categoria no momentodado. Assim, como exepmplo deinteresse coletivo lesado teríamos o dodescuido continuado do meio ambientedo trabalho, que afeta, potencialmente,a todos os empregados da empresa:quanto a interesses individuaishomogêneos, teríamos o exemplo dademissão coletiva num dado momento,atingindo um grupo concreto eidentificável de empregados”. (Processo

Coletivo do Trabalho. LTr. Ed. 1994, p.158/160)

Sobre o assunto, e para nãoficarmos apenas na doutrina, já decidiu oEgrégio TRT 4ª Região:

“Trata-se, na espécie, de ação doMinistério Público do Trabalho, naqual busca corrigir procedimentogenérico e continuativo do Banco denão permitir o registro da real jornadade trabalho dos seus empregados ede não lhes conceder os intervalospara repouso e alimentação. O quese pretende é ver resguardada,através da presente demanda, a fielobservância de norma de ordem

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pública, que visa preservar a higidezdos trabalhadores, através doestabelecimento de cargas máximasde trabalho (artigo 7º, incisos XIII eXXII, da CF/88), intervalos pararepouso e alimentação (artigo 71, §1º, da CLT) e registro de jornadaefetivamente realizada (artigo 74, §2º, da CLT). De outra parte,diversamente do que assevera opróprio autor, cuida-se, na espécie,da defesa de interesses coletivos,e não de interesses individuaishomogêneos.” (LTr. 62-04/536)

Em situação análoga, também jádecidiu o Egrégio TRT da 17ª Região,verbis:

“Tem o Ministério Públicolegitimidade ativa ad causam paraajuizar ação civil pública visandoimpedir que o empregador nãopermita que seus empregadoslancem nos controles do ponto, ajornada de trabalho efetivamentecumprida. Trata-se de legitimidadeprevista na Lei Complementar n. 75/93 que define sua atuação nadefesa de interesses coletivosdesrespeitados (art. 83, III) ou deinteresses individuais indisponíveis,homogêneos sociais, difusos ecoletivos.” (artigo 129, inciso III, daCF - LTr. 62-04/534)

Por tais fundamentos, rejeita-se apreliminar de ilegitimidade ativa.

2.3. Carência de ação

Entende a Ré que o pedido éjuridicamente impossível porque aConstituição Federal, em seu artigo 5º,inciso XVIII, veda a interferência estatal

no funcionamento das cooperativas.Ora, a interferência referida no texto

constitucional é coisa bem diversa,relacionando-se à liberdade deassociação, não significando, de formaalguma, que a Cooperativa-ré tivessealguma espécie de “imunidade”, queimpediria o Judiciário de examinar alicitude de seu objeto.

Rejeita-se.

2.4. Impossibilidade jurídica

Os pedidos da inicial possuem nítidanatureza condenatória, envolvendocumprimento de obrigação de fazer e nãofazer, tal como permitido pelo artigo 3º,da Lei 7.347/85, não havendo que se falarem impossibilidade jurídica do pedido porse referir a “declaração em abstrato”.

Rejeita-se.

2.5. Cerceamento dos meios dedefesa

A Ré alega que o rito trabalhistatraz-lhe prejuízo.

Mas não diz qual.Nem poderia, já que teve

oportunidade para se defender,produzindo ampla prova documental. Sónão produziu prova pericial e testemunhal,porque não quis, declarando, à f. 1523,não ter outras provas a produzir.

Rejeita-se.

2.6. Mérito

2.6.1. Do pedido de condenaçãoda ré na obrigação de não intermediarmão-de-obra, com multa pecuniáriapelo descumprimento da obrigação denão fazer

O acirramento da competição no

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âmbito do modo capitalista de produçãotem levado as empresas, nos últimosanos, a criar fórmulas de utilização detrabalho assalariado sem contrataçãodireta pelo tomador de serviços, comoforma de reduzir os custos com a forçade trabalho.

A legislação, no Brasil, ao longo dasúltimas décadas, tem procurado legitimar,em seu seio, essa prática, permitindo aterceirização de serviços em casosespecíficos, garantindo, em outra ponta,os direitos sociais conquistados pelaclasse trabalhadora, seja, através dalegislação ordinária, seja, através daConstituição.

Cuidou, assim, a legislação, de sepreocupar com algumas exceções àrelação de emprego bilateral clássica,como ocorreu, por exemplo, com oadvento da Lei 6.019/74, que regulou oregime de trabalho temporário, entendidoesse “... como aquele exclusivamenteajustado através de empresasespecializadas, para atender àsnecessidades transitórias de substituiçãode pessoal das empresas tomadoras ouclientes”. É o que ocorreu, também, como advendo da Lei 7.102/83, que cuida dalocação de serviços de segurançabancária, sem falar no próprio artigo 455,da CLT, atinente à empreitada esubempreitada.

Na esfera da administração pública,por outro lado, também se criarammecanismos alternativos à clássicacontratação direta de trabalhadores, quepode ser feita por interpostas empresas,para realização de serviços de apoio,consoante se observa do Decreto-lei 200/67 (artigo 10) e Lei 5.645/70 (Cf.DELGADO, Maurício Godinho. Sujeitos do

Contrato de Trabalho. Curso de Direito doTrabalho. LTr, vol. I, p. 370/380).

Como se não bastasse tal quadro

evolutivo, continuou a se observarpráticas de terceirização da força detrabalho, independentemente de textolegal autorizativo, como, por exemplo,com o trabalho de conservação e limpeza.

A jurisprudência trabalhista, sobreo assunto, editou, inicialmente, em 1986,a Súmula 256, posteriormente revisadapelo Enunciado 331, este de fins de 1993.

O Enunciado 331 ratificou ailegalidade da contratação detrabalhadores por empresa interposta,salvo o caso de trabalho temporário. Alémdisso, acolheu a vedação constitucionalde contratação de servidores lato sensu

sem a formalidade do concurso público.Acolheu distinção entre atividade-meio eatividade-fim, pontificando que não formavínculo com o tomador dos serviços deconservação e limpeza, bem comoserviços especializados, ligados àatividade-meio do beneficiário dosserviços, desde que inexistentepessoalidade e subordinação direta.

Fora desse quadro legislativo ejurisprudencial, não há, no país, preceitolegal que autorize ao empregador,enquanto tomador de serviços, contratar,através de empresa interposta, serviçosnão eventuais, pessoais e subordinados,bem como essenciais às atividades dessemesmo empregador.

Tal entendimento se lastreia norepúdio à locação de serviços por ofensaaos artigos 9º (fraude que obsta direitoslaborais) e 2º (conceitua empregadoraquele que assume, admite, assalaria edirige a prestação pessoal dos serviços),ambos da CLT.

Como se sabe, na locação de mão-de-obra, quem angaria trabalhadores,coloca-os simplesmente à disposição deum empresário, de quem recebem ordensou com quem se relacionam constante ediretamente. O empregado, nesses

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casos, insere-se no meio empresarial dotomador de serviços muito mais no dequem o contratou e o remunera; o locadoré apenas um intermediário que seintromete entre ambos (empregado etomador de serviços), comprometendo orelacionamento direto entre empregado eseu patrão natural. É a figura, entre nósmuitas vezes dissimulada, domarchandage que, inclusive, é proibidaem vários países (França, México etc.) eaté punida criminalmente (art. 43, da Lei8/80, do Estatuto de Los Trabajadores da

Espanha). (Cf. Carrion. Comentários, p.294)

De se ressaltar que, nos casos deterceirização admitidos peloordenamento, referentes à atividade-meiodo tomador, quem se intromete entre oempregado e o tomador é uma empresa,

geralmente denominada como prestadorade serviços. Em sendo lícita aterceirização, apesar de o operário nãofazer jus aos direitos dos empregados dotomador, permanece se beneficiando dosdireitos laborais que a CLT e aConstituição lhe asseguram.

Um Banco, por exemplo, que usufruido trabalho de um faxineiro contratado,através de empresa interposta, reduz osseus custos e, portanto, lucra mais, já que,por se tratar de atividade-meio, o vínculose estabelece diretamente com a empresainterposta (desde que não hajasubordinação com o tomador), que nãoestá obrigada a remunerar essesempregados por jornada de seis horasdiárias, nem a pagar gratificaçãosemestral e outros direitos atinentes àcategoria bancária, inclusive os advindosde negociação coletiva.

Apesar disso, tal trabalhador, comovisto, continuará se beneficiando dosdireitos laborais e sociais que oordenamento jurídico-trabalhista lhe

assegura, na condição de empregado.O caso dos autos, entretanto, revela

a novidade de que o intermediário não émais uma empresa, mas uma cooperativa,mais precisamente, uma “cooperativa detrabalho”.

Assim, não satisfeitos com aredução dos custos advinda daterceirização, alguns “empreendedores”almejam muito mais, ou seja, usufruir daforça de trabalho alheia, desta vez commuito menos ônus, e muito mais lucro, jáque ausente a obrigação de se computarnos custos do empreendimento asdespesas advindas do pagamento deférias, 13º salários, e outros direitos detitularidade de quem trabalha.

A Ré procura legitimar sua atuação,no campo legislativo, com a Lei 5.764/71e com base no parágrafo único, do artigo442, da CLT. E, no campo ético, defendeque está colocando a força de trabalhodo cooperado num mercado de trabalho,cuja tônica é a redução de custos, o quejá constitui um benefício de enormerelevância (f. 1.198).

Como se verá, não é bem assim.De início, cumpre diferenciar as

cooperativas de serviços dascooperativas de trabalho.

As primeiras dedicam-se àprestação de serviços a terceiros,eliminando o patrão, dando ao trabalhadora posse dos instrumentos de produção eo direito de disposição integral do produtode seu trabalho. É o caso dos médicosque, eliminando a figura do patrão(hospital), reúnem seus bens e serviçospara adquirir o imóvel, as instalações eos equipamentos necessários à prestaçãode serviços de saúde. Existem, ainda, ascooperativas de serviço que visam àprestação de serviços aos associadosmediante facilidades comuns, como otransporte de cargas, abastecimento de

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água para utilização doméstica etc. Talmodalidade de cooperativa estáautorizada pelo artigo 4º (as cooperativassão constituídas para prestarem serviçosaos associados) e pelo artigo 86 (quepermite o fornecimento de serviços a nãoassociados), todos da Lei 5.764/71. Essascooperativas foram equivocadamentedenominadas de “cooperativas detrabalho” pelo já revogado artigo 24, doDecreto 22.239/32, onde se vê que oobjetivo era “melhorar os salários e ascondições de trabalho pessoal de seusassociados, e, dispensando a intervençãode um patrão ou empresário...” Nascooperativas de serviço, portanto, inexistetrabalho subordinado, uma vez que ogrupo de associados dirige oempreendimento. Já as cooperativas detrabalho ou cooperativas de mão-de-obra(como ocorre com a Ré), dedicam-se purae simplesmente, à intermediação,recrutando e colocando à disposição dasempresas tomadoras, trabalhadores deprofissões diversas, indicadosnominalmente, conforme vão sendorequisitados. (Cf. VIANA, Maria JulietaMendonça. In Cooperativas de Trabalho:

terceirização de empregados ou

terceirização de serviços? LTr. 61-11/1473)

Não há dúvida de que a constituiçãoda Ré, na forma elucidada pelo inquéritocivil público anexado aos autos, está emabsoluta desconformidade com a Lei5.764/71.

A cooperativa é basicamentecomposta por professores (relação de f.94/159), muitos deles, prestando serviçosna atividade-fim de estabelecimentos deensino, como o Instituto EducacionalNovos Tempos, a Escola Infantil MundoEncantado etc.

Os professores não são detentoresde nenhum instrumento de produção

(documentos de f. 51/59; cláusula 5ª, docontrato de f. 80; contrato de f. 89/92;contratos de f. 503/596; contrato de f.1327/1331), apenas transitam entre ostomadores, alienando a força de trabalho,sendo subordinados a horário (f. 624 eclásula 2.8, do contrato de f. 1.378),recebendo salário/hora (f. 664),submetidos a avaliação (parágrafo único,do contrato de f. 79), podendo inclusiveserem afastados ou dispensados (f.1303).

A submissão a horário estende-sea vários outros cooperados, como aquelesde f. 814, sendo que muitos dependemde vales ou adiantamentos diversos,conforme dá conta o documento de f. 289/291.

De “profissionais autônomos”,portanto, os cooperados só possuem onome, comportando-se, na práxis

laborativa, como autênticos empregados.Para ingressarem na cooperativa,

os cooperados submetem-se a processoseletivo (regulamento interno de f. 1.264e questionário de f. 1.370), onde assinamdeclaração com renúncia de direitostrabalhistas (f. 1.293). O propósito seletivoconsta expressamente da Assembléia deConstituição da Ré, verbis: “Ele seráavaliado, preparado e exposto ao espíritocooperativista e só então poderá ser ounão absorvido e convidado a participar dacooperativa.” (f. 229)

A Diretoria da Cooperativa, comoqualquer empresa de prestação deserviços, mas sem os ônus desta,negociam contratos de prestação deserviços com terceiros, cobrando taxa deadministração (f. 1.410), sendo que 5%da receita dos contratos é destinado aopagamento dos diretores.

Como se observa e constata, nãoexiste adesão livre e voluntária, conformepreceitua o inciso I, artigo 4º, da Lei 5.764/

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71, nem mesmo se propõe a cooperativaa prestar serviços aos associados, masalugar suas respectivas forças de trabalhopara terceiros, numa autênticamarchandage. Terceirizam-seempregados e não serviços.

Por estarem geralmente afastadosda administração da cooperativa, já queexercem suas atividades junto àsempresas tomadoras, não há gestãodemocrática ou projeto comum decrescimento ou de ascensão social. Comoo valor pago pelas tomadoras equivaleaos salários, inclusive os da diretoria, emais uma taxa de administração, não severificam sobras líqüidas de exercício,visto que tais sobras raramente ou nuncase verificam, conforme se depreende daauditoria de f. 1182 e ata de f. 1211,faltando, assim, mais uma característicada cooperativa, consoante inciso VII, doartigo 4º, da lei em questão.

O propósito da Ré de fraudardireitos laborais fica evidente quando selê a ata de f. 229. Lá está destacado, comtodas as letras, o diferencial de umacooperativa como agência intermediária,isenta de encargos trabalhistas, bemcomo o ideal de se “educar” e “selecionar”cooperados que não reivindiquem seusdireitos frente à Justiça do Trabalho. Ficaevidente o apelo a valores socialmenteenraizados e largamente compartilhadosno imaginário social, como “humanismo”,“solidariedade”, “igualdade”, “espíritocooperativista”, tudo isso difundidoatravés de cartilhas, palestras, fitas devídeo (f. 168, 1216 e 1294), enfeixandoautêntico véu ideológico e dissimulador,sob o qual emergem trabalhadores desegunda classe, que não desfrutam dosbenefícios de verdadeiros cooperados, eficam à margem da legislação trabalhista.

A Ré, ao se camuflar decooperativa, em mimetismo artificioso,

passando-se por quem não é, exibeardilosa mise-en-scéne para se locupletarcom o alheio. Mas acaba se entregandonas entrelinhas, e confessando opropósito enganador. Assim, noscontratos de f. 1376 e seguintes,celebrados com a Empresa Brasileira deCorreios e Telégrafos para fornecimentode serviços educacionais, diz que,relativamente aos “profissionaisprestadores de serviços” (portanto, osprofessores), apresentará comprovantesde recolhimento de FGTS (f. 1384,cláusula 2.12); afirma que assumirá a“responsabilidade patronal no que tangeao vínculo empregatício e às obrigaçõesdele originárias”, isentando a EBCT deresponsabilidade de “natureza salarial” (f.1378, cláusula 2.3); e o que é pior (oumelhor), submete-se a cumprir a instruçãonormativa de n. 03, de 29.08.97, doMinistério do Trabalho, que dispõe,justamente, sobre a fiscalização dotrabalho nas empresas de prestação deserviços (e não cooperativas), cujo § 2º,do artigo 2º, é expresso ao afirmar que“as relações de trabalho entre asempresas de prestação de serviços aterceiros, e seus empregados, sãodisciplinadas pela CLT”.

A Cooperativa-ré, destarte, aoenganar o próximo, como a si mesma,perde a própria indentidade, e faz lembraras lições do filósofo Eduardo Giannetti:

“O enganador auto-enganado,convencido sinceramente do seu próprioengano, é uma máquina de enganar maishabilidosa e competente em sua arte doque o enganador frio e calculista.Qualquer deslize pode ser fatal. Para quesua mente não seja lida e decifrada pelosdemais - para que ela não escorregue emlapsos ou se entregue nas entrelinhas,com todas as conseqüências danosasque isso acarretaria - o enganador

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embarca em suas próprias mentiras,deixa-se levar de modo gradual ecrescente por elas, e, enfim, passa aacreditar nelas com toda a inocência eboa-fé deste mundo. Ele não só criaenquanto atua, mas vive genuinamente oseu papel.” (In Auto-Engano. Companhiade Letras, p. 52)

Por óbvio, como reconhece MarceloPimentel, tal organização jamais foicogitada pela Lei 5.764/71: “Mas éevidente que o legislador não cogitava decooperativas de trabalho, pois o artigo 29declara livre o ingresso nas cooperativas‘a todos que desejarem utilizar os serviçosprestados pela sociedade’, deixando claroque a cooperativa prestaria serviços aosassociados e não estes por intermédio dacooperativa.” (LTr. 61-05/586)

Por fim, resta examinar o parágrafoúnico, do artigo 442, da CLT, verbis:

“Qualquer que seja o ramo de atividadeda sociedade cooperativa, não existevínculo empregatício entre ela e seusassociados, nem entre estes e ostomadores de serviços daquela.”

O dispositivo acima, ao se referir a“tomadores de serviço”, certamente estáse reportando às cooperativas deserviços, que possuem permissão deprestar serviços para não associados outerceiros, como as cooperativas demédicos (artigo 86, da Lei 5.764/71).

O parágrafo único, do artigo 442/CLT, não pode se aplicar, à evidência, àscooperativas de trabalho que visamunicamente a intermediação de mão-de-obra, já que seu objeto é ilícito em facedo ordenamento jurídico-trabalhista,conforme demonstrado.

Dizer que ao operador do direito nãocaberia interpretar a expressão“tomadores”, atendo-se ao sentidogramatical, divorciando o dispositivo legaldo ordenamento jurídico no qual se insere,

mormente, em relação às normasconsolidadas que caracterizam a relaçãode emprego, significaria retornar aopensamento dos exegetas do códigonapoleônico, integrantes da escola daexegese, que se limitavam à palavra,desconhecendo que “... quando se aplicaum artigo do Código, aplica-se todo oCódigo.” (Stammler)

Interpretar o direito é revelar osentido e o alcance de suas expressões.E, através da porta aberta pelo artigo 5º,da Lei de Introdução ao Código CivilBrasileiro, o sistema jurídico brasileirorompeu com a exegese tradicional, queimpedia o intérprete conciliar os textoscom as exigências dos casos concretos:“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aosfins sociais a que ela se dirige e àsexigências do bem comum.”

Nesse quadro contextual, exsurgeque o parágrafo único, do artigo 442/CLT,não autoriza ou legitima o funcionamentoda Ré, reportando-se a autênticascooperativas, e, não, a agênciasintermediadoras de mão-de-obra,rotuladas de cooperativa, e que visam amerchandising do trabalho humano.

Hipótese contrária levaria àconclusão de que a Lei 8.949/94 teria ab-rogado o artigo 7º, da ConstituiçãoFederal, bem como todos os preceitosceletizados. Doravante, não haveria maisnecessidade de carteira de trabalho,FGTS, seguro-desemprego, férias, 13ºsalários, salário-família, trabalhoexecutado à luz de normas de segurançae saúde, de repouso semanal, avisoprévio, convenções e acordos coletivosde trabalho, sindicatos, estabilidade paraa empregada gestante etc.

Nessa linha, teríamos lixeiros,bancários, professores, jornalistas,telefonistas, trabalhadores em transportede passageiros, metalúrgicos, eletricistas,

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trabalhadores da construção civil,vigilantes etc., todos com a força detrabalho locada por “cooperativas” aterceiros, alijados de conquistas sociais,cuja origem vem desde a segunda metadedo século XIX. Nem se argumente que aJunta está pecando por exagero,porquanto é esse, precisamente, o espíritoda Ré, conforme se depreende da cartilhade f. 163, onde se encontram enumeradasas categorias profissionais ou “segmentosde trabalho” que se pretende alcançar.

Por tais fundamentos, procede opedido de condenação da Ré naobrigação de não proceder aintermediação de mão-de-obra detrabalhadores, sejam eles seusassociados ou não, para exercer qualquerprestação de serviços para terceiros, ematividade-fim ou atividade-meio.

Procede, igualmente, com base noartigo 11, da Lei 7.347/85, o pedido depagamento da multa pecuniária diária, novalor ora fixado de 5.000 (cinco mil) UFIR(Unidade Fiscal de Referência), ou outroindexador que venha a substituí-la, devidana hipótese de descumprimento dadecisão judicial, sendo revertida ao Fundode Amparo ao Trabalhador - FAT, ou aoscofres da União, na hipótese de extinçãodeste.

2.6.2. Do pedido de se asseguraraos empregados da ré todos os direitostrabalhistas

O Ministério Púbico pretende, emum segundo pedido, que a Ré “...assegure aos seus empregados todos osdireitos trabalhistas previstos naConstituição Federal, Consolidação dasLeis do Trabalho e legislação ordinária”.

Assentada a ilegalidade daintermediação de mão-de-obra pela Ré,a responsabilidade, direta ou subsidiária,

pelo pagamento das verbas trabalhistas,no plano individual, implicará em duaspossibilidades, já que o vínculo deemprego, dependendo de cada caso,poderá se dar diretamente com acooperativa, ou diretamente com otomador. Decisões nos dois sentidos, emse tratando de cooperativas de trabalho,já se multiplicam, dependendo de cadasituação fática, conforme se observa nosprecedentes retratados na Revista LTr, n.61-11/1475.

O pedido, tal como formulado, partedo pressuposto de que a Ré,relativamente a cada cooperado, tivesseresponsabilidade direta, comoempregadora, esquecendo-se que talresponsabilização pode ser de cortesubsidiário, quando o vínculo se formadiretamente com o tomador.

O pedido é também genérico, sendoimpossível delimitar que “todos direitos”seriam esses.

É bem verdade que o artigo 95, daLei 8.078/90, aplicado à Lei 7.347/85, porforça do seu artigo 21, pontifica que acondenação nas ações coletivas serágenérica.

Mas como alerta Ada PellegriniGrinover, tal sentença genérica deve sercerta, enquadrando-se no disposto noartigo 586, § 1º, do CPC, que contemplaa condenação genérica como aquela que,reconhecendo em definitivo o direito, háde ser liqüidada apenas para estabelecero quantum. (In Comentários ao Código de

Defesa do Consumidor. ForenseUniversitária, p. 556).

No caso dos autos, não há sequera possibilidade de se reconhecer, aindaque genericamente, no plano individual,quais seriam os direitos trabalhistas decada cooperado, o que não impede quecada um deles, querendo, exercite odireito de ação.

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Por tais fundamentos, indefere-se apetição inicial no que tange ao pedido daletra “b” da inicial, por inepto, extinguindo-se o processo, nesse ponto, sem ojulgamento do mérito, com a autorizaçãodo inciso III, do parágrafo único, do artigo295/CPC, de aplicação subsidiária.

3 - CONCLUSÃO

Pelo exposto, resolve a MM. 2ª Juntade Conciliação e Julgamento de BeloHorizonte, MG., à unanimidade, extinguiro processo sem o julgamento do mérito noque tange ao pedido da letra “b” da inicial,julgando procedentes os demais pedidosda inicial, para condenar a Ré na obrigaçãode não proceder a intermediação de mão-de-obra de trabalhadores, sejam eles seus

associados, ou não, para exercer qualquerprestação de serviços para terceiros, ematividade-fim ou atividade-meio, sob penade pagar multa pecuniária diária no valorde 5.000 (cinco mil) UFIR (Unidade Fiscalde Referência), ou outro indexador quevenha a substituí-la, devida na hipótese dedescumprimento da decisão judicial,revertida ao Fundo de Amparo aoTrabalhador - FAT, ou aos cofres da União,na hipótese de extinção deste.

Custas, pela Ré, no valor deR$20,00, calculadas sobre R$1.000,00,valor fixado para a causa na ata de f. 1180.

Ciente a Ré desta decisão, nostermos do En. 197/TST.

Intime-se o Ministério Público, naforma da lei.

Nada mais, encerrou-se a audiência.

I - RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO, através da ProcuradoriaRegional do Trabalho da 3ª Região,promoveu a presente AÇÃO CIVILPÚBLICA, com pedido de LIMINAR, emface de SINDICATO DAS EMPRESAS DETRANSPORTE DE PASSAGEIROS NOESTADO DE MINAS GERAIS - SINDPASe SINDICATO DOS TRABALHADORESEM TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DEOURO PRETO, inicialmente justificandoa competência da Justiça do Trabalho, alegitimidade e interesse do MinistérioPúblico, a adequação da presente ação

e a possibilidade jurídica do pedido.Alega, em suma: que recebeu, em21.09.98, expediente denunciando que osdemandados firmaram Termo Aditivo àConvenção Coletiva de Trabalho,devidamente arquivado na DRT/MG eTermo de Acordo (este não arquivadonaquele órgão), instituindo contribuiçõesassistencial e confederativa a serempagas por empresas e trabalhadores,sindicalizados ou não, e sem a previsãodo direito de oposição aos citadosdescontos; que efetivamente osdemandados firmaram Termo Aditivo àConvenção Coletiva de Trabalho 97/98,para viger até 28 de fevereiro de 1999, e

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 1305/98Data: 16.11.1998DECISÃO DA JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE OURO PRETOJuíza Presidente: Drª MARIA DOS ANJOS DE PINHO TAVARESAberta a audiência foram, de ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadas as partes,ausentes.

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nesse Termo incluíram cláusulainstituindo uma contribuição assistencial,cujo conteúdo transcreveu; que osdemandados firmaram ainda, em16.03.98, um Termo de Acordo, comcláusulas prevendo descontos decontribuições e mensalidades,contribuição para custeio do sistemaconfederativo, e contribuição assistencial;que a contribuição assistencial previstano item VIII do Termo Aditivo, a par denão se constituir em matéria que devaconstar de instrumento normativo detrabalho (art. 611, da CLT), não temqualquer respaldo legal; que aConstituição Federal de 1988, art. 8º, IV,prevê de forma impositiva apenas aContribuição Sindical; que a contribuiçãopara custeio do sistema confederativo nãoprescinde da autorização individual doempregado ou da empresa, em funçãodos princípios da liberdade de associaçãoe de sindicalização; cita entendimentojurisprudencial contido no P. N. 119, doC. TST; que não compete nem ao PoderJudiciário, nem às partes, estabelecer emsentença normativa ou em acordo ouconvenção coletiva, desconto distintodaquele previsto em lei; que, além de ferirdisposição de lei, as cláusulasmencionadas estabelecem obrigações aserem cumpridas por terceiros (empresase/ou empregados não associados), emafronta ao princípio da legalidade; que,como tais contribuições não tratam dematéria relativa a condições de trabalhoe, portanto, não podem constar deinstrumento normativo, os sindicatosdemandados utilizaram-se do Termo deAcordo, supostamente distinto da CCT,através do qual instituíram as ilícitascontribuições sindicais; que ditoinstrumento, a par de nulo quanto ao seuconteúdo, é nulo também quanto a suaforma, posto que foi preterida solenidade

essencial à validade do ato, a saber, oseu arquivamento e registro no órgãocompetente (Ministério do Trabalho); que,na medida em que seja declarada anulidade do item VIII do Termo Aditivo edesconstituído o Termo de Acordo, osefeitos da r. decisão devem ser retroativosà data da constituição do ato anulado; quea responsabilidade pelo ressarcimentodos danos sofridos recai sobre ambos osréus, solidariamente. Pleiteialiminarmente a suspensão da eficáciajurídica da cláusula “2” do Termo doAcordo e, em caráter definitivo, sejadeclarada a nulidade do item VIII, doTermo Aditivo à Convenção Coletiva deTrabalho, e que seja anulado o inteiroconteúdo do Termo de Acordo celebradoentre os demandados; pleiteia ainda acondenação dos demandados emobrigação de não fazer, sob pena depagamento de multa, e que sejam osdemandados solidariamente condenadosa restituir, com juros e atualizaçãomonetária, os valores ilicitamentedescontados dos trabalhadores, ou pagospelas empresas, sindicalizados ou não.Atribuiu à causa o valor de R$10.000,00.Juntou documentos (f. 15/22).

Em audiência (f. 26), retificou-se, arequerimento do Ministério Público, coma anuência dos reclamados, o § 2º, doitem “V” - DO PEDIDO - da petição inicial.

O primeiro reclamado apresentoudefesa escrita, às f. 27/31, argüindo empreliminar a incompetência da Justiça doTrabalho e da Junta de Conciliação eJulgamento, e a ilegitimidade ativa doMinistério Público do Trabalho. No méritoalega que a ação, se vier a ser examinada,deve ser julgada improcedente, de vezque os sindicatos são livres, e no exercíciodas suas atividades não podem sofrerqualquer interferência das autoridades oudos poderes da Nação; que todas as

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cláusulas contidas no “corpo” doinstrumento da CCT e bem assim asescritas do “Termo de Acordo” resultaramda livre vontade dos convenentes, que,como pessoas jurídicas de direito privado,podem praticar, validamente, atosjurídicos civis, cuja validade só pode serquestionada em Juízo pelas própriaspartes ou por terceiros, eventualmenteprejudicados; que as disposições contidasno art. 7º, XXVI e 8º, VI, da CF, dão plenoapoio à Convenção e ao Termo de Acordosubscritos pelos sindicatos demandados;que o item VIII, do “Termo Aditivo”, à CCT/97 é uma “doação” dos empregadores àentidade representativa de seusempregados; que as demais, não ferem“interesse difuso” de quem quer que seja;que as cláusulas contidas no “Termo deAcordo” não se inserem no contexto doPrecedente Normativo n. 119, o qual só éaplicável na formação das normas emdissídios coletivos, enquanto que aqui setrata de cláusulas livremente pactuadasem acordo intersindical; que a ação visa,mais imediatamente, a devolução dosdescontos já efetuados, e, para tanto,tinha de ser de iniciativa exclusiva dostitulares do direito, face à sua naturezade direito individual disponível. Pede aimprocedência, se as preliminares nãoforem acolhidas, devendo a União sercondenada nas custas e demaispronunciações de direito. Juntou carta depreposto (f. 32) e procuração (f. 33).

O segundo reclamado, por sua vez,apresentou defesa escrita às f. 34/36,argüindo incompetência da Justiça doTrabalho, da Junta de Conciliação eJulgamento e carência de ação, porilegitimidade do Ministério Público parafigurar no pólo ativo da demanda e por faltade interesse para agir e de interesseprocessual. No mérito, alega, em resumo:que as associações sindicais mereceram

tratamento diferenciado na Constituição de1988, quando lhes foram asseguradosvários direitos (os quais elenca),ressaltando que a livre negociação só podeser questionada pelas partes pactuantes,jamais por terceiros; que, se as empresas,que são pessoas jurídicas de direitoprivado, querem colaborar, não cabe aingerência de terceiros; que não há nadade ilegal em convencionar-se uma doaçãodas empresas para os Sindicatos, para serempregada em prol de toda a categoria;cita arestos jurisprudenciais; que nãoprocede a retórica de aplicação doPrecedente Normativo 119, já que ascláusulas contidas no “Termo de Acordo”não se inserem no seu contexto; que nemmesmo o artigo 83, III e IV, da LeiComplementar 75/93, autorizam oajuizamento de ação de cobrança peloMinistério Público; que os descontosalusivos às contribuições confederativa eassistencial foram efetuados medianteautorização das assembléias geraisrealizadas em 21 de dezembro de 1996 e16 de dezembro de 1997, respectivamente.Pede o indeferimento da liminar requerida,que sejam acolhidas as preliminares, e, sea tanto chegar-se, a improcedência dospedidos. Juntou procuração (f. 47) edocumentos (f. 48/70).

Foi indeferida a medida liminarrequerida pelo autor, conforme despachoexarado à f. 03 dos autos.

Às f. 72/80, manifestação do autor.Sem outras provas, encerrou-se a

instrução processual.Razões finais, orais.Conciliação recusada.

II - FUNDAMENTOS

1 - Consoante estabelece o art. 114,da Constituição Federal, vigente desde05.10.88, “Compete à Justiça do Trabalho

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conciliar e julgar os dissídios individuaise coletivos entre trabalhadores eempregadores, abrangidos os entes dedireito público externo e da administraçãopública direta e indireta dos Municípios,do Distrito Federal, dos Estados e daUnião, e, na forma da lei, outrascontrovérsias decorrentes da relaçãode trabalho, bem como os litígios quetenham origem no cumprimento de suaspróprias sentenças, inclusive coletivas.”(grifo nosso)

A Lei Complementar n. 75, de20.05.93, editada em perfeita sintonia como art. 114 da Constituição Federal, veioestabelecer, em seu art. 83, que:

“Compete ao Ministério Público doTrabalho o exercício das seguintesatribuições junto aos órgãos daJustiça do Trabalho (...); inciso III -promover a ação civil pública noâmbito da Justiça do Trabalho,quando desrespeitados os direitossociais constitucionalmentegarantidos e inciso IV: propor asações cabíveis para declaração denulidade de cláusula de contrato,acordo coletivo ou convençãocoletiva que viole as liberdadesindividuais ou coletivas ou osdireitos individuais indisponíveis dostrabalhadores”.

Em complemento, veio a Lei n.8.984/95, em seu caput, estabelecer que:

“Compete à Justiça do Trabalhoconciliar e julgar os dissídios quetenham origem no cumprimento deconvenções coletivas de trabalho ouacordo coletivo de trabalho, mesmoquando ocorram entre sindicatos ouentre sindicato de trabalhadores eempregador.”

Tais dispositivos, afastam qualquerquestionamento quanto à competência daJustiça do Trabalho para julgamento deAção Civil Pública Trabalhista, desde queo pressuposto desta seja a existência deuma lesão de direito, oriunda de umarelação de trabalho, ainda que de formareflexa. E, outro não é o objeto dapresente ação, senão a busca da garantiados direitos coletivos das empresas e dostrabalhadores do setor de transporterodoviário desta região, ou seja, dadeclaração de nulidade de cláusula deinstrumentos coletivos firmados pelosdemandados, que, segundo o autor,violam a ordem jurídica trabalhista, eatentam contra as liberdades individuaise coletivas e contra os direitos individuaisindisponíveis dos trabalhadoresabrangidos pela norma coletiva apontadacomo ilegítima, matéria manifestamenteda competência desta Justiça doTrabalho.

Vejamos o posicionamento dadoutrina sobre o tema:

“Na ação civil pública trabalhista, acausa de pedir remota, a exemplodo que ocorre com o dissídioindividual comum, repousa narelação de emprego, sendo certoque a causa de pedir próximadecorre, diferentemente daquele, daafetação de direitos coletivamenteconsiderados...”. (LEITE, CarlosHenrique Bezerra, Contratação

ilegal de servidor público e Ação civil

pública trabalhista, Editora RTMLtda., 1ª Ed. 1996, p. 48)

No tocante à competência funcional,entende a Junta ser esta dos órgãos deprimeira instância trabalhista, ou seja, dasJCJ, pois o critério definidor dacompetência para exame da Ação Civil

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Pública é o do local do dano, conformeprevisão expressa no art. 2º, da Lei n.7.347/85, que assim preceitua:

“As ações previstas nesta Lei serãopropostas no foro do local ondeocorrer o dano, cujo Juízo terácompetência funcional paraprocessar e julgar a causa.”

Outro não é o princípio insculpidona CLT (art. 651) ao estabelecer que acompetência das JCJ é determinada pelalocalidade onde os empregadosprestarem serviços.

Dessa forma, sendo a lesão dedireito, informada nos presentes autos,decorrente de normas coletivaspactuadas com base em relações deemprego existentes nesta localidade,dando-se aqui a prestação de trabalhodos empregados às empresas detransportes rodoviários, induvidosamente,é esta Junta de Conciliação e Julgamentode Ouro Preto/MG, competente para ojulgamento da ação.

Sem razão os reclamados aoafirmarem ser da competência origináriados TRT as Ações Civis PúblicasTrabalhistas, em virtude de sua possívelsimilaridade com o dissídio coletivo, postoque o objeto da presente ação étotalmente diverso do dissídio coletivo,visto que nesta se busca oestabelecimento de condições de trabalho(art. 114, § 2º, da Constituição Federal),ou a interpretação de normas de ordemlegal ou coletivas preexistentes, e na AçãoCivil Pública Trabalhista o objetivo é apreservação da ordem jurídica, quandoviolados direitos sociaisconstitucionalmente garantidos, emesfera coletiva.

Posicionamo-nos de acordo com alição do mestre CARLOS MAXIMILIANO,

segundo a qual “... as regras definidorasde competência não comportaminterpretação extensiva, pois 'quando anorma atribui competência excepcional ouespecialíssima, interpreta-seestritamente”. (Hermenêutica e aplicação

do Direito, 10ª Ed., p. 265, Forense – Riode Janeiro – 1988)

No mesmo sentido, lecionam ADAPELLEGRINI GRINOVER, ANTÔNIOCARLOS DE ARAÚJO CINTRA ECÂNDIDO DINAMARCO:

“A competência originária é, emregra, dos órgãos inferiores (órgãosjudiciários de primeiro grau dejurisdição, ou de 'primeirainstância'). Só excepcionalmenteela pertence ao Supremo TribunalFederal (Constituição, art. 102, inc.II), ao Superior Tribunal de Justiça(art. 105, inc. III), ou aos órgãos dejurisdição superior de cada uma dasjustiças (...) Demais casos decompetência originária dos tribunaisde cada justiça são estabelecidosem lei federal”. (Teoria Geral do

Processo, 10ª Ed., p. 234,Malheiros, SP/1994)

2 - O Ministério Público do Trabalhopossui legitimidade e interesse paraajuizar, na condição de autor, Ação CivilPública Trabalhista, na forma prevista nosarts. 127 e 129, inciso III, da ConstituiçãoFederal c/c arts. 83, inciso III, 84, incisoV, e 6º, inciso VII, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”da Lei Complementar n. 75, de 20.05.93,objetivando a proteção dos direitosconstitucionais, do patrimônio público esocial e dos direitos ou interessesindividuais indisponíveis, homogêneos,sociais, difusos e coletivos, desde queessa proteção decorra de uma relação detrabalho.

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Equivocam-se os demandados aoafirmar que o Ministério Público doTrabalho não pode demandar em nomepróprio interesse alheio, e que não poderepresentar nem substituir em Juízo ostrabalhadores em transportes rodoviáriosde Ouro Preto. É que não se vislumbra,nos presentes autos, qualquer intençãodo Ministério Público em representar ditostrabalhadores, nem em substituí-losprocessualmente. Quanto a demandar emnome próprio, na condição de autor,objetivando à proteção de interessescoletivos de ditos trabalhadores, oMinistério Público do Trabalho não sópode, como deve fazê-lo, pois este é seupoder/dever institucional, consoantedeterminação expressa do art. 129, III, daConstituição Federal.

Deve-se registrar, por pertinente,que no âmbito do Ministério Público doTrabalho, a questão em exame estápacificada, em decorrência do Enunciadon. 02, de 08.04.97, da C. Câmara deCoordenação e Revisão da Instituição,que assim veio dispor:

“Os Procuradores do MinistérioPúblico do Trabalho deverão tomartodas as medidas judiciais cabíveis,visando resguardar o trabalhador dedescontos que não estejamprevistos em lei, como é o caso dataxa assistencial e a contribuiçãopara o custeio do sistemaconfederativo, de forma a manterincólumes os arts. 5º e 7º, inciso VI,da Constituição Federal, arts. 468e 611, da CLT.”

Ante os fundamentos supra, não sepode negar ao Ministério Público doTrabalho a legitimidade para propor AçãoCivil Pública Trabalhista visandodeclaração de nulidade de cláusulas de

Convenção Coletiva de Trabalho ouAcordo Coletivo, em defesa da ordemjurídica constitucional e dos interessesindividuais homogêneos das empresas edos trabalhadores no transporte rodoviáriode Ouro Preto.

In casu, poder-se-ia afirmar até queo Ministério Público do Trabalho é o únicoórgão com legitimidade para ajuizar, semrisco de dano, a presente ação, posto queo Sindicato da categoria profissional dostrabalhadores (segunda demandada)jamais viria a Juízo atuar em prejuízo deseus próprios interesses, visando declararnulos instrumentos coletivos firmados porela própria, muito embora seu principalobjetivo devesse ser, nos precisos termosdo inciso III, do art. 8º, da ConstituiçãoFederal: “... a defesa dos direitos einteresses coletivos ou individuais dacategoria, inclusive em questões judiciaisou administrativas”.

No que toca aos própriostrabalhadores, embora, em tese, sejameles detentores do direito individual à açãovisando coibir descontos em seussalários, deve-se admitir que se assim ofizessem, poderiam vir a sofrer retaliaçõesda entidade sindical, ou até mesmo aperda do emprego, como, aliás, declaradoexpressamente na carta denúncia de f. 15dos autos.

Retaliações sindicais, tambémpoderiam ser sofridas pelas empresas,caso viessem exercer isoladamente odireito de ação para impedir a cobrançada contribuição mencionada na petiçãoinicial.

Quanto à afirmação das entidadessindicais demandadas, de que ailegitimidade do Ministério Público decorredo cunho patrimonial da ação, eis quepostulada a anulação de cláusulas deinstrumentos coletivos e restituição deimportâncias descontadas dos salários

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dos trabalhadores, ou de pagamentos decontribuição pelas empresas ao sindicatoprofissional, também entendemos nãoestar a mesma com razão. É que, tendoo art. 117, da Lei n. 8.078/90, acrescido oart. 21º à lei da Ação Civil Pública,autorizando a extensão a esta do sistemaprocessual daquela, trasladou-se para aAção Civil Pública todo o disposto no títuloIII, da referida Lei (n. 8.078/90), e,portanto, o que se contém no art. 83 damesma, que se refere a “todas asespécies de ação”, possibilita à Ação CivilPública pedidos de várias naturezas,como, desconstitutivo, mandamental,cautelar, condenatório, ressarcitório ecominatório.

Vê-se, portanto, que o MinistérioPúblico do Trabalho tem interesse e éparte legítima para propor a presente açãoCivil Pública Trabalhista, visando aproteção de interesses coletivos dasempresas e dos trabalhadores nostransportes rodoviários desta região, aofundamento de haverem sofrido lesão emseus direitos, lesão essa, originada emAditivo da Convenção Coletiva deTrabalho 97/98 e no Termo de Acordofirmado em 16.03.98 entre as entidadessindicais demandadas, em violação aprincípios constitucionais e legaisvigentes.

Com propriedade, ressalta HUGONIGRO MAZZILLI:

“Interpretando conjuntamente anorma constitucional que comete aoMinistério Público a iniciativa naárea cível e aquela que lhe conferedestinação institucional, torna-seclaro que o Ministério Público teráiniciativa na ação Civil Pública paradefesa de interesses difusos oucoletivos, bem como para defesa deinteresses sociais e individuais

indisponíveis ...”. (Regime Jurídico

do Ministério Público, 2ª Ed. Saraiva– São Paulo, 1995 – p. 218)

Vejamos o posicionamento dajurisprudência quanto ao tema:

“Em atenção aos arts. 127 e 129,da Constituição Cidadã, e 6º, VII, “d”,da Lei Complementar n. 75/93, oMinistério Público do Trabalho écompetente para propor Ação CivilPública na defesa dos direitoscoletivos dos trabalhadores quandoarranhados os direitos e garantiassociais.” (TRT – 22ª Região - RO-1.260/96 – ac. TP 1.088/96 – Rel.Juiz Francisco Meton Marques deLima – DJEPI – 30.10.96)

3 – Pretende o autor com a presenteAção Civil Pública Trabalhista adeclaração de nulidade do item VIII doAditivo à Convenção Coletiva de Trabalho97/98, com prazo de vigência até28.02.99, e do inteiro conteúdo do Termode Acordo celebrado em 16.03.98 pelosdemandados, com a condenação dosmesmos em obrigações de não fazerespecificadas na petição inicial e ainda acondenação solidária dos demandados arestituir os valores ilicitamentedescontados dos trabalhadores, ou pagospelas empresas, sindicalizadas ou não.

Os demandados, por sua vez, aocontestarem a ação, confirmaram aexistência dos fatos em que foi fundado opedido, quais sejam, a existência do itemVIII do ADITIVO À CONVENÇÃOCOLETIVA DE TRABALHO 97/98,firmado em 09.03.98, para vigorar até28.02.99, onde convencionado orecolhimento pelas empresas detransportes rodoviários desta região, de3% do salário de fevereiro/98 dos seus

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empregados, sem qualquer descontodestes, como CONTRIBUIÇÃO ÀORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL DOSEMPREGADOS PARA FINALIDADESSOCIAIS, em nome do SINDICATO DOSTRABALHADORES EM TRANSPORTESRODOVIÁRIOS DE OURO PRETO.Também a existência do TERMO DEACORDO, firmado pelos demandados,este em 16.03.98, o qual, em sua cláusulasegunda, estabelece desconto de 1% aomês dos salários dos empregadossindicalizados ou não, comocontribuição para custeio do sistemaconfederativo, a ser repassado pelasempresas, ao sindicato segundodemandante, o qual repassaria opercentual de 15% à FEDERAÇÃO DOSTRABALHADORES EM TRANSPORTESRODOVIÁRIOS DO ESTADO DE MINASGERAIS e o percentual de 5% àCONFEDERAÇÃO NACIONAL DOSTRABALHADORES EM TRANSPORTESTERRESTRES, e em sua cláusula 3ª,estabelece uma contribuição assistencialde 3%, a ser descontada dosempregados, sindicalizados ou não, nomês de março/98, em favor da segundademandante.

Incontroverso restou nos autos, emface da inexistência de contestaçãoespecífica, que o ADITIVO ÀCONVENÇÃO COLETIVA DETRABALHO 97/98, firmado em 09.03.98,foi registrado e arquivado na DRT/MG,mas o TERMO DE ACORDO, firmado em16.03.98, não foi registrado nemarquivado naquele órgão.

De início, cabe ressaltar que oindeferimento da medida liminar requeridapelo autor, conforme fundamentos dodespacho exarado à f. 03 dos autos, deu-se face à inexistência de risco de lesãoirreparável, de difícil reparação, oumesmo de necessidade urgentíssima de

cessação dos efeitos dos atos apontadoscomo lesivos às empresas ou aostrabalhadores, até mesmo porque oajuizamento da presente ação deu-se em21.10.98, quando já passados váriosmeses da data em que foram firmados osinstrumentos coletivos em questão. Casohouvesse urgência na cessação dosefeitos dos atos para as empresas ou paraos trabalhadores, já teriam sido tomadasmedidas para declaração de nulidade dosmesmos há mais tempo.

Ousa esta Junta discordar doentendimento dos demandados notocante à apregoada ilimitada liberdadesindical, porque a Constituição Federal,em seu art. 8º, caput, embora estabeleçaa liberdade sindical, não preconiza, emqualquer disposição, que dita liberdade éilimitada e irrestrita, como pretendem osdemandados. Aliás, num Estado deDireito, inexistem órgãos, pessoas ouentidades com liberdade ilimitada, pois odireito de um acaba exatamente ondecomeça o direito do seu próximo, e a cadadireito, corresponde uma obrigação.

Não obstante detentora deliberdade, a entidade sindical não ésoberana, e sujeita-se aos mandamentosconstitucionais e às normas legaiscorrelatas vigentes no País. Dita liberdadesindical restringe-se ao poder/dever dosindicato de atuar dentro dos limitesestabelecidos na Constituição Federal enas demais normas legais vigentes, emesmo assim, observados os princípiosgerais de direito, e o fim coletivo a que sedestinam, pois em contrapartida a talliberdade, existe a liberdade sindicalindividual negativa passiva, a qual éassegurada nos arts. 5º, inciso II, e 8º,inciso V, da Constituição Federal.

Não se pode deixar de acrescentaraqui, os termos do art. 5º, inciso XXXV,da Constituição Federal, que preceitua:

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“A lei não excluirá da apreciação do PoderJudiciário lesão ou ameaça de direito.” E,obviamente, os sindicatos não estãoexcluídos desta norma.

A uma análise superficial da primeiraquestão trazida a juízo pelo MinistérioPúblico do Trabalho, na presente ação,verifica-se que os demandados agiram emdesacordo com a Constituição Federal(arts. 5º, inciso II e 8º, inciso V), com a CLT(arts. 513 e 611) e com os princípios queorientam o direito coletivo do trabalho, epode-se dizer, ainda, que o ato por elespraticado ao inserir o item VIII no Aditivo àConvenção Coletiva de Trabalho 97/98,deixa margem a dúvidas quanto a estaremcumprindo com seus deveres institucionaissindicais nos termos do art. 8º, inciso III,da Constituição Federal. É que, referidoitem VIII do ADITIVO À CONVENÇÃOCOLETIVA DE TRABALHO 97/98 firmadapelos demandados em 09.03.98,estabelece que as EMPRESAS recolherãoao SINDICATO DOS TRABALHADORESEM TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DEOURO PRETO, o percentual de 3% sobreo salário dos empregados no mês defevereiro/98, SEM NADA DESCONTARDOS MESMOS a título deCONTRIBUIÇÃO À ORGANIZAÇÃOPROFISSIONAL DOS EMPREGADOSPARA FINALIDADES SOCIAIS... D. M. V.

Qual seria o motivo de tal doaçãocompulsória, se sabidamente, osinteresses dos empregados nostransportes rodoviários de Ouro Preto sãoopostos aos interesses das empresas detransporte rodoviário do mesmo local?...

Qual seria o embasamento jurídicopara imposição da doação às empresas,em geral, filiadas ou não (eis que nãoespecificado o destinatário da norma)pelas entidades sindicais convenentes?...

Após recebimento de ajudapecuniária das empresas, os sindicatos

profissionais teriam condições de exercersuas atividades institucionais semingerência empresarial?...

As empresas do ramo,principalmente as não filiadas, poderiamser obrigadas pelo sindicato patronal adoar parte de sua receita ao sindicato dostrabalhadores?...

Pode-se atestar a lisura,independência e transparência dasentidades sindicais, principalmente dasegunda demandada, após recebimentode dinheiro das empresas do ramo, que,como já se disse, têm interesses opostosaos dos trabalhadores?...

Há reserva legal onde amparar talcontribuição compulsória?...

Realmente, razão assiste ao autorao afirmar que “Algo de muito estranhoestá havendo no meio sindicalrepresentado pelos demandados”...D.M.V.

Além de “estranha”, a doaçãocompulsória em questão é tambéminconstitucional, ilegal e ilegítima, senãoimoral, pois não há qualquer previsãonormativa para sua instituição, muitomenos da forma genérica como foi feita,englobando as empresas em geral,filiadas ou não à entidade sindicalpatronal. Possivelmente, a manutençãode referido item no Aditivo à CCTacarretaria prejuízo aos trabalhadores nostransportes rodoviários de Ouro Preto nomomento de futuras negociaçõessindicais, visto que a entidade sindical dosempregados, recebendo “contribuições”dos empregadores, poderia “olvidar-se”de seus deveres institucionais legais (art.8º, inciso III, da Constituição Federal) eatuar de forma contrária aos interessesdos trabalhadores e em benefício dasempresas que contribuíram para ocrescimento de sua receita.

O recebimento de tal “contribuição”

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torna obscuro o objetivo do sindicatoprofissional, eis que por mais que seprocure, não se encontra uma justificativalógica para seu recebimento.

A disposição inserta no item VIII doADITIVO À CCT 97/98, é totalmentealheia ao instrumento coletivo, visto quetal objeto não pode ser incluído emConvenção Coletiva de Trabalho, àmíngua de previsão legal. Não se tratade contribuicão confederativa (art. 8º,inciso IV, da Constituição Federal), poisnão se destina ao custeio do sistemaconfederativo, nem mesmo se destina àentidade sindical patronal; não se trata decontribuição sindical (art. 578 e seguintesda CLT), porque esta só pode ser cobradadaqueles que participam da categoria emfavor do sindicato representativo dasmesmas, e não daqueles representadospela entidade sindical de interessesopostos; também não se trata demensalidade estatutária, estas pagassomente pelos sócios a seus própriossindicatos.

Deve-se esclarecer, por oportuno,que tanto a Constituição Federal, quantoa CLT, ao tratarem de questõesrelacionadas às entidades sindicais, nãofazem qualquer distinção entre asentidades da categoria profissional e asdas categorias econômicas. Assim sendo,todos os princípios, benefícios legais econstitucionais, são comuns a ambas ascategorias, econômica e profissional.

Assim sendo, declara-se nulo o itemVIII, do ADITIVO À CONVENÇÃOCOLETIVA DE TRABALHO 97/98,firmado pelos demandados em 09.03.98(conforme instrumento de f. 16/20 dosautos), por sua inconstitucionalidade,ilegalidade, impropriedade do objeto parao instrumento, ilegitimidade normativa dasentidades convenentes, e determina-se aimediata devolução dos valores recebidos

a tal título, de forma atualizada.Quanto ao TERMO DE ACORDO

firmado pelos demandados em 16.03.98,o qual institui CONTRIBUIÇÃO PARACUSTEIO DO SISTEMACONFEDERATIVO, no percentual de 1%ao mês, a ser descontado de TODOS osempregados, SINDICALIZADOS OU NÃOe CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL, nopercentual de 3% sobre o salário de março/98, a ser também descontada de TODOSos empregados, SINDICALIZADOS OUNÃO, conforme se constata ao exame dodocumento de f. 21 dos autos, restagritante sua nulidade, por padecer de víciosinsanáveis.

Primeiro, porque, sendo “mero pacto-adjecto” como expressamente declaradopela segunda demandada, não foramobservadas as formalidades exigidas emlei para sua validade, posto que nãoarquivado ou registrado o instrumento naDRT/MG (art. 615, § 1º, da CLT), esegundo porque estendida a contribuiçãocompulsória a todos os trabalhadores,SINDICALIZADOS OU NÃO, em flagranteafronta ao mandamento constitucional quegarante o direito individual de não se filiarou se associar a entidades sindicais (art.8º, inciso V). Também ferido pelo TERMODE ACORDO o dispositivo constitucionalcontido no art. 5º, inciso II, qual seja:“Ninguém será obrigado a fazer ou deixarde fazer alguma coisa senão em virtudede lei.”

Além do mais, os demandados nãoapresentaram aos autos prova de quehouve o atendimento do quórumpreceituado no art. 612, e parágrafo único,da CLT, visto que desconhecido o númerode associados da entidade sindical dostrabalhadores. Também não demonstraramos demandados, nos autos, a efetivação deprévia convocação de Assembléia Geralpara realização do TERMO DE ACORDO

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supramencionado, posto que a convocaçãonoticiada no xerox de f. 48 dos autos datade 09.12.97, e sua finalidade foi a de firmarConvenção Coletiva de Trabalho, e nãoconsta do mesmo a finalidade de aprovaçãode descontos em prol da entidade sindical,motivo pelo qual não se pode acolhê-locomo destinado à realização do TERMO DEACORDO, eis que dito TERMO só trata dereferidos descontos. Quanto aos editais deconvocação noticiados no xerox de f. 49 dosautos, esses datam de dezembro/96, deonde se extrai que nada têm a ver com oTERMO DE ACORDO firmado em março/98, nem mesmo com o ADITIVO à CCT 97/98.

A norma coletiva supracitada, feitaem desacordo com os mandamentosconstitucionais e legais vigentes, fere oprincípio da liberdade de filiação asindicato, da irredutibilidade eintangibilidade do salário.

Conforme já mencionado supra, aliberdade sindical somente pode seracatada quando os atos das entidadessindicais forem praticados da forma eobjetivo estabelecidos em lei, pois emcontraste a essa liberdade, existe aliberdade sindical individual negativapassiva, que assegura ao trabalhador odireito de não querer filiar-se a sindicato,o que afastaria a legitimidade de descontocompulsório em seu salário para custeiode entidade sindical ou do sistemaconfederativo.

A contribuição confederativa paraser aplicada, mesmo assim somente aotrabalhador associado ao sindicato, deve,obrigatoriamente, ser fixada emassembléia geral, na forma estatutária enão em Convenção Coletiva ou AcordoColetivo, visto que independe de anuênciadas empresas ou da categoria econômica.

A Seção Especializada em DissídioColetivo do Colendo TST, ao apreciar o

RO-AA-352.347/97.8, em Acórdão queteve como Relator o Ex.mo Min. José LuizVasconcelos (DJ de 05.09.97), assim seexpressou:

“...Tenho manifestação, reiterada,no sentido de que a cláusulaassistencial não constitui objeto deregulamentação das relações detrabalho, de sorte a possibilitar suafiguração em Acordo, Convençãoou Sentença Coletiva”,

e , prosseguindo, acrescentou:

“As normas coletivas têm porescopo compor os conflitoscoletivos entre empregados eempregadores, estabelecendonovas condições de trabalho,criando normas que deverão seraplicadas aos contratos individuais.Não se compadece, pois, com estafinalidade o estabelecimento decláusula cujo único interessado é aentidade sindical...”;

e finalizando, afirmou que:

“...a manter a condição, estar-se-iamaculando os termos dos arts. 5º, XX,e 8º, V, da Carta Magna, eis queassegurada, por estes dispositivos, aliberdade de associação, princípioinobservado na cláusula, queestabelece o desconto indistintamente,atingindo também os não associadosdo sindicato, e tangendo o direito deoposição do obreiro”.

Desta forma, vê-se que ascontribuições constantes do TERMO DEACORDO citado supra, em confrontotambém com os termos do art. 611, daCLT, não constitui matéria a ser inserida

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em instrumentos normativos de trabalho,visto que tais instrumentos destinam-se,tão-somente, à estipulação de “condiçõesde trabalho aplicáveis, no âmbito de suasrepresentações, às relações individuaisde trabalho”.

Assim, não se pode atribuir validadeao TERMO DE ACORDO firmado em16.03.98 pelos demandados, consoantefundamentos supracitados, tendo-secomo confisco salarial proibido em lei osdescontos feitos com apoio no mesmo,proibindo-se sua efetivação a partir destadata e a imediata restituição aostrabalhadores dos valores já descontados,devidamente atualizada.

Determina-se, ainda, que osdemandados, doravante, não firmem, sema correta observação dos dispositivosnormativos vigentes, qualquerinstrumento coletivo que imponha ônus àsempresas ou descontos nos salários dostrabalhadores, sob pena de pagamentode multa em valor correspondente aodobro do valor estipulado para descontono salário dos empregados, oupagamento por parte das empresas, porcada empregado ou empresa abrangidosno instrumento coletivo.

A condenação é solidária a ambasas demandadas, posto que inequívoco ointeresse comum das mesmas,caracterizado pelos objetos dosinstrumentos coletivos constantes dosautos, ora declarados nulos.

III - CONCLUSÃO

Isto posto, resolve a Junta deConciliação e Julgamento de Ouro Preto/MG, à unanimidade, julgarPROCEDENTE, em parte, a açãoproposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO contra SINDPAS -

SINDICATO DAS EMPRESAS DETRANSPORTE DE PASSAGEIROS DOESTADO DE MINAS GERAIS eSINDICATO DOS TRABALHADORES EMTRANSPORTES RODOVIÁRIOS DEOURO PRETO, para declarar a nulidadedo item VIII do ADITIVO À CONVENÇÃOCOLETIVA DE TRABALHO/97/98(firmado em 09.03.98, com vigênciaprevista para até 28.02.99) e do TERMODE ACORDO (firmado em 16.03.98) emsua integralidade, determinar que asdemandadas cumpram a obrigação denão fazer, relativa à pactuação emConvenção Coletiva de Trabalho ouAcordo Coletivo (ou negociação feita paraos mesmos fins sob qualquer nomem

juris), sem observância dos mandamentosconstitucionais e legais vigentes, queestabeleçam ônus para empresas oudescontos nos salários dos empregadosligados ao transporte rodoviário da baseterritorial de Ouro Preto, sob pena depagamento de multa equivalente ao dobrodo valor estipulado para desconto, oupagamento, por cada empregado ouempresa abrangido no instrumentocoletivo, e condenar as demandadas,solidariamente, a restituir às empresas eaos trabalhadores nos transportesrodoviários de Ouro Preto, os valoresdescontados/recebidos com base nasnormas coletivas ora invalidadas,devidamente corrigidos, ficando vedadosdescontos futuros nos salários dostrabalhadores abrangidos pelas mesmasnormas coletivas, a contar desta data.

Custas, pelas rés, no importe deR$200,00, calculadas sobre R$10.000,00,valor atribuído à causa.

Intimem-se as partes, devendo oautor ser intimado na forma requerida napetição inicial (intimação pessoal).

Encerra-se.

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ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 142/98Data: 07.12.1998DECISÃO DA JCJ DE PATROCÍNIOJuiz Presidente: Dr. ANTÔNIO GOMES DE VASCONCELOSAberta a audiência, foram de ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadas as partes.Ausentes.

I - RELATÓRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO, qualificado na petição inicial,propõe ação civil coletiva em face deSINDICATO DOS EMPREGADOS NOCOMÉRCIO DE PATROCÍNIO EREGIÃO, CLUBE DOS DIRETORESLOJISTAS DE PATROCÍNIO eASSOCIAÇÃO COMERCIAL EINDUSTRIAL DE PATROCÍNIO, expondoque após receber Representação daFederação dos Trabalhadores noComércio do Estado de Minas Geraisinstaurou Procedimento Investigatório noqual foram constatadas váriasirregularidades na constituição doSindicato réu, bem como no acordocoletivo celebrado com a CDL e ACIP.Razões pelas quais ajuizou a presentedemanda, requerendo seja declarada anulidade do acordo coletivo de trabalhocelebrado pelos réus, e indenização dosdanos causados aos direitos individuaishomogêneos dos empregados docomércio de Patrocínio.

Em audiência realizada (f. 250/351)o Sindicato apresentou defesa oral,alegando, em síntese, que o acordocelebrado pelo Sindicato decorreu emvirtude da ausência de assistência daFederação do Comércio dosTrabalhadores da Categoria; que nãotinha conhecimento da convençãocoletiva celebrada pela Federação; quenão houve prejuízo aos trabalhadoresporque as empresas locais não cumpriramo acordo.

O CDL e a ACIP apresentaramdefesa escrita aduzindo, em síntese, queo acordo celebrado com o Sindicato nãoé nulo porquanto está revestido de todasas formalidades legais; que ostrabalhadores não sofreram nenhumprejuízo decorrente da vigência doacordo, ao contrário, há benefícios quenão foram mencionados pelo suplicante.

O ingresso da Federação dosTrabalhadores no Comércio do Estado deMinas Gerais à lide, como assistentelitisconsorcial, foi deferido à f. 479.

O julgamento do processo foiconvertido em diligência (f. 624).

Realizada audiência, registrada àsf. 664/666, para oitiva de contadoresatuantes em Patrocínio.

Juntaram-se documentos.Razões finais orais pelas partes.Inconciliáveis.Encerrada a instrução processual.Tudo visto e examinado, decide-se.

II - FUNDAMENTOS

2.1. Síntese do litígio

O Ministério Público do Trabalho,cumprindo seu relevantíssimo papelsocial de velar pela observância da ordemjurídica, bem como, pelos interessesindividuais homogêneos dostrabalhadores do comércio de Patrocínio,postula a declaração de nulidade doAcordo Coletivo de Trabalho celebrado,de um lado, pelo Sindicato dosTrabalhadores do Comércio de Patrocínio

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e Região e, de outro, pela AssociaçãoComercial e Industrial de Patrocínio eCâmara dos Diretores Lojistas dePatrocínio face à ilegitimidade derepresentação da categoria por parte docitado Sindicato; postula ainda acondenação dos reclamados emindenização pelos prejuízos causados àcategoria resultantes da observância docitado Acordo Coletivo em lugar daConvenção Coletiva de Trabalhocelebrada pela Federação dosTrabalhadores do Comércio, sendo estamais vantajosa aos trabalhadores.

2.2. Medida saneadora

a) Cerceio de defesa

A falta de intimação da diligênciadesignada à f. 624 restou sanada namedida em que a requerente (f. 651)demonstra ter conhecimento do teor eobjeto da mesma, na ocasião em querequereu o adiamento da audiência, em06.11.98 (f. 647). Requerimento que,aliás, foi deferido (f. 649). Ora, a audiênciafoi redesignada para 18.11.98,oportunidade em que a requerente se fezpresente e, além de previamente ciente,exerceu amplo contraditório para fazeresvoaçar a alegação de cerceio dedefesa, da qual aqui se conhece apenaspara depuramento da técnica processual.

b) Substituição da prova pericialpela audição de experts em audiência

Apesar do registro de futurarealização de prova pericial paraapuração dos prejuízos sofridos peloscomerciários de Patrocínio (f. 351), estafoi substituída pela simples audição, emaudiência, de três experts contabilistaspara a suficiente elucidação da questão

pertinente aos referidos fatos. Tratou-sede diligência determinada ex officio, comfulcro no art. 765, CLT, dada a relevânciacoletiva da matéria, bem como, aimprecisão da prova dos fatos invocadose a urgência de maior esclarecimento dosmesmos.

c) Revelia

A defesa oral apresentada peloSindicato demandado (f. 350) tornaprescindível o exame da matériapertinente à revelia sustentada peloreclamante (f. 350). Até porque, noprocesso trabalhista, a revelia se dá pelaausência do reclamado à primeiraaudiência, não pela falta de apresentaçãoda defesa.

2.3. Da assistência

Defere-se o requerimento deingresso no processo, na condição deassistente processual do autor, formuladopela Federação dos Trabalhadores noComércio do Estado de Minas Gerais. Acontrovérsia relativa à representaçãosindical dos comerciários de Patrocínio,bem como, à vigência e eficácia daConvenção Coletiva de Trabalho firmadapor aquela Federação, frente aosmesmos, encerra interesse jurídicosuficiente para lhe assegurar a condiçãode assistente processual do autor.

2.4. Da legitimidade do MinistérioPúblico do Trabalho

A lei complementar 75/93 (art. 1º)confere ao Parquet o dever de defendera ordem jurídica, assim como, osinteresses sociais e individuaisindisponíveis, dentre outros. No rol dosdemais direitos suscetíveis de atuação

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daquele órgão insere-se a competênciapara “propor ação civil coletiva paradefesa de interesses individuaishomogêneos” (art. 6º, XII), para “promovera ação civil pública no âmbito da Justiçado Trabalho, para defesa de interessescoletivos, quando desrespeitados osdireitos sociais constitucionalmentegarantidos” e “propor as ações cabíveispara declaração de nulidade de cláusulade contrato, acordo coletivo ou convençãocoletiva que viole as liberdades individuaisou coletivas ou os direitos individuaisindisponíveis dos trabalhadores” (art. 83,III e IV).

Considerando que a presentedemanda tem por escopo a preservaçãode direitos e interesses coletivos,pertinentes à categoria dos direitosindividuais homogêneos, tem-se comoinequívoca a legitimação ativa do autor.

2.5. Ilegitimidade passiva doSindicato dos Trabalhadores noComércio de Patrocínio frente aopedido de indenização por danosdecorrentes da aplicação do AcordoColetivo de Trabalho celebrado pelossuplicados

Trata-se de pedido de condenaçãodos réus na “obrigação de indenizar osdanos causados aos direitos individuaishomogênos dos empregados no comérciode Patrocínio, com juros e atualizaçãomonetária, até a data do efetivopagamento” (f. 14).

O exame da matéria comportaângulos múltiplos: sob a ótica do sindicatoobreiro demandado, sob a ótica dasentidades patronais envolvidas, e sob aótica da natureza do dano alegado - suaexistência e extensão.

A despeito da configuração delitisconsórcio passivo dos reclamados

frente ao pedido formulado, o exame damatéria comporta ângulos de diversanatureza conforme se focalize um ou outrolitisconsorte. Quanto ao sindicato obreiroa matéria encerra questão processual(exceção processual) e nesta seara serádirimida; já quanto às entidades patronaisdemandadas vislumbra-se questão demérito a ser dirimida em sede própria.

O pedido de indenização formuladoante o Sindicato Obreiro reclamadoassenta-se basicamente em doisfundamentos: a) constituição irregular doreferido sindicato; b) celebração deAcordo Coletivo de Trabalho menosfavorável à categoria que a ConvençãoColetiva de Trabalho celebrada pelaFederação dos Comerciários, em vigor.

Ora, o pedido encerra um paradoxopelo menos em relação ao primeirofundamento. Se o Sindicato é irregularpara a celebração do citado AcordoColetivo, também o será para suportareventual demanda reparatória de danoscausados à categoria. A ação tem doispesos e duas medidas: reconhece aexistência regular do sindicato parasuportar a ação indenizatória, ao mesmotempo que não o reconhece para o efeitode se conferir validade ao acordo coletivopor ele celebrado. Se o Sindicato éirregular sê-lo-á para todos os efeitosjurídicos, inclusive para livrar-se de umapossível demanda reparatória. Decerto ademanda reparatória assenta-se no fatode que em virtude da conduta de alguémcausou-se um prejuízo à categoria (nexocausal). Mas, esse “alguém” não há deser o Sindicato que se pretende inquinarde irregular. Enquanto sindicato há derepresentar a categoria e não se podepretender que a própria categoria indenizea si mesma pelos danos sofridos por atode representante seu.

Os fundamentos da indenização

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terão de ser buscados fora do campo degravitação do direito coletivo, ou do direitosindical. Assim é que a ação deindenização reparatória, no caso de nãoreconhecimento do sindicato comolegítimo representante da categoria, teriade dirigir-se contra as pessoas físicas quese aventuraram sob o manto de um“sindicato irregular” agindo comorepresentante da categoria, causando-lheum dano.

Estas são as considerações queservem de fundamentos para a decisãodeste colegiado, no campo da apreciaçãode questões meramente formais,reservando-se a outro tópico a questãopertinente ao mérito.

Desta feita, o Sindicato dosTrabalhadores no Comércio de Patrocínioe Região não é parte legítima parasuportar pedido de indenização por danoseventualmente causados à categoria emdecorrência de celebração de AcordoColetivo de Trabalho.

Por outro lado, trata-se de ação civilpública em que se busca a reparação dedireitos individuais homogêneos; portanto,direitos cuja titularidade é bem definidatambém sob o aspecto subjetivo. Nestepasso, a petição inicial careceu deidentificar os titulares da indenizaçãopostulada. Já que não se trata desubstituição processual similar àquelaconferida aos sindicatos emcircunstâncias específicas previstas emlei, na ação civil pública destinada aresguardo de direitos individuaishomogêneos, compete ao MinistérioPúblico do Trabalho a definição dostitulares em favor dos quais postula.

Por tais fundamentos, é de serextinto o processo sem julgamento demérito face à ilegitimidade passiva doSindicato dos Trabalhadores no Comérciode Patrocínio e Região, para responder

por pedido indenizatório decorrente deeventuais danos causados pelacelebração do Acordo Coletivo deTrabalho aqui fustigado, nos termos doart. 267, VI, do CPC.

2.6. Nulidade do acordo coletivocelebrado pelos demandados

Sob a alegação de irregularidade naconstituição do Sindicato Obreiroreclamado, bem como, de inexistência deautorização específica dos empregadosinteressados para a celebração de ACT,requer-se a declaração de nulidade deste.

Irregularidade de constituição doSindicato dos Trabalhadores noComércio de Patrocínio

Ab initio, assente-se que acompetência para dirimir disputasrelativas à pretensa legitimidade derepresentação de determinada categoriapor mais de uma entidade sindical, não édesta justiça especializada que,infelizmente, não pode conhecer daquestão posta como objeto de demandatrabalhista, mas, tão-somente, enquantoquestão incidental.

Da análise dos elementosconstantes dos autos impõe-se ainferência de que faltam dados suficientespara o reconhecimento da inexistência ouirregularidade do Sindicato dosTrabalhadores no Comércio dePatrocínio, ainda que por hora.

É induvidosa a dupla impugnaçãodo referido Sindicato, seja por parte daFTCMG, seja por parte do Sindicato dosTrabalhadores no Comércio de Uberaba(f. 75/76).

Mas, não se pode deixar ainda deconsiderar que, segundo alega o autor,falta a alguns dos integrantes de órgãos

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diretivos do Sindicato impugnado,inclusive ao próprio presidente, acondição de membro integrante dacategoria dos comerciários, conquanto éex-empregado do Sindicato Rural dePatrocínio e, enquanto tal, habilitou-se afundar o referido Sindicato. Fato que setem, neste sentido, esclarecido através doProcedimento Investigatório n. 86/97,aviado pelo autor. Ademais, a composiçãode alguns dos órgãos diretivos operou-se com número incompleto de membros.

Da impugnação

Desde que o STJ deliberoudefinitivamente acerca da convivência demecanismos distintos de constituição econtrole da criação de entidades sindicaiscom vistas à preservação da unicidadesindical, tem-se que os sindicatos ganhamexistência jurídica através do registro noCartório de Registro de PessoasJurídicas, na forma prevista na lei dosregistros públicos. Porém, manteve-se acompetência do Ministério do Trabalhopara continuar procedendo oarquivamento dos atos constitutivossindicais com o intuito de “apenas impedirque mais de um sindicato represente omesmo grupo profissional” sendo “...vedado ao Estado interferir sobre aconveniência ou oportunidade dodesmembramento ou desfiliação” (IN n.01/97). E mais, o “princípio da unicidadenão significa exigir apenas um sindicatorepresentativo da categoria profissional,com base territorial delimitada...” (idem).Coerentemente com a exposição demotivos e com o disposto no art. 8, I, CF/88, a citada Instrução Normativaestabeleceu ainda que no caso de aimpugnação ao registro sindical vir a serconhecida, “... caberá às partes dirimir oconflito pela via consensual ou por

intermédio do Poder Judiciário” (art. 8, §2º). Equivale dizer que o indeferimento doregistro não implica em reconhecimentode irregularidade na constituição dosindicato. Tanto assim que “Até que oSecretário de Relações do Trabalho sejanotificado do inteiro teor do acordo ou dasentença final que decidir a controvérsiao pedido de registro será pré-anotadopara o fim exclusivo de precedência.” (art.9, IN n. 01/97)

Se é assim, é grave equívocopensar que a mera impugnação a registrojá é suficiente para afastar a legitimidadedo sindicato impugnado da legitimidadepara representar a categoria. Isto só serápossível mediante acordo entre aspróprias partes ou mediante decisãojudicial. Decisão judicial a ser obtidaperante a Justiça Comum, a mesma queconferiu ao sindicato obreiro reclamadoo direito ao registro junto ao cartório doregistro de pessoas jurídicas, conformejá assentado acima.

Quanto à observação acima, duasconsiderações devem ser feitas: a) osautos demonstram que o suplicanteintentou pela via consensual dirimir acontrovérsia quanto à regularização doSindicato Obreiro suplicado. Formou-seJunta Governativa que seria gerida peloMinistério do Trabalho, que curiosamentedelegou sua incumbência à dirigente deassociação de classe sediada emPatrocínio, renegada por uma das partesinteressadas. Viciou-se, assim, na origemo procedimento que poderia ter muito bemresultado em acertamento da situação deforma menos traumática. Conferiu-se aalguém que, sendo dirigente de classe, nãoteria a experiência de imparcialidade quenormalmente se espera dos eminentesagentes do Ministério do Trabalho. E paracomplementar a perplexidade, tem-se queo procedimento foi bruscamente encerrado

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sob a alegação de que faltou dotaçãoorçamentária para se concluí-lo (f. 477),como se fosse necessário grande aportede verbas para fazê-lo. Certo é que adespeito de deliberação da categoria doscomerciários pela “criação do Sindicato dosEmpregados no Comércio de Patrocíniocom base territorial no município dePatrocínio” (f. 496/497), interrompeu-se oprocesso sob a alegação já mencionada.

Restou assim inviabilizada a viaconsensual para solução da questão,embora as partes interessadas assim oquisessem.

Quanto à via judicial, os autos nãodão notícia. Não se sabe se há açãojudicial em andamento para se deliberardefinitivamente sobre a legitimaçãosindical para representar a categoria doscomerciários, em Patrocínio.

Por outro ângulo de visada, é de secontemplar a matéria aventada comosuporte para a alegação de irregularidadena constituição do Sindicato Obreiroreclamado. Trata-se de matéria cujaargüição decorre de visão comprometidaainda com o velho sistemaintervencionista ceifado, em boa parte,pela nova Constituição. É que “a lei nãopoderá exigir autorização do Estado paraa fundação de sindicato, ressalvado oregistro no órgão competente, vedadas aoPoder Público a interferência e aintervenção na organização sindical” (art.8, III, CF/88). Assim, as irregularidadesverificadas no âmbito interno daorganização e constituição das entidadessindicais perdem seu interesse público epassam para o campo restrito dadeliberação interna corporis, da categoria.

Não é por outro motivo que a corretaexegese do citado artigo constitucionalconduz à consideração da revogação detodos os artigos da CLT que dizemrespeito à intervenção estatal quanto à

criação, organização e funcionamentodas entidades sindicais. Encontram-serevogados todos os dispositivos celetistascontrastantes com o dispositivoconstitucional, inclusive aqueles relativosà elegibilidade ou inelegibilidade demembros integrantes da direção daentidade sindical, cuja regulamentaçãoficou assim entregue aos respectivosestatutos. Assim, é que tramita noCongresso Nacional o Projeto de Lei4.691/98 exatamente para cuidarexclusivamente da revogação dedispositivos celetistas afrontosos à normaconstitucional. Não precisava, eis que aordem jurídica nacional consagra oprincípio da revogação tácita. Mas, olegislador brasileiro bem sabe dodogmatismo positivista que impregna acultura jurídica nacional e, para evitardúvidas, resolveu por em tramitação ocitado projeto. Por ele, estarão revogadosexpressamente os seguintes dispositivosque já estão tacitamente revogados: arts.512, 515, 517/532, 537, 539, 549, 542,543, §§ 4º e 5º, 547, 549, § 5º, 550, 551,553/557, 564/577, da CLT.

Desta sorte, compete aos membrosda própria categoria a impugnação demembros da diretoria e demaisprocedimentos relativos à organizaçãointerna das entidades sindicais, à luz dodispositivo constitucional indigitado.

Além do mais, somente por açãojudicial própria se poder-se-á intentar adesconstituição de entidade sindical. Estedeveria ter sido o caminho previamentetrilhado pelos interessados.

Não se diga que o Sindicato dosComerciários de Uberaba promoveraextensão de base de categoria como dánotícia a cópia da petição inicial de f. 384.Se extensão de base é lícita, é tambémlícita o desmembramento de basessindicais municipais como é o caso de

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Patrocínio. Se o sindicato de Uberabadeliberou por extensão de base emAssembléia própria da categoria fixadaem Uberaba, esta deixou de ouvir aassembléia dos comerciários dePatrocínio que, por sua vez, por mais deuma vez, optou por seu próprio sindicatocomo já anunciado nos fundamentosacima. Acatar a extensão de base dosindicato de Uberaba e desprezar adeliberação dos comerciários dePatrocínio equivalem a conferir aossindicatos legitimidade para adotarempolíticas imperialistas e expansionistas desuas bases territoriais à revelia demanifestação dos integrantes dascategorias dos territórios “invadidos”.

De qualquer forma esta não é viapara a obtenção da nulidade do AcordoColetivo de Trabalho celebrado pelosindicato obreiro reclamado.

Desatenção a procedimentosformais imprescindíveis à celebraçãode Acordo ou Convenção Coletiva

Aqui, sim, localiza-se a fragilidadeda norma coletiva que se pretende verinquinada de nulidade.

Em princípio elimine-se o equívocode se considerar que quando um grupode empresas comparecem para acelebração de acordo coletivo estasdevem ser representadas por seusindicato. Não, de jeito nenhum!

É claro o disposto na CLT (art. 611),quando autoriza uma ou mais empresas àcelebração de ACT. Um ou mais, semlimitação! Se uma entidade congregavárias empresas, podendo,estatutariamente, representá-las, judicial eextrajudicialmente, esta poderá celebraracordo coletivo em nome de todas elas,restando perfeitamente atendidas ascondições legais.

O que tornou defeituosa anegociação coletiva e conseqüentementeo ACT daí resultante foi a ausência deautorização específica de cada um dosempregados das empresas signatárias doreferido instrumento normativo. Estaautorização o sindicato demandado nãoexibiu nos autos. Não há prova dela, nemautorização coletiva e muito menosindividualizada. A ata da assembléiadocumentada às f. 540 e seguintes, nãocontempla autorização para asentabulações negociais destinadas àcelebração do ACT aqui fustigado. Nãohá sequer o nome dos empregados,especificados por empresa.

Assim, a celebração do ACTimpugnado com absoluta desatenção aodisposto no art. 612/CLT confere-lhe,inequivocamente, a pecha de nulo.

Destarte, este Colegiado, acolhendoo pedido formulado na petição inicial, julgaprocedente o pedido de declaração denulidade do Acordo Coletivo de Trabalhode f. 358 para assim considerá-lo nulopara todos os efeitos legais.

2.7. Indenização por danoscausados a direitos individuaishomogêneos dos empregados nocomércio de Patrocínio. Inexistência dodano alegado

Natureza do dano a serconsiderado

Silente o autor, é de se cogitar queo dano considerado na postulação há deser considerado sob o aspectopatrimonial, exclusivamente, já que suaalegação decorre da comparação doconteúdo da Convenção Coletiva deTrabalho (f. 131) celebrada pelaFederação dos Trabalhadores noComércio do Estado de Minas Gerais com

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o conteúdo do Acordo Coletivo deTrabalho (f. 79) celebrado pelo Sindicatodos Trabalhadores no Comércio dePatrocínio e Região e as entidadespatronais reclamadas.

Aspectos objetivo e subjetivo dodano a serem considerados

Objetivamente, considera-se o danosob o prisma de sua existência ou não.Subjetivamente, o dano comporta examesob o ângulo do sujeito que o enseja. Aquio dano será tratado sob este duploaspecto.

Aspecto subjetivo

A responsabilidade pela causaçãodo dano apura-se pela detecção deexistência de nexo de causalidade entrea conduta do agente e o dano operado.Somente por este viés é que se podevislumbrar a responsabilização de alguémou de um ente jurídico qualquer por umdano material causado a outrem, salvo,em hipóteses em que a ordem jurídicaestabelece a responsabilidade pelo danocausado com fulcro na teoria daresponsabilidade objetiva.

O estabelecimento do nexo causaldeverá considerar a responsabilidadesubjetiva ou a culpa. Neste campo nãotem aplicabilidade a teoria daresponsabilidade objetiva. A averiguaçãoda responsabilidade sustenta-se no art.159, CCB, que contempla análise daexistência de dolo ou culpa por parte dosujeito posto em lugar de causador dodano.

Ora, a alegada imputação de culpados suplicados ACIP/CDL pelo supostodano causado à categoria dosempregados no comércio de Patrocíniosustenta-se em dado objetivo, qual seja:

o fato de que passou a aplicar, nos acertosrescisórios da categoria, as normascoletivas atinentes ao ACT celebrado pelosindicato suplicado. Dita norma coletivaestatuiu piso salarial inferior àqueledefinido na Convenção Coletiva celebradapela Federação assistente. Emconseqüência disto, os acertos rescisóriosfeitos perante o Núcleo Intersindicial doComércio foram feitos com base noreferido Acordo. Eis o prejuízo gerado emdesfavor da categoria. Estes são osúnicos fatos demonstrados e apreciáveisno desate da controvérsia (depoimento doDiretor do STCP, f. 227).

Sem se cogitar ainda acerca daexistência ou não do dano alegadoincumbe, por ora, investigar a existênciade nexo de causalidade entre ato daACIP/CDL e o suposto, além daocorrência de culpa civil indenizável. Arelação causal que se aponta écelebração do Acordo Coletivo citado, doqual foram parte os suplicados.

Isto é inconteste. A argumentaçãocondizente com reconhecimento daresponsabilidade de ambos fragiliza-se eperde o sentido, quando se verifica ainexistência do necessário dado subjetivosuficiente para se estabelecer o eloculposo. Senão vejamos. Tais entidadesviram surgir no mundo jurídico o Sindicatodos Trabalhadores no Comércio dePatrocínio e Região, cuja notícia deconstituição foi amplamente divulgadanos meios de comunicação local,conforme exsurge da prova dos autos(ex., f. 264). Os atos divulgados foram:notícia do requerimento de registrosindical, editais de assembléia destinadaà fundação do sindicato, autorizaçãojudicial para registro do sindicato nocartório de pessoas jurídicas (f. 265). Taisfatos, notórios, dão às entidadesreclamadas ACIP/CDL a condição de

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terceiros de boa-fé. A má-fé não sepresume; requer prova suficiente, e estanão veio aos autos. Até porque nãocompete às entidades patronais maioresinvestigações acerca da regularidade ounão de atos internos e procedimentaisconcernentes à validade da constituiçãode sindicato obreiro. Tais expedientesrequerem legitimidade e competênciasespecíficas que refogem a entidadesprivadas que não encerram em suascompetências poderes investigatórios.Nem sequer a categoria argüiu, alegou oudenunciou quaisquer irregularidades demodo a tornar pública esta realidade e,assim, conduzir a atitude negocial dasentidades patronais às raias da condutaculposa, no sentido de se fazer enquadrá-la como negligente, imprudente ou ignota.Eis aí, para as entidades patronais, afigura do Sindicato putativo. Ainda quevenha a ser considerado irregularapresentou-se como regular, legítimorepresentante dos comerciários dePatrocínio.

Definitivamente, não dá para sevislumbrar a existência de culpa civil nestecaso. Por todos estes aspectos, éimprocedente o pedido de indenizaçãoformulado frente às entidades patronaissuplicadas, que não agiram com aculpabilidade necessária aoreconhecimento da responsabilidade pelosuposto dano causado aos comerciáriosde Patrocínio, por força da celebração doAcordo Coletivo de Trabalho aquiconsiderado.

Aspecto objetivo: inexistência dedano indenizável

Ora, no caso sub examen, não hána ordem jurídica estamento que tenhafixado a presunção legal de existência deprejuízo, tão-somente, pelo fato de

determinado sindicato ou qualquer outrapessoa jurídica de fato ou de direito quese queira responsabilizar ter celebradonegociação coletiva, da qual resulteinstrumento normativo menos vantajosoque outro anteriormente existente e quese entenda aplicável em lugar do primeiro.Vale dizer, o mero confronto entre os doisdiplomas normativos (ACT x CCT), oprimeiro celebrado pelos reclamados -Sindicato dos Trabalhadores no Comérciode Patrocínio (STRP) e AssociaçãoComercial e Industrial de Patrocínio(ACIP) e Câmara de Dirigentes Lojistasde Patrocínio (CDLP) e o segundo, pelaFederação dos Trabalhadores noComércio do Estado de Minas Gerais(FTCMG) e a Federação do Comércio doEstado de Minas Gerais (FCMG), nãoinduz à conclusão de que houve dano.

Assim, se a simples comparaçãodos referidos instrumentos normativosnão autoriza a conclusão da existência deprejuízo à categoria dos comerciários dePatrocínio, face à inexistência depresunção juris et de juris ou mesmo depresunção juris tantum neste sentido,força é concluir que a alegação doprejuízo formulada pelo autor carecemesmo de prova objetiva e inequívoca desua existência.

Não se alegue que os acertosrescisórios celebrados perante o NINTERcom base no ACT fustigado são provasdo prejuízo. Este fato, de existênciapacificamente comprovada nos autos, porsi só não autoriza também a conclusãopela existência de prejuízo. Aqui caberecorrer às informações técnicasprestadas pelos experts ouvidos à f. 665.Trata-se de três contadores veteranos,com longa experiência na contabilidadede direitos trabalhistas relativos à área docomércio em Patrocínio. Todos dotadosda mais lídima credibilidade, idoneidade

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e competência profissional. Um deles com9 anos de experiência na área (Sr. JoséGeraldo), os demais com mais de 20 anos(Sr. Lauro e Sr. Luiz). Prestaramesclarecimentos técnicos que este juízofaz questão de transcrever abaixo:

“... Segundo suas experiênciaslocais podem informar que aconvenção coletiva da Federaçãodos Comerciários de MG nunca foiobservada aqui em Patrocínio. Domesmo modo também nunca seobservou a C.C. (rectius ACT)celebrado pelo sindicato impugnado(...) sabem e declaram que a médiasalarial dos comerciários emPatrocínio oscila entre 2 e 3 SM(salários mínimos) (...) conformeseja o porte do empregador; após aedição da C.C. (rectius ACT)constante de f. 358, esta situaçãofática, em nada se alterou; ou seja,antes e depois dela nada mudou (...)desta sorte, a partir de janeiro/97(início de vigência do ACT) não seregistra, a partir da experiência e daprática profissional dos declarantes,qualquer alteração nos direitostrabalhistas praticados na cidadeem relação à categoria doscomerciários...”. (f. 665, 666)

As declarações colhidas não vêmatestar mais que o que é público e notóriona região. Efetivamente não se praticavaantes do início da vigência do ACT fustigadoos ditames da CCT celebrada pelaFederação dos Trabalhadores no Comérciodo Estado de Minas Gerais. A assertivapermite a tranqüila conclusão de que doponto de vista objetivo e concreto não hámesmo que se falar em prejuízo dosempregados no comércio de Patrocínio,advindo da celebração do referido ACT.

O que as partes, autor e assistido,trouxeram aos autos como pretensa provados prejuízos não foi além da juntada dosdois instrumentos normativos celebradospelo Sindicato Obreiro e pela Federaçãodos Comerciários, para confronto dosrespectivos conteúdos. Convenhamos, oexpediente é insuficiente para se concluirque, na realidade, a partir da edição dotal Acordo Coletivo a categoria doscomerciários passou a sofrer prejuízos.

E se o ACT coletivo estabelece comopiso o salário mínimo, tem-se que o pisose refere ao menor salário passível de serauferido pelos integrantes da categoria.Tanto é que nele também se estabeleceque o referido piso prevalece para oscomissionistas mistos ou puros (cláusulasegunda, f. 358). O que é certo é que oreferido instrumento normativo é prova deque os comerciários não podem ganharmenos que o salário mínimo. Aliás, acláusula é absolutamente desnecessária,quando se tem em mira a normaconstitucional definidora deste patamar.Ele porém não é prova de que os saláriospraticados na região sejam exatamenteiguais ao patamar fixado no AcordoColetivo. Aliás, a prova que se tem é ainformação dos experts ouvidos por estejuízo e que, conforme transcrito acima,declararam que os salários praticadosencontram-se entre 2 e 3 salários mínimoso que vem corroborar a tese de que oindigitado ACT estabeleceu o óbvio:nenhum comerciário pode ganhar menosque o mínimo, embora os saláriospraticados sejam superiores a estemínimo. Acresça-se mais, porque de sumaimportância, o esclarecimento de que ospreços dos salários sempre praticados naregião, refrise-se, encontram-se na médiaacima indicada. E mais, este estado decoisas, sempre manteve-se assim, antese depois do ACT questionado.

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Em síntese contundente tem-se aconcluir que os alegados prejuízossimplesmente inexistiram.

Sem mais delongas, impõe-setranslúcida a improcedência do pedido deindenização!

III - CONCLUSÃO

Razões pelas quais o JuizPresidente da JCJ de Patrocínio assimpropõe a presente decisão aos eminentesjuízes classistas integrantes desteColegiado, representantes dosempregados e empregadores, queunanimemente emprestam adesão deseus votos à referida decisão, paraextinguir o processo sem julgamento demérito (art. 267, VI, CPC) para, quanto aopedido de indenização por danos materiais(f. 14, alínea “b”) e tão-somente em relaçãoao mesmo, excluir da lide o Sindicato dosTrabalhadores no Comércio de Patrocínioe Região; e, no mérito, julgar improcedente

o pedido de indenização por danosmateriais (f. 14, alínea “b”) em relação àssuplicadas Associação Comercial eIndustrial de Patrocínio e Câmara deDiretores Lojistas de Patrocínio e, ainda,JULGAR PROCEDENTE, EM PARTE, opedido formulado na ação ajuizada peloMINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO,assistido pela FEDERAÇÃO DOSTRABALHADORES NO COMÉRCIO DEMINAS GERAIS contra o SINDICATO DOSEMPREGADOS NO COMÉRCIO DEPATROCÍNIO E REGIÃO, ASSOCIAÇÃOCOMERCIAL E INDUSTRIAL DEPATROCÍNIO E CÂMARA DOSDIRETORES LOJISTAS DE PATROCÍNIOpara DECLARAR NULO O ACORDOCOLETIVO DE TRABALHO celebradopelos suplicados e anexo à f. 358 destesautos.

Custas, pelos suplicados, noimporte de R$200,00 sobre R$10.000,00,valor da causa.

Intimem-se as partes.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 102/98Data: 30.06.1998DECISÃO DA 13ª JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: Dr. FERNANDO LUIZ GONÇALVES RIOS NETOAberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadas as partes,ausentes.A seguir, proposta a solução do dissídio aos Srs. Juízes Classistas e colhidos osvotos, proferiu a Junta a decisão seguinte:

César Rodrigues Giovane, pelainicial de f. 02/04, em que se qualifica,ajuizou reclamação trabalhista em face doBanco Itaú S/A, como sucessor do Bancodo Estado do Rio de Janeiro S/A, dizendoque foi admitido pelo sucedido em23.03.81, sendo que o sucessor deveráresponder; que trabalhava continuamenteno sistema de digitação, com esforçorepetitivo, pelo que foi acometido de LER,

estando em tratamento médico desde15.05.96; que detém estabilidade noemprego, não podendo ser demitido; quepor força das normas da CCT de 1997/98, tem direito à complementação doauxílio-doença, na forma explicitada, até15.05.98, mas o Banco somente pagouaté novembro/97. Pleiteia: -complementação de auxílio-doença dedezembro/97 até 15.05.98, parcelas

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vencidas e vincendas; 13º salárioreferente a 97; 13º salário referente a 98(5/12); FGTS sobre os valores apurados;juros e correção monetária; dobra dasparcelas incontroversas. Deu à causa ovalor de R$1.500,00, para fins de alçada.

Após regularmente notificado,compareceu o Reclamado à audiênciarealizada conforme ata de f. 46, quandofoi recusada a primeira propostaconciliatória, formando-se então ocontraditório.

Naquela assentada, ficou indeferidaa denunciação da lide ao Banco do Estadodo Rio de Janeiro S/A – em liqüidaçãoextrajudicial, sob protesto do Reclamado.

Na defesa escrita de f. 47/76, alémda dita denunciação da lide já indeferida,argúi o Reclamado sua ilegitimidade departe, por inexistência de sucessão,requerendo sua exclusão da lide pelasrazões expostas, inclusive jurisprudênciatranscrita; argúi a prescrição qüinqüenal;e aduz sobre a inexigibilidade dacomplementação pleiteada, sob orepisado argumento da inexistência desucessão trabalhista no caso,transcrevendo doutrina e jurisprudênciaem seu prol; contesta aplicação do art.467, da CLT; impugna valores e critériosde cálculo da inicial, impugna documentosacostados à exordial; propõe formas deapuração dos juros e correção monetáriana eventualidade; requer aimprocedência.

Produzida prova documental.Razões finais orais e malograda a

última tentativa de conciliação.É o relatório.

FUNDAMENTOS

Por descabida essa forma deintervenção de terceiro no processo dotrabalho, dada a impossibilidade de se

instaurar a lide interempresarial no estritoâmbito da ação trabalhista, correto oindeferimento da denunciação da lide aoBANERJ, como já decidido em primeiraaudiência, o que se confirma, restandoinócuo o protesto lançado emdecorrência.

Quanto à argüida ilegitimidadepassiva de causa do Reclamado, suasrazões se confundem com a da propaladainocorrência da sucessão deempregadores, o que será decididoquanto ao mérito. É que a inicial fezdirigida a ação em face do Reclamadoúnico e dito sucessor, sendo que amatéria, uma vez controvertida, haverá deser decidida como mérito da causa, tendoo Reclamante assumido o risco dapropositura contra o verdadeiro e corretoresponsável, como seu empregador atual.

Fica acolhida a prescriçãoqüinqüenal como argüida na defesa, ouseja, contada retroativamente da data doajuizamento desta reclamatória. Valedizer que se acham prescritos os direitose parcelas anteriores a 20.01.93.

Já no mérito, cabe afastar as razõesda defesa concernentes à negativa dasucessão de empregadores econducentes à propalada ausência deresponsabilidade trabalhista direta doReclamado para com os direitostrabalhistas do Reclamante.

É que o Reclamado, como se sabee ficou incontroverso nos autos, assumiu,nesta Capital, toda a atividade bancáriado antigo empregador do Reclamante - oBanco do Estado do Rio de Janeiro S/A -BANERJ, ora em liqüidação extrajudicial.Significa que o Reclamado adquiriu achamada “parte boa” do BANERJ,estando a operar os estabelecimentos ouas agências bancárias onde a atividadetípica desse ramo empresarial sedesenvolve, enquanto que o sucedido

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encontra-se paralisado ou sem atividadealguma enquanto instituição financeira,apenas ultimando os atos de liqüidaçãoem procedimento administrativoassemelhado ao da falência.

Outro pressuposto que se há dedestacar na espécie é o de que oReclamante não se encontra na posiçãode mero credor trabalhista à procura dequem possa satisfazer seus créditos,sendo na verdade ainda um empregado,cujo contrato de trabalho está suspensopor força de lei, em decorrência do seuafastamento prolongado para tratamentomédico, com recebimento do benefícioprevidenciário próprio.

Torna-se nítida, assim, a ocorrênciada sucessão de empregadores,porquanto ao Reclamante é asseguradaa garantia de emprego e prossegueintacto o seu contrato de trabalho, que seliga ao estabelecimento-atividade quehoje está sob o comando, direção epropriedade do Reclamado. Este é, pois,o seu empregador, de modoincontornável, da mesma forma quepassou a ser o empregador de outrosbancários, que permaneceramtrabalhando nas agências que eram doBANERJ, e que passaram a ser operadaspelo Banco Itaú.

Como observa Umberto Grillo emobra a respeito da “alteração do contratode trabalho”, a sucessão de obrigaçõesdo empregador, para os efeitos docontrato de trabalho “... pode ocorrer pelavenda de parte da empresa, isto é, deuma ou de várias unidades de produção”,ressaltando que nessa hipótese, comonas demais enumeradas, “... há mudançade empregador”. E acrescenta que “Pelaextinção da empresa, com transferênciaa terceiros como unidade jurídica, ou pelatransmissão de suas unidades deprodução, o novo empregador assume

toda a responsabilidade trabalhistadecorrente do contrato, já que oempregado, inexistindo rescisãocontratual, conserva todos os direitosadquiridos anteriormente àtransferência”. Explica, ainda, que “Coma venda de parte da empresa, esta semantém como unidade jurídica. A parcelaalienada passa a integrar a novaempresa. Se o empregado permaneceutrabalhando, a despeito da venda, o novoempregador passa a responder pelasobrigações trabalhistas daqueleempregado, assumindo, inclusive, aresponsabil idade pelos direitos jáincorporados ao seu patrimônio jurídico”.Em outra passagem, finalmente,assevera que “... pela mesma razão,qualquer alteração, nominal ou funcional,isto é, na razão social, na estruturajurídica ou na própria atividadeempresarial, é incapaz de afetar oscontratos de trabalho de seusempregados no que concerne aosdireitos que estes tenham adquirido.Esse é o sentido da regra contida nosarts. 10 e 448, da CLT, protegendo ocontrato de trabalho de toda e qualqueração que possa determinar seurompimento. A alteração na propriedadeou na estrutura jurídica da empresa nãoenvolve, portanto, por si só, alteração docontrato de trabalho, embora possa, deforma indireta, e por questão de políticaempresarial, criar situações capazes demodificar o desempenho do empregado.Quando isso ocorre, a matéria éapreciada como alteração contratual, emsi mesma considerada,independentemente da alteração havidana propriedade ou na estrutura daempresa”.(In GRILLO, Umberto. Alteração do

contrato de trabalho – Rio de Janeiro:Freitas Bastos, 1990. p. 127 e 129/130)

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Como se verifica, ficou com oReclamado a responsabilidade diretapelas obrigações patronais relativas aocontrato individual de trabalho doReclamante, devendo assumir a posiçãode empregador em substituição aoBANERJ, por sucessão, inclusive paracomplementação do auxílio-doençaacidentário, nos termos da norma coletivainvocada e da mesma forma que vinhafazendo o antecessor até novembro/97,como comprovam os documentos de f. 05/06.

Tais documentos, a propósito, nãoforam inquinados de falsos, sendocomuns às partes e de manutençãoobrigatória pelo empregador e seussucessores, assim como as convençõescoletivas de trabalho; estas, ademais, deconhecimento obrigatório como normasaplicáveis às partes, além de publicizadascom o arquivo no Ministério do Trabalho,circunstâncias essas que tornam inócuaa impugnação genérica, por mera falta deautenticação, como feita na defesa atodos os documentos acostados àexordial.

As parcelas de complementação doauxílio-doença, posto que impugnadasquanto aos valores, serão apuradas epagas como devidas de dezembro/97 até15.05.98, segundo os parâmetrosestabelecidos na norma da CláusulaVigésima-quinta e seus parágrafos, doaplicável instrumento normativo de f. 17/39, inclusive as correspondentes às 13ªmensalidades (§ 6º, de f. 29) de 1997 eproporcional de 1998 em 5/12, nos limitesdos pedidos como formulados. As basesa serem observadas no cálculo deliqüidação serão aquelas que vinhamsendo utilizadas pelo BANERJ aténovembro/97, já que vinculam oempregador-sucessor e contaram com aaquiescência do Reclamante, que não

postula diferenças a respeito.No que pertine ao FGTS, não se

tornam devidos recolhimentos e nemtampouco pagamento a esse título, jáque indevidas as incidências dobenefício normativo nos depósitos deFundo de Garantia. Estes são devidospor lei com incidência mensal sobre ossalários e parcelas remuneratóriasdevidas e pagas pelo empregador, nadasendo exigível enquanto estejasuspenso o contrato de trabalho, comona espécie, tendo em vista que não háfalar em pagamento de salários. E a ditacomplementação de auxílio-doençaacidentário não é salário, nem constituiobrigação remuneratória normal docontrato, mas está vinculada aobenefício previdenciário quecomplementa, por determinação denorma coletiva cogente. Improcedenteo pedido de letra “d” de f. 03.

A forma e índices aplicáveis quantoà atualização monetária do crédito são osexigíveis e vigentes no momentoprocessual em que se faz a corretaapuração e o pagamento da dívida. Taisíndices serão os relativos aos meses decompetência de cada parcela. O comandosentencial deve ser apenas o dedeterminar que as parcelas dacondenação sejam atualizadas na formada lei e acrescidas dos juros de mora,cabendo observar-se, in casu, osparâmetros ora estabelecidos nestafundamentação. Os ditos juros de moraserão contados, naturalmente, à base de1% ao mês, a partir do ajuizamento destareclamatória, incidentes na forma doEnunciado n. 200, da Súmula do TST.Tanto no período do curso do processo,a partir do ajuizamento, quanto ao tempoda constituição de cada parcela devida,a regra foi essa, não se modificando.

Nada mais.

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CONCLUSÃO

Por tais fundamentos, DECIDE a13ª Junta de Conciliação e Julgamentode Belo Horizonte-MG, sem divergência,julgar PROCEDENTE EM PARTE areclamação trabalhista que CÉSARRODRIGUES GIOVANE move em face deBANCO ITAÚ S/A, para condenar oReclamado a pagar ao Reclamante, comose apurar em consonância com amotivação “retro” e com juros de morasobre o capital atualizado na forma da lei,em 8 (oito) dias contados da intimaçãodesta sentença ou em sua regular

execução, as parcelas mensais decomplementação do auxílio-doençaacidentário, no período de dezembro/97até 15.05.98, inclusive as referentes às13ª mensalidades, na forma deferida.

Oficiar ao INSS e DRT de todo oconteúdo desta decisão, após passadaem julgado, para ciência e providênciasque entenderem cabíveis.

Custas, pelo Reclamado, no importede R$140,00, calculadas sobreR$7.000,00 (sete mil reais), valor que searbitra à condenação.

Intimem-se.Encerrada a audiência.

Rev. TRT - 3ªR. - Belo Horizonte, 28 (58): 483-593, Jan.98/Dez.98