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ANO 2 NÚMERO 3 SET A DEZ 2018 DEBATES CONTEMPORÂNEOS EM TRABALHO E INOVAÇÃO

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ANO 2 NÚMERO 3 SET A DEZ 2018

DEBATES CONTEMPORÂNEOS EM TRABALHO E INOVAÇÃO

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FAROL – REVISTA ACADÊMICA DA FeMASS

Prefeitura Municipal de Macaé

Aluízio dos Santos Júnior

Prefeito

Secretaria Adjunta de Ensino Superior

Márcio Magini

Gestor

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos

Cláudia de Magalhães Bastos Leite

Diretora

Organização deste Volume

Andréa Giglio Bottino

Conselho Técnico-Científico

Douglas Valiati

Edson Ricardo Gonçalves

Evaldo de Azevedo Moreira

Juliano Soares Rangel

Sérgio Pereira Gonçalves

Equipe de ProduçãoRevisão de TextoCláudia de Magalhães Bastos Leite

Revisão de Língua Estrangeira (Inglês)Paulo Eugênio Alves Gomes

DiagramaçãoAlexandre Maçal

CapaMartinelli de Oliveira Paula

Supervisão TécnicaMartinelli de Oliveira Paula

Editora ChefeAndréa Giglio Bottino

Coordenação de Ensino, Pesquisa e ExtensãoJardeni Azevedo Francisco Jadel

Coordenação de EnsinoAldiejna Canabarra Bento

Coordenação de AdministraçãoEdson Ricardo Gonçalves

Coordenação de Engenharia de ProduçãoEvaldo de Azevedo Pereira

Coordenação de Sistema de InformaçãoDouglas Valiati

Coordenação de MatemáticaSérgio Pereira Gonçalves

REVISTA ACADÊMICA DA FeMASSFAROL

Revisão de TextoCláudia de Magalhães Bastos Leite

Editora ChefeAndréa Giglio Bottino

Expediente:

Revisão de Língua Estrangeira (Inglês)Paulo Eugênio Alves Gomes

DiagramaçãoAlexandre Maçal

CapaMartinelli de Oliveira Paula

Supervisão TécnicaMartinelli de Oliveira Paula

Autor corporativo:

Peridiocidade:

ISSN 2447-1356

Rua Aloízio da Silva Gomes, 50 - Granja dos Cavaleiros - Macaé / Rio de Janeiro

Endereço:

Faculdade Municipal Professor Miguel Ângelo da Silva Santos ( FeMASS )

Semestral

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SUMÁRIO

Andréa Giglio Bo�no, FeMASS e FAFIMA

Aprendizagem Significa�va: Um Relato Sobre o Uso de Ferramentas Constru�vistas na Práxis do Professor Diante do Ensino de Ciências Biológicas ...........................................................................................................46Diego Guerra de Almeida, UFRJ

Illana Mendonça de Carvalho, FeMASS

Apresentação ................................................................................................................................................. 06

A Aplicação de Conceitos Lean Manufacturing: Estudo de Caso em uma Empresa de Serviços de Cimentação de Poços de Petróleo .........................................................................................................................................23

Evaldo de Azevedo Moreira, FeMASS

O Desafio da Profissão Bancária Sob a Perspec�va da Regulação da Responsabilidade É�ca Socioambiental...................................................................................................................................................35

Bianca Cruz Borges, FeMASS

Andréa Giglio Bo�no

Ar�gos

SUMÁRIO

Matema�cando as Profissões ............................................................................................................................07Andréa Giglio Bo�no, FeMASS e FAFIMA

Evellim do Nascimento Luz, FeMASS

Deposição de Asfaltenos em Tubulações de Campos Produtores de Óleos Pesados – Caracterização Química por Difração de Raios-X e Infravermelho (IVTF) ................................................................................................14

Mariana Daflon de Andrade, FeMASS Joyce de Souza Faria, FeMASS

Ta�any de Almeida For�ni Bri�o, FeMASSEliane Soares de Souza, LENEP/UENF

Felipe Cerchiareto, FeMASS

Saulo Bichara Mendonça, UFF

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APRESENTAÇÃO

Esperamos que os leitores e toda a comunidade acadêmica compar�lhem conosco dessa sa�sfação e desse orgulho,

assim como, do sen�mento de que valeu a pena toda a dedicação e o esforço para que con�nuemos nesse

empreendimento.

Os estudos apresentados neste volume buscam concre�zar a convicção de que a Revista Farol tem a responsabilidade

de contribuir de forma significa�va para a divulgação da produção cien�fica no Município de Macaé, além de proporcionar a

discussão de questões per�nentes e atuais na área.

O presente volume é mo�vo de sa�sfação e de orgulho. Agradecemos a par�cipação dos autores, revisores, membros

do Conselho Técnico-Cien�fico que nos enviaram suas contribuições e avaliações por meio de pareceres. E, também a todos

que, direta e indiretamente, contribuíram para a concre�zação desse ideal.

Macaé, setembro de 2018

ANDRÉA GIGLIO BOTTINO

Caros Leitores,

A edição é composta por estudos realizados por docentes e discentes dos cursos de Graduação em Administração,

Engenharia de Produção, Sistemas de Informação e Licenciatura em Matemá�ca, além de professores de outras IES.

Dando prosseguimento, Saulo Bichara Mendonça nos conduz à leitura do ar�go O Desafio da Profissão Bancária sob a

Perspec�va da Regulação da Responsabilidade É�ca Socioambiental que tem o propósito de analisar se as ins�tuições

financeiras detêm efe�va responsabilidade sobre o ambiente onde a empresa se desenvolve, e se devem, então, responder

pelos reflexos que este ambiente pode proporcionar sobre os que nela atuam de forma profissional e os que nela convivem

eventualmente.

A FeMASS – Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos lança o Volume 03, da Revista Farol, que tem como

tema principal Debates Contemporâneos em Trabalho e Inovação. A concre�zação desse projeto é o resultado de um

trabalho de equipe e demonstra o compromisso que a ins�tuição tem em desenvolver suas a�vidades garan�ndo uma

formação superior de qualidade, ar�culando ensino, pesquisa e extensão nas interações entre o poder público, a indústria e

a academia, formando cidadãos para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental de Macaé.

Concluindo este volume, Diego Guerra de Almeida e Andréa Giglio Bo�no apresentam o ar�go Aprendizagem

Significa�va: um Relato Sobre o Uso de Ferramentas Constru�vistas na Práxis do Professor Diante do Ensino de Ciências

Biológicas que tem como foco propiciar uma reflexão acerca de uma experiência constru�vista realizada em uma escola

pública, de zona rural, localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro, colocando em prá�ca o conhecimento construído

na disciplina de Psicologia da Educação.

O primeiro ar�go que abre este volume in�tulado Matema�cando as Profissões de autoria de Andréa Giglio Bo�no,

Bianca Cruz Borges, Evellim do Nascimento Luz, Illana Mendonça de Carvalho, Joyce de Souza Faria e Mariana Daflon de

Andrade, descreve os aspectos mais relevantes que foram observados durante o desenvolvimento de uma oficina

pedagógica realizada em uma unidade escolar pública. Dando con�nuidade, o ar�go sobre Deposição de Asfaltenos em

Tubulações de Campos Produtores de Óleos Pesados – Caracterização Química por Difração de Raios-X e Infravermelho

(IVTF), de Ta�any de Almeida For�ni Bri�o e Eliane Soares de Souza, destaca a importância do conhecimento da estrutura

molecular dos asfaltenos. Em sequência, o ar�go sobre A Aplicação de Conceitos Lean Manufacturing: Estudo de Caso em

uma Empresa de Serviços de Cimentação de Poços de Petróleo, de autoria de Felipe Cerchiareto e Evaldo de Azevedo

Moreira, aponta possibilidades de melhoria em produ�vidade, tendo como base o estudo desenvolvido em uma gerência

responsável por prestar serviços de cimentação de poços de petróleo, de uma empresa prestadora de serviços para esse

setor.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL

MATEMATICANDO AS PROFISSÕES

ANDRÉA GIGLIO BOTTINO

Doutora em PsicologiaFaculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASS

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé - FAFIMAE-mail:agbo�[email protected]

BIANCA CRUZ BORGESGraduanda em Licenciatura em Matemá�ca

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASSE-mail:[email protected]

EVELLIM DO NASCIMENTO LUZGraduanda em Licenciatura em Matemá�ca

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASSE-mail:[email protected]

ILLANA MENDONÇA DE CARVALHOGraduanda em Licenciatura em Matemá�ca

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASSE-mail:[email protected]

JOYCE DE SOUZA FARIAGraduanda em Licenciatura em Matemá�ca

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASSE-mail:[email protected]

MARIANA DAFLON DE ANDRADEGraduanda em Licenciatura em Matemá�ca

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASS E-mail:[email protected]

Resumo:

PALAVRAS-CHAVE: Matemática. Oficina. Profissões.

O objetivo deste artigo é descrever os aspectos mais relevantes, analisados durante o desenvolvi-mento de uma oficina intitulada “Matematicando as Profissões”, que ocorreu em uma unidade escolar pública, no município de Rio das Ostras, R.J., para alunos do Ensino Médio, sob a orientação da profes-sora de Didática da FeMASS. A atividade em questão promoveu uma interação entre universidade-escola, além de proporcionar uma formação mais ampla aos discentes, estabelecendo uma relação entre a teoria e a prática. Para a realização desta oficina foi, inicialmente, realizada uma pesquisa bibliográfica. Em seguida, o trabalho tomou um caráter experimen-tal e descritivo, baseando-se na aplicação, observa-ção e análise de atividades práticas, relacionando a matemática com as profissões. Os resultados encontrados durante o desenvolvimento da oficina sugerem que a matemática pode ser correlacionada a diferentes profissões por meio da ludicidade e das ações cotidianas, sendo esta uma proposta de ensino eficaz para garantir aos alunos uma aprendizagem significativa.

07

KEY WORDS: Mathematics. Workshop. Professions.

ABSTRACT

The objective of this article is to describe the most relevant aspects analyzed during the development of a workshop entitled "Matematicando las Profissões", which took place in a public school unit in the municipality of Rio das Ostras, RJ, for high school students under the FeMASS teacher training course. The activity in question promoted an interaction between university-school, besides providing a broader formation to the students, establishing a relation between theory and practice. For the accomplishment of this workshop, a bibliographical research was initially carried out. Then, the work took an experimental and descriptive character, based on the application, observation and analysis of practical activities, relating the mathematics with the professions. The results found during the workshop development suggest that mathematics can be correlated to different professions through playfulness and everyday actions, and this is an effective teaching proposal to guarantee students the meaningful learning.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 08

A oficina em questão objetivou apresentar a matemática no cotidiano, dos alunos em situa-ções do dia-a-dia, inclusive destacando conte-údos matemáticos presentes nas profissões, independente da área do conhecimento ao

Uma vez que proporciona conhecimentos teóricos e práticos, a didática possibilita ao docente uma percepção reflexiva e crítica acerca das situações em seu contexto histórico-social, uma compreensão crítica do processo de ensino na sua função de assegurar, com eficácia, o encontro ativo do aluno com os conteúdos escolares e, portanto, das condições e modos de articulação entre os processos de transmissão, por parte do docente, e assimila-ção, por parte do discente, de conhecimentos e da unidade objetivos-conteúdos-métodos enquanto tripé indispensável para a realização de tarefas docentes de planejamento, direção do processo de ensino-aprendizagem e avaliação.

INTRODUÇÃO

Conforme a matriz curricular do curso de Licenciatura em Matemática, oferecido pela Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos- FeMASS-, na disciplina de Didática, a carga horária é dividida em 40 horas na parte teórica e 20 horas na parte prática, perfa-zendo um total de 60 horas.

Levando isso em consideração, foi desenvolvida a oficina “Matematicando as Profissões”, com turmas de Ensino Médio de uma determinada comunidade escolar, promo-vendo uma interação universidade-escola, almejando despertar no aluno o interesse pelo conhecimento, além de proporcionar uma formação mais ampla, analisando, assim, a condição de existência da relação entre teoria e prática.

A didática, que tem por seu ápice o planeja-mento, é definida por Libâneo (2002) como uma disciplina que estuda o processo de ensino no qual os objetivos, os conteúdos, os métodos e as formas de organização da aula se entrelaçam, de modo a criar as condições necessárias para que o discente tenha uma aprendizagem significati-va. De acordo com Moreira (1999) é possível falar em aprendizagem significativa, em referen-ciais teóricos construtivistas, pois se trata de um conceito subjacente às teorias construtivistas de aprendizagem.

No campo da física e da química, a matemá-tica é utilizada como uma das principais ferra-mentas. Na física, os experimentos e cálculos resultam em números que expressam significa-dos que auxiliam de maneira direta o trabalho, como exemplos práticos pode observar a con-versão de temperatura; no Brasil, a temperatura é expressa em graus Celsius e nos Estados Unidos, é em Fahrenheit, para saber a tempera-tura equivalente de Celsius em Fahrenheit é necessário utilizar uma equação matemática q u e r e s u l t a r á e m u m n ú m e r o .

qual pertencem.

A matemática está presente nas diferentes profissões e apesar de existirem algumas que utilizam mais os números do que outras é uma ferramenta imprescindível para esse ramo. Na profissão de engenharia civil, por exemplo, a matemática é um recurso utilizado para solucio-nar questões físicas; na engenharia de produ-ção, em cálculos e gráficos que auxiliam nas escolhas a serem tomadas.

As expectativas em relação ao trabalho de campo foram de observar e contribuir para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem na disciplina de matemática, propondo mecanismos didático-pedagógicos, capazes de auxiliar a construção, o desenvol-vimento do conhecimento matemático e buscando demonstrar a matemática presente nas profissões, uma vez que o discente já está na fase de ser inserido no mercado de trabalho. Com isso, a seguir, serão explicitadas as observações realizadas, as atividades desenvolvidas, dentre outros aspectos, fundamentando-se teoricamente. Além disso, também serão descritos a execução da oficina, o papel do professor diante do planeja-mento, a importância da relação da teoria com a prática e, por fim, as dificuldades, facilidades e curiosidades encontradas no decorrer do desen-volvimento da oficina.

DESENVOLVIMENTO

Na profissão de arquitetura e urbanismo necessita-se de um pensamento matemático para apresentar soluções inovadoras e criativas; são diversas as aplicações de cálculos matemá-ticos na arquitetura, como: cálculo de áreas, atribuições dos elementos no ambiente, gerenci-amento dos espaços e também o critério de material a ser empregado.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 09

Primeiramente, houve o processo de escolha do tema da oficina e o mesmo foi selecionado em função dos alunos estarem cursando o Ensino Médio e em período de escolha das profissões. Pensando nesta realidade, o objetivo era apre-sentar um pouco das áreas profissionais e exprimir o quanto os conceitos matemáticos estão inseridos. Após a escolha do tema, foi decidido o título da oficina “Matematicando as Profissões”. A direção da unidade escolar solicitou um Release, ou seja, uma pequena apresentação da oficina. Foi enfatizado o desejo de relacionar a Matemática com algumas profissões, sabendo que, no Ensino Médio, os alunos estão no período de esco-lha para o caminho profissional. No Release também foi abordado que os discentes teriam a oportunidade de correlacionar os conteúdos matemáticos já vistos no Ensino Fundamental e Médio, como Geometria Plana, Estudos de Função, Matemática Financeira, Álgebra e Estatística. Além disso, também ficou em destaque que a matemática pode ser traba-lhada de forma lúdica e dinâmica.

Para muitos, a Matemática ainda é vista como uma esfera mecânica sem relação com o cotidiano. Entretanto, ela pode ser desenvol-vida de forma concreta e está em toda parte, desde uma compra no supermercado à constru-ção de um edifício, desde a Psicologia à Contabilidade.

Na química não é diferente, a matemática é utilizada para expressar resultados ou para auxiliar de forma direta os procedimentos, como por exemplo, se um químico deseja quantificar a densidade de um líquido ou balancear uma reação química, ele utilizará de métodos mate-máticos, como a equação e operações básicas. Ao observar a matriz curricular das graduações de bacharelado e licenciatura, é notório a presen-ça das disciplinas de Cálculo, conteúdo matemá-tico que futuramente contribuirá para a vida profissional dos acadêmicos, portanto, a mate-mática está sempre relacionada as profissões de modo direto ou indireto.

Para a realização da oficina “Matematicando as Profissões” efetuou-se um período de pesquisa, planejamento e organização. Neste processo, algumas etapas foram realiza-das durante as aulas da disciplina de Didática e outros pontos foram executados, individualmen-te, pelos componentes do grupo.

O planejamento é uma atividade imprescin-dível no exercício do magistério. Diante disso, posteriormente, foi pensado e organizado o plano de aula, visto que a preparação é uma tarefa extremamente necessária, servindo de auxílio para as próximas atividades ou oficinas, como afirma Libâneo (1994, p.241),

Apesar dos avanços tecnológicos, a disciplina ainda é trabalhada de forma abstrata, esquecendo que esta pode ser desenvolvida de forma lúdica e cotidiana. Como afirma Kishimoto (1992, p.16), “é através da atividade lúdica que a criança forma conceitos, seleciona ideias e estabelece relações lógicas”. O trabalho lúdico visa desenvolver a criatividade e espontaneida-de, sobretudo o raciocínio lógico, não apenas em crianças, mas sim em todas as idades. Seguindo esse pensamento, Freitas e Aguiar (2012) destacam que “o lúdico pode auxiliar na construção do processo ensino-aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, desde que seja trabalhado de acordo com a faixa etária dos alunos”.

A preparação de aulas é uma tarefa indispensável e, assim como o plano de ensino, deve resultar num docu-mento escrito que servirá não só para orientar as ações do professor como também possibilitar constantes revisões e aprimoramentos de ano para ano.

Na organização do plano de aula, foram estabelecidos os seguintes objetivos gerais: “compreender a Matemática como uma parcela do conhecimento humano essencial para a formação de todos os jovens, que contribui para a construção de uma visão de mundo, para ler e interpretar a realidade e para desenvolver capacidades que deles serão exigidas ao longo da vida social e profissional” (PCN, 2001, Vol. 3, pág. 111) e “construir uma visão sistematizada das diferentes linguagens e campos de estudo da Matemática, estabelecendo conexões entre seus diferentes temas e conteúdos, para fazer uso do conhecimento de forma integrada e articulada” (PCN, 2001, Vol. 3, pág. 117). Com base nos objetivos gerais e na realidade dos alunos que participariam da oficina, traçaram-se os seguintes objetivos específicos: demonstrar a matemática no cotidiano; identificar os conteúdos matemáticos nas profissões; promover a interação entre os alunos; retomar, brevemente, os conhecimentos

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 10

matemáticos já adquiridos pelos alunos; estabe-lecer a relação entre professor- aluno.

Durante o desenvolvimento da oficina foram utilizados os métodos de ensino de Libâneo (1994). Para este autor, esses métodos são os meios para alcançar os objetivos gerais e especí-ficos, e movimentam o processo de ensino-aprendizagem. Primeiramente, utilizou-se o método de trabalho em grupo. A turma foi dividida em dois grupos, visando à realização de todas as atividades que seriam oferecidas. Além disso, foi pensado e utilizado o método de exposição pelo professor, responsável por explicar e exibir, sucintamente, de forma clara, os conteúdos a serem trabalhados, relacio-nando-os com cada profissão. Cada integran-te do grupo teve um tempo estipulado para retomar o conteúdo e relacioná-lo com as áreas profissionais. Para a exposição, cada componente dispôs de recursos lúdicos e didático-pedagógicos, como por exemplo, gráficos e tabela com informações do cotidia-no dos alunos (com a idade dos participan-tes). Foram abordadas noções iniciais de estatística, incluindo frequência absoluta e relativa. Para estudo da geometria plana, após demonstrar as diversas fórmulas matemáticas, utilizou-se o recurso lúdico e didático conhecido como “Dominó das Áreas de Figuras Planas”. Neste jogo, todos participaram, responderam as perguntas e montaram o dominó. Por meio do jogo da densidade (conhecido popularmente como “Afunda ou não afunda”), os alunos conse-guiam ver objetos dentro da bacia com água, e não apenas imaginar, como acontece na maioria das aulas. E outro recurso utilizado foi o material dourado, no qual os alunos resolve-ram questões de regra de três simples, que ajudou na visualização e no reforço desse conte-údo que é muito frequente em vestibulares e graduações.

Baseada no planejamento a oficina iniciou-se com uma dinâmica das profissões, cuja função era apresentar as carreiras que, posteriormen-te, seriam trabalhadas e comentadas. Nesta dinâmica, os componentes do grupo disseram seus respectivos nomes e qual profis-são iriam comentar. Em seguida, com o objetivo de promover a interação, cada participante disse seu nome e sua idade (esses dados seriam utilizados, posteriormente, para trabalhar com a Estatística).

A partir dos questionários aplicados aos alunos, foram confeccionadas as tabelas 1, 2, 3, 4 e 5 que relatam, respectivamente, os pontos positivos e negativos de acordo com a opinião de cada aluno sobre a oficina, além de sugestões para uma próxima oficina ou evento que poderá ser realizado na escola, como tam-bém, a avaliação da oficina em seu aspecto estruturante e a avaliação de como a mesma foi conduzida.

Com o apoio dos recursos lúdicos, realiza-ram-se atividades visando à obtenção e fixação de conhecimentos, fazendo uso do método de elaboração conjunta, no qual foi trabalhada a interação ativa dos alunos. Na finalização da oficina, disponibilizou-se um resumo com os conteúdos apresentados, seguido da aplicação de uma avaliação diagnóstica, que teve por objetivo obter maiores informações sobre a oficina, e avaliar o quanto o aluno compreendeu os conteúdos que foram trabalhados. Ao fazer as atividades, verificou-se que a relação da matemática nas profissões foi compreendida, ou seja, adquiriram e fixaram os conhecimentos expos-tos.

Aspectos Positivos da Oficina

fi fi (%)

Lúdico

17

25

Dinâmico

17

25

Boa explicação

23

33,83

Organização

5

7,35

Outros

6

8,82

Total

68

100

Tabela 1 –Pontos positivos da oficina, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

Aspectos Negativos da Oficina

fi fi (%)

Pouco Tempo 25 56,82

Nervosismo 5 11,36

Poucas Profissões 3 6,82

Pouco Exercício 1 2,27

Nenhum 10 22,73

Total 44 100

Tabela 2 – Pontos negativos da oficina, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 11

As tabelas 1 e 2 foram geradas a partir da primeira pergunta do questionário, que requisitava dois aspectos positivos e dois aspectos negativos, de acordo com a opinião dos discentes. Entre esses aspectos, as classes foram divididas a partir das semelhanças entre as opiniões. Na tabela 1, a classe “outros” é união entre aspectos de baixa frequência.

Percebe-se que, entre os aspectos positi-vos, destaca-se a ludicidade, dinamismo e boa explicação da oficina, contrário à organização, visto que a redução do tempo que foi solicitada pela direção da escola em função de situações inesperadas decorrentes no dia da oficina, prejudicou, de certa forma, o seu desenvolvimento na sua integralidade. Isso fica perceptível na tabela 2, já que quase 60% dos aspectos negativos foram o pouco tempo da realização da oficina, poucas profissões e exercícios, e o nervosismo também justificáveis pela “falta de tempo”. As tabelas 4 e 5 são de classes qualitativas

ordinais entre boa, média e ruim. No questioná-rio o aluno tinha as alternativas para avaliar a oficina de forma geral, que teve 97,37% das opiniões como boa, e para avaliar a forma como a oficina foi conduzida com 92,11% também considerada boa. Não houve dados contabiliza-dos para a avaliação do item “ruim”.

Sugestão para uma próxima oficina

fi fi (%)

Mais tempo 10 24,39

Oficina de outros temas 11 26,83

Diminuir o nervosismo 3 7,32

Nenhuma 12 29,27

Outros 5 12,19

Total 41 100

Tabela 3 – Sugestões para uma próxima oficina, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

A tabela 3 foi criada a partir da questão 2 do questionário, onde os alunos deram suges-tões para uma próxima oficina ou evento que poderá ser realizada na escola. 24,39% sugeri-ram mais tempo, confirmando que a falta do mesmo foi um prejudicial. 26,83% pediram oficinas de outros temas como música, dança e xadrez. Em relação a essa sugestão, havia mais oficinas de outros temas, mas que aconteci-am no mesmo período de tempo. A sugestão de diminuir o nervosismo, com 7,32% é coeren-te com a tabela 2. A classe “outros” explicitada nesta tabela, novamente, é a junção entre clas-ses de baixa frequência.

Avaliação da Oficina

fi fi (%)

Boa 37 97,37

Média 1 2,63

Ruim - -

Total 38 100

Tabela 4 – Avaliação da Oficina, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

Avaliação da Condução e Organização da Oficina

fi fi (%)

Boa 35 92,11

Média 3 7,89

Ruim - -

Total 38 100

Tabela 5 – Avaliação da Condução e Organização da Oficina, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

Questões

Acertos

fi

1

6

7,79

2

6

7,79

3

7

9,09

4

7

9,09

5

7

9,09

6

7

9,09

7

5

6,51

8

6

7,79

9

7

9,09

10

6

7,79

11

6

7,79

12

7

9,09

Total 77 100

Tabela 6 – Acertos da atividade sobre as profissões, colhidos dos alunos do Ensino Médio, na cidade de Rio das Ostras, 2017

Fonte: Dados dos pesquisadores

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 12

A atividade foi realizada em conjunto e cada discente precisava encontrar a resposta correlacionando com a matemática. Foi observa-do que a área da matemática está, na maioria dos casos, presente em ações do cotidiano. Além disso, exerce um papel muito importan-te, explícita e implicitamente, em grande parte das profissões. Foram 12 profissões trabalhadas no exercício: Contabilidade, A d m i n i s t r a ç ã o , C i n e m a , A r q u i t e t u r a , Engenharia, Direito, Medicina Veterinária, Turismo, Geografia, Odontologia, Psicologia e Música, respectivamente, representados como questões de 1 a 12 na tabela 6. É percebida uma facilidade quanto à relação, com o menor número de acertos na medicina veterinária, cinco atividades corretas e duas não. No geral 92% das questões foram relacionadas corretamente.

No plano de aula também existiam algumas informações importantes, como o segmento e os anos de escolaridade (1º, 2º e 3º do Ensino Médio), o quantitativo de alunos por oficina (vinte alunos) e o tempo de duração da apresentação, que a princípio seria de uma hora e trinta minu-tos. Também foram expostos no planeja-mento os conteúdos trabalhados e sua r e l ação com as p rofissões , como a Porcentagem e o Juro simples com a Administração, Introdução à Estatística com as Ciências Humanas, Geometria Plana com Arquitetura, Regra de Três Simples com as Ciências Biológicas, e Aplicação de Fórmulas da Densidade e Campo Magnético na Química e na Física.

Dentre os fatores negativos observados, destaca-se o tempo estipulado, uma vez que, a princípio, seria de uma hora e meia, porém, por solicitação da instituição, foi reduzido para uma hora. O maior problema ocorrido com tal redução foi o fato da oficina ter sido planejada contando com o tempo máximo. Desta forma, os conteúdos e atividades foram realizados de forma bem rápida, porém executados com êxito, pois o docente deve sempre ter um planejamento flexível. Como fator positivo, a turma foi bem receptiva e participativa, respondendo a todas as perguntas e ativida-des e questionando quando lhes apareciam dúvidas. De um modo geral, apesar do curto tempo, os participantes aproveitaram cada minuto da oficina e disso tiraram a possibilidade

de adquirirem novos conhecimentos e refor-çar aqueles já pré-concebidos.

Houve uma grande diferença entre as turmas participantes. A primeira apresentou um perfil mais calmo e participativo, e o número de alunos foi menor. Levando em consideração que o quantitativo de alunos, por turma, era de, no máximo, vinte, a segunda turma ultrapassou o limite atingindo cerca de vinte e quatro. Devido a isso, observou-se um perfil mais agitado, entretanto, muito participati-vo e comunicativo.

Quando o assunto é desenvolvimento cognitivo, observa-se que cada aluno tem sua maneira própria e suas especificidades para adquiri-lo. No entanto, quando refere-se ao processo de ensino aprendizagem, o contexto engloba a maneira como o docente irá trabalhar suas aulas. O professor, também, é corresponsável para o sucesso escolar do aluno e, consequentemente, possui um papel fundamental enquanto mediador do conhecimento, uma vez que deve desenvol-ver, no discente, por meio de recursos didático-pedagógicos, a capacidade de assimilar e compreender conhecimentos pré-estabelecidos e, a partir desses, ser capaz de criar novos. Desta forma, é observável que para se obter um ensino de qualidade, é necessário que a teoria e a prática estejam sempre articuladas entre si.

Durante a preparação e a aplicação da oficina, observou-se que ao exercer sua práxis pedagógica o professor deve levar ao aluno possibilidades de entendimento de determina-da matéria de modo dinâmico, favorecendo a aprendizagem e compreensão do aluno. Na oficina colocou-se em ação a prática peda-gógica quando se relacionou algumas profissões com a Matemática. Como futuros professores, as aulas dinâmicas e a utiliza-ção de recursos didático-pedagógicos devem sempre fazer parte do planejamento, pois facilitam a interação do aluno com a disciplina.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 13

A oficina “Matematicando as Profissões” relacionou a matemática de forma lúdica e dinâmica, tirando o mecanicismo, ou seja, aprendizagem mecânica, que na grande maioria das vezes é utilizado nesta disciplina. Além de divertido, os recursos utilizados foram promoto-res de aprendizagem, já que reforçou conteúdos vistos em sala de aula, correlacionando-os com as profissões.

A redução do tempo da oficina, que seria de uma hora e meia e passou para apenas uma hora, foi um fator negativo no ponto de vista dos alunos e dos dinamizadores da oficina. Todavia, contribuiu para o aprendizado de que o planejamento deve ser sempre flexível e de que é necessária a precaução do professor diante dos imprevistos que podem vir a acontecer.

BRASIL ,Ministério da Educação. Secretariade Educação Fundamental. ParâmetrosCurriculares Nacionais. Terceiroe Quarto Ciclos do Ensino Fundamental. Matemática. Volume 3. Brasília: MEC, SEF, 2001.

FREITAS, Maristela Souza de & AGUIAR, Gersileide Paulino de. Educação e Ludicidade na Primeira Fase do Ensino Fundamental. Valedo Araguaia: Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar, nº 7 , p . 2 1 - 2 5 , 2 0 1 2 . D i s p o n í v e l e m : <http://univar.edu.br/revista/downloads/educacao_ludicidade_primeira_fase_ensino.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017.

CONCLUSÃO

O presente artigo procurou mostrar que tornar a matemática lúdica e dinâmica é um ponto positivo e torna a sala de aula um ambiente enriquecedor e motivador. O tema em questão não se esgota nesse artigo, sendo preciso a realização de mais estudos.

Conclui-se, portanto, que os objetivos foram alcançados com êxito. Demonstraram-se alguns conteúdos matemáticos presentes nas profissões, apresentados com uma linguagem fácil, aproximando os alunos do cotidiano. Além disso, houve a interação professor-aluno, assim como, entre os próprios alunos, visto que participaram de todas as atividades e questiona-mentos propostos.

REFERÊNCIAS

KISHIMOTO,TizukoMorchida. O jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 1993.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 21º reimpressão. São Paulo: Cortez Editora,1994.

___________. Didática: velhos e novos temas. Goiânia: Edição do autor, 2002.

MOREIRA, Marco Antônio. Aprendizagem signifi-cativa. Brasília: Editora Universidadede Brasília, 1999.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL

DEPOSIÇÃO DE ASFALTENOS EM TUBULAÇÕES DE CAMPOS PRODUTORES DE ÓLEOS PESADOS –

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX) E INFRAVERMELHO (IVTF)

Ta�any de Almeida For�ni Bri�o (FeMASS)Doutora em Engenharia de Reservatório e Exploração

ta�for�[email protected]

Eliane Soares de Souza (LENEP/UENF)Doutora em Engenharia de Reservatório e Exploração

[email protected]

Resumo:

Palavras-chave: asfaltenos, deposição, caracte-rização química.

Abstract

Os asfaltenos geralmente encontram-se estáveis no petróleo. No entanto, devido a sua atividade superficial e comportamento coloidal, podem causar sérios problemas durante a produção de petróleo, com a formação de depósitos orgânicos nos reserva-tórios e linhas de escoamento, alterando decisiva-mente a molhabilidade da rocha reservatório e o processo de estabilização das emulsões (CALEMMA et al., 1998). A necessidade do conhecimento da estrutura molecular dos asfaltenos é fundamental para o entendimento dos mecanismos que ocasio-nam sua precipitação, seja no reservatório e/ou nas tubulações de produção (WEISSENBURGER & BORBAS, 2004). Neste trabalho, seis amostras de asfaltenos, isoladas a partir de afloramentos de arenitos asfálticos da Formação Piramboia, Bacia do Paraná, foram caracterizadas quimicamente por meio de técnicas analíticas de infravermelho com transformada de Fourier (IVTF) e difração de raios-X (DRX). Os resultados mostraram que uma análise muito criteriosa deve ser feita ao se utilizar os dados de DRX para a interpretação das estruturas dos asfaltenos, pois dependendo do grau de biodegrada-ção que estas macromoléculas tenham sido submeti-das, mudanças estruturais significativas podem acontecer afetando decisivamente o arranjo espacial, principalmente no que se refere ao empilhamento dos centros aromáticos, o que poderia explicar a precipi-tação destas macromoléculas nas tubulações e linhas de produção.

In general, asphaltenes are found to be stable in oil. However, their surface activity and colloidal behavior may cause serious problems during the production of oil, with the formation of organic depo-sits in the reservoirs and flow lines, altering the emulsion stabilization solution (CALEMMA et al., 1998). A need for knowledge of the molecular structu-

14

A necessidade do conhecimento da es t ru tu ra mo lecu la r dos as fa l tenos é fundamental para o entendimento dos mecanismos que ocasionam sua precipitação, seja no reservatório e/ou nas tubulações de produção (WEISSENBURGER & BORBAS, 2004). A precipitação dos asfaltenos pode ser provocada por uma série de fatores físicos e

Keywords: asphaltenes, deposition, chemical characterization.

re of asphalts is fundamental for the understanding of the mechanisms and their needs, either in the reser-voir or in the production pipes (WEISSENBURGER & BORBAS, 2004). In this work fifteen samples of asphaltenes isolated from samples of outcrops of asphalt sandstones of the Piramboia Formation, Paraná Basin, were characterized chemically by Fourier transform infrared (IFTR) and X-ray diffracti-on (XRD). The results showed that it is a very precise analysis to be used in the XRD data for an interpretati-on of the asphaltenes structures, because depending on the degree of biodegradation to which these macromolecules have been submitted, significant structural changes can occur affecting decisively the spatial arrangement, mainly with regard to the stacking of the aromatic centers, which may explain the macromolecule in the pipes and production lines.

Devido à diminuição das reservas de óleos leves ao longo das últimas décadas e ao atual crescimento da exploração e produção de petróleos mais pesados, como é o caso dos óleos produzidos a partir dos tarsands, muitos pesquisadores têm concentrado seus esforços na tentativa de compreender melhor a constituição química da fração mais pesada do petróleo, remanescente na grande maioria dos óleos biodegradados, cuja macromolécula de asfalteno é a representante, indiscutivelmente, m a i s c o m p l e x a e t a m b é m a m e n o s compreendida (PHILP et al., 2004; GAUTHIER et al., 2008; SCHABRON et al., 2008; OUDOT & CHAILLAN, 2010).

INTRODUÇÃO

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Segundo Merdrignac&Espinat(2007), a caracterização estrutural detalhada de frações pesadas do petróleo é, geralmente, difícil de alcançar, principalmente devido à grande com-plexidade das frações e às limitações de técnicas analíticas. Assim há um enorme esforço dos químicos para caracterizar os asfaltenos em termos das estruturas químicas presentes nessa mistura complexa a fim de facilitar o entendimen-to de suas propriedades e auxiliar no desenvolvi-mento de metodologias que impeçam sua preci-pitação indesejada. Para isso, técnicas analíticas como infravermelho (IVTF), ressonância magné-tica nuclear (RMN) de 1H e 13C, difração de raios-X, espectrometria de massa (EM), entre outras, têm sido utilizadas. Mesmo assim, sua caracterização não é uma tarefa fácil devido à alta complexidade de sua constituição molecular (SCHABRON et al., 2008).

De todos os compostos presentes na consti-tuição química do petróleo, o asfalteno é, indiscu-tivelmente, a molécula mais complexa. Em variações de pressão, de temperatura ou de

e químicos. Dentre os fatores físicos, as varia-ções de temperatura e pressão são as mais preocupantes, visto que, durante toda a cadeia produtiva do petróleo, esses compostos ficam sujeitos a inúmeras mudanças de pressão e temperatura, desde o momento que saem do reservatório ate chegar à superfície e, posterior-mente, na etapa de refino, onde os asfaltenos agem como precursores de coque e conduzem a desativação dos catalisadores. A dispersão dos asfaltenos no óleo é atribuída, principalmente, às resinas que são compostos aromáticos altamen-te polares. Com base nesse conceito, a estabili-dade do petróleo pode ser representada por três sistemas de fase: os asfaltenos, os aromáticos, que incluem as resinas e os saturados, que são delicadamente balanceados (CALEMMA et al., 1998). A presença de resinas no petróleo impede a precipitação dos asfaltenos por manter as partículas dos mesmos em suspensão coloidal. Quando um solvente é adicionado ao petróleo, as resinas são dissolvidas neste líquido, deixan-do áreas ativas nas partículas dos asfaltenos, o que permitiria a agregação dos mesmos e conse-quente precipitação (SHEU, 2002).

2. A molécula de asfalteno

O asfalteno pode ser definido como uma mistura heterogênea complexa de inúmeras moléculas polidispersas, compostas por anéis poliaromáticos condensados, cadeias alifáticas, heteroátomos como nitrogênio, enxofre e oxigê-nio na forma de ácidos carboxílicos, aminas, amidas e álcoois e também metais como ferro, níquel e vanádio (ANCHEYTA et al., 2004; GAUTHIER et al., 2008). Sua concentração nos óleos pode variar de 1% em peso em óleos leves a até 17% em óleos pesados ou que sofreram alterações estruturais devido aos processos de biodegradação. Não é por acaso que sua estru-tura (Figura 1) se aproxima da estrutura quero-gênica precursora do petróleo, sendo considera-do, por inúmeros autores, como “pré-óleo”, sendo possível, por meio de sua pirólise, a reconstituição composicional do óleo original, antes de ser submetido ao processo de biode-gradação (PHILP et al., 2004; SCHABRON etal., 2008).

composição do petróleo, as macromoléculas de asfaltenos tendem a associar-se e precipitar, causando vários problemas operacionais desde o transporte até o refino (GONCALVES et al., 2007; GAUTHIER et al., 2008).

a)

b)

Figura 1 - Estrutura hipotética de um (a) asfalteno e de um (b) querogênio (modificado de MULLINS et al., 2007).

No entanto, não apenas esta macromolécula faz parte da constituição química do petróleo. As resinas também desempenham um papel importante neste contexto, sendo consideradas compostos de estrutura química semelhante as dos asfaltenos, porém, menos polares e com massas moleculares inferiores aos dos asfalte-nos. Muitos pesquisadores acreditam que para um petróleo ser considerado estável, ou seja, não apresentar problemas de deposição de asfaltenos ainda no reservatório,ele deve conter uma concentração mínima de resina, acima da qual as partículas asfaltênicas não precipitariam da solução(SHEU, 2002; PHILP et al., 2004; WILHELMS & LARTER, 2004; SCHABRON et al., 2008).

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Ao longo dos últimos anos, houve um aumen-to significativo de estudos dos asfaltenos devido à crescente produção de petróleos mais pesados e à diminuição das reservas de petróleos mais leves. No entanto, entre todas as frações de petróleo, a estrutura molecular dos asfaltenos é ainda a menos compreendida (OUDOT &CHAILLAN, 2010). Sendo assim muitos pesqui-sadores (PHILP et al.,2004; WILHELMS & LARTER, 2004; WEISSENBURGER &BORBAS, 2004; GONCALVES et al., 2007; GAUTHIER et al., 2008; SCHABRON etal., 2008; OUDOT & CHAILLAN, 2010) têm concentrado seus esfor-ços na tentativa de melhorar as informações a respeito dessa mistura, aprofundando seus conhecimentos sobre as estruturas químicas envolvidas, caracterizando as funções existen-tes, estabelecendo seus comportamentos frente a diferentes tipos desolventes e, sobretudo, procurando explicar a forma com que essas moléculas se encontram estabilizadas e disper-sas no óleo. 3 - Caracterização das estruturas asfaltênicas por IVTF e DRX.

Apesar de existirem inúmeras técnicas analíticas para caracterização das macromolé-culas de asfaltenos, como já mencionado anteri-ormente, neste trabalho, foram utilizadas a DRX e a IVTF, por se tratarem de técnicas instrumen-tais simples e eficientes para caracterização química de moléculas com alto grau de complexi-dade estrutural, como é o caso da macromolécu-la em estudo.

A espectroscopia na região do infravermelho é um método instrumental para investigação de grupos funcionais. Uma técnica instrumental simples e rápida que pode evidenciar a presença de vários grupos funcionais (SOLOMONS & FRYHLE, 2000). O espectro infravermelho de um composto químico é considerado uma de suas propriedades físico-químicas mais característi-cas e, por conta disto, a espectroscopia na região do infravermelho tem extensa aplicação na identificação dos compostos em estado gasoso, liquido ou sólido (SILVERSTEIN et al., 2006).

Até recentemente, a espectroscopia na região de infravermelho era pouco utilizada em análises quantitativas em decorrência de algu-m a s l i m i t a ç õ e s i n e r e n t e s à t é c n i c a .

Um exemplo de espectro de absorção na região do infravermelho de uma amostra de asfalteno pode ser visualizado na Figura 2.

Porém, com a utilização da transformada de Fourier, permitiu-se a análise de moléculas complexas, como os asfaltenos. No entanto, quanto mais complexa é a amostra, como é o caso da macromolécula de asfalteno, mais difícil se torna a construção de uma calibração confiá-vel (MERDRIGNAC & ESPINAT, 2007).

Figura 2 - Exemplo de um espectro de infravermelho com transformada de Fourier(IVTF) para uma amostra de asfalteno d e M a y a , M é x i c o ( D O U D A e t a l . , 2 0 0 4 ) .

Outra técnica também muito aplicada para caracterização da molécula de asfalteno é a difração de raios-X (DRX), que vem sendo cada vez mais útil para a determinação de estruturas cristalinas dos mais variados materiais.

Segundo Quintero (2009), que aplicou a técnica de difração de raios-X (DRX) para análi-se de amostras de asfaltenos e suas diferentes subfrações, obtidas com a solubilização de resíduos de vácuo em tolueno e precipitação com diferentes volumes de n-pentano (10 e 20% (v/v)) e com o objetivo de melhor entender as diferenças estruturais destes agregados, os padrões dedifração de raios-X deasfaltenos apresentam primariamente três bandas:a Banda gamma (γ), atribuída à material parafínico ou

Numa definição simples e concisa, essas estruturas cristalinas podem ser definidas como arranjos atômicos ou moleculares cuja estrutura se repete numa forma periódica tridimensional. Um exemplo simples é o do cloreto de sódio, cuja estrutura consiste em átomos de Na e Cl dispostos em uma estrutura cúbica por meio de ligações iônicas. Estruturas muito mais comple-xas que a do NaCl também podem ser analisa-das por DRX, como é o caso das estruturas asfaltênicas.

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alifático; a Banda 002, atribuída à material aro-mático e a Banda 10 que está relacionada ao diâmetro da área basal da molécula ou diâmetro do núcleo aromático. Na Figura 3 pode-se obser-var a presença destas bandas características para os espectros de DRX obtido por Quintero (2009) em seu trabalho para a amostra de asfal-teno A e suas duas subfrações.

seguinte fórmula (fa = A002/(A002 + Aγ). A distância interlaminar e intercadeia foram calcu-ladas levando em conta o ângulo de espalha-mento e o comprimento de onda dos raios-X, segundo a equação: dm = λ / 2 senθ.Estes parâmetros estruturais abordados por Quintero (2009) serão utilizados para caracterizar as estruturas asfaltênicas das seis amostras anali-sadas neste trabalho.

4 - Materiais e métodos

Para obtenção dos asfaltenos utilizados neste trabalho foram selecionadas seis amos-tras de afloramentos de arenitos asfálticos da Formação Piramboia, Bacia do Paraná, anterior-mente coletadas para o trabalho de Garcia (2010) nas seguintes localidades: Bofete, Fazenda Betumita eNhaiva (Figura 5).

Figura 3 – Padrões de DRX para a amostra de asfalteno A e suas duas subfrações precipitadas com 10 e 20% (v/v) de n-pentano (modificado de QUINTERO, 2009).

Baseando-se na metodologia proposta por Yenet al. (1961), Quintero (2009) integrou os difratogramas e os resultados obtidos indicaram diferenças pouco significativas entre o asfalteno e suas subfrações. No entanto, mesmo mostran-do grande dispersão, foi possível o cálculo dos parâmetros estruturais, segundo a Lei de Bragg.Para compreender melhor os dados estruturais que serão apresentados nos resultados e discus-sões, um exemplo de um cluster de asfaltenos pode ser visto na Figura 4.

Figura 4– Representação esquemática da vista lateral de um cluster de asfalteno (JAYARAJ et al., 1996)

Na Figura 4 pode-se visualizar a distância média intercadeias (dγ), a distância interlaminar (d002 ou dm), o diâmetro dos clusters perpendi-culares ao plano das camadas aromáticas (La) e o diâmetro dos grupamentos aromáticos (Lc). O fator de aromaticidade pode ser obtido pela relação entre as áreas das bandas γ e 002 da

A identificação da localização dessas amostras e as porcentagens das frações de NSO (componentes presentes na fração mais pesada do óleo), que determinam o grau de biodegradação, obtidas por Garcia (2010) podem ser vistas na Tabela 1.

F i g u r a 5 – M o d e l o d e i n t e r p r e t a ç ã o m o r f o e s t r u t u r a l e m p e r s p e c t i v a , c o m a l o c a l i z a ç ã o d a s á r e a s d e c o l e t a d a s amostras para o trabalho de Garcia, 2010 (modificado de ARAÚJO et al., 2003).

LOCALIDADE CODIGO AMOSTRA FRAÇÃO NSO (%)

Morro de Bofete AM04 59.0

Morro de Bofete AM03 68.0

Betumita AM75 80.0

Betumita AM23 81.0

Nhaíva AM05 85.0

Nhaíva AM08 88.0

Tabela 1 – Amostras de arenitos asfálticos selecionadas para obtenção dos asfaltenos com as respectivas porcentagens da fração de compostos NSO obtidas por Garcia (2010).

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As análises por absorção na região do infra-vermelho dos asfaltenos foram realizadas em espectrofotômetro com Transformada de Fourier (IVTF), Perkin Elmer, modelo Paragon. Os espectros de absorção foram obtidos utilizando filmes de asfaltenos sobre pastilhas de KBr. Para a caracterização dos grupos funcionais das moléculas de asfaltenos através do espectro de IV, foi realizada uma varredura na faixa de 4000 a 400 cm-1e medidas de transmitância (%T) foram registradas.

Para a obtenção dos asfaltenos, no Laboratório de Geoquímica do LENEP/UENF, inicialmente, toda matéria orgânica solúvel (MOS) foi adsorvida em alumina (Al2O3) e transferida para um cartucho de celulose. O cartucho foi acondicionado na câmara de extra-ção e submetido a duas sequências de extrações Soxhlet. A primeira extração foi realizada com 350 ml de hexano, sob refluxo, por cerca de 12 horas, para retirada dos maltenos livres, constitu-ída de resinas, hidrocarbonetos saturados e aromáticos. Já para a segunda extração utiliza-ram-se 350 ml de clorofórmio/metanol na propor-ção de 95:5 para a obtenção dos asfaltenos (ASF). Os asfaltenos obtidos foram purificados dez vezes com 50 ml de hexano e posteriormente pesados, após a evaporação do solvente.

Após a pesagem, as amostras de asfaltenos foram então caracterizadas quimicamente por meio das técnicas de difração de raios-X (DRX), realizada no Laboratório de Petrofísica do LENEP/UENF, e espectrofotometr ia do Infravermelho com Transformada de Fourier (IVTF), realizadas no Laboratório de Química, do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

As análises de difração de raios-X (DRX) foram realizadas em um difratômetro modelo BrukerPhaser D2 com a seguinte programação: varredura de 5 a 90°; radiação de 30 kV, 10 mA; fenda de scan em 0,02° de 2q e tempo de 0,6se-gundos/passo. Os espectros foram integrados utilizando o software que acompanha o equipa-mento e as porcentagens em área foram obtidas para cada banda. Mediante os dados obtidos a partir dos difratogramas foram calculados os parâmetros estruturais de acordo com a metodo-logia proposta por Yenet al. (1961), sendo possí-vel, assim, analisar as diferenças estruturais entre as seis amostras de asfaltenos.

5 -Resultados e discussões

Os resultados referentes às porcentagens em peso dos asfaltenos obtidos a partir das seis amostras de óleo selecionadas podem ser vistos na Tabela 2.

Assim, considerando a hipótese abordada no parágrafo anterior, as amostras estudadas neste trabalho foram classificadas a princípio de acordo com o aumento da porcentagem de asfaltenos em menos biodegradadas (grupo A), biodegradação intermediária (grupo B) e mais biodegradadas (grupo C).

Todas as amostras foram analisadas por DRX com o objetivo de se verificar a existência de possíveis diferenças estruturais entre os asfaltenos. Na Figura 6 são apresentados os espectros de difração obtidos para as seis amostras, de acordo com os dados apresenta-das na Tabela 2.

5.1 - Difração de raios-X

Baseado na porcentagem de asfaltenos, um novo critério foi utilizado para dividir as seis amostras em três grupos que são diferenciados na Tabela 2, em menor, intermediária e maiores porcentagens de asfaltenos e identificados, respectivamente, como grupo A, B e C. Para as amostras do grupo A pode-se notar que apresen-tam as menores porcentagens de asfaltenos. Para o grupo B, a média da porcentagem de asfaltenos das amostras atinge cerca de 70% e para o grupo C fica um pouco acima dos 80%.

Segundo Liao et al. (2009), existem evidênci-as claras do aumento da porcentagem de asfal-tenos em óleos biodegradados, não apenas associado à degradação preferencial dos com-postos mais leves, mas também devido à forma-ção de asfaltenos durante a atuação dos proces-sos de biodegradação.

GRUPO AMOSTRA %ASF

A AM75 42,5 AM03 43,4

B AM23 67,0 AM08 70,0

C AM05 83,9 AM04 84,8

Tabela 2 – Porcentagens em peso de asfaltenos obtidosa partir dos óleos extraídos das seis amostrasde arenitos asfáltico.

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A análise dos difratogramas apresentados na Figura 6 revelou dois padrões de difração distin-tos. Para as amostras do grupo A foi possível identificar a banda γ, atribuída ao material parafínico, a banda 002, atribuída a material aromático e a banda 10 relacionada ao diâmetro da área basal da molécula de asfaltenos, confor-me definido por Navarro et al. (2004). Já para as amostras do grupo B e C, apesar de poderem ser identicadas as bandas γ e 10, não foi possível a identificação precisa da posição da banda 002, o que indica, de acordo com Andersen et al. (2005), que apenas uma parte dos carbonos aromáticos presentes nas estruturas dos asfaltenos foi identificada pela técnica de DRX, uma vez que os centros aromáticos podem ter sofrido empilha-mentos diferenciados, causados pela atuação dos processo de biodegradação que dificultaria a detecção das principais ligações moleculares existentes nas estruturas dos asfaltenos e mascarando, assim, os resultados.

Os seis difratogramas foram analisados através do software que acompanha o equipa-mento, sendo os picos integrados através do ajuste das curvas de Gauss. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 3.

Pela análise dos dados apresentados na Tabela 3 pode-se notar que a posição da banda γ para as amostras AM03 e AM75, representada pelos valores encontrados para 2θ, manteve-se praticamente constante. O mesmo comporta-mento se repete para a posição das bandas 002 e 10. Vale ressaltar que os valores calculados para 2θ das três bandas estão de acordo com os resultados apresentados na literatura que atribuem os valores de 20º, 25º e 44º para o posicionamento das bandas γ, 002 e 10, respectivamente, para a maioria dos asfaltenos (NAVARRO et al., 2004; ANDERSEN et al., 2005; QUINTERO, 2009). Para as amostras AM04, AM05, AM08 e AM23 a posição da banda γ sofreu um pequeno deslocamento em relação à posição calculada para as amostras AM03 e AM75, enquanto a posição da banda 10 se manteve constante. Já para a banda 002, que se refere aos compostos aromáticos presentes na estrutura do asfalteno, os parâmetros não puderam ser calculados, pois a banda não pode ser detectada segundo o padrão de difratograma proposto por Navarro et al. (2004) para as macromoléculas de asfaltenos.

Utilizando os dados apresentados na Tabela 3 e seguindo a mesma metodologia utilizada por Quintero (2009) foram calculados os parâmetros estruturais para as seis amostras de asfaltenos que podem ser vistos na Tabela 4.

Tabela 3 – Áreas integradas para os difratogramas apresentados na Figura 6.

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Coun

ts

AM03

43.4 %ASF

AM75

42.5 %ASF

AM04

84.8 %ASF

AM05

83.9 %ASF

AM23

67.0 %ASF

AM08

70.0 %ASF

γ

002

10

A

B

C

Figura 6 – Padrões de DRX para seis amostras de asfaltenos dos grupos A, B e C definidos na Tabela 2.

GRUPO

AM

BANDA ã BANDA 002 BANDA 10

2è FWHM AREA 2è FWHM AREA 2è FWHM AREA

A 75 19.58 9.82 9200 24.98 1.31 1929 41.94 3.10 3359

03 19.05 9.29 8733 24.76 1.37 1620 42.15 3.26 3659

B 23 17.85 11.83 8542 - - - 42.17 3.65 3351

08 17.93 11.95 8535 - - - 42.32 3.61 3417

C 05 17.64 10.27 8043 - - - 42.91 3.72 3182

04 16.91 10.16 7962 - - - 43.25 3.09 4067

- não calculado; FWHM: largura total meia máxima da banda; 2θ: posição da banda.

Parâmetros estruturais A B C

AM75 AM03 AM23 AM08 AM05 AM04

Carbono saturado Cs Aγ 9200 8733 8542 8535 8043 7962

Carbono aromático Ca A002 1929 1620 - - - -

Fator aromaticidade fa A002/(A002+Aγ) 0.17 0.16 - - - -

Distância Interlaminar d002(Å) d=ë/2senè 3.2 3.2 - - - -

Distância Intercadeia dγ(Å) d=ë/2senè 4.0 4.0 4.2 4.2 4.5 4.7

Tabela4 – Parâmetros estruturais calculados a part ir dos dados de DRX para as amostras de asfalteno AM03, AM04, AM05, AM08, AM23 e AM75.

-não calculado; θ é o ângulo de difração; λ o comprimento de onda dos raios-X

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Os valores encontrados para carbonos saturados apresentaram um decréscimo à medida que a porcentagem de asfaltenos aumenta. Para os valores de carbonos aromáti-cos, pode-se notar o mesmo comportamento para as duas amostras com menores porcenta-gens de asfaltenos. No entanto, não foi possível o cálculo das áreas dos carbonos aromáticos das quatro amostras com maiores porcentagens de asfaltenos, o que, segundo a literatura, pode estar associado ao processo de agregação das estruturas dos asfaltenos que, neste caso, pode ter sido intensificada com o aumento do grau de biodegradação mascarando, assim, os resulta-dos de DRX (ANDERSEN et al., 2005).

O fator de aromaticidade calculado para as amostras AM75 e AM03 está de acordo com os valores reportados na literatura, que é de cerca de 0.2, bem como os resultados encontrados para a distância interlaminar e intercadeia que ficaram na faixa de 3.5 e 4.0 Å, respectivamente (ANDERSEN et al. 2005). Para as amostras AM04, AM05, AM23 e AM08, considerando o maior empilhamento dos centros aromáticos, não foi possível o cálculo da distância interlami-nar. No entanto, a distância intercadeia foi calcu-lada para essas quatro amostras e um incremen-to nesse parâmetro foi observado com o aumen-to da porcentagem de asfaltenos.

Os dois padrões de difratogramas encontra-dos para as seis amostras de asfaltenos de petróleo indicaram que planos cristalinos estão presentes nas estruturas destas macromolécu-las, associados principalmente ao grau de empilhamento dos centros aromáticos. Assim, como o maior empilhamento pode estar associa-do às amostras mais biodegradadas, a omissão da banda 002 causou uma drástica mudança no padrão de DRX para as amostras com maiores porcentagens de asfaltenos.

Considerando todos os resultados encontra-dos foi possível concluir que uma análise muito criteriosa deve ser feita ao se utilizar os dados de DRX para a interpretação das estruturas dos asfaltenos, pois dependendo do grau de biode-gradação, mudanças estruturais significativas podem acontecer afetando decisivamente o arranjo espacial, principalmente no que se refere ao empilhamento dos centros aromáticos.

Com o intuito de compreender melhor as interações existentes entre os principais grupa-mentos presentes nas macromoléculas de asfaltenos e verificar possíveis diferenças estruturais que possam justificar os dois padrões de DRX encontrados na seção anterior, as seis amostras de asfaltenos foram analisadas por espectrometria de infravermelho com transfor-mada de Fourier (IVTF). Os espectros de absor-ção na região do infravermelho para as amostras mais (grupo C) e menos biodegradadas (grupo A) podem ser vistos na Figura 7.

5.2. Espectrometria de infravermelho

Figura 7 - Espectros de absorção na região do infravermelho para as amostras de asfaltenos mais (AM75 e AM03) e menos (AM05 e AM04) biodegradadas

Analisando os espectros de absorção para as quatro amostras de asfaltenos, mostradas na Figura 7 pode-se notar claramente a similarida-de na posição das bandas. As bandas observa-das acerca de 2930, 2860, 1460 e 1370 cm-1 sugerem a grande quantidade de grupamentos C-H alifáticos.Os hidrocarbonetos aromáticos produziram bandas específicas em 1600 cm-1 e na região entre 900 e 650 cm-1. As bandas de absorção na região de 1280-1000 cm-1 indicam

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a presença de grupamentos característicos de ésteres, cetonas e amidas. Finalmente, a banda larga observada na faixa de 3100 a 3500 cm-1 que é característica dos estiramentos O-H e/ou N-H, presentes nas funções químicas orgânicas álcool e aminas.

Pelas análises de DRX foi possível concluir que uma análise muito criteriosa deve ser feita ao se utilizar esta técnica para a interpretação das estruturas dos asfaltenos, pois dependendo do grau de biodegradação a que estas macromolé-culas tenham sido submetidas, mudanças estruturais significativas podem acontecer afetando decisivamente o arranjo espacial, principalmente no que se refere ao empilhamen-to dos centros aromáticos. Já pelas análises de infravermelho nenhuma diferença significativa pode ser observada entre os espectros obtidos para os asfaltenos mais e menos biodegradados, no entanto, pode-se perceber em todos os espectros obtidos a presença de vários grupos funcionais característicos deste tipo de macro-molécula.

6 - Conclusão

Nenhuma diferença significativa pode ser observada entre os espectros obtidos para os asfaltenos mais e menos biodegradados, eviden-ciando a ineficiência da técnica de IVTF para caracterização de amostras com diferentes níveis de biodegradação. No entanto, pode-se concluir que todos os espectros encontrados são característicos deste tipo de macromolécula, com a presença de vários grupos funcionais, conforme esperado e de acordo com a literatura (DOUDA et al., 2004).

De qualquer maneira, os resultados encon-trados a respeito das modificações provocadas nas estruturas dos asfaltenos pelos processos de biodegradação, esclarecem, em parte, o comportamento destas macromoléculas que podem, devido às mudanças em suas estruturas, desestabilizar o sistema coloidal asfalte-no/resina, antes em equilíbrio, provocando a precipitação destes compostos nas tubulações e válvulas e, até mesmo, ainda nos reservatórios, quando da produção de petróleos mais pesados.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL

APLICAÇÃO DE CONCEITOS LEAN MANUFACTURING: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE

SERVIÇOS DE CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEOCerchiareto, Felipe

Especialista em Gestão EmpresarialFaculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos- FeMASS

Macaé – Rio de Janeiro, [email protected]

Moreira, Evaldo de AzevedoMestre em Engenharia de Produção

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos- FeMASSMacaé – Rio de Janeiro, [email protected]

Resumo:

Palavras-chave –Lean Manufacturing, cimenta-ção de poços, produtividade.

O artigo aborda o tema e, busca apresentar, possibilidades de melhoria em produtividade, base-ando-se no estudo realizado em uma gerência responsável por prestar serviços de cimentação de poços de petróleo, de uma empresa prestadora de serviços para esse setor. Tais melhorias são advindas da aplicação de um modelo baseado na filosofia de manufatura enxuta. O Lean Manufacturing, como originalmente é conhecido, faz uso de ferramentas que objetivam permitir benefícios aos processos organizacionais das empresas e, neste caso, buscará avaliação da sua aplicação em um mercado diferente dos habitualmente aplicados, o de serviços para o setor de óleo e gás. Os resultados apresentados por este estudo se baseiam na exposição de como as sugestões de utilização das ferramentas aplicadas por meio do conceito de manufatura enxuta e da sua cultura de aplicação podem contribuir para um bom andamento dos processos, diminuição de custos e implantação de uma cultura de melhoria contínua no setor estudado, considerando os oito desperdícios abordados pela metodologia, e, possivelmente, estendendo-se para toda a organização.

The article approaches the subject and seeks to present possibilities of improvement in productivity, based on the study carried out in a management responsible for providing services of cementation of oil wells, from a company that provides services to this sector. Such improvements are due to the application of a model based on the philosophy of lean manufacturing. Lean Manufacturing, as it is originally known, makes use of tools that aim to allow benefits to the organizational processes of the companies and, in this case, will seek evaluation of its application in a market different from those usually applied, that one of services for the oil and gas sector. The results presented by this study are based on the exposition of

ABSTRACT

23

how the suggestions for using the tools applied through the concept of lean manufacturing and its application culture can contribute to the good progress of processes, cost reduction and implantation of a culture of continuous improvement in the sector studied, considering the eight wastes addressed by the methodology, and possibly extending to the entire organization.

INTRODUÇÃO

Keywords - Lean Manufacturing, well cementing, productivity.

A c o n s t a n t e c o m p e t i t i v i d a d e d a s organizações visa à melhoria de produtividade, e pode levar as empresas a buscar novos modelos de produção antes não utilizados no mercado em que atuam, a título de aplicação de boas ou melhores práticas. O conceito de produtividade possui certo grau de liberdade em sua definição, indo desde a escolha de produzir, de focar na qualidade ou no estado produtivo, conforme entendido por Ferreira (1999), até a razão entre a saída do produto de uma operação, comparando com o insumo de entrada desta mesma operação, conforme abordado por Slack, Chamber e Johnston (2009). Desta forma, em busca do aprimoramento da produtividade, as organizações podem optar pela redução do custo dos insumos, aliado à manutenção do mesmo vo lume de produção (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009).

Uma melhora na produtividade pode representar uma maior produção com os mesmos recursos, significando a diminuição do custo unitário de produção, o que explicita uma relação inversamente proporcional entre os custos de produção e a produtividade, em que o aumento de um faz com que a outra tenda a diminuir (CONTADOR, 1998).

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Por mais que relativamente novo para seto-res diferentes do automobilístico, com iniciativas isoladas e aplicação de algumas ferramentas, podem-se perceber melhorias de produtividade nas organizações, e tais melhorias podem ter relação direta com um dos objetivos do STP, que é de reduzir e eliminar desperdícios por meio do envolvimento dos membros das equipes em atividades de melhoria padronizadas e comparti-lhadas (DENNIS, 2008).

Neste sentido que o Sistema Toyota de Produção – STP se apresenta como oportunida-de para este estudo, uma vez que significa a busca por produzir mais com menos tempo, menos estoques, menos desgaste de recursos humanos, equipamentos e materiais, atendendo a demanda apresentada pelo mercado (DENNIS, 2008).

Também conhecido no Brasil como sistema de Manufatura Enxuta, ou mundialmente reco-nhecido como Lean Manufacturing, o STP é datado do final da segunda guerra mundial, em que o cenário de baixo crescimento e queda de produção das indústrias japonesas fez com que a Toyota repensasse seu modelo de produção, culminando na apresentação de bons resultados por meio da eliminação de desperdícios, segun-do Ohno (1988).Os ganhos obtidos pelas organi-zações do setor automobilístico em termos de qualidade, segurança, produtividade e custos são abordados por Liker & Meier (2007) fizeram com que organizações de outros segmentos se interessassem por aplicar as “atitudes Lean” em seu dia a dia profissional.

II. Objetivos do estudo

O trabalho realizado surge da necessidade de entendimento, revisão e uniformização da maneira como algumas at iv idades são realizadas em uma área da empresa que será alvo de um estudo de caso. A busca pela prestação dos serviços com menos gasto de esforço físico, financeiro e de tempo, nesses momentos de crise, como o vivido na atualidade, só reforça a possibilidade de se apresentar como diferencial competitivo favorável à organização.

Desta forma, o presente estudo teve como ênfase a aplicação da metodologia de conceitos relacionados à filosofia de manufatura enxuta nas atividades desenvolvidas pela gerência de cimentação de poços de petróleo, de uma empresa, instalada no município e atuante no mercado de óleo e gás, com objetivo de redução

O Lean se caracteriza como um conjunto de t écn i cas que , quando comb inadas e amadurecidas, permitirão reduzir e depois eliminar os sete desperdícios comuns nas organizações: movimentação desnecessária, tempo de espera, transporte excessivo, c o r r e ç ã o d e d e f e i t o s , e x c e s s o d e processamento, estoque desnecessário e o excesso de produção.

III. Base conceitual

No intuito de encontrar a eficiência do p rocesso , Ohno (1988) afi rma que a metodologia Lean Manufacturing orienta a busca pela eliminação de alguns desperdícios presentes na linha de produção. O termo japonês Muda, que significa desperdício, também é utilizado para simbolizar as atividades que os clientes não querem pagar, consideradas atividades sem valor, devendo ser eliminadas do processo produtivo. Sete desperdícios ou Muda são sinalizados, conforme Dennis (2008), com importância a serem combatidos nas linhas de produção:

A. O modelo Lean Manufacturing.

- O desperdíc io por movimentação desnecessária, que está relacionado ao excesso de movimentação de pessoas ou equipamentos sem finalidade determinada, sem agregar valor ao processo produtivo e ao produto final;

Tendo em vista orientar as organizações que almejam a implantação do modelo enxuto de produção, podem ser expostos alguns princípios-chave como a especificação do que cria e do que não cria valor, sob a ótica do cliente e não sob a ótica da empresa – busca pelo valor agregado; a identificação do necessário para projetar, pedir e fabricar produtos por meio de um fluxo de valor, descartando as perdas sem valor – Fluxo de Valor; a realização de ações que criam fluxo de valor sem interrupção, desvios, contrafluxos, esperas ou refugos – Fluidez no processo; realização, exclusivamente, do que for demandado pelo cliente – Priorização da produção puxada; e empenho pela perfeição, removendo perdas, sempre que descobertas – Melhoria contínua (HINES; TAYLOR, 2000).

de desperdícios e melhoria na produtividade, com vistas à competitividade.

- O desperdício por tempo de espera, que trata da recorrência de atividades e atrasos nos processos, ao tempo de atividades e pessoas inativas, além do tempo inadequado de fluxo de informação;

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- Desperdício por transporte excessivo, que é retratado pelo atraso do deslocamento de materi-ais, manuseio excessivo e/ou desnecessário de equipamentos, pessoas, informações e produ-tos;

- Desperdício por retrabalho ou correções de defeitos, que estão diretamente ligados à quali-dade intrínseca do produto, do serviço e de documentos gerados pela empresa;

- O desperdício por excesso de processa-mento, que deve considerar as atividades desne-cessárias, equivocadas ou elementos de traba-lho e procedimentos de trabalho que não acres-centem valor, além de ser necessário avaliar a implantação de padrões de atuação mais sim-ples, que podem resultar maior eficiência ao processo;

- O desperdício por estoque desnecessário, que sugere a avaliação mais acurada quanto à aquisição de matérias-primas desnecessárias ou excessivas, que podem aumentar a quantidade de itens em estoque e, consequentemente, o valor financeiro do mesmo, comprometendo a lucratividade da empresa;

- E o desperdício por excesso de produção ou superprodução, que ocorre quando se produz além das necessidades expostas pelos seus clientes ou antes do tempo necessário, gerando custo com estoques de produtos acabados.

Em busca da aplicação dos conceitos Lean e pela minimização dos desperdícios, algumas ferramentas são utilizadas como apoio, como o Just in Time (JIT), o Mapa de Fluxo de Valor (MFV), a Manufatura de Fluxo Contínuo (MFC) e o 5S, que serão apresentados.

Além dos Muda já expostos, há um oitavo abordado por alguns autores, que trata das questões humanas inerentes ao processo produtivo, intitulado de desperdício por “subutilização de pessoas” (WOMACK e JONES, 2004), “Criatividade não aproveitada ou falta de comunicação” (MARCOS, 2011), em que a perda da empresa está diretamente ligada ao não aproveitamento completo dos seus recursos humanos com a não existência de um ambiente em que o colaborador possa contribuir com ideias e que, por vezes, ideias estas que p o d e r i a m s o l u c i o n a r q u e s t õ e s a n t e s impensadas.

B. Ferramentas de apoio à cultura Lean.

O Just in Time – JIT – que, segundo Ohno (1988) pode ser considerada a primeira das ferramentas Lean, é o processo que permite

receber as peças certas para a linha de produ-ção na quantidade e no tempo de que se precisa.

Três componentes característicos fazem parte do JIT:

- Heijunka, que trata do nivelamento da produção, tornando-o uniforme, fazendo com que uma estação de trabalho produza na mesma quantidade da estação anterior (DENNIS, 2008; WOMACK; JONES, 2004);

Como segunda ferramenta é apresentado o “Mapa de Fluxo de Valor” – MFV – que é um instrumento utilizado para compreender a situação atual do fornecimento de valor do p r o c e s s o e s t u d a d o e i d e n t i fi c a r a s oportunidades de melhoria neste processo (DENNIS, 2008). Ele procura retratar, de uma maneira abrangente, o sistema de produção, e visa à construção de mapas que representam em uma mesma imagem tanto o fluxo de informação - desde o pedido do cliente até a programação da produção – como o fluxo de materiais – desde a matéria-prima até o produto acabado (SILVA et al, 2013), conforme pode ser exemplificado pela figura 1.

- K a n b a n , u m s i s t e m a v i s u a l d e g e r e n c i a m e n t o ( P D V ) e m a n e i r a d e comunicação da área de produção, que descreve o tipo e a quantidade que se deseja de um determinado produto (DENNIS, 2008; LIKER; MEIER, 2007);

- Kaizen, que aborda a melhoria contínua desse processo, devendo sua realização respeitar as fases de preparação, de realização e do acompanhamento do evento, estando alinhado com os objetivos da organização (DENNIS, 2008; ANDERE, 2012).

Vale ressaltar que a empresa que busca atuar, conforme o JIT, é capaz de se aproximar de estoque zero. Esta técnica visa capacitar o sistema produtivo a fazer “toda a peça, toda hora” , p rovendo maior flex ib i l idade à organização e viabilizando a redução no inventário. Desta forma, pode-se entender que o JIT afeta toda a operação da organização, inclusive seus fornecedores e os benefícios que tais modificações podem trazer para a organização (SILVA et al, 2013).

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A manufatura de fluxo contínuo – MFC, também considerada ferramenta do apoio ao Lean, busca a organização física do fluxo de valor para que o material possa ser movimentado de um processo que agrega valor a outro em um fluxo contínuo, ou seja, sem desperdício de tempo de transferência, sem formação de esto-ques entre processos, com a produção balance-ada (SILVA et al, 2013).

Além disso, o MFC também enfatiza a neces-sidade de se diminuir o lead time de produção, e, para tanto, busca um pensamento lógico entre as etapas do processo produtivo, a fim de se diminuir possíveis burocracias, tempo de espera entre a execução de atividades, distância física entre as células de produção, rearranjo dos layouts de produção, ou seja, questões inerentes ao processo produtivo que não agregam valor ao produto final e que geram custo para a produção (SILVA et al, 2013). Tal balanceamento de produ-ção está ligado ao tempo de que a empresa dispõe para a produção dos itens solicitados pelo cliente em função da quantidade necessária, conhecido como Takt time (Tkt) que, segundo Tapping&Shuker (2010), é calculado ao dividir o tempo operacional disponível líquido pela quanti-dade total de unidades de trabalho necessárias.

- Seiso, senso de limpeza, que pode representar a oportunidade de inspecionar e q u i p a m e n t o s , m a q u i n á r i o s e d e reconhecimento do ambiente profissional;

- Seiton, senso de ordenamento, que respeita a guarda ou estocagem do que é necessário em locais de acesso facilitado;

Cabe ressaltar que o chamado de “tempo operacional disponível líquido” (TOL) deve desconsiderar tempos em que o operador é obrigado a estar fora do seu ambiente de trabalho, como em reuniões, almoços e lanches e paradas para banheiro e beber água, por exemplo, e que o total de unidades de trabalho necessárias se referem à demanda feita pelo cliente (DC). Desta forma chega-se à equação para cálculo de Takt time: Tkt = TOL÷ DC (TAPPING; SHUKER, 2010).

Oriunda da cultura das famílias japonesas cujos pais ensinam para os filhos princípios educacionais, que os acompanharão até a sua vida adulta, o “5S” é outra ferramenta de apoio ao Lean, e o significado da sua sigla se deve às iniciais das palavras que representam as atividades a realizar, conforme Ribeiro (1994):

- Seir i , que representa o senso de organização, de separação do necessário e descarte do que não possuem mais uso;

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Figura 1- Exemplo de Mapa de Fluxo de Valor completo

Fonte: Elaboração própria.

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- Seiketsu, conservação da higiene e do asseio, por meio da padronização de hábitos, normas e procedimentos, fazendo com que não se percam os ganhos obtidos com os sensos anteriores;

I. Estudo de caso

As ferramentas citadas são aplicáveis para o estudo e serão utilizadas como ferramentas de apoio na aplicação da metodologia Lean no estudo de caso.

A empresa que receberá a aplicação deste estudo é uma das grandes atuantes mundiais em prestação de serviços de exploração e produção de óleo em gás, e possui diversas bases físicas de atuação no mundo.

A ferramenta “5S” já está tão difundida nas empresas, que é vista como boa prática de atuação coletiva, e se tornou muito comum aos colaboradores das diversas organizações que atuam com vistas a esta ferramenta. O convite à prática do “5S” faz-se necessário quando se deseja elaborar um mutirão de limpeza e organi-zação nos ambientes profissionais, conhecidas como “paradas 5S” em algumas organizações (RIBEIRO, 1994).

No Brasil, suas bases físicas de atuação estão dispostas no nordeste e no sudeste, sendo neste último a sua maior concentração. Na cidade de Macaé há algumas bases, que com-portam diferentes setores de prestação de diferentes tipos de serviços, que são um resulta-

- Shitsuke, disciplina, que almeja o cumpri-mento dos regulamentos estabelecidos em respeito ao próximo.

A. Característica Geral da empresa e do serviço a ser estudado.

Para a realização do serviço, o cliente da organização – empresa operadora do campo de petróleo – elabora o projeto do poço a receber a intervenção e encaminha para a prestadora do serviço uma demanda por elaborar o projeto de pasta de cimento e as respectivas simulações necessárias.

A base operacional, alvo deste estudo, absorve as atividades relacionadas aos serviços de estimulação e cimentação de poços offshore, onde está localizado, além dos escritórios dos engenheiros responsáveis pelos projetos de serv iços , o parque de es tocagem de ferramentas e consumíveis, o parque logístico e, especificamente, o laboratório químico, onde grande parte das necessidades dos serviços é tratada. Esse laboratório é o responsável por absorver o serviço de teste de pastas de cimento, que visam à definição da concentração dos produtos que comporão a pasta de cimento a ser utilizada durante as operações.

do do histórico de compras de outras organiza-ções concorrentes, o que faz com que a descen-tralização física das suas atividades seja eviden-te.

As simulações mais comuns neste tipo de serviço buscam considerar dados como temperatura de circulação de fluidos no poço ao longo do tempo de operação; pressão de trabalho a que as ferramentas e o fluido estarão expostos; além da busca de dados como volume, viscosidade e resistência à compressão que o fluido deverá possuir para atender a demanda exposta pelo cliente. Todas essas informações compõem o projeto técnico que é encaminhado para o cliente a fim de que seja realizado o serviço, conforme pode ser melhor visualizado na Figura 2.

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Figura 2- Diagrama de fluxo do serviço, contendo delimitação do estudo.

Fonte: Elaboração própria.

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Ao acompanhar a realização dos testes, por 2 meses, fazendo uso da metodologia de obser-vação local, percebeu-se uma variação neste tipo de demanda, que para serem atendidas, devem considerar a realização de alguns tipos de testes atrelados à utilização de diversos tipos de aditivos químicos, que ao serem misturados, fazem com que as exigências do cliente pela pasta a ser utilizada no serviço sejam atendidas.

Com a finalidade de avaliar a aplicação da metodologia de manufatura enxuta no setor estudado, o universo de atenção sofrerá restri-ção, conforme sinalizado pela área delimitada por linhas pontilhadas, na Figura 2. Tal restrição reflete o processo de avaliação de testes de pasta de cimento, devido à sua importância, relacionamento com os equipamentos comple-xos e pessoas.

1. Avaliação da densidade do pó de cimento; 2. Reologia; 3. Controle de filtrado; 4. Água livre; 5. Tempo de espessamento (pega); 6. Resistência à compressão.

Em busca do atendimento desta demanda, seis testes foram solicitados:

Devido à variação exposta, optou-se pela escolha de uma única ordem de serviços (OS) como base para o estudo. Tal OS contempla a elaboração de testes para a realização de um serviço de cimentação em um revestimento de superfície, em um poço com 13 3/8' de diâmetro e inclinação de 45°.

A ordem de execução dos testes é determina-da pelo técnico responsável, respeitadas as restrições de precedência e de paralelismo

entre eles, o tempo de duração de cada um, além de outras informações relevantes:

Ao final dos testes, é elaborado um relatório, atestando a estrutura e qualidade da composi-ção química da pasta, para que o setor de enge-nharia o reporte ao cliente, em busca da aprova-ção e posterior utilização.

A primeira ferramenta utilizada neste estudo é o Mapa de Fluxo de Valor - MFV, com a inten-ção de conhecer as inter-relações existentes neste processo, atrelado ao levantamento de tempo inerente às suas atividades, buscando a identificação de possíveis desperdícios ou realização de atividades que não agreguem valor.

B. Aplicação de conceitos e ferramentas Lean

- Normalmente os testes 2 e 3 são realizados ao mesmo tempo, uma vez que podem dividir a quantidade de pasta que está sendo utilizada nos testes;

- A mistura do pó de cimento com os aditivos precisa ser realizada próximo a um lavatório, devido ao uso de produto químico;

Exposto o delineamento e o fluxo de traba-lho, a intenção agora é de fazer uso dos concei-tos e ferramentas Lean para avaliar possibilida-des de melhorias na execução destas tarefas e consequente prestação dos serviços.

- O teste 1 sempre deverá ser realizado antes dos demais;

- Sempre que o teste apresentar erro ou o seu resultado não for satisfatório, os testes anteriores deverão ser refeitos.

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Figura 3- Mapa de Fluxo de Valor da atividade atual.

Fonte: Elaboração própria.

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Neste sentido, a Figura 3 retrata o MFV elaborado com base no processo estudado, onde o início das atividades é representado pela área de engenharia demandando o teste de pastas ao laboratório e, paralelamente, realizan-do a solicitação de embarque de equipamentos ao setor de almoxarifado, semanalmente.

Em seguida observa-se a execução dos testes demandados e os tempos atrelados a cada tarefa, além do tempo entre a execução dos mesmos, considerado tempo sem valor para o processo por não gerarem retorno ao produto final.

Por fim são levantados os tempos totais do ciclo produtivo, de espera, de execução da atividade – lead time, além de ser realizada a avaliação de percentual de tempo que possui valor agregado ao processo.

O mapa (MFV) auxilia na exposição da relação de precedência entre os testes, em que para que seja dado início a algum teste, é neces-sário o final do anterior. Porém, com o intuito de avaliar um melhor aproveitamento de tempo, foi realizada uma simulação considerando a execu-ção de dois testes em paralelo: o teste 4, que representa a avaliação de “água livre” e o teste 5, que representa o tempo de endurecimento da pasta de cimento, ou como melhor conhecido,

O resultado considerado satisfatório para a pesquisa seria o que ambos os testes fossem bem sucedidos, e neste caso, o resultado variou entre 60% a 64% de retorno positivo. Desta forma, o ganho em tempo foi de 181 minutos de redução, considerando a soma dos 166 minutos inerentes ao teste 4 com aos 15 minutos referen-tes ao tempo entre testes, que deixou de existir. Com esta ação, busca-se atender a redução de custos de produção com base na diminuição de tempos ociosos e melhorar a produtividade na produção, que é uma das orientações da filoso-fia de manufatura enxuta.

A execução, ao mesmo tempo, dos testes expostos, considerou a utilização de 1000 amostras aleatórias e probabilidade de erro igual para ambos os testes (20,75%), uma vez que dos 42 testes solicitados em um período de 60 dias, 11 tiveram que ser refeitos, totalizando 53 testes executados.

pega” da pasta. A execução em paralelo dos demais testes não foi simulada devido à criticida-de inerente aos mesmos.

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Figura 4- Arranjo físico atual: movimentação profissional.

Fonte: Elaboração própria.

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A implementação foi abordada por meio do rearranjo físico do laboratório. Para tanto foi estudada a movimentação dos operadores técnicos, durante a execução das suas ativida-des, conforme pode ser visto na Figura 4, indo desde o recebimento da solicitação de testes via e-mail, em sua estação de trabalho, até o retorno das informações do teste para a área de enge-nharia, de igual forma.

O desenho paralelo entre as estações que possuem os equipamentos para a realização dos testes expõe a necessidade excessiva de idas e vindas dos técnicos entre os equipamentos, além de terem que, ao iniciar cada um dos testes, retornar ao ponto de montagem das amostras, sinalizado com a letra “M”.

Em busca da sugestão por um melhor arran-jo físico, foi realizado um estudo buscando a diminuição do deslocamento desnecessário dos técnicos, o que também diminuiria a probabilida-de da ocorrência de distrações e de acidentes no trajeto.

O ponto “M” se localiza na região exposta devido à necessidade de proximidade do lavató-rio, ponto “L” da Figura 4, e dos cilindros de teste, posicionados nesta região. Cabe ressaltar que, como os equipamentos ficam localizados sob balcões, os gaveteiros inferiores são locais para estocagem dos aditivos.

Desta forma, foi elaborada uma proposta de rearranjo, conforme exposto pela Figura 5.

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Figura 5- Nova proposta de arranjo físico

Fonte: Elaboração própria.

A nova proposta de arranjo buscou a minimi-zação de dois desperdícios sinalizados pelas orientações Lean, que seriam o desperdício por processamento inadequado e de movimentação desnecessária.

Para tanto, buscou-se a simplificação do fluxo produtivo com a diminuição dos espaços entre os pontos de trabalho fazendo uso de um fluxo contínuo em formato de “U”. Além disso, foi proposta a criação de “ilhas centrais” destinadas ao aumento da quantidade de pontos de monta-gem e concentração em uma área central, diminuindo a espera entre os técnicos para utilização deste recurso.

Os estoques de aditivos também foram deslocados para baixo das “ilhas”, diminuindo a distância de deslocamento para a coleta de produtos em estoque.

Com toda esta ação, a distância percorrida pelos técnicos diminuiu de 75 para 34 metros em média, totalizando uma redução de 54,6% de distância e, em torno de 132 minutos de desloca-mento desnecessários no processo.

Dando continuidade às propostas realiza-das, foi implantado um sistema informatizado, fazendo uso da ferramenta do Microsoft Office - Access, criado por um dos profissionais técnicos do próprio setor, utilizado para orientação e controle de informações que devem constar nos relatórios.

Em um cenário de retrabalho devido a esquecimentos da inserção de informações nos relatórios e a erros de marcação por troca de informações inseridas em campos equivocados do relatório, este sistema padronizou os tipos de informações a serem inseridos em cada item,

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Outra proposta tratada foi a da melhoria na utilização do sistema de informação, utilizado pelo setor para estabelecer a troca de informa-ções entre o laboratório e os engenheiros. Como o modelo de produção respeita o modelo make-toorder, ou seja, feito sob encomenda, pouco se distancia do Just in time, mas há que se conside-rar a relação com o setor de almoxarifado.

impossibilitando a finalização do documento em caso de falha ou da existência de campos em branco, trazendo ganhos significativos.

Relatos de percepção das equipes impacta-das informam a redução média de 70% do retra-balho com os relatórios, que se reflete na diminui-ção de tempo dedicado a cada trabalho e redu-ção de discussão entre as equipes, proporcio-nando tempo para se dedicar a novas demandas.

Com esta melhoria, foram atendidas as necessidades de diminuição de defeitos dos relatórios, considerando este um produto final do processo, a diminuição do desperdício por processamento inadequado e o desperdício por criatividade inaproveitada, presentes na literatu-ra de Lean Manufacturing.

Mais uma proposta implementada foi a inclusão de um quadro de PDV (Primary Display Visual) e métricas na área administrativa do laboratório, no modelo de gestão à vista, em que informações como ordem de serviço, engenheiro e técnico responsáveis estão presentes, assim

Para o sucesso desta empreitada foram criados Kanbans eletrônicos no sistema da gerência, permitindo o acompanhamento da utilização dos produtos atrelada à sinalização por nível de informações de estoque elevado, media-no e baixo. Tal movimento está intimamente relacionado com o tratamento do desperdício de Inventário ou estoque, orientados pela cultura Lean.

Desta forma, como já visto no MFV, a entrega de itens a estocar pelo setor de almoxarifado é realizada semanalmente e por caminhão. Com a avaliação de estoque de segurança e a modifica-ção de layout exposta, foi realizada a inserção do almoxarifado como participante deste sistema de informação para que o setor tivesse a visualiza-ção das quantidades de itens em estoque e a mudança do modal de entrega dos itens. Dessa forma, a entrega deixou de ser realizada sema-nalmente por caminhões, passando a ser realiza-da, com maior frequência e em pequenas entre-gas por malote interno, atendendo a reposição do estoque.

Por fim, com a implantação das paradas 5S semestrais, o gestor do laboratório reforça as orientações que os colaboradores recebem durante o período de integração da empresa, ao serem contratados, e busca proporcionar a melhoria da realização das atividades.

O intuito desta ação é fazer com que os colaboradores percebam a importância do resultado dos seus esforços para o sucesso da organização, motivando-os a buscar a melhoria contínua. Tal ação contribui para a diminuição de um dos desperdícios presentes na cultura Lean – Desperdício por defeitos, além de reforçar a importância da gestão visual.

V. Discussão e análise dos resultados

como indicadores de erro em relatórios (MER – Média de Erros em Relatórios) e tempo de execução do serviço (TMFR – Tempo Médio de Finalização de Relatórios).

Outra ação que cabe às paradas 5S é a busca pelas sugestões de melhoria dos colabo-radores, que passaram a ser incentivados a propor, ao menos, uma ação de simples implan-tação em seu ambiente profissional. A melhor proposta que se enquadre nas necessidades da área serão implantadas e passarão a fazer parte do modelo de atuação do setor.

A definição da sugestão selecionada faz parte dos eventos Kaizen, com vistas à atuação com simplicidade na implantação da melhoria contínua. Além disso, tal sugestão implantada é exposta no quadro de métricas, a fim de que todos se lembrem da responsabilidade de melhorar o que é pertinente, além de manter o que for positivo. Tal ação está ligada à busca pela mitigação do defeito de criatividade inapro-veitada, presente na cultura Lean.

-A manutenção da utilização de modelo de produção Just in Time, auxiliando na redução de estoque de matéria-prima no laboratório;

- A implantação de novo arranjo físico, fazendo uso de “ilhas de montagem” e de pontos de estoque centralizados, fez com que a distân-cia percorrida diminuísse em 54,6%;

- A utilização de kanbans eletrônicos, traba-lhando a sinalização visual dos níveis de esto-que dos aditivos e a modificação do modal de entregas, trazendo benefícios com o aumento de entregas em pequenos lotes;

Os resultados deste estudo expõem informa-ções positivas, como:

- Execução dos testes paralelos 3 e 4, resul-tando 64% menos tempo gasto;

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- A padronização das solicitações, por meio do sistema de informações implantado, com ganhos de diminuição de retrabalho na ordem de 60%, além da diminuição de erros e aumento da qualidade na geração de relatórios;

- A implantação do quadro PDV, contemplan-do os trabalhos em andamento e seus responsá-veis, além dos indicadores e informações das paradas 5S, fazendo com que os colaboradores passem a perceber a importância dos seus esforços diários e motivem-se na constante busca pela melhoria;

- A utilização das paradas 5S, com a manu-tenção das orientações de trabalho, além da continuidade de utilização das sugestões já implantadas;

Para facilitar a visualização da relação entre as melhorias, atreladas às orientações pela busca dos desperdícios, presente na cultura de manufatura enxuta e de suas ferramentas de aplicação, foi elaborada a tabela 1.

- A utilização de eventos Kaizen, em busca da simplicidade na aplicação de melhorias, baseado nas experiências profissionais dos colaboradores.

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Tabela 1- Aplicação das ferramentas X desperdícios

Fonte: Elaboração própria.

Por fim, com a implantação das ferramentas expostas neste estudo, o fluxo de valor do processo sofreu modificações em sua estrutura, tanto no formato de fornecimento de

matéria-prima, quanto na utilização de ativida-des em paralelo e de tempos entre as atividades, como pode ser visto na Figura 6.

Figura 6 – Mapa de Fluxo de Valor da atividade após implantação de sugestões de melhoria

Fonte: Elaboração própria.

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Assim, este trabalho de pesquisa não se deve esgotar, haja vista a sua possibilidade de implantação em diversas áreas como no seg-mento de óleo e gás e demais organizações prestadoras de serviços de outros segmentos.

VI. Conclusões e trabalhos futuros

O objetivo desta pesquisa foi utilizar as ferramentas Lean, buscando a eliminação de desperdícios, e contribuir para melhoria dos processos e diminuição de custos.

A utilização de orientações de uma cultura de produção, fortemente aplicada no setor automo-bilístico há muitos anos, também pode ser enten-dida e replicada para outros setores, não somen-te de produção de bens, mas também em empre-sas focadas em serviços. Este trabalho buscou confirmar tal afirmação, ao fazer uso dos conhecimentos da cultura Lean Manufacturing e das suas ferramentas de aplicação em uma empresa atuante, basicamente, com a prestação de serviços, no segmento de óleo e gás.

Ao observar o novo mapa de fluxo de valor do processo, percebe-se o aumento do valor agre-gado às atividades para 95,72%, frente aos 94,17% expostos anteriormente. O lead time possui ganhos em redução de 210 minutos, o que equivale a 9,26%, levando em consideração a diminuição do tempo total de ciclo (7,77%) e de tempo de espera (33,33%), em comparação com o anterior.

Quanto ao modelo de produção em paralelo, cabe ressaltar que tais melhorias são represen-tativas para o modelo de teste escolhido como alvo deste estudo, cabendo aos profissionais do setor a avaliação da utilização de paralelismos ou modelo sequencial, por meio de simulação, no intuito de minimizar as possibilidades de insuces-so desta decisão.

Neste trabalho foi exposto como a cultura de produção de manufatura enxuta e a utilização de suas ferramentas de apoio puderam trazer benefícios para uma área de uma organização. É importante que toda organização busque a implantação dessa cultura.

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O DESAFIO DA PROFISSÃO BANCÁRIA SOB A PERSPECTIVA DA REGULAÇÃO

DA RESPONSABILIDADE ÉTICA SOCIOAMBIENTAL

THE CHALLENGE OF THE BANKING PROFESSION UNDER THE PERSPECTIVE OF

THE REGULATION OF SOCIAL AND ENVIRONMENTAL ETHICS RESPONSIBILITY

SAULO BICHARA MENDONÇA

The present study proposal has as its theme the subjectivity of the socio-environmental ethos regulated by Resolution nº. 4.327/14 of the Central Bank of Brazil. The analysis developed here is based on studies and data related to the conditions imposed on employees of the company that work in financial institutions, regarding the situation of the work environment where accidents and injuries occur, such as LER/DORT, as well as moral harassment . In the study, the environment is considered as an object of law under the terms of Law nº. 6.938/81, according to what the National Environment Policy defines environment as the complex of laws and natural interactions that allows, shelters and governs life in all

ABSTRACT

Resumo:

A presente proposta de estudo tem por tema a subjetividade do ethos socioambiental regulamenta-do pela Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil. A análise ora desenvolvida se dá a partir de estudos e dados correlatos às condições impostas aos colaboradores da empresa que atuam em instituições financeiras, no que tange à situação do ambiente de trabalho onde acidentes e lesões acontecem, como LER/DORT, bem como assédio moral. No estudo, o meio ambiente é considerado como objeto de direito nos termos da Lei nº 6.938/81, segundo a qual a Política Nacional do Meio Ambiente define meio ambiente como o complexo condicionado de leis e interações de ordem natural que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. O objetivo é analisar se as instituições financeiras detêm efetiva responsabilidade sobre o ambiente onde a empresa se desenvolve, e se devem então responder pelos reflexos que este ambiente pode proporcionar sobre os que nela atuam de forma profissional e os que nela convivem eventualmente. Ao final, verificar-se-á que, embora haja uma preocupação com o risco socioambiental, esta parece estar relacionada mais ao risco financeiro, contábil e patrimonial, do que com os que interagem no meio ambiente em si, o que se pode representar uma ineficiência da norma resolutiva posta.

Palavras-chave: regulação, ética, responsabili-dade socioambiental

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its forms. The objective is to analyze if the financial institutions hold effective responsibility for the envi-ronment where the company develops, and if it is necessary to respond by the reflexes that this environment can provide on those who work in it professionally and those who stay in it occasionally. At the end, it will be verified that, although there is a concern with socio-environmental risk, this seems to be related more to financial, accounting and equity risk, than to those that interact in the environment itself, which may represent an inefficiency of the operative rule.

A despeito dos termos do artigo 192 da Constituição Federal de 1988, o Banco Central da República do Brasil é regulado pela Lei nº 4.595/64, como autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional, detentor da função de representar o “banco dos bancos”1, devendo, para tanto, organizar o sistema monetário nacional.

Analisando o texto regulatório, verificam-se os seguintes problemas a serem investigados: As diretrizes estabelecidas pela Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil consideram os traumas sofridos pelos colaboradores da empresa no meio ambiente onde desenvolvem seu mister funcional? A referida resolução pretende de fato transformar positivamente o meio ambiente no qual a instituição financeira desenvolve sua atividade empresarial em benefício dos que nele atuam e convivem?

Porém, as novas demandas parecem indicar que se faz necessário a autarquia acompanhar as evoluções econômicas tanto quando as socioambientais. E, ao que parece, a Resolução nº 4.327/14, do Banco Central do Brasil, tem a pretensão de dispor sobre as diretrizes correlatas à implantação de uma Política de Responsabilidade Socioambiental por parte das instituições financeiras autorizadas pela referida autarquia a funcionar, devendo tais normativas ser observadas nos estabelec imentos empresariais de natureza financeira.

INTRODUÇÃO

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O teor da redação resolutiva dispõe sobre a necessidade de assegurar adequada integração d o P r o g r a m a d e R e s p o n s a b i l i d a d e Socioambiental com as demais políticas instituci-onais, como a de crédito, a de gestão de recursos humanos e a de gestão de risco, sugerindo que a defesa socioambiental estaria focada no ambien-te de trabalho, num meio ambiente urbano de caráter jurídico econômico.

A princípio, o que se verifica é que a referida Resolução do Banco Central do Brasil impõe regras burocratizantes e, por conseguinte, onerosas, sem demonstrar efeito pragmático eficiente. Além disso, sugere a existência de uma preocupação institucional de ordem financeira com os riscos socioambientais, muito embora não pareça pretender definir tais riscos, delimitá-los ou dispor sobre como evitá-los ou quais sanções seriam aplicáveis aos autores de even-tuais lesões.

Por outro lado, dados produzidos por estudos que têm por objeto a relação dos colaboradores da empresa com esta podem demonstrar um resultado diametralmente oposto, onde o meio ambiente laboral se verifica hostil e pernicioso à saúde física e psíquica do trabalhador, apesar de tais situações não terem sido mencionadas e quiçá foram consideradas pela autarquia nos termos da resolução em tela.

O estudo da temática proposta se desenvol-verá a partir da análise e interpretação teleológi-ca da Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil e artigos específicos de onde se extraem informações e conceitos correlatos à responsabilidade socioambiental, a fim de verificar as hipóteses postas, confirmando-as ou refutando-as pelo critério dedutivo do qual serão considerados dados sobre a relação dos colabo-

A empresa, de forma geral e ampla, como objeto de direito, não possui definição positiva-da, sendo amplamente utilizada a teoria poliédri-ca2 de Alberto Asquini3 para compreender sua concepção como atividade4 desenvolvida pelo empresário. Neste sentido, pode-se verificar a empresa como “uma fonte de recursos financei-ros para que o empreendedor tenha acesso a padrões direcionados por valores econômicos5”.

As instituições financeiras, pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, sujeitos de direito, possuem estabelecimentos empresa-riais representativos de uma universalidade de fato, nos termos dos artigos 1.142 e 90, ambos do Código Civil. Logo, tais instituições são responsáveis pelos reflexos que o desenvolvi-mento da empresa através deste complexo de bens produz no contexto socioeconômico.

radores daempresa com as instituições finance-iras que os empregam e o meio ambiente no qual atuam e convivem.

1. Ambiente

Considerando como superada a interpreta-ção do meio ambiente como um conceito restrito às características naturais e ecológicas do biossistema, verifica-se que o tema pode ser escrutinado se for considerado interpretar a Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil tendo por ambiente as condições sob as quais qualquer sujeito ou objeto de direito vive, convive e se desenvolve, representando assim o resultado de nfluências que alteram ou determi-nam os fa tos da v ida em soc iedade.

1.1. Estabelecimento empresarial como ambiente

1 BANCO CENTRAL DO BRASIL. História do BC. Disponível em < http://www.bcb.gov.br/?HISTORIABC>, acesso em 07 de junho de 2017.

4 Asquini não aceita a tal “poliedria” da empresa [...] O próprio autor, que, como já dito alhures, limitou-se a narrar o fato, critica a identificação da empresa com o empresário ou com o estabelecimento. No mesmo sentido em que aludiu aos tais “perfis”, defendeu um tratamento mais apurado da matéria, reconduzindo a empresa a limites mais estreitos do que os usualmente aceitos. Também para Asquini, a empresa não se confunde com empresário nem tampouco com o estabelecimento. O jurista aponta, repita-se, a incorreção do emprego do vocábulo em tais acepções. In DUARTE, Ronnie Preuss. Teoria da Empresa à luz do novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: Método, 2004. p. 89.5 VIGNOCHI, Luciano, LEZANA, Álvaro Guillermo Rojas e CAMILOTTI, Luciane. Empreendedorismo e valores humanos: um estudo conceitual. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional. vol. 11, nº 2, p. 279, Universidade Federal do Pernambuco, Maio/Set. 2013. Disponível em <www.revista.uf-pe.br/gestaoorg>, acesso em 07 de junho de 2017.

2 Pela teoria poliédrica defini-se a empresa por meio de quatro perfis, a saber: a) o subjetivo, atrelando-a ao empresário, sujeito de direito propriamente dito; b) o perfil funcional, identificando-a como atividade, força em movimento, com foco em determinado escopo produtivo; c) o perfil objetivo ou patrimonial, que a identifica como mero conjunto de bens, ou seja, objeto de direito, aproximando-a do conceito de estabelecimento empresarial; e d) o perfil corporativo ou organizacional, atribuindo-lhe aspecto de instituição, em que estariam reunidos o empresário, seus colaboradores e terceiros interessados – todos conecta-dos por contratos e sendo estes o ponto central de onde decorrem todas as ações do empresário correlatas à empresa.3 ASQUINI, Alberto. Profili dell´impresa. Rivista di diritto commerciale, Milano, v. XLI, parte I, p. 01-20, 1943.

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O estabelecimento empresarial acaba por se verificar como um meio ambiente específico, pois os bens (móveis e imóveis, corpóreos e incorpó-reos) que o constituem são destinados ao exercí-cio da empresa pelo seu titular, e este exercício exige a manipulação e transformação desses bens pelos colaboradores da empresa e seus titulares.

1.2. Ambiente empresarial e sustentabili-dade

O trabalho desenvolvido pelos colaborado-res da empresa no desenvolvimento desta por meio do estabelecimento empresarial permite que se perceba e reconheça uma realidade, um universo criado a partir da instituição da pessoa jurídica no qual as pessoas convivem, agem e reagem aos estímulos proporcionados pela atividade econômica, financeira e patrimonial.

Essa atividade empresarial exige certa postura por parte dos agentes econômicos que atuam em atenção à empresa e tais agentes acabam por se mostrar suscetíveis aos efeitos destas.

Não sendo apenas aos instituidores que a empresa deve promover satisfação com seus resultados financeiros, mas também aos demais membros da sociedade que por ela são explora-dos em troca de remuneração e aos demais, como consumidores aos quais destinam seus produtos e serviços, os estudos verificados têm demonstrado um direcionamento das pesquisas à busca de verificação de formas de convívio ambiental sustentável6, considerando que a “responsabilidade socioambiental corporativa torna-se uma tendência universal que pode se consolidar entre todas as organizações públicas ou privadas, independente do seu porte7”.

Uma vez que se supera a ideia de que a empresa tem por fim a mera promoção de lucro aos investidores que a instituíram, verifica-se que de sua função social derivam outras expec-tativas de ordem social que interferem na manu-tenção da ordem econômica em si.

A despeito da paz e serenidade que as propagandas comerciais tentam fazer transpa-recer, até mesmo quando se investe no chama-do marketing olfativo, mesmo assim, em algu-mas situações os níveis de estresse nas institui-ções financeiras chegam parecem alcançar níveis extremos.

A análise deste fato e a busca por soluções que amortizem as externalidades proporciona-das pelo desenvolvimento desta atividade empresarial específica vão além da normativa posta, pois o “setor bancário é considerado um setor essencial na economia dos países8”

As instituições financeiras não demonstram ter um dos ambientes mais amistosos construí-dos pelo homem. Ao contrário, em regra, repre-sentam local onde o nível de estresse se verifica excessivo, tanto para os colaboradores da empresa que durante a jornada de trabalho ficam emergidos no referido ambiente, como para os cidadãos que lá precisam comparecer para fins de consumo dos serviços ofertados.

A relevância deste tipo de responsabilidade que precisa ser assumida de fato pelas institui-ções financeiras e empresas de forma geral ostenta afinidade com a necessidade de manter de forma eficiente a atividade empresarial em si, pois sem um meio ambiente salutar os sujeitos de direito não conseguem persistir no desenvol-vimento de suas funções sem sofrer efeitos perniciosos de característica psicossomática.

2. Dos danos que se verificam no ambiente empresarial da instituição financeira

2.1. Danos sofridos por consumidores no ambi-ente empresarial da instituição financeira

A regra básica sobre responsabilidade civil parece ser impetuosamente ignorada em alguns casos que envolvem consumidores e institui-ções financeiras, inobstante serem de natureza pública ou privada, como o caso que envolveu a servidora pública municipal Maria da Conceição Santos Silva, de 53 anos, funcionária em uma

7 RABELO, Nathália de Santana. e SILVA, Carlos Eduardo. Modelos de indicadores de responsabilidade socioambiental corporativa. R e v i s t a B r a s i l e i r a d e A d m i n i s t r a ç ã o C i e n t í fi c a , v . 2 , n . 1 , A q u i d a b ã , 2 0 11 , p . 2 8 . D i s p o n í v e l e m <http://sustenere.co/journals/index.php/rbadm/article/viewArticle/118>, acesso em 07 de junho de 2017. 8 PARISOTTO, Iara Regina dos Santos. e SOUZA, Maria Tereza Saraiva de. Investimento sócioambiental de bancos brasileiros. Revista Eletrônica de G e s t ã o O r g a n i z a c i o n a l . v o l . 1 0 , n º 1 , p . 5 7 , U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P e r n a m b u c o , j a n . / f e v. 2 0 1 2 . D i s p o n í v e l e m <http://www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/gestao/article/view/483>, acesso em 07 de junho de 2017.

6 CARLI, Ana Alice de. A sustentabilidade como pressuposto necessário ao desenvolvimento econômico. Revista Vitas – visões transdisci-plinares sobre ambiente e sociedade, ano III, nº 7, Niterói, agosto de 2013. Disponível em <www.uff.br/revistavitas>, acesso em 07 de junho de 2017.

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escola municipal no segundo distrito de Cabo Frio, Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro e a agência da Caixa Econômica Federal, localizada no centro do mesmo municí-pio; segundo consta, a cidadã compareceu à referida agência bancária para tentar sacar seu saldo de PIS/PASEP, mas foi impedida de entrar pelos seguranças e pelo instrumento detector de metais constante na porta giratória da referida instituição, mesmo depois de ter retirado todos os objetos metálicos que estavam na sua bolsa, chegando ao extremo de quase se desnudar, ficando apenas com roupas íntimas, ela não conseguiu entrar na agência.

Outras situações não se apresentam de forma menos grave, mas demonstram igualmen-te a necessidade de revisão do ambiente criado

O caso foi noticiado nacionalmente9 e exige, no mínimo, uma aprofundada reflexão sobre o que se espera de eficiência nos serviços oferta-dos pelas instituições financeiras e a responsabi-lidade destas pelo ambiente que promovem aos cidadãos de uma forma geral, colaboradores da empresa e consumidores.

Os tribunais fornecem precedentesque10 ressaltam a relevância da incidência do princípio da isonomia nas relações entre consumidores e instituições financeiras, tal qual demonstram a necessidade de revisão dos procedimentos que compõem o ambiente institucional, como se verifica.

Situações como essas demonstram que algumas agências de instituições financeiras ignoram veementemente as normas postas, inobstante sua imperatividade.

Outro ponto que tange a questão dos consu-midores dos serviços prestados por instituição financeira diz respeito à acessibilidade dos deficientes visuais, a despeito da Lei nº 4.169⁄62, que torna obrigatório o uso do método oficial de escrita e leitura do cego, o Braille, em todo território nacional e que, no entanto, algumas instituições financeiras parecem ignorar a regra, em flagrante desrespeito ao cidadão portador de deficiência12.

A Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN publicou “Manual de Acessibilidade para Agências Bancárias13” e em 16 de outubro de 2008 foi assinado um termo de ajustamento de conduta14 estipulando cláusulas sobre condi-ções gerais de acessibilidade e atendimento para pessoas com deficiência física, deficiência visual, deficiência auditiva e deficiência mental; mas parecem não produzir amplos efeitos pragmáticos. Tais efeitos dependem de uma mudança comportamental coletiva dos indivídu-os a fim de que um cidadão respeite efetivamen-te outro como seu próximo, de forma que

para a prestação de serviços pelas instituições financeiras como a questão que envolve a regulamentação do tempo de espera pelo atendimento na fila11.

10 RESPONSABILIDADE CIVIL – DANO MORAL – Porta de Segurança - Cliente que teve obstado o acesso ao interior da agência bancária, por ter sido barrado na porta giratória detectora de metais, por ser portador de prótese - A imposição de acessibilidade, proteção e respeito devidos à pessoa deficiente não a exime de tratamento igualitário naquilo que for possível, como é o depósito de objetos pessoais para adentrar em agências providas de portas de segurança - Não demonstração de que o correntista tenha sido submetido a situação vexatória ou constrangedora – Ausência de permissão para entrar à agência não chegou a caracterizar o dano moral, mas mero aborrecimento, que é incapaz de gerar dano moral -Inexistência de violação a direito da personalidade – Improcedência - Recurso desprovido. [...]In TJ-SP - Apelação 00317354220098260000 SP 0031735-42.2009.8.26.0000 . Processo n.0031735-42.2009.8.26.0000. Comarca de Campinas, 3ª Vara Cível. Apelante: Aires Fernando de Andrade Azanha

13 FEBRABAN. Manual de Acessibilidade para Agências Bancárias.<https://www.febraban.org.br/Arquivo/Cartilha/cartilha_arquivos/manual_aces.pdf>, acesso em 07 de junho de 2017.

12 Apelação cível. Ação civil pública. Obrigação de fazer consistente na condenação da instituição financeira à entrega aos correntistas deficientes visuais dos extratos e documentos bancários em braille. Cumprimento da convenção interamericana de combate à deficiência. Dano moral coletivo adequadamente arbitrado. Provimento parcial do apelo para atribuição de efeitos erga omnes ao julgado, com abrangência a todo o território nacional. Precedentes do superior tribunal de justiça. Desprovimento do recurso do réu e provimento parcial do recurso da autora coletiva. O presente recurso especial é oriundo de ação civil pública promovida por Associação Fluminense de Amparo aos Cegos - AFAC contra o Banco do Brasil S⁄A, tendo por desiderato: i) a condenação do réu a confeccionar em Braille os contratos de adesão e todos os demais documentos fundamentais para a relação de consumo; ii) a enviar os extratos mensais consolidados em impressos em linguagem Braille, para os clientes com deficiência visual; iii) a desenvolver cartilha para seus empregados com normas de conduta para atendimentos ao deficiente visual; iv) ao pagamento de multa diária de R$ 70.000,00 (setenta mil reais) pelo não cumprimento da obrigação e indenização no valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais). InSTJ - RECURSO ESPECIAL 1315822 RJ 2012/0059322-0. Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Julgamento: 24/03/2015, Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA, Publicação: DJe 16/04/2015. Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/181945795/recurso-especial-resp-1315822-rj-2012-0059322-0>, acesso em 07 de junho de 2017.

14 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de São Paulo, Ministério Público do Estado de Minas Gerais e Federação Brasileira de Bancos. Disponível em <http://www.febraban.org.br/7Rof7SWg6qmyvwJcFwF7I0aSDf9jyV/sitefebraban/TAC%20-%20VERSAO%20ORIGINAL%20ASSINADA%20-%201610081.pdf>, acesso em 07 de junho de 2017.

9 ARAÚJO, Paulo Roberto. Mulher passa mal após ser barrada e ter que tirar a roupa em agência da Caixa em Cabo Frio. Jornal O Globo, 14/09/2015, 18:10, atualizado em 14/09/2015, 23:46. Disponível em <http://oglobo.globo.com/rio/bairros/mulher-passa-mal-apos-ser-barrada-ter-que-tirar-roupa-em-agencia-da-caixa-em-cabo-frio-17488063> acesso em 07 de junho de 2017.

11 TJ-MG - Apelação Cível 10570040063093001 MG. Relator(a): Alberto Vilas Boas, Julgamento: 11/06/2013, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA CÍVEL, Publicação: 20/06/2013. Disponível em <http://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/115797835/apelacao-civel-ac-10570040063093001-mg>, acesso em 07 de junho de 2017.

Apelado: Banco do Brasil S.A., Juiz: Ricardo Hoffmann. Disponível em <http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/119620648/apelacao-apl-317354220098260000-sp-0031735-4220098260000/inteiro-teor-119620658>, acesso em 07 de junho de 2017.

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todos passem a vivenciar diuturnamente e em sentido amplo o princípio da isonomia e a solida-riedade.

Caso a norma posta a partir da resolução citada não tenha a força necessária para tanto, carece de uma interpretação teleológica ou mesmo de uma profunda e sincera revisão de valores por parte das instituições financeiras.

Em que pese a pretensão da Resolução do Banco Central do Brasil, objeto deste estudo, o que se verifica é que muitas demandas ainda se fazem necessárias para conversão do ambiente construído pelas instituições financeiras em locais salubres e harmoniosos onde o respeito à dignidade da pessoa humana é promovido15.

Resta, porém, verificar como os colaboradores da empresa recebem os efeitos provocados pelo ambiente construído pelas instituições financei-ras no desenvolvimento da sua atividade empre-sarial.

2.2. Danos sofridos pelos colaboradores da empresa no ambiente empresarial da institui-ção financeira

Considerando as instituições financeiras como responsáveis pelo ambiente que criam, no qual os colaboradores da empresa passam parte de suas vidas dedicando-se ao seu mister funcio-nal, seria de se considerar a possibilidade de se verificar nestes indivíduos uma sensação de bem-estar.

O bem-estar no trabalho representa conceito relativamente recente, concebido como um “construto psicológico multidimensional16” que se verifica a partir do registro de um estado emocio-nal positivo decorrente de experiências vividas

Alguns estudos empíricos têm evidenciado que o mal-estar no trabalho representa um elemento negativo no contexto social e boa parte desse mal-estar está relacionada ao ambiente onde o trabalho se desenvolve17.

2.2.1. Sensação de (in)segurança física

no trabalho, que permitam reconhecer a existên-cia de um comprometimento organizacional afetivo, onde o indivíduo venha se identificar com a organização da instituição, seus objetivos e valores, desejando realizá-los.

Os dados mencionados indicam que a sensação de bem-estar no trabalho está longe dos sentimentos dos colaboradores da empresa que atuam em instituições financeiras e, ao contrário do que se poderia sugerir a princípio, este fato é relevante aos presentantes da empresa.

A insatisfação do colaborador da empresa acarreta em ônus subjetivo e objetivo, o primeiro porque o colaborador não age, nem se dedica com animus de cumprir os objetivos em atenção aos valores da empresa, pois o ambiente no qual está imerso não lhe proporciona a tranquilidade necessária para o bom desenvolvimento de sua função; o último porque as lesões e traumas psicossomáticos que decorrem da constante sensação de tensão acabam por lhe afastar da função, forçando-o a deixar de produzir.

O transtorno por estresse pós-traumático – TEPT tem sido relacionado ao trabalho, porque o trauma do qual ele se origina decorre de um acidente de trabalho, ocorrido pelo efetivo exercício a serviço da empresa, ocasionando lesão corporal ou perturbação funcional, com possível perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária ou até mesmo a morte.

15 A título de respeito à metodologia acadêmica, ressalva-se que não se delimitou como objetivo deste estudo à análise das práticas empresariais desenvolvidas pelas instituições financeiras, por isso os casos que envolvem os consumidores se restringem a exemplos que envolvem o ambiente institucional e não exaurem as circunstâncias, tendo sido citados por um critério qualitativo, não quantitativo.

William; MARTINS Dulcéa; SOUZA Carmelita; MAIA, Deborah; FIGUEIRA, Ivan e JARDIM, Sílvia. Transtorno de estresse póstraumático como acidente de trabalho em um bancário: relato de um caso. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, vol. 27, nº 1, Porto Alegre, Jan./Abr. 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082005000100011>, acesso em 07 de junho de 2017.

17 Situações traumáticas no ambiente de trabalho devido à violência urbana vêm ocorrendo com maior frequência. Entre elas, os assaltos a agências bancárias. Em 1986, observouse que 37,5% das vítimas de assalto a mão armada apresentaram TEPT. Vários estudos sobre assaltos a banco mostram como esses eventos afetam a saúde mental e o desempenho no trabalho. Segundo dados da Polícia Civil, no Rio de Janeiro ocorreram cinco assaltos a banco no mês de maio de 2004 e três no mesmo mês em 2003. Dados da Secretaria de Justiça e Segurança do Rio Grande do Sul, de junho de 2003, revelam que o número de assaltos a bancos dobrou em Porto Alegre e no interior do estado. Um percentual significativo de funcionários de agências bancárias relata nervosismo, tensão e preocupação (66,4%) e medo de assalto (48,6%). In BUCASIO, Erika; VIEIRA, Isabela; BERGER,

16 FERREIRA, Mário César. e SEIDL, Juliana. Mal-estar no Trabalho: Análise da Cultura Organizacional de um Contexto Bancário Brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 25 nº 2, p. 245-254, Abr-Jun 2009, p. 247. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a13v25n2>, acesso em 07 de junho de 2017.

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A paralisação na produção por parte do colaborador da empresa por ter sido imerso num ambiente hostil, onde o trabalho foi desenvolvido com sensação de insegurança, desconforto e ausência de tranquilidade, representa um retro-cesso na proposta de sustentabilidade que exige que o desenvolvimento econômico-social se dê por imposição concomitante da “distribuição justa de benefícios e divisão equânime dos ônus 18”

Não se trata aqui de uma responsabilidade objetiva pela conduta alheia, não servindo o empregador de “seguro universal” ao empregado em relação a atos praticados por outros empre-gados. Mas, evidentemente, de responsabilida-de pela omissão no impedimento da prática de atos que, conhecidos da empresa (na pessoa de superiores hierárquicos), não são debelados pela instituição financeira, quando então concor-re com o resultado funesto que acomete o cola-borador vitimado física ou psicologicamente por outros colaboradores.

Outros riscos de lesões podem ser suporta-dos pelos colaboradores da empresa em atua-ção nas instituições financeiras, relacionados ao convívio com outros colegas de trabalho; a instituição financeira deve arcar também com a responsabilidade pelo clima que se instaura no ambiente de trabalho, protegendo os colabora-dores da empresa uns dos outros, evitando que o desenvolvimento do objeto institucional sofra solução de continuidade e que o indivíduo seja lesionado em sua psique por conta de um “fenô-meno interpessoal19”, como o assédio moral.

2.2.2. Sensação de (in)segurança psicológica

Um dos elementos que mais causam insegu-rança no ambiente de trabalho, seja institucional ou não, é o assédio moral, reconhecido como a exposição repetitiva e prolongada dos colabora-dores da empresa a situações humilhantes e constrangedoras enquanto se encontram no

Não se confunde o assédio moral com o necessário dinamismo no desenvolvimento das funções institucionais que se exige no cotidiano de uma instituição financeira. Mas não se justificam as excessivas e reiteradas cobranças de alcance de metas institucionais inatingíveis por meio de ameaças de dispensa, atribuição de alcunhas pejorativas, sobrecarga de trabalho ou mesmo impedimento da continuidade do trabalho por negativas de informações essencia-is, dentre outras ações conhecidas como assé-dio moral que hostilizam o indivíduo em seu ambiente de trabalho, perante seus pares e clientes.

Embora seja uma ação subjetiva e interpes-soal, sua caracterização depende de que a ação seja praticada no ambiente de trabalho, em razão deste e, em regra, em decorrência de uma relação de subordinação hierárquica. Seus efeitos proporcionam graves danos à saúde física e mental, podendo evoluir para a incapaci-dade laboral.

As condutas verificadas como assédio moral são desumanas e desprovidas de ética, promo-vem a humilhação do indivíduo e interferem na vida pessoal do cidadão trabalhador, ferindo sua dignidade e interferindo na identidade das suas relações afetivas e sociais.

exercício de suas funções laborais. Um dos elementos que mais causam insegu-

rança no ambiente de trabalho, seja institucional ou não, é o assédio moral, reconhecido como a exposição repetitiva e prolongada dos colabora-dores da empresa a situações humilhantes e constrangedoras enquanto se encontram no exercício de suas funções laborais.

Tais ações não lesionam apenas aquele a quem se direcionam objetivamente, mas macu-lam todo ambiente laboral e os que nele convi-vem e interagem, direta e indiretamente, como se verifica no exemplo de assédio moral organi-zacional virtual 20.

1 9 M I N I S T É R I O P Ú B L I C O D O T R A B A L H O . A s s é d i o m o r a l e m e s t a b e l e c i m e n t o s b a n c á r i o s . p . 11 . D i s p o n í v e l e m <http://www.bancariosdecuritiba.org.br/docs/pdf/sua_saude/publicacoes/assedio-moral-em-estabelecimentos-bancarios.pdf>, acesso em 07 de junho de 2017.

18 CARLI, Ana Alice de. A sustentabilidade como pressuposto necessário ao desenvolvimento econômico. Revista Vitas – visões transdisciplinares sobre ambiente e sociedade, ano III, nº 7, Niterói, agosto de 2013, p. 5. Disponível em <www.uff.br/revistavitas>, acesso em 07 de junho de 2017.

20 Em algumas agências bancárias, para que o funcionário comece a trabalhar, é necessário que entre no sistema da instituição financeira. Ocorre que, em muitos casos, a conexão só se dá após a aceitação no terminal de computador de alterações no seu contrato de trabalho (ex: mudança do regime de 6 horas para 8 horas). A não aceitação implica não entrar no sistema, não poder trabalhar, ou seja, não cumprir as metas. Tais alterações, entretanto, muitas vezes acontecem no início de um atendimento a correntista. Neste caso, os bancários são compelidos, sob pena de retardar o atendimento, a aderir às mudanças propostas no sistema, ainda que não desejadas pelo trabalhador, já que este permanece travado até que as alterações sejam confirmadas. O trabalhador que não adira às alterações lançadas no sistema não poderá trabalhar e, de quebra, terá que lidar com a ira do cliente. In MINISTÉRIO PÚBLICO DO T R A B A L H O . A s s é d i o m o r a l e m e s t a b e l e c i m e n t o s b a n c á r i o s . p . 1 8 . D i s p o n í v e l e m <http://www.bancariosdecuritiba.org.br/docs/pdf/sua_saude/publicacoes/assedio-moral-em-estabelecimentos-bancarios.pdf>, acesso em 07 de junho de 2017.

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Se os fatos não forem considerados, de pouco adiantará a norma posta pela autarquia fazendária a partir da resolução em questão.

Talvez as normativas tenham inspiração na necessidade de contenção de despesas orça-mentárias do Estado (União), dos custos correla-tos aos pagamentos de benefícios previdenciári-os, considerando que as consequências das lesões provocadas no ambiente institucional

2.3. A expectativa de supressão dos danos suportados no ambiente empresarial das institui-ções financeiras

A Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil determina em seu artigo 9º que as institui-ções financeiras e demais instituições autoriza-das a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem estabelecer plano de ação visando à implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental – PRSA, devendo para tanto, definir ações requeridas para a adequação da estrutura organizacional e operacional da institui-ção, bem como as rotinas e os procedimentos a serem executados em conformidade com as diretrizes da política, segundo cronograma a ser especificado pela instituição. O artigo seguinte exige que tais planos de ação devem ser aprova-dos pela diretoria da instituição, por seu conselho de administração, quando houver 21, de forma a assegurar efetiva integração com as demais políticas institucionais, tais como a de crédito, a de gestão de recursos humanos e a de gestão de risco. A questão que fica é: será que tais planos serão suficientemente capazes de reprimir ações perniciosas praticadas em razão e sob a justifica-tiva do alcance das metas definidas e impostas pelos mesmos órgãos institucionais? Será que tais órgãos institucionais estão prontos para considerar as transformações que se apresen-tam pelo ambiente laboral construído pelas próprias instituições financeiras? 22

comprovadamente podem acarretar a invalidez do cidadão para o trabalho. 23

Apesar das normas jurídicas serem autori-zantes, imperativas e abstratas, alguns estudos demonstram que os valores influenciam nas tomadas de decisões dos indivíduos, contribuin-do para que estes definam seus critérios de convivência social.

3. Ethos socioambiental

Assim, a exigência reguladora no sentido de que as instituições financeiras venham agir dentro de moldes delineados por normas que visam regular a responsabilidade socioambien-tal pode depender precipuamente da conduta moral pela qual os presentantes 24 das institui-ções venham orientar suas ações.

Contudo, apesar dos valores humanos acabarem por determinar a personalidade e o comportamento do empreendedor, “não há um consenso sobre conceito de valores humanos na literatura 25 ”, mas há uma necessidade de rever valores e atitudes, reformulando a cultura socioambiental.

3.1. Ambiente e relações sociaisCom o desenvolvimento político e econômi-

co contemporâneo as questões ambientais foram ampliadas e agravadas, fato que tem estimulado ações regulamentadoras em sentido amplo, na expectativa de coercitivamente exigir uma revisão de postura por parte dos agentes econômicos e sociais.

Contudo, as normas tendem a ser inócuas se não houver um comprometimento com a mudan-ça de postura dos agentes envolvidos com a problemática em tela. Não basta regulamentar sobre responsabilidade socioambiental das instituições financeiras se não houver uma propositura ética com a defesa socioambiental dos indivíduos que atuam e interagem no referi-do ambiente empresarial.

21 A título de respeito à didática, ressalta-se que a ressalva se deve ao fato de que o artigo 138, § 2º, e o artigo 239, ambos da Lei de Sociedades por Ações determinam obrigatoriedade de existência de Conselho de Administração apenas para as companhias de capital aberto, as companhias de capital autorizado e as sociedades de economia mista.

23 Pesquisas realizadas em diversos países confirmam esses dados e demonstram que o assédio moral tem repercussões diretas sobre o estado psicofísico das vítimas, desencadeando doenças de origem psicossomáticas e, num grave extremo, pode conduzir à invalidez psíquica, dando ampla razão àqueles que sustentam que o assédio moral deva ser caracterizado como uma doença profissional. In TERRIN, Kátia AlessandraPastori. e OLIVEIRA, Lourival José de. Assédio moral no ambiente de trabalho: propostas de prevenção. Revista de Direito Público, v. 2, nº. 2, p. 10, Londrina, mai/ago 2007. D i s p o n í v e l e m <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:JsKquky6AAoJ:www .uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/download/1 1453/10189+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>, acesso em 07 de junho de 2017.

22 As condições de trabalho no universo bancário têm sido objeto de aceleradas modificações durante as últimas décadas, com maior ênfase a partir de 70. As mudanças organizacionais com base tecnológica têm-se traduzido em flexibilização dos processos de trabalho com acúmulo de sobrecarga física e cognitiva e seus respectivos desdobramentos, desemprego, precariedade nas relações de trabalho, e adoecimento de seus principais atores. In Bourguignon, Denise. Aspectos epidemiológicos de acidentes e doenças do trabalho em bancários – um recorte de gênero e adoecimento. Disponível em <http://www.saude.es.gov.br/download/crst/ASPECTOS_EPIDEMIOLOGICO_DOS_BANCARIOS.pdf>, acesso em 07 de junho de 2017.

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A questão ambiental considerada por este prisma tem impulsionado a atuação e o desen-volvimento da empresa, permitindo rever sua função social, de forma que a empresa se desen-volva de forma sustentável, assegurando seu êxito a longo prazo.

O ethos socioambiental está atrelado a novas “concepções e formas de compromisso ambiental 26”, de forma que os indivíduos perce-bam o quão fundamental são suas ações e condutas sobre o ambiente, ou seja, “o compro-misso socioambiental requer a tomada de cons-ciência de que as atitudes individuais têm reper-cussões coletivas e vice-versa 27”.

Por esta razão compreende-se a íntima correlação entre responsabilidade socioambien-tal regulada pela Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil e as questões de ordem financeira, contábil e patrimonial.

O que se vislumbra com o teor da Resolução nº 4.327/14 do Banco Central do Brasil é uma urgência em se verificar ações de terceiros em prol das ações destinadas à preservação do ambiente institucional, pois ações individuais são frágeis, parcas e não logram êxito na defesa da qualidade de vida 28.

3.2. Verificação do cumprimento do dever ético socioambiental por dados científicos

O exercício da empresa nos moldes da responsabilidade socioambiental exige investi-mentos na redução de externalidades negativas, representativas das falhas de mercado. As normas podem pretender, mas nem sempre

Não será uma norma que proporcionará a verificação de resultados positivos na perfor-mance social corporativa, ‘as empresas devem trabalhar para aumentar os benefícios e reduzir ou eliminar os danos resultantes de suas ativida-des, sob o risco de, ao não se adaptarem devida-mente ao seu ambiente, perderem acesso a recursos críticos” 30. Assim, os agentes socioeco-nômicos que com ela interajam correm risco de perecer, sucumbindo aos efeitos perniciosos que eventualmente estejam sofrendo em seu ambiente, se medidas preventivas não forem incluídas em seu planejamento logístico.

A revisão autônoma do ambiente institucio-nal por parte dos presentantes das instituições pode contribuir para o afastamento da interven-ção desnecessária e, via de regra, onerosa do Estado nas decisões administrativas particula-res 31.

serão eficientes na correção destas falhas, como pondera Fábio Nusdeo 29.

O investimento autônomo e espontâneo de parte da receita auferida pelo desenvolvimento da empresa em projetos socioambientais, convergindo para a solução de problemas sociais, pode permitir uma melhora na eficiência nos resultados almejados e na condição social genérica, pois a “responsabilidade socioambien-tal objetiva a análise dos impactos das decisões organizacionais sob os diversos públicos envol-vidos, através de um contínuo comportamento ético que visa contribuir na construção de socie-dades sustentáveis 32”.

24 Inobstante ser corrente no meio jurídico o uso da expressão “representante legal”, reconhece-se pertinência na crítica a esta expressão, uma vez que a representação cabe aos absolutamente incapazes, o que não é o caso das pessoas jurídicas regularmente constituídas por ato praticado no Registro Público de Empresas Mercantis, neste caso, entende-se como mais coerente o uso da expressão “presentação legal”, que representa uma relação mais orgânica, por assim dizer, onde o administrador presenta a pessoa jurídica, sendo-lhe incumbido tornar presente a vontade da instituição, neste sentido, lê-se COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Direito de empresa. vol. 2,19ª ed. São Paulo, Saraiva, 2015, p. 481.

28 O entendimento de que o compromisso socioambiental comporta noções de reconhecimento de inter-relação entre as atitudes e sua repercussão no cuidado e atenção ao ambiente, não somente na dimensão pessoal, mas especialmente na consideração de seu efeito social, mostra a longa distancia a ser percorrida para a concretização das ações coletivas na implementação de estratégias que, de fato, demonstrem esse compromisso em toa a sua complexi-dade. In LEMOS, Sônia Maria. e HIGUCHI, Maria Inês Gasparetto. Compromisso socioambiental e vulnerabilidade. Ambiente e Sociedade, vol. 14, nº 2, São Paulo, jul./dez. 2011, p.6. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X2011000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

25 VIGNOCHI, Luciano, LEZANA, Álvaro Guillermo Rojas e CAMILOTTI, Luciane. Empreendedorismo e valores humanos: um estudo conceitual. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional. vol. 11, nº 2, p. 289, Universidade Federal do Pernambuco, Maio/Set. 2013. Disponível em <www.revista.uf-pe.br/gestaoorg>, acesso em 07 de junho de 2017. 26 LEMOS, Sônia Maria. e HIGUCHI, Maria Inês Gasparetto. Compromisso socioambiental e vulnerabilidade. Ambiente e Sociedade, vol. 14, nº 2, São Paulo, jul./dez. 2011, p. 2. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X2011000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>, acesso em 07 de junho de 2017. 27 LEMOS, Sônia Maria. e HIGUCHI, Maria Inês Gasparetto. Compromisso socioambiental e vulnerabilidade. Ambiente e Sociedade, vol. 14, nº 2, São Paulo, jul./dez. 2011, p.3. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X2011000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>, acesso em 07 de junho de 2017.

29 NUSDEO, Fábio. Fundamentos para uma codificação do direito econômico. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995, p. 123. 30 PARISOTTO, Iara Regina dos Santos. e SOUZA, Maria Tereza Saraiva de. Investimento sócioambiental de bancos brasileiros. Revista Eletrônica de G e s t ã o O r g a n i z a c i o n a l . v o l . 1 0 , n º 1 , p . 5 6 , U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P e r n a m b u c o , j a n . / f e v. 2 0 1 2 . D i s p o n í v e l e m <http://www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/gestao/article/view/483>, acesso em 07 de junho de 2017.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 43

Nada obsta a publicação de balanços sociais e a utilização destes como forma de atrair consu-midores e conquistar a credibilidade do público, a fim de ampliar o leque de alcance do produto ou serviço disponibilizado ao mercado. Porem, é preciso que haja efetivo empenho no sentido de que as ações empresariais desenvolvidas pelas instituições financeiras contribuam para a defesa socioambiental e promoção de sua responsabili-dade por esta, considerando que a “dimensão ética da sustentabilidade leva em conta a relação indissociável e de boa-fé entre homem, coletivi-dade e natureza 35”.

Conclusão

A despeito da norma posta pela autarquia fazendária carecer de análise e interpretação, deve-se considerar que os indivíduos precisam rever suas posturas, inobstante a coerção legal, pois do contrário quaisquer sanções estatais podem se verificar ineficientes ante aos danos causados por ações irresponsáveis na gestão do ambiente institucional, promovendo a solução de continuidade do objeto empresarial.

Porém é preciso que as atitudes tomadas pelas instituições financeiras se apresentem de forma mais notoriamente pragmática, reduzindo sua característica de marketing e ampliando seu aspecto de eficiência.

Apesar de se verificar indicativos que apontam para a conversão da responsabilidade socioambiental corporativa em tendência univer-sal, como sendo uma nova ferramenta de ges-tão33, ainda há precedentes que apontam para situações onde instituições financeiras utilizam do relatório de sustentabilidade como forma de legitimar suas atividades, lapidando sua imagem junto ao público externo34, porém burlando a proposta de promover ações efetivamente responsáveis ante ao ambiente que instituem e do qual fazem parte.

Referências

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BUCASIO, Erika; VIEIRA, Isabela; BERGER, William; MARTINS Dulcéa; SOUZA Carmelita; MAIA, Deborah; FIGUEIRA, Ivan e JARDIM, Sílvia. Transtorno de estresse póstraumático como

32 RABELO, Nathália de Santana. e SILVA, Carlos Eduardo. Modelos de indicadores de responsabilidade socioambiental corporativa.

33 RABELO, Nathália de Santana. e SILVA, Carlos Eduardo. Modelos de indicadores de responsabilidade socioambiental corporativa. Revista Brasileira de Administração Científica, v.2, n.1, p.28, Aquidabã, 2011. Disponível em <http://sustenere.co/journals/index.php/rbadm/article/viewArticle/118>, acesso em 07 de junho de 2017.

35 CARLI, Ana Alice de. A sustentabilidade como pressuposto necessário ao desenvolvimento econômico. Revista Vitas – visões transdisciplinares sobre ambiente e sociedade, ano III, nº 7, Niterói, agosto de 2013, p. 7. Disponível em <www.uff.br/revistavitas>, acesso em 07 de junho de 2017.

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34 PARISOTTO, Iara Regina dos Santos. e SOUZA, Maria Tereza Saraiva de. Investimento sócioambiental de bancos brasileiros. Revista Eletrônica de G e s t ã o O r g a n i z a c i o n a l . v o l . 1 0 , n º 1 , p . 5 8 , U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P e r n a m b u c o , j a n . / f e v. 2 0 1 2 . D i s p o n í v e l e m <http://www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/gestao/article/view/483>, acesso em 07 de junho de 2017.

31 A teoria da “Public Choice” poderá revelar-se funcional, também, na medida em que puder contribuir para evitar tanto a interferência desnecessária e ineficiente do setor público no mercado, quanto a sua recíproca: a ação danosa de interesses particulares sobre o setor público. Se existe interferência do Estado no mercado, existe também interferência de setores deste sobre aquele, o que pode perfeitamente ser detectado a nível judicial ou administrativo com a extração das correspondentes consequências. In NUSDEO, Fábio. Fundamentos para uma codificação do direito econômico. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995, p. 165.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 44

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MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça. TJ-MG - Apelação Cível 10570040063093001 MG. Relator(a): Alberto Vilas Boas, Julgamento: 11/06/2013, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA CÍVEL, Publicação: 20/06/2013. Disponível em <http://tj-m g . j u s b r a s i l .-com.br/jurisprudencia/115797835/apelacao-civel-ac-10570040063093001-mg>, acesso em 07 de junho de 2017.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 45

VIGNOCHI, Luciano, LEZANA, Álvaro Guillermo R o j a s e C A M I L O T T I , L u c i a n e . Empreendedorismo e valores humanos: um estudo conceitual. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional. vol. 11, nº 2, p. 271-292, Universidade Federal do Pernambuco, Maio/Set. 2013. D isponíve l em <www.rev is ta .u f-pe.br/gestaoorg>, acesso em 07 de junho de 2017.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UM RELATO SOBRE O USO DE FERRAMENTAS

CONSTRUTIVISTAS NA PRÁXIS DO PROFESSOR DIANTE DO ENSINO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ABSTRACT

Palavras-Chave: Aprendizagem Significativa; Psicologia da Educação; Ciências Biológicas.

Resumo:

A field activity was carried out in a public school in the rural area, located in the interior of the State of Rio de Janeiro through the discipline Psychology of Education, of the Licentiate in Biological Sciences of UFRJ, Campus-Macaé . The objective was to provide a constructivist experience for both school and university students, where it was possible to put into practice all the knowledge built in the course of the discipline inherent in the best tools for the activation of cognition in the school environment. The object of the activity was the restinga of Jurubatiba and dynamic activities were developed such as the game of the trophic chain, explanation of the topics using taxidermized animals, images, illustrations on the blackboard and, finally, an evaluation activity through a brainstorm followed by a conceptual map. With the

Foi realizada, de forma avaliativa, uma atividade de campo em uma escola pública, da zona rural, localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro por meio da disciplina Psicologia da Educação, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ, do Campus-Macaé. O objetivo foi propiciar uma expe-riência construtivista onde fosse possível colocar em prática todo conhecimento construído no decorrer da disciplina inerente às melhores ferramentas de ativação da cognição no ambiente escolar tanto para os escolares quanto para os universitários. O objeto da atividade foi a restinga de Jurubatiba e foram desenvolvidas atividades dinâmicas como o jogo da cadeia trófica, explanação dos tópicos utilizando animais taxidermizados, imagens, ilustrações na lousa e, por fim, uma atividade avaliativa por meio de um brainstorm seguido de um mapa conceitual. Com o resultado obtido, foi possível perceber que o ensino de Ciências Biológicas pode ser desenvolvido de forma construtiva, estimulando a cognição dos discentes para uma aprendizagem significativa.

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Keywords: Significant Learning; Educational Psychology; Biological Sciences.

result obtained, it was possible to perceive that the teaching of Biological Sciences can be developed in a constructive way, stimulating the cognition of the students through a significant learning.

O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ Campus-Macaé propicia aos seus alunos uma enorme variedade de experiências acerca das concepções de educação e escolas vigentes no país, sejam por meio de disciplinas, atividades de campo ou projetos de pesquisa e extensão ministrados na universidade. Nesse contexto, há a disciplina de Psicologia da Educação, a qual oferece uma visão cientificamente diferenciada sobre o ambiente escolar. Como atividade avaliativa dessa disciplina, foi desenvolvido, no ano de 2015, um trabalho de campo em uma escola pública da zona rural localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro. A proposta deste trabalho seria a elaboração de uma aula em que fosse possível utilizar ferramentas diferenciadas que contribuíssem para um aprendizado efetivo dos escolares. Ao usar o planejamento desta proposta foi possível discutir a importância da p r e p a r a ç ã o d e a t i v i d a d e s q u e desempenhassem um papel significativo no cotidiano dos jovens, despertando, assim, o interesse e pró-atividade nos mesmos.

INTRODUÇÃO

O ser humano é o reflexo da sociedade em que está inserido, e não é diferente com os alunos da escola trabalhada. Advindos de famílias de pouco poder aquisitivo cujos sustentos provêm de atividades agrícolas, a maioria dos jovens estudantes demonstra não possuir uma mentalidade inclinada aos estudos e tampouco é estimulada a isso por seus

DIEGO GUERRA DE ALMEIDAMestrando em Produtos Bioa�vos e Biociências

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/MACAÉE-mail: [email protected]

ANDRÉA GIGLIO BOTTINO Doutora em Psicologia

Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos – FeMASSFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé - FAFIMA

E-mail:agbo�[email protected]

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familiares. Em muitos casos, revelam interesse apenas em aprender as atividades agrícolas de sua família para herdar o trabalho com a agricul-tura.

Como forma de despertar o interesse na atividade que seria efetuada, pensou-se em um tema cujo objetivo fosse à a relação com o cotidi-ano dos estudantes, logo, escolheu-se o tema “relações ecológicas”, visto que, por estarem em uma comunidade rural, os discentes já demons-trariam um bom conhecimento prévio que favore-ceria a correlação com os dados novos que seriam apresentados. Assim, seria possível t r a b a l h a r f o r t e m e n t e s u a s Z o n a s d e Desenvolvimentos Proximais, ou seja, para Vygotsky (1998), a zona de desenvolvimento proximal é por ele definida como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução indepen-dente de problemas, e o nível de desenvolvimen-to potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capa-zes”.O grupo de trabalho possuía ferramentas muito atraentes para esta atividade, como o jogo da cadeia trófica, animais taxidermizados e imagens. Foi utilizado o ecossistema de restinga como objeto de trabalho, visto que o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, situado no norte do estado do Rio de Janeiro, nos municípi-os de Macaé, Carapebus e Quissamã, possui grande importância ecológica para a região e ainda é pouco conhecido por moradores de

Obviamente, os grupos que trabalhariam nesta escola não abordariam diretamente conce-itos sobre a importância do estudo na vida do ser humano, mas seria possível, de maneira natural, desenvolver uma conversa acerca da educação libertadora e mostrar os caminhos para essa liberdade, que provém de uma educação signifi-cativa e não mecânica. Nesse sentido, Freire (1996) define a educação libertadora como a prática da liberdade, por isto é importante que os alunos edifiquem seu saber com responsabilida-de. Foi, então, explicado que o mundo é maior do que a sociedade em que estão incluídos e que mesmo que optassem por continuar neste ambiente rural, a educação é fundamental para a melhoria da qualidade de vida de todos ao redor, inclusive, na melhoria da agricultura familiar. Respostas inesperadas foram obtidas, além de uma dose já esperada de muita algazarra.

localidades próximas. Fonte recorrente de estudos da UFRJ, unia-se o útil ao agradável, visto que se tinham todas as ferramentas e conhecimentos necessários para não só atrair a atenção dos alunos daquela escola, mas tam-bém contextualizar para os jovens habitantes da região a importância da restinga e suas relações ecológicas. O título da aula ministrada foi “Des-vendando as Relações Ecológicas” e ao final da atividade foi realizada uma avaliação por meio de um brainstorm seguido de um mapa conceitu-al.

Chegada à escola

Com as ideias em mente e o material em mãos, fez-se uma pequena viagem para a escola pública da zona rural localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro. Ansiosos em vivenciar todas as teorias e hipóteses apren-didas no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, o grupo de trabalho possuía uma alta expectativa em pôr em prática os novos concei-tos construtivistas aprendidos. Encontrou-se uma escola bem estruturada, com dependênci-as limpas e organizadas. Espaço amplo com uma quadra poliesportiva bem conservada. Tudo parecia muito bem preparado para exercer a função social integradora e inclusiva que uma escola deve ter.

Os funcionários da escola foram muito atenciosos, receptivos e educados. Também foi possível perceber que tanto funcionários quanto alunos estavam com uma boa expectativa em relação à visita dos universitários, assim como o s u n i v e r s i t á r i o s t a m b é m e s t a v a m . Organizaram-se todos no refeitório da escola para uma breve conversa com a diretora da instituição e o professor de Ciências Biológicas. Muito atenciosos, ambos explicaram um pouco da realidade vivida pela escola e a relação dos alunos com o ensino. Ficou claro que o fato de ser uma zona rural impacta e muito no cotidiano da escola e a maneira de exercer a educação é sempre um desafio a ser planejado e aprimora-do.

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O professor de Ciências Biológicas da escola foi muito descontraído e solícito nos questiona-mentos, falou sobre as dificuldades encontradas no seu trabalho e como vem superando os obstáculos. Para ele, a arte de ensinar em esco-las públicas requer uma grande dose de bom

Muito cordialmente, a diretora respondeu a um questionário feito pelos aspirantes à docên-cia acerca do cotidiano da escola. As perguntas foram: (A) Como é o Projeto Político Pedagógico da escola? (B) A escola tem algum programa de formação continuada para os professores? Caso sim, como funciona? (C) Como é a relação da escola com as famílias dos alunos? (D) Existe alguma dificuldade ou interferência por ser uma escola na zona rural? Caso sim, qual? (E) Quais as dificuldades enfrentadas pela escola? Quais os projetos de Educação Ambiental realizados pela instituição?

Questionário à diretora

A diretora explicou que o projeto político pedagógico da escola foi instaurado em 2013, e passa constantemente por mudanças para adequação ao cotidiano dos discentes. Procura-se fazer da escola um lugar atrativo, em que os jovens queiram estar lá, já que, por se tratar de uma comunidade rural, a escola passa, circuns-tancialmente, a ser o melhor ponto de entreteni-mento para os jovens que lá estudam. Os pais e responsáveis dos alunos são constantemente solicitados em reuniões, de maneira a impedir que a família prejudique o crescimento escolar do aluno, visto que o problema da tendência social ao trabalho agrícola e analfabetismo ainda é um obstáculo para a continuidade dos estudos dos jovens, além da distância e transporte, que contribuem e muito para a evasão escolar.

Muito empolgada com a situação, a diretora respondeu todas as perguntas do questionário e, após, explicou sobre a formação continuada dos professores, ficando clara a importância do governo nessa questão. Basicamente o fator de atualização dos docentes se dá por cursos e/ou oficinas oferecidas pela secretaria de educação. Também, a diretora destacou que alguns docen-tes da escola buscam especializações por conta própria. Quanto aos projetos de educação ambiental, a diretora enfatizou sobre a importân-cia da conscientização acerca do uso dos recur-sos naturais, além da importância de desenvol-ver um projeto sobre sustentabilidade.

Atividades em sala de aula

Após a conversa, seguiu-se para a execução prática do planejamento. O grupo de trabalho ficou responsável pelas duas turmas do oitavo ano do ensino fundamental do turno da manhã, 1 hora com cada classe que possuía cerca de 15 alunos presentes. As atividades foram divididas da seguinte forma: Apresentação e pequena conversa sobre a importância da continuidade dos estudos; Explicação sobre o ecossistema de restinga e níveis de cadeia trófica; Realização do jogo da cadeia trófica; Exposição dos animais taxidermizados; Atividade avaliativa. O jogo da cadeia trófica (Fig. 1) consiste em um carteado com imagens de animais e plantas presentes na restinga de Jurubatiba e a intenção é que se decifrem as interações de cadeia alimentar dos mesmos. De acordo com os PCNs, os jogos exercem um papel importante no cotidiano das escolas:

senso. É preciso sentir o ambiente e tentar adequar a metodologia às situações cotidianas. Destacou que o importante é ganhar a confiança do aluno, para depois despertar o interesse de todo o grupo.

[...] Os jogos e brincadeiras são elementos muito valiosos no processo de apropriação do conheci-mento. Permitem o desenvolvimento de competênci-as no âmbito da comunicação, das relações interpes-soais, da liderança e do trabalho em equipe, utilizan-do a relação entre cooperação e competição em um contexto formativo. O jogo oferece o estímulo e o ambiente propícios que favorecem o desenvolvimen-to espontâneo e criativo dos alunos e permite ao professor ampliar seu conhecimento de técnicas ativas de ensino, desenvolver capacidades pessoais e profissionais para estimular nos alunos a capacida-de de comunicação e expressão, mostrando-lhes uma nova maneira, lúdica e prazerosa e participativa, de relacionar-se com o conteúdo escolar, levando a uma maior apropriação dos conhecimentos envolvi-dos (PCN, 2008, Vol. 2, p.56).

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 49

Durante praticamente todo o desenvolvimen-to das atividades havia um aluno, muito comuni-cativo, que insistia em se movimentar pela sala interrogando as atividades. Sua personalidade participativa era notória e desta forma, buscou-se, a todo o momento, envolvê-lo, positivamente, com o conteúdo. As perguntas eram feitas direta-mente a ele e posteriormente à turma. Surpreendentemente o jovem começou a res-ponder as indagações sobre os níveis tróficos corretamente, e a cada acerto ele se empolgava e mostrava o desejo de responder mais.

Na primeira turma foi perceptível certa tensão no desenvolvimento das atividades, mas aos poucos o grupo foi ficando mais à vontade com a situação, que era muito nova para todos. No primeiro momento observou-se uma divisão entre os discentes da turma, ou seja, em um canto da sala ficava um grupo de meninos que aparentemente eram os mais farristas da classe, mas que de início prestou bastante atenção na aula. Já no outro canto, o restante da turma. Nos primeiros minutos discorreu-se sobre a importân-cia da continuidade dos estudos e da liberdade pela educação, os alunos foram questionados sobre suas intenções em cursar uma universida-de, e algumas meninas responderam que gosta-riam de seguir este caminho, mas alguns meni-nos responderam que não, pois, a exemplo do que falara a diretora, alegaram que não seria necessário ir para a faculdade para poder traba-lhar na roça. Tentou-se desconstruir esse pensa-mento e observou-se que, apesar das imposi-ções de futuro a que eles são submetidos, há um sonho entre os meninos da turma, que é o fute-bol. Esse mesmo sonho também foi citado pelos meninos da segunda classe trabalhada.

Foi possível perceber que, quando se encer-ravam as atividades meramente explicativas sobre as relações ecológicas e a restinga para depois dar início às atividades com o jogo da cadeia trófica, os alunos ficavam imensamente agitados tornando o trabalho bem mais desafia-dor. Muito falatório, algazarra, alunos andando de um lado para o outro e nestes momentos foi preciso um pouco mais de domínio de classe, mas todas essas situações foram facilmente contornadas. Ficou evidente que os jovens discentes, principalmente os meninos, acata-vam mais facilmente as solicitações quando eram feitas pelos integrantes homens do grupo de trabalho. Ficou claro que em determinados momentos os alunos se sentem dominadores da situação e é preciso falar com tom de voz mais firme, mas sempre transparecendo confiança e atitude.

Ao adentrar na segunda turma, o grupo de trabalho desenvolveu as atividades com mais desenvoltura. Na conversa sobre a importância dos estudos, foi possível perceber que os dis-centes eram mais interessados em seguir em um futuro universitário, diferentemente do que foi visto predominantemente na primeira turma trabalhada. Alguns meninos demonstravam mais interesse na explicação sobre a cadeia trófica e participavam mais ativamente; as meninas, quase na maioria, demonstravam um imenso interesse pelo assunto e aparentavam uma maior determinação em levar a educação a sério. No entanto, a agitação foi ainda maior nas atividades práticas. A classe se empolgou bastante com os animais taxidermizados e

Apesar das dificuldades que surgiram, conseguiu-se desenvolver o jogo da cadeia trófica com sucesso, todos os alunos, inclusive os mais serelepes, concluíram e compreende-ram os níveis tróficos com êxito, além da visível animação. Mas não se pode deixar de destacar os sinais de que a fase genital de Freud estava em pleno curso. Uma das alunas, em uma tentativa louvável de explicar os motivos pelos quais um peixe não pode ser chamado de mamí-fero, disse que peixes não seriam deste grupo taxonômico, pois não mamariam leite. Os termos utilizados foram motivo para uma imensa agita-ção das meninas ao redor. Entretanto, foi inte-ressante perceber a utilização de um conheci-mento prévio para tentar compreender e explicar uma determinada situação em sala de aula.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 1. Jogo da cadeia trófica da restinga de Jurubatiba.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 50

Atividade avaliativa

Nas duas turmas trabalhadas, optou-se por fazer um método avaliativo pouco usual neste segmento de ensino. Utilizou-se o método do brainstorm, seguido de um mapa conceitual (Figs. 2 e 3), que consiste em captar palavras ou termos que os alunos expusessem acerca da aula ministrada, e, a partir daí, escrevê-las na lousa para que com a colaboração de todos fosse construído um mapa conceitual entre as pala-vras, correlacionando-as. Optou-se por captar, aproximadamente, cinco ou seis palavras de cada turma para que não se ultrapassasse o tempo de aula, construiu-se um mapa conceitual falado entre os termos, apenas interligando os mesmos na lousa, com linhas, de acordo com o conhecimento obtido e explanado pelos alunos. A ideia do método é explorar os pontos criados na rede cognitiva dos alunos, motivando o raciocí-nio.

As turmas demonstraram compreender com êxito os termos ecológicos acerca da cadeia trófica da restinga de Jurubatiba. Foi relativa-mente fácil explicar quais animais estariam inclusos em seus respectivos níveis tróficos, uma vez que o tema é recorrente na vida destes alunos, mas não de uma maneira científica. Obtiveram-se resultados satisfatórios diante de todas as propostas que foram desenvolvidas.

faziam muitas perguntas, a exemplo da primeira turma.

A exposição do conteúdo durante as ativida-des ministradas foi um sucesso, a estratégia de instigar a atenção dos alunos com ferramentas como jogos, imagens e animais taxidermizados teve o resultado esperado e criou uma mentali-dade positiva nos jovens quanto à restinga de Jurubatiba. A utilização de um método avaliativo não usual nem maçante fez com que os alunos ficassem mais pré-dispostos a participar.

CONCLUSÃO

O fato de ser uma escola pública rural de fato gera desafios a mais para o educador, visto que, além dos problemas que já são comuns às comunidades de baixa renda, tem-se uma visão retrógada sobre a importância da continuidade dos estudos. É preciso ter sabedoria no planeja-mento para que se contemplem todos estes fatores. As instalações dessa escola pública da zona rural localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro são admiráveis, o que é um diferenci-al positivo para o exercício da inclusão e integra-ção social. A pró-atividade e sabedoria da gestão e dos professores também são fundamentais, assim como é essencial que a secretaria de educação intervenha no incentivo à formação continuada de professores e gestores, a fim de fomentar a qualidade na educação do município.

É inevitável dizer que a implementação de uma educação completamente construtivista e integrada vai além da boa vontade e consciência

Figura 2. Mapa conceitual sobre relações ecológicas desenvolvidas por uma turma do oitavo ano do ensino fundamental na escola pública da zona rural localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro (turma 1).

Fonte: Elaborado pelos autores.

Figura 3. Mapa conceitual sobre relações ecológicas desenvolvido por uma turma do oitavo ano do ensino fundamental na escola pública da zona rural localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro (turma 2).

Fonte: Elaborado pelos autores.

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SEGUNDO SEMESTRE DE 2018 - REVISTA ACADÊMICA FAROL 51

No mercado de trabalho todos estes, agora, aspirantes à docência que participaram do grupo de trabalho, encontrarão um currículo pré-estabelecido que deverá ser desenvolvido. Diante disso, muitos desafios deverão ser superados no exercício do magistério, entretan-to, a partir desta vivência, é possível ter em mente o quão imprescindível é buscar a qualifica-ção na formação docente e acima de tudo lutar por uma educação significativa, libertadora e transformadora, conforme aborda Freire (1993) quando relata que a prática pedagógica deve ser reflexiva e transformadora. A educação, nesta perspectiva, busca contribuir no processo de transformação social. Ainda para Freire (1998), ser professor demanda um comprometimento constante com as práticas sociais. Nesse senti-do, é necessário que se trave uma batalha diária contra o que é entendido como escola na pós-modernidade. Para isto, é fundamental deixar de ser um mero espectador e passar a ser um protagonista da educação, desenvolvendo a cada dia ferramentas construtivas visando à construção de uma aprendizagem significativa.

dos docentes, pois a discussão deve ser expan-dida ao padrão de escola que se dispõe atual-mente. Completamente moldada como um sistema de produção em que os próprios termos técnicos remetem a uma indústria, como “forma-ção”, “grade” e “série”, a escola atual está em um padrão completamente arcaico em relação à sociedade em que se vive. É fundamental que os futuros docentes tenham isto em mente e tentem mudar a situação. Por meio da atividade realiza-da nessa escola pública da zona rural ficou claro que a mudança ocorre a passos lentos. Obteve-se certa dificuldade em trabalhar um conteúdo completamente básico em um período de tempo de uma hora, por se ter escolhido formas alterna-tivas e dinâmicas. É perceptível que há uma forma de doutrina imposta aos discentes em relação à educação mecânica, o que atrapalha e muito a inserção de ferramentas construtivistas no ensino.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Vol. 2: Ciências da Natureza, Matemáticas e suas

Tecnologias. Brasília: MEC, 2008.

_________. Pedagogia da Esperança: Um reen-contro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

_________. Pedagogia da Autonomia. 9ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6ª edição. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1998.

FREIRE, P. Educação como Prática da Liberdade. 6ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.

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