NaIndústriaExtractiva

Inclusãodamulheréimprescindível

PorPalmiraVelasco

Defendamosopsíquicodamulherenãoafisionomia.Olharparaamulhercomoumserhumanofraco,estáerrado.Elaécapazsim,deombrearcomohomem,desdequelhesejadada oportunidade de demonstrá-lo.DefendeManuelMfulutoma, da Associação Juvenilpara o Desenvolvimento Comunitário de Angola (AJUDECA), que há 23 anos trabalha nadefesa dos direitos humanos nas zonas de exploração mineira, tendo como grupo-alvomulheres,raparigasecrianças.

Esta defesa à mulher foi co-substanciada por alguns participantes de um curso decapacitação sobre Comunidade Saúde e Ambiente, no contexto do Programa deDesenvolvimentoMineiro,oferecidopelaUniãoEuropeiaemparceriacomoProgramadasNações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), realizado, recentemente, na Cidade deMaputo.

Acapacitaçãocontoucom44participantes,(15mulherese29homens)provenientesde10países, nomeadamente Angola, Botswana, Lesotho, Malawi, Moçambique, Namíbia,Ruanda,Sudão,SuazilândiaeZimbabwe.Desalientarquedos10países,cincodelegaçõeseramcompostasapenasporhomens.

Embora o desequilíbrio de Género se tenha notado entre os de participantes, notou-se,contudo,algumequilíbrionodebatedotemasobreGénero,RelaçõesComunitárias,Diálogoe Direitos, já que quase todos defendiam o enquadramento da mulher na indústriaextractiva,atodososníveis,napequena,médiaelargaescala.

Mulheresnamineraçãoartesanal

Houve porém homens defendendo que as mulheres, na indústria extractiva, não têmcapacidade de seguir e progredir na carreira porque quando estão perante trabalhodeclinam e justificam que é muito pesado para elas. Segundo alguns participantes, asmulheresescolhemotipodetrabalhoquequeremexecutar.

Apesar de o debate referir-se à indústria extractiva nas três dimensões, larga, média epequenaescala,foiamineraçãoartesanalquemaissedestacouaolongodeconversasdecorredoredecafé.

ÉsobejamentesabidoqueexistememÁfricatemmuitospaísesricosemrecursosminerais,contando,aomesmotempo,entreaquelescommaiores índicesdepobrezadomundo.Ariquezatornou-seamaiorcausadedesestabilização,desdeosconflitosdeterrasàsguerrascivis que provocammilhares demortes, devastam economias e sobretudo causammuitapobrezaàscomunidadescomgravesconsequênciasparaasmulheres,raparigasecrianças.

Segundo Manuel Mfulutoma, o empoderamento da mulher tem quatro (4) fases, quecomeçamcomasuaalfabetização;seguindo-seapromoçãodonegóciodesobrevivência,oprograma de desenvolvimento académico e, finalmente, a sua introdução no sistema detomadadedecisões.Estasquatrofases,segundoMfulutoma,sãoimprescindíveisparaqueasmulherestenhampoderdetomadadedecisãodesdeabaseatéaotopo.

Muito antes deAngola falarmassivamente sobre a perspectiva deGénero, aAJUDECA játrabalhavanoempoderamentodamulherdetalmodoquemuitasdasquepassarampelasua organização já estão em lugares de tomada de decisão a nível nacional, destacouMfulutoma,acrescentandoqueasuaorganizaçãousaastécnicaseducativasdopedagogobrasileiroPauloFreire.

Ondeamulhertrabalhaacriançatambémestápresente

“Capacitamos para a promoção das associações de mulheres para mulheres. Isto é,funcionámoscomoumcentrodeformaçãodemulheresformadorasquefazemaréplicanasrespectivascomunidades.AJUDECAestimatercapacitado934milmulheresde17provínciasdeAngola.

Porquêtrabalharcommulheres?

ÉpaixãopessoaldeManuelMfulutomatrabalharnapromoçãodamulherporqueasuatesededefesademestradointitulou-se�OPercursodaMulher-doVentreaoÓrgãoDecisório�.Denota-senoseusemblanteenassuaspalavrasaseriedadecomquetomaosassuntosdeGénero,principalmenteadefesadosdireitosdamulher.

Estadefesaaosdireitosdamulher temumacausa.ManuelMfulutomaénaturaldeUíge,nortedeAngola,provínciafronteiriçacomaRepúblicaDemocráticadoCongo.Éfilhodeummilitareasuamãeengravidouaos13anos.Sendomenordeidade,nãotinhanemrecursosnemmaturidadeparatomarcontadofilho,eassimMafutomacresceusoboscuidadosdaavó.Tendocrescidopraticamentecomamãe, tratava-apor “mana”,naextremapobrezaemquea famíliavivia. Apenasaos18anoséqueexplicaramManuelqueaquelaqueelechamava de “mana” era a sua verdadeiramãe, sendo avó amulher que ele tratava por"mãe",ebisavóaqueeletratavapor"avó."Duranteasuavivênciacomastrês"mulheresda sua vida" (conforme ele as chama), ele não notava qualquer diferença em termos derelaçõessociaisdetrabalho.

ManuelfoicumpriroServiçoMilitarObrigatórioem1989onde,segundoconta,tinhamuitadisciplina militar. Quando fosse a lugares onde encontrasse mulheres ou raparigas asofrerem ele perdia toda a vontade de continuar a marcha porque revivia todo o seupassado.

Numadasvezesqueosmilitarespassaramporumacomunidadedevastadapelaguerraeele viu mulheres idosas no sofrimento, Manuel teve que explicar a sua infância aoscomandantesquecompreenderamasuaposiçãodesofrimentoemocional.

Quandosaiudoserviçomilitarobrigatórioentregou-seàigrejacomorefúgioparaminimizarassuasmágoaseemoções.Dizque foiaíondeeledescobriuqueamaioriadasmulheresquesofreramasconsequênciasdaguerratinhammuitavontadedeaprenderedetrabalhar,masnãotinhamcondições.Pelocontrário,dizele,oshomenstinhamcondições,masnãotinhamvontadedefazersejaoquefosse.

�FoidaíqueganheipaixãopelosassuntosdeGénero�,contaManuelMfulutoma,quejátem dois livros escritos .O Percurso da Mulher – do Ventre ao Órgão Decisório � e �Experiênciados28AtaquesdeGuerra.OsdoislivrosestãoemediçãonoBrasil.EntretantojáestánaforjaoterceirolivrosobreoMovimentodaSociedadeCivilAngolana.

Emboranãotenhasidoparticularmentefeliznoseuprimeirocasamento,pois,segundoele,a esposa o abandonou quando ficou desempregado, ManuelMfulutoma nãomudou deideais.Continuafirmenadefesadacausaedosdireitosdasmulheres.

ManuelMfulutoma,defensordosdireitosdasmulheres