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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.
06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom.
DE VOLTA AOS CRIMES DA PAIXÃO: A PERÍCIA CRIMINAL EM
HOMICÍDIOS PASSIONAIS EM CAMPINAS, NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
Fernando Antonio Abrahão
Doutorando – FFLCH / USP – Historiador do Centro de Memória – Unicamp
Thiago da Costa Amado1
Graduando em História – IFCH / Unicamp
Como resultado parcial do projeto de pesquisa: As origens da perícia criminal em
processos de homicídio, Campinas: 1890-1940, em desenvolvimento no Centro de Memória –
Unicamp, sob minha coordenação, este artigo trata das primeiras aplicações de técnicas
periciais em processos de homicídios com motivação passional, julgados pelo Tribunal
de Justiça de Campinas. Está constituído, primeiro, de considerações sobre o conceito
de crime passional, baseado nos trabalhos de Mariza Corrêa; depois, de uma síntese das
teorias da criminologia e a aplicação de técnicas científicas na perícia criminal; no final,
buscamos mostrar como a utilização de exames gráficos e bioquímicos basearam as
decisões do Júri em dois casos específicos.
Crimes passionais
O primeiro a se discutir quando abordamos os chamados “crimes passionais” é a
noção de que esse tipo de crime está intimamente ligado à maneira pela qual a
sociedade elabora a conduta de seus atores e como isto se distribui no interior dessa
sociedade. Trata-se de noções de gênero e, no caso preciso do homem e da mulher, não
há crime passional se não existir a convivência íntima entre eles, seja ela concretizada
pelo casamento ou não. Porém, como figuras de diferentes funções dentro da estrutura
social, mais do que reconhecer as diferenças desses dois status na sociedade, é preciso
1 Thiago da Costa Amado é bolsista do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) / Unicamp e vem
transcrevendo e sistematizando os processos selecionados, bem como verificando cuidadosamente a
bibliografia do projeto.
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que pensemos naquilo que mais precisamente dá origem aos crimes, ou seja, o conflito
entre eles.
Este conflito surge por diversos fatores, que vão desde a suspeita ou o flagrante
de um adultério até a mera tentativa da mulher conseguir alguma independência frente
ao marido, como, por exemplo, no caso de mulheres que foram mortas por insistirem
em continuar trabalhando quando os seus maridos assim não as queriam. Embora
pareçam diversos entre si, tais fatores reportam a uma única problemática: a da figura
feminina. No cerne da questão está em análise não só o crime propriamente dito, mas o
quanto o comportamento da vítima pode legitimar essa ação, a ponto de retirar dela o
caráter punitivo que carrega um ato de natureza homicida. Em outras palavras, são
crimes cuja dinâmica de análise toma uma forma que incorpora não somente os
fenômenos conflitantes mais objetivos que teriam levado ao crime (a violência de
sujeitos, notadamente um masculino sobre um feminino), mas também o próprio papel
da figura feminina na sociedade: a maternidade, o lar, o casamento, a educação dos
filhos, a afetividade familiar. Este conflito entre algumas atitudes femininas e algumas
justificativas de defesa masculina, que imputam ao universo feminino tais atitudes e que
diz até onde elas podem chegar, é que cria a noção de crime passional.
Embora haja uma referência bastante livre ao termo “crime passional”, é
interessante notar que ele não está definido no Código Penal. Na verdade, ainda na
época do Brasil colonial, enquanto vigorou o sistema judiciário baseado nas Ordenações
Filipinas, havia referência a este tipo de comportamento criminal que era, de maneira
muito clara, legitimado (Ordenações Filipinas, 1985: Livro 5º, Título XXXVIII). Com o
advento do Código Criminal do Império (1830), passando pelo 1º Código Penal da
República (1890) e a Consolidação das Leis Penais (1932), o delito passional deixou de
ser precisado. Contudo, mesmo diante de sua extinção formal, tais crimes continuaram a
compor o cenário criminal. Nossas fontes, por exemplo, vigidas pelo 1º Código Penal da
República e pela Consolidação das Leis Penais (1890-1940), não trazem qualquer
referência explícita à violência que caracteriza o crime passional (tal homicídio é
definido como os de qualquer outra motivação), embora tais processos criminais
julgados sob sua jurisdição demonstrem que a defesa dos réus masculinos recorreu
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constantemente aos preceitos que caracterizaram este modelo criminal, como se as
Ordenações Filipinas ainda vigorassem no Brasil republicano.
É comum observar o alto grau de absolvição de homens que recorrem ao
argumento “da legítima defesa da honra” num adultério, como o sentimento que os teria
levado a cometer o homicídio de sua mulher. Este tipo de constatação nos mostra,
claramente, que o crime passional é mais uma construção social do que propriamente
legislativa. Assim nos diz Mariza Corrêa sobre o conceito de legítima defesa da honra:
“Combinando habilmente estas noções (noção de legítima defesa e noção de
agressão à honra) no campo teórico do direito, e jogando com as
ambigüidades da definição do papel da família e da mulher dentro dela, no
campo retórico, foi que se obteve a figura jurídica, mas não legal, da legítima
defesa da honra”. (CORREA, 1981: 25-26).
Nota-se que o conceito não pode existir se não houver a concepção social do que
seria o papel da família e o papel da mulher. Em síntese, os crimes passionais são
produtos de atitudes forjadas no seio de uma sociedade que precisa distribuir aos seus
sujeitos os papéis que lhes são caros. Representam a maneira pela qual a rigidez de
conduta atribuída a ambos os sexos é internalizada, negada ou, ainda, adaptada por estes
mesmos sujeitos que, mais do que simplesmente submeterem-se às construções sociais,
jogam com elas entrando em sua lógica argumentativa, construindo uma retórica mais
interessante para uma defesa perante um Tribunal do Júri. No limite, os crimes
passionais nada mais são do que momentos em que o diálogo de conduta entre os
sujeitos individuais e a sociedade eclode num conflito causado, sobretudo, pela maneira
como os primeiros se movem dentro do sistema criado pelo segundo.
Criminologia e perícia criminal
De elemento essencial à elucidação de um crime até argumento de inúmeros
seriados televisivos, a perícia criminal tem se constituído numa atividade cada vez mais
ampla. Nos últimos anos, esta atividade desenvolveu-se de tal forma que passou a
compor uma ramificação indispensável à análise de crimes. Laboratórios especializados,
profissionais voltados inteiramente à resolução de casos, bem como técnicas específicas,
demonstram que a perícia criminal vive hoje um período de grande desenvolvimento.
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Contudo, é preciso pensar que, mais que uma simples prática analítica, sua origem e
difusão estão intimamente envolvidas com as teorias criadas dentro dos modelos
criminológicos: a antropologia criminal, a psicologia criminal e a sociologia criminal.
Antes de verificarmos as sínteses desses modelos, devemos frisar que os
primeiros modelos conceituais da criminalidade surgiram com o advento da Revolução
Industrial no século XVIII. Tal movimento modificou os padrões econômicos e sociais
até então enraizados na sociedade ocidental. Por sua vez, esses novos padrões deram
origem a novas formas de controle social. Dito isso, vejamos; O modelo antropológico
da criminologia ocupa-se numa abordagem relacionada aos aspectos físicos e biológicos
que constituem o indivíduo. Afirma que a conduta criminosa tem determinação genética
e, também, que o comportamento anômalo do organismo pode induzir o criminoso à
prática do delito. De forma geral, seu horizonte de análise limita-se necessariamente ao
estudo do corpo como explicação para o delito, de modo que sua constituição determina
o bom ou o mau comportamento do indivíduo.
O modelo psicológico concentra-se especificamente na formação psíquica do
indivíduo. Fundamenta-se em orientações psicológicas e psiquiátricas. As de primeiro
tipo tendem a analisar o comportamento do indivíduo levando em conta as relações que
este mantém com o ambiente que o cerca. Já as embasadas pela psicanálise consideram
o comportamento delituoso como uma expressão da contradição de personalidade
existente no indivíduo. Nestas teorias fundem-se os conceitos da tradição psiquiátrica
que, por vezes, acaba por assemelhar o delito às doenças mentais.
O modelo sociológico opta por diferentes pensadores das ciências humanas, tais
como Marx, Durkhein e outros, que embasam modelos teóricos nos quais, de modo
geral, afirmam ser o homem e seu comportamento o produto da sociedade que o
envolve e que, portanto, pode torná-lo um criminoso. Esta vertente centra-se numa
espécie de eixo comum, que consiste na enunciação do homem como ser social e na
sociedade como produtora de conflitos que podem levar ao crime.
Cada um em seu tempo, esses modelos foram importantes para a compreensão
do fenômeno da criminalidade e das formas de controle social. Hoje, com a
complexidade das ações criminosas, se busca oferecer bases científicas cada vez mais
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precisas para sua elucidação. Padrões psicológicos são utilizados para se estabelecer
perfis de seqüestradores ou assassinos em série, por exemplo, assim como modernas
técnicas bioquímicas são utilizadas para identificar um criminoso, que em muitos casos
anteriores à década de 1980 era quase impossível.
Isto é a perícia criminal. Uma atividade que a literatura jurídica não aprofunda
teoricamente, muito embora avalize sua aplicação quando necessário, dando a ela status
na argumentação jurídica. Este ponto demonstra, certamente, que se atribui à perícia
criminal um caráter bastante pragmático e empírico. No modelo sociológico, bem como
no psicológico ocorre um fenômeno interessante: ao deslocarem suas análises ora para a
esfera coletiva, ora para a individual, esses modelos acabam por recorrerem a padrões
essencialmente subjetivos. Esse aspecto analítico faz com que haja certo descompasso
entre a aplicação da perícia criminal e as conclusões provenientes destes modelos. Não
se trata de dizer que o modelo sociológico e o psicológico neguem a perícia criminal,
mas que não se fundamentam nela para tecerem suas análises, pois operam com
ferramentais científicos diferenciados. A perícia criminal é, pois, qualquer técnica
científica que possa ser utilizada para fornecer provas de autoria de um ato criminoso,
desde que avalizada pelo judiciário. Cabe a ela esclarecer questões essenciais à solução
de determinado crime, fornecendo base crível para a formulação dos argumentos
jurídicos e a elaboração de sentenças penais.
As primeiras aplicações da perícia criminal em Campinas
Na elaboração da dissertação de mestrado: Criminalidade e modernização,
Campinas: 1880–19302, além da constante presença de perícias médicas relativas a
exames cadavéricos, identificamos um conjunto de processos contendo material diverso
levado à perícia especializada, que configuram ótima fonte documental para um estudo
das origens e da difusão das técnicas fotográficas e de exames gráficos e bioquímicos,
avalizadas pelo Judiciário. Nos casos a seguir, destacamos um exemplo de duas delas
2 De Fernando Antonio Abrahão, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp em
2002, sob a orientação do saudoso Prof. Dr. Héctor Hernán Bruit.
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(exames bioquímicos e gráficos), que foram utilizados especificamente na tentativa de
se solucionar a autoria de dois homicídios com motivação passional.
O caso da Fazenda Palmeiras
Além dos ferimentos nas mãos direita e esquerda, apresenta no tórax quatro
soluções de continuidade, sendo o 1º na linha axilar direita, um pouco abaixo
axila, medindo dois cm; o 2º no quinto espaço intercostal, do mesmo lado
direito, entre a linha axilar e a linha mamária medindo três cm. Os outros
estão do lado esquerdo do tórax; um na região precordial, à esquerda do
sterno, com quatro cm; o outro na linha axilar com dois cm. Abertura do
cadáver: ferimentos nos dois pulmões, no coração e no fígado. A causa da
morte foi o ferimento no coração. (TJC, 1903, CJ, 114, fl.6 a 9).
Os peritos médicos assim registraram os ferimentos encontrados no corpo de
Marieta Dolo, italiana, casada, 24 anos, após seu assassinato, na madruga do dia 25 de
setembro de 1903. O crime ocorreu na casa dela e de seu marido Valentino Scamparin,
na colônia da Fazenda Palmeiras, pertencente a Dona Maria Carolina de Arruda Barros,
localizada a duas léguas da cidade de Campinas, SP, no distrito de Santa Cruz. O
indiciado pelo crime: Henrique Angelin, 39 anos, italiano, casado, amigo do casal e
colono morador na mesma Fazenda.
As testemunhas contaram saber que Angelin fora “despachado” da Fazenda
Santo André, de propriedade de Carlos Olympio Leite Penteado e que ao estabelecer-se
na Fazenda Palmeiras, convenceu o casal Scamparin a pedir dispensa da Fazenda Santo
André e empregar-se na Palmeiras. A amizade neste novo emprego foi marcada por
assíduas visitas de Angelin à casa dos Scamparin, mesmo na ausência de Valentino.
Todas declararam supor que tais visitas podiam ser encontros amorosos “ilícitos”. Para
elas, o motivo que originou ao assassinato de Marieta por seu suposto amante, Angelin,
foi Valentino ter decidido retornar à Fazenda onde Angelin não era bem-vindo, o que
resultaria na impossibilidade deste se encontrar com Marieta.
Valentino Scamparin, 29 anos, italiano, vaqueiro, declarou que no dia do crime
saiu de casa por volta das 4h manhã para ordenhar as vacas no estábulo e que pouco
tempo depois chegou até ele uma vizinha dizendo que algo de ruim acontecera em sua
casa, pois ela ouvira Marieta gemendo. Valentino correu até sua casa e encontrou as
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portas e janelas fechadas. Chamou pela esposa e como ela não apareceu, arrombou uma
janela e entrou. Viu então sua esposa prostrada, com a cabeça encostada à porta e toda
ensangüentada. Perguntou a ela “quem lhe havia feito os ferimentos, se branco ou
preto”, mas Marieta apenas respondeu: “queriam matar-me”, vindo a falecer depois.
Na seqüência das declarações, Valentino descreve partes de sua casa: “a porta dá
frente para o terreiro da fazenda, que é todo murado... a porta do fundo dá para o
cafezal”, para explicar que se levantou e foi ordenhar as vacas logo depois que Marieta,
por estar sofrendo de cólicas intestinais, se levantou rapidamente e saiu pela porta do
fundo em direção ao cafezal. Ele supunha que Marieta tivesse saído precipitadamente de
casa para satisfazer suas necessidades. Contudo, perto do cafezal, foi encontrado um
“leito de folhas de café com vestígios de luta e sangue... onde evidentemente deu-se a
cena criminosa”.
Valentino atribuiu o crime a Angelin por três motivos: passou a suspeitar que a
insistência deste em demovê-lo da idéia de voltar à antiga fazenda fosse realmente
motivada por uma inclinação amorosa a Marieta; o fato de no dia do crime Angelin não
ter ido ao estábulo insistir para que não fosse embora com Marieta; e o fato de Angelin
não ter querido ver o cadáver de Marieta e não ter dado condolências ao amigo.
Por sua vez, Henrique Angelin declarou que no dia do crime, como de costume,
se levantou depois do 1º toque do sino e, com o auxílio de sua mulher Maria, tratou de
dois porcos atacados por bichos, numa operação que levou 15 minutos. Em seguida,
antes do 2º toque do sino foi para a sua roça, que leva três quartos de hora para chegar.
Por volta das 5h30 foi avisado por outro colono que Marieta fora assassinada. Ele não
acreditou e continuou em seu trabalho até as 8h, hora em que sua mulher, indo à roça,
lhe contou também sobre a morte de Marieta.
Ao retornar para casa, Angelin foi detido pela polícia e conduzido à presença do
cadáver. Ao ser questionado sobre o sangue em sua roupa, no mourão e no travessão do
“puladouro” de sua casa, afirmou que eram dos porcos que tratou pela manhã. Sobre as
visitas assíduas à casa dos Scamparin, ele disse que freqüentava a casa do amigo
Valentino, mas que não era verdade que mantivesse relações amorosas com Marieta.
Sobre a insistência em demover Valentino da idéia de voltar à Fazenda Santo André, ele
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disse “que só por amizade” insistia para que Valentino não se retirasse da Fazenda
Palmeiras, “porquanto lá ganhava 80 mil réis mensais e um litro de leite por dia,
enquanto na outra fazenda iria ganhar apenas 60 mil por mês”. Para finalizar, ao
declarar-se inocente, ele disse que não possuía um punhal como o usado para matar a
vítima, mas apenas o podão, o facão de mato e a enxada, usados no seu trabalho.
Sua esposa, Maria Angelin, de 30 anos, italiana, confirmou as declarações do
marido e disse que ele mantinha realmente uma relação de amizade com Valentino,
assim como com todos os outros colonos e que era injusto atribuir a seu marido o
assassinato de Marieta, contra a qual não tinha indisposição alguma.
Ao deparar-se com declarações tão díspares nas acareações entre o indiciado,
Valentino e as testemunhas, o delegado Paulo Machado Florence decidiu avançar suas
investigações por uma vertente pericial, que consistiu na elaboração de um croquis das
cercanias da colônia de casas e do cafezal da Fazenda Palmeiras, onde foram
encontrados os vestígios do crime. Em seguida, enviou tais vestígios para o Instituto
Agronômico do Estado de São Paulo e para o Laboratorio de Analyses Chimicas do
Estado de São Paulo. Foram eles:
1º um amarrado de palha de milho e galho de café com sangue da vítima,
encontrado no ponto 1 do croquis; 2º Uma camisa de algodão declarada a
com que estava Angelin Henrique na manhã do crime; 3º Um cepo de
madeira apreendido na cozinha da casa de Angelin; 4º Um podão encontrado
na casa de Angelin na manhã do crime; 5º Um facão encontrado na casa de
Angelin na manhã do crime; 6º Um pano encontrado na cozinha da casa de
Angelin; 7º Um envelope contendo amostra de sangue raspado de sobre o
chão (terra) da cozinha da casa de Angelin, ponto 8 do croquis; 8º Um
envelope contendo sangue raspado do mourão de madeira e travessão de
bambu do „puladouro‟ do fundo da casa de Angelin, ponto 7 do croquis; 9º
Um envelope contendo sangue raspado do batente de madeira da casa da
vítima, Marieta Dolo, ponto 2 do croquis; 10º Um envelope contendo sangue
encontrado no chão da casa da vítima Marieta Dolo, no ponto 4 do croquis.
(TJC, 1903, CJ, 114, fl.44-44v).
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Foto 1 – Croquis da colônia e do cafezal da Fazenda Palmeiras. (TJC, 1903, CJ, 114, fl.21).
A análise do Instituto Agronômico foi a seguinte:
Procedemos ao exame dos diversos objetos do seguinte modo:
Fragmentos diminutos extraídos do conteúdo dos envelopes, ou raspados de
sobre os objetos foram misturados, cada amostra em separado, com uma gota
de solução de cloreto de sódio e bicloreto de mercúrio (cloreto de sódio, 2
gramas; bicloreto de mercúrio, 0,5 gramas; água, 100 gramas). As
preparações, feitas sobre uma lâmina de vidro e cobertas com uma lamela
fina, foram seladas com parafina para evitar a evaporação do líquido e
examinadas com microscópio. Quando o exame microscópico não permitiu
encontrar glóbulos intatos ou deformados que pudessem certificar a presença
de sangue no preparado, recorremos à formação de cristais de cloreto de
hematina, cristais chamados de Feichmann, com uma outra porção das
amostras...
... O quesito formulado, de verificar se as várias amostras de sangue são de
sangue humano ou de sangue animal qualquer, é de difícil solução ...
... Se considerarmos que não há concordância entre o diâmetro dos glóbulos
de sangue encontrados nas diversas preparações efetuadas com as amostras
remetidas pelo Dr. Delegado de Polícia, concluiremos pela impossibilidade
de certificar que o sangue encontrado das diferentes amostras seja sangue
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humano e até mesmo que seja sangue idêntico o que se encontra nas amostras
2, 4, 7 e 8 do croquis e na camisa que estava Angelin Henrique na manhã do
crime. Assinam: Adolph Henpel e H. Potel. Campinas, 10 de outubro de
1903. (TJC, 1903, CJ, 114, fl.44v- 48v).
Fotos dos exames bioquímicos das amostras de sangue coletadas. (TJC, 1903, CJ, 114, fl.40- 41).
Também o Laboratório de Analyses Chimicas do Estado de São Paulo deu o seu
laudo inconclusivo:
Reconhecemos que as manchas de todas as peças, sob nº: 1, 2, 4, 7 e 8, são de
sangue.
Não nos foi possível afirmar se o sangue é humano, nem se há identidade
entre os das manchas 7 e 8 e o das outras. Assina: Frederico Borba. São
Paulo, 7 de outubro de 1903. TJC, 1903, CJ, 114, fl.51).
Nota-se nestas perícias o extremo cuidado no manuseio das amostras e a
minuciosa descrição dos procedimentos técnicos adotados. No relatório final, o uso da
fotografia para explicar e certificar tais procedimentos e seus resultados deu o valor
concreto necessário para que o Judiciário avalizasse tal resultado.
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Apesar das várias provas testemunhais contra Angelin, no julgamento, contudo,
sua defesa contou com a inconclusa base técnica pericial e com o importante
depoimento de sua esposa, que o inocentava. Dessa forma, Henrique Angelin foi
absolvido pelo Tribunal do Júri de Campinas, em 05 de setembro de 1904.
O assassinato da cozinheira que se tornara dama
Morta em seu próprio leito. Assim foi encontrada Durvalina Trevisan Fenley, 19
anos, casada, brasileira, no dia 7 de Janeiro de 1935, por indicação de seu marido,
assassino confesso José Pleasent Fenley, 38 anos, brasileiro, comerciante. Tal fato
ocorreu na residência do casal, no distrito de Rebouças, atual município de Sumaré, SP.
Segundo Nicolau Jorge, vizinho do casal, o motivo do crime pareceu nebuloso, diz ele:
“causou grande surpresa esse assassinato, porquanto nunca notara qualquer divergência
entre o casal”. Contudo, a análise mais atenta demonstrou algo diferente.
Conta-nos José Pleasent Fenley ter conhecido Durvalina na casa de sua irmã,
onde ela trabalhava como cozinheira. Viúvo e com cinco filhos pequenos para criar,
enamorou-se de Durvalina. A diferença social de ambos não constituiu impedimento
para que a união marital se efetuasse, não medindo esforços financeiros Fenley para
realizá-la. Ocorre que na noite de núpcias ele acabou por perceber que Durvalina não
era mais virgem, o que lhe causou certo descontentamento. Durvalina, porém, disse a
ele que fora o dedo que lhe rompera o hímen e que nunca tinha feito sexo com homem
algum. Esta resposta foi capaz de sanar as desconfianças de Fenley e os dois
prosseguiram em seu casamento.
O tempo passou e Fenley percebeu que sua mulher o estava evitando nos últimos
meses. Na noite do crime, segundo nos narra o assassino, Durvalina recusou-se a ter
com ele relações sexuais o que acabou gerando uma discussão. Durvalina saiu do quarto
e dirigiu-se ao escritório, onde ele foi saber que ela tinha um bilhete nas mãos. Fenley
tomou tal bilhete e constatou que Durvalina o estava enganando havia dois anos.
Enfurecido, mas ainda apaixonado por Durvalina, disse a ela que deveria deixar este
assunto para trás, ajustar sua conduta e continuar seu casamento de forma digna. Disse
Fenley que, tomada de fúria e desprezo por ele, Durvalina disse que não o amava e que
se casara apenas pelo dinheiro que este tinha. Fenley, continuando, tentou alertá-la para
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a importância do casamento e do nascimento do filho que em breve teriam, mas
Durvalina revidou-lhe dizendo: “e tens certeza de que este filho é teu?”. Depois de ouvir
isto, diz ele, abdicou completamente da razão, pegou a arma em seu armário e
desfechou-lhe os tiros que a mataram. Em seguida, partiu com seus cinco filhos, deixou-
os na casa de seu cunhado e, mais tarde, entregou-se à polícia.
É interessante notar que Fenley colocou em questão o problema que seria tema
central do julgamento: a conduta de Durvalina. Entretanto, sua visão sobre tal conduta
não foi compartilhada por diversos depoentes, a começar pela própria mãe da vítima,
que disse: “sobre os antecedentes morais de Durvalina a polícia poderia buscá-los nos
mais variados lugares e sempre se depararia com um bom resultado”. Além da mãe,
vários depoentes se ocuparam em expressar o comportamento “correto” de Durvalina,
como Nicolau Jorge, que disse: “não pode ter senão palavras de elogio sobre a conduta
da esposa de Fenley”, ou Demétrio Maluf, que disse: “a mulher de Fenley parecia
virtuosa senhora”. No Relatório, o delegado Francisco de Figueiredo Lyra demonstrou
que concordava com os depoentes. Disse ele:
...há outros fatos registrados nos autos que provam se José Fenley um
indivíduo irrascível e provocador (depoimentos das 6ª, 7ª, 8ª e 12ª
testemunhas e declarações de Fredesvinda Trevisan)...
...A vitima era habituada a respeitar o seu esposo até o ponto da temibilidade,
não lhe lançaria em rosto a frase tão incisiva, tão chocante e tão perversa que
lhe quer atribuir o indiciado, pois que conhecendo o temperamento de seu
marido e sendo uma dominada, humilde e honesta companheira, se colocaria
sempre em atitude de reserva e de decência perante o esposo...
...Pelo exame local e de levantamento verifica-se que a vítima se achava
acordada e sentada à borda da cama, no momento de ser assassinada...
...Sendo o indiciado afortunado e capaz pelos seus antecedentes de cometer
violências contra as testemunhas e de tentar suborná-las, requeiro ao M.M.
Dr. Juiz de Direito que seja decretada prisão preventiva do mesmo, depois de
ouvido o digno órgão do M. Público. (TJC, CJ, 2656, fl.61).
A estranheza declarada pelos depoentes quanto à má conduta da esposa como
motivo do crime contrastava com a alegação de Fenley, de que a esposa o traía há muito
tempo. Nota-se, pois, que estava em jogo no julgamento não a ação propriamente dita,
mas quão legítima ela teria sido. Assim, a análise do bilhete fez-se imprescindível,
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afinal ele consistia na maior prova de adultério de Durvalina. É evidente que Fenley
defendeu a veracidade do documento. Já a mãe da vítima declarou sobre ele, se fosse
mesmo autêntico: “que Durvalina o teria escrito sob a ação de uma ameaça violenta”.
Esta divergência, portanto, acabou por pedir uma solução por meio dos métodos
periciais. Ao duvidar se o mesmo fora realmente escrito por ela ou tratara-se de uma
prova forjada pelo marido, com o único intuito de ser absolvido por seu crime, o
delegado remeteu-o ao Laboratório de Polícia Técnica do Estado de São Paulo, em 21
de janeiro de 1935. Coube à perícia responder se a assinatura “Durvalina T. Fenley”,
constante no bilhete foi ou não proveniente do mesmo punho que lançou as assinaturas
“Durvalina Trevisan”, oferecidas como padrões de confronto e extraídas dos autos de
habilitação de casamento da mesma, registrados no Juízo de Paz de Campinas.
Foto 1 – Bilhete assinado “Durvalina T. Fenley, para exame gráfico. (TJC, CJ, 2656, fl.52-52v).
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Fotos 2 – Assinaturas autênticas de Durvalina Trevisan, para confrontação. (TJC, CJ, 2656, fl.52-52v).
O laudo oficial foi completamente negativo à defesa de Fenley, vejamos:
Resposta: do exame a que os peritos procederam na escrita do texto e
assinatura do bilhete (peça pericial), em confronto com as assinaturas
lançadas por Durvalina Trevisan, oferecidas para padrão de comparação,
verificaram que uma e outra não provêm do mesmo punho. (TJC, CJ, 2656,
fl.45-51).
E continua com a minuciosa descrição das diferenças entre as peças examinadas,
vejamos:
Justifica esta afirmativa, a discordância dos seguintes elementos gráficos
correspondentes em exame e confronto:
1º O aspecto geral nas assinaturas autênticas, apresenta as características de
uma escrita proveniente de punho inábil, o traçado dos caracteres é irregular,
notando-se absoluta falta de ritmo no andamento da pena. Na assinatura
ajuizada o aspecto é outro, notando-se que sua escrita é lançada com mais
espontaneidade e pronunciada cadência, os caracteres... revelam, em seu
traçado, provirem de um punho mais afeito ao manejo da pena...
2º Não existe entre as escrituras em confronto analogia de pressão e
conseqüente sulcagem da pena...
3º A equivalência de valores angulares e curvilíneos também não é a mesma
nas duas escritas em confronto...
4º A proporcionalidade gramática não é a mesma, já quanto à relação da
altura para a largura dos caracteres...
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5º Os maneirismos ou modismos, peculiares a uma e outra escrita e que,
respectivamente as individualizam, são elementos suficientes para justificar a
conclusão de que as mesmas não foram lançadas por um mesmo e único
punho...
6º Afinal é de grande interesse a observar a relativa à constância da
reprodução, ou não, dos elementos gráficos que constituem uma e outra
escrita em confronto...
...Com fundamento nas observações expostas, julgam os peritos,
suficientemente provado que a escrita e assinatura do bilhete oferecido a
exame não provêem do mesmo punho que lançou as assinaturas Durvalina
Trevisan, constantes nas peças oferecidas para confronto. Assinam: Augusto
Monteiro de Abreu e Roberto de Molina Cintra. São Paulo, 06 de fevereiro
de 1935. (TJC, CJ, 2656, fl.45-51).
Em nítida desvantagem, o advogado Romeu Tórtima elaborou uma estratégia de
defesa que consistiu na solicitação de perícias a dois especialistas particulares, um de
São Paulo e outro do Rio de Janeiro, bem como a inclusão, nos autos, de cartas que
atestassem o bom caráter e a boa conduta profissional do réu. Neste item específico,
foram anexados: um atestado do bom comportamento de Fenley na cadeia onde ele
estava preso (expedido pelo carcereiro da Delegacia de Polícia de Campinas) e mais seis
cartas, sendo duas de grandes empresários do ramo de tecelagem, duas de comissários
de exportação de algodão e duas de corretores da bolsa de mercadorias de São Paulo.
Nota-se que todas estão com as firmas reconhecidas em cartório.
Com relação às perícias particulares elaboradas nos mesmos documentos
oferecidos à perícia oficial, a de Moyses Marx e Isaac de Mesquita Júnior, datada de
São Paulo, 10 de maio de 1935, conclui, após longa justificativa:
... Pelos fundamentos acima expedidos, facilmente apreciáveis, mesmo a olho
nu, ou com auxílio de uma lente de fraco aumento, verifica-se que coexistem
nas escritas confrontadas valiosos elementos qualitativos, conducentes a sua
filiação a um mesmo e único punho ou a uma mesma autoria; a carência,
porém, de maior número de elementos confrontáveis, torna,
quantitativamente, insuficientes as características identificadoras daquelas
escritas, razão pela qual atendo-nos dentro das normas da boa prudência,
abstemo-nos de um pronunciamento mais positivo, muito embora
propendamos para a sua identificação como proveniente de um mesmo e
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único punho, tendo em vista os elementos já apontados aos quais nos
reportamos. (TJC, CJ, 2656, fl.122-25).
Já a de Carlos de Arroxellas Galvão e Epitácio J. da Silva, nomeadamente
peritos em exames gráficos, datada do Distrito Federal, 17 de fevereiro de 1936,
também após longa justificativa conclui:
... Pelos motivos acima expostos, os peritos abaixo assinados são de parecer
que o bilhete assinado “Durvalina T. Fenley”, peça do exame gráfico
procedido... apresenta todas as possibilidades de ter sido escrito do próprio
punho de “Durvalina Trevisan”... (TJC, CJ, 2656, fl.126-31).
Ainda que não fossem tão categóricos quanto a laudo oficial, estes dois laudos
particulares mais as cartas de bons antecedentes foram suficientes para o Júri absolver
José Pleasant Fenley no julgamento realizado em 02 de junho de 1936, em Campinas. O
promotor público apelou da sentença, mas em 17 de setembro de 1936, a 1ª Câmara da
Corte de Apelação do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a absolvição.
Considerações finais
Se no caso do assassinato de Marieta Dolo os exames periciais foram utilizados
para encontrar-se o autor do crime, no caso de Durvalina Fenley eles o foram para
comprovar ser sua ou não a autoria do bilhete que teria levado José Pleasant Fenley, seu
marido, a cometer seu assassinato.
Tratou-se de solicitações requeridas inicialmente pelas autoridades policiais,
quando estas julgaram pouco conclusivas apenas as provas testemunhais. Mas, no caso
de Durvalina, seu assassino confesso contratou dois novos exames, que acabaram por
contrariar o exame oficial e favorecê-lo em julgamento. Ademais, não obstante os
resultados ambíguos dos exames referentes ao caso de Durvalina, neste e no de Marieta
foi possível verificarmos a preocupação dos peritos em descreverem minuciosamente os
procedimentos adotados, bem como em referenciarem a bibliografia que cada técnica se
baseava naquele momento.
No caso de Marieta, o crime foi supostamente cometido num trágico conflito
com seu amante. O fato dos exames não confirmarem a autoria de Henrique Angelin foi
tão importante para ele quanto o depoimento de sua esposa, que não ofereceu traço
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algum de suposta traição conjugal do marido. Também contou a favor da defesa de
Angelin (tido como culpado por todos os outros depoentes) o fato de Marieta, em seus
últimos suspiros, não ter dito quem fora seu agressor.
Já o caso de Durvalina é emblemático, típico caso de crime passional com bons
ingredientes para a absolvição de seu marido. Primeiro, o enredo central partiu da boca
de seu agressor, desde o fato dela não encontrar-se mais virgem na sua noite de núpcias
até o desprezo com que ela informou o marido da possibilidade do filho que gerava há
seis meses não ser dele. Segundo, ele ter-se dirigido à delegacia de polícia e confessado
o crime. E, por fim, ele ter solicitado outras perícias no bilhete, que pela perícia oficial
havia sido forjado. Sobre este último e relevante item, é óbvio que ele procurou
sustentar como verdadeira a única prova concreta que tinha sobre a suposta traição da
esposa, motivo pela qual a matara. Note-se que as perícias contratadas pela defesa
foram aceitas pelo Tribunal e assim são até hoje com peritos juramentados. Dessa
forma, com a prova concreta revigorada pelas perícias particulares, a contradição entre
as versões do réu e dos depoentes não foi capaz de fazer o Júri condená-lo.
Para concluir, afirmarmos que processos criminais são fontes importantíssimas
para compreendermos e discutirmos os costumes, os valores que permeiam uma
sociedade em determinada época. É com este objetivo que desenvolvemos o projeto: As
origens da perícia criminal em processos de homicídio, Campinas: 1890-1940, no
Centro de Memória – Unicamp.
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de Janeiro da belle époque. Campinas: Editora da Unicamp, 2001.
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CORREA, Mariza. Os crimes da paixão. São Paulo: Brasiliense, 1981.
FAUSTO, Boris. Crime e cotidiano: a criminalidade em São Paulo (1880-1924). São
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MOLINA, Antonio G.-P. e GOMES, Luiz F. Criminologia. São Paulo: Revista dos
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ORDENAÇÕES FILIPINAS. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. Livro V,
Título XXXVIII.