de que adoecem os trabalhadores químicos

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DE QUE ADOECEM OS TRABALHADORES QUÍMICOS

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Page 1: De Que Adoecem Os Trabalhadores Químicos

DE QUE ADOECEMOS TRABALHADORES

QUÍMICOS

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AUTORES E COLABORADORES

Remígio Todeschini (Organizador) — Pesquisador do Laboratório de Psicologia do Trabalho — UnB. Diretor Executivo do Instituto de Previdência de Santo. André — SP. Ex-Diretor de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência. Ex- Secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego. Ex-Presidente da Fundacentro. Ex-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Químicos do ABC e ex-dirigente da CUT Nacional. Advogado formado pela USP. Mestrado em Direitos Sociais pela PUC-SP. Autor de diversos livros, entre os quais: Gestão da Previdência Pública e Fundos de Pensão, LTr; O novo Seguro de Acidente do Trabalho e o novo FAP, LTr; Insalubridade, a morte lenta no Trabalho, Oboré; Os trabalhadores químicos no Brasil no Século XXI. É doutorando de Psicologia Social do Trabalho e das Organizações — UnB-Brasília-DF.

Herval Pina Ribeiro — Médico (1956). Era auxiliar de ensino e dirigia o Centro de Cultura Popular (CPC) da Bahia e o projeto de alfabetização de adultos do Ministério da Educação pelo método Paulo Freire quando, em 1964, teve cassados seus direitos civis e políticos. Caçado pelos órgãos de segurança do Estado, refugiou-se em São Paulo, onde reside desde então. Foi o primeiro coordenador técnico do DIESAT, e assessor nos anos 1980 do Sindicato dos Quí-micos do ABC, entre outras assessorias do movimento sindical. Tem sua produção científica voltada para as questões de saúde coletiva e da classe trabalhadora. Publicou os seguintes estudos e pesquisas: Política de saúde e assistência médica: um documento de análise (AMB, 1983); De que adoecem e morrem os trabalhadores (& Lacaz, Diesat, 1986); Insalubridade e morte lenta no trabalho (& outros, Diesat-Oboré, 1989); Hospital, história e crise (Cortez, 1993); Conversando sobre LER (Sind. Banc. Campinas, 1993); LER: conhecimentos, práticas e movimentos sociais (Ses-SP); A violência oculta do trabalho; As lesões por esforços repetitivos (Tese de doutorado, Fiocruz, 1999); O juiz sem a toga (Sinjusc-Lagoa, 2005); Os operários do direito (Sinjusc-Lagoa, 2009) e Gritos e Silêncios: degradação do trabalho e estados de saúde da voz (Edição do Autor, 2013).

Jaqueline Gomes de Jesus — Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília — UnB. Pesquisadora do Laboratório de Trabalho, Diversidade e Identidade — LTDI/UnB. Professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal — UNIPLAN. É integrante da Associação Brasileira de Psicologia Social — ABRAPSO e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros — ABPN, além de ser investigadora da Rede de Antro-pologia dos e desde os Corpos.

Wanderley Codo — Pesquisador e coordenador do Laboratório de Psicologia do Trabalho — UnB. Autor dos livros: Educação: Carinho e Trabalho; LER: Diagnóstico, Tratamento e Prevenção; Saúde Mental e Trabalho: Leituras; Indivíduo, Trabalho e Sofrimento; Sofrimento Psíquico nas Organizações; O Trabalho enlouquece? Um encontro entre a clínica e o trabalho; Salud Mental y Trabajo; O Novo Seguro Acidente de Trabalho e o novo FAP (2009, LTr); Saúde e Trabalho no Brasil: uma revolução silenciosa (2010, Vozes); Julgar e Cuidar (Saúde Mental e Trabalho do Perito Médico) (2013, LTr).

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DE QUE ADOECEMOS TRABALHADORES

QUÍMICOS

REMÍGIO TODESCHINI

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R

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.br

Projeto de capa: FÁBIO GIGLIOImpressão: PAYM GRÁFICA

Julho, 2014

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

De que adoecem os trabalhadores químicos / Remígio Todeschini [(Org.)]. — São Paulo : LTr, 2014.

Vários autores.

1. Psicologia do trabalho 2. Químicos — Brasil3. Segurança do trabalho 4. Trabalhadores — Saúde5. Trabalhadores da indústria química 6. Trabalhoe classes trabalhadoras — Doenças I. Todeschini, Remígio.

14-05128 CDD-363.11

1. Trabalhadores químicos : Saúde e segurançaocupacional : Prevenção e redução de riscos :Bem-estar social 363.11

Versão impressa - LTr 5054.2 - ISBN 978-85-361-3004-0Versão digital - LTr 8000.0 - ISBN 978-85-361-3058-3

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Sumário

Lista de Tabela B .................................................................................................................................................. 7

Lista de Quadros .................................................................................................................................................. 9

Apresentação ...................................................................................................................................................... 11

Prefácio ............................................................................................................................................................... 13

Parte I

De que adoecem e morrem os trabalhadores na era dos monopólios

Herval Pina Ribeiro

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 15

2. Bases epistemológicas ..................................................................................................................................... 21

3. A historicidade dos adoecimentos e doenças do trabalho ................................................................................ 24

4. Crítica às concepções sobre os transtornos de saúde relacionados ao trabalho ................................................ 27

5. Metodologia e instrumentos metodológicos de investigação .......................................................................... 29

Referências .......................................................................................................................................................... 32

Parte II

O adoecimento dos trabalhadores químicos no brasil

Remígio Todeschini e Wanderley Codo

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 33

2. Método ........................................................................................................................................................... 33

3. Quadro geral do adoecimento dos químicos .................................................................................................... 34

4. Principais doenças registradas entre químicos .................................................................................................. 35

5. Adoecimento nos 25 grupos econômicos da atividade química e afins ............................................................ 49

6. A distribuição das ocupações entre os grupos econômicos químicos e afins .................................................... 85

7. Doenças por ocupações dos químicos e afins................................................................................................... 86

8. Considerações finais ........................................................................................................................................ 88

Referências .......................................................................................................................................................... 90

Parte III

Etiologia dos agravos no trabalho dos químicos

Jaqueline Gomes de Jesus — LTDI/UnB

1. Introdução da revisão bibliográfica .................................................................................................................. 94

2. Fabricação de celulose, papel e produtos de papel .......................................................................................... 94

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3. Fabricação de coque, de produtos derivados de petróleo e gás natural ........................................................... 95

4. Fabricação de produtos químicos ..................................................................................................................... 96

5. Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos .................................................................................. 97

6. Fabricação de produtos de borracha e de material plástico .............................................................................. 97

7. Fabricação de vidro e de produtos de vidro ..................................................................................................... 97

8. Produção e distribuição de combustíveis gasosos por redes urbanas ................................................................ 98

9. Comércio atacadista de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos, exceto gás natural e GLP ............................. 98

10. Extração de carvão mineral ............................................................................................................................ 99

11. Extração de petróleo e gás natural ................................................................................................................ 100

12. Extração de minerais para fabricação de adubos, fertilizantes e outros produtos químicos ............................ 100

13. Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural .............................................................................. 101

Referências .......................................................................................................................................................... 101

Parte IV

Estratégias de prevenção e redução de riscos na área química

Remígio Todeschini

1. Quadro geral das intervenções necessárias para a prevenção e redução dos riscos na área química ................ 104

2. Lutas em defesa da saúde, pela prevenção e redução dos riscos dos trabalhadores químicos: casos Ferro Ena-mel, Matarazzo, Nitroquímica, Eletrocloro (Solvay) e Petroquímica União ........................................................ 107

2.1. Ferro Enamel ............................................................................................................................................. 108

2.2. Matarazzo ................................................................................................................................................ 111

2.3. Nitroquímica ............................................................................................................................................. 115

2.4. Eletrocloro (Solvay) ................................................................................................................................... 118

2.5. Petroquímica União ................................................................................................................................... 124

3. Estratégias de redução de risco na área química em nível internacional ........................................................... 127

4. Considerações finais ........................................................................................................................................ 129

Referências .......................................................................................................................................................... 130

Anexos

Lista de tabelas .................................................................................................................................................... 135

Tabelas ................................................................................................................................................................ 141

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Lista de Tabela B

Tabela B1. Comparação das doenças entre químicos e não químicos detalhada por agrupamento CID .............. 34

Tabela B2. Capítulo VII — Doenças do olho e anexos .......................................................................................... 40

Tabela B3. Capítulo XII — Doenças da pele e do tecido subcutâneo .................................................................... 44

Tabela B4. Capítulo XIII — Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo ........................................ 45

Tabela B5. Capítulo XIX — Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas ........... 48

Tabela B6. Extração de carvão mineral ............................................................................................................... 50

Tabela B7. Extração de petróleo e gás natural .................................................................................................... 51

Tabela B8. Capítulo XIX — Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas ........... 52

Tabela B9. Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural .................................................................. 53

Tabela B10. Fabricação de celulose e outras pastas para a fabricação de papel .................................................. 54

Tabela B11. Fabricação de papel, cartolina e papel-cartão .................................................................................. 56

Tabela B12. Fabricação de embalagens de papel, cartolina, papel-cartão e papelão ondulado ............................ 57

Tabela B13. Fabricação de embalagens de papel, cartolina, papel-cartão e papelão ondulado ............................ 58

Tabela B14. Fabricação de produtos diversos de papel, cartolina, papel-cartão e papelão ondulado ................... 59

Tabela B15. Capítulo XIX — Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas ......... 59

Tabela B16. Fabricação de produtos derivados do petróleo ................................................................................ 61

Tabela B17. Fabricação de biocombustíveis ........................................................................................................ 62

Tabela B18. Fabricação de biocombustíveis ........................................................................................................ 63

Tabela B19. Fabricação de produtos químicos inorgânicos .................................................................................. 64

Tabela B20. Fabricação de produtos químicos orgânicos .................................................................................... 66

Tabela B21. Fabricação de Resinas e Elastômeros ............................................................................................... 67

Tabela B22. Fabricação de fibras artificiais e sintéticas ........................................................................................ 68

Tabela B23. Fabricação de defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários ............................................... 69

Tabela B24. Fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal ................................................................................................................................ 70

Tabela B25. Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes, lacas e produtos afins ....................................................... 72

Tabela B26. Fabricação de produtos e preparados químicos diversos .................................................................. 73

Tabela B27. Fabricação de produtos farmoquímicos ........................................................................................... 75

Tabela B28. Fabricação de produtos farmacêuticos ............................................................................................ 76

Tabela B29. Fabricação de produtos de borracha ............................................................................................... 77

Tabela B30. Fabricação de produtos de material plástico .................................................................................... 79

Tabela B31. Fabricação de vidro e de produtos do vidro ..................................................................................... 81

Tabela B32. Produção de gás; processamento de gás natural; distribuição de combustíveis gasosos por redes urbanas ........................................................................................................................................... 82

Tabela B33. Comércio atacadista especializado em outros produtos ................................................................... 83

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Lista de Quadros

Quadro 1. N. de acidentes e doenças osteomusculares (M) e mentais (F) registrados pelo INSS nos anos de 2005 e 2010, segundo a CID-10 ................................................................................................................................... 16

Quadro 2. Historicidade das estruturações produtivas e do trabalho no modo capitalista de produção, tipo de automação e acumulação do capital e morbidade populacional prevalente.......................................................... 22

Quadro 3. Distribuição dos respondentes em grupos segundo os pontos de corte da pontuação de sintomas (PS), médias ou percentuais com respeito aos anos de idade (AI), anos de trabalho na profissão (ATP), horas diárias de trabalho (HDT), gênero feminino (%F), diagnóstico especializado (%DE) e continuidade de tratamento (%CT). N. 146 Julho de 2009 ............................................................................................................................... 31

Quadro 4. Distribuição dos trabalhadores previdenciários respondentes do Estado de Santa Catarina em grupos, segundo os pontos de corte da pontuação de sintomas (PS), médias ou percentuais com respeito a anos de idade (AI), anos de trabalho na profissão (ATP), horas diárias de trabalho (HDT), gênero feminino (%F). N. 117, Santa Catarina, 2011 ..................................................................................................................................................... 31

Quadro 5. Doenças infecciosas e parasitárias ...................................................................................................... 35

Quadro 6. Neoplasias ......................................................................................................................................... 36

Quadro 7. Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos ............................................................................ 37

Quadro 8. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas ................................................................................. 38

Quadro 9. Transtornos mentais e comportamentais ........................................................................................... 39

Quadro 10. Doenças do sistema nervoso ............................................................................................................ 40

Quadro 11. Doenças de olhos e anexos .............................................................................................................. 40

Quadro 12. Doenças do ouvido e da apófise mastoide ....................................................................................... 41

Quadro 13. Doenças do aparelho circulatório ..................................................................................................... 41

Quadro 14. Doenças do aparelho respiratório .................................................................................................... 42

Quadro 15. Doenças do aparelho digestivo ........................................................................................................ 43

Quadro 16. Doenças da pele e do tecido subcutâneo ......................................................................................... 44

Quadro 17. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo .............................................................. 45

Quadro 18. Doenças do aparelho geniturinário .................................................................................................. 46

Quadro 19. Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas ............................................. 47

Quadro 20. Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas.................................. 48

Quadro 21. Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde .......................... 49

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Apresentação

Em pleno século XXI, com tantos avanços tecnológicos, o adoecimento no mundo do trabalho conti-nua persistente. Este livro quer mostrar como é esse adoecimento, especificamente entre os trabalhadores químicos e das atividades afins como plásticos, papel e papelão, petróleo, biocombustíveis, petroquímica, borracha, vidro e de todos os subsetores da atividade química. Busca também retratar como tem sido a luta e experiência concreta dos trabalhadores químicos, bem como o processo de negociação e de diálogo social que visou à diminuição dos problemas da acidentalidade e do adoecimento.

Este estudo/pesquisa só foi possível com a cooperação entre o Sindicato dos Químicos do ABC, a Confederação dos Químicos da CUT e diversos sindicatos com o Conselho Nacional do SESI, o qual se pron-tificou a financiar este projeto. Este trabalho de pesquisa foi executado pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho (LPT) da UnB, coordenado pelo Prof. Wanderley Codo e Remígio Todeschini e por uma equipe de pesquisadores colaboradores. É o segundo volume do projeto: Saúde e Trabalho dos Químicos do Brasil, que está sendo editado pela LTr. O primeiro volume foi lançado em julho de 2013 e o título é: Os Trabalha-dores Químicos no Brasil no Século XXI.

Este livro se divide em quatro partes.

Na primeira parte, o Dr. Herval Pina Ribeiro faz uma reflexão do atual estágio de adoecimento dos Trabalhadores químicos com as demais categorias profissionais, principalmente dos trabalhadores do Judiciário. Nessa parte faz uma reflexão das diversas fases do capitalismo e do seu atual ciclo monopolista. Descreve a historicidade de adoecimento dos trabalhadores que está fundada na compensação financeira. Apresenta, com sua experiência de pesquisador com diversas categorias de trabalhadores, métodos de pesquisa-ação participativas para detecção, a partir dos trabalhadores, dos problemas de saúde.

A segunda parte reproduz o minucioso trabalho de processamento de microdados da Previdência Social dos grupos econômicos que compõem o setor químico e atividades afins, detalhando o adoecimento sistematizado dos 21 capítulos da Classificação Internacional de Doenças (CIDs). Processa e cruza dados de adoecimento com as principais ocupações desses trabalhadores. Desnuda a realidade desse adoecimento, mostrando quais as principais doenças e quais são as possíveis causas delas.

A terceira parte nos remete a um estudo minucioso bibliográfico das literaturas científicas internacio-nal e nacional do adoecimento nos setores químicos pesquisados e o adoecimento/causas em relação às ocupações na área química e afins.

A quarta e última parte trata das principais lutas ocorridas no setor químico do Brasil no mundo do trabalho para quebrar o círculo vicioso do adoecimento. São retratadas lutas importantes do movimento sindical brasileiro na área química. Essas lutas propocionaram ao movimento sindical estratégias de promo-ção, prevenção e proteção no campo de Saúde do Trabalhador com mobilizações, greves, negociações e apoio técnico de assessoria especializada de profissionais na área de Saúde e Trabalho. Aponta caminhos para uma articulação internacional estratégica em defesa da saúde e proteção, visando à diminuição dos riscos nessa área.

Boa leitura a todos!

Organizador

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Prefácio

Este livro relata o adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras químicos em pleno século XXI. O setor econômico químico aqui retratado mostra as principais incidências das doenças que vão desde o setor da extração do carvão mineral, passando pelo trabalho do petróleo e gás, petroquímicos, plásticos, tintas e vernizes, indústria farmacêutica, papel e papelão, vidro, borracha, entre outros setores. Rememora tam-bém lutas importantes que ocorreram nesses últimos 30 anos com o surgimento do novo sindicalismo que rompia com os grilhões da ditadura militar. São retratadas aqui diversas lutas empreendidas por Sindicatos do ramo químico, com apoio de diversos técnicos na área de saúde e trabalho.

Este livro é o segundo da série publicado pela LTr, sendo que o primeiro retratou o perfil sociodemo-gráfico dos trabalhadores e trabalhadoras do setor químico em nível nacional, e este retrata o adoecimento dos que laboram nesse setor. São diversas as condições de trabalho enfrentadas pelos trabalhadores e trabalhadoras no atual estágio do capitalismo brasileiro. Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentam a defasagem tecnológica em alguns segmentos, máquinas e equipamentos sem proteção, exposição a uma infinidade de substâncias químicas, além de diversos modos de gestão que imprimem um ritmo intenso e pressão nos locais de trabalho. Essas e outras são as causas que provocam o adoecimento dos trabalhado-res e trabalhadoras químicos.

Esta pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB, tendo como principais coordenadores Remígio Todeschini e Wanderley Codo. O estudo ocorreu graças à parceria entre o Conse-lho Nacional do SESI e o Sindicato dos Químicos do ABC. Também conta com o testemunho e a análise do processo de adoecimento feito pelo Dr. Herval Pina Ribeiro, um incansável técnico que tem empreendido um trabalho importante na área química nos anos 1980 e continua ativo como pesquisador em defesa dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.

Servirá de subsídio valioso não só para os trabalhadores e trabalhadoras como para os que militam no mundo do trabalho. Servirá para técnicos, advogados, juristas, profissionais de Recursos Humanos, membros do Ministério Público, da Justiça, entre tantos profissionais que militam na área de Saúde do Trabalhador.

Que este livro, com as amplas e detalhadas informações de saúde na área química, seja um auxiliar e instrumento de contínua melhoria das condições de trabalho em nosso país, propiciando negociações e um diálogo social permanente para que prevaleça a cultura de prevenção no Brasil.

Boa leitura a todos!

Lucineide Varjão SoaresPresidenta da Confederação dos Químicos da CUT

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PARTE I De que adoecem e morrem os

trabalhadores na era dos monopólios

Em qualquer tempo e lugar os estados de saúde das populações de trabalhadores estão ligados às relações

históricas, materiais e sociais do trabalho.

Herval Pina Ribeiro(*)

1. Introdução

O Instituto Nacional de Seguro Social do Ministério da Previdência Social (INSS/MPS) conta presente-mente com 42 milhões de contribuintes, entre os quais 1,4 milhão de trabalhadores envolvidos na produção e comercialização de produtos químicos e similares.

Na Parte II do livro que ora se publica, Todeschini e Codo mostram que afora as do aparelho urinário, as prevalências de doenças entre esses trabalhadores são invariavelmente maiores que no universo dos trabalhadores não químicos. Na tabela que apresentam, essas prevalências vão de 63% a 52% entre os químicos e de 37% a 48% entre os não químicos.

Infere-se que mais que no conjunto das demais categorias, na dos químicos as condições materiais do trabalho em si geram doenças diretamente relacionadas ao uso da força muscular, inalação de poeiras, gases e vapores, temperatura e pressão barométrica inadequadas, contato físico ou químico indevidos ou constantes com o corpo, impactos sobre tecidos e órgãos expostos ou vulneráveis como a pele, músculos, tendões, nervos, ossos, ouvidos, olhos etc.

Também infere-se que trabalhadores químicos e não químicos, como classe, estão sujeitados a con-dições imateriais e relações sociais do trabalho assimétricas, determinadas ao exercício do poder que contratualmente, de maneira formal ou informal, determinam a extensão e intensidade da jornada, o controle e cobrança da produção e produtividade, o valor da força de trabalho assalariado, indistintamente geradoras de doenças. Daí, também, as prevalências maiores entre os químicos das doenças dos sistemas e aparelhos orgânicos não tanto à flor da pele, aparentemente mais protegidas como as cardiocirculatórias, gastrointestinais, neurológicas, psíquicas, endócrinas etc. E, como mostram Todeschini e Codo, não faltam exemplos da combinação de condições materiais e imateriais das relações agravantes do trabalho químico.

Na tabela montada e comentada por eles, logo abaixo das intoxicações, as doenças osteomusculares ocupam o segundo lugar com 63% entre químicos e 37% entre não químicos, enquanto as mentais e com-portamentais estão na última das posições em que se pode afirmar a existência de diferenças estatisticamente significativas com percentuais, respectivamente de 52,3% entre os químicos e 47,7% entre os não químicos.

(*) Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Colaborador docente e pesquisador da Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Colaborador docente e pesquisador da Área de Políticas, Planejamento e Gestão do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

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Sem esmiuçar a vastidão dos dados disponíveis no INSS consultados pelos autores citados, no caso das doenças osteomusculares pode-se deduzir haver esforço físico difuso e demasiado na causação direta dessas ocorrências combinado com esforços leves e repetidos sobre músculos, tendões, bursas, nervos e vasos da parte superior desse sistema, em decorrência da incorporação de maquinário de controle numéri-co, senso lato, com teclados, seja na produção industrial, seja na comercialização de produtos químicos e agregados. Por conseguinte há mal-estar, adoecimento e doenças osteomusculares genéricas e os há desse sistema, provocados por esforços leves e repetitivos localizados (LER).

A diferença percentual de prevalências de doenças mentais e comportamentais entre a população de químicos e não químicos, conquanto significativa, é bem menor, do que se pode inferir que o sofrimen-to do aparelho psíquico corre quase paralelo em quase toda classe trabalhadora, talvez com prevalência maior e maior velocidade na população mais alargada de trabalhadores não químicos, na qual se alojam trabalhadores do setor de serviços, constituída por ocupações menos qualificadas, mais degradadas e pior remuneradas, como a de telemarketing.

De fato, dois terços da população brasileira economicamente ativa, isto é, 65 milhões de pessoas em-pregadas ou à procura de emprego estão nesse segmento de classe, onde o trabalho principal consiste em apertar teclas sob intensa cobrança virtual e presencial de suas chefias para cobrar-lhes produção, produti-vidade, impedir e flagrar erros de digitação. Esses usam intensivamente as mãos e olhos sem pestanejar e ocupam permanentemente o cérebro com números e ícones de máquinas numéricas.

Em 2010, 164,8 milhões de pessoas de todas as idades e gêneros, correspondentes a 38% das po-pulações de 27 países que integram a Comunidade Econômica Europeia, mais Suíça, Irlanda e Noruega, apresentaram transtornos mentais e comportamentais. O percentual foi praticamente o mesmo encontra-do em estudo de cinco anos atrás em um número menor de países. Conquanto as populações e, nível de desenvolvimento e riqueza delas sejam muito variáveis, trata-se de esforço considerável para conhecer e comparar a morbidade geral e específica com vistas a estabelecer parâmetros para esses e outros países e continentes (WITTCHEN, H. U. e col.).

No Brasil, somente o patronato privado obriga-se por lei a comunicar os acidentes e doenças do tra-balho à Previdência Social pública, dado o regime contributivo obrigatório ao INSS. Essa é a única fonte nacional, aliás, formidável, de dados sobre doenças do trabalho.

Pois bem: no período de 2005 a 2010, esse instituto registrou inusitado aumento de afastamentos do trabalho acima de quinze dias por transtornos mentais e osteomusculares, os quais passaram a ocupar os dois primeiros lugares das doenças entre seus segurados, como mostra o Quadro 1:

Quadro 1 — N. de acidentes e doenças osteomusculares (M) e mentais (F) registrados pelo INSS nos anos de 2005 e 2010, segundo a CID-10.

Total Geral CID M CID M % CID F CID F %

2005 499.680 162808 32% 14697 2%

2010 701.496 361375 51% 24882 3%

Fonte: INSS/MPS, 2012.

O registro do crescimento desses agravos foi possível com o fim do represamento desses dados em função da lei que instituiu o nexo causal técnico epidemiológico, pelo qual, para fazer jus ao benefício acidentário previdenciário, não há mais necessidade de emissão da comunicação de acidente de trabalho (CAT) pelo empregador; basta que o trabalhador pertença a uma população vulnerável ao agravo e requeira ao INSS.

Apesar de evidências como essas, o patronato privado recalcitra em aceitar a inerência da morbidez do trabalho e sua imoralidade contemporânea. As vítimas principais são os trabalhadores situados na base

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da pirâmide de segmentos da classe trabalhadora, ou seja, os operários que são em maior número, pior remunerados e constituem a força e face do trabalho mais visível e descartável.

É sobre eles que as relações sociais são mais abusivas. Consequentemente são mais abusivas as exi- mais abusivas as exi-gências laborais, evidentes na rígida organização do trabalho em si, no seu controle e em sua remuneração. Os que se incumbem desses afazeres em nome do empregador não são mais designados capatazes: no linguajar moderno são diretores, gerentes ou “operadores”, e uma das atribuições é negar e ocultar agravos do trabalho e postergar direitos.

Enquanto empregador o Estado adota estratégia parecida. A similitude não é aleatória, mas revela-dora de políticas e práticas articuladas entre patronatos, facilitada pelo fato de o patrão ser o Estado pelo anacronismo dos estatutos dos servidores e seus institutos de previdência próprios. A opção corporativa tem desobrigado dez milhões de trabalhadores de contribuírem para o INSS e o patronato estatal de comunicar as doenças e acidentes do trabalho que ocorram em seu quintal.

Obviamente, entre os trabalhadores dos serviços privados e estatais, em termos relativos, as preva-lências de acidentalidade típica, esta que ocorre dentro e consequente ao trabalho em si, são baixas. Neles prevalecem as doenças do trabalho atípicas, como as mentais, osteoarticulares, da voz, cardiocirculatórias, gastroentéricas etc.

As acidentalidades típica e atípica são objetos de manipulação histórica por parte dos patronatos privado e público. No caso do primeiro, pelo controle quase absoluto que tinha sobre a emissão das comu-nicações de doenças e acidente de trabalho (CAT) ao INSS que passava por vários crivos burocráticos, entre eles seus serviços de perícias médicas subordinados invariavelmente à administração de pessoal.

No caso do patronato estatal, os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, em seus diferentes, aos quais estão subordinados 10 milhões de trabalhadores, sequer se dão à obrigação de comunicar acidentes e doenças do trabalho a quem quer que seja. Guarda-os, surpreendem-se com o absenteísmo por doenças tidas quase invariavelmente como falsificadas e procuram administrá-los como aprenderam seus burocratas: com beijos e tacapes. Imagine-se o que está a ocorrer com esse fenômeno na administração dos execu-tivos dos vinte e seis Estados da federação e dos sete mil municípios do país, nas dos Poderes Judiciários e Legislativos Federal e Estadual e em seus serviços médicos periciais. Se confinados ficam, não há como consolidar tais informações nem analisá-las. O que resta são políticas e medidas tópicas, costumeiras para coibir o absenteísmo, negá-lo enquanto fenômeno social, ocultá-lo, tergiversar sobre sua coletivização e forçar de vários modos a presença dos adoecidos, como pagar “adicionais” de assiduidade, coagir e punir os reincidentes, dificultar a tramitação de atestados e relatórios médicos ou os recusar.

Exemplo emblemático é o que faz o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP/CEJ, 2009): além de os atestados e relatórios terem de passar pelo crivo da respectiva chefia, ele cobra que tais documentos contenham o número correspondente à doença da Classificação Internacional de Doenças e Problemas de Saúde (CID/OMS), livro encontrado em qualquer livraria; em suma, trata-se de uma exigência burocrática que contraria a essência da doutrina do sigilo médico que os serviços de saúde devem guardar, salvo quan-do obrigado a notificar a doença por exigência sanitária, necessidade do doente ou em juízo; nunca por interesse do empregador.

São medidas coercitivas incapazes de ir à raiz da evasão do trabalho. Não a impede porque o absente-ísmo por mal-estar ou doença, antes de ser ato leviano, é fenômeno social ascendente com feições de sério problema coletivo de saúde (RIBEIRO, 2013).

Reconhecendo-o como tal, em 2001 o Ministério da Saúde incorporou no trato da matéria o conceito de vulnerabilidade de “populações estratégicas sujeitas a situações especiais de agravos”. Implicitamente é uma crítica aos mecanismos e práticas coercitivas e punitivas por parte do empregador. O conceito deixa para trás o discurso patronal, de longa data e até então soberano, que sustenta a tese da naturalidade das doenças e acidentes do trabalho típicos, cujas causas e consequências seriam tácita e contratualmente aceitas pelos trabalhadores; sendo assim, cabia-lhes a responsabilidade e culpa de serem vítimas dos agravos do trabalho.

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Até aqui o trabalhador, individualmente, tinha de comprovar a presença material, objetiva e mensurável do agente do mal-estar ou doença do trabalho. O conceito de vulnerabilidade introduziu a visão epistemológica e epidemiológica das relações sociais do trabalho com a saúde coletiva. Portanto, incorporou a percepção de exigências genéricas e contratuais do trabalho, senso lato, marcadas, sabe-se, por imposições de cima para baixo, hierárquicas, entre quem emprega e quem é empregado, vale dizer, de classe e segmentos privilegiados de classe que constituem a essência da causalidade das doenças que grassam na força de trabalho contemporânea.

Esse avanço conceitual no campo do direito social à saúde materializou-se com a aprovação da lei do nexo epidemiológico. Embora postergue o direito imperativo e maior de não adoecer do trabalho, hoje inserido na Constituição brasileira, a lei facilitou o acesso à compensação financeira. Esse acesso está por trás do notável crescimento do registro de doenças osteomusculares e mentais ocorridas entre 2005 e 2010 mostrado no Quadro 1.

Pelas razões apontadas, o quadro não inclui os dez milhões de trabalhadores estatais, ou seja, 20% da PEA ocupada e registrada. Se os contivesse, ao menos as prevalências das doenças mentais e comporta-mentais entre trabalhadores químicos e não químicos emparelhassem.

É o descompasso político e no tempo, a cisão histórica proposital entre trabalhadores da produção do setor privado — que pela CLT gozam de direitos do trabalho mais universais — e os trabalhadores do Estado, privados de gozá-los, imaginando ter prerrogativas e privilégios dos quais só desfrutam os hierarcas graduados que contribuem para mascarar a existência de estados de mal-estar e doenças do trabalho que estão abaixo deles.

Daí a necessidade de os trabalhadores dos setores privado e público e seus sindicatos fomentarem pesquisas sobre as relações sociais do trabalho com os estados de saúde de seus representados e pautarem tal discussão com seus empregadores.

Para isso têm de investir permanente e autonomamente em formação sindical, distinguirem a nature-za subalterna e assimétrica daquelas relações, recorrerem a metodologias científicas para si e botar as mãos nas suas rédeas, assumindo “(...) não ser a consciência do homem que determina o ser; é o ser social que determina sua consciência” de classe (MARX, K, citado por CUPERTINO, 1976). Para dar passos tão largos, os trabalhadores precisam de meios e instrumentos metodológicos adequados que possibilitem conhecer e dialeticamente lidar com eles e com a natureza conflituosa entre trabalho e saúde.

Anualmente aos milhões, como pessoas físicas, os trabalhadores são sujeitos ou objetos de pendências junto ao Poder Judiciário do Estado brasileiro que, como esse, está longe de ser neutro em qualquer tipo de litígios, mormente os que dizem respeito ao contrato de trabalho e à propriedade dos meios e relações de produção (DAVOGLIO, 2014). A feição civil confere ao ajuizamento pelo Estado moderno o caráter de necessidade pública. Acaba por sê-lo, dada à quantidade das demandas e demandantes.

A diferença, não pequena entre a quantidade enorme de demandantes e a quantidade bem menor da especificidade das demandas, facilitou aos ideólogos da eficiência do gerenciamento e racionalização das sentenças judiciais proporem ao STF, com êxito, instrumentos como as chamadas “súmulas vinculantes”. Essas sofreram duras críticas por parte não pequena de juízes dos 1ª e 2ª graus, posto levar à perda de au-tonomia de ajuizar, caso a caso, abrindo espaço para a robotização do trabalho judiciário, um passo a mais na direção do Estado totalitário. Silenciaram diante da concordância de um número bem mais elevado de magistrados, dada à polpuda remuneração que passaram a receber com a massificação e degradação do trabalho de julgar (RIBEIRO, 2013).

Porque o Estado brasileiro quer e precisa guardar para si o monopólio da justiça comum e estadual, essa que sentencia uma miríade de causas e negócios pequenos entre pessoas físicas? Por ser através desse monopólio que o Estado, e por trás a burguesia, detém o poder de inculcar às mentes comuns o princípio sacrossanto da naturalidade do direito ad eterno (sic) da propriedade privada dos meios de produção, circu-lação e venda de mercadorias, como se sua adoção equivalesse ao direito de propriedade de bens de uso, esse que deveria ser inalienável. Essa justiça estatal morosa, cara, pouco acessível, massificada e imperial quer parecer imparcial.