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A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CON TINUATIVA EM FACE DE M UDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO E x- Professor de Processo Civil da Fac uldade de Direito da UFC. Mest re em Dire ito bl ico (UFC) e Li vre Docente em Dir eito P rocessua l (UVA), Notório Sa ber Jurídico pela Universidade Federal do Ceará. Min i stro do Supenor Tribunal de Justiça. I. BREVE I NTRODUÇÃO o tema deste estudo endereça as atenções à magna questão da supremacia constitucional, diante da afluência de normas que não se harmonizam com os conteúdos da Carla Política; a id eia de controle da constitucionalidade das leis e dos atos normativos (pelo Poder Ju - diciário), entre os quais as decisões emanadas das illstllllcias ju lgadoras, pressupõe a ideia antecedente de supremacia constitucional, que por sua vez se ap oia no dogma da superioridade das norm as e dos princípios expressos e implícitos da Constituição, toda vez que confrontados com qualquer outra norma posterior, geral ali específica, produzida por fonte que lhe é necessariamente subalterna. Bem por isso, o co ntrole judicial de co nstitucionalidade d as leis e dos atos normativos tem sido associado, às vezes de forma expressa e noutras vezes de modo implicito, às chamadas Constituições rígidas, ou seja, àquelas Constituições cujas disposições somen te podem se r alteradas mediante processo de emenda que requer o atendimento de requisitos e formalidades especiais ou típicas, como leciona o Professor NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1105 MAIA FILHO, Napoleão Nunes. A eficácia da coisa julgada continuativa em face de mudança da jurisprudência constitucional. In: MUSSI, Jorge; SALOMÃO, Luis Felipe; MAIA FILHO, Napoleão Nunes (Org.). Estudos jurídicos em homenagem ao Ministro Cesar Asfor Rocha. Ribeirão Preto: Migalhas, 2012. v. 3, p. 105-141. (Cesar Asfor Rocha 20 anos de STJ ).

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A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE

DE MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO

Ex-Professor de Processo Civil da Faculdade de Direito da UFC. Mestre

em Dire ito Públ ico (UFC) e Livre Docente em Direito Processual (UVA),

Notório Saber Jurídico pela Universidade Federal do Ceará. Ministro do

Supenor Tribunal de Justiça.

I. BREVE INTRODUÇÃO

o tema deste estudo endereça as atenções à magna questão da supremacia constitucional, diante da afluência de normas que não se

harmonizam com os conteúdos da Carla Política; a ideia de controle

da constitucionalidade das leis e dos atos normativos (pelo Poder Ju­diciário), entre os quais as decisões emanadas das illstllllcias julgadoras,

pressupõe a ideia antecedente de supremacia constitucional, que por sua vez se apoia no dogma da superioridade das no rmas e dos princípios

expressos e implícitos da Constituição, toda vez que confrontados com qualquer outra norma posterior, geral ali específica, produzida por fonte

que lhe é necessariamente subalterna.

Bem por isso, o controle judicial de constitucionalidade das leis e dos atos normativos tem sido associado, às vezes de forma expressa e noutras vezes de modo implicito, às chamadas Constituições rígidas,

ou seja, àquelas Constituições cujas disposições somente podem ser alteradas mediante processo de emenda que requer o atendimento de requisitos e formalidades especiais ou típicas, como leciona o Professor

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1105

MAIA FILHO, Napoleão Nunes. A eficácia da coisa julgada continuativa em face de mudança da jurisprudência constitucional. In: MUSSI, Jorge; SALOMÃO, Luis Felipe; MAIA FILHO, Napoleão Nunes (Org.). Estudos jurídicos em homenagem ao Ministro Cesar Asfor Rocha. Ribeirão Preto: Migalhas, 2012. v. 3, p. 105-141. (Cesar Asfor Rocha 20 anos de STJ ).

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Paulo Bonavides (Curso de Direito Constitucional, São Paulo, Malhei­

ros, 2008, p. 83); não se deve esquecer, por sua correlação com o modelo rígido de Cartas Políticas, que certas matérias constitucionais não são alteráveis nem mesmo pela via de emenda ao seu texto - são as chamadas cláusulas petrificadas da Constituição, ainda na lição do referido Mestre (op. cit., p. 200).

Mas essa correlação entre o controle de constitucionalidade das

leis e as Cartas Constitucionais rígidas - conforme advertência do jurista

Lúcio Bittencourt ( 19 11 -1955) - não encontra eco lia realidade, porque,

em não poucos países de Constituições rígidas, illexiste essa forma de

controle e, em outros países de Cartas flexíveis, esse controle está, no

entanto, presente (O Controle Jurisdicional da Constitucionalidade das Leis, Rio de Janeiro, Forense, 1948, reedição do Ministério da Justiça,

Brasília, 1997, p. 9).

O certo é que a necessidade do controle da supremacia da Carta

Magna encontra as suas justificativas ou fundamentos primários em

duas ci rcunstâncias historicamente objetivas e inegáveis: (a) o reconhe­

cimento, desde o Mundo Antigo, da existência de formas normativas de

hierarquia superior, cuja continuidade cumpria preservar, como assinala

o Professor Nelson Saldanha (Formação da Teoria Constituciona l, Rio

de Janeiro Forense, 1983, p. 125), e (b) a pluralidade de fontes jurídi­

cas /wrmativas e ordenadoras que caracteriza as modernas sociedades

complexas.

Como todas essas fontes normativas estão igualmente habilitadas,

pela lógica intrassistêmica do ordenamento, a emitir, concomitante ou

sucessivamente, regras jurídicas válidas e imperativas, destinadas ao

d isciplinamento orgânico e ao regu lar funcionamento da macroestru­

tura social, é inevitável que entre os disciplinamentos positivos ocorram

confrontos, para cuja solução a Ciência do Direito elaborou, no passado,

técnicas eficazes para superar o confl ito internormativo, como (i) a pre­

valência da norma de maior hierarquia, (i i) a primazia da norma mais

A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUDÉNCIA CONSTITUCIONAL

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recente, Oll (i ii) a prioridade da norma de natureza especial. Com efeito, a atividade dessas múl tiplas fontes normativas (pro­

duzindo normas positivtls) se encaminha ti todo o universo componente

da sociedade, que se referencia obrigatoriamente pelos padrões cons­

titucionais, en tendidos estes como as gralldes lillhas estruturalltes, não só dos aspectos jurídicos, mas, sobretudo. dos aspectos políticos da vida

social, consoante o jurista Cândido Motta Filho (1897- 1977) analisa e

demonstra, em monografia que precisa ser relembrada (O Conteúdo Político das Constitu ições, Rio de Janeiro. Borsoi, 1950), por isso que a Carla Magna é o paradigma de validade de todos os atos que lhe são

posteriores.

Curial, portanto, nesse contexto, que a organização produtora de normas envolva a ocorrência de desníveis normativos, admitindo-se que umas normas são superiores a outras, e que luí lIIr1a norma pressuposta

que é o fundamellto de todas as demais, lIão estalIdo esta apoiada em

nenhuma outra que Ille seja precedellte 011 superior - essa Ilorma pressu­posta é a cllamada Norma Fundamental.

A Norma Fundamental tem uma conotação quase mágica, por se

admitir que é nela que o ordenamento jurídico se unifica, vale dizer, por

se entender que é nela que o sistema se identifica e obtém coerência, sem a qual se esfacela ria inevitavelmente.

Contudo, nos estudos tradicionais do processo - sobretudo do

Processo Civil, na verdade a grande matriz das disciplinas processuais - os autores sempre capricharam em teorizar sobre a prevalência da Norma Fundamental sobre todas as outras, mas o centro das suas pre­

ocupações era a produção de leis (pelo Poder Legislativo) e a atividade

administrativa (do Poder Executivo); prestava-se pouquíss ima atenção

à coisa julgada inconstitucional, porquanto se assinalava que a coisa julgada era coisa sagrada, ou seja, ullla vez consolidado o julgamento

judiciário. somente mediante rescisão (em casos específicos). poderia ser revisitado; fora dessa hipótese, não haveria força jurídica capaz de

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1107

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desfazer, de alterar ou de desconsli tui r aquela solução. Na raiz dessa concepção cstá a convicção de que a decisão judicial

que se consolidou em coisa julgada passou por um longo percurso de

discussão e de debate, na sua formação, com plúrimas oportunidades de detecção de desv ios ou teratologias, por isso que, vencidas essas etapas, teria mesmo de ficar imu nc a questionamentos.

Nesse sentido, não havia a preocupação - pelo menos de forma expressa - com a correção ou o erro, a justiça ou a injustiça da decisão, nem mesmo com a sua adequação ou inadequação aos d itames postos ou ao espíri to da Consti tu ição, pois todos esses aspectos se ti nham por superados, precisamente no iter de sua formação; repita-se: não havia, então, maior atenção ao controle de constitucionalidade da decisão trânsi ta em julgado, pois o controle de constitucionalidade se exercia quanto aos atos do Parlamento (leiS) e aos atos do Poder Executivo (atos administrativos), sendo muito rara - raríssima mesmo - a discussão de eventual incompatibil idade de decisões judiciais consolidadas com a Carta Magna, a não ser, evidentemente, como argumento (podero­so) durante o trâmite das ações e, excepcionalmente, por meio da via rescisór ia.

Mas a existência de coisas julgadas inconstitucionais é na verda­de bastante antiga, tanto que sobre essa desafiadora questã o, o mestre português Professor Paulo útero elaborou uma monografia de grande prestígio ent re os estudiosos desse tema (Ensaio sobre o Caso Julgado Inconstitucional, Lisboa, Lex, 1993), lançando, nesse opor tuno livro, cortantes questionamentos sobre a prevalência dos preceitos consti tu­cionais diante das decisões judicia is transitadas em julgado, apesar de em aberto desacordo com as prescr ições da Carta Política, propugll<lI1-do pela prevalência dessas prescrições, e anotando que as questões de val idade constituciona l dos actos do poder judicial foram objecto de um esquecimento quase total (p. 23).

Não se pode mais desconhecer que o impacto de uma coisa

108 [ A EFICÂCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUD~NCIA CONSTITUCIONAL

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aquela solução.

nvicção de que a decisão judicial tSSOll por um longo percurso de

com plúrimas oportunidades de

r isso que. vencidas essas etapas. lmentos.

:upação - pelo menos de fo rma

justiça ou a injustiça da decisão,

.nadequação aos ditames postos los esses aspectos se tinham por formação; repita-se: não havia,

constitucionalidade da decisão

~ constitucionalidade se exercia :>s atos do Poder Executivo (atos

·aríssima mesmo - a di scussão

:ões judiciais consolidadas com :lte, como argumento (podero­

pcionalmente, por meio da via

lS inconstitucionais é na verda­l desafiadora questão, o mestre

'ou uma monografia de grande

I (Ensaio sobre o Caso Julgado

nçando, nesse oportuno livro,

alência dos preceitos constitu­lsitadas em julgado, apesar de

da Carta Política, propugnan­~ anotando que as questões de :r judicial fora m objecto de um

lue o impac to de uma coisa

UDANÇADA

julgada com as prescr ições da Consl ituição é uma questão que preci­sa ser enfre ntada com a devida objetividade. inace ilando-se a recusa pura e simples de sua discussão, com a supe rfi cia l alegação de que a

coisa julgada faz do pre to branco, e do círculo um quad rado; a supre­

macia da Constiluição precisa ser afi rmada, mesmo quando a infração a esse superior valor político decorre de um pronunciamento judicial

consolidado.

Contudo, não se há de ocultar - nem de minimizar - que o re­exame, com maior ve rti calidade, do problema (tormentoso problema, aliás) que nesse fenômeno se inscreve, afronta certas ideias de grande

aceitação e maior resistência, dado o permanente prest ígio do instituto

da coisa julgada entre os Juristas, que O proclamam voltado, em linha de princípio, ao alto propósi to de assegurar ad fulu rum (e mesmo ilimi tada­mente, no tempo) a fo rça vinculante de uma solução jurisdicional dada

em determinada relação litigiosa concreta. desde que tornada definitiva

(sem possibilidade de revisão na via recursa l), consoante assentado em lições doutrinárias que merecem .. \s maiores reverências.

Não haverá exagero em se dizer que o inst ituto da coisa julgada

assumia, na doutrina juríd ico-processual trad icional. as feições de um

autênt ico dogma, ou seja, uma verdade que não se põe em discussão, à manei ra de um axioma de natureza teológica (toda Rel igião tem os seus

dogmas), ta l como diziam os juristas romanos: res jtldicata sacra est. O fundamento desse axioma era, sobretudo, a necessidade de

estabilização das rel ações sociais e de pacificação dos dissensos, pela via jurisdicional, assegurando-se ao vito rioso na demanda a ce rteza da

imutabilidade da sua vitória, em todo o tempo do fu turo, assim lhe pro­porcionando a almejada segurança; portanto, a segurança jurídica era (e

ainda é) o grande pilar de ferro que sustém o institu to da coisa julgada. A montagem do cenário moderno de disc ussão da coisa julgada

(e dos seus Significados) remonta aos eruditos estudos do jur ista alemão

Friedrich Carl Von Savigny (1779- 1861), no meio do século 19, mos-

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO \ 109

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trando que a exceptio rei jlldicatae do Direito Romano - ao contrário do que até en tão se dizia - não possuía apenas O efeito negativo de impedir a

repropositurc/ de ação idêntica a uma anterior já julgada, mas acrescia a

ficção de verdade jurídica, illerel1te ao julgamento, por isso que tutelava

(já nos tempos romanos) o próprio conteúdo do julgado - res judicata pro veritate habetur - isto é, valia eficazmente contra todos (erga O1nnes), embora se deixando suspensa a questão de ser a sentença uma proposi­ção lógica o u um ato de vOlllade. Essa questão continua em aberto.

A evolução posterior, principa lmente com as contribuições dos

mestres italianos Francesco Cam elutti (1879- 1965) e Enrico Tu llio Lie­

bman (1903-1986), sobretudo este, q ue teve e tem imensa innuência na

confo rmação do sistema processual civil brasileiro, fez surgirem dou­

trinas juridicas reexplicativas da coisa julgada, algumas delas atuando

poderosamente na elaboração de Códigos de Processo, tanto na Itália,

C0l110 no Brasi l, até o advento de propostas mais ousadas, cO/ltra aquela aludida sacralidade da coisa julgada, aba lando a sua intangibilidade e agregando-lhe certas fragilidades que confluiriam, com o passar do

tempo, para a ideia de sua relativização, ideia essa que ganhou adeptos

ilustres, até mesmo nos ambientes acadêmicos mais refinados.

No contraponto, entre os autores naciona is ma is recentes, o acata­

do Professor Celso Neves ( 191 3-2006) ded icou à res judicata um estudo

monográfico que se tornou referência (Coisa Julgada C ível, São Paulo,

RT, 197 1), no qual explica os seus fundamentos históricos e sociológicos,

os seus aspectos culturais e a sua necessidade na função estaúilizadora do Direito; o douto Professor Egas Dirceu Mon iz de Aragão, de igual

modo, estudou a fundo esse instituto, produz.indo também obra jurídica

da m aior suposição (Sentença e Coisa Julgada, São Paulo, Aide, 1992).

De lembrar, tambénl, o eminente Professor José Ignácio Botelho

de Mesquita, infatigável e intransigente defensor das virt/./des do Processo Civil, também editou trabalho fecundo sobre esse assunto (A Coisa Jul­

gada, São Paulo, Forense, 2006), criticando (com palavras veementes)

110 I A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JUR ISPRUOe:NCI A CONSTITUCIONAL

a inauguração da est defesa das liberdades cio da jU1lção jurisdil

Os ilust res PI Garcia Medina se oc Paulo, Rl~ 2003), re!

a intangibilidade da

santidade.

2. O SIGNIFICADO TRAD

Pode-se dizer,

do instituto da cais,

a sua mitificação, cc

quada à indiscutibili

p rimeiro lugar, da s como já menc ionad(

A concepção I

mas ju rídicos que re

tário e desuni forme I Europeu continental

e interpretou de for

tór ica ao Direito, trtl

Macaísta Malheiros,

Nas considera,

ões romanas domine:

implantarem as suas

religiosas e sociais,

bárbaros}, que aí se

vam as suas tradiçõl

econômica, que for<

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do Direito Romano - ao contrário do a apC/las o efeito negativo de impedir a

ma anterior já julgada, mas acrescia a

e ao julgamento, por isso que tutelava ia conteúdo do julgado - res judicata ficazmente contra todos (erga omnes),

Jestão de ser a sentença uma proposi­

:ssa questão con tinua em aberto.

'ipalmente com as contribuições dos :lutti (1879-1965) e Enrico Tullio Lie­

:, que teve e tem imensa influência na

Ial civil brasilei ro, fez surgirem dou­:oisa julgada, algumas delas atuando Códigos de Processo, tanto na Itália,

>ropostas mais ousadas, contra aquela

ada, abalando a sua intangibilidade !s que confluiriam, com o passar do zação, ideia essa que ganhou adeptos acadêmicos mais refinados.

ores naciona is mais recentes, o acata­)06) dedicou à res jl/dica/a um estudo

ncia (Coisa Julgada Cível, São Paulo,

mdamentos históricos e sociológicos,

necessidade na jllllÇão estabilizadora

s Dirceu Moniz de Aragão, de igual

to, produzindo também obra jurídica

lisa Julgada, São Paulo, Aide, 1992). nente Professor José Ignácio Botelho

ente defensor das virtudes do Processo

mdo sobre esse assunto (A Coisa Jul­:riticando (com palavras veementes)

ACE DE MUDANÇA DA

a inauguração da estação de caça à coisa julgada, derradeiro bastião em defesa das liberdades civis contra as arbitrariedades do Estado no exercí­

cio da junção jurisdicional.

Os ilustres Professores Teresa Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina se ocuparam do tema (O Dogma da Coisa Julgada, São Paulo, RT, 2003), registrando com pertinência que em passado recente a intangibilidade da coisa julgada se revestia de tlma mística auréola de

santidade.

2. O SIGNIFICAOO TRADICIONAL MEIO MíTICO E MEIO SAGRADO DA COISA JULGADA

Pode-se dizer, numa síntese apertadíssima do percurso histórico do instituto da coisa julgada, que a sua compreensão absolutista - ou a sua mitificação, como a alguns parece ser a denominação mais ade­

quada à indiscutibilidade e à imutabilidade da res judiata - provém, em

primeiro lugar, da sua respeitável tradição, pois, no Direito Romano, como já mencionado, a sua eficácia era celebrada em verso e prosa.

A concepção romanisla de coisa julgada passou-se para os siste­

mas jurídicos que recepcionaram o jus romanoru m, no lento, fragmen­

tário e desuniforme processo de formação das ordens legais do Medievo Europeu continental, conforme o jus-h istoriador John Glissen explanou e interpretou de forma reconhecidamente completa (Introdução His­

tórica ao Direito, tradução de Antônio Manuel Espanha e Manuel Luís

Macaísta Malheiros, Lisboa, Calouste Gulbenkian, 2003),

Nas considerações desse acatado estudioso, bem antes de as legi ­

ões romanas dominarem extensos territórios no espaço europeu, e neles implantarem as suas instituições militares, administrativas, linguísticas,

religiosas e sociais, os povos nativos (que os romanos chamaram de bárbaros), que aí se encontravam, possuíam os seus costumes, cultiva­

vam as suas tradições e tinham os seus modos de organização social e econômica, que foram mais ou menos amalgamados com os dos seus

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 111

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dominadores, assim se iniciando a famosa primeira fase de recepção do romanismo, acidentada, é verdade, mas constante e duradoura, produzindo certas instiluições que assimilavam as coisas romanas, mas

também, ao mesmo tempo e em certa medida, conservavam os traços autênticos ou as raízes originais e nativas.

Observe-se, contudo, que essas influências vêm atuando desde os primeiros contactos dos Romanos com esses povos bárbaros, embora muitos destes não tivessem nem mesmo desenvolvido a escrita, ou seja, estivessem na pré-históri a da civilização, adotando-se que o liSO da escrita seja o divisor desses macroperíodos (pré-história e história); é evidente que as experiências jurídicas dos povos que não ti nham escrita

e, portanto, não deixaram registros dessas mesmas experiências, cons­tituem um tema do mais elevado fascínio, mas também um problema quase que sem solução.

Caberia aqui, contudo, uma refe rência, brevíssima que seja, à parca influência das instituições romanas em geral - e do Direito Ro­mano em particular - na ilha britânica , onde os rormalismos escritos e

os solen islllos de Roma não foram absorvidos, pelo menos na extensão com que o foram no continente, tanto que ali, na ilha, floresceu uma ou­

tra família jurídica, que ve io a ser chamada de comOlon la\\', consoante explana René David (O Direito Inglês, tradução de Eduardo Brandão, São Paulo, Martins Fontes, 1997).

Mas outras instituições inglesas também ficaram de certa forma

imunes à influência dos invasores romanos, como reporta Winston Church ill (I 874-l965), o premier britânico durante a 2a. Grande Guer­ra (1939- 1945), e também ilustre historiador (História dos Povos de Língua Inglesa, tradução de Aydano Arruda, São Paulo, Ibrasa, 2005), mostrando como o sistema de liberdades e direitos se afirmou contra a Coroa ou contra o Estado, e não por concessões ou benesses deste; parece mesmo que as ideias de liberdade nidaram, historicamente, nos altiplanaltos da ilha, onde madrugaram as estruturas que vi riam a gerar,

112 I A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUD~NCIA CONSTITUCIONAL

nos séculos seguintl prepotências dos príl

De todo modo, sa julgada, de origel o último instituto he ventos da Illodernida a superação do cons(

tidos e havidos, dura pazes de promover o nas relações negociai sistema social que vei

Sabe-se, por privatísticos - outrOl afirmação das teorias nascentes se acham r.

press ionados com a Sl

Essas teorias de trato perfeito, fazendl

equidade entre o benl

Pode-se d ize r, assim, concepção de que a ( Constituição, deve ce

que a Constituição te abalançaria a essa ous

Mas o que impc parece inegável. ao Im

julgada linha efetivarr melhor, obstativo da ç embora depois se tenl· positiva, atribuindo- s( fora reconhecido e pro

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nosa primeira fase de recepção e, mas constante e duradoura, milavam as coisas romanas, mas

medida, conservavam os traços lS.

tfluências vêm atuando desde os 1 esses povos bárbaros, embora ) desenvolvido a escrita , ou seja, 'ão, adotando-se que o uso da ldos (pré-história e história); é )s povos que não tinham escrita

ias mesmas experiências, cons­tio, mas também um problema

rência, brevíssima que seja, à as em ge ral - e do Direito Ro­onde os formalismos escritos e ·vidos, pelo menos na extensão e ali, na ilha, floresceu uma ou­. da de common la"" consoante radução de Eduardo Brandão,

mbém ficaram de certa forma anos, como reporta Winston

:0 durante a 2a. Grande Guer­iador (História dos Povos de uda, São Paulo, Ibrasa. 2005). :; e direitos se afirmou contra :oncessões ou benesses deste; nidaram, historicamente, nos estruturas que viriam a gerar,

DANÇA DA

nos séculos seguintes. noções utilíssimas ao projeto de controle das prepotências dos príncipes, e isso já nos albores do scculo 13.

De todo modo, deve-se anotar que o dogma da supremacia da coi­

sa julgada, de origem sabidamen te romana, representa possivelmente o último instituto herdado do Direilo pré-moderno a ser tocado pelos ventos da modernidade jurídica. pois já não provoca mais tanto espanto

a superação do consensua lisll1o contratual e da autonomia da vontade, tidos e havidos, durante largos tempos, como concepções jurídicas, ca­pazes de promover o bem de todos, ou mesmo realizar a melhor jusliça nas relações negociais, por isso que consideradas a pedra de toque do

sistema social que veio a ser conhecido como liberalismo. Sabe-se, por outro lado. que a fragilização desses conceitos

privatísticos - outrora concei tos in tocáve is, convém repetir - veio da afirmação das teorias explicativas das obrigações quase-delituais, cujas nascentes se acham nas elaborações doutrinárias dos juristas mais im­

pressionados COI11 a submissão da pessoa do devedor à tirania do credor. Essas teorias desm isti ficaram completamente a suposição do con­

trato perfeito, fa zendo desfilar nua na passarela da verdade a ficção de equidade entre o benefício do contrato e o consentimento do obr igado . Pode-se dizer, assim, que evolução parecida há de se r vista na alual concepção de que a coisa julgada, quando fo rmada em adversidade à Const ituição. deve ceder-lhe o passo, sob a pena de se ter de afirmar que a Constituição teria deixado de se r a Lex Suprema; mas quem se

abalançaria a essa ousadia? Mas o que importa frisar é que, para os juristas romanos - e isso

parece inegável, ao menos para a grande maioria dos doutores - a coisa julgada tinha efetivamente UIll significado essencialmente negativo, ali

melhor, obstativo da possibilidade de reprodução de uma mesma ação, embora depois se tenha procurado inculcar nesse instituto uma função positiva, atribuindo-se- lhe (também) a força de proteger o direito que fora reconhecido e proclamado na decisão. Dizia-se que o decisum cr ia-

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1113

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va o direito do caso concreto e ti nha, nos limites da lide (nos limites da questão de mérito, portanto), a mesma força de lima lei, como veio a ser assentado e positivado poste riormente.

O art. 478 do CPC de 1973 é um bom exemplo dessa orientação que afirma a supremacia da coisa julgada; ademais, se for recordado o fetiche jurídico que a lei representava (e ai nda representa), mostra -se

fác il entender como esse instituto se mistificou até às maiores alturas, parecendo até mesmo li ma heresia investi r-se contra um dogma, ou mesmo a simples tentativa de pô-Ia sob algum questionamento.

Porém, o superficialismo dessa proposição fica bem à mostra,

quando se examina uma situação concreta em que um contrato, uma lei ou uma decisão judicial transitada em julgado se evidenciam afron­tosam ente infringentes de certos valores superiores - como a justiça, a equidade ou a Constituição - segundo o Professor Michael J. Sandel revela (Justiça, tradução de Heloísa Marti ns e Maria Alice Máximo, Rio de Jane iro, Civilização Brasileira, 20 11 , pp. 14 e segs.), expondo que o sistema das liberdades não leva as prerrogativas (d ire itos) dos indivíduos a uma altitude olímpica e suprema, onde não podem ser alcançadas pela realidade da vida socia l, ou onde ficam a salvo de cotejos com outros valores do sistema social.

Conviria sublinhar que a descoberta - ou a ênfase - do sentido positivo da res judicata deve-se a Savigny, como já assinalado, mas não se deve perder de vista que essa função positiva era aux iliar daquel ' outra

negativa, e que essa positividade sempre foi lida em menor conta, por­quanto o efeito impeditivo de repetição de demandas fo i o que empolgou (e ainda empolga) os es tudos sobre a coisa julgada; aliás, esse objeto é de tão destacada importância, que se desenvolveu, paralelamente àqueles estudos histó ri co-jurídicos, uma verdadeira teo ria (também de funda­mentos romanos), para se afirmar a identidade de ações, exigindo-se que tenham as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedi r, sendo certo que a análise de cada um desses elementos tem as

11 I A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE OE MUDANÇA DA 4 JURISPRUD~NCIA CONSTITUCIONAL

suas próprias si llguh: Nas legislaçõe

certeira observação·

superlativa e exa[tad contra quaisquer in sobretudo a i novaç~

perigosa adversária { Por tuga l - pa ra cit ar vigoraram por tanto

eloquente dessa exa!"

constitucional (a rl. ~

constitu ir a coisa jul!

Finalmente, es

sumiu, no CPC de 1 que lhe são postas p. mais consagrados d( imunidade quanto a

acalentada, quanto c

coisas mate riais e inc Mas essa com

seria aceitável, e ainl

singulares em que a s te a prática de li m só tada sob o seu coma

coisa julgada, ou a su carrega-se ainda de r jurídica produzida 111

posteridade, ou seja, cujo cumprimento se

De fato, não s incide sobre lima re

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)s limites da lide (nos limites da

urça de uma lei, como veio a ser

bom exemplo dessa orientação da; ademais, se for recordado o (e ainda representa), mostra-se

IistificOll até às maiores alturas,

lestir-se contra um dogma, ou algum questionamento.

Jroposição fica bem à mostra, reta em que UIll contrato, uma

TI julgado se evidenciam afron­:s superiores - como a justiça,

) o Professor Michael1. Sandel

tins e Maria Alice Máximo, Rio

pp. 14 e segs.), expondo que o

\ativas (d ireitos) dos individuos não podem ser alcançadas pela

a salvo de cotejos com outros

:ta - ou a ênfase - do sentido

(, como já assinalado, mas não sitiva era auxiliar daquel ' outra

foi tida em menor conta, por­

: demandas fo i o que empolgou

\ julgada; al iâs, esse objeto é de volveu, paralelamente àqueles

:ira teoria (também de funda­

ntidade de ações, ex igindo-se ) pedido e a mesma causa de

um desses elementos tem as

JDANÇAOA

suas próprias singularidades e, às vezes, os seus tremendos tormentos. Nas legislações medievais - é ainda do refer ido jOhll Glissen a

certeira observação - o enaltec imento da coisa julgada se fez de maneira

superlativa e exaltada, procurando-se atribu ir-lhe uma fo rça definit iva contra quaisquer inovações posteriores, quaisquer que fossem, mas sobretudo a inovação normat iva, vista, coeren temente, como a mais

perigosa adversá ria da res judicata; as famosas Ordenações do Reino de

Portugal - para ci tar apenas esses monumentos da retórica jurídica, que vigoraram por tanto tempo no Brasil - são o exemplo mais próximo e eloquente dessa exaltação; cumpre anota r que, hoje em dia, há previsão

constitucional (a rt. 50., XXXVI) di spondo que nem a lei poderá des­

const ituir a coisa julgada. Finalmente, essa ideologia de enaltecimento à coisa julgada as­

sumiu, no CPC de 1973, as notas de imutabilidade e indiscutibi lidade

que lhe são postas pelo art. 467, em harmonia , aliás, com as lições dos

mais consagrados doutores, da ndo-lhe uma espécie de supremacia ou imunidade quanto ao tempo e aos seus eventos posteriores, ideia tão

acalentada, qua nto contrária à realidade da vida humana e social, e às

coisas mater iais e incorpóreas que ne la se produ zem. Mas essa compreensão (absolutista) da coisa julgada somente

seria ace itável, e ainda assim apenas em tese, naqueles casos tópicos e

singulares em que a sua eficácia se esgotasse instantaneamente, median­te li prática de um só ato, pelo sujeito passivo da obrigação jurídica ace r­

tada sob o seu comando; na ve rdade, a buscada meta temporal idade da

coisa julgada, ou a sua força e eficác ia no tempo interminável do futuro,

carrega-se ainda de maior controvérs ia, quando a declaração de certeza jurídica produzida no julgamento em que se formou prolonga-se na sua

posteridade, ou seja, quando a relação jurídica é do tipo continuativo,

cujo cumprimento somente se exaure na sequência do tempo. De fa to, não se pode esconde r que, quando a solução judicia l

incide sobre uma relação jurídica cujo cu mpr imento se prolonga no

NAPOtEÃO NUNES MAIA FILHO \ 115

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tempo (ob rigação continuativa ou de t rato sucess ivo), fatalmente cairão

sobre ares judicata inumeráveis e imprevisíve is alterações, impactando duramente os seus fundamentos e as suas bases fáticas e jurídicas, pois

o tempo não pára, embora nu nca envelheça: infelizmente, o te mpo zomba das ast úcias humanas que buscam ap ris ioná-lo c das cnsamnlas bli ndadas que os homens espe rançosos constróem, na ten tativa (v;10

esforço) de esconder-se dele; o tempo, d iz-nos o mestre Jorge Luís Bor­

ges (1899-1986), é o único problema metafísico do homem (História da Eternidade, tradução de Heloísa Jahn, São Paulo, C ia. das Letras, 2010).

Po is é nesse contexto que surge em cena a questão se saber-se

como, e em que medida. essas alterações hi stóricas inevitáveis atuam sobre a coisa julgada ante rior a elas - ou se ares judiea!a sobrepairani

acima dos efeitos dessas mudanças, refratária à sua força e indiferente

ao seu poder modificat ivo, sublime diante do império da voragem do

tempo. excluindo-se de sofrer os desgastes que atingem todas as coisas

criadas - mas somente o Incriado, o Senhor do Tempo, está para sempre

imune à erosão que consome todas as coisas.

3. O CHAMADO MÉTODO DE CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS

E ATOS NORMATIVOS

São conhecidos dois modelos clássicos de controle de constit ucio­

nalidade das le is e dos atos normativos do Poder Público, gera lmente

analisados com prec isão e detalhes pelos doutrinadores desse tema:

(a) o modelo político - aquele exercido por intermédio do Poder Legislativo. ou órgão

especifico escolhido pelo Parlamento em colaboração com o Poder Executivo. e

(b) o modelo judicial (nos modos difuso e concentrado) - o exercido por órgãos do

Poder Judiciário. ou por Cortes especiais. geralmente de composh;~o mista. in tegradas

por Magistrados de carreira e juristas notórios. quase sempre CO Ill investiduras limita·

das no tempo.

,I A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA 11 JURISPRUO!:NCIA CONSTITUCtONAL

No Brasil, ado de das leis e dos ato: exceção (controle di

com o por via de açi o Supremo Tribunal m ente na Carta Ma[

um sistema complex

métodos de procedi! O método do

do Poder Judiciário,

de consti tucionalida<

macia da Conslituiçi

que apreciam; até se

comum, podendo (e

(singular ou coletivo

procedimentais realr

A alegação de

em que se funda a açi

e rad ical que se pode

- por isso que se apo

(sobretudo) a sua uti

ai. correspondendo a

sem equiva ler, porér

argumento central d~

Assemelha-se e

durante o trâmite da

solução deva ser obt

ao chamado controle

como já mencionada

órgão específico (o S~

da ação. enquanto aql

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sivo), fatalmente ca irão alterações, impactando fáticas c jurídicas, pois infel izmente. o tempo aná- Io e das casamatas 6em, na tentativa (vão mestre Jorge Luís Bor­

do homem (História da

,Cia. das Letras. 20 I O). I a questão se saber-se ricas inevitáveis atuam

!s judicata sobrepairará sua fo rça e indiferente mpério da voragem do

atingem todas as coisas empo, está para sempre

TITUCIDNALlDADE DAS LEIS

controle de constitucio­

ler Público, geralmente

nadores desse lema:

. do Poder Legislativo. ou órgão

)111 o Poder Executivo, e

lo) _ o exercido por órgãos do

e composição mista, in tegradas

emprc com investiduras limita-

DA

No Brasil, adota-se o controle jurisdicional da constitucionalida­de das leis e dos atos da Administração, que se exerce, tanto por via de exceção (controle difuso), diante de qualquer órgão do Poder Judiciár io, como por via de ação (controle concentrado), exclusivamente perante o Supremo Tribu nal Federal, através de ação especial. prevista direta­mente na Carta Magna (art. 102, I), por isso que se diz que se trata de um sistema complexo, peculiar ali cumulativo, que consorcia esses dois métodos de procedimento.

O método do controle difuso é praticado em todas as instâncias do Poder Judiciário, munidas da aptidão de emitir decisões de controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, fazendo a supre­

macia da Consti tuição prevalecer nos julgamentos dos casos concretos que apreciam; até se diz que essa fu nção é illeretlte à própria jurisdição

COll/um, podendo (e mesmo devendo) ser exercida por qualquer Juízo (singular ou coletivo), seja qual for o seu nível, embora com variações procedimentais real mente relevantes.

A alegação de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em que se funda a ação ou a defesa contra ela é certamente a mais severa

e radica l que se pode fazer no curso de um processo - qualquer processo - por isso que se aponta esse método como excepcio1lal, valo rizando-se (sobretudo) a sua utilização pela chamada via de exceção illtmprocesslI­aI, cor respondendo a umflllldamelllo collSliluciol1al da decisão judicial, sem equivaler, porém, ao objeto imediato do pedido do autor ou ao argumento central da resposta (resistência) da parte promovida.

Assemelha-se esse método a um verdadeiro incidellte, ocorrente dura nte o trâmite da ação judicial, embora não se demande que a Sua

solução deva se r obtida em fe ito separado: esse método se contrapõe ao chamado controle concentrado de cOflStitllciolwlidade. que se exerce, como já mencionado, mediante ação própria, como atribuição de um

órgão específico (o STF), por isso que se denomina de controle pela via

da ação, enquanto aquel 'outro se realiza peJa via da exceção.

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1117

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r I

1

1181

o controle de constitucionalidade das decisões judiciais tem a mesma natu reza, a mesma lógica e a mesma fina lidade do controle que se exerce sobre os demais atos estatais (legais ou administrativos), já

consagradas como características do Estado de Direito, quais sejam: as­segurar a prevalência da Constituição, promover ti sua supremacia diante

de quaisquer outras normas e estabelecer a coerê/leia illtenw do sistema

jurídico.

Pelo controle difuso, deve o órgão judicial, 1/0 exame objetivo de cada caso concreto apreseI/lado à sua decisão, desde que regularmente

instaurado processo em que o direito da parte envolva a aplicação de

dispositivo da Carla Magna, negar aplicação imediata à norma legal ha­

vida por hlconstitucional. A doutrina do Di reito Constitucional seguida no Brasil, graças à influência de Rui Barbosa (I 849-1923), acolheu em grande medida as diretr izes essencia is da respectiva doutrina, desenvol­vida nos Estados Unidos, e, no que respeita diretamente ao controle da

constitucionalidade da leis, a construção devida ao Juiz John Marshall (1755-\835), da Suprema Corte daquele País, que dizia, enfatizando o papel do Judiciário no exercício dessa atribuição:

Essa teoria (a de que o Judiciário pode negar aplicaçflo a leis inconstitucionais)

é essencialmente ínsita às Constitu ições escritas e é, consequentemente, para

ser considerada por este Tribunal como um dos princípios da nossa comuni­

dade (Obras Completas de Uui Barbosa, Questlio Minas x Wcmcck, MEC, 1980,

vaI. XLV, lomo IV, p. 207)

Registre-se, entretanto, nesse particular, que as Constituições Bra­silei ras IHII/ca atribuíram, pelo me/lOS em termos expressos, o exercício

do controle difuso da compatibilidade COllstitucional das leis aos órgãos

jurisdicionais de Primeiro Grau, mas somente aos Tribunais, tendo-se

alvitrado, na vigência da Carta de 1891, que somente às Cortes de Justi­ça se reconhecia esse poder; essa observação, porém. não deve ser aceita

A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUDtNCIA CONSTITUCIONAL

sem algumas reflexõ Carta Republican a.

Aliás, na Consl

especial para declara

lei , entendendo-se ql mas os doulrinadon que a decisão do Trib

lei, pudesse ser adota

Tanto é assim pelo Decreto 1939, d de inconstitucionalic

Cortes, o que perdun instituiu o quorum dt 97 da Carta de 1988).

No que tange a,

tro Célio Borja já ob~ disposição outorgante

Controle Jurisdiciona

tituc ional, Rio de Jan como já dito, deve se a, da Constituição di Federaes processar e jl

acção, ou a defesa, em

Entretanto, des; que na Carta de 1891,

tituição Americana, n que autorizasse a todo

derada il1cidentalmen

VI, parág. 2°., da Con que assim enuncia:

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s decisões judiciais tem a finalidade do controle que

ais ou admin istrativos), já

de Direito, quais sejam: as­ver a sua supremacia diante Jerência interna do sistema

.icia!, no exame objetivo de io, desde que regularmente rte envolva a aplicação de imediata à norma legal ha­~ito Constitucional seguida

a (1849- 1923), acolheu em

Jectiva doutrina, desenvol­

:liretamente ao controle da

"ida ao Juiz John Marshall s, que dizia, enfatizando o

lção:

)licaçào a leis inconstitucionais)

,as c é, cOllsequentell1ente, para

os princípios da nossa cOlI1uni ­

o lvIillas x Wemcck, MEC, 1980,

., que as Constitu ições Bra­

rmos expressos, o exercício ucional das leis (/OS órgãos te aos Tribunais, tendo-se

:omente às Cortes de Justi­

porém, nâo deve ser aceita

ÇA DA

sem algumas reflexões, tendo-se em vista o art. 60, IlI, a da Pr imeira

Carta Republicana. Aliás, na Constituição Republicana de 1891, não se exigia quorum

especial para declaração, pelos Tribunais, de inconstitucionalidade de

lei, entendendo-se que esse aspecto é apenas de técnica de julgamento, mas os doutrinadores, já naquela época, não aceitavam sem oposição

que a decisão do Tribunal, para declarar a inconstitucionalidade de uma

lei, pudesse ser adotada por maioria simples .

Tanto é assim que, pelo Decreto 958, de 1902, depois renovado

pelo Decreto 1939, de 1909, se passou a exigir, para o pronunciamento

de inconstitucionalidade, o quorum quali ficado de 2/3 dos Juízes das

Cortes, o que perdurou até a Carta Política de 1934 que, no seu art. 179,

instituiu o qUOl"ll1ll de maioria absoluta, como permanece até hoje (art.

97 da Carta de 1988).

No que tange ao controle d ifuso da constitucionalidade, o Minis­

tro Célio Borja já observou que as COllstituições Brasileiras não contêm disposição ol/torgal/le de tal junção aos órgãos inferiores da jurisdição (O

Controle Ju risdicional de Constitucionalidade, jn A Nova Ordem Cons­

titucional, Rio de Janeiro, Forense, 1990, p. 183), mas essa observação,

como já di/o, deve ser tomada com alguma cautela, pois o art. 60, 1II,

a, da Const ituição de 1891 dispunha competir aos juízes e Tribwwes Federaes processar e julgar as causas em que alguma das partes fundar a acção, ou a defesa, em disposição da Constituição Federal.

Entretanto, desafia realmente explicação histórica o motivo por

que na Carta de 189 1, em grande parte inspirada diretamente na Cons­

tituição Americana, não se tellha incluído expressamerlte um dispositivo que autorizasse a todos os órgãos da jurisdição a illaplicação da lei consi­derada incidentalmente il1col1slilucional, reproduzindo a norma do art .

VI, parág. 2°., da Constituição Americana, que lhe serviu de modelo e

que assim enuncia:

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1119

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120 I

Esta Constituição e as Leis dos Estados Unidos que, na sua conformidade,

vierem a ser feitas, bem como os tratados feitos ou que se vierem a fazer; sob

a autoridade dos Estados Unidos, serão a suprema lei territorial e os Juízes em

todos os Estados lhes estarão submetidos, ainda que a Constituição e as Leis de

qualquer Estado disponha em contrario.

Possivelmente terá sido por cautela, quiçá algum temor quanlo aos Juízes de Primeiro Grau, que os constituintes republicanos omitiram

essa previsão, porém os mais eminentes Juristas daquele tempo cedo vin­dicaram, mesmo na ausência de dispositivo collstitucional, o exercício do cOlltrole difuso da co/lStitucionalidade das leis pelos órgãos jurisdiciollais de qualquer nível, argumentando, precisamente, que essa função era

uma inerência da própria jurisdição. Nas raízes da controvérsia está a disposição do DecreLo 848, de

11.10.1890 (anterior à Carta Política de 1891), que organizou a Justiça

Federal e, no seu art. 90., 11 , parág. único, instituiu o recurso para o Supre­mo Tribunal Federal das sentenças definitivas proferidas pelos Tribunais e pelos Juízes Federais dos Estados quando contrárias ti COl'lstituição, daí

se entendendo que os Juízes Federais poderiam aplicar diretamente as

normas magnas, fazendo-as preponderar sobre as leis ordinárias. O tema, então sumamente relevante, chegou mesmo a ser exa­

minado pela Suprema Corte do País que, em hislórica decisão, em

10.02.1897, numa das primeiras questões const itucionais submet idas à sua apreciação, proclamou que os Juízes Estadllais, como os Federais, têm faculdade para, no exercício de suas jUllções, deixarem de aplicar as leis inconstitucionais (Direito, vaI. LXXIII, p. 140).

Por conseguinte, entre nós, o controle d ifuso da constitucio­

nalidade, exercido pelos ó rgãos jurisdicionais de todos os graus, não

resulta de uma norma jurídica constitucional positiva, qual se dá com

esse mesmo controle pela Cortes de Justiça, mas sim do pri11cípio lógico­-jurídico que afirma a supremacia da Lei Fundamental. Mas, além desse

A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA

JURlSPRUD~NC IA CONSTITUCION AL

fundamento essencia

para justificar o canil podem ser igualmen t(

e o de que a Carta M!

riores e posteriores, ed! direitos, assegura gar~ sua invocabilidade in:

jurídicos.

Longe de signi fi cuidade normativa, a

mente em qualquer li(

juríd ica, reforça a notl vez mais efetivos, all1J que assim apregoa se I

1891 , quando RUI BI

da constitucionalidad também uma qllestiío, -se normalmente à jUl

Já naquele temç

a alegação de inconsl

processo regularmenl

da regra cOl'lstituciona assim não fosse, devei

da norma legal quest !idade deveria atende

a que exigia, incontor Constituição, para qu legal d ispondo de me

baiano a sua pioneira

Regras todas essas (

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lS que, na sua conformidade,

ou que se;' vierem a fazer; sob

o.a lei territorial e os Juizes em

que a Constituição e as Leis de

!içá algum temor quanto ~s republicanos omitiram

; daquele tempo cedo vin*

stituciollal, o exercício do lelos órgãos jurisdicionais lte, que essa função era

içãO do Decreto 848, de

, que organizou a Just iça 'iu o recurso para o Supre­woferidas pelos Tribunais rárias à Constituição, daí

11 aplicar diretamente as ~ as leis ordinárias. legou mesmo a ser exa­n histór ica decisão. em

titucionais submetidas à l/S, COlIJO os Federais, têm :ixareJ// de aplicar as leis

difuso da consti tucio­de todos os graus, não

'Jositiva, qual se dá com

s sim do princípio lógico­mel/tal. Mas, além desse

DA

fundamento essencial mente dou trinár io e histórico, de si já bastante para justi fica r o cont role difuso da constitucionalidade das leis, outros podem ser igualmente considerados, como o da amplitude da jurisdição e o de que a Carta Magna, do mesmo modo que as leis qlle lhe são infe­riores e posteriores, editadas IUi cOlJformidade dos seus ditames, reconhece direitos, assegura garantias e illtegra a ordem normativa positiva, daí a sua invocabilidade imediata para reger situações concretas de conflitos

jurídicos. Longe de significar qualque r subtração ou redução da sua conspi ~

cuidade normativa , a aplicação dos princípios da Constituição, direta ­mente em qualquer lide, em caso de impacto com qualquer outra norma

jurídica, reforça a /lata de sua suprem idade e faz os seus comandos cada vez mais efetivos, aumentalldo a Slla quota de autoridade. A doutrina que assim apregoa se rormou, entre nós, na vigência da Carta Magna de

1891, quando RUI BARBOSA, tratando da questão do controle difuso da constitucionalidade das leis, mostrou que a questtio constitucional é também uma questão de direito COII/um, passível, portanto, de submeter­

-se normalmente à jurisdição ordinária dos Juízes. Já naquele tempo, se exigia, para a apl icação desse controle, que

a alegação de inconstitucional idade da norma legal fosse argu ida em processo regularmente instaurado e que a incidência imediata e direta da regra constitucio/lal fosse de todo illdispensáveJ fi solllção do litígio; se

assim não rosse, deveria prevalecer a presunção de constitucionalidade da norma legal questionada. Ademais, a argu ição de inconstituciona* lidade deveria atender as regras específicas de sua cognição, máxime a qlle exigia, illcolltomavelmellte, a aplicação direta de lima norma da COllStituição, para que pudesse o Jui z afastar a aplicação da previsão legal dispondo de modo diverso. assim arrematando o notável jurista baiano a sua pioneira lição:

Regras todas essas consubstanciâvds numa só que aqui deixarei lançada, como

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 112\

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elemento concorrente com as premissas anteriormente fixadas para a minha

dedução final. A inaplicabil idade do alo inconstitucional do Poder E:<eculivo

ou Legislativo decide-se, em relação a cada caso part icular, por sentença pro­

fer ida em ação adequada e executável entre as parles (Obras Completas de Rui

Barbosa, AIOS tl/col/stilllciol/a;s, 1893, p. 23).

Essa orientação Ru i Barbosa a disseminou em vários dos seus

escritos, discursos e peças processuais, daí se originando a doutrina brasileira do controle difuso da constitucionalidade das leis, hoje de­finit ivamente inse rida na cultura jurídica do País. Entretanto, advertia o insigne au tor, o controle difuso da constitucionalidade mio acarreta

a eliminação da lei do ordenamento jurídico, apenas faz prevalecer, na solução do caso concreto, a autoridade da Const ituição:

Uma coisa édeclarar a nulidade. Outra, anular. Declarara nulidade, isso o fazem

os Tribunais, legitimamente, a respeito das leis ordinárias, quando inconciliá­

vcis com a lei fundamen tal. Em tais casos, declarar nula uma lei é simplesmente

consignar a sua incompatibilidade com a Constituição, lei primária e suprema.

Hão de o fazer, porem, na exposição das razôes do julgado, como consideração

fu ndamental da sentença, e não, em hipótese alguma, como conclusão da sen­

tença e objeto do julgado (O Direito do Amazol/tls tiO Acre Setenlriolltl!, 19 10,

vol. 1, p. 103).

No mesmo sentido doutrinava, naquela mesma altura, o eminente Ministro Pedro Lessa (1859-1920, do Supremo Tribunal Federal:

Ao ju!gar as acções fundadas em preceitos constitucionaes, violados por leis

ardi na rias, não deve a Justiça Federal declarar nula a lei increpada_ A juris­

prudencia norte-america na a esse respeito é bem conhecida: a Suprema CÔrte

Federa!, observa Wi!1oughby, não julga jámais nu !la uma lei, apenas julga o

feito, sem attcnder:i lei inconstitucional, desprezando-a (Do Poder Judiei/irio,

1221 A EFiCÁCIA DA COtSA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUO~NCIA CONSTITUCIONAL

Rio de Janeiro, Franc

Esse controle dif

Supremo Tribunal Fed que incluído no tipo d restrita , em pr incipio, à

extensão do julgado (efi discriminar do tipo COII

judicial ultra partes pa

contemporâneo.

4. ASPECTOS GERAIS DO CO

LEIS E ATOS NORMATIVOS

BREVíSSIMA REFI

mestres especialistas, o i centrado de constituciOl com a promulgação da ( de outubro de 1920, de' sua form ulação primári o Professor Mauro Cap Judicial de ConstituciOl dução de AroIdo Plínio orientada, naquela alam Const itucional.

Para esse notável ~ quer pessoa co1'llpetêllcia

surgir uma lei que vinclI

devendo evitar-se lI111a t(

competência para tal a 1i

Direito, tradução de Joã

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·mente fi xadas para a m in ha

tucional do Poder Executivo

particular, por sentença pro­

,tes (Obras Completas de Rui

ou em vários dos seus originando a doutrina

idade das leis, hoje de­

lís. Entretanto, adverti a

. onalidade lIão acarreta )enas faz prevalece r, na tituição:

larar a nulidade, isso o fazem

linárias, quando inconciliá­

nula uma lei é simplesmente

çào, lei primária e suprema.

julgado, como consideração

na, como conclusão da sen­

ao Acre Setel//riol/al, 1910,

$Illa altura, o eminente Tribunal Federal:

ucionaes, violados por leis

la a lei increpada. A juris­

Dnhecida: a Suprema C6rle

lia uma lei, apenas julga o

ldo-a (Do Poder Judiciário,

Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1915, p. 138).

Esse controle difuso é também exercido - obviamente - peJo

Supremo Tribuna l Federal, pela via recursal ext raordinária, por isso que incluído no tipo difuso, daí porque a dec isão que se profere ser

restrita, em princípio, às par tes litigantes na ação, embora o critér io da

extensão do julgado (eficácia inter partes) não seja mais suficiente para o discriminar do tipo concentrado, pois a apl icação da eficácia da decisão

judicial lIltra partes parece ser uma tendência do Direito Processual

contemporâneo .

4. ASPECTOS GERAIS DO CONTROLE CONCENTRADO DE CON STITUCIONALIDADE DAS

LEIS E ATOS NORMATIVOS

BREVíSSI MA REFERÊNCIA HISTÓRICA - Conforme registram os

mestres especialistas, o início da hi stória da positivação do controle con­

centrado de const itucionalidade das leis e dos atos normativos, coincide com a promulgação da Constitui çào da República Austro-alemã, de l °.

de outubro de 1920, devendo-se ao jurista Hans Kelse n (1891-1973) a

sua fo rmulação primária, por solicitaçào do Governo, como informa o Professor Mauro Cappelletti (1927-2004), no seu livro O Controle Jud icial de Constituciona lidade das Leis no Direito Comparado (tra­

dução de Aroldo Plínio Gonçalves, Porto Alegre, Fabris, 1999, p. 68), e

orientada, naquela ahura, para a justi ficação da criação de um Tribunal Constitucional.

Para esse notável autor, se a Const ituição cOl/ferisse a toda e qual­quer pessoa competência para decidir esta questão, difiCilmente poderia surgir lima lei que vÍlJculasse os súditos do Direito e os órgãos jurídicos; devendo evitar-se uma tal situação, a COllstil uição apenas pode conferir competência para tal a um determillado órgão jurídico (Teoria Pura do

Direito, tradução de João Baptista Machado, São Paulo, Martins Fon-

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO [ 123

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teso 2000, p. 186), sendo esse, na opin ião de muitos, o mais import ante

contributo que o jurista austríaco legou à Ciência do Direito em geral e, particularmente, ao Direito Constitucional contempo râneo.

Na concepção de Kelsen, a decisão que se profe re na ação de

controle tem natureza constitutiva, o que ser ia. em linha de princípio.

incoincidente com as concepções vigorantes em out ros sistemas ju­

ríd icos europe us, mas, mesmo assim, terminou se estelldelldo a outros países da Europa, e também aos Estados Unidos, que Ilão possui Corte COllstilucional que se afine com aquele citado modelo allstríaco.

No Brasil, a adoção da fo rma concentrada de controle de consti ­

tucionalidade tem a sua gênese na EC 16, de 26. 11 .1965, à Constituição

Federal de 1946, que instituiu a representação do Procurador Ge ral da

República ao STF, contra illcollstilucionalidade de lei 011 alo de l'Ialllreza lIormativa,jederal 0 11 estadllal (art. 2°, k).

A obra juríd ica pioneira sobre esse tema é de autoria do Professor

Alfredo Buzaid ( 19 14- 199 1) - Da Ação Direta de Declaração de In cons­titucionalidade 110 Direito Brasileiro - publicada pela pr imeira vez em

1958 (São Paulo, Sa raiva), analisando d idati camente essa representação,

que para ele se configurava como 1I111a alltêlltica ação; a deno minação

de ação direta de inconstitucionalidade veio, aliás, veio a ser assi mil ada

na Carta de 1988; a esse estudo do Professor Alfredo Buza id seguiu­

-se o do Pro fessor 111emístocles Brandão Cava lcan ti (1 899- 1980) - Do Controle de Constitucionalidade (São Pau lo, Fo rense, 1966) e, depois,

vieram muitas e doutas contribuições de eminentes autores nacionais ao

estudo desse impo rtantíssimo assunto.

O (hoje superado) método da representação ao Procurador Geral da República, que vigorou por décadas, inobstante o seu inegável va lo r

intrí nseco, trazia o inconveniente de dar a esse órgão o monopólio da

iniciati va d o controle de constitucionalidade em abstrato. sendo essa a

crítica mais severa que se lhe fazia, eis que a propositura da medida

term;'!ava sendo lima decisão de ordem eminentemente administrativa e

124 I A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUOe:NCIA CONSTITUCIONAl

UllÊpessoalizada, com os formas de concenlraçãc

Mas essa evoluçih

à legitimação para sua i de relevância menor, a

con tinua pertencendo;

sempenlta incidenta /me.

repercussão ultra partes. O grande risco ~

constitucionalidade é (t

ordinarização, podendc

cionalíssima; outra am~

controle de constitucion

d os efeitos das decisões

certa forma concorrend

aceitação d e que possa <

m esmos efeitos da forr:

quanto às po tencialidad

Já se observa, aqui

bilidad e de certos julgar

sede recursal extraordill, dade), produzirem os In

em sede concentrada; a

das decisões supremas,

cada procedimento e, SI

mação subjetiva ativa p

de const itucionalidade,

de Constitucionalidade·

Direta de lnconstitucio

indesejável) perversão d tão distintos (como o I

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)s, o mais importante

do Direito em geral e, nporâneo.

~ profere na ação de

m linha de pr incípio. I outros sistemas ju­! estendendo a outros qlle não possui Corte ~/o allstríaco. ie controle de consti­.1965, à Constituição

Procurador Geral da lei 011 ato de natureza

! autoria do Professor

Declaração de Il1co1/5-?ela primeira vez em te essa representação,

ação; a denomi nação

veio a ser assimilada fredo Buzaid seguiu ­nti (1899- 1980) - Do

nse, 1966) e, depois, s autores nacionais ao

, ao ProCllrador Geral ! o seu inegável valo r rgão o monopólio da lbst ralo, sendo essa a

opositura da medida

lente administrativa e

lIf1ipessoalizada, com os conhec idos inconvenientes que ce rcam todas as

formas de concentração de poder. Mas essa evolução, com a adoção de modelo mais aberto, quanto

à legitimação para sua iniciat iva, não afetou, porém, salvantes situações de relevância mel/or, a sua forma difusa, cujo exercício, como já d ito.

continua pertencendo a qualquer órgão do Poder Judiciário, que o de­sempenha incidentalmente. em cada caso de per si (topicamellte), e sem reperwssão ultra partes.

O grande ri sco que corre a forma concentrada de controle de

constitucionalidade é (talvez) o perigo da sua banalização. ou seja, a sua

ordinarização. podendo vir a pe rder a sua característi ca de ação excep­

cionalíssima; outra ameaça que parece rondar a forma concentrada de

controle de constitucional idade é certamente a te ndência ao alargamento dos efeitos das decisões do STF, produzidas em sede de cOlltrole difuso, de certa forma concorrendo com os efeitos do método concentrado, com a

aceitação de que possa a forma difusa produzir - automaticamente - os mesmos efeitos da forma concentrada, criando lima grossa confusão, quanto às potencialidades de cada uma delas.

Já se observa, aq ui e ali, ilustres doutrinadores defendendo a possi­

bilidade de ce rtos julgamentos plenários do STF, ainda que adotados em sede recursal extmordillária (modo difuso de controle de constituciollali­

dade), produzirem os mesmos efeitos vincu lantes das decisões adotadas

em sede concentrada; apesar de tal orientação prestigiar os conteúdos

das decisões supremas, há de se levar em conta as peculiaridades de cada procedimento c, sobretudo, as suas singularidades, como a legiti ­

mação subjetiva ativa para a propositura das ações d iretas de controle

de constituciona lidade, seja na sua modalidade afirmativa (Ação Direta de Conslitucionalidade-ADC), seja na sua modalidade negativa (Ação Direta de Inconstitucionalidade-ADIN)j talvez acarrete uma certa (e

indesejável) perversão do sistema imagi nar que procedimentos judiciais

tão distintos (como o RE e as Ações Diretas) possam, nu m passe de

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1125

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mágica, igualar-se qua nto à produção de efeitos jurídicos.

De todo modo, para que uma decisão do STF seja vinculante e dotada de efeitos erga amues, se não adotada em sede concentrada, se

haverá de exigir que (peJo menos) contenha expressamente uma de­claração nesse sentido, pois do contnirio se poderá ex trair de qualquer decisão recursal do STF essa extraordiruíria e lIIagllífi caforça.

L EGI TI MAÇÃO ATI VA - Convém destaca r, sobremanei ra, que a legitimação subjetiva aUva pa ra a promoção dessas ações d iretas de con­

trole de constitucionalidade (A DC e ADIN) é conferida diretamente pela

Carta Magna (art. 103., I a IX), enquanto a legitimação para fazer subir

ao STF um pedido de controle difuso (por meio de ReCll rso Extraordiná­

rio) pertel'ICe, de ordinário, à parte processualmente habilitada, bastando

que sejam implementados os pressupostos legais ou subconstitucionaisj

essa distinção constitucional parece, a todas as luzes. relevalltíssima,

porqua nto, se fo r negligenciada, se esta rá descump rindo, ou mesmo

fraudando. de forma oblíqua ou transversa, o espírito da Constituição,

no que se refere àquela prefalada leg itimação ati va.

Na verdade, quando a Constituição confere legitimação ativa para

as ações de controle de constitucionalidade, limita a sua il/iciativa àque­

les legitimados e, por extensão, exclui quem quer que não esteja listado

no dispositivo magno, pois csses mesmos leg it imados estão indicados

em lIumems c!ausllsj de acordo com o art. 103 da Carta Magna. podcm

propor a ação di reta de inconstitucionalidade e a ação declarató ria de

constitucionalidade: I - O Presidente da República; II - a Mesa do Senado

Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de As­

sembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o

Govemador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o ProclIrador-Geral da

República; VIl - o COllse/ho Federa l da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII - partido político com represel/tação 110 Congresso Nacionalj e IX -confederação sindical OH en tidade de classe de âmbito /wciO/wl.

1261 A EflcACIA. DA COISA.JUlGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUD~NCIA CONSTITUCIONAL

Pode-se observar rador Geral da Reptíblic, de incollstitllciollalidade,

doutrina, inclusive porq

conveniência da arguiçã afastava o controle juris

tomava a dec isão de não­

se poderia cogitar de rep!

Referentemente à I vas (inciso IV) e de GOVf

exigir-se a demonstração

de inconstitucionalidade, Assembleia ou o Goverr lima norma ed itada por o

vulneração (011 a ameaça

de sua órbita jurídica. Essa or ientação é

ações de inconst itucional:

em nível nacional ; final!: que essa ação abrange as enquanto se ressa lt a que a

-membros, mas somente a Com mais razão ai

dical Oll entidade de class

a dem onstração da cham

normativo visado na ação

estabelece uma filtragem

forme acentua o Professol

Concentrado de Conslitw

essa orientação restringe (

Alvitra-se, em razã

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)s jurídicos.

do STF seja vinculante e em sede concentrada, se

expressamente uma de­

)derá extrair de qualquer

lagnífica força .

:ar, sobremaneira, que a

ssas ações diretas de con­

onferida diretamente pela

;itimação para fazer subir

de Recurso Extraordiná­

ente habilitada, bastando

lis ou subconstitucionais; as luzes, relevantíssima,

scumprindo, ou mesmo

espírito da Const ituição, tiva.

:re legitimação at iva para

lita a sua iniciativa àque­

er que não esteja listado timados estão indicados

da Carta Magna, podem

e a ação declaratória de ~a; II - a Mesa do Senado ios; IV - a Mesa de As­

{o Distrito Federal; V - o

- o Procurador-Geral da ios Advogados do Brasil;

'ngresso Nacional; e IX -

nbito nacional.

DA

Pode-se observar que foi eliminada a exclusividade do Procu­

rador Geral da República para a promoção da iniciativa de declaração

de inconstitucionalidade, situação que não ti nha o abono unãnime da

doutrina, inclusive porque, ao reservar a essa au toridade o juízo de

conveniência da arguição de inconst itucionalidade, de certa maneira

afastava o controle jurisdicional da espécie, máxime quando o PGR

tomava a decisão de não-promover o pedido, porquanto, por óbvio, não

se poderia cogitar de representação subsid iária.

Referentemente à legitimação da Mesa de Assembleias Legislati­

vas (inciso IV) e de Governadores (inciso V), detecta -se a tendência de

exigir- se a demonstração de interesse direlo ou imediato na declaração

de inconstitucionalidade, o que obstacula, por exemplo, que a Mesa de

Assembleia ou o Governador de Estado promova uma ADIN contra

uma norma editada por oulra unidade federada, sem que esteja patente a

vlllneração (ou a ameaça de mineração) a interesse ou direito integrante

de sua órbita jurídica.

Essa orienlação é deveras salutar, porque evita promoções de

ações de inconstitucionalidade por legitimados que carecem de atuação

em nível nacional; finalmente, anote-se, quanto ao objeto da ADIN,

que essa ação abrange as leis e os atos normativos federais e estaduais,

enquanto se ressalta que a ADC não abrange as leis e os atos dos Estados­

-membros, mas somente os de hierarquia federal.

Com mais razão ai nda se faz essa exigência à confederação sill ­

dical ou entidade de classe de âmbito nacional (i nciso IX), porquanto,

a demonstração da chamada pertillência temática entre a lei ou o ato

normat ivo visado na ação e os objetivos sociais da entidade promovente

estabelece uma filtragem preambu/ar da legitimação; inobstante, con­

forme acentua o Professo r Ministro GUmar Ferreira Mendes (Controle Concentrado de Constitucionalidade, São Pau lo, Saraiva, 200 1, p. 101),

essa orientação restringe o alcance da norma constitucional.

Alvitra-se, em razão disso, que os legitimados constitucionais

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1127

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para as ações di retas de controle de constitucionalidade poderiam ser

class ificados em duas categorias:

(a) os legitimados institucioll;lis ou incondi cionais, que seriam o Presidente da

República (inciso 1); a Mesa do Senado Federal (inciso Il); a Mesa da Câmara

dos Deputados (inciso 111); o Procurador-Geral da República (inciso V1); o

Conselho rederal da Ordem dos Advogados do Brasil (inciso Vil); e o partido

político com representação no Congresso Nacional (inciso VIII), e

(b) os legitimados temáticos ou condicionais, que seriam a Mesa de Assembleia

Legislativa ou da Cúmara Legislativa do Distrilo redeTa (inciso IV); o Gover­

nador de Estado ou do Distrito Federal (inciso V) e a confederação si ndical ou

entidade de classe de âmbito nacional (inciso IX), que se submetem à demons­

tração de interesse de agir na correspondente iniciativa.

Essa o rientação não importa, contudo, como à primeira vista

poderia parecer, em encurtamento injust ificável do alcance da prerro­

gat iva magna, mas certamente se rve à disciplina do seu uso - e não do

seu abuso - em benefíc io da racionalidade do próprio cont rol e de cons­

titucionalidade e da mais segura atividade da jurisdição constitucionaL

EFE ITOS DA DEC ISÃO EM SED E JURISDICIONAL CONCENTRA DA -

Deve-se di ze r que os efeitos da decisão oriunda do julgamento de uma

ADIN dependem, em larga medida, da natureza jurídica q/le se reco­nheça àquela ação, se declaratória, ou se de outra espécie (constitutiva

ou condenatória); relembre-se que é próprio da decisão jud icial decla­

ralória que produza efeitos retroativos à da ta do ato que foi objeto de

declaração (efeitos ex tlllIC, como se tem denominado), havendo quem

sustente que essa é a orientação que há de prevalece r quanto à ação de

inconst itucional idade.

Entretan to, essa orientação, apesar de calcada em lições doutri­

nárias val ios íssimas, não poderá ser seguida sem ressalvas, porquanto a

1281 A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE OE MUDANÇA OA

JURISPRUOIÔNCIA CONSTITUCIONAL

possibilidade de modllla da Le i 9.868/99, por razô socia l, passa a noção de q declarar a nu lidade da te jurídico; sendo assim, a t sos, a p lena eficácia da lei

de cer to termo prefixado

Dest ' arte, o STF, defin ir a partir de qual e' eficácia (isso é a modula

dita eficácia estará sllspe.

seus efeitos normais; ens do modelo austríaco 01/ A donal natimorta, assim (

da ação de incol1 stitucio

Paulo Bonav ides (Curso ros, 1997, p. 308).

Mas talvez não sej.

a doutrina da ação ded

sendo possível afirmar ql lIegar que a lei ;'ICOIIStituc

afirmar a prevalência de exemplo), diante da dec/ar de fácil absorção, lia searú de leis Oll atos normativos

EFEITO VI NCULANT:

!idade de uma lei possui a I

impor, incontornavelmenl

de jurisd ição, incid indo, i

mento; a inobservância da

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cionalidade poderiam ser

ais, que seriam o Presidente da

(inciso 11); a Mesa da Câmara

ai da República (inciso V I); o

Brasil (inciso VII); c o partido

'nal (inciso VII!), e

e seriam a Mesa de Assembleia

) Federa (inciso IV); o Gover­

'l e a confederação sindical ou

l, que se submetem :i dcmons­

ciativa.

, como à primeira vista

rei do alcance da prerro­la do seu uso - e não do )róprio controle de cons­

lrisdição constitucional.

iONAL CONCENTRADA _

a do julgamento de uma

~za jurídica que se reco­Ira espécie (constitutiva a decisão judicial deda­

lo alo que foi objelo de ninado), havendo quem 'alecer quanto à ação de

lcada em lições doutri~

n ressalvas, porquanto a

possibilidade de modulação de efeitos da decisão, auto rizada no art. 27

da Lei 9.868/99, por razões de segurança jurídica 011 excepcional interesse social, passa a noção de que se trata de ação constitutiva, deixando-se de

declarar a nulidade da lei objetivada desde o seu surgimento no mundo jurídico; sendo assim, a técn ica da modulação preservará, em certos ca­

sos, a plena eficácia da lei, meslllo tida por inconstitucional, até o advento de certo termo prefixado na decisão.

Dest' arte, o STF, ao declarar uma lei inconstitucional, poderá

definir a parti r de qual evento (momento ou data) essa decisão cobrará

eficácia (isso é a modulação), entendendo-se que, antes desse termo, a dita eficácia estará sllspensa e, consequentcmente, a lei produzindo os

seus efeitos normais; ensinam os doutos que essa Singularidade advém do modelo austríaco ou kelsel1iallo. que não considera a lei inconstitu­cional natimorta. assim quebrando a trad ição da natureza decla ratória

da ação de inconstitucionalidade, como explica o eminente Professor

Pau lo Bonavides (Curso de Direito Constitucional, São Paulo, Malhei­ros, 1997, p. 308).

Mas talvez não seja necessário, apenas em razão disso, rever-se

a doutrina da ação declaratória, nem afastar tal natureza da ADIN,

sendo possível afirmar que essa técn ica da modulação não importa em negar que a lei illCOllst it uciollal seja /lula desde o sel/ nascedouro. /lias em afirmar a prevalência de certos valores (como a segurallça jurídica, por exemplo). dia1lte da declaração de incollstitucionalidade, embora não seja de fácil absorção. lia seara do controle cOl/centrado, a evel/tual categoria de leis ou atos /lorlllativos que sejam apenas mudáveis.

EI:EITO VINCU l.ANTE - A decisão que proclama a inconst ituciona­lidade de uma lei possui a chamada força vinculante. que é a eficácia de se impor, incontornavelmente, a todos os juízos do País, de todos os níveis

de jurisdição, incid indo, inclusive, na solução dos processos em anda­

mento; a inobservância da força vinculante do julgamento concentrado

NAPOLEÃO NU~ES MAIA FILHO 1129

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oportuniza a reclamação ao STF, procedimento de rito sumariíssimo, destinado a assegurar a autoridade das decisões dos Tribunais.

A natureza jurídica do instituto da reclamação, hoje com assento constitucional , daí a denominação de reclamação constituciollal que lhe

dá o Professor Marcelo Navarro Ribeiro Dantas (Reclamação Constitu­cional no Direito Brasileiro, Porto Alegre, Fabris, 2000), ainda é objeto de alguma controvérsia, entendendo alguns que se trata de um recurso

(Moacir Amaral Santos), outros de uma verdadeira ação (Marcelo Ri ­beiro Dantas), e outros, ainda. de um incidente de competência (Moniz de Aragão); sem mergulha r no âmago dessa erudita discussão, pode-se afi rmar que a reclamação é medida mandamelltal de proteção do direito subjetivo de petição (Ada Pellegrilli Grinover), porquanto se destina a promover a guarda da eficácia das decisões dos Tribu nais.

A reclamação cabe, com efeito, em todos os casos em que a deci ­são judicial seja menoscabada - e não apenas nas hipóteses em que essa decisão seja adotada em sede de controle concentrado de inconstitucio­nalidade - embora nessa modalidade de decisão a atuação da reclama­ção volte-se mesmo para a defesa da própria ordem cOllstitllcional ou para assegurar a inteireza positiva da COllstituição, como diria o Professor Luís Pinto Ferreira (1918-2009), de lembradas lições.

EFICÁC IA EUGA OMNES - Parece a alguns estudiosos que a eficácia erga omues estaria ínsita no efeito vincllhll1te das dec isões concentradas de inconstitucionalidade e essa opinião são será desprezivel; contudo.

essa qualidade se ajusta melhor ao entendimento segundo o qual se pode proclamar que a plella aplicabilidade dessa decisão illdepwde por completo da atuação de qualquer outro órgão do sistema de cOl/lrole, par­ticulannente de Resolução do Senado Federal. que seria exigível. apel/as, lias casos de decisões definitivas de inconstitucionalidade. dadas pelo STF, em sede recursal extraordinária (art. 52, X da Carta Magna).

Deve-se entender que nem todas as declarações de illcomtitucio/W-

130 I A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUDIÔNCIA CONSTITUCIONAL

!idade são aparelhadas d( aquelas adotadas em sed ceção - aq lidas adotada:

contenham declaração e~

OBJETO - O objeto não comportando amplie

controlar leis e atos nom face da Const ituição; por mativos municipais esliic fo ra desse controle os at<

portarias adm inistrativas outros, cujos eventuais ví, se elevando ao nível de in

5. AS DECISÕES PRODUTORA

EFICÂCIA QUE SE DISTÊNDE N(

Analisando-se a apl tos jurídicos consistentes ordens de repercussão ela

(a) a obrigação impost;

tada) mediante um uni

é. o efeito da decisâo é

prontamente, pela exau

(b) o cu mprimcnto da (

sariamentc no tempo, I

sucessivo, isto é, dotada

comportamcntos postei

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I de rito sumar iíssimo,

dos Tribunais.

ação, hoje com assento

} constitucional que lhe

(Reclamação Cons titu­

;,2000), ainda é objeto

se trata de um recurso

eira ação (Marcelo Ri­

le competência (Moniz

jita discussão, pode-se

I de proteção do direito )orquanto se dest ina a

'ribunais.

s casos em que a deci­

hipóteses em que essa

'rado de inconstitucio­

a atuação da reclama­. constituciollal ou para

)mo diria o Professor

ões.

tudiosos que a eficácia

decisões concen tradas

desprezível; contudo, to segundo o qual se

decisão independe por )tema de controle, par­seria exigível, apenas,

'idade, dadas pelo STF, a Magna). jes de illcollstituciona-

!idade são aparelhadas do efeito vil/culante erga omlles, senão somente

aquelas adotadas em sedes concentradas, ou - e aqu i se cria uma ex­

ceção - aquelas adotadas em sede difusa (recursal ou originária) que

contenham declaração expressa nesse sentido.

OBJETO - O objeto do pedido de ADIN é absolutamente restrito, não comportando ampliação ou extensão, sendo cabível some nte para

controlar leis e atos nor mativos federais ou estaduais, contestados em

face da Const itu ição; po r conseguinte, como é óbvio, as leis e atos nor­

mativos municipais estão fora desse controle; por igua l, também estão

fora desse controle os aios no rmativos de hierarquia infe rior, como as

portarias administrativas, os regulamentos. os parece res normativos e

outros, cujos even tuais vícios se rão de natureza infraconstitucional, não

se elevando ao nível de infrações à Carta Magna.

5. AS DECISÕES PRODUTORAS DE EFEITOS INSTANTÂNEOS E AS QUE CARREGAM

EFiCÁCIA QUE SE D1STÊNDE NO TEMPO

Analisando-se a aptidão de uma coisa julgada para produzir efei­

tos jurídicos cons istentes (ou seja, a sua eficácia jurídica), vê-se que duas

ordens de repercussão ela é capaz de ensejar:

(a) a obrigação imposta pela decisâo judicial se cumpre (ou pode ser execu·

tada) mediante um único ato do obrigado (ou devedor) nela identificado, isto

é. o efeito da decisâo é (ou pode ser) imediato ou instantâneo, esgotando-se

prontamente, peja eXaustão do objeto da decisão, ou

(b) ° cumprimento da obrigação, pela sua própria natureza, se distende neces­

sariamente no tempo, por se tratar de dever jurídico (ou obrigação) de trato

sucessivo, isto c, dotad:l de eficácia prospectiva, a ser implementada em atos ou

comportamentos posteriores.

NAPOLEÃO NUNES MAIA FilHO 1131

v

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1321

Esses dois efeitos são os efeitos comuns das coisas julgadas que,

uma vez conformadas, de acordo com as regras do sistema jurídico,

somente podem ser desfeitas com o emprego de uma ação específica (a

ação rescisória), cuja admissibilidade deve superar o rigoroso filtro legal

que lhe é aplicável, por isso que essa ação se reveste de excepcionalidade, não se classificando como uma ação ordinária. A ação rescisória é velha

conhecida dos processualistas, de modo que a sua doutrina é deveras

assentada e a sua compreens,io ainda se faz seguindo-se as lições dos

grandes mestres do passado, apesar de repontarem, aqui e ali, certas sugestões para a ampliação das suas possibilidades, pelo menos para

incluir a hipótese de injustiça da decisão.

Aliás, abrindo um breve parênteses, remarque-se, sobre o tema da

rescisão do julgado por injustiça, que não se trata de assunto pacífico,

sendo a orientação dominante, porém, no sentido de não admiti-la;

contudo, relembre-se que o CPC de 1939 continha dispositivo expresso

proibindo a rescisão da decisão judicial com fundamento na sua injusti ­ça, vedação essa que não se reproduziu no CPC de 1973, o que estimula,

sem dúvida, a especulação teórica sobre a permanência - ou não - da­

quela impossibilidade processual, não obstante a jurisprudência dos

Tribunais proclamá-la, sem discrepâncias notáveis. Refletindo sobre o não esgotamento instantâneo ou imediato dos

comandos sentenciais, oriundos da incidência da norma sobre os fatos

da controvérsia concreta, o ProfessorTEORl ALBI NO ZAVASCKI, ilus­

tre Ministro do STJ, observa, com inteira pertinência, que Ilão raro, eles

têm aptidão para se projetar /10 fut/./ro, para além, inclusive, do momento

da sentença que os apreciou, e, por isso mesmo, podem sofrer mutaçôes 011

extinguir-se com o passar do tempo (Eficácia das Sentenças na Jurisdição

Constitucional, São Paulo, RT, 2001, p. 81).

Essa observação do mestre catarinense flagra às completas a re­

levância do problema e põe em evidência a necessidade de uma teoria

explicativa da permanência - ou da adaptação - da coisa julgada em

A EFICÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATI VA EM FACE DE MUDANÇA DA

JUR ISPRUD~NC I A CONSTITUCIONAL

face das inevitáveis mud, formação, máxime qUCH1(l

primetlto) se prolonga lto I

Mostra-se relevante

em contraste, em primei hierarquia, digamos: um.

julgado, mas que a matéri

entre partes distintas, afir

dica contrária àquela do (; Nesse caso, segund(

mada não sofre nenhum

nova decisão que lhe é ad", qual era, produzindo non esses efeitos sejam de natu

mas com a ressalva da açã

Pode-se extrair a cc pela superveniência de OI

importando, de forma alg

tivo; evidentemente - cor

rescisória, mas de efeitos coisa julgada que se form anterior.

Contudo, pode-se

distende no tempo, aLI sejõ

sucessivos e posteriores ~

além do tempo em que se

é continuativa e, embora

exterioriza (sentença Oll c

exemplo, os seus efeitos, ç ou o seu cumprimento, I posterior, firmada em tese

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1S das coisas julgadas que.

egras do sistema jurídico. I de uma ação específica (a perar o rigoroso filtro legal 'veste de excepcionalidade, 1. A ação resc isória é velha : a sua doutri na é deveras seguindo-se as lições dos Intarem, aqu i e ali, certas !idades, pelo menos para

\arque-se, sobre o tema da trata de assunto pacífico, :entido de não admit i-Ia;

:inha dispositivo expresso

mdamento na sua injusti ­: de 1973, o que estimula, manência - ou não - da­

nte a jurisprudência dos iveis. :antâneo ou imediato dos . da norma sobre os fatos

LBINO ZAVASCKI, ilus­nência, que não raro, eles 111, inclllsive, do momento

)odem sofrer mutações ou

:; Sentenças na Jurisdição

lagra às completas a rc ­'cessidade de uma teoria

) - da coisa julgada em

DA

face das inevitáveis mudanças factuais e jurídicas que sobrevêm à sua

formação, máxime quando se trata de res judicata cuja execução (wm ­primento) se prolollga 1/0 tempo (coisa julgada conti/llwtiva).

Mostra-se relevante anotar que uma coisa julgada pode ser posta em contraste, em primeiro luga r, com outra coisa julgada de mesma hierarquia, digamos: uma sentença ou um acórdão que transitou em julgado, mas que a matéria neles versada veio a ser objeto de outra ação, entre partes distintas. afirmando-se, nesse novo julgamento, a tese jurí­

dica contrária àquela do decisu11I anterior. Nesse CaSO. segundo a melhor doutrina, ares judialla dantes for­

mada não sofre nenhum tipo de efe ito, em razão da superveniência da

nova decisão que lhe é adversa, ou seja, a coisa julgada permanecerá tal e qual era, produzindo normalmente os seus efeitos, não importando que esses efeitos sejam de natureza i1l5tantâllea 0/1 de lIatureza continuativa, mas com a ressalva da ação rescisória, como é evidente.

Pode-se extrair a conclusão de que a coisa julgada não é afetada pela superveniência de outra coisa julgada de mesma llierarquia, não importando. de forma alguma, que seja adversa ao seu conteúdo obje­tivo; evidentemente - convém repetir - não se está cogitando de ação rescisória, mas de efeitos derivados direta e imediatamente da própr ia coisa julgada que se formou a posteriori e em adversidade àquel 'outra anterio r.

Contudo, pode-se formar uma coisa julgada cuja eficácia se disteI/de 110 tempo, ou seja. os seus efeitos se cumprem em momentos sucessivos e posteriores à sua formação, vale dizer, a sua eficácia vai além do tempo em que se forma; nesse caso, diz-se que a coisa julgada

é continuativa e, embora não possa se r atingido o próprio ato que a exterioriza (sentença ou acórdão), por passado o lapso rescisório, por exemplo, os seus efeitos, porém, podem ser afetados, ou a sua execução. ou o seu cumprimento, podem ser ati ngidos por outra coisa julgada

posterior, firmada em tese jurídica oposta.

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO ! 133

"

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Ocorrendo esse evento, qual será o destino da eficácia da coisa julgada precedente? Será que sobrepai ra incólume, diante da (nova)

coisa julgada afluente, ou de qual efeito ou qualidade dessa (nova) coisa

julgada dependerá a continuidade da eficácia da res judicata pretérita? Haveria, por ven lura, alguma diferença a se r anotada, quando ao nível da coisa julgada nova, para que a sua influência sobre a cosia ju lgada precedente fosse essa ou aquela?

6. A COISA JULGADA DE NATUR EZA CONTINUATIVA DIANTE DE DECISÃO CONCENTRA­

DA ULTERIOR ADVERSA

Na sua citada obra ressalta o preclaro doulrinador Teori Albino Zavascki que um notável elemento complicado r pode entrar no cenário das cogitaçôes da eficácia da coisa julgada, observando pertinentemente

que, no que se refere especificamente às demandas que envolvem matéria constitucional, há um ingrediente suplementar nessa discussão: o do possí­vel collflito entre o comando villculallle da sentença dada 110 caso concreto e o slIperveniente comando, igualmente vinculante, proferido em ação de controle abstrato de constitucionalidade dos preceitos normativos (op. cit.,

p.81).

Esse ingrediente suplementar é, na verdade, um elemento compli­

cador de grande densidade e um dado doutrinário de elevadíssima im­

portância na análise dessa temálica, pois coloca 110 cenário da discussão da eficácia da coisa julgada a própria sllpremacia da Carta Magna, em face do contraste que se veio a revelar, pela força da res judicata superve­niente, formada em sede concentrada.

Nesse quadro, talvez somente por inexplicável apego a uma abs­tração (grata abstração, sem dúvida), se poderia afirmar que a realidade dos fatos e das relações jurídicas se curvaria aos comandos das sentenças, sobretudo daqueles que se prolongam na sua posteridade, pois isso equi­

valeria a dizer que seria possível ao homem criar uma ent idade refratária

134 I A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JUR ISPRUD~NC IA CONSTITUCIONAL

ou. imune aos efeitos do edax rerum, como diz

que os seres humanos

potestade. Na ve rdade - é ai:

anotação - podemos id,

ção jurisdicional C01llllll

conflitos de Íl1teresses co. de controle abstrato de distintivas a que alude

de vulto, a serem obser

respectivas, conforme s de julgamentos sujeitos

Deve-se reconhe<

eficacial entre a coisa jul

e a coisa julgada difusa, que não se pode atribui decisôes idênticas se tr

uma decisão judicial to!

uma outra pós-adotada tência dos dois sistemas

(a) deverá afirmar a

segu rança jurídica, \'2

emergente, ou

(b) afirmar a prevalêr

da decisâo afluente e <

julgado?

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lestino da eficácia da coisa

Jcólume, diante da (nova) ual idade dessa (nova) coisa

ia da res judicata pretéri ta?

'r anotada, quando ao nível ência sobre a cos ia julgada

IANTE DE DECISÃO CONCENTRA-

I doutrinador Teori Albino

dor pode entrar no cenário )servando pertinentemente

'ndas que envolvem matéria r nessa discllssão: o do possí­tellça dada no Cl1S0 concreto dallte, proferido em ação de

receitas normativos (op. cit.,

Jade, llm elemenlo compli ­:inário de elevadíssima im­

~ca 110 cenário da disCllssão "aeia da Carta Magna, em rça da res judicata superve-

~plicâveJ apego a uma abs­!ria afirmar que a realidade :os comandos das sentenças, posteridade, pois isso equi­

·iar uma entidade refratária

~ÇAOA

OI/ imune aos efeitos do tempo, esse insaciável roedor das coisas - tempus edax rerulll, como dizia o poeta Ovídio - mas é fo rçoso reconhecer que os seres humanos (infel izmente) não possuem essa inimaginável

potestade. Na verdade - é ainda do Professor Teo ri Alb ino Zavascki a precisa

anotação - podemos idelll ificar algu111as notas clist intivas entre (a) a Jilll­ção jllrisdieiollaf COl1l11mellfe exercida pelo Poder Judiciário 1111 solução de conflitos de illteresses cOllcretizados e (b) a que se desenvolve 1/0S processos de controle abstrato de constitucionalidade (op. cit., p. 42); essas notas

distintivas a que alude o mestre projetam inev itavelmente d iferenças

de vulto, a serem observadas nas futura s fo rças vi nculantes ou eficácias

respectivas, conforme sejam oriundas de julgamentos concentrados, ou

de julgamentos sujeitos ao controle difuso. Deve-se reconhecer, por conseguinte, que não ocorre igualdade

eficacial entre a co isa julgada concentrada, produzida em sedes próprias,

e a coisa julgada difusa, produzida em sedes jurisd icionais comuns, pelo que não se pode at ri buir a ambas a mesma força vinculante, como se de

decisões idênticas se tratasse; de outro lado, O dissenso jurídico entre

uma decisão judicial tomada em cOl/trole difuso de constitucionalidade, e

uma outra pós-adotada em sede de colltrole collcelltmdo, dada a coexis­tência dos dois sistemas, leva o Jurisla a uma inevitável escolha de Sofia:

(a) deverá afirmar a prevalência da coisa julgada precedente, prestigiando a

segurança juríd ica, valor inegável do Direito, desprezando a decisão vinculante

emergente, ou

(b) afirm;lf a prevalência da decisão obrigatória posterior, prestigiando a força

da decisiio afluente e abalando a estabilidade das decisões judiciais trânsitas em

julgado?

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1135

,

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7. A NECESsARIA CONCILIAÇÃO OOS DOIS METODOS OE CONTROLE

A conciliação entre os dois métodos de controle de constituciona­

lidade das leis e dos atos normativos é lima necess idade, porque é igual­me nte evidente que os dois sistemas são indispens • .\veis. nas complexas

soc iedades atuais; é inegável, por outro lado, que a coexistência dos

dois métodos - del icada convivência, deve-se d izer a bem da verdade

- acarreta muitas vezes situações de confl ito que cumpre equacionar e resolver.

Importa frisar, com apoio em li ção do Professor Mauro Cappel­

Jetti, que ambos os s istemas (o difuso e o concentrado) demonstram

idêntica vitalidade e se expandem constantemente (op. cit.. pp. 68 c

74); mas se deve reconhecer que o modelo difuso most ra -se o que mais

consentâneo, linear e coerente com as funções do Judiciário, qua lquer

que seja ° nível do órgão que é convocado para aplicar ° Direito ao

caso concreto. Na verdade, convém recorda r que é da própria essência

da jurisdição escolhe r uma interpretação normativa entre várias teo­

ricamente possíveis, e que essa escolha frequentemente enfrenta lima situação de confron to entre normas, não sendo raro que tal confronto

se estabeleça com dispositivos constitucionais.

Esse conflito (ou a sua possibilidade) pode ser assim esquematiza­

da. bem como apo ntada a técnica de sua solução:

(a) o conflito ocorre entre normas de desigual hierarquia, caso em que a solu­

ção dará precedência ã aplicação da norma de nível superior:

(b) o conflito ocorre entre uma norma mais antiga e outra mais recente, quan­

do terá prevalência, em regra, a norma mais modern:l, S:llv:lntes a hipótese de

ultratividade, em matêri:l penal. e o respeito as situ:lções ditas consolidadas; e

(c) o conflito entre uma norma geral e uma especial. devendo esta ter priorida­

de de aplicação ao caso concreto.

,36

1 A EFiCÁCIA DA COISA JULGADA CONTINUATIVA EM FACE DE MUDANÇA DA JURISPRUD~NCIA CONSTITUCIONAL

Por outro lado, deI da jurisdição ( Juízos e Tr

dade de julgar de cada li

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matização. em benefíc io

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e prontamente a eficáci.

com ela incompatíveis. ordenamento; essa suge~

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que enfrenta a oposição primado da segurança jl um valor dos mais prezá,

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Cabe encontrar un

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Por outro lado, deve~se considerar que a multiplicidade de órgãos da jurisdição (Juízos e Tribunais de todos os níve is) e, sobretudo, a Iiber~

dade de julgar de cada um deles, aliadas à eventual idade de um mesmo órgão. em fases diferen tes de sua atuação, varia r de entendimento sobre a prioridade de aplicação de certa norma, provoca uma verdadeira explosão de dec isões dive rgentes, impondo a necessidade de sua s is te~

matização, em benefício da integridade do ordenamento juríd ico, sendo esse o fundamento do método concentrado de cont role.

Nesse contexto, uma solução radical e menos refletida poderia indicar que o surgimento da coisa julgada poste rior corlasse imediata e prontamente a eficácia de todas as decisões anter iores que fossem

com ela incompatíveis, tendo em vista a conservação da,s pautas do ordenamento; essa sugestão, sem dúvida , é deveras atraente, e já teve oportunidade de ser afirmada em decisão judicial monocrática que

mereceu confirmação em Tribunal Federal, mas não se poderá negar que enfrenta a oposição - consistente oposição - dos que defendem o primado da segurança jurídica, corpori ficada na coisa julgada, como um va lor dos mais prezáveis do sistema. quando diante de uma decisão adversa posterior,

É preciso pontuar que a convivência dos dois modelos deve ser harmônica. por isso que um nào pode significar a reduçào da util idade do out ro: assim, urge deixar claro que não é qua lquer decisão posterior

que tem a força de afetar a coisa julgada precedente, senão somente a que se forma em sede concentrada: se uma decisão posterior do STF, dada em sede difusa, apenas por se r adve rsa à coisa julgada precedente, zerasse imediatamente a produção de efeitos por esta última (cortasse

a sua eficácia), haveria um duro golpe no controle di fuso de const itu~

cionalidade das leis e dos alos normativos, pois todas as decisões com esse conteúdo ficariam automal icamenle suspensas, porque sujeitas aos efeitos do controle concentrado futuro,

Cabe encontrar um meio caminho entre o modelo di fuso e o

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 1137

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1381

concentrado, pois que senão, toda vez que um Juiz de Primeiro Grau ou Tribunal de Segundo Grau deparar uma alegação ou uma arguição de inconstitucionalidade, haveria de decidir aguarde-se a jurisprudência

do STF, o que seria a morte da jurisdição dos órgãos primários e secun­

dários do Poder Judiciário. Seria um rematado absurdo. Por conseguinte, se uma coisa julgada se formou - bem ou mal,

certa ou errada, justa ou injustamente - a sua eficácia há de produzir os

efeitos próprios da sua natureza, e os deverá produzir até que essa apti­

dão seja estancada por outra coisa julgada, mas desde que formada em sede concentrada, cortando o fluxo daquela prefa!ada aptidão, ou por meio da sua rescisão;contudo, os efeitos já produzidos, por óbvio, serão integralmente preservados, cessando a eficácia da res judicata somente para o tempo futuro, tratando-se de relação jurídica continuativa.

Assim, pode-se dizer que a coisa julgada (anterior) não sofre ne­nhum desgaste por força da nova coisa julgada (emergente), ainda que

em sede concentrada, mas poderá deixar de produzir efeitos, se o seu conteúdo for incompatível com o conteúdo da coisa julgada posterior (afluente), obviamente se tratando de coisa julgada continuativa ou com efeitos que se prolongam no tempo. Outra situação, como é, evidente,

decorre da procedência de pedido de rescisão do julgado precedente.

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