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Revista RecreArte 9 JUL08 - ISSN: 1699-1834 Revista RecreArte 9 > VIII - Creatividad y Creadores: Creaciones Originales > 8.2 Cuentos David de Prado Díez

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Revista RecreArte 9 JUL08 - ISSN: 1699-1834

Revista RecreArte 9 > VIII - Creatividad y Creadores: Creaciones Originales > 8.2 Cuentos

David de Prado Díez

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EO SOU O ARCO-ÍRIS DA NOITE eu sou o arco-íris da noite nascido pelas trevas nesta noite de magia me perguntam quais são as minhas cores fecham os olhos e as verão sou o choro de um menino na noite a luz nos olhos de dois namorados que se procuram no escuro os gemidos, os murmúrios, os beijos de um encontro de amor um foguete que nasce do escuro e morre no escuro na beira de um lago numa noite de festa sou os olhos de uma tigre apaixonada que ruge no mato as luzes de Broadway e de Chinatown os olhos de um gato que mia às estrelas sobre o teto da casa uma foice de lua que corta o centeio num campo de montanha

os olhos de uma raposa que resolveu não matar, esta noite os olhos de uma lebre que tranquila come a grama de um campo macio os palpites de luz de um vagalume que procura a sua companheira entre as moitas

sou os fantasmas e os bons doendes

que compõem os sonhos da noite um anão que brinca de esconder com as suas imagens a serenada de um grilo do lar um fogo fátuo que ilumina os medos do passageiro as fábulas de um avô narradas à luz dos tições queimando um vulcão que joga no céu seus rapilhos de alegria o choro de estrelas na noite de São Lourenço

sou um homem pequeno mas também sou o arco-íris desta noite de magia

uma faísca de infinito Terenzio Formenti

EM DIRECÇÃO AO PRESENTE DO NOSSO FUTURO

AS GAVETAS DA MEMÓRIA E O CAOS PROMOVEDOR DE UMA NOVA ORDEM

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EM DIRECÇÃO AO PRESENTE DO NOSSO FUTURO AS GAVETAS DA MEMÓRIA E O CAOS PROMOVEDOR DE UMA NOVA ORDEM Terenzio Formenti quem tem uma varanda a abra ao vento e ao canto do orvalho

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Terenzio Formenti nasceu em Bagolino (BS) no dia 26 de Março de 1923, filho de Angelo, farmacêutico do país, e mãe Gemma Sbarberi, com a colaboração da igreja de São Gervásio e do seu eremita. Naquele periodo, contava-se aos meninos, que antes de nascer eram guardados no poço da igreja, e que os pais tinham que os pedir ao eremita que morava lá em cima. Aos três anos foi morar em Brescia com a sua familha continuando a frequentar o país durante as férias do verão. Depois de ter concluído a escola de Letras, frequentou a universidade de farmacologia e começou a trabalhar em Brescia, na farmácia paterna. Entretanto, o universo lhe mostra em sonho o rosto da sua esposa Marisa, com quem casou no ano 1949. No 1972 deixa a profissão de farnacêutico para tornar-se psicólogo e psicoterapeuta e organizar em Brescia o Centro Persona Coppia Gruppi (Centro Pessoa Casal Grupos, N.d.t.) no qual trabalha até hoje, com uma nova forma de terapia e de promoção da harmonia do corpo pessoa, através do uso da palavra, da linguagem fotográfica e de um tipo particular de massagem corporal, fruto de uma formação realizada durante os últimos trinta anos. No 1986, o universo lhe deu o dom da poesia e na noite do dia 14 de Agosto declama, improvisando, a primeira criação, sob o título “Eu sou o arco-íris da noite”. A partir daquele momento continuou a escrever poesias e além disto, no ano de 1998 começou a compor gotas de orvalho-felicidade, as primeiras das quais nasceram também no sono e pelos sonhos. Daquela época, a cada dia, recolhendo-as também de outros poetas e vários autores, as envia no mundo inteiro, pela Internet, traduzidas em várias línguas. Até hoje as gotas chegadas ao destino são mais de 3000 e podem ser lidas na primeira página do site do autor. Nestes dias foram dadas à imprensa as primeiras 3000, preparadas sob o título: “Gotas de âmbar e caminhos de massagem com o universo”. Alguns anos faz iniciou, para lembrar a imagem do amigo Editor Enzo Bruno, que nos deixou depois de uma grave doença, uma iniciativa como psicoterapeuta-poeta, com participações em italiano, espanhol, inglês, francês e alemão na Internet sob o título "Narração catártica" na qual propõe-se, através da troca de poesias, fábulas, ritos, mitos, histórias, canções e sonhos, uma comunicação que procure e encontre no símbolo uma fonte de enriquecimento, realização e descoberta da harmonia, alegria e serenidade possível. Para quem estiver interessado a aprofundar o conhecimento do autor, a sua autobiografia “A lenda de um rabdomante” e mais de 70 suas publicações, em italiano e em outras línguas, são à disposição para a leitura e a transferência grátis no próprio computador pelo site da “Logos” de Modena, apertando nas bandeirinhas relativas, ao endereço: www.terenzioformenti.com

Impresso autonomamente com a colaboração de Maria Conter, no dia 15 de Novembro de 2007 na Colecção: “Os caminhos de um rabdomante” © by Terenzio Formenti Via Ragazzoni 17, I - 25123 - Brescia ph./fax 030.3365511 [email protected]

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Terenzio Formenti poeta e psicodramatista

colecção "Os caminhos de um rabdomante"

a Marisa encontrada no sono suspensa a um sonho do universo

EM DIRECÇÃO AO PRESENTE DO NOSSO FUTURO AS GAVETAS DA MEMÓRIA E O CAOS PROMOVEDOR DE UMA NOVA ORDEM

“gotas exaltadas de vida mágicas gotas fechadas em garrafas de cristal gotas inocentes de choro gotas de generosa primavera cristais vivos… de âmbar que goteja pelas rochas”

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EM DIRECÇÃO AO PRESENTE DO NOSSO FUTURO as gavetas da memória e o caos promovedor de uma nova ordem. Um preâmbulo com viagens e paisagens Porque este título? Um dia eu vi em um jornal local de Brescia que um psiquiatra teria tratado deste tema em uma relação pública e, como este tema me interessava, fui escutá-lo. Fiquei porém desiludido pelo fato que nos fez passar uma noite falando da depressão e dos seus vários aspectos. No final, perguntei a respeito do motivo da variação do programa e ele me respondeu, com um meio-tom de brincadeira e seriedade, que tinha falado daquilo que tinha encontrado nas suas gavetas. - Alguns anos faz, e exatamente no ano de 2003, recebi um convite para fazer parte dos relatores de uma semana da criatividade, organizada em Melfi pela Empresa Sanitária Local. Naturalmente preparei uma relação sobre o tema do encontro antes de pegar o avião para Bari: um fabuloso e microscópico bimotor no qual voei entusiasmado, competindo em número de rotações com um dos motores que voava ao meu lado. Um passageiro sentado ao meu lado me divertiu por toda a viagem sobre a necessidade para uma pessoa adulta como nós de uma relação sadia com a justa quantidade de água para engolir a cada dia. Depois de ter chegado ao congresso encontrei a surpresa de saber que a minha relação não serviria porque o meu dever seria o de fazer a cada dia o ponto da situação sobre a atmosfera do congresso, não como psicoterapeuta, mas como poeta. Acho o ambiente muito rico e enriquecedor. Já faz alguns anos que eles se encontram por toda a Itália. Os participantes são: pessoas com doenças mentais, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes sociais que se encontram para falar sobre suas actividades, que os levam a comunicar e a “dançar” entre eles, de sentido em sentido, para criar peças teatrais para representar durante o ano e para levar ao congresso. Digo: “de sentido em sentido” porque este é o título de um maravilhoso livro no qual são recolhidas frases que pertencem a pessoas que frequentam o “day hospital” de Trieste. A maravilha em lê-lo é a sensação que as palavras se transformam em carne e a carne se transforma em palavra sem deixar muito espaço para lucubrações lógicas e esquemas mentais mais ou menos predeterminados.

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Mas voltamos ao motivo pelo qual estou levando o leitor para Melfi. Os momentos do encontro programático entre os organizadores e os relatores eram os das refeições que consumávamos juntos. Em uma destas situações me lembrei de uma pergunta que queria fazer aos colegas e exatamente sobre o significado possível da amostra que as garotas, e não só, fazem dos seus umbigos aos outros. Acho de fato que isto possa ser um dos sinais dos nossos tempos. Nos perguntamos então entre nós sobre qual significado pudesse ter esta explosão. Esta pergunta, a que mais surpreendeu os presentes, não fez nascer muitas hipóteses e alguns se limitaram a me perguntar de volta quais fossem as minhas. Falei que os pontos principais que tinha achado eram dois. Primeiro: o umbigo como centro de gravidade do corpo pessoa na sua totalidade, e por isto sem deixar muito à cabeça como lugar do cérebro e da mente. Segundo: - audaz, mas com certeza mais interessante -, o umbigo como realidade e símbolo de uma centralidade entre o finito-infinito que se perde no passado (como será que nasceu o primeiro umbigo?) e de tudo que nos espera no futuro. (de quem será e quando o último umbigo?). Por isto poderia ser sentido como sinal e símbolo da memória no tempo e fora do tempo, no espaço e fora do espaço deste universo que nos pertence. A este propósito queria trazer aqui esta minha poesia nascida em uma noite de lua alguns anos faz. O título dela é “Homem” e diz: homem / o teu nome é mulher umbigo do universo alma da carne / carne da alma sol e chuva / tempestade e orvalho caleidoscópio de emoções / olho do furacão magma incandescente / que nunca coagula. Mas vamos deixar Melfi e aquela maravilhosa experiência e voltamos para o Norte, sempre de avião, sempre bimotor. Esta vez, sentada ao meu lado estava uma jovem senhora simpática e na nossa frente uma hélice que desta vez girava no sentido contrário ao nosso, como se quisesse, ao em vez de nos empurrar, nos expulsar para trás ou brincar conosco.

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Hora por hora Depois de ter alcançado este ponto deste escrito sobre a memória, sinto a necessidade de fazer uma visita às três mil e mais gotas de orvalho que desde uma dezena de anos alegram os meus dias e talvez os de outros também. Duas palavras para dizer o que são ou poderiam ser estas frases. São fruto de sonhos da noite ou mensagens que nascem dentro do sono e que se expressam como equilibrio-desequilibrio no momento do despertar. O jogo começou em uma manhã de Julho do 1998 em uma situação um pouco estranha. Era uma quente noite e dormíamos com os pés no lugar da cabeça e vice-versa, para receber aquele pouco de ar que se movia entre a janela e a porta. Sentia o cérebro em ebulição e, depois de ter pegado um pequeno registrador que tinha na mesa-de-cabeceira, registrei as frases que me vinham em mente. Consegui assim imaginar um cinquenta expressões que oscilavam entre o aforismo e o jogo de palavras. Não saberia dizer se eram mais firmes no passado ou se projetassem no futuro ou simplesmente nascessem daquele presente. O que pode ter sido significativo é que aquilo foi o começo da criação até hoje de mais de 3500 exemplares. Hoje fui procurar quantas vezes e em que modo a palavra memória aparece e é considerada nelas, e vou pôr esta operação à disposição do leitor, que sinto a necessidade de agradecer antecipadamente com esta minha poesia: OBRIGADO

obrigado a você que está me lendo olhando escutando

que me esculpe… com o seu fôlego

porque você estava existe e existirá no tempo e fora do tempo no espaço e fora do espaço …

do “nosso” universo

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Escrevendo estas palavras percebo que estou propondo algo de importante que diz respeito a memória e que enquanto estou escrevendo estou esculpindo a mim mesmo, e talvez… estou deixando-me esculpir das minhas palavras e pelo vosso escutar. Como podem ver coloquei um espaço substancioso entre uma e outra destas. A propósito do quanto estou dizendo e o discurso sobre a memória que estamos fazendo, proponho a quem está me lendo neste momento de diminuir a velocidade da leitura, se estiver interessado a aprofundar os conceitos ou de acelerar se escolher de experimentar as sensações de uma tempestade de primavera ou de uma rajada de folhas de outono. Agora as gotas de orvalho, que chamo também gotas de âmbar, entendendo gotas de resina englobadas na rocha na noite dos tempos e libertadas pelo homem pela pedra que as cuidou até hoje. Uso estas gotas também para expressar e participar1 ao cliente com a massagem, as mordidas e as carícias do universo. - 1318 A poesia é a memória dos povos e uma grande procriadora

de fantasmas -Octavio Paz- - 1417 Eu sou a memória do meu passado, mas pertence a mim

também a memória do meu futuro. Ás vezes é importante que eu me arrisque a acreditá-lo.

- 1424 "Cada palavra leva consigo a sua memória e pede de tornar-

se carne no presente do nosso corpo, para puder far-se memória em um futuro todo para in-ventar".

- 1562 A memória como defesa das, e dilatação das, vozes

profundas interiores, passadas e futuras. - 1766 O sonho folheia espirais de memória à luz de uma lua que

desenha o sono das coisas. Do livro “Fogo pintado” por <[email protected]>

1 N.d.T. - Na edição original em italiano, o autor usa muitas vezes a forma "participar a", como em "participar ao cliente".

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- 1769 Palavra, concha de ar, no mar da memória. Do livro “Fogo pintado” por <[email protected]>

- 1824 Há uma lembrança que nunca vai cheirar de mofo e é a

“memória do futuro”. - 1870 A você que agora virou o quotidiano da memória, deixa que

os teus olhos me falem de atrações e desejos. por Irene Sparagna

- 2052 Queríamos saber antes aquilo que nos acontecerá. Como é

bom porém descobrir que aquilo que nos aconteceu já estava escrito na nossa memória futura.

- 2200 Provamos a escutar o poeta e cada artista, em nós e fora de

nós, como detentor e revelador do encontro entre a memória do passado e a memória do futuro… e vice-versa.

- 2204 Vêr o umbigo como símbolo e mediação de uma síntesi entre

a memória de um passado, ninho da nossa memória, e um futuro, como lugar de uma intuição cósmica.

- 2278 Para experimentar e saborear também a memória do futuro,

porque não provar a sonhar de olhos abertos e fechados e a sentir e desenvolver as nossas intuições, sadias ou também só vagamente artísticas.

- 2505 A função do poeta é desvelar, velar e revelar a memória: do

passado e do presente, com intuições da memória do futuro. - 2859 Se o passado não deixasse espaço à memória do futuro ou

melhor ainda não produzisse e reproduzisse um contínuo nascimento, ao presente não restaria que viver de recordações.

- 2862 Aceitar e viver também o lápsus não só como erro, mas

também como possível jogo criativo que nos ajuda a in-ventar a memória do futuro.

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- 3001 É uma prerrogativa do artista, e todos nós o somos pelo menos potencialmente, saber colher e ir ao encontro das pegadas e das sombras da memória do futuro próprio e dos outros.

- 3035 Coisas sem memória, e neve fresca… e pequenos pulos de

esquilo. por Nakamura Kusatao

Concluirei com uma gota que mesmo não contendo a palavra memória, fala dela e chegou antes daquelas acimas citadas. - 56 lembrar-se de esquecer, e esquecer-se de lembrar. As vozes do corpo A propósito desta última gota, parto novamente com um fato que realmente me aconteceu e que pode nos colocar na dinâmica que é proposta por esta gota. Abro uma breve parêntese e em duas palavras queria esclarecer esta definição um pouco estranha. Acredito que a pele do nosso corpo seja talvez a parte mais profunda e mais intensa e que como tal deve ser tratada e vestida. Por isto pedi à minha esposa que me construisse com amor algumas túnicas simples mas de vários tecidos e cores, porque cada pessoa que trabalha comigo, servindo-se também da massagem, possa escolher aquela que naquele momento cai melhor, que se adapta ás suas necessidades e que a faz sentir envolvida por uma pele um pouco estranha e um pouco mágica, que dilata e enriquece de contéudo, também metafórico, aquela sua pele que é limite, mas também dilatação compartilhada e co-participada com o universo que o ou a rodeia. Tive como minha cliente uma senhora que estava à procura da sua harmonia. Já tinha feito alguns encontros verbais comigo e tinha chegado à segunda sessão, na qual tínhamos feito a massagem. Tinha vestido “a túnica” que eu chamo “do universo” para o significado que esta pode assumir. Estava trabalhando nas suas costas e tinha pedido de pôr os seus braços aos lados da cabeça como para rodeá-la e fazer uma antena parabólica de companhia. Me veio espontâneo dizer-lhe assim:- Senhora, tente deixar falar a sua mão esquerda, pedindo-lhe que dirija à cabeça uma frase direta -. Muito rapidamente ela disse:- Com

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aquela cara!... vou mudar sua fisionomia -. Pouco depois, enquanto estava massageando as costas de baixo para cima, à minha pergunta:- Qual é a sua sensação principal neste momento? Me respondeu: - Ondas de sal!2 Naturalmente o aspecto mais importante do quanto estou contando é a frase espontânea e participativa relativa à face como cabeça e o modo sintético com o qual me participava a sensação de um sal que, cavalgando as ondas do mar, alcança a cabeça partindo dos pés. Em sintési, poderia se dizer que a senhora, através da massagem, abandonava velhas respostas relativas às deduções que vinham do passado para intuir, lançada em direcção ao futuro, coisas novas, emoções e sensações que talvez pudessem ajudá-la a mudar o seu modo de pensar e de conduzir a sua vida. A este ponto não sabia como continuar a enfrentar o tema estabelecdo, e tentei partir pela ligação de lembranças no tempo e à procura e descoberta de novos percursos. Me veio em mente assim um episódio que poderia imprimir um movimento importante ao discurso sobre a memória. Estou na mansarda de uma torre antiga no centro de Brescia, conhecida pelo nome de “torre queimada”, por um incêndio que aconteceu há muito tempo. Um amigo a transformou em um escritório. Enquanto eu era seu hóspede, ele recebeu um telefonema e no entanto eu olhava ao meu redor pousando os olhos sobre tudo que me rodeava. O ambiente tem uma ária muito antiga, que me fez lembrar um passado de bandeiras, estandartes, lápides, quadros e esculturas. Improvisamente insinuou-se por uma janela um raio de sol, que pousando-se sobre uma antiga clepsidra, lhe deu luz e a re-inventou. Eis como me veio a representação em poesia de tudo que estava acontecendo. A minha fantasia me faz imaginar: “que a areia do passado/ - insinuada no pequeno buraco do presente - / fêz-se na clepsidra da vida / pólvoras de sol e estrelas / lenta… mas resolvida e alegre / encha de admiração e maravilha / o céu do “nosso” futuro” Poderia partir agora daqui para re-inventar o significado da memória na vida. A memória, diálogo dos e-ventos que se in-ventam de vento em vento, de respiro em respiro. 2 N.d.T. - Em italiano: "Cavalloni di sale!"

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Pegadas e percursos Queria pegar dois filões pelos quais partir e com os quais proceder. Porque memória do futuro? Nestes dias se casou o terceiro dos meus dezassete netos. Na manhã do dia do casamento acordei com esta pergunta que me passava pela cabeça. O que é o amor? A resposta que me veio espontânea foi: uma carícia-mordida do universo, no tempo fora do tempo, no espaço fora do espaço. A este propósito procuro qualquer material de construção para chegar a dar um sentido quase lógico à intuição e falo da história da minha paixão. Na noite do Dia dos Reis do 1948 acordei sem lembrar nenhum sonho, mas com a matemática certeza de ter conhecido na noite a minha esposa e que a teria encontrada naquele dia e que a teria re-conhecida. Naturalmente poderia pensar a uma leitura antecipada do futuro ou a um fato de instinto ou a um dom de qualquer Pai Eterno ou do mesmo universo. O fato é que estávamos todos dois indo para esquiar e quando a encontrei me deu um forte senso de certeza que fosse ela a pessoa da qual tinha colhido a imagem e que fosse ela a pessoa que teria casado. Na realidade depois de um ano que nos frequentávamos, nos casamos no dia 2 de Janeiro do sucessivo ano de 1949 e estamos hoje no sexagésimo ano que nos conhecemos, e tivemos também cinco filhos. A minha vida é rica de fatos deste tipo e que eu atribuo a uma sensibilidade particular, àquela que em térmos técnicos chama-se “Serendipity”. A quem estiver interessado a aprofundar o conhecimento desta, proponho um livro que fala dela, editora "Il Mulino", autori Robert K. Merton e Elinor G. Barber: Título: "Viagens e aventuras da serendipity". Para mim o defeito desta publicação é um excesso de teorização da memória. Isto torna a serendipity uma dedução inteligente, como se tudo procedesse pela racionalidade e por isto pelo conhecer e pelo aprender. Como se não fosse possível imaginar com criatividade, pura ou quase.

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A complementaridade dos contrários Queria fazer agora algumas hipóteses sobre uns mecanismos que se resolvem. Uma destas é o ter presente não só a complementaridade dos contrários, mas também que os contrários são os componentes da criação e da arte. Um episódio aconteceu no curso de um dos muitos encontros de formação, que ficou gravado em mim. Durante um seminário sobre a respiração abdominal, a pessoa que conduzia o grupo me perguntou a um certo ponto: - Terenzio, para voce o que é a regra? Respondi sem parar para refletir. - A regra é a excepção … à excepção. - Houve um momento de silêncio e depois tiveram que admitir que esta pudesse ser uma resposta válida e pertinente. Daquela resposta dada na semana em que tinha declamado a minha primeira poesia sob o título : “Eu sou o arco-íris da noite” nasceu uma necessidade de observar que o administrar a vida é o lugar da realização e gestão da complementaridade dos contrários. É também verdade que à pergunta que me fizeram não respondi que a regra é a transgressão à regra, mas coloquei um elemento criativo e mediador, a excepção, que poderia e deveria levar o homem a ser o artista de si mesmo e da sua relação com os outros. Há duas coisas importantes, a este respeito, que aconteceram na minha vida. A primeira: ter encontrado um professor de matemática que me interrogava duas vezes por trimestre. Na primeira brincávamos com os números e me dava nota oito no livro de ponto; na segunda aplicava a regra que dois mais dois fazia só quatro e nesta fase me dava nota quatro, quatro que nunca apareceu no boletim, onde encontrava sempre um maravilhoso oito. O outro episódio refere-se ao meu modo de trabalhar com os clientes como psicólogo. Durante um periodo da minha vida no qual estava abrindo um novo centro de consulta em um país próximo a Milão, acontecia que alguns dias tinha sete ou oito horas marcadas. Porém naqueles dias e naquelas situações, tinha organizado o meu tempo de modo a fazer consultas de quarenta e cinco minutos cada uma e dedicar os quinze minutos restantes para tirar uma soneca e sonhar. Deste modo chegava à noite discançado e repousado e talvez aprendi, daquele jeito, que os sonhos não se interpretam mas servem para fornecer ao casal cliente-psicológo um campo de

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trabalho e de elaboração fora de esquemas muito rígidos e geradores de incompatibilidade entre racionalidade, emoções e fantasia. Descobri assim que o importante não é entender o que está acontecendo, mas procurar e cultivar uma harmonia na qual o corpo pessoa torne-se não só o contentor do pensamento, mas particularmente do universo e por isto da capacidade de administrar um futuro que é no tempo e fora do tempo e que nos pertence até o nascimento e também antes. A existência das células estaminais e do seu modo de intervir e de agir nos faz intuir algo em propósito. Dois passos para trás no tempo e três cabriolas de vida E agora quero provar a divertir-me para descobrir alguns pontos que tiveram um significato particular em relação ao assunto da memória, particularmente uma memória toda para inventar ou quase. Partirei dos meus quatro ou cinco anos de vida. Estou de férias na casa de minha avó Marietta a Bagolino, meu país natal. Estou sozinho na grande casa feita de quinze quartos e, saindo no quintal à exploração e em busca de aventuras, me encontro a passar na frente da fonte na qual se lavam as roupas de casa. O meu olhar foi capturado por um inseto de discretas dimensões que, planado na água, procura salvar-se do perigo de afogar. Meus irmãos depois disseram que era um coleóptero voador chamado cetonia aurata. Porém o que me atraiu e encantou naquele momento foram as suas élitres e as suas cores que oscilavam entre o azul e o verde, com reflexos de arco-íris. Estendi um braço para a beira da fonte. e me pendurei para capturá-lo, mas a mão deslizou e me encontrei equilibrado sobre a barriga na beira da fonte e a cabeça debaixo da água. As mãos e os braços procuraram um ponto de apoio para livrar-me do perigo de afogar, não sei se na água ou nas cores que me atrairam. Depois de alguns instantes mais ou menos eternos, uma mão encontrou um ponto de apoio e recomecei a respirar. Não lembro se vi novamente o coleóptero ou se corri buscando alguém, mas com certeza aquelas cores tinham tido o tempo de molhar o meu corpo e a minha fantasia em uma dinâmica a três: vida, morte e cores de arco-íris.

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O arco-íris de Linosa Estávamos no ano de 1927 e teria que chegar no 1977 para ter um outro encontro memorável com um arco-íris todo meu. Era verão, e eu ia caminhando pela ilha de Linosa, naquele tempo quase totalmente deserta, pelo menos dos turistas, vestindo só um par de botas para rocha. Me deitava nas crateras vulcânicas apagadas para tomar sol e para capturar as energias restantes. Pulava de um bloco de rocha vulcânica para o outro, que tornavam a paesagem selvagem e magmática, mergulhava no mar para descobrir as cavernas debaixo da água. Aqui, além do mundo da rocha e da montanha, como no meu país natal, tinha aquele do mar, dos rochedos e das gaivotas. Aqui, em um dia só vivi uma experiência mais mágica ainda das outras. Saltando de rocha em rocha cheguei em uma zona da ilha na qual um estrondo chegava ritmicamente aos ouvidos, e me encontrei inebriado e capturado por uma atmosfera maravilhosa. Uma marejada selvagem comprimia a onda em uma caverna. Com uma explosão terrificante, a água vinha catapultada no sol e explodia em uma chuva de arco-íris, que levada pelo vento do mar, me enrolava magicamente. "Um orvalho de cores acarícia a minha pele / e um arrepio de sol / a enxuga suavemente … …em um jogo inifinito / se alternam as estações / desta magia /". Com estas palavras, falo em uma poesia escrita alguns anos depois. Gostaria de fazer reparar que esta foi a segunda massagem de arco-íris recbeida pelo universo, à qual respondia dialogando com ele na harmonia do silêncio. Assim tivemos chegado no ano de 1986. Me encontrava aquele ano a frequentar uma semana sobre a gestão das emoções e a realização de uma respiração abdominal em uma localidade localizada em Rosano, na planura de Alessandria e que pertencia ao Centro "Era do aquário". Tivemos dedicado a manhã a um trabalho de massagem que era praticado com corpo e alma nus. Os nossos poros da pele eram abertos ao universo e ao seu ar que nos contia, em uma dilatação e concentração que poderíamos chamar cósmica, na dimensão de um tempo fora do tempo e de um espaço fora do espaço.

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Foi assim que chegou para mim uma das intervenções mágicas que se concretizaram freqüentemente na minha vida. No fim deste trabalho os dois terapeutas nos comunicaram que aquela noite no jardim do mosteiro teríamos realizado uma performance apresentada como o "teatro do ser". A turno, cada um de nós teria, sob o olho vígil e violentamente acariciador de um farol de teatro, que representar e apresentar o próprio eu em modo criativo. A primeira intuição que me veio foi: "eu sou o arco-íris da noite ". Na onda desta certeza, como tínhamos à nossa disposição um verdadeiro vestiário teatral, comecei a procurar algo que pudesse servir para ser e me representar. Achei uma maravilhosa túnica preta com chamas vermelhas, que parecia um verdadeiro "vestido do fogo". Procurei depois algo para colocar na cabeça e escolhi um boné com corninhos e guizos, clássico chapéu dos fanfarrões das cortes da Idade Média. Senti que me faltava um instrumento musical e o encontrei em dois guizos de bronze, chamados siamês, porque unidos entre eles por uma tira de couro. Enquanto fazia estas pesquisas, fantasias como carícias se atrapalhavam como imagens relativas ao tema que tinha escolhido. Entretanto, um aguaceiro de verão chegou de repente, lavando o céu e tornando-o ideal para nos fazer gozar a chuva de estrelas daquela noite. Começaram assim os trabalhos. Um terapeuta, Leonardo Marletta, através de improvisações com o piano e mixagem de cassetas pré-registradas, fazia de coluna sonora. A terapeuta, Paola Pacifico fazia no microfóno alguns relances servindo-se de branos de poesias suas e de outros. Aconteceram coisas maravilhosas, que mesmo sendo improvisadas, pareciam realizadas por atores experientes. A minha única experiência teatral tinha sido feita no oratório de Bagolino onde, depois de ter me colocado em um berço, me disseram que tinha que fazer de tanto em tanto alguns sons de choro como "Ohé". Mas aqui, na medida que os companheiros de grupo se exibiam, a minha auto-estima diminuía. Provavelmente, o que me salvou foi que a um certo momento um companheiro me ocupou em uma sua improvisação e isto me deu uma vantagem, pois quando chegou o meu turno, já tinha "entrado na cena". Logo depois de sair no jardim

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me senti cegado pelo farol, que cortava o contato com os companheiros e me senti só e abandonado. Tomei coragem onde parecia não tivesse mais e depois de ter dado alguns enérgicos gritos com os guizos começei: "Ouçam, ouçam gente, escute tu mulher que vives perto de mim, escute tu homem que vens de longe: Eu sou o arco-íris da noite, nascido pelas trevas nesta noite de magia. Me perguntaríeis quais são as minha cores. Fechai os olhos e os vereis. Sou o choro de um menino na noite, a luz nos olhos de dois apaixonados que se procuram na escuridão. etc. etc." As imagens corriam na minha cabeça de jacto contínuo, como se tivessem encontrado a sua fonte na noite dos tempos passados e futuros... No final, depois de ter alcançado os companheiros senti perguntar de quem fosse aquela poesia que tinha declamado. Só naquele momento tomei conta do dom que recebi naquela noite de magia. Na realidade, dada a minha pouca familiaridade, no periodo escolar, com as composições de italiano, nunca teria imaginado que um dia teria escrito poesias, começando com uma pequena obra-prima. Por-dom3 e por jogo Me apressei a escrever tudo o que lembrava e assim começou para mim uma nova era, pois um novo maravilhoso jogo tinha aparecido no meu horizonte de adulto que se in-venta menino. Depois de voltado para casa tive apenas o tempo de compor novas poesias: duas para Marisa, a mulher amada e sete sobre temas do universo que nos rodeia, que uma manhã, revirando-me na cama do primeiro sol, descobri de estar com uma forte peritonite. Uma corrida de ambulãncia no hospital, exames febris de laboratório e ao meio-dia e meio já estava na sala de cirurgia, com a minha apêndice perfurada, a deixar-me cortar como uma galinha. Ficará sempre comigo a dúvida que a peritonite tivesse aparecido pela explosão poética. Mas poderia ser verdadeira também a hipótese que, ao

3 N.d.T. - Em italiano, "per-dono" é um jogo de palavras intraduzível, que significa ao mesmo tempo "perdom" e também "por-dom", ou seja "como um dom".

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contrário, pudesse ser a poesia que estava nascendo por uma peritonite incubada. Sem dúvida as minhas poesias são mais de barriga do que de cabeça, isto é algo que definirei pré-lógico ou post-lógico. Mas agora o brinquedo existia, e também o olho poético que se nutre da beleza já tinha começado a funcionar. O encontro na sala pré-operatória com Luisa, uma linda enfermeira loira que me atendia para dar-me uma injeção pré-anestésica, me fez desaparecer a dor apenas em tempo para compor num instante uma breve poesia dedicada a ela. Durante a semana na qual fiquei na cama depois da cirurgia, com o dom supletivo de uma pneumonia, compus mais cinco poesias sobre o quanto os meus olhos e os outros meus sentidos podiam capturar. Escrevi tudo na primeira manhã na qual me permitiram de sentar-me na mesa e antes de sair tinha já totalizado quatorze líricas, todas sobre temas hospedaleiros, com um olho desencantado que oscilava entre o sério e o cómico, como uma lírica dedicada à passagem do chefe de secção e dos outros médicos entre as camas dos doentes. Quando dei a Luisa o quanto tinha escrito, se comoveu até às lágrimas. É bom conseguir a fazer chorar de alegria uma garota! Acredito de ter aprendido pela primeira vez, naqueles dias de hospital, que também o sofrimento pode ser estimulante para o jogo e também para a alegria e até para a felicidade. Depois de ter chegado em casa, uma poesia me esperava para dar-me uma intuição sobre o significado do vento, que no contexto do verbo in-ventar, vira instrumento e componente da memória cósmica. É uma espécie de poesia para crianças mas subtende uma potência infinita ou quase, do sabor de criatividade pura. O título é O PASSARINHO E O VENTO DO NORTE Ela diz: sou um passarinho do bico aberto vivo de vento / o vento do norte me nutre de cheiros / de musgos e líquens de fábulas, bosques / de anões e duendes no escuro de noites / que sempre ameaçam da cor de arco-íris / que nunca morre vento / sopra mais forte / que eu possa ir / descobrir o teu ninho

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Á procura do sentido perdido Poderíamos nos perguntar qual possa ser o significado que esta lengalenga assumiu no tempo, enquanto as minhas modalidades de trabalho iam progressivamente mudando. Vivia e brincava com o vento quando era menino, seja que o percebesse ou menos; vivo, trabalho e jogo com o vento agora que sou um adulto. Se o vento acariciar um fio de erva do jardim ou uma folha no ramo, se o vento fizer cair as folhas de outuno, se o vento me alimentar do seu respiro, se eu alimentar o vento com o meu respiro, eu existo dentro e fora de mim, e quando algo relativo a ele acontecer, isto é também relativo a mim e o mesmo acontece se algo vibrar na minha vida. Eu assumo uma dimensão cósmica que segue e persegue o mistério do vento a partir do momento em que nascer, do momento em que me tocar e me acariciar e acariciar tudo e quem eu amo. Ao vento eu entrego as minha poesias, os meus sonhos, as minha gotas de orvalho e a minha alegria. Também as minhas perplexidades, as minhas insatisfações, também os meus sofrimentos talvez ele leve consigo no seu eterno peregrinar, e o presente vira assim um presente cheio, um tempo todo para viver e também para se tornar infinito. Agora, por exemplo, pode ser engraçado lembrar que estou aqui a respirar com quem está me lendo. A quem estiver interessado a este jogo do respiro, proposto em várias concretizações, consigo mesmo, com o outro que vive em nós e fora de nós e com o universo, proponho de fazer uma visita ao meu site, de clicar no centro da página inicial e de abandonar-se assim ao jogo que lá proponho, um jogo que lhe possa permitir de intuir e viver conceitos que seria impossível ou quase expressar com palavras e pensamentos. (www.terenzioformenti.com) Do in-vento ao en-canto Queria mexer agora em um outro aspecto importante da minha vida: o canto. Cantarolar e assobiar sempre foi uma das minhas características. Cantarolo quando vou deitar e cantarolo quando acordo e pelo tipo e pelas palavras do canto entendo o meu humor e acho o meu lugar entre a serenidade e a tensão. O meu repertório de canções é o da juventude, como tenho pouco material de construção referido às

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canções ouvidas sucessivamente. Cantava também minha mãe, mas só na hora certa. Eu teria cantado em qualquer momento. Mas tinha um provérbio em Brescia que ajudava minha mãe a silenciar-me. Este dizia:- quem canta na mesa e na cama é um asno perfeito.- E havia discussões e castigos também reclamando que cantar faz bem, trazendo como evidência um outro provérbio que diz :- fazer como o passarinho na gaiola que se não cantar por amor, canta por raiva.- Em referência a esta minha situação de reclamações continuas, aconteceu um interessante fato quando, querendo fazer o psicanalista, tive que submeter-me a quatro anos de análise pessoal. Para passar deste periodo ao de formação devemos submetermo-nos ao exame de um tutor, que no meu caso era uma Senhora. Logo que entrei no seu escritório, me perguntou como definiria em breve o percurso da análise feita. A minha resposta foi:- Quando era pequeno, fazia aborrecer minha mãe continuando a cantar em qualquer momento do dia, agora continuo a cantar e gostaria que também minha mãe, que já vive no outro mundo, ficasse contenta do meu caráter de pessoa que canta no belo tempo e no ruim. Em base a esta frase na qual tinha condensado o significado de um passado e de um futuro alimentados por um caminho de transformação e de libertação, recebi imediatamente o reconhecimento de um resultado positivo, mais que suficiente, da análise efetuada. Cantar significa expressar a nós mesmos e aos outros, através de frases e canções que surgem na mente, o próprio estado de alegria. Lembro que uns anos faz, no momento de acompanhar à porta para me despedir dela uma Senhora que tinha vivido comigo um tratamento terapêutico positivo, tive a surpresa de sentir-me cantar, voltando à escrivania, este trecho. “Sou feliz por morrer, mas sinto muito, sinto muito por morrer, mas sou feliz”. Me deu muito prazer intender naquele momento o significado de tudo que estava vivendo, mas também intuir toda a filosofia de vida que era subentendida naquelas palavras. A morte não é tanto a negação da vida, como momento de passagem final no além, mas pode ativar uma dinâmica positiva contínua com a vida mesma.

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Homenagens e massagens Conto agora uma pequena história que me surpreendeu muito. Habitualmente quando saio, levo comigo dentro da bolsa algumas poesias impressas em papelão como marca-livros. Gosto de presentear quando uma ocasião se apresentar. Acontece também quando pego o trem ou então estou em outra cidade, na Itália ou no exterior. Neste caso estava em Brescia e estava comprando um tiquete para entrar no cinema. Saquei da bolsa um marca-livros e, oferecendo-o à senhora do caixa, acompanhei o dom com esta expressão: - posso fazer-lhe uma mensagem, massagem, homenagem? Era natural que a palavra que estava com intenção de usar era a última, mas com surpresa usei três. Naturalmente era em jogo a minha memória naquele momento e não é fácil entender que brincadeira ela me fez ou eu a ela. Se fosse procurar a etimologia das palavras, estas seriam bastante coligadas. A mensagem é uma informação dada com uma função e naquele momento eu era o mensageiro de mim mesmo. A homenagem também significa a entrega de algo, por parte de uma pessoa, como ato de consideração ou presente. A massagem é uma das modalidade de tratamento das sessões com os meus clientes e é aquela que por mim e por eles é vivida mais como dom, em relação às outras. Normalmente, nestas situações se fala de lápsus, mas sem dúvida nos encontramos em frente a um acontecimento que não deve ser necessariamente julgado como erro, mas que pode ser pelo contrário sentido e vivido como um ato criativo que colide com o espaço da memória. Alguma dúvida e alguma proposta É tremendamente difícil para mim, neste momento da minha vida, falar sobre a memória porque estou contemporâneamente recolhendo material e escrevendo sobre outros temas que sinto partir desta e chegar a esta. Um é o tema da relação entre arte e arte-terapia, na qual acredito de expressar o conceito e os aspectos práticos do que a arte-terapia não é e não pode ser só usar, na psicoterapia, técnicas que provêm pelo mundo da arte, mas que também enfrenta o problema de ser

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arte com a pessoa que está em busca de uma sua harmonia, e ajudá-la a ser arte consigo mesmo, conosco, e com os outros. O outro tema que fermenta em mim neste tempo é aquele da vida como jogo … o jogo da vida. Tento agora procurar de qual tipo de memória tenho necessidade e necessita o homem para encontrar a solução possível aos problemas que lhe impedem de empreender um percurso de vida positiva. Não serve pensar à memória como capacidade da mente de lembrar o passado. Mas sinto que é mais útil escolher a estrada do jogo e da invenção até que a intuição encontre o espaço no qual instaurar uma disponibilidade para aceitar e realizar o novo. Também e sobretudo na memória deve-se instaurar uma disponibilidade e uma capacidade para intuir, aceitar e realizar o novo. Para que a pessoa não seja reduzida em escravidão da mente é importante descobrir, redescobrir e inventar a unidade do corpo-pessoa e nesta direção descobrir o novo e o infinito como maravilha. Outro aspecto importante é que a harmonia deve ser procurada particularmente na harmonia com o próprio mundo dos sonhos. É recuperando e inventando um modo novo de atenção à noite, espaço em que o universo traz a nós as harmonias e as desarmonias da humanidade que nós podemos descobrir e redescobrir a arte do viver. Gostaria que o homem descobrisse e redescobrisse na sua capacidade artística, criativa e mágica um ser capaz de harmonizar-se e de harmonizar si mesmo e os outros no universo que nos rodeia e nos contém. Sonhos e necessidades Existe uma palavra na língua francesa, rêverie, que é particularmente adapta para nos lembrar qual é um ponto particular de harmonia e de harmonização da pessoa humana. Tem um maravilhoso livro do autor francês Gaston Bachelard sobre o tema da “poética da rêverie” publicado também na Itália que fala dela como de uma cosa muito sábia. Podemos dizer que é o lugar prático e mágico no qual o mundo da noite se encontra com o do dia e vice-versa, o mundo da dura e suave realidade quotidiana se encontra com os sonhos, as fantasias e as magias cósmicas da noite.

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Quero provar a participar ao leitor uns aspectos práticos, vividos por mim, para dar uma idéia do quanto estou dizendo. De noite, o momento de adormecer-me é para mim o espaço da lucidez, da brincadeira que faz rir e que refere-se a possíveis aspectos alegres da noite. Pela manhã, ao contrário, é o momento de uma outra rêverie, aquela das poesias, das gotas de orvalho e das intuições criativas de alto potencial explosivo. Vos participo dois episódios. No primeiro é meia-noite, hora na qual habitualmente me deito. Uma noite, depois de uns momentos que estava tentando adormentar-me, se aproxima ao meu rosto, o rosto em preto e branco de um simpático senhor ançião, que estende a mão como para apresentar-se. Me apresso a tirar o braço debaixo do lençol para responder ao seu gesto, mas começo a rir porque percebo que estou em uma situação de imaginação eidética, próxima ao sonhar, que chega as vezes no momento de passagem entre o estar meio acordado e dormir e vice-versa. Em uma outra situação estou em vez de manhã e se aproxima a mim o meu próprio rosto, sorrindo com vontade de brincar. Como estava dizendo antes, pela manhã as vezes chegam umas poesias imprevistas. Então levanto logo para escrevê-las, seguindo o conselho de alguém que diz que as poesias, se não forem pegas quando chegarem, depois passam para os outros. Voltamos agora à rêverie porque penso que seja muito importante, e me pergunto quais realidades poderiam ser colocadas neste espaço. Como cada dia nos torna diferentes, tanto maior é a importância de cada noite que passa. Se durante o dia estamos vigeis de maneira mais ou menos constante, durante a noite estamos felizmente no poder dos sonhos, nossos e dos outros... Durante a noite não temos um confim e um limite definido e podemos espaçar no infinito nosso e dos outros. A história da minha paixão foi uma prova evidente. Somos habituados a pensar que o amor passe pelo coração, mas apaixonar-se no sono vira uma demonstração do quanto os seus percursos sejam diferentes e também muito misteriosos. Muito interessante poderia ser como e com quem respiramos de noite. Esta pergunta me ponho mesmo a nível de rêverie. É claro que nós respiramos o ar que houver naquele momento em circulação. Neste ar são dissolvidos também as respirações dos outros e das plantas e dos animais longes e próximos. No meu

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trabalho, que previlegia a promoção da harmonia do corpo pessoa, faço maravilhosos trabalhos de respiração. Parto do fazer respirar a pessoa consigo mesma, como se isto fosse possível, e depois a faço respirar com aquela parte de si que sente diferente daquela que senti mais sua e que eu chamo o "outro de si". Depois a faço respirar com o outro e com os outros, próximos e distantes, para depois propor-lhe de escutar-se respirar com o universo como outro que pertence a ele, mas também com o resto do mundo mais estranho. Um lindíssimo trabalho é colocar os componentes de um casal, que me procura para os seus problemas, sentados costas contra costas e pedir-lhes que cada um respire com os pulmões do outro. É claro que nisto e em parte também nos outros exercícios apresentados acima trabalhamos em uma situação que pertence mais ao sonho que à simples realidade. É claro que não se mistura e não se troca a respiração com o outro a nível pulmonar, a não ser a um nível de fingimento e sonho. O importante é que o casal realize uma experiência que sinta rica e que possa modificar as suas relações. Algumas vezes proponho que o façam também em casa, como jogo. Um outro trabalho maravilhoso que se pode fazer, sempre a nível de casal, para dar harmonia à relação, pode ser o dar a cada componente uma folha de papel e alguns hidrocor e fazer-lhes trabalhar de olhos fechados sobre um tema comum, perguntando que cada um se coloque no lugar do outro, para depois ajudar-lhes a vêr com os olhos abertos o que aconteceu. Estes trabalhos podem ser propostos também individualmente, pedindo-lhe que trabalhe antes com a parte de si que sente mais sua e depois com aquela que sente mais estranha, o chamado outro de si. Percebo que talvez saí do tema da memória, mas me vem também espontâneo perguntar-me:- mas então o que é a memória?- Símbolos e linguagens Mesmo expressando estas dúvidas, vou agora falar sobre um outro aspecto da memória, que podemos chamar a memória como mistério ou o mistério como memória, e como o posso usar porque vire um componente harmonioso do corpo pessoa. Esta modalidade de trabalho pode também ser usada individualmente ou com o casal ou até com um grupo de pessoas.

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O instrumento usado é o alfabeto chinês, como meio de promoção da harmonia, mas sem conhecer o significado dos símbolos. Porque escolhi este alfabeto? É um alfabeto primitivo que se constituiu aos primórdios da humanidade, e no qual o corpo se faz símbolo, se faz linguagem, se faz palavra, se faz sensação, emoção, arte, sonho, vida e memória do passado do presente e do futuro e sobretudo corpo. É composto por símbolos primários pelos quais derivam os símbolos combinados. Não é fácil para mim explicar o mecanismo que torna o uso desta linguagem um dos meios mais eficazes para voltar a dar à pessoa a possibilidade de construir, reconstruir e re-inventar a própria harmonia. Talvez é como entrar em um mundo de sonhos onde cada um compreende a si mesmo e os outros também cada um usando a sua língua. Ou então podemos fazer uma outra comparação mais mágica ainda. É como ser um grupo de meninos, que conseguem brincar felizes também cada um não conhecendo a língua dos outros, mas a inventa e se inventa com eles. Talvez a língua mais bonita de todas e de todos e de cada um é o mistério e a memória mais completa, mais mágica e mais eficaz é aquela que se alimenta do mistério. Nesta situação, e neste presente, que é no tempo e fora do tempo, no espaço e fora do espaço, é aqui mesmo que a palavra se faz corpo e vem morar entre… nós. Sobre estas experiências escrevi uma publicação que se estende também ao japonês e ao egípcio e por isto quem estiver interessado, mesmo só por curiosidade, pode pedí-lo e consultá-lo. Gostaria de conseguir a participar algo de significativo relativamente a esta experiência, que faz pensar e que se refere ainda à relação entre realidade e sonhos. É uma experiência para ser vivida, para interpretar e para reviver juntos em uma atmosfera de hospitalidade recíproca. Pode ser usada a massagem, a linguagem fotográfica, o desenho de olhos abertos ou fechados, também com um suporte musical ou encantados pela magia do silêncio. Ainda me aconteceu de ter feito a massagem do silêncio, mas não de maneira técnica com bases já experimentadas, mas de modo criativo, abandonando-me com mãos disponíveis também para inventar cada vez coisas novas. Tenho um hóspede do meu gabinete que depois de uma positiva solução dos seus problemas me pediu se fosse disponível para

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continuar a experiência com ele. Agora são sete anos que continua a frequentar-me com uma sessão semanal, porque ele acha bom demais fazer coisas sempre infinitamente novas, que abrem ao jogo, à alegria e à felicidade possível. Quase sempre conduzo eu e às vezes conduz ele, à minha escolha ou à sua escolha. Lembro que uma vez estava em pé depois de ter feito a sua massagem. Percebi de estar experimentando a sensação muito real e realística que aos tornozelos estivessem crescendo-me as asas de Mercúrio. E a coisa mais engraçada, mas também mágica, foi que depois de poucos minutos senti novamente a necessidade de olhar meus tornozelos, como se quisesse verificar se no tempo algo tivesse mudado. Me vem espontâneo neste momento dar um olhada para a língua espanhola, onde encontramos que sono e sonho são representados pela mesma palavra, sueño. Ao fim do significado do conceito de memória, poderíamos nos perguntar em que relação estão os dois âmbitos. É o sono que domina o sonho ou é o sonho que emprenha totalmente o sono, e qual espaço consegue recortar à memória e com que significado e poder. Neste momento me vem em mente a palavra ilusão. Se eu procuro em um vocabulário de inglês o verbo iludir, o encontro substituído por desiludir, traduzido com delude ou betray oneself, ou seja enganar a si mesmo. Ao contrário, me pergunto se se possa viver dignamente uma vida sadia sem iludir-se. Em inglês a palavra ilusão fica igualmente e penso que seja possível também a eles experimentá-la. Neste momento surge novamente a pergunta. Mas a memória, como se coloca entre ilusão, sentir-se desiludidos e enganar a si mesmo? Para mim, um dos truques da felicidade possível é justamente a ilusão porque é o verdadeiro modo para jogar a estar bem. Se houver desilusão, sempre tem a possibilidade de inventar uma ilusão mais satisfatória e também duradoura. A arte e a criatividade têm mesmo esta função na vida, ou seja modificar a vida hoje, neste presente que pertence ao futuro e que existe para evidenciá-lo e realizá-lo. Muito pouco podemos mudar do passado, a não ser o modo de julgá-lo, evidenciando o positivo e chegando a conclusões úteis para o futuro. O verdadeiro truque para uma boa mudança é virar as nossas clepsidras e jogar as suas pólvoras com alegria em direcção ao futuro. Me lembro de um cliente que chegou culpando a

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sua família para as suas insatisfações e incapacidade de ser feliz por si e por sua vida e que um dia, depois de um ano que nos encontrávamos, começou a falar de como tinha sido maravilhosa, e fosse até hoje, a sua família. Usei a palavra con-tente e quero participar ao leitor que esta palavra torna-se muito útil quando for usada como estímulo para nós, se a traduzirmos com a frase “tentar de ser com” e deixando manifestar as nossas capacidades de conseguirmos. Se apresenta á minha memória também um outro jogo de palavras interessante que diz respeito a nossa felicidade. Quando estamos con-fundidos, estamos mal. quando ao contrário conseguimos ser “fundidos com”, nos sentimos donos de nós mesmos e do universo. As cores da experiência e da memória Gostaria de falar agora da memória das cores. Acho que seja um aspecto importante da vida e que influencie com potência a harmonia do homem com o universo. Tenho uma lembrança particular de um diálogo feito quando trabalhava na farmácia. Uma senhora entrou e me pediu um sonífero. Me veio espontâneo fazer uma pergunta que era também uma brincadeira. - Senhora, é para sonhar em preto e branco, ou em cores?.- A resposta foi:- Porque está me perguntando, dá para sonhar em cores também?- Claro.- Respondi.- Depois de alguns dias a senhora voltou feliz e entusiasmada. - Sabe doutor, que sonhei em cores! - Acho que da memória das cores estejam cheios o homem e o universo. No meu trabalho presto muita atenção às cores e não só quando faço pintar ou desenhar quem estiver no meu escritório, mas também no uso da massagem para ajudar a pessoa a descobrir a importância do corpo e das cores do corpo pessoa. Proponho de iniciar a realização da cor da parte direita do corpo e da parte esquerda, à descoberta da parte masculina e da parte feminina, para depois passar a uma integração das duas partes, porque desta síntese possa nascer a “fusão com”. Uma outra massagem muito importante é ir à descoberta da cor que sobe pelos pés para chegar à cabeça e da que nasce pela cabeça e chega aos pés. Também neste caso a intenção é realizar uma experiência pela qual nasce a sensação de uma harmonia que seja sentida como fusão total e

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totalizante do corpo pessoa. Gostaria de parar por um momento sobre uma experiência muito bonita que ofereço aos casais, partindo por uma maravilhosa fotografia de dois arco-íris que se fazem companhia em um ambiente de montanha. Reparem que quando há dois arco-íris no céu, cada um deles é o espelho do outro. Um parte pelo amarelo, cor de laranja, vermelho, verde, azul, anil, e pára no roxo e o outro segue o percurso oposto. O céu na fotografia é dividido em três tonalidades diferentes e também a terra ressente deste concerto. Se podem convidar os componentes do casal a realizar a atmosfera que isto pode fazer nascer no outro ou então se pode convidar cada um dos dois a invertir a identidade e identificar as suas cores no corpo pessoa do outro. Em um certo momento posso intervir para fazer sentir qual nova harmonia nas pessoas possa nascer por este jogo que pode ser feito também em casa. Estes que parecem jogos de crianças, despertam ao contrário uma potência profunda que envolve todas as fibras da personalidade. Deixo entrever a quem me lê qual pode ser o envolvimento corpóreo e global que pode acontecer. A memória não diz só respeito a mente mas mora no corpo e por ele se expressa no homem como diálogo global com si mesmo, com os outros e com o universo. Neste momento estou me lembrando das palavras intuição, sincronicidade e epifania. Lembro também de um fato que possui um significado particular, mesmo sendo um dos muitos que me aconteceram. Quando era menino e estava de férias no meu país natal que é Bagolino, na pequena cidade de Brescia, no verão ia com um globo de vidro, em que se colocam os peixinhos, para fazer visita a uma fonte que se encontrava na curva da estrada que de Bagolino leva em direcção de Valdorizzo, para recolher alguns girinos, que levava para casa para vê-los mudar para rãs. No globo tinha colocado uma pedra que saía para fora da água, para que eles pudessem ir felizes no mundo quando a metamorfose tivesse sido completa. De adulto um dia passei para fazer visita à fonte, mas não a encontrei porque tinha sido destruída por causa de umas obras de alargamento da estrada. Alguns anos faz, me comunicaram que em um palheiro do país tinha uma fonte, frequentada por girinos, com uma cara de menino

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esculpida sobre uma das pedras da parede acima. Logo pensei à situação que acabei de descrever e como poderia ter sido o meu rosto que olhava os girinos pela fonte velha. Assim, me deu vontade de escrever uma poesia para a fonte nova, como já tinha escrito uma para a primeira. Eis aqui o texto:

A CARA DO MENINO da fonte em Prada esculpido no duro granizo das nossas rochas ressalta pela fonte cara de menino maravilhado no vale aos girinos às rãs sorri que brincando às escondidas entre as algas inventam dia após dia a metamorfose deles reflexos de sol criados pela água movida pelo vento encantam acariciam acalmam o sorriso enigmático de uma máscara impressa pelo homem na noite dos tempos na alma de quem... em ti sabe reconhecer-se

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Era como se tivesse imaginado que aquilo pudesse ser a escultura do meu rosto, nascida pelas mãos de um escultor na noite dos tempos. Mas a coisa mais curiosa da qual quero falar é que, enquanto eu estava imaginando deste jeito, me chegaram pela internet algumas poesias escritas por um poeta da Normandia, nas quais parecia evidente a confirmação desta rêverie. Lhe escrevi, o convidei para Bagolino e ele veio passar uns dias conosco e daqui nasceu uma bela amizade também porque dava para sentir que havia uma belíssima sintonia. Poderia falar de outras situações analógas também em relação aos sonhos, mas páro nesta. As imagens e as palavras Tenho também que dizer, por muito tempo cultivei uma iniciativa chamada “narração catártica” orientada a nível internacional, em cinco línguas, para a troca de poesias, canções, sonhos, histórias, gotas de orvalho etc. e que esta iniciativa me sensibilizou muito. Gostaria de acrescentar agora umas notícias sobre um tipo de encontro entre hóspedes que eu faço trabalhando com reproduções de obras de arte. Um dia deste ano percebi que os quadros e as instalações artísticas existentes na minha casa, obra dos meus filhos e de conhecidos, tinham se tornado para mim um diálogo mais ou menos silencioso e mais ou menos concertante. Pedi então ajuda a uma filha, máquina fotográfica à mão, para recolher e desenvolver o diálogo global em encontros particulares, entre os vários elementos. Nasceu assim um material muito rico e adapto a desenvolver, no meu trabalho, encontros particulares nos quais nascem sessões maravilhosas. Peço al cliente com quem estou trabalhando naquele momento, de achar dois ou três elementos no material que ponho à sua disposição, do qual recebam a sensação de ter descoberto qualquer dinâmica pessoal, que naquele momento resulte particularmente importante. Nascem disto sessões maravilhosas nas quais há uma significativa troca de dons, próprios do mundo da arte e dos mistérios da memória. Frequentemente depois integramos esta dinâmica com um desenho de olhos abertos ou fechados e/ou com a massagem.

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A este ponto desta minha excursão no campo da memória e das suas conexões com o meu tipo de trabalho, comunico a quem me seguiu a minha intenção de desenvolver em ulteriores publicações os dois temas basilares da resiliência e da serendipity e da sua relação com o tema da memória, reenviando ao meu site internet no próximo futuro. Despedida em versos Concluo com umas poesias que podem talvez iluminar ou tornar mais crepuscular esta minha intervenção. Esta poesia explodiu na ocasião de um concurso internacional de poesia e recebeu uma placa como homenagem ao significato particular que dava ao infinito. A DANÇA DO INFINITO quero uma rede que me balance entre sonho e realidade - para cá e para lá e que suspensa no confim entre finito e infinito apague a marca quero de pé coxo pular para cá e para lá e depois trocando de pé pular para lá e para cá quero conscientemente encontrar a inconsciência e na inconsciência brincar com a consciência quero

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colher a diferença entre o além e a fantasia fantasia e além e depois ... narrá-la aos homens que a temem e àqueles que a amam Daquele dia lancei o uso do verbo “infinir” Esta poesia foi criada por uma psicóloga, que veio conhecer o meu modo de promover no homem a harmonia do universo, voltando para o seu apartamento na cidade depois da segunda sessão. FALA DE MIM O UNIVERSO Nesta noite de outuno fala de mim o universo – a fonte confiada amiga sorri e doa jactos de luz - a lanterna pendurada descuidada volteia e emana raios de estrelas. Pequenos rostos do alto dos tetos companheiros maravilhados de tanta maravilha – Folhas e castanhas manta de seda que colora o meu caminho

por Mariavittoria Leone

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A poesia seguinte foi escrita por um cliente meu, antes de conhecer-me.

GOSTARIA Gostaria de tocar a tua mão para tocar de leve a eternidade. Entender as tuas orações, para perceber a essência da tua voz. Gostaria de deixar que o meu respiro voasse à procura de te para oferecer-te as carícias suaves da luz da alvorada. E quando o grande respiro da vida se apagar, eu estaria lá para escutar a tua lembrança … no silêncio

por Jean-Luc Pellet Deduções e intuições “tenho três anos, faço um círculo de pólvora no mundo que balança leve”. Esta é uma frase que li no livro “O homem, o peixe e o elefante” e que sinto fremir e revirar no corpo de Davide, um neto menino que corre no jardim de casa e no apartamento no qual ele vive com papai e mamãe. “É bom escutar as noites tornar-se sonho; se as escutarmos, o mundo também se faz sonho”. Esta é uma frase do mesmo livro no qual sou representado e falo como um elefante, em companhia da sua sombra. E agora direi algo que senti também muito meu, em uma conferência em Brescia nestes dias pelo analista Paolo Crepet. Houve por sua parte um convite explícito a educar-se às emoções e ser curiosos, doidos e apaixonados. Seguiu um convite a não ter medo das nossas pequenas e menos pequenas loucuras e utilizá-las para ir a descoberta da felicidade possível, e que esta não vive em uma normalidade ocultada pela procura de um excesso de racionalidade. A cultura não basta, a sabedoria não é suficiente, a racionalidade pura é esconderijo, anafetividade e perigo. Obrigado pela leitura e até a eventual próxima ocasião. O livro: O homem, o peixe o elefante pode ser pedido a: [email protected] Web: www.correnti.org

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A FÁBRICA DO ORVALHO por Romana Loda Me permito agora de propor ao leitor esta tratação, que parece soar maravilhosamente como consonância e assonância com quanto procurei de expressar. Esta tratação, que a famosa e culta galerista Romana Loda tinha escrito como mensagem de apresentação a uma mostra por ela hospedada alguns anos faz na rua Calzavellia, próximo a sua sala Multimédia Arte Contemporânea, eu a coloco habitualmente como prolusão aos meus livros nos quais apresento minhsa gotas de orvalho e de âmbar. Pensei desta vez de colocá-la neste contexto como maravilhosa proposta de dilatação das dinâmicas que no presente do nosso futuro poderão ser iniciadas e levadas para frente... Narra uma lenda que em um lugar muito longe, faz tanto tempo, alguns artistas se encontravam uma vez por ano para um jantar a base só de azeitonas. Três para cada um, para a precisão, preparadas com um tratamento muito particular. Estas deveriam ser submetidas a uma série de passagens. O rito de cozimento iniciava com a introdução cuidadosa de cada uma destas em sucessivas passagens, que iniciavam com um tordo, prosseguiam com uma codorna, um pato, um ganso, um perú, para continuar com um porco de leite, um carneiro, um bezerro, para depois terminar com um boi. O cozimento era feito em fogo baixo, no espeto e com todas as precauções do caso. Quando tudo estava pronto, se jogavam fora todos os animais usados, extraindo deles a azeitona e colocando-a com as outras em um prato que era levado para a mesa. Os convidados iniciavam a saborear com grande concentração, de olhos semi-fechados e em silêncio. Quando o jantar terminava, geralmente para a alvorada, eram depositados na mesa alguns arranjos de flores apenas cortados no jardim, pelos quais os convidados pingavam algumas gotas de orvalho para beber, único líquido em condição de não alterar o sabor das azeitonas. Naturalmente, as flores também eram a este ponto imediatamente jogadas fora, porque consideradas como simples acessórios em relação ao objectivo central do almoço. O narrador conclui que frequentemente os participantes mais cultos caíam em uma espécie de trance erótica, depois deste extraordinário evento dos sentidos. Desta lenda, encantada e ambígua como muitas outras provenientes pela mesma área cultural, não é tanto o jantar em si que interessa, com todas as suas implicações mais ou menos directas entre os sentidos e a mente,

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gosto e cultura; não as azeitonas, com o seu sabor remoto e paradísico para descobrir através do exercício da concentração, mas o orvalho, líquido neutro e alheio. As histórias, mesmo as mais imaginosas, necessitam de elementos perfeitos se não quiserem decair em banais crónacas ou anedotas, e nenhum néctare de ambrósia ou infusão de acácia bastarda teria podido substituir o orvalho. Verdadeiro líquido celeste, não é a chuva que vai e vem da terra às nuvens, mas purissimo cristal que chega diretamente do céu: mel da lua, leite das estrelas, humor primordial do cosmo. Filha da vaca ruiva da madrugada, o orvalho é Ishtar de Babilonia, a mais doce das matérias, linimento para cada ferida e panacéia para todas as doenças. Os alquimistas consideraram tão perfeita a sua composição que a elegeram como Matéria Primeira para a realização da pedra filosofal. Rainha dos estados de mutação, é levada no grémio das brisas noturnas e depositada no chão como a mais tenra e intensa das donações celestiais. Madrugada destilada, tão pura e poderosa que uma gota só basta para fazer brotar uma rosa. Matéria, claro, mas ao mesmo tempo elemento mágico capaz de uma extraordinária evocação poética. E como a poesia, cada vez que se agrega ao mundo, o transforma e o amelhora porque ilumina a vida e torna porosos os seres humanos. Lá em cima, em qualquer ângulo remoto da galáxia ainda não contaminado pelos mecanismos perversos de produção/consumo, tem a fábrica do orvalho e da fantasia, que a cada passagem da noite para o dia envia alguns reflexos de sementes de pérola, capazes de abrir o torrão mais árido e devolver a palavra ao sonho. Uma fábrica sem máquinas e sem ruído, que destila os vapores das nossas ambições mais insensatas, transformando-os em desejos novos, prontos para lançar como flexas apontadas contra a insuportável chatice de um viver à sombra dos nossos falimentos e das quedas do nosso amor próprio. Na vida, quando não conseguirmos curtir de um verso ou de uma gota de orvalho, só o poeta consegue ultrapassar às vezes os obstáculos, com os seus vôos de sadia insensatez, que lhe permitem de encontrar a força de fazer expandir em direcção ao alto o seu canto de desejo. A falta de um certo “bom senso” e a capacidade de não baixar-se ao “real” lhe permitem de vibrar entre a música e as lágrimas, entre a espuma do sonho e o pedestal do tempo. Isto o coloca no mundo e fora do mundo, em uma zona que está entre o céu e a terra, próxima à essência das coisas, ao valor das percepções e ao orvalho da manhã. A arte, orvalho plasmado em imagens, palavras, notas musicais. é um fragmento do infinito a nós enviado como possibilidade “outra”. Reconhecer-se artista

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significa certificar-se também com as implicações negativas que tudo isto implica. Nenhuma pessoa “racional”, na verdade, atarefada em agarrar um efémero bem estar, consegue admitir que se possa viver seriamente fazendo quadros, escrevendo poesias ou compondo música. O artista está sempre em febricitante ebulição, ou seja a partir do momento em que aceitou de entrar no território sagrado das suas esperanças. Eles está ali, ser das mutações, e quando consegue tirar-se de cima o último sofrimento para morrer, não deixa só algumas obras, mas azeitonas do paraíso, gotas de orvalho e faíscas de "eternidade”. Percebe que as estradas sobrecarregadas de luzes e mercadorias que estamos percorrendo, são na realidade becos sem saída; o sabe e o diz, ou melhor ainda, o grita ao vento pela cima da árvore na qual está em pé e de onde, de vez em quando, atingido por uma vertigem irresistível, se lança de cabeça para baixo na multidão indiferente. Como já o alquimista que se iludiu da idéia que as substâncias, mudando-se, mudam o mundo, assim o artista aceita de atravessar a noite mais profunda para alcançar o orvalho da alvorada. O poeta, atropelado por esta compulsão a sonhar, sublima a ânsia e canta a dilatação da consciência com a mesma predisposição da cigarra que enfrenta o verão. Suspenso entre um desejo devorador, que é mais do que a vida e a indiferença, vagueia solitário no cosmo. E quando as neblinas se desperdiçam mesmo por pouco, recolhe gotas luzentes mais do que as pérolas, das nuvens, cristais puros do orvalho mais puro. Isto o compensa de cada insulto, porque pode finalmente livrar-se da agonia de um presente mal dissimulado, para conseguir a escutar de novo as mil e mil canções que cortam as garras do “sono incosciente” e devolvem um novo sentido aos sonhos de olhos abertos. Romana Loda

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ÍNDICE EM DIRECÇÃO AO PRESENTE DO NOSSO FUTURO – As gavetas da memória e o caos promovedor de uma nova ordem Biografia do autor A Marisa Um preâmbulo com viagens e paesagens Hora por hora Gotas de orvalho As vozes do corpo Pegadas e percursos A complementaridade dos contrários Dois passos para trás no tempo e três cabriolas de vida O arco-íris de Linosa Por-dom e por jogo À procura do sentido perdido Do in-vento ao en-canto Homenagens e massagens Alguma dúvida e alguma proposta Sonhos e necessidades Símbolos e linguagens As cores da experiência e da memória As imagens e as palavras Despedida em versos Deduções e intuições A fábrica do orvalho por Romana Loda

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Terenzio Formenti : Via Ragazzoni 17- 25123 Brescia – Italia Telefax 030.3365511 - e-maiI: [email protected] www.terenzioformenti.com http://digilander.libero.it/linosanet/terenzio.html www.bagolinoweb.it ‘Gotas de orvalho dia após dia’ http://groups.yahoo.com /group/dewdrop - CDROM, DVD, Vídeo e Áudio em várias línguas - Audiocassete em italiano de poesias lidas pelo autor É autor dos livros "Poesias nascidas no verão", ‘Arraias’, ‘Poesias trazidas pelo vento’, ‘Fragmentos’, ‘Folhas espalhadas’, ‘Gotas de orvalho’, ‘Bagolino a dança do infinito’, ‘Pontos Brancos’, ‘O olhar de Brescia’, ‘Transparências’, - Livros em preparação: ‘A memória do mistério …o mistério da memória’, ‘A vida como jogo…o jogo da vida’, ‘Arteterapia: Arte como técnica de intervenção ou arte como dom recebido pelo universo para trocar com os outros compartilhando-o?’. ‘1500 Gotas de orvalho para o terceiro milênio’, em 6 línguas. ‘3000 Gotas de orvalho para o terceiro milênio’, ‘Fragmentos’, ‘Amor em poesias’, ‘A-cariciar a felicidade’ ‘Serendipity: respiração com o universo: educação e formação ao jogo e à alegria’ - Livros traduzidos em línguas estrangeiras: ‘Hojas llevadas por el viento’, ’Cometas’,‘Folhas dispersas’, ’Poems brought by the wind’, ‘Feuilles dans le vent’, ’Papierdrachen’,‘Die Talebene des Unendlichen’

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ENCONTRO COM O UNIVERSO ao corpo pessoa corre a minha mão sobre tuas redondezas trepida penetra nas rugas das tuas vales revista... os mistérios de tuas sinuosidades atenta segue os caminhos da tua mente que não respira sem o sangue dos vulcão sem o corpo dos teus sentidos escuta as vibrações de nossas veias o bater da nossa harmonia mistura o teu vento com o meu respiro atento tuas calmas e tormentosas águas com minhas gotas... de orvalho de suor de choro balouça-me no teu mar vagabundo beija minha sede de amor não me deixe sozinho percorrendo teus caminhos seguindo... os pensamentos das tuas pegadas Terenzio Formenti

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Revista RecreArte 9 JUL08 - ISSN: 1699-1834

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