david bohm e sua teoria da ordem implícita

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DAVID BOHM E SUA TEORIA DA ORDEM IMPLÍCITA Falecido em 1992, David Bohm (3) foi um dos principais físicos americanos com profundos conhecimentos da Teoria Quântica no século XX. Atuou na Universidade da Califórnia (Berkeley), no Instituto Princeton de Estudos Avançados e como professor de Física Teórica na Faculdade de Birkbeck, da Universidade de Londres. Durante seus primeiros anos de estudo adquiriu, também, conhecimentos de Historia da Filosofia e da Ciência. Para David Bohm, o Universo se encontra em um processo de evolução contínua, ponderando que a aceitação de sua teoria levaria a implicações muito grandes para a humanidade. Bohm escreveu vários livros, mas o principal é Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implícita). Outros livros foram escritos com a colaboração de B. J. Hiley, J. Krishnamurti e F. David Peat. Além disso, publicou numerosos artigos de divulgação em revistas científicas. Desenvolvida na década de 80, sua teoria do Universo é conhecida como teoria da Ordem Implícita. Ela tem por objetivo explicar o comportamento bizarro de partículas subatômicas, que os físicos da teoria quântica não conseguiam explicar. Basicamente, duas partículas subatômicas que tenham reagido entre si “respondem instantaneamente aos movimentos de uma em relação à outra, qualquer que seja distância e o tempo que as separem”, fato esse comprovado pela experiência de Alain Aspect, que foi posterior à sua teoria. Bohm sugeriu que forças subquânticas e partículas ainda não observadas pela ciência parecem estar agindo no limiar da matéria. Esta força subjacente podia ser o reflexo de uma dimensão mais profunda da realidade. Sua crença era de que o espaço-tempo podia, realmente, fazer parte de uma realidade objetiva mais profunda ainda, que ele denominou de Ordem Implícita. Dentro da Ordem Implícita tudo está interligado. Então, segundo essa teoria, as partículas subatômicas estariam agindo como se fossem amplificadores da “informação” contida em uma onda quântica. A partir dessas observações, construiu uma teoria nova e controversa do Universo, um modelo novo de realidade. Bohm fundamentou sua teoria nos conhecimentos científicos da holografia, que se baseia na interferência de ondas: se duas fontes de luz são de freqüências diferentes elas interferirão uma na outra criando um padrão de interferência. Basicamente, um holograma é o registro detalhado do comprimento de onda da própria luz, isto é, um repositório denso de “informação”. Assim, em um holograma, cada pedacinho do filme holográfico revela a forma representativa de um objeto tridimensional inteiro. Por analogia, Bohm concluiu que a Ordem Implícita se comporta de modo semelhante a um holograma. Com esse entendimento, Bohm estendeu a sua teoria a uma visão cósmica ultra-holística, na qual todas as coisas estão conectadas entre si. De acordo com esse princípio, qualquer elemento individual pode revelar ou conter “informações detalhadas sobre qualquer outro elemento no universo”. O tema subjacente central da teoria de Bohm é que “o todo indivisível da totalidade da existência faz parte de um movimento indivisível sem fronteiras”. Sua teoria nos diz, portanto, que tudo está envolvido com tudo. Assim se expressa Bohm (3): A ordem real (Ordem Implícita) foi gravada no movimento complexo dos campos eletromagnéticos, na forma de ondas de luz. Tal movimento de ondas de luz está presente em toda a parte e em princípio envolve o Universo inteiro de espaço e tempo, em cada região. O dobramento e o desdobramento tomam lugar não somente no movimento do campo eletromagnético, mas também, nos outros campos (eletrônico, protônico, etc.). Esses campos obedecem às leis da Mecânica Quântica dando origem às propriedades de descontinuidade e não-localidade. A totalidade do movimento de dobramento e o

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DAVID BOHM E SUA TEORIA DA ORDEM IMPLCITAFalecido em 1992, David Bohm (3) foi um dos principais fsicos americanos com profundos conhecimentos da Teoria Quntica no sculo XX. Atuou na Universidade da Califrnia (Berkeley), no Instituto Princeton de Estudos Avanados e como professor de Fsica Terica na Faculdade de Birkbeck, da Universidade de Londres. Durante seus primeiros anos de estudo adquiriu, tambm, conhecimentos de Historia da Filosofia e da Cincia.Para David Bohm, o Universo se encontra em um processo de evoluo contnua, ponderando que a aceitao de sua teoria levaria a implicaes muito grandes para a humanidade. Bohm escreveu vrios livros, mas o principal Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implcita). Outros livros foram escritos com a colaborao de B. J. Hiley, J. Krishnamurti e F. David Peat. Alm disso, publicou numerosos artigos de divulgao em revistas cientficas.Desenvolvida na dcada de 80, sua teoria do Universo conhecida como teoria da Ordem Implcita. Ela tem por objetivo explicar o comportamento bizarro de partculas subatmicas, que os fsicos da teoria quntica no conseguiam explicar. Basicamente, duas partculas subatmicas que tenham reagido entre si respondem instantaneamente aos movimentos de uma em relao outra, qualquer que seja distncia e o tempo que as separem, fato esse comprovado pela experincia de Alain Aspect, que foi posterior sua teoria.Bohm sugeriu que foras subqunticas e partculas ainda no observadas pela cincia parecem estar agindo no limiar da matria. Esta fora subjacente podia ser o reflexo de uma dimenso mais profunda da realidade. Sua crena era de que o espao-tempo podia, realmente, fazer parte de uma realidade objetiva mais profunda ainda, que ele denominou de Ordem Implcita. Dentro da Ordem Implcita tudo est interligado. Ento, segundo essa teoria, as partculas subatmicas estariam agindo como se fossem amplificadores da informao contida em uma onda quntica. A partir dessas observaes, construiu uma teoria nova e controversa do Universo, um modelo novo de realidade.Bohm fundamentou sua teoria nos conhecimentos cientficos da holografia, que se baseia na interferncia de ondas: se duas fontes de luz so de freqncias diferentes elas interferiro uma na outra criando um padro de interferncia. Basicamente, um holograma o registro detalhado do comprimento de onda da prpria luz, isto , um repositrio denso de informao. Assim, em um holograma, cada pedacinho do filme hologrfico revela a forma representativa de um objeto tridimensional inteiro. Por analogia, Bohm concluiu que a Ordem Implcita se comporta de modo semelhante a um holograma.Com esse entendimento, Bohm estendeu a sua teoria a uma viso csmica ultra-holstica, na qual todas as coisas esto conectadas entre si. De acordo com esse princpio, qualquer elemento individual pode revelar ou conter informaes detalhadas sobre qualquer outro elemento no universo. O tema subjacente central da teoria de Bohm que o todo indivisvel da totalidade da existncia faz parte de um movimento indivisvel sem fronteiras. Sua teoria nos diz, portanto, que tudo est envolvido com tudo. Assim se expressa Bohm (3):A ordem real (Ordem Implcita) foi gravada no movimento complexo dos campos eletromagnticos, na forma de ondas de luz. Tal movimento de ondas de luz est presente em toda a parte e em princpio envolve o Universo inteiro de espao e tempo, em cada regio. O dobramento e o desdobramento tomam lugar no somente no movimento do campo eletromagntico, mas tambm, nos outros campos (eletrnico, protnico, etc.). Esses campos obedecem s leis da Mecnica Quntica dando origem s propriedades de descontinuidade e no-localidade. A totalidade do movimento de dobramento e o desdobramento pode se estender imensamente alm do que se revela s nossas observaes. Ns chamamos esta totalidade pelo nome de holomovimento.Segundo sua teoria, o holomovimento atua dentro de uma realidade multidimensional, que se desdobra em subtotalidades independentes (tais como, os elementos fsicos e as entidades humanas), com relativa autonomia. Para ele, o holomovimento representa essa totalidade indescritvel e desconhecida, sendo a base fundamental de toda a matria.De outro lado, o mundo manifestado parte do que Bohm chamou de a ordem explcita, em contraposio ordem implcita, dela derivando ou fluindo e, portanto, ela secundria. Dentro da Ordem Implcita, h uma totalidade de formas, as quais possuem uma espcie aproximada de recorrncia (mudana), estabilidade e separatividade. So estas formas que se apresentam como nosso mundo fsico.Bohm sugere que, em vez de se pensar em partculas como realidade fundamental, o foco deve ser posto em discretos quanta de energia, semelhantes s partculas num campo contnuo. Com base neste campo quntico, Bohm, partindo do microcosmo para o macrocosmo, desdobra a Ordem Implcita em trs nveis e os explica usando os conceitos de campo quntico e campo contnuo. Dentro desses campos e em suas interfaces se faz a transferncia de informao do mais simples para o mais complexo e, vice versa, do todo para o mais simples, para animar, guiar e organizar o campo quntico original, ou seja, este holomovimento que d condies energticas para as partculas atuarem no mundo tridimensional da matria.A Ordem Implcita permeia tudo. Tudo o que e ser neste universo est envolvido dentro da Ordem Implcita. H um movimento csmico especial que movimenta o processo de dobramento (enfolding) e de desdobramento (unfolding), na forma da ordem explcita. Este processo do movimento csmico, em ciclos de realimentao, cria uma variedade infinita de formas e mentalidade. Bohm de opinio que a Inteligncia Csmica fundamental est envolvida neste processo de experimentao e criao infindvel. Este Ente, a Mente Csmica, est se movendo ciclicamente sempre e sempre para frente, resultando uma infinidade de seres experientes (evoludos).O modelo csmico estrutural esboado por Bohm inclui um exame detalhado dos seguintes temas: a Base de Toda Existncia, a Matria, a Conscincia e o pice Csmico. Vamos resumir, nos pargrafos seguintes, o seu pensamento sobre os referidos temas, centro do seu modelo da Ordem Implcita:Para Bohm, a base de toda a existncia uma energia especial que ele chama de plenitude, uma imensa fonte original de energia. A energia dessa fonte concentra-se em um movimento total e absoluto que o holomovimento. A Ordem Implcita decorre do holomovimento. Por sua vez, da Ordem Implcita que emana a ordem em cada aspecto perceptvel do mundo (harmonia universal) e, ao final, todos os aspectos se integram no holomovimento indefinvel e incomensurvel e, tambm, dele esto emergindo todos os novos conjuntos. o fluxo da matria manifestada e interdependente em direo conscincia.Com relao matria animada e inanimada, Bohm considera a partcula como sendo o mais essencial bloco de construo da matria. Para ele, a partcula , fundamentalmente, uma abstrao que se manifesta aos nossos sentidos. O Universo inteiro feito de matria, manifestada por meio de uma totalidade de conjuntos. Estes conjuntos agem e interagem segundo uma srie ordenada de estgios de dobramento e o desdobramento que, em princpio, permeiam e interpenetram um ao outro por meio de todo o espao, mas enfatiza sempre que a ordem explcita sempre derivada e secundria. Exemplifica a realidade dimensional, mostrando a relao de duas imagens televisadas de um aqurio em que um peixe visto de frente numa das imagens e de lado na outra. O que visto uma relao entre as imagens que aparecem nas duas telas. Ns sabemos, assinala Bohm, que as duas imagens do aqurio so atualidades que interagem, mas elas no so duas realidades que atuam independentemente. Ao contrrio, elas se referem a uma nica atualidade, que a base comum de ambas. Para Bohm, esta nica atualidade de uma dimensionalidade mais elevada, porque as imagens da televiso so meras projees em duas dimenses de uma realidade que existe em trs dimenses e que contm estas duas projees dimensionais dentro dela. Estas projees so apenas abstraes, mas a realidade tri-dimensional no nenhuma destas, ao contrrio, alguma coisa diferente de ambas as imagens, algo como uma natureza real que existe alm de ambas.Com relao evoluo no Universo, a teoria de Bohm afirma que ela existe porque as diferentes escalas de dimenses da realidade j esto implcitas em sua estrutura. Bohm utiliza a analogia da semente sendo informada para produzir uma planta viva. O mesmo pode ser dito de toda matria viva. A vida est envolvida na totalidade e, mesmo quando ela no se manifesta de alguma forma ela est implcita. O holomovimento a base tanto da vida como da matria. No h dicotomia.Com relao conscincia, Bohm conceitua que conscincia mais que informao e crebro; ao contrrio, ela a informao que entra no crebro. Para Bohm, a conscincia envolve cincia, ateno, percepo, o ato do entendimento e talvez at mais. Continuando, diz: a conscincia pode ser descrita em termos de uma srie de movimentos. Basicamente, um movimento d lugar ao prximo, em cujo contexto ele estava implcito e agora se explicita, enquanto que o contedo do (movimento) anterior se tornou implcito. A conscincia um intercmbio: ela um processo de retroalimentao (feedback) que resulta em uma acumulao crescente do conhecimento. Bohm trata tambm da conscincia coletiva, denominando-a de conscincia coletiva da humanidade e d a ela maior significao do que conscincia individual. Valorizando a conscincia coletiva, a humanidade, na medida em que realiza com sucesso sua espiritualidade, caminhar ntegra em direo a uma maior dimenso da realidade a Plenitude Csmica. Afirma que o Homem tem um destaque especial no Universo e que este seria incompleto se no houvesse o Homem para valid-lo (antropocentrismo).Com relao Plenitude Csmica, o nvel mais elevado no Universo, Bohm refere-se a ela como sendo a fonte do no-manifestado, do Sutil No-Manifestado, alguma coisa semelhante a esprito, um movente, mas ainda matria no sentido em que ela uma parte da Ordem Implcita. Para Bohm, o Sutil No-Manifestado uma inteligncia ativa superior a qualquer energia definida pelo pensamento. Bohm afirma diretamente: h uma verdade, uma atualidade, um ser superior que pode ser alcanado pelo pensamento e isso inteligncia, o sagrado, o santo.H certos atributos que podem ser discernidos do modelo csmico de Bohm. So eles: a Ordem, a Inteligncia, a Individualizao, a Criatividade e o senso de Perfeio. Em sua obra Wholeness and the implicate order (O Todo e a ordem implcita), j citada anteriormente, Bohm estuda pormenorizadamente esses atributos. Ns os apresentamos, a seguir, resumidamente:A ordem a lei universal que mantm tudo interligado. a prpria energia csmica que ele, tambm, denomina de lei do holomovimento. Seu ponto de vista a do Todo que propicia novos todos ou sistemas interdependentes.A inteligncia puramente ativa, nada mais sendo que a conscincia filtrada, por meio da qual se obtm o discernimento. Bohm considera o pensamento como sendo basicamente uma operao mecnica. a inteligncia que torna relevante o processo mecnico do pensamento. Ele acredita que, se a inteligncia um ato de percepo no condicionado, ento a inteligncia no pode ser encontrada em estruturas tais como clulas, molculas, tomos e partculas elementares. Segundo Bohm, a operao da inteligncia deve estar alm de quaisquer fatores que podem ser includos em qualquer lei conhecida. A base da inteligncia deve estar no fluxo indeterminado e desconhecido, que tambm a base de todas as formas no definidas da matria. Para Bohm, a inteligncia sempre esteve no mago da Ordem Implcita.A individualizao no recebe muita ateno de Bohm, sendo a este respeito um tanto reservado. Para ele, supor que cada ser humano uma realidade independente que interage com outros seres humanos e com a natureza uma simples projeo, mas d nfase na coletividade, isto , valoriza a ao coletiva da sociedade como um todo.Com relao criatividade, ele a chama de o Ente do Processo Csmico, sendo pura energia. Este ente inteligente, consciente, criativo e , tambm, uma pessoa! Isso nos parece uma definio mais apropriada ao conceito de esprito.Sobre a perfeio, Bohm a define como um ser alm do que o nosso pensamento possa imaginar, nomeando o Sutil No-Manifestado de perfeito no sentido de que ele o Todo. uma presena com energia csmica. O modelo csmico de Bohm sugere tambm que esta perfeio existe desde a criao do cosmo. Ela est presente no processo cclico do universo. Ela pura inteligncia ativa, a partir da qual tudo que manifesto, do cosmo provm. Ela age por meio de uma intromisso na conscincia. Ela absorve informao em muitos nveis da conscincia, em todas as formas de vida. a Ordem Implcita que a Base de Toda a Existncia.Bohm trata, tambm, do conceito de peregrino csmico, ttulo dado Humanidade em geral. A Humanidade a peregrina de um processo csmico. Sobre a condio humana e sobre os males resultantes da desordem (que causam sofrimento) e morte, Bohm acredita que no existe desordem ao nvel da universalidade no-humana; ao contrrio, ela reside no nvel da humanidade, principalmente por causa da ignorncia. A Natureza deu humanidade o poder da luxria para fazer erros, porque a humanidade deve ter a possibilidade de ser criativa. o nosso poder de escape nesse processo csmico que nos coloca nestas circunstncias de escolha e possvel caos. A desordem e o conseqente sofrimento prevalecero enquanto todos os diferentes elementos (de qualquer sistema dado, seja o de um ser humano ou da sociedade humana) crescerem catica e independentemente um do outro, no trabalharem em conjunto.Bohm considera o mal da Ignorncia um problema de mente fechada. Ele a considera a escurido do crebro humano. o problema do ego humano fechado Mente Universal, suprema inteligncia que se comunica na forma de intuio, que a percepo pura. Por causa do baixo nvel de desenvolvimento de nosso ego (manifestado pela nossa vaidade, nossos medos e presses emocionais, nossos pontos de vista ignorantes e nossa super extroverso), a intuio freqentemente desviada por uma mente fechada. O oposto de uma mente fechada a abertura para a interioridade. Os seres humanos precisam olhar para si mesmos para serem receptivos intuio.A viso global de Bohm sobre o destino humano simples e direta, pois para o cientista, a conscincia da humanidade nica e no verdadeiramente divisvel. Cada pessoa tem a responsabilidade para alcanar isso e nada mais, uma vez que no h outra sada. absolutamente isso que tem que ser feito e nada mais pode funcionar.Bohm acredita que apenas por meio de uma cooperao coletiva pode o homem atingir o alto grau de energia necessria para alcanar o todo da conscincia da humanidade a Plenitude.DAVID BOHM E SUA TEORIA DA ORDEM IMPLCITA

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