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  • 7/23/2019 Dasho Karma Explica Fib

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    Dasho Karma Ura explica o FIB Felicidade Interna Bruta

    Dasho Karma Ura, Mestre em Poltica, Filosofia e Economia pela Universidade

    de Oxford, Inglaterra, e vice-presidente do Conselho Nacional do Buto.

    Presidente do Centro para os Estudos do Buto fundado pelo Programa de

    Desenvolvimento das Naes Unidas (PNUD) para formular as anlises

    estatsticas do FIB.

    ORIGEM do FIB

    O atual rei do Buto, 5 na histria do pas, proclamou que a materializao da

    viso do FIB ser uma das quatro principais responsabilidades do seu reinado.

    A meta ltima que nortear as mudanas sociais, econmicas e polticas no

    Buto ser o FIB Felicidade Interna Bruta. Sua Majestade o Rei disse que

    uma sociedade baseada no FIB significa a criao de uma sociedade

    iluminada, na qual a felicidade e o bem estar de todas as pessoas e de todos

    os seres sencientes o propsito ltimo da governana. Em abril de 1986, a

    frase, com estas exatas palavras: Felicidade Interna Bruta mais importantedo que Produto Interno Bruto foi cunhada por Sua Majestade o 4 Rei do

    Buto, que o autor do conceito do FIB. O que ele disse, nos anos 1970 e

    1980, quanto ao PIB ser canalizado na direo da felicidade, foi algo bastante

    indito, seno revolucionrio. Agora, 20 a 30 anos depois, as opinies ao redor

    do mundo esto comeando a convergir no sentido de tornar a felicidade uma

    meta scio-econmica coletiva.

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    POR QU O PIB INADEQUADO PARA MEDIR O BEM-ESTAR?

    Em primeiro lugar, vamos assinalar que o PIB parte integrante do FIB, uma

    vez que o crescimento econmico de fato promove o bem-estar e a felicidade

    dos mais pobres. Todavia, diversas deficincias do PIB tambm precisam ser

    reconhecidas.

    Falta de distines de natureza qualitativa

    Existem muitos modos de se atingir o mesmo nvel de PIB, que por si s no se

    importa, ou registra, se a riqueza foi gerada atravs de prostituio ou de

    meditao, ou mesmo se foi obtida se maneira estressante ou prazerosa.

    Propenso ao ConsumoO PIB uma acurada mtrica para se determinar tudo aquilo que produzido e

    consumido atravs de transaes monetrias. Entretanto, se algum bem for

    deliberadamente conservado e no consumido, ento esse bem deixa de ser

    registrado como um valor. Como resultado disso, existe uma tremenda

    inclinao voltada ao consumo na adoo do PIB. Um trator que est

    simplesmente largado numa fazenda contabilizado como uma riqueza, e

    certamente que um tigre numa floresta deve ter mais valor do que um trator,

    porm, sob a tica do PIB, no isso que ocorre. Este mede muito bem ocapital produzido, mas no mede outras formas de capital e servios, tais como

    aqueles providos pelo meio ambiente, humanos e sociais.

    Sub-valoriza tempo livre e trabalho no remunerado

    O PIB no mede o tempo livre e nem tampouco o trabalho voluntrio, no

    remunerado, revelando um srio preconceito contra trabalho voluntrio e lazer.

    Todavia, o trabalho no remunerado e voluntrio contribui para a felicidade e o

    bem-estar. Cuidar de crianas e idosos, bem como o trabalho domstico, so

    servios no remunerados que se do margem das transaes do mercado.

    Essas atividades no esto precificadas, e so executadas por aqueles cuja

    motivao est acima do ganho financeiro.

    Justia Econmica

    Embora a desigualdade possa ser medida separadamente por um ndice

    especfico para esse fim, o PIB em si cego para a injustia econmica.

    Durante o nosso consumo de bens e servios, a mtrica daquilo que nos

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    proporciona felicidade relativa, em comparao quilo que os outros esto

    consumindo. Se a comparao afeta o nosso bem-estar subjetivo, a

    desigualdade continuar a ter um poderoso efeito negativo na felicidade

    enquanto uma desigual distribuio da riqueza persistir. Sempre haver algum

    acima na escada, e um modo de se neutralizar esse efeito negativo de se

    atingir um alto grau de igualdade.

    Importncia dos servios ps-materiais.

    Uma vez que um certo nvel de riqueza foi alcanada como por exemplo, na

    Europa e no Japo, o objetivo das pessoas no so bens, mas em vez disso

    aquilo que est se chamando de servios ps-materiais que transcendem os

    bens. Um aumento desses servios est mais provavelmente influenciado peloimaterial, que vem de fatores como famlia, amigos, segurana, redes sociais,

    liberdade, criatividade, significado para a vida e assim por diante. Esses

    benefcios das sociedades ps-industriais no necessariamente aumentam

    com a renda.

    O QUE FELICIDADE?

    Bem pblico, porm subjetivamente sentidoA felicidade , e deve ser, um bem pblico, j que todos os seres humanos

    almejam-na. Ela no pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos

    e esforos privados. Se o planejamento governamental, e portanto as

    condies macro-econmicas da nao, forem adversos felicidade, esse

    planejamento fracassar enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam

    criar condies conducentes felicidade, na qual os esforos individuais

    possam ser bem sucedidos.

    A poltica pblica necessria para educar os cidados sobre a felicidade

    coletiva. As pessoas podem fazer escolhas erradas, que por sua vez podem

    desvi-las da felicidade. Planejamentos de poltica pblica corretos podem lidar

    com tais problemas, e reduzi-los, impedindo assim que ocorram em larga

    escala.

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    Felicidade baseada em estmulos externos

    Nossa compreenso de como a mente obtm felicidade afeta a nossa

    experincia com a mesma, ao influir nos meios que escolhemos para a sua

    busca. Em alguns ramos das cincias comportamentais, a mente concebida

    como um aparato de entrada-sada, que responde apenas aos estmulos

    externos. Uma conseqncia deste modelo que as sensaes prazerosas e

    de felicidade so vistas como dependentes somente em estmulos externos.

    Felicidade percebida como uma conseqncia direta dos prazeres sensoriais.

    Com tal excessiva nfase nos estmulos externos como a fonte de felicidade,

    no de se surpreender que os indivduos sejam levados a acreditar que, ao

    serem materialistas, sero mais felizes.

    Mtodos de contemplao interior

    Mas existe uma tradio que aponta um caminho oposto busca da felicidade

    baseada em estmulos externos, e que mostra que sensaes prazerosas

    sero geradas ao se bloquear a entrada dos estmulos sensoriais externos e

    calando-se o palavrrio mental. Isso requer a prtica regular de tcnicas de

    meditao, atravs das quais o indivduo experincia o sujeito em si, em vez do

    sujeito experienciar os estmulos externos.

    Ao se utilizar um mtodo contemplativo, no h nada externo que possa se

    constituir num insumo para felicidade. Desde que seja praticada de forma

    disciplinada e regular, a meditao pode levar mudanas na estrutura mental

    (nas redes neurais), fazendo com que a calma e o contentamento sejam traos

    perenes da personalidade. Em outras palavras, as faculdades mentais podem

    ser treinadas em direo felicidade.

    Quando essa viso aplicada, economias atualmente consideradas

    estacionrias, estveis e sustentveis, podem ser consideradas bem

    sucedidas. Uma economia cujo PIB cresce continuamente, a uma taxa

    ambientalmente insustentvel, pode ser vista como um fracasso, devido sua

    incapacidade de promover o desapego da proliferao de desejos. Em funo

    disso, as pessoas so levadas de roldo no processo. Uma economia

    estacionria pode sinalizar que estabilidade psicolgica quanto aos desejos foi

    alcanada entre os consumidores.

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    INDICADORES E MENSURAO DO FIB

    O Governo Real do Buto est formulando ndices para o FIB, que iro avaliar,

    rastrear e guiar o planejamento do desenvolvimento do nosso pas. Os ndices

    FIB de nvel macro podem ser sub-divididos em numerosos sub-indicadores

    que so teis em diversos fatores.

    Alm disso, o Buto desenvolveu uma estrutura qualitativa conhecida como

    lentes de FIB para polticas e programas que tm por finalidade filtrar

    atividades segundo o ponto de vista do FIB.

    Para se considerar um indicador como sendo vlido segundo o FIB, ele devedemonstravelmente ter influncia positiva ou negativa na felicidade. E os

    indicadores de FIB devem cobrir tanto as esferas objetivas quanto as subjetivas

    das dimenses do FIB, conferindo pesos idnticos tanto para os aspectos

    funcionais da sociedade humana como para o lado emocional da existncia da

    mesma. A voz subjetiva, que tem sido relativamente sufocada nas cincias

    sociais como um todo, e nos indicadores em particular, est sendo restaurada

    nos indicadores do FIB, e isso est produzindo uma equilibrada representao

    de dados entre o objetivo e o subjetivo. Obviamente que a distino entre osubjetivo e o objetivo no representa, em qualquer sentido fundamental, aquilo

    que bsico para natureza da realidade, que na verdade o inter-

    relacionamento de ambos.

    De uma forma mais geral, a descrio dos indicadores para o FIB pode ser

    expressa usando um cone tradicional, a roda. No centro da roda se situa o

    cubo da mesma. Similarmente, a meta ltima do FIB o bem-estar, a felicidade

    e a satisfao com a vida, aquilo que o verdadeiro potencial na sociedade

    humana que buscamos atingir.

    Os meios para se atingir essa meta so os raios da roda. No caso do FIB,

    esses raios representam os domnios, tais como o raio da educao, o raio da

    boa sade, o raio do uso equilibrado do tempo, o raio da cultura, o raio da boa

    governana, o raio da vitalidade comunitria, o raio da resilincia ecolgica, e o

    raio do componente material da existncia o padro de vida.

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    PSICOLGICO

    O domnio do bem estar psicolgico abrange o contentamento, a satisfao

    com todos os elementos da vida, e a sade mental. Uma vez que felicidade

    coletiva a meta principal sob uma sociedade baseada no FIB, o bem estar

    psicolgico de primordial importncia para medir o sucesso do estado em

    prover as polticas e os servios apropriados. Entre inmeros indicadores, a

    prevalncia de taxas de emoes tanto positivas quanto negativas, o estresse,

    as atividades espirituais, o desfrute da vida, a satisfao com a vida, a auto-

    avaliao da sade seja fsica quanto mental so calculados na populao.

    USO DO TEMPOTem se demonstrado que o domnio do uso do tempo uma das mais eficazes

    janelas para qualidade de vida, uma vez que ele analisa a natureza do tempo

    que despendido num perodo de 24 horas, bem como as atividades que

    tomam perodos de tempo mais longos. Uma importante funo do uso do

    tempo reconhecer o valor do lazer. Os laos sociais criados e compartilhados

    na socializao com a famlia e com os amigos contribuem significativamente

    para todos os nveis de felicidade e contentamento numa sociedade.

    SADE

    Os indicadores de sade avaliam o status de sade da populao, os fatores

    determinantes da sade e o sistema de sade em si. Os indicadores de status

    de sade incluem a auto-avaliao da sade, invalidez, as limitaes para

    atividades e a taxa de dias saudveis. Os indicadores dos fatores

    determinantes de sade incluem padres de comportamento arriscados,

    exposio a condies de risco, status nutricional, prticas de amamentao e

    condies de higiene. O sistema de sade, que inclu tanto o sistema ocidental

    quanto o nativo, medido a partir do ponto de vista da satisfao do usurio

    em diversas dimenses, tais como amabilidade do provedor, competncia,

    tempo de espera, custo, distncia etc.

    EDUCAO

    A educao contribui para o conhecimento, valores, criatividade, competncias,

    capital humano e sensibilidade cvica dos cidados. Um domnio tal como o da

    educao no tem por objetivo meramente medir o sucesso da educao per

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    se, e sim tentar avaliar a eficcia da educao quanto a se trabalhar em prol da

    meta do bem estar coletivo. O domnio da educao leva em conta vrios

    fatores, tais como: participao, competncias e apoio educacional, entre

    outros. Esse domnio inclui no seu escopo a educao informal (competncias

    nativas, tcnicas tradicionais orgnicas de agricultura e pecuria, remdios

    caseiros, genealogias familiares, conhecimento sobre a cultura e histria

    locais), e educao monstica.

    DIVERSIDADE E RESILINCIA CULTURAL

    A manuteno das nossas tradies culturais uma das fundamentais metas

    de poltica pblica do nosso pas, j que reconhecemos o valor das tradies

    da diversidade cultural na formao da identidade, nos valores e na basecriativa para o nosso futuro. O domnio da cultura leva em conta a diversidade

    e o nmero de instalaes culturais, padres de uso e diversidade no idioma e

    participao religiosa. Os indicadores estimam valores nucleares, costumes

    locais e tradies, bem como a percepo de mudanas em valores e

    tradies.

    BOA GOVERNANA

    O domnio da governana avalia como que as pessoas percebem vriasfunes governamentais em termos da sua eficcia, honestidade e qualidade.

    Os temas desses indicadores incluem liderana em vrios nveis do governo,

    na mdia, no judicirio, na polcia e nas eleies.

    VITALIDADE COMUNITRIA

    O domnio da vitalidade comunitria foca nas foras e nas fraquezas dos

    relacionamentos e das interaes nas comunidades. Ele examina a natureza

    da confiana, da sensao de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos

    afetivos, a segurana em casa e na comunidade, a prtica de doao e de

    voluntariado. Esses indicadores possibilitaro aos formuladores de poltica

    pblica rastrear as mudanas nos efeitos adversos para a vitalidade

    comunitria.

    DIVERSIDADE E RESILINCIA ECOLGICA

    Ao focar no estado dos nossos recursos naturais, nas presses sobre os

    nossos ecossistemas, e nas diferentes respostas de gestes, o domnio da

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    diversidade e resilincia ecolgica descreve o impacto do suprimento

    domstico e a demanda nos ecossistemas do Buto.

    PADRO DE VIDA

    O domnio do Padro de Vida cobre o status econmico bsico dos cidados

    do pas. Esses indicadores avaliam os nveis de renda ao nvel individual e

    familiar, medem a segurana financeira, o nvel de dvidas, a qualidade das

    habitaes, e o montante de assistncia em espcie recebida por familiares e

    amigos.

    DESENVOLVIMENTO HOLSTICO

    nossa expectativa que os esforos na direo da elaborao de um ndice deFIB possam prover no apenas para o Buto, mas tambm para o resto do

    mundo, um valioso conjunto de indicadores que possa ser utilizado para tornar

    os esforos em prol do desenvolvimento mais holsticos e harmoniosos quanto

    as suas metas e meios.M

    FIB E O OCIDENTE - PALESTRA DE MICHAEL PENNOCK

    Michael Pennock, Diretor do Observatrio para Sade Pblica em Vancouver,

    Canad, e consultor sobre o ndice de Genuno Progresso no Canad.

    Consultor para as naes Unidas no desenvolvimento dos indicadores do FIB

    no Buto, e coordenador da colaborao internacional na implementao do

    FIB.

    FRUM MUNDIAL DE ISTAMBUL

    Junho de 2007: Medindo e Encorajando o Progresso das Sociedades

    OECD

    Comisso Europia

    Organizao Para a Conferncia Islmica

    Naes Unidas

    Banco Mundial

    Em junho de 2007 uma importante conferncia aconteceu, contando com a

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    participao algumas das mais conhecidas organizaes internacionais. A

    concluso foi o reconhecimento da urgente necessidade de noes mais

    compreensivas e equilibradas sobre o que progresso.

    DECLARAO CONJUNTA CONFIRMADA

    Comprometimento para medir e encorajar o progresso das sociedades nas

    suas dimenses, e de apoiar iniciativas ao nvel do pas. Instamos para que

    IPOBE, organizaes pblicas e privadas, e especialistas acadmicos

    trabalhem junto com os representantes das comunidades para produzir

    informaes de alta qualidade, baseadas em fatos, que possam ser usadas por

    toda a sociedade, para formar uma viso compartilhada do bem estar damesma, e sua evoluo ao longo do tempo. Convidamos tanto as organizaes

    pblicas quanto privadas para que contribuam com esse ambicioso esforo de

    fomentar o progresso do mundo, e damos as boas-vindas s iniciativas em

    nveis local, regional, nacional e internacional.

    A conferncia resultou numa declarao conjunta, enfatizando a necessidade

    de novas estruturas e medidas de progresso em nveis locais, regionais,

    nacionais e internacionais. Que organizaes tais como a OECD e o BancoMundial tenham reconhecido as nossas tradicionais limitaes de progresso ,

    provavelmente, a admisso da seriedade dos problemas que enfrentamos.

    Reconheceu-se que nossa dependncia em tais medidas econmicas do tipo

    do PIB Produto Interno Bruto como sendo um dos principais sinalizadores

    de progresso, uma prtica que precisa ser alterada.

    AUMENTO DA RENDA, DECLNIO DA FELICIDADENos ltimos anos, mesmo com o aumento do PIB em vrios pases, o

    percentual de canadenses que relata estar muito satisfeito com suas vidas no

    tem se alterado. E nos EUA e na Inglaterra, dois dos mais prximos parceiros

    internacionais do Canad, o percentual de pessoas que admitiu estar muito

    satisfeito com a vida declinou durante o perodo.

    Em muitos dos pases desenvolvidos

    A prosperidade aumentou

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    O capital social diminuiu

    Bem-estar/felicidade no aumentou

    E.

    Ocorreram imensos custos ambientais na busca pela prosperidade

    Logo, algumas concluses ficam evidentes: em alguns dos pases

    desenvolvidos, nossa prosperidade tem aumentado ao mesmo tempo em que o

    capital social tem se deteriorado, e a felicidade permaneceu achatada ou

    declinou. Essas tendncias so particularmente devastadoras se for

    considerada a taxa que foi cobrada pelo progresso no meio-ambiente.

    ECONOMISTA JOHN HELLIWELL: FATORES DETERMINANTES PARA OBEM-ESTAR

    O economista John Helliwell, da Universidade da Colmbia Britnica no

    Canad, em 2003 concluiu que pessoas com o mais alto bem-estar no so

    aquelas que vivem nos pases mais ricos, e sim aquelas que vivem onde as

    instituies sociais e polticas so eficazes, onde a confiana mtua alta, e

    onde a corrupo baixa. Ele conclui que so esses os mais importantes

    fatores determinantes para o bem-estar nacional, mais do que a prosperidade

    nacional.

    POR QU ESSA CRENA?

    Por qu essa crena que liga prosperidade a bem-estar to profundamente

    arraigada?

    Se a correlao entre prosperidade e bem-estar foi super-estimada, por qu

    isso aconteceu?

    ILUSO QUE FOCA

    Daniel Kahneman-Universidade de Princeton

    Quando as pessoas consideram o impacto de qualquer fator isoladamente no

    seu bem-estar no apenas renda elas so propensas a exagerar a

    importncia da mesma. Nos referimos a essa tendncia como a iluso que

    foca. A despeito da frgil relao entre renda e satisfao geral com a vida

    ou a felicidade experienciada, muitas pessoas so altamente motivadas a

    aumentar sua renda.

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    O psiclogo Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, ganhador de um

    Prmio Nobel de Economia denominou isso de Iluso que Foca. Kahneman

    argumenta que tendemos a ignorar todos os demais fatores que esto

    presentes na nossa vida (sejam eles bons ou maus) quando consideramos

    os efeitos como fatores isolados, tais como um aumento na renda. Por

    exemplo, um aumento na renda pode implicar em ter que se trabalhar por mais

    longas horas, lidar com conflitos de famlia x trabalho, reduo na vida social

    etc. Ao se focar nos benefcios de mais renda podemos ignorar esses efeitos

    em outros fatores at que estes passem a afetar negativamente nossas vidas.

    O QUE FOI QUE APRENDEMOS?

    A partir de um certo ponto, em muitas naes desenvolvidas, aumentos em

    prosperidade no trazem aumentos em felicidade e bem-estar.

    Parecem corresponder a uma diminuio do capital social

    E tambm envolvem substanciais conseqncias ambientais

    PRECISAMOS REPENSAR NOSSAS NOES BSICAS DE PROGRESSO

    Mas ento o que foi que aprendemos disso tudo? Aprendemos que, a partir de

    um certo ponto, na maioria dos pases desenvolvidos, um aumento naprosperidade no est associado com aumento de felicidade e bem-estar.

    Contudo, est associado com diminuio de capital social e implica numa

    substancial degradao ambiental.

    O PIONEIRO BUTO

    Felizmente temos um pioneiro o Buto. Ocorre que este um tema que j

    recebeu sistematicamente muita ateno naquele pequeno pas. L eles

    comearam a fazer essa pergunta, e a buscar respostas, h cerca de vinteanos. Como resultado, os butaneses esto bem na dianteira quando

    comparados com o resto do mundo.

    ESTRUTURA CONCEITUAL DO FIB

    O FIB foi articulado atravs de 3 conferncias que reuniram economistas e

    cientistas empricos para identificar os principais determinantes da felicidade

    Essa convocao foi assumida pelo Centro dos Estudos do Buto. Fomos

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    muito afortunados por isso acontecer, porque o diretor do centro, Dasho Karma

    Ura, estava determinado a imprimir uma abordagem totalmente cientfica na

    identificao dos fatores primordiais que contribuem para a felicidade e o bem-

    estar da populao do seu pas. Tem at havido conferncias internacionais

    que reuniram estudiosos e pesquisadores empricos do mundo todo, para que

    fosse desenvolvida uma estrutura baseada em evidncias. E aqui eu realmente

    gostaria de enfatizar o seguinte ponto a estrutura conceitual do FIB no um

    constructo religioso. Trata-se sim de uma estrutura baseada na cincia e no

    empirismo. Quanto a isso precisamos agradecer o Dasho Karma Ura e o

    Centro dos Estudos para o Buto, pois, na medida em que ns, ocidentais,

    estamos buscando melhores estruturas conceituais para o progresso, agora

    podemos nos apoiar no trabalho que j foi feito por eles.

    NA INGLATERRA

    polticas especificamente focadas no bem-estar

    Um foco no bem-estar encoraja a integrao das polticas social, econmica e

    ambiental que permitam a sade social ser examinada como algo em si

    mesma, em vez de ser includa sob o crescimento econmico.

    Um dos pases ocidentais que assumiu um compromisso muito srio com essetema, envolvendo at os escales mais elevados do governo, a Inglaterra. Os

    ingleses articularam um foco de poltica pblica voltado para o bem-estar. Em

    outras palavras, todas as polticas pblicas precisam ser ponderadas em

    relao aos seus respectivos impactos no bem-estar.

    BENEFCIOS DO FIB

    Um novo modelo de progresso que fornece uma estrutura de poltica pblicaunificada, e que acomoda todos os setores

    Enfatiza o equilbrio entre todos os fatores contribuintes, mas a felicidade tem a

    primazia

    Nenhum dos setores priorizado em relao aos demais, todos tm fatores

    determinantes de valor

    De modo que eu argumentaria que a estrutura conceitual do FIB tem um

    enorme valor para as polticas pblicas em geral. Trata-se de um novo modelo

    de progresso que prov uma estrutura unificadora para as polticas pblicas.

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    Ela enfatiza a necessidade de um equilbrio entre todos os fatores contribuintes

    e setores, e tambm fornece um bem sistemtico pano de fundo, contra o qual

    as polticas pblicas podem ser avaliadas quanto a sua contribuio ou no

    para a felicidade e o bem-estar.

    PRECISAMOS DE MENSURAES OBJETIVAS E SUBJETIVAS

    Objetivas: Observveis, contabilizveis

    Subjetivas: Levantamento de FIB

    NDICE CANADENSE DE BEM-ESTAR

    Um outro exemplo ndice Canadense de Bem-Estar (ICBE), que atualmente

    est sendo desenvolvido. O objetivo desse ndice o de vir a ser um indicador

    nacional que incorpore tanto os dados objetivos como subjetivos. As

    dimenses empregadas so de certo modo diferentes do Indicador de GenunoProgresso (IGP). O ICBE tem uma dimenso ambiental (sade do

    ecossistema) e um forte foco na sade, no capital social e na cultura. Como

    leitor poder avaliar, o ICBE se assemelha mais estrutura conceitual do FIB.

    VERSO INTERNACIONAL DO FIB

    Mais curta para ser preenchida (30 minutos)

    Genrica trans-cultural

    Baseada no levantamento butans

    Incorpora lies aprendidas do levantamento GPI-Atlantic na Nova Esccia

    Uma verso internacional do levantamento est sendo desenvolvida. Ela

    baseia-se na estrutura conceitual do FIB, usa muitos dos principais itens do

    levantamento butans, e tambm incorpora algumas lies aprendidas a partir

    do uso de um levantamento semelhante, que foi desenvolvido pelo IGP Atlantic

    (ndice de Genuno Progresso do Atlntico), e usado em duas comunidades na

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    Nova Esccia. Essa verso pode ser auto-gerida, transcultural, e leva apenas

    de 20 a 30 minutos para ser preenchida.

    PRXIMOS PASSOS

    Lentes de poltica pblica para estimar o impacto de potenciais polticas na

    felicidade/bem-estar da sociedade

    Avaliaes quanto aos impactos da felicidade

    Desenvolvimento de mensuraes objetivas em nveis nacionais e locais

    Pelo fato do FIB incluir medidas subjetivas, existe um contnuo interesse no

    desenvolvimento de outras ferramentas para poltica pblica, tais como lentes e

    mtodos para conduzir avaliaes de impacto.

    O QU EST ACONTECENDO?

    Buto CEB e Comisso do FIB

    Canad Medidas feitas em Comunidades e ICBE

    Tailndia Avaliao de Impacto na Sade

    Inglaterra Avaliao de Impacto no bem-estar mental

    Brasil...?

    E o que precisamos fazer? Penso que estamos no incio de um perodo muito

    estimulante. Precisamos desenvolver e usar ferramentas que meam o bem-

    estar ou a felicidade, bem como seus respectivos fatores contribuintes. E

    precisamos medi-los nos nveis nacional, regional e local, se que estamos

    dispostos a mobilizar a capacidade das comunidades de apoiar novas direes

    para o desenvolvimento. E precisamos de ferramentas de poltica pblica, tais

    como lentes de poltica, que possam ser usadas para fazer avaliaes de

    impacto na felicidade, de modo que possamos ser mais competentes aoassegurar que tais polticas iro de fato promover a felicidade. Existem alguns

    bem interessantes comeos que esto sendo deflagrados ao redor do mundo,

    mas, como disse, so apenas comeos. Precisamos trabalhar em conjunto,

    para gerar suficiente impulso, e com isso manter esse movimento avanando.

    MAIS DO QUE TUDO....

    Precisamos de colaboradores internacionais, para que todos possamos

    aprender uns com os outros

  • 7/23/2019 Dasho Karma Explica Fib

    15/17

    E promover o FIB dentro das nossas jurisdies

    CARTA DE MICHAEL PENNOCK

    Ol Susan,

    A Martha e eu estamos tendo agora a chance de recuperar o flego aps

    aquela muito interessante e intensa semana que passamos com voc. Gostaria

    apenas de reiterar alguns dos pensamentos que compartilhamos nas poucas

    ocasies que tivemos para conversar.

    1. Acho que muito importante que voc prossiga sistemtica e

    estrategicamente. A energia que foi gerada nas suas sesses pode ser uma

    beno de dois gumes. Havia tanto entusiasmo que h o risco de que o

    conceito do FIB seja aplicado de tantas diferentes formas, e com tantos

    diferentes nveis de intensidade, que poder se tornar algo banalizado.

    2. Acredito realmente que a melhor maneira de proceder seja atravs de

    governos locais e empresas, em vez de comear em nveis regional e nacional.

    Essa a abordagem que estamos implementando no Canad. Logo, pensoque muito boa a sua idia de comear com um municpio e uma empresa

    como projetos piloto. A experincia a ser obtida desses exemplos poderia ser

    usada para desenvolver um conjunto-de-ferramentas-de-levantamento-via-

    internet atravs do qual outros municpios poderiam ento se utilizar da

    mesma metodologia. H um considervel interesse aqui na provncia de Vitria

    no desenvolvimento de parcerias com municpios brasileiros, e estou muito

    interessado em discutir isso com voc.

    3. Nossa discusso quanto aos prximos passos continua a fazer sentido

    para mim que voc venha a desenvolver uma verso brasileira do

    levantamento, e a use num municpio e numa empresa. Os bancos de dados

    resultantes poderiam ser disponibilizados para institutos universitrios,

    objetivando apoiar a contnua pesquisa.

    Atenciosamente,

  • 7/23/2019 Dasho Karma Explica Fib

    16/17

    Mike Pennock

    Population Health Epidemiologist

    Co-Lead, Population and Public Health Observatory

    Office of the Chief Medical Health Officer

    Vancouver Island Health Authority, Canad

    DRA. SUSAN ANDREWS: A NOVA CINCIA DE HEDNICA

    Susan psicloga e antroploga formada pela Universidade de Harvard,

    fundadora e coordenadora da ecovila Parque Ecolgico Viso Futuro no interior

    de So Paulo, e coordenadora do FIB no Brasil.

    Na ltima dcada, um nmero cada vez maior de cientistas tem se esforadopara decifrar os segredos da felicidade. Uma nova disciplina tem sidorecentemente desenvolvida, chamada de a cincia da hednica. A palavrahednica foi cunhada pelo psiclogo Daniel Kahneman, que ganhou o prmio

    Nobel de Economia em 2002. Esse termo denota a pesquisa cientfica quantoas fontes da felicidade humana. De acordo com esses estudos, at um certonvel de riqueza, o sucesso material de fato traz mais felicidade. Por exemplo,quando uma pessoa progride de um estado de absoluta pobreza e misria ato atendimento das suas necessidades de sobrevivncia, e desse nvel desobrevivncia at uma vida confortvel, e depois de uma vida confortvel atum certo grau de luxo, sua felicidade de fato aumenta. Contudo, aps um certoponto, mais bens materiais no trazem mais satisfao. O que importa a estaaltura so os chamados fatores no-materiais, tais como companheirismo,famlias harmoniosas, relacionamentos amorosos, e uma sensao de se viveruma vida significativa. Ns, enquanto seres humanos, temos fome no apenaspor alimento para o corpo, mas tambm para a alma..Acredito que o FIB vitalmente importante para este pas atualmente, porque oBrasil est se tornando uma potncia mundial. Qual caminho que o nosso pasdeveria seguir? Seria o curso traado pelos EUA, onde o PIB aumentou trsvezes desde os anos 1950, mas onde a felicidade das pessoas de fatodeclinou? Onde uma em quatro pessoas infeliz ou deprimida? Onde duranteesse mesmo perodo quando o PIB triplicou, o nmero de divrcios duplicou, o

    de suicdios entre adolescentes triplicou, o de crimes violentos quadruplicou, ea populao carcerria quintuplicou? Os americanos aumentaram sua riqueza

  • 7/23/2019 Dasho Karma Explica Fib

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    dramaticamente, mas no processo perderam algo muito mais precioso seusentido de comunidade. E exatamente isso que todas as pesquisaspsicolgicas constatam ser a verdadeira e duradora fonte de felicidade: laosharmoniosos e amorosos entre as pessoas. Ser que o Brasil quer ser uma

    superpotncia como os EUA? Ou ser que o Brasil deveria optar por umcaminho de desenvolvimento holstico e integrado como esse que o FIBrepresenta, e mostrar um novo modelo para o mundo? A hora para decidir isso agora.

    www.dhnet.org.br