das memórias de kaganóvitch (v)

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    Para a Histria do Socialismo

    Documentos

    www.hist-socialismo.net

    Traduo do russo e edio por CN, 15.06.2011

    (original: http://publ.lib.ru/ARCHIVES/K/KAGANOVICH_Lazar'_Moiseevich/_Kaganovich_L._M..html)

    _____________________________

    Das memrias de Kaganvitch (V)1

    No Comissariado das Vias de Comunicao

    Depois da aprovao do primeiro Plano Quinquenal, o novo perodo 1929-1934 foi marcado por um crescimento quantitativo e qualitativo rpido e impetuoso detoda a economia nacional socialista, em particular da indstria, que colocavagrandes exigncias aos transportes, sendo que a prpria colectivizao daagricultura exigia o aumento do transporte de mercadorias para o campo e a partirdele, em particular de maquinaria agrcola, adubos e produtos de consumo geral.Tinha tambm aumentado a produo de meios de transporte, no entanto, oaumento do nmero de cargas no satisfazia as necessidades crescentes. Por isso,em Junho de 1930, no XVI Congresso do partido, a questo dos transportes foi

    colocada de forma sria no relatrio do CC e nas resolues do Congresso.Aps o XVI Congresso, o CC do PCU(b), oPolitburo, bem como o Conselho deComissrios do Povo ocuparam-se a fundo, em concreto e diariamente dosproblemas dos transportes. Depois, medida em que se desenvolvia o trabalho dedireco dos transportes por parte do CC, foi criada uma comisso especialpermanente, na qual tinham assento a maioria dos membros do Politburo: Stline,Mlotov, Kaganvitch, Ordjonikdze, Vorochlov e Andriev. No primeiro perodo, opresidente desta comisso era o camarada Mlotov, presidente do Conselho deComissrios do Povo (CCP),2 cargo mais tarde exercido pelo secretrio do CC,Kaganvitch. A Comisso dos Transportes reunia regularmente, examinava asquestes mais importantes, preparava projectos de resoluo do CC e do CCP. Paracontrolar a execuo destas decises, elaborar os primeiros esboos dos projectosde resoluo do CC e do CCP, apresentar algumas questes e propostas importantese dirigir a seleco de quadros foi criada a Seco dos Transportes do CC. Paradirigir a Seco foi igualmente nomeado o secretrio do CC, L.M. Kaganvitch. Semse ingerir no trabalho operativo do Comissariado do Povo das Vias de

    1Lazar Kaganvitch, Pmiatnie Zapiski(notas memoriais), ed. Vagrius, Moscovo, 2003,pp. 434-484. (N. Ed.)

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    O Conselho de Comissrios do Povo (CCP na sua sigla em portugus) tambm surge aquidesignado comoSovnarkom, acrnimo russo pelo qual foi conhecido o governo sovitico atMaro de 1946, altura em que foi renomeado de Conselho de Ministros. (N. Ed.)

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    Comunicao, a Seco prestava-lhe ajuda, particularmente na organizao efuncionamento das seces polticas nos caminhos-de-ferro.

    O CC e o CCP tambm definiam tarefas concretas para a reconstruo eabastecimento do sector dos transportes, melhoramento do parque de locomotivase das condies de circulao, remunerao das brigadas de locomotiva e dos

    operrios, planeamento e regulamentao do transporte, organizao daadministrao do transporte ferrovirio, recursos humanos, disciplina no trabalho eactividade dos sindicatos, e esforavam-se para colocar as organizaes do partido edos sovietes cara a cara com o transporte ferrovirio. A tenacidade com que o CC doPCU(b), o Politburo, a Comisso dos Transportes e pessoalmente Stline seempenharam no transporte ferrovirio patente no facto de, em Junho de 1931, oCC ter ouvido o relatrio do comissrio do povo das Vias de Comunicao,Rukhimvicth e a interveno do presidente do CC do Sindicato dos Ferrovirios, Andriev, e, em Outubro, o relatrio do comissrio do povo, Andriev, quesubstituiu Rukhimvicth.

    No decurso de 1933-34, o CC e o CCP aprovaram uma srie de resoluesimportantes sobre o transporte ferrovirio, preparadas principalmente pelaComisso dos Transportes do CC, pelo CCP e pela Seco dos Transportes do CC,naturalmente com a participao da direco do Comissariado das Vias deComunicao (CVC) e do prprio comissrio Andriev. Particularmente importantefoi, por exemplo, a resoluo sobre o Planeamento do Transporte e melhoramentodo trabalho dos rgos locais do CVC. Se at aqui os planos de transporte eramelaborados localmente pelos chamados rgos interdepartamentais, desligados dotrabalho dos caminhos-de-ferro, o que fazia que cargas prioritrias fossemfrequentemente preteridas a favor de outras secundrias, a partir desta resoluo aelaborao dos planos foi entregue ao CVC. Definiu-se uma categoria de cargasprioritrias, que inclua carvo, metais, petrleo, cereais, produtos de consumogeral, etc., as quais prevaleciam sobre as cargas de segunda categoria, cujotransporte era planificado pelo chefe de linha. O plano de transporte demercadorias adquiriu mbito nacional, o que constituiu um golpe srio contra osdefensores da teoria burguesa, na sua essncia, dos limites3 e da prtica daespontaneidade, de acordo com a conjuntura, no processo de transporte.

    A Comisso Permanente dos Transportes do CC e do CCP, apoiando-se na Secodos Transportes do CC, tomou todas as medidas para a realizao das decisesaprovadas. Foi convocada no CC uma conferncia de funcionrios da explorao, qual assistiram muitos funcionrios das estaes e das regies de explorao. Nesta

    conferncia, cuja abertura coube ao camarada Kaganvitch, participaramactivamente Stline, Mlotov, Vorochlov, Ordjonikdze, Andriev e outros. Grandeinteresse despertaram as perguntas feitas pelo camarada Stline e outros membrosdo Politburo, assim como as suas rplicas, sobre aspectos fundamentais daorganizao do trabalho das estaes e zonas de explorao, que revelaramdebilidades do trabalho e incentivaram as estaes e as regies a melhorarem o seufuncionamento e a superarem os mtodos de direco burocrtica de gabinete. Asrplicas e observaes mostravam que o CC, o Governo e o camarada Stline

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    Como o autor explica mais frente, a teoria dos limites considerava que a partir dedeterminado ponto no era possvel aumentar o trfego ferrovirio, sendo que esse ponto jtinha sido atingido. (N. Ed.)

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    tinham penetrado na essncia concreta do funcionamento dos transportesferrovirios, no se limitando a uma direco geral.

    Atravs das direces polticas, o CVC, o CC e o CCP realizaram um grandetrabalho no domnio da reconstruo tcnica do transporte. Uma dessas grandes eimportantes questes foi, por exemplo, a introduo da nova potente locomotiva a

    vapor FD (Fliks Dzerjnski), cuja necessidade era aguda e vital para aintensificao do transporte de mercadorias da indstria pesada, e contra a qual sebatiam com ardor os limitistas do Instituto de Investigao Cientfica do CVC e oprprio aparelho do CVC. A Comisso dos Transportes do CC e do CCP encarregouuma comisso constituda por Kaganvitch, Vorochlov, Ordjonikdze e pelocomissrio das Vias de Comunicao, Andriev, de estudar a questo e preparar adeciso. Tivemos de chamar professores, construtores de locomotivas, maquinistasavanados e prticos: mecnicos de locomotivas, engenheiros de ferrovias, depontes, com a ajuda dos quais os argumentos dos limitistas, que se manifestavamcontra a locomotivaFD, foram derrotados, permitindo que o CC e o CCP decidissem

    firmemente equipar o transporte ferrovirio com a nova potente locomotiva FD,que a nossa indstria comeava a produzir e que desempenhou um grande papel nodesenvolvimento do transporte.

    Deste modo, a luta contra os limitistas, na sua essncia, comeou ainda naComisso do CC, mas, infelizmente, os limitistas ainda davam o tom no prprioCVC. Eis por que a questo dos transportes se colocou de forma mais aguda, noXVII Congresso do partido, em 1934, do que no anterior congresso. No relatrio doCC, o camarada Stline afirmou: Os transportes constituem aquele pontovulnervel no qual toda a nossa economia, e, antes de tudo, a nossa circulao demercadorias pode tropear, talvez at j comece a tropear.

    O camarada Vorochlov dedicou todo um captulo do seu discurso aostransportes. Ele prprio explicou por que abordava to em detalhe, com tantaacutilncia e dor esta questo: Os transportes so o irmo de sangue doExrcito Vermelho. A diferena entre eles que o nosso exrcito ainda s est apreparar-se para actuar quando chegar o momento de defender as fronteiras como ir ele actuar, veremos enquanto os transportes j esto agora emposies de combate, j actuam de forma ininterrupta a cada dia, a cada hora, acada minuto. Os transportes devem preparar-se para a guerra tal como o prprioexrcito. Na prxima guerra, os transportes, e no apenas ferrovirio mas detodos os tipos, iro desempenhar um enorme papel.

    O camarada Vorochlov submeteu a uma spera crtica o funcionamento dotransporte ferrovirio e tambm a interveno no Congresso do comissrio do povodas Vias de Comunicao, o camarada Andriev. A interveno do camaradaAndriev disse Vorochlov produziu em mim literalmente a impresso deuma aula de professor na ctedra. Bela aula... Mas, na minha opinio, seriapreciso falar sobre os caminhos-de-ferro de maneira algo diferente. Para alm doque disse o camarada Andriev sobre a confuso e a desorganizao, necessriodizer ainda quais as suas origens e quando que finalmente sero eliminadas. OComit Central sempre prestou grande ateno aos transportes e agora ocupa-sedeles talvez mais do que de qualquer outra questo. Em dado momento, ocamarada Kaganvitch, por incumbncia do CC, dedicou quase 50 por cento do

    seu tempo aos transportes. Quais so as maiores dificuldades? Objectivas ousubjectivas? Seguramente que as subjectivas so maiores. E em que consistem? Na

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    desorganizao e na ausncia de disciplina elementar. Por exemplo, ns,membros do Politburo, sabemos que at mesmo o escalo superior da chefia dostransportes no obedece inteiramente ao seu comissrio... Seria incorrectoconcluir daqui que no transporte ferrovirio no existem pessoas excelentes, bemdisciplinadas, profundamente conhecedoras do seu ofcio e abnegadamente

    dedicadas ao partido. No, elas existem e no em pequeno nmero. Nsconhecemo-los, conhecemos bem esses verdadeiros operrios de choque, todosaqueles que vertem lgrimas de sangue olhando para o que est a ser feito nostransportes. Mas na actual desordem em que o transporte ferrovirio se encontra,eles so em grande medida impotentes.

    A nomeao para comissrio. A luta contra os descarrilamentos

    Depois do XVII Congresso no se verificou uma viragem radical no transporte

    ferrovirio. A crtica no Congresso do partido no sacudiu os militantes, tanto noCVC como nos caminhos-de-ferro. Apesar de o prprio Andriev, naturalmente, seter empenhado em cumprir a deciso do Congresso, certos elementos, e sobretudoos senhores limitistas que davam o tom, no queriam mudar. Ao discutir asituao, oPolitburo concluiu que era necessrio substituir a direco do CVC parase produzir uma viragem radical. E, em 8 de Fevereiro de 1935, foi tomada adeciso de nomear L.M. Kaganvitch para comissrio do povo das Vias deComunicao, mantendo-se como secretrio do CC.

    Ao propor que eu me mantivesse como secretrio do CC, o camarada Stlinedisse: Isto necessrio no interesse do trabalho do CC, e o camarada

    Kaganvitch capaz de conjugar estes dois trabalhos no CC e no CVC, ser til para ele e para o trabalho no CVC, onde particularmente agora precisoautoridade. Ao mesmo tempo teremos de libertar o camarada Kaganvitch deoutras funes importantes que tem desempenhado em simultaneidade. Stlineapresentou a proposta de me libertar das funes de presidente da Comisso deControlo Partidrio (em meu lugar foi nomeado jov), de primeiro secretrio doComit de Moscovo do partido (foi nomeado Khruchov), de responsvel pela Secode Agricultura do CC (em meu lugar foi designado Jdnov), de responsvel pelaSeco de Transportes do CC e de presidente da Comisso de Transportes do CC, aqual Stline props extinguir: preciso que o camarada Kaganvitch actueautonomamente como comissrio, informando-nos directamente dos seus projectos e iniciativas, e ns ajud-lo-emos. Todas estas propostas foramaprovadas.

    Digo com franqueza que no foi fcil adaptar-me a este trabalho para mim novo,uma vez que, durante mais de 20 anos, estive ligado ao trabalho geral do partido, afunes pblicas e durante algum tempo ao trabalho nos sovietes. No vou fazer-mede coitado. claro que tinha alguns conhecimentos e compreendia as questeseconmicas e administrativas da indstria e do transporte ferrovirio, em quetrabalhei do ponto de vista da direco partidria, mas uma coisa a direco geraldo partido, outra, a administrao directa.

    Quando a questo da minha nomeao como comissrio das Vias deComunicao foi colocada no Politburo, quebrei de algum modo a minha regrapartidria: nunca recusar um trabalho que me fosse proposto pelo CC. Desta vez

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    tentei seriamente objectar, alegando a excepcional especificidade deste ramo, adificuldade da sua assimilao, etc. Todos os membros do Politburo, em primeirolugar o camarada Stline, pronunciaram-se pela minha nomeao, baseando-seantes de mais no facto de, durante os vrios anos em que trabalhei na Comissopara os Transportes do Politburo e como responsvel pela Seco de Transportes

    do CC, ter estudado o transporte ferrovirio e, para alm disso, como disse ocamarada Stline, ter ganho reputao de entendido no assunto e ser capaz deorganizar pessoas, em particular no desenvolvimento da emulao socialista,reforo da disciplina laboral consciente, etc. Estamos convictos resumiuStline de que dar conta desta tarefa, se for difcil, ajud-lo-emos.

    E assim, por vontade do partido, tornei-me ferrovirio, trabalho pelo qual meapaixonei verdadeiramente e ao qual dediquei mais de 20 anos da minha vida. Oprincipal foi que, do fundo da minha alma de operrio-bolchevique, ganhei umagrande admirao pelos valentes ferrovirios, aos quais me liguei estreitamente nardua luta pela superao das dificuldades, pelo desenvolvimento do transporte

    ferrovirio, pelo cumprimento das tarefas histricas, colocadas pelo partido e pelogoverno tanto no perodo de construo do socialismo, como no difcil perodo daGrande Guerra Patritica.

    Naturalmente que, enquanto quadro activo do partido leninista, tinha ligaescom os ferrovirios ainda antes da Revoluo de Outubro, conhecia a sua vida e emcerta medida as particularidades do seu trabalho. No entanto, quando fuiincumbido da direco directa do transporte ferrovirio, primeiro como secretriodo CC, depois como comissrio do povo das Vias de Comunicao, tive de estudaresta actividade mais profundamente e em concreto.

    A primeira e principal fonte dos meus conhecimentos foi a prtica. Deslocava-me

    aos depsitos de locomotivas, s estaes, s divises de ferrovia, aos troos emconstruo, etc. A, junto dos operrios, dos engenheiros, passei o primeiro grau daaprendizagem, estudando as locomotivas, os vages, todo o processo da suareparao e funcionamento. Mas isto no bastava. Precisava de ter conhecimentoscientficos, e extraa-os no s na leitura de livros e dos melhores manuais, mastambm em conversas com destacados engenheiros e funcionrios do prprioaparelho do CVC e, particularmente, dos institutos cientficos e de ensino.Habitualmente chegava ao fim da tarde aos institutos (MIIT, MEIIT4 e outros), paraque os curiosos no incomodassem as minhas aulas nos laboratrios com osprofessores e assistentes, que eram principalmente os camaradas Obraztsov,Siromitnikov, Nikoliev, Durnov e outros que, de bom grado, com benevolncia e

    empenho me impregnaram de conhecimentos sobre o ofcio de ferrovirio.Seguindo o mtodo marxista-leninista e a minha paixo pela histria, a qual

    constitui a base de todos os conhecimentos em geral, tambm aqui me dediqueiintensamente ao estudo da histria do transporte ferrovirio, da sua tcnica,economia, organizao do trabalho e construo. Isto conjugado com a cinciamarxista-leninista, obrigatria para cada bolchevique, que havia assimiladoanteriormente, ajudou-me de modo decisivo a dominar o mnimo deconhecimentos necessrios ao trabalho e luta pelo cumprimento das decises dopartido sobre os transportes.

    4MIIT, sigla russa de Instituto de Engenharia do Transporte Ferrovirio de Moscovo;MEIIT, Instituto de Engenharia de Explorao do Transporte Ferrovirio de Moscovo. (N. Ed.)

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    O perodo de 1935 a 1941 foi decisivo para o cumprimento do Segundo PlanoQuinquenal e para o lanamento de uma ampla frente de luta pelo cumprimento doTerceiro Plano Quinquenal, aprovado pelo XVIII Congresso do partido. Ao mesmotempo, este foi o perodo de preparao da defesa da Unio Sovitica em caso deum ataque dos inimigos externos da nossa Ptria.

    Depois do XVII Congresso, os melhores elementos do transporte ferrovirioesforaram-se imenso para melhorar o funcionamento dos caminhos-de-ferro.Todavia, preciso diz-lo sem rodeios, apesar das boas resolues e directivas doCC e do CCP, e da ajuda real que estes prestavam no interior do prprio organismodos transportes, a sua execuo foi mal organizada. Para alm disso, no eram s burocratas de gabinete que agiam contra as decises do CC, mas tambmsabotadores, parasitas e grupos trotskistas de direita, e a direco do CVC norevelou a necessria firmeza bolchevique capaz de lhes fazer frente.

    Sem exagero pode-se dizer, como referi no meu relatrio ao XVII Congresso dopartido, que apesar de noutros comissariados haver bastantes mtodos burocrticos

    de gabinete e funcionrios burocratas, em nenhum stio a influncia dos antigosfuncionrios nos assuntos do comissariado era to grande como no Comissariadodas Vias de Comunicao, no qual permaneciam muitos quadros influentes doantigo Ministrio das Vias de Comunicao e Administrao das Estradas, existenteantes da Revoluo de Outubro.

    Mas, mais do que eles, a principal desgraa era o nmero de correias detransmisso que tinham, no qual se contavam at comunistas, que contagiavamuma parte significativa dos activistas, militantes do partido e sem partido, com osentimento de descrena nas capacidades e possibilidades tcnico-materiais eorganizacionais do transporte. Esta descrena e mesmo convico de que o

    transporte ferrovirio tinha chegado aos seus limites de que no era possvelaumentar as cargas nem os transportes constitua o principal escolho no caminhopara melhorar o funcionamento e continuar o desenvolvimento. Este escolho tinhade ser removido, tinha de ser refutado.

    E foi por aqui que tive de comear mal tomei posse como comissrio do povo dasVias de Comunicao. Para o remover e refutar, era preciso ultrapassar a resistnciadas pessoas, que se agarravam firmemente a este escolho. E sobretudo atrairnovas pessoas avanadas que estavam nos caminhos-de-ferro.

    No CVC encontrei uma situao contraditria. Eu no era uma pessoainteiramente nova, desconhecida para os ferrovirios, incluindo para osfuncionrios do CVC. Conheciam-me como secretrio do CC responsvel duranteuma srie de anos pelo transporte ferrovirio, circunstncia que em parte mefacilitou o trabalho logo no incio, em particular junto da massa de ferrovirios enos elos de base e intermdios do aparelho do CVC. Mas isso tambm colocou desobreaviso os opositores linha do partido, que se prepararam para o combate e aresistncia. No que respeita s cpulas, a par de pessoas leais ao partido, partedelas defendia as posies dos limitistas, procurando demonstrar-me por todosos meios que no essencial tinham razo, ou seja, continuavam a luta contra a linha eas tarefas do CC, as quais eu tinha sido encarregado de levar prtica noscaminhos-de-ferro.

    Para maior clareza refiro aqui um facto importante ocorrido nos primeiros dias

    do meu trabalho. Ainda mal tinha tido tempo de olhar em redor, logo os meusadjuntos e seus subordinados das direces (no comecei com exoneraes e

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    mantive-os nos seus postos), obsequiaram-me com a proposta de declarar aconveno nas linhas de Moscovo-Donbass, Moscovo-Kursk, isto , precisamentenas linhas de transporte do carvo, metais, petrleo, etc. Eles bem sabiam que euno CC sempre me manifestei contra o sistema de convenes nas ferroviassoviticas. Por mais de uma vez indiquei que a conveno a suspenso do

    transporte de mercadorias em caso de complicaes em determinadas direces tinha-nos chegado da prtica dos caminhos-de-ferro privados capitalistas. E mesmoa era menos utilizada do que pelos nossos zelosos funcionrios do trfego, quetrabalhavam mal e menor dificuldade recorriam conveno: Assim ficamosmais tranquilos, e se as fbricas pararem, isso no nos diz respeito. Na suaessncia, isto era o mesmo que Trtski propunha no seu tempo: encerrar asempresas no rentveis e deficitrias ignorando a diferena da natureza daeconomia socialista em relao capitalista, a qual no tem em conta os interessesda classe operria e do Estado. Os ferrovirios sabiam que o CC do nosso partido eo governo eram contra a prtica da conveno, mas faziam ouvidos moucos, e

    aplicavam-na com frequncia. Assim, logo nas primeiras horas no Comissariado, a pretexto de informaessobre a queda de grandes neves nas referidas linhas, vieram ter comigo ecomunicaram-me com um sorriso malicioso velado: ao que parece as linhas ficaramobstrudas, no temos alternativa, isto no depende de ns, preciso declarar aconveno (apesar de estes serem os ltimos neves de Fevereiro-Maro). possvel que alguns estivessem de certo modo convencidos de que no haviaalternativa, mas o subproduto do seu pensamento limitista era o desejo dedemonstrar que mesmo o novo comissrio, que se manifestava contra aconveno no CC, agora, confrontado com a realidade, era obrigado a fazeraquilo que eles faziam: declarar a conveno ainda por cima logo nas linhasprincipais Moscovo-Donbass-Baku.

    Nem preciso dizer que recusei com firmeza a sua proposta. Estes comunistaslastimosos (Postnilov, Arnoldov e outros), que tinham fama de serem rbitrosinapelveis dos destinos do trfego na rede, declararam: Nesse caso no podemosresponder pelo trfego na rede. Isto era uma espcie de ultimato, ao qualrespondi: Podem apresentar a vossa demisso, acrescentando com uma pontade malcia as palavras de uma cano popular revolucionria: Os bolcheviques passaro sem ti.5 Eles no apresentaram a demisso e ns no declaramosnenhuma conveno, e assim demos a primeira lio de aco bolchevique aosfuncionrios do CVC e dos caminhos-de-ferro.

    Em vez de declararmos a conveno, envimos nessa noite os chefes dasdireces do CVC, os chefes de linha e outros aos troos obstrudos pelo nevo. Comeles foram encaminhados meios suplementares de limpeza das vias, materiais eguarda-vias qualificados das linhas mais prximas. Todavia, como muitos limpa-neves estavam fora de servio, tivemos de recorrer mobilizao de fora viva detrabalho munida de ps.

    5 Trata-se de uma cano revolucionria da guerra civil russa, com letra de Demine

    Bdni (1883-1945), que aproveitou uma conhecida melodia do folclore ucraniano, tambmutilizada pelos ciganos russos. Embora o poema tenha sido escrito em 1918, a cano s foide facto composta em 1922. (N. Ed.)

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    Nessa mesma noite, como secretrio do CC, falei pessoalmente com ossecretrios dos comits de oblaste das regies do partido e com os presidentes doscomits executivos de oblast. Pedi-lhes ajuda na limpeza das vias, vveres para aspessoas, ps, organizadores do partido, a colocao sob vigilncia do partido dosentroncamentos ferrovirios onde se tinha acumulado grande nmero de vages.

    Esta primeira batalha (assim se pode chamar com toda a legitimidade) saldou-sepor uma vitria, no s por se ter superado a situao naquele troo concreto darede, mas tambm porque teve uma assinalvel influncia e efeito em muitosferrovirios, incluindo no aparelho do CVC. As pessoas viram que o nosso caminhopara garantir a vitria no transporte ferrovirio no era recuar perante asdificuldades, no era utilizar a famigerada conveno para esconder a nossaimpotncia, falta de mo ou prevaricao consciente, mas sim o ataque bolcheviqueorganizado s dificuldades e a sua superao.

    Comuniquei o ocorrido a Stline e ao Politburo, que aprovou as minhas aces.Stline acrescentou: Desenvolva a ofensiva!. E nesse momento solicitei que me

    autorizassem a no cumprir a habitual regra observada na substituio decomissrios: a elaborao da acta de entrega e tomada dos assuntos, uma vez queisso exigia muito tempo, desviando-me a mim e ao aparelho das questes urgentes.O camarada Stline, meio a brincar meio a srio, perguntou: No ser, camarada Kaganvitch, que voc no quer simplesmente estragar as relaes com o seuamigo Andriev? Respondi: No se trata disso, mas sim que tal afastar-me- dotrabalho, a mim e ao aparelho, durante quase um ms, e isso, no actual estado decoisas, no tolervel. Nesse caso concordamos, mas que isso no leve aoescamoteamento das insuficincias. Os membros do Politburo concordaram. Assim, no fizemos a acta, mas no abafmos a crtica s insuficincias, pelocontrrio, fizemo-la amplamente, maneira bolchevique.

    Tnhamos perante ns a tarefa geral de cumprir o plano estatal de cargas etransportes, e primeiro que tudo, garantir o transporte das mercadorias de primeiracategoria; lanar tais alicerces no funcionamento do transporte do Estado Soviticoque pudessem assegurar o avano ofensivo da economia socialista. Para a resoluodesta tarefa era necessrio agarrar o elo principal para arrastar toda a cadeia, e esseelo era, na poca, a disciplina laboral, a disciplina do processo tecnolgico, adisciplina que permitiria harmonizar todo o trabalho complexo do sistemaferrovirio.

    Era preciso desenvolver a ofensiva no com base de conversas gerais sobre adisciplina, mas a partir dos problemas mais agudos, que tal como um foco reflectemtodos os processos enfermos no organismo do transporte ferrovirio. Em primeirolugar, essas questes nodais eram a luta contra os descarrilamentos e acidentes;contra a linha e prtica anti-estatal do Instituto de Investigao Cientfica para aExplorao do CVC; e a acelerao da rotao dos vages.

    Comemos a trabalhar na elaborao de resolues sobre estas questes logonos primeiros dias de Maro. Convocmos reunies de trabalho, conversmos commuitas organizaes e funcionrios, com professores e quadros cientficos. Arenncia elaborao da acta de entrega e tomada dos assuntos foi proveitosaporque havia funcionrios que esperavam que o novo comissrio se afogasse empapis e nmeros, enquanto eles continuariam a administrar a rede moda antiga.

    At manifestaram um zelo hipcrita pelos interesses do novo comissrio, de

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    modo a que tudo o que de mau eu descobrisse ficasse registado em documentos,mas eu recusei esse falso zelo.

    No trabalho de preparao de medidas de luta contra os descarrilamentos eacidentes foram envolvidos muitos ferrovirios, desde maquinistas, condutores,chefes de vago, agulheiros at chefes de depsito de locomotivas, de estao e de

    linha. A tarefa consistia no tanto em emitir mais uma ordem, mas sobretudopermitir que ns prprios conhecssemos a raiz do problema e consegussemosencontrar as principais alavancas para alterar a situao. Por isso, quando a ordemsobre a luta contra os descarrilamentos foi emitida, os maquinistas, chefes de vagoe de estao disseram: Esta ordem foi escrita pelas nossas mos, com o sangue donosso corao, e vamos bater-nos pelo seu cumprimento.

    Logo de incio elabormos um projecto de resoluo do CC e do Conselho deComissrios do Povo [Sovnarkom]. O Politburo aprovou o seu contedo, mas ocamarada Stline, que era contra os clichs no trabalho, apresentou a seguinteproposta: Nestes ltimos anos disse fizemos mais resolues do CC e do

    Sovnarkom sobre o transporte ferrovirio do que sobre qualquer outro ramo.Pelos vistos isto foi necessrio, mas agora a situao alterou-se. Agora precisoquebrar ou conter essa inrcia. preciso que todas as medidas, e agora elas seromuitas, sejam elaboradas e tomadas corajosamente pelo camarada Kaganvitch,enquanto novo comissrio das Vias de Comunicao, sem que esteja sempre atidoa ns. Nas resolues j adoptadas h uma grande reserva de directivas nocumpridas, pelas quais o camarada Kaganvitch ir orientar-se. Agora ele tem deestudar mais profundamente a vida e o assunto, e deixemo-lo tomar as medidasnecessrias atravs de ordens do comissrio do povo das Vias de Comunicao. As mais importantes ser-nos-o comunicadas; depois do nosso acordo nofundamental, poder public-las, ou, se encontrarmos inconvenientes, levarem conta as nossas observaes, far as alteraes necessrias e mand-las-publicar. Os membros do Politburo, com grande assentimento, aprovaram estaproposta de Stline.

    certo que isto significava que me tinham sido atribudos grandes poderes, maseu entendi-o como a atribuio de uma grande responsabilidade.

    Assim, a informao da ordem do comissrio do povo das Vias de Comunicaosobre A Luta Contra os Descarrilamentos e os Acidentes N. 83/Ts (Tssignificava comissrio) foi aprovada pelo CC e publicada em 19 de Maro de 1935.Nela atrevemo-nos a publicar nmeros, que at a no se publicavam, mas isso eranecessrio para que todos os ferrovirios sentissem a agudeza, a desonra e agravidade da situao, para que isso entrasse na conscincia e no esprito de cadaferrovirio. A ordem comeava directamente com as palavras: O nmero dedescarrilamentos e acidentes nos caminhos-de-ferro ainda elevado e nos ltimostempos tem aumentado. S em 1934 ocorreram 62 mil acidentes edescarrilamentos. O aumento do nmero de descarrilamentos e acidentes tm-semantido em 1935: em Janeiro registaram-se sete mil, em Fevereiro, mais de cincomil descarrilamentos e acidentes. Seguiam-se os dados relativos s mercadoriasdanificadas, prejuzos, situaes de incumprimento de ordens, etc. O fogo da crticaera dirigido ao pessoal de comando de modo a que no se voltasse a ouvir a fraseproverbial: A culpa do agulheiro. A responsabilidade por tal vergonhoso

    trabalho dizia-se na ordem recai em primeiro lugar nos chefes directos do

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    transporte: chefes de linha, chefes de seco poltica, chefes de seco deexplorao, de depsito de locomotivas, de divises de ferrovia, de ligaes.

    Condenava-se a prtica imprestvel dos chefes de linha e do aparelho do CVC,que, ao receberem informaes sobre os descarrilamentos e acidentes, asarrumavam com a nota para conhecimento. Em resultado habituavam-se aos

    descarrilamentos, consideravam-nos uma coisa normal, e viam a luta contra elescomo uma tarefa secundria, sendo-lhes estranha a angstia bolchevique pelo vergonhoso trabalho dos caminhos-de-ferro. Mesmo o CVC nem sempre erainformado dos descarrilamentos. Na ordem condenava-se igualmente a prtica que via a entrega dos processos aos tribunais como a medida mais eficaz: Os procuradores acusam, os tribunais julgam, mas o nmero de descarrilamentosaumenta. Tal atitude formal, indiferente e burocrtica para com a luta contra osdescarrilamentos levara a que, numa srie de depsitos de locomotivas, quasemetade dos maquinistas tinham cumprido penas ou sido julgados. As chefias sublinhava-se na ordem no compreendem que os descarrilamentos ou

    acidentes se assemelham derrota de um destacamento militar em combate, ecomo tal devem ser estudados em todos os detalhes pessoalmente pelocomandante, para que se retirem todas as lies da derrota, se corrijam asinsuficincias e se melhore todo o trabalho. A luta contra os descarrilamentosdeveria tornar-se a primeira e principal obrigao das chefias das linhas e de todo opessoal de comando, uma vez que nos descarrilamentos se concentram todas asinsuficincias do funcionamento dos caminhos-de-ferro. Os descarrilamentos,como um espelho, reflectem o estado da disciplina e da direco tcnico-organizacional das linhas.

    Com base num profundo estudo das ocorrncias apurou-se que mais de um terodos principais descarrilamentos tinha sido consequncia da ruptura dascomposies, cujo nmero total, em 1934 e em dois meses de 1935, se cifrava emmais de 26 mil casos. Fez-se uma anlise minuciosa das causas das rupturas,designadamente, a formao incorrecta dos comboios, a inspeco negligente dosmecanismos de engate e a fixao deficiente das composies, a atitude desatentadas brigadas de condutores aos sinais dos maquinistas de frenagem e desfrenagemdo comboio, conduo incorrecta durante os trajectos e no arranque,desconhecimento dos perfis da via por parte dos maquinistas, bem como adesconformidade dos perfis existentes com os projectos. Naturalmente que se oschefes de linha e dos servios lutassem contra a m qualidade do trabalho, ou seja,pela disciplina dos seus executantes, estas causas poderiam ser eliminadas, seno

    todas pelo menos uma grande parte, ou fortemente reduzidas.Foi ordenado aos chefes de linha que tomassem pessoalmente em mos a luta

    contra os acidentes e descarrilamentos e no se limitarem ao apuramento dascausas dos acidentes e descarrilamentos, adoptarem todas as medidas operativasnecessrias de natureza econmico-organizacional e tcnica, tanto no querespeita eliminao dos acidentes e descarrilamentos como sua preveno.Foi-lhes ordenado que estudassem pessoalmente cada descarrilamento importantee se deslocassem ao local para investigar os principais aspectos da ocorrncia.

    Contra isto insurgiram-se os chefes de linha e os seus protectores noaparelho do CVC, demonstrando de todas as maneiras que tal era impossvel. Em

    torno deste ponto acendeu-se uma aguda polmica com os chefes de linha. Eucompreendia perfeitamente que com um tal nmero de descarrilamentos as chefias

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    no conseguiriam acompanhar sequer os mais importantes, mas retorqui-lhes:Em primeiro lugar, empenhem-se em reduzir o nmero de descarrilamentos; emsegundo lugar, de vez em quando podem enviar o vosso adjunto. Em terceirolugar e ltimo, o principal consiste em que compreendam que percorrer as vias,estar junto das tropas durante a batalha, o vosso dever mais importante. Se

    no se limitarem a assinar papis e se deslocarem aos locais dosdescarrilamentos, conseguiro conhecer mais profundamente a situao nadainvejvel, indecente, em que se encontram todos os servios da vossa linha e, coma severidade e ira bolcheviques, demoliro a baguna e os bagunceiros queprovocam a perda de vidas inocentes e de bens do Estado nos descarrilamentos.

    O azedume com que os chefes de linha se manifestaram contra o ponto que osobrigava a deslocar-se pessoalmente aos locais do descarrilamento mostrou que oponto tinha acertado no alvo. Forava-os a reestruturar os seus mtodos detrabalho, e isso era um forte golpe no mtodo burocrtico de gabinete de direco.Mergulhando num poo onde esto reunidos todos os defeitos do mau trabalho, os

    chefes de linha teriam de abandonar o seu estilo de trabalho de gabinete e dedicar-se erradicao da desordem que campeava nos caminhos-de-ferro. Eis por que,quanto mais veementes eram as suas objeces, mais eu insistia na defesa desteponto, que naturalmente foi mantido. Quando transmiti isto a Stline e a outrosmembros doPolitburo, eles apoiaram inteiramente a minha posio.

    Muitas iniciativas tcnico-econmicas de preveno dos descarrilamentos foramelaboradas e aprovadas pelo CVC e pelos caminhos-de-ferro, com base emrecomendaes e observaes crticas do pessoal das linhas, designadamente dosnossos chefes de linha, bem como de maquinistas, guarda-vias, vagonistas,funcionrios da explorao, etc.. Por exemplo, no que respeita rede de vias foiproposto realizar, pelo menos duas vezes por ano, uma inspeco total dos carrisexistentes e substituir, no prazo de um ms, todos os que representassem perigopara o trfego de comboios; estabelecer planos de verificao sistemtica das viascom aparelhos de medio, fornecer aos maquinistas perfis longitudinais das viascertificados, reparar todos os sinais de trfego e colocar novos sinais nos locaisdesnivelados.

    Um dos aspectos centrais era a questo da eliminao das consequncias dosdescarrilamentos. O cmulo da impotncia e da irresponsabilidade dos chefes delinha dizia-se na ordem a lentido com que se processa a liquidao dasconsequncias dos descarrilamentos. O trfego fica interrompido por muitashoras apenas porque os meios tcnicos no esto preparados. Na maioria dos

    sectores, os comboios de socorro so tripulados por pessoas reunidas pressa,sem um dirigente qualificado e sem o equipamento mais elementar e simples.Foram aprovadas medidas tcnico-econmicas e organizacionais de reforo doscomboios de socorro, com quadros qualificados permanentes, equipamento e gruas,de modo a que rapidamente pudessem desimpedir a via. Todavia, as gruasexistentes e as que foram fornecidas no eram capazes de levantar as locomotivas,nem sequer os pesados vages com carga, e nessa altura a indstria ainda noproduzia as potentes gruas de 130 a 150 toneladas. Coloquei ento ao Politburo anecessidade do fornecimento de gruas potentes ao CVC. O Politburo reconheceu anecessidade, mas Stline perguntou a Ordjonikdze: Porque que a nossa

    indstria no pode fornecer gruas potentes e temos de as importar do estrangeirogastando divisas? Ordjonikdze respondeu que por enquanto as fbricas no

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    dominavam a sua produo. Ouvindo isto, Stline apresentou outra proposta: Recusar a importao e incumbir o Comissariado da Indstria Pesada deconvocar imediatamente os directores das fbricas correspondentes paraorganizar a produo de gruas potentes.

    No dia seguinte, quando estive com o camarada Stline para tratar de outras

    questes, ele telefonou minha frente ao camarada Krov e disse-lhe: Dizem que afbrica Putlov recusou a produo de gruas potentes, toma conta do assunto eorganiza a produo, as gruas so muito necessrias a Kaganvitch. Depois deter terminado a conversa com Krov, Stline aconselhou-me a que eu prprio fossea Leningrado para, juntamente com Krov, acelerar este processo. No dia seguinte j me encontrava em Leningrado. A minha chegada intempestiva alegrou esurpreendeu Krov, mas de imediato seguimos para a fbrica Putlov, e o assuntoficou tratado. O director da fbrica, o camarada Ots, que eu conhecia ainda dePskov, onde me tinha deslocado para o Congresso dos Sovietes, convocou na nossapresena uma reunio tcnica, na qual os trabalhadores decidiram fornecer ao

    transporte ferrovirio gruas potentes, o que foi realizado rapidamente. E assimmunimos os comboios de socorro com equipamento potente e moderno.O cumprimento da ordem teve como principal resultado o facto de que os

    ferrovirios comearam a demonstrar um activismo abnegado e energia na lutacontra os descarrilamentos, em particular os novos operrios frescos, que seformaram e cresceram nesta luta, a qual, como ns espervamos, constituiu umpoderoso impulso e veculo de compreenso da disciplina geral, para omelhoramento da administrao e a alterao do estilo de trabalho burocrtico degabinete.

    Porm, os parasitas no s entravaram o cumprimento das ordens, como

    provocavam conscientemente descarrilamentos de sabotagem. Por isso a lutacontra eles em vez de abrandar, intensificou-se. Infelizmente, nesta luta sofreramtambm inocentes. A este propsito, o CVC e a procuradoria reuniram-se com osfuncionrios judiciais-procuradores. No discurso que fiz nessa conferncia, pedi eexigi que, a par da punio dos que eram verdadeiramente culpados, fosse reveladaa mxima prudncia de modo a no permitir a condenao de inocentes.

    Depois de apresentar o relatrio sobre a luta contra os descarrilamentos,informei o Politburo da preparao de medidas sobre a rotao dos vages e asuperao do conservadorismo e do limitismo no transporte. Apresentei aproposta de que o CC e o Sovnarkom convocassem uma conferncia de quadros dotransporte ferrovirio, a exemplo de anos anteriores. O Politburo concordou com aideia, reconhecendo a necessidade de convocar uma tal conferncia, mas ocamarada Stline fez uma correco: diferentemente dos anos anteriores, devia-seencarregar o CVC da convocao da conferncia por incumbncia do CC e doSovnarkom. No momento presente disse isso servir melhor os interessesdo reforo da disciplina no seio do prprio CVC, bem como o prestgio da suadireco. E assim foi aprovado. Pedi autorizao para convocar a conferncia paraa sala do Comit Central, o que teria um grande significado. OPolitburo concordou.

    No dia 1 de Abril de 1935, a conferncia foi aberta por mim. Nos seus trabalhosparticiparam os membros do Politburo e o camarada Stline. Na conferncia nofoi colocada a questo do transporte ferrovirio em geral, mas sim trs questes

    nodais: a luta contra os descarrilamentos, o aumento da rotao dos vages e aconstruo de infra-estruturas. Estas questes decisivas permitiram-nos ligar as

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    tarefas da luta em curso com as perspectivas da reconstruo ulterior do transporteferrovirio.

    Sobre a questo dos descarrilamentos, tanto eu como os camaradas queintervieram falamos sobretudo da forma como cumprir a ordem sobre a luta contraos descarrilamentos. No meu discurso sublinhei que uma autntica viragem na

    luta contra os descarrilamentos e acidentes ainda no est consumada.Considerava-se que a luta contra os descarrilamentos e acidentes constitua umacentsima parte do trabalho geral e das medidas promovidas nos caminhos-de-ferro. No se compreendia em absoluto que os descarrilamentos e os acidentes soo principal indicador da qualidade do trabalho, e que a luta contra eles a maisimportante alavanca para a reestruturao do trabalho do transporteferrovirio. A actual reestruturao decorre numa luta contra a resistncia a estareestruturao. Elementos dessa resistncia, falemos abertamente, existem at empessoas como vs prprios quadros dirigentes do transporte.

    Abordando em pormenor as medidas concretas, sobretudo organizacionais,

    sublinhei em particular a importncia da disciplina na luta contra osdescarrilamentos. A importncia da disciplina para si prprio, para a PtriaSocialista, para os milhes de trabalhadores do transporte disse ainda no compreendida em toda a parte. Eis por que, de cima a baixo, se espezinha adisciplina. Os dirigentes no so capazes de organizar os maquinistas, osagulheiros, os chefes de trfego, os condutores e outros funcionrios de modo atrabalharem competindo entre si com entusiasmo. Esta sua incapacidade, algunsdirigentes tentam compens-la com castigos a torto e a direito. certo queexistem inimigos de classe, sabotadores conscientes; e se uma pessoa efectivamente incorrigvel, deve ser demitida e castigada. Mas no se podeproceder desse modo com um trabalhador que ocasionalmente cometeu uma falta.No se pode disse transformar os julgamentos e as sanes disciplinares emmedidas massivas, que, em alguns depsitos de locomotivas ou certos troos soaplicadas quase maioria do pessoal. Desta forma, estas medidas perdem o seusignificado. As sanes disciplinares devem impelir a massa restante a melhorar otrabalho. Mas para isso s devem ser aplicadas aos incorrigveis. A todas asoutras pessoas preciso dar formao tcnica e poltica.

    Contra os limitistas do transporte

    A questo da luta contra os descarrilamentos estava indissociavelmente ligada luta terica e prtica contra o limitismo, uma vez que os limitistas no s nolutavam contra os descarrilamentos como os justificavam, alegando hipocritamenteque os descarrilamentos eram unicamente um resultado do facto de os caminhos-de-ferro j funcionarem supostamente no limite. Por isso, ocupmo-nos emsimultneo desta questo, uma vez que nenhuma medida de saneamento dotransporte poderia ser aplicada sem a superao desta, digamos, barreiraideologicamente perniciosa ou sabotadora.

    At 1935 a teoria do limite era pregada por um grupo significativo de figuras,que se auto-intitulavam cientistas e trabalhavam em institutos de investigaocientfica do CVC, estabelecimentos de ensino superior, revistas, etc. Apresentavamclculos e indicadores artificialmente rebaixados que lhes permitiam

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    fundamentar pontos de vista contrrios aos interesses do Estado e do socialismo.Afirmavam que as possibilidades tcnicas e administrativas dos caminhos-de-ferroestavam alegadamente esgotadas, que o transporte funcionava no limite, que oscaminhos-de-ferro da URSS no comportavam mais de 53 a 56 mil vages por dia,apesar do muito que j tinha sido feito para o seu reforo tcnico-administrativo.

    Por essa razo tanto no transporte ferrovirio como no prprio centro, no CVC,era preciso travar uma luta pela linha do partido e do CC, a qual no era seguidasequer por todos os comunistas. Em suma pode-se dizer que os senhores dopensamento no CVC e nas linhas eram os chamados cientistas da doutrina dolimitismo, cujas frmulas pseudo-cientficas serviam de cobertura cmoda sprticas incorrectas e ao mau trabalho de todos os funcionrios falhados.

    Esta mscara cmoda dos funcionrios incompetentes era tambm utilizadasecretamente pelos bandos de sabotadores e grupos de vikjelevistas,6bukharinistase trotskistas de direita que trabalhavam no transporte. Consequentemente, oslimitistas tinham muita fora e contrapunham linha do partido leninista as

    suas alegadas doutrinas tcnicas. Eis por que o CVC teve necessidade de comearpela luta em defesa da prpria linha do partido, derrotando os seus opositores econsolidando o partido como esteio inabalvel e orientador da aco para umrpido avano, ao lado de todos os construtores do socialismo no nosso pas.

    Os limitistas criaram uma atmosfera de total irresponsabilidade, que rompiacom o plano estatal de transportes, fornecendo uma justificao pseudo-cientficado trabalho medocre dos ferrovirios atrasados. Por isso, entre os limitistas dosinstitutos cientficos e os seus adeptos no aparelho do CVC e nas linhas havia umaestreita ligao ideolgica e prtica nisto residia a sua fora.

    Para derrotar estes senhores do pensamento, era preciso refut-los no mago,

    tanto mais que mesmo entre os quadros cientficos havia gente honesta,limitistas equivocados. Por isso no bastava publicar a ordem, antes da suapublicao era preciso trabalhar a srio: realizar uma srie de confernciascientficas e conversas pessoais do comissrio com os prprios limitistas e, emparticular, com os que no eram seus partidrios ouvir uns e outros. Estasconferncias mostraram que uma parte significativa do corpo dos mais antigosengenheiros das Vias de Comunicao e mesmo uma certa parte dos jovenscientistas recm-formados tinham contrado esta doena. Os seus mais notveisintrpretes eram os professores Vassliev, Kudrevatov e Neichtadt, que trabalhavamno Instituto para a Explorao, e Brtine, chefe da Seco Oriental do CVC. Se oprofessor Vassliev era, digamos, o terico no partido representante dosconservadores, que no compreendia a concepo revolucionria da naturezasocialista dos nossos transportes soviticos e ignorava as vantagens da economia

    6 Vikjelevistas (aportuguesamento da palavra russa vikjelevtsi), designao atribuda aosmembros do Comit Executivo de Toda a Rssia dos Caminhos-de-Ferro (cujo acrnimorusso VIKJEL). Este rgo foi constitudo no Congresso Extraordinrio dos Ferrovirios,realizado em Janeiro de 1918, como rgo sovitico mximo de administrao dostransportes, ao qual competia, designadamente a nomeao do colgio do Comissariado dasVias de Comunicao. Todavia, logo em Maro do mesmo ano, a tutela dos transportes foientregue na sua plenitude ao CVC. O VIKJEL ficou assim reduzido s funes de rgo

    mximo do sindicato dos ferrovirios, perdendo todas as funes na administrao. EmMaro de 1919 foi finalmente extinto, dando lugar ao Comit Central do Sindicato Unificadode Operrios e Empregados dos Caminhos-de-ferro. (N. Ed.)

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    socialista, j o professor Kudrevatov, antigo chefe dos caminhos-de-ferro do Sul edo Cucaso no perodo de Denkine, que trabalhou bem para os brancos (para ns,nem tanto), era adversrio contumaz do desenvolvimento dos transportessoviticos. Todavia, este professor denikinista gozava de grande estima noaparelho do CVC, enquanto Brtine, chefe de to importante Seco da Direco de

    Explorao do CVC, dava o tom em todo o servio. Quando estavam juntos, o vice-comissrio Postnikov, um Golias alto e forte, e Brtine, um indivduo baixo ecorcovado, pareciam o Bucha e o Estica. Postnikov imaginava que dirigia asOperaes, mas na prtica quem dirigia era Brtine, e dirigia no sentido limitista,boicotando o plano de cargas e transportes. Foram os cientistas, que convocmospara as conferncias com o comissrio, velhos e jovens, que nos ajudaram aentender os clculos errados e os indicadores distorcidos dos limitistas, contra osquais se manifestaram, apresentando os seus prprios clculos. Uma ajuda decisivafoi-nos prestada igualmente pelos maquinistas avanados, operadores demanobras7 e chefes de trfego, aos quais nos dirigimos, e cuja prtica no dia-a-dia

    refutava os indicadores tcnicos pseudo-cientficos dos limitistas. Adiantereferir-me-ei mais em pormenor a estes trabalhadores avanados, em particular aosmaquinistas krivonossistas,8 mas primeiro quero nomear aqueles cientistasavanados que prestaram ao transporte e a mim pessoalmente, como novocomissrio, uma grande e inestimvel ajuda, sem a qual teria sido difcil refutarcientificamente a teoria do limite. Trata-se antes de mais de professores comoObraztsov, cientista sovitico e patriota revolucionrio, Siromitikov e Nikoliev,especialistas em locomotivas, Zemblinov, especialista em operaes, Perederi,construtor, Sokovitch, especialista em trfego, que inicialmente hesitou mas depoisinterveio contra os limitistas no decurso da polmica; e alm destes,Khatchaturov, jovem cientista economista talentoso, que propusemos para membrocorrespondente da Academia, Motchline e outros. Nos caminhos-de-ferro surgirammuitos jovens engenheiros recm-licenciados que intervieram na rixa por novosindicadores, tais como Platonov e Bechev (futuro ministro) e outros. E no prprioCVC, Vichnevetski, Baev, Podchivalov, Dubrvnine e outros revelaram-seengenheiros avanados.

    Em resultado deste combate srio de denncia cientfico-tcnica conclumos queestes senhores limitistas, bradando sobre a cincia, na prtica, como demonstreino Plenrio do CC do PCU(b), manipulavam a cincia, os clculos cientficos, justificavam demagogicamente os elementos mais atrasados e os mtodosretrgrados de trabalho apenas para impedir o desenvolvimento iniciado do

    transporte ferrovirio. Mas o seu domnio tinha chegado ao fim. A ordem docomissrio do povo das Vias de Comunicao que elabormos, foi examinada noPolitburo do CC do PCU(b) e aprovada com as alteraes correspondentes. Era um

    7 Funcionrio ferrovirio com a misso de separar e juntar vages ou carruagens eorientar as manobras.

    8 Trata-se dos maquinistas inovadores que seguiram o exemplo e experincia de PitrFidorevitch Krivonoss (1910-1980), que iniciou o movimento stakhanovista no sectorferrovirio em 1935, ao decidir aumentar a presso da caldeira da sua locomotiva,conseguindo duplicar a velocidade do comboio de mercadorias para 46-47 quilmetros por

    hora. Depois de terminar o Instituto de Electromecnica (1953), tornou-se chefe da linhaSudoeste. Foi por vrias vezes eleito deputado do Soviete Supremo da URSS e integrou o CCdo PC da Ucrnia. (N. Ed.)

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    texto longo em que se expunha detalhadamente o contedo do limitismo. Porisso o camarada Stline props a sua reduo de modo a que fosse lido pelo mximonmero de trabalhadores. Por fim, em 14 de Abril de 1935, foi publicada a ordemn. 99/Ts sobre A Linha e a Prtica Anti-Estatais do Instituto de InvestigaoCientfica para a Explorao e da Seco das Linhas Orientais da Direco de

    Explorao do CVC. Atribuo a esta ordem uma tal importncia que me permito transcrever aqui a

    parte em que, de forma resumida mas expressiva, se explica a essncia dolimitismo.

    A investigao realizada ao trabalho do Instituto de Investigao Cientfica para a Explorao afirma-se na ordem mostrou que toda a linha eactividade prtica do Instituto e da Seco so contrrias s decises do partido,do governo e do CVC sobre o cumprimento do plano estatal de transportes, em particular no que toca acelerao da rotao dos vages. Em vez de umaefectiva ajuda empenhada aos operacionais ferrovirios, com vista execuo

    das decises do CC do PCU(b) e do Sovnarkom da URSS sobre o cumprimento doplano estatal de fretes e melhoramento do funcionamento dos caminhos-de-ferro,os quadros dirigentes do Instituto e da Seco dos Linhas do Oriente S.I. Neichtadt, S.K. Kudrevatov, N.A. Morchkhine, C. V. Guriev, I.C. Berichvili, V.C.Brtine, chefe da Seco das Linhas Orientais, em conjunto com o professor M.I.Vassliev, consultor no CVC formaram um grupo com o objectivo defundamentar a impossibilidade da acelerao da rotao dos vages e, por essavia, do cumprimento do plano estatal de transportes.

    Na sua actividade prtica, o Instituto para a Explorao, apesar de ter gastovrios milhes de rublos, no realizou qualquer trabalho srio de investigao

    cientfica, e os operacionais ferrovirios, no seu difcil trabalho, no s noreceberam nenhuma ajuda cientfico-tcnica do Instituto, como nem sequer lhes foi fornecido um livro decente, que auxiliasse os chefes de estao e outrosfuncionrios operacionais a assimilar os ltimos progressos tcnicos no domnioda explorao ferroviria. Em vez disso desmobilizaram e confundiram atalguns quadros dirigentes do CVC com hipcritas consideraes pseudo-cientficas, segundo as quais, alegadamente, os nossos transportes apresentavamindicadores de funcionamento superiores aos norte-americanos.

    Na sua actividade prtica de organizao do trfego, a Seco das LinhasOrientais seguia, no a linha do CVC, mas a do atrs referido grupo de mandriesdo Instituto para a Explorao. Em resultado, a Seco das Linhas Orientaistrabalhou pior que as outras seces.

    Considerando o atrs referido, ordeno:1. Destituir de funes no Instituto para a Explorao o seu chefe, S.I.

    Neichtadt, os colaboradores N.A. Morchkhine, C.V. Guriev, S.K. Kudrevatov e I.C.Berichvili, e das funes de consultor M.I. Vassliev.

    2. Demitir de funes o chefe da Seco das Linhas Orientais, V.C. Brtine.3. Nomear com despromoo de funes:V.C. Brtine chefe-adjunto da Seco de Explorao da Linha do Cucaso do

    Norte em Groznenski; S.I. Neichtadt engenheiro para tarefas tcnicas na Estao de Bratak da

    Linha de Samara-Zlatost;

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    N.A. Morchkhine engenheiro para tarefas tcnicas na Estao de Iudino naLinha de Moscovo-Kazan;

    C.V. Guriev engenheiro para tarefas tcnicas na Estao de Topki na Linhade Tomsk;

    I.C. Berichvili engenheiro para tarefas tcnicas na Estao de Rtichevo na

    Linha de Riazan-Uralsk4. Nomear para chefe do Instituto de Investigao Cientfica para a Explorao

    o camarada A. C. Motchline.

    O comissrio do povo para as Vias de Comunicao, L. Kaganvitch

    Ulteriormente foram dadas instrues sobre questes de fundo da investigaocientfica.

    Na sua interveno na I Conferncia de Stakhanovistas de Toda a Unio, ocamarada Stline referiu-se s medidas adoptadas do seguinte modo: Tomemos,por exemplo, o Comissariado das Vias de Comunicao. No aparelho central destecomissariado existia at h pouco um grupo de professores, engenheiros e outrosperitos do ofcio entre eles estavam tambm comunistas que garantia a todaa gente que 13-14 quilmetros por hora de velocidade comercial constituam olimite, para alm do qual no se podia ir, impossvel mover-se, caso no sequisesse entrar em contradio com a cincia da explorao. Este era um grupobastante prestigiado, que propagava os seus pontos de vista oralmente e naimprensa, dava instrues aos correspondentes rgos do CVC e, em geral, eramsenhores do pensamento entre os funcionrios da explorao. Ns no somos peritos do ofcio, com base nas propostas de toda uma srie de prticos dos

    caminhos-de-ferro, garantimos, por sua vez, a estes prestigiados professores que13-14 quilmetros no podem ser o limite e que, com uma determinadaorganizao do trabalho, possvel alargar este limite. Em resposta a isto, estegrupo, em vez de escutar a voz da experincia e da prtica e rever a sua atitudepara com o assunto, lanou-se numa luta contra os elementos progressistas doscaminhos-de-ferro e intensificou ainda mais a propaganda dos seus pontos devista conservadores. Como se compreende, tivemos de limar os dentes destarespeitada gente e, delicadamente, p-los fora do aparelho central do CVC. Queaconteceu? Agora temos uma velocidade comercial de 18-19 quilmetros por hora.Penso, camaradas, que em ltima anlise temos de utilizar este mtodo tambm

    noutros domnios da nossa economia nacional, se, naturalmente, osconservadores que se opem no cessarem de estorvar e meter paus nas rodas domovimento stakhanovista.

    Deste modo, a luta contra o limitismo no transporte era uma condio para odesenvolvimento do movimento stakhanovista-krivossonovista nos caminhos-de-ferro e do alcance de novos padres elevados no trabalho. Esta luta e a vitria sobreos limitistas no foram fceis porque a sua pseudo-teoria nutria os trabalhadoresatrasados e o mau trabalho de muitos. No foi por acaso que a ordem sobre oslimitistas foi publicada em 14 de Abril, enquanto no dia 15 foi publicada a ordemsobre a Acelerao da Rotao dos Vages. No decurso do trabalho depreparao das medidas desta ltima, os limitistas desenvolveram uma furiosaactividade, impedindo por todos os meios o aprofundamento do problema.Trabalhavam tanto clandestinamente como por meios legais, intervindo na

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    imprensa para demonstrar a impossibilidade da acelerao da rotao dos vages.E dessa forma anteciparam a sua derrota. Assim que se tornou claro que oslimitistas estavam derrotados, os funcionrios do CVC mudaram de atitude emrelao tarefa da acelerao da rotao dos vages. E isto no aconteceusimplesmente por medo, mas porque a adopo de uma linha poltica firme

    tambm determina a prtica.A acelerao da rotao dos vages foi por ns definida como prioritria, a tarefa

    mais importante, da qual dependia directamente o cumprimento do plano estatalde cargas e transportes. A rotao de vages consiste na quantidade de tempo vago/dia gasto na carga, transporte, descarga e entrega dos vages para novacarga.

    Se a rotao for deficiente, podemos ter um grande parque de vages e no terunidades disponveis para carga. Inversamente, com uma quantidade mnima devages, possvel ter unidades livres para carga se houver uma rotao acelerada.Quanto menor for a quantidade de vages existentes, mais acuidade ganha a

    questo da acelerao dos vages e do melhoramento do trabalho de todos osservios que garantem a sua rotao.Mas era precisamente contra isto que os limitistas se manifestavam,

    transformando a cincia do trfego de comboios em cincia dos comboiosparados, vages na via e nas estaes. Como haviam rebaixado as normas tcnicase a velocidade comercial e aumentado as normas das paragens nas estaes, osoperacionais, trabalhando com estas normas, transformaram as estaes, deunidades de produo na formao e passagem de comboios, em zonas de retenoem cemitrios de locomotivas e vages avariados. Deste modo, a luta travava-se noem nome de frmulas cientfico-tcnicas abstractas, mas pelo saneamento de todo o

    trabalho e pelo reforo da disciplina na organizao do trfego. Foi uma luta tensa epenosa.Entre os ferrovirios, em particular na base, amadureceu a determinao de

    lutar contra o atraso e a podrido dos gabinetes, que impedia o transporte de darpassos em frente. O facto de ns termos envolvido, no estudo deste problema e naluta pela acelerao da rotao dos vages, maquinistas, condutores, jovensengenheiros, operadores de manobras, chefes de trfego, funcionrios dosdepsitos de locomotivas, das estaes e das vias, assegurou o posterior xito daluta pela acelerao da rotao dos vages. Pessoalmente, assim que cheguei aoCVC, escolhi dois pontos de apoio para estudar o ofcio na prtica a estao detriagem9 e depsito de locomotivas de Moscovo e a Estao de Liublin o quemuito me ajudou a compreender mais profunda e concretamente esta questo. Jconhecia estes lugares do tempo em que trabalhara no Comit de Moscovo dopartido, e isso ajudou-me a criar um ambiente informal e favorvel quando aliapareci na qualidade de comissrio do povo das Vias de Comunicao. As minhasconversas e reunies de trabalho com os funcionrios do depsito e da estao, comos maquinistas, condutores, operadores de manobras e outros, incluindo quadrosdirigentes, as discusses que presenciei entre os prprios trabalhadores, aobservao directa das operaes tcnicas tudo isto se revelou uma ajudainestimvel nos meus primeiros passos como dirigente do transporte ferrovirio.

    9 A estao de triagem o local de uma estao ou terminal onde os vages demercadorias so separados para formar novos comboios (N. Ed.)

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    Foi graas a pessoas avanadas operrios, empregados dos servios, engenheirose personalidades dos meios cientfico-tcnicos, atrs j referidas que conseguimossuperar a resistncia dos conservadores-limitistas e pudemos elaborar num curtoprazo um importante documento histrico para os caminhos-de-ferro: em 15 de Abril de 1935 saiu a ordem do comissrio do povo das Vias de Comunicao n.

    100/Ts Sobre a Acelerao da Rotao dos Vages.Na ordem e em medidas complementares foram tidas em conta todas as

    propostas de trabalho dos participantes na conferncia dos funcionrios dotransporte ferrovirio, realizada de 1 a 4 de Abril de 1935. Na conferncia apresenteios dados da rotao de vages por etapas, e estes dados foram registados na ordem:A rotao mdia dos vages no conjunto da rede, em 1934, foi de 211 horas, isto, 8,78 dias. Destas 211 horas, o vago esteve imobilizado para carga ou descarga47 horas (22%), nas estaes de triagem e zonas adjacentes das estaes, 91,5horas (43%), nas estaes entroncamento, 27 horas (13%), e esteve em movimentoapenas 45 horas (21,6%). Alem disso, a velocidade tcnica e comercial10 dos

    comboios foi extremamente baixa. Em mdia, o vago percorreu 117 quilmetros por dia. Muitos funcionrios da explorao ainda hoje consideram normal estefacto escandaloso, e pensam que os comboios de mercadorias so tartarugas que,pela sua natureza, no podem e no devem mover-se mais depressa.

    Penso que os nossos filsofos nos perdoaro esta comparao com umorganismo biolgico a tartaruga, mas ns nem sequer imaginvamos o enormeefeito moral que a expresso teve na conscincia dos ferrovirios. Alguns deles atpediram que se eliminasse da ordem a palavra tartaruga, mas ns noconcordmos, e devemos diz-lo, esta tartaruga teve grande popularidade nas vias,nas discusses com os conservadores. A gente avanada acusava-ospermanentemente: Vocs so tartarugas, e ns no queremos nem vamos sertartarugas.

    Apesar das enormes potencialidades de acelerao da rotao dos vages, umasrie de dirigentes das linhas, seces e estaes gastava a sua energia emdemonstraes anti-estatais sobre a impossibilidade de uma melhoria significativado funcionamento. No se cumpriam os horrios dos comboios, no havia planosde itinerrios, o que obrigava frequente modificao dos comboios, a reparaodos vages era deficiente. Em vez de repararem os vages l onde surgia a avaria, osresponsveis procuravam empurrar o vago doente para outra linha, criandoassim engarrafamentos nas estaes de entroncamento.

    Foi elaborado um grande programa de medidas, entre as quais se incluram arecuperao e o melhoramento das mais importantes estaes de triagem (sendoque foram identificados 76 destes ns ferrovirios mais importantes), a elaboraode horrios de circulao dos comboios de mercadorias e a reviso de horriosanteriores incorrectos com a eliminao de paragens inteis, aumento davelocidade tcnica durante os trajectos, reduo do tempo de espera no cruzamentode comboios e luta efectiva e prtica contra o incumprimento de horrios. Os chefesde linha foram incumbidos, em conjunto com os expedidores, de eliminar asintolerveis demoras durante as cargas e descargas, definindo-se em concreto oobjectivo de reduzir em 15 por cento o tempo de carga e descarga nas vias de juno

    10 Ao contrrio da velocidade comercial ou de explorao, a velocidade tcnica no incluio tempo de carga e descarga, para manuteno, avarias, etc. (N. Ed.)

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    dos clientes, e em 25 por cento nos transportes do prprio CVC. Foramestabelecidas metas concretas para a definio dos itinerrios de expedio decargas massivas (carvo, ferro, metais, petrleo, madeiras, sal, materiais deconstruo e cereais), no admitindo a alterao dos itinerrios de expedio etcnicos nas estaes de entroncamento, de distribuio e de triagem.

    Perante os chefes de linha, as seces de explorao e seces polticas, chefes deestao e organizaes do partido foram colocadas as seguintes tarefas: disciplinaro trabalho das estaes, eliminar o trabalho pressa, organizar e realizarsistematicamente reunies para instrues e verificao do conhecimento de cadaferrovirio dos seus deveres profissionais, disponibilizar quartos de repouso para as brigadas de locomotiva e de condutores, garantindo-lhes assistncia domstica epoltica (comida, gua fervente, roupa de cama, jornais, etc.).

    Em simultneo foram dadas instrues aos chefes das seces polticas paraabandonarem a prtica de reunies de vrias horas, que sobrecarregava osferrovirios. Em muitos casos, quando os maquinistas, condutores, agulheiros,

    engatadores e outros pegavam ao trabalho, incluindo nos turnos nocturnos,estavam cansados depois de dez horas de sesses e reunies nas diferentesorganizaes sociais.

    Foi decidido premiar os funcionrios das estaes e as brigadas de condutorespela ultrapassagem do plano de rotao dos vages e pela reduo nas normas deimobilizao, bem como se tomou uma srie de medidas para a elevao do papeldos condutores.

    Importncia particularmente grande teve a introduo nas linhas de inspectores-controladores de trfego permanentes do CVC, que trabalhavam segundo o mtodode Kutfine (acompanhamento directo do percurso dos comboios de mercadorias),

    integrados no quadro de pessoal do CVC e subordinados durante a execuo dasmisses ao chefe da linha. Aos inspectores-controladores foi dado o direito detransmitir directamente todas as anomalias graves na circulao dos comboios aocomissrio do povo das Vias de Comunicao, o qual promovia a anlise rpida e ainterveno para cada caso. Os inspectores-controladores desempenharam umimportante papel como fiscais da circulao dos comboios de mercadorias; s ofacto em si de os agentes dos caminhos-de-ferro saberem que todas as poucas- vergonhas seriam comunicadas ao comissrio pelos inspectores-controladores suficiente para os estimular e reforar a disciplina. O inspector-controlador era umaespcie de controlador ou de receptor estatal na produo dos caminhos-de-ferro,controlando a qualidade da produo: o transporte.

    Os chefes de linha e das seces polticas foram prevenidos de que ocumprimento das ordens do CVC deveria ser verificado de forma rigorosa econstante. Para alm disso, o CC conferiu-me o direito, como secretrio do CC ecomissrio das Vias de Comunicao, de solicitar directamente ajuda aos comitsde oblast e de krai, bem como aos comits centrais dos partidos das repblicas,designadamente no controlo da execuo das decises do CC, do Governo e dasprincipais ordens do CVC, aprovadas pelo CC. Naturalmente que isto produziu odevido efeito.

    Nestes primeiros meses de combate reunimos os militantes ferrovirios deMoscovo, aos quais tive oportunidade de comunicar as decises adoptadas, bem

    como os militantes do komsomol ferrovirios e ainda os comunistas do CVC.Comecei o meu discurso na assembleia do partido com as seguintes palavras: Peo

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    que ningum se ofenda, mas digo-vos francamente: vs saudais-me, mas agora euno posso saudar-vos, embora esteja convencido de que esse momento chegar. Estou longe de pensar que uma reunio geral, e mesmo a vontade de todos oscomunistas, suficiente para resolver esta grande e sria questo. Pelo contrrio,penso que teremos de trabalhar muito e no apenas trabalhar, mas batermo-nos

    para alcanar resultados importantes. Mas estou convicto de que o ncleo decomunistas no CVC e nas linhas ser capaz de, num curto prazo, cumprir acomplexa e difcil tarefa que o partido e o CC nos colocaram.

    Expondo o programa prtico de trabalho, disse: Alguns falam muito docomissrio. Naturalmente que da direco depende muito, mas se os comunistasno formarem em torno dela um anel estreito e combativo e se no se baterem aolado dela, ento tambm o comissrio, para usar a terminologia que vos familiar, sofrer um descarrilamento.

    Na reunio geral dos colaboradores do CVC, realizada dois dias mais tarde,afirmei que no pretendamos transtornar as pessoas, mas sim mud-las e

    reeduc-las, e apenas aqueles que no desejassem corrigir o seu trabalho, e emparticular os que se entrincheirassem no seu limitismo, seriam transferidos paraoutros postos de trabalho. No final afirmei: Camaradas funcionrios e funcionrias do CVC, no pode haver demoras, cada dia precioso. A partir deamanh, precisais de comear a trabalhar de uma maneira nova, sem ficardes espera de novas ordens. chegada ao comissariado, antes de mais, tratem dearrumar as gavetas das vossas secretrias, tm l uma quantidade considervelde lixo, deitem fora esse lixo. Comecem uma vida nova uma vida de luta, umavida empreendedora, uma vida de conhecimento do ofcio, uma vida derevolucionrios, para os quais todo o pas est a olhar, nos quais o partido e ogoverno sovitico depositam as suas esperanas, de cujo trabalho depende no sgrande parte da economia, mas tambm a Defesa da nossa grandiosa, amada Ptria Socialista Sovitica. Avaliaremos cada funcionrio individualmente, nohaver despersonalizao, no haver um aparelho policfalo, atrs do qual nose vem pessoas reais, aqui os papis no cobriro o rosto vivo das pessoas.Exigirei de cada chefe de Direco, Seco, Sector que conhea cada um dos seus funcionrios, que trabalhe com cada uma das pessoas, que as valorize tantomoral como materialmente pelo seu trabalho, pela sua experincia, pelo seuconhecimento.

    Atribuindo um grande significado importante arma de combate que aimprensa, convocmos uma conferncia de quadros da imprensa das seces

    polticas. Em rigor tratou-se de uma conversa, na qual ocupou um lugar dedestaque a questo de como apresentar hbil e profundamente a crtica e aautocrtica. A nossa imprensa ferroviria, encabeada pelo jornal central, Gudok,desempenhou um papel importante no desenvolvimento do transporte ferrovirio.

    Em simultneo foram elaboradas medidas de melhoramento do trabalhocientfico-tcnico do CVC. Transformmos a Conferncia Tcnica em ConselhoCientfico-Tcnico adstrito ao CVC, melhoramos o trabalho de investigaocientfico-tcnica no domnio do transporte e fundimos os institutos de investigaocientfica. O Conselho foi incumbido das seguintes tarefas: estudo de questestcnicas, tanto a pedido do comissrio como por iniciativa prpria, relacionadas

    com a renovao do transporte ferrovirio (introduo de novos tipos de mquinas,mecanismos e equipamentos de transporte, introduo de mtodos modernos e

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    aperfeioados nos trabalhos nas vias, na construo de vias e na sua mecanizao;estudo das questes tcnicas de melhoramento do funcionamento geral dotransporte ferrovirio (melhoramento da utilizao do material circulante,ampliao dos ns ferrovirios, etc.); anlise e avaliao dos projectos de novasgrandes construes ferrovirias, de equipamentos ferrovirios complexos e de

    mquinas.O Conselho era constitudo por I.V. Pudi (presidente), A.V. Sevriguine (vice-

    presidente), o acadmico I.G. Aleksndrov, os professores I.M. Guekel, C.V.Zemblinov, V.N. Obraztsov, V.L. Nikolai, P.V. Maichev, K.A. Oppengueim, P.K.Khudiakov, M.A. Chtelene, D.A. Chtangue e uma srie de outros destacadosengenheiros. O Conselho foi encarregado de recrutar na qualidade de peritos asmelhores foras tcnicas e prticas.

    Foi melhorado o planeamento do transporte de cargas e introduzidas alteraesno carcter e contedo das instrues do CVC para o cumprimento dos planosestatais mensais de cargas e transportes. No domnio da construo foram

    elaboradas medidas radicais de regulamentao em matria de projecto eprospeco. Foi convocada uma conferncia especial que definiu as orientaes comvista ao melhoramento sensvel do transporte de passageiros, designadamente coma eliminao dos atrasos dos comboios de passageiros. Noutra conferncia sectorialforam elaboradas medidas para o melhoramento do estado das ferrovias e pontes,tendo em vista, em particular, a urgente recuperao dos equipamentos nas vias.

    A deciso tcnico-material de construir 200 pontos de reparao de vages, quena prtica eram fbricas, no decurso do segundo semestre de 1935, teve umaenorme importncia para o reforo da base tcnico-produtiva da reparao devages. Esta foi uma resposta empreendedora, administrativa, tcnica e criativa

    maneira bolchevique aos limitistas, que temiam a destruio do parque de vagescom acelerao da rotao e aumento da velocidade de circulao. Recordo quequando esta proposta foi apresentada e aprovada pelo CC e pelo Governo, a maioriados quadros dirigentes do CVC e das linhas no acreditou no realismo do plano.Depois adjectivaram-no de metrostroista,11 devido aos prazos e ritmos. Outroschamaram-lhe a Magnitogorksk ferroviria.12 Esta difcil obra de construo, naprtica de 200 fbricas em apenas um semestre, foi cumprida. Nela foiefectivamente utilizada muita da experincia da Metrostroi. O CC, o governo e oComissariado da Indstria Pesada ajudaram-nos nos fornecimentos, at commquinas-ferramentas importadas, foram estabelecidos calendrios para a suaexecuo, etc. No Outono estas 200 oficinas de reparao de vages estavam

    prontas: os vages deixaram de ser reparados a cu aberto e deixou de ser precisopercorrer centenas de quilmetros at s oficinas. Os limitistas, cobertos de vergonha, foram derrotados pela fora bolchevique de todos os ferrovirios, quecontriburam para esta obra grandiosa para a nossa economia.

    11 Neologismo no original que evoca a construo do Metro de Moscovo pela organizaoMetrostroiem tempo recorde. (N. Ed.)

    12 Trata-se de uma aluso grandiosa obra da construo do complexo siderrgico deMagnitogorsk e da respectiva cidade. Decidida em Janeiro de 1930, passaram-se poucomais de dois anos para que a primeira escola, o primeiro instituto, cineteatro e aerdromo

    fossem abertos. Em Julho de 1933 iniciou-se a produo de ao. Aquela que era umapequena localidade, rapidamente se transformou numa cidade industrial com 146 milhabitantes em 1939. (N. Ed.)

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    Num curto prazo foi realizada uma imensa obra de renovao tcnica; foiconcluda a converso, j iniciada mas que se arrastava h anos, de todos oscomboios de mercadorias para o sistema de frenagem automtico total. No final de1935 este problema estava resolvido. Foram adoptadas medidas de melhoramentoda qualidade dos produtos metalrgicos fornecidos ao transporte ferrovirio e de

    aumento da responsabilizao das fbricas do Comissariado da Indstria Pesadapela qualidade. Em 3 de Junho de 1935 foi publicada uma ordem sobre esta questoassinada pelo comissrio povo da Indstria Pesada, Ordjonikdze e pelo comissriodo povo das Vias de Comunicao, Kaganvitch.

    Os primeiros xitos

    Pode-se dizer sem exagero que Maro, Abril, Maio e Junho de 1935 foram quatromeses de impetuosa ebulio da caldeira ferroviria, todo o organismo de cima a

    baixo trabalhava sob tenso, com criatividade, com combatividade, com sensatez, ea mudana, os primeiros xitos srios, foi alcanada.

    Agora podamos dizer sem jactncia que tnhamos superado a primeira etaparazoavelmente bem, com a classificao de satisfatrio, e numa srie de linhasat com um bom, como dizem os estudantes. Mas era preciso ter presente que obom obtido na 1. classe no suficiente para a 2. classe. Se ficarmos no mesmolugar, o bom da 1. classe pode transformar-se num insuficiente na 2. classe. Agora tnhamos de passar a um novo nvel mais elevado. Na primeira etapaconcentrmo-nos principalmente nas medidas organizacionais, na liquidao dedeficincias evidentes e inadmissveis, na coeso do colectivo de ferrovirios, em

    primeiro lugar, do pessoal dirigente e poltico, no estmulo da emulao e dotrabalho de choque, na denncia do marasmo, das prticas anti-estatais e dasinvenes pseudo-cientficas dos limitistas. Agora devamos entrar para a 2.classe, onde nos seriam feitas exigncias maiores e dadas tarefas mais complexas edifceis. Por isso, prosseguindo o trabalho atrs referido, precisvamos de colocar atnica na realizao de uma srie de intervenes em todos os ramos do sectorferrovirio, em primeiro lugar, concentrar especial ateno e esforos no parque delocomotivas, enquanto elo decisivo no melhoramento da circulao de comboios,que deveria consolidar e prosseguir o desenvolvimento do nosso transporteferrovirio. Nessa altura o parque de locomotivas ainda era utilizado de formaextremamente insuficiente, apesar de ter sido completado com os novos modelosE e FD. Nomeadamente, a velocidade tcnica era extremamente baixa, tendopermanecido praticamente no nvel anterior: 23 km/hora em 1932, 22,7 km/horano primeiro semestre de 1935 e apenas 23,7 km/hora em Junho desse ano; asinsuportveis paragens das locomotivas levavam a que, ao longo de um dia(excluindo os dias da lavagem), circulavam apenas 7,9 horas (33,1%), enquanto asrestantes 16,1 horas estavam paradas, quer nas estaes de entroncamento (3,7horas), quer nas estaes terminais (6,1 horas), quer ainda nas estaes de rotao(6,3 horas). A acelerao da rotao e uma utilizao mais eficaz das locomotivasera impedida pela manuteno insatisfatria das mquinas, pela m qualidade dasreparaes, pela ausncia de responsabilizao pessoal, m organizao do trabalho

    e pelo sistema remuneratrio pouco estimulante.

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    Durante um ms e meio aconselhamo-nos com alguns maquinistas avanados epreparmos a ordem sobre O melhoramento da Utilizao das Locomotivas e aOrganizao da Circulao dos Comboios. Quando informmos o CC desteprojecto, o camarada Stline, atendendo importncia das questes colocadas,props convocar uma segunda conferncia de funcionrios dos caminhos-de-ferro,

    semelhana da realizada em Abril, para a debater o projecto. A confernciarealizou-se em Julho de 1935.

    Em resultado, o projecto de ordem do comissrio do povo das Vias deComunicao n. 183/Ts, de 7 de Agosto, tomou a sua forma final, foi revisto,apresentado e aprovado pelo CC e pelo Governo. Na ordem, para alm da parteintrodutria de anlise da situao existente, eram tratadas as seguintes questes:melhoramento da explorao das locomotivas; reduo das paragens com metasconcretas, por exemplo, nas estaes de entroncamento em 30 por cento, etc.;aumento da velocidade tcnica em 15 por cento; organizao do trabalho porpequenos troos, com distncias de 60-70 quilmetros, de modo a que as brigadas

    possam fazer trs viagens completas; introduo de brigadas de locomotiva de trspessoas, mantendo em certos percursos brigadas de duas pessoas; definio denovos indicadores mais avanados do trabalho das locomotivas; novas tabelas ehorrios de circulao dos comboios de mercadorias com o aumento da velocidadetcnica e comercial das locomotivas, reduo do nmero de paragens dos comboios,simultaneidade de operaes de verificao dos vages, de limpeza das fornalhas,abastecimento de gua, etc.

    Particular destaque foi dado questo da liquidao da despersonalizao nasreparaes de rotina das locomotivas. Em vez das brigadas funcionais foramintroduzidas as brigadas de reparaes integrais ( excepo dos caldeireiros),dirigidas por um brigadeiro principal. Foram igualmente tomadas as seguintesdecises: criao nos depsitos de locomotivas de uma reserva permanente depeas mais utilizadas nas locomotivas; introduo da nova tcnica de lavagem dascaldeiras a quente, mediante arrefecimento artificial circulatrio; criao de secesresponsveis pelo trabalho administrativo de manuteno do parque delocomotivas na respectiva rea de circulao, libertando desta tarefa os chefes dedepsito, permitindo-lhes que concentrassem os seus esforos nas reparaes,organizao do trabalho e na formao das brigadas de locomotiva; redefinio dastarefas e funes dos chefes de linha, dos servios e da Direco de Locomotivas doCVC, tendo em vista o melhoramento do trabalho administrativo e de formao dequadros.

    Na conferncia de Julho (1935) foi colocada concretamente a questo daorganizao da circulao, das tabelas e horrios dos comboios. Incutimos naconscincia dos ferrovirios que o cumprimento rigoroso dos horrios de circulaodevia tornar-se a lei de ferro de todo o funcionamento do transporte.

    A dificuldade no transporte reside no facto de que as nossas deficinciassubjectivas insuficiente coeso, falta de formao dos elos intermdios e de basedo colectivo partidrio so agravadas pelas objectivas: distanciamento e dispersoda nossa produo. Efectivamente, o transporte ferrovirio uma frente singular eaquele que pensa entrar para este servio deve ter presente que se trata de umtrabalho mais agitado e difcil do que qualquer outro. O que que nos ajuda a

    superar as dificuldades? a locomotiva, a via, o vago (mant-los em perfeitascondies e melhorar a tcnica), a organizao das pessoas avanadas, a coeso de

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    todos os ferrovirios, a definio de um sistema de remuneraes justo, o incentivoao bom trabalho e, naturalmente, a organizao poltica das pessoas.

    Assim, um horrio nico para todos os comboios a tabela da circulao constitui a alavanca disciplinadora, o princpio organizador e dirigente na rede decaminhos-de-ferro, cujo cumprimento reflectir como um espelho tanto a harmonia

    como a desordem na circulao. So precisamente o horrio e a tabela que devemunir num s um colectivo de centenas de milhares de pessoas, dispersas pormilhares de quilmetros, agindo harmoniosamente. O horrio deve impelir cadaguarda-via a acordar a tempo para dar passagem ao comboio, o agulheiro apreparar a tempo a agulha e qualquer agente a trabalhar com preciso, escrupulosae organizadamente. preciso afirmei amar e respeitar o horrio comouma bandeira, como a condio fundamental para o desenvolvimento orgnico esaudvel do transporte.

    Quero referir aqui ainda outra passagem do discurso na conferncia de Julho: Aseleco e a formao dos quadros o primeiro dever das chefias do transporte,

    das seces polticas e dos sindicatos. Formar os quadros no significa uni-losatravs de relaes pessoais sentimentais e mesquinhas, encobri-los sem lhesapontar a tempo as deficincias por falsa bondade, e depois lev-los ruptura, aotribunal. Tal bondade sentimental acaba por custar caro. No, precisotrabalhar com as pessoas, ajud-las, estimular a autocrtica bolchevique dosdefeitos e vcios de modo a elev-las ao nvel das grandes tarefas, elevando aomesmo tempo o transporte ao nvel das tarefas que a todos so colocadas pelaeconomia socialista do nosso pas.

    Aps o encerramento da conferncia teve lugar um evento de grandeimportncia histrica: a recepo no Krmlin dos participantes bem como de outros

    ferrovirios avanados, convidados por dirigentes do partido e do governo. Nestarecepo interveio o secretrio-geral do CC do partido, Iossif VissrionovitchStline. O seu discurso teve grande significado terico e prtico e um efeitoinspirador, elevando o papel e a importncia do transporte ferrovirio ao mais altonvel do Estado. Stline disse: A existncia e desenvolvimento do nosso Estado,que supera em dimenso qualquer outro Estado do mundo, incluindo a Inglaterracom as suas colnias (no contando os domnios), inconcebvel sem umtransporte ferrovirio organizado, que liga as vastas regies do nosso pas num Estado nico () A Inglaterra enquanto Estado seria inconcebvel sem umtransporte martimo de primeira classe, ligando num todo nico os seus mltiplosterritrios. Exactamente do mesmo modo, a URSS enquanto Estado seria

    inconcebvel sem um transporte ferrovirio de primeira classe, ligando os seusmltiplos territrios e regies num todo nico. Nisto reside a grande importnciade Estado do transporte ferrovirio na URSS.

    As palavras de Stline tiveram ainda grande significado para o desenvolvimentodo esprito de responsabilidade em todos os ferrovirios e aumento da conscinciada dignidade pessoal: Entre os ferrovirios h trabalhadores em altos postos etrabalhadores em pequenos postos, mas no transporte no h pessoas suprfluase insignificantes. Comeando nos mais altos dirigentes e terminando nospequenos funcionrios, no agulheiro, nos lubrificadores, nos varredores todosso grandes, todos so importantes, pois o transporte uma cadeia, onde

    importante o trabalho de cada funcionrio, de cada engrenagem. Quando perceberem isto, camaradas ferrovirios, quando estabelecerem uma boa

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    coordenao entre todas as partes, entre todos os trabalhadores no mecanismo dotransporte ento isso ser a verdadeira disciplina bolchevique.

    O camarada Stline valorizou os xitos do transporte pelo seu mrito: Os xitosdo transporte so inquestionveis, e ns no pretendemos escond-los. Noprecisamos de falsa modstia. As vossas realizaes so considerveis. De 56 mil

    vages de carga em mdia por dia, aumentaram para 73 mil vages. Isto significativo do ponto de vista do desenvolvimento do transporte. No entanto,camaradas, do ponto de vista das necessidades do pas, isto ainda insuficiente. preciso alcanar entre 75 mil e 80 mil vages de carga em mdia por dia. Permitam-me brindar aos vossos xitos, que so inquestionveis e pelos quaismerecem um verdadeiro elogio, fraterno e bolchevique. Permitam-me brindar aosxitos que ainda no alcanaram, mas que seguramente iro alcanar, a quetodos vs do agulheiro ao comissrio faais tudo o que necessrio para que otransporte funcione com rigor, preciso, como o mecanismo de um relgio, umacadeia de produo! A vs e ao vosso comissrio, camaradas!

    Esta recepo, a primeira na histria do transporte ferrovirio, e todos osdiscursos, incluindo o meu e as intervenes dos operrios ferrovirios, exprimiramo sentimento de todos os ferrovirios do pas, a sua disposio para o trabalhoabnegado com vista ao desenvolvimento do transporte. Esta recepo no Krmlin eem particular o discurso do camarada Stline, que fez uma avaliao positiva dotrabalho dos ferrovirios em 1935, tiveram uma grande influncia no movimento dotrabalho de choque e da emulao socialista que estava a ampliar-se.

    O CC e o Governo decidiram satisfazer os pedidos dos operrios ferrovirios defixar a data da recepo no Krmlin como Dia do Ferrovirio, que passou acomemorar-se a 30 de Julho. A efemride foi instaurada por um decreto do Comit

    Executivo Central da URSS assinado por Kalnine. Ficou assim estabelecido o Diado Transporte Ferrovirio da Unio Sovitica. Mais tarde, a exemplo do transporteferrovirio, foram tambm gradualmente instaurados dias nacionais dedicados aoutros ramos da economia socialista, e depois no s na economia, mas tambm emdiferentes domnios da actividade do Estado.

    Este foi o fim da primeira etapa de luta pelo desenvolvimento do transporteferrovirio, em 1935, e o incio da segunda etapa, mais consistente e profunda, dodesenvolvimento da grande potncia ferroviria a Unio Sovitica.

    Em todos os ramos da economia nacional na indstria, nos transportes, naagricultura kolkhoziana e sovkhoziana desenvolveu-se uma poderosa corrente domovimento stakhanovista de inovadores da produo, que fez avanar a nossaPtria Socialista para novas fronteiras e reforou a sua capacidade de defesa.

    Pessoalmente conheci bem muitas destas pessoas avanadas; Stakhnov,Krivonoss, Diukanov, Bussguine, Smetnine, Evdokia e Maria Vinogrdovi, NikitaIzotov, Pissarenko, Angelina, Maria Demtchenko e outros. Naturalmente, conheciparticularmente bem os trabalhadores avanados do transporte ferrovirio, que setornaram os meus amigos mais prximos, caros e prezados, companheiros de lutapelo desenvolvimento do transporte ferrovirio, tais como, antes de mais, PiotrKrivonoss e toda a sua famlia que conheci em Slaviansk, numa estadia em suacasa, onde conversei com o seu pai, Fidor Krivonoss A.S. Ognev, N.T. Zakorko,F.F. Iablonski, A.I. Omelinov, V.G. Zaitsev, A.S. Babatsev (este era um daqueles

    maquinistas com quem conversava no terminal de triagem), Timerbek Satbaev,

  • 8/4/2019 Das memrias de Kaganvitch (V)

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    K.A. Boroduline, M.M. Kojukhar, Kasnov, Chakurski, Kirjenko, Makarov, Mejetski,Bogdnovm Blinov, Troitskaia e muitos outros.

    O crescimento da economia socialista na base do movimento inovadorstakanovista, que se alargou a grande parte dos engenheiros, tcnicos e n