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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DANO MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO ALEXANDRA SIMECEK PFUETZENREITER Itajaí (SC), maio de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DANO MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO

ALEXANDRA SIMECEK PFUETZENREITER

Itajaí (SC), maio de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DANO MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO

ALEXANDRA SIMECEK PFUETZENREITER

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Wanderley Godoy Júnior

Itajaí (SC), maio de 2009

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AGRADECIMENTO

Agradeço minha mãe, meu marido e a Deus que foram essenciais nesta jornada cumprida.

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A dúvida é princípio da sabedoria.

Aristóteles

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), maio de 2009

Alexandra Simecek Pfuetzenreiter Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Alexandra Simecek Pfuetzenreiter,

sob o título Dano Moral no Direito do Trabalho, foi submetida em 18 de junho de

2009 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Msc.

Wanderley Godoy Júnior e ___________________________ e aprovada com a

nota [_______] [______________________].

Itajaí (SC), maio de 2009

Msc. Wanderley Godoy Júnior Orientador e Presidente da Banca

Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo

CC Código Civil

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CPC Código de Processo Civil

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

EC Emenda Constitucional

OIT Organização Internacional do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TRT Tribunal Regional do Trabalho

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

VERS. Versículo

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ROL DE CATEGORIAS

Acidende de Trabalho:

Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da

empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais

provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda

ou a redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária1.

Contrato de Trabalho:

Contrato de Trabalho é gênero, que compreende o contrato de emprego. Contrato

de trabalho poderia envolver qualquer trabalho, como o do autônomo, do

eventual, do avulso, do empresário etc. Contrato de emprego diz respeito à

relação entre Empregado e Empregador e não a outro tipo de trabalhador. Daí por

que se falar em contrato de emprego, que fornece a noção exata do tipo de

contrato que estaria sendo estudado, porque o contrato de trabalho seria o gênero

e o contrato de emprego, a espécie2.

Dano Estético:

Qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma

pessoa, modificação esta que lhe acarreta um ‘enfeamento’ e lhe causa

humilhações e desgostos, dando origem portanto a uma dor moral3.

Dano Moral:

Dano Moral é a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo

na vida do homem e que são a paz a tranqüilidade de espírito, a liberdade

individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e os demais

sagrados afetos, classificando-se desse modo, em dano que afeta a parte social

do patrimônio moral (honra, reputação, etc.) e dano que molesta a parte afetiva do

patrimônio moral (dor, tristeza, saudade, etc.), dano moral que provoca direta ou

1 Artigo 139, Decreto 611, de 21.07.1992. 2 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 24º ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.78. 3 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.38.

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indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e dano moral puro (dor,

tristeza, etc.)4.

Empregado:

É a pessoa física que presta serviços de natureza não-eventual a empregador,

sob sua dependência, mediante o pagamento de salário5.

Empregador:

É a pessoa física ou jurídica que assume os riscos da atividade econômica,

admite, dirige e assalaria a prestação pessoal de serviços6.

Prescrição:

A prescrição é o modo pelo qual um direito se extingue pela inércia, durante certo

lapso de tempo, do seu titular, que fica sem ação própria para assegurá-lo7.

Quantificação:

Busca propiciar ao lesado meios para aliviar sua mágoa e sentimentos agravados,

servindo, por outro lado, de inflição de pena ao infrator8.

Relação de Emprego:

Trata do trabalho subordinado do empregado em relação ao empregador9.

Relação de Trabalho:

É o gênero, que compreende o trabalho autônomo, eventual, avulso, etc10.

Responsabilidade Civil:

As relações dos homens em sociedade trazem diversos conflitos de interesses,

tornando-se necessário a existência de normas obrigatórias como forma de

garantir harmonia social. Todavia, existem conflitos que geram prejuízos materiais

4 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p.20. 5 FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto, Resumo de Direito do Trabalho. 21ª ed. São Paulo:LTr, 2002. p.46. 6 FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto, Resumo de Direito do Trabalho. p.42. 7 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 3ª ed. p. 423. 8 GABRIEL, Sérgio. Dano Moral e sua quantificação. 3ª ed. Caxias do Sul: Plenum, 2005. p.269. 9 Martins, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.78. 10 Martins, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.78.

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ou morais, surgindo obrigação de ressarcir ou compensar os danos. O instituto

jurídico que garante a busca do equilíbrio violado é o da responsabilidade civil11.

11 AUGUSTIN, Sérgio. Dano Moral e sua quantificação. 3ª ed. Caxias do Sul, RS: Plenum, 2005. p.226.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 5

DO DANO MORAL............................................................................. 5

1.1 DA HISTÓRIA DO DANO MORAL...................................................................5 1.2 CONCEITO DE DANO MORAL........................................................................9 1.3 DANO MORAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA..........................................12 1.4 REQUISITOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL.................17

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 23

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL NOS ACIDENTES DE TRABALHO...................................................................................... 23

2.1 DA AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO EM VIRTUDE DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45.............................................23 2.2 ACIDENTE DE TRABALHO...........................................................................26 2.3 CONFLITOS DA COMPETÊNCIA..................................................................29 2.4 DA PRESCRIÇÃO...........................................................................................32 2.5 DO DANO ESTÉTICO DECORRENTE DO ACIDENTE DE TRABALHO..... 35 2.6 QUANTIFICAÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL........................37

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 41

DAS DIVERGÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS .................................. 41

3.1 DOS JULGADOS NO TRT CATARINENSE ..................................................41 3.2 DOS JULGADOS NO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO...................45 3.3 DOS JULGADOS NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA........................53 3.4 DOS JULGADOS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.............................62 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 66

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 69

ANEXOS....................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

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RESUMO

A presente Monografia tem como objeto a análise das

indenizações por Dano Moral decorrente de acidente de trabalho e seu objetivo

colecionar o posicionamento dos doutrinadores e Tribunais acerca do Dano Moral,

em especial, na Justiça do Trabalho. Para tanto, inicialmente, tratar-se-á do

conceito da caracterização e da história do Dano Moral, sua previsão na

Legislação Brasileira, em especial com a ampliação da competência da Justiça do

Trabalho em virtude da Emenda Constitucional nº 45, passando a colecionar

estudo sobre o Acidente de Trabalho, o Dano Estético, os Conflitos da

Competência, Prescrição, bem como da Quantificação da Indenização por Dano

Moral. Por fim, se fará uma análise sucinta sobre as Divergências

Jurisprudenciais no Tribunal Regional do Trabalho, no Tribunal Superior do

Trabalho, no Superior Tribunal de Justiça assim como no Supremo Tribunal

Federal. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações

Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da

estimulação a continuidade dos estudos e das reflexões sobre o tema.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a análise das

indenizações por Dano Moral decorrentes de acidente de Trabalho, e a sua

quantificação, assim como todos os conflitos decorrentes da Emenda

Constitucional nº 45, como a questão prescricional, relacionado ao ser o prazo

civilista ou trabalhista, e os conflitos de competência que ainda existem nos

Tribunais, inclusive no Superior Tribunal de Justiça e Tribunal Superior do

Trabalho.

O seu objetivo é colecionar o posicionamento dos

doutrinadores acerca do Dano Moral, principalmente decorrente de acidente de

trabalho e sua quantificação, bem como expor as divergências da Emenda

Constitucional nº 45, no que tange ao prazo prescricional e os conflitos de

competência existentes.

Para tanto, no primeiro capítulo, reconstituirmos os

primórdios do viria a ser o Dano Moral, com o seu surgimento nos primeiros

Códigos como o de Hamurabi, que penalizava o causador do dano com a mesma

lesão, ou na forma de compensação econômica, o Código de Manu, onde a

indenização se dava somente mediante pagamento, e ainda o Código de Ur

Nammu que também previa a compensação do dano causado em forma de

pagamentos, tendo a idéia de indenização, reparação sida semeada desde os

mais remoto tempos.

Imprescindível, neste capítulo inicial, também se faz uma

abordagem acerca do conceito de Dano Moral, seus requisitos para a

caracterização e sua previsão legal no Brasil.

Já no segundo capítulo, além do tema acidente de trabalho

e dano estético, trataremos da ampliação da Competência da Justiça do Trabalho

em virtude da Emenda Constitucional nº 45/2004, que trouxe a possibilidade de

ser discutida nesta Justiça Especializada ações de indenização por Dano Moral,

desde que o dano pleiteado tenha ocorrido no ambiente de trabalho.

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No entanto, com a ampliação da competência, as

interpretações não foram uníssonas, de forma que vários são os conflitos de

competência decorrentes dessa alteração feita pela Emenda Constitucional em

relação a Justiça do Trabalho, em especial nos casos de morte por acidente de

trabalho, onde existem duas correntes, em que na primeira, a Justiça do Trabalho

seria competente para socorrer os anseios dos familiares do trabalhador morto

durante o trabalho, na segunda ocorrente os doutrinadores e julgadores entendem

ser competência da Justiça Comum, pois o Dano Moral apesar de decorrente de

acidente de trabalho, estaria sendo pleiteado por alguém que não o trabalhador,

ou seja, para os familiares o pretenso dano moral não seria decorrente de uma

relação de trabalho.

Na Prescrição, abordada neste capítulo, também ocorrem

conflitos, para alguns doutrinadores seu prazo prescricional seria o previsto na

Constituição Federal para os direitos dos trabalhadores, de 5 anos desde que o

ingresso da ação aconteça até o limite de 2 anos da extinção do contrato, para

outros, o prazo fatal seria o da indenização Civil, devendo sua prescrição ser de 3

anos.

Neste segundo capítulo, a quantificação das Indenizações

por Dano Moral, onde a fixação compete ao magistrado, não havendo nenhuma

previsão de valores por danos, devendo o mesmo tomar como norte a gravidade

do dano causado, a repercussão do dano, a culpabilidade do empregador, além

da situação econômica das partes, sempre com a preocupação de não gerar o

vedado enriquecimento ilícito.

Finalmente, o terceiro capítulo deste trabalho, trata das

divergências jurisprudenciais no que tange a competência nos casos de morte do

obreiro, restando dúvidas de onde deverá ser pleiteada a indenização pela

família, pelo que será abordado neste último capítulo o papel do Supremo

Tribunal Federal, nestes conflitos de competência entre Superior Tribunal de

Justiça e outros tribunais.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

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destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre os conflitos de competência, a prescrição e a quantificação do dano.

Os problemas de pesquisa estabelecidos em razão do

objetivo investigatório inicialmente traçados foram os seguintes:

1) Nos termos do artigo 114 da Constituição Federal, com a

redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, é competente a Justiça do

Trabalho para julgar as ações de indenização por Danos Morais, fundados em

acidente que decorra da relação empregatícia?

2) Qual o prazo prescricional a ser seguido para julgamento

das ações de indenização por Danos Morais decorrentes da relação de trabalho,

o trabalhista ou a civilista?

3) Quais os critérios que o judiciário deve ter para a

quantificação da indenização do dano moral?

4) Qual seria o Tribunal competente para julgar as

demandas por dano moral decorrente de morte em acidente de trabalho?

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

1) Com a ampliação dada pela Emenda Constitucional nº

45/2004, é a Justiça do Trabalho a competente para julgar as ações de

indenização por Danos Morais.

2) Sendo a Justiça do Trabalho competente para julgar as

ações de indenização por Danos Morais decorrentes da relação de trabalho é de

se considerar que o prazo desta Especializada será o correto a ser considerado.

3) Para a quantificação da indenização do dano moral o juiz

deverá considerar a extensão do dano, o grau de culpabilidade do empregador,

devendo ainda observar a realidade econômica das partes, sempre tomando

como norte a vedação do enriquecimento ilícito.

4) Com a competência da Justiça do Trabalho para julgar as

ações de indenização por Danos Morais, os Tribunais Regionais do Trabalho e

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conseqüentemente o Tribunal Superior do Trabalho seriam os competentes para

julgar estas demandas.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

DO DANO MORAL

1.1 DA HISTÓRIA DO DANO MORAL

A reparação do dano moral é matéria há muito encontrada

nos diplomas jurídicos mundiais, posto que presente desde os mais vetustos aos

mais modernos códigos.

O Código de Hamurabi, surgido na Mesopotâmia, já

consagrava a reparação do dano moral, no capítulo IX, o art. 127, previa, ainda

que de forma incipiente, a reparação por danos morais, numa acepção mais

vingativa que indenizativa, conforme se depreende do texto a seguir transcrito:

Art. 127. Se alguém difama uma mulher consagrada ou a mulher de um homem livre e não pode provar, se deverá arrastar esse homem perante o Juiz e tosquiar-lhe a fronte.

Em sua obra Clayton Reis12, traz um estudo detalhado

destes códigos da antiguidade, também iniciando pelo Código de Hamurabi, que

se destaca:

Assim, o célebre axioma primitivo, “olho por olho, dente por dente”, constituída uma forma de reparação do dano, inserto nos parágrafos 196,197, 200 do Código.

§196. Se um awilum13 destruir um olho de um (outro) awilum destruirão seu olho.

A lei determina que, se o agressor e o agredido pertencem à mesma classe social, seja aplicada a pena de talião: “olho por olho.

§197. Se quebrou o osso de um awilum: quebrarão o seu osso. 12 REIS, Clayton. Dano Moral. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p.10 - 11. 13 A expressão Dumu A-Wi-Lum, “filho de awilum”, indica aqui alguém que pertence à classe dos awilum.

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§200. Se um awilum arrancou um dente de um awilum igual a ele arrancarão o seu dente.

A noção da reparação do dano encontra-se claramente definida no Código de Hamurabi. As ofensas pessoais eram reparadas na mesma classe social, à custa de ofensas idênticas. Todavia, o Código incluía ainda a reparação do dano à custo de pagamento de um valor pecuniário.

A idéia, hoje vigente, da reparação do dano por um valor monetário tinha como objetivo repor as coisas lesadas ao seu statu quo ante ou, ainda, dar uma compensação monetária, à vítima, em virtude do sofrimento experimentado por esta.

Portanto, a imposição de uma pena econômica consistia, sem dúvida, em uma forma de, à custa da diminuição do patrimônio do lesionador (que por si só constitui uma pena), proporcionar à vítima uma satisfação compensatória.

Além dessa satisfação, a pena objetivava ainda a exclusão da vindita, sentimento contrário à unidade, consistente em valor pecuniário da época:

§209. “Se um homem livre (awilum) ferir o filho de um outro homem livre (awilum) e, em conseqüência disso, lhe sobrevier um aborto, pagar-lhe-á 10 cilcos de prata pelo aborto”.

A mesma reparação ocorre, na hipótese de pessoas de classes diferentes. No entanto, o preço dessa reparação é inferior.

§211. “Se pela agressão fez a filha de um Muskenun expelir o (fruto) de seu seio: pesará cinco cilcos de prata”.

§212. “Se essa mulher morrer, ele pesará meia mina de prata”. O causador do dano era penalizado com a mesma lesão, se

fosse o caso, conforme os artigos §196, §197, §200, ou então, lhe era imposto um

dever de indenizar como forma de pagamento que era chamado de

“compensação econômica”, conforme os artigos, §209, §211, §21214.

Já para o Código de Manu, o conceituado autor ensina15:

14 REIS, Clayton. Dano Moral.p.11. 15 REIS, Clayton. Dano Moral. p.12.

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O aspecto diferenciativo entre o Código de Hamurabi e o de Manu, era o de que, enquanto no primeiro a vítima ressarcia-se à custa de outra lesão levada a efetivo no lesionador, no de Manu o era às expensas de um certo valor pecuniário, arbitrado pelo legislador.

Portanto, podemos assim notar uma evolução entre os dois sistemas, consistente na reparação de uma ofensa por outra no primeiro e a reparação de um ato lesivo pelo pagamento de uma importância no segundo.

No Código de Manu, havia somente a indenização por

pagamento, assim evitando a violência que ocorria no Código de Hamurabi e já

demonstrando uma evolução.

Recentemente se teve conhecimento de um código remoto,

anterior aos de Hamurabi e Manu, chamado de Ur Nammu16:

Todavia, o Professor Samuel Noah Kramer, da Universidade da Pensilvânia, EUA, descobriu o código remoto de Ur Nammu, o primitivo fundador da 3ª dinastia de Ur, do país primitivo dos Sumerianos, que continham conceitos normativos anteriores aos Códigos de Hamurabi e Manu.

No Código de Ur-Nammu, semelhante à velha lei das XII Tábuas, denota-se, nos seus textos incompletos, uma preocupação do monarca da época em reprimir a violência e o instinto de vingança.

Em seus textos incompletos, encontram-se importantes noções acerca da reparação do dano:

Se (um homem, a outro homem, com um instrumento...) son... o pé se cortou: 10 ciclos de pratas deverá pagar.

Se um homem, a um outro homem, com uma arma, os ossos de...tiver quebrado: 1 mina de prata deverá pagar.

Se um homem, a um outro homem, com um instrumento Geshpu, houve decepado o nariz (?), 2/3 de uma mina de prata deverá pagar.

16 REIS, Clayton. Dano Moral.p.12 - 13.

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Neste Código de Ur-Nammu, precursor do Código de

Hamurabi e ao Código de Manu, era somente penalizado a pessoa que causou o

dano, em forma de pagamentos, ou seja, já nítida a idéia de indenização,

reparação, desde os mais remotos tempos.

Até mesmo no Alcorão lê-se17:

V. O adúltero não poderá casar-se senão com uma mulher adúltera ou uma idólatra. Tais uniões vedadas ao crente.

Por aí vê-se que o adultério constitui dano moral, e a reparação consiste em não permitir que se case senão com uma adúltera ou idólatra, o que equivale, obviamente, a uma condenação.

Neste caso, pode-se ver que o causador do dano, será

penalizada também com o mesmo dano.

Na Bíblia e, mais precisamente no Antigo Testamento, vê-

se no Deuteronômio, já se impunha reparação a danos morais, como ali, em

diversas passagens, são estatuídos e para trazê-las a colação, àquela

recorremos.[...]18.

Leis acerca do casamento – Capítulo XXII – vers. 13 a 2019:

Se um homem casar com uma mulher e depois lhe ganhar aversão, e procurar pretextos para a repudiar, causando-a de péssima reputação, e disser: eu recebi esta mulher e, aproximando-se dela, não a achei virgem, seu pai e sua mãe a tomarão, e levarão consigo as provas da sua virgindade aos anciões da cidade que estão à porta, e o pai dirá: eu dei minha filha por mulher e a este homem, e porque ele lhe tem aversão, e procura pretextos para a repudiar acusando-a de péssima reputação, chegando a dizer: não achei virgem à tua filha e, contudo, e às provas da virgindade da minha filha. E estenderão a roupa diante dos anciões da cidade; e os anciões daquela cidade pegarão naquele homem e fá-lo-ão açoitar, condenando-o, além disso, a cem siclos de prata, que ele dará ao pai da donzela, porque espalhou uma péssima reputação contra uma virgem de

17 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p.7. 18 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.12. 19 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.13.

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Israel, e a terá por mulher, e não poderá repudiá-la durante todo o tempo da sua vida. E ainda, nos versículo 28 a 3020:

Se um homem encontrar uma donzela virgem, que não tem esposo, e tomando-a a força a desonrar, e a causa for levada a Juízo, o que a desonrou dará ao pai da donzela cinqüenta siclos da prata, tê-la-á por mulher, porque a humilhou, não poderá repudiá-la em todos os dias de sua vida.

Aí estão alguns casos de que, naquela época, no

Deuteronômio, encontravam-se normas referentes a danos morais e suas

reparações, pois os exemplos dados são marcantes e, quando mencionam siclo,

moeda de prata, que pesa seis gramas, condenação esta em seqüência a outras

mais graves e severas, indo ao ponto de amputar a mão, ou obrigar o homem a

receber, por toda vida como esposa, a mulher que difamou21.

Na Bíblia, conforme se verifica, a punição para o causador

do dano era financeiro, em certas oportunidades físicas, e ainda punições

puramente morais, como, por exemplo, continuar com a pessoa em que causou o

dano, e nunca poderia maltratá-la em razão dos danos causados a ela.

1.2 CONCEITO DE DANO MORAL

Etimologicamente, dano vem de demere, que significa tirar,

apoucar, diminuir. Portanto, a idéia de dano surge das modificações do estado de

bem-estar da pessoa, que vem em seguida à diminuição ou perda de qualquer

dos seus bens originários ou derivados extrapatrimoniais ou patrimoniais22.

Portanto, o dano moral tem como conceito, o fato de uma

pessoa ser lesionada, psicologicamente, fisicamente ou mesmo patrimonialmente.

E esta pessoa que causou o dano deverá ser punida com uma indenização de

cunho financeiro, de acordo com a extensão do dano causado a outrem.

20 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.13. 21 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.13. 22 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p.20.

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Assim, para Agostinho Alvim, Dano, em sentido amplo, é a

lesão a qualquer bem jurídico, e aí se inclui o Dano Moral. Em sentido estrito, é a

lesão ao patrimônio, e patrimônio é o conjunto de relações jurídicas de uma

pessoa, apreciáveis em dinheiro23.

Diante deste conceito de Dano Moral, Clayton Reis24,

conceitua que toda e qualquer lesão que transforma e desassossega a própria

ordem social ou individual, quebrando a harmonia e a tranqüilidade que deve

reinar entre os homens, acarreta o dever de indenizar.

Segundo De Plácido e Silva25 Dano Moral é ofensa ou

violação que não vem ferir os bens patrimoniais, propriamente ditos, de uma

pessoa, mas os seus bens de ordem moral, tais sejam os que se referem à sua

liberdade, à sua honra, à sua pessoa ou à sua família.

Já o autor Yussef Said Cahali26, explica que Dano Moral é

tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os

valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela

sociedade em que está integrado.

O autor citado a cima, define que, Dano Moral é a privação

ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida do homem e que

são a paz a tranqüilidade de espírito, a liberdade individual, a integridade

individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos,

classificando-se desse modo, em dano que afeta a parte social do patrimônio

moral (honra, reputação, etc.) e dano que molesta a parte afetiva do patrimônio

moral (dor, tristeza, saudade, etc.), Dano Moral que provoca direta ou

indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e dano moral puro (dor,

tristeza, etc.)27.

Assim, conforme Teixeira Filho28, somente será capaz de

causar Dano Moral, a ocorrência efetiva de dor, vexame, ou humilhação que, foge

23 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p. 21. 24 REIS, Clayton. Dano Moral, p.77. 25 De Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico. p. 239 26 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral.p.20. 27 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral.p.20. 28 TEIXEIRA FILHO, João de Lima; Süssekind, Arnaldo, et al. Instituições de Direito do Trabalho. 21ª ed. São Paulo: LTr, 2003. p.629.

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à normalidade dos acontecimentos do cotidiano e interfere no comportamento

psicológico do indivíduo causando-lhe desequilíbrio em seu bem-estar.

Diante disso, a pessoa só é lesionada quando foi realmente

lhe causado algum Dano que não sejam meramente aborrecimentos do dia a dia,

e que com isso, ocorram problemas na sua vida, e bem-estar, podendo até

mesmo o Dano ser leve, “gera a obrigação de indenizar”29.

Entretanto, para melhor delinear o perímetro em que se

encontra a discussão acerca do Dano Moral, impõe-se conceituá-lo.

Assim, Carlos Alberto Bittar30, conceitua o Dano Moral:

Diferentes fatos podem gerar o direito à reparação, uma vez constatada a injusta invasão da esfera moral alheia. São, no fundo, fatos humanos, ou ações desenvolvidas por pessoas, diretamente ou não, nos múltiplos relacionamentos possíveis em sociedade, como os de caráter pessoal, familiar, negocial, político, ou mesmo ocasional.

Envolvendo pessoas físicas ou jurídicas, inclusive entidades públicas, personalizadas ou não, conforme a hipótese, esses fatos podem ainda estar ligados a animais, a coisas ou a fenômenos naturais, refletindo-se, no entanto, no responsável definido em lei. [...] Com isso, tanto fatos do próprio agente (responsabilidade direta), como de pessoa ou de coisa a ele vinculada (responsabilidade indireta), podem estar no elenco de causas de danos morais, como, ademais, de quaisquer danos. A extensão do ônus a outro ente relaciona-se à necessidade de garantir-se a satisfação dos interesses violados, em função das condições que a pessoa ou os bens do responsável oferecem para o efetivo implemento da indenização cabível, como ocorre na responsabilização dos pais por fatos de filhos menores ou outros descritos em lei.

Diante das palavras de Glaci de Oliveira Pinto Vargas31, é

certo que o Dano danifica e nem sempre é possível ser extinta essa lesão,

29 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p.20. 30 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil Por Danos Morais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 121 - 122. 31 VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto. Reparação do Dano Moral Controvérsias e Perspectivas. 1ª ed. Porto Alegre: Síntese, 1996. p.29.

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mesmo porque há lesões da personalidade que impedem a volta ao estado

primitivo. É o caso da perda de um familiar por homicídio, cujo sentimento de

pesar íntimo não desaparece, para o que inexiste reparação perfeita. Entretanto,

ainda assim, não significa que deva ser recusada uma compensação.

Portanto, isso não quer dizer que o dano puramente moral

não deva ser reparado, este deve ser, talvez nenhuma indenização compensará o

Dano que foi causado para a pessoa nos casos de morte de um parente, ou

amputação, entre outros casos, irremediáveis, no entanto, poderá dar ao ofendido

o conforto de que, quem o lesou fora punido, além de ser financeiramente

compensado por isso.

Assim, Teresa Ancona Lopez32 diz em seu livro, que a

definição de Dano Moral deveria ser dada em contraposição e Dano Material,

sendo este o que lesa bens apreciáveis pecuniariamente e aquele, ao contrário, o

prejuízo a bens ou valores que não têm conteúdo econômico.

1.3 DANO MORAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

No Brasil, a indenização do Dano Moral sempre existiu para

“alguns” doutrinadores, mas nunca havia sido definido em lei, como realmente o

foi na Constituição da República Federativa do Brasil de 198833.

Há duas décadas, a jurisprudência pátria era controvertida quanto á reparação do Dano Moral. Alguns acórdãos eram audazes e demonstravam francamente sua tendência em admitir o ressarcimento do dano moral puro. Outros, por sua vez, não concebiam sequer sua existência. Finalmente, o que nos pareceu ser a jurisprudência dominante nessa época era a corrente que admitia a indenização do Dano Moral desde que este apresentasse reflexos patrimoniais. Apesar de toda essa controvérsia, podemos afirmar que nossa jurisprudência aceitava a reparação por Dano Moral34.

32 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p. 21. 33 Doravante denominada CRFB 34 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p.32 - 33.

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Diante disso, Yussef Said Cahali35, comenta em seu livro

que:

Reconheça-se, porém, que já de longa data a doutrina nacional orientava-se no sentido de admitir a tese positiva da reparação do Dano Moral. A única divergência que ainda se mantinha estava em que alguns autores, embora aceitando a reparabilidade do Dano Moral como tese, negavam tivesse sido a mesma acolhida pelo nosso legislador como princípio geral, ressalvando certas disposições excepcionais específicas; enquanto outros se desenvolviam mais amplamente no sentido de que o princípio da reparação do Dano Moral já estava de fato integrado na nossa legislação anterior.

Na realidade, a doutrina nacional, antes e depois do Código

Civil anterior, já vinha se definindo, de maneira expressiva, pela reparação do

dano moral no direito brasileiro36:

M.I.Carvalho de Mendonça37, Doutrina e prática das obrigações, II, n.743, p.449; Teixeira de Freitas38, Consolidação das leis civis, p.486, arg. Da nota aos arts. 801 e 804; João Monteiro, Processo civil e comercial, p.86, nota 4; J.. de Azevedo Marques, Comentário, RT 78/546; Philadelpho Azevedo, Direito moral do escritor, p.198; Lino Leme, Reparação do dano moral, Direito Civil comparado, p.305; Espínola, Sistema do direito civil, II, p.700; Espínola Filho, O dano moral em face da responsabilidade civil, prefácio de O dano moral, no direito brasileiro de Avio Brasil; Aguiar Dias, Da responsabilidade civil, II, n.229, p-703-802; Reginaldo Nunes, Considerações sobre a responsabilidade do dano moral, RF 159/492; Alcino Salazar. Reparação do dano moral, n.19/23, p.56-70; Avio Brasil, O dano moral, no direito brasileiro, n.170-177, p.302-320; Orozimbo Nonato, Obrigações, I, p.175; Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, XXII, § 2.684, p.40; XXVI, § 3.108, p.31; Caio Mário, Instituições de direito civil, II, n.176, p.286; Edgard de Moura Bittencourt, Dano moral, RT 268/837; Limongi França, Manual de direito civil, I, p.414, e Reparação do dano moral, RT 631/29; Clayton Reis, O dano moral, Ver. Direito Civil 28/63 e Ver. Unimar, 1, 1982, p. 15-34;

35 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p. 46. 36 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.48 37 M.I.Carvalho de Mendonça37, Doutrina e prática das obrigações, II, n.743, p.449 38 Teixeira de Freitas, Consolidação das leis civis, p.486

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Mario Moacyr Porto. Dano moral, RT 590/36; Amaro Almeida Filho, Dano moral e o Código Penal, RT 332/26; Wladimir Valler, A reparação do dano moral no direito brasileiro; Volnei Carlin, A reparação civil nascida da dor moral, RT 569/9; Caetano da Fonseca Costa, A indenização autônoma do dano moral, Ajuris 38/15539.

Orlando Gomes, reconhecendo que já então prevalecia a

doutrina da reparabilidade do Dano Moral, mas como o Código Civil de 1916 não

inseria qualquer preceito alusivo a ele, contestava os que se manifestavam no

sentido de que, perante o nosso direito, o Dano Moral poderia ser reparado40.

Assim, se é certo que o antigo Código Civil se omitira

quanto a inserir uma regra geral de reparação do Dano Moral, não era menos

certo que se referia a diversas hipóteses em que o dano moral seria reparável

(arts. 1.53741, 1.53842, 1.54743, 1.54844, 1.54945, e 1.55046, todos do CC/1916); tais

hipóteses assim referidas estavam longe de constituir simples exceção à regra de

que só os Danos Patrimoniais deveriam ser ressarcidos; antes pelo contrário,

39 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.48. 40 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p. 46. 41 A indenização, no caso de homicídio, consiste: I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o defunto os devia. 42 No caso de ferimento ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratameno e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de pagar a importância da multa do grau médio da pena criminal correspondente: § 1º - Esta soma será duplicada, se do ferimento resultar aleijão ou deformidade; § 2º - Se o ofendido, aleijado ou deformado, for mulher solteira ou viúva, ainda capaz de casar, a indenização consistirá em dota-la, segundo a posses do ofensor, as circunstâncias do ofendido e a gravidade do defeito. 43 A indeização por injúria ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resultem ao ofendido. Parágrafo Único. Se este não puder provar prejuízo material, pagar-lhe-á o ofensor o dobro da multa no grau máximo da pena criminal respectiva. 44 A mulher agravada em sua honra tem direito a exigir do ofensor, se este não puder ou não quiser reparar o mal pelo casamento, um dote corresponde à sua própria condição e estado: I – se, virgem e menor, for deflorada; II – se, mulher honesta, for violentada, ou aterrada por ameaças; III – se for seduzida com promessas de casamento; IV – se for raptada. 45 Nos demais crimes de violência sexual, ou ultraje ao pudor, arbitrar-se-á judicialmente a indenização. 46 A indenização por ofensa a liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e no de uma soma calculada nos termos do parágrafo único do artigo 1.547.

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visando apenas disciplinar a “forma de liquidação do Dano”, prestam-se para

confirmar que está ínsita na lei civil a idéia da reparabilidade do Dano Moral47.

Mas Clóvis, seu intérprete maior, já ministrava o verdadeiro

alcance da regra contida no questionado art.76: Se o interesse moral justifica a

ação para defendê-lo ou restaurá-lo, é claro que tal interesse é indenizável, ainda

que o bem moral se não exprima em dinheiro. Este artigo, portanto, solveu a

controvérsia existente na doutrina, e que, mais de uma vez, repercutiu em nossos

julgados48.

A CRFB/88, promulgada em 05.10.1988, elevou o direito à

indenização ao nível constitucional, eis que no art. 1º, ao elencar os fundamentos

da República Federativa do Brasil, incluiu o constituinte, no inciso III, a dignidade

da pessoa humana.

Ainda na CRFB/88, cortou qualquer dúvida que pudesse

remanescer a respeito da reparabilidade do Dano Moral, estatuindo em seu art.

5º, no item V e no item X, que49:

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

A Constituição da República Federativa do Brasil prevê a

indenização por Dano Moral e Material à imagem, assim tendo o lesionado total

reparabilidade pelo sofrimento.

A norma pretende a reparação da ordem jurídica lesada,

seja pelo ressarcimento econômico, seja por outros meios, por exemplo, o direito

de resposta50.51

47 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.48. 48 CAHHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.49. 49 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.53. 50 O direito de resposta ou retificação é reconhecido constitucionalmente como direito fundamental no art. 5, inc. V da Constituição Federal. 51 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.209.

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Comenta também Glaci de Oliveira Pinto Vargas52 que, no

inciso V permite o direito de resposta proporcional ao agravo recebido. Além

disso, faculta ao ofendido definir os pressupostos para que a resposta seja

quantum satis. Observa-se que o teor do dispositivo, diante da ofensa

consumada, não elege uma ou outra reparação, mas todas as que forem

necessárias de acordo com a esfera atingida, seja ela material ou moral, ou

ambas.

Encontra-se em clara e ostensiva contradição com o

fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, art.1º, III), com o

direito à honra, à intimidade e vida privada (CF, art.5º, X), converter em

instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de natureza tão íntima

quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer desgraças alheias que não

demonstrem nenhuma finalidade pública e caráter jornalístico em sua divulgação.

[...] que acarretem injustificado Dano à dignidade humana, autoriza a ocorrência

de indenização por Danos Materiais e Morais, além do respectivo direito à

resposta53.

Restou previsto no novo Código Civil de forma expressa a

responsabilidade civil de indenizar Danos Morais, vez que a ofensa à honra

sempre causa prejuízos, conforme os artigos 186 e 927 do diploma citado, in

verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito54.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

52 VARGAS, Galci de Oliveira Pinto. Reparação do Dano Moral Controvérsias e Perspectivas. p.26. 53 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. p.224. 54 Na versão original do projeto o artigo tinha a seguinte redação: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que simplesmente moral, comete ato ilícito”. Emenda apresentada na Câmara dos Deputados, ainda no período inicial de tramitação do projeto, substituiu “simplesmente” por “exclusivamente”, ao argumento de que “o advérbio ‘simplesmente” dava a entender que a lesão moral seria inexpressiva ou de sentido depreciativo, ou de valor inferior à lesão física ou material. (FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. P. 183-184)

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Diante deste artigo, a pessoa que se sentir lesionada,

poderá buscar do lesionador, indenização pelo seu ato ilícito cometido, não

esquecendo que serão considerados atos ilícitos, a ação ou omissão voluntária,

negligência, ou imprudência.

Pode-se concluir que o dever de reparar que, em regra

geral, de atos ilícitos, diante dos quais é necessária a demonstração da culpa, em

sentido largo, do lesante, e, em caráter excepcional, por força de disposição legal

expressa ou de risco na atividade do agente, de atos lícitos, os quais geram

aquele dever com base no fato de o agente ter colocado em ação forças que são

fontes de perigo e de potenciais danos para outrem55.

Em nossa doutrina nacional, destaca o Professor Antônio

Montenegro56, que predomina o entendimento de que a fixação da reparação do

dano moral deve ficar ao prudente arbítrio dos juízes.

A indenização por Danos Morais, portanto, terá cabimento

seja em relação à pessoa física, seja em relação à pessoa jurídica e até mesmo

em relação às coletividades (interesses difusos ou coletivos); [...] são todos

titulares dos direitos e garantias fundamentais, desde que compatíveis com suas

características de pessoas artificiais57.

1.4 REQUISITOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL

O conceituado autor Carlos Alberto Bittar58 considera que o

Dano Moral se qualifica em razão da esfera da subjetividade, ou do plano

valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se,

portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da

personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da

própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da

consideração social).

55 FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. 1ª ed. São Paulo; Saraiva, 2002. p.821. 56 MONTENEGRO, Antonio. OB.cit.,p.132. 57 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. p.209. 58 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais.p.41.

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Ainda Carlos Alberto Bittar, ensina que59:

Com efeito, desdobra-se a personalidade humana por diferentes atributos, de ordem física, psíquica ou moral. Mas, resumidamente, pode a pessoa ser considerada em seu psiquismo ou na esfera da consideração social, apresentando-se, na primeira hipótese, como reagente a estímulos exteriores, com sua inteligência (esfera de conhecimento e da representação), com seus elementos ativos (esfera motora) e com seus elementos afetivos (estados agradáveis ou desagradáveis que as representações provocam); e na segunda hipótese, como objeto de análise, ou de apreciação alheia, ou ainda, como ser suscetível de valoração social (pela coletividade, por grupo ou, mesmo, por qualquer pessoa).

Diante disso, o dano se dá quando uma pessoa de forma

ilícita, lesiona outra de forma, física, psíquica ou moral. Tendo aquela que repará-

lo de acordo com o dano ocorrido.

Teresa Ancona Lopez60, comenta em seu livro que:

[...] existem várias modalidades de dano moral, cada uma dizendo respeito a um aspecto diferente da pessoa. Ou seja, há uma autonomia no tratamento jurídico dos diversos tipos de dano que vem exatamente de sua autonomia conceitual. Além do mais, essa classificação explica a indenização de certos tipos de dano moral, como, por exemplo, danos morais à pessoa jurídica ofendida em sua honra social, no seu bom nome, apesar de esses prejuízos resultarem sempre em avaliação de perdas patrimoniais.

No que se contesta a reparabilidade do Dano Moral,

argumenta-se que, se concedida indenização no caso, esta teria caráter de pena,

incompatível assim com o direito privado, na medida em que não visaria a

recomposição do patrimônio do ofendido61.

Em magnífica análise das tendências do direito quanto à

proteção da pessoa, Carlos Fernàndez Sessarego assinala que o direito, que

dentro de sua natureza tridimensional, é primariamente – mas não unicamente –

59 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. p.42 - 43. 60 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p.24. 61 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.35.

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vida humana interferida, condutas humanas intersubjetivas, não tem outra

alternativa que ser fiel à realidade; ela nos mostra o ser humano como uma

unidade ontológica, como uma unidade psicossomática; esta realidade obriga,

inexoravelmente, a que os juristas tendam à adoção de uma técnica e unitária de

proteção à pessoa humana62.

Prossegue: A estrutura unitária da pessoa humana exige o emprego de uma técnica de proteção adequada a esta diversa realidade existencial, conduzindo-nos coerentemente a revisar a tradicional concepção pluralista dos direitos da pessoa ou direitos da personalidade. Não é possível, como ocorre na doutrina dominante, considerar que cada um dos direitos subjetivos consignados em um determinado ordenamento jurídico, cujo conteúdo é a tutela de algum aspecto parcial da personalidade, se constitua como um direito autônomo. Direito subjetivo que, por sua vez, encontraria no dito “fragmento” da personalidade seu próprio e único fundamento, prescindindo do todo unitário e integral representado pela pessoa humana. A estrutura existencial da pessoa, ao exigir, por sua própria natureza, uma proteção unitária e integral, não admite seja parcelada em uma multiplicidade de aspectos ou “maneiras de ser”, desconexos uns dos outros, cada um dos quais se apresentando como um interesse juridicamente tutelável de modo autônomo e independente.

Portanto, continua Carlos Fernàndez Sessarego, que cada

um dos direitos da pessoa, não pode fundamentar-se, autonomamente, em um

interesse parcial e fragmentário que tutela, sem fazer referência à incindível

unidade representada pela pessoa humana.

Cunha Gonçalves transcreve que:

Suposto, o autor prove a sua dor, é impossível avalia-la para se lhe fixar uma indenização pecuniária...A dor e a honra são inapreciáveis em dinheiro, sobretudo porque estes sentimentos variam com os indivíduos, as circunstâncias e tempos. Não pode ser fixada em dinheiro a indenização dum prejuízo que não tem valor pecuniário. Não há meio de se determinar exatamente o quantitativo correspondente a cada ofensa moral63.

62 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.59. 63 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua reparação. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p.47.

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Em cada caso, deverá ser analisado todo o contexto, para

que se estipule parâmetros de indenização, o tamanho da dor sofrida, o potencial

econômico das partes, e caráter educativo para quem paga indenização.

Augusto Zenun64 afirma também que o Dano Moral quase

sempre deixa marcas indeléveis, exteriorizadas e, em determinados casos, traz

dificuldade de ser detectado, o que não se traduz em impossibilidade, ainda que

bastante subjetiva a lesão que, às vezes, não deixa cicatrizes eternas, mas é

gravada no recôndito, de onde é trazida à emersão pelos instrumentos

proporcionados pelo direito.

Verifica-se que Minozzi alerta que a causa dos Danos é

sempre uma, pouco importando que seja Material ou Moral o bem ou direito

lesados, pois é o Dano que se biparte Material ou Moral, segundo a natureza da

perda que determine65.

No entendimento de Georges Ripert, este diz que:

A mais grave dificuldade que se apresenta, aqui, consiste em determinar as vítimas que têm direito à reparação. Quando se atinge um prejuízo pecuniário verifica-se que atingido fora o patrimônio e, geralmente, a falta não visa senão a uma só pessoa ou num só patrimônio; quando, ao contrário, cuida-se de sentimentos atingidos [...]66.

Diante dessas objeções ao Dano Moral e sua reparação, o

próprio mestre Cunha Gonçalves refuta nos seguintes termos:

Improcedem, porém, estes especiosos argumentos, contra os quais podem ser opostos os seguintes:

[...] 2º) Para a indenização pecuniária do dano moral não se avalia a dor moral de quem a reclama, mas sim, e sempre, o prejuízo patrimonial reflexo. A dor é, apenas, a causa segunda deste prejuízo, cuja causa primeira é o acidente ou o fato determinante dessa dor. Há, neste ponto, grave equívoco. Demais, uma vida humana tem o sue valor. Saber-se qual a capacidade de trabalho

64 ZENUN, Augusto, Dano Moral e sua Reparação. p.43. 65 ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.42. 66 ZENUNN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p.44.

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e quais os proventos do morto, qual a sua idade e saúde, a duração provável da sua vida. Com todos estes elementos é fácil calcular o prejuízo que a morte dum indivíduo causou aos que dele dependiam. De igual modo, não é difícil calcular o que uma pessoa perdeu ou perderá por efeito do choque moral e da sua conseqüente depressão física, com incapacidade de trabalho e perda de rendimento.

3º) a indenização não tem de ser, forçosamente, equivalente ao perigo. Não há tal equivalência nos casos de injúria, difamação ou violação.[...] Em relação ao dano moral, a indenização pecuniária não é totalmente compensatória, não é a reintegração exata do lesado no estado anterior, reintegração que, aliás, não se verifica no prejuízo material irreparável, como um quadro queimado, uma jarra antiga de Sévres reduzida a cacos, uma cicatriz funda no rosto, um olho vazado ou a cegueira, a mão esfacelada, uma perna claudicante ou amputada. Não há dinheiro que possa compensar tais prejuízos; e, contudo, indenizam-se. Não é o preço da dor – embora esta expressão esteja sendo usada como inexata autonomásia do dano moral; é o instrumento de alguns confortos e algumas distrações, de lenitivos ao desgosto, de um possível prazer, que amorteça a dor; é o meio de substituir os recursos, os alimentos ou a herança que do morto se recebiam ou poderiam advir em ocasião oportuna. Não é remédio que produza a cura do mal, mas, sim, um calmante. Não se trata de suprimir o passado, mas, sim, de melhorar o futuro. O dinheiro tudo isto pode proporcionar.[...] 67.

Observa-se que a definição dada pelos vários autores sobre

o Dano Moral, como salienta Severo contém dois elementos: um negativo, e outro

substantivo, que consigna a representação da dor68.

Segundo o mesmo autor, as tentativas de uma conceituação substancial de dano moral têm enfrentado dois tipos de problemas: a ausência de um caráter distintivo e a tendência diante do alargamento dos danos ressarcíveis. Inicialmente, a dor como caráter distintivo capaz de conduzir a uma conceituação substancial era preponderante; porém, observa-se uma tendência no sentido de abolir tal subjetivismo, chegando-se, progressivamente, à sua superação. Além disso, salienta que há

67 ZENUNN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação. p. 47. 68 VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto. Reparação do Dano Moral. p.15.

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uma tendência contemporânea à libertação dos conceitos fechados ou a submissão do caso à justiça sob limites conceituais rígidos e, deste modo, mecanismos vêm sendo vislumbrado para alcançar a realidade concreta – conceitos indeterminados e cláusulas gerais.

Conforme se verifica no estudo realizado, podemos concluir

que a legislação brasileira prevê que todo o Dano causado a honra de alguém

através de um ato ilícito, seja ele por ação ou omissão voluntária, negligência, ou

imprudência, deverá ser indenizado.

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CAPÍTULO 2

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL NOS ACIDENTES DE TRABALHO

2.1 DA AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO EM

VIRTUDE DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45

A Emenda Constitucional nº 45, de 2004, alterou a redação

do art. 114 da CRFB/88, ampliando consideravelmente a competência da Justiça

do Trabalho69.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os

entes de direito público externo e da administração pública

direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios;

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos,

entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e

empregadores;

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas

data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua

jurisdição;

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição

trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,

decorrentes da relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas

impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das

relações de trabalho;

69 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. São Paulo: Atlas, 2006. p.11.

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VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais

previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais,

decorrentes das sentenças que proferir;

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho,

na forma da lei.

§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão

eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva

ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo,

ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a

Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as

disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem

como as convencionadas anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com

possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério

Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,

competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Nas palavras de Daniel Itokazu Gonçalves64, pela

interpretação do sobredito artigo constitucional antes do advento da EC/45,

diversos tribunais entendiam que a competência material para a apreciação do

Dano Moral proveniente da relação de emprego era da Justiça Comum,

simplesmente por se tratar de uma indenização tipicamente civil.

Amauri Mascaro Nascimento70 afirma que a competência da

Justiça do Trabalho abrange as relações de trabalho que preenchem três

requisitos básicos: profissionalidade, pessoalidade e a própria atividade do

prestador do serviço como objeto do contrato.

No entendimento de Carla Teresa Martins Romar71, a nova

redação dada ao art. 114 da Constituição da República Federativa do Brasil não é

das mais exatas, possibilitando interpretações divergentes em relação a alguns de

seus incisos e parágrafos, o que demanda um estudo mais cuidadoso e prudente

64 AUGUSTIN, Sérgio. Dano Moral e sua quantificação. 3ª ed. Caxias do Sul, RS: Plenum, 2005. p. 92. 70 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p.16. 71 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p.12

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até que a doutrina e jurisprudência estejam sedimentadas em relação aos

mesmos, o que certamente demandará um certo tempo.

Diante disso, note-se que a redação do inciso IV do art. 114

não fala expressamente em acidente do trabalho, mencionando somente

indenizações decorrentes da relação de trabalho; entretanto, ao intérprete cabe

abranger tal possibilidade, sendo o critério exclusivo adotado pelo texto

constitucional estar o dano vinculado a uma relação de emprego72.

Em seu livro Competência da Justiça do Trabalho, Sueli

Ester Gitelman65 cita que no tocante ao Dano Moral, o Supremo Tribunal Federal

já decidiu que, se for resultante da relação de emprego, é matéria de alçada da

Justiça do Trabalho, e em igual sentido o Tribunal Superior do Trabalho editou a

OJ-SDI-I nº 327, que pacifica a matéria:

Dano Moral – Competência da Justiça do Trabalho. Nos termos do art. 114, da CF/88, a Justiça é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho.

Ainda no comentário de Sueli Ester Gitelman73 entretanto, a

Reforma do Judiciário pecou ao não mencionar expressamente a competência da

Justiça do Trabalho no tocante aos Danos decorrentes de acidente do trabalho,

omitindo a expressão “acidente do trabalho”.

A relação de trabalho para Carla Teresa Martins Romar74,

tanto pode ser compreendida como indicativa de um universo de relações

jurídicas ou contratos de atividade nos quais o objeto preponderante do vínculo

jurídico é a atividade da pessoa física, como, também, relação de trabalho como

sinônimo de relação de emprego.

Desta forma, compete à Justiça do Trabalho julgar todos os

dissídios entre trabalhadores e empregadores, uma vez que as ações de

indenização decorrentes de infortúnio laboral são indiscutivelmente decorrentes

72 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº 45/2004. p. 64. 65 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p. 66. 73 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p.66. 74 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p.14.

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da relação de emprego, tomando pacífica a competência para sua apreciação da

Justiça Especializada e não da Justiça Comum75.

A conclusão da competência da Justiça do Trabalho para

dirimir litígios referentes à indenização por acidente ou doença profissional, de

responsabilidade do empregador, já era facilmente extraída do conjunto do Texto

Constitucional, por uma adequada análise sistemática, todavia, torna-se agora

indiscutível tal entendimento, por força da introdução do inciso VI do art. 114 que

dispõe: “as ações de indenização por Dano Moral ou Patrimonial, decorrentes da

relação de trabalho”, bem como do alargamento da competência geral para

“relação de trabalho” em substituição à regra anterior “relação de emprego” 76.

Diante do inciso VI, artigo 114 da Constituição da República

Federativa do Brasil, o empregado que, se sentindo lesado, deverá buscar, de

seu empregador, na Justiça do Trabalho pelo Dano que lhe foi causado.

Assim, poderíamos rapidamente afirmar que o empregador

que causar prejuízos por Dano Moral ao empregado, deve repará-los. Da mesma

forma, deve o empregado reparar os prejuízos de ordem moral causados ao

empregador77.

O Direito Brasileiro amadureceu após a CRFB/88, a ponto

de em seu artigo 5º, X, resguardar a todos os cidadãos brasileiros o direito a

intimidade, a vida privada, a honra e imagem, sob pena de indenização material

ou moral decorrente de sua violação, de forma que não há dúvidas acerca do

dever indenizatório, agora sob o controle da Justiça do Trabalho quando tais

preceitos forem feridos em uma relação de trabalho.

2.2 ACIDENTE DE TRABALHO

Acidente de Trabalho é o que ocorre pelo exercício do

trabalho a serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados

75 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº45/2004. p. 66 - 67. 76 COUTINHO, Grijalbo Fernandes. Marcos Neves Fava. Nova Competência da Justiça do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 365. 77 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 76.

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especiais provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte,

a perda ou a redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária78.

E são muitas as conseqüências de ordem moral, defluentes

do acidente de trabalho, como a perda de um membro, supressão de órgão, lesão

deformante, deterioração psíquica, como, por exemplo, uma crise esquizofrênica.

Trabalhadores com essas características, infelizmente, são objetos de gozações,

olhares atravessados, discriminações, e tantos outros adjetivos, não só tendo

denegrida sua imagem, como estando evidenciada sua incapacidade de

produzir79.

Na verdade, nos países como o nosso, onde a

responsabilidade é ainda fundada na culpa, para que haja indenização é preciso

que haja Dano, mas que esse dano tenha vindo de uma ação ou omissão

voluntária (dolo) ou de negligência, imprudência ou imperícia (culpa em sentido

estrito) e que seja provado o nexo de causalidade entre a culpa e o dano. Ora,

esses requisitos se aplicam tanto à responsabilidade contratual como à

extracontratual. É, portanto, a culpa o fundamento comum de ambas ou, em

outras palavras, há uma unidade de culpas; as diferenças existentes são somente

acessórias ou de caráter técnico80.

No estágio atual de nosso direito, com a consagração

definitiva, até constitucional, do princípio da reparabilidade do Dano Moral, não

mais se questiona que esses sentimentos feridos pela dor moral comportam ser

indenizados, não se trata de ressarcir o prejuízo material representado pela perda

de um familiar economicamente proveitoso, mas de reparar a dor com bens de

natureza distinta, de caráter compensatório e que, de alguma forma, servem

como lenitivo81.

Em condições tais, é de admitir-se, em linha de princípio, a

acumulabilidade das indenizações por Dano Material e por Dano Moral, fundadas

no mesmo fato gerador: a morte de uma pessoa fundamentada a indenização por

dano material na medida em que se avalia o que perdem pecuniariamente os

78 Artigo 139, Decreto 611, de 21.07.1992. 79 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. p.146. 80 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético. Revista dos Tribunais. p. 51 81 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p.. 115.

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seus dependentes (lucros cessantes); e, do mesmo modo, autoriza a reparação

do Dano Moral, “quando se tem em vista a dor, o sofrimento que representa para

os seus parentes ou aliados a eliminação violenta e injusta do ente querido,

independentemente de sua falta atingir a economia dos familiares e

dependentes”82.

Em termos genéricos, assim, nos atos ilícitos de que resulte

morte, em que o ofendido, titular do interesse processual de agir, é o parente, há

que se observar a maior intensidade do sofrimento por parte dos pais com relação

ao filho, mormente se de pouca idade, ou se único, ou se arrimo de família; da

esposa com relação ao marido e vice-versa; e dos filhos com relação ao pai ou à

mãe; e, em um sentido amplo, da companheira com relação ao companheiro e

vice-versa, sendo que, nessa hipótese, há que se sopesar a existência da união

estável reconhecida pela Carta Magna83. De se considerar, também, e sem receio

de incorrer em exagero, que pode ser encontrado o Dano Moral decorrente de um

noivado sólido, de um namoro intenso prolongado no tempo, ou mesmo de uma

amizade íntima e profunda entre duas pessoas, mesmo que de igual sexo,

desimportando, aí, qualquer censura em termos de “bons costumes”, pois o

Direito é utilitário, não podendo sua esfera de ação ser inibida por fatores

puramente ético-religiosos, por mais respeitáveis que sejam84.

Os traumas vivenciados pelos parentes próximos da vítima,

no caos de morte, são imensos, e devem ser sopesados pelo juiz de forma ampla

e criteriosa, sem perder de vista a repercussão que o evento lesivo acarretou na

intimidade dos parentes da vítima, aferida mediante a constatação do seu nível

cultural-intelectual e social que, regra geral são fatores indicativos do apurado ou

diminuto grau de sociabilidade e sensibilidade das pessoas85.

Desta forma, quando provado o Dano decorrente de

acidente de trabalho advindo de uma ação ou omissão voluntária (dolo) ou de

negligência, imprudência ou imperícia por parte do empregador, e ainda que seja

82 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p. 116 83 Constituição da República Federativa do Brasil. 84 CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. p. 117 - 118. 85 REIS, Clayton. Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral. p. 244

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provado o nexo de causalidade entre a culpa e o dano haverá o dever do

empregador de indenizar o obreiro acerca do referido acidente.

2.3 CONFLITOS DA COMPETÊNCIA

É inegável que o princípio da proteção decorre dos

comandos constitucionais, tanto que o legislador cria uma Justiça especializada,

com procedimentos mais célebres e maior acessibilidade, com o propósito de

melhor garantir os direitos dos trabalhadores e dar a estes direitos, maior

efetividade ou eficácia social. Deste modo, não se pode conceber o afastamento

da competência desta justiça, justamente para a apreciação da maior lesão que

pode sofrer o trabalhador como decorrência de ato ou omissão do empregador86.

A alteração da competência constitucional material da

Justiça do Trabalho pela Reforma do Poder Judiciário quanto aos tipos de

vínculos de trabalho que podem ser submetidos à sua apreciação reside num

ponto: a competência que era para dissídios entre trabalhadores e empregadores,

passa a ser para ações oriundas da relação de trabalho, não se limitando mais a

questões de trabalho contra os empregadores, mas de todo prestador pessoa

física conta todo tomador do trabalho da pessoa física, o que abrangerá

prestações de serviços autônomos, serviços eventuais e outros tipos, mudança

que vai exigir algum tempo para que possa ser devidamente assimilada87.

No entanto, muitas são as críticas ao posicionamento

adotado até o momento pelo Supremo Tribunal Federal. Vários autores afirmam

que a premissa que estabelece que os servidores públicos não integram o gênero

trabalhadores não pode prosperar. Segundo os mesmos, trata-se de concepção

arcaica e tradicional que negava aos servidores públicos a condição de sujeito,

titular de direitos subjetivos. O simples fato de o Estado figurar em um dos pólos

da prestação de serviço não significa que a natureza da relação jurídica é

diferente. Inclusive com base neste argumento a jurisprudência e a doutrina

adotaram, após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, 86 COUTINHO, Grijalbo Fernandes. Marcos Neves Fava. Nova Competência da Justiça do Trabalho. p.371 87 8 COUTINHO, Grijalbo Fernandes. Marcos Neves Fava. Nova Competência da Justiça do Trabalho. p.26.

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o posicionamento de que a Justiça do Trabalho é competente para solucionar os

conflitos envolvendo os servidores públicos celetistas e a administração pública88.

No entendimento de Amauri Mascaro Nascimento89 a

relação de trabalho para a qual a competência agora é da Justiça do Trabalho,

deve preencher requisitos básicos.

Profissionalidade, o que significa que se trata de um serviço profissionalmente e não com outra intenção ou finalidade, pressupondo, portanto, remuneração;

Pessoalidade para significar que o trabalho deve ser prestado por pessoa física diretamente, sem auxiliares ou empregados, porque, neste caso, teríamos na figura do prestador um verdadeiro empregador;

A própria atividade do prestador do serviço como objeto do contrato, ou, no caso de resultados pelos serviços, a preponderância destes aspectos, dos serviços, sobre outros, com o que ficariam fora da competência do judiciário trabalhista os contratos de fornecimento e incluída as pequenas empreitadas de serviços;

A subordinação ou não passa a não definir a competência, porque o judiciário trabalhista será competente em ambos os casos, influindo, se os serviços forem subordinados, para o enquadramento jurídico diante do poder de direção sobre o mesmo exercido, levando-o para a esfera da relação de emprego e se inexiste a subordinação, competente, também, será a Vara do Trabalho, porém para apreciar a questão como prestação de serviços autônomos ou outra;

A eventualidade ou não, igualmente, passa a não ter importância sob a perspectiva da competência, porque se os serviços forem contínuos ou não eventuais, estar-se-ão no âmbito da relação de emprego, e se forem eventuais estarão na esfera da prestação de serviços eventuais, em ambos os casos competência À Justiça Trabalhista, mudando, apenas o enquadramento jurídico a ser dado ao caso concreto.

88 ROMAR, Carla Teresa Martins. Competência da Justiça do Trabalho e EC n.º 45/2004. São Paulo; Atlas, 2006. p.32. 89 COUTINHO, Grijalbo Fernandes, Marcos Neves Fava. Nova Competência da Justiça do Trabalho. p. 26 - 27.

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De um lado, a competência seria da Justiça do Trabalho,

que é competente para julgar o pedido de Dano Moral decorrente da relação de

trabalho. Por outro lado, a competência deveria ser da Justiça Comum, pois o

Dano Moral decorreria de acidente do trabalho, cuja competência lhe assiste90.

Na opinião de Suely Ester Gitelman91, a Emenda

Constitucional nº 45/2004 definiu a competência para a Justiça do Trabalho, pois

não seria coerente esta Justiça Especializada julgar questões decorrentes de

Dano Moral de um autônomo e não conhecer questões de Dano Moral

decorrentes de acidente do trabalho, que deriva de contrato de trabalho.

Conforme o mesmo Doutrinador, em seu livro que é preciso

distinguir duas situações em matéria de acidente de trabalho para efeito de

determinação de competência92.

A primeira é a ação acidentária, isto, é ações previdenciárias decorrentes de acidente de trabalho, movidas contra o INSS. Assim, se a ação tem por objeto prestações previdenciárias e nela figura como sujeito passivo o INSS, em que se discutem benefícios previdenciários, tais como auxílio-doença acidentário, aposentadoria e pensão, faz parte da competência da Justiça Comum dos Estados, por força do disposto no art.109, inciso I, da CF e art. 129, II da Lei n 8.213/91.

Já a segunda situação é a das ações entre empregado e empregador por indenização por dano patrimonial e/ou moral causado pelo acidente do trabalho; são as lides indenizatórias de danos morais e materiais decorrentes de culpa subjetiva do empregador que tenham como causar de pedir o descuido deste com o meio ambiente do trabalho, sendo que para estas a Justiça do Trabalho passou a ser competente, apesar de a solução do litígio ter por objeto instituto de natureza civil, o dano moral ou patrimonial.

Antonio Carlos Amaral Leão93 entende que pode e deve a

Justiça do Trabalho proferir em seus r. julgados a condenação também na verba

90 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº 45/2004. p. 64. 91 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº 45/2004. p. 64. 92 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº 45/2004. p. 64 - 65. 93 AMARAL, Leão, Antonio Carlos. A Questão do Dano Moral na Justiça do Trabalho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 248 - 249.

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quanto ao Dano Moral, afirmando que o artigo 114 da Constituição da República

Federativa do Brasil é claríssimo quando estatui com meridiana clareza. Conclui

referido articulista que está, pois definida na Lei Maior, a entrega da prestação

jurisdicional, competindo à Justiça do Trabalho julgar na forma da lei outras

controvérsias decorrentes da relação de trabalho.

Essa polêmica somente se aquietou em junho de 2005,

quando o Supremo Tribunal Federal reformulou entendimento anterior e declarou

que a competência para julgar ações por Dano Moral e Material decorrentes de

acidente do trabalho é da Justiça do Trabalho. A decisão unânime foi tomada em

29 de junho de 2005, durante julgamento do Conflito negativo de competência

suscitado pelo Tribunal Superior do Trabalho contra o Tribunal de Alçada de

Minas Gerais94.

O conflito tem resido nos casos de falecimento do obreiro,

onde a viúva (o), ou seus filhos, tem ingressado com a ação na Justiça do

Trabalho vislumbrando indenização moral/material, sendo que, apesar de os

Tribunais Regionais não terem entrado em consenso sobre o tema, o TRT da 12ª

Região, assim como o TST tem decidido, na maioria de suas decisões, como

competente a Justiça do Trabalho, enquanto o STJ entende pela competência da

Justiça Comum, conforme decisões colecionadas no capítulo Jurisprudência

abaixo.

2.4 DA PRESCRIÇÃO

Conforme Sergio Pinto Martins95, a prescrição só começa a

correr a partir do momento em que nasce o direito da ação. Antes disso, o prazo

não poderia ser contado, pois o interessado estaria incapacitado de fazer valer

seu direito. Enquanto não nasce a ação não pode ela prescrever.

94 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Competência da Justiça do Trabalho e EC nº 45/2004.. p. 67. 95 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.668.

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Segundo o magistério de Orlando Gomes96 “a prescrição é o

modo pelo qual um direito se extingue pela inércia, durante certo lapso de tempo,

do seu titular, que fica sem ação própria para assegurá-lo”.

Valdir Florindo97 cita em sua obra que a prescrição pode

ser, por sua vez, liberatória ou extintiva e a aquisitiva. A que constitui objeto de

nosso estudo é a extintiva ou negativa, que é a que encerra a força de cessação

do direito ou da obrigação em defluência da inércia dentro dos prazos

preestabelecidos, ao passo que a aquisitiva ou positiva é aquela em que a inércia

produz exatamente o efeito contrário, ou seja, gerador de um novo direito em

benefício de um novo titular, melhor conhecida como usucapião.

Considerando que a prescrição extintiva fenece a ação,

podemos, portanto, afirmar que a prescrição é a extinção do direito de ação, em

face do decurso de prazo preestabelecido, fulminando, por sua vez, com o direito

material a ser buscado98.

Referente a prescrição do Dano Moral na área trabalhista,

há duas correntes. A primeira seria que o prazo prescricional está previsto no

artigo 7º, XXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil, que preceitua:

Ação, quanto aos critérios resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho.

Sergio Pinto Martins99 explica que, a segunda teoria afirma

que a indenização é civil, devendo ser observada a prescrição contida no Código

Civil. Na vigência do Código Civil de 1916 o prazo era de 20 anos (art. 177). No

Código Civil de 2002, o prazo é de três anos para a pretensão de reparação civil

(art.206, §3º, V).

Argumentam alguns, que por tratar-se de ação de caráter

pessoal, decorrente da responsabilidade civil, e não propriamente um Direito do

96 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. p. 423. 97 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. p. 331. 98 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. p. 331. 99 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.669.

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Trabalho, a prescrição é vintenária, com suporte no artigo 177 do Código Civil

Brasileiro. Respondendo, a este questionamento, outros afirmam que por tratar-se

de um crédito originado em uma relação de trabalho, a prescrição somente

poderia ser a trabalhista, ou seja, a qüinqüenal (trabalhadores urbanos e rural),

com a ressalva de que a ação deve ser proposta até o limite de 2 anos, caso haja

extinção do contrato de trabalho, entendimento este do qual comungo100.

Para Daniel Itokazu Gonçalves101 o prazo prescricional é

ação de reparação do Dano tem caráter pessoal e possui índole eminentemente

civilista, o prazo prescricional previsto é de 10 anos, até porque não há qualquer

disposição legal expressa estabelecendo prazo inferior a este pertinente a esta

matéria.

Devemos notar que os entendimentos dos autores acima,

apesar de tratar deste tema atual, ainda mencionam os prazos preceituados no

Código Civil de 1916.

Comenta ainda Sérgio Pinto Martins102, que se a

competência é da Justiça do Trabalho, a prescrição deve ser a trabalhista. Se a

relação ocorre entre empregado e empregador quanto a créditos resultantes da

relação de trabalho, a prescrição é de dois anos a contar da cessação do contrato

de trabalho. O inciso XXIX do art. 7º da Constituição da República Federativa do

Brasil não faz distinção se a matéria é prevista no Código Civil ou na CLT, mas

apenas se é um critério resultante da relação de trabalho, como de fato, é.

Diante disso, não se pode esquecer também do princípio

fundamental do direito obreiro, qual seja, o da ‘norma mais favorável’,

intestinalmente ligada ao caráter protecionista do direito labioral103.

Sobre o acidente do trabalho o Superior Tribunal Federal

sumulou:

Súmula 230: A prescrição da ação de acidente do trabalho conta-se do exame pericial que comprovar a enfermidade ou verificar a natureza da incapacidade.

100 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. p. 331. 101 AUGUSTIN, Sérgio. Dano Moral e sua quantificação. p. 95. 102 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p.669. 103 AUGUSTIN, Sérgio. Dano Moral e sua quantificação. p. 95.

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Da mesma forma o Superior Tribunal Justiça registrou:

Súmula 278: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.

Assim como o conflito de competência, a prescrição

também não restou pacificada nos Tribunais Regionais, nem mesmo no TST, uma

vez que se tem utilizado o prazo civil, tendo como marco inicial o fato ensejador

do dano e como prazo fatal os 2 (dois) anos do término do contrato de trabalho,

desde que o fato gerador tenha ocorrido nos 3 (três) anos anteriores a entrada da

ação.

2.5 DO DANO ESTÉTICO DECORRENTE DO ACIDENTE DE TRABALHO

Teresa Ancona Lopez104 define o Dano Estético como

qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma

pessoa, modificação esta que lhe acarreta um “enfeamento” e lhe causa

humilhações e desgostos, dando origem portanto a uma dor moral.

Desse modo, no termo permanência se inclui a

irreparabilidade do prejuízo, pois o que é reparável não é permanente, data vênia

do ilustre Dr. Oscar Freire que em seu Exames e pareceres médico-legais105 dá

como características médico-legais de uma lesão deformante três condições

simultâneas: aparência, irreparabilidade e permanência106.

Conforme Teresa Ancona Lopez107, assim, quando falamos

em aparência externa quisemos significar que a lesão à estética pode estar em

qualquer lugar do corpo humano, com a possibilidade de ser vista em quaisquer

circunstâncias, e não somente que essa visibilidade se dê dentro das condições

habituais de convívio social.

104 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p. 38. 105 São Paulo, Editora Saraiva, 1926. 106 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p.40 107 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p. 43.

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Conforme Clayton Reis108 cita em seu livro, que:

O homem desenvolve toda a sua vida de relação dentro de um ambiente físico, servindo-se dos bens materiais que o mundo sempre lhe proporcionou para o desenvolvimento dessas múltiplas atividades, tanto quanto para desenvolver seus potenciais no ambiente psicológico. A destruição ou lesão de qualquer elemento desse ambiente psíquico afeta de forma substancial a vida de relação individual e social da pessoa, sendo capaz, inclusive, de produzir reflexo na área material. Assim, o dano estético, a perda de membros, os crimes contra a honra, a afetação do equilíbrio psíquico das pessoas, são fatores determinantes que, no geral, produzem efeitos imediatos na estrutura patrimonial e extrapatrimonial da vítima.

Em seu livro Dano Moral e o Direito do Trabalho, Valdir

Florindo109 menciona que quando uma pessoa sofre uma lesão em sua

integridade física ou psíquica, os resultados de tal ato danoso podem-se fazer

sentir na própria expectativa de vida. Inegável que a dor, o sofrimento e o

sentimento deixam enormes seqüelas, abatendo sobremaneira a vítima, que se

torna indolente, portanto, indiferente a tudo e todos, causando-lhe sérios Danos

Morais e o desprazer de viver. As lesões corporais implicam dor, e as cicatrizes

maculam a estética do corpo, razão por que negar o sofrimento do trabalhador

nestes casos, é desconhecer a natureza humana.

E ainda nas palavras do conceituado doutrinador, por causa

dos acidentes do trabalho, muitos são cruelmente chamados de “aleijados”,

expondo-os ao ridículo, sem contar a marginalização social e o desemprego que

definitivamente pode ocasionar. Muitos também são os trabalhadores, vítimas de

infortúnios do trabalho, que sequer põem os pés na rua, de vergonha de suas

deformidades, com alterações psíquicas acarretadas, e que infelizmente não

podem fazer nada, a não ser levá-las consigo até seus últimos dias110.

Finalmente, o Dano Estético acarreta um Dano Moral. Toda

essa situação terá de causar na vítima humilhações, tristezas, desgostos,

constrangimentos, isto é, a pessoa deverá sentir-se diferente do que era – menos 108 REIS, Clayton. Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral. p.236. 109 FLORINDO, Valdir. Dano Moral. p. 148. 110 FLORINDO, Valdir. Dano Moral e o Direito do Trabalho. p. 148.

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feliz. Há, então, um sofrimento moral tendo como causa uma ofensa à integridade

física e este é o ponto principal do conceito de dano estético111.

Este tópico é provavelmente o mais palpável dos Danos

Morais, posto que normalmente é aparente e evidente a lesão causada, de forma

que, preenchido os requisitos necessários ao dever de indenizar, quais sejam, a

comprovação do Dano, a ação ou omissão voluntária, com negligência,

imprudência ou imperícia por parte do empregador, e ainda provado o nexo de

causalidade entre a culpa e o dano, não restará dúvida quanto ao dever de

indenizar do empregador.

2.6 QUANTIFICAÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

Uma das questões que suscita maiores discussões em nível

doutrinário e jurisprudencial, no Brasil e em outros países, é, certamente, a

avaliação do “preço da dor” nas indenizações por Danos Morais112.

A incorreta interpretação, pelos Tribunais, dos fatores que

foram determinantes na produção do resultado lesivo, tem sugerido a adoção de

critérios desiguais na mensuração do preço da dor113.

É inquestionável que, em nosso sistema jurídico, prevalece

o arbítrio um boni viri do magistrado, ou seja, o poder do juiz em fixar livremente o

quantum indenizatório. E sendo, livre o convencimento do Poder Judiciário na

fixação desses valores, este fato tem concorrido, naturalmente, para a adoção de

múltiplos e divergentes critérios de reparação114.

A indenização quanto ao Dano Moral, sendo ele na Justiça

do Trabalho ou na Justiça Comum, é o grande ponto de discussão na doutrina e

nas jurisprudências, esse “quantum” a ser recebido pela vítima, inexiste,

deixando, assim, ao arbítrio do magistrado.

111 LOPEZ, Teresa Ancona. O Dano Estético Responsabilidade Civil. p. 44 112 REIS, Clayton. Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral. p. 116. 113 REIS, Clayton. Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral. p. 119. 114 REIS, Clayton. Os Novos Rumos da Indenização do Dano Moral. p. 119.

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A respeito do livre arbítrio do juiz, Rubens Limongi França115

comenta, a boa doutrina pondera que inexistam ‘caminhos exatos’ para se chegar

à quantificação do Dano Moral, levando-se em conta a ponderação e a

responsabilidade do juiz, a fim de que alcance o equilíbrio na fixação do quantum

da indenização.

Referente ao valor certo sobre o quantum indenizatório, a

fixação competirá ao magistrado, tendo este como base os fatos, situação

econômica, risco criado, gravidade e dor moral.

Para quantificar o Dano Moral, o magistrado verifica a

posição social do lesado, a intensidade do Dano, a dor que foi sofrida pelo lesado,

a gravidade da ofensa, se teve dolo ou culpa o agente causador, a repercussão

social da ofensa e situação econômica de ambas as partes.

Tais critérios encontram fundamento legal a partir da

interpretação do art. 53, da Lei nº 5.250/67, onde no arbitramento da indenização

em reparação do dano moral, o juiz terá em conta, notadamente:

a) a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e repercussão da ofensa e a posição social e política do ofendido;

b) a intensidade do dolo ou o grau da culpa do responsável, sua situação econômica e sua condenação anterior em ação criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação;

c) a retratação espontânea e cabal, antes da propositura da ação penal ou cível, a publicação ou transmissão da resposta ou pedido de retificação, nos prazos previstos na lei e independentemente de intervenção judicial, e a extensão da reparação por esse meio obtido pelo ofendido.

Neste caso, a indenização do Dano Moral se divide em

duas formas, os positivos e os negativos.

115 Reparação do Dano Moral – RT – 631/34-36. págs. 276 e 277.

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Luiz Otavio de Amaral116 explica em seu livro, que no

positivo, doutrina-se que deve ser observado: a condição econômica, pessoal e

social do ofendido, a condição econômica do ofensor; grau de culpa, gravidade e

intensidade do dano, hipótese de reincidência, compensação pela dor sofrida pelo

ofendido e desestímulo da prática delituosa.

Assim, Clayton Reis117 citando Aguiar Dias esclarece: A

condição de impossibilidade matematicamente exata da avaliação só pode ser

tomada em benefício da vítima e não em seu prejuízo. Não é razão suficiente

para não indenizar, e assim beneficiar o responsável, o fato de não ser possível

estabelecer equivalente estado, porque, em matéria de dano moral, o arbítrio é da

existência das coisas.

Seguindo a mesma corrente Isabela Ribeiro de

Figueiredo118, cita que nos dias de hoje, encontrar uma estimativa adequada ao

Dano Moral, talvez seja a maior dificuldade na discussão acerca do assunto, já

que o valor a ser estabelecido deve corresponder a uma quantia compensatória e

que mais se aproxime do justo, com o intuito de abrandar a dor e servir de lenitivo

ao dano sofrido.

Assim, tem-se a expectativa de que os magistrados levem

em conta a estimativa prudencial quanto o princípio da eqüidade.

Na estimativa prudencial, leva-se em conta a gravidade do

Dano, a personalidade de quem lesou e do lesionado. No princípio da equidade, a

ponderação e a moderação quanto ao cálculo.

Já os negativos, Luiz Otavio de Amaral explica119, os pontos

a serem considerados (negativos/evitados) são: o enriquecimento do ofendido e

viabilidade econômica do ofensor.

Assim, para se chegar à quantificação do Dano Moral,

diante da inexistência de “valores exatos”, alguns julgadores seguem a tendência

de que a fixação do quantum deve aterse na sanção do Dano causado, visando

116 AMARAL, Luis Otavio de, Dano Moral e sua Quantificação, p.200. 117 Reparação do Dano Moral – RT – 631/34-36. p. 278. 118 A Valoração do dano moral, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil. p.51. 119 AMARAL, Luiz Otavio de, Dano Moral e sua Quantificação. p.200.

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somente uma condenação pecuniária punitiva, como cita Carlos Alberto Bittar120,

que a tendência jurisprudencial é a da fixação de valor de desestímulo, como fator

de inibição a novas práticas lesivas, mas ainda com o intato vínculo de

compensação às angústias, às dores.

Desta forma, a compensação econômica não almeja

compensar a suposta moral ofendida, ou mesmo, a dor da perda de um ente

querido, um aleijão ou deformidade, com confortos ou prazeres, mas ao menos

obter indenização para amenizar tais situações.

Por outro lado, a forma em que se deve fixar o quantum, é

bastante complexa, onde o magistrado deverá ter o cuidado para não haver uma

supervaloração do Dano, sob pena de enriquecimento ilícito, e nem mesmo a

fixação de um valor subestimado, sob pena de não satisfazer o lesado e de não

atingir o caráter pedagógico/repreensivo ao ofensor, neste foco o empregador,

que seria um dos principais objetivos da indenização.

120 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. p. 280

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CAPÍTULO 3

DAS DIVERGÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS

Os Tribunais pacificaram a possibilidade de se discutir

indenização por Dano Moral decorrente da relação de trabalho na Justiça do

Trabalho, conforme a previsão da Emenda Constitucional nº 45/2004, no entanto,

no caso de morte do obreiro, onde o pleito é feito por parentes, as divergências

jurisprudenciais são enormes, conforme se pode notar com a pesquisa

colecionada a seguir.

3.1 DOS JULGADOS NO TRT CATARINENSE

Uma vez pacificada a possibilidade de pleito de Dano Moral

pelo trabalhador na Justiça do Trabalho, obviamente desde que decorrente de

sua relação de trabalho, muitas ainda são as divergências acerca da competência

desta especializada para julgar as ações de Dano Moral decorrente de acidente

do trabalho que tenha causado a morte do obreiro.

No TRT da 12ª Região, encontramos pela competência da

Justiça do Trabalho:

Ementa: ACIDENTE DO TRABALHO COM ÓBITO.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS SOFRIDOS PELA VÍUVA E

PELOS FILHOS DO TRABALHADOR. COMPETÊNCIA. É competente a Justiça

do Trabalho para julgar as ações de indenização por danos morais interposta

pelos herdeiros, na medida em que a pretensão tem origem na relação de

trabalho havida entre o de cujus e a reclamada121.

121 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 01563-2008-028-12-00-0, Relator, Juiz Garibaldi

T. P. Ferreira, Publicado no TRTSC/DOE em 12 de maio de 2009.

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Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO

TRABALHO. AÇÃO AJUIZADA PELA VIÚVA E FILHAS DO EMPREGADO

FALECIDO. Comprovada a omissão culposa do empregador, que deixou de

adotar as medidas necessárias a garantir a integridade física do seu empregado

no desempenho de suas atividades laborativas, concorrendo para a ocorrência do

evento danoso que resultou na morte do trabalhador, exsurge a sua

responsabilidade civil de indenizar a viúva e filhas122.

Ementa: ACIDENTE DE TRABALHO. MORTE DO

EMPREGADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS À VÍUVA E

FILHOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos termos do art. 114

da CF, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, é

competente a Justiça do Trabalho para julgar os pedidos de danos morais e

materiais fundados em acidente que decorra da relação empregatícia. A norma

constitucional não especifica que a ação indenizatória deva ser ajuizada pelo

trabalhador para que esteja abrangida pela regra insculpida no inciso IV do art.

114. Assim, é competente esta Justiça Especializada para processar e julgar

demanda que versa sobre indenização à viúva e filhos que tem como causa o

acidente de trabalho fatal de que foi vítima o empregado123.

Ementa: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO AJUIZADA POR DEPENDENTE DE TRABALHADOR

FALECIDO EM ACIDENTE DO TRABALHO. A atual redação do art. 114, VI, da

Constituição da República, conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004,

atribui competência à Justiça do Trabalho para processar e julgar "as ações de

indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho".

Essa competência não é mais delimitada em razão dos sujeitos da relação de

trabalho, mas unicamente em razão da matéria. Portanto, é desta Justiça

122 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 00858-2007-039-12-00-2, Relatora Juíza Gisele P. Alexandrino, Publicado no TRTSC/DOE em 27-03-2009. 123 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 00954-2007-015-12-00-0, Relatora Juíza Gisele P. Alexandrino, Publicado no TRTSC/DOE em 04 de fevereiro de 2009.

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especializada a competência para julgar ação de indenização por acidente do

trabalho proposta pela viúva e filhos do trabalhador falecido124.

Ementa: ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR

DANOS MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO AJUIZADA PELA VIÚVA E PELOS

FILHOS DO EMPREGADO FALECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO

TRABALHO. É desta Justiça Especializada a competência para processar e julgar

ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente do

trabalho ainda que os autores sejam a viúva e os filhos do empregado falecido

que pleiteiam, em nome próprio, a reparação de prejuízo sofridos. De fato, mesmo

nessa hipótese, o dano experimentado tem origem na relação de trabalho, e a

competência da Justiça do Trabalho define-se em razão da matéria, e não da

pessoa. Como reconhecido pelo STF, a competência remanesce ainda quando a

ação é ajuizada ou assumida pelos dependentes do trabalhador falecido, pois a

causa do pedido de indenização continua sendo o acidente sofrido pelo

trabalhador. (RE-AgR 503043, Ministro Carlos Britto, DJ 01-06-2007)125.

Ementa: ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS. AÇÃO AJUIZADA PELA VIÚVA E PELOS FILHOS DO

TRABALHADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A Emenda

Constitucional nº 45, de 2004, ao dar nova redação ao art. 114 da Constituição da

República, reconheceu de forma clara e expressa a competência da Justiça do

Trabalho para processar e julgar as "ações de indenização por dano moral ou

patrimonial, decorrentes da relação de trabalho" (inc. VI). Assim, não se exige que

o direito questionado ou a norma a ser aplicada pertençam ao ramo do Direito do

Trabalho, mas sim que o conflito de interesses tenha como substrato a relação de

trabalho. Versando a demanda sobre o pagamento de indenização por danos

morais e materiais - a qual tem sua origem no contrato de trabalho que existiu

124 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina Processo Nº 02131-2006-007-12-00-4, Relator Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 18 de novembro de 2008. 125 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 00264-2008-046-12-00-0, Relator Juiz José Ernesto Manzi - Publicado no TRTSC/DOE em 14 de novembro de 2008.

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entre o de cujus e os réus -, nada obsta que a demanda seja proposta perante

esta Justiça Especializada126.

Ementa: COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANO

MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO. AÇÃO AJUIZADA

PELA VIÚVA E FILHOS DO "DE CUJUS". É da Justiça do Trabalho a

competência para processar e julgar ação aforada pela viúva e filhos do

trabalhador falecido, cujo pleito indenizatório guarda correlação estreita com a

relação de trabalho havida entre o "de cujus" e a ré. Embora a reparação buscada

seja de natureza civil, está assentada no liame de trabalho e nas obrigações dele

derivadas, e é exatamente a origem da lide que define a competência da Justiça

do Trabalho, nos termos do art. 114 da Constituição Federal127.

No que tange ao TRT Catarinense, poucas são as decisões

que entendem que a Justiça do trabalho não seria competente a julgar tais casos,

que em suma entendem que o direito a recorrer a esta Justiça Especializada seria

personalíssimo, dada a natureza exclusivamente civil do pleito, eis alguns

julgados:

Ementa: AÇÃO AJUIZADA POR VIÚVA DE EMPREGADO.

DEMANDA EM NOME PRÓPRIO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM.

Escapa da competência da Justiça do Trabalho o processamento e julgamento de

ação que tem, no pólo ativo, a viúva de empregado atuando em causa própria, na

busca da satisfação de direito autônomo e personalíssimo. Dada a natureza

exclusivamente civil da relação entre as partes litigantes, deve a ação ser

processada perante a Justiça Comum128.

126 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 03192-2007-018-12-00-3, Relatora Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no TRTSC/DOE em 05 de setembro de 2008. 127 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 00295-2006-050-12-00-9, Relator Juiz Gracio R. B. Petrone - Publicado no TRTSC/DOE em 14 de julho de 2008. 128 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 00800-2006-019-12-00-3, Relator Juiz Geraldo José Balbinot - Publicado no TRTSC/DOE em 19 de agosto de 2008.

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Ementa: INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA DO

TRABALHO. AÇÃO MOVIDA PELA VIÚVA E FILHOS DE EX-EMPREGADO. Os

pedidos de dano moral, pensão mensal e constituição de capital, formulados em

nome próprio dos autores, em decorrência do falecimento do ex-empregado, não

se encartam na competência desta Justiça Especializada, porquanto não se

estabeleceu qualquer relação de trabalho entre os autores e a empresa ré129.

3.2 DOS JULGADOS NO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

O conflito existe até mesmo no TST, onde ainda a maioria

das decisões entende que a Justiça do Trabalho seria competente para julgar

todas as ações que envolvem dano moral, inclusive as decorrente de acidente de

trabalho, mesmo que movidas por viúvas e filhos, até mesmo porque neste

Tribunal o assunto se encontra previsto na Súmula 392, senão vejamos:

DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO - Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho130.

Ante a súmula, as decisões desta corte não fogem muito a

tal previsão no que tange as ações movidas pelos próprios obreiros, senão

vejamos:

Ementa: RECURSO DE REVISTA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO - INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAL E MORAL - ACIDENTE DO TRABALHO A controvérsia acerca da competência para julgar o pleito de indenização por dano material e moral resultante de acidente do trabalho ou doença profissional - se seria da Justiça Comum ou da Trabalhista - foi pacificada, concluindo-se pela competência desta Justiça Especializada. Nesse sentido decidiu o E. Supremo Tribunal Federal, nos autos do CC 7.204/MG, Rel. Min. Carlos Britto, na sessão do dia 29/6/2005. Incidência da Súmula nº 392 do TST. Recurso de Revista conhecido e provido131.

129 Brasil. Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Processo Nº 01264-2006-029-12-00-0, Relator Juiz Nelson Hamilton Leiria - Publicado no TRTSC/DOE em 25 de julho de 2008. 130 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 392. 131 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 2436/2000-025-05-00.0, Relatora Maria Cristina Irigoyen Peduzzi - Publicado no DEJTem 15 de maio de 2009.

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Ementa: RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Tratando-se de pedido de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho, a competência material é do Judiciário Trabalhista, em face do que dispõe o art. 114, VI, da Constituição Federal, com a redação que lhe deu a EC-45/2004. Inteligência da Súmula nº 392 do TST. Recurso de revista conhecido e provido132.

Este julgado se coleciona o acórdão na íntegra:

Ementa: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO. A Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsia referente à indenização por dano moral, estético e material, decorrente de acidente de trabalho, uma vez que tem origem na relação de trabalho. Recurso de Revista conhecido e provido133. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-1652/2003-011-12-00.0, em que é Recorrente EDSON PASSING e Recorrida DORNER MONTADORA DE MÁQUINAS INDUSTRIAIS LTDA. O eg. Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por meio do v. acórdão de fls. 384/399, acolheu a preliminar de incompetência da Justiça do Trabalho, arguida de ofício pelo Relator, para apreciar questões decorrentes de acidente de trabalho, declarando a nulidade da sentença sob este aspecto, haja vista que foi proferida por Juízo incompetente para fazê-lo em face da matéria. No mérito, negou provimento aos Recursos Ordinários das partes. O Reclamante interpôs Recurso de Revista às fls. 460/516, com fulcro no artigo 896, alíneas -a- e -c-, da CLT. O Recurso foi admitido às fls. 518/519. Contra razões não foram apresentadas, consoante a certidão de fl. 520. Os autos não foram enviados ao douto Ministério Público do Trabalho, por força do artigo 83, § 2º, II, do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. É o relatório. V O T O

132 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 353/2003-015-05-00.2, Relatora Kátia Magalhães Arruda, 5ª Turma - Publicado no DEJTem 15 de maio de 2009. 133 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 1652/2003-011-12-00.0, Relator José Simpliciano Fontes de F. Fernandes, 2ª Turma - Publicado no DEJTem 15 de maio de 2009.

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O Recurso de Revista é tempestivo (fls. 400, 403 e 460) e está subscrito por advogada habilitada nos autos (fl. 19). Preparo desnecessário. Satisfeitos os pressupostos comuns de admissibilidade, examino os específicos do Recurso de Revista. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO a) Conhecimento

A Turma a quo emitiu entendimento no sentido de que esta Especializada é incompetente para apreciar danos decorrentes de acidente de trabalho. Para tanto adotou os fundamentos de fls. 386/395: -Suscito, de ofício, a preliminar de incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar questões decorrentes de acidente do trabalho. Data venia, esse foi o entendimento do Plenário do Excelso Supremo Tribunal Federal, que, por maioria dos votos, julgou em 09-3-2005 procedente o Recurso Extraordinário (RE) 438639-9, interposto pela empresa Mineração Morro Velho Ltda., concluindo, outrossim, que compete à Justiça dos Estados e do Distrito Federal, e não à Justiça do Trabalho, o julgamento das ações de indenização resultantes de acidente de trabalho, ainda que fundamentadas no Direito Comum. Transcrevo, por oportuno e importante, a bem de fundamentar estas razões de decidir, o voto vencedor proferido pelo eminente Ministro Celso de Mello, in verbis: O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Peço vênia para dissentir dos eminentes Ministros Relator, CARLOS BRITTO, e MARCO AURÉLIO, pois, em recentíssima decisão que proferi sobre a matéria ora em exame, manifestei entendimento no sentido de que compete à Justiça dos Estados-membros e do Distrito Federal, e não à Justiça do Trabalho, o julgamento das ações de indenização por danos materiais e/ou morais resultantes de acidente do trabalho, ainda que fundadas no direito comum e ajuizadas em face do empregador. Cumpre assinalar que tem sido tradicional, no sistema jurídico brasileiro, o reconhecimento, em sede constitucional (CF/46, art. 123, § 1º - CF/67, art. 134, § 2º - CF/69, art. 142, § 2º, e CF/88, art. 109, I, -in fine-), da competência da Justiça comum dos Estados-membros e do Distrito Federal para o processo e julgamento das causas de índole acidentária. Daí a orientação sumular firmada pelo Supremo Tribunal Federal, que, na matéria em questão, deixou registrada a seguinte diretriz: `Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas

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ou sociedades de economia mista- (Súmula 501 - grifei). Os litígios relativos a acidentes do trabalho - expressão esta que designa, consoante acentua PONTES DE MIRANDA (-Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda nº 1 de 1969-, tomo IV/275, 2ª ed., 1974, RT), `quaisquer questões ou composições (...), ainda quando se incluam em regramento de contratos coletivos de trabalho- - não se expõem, por isso mesmo, à competência da Justiça do Trabalho. Esse entendimento - que se aplica às ações de indenização por acidente do trabalho, quer as ajuizadas contra o INSS, quer as promovidas contra o empregador (ainda que fundadas no direito comum) - vem sendo observado pela jurisprudência desta Corte, tanto em acórdãos emanados de seu Plenário e de suas Turmas quanto em decisões monocráticas proferidas por seus eminentes Juízes (AI 218.380-AgR/SP, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA - AI 344.192/MG, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA - AI 524.411/MG, Rel. Min. EROS GRAU - AI 526.410/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES - AI 527.105/SP, Rel. Min. CEZAR PELUSO - RE 176.532/SC, Rel. p/ o acórdão Min. NELSON JOBIM - RE 351.528/SP, Rel. Min. MOREIRA ALVES - RE 388.304/SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - RE 444.302/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.): `Competência: Justiça comum: ação de indenização fundada em acidente de trabalho, ainda quando movida contra o empregador. 1. É da jurisprudência do STF que, em geral, compete à Justiça do Trabalho conhecer de ação indenizatória por danos decorrentes da relação de emprego, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do direito comum e não do Direito do Trabalho. 2. Da regra geral são de excluir-se, porém, por força do art. 109, I, da Constituição, as ações fundadas em acidente de trabalho, sejam as movidas contra a autarquia seguradora, sejam as propostas contra o empregador.-(RTJ 188/740, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei) `RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. DEMANDA SOBRE ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA. ART. 109, I DA CONSTITUIÇÃO. 1. Esta Suprema Corte tem assentado não importar, para a fixação da competência da Justiça do Trabalho, que o deslinde da controvérsia dependa de questões de direito civil, bastando que o pedido esteja lastreado na relação de emprego (CJ 6.959, rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 134/96). 2. Constatada, não obstante, a hipótese de acidente de trabalho, atrai-se a regra do art. 109, I da Carta Federal, que retira da Justiça Federal e passa para a Justiça dos Estados e do Distrito Federal a competência para o julgamento das ações sobre esse tema, independentemente de terem no pólo passivo o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ou o empregador. (...).-(RE 345.486/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE - grifei) Não foi por outra razão que o Supremo Tribunal Federal advertiu, no tema ora em análise, que não se revela suficiente, para reconhecer-se a competência da Justiça do Trabalho, que a controvérsia entre o trabalhador e o empregador se origine da relação de trabalho, impondo-se identificar, para efeito de incidência do art. 114 da Constituição, se trata, ou não, de litígio decorrente de acidente de trabalho, pois, nesta específica

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hipótese, instaurar-se-á a competência da Justiça estadual: `Na espécie, não obstante cuidar-se de dissídio entre trabalhador e empregador, decorrente da relação de trabalho - o que bastaria, conforme o art. 114 da Constituição, a firmar a competência da Justiça do Trabalho -, há um outro elemento a considerar: pleiteia-se não qualquer indenização por ato ilícito, mas indenização por acidente do trabalho, caracterizado por doença permanente adquirida em decorrência dessa relação de trabalho (...), o que, por si só, afasta a incidência do art. 114, atraindo a competência da Justiça comum, por força do disposto no art. 109, I, da Constituição.-(RE 403.832/MG, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei) Impende insistir, portanto, que, em se tratando de matéria acidentária, qualquer que seja a condição ostentada pela parte que figura no pólo passivo da relação processual (INSS ou empregador), há, no que se refere a tais causas, expressa reserva de competência instituída, `ope constitutionis-, em favor da Justiça comum dos Estados-membros. Essa reserva de competência, que tem sido tradicional em nosso sistema de direito constitucional positivo, permanece íntegra, não obstante a superveniência da EC 45/2004. Isso significa, portanto, que ainda remanesce, na esfera de competência da Justiça estadual, o poder de processar e julgar as ações de indenização por danos morais ou materiais resultantes de acidentes do trabalho, mesmo que a pretensão jurídica nelas deduzida encontre fundamento no direito comum. É por essa razão que entendo revelar-se inaplicável, ao caso, tanto o inciso VI do art. 114 da Constituição, na redação dada pela EC 45/2004, quanto a Súmula 736 desta Corte. Cumpre pôr em destaque, finalmente, ante o seu inquestionável relevo, a observação do eminente Ministro CEZAR PELUSO, consignada em decisão que proferiu no AI 527.105/SP - e ora reiterada no presente julgamento -, de que a definição da competência da Justiça estadual, para processar e julgar as causas acidentárias, repousa em um princípio - o da unidade de convicção- - que constitui, segundo enfatizou, a `razão última de todas as causas de fixação e prorrogação de competência, de reunião de processos para desenvolvimento e julgamento conjuntos ou pelo mesmo juízo-, verbis: `É que, na segunda hipótese, em que se excepciona a competência da Justiça do Trabalho, as causas se fundam num mesmo fato ou fatos considerados do ponto de vista histórico, como suporte de qualificações normativas diversas e pretensões distintas. Mas o reconhecimento dessas qualificações jurídicas, ainda que classificadas em ramos normativos diferentes, deve ser dado por um mesmo órgão jurisdicional. Isto é, aquele que julga o fato ou fatos qualificados como acidente ou doença do trabalho deve ter competência para, apreciando-os, qualificá-los, ou não, ainda como ilícito aquiliano típico, para que não haja risco de estimas contraditórias do mesmo fato. E é exatamente esse o motivo pelo qual não interessa, na interpretação do caput do art. 114, qual a taxinomia da norma jurídica aplicável ao fato ou fatos. Importa, sim, tratar-se de fato ou fatos que caracterizem acidente do trabalho. Ora, a cognição desse mesmo fato ou fatos, quer

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exija, num caso, aplicação de norma trabalhista, quer exija, noutro, aplicação de norma de Direito Civil, deve ser exclusiva da Justiça Comum, competente para ambos. O caso em nada se entende com a súmula 736.- (AI 527.105/SP, Rel. Min. CEZAR PELUSO - grifei) Concluo o meu voto, Senhor Presidente. E, ao fazê-lo, peço vênia para acompanhar a divergência iniciada pelo eminente Ministro CEZAR PELUSO, reafirmando o meu entendimento - recentemente externado em decisão que proferi (RE 371.866/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO) -, no sentido de que assiste, ao Poder Judiciário do Estado-membro, e não à Justiça do Trabalho, a competência para processar e julgar as causas acidentárias, ainda que tenham sido instauradas, contra o empregador, com fundamento no direito comum, tal como sucede na espécie ora em exame. É o meu voto. Assim, posiciona-se este Relator, revendo posicionamento anterior, pela incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar os pedidos que têm como fundamento lesão decorrente de acidente do trabalho, com estribo na decisão da Corte Constitucional. Ante o exposto, declaro a incompetência absoluta da Justiça do Trabalho para apreciar o pedido de indenização decorrente de acidente do trabalho, declarando a nulidade do julgado no particular, visto que foi proferido por Juízo incompetente em face da matéria. No entanto, deixo de determinar a remessa dos autos ao MM. Juízo competente (art. 113, § 2o, CPC), ante a cumulatividade do pleito em que remanesce a competência material do Judiciário Trabalhista.-

Por suas razões recursais, o Recorrente argumenta que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar a ação de reparação de danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho, por força do disposto no artigo 114, VI, da Constituição Federal. Aponta violação dos artigos 7º, XXVIII e 114 da Constituição Federal. Colaciona arestos para confronto jurisprudencial. O aresto trazido às fls. 487/488, oriundo do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, mostra-se apto a promover a admissibilidade do Apelo, na medida em que consigna que a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações que versam sobre indenizações por responsabilidade civil decorrentes de acidente de trabalho. Conheço, por divergência jurisprudencial. b) Mérito Com o advento da Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, a discussão acerca da competência da Justiça Trabalhista para apreciar as ações de indenização por danos moral, estético e material decorrentes de acidentes de trabalho

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ficou superada, em razão do acréscimo do item VI do art. 114 da Constituição da República, contendo disposição expressa nesse sentido. Ademais, esta Corte firmou o entendimento no sentido de que esta Justiça Especializada é competente para dirimir controvérsias relacionadas ao dano moral decorrente do contrato de trabalho. É o que se observa na Súmula 392 do TST, que dispõe: DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 327 da SDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.05. Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho.- (ex-OJ nº 327 - DJ 09.12.2003.)

Logo, a Turma a quo equivocou-se ao declarar incompetente esta Justiça Especializada para apreciar o pedido. Portanto, dou provimento ao Recurso de Revista para, declarando a competência da Justiça do Trabalho para julgar o pleito relativo à indenização por dano moral, estético e material decorrentes de acidente do trabalho, determinar o retorno dos autos ao Tribunal Regional de origem, a fim de que prossiga no julgamento dos Recursos do Autor e da Ré, como entender de direito. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do Recurso de Revista, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, dar-lhe provimento para, declarando a competência da Justiça do Trabalho para julgar o pleito relativo à indenização por dano moral, estético e material decorrentes de acidente do trabalho, determinar o retorno dos autos ao Tribunal Regional de origem, a fim de que prossiga no julgamento dos Recursos do Autor e da Ré, como entender de direito. Brasília, 22 de abril de 2009.

JOSÉ SIMPLICIANO FONTES DE F. FERNANDES

Ministro Relator

Também em obediência a súmula, as decisões que dizem

respeito as Ações de Dano Moral por morte em Acidente de Trabalho vão neste

sentido:

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Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRABALHO. ÓBITO. AÇÃO AJUIZADA PELOS DEPENDENTES DO EMPREGADO FALECIDO. Nos termos da Súmula nº 392 do TST, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral e material, quando decorrentes da relação de trabalho. Hipótese de incidência do artigo 896, § 4º, da CLT, aliado à Súmula 333 do TST. Ademais, a competência material desta Justiça Especializada mantêm-se inalterada quando os herdeiros do empregado falecido exercem o direito de ação, porquanto há a transmissibilidade do direito à indenização, por não se tratar de direito personalíssimo do de cujus, dada a sua natureza patrimonial. Agravo de instrumento conhecido e não provido134. Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO - DANO MORAL E PATRIMONIAL - ACIDENTE DE TRABALHO. A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, firmada na Súmula nº 392, consolidou-se no sentido de ser esta Justiça Especial competente para julgar pedido de indenização por danos decorrentes do contrato de trabalho. Esse entendimento foi respaldado pelo Supremo Tribunal Federal, no Conflito de Competência nº 7.204, da relatoria do Ministro Carlos Ayres Britto, no qual se definiu a competência desta Justiça Especial para o julgamento das ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho. Esta Corte vem proferindo decisões no sentido de aplicar o posicionamento firmado no referido verbete sumular, que já consagrava tal competência mesmo antes da Emenda Constitucional nº 45/2004. Agravo de instrumento desprovido135. Ementa: RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ACIDENTE DE TRABALHO COM ÓBITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO MOVIDA PELOS SUCESSORES. O artigo 114 da Constituição da República, em seu inciso IV, estabelece que compete a esta Justiça Especializada processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho. Assim, incontroversa a competência da Justiça do Trabalho para julgar ação de indenização por danos moral e material provenientes de infortúnio do trabalho pelo empregado (Súmula n.º 392 do TST). Por outro lado, esta Corte tem entendimento de que a competência material desta Justiça Especializada não sofre alteração na hipótese de, falecendo o empregado, o direito de

134 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo AIRR - 362/2007-205-08-41.7, Relatora Luiz Dora Maria da Costa, 8ª Turma - Publicado no DEJTem 04 de maio de 2009. 135 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 301/2003-193-05-40.4, Relator Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 1ª Turma - Publicado no DEJTem 30 de abril de 2009.

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ação seja exercido pelos sucessores. Recurso de Revista conhecido e provido136. Ementa: RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO. AÇÃO AJUIZADA PELO ESPÓLIO DO EMPREGADO FALECIDO E PELA COMPANHEIRA. A Justiça do Trabalho detém competência para processar e julgar ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente do trabalho ajuizada pelo espólio do empregado falecido conjuntamente com a sua companheira. Hipótese em que a ação é intentada para ressarcir os danos da companheira. Precedentes do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista parcialmente conhecido e provido137.

3.3 DOS JULGADOS NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ao contrário do previsto no Tribunal Superior do Trabalho, o

Superior Tribunal de Justiça, pacificou o tema nesta corte, se é que podemos falar

que o tema se encontra pacificado, ante a todos os julgados apresentados,

através da súmula 366:

Compete à Justiça estadual processar e julgar ação

indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de

trabalho.138

Ao contrário da Súmula 392 do TST, merece destaque o

fato de que a Súmula 366 do STJ tratar exatamente da competência para

ações movidas pelos familiares do trabalhador falecido, e obviamente, como

conseqüência desta súmula, vários são os julgados neste sentido:

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA -

ACIDENTE DE TRABALHO - MORTE – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -

GENITORES DO EMPREGADO CONTRA EX-EMPREGADOR - VÍNCULO

136 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 800/2006-019-12-00.3, Relatora Maria de Assis Calsing, 4ª Turma - Publicado no DEJTem 27 de março de 2009. 137 Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. Processo RR - 99513/2005-093-09-00.8, Relator Horácio Raymundo de Senna Pires, 6ª Turma - Publicado no DEJTem 27 de março de 2009. 138 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 366.

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TRABALHISTA INEXISTENTE – ARTIGO 114, VI, DA CF/88 – EC 45/2004 –

NÃO-INCIDÊNCIA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL139.

DECISÃO

Cuida-se de conflito de competência estabelecido entre o

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO - SP, suscitante, e o

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, suscitado, referente

ao julgamento de ação de indenização por danos morais proposta por NILO

RIBEIRO DOS SANTOS E OUTRO contra COMPANHIA DOCAS DO ESTADO

DE SÃO PAULO CODESP.

Os elementos dos autos dão conta de que os genitores

do Sr. Erivaldo Ribeiro dos Santos ingressaram com ação de indenização por

danos morais em desfavor da Companhia Docas do Estado de São Paulo, em

função de acidente ocorrido enquanto realizava os serviços braçais de

apicotamento da ferrugem da embarcação Japuí, sofreu queda do andaime,

batendo com a cabeça, ocasionando ferimento na parte posterior, o que

resultou no seu óbito, sendo declarada como causa mortis choque neurogênico

e traumatismo crânio-encefálico (certidão de óbito de fl. 13).

Em sede de contestação, a Codesp denunciou à lide a

empresa Itaú Seguros S/A e o Sindicato dos Trabalhadores de Bloco,

asseverando, também, que não há interesse processual dos autores, pois não

manifestaram a sua intenção na via administrativa, recorrendo de imediato à

via judicial.

Deferido o pedido de denunciação à lide do Sindicato,

sendo que o da seguradora foi indeferido por não constar na apólice de seguro

a cobertura por danos morais (decisão de fls. 110).

O Sindicato dos Trabalhadores de Bloco requereu a sua

exclusão do pólo passivo e a carência de ação dos autores por ilegitimidade de

parte, sendo decretada a sua revelia, conforme decisão de fl. 146.

139 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.126 - SP (2009/0026222-3), Relator MINISTRO MASSAMI UYEDA - Publicado em 06 de maio de 2009.

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Inconformado, o Sindicato agravou de instrumento, tendo

sido o recurso improvido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (fls.

185/189).

Na seqüência, o Juízo estadual determinou a remessa

dos autos a uma das Varas Cíveis da Justiça Federal, tendo em vista que "a

União detém parte majoritária do controle acionário da Codesp." (fl. 193)

A União, por seu turno, declarou não possuir interesse

em intervir

no feito. (fl. 200) O Juízo Federal da 2ª Vara declinou da

competência, aduzindo que a CODESP é uma sociedade de economia mista,

cujo controle é detido pelo Governo do Estado de São Paulo e que,

diferentemente das empresas públicas, não integra, por sua natureza, o elenco

de entidades submetidas à jurisdição federal, conforme o artigo 109, inciso I, da

CF e, devolveu os autos ao Juízo de Direito da 12ª Vara Cível de Santos. (fls.

201/202)

Recebidos os autos pela Justiça estadual, o Juízo de

Direito da 12ª Vara Cível de Santos-SP julgou improcedente a ação. (fls.

259/261)

Inconformados, os autores interpuseram recurso de

apelação, subindo os autos ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

que, por maioria, não conheceu do recurso, por incompetência absoluta, e,

determinou a remessa dos autos ao TRT da 2ª Região. (fls. 290/301)

Entretanto, a Justiça obreira, suscitante do presente

conflito, assevera que, no presente caso, a competência é da Justiça comum,

devendo o processo seguir seu curso nesta, pois a sentença foi prolatada por

esta em data anterior à promulgação da EC 45.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo

reconhecimento da competência da Justiça comum.

É o relatório.

A competência é da Justiça comum.

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Com efeito.

In casu, trata-se de ação de indenização ajuizada pelos

genitores do empregado, falecido em razão de acidente de trabalho, contra a

então empregadora.

É pacífico o entendimento desta eg. Corte Superior de

que a competência ratione materiae está adstrita à natureza jurídica da lide,

definida em função do pedido e da causa de pedir. Assim, ajuizando os pais do

empregado, em nome próprio, ação de indenização contra ex-empregadora,

não se verifica qualquer liame trabalhista entre eles e a ré.

Dessarte, de rigor a competência da Justiça comum ao

exame do feito, afastando-se os ditames do art. 114, VI, da CF/88, com a

redação da EC n. 45/2004. A propósito, confira-se o precedente da Segunda

Seção:

"Conflito de competência. Acidente do Trabalho. Morte do

empregado.

Ação de indenização proposta pela esposa e pelo filho do

falecido.

1. Compete à Justiça comum processar e julgar ação de

indenização proposta pela mulher e pelo filho de trabalhador que morre em

decorrência de acidente do trabalho. É que, neste caso, a demanda tem

natureza exclusivamente civil, e não há direitos pleiteados pelo trabalhador ou,

tampouco, por pessoas na condição de herdeiros ou sucessores destes

direitos. Os autores postulam direitos próprios, ausente relação de trabalho

entre estes e o réu. 2. Conflito conhecido para declarar a competência da

Justiça comum." (CC n. 54.210/RO, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,

DJ 12/12/2005)

Assim, conhece-se do conflito e declara-se competente o

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - SP para dar

prosseguimento ao feito.

Publique-se. Intimem-se.

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Brasília, 27 de abril de 2009.

MINISTRO MASSAMI UYEDA

Relator

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA –

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – MORTE – ACIDENTE DO TRABALHO -

COMPANHEIRA DE EMPREGADO CONTRA EX- EMPREGADOR –

VÍNCULO TRABALHISTA INEXISTENTE – ARTIGO 114, VI, DA CF/88 – EC

45/2004 – NÃO-INCIDÊNCIA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM

ESTADUAL140.

DECISÃO

Cuida-se de conflito negativo de competência

estabelecido entre o JUÍZO DE DIREITO DA 7ª VARA CÍVEL DE SANTOS -

SP, suscitante, e o JUÍZO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE SANTOS - SP,

suscitado, em ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada por

NOEMI DE LÚCIA ROMÃO, companheira de trabalhador falecido em acidente

laboral, contra ADM DO BRASIL LTDA.

A ação foi ajuizada na Justiça trabalhista, entretanto esta

remeteu os autos à Justiça comum asseverando que não é competente para

processar e julgar causa relativa a indenização que não guarda relação de

trabalho com a demandada, por se tratar de pedido de indenização ajuizado

por companheira do então empregado, que foi a óbito em decorrência de

acidente de trabalho.

A Justiça comum, por outro lado, afirma que a

competência é da Justiça especializada, tendo em vista o disposto no artigo

114, VI, da CF, alterado pela EC 45.

O Ministério Público Federal opinou pela declaração de

competência da Justiça comum.

140 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 100.491 - SP (2008/0245950-2), Relator MINISTRO MASSAMI UYEDA - Publicado em 25 de março de 2009.

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É o relatório.

A competência é da Justiça comum estadual.

In casu, trata-se de ação de indenização ajuizada pela

companheira de empregado falecido em razão de acidente de trabalho contra

a então empregadora do de cujus.

É pacífico o entendimento desta Corte Superior de que a

competência ratione materiae está adstrita à natureza jurídica da lide, definida

em função do pedido e da causa de pedir. Assim, ajuizando a companheira do

ex-empregado, em nome próprio, ação de indenização contra ex-empregador

do falecido companheiro, não se verifica qualquer liame trabalhista entre ela e

a ré.

Dessarte, de rigor a competência da Justiça comum ao

exame do feito, afastando-se os ditames do art. 114, VI, da CF/88, com a

redação da EC n. 45/2004. A propósito, confira-se o precedente da Segunda

Seção:

"Conflito de competência. Acidente do Trabalho. Morte

do empregado. Ação de indenização proposta pela esposa e pelo filho do

falecido.

1. Compete à Justiça comum processar e julgar ação de

indenização proposta pela mulher e pelo filho de trabalhador que morre em

decorrência de acidente do trabalho. É que, neste caso, a demanda tem

natureza exclusivamente civil, e não há direitos pleiteados pelo trabalhador ou,

tampouco, por pessoas na condição de herdeiros ou sucessores destes

direitos. Os autores postulam direitos próprios, ausente relação de trabalho

entre estes e o réu.

2. Conflito conhecido para declarar a competência da

Justiça comum." (CC n. 54.210/RO, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,

DJ 12/12/2005)

Assim, conhece-se do conflito para declarar competente

o JUÍZO DE DIREITO DA 7ª VARA CÍVEL DE SANTOS - SP.

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59

Publique-se. Intimem-se.

Brasília (DF), 16 de março de 2009.

MINISTRO MASSAMI UYEDA

Relator

E ainda em outro julgado:

DECISÃO141

Cuida-se de conflito negativo de competência tendo

como suscitante o MM JUÍZO DA VARA DO TRABALHO DE JOAÇABA/SC e

como suscitado o MM JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DE CAMPOS

NOVOS/SC.

Pretende-se, no presente feito, fixar o Juízo competente

para o julgamento da ação de indenização proposta por ANTÔNIA PINTO

tendo como pretensão indenização por dano moral, estético e material sofridos

pelo cônjuge da autora.

O MM JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DE CAMPOS

NOVOS/SC declinou da competência para a Justiça do Trabalho, com fulcro na

alteração do artigo 114 da Constituição Federal de 1988, implementada pela

Emenda Constitucional nº 45/2004.

Por outro lado, o MM JUÍZO DA VARA DO TRABALHO

DE JOAÇABA/SC declinou da competência e suscitou o presente conflito

perante este Tribunal Superior.

O Ministério Público Federal opinou pela competência da

Justiça Comum, conforme parecer lançado aos fls. 33/34.

141 Brasil. Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 100.489 - SC (2008/0245955-1), Relator MINISTRO CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO)- Publicado em 06 de fevereiro de 2009.

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60

Passa-se à decisão.

De plano, é pacífico o entendimento deste Superior

Tribunal de Justiça no sentido de que a definição da competência para

julgamento da demanda está adstrita à natureza jurídica da lide, definida em

função do pedido e da causa de pedir.

In casu, verifica-se que o esposo da autora, empregado

da empresa ré, sofreu acidente de trabalho, causador, segundo ela, de

depressão profunda, que veio a culminar com o óbito dele.

Ora, a autora pleiteia, em nome próprio, reparação por

danos que tiveram origem em acidente do trabalho, em face do cônjuge dela,

não caracterizando, portanto, relação de emprego.

Nesse contexto, não decorrendo a demanda da relação

de trabalho, mas de responsabilização de empresa empregadora pelo dano, a

competência para processo e julgamento é da Justiça Estadual, competência

essa determinada pela natureza jurídica da lide.

Nesse sentido, colhem-se os seguintes precedentes

desta Corte, q. v., verbi gratia:

"Conflito de competência. Acidente do trabalho. Morte do

empregado. Ação de indenização proposta pela esposa e pelo filho do falecido.

1. Compete à Justiça comum processar e julgar ação de indenização proposta

pela mulher e pelo filho de trabalhador que morre em decorrência de acidente

do trabalho. É que, neste caso, a demanda tem natureza exclusivamente civil,

e não há direitos pleiteados pelo trabalhador ou, tampouco, por pessoas na

condição de herdeiros ou sucessores destes direitos. Os autores postulam

direitos próprios, ausente relação de trabalho entre estes e o réu. 2. Conflito

conhecido para declarar a competência da Justiça comum." (CC 54.210/RO,

Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ de 12.12.2005)

(grifou-se).

"CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ACIDENTE DE

TRABALHO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

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61

AJUIZADA PELA VIÚVA E FILHOS DO TRABALHADOR FALECIDO.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. "Compete à Justiça Comum

Estadual conhecer de demanda ajuizada por viúva de trabalhador falecido que,

em nome próprio, pleiteia o pagamento de indenização por parte do ex-

empregador. Precedentes" (CC 57.884/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de

09.04.07). 2. Conflito conhecido para declarar-se a competência do Juízo

Estadual, o suscitado. " (CC 94.676/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, DJ de

10.04.2008).

"CONFLITO DE COMPETÊNCIA – ACIDENTE DE

TRABALHO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS AJUIZADA

POR VIÚVA DE TRABALHADOR FALECIDO – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

ESTADUAL. 1. Compete à Justiça Comum Estadual conhecer de demanda

ajuizada por viúva de trabalhador falecido que, em nome próprio, pleiteia o

pagamento de indenização por parte do ex-empregador. Precedentes. 2.

Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara

de Guariba/SP, o suscitado" (CC 57.884/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de

09.04.07).

Ante o exposto, nos termos do artigo 120, parágrafo

único, do Código de Processo Civil, conhece-se do conflito e declara-se

competente o MM JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DE CAMPOS NOVOS/SC,

suscitado.

Comunique-se ao MM JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA

DE CAMPOS NOVOS/SC e ao MM JUÍZO DA VARA DO TRABALHO DE

JOAÇABA/SC .

Publique-se. Intimem-se.

Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2009.

MINISTRO CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ

FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO) Relator

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62

3.4 DOS JULGADOS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A Constituição Federal, no que tange ao julgamento do

conflito de competência, prevê que a matéria objeto deste debate será resolvida

pelo STF:

Art. 102 - Compete ao Supremo Tribunal Federal,

precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

(...)

o) os conflitos de competência entre o Superior

Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre

Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro

tribunal;

No entanto, como o debate acerca da competência para

julgamento de ação dano moral decorrente de morte em acidente de trabalho

ainda é muito recente, não foi localizado nenhum julgado após as súmulas dos

Tribunais, no entanto, encontramos os seguintes arestos:

EMENTA: I.Embargos de declaração convertidos em agravo

regimental. II.Competência. Justiça do Trabalho. Ação de indenização por danos

resultantes de acidente do trabalho, proposta contra o empregador perante a

Justiça estadual, que pendia de julgamento de mérito quando do advento da

Emenda Constitucional 45/04. 1. Ao julgar o CC 7.204, 29.06.2005, Britto, Inf.STF

394, o Supremo Tribunal, revendo a entendimento anterior, assentou a

competência da Justiça do Trabalho para julgar as ações de indenização por

danos, morais ou materiais, decorrentes de acidente de trabalho, ajuizadas após

a EC 45/04. 2. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça

comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito (v.g. AI 506.325-

AgR, 23.05.2006, 1a T, Peluso; e RE 461.925-AgR, 04.04.2006, 2a T, Celso), o

que ocorre na espécie. 3. Irrelevante para a questão da competência que se cuide

de ação proposta por viúvo de empregada das embargantes, falecida em

decorrência do acidente de trabalho: trata-se de direito patrimonial, que, com a

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63

morte do trabalhador, se transmitiu aos sucessores. 4. Agravo regimental

desprovido. (grifo nosso)

Decisão

Por maioria de votos, A Turma converteu os embargos de

declaração no recurso extraordinário em agravo regimental no recurso

extraordinário; vencido, nesta parte, o Ministro Marco Aurélio. Por unanimidade,

lhe negou provimento, nos termos do voto do Relator. Unânime. 1ª. Turma,

25.06.2007142.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. INDENIZAÇÃO POR

DANOS MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO AJUIZADA EM FACE DO

EMPREGADOR. ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA DO

TRABALHO. A jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que, a partir da

vigência da Emenda Constitucional 45, a competência para julgar ações de

indenização por danos materiais e morais fundadas em acidente de trabalho é da

Justiça do Trabalho. Inexistência, no caso, de sentença de mérito prolatada pela

Justiça estadual em momento anterior ao marco temporal fixado no julgamento do

CC 7.204, rel. min. Carlos Britto. Agravo regimental a que se nega provimento.

Decisão

A Turma, a unanimidade, negou provimento ao agravo

regimental, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste

julgamento, o Senhor Ministro Celso de Mello. Presidiu, este julgamento, a

Senhora Ministra Ellen Gracie. 2ª Turma, 24.06.2008143.

EMENTA: RECURSO. Agravo. Regimental. Acidente de

trabalho. Indenização. Competência. Decisão mantida. Agravo regimental não

provido. É competente a Justiça do Trabalho para julgar ação de indenização

142 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO nº 509353, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Segunda Turma, Publicado no DJE 082 em 17 de agosto de 2007. 143 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO nº 495208, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, Publicado no DJE em 15 de agosto de 2008.

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decorrente de acidente do trabalho quando não há sentença de mérito, antes da

promulgação da Emenda Constitucional n° 45/2004.

Decisão

Negado provimento ao agravo regimental. Decisão

unânime. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Senhores Ministros

Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu, este julgamento, o Senhor Ministro

Gilmar Mendes. 2ª Turma, 26.02.2008144.

EMENTA: Embargos de declaração em recurso

extraordinário. 2. Decisão monocrática do relator. Embargos de declaração

recebidos como agravo regimental. 3. Ação de indenização. Acidente de trabalho.

Competência. Justiça estadual. Decisão de mérito anterior à EC no 45, de 2004.

Precedente. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

Decisão

A Turma, preliminarmente, por votação unânime, conheceu

dos embargos de declaração como recurso de agravo, a que, também por

unanimidade, negou provimento, nos termos do voto do Relator. Ausente,

justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. 2ª

Turma, 06.02.2007145.

Como a Súmula 366 do Superior Tribunal de Justiça, que

trata exatamente das ações propostas pelas viúvas (o) e filhos nos casos de

morte decorrente de acidente de trabalho, criada em novembro de 2008, o

Supremo Tribunal Federal haverá de julgar o conflito de competência criado entre

a citada súmula e a de número 392 do Tribunal Superior do Trabalho, que

preceitua tão somente os casos de ações de dano moral decorrentes da relação

de trabalho, não sendo específica no que tange aos casos de acidente do

144 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO nº 515366, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, Publicado no DJE em 02 de março de 2007. 145 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO nº 447561, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, Publicado no DJE em 02 de março de 2007.

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trabalho, muito menos acerca da morte do trabalhador e danos morais sofridos

por seus familiares em virtude desta perda enquanto seu ente querido laborava.

Pelo primeiro aresto colecionado acima, antes da matéria

ter sido sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, se verifica uma manifestação

do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, tendendo a indicar a Justiça do

Trabalho como competente, mesmo quando se trata de dano moral pleiteado

pelos familiares de trabalhador morto em acidente de trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a finalidade de manter fidelidade à ordem proposta no

sumário e tornar a exposição objetiva, serão apresentadas algumas

considerações a respeito das hipóteses de pesquisas desenvolvidas no decorrer

desse trabalho, de uma forma conclusiva.

Na abordagem realizada no primeiro capítulo, verificamos

que o Dano Moral já encontrava previsão nos mais vetustos tempos, com o seu

surgimento nos primeiros Códigos como o de Hamurabi, o de Manu, o de Ur

Nammu e até mesmo na Bíblia, sendo que, na legislação brasileira, teve sua

previsão na Constituição Federal de 1988, e desde então as normas nacionais

tratam de abarcá-lo.

No que tange a quantificação das Indenizações por Dano

Moral, a fixação compete ao magistrado, não havendo nenhuma previsão de

valores por danos, devendo o mesmo, nos casos de dano comprovado, tomar

como norte a gravidade do dano causado, a repercussão do dano, a culpabilidade

do empregador, além da situação econômica das partes, sempre com a

preocupação de não gerar o vedado enriquecimento ilícito, conforme

demonstrado no segundo capítulo.

Com a ampliação da Competência da Justiça do Trabalho,

analisada no segundo capítulo, em virtude da Emenda Constitucional nº 45/2004,

onde todos os tipos de discussão acerca das relações de trabalho lhe foram

direcionadas, as interpretações foram as mais diversas, inicialmente se esta

Justiça Especializada seria a competente para discutir os pedidos de dano moral

puro e simples cuja lesão teria se dado no ambiente de trabalho, no entanto,

estes casos restaram pacificados, designando esta como competente.

No entanto o principal conflito de competência decorrente

dessa alteração feita pela Emenda Constitucional em relação a Justiça do

Trabalho, se deu nos casos de morte por acidente de trabalho, onde existem duas

correntes, em que na primeira, a Justiça do Trabalho seria competente para

socorrer os anseios dos familiares do trabalhador morto durante o trabalho, na

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segunda corrente os doutrinadores e julgadores entendem ser competência da

Justiça Comum, pois o Dano Moral apesar de decorrente de acidente de trabalho,

estaria sendo pleiteado por alguém que não o trabalhador, ou seja, para os

familiares o pretenso dano moral não seria decorrente de uma relação de

trabalho.

Com a dúvida acerca da competência nestes casos, o prazo

prescricional também restou duvidoso, se o aplicável é o civil de 3 (três) anos

contados do ato lesivo, ou se o correto seria o previsto na Constituição Federal

para os direitos dos trabalhadores, de 5 (cinco) anos desde que o ingresso da

ação aconteça até o limite de 2 (dois) anos da extinção do contrato, sendo que,

para outros, ainda que seja competente a Justiça do Trabalho, o prazo fatal seria

o da indenização Civil, devendo sua prescrição ser de 3 (três) anos contados do

ato lesivo.

Tal dúvida acerca do prazo prescricional, caso o que venha

a prevalecer seja o prazo de 3 (três) anos contados do ato lesivo, é extremamente

desfavorável ao trabalhador, uma vez que o mesmo pode ter sofrido um acidente

de trabalho que lhe deixou alguma seqüela, no entanto, se seu contrato se

estendeu por período superior a 3 (três) o mesmo não terá o direito de pleitear

sua indenização no período de 2 (dois) contados do encerramento de seu

contrato de trabalho na forma do prazo prescricional dos direitos trabalhistas, de

forma que o obreiro ficará em uma encruzilhada, processar seu empregador

enquanto estiver laborando e correr o risco de ser demitido, ainda que após a

estabilidade, ou o que seria pior, ao término de seu contrato de trabalho ter seu

direito a indenização prescrito.

Talvez a parte mais interessante do trabalho de pesquisa

realizado foi o colecionado no terceiro capítulo, que tratou das divergências

jurisprudenciais no que tange a competência nos casos de morte do obreiro, onde

paira a dúvida de onde deverá ser pleiteada a indenização pela família.

Nos julgados do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª

Região há divergências, no Tribunal Superior do Trabalho, o conflito de

competência ainda existe, mas a maioria das decisões entende que a Justiça do

Trabalho seria competente, enquanto que o Superior Tribunal de Justiça teria

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pacificado a discussão com a Súmula 366, dizendo ser competente a Justiça

Estadual.

Diante dos julgados, o Supremo Tribunal Federal, que é

quem é competente para processar e julgar os conflitos de competência entre

Superior Tribunal de Justiça e outros tribunais, deverá se manifestar sobre o

assunto, uma vez que seus julgados sobre o tema são anteriores a Súmula 366

do Superior Tribunal de Justiça.

Assim, finalizada a pesquisa, concluímos que com a

ampliação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, é a Justiça do Trabalho

a competente para julgar as ações de indenização por Danos Morais, e desta

feita, sendo a Justiça do Trabalho competente para julgar as ações de

indenização por Danos Morais decorrentes da relação de trabalho é de se

considerar que o prazo desta Especializada será o correto a ser considerado.

Com a competência da Justiça do Trabalho para julgar as

ações de indenização por Danos Morais por morte decorrente de acidente de

trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e conseqüentemente o Tribunal

Superior do Trabalho deverão ser os competentes para julgar estas demandas,

independente de tal pleito ter sido feito por familiares do falecido, uma vez, que

entendemos que o direito a indenização pleiteada decorre de relação de trabalho,

na forma prevista na Emenda Constitucional nº 45/2004.

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agosto de 2008.

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