DANIEL GALERAMÃOS DE CAVALO

BIOGRAFIA

Nasceu em São Paulo em 1979 e ainda na infância transfere-se para Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Formado em publicidade e propaganda, trabalha como tradutor literário.

É um dos primeiros nomes surgidos na internet, onde publica e edita blogs e sítios desde 1996.

Também é romancista, contista, tradutor, editor e músico.

Em 1997 cria o sítio Proa da Palavra, pioneiro na divulgação de textos literários inéditos.

Em 2001 funda, com Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla, a editora Livros do Mal, dedicada a novos autores.

No mesmo ano, o selo lança seu primeiro livro, os contos de Dentes Guardados, e dois anos depois lança também o romance Até o Dia em que o Cão Morreu.

ESCOLA LITERÁRIA A produção de Daniel Galera é referenciada no Realismo, corrente literária que nasceu na França no decorrer do século XIX, busca da ‘literatura do verdadeiro’ oposta à tendência da ‘arte pela arte’ e às idealizações do Romantismo.

E também no Pós-modernismo, já consolidados a partir de 1930, os ideais modernistas vão gradativamente se transformando, até desaparecer por completo aquela visão de ruptura com o tradicional, de destruição dos padrões vigentes.

No Brasil, a partir da segunda metade da década de 40, a ficção e a poesia apresentam um novo estilo, principalmente no que se refere ao tratamento que os escritores dão à linguagem: preocupação com o apuro formal, restauração da dignidade da linguagem e dos temas.

ANÁLISE DA OBRA Mãos de cavalo terceiro livro do autor, foi lançado

em 2006, já teve seus direitos vendidos para uma adaptação cinematográfica. e os de publicação literária para a Itália, França, Portugal e Argentina.

O livro se divide em dois momentos que são narrados intercaladamente, a adolescência do protagonista em um loteamento urbano de Porto Alegre e um episódio na sua vida anos depois, quando já é um médico de sucesso.

Os acontecimentos do primeiro momento terão peso determinante nas configurações do segundo.

Um pouco à maneira do menino que, no início de "Mãos de Cavalo", desafia as ameaças dos terrenos urbanos com sua Caloi Cross. A perícia na arte é que vai determinar com quantas escoriações se chega ao fim do percurso.

ANÁLISE DA OBRA O capítulo que abre o romance expõe parte

dos sintomas pelos quais a tensão irresoluta da covardia pode ser compensada.

Outro momento sintomático do livro é a gurizada do bairro se reúne em torno de uma disputa chamada downhill.

O arroubo final de Hermano, sua arremetida com o Pajero para cima dos agressores do menino, ele tem trinta anos e os garotos tem dezesseis. Toda a cena é construída sobre a desigualdade.

LINGUAGEM

Mãos de Cavalo começa com capítulos curtos, escritos em terceira pessoa, que tratam de episódios aparentemente díspares como o tombo de bicicleta, o jogo de futebol entre os adolescentes do condomínio e os preparativos de um cirurgião plástico bem sucedido que pretende viajar à Bolívia para escalar o Cerro Bonete.

Prosa rica em detalhes, em descrições bem trabalhadas de cenas e atmosferas, nas quais a aparente placidez do cenário reforça a intensidade dos sentimentos dos personagens.

Segundo o próprio autor, “O tema principal do livro é a identidade, a obsessão que temos por defini-la e a inutilidade geral desse esforço”

PERSONAGENS Hermano – é o protagonista, um habitante

de cidade grande, representa as ambivalências existenciais do indivíduo que faz parte da formação da sociedade burguesa.

Bonobo - é o único que não cresceu no bairro, que não ocupa aquele lugar do desde sempre da memória das crianças. Ele e sua família representam, na economia de identidades do romance.

Naiara – irmã de Bonobo, um dos desejos quase realizados de Hermano.

Isabela – dona da festa de quinze anos que mobilizou a gurizada do condomínio.

PERSONAGENS

Uruguaio – em tentativa frustrada de assediar Isabela na festa de aniversário da mesma, massacra Bonobo que interfere na sua investida em Isabela.

O Pedreiro - amigo de infância.

Renan - amigo da fase adulta.

Adri - esposa de Hermano.

Nara - filha de Hermano.

Estrutura

*Epígrafe Eu caminhava para a escola e ia imaginando

planos em que uma grua subia aos poucos e me via lá em baixo como um pequeno objeto no meio da rua, caminhando para a escola (Nicolas Cage)

*Capítulos – Nomeados (representando o passado) e cronometrados (representando o presente)

TEMPO

A história de Mãos de Cavalo é contada através de dois períodos cronológicos diferentes que são entremeados, a adolescência e a vida adulta, imprimindo à narrativa uma característica descontínua, fragmentada.

Espaço

Área metropolitana de Porto Alegre, no primeiro capítulo do livro ainda especifica a Rua do Canteiro.

ENREDO A obra Mãos de Cavalo retrata, em uma

narrativa entrecortada, a vida do personagem Hermano em três fases: um garoto de dez anos, um adolescente de quinze e um cirurgião plástico de 30 anos, fundindo assim, passado e presente.

Os episódios são retratados por fragmentos da infância e adolescência de um garoto sempre em busca de novas aventuras.

Hermano, já adulto, se torna um bem sucedido médico que ao retornar ao bairro onde viveu, busca algo em suas origens.

Todos os acontecimentos vividos pelo protagonista, influenciam suas decisões, mostrando qual é a melhor forma de seguir e qual caminho trilhar para compreender sua verdadeira essência.

ENREDONo primeiro momento, é exposto parte dos sintomas pelos quais a tensão irresoluta da covardia pode ser compensada. Hermano é apresentado na figura do ciclista urbano, um explorador das possibilidades de desafio da geografia da cidade, que se constrói pelas ruas com calçamentos desiguais,calçadas ruídas pelo descuido ou escorregadias de zelo, cruzamentos movimentados e limites de arame farpado.

ENREDOSegundo momento sintomático. A gurizada do bairro se reúne em torno de uma disputa chamada downhill, que consiste na descida de bicicleta por um morrinho que liga duas ruas em desnível, numa parte do bairro. O objetivo deste jogo era avaliar quem descia com maior velocidade, em situação mais perigosa, colocando ao limite suas habilidades de ciclista e sua coragem de menino.

ENREDO O arroubo final de Hermano, dá pra descrever –

sem nenhum problema – que Hermano termina sua busca completamente transtornado, delirando que é um tipo de vingador cinematográfico, baixando o piolet em uns guris que tem metade da sua idade.

Toda a cena de sua arremetida com o Pajero para cima dos agressores do menino é construída sobre a desigualdade: os oito meninos contra um só, Hermano motorizado e brandindo um piolet comprado.

Essa é a resposta que o romance propõe para atravessar os “abismos intransponíveis entre conhecer e fazer, entre alma e estrutura, entre eu e mundo”.

ENREDO A partir do segundo capítulo começamos a entender

mais claramente esse jogo com o curso da narrativa relacionado à forma como o personagem guia a sua vida. Os capítulos intitulados por horários – 6h08, 6h13,... – apresentam Hermano em sua vida adulta atual. Os capítulos que não são intitulados por horários relatam sua adolescência.

A forma dos capítulos onde Hermano está dirigindo reforça a idéia de que a narrativa foi organizada sob a ótica de um trajeto, pois eles em um parágrafo apenas, caracterizando assim, a continuidade, a linearidade da estrada, do caminho, da vida.

O tempo em Mãos de Cavalo é outro fator importante para a análise. Com uma leitura atenta, o leitor perceberá que as histórias se fundem, unindo passado e presente, e ainda, que os fatos passados exerceram grande influência sobre Hermano em sua fase adulta.

ENREDO

A alternância entre passado e presente leva o leitor a compreender o personagem de forma gradual, assim, o passado não só ilumina o futuro, mas também, o próprio passado de Hermano, simultaneamente. Para entender o Hermano adulto, é essencial emergir em sua adolescência. Outro aspecto interessante é a finalização do livro, o qual não se dá na metade cronologicamente mais atual da narrativa, mas sim, na fase adolescente do personagem.