da violenciaparaconvivencia

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IPPF/WHR – International Planned ParenthoodFederation Western Hemisphere Region é umaorganização sem fins lucrativos que trabalha naAmérica Latina e no Caribe através de 44organizações afiliadas, provendo serviços na áreado Planejamento Familiar e outras áreas de saúdesexual e reprodutiva para mulheres, homens ejovens da região. IPPF/WHR tem colocadoparticular ênfase em incorporar perspectivas degênero e de direitos na provisão dos serviços. Estaênfase, por sua vez, tem sido motor de projetos

Instituto PROMUNDO é uma organização não-governamental com escritórios no Rio de Janeiro eBrasília que procura aplicar conceitos das áreas dedesenvolvimento humano, marketing social edireitos da criança através de pesquisa, apoiotécnico, capacitação e disseminação de resultadosde estratégias efetivas e integrais que contribuampara a melhoria das condições de vida de crianças,jovens e suas famílias. PROMUNDO executaestudos de avaliação; oferece treinamento paraorganizações trabalhando nas áreas relacionadasao bem-estar de crianças, jovens e famílias; etrabalha com organizações parceiras quedesenvolvam serviços e intervenções inovadoraspara crianças, jovens e famílias. PROMUNDO é

Coordenação do Projeto / Autoriauma organização não-governamental brasileiraafiliada ao John Snow Research and TrainingInstitute e a John Snow do Brasil. Suas áreasespecíficas de atuação incluem: prevenção deviolência, fortalecimento de sistemas comunitáriosde apoio para crianças e adolescentes; gênero,saúde e adolescência; e crianças e famílias afetadaspela AIDS.

Os direitos deste material são reservados aos autores, podendo ser reproduzidos desde que se cite a fonte.2001 ©- Instituto PROMUNDO e colaboradores

Contatos: Gary Barker / Marcos NascimentoRua Francisco Serrador, 2 / sala 702 - CentroRio de Janeiro, RJ, 20031-060, BrasilTel: (21) 2544-3114 / 2544-3115Fax: (21) 2220-3511E-mail: [email protected]: www.promundo.org.br

regionais para envolver aos homens na saúde sexuale reprodutiva e para dirigir esforços na área daviolência de gênero. IPPF/RHO tem sido tambémpioneiro no desenvolvimento de serviços parajovens.

120 Wall Street, 9th FloorNew York, NY 10005Tel: (212) 248-6400Fax: (212) 248-4221E-mail: [email protected]: www.ippfwhr.org

Apoio

Colaboração

O Programa PAPAI é uma instituição civil sem finslucrativos que desenvolve pesquisas e açõeseducativas no campo das relações de gênero, saú-de, educação e ação social, em parceria com a Uni-versidade Federal de Pernambuco. Promovemos ati-vidades de intervenção social junto a homens, jo-vens e adultos, em Recife, nordeste brasileiro, bemcomo estudos e pesquisas sobre masculinidades, apartir do enfoque de gênero, em nível nacional einternacional. Nossa equipe é composta por ho-mens e mulheres: profissionais (graduados e pós-graduados) e estudantes da área de Ciências Hu-

manas e Sociais, além de inúmeros colaboradorese colaboradoras, diretos e indiretos.Principais temas de trabalho: paternidade na adolescên-cia, prevenção de DST e Aids, comunicação e saúde,violência de gênero, redução de danos e drogas.

ECOS-Comunicação em Sexualidade é umaorganização não-governamental que, desde 1989,vem incentivando trabalhos nas áreas de advocacy,pesquisa, educação pública e produção de materiaiseducativos em sexualidade e saúde reprodutiva. Aexperiência acumulada tem apontado para anecessidade de construção de um olhar de gêneroque considere a perspectiva de masculina sobresexualidade e saúde reprodutiva. Isto significou

incluir em suas práticas educativas e decomunicação, de maneira inovadora, a ótica dejovens e adultos do sexo masculino.

Contato: Silvani ArrudaRua do Paraíso 592 - ParaísoSão Paulo, SP, 04103-001, BrasilTel/Fax. (11) 3171-0503 / 3171-3315E-mail: [email protected]: www.ecos.org.br

Contatos: Jorge Lyra / Benedito MedradoRua Mardonio Nascimento, 119 - VárzeaRecife, PE, 50741-380, BrasilTel/Fax: (81) 3271-4804E-mail: [email protected]: www.ufpe.br/papai

Salud y Género é uma associação civil, formadapor mulheres e homens de distintas profissões eexperiências de trabalho que se mesclam paradesenvolver propostas educativas e de participaçãosocial inovadoras no campo da saúde e gênero.Contamos com dois escritórios: um em Xalapa,Veracruz, e outro em Querétaro, Querétaro,México. Salud y Género se desenvolve em umcampo complexo e transformador, utilizamos aperspectiva de gênero como instrumento de nossotrabalho, pois nos permite ver possibilidades detransformação nas relações entre homens emulheres. Através de nossas ações, pretendemoscontribuir a uma melhor saúde e qualidade de vidade mulheres e homens nas áreas da saúde mental,sexual e reprodutiva, considerando que a eqüidadee a democracia são uma meta e responsabilidadecompartilhada. Desenvolvemos oficinas educativasno México e na América Latina, oferecemos um

Curso em Gênero e Saúde, desenhamos eelaboramos materiais educativos e promovemos aincorporação do enfoque de gênero nas políticaspúblicas nas áreas de saúde, educação e população.

Contato: Benno de Keijzer/Gerardo Ayala

Em Xalapa: Carlos Miguel Palacios # 59Col. Venustiano CarranzaXalapa, Veracruz, México.CP 91070Tel/Fax: (52 8) 18 93 24E-mail: [email protected]

Em Querétaro: Escobedo # 16-5Centro, Querétaro, Querétaro, México.CP 76000Tel/Fax: (52 4) 2 14 08 84E-mail: [email protected]

Colaboradores nas Provas de Campo: cinco ONGs colaboraram para validar estes cadernos em campo, sendo:BEMFAM (Brasil), INPPARES (Peru), MEXFAM (México), PROFAMILIA (Colômbia) e Save the Children – US(Bolívia). No módulo 3 se encontra uma descrição de cada uma delas e informação para contato.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

AGRADECIMENTOS

INTRODUÇÃO: Como foi elaborado e como usar este caderno.

MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ. Uma introdução ao tema da violência,convivência e homens jovens.

O que é violência?É melhor falar da prevenção da violência ou na promoção da convivência?Qual é a dimensão da violência “masculina” nas Américas?Os homens são “naturalmente” mais violentos que as mulheres? Ou seja, existe uma“causa” biológica para a violência masculina?Se os rapazes são socializados para serem violentos, como é que isto acontece?Estar fora da escola é uma causa de violência para os rapazes?Violência é só coisa de homens jovens de baixa renda?De onde vem a violência dos homens contra as mulheres?Que sabemos sobre a violência sexual de homens jovens contra mulheres?O que concluímos

MÓDULO 2: COMO. Como trabalhar a prevenção da violênciacom homens jovens.

Técnica 1: O Bastão FalanteTécnica 2: O Varal da ViolênciaTécnica 3: Otário Vivo ou Valente Morto: A Honra MasculinaTécnica 4: A Violência à Minha VoltaTécnica 5: Diversidade e Direitos: Eu e os OutrosTécnica 6: Risco e Violência: as Provas de CoragemTécnica 7: Violência Sexual: é ou não é?Técnica 8: Da Violência para Respeito na Relação ÍntimaTécnica 9: Homofobia: Homem Pode Gostar de Outro Homem?Técnica 10: Que Faço Quando Estou com Raiva?Técnica 11: Cidadania: O que Posso Fazer para Promover a Paz?

MÓDULO 3: ONDE. Onde procurar mais informação.

RecursosRelato de uma Experiência: Instituto PROMUNDOOrganizações Colaboradoras na Avaliação dos Cadernos

BIBLIOGRAFIA

ANEXO: Prova de Campo dos Cadernos

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AGRADECIMENTOS

Os autores deste caderno são Gary Barker e Marcos Nascimento, do Instituto PROMUNDO.Contudo, queremos enfatizar que a sua elaboração foi um processo coletivo que envolveucolegas e amigos de diversas instituições:

Judith Helzner e Humberto Arango, International Planned Parenthood Federation/Western Hemisphere Region (IPPF/WHR)Benedito Medrado e Jorge Lyra, Programa PAPAIMargareth Arilha e Silvani Arruda, Comunicação em Sexualidade (ECOS)Benno de Keijzer e Gerardo Ayala, Salud y GéneroReginaldo Bianco, 3Laranjas ComunicaçãoOs jovens do projeto “De Jovem para Jovem”, Bangu e Maré, Rio de JaneiroLuiz dos Santos Costa, Waldemir Correa e Cláudio Santiago,Grupo Consciência MasculinaPaul Bloem, Organização Mundial de SaúdeMatilde Maddaleno, Organização Panamericana de SaúdeAngela Sebastiani, INPPARESLiliana Schmitz, PROFAMILIAMônica Almeida, Ney Costa e Gilvani Granjeiro, BEMFAMElizabeth Arteaga e Fernando Cerezo, Save the Children (Bolívia)José Angel Aguilar, MEXFAMMiguel Fontes e Cecília Studart, John Snow do Brasil e Soraya Oliveira, do InstitutoPROMUNDOCarlos Zuma e Fernando Acosta, Instituto NOOS

Apoio financeiro e material:

International Planned Parenthood Federation/Western Hemisphere Region (IPPF/WHR)Summit FoundationMoriah FundGates FoundationUS Agency for International DevelopmentOrganização Mundial de Saúde/Organização Panamericana de Saúde

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

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INTRODUÇÃO

Como foi elaboradoe como usar este caderno

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

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INTRODUÇÃO

Por muito tempo, assumiu-seque os homens adolescentesiam bem e que tinhammenos necessidades doque as meninas emtermos de saúde.Outras vezes,pensava-se quetrabalhar com rapazesera difícil, por elesserem agressivos e não sepreocuparem com a saúde.Freqüentemente, eram vistoscomo violentos – violentoscontra outros rapazes, contrasi mesmos e contra as meninas.Pesquisas recentes e novasperspectivas chamam a atenção paraum entendimento mais apurado de como osrapazes são socializados, do que eles precisamem termos de um desenvolvimento saudável,e o que os educadores de saúde e outrosprofissionais podem fazer para atendê-los deforma mais apropriada.

Passados 20 anos, inúmeras iniciativasprocuraram um maior “empowerment” dasmulheres e diminuir a hierarquia entre osgêneros. Muitas formas de “advocacy”mostraram a importância de engajar oshomens, adultos e jovens, no bem-estar dasmulheres, tanto adultas como jovens. AConferência Internacional sobre População eDesenvolvimento (CIPD, 1994) e a IVConferência Mundial sobre Mulheres emBeijing (1995) enfatizaram a importância dese incluirem os homens nos esforços de

1- Por que focaratenção nos rapazes?

melhorar o status de mulheres e meninas. OPrograma de Ação da CIPD, por exemplo,procura “promover a equidade de gênero emtodas as esferas da vida, incluindo família ecomunidade, levando os homens a assumir suaparcela de responsabilidade por seucomportamento nas esferas sexual ereprodutiva bem como por seus papéis sociaise familiares”.

Em 1998, a Organização Mundial de Saúde(OMS) decidiu prestar uma maior atenção nasnecessidades dos homens adolescentes,reconhecendo que muitas vezes não houve umolhar mais cuidadoso por parte dos programassobre as questões de saúde dos rapazes. Um

documento de “advocacy” sobrehomens adolescentes, preparado

e impresso pela OMS emcolaboração com o InstitutoPROMUNDO, está incluídoneste caderno. A UNAIDSdedicou a campanha deAIDS 2000-2001 aos

homens, incluindo oshomens jovens, e

reconhecendo queo comportamentodeles constitui um

fator que oscoloca em

situações de risco,bem como às suas

parceiras e parceiros. Énecessário engajá-los de forma positiva tanto naprevenção do HIV/AIDS quanto no suporte paraaqueles que vivem com AIDS.

Nos últimos anos, houve um aumentoconsiderável no reconhecimento dos custos dealguns aspectos tradicionais da masculinidadetanto para homens adultos quanto para osrapazes – o pouco envolvimento com ocuidado com as crianças; maiores taxas demorte por acidentes de tráfego, suicídio eviolência do que as meninas, assim como oconsumo de álcool e drogas. Os rapazes têminúmeras necessidades no campo da saúde oque requer usar esta perspectiva de gênero.

O que significa aplicar a “perspectiva degênero” para trabalhar com homensadolescentes e jovens? 9

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Na maior parte dos contextos, os meninossão criados para serem auto-suficientes, não sepreocuparem com sua saúde e não procuraremajuda quando enfrentam situações de stress. Tercom quem falar e procurar algum tipo de suporteé um fator de proteção contra uso de drogas eenvolvimento com violência – o que explica emparte por que os meninos são mais propensos ase envolverem em episódios de violência e aconsumir drogas que as meninas. Pesquisasconfirmam que a forma como os homens sãosocializados trazem conseqüências diretas parasua saúde. Um levantamento nacional, comhomens adolescentes entre 15 e 19 anos,realizado nos EUA, concluiu que jovens quetinham padrões sexistas e tradicionais demasculinidade eram mais propensos ao uso dedrogas, ao envolvimento com violência edelinqüência e a comportamentos sexuais derisco do que outros homens jovens que possuíamvisões mais flexíveis sobre o que um “homemde verdade” pode realmente fazer1 .

Com estas considerações, aplicar aperspectiva de gênero ao trabalhar comhomens jovens implica:

(a) EQÜIDADE DE GÊNERO: Engajar oshomens na discussão e reflexão sobre ahierarquia de gênero com objetivo de levá-losa assumir sua parcela de responsabilidade nocuidado com os filhos, nas questões de saúdereprodutiva e nas tarefas domésticas.

(b) ESPECIFICIDADE DE GÊNERO: Olharpara as necessidades específicas que os jovenspossuem em termos de saúde edesenvolvimento por conta de seu processode socialização. Isto significa, por exemplo,engajar os rapazes em discussões sobre usode drogas ou comportamentos de risco, ajudá-los a entender por que se sentem pressionadosa se comportarem desta ou daquela forma.

Este caderno incorpora estas duasperspectivas.

Gênero se refere às formas como somossocializados, como nos comportamos eagimos, tornando-nos homens e mulheres;refere-se também à forma como estes papéis emodelos, usualmente estereotipados, sãointernalizados, pensados e reforçados. Aorigem de muitos dos comportamentos doshomens e rapazes –negociação ou não do usode preservativo, cuidado ou não das criançasquando são pais, utilização ou não daviolência contra sua parceira – muitas vezes éencontrada na forma como os meninos foramsocializados. Por vezes, assume-se quedeterminados comportamentos são da“natureza do homem”, ou que “homem éassim mesmo”. Contudo, a violência praticadapor rapazes, o uso abusivo de drogas, osuicídio e o comportamento desrespeitoso emrelação à sua parceira, estão relacionados àforma como as famílias, e de um modo maisamplo, a sociedade, educam meninos emeninas. Mudar a forma como educamos epercebemos os rapazes não é tarefa fácil, masé necessária para a mudança de aspectosnegativos de algumas formas demasculinidade.

Muitas culturas promovem a idéia de queser um “homem de verdade” significa serprovedor e protetor. Incentivam os meninosa serem agressivos e competitivos – o queé út i l na formação de provedores eprotetores – o que leva, por vezes, asmeninas a acei tarem a dominaçãomasculina. Por outro lado, os meninosgeralmente são criados para aderir a rígidoscódigos de honra, que os obrigam acompetir e a usar violência entre si paraprovarem que são “homens de verdade”.Meninos que mostram interesse em cuidarde crianças, que executam tarefasdomésticas, que têm amizades commeninas, que demonstram suas emoções eque ainda não tiveram relações sexuais, emregra, são ridicularizados por suas famíliase companheiros como sendo “viadinhos”.

101 Courtenay, W. H. Better to die than cry? A longitudinal and constructionist study of masculinity and the health riskbehavior of young American men [Doctoral dissertation]. University of California at Berkeley, Dissertation AbstractsInternational, 1998.

INTRODUÇÃO

3- Sobre a série decadernos de trabalho

Este caderno sobre violência e convivênciaé parte de uma série de cinco cadernoschamada “Trabalhando com Homens Jovens”.Esse material foi elaborado para educadores desaúde, professores e/ou outros profissionais ouvoluntários que desejem ou já estejamtrabalhando com homens jovens. Isto incluitanto aqueles profissionais interessados emtrabalhar, como aqueles que já vêm trabalhandocom homens adolescentes e jovens entre 15 e24 anos, faixa que corresponde à “juventude”,segundo definições da OMS. Sabemos que estafaixa é bastante ampla, e não necessariamenteestamos recomendando que se trabalhe emgrupos com jovens de 15 a 24 anos no mesmogrupo. Porém, as técnicas incluídas aqui foramtestadas e elaboradas para trabalhar comhomens jovens nesta faixa de idade e emdiversos locais e contextos.

Os cinco cadernos desta série são:

a) Sexualidade e Saúde Reprodutiva: embusca dos direitos sexuais e reprodutivos doshomens jovens 11

2- Do homem jovemcomo obstáculo, aohomem jovem comoaliado

Discussões sobre meninos e homens jovens,freqüentemente, têm focado sua atenção nosproblemas – sua pouca participação nasquestões de saúde sexual e reprodutiva e emaspectos violentos de seu comportamento.Algumas iniciativas nas áreas de saúde doadolescente têm encarado os rapazes comoobstáculos ou como agressores. De fato, algunsrapazes são violentos com suas parceiras ouparceiros. Alguns são violentos entre si. Muitosjovens não participam do cuidado dos seusfilhos, e não têm uma participação adequadaem relação às suas necessidades de saúdesexual e reprodutiva, nem de suas parceiras.Mas existe uma outra parcela de homensadolescentes e jovens que participa do cuidadocom as crianças, e que é respeitosa nas suasrelações de intimidade. Ao mesmo tempo, éimportante lembrar que ninguém é apenas deum único jeito o tempo todo; um homemjovem pode ser violento com o/a parceiro/a emostrar-se cuidadoso com os filhos, ouviolento em alguns contextos e em outros não.

Este caderno parte do princípio que oshomens devem ser vistos como aliados – atuaisou potenciais – e não como obstáculos. Osrapazes, mesmo aqueles que por vezes tenhamsido violentos ou que não tenhamdemonstrado respeito com suas parceiras,possuem potencial para serem respeitosos ecuidadosos com elas, para negociar em suasrelações com diálogo e respeito, para assumirresponsabilidades por seus filhos, e parainteragir e viver de forma harmoniosa ao invésde forma violenta.

Tanto pesquisas como nossa experiênciapessoal como educadores, pais, professores eprofissionais de saúde demonstram que osrapazes respondem muitas vezes segundo asexpectativas que se tem deles. Pesquisas sobredelinqüência mostram que um dos fatoresassociados ao comportamento delinqüente é

ser taxado como delinqüente pelos pais,professores e outros adultos. Rapaz que sesente rotulado e categorizado comodelinqüente tem mais probabilidade de ser umdelinqüente. Se, esperamos rapazes violentos,se esperamos que eles não se envolvam comcuidados com seus filhos e que não participemde temas ligados à saúde sexual e reprodutivade uma forma respeitosa e comprometida,então criamos profecias que se autocumprem.

Estes cadernos partem da premissa de queos jovens devem ser vistos como aliados. É fatoque alguns jovens são violentos com os outrose consigo mesmos. Mas acreditamos que éimperioso começar a perceber o que oshomens jovens fazem de positivo e humano eacreditar no potencial de outros homens jovensde fazer o mesmo.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

As técnicas incluídas nestes cadernos sur-giram da experiência coletiva de trabalho comhomens jovens das organizações colaborado-ras, nos temas de equidade de gênero e saú-de. Muitas atividades foram desenvolvidas etestadas com a participação e colaboração dehomens jovens. Outras atividades foram adap-tadas de materiais já existentes de trabalho comjovens. Neste caso, fizemos referências ao cré-dito devido.

4- Como as atividadesforam desenvolvidas

O que nós recomendamos: trabalhar comhomens jovens em grupos só de rapazes ou emgrupos mistos (rapazes e meninas)? Nossa res-posta é: as duas formas. Como organizações quevêm trabalhando com grupos de homens, jovense adultos, bem como com grupos de mulheres egrupos mistos, acreditamos que para alguns te-mas é útil trabalhar com grupos separados, ouseja, somente de rapazes. Alguns rapazes e ho-mens jovens se sentem mais à vontade em dis-cutir temas como sexualidade e raiva, em exporsuas emoções sem uma presença feminina. Numcontexto de grupo, com um facilitador e outroshomens jovens, alguns homens são capazes defalar sobre sentimentos e temas que nunca havi-am falado antes.

Em nossa experiência, alguns homens jovensreclamam ou se mostram pouco interessados senão há mulheres no grupo. Claro que ter meni-na pode fazer um grupo mais interessante. Mastambém vemos em muitas ocasiões que a pre-sença de mulheres faz com que os rapazes não

se exponham, não se abram ou deixam que asmulheres falem mais sobre assuntos íntimos. Emalguns grupos vemos que as mulheres chegam aser "embaixadoras" emocionais dos homens, ouseja, os homens não expressam suas emoções,delegando esse papel às mulheres.

Na aplicação destas técnicas, em cinco paí-ses, ficou confirmado que para muitos dos homenspresentes foi a primeira vez que tinham participa-do de um grupo só de homens. Embora algunsdissessem que havia sido difícil no início, depoisacharam que era importante ter algum tempo sócom grupos de rapazes.

Contudo, ao mesmo tempo, recomendamosque pelo menos uma parte do tempo seja dedicadaa trabalhar com meninos e meninas juntos. Ho-mens e mulheres vivem juntos, trabalham juntos;alguns formam parcerias afetivas e famílias dasmais diversas formas e arranjos. Nós acreditamosque, como educadores, professores e profissionaisque trabalham com jovens, devemos promoverinterações que propiciem respeito e equidade. Oque significa que, pelo menos em uma parte dotempo, devemos trabalhar com grupos mistos.

Recomendamos

Todas estas atividades foram testadas, emcinco países da América Latina, com 172 ho-mens jovens entre 15 e 24 anos, em colabora-ção com IPPF/WHR:

a) INPPARES, em Lima, Peru;b) PROFAMILIA, em Bogotá, Colômbia;c) MEXFAM, México, DF;d) Save the Children, em Oruro, Bolívia; ee) BEMFAM, Rio Grande do Norte, Cea-rá e Paraíba, Brasil.

Os resultados desta prova de campo se en-contram no Anexo deste caderno.

b) Paternidade e Cuidadoc) Da Violência para Convivência: um caderno

para trabalhar a prevenção de violência, incluindoviolência de gênero, com homens jovens.

d) Razões e Emoções. Caderno paratrabalhar saúde mental com homens jovens.

e) Prevenindo e Vivendo com HIV/AIDSCada caderno contém uma série de técnicas,

com duração entre 45 minutos e 2 horasplanejadas para uso em grupos de homensjovens, e que, com algumas adaptações, podemser usadas para grupos mistos.

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INTRODUÇÃO

5- Objetivos doscadernos e dastécnicas

O que nós esperamos com estasatividades? É importante afirmar quesimplesmente trabalhar com homens jovensem grupo não resolve as necessidadesenvolvidas pelos temas tratados. Seprocuramos mudar o comportamento dealguns homens jovens, é importante apontarque mudança de comportamento requer maisdo que uma participação por um período detempo em algumas técnicas de grupo. Vemosesses cadernos como uma ferramenta quepode ser usada por educadores de saúde,professores e outros profissionais como partede um leque de atividades mais amplo deengajar homens jovens.

Esses cadernos têm de fato dois níveis deobjetivos: (a) Objetivos para os educadores quevão usar o material; (b) Objetivos para oshomens jovens participantes nas técnicas aseguir:

Os objetivos específicos para os educadoresque vão usar o material são:

Fornecer um “background” paraeducadores de saúde, professores eprofissionais que trabalhem com jovens nasquestões de saúde e de desenvolvimento queos rapazes e homens jovens enfrentam.

Fornecer exemplos concretos deexperiências de programas para engajarhomens jovens nestes temas.

Proporcionar exemplos detalhados detécnicas que educadores de saúde, professorese outros profissionais podem executar comgrupos de homens jovens sobre estes temas.

Fornecer uma lista de fontes, em forma deestudos, informações prévias, vídeos, materialeducativo e contato com organizações quepossam prover informações adicionais sobre asnecessidades de saúde de homens jovens.

Os objetivos para os homens jovensparticipantes nas técnicas sobre prevenção daviolência são:

Introduzir formas alternativas deconvivência que incluem diálogo e respeito.

Entender as formas de violência quepraticamos e que sofremos.

Refletir e questionar como a socializaçãomasculina muitas vezes fomenta violência.

Questionar como a violência é usada contramulheres e diversas grupos minoritários (porexemplo, homens gays entre outros), e entreos próprios jovens.

Esperamos e acreditamos que as técnicasincluídas aqui possam de fato mudarcomportamentos em alguns casos com algunshomens jovens. Contudo, para afirmarmudanças de comportamento em razão daparticipação nestas técnicas, íamos precisar demais tempo de avaliação e condições para umaavaliação de impacto com grupos de controlee longitudinais, que não dispomos nomomento. O que podemos afirmar via os testesde campo realizados é que usar estas técnicascomo parte de um processo grupal comhomens jovens fomenta mudanças de atitudese aquisição de novos conhecimentos frente àviolência e à necessidade de maior igualdadeentre homens e mulheres, seja entre homensjovens no âmbito público, seja entre homensjovens e seus/suas parceiros/as nas relaçõesíntimas. 13

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Os objetivos dos cinco cadernos estãobaseados em pressupostos sobre o que nós –educadores, pais, amigos, parceiros, parceirase famílias – queremos que os homens jovenssejam. Também os trabalhos nas áreas deequidade de gênero, prevenção de violência,saúde mental e prevenção da HIV/AIDS têmobjetivos comuns sobre o que acreditamossobre o que os homens devem chegar a ser. Epor último – e mais importante – a expressãodos desejos dos próprios homens jovens – decomo querem ser e de como ser tratados porseus pares masculinos. Com tudo isto, astécnicas incluídas nestes cinco cadernos têmpor meta geral de promover um perfil dehomens jovens que:

6- Qual é o perfildo homem jovemque todosqueremos?

Acreditem no diálogo e na negociação emvez de violência para solucionar conflitos, ede que de fato demonstram o uso de diálogo enegociação nas suas relações interpessoais.

Mostram respeito para com as pessoas dediferentes contextos e estilos de vida e quequestionam as pessoas que não mostram esterespeito.

Mostram respeito em suas relações íntimase que buscam relações com base na equidadee respeito mútuo, seja no caso de homensjovens que se definem como heterossexuais,homossexuais ou bissexuais.

No caso de homens que se definem comoheterossexuais, que participem das decisõesreferentes à reprodução, conversando com aparceira(s) sobre saúde reprodutiva e sexo maisseguro, usando ou colaborando com aparceira(s) no uso de preservativos e/ou outrosmétodos quando não desejam ter filhos.

No caso de homens que se definem comohomossexuais ou bissexuais ou que tenhamrelações sexuais com outros homens, queconversem com seu parceiro ou parceirossobre sexo mais seguro e uso ou colaboraçãocom o parceiro(s) da prática de sexo seguro.

Não acreditem e nem usem violência contraos seus parceiros/as íntimos/as.

Acreditem que cuidar de outros sereshumanos é também atributo de homens emostram a habilidade de cuidar de alguém,sejam amigos, familiares, parceiro/as e ospróprios filhos no caso de homens jovens quejá sejam pais.

Acreditem que os homens também podemexpressar emoções além da raiva, e quemostrem habilidade de expressar emoções ebuscar ajuda – seja de amigos, seja deprofissionais – quando for necessário paraquestões de saúde em geral e também de saúdemental.

Acreditem na importância e que mostrema habilidade de cuidar de seus próprios corpose da própria saúde, incluindo pessoas vivendocom HIV/AIDS.14

INTRODUÇÃO

7- Como usar estas atividades?

A experiência na utilização destes materiaisindica que é preferível usar as técnicas em seuconjunto e não de forma isolada.

É interessante que haja, sempre que possí-vel, a presença de dois facilitadores.

Deve-se usar um espaço adequado para otrabalho com os jovens propiciando que as ati-vidades sejam realizadas sem restrição na movi-mentação deles.

Deve-se proporcionar um ambiente livre, res-peitoso, onde não haja julgamentos ou críticasa priori das atitudes, falas ou posturas dos jo-vens.

Situações de conflito podem acontecer. Cabeaos facilitadores intervir tentando estabelecer um

Notas para facilitadores

O ponto central destes cadernos é constituídopor uma série de técnicas para trabalhar comhomens jovens em grupos. Estas atividades foramdesenvolvidas e testadas com grupos de 15 a 30participantes. Nossa experiência demonstra queo uso deste material para grupos menores (15 a20 participantes) é mais produtivo, mas ofacilitador também pode usar as técnicas descritaspara grupos maiores. Muitas das atividades

incluídas aqui tratam de temas pessoais profundose complexos como a promoção da convivência,a sexualidade e a saúde mental. Nósrecomendamos que estas atividades sejamfacilitadas por pessoas que se sintam confortáveisem trabalhar com estes temas, que tenhamexperiência de trabalho com jovens e que tenhamsuporte de suas organizações e/ou de outrosadultos para executar tais atividades.

Reconhecemos que aplicar estas atividades nãoé sempre uma tarefa fácil e nem sempre previsível.Os temas são complexos e sensíveis – violência,sexualidade, saúde mental, paternidade, AIDS.Pode haver grupos de rapazes que se abram e seexpressem profundamente durante o processo,assim como outros que não queiram falar. Nãosugerimos o uso destas técnicas como terapiagrupal. Devem ser vistos como parte de umprocesso de reflexão e educação participativa. Achave deste processo é o/a educador/a ou o/afacilitador/a. Cabe a ele/a saber se se senteconfortável com estas temas e capaz de administraras técnicas. A proposta deste tipo de intervenção éir além desta etapa, propiciando reflexões emudanças de atitudes. Como mencionaremos maisadiante, as quatro organizações autoras oferecemoficinas de capacitação no uso dos cadernos. Osinteressados devem entrar em contato com oInstituto PROMUNDO ou com uma das outrasorganizações colaboradoras.

consenso e respeito à diferença de opiniões.O trabalho deve ir se aprofundando, aten-

tando sempre para ir além de um possível "dis-curso politicamente correto".

É bom lembrar que nem sempre o contatofísico é fácil para os rapazes. Atividades que exi-jam toque físico podem e devem ser colocadascom alternativas de participação ou não, respei-tando os limites de cada um.

Os pontos de discussão, sugeridos nas técni-cas apresentadas, não precisam ser usados ne-cessariamente no final das técnicas, mas podemser utilizadas durante a execução das mesmas,conforme o facilitador acredite que seja maisapropriado.

15

Pode e deve usar estas técnicas em diver-sas circunstancias - na escola, gruposdesportivos, clubes juvenis, quartéis militares,em centros de jovens em conflito com a lei,grupos comunitários etc. Também podem serusados com grupos de jovens numa sala deespera de uma clínica ou posto de saúde. Oque precisa é um espaço privado, tempo dis-ponível, facilitadores dispostos.

Lembrando que os rapazes, geralmente,estão em fase de crescimento, recomenda-setambém que se ofereça algum tipo de lancheou merenda e que disponham de atividadesfísicas e/ou de movimento.

Onde e comotrabalhar comrapazes?

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

8- Facilitadoreshomens ou mulheres?

Quem deve facilitar atividades de grupocom homens jovens? Somente homens podemser facilitadores para trabalhar com rapazes?A experiência das organizações colaboradorasé que em alguns contextos, os rapazespreferem a oportunidade de trabalhar einteragir com um homem como facilitador, quepoderá escutá-los e, ao mesmo tempo, servirde modelo em alguns aspectos para pensar osignificado de ser homem. Contudo, nossaexperiência coletiva sugere que a qualidadedo facilitador – a habilidade, do homem e damulher enquanto facilitadores, de engajar ogrupo, de escutá-los e de motivá-los – sãofatores mais importantes que o sexo dofacilitador. Nós também acreditamos que sejaútil ter facilitadores trabalhando em pares, àsvezes em pares mistos (homem e mulher), oque traz importantes contribuições paramostrar aos homens jovens, homens emulheres trabalhando juntos para construçãode igualdade e respeito.

9- Como este cadernoestá organizado

Este caderno está organizado em trêsmódulos:

MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ Estemódulo traz uma introdução sobre o tema deconvivência, violência e homens jovens,apresentando uma breve análise sobre arelação entre socialização masculina eviolência. Como complemento a este módulo,está incluído neste conjunto de cadernos, umdocumento da OMS, “Boys in the Picture/LosMuchachos en la Mira/Em Foco, os Rapazes”que traz informações adicionais sobreviolência e os outros temas abordados nosoutros cadernos.

MÓDULO 2: COMO O que o educadorpode fazer. Este módulo traz 11 técnicaselaboradas e testadas para trabalho direto comhomens jovens (15-24 anos) na promoção daconvivência e a prevenção da violência,incluindo violência de gênero. Cada técnicatraz dicas para facilitadores e comentáriossobre a aplicação desta técnica em diversoscontextos.

MÓDULO 3: ONDE Onde procurar maisinformação? Este módulo apresenta uma listade recursos, incluindo fontes de informação,contatos com organizações que poderãoprover informações adicionais sobre o tema,lista de vídeos e outros recursos que poderãoser úteis no trabalho do tema com os homensjovens. Este módulo também apresentaalgumas descrições sobre trabalho direto comhomens jovens na área da promoção daconvivência, incluindo um estudo de caso dotrabalho do Instituto PROMUNDO.16

INTRODUÇÃO

11- Mantendo contato

10- O vídeo”Minha Vida de João”

Este conjunto de cadernos vem com umacópia de um vídeo em desenho animado, semfalas, chamado “Minha Vida de João”. O vídeoapresenta a história de um rapaz, João, e seusdesafios de rapaz tornando-se homem. Eleenfrenta o machismo, a violência intrafamiliar,a homofobia, as dúvidas em relação àsexualidade, a primeira relação sexual,gravidez, uma DST (doença sexualmentetransmissível) e paternidade. De forma lúdica,o vídeo introduz os temas tratados noscadernos.

Recomendamos o vídeo para uso tanto parafacilitadores e/ou outros membros da equipede sua organização, como para os própriosrapazes. O vídeo serve como uma boaintrodução aos temas e às técnicas. A reaçãodos rapazes ao vídeo pode ser um bom“diagnóstico” para o facilitador saber o que osrapazes pensam sobre os vários temas.

As organizações colaboradoras formaramuma rede de aprendizado para a troca contínuade informações de trabalho com homens jovenssobre estes temas. Gostaríamos contar comsugestões e com sua participação nesta rede.Organizaremos seminários nacionais e regionaissobre o tema, bem como faremos workshopsem vários países da América Latina. Estamosdisponíveis para workshops de treinamentoadicionais na utilização deste material e emtrabalhos com homens jovens. Queremos ouvi-lo a respeito da utilização destas atividades.Escreva para qualquer uma das organizaçõescolaboradoras listadas na primeira página paraparticipar da rede, para compartilhar suasexperiências e para sugestões. 17

Queremos que este material seja utilizadoe adaptado da forma mais ampla possível.Também permitimos que o material sejareimpresso mediante solicitação de permissãoao Instituto PROMUNDO e demaisorganizações colaboradoras. Caso tenhaminteresse em reimprimir o material com o nomee logotipo de sua organização, entre emcontato com o PROMUNDO. É permitida areprodução do material desde que citando afonte.

12- Adaptando omaterial

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

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MÓDULO 1

Uma introdução ao tema deviolência, convivência e homensjovens.

O Quê e o Porquê

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Este módulo provê informações sobre asraízes da violência, chamando a atençãopara os aspectos de gênero envolvidos nes-ta questão. Muitos estudos sobre violênciae programas que trabalham na área de pre-venção de violência deixam de considerar

um aspecto importante: a maioria dos atosde violência interpessoal na esfera públicaé cometida por homens jovens contra ou-tros homens jovens e, na esfera privada, porhomens contra mulheres. Por que a maioriados autores de atos de violência é de ho-mens jovens? E o que podemos fazer emrelação à violência masculina?

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MÓDULO 1

O que é violência?

“Um homem não fica violento à toa. Mas às vezes,uma situação machuca um homem ... e ele faz coisasque não queria fazer.” (Homem jovem, Rio de Janeiro)

“Eu não quero matar, mas este lugar me faz querer matar…”(Personagem principal do filme ‘O Boxeador’, sobre a violência e

o sectarismo na Irlanda do Norte)

Num nível simples, violência pode serdefinida como “o uso da força física ou ameaçado uso da força com intenção de prejudicarfisicamente uma pessoa ou um grupo”1. Essadefinição está focada em atos de violênciainterpessoal, ou seja, de indivíduos contraoutros indivíduos. Mas a violência também seapresenta como o uso do poder de um gruposobre outro, chamado de violênciainstitucional. A dominação masculina sobreas mulheres, através dos séculos em algunscontextos, também pode ser considerada comouma forma de violência. A dominação de umgrupo étnico sobre outro, ou de uma classesocial sobre outra, também pode ser chamadade violência. Violência institucional –particularmente a distribuição desigual derenda e a manutenção de um quadro depobreza em muitas regiões da América – é,provavelmente, a maior forma de violência de

nossa região e, também, geradora de violênciainterpessoal. Contudo, a violência interpessoalem si mesma é um grande problema nessaregião, e é o foco deste caderno.

Ao definir violência, é importante afirmarque ela ocorre mais freqüentemente em algunscontextos do que em outros, e é mais provávelde ser cometida por e contra homens –preferencialmente homens jovens. Nosespaços públicos, os homens jovens sãoautores e vítimas de violência. Nos espaçosprivados, ou seja, na casa, é mais freqüenteque os homens sejam autores de violência,enquanto as mulheres são mais vítimas.Pesquisas que mostram as causas da violênciapreenchem volumes de livros, e têm sido alvode muitos estudos. Mas o que freqüentementese deixa de lado nestas discussões é o aspectode gênero, que está associado à violência – ofato de que homens, sobretudo homens jovens,são mais passíveis de usar a violência doqualquer outro grupo. 21

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

É melhor falar da prevenção da violênciaou na promoção da convivência?

Achamos importante falar principalmentesobre uma convivência pacifista. É muitocomum, ouvirmos “campanhas contra aviolência”, “pacto contra a violência”, mesmo“luta contra violência” ou “combate àviolência”. A linguagem utilizada encontra-secarregada de violência. Muitas vezes, queremoscombater e punir, violentamente, quem faz usoda violência. Nas escolas e comunidades,ouvimos pessoas dizer que querem punir ereprimir os jovens que cometem violência –muitas vezes dando pouca atenção para pensarno aspecto da prevenção da violência. A regiãodas Américas – com a Rússia – tem a infelizdistinção de ter a maior proporção de pessoasem prisões (97% dos quais são homens) do quequalquer outra região do mundo, geralmenteem condições que são violentas. Ou seja, aoenfrentar a violência, nossas respostas muitasvezes são também violentas.

Para prevenir a violência com homensjovens, achamos fundamental imaginar,visualizar e criar com eles condições para

promover uma convivência pacifista, e nãoapenas falar sobre “como combater aviolência”. A UNESCO vem promovendo umacampanha internacional de “Cultura de Paz”,justamente procurando incentivar atitudes econdições favoráveis à paz. Porém, muitaspessoas acham que homens jovens nãoquerem falar de paz. Contudo, quandoconseguimos ir além da “face de durão”, queàs vezes os rapazes apresentam, encontramoshomens jovens que, quando se permite quese expressem, estão assustados e preocupadoscom a violência que cometeram ou com aviolência de que foram vítimas. Muitos delestiveram experiências de violência ou foramtestemunhas de violência, e estão disponíveispara conversar sobre como negociar, sobrecomo repensar as relações de poder, sobrecomo resolver os conflitos de forma alternativa.Nas atividades incluídas aqui, queremospromover condições para que os homensjovens não falem somente sobre competição,poder, força e violência – mas também sobrepaz e construção de uma convivência pacifista.22

MÓDULO 1

Qual é a dimensão da violência “masculina”nas Américas?

Revendo os dados sobre violência na regiãodas Américas, chegamos a uma conclusãoperturbadora: homens jovens são maisprováveis de matar outro homem jovem doque em qualquer outra parte do mundo. A taxade homicídio na América Latina é em tornode 20 para cada 10.000 ao ano, a maior domundo. A taxa mais elevada na região é naColômbia, onde, entre 1991 e 1995, houve112.000 homicídios, dos quais 41.000 foramde jovens, e a grande maioria homens jovens2.

Esse elevado índice de violência entrehomens é um tremendo ônus para a economiada região. O custo público e privado associadoà violência representa até 15 % do produtointerno de alguns países na região3. Um estudosugere que na Colômbia, a renda per capitapodia ser até 33 % maior se não fossem aselevadas taxas de violência e crimes dos últimos10 anos4. A Organização Panamericana deSaúde e outros órgãos internacionais confirmamque a violência entre adolescentes é um dosmais importantes problemas de saúde públicana região5.

Estatísticas confirmam que ferimentosresultantes de violência (seguidos por acidentesem algumas regiões) estão entre as principaiscausas de morbidade e mortalidade entrehomens adolescentes e homens jovens.Homicídio é a terceira causa de morte entreadolescentes entre 10 e 19 anos nos EstadosUnidos, e representa 42% da causa de mortesentre homens jovens negros nos últimos 10anos6. Dois terços das mortes entre jovens de15 a 19 anos no Brasil são por causas externas– homicídio, acidentes de tráfego e outrascausas violentas. A violência afeta homens

jovens entre 15 e 24 anos mais do que qualqueroutra faixa etária nas Américas.

A violência se concentra em determinadasáreas, geralmente nas áreas urbanasmarginalizadas. No Rio de Janeiro, porexemplo, em 1995, houve 183,6 mortes emcada 10.000 homens adolescentes entre 15 e19 anos, quase um em cada 507.

Homicídio não é a única forma de violênciamasculina, mas certamente é a mais divulgada.De fato, outras formas “menores” de violência– brigas, assaltos, violência doméstica – sãomuito mais comuns e afetam muito mais osjovens que o homicídio. Um estudo sobrejovens de uma comunidade de baixa renda noRio de Janeiro encontrou que 30% delesestiveram envolvidos em brigas, a maioriarapazes8. Nos EUA, um estudo nacionalencontrou que 14,9% de rapazes comparadoscom 5,8% de meninas foram autores de pelomenos uma forma de comportamentodelinqüente no ano anterior9.

Finalmente, quando examinamos osnúmeros da violência, é importante que nãosuperestimemos o tema. A maioria dos homensjovens não usa violência contra os outros.Muitos deles são encorajados por seuscompanheiros de grupo a ter umcomportamento violento. Outros silenciamquando vêem seus companheiros usaremviolência. Violência é o principal tema dedebate neste caderno, mas temos que ter emmente o potencial dos homens jovens parainteragirem sob uma forma pacifista. Aviolência está nas manchetes. A paz raramenteestá. 23

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Os homens são “naturalmente” mais violentosque as mulheres? Ou seja, existe uma

“causa” biológica para a violênciamasculina?

Existem estudos que sugerem que abiologia pode estar envolvida na violência“masculina”, mas num sentido muitolimitado. Algumas pesquisas afirmam queexistem diferenças biológicas entre meninose meninas em termos de temperamento. Osmeninos teriam uma taxa mais alta de faltade controle de impulsos, hiperatividade eoutras características como reatividade eirritabilidade – traços que podem serprecursores de agressividade10. Pesquisasapontam ainda que desde os quatro mesesde idade os meninos mostram maisirritabilidade do que as meninas, que essefator está associado à hiperatividade e àagressividade deles11. Porém, alguns estudosapontam que os meninos são mais irritadiçosporque os pesquisadores “esperam” que elessejam mais irritadiços, ou então por que seuspais, demonstrando atitudes estereotipadas degênero, estimulam os meninos das maisvariadas formas, ou ainda não procuramacalmá-los da mesma forma que o fazem comas meninas. Mas o importante é isso:Pesquisadores sobre violência em quase suatotalidade afirmam que os aspectosbiológicos têm um papel mínimo naexplicação do comportamento violento,enfatizando que os fatores sociais e culturaisdurante a infância e a adolescência são, defato, os responsáveis pelo comportamentoviolento de alguns rapazes. Em suma, os

meninos não são “naturalmente” oubiologicamente mais violentos. Elesaprendem a ser violentos.

Também, ouvimos argumentos que dizemque ser violento faz parte do desenvolvimento“natural” ou “normal” dos rapazes, ou seja,que é “normal” os rapazes serem violentosdurante a adolescência. Se é verdade que osrapazes desenvolvem esses comportamentosviolentos e delinqüentes mais que as mulheresadolescentes, não há nada que seja natural,normal ou inevitável nisso. Pesquisas de váriaspartes do mundo confirmam que a violência éum comportamento aprendido e repetido poralguns homens jovens em certos contextos e,como tal, pode ser desaprendido e prevenido.Achar que os homens jovens são naturalmentemais violentos, ou esperar que os rapazesabandonem um comportamento violentoquando se tornarem adultos não é uma formaapropriada ou realista de responder à violência.

Finalmente, quando revisamos os dados sobreviolência e agressão, é importante que tenhamosem mente que as meninas também mostramagressividade e violência. Estudos mostram queos rapazes são mais propensos a usar agressãofísica, ou seja, bater ou chutar, enquanto asmeninas utilizam agressões indiretas – mentindo,ignorando alguém ou rejeitando outros membrosdo grupo social, outras tantas formas de agressão.24

MÓDULO 1

Se os rapazes são socializados para seremviolentos, como é que isto acontece?

As respostas são várias: vendo pais e irmãosterem comportamentos violentos; sendoencorajados a brincar com armas e a brigar;aprendendo que para ser um “homem deverdade” é preciso brigar com quem o insulta;sendo tratados de forma violenta por seuscompanheiros e familiares; sendo encorajadosa tomar atitudes violentas pelo seu grupo deamigos; e sendo ridicularizados quando nãoo fazem. Ensinado-lhes que é correto expressarraiva e agredir outros, mas não os educando aexpressar tristeza e remorso, por exemplo.

Os pais e as famílias têm um papelfundamental em encorajar ou nãocomportamentos violentos de meninos e homensjovens. Em comunidades de baixa renda, ondeas famílias podem estar mais estressadas porconta das dificuldades decorrentes dosubemprego e da pobreza, elas às vezes têmmenos habilidade de cuidar de suas crianças,particularmente filhos, e monitorar aonde vão ecom quem saem. Pais estressados, de todas asclasses sociais, tendem a usar mais coerção edisciplina física contra seus filhos em geral, emais ainda contra os filhos homens, o que podecausar uma rebeldia por parte dos meninos. Poroutro lado, homens jovens que são acolhidospor suas famílias, que participam de atividadesjunto com elas e são acompanhados de pertotêm menos chance de se tornarem violentos oudelinqüentes, seja em comunidades de baixarenda ou de classe média.

Mas a família não é a responsável pelaviolência de alguns rapazes. Além da família,há outros espaços onde os homens jovenspodem ser socializados de forma a seremviolentos, como a escola, por exemplo, ou viaatividades esportivas que encorajem os rapazesa usar a força para resolver tudo, ou ainda,quando se enfatiza o uso de violência comosendo um atributo masculino positivo.

A forma com que lidamos ou rotulamos osrapazes também pode encorajá-los à violência.Rapazes que são rotulados como

“delinqüentes” ou “violentos” ou“problemáticos” são mais propensos a serviolentos. Em muitos contextos, os rapazes têmmais probabilidades do que as meninas a terum comportamento problemático, porexemplo, ser rebeldes em salas de aula ouserem hiperativos. Pais e professoresfreqüentemente rotulam meninos deproblemáticos e lidam com eles de formaautoritária. Quando se acredita que os rapazessão violentos ou delinqüentes, elesfreqüentemente se tornam violentos edelinqüentes. Por quê? Em parte, porquequando pais e professores rotulam os rapazesde “agressivos” ou “problemáticos”, comfreqüência excluem estes meninos deatividades que podem ser positivas e“socializadoras” como o esporte, por exemplo.E também, porque se um professor ou pai achaque um rapaz é ou será violento, geralmenteo trata de forma violenta.

Rapazes que testemunharam violência ouforam vítimas de violência são mais propensosa ser violentos. Assistir a atos de violênciamuitas vezes afeta meninos e meninas dediferentes formas. Para os meninos, os traumasrelacionados ao testemunhar a violência sãomais passíveis de serem externalizados deforma violenta do que as meninas12. Muitosmeninos são educados a não expressar medoe tristeza, mas são incentivados a expressarraiva e agressividade. Ao mesmo tempo, emmuitas partes do mundo, os meninos tendema ser vítimas de abuso físico (não incluindoabuso sexual) em suas casas e de violênciafísica fora de casa mais de que as meninas13.Um estudo com jovens entre 11 e 17 anos noRio de Janeiro encontrou que 61% dosmeninos contra 47% de meninas haviam sidovítimas de violência em suas casas14. Homensjovens que experimentaram e assistiram acenas de violência em suas casas e fora delaspodem achar que violência é uma maneira“natural” de resolver conflitos.

Como vemos na fala do personagem do 25

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

filme “O Boxeador” – um filme sobre aviolência sectária na Irlanda do Norte quemostra homens tentando não ser violentos numcontexto de violência, o lugar onde os homensjovens vivem é também um dos principaisfatores relacionados à violência. Como já foimencionado anteriormente, algumas regiõesdas Américas apresentam níveis mais elevadosde violência do que outras regiões: comopartes de Colômbia, Brasil, EUA, por exemplo.Meninos que cresceram em lugares de conflitoarmado que envolviam homens e rapazesestarão mais propensos a usar violência eserem vítimas de violência. Pesquisas com“gangues” no México, na América Central, noBrasil e nos EUA sugerem que estes gruposemergem quando outras instituições sociais –governo, família, organizações comunitárias,escolas – são fracas. [Veja o Box mais adiante]Mas devemos lembrar que mesmo emcontextos onde a violência prevalece, nemtodos os homens jovens são violentos.

O grupo de amigos e colegas com quem osjovens andam é um outro fator importante quecontribui para um comportamento violento.Estudos nos EUA apontaram que acompanharum grupo de delinqüentes ou de companheirosviolentos é um dos principais fatoresassociados ao comportamento violento. Porémseria simplista dizer que basta andar comamigos violentos para se tornar um jovemviolento. Os jovens procuram outros jovenscomo eles próprios para serem seus amigos. Émais provável que jovens violentos procuremoutros jovens violentos. Mas certamente, a“turma” é um fator que deve ser levado emconsideração. É um fato que os rapazesgeralmente passam a maior parte do tempofora de casa na rua ou em outros espaços ondeencontram sua turma masculina – cuja relaçãomuitas vezes está baseada na competição ena disputa pelo poder. As meninas por suavez, em geral são socializadas de forma a estarmais em casa. Ou seja, quando socializamosos meninos mais na rua e as meninas mais emcasa, muitas vezes – mas nem sempre –expomos mais os meninos à violência e à faltade proteção da família do que as meninas.

Rapazes que são socializados a perceberemintenções hostis por parte de outros tendem aser violentos. Estudos nos EUA apontam que

rapazes que têm um comportamento violentopercebem as atitudes de outros como violentas,ainda que não sejam15. Rapazes violentos têmdificuldade com a “inteligência emocional”, istoé, com a habilidade de “ler”, entender eexpressar emoções de forma apropriada.Rapazes que usam violência tendem ainterpretar equivocadamente atitudes de outroscomo sendo hostis. Além disso, tendem ajustificar a violência responsabilizando os outrose freqüentemente desqualificando as vítimas.

Alguns jovens se tornam violentos contrapessoas que eles percebem como diferentesdeles – seja por conta de raça ou por orientaçãosexual. Espancamentos e mortes de gays e deminorias étnicas são, lamentavelmente,ocorrências comuns na América Latina. Muitosdesses espancamentos e mortes ocorrem emgrupos de rapazes que percebem outraspessoas como tendo um comportamentoinaceitável ou sendo diferentes.

Igualmente, jovens que são socializados ater um senso de honra exagerado tendem aser mais violentos. Muitos dos casos dehomicídios entre homens começaram combrigas ou discussões triviais, geralmente uminsulto em bares ou em outros espaçospúblicos, e que chegam até níveis letais.Manchetes de assassinatos na América Latinafreqüentemente repetem estórias sobre brigasque começam com troca de palavras ofensivasnum bar ou numa discoteca (muitas vezesacompanhados pelo uso de álcool) e acabamem morte. Em muitas partes das Américas,homens jovens são socializados para usarviolência em resposta a um insulto, como se a“honra” fosse mais importante do que a vida.

Em algumas partes da América Latina, ofácil acesso a armas também é parte doproblema. Ter acesso a armas não causaviolência, mas certamente contribui para torná-la mais letal. Uma briga por conta de uminsulto ou por causa de uma garota é mais fácilde se tornar um homicídio quando osenvolvidos têm uma arma de fogo ou uma faca.Na maior parte da América Latina, os rapazessão mais propensos a ter acesso a armas. Emalguns contextos, aprender a usar e brincarcom armas – principalmente facas e armas defogo – faz parte da socialização dos meninos.26

MÓDULO 1

Em várias partes das Américas, existem gru-pos organizados de narcotráfico – Colômbia,Brasil, México, os Estados Unidos, entre outros.Em algumas comunidades estes grupos têm che-gado a se constituir como um “poder paralelo”,ou seja, como uma instituição comunitária emlugares onde o poder do Estado é fraco ou limi-tado ante as necessidades que a comunidadedemanda. Em alguns locais, os líderes destes gru-pos chegam a ser vistos como heróis. Neste sen-tido, os grupos de narcotráfico podem ser fortes“socializadores” dos homens jovens, recrutan-do-os e convidando-os a participar nas suas ati-vidades. Estes grupos têm nomes diversos –gangues, quadrilhas, comandos.

Mas é importante mencionar que nem todo gru-po chamado “gangue” ou algo parecido necessari-amente está envolvido no narcotráfico ou em ativi-dades ilegais. Esses grupos variam muito de localpara local, e éimportanteentender o contextoem que se inserem.Também, vale apena mencionarque as pesqui-sas com rapa-zes que par-ticipam nasgangues oucomandosmostram quenão é só po-breza ou a faltade empregoque leva um jovem a participar num grupo organi-zado de narcotráfico, mas são vários fatores – indi-viduais, da família e do contexto local – que levamum homem jovem a se integrar nesses grupos. Tam-bém vale ressaltar que mesmo em comunidadesonde as gangues ou comandos são fortes, nem todohomem jovem participa. Geralmente é só uma mi-noria que se envolve.

Em várias partes da região, houve e ainda há,várias tentativas para erradicação destes grupos,

geralmente via formas de repressão policial.Portanto, diversas experiências na região suge-rem que a repressão não tem sido adequada.Experiências mais promissoras para intervir nasgangues ou comandos mostram a importânciade oferecer alternativas para os rapazes que par-ticipam ou talvez que cheguem a participar ne-las: atividades culturais, acesso ao trabalho, opor-tunidades para ter uma participação comunitá-ria, e espaços para sentirem unidos a outros jo-vens – desviando o foco da repressão.

Fica claro que para alguns jovens, ser violento éuma forma de definir sua identidade. Para muitos, aadolescência é o tempo da vida para pensar: quemsou eu? Isto significa que pode se definir como umbom aluno, um religioso, um atleta, um trabalha-dor, um artista, um mago da informática, ou váriasoutras coisas. Mas também se pode definir comobandido. Pesquisas com jovens que participam nes-tes grupos violentos nos EUA e no Brasil concluí-

ram que os homens jovens envol-vidos nestes grupos encon-

tram um sentido depertencimento e

identidade quenão encontraramem nenhum ou-tro lugar16.

Para mui-tos jovens debaixa renda

em contextosurbanos, excluídos

socialmente, pertencer aum grupo violento é uma forma de sobreviver ede achar significado e sentido para suas vidas.Por outro lado, quando os jovens encontram suaidentidade em alguma outra coisa, seja comoestudantes, pais, companheiros ou maridos, namúsica, no trabalho, no esporte, na política (de-pendendo é claro de que tipo de política), nareligião (igualmente depende de que tipo de re-ligião) ou ainda na combinação destes – elesgeralmente ficam fora de gangues ou grupos vio-lentos17.

Gangues, Quadrilhas e Comandos

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Estar fora da escola éuma causa deviolência para osrapazes?

Rapazes que têm um baixo desempenhoescolar ou que não se enquadram nocontexto da escola ou ainda que se sentemexcluídos pela escola tendem a ser maisviolentos ou delinqüentes. Em áreas urbanasda América Latina, completar o nívelsecundário é cada vez mais um requisitopara entrar no mercado de trabalho.Inúmeros estudos apontam que baixodesempenho escolar, evasão escolar esentimento de não pertencer à escola estãoassociados à delinqüência e a outras formasde comportamento violento. Em várias áreasda América Latina, o nível de evasão escolardos meninos é maior que das meninas.

Contudo estar na escola não é suficiente.Para alguns jovens, a escola é um espaço deencontrar e interagir com outros jovens que seutilizam da violência. Outros estudos sugeremque rapazes que são marginalizados ou

Alguns estudos sugerem que assistir a cenas eimagens violentas na mídia, incluindo vídeosou jogos de computador pode estar associadoà prática de atos violentos, embora não sejapossível fazer uma relação direta de causa eefeito18. Assistir a cenas de violência na TV ouem filmes certamente não causa violência, massem dúvida contribui para a crença dos rapa-zes de que a violência dos homens é normal,até "branda" ou banal. É preciso estimular osjovens a terem uma visão crítica do que é mos-trado pela mídia para que não se tornem me-ros receptores.

A mídia e aviolência juvenil

excluídos ou ainda tratados como desajustadospela escola são mais propensos a ser violentos.Em suma, a escola – como uma das maisimportantes instituições sociais em que osjovens se inserem – pode ser lugar deencorajar ou de prevenir contra a violência.Devemos procurar engajar os rapazes, mesmoaqueles considerados difíceis, em atividadesnas quais aprendam negociação, respeito ehabilidades para a vida – seja dentro e forado sistema escolar.

Como podemos explicar que algunsjovens de certos contextos se insiram ematividades violentas como as gangues, eoutros, do mesmo contexto, não o façam?Em várias partes da América, existempesquisas recentes sobre característicasindividuais e familiares de jovens de baixarenda, em situações de alto risco, que forambem sucedidos na escola e no trabalho, eque não se envolveram em gangues ououtros grupos violentos.

Resiliência e a prevenção da violência juvenilEsses estudos freqüentemente se referem ao

conceito de resiliência, que trata da “adaptaçãobem sucedida a despeito dos riscos eadversidades”. Resiliência significa que algunsjovens, mesmo em circunstâncias difíceis,encontram alternativas para superar de maneirapositiva os riscos que os circundam. Em umestudo comparativo entre homens jovens no Riode Janeiro que eram delinqüentes juvenis e seusprimos e irmãos que não o eram, a autoraidentificou uma série de fatores protetores que

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MÓDULO 1

Violência é só coisa de homens jovens debaixa renda?

É importante afirmar que a violência nãose encontra apenas associada a jovens de baixarenda. Certamente existe uma associação entrepobreza e altas taxas de violência. Pobreza emsi é uma forma de violência social que gerastress e tensão que pode levar a violência, masa pobreza em si só não é a causa da violênciainterpessoal. Jovens de classe média tambémse envolvem com a violência e, também sãosocializados para usar a violência como formade expressar emoções e resolver conflitos. Damesma forma, encontramos jovens decamadas de baixa renda que não são autoresde violência.

Nas comunidades e famílias de classe média,atos que seriam considerados como violentosem camadas de baixa renda, sequer sãoregistrados como violência e nem fazem partede dados do sistema legal. É mais provável queum jovem pobre envolvido em uma situaçãode violência seja confrontado com o sistemajudiciário formal – quer dizer polícia,

julgamento etc. – do que um jovem de classemédia que muitas vezes será levado para umaterapia, por exemplo, em casos de violênciafamiliar ou de delinqüência em contextos declasse média19. O que acaba acontecendo commais freqüência é que os jovens de baixa rendaestão mais expostos a receberem punição legale à repressão policial e repressão extrajudicialdo que jovens da classe média.

É importante reconhecer que nenhum dosfatores associados à violência – seja condiçõesfamiliares, sendo vítimas de violência ouestando fora da escola – significa quenecessariamente estes homens jovens serãoviolentos. Muitos destes jovens enfrentam estesfatores de risco e não são violentos. Emboraestes fatores estejam ligados à violência, osjovens também constroem suas realidades –não são meros “receptores” ou vítimas de suasrealidades. Nosso desfio é trabalhar comhomens jovens para construir realidadespacifistas e não violentas.

favorecem a não-delinqüência por parte doshomens jovens. Nesse estudo, os jovens nãodelinqüentes ou resilientes: (1) mostraram maiorotimismo em relação aos seus contextos devida;(2) maior capacidade de expressão verbal;(3) eram os mais velhos ou os caçulas de suasfamílias;(4) tinham um temperamento calmo; e(5) apresentavam forte ligação afetiva com seuspais ou professores. De forma semelhante, outrapesquisa no Brasil, com rapazes num bairroonde os comandos tinham forte presença,identificou a importância de modelosalternativos, da habilidade para refletir e

construir significados positivos em face dasadversidades e de se ter grupos de pares nãoviolentos como formas de jovens de baixarenda se manterem afastados dos gruposviolentos20.

Resiliência é um conceito que nos ajudaa compreender as realidades subjetivas e asdiferenças individuais que os jovensapresentam, e que oferece “insights” emcomo estimular formas positivas desuperação de adversidades em contextosparticularmente difíceis.

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

De onde vem aviolência dos homenscontra as mulheres?

Até agora temos falado principalmentesobre violência entre rapazes, mas qual é adimensão da violência interpessoal que oshomens e homens jovens cometem contramulheres, ou seja a violência de gênero?Segundo as Nações Unidas, a violência degênero se refere a “qualquer ato de violênciaque resulte, ou possa resultar num dano físico,sexual ou psicológico e sofrimento para asmulheres, incluindo as ameaças de tais atos,coerção ou privações arbitrárias de liberdade,que ocorrem no âmbito público ou privado.”

A violência de homens contra mulheres éum problema internacional de saúde públicae direitos humanos que merece uma grandeatenção. Cerca de 30 estudos no mundo,muitos deles na América Latina, apontam queentre 20 a 50% de mulheres entrevistadasafirmaram que foram vítimas de violência físicapelo seu parceiro21. Na América Latina,governos e ONGs têm dado atenção – emboranão seja suficiente – em proteger as mulheresdeste tipo de violência, e iniciaram uma sériede programas para as mulheres que foramvítimas de violência doméstica nos últimos 10anos. Mas pouca atenção tem sido dada emtrabalhar com homens jovens e adultos paraprevenir a violência contra as mulheres.

Freqüentemente a violência de homenscontra as mulheres começa desde a infância e

representa parte da socialização masculina.Estudos com estudantes universitários norte-americanos afirmam que entre 20 e 50% dehomens e mulheres relataram que já tinhamtido episódio de agressão física durantenamoro (ainda que a violência de homenscontra as mulheres seja normalmente maisgrave). Num projeto de PROMUNDO comhomens jovens em comunidades de baixarenda no Brasil, os rapazes relataram inúmerosincidentes com uso de violência em relaçãoàs suas parceiras – e alguns incidentes deviolência de suas parceiras contra eles. Istomostra que é necessário trabalhar com oshomens jovens sobre suas atitudes frente aogênero e as formas como constituem relaçõesde intimidade ainda quando são jovens.

Pesquisas de várias partes da América Latinamostram que a violência doméstica, assimcomo a violência sexual, faz parte dos “scripts”sexuais ou de gênero, nos quais a violênciadoméstica é justificada pelos homens quandoas mulheres quebram as “regras” do jogo – sejapor terem relações extraconjugais ou por nãocumprirem suas “obrigações domésticas”.Muitos rapazes são socializados a acreditaremque as mulheres e meninas os devem coisas:cuidar da casa, cuidar dos filhos, ou terrelações sexuais com eles, mesmo quando elasnão querem. Pesquisas também mostram queos colegas ou amigos às vezes apóiam o rapazquando ele usa violência contra sua namoradaou parceira. Isto mostra a importância deajudar os rapazes de analisar criticamente osmodelos de relações de gênero que lhes sãoapresentados.

Os homens são, via de regra, socializadospara reprimir suas emoções, sendo a raiva e atéa violência física umas das formas socialmenteaceitas para que eles expressarem seussentimentos. Muitos homens não aprendemcomo se expressar verbalmente de formaadequada para resolver conflitos – seja na casa,seja na rua – mediante o diálogo e a conversa. Eassim como no caso da violência entre homens,pesquisas mostram que homens quetestemunharam cenas de violência doméstica emsuas próprias famílias, ou que foram vítimas deabuso ou violência em casa, são mais prováveisde usar violência contra suas parceiras e crianças– criando um ciclo de violência doméstica.30

MÓDULO 1

A violência dos homens contra as mulherespode ser prevenida quando os homenscomeçarem a se responsabilizar por este tipo deviolência. Existe um grande número de iniciativasem várias partes do mundo, incluindo a regiãodas Américas – que começam a trabalhar comhomens na questão da prevenção da violênciadoméstica. Alguns destes grupos deconscientização acontecem com recrutasmilitares e policiais, em locais de esporte e emescolas com o objetivo de ampliar a consciênciadestes homens jovens sobre este tema e de criaruma “pressão positiva” de que este tipo de atitudeé inaceitável. Em alguns países da AméricaLatina, algumas ONGs começaram grupos dediscussão com homens jovens sobre atos deviolência que haviam cometido e prevenir quetais atos aconteçam no futuro. A Campanha doLaço Branco (White Ribbon Campaign), iniciada

no Canadá, é uma campanha internacional deconscientização entre homens contra a violênciade homens contra mulheres – vencendo osilêncio em relação à violência de outros homenscontra as mulheres. A Campanha vemalcançando vários países do mundo, usando olaço branco como um símbolo da garantiamasculina em não cometer atos de violênciacontra as mulheres e não eximir deresponsabilidade quem o faça. Nos doisprimeiros meses da campanha, 100.000 homensno Canadá usaram o laço branco. A campanhaagora partiu para os EUA, Espanha, Noruega,Austrália, Namíbia e Finlândia, e tem inspiradocampanhas no México, na Nicarágua e no Brasil.No Módulo 3, apresentamos alguns estudos decaso e exemplos de trabalhos com homensjovens na prevenção de violência contramulheres.

Como se pode prevenir a violência dehomens contra mulheres?

Para alguns homens, a violência domésticaestá freqüentemente associada ao stresseconômico. Alguns homens, quando não sesentem capazes de cumprir seu papeltradicional de provedor, recorrem a violênciapara reafirmar seu poder tradicional de homem.Ou seja, se sentem “menos homem” por nãoestarem trabalhando e reagem com violênciacontra as pessoas que se encontram mais perto.Dados de um hospital de atendimento à mulhervítima de violência doméstica no Rio de Janeiromostram que 1 em cada 3 parceiros que haviausado violência contra suas companheiras,estava desempregado.

O silêncio dos homens jovens sobre aviolência de outros homens também contribuipara a violência doméstica. Uma pesquisa feitapor PROMUNDO em uma comunidade debaixa renda no Rio de janeiro aponta que pelomenos a metade de 25 jovens entrevistadosfoi testemunha de violência em suas casas. A

maioria afirma que não se sentia em condiçõesde falar sobre a violência de homens contrasmulheres que viram outros homenscometerem. Com freqüência, usam o ditadode que “em briga de marido e mulher, ninguémmete a colher”. Eles dizem que seinterviessem, podiam ser eles as vítimas daviolência. Superar o silêncio dos homens queforam testemunhas de atos de violência deoutros homens com as mulheres é o ponto departida do nosso trabalho.

31

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Que sabemos sobre aviolência sexual dehomens jovens contramulheres?

Como vimos anteriormente, a violênciasexual também faz parte de violência de gênero.Vemos também por meio de várias pesquisasque alguns rapazes são socializados acreditandoque as mulheres devem sexo a eles, ou que usara força ou coerção para obter sexo é normalnas relações de intimidade. Um estudo de 1992com adolescentes norte-americanos entre 15 e18 anos, apontou que 4,8% dos meninos,comparados com 1,3 % das meninas haviamforçado alguém a ter relações sexuais pelomenos uma vez22. Estudos também mostramuma forte conexão entre homens jovens teremsido vítimas de abuso, incluindo abuso sexual,em casa ou em conseqüência de uma violênciasexual e o uso da violência sexual em momentosposteriores da vida.

Muitos estudosconfirmam que as

meninas são maisvítimas de abuso físico

e sexual do que osmeninos, mas inúmeros

estudos confirmam que osmeninos também sofrem de

abuso sexual. Um estudo recente nos EUAmostrou que 3,4 % de meninos e 13% demeninas tiveram alguma experiência deviolência sexual – ou seja, contato sexual ourelações sexuais contra sua vontade23. Numestudo com jovens entre 16 e 18 anos noCaribe, 16% dos rapazes disseram que foramabusados sexualmente24. Num estudo naNicarágua, 27% das mulheres e 19% doshomens relataram ter sido vítimas de abusosexual na infância ou adolescência25. Um outroestudo realizado no Peru mostrou que um entrecada dez jovens dos dois últimos anos doensino secundário havia sido vítima de abusosexual em algum momento de suas vidas e aproporção era de duas mulheres para cadahomem violentado26.

Dentre as várias implicações que têm servítima de violência doméstica ou sexual,ambas, violência doméstica e sexual,representam um problema de saúde sexual ereprodutiva. Estudos comparativos sobreviolência sexual na adolescência na África doSul, no Brasil e nos EUA, revelam que acoerção sexual e a violência nas relaçõesíntimas estão associadas ao baixo uso depreservativo. Pesquisas com mulhereshispânicas nos EUA apontam que as mulheresque foram vítimas de violência doméstica sãomenos propensas a se sentirem seguras paranegociar o uso do preservativo ou de outrotipo de contraceptivo.32

MÓDULO 1

As causas e fatores associados àviolência dos homens jovens contraoutros jovens e contra as mulheres sãomúltiplos e interconectados. Umponto importante é que temos umaquantidade enorme de pesquisassobre violência e jovens. O desafioestá em usar esta informação paracriar mecanismos fortes e sustentáveispara promover a paz entre os jovens(rapazes e meninas), construindo eapoiando versões de masculinidadeque incluam a paz e o respeito e nãoa violência. No módulo 2, tentamosincluir os resultados destas pesquisaspara construir o conjunto dedinâmicas apresentadas.

Em suma

O que concluímosAs pesquisas apresentadas na seção

anterior, e a própria experiência doPROMUNDO como uma ONG que atuadiretamente com jovens na área de prevençãoda violência, apresentam um número desugestões que devemos ter em mente quandotrabalhamos a questão da prevenção daviolência com homens jovens, várias das quaisincluímos no Módulo 3. As pesquisas citadasaqui sobre homens jovens e violência servempara questionar a tendência de seguir nadireção da punição e repressão quando se tratade prevenção de violência. Em muitos casos,as políticas e o planejamento de programastêm optado por entradas punitivas como formade prevenção de violência. A saúde públicapor vezes tem simplificado questões, nãolevando em conta a experiência subjetiva dosjovens, ou seja, que nem todo jovem reage damesma forma nas mesmas circunstâncias, ouque nem todo homem jovem que foi vítimade violência irá se tornar violento. As pesquisasapresentadas neste módulo procuraram levarem consideração uma perspectiva dodesenvolvimento humano e da ecologiahumana em relação à prevenção de violência,uma entrada que leva em conta os desafios eriscos do desenvolvimento, o contexto esuporte social e familiar, a experiênciasubjetiva individual de cada jovem e os papéisde gênero na socialização.

Finalmente, no tocante à violência,devemos encorajar os homens jovens arefletirem sobre a violência, não somente doponto de vista interpessoal, ou seja, a violênciaentre indivíduos, mas também a violênciaestrutural. Como facilitadores, devemos ter ocuidado de não emitir mensagens do tipo “aviolência é o comportamento deles” e,portanto, sua culpa. A violência é complexa etem múltiplas causas e manifestações. Nós nãodevemos culpá-los e sim ajudá-los acompreender esta complexidade. 33

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

1 McAlister, A. (1998). La violencia juvenil en las Americas: Estudios innovadores de investigación, diagnostico y prevención.Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud.2 World Bank. (1997). “Crime and violence as development issues in Latin America and the Caribbean.” Paper prepared for theConference on Urban Crime and Violence, Rio de Janeiro, Brazil, March 2-4, 1997.3 Banco Interamericano de Desenvolvimento (1999). Citado em Fontes, M., May, R., Santos, S. (1999) Construindo o Ciclo daPaz. Brasília, Brasil: Instituto PROMUNDO.4 World Bank. (1997). “Crime and violence as development issues in Latin America and the Caribbean.” Paper prepared for theConference on Urban Crime and Violence, Rio de Janeiro, Brazil, March 2-4, 1997.5 McAlister, A. (1998). La violencia juvenil en las Americas: Estudios innovadores de investigación, diagnostico y prevención.Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud.6 U.S. Department of Health and Human Services. (1991). Vol 2, Part A “Mortality” Page 51. Tables 1-9. “Death Rates for 72Selected Caused by 5-Year Age groups, Race and Sex, U.S. 1988.” Washington, DC: Author.7 Minayo, C., Assis, S., Souza, E., Njaine, K. Deslandes, S. Et al (1999). Fala galera: Juventude, violência e cidadania na Cidade doRio de Janeiro. Rio de Janeiro: UNESCO.8 Ruzany, M., Peres, E., Asmus, C., Mathias, C., Linhales, S., Meireles, Z., Barros, C., Castro, D. & Cromack, L. (1996). Urbanviolence and social participation: A profile of adolescents in Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Adolescent Health Unit, State Universityof Rio de Janeiro. [Relatório de pesquisa não publicado]9 U.S. Department of Justice (1997). The Prevalence and Consequences of Child Victimication. NIJ Reserch Preveiw. Washington,DC: National Institutes of Justice.10 Miedzian, M. (1991). Boys will be boys: Breaking the link between masculinity and violence. New York: Anchor Books, e Earls,F. (1991). A developmental approach to understanding and controlling violence. In H. Fitzgerald, et al, Eds., Theory and Researchin Behavioral Pediatrics, Vol. 5. New York: Plenum Press.11 Stormont-Spurgin, M. & Zentall, S. (1995). Contributing factors in the manifestation of aggression in preschoolers with hyperactivity.J. Child Psychol. Psychiat. Vol. 36, No. 3, pp. 491-509.12 U.S. Department of Justice (1997). The Prevalence and Consequences of Child Victimication. NIJ Reserch Preveiw. Washington,DC: National Institutes of Justice.13 Blum, R. & Rinehart, P. (1997). Reducing the risk: Connections that make a difference in the lives of youth. Bethesda, Maryland: Add Health.UNICEF. (1998). Knowledge, attitudes and practices of basic life skills among Jordanian parents and youth: A national study (draft).Amman, Jordan: Author.14 Assis, S. (1999). Traçando caminhos em uma sociedade violenta: A vida de jovens infratores e de seus irmãos não-infratores.Rio de Janeiro, Brasil: Editora Fiocruz.15 McAlister, A. (1998). La violencia juvenil en las Americas: Estudios innovadores de investigación, diagnostico y prevención.Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud.16 Barker, G. & Loewenstein, I. (1997). “Where the boys are: Attitudes related to masculinity, fatherhood and violence towardwomen among low income adolescent and young adult males in Rio de Janeiro, Brazil”. Youth and Society, 29/2, 166-196.17 Barker, 2000. Gender equitable boys in a gender inequitable world: Reflections from qualitative research and programmedevelopment in Rio de Janeiro. Sexual and Relationship Therapy, 15/3, 263-282.18 McAlister, A. (1998). La violencia juvenil en las Americas: Estudios innovadores de investigación, diagnostico y prevención.Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud.19 Hawkins, D. (1996). Ethnicity, Race, Class and Adolescent Violence. Boulder, Colorado: Center for the Study and Preventionof Violence, Institute for Behavioral Sciences, University of Colorado, Boulder.20 Barker, G. (2001). Peace boys in a war zone: identity and coping among adolescent men in favela, Rio de Janeiro, Brazil[Doctoral dissertation, Erikson Institute, Chicago, USA]21 Heise, L. (1994). Gender-based abuse: The global epidemic. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro 10 (Supl. 1). 1994. 135-145.22 American Academy of Pediatrics (1997). Study reveals factors that prevent teens from sexually aggressive behavior. Chicago, Il: Author.23 U.S. Department of Justice (1997). The Prevalence and Consequences of Child Victimication. NIJ Reserch Preveiw. Washington,DC: National Institutes of Justice.24 Lundgren, R. (1999). Research protocols to study sexual and reproductive health of male adolescents and young adults in LatinAmerica. Prepared for Division of Health Promotion and Protection, Family Health and Population Program, Pan AmericanHealth Organization, Washington, D.C.25 FOCUS on Young Adults (1998). Sexual abuse and young adult reproductive health. In In Focus. September 1998. Pp 1-4.Washington, DC: FOCUS.26 Sebastiani, Segil et al (1996). Que saben, que hacen, que sienten los y las adolescentes de Lima sobre su sexualidad. INPPARES, Peru.34

MÓDULO 2

Como trabalhar a prevenção deviolência com homens jovens.

35

Como

2

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Este módulo apresenta uma série deatividades em grupo, preparadas e testadasem campo, para ser aplicadas em gruposde homens jovens sobre o tema deprevenção de violência e promoção dapaz. Essas atividades, na medida dopossível, levaram em consideração aspesquisas sobre violência e homens jovense os fatores associados à violênciamencionados no Módulo 1. Contudo,ainda que a participação em atividades

de reflexão em grupo seja útil, não énecessariamente suficiente para mudar ocomportamento dos jovens. No entanto,percebemos na prática que essasatividades servem para facilitar mudançasde atitudes dos jovens a curto prazo. Assimsendo, recomendamos o uso dessasatividades como parte de um programamais amplo e integrado de prevenção deviolência e promoção da paz que incluaas famílias, as comunidades, a escola, aequipe das organizações para jovens, amídia, os formadores de políticas públicas,e claro, os próprios jovens.

36

MÓDULO 2

Objetivo: Promover uma comunicação e diálogo ba-seado em respeito entre os jovens.

Materiais necessários: Um pedaço de pau, preferen-cialmente madeira trabalhada ou cerimonial.

Tempo recomendado: Uma hora.

Dicas/notas para planejamento: Em muitos países daAmérica Latina, é possível encontrar um bastão (ouborduna) usado em cerimônias por grupos indígenas.Se não for possível encontrá-lo, improvise-se um. Pode-se usar um pedaço de cano, um taco de beisebol, umrolo de macarrão, ou um bastão feito de madeira oumetal. Mesmo um cabo de vassoura pode servir. Ain-da que seja interessante ter um bastão indígena (ou

O Bastão Falante

1

37

borduna) usado em cerimônias (que foi a origem destatécnica), o mais importante é o significado que o grupodará ao bastão. O grupo pode também criar seu pró-prio bastão, escrevendo seus nomes ou o nome do gru-po ou pintá-lo. Essa técnica é boa para iniciar o pro-cesso, porque também pode ser usada para criar re-gras para o funcionamento do grupo. Enquanto estãofalando sobre as regras do ritual do bastão, pode-seperguntar para o grupo se há outras regras de convi-vência ou de funcionamento do grupo que eles gosta-riam de incluir.

Em alguns grupos pode parecer que essa técnica sejarígida e que só serve para uma sessão. Em outros gru-pos, pode ser interessante sua utilização para as téc-nicas seguintes ou voltar a ela de vez em quando.

Esta técnica apresenta uma

metodologia para facilitar e

incentivar o respeito na

comunicação dentro do grupo,

utilizando um bastão tradicional

ou bastão de mando.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Em muitos casos, o bastão também podeser usado como uma arma. É um pedaço demadeira ou uma clava pesada1 que tambémpode ser usado para defender alguém ou atacaruma pessoa ou animal. A pessoa que segura obastão tem em suas mãos uma arma empotencial. O relacionamento e as discussõesentre as pessoas têm um sentido semelhante:com nossas palavras e nosso corpo podemosconstruir relações baseadas no respeito oupodemos agredir alguém. A mesma habilidadede falar e nos expressar pode trazer as pessoaspara perto ou pode também produzir insultos.A mesma mão que pode afagar outra pessoaou dar um abraço também pode bater. Obastão falante pode ser usado pelo grupo comoum símbolo de cooperação ou como umaarma.

O objetivo do bastão falante é promover oentendimento e diálogo, distribuindo o poderentre todos. Cada membro do grupo tem odireito de pedir o bastão, e deve respeitar apessoa que está de posse dele, esperando queela acabe de falar. E cada um que segura obastão deve abrir mão dele também.

Essa técnica foi utilizada inicialmente comum grupo de homens jovens na periferia doRio de Janeiro. Os rapazes não tinham o hábitode esperar a sua vez para falar, e poucorespeitavam a fala do outro, seja adulto ou umamigo jovem. A conversa ou discussão entreeles, às vezes chegava a ameaças de uso deforça ainda que leves, a críticas e risos sobre afala dos demais. Com o uso da técnica dobastão falante, vimos uma clara mudança deatitudes nas reuniões de grupo. Começaram aescutar os outros e os próprios jovenscomeçavam a cobrar entre eles o uso do bastãoe o cumprimento das regras. Depois de algumtempo (mais de seis meses) paramos de usar obastão porque a prática do diálogo já tinha sidoincorporada pelo grupo.

A idéia do bastão falante começou comgrupos indígenas norte-americanos que ousavam em cerimônias como uma espécie decetro. Às vezes, grupos de homens da tribosentavam em círculo ao final do dia para discutirdesentendimentos ocorridos ou para os índiosmais velhos passarem informações e tradiçõesorais para os mais novos. O bastão falanterepresentava o poder do chefe, cacique ou dolíder. Quando ele tomava o bastão, era um sinalde que os outros deveriam ficar quietos e escutarsuas palavras. Quando um outro homem queriaa palavra, ele pedia permissão para segurar obastão, e então era reconhecido pelos demaiscomo tendo o direito de falar naquele momento.Simbolicamente, passar o bastão adiantesignifica passar o poder e o direito de ser ouvidotambém pelos outros membros da tribo.

A história dobastão falante

381 Talvez seja bom incluir aqui uma explicação, por exemplo: É como o cetro utilizado por Reis, mas de madeira,ou as madeiras utilizadas para fazer ginástica, ou as madeiras utilizadas pelos malabaristas para fazer seuespetáculo.

MÓDULO 2

Pergunte ao grupo se eles querem continuarusando o bastão falante em outras técnicas.Você pode também perguntar ao grupo seeles querem responsabilizar-se pela guardado bastão falante entre as sessões.

Perguntas paradiscussão

Procedimento

Esta técnica pode ser útilpara todos os outrosmanuais nesta série. Elaprocura introduzir um estilode diálogo – de escutar ooutro e respeitar a fala dooutro – que é necessáriapara todas as técnicas.

39

1- Pedir ao grupo que se sente em círculo.2- Segurando o bastão na sua frente, contar ahistória do bastão falante para o grupo.3- Passar o bastão em torno de todo o grupo,mostrando que todos têm a chance de tê-lonas mãos.4- Quando o bastão retornar a você, pedir aogrupo que fale sobre o que pensam sobre ouso do bastão como uma forma de começar adiscussão. Use esta pergunta como umaoportunidade de introduzir o ritual do bastãofalante. Os participantes que quiserem falardevem dirigir-se a você para pedir o bastão, eentão, o próximo participante deve se dirigir aquem tem o bastão no momento para pedi-loe assim por diante. Como facilitador do grupo,o bastão não deve retornar a você a cada vez.Ele deve ser passado diretamente entre osmembros do grupo, permitindo que elesmesmos controlem a discussão. Quando ofacilitador quiser falar, deve pedir a vez a quemestiver com o bastão.5- Explicar ao grupo que você irá ler uma sériede casos ou histórias para discutir no grupo.Usando o bastão, pedir aos membros do grupoque discutam cada caso, colocando suasopiniões. Se os participantes quiserem falarsem pedir o bastão antes, reforçar as regras doritual.6- Se o tempo permitir, e dependendo do grupoe do facilitador, discuta casos adicionais damesma forma.7- Discuta as questões a seguir.

Como o uso do bastão falante afeta vocêna discussão desses temas?Como se sente quando está segurando obastão, ou quando mais alguém pede o di-reito de falar?Quando você está num grupo de amigos,como é que as discussões acontecem?Quando estamos discutindo um determi-nado tema ou um caso no grupo, todosdevem concordar?Qual a diferença entre consenso e unani-midade? É possível chegar a um consensomesmo quando nem todo mundo concor-de com a decisão ou opinião final?Por que às vezes não queremos falar nogrupo?Pensando nos exemplos desses casos rela-tados, o que é violência? Existe uma defini-ção clara ou simples?

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Exemplos de violência para discussão

Você está dançando com um grupo de amigos.

Quando vocês estavam prestes a sair, você vê

um casal (um rapaz e uma moça, aparentemente

namorados) discutindo na porta de saída. Ele a

chama de vaca, e pergunta por que ela estava

flertando com aquele cara. Ela diz que: “Eu não

estava olhando para ele ... e mesmo que

estivesse, eu não estou com você?”. Ele grita

com ela de novo. Finalmente ela diz: “Eu não

sou propriedade sua”. Ele bate nela e ela cai.

Ela grita com ele, dizendo que ele não tinha

direito de fazer isto. O que você faria? Iria

embora? Diria alguma coisa? Seria diferente se

fosse um rapaz batendo em outro rapaz?

40

William convidou Susana para passearem umatarde. Eles conversaram um pouco, lancharam,e William a convidou para ir a um motel,dizendo que ele tinha dinheiro para passaremalgumas horas lá. Susana disse que sim. Elesforam para o motel e começaram a se beijar.William começou a tirar a sua roupa. EntãoSusana disse a ele que não queria transar.William ficou transtornado. Disse a ela quehavia gastado muito dinheiro para estarem ali,e disse: “O que é que os meus amigos vãodizer?” Ele queria forçar uma barra paraconvencê-la. O que você pensa que ele deveriafazer? O que você pensa que ela deveria fazer?

Pedro teve um dia difícil na escola. Sua mãe

está brava com ele por conta das suas notas e

disse que ele não poderia sair esta noite. Na

aula, ele não soube responder uma pergunta que

a professora lhe fez. No pátio, depois da aula,

Sandra, uma garota da turma de Pedro, ri dele

por que ele não soube responder uma pergunta

tão fácil. “Era muito fácil. Você é realmente tão

estúpido assim?” Pedro diz para ela se calar e a

empurra contra a parede. Sandra fica zangada

e diz: “Se você me tocar de novo, você vai

ver...”. Pedro responde: “Quem vai ver é você”.

Ele lhe dá um tapa, vira as costas e vai embora.

Sandra conta para Luis, seu irmão mais velho, o

que aconteceu. Luiz encontra Pedro no fim do

dia. O que ele (Pedro) deve fazer? O que Luiz

deve fazer?

No Brasil, existe um movimento políticochamado de Movimento dos Sem Teto, querepresenta pessoas sem renda e que não têmnem terra, nem casas. Periodicamente elesorganizam invasões de terras, e, nas áreasurbanas, organizam protestos chamandoatenção para as necessidades das famílias debaixa renda e para a desigualdade dadistribuição de renda no Brasil. No Rio deJaneiro, recentemente, umas 50 pessoas dogrupo entraram num hipermercado ecomeçaram a encher os carrinhos com váriosprodutos. Os consumidores que estavam nomercado, assustados, começaram a sair. Aequipe de funcionários do mercado não sabia oque fazer. O grupo que organizou o protesto,todos de baixa renda sem casa, chegou até ascaixas registradoras e tentou pagar com umcheque chamado “cheque miséria”, um chequesimbólico que não tinha nenhum valor em reais,mas que representava milhões de dólares de umdesvio de dinheiro do governo por conta decorrupção. O que você pensa sobre a tática destegrupo? Se você fosse o gerente deste mercado,o que você faria?

MÓDULO 2

2O Varal da Violência

41

objetvo: Identificar as formas violência que pratica-mos ou que são cometidas contra nós.

Materiais necessários: Barbante para o varal. Fita.Três pedaços de papel (tamanho A4 ou equivalente)para cada participante. Prendedores.

Tempo recomendado: Uma hora e meia.

Dicas/notas para planejamento: Quando se fala emviolência, pensa-se muito em agressão física. É im-portante discutir outras formas de violência que nãosó a violência física. Também é importante ajudar osjovens a pensar nos atos de violência que comete-mos, já que muitas vezes pensamos nos outros comoviolentos, mas nunca em nós mesmos. Com o usodessa técnica, vimos que para os jovens com os quaistrabalhamos era mais fácil falar sobre violências quetinham sofrido. Relatar atos de violência - especial-mente os que aconteceram fora de suas casas - erafácil. Até percebemos que eles sentiram um certo alí-vio em poder relatar estas experiências e que sobrevi-veram a elas. Comentar ou contar violências cometi-das contra eles dentro de suas casas foi mais delica-do. Alguns comentaram sobre a violência em casa,mas não queriam falar sobre detalhes, e não insisti-

mos. Falar sobre violência que eles tinham cometi-do, foi mais difícil ainda. Primeiro, porque semprequeriam justificar-se, colocando a culpa no outrocomo sendo o agressor. Esta técnica forneceu con-teúdo para duas sessões de trabalho. Caso sinta queos participantes não estão à vontade em se expor,pense em alternativas que exigem menos exposição.

Como mencionado no Módulo 1, ser vítima de vio-lência interpessoal está associado a cometer atos deviolência mais tarde. Ajudar os jovens a compreen-der esta conexão, e pensar sobre a dor que a violên-cia causou neles, é uma forma potencial de inter-romper o ciclo da violência de vítima para o agressor.Se algum jovem relatar estar sofrendo algum tipo deviolência ou ter sofrido recentemente algum tipo deabuso - incluindo abuso sexual ou abuso físico siste-mático em sua casa - e tiver menos de 18 anos deidade, em alguns países, o facilitador é obrigado adenunciar o fato às autoridades de proteção à infân-cia e adolescência. Antes de executar qualquer tare-fa desse manual, o facilitador deve procurar os res-ponsáveis pela sua organização para esclarecer so-bre os aspectos éticos e legais de seu país no que serefere a maltrato e violência contra jovens com me-nos de 18 anos.

Esta técnica consiste em

falar abertamente sobre

a violência que sofremos

e praticamos.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

1- Explicar que a proposta é falar sobre aviolência que praticamos, aquela praticadacontra nós, e conversar sobre nossossentimentos em relação a isto.2- Explicar que colocaremos 4 varais e quetodos os participantes deverão escreveralgumas poucas palavras nas folhas de papele prendê-las no varal.3- Dar a cada participante 4 folhas de papel(tamanho A4).4- Colocar em cada varal os seguintes títulos:

Violências praticadas contra mimViolências que eu praticoComo eu sinto quando pratico violênciaComo eu sinto quando violência é praticadacontra mim

5. Pedir a cada participante para pensar umpouco e escrever em poucas palavras umaresposta para cada item. Cada um deveescrever pelo menos uma resposta para cadaum dos varais (ou categorias). Dar cerca de 10minutos para esta tarefa. Explicar a eles quenão devem escrever muito, e sim, poucaspalavras ou uma frase, e colocar no varalcorrespondente.6. Pedir aos participantes, um a um, paracolocar no varal correspondente, lendo suaresposta para o grupo. Eles podem dar outrasexplicações que se façam necessárias e osoutros participantes poderão fazer perguntassobre sua resposta.7. Depois de cada um ter colocado suasrespostas no varal, discutir as questões a seguir,usando o bastão falante caso deseje.

Perguntas paradiscussão

Procedimento

Perguntar ao grupo como foi para eles falar so-bre a violência que experimentaram. Se nin-guém do grupo mostrar necessidade de umaatenção especial por conta de uma violênciaque sofreu, o facilitador pode considerar queos recursos de ajuda que o jovem teve supriuesta demanda.42

Qual é o tipo mais comum de violência quese comete contra nós?Como cada um se sente em ser vítima des-te tipo de violência?Que tipo de violência é mais comum co-metermos contra os outros?Como sabemos se de fato cometemos vio-lência contra alguém?Existe alguma conexão entre a violência quepraticamos e a violência de que somos ví-timas?Como nos sentimos quando praticamosviolência?Existe alguma violência que seja pior doque outra?Geralmente, quando somos violentos ouquando sofremos violência, nós falamos so-bre isso? Denunciamos? Falamos sobrecomo nos sentimos? Se não, por quê?Alguns pesquisadores dizem que a violên-cia é como um ciclo, ou seja, quem é víti-ma de violência é mais provável que co-meta atos de violência depois. Se isto estácorreto, como podemos interromper esteciclo da violência?

Alguns jovens podem sentirque querem fazer algumacoisa contra a violência a suavolta, depois de participarnesta técnica. Referir-se ouutilizar-se de outras técnicas,particularmente as técnicas4 e 11, que procuram fazeristo.

MÓDULO 2

Objetivo: Discutir como a suposta "honra" masculinaestá associada à violência e como podemos pensarem alternativas à violência quando nos sentimos in-sultados.

Materiais necessários: Espaço para trabalhar ecriatividade. Folha de recurso em anexo.

Tempo recomendado: Duas horas (ou duas sessõesde uma hora cada).

Dicas/notas para planejamento: Alguns grupos têmdificuldade de construir uma história ou em escolheros atores para uma dramatização. É importante que ofacilitador esteja atento e ofereça um clima propício

3

43

Otário Vivo ou Valente Morto:A Honra Masculina

para que se possa avançar, reforçando que eles não pre-cisam ser "atores de verdade" e que não precisam sepreocupar em ter uma peça ou história bem elaborada.Como foi discutido anteriormente no Módulo 1, umdos fatores associados à violência entre jovens é aquestão dos insultos e da honra. Pesquisas sugeremque muitas das mortes entre homens jovens começamcom discussões verbais - seja sobre jogo de futebol,com a namorada ou um insulto - e escalam desde umatroca de socos, chegando a um homicídio. Outraspesquisas sugerem que os jovens são mais propensosa usar violência quando atribuem atitudes hostis emrelação a outros jovens. Essa atividade procura ajudaros jovens a entender porque eles, às vezes agem dessaforma; como estas atitudes podem ser causa de episó-dios de violência; e como é possível modificá-las.

Esta técnica discute a relação

entre a noção de honra

masculina e atos de violência,

apresentando a história da

honra masculina e casos para

serem discutidos em grupo.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

1- Dividir os participantes em 2 ou 4 gruposde 5 a 6 membros, conforme do número totalde participantes. Explicar que eles deverãocriar e apresentar uma pequena história sobrea troca de insultos entre rapazes.2- Uma vez que os grupos já estejam formados,entregar a cada grupo uma folha de papel comuma das seguintes frases:

A Folha de Recurso a seguir pode servir paraajudar os jovens a refletir sobre onde vem oconceito de "honra masculina", ou seja, o con-texto histórico e cultural. Muitos homens achamque este tipo de atitude ante um insulto é "natu-ral" e universal. Usando a Folha de Recurso, ofacilitador pode ajudar a desconstruir ou ques-tionar este tipo de comportamento masculino.

Perguntas paradiscussão

Procedimento

Um grupo de amigos estava numbar. Começou uma briga entre umdos jovens e um estranho (outrojovem) quando...

Márcio e Fábio discutiram no

intervalo das aulas por causa

de um trabalho da escola.

Márcio disse que o esperaria lá

fora para resolverem. Na saída

da escola.....

3- Explicar que o trabalho consiste em montaruma pequena história a partir do que estáescrito na folha entregue a cada grupo. A peçadeve ter entre 3 e 5 minutos. Explicar que elespodem acrescentar os detalhes que quiserem.4- Dar aos participantes cerca de 20 minutospara discutirem entre si e montar a peça.5- Pedir aos grupos para fazerem suasapresentações. Após cada uma, abra espaçopara discussão e comentários.6- Discutir as questões abaixo.7- A seguir, leia e discuta a “Folha de Recurso:De onde vem a ‘Honra masculina?’”

44

Estas situações são realistas?Por que às vezes reagimos desta maneira?Quando você se vê diante de uma situaçãosemelhante, em que foi insultado, comovocê normalmente reage?Como você pode reduzir a tensão ou agres-são numa situação como essas?Homem pode fugir de uma briga?

Um grupo de amigos saiu

para dançar. Um deles,

Leo, viu que um cara es-

tava olhando para sua

namorada. A briga come-

çou quando Leo...

Samuel estava parado no trân-sito em seu carro. Quando elequis virar à direita, um outrocarro veio da esquerda e o cor-tou, forçando-o a parar brusca-mente. Samuel decidiu que...

Um grupo de amigos estava num jogo

de futebol. Eles eram torcedores do

mesmo time. Uma briga começou

quando um outro jovem do time ad-

versário chegou e ....

MÓDULO 2

Perguntas para discussão

Folha de RecursoDe onde vem a “honra” masculina?

Em muitas culturas, manter um nome, a honrae o orgulho é muito importantes, às vezes atéde forma exagerada. Alguns pesquisadoressugerem que a “cultura da honra” em algumasregiões das Américas se encontra relacionadacom as regiões de fronteira. Na parte rural doMéxico, em partes da América do Sul e partesdo sul dos EUA, alguns homens herdaramanimais e terras em regiões cujos limites efronteiras não estavam bem definidas. Nãohavia sistema judicial ou polícia por perto. (Écomum nos filmes de faroeste haver disputasde terras em que o xerife chegava um dia oudois depois do conflito iniciado). Parasobreviver, os homens acreditavam que elesmesmos deviam defender seus interesses.Nestes contextos, era preciso que os homensfossem vistos pelos outros como alguém comquem “ninguém devia se meter”. Ser vistocomo um homem agressivo e até mesmoperigoso, significava que ninguém perturbaria.

Para alguns jovens em gangues ou mesmo emcontextos violentos urbanos, esse tipo de idéiapermanece. Fazer um nome de durão, aindaque fora de controle, é uma forma de defesa.Se você pensa que um rapaz é durão, que talvezele tenha uma arma, ele pode dizer qualquercoisa que eu o deixo partir sem incomodá-lo.Em algumas áreas urbanas da América Latina,alguns jovens sabem da importância de manteruma reputação como essa – o que significa queeles serão respeitados, e não serãoimportunados pelos demais.

A “cultura da honra” também está presente naAmérica Latina sob a forma de “machismo”, quetem origem na colonização européia e na

O que significa machismo para nós?O machismo ainda existe? A “cultura da honra” ainda se mantém?Que podemos fazer para mudar esta “cultura da honra”?Sabendo de onde vem a honra masculina, isso nos ajuda a mudar?

dominação masculina presente em alguns gruposétnicos na região. O machismo vem em parte daregião mediterrânea da Europa, e está associadaà imagem de durão, de ter muitas parceiras(amantes ou mulheres) e de proteger sua ‘honra’,e a um desejo de enfrentar o perigo, muitas vezesna forma de disputa, de duelo. Sob a ótica domachismo, os homens são “predadores sexuais”,e as mulheres “puras e inocentes”. De acordo coma cultura machista, o comportamento apropriadopara uma mulher é ficar em casa, enquanto ohomem demonstra sua virilidade com um maiornúmero de conquistas sexuais e com um maiornúmero de filhos. Assim, para o machismo um“homem de verdade” é aquele que protege a“honra” das mulheres de sua família – sua esposa,irmãs, mãe. Elas devem ser “puras” e, nenhumaquestão sobre suas vida sexual e sua honra deveser levantada sem que haja uma briga. Umhomem, num bar, que quer brigar com outro,basta, simplesmente, dirigir o olhar para anamorada deste, e a cena de anos de tradição serepete. O mesmo ocorre, se ele tiver dito algumacoisa sobre a mãe ou irmã do outro.

Devemos pensar que a “honra masculina” faz partede nossa cultura. Quantas vezes não vemos gruposde homens trocando insultos? Quantos destesinsultos têm a ver com conquistas sexuais? Quantaspiadas e histórias de insultos se relacionam comsupostas conquistas sexuais? Pense em quantasexpressões nós temos para “manchar” a reputaçãoda mãe do outro. Será uma simples coincidênciaque para chamarmos a atenção de outro homemdizemos: “filho da puta” ou “foder sua mãe ”? Istoé o pior insulto que um “homem de verdade”,segundo o machismo, pode-se defrontar – alguémduvidando da honra e pureza de sua mãe.

45

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

A Violência à Minha VoltaObjetivo: Discutir de forma crítica a violência quevemos na vida cotidiana, incluindo aquela que acon-tece na rua, em nossas casas, na escola, no lugar detrabalho, e na mídia2.

Materiais necessários: Um caderno para cada parti-cipante.

Tempo recomendado: Uma hora para a técnica em gru-po. Uma semana para fazer o "trabalho de campo".

Dicas/notas para planejamento: Essa técnica é paraser usada como "dever de casa". Os participantes vãomanter um "diário de campo" durante uma semanasobre formas de violência que eles vêem na sua vidacotidiana, seja na rua, em casa, na escola, no lugarde trabalho, na mídia e em outros lugares. Este diárioé um pequeno caderno onde o participante deve re-gistrar o que viu, o que sentiu, o que pensou ou podefazer diante de uma situação de violência. Ofacilitador deveria apresentar esta técnica uma sema-na antes do dia da apresentação dos resultados, ex-plicando aos participantes o objetivo e entregando

2 Essa técnica foi inspirada e baseada no vídeo, “Artigo 2º” produzido pela ECOS.

4

46

um caderno a cada um, para seu "diário de campo".Em contraste com "O Varal da Violência", essa técni-ca trata de chamar a atenção para as pequenas vio-lências que observamos no dia-a-dia, particularmen-te imagens de violência de que muitas vezes nemnos damos conta. Tente encontrar com os participan-tes exemplos de imagens e atos de violência que ve-mos no dia-a-dia para dar algumas dicas sobre o queeles podem observar e anotar em seus "diários decampo".

Essa técnica tem por objetivo produzir uma reflexãocrítica sobre as imagens veiculadas e as violências -pequenas e grandes - que testemunhamos, perceben-do-as de forma crítica naquilo que se apresenta demaneira explícita ou sutil. Serve também para reco-nhecer o que o jovem percebe como violência - al-guns hábitos e atitudes já se encontram de tal modoincorporados que nem se percebem "as pequenas vio-lências de cada dia". Saímos do campo da agressãofísica, da coerção que intimida, que são exemplos maisóbvios, para outras demonstrações mais sutis de vio-lência interpessoal, intergrupal ou institucional.

Esta técnica tem um

"dever de casa" que

consiste em observar e

anotar exemplos de

violência do dia-a-dia

que nos cerca.

MÓDULO 2

Como fechamento, o facilitador poderia usar ovídeo "Artigo 2º" como uma alternativa. Esse vídeofoi produzido em português por ECOS em SãoPaulo, Brasil (veja Módulo 3 para mais informa-ções). Se tiver recursos disponíveis, também po-diam preparar um vídeo com várias imagens deviolência da televisão gravada no seu país e de-pois comentar estas imagens. Poderia também, sehouver recursos disponíveis, fechar essa técnicacom a exibição de um vídeo popular que inclua

imagens de violência. Existem, infelizmente, mi-lhares de filmes e vídeos que fazem apologia daviolência. Usar um filme pode também incentivara discussão com os jovens sobre o tipo de ima-gem, o tipo de personagem apresentado etc. Porexemplo, um filme de Brad Pitt e Edward Norton(Clube de Luta) trata de um clube onde um grupode rapazes pratica "luta" e em que cada membronovo é submetido a um ritual de entrada. Códigosde honra, a demonstração de força física e a capa-cidade de resistir aos golpes sem demonstrar dorou medo fazem parte da história do filme.

Perguntas paradiscussão

Quais são os tipos de violência mais co-muns que vemos a nossa volta?Quais são as imagens de violência que ve-mos na mídia? Por que será que a mídiamostra tantas imagens de violência?Quais são os lugares onde mais vemos ouobservamos violência?

Observando esta violência ou imagens deviolência, as pessoas violentas eram geralmen-te homens ou mulheres? Jovens ou adultos?E as vítimas? Eram geralmente homens oumulheres? Jovens ou adultos?Como sentimos, ao observar esta violência,seja na vida real ou na mídia?Quais seriam os efeitos ou as conseqüênciaspara nós mesmos de tanta violência emnossa vida cotidiana?Quais seriam os efeitos ou conseqüênciasde vermos tanta violência na mídia?

Procedimento1- Uma semana antes, explicar para os jovensque eles vão fazer um “diário de campo” sobrea violência que eles vêem a sua volta. Explicarque a idéia do “diário” é que eles anotem atosde violência ou imagens violentas que elesobservam ao seu redor durante uma semana.Sugerir que eles observem nas suas escolas, emcasa, na rua, nos locais de trabalho, nacomunidade, na mídia (quer dizer na televisão,revistas, jornais etc.) e nos outros lugares quefreqüentam. O grau de detalhe do diário dependedeles. Podem escrever umas poucas palavras,umas frases ou sentimentos e pensamentos quetiverem sobre a violência observada.2- Perguntar para o grupo se ficou claro o propósitoda técnica e entregar os “diários de campo”. Pedirao grupo para pensar em algumas formas deviolência ou imagens de violência de que eles selembram ter visto a sua volta. Pode-se acrescentar

sugestões para os participantes como um formatopara o diário, por exemplo: (1) o que vi?; (2) o quesenti ante esta violência?; (3) o que posso fazer?3- Na semana seguinte, perguntar aosparticipantes como foi fazer o diário e se de fatoobservaram violência e imagens de violência.4- Dividir os participantes em grupos menoresde 4-5 participantes e pedir que nestes grupos,apresentem seus diários, falando para o gruposobre as imagens e atos de violência que viram.5- Ao formar os grupos, pedir que cada grupoidentifique um relator que vai apresentar aosdemais as conclusões do seu grupo.6- Dar um tempo entre 20 e 30 minutos paraos grupos discutirem seus diários e conclusões.7- Formar o grupo grande novamente e pediraos relatores de cada grupo para fazer umapequena apresentação para todo o grupo (de2-3 minutos no máximo).8- Quando todos os grupos tiveremapresentado suas conclusões, discutir asquestões a seguir.

47

1- Antes que o grupo comece suas atividades,selecionar frases que você ache que são maisapropriadas de acordo com a relação abaixo.Escrever estas frases numa folha de papel,selecionar um número suficiente de frases paracada participante. Se quiser, criar outras frases,outros exemplos ou repetir alguns, se acharnecessário.2- Pedir aos participantes para sentar emcírculo e fechar os olhos. Explicar que secolocará uma folha de papel em suas mãosonde tem uma palavra ou uma frase escrita.Depois de receber o papel, os participantes

Diversidade e Direitos: Eu e os OutrosObjetivo: Encorajar a empatia com pessoas de diver-sas realidades e discutir a origem de violência associ-ada a pessoas de diferentes grupos étnicos e/ou ori-entação sexual.

Materiais necessários: Folhas de papel A4.Marcadores. Fita.

Tempo recomendado: Uma hora e meia.

Dicas/notas para planejamento: Essa técnica geral-mente leva os jovens a rir e a ter que desempenharou atuar no papel de pessoas de diversas orienta-

Procedimento deverão ler a frase sem comentar nada erefletir pessoalmente sobre o que eles fariamse estivessem naquela situação.3- Pedir a cada um que pegue um pedaço defita e cole na parte da frente de sua camisa.4- Pedir que todos se levantem e andemdevagar pela sala com o papel colado, lendoas frases dos outros participantes,cumprimentando os outros, mas sem falar.5- Depois pedir aos participantes que fiquemem círculo e olhem uns para os outros. Explicarque cada um deve ser um personagem einventar uma história que tenha a ver com afrase que recebeu – uma história que fale sobresua condição ou realidade. Dar algum tempopara que possam refletir sobre sua história.

5

Sou soropositivoSou bandido (membro de uma gangueou traficante de drogas)Sou bissexualMeu pai está na cadeiaMinha namorada me traiuSou heterossexual

Minha mãe é trabalhadora do sexoNão sei lerSou executivoTive relações sexuais com outro homem,mas não sou gayTenho AIDSSou descendente de índios

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ções sexuais e realidades. Procurar manter um espí-rito leve na técnica, sem censurar os jovens, e fo-mentando o respeito para com as diferenças. Usan-do esta atividade com alguns grupos de homens jo-vens, eles pediram que pensássemos em mais frasese usamos essa técnica duas vezes. Usá-la novamen-te permitiu que fossem tratados temas dos quais elestinham dúvidas e que necessitavam de esclarecimen-tos: HIV e DSTs, uso de drogas, suicídio, violênciadoméstica - temas incluídos nesse manual e nosoutros que se seguem. Ou seja, esta atividade é umaforma de trazer os temas tratados nos cinco manuaispara discussão.

Esta técnica utiliza o

sociodrama para imaginar

como seria se fôssemos outras

pessoas com diferentes

condições e realidades.

MÓDULO 2

Pode-se fechar essa técnica perguntando aosjovens sobre outros exemplos de pessoas di-ferentes ou até de minorias que não foramincluídas. Às vezes surgem exemplos de pes-soas percebidas como diferentes ou minoriassobre as quais não havíamos pensado, surgin-do mais conteúdo para as técnicas e o traba-lho com jovens.

Esta técnica também émuito útil para discutir aquestões de pessoas viven-do com HIV/AIDS.

Perguntas paradiscussão

6- Perguntar se há algum voluntário paracomeçar. Então, cada um, aleatoriamente ouna ordem do círculo fale sobre sua história atéque todos o tenham feito. Em alguns casos,pode-se permitir que os participantes troquemseu “caso” com outro participante.7- Uma vez que todos tenham relatado suahistória, pedir que retornem a seus lugares,permanecendo com o papel colado em suascamisas.8- Pedir aos participantes que, mantendo seuspersonagens, façam perguntas uns aos outros,sobre suas vidas, sua condição naquelemomento, seus problemas e suas realidades.Pode-se usar o bastão falante (vide técnica 1)para facilitar a discussão. Dar um tempo entre20 e 30 minutos para discutir.9- Discutir as questões a seguir.

Você conhece algum jovem que enfren-tou situação semelhante descrita no papel?Como foi para você, viver esse personagem?Como se sentiu?Em muitos lugares, um jovem que é “dife-rente” ou que representa uma minoria é ob-jeto de discriminação e violência. Por exem-plo, no Brasil e nos EUA existem grupos deskinheads que espancam gays e negros. Deonde você acha que esse ódio vem?De que forma alguém que é “diferente” denós, pode levar a violência?

Sou de descendência européia (ou sou branco)Sou gaySou de descendência africanaBati na minha namoradaJá tentei me matarSou viciado em cocaínaSou surdo

Sou menino de ruaSou milionárioPerdi um braço num acidenteMinha namorada me bateuSou pai e cuido dos meus filhosSou alcoólatraEstou sem emprego

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Perguntas paradiscussão

Que provas de coragem eu já dei?O que eu queria provar e a quem?Como é curtir o “perigo”?Como me senti?Já pensou que podia ter acontecido algo er-rado?E se ficar alguma marca no corpo (cicatrizou coisa parecida)?E se eu me recusar a fazer uma destas pro-vas, como é que fico?Alguém conhece algum caso que tenhaacabado mal?

Risco e Violência:as Provas de Coragem

Objetivo: Refletir sobre "provas de coragem" e expo-sição a riscos para demonstrar coragem, virilidade emasculinidade, como forma de aceitação pelo grupode pares (turma de amigos).

Materiais necessários: Espaço para trabalhar ecriatividade.

Tempo recomendado: Uma hora e meia.

Dicas/notas para planejamento: Muitas vezes, para seraceito por sua turma de amigos, os jovens tendem a secolocar em situações de risco como uma prova decoragem e de virilidade. Quem não o faz, é taxado de

frouxo, careta ou covarde. Outras vezes, a vontade desentir uma emoção diferente, enfrentando situações dedesafio e perigo, faz com que os jovens também seexponham a riscos. Algumas histórias têm um fim trá-gico, acabando em lesões, algumas graves eirreversíveis, quando não em morte. O que isso tem aver com homens jovens? Por que a necessidade de"provar que é corajoso"? Essa técnica procura incenti-var uma discussão sobre o tema, já que muitas vezesos jovens têm vergonha de falar, ou não querem falarsobre o assunto. Os exemplos incluídos aqui devemser adaptados para cada contexto, pois as "provas decoragem" variam muito de lugar para lugar, por país,cidade, classe social, meio urbano ou rural etc.

Procedimento

1- Explicar que a técnica se propõe a falarsobre provas de coragem e exposição a situ-ações de risco e perigo.2- Pedir ao grupo que se divida em grupos me-nores de 4-5 participantes. Cada um dos gru-pos receberá uma folha de papel com o iníciode uma história, para que o grupo complete asua história da maneira que quiser, apresen-tando-a para os demais. De preferência, mon-tar uma pequena peça com a narrativa da his-tória.3- Dar a cada grupo cerca de 20 minutos paracompletar essa tarefa.Pedir para cada grupo fazer suas apresenta-ções e depois abrir a discussão. Abaixo segueum roteiro para discussão.

6

50

Esta técnica consiste em

discutir alguns casos em que

os jovens correm riscos ou

são desafiados a se expor a

riscos por algum colega.

MÓDULO 2

Lino é fissurado por motos. Depois quecomprou sua moto, não quer outra vida.Foi convidado por seus colegas da escolapara assistir a um “pega” que se realizavanum bairro próximo ao seu. No dia, Linofoi desafiado por um outro cara parafazerem manobras radicais e ver quem erao melhor. Lino se recusou e então ....

Alex era “office boy” e ia todo dia de trem

do subúrbio onde morava para o centro

da cidade. Gostava de ir lá em cima,

surfando no trem, desviando-se dos cabos

de alta tensão. Teve um dia que Alex estava

mais distraído e....

Mauro já era veterano em sua escola. Como início das aulas, ele e sua turma estavampreparando o trote da “galerinha mais oumenos”, que estava entrando na escola. Sóque agora eles queriam algo mais radicalpara a nova turma. Então resolveram quefariam ....

Perguntar ao grupo quais suas impressões sobreessas histórias relatadas, bem como sobre suaspróprias histórias pessoais, estabelecendo umaconexão entre provas de coragem e exposiçãoa riscos com a questão de ser homem e deversões de masculinidade. Pode-se terminaressa técnica apresentando dados da OMS(Organização Mundial de Saúde) que mostramque o nível de morbidade e mortalidade entre

homens jovens está relacionado, entre outrosfatores, a acidentes causados pela exposição dosjovens a situações de risco. Pode-se ainda,refletir se, para ser homem de verdade, énecessário submeter-se a provas demasculinidade que envolvam risco e violência,e que acabam se constituindo como umaviolência contra si mesmo. O cuidado com aintegridade física, com seu próprio corpoconstitui um ponto importante na discussão dodesenvolvimento e saúde do homem jovem.

Casos para discussão

Chico adora praia, mas não sabe nadar direito. No

último fim de semana, a turma do irmão mais velho

dele resolveu ir à praia num dia de mar revolto.

Todos iam prá água, mas Chico estava com medo

de entrar. Incentivado pelos amigos mais velhos

de seu irmão, Chico mergulhou n´água e quase se

afogou. Chico então foi chamado de vacilão, por

seus amigos e ficou....

No caderno Razões e Emo-ções há referência à ques-tão do corpo, o autocuidadoe autovalorização.

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Gabriel ia todo fim de semana ao bai-le com seus colegas. Alguns deles sem-pre iam em cima do ônibus curtindoum barato diferente. Viviam dizendoque Gabriel era frouxo porque nãoqueria ir lá em cima com o resto daturma. Um dia, voltando do baile,Gabriel decidiu que...

Vinicius era novo na escola. Tinha uma

cicatriz grande na testa. Todo mundo

lhe perguntava o que tinha acontecido.

Vinicius orgulhava-se dessa cicatriz

dizendo que tinha feito uma aventura

de verdade. Então contou que...

Violência Sexual: é ou não é?3

Objetivo: Discutir o que é violência sexual, quais ascondições que a fomenta e como podemos reduzi-laou preveni-la.

Materiais necessários: Papel rotafólio. Marcadores.Fita.

Tempo recomendado: Uma hora.

Dicas/notas para planejamento: Antes de apresentaressa técnica, pode ser útil que o facilitador procuredados de sua comunidade ou país sobre diferentesformas de violência sexual, informação sobre as leisem vigor bem como informação sobre organizaçõesque oferecem apoio a pessoas que tenham sofridoviolência sexual. Estas informações podem ser úteispara responder a perguntas que os jovens possam fa-zer durante ou depois dessa técnica. Também antesde aplicar a técnica, o facilitador deve revisar as fra-ses para ver quais ele/ela acha pertinente, e acres-centar outros exemplos apropriados para seu local.

3 O formato desta técnica foi adaptado da técnica “Escolha de Valores” do curriculum, “Adolescência: Época dePlanejar a Vida,” Advocates for Youth, Washington, DC. Para uma cópia do AEPV, consulte o endereço da Advocatesfor Youth no Módulo 3.

Procedimento

1- Antes da atividade, escrever as seguintesfrases, uma em cada folha de papel:

2- Explicar aos participantes que você vai leruma série de casos, e que você quer que elespensem sobre se a situação descrita representaviolência sexual ou não. Falar que, se eles nãosabem ou não têm certeza, podem dizer.3- Colar os três “posters” na parede com umaboa distância entre eles. Explicar que você leráum caso, e que vai perguntar aos participantespara decidir em que “pôster” as frases seencaixam, segundo a opinião deles. “Éviolência sexual”. “Não é violência sexual”.

7

É violência sexual

Não é violência sexual

Estou em dúvida

52

Pode-se encontrar alguma resistência para se falarsobre o tema de violência sexual. Em outros locais,já existem campanhas sobre violência sexual, e osexemplos incluídos aqui podem ser óbvios demais.Da mesma forma que falar sobre outras formas deviolência pode causar constrangimentos, em razãodas possíveis conexões com histórias pessoais dos par-ticipantes, no caso da violência sexual podem estarpresentes no grupo jovens que sofreram algum tipode violência sexual na infância ou adolescência eque podem precisar de ajuda. Em alguns momentos,encontramos homens jovens que sofreram violênciasexual de uma mulher, mas nunca haviam falado comalguém sobre o assunto por vergonha - tinham a cren-ça de que ninguém ia acreditar que um homem podeser vítima de uma mulher. Outros, em alguns mo-mentos, sabiam de amigas que tinham sido vítimasde violência sexual. O facilitador deve estar prepara-do para casos sensíveis, até de participantes que po-dem precisar de uma ajuda especial, mesmo que istonem sempre ocorra.

Esta técnica apresenta várias

situações sobre violência

sexual, solicitando aos

jovens determinarem o que

é e o que não é violência.

MÓDULO 2

Luisa diz que ela quer transar comFred. Ela tira suas roupas, e está nacama com ele quando decide que nãoquer mais transar. Ele a força. Éviolência sexual?

Todo mundo diz que Lindatem cara de safada. Ela vivedizendo que transa com mui-ta gente, e que gosta de sexo.Ela vai à festa do Pedro, e bebemuito, desmaiando. Pedro fazsexo com ela, ainda desmaia-da, e convida seus amigospara transarem com ela tam-bém. É violência sexual?

“Estou em dúvida (ou não sei)”.4- Explicar que uma vez que eles tenhamtomado a decisão, você pedirá a um ou maismembros do grupo de cada categoria para

Essas situações são realistas?O que é violência sexual?O que é violência de gênero?Toda violência sexual é crime?Que podemos fazer para prevenir a violên-cia sexual?Quem é mais vítima de violência sexual,homem ou mulher? Por quê?Homem também pode ser vítima de vio-lência sexual?Quais seriam as conseqüências de ter so-frido violência sexual?

Felipe começou um trabalho como

assistente administrativo numa firma bem

conhecida, faz poucos meses, e está

gostando do trabalho e da firma. Uma

noite, o chefe dele, Roberto, diz que ele

gosta muito de Felipe, que o acha pintoso

e queria ter sexo com ele. Ele disse que

se ele concordar em ter sexo com ele,

ele o ajudará a crescer na firma. É

violência sexual?

O Ricky tem 15 anos e nunca tinha transado. Um

grupo de amigos sempre riu dele dizendo que era

virgem e que por isso não era homem. Uma noite,

eles o levaram para um prostíbulo e pagaram a uma

trabalhadora de sexo para transar com ele. Ele não

queria transar, mas acabou transando com ela, porque

se sentiu pressionado pelos amigos. É violência sexual?

53

Perguntas paradiscussão

Quando Leonardo tinha 12 anos, uma

amiga de sua mãe, Alice, às vezes ficava

com ele quando seus pais saíam à noite.

Alice tem a mesma idade de sua mãe.

Uma noite, quando Leonardo foi tomar

banho, Alice entrou no chuveiro com ele.

Leonardo não sabia o que fazer. Ele ficou

parado diante dela. Ela disse para ele: “Por

que você está aí parado? Seja um homem

de verdade e transe comigo”. Leonardo

fez sexo com ela. Depois ele se sentiu

estranho, mas não sabia se podia falar com

alguém sobre isso. É violência sexual?

Pablo e Maria Helena estão casadoshá dois anos. Às vezes, Pablo chegaem casa tarde, e Maria Helena já estádormindo. Ele a acorda para ter sexocom ela. Às vezes, ela não concorda,mesmo assim Pablo força a barra etransam. É violência sexual?

defender seu ponto de vista.5- Antes de iniciar a técnica, pensar no que émais apropriado e, é claro, incluir e inventaroutras. Ler um dos parágrafos seguintes.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Assédio sexual: manifesta-se por meio de pro-postas indecorosas, falas obscenas, pressão parater relações sexuais que o outro não deseja.

Violência emocional: é aquela que se mani-festa por meio de insultos, humilhações, ame-aças, falta de atenção afetiva etc. Pode ter con-seqüências para homens e mulheres, como bai-xa auto-estima, desconfiança e insegurançaemocional.

Violência física: é aquela que se expressa pormeio de golpes, chutes, empurrões e outros atosque podem provocar lesões, pondo em perigoa saúde do homem e da mulher.

A questão de violênciasexual também traz à tonao tema de aborto econtracepção de emergên-cia, que está incluído nocaderno sobre Sexualida-de e Saúde Reprodutiva.

Folha de recursosdefinindo violência de gênero

Depois de comentar as perguntas da discussão,dependendo do grau do conhecimento, pode serinteressante conversar com o grupo sobre o quesignifica violência de gênero e as várias formas,conforme apresentado na Folha de Recursos a se-guir. Se for interessante para o grupo, também podeconvidar alguém de sua comunidade que é espe-cialista no tema de violência de gênero ou violên-

cia sexual, para falar com o grupo. Pode ser inte-ressante consultar algumas fontes de informaçãoadicionais que falam sobre as conseqüências daviolência sexual. Sabemos que muitos dos homensadultos que são violentos sexualmente tambémforam vítimas de algum tipo de violência na suainfância ou adolescência. Mostrar a importânciade identificar casos de violência sexual e outrasviolências contra crianças e adolescentes para po-der interromper o ciclo de violência sexual.

Incesto: relação sexual entre parentes consangüí-neos (pais/filhas, mães/filhos, irmãos etc).

Abuso sexual: trata de qualquer tipo de contatofísico íntimo entre um adulto e uma criança.

Estupro: uso da força física ou ameaça com in-tuito de obter relações sexuais com penetração(oral, vaginal ou anal).

Exploração sexual: exploração de crianças ejovens para a satisfação sexual de pessoas adul-tas, envolvendo atividades como prostituição epornografia infantis.

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MÓDULO 2

Da Violência paraRespeito na Relação Íntima4

Objetivo: Discutir como usamos a violência em nos-sas relações íntimas e refletir sobre o que é de fatouma relação íntima baseada no respeito.

Materiais necessários: Papel rotafólio/flip-chart.Marcadores. Fita.

Tempo recomendado: Uma hora e meia.

Dicas/notas para planejamento: Essa técnica usadramatização com personagens femininos. Se se estátrabalhando com um grupo somente de rapazes, al-guns deles podem-se mostrar relutantes em interpretaruma personagem feminina. Encorajar o grupo a ser fle-xível. Se nenhum dos jovens quiser interpretar a perso-nagem feminina, você pode pedir que eles descrevamas cenas usando o "flip chart", por exemplo. O que se

sente muito fortemente, no contexto do Brasil, ondetrabalhamos, é a impotência que os jovens sentem emresponder à violência que eles vêem outros homenspraticando. Muitos têm medo de falar sobre a violên-cia doméstica, repetindo um ditado comum no Brasilde que "em briga de marido e mulher, ninguém mete acolher". Através dessa técnica, o facilitador deve pro-curar falar sobre o silêncio e a impotência que senti-mos ao testemunharmos violência doméstica.Outracoisa que se percebe ao usar essa técnica é que osjovens no contexto onde trabalhamos têm pouco con-tato ou conhecimento de relações íntimas - seja denamoro, seja de casais adultos - com base em respeitomútuo e diálogo. O grau de conflito nas relações nodia-a-dia onde nós trabalhamos é alto, mostrando anecessidade de trabalhar com homens e mulheres parapensar a questão: como podemos formar relações en-tre os homens e mulheres com base no respeito?

1- Explicar ao grupo que o propósito é discutire analisar os vários tipos de violência que porvezes usamos nas nossas relações íntimas, ediscutir formas de mostrar e viver estas relaçõescom respeito.2- Dividir os participantes em 4 grupos (oumenos, dependendo do número total departicipantes de grupo), com um número de 5a 6 em cada, pedindo que eles criem uma

4 Quando nos referimos a relações íntimas e à intimidade, estamos querendo enfatizar as relações de namoro, de“ficar” ou seja, relações com envolvimento amoroso, afetivo e/ou romântico que pode ou não incluir envolvimentosexual. Preferimos não utilizar “relações de casal” porque nem sempre os jovens associam o “ficar”, o namorar,com uma relação estável de casal.

Procedimento

pequena história.3- Pedir a dois grupos que apresentem umarelação de intimidade – namorado enamorada, marido e mulher, ou namorado enamorado – que mostrem cenas de violência.Explicar que a violência pode ser física, masnão necessariamente. Pedir para eles tentaremser realistas, usando exemplos de pessoas eincidentes que tenham presenciado ou de que

8

55

Esta técnica usa

sociodramas para

apresentar relações de

casais, mostrando

violência e respeito.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Essa técnica tenta encorajar os jovens a discutir arealidade da violência doméstica, usando exem-plos de seu próprio contexto. Existe uma série deoutras técnicas para tratar do assunto da violên-cia doméstica disponíveis na América Latina.Muitas delas usam alguns casos e perguntam aosjovens para atribuírem valores, em uma determi-nada escala, baseado no nível de violência en-volvida. Consulte a lista de referências, caso queiraatividades adicionais sobre esse tipo de técnicas.Dependendo do grupo, pode-se encorajar osparticipantes a procurar informações adicionaissobre violência doméstica em suas comunida-

des. Pode-se ainda convidar alguém que traba-lhe com mulheres vítimas de violência domésti-ca ou um grupo de homens que trabalham comautores de violência contra a mulher. A Campa-nha do Laço Branco (White Ribbon Campaign)iniciada no Canadá e agora adotada em váriospaíses da América Latina, mencionada nas re-ferências, oferece uma série de materiais paratrabalhar o tema em escolas ou nas comunida-des com intuito de parar a violência contra asmulheres. Na América Latina, existem gruposno México, Nicarágua e Brasil listados nas refe-rências que possuem informações e desenvol-vem atividades com homens na questão da pre-venção da violência doméstica.

tenham conhecimento em suas comunidades.4- Pedir aos outros grupos para apresentartambém uma relação de intimidade, masbaseada no respeito em relação ao outro. Podehaver conflitos ou diferenças de opinião, masque mostrem respeito na relação e que nãocontenham cenas de violência. Deixar 15 a20 minutos para discutir a história ou as cenas,e pedir que apresentem ao grupo.5- Cada grupo deve ter em torno de 5 a 10minutos para apresentar suas histórias,permitindo que os outros grupos possam fazerperguntas.6- Quando todos os grupos tiverem-seapresentado, usando o “flip chart”, listar: quaissão as características de uma relação violenta?Encorajar os participantes a refletirem sobreas diversas formas de violência nas relaçõesíntimas (controle, coerção, gritos...) bem comoa violência física. Usar as histórias comoexemplo, perguntando: quais as característicasindividuais ou da própria relação nos casosque foram apresentados, que demonstraram aviolência?7- Colocando a lista na parede, começar a listaro seguinte: quais características que fazem comque uma relação seja saudável? Pedir ao grupopara pensar no que é necessário para umarelação baseada no respeito.8- Discutir as questões abaixo.

56

Os exemplos que foram usados nas históri-as são realistas? Vemos essas coisas no nos-so dia-a-dia?Para você quais as causas da violência do-méstica ou da violência na relação?Somente o homem usa violência física con-tra a mulher?Quando você vê esse tipo de violência, o quevocê normalmente faz? O que poderia fazer?Os exemplos de uma relação saudável queforam mostrados nas histórias são realistas?É possível construir uma relação baseadano respeito? A gente vê isso no nosso coti-diano?Que podemos fazer individualmente paraconstruir relações de intimidade saudáveis?

Perguntas paradiscussão

MÓDULO 2

Homofobia: Homem PodeGostar de Outro Homem?5

Objetivo: Promover uma reflexão sobre homossexu-alidade e homofobia, procurando sensibilizar os par-ticipantes a uma maior aceitação da diversidade se-xual humana.

Materiais necessários: Papel rotafólio/flip-chart.Marcadores. Fita.

Tempo recomendado: Uma hora.

Dicas/notas para planejamento: Essa técnica promo-ve uma discussão sobre temas que são consideradostabu em grande parte do mundo, ou que são nega-das, ou que invoca raiva e rejeição. O facilitador quevai discutir esses temas deve, ele mesmo, examinarsuas opiniões e atitudes sobre diversidade sexual eorientação sexual. Embora introduzindo o tema dehomofobia e respeito para as diferenças em vários

momentos e técnicas desse manual, percebemosmudanças de atitude. O facilitador deve procurarmanter a postura de defender o respeito para compessoas de todas orientações sexuais, mas fazer istosem censurar os jovens, escutando os seus comentá-rios - mesmo quando homofóbicos - e questionando-os, mas sem julgá-los.

Pergunta-se se esta técnica cabia no manual de vio-lência. Mas, como foi mencionado no Módulo 1,existem numerosos exemplos do uso de violênciacontra gays, bissexuais e lésbicas em várias partesda América Latina. A homofobia é espalhada, e éum aspecto fundamental do machismo, sendo usa-do para encorajar os rapazes a ser violentos paranão ser rotulados de gays. Mesmo quando a violên-cia física não ocorre, muitos indivíduos de orienta-ção gay ou bissexual são objeto de ridicularização,escárnio ou discriminação.

5 Esta técnica foi adaptada da técnica “La historia sin fin,” do manual “Esto es cosa de hombres o de mujeres,” deMEXFAM. Veja no Módulo 3 para a referência completa e para informações sobre como conseguir uma cópia.

9

57

Esta técnica procura

sensibilizar os participantes

a respeitar as preferências

sexuais de cada um,

utilizando estudos de caso.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Miguel tem um amigo chamado

Sammy (um jovem da sua idade)

por quem está atraído. Miguel sem-

pre está sozinho, sem garotas. Ape-

sar de já ter transado, ele nunca se

apaixonou de fato. Ele não sabe ao

certo o que isso significa...

Joana é lésbica, e não escondeisso. Ela deixa claro para seusamigos, garotas e garotos, queé lésbica e freqüentemente usabroches e camisetas que falamsobre o direito dos gays. Umavez ela estava indo para casa ànoite, quando um grupo derapazes a estava esperandoperto de casa. Um deles disse:“É ela. É lésbica”. Então, ....

1- Explicar ao grupo que o propósito daatividade é discutir e analisar a homofobia.Pedir ao grupo para definir homofobia.2- Explicar ao grupo que você irá discutir exemplosde homens e mulheres jovens representantes dediversas orientações e práticas sexuais.3- Formar um círculo com todos os participantes.Explicar ao grupo que você irá começar uma

Procedimento

Exemplos de histórias

história e que eles poderão inventar o resto.Introduzir o primeiro caso e seguir o círculoperguntando a cada uma para adicionar detalhesà história. Você pode parar a cada história eperguntar ao grupo: é um fato realista? Por quevocê acha que o grupo conduziu a história dessamaneira? (pela natureza dos temas, prefere-se nãoapresentar como uma dramatização, mas emalguns grupos se pode construir uma história erepresentá-la. A idéia é que cada um coloquedetalhes na história inicial).4- Discutir as questões a seguir:

Aos 17 anos, Fernando achou queera bissexual. Ele gostava de sexocom garotas e com garotos. Umanoite, seu pai o viu abraçandooutro rapaz, e quando Fernandochegou em casa seu pai começoua gritar com ele...

58

Uma noite quando ele estava passeando

na praia com um grupo de amigos, Luis

ficou na mesma barraca que seu amigo,

Guilherme. Eles tomaram umas cervejas

antes de ir para a barraca. Luis sempre se

considerou heterossexual. Estava

pensando em sexo com sua namorada e

ficou excitado quando foi para a barraca.

Quando Guilherme viu que Luis estava

excitado, começou a ....Aos 18 anos, Tomas teve sua primeira

experiência sexual com outro homem,

e a partir de então, ele sabia que era

gay. Teve muitos parceiros até conhecer

José. Eles ficaram juntos por muito

tempo, quando decidiram contar para

suas famílias e viverem juntos...

Uma noite, Beto tinha saído comum grupo de amigos, todos damesma turma no colégio. Umdeles, Rogerio, disse: “Vamosbater em umas bichas por aí. Viuns travestis na praça. Vamos!” Eentão ...

MÓDULO 2

Esses exemplos são realistas? Vemos essesfatos na vida real?Qual a diferença entre lésbica, gay ebissexual?Uma pessoa pode ter relações com umapessoa do mesmo sexo e ser heterossexual?Por que é difícil para muitas pessoas aceitara homossexualidade ou o comportamentohomossexual?Que tipo de violência contra gays oulésbicas você já viu ou ouviu falar?O que você pensa deste tipo de violência?Você já foi chamado de gay por algum deseus colegas por não fazer alguma coisa,como brigar? O que você acha disso?

Essa técnica encontra-seneste caderno por ser ahomofobia uma forma deviolência de gênero.Mas, ela também é rele-vante para os cadernos“Sexualidade e SaúdeReprodutiva” e “Preve-nindo e Vivendo comHIV/AIDS.”

Perguntas paradiscussão

59

Alguns grupos de homens jovens podem negar aexistência de comportamento homossexual ou deindivíduos gays ou bissexuais em suas comunida-des. Explicar ao grupo que o comportamento ho-mossexual tem sido registrado em quase todo omundo e que entre 10 e 15% de homens adultos ejovens entrevistados em vários países da AméricaLatina disseram que fizeram sexo pelo menos umavez com outro homem - incluindo aqueles que sereconhecem como heterossexuais.

Pode-se também trazer exemplos de organiza-ções ou campanhas ou ainda mecanismos legaisexistentes em algumas partes da América Latinaque trabalham com a homofobia e que promo-vem a aceitação da diversidade sexual ou os di-reitos de indivíduos gays ou bissexuais. Pode-seconsiderar ainda a possibilidade de convidar ummembro de um destes grupos ou organizaçõespara fazer uma apresentação de um grupo ousugerir que o grupo visite um deles.

Pode-se também voltar ao tema de como ahomofobia faz parte da socialização masculina.

Que Faço Quando Estou com Raiva?6

1- Comece a técnica com uma pequenaintrodução ao tema, por exemplo:

Muitos jovens e homens confundem raiva eviolência, achando que são a mesma coisa. Éimportante afirmar que a raiva é uma emoção,uma emoção natural e normal que todo serhumano sente em algum momento da vida.Violência é uma forma de expressar raiva, querdizer, é um comportamento que pode expressarraiva. Mas existem muitas outras formas deexpressar a raiva – formas melhores e maispositivas – que a violência. Se aprendermos aexpressar nossa raiva quando a sentimos, podeser melhor do que deixá-la acumular, pois muitasvezes quando deixamos a raiva acumular,tendemos a explodir.

2- Explicar ao grupo que nessa técnica, vamosfalar sobre como reagimos à raiva.

Objetivo: Ajudar os participantes a pensar sobrecomo identificar quando estão com raiva e comoexpressá-la de forma construtiva, e nãodestrutivamente.

Materiais necessários: Papel rotafólio/flip-chart. Pa-pel A4. Marcadores. Fita. Cópias da Folha de Recur-so para cada participante.

Tempo recomendado: Uma hora.

Dicas/notas para planejamento: Em geral, meninos e

homens são socializados para não falar sobre o quesentem. Quando nos sentimos frustrados ou tristes,somos encorajados a não falar sobre isso. Muitasvezes ao não falar, a frustração ou raiva se intensificaaté ser expressa via agressão física ou gritos. Essatécnica procura ajudar os jovens a pensar na questãode usar bem as palavras - sem agredir com elas - paraexpressar raiva e frustração ao invés de agressão físi-ca. Esta técnica pode ser útil e pode ser uma referên-cia para o resto do processo, já que sempre haveráconflitos no grupo. Em caso de conflitos, o facilitadorpode lembrar: "Use palavras, mas sem agredir".

6 Esta técnica foi adaptada do manual, “Learning to Live without Violence: A Handbook for Men,” Volcano Press,1989. Para pedir uma cópia do manual e ver a referência completa, consulte o Módulo 3 deste caderno.

Procedimento3- Entregar para cada participante uma Folhade Recursos (a seguir). Lendo cada pergunta,fazer que os participantes respondam àsperguntas individualmente, dando-lhes 2-3minutos para cada pergunta.4- Ao terminar de preencher a folha, dividir ogrupo em grupos pequenos de 4-5 participantesno máximo. Em pequenos grupos, pedir queeles comentem, dando um tempo para cada umcontar o que escreveu para os outros do grupo.Dar 20 minutos para este trabalho em grupo.5- Com os participantes ficando nos pequenosgrupos, entregar para cada grupo uma folha depapel rotafólio e pedir que faça uma lista de:

A) Formas negativas de como reagimos quandoestamos com raivaB) Formas positivas de como reagimos quandoestamos com raiva

10

60

Esta técnica procura

fazer com que os jovens

reconheçam quando

estão com raiva e como

expressá-la.

MÓDULO 2

6- Dar aos grupos 15 minutos para fazer umalista de coisas, e depois pedir que cada grupoapresente suas respostas ao grupo grande.7-É bem provável que estejam na lista de “FormasPositivas” as táticas de: (1) dar uma volta; e (2)usar palavras para expressar o que sentimos semagredir. É importante ressaltar que dar uma voltanão significa sair de carro (se for o caso) em altavelocidade expondo-se a riscos ou ir para umbar ingerir bebidas alcoólicas. Se estas duastáticas propostas aqui não estiverem emnenhuma das listas apresentadas, explique-aspara o grupo. Em suma:

Dar uma volta é simplesmente sair da situaçãode conflito e raiva sair de perto da pessoa dequem está sentindo raiva. Pode contar até 10,respirar profundamente, andar um pouco oufazer outra atividade física, procurando esfriara cabeça e ficar calmo. Geralmente, éimportante para a pessoa que tem raivaexplicar para o outro que vai dar uma voltaporque está com raiva, algo como: “Estoumuito chateado agora e preciso dar uma volta.Preciso fazer algo agora como andar para nãoficar violento ou gritar. Quando estiver com acabeça fria e estiver calmo, vamos poderconversar para resolver isto.”

Usar palavras sem agredir é aprender aexpressar duas coisas: (1) Dizer para a outrapessoa o que te está chateando. E (2) dizer oque você quer da outra pessoa sem agredir ouinsultar. Por exemplo:

Perguntas paradiscussão

Em geral é difícil para os homens expres-sarem raiva sem usar violência? Por quê?Muitas vezes sabemos como sair de umconflito ou de uma briga, sem usar violên-cia, mas não o fazemos. Por quê?É possível “dar uma volta” para reduzir osconflitos? Temos experiência com essa téc-nica? Como resulta?É possível “usar palavras sem agredir”?

Eu estou com raiva porque:

61

Dar um exemplo para o grupo

Se a sua namorada chegasse tarde para umencontro que vocês marcaram, você poderiareagir gritando: “Você é uma vagabunda, ésempre isso, eu aqui te esperando.”

Ou então, procurando usar palavras semagredir, você pode dizer:“Eu estou com raiva porque você chegou tarde.Eu gostaria que você chegasse na hora ou entãoque me avisasse que ia atrasar. “

8. Discutir as questões a seguir.

Eu gostaria que você:

Se estiver com tempo, uma forma interessan-te para fechar essa técnica é pedir ao grupopara fazer sociodramas ou pensar em outrosexemplos de situações ou frases queexemplificam a diferença entre gritar ou usarpalavras que agridam e usar palavras que nãoagridam.

A técnica sobreassertividade no caderno“Razões e Emoções”também trata do tema deexpressar-se sem violência.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Folha de RecursoQue faço quando estou com raiva?

1- Pense numa situação recente quando você estava com raiva. Que aconteceu? Escrevaaqui uma pequena descrição do evento (uma ou duas frases).

2- Agora, pensando neste evento de quando você estava com raiva, tente lembrar o que vocêestava pensando e sentindo. Tente listar aqui uma ou duas sensações que você teve no seucorpo quando estava com raiva:

3- Muitas vezes depois de sentir raiva, começamos a reagir com violência. Isso pode até serantes de nos darmos conta de que estamos com raiva. Alguns homens reagem logo, gritando,jogando algo no chão, batendo. Às vezes, chegamos a ficar deprimidos, quietos, fechados.Pensando neste evento, quando você sentiu raiva, como demonstrou essa raiva? Qual foi oseu comportamento? (Escreva em uma frase ou algumas palavras como você reagiu, suasações ou seu comportamento quando estava com raiva.)

62

MÓDULO 2

1- Explicar aos participantes que o propósito éincentivá-los a discutir em grupos o que elespoderão fazer em suas comunidades para chamara atenção para a violência ou, trabalhando comoutros grupos, para reduzir a violência.

Objetivo: Encorajar os participantes a pensar numprojeto em conjunto para chamar a atenção ou redu-zir a violência na sua comunidade.

Materiais necessários: Papel rotafólio. Cópias paratodos os participantes dosestudos de casos.

Tempo recomendado: Uma hora e meia para iniciar.Em grupo, decidir por quanto tempo depois a campa-nha se mantém.

Dicas/notas para planejamento: Essa técnica trata decriar um projeto comunitário com os jovens para pro-mover a paz nas suas comunidades. Algumas das maispromissoras e bem sucedidas formas de prevenir aviolência no mundo inteiro são aquelas criadas pelospróprios jovens. Da mesma forma, como foi comen-tado no Módulo 1, os jovens que se sentem compro-

metidos com suas comunidades e escolas são menospropensos a ser violentos ou delinqüentes. Ser parteda solução é por si só uma forma de prevenção.

Depende do facilitador decidir se o grupo realmentetem condições ou está pronto para assumir uma ati-vidade desta ordem. Essa é a mais solta e flexívelde todas as técnicas deste manual. Depende de osjovens e facilitadores levarem como quiserem.Pode ser a técnica que também vai requerer outraspessoas para colaborar na sua execução. É impor-tante que o facilitador seja realista em termos detempo e recursos. Algumas organizações efacilitadores têm condições para desenvolver umprojeto comunitário, outros não. Em nossa experi-ência é importante engajar os jovens com parte dasolução, mas com realismo. É importante sonharcom esta atividade, porém com asas bemconstruídas e pensadas.

Procedimento 2- Explicar ao grupo que em várias partes dasAméricas, os próprios jovens têm colocado emprática suas idéias para chamar a atenção paraa questão da violência, por exemplo,elaborando propostas para reduzir o nível deviolência ou propor soluções.3- Explicar aos jovens que eles podem discutiralguns estudos de caso de projetos que já foram

11Cidadania: O que Posso Fazerpara Promover a Paz?

63

Esta técnica procura mostrar

exemplos do que o grupo

pode fazer em relação à

promoção da não-violência na

sua comunidade.

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

utilizados por outros jovens em outrascomunidades.4- Distribuir cópias de um ou mais estudos decaso ou incluir estudos de caso que foram feitosem seu país ou região.5- Dividir o grupo grande em pequenos grupospara discutir os casos apresentados, e pedir aosparticipantes para lê-los. (Dependendo donível de leitura dos participantes você mesmopode ler em voz alta os estudos para eles).6- Promover uma breve discussão sobre osestudos de caso, perguntando, por exemplo:a) O que você achou do caso apresentado?b) O que você acha que o jovem pode fazersobre a questão da violência?c) Quem mais poderia ser envolvido, se osjovens quisessem fazer alguma coisa sobre aviolência?7- Dividir os participantes em grupos de 5 ou6- e pedir que eles façam um “brainstorm”sobre o que eles poderiam fazer como grupo(ainda que um grupo particular), com outros

A lista de idéias pode ser oferecida como "Pla-nejamento de atividade de prevenção da vio-lência". Essa lista contém uma série de questõesque o grupo pode fazer quando planejar estaatividade. O facilitador pode determinar, duran-te o trabalho de grupo, um certo tempo paradesenvolver o planejamento feito. Em outros

Existem várias atividadessobre direitos incluídasnos outros manuais quetambém podem forneceridéias sobre iniciativas ouatividades comunitáriassobre violência.

jovens em sua comunidade ou escola sobre aviolência. Peça que eles escrevam oudesenhem suas idéias num “flipchart”. Diga-lhes que as idéias não precisam estartotalmente prontas, mas que listem algumasidéias. Dê cerca de 30 minutos para ostrabalhos em grupos.8- Pedir aos grupos para retornar, e que cadaum apresente suas idéias.9- Pedir aos participantes para ajudar aidentificar, dividir as idéias em categorias, porexemplo: (1) ação política/“advocacy”; (2)campanhas de conscientização na comunidade;(3) desenvolvimento de materiais educativos ede informação; (4) execução de um plano localnas suas escolas e comunidades, etc.10- O próximo passo é estabelecer umaprioridade para as idéias. Quais delas parecemser mais fáceis no momento? Quais são as maisinteressantes? Trabalhar com o grupo paraconcentrar e dar prioridade a uma das idéias,mas deixando a decisão final para eles.

casos, o grupo pode querer encontrar-se porconta própria para finalizar o planejamento. Essatécnica é provavelmente a última a ser feita,porque depende de os participantes e dofacilitador decidirem o que e como eles farãoisso. O ponto importante para o facilitador é aju-dar os jovens a desenvolver um plano possívelde ser executado para que eles tenham uma sen-sação de completude, e não de frustração.

64

MÓDULO 2

1- Descrição (em 2 ou 3 frases, descreva seu plano)

2- ColaboraçãoDe quem mais você precisa de colaboração para tornar este plano realidade?

Como você pode assegurar este apoio e colaboração?

3- Materiais/RecursosDe que recursos você precisa para executar seu plano?

Onde e como conseguir tais recursos?

4- CronogramaQuanto tempo você precisa para executar o plano?

Passos: Liste em ordem os passos necessários para que o planejamento se realize.

5- Avaliação:Como saber de que forma seu plano está funcionando?

Que expectativas você tem como resultado de sua atividade?

6- Riscos:Quais as coisas que poderão dar errado?

Folha de Recurso“Planejando uma atividade de prevenção

de violência”

65

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

1- Projeto Jovem para JovemHá comunidades na América Latina onde existem grupos armados de tráfico de drogas, que àsvezes determinam regras de convivência. Num projeto com jovens numa comunidade destetipo, eles escreveram uma peça sobre violência doméstica e um rap sobre a violência. Elesvêm apresentando esta peça em escolas, em seminários sobre juventude, para políticos ligadosà questão da violência doméstica, e profissionais de saúde.

2- Projeto em New York (NYC): “O que a juventude de NYC sabe sobre a violência”Um grupo de escola secundária em NYC desenvolveu um folder que de um lado era umabomba que dizia: “O que a juventude de NYC sabe sobre a violência”; no outro lado, era umalâmpada que dizia: “O que a juventude de NYC sabe sobre o fim da violência”. Este folder foidistribuído em escolas e para os políticos locais como uma forma de promover a discussãosobre as causas e as possíveis soluções para os problemas da violência.

3- Promotores da PazEm várias escolas em alguns países na América Latina, alguns jovens são treinados a ser agentesmultiplicadores para resolução de conflitos e promoção da paz. Em algumas escolas, os própriosalunos elegem os “promotores”. Será que algo assim podia funcionar na sua escola?

Estudos de Casos

66

MÓDULO 3

Onde procurar mais informação.

Onde

3

67

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Este módulo traz algumas descrições demateriais, sites e organizações quepodem fornecer mais informações sobreo tema de violência e homens jovens.

Também incluímos neste módulo umestudo de caso sobre o trabalho direto ea experiência do Instituto PROMUNDOna área de prevenção de violência,incluindo violência de gênero, comhomens jovens.

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MÓDULO 3

1- TextosrecomendadosMcAlister, A. (1998). La violencia juvenil enlas Americas: Estudios innovadores deinvestigacion, diagnostico y prevención.Organización Panemaricana de la Salud:Washington, DC.Revisão de pesquisas sobre violência juvenil naregião das Américas. Descrição de exemplosde programas de várias partes da região. Dadosestatísticos úteis e uma extensa bibliografia.Cópias disponíveis em inglês e espanhol, semnenhum custo, podem ser solicitadas a:

OPS, Programa de Familia y Poblacion,525 Twenty-third Street, NW, Washington, DC,20037, USATel: (202) 974-3086Fax: (202) 974-3694E-mail: [email protected]

Fontes, M., May, R., Santos, S. (1999) Cons-truindo o ciclo da Paz. Brasília, Brasil: Insti-tuto PROMUNDO. Coleção Promundo.Discussão das causas da violência segundo ummodelo ecológico, com sugestões de promoçãode paz em escolas e com exemplos de progra-mas que trabalham com a questão da prevençãoda violência no Brasil e em outras partes da Amé-rica. Cópias podem ser obtidas com o InstitutoPROMUNDO (ver o endereço na contracapa).

Heise, L. Ellsberg, M. & Gottemoeller, M.Ending Violence Against Women. PopulationReports, Series L, No. 11, Baltimore: JohnsHopkins University School of Public Health,December, 1999.Revisão internacional de dados sobre violên-cia contra a mulher e apresentação de progra-mas e políticas pertinentes. Disponível em in-glês, espanhol e francês.

Contato: Population Information ProgramCenter for Communication ProgramsThe Johns Hopkins University School of PublicHealth,111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Md 21202USA.

Barker, G. (2000) What about Boys? ALiterature Review on the Health andDevelopment of Adolescent Boys. WorldHealth Organization, Geneva.Esta revisão da literatura apresenta dados detodo o mundo sobre a saúde e o desenvolvi-mento de homens adolescentes, incluindodados de pesquisas sobre violência e homensadolescentes. Disponível em inglês, francês eespanhol.

Contato: Department of Child and Adolescent Healthand Development, WHO20 Avenue Appia, 1211, Geneva 27, SwitzerlandTel: (41 22) 791-2632Fax: (41 22) 791-4853E-mail: [email protected]: www.who.int/child-adolescent-health

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Men as Partners: A Program forSupplementing the Training of Life SkillsEducators. Guide for MAP Master Trainersand Educators. New York: AVSC Internationaland the Planned Parenthood Association ofSouth Africa, 1999.Manual de treinamento para trabalhos com ho-mens, em equidade de gênero e saúde, com umagrande parte dedicada à prevenção da violên-cia doméstica com homens. Fornece dados úteissobre o tema, bem como atividades para engajaros homens em discussões sobre violência do-méstica. Disponível em inglês.

Contato: Engender Health (anteriormente AVSCInternational)79 Madison Ave. New York, NY, 10016, USATel: (212) 561-8000Fax: (212) 779-9489E-mail: [email protected]: www.engenderhealth.org

Life Planning Education/Adolescencia Epoca dePlanejar a Vida/Como Planear Mi Vida (1992)Manual com uma série de dinâmicas relacio-nadas a planejamento de vida, tomada de de-cisões, comunicação, valores, gênero, sexua-lidade e prevenção do HIV/AIDS, testadas emcinco países da América Latina e disponívelem inglês, espanhol e português.

Contato: Advocates for Youth1025 Vermont St., NW, Suite 200, Washington, DC,20005, USATel: (202) 347-5700Fax: (202) 347-2263Website: www.advocatesforyouth.com

Esto es cosa de hombres o de mujeres? Series:Hablemos de género. Aguilar, J. & Hernandez,B. México: MEXFAM, 1998.Manual testado com jovens do México parapromoção de discussões sobre gênero, sexua-lidade, violência de gênero e homofobia. Con-tém mais de 30 dinâmicas para serem feitascom grupos de jovens, tanto em grupos só derapazes e só de meninas, como em gruposmistos. MEXFAM também produziu um vídeocom o mesmo nome que acompanha o ma-nual. Para obter uma cópia contate:

MEXFAMJuarez 208, Tlalpan, C.P. 14000, Mexico, DF, MexicoTel. (525) 573-7100Fax. (525) 573-2318E-mail: [email protected]

Manual de identificación y promoción de laresiliencia en niños y adolescentes. Munist,M., Santos, H., Kotliarenco, M., Ojeda, El,Infante, F. & Grotberg, E. Washington, DC:PAHO, 1998.Apresenta uma série de dinâmicas para traba-lho direto com crianças e adolescentes na pro-moção de resiliência, que pode ser considera-do um importante fator na prevenção de vio-lência. Disponível gratuitamente em inglês eespanhol.

OPS, Programa de Familia y Poblacion,525 Twenty-third Street, NW, Washington, DC,20037, USATel: (202) 974-3086Fax: (202) 974-3694E-mail: [email protected]

Aprendendo a ser e a conviver. Serrão, M. &Baleeiro, M. Salvador: FTD & FundaçãoOdebrecht, 1999.Manual com atividades para formação de gru-pos, promoção de liderança, protagonismojuvenil, sexualidade e projeto de vida. Dispo-nível somente em português.

Contato: Fundação OdebrechtAv. Tancredo Neves, 450, Ed. Suarez Trade,33º andar – Caminho das Árvores,41827-900, Salvador, BA, BrasilTel: (71) 340-1556/1423Fax: (71) 340-1668E-mail: [email protected]

Choose a Future: Issues and Options forAdolescent Boys. A Sourcebook ofParticipatory Learning Activities. Washington,DC: Centre for Development and PopulationActivities (CEDPA), 1998.Manual com mais de 50 atividades de grupopara trabalho com homens adolescentes so-bre gênero, valores, relações interpessoais, fa-mílias, participação comunitária, saúde, tra-balho e meio ambiente. Disponível somenteem inglês. Foi desenvolvido principalmentepara uso em países africanos, mas traz exem-plos interessantes de atividades que podem seradaptadas para a região da América Latina.

Contato: CEDPA1400 16th Street, NW, Suite 100, Washington, DC,20036, USAE-mail: [email protected].

2- Manuais

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MÓDULO 3

White Ribbon Campaign: Men AgainstViolence Against Women. Education andAction Kit. Toronto: White Ribbon Campaign.Este manual contém uma série de atividadeselaboradas para professores executarem comjovens em escolas sobre o tema violência do-méstica e violência nas relações íntimas, comotambém começar uma campanha contra es-ses tipos de violência em suas escolas ou co-munidades. Disponível em inglês, mas algunsmateriais podem ser encontrados em espanhol.

Contato: The White Ribbon Campaign365 Bloor Street East, Suite 1600, Toronto, ONT,M4W 3L4, CanadaE-mail: [email protected]: www.whiteribbon.ca

Learning to Live without Violence: AHandbook for Men, Daniel Jan Sonkin &Michael Durphy, Volcano Press, USAEste manual em inglês contém uma série dedinâmicas elaboradas para homens adultos nasáreas de prevenção de violência doméstica eadministração de raiva. Ainda que elaboradaspara homens adultos, muitas das atividades sãoúteis para trabalho com homens jovens.

Contato: Volcano Press, P.O. Box 270, Volcano, CA,95689, USATel: (209) 296-3445Fax: (202) 296-4515

3- VídeosNota: Vários dos centros de referência dispõemde vídeos e filmes não mencionados aqui. Fa-vor entrar em contato diretamente para temase títulos.

Artigo 2º (Artigo Segundo) – ECOSEste vídeo apresenta uma série de episódiosde violência do cotidiano vistos pela ótica dedois jovens. Ele chama a atenção para formasde violência que são mais sutis e que estãopresentes no dia-a-dia.

Contato: ECOS – Comunicação em SexualidadeRua do Paraíso, 592 – São Paulo/SP, 04103-001, BrasilTel/fax: (11) 3171-3315, 3171-0503E-mail: [email protected]

Esto és cosa de hombres o mujeres?Vídeo que faz parte do kit da MEXFAM men-cionado anteriormente.

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

White Ribbon CampaignCampanha internacional de homens contraviolência doméstica, com base na Canadá.

365 Bloor Street East, Suite 1600, Toronto, ONT,M4W 3L4, CanadáTel: (416) 920-6684Fax: (416) 920-1678E-mail: [email protected]: www.whiteribbon.ca

CORIAC – Coletivo de Hombres por Relacio-nes IgualitariasONG que trabalha na área da prevenção deviolência doméstica e violência de gênero comhomens adultos e jovens

Diego Arenas Guzman 189Col. Iztaccihuatl, C.P. 03520Delegacion B. Juarez, Mexico, DFTel/fax: (52 5) 5696-3498E-mail: [email protected]: www.coriac.org.mx

Central American Women’s Network – NicaráguaEste grupo procura novos caminhos para pre-venção da violência doméstica e o machismo.Elaborou um filme intitulado “Macho”. Estefilme mostra os esforços feitos na Nicaráguapara mudar as atitudes dos homens em rela-ção à violência contra a mulher.

E-mail: [email protected]: www.mailbase.ac.uk/lists/development-gender/2000-02/0004.html

OPS – Organização Panamericana de SaúdeApóia pesquisas sobre violência, incluindoviolência de gênero, e dispõem de vários do-cumentos e na área de prevenção de violên-cia com jovens.

525 Twenty-third Street, NW, Washington, DC,20037, USATel: (202) 974-3086Fax: (202) 974-3694Website: www.paho.org

OMS – Organização Mundial de SaúdeMantém uma base de dados sobre violência eprevenção de violência, incluindo violênciade gênero.

20 Avenue Appia, CH-1211,Geneva 27 SwitzerlandWebsite: www.who.int

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para aInfânciaCoordena atividades de prevenção de violên-cia contra mulheres e meninas e trabalha como tema de educação para a paz.

UNICEF House3 UN Plaza, New York, NY 10017, USAWebsite: www.unicef.org

NVPP – The Network of Violence PreventionPractionersNVPP é um membro de uma associação que con-grega profissionais que trabalham em nível local enacional nos EUA e também em nível internacio-nal na área de prevenção da violência. Para os as-sociados, existem acessos à troca contínua de in-formações, oportunidades de treinamento, pesqui-sas recentes e diálogo entre profissionais, pesqui-sadores e avaliadores de programas. Os materiaisestão disponíveis em espanhol e inglês.

Website: www2.edc.org/nnvpp

CLAVES – Centro Latino-americano de Estu-dos de Violência e SaúdeFundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional deSaúde PúblicaCentro de pesquisa que trabalha na área deviolência e prevenção, com estudos e proje-tos dedicados a violência juvenil no Brasil.

Av. Brasil 4036, sl. 702, ManguinhosRio de Janeiro, RJ 21040-361 BrasilTel: (21) 2290-4893Fax: (21) 2270-1793

Instituto NOOSONG brasileira trabalhando com homens adul-tos na prevenção da violência de gênero eintrafamiliar.

Rua Martins Ferreira, 28, BotafogoRio de Janeiro, RJ 22271-010 BrasilTel/fax: (21) 2579-2357E-mail: [email protected]

Instituto PROMUNDOONG brasileira afiliada ao JSI Research andTraining Institute, Boston, USA, que trabalhana área de pesquisas e políticas relacionadasa crianças e adolescentes. Tem várias iniciati-vas na área de prevenção de violência comhomens jovens, incluindo violência de gêne-ro. Veja estudo de caso na próxima seção.

Rua Francisco Serrador, 2/702, CentroRio de Janeiro, RJ 20031-060 BrasilTels: (21) 2544-3114, 3115Fax: (21) 2220-3511E-mail: [email protected]: www.promundo.org.br72

4- Websites e Centrosde Referência

MÓDULO 3

IntroduçãoNos últimos anos, muitos dos programas quetrabalham com jovens na região das Américastêm sido chamados de “prevenção deviolência”. Programas que trabalham comesportes, atividades culturais ou outrasatividades recreativas associadas ou não coma escola podem de fato prevenir a violência.Oferecer aos jovens, particularmente aoshomens jovens, espaços para interação deforma positiva e pró-social é de vitalimportância. O que deve ficar claro é que nem

todos os programas que se identificam como“prevenção de violência” utilizam o que sesabe das pesquisas sobre violência, e procuramprevenir a violência com essas informações ea participação dos jovens. Além disso, apesarde existirem vários programas importantes naárea de prevenção de violência, apenas algunspoucos têm um olhar para a questão do gênero(particularmente a forma como os meninos sãosocializados) e da violência. Se sabemos queos rapazes cometem mais violência, devemosentão pensar na conexão que existe entre aforma como eles são socializados em relaçãoao gênero e à violência. 73

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

tituto PROMUNDO, tal iniciativa está interligan-do homens idosos de duas comunidades de bai-xa renda com homens jovens das mesmas comu-nidades, com o objetivo de prevenir a violência efortalecer a comunidade. Quando perguntado aosjovens o que eles queriam ouvir dos homens ido-sos, eles disseram: “Ouvir as histórias de sua vida”.Outro jovem disse: “Estes homens idosos são le-gais”. Através de dinâmicas de interação e convi-vência, os homens jovens e adultos trabalham jun-tos para planejar e desenvolver atividades de pre-venção da AIDS e prevenção da violênciaintrafamiliar na comunidade.

Produção de materiais sobre a prevenção deviolência, e capacitação de profissionais que tra-balham com jovens. Além desta ação direta comjovens em comunidades de baixa renda no Riode Janeiro, o PROMUNDO vem produzindomaterial sobre violência e jovens, que inclui:

Construindo o Ciclo da Paz (veja na lista derecursos)What about Boys? (veja na lista de recursos,produzido por PROMUNDO para a OMS)A cartilha “Esfria a cabeça rapaz: uma cartilha pararapazes sobre violência contra mulheres”, elabo-rado por e para rapazes sobre violência de gênero.

Formando e fortalecendo redes comunitárias eentre organizações. PROMUNDO vem colabo-rando com várias organizações parceiras – entreelas a Coordenação de Estudos e Pesquisas sobrea Infância/Universidade Santa Úrsula e o InstitutoNOOS – na formação e fortalecimento de redescomunitárias, seja a favor de crianças e jovens,seja para prevenção da violência intrafamiliar. Essaestratégia procura engajar e fortalecer o que ascomunidades já fazem ou podem fazer para pre-venir a violência. PROMUNDO também fun-dou no Brasil, junto com outras ONGs, a Campa-nha do Laço Branco – movimento de homens pelofim da violência contra a mulher.

Conduzindo pesquisas sobre violência de gê-nero e homens. PROMUNDO, junto com oInstituto NOOS, vem conduzindo várias pes-quisas – quantitativas e qualitativas – sobre ho-mens e violência de gênero, utilizando essa in-formação para criar estratégias de prevenção.

Desde 1998, o Instituto PROMUNDO, umaONG que trabalha na área social no Brasil, vemtrabalhando o tema de prevenção de violência,incluindo violência de gênero, com homens jo-vens. Os componentes do programa incluem:

O Projeto De Jovem para Jovem, coordenado peloInstituto PROMUNDO e o Grupo ConsciênciaMasculina, promove treinamento de homens jo-vens entre 15 e 21 anos de duas comunidades debaixa renda no Rio de Janeiro para atuar comopromotores juvenis nas áreas de saúde sexual ereprodutiva e na prevenção da violência domésti-ca. Pesquisa anterior realizada com homens jovensmostrou fatores associados à demonstração de ati-tudes mais equitativas de gênero entre eles. Essesfatores foram incorporados no desenho do proje-to, promovendo reflexões sobre os “custos” de ver-sões tradicionais de masculinidade, incluindo osimpactos nas famílias da violência de homens con-tra mulheres. O recrutamento seletivo destes pro-motores foi uma importante estratégia do projeto.Foram selecionados aqueles jovens que mostra-vam atitudes mais equitativas de gênero, que de-monstravam respeito na relação com suas namo-radas e companheiras, que acreditavam que na par-ticipação masculina no campo da saúde sexual ereprodutiva e que tomavam atitude contra a vio-lência dos homens contra as mulheres. Assim seconstituem num exemplo positivo para outros ho-mens. Os rapazes escreveram e produziram umapeça sobre a violência contra a mulher e elabora-ram uma fotonovela “Esfria a cabeça, rapaz!”, coma qual se vêm apresentando em escolas, encontrosde jovens, e centros de saúde nas próprias comu-nidades. Até o final de 2000, a peça tinha sidoapresentada a mais de 1000 pessoas no Rio deJaneiro e São Paulo, e ganhou um prêmio da Uni-versidade de São Paulo, como intervenção na áreade violência intrafamiliar.

Projeto de “Mentores”. Reconhecendo que paramuitos rapazes faltam “modelos” ou referênciasmasculinas positivas, esta iniciativa tem procura-do estabelecer o contato dos jovens com homensadultos nas mesmas comunidades. Coordenadapelo Instituto NOOS em colaboração com o Ins-

As Iniciativas

74

MÓDULO 3

As iniciativas do PROMUNDO na área de prevenção de violência têm sidofruto de pesquisas anteriores com jovens. Especificamente, procuramos atra-vés destas pesquisas, identificar os caminhos da paz – seja entre rapazes,seja entre eles e as mulheres – em comunidades violentas. Partimos, não deuma perspectiva de déficit, mas de uma perspectiva de que existe em todacomunidade – por mais violenta que seja – homens jovens que procurampromover a paz, e não a violência. Ou seja, mesmo em contextos em que aviolência é generalizada e em que violência contra a mulher é considerada“normal”, existem jovens que questionam esta violência e acreditam emversões “alternativas” de masculinidade. Esses homens jovens e adultospodem e devem ser considerados aliados na prevenção de violência, comopossíveis modelos, como promotores juvenis ou como mentores. É exata-mente este o caminho que o PROMUNDO vem trilhando no trabalho deprevenção da violência – inter e intragênero.

Conclusões

75

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

76

BEMFAM - Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no BrasilÉ uma organização não governamental, de açãosocial, sem fins lucrativos. Atua prestando servi-ços à população em 14 Etados do país, através dePogramas Estaduais, Clinicas de SaúdeReprodutiva, Laboratórios de Citopatologia e Aná-lise Clínicas. Desenvolve pesquisas na área dedemografia e saúde e presta assessoria técnica aórgão governamentais e não- governamentais. Éuma ONG comprometida com o Plano de Açãode Cairo, especialmente na promoção dos direi-tos sexuais e reprodutivos, na difusão da qualida-de dos serviços sob a perspectiva da equidade degênero.Avenida República do Chile 230 - 17º andar20031-170 - Rio de Janeiro - BrasilTel: (21) 2210-2448Fax: (21) 2220-4057E-mail: [email protected]: www.bemfam.org.br

INPPARES - Instituto Peruano de PaternidadResponsableINPPARES (Instituto Peruano de PaternidadResponsable) é uma organização não-governamen-tal, cuja missão é contribuir para a melhoria da qua-lidade de vida das pessoas, especialmente aquelasde classes social e econômica menos favorecidas,oferecendo-lhes educação e serviços integrais comênfase na saúde sexual e reprodutiva.Suas ações são voltadas para mulheres e homens, in-cluindo populações em situações de risco como cri-anças, adolescentes, jovens e adultos. Possui sede nasprincipais cidades do Peru e seu trabalho inclui temasrelacionados à prevenção de DST/Aids e à violência,com enfoque de gênero e de direitos sexuais ereprodutivos. INPPARES é o membro peruano da IPPF(International Planned Parenthood Federation).115 Gregorio EscobedoJesús María, Lima, Peru.Tel: (511)261-5522, 261-5533, 463-5778Fax: (511)261-7885E-mail: [email protected]: www.inppares.org.pe

MEXFAM - Fundación Mexicana para la PlaneaciónFamiliarMEXFAM (Fundación Mexicana para la PlaneaciónFamiliar) é uma associação civil, dirigida por volun-tários, e sem fins lucrativos, especializada em difun-dir a prática da regulação voluntária da fecundidadeentre os setores mais necessitados da populaçãomexicana: os mais pobres, tanto nas áreas urbanasquanto nas rurais, os jovens e os homens.Foi fundada em 1965 e é o membro mexicano daIPPF. Sua missão é proporcionar serviços de van-guarda e de qualidade nas áreas de planejamentofamiliar, saúde e educação sexual, de maneiraprioritária a população mais vulnerável do México.Juárez 208, Tlalpan - C.P. 14000, México D.F.Tel: (52 015) 573-7100Fax: (52 015) 57-2318 / 655-1265E-mail: [email protected]: www.mexfam.org.mx

PROFAMILIAPROFAMILIA é uma entidade privada, sem fins lu-crativos e que desde sua fundação, há mais de 35anos, se propõe ao bem-estar da família colombianaem especial, da população de mais baixos recursos.Por sua eficiência, na qualidade de prestação de ser-viços e de sua missão filantrópica, PROFAMILIA járecebeu inúmeras distinções nacionais e internacio-nais, e é considerada um modelo de excelência noâmbito mundial de programas de planejamento fa-miliar e saúde sexual e reprodutiva, sendo a primeirainstituição deste tipo na América Latina. Atualmenteconta com 35 centros situados nas principais cidadesdo país, nos quais oferece programas clínicos, cirúr-gicos e educativos em saúde sexual e reprodutiva amulheres, homens e adolescentes a partir dos 13 anosde idade. Em cinco centros são oferecidos serviçosde consultoria jurídica. PROFAMILIA é o membrocolombiano da IPPF.Calle 34 N. 14-52 - Bogotá, ColômbiaTel: (571) 339-0948Fax: (571) 339-0946E-mail: [email protected]: www.profamilia.org.co

MÓDULO 3

77

Save the Children - USSave The Children é uma organização internacio-nal sem fins lucrativos, sem inclinação política nemreligiosa. Foi fundada nos Estados Unidos em 1932.Trabalha em 40 países em desenvolvimento na Áfri-ca, Ásia, Europa e América Latina, fortalecendoprocessos compartilhados com as próprias comu-nidades, com intuito de lograr sucesso e obter me-lhores níveis de saúde e educação.Na Bolívia, conhecida pelo nome de Desenvolvi-mento Juvenil Comunitário (DJC), existe desde1990. Todas suas atividades estão dirigidas ao cum-primento de sua missão institucional que consisteem “estabelecer trocas positivas e duradouras nasvidas das crianças e jovens em situação de desvan-tagem, incluindo também suas famílias”.Calle Luis Crespo, 2031Casilla 15120La Paz, BoliviaTel: (591) 241-3011, 591 241-2839Fax: (591) 231-2455E-mail: [email protected]: www.savethechildren.org

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

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12 -Gonçalves de Assis, S. (1997). Crescer semviolência: Um desafio para educadores.Brasília: Fundação Oswaldo Cruz/EscolaNacional de Saúde Pública.

13- Hawkins, D. (1996). Ethnicity, Race, Class

MÓDULO 3

79

and Adolescent Violence. Boulder, Colorado:Center for the Study and Prevention ofViolence, Institute for Behavioral Sciences,University of Colorado, Boulder.

14- Heise, L. (1994). Gender-based abuse: Theglobal epidemic. Caderno de Saúde Pública,Rio de Janeiro 10 (Supl. 1). 1994. 135-145.

15- Lundgren, R. (1999). Research protocolsto study sexual and reproductive health of maleadolescents and young adults in Latin America.Prepared for Division of Health Promotion andProtection, Family Health and PopulationProgram, Pan American Health Organization,Washington, D.C.

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18- Minayo, C., Assis, S., Souza, E., Njaine, K.Deslandes, S. et al (1999). Fala galera:Juventude, violência e cidadania na Cidade doRio de Janeiro. Rio de Janeiro: UNESCO.

19- Ruzany, M., Peres, E., Asmus, C., Mathias,C., Linhales, S., Meireles, Z., Barros, C., Castro,

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DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

80

Todas estas atividades foram testadas, emcinco países da América Latina, com 172 ho-mens jovens entre 15 e 24 anos, em colabora-ção com IPPF/WHR:

a) INPPARES, em Lima, Peru;b) PROFAMILIA, em Bogotá, Colômbia;c) MEXFAM, México, DF;d) Save the Children, em Oruro, Bolívia;e) BEMFAM, Rio Grande do Norte, Cea-rá e Paraíba, Brasil.

Em termos de resultados qualitativos da provade campo, foram destacados os seguintes pontos:

Primeira participação em grupos so-mente de homens. Em diversos locais, osparticipantes mencionaram que foi a pri-meira vez que trabalharam em grupos so-mente de homens. A maioria elogiou essetipo de trabalho somente com homens. Dis-seram que conseguiram falar sobre emo-ções, o que geralmente em grupos mistosnão acontecia.

Aumento de empatia e atenção comos outros. Em termos de resultados positi-vos, um dos homens jovens disse que de-pois de participar das técnicas: “... nós nosvimos nos olhos do outro...”. Muitos parti-cipantes mencionaram que haviam refleti-do sobre os aspectos positivos da atençãoe cuidado com os outros e questionarampor que os homens não cuidam mais daspessoas e coisas que os cercam.

Questionamento do machismo. Umdos participantes disse que as técnicas oajudaram a quebrar a “armadura de ser umhomem”. Um outro disse que: “Nós come-çamos a reconhecer o nosso própriomachismo. Reconhecemos que todos nóssomos machistas”.

Reflexões sobre paternidade. Muitosgrupos elogiaram o fato de se falar sobre osignificado de ser pai, particularmente o sig-nificado de seus próprios pais para eles, algoque eles nunca haviam feito.

Mencionar o grupo aos seus amigos.Como um resultado indireto dos grupos,muitos participantes disseram que comen-taram sobre o grupo com outros homensjovens de seu círculo de amizade.

Reconhecimento do ciclo da violência.Em um dos locais do teste de campo, os par-ticipantes disseram num grupo focal deavaliação que após sua participação nas téc-nicas, perceberam a conexão entre a violên-cia que assistiram ou experimentaram e aviolência que praticavam. Um dos rapazesdisse que passou a ver a ligação que existiaentre a violência que sofrera de seus pais eo fato de cometer violência contra seu ir-mão menor.

Mudança no estilo de interação en-tre os rapazes. Em um dos locais da provade campo, um rapaz disse que as técnicaspropiciaram uma mudança na forma de fa-lar e de interagir com outros rapazes, sain-do de uma relação de competitividade eameaças para uma relação de honestidadee respeito.

Em termos de recomendações ou as-pectos que precisam ser melhorados, foimencionado:

O período de tempo. Quase em to-dos os locais mencionaram que o tempo foimuito curto para a complexidade dos temasapresentados. Tanto os rapazes como osfacilitadores demandaram por mais tempo.

Usar as atividades somente com gru-pos de rapazes e em grupos mistos. Muitosfacilitadores notaram que as atividades po-dem ser ajustadas facilmente para gruposde meninas e mistos.

Adaptar ao contexto local. Em todosos locais, foi recomendado que as ativida-des sejam adaptadas ao contexto local.

Mais tempo em grupos somente dehomens. Em vários locais, um interessegrande nos temas fez com que os rapazesrequisitassem mais grupos. Em quase todos

Prova de Campo dos CadernosSérie “Trabalhando com Homens Jovens”

MÓDULO 3

81

os locais, os rapazes afirmaram que gos-tariam de ter mais tempo nesse tipo de gru-po para continuar e aprofundar as discus-sões sobre gênero, masculinidade, violên-cia, sexualidade e relacionamentos.

Mais temas. Em termos de temas adi-cionais que quiseram incluir, muitos gru-pos sugeriram aqueles relacionados ao re-lacionamento de casal. [Respondendo aesta demanda, as organizações colabora-doras estão planejando uma série de ma-nuais sobre relacionamentos].

Capacitação para facilitadores. Os10 facilitadores que executaram o teste decampo das técnicas não receberam nenhumtipo de treinamento prévio na utilização dosmateriais. Eles receberam os manuais, emsua versão preliminar, e aplicaram as téc-nicas. Embora todos reconhecessem queeram capacitados para as aplicarem, todosafirmaram que era preferível a capacitação,particularmente para ajudar os facilitadoresa refletir sobre seus próprios valores sobrehomens, gênero e masculinidades. [Comoresposta a esta demanda, as organizaçõescolaboradoras estão promovendo uma sé-rie de workshops na utilização destes ma-teriais, ainda que estes materiais possam seradquiridos e utilizados sem a necessidadede participação nestes workshops.].

Tomar cuidado com o “discurso po-liticamente correto”. Os facilitadores men-cionaram que às vezes percebiam que osrapazes não estavam de fato refletindo so-bre os temas tratados nas técnicas, mas queestavam simplesmente falando aquilo queos facilitadores gostariam de ouvir. Eles su-geriram que, falando como facilitadores, emestar trabalhando mais tempo com os jo-vens para ultrapassar esta etapa do discur-so “politicamente correto”.

Fornecer mais informações atravésde apresentações audiovisuais. Muitosfacilitadores disseram que além das técni-cas, seria útil considerar o uso de apresen-tações básicas com informações sobre vá-rios temas como violência, gênero, uso dedrogas, sexualidade, HIV/AIDS como umcomplemento.

Em termos de resultados quantitativos, foiusado um instrumento simples de pré e pósteste para avaliar as mudanças de atitudes e

de conhecimentos após participação nas téc-nicas. Por conta de que diferentes técnicasforam testadas em diferentes contextos, e onúmero de participantes em cada um foi limi-tado, as mudanças avaliadas devem ser consi-deradas preliminares. Além disso, o fato de queo pós-teste foi aplicado imediatamente após aparticipação nas técnicas, não podemos afir-mar mudanças de atitude a longo prazo. Ain-da assim, podemos observar mudanças base-adas nas questões que se seguem. Cada umadestas perguntas foi apresentada como as op-ções: concordo plenamente, concordo mais oumenos, não concordo, não sei.

1- “O homem tem que ter muitas mulherese divertir-se muito antes de constituir umafamília.”Houve uma significativa alteração nospercentuais de “não concordo”, sugerindo quealgum questionamento da percepção tradicio-nal que os homens devem ter muita experiên-cia sexual.

2- “O pai que é jovem, sempre é irresponsá-vel e nunca assume seu filho.”Aumentou o número de “não concordo”, su-gerindo que eles perceberam caminhos em quepais jovens podem ser mais envolvidos com ocuidado de seus filhos e serem responsáveis.

3- “As etiquetas ou estereótipos que as pesso-as põem nas outras afetam o desenvolvimentopessoal e as relações humanas.”Muitos participantes concordaram com estaafirmação, sugerindo uma compreensão dofato de rotular e culpabilizar.

4- “Não há nada que se possa fazer para pre-venir a violência.”Com esta questão, houve uma significativa al-teração em “não concordo”. Eles passaram aacreditar que podiam fazer alguma coisa parareduzir a violência.

5- “Como o homem é forte, sua vulnerabilidadeem relação a AIDS é baixa”.Um aumento de respostas “não concordo” comesta afirmativa, sugere que eles são capazes deperceber o “mito da força masculina”.

6- “O preservativo diminui o prazer e poderomper-se.”

DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA

Apenas alguns rapazes concordaram comesta afirmação.

7- “As redes sociais favorecem a saúde men-tal, pois servem para desenvolver vínculosafetivos, de cuidado e de apoio.”Muitos dos rapazes concordaram com esta afir-mação, sugerindo a possibilidade de aumentodo comportamento de busca de ajuda.

8- “Se alguém me insulta, defendo minha hon-ra pela força se for necessário.”Apenas alguns rapazes concordaram, sugerin-do o questionamento da honra masculina.

9- “O corpo do homem é muito simples: pê-nis e testículos. Somente é necessário lavá-loe pronto.”

Poucos rapazes concordaram, sugerindouma maior conscientização da complexidadeda anatomia masculina.

Baseados nestes resultados iniciais do testede campo, as organizações colaboradoras es-tão planejando um estudo de avaliação deimpacto a longo prazo para medir e compre-ender o impacto em homens jovens na parti-cipação nas técnicas por um determinado pe-ríodo de tempo.

83

Ilustração

Newton Foot

Edição de arte

Gilson Nakazato

Samuel Paiva

Direção de arte

Reginaldo Bianco

Projeto editorial e gráfico

3Laranjas Comunicação

www.3laranjas.com.br

[email protected]

Rua Mateus Grou, 260 cj 06 Pinheiros

cep: 05415-040 São Paulo - SP - Brasil

Instituto PROMUNDO é uma organização não-governamental com escritórios no Rio de Janeiro e Brasíliaque procura aplicar conceitos das áreas de desenvolvimentohumano, marketing social e direitos da criança através depesquisa, apoio técnico, capacitação e disseminação deresultados de estratégias efetivas e integrais que contribuampara a melhoria das condições de vida de crianças, jovens esuas famílias. PROMUNDO executa estudos de avaliação;oferece treinamento para organizações trabalhando nas áreasrelacionadas ao bem-estar de crianças, jovens e famílias; etrabalha com organizações parceiras que desenvolvamserviços e intervenções inovadoras para crianças, jovens efamílias. PROMUNDO é uma organização não-governamental brasileira afiliada ao John Snow Research andTraining Institute e a John Snow do Brasil. Suas áreasespecíficas de atuação incluem: prevenção de violência,fortalecimento de sistemas comunitários de apoio paracrianças e adolescentes; gênero, saúde e adolescência; ecrianças e famílias afetadas pela AIDS.

Contatos: Gary Barker / Marcos Nascimento

Rua Francisco Serrador, 2 / sala 702 - CentroRio de Janeiro, RJ, 20031-060, BrasilTel: (21) 2544-3114 / 2544-3115Fax: (21) 2220-3511E-mail: [email protected]: www.promundo.org.br

A série Trabalhando com Homens Jovens, destinada aeducadores e agentes de saúde, compreende cinco cadernose o vídeo Minha Vida de João. Cada caderno é composto poruma parte teórica e uma série de técnicas participativas parafacilitar o trabalho em grupo com homens jovens (entre 15 e24 anos). No vídeo, em desenho animado, é mostrado, deforma criativa e lúdica, como os homens jovens sãosocializados e como é possível questionar as maneirastradicionais de ser homem.

Projeto H - Série Trabalhando com Homens Jovens, napromoção da saúde e da eqüidade de gênero.