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  • DA SUJEIO INSURREIO FEMININA: RENNCIA AOSPAPIS SOCIAIS PELAS JOVENS AGRICULTORAS1

    Rodrigo Kummer ([email protected])

    Universidade Paranaense (UNIPAR)

    Resumo: O presente artigo analisa o processo de modificao do comportamento das moas vinculadas as atividadesagrcolas nas ltimas dcadas. As dinmicas de sucesso e reproduo dos espaos agrcolas na regio colonial sul doBrasil sugerem uma definio dos papis masculinos e femininos. A partir da dcada de 1970 esses mecanismos deorganizao social e de sucesso dos espaos agrcolas modificaram-se. Nesses ambientes a diviso sexual dotrabalho interpe uma condio prejudicial s mulheres que somam uma dupla jornada de trabalho. Cuidam da casa,dos filhos e trabalham nas reas de cultivo. As mulheres que at ento eram segregadas aos espaos domsticos e notinham condies de renda diretamente definidas passaram a questionar os imperativos de sua posio. Semresultados efetivos as moas decidiram pelo abandono dos espaos rurais e migraram para reas urbanas. Ocorreuuma renncia ao modo de vida rural feminino. As moas cada vez mais se recusam a permanecer na estrutura agrcolae tendem a migrar. Muitas filhas no aceitam a mesma condio de vida das mes e muitas mes tambm asincentivam para que mudem de atividade. Constatou-se a partir de uma pesquisa de campo na comunidade rural deCerro Azul, municpio de Palma Sola/SC, que h um processo de modificao na forma como as moas se relacionamcom seus papis sociais definidos na unidade familiar. Ali praticamente nula a perspectiva de permanncia dasmoas, assim como entendem os demais moradores da localidade.Palavras-chaves: jovens rurais; migrao; papis sociais.

    IntroduoEntende-se que a realidade conjuntural dos espaos rurais do Brasil na

    atualidade demonstra que o nmero de habitantes tem diminudo. Entre os indivduosque deixam a zona rural a maior parte de jovens, com maior incidncia entre as jovensdo sexo feminino. Esse movimento de abandono do campo de tal forma compreendidoque existe uma tendncia sada.

    As moas parecem abandonar a proposio do papel natural que lhes eradeterminado, isto , continuarem vivendo do e no meio rural. A aceitao de um destinomanifesto no se constata com facilidade entre as jovens rurais e estas demonstram queensejam tornarem-se partcipes de seus projetos de vida. A deciso, entre ir ou ficar levaem conta os projetos profissionais, que so tambm os projetos de vida. Sendo o projetouma antecipao consciente do futuro contingente (WEISHEIMER, 2007, p. 248) asjovens avaliam o que as atividades urbanas e rurais lhes oferecem ou possibilitam.

    1 Este artigo faz parte das discusses estabelecidas na dissertao de mestrado Juventude rural, entre ficar e partir: a dinmica dos jovens rurais da comunidade de Cerro Azul, Palma Sola/SC defendida juntoao Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais da Unioeste, campus Toledo/PR, sob a orientao do Prof. Dr. Silvio Antnio Colognese.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.505

  • Para analisar essa problemtica define-se a regio Oeste de Santa Catarina emais precisamente o municpio de Palma Sola e uma de suas comunidades, Cerro Azul.O artigo se divide em trs partes, compreendendo respectivamente o processo dereproduo da agricultura familiar na regio Oeste de Santa Catarina; as expectativasentre jovens rurais do municpio de Palma Sola e por fim a anlise das decises dejovens rurais migrantes.

    O processo de constituio e reproduo da agricultura familiar no Oeste de Santa Catarina

    A condio da reproduo da agricultura familiar fato central noestabelecimento de uma relao especfica entre a manuteno e a estagnao dosespaos rurais. Desta forma prope-se uma discusso referente constituio ereproduo desses territrios da regio Oeste de Santa Catarina uma rea tpica depequenas unidades agrcolas geridas familiarmente e nos impasses e paradoxos queenvolvem os agentes potencialmente continuadores dessa atividade, os jovens.

    A regio Oeste de Santa Catarina2 se inscreve na historiografia como resultadode um processo que, em primeira instncia, se deu pela ocupao extensiva edesordenada do espao. E, num segundo momento, como forma de um projeto decolonizao, envolvendo em ambos os casos mltiplos atores. Nesse sentido forjou-seuma argumentao histrica, no sem interesses especficos, onde prevalece a imagemdo colonizador enquanto arauto da civilizao e responsvel pela constituio do espaoregional.

    Entende-se que a ocupao oficial das terras devolutas, ou terras de ningum,iniciadas na regio na entrada do sculo XX, se deu de forma organizada atravs daao do Estado, que delegou s companhias colonizadoras a incumbncia de povoar osterritrios at ento considerados vazios. Estas companhias vendiam lotes previamentedemarcados (usualmente de 24,2 hectares, chamados colnia) a agricultoresimigrantes principalmente alemes, italianos e poloneses e migrantes vindos, na suamaioria, das reas de colonizao agrcola do Rio Grande do Sul. Estes colonos, oucolonos de origem como classifica Renk (2005, p. 113), desenvolveram atividadesagrcolas e estabeleceram o povoamento intensivo na regio. Isto ocorre na chamadafronteira agrcola entre os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran,promovendo o deslocamento de contingentes populacionais do primeiro para os outrosdois Estados.

    A ocupao desses migrantes no espao regional se estabeleceu em pequenoslotes de terra. Seu ator principal o homem do campo e sua famlia que ocupa o espaocolonial, fato que lhe rende uma terminologia plural. No entanto, no sul do Brasil comumente conhecido como colono, ou seja, aquele que tem colnia; que vive do queproduz na terra; morador da rea rural. Giralda Seyferth (1990) entende essa construoa partir da amplitude que o termo colnia recebeu no processo de imigrao eposteriormente na migrao dos descendentes europeus.

    2 A regio Oeste catarinense situa-se delimitada, no eixo Sul-Norte, entre os estados do Rio Grande doSul e Paran e no eixo Leste-Oeste entre o Rio do Peixe e a fronteira do Estado de Santa Catarina com aRepblica Argentina, demarcada pelo rio Peperi Guau, formando um territrio de 27.288, 763 Km e umquantitativo populacional de aproximadamente 1.200.000 habitantes.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.506

  • Enquanto artifcio de desenvolvimento das estruturas do espao regional pode-se dizer que esse movimento colonial garantia a sua continuidade pautando-se emcritrios especficos de reproduo das unidades familiares de produo agrcola.Buscava-se colocar os filhos, isto , permitir que estes se estabelecessem na atividadeagrcola assim como seus pais. Para tanto era necessrio ter acesso a terra e garantir odesenvolvimento das novas estruturas econmicas, o que no era tarefa simples, umavez que a acumulao de riqueza dentro do grupo familiar de trabalho nem semprepermitia a compra de novas terras e o alojamento das novas famlias desmembradas doncleo original. A disposio da propriedade, como um bem a ser adquirido, obrigava asfamlias a gerar excedentes para que pudessem atender aos filhos que viessem a seemancipar da unidade familiar. Na essncia, este processo interferiu na organizao dapropriedade familiar, de tal sorte que a produo de bens para o mercado foi ocupando,cada vez mais, lugar de destaque (SCHALLENBERGER, 2009, p. 148).

    importante perceber como os filhos eram socializados ao trabalho agrcoladesde muito cedo. Era muito comum as mes levarem seus bebes a lavoura, deixando-osem cestos ou na carroa protegidos pela sombra e pela guarda de ces enquantotrabalhavam. De tempos em tempos acudiam e davam de mamar aos rebentos. comumouvir relatos de bebs levados a roa com 1 ou 2 anos de idade. A partir da as crianasestabeleciam contato com a terra e com o ambiente simblico da agricultura. Com 4 ou5 anos eram preparadas ferramentas especiais a elas, como pequenas enxadas, foices,cestinhos, entre outros. Se o objetivo, geralmente, no era o de obter a contribuiofsica do trabalho das crianas, era de inici-los no mundo rural. De acordo com Petroneas crianas desde cedo eram recrutadas para as mais variadas tarefas na roa, junto aosanimais ou na casa. Famlias com muitos filhos em idade de trabalhar tinham maisperspectivas de prosperar (1984, p. 60).

    Conforme cresciam as crianas ganham maiores responsabilidades eincentivos. Por volta dos 15 anos de idade muitos pais davam um pedao de terra parao filho plantar separado, isto , permitiam que ele fizesse em horrios de folga a suaprpria roa, que ele poderia vender a guardar o dinheiro para si. Essa era uma maneirade incentivar o filho a permanecer na roa e mesmo permitir que aprendesse pouco apouco a gesto da lavoura. s vezes a renda obtida com a sua rocinha era irrisriaou nula, tornando-se uma oportunidade para que os pais replicassem o discurso danecessria unidade do trabalho familiar, da importncia que tinha a terra, dascarncias financeiras e os cuidados manifestos para super-la. Essas interlocues doconta da existncia da formao de um esprito de colonizao, onde o espaofamiliar era povoado por regras e valores tidos imprescindveis para a eficincia dosprojetos futuros do grupo (RENK, 2006).

    Portanto, todos os esforos no sentido de prover de forma efetiva os novosmembros do grupo dentro da perspectiva de se tornarem tambm novos agricultoresdependia da relao que a famlia tinha com os valores materiais acumulados pelogrupo. Estes valores seriam colocados disposio dos seus membros de formaescalonada e fragmentada atravs do tempo. Constata-se a existncia de um modelo demanuteno e continuidade sucessional dos filhos, vinculada a solidariedade de todafamlia em torno da constituio das novas propriredades, conforme constataAbramovay (1998). De acordo com ele havia na regio sul do Brasil um quadro deperpetuao da atividade agrcola, garantida pelo envolvimento do ncleo familiaroriginal na consecuo dos novos ncleos agrcolas.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.507

  • Entre os colonos existia o sentimento de responsabilidade em reproduzir oespao de vivncia colonial entre os membros da famlia, ou garantir o futuro,colocar os filhos. Como elucida Renk (2006, p. 79), isso significava assegurar que osdescendentes tivessem uma terra para trabalharem quando cassassem principalmente osfilhos do sexo masculino. A terra, como j foi dito, era ento o elemento primordial paraa consecuo desse projeto. Quando no era possvel adquirir um novo lote a famliatendia a manter o os filhos recm-casados junto unidade produtiva, seja inserindo-osnas atividades produtivas da casa ou agindo como fiduciria para o arrendamento de umlote adjacente ou prximo. O casal podia morar junto, na casa dos pais ou aindaconstruir um rancho prximo da casa, ao que se chamava "morar encostado. Essasituao podia ser provisria, mas dadas as dificuldades financeiras da famlia tornava-se, em alguns casos, permanente.

    Essa dinmica de reproduo da agricultura familiar no sul do pas, comoassinala Abramovay (1998) se manteve at finais da dcada de 1960. De acordo comWoortmann era comum que o processo sucessional da unidade familiar e os sistemas deherana, seguissem as seguintes possibilidades: a primogenitura (o filho mais velho oherdeiro); a ultimogenitura (o filho mais novo o herdeiro), sendo que poderiamocorrer a unigenitura (a indiviso da propriedade) ou a partilha igualitria (onde todosreceberiam uma parte correspondente a propriedade ou um valor monetrio relativo aela), (1995, p. 49). Entende-se ainda que o modelo de reproduo manifesto at adcada de 1970 era comumente o minorato, isto , a propriedade paterna transmitidaao filho mais novo que, em contrapartida, fica com a responsabilidade de cuidar dospais durante a velhice (SILVESTRO et alii, 2001, p. 65).

    A partir da dcada de 1970 h um rearranjo sistemtico do modelo dedesenvolvimento agrcola, tendo sido incorporado agricultura o processo demodernizao e de assimilao da chamada Revoluo Verde. Esse novo arranjoorganizacional levou em conta a utilizao dos insumos, de defensivos agrcolas, denovas ferramentas e mquinas e de novas tcnicas de produo, alterando a sistemticade trabalho. Modificou-se tambm o destino da sua produo que, at ento, centrava-seno prprio consumo, sendo vendida apenas uma parcela do excedente, a fim de se obteracesso aos bens no produzidos na prpria propriedade. Conforme assinala Queiroz(1973, p. 30), desde que o destino da produo se modifique, isto , desde que olavrador se disponha a plantar para vender, sua organizao de trabalho tambm semodifica, pois deve alcanar uma quantidade muitssimo maior do produto colhido.

    Com os novos arranjos tcnicos da agricultura, o ndice de pessoal necessrio atividade passa a ser menor. George afirma que a modernizao da agricultura tem,com efeito essencial, a reduo do tempo de trabalho exigido para obter a renda bruta doestabelecimento agrcola (1982, p. 237). Da mesma maneira os parcos valoresalcanados ao final das safras propem como alternativa a sada do campo para oalojamento em atividades complementares. O modelo de sucesso baseado na pressomoral ameaado e no configura mais uma tendncia tradicional. De acordo comAbramovay (1998) possvel afirmar que a transformao agrcola, em curso a partir dadcada de 1970, fez com que em finais da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990 opadro esperado no mais a permanncia dos novos membros no campo, mas a suasada rumo a atividades urbanas.

    Essas novas relaes estatudas no campo levam a crer que h uma mudanasignificativa em curso. Compreender que houve uma ruptura no processo de reproduo

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  • do colonato/agricultura familiar na regio sul do Brasil e, desta, forma na regio Oestede Santa Catarina parece evidente. Mas, conforme Wolf (1976, p. 10), a persistncia,como a mudana, no uma causa, um efeito. Portanto, cabe analisar essa tendnciaa que segue o processo da manuteno ou desestabilizao da agricultura familiar naregio estudada, exatamente no que tange aos novos atores desse processo, isto , osjovens do meio rural e em especial as moas.

    Expectativas juvenis femininas: as perspectivas postas entre sair e ficarLevando em conta as pesquisas exploratrias em torno do objeto deste trabalho

    utiliza-se inicialmente uma abordagem baseada em um questionrio de carterquantitativo. O questionrio foi aplicado em 2011, a todos os alunos do Ensino Mdioque moram no meio rural do municpio de Palma Sola/SC e que estudam nas duasescolas estaduais do municpio e em uma escola do municpio de So Jos do Cedro/SCque recebe alunos oriundos de Palma Sola/SC. Totalizou-se um nmero de 136 jovensentrevistados, sendo 60 (44%) do sexo feminino e 76 (56%) do sexo masculino3. A faixaetria destes jovens est compreendida entre 14 e 20 anos de idade, sendo que a maioriaabsoluta (95%) tem entre 14 e 17 anos. O escopo do questionrio foi reconhecer quaisas perspectivas que estes jovens tm em relao ao meio rural, a permanncia ou a sadadeste espao, provocando a anlise das decises que futuramente pretendem tomar4.

    Estes jovens foram questionados sobre as percepes e as pretenses relativasao mundo rural, tanto em relao a uma possvel permanncia quanto a uma possvelsada do meio rural. A questo central se referiu a indagar especificamente se, entre eleshavia pretenso de permanncia no meio rural. As categorias foram compostas entreSim; No e Talvez5, onde se obteve o seguinte quadro:

    Tabela 1 Pretenso de permanncia no meio ruralCategorias Sim No TalvezFeminino 2 (3%) 41 (68%) 17 (28%)Masculino 13 (17%) 31 (41%) 32 (42%)

    Total 15 (11%) 72 (53%) 49 (36%)Fonte: Pesquisa de campo (2011).

    Nota-se que a maioria absoluta das jovens do sexo feminino, ou seja, dasmoas rechaam a ideia de permanecerem vivendo no meio rural, somando 68%.Embora outras 28% ainda mantm o entendimento de uma possvel permanncia,

    3 Foram entrevistados 73 alunos na Escola de Educao Bsica CatahrinaSeger, localizada na zona rural de Palma Sola/SC; 54 alunos na Escola de Educao Bsica Claudino Crestani, localizada na zona urbanade Palma Sola/SC e 9 alunos na Escola de Educao Bsica Serafim Bertaso, localizada na zona rural de So Jos do Cedro/SC.4 Entende-se que, geralmente, a tomada de deciso sobre permanecer no meio rural ou abandon-lo ocorreaps a concluso do Ensino Mdio. Alm disso, muitas das funes a que os jovens rurais pretendem ocupar no meio rural exigem a idade mnima de 18 anos, inviabilizando uma sada antecipada. Entretanto existem casos de xodo anteriores idade de 18 anos e mesmo anteriores a concluso do chamado EnsinoBsico.5 A opo por manter no questionrio a possibilidade da resposta talvez se deve a lgica de incertezas expostas na concepo desses sujeitos. Considerar apenas a possibilidade de continuar vivendo no meio rural ou no poderia estabelecer um dado mais objetivo, entretanto o considervel nmero de indicaes sobre uma possvel permanncia, ou uma possvel sada (talvez) traz a tona todo um complexo de relaessubjetivas que esto em jogo na tomada dessa deciso.

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  • apenas 3% consideram plausvel a permanncia no campo. Mesmo que no sirva comojustificativa efetiva, cabe informar que as duas jovens que responderam afirmativamentea questo j constituam unies estveis e viviam com seus cnjuges no meio rural.Assim torna-se evidente o estmulo para a manuteno do rapaz na unidade deproduo familiar ao passo que as moas, em sua maioria, permanecem no campo spor fatalidade, quase nunca por opo. (AMARAL et al, 2007, p. 211).

    A fatalidade que se refere a autora geralmente caracterizada pelocasamento com um agricultor e a falta ou ausncia de irmos do sexo masculino quepossam herdar a terra ou cuidar dos pais. Nesse sentido o matrimnio entre jovens domeio rural tem um papel significativo na manuteno e reproduo das propriedadesrurais, todavia no necessariamente aceito como alternativa s jovens.

    Entre os rapazes a possibilidade de permanncia foi analisada com maioraceitao, porm ainda de maneira tmida. Dos 76 entrevistados apenas 13 responderamafirmativamente, isto , 17%. Outros 42% mantiveram a ideia de uma possvelpermanncia ao responderam talvez. J 41% negaram essa possibilidade. De fato aperspectiva afirmativa de permanncia que se verificou, considerando ambos os sexos,foi baixa, sendo considerada apenas por 11% dos jovens.

    Considerando este quadro problematizaram-se as possveis motivaes para ofato de que a maioria dos jovens tendesse a deixar o meio rural. Propuseram-se cincofatores: dificuldade de acesso renda; rotina de trabalho; falta de opes de lazer;dificuldade de acesso aos estudos e conflitos com membros do grupo familiar6, a que osjovens teriam que indicar aquele que mais lhe incomodasse na vida do meio rural,conforme tabela 2.

    Tabela 2: Motivaes para a sada do meio rural

    Categorias Feminino Masculino TotalDificuldade de acesso renda 8 (13%) 22 (29%) 30 (22%)Rotina de trabalho 9 (15%) 27 (36%) 36 (27%)Falta de opes de lazer 20 (33%) 20 (26%) 40 (29%)Dificuldade de acesso aos estudos 13 (22%) 5 (7%) 18 (13%)Conflitos com membros do grupo familiar 9 (15%) 1 (1%) 10 (7%)Outro (nenhum) 1 (2%) 1 (1%) 2 (2%)Total 60 (100%) 76 (100%) 136 (100%)

    Fonte: Pesquisa de campo (2011).

    Mesmo produzindo um dado bastante subjetivo percebeu-se que dentre osfatores indicados no h um consenso. De certa forma parece indicar que o conjuntodeles que responde as pretenses de sada, ao invs de ser definido enfaticamenteapenas um, ou o mais importante. Entre as moas o fator mais indicado foi falta deopes de lazer, com 33%. Entre os rapazes a rotina de trabalho, com 36%. Verificou-seainda que os conflitos familiares somaram 15% no caso feminino e apenas 1% nomasculino, evidenciando que a relao familiar entre as moas denota uma dinmica demaiores tenses. Da mesma forma a dificuldade de acesso aos estudos incomoda maisas moas, enquanto que a dificuldade de acesso renda incomoda mais os rapazes. Nogeral a falta de opes de lazer apontada como fator que mais causa incmodo na vida

    6Embora os conflitos familiares possam ser considerados como eventos no necessariamente inerentesapenas ao meio rural, neste caso fazem relao s possveis dificuldades de insero dos jovens nasatividades agrcolas desenvolvidas pela famlia e nos momentos de tomada de decises.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.510

  • rural dos jovens.Outro aspecto analisado foi referente ao interesse na continuidade dos estudos

    aps a concluso do ensino mdio. Evidentemente que os jovens ao encontrarem-senum momento de definies sobre a vida futura sofrem a influncia direta de suafamlia, dos professores, da mdia, etc., fazendo com que possam mudar de ideiaconstantemente. Ainda assim foram inquiridos sobre a pretenso de continuidade nosestudos, ao que se obteve a conjuntura exposta na tabela 3.

    Tabela 3 Pretenso de continuidade dos estudos (Ensino Superior)Categorias Sim NoFeminino 58 (97%) 2 (3%)Masculino 62 (82%) 14 (18%)

    Total 120 (88%) 16 (12%)Fonte: Pesquisa de campo (2011).

    Nota-se que a maioria absoluta dos jovens pretendem ingressar no EnsinoSuperior aps conclurem o Ensino Mdio. Destes entre as moas que se percebe amaior pretenso, ou seja, 97%7. J no caso dos rapazes a pretenso ficou em 82%. Nogeral so 88% dos jovens que pretendem ingressar a maiores nveis de estudo. Essedado referenda o desejo das moas em no permanecerem no meio rural, alterando umaexpectativa de reproduo geracional na atividade.

    Quando questionados se imaginavam poder continuar seus estudos sepermanecessem morando no meio rural, 17% das jovens responderam que sim,enquanto que entre os rapazes 46% entendiam ser possvel ingressar no ensino superiore continuar vivendo no meio rural. No total apenas 40% vislumbravam essapossibilidade. Importa ressaltar que dos jovens universitrios que residem no municpioatualmente existem alguns que permanecem morando no meio rural, deslocando-sediariamente at os centros de estudo, embora em nmero bem menor que os residentesurbanos. No caso de Palma Sola, na maioria das vezes cursar uma faculdade, cursotcnico, enfim, implica no s na sada do meio rural como em deixar de residir nomunicpio. Este ltimo fato uma realidade tanto dos jovens do meio rural quando domeio urbano, dada carncia de oferta de ensino superior na regio.

    Outro dado significativo foi o concernente a influncia exercida pelos pais nasdecises dos filhos. Questionados se os pais os incentivavam a permanecer no campo osjovens demonstraram existir uma lgica de incentivo maior aos homens (41%), emdetrimento das mulheres (21%). Mesmo assim em mbito geral predomina o noincentivo (54%) a permanncia dos jovens no campo.

    No que tange a questo do celibato no campo e o processo de masculinizaopercebeu-se que entre as jovens do sexo feminino, a maioria no pretende umrelacionamento que as condicione a permanncia no meio rural. A pergunta foi aseguinte: voc v com naturalidade a possibilidade de casar-se com algum que viveno meio rural e permanecer vivendo no interior com seu cnjuge? A resposta revelouque 30% (18) aceitariam essa possibilidade, enquanto que 70% (42) no veem essapossibilidade como aceitvel. Isso revela um fator interessante ao cruzarmos estes com7 Cabe a ressalva de que as nicas respostas negativas neste quesito foram decorrentes da Escola deEducao Bsica Catharina Seger. Analisando as repostas chegamos a uma constatao importante: asduas jovens que responderam negativamente j se encontravam em relao matrimonial estvel.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.511

  • os dados da tabela 5 que questionava a pretenso de continuar vivendo no meio rural,onde percebemos que 2 disseram que sim e 17 talvez. Isto significa dizer que ocasamento fator que catalisaria a deciso de permanncia no meio rural.

    Quanto aos jovens do sexo masculino o questionamento foi relativo ao fato dosrelacionamentos com as jovens do sexo feminino. A pergunta foi: voc imagina queteria dificuldade em encontrar uma companheira para casar-se, se continuar a viver nomeio rural?. A resposta obtida foi de que 53% (40) acreditam que sim, encontrariamdificuldades. Outros 47 % (36) entendem que a permanncia no meio rural no trariadificuldades para encontrarem uma esposa. Encaminha-se assim, todavia, a umaconjuntura de complexificao das relaes e do perfil dos futuros agricultores, comosugere Amaral.

    Esses dados autorizam a problematizar que de fato h uma tendncia demigrao entre os jovens do meio rural do municpio de Palma Sola. As dificuldades eas faltas apontadas denotam fatores de repulso. Entre os jovens do sexo feminino latente a tendncia a migrao para reas urbanas e uma renncia anunciada ao modo devida rural. Os papis sociais que lhes so indicados no mundo rural, tais como dona decasa e me zelosa so relativizados e postos sob novos prismas.

    Motivaes da migrao: as perspectivas postas pelas jovens que deixaram o meio rural

    Essa abordagem refere-se a entrevistas qualitativas realizadas com jovens quedeixaram a comunidade de Cerro Azul e a atualmente residem no meio urbano.Constatou-se que em todos os casos a migrao foi motivada pelo interesse demelhorias de oportunidades de trabalho e remunerao. Todos manifestaram quepoderiam ter optado pela permanncia no meio rural, entretanto a opo lhes colocarianuma contingncia de conviver com carncias que no lhes traziam apreo. Entre essascarncias so citadas, enfaticamente, a falta de dinheiro e a falta de perspectivas futuras,isto , o encaminhamento de um projeto de vida satisfatrio.

    Entre os entrevistados do sexo masculino no se percebeu nenhum desprezo atividade agrcola, evidenciando que o carter especfico da sada no era relativo aomodo de vida do meio rural, mas a atividade produtiva e as problemticas econmicasinterligadas a ela. Porm entre as moas colocou-se a falta de pretenso a priori parapermanncia, numa acepo de que fora o caminho j pr-estabelecido pela famlia, isto, a sada como uma condio.

    Uma das entrevistas, Camila8, 19 anos, filha caula com mais dois irmos,tambm migrantes, informou que no tinha nenhuma pretenso em permanecer naatividade e que, tanto ela quanto a famlia j projetavam a sua sada do meio rural.Enfatiza que no se ligava as atividades da agricultura, o que a distanciava de umapossvel permanncia: eu nunca trabalhei na roa, assim tipo, de ir pra roa eu nuncatrabalhei, s ajudando minha me. Desta forma explica ser uma caracterstica deambio que define a sua sada. Interrogada sobre o motivo que explicaria o fato deserem as moas as principais a deixar o meio rural respondeu: acho que principalmentepela dificuldade de achar um bom emprego, porque no tem o que fazer. No interior na roa ou na roa, as gurias no vo querer ficar trabalhando na roa. E eu acho queelas tm mais ambio. Esse aspecto de recusa feminina ao modo de vida rural est8 Todos os nomes so fictcios.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.512

  • associado s condies e as perspectivas que as mulheres tm neste espao. As moasesto antevendo e vislumbrando suas condies de vida ponderando entre apermanncia e a sada. O urbano representa uma vida de menor penosidade, ondepossam inserir-se com maior qualificao. Mesmo que a transio seja, num primeiromomento, precria, as possibilidades de crescimento sero maiores. Assim o trabalhopesado, sofrido e de baixa remunerao na agricultura aparece em oposio aotrabalho leve, manusevel e bem remunerado da cidade (AGUIAR &STROPASOLAS, 2010, p. 168). Configura-se uma viso de que o trabalho rural masculino e no feminino. Por conseguinte passa a ser sugerida a aluso de que a vidarural no um espao feminino e sim a urbe. O emprego urbano representa umaascenso social principalmente para as moas ao suscitar libertao e autonomia uma vez que garante uma renda mensal (salrio), o acesso aos direitos trabalhistascomo frias, 13 salrio, descanso semanal, dentre outros garantias que no lhes soasseguradas pelo trabalho na unidade familiar (AGUIAR & STROPASOLAS, 2010, p.168).

    Camila deixou o meio rural ainda com 17 anos, passando a residir na cidade dePorto Alegre/RS. A opo por essa cidade deveu-se ao interesse em ingressar num cursosuperior e porque l residia seu irmo que intermediou sua estadia e um emprego. Elano manifestava interesse em retornar a viver no meio rural. Posteriormente realizaoda entrevista, Camila deslocou-se de Porto Alegre/RS para Francisco Beltro/PR parafacilitar seu ingresso num curso superior Enfermagem , evidenciando o peso que osestudos suscitam no movimento migratrio dos jovens e, principalmente das jovens domeio rural. Nesse sentido Aguiar & Stropasolas (2010) enfatizam a influncia que asmes exercem incentivando as jovens a estudar para que possam ter um futuro diferente,preferencialmente fora da agricultura. Assim, para as mulheres migrar e estudarsignifica libertar-se de um futuro indesejado no meio rural.

    So dois aspectos que pontuam a opo pelos estudos. Um deles diz respeito condio de inferioridade do status do agricultor, s modificada com acesso ao estudo,mas isso geralmente acaba lhe incentivando a abandonar a atividade agrcola. O outro o de que o agricultor no precisa estudar, no h necessidade para tal. Subjaz ainda aideia de que o agricultor no possa ou no deva estudar, pois se o fizer ter de deixar deser agricultor. Como conceituam Aguiar & Stropassolas parece haver uma oposio:quem estuda quer sair, quem no estuda no tem outra alternativa que no seja ficar(2010, p. 176).Questiona-se o fato de um jovem rural estudar e isso implicasignificativos investimentos e retornar a atividade agrcola tornar-se vivel. Almdisso, a rea de estudo dele dever estar vinculada a alguma atividade rural comoagronomia, veterinria, ou outro curso do gnero. Pensando que boa parte daspropriedades do lcus de estudo comportam poucos investimentos essa ao seriainvivel do ponto de vista econmico, racional.

    Como relata Camila, a pretenso de ambio vincula-se ao meio urbano dadasas dificuldades de progresso material no meio rural. Eu no vejo muito futuro na roa,por que hoje em dia a maioria das pessoas que se do bem na roa so os fazendeiros eas pessoas que j tem muita terra, ento pra tu conseguir alguma coisa, tem quetrabalhar muito, suar muito. Esse pressuposto infere que o despojo de projeo pessoalno meio rural impele a outras atividades, o que se manifesta como carter mais enfticoentre as mulheres que tem uma insero diferenciada na economia rural.

    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.513

  • Segundo Aguiar & Stropasolas (2010) no se pode identificar uma nica razoou algo primordial para explicar ou justificar a migrao dos jovens rurais. umconjunto de eventos, de situaes, de problemticas. Entre estas estariam os problemasenfrentados pela agricultura familiar: intempries climticas; oscilao do mercado;renda insuficiente para reproduo da famlia ou abaixo das expectativas e pretenses;falta de segurana financeira, de uma renda fixa, garantida mensalmente; a estruturafundiria, geralmente exposta em minifndios que no permitem investimentos ou aexpanso das atividades produtivas; penosidade e precariedade do trabalho rural,principalmente para as moas; constncia intermitente da atividade agrcola,representada pela falta de folga nos finais de semana, nos feriados e a ausncia defrias (AGUIAR & STROPASOLAS, 2010).

    Os discursos repetem os aspectos de ausncia, tais como falta de oportunidade,falta de liberdade, falta de autonomia para exprimir a realidade a que os jovens estoexpostos no campo (AGUIAR &STROPASOLAS, 2010). Estes elementos, como dizemos autores, so obtidos no meio urbano. L teriam uma vida melhor, definida por teruma renda prpria, um salrio que lhe garanta o sustento, a autonomia financeira e aindependncia dos pais. Para a maioria isto implica ter um estudo (2010, p. 176).

    As moas tendem a migrar com maior frequncia e mais cedo (BRUMER, et.al., 2007; SPANEVELLO, 2008). Tanto isso tendencial como pode ser verificado nolcus: aps ter concludo o ensino mdio a moa s permanece se casar com umagricultor. No h na comunidade de Cerro Azul, entre as famlias de agricultores,nenhuma moa residindo, j com os estudos bsicos concludos, sem ser casada.Portanto o casamento um dos nicos instrumentos que pressupe a permanncia demulheres no meio rural. Outro aspecto o de que os rapazes so, por excelncia, osherdeiros das propriedades familiares. As moas de antemo recebem auxlio para osestudos, o que lhes impele ainda mais a migrao. O trabalho feminino tomado comopassivo ajuda e no produtivo, sem gerar por isso renda monetria, tornando-astrabalhadoras no remuneradas e com baixa valorizao (SILVA & SCHNEIDER,2010, p. 185). Essa conjuntura resultado do que Bourdieu chama de violnciasimblica, j que as mulheres seriam separadas dos homens por um coeficientesimblico negativo (1999, p. 111). Ele ressalta que os trabalhos e atividades que exigemsobressair uma imagem de fora so masculinos e os mais extenuantes e sujos sofemininos.

    Da mesma forma justifica-se a migrao das demais moas entrevistadas. TantoVitria, 20 anos, quanto Joana, 19 anos que so irms, numa famlia que conta aindacom dois irmos mais velhos, todos migrantes deixaram a comunidade de Cerro Azule foram morar na cidade de Palma Sola para viabilizarem o desejo de cursar umafaculdade. Ambas estudam na cidade de Francisco Beltro/PR, cursando Nutrio eAdministrao respectivamente e se deslocam diariamente entre essas duas cidades,perfazendo um percurso de 55 Km. Para viabilizarem os estudos trabalham em perodode 8 horas dirias, restando pouco tempo para aprofundamento dos estudos extraclasse fato muito comum entre os universitrios da regio contabilizando aproximadamente16 horas dirias entre atividades laborais, deslocamento e aulas. Inquiridas sobre amotivao da sada do meio rural relataram que saram para poderem estudar. Joanarefere-se da seguinte maneira: eu no tinha como me deslocar todo dia do meio ruralpara pegar o meio de transporte para eu estudar. Justifica, portanto que teve dedeixar o meio rural, uma vez que estando l inviabilizaria sua formao superior.

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  • Entendem, por sua vez, que a motivao de sada a falta de empregos e oportunidadesde estudo no meio rural. Quando problematizado o fator referente maior sada demoas do meio rural defendem que o tipo de trabalho sobreposto s mulheres muitopesado e extenuante. Assim sair do meio rural de alguma forma libertar-se de um fado,de uma espoliao trabalhista.

    Entende-se que as moas so mais propensas sada. As moas entrevistadasderam respostas em tom de entenderem esse fenmeno como natural, isto , que ocaminho das moas deixarem o meio rural. A fala de Camila a mais didtica quandodiz que as moas no vo querer ficar na roa. Imprimem um tom de determinismo nodiscurso. Assim o rural no seria um espao para o feminino, um propsito de vida.Essa constatao revela uma nova ordenao nos mecanismos de reproduo da famliaagricultora. As mulheres destoam do discurso que as imprimia a permanncia, ocasamento e a continuidade no meio rural. Almejam autonomia na proposio de seusprojetos de vida e o vinculam geralmente aos ambientes urbanos, onde pelo menos nodiscurso so menores as imposies morais e a dependncia e subservincia ao marido ea casa.

    ConclusoConclui-se que as jovens rurais manifestam em geral um desejo pela sada, pela

    no continuidade no meio rural. Seus projetos de vida se ligam ao meio urbano. Acidade exerce em todas uma espcie de fascnio. Este ponderado, nem sempreassumido como projeo e como opo. L, diferente do que aqui lugar deoportunidades, de emprego, de estudos, de prosperidade. A sada em geral motivada apartir do desejo de aumento das perspectivas de renda; de crescimento profissional apartir da expanso dos nveis de estudo, que no caso se vinculam ao espao urbano; debusca por outras condies de trabalho (menos penoso, com maiores garantias descanso semanal, dcimo terceiro salrio; fundo de garantia); maior insero nomercado de consumo e de lazer urbano. Quem sai, portanto, o faz em torno de melhorescondies de emprego, renda, estudos e crescimento profissional. E as moas somaioria absoluta nesse grupo.

    Optar pela permanncia constituir uma proposta de vida onde se rearranjamos nveis de crescimento financeiro e profissional. Sem dvida um viver com menos erelacionadas a todo um escopo de dificuldades. Dessa forma quem fica na roa o rapaz resguardadas as ressalvas. As disposies de permanncia so, inegavelmente epreponderantemente, masculinas. Os rapazes recebem uma carga maior de incentivo eso, desde cedo inseridos nas dinmicas de produo e de aprendizado na gesto mesmo que no a exeram. H um vis de gnero fortssimo nos processos sucessrios,um caminho naturalizado atravs das prticas familiares.

    A perspectiva de ficar na roa no caso das moas envolve um conjunto desituaes que se especifica em torno do seu casamento com outro agricultor. Na maiorparte dos casos elas evitam tal vinculao. A recusa das moas em permanecer seespraia na condio de vida que a mulher tem no meio rural. Congregam uma rotina detrabalho maior que a dos homens e raras vezes tm acesso a uma renda autnoma. Asmes incentivam as filhas a sarem para no terem o mesmo destino que tiveram. Huma visvel insurreio daquilo que se entende como expectativa manifesta. As jovensparecem mostrar-se resolutas em propor e interferir em seus projetos de vida e essaefetivao encaminha-as a abandonar a vida rural. , todo modo, uma autonomia

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  • alcanada sob o abandono de um modo de vida e no na sua transformao.

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    Anais do Colquio Nacional de Estudos de Gnero e Histria LHAG/UNICENTRO, p.516

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