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i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA RESPONSABILIDADE DA PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO (IN) FIEL NOMEADO DE OFÍCIO NO PROCESSO DO TRABALHO JOSIANE ZUQUI Biguaçu (SC), junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

DA RESPONSABILIDADE DA PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO

(IN) FIEL NOMEADO DE OFÍCIO NO PROCESSO DO TRABALHO

JOSIANE ZUQUI

Biguaçu (SC), junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

DA RESPONSABILIDADE DA PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO

(IN) FIEL NOMEADO DE OFICIO NO PROCESSO DO TRABALHO

JOSIANE ZUQUI

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí.

Orientadora: Professora MSc. Roberta Schneider Westphal

Biguaçu (SC), junho de 2008

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DEDICATÓRIA

Aos meus irmãos...

Obrigado por vocês existirem... Por ter me dado força e coragem para

prosseguir quando mais precisei.

À minha sobrinha...

Você sempre deixará um pouco de você e sempre levará um pouco de

mim, está é a maior responsabilidade de nossa vida é a prova evidente de que

duas almas não se encontram por um acaso.

Ao meu padrinho Osmar (in memorian)...

Como seria bom tê-lo comigo neste momento tão importante de minha

vida... Ver seu sorriso e ouvir seus aplausos compartilhando comigo esta vitória. A

maneira de mantê-lo vivo é nunca deixar de amá-lo.

À minha admirável mestre Roberta Westphal...

Você é aquela pessoa acima de tudo amiga e companheira num período

de tanta dedicação e abdicação de momentos de medos e aflições de noites que

o sono desaparecia e o que ficava era a preocupação de dar o melhor, na busca

de conhecimentos. E foi assim, que descobri: que os melhores mestres não foram

os que me ensinaram as respostas, mas sim ensinaram as perguntas, você foi

aquela que me deu à mão quando achava que tudo estava perdido, quando

achava que não tinha capacidade de chegar ao final de uma grande luta. Jamais

me esquecerei de quem me ensinou e me ensinará ao longo dos anos a

questionar, a duvidar, a pensar, e sonhar... Obrigada por fazer parte da minha

história.

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AGRADECIMENTOS

A Deus...

“Senhor agradeço pela proteção e amor: sou grato por tua presença que

me conduz firme, não vacilante. Concede-me a serenidade necessária para

acertar as coisas que não posso mudar; coragem para mudar aquelas que podem

e sabedoria para distinguir uma das outras.”

Aos meus pais...

“De vocês recebi o Deus mais precioso do universo: a vida. Inspiraram-me

a certeza de sua presença e a segurança de seus passos guiando os meus. O

carinho de sua voz, a esperança do seu sorriso, o conforto de sua lagrima, o

brilho de seu olhar para mim... Se eu pudesse, fazê-los eternos... Eternos os faria.

A vocês, meus pais não mais que com justiça, dedico esta vitória.”

Ao meu marido e meu filho...

“Vocês foram presença constante nos momentos de certeza e dúvidas,

vitórias e derrotas, me transmitiram, mesmo em silencio, amor e compreensão”...

sofreram minha ausência quando o dever e o estudo me chamavam, ainda assim

me entenderam, souberam respeitar e valorizar meus limites e esforços. Com

vocês aprendi o valor do respeito, cumplicidade e o valor de amar e foi em vocês

dois que encontrei forças e incentivos quando achava que estava quase

desistindo e vocês me puxavam pelas mãos e com um olhar diziam: continua...

Por isso, que esta conquista tem a presença dos meus três amores, meu marido

WIRLEY, meu filho KAUAN e o bebê que está chegando.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca

Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do

mesmo.

Biguaçu (SC), junho de 2008.

Josiane Zuqui

Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Josiane Zuqui, sob o título Da

Responsabilidade da Prisão Civil do Depositário (In) Fiel Nomeado de Oficio

no Processo do Trabalho, foi submetida em 20 de junho de 2008 examinadora

composta pelos seguintes professores: Roberta Schneider Westphal (Orientadora

e Presidente da Banca) ......... e aprovada.

Biguaçu, 20 de junho de 2008.

Professora Msc. Roberta Schneider Westphal

Orientadora e Presidente da Banca

Professor Helena Nastassya Paschol Pítsica

Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo ARTS. Artigos CAPUT Cabeça CPC Código de Processo Civil CLT Consolidação das Leis do Trabalho CC Código Civil CGTJ Corregedoria-geral da Justiça do Trabalho CF/88 Constituição Federal de 1988 ED Edição EX OFFICIO De offício IN VERBIS Nestas palavras JUS POSTULANDI Direito de pleito em juízo N° Número P. Página REL. Relator T. Turma TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí SDI Sessão de Dissídio Individual OJ Orientação Jurisprudencial EC Emenda Constitucional STF Supremo Tribunal Federal STJ Supremo Tribunal Justiça

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ROL DE CATEGORIAS

(In) Fiel Depositário: Fiel depositário é ato executório, ato processual de direito

público pelo qual o depositário se torna fiel à justiça, após sua assinatura de

anuência de um bem móvel que deverá como obrigação de guardar e conservar,

e por vezes administrar, os bens apreendidos até que o juiz mande entregá-los a

quem de direito e no seu descumprimento será penalizado com a prisão civil.1

Execução: “[...] a atividade desenvolvida pelo órgão jurisdicional, por provocação

do credor, para o cumprimento da obrigação declarada na sentença de

condenação, nos casos que o vencido não o satisfaz voluntariamente.”2

Processo do trabalho: Ramo da ciência jurídica, dotado de normas e princípios

próprios para a atuação do direito de trabalho e que disciplina a atividade das

partes, juízes e seus auxiliares, no processo individual e coletivo do trabalho. 3

Processo de execução: “Execução forçada, ou simplesmente, execução, é o

processo pelo qual o Estado, por intermédio do órgão jurisdicional, e tendo por

base um título judicial ou extrajudicial, empregando medidas coativas, efetiva e

realiza a sanção. Pelo processo de execução, por meio de tais medidas, o Estado

visa alcançar, contra a vontade do executado, a satisfação do direito do credor.” 4

Penhora: “[...] representa o ato material que o Estado realiza com o objetivo de

ensejar a expropriação e a conseqüente satisfação do direito do credor. Nada

mais é, do que um típico ato de imperium do juízo da execução.” 5

Prisão Civil: “Em oposição à prisão penal ou criminal, conseqüente de

condenação por crime ou contravenção, diz-se prisão civil a que se decreta contra

certas pessoas como sanção à falta de cumprimento de seu dever, fundada em

norma ou regra jurídica civil. A prisão civil, pois, não tem a finalidade de

1 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão civil e os direitos humanos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. 2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 325. 3 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Método, 2007. p. 27. 4 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva. 12. ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2004. p. 1092. 5 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. 9 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 435.

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cumprimento de pena, mas a de compelir o faltoso a devolver a coisa em seu

poder ou o valor equivalente, ou cumprir o que é de seu dever. É o que ocorre,

neste particular, com o depositário infiel ou com o devedor de alimentos. A prisão

civil é decretada ou imposta para que cumpram o que lhes cabe cumprir.”6

6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 23. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2004. p. 1096.

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SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................... 10 ABSTRACT........................................................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................12 2 DO PROCESSO DO TRABALHO ..................................................................... 15 2.1 DO PROCESSO – NOÇÕES GERAIS .......................................................... 15 2.2 DO PROCESSO DO TRABALHO – NOÇÕES HISTÓRICAS..................... 17 2.3 DO PROCESSO DO TRABALHO – NOÇÕES GERAIS............................... 20 2.4 DAS FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO......................................... 22 2.5 DOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO DO TRABALHO.................................. 25 2.5.1 Dos Princípios – Noções Gerais............................................................... 25 2.5.2 Dos Princípios próprios do processo do trabalho.................................. 26 2.5.3 Outros Princípios........................................................................................ 31 2.6 DO PROCESSO DO TRABALHO – CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES......... 33 2.6.1 Fase de conhecimento............................................................................... 33 2.6.2 Fase recursal............................................................................................... 34 2.6.3 Fase executória.......................................................................................... 35 3 DA EXECUÇÃO TRABALHISTA..................................................................... 36 3.1DA EXECUÇÃO- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E CONCEITUAIS.............. 36 3.2 TÍTULOS EXECUTIVOS TRABALHISTAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS ............................................................................................................................... 38 3.3 DA LEGITIMIDADE..........................................................................................39 3.3.1 Legitimação Ativa....................................................................................... 40 3.3.2 Legitimação Passiva.................................................................................. 41 3.4 FORMA DE EXECUÇÃO................................................................................ 41 3.4.1 Execução Provisória................................................................................... 43 3.4.2 Execução Definitiva................................................................................. 44 3.5 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA............................................. 44 3.5.1 Da igualdade de tratamento das partes.................................................. 44 3.5.2 Da natureza real......................................................................................... 45 3.5.3 Da limitação expropriatória....................................................................... 46 3.5.4 Da utilidade para o credor........................................................................ 46 3.5.5 Da não- prejudicialidade do devedor....................................................... 47 3.5.6 Da especificidade.......................................................................................47 3.5.7 Da responsabilidade pelas despesas processuais................................ 48 3.5.8 Do não-aviltamento do devedor............................................................... 48 3.5.9 Da livre disponibilidade do processo pelo credor.................................. 49 3.6 DOS TRÂMITES DA EXECUÇÃO.................................................................. 49 3.6.1 Da fase de liquidação................................................................................ 49 3.6.2 Sentença de liquidação.............................................................................. 53 3.7 DO MANDADO DE CITAÇÃO, PENHORA E AVALIAÇÃO......................... 54 3.7.1 Nomeação de bens à penhora................................................................... 56 3.7.2 Da Penhora................................................................................................. 58 3.7.3 Substituição da penhora............................................................................ 60 3.7.4 Da avaliação............................................................................................... 61

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3.8 DA PRAÇA, LEILÃO, ARREMATAÇÃO. ADJUDICAÇÃO E REMIÇÃO..... 62 3.8.1 Praça e Leilão............................................................................................. 62 3.8.2 Da arrematação.......................................................................................... 64 3.8.3 Da adjudicação............................................................................................65 3.8.4 Da remição...................................................................................................65 4 DA RESPONSABILIDADE DO DEPOSITÁRIO (IN) FIEL NOMEADO DE OFICIO NO PROCESSO DO TRABALHO............................................................................. 68 4.1 DA NOMEAÇÃO DO DEPOSITÁRIO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS........ 68 4.2 DO DEPOSITÁRIO – NOÇÕES HISTÓRICAS............................................. 71 4.3 DO DEPOSITÁRIO – CONCEITO.................................................................. 73 4.3.1 Direitos, deveres e responsabilidade do depositário............................. 74 4.3.2 Da nomeação do depositário.................................................................... 76 4.3.3 Da prisão civil do depositário infiel.......................................................... 77 5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 91 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 95

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RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo analisar a responsabilidade da prisão civil

do depositário (in) fiel nomeado de ofício pelo juiz no processo do trabalho. Para

tanto, o trabalho em questão restou dividido em três partes distintas. Na primeira,

apresentar-se-á sobre as noções gerais quanto ao processo do trabalho. Na

segunda, analisar-se-á os trâmites da execução no processo do trabalho até o

momento da nomeação do depositário. Na terceira e última, examinar-se-ão o

conceito do depositário fiel, bem como, da possível nomeação do depositário sem

sua anuência na Justiça do Trabalho. Nesta terceira parte, adentra-se no

principal objetivo do trabalho, qual seja o estudo sobre a nomeação de oficio do

depositário judicial nomeado pelo juiz, sem a sua assinatura no auto de penhora,

mesmo com o não consentimento o juiz faz a nomeação e o depositário assume o

cargo de auxiliar da justiça para guardar e conservar o bem apreendido até que

seja chamado para devolver a quem de direito. Desta feita, a questão induz

análise criteriosa, pois a forma de nomeação, na opinião de alguns doutrinadores,

pode ferir literalmente o direito de cada cidadão garantido na Constituição da

Republica Federativa do Brasil de 1988, igualmente afrontando os Tratados

Internacionais e o Pacto de San José da Costa Rica que passaram a integrar

parte da doutrina em nosso sistema jurídico a partir de 06 de julho de 1992.

Palavras-chave: Depositário (in) fiel; execução; processo; processo de execução;

prisão civil.

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ABSTRACT

This study aims to examine the responsibility of the civil prison of the depositary

(in) faithful letter appointed by the judge in the process of work. To this end, the

work in question remained divided into three distinct parts. At first, shall take on

the general notions about the process of work. In the second, it will examine the

steps in the process of implementation of the work to date of the appointment of

the custodian. In the third and last, will examine the concept of depositary faithful,

and the possible appointment of depositary without his permission in Justice

Labour. In this third part, enters into the main objective of this work, which is the

study on the appointment of judicial craft of depositary appointed by the judge

without his signature in self-attachment, even if the judge does not consent to the

appointment and the depositary took the office of auxiliary of justice to save and

preserve the property seized until it is required to return where it belongs. This

time, the question leads careful review, as the manner of appointment, in the

opinion of some doutrinadores, can literally injuring the right of every citizen

guaranteed in the Constitution of the Federative Republic of Brazil in 1988, also

afrontando international treaties and the Pact of San José of Costa Rica who have

joined the doctrine in our legal system from 06.07.1992.

Key words: Depositary believer (in); implementation; process; process of

implementation; civil prison.

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1 INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como estudo a responsabilidade da prisão

civil do depositário (in) fiel quando nomeado de oficio pelo juiz no processo do

trabalho.

Alguns juristas entendem que não há exigência legal de que o auto de

penhora e depósito tenha a sua validade formal condicionada à assinatura, do

depositário, conforme o que reza o art. 665, IV, do CPC, e ver-se-á que o único

requisito, no particular, é a nomeação (eleição, indicação) do depositário,

inexistindo qualquer referencia à sua assinatura.

Logo, segundo parcela da doutrina e jurisprudência é suficiente que o

oficial de justiça e o magistrado nomeie, embora nada proíba que o depositário

também lance o seu autógrafo no auto.

Porém, grande divergência, existe quanto aos requisitos para a nomeação

do depositário. No que dispõe o art. 666, c/c o art. 665, IV, do CPC, torna claro

que, para alguns em contrapartida, incumbe ao oficial de justiça à nomeação, sob

supervisão judicial, e, ademais, o encargo dependerá da anuência do particular

eventualmente indicado.

É nesse momento que surge a controvérsia, ponto de exame da presente

pesquisa e alvo de entendimentos divergentes.

Para tanto, tais indagações fizeram refletir sobre necessária assinatura do

depositário no auto de penhora e conseqüentemente, a responsabilidade da

prisão quando o depositário passa a ser reconhecido como infiel.

Assim, o objetivo do trabalho é estudar a possível responsabilização do

depositário que não assinou o auto de penhora, porém fora nomeado de oficio.

No mais, foram levantadas as seguintes hipóteses: em que momento é

formalizado a penhora e se o auto de penhora tem que ser necessariamente

assinado pelo depositário; quando efetivamente surge à figura do depositário no

processo do trabalho e, em que momento ele assume o encargo; e, por fim, se é

possível a nomeação de oficio do depositário e, consequentemente, sua

responsabilização.

Para tanto, a presente pesquisa é dividida em três partes distintas, nas

quais, se desenvolverá todo o arcabouço teórico pertinente.

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No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre as noções introdutórias do

processo do trabalho, seu surgimento, conceito, bem como, a legislação aplicável,

as fontes, os princípios e as fases que norteiam o processo do trabalho.

No segundo capítulo, serão demonstrados os trâmites da execução no

processo do trabalho. Ou seja, a competência para processamento da execução,

a legalidade e os meios de execução (definitiva e provisória) os títulos que são

executados na justiça do trabalho, como também a fase de liquidação, o

processamento da execução e a fase da expropriação judicial.

Já no terceiro capítulo, examinar-se-á mais detalhadamente o encargo do

depositário (in) fiel. Seu conceito e finalidade, bem como, a possível

responsabilização e decretação da prisão civil quando este fora nomeado de

ofício e não assinou o auto de penhora.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, será utilizado o

método dedutivo, que consiste em pesquisas que partirão do conceito do

processo do trabalho, bem como, até o momento da nomeação do depositário

nesta fase processual.

Com efeito, a técnica utilizada é a documental indireta, ou seja, as

doutrinas e as legislações referentes ao tema, também se utilizará à pesquisa

documental direta, por meio de análise de jurisprudências e artigos referentes ao

assunto.

Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o

esclarecimento de alguns pontos controvertidos/ polêmicos quando a nomeação

do depositário judicial nomeado de oficio pelo juiz do trabalho e a sua anuência ou

não no termo de compromisso do auto de penhora no processo do trabalho e

possível responsabilização da prisão civil.

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2 DO PROCESSO DO TRABALHO

2.1 DO PROCESSO – NOÇÕES GERAIS

Para dar-se início ao estudo da execução no processo do trabalho e

possível exposição da discussão quanto à prisão civil do depositário (in) fiel objeto

do estudo, necessário se faz apresentar brevemente como se dá a prestação

jurisdicional em nosso ordenamento jurídico, e, em especial na justiça

especializada do trabalho.

Neste sentido há que se apresentar a jurisdição. A palavra Jurisdição

deriva do latim jurisdictio (ação de administrar a justiça, judicatura). Formado,

como se vê, das expressões jus dicere, juris dictio, é usado precisamente para

designar as atribuições especiais conferidas aos magistrados, encarregados de

administrar a justiça. Assim, em sentido eminentemente jurídico ou propriamente

forense, exprime a extensão e limite do poder de julgar de um juiz. 7

Para desempenho da função acima, estabeleceu-se a jurisdição como o

poder que toca ao Estado, entre as suas atividades soberanas, de formular e

fazer atuar praticamente a regra jurídica concreta que, por força do direito vigente,

disciplina determinada situação jurídica. 8

Não foram, porém, instituídos os órgãos jurisdicionais para definir

academicamente meras hipóteses jurídicas, nem tampouco para interferir ex

officio nos conflitos privados de interesse entre os cidadãos.

Assim, sua função jurisdicional em regra, só atua diante de casos

concretos de conflitos de interesse (lide ou litígio) e sempre na dependência da

invocação dos interessados, porque são deveres primários destes a obediência à

ordem jurídica e a aplicação voluntária de suas normas nos negócios jurídicos

praticados. 9

7 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 23. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2004 8 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 45. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.38. 9 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. p.39.

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Destarte, a jurisdição abrange mais do que a declaração do Estado de

que uma das partes em conflito tem razão. Compreende ainda a tutela

jurisdicional ou proteção efetiva do Estado a quem é titular de um direito, isto é,

possibilidade de obrigar o vencido a cumprir a decisão estatal (coerção), pagando,

por exemplo, sua dívida 10.

Ocorre que, para exercer a função jurisdicional, o Estado cria órgãos

especializados. Mas estes órgãos encarregados da jurisdição não podem atuar

discricionária ou livremente, dada a própria natureza da atividade que lhes

compete. Subordina-se, por isso mesmo, a um método ou sistema de atuação,

que vem a ser o processo, assim, o processo se apresenta como a “série de atos

coordenados regulados pelo direito processual, através dos quais se leva a cabo

o exercício da jurisdição”11.

Processo, como já se afirmou, é método, isto é, o sistema de compor a

lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público,

enquanto procedimento é a forma material com que o processo se realiza em

cada caso concreto12.

Tem-se que, o modo próprio de desenvolver-se o processo, conforme as

exigências de cada caso é exatamente o procedimento do feito, isto é, o seu rito.

É o procedimento, de tal sorte, que dá exterioridade ao processo, ou à relação

processual, revelando-lhe, o modus faciendi com que se vai atingir o escopo da

tutela jurisdicional, em outras palavras, é o procedimento que, nos diferentes tipos

de demanda, define e ordena os diversos atos processuais necessários13.

Importante destacar que, em sentido amplo, o processo é o instrumento

para a composição dos litígios que emergem da vida em sociedade. Em sentido

estrito, é o conjunto de atos processuais que se coordenam e se desenvolvem

desde o ajuizamento da ação até o transito em julgado da sentença, para que o

Estado-Juiz cumpra a sua obrigação fundamental, que é a entregar a prestação

jurisdicional invocada, solucionando as lides ocorrentes, com a aplicação do

10 ALVIM, J.E.Carreira. Teoria geral do processo. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 68. 11 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. p.49. 12 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. p.49. 13 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. p.50.

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16

Direito Objetivo, e entregando o bem da vida a quem tem o correspondente

direito14.

De modo que, ao passo para o processo deve obedecer ao devido

processo legal, que é constituído de normas (princípios e regras) que norteiam a

função jurisdicional do Estado.

De acordo com os apontados acima explanados, discorrerá de forma

célere a estrutura da justiça do trabalho, conforme Constituição Federal/ 88.

A jurisdição trabalhista, portanto, é exercida pelos órgãos (juízes e

tribunais) da Justiça do Trabalho que são: Tribunal Superior do Trabalho; Tribunal

Regional do Trabalho; os juízes do trabalho (art. 111 da CF/ 88)15.

Assim, a jurisdição da Vara do Trabalho é local, pois abrange geralmente

um ou alguns municípios e compõe-se de um Juiz do Trabalho titular e um Juiz do

Trabalho substituto, tendo a competência para conciliar e julgar os dissídios

individuais oriundos das relações de trabalho. Em comarca onde não exista Vara

do Trabalho, a lei pode atribuir a função jurisdicional trabalhista aos Juízes de

Direito com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho (art. 112 da

CF/88 e art.668 da CLT)16.

E por fim, com a alteração da EC 45/ 2004, no âmbito da Justiça laboral, a

competência material e em razão da pessoa tem como fundamento jurídico

principal o art. 114 da CF/ 88, artigo este recentemente alterado a qual ampliou,

significativamente, a competência material da Justiça do Trabalho17.

Em função da importância do tema, após uma breve passagem de

jurisdição e processo, entrar-se-á na seara histórica do processo do trabalho.

2.2 DO PROCESSO DO TRABALHO – NOÇÕES HISTÓRICAS

No início, as constituições brasileiras versavam apenas sobre a forma do

Estado, o sistema de governo. Após, passaram a tratar de todos os ramos do

14 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 5. ed.São Paulo: LTr, 2007. p. 315. 15 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Método, 2007. p. 60. 16 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 136. 17 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 67.

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direito e, especialmente, do Direito de Trabalho, como ocorre com nossa

Constituição atual.

No Brasil os primeiros órgãos criados para solucionar os conflitos

trabalhistas foram os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, os

quais, embora não efetivamente inseridos, foram instituídos pela Lei 1.637/1911

art. 8º18.

Renato Saraiva comenta que:

Posteriormente, a Lei 1.869, de 10.10.1922, criou, em São Paulo, os denominados Tribunais Rurais, de composição paritária (composto por um juiz de direito da comarca, um representante dos trabalhadores e outro, dos fazendeiros), com a função de dirimir conflitos até o valor de “quinhentos mil réis”, decorrentes da interpretação e execução dos contratos de serviços agrícolas. Todavia, os Tribunais Rurais não produziam resultados satisfatórios. 19

Mas em 1927 a Emenda Constitucional nº. 1 competia a união legislar

sobre o direito do trabalho.

De acordo com as transformações que vinham ocorrendo na Europa em

decorrência da primeira guerra mundial e aparecimento da OIT, em 1919,

incentivaram a criação de normas trabalhistas em nosso país. Como existiam

muitos emigrantes no Brasil que deram origem a movimentos operários

reivindicando melhores condições de trabalho e salários. Começa a surgir uma

política trabalhista idealizada por Getúlio Vargas em 193020. Nesta passagem

histórica importante relembrar que o direito do trabalho fazia parte do problema de

governo da aliança liberal entre Getúlio Vargas e João Pessoa.

Dois fatores contribuíram, de forma decisiva, na institucionalização da

Justiça do Trabalho no Brasil, quais sejam: o surgimento das convenções

coletivas de trabalho e a influencia da doutrina da Itália, visto que nosso sistema

acabou por copiar, em vários aspectos, o sistema italiano da Carta Del Lavoro, de

1927, de Mussolini (regime corporativo)21.

18 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 24 19 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 24 20 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 43. 21 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.24.

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Amauri Mascaro Nascimento22, sobre o tema, leciona que:

A convenção coletiva do trabalho entrou definitivamente no elenco das instituições jurídicas brasileiras, à margem da organização judiciária, e, com funções especificas, se erigiram as Comissões Mistas de Conciliação (Waldemar Ferreira). Essas comissões nasceram subseqüentemente e como conseqüências diretas da introdução das convenções coletivas (1932) e para atender à necessidade de um órgão para decidir e interpretar as questões delas oriundas.

Assim, nos municípios ou localidades onde existissem sindicatos ou

associações profissionais de empregadores ou empregados, foram criadas as

Comissões Mistas de Conciliação (1932), com a função, segundo Waldemar

Ferreira, especificamente jurisdicional, lançando as linhas de um autêntico tribunal

trabalhista, em cuja formação se encontrem representantes, em igual número, de

empregadores e empregados, decidindo, sob a presidência de pessoa estranha

aos interesses profissionais, de preferência membros da Ordem dos Advogados

do Brasil, magistrados e funcionários federais, estaduais ou municipais,

escolhidos aqueles por sorteio de nomes constantes de listas apresentadas pelos

sindicatos ou associações profissionais. 23

A Constituição de 1934 é a primeira constituição brasileira a tratar

especificamente do Direito do Trabalho. É a influência do constitucionalismo

social, que em nosso país só veio a ser sentida em 1934, garantia a liberdade

sindical (art. 120), isonomia salarial, salário mínimo, jornada de oito horas de

trabalho, proteção do trabalho das mulheres e menores, repouso semanal, férias

anuais remuneradas (§ 1º do art. 121).

A Constituição de 1937 instituiu o sindicato único por categoria, imposto

por lei, vinculado ao Estado, exercendo funções delegadas de poder público,

podendo haver intervenção estatal direta em suas atribuições. Foi criado o

imposto sindical, como uma forma de submissão das entidades de classe ao

Estado, pois este participava do produto de sua arrecadação. Estabeleceu-se a

competência normativa dos tribunais do trabalho, que tinha por objetivo principal

22 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 28. 23 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.p. 28

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desvirtuar o entendimento direto entre trabalhadores e empregadores. A greve e o

lockout 24 foram considerados recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao

capital e incompatível com os interesses da produção nacional (art. 139).

Entretanto, a Justiça do Trabalho somente surgiu como órgão autônomo,

em 01.05.1941, porém, subordinado ao Mistério do Trabalho, quando entrou em

vigor o Decreto- lei 1.237, de 02.05.1939, e o respectivo regulamento aprovado

pelo Decreto 6.596 de 12.12.194025.

Embora, não integrante ao Poder Judiciário, a partir de 1941, a Justiça do

Trabalho passou a exercer função jurisdicional, com poder de executar as

próprias decisões26.

Em 1943 entrou em vigor a Consolidação das Leis do Trabalho, a qual

dedicou dois títulos à organização judiciária (Título VIII – Da Justiça do Trabalho –

e Título IX – Do Ministério Público do Trabalho) e um terceiro, dedicado ao

processo do Trabalho (título X – Do processo Judiciário do Trabalho)27.

A Constituição de 1946 é considerada uma norma democrática, rompendo

com o corporativismo da Constituição anterior. A participação dos trabalhadores

nos lucros (art. 157, IV), repouso semanal remunerado (art. 157, VI), estabilidade

(art. 157, XIII), direito de greve (art. 158) e outros que se encontravam na norma

constitucional anterior.

A Constituição de 1967 manteve os direitos trabalhistas estabelecidas

nas Constituições anteriores, no art. 158, tendo praticamente a mesma redação

do art. 157 da Constituição de 1946, com algumas modificações. A EC nº 1, de

17-10-69, repetiu praticamente a Norma Ápice de 1967, no art. 165, no que diz

respeito aos direitos trabalhistas. Importe lembrar que o decreto-lei 779 de

21.08.1969 traz em redação “Dispõe sobre a aplicação de normas processuais

trabalhistas à União Federal, aos Estados, Municípios, Distrito Federal e Autarquias ou

Fundações de direito público que não explorem atividade econômica”.

No dia 05 de outubro de 1988, foi aprovada a atual Constituição, que trata

de direitos trabalhistas nos arts. 7º a 11. Os direitos trabalhistas foram incluídos

24 Lockout significa o fechamento de estabelecimento industriais, por determinação dos respectivos proprietários, unidos por uma coligação, em represália à greve dos operários, em um dos estabelecimentos. 25 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.26. 26 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.26. 27 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.26.

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nos Capítulos II, “Dos Direitos Sociais”, do Título II “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”, ao passo que nas Constituições anteriores os direitos trabalhistas

sempre eram inseridos no âmbito da ordem econômica e social. Para alguns

autores, o art. 7º da Constituição vem a ser uma verdadeira CLT, tantos os

direitos trabalhistas nele albergados. Tratando o art. 7º da Constituição de direitos

individuais e tutelares do trabalhador. O art. 8º versa sobre o sindicato e suas

relações. O art. 9º especifica regras sobre a greve. O art. 10 determina disposição

sobre a participação dos trabalhadores em colegiados. Menciona o art. 11 que

nas empresas com mais de 200 empregados é assegurada à eleição de um

representante dos trabalhadores para entendimentos com o empregador.

Após, noções históricas passasse a seguir as noções gerais do processo

do trabalho, bem como sua definição.

2.3 DO PROCESSO DO TRABALHO – NOÇÕES GERAIS

Direito Processual do Trabalho é o ramo da ciência jurídica, dotado de

normas e princípios próprios para a atuação do direito de trabalho e que disciplina

a atividade das partes, juízes e seus auxiliares, no processo individual e coletivo

do Trabalho28.

Conforme Sérgio Pinto Martins29:

Direito Processual do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à relação de trabalho.

Conseqüentemente, Tostes Malta30 ensina que:

Em nosso ordenamento jurídico o direito processual trabalhista, coerentemente com todo o direito processual, é o método pelo qual o Estado exerce a jurisdição em face de conflitos de interesses oriundos da prestação de serviços, na solução de

28 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 27. 29 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.18. 30 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Prática do processo do trabalhista. 34 ed. São Paulo: LTR, 2006. p.27.

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dissídios coletivos e em outras hipóteses relativamente às quais a lei determine expressamente sua aplicação.

O direito processual tem por finalidade principal evitar, portanto, a

desordem e garantir aos litigantes um pronunciamento do Estado para resolver a

pendência e impor a decisão. Do seu desenvolvimento resultaram ramos, dentre

os quais o direito processual civil, o direito processual penal e o direito processual

do trabalho, relacionados respectivamente, com o direito civil e o comercial, o

direito penal e o direito do trabalho, porém não se confundindo com eles, porque

são considerados setores autônomos e desvinculados31.

É certo que, em relação à autonomia do direito processual do trabalho

perante o direito processual comum, existem divergências na doutrina, que dão

origens as duas teorias, a monista e dualista32.

A teoria monista, minoritária, preconiza que o direito processual é unitário,

formado por normas que não diferem substancialmente a ponto de justificar a

divisão e autonomia do direito processual do trabalho, do direito processual civil e

do direito processual penal33.

Já a teoria dualista, significativamente majoritária, sustenta a autonomia

do direito processual do trabalho perante o direito processual comum, uma vez

que o direito instrumental laboral possui regulamentação própria na Consolidação

das Leis do Trabalho, sendo inclusive dotados de princípios e peculiaridades que

o diferenciam, substancialmente, do processo civil34.

Frisa-se, também, que é o próprio texto consolidado que determina a

aplicação, apenas subsidiária, das regras de processo civil, em caso de lacuna da

norma instrumental trabalhista35.

In verbis art. 769 CLT: “Nos casos omissos, o direito processual comum

será fonte subsidiaria do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for

incompatível com as normas deste titulo”.

Não obstante, há que se ressaltarem alguns autores levantaram a

existência de uma terceira teoria que pode ser chamada de inominada. Coqueijo

31 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. p.55-56. 32 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 28. 33 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 28. 34 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 28-29. 35 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 28-29.

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Costa afirma que o Direito Processual do Trabalho “é autônomo, pois não há

direito especial sem juiz próprio, sem matéria jurídica especial e sem direito

autônomo. Sua matéria é extensa, sua doutrina homogênea e tem método

próprio”. Essa posição é adotada por diversos doutrinadores, como Wagner

Giglio, Délio Maranhão, Toste Malta36.

Na Constituição, o direito processual diz respeito à própria jurisdição

constitucional, que reúne os instrumentos jurídicos destinados à garantia dos

direitos humanos contidos na própria Constituição, como os institutos do habeas

corpus, habeas data, o mandado se segurança, a ação civil pública, a ação direta

de inconstitucionalidade.

Enfim, no direito processual do trabalho, sua finalidade primordial reside,

portanto, na realização dos escopos social, político e jurídico do processo sob a

perspectiva do direito material do trabalho, sendo assim, importante são as fontes

do processo do trabalho, ou seja, a própria origem do direito, o lugar donde ele se

origina, na qual, passará a explanação a seguir.

2.4 DAS FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO

Fonte vem do latim fons, com o significado de nascente, manancial.37

No significado vulgar, fonte tem o sentido de nascente de água, o lugar

donde brota água. Figuradamente, refere-se à origem de alguma coisa, de onde

provém algo. Fonte de Direito tem significado metafórico, em razão de que já é

uma fonte de varias normas. 38

Sergio Pinto Martins39 destaque que:

As fontes podem ser classificadas em heterônomas e autônomas. Heterônomas são as impostas por agente externo. Exemplos: constituição, leis, decretos, sentença normativas, regulamento de empresa, quando unilateral. Autônomas são as elaboradas pelos próprios interessados. Exemplos: costumes, convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa (quando bilateral), contrato de trabalho.

36 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p.21. 37SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. p.627. 38 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.29. 39 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.30.

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Assim, as fontes formais do Direito Processual do Trabalho são as que

lhe conferem o caráter de direito positivo. Dividem-se em: a) fontes formais

diretas: que abrangem a lei em sentido genérico (atos normativos e

administrativos pelo Poder Público) e o costume; b) fontes formais indiretas: que

são extraídas da doutrina e da jurisprudência; c)fontes formais de explicação: que

são fontes integrativas do direito processual, tais como a analogia, os princípios

gerais de direito e a eqüidade40.

A Constituição brasileira de 1988 contém não apenas normas e princípios

gerais do direito processual, mas também normas e princípios específicos do

direito processual do trabalho, tais como os que dispõem sobre a competência da

Justiça do Trabalho, não apenas para os dissídios individuais e coletivos entre

trabalhadores e empregadores (relação de emprego), mas, também, para outras

relações de trabalho (CF, art. 114, incisos e parágrafos, com redação dada pela

EC n. 45/ 2004). 41

Atualmente, no patamar infraconstitucional, podem-se destacar as

seguintes fontes formais diretas básicas do Direito Processual do Trabalho: a) a

consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n. 5452, de 1º de maio de 1943);

b) a Lei n.5.584/ 70, que estabelece normas procedimentais aplicáveis ao

processo do trabalho; c) o Código de Processo Civil, aplicado subsidiariamente

em caso de lacuna da legislação trabalhista e desde que haja compatibilidade

daquele com os princípios do direito processual do trabalho; d) a Lei n. 6830/ 80

(Lei de Execução Fiscal), aplicada principalmente na execução trabalhista; e) a

Lei n. 7.701/ 88, que dispõe sobre organização e especialização dos tribunais em

processos coletivos e individuais42.

Carlos Henrique Bezerra Leite comenta que:

Em matéria de tutela dos interesses metaindividuais trabalhistas não podemos deixar de mencionar a Lei Complementar n.75 de 20.05.1993, que instituiu o Estatuto do Ministério Público da União, do qual faz parte o Ministério Público do Trabalho. Esse

40 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5. ed.São Paulo: LTr, 2007 p. 39. 41 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 40. 42 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 40.

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Estatuto, também chamado de LOMPU (Lei Orgânica do Ministério Público da União), contém inúmeros instrumentos de atuação do Parquet laboral no âmbito da Justiça do Trabalho, dentre eles a ação civil pública, a ação anulatória de cláusula convencional, etc., constituindo, assim, inegável fonte legislativa do direito processual do trabalho. 43

Ainda referente às fontes formais indiretas, não há negar que a doutrina e

jurisprudência cumprem importante papel na interpretação do Direito Processual

do Trabalho.

Sergio Pinto Martins44 comenta que:

Contudo, a doutrina e a jurisprudência também exercem importante papel, ao analisar as disposições processuais trabalhistas, mas a verdadeira fonte é a legislação. A jurisprudência não pode ser considerada como fonte do Direito Processual do Trabalho. Ela não se configura como regra obrigatória, mas apenas o caminho predominante em que os tribunais entendem de aplicar a lei, suprimindo, inclusive, eventuais lacunas desta última. A doutrina também se constitui em valioso subsidio para a análise do Direito Processual do Trabalho, mas também não se pode dizer que venha a ser uma de suas fontes, justamente porque os juízes não estão obrigados a observar a doutrina em suas decisões, tanto que a doutrina muitas vezes não é pacifica, tendo posicionamento opostos.

Quanto às fontes formais de explicitação, o art. 769 da CLT permite a

aplicação subsidiaria do art. 126 do CPC, que dispõe, in verbis.

“O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou

obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais;

não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de

direito”, sendo certo que o art. 127 do mesmo digesto preceitua que o “juiz só

decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei”.

E ainda o art. 8º da CLT, quando a lei volta-se para a Administração

Pública, e diz: "As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho decidirão

[...]”. Está mostrando meios, paradigmas, mecanismos de busca da verdade real,

fática do caso concreto. É tanto que no final do artigo 8º, dispõe: "nenhum

interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público [...]."

43 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 43. 44 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.31.

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Por fim, a respeito dos tratados internacionais, as fontes são, a rigor,

normas de origem estatal, porquanto firmadas por pelo menos dois Estados

soberanos. Tanto é assim que o STF vinha decidindo – bem ou mal- que os

tratado internacionais ratificados pelo Brasil, mesmo os que versassem sobre

direitos humanos, ingressariam no ordenamento jurídico doméstico na categoria

de leis ordinárias. 45

2.5 DOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO DO TRABALHO

2.5.1 Dos Princípios – Noções Gerais

Princípios significam as normas elementares ou os requisitos primordiais

instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. No conceito de Renato

Saraiva46 são proposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o

legislador na elaboração da norma, também atuam como fonte integradora da

norma, suprindo as omissões e lacunas do ordenamento jurídico. Os princípios

exercem ainda importante função, atuando como instrumento orientador na

interpretação de determinada norma pelo do direito, portanto, desempenham uma

tríplice função: informativa, normativa e interpretativa.

Sergio Pinto Martins47 esclarece que “os princípios são as proposições

básicas que fundamentam as ciências, informando-a e orientando-as. Para o

Direito, o princípio é o seu fundamento, a base que irá informar e inspirar as

normas jurídicas”.

Dando continuidade Tostes Malta48 ensina que:

Os princípios gerais do direito são idéias básicas que orientam um ou mais sistemas jurídicos, como a de que o direito deve voltar-se para uma organização da sociedade que atenda ao bem comum. Tais princípios são freqüentemente vagos e modificam-se com o correr do tempo. Os princípios processuais trabalhistas, em harmonia com o que dissemos a propósito da autonomia de

45 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 2006. p. 45. 46 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.31. 47 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p.37. 48 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Prática do processo do trabalhista. 34 ed. São Paulo: LTR, 2006. p. 30.

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direito processual trabalhistas, são os mesmos adotados pelo direito processual civil e por todo o direito processual.

Alguns autores costumam confundir princípios de Direito Processual

Comum com os princípios do Direito Processual do Trabalho, esquecendo-se de

que, na verdade, não se trata de princípios desta ultima, mas de suas

particularidades ou peculiaridades, que têm maior realce no processo do trabalho. 49

2.5.2 Dos princípios próprios do processo do trabalho

Sergio Pinto Martins50 entende que “o processo do trabalho tem apenas

um princípio, estando nele englobadas diversas peculiaridades”.

Em explicação abrangente, Renato Saraiva51 ressalva que a identificação

dos princípios do direito processual do trabalho não encontra unanimidade na

doutrina, sendo ponto de discórdia entre os autores, cada um arrolando princípios

próprios, havendo pequena coincidência entre eles. A divergência citada é

natural, pois o processo do trabalho é neófito, incompleto e assistemático, ainda

utilizando, subsidiariamente, boa parte das normas do processo civil, carecendo

de uma legislação mais abrangente e completa que defina seus próprios

princípios, o que acaba por fazer com que os autores transportem para o campo

trabalhista os princípios gerais do processo civil, adequando-os às peculiaridades

e particularidade do processo do trabalho.

Carlos Henrique Bezerra Leite52, em comentário, explica:

Não há desejável uniformidade entre os teóricos a respeito da existência de princípios peculiares ou próprios do direito processual do trabalho. Alguns entendem que os princípios do direito processual do trabalho são os mesmos do direito processual civil, apenas ressaltando ênfase maior quando da aplicação de alguns princípios procedimentais no processo laboral. Outros sustentam que existem apenas dois ou três princípios peculiares do direito processual do trabalho.

49 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p.39. 50 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. p.40. 51 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.31. 52 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 72.

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Como já explanado, há uma divergência muito calorosa entre os

doutrinadores sobre os princípios processuais trabalhista, o importante é buscar

uma forma clara e objetiva de como os princípios são utilizado no processo do

trabalho, assim, tomaremos como marco os ensinamentos de Carlos Henrique

Bezerra Leite.

2.5.2.1 Princípio da Proteção

Para Sergio Pinto Martins53, o verdadeiro princípio do processo do

trabalho é o da proteção. Assim, como no Direito do Trabalho, as regras são

interpretadas mais favoravelmente ao empregado, em caso de duvida, no

processo do trabalho também vale o princípio protecionista, porém analisado sob

o aspecto do direito instrumental. Esse princípio é de âmbito internacional, não

vigorando apenas no Brasil, mas em outros países.

O princípio da proteção, conforme Carlos Henrique Bezerra Leite54, deriva

da própria razão de ser do processo do trabalho, o qual foi concebido para

realizar o Direito do Trabalho, sendo este ramo da árvore jurídica criado

exatamente para compensar a desigualdade real existente entre empregado e

empregador, naturais litigantes do processo laboral.

Conforme art. 790, § 3° da CLT:

É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de oficio, o beneficio da justiça gratuita, inclusive quanto a traslado e instrumento, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal ou declararem, sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

E ainda, na audiência trabalhista implica o arquivamento dos autos para o

autor e revelia e confissão ficta para o réu. Esse tratamento diferenciado constitui

a exteriorização do princípio de proteção ao trabalhador no âmbito do processo

53 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.41. 54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 73.

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laboral. É o que deflui do art. 844 da CLT55, segundo o qual o “não

comparecimento do reclamante à audiência importa o arquivamento da

reclamação, e o não comparecimento do reclamado importa revelia, além de

confissão, quanto à matéria de fato”.

O art. 899, § 4º da CLT comenta a obrigatoriedade do depósito recursal

exigido apenas do empregador, e nunca do empregado, revela tratamento legal

diferenciado entre as partes, o que não deixa de ser uma emanação do princípio

da proteção. 56

No processo do trabalho, parte-se da idéia de que as partes são

desiguais, necessitando o empregado da proteção da lei. Não é a justiça do

trabalho que tem cunho paternalista ao proteger o trabalhador, ou o juiz que

sempre pende para o lado do empregado. Protecionista é o sistema adotado pela

lei, isso não quer dizer, portanto, que o juiz seja sempre parcial em favor do

empregado, ao contrario o sistema visa proteger o trabalhador. 57

2.5.2.2 Princípio da Finalidade Social

A diferença básica entre o princípio da proteção e o princípio da finalidade

social é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano

processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na

medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar

o momento de proferir a sentença58.

Contudo, parece que os dois princípios (proteção e finalidade social) se

harmonizam e, pelo menos nem nosso ordenamento jurídico, permitem que o juiz,

na aplicação da lei, possa corrigir uma injustiça da própria lei. É o que prescreve o

art. 5º do Decreto-Lei nº. 4.657/ 1942 (LICC), segundo o qual, “na aplicação da lei,

55 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.47. 56 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 75. 57 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.41. 58 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 77.

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o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem

comum”59.

2.5.2.3 Princípio da Busca da Verdade Real

Este princípio processual deriva do princípio do direito material do

trabalho, conhecido como princípio da primazia da realidade. A Consolidação das

Leis do Trabalho consagrou tal princípio no art. 765, ao dispor que os juízos e

tribunais do trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo

andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência

necessária ao esclarecimento delas60.

2.5.2.4 Princípio da Indisponibilidade

Este princípio constitui emanação do princípio da indisponibilidade ou

irrenunciabilidade do direito material do trabalho no campo do processo do

trabalho. 61

Carlos Henrique Bezerra Leite62 esclarece que:

Justifica-se a peculiaridade do princípio nos domínios do processo do trabalho, pela considerável gama de normas de ordem pública do direito material do trabalho, o que implica a existência de um interesse social que transcende a vontade dos sujeitos do processo no seu cumprimento e influencia a própria gênese da prestação jurisdicional.

2.5.2.5 Princípio da Conciliação e da Transação

O art. 764 da CLT contempla, de forma explícita, o princípio da

conciliação, ao dispor que os dissídios individuais ou coletivos submetidos à

apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação63. 59 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 77. 60 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.47. 61 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 79. 62 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 78.

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Ainda, a dois momentos de proposta conciliatória obrigatória no

procedimento comum: a abertura da audiência (art. 846 da CLT) e após razões

finais (art. 850 da CLT)64.

Porém, no procedimento sumaríssimo, dispõe o art. 852-E da CLT65 que

“aberta à sessão, o juiz esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da

conciliação e usará os meios adequados de persuasão para a solução

conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência”.

As partes, aceitando a conciliação proposta, podem lavrar o respectivo

termo de conciliação, que de acordo com o art. 876 da CLT, é considerado como

um título executivo judicial, valendo como decisão irrecorrível para as partes,

salvo para a Previdência Social, quanto às contribuições que lhe forem devidas66.

A súmula 259 do TST estabelece que somente por ação rescisória é

impugnável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do art. 831 da

CLT67.

Com o advento da EC n. 45/ 200468, que deu nova redação ao art. 114 da

CF/ 88, houve supressão do termo “conciliar e julgar”, cabendo agora à Justiça do

Trabalho “processar e julgar”.

Embora o princípio da conciliação não seja exclusivamente do processo

laboral, parece-nos que é aqui que ele se mostra mais evidente, tendo, inclusive,

um iter procedimentalis peculiar, com efeito, é o que dispõe o art. 764 e seus

parágrafos da CLT. No mesmo sentido, art. 831 da CLT69 estabelece uma

condição intrínseca para a validade da sentença trabalhista, ao estabelecer que

ela somente “será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de

conciliação”.

63 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p.577 64 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p.697-699. 65 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p.704. 66 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p.39. 67 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Mecum. 3.ed.atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.p.1734. 68 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 80. 69 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 80-81.

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2.5.2.6 Princípio da Normatização Coletiva

A Justiça do Trabalho brasileira é a única que pode exercer o chamado

poder normativo, que consiste no poder de criar normas e condições gerais e

abstratas (atividade típica do Poder Legislativo), proferindo sentença normativa

(rectius, acórdão normativo) com eficácia ultra partes, cujos efeitos irradiarão para

os contratos individuais dos trabalhadores integrantes da categoria profissional

representada pelo sindicato que ajuizou o dissídio coletivo70.

2.5.3 Outros Princípios

Além dos princípios já abordados, a doutrina costuma invocar outros

princípios. Todavia, esses princípios são comuns ao processo do trabalho e ao

processo civil. 71

O princípio da simplicidade de procedimentos engloba uma série de

outras peculiaridades do processo do trabalho. A simplificação de procedimentos

vem abeberar-se no processo do trabalho para fazer modificações. O art. 2° da

Lei n° 9.099/95 menciona que o processo nos juizados especiais de pequenas

causas será orientado pela simplicidade72.

Na justiça do trabalho, as partes detêm o ius postulandi, ou seja, a

capacidade de ingressar em juízo com ação, independentemente da constituição

de advogado, principalmente em razão da hipossuficiência do trabalhador, que

não tem condições de contratar advogado. Permite o art. 791 da CLT que não só

o empregado, como também o empregador ajuízem a ação pessoalmente e

acompanhem os demais trâmites do processo73.

E ainda, toda a comunicação processual no processo do trabalho é feita

pelo correio, prescindindo-se do oficial de justiça para esse fim, o que agiliza a

ciência dos atos processuais. Tal questão foi aproveitada no processo civil, com

as comunicações dos atos processuais sendo feitas pelo correio (art. 222 do 70 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 81. 71 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2006. p. 82. 72 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.42. 73 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.42.

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CPC). A partir do momento em que o oficial de justiça passou a ser também

avaliador eliminou-se outra etapa dispendiosa, que era a contratação de perito

para fazer a avaliação do bem penhorado, como ainda ocorre no processo civil.

No processo do trabalho o próprio oficial de justiça, ao fazer a penhora, já avalia o

bem74.

O princípio da ultra (além) ou da extrapetição (fora do pedido) não é

admitido no processo civil, em que são observados os arts. 128 e 460 do CPC. O

juiz não pode julgar fora ou além do pedido e da causa de pedir. O referido

princípio é aplicado no processo do trabalho em certos casos. O art. 467 da CLT

permite ao juiz determinar o pagamento das verbas rescisórias incontroversas

com acréscimo de 50%, caso não sejam pagas na primeira audiência em que

compareceu o réu, ainda que sem pedido do autor (ultrapedição), O art. 496 da

CLT dispõe que o juiz poderá determinar o pagamento de indenização ao

empregado estável, dada a incompatibilidade do retorno deste ao serviço, mesmo

que o empregado só tenha pedido a reintegração (extrapetição).75

Pode-se dizer que as regras contidas nos arts. 467 e 496 da CLT são

dirigidas ao juiz e não às partes, independendo de pedido. São, portanto, normas

de ordem pública, que devem ser aplicadas pelo juiz independentemente de

pedido expresso. O próprio art. 467 da CLT seria uma hipótese de sanção pelo

não-pagamento das verbas rescisórias do empregado, pois o salário é seu meio

de sustento. Poder-se-ia até mesmo afirmar que tais regras, assim como o

pagamento de juros e correção monetária, estão implícitas no pedido, pois o

credor não pretenderia receber a divida em valor original, passados tantos anos e

em razão da existência de inflação que corrói o poder de compra da moeda.76

Entende-se estar caracterizada a autonomia do processo do trabalho, que

tem princípios distintos do processo civil, e peculiaridades que o individualizam

dos demais ramos da ciência processual, tanto que, no processo do trabalho a

classificação da ação, segundo o entendimento da doutrina dominante, deve levar

em consideração a natureza da prestação jurisdicional nela perseguida, que terá

mais ênfase a seguir.

74 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.42. 75 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.43. 76 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 44.

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2.6 DO PROCESSO DO TRABALHO – CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES

2.6.1 Fase de conhecimento

A fase de conhecimento refere-se aquela em que o autor invoca a

jurisdição, visando à obtenção de uma sentença que ponha termo à lide. É

necessário o conhecimento da matéria pelo juiz por meio de todo um

procedimento regular, porque as partes não lhe oferecem desde o inicio todo o

material que lhe permitiria emitir desde logo uma decisão que acolhesse ou

rejeitasse a pretensão deduzida pelas partes em juízo77.

Renato Saraiva78 explica que:

Na ação de conhecimento, objetiva o demandante a obtenção de uma sentença judicial para a solução do conflito de interesses apresentados. Nela o autor invoca a prestação jurisdicional pelo Estado, em busca de uma sentença que ponha termo à lide.

Sergio Pinto Martins79 pontua que:

As ações de conhecimento são aquelas em que se busca a solução de dados conflitos de interesses ou de uma pretensão resistida. Nessa fase processual, apenas vai ser assegurado se o direito é devido ou não, sem se compelir a parte contrária a cumprir o resultado que for proclamado.

Eduardo Gabriel Saad80 comenta que:

No processo de conhecimento, o juiz se inteira do conflito de interesses, toma ciência do pedido do Reclamante, aprecia a defesa do Reclamado, sopesa a prova produzida pelas partes e profere a sentença em que aplica a vontade da lei ao caso concreto.

77 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 291. 78 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.275. 79 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.226. 80 SAAD, Eduardo Gabriel. Direito processual do trabalho. 4.ed. São Paulo: Ltr, 2004. p. 175

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No âmbito laboral, as ações de conhecimento assumem uma

característica própria, visto que podem ser individuais (dissídios individuais) ou

coletivas (dissídios coletivos). No gênero a fase de conhecimento, comporta uma

subclassificação: condenatória (o réu é condenado a dar, fazer ou não fazer

alguma coisa); constitutiva (visa à modificação, criação ou extinção de uma

relação jurídica, não cria direitos novos: limita-se apenas a reconhecer o direito

preexistente, o qual só se torna efetivo com a intervenção judicial); declaratória

(têm por finalidade obter a declaração da existência ou inexistência de uma

relação jurídica ou a autenticidade ou a falsidade de documento)81.

2.6.2 Fase recursal

Recurso pode ser entendido em sentido amplo, um meio de proteger um

direito: ações, recursos processuais ou administrativos, exceções, contestações,

reconvenções, mediadas cautelares. Em sentido restrito, é a provocação de um

novo julgamento, na mesma relação processual, da decisão pela mesma ou por

outra autoridade judiciária superior82.

Manoel Antônio Teixeira Filho83 refere que: “recurso é o direito que a parte

vencida ou o terceiro possui de, na mesma relação processual, e atendidos os

pressupostos da admissibilidade, submeter a matéria contida na decisão recorrida

a reexame, pelo mesmo órgão prolator, ou por órgão distinto e hierarquicamente

superior, com o objetivo de anulá-la, ou de reformá-la, total ou parcialmente”.

Assim, recurso, como espécie de remédio processual, é um direito

assegurado por lei para que a(s) parte(s), o terceiro juridicamente interessado ou

o Ministério Público possam provocar o reexame da decisão proferida na mesma

relação jurídica processual, retardando, assim a formação da coisa julgada.

2.6.3 Fase executória

81 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 291. 82 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 625. 83 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Sistemas dos recursos trabalhistas. 5.ed. São Paulo: LTr, 1991. p. 66.

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Esta fase constitui o meio pelo qual o vencedor da demanda, isto é, o

credor da obrigação reconhecida na sentença pode pedir a efetivação, a

realização prática da sanção prevista no título judicial. Com a promulgação da Lei

nº. 9.958 de 12.1.2000, o referido dispositivo sofreu considerável alteração, na

medida em que passou a admitir não apenas as sentenças de mérito ou

homologatórias de acordos passíveis de execução, mas também os “termos de

ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos

de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia”84.

No entanto, os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério

Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões

de Conciliação Prévia são autênticos títulos executivos extrajudiciais. Para

satisfazer os comandos obrigacionais desses títulos, portanto, não há mais

necessidade de um longo processo de conhecimento85.

84 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 293. 85 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 294.

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3 DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

3.1 DA EXECUÇÃO- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E CONCEITUAIS

A palavra execução, derivada do latim exsecutio, de exsequi (seguir até o

fim, proceder judicialmente, perseguir), possuindo, na terminologia jurídica uma

variedade de acepções, todas elas tendentes a mostrar a intenção ou o desejo de

levar a cabo alguma coisa, ou de realizar um plano ou projeto, concebido

anteriormente, ou concluir o que fora iniciado. Significa assim o ato ou a ação,

que não vem isolada86.

Historicamente ressalta-se que a legislação em vigor na Roma Antiga era

extremamente rigorosa em relação à pessoa que não adimplisse a obrigação

assumida. Os credores romanos, ao contrario do que ocorre atualmente, não

podiam executar o patrimônio do executado, recaindo a execução na pessoa do

próprio devedor. Assim, a execução era pessoal e não patrimonial, pelo sistema

da manus iniectio (consagrada na Lei das Doze Tábuas), decorridos trinta dias da

data da prolação da sentença, o credor tinha a faculdade de conduzir o devedor a

juízo, valendo-se, se necessário, de medidas drásticas e violentas, objetivando

receber seu crédito87.

Ao devedor, em contrapartida, restavam as seguintes alternativas: quitar a

divida ou encontrar alguém que a honrasse; não pago o credito, o devedor era

conduzido à residência do credor, permanecendo acorrentado em regime de

cárcere privado, cabendo ao exeqüente anunciar a divida em três feiras

consecutivas, de modo a permitir que familiares do executado, ou mesmo

terceiros, honrassem a divida. Não surgindo interessado em quitar a divida, ao

credor restava à opção de vender o devedor como escravo ou mesmo matá-lo. Na

hipótese de serem vários os credores, assegurava-se a estes o direito de

esquartejar o executado, partilhando-se os restos mortais, ou alternativamente,

86 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. p.576. 87 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 526.

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vendê-lo como escravo, partilhando o produto da venda na proporção dos

respectivos créditos.88

Nos dias atuais, contudo, essa pratica não mais é tolerada, dispondo o

art. 591 do CPC 89 que o devedor somente responde pelas dividas contraídas com

o seu patrimônio sendo, portanto, respeitada sua integridade física, liberdade,

dignidade humana e vida. 90

A autonomia do processo de execução na Justiça do Trabalho se dá por

sua existência de diploma legal (art. 880 da CLT) que determina a citação pessoal

do executado pelo oficial de justiça, para início da execução, o que configuraria a

autonomia do processo de execução laboral91.

Carlos Henrique Bezerra Leite92 relembra que:

No processo do trabalho existem princípios próprios, já visto no primeiro capitulo, ademais, não há negar que o direito processual do trabalho possui institutos próprios, como, por exemplo, uma justiça especializada com juízes especializados e o poder normativo exercido originariamente pelos Tribunais do Trabalho. Porém, sua autonomia não implica seu isolamento. Por integrar o sistema processual, o direito processual do trabalho deve observar a unidade metodológica comum a todos os demais ramos do direito processual. Mas isso não pode implicar o distanciamento do direito processual do trabalho em relação ao direito material, ao qual está umbilicalmente vinculado.

No processo de execução trabalhista, contemplado no capitulo V da CLT

as decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com

efeito suspensivo que são: os acordos, quando não cumpridos; os termos de

ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos

de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão

executados pela forma estabelecida neste capitulo e prescrito em seu art. 876 da

CLT93.

88 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 527. 89 Art. 591 do CPC. ”O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.” 90 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.527. 91 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 529. 92 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 85. 93 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 962.

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No que se refere à execução trabalhista encontra-se disciplinado por

quatro normas legais a serem aplicadas na seguinte ordem: Consolidação das

Leis do Trabalho; Lei 5.584/7094, Lei 6.830/8095; Código de Processo Civil. Assim

como os princípios também compõem as fontes do processo do trabalho como

alicerce para a estrutura processual.

3.2 TÍTULOS EXECUTIVOS TRABALHISTAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS

O processo do trabalho, depois da EC n. 45/ 2004, que deu nova redação

ao art. 114 da CF, e da Lei n. 11.232/ 2005, passou a admitir os seguintes títulos

executivos judiciais: a sentença (ou acórdão) que reconheça obrigação de fazer,

não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; as decisões (que também são

sentenças) que homologam acordos entre as partes e que tenham conteúdo

obrigacional; os créditos previdenciários decorrentes de sentenças (ou acórdãos)

condenatórias ou homologatórias de acordos entre as partes96.

Já em relação aos títulos extrajudiciais, o processo do trabalho passou a

reconhecer, com o advento da EC n. 45/2004, os seguintes: os termos de

compromisso de ajustamento de condutas firmados perante o Ministério Público

do Trabalho; termos de conciliação firmados perante a comissão de conciliação

prévia; certidões de divida ativa decorrentes das multas aplicadas aos

empregadores pelos órgãos de fiscalização do trabalho97.

Assim, a execução na Justiça do Trabalho está adstrita, portanto, às

regras do art. 876 da CLT, não sendo executados os títulos executivos

extrajudiciais previstos no art. 585 do CPC. O art. 114 da CF/ 88 em seu

parágrafo 1º estabelece que, frustrada a negociação coletiva, as partes poderão

94 Lei 5.584/70: “dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivo da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência na Justiça do Trabalho e dá outras providências.” 95 Lei 6.830/80: “dispõe sobre a cobrança judicial da Divida Ativa da Fazenda Publica e dá outras providências.” 96 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 872. 97 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 872.

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eleger árbitros, constituindo-se, portanto, a sentença arbitral, num título executivo

extrajudicial a ser executado na Justiça do Trabalho98.

Vale salientar que nos dois processos de execução, tanto trabalhista

como civil em se tratando de título extrajudicial há, realmente, um processo

(autônomo) de execução, instaurado por meio de uma ação de execução. Em

suma, o processo de execução autônomo de título judicial foi no processo civil,

substituído pelo “cumprimento da sentença”, que é uma simples fase

procedimental posterior à sentença, sem a necessidade de instauração de um

novo “processo” (de execução)99.

Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite100, essa substancial alteração do

processo civil implica automática modificação do processo do trabalho, no que

couber, tendo em vista a existência de lacuna ontológica do sistema da execução

de sentença que contém obrigação de pagar previsto na CLT.

3.3 DA LEGITIMIDADE

3.3.1 Legitimação Ativa

De ordinário, no processo do trabalho encontra-se legalmente legitimado

para promover a execução baseada em título judicial o credor, ou seja, aquele

que, tendo figurado como autor no processo de conhecimento, porta, agora, um

título judicial exeqüível. A partir dessa afirmação, constrói-se a regra segundo a

qual, por princípio, há uma coincidência física entre o autor (no processo de

conhecimento) e o credor (no processo de execução), motivo porque a única

diversidade possível de ai existir é quanto à nomenclatura. Trata-se,

essencialmente, contudo, da mesma pessoa101.

Manoel Antônio Teixeira Filho102 explica que:

98 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.656. 99 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 866. 100 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 866. 101 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. 9.ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 132. 102 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 132.

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Nem sempre, contudo, a emissão do título executivo será precedida de um processo de conhecimento. Assim dizemos por que a execução forçada fundar-se em título extrajudicial, como ocorre em relação ao termo de conciliação e ao termo de ajustamento de conduta, de que fala o art. 876 da CLT.

Contudo, o art. 878 da CLT a execução poderá ser promovida por

qualquer interessado, ou ex officio, pelo próprio juiz ou o presidente do tribunal

competente. Portanto, uma das singularidades da execução trabalhista é a

possibilidade de a execução ser promovida de oficio pelo magistrado

trabalhista103.

Conseqüentemente, dispõe o art. 877 da CLT que é competente para

execução das decisões o juiz ou o presidente do tribunal que tiver conciliado ou

julgado originariamente o dissídio.

Não obstante, a expressão “qualquer interessado” inserta no art.878 da

CLT, fixa que a execução poderá ser promovida pelo credor, pelo devedor, pelo

Ministério Público do Trabalho e pelos legitimados do art. 567 do CPC, quais

sejam: espólio, herdeiros ou sucessores do credor; o cessionário, quando o direito

resultante do titulo executivo lhe foi transferido por ato entre vivo; o sub-rogado,

nos casos de sub-rogação legal ou convencionado104.

Convém lembrar que o próprio devedor poderá dar inicio à execução,

passando, assim, a ostentar a posição de exeqüente, na medida em que o art.

878-A da CLT, com redação dada pela Lei n. 10.035/ 2000, dispõe in verbis:

“Faculta-se ao devedor o pagamento imediato da parte que entender devida à

Previdência Social, sem prejuízo da cobrança de eventuais diferenças

encontradas na execução ex officio”105.

3.3.2 Legitimação Passiva

Art. 877 CLT: “É competente para a execução de titulo executivo extrajudicial o juiz que teria competência para o processo de conhecimento relativo à matéria.” 103 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 534. 104 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 535. 105 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 908.

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Entende-se como legitimação passiva o devedor, a pessoa legalmente

legitimada a responder à execução. Dessa forma, o problema relativo à

legitimação passiva contém implícita, a necessidade de se definir contra quem a

execução deve ser realizada.106

Normalmente, é o empregador (pessoa física ou jurídica) quem figura no

pólo passiva da execução trabalhista. Portanto, será o empregador devedor a

pessoa legalmente legitimada a responder pela execução.107

Contudo, a Lei 6.830/ 80, de aplicação subsidiaria ao processo do

trabalho art. 889 da CLT, legitimam como sujeito passivo da execução o devedor,

o fiador, o espólio, a massa, o responsável tributário e os sucessores a qualquer

título. Outrossim, o art. 568 do CPC estabelece que: São sujeitos passivos na

execução: o devedor, reconhecido como tal no título executivo; o espolio, os

herdeiros ou os sucessores do devedor; o novo devedor, que assumiu, com o

consentimento do credor, a obrigação resultante do títulos executivo; o fiador

judicial; o responsável tributário, assim definido na legislação própria.108

Além desses, poderão figurar no pólo passivo da execução trabalhista o

responsável subsidiaria nos casos de intermediação de mão-de-obra ou

terceirização (TST, Súmula n. 331), o dono da obra nos contratos de empreitada e

o empreiteiro nos contratos de subempreitada (art. 455 da CLT) e todos do art.

114 da CF/ 88.109

3.4FORMA DE EXECUÇÃO

3.4.1 Execução Provisória

A execução de título executivo judicial pode ser provisória ou definitiva.

Execução provisória é a execução que se promove, embora não tenha a

sentença passado ainda em julgado, por estar pendente de recurso, que a pode

alterar ou modificar, ou mesmo anulá-la. É execução restrita, porque os atos dela 106 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 143. 107 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 536. 108 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007. p. 444. 109 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 909.

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não podem ultrapassar dos atos preliminares da execução e dos executórios, que

não importem em disposição, ou modificação do domínio. E nela, ainda, não se

autoriza o levantamento de qualquer quantia, sem a prestação de caução idônea

por parte de exeqüente ou de quem pretenda efetivar o levantamento110.

A execução provisória é cabível toda vez que a decisão exarada ainda

pender de recurso desprovido de efeito suspensivo art. 876 da CLT. Assim, a

execução provisória pode ser utilizada quando a sentença condenatória ainda não

tiver transitado em julgado, limitando-se esta a atos constrição e não de

expropriação111.

No processo do trabalho a execução provisória é feita por meio de carta

de sentença, cujos requisitos para sua instrução estão previstos no art. 475- O, §

3° do CPC, com redação dada pela Lei 11.232/ 2005, in verbis:

Art. 475- O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observada as seguintes normas: § 3° Ao requerer a execução provisória, o exeqüente instruirá a petição com copias autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado valer-se do disposto na parte final do art. 544, § 1° I – sentença ou acórdão exeqüendo; II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito; III – procuração outorgado pelas partes; IV – decisão de habilitação, se for o caso; V – facultativamente, outras peças processuais que o exeqüente considere necessárias; (...).

Em razão da norma citada, permite-se ao exeqüente fazer levantamento

da penhora em dinheiro, em execução provisória, desde que seja prestada a

caução. Ocorre que não será exigida a garantia para os casos de crédito de

natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito até o limite de sessenta vezes o

salário mínimo, como também nos casos em que penda julgamento de agravo

pelo STF ou STJ. E esta é a grande importância do dispositivo ao ser analisada

sua aplicabilidade ou não ao processo do trabalho.112

110 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. p.580. 111 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31.ed.atual. São Paulo: Saraiva, 2006.p. 721. 112 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 896-897.

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Observe-se que a CLT, no art. 899, admite a execução provisória apenas

até a penhora. Esta não poderá ser iniciada de ofício como o é a execução

definitiva (art. 878), pois é ao exeqüente que caberá a responsabilidade pela

execução e não ao Estado113.

Ressalta que, a Súmula 417, III do TST afirma que não é direito líquido e

certo do impetrante a determinação de penhora em dinheiro quando já se tem

outros bens nomeados114.

3.4.2 Execução Definitiva

Assim se diz da execução da sentença, quando esta já passou em

julgado, não cabendo ao executado qualquer recurso sobre a mesma, visto que

se tornou irretratável e irrecorrível. 115

A execução definitiva é reconhecida nos termos do art. 876 da CLT que

assim segue: trânsito em julgado da sentença condenatória; inadimplemento do

acordo realizado em juízo; inadimplemento da conciliação firmada perante as

comissões de Conciliação Prévia; inadimplemento dos Termos de Compromisso

de Ajustamento de Conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho. 116

Nos ensinamentos de Manoel Antônio Teixeira Filho117, Na execução definitiva a atividade desenvolvida pelo credor e pelo órgão jurisdicional tende a fazer com que o comando sancionatório, ínsito no título executivo, seja plenamente atendido, ainda que, para isso, haja necessidade de serem utilizadas, contra o credor recalcitrante, todas as medidas coercitivas previstas em lei, que poderão acarretar, até mesmo, a expropriação judicial de seus bens, presentes ou futuros (arts. 591 e 646 do CPC).

Enfim, conforme resume Renato Saraiva118, o pressuposto legal para a

definitividade da execução do título extrajudicial é o transito em julgado da

sentença condenatória, assim tornando o título líquido, dando ensejo à liquidação 113 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p. 801. 114 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007. p. 1745. 115 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. p.578. 116 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p. 721. 117 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 198. 118 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 555.

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da sentença como uma ação declaratória do valor da condenação, situada entre o

processo de conhecimento e o processo executivo, prestigiando sua autonomia

que terá ênfase mais adiante.

3.5 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Como visto no primeiro capítulo, os princípios também atuam como fonte

integrada da norma suprindo omissões e lacunas do ordenamento jurídico,

exercendo importante função de orientar o operador jurídico na interpretação de

determinadas normas e a execução tem princípios próprios que se passa

brevemente a destacar.

3.5.1 Da igualdade de tratamento das partes

Esse princípio encontra fundamento no art. 5º, caput, da CF/ 88, que

estabelece a igualdade de todos perante a lei. Na execução o tratamento

igualitário resume-se à observância da Lei, pois a posição do credor é de

superioridade ou preeminência jurídica, ao passo que a posição do devedor é de

sujeição ao comando do preceito condenatório que se irradia da sentença ou do

título executivo extrajudicial.119

Logo, o executado deverá suportar os efeitos dos atos expropriatórios

derivados da execução, apenas sendo assegurado ao mesmo que, no

cumprimento do julgado, seja observada a legislação vigente.120

3.5.2 Da natureza real

O princípio da natureza real determina que os atos executórios atuem

sobre os bens do devedor e não sobre a pessoa física deste conforme dispõem

os arts. 591 e 646 do CPC, in verbis:

119 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 530. 120 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 530.

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Art. 591 - O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei. Art. 646 - A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (Art. 591).

Assim, o princípio em questão fixa que os atos executórios atuam sobre

os bens do devedor e não sobre a pessoa física deste; entende-se por patrimônio,

para esses efeitos, o conjunto de bens, corpóreos e incorpóreos, presentes ou

futuros, de direitos e de obrigações economicamente apreciáveis. Nem sempre a

execução incide na integralidade do patrimônio do devedor, cujo senso de

universalidade de direito lhe é imanente na ordem jurídica: os bens do devedor

respondem até o limite da obrigação expressa pelo título executivo judicial; nada

mais além disso121.

3.5.3 Da limitação expropriatória

O princípio da limitação expropriatória impede a alienação total do

patrimônio do devedor, quando parte dos bens for bastante para atender a

satisfação do direito do credor122.

Assim, estabelecem os artigos:

Art. 659 CPC - A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios. Art. 692 CPC - Não será aceito lanço que, em segunda praça ou leilão, ofereça preço vil. Art. 883 CLT- Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.

Manoel Antônio Teixeira Filho123 esclarece que, a existência de uma

limitação legal expropriatória é necessária, pois se destina a impedir que o

devedor sofra desfalque patrimonial acima do que corresponde ao direito do

credor.

121 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 116. 122 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 531. 123 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 117.

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3.5.4 Da utilidade para o credor

O credor não pode utilizar da execução apenas para acarretar danos ao

devedor, quando o patrimônio do executado não for suficiente para suportar a

divida. Nesta esteira de raciocínio, o art. 659, § 2°, do CPC dispõe que não se

efetuará a penhora quando for evidente que o produto da alienação dos bens for

inteiramente absorvido pelo pagamento das custas da execução. Nesta hipótese,

caberá ao magistrado, nos termos do art. 40 da Lei 6.830/ 1980, suspender o

curso da execução trabalhista enquanto não for localizado o devedor ou

encontrado bens sobre os quais possa recair a penhora124.

Conforme art. 40 § 2° da Lei 6.830/90 decorrido o prazo máximo de um

ano da suspensão do curso da execução, sem que seja localizado o devedor ou

encontrado bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos, e o

parágrafo 3° da mesma Lei, dispõe que poderá ser desarquivado, a qualquer

tempo, para prosseguimento da execução, caso sejam encontrados o devedor ou

os bens125.

3.5.5 Da não- prejudicialidade do devedor

Reza o art. 620 do CPC que, quando o credor puder, por diversos meios,

promover a execução, o juiz determinará que se faça pelo modo menos gravoso

ao devedor. Assim, o próprio art. 668 do CPC, com redação dada pela Lei 11.382/

2006, faculta ao executado requerer, no prazo de 10(dez) dias após a intimação

da penhora, a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente

que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos gravoso

para ele devedor126.

De acordo com esse princípio, a regra é emoldurada pelo art. 574 do

CPC, pela qual o credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando

a sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a

124 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 531. 125 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 531. 126 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 532.

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obrigação que rendeu ensejo à execução – nada obstante estar convencionado

de que esse preceito não é aplicável ao processo do trabalho, ao qual agride127.

3.5.6 Da especificidade

O princípio da especificidade relaciona-se com a execução para entrega

de coisa e as obrigações de fazer e não fazer. Segundo o qual o credor tem o

direito a receber, além de perdes e danos, o valor da coisa, quando esta não lhe

for entregue, se deteriorou, não for encontrado ou não for reclamada do poder do

terceiro adquirente128.

O arts. 627 e 633, ambos do CPC, contemplam esse princípio, in verbis:

Art. 627. O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente. Art. 633. Se. No prazo fixado, o devedor não satisfazer a obrigação, é licito ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja executada à custa do devedor, ou haver perdas e danos; caso em que ela se converte em indenização.

A respeito da obrigação de fazer ou não fazer, e se no prazo fixado o

devedor não satisfazer a obrigação, é lícito ao credor, nos próprios autos do

processo, requerer que ela seja executada à custa do devedor, ou que haja

perdas e danos, caso em que a obrigação de fazer ou não fazer se converte em

indenização (obrigação de pagar). No processo do trabalho, é comum a sentença

que condena o empregador a reintegrar o empregado ao emprego. Caso o

empregador não cumpra a obrigação no prazo fixado na sentença, deverá arcar

com o pagamento de multas (astreintes), geralmente por dia de atraso129.

3.5.7 Da responsabilidade pelas despesas processuais

127 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 118. 128 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 532. 129 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007. p. 905.

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As despesas processuais na execução civil correm por conta do

executado, mesmo no caso de remição (art. 651 do CPC)130. O devedor é

responsável pelo pagamento, alem dos valores devidos ao credor, de todas as

despesas processuais131.

No processo do trabalho os arts. 789- A e 789- B da CLT, instituídos pela

Lei 10.537/ 2002, prescreve que as custas, no processo (fase) de execução,

serão pagas ao final, sob a responsabilidade do executado de conformidade com

a tabela proposta pela CLT de acordo com os artigos supracitados.132

3.5.8 Do não-aviltamento do devedor

A execução não deve afrontar a dignidade humana do executado

conforme o art. 1°, III Constituição Federal de 1988, expropriando-lhe bens

indispensável à sua subsistência e a dos membros de sua família. 133

Em nível infraconstitucional, o princípio do não- aviltamento do devedor

inspira o art. 649 do CPC e a Lei n. 8009/ 90, que dispõem sobre a

impenhorabilidade de certos bens do devedor. 134

3.5.9 Da livre disponibilidade do processo pelo credor

O código de Processo Civil faculta ao credor desistir da execução ou de

algumas medidas executivas, independentemente da concordância do devedor

(art. 569, parágrafo único, do CPC)135.

No entanto, a desistência da execução pelo credor somente produzirá

efeitos após homologação por sentença, nos moldes do disposto no art. 158, §

único do CPC.136

130 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 449. 131 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 532. 132 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 954. 133 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 533. 134 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 448. 135 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 444.

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Sobre o tema Manoel Antônio Teixeira Filho137 comenta:

Há certa indefinição da doutrina e jurisprudência quanto à validade dessa desistência, sem audição do devedor, quando este houver oferecido embargos à execução. Sem pretendermos exacerbar tal cinca, somos de opinião que oposto os embargos, o credor somente poderá desistir da execução se nisso convier o devedor, porquanto este poderá ter interesse em obter um pronunciamento jurisdicional acerca da quitação. Da prescrição extintiva e de outras matérias alegadas, cuja expectativa restaria frustradas se reconhecesse à desistência da execução, manifestada pelo credor, a qualidade de direito processual potestativo, vale dizer, cujo exercício não fica subordinado à concordância de devedor. Ora, se a desistência da ação. No processo de conhecimento, só será eficaz se - decorrido o prazo para resposta - a ela anuir o réu (CPC, art. 267, § 4°), parece-nos concluir que essa mesma regra deve imperar no processo de execução.

Portanto, a doutrina e jurisprudência divergem quanto à possibilidade de a

desistência da execução se operar de modo unilateral quando o devedor houver

oferecido embargos à execução.

3.6 DOS TRÂMITES DA EXECUÇÃO

3.6.1 Da fase de liquidação

Liquidação da sentença entende-se a fixação ou determinação, em

quantidade certa, do valor da condenação, quando a sentença não se mostra

líquida. A liquidação da sentença, assim, somente se promove quando a sentença

é ilíquida 138: não fixa a exata quantia ou o valor certo da condenação. 139

Manoel Antônio Teixeira Filho explica que:

136 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 412. 137 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.122-123. 138 Ilíquido: tudo o que não é líquido, isto é, que não se encontra determinado ou certo, ou não seja demonstrado. É atributo de coisa que não se mostra fixada ou apura. E, em relação ao direito, entende-se aquele que não é certo, não está aprovado ou carece de requisitos que o tornem procedente. Cf. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.699. 139 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.851.

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Em sentido genérico, o verbo liquidar sugere a acepção de averiguar, tornar líquido, tirar a limpo; na terminologia processual, porém, o substantivo liquidação indica o conjunto de atos que devem ser praticados com a finalidade de estabelecer o exato valor da condenação ou de individualizar o objeto da obrigação.

Não há uniformidade doutrinaria a respeito do conceito e natureza jurídica

da liquidação da sentença. Para alguns, a liquidação não integra o processo

executivo, mas o antecede, constituindo-se num procedimento complementar do

processo cognitivo para tornar líquido o título judicial. Logo, a doutrina mais

moderna conceitua a liquidação da sentença como uma ação declaratória do valor

da condenação, situada entre o processo de conhecimento e o processo

executivo, prestigiando a sua autonomia.140

Todavia, a doutrina laboral (Manoel Antônio Teixeira, Wagner Giglio e

Carlos Henrique Bezerra Leite, dentre outros) não aceita a autonomia da

liquidação da sentença no processo do trabalho, revelando-se a liquidação, para

os especialistas, numa fase preparatória ao preliminar da execução, ou,

simplesmente, num procedimento prévio da execução.141

Assim, nos domínios do direito processual do trabalho, não tem sido

aceita a autonomia da liquidação de sentença. Tanto que Manoel Antônio Teixeira

Filho142 sustenta que a liquidação é “a fase preparatória da execução, em que um

ou mais atos são praticados, por uma ou por ambas as partes, com a finalidade

de estabelecer o valor da condenação ou de individuar o objeto da obrigação,

mediante a utilização, quando necessário, dos diversos modos de prova admitidos

em lei”.

Carlos Henrique Bezerra Leite143 leciona que:

Parece-nos que na seara laboral o art. 879 da CLT, ao prescrever que “sendo ilíquida a sentença ordenar-se-á previamente a sua liquidação”, deixou claro que a liquidação constitui simples procedimento prévio da execução. É exatamente por essa razão que não se pode falar, em sede de execução trabalhista, que a liquidação constitui uma ação autônoma.

140 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 555. 141 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 555. 142 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 843. 143 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 629.

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Logo, a doutrina predominante vê a liquidação como uma fase

preparatória da execução, pois a liquidação foi instituída, finalisticamente, para

tornar possível a execução da obrigação expressa no título executivo judicial; daí

o sentido preparatório de que ela se reveste. Assim, a liquidação antecede à

execução, a despeito de reconhecer que do ponto de vista sistemático ela integra

o processo de execução. A liquidação pode ser entendida como uma espécie de

elo, a unir a sentença exeqüente à execução propriamente dita. 144

Sergio Pinto Martins145 ressalta que:

Não tem a liquidação da sentença natureza constitutiva, pois não cria, modifica ou extingue determinada relação. Tem natureza declaratória do valor da condenação. A liquidação de sentença é uma fase preparatória da execução da sentença, mas se pode falar em execução. A liquidação de sentença tem natureza incidental declaratória, no sentido de quantificar o valor da obrigação contida na sentença.

Assim, sua classificação pode ser: ilíquida: em que necessita se liquida;

mista: em que parte é liquida e parte precisa ser apurada; distinta: em que há

condenação do autor e do réu, como poderia ocorrer numa ação em que o pedido

do autor foi acolhido em parte e a reconvenção foi julgada procedente146.

Enfim, a liquidação, como capítulo preparatório da execução, encontra a

sua razão teleológica no estabelecimento do valor exato da condenação, ou na

individualização do objeto obrigacional, conforme seja o caso; ela se destina, por

outros termos, a tornar liquida a obrigação oriunda do título executivo judicial,

como requisito imprescindível à exigibilidade deste (CPC, art. 618, I)147.

A liquidação da sentença sob o prisma da legislação trabalhista, que, em

suas linhas mestras, não se distingue do regramento do processo civil comum.

Tem, contudo, algumas singularidades que aprecia a partir do art. 879 a CLT,

como seguir:

O art. 879 da CLT. Sendo ilíquido a sentença exeqüenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação que poderá ser feita por calculo, por arbitramento ou por artigos.

144 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.338. 145 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.642. 146 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.642. 147 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.340.

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§ 1º - Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda nem discutir matéria pertinente à causa principal. § 1o-A - A liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições previdenciárias devidas. § 1o-B - As partes deverão ser previamente intimadas para a apresentação do cálculo de liquidação, inclusive da contribuição previdenciária incidente. § 2º - Elaborada a conta e tornada líquida, o Juiz poderá abrir às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão. § 3o - Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para manifestação, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de preclusão. § 4o - A atualização do crédito devido à Previdência Social observará os critérios estabelecidos na legislação previdenciária.

Assim, o caput deixa transparecer que, no processo trabalhista, são

previstas as três maneiras de liquidação da sentença: por cálculo, por

arbitramento e por artigos.

No arbitramento, os elementos para a liquidação não estão nos autos,

sendo necessário um conhecimento técnico para obtê-los ou avaliá-los, quando:

determinado pela sentença ou convencionado pelas partes; o exigir a natureza do

objeto da liquidação (art. 475- C do CPC).148

O arbitramento poderá ocorrer, também, quando houver lacuna na prova

produzida, por inexistência de documentos ou de dados, sendo determinado

segundo as diretrizes fixadas pelo juiz. Exemplo será a necessidade de se arbitrar

o salário do empregado (art. 460 da CLT), a indenização por dano moral.149

Assim, requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e

fixará o prazo para a entrega do laudo (art.474 – D do CPC). Na verdade, o juiz

não vai nomear perito, pois perícia é meio de prova na fase de conhecimento, vai

nomear pessoa para fazer o arbitramento. Não há previsão legal para serem

oferecidos quesitos. No processo do trabalho, é o caso de aplicar o artigo para

fixar salário ou o número de horas extras, se o fato não foi provado na fase de

conhecimento e não há documentos para determiná-lo na execução150.

148 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.645. 149 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 915. 150 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.645.

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Eduardo Gabriel Saad151 enfatiza:

Compete ao juiz designar o perito, sendo admitido à presença de assistente indicado pelas partes, as quais formularão seus quesitos, sem exclusão daqueles que o juiz houver por bem formular.

Já a liquidação de sentença por artigos é em razão de que cabe à parte

articular em petição o que pretende ver liquido, indicando um a um os diversos

aspectos que serão objetos de quantificação. E no caso os artigos de liquidação

sejam considerados não provados, a parte poderá propor novos artigos152 quando

há necessidade de provar fato novo, não é qualquer fato, mas aquele que

influencia a fixação do valor da condenação ou a individualização do seu

objeto.153

Por fim, Sergio Pinto Martins154 explica que, na liquidação de sentença

por cálculos, os elementos já estão nos autos, sendo o caso apenas de fazer as

contas para se chegar ao quantum devido. Quando a sentença diz que a

liquidação de sentença será feita por cálculos, se os elementos não estiverem nos

autos, será necessário fazer a liquidação de outra forma. De outro lado, se a

sentença estabelece que a liquidação será feita por arbitramento ou por artigos e

os elementos estiverem nos autos, poderá ser feita por cálculos.

A CLT155 disse apenas “por cálculo”, sem acrescentar “contador”. Essa

simplificação permite admitir-se que o calculo possa ser realizado pelo contador

do juízo ou tribunal, quando houver, e também pelas partes, ou por laudo pericial

contábil.

3.6.2 Sentença de liquidação

151 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito processual do trabalho. p. 811. 152 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.646. 153 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31.ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 879. 154 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.647. 155 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. p. 732.

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Conforme enfatiza Sergio Pinto Martins, a natureza jurídica da sentença

de liquidação é declaratória. Segundo o autor156,

Tem por objetivo, portanto, completar o título executivo judicial, visando à certeza jurídica quanto ao valor da divida. A sentença de liquidação vai preparar a execução do título judicial e ela será fundamentada, de acordo com o inciso IX do art. 93 da Constituição, explicando por que está sendo homologado um calculo ou outro. Pode, porém, a sentença ser concisa, desde que fundamentada.

Deste modo, da sentença que julgar a liquidação não cabe qualquer

recurso, visto que o § 3º do art. 884 da CLT determinou que a sentença só possa

ser impugnada nos embargos do devedor ou na própria impugnação do credor.

Anteriormente, a CLT permitia o recurso de agravo de petição contra a

sentença de liquidação, porém tal recurso foi eliminado pela Lei n. 2.244, de 23-6-

54. Na verdade, a norma legal equiparada à sentença de liquidação a uma

decisão interlocutória, por uma questão de celeridade processual e para agilizar a

execução, evitando que antes de o devedor garantir a execução com dinheiro ou

com a penhora possa discutir a conta de liquidação157.

Destarte, entende Sergio Pinto Martins158 que a sentença de liquidação

uma decisão, dela não cabe o agravo de petição, pois o prazo para esse recurso

somente começará a fluir após o julgamento dos embargos ou da impugnação à

sentença de liquidação, visto que, do contrário, implicaria supressão de instância.

3.7 DO MANDADO DE CITAÇÃO, PENHORA E AVALIAÇÃO

Tornada a dívida líquida e certa, com a respectiva homologação dos

cálculos, inicia-se a execução trabalhista.

Renato Saraiva159, em seu ensinamento, ressalta:

Objetivo da execução por quantia certa é expropriar bens do devedor a fim de satisfazer o direito do credor, respondendo o

156 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.652. 157 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.652. 158 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p.652. 159 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p.564.

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executado com seu patrimônio, presente ou futuro, para o cumprimento das obrigações.

Assim, nos termos do art. 880 da CLT, o executado será citado para em

48 horas pagar a dívida ou mesmo garantir a execução. Como segue:

Art. 880 da CLT. O juiz ou presidente do Tribunal, requerida a execução,mandará expedir mandado de citação ao executado. A fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS para que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.

Registra-se que o mandado de citação é a ordem escrita expedida por

determinação do juiz para que seja inicialmente citada a pessoa que vai ser

demandada por outra, a fim de que venha a juízo e se defenda da ação contra si

proposta.160

Logo, como dito, o devedor será citado161 para, em 48 horas, solver a

obrigação (e, com isso, extingui-la) pecuniária expressa no título judicial ou

nomear bens à penhora, caso pretenda por embargos (CLT, art. 880, caput);

como o prazo é estabelecido por hora, deveria o oficial de justiça certificar, no

mandado, o exato momento (hora, minuto) em que a citação foi realizada, em

face da diversidade dos critérios legais adotados para a contagem dos prazos

fixados por hora, em relação ao estabelecidos por dia. Disposição nesse sentido

consta, aliás, do art. 652, § 1º, do CPC, de inegável aplicação supletória ao

processo do trabalho162.

Importante ressaltar que, após o decurso de 48 horas, o devedor não

mais poderá oferecer bens à penhora (ainda que esta não tenha sido realizada),

pois o decurso em branco desse prazo torna precluso o seu direito de praticar o

ato.

Nesse sentido, explica Manoel Antônio Teixeira Filho163,

160 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.877. 161 No processo do trabalho, o devedor é intimado, para os efeitos do art. 880 da CLT, na medida em que a execução representa simples fase (construtiva) do processo cognitivo. 162 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 431. 163 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 963.

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O que se permitiria ao devedor, nesse caso, é substituir o bem penhorado por dinheiro, pois isso convém aos propósitos da execução e aos interessados do credor; tal substituição é concedida, acima de tudo, pelo art. 15, I, da Lei n. 6830/ 80, aplicável à execução trabalhista por força da regra inscrita no art. 889 da CLT.

Ainda, conforme determina o art. 880, § 3° da CLT, se o executado

procurado por duas vezes no espaço de 48 horas, não for encontrado, far-se-á a

citação por edital, publicada no jornal oficial ou, na falta deste, afixado na sede da

Vara ou juízo, durante cinco dias164.

Realizada a citação, o oficial de justiça, de posse do mandado, aguardará

o decurso do prazo de 48 horas, podendo o executado nesse interregno adotar

três posicionamento, quais sejam: Efetuar o pagamento do valor da execução

objetivando a garantia no art. 881 da CLT; depositar em juízo o valor da execução

objetivando a garantia do juízo e a oposição de embargos à execução (art. 882,

primeira parte, da CLT); ou nomear bens à penhora, objetivando a garantia do

juízo e a oposição de embargos à execução (art. 882, parte final, da CLT)165.

Por fim, há que se destacar que, a citação é pessoal; isso significa que a

validade desse ato está subordinada à sua realização na pessoa do devedor, ou

daquele que se encontre dotado de poderes expressos para recebê-la. Não

vigorando, portanto, o princípio da citação impessoal, implícito no art. 841 da

CLT166.

3.7.1 Nomeação de bens à penhora

Significa a expressão a indicação de bens, feita pelo devedor ou por

quem está sendo executado, para que sobre os mesmos recaia a penhora

judicialmente autorizada.167

Carlos Henrique Bezerra Leite168 explica que

164 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 962. 165 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 962. 166 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 433. 167 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.957.

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No processo civil, pois, a expedição do mandado de penhora e avaliação depende de “requerimento” do credor, enquanto no processo do trabalho, a execução, isto é, o cumprimento da sentença que contém obrigação por quantia certa, poderá ser promovida por qualquer interessado ou pelo próprio juiz.

Como visto, então, pretendendo o executado discutir a execução, poderá

garanti-la, efetuando o depósito da quantia devida, acrescida de juros, correção

monetária e outras despesas processuais, ou oferecer bens a penhora, no prazo

de 48 horas169.

Neste sentido, estabelece o art. 882 da CLT que:

O executado que não pagar a importância reclamada poderá garantir a execução mediante depósito da mesma, atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no art. 655 do Código de Processo Civil.

Portanto, uma das alternativas do executado no intervalo de 48 horas

após a citação, é nomear bens à penhora objetivando garantir o juízo e

possibilitando a este embargar a execução. 170

Após, o exeqüente será notificado para manifestar ou não, sua aceitação

aos bens nomeados à penhora, devendo eventual impugnação pelo credor ser

fundamentada, indicando a existência de outros bens penhoráveis sobre os quais

deverá incidir a penhora171.

Conforme Carlos Henrique Bezerra Leite172, caso o devedor não pague,

nem indique os bens à penhora, ou os indique se observar à ordem preferencial

do art. 655 do CPC, deverá incidir a regra do art. 883 da CLT, segundo a qual a

penhora, no processo do trabalho, é determinada pelo juiz ex officio. Todavia, não

há óbice para que o próprio credor indique os bens à penhora. Afinal, a execução

trabalhista pode ser promovida pela parte interessada ou pelo juiz.

168 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 885. 169 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 677. 170 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 566. 171 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 567. 172 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 886.

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Cumpridas as exigências legais, a nomeação será reduzida a termo,

havendo-se por penhorados os bens, intimando-se o executado para vir assiná-lo

como depositário, salvo se o exeqüente não concordar em que os bens fiquem

sob a guarda de executado (lei 6.830/ 1980, art. 11 § 3°)173.

Nesse caso, os bens serão removidos para o deposito publico (se existir)

ou mesmo deverá o exeqüente indicar depositário particular, providenciando

meios de transporte para a remoção dos bens174.

3.7.2 Da Penhora

Derivado de penhorar (apreender ou tomar judicialmente), no sentido

jurídico significa o ato judicial, pelo qual se apreende ou se tomam os bens do

devedor, para que neles se cumpra o pagamento da divida ou da obrigação

executada.175

Dispõe o art. 883 da CLT que:

Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.

Com a penhora, será materializada a apreensão judicial dos bens do

executado, para que sejam lavados a hasta pública para a satisfação da

condenação imposta.176

A penhora será realizada onde se encontraremos bens, ainda que sob

posse, detenção ou guarda de terceiros (art. 659,§ 1° do CPC, com redação dada

pela Lei 11.383/ 2006).177

Por outro lado, dispõe o art. 659, § 2°, do CPC que não se levará a efeito

a penhora, quando evidente que o produto da execução dos bens encontrados

173 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 1346. 174 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 567. 175 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.1024. 176 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 568. 177 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 450.

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será totalmente absorvido pelo pagamento das custas de execução, cabendo ao

oficial de justiça descrever, na certidão, os que guarnecem a residência ou o

estabelecimento do devedor.178

Ainda, o art. 665 do CPC determina que o auto de penhora deverá conter

a indicação do dia, mês, ano e lugar em que foi feita, os nomes do credor e do

devedor, a descrição dos bens penhorados, como os seus característicos e a

nomeação do depositário dos bens. Assim, realizando-se a penhora mediante

apreensão e deposito da res, o auto de penhora assinalará, ademais, a nomeação

do depositário179.

No direito brasileiro, o depositário se encontra designado previamente,

conforme se apura da leitura do art. 666 do CPC. Contudo sobre a figura do

depositário, sendo objeto de estudo, tratar-se-á com ênfase no terceiro capitulo180.

Importante observar, enfim, que o art. 656, § 2° do CPC, com redação

dada pela Lei 11.382/ 2006, permite que a penhora seja substituída por fiança

bancaria ou seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do debito constante

da inicial, mais 30% (trinta por cento)181.

3.7.3 Substituição da penhora

No caso de título extrajudicial por quantia certa, o art. 652, e seu § 1º do

CPC (com redação dada pela Lei n. 11.382/ 2006), dispõem que o “executado

será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da divida”; caso

não o faça, o oficial de justiça, munido da segunda via do mandado, “procederá

de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto e

de tais atos intimado, na mesma oportunidade, o executado”, facultando-se ao

exeqüente indicar, na petição inicial da ação executiva, os bens a serem

178 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. . 2007, p. 451. 179 ASSIS, Arakem de. Manual da execução. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/ 2007. p. 612. 180 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 451. 181 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 450.

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penhorados, mas o juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente,

determinar, a qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens

passíveis de penhora182.

A intimação do executado far-se-á na pessoa de seu advogado; não o

tendo, será intimado pessoalmente (art. 652, § 2º, 3º e 4º do CPC). Vê-se, assim,

que o executado não tem mais a faculdade de nomear bens à penhora. Carlos

Henrique Bezerra Leite183 afirma que se trata de norma perfeitamente compatível

com o processo do trabalho, porquanto o art. 882 da CLT é omisso a respeito do

procedimento da penhora na execução de título extrajudicial.

E ainda o art. 668 do CPC (com redação dada pela Lei n. 11.382/ 2006)

permite ao executado, no prazo de 10 (dez) dias após intimado da penhora,

requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente que

a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos onerosa para

ele devedor (CPC, art. 17, incisos IV e VI e art. 620), incumbindo-lhe, nos termos

do parágrafo único do art. 668 do CPC.184

Portanto, a penhora é um ato complexo que somente se aperfeiçoa com a

apreensão e o deposito do bem penhorado. Sem o deposito, conseqüentemente,

a penhora torna-se inócua.185

O art. 150 do CPC é taxativo quando ressalta que: incumbe ao depositário

guardar e conservar os bens que lhe foram confiados pela justiça, sob pena de

responder civilmente pelos prejuízos resultantes de dolo ou culpa.186

Além disso, o depositário também tem a obrigação de entregar os bens

que lhe foram confiados a quem o juiz determinar. Sendo assim, o

descumprimento da ordem judicial ou inadimplemento do encargo de guardar e

conservar o bem penhorado podem caracterizar a figura do depositário infiel,

sendo válida a decretação de sua prisão no próprio processo, independentemente

de ação de depósito (art. 666, § 3º do CPC), sendo essa uma das raras hipóteses

182 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p.449. 183 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p.934. 184 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 451. 185 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 935. 186 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p.411.

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de prisão civil em nosso ordenamento jurídico, no qual disciplina o art. 5º, LXVII

da CF, que será explicado com mais ênfase a seguir.187

3.7.4 Da avaliação

Na linguagem jurídica avaliação não é tida em outro significado que não

seja o de determinar o valor, dar o valor ou mostrar a valia de determinado bem

ou de determinados bens, [...] o justo preço da coisa, dentro da qual se

compreende o valor que se lhe deve atribuir, em face das utilidades que o próprio

bem possa representar. 188

Nos dias atuais, os oficiais de justiça da Justiça do Trabalho acumulam a

função de avaliador (atividade instituída pela Lei 5.645/1970), ou seja, quando a

penhora é realizada simultaneamente, o meirinho procede à avaliação do bem,

agilizando, assim o processo de execução, 189 se não houver impugnação do

devedor ou se não for ajuizada ação de embargos, ou se esta for rejeitada,

deveria o juiz determinar a realização da avaliação dos bens penhorados.190

Eduardo Gabriel Saad191, não obstante, entende que: “ante o conteúdo do

art. 721 da CLT, não se pode chegar à certeza de que a avaliação se realiza junto

com a penhora nem de que, no processo de execução, o mesmo oficial de justiça

pode receber, também, a incumbência de avaliar os bens penhorados.”

Contudo, Carlos Henrique Bezerra Leite, destaca bem se sabe que na

pratica, não é assim que ocorre, na medida em que os oficiais de justiça, no

processo do trabalho, exercem cumulativamente a função de avaliadores, a teor

do art. 721, § 3º, da CLT. Disso resulta que, ao proceder à penhora, o oficial de

justiça já promove de imediato, a avaliação do bem constrito.192

Assim, resolvidos os embargos do devedor proposto, ou esgotado o prazo

para tal, seguir-se-á arrematação dos bens já avaliados no momento da

constrição judicial. Não obstante, se decorrido considerável tempo entre a

187 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 936. 188 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico.p.179. 189 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 596. 190 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2007 p. 983. 191 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito processual do trabalho. p. 1008. 192 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 983.

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penhora (e conseqüente avaliação do bem) e o julgamento dos embargos, poderá

o juiz determinar a expedição de mandado de reavaliação dos bens, objetivando

conhecer o seu valor real no momento da expropriação judicial.193

Ainda, conforme o art. 685 do CPC poderá o juiz, se houver excesso ou

insuficiência de penhora, a requerimento do interessado, reduzi-la, transferi-la ou

ampliá-la.194

Mas, concluída a avaliação, dentro de 10 (dez) dias, contados da data da

nomeação do avaliador, seguir-se-á a arrematação que será anunciada por edital

afixado na sede do Juízo ou Tribunal e publicado no jornal local, se houver, com a

antecedência de 20 (vinte) dias (art. 888 da CLT). De tal modo, cumpridas, essas

providências, o juiz dará inicio aos atos de expropriação de bens195.

3.8 DA PRAÇA, LEILÃO, ARREMATAÇÃO. ADJUDICAÇÃO E REMIÇÃO

3.8.1 Praça e Leilão

Praça, na terminologia do Direito Processual, exprime a venda que se faz

publicamente, sob pregão ou a quem mais der. Assim, praça pública e hasta

pública têm a mesma significação. Levar à praça é levar a leilão ou à hasta

pública.196

Já o Leilão, tecnicamente quer exprimir a venda pública ou a venda por

almoeda, que se realiza sob pregões e se efetiva a quem mais der. Dessa

maneira, o leilão bem se distingue da venda comum. Nele, a venda é disputada,

mediante licitação entre vários interessados à mesma coisa a ser vendida.197

Assim, dando continuidade as terminologias conceituadas acima, a

efetivação do processo de execução depende da expropriação de bens do

devedor de modo a satisfazer o direito do credor. Logo, com efeito, os bens do

executado serão alienados em hasta pública.198

193 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 597. 194 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p.452. 195 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 963. 196 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.1068. 197 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.834. 198 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 597.

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No processo do trabalho a hasta pública é única, sendo os bens desde

logo, vendidos pelo maior lance, conforme estabelece o art. 888, § 1°, da CLT “A

arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados e os bens serão vendidos

pelo maior lance, tendo o exeqüente preferência para a adjudicação”.199

Sergio Pinto Martins200, neste sentido, destaca:

[...] Logo, fica excluído o conceito do preço vil 201 no processo do trabalho, pois não se aplica o CPC (art. 889 da CLT). Assim, inexiste no processo do trabalho a idéia de preço vil para desqualificar a arrematação, podendo esta ser feita pelo maior valor obtido na praça ou leilão. Além disso, o art. 888 da CLT em seu § 1° não dispõe expressamente que o bem deva ser vendido, como valor mínimo, pelo valor da avaliação, mas sim pelo maior valor, que até poderá ser inferior ao da avaliação.

No caso de não houver licitantes, e não requerendo o credor a

adjudicação dos bens penhorados, poderão ser os mesmos vendidos por leiloeiro

nomeado pelo juiz.202

3.8.2 Da arrematação

Formada de remate (final, conclusão, resultado), quer, na linguagem

jurídica, significar o ato pelo qual são bens ou coisas vendidos em leilão, ou hasta

pública, em almoeda, ou quem mais der. Arrematação judicial é a que se promove

em hasta pública determinada pelo juiz. Para que a arrematação judicial se

mostre ato perfeito, impõe a lei que várias exigências e formalidades sejam

previamente atendidas.203

199 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 963. 200 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 718. 201 Preço Vil: indica o preço irrisório, baixo ou arrastado, que não corresponde à realidade do negócio. Art. 888, § 3º da CLT: “Não havendo licitante, e não requerendo o exeqüente a adjudicação dos bens penhorados, poderão os mesmos ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo juiz ou presidente.” 202 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 963. 203 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.139.

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Assim, a arrematação é ato processual consistente na venda, pelo

Estado, de forma coercitiva, dos bens de executado, objetivando satisfazer o

crédito do exeqüente, realizado por intermédio da praça ou leilão.204

Todavia, a arrematação torna-se perfeita, acabada e irretratável, ainda

que os embargos venham a ser julgados procedentes, com a assinatura do auto

pelo juiz, pelo arrematante e pelo servidor público ou leiloeiro (CPC art. 694),

sendo certo que, no processo do trabalho, o auto não é assinado sem a

comprovação da complementação do preço da arrematação.205

Sergio Pinto Martins206 explica que

Difere a arrematação da adjudicação, em que o próprio exeqüente paga a execução para ficar com seus próprios bens. Distinguindo-se também a arrematação da remição que é o resgate dos bens de expropriação por parte da família do devedor.

3.8.3 Da adjudicação

A adjudicação é o ato processual que o credor incorpora ao seu

patrimônio o bem constrito que seria submetido à hasta publica. O credor tem

direito à adjudicação, mesmo se o bem já tiver sido arrematado por outrem, desde

que formule requerimento ao juiz antes da assinatura do respectivo auto de

arrematação.207

O § 1º do art. 888 da CLT concede preferência ao exeqüente para

querendo, no dia marcado para a praça, exercer o direito de adjudicação dos

bens constrito, desde que o faça antes da assinatura do auto de arrematação (art.

694 do CPC).208

De acordo com ao art. 685-A do CPC o exeqüente poderá adjudicar o

bem pelo valor do maior lance oferecido, mas, se não houver licitante, a

adjudicação far-se-á pelo preço da avaliação do bem penhorado.209

204 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 600. 205 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho.p. 989. 206 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 719. 207 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 990. 208 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 454. 209 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 452.

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Se o valor do bem for superior ao credito, o juiz somente deferirá a

adjudicação se a diferença for depositada pelo credor, à ordem do juízo, no prazo

que lhe for assinalado ( CLT, arts. 888, § 1º, e 889, c/c o art. 24, II, a, da Lei n.

6.830/ 80).210

Por fim, cabe salientar que o TST, por meio da Súmula 399 e da

Orientação Jurisprudencial 66, firmou entendimento no sentido do não-cabimento

de ação rescisória ou mesmo mandato de segurança em face de decisão que

homologa a adjudicação.211

3.8.4 Da remição

De remir ou redimir, remição, do latim redimere, exprime propriamente o

resgate ou requisição por compra de alguma coisa. O direito remição e sucessível

e transferível.212

A remição consiste no ato processual do pagamento da totalidade da

dívida executiva pelo devedor, liberando-se os bens constritos e, privilegiando-se,

assim, o princípio da não-prejudicialidade do devedor.213

Sergio Pinto Martins214, sobre o instituto, explica que: remição não se

confunde com remissão. Remição vem a ser resgate e remissão perdão. [...] A

remição prefere à adjudicação, assim como esta prefere à arrematação.

Determina o art. 13 da Lei 5.584/ 1970 que, em qualquer hipótese, a

remição somente será deferida ao executado se este oferecer preço igual ao valor

da condenação. 215

Já Renato Saraiva destaca que os art. 787 a 790 do CPC, que permitiam

a remição de bens pelo cônjuge, descendente ou ascendente do executado,

foram revogados pelo Lei 11.382/ 2006.

210 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 990. 211 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum., p. 1743. 212 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1195. 213 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 605. 214 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. p. 725. 215 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 1231.

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Para o autor, todavia, nada impede que tais pessoas exerçam o direito de

adjudicar os bens penhorados, nos exatos termos do novo art. 685 - A, § 2°, do

CPC. Portanto, fica abolido o instituto da remição de bens pelo cônjuge,

descendente ou ascendente do executado, sendo licito, no entanto, exercerem a

faculdade de adjudicação, em concorrência com o exeqüente. 216

Art. 685 –A do CPC [...]§ 2° Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado.

Registra-se que, o instituto da remição encontra sustentáculo no princípio

da execução menos onerosa ao devedor, na medida em que permite que este, a

qualquer tempo, possa remir a sua divida, pagando a importância da condenação,

atualizada monetariamente, mais juros, custas processuais e honorários de

sucumbência (se houver), desde que o faça antes da assinatura do auto da

arrematação ou de adjudicação.217

Enfim, a penhora, portanto, como visto confirma sua formalidade com a

assinatura no termo de compromisso no auto de penhora, e é neste momento que

é apresentado o depositário fiel, estudo que se faz mais detalhadamente no

capitulo, a seguir, vez que, é o objeto do estudo.

216 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 606. 217 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 991.

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4 DA RESPONSABILIDADE DO DEPOSITÁRIO (IN) FIEL NOMEADO DE

OFICIO NO PROCESSO DO TRABALHO

4.1 DA NOMEAÇÃO DO DEPOSITÁRIO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Como visto no segundo capitulo, no processo de execução, a penhora é

formalizada quando da confecção do auto de penhora e avaliação.

De acordo com que já foi explanado, no processo civil, o cumprimento de

sentença, que reconheça obrigação por quantia certa, dependerá de requerimento

do credor a expedição de mandado de penhora e avaliação (art. 475–J do CPC). 218 Poderá, ainda, o credor em tal requerimento, indicar, desde logo, os bens a

serem penhorados. (ART. 475-J, § 3º do CPC) Contudo, no processo do trabalho,

como já visto, há regra própria na CLT (art. 882), inexistindo, assim, lacuna

normativa e ontológica. 219

Renato Saraiva explica que, uma das alternativas do executado, no

intervalo de 48 horas após a citação, é nomear bens à penhora objetivando

garantir o juízo e possibilitando a este embargar a execução. 220

Assim, de acordo com o art. 884 da CLT garantida a execução ou

penhorados os bens, terá o executado 5 (cinco) dias para apresentar embargos,

cabendo igual prazo ao exeqüente para impugnação . 221

Há possibilidade, ainda, dos embargos à arrematação e à adjudicação,

bem como os embargos de terceiro, na qual, o prazo para oferecimento dos

embargos do devedor, que é de cinco dias, deve ser contado da data em que o

devedor garantiu a execução, oferecendo bens à penhora ou foi intimado da

Art. 882 da CLT: “O executado que não pagar a importância reclamada poderá garantir a execução mediante depósito da mesma, atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no art. 655 do CPC”. 218 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 434 Art. 884, §, 3º da CLT: “Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de liquidação, cabendo ap exeqüente igual direito e no mesmo prazo”. 219 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 914 220 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 566 221 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 963

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penhora, ou seja, inicia-se a partir do momento em que o executado toma ciência

da formalização da penhora, com a assinatura do auto de depósito. 222

Essa ciência ocorre quando o próprio executado assina o auto, se os bens

ficarem sob sua guarda, como acontece na maioria dos casos, ou quando é

intimado, nas demais hipóteses. 223

Na penhora on-line, por exemplo, não há prévia intimação, tampouco o

auto de penhora. Mediante convênio firmado entre o Banco Central do Brasil e o

Tribunal Superior do Trabalho, o juiz do trabalho, previamente cadastrado e com

senha especifica, passou, “via internet”, a ter a possibilidade de localizar conta

corrente do executado trabalhista em qualquer banco no território nacional,

efetuando a respectiva penhora on-line. 224

Neste contexto, o Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho editou os

Provimentos 01 e 03, ambos de 2003, fixando instruções para a utilização do

convênio com o Banco Central do Brasil – Sistema Bacen Jud. 225

Assim, nos termos do art. 5º do Provimento da Corregedoria Geral da

Justiça do Trabalho n. 6/2005, qualquer pessoa física ou jurídica poderá solicitar

ao TST o cadastramento de conta única apta a colher bloqueios on line,

realizados por meio do Sistema BACEN JUD. A solicitação deverá ser

encaminhada por petição, dirigida ao Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho e

instruída com cópias dos comprovantes do CNPJ ou CPF e da titularidade da

conta indicada (banco, agência, conta corrente, nome e CNPJ/CPF do

titular).única apta a acolher bloqueios on line, obriga-se a mantê-la com recursos

suficientes, sob pena de o bloqueio recair em outras contas e de o cadastramento

ser cancelado pelo TST.226

Desse modo, a pessoa física ou jurídica que optar pela indicação de conta

única apta a acolher bloqueios on line, obriga-se a mantê-la com recursos

suficientes, sob pena de o bloqueio recair em outras contas e de o cadastramento

ser cancelado pelo TST. 227

222 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 970 223 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho.. p. 970 224 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 576 225 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 576 226 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 929. 227 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 929

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Carlos Henrique Bezerra Leite228 comenta que:

O executado que teve sua conta descadastrada poderá, após o período de seis meses, contados da publicação, no Diário da Justiça, da decisão que a descadastrou, postular o recadastramento, indicando a mesma ou outra conta, conforme a sua conveniência. Mas a reincidência no não-atendimento das exigências de manutenção de recursos suficientes ao acolhimento dos bloqueios on line importará em novo descadastramento pelo prazo de um ano, podendo, após esse período, postular novamente seu recadastramento. Se o executado insistir em não manter os recursos suficientes, o descadastramento posterior terá caráter definitivo.

Importante observar, neste caso, que, nos termos do § 2º do art. 9º do

Provimento CGJT 6/2005: “O prazo para oposição de embargos começará a

contar da data da notificação, pelo juízo, ao executado, do bloqueio efetuado em

sua conta.”

Destaca Carlos Henrique Bezerra Leite que:

Neste sentido, se o prazo para embargos à execução é contado da data da notificação do bloqueio, parece inegável que o Provimento não considera o bloqueio on line mero exercício do poder geral de cautela do juiz, e sim autêntica penhora, pois, como é conhecido, é da intimação da penhora que se indica o prazo para oferecimento dos embargos à execução, como se infere do art. 884 da CLT. 229

Logo, é o próprio juiz que realiza a penhora on line, e não o oficio de

justiça, o que, segundo Bezzerra, gerará controvérsias acerca da

constitucionalidade do dispositivo ora focalizado por violação ao devido processo

legal e ao principio da legalidade, na medida em que o auto de penhora é

realizado por oficial de justiça, e não pelo juiz. 230

Contudo, como visto anteriormente, quando da penhora de bens,

ressalvadas as penhoras on line, cumpridas as exigências legais, a nomeação

será reduzida a termo, havendo-se por penhorados os bens, o oficial de justiça

procede à avaliação agilizando o processo de execução, assim, intimando-se o

executado para vir assiná-lo como depositário, salvo se o exeqüente não

228 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 929. 229 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 929 230 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 930

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concordar em que os bens fiquem sob a guarda do executado. (Lei 6.830/80 art.

11, § 3º) 231

Destarte neste caso, os bens serão removidos para o depósito público (se

existir), ou mesmo deverá o exeqüente indicar depositário particular,

providenciando meios de transporte para a remoção dos bens. 232

Mas, como visto, o auto de penhora indica quem é o responsável, ou

depositário, pela guarda e conservação do bem que agora é garantia desta

execução. Neste sentido, apresenta-se a seguir a evolução da figura do

depositário, objeto de pesquisa.

4.2 DO DEPOSITÁRIO – NOÇÕES HISTÓRICAS

No passado a lei desconhecia o depositário (in) fiel, era severa e

imperdoável se não a cumprisse como determinava, mas ainda antes de Cristo,

essa admissão caiu por terra.

A Lex Poetelia Papiria, oriunda de um levante contra os maus tratos

aplicados a um devedor plebeu, reformulou-a determinando que a execução da

divida recaísse sobre o patrimônio, muito embora os débitos oriundos de delito

pudessem levar à escravidão do devedor. E isso no ano 326 a.C.233

Na idade Média retrocedeu, voltou a incidir a cobrança sobre a pessoa do

devedor, seja pela servidão, prisão ou expulsão de sua cidade. Este estado de

coisas vigorou até fins do século XIX, quando gradativamente países que se

deram conta do absurdo já reconhecido no passado pela Lex Poetelia Papiria se

dispuseram a mudanças.234

O Código Civil francês datado de 1804 prescrevia em seu art. 2093 que

“os bens do devedor são garantia comum de seus credores”. Assim, aconteceu na

231 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 1346 232 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 567 233 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 116 234 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 116

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França que, em 1867, aboliu a prisão por dividas; na Alemanha que fez o mesmo

em 1868; e, por igual, tal idéia é apagada do ordenamento inglês em 1869. 235

Álvaro Villaça Azevedo explica que:

No ordenamento positivo brasileiro a prescrição de prisão do depositário infiel presente nas Ordenações Portuguesas, que buscaram sua inspiração no Direito Romano. Essas Ordenações, no Brasil, vigoraram até 1916, quando pelo art. 1807 do Código Civil brasileiro foram expressamente revogadas.

Com a Constituição Brasileira de 1824, veio a determinação de que se

elaborasse um Código Civil e um Código Penal o mais rápido possível. O Código

Criminal de 1850, em seu art. 310, assim prescrevia: “Todas as ações ou

omissões que, sendo criminosas pelas leis anteriores, não são, como tais,

consideradas no presente Código; não sujeitarão a pena alguma”. 236

O Código de Processo Civil pátrio de 1939 só admitia a defesa do

devedor depositário se o réu realizasse o depósito do equivalente, havendo nessa

disposição a inacreditável possibilidade de condenação à prisão civil sem

possibilidade de defesa, era condenado à prisão civil, sem ser ouvido.

Sobre a questão, Álvaro Azevedo manifesta-se:

Resta evidente que o depositário ficava inibido de apresentar qualquer defesa, sob aquele regime, sem o depósito da coisa ou do equivalente em dinheiro, sob pena de prisão, verdadeiro constrangimento, pois, em caso de perecimento do bem depositado, sem culpa do devedor, ficava inerte, sem poder defender-se, antes de depositar o equivalente em dinheiro. 237

Quanto às disposições constitucionais a respeito desse instrumento de

coerção, deve-se lembrar que a Constituição Política do Império do Brasil de

25.01.1891, foram omissas a respeito. 238

Mas, a Constituição de 16.07.1934 foi incisiva. Não admitiu exceções

quando em seu art. 113, n.30, decretava “que não existirá prisão por dividas,

235 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 117 236 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 119 237 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Prisão civil por divida. São Paulo: RT, 2000. p. 64 e 105 238 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 120

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multas ou custas”. Já a Constituição de 1937 deixa à legislação ordinária a

questão da prisão por dívidas, não oferecendo garantia contra a mesma. 239

A Constituição de 18 de setembro de 1946 e de 24 de janeiro de 1967 e a

EC n.1 de 17.10.1969 excepcionaram o devedor de alimentos e o depositário

infiel, com uma redação bem semelhante.

Por fim, a atual constituição, de 05 de outubro de 1988, afastando a

prisão de natureza civil, manteve as exceções, com o acréscimo de qualificações

do inadimplemento da obrigação alimentícia e retira a expressão “na forma da lei”. 240

Então, conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, em

seu art. 5º, LXVII “não haverá prisão civil por divida, salvo a do responsável pelo

inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do

depositário infiel”.

4.3 DO DEPOSITÁRIO – CONCEITO

O depositário é o serventuário ou auxiliar da justiça que se encarrega da

guarda e conservação dos bens colocados às ordens do juízo, por força de

medidas constritivas, como a penhora o arresto o seqüestro, a busca e apreensão

e arrecadação. 241

Neste sentido, fixa o CPC em seu art. 148 “A guarda e conservação de bens penhorados, arrestados, seqüestrados ou arrecadados serão confiadas a depositário ou a administrador, não dispondo a lei de outro modo”.

Ainda, de acordo com o conteúdo do art. 629 do Código Civil, o

depositário é obrigado a ter, na guarda e conservação da coisa depositada, o

cuidado e diligencia que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a

restituí-la com todos os frutos e acrescidos, quando lhe exija o depositante. 242

Manoel AntônioTeixeira Filho comenta:

Essa atitude do legislador foi correta, pois, assim como o oficial de justiça, o depositário atua como uma espécie de longa manus

239 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 120 240 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 120 241 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. p.239 242 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito processual do trabalho. p. 241

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do juízo, sendo, em razão, cumulado de poderes e deveres no que respeita ao exercício das funções que lhe são legalmente reservadas. 243

Deste modo, o objetivo do depósito é a guarda e conservação dos bens

penhorados, evitando extravio ou deterioração. Caso ocorre, contudo, em que a

natureza dos bens apreendidos exige a continuidade da sua exploração

econômica. 244

Sua função, em tais casos, é ativa, pois consiste em manter em atividade

e produção o estabelecimento penhorado. Trata-se de realizar uma gestão e não

uma simples guarda. 245

A gestão desse depositário segue um plano previamente preparado pelo

administrador e aprovado pelo juiz da execução (art. 677 do CPC). As rendas

auferidas são objeto de prestação de contas periódicas e revertem em benefício

da execução. 246

4.3.1 Direitos, Deveres E Responsabilidade Do Depositário

Conforme menciona o art. 591 do CPC, o devedor responde, para o

cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens, presentes e futuros,

salvo as disposições estabelecidas em lei. Portanto, a execução é sempre real,

ensejando um dever para o devedor e uma responsabilidade para o seu

patrimônio. 247

Conforme antes destacado, em regra, será o devedor o depositário, tendo

este poderes decorrentes do encargo público assumindo perante o juízo da

execução.

Cabe-lhe o poder de guarda e administração dos bens que lhe são

confiados, fazendo jus, outrossim, a uma remuneração pelo desempenho do

Art. 677 do CPC: ”Quando a penhora recaírem estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como em semoventes, plantações ou edifício em construção, o juiz nomeará um depositário, determinando-lhe que apresente em 10(dez) dias a forma de administração.” 243 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.492 244 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. p.369 245 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. p.369 246 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. p.369 247 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 541

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cargo, que é fixada pelo juiz, atendendo à situação dos bens, ao tempo do serviço

e às dificuldades de sua execução (art. 149 do CPC).248

Para esse fim, o magistrado levará em conta a situação dos bens, ao

tempo dos serviços, e as dificuldades que o depositário terá no desempenho das

funções. 249

A responsabilidade do depositário está em que responde pelo saldo

devedor das contas que apresentar e também pela não-apresentação dos bens,

quando ordenada pelo juiz. 250

Assim, o depositário (ou o administrador) responde pelos prejuízos que,

decorrentes de dolo ou culpa causar a qualquer das partes (art. 150 do CPC) sob

pena de responder civilmente pelos prejuízos resultantes de dolo ou culpa. 251

Além disso, o depositário também tem a obrigação de entregar os bens

que lhe foram confiados a quem o juiz determinar. 252 Assim, no caso, do

depositário se recusar a entregar o bem, ou afirma que já não os possui, isso é o

bastante para que o juiz dê inicio a um procedimento simplificado, com a

finalidade de fazer com que o depositário restitua a coisa que lhe fora confiada.

Convencendo-se o juiz de que o depositário se recusa, por motivo

legalmente injustificável, a restituir os bens, fará expedir mandado para a entrega,

no prazo de 24 horas, ou do equivalente em dinheiro, sob pena de prisão. Logo,

descumprida a ordem judicial ou inadimplemento do encargo de guardar e

conservar o bem penhorado podem caracterizar a figura do depositário infiel,

sendo valida a decretação de sua prisão no próprio processo, independentemente

de ação de depósito (art. 666, § 3º do CPC), sendo essa uma das hipóteses de

prisão civil em nosso ordenamento jurídico. 253

Este mandado deverá especificar o tempo em que o depositário

permanecerá preso, sob pena de esse ato judicial ser ilegal e, com isso, desafiar

a impetração de ordem de hábeas corpus. 254

248 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 411 249 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.495 250 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.495 251 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.496 252 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 936 253 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 936 Art. 666 do CPC: “os bens penhorados serão preferencialmente depositados.”

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4.3.2 Da Nomeação Do Depositário

Explica Manoel Antônio Teixeira Filho que para que o devedor

permaneça na posse dos bens que lhe forem penhorados, há necessidade de que

com isso concorde o credor (art. 666 do CPC).

Discordando, segundo o mencionado autor, caberá ao oficial de justiça

escolher um depositário, nomeando-o, e depositando os bens: a) no Banco do

Brasil, na Caixa Econômica Federal, ou em um Banco, de que o Estado-membro

da União seja detentor de mais da metade do capital social integralizado; ou, na

falta desses estabelecimentos de credito, designado pelo juiz, às quantias em

dinheiro, as pedras e os metais preciosos, assim como os papeis de credito; b)

em poder do deposito judicial, os moveis e os imóveis urbanos; c) em mãos de

depositário particular, os demais bens, na forma prescrita pelos arts. 677 a 679 do

CPC. 255

Humberto Theodoro Junior, também destaca que conforme a finalidade

da penhora, que é a de determinar o bem sobre o qual se realizará a

expropriação, sujeitando-o à execução forçada, o depositário, como responsável

pela sua conservação, assume posição de “figura essencial da penhora”, assim

sua função no processo é de auxiliar da justiça. 256

Assim segundo doutrinador: Ele é o longa manus do juízo da execução,

seu auxiliar e órgão do processo executivo, com poderes e deveres próprios no

exercício de suas atribuições, atribuindo ao próprio devedor o encargo do

depósito, assumindo duplo papel no processo, figurando, a um só tempo, como

executado e depositário, em “duas relações inconfundíveis”. 257

4.3.3 Da Prisão Civil Do Depositário Infiel

Importante ressaltar, que a obrigação do depositário, conforme já

mencionada, é a guarda. Pela lei civil, essa guarda exige do depositário aqueles

254 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.498 255 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.494 256 THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execução. p.367 257 THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execução. p.367

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cuidados iguais aos que teriam com a coisa se a mesma fosse sua, não se

admitindo, contudo, ao depositário, a escusa de que não tem cuidado nem com a

que lhe pertence.

Tal obrigação vem explicitada no Código Civil Brasileiro, de modo a não

ser possível qualquer questionamento ou desculpa que desobrigue o devedor da

restituição da coisa cuidada, com todo o desempenho esperado, segundo um

critério de razoabilidade. É o bom senso que vai estabelecer os limites dessa

exigência, relativamente ao modo com que se deve exercer essa guarda. 258

Deste modo, o deposito implica responsabilidade para o depositário, que

tem de zelar pela integridade dos bens, evitando danos que possam reduzir o seu

valor e redundar em prejuízo da execução. Se o depositário não apresenta os

bens quando reclamados, está sujeito a prisão por incorrer em ilícito. Tornando-se

assim, depositário infiel. 259

Conseqüentemente, aquele que antes do descumprimento era depositário

fiel, a partir desse momento se tornar depositário infiel, pois seu inadimplemento

do encargo de guardar e conservar o bem penhorado não restou cumprido, assim

insurgindo a decretação de sua prisão no próprio processo, independentemente

da ação de deposito, sendo essa uma das raras hipóteses de prisão civil em

nosso ordenamento jurídico. 260.

No mais pode ainda, ser conduzido coercitivamente pela polícia perante o

juiz, a fim de esclarecer o paradeiro dos bens sob sua guarda, além de preso,

sem prejuízo da responsabilidade civil. 261

Conforme previsto na Constituição Federal em seu art. 5º, LXVII “Não haverá prisão civil por divida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.

De acordo com a terminologia jurídica a prisão civil, pois, não tem a

finalidade de cumprimento de pena, mas a de compelir o faltoso a devolver a

coisa em seu poder ou o valor equivalente, ou a cumprir o que é de seu dever.

A prisão civil é decretada ou imposta para que cumpram o que lhes cabe

cumprir, desse modo, se o depositário devolve o que é para devolver, a prisão

258 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 47 259 QUEIROZ, Odete Novais Carneiro. Prisão Civil e os direitos humanos. p. 48 260 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 937 261 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 570

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não mais tem sua razão. Neste caso, a prisão civil não importa em pena criminal.

É o meio compulsório de obrigar o faltoso a cumprir o seu dever, segundo a regra

imposta em lei nos termos da sentença judicial. 262

Quanto ao regime, na prisão civil não se aplica quaisquer institutos

penais, sob pena de descaracterizá-la, rememore-se a exata lição da 4ª turma do

STJ, segundo a qual não se recomenda, no âmbito da execução civil, o

tratamento benévolo e complacente para com o devedor recalcitrante,

abusivamente descumpridor de suas obrigações, em flagrante desprestigio a

solução jurisdicional.

Por tal motivo, descabida se mostra à prisão-albergue e outras

concessões à disciplina penal. A sanção ao depositário infiel consiste na sua

prisão pura e simples, pelo prazo não excedente há um ano, cumprida em

qualquer estabelecimento penal. 263

Outra ocorrência importante frisar é a aplicabilidade da prisão civil em

descumprimento de "obrigação alimentícia" decorrente de responsabilidade por

ato ilícito.

Vide, neste sentido, Eduardo Talamini, que assim se expressa:

"O conceito de dívida alimentícia com a extensão indicada é extraível da própria Constituição. No caput do artigo 100 previu-se regime especial para cobrança, perante as Fazendas Municipal, Estadual e Federal, dos ‘créditos de natureza alimentícia’. O sentido constitucional de ‘alimentos’, portanto, vai necessariamente além do direito de família: abrange indenizações, pensões, salários e outras verbas – desde que essencialmente destinadas ao sustento do titular do crédito." 264

262 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1096 263 ASSIS, Arakem de. Manual da execução. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/ 2007. p. 628 Art. 1º da CF/ 88: “A republica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem com fundamentos: III- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. 264 TOLEDO FILHO, Manoel Carlos; MAIOR, Jorge Luiz Souto. Da prisão civil por dívida trabalhista de natureza alimentar. www.jus.com.br. Publicado em: 05/ 2003. Acessado em: 14/05/2008

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Araken de Assis ressalta que: “o direito pátrio ignora conceito claro e

explícito da obrigação alimentar e, assim, provoca esforços suplementares para

encontrá-lo”. 265

Pontes de Miranda, em contra partida adverte que: “o termo alimento

possui o sentido amplo de compreender tudo quanto for imprescindível ao

sustento, à habitação, ao vestuário, ao tratamento das enfermidades e às

despesas de criação e educação”. 266

Assim está prevista no art. 5º, LXVII da Constituição, que:

“não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo

inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do

depositário infiel". 267

4.3.4 Da Responsabilização Do Depositário (In)Fiel Nomeado De Ofício

Não obstante as normas alencadas, discute-se na doutrina se, no ato da

expropriação de seus bens (penhora), o devedor é obrigado a assumir o encargo

de fiel depositário.

Nos termos do art. 665, IV, do CPC “o auto de penhora conterá: a

nomeação do depositário dos bens.”

Deste modo, não menciona a norma processual que tal auto deverá ter a

assinatura do depositário, surgindo, neste momento, portanto, entendimentos de

que é possível nomeá-lo de ofício, e, independentemente de sua assinatura no

auto de depósito, assumiria este o encargo. 268

Neste sentido, Manoel Antônio Teixeira Filho realça:

[...] não há exigência legal de que o auto de penhora e depósito tenha a sua validade formal condicionada à assinatura, nessa peça, do depositário, leia-se com a devida atenção o art. 665, IV, do CPC, e ver-se-á que o único requisito, no particular, é a nomeação (eleição, indicação) do depositário, inexistindo qualquer referencia à sua assinatura; logo, é suficiente que o

265 CESÁRIO. João Humberto. http://jusvi.com/artigo. Publicado em: 25/10/2003. Acessado em: 14/05/2008 266 CESÁRIO. João Humberto. http://jusvi.com/artigo. Publicado em: 25/10/2003. Acessado em: 14/05/2008 267 TOLEDO FILHO, Manoel Carlos; MAIOR, Jorge Luiz Souto. Da prisão civil por dívida trabalhista de natureza alimentar. www.jus.com.br. Publicado em: 05/ 2003. Acessado em: 14/05/2008 268 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 568

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oficial de justiça o nomeie, embora nada proíba que o depositário também lance o seu autógrafo no auto. 269

Tereza Aparecida Asta Gemignani, então, conclui que: A nomeação de ofício do executado, como depositário, não configura ato ilegal, nem ofensa a direito líquido e certo. O processamento desta constrição exige o acesso à administração da empresa, cadastros bancários, fornecedores, entre outras que podem comprometer a segurança operacional de sua atividade econômica, de modo que a nomeação do próprio executado como depositário milita em seu favor, atendendo ao disposto nos artigos 620 e 678 do CPC , bem como ao inciso LXXVIII do artigo 5º da CF/88, quanto a razoável duração, inexistindo amparo legal para recusar o encargo, o que afasta a aplicação da OJ 89 da SDI II do C. TST, bem como a Súmula 319 do C. STJ 270

Discordando contudo, Arkem de Assis grifa:

Os sistemas jurídicos adotaram soluções discrepantes, quanto à escolha do depositário. Entre nós, o art. 666, c/c o art. 665, IV, do CPC, torna claro que incumbe ao oficial de justiça à nomeação, sob supervisão judicial, e, ademais, o encargo dependerá da anuência do particular eventualmente indicado. 271

No mesmo pensamento Eduardo Gabriel Saad afirma que:

“E não tem validade o auto de penhora sem a assinatura do depositário. Enquanto não se satisfaz essa exigência, não se consuma a penhora, o que impossibilita a fluência do prazo para a oposição dos embargos à execução”. 272

Ainda, dispõe a Súmula 319 do STJ: “O encargo de depositário de bens

penhorado pode ser expressamente recusado”.

Neste sentido, a Ministra Denise de Arruda em comentário sobre a

Súmula 319 do STJ: Os precedentes principais são o habeas-corpus nº 34.229-

SP, julgado pela Terceira Turma, e o REsp 505.942-RS, da Primeira Turma,

assinala que a indicação compulsória de administrador, nos termos do artigo 719

269 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p.494 270 www.conamat.com.br/teses 271 ASSIS, Arakem de. Manual da execução. p. 631 272 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito processual do trabalho. p. 981

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do Código de Processo Civil, não é possível porque deve ser indicada pessoa que

aceite tal incumbência. 273

Conseqüentemente, a Súmula 304 do STJ define: “é ilegal a decretação

da prisão civil daquele que não assume expressamente o encargo de depositário

judicial”.

Por fim, a que se destacar que o art. 5º, II da CF/88 prevê: “ninguém será

obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.

Ainda, recentemente, o Tribunal Superior do Trabalho, por meio da OJ 89

da SDI-II, manifestou-se também, firmando entendimento de que a investidura no

encargo de fiel depositário depende da aceitação do nomeado, com sua

assinatura no Termo de Compromisso constante no auto de penhora: 274

“OJ 89 DA SDI-II/TST- HABEAS CORPUS-DEPOSITÁRIO-TERMO DE DEPÓSITO NÃO ASSINADO PELO PACIENTE- NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO DO ENCARGO- IMPOSSIBILIDADE DE PRISÃO CIVIL. A investidura do encargo de depositário depende da aceitação do nomeado, que deve assinar Termo de Compromisso no auto de penhora, sem o que é inadmissível a restrição do seu direito de liberdade”.

Também é esse o entendimento da jurisprudência citada por Theotonio

Negrão, “não há penhora enquanto não se deposita o bem. E só se aperfeiçoa o

depósito em mãos do executado com a aceitação, por este, do encargo". A

investidura no encargo de depositário, portanto, por ser ato de vontade, depende

da aceitação do nomeado, que deve, inclusive, assinar termo de compromisso,

sem o que não é admissível a restrição de seu direito de liberdade, garantido

constitucionalmente. 275

No mesmo sentido, o Ministro Francisco Fausto comenta:

A nomeação do depositário dos bens objeto da execução é feita no auto de penhora. Para que ao ato de nomeação seja conferida validade plena é necessária a assinatura do depositário no auto de penhora e sua aceitação expressa para o exercício do encargo. A notificação, no caso, tem que ser pessoal, pois o resultado do descaso no cumprimento do encargo é a decretação de prisão. A investidura como depositário judicial é ato de vontade, sendo indispensável a assinatura do nomeado no termo

273www.stj.gov.br. Publicado em: 05/10/2005. Acessado em 13/05/2008. 274 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. p. 568 275 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e Legislação Processual. 31ª.ed. São Paulo: Saraiva, 2000.p. 690

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de compromisso. Sem o cumprimento das formalidades inerentes ao ato de nomeação do depositário fiel não se pode admitir o constrangimento e a restrição do direito de liberdade de um cidadão, garantido constitucionalmente. 276

Os Tribunais do Trabalho, em regra, tem entendido neste sentido. Não

obstante, há que se ressaltar que julgam habeas corpus impetrados por

devedores cujo encargo, no juízo de execução, fora entendido como assumido

independente de sua concordância, ou seja, assinatura no auto. Neste sentido, é

a jurisprudência.

EMENTA: DEPOSITÁRIO INFIEL. PRISÃO CIVIL. Hipótese em que não há fundamento legal para caracterizar o executado como depositário infiel. Termo de depósito não assinado pelo executado. Necessidade de aceitação do encargo. Impossibilidade de prisão civil. Incidência do disposto no inciso IV do art. 665 do CPC e da Orientação Jurisprudencial nº 89 da SDI-II do TST. Agravo de petição provido. ACÓRDÃO do Processo 00614-2000-281-04-00-9 (AP).Juiz Relator: TÂNIA MACIEL DE SOUZA. Data de Publicação: 15/04/2008.TRT 4ª.

EMENTA: HABEAS CORPUS. DEPOSITÁRIO. TERMO DE DEPÓSITO NÃO ASSINADO PELO PACIENTE. NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO DO ENCARGO. IMPOSSIBILIDADE DE PRISÃO CIVIL. “A investidura no encargo de depositário depende da aceitação do nomeado que deve assinar termo de compromisso no auto de penhora, sem o que, é inadmissível a restrição de seu direito de liberdade”. O.J. 89 da SDI-II do TST. ACÓRDÃO do Processo 04366-2007-000-04-00-0 (HC). Juiz Relator: MARIA INÊS CUNHA DORNELLES. Data de Publicação: 09/04/2008. TRT 4ª. EMENTA: "HABEAS CORPUS PREVENTIVO""AUSÊNCIA DE ASSINATURA DO DEPOSITÁRIO "- AMEAÇA DE PRISÃO " ATO ILEGAL E ABUSIVO - "SALVO-CONDUTO"- A existência de vício fundamental no termo de depósito consistente na ausência de assinatura do depositário torna ineficaz o ato processual expropriatório então praticado, não podendo o Juízo da execução determinar a apresentação dos bens penhorados. Ilegítima a nomeação compulsória do sócio da empresa devedora como depositário dos bens penhorados, não há falar em possibilidade de sua prisão civil. Pedido de Habeas corpus preventivo concedido para determinar a imediata cessação de ameaça de decretação de ato restritivo ao direito constitucional de locomoção, mantendo-se a decisão liminar que determinou a

276 www.trt12.gov.br. TST – HC 543416 – SBDI II – Rel. Min. Francisco Fausto – DJU 19.05.2000 – p. 188

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expedição de salvo-conduto a favor do paciente . ACORDÃO: 00409-2004-000-03-00-1-HC. TRT 3º. Juiz Relator: RODRIGO RIBEIRO BUENO.

Em Santa Catarina, o Tribunal Regional da 12ª Região também se

manifesta:

Ementa: NULIDADE DE PENHORA DE IMÓVEL. AUSENCIA DE ASSINATURA DE DEPOSITÁRIO. Consoante o disposto no § 4º do art. 659 do CPC, com a redação dada pela Lei nº 10.444/2002 (atualmente alterada pela Lei nº 11.382/2006), "a penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação do executado (art. 669), providenciar, para a presunção absoluta de conhecimento por terceiros, o respectivo registro no ofício imobiliário, mediante apresentação de certidão de inteiro teor do ato e independentemente de mandado judicial". Portanto não estabelece o § 4º do art. 659 do CPC como requisito de validade do auto ou do termo de penhora a assinatura ou a constituição desse auxiliar do Juízo (CPC, art. 139). Princípio da instrumentalidade dos atos processuais. A necessidade de aposição da assinatura subsiste apenas na hipótese de decretação da prisão do depositário infiel, notadamente quando ele não zelar pela guarda e conservação dos bens que lhe foram confiados (CPC arts. 904, parágrafo único, e CC, art. 652). Acórdão / - Juiz Nelson Hamilton Leiria - Publicado no TRTSC/DOE em 16-05-2008, página: .

Ementa: "HABEAS CORPUS". DEPOSITÁRIO INFIEL. AUSÊNCIA DE ACEITAÇÃO DO ENCARGO. DEFERIMENTO DA ORDEM. A função de depositário configura-se ato de vontade, não havendo no ordenamento pátrio autorização para que se dê tal encargo de forma compulsória. Não tendo sido lançada a assinatura do paciente no respectivo termo de encargo, não há cogitar de sua prisão pela ausência de entrega do bem, conforme, inclusive, entendimento consubstanciado na Orientação nº 89 da SDI-2 do TST. Acórdão 3288/2006 - Juiz Gerson P. Taboada Conrado - Publicado no DJ/SC em 16-03-2006, página: 303.

Do corpo do acórdão destacado, vale transcrever os fundamentos da

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Juíz Dr. Gerson Taboada Conrado:

CÉLIO CRISTÓVÃO impetra o presente habeas corpus preventivo,

com pedido liminar, em razão da ameaça de prisão constante do mandado de penhora

expedido pelo Ex.mo Juiz da Vara do Trabalho de Jaraguá do Sul, nos autos da

reclamatória trabalhista nº 217/98, caso não apresente em juízo os valores decorrentes

da penhora determinada sobre 40% do faturamento bruto mensal da executada, Samuel

Têxtil Indústria do Vestuário Ltda., de quem é seu representante legal.

Diz não ter assinado o auto de penhora, razão pela qual não pode ser

considerado depositário, tampouco infiel, já que não aperfeiçoada a penhora em virtude

da ausência de depósito do bem.

Invoca o art. 5º, LV, LVII, LXV, LXVI e LXVII, da Carta Magna.

A liminar restou deferida, conforme a decisão de fls. 99-103.

A Procuradoria Regional do Trabalho, por meio do parecer de fls. 110-

114, argúi a preclusão do direito de insurgir-se contra sua condição de depositário,

carência de ação por não ter sido ele o indicado como depositário e, finalmente, pelo

indeferimento do salvo-conduto.

É o relatório.

V O T O

CARÊNCIA DE AÇÃO ARGÜIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO

TRABALHO

Contrariamente ao que procura sustentar a ilustre representante da

Procuradoria Regional do Trabalho, a pessoa alcançada pela ameaça de prisão ora

discutida nos autos é, efetivamente, o paciente indicado, Sr. Célio Cristóvão, conforme

infiro dos documentos de fls. 48, 49, 82 e 84.

Com efeito, o documento de fl. 82 comprova, inclusive, a

despersonalização da original executada, com a determinação de prosseguimento da

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execução em nome do Sr. Célio Cristóvão, a quem imposta a ordem, portanto, de

depositar em juízo os valores supostamente penhorados, a título de faturamento da

executada.

Portanto, o recebimento do mandado de fl. 85 pelo Sr. Luiz Henrique

Lucerna não se deu senão em nome do Sr. Célio Cristóvão, já que aquele é procurador

deste, como inclusive constou do mesmo documento.

Não há cogitar, portanto, de ordem endereçada a seu procurador, mas

apenas em nome do Sr. Célio, único a sofrer, efetivamente, a ameaça de prisão aqui

debatida, pelo que não há carência de ação a ser levantada.

Rejeita-se.

M É R I T O

O Juízo determinou, à fl. 84, a penhora do faturamento da empresa ré,

no limite de até 40% do faturamento bruto, mês a mês, cujos valores deveriam ser

depositados pelo ora paciente, sob pena de ser considerado depositário infiel. A

iminência da prisão se revela, portanto, nos termos do próprio mandado, em que a

consideração do paciente como depositário infiel decorrerá da ausência da realização

dos depósitos acima referidos.

Conquanto compartilhe do entendimento manifestado pela

representante do Ministério Público do Trabalho, de que a discussão acerca da

legalidade ou não do procedimento adotado pelo Juízo resta superada, já que da decisão

de fl. 46, embora tenha a executada interposto agravo de petição, não foi ele conhecido

(acórdão nº 5163/2003 – fls. 65-66), tendo sido negado provimento, ainda, ao agravo de

instrumento interposto ao C. TST (fls. 78-80), não vejo, por outro lado, como adotar a

mesma lógica à condição do paciente de depositário.

O mandado de penhora (fl. 84) foi recebido pelo paciente (fl. 85),

porém não houve assinatura de qualquer termo de encargo de depositário.

Dispõe o art. 139 do CPC que o depositário, quer seja público, quer

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seja particular, integra o rol dos auxiliares da administração da Justiça. Detém ele, como

preleciona José Frederico Marques em sua clássica obra Manual de Processo Civil, a

coisa penhorada pelo dever funcional que decorre de sua qualidade de auxiliar do juízo

no processo de execução. A função de depositário traduz, pois, um ato de vontade. Não

há, portanto, no ordenamento pátrio qualquer previsão legal a amparar a nomeação de

depositário na forma como se efetivou nos autos da AT nº 200/99, considerando-se

inadmissível que um indivíduo receba o encargo à sua total revelia, cujos deveres e

poderes o transformam numa espécie de longa manus do Juízo.

Nesse sentido inclusive a orientação nº 89 da SDI-2 do TST:

DEPOSITÁRIO. NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO DO ENCARGO. A investidura no encargo de depositário depende da aceitação do nomeado que deve assinar termo de compromisso no auto de penhora, sem o que, é inadmissível restrição de seu direito de liberdade.

Portanto, data venia ao entendimento esposado no parecer de fls.

112-114, não vejo como entender preclusa a discussão sobre a condição do autor como

depositário se, em verdade, jamais foi ele investido desse encargo.

Ementa: "HABEAS CORPUS". DEPOSITÁRIO. ASSINATURA NO TERMO DE DEPÓSITO. PRISÃO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE. Para que seja considerado válido o ato de nomeação do depositário do bem, mister a aceitação do nomeado, que deve apor sua assinatura no termo de depósito. Não assinado, a investidura no cargo não se perfectibiliza, razão por que não há falar em prisão civil. Acórdão 6821/2004 - Juíza Ligia M. Teixeira Gouvêa - Publicado no DJ/SC em 01-07-2004, página: 184.

Do corpo do acórdão destacado, vale transcrever os fundamentos da

Juíza Dra. Lígia Maria Teixzeira Gouvêa:

O fundamento do pleito da concessão da ordem de habeas corpus, formulada

pela impetrante, decorre da alegação da nulidade da nomeação compulsória do paciente

para o encargo de depositário, diante da manifesta recusa em assinar o auto de penhora

de fls. 05-07.

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No caso concreto ora analisado, verifico que foi penhorado o seguinte bem (auto

de penhora à fl. 05): 30% sobre o faturamento mensal da executada, devendo ser

depositado até o 5° dia útil do mês subseqüente, no Banco do Brasil – 001, Ag. 3155-0, à

disposição do MM. Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Joinville – SC.

Com efeito, o auto de penhora acostado à fl. 05, datado de 14-8-2003, não traz o

auto de depósito devidamente preenchido e assinado (fl. 7). A certidão de fl. 11, por sua

vez, informa ter sido o paciente advertido como fiel depositário do bem. Outrossim,

através do despacho de fl. 09, o Juízo da execução deliberou por decidir que: apesar de

não constar sua assinatura no Auto de Depósito, nomeio depositário o Sr. Carlos César

Corrêa (fl. 09).

Por não terem sido feitos os depósitos de acordo com o contido no auto de

penhora, o Juízo determinou a expedição do mandado de prisão do paciente (fl. 10).

O procedimento adotado pelo Juízo da execução afigura-se equivocado, uma

vez que a investidura no encargo de depositário não pode ser imposta. Considerado ato

de vontade, depende, necessariamente, da aceitação do nomeado, que deve, com esse

mister, assinar termo de compromisso no auto de depósito.

Não há, no nosso ordenamento pátrio, qualquer previsão legal a amparar a

nomeação de depositário na forma como se efetivou nos autos da execução da sentença

prolatada na AT nº 1180/98, considerando-se inadmissível que um indivíduo receba o

encargo à sua total revelia, cujos deveres e poderes o transformam numa espécie de

longa manus do Juízo.

O procedimento adotado, pois, nesses autos, implica na restrição do direito de

liberdade, fato que configura constrangimento ilegal, a teor do art. 5º, LXVIII, da

Constituição Federal de 1988.

Ademais, o entendimento ora manifestado encontra respaldo na Orientação

Jurisprudencial n° 89 da SDI-II do TST, assim redigida:

“Habeas Corpus”. Depositário. Termo de Depósito não assinado pelo paciente.

Necessidade de aceitação do encargo. Impossibilidade de prisão civil. A investidura do

encargo de depositário depende de aceitação do nomeado que deve assinar termo de

compromisso no auto de penhora, sem o que é inadmissível a restrição de seu direito de

liberdade.

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Nesse norte, considerando que a nomeação do paciente como depositário não

pode ser aceita como aperfeiçoada, concedo a ordem de habeas corpus, mantendo a

liminar deferida.

Afinal, a penhora se aperfeiçoa mediante apreensão e depósito de

bens do devedor, pois com seu aperfeiçoamento há a retirada dos bens da posse

direta do devedor, de maneira que o depósito não produz eficácia alguma, ou,

como ensina Pontes de Miranda, “se houve a penhora e o depositário não

assinou o auto de penhora, penhora não houve”. 277

Assim, no pensamento da doutrina majoritária se no auto de depósito

não constar à assinatura do depositário, condição essencial para o

reconhecimento da aceitação do encargo do bem penhorado, tem-se que o

mesmo não é reconhecido como “depositário”, embora, os bens à época,

estivesse sob a sua guarda e posse. 278

Por fim, registre-se que alguns doutrinadores pregam que o art. 5º,

inciso LXVII da Constituição Federal somente aplica-se as dívidas decorrentes de

pensão alimentícia.

Porém, segundo Manoel Toledo Filho:

Essa interpretação não é restritiva, verificando que o valor social do trabalho e a proteção da dignidade humana foram edificados sobre aos princípios fundamentais da Constituição (art. 1º, incisos III e IV) e estes princípios são agredidos quando dívidas trabalhistas de natureza alimentar como: o salário e as verbas rescisórias não são pagos por ato voluntário e inescusável. Deste modo, a norma constitucional não se limita à pensão alimentícia, conferindo, poder ao juiz do trabalho, que, usará de forma ponderável nos casos que demonstre nítida a irresponsabilidade do devedor. 279

Neste momento surgem, portanto, ainda novos entendimentos, ou seja,

discussões atuais cerca da possível prisão civil do depositário infiel, permitida por

nossa legislação pátria, incluindo até mesmo a Constituição Federal de 1988, mas

proibida, expressamente, por dois Tratados Internacionais dos qual o Brasil faz

277 Htpp://jus2.uol.com.br. Acesso: 23, abril 2008. 278 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 935 279 TOLEDO FILHO, Manoel Carlos; MAIOR, Jorge Luiz Souto. Da prisão civil por dívida trabalhista de natureza alimentar. www.jus.com.br. Publicado em: 05/ 2003. Acessado em: 14/05/2008

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parte, quais sejam: Pacto de São José da Costa Rica e Pacto Internacional dos

Direitos Civis e Políticos 280.

Explica-se que o Pacto de São José da Costa Rica sobre Direitos

Humanos, ratificado pelo Brasil em 1992, proíbe a prisão civil por dívida, com

exceção, a do devedor de pensão alimentícia (art.7º, VII). 281

Ainda a Emenda Constitucional nº. 45 trás a determinação que os

Tratados Internacionais quando ratificado pelo Congresso Nacional por 3/ 5

quintos dos seus membros, tem efeito de Emenda Constitucional, contudo

segundo parcela da doutrina, tem como alicerce no que está previsto no art. 5º,§

3º da CF/ 88 “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem

aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos

respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. 282

Contudo, o “art. 5º da CF/ 88, em seu inciso, LXVII, prevê, conforme já

exaustivamente destacado, que não haverá prisão civil por dívida, salvo o

devedor de pensão alimentícia e o depositário infiel”. 283

Posicionamentos surgem portando, principalmente recordando que tal

norma não fora revogada vez que cláusula pétrea. Recordam assim que o art. 60,

§ 4º da CF/ 88 determina que as cláusulas pétreas não serão objeto de Emenda

Constitucional e o inciso LXVII do art. 5º faz parte dos Direitos e Garantias

Individuais, sendo, portanto cláusula pétreas que não pode ser alterado por

Emenda Constitucional. 284

Não Obstante, outros doutrinadores defendem que com a edição da

Emenda Constitucional nº. 45, a prisão civil do depositário infiel mostra-se

inconstitucional, havendo atualmente evidente choque de normas constitucionais.

Quanto à celeuma discorre ���������������� �� �� 280 Adotado pela resolução nº 2.200-A da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966. Aprovado pelo decreto legislativo nº 226 de 12.12.1991. Ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992. Em vigor no Brasil em 24.04.1992. Promulgado pelo decreto nº 592, de 06.07.1992. 281Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25.09.1992. www.pge.sp.gov.br 282 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 11 283 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 10 284PINTO, Antônio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Lívia. Vade Macum. p. 29/ 30

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Ao introduzir no seu art. 5º § 3º, a retificação dá status de emenda à constituição aos tratados internacionais de direitos humanos em que o Brasil for signatário. Tal fato se deve a crescente preocupação com a dignidade da pessoa humana, e na garantia efetiva de seus direitos, direitos que são indivisíveis e universais. Nesse contexto, nasce uma nova disciplina, o Direito Internacional Constitucional, que visa expandir essa temática para todos os sistemas jurídicos nacionais, além de criar uma linha comum de tratamento. 285

E ainda, complementa o autor:

Importante ressaltar, que a Emenda nº. 45 veio clarear posição que os alguns doutrinadores já adotavam com a interpretação do parágrafo 2º do art. 5º da CF/ 88, pois, seria a interpretação que se situaria em absoluta consonância com a ordem constitucional de 1988, no tocante ao tratamento dos direitos e garantias fundamentais. 286

Conseqüentemente, desde a vigência da assinatura dos mencionados

tratados, doutrinadores e juristas procuram estudar a questão da

inconstitucionalidade da decretação da prisão civil do depositário infiel, sob os

enunciados dos princípios da dignidade do homem e dos direitos humanos que

tutelam os direitos fundamentais – como bem lembra Bezerra Leite. 287

Enfim, percebe-se que quando da leitura da legislação processual, o

ordenamento jurídico pátrio não obriga o devedor a aceitar o encargo de depositá-

rio dos bens penhorados, consoante dicção do art. 666, incisos I, II e III, do CPC.

E, uma vez que a lei não prevê expressamente a assinatura no auto de

penhora, entendimento existe, embora não prevaleça, de que o depositário possui

o encargo, independente de assumir tal posição em decorrência de ato unilateral

do juízo que o nomeou de oficio.

Controvérsias permanecem, enfim, ainda mais, no processo do

trabalho, frente seus princípios próprios, na qual se busca constantemente a

agilidade do processo, diante, em especial, da natureza das verbas envolvidas,

embora o TST tenha se manifestado de maneira mais formalista, como visto na

Orientação Jurisprudencial destacada.

Assim, permanece a discussão, recordando-se, contudo, as palavras

do Ministro José Simpliciano Fernandes que, de forma simplicada, fundamenta 285 www.escritorioonline.com. Publicado em 18.05.05. Acesso em: 23.abril.2008 286 www.escritorioonline.com. Publicado em 18.05.05. Acesso em: 23.abril.2008 287 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. p. 937

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que o ato unilateral do Juízo de execução somente será válido se for aceito pelo

devedor o aludido encargo, condição sine qua non à eficácia do ato de nomeação,

devendo, pois, constar a sua assinatura no auto de penhora. Destarte, verifica-se

que a decretação da prisão civil, na hipótese vertente, reveste-se de ilegalidade,

eis que a nomeação do depositário fiel não se aperfeiçoa, ante a ausência de

aceitação do depositário devidamente assinada no auto de penhora,

configurando, assim, verdadeiro constrangimento ilegal, nos termos do art. 5º,

incisos II e LXVIII, da Constituição Federal de 1988. 288

288 www.trt12.gov.br. TST – ROHC 741002 – SBDI 2 – Rel. Min. José Simpliciano Fernandes – DJU 06.09.2001 – p. 540

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5 CONCLUSÃO

Como visto, o processo visa ensejar o caminho para a solução do conflito

submetido à jurisdição, estando dividido, em suma, em três fases, quais são:

conhecimento, recursal e execução.

Especificamente, quanto à execução, nesta busca o Estado à pretensão

da jurisdição para que cumpra a sua obrigação fundamental, que é a de entregar

a prestação jurisdicional invocado, solucionando as lides ocorrentes com a

aplicação do direito objetivo e entregando o bem da vida a quem tem o

correspondente direito.

No processo do trabalho, da mesma forma, a execução visa à constrição,

a expropriação do bem do executado para a satisfação integral da obrigação

constante do título executivo.

Contudo, a execução no processo do trabalho, como se sabe, possui

suas particularidades como, por exemplo, seu início, a requerimento ou de ofício

pelo próprio magistrado, buscando-se, evidentemente, a celeridade.

Ainda, outra importante observação é a aplicação do direito processual

civil, quando de lacuna na legislação processual trabalhista, do direito processual

civil, fonte subsidiaria, portanto, do direito processual do trabalho.

Contudo, como visto neste trabalho, o processo do trabalho possui

princípios (como o da proteção, da finalidade social, da indisponibilidade, da

busca da verdade real, da normatização coletiva e da conciliação, por exemplo),

sendo que estes devem ser observados – conforme determina a CLT em seu art.

769 - quando da aplicação da legislação subsidiária.

No mais, o processo do trabalho possui institutos próprios, como uma

justiça especializada com juizes especializados e o poder normativo exercido

originariamente pelos tribunais do trabalho.

Assim, na execução trabalhista, quando surge à figura do depositário,

celeuma existe quanto à interpretação de norma presente na legislação

processual civil.

Como visto, o depositário é o serventuário ou auxiliar da justiça que se

encarrega da guarda e conservação dos bens colocados às ordens do juízo, por

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força de medidas constritivas, como a penhora o arresto o seqüestro, a busca e

apreensão e arrecadação. Logo, a responsabilidade do depositário é a guarda e

conservação dos bens penhorados, evitando extravio ou deterioração.

Além disso, o depositário (ou o administrador) responde pelos prejuízos

que, decorrentes de dolo ou culpa causar a qualquer das partes (art. 150 do CPC)

sob pena de responder civilmente pelos prejuízos resultantes de dolo ou culpa.

O devedor, é certo, responde, para o cumprimento de suas obrigações,

com todos os seus bens, presentes e futuros, salvo as disposições estabelecidas

em lei. Portanto, a execução é sempre real, ensejando um dever para o devedor e

uma responsabilidade para o seu patrimônio. Contudo, discute-se muito na

doutrina se, no ato da expropriação de seus bens (penhora), o devedor é obrigado

a assumir o encargo de fiel depositário.

No pensamento da doutrina minoritária não há exigência legal de que o

auto de penhora e depósito tenha a sua validade formal condicionada à

assinatura tendo como alicerce o art. 665, IV, do CPC, inexistindo amparo legal

para recusar o encargo, o que afasta a aplicação da OJ 89 da SDI II do C. TST,

bem como da Súmula 319 do STJ.

Porém, no pensamento da doutrina majoritária, se no auto de depósito

não constar à assinatura do depositário, condição essencial para o

reconhecimento da aceitação do encargo do bem penhorado, tem-se que o

mesmo não é reconhecido como “depositário”, embora, os bens à época,

estivesse sob a sua guarda e posse.

Mas, segundo este entendimento, na falta da assinatura no termo de

compromisso não tem que se falar em prisão civil do depositário infiel, na qual,

infiel não se tornou pela ausência de sua assinatura.

Por conta de tais entendimentos, inúmeros são os habeas corpus que são

julgados na justiça do trabalho com, em regra, concessão de salvo conduto. Isto

porque, conforme prevê a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu

art. 5º, LXVII, é possível a prisão civil do depositário infiel.

Assim, tem-se que me primeiro grau, por vezes, aplica-se o entendimento

primeiro, e, em segunda instância, acaba-se se aplicando o entendimento de

seção do TST.

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Tal matéria gera ainda, atualmente, novas discussões, pois Tratados

Internacionais - ratificados por nosso país - trazem expressamente posição

contrária a esta interpretação, ou seja, negam a possibilidade de prisão civil do

depositário.

Enfim, percebe-se que quando da leitura da legislação processual, o or-

denamento jurídico pátrio não obriga o devedor a aceitar o encargo de depositário

dos bens penhorados, consoante dicção do art. 666, incisos I, II e III, do CPC.

E, uma vez que a lei não prevê expressamente a assinatura no auto de

penhora, entendimento existe, embora não prevaleça, de que o depositário possui

o encargo, independente de assumir tal posição em decorrência de ato unilateral

do juízo que o nomeou de oficio.

Controvérsias permanecem, enfim, ainda mais, no processo

do trabalho, frente seus princípios próprios, na qual se busca constantemente a

agilidade do processo, diante, em especial, da natureza das verbas envolvidas,

embora o TST tenha se manifestado de maneira mais formalista, como visto na

Orientação Jurisprudencial destacada.

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