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Polarização e heterogeneidade: aspectos recentes da evolução populacional da rede urbana brasileira.
Juciano Martins Rodrigues
A rede urbana brasileira evoluiu de tal forma que ao longo do século XX tornou‐se bastante heterogênea, principalmente no que diz respeito a uma das suas principais características, o tamanho dos seus nós1. Temos hoje duas megacidades: Rio de Janeiro e São Paulo, cujo contingente populacional representa 16,7% da população brasileira2. Somando‐se à população de outras metrópoles a população metropolitana brasileira representa 38,2% do país. Neste sentido, baseado em dados mais recentes, o objetivo deste breve apontamento é traçar em linhas gerais a configuração da rede urbana brasileira segundo a população das cidades, desde a grande metrópole até a pequena cidade que não faz parte de nenhuma região metropolitana.
É importante lembrar que a população das cidades com população superior a 100 mil habitantes, entre 1950 e 2000, passou de pouco mais de 8,5 milhões para mais de 120 milhões e o número de cidades passou de 13 para 120, o que evidencia o caráter extremamente concentrado do processo de urbanização brasileiro.
Fonte: IBGE, vários Censos
Recentemente a contagem populacional de 2007 e as estimativas realizadas pelo IBGE revelaram que o número de pessoas vivendo nas metrópoles brasileiras passou de 53,1 milhões para 70,2 milhões nos últimos 16 anos. A cada ano, portanto, à população metropolitana brasileira acrescenta‐se aproximadamente 1 milhão de habitantes. Com isso a população das metrópoles, que em 1991 compreendia 36,2% do total do país, passou a somar 38,2% em 2007, segundo o IBGE.
Municípios com mais de 100 mil habitantes e que não fazem parte das 17 maiores metrópoles3 possuem também uma enorme capacidade de atração e consequentemente de crescimento. Entre 1991 e 2000 as chamadas cidades médias aumentaram a sua população em 5,0 milhões de pessoas a uma taxa de crescimento de crescimento geométrico anual de 2%. Embora o ritmo de crescimento tenha arrefecido, nos últimos sete anos, a população nestas cidades continuou a crescer de maneira mais acelerada tanto quanto nas metrópoles. Enquanto estas últimas apresentaram crescimento de 1,5% a.a, entre 2000 e 2007, as cidades deste porte apresentaram crescimento anual de 1,4% e teve acrescida à sua população um contingente populacional equivalente a 3,4 milhões de habitantes. Este número é importante em termos absolutos, embora este fato não tenha significado um grande aumento da participação destes municípios em termos relativos no total da população.
Fonte: IBGE, Censos 1991 e 2000 e Contagem 2007 No Brasil, mais de 3.900 cidades tem população inferior a 20 mil habitantes, o que representa mais de 70% cidades do país. Ao mesmo tempo em que presenciamos um aumento absoluto da população destas cidades nos últimos dezesseis anos ocorreu uma redução em termos relativos, conforme nos revela os dados do IBGE. Vale lembrar, ainda, que, dentre estas cidades, a maioria tem população inferior a 5 mil habitantes, representando 43,1 de todas as cidades brasileiras. A população delas, que é de pouco mais de 2,4 milhões de pessoas, por sua vez, representa apenas 2,4% de toda a população do Brasil.
Embora haja limites ‐ bem óbvios ‐ de uma análise da configuração da rede urbana que leve em conta apenas distribuição da população e o tamanho das cidades não podemos deixar de assinalar algo que breves apontamentos como este são capazes de mostrar. A principal delas é a configuração bastante hierarquizada e ao mesmo tempo polarizada da rede urbana brasileira que nos reforça a marcante assimetria regional que marca o (sub) desenvolvimento brasileiro.
1 O tamanho dos centros urbanos indicado pela população é um dos principais indicadores de classificação utilizado no conhecido estudo Configuração Atual e Tendências da Rede Urbana do IPEA/IBGE/NESUR‐UNICAMP. 2 Em 2007 a população da Região Metropolitana de São Paulo superou 19,2 milhões de habitantes e a do Rio de Janeiro 11,5 milhões. 3 Para esta análise do crescimento recente selecionamos estas 17 áreas metropolitanas. Destas 15 são consideradas espaços metropolitanos na hierarquia definida do relatório “Análise das Regiões Metropolitanas: Identificação dos espaços metropolitanos e construção de tipologias” (Disponível para download em www.observatóriodasmetropoles.ufrj.br) . Natal e Maringá, foram incluídos porque, além de serem regiões metropolitanas legais, fazem parte da rede Observatório das Metrópoles.