da irrecorribilidade das decisões interlocutórias em sede dos juizados especiais cíveis estaduais...

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DA IRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS EM SEDE DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E DA EXCEPCIONALIDADE DE IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA PARA SE EVITAR DANO REAL RESULTANTE DE ATO JUDICIAL ILEGAL OU MANIFESTAMENTE ABUSIVO Bruno Pereira Costa Acadêmico do 6º período do curso de Direito. Estagiário do Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Paracatu, Estado Federado de Minas Gerais. RESUMO A Lei n.° 9.099/95 não prevê a possibilidade de impugnação a decisões interlocutórias proferidas no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, razão pelo qual o tema gera acirrada divergência doutrinária e jurisprudencial, não obstante a existência de alguns precedentes jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal entendo pela regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias no rito especialíssimo. É inegável que Lei n.° 9.099/95 estabelece um procedimento processual próprio, nitidamente distinto do previsto no Código de Processo Civil, em vista dos princípios norteadores estabelecidos e às peculiaridades que norteiam o procedimento diferenciado. Nesta senda, é certo que a ausência de previsão quanto a admissibilidade de impugnação de decisões interlocutórias tem por finalidade a promoção de celeridade no processamento e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, visando, sobretudo, a consecução dos objetivos primordiais a que foi instituída. Logo, deve-se atentar pelo não cabimento da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, no que concerne à aplicação dos recursos estabelecidos na Lei Processual. Entretanto, é inevitável a superveniência no deslinde da demanda de incidentes que, dada a sua natureza, revela suscetível e inquestionável a possibilidade de causar dano irreparável a direito líquido e certo de um ou mais integrantes da relação jurídica processual,

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Da Irrecorribilidade Das Decisões Interlocutórias Em Sede Dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Da Excepcionalidade de Impetração de Mandado

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  • DA IRRECORRIBILIDADE DAS DECISES INTERLOCUTRIAS EM SEDE DOS

    JUIZADOS ESPECIAIS CVEIS ESTADUAIS E DA EXCEPCIONALIDADE DE

    IMPETRAO DE MANDADO DE SEGURANA PARA SE EVITAR DANO REAL

    RESULTANTE DE ATO JUDICIAL ILEGAL OU MANIFESTAMENTE ABUSIVO

    Bruno Pereira Costa Acadmico do 6 perodo do curso de Direito. Estagirio do Juizado Especial Cvel e Criminal da Comarca de Paracatu,

    Estado Federado de Minas Gerais.

    RESUMO

    A Lei n. 9.099/95 no prev a possibilidade de impugnao a decises

    interlocutrias proferidas no mbito dos Juizados Especiais Cveis Estaduais, razo pelo qual

    o tema gera acirrada divergncia doutrinria e jurisprudencial, no obstante a existncia de

    alguns precedentes jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal entendo pela regra da

    irrecorribilidade das decises interlocutrias no rito especialssimo.

    inegvel que Lei n. 9.099/95 estabelece um procedimento processual

    prprio, nitidamente distinto do previsto no Cdigo de Processo Civil, em vista dos princpios

    norteadores estabelecidos e s peculiaridades que norteiam o procedimento diferenciado.

    Nesta senda, certo que a ausncia de previso quanto a admissibilidade de impugnao de

    decises interlocutrias tem por finalidade a promoo de celeridade no processamento e

    julgamento das causas cveis de menor complexidade, visando, sobretudo, a consecuo dos

    objetivos primordiais a que foi instituda. Logo, deve-se atentar pelo no cabimento da

    aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Civil, no que concerne aplicao dos recursos

    estabelecidos na Lei Processual.

    Entretanto, inevitvel a supervenincia no deslinde da demanda de incidentes

    que, dada a sua natureza, revela suscetvel e inquestionvel a possibilidade de causar dano

    irreparvel a direito lquido e certo de um ou mais integrantes da relao jurdica processual,

  • perspcuo, sobretudo, por decises judiciais manifestamente ilegais ou abusivas, donde infere-

    se pela excepcionalidade de impetrao do remdio constitucional, em vista da ausncia de

    previso de competente instrumento processual de impugnao, medida esta que se mostra

    no s suscetvel, mas necessria diante das circunstncias do caso concreto.

    PALAVRAS-CHAVE: Juizados Especiais Cveis Estaduais. Lei n. 9.099/95. Decises

    Interlocutrias. Irrecorribilidade. Mandado de Segurana. Excepcionalidade. Cabimento.

    INTRODUO

    No presente estudo, faz-se uma reflexo sobre as principais questes jurdicas

    que dizem respeito ao procedimento estabelecido pela Lei n. 9.099/95. Questes acerca dos

    meios de impugnao s decises judiciais, da ausncia de previso de instrumento processual

    de impugnao a decises interlocutrias, precedentes jurisprudenciais do Supremo Tribunal

    Federal, e lies doutrinrias acerca da matria.

    Para tanto, fundamental comear com uma explanao acerca dos Juizados

    Especiais Cveis Estaduais, sua instituio e princpios norteadores estatudos pela Lei n.

    9.099/95.

    1 DA INSTITUIO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

    Os Juizados Especiais surgiram em resposta a uma gama de dificuldades

    enfrentadas no mbito da prestao da atividade jurisdicional, notadamente no que concerne

    morosidade em sua distribuio, imputada, sobretudo, ao cumprimento de solenidades

    processuais e falta de estrutura do Poder Judicirio, que, sobremaneira, repercutiam

    negativamente na efetivao da tutela jurisdicional.

    Nesta senda, como bem assevera Marinoni e Arenhart (2004, p.739), o

    procedimento comum j despertava o questionamento a respeito de sua inadequao para a

    tutela de determinados tipos de interesses, de sorte que, indubitavelmente, o processo

    tradicional se mostra completamente inbil a lidar com diversos tipos de direitos, para os

    quais o formalismo, o alto custo, a demora e outras caractersticas que lhe so nsitas,

    importam certamente em antagonismo insupervel.

  • Destarte, atendendo previso insculpida no art. 98, I, da Constituio Federal,

    com o advento da Lei 9.099/95 foram institudos os Juizados Especiais Cveis no mbito da

    justia estadual, visando oferecer ao jurisdicionado um procedimento de soluo das

    controvrsias clere, informal e desburocratizado, capaz de atender no somente as suas

    necessidades, mas tambm garantir e proporcionar a efetiva satisfao do direito postulado.

    2 PRINCPIOS NORTEADORES DA LEI N. 9.099/95

    Conforme dispe o art. 2 da Lei n. 9.099/95, o processo orientar-se- pelos

    critrios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,

    buscando, sempre que possvel, a conciliao ou a transao.

    O Princpio da Oralidade tem por objetivo diminuir a burocratizao do

    processo judicial, propugnando por um procedimento que contribua e proporcione uma maior

    celeridade em seu ritmo, e, consequentemente, na satisfao do direito material almejado.

    Como exemplos da aplicao deste princpio, podemos citar os artigos 14, 30, 36 da referida

    Lei.

    O Princpio da Simplicidade tem por escopo aproximar o jurisdicionado da

    atividade jurisdicional, estabelecendo para tanto um procedimento simplificado e que

    dispensa maiores formalidades, o que proporciona a fcil assimilao pelas partes envolvidas,

    contribuindo efetivamente para a celeridade da prestao jurisdicional. Como exemplos da

    aplicao deste princpio, podemos citar os artigos 13, 14, 1 e 19 da referida Lei.

    A seu turno, o Princpio da Economia Processual objetiva minimizar a

    quantidade de atos processuais, evitando-se a repetio dos j praticados quando isso no seja

    indispensvel para o legtimo desenvolvimento do processo (art.13 da Lei n. 9.099/95),

    privilegiando, destarte, a sua concentrao, como se verifica, por exemplo, nos artigos 27, 29

    e 31, Pargrafo nico, da referida Lei, considerando-se ainda que o acesso em primeiro grau

    de jurisdio aos Juizados Especiais independe do pagamento de custas, taxas ou despesas,

    conforme preceitua o seu art. 54. De tal sorte, com um menor custo na prestao da atividade

    jurisdicional, tornando o processo mais barato e rpido, se proporciona o aumento e o

    estmulo significativo ao acesso justia.

  • Por fim, o Princpio da Celeridade visa garantir a efetiva tutela jurisdicional,

    propiciando ao jurisdicionado uma resposta tempestiva, interligando assim o princpio da

    inafastabilidade da jurisdio insculpido no art. 5, XXXV, da CF, ao princpio da razovel

    durao do processo, evidenciado pela norma programtica estabelecida no art. 5 LXXVIII

    da Carta Magna. Destarte, primando pela celeridade processual, so estabelecidos prazos

    exguos para a concluso do procedimento.

    Conclusivamente, tem-se que todo o regime previsto nessa Lei deve orientar-se

    por esses critrios, sob pena de comprometer o sistema como um todo, sendo que as regras

    dispostas a respeito do procedimento exigem que o intrprete que as examina tenha em mente

    tais princpios, pois somente assim se poder adequadamente lidar e manejar o poderoso

    instrumento previsto por essa lei (MARINONI; ARENHART, 2004, p.741).

    3 DOS MEIOS DE IMPUGNAO PREVISTOS NA LEI N. 9.099/95

    Em decorrncia dos princpios norteadores dos Juizados Especiais Cveis no

    mbito da justia estadual, a Lei n. 9.099/95 reduziu significativamente os instrumentos de

    impugnao s decises judiciais , considerando-se estas em seu sentido lato, visando,

    sobretudo, a consecuo dos objetivos primordiais a que foi instituda.

    Neste nterim, em primeiro grau de jurisdio, tanto em processo de

    conhecimento quanto de execuo, a Lei prev apenas a possibilidade de dois recursos

    ordinrios, sendo eles: a) o recurso de sentena para o prprio juizado (art. 41), comumente

    designado pela doutrina recurso inominado, cabvel em face de sentena terminativa ou

    definitiva, que, em regra, recebido no efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito

    suspensivo para evitar dano irreparvel parte (art. 43); b) e os embargos de declarao (art.

    48), que, embora a Lei no tenha contemplado expressamente o seu cabimento em face de

    decises interlocutrias e despachos com contedo decisrio, entendemos ser aqui aplicada a

    orientao dada por construo doutrinria e jurisprudencial ao recurso previsto no Cdigo de

    Processo Civil (art. 496, IV), estendendo-lhe as hipteses de cabimento.

    No obstante o procedimento descrito na Lei no comporte muitos incidentes

    processuais, consideramos que a sua interposio no constitui incidente rigorosamente

    prejudicial ao desenvolvimento processual, at mesmo porque somente quando interpostos em

  • face de sentena (terminativa ou definitiva) ter-se- a sua influncia sobre os prazos

    processuais (art. 50 da Lei n. 9.099/95, destinando-se assim nica e exclusivamente ao

    saneamento dos atos decisrios.

    Em segundo grau de jurisdio, a orientao a mesma quanto aos embargos

    declaratrios (art. 48) cabveis em face de acrdo ou deciso proferida pela Turma ou

    Colegiado Recursal, composta por trs juzes togados, em exerccio no primeiro grau de

    jurisdio, reunidos na sede do Juizado, ex vi do art. 41, 1, da Lei n. 9.099/95.

    Por conseguinte, admite-se a interposio de Recurso Extraordinrio para o

    Supremo Tribunal Federal quando esgotada a instncia ordinria e a matria de direito

    controvertida versar sobre alguma das hipteses previstas no art. 102, III, da Constituio

    Federal, a teor do que dispe o enunciado da smula 640 do STF. No mesmo sentido dispe o

    Enunciado 63 do FONAJE que contra decises das Turmas Recursais so cabveis somente

    os embargos declaratrios e o Recurso Extraordinrio.

    Ademais, ressalte-se ainda a possibilidade de ajuizamento de reclamao (art.

    105, I, f, da CF) perante o Superior Tribunal de Justia1, destinada a dirimir divergncia

    entre acrdo prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudncia desta Corte, suas

    smulas ou orientaes decorrentes do julgamento de recursos especiais processados na forma

    do art. 543-C do Cdigo de Processo Civil, cujo processamento regulado pela Resoluo n.

    12, de 14 de dezembro de 2009, do STJ.

    Por fim, h quem sustente a possibilidade de apresentao de reclamao para

    o Colgio Recursal Cvel do Juizado Especial (MONTENEGRO, 2009, p.405-406), ou ainda

    de interposio de recurso adesivo (VIANA; RENAULT, 2000, p.30), no obstante o disposto

    no Enunciado 88 do FONAJE.

    Contudo, trata-se em temas extremamente polmicos, que, por sua natureza,

    no condizem com o objeto do presente estudo.

    1 O entendimento foi adotado pelo Plenrio do Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 571.572 ED,

    ficando assentado que at que seja criada a Turma de Uniformizao da Jurisprudncia rgo uniformizador da interpretao da legislao federal para os Juizados Especiais Estaduais, destinado a estender e fazer prevalecer a aplicao da jurisprudncia do STJ em razo de sua funo constitucional, da segurana jurdica e da devida prestao jurisdicional a lgica da organizao do sistema judicirio nacional recomenda se d reclamao prevista no artigo 105, I, f, da Constituio Federal amplitude suficiente soluo deste impasse.

  • 4 DOS PRINCPIOS NORTEADORES DA LEI N. 9.099/95 E DA AUSNCIA DE

    PREVISO LEGAL QUANTO RECORRIBILIDADE DAS DECISES

    INTERLOCUTRIAS

    A Lei n. 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais Cveis e Criminais no

    mbito da Justia Federal, em seu art. 5 estabelece a admissibilidade recursal em face de

    decises sobre medidas de urgncia proferidas com fulcro no art. 4 da referida Lei, que

    dispe que Juiz poder, de ofcio ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no

    curso do processo, para evitar dano de difcil reparao.

    Equivalente disposio foi prescrita pela Lei n. 12.153/09, que regula os

    Juizados Especiais da Fazenda Pblica no mbito dos Estados, do Distrito Federal, dos

    Territrios e dos Municpios, ao prever em seu art. 4 a admissibilidade em carter

    excepcional de interposio de recurso em face de decises interlocutrias proferidas no curso

    do processo concernentes a providncias de natureza cautelar ou antecipatria, como medida

    para se evitar dano de difcil ou de incerta reparao.

    A Lei n. 9.099/95, por sua vez, no prev a possibilidade de impugnao de

    decises interlocutrias em primeiro grau de jurisdio, motivo pelo qual, no obstante o tema

    gere acirrada discusso doutrinria e jurisprudencial, prevalece o entendimento acerca de sua

    irrecorribilidade.

    certo que procedimento dos Juizados Especiais Cveis Estaduais (tanto no

    processo de conhecimento como no de execuo) nitidamente distinto dos demais previstos

    no Cdigo de Processo Civil, em vista dos princpios norteadores do processo em seu mbito,

    e em atinncia s peculiaridades que norteiam o procedimento diferenciado disciplinado pela

    Lei n. 9.099/95, que, conforme ctedra dos ilustres professores Marinoni e Arenhart (2004,

    p. 756-757), visa por um lado atender aos critrios informativos do instituto (art. 2), e de

    outro fornecer mecanismos apropriados para a tutela dos interesses que se inserem na

    competncia do rgo.

    Nesta senda, orientando-se pela filosofia estatuda pela Lei, notrio que o

    regime previsto s tem condies de gerar seus benefcios se orientar-se pelos critrios

  • estabelecidos. Assim, para a sua concretizao, mister a observncia do sistema estabelecido

    como um todo unitrio e indissocivel, de sorte que alm destes critrios a concentrao do

    pleito e a irrecorribilidade em separado das decises interlocutrias se mostram como

    garantias imprescindveis.

    De tal sorte, primando pela consecuo dos objetivos estabelecidos pela

    Constituio Federal, rompeu o legislador com os princpios que informam o Cdigo de

    Processo Civil, tornando subsidiria a sua aplicao no mbito dos Juizados Especiais.

    Segundo Montenegro Filho (2009, p. 405), os princpios informativos dos

    Juizados Especiais acham-se previstos na prpria Lei n. 9.099/95, no se admitindo,

    portanto, a aplicao supletiva do CPC. Da a restrio da jurisprudncia admisso da

    interposio do agravo (retido ou de instrumento) contra decises interlocutrias proferidas no

    mbito dos Juizados Especiais Cveis, entendendo a maioria da doutrina que a Lei, ao no ter

    previsto essa espcie recursal em letras, pretendeu afastar a sua incidncia aos feitos que

    tramitam pelos rgos em anlise, no admitindo a aplicao subsidiria do CPC.

    Destarte, embora no haja unanimidade acerca da aplicao subsidiria do CPC

    ao procedimento estabelecido pela Lei n. 9.099/95, defendendo uma corrente a sua aplicao

    a toda hiptese em que houver omisso da referida Lei, desde que com ela compatvel, e uma

    segunda corrente, a seu turno, a sua aplicao subsidiria to-somente nos casos em que a Lei

    assim o expressamente determina, certo que a admisso livre e indiscriminada de

    interposio de recursos em face de decises interlocutrias proferidas no curso do processo

    ofenderia, sobremaneira, a efetiva tutela jurisdicional nos moldes da celeridade processual

    estabelecida neste procedimento informal.

    Assim, em razo da celeridade que preside o sistema dos Juizados Especiais,

    no h previso legal para os recursos previstos no art. 496 do CPC, bem como dos demais

    recursos eventualmente admitidos em regimentos internos de tribunais ou leis de organizao

    judiciria local, de sorte que quanto s decises interlocutrias no ocorre precluso, podendo,

    em caso de irresignao de qualquer das partes, ser atacada ao final na eventualidade de

    interposio do recurso inominado previsto no art. 41 da Lei 9099/95, seja em processo de

    conhecimento ou em processo de execuo. Em outras palavras, as decises interlocutrias

    no so impugnveis de imediato, mas apenas e to-somente, via de regra, ao final do

  • processo, no momento de interposio de recurso em face da sentena, seja ela terminativa ou

    definitiva.

    O mesmo entendimento foi adotado pelo STF no julgamento do RE 576.847,

    sob a relatoria do Ministro Eros Grau, que, por ausncia de manifestaes suficientes para a

    recusa do recurso extraordinrio, reconheceu a repercusso geral da questo constitucional

    suscitada, e decidiu pela inarredvel irrecorribilidade das decises interlocutrias proferidas

    no mbito dos Juizados Especiais, bem como pela inaplicabilidade subsidiria do Cdigo de

    Processo Civil, em vista das peculiaridades e dos princpios norteadores do procedimento

    sumarssimo, motivo pelo qual em relao matria decidida no ocorre precluso, podendo,

    destarte, ser impugnada em sede preliminar no momento da interposio do recurso

    inominado.

    Eis a ementa do julgado:

    RECURSO EXTRAORDINRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSO GERAL RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANA. CABIMENTO. DECISO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5, LV DA CONSTITUIO DO BRASIL. PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSNCIA DE VIOLAO. 1. No cabe mandado de segurana das decises interlocutrias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 est voltada promoo de celeridade no processamento e julgamento de causas cveis de complexidade menor. Da ter consagrado a regra da irrecorribilidade das decises interlocutrias, inarredvel. 3. No cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurana. 4. No h afronta ao princpio constitucional da ampla defesa (art. 5, LV da CB), vez que decises interlocutrias podem ser impugnadas quando da interposio de recurso inominado. Recurso extraordinrio a que se nega provimento.

    Entretanto, acerca da irrecorribilidade das decises interlocutrias em sede dos

    Juizados Especiais, mister se faz analisar alguns pontos relevantes em vista da deciso

    proferida pelo Excelso Tribunal, sendo que, no obstante a consistncia de alguns argumentos

    expostos pelo Eminente Ministro Relator, afiguram-se equivocados, data vnia, alguns

    fundamentos colacionados.

    Assevera o Ministro que a opo pelo rito sumarssimo faculdade das partes,

    com as vantagens e limitaes que a sua escolha acarreta. Entretanto, mister destacar que

    essa condio deve ser analisada sob a tica dos dois plos integrantes da relao jurdica

    processual, de sorte que a escolha feita exclusivamente pelo autor (ou exequente), e no pelo

    requerido (ou executado).

  • Deste modo, mostra-se um tanto quanto temerrio considerar a faculdade de

    escolha do procedimento estatudo pela Lei n. 9.099/95, consubstanciada pela competncia

    relativa dos Juizados Especiais, como argumento apto a sustentar a irrecorribilidade das

    decises interlocutrias proferidas em seu mbito de atuao.

    Lado outro, embora deva prevalecer a regra da irrecorribilidade das decises

    interlocutrias em sede dos Juizados Especiais, entendemos que a regra no absoluta, de

    sorte a evidenciar a sua definitiva impossibilidade, comportando exceo. No se pretende

    com esta afirmao incitar qualquer questionamento acerca da sua irrecorribilidade, em vista

    dos critrios e garantias norteadoras do procedimento estatudo no mbito dos Juizados

    Especiais, mas apenas e to-somente deixar claro que a regra geral acerca da inaplicabilidade

    subsidiria do CPC neste nterim no absoluta.

    Deste modo, embora no haja previso na Lei n. 9.099/95, ressalte-se ser

    admissvel, de maneira excepcional, a interposio de agravo de instrumento em face de

    deciso que no admite o seguimento de recurso extraordinrio, conforme orientao do

    prprio Supremo Tribunal Federal.

    Neste sentido, nos termos do Enunciado 15 do FONAJE, nos Juizados

    Especiais no cabvel o recurso de agravo, exceto nas hipteses dos artigos 544 e 557 do

    CPC. Ademais, consoante disposto no enunciado da smula 727 do STF, no pode o

    magistrado deixar de encaminhar ao supremo tribunal federal o agravo de instrumento

    interposto da deciso que no admite recurso extraordinrio, ainda que referente a causa

    instaurada no mbito dos juizados especiais.

    Outrossim, no nos afigura acertado asselar com absoluta convico que no

    cabe nos casos abrangidos pela Lei n. 9.099/95 a utilizao do mandado de segurana sob o

    argumento de que o prazo para a impetrao do writ no se coaduna com os fins estabelecidos

    pela Lei, sob pena de que esta simples leitura meramente literal do texto legal possa causar

    dano real efetivamente prejudicial parte, a decorrer das circunstncias do caso concreto, em

    face de atos manifestamente ilegais ou abusivos, como ser melhor explicado.

  • 5 DA EXCEPCIONALIDADE DE IMPETRAO DE MANDADO DE SEGURANA

    PARA SE EVITAR DANO REAL RESULTANTE DE ATO JUDICIAL ILEGAL OU

    MANIFESTAMENTE ABUSIVO

    O Supremo Tribunal Federal, por maioria nos termos do voto do Eminente

    Ministro Relator no julgamento do RE 576.847, entendeu de maneira absoluta que no cabe

    mandado de segurana das decises interlocutrias exaradas em processos submetidos ao rito

    da Lei n. 9.099/95, assumindo posio vindicada por parte da doutrina. Entendemos que tal

    acepo afigura-se um tanto quanto venturosa, e, a seu turno, passvel de encobertar atos

    ilegais ou manifestamente abusivos em detrimento de direito lquido e certo lesionado ou

    ameaado de leso, ao passo que confere certa feio onipotente aos atos do Juiz.

    De tal sorte, embora a Lei n. 9.099/95 no tenha previsto expressamente

    nenhum meio de impugnao a decises interlocutrias, orientando-se pela filosofia estatuda

    segundo o regime previsto e consoante os critrios norteadores evidenciados, h que se

    interpretar a sua admissibilidade no com fulcro em mera interpretao literal da Lei, e sim

    consoante os princpios fundamentais integrantes do ordenamento jurdico-constitucional

    como um todo indissocivel e segundo as condies e circunstncias especficas do caso

    concreto, sob pena de subverso atribuio da prpria jurisdio.

    Assevera Marinoni e Arenhart (2004, p. 762) que as decises interlocutrias

    (ao menos aquelas que no podem gerar danos irreparveis a direito) so irrecorrveis.

    Nesta senda, considerando-se que inevitvel que no deslinde da demanda

    advenham incidentes que clamam ao julgador que sobre eles profira deciso, inquestionvel

    a possibilidade de ocorrncia de situaes em que o decisium se mostre abusivo ou ilegal, e,

    consequentemente, passvel de causar dano irreparvel a direito lquido e certo da parte

    prejudicada. Deste modo, ressalte-se que em tais episdios no se pode admitir a prevalncia

    do ato praticado sob o argumento de prejudicialidade celeridade processual, o que levaria ao

    desvio da finalidade primeira da jurisdio, e ao imprio da prpria injustia.

    O mandado de segurana ao constitucional de natureza civil destinado

    proteo de direito lquido e certo quando perpetrada ilegalidade ou abuso de poder por

  • autoridade pblica, conforme se extrai do texto do art. 5, LXIX da CF e art. 1 da Lei n.

    12.016/2009.

    Por direto lquido e certo, entendemos sendo aquele demonstrado de plano, de

    acordo com o direito, e sem incerteza a respeito dos fatos narrados pelo impetrante,

    apresentando-se manifesto em sua existncia, delimitado em sua extenso e apto a ser

    exercitado no momento da impetrao (PAULO; ALEXANDRINO, 2009, p. 192).

    Por conseguinte, tem-se que o cabimento do mandado de segurana d-se

    quando perpretada ilegalidade (ato vinculado) ou abuso de poder (ato discricionrio) por

    autoridade pblica (LENZA, 2009, p.733).

    Considerando-se que a ao mandamental possui natureza residual, no

    podendo ser utilizada como substituto recursal, tampouco transformado em recurso

    propriamente dito, segundo orientao jurisprudencial Supremo Tribunal Federal, a "ao de

    segurana para impugnar ato judicial admissvel no caso em que do ato impugnado advm

    dano irreparvel cabalmente demonstrado" (RTJ 70/504).

    Nesta senda, poder se destinar mesmo a impedir a concreo de um comando

    decorrente da atividade jurisdicional (CRUZ, 2007, p.170).

    Ademais, em consonncia com o enunciado da smula 267 do STF, e com

    amparo no art. 5 da Lei n. 12.016/2009, no h como o Judicirio, considerando-se este em

    sua integralidade, ou seja, em todos os seus rgos constituintes, inclusive os Juizados

    Especiais, permitir a subsistncia de deciso teratolgica ou de flagrante ilegalidade, estando

    manifesta de maneira inequvoca a perspectiva da irreparabilidade do dano, estando-se diante

    da inexistncia de qualquer outro meio de impugnao cabvel.

    Nesta hiptese, excepcionalmente aos casos em que a segurana se mostre

    necessria para se evitar dano real resultante de ato judicial manifestamente ilegal ou abusivo,

    entendemos ser perfeitamente cabvel a impetrao do remdio constitucional, medida esta

    que se mostra no s suscetvel, mas necessria.

  • Por bvio, conforme assevera Linhares (2006), o mandado de segurana no

    pode ser banalizado e transformado em recurso. No basta para sua impetrao a mera

    irresignao (pressuposto recursal), de sorte a se examinar o acerto ou desacerto da deciso

    combatida, porquanto aqui estamos a tratar de situao excepcionalssima.

    No merece amparo, outrossim, a alegao de que o prazo para a sua

    impetrao constitui ofensa ao princpio da celeridade, pontuado no art. 2. da Lei 9.099/95,

    porquanto, conforme exposto, a sua admissibilidade restringe-se a conjunturas extremamente

    peculiares.

    Consoante ctedra abalizada de Montenegro Filho:

    Deparando-se o advogado com deciso interlocutria proferida por Juiz integrante do Juizado Especial Cvel, e antevendo-se a possibilidade de no ver conhecido eventual recurso de agravo em tese cabvel contra dita deciso judicial, entendemos que dever impetrar mandado de segurana contra o decisium, desde que restem preenchidos os demais requisitos especficos da ao constitucional, a saber: a) ilegalidade ou abuso de poder; b) liquidez e certeza do direito invocado; c) e, para fins do deferimento de liminar, o periculum in mora (2009, p. 405).

    No julgado do Excelso Supremo Tribunal Federal acima transcrito, o voto

    vencido do Eminente Ministro Marco Aurlio coaduna-se perfeitamente com o entendimento

    aqui colacionado.

    Destarte, insta trasladar o voto que bem ilustra a questo:

    Ressaltou o Ministro Eros Grau, e o fez com absoluta fidelidade Lei n 9.099/95, que, nas causas submetidas aos Juizados Especiais, no cabvel o agravo. Vale dizer: as decises interlocutrias no so impugnveis de imediato. Indago: possvel fechar-se a porta, diante de uma situao excepcionalssima - e estou, aqui, a raciocinar em tese -, ao manuseio do mandado de segurana, afastando-se, at mesmo, a possibilidade de corrigir-se um erro de procedimento ou julgamento causador de prejuzo irreparvel? A meu ver, no. A meu ver, estamos diante de exceo comportada e alcanada pela Lei n 1.533/51, no que essa lei realmente revela como regra o no-cabimento de mandado de segurana contra deciso judicial. Mas a previso pressupe a possibilidade de ter-se recurso contra essa deciso, e, na espcie, pacfico que no haveria esse recurso. Creio que o mandado de segurana merecia o processamento e no o indeferimento liminar verificado. Assim, concluo diante das peculiaridades do caso, da regncia do processo pela Lei n 9.099/95, que exclui o recurso.

    Relembro o que se contm nesta vetusta Lei n 1.533/51: Art. 5. No se dar mandado de segurana quando se tratar: I (. . .) - que no vem espcie - II de despacho ou deciso judicial - mas h a condio para excluir-se a ao mandamental "quando haja recurso previsto nas leis processuais ou possa ser modificado por via de correo.

    Peo vnia, Presidente, para entender que, no caso, o afastamento do mandado de segurana implica o da prpria jurisdio, e assim provejo o extraordinrio.

  • Assim, entendemos que em situaes excepcionais cabvel a interposio de

    mandado de segurana, restringindo-se a sua admissibilidade, entretanto, queles casos em

    que haja prejuzo real manifesto decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. Excetuada tal

    hiptese, as decises interlocutrias somente podero ser impugnadas como preliminar em

    eventual interposio do recurso previsto no art. 41 da Lei n. 9.099/95.

    No entanto, saliente-se que em tais situaes, destacamos, todavia, que se

    mostra razovel que a primeira medida a ser tomada pela parte prejudicada deveria ser o

    pedido de reconsiderao do Juiz acerca da deciso proferida, e, apenas e to-somente em

    razo de sua negativa, bem como ante justificativas excepcionais exigidas pelo caso concreto,

    dever-se-ia impetrar a segurana, preservando assim os fins a que se destina a Lei n.

    9.099/95.

    Lado outro, no obstante a matria acerca da competncia para julgamento

    tenha ensejado acirrados debates jurdicos, diversos precedentes do STJ explicitam que o

    Tribunal de Justia no competente para apreciar mandado de segurana contra ato do

    Juizado Especial.

    Nesta senda, hodiernamente encontra-se pacificado o entendimento de que

    Turma Recursal compete o seu julgamento. Trata-se de entendimento inclusive consolidado

    no Frum Nacional dos Juizados Especiais, seno vejamos:

    Enunciado 62 - Cabe exclusivamente s Turmas Recursais conhecer e julgar o mandado de segurana e o habeas corpus impetrados em face de atos judiciais oriundos dos Juizados Especiais.

    Ademais, considerando-se a admissibilidade da impetrao da ao

    constitucional quando as circunstncias do caso concreto assim o exigirem, deparando-se com

    ilegalidade ou abusividade do ato judicial praticado por Juiz de primeiro grau no mbito

    jurisdicional dos Juizados Especiais, especificadamente em se tratando de deciso

    interlocutria, seja em processo de conhecimento, seja em processo de execuo, certo que,

    presentes os requisitos exigidos pelo art. 7, III, da Lei n. 12.016/2009, quais sejam, a

    relevncia dos fundamentos da impetrao (fumus boni iuris) e o perigo de ineficcia da

    medida judicial, caso seja concedida apenas ao final (periculum in mora), poder ser

    concedida medida liminar determinando a suspenso do ato impugnado.

  • Por fim, ressalte-se ainda que na qualidade de custos legis o Ministrio Pblico

    dever obrigatoriamente ser intimado para oferecer parecer opinativo no mandado de

    segurana, consoante determinao do art. 12 da Lei n. 12.016/2009, sob pena de nulidade.

    Assim sendo, consideramos tratar-se de hiptese excepcional de atuao do Ministrio

    Pblico no mbito dos Juizados Especiais Cveis Estaduais, a teor do disposto no art. 11 da

    Lei n. 9.099/95.

    Feitas essas consideraes, anotamos algumas situaes excepcionais em que

    se verifica a admissibilidade da impetrao da segurana, circunstncias estas apontadas por

    Linhares (2006):

    a) Decises que deferem ou indeferem tutela antecipatria ou acautelatria;

    certo que no obstante inexista na Lei n. 9.099/95 expressamente tal

    possibilidade, tais institutos so aplicados analogicamente no mbito dos Juizados Especiais,

    porquanto, a nosso ver, perfeitamente compatveis, observando-se ainda o disposto no

    Enunciado 26 do FONAJE.

    Assim, conforme exposto, no h precluso de tais decises, sendo que

    eventuais irresignaes podero ser manifestas como preliminar no recurso inominado.

    Entretanto, excepcionalmente, quando a obrigao a ser cumprida se revele fsica ou

    juridicamente impossvel, bem como quando se mostre necessria para evitar dano real, fruto

    de ilegalidade, ou ainda que ofenda as exigncias legais dos institutos, entendemos ser

    perfeitamente admissvel a impetrao do mandado de segurana, porquanto evidente, em tais

    circunstncias, a possibilidade real e efetiva de se causar danos parte prejudicada.

    b) Decises que negam seguimento ao recurso inominado;

    Como no h previso na Lei n. 9.099/95 de nenhum instrumento de

    impugnao para a hiptese de inadmissibilidade do recurso, conforme aponta a doutrina, o

    juzo de admissibilidade deveria, em tese, ser feito pelo rgo ad quem, destinando-se a

    participao do Juzo a quo no procedimento recursal nica e exclusivamente concesso do

    efeito suspensivo ao recurso, para evitar dano irreparvel parte (ANDRIGHI; BENETI,

    1996, p.55).

  • Entretanto, em situaes em que o Juzo a quo inadmita o recurso, por

    exemplo, sob o argumento de intempestividade, evidenciando-se a equivocada deciso do Juiz

    singular, bem como a usurpao de incumbncia de competncia exclusiva do Colgio

    Recursal, de se admitir a concesso de segurana nos parmetros da smula 267 do STF,

    porquanto devidamente caracterizada a ilegalidade do ato praticado que, inevitavelmente,

    pode causar dano irreparvel parte.

    A propsito:

    Mandado de segurana. Ato judicial. Deciso interlocutria que nega seguimento a apelao. Inexistncia de recurso apropriado para desafi-lo. Cabimento da impetrao (1. Turma Recursal do TJDF, MS n. 2004.01.6.000327-1). Em se tratando de ao que flui perante o Juizado Especial, o ato judicial que nega seguimento ao apelo manejado, qualificando-se como deciso interlocutria impassvel de ser desafiada mediante o manejo de qualquer outro recurso, pois no contemplado pela Lei de Regncia dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), legitima e viabiliza o manejo da ao de segurana, que tem sede constitucional, como forma de aferio da violao do direito lquido e certo da recorrente de ver o recurso que interpusera processado e submetido apreciao da instncia revisora" (1. Turma Recursal dos Juizados Especiais do TJDF, MS n. 2004 06 6 000332-2).

    c) Decises que fixam, reduzem ou aumentam multa.

    No obstante constitua a multa medida de natureza coercitiva, certo que a sua

    aplicao, elevao ou reduo depende da avaliao fundamentada do Juiz nos autos,

    segundo as circunstncias e necessidades do caso concreto, de sorte que quando a obrigao

    se revele de cumprimento impossvel, ante sua ilegalidade e passvel de acarretar dano real,

    excepcionalmente d-se ensejo impetrao de mandado de segurana. Neste sentido:

    Viola direito lquido e certo da parte a deciso que, visando obrig-la ao cumprimento de obrigao que no lhe possvel (transferncia de registro de veculo cuja titularidade pertence a terceiro), renova cominao de multa j consolidada e acena com possibilidade de priso por desobedincia. Segurana concedida (1. Turma Recursal de Porto Alegre/RS - TJRS, MS n. 71000805333).

    CONCLUSO

    Embora precedentes jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal apontem a

    inarredvel irrecorribilidade das decises interlocutrias proferidas no mbito dos Juizados

    Especiais, bem como a inadmissibilidade de impetrao de mandado de segurana em face a

    tais decises, conforme relacionado, indicamos que esta medida no deve ser apreciada

    abstratamente, e sim segundo os motivos e exigncias do caso concreto.

    Nesta senda, destinando-se a impedir a concreo de comandos teratolgicos

    decorrentes da atividade jurisdicional, sendo manifesta a ocorrncia de dano real irreversvel

  • parte, defendemos a admissibilidade da impetrao da ao constitucional, no como

    sucedneo recursal, mas como instrumento de reprimenda a atos judiciais ilegais ou

    manifestamente abusivos. Tal medida no constitui ofensa aos princpios norteadores

    estatudos pela Lei 9.099/95, porquanto, conforme exposto, a sua admissibilidade restringir-

    se- a conjunturas extremamente peculiares, atendendo-se dessarte finalidade primeira da

    jurisdio e ao imprio da justia.

    ABSTRACT

    The Law n. 9.099/95 doesnt provide possibility for appeal against

    interlocutory decisions given under Special Civil Courts State, which is why the subject

    generates fierce doctrinal and jurisprudential divergence, despite the existence of certain

    precedents of the Supreme Court understand the impossibility appeal rule of the interlocutory

    judgments in special rite.

    Its undeniable that Law n. 9.099/95 establishes a own procedure, clearly

    distinct from those of the Code of Civil Procedure, in view of the guiding principles

    established and the peculiarities that guide the different procedures. So, its true that the lack

    of foresight regarding the admissibility challenges to interlocutory decisions is intended to

    promote the rapid processing and adjudication of civil suits of lesser complexity, aimed

    mainly at achieving the primary objectives that have been instituted. Therefore, its

    unreasonable the subsidiary application of the Code of Civil Procedure, as regards the

    application of the remedies provided in the Law of Procedure.

    However, it is undeniable that in disentangling demand come incidents, by

    their nature, susceptible and unquestionably reveals the possibility of causing irreparable

    damage to a clear legal right of one or more members of the legal proceedings, perspicuous,

    above all, judicial decisions manifestly illegal or abusive, whence we understand the

    exceptionality impetration of the constitutional remedy, given the lack of foresight instrument

    of procedural, providence that not only susceptible but necessary under the circumstances of

    the case.

    KEYWORDS: Special Civil Courts State. Law n. 9.099/95. Interlocutory Decisions. No

    appeal. Writ. Exceptionality. Possibility.

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