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Da Indústria Têxtil à Indústria da Moda Paulo Vaz Seminário “A Indústria Têxtil: Da Concepção ao Público” Barcelos, 9 de Julho de 2008

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Da Indústria Têxtil à Indústria da ModaPaulo Vaz

Seminário “A Indústria Têxtil: Da Concepção ao Público”Barcelos, 9 de Julho de 2008

Da Indústria Têxtil à Indústria da ModaPaulo Vaz

Seminário “A Indústria Têxtil: Da Concepção ao Público”Barcelos, 9 de Julho de 2008

• Vestir: Necessidade Básica do Ser Humano ( Pirâmide de Maslow )

• Vestir: Cobrir o Corpo para Proteger do Frio � Cobrir o Corpo por uma Necessidade Moral ( Pudor )

• Vestir: Cobrir / Proteger com Diversos Materiais – Plantas, Cascas de Árvores, Peles de Animais e Artigos Têxteis ( artigos confeccionados com alguma complexidade a partir de fibras de animais e de plantas: telas e confecção das telas )

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Seminário “A Indústria Têxtil: Da Concepção ao Público”Barcelos, 9 de Julho de 2008

• Com o desenvolvimento humano, o acto de vestir, deixa de ter apenas uma relevância funcional e passa a ser um elemento de distinção do indivíduo dentro do grupo a que pertence: Vestir distingue. Vestir é um acto social. Vestir distingue classes sociais e exibe poder e riqueza.

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• A necessidade humana de vestir, seja por razões utilitárias, seja por razões mais complexas de distinção social e afirmação de poder, determinou o aparecimento de profissões dedicadas e determinou o aparecimento de profissões dedicadas e especializadas.

• O artesão de tecelagem, de tinturaria ou de alfaiataria são profissões milenares, tendo mesmo ganho estatuto de mesteres na Idade Média, com base em Grémios, que condicionavam o acesso ao seu exercício e que se tornaram o fermento de uma burguesia ( cidadãos livres ) que viria a prosperar e a estruturar as bases da sociedade em que hoje vivemos.

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• A Revolução Industrial, que teve a sua eclosão no Reino Unido do século XVIII, baseada na máquina a vapor e na sua aplicação a teares ( precisamente na actividade têxtil ), modificou profundamente o paradigma económico, social e civilizacional do mundo: Permitiu realizar em grandes séries aquilo que até então era apenas possivelmente artesanalmente. Produção mecânica de grandes quantidades de artigos significava alargar Produção mecânica de grandes quantidades de artigos significava alargar mercados e democratizar consumos: a génese da sociedade e do mundo em que hoje vivemos afinal.

• O Reino Unido tinha um vasto Império de onde importava matérias-primas e para onde expedia produtos manufacturados industrialmente. Um poder geopolítico assente também na supremacia tecnológica e poder económico como nunca antes o mundo conhecera.

• O Tratado de Methuen ( troca de tecidos ingleses por vinhos portugueses ): Paradigma do Comércio Internacional e dos benefícios das trocas internacionais.

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• A Indústria Têxtil chegou tarde a Portugal, apesar dos esforços do governo do Marquês de Pombal.

• São raras as fábricas que se fundaram no século XVIII e estavam muito condicionadas pelo Governo do Reino, que viu sempre o fomento económico – e mais tarde o desenvolvimento industrial – com grande desconfiança. desconfiança.

• O velho regime agrário, concentracionário e anti-liberal sempre governou o país, limitando o seu desempenho e a sua modernização. Ainda nos anos sessenta do século XX existia em Portugal uma lei de condicionamento industrial, limitando a expansão da actividade transformadora e conformando-a apenas a alguns sectores seleccionados e apenas à iniciativa de alguns empresários e determinados grupos empresariais. A livre iniciativa, base de todo o modelo de desenvolvimento económico, nunca foi verdadeiramente livre. Precisamente ao contrário do que sempre sucedeu nos países anglo-saxónicos, onde as oportunidades se multiplicavam e eram abertas a todos, com base no seu mérito e no seu esforço.

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A Indústria Têxtil surge, com expressão, em Portugal, apenas no século XIX, exactamente com base nos mesmos pressupostos que determinaram o seu aparecimento no Reino Unido:

a) Existência de Actividade Laneira em determinadas regiões: Matéria-a) Existência de Actividade Laneira em determinadas regiões: Matéria-Prima ( Abundantes Rebanhos de Gado Ovino ) e Actividade Artesanal de Fiação de Lã e Tecelagem. Transformação natural de actividade manufactureira em Indústria.b) Mercado das colónias, abundante em matérias-primas: o algodãoc) Abundante mão-de-obra para ser empregue: nas grandes cidades de Lisboa e do Porto, provenientes da província, e em certas regiões do Norte do país, nomeadamente no Vale do Ave. Mudança do sector primário para o secundário.d) Mercados ávidos de Produtos Manufacturados: as colónias de África.e) Recursos financeiros abundantes provenientes do comércio para investir na Indústria.

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A Indústria Têxtil portuguesa afirmou-se com base nestes pressupostos até muito depois da II Grande Guerra:Já nesta época existiam grandes impérios industriais têxteis, em especial no Norte, no Porto e nas localidades limítrofes, na Covilhã e em todas as localidades da Serra da Estrela, e no Vale do Ave, de Guimarães a Vizela, de Fafe a Vila do Conde, de Santo Tirso a Famalicão, ao longo do bacia do rio ou de afluentes Conde, de Santo Tirso a Famalicão, ao longo do bacia do rio ou de afluentes deste. Fiações, Tecelagens, Acabamentos e Têxteis-Lar. Muitas fábricas verticalizadas ao extremo.A Indústria de Confecção não era ainda relevante, até porque o conceito de vestuário em série ( o pronto-a-vestir ) aparece e afirma-se só a partir dos anos 60.As Indústria de Malhas, que esteve historicamente ligada aos lanifícios, autonomiza-se a partir dos anos 30 e 40, com a instalação em Lisboa de famílias polacas, especializadas no “métier”, transferindo-se depois para outras regiões, segundo as matérias-primas usadas. Lã: Coimbra, Figueira da Foz, Minde e Serra d’Aire. Algodão: Barcelos, a partir da grande fábrica de João Duarte e a sua disseminação na região.

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• Adesão de Portugal à EFTA, nos anos 50, permitiu o acesso um novo mercado em forte expansão e de proximidade: a EUROPA.

• Determinou o desenvolvimento de um novo subsector: a confecção de vestuário em série. A democratização do consumo de vestuário criou o conceito de “pronto-a-vestir”.

• O consumidor foi-se tornando cada vez mais exigente em termos de qualidade, • O consumidor foi-se tornando cada vez mais exigente em termos de qualidade, obrigando a fabricação a responder a esses imperativos. O interesse pela moda democratiza-se e a inovação tecnológica também determina novos rumos à actividade.

• O mercado mundial do Têxtil e Vestuário, por imposição da Europa e Estados Unidos, interessados em proteger a sua indústria interna, passou a regulamentar-se pelo Acordo Multifibras ( AMF ), que, para lá dos direitos aduaneiros na importação de países terceiros, impunha contingentes, ou seja limites quantitativos às essas trocas comerciais. Proteccionismo mitigado.

• Portugal, como membro da EFTA – e mais tarde da CEE – beneficiou do AMF: não sendo rico, pertencia a um clube de ricos, aos quais vendia preferencialmente, com a exclusão de todos os outros pobres.

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Razões do Sucesso da ITV Portuguesa ( anos 60 a 90 ):

A conjugação de:1) Baixos custos produtivos, essencialmente baseados em salários mais baixos que a concorrência europeia; 2) Existência de mão-de-obra abundante ( embora pouco qualificada ) em 2) Existência de mão-de-obra abundante ( embora pouco qualificada ) em determinadas regiões do país: Vale do Ave e Vale do Cávado;3) Protecção de mercados por via do Acordo Multifibras ( AMF );4) Existência de uma fileira têxtil e vestuário imperfeita: vários subsectores interligados com grande pujança – fiação, tecelagem, malhas, tinturaria e acabamentos, confecção e têxteis-lar. Faltou apenas a indústria de equipamentos para a Indústria, que Portugal nunca conseguiu criar;5) Existência de um apreciável “know-how” na indústria têxtil e vestuário, traduzida em produtos de qualidade, em vários dos seus subsectores;6) Proximidade geográfica e cultural dos clientes;7) Apoio público ao investimento sectorial: Pedip, RETEX e IMIT

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ITV Portuguesa desenvolveu-se como uma Indústria de Subcontratação:

CMT ( Confecção a Feitio, de acordo com as especificações do Cliente, muitas vezes usando ( Confecção a Feitio, de acordo com as especificações do Cliente, muitas vezes usando

tecidos e malhas fornecidos por ele )����

Venda de Minutos de Produção ( Competitividade estava no custo competitivo do minuto de produção )

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“Private Label”( Produção para Marcas Internacionais, com valor acrescentado incorporado, pois

contem Design, Matérias-Primas, Confecção e Logística do fornecedor )�������� ����

Especialização na Indústria, no Produto, no Desenvolvimento do Produto e do seu Processo

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• Durante décadas a Indústria Têxtil ditou as grandes tendências de consumo e até as orientações estéticas: era a partir da oferta que o sistema funcionava, o “drive” era a produção e o valor acrescentado estava e ficava em quem produzia. A criação de moda e a incipiente distribuição eram acessórios a este processo. processo.

• A partir dos anos 60, lentamente emergem a criação e a distribuição, acompanhando a afirmação do consumidor em todo o processo. O epicentro do sistema passa da oferta para a procura. As tendências de moda acompanham as tendências e exigências do consumo e a distribuição, como ponto de intersecção, entre a oferta e a procura de produtos têxteis e de moda, passa a controlar pouco a pouco o processo. O consumidor é o “drive” do sistema, quanto mais próximo se estiver dele, melhor se controla o negócio e maiores as margens de lucro.

• O valor acrescentado passa da Indústria Têxtil para o negócio da moda, do tangível para o intangível, da actividade transformadora para os serviços, compreendo-se nestes a criação, a logística, a distribuição e o marketing.

Da Indústria Têxtil à Indústria da Moda

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• Simultaneamente com esta realidade, adensa-se o que se convencionou chamar a divisão internacional do trabalho, segundo a qual os países mais industrializados e ricos conservavam apenas as actividades com maior valor acrescentado ( os serviços de valorização do produto têxtil: design, criação de colecções, marca, redes de distribuição e a logística ) e os países menos colecções, marca, redes de distribuição e a logística ) e os países menos avançados as actividades de menor valor acrescentado: produção têxtil e a confecção.

• Desde a década de 70 até aos nossos dias é imparável a deslocalização de empresas do Sector da Europa e dos Estados Unidos para outras regiões do mundo: Norte de África, Médio Oriente, Leste Europeu, Ásia e América Latina.

• O “lobby” da distribuição, cada vez mais poderoso e rico, teve uma profunda influência neste processo, acelerando o desmantelamento do AMF, buscando sempre fornecedores mais baratos e margens maiores. A liberalização total do comércio têxtil e vestuário em 2005 foi o culminar deste processo, permitindo a abertura global dos mercados e a emergência de superpotências industriais no Sector, como a China e a India.

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• Se considerarmos, hoje, uma peça de vestuário, apenas 10 a 15% do seu preço se reporta à matéria-prima e à produção, tudo o resto é intangível: criação e design, marca e marketing.

• As margens do negócio estão, portanto, a montante e a jusante da actividade transformadora.transformadora.

• A globalização dos mercados e a emergência de países produtores, assistidos por enormes capacidades produtivas e por condições de competitividade imbatíveis, muitas vezes ilicitamente construídas, adensam o fenómeno e tornam-no praticamente irreversível.

Hoje a Indústria de Moda, enquanto sistema que integra várias valências e realidades, maioritariamente externas à actividade produtiva, suplantou a tradicional Indústria Têxtil e Vestuário, que se reduziu a um mero elemento dentro de todo o contexto, facilmente externalizável e não crítica aos centro de decisão do mesmo.

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E o que á afinal a MODA?E o que á afinal a MODA?

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“Vivemos numa época em que o supérfluo é a nossa única necessidade.”

Oscar Wilde

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MODA:

Manifestação SOCIAL, CULTURAL e ECONÓMICA ( Consumo de Massas )Matriz: MUDANÇA e o EFÉMERO

( as marcas dos tempos que vivemos )

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MODA:

Vertente Estética ou Artística: Criatividade, Beleza e o Adorno ( “Glamour” )

Vertente Sociológica: Vertente Sociológica: Dimensão Gregária ( Identificação/Pertença a Grupos)

X Dimensão Individualista ( Diferenciação, Distinção e Exclusividade )

Vertente de Comunicação:Moda como Comunicação Pura: Identifica e Distingue Sociologicamente.

Mensagem de Nós para os Outros. Mensagem dos Outros para Nós.

Vertente Cultural:Significância e Repositório Civilizacional. Histórico e Futuro.

Vertente Económica:Produto de Consumo e o Maior Negócio do Planeta

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TENDÊNCIAS FUTURAS Do Negócio da Moda:

• Adensamento da Concorrência Internacional na Produção: Intensificação do fenómeno da divisão internacional do trabalho e da deslocalização da produção. A produção massificada tenderá a procurar sempre o local de menor custo produtivo;

• Concentração da Distribuição à escala nacional e internacional. Cartelização do Mercado;• Oportunidades para Nichos de Mercado: Segmentação do Consumo pela Diferenciação;• Multiplicação de Gamas nas Marcas maior notoriedade;• Explosão do E-Commerce: nas relações “Business to Business” e “Business to Consumer”. A

geração nascida em 90 poderá comprar em 2015 mais de 60% do consome por via virtual.

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E a ITV Portuguesa nisto tudo?A especialização industrial do STV português é um “handicap” ou uma vantagem

comparativa?• Existe futuro para o STV português num mundo dominado pelo negócio da moda?

• O STV português tem uma indústria doméstica de moda modesta, embora já tão desenvolvida como as que existem nos países mais avançados. O nosso “handicap” é um mercado interno pequeno e relativamente pobre, inundado de oferta, onde é difícil fazer afirmar marcas próprias e dar-lhes dimensão crítica para se internacionalizarem;

• Problema cultural em evolução positiva: preferência das propostas estrangeiras ao “made in Portugal”. Mudança de imagem é claramente positiva. O STV é já visto como uma outra actividade qualquer pela sociedade civil e não como uma actividade obsoleta. A moda portuguesa é apreciada pelos portugueses, que lhe reconhecem criatividade e “glamour”: as acções de imagem como o “Portugal Fashion” foram decisivas nesta alteração de percepção;

• Contudo, há já bons exemplos de marcas de moda nascidas e desenvolvidas em Portugal, com conceito bem definidos, estruturados e diferenciados, assentes em bons produtos e em modelos de negócio tão válidos como os melhores que se conhecem internacionalmente, e que estão em crescimento no mercado doméstico e em alguns mercados estrangeiros, nomeadamente na vizinha Espanha.

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E a ITV Portuguesa nisto tudo?A especialização industrial do STV português é um “handicap” ou uma vantagem

comparativa?• Existe futuro para o STV português num mundo dominado pelo negócio da moda?

• Não podemos deitar fora o capital de conhecimento e experiência que acumulamos em décadas. Pode não ser tão valioso como o que poderíamos ter realizado se pudéssemos ter apostado nas marcas ou na distribuição, mas é o que temos e é com isso que temos de viver. Muitas vezes a pequena poupança de uma família pobre consegue ser melhor rentabilizada que a fortuna de uma rica. A diferença está na forma como é aplicada e nós temos a obrigação, por força da escassez, de o fazer da melhor maneira;

• Ter “know-how” na área do produto e do desenvolvimento do produto pode ser uma vantagem comparativa importante para as empresas que se queiram diferenciar e se posicionarem superiormente na cadeia de valor em todo o sistema. Só pode mandar fazer bem quem sabe fazer bem. Não podemos competir no custo e nem na massificação. O nosso caminho está nos nichos, nas pequenas séries, na proximidade e no serviço ao cliente, na capacidade de reagirmos rápido e sem colocar nunca em causa a excelência do produto e do serviço. E isto é tão válido para quem quiser apostar na especialização produtiva ( “private label” ), como na marca própria e distribuição ou na diversificação para artigos de inovação tecnológica e de aplicação alternativa ao vestir, como os têxteis técnicos.

• Além disso, o STV português está ainda estruturado em fileira ( “cluster” ) dinâmica e possui centros de competências em diversas áreas que estão na primeira linha do que se faz no mundo, como o CITEVE, o CENTI ou o CITEX.

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E a ITV Portuguesa nisto tudo?

• A especialização industrial do STV português é um “handicap” ou uma vantagem comparativa?

• Existe futuro para o STV português num mundo dominado pelo negócio da moda?

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• O STV português é claramente sobredimensionado para a procura hoje existente e tem características desadequadas a essa mesma procura. Há ainda uma reestruturação a fazer, que será obviamente dolorosa, mas é inevitável.

• Tenderá a diminuir a sua expressão no contexto das actividades económicas do país, será constituído por menos empresas e eventualmente por empresas diferentes daquelas que hoje existem, terá menos trabalhadores ao serviço e terá certamente muito gente mais qualificada do que hoje emprega.

• Muitas empresas poderão vir a deslocalizar parte das suas actividades produtivas ou parte da execução das suas encomendas, o que não pressuporá que os centros de decisão abandonem o país.

• Nascerão mais marcas, mas nem todas vingarão. • Aparecerão mais empresas a trabalhar na área dos têxteis técnicos, embora esta saída não seja a panaceia

universal para o Sector. • As que quiserem continuar terão de olhar o mundo como o mercado: para comprar, para vender e para

cooperar. As que o não fizerem não terão espaço ou futuro.• Haverá futuro para o STV, embora não para todas as empresas que hoje o compõem. São as regras da

economia de mercado. Não se pode ser capitalista para dividir os lucros e socialista para partilhar prejuízos.

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E a ITV Portuguesa nisto tudo?

• A especialização industrial do STV português é um “handicap” ou uma vantagem comparativa?

• Existe futuro para o STV português num mundo dominado pelo negócio da moda?

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• O negócio da moda não é incompatível com as virtualidades do STV português, com o seu “know-how”, as competências adquiridas e a sua tradição. Temos muito a aproveitar e muito a dar ainda. Cada empresa terá de encontrar o seu caminho, de acordo com a sua estratégia, as suas capacidades e os seus recursos. Todas diferentes no destino, mas todas iguais no método.

• A história do STV português é um trajecto árduo de permanente adaptação à realidade e às dificuldades, mas conta-se, afinal, como uma história de permanente sobrevivência, que nos deve fazer reflectir, encorajar e inspirar.

• Por isso, a ITV portuguesa não é uma indústria tradicional, mas uma indústria com tradição, pois vai permanecendo quando as outras vão e vêm, de acordo com modas ou com o discurso politicamente correcto do momento.Hoje como ontem foi. Como amanhã será.

Da Indústria Têxtil à Indústria da ModaPaulo Vaz

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Muito Obrigado!