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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ENERGIA
DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE
DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E
OPORTUNIDADES
CARLOS ALBERTO CALIXTO MATTAR
ORIENTADOR: JAMIL HADDAD
CO-ORIENTADOR: EDSON DA COSTA BORTONI
DISSERTAO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DA
ENERGIA
ITAJUB/MG: MAIO 2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ENERGIA
DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE
DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E OPORTUNIDADES
CARLOS ALBERTO CALIXTO MATTAR
DISSERTAO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PS-
GRADUAO EM ENGENHARIA DA ENERGIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB, COMO PARTE DOS
REQUISITOS PARA OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM
CINCIAS EM ENGENHARIA DA ENERGIA.
APROVADA POR:
___________________________________________________
Prof. Jamil Haddad, Doutor (Unifei)
(Orientador)
___________________________________________________
Prof. Edson da Costa Bortoni, Doutor (Unifei)
(Co-orientador)
___________________________________________________
Prof. Claudio Ferreira, Doutor (Unifei)
(Examinador Interno)
___________________________________________________
Prof. Aderbal de Arruda Penteado Junior, Doutor (USP)
(Examinador Externo)
ITAJUB, 07 DE MAIO DE 2010.
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Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Mau
Bibliotecria Margareth Ribeiro- CRB_6/1700
M435g
Mattar, Carlos Alberto Calixto
Da Gnese Implantao de Procedimentos de Distribuio
PRODIST : desafios e oportunidades / Carlos Alberto Calixto Mat_
tar. -- Itajub, (MG) : [s.n.], 2010.
183 p. : il.
Orientador: Prof. Dr. Jamil Haddad.
Coorientador: Prof. Dr. Edson da Costa Bortoni.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Itajub.
1. Procedimentos de distribuio. 2. PRODIST. 3. Distribuio
de Energia Eltrica. 4. Aspectos regulatrios. I. Haddad, Jamil,
orient. II. Bortoni, Edson da Costa, coorient. III. Universidade
Federal de Itajub. IV. Ttulo.
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho minha querida filha Marina, para que sirva de estmulo ao seu
desenvolvimento profissional e pessoal.
Siga a pegada. Voc tem tudo para chegar muito mais longe!
"Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir;
aconselhar-te-ei, tendo-te sob a minha vista" (Sl 32:8).
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeo a Deus pela magnfica oportunidade de escrever trabalho, pois
graas sua iluminao e a esplendorosa companhia nos momentos mais difceis, muito
me auxiliou nas decises e atitudes.
Em especial, registro meus sinceros agradecimentos ao Professor Jamil Haddad, sbio e
paciente orientador. Sem seu estmulo e incentivo jamais chegaria a este momento to
especial. Registro tambm a generosidade e compreenso do Professor Edson Bortoni
que tambm muito contribuiu para este trabalho, tanto como co-orientador quanto como
Coordenador da Ps-Graduao em Engenharia da Energia.
No posso deixar de agradecer imensamente ao meu querido amigo Hugo Lamin.
Faltam-me palavras para marcar de forma indelvel sua fantstica contribuio, mas
seguramente, eu e voc sabemos do que estamos falando, sem contar, claro, com o Pai
Eterno, que a tudo v e sabe retribuir aos seus filhos amados em doses inimaginveis
pela pequenez de nossa mente.
Por fim, agradeo a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para que
momentos importantes da histria do setor eltrico brasileiro fossem devidamente
gravados neste trabalho. Os Procedimentos de Distribuio PRODIST so
efetivamente um documento mpar para o setor, tanto quanto pelos avanos que contm
quanto pelas oportunidades que se abrem a partir de sua publicao. Foram imensos os
obstculos que a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL teve que superar e
contornar para viabilizar a aprovao do PRODIST. Neste trabalho registramos, se no
todos, os eventos mais significativos da concepo aprovao da primeira verso.
histria, mas so fatos. S o futuro far o julgamento correto.
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vii
RESUMO
DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE
DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Os Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico Nacional
PRODIST constituem-se em um conjunto de regras e procedimentos para o segmento de
distribuio de energia eltrica. Os oito mdulos que compem o PRODIST so
documentos regulatrios que padronizam as atividades tcnicas relacionadas ao
funcionamento e desempenho dos sistemas de distribuio. Nesse sentido, o PRODIST
disciplina formas, condies e responsabilidades relativas conexo, planejamento da
expanso, operao, medio, perdas tcnicas e qualidade da energia, definindo
procedimentos, sistematizando a troca de informaes entre as partes e, para alguns
casos, estabelecendo indicadores.
O objetivo do presente trabalho de dissertao apresentar as fases de elaborao dos
Procedimentos de Distribuio, seus princpios, perspectivas, destaques, inovaes e
eventuais impactos. Assim, entre as finalidades do trabalho esto a disponibilizao de
diversas experincias que envolveram as atividades de criao dos Procedimentos de
Distribuio, disponibilizando referncias bibliogrficas sobre a elaborao e contedo
do PRODIST.
O texto elaborado tem a natureza de uma dissertao documental, apresenta um
compndio de informaes sobre o PRODIST e se constitui em uma fonte bibliogrfica
relevante sobre a elaborao e sobre o teor desses Procedimentos. O presente trabalho
apresenta a vivncia e as experincias de quem participou ativamente no processo de
elaborao, implantao e consolidao do PRODIST.
Palavras-chave: Procedimentos de Distribuio, PRODIST, Distribuio de
Energia eltrica, Regulao.
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viii
ABSTRACT
FROM THE GENESIS TO THE IMPLEMENTATION OF THE BRAZILIAN
DISTRIBUTION CODE - PRODIST: CHALLENGES AND OPPORTUNITIES.
The Brazilian Distribution Code, the so-called PRODIST, is set of rules and procedures
for the electricity distribution system. The eight modules that make up the PRODIST
are regulatory documents that standardize the technical activities related to the operation
and performance of distribution systems. Thus, PRODIST disciplines the conditions,
responsibilities for the connection, expansion planning, operation, measurement,
technical losses and power quality, defining procedures, streamlining the information
exchange between the parties and, for some cases, establishing indicators.
The dissertation purpose is to present the stages of preparation of the Distribution Code,
its principles, perspectives, highlights, innovations and potential impacts. Thus, among
the study objectives are the availability of several experiences involving the activities of
creating the Distribution Code, including references on the preparation and content of
the eight modules of PRODIST.
The text produced is a documentary dissertation and shows the information about the
PRODIST. It constitutes a relevant source literature on the preparation and the content
of that Code. This paper presents the experience of who actively participated in the
drafting, implementation and consolidation of PRODIST.
Keywords: Distribution Code, Distribution Procedures, PRODIST, Electricity
Distribution, Regulatory issues.
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ix
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................................ 1
1.1 PREMBULO ............................................................................................................. 1
1.2 OBJETIVOS E COMPOSIO DO TRABALHO ................................................. 2
2 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO .................................................................... 5
2.1 CONTEXTUALIZAO ........................................................................................... 5
2.2 HISTRICO ................................................................................................................ 7 2.2.1 1879 a 1930: Do advento da energia eltrica ao domnio das empresas estrangeiras ..... 8 2.2.2 1931 a 1960: O Cdigo de guas, a regulamentao inicial e a criao do MME ........ 13 2.2.3 1961 a 1989: A criao da Eletrobrs, do DNAEE e das grandes usinas ....................... 19 2.2.4 1990 a 2008: Privatizao, criao da ANEEL e o Novo Modelo ................................... 25 2.2.5 Cronologia: os fatos dispostos em uma linha do tempo ................................................... 34
2.3 O ATUAL AMBIENTE INSTITUCIONAL ........................................................... 39 2.3.1 Conselho Nacional de Poltica Energtica CNPE (Lei n 9.478/1997) ......................... 39 2.3.2 Ministrio de Minas e Energia MME (Lei n 3.782/1960) ............................................ 40 2.3.3 Empresa de Pesquisa Energtica EPE (Lei n 10.847/04) ............................................ 42 2.3.4 Comit de Monitoramento do Setor Eltrico CMSE (Lei n 10.848/2004) ................. 43 2.3.5 Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL (Lei n 9.427/1996) ............................ 44 2.3.6 Operador Nacional do Sistema Eltrico ONS (Lei n 9648/1998) ................................ 48 2.3.7 Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CCEE (Lei n 10.848/04) .............. 50 2.3.8 Centrais Eltricas Brasileiras S.A. ELETROBRS (Lei n 3.890 - A/1961) .............. 53 2.3.9 Agentes Setoriais ................................................................................................................. 54
2.4 LEGISLAO E REGULAMENTAO DO SETOR ....................................... 56
2.5 A INSERO DO PRODIST NO SETOR ELTRICO NACIONAL ................ 57
3 O PROCESSO DE ELABORAO DO PRODIST ............................................. 63
3.1 INTRODUO ......................................................................................................... 63
3.2 CATALOGAO CEPEL ....................................................................................... 65
3.3 EDITAL 1 (Edital n 003/2002) ................................................................................ 69
3.4 EDITAL 2 (Edital n 40-351/2003)........................................................................... 72
3.5 DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS ........................................................ 77
3.6 COMISSO DE TRABALHO ................................................................................. 82
3.7 AUDINCIA PBLICA (AP n 014/2008) ............................................................. 85
4 OS MDULOS DO PRODIST .............................................................................. 90
4.1 INTRODUO ......................................................................................................... 90
4.2 MDULO 1 INTRODUO ................................................................................ 91 4.2.1 Seo 1.0 - Objetivos Gerais .............................................................................................. 92 4.2.2 Seo 1.1 - Fundamentos, responsabilidades e sanes ................................................... 92 4.2.3 Seo 1.2 Glossrio de termos tcnicos do PRODIST .................................................. 93
4.3 MDULO 2 - PLANEJAMENTO DA EXPANSO DO SISTEMA DE
DISTRIBUIO ................................................................................................................... 94
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4.3.1 Seo 2.0 - Introduo ........................................................................................................ 94 4.3.2 Seo 2.1 - Previso de demanda ....................................................................................... 95 4.3.3 Seo 2.2 Critrios e estudos de planejamento .............................................................. 97 4.3.4 Seo 2.3 Plano de Desenvolvimento da Distribuio ................................................. 100
4.4 MDULO 3 ACESSO AO SISTEMA DE DISTRIBUIO .......................... 101 4.4.1 Seo 3.0 Introduo ..................................................................................................... 102 4.4.2 Seo 3.1 - Procedimentos de Acesso .............................................................................. 102 4.4.3 Seo 3.2 - Critrios Tcnicos e Operacionais ................................................................ 105 4.4.4 Seo 3.3 Requisitos de Projeto .................................................................................... 106 4.4.5 Seo 3.4 Implantao de Novas Conexes .................................................................. 108 4.4.6 Seo 3.5 Requisitos para Operao, Manuteno e Segurana da Conexo........... 108 4.4.7 Seo 3.6 Contratos ....................................................................................................... 109 4.4.8 Seo 3.7 Cartilha de Acesso ao Sistema de Distribuio .......................................... 111
4.5 MDULO 4 PROCEDIMENTOS OPERATIVOS DO SISTEMA DE
DISTRIBUIO ................................................................................................................. 111 4.5.1 Seo 4.0 - Introduo ...................................................................................................... 112 4.5.2 Seo 4.1 - Dados de carga e de despacho de gerao ................................................... 113 4.5.3 A Seo 4.2 - Programao de intervenes em instalaes .......................................... 113 4.5.4 A Seo 4.3 - Controle de carga ....................................................................................... 114 4.5.5 A Seo 4.4 - Teste das instalaes .................................................................................. 116 4.5.6 A Seo 4.5 - Coordenao operacional .......................................................................... 116 4.5.7 Seo 4.6 Recursos de comunicao de voz e dados .................................................... 117
4.6 MDULO 5 SISTEMAS DE MEDIO .......................................................... 118 4.6.1 Seo 5.0 - Introduo ...................................................................................................... 119 4.6.2 Seo 5.1 - Aplicabilidade ................................................................................................ 119 4.6.3 Seo 5.2 Especificao dos sistemas de medio........................................................ 120 4.6.4 Seo 5.3 - Implantao, inspeo e manuteno dos sistemas de medio ................. 122 4.6.5 Seo 5.4 Leitura, registro, compartilhamento e disponibilizao das informaes de medio ........................................................................................................................................... 123
4.7 MDULO 6 INFORMAES REQUERIDAS E OBRIGAES ................ 124 4.7.1 Seo 6.0 - Introduo ...................................................................................................... 125 4.7.2 Seo 6.1 - Aplicabilidade ................................................................................................ 125 4.7.3 Seo 6.2 - Requisitos das informaes por etapa .......................................................... 125
4.8 MDULO 7 CLCULO DE PERDAS NA DISTRIBUIO ......................... 129 4.8.1 Seo 7.0 - Introduo ...................................................................................................... 130 4.8.2 Seo 7.1 - Premissas de Clculo e Indicadores ............................................................. 130 4.8.3 Seo 7.2 Metodologia de Clculo de Perdas Tcnicas de Potncia .......................... 132 4.8.4 Seo 7.3 Clculo das Perdas Tcnicas de Energia ..................................................... 133
4.9 MDULO 8 QUALIDADE DA ENERGIA ELTRICA ................................. 134 4.9.1 Seo 8.0 Introduo ..................................................................................................... 135 4.9.2 Seo 8.1 - Qualidade do Produto ................................................................................... 135 4.9.3 Seo 8.2 - Qualidade do Servio ..................................................................................... 138 4.9.4 Seo 8.3 - Disposies Transitrias ................................................................................ 141
5 CONSTATAES E RECOMENDAES NO MBITO DA APLICAO DO
PRODIST ..................................................................................................................... 143
5.1 O CDIGO DA DISTRIBUIO ......................................................................... 144 5.1.1 O PRODIST e a interface com as Condies Gerais de Fornecimento ........................ 145 5.1.2 Regulamentao das condies de acesso na distribuio e na transmisso................ 147
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5.2 ATUALIZAO E AMPLIAO DO PRODIST ............................................. 149 5.2.1 Acesso entre distribuidoras .............................................................................................. 150 5.2.2 Medio Eletrnica ........................................................................................................... 150 5.2.3 O fim das campanhas de medio ................................................................................... 152 5.2.4 Qualidade do Produto ...................................................................................................... 153 5.2.5 Ressarcimento de danos eltricos .................................................................................... 154
6 CONCLUSES .................................................................................................... 156
6.1 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 156
6.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 159
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 161
ANEXO I - COMPNDIO DAS RECENTES NORMAS SANCIONADAS ............ 166
ANEXO II - A PRIMEIRA MINUTA DO MDULO 7 ............................................ 178
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Mudanas no Setor Eltrico Brasileiro (CCEE, 2009 adaptado). ........................................ 34
Tabela 2.2 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1879 e 1930. ............................ 35
Tabela 2.3 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1931 e 1960. ............................ 36
Tabela 2.4 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1961 e 1989. ............................ 37
Tabela 2.5 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1990 e 2008. ............................ 38
Tabela 2.6 - Relao entre os Mdulos do PRODIST e a legislao e regulamentao brasileira. ............ 61
Tabela 3.1 - Empresas participantes da licitao de contratao de consultoria para elaborao do
PRODIST (ANEEL, 2002). ........................................................................................................................ 75
Tabela 3.2 - Pontuao atribuda aps apreciao das propostas dos concorrentes (ANEEL, 2002). ........ 76
Tabela 3.3 - Principais reunies e audincias internas ocorridas em 2005 para elaborao do PRODIST
(ANEEL, 2002). ......................................................................................................................................... 78
Tabela 3.4 - Participao dos colaboradores internos em reunies na ANEEL (obs. no foi feita lista de
presena da reunio de premissas do Mdulo 5) (ANEEL, 2002). ............................................................ 79
Tabela 3.5 - Principais reunies com participao de agentes ocorridas em 2005 para elaborao do
PRODIST (ANEEL, 2002). ........................................................................................................................ 80
Tabela 3.6 - Participaes e contribuies dos agentes externos e da ANEEL nas reunies para elaborao
do PRODIST (ANEEL, 2002). ................................................................................................................... 81
Tabela 3.7 - Reunies presenciais da Comisso de Trabalho (ANEEL, 2002). ......................................... 84
Tabela 3.8 - Lista de agentes que enviaram contribuies AP 014/2008 (ANEEL, 2002). ..................... 86
Tabela 3.9 - Quantitativo de contribuies recebidas por meio da AP 014/2008 (ANEEL, 2002). ........... 88
Tabela 4.1 - Etapas dos procedimentos de acesso por tipo de acessante (ANEEL, 2008b) ..................... 103
Tabela 4.2 - Exemplo de tabelas com fluxo de dados (ANEEL,2008b). .................................................. 128
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LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Ilustrao de Thomas Edson trabalhando na lmpada incandescente. (Fonte: Livro Luz e
Fora Movimentando a Histria). ................................................................................................................. 9
Figura 2.2 - Hidreltrica de Marmelos em Juiz de Fora - MG. .................................................................. 10
Figura 2.3 - Reproduo da primeira pgina do decreto que em 1934 sancionou o Cdigo de guas
(Fonte: CEDOC ANEEL)........................................................................................................................... 14
Figura 2.4 - Anncio da Cemig no peridico O Observador Econmico e Financeiro, Rio de janeiro, 1955
(Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional). ................................................................................ 16
Figura 2.5 - O presidente Juscelino em uma de suas visitas s obras da Usina Hidreltrica de Furnas
(Furnas, 2009). ........................................................................................................................................... 17
Figura 2.6 - Anncio da Light sobre a contribuio do setor na indstria automobilstica, Revista A
Cigarra, So Paulo 1958 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional). ......................................... 18
Figura 2.7 - Usina Hidreltrica de Furnas - vista area poca da construo (Furnas, 2009). ................. 21
Figura 2.8 - Usina Hidreltrica de Furnas - recente imagem area da usina (Furnas, 2009). ..................... 21
Figura 2.9 - Usina Hidreltrica Itaipu Binacional - foto area com a usina vertendo (PROMOM, 2009). 25
Figura 2.10 - Charge sobre a crise energtica ocorrida no Brasil em 2001 (Rett, 2001). ........................... 30
Figura 2.11 - Estrutura organizacional do Ministrio de Minas e Energia (MME, 2009 - adaptado). ....... 41
Figura 2.12 - Instituies vinculadas ao Ministrio de Minas e Energia (MME, 2009 - adaptado). .......... 42
Figura 3.1 - Linha do tempo com as etapas de elaborao do PRODIST. .................................................. 64
Figura 4.1 Ilustrao da composio do PRODIST. ................................................................................ 91
Figura 4.2 - Etapas de acesso obrigatrias para centrais geradoras solicitantes de autorizao (ANEEL,
2008b)....................................................................................................................................................... 104
Figura 4.3 Esquemtico com abrangncia dos Procedimentos de Rede e do Mdulo 4 do PRODIST. 112
Figura 4.4 Exemplo de fluxograma utilizado no Mdulo 6. .................................................................. 126
Figura 4.5 - Exemplo de fluxo de informaes. ....................................................................................... 127
Figura 4.6 - Fluxograma simplificado do procedimento de avaliao das perdas. ................................... 131
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LISTA DE ABREVIAES
ABC Agncia Brasileira de Cooperao
ABIAPE Associao Brasileira dos Investidores em Autoproduo de Energia Eltrica
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ABRACE Associao Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia
ABRADEE Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica
ABRAGET Associao Brasileira de Geradoras Termeltricas
ACL Ambiente de Contratao Livre
ACR Ambiente de Contratao Regulada
AMFORP American and Foreign Power Company
ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica
ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Bicombustveis
APE Autoprodutor de Energia Eltrica
API Audincias para o Pblico Interno
ASS Assessoria da Diretoria Colegiada da ANEEL
AT Alta Tenso
BT Baixa Tenso
CAG Controle Automtico de Gerao
CBEE Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial
CCD Contrato de Conexo s Instalaes de Distribuio
CCEE Cmara de Comercializao de Energia Eltrica
CCOI Comit Coordenador de Operao Interligada
CCON Comit Coordenador da Operao Norte/Nordeste
CCPE Comit Coordenador do Planejamento da Expanso dos Sistemas Eltricos
CCT Contrato de Conexo s Instalaes de Transmisso
CEA Canadian Electricity Association
CEA Companhia de eletricidade
do Amap
CEEE-D Companhia Estadual de Distribuio de Energia Eltrica
CELESC Centrais Eltricas de Santa Catarina S.A.
CELG Centrais Eltricas de Gois S.A.
CELTINS Companhia de Eletricidade do Tocantins
CEMAR Companhia Energtica do Maranho
CEMAT Centrais Eltricas Matogrossenses S.A.
CEMIG Companhia Energtica de Minas Gerais
CENELEC European Committee for Electrotechnical Standardization
CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica
CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica
CGSE Cmara de Gesto do Setor Eltrico
CHESF Companhia Hidro Eltrica do So Francisco
CMSE Comit de Monitoramento do Setor Eltrico
CNAEE Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica
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CNAEE Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica
CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear
CNOS Centro Nacional de Operao dos Sistemas
CNPE Conselho Nacional de Poltica Energtica
CO Centros de Operao
CODI Comit de Distribuio da Regio Sul-Sudeste
COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia
COPEL Companhia Paranaense de Energia Eltrica
COT Centro de Operao de Agente de Transmisso
CPFL Paulista Companhia Paulista de Fora e Luz
CPFL Piratininga Companhia Piratininga de Fora e Luz
CSIP Contrato de Prestao de Servio de Energia Eltrica para Iluminao Pblica
CUSD Contrato de Uso dos Sistemas de Distribuio
CUST Contrato de Uso do Sistema de Transmisso
CUST Contrato de Uso dos Sistemas de Transmisso
DEC Durao equivalente de interrupo por unidade consumidora
DIC Durao de interrupo individual por unidade consumidora
DIT Demais Instalaes de Transmisso
DMIC Durao mxima de interrupo contnua por unidade consumidora
DNAEE Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica
DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral
DRC Durao Relativa da Transgresso de Tenso Crtica
DRCE Durao relativa da transgresso para tenso critica equivalente
DRP Durao Relativa da Transgresso de Tenso Precria
DRPE Durao relativa da transgresso para tenso precria equivalente
ELEKTRO ELEKTRO Eletricidade e Servios S.A.
ELETROBRS Centrais Eltricas Brasileiras S. A.
ELETRONORTE Centrais Eltricas do Norte do Brasil
ELETROSUL Centrais Eltricas do Sul do Brasil
EPE Empresa de Pesquisa Energtica
ERC Philippine Energy Regulatory Comission
ESCELSA Esprito Santo Centrais Eltricas S.A.
FEC Freqncia equivalente de interrupo
FIC Freqncia de interrupo individual
FIPE Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas
FURNAS Furnas Centrais Eltricas S.A.
GCE Cmara de Gesto da Crise de Energia Eltrica
GCOI Grupo Coordenador para Operao Interligada
GCPS Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Eltricos
ICC ndice de Unidades Consumidoras com Tenso Crtica
IEC International Electrotechnical Commission
IEEE Institute of Electrical and Electronic Engineers
IEMI Instituto Eletrotcnico e Mecnico de Itajub
INESC Porto Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto
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INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial
ITAIPU Itaipu Binacional
IUEE Imposto nico sobre Energia Eltrica
MAE Mercado Atacadista de Energia Eltrica
MME Ministrio de Minas e Energia
MT Mdia Tenso
MUSD Montante de Uso do Sistema de Distribuio
MUST Montante de Uso do Sistema de Transmisso
ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico
PAC Programa de Acelerao do Crescimento
PAS Priorizao de Alimentadores por Subestao
PdCs Procedimentos de Comercializao
PDD Plano de
Desenvolvimento da Distribuio
PDEE Plano Decenal de Expanso de Energia Eltrica
PF Procuradoria-Geral
PIA Produtor Independente Autnomo
PIE Produtor Independente de Energia Eltrica
PLD Preo de Liquidao de Diferenas
PND Programa Nacional de Desestatizao
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PR Tabelas de Prioridade Regional
PROCEL Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica
PRODIST Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico
Nacional
PROINFA Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica
QEE Qualidade da Energia Eltrica
RAP Receita Anual Permitida
RESEB Projeto Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro
SAF Superintendncia de Administrao e Finanas
SCG Superintendncia de Concesses e Autorizaes de Gerao
SCT Superintendncia de Concesses e Autorizaes de Transmisso e Distribuio
SDAT Sistema de Distribuio de Alta Tenso
SDBT Sistema de Distribuio de Baixa Tenso
SDMT Sistema de Distribuio de Mdia Tenso
SED Subestaes de Distribuio
SEM Superintendncia de Estudos Econmicos do Mercado
SFE Superintendncia de Fiscalizao dos Servios de Eletricidade
SFF Superintendncia de Fiscalizao Econmica e Financeira
SFG Superintendncia de Fiscalizao dos Servios de Gerao
SGH Superintendncia de Gesto e Estudos Hidroenergticos
SGI Superintendncia de Gesto Tcnica da Informao
SIN Sistema Interligado Nacional
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SLC Superintendncia de Licitaes e Controle de Contratos e Convnios
SMA Superintendncia de Mediao Administrativa Setorial
SMF Sistema de Medio para Faturamento
SPE Superintendncia de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficincia Energtica
SPG Superintendncia de Planejamento da Gesto
SRC Superintendncia de Regulao da Comercializao da Eletricidade
SRD Superintendncia de Regulao dos Servios de Distribuio
SRE Superintendncia de Regulao Econmica
SRG Superintendncia de Regulao dos Servios de Gerao
SRH Superintendncia de Recursos Humanos
SRI Superintendncia de Relaes Institucionais
SRT Superintendncia de Regulao dos Servios de Transmisso
TC Transformadores de Corrente
TFSEE Taxa de Fiscalizao de Servios de Energia Eltrica
TMAE Tempo Mdio de Atendimento a Emergncias
TMD Tempo Mdio de Deslocamento
TME Tempo Mdio de Execuo
TMP Tempo Mdio de Preparao
TP Transformadores de Potencial
TUSD Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuio
UNIFEI Universidade Federal de Itajub
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1 INTRODUO
1.1 PREMBULO
Os Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico Nacional
PRODIST so um conjunto de regras com vistas a subsidiar os agentes e consumidores
do sistema eltrico nacional na identificao e classificao de suas necessidades no
segmento de distribuio de energia eltrica.
A elaborao do PRODIST baseou-se nos princpios de modicidade tarifria, direitos e
deveres equilibrados, funo da distribuio de energia, tratamento isonmico para
usurios da rede e um sistema de informaes sistemticas e permanentes de modo a
auxiliar nos processos de regulao, fiscalizao e mediao da Agncia Nacional de
Energia Eltrica - ANEEL.
Durante a elaborao dos Procedimentos de Distribuio, considerou-se o disposto em
outros regulamentos, destacando-se a interface com a Rede Bsica, complementando de
forma harmnica os Procedimentos de Rede.
Os Mdulos que compem o PRODIST so documentos regulatrios que padronizam as
atividades tcnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de
distribuio de energia eltrica. O documento disciplina o relacionamento entre os
agentes setoriais no que se refere aos sistemas eltricos de distribuio de propriedade
das concessionrias e permissionrias de servio pblico de distribuio, que incluem
todas as redes e linhas de distribuio de energia eltrica em tenso inferior a 230 kV,
seja em baixa tenso (BT), mdia tenso (MT) ou alta tenso (AT).
O PRODIST disciplina formas, condies e responsabilidades relativas conexo,
planejamento da expanso, operao, medio, perdas tcnicas e qualidade da energia,
definindo procedimentos, sistematizando a troca de informaes entre as partes e, para
alguns casos, estabelecendo critrios e indicadores. A primeira verso do Documento
foi aprovada pela Resoluo Normativa n 345/2008, e ao fim de 2009 ocorreu a
primeira reviso por meio da Resoluo Normativa n 395/2009.
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Conforme analisado e detalhado posteriormente, o PRODIST composto de seis
mdulos tcnicos e dois mdulos integradores, compondo um total de oito mdulos:
Mdulo 1 - Introduo;
Mdulo 2 - Planejamento da Expanso do Sistema de Distribuio;
Mdulo 3 - Acesso ao Sistema de Distribuio;
Mdulo 4 - Procedimentos Operativos do Sistema de Distribuio;
Mdulo 5 - Sistemas de Medio;
Mdulo 6 - Informaes Requeridas e Obrigaes;
Mdulo 7 - Clculo de Perdas na Distribuio;
Mdulo 8 - Qualidade da Energia Eltrica.
Pelo presente trabalho de dissertao, busca-se apresentar as fases de elaborao dos
Procedimentos de Distribuio, destacando a importncia do documento para o setor
eltrico nacional. O texto traz a vivncia de quem possui experincia na regulao dos
servios pblicos de energia eltrica e participou ativamente do processo de elaborao
do PRODIST e ainda trabalha para sua implantao, consolidao e atualizao.
1.2 OBJETIVOS E COMPOSIO DO TRABALHO
O objetivo do presente trabalho de dissertao apresentar as fases de elaborao dos
Procedimentos de Distribuio, seus princpios, perspectivas, destaques, inovaes e
eventuais impactos. Assim, entre as finalidades do trabalho esto a disponibilizao de
diversas experincias que envolveram as atividades de criao dos Procedimentos de
Distribuio, disponibilizando referncias bibliogrficas sobre a elaborao e contedo
do PRODIST.
Para alcanar esses objetivos, o presente trabalho se divide em seis captulos, incluindo
esta seo introdutria, divididos da seguinte forma:
1 - Introduo;
2 - O Setor Eltrico Nacional;
3 - Processo de implementao do PRODIST;
4 - Os Mdulos do PRODIST;
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5 - Constataes e recomendaes no mbito da aplicao do PRODIST;
6 - Concluses;
Assim, o primeiro captulo, conforme sugere o prprio nome, possui carter introdutrio
e apresenta um breve resumo dos demais captulos, alm das informaes gerais sobre o
PRODIST e tambm sobre o prprio trabalho de dissertao.
O Captulo 2 expe informaes sobre o setor eltrico nacional, com destaque para a
apresentao do histrico, das atuais instituies, atos legais e regulamentao
pertinente. Assim, enunciado um breve histrico do setor eltrico brasileiro,
destacando-se os principais marcos que envolveram o pas. A evoluo da prestao do
servio pblico de energia eltrica apresentada, iniciando-se ainda no sculo XIX at
os dias atuais.
Ainda no Capitulo 2, as instituies que atualmente compem o setor eltrico nacional
so tema de um item. Assim, so apresentados os nomes de cada um dos rgos
nacionais que desempenham diferentes funes no ambiente eletroenergtico do Brasil.
De forma resumida, so listadas as atribuies de cada um desses rgos. Ainda
apresentada uma catalogao de Leis, Decretos e Resolues, com vistas a listar os
principais marcos legais e regulamentares vigentes no setor eltrico nacional. Entre as
resolues apresentadas, destaque especial dado regulamentao do servio pblico
de distribuio de energia eltrica, objeto do presente trabalho. Por fim, o texto do
capitulo relaciona o contedo apresentado no texto com a aplicabilidade do PRODIST,
comentando sobre a insero do documento no setor eltrico nacional.
O Captulo 3 ilustra as diferentes fases constituintes do processo de elaborao do
PRODIST. Ou seja, so apresentadas as etapas de catalogao dos documentos, editais
de licitao, contratao, reunies tcnicas, as audincias pblicas internas na ANEEL,
as reunies externas com os agentes do setor, o workshop internacional, a comisso de
trabalho e Audincia Pblica.
O Captulo 4 descreve a composio e o teor do PRODIST, com enfoque na primeira
verso aprovada de cada um os oito mdulos que compem o documento. Conforme j
comentado, o PRODIST composto por oito mdulos, sendo seis mdulos tcnicos e
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dois mdulos integradores. Assim, no Capitulo 4 so apresentados o arranjo, a descrio
e as informaes dos mdulos, destacando as principais contribuies e inovaes de
cada parte do documento. De certa forma, o quarto captulo apresenta um resumo
comentado do contedo do PRODIST.
O Captulo 5 trata de diferentes aspectos, envolvendo a aplicao do PRODIST, seus
desafios e oportunidades decorrentes. So apresentadas algumas recomendaes de
melhoria que necessariamente passam pela implantao e atualizao do PRODIST.
Nessa linha, so ilustrados pontos passveis de anlise e reflexo para a correta tomada
de deciso sobre a implantao de novos regulamentos ou reviso de normas j
existentes.
O Captulo 6, ltimo captulo da Dissertao, conclui e extrai as partes de destaque do
texto.
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2 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO
2.1 CONTEXTUALIZAO
Ao final do sculo XIX, quando a atividade econmica brasileira era expressivamente
agrria, a participao da eletricidade como fonte de energia era inexpressiva. No
Brasil, conforme ser ilustrado, pode-se considerar que o advento da energia eltrica
ocorreu em 1879, quando Thomas Edison introduziu suas invenes no pas. Com o
comeo da industrializao, fatores como a concentrao em centros urbanos e o
surgimento de uma classe mdia impulsionaram o uso da eletricidade.
Apesar da existncia da iniciativa privada no setor eltrico brasileiro no incio do sculo
XX, a estrutura de decises do setor era historicamente concentrada e estatal, o que se
aguou com a instalao oficial da Eletrobrs em 1962, holding de quatro geradoras
federais que na dcada de 90, possuam aproximadamente 50% da energia gerada no
Brasil.
Os empreendimentos privados no setor eltrico brasileiro foram ausentes nos anos 60
at meados dos anos 90, quando iniciou a era da desestatizao. Atualmente os
segmentos de gerao, transmisso e distribuio, notadamente esse ltimo, apresentam
relevante participao da iniciativa privada.
O setor eltrico brasileiro passou por uma reforma iniciada 1993 e foi sofrendo
mudanas durante a dcada de 90, com destaque para a promulgao de Leis e a criao
de rgos do setor. Em 2004 ocorreu a criao de um novo modelo e, atualmente, o
modelo institucional do setor possui diversos agentes, com diferentes atuaes e
responsabilidades.
Tecnicamente, o atual sistema eltrico brasileiro possui caractersticas prprias que
guardam pouca similaridade com sistemas eltricos de outros pases. um sistema
hidrotrmico de grande porte, com forte predominncia de usinas hidreltricas e com
mltiplos proprietrios. O Brasil possui no total 2.186 empreendimentos de gerao em
operao, gerando 106.900.877 kW de potncia. Est prevista para os prximos anos
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uma adio de 37.615.751 kW na capacidade de gerao do Pas, proveniente dos 155
empreendimentos atualmente em construo e mais 445 outorgadas (ANEEL, 2010a).
Com isso, no Brasil, os empreendimentos em operao so em grande parte com
caracterstica hidrulica, com cerca de 73,6% da potncia instalada. A gerao trmica
exerce a funo de complementaridade nos momentos de pico do sistema e possui
capacidade instalada de 23,8% do total do parque brasileiro. Empreendimentos de
grande porte caracterizam as usinas nacionais e cerca de dois teros da capacidade
instalada total so baseados em aproximadamente 30 usinas, cujas potncias instaladas
excedem o valor de 1.000MW (ANEEL, 2010a).
A diversidade hidrolgica entre bacias possibilita a complementaridade entre regies do
pas. Os reservatrios possuem regularizao plurianual e diversas usinas do sistema
esto dispostas em cascata ao longo dos principais rios. Tais caractersticas implicam na
existncia de um grande sistema interligando constitudo de subsistemas regionais, com
operao centralizada e coordenada. O Sistema Interligado Nacional - SIN formado
pelas empresas das regies Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da regio Norte
e cerca de 96% da capacidade instalada de produo de eletricidade do pas encontra-se
no SIN.
Com vistas a apresentar as caractersticas do setor eltrico no Brasil, alm de oferecer
informaes acerca do histrico do setor, o presente captulo expe dados sobre o
ambiente institucional e sobre as recentes normas legais e regulamentares. Assim,
inicialmente enunciado um breve histrico do setor brasileiro, destacando-se os
principais marcos que envolveram o pas. A evoluo da prestao do servio pblico
de energia eltrica apresentada, iniciando-se ainda no sculo XIX at os dias atuais.
As instituies que atualmente compem o setor eltrico nacional so tema de um item
especfico. Assim, so apresentados os nomes de cada um dos rgos nacionais que
desempenham diferentes funes no ambiente eletroenergtico. De forma resumida, so
listadas as atribuies de cada um desses rgos.
Ademais, o Anexo I desta dissertao apresenta uma catalogao de Leis, Decretos e
Resolues, com vistas a listar os principais atos legais e regulamentares vigentes no
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setor eltrico nacional. Entre as Resolues apresentadas, destaque especial dado
regulamentao do servio pblico de distribuio de energia eltrica, objeto do
presente trabalho.
Assim, dentro de uma viso regulatria, o objetivo do presente captulo destacar a
necessidade da implementao do PRODIST, apresentar o ambiente institucional e
definir o mbito de aplicao desses Procedimentos, situando a conjuntura por eles
disciplinada e os agentes do setor eltrico a eles subordinados. Ou seja, precede
questo da aplicabilidade do PRODIST, situ-lo no contexto geral do setor eltrico
brasileiro.
2.2 HISTRICO
A seguir so apresentados registros que determinaram a biografia da eletricidade no
Brasil. Entre os fatos citados, destacam a criao e implementao de empreendimentos
de gerao, o desenvolvimento da iluminao pblica, a criao de empresas do setor e
tambm atos como leis e decretos que tratam das disposies sobre energia eltrica no
pas.
A seo dividi-se em fases cronolgicas, apresentado desde a chegada da energia
eltrica no pas at os dias atuais, passando pelo estabelecimento do Cdigo de guas,
criao do MME, da Eletrobrs, do DNAEE e da ANEEL.
O inicial predomnio de empresas estrangeiras, o processo de nacionalizao e a
posterior privatizao tambm so fases apresentadas no texto.
Neste captulo, os fatos histricos so enunciadas com destaque nos marcos do setor
eltrico brasileiro, buscando evidenciar os registros sobre energia eltrica e citar de
forma resumida as transformaes polticas e econmicas que ocorreram no pas.
manifesto que os marcos do setor eltrico decorreram da situao s quais o pais vivia,
mas o enfoque dado neste trabalho envolve atos legais e regulamentares, alm das
instituies do setor.
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2.2.1 1879 a 1930: Do advento da energia eltrica ao domnio das empresas
estrangeiras
O perodo entre 1879 e 1930 apresenta o incio do uso da eletricidade no Brasil, com
destaque para a chegada dos sistemas de iluminao, os primeiros contratos de
concesso, os empreendimentos de gerao e as aes de capitalistas estrangeiras (at
ento inditas) que proporcionaram, aps 1920, na monopolizao do setor. Esse
perodo caracteriza-se pela construo de pequenos geradores para o fornecimento de
energia eltrica aos servios pblicos como iluminao e transporte coletivo, com
destaque para os bondes eltricos. Nas aplicaes industriais, o objetivo era
predominantemente suprir indstrias txteis e tambm minerao. A implantao da
infra-estrutura para comercializao do caf (beneficiamento e transporte) tambm se
mostrou impulsionadora dos servios de eletricidade.
Inicialmente, os primeiros agentes eram produtores de menor porte e pequenos
distribuidores municipais, em geral comerciantes, empresrios e at mesmo fazendeiros.
Posteriormente, institui-se o regime de concesses para prestaes dos servios.
A Constituio de 1891 no estabeleceu distino entre a propriedade dos recursos
naturais e a propriedade da terra. No regime estabelecido pela Constituio, as
concesses para prestao de servios pblicos de eletricidade eram em sua maioria
outorgadas pelas prprias prefeituras municipais, especialmente no tocante ao segmento
distribuio. Porm, incumbiu-se aos governos estaduais o poder concedente referente
ao aproveitamento e a utilizao das quedas de gua (USP, 2009).
Feito esse breve relato, inicia-se a descrio dos fatos histricos que envolveram o
perodo entre 1879 e 1930, destacando a atuao inicial de Thomas Edison, que alm da
lmpada incandescente, tambm criou o primeiro sistema gerador de eletricidade, com
fios e postes para distribuir energia eltrica.
Assim, aps muito tempo do uso da lenha, velas de cera, lamparinas, e finalmente
iluminao a gs, a energia eltrica tornou-se uma realidade no Brasil em 1879, quando
Thomas Edison introduziu suas invenes no pas, aps solicitao e autorizao do
Imperador D. Pedro II. Naquele ano, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a estao da
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estrada de ferro Central do Brasil - que naquela poca levava o nome do Imperador - foi
o local da primeira demonstrao pblica do funcionamento de lmpadas eltricas,
iluminadas a partir da energia de dois dnamos acionados por locomoveis. A Figura 2.1
mostra uma ilustrao das atividades de Thomas Edson.
Figura 2.1 - Ilustrao de Thomas Edson trabalhando na lmpada incandescente. (Fonte: Livro Luz e
Fora Movimentando a Histria).
J em 1881, a Diretoria Geral dos Telgrafos instalou, na cidade do Rio de Janeiro, a
primeira iluminao externa pblica do pas em trecho da atual Praa da Repblica.
Em 1883 o primeiro servio municipal de iluminao pblica da Amrica do Sul foi
instalado na cidade de Campos RJ, com cerca de 40 lmpadas, alimentadas pela
primeira usina termeltrica, que possua capacidade de 52 kW e utilizava vapor
proveniente de caldeira lenha. J em 1887 a cidade de Porto Alegre tambm inaugurou
o servio municipal de energia eltrica, utilizando-se a energia gerada a partir de uma
usina trmica intitulada Velha Porto Alegre (Memria da Eletricidade, 2009).
Sobre os empreendimentos de gerao, a usina no Ribeiro do Inferno (afluente do Rio
Jequitinhonha) localizada na cidade de Diamantina - MG, em 1883, foi a primeira
hidreltrica brasileira a entrar em operao e conduzia energia s maquinas para
servios de minerao, por meio de uma linha de transmisso de cerca de 2 km. Em
1885, tambm em Minas Gerais, foi inaugurada uma usina hidreltrica no Rio Turvo, na
cidade de Viosa, com 178 kW de potncia instalada.
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J a hidreltrica de Marmelos, construda em Juiz de Fora MG em 1889, um dos
marcos no setor, pois foi a primeira usina de porte mais significativo na Amrica Latina
e, alm disso, foi a primeira unidade hidreltrica para gerao de energia para o
atendimento, exclusivamente, de servios pblicos urbanos. A usina, que mostrada na
Figura 2.2, operava com dois grupos geradores de 125 kW ligados a um sistema de
iluminao de 180 lmpadas, iniciativa de um empresrio industrial que obtivera a
concesso dos servios de iluminao pblica na cidade mineira. A usina comeou a
funcionar somente sete meses aps a inaugurao da Hidreltrica de Appleton, a
primeira da Amrica do Norte.
Figura 2.2 - Hidreltrica de Marmelos em Juiz de Fora - MG.
Nessa etapa pioneira, outras usinas foram sendo inauguradas. Por outro lado, em 1892
foi implantada, no Rio de Janeiro, pela Companhia Ferro-Carril do Jardim Botnico, a
primeira linha de bondes eltricos instalada em carter permanente do pas.
Dando inicio a regulamentao federal sobre energia eltrica no Brasil, em 31 de
dezembro de 1903 foi publicada a Lei n 1.145/1903, que estabeleceu os aspectos gerais
sobre a concesso e o aproveitamento da energia hidrulica dos rios brasileiros para fins
de servios pblicos, sendo facultado o uso dos excedentes para autoconsumo em
atividades agroindustriais. J em 10 de dezembro de 1904 foi publicado o Decreto, de n
5.704/1904, regulamentado a referida Lei.
O monoplio natural, caracterstica intrnseca da indstria de rede, j em 1904 era
analisado pela tica da viso econmica racional. Nesse ano, Rui Barbosa, ento
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consultor jurdico do consrcio que se constituiria na empresa Light, defendeu
categoricamente que a livre concorrncia no era vivel por razes tcnicas e
econmicas: a explorao de atividades como os servios de distribuio de energia
eltrica deveriam operar conforme o interesse pblico, mediante monoplios de fato
em mos de grandes empresas ou das municipalidades.
O estudo da eletricidade ganhava importncia e, no incio do sculo XX, a Universidade
Federal de Itajub - UNIFEI, fundada em 23 de novembro de 1913 ainda como Instituto
Eletrotcnico e Mecnico de Itajub IEMI, foi a dcima escola de engenharia a se
instalar no pas.
No mesmo ano iniciava as atividades de gerao da Usina Hidreltrica Delmiro
Gouveia, primeira do Nordeste, construda para aproveitar o potencial da Cachoeira de
Paulo Afonso no Rio So Francisco (Jannuzi, 2007)
Ainda no comeo do sculo ocorreu uma significativa expanso urbana e a populao
do pas cresceu de 17 milhes de habitantes em 1900 para 31 milhes em 1920, o que
determinou o aparelhamento urbano. Com isso, passou a existir um mercado que
impulsionava a produo interna de bens de consumo (Gomes et al., 2003). Ademais, as
restries externas provocadas pela Primeira Guerra Mundial criaram as pr-condies
para que se aplicasse o capital surgido com as atividades cafeeiras.
Nos estados de So Paulo e Rio de Janeiro, o acrscimo na gerao de energia eltrica
pelo aproveitamento do potencial hidrulico fez com que a capacidade instalada no
Brasil se dilatasse em mais de 600% entre 1907 e 1919. Paralelamente aos
empreendimentos nacionais, ainda em 1899 j existiam as iniciativas de capitalistas
estrangeiros no setor, quando foi autorizada a funcionar no pas a So Paulo Railway,
Light and Power Company, empresa canadense que deu incio atuao no Grupo Light
no Brasil. E em 1904 foi criada em Toronto (Canad) a Rio de Janeiro Tramway, Light
and Power Company. Desde ento, o capital nacional passaria a receber investimentos
estrangeiros e esse processo resultaria, na segunda metade da dcada de 1920, na
vultosa monopolizao pelos grupos de fora do pas, com a conseqente
desnacionalizao do setor, quando parte das empresas de capital nacional foram
transferidas para o controle dos estrangeiros (Gomes et al., 2003).
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Em 1912 surgiu a Companhia Paulista de Fora e Luz CPFL, resultado da fuso de
diversas empresas que j existiam em reas municipais ou reas mais extensas no
territrio do estado de So Paulo.
Algumas empresas constitudas no estado de So Paulo foram incorporadas pelo Grupo
Light e, em 1923, ocorreu o incio das atividades da American and Foreign Power
Company (AMFORP), subsidiria da Bond and Share Co., a qual adquiriu, em 1927,
diversas pequenas empresas no interior de So Paulo e, trs anos depois, passou a operar
em nove capitais. Desse modo, no inicio da dcada de 1930, as atividades ligadas
energia eltrica estariam dominadas pelo Grupo Light, concentrado no eixo Rio/So
Paulo e pela AMFORP em diversas capitais e no inteiro paulista - situao que
aconteceria at meados dos anos 60 (Jannuzi, 2007).
Assim, destaca-se a existncia de um modelo com empreendimentos privados com
hegemonia do capital estrangeiro, concesses descentralizadas e tarifas que visam o
retorno e lucro dos investimentos. Com vistas garantia de retorno do investimento, a
disposio contratual denominada Clausula Ouro limitava os efeitos da moeda nacional,
j que consistia na determinao de que o valor de uma obrigao seria valorado pela
cotao do ouro ou de uma moeda estrangeira. Assim, essa disposio servia de
referncia fixao das tarifas de energia eltrica, j que uma parcela da energia era
paga em funo da cotao internacional do ouro.
Em 1921 foi inaugurada pela General Eletric, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira
fbrica de lmpadas do pas.
Por fim, em funo da substituio da iluminao a gs e da trao animal dos bondes, o
Brasil observava o fortalecimento de novos segmentos com a inovao dos costumes,
proveniente do avano tecnolgico. Nesse perodo, a energia eltrica instalou-se no pas
como conseqncia e como condio das transformaes vividas pela sociedade. Com
isso, nota-se que a produo e o uso da energia eltrica foram implantados no Brasil em
perodo de grande desenvolvimento poltico econmico e social. A economia brasileira
crescia com base na riqueza da agroexportao e, ao mesmo tempo, diversificava-se e
criavam-se as condies para a industrializao.
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2.2.2 1931 a 1960: O Cdigo de guas, a regulamentao inicial e a criao do
MME
Em 1933 foi criado o Departamento Nacional de Produo Mineral - DNPM, que
inclua uma Diretoria de guas, e, no mesmo ano, foi extinta a supracitada Clusula
Ouro.
As mudanas sobre as funes desempenhadas pelo Estado na economia e a
regulamentao dos servios resultariam na promulgao de um Decreto que se
constituiria em um marco regulatrio para o setor eltrico nacional. Assim, o incio
desse perodo marcado com a promulgao, pelo ento presidente Getlio Vargas, do
Decreto n 24.643, de 10 de julho de 1934. O Decreto, intitulado Cdigo de guas e
ainda vigente nos dias atuais, garantiu ao poder pblico a possibilidade de rigoroso
controle sobre as concessionrias de energia eltrica.
A seguir apresentada a Figura 2.3 com a reproduo da primeira pgina do Cdigo de
guas.
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Figura 2.3 - Reproduo da primeira pgina do decreto que em 1934 sancionou o Cdigo de guas
(Fonte: CEDOC ANEEL).
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Por meio da regulamentao da indstria hidreltrica, o Cdigo de guas estabeleceu
um novo direito sobre os servios de energia eltrica, com mudanas nas regras vigentes
no Segundo Reinado e na Repblica Velha. A propriedade das guas foi caracterizada
juridicamente de forma diferente dos bens e terrenos circundantes, ficando a Unio com
exclusividade do poder concedente para o estabelecimento dos servios (Brasil, 1934).
O Cdigo de guas estabeleceu um regime de concesses para os aproveitamentos e
definiu propriedade da Unio sobre os chamados recursos estratgicos, fato que
culminou posteriormente no projeto de industrializao e na constituio do Estado-
empresrio. Ademais, o novo Cdigo autorizou o poder pblico a exercer um controle
mais rigoroso sobre as concessionrias e propiciou fiscalizao tcnica, financeira e
contbil. Na rea econmica, as tarifas seriam determinadas considerando-se as
despesas de operao, depreciao, reverso e remunerao do capital (Brasil, 1934).
A atitude nacionalista presente no Cdigo de guas ficou evidente na determinao de
que as empresas concessionrias deveriam ser organizadas no Brasil, feito que ainda
viria a ser ressaltado pelas disposies da Constituio de 1937. Porm, sem o ato que o
regulamentasse, o Cdigo de guas sofreu oposio das concessionrias e teve seu
processo de aplicao dificultado durante o perodo constitucional do primeiro governo
de Getlio Vargas (1934-1937).
O Presidente inaugurou no Rio de Janeiro, em 1937, o primeiro trecho eletrificado da
Estrada de Ferro Central do Brasil e, em 1939, criou o Conselho Nacional de guas e
Energia Eltrica CNAEE, que foi concebido para operar sobre temas do setor eltrico,
abordando desde assuntos eminentemente tcnicos, at temas tributrios, passando por
questes de suprimento, regulamentao e tarifas.
Em 1940 foi regulamentada a condio das usinas termeltricas do pas, por meio da
integrao s disposies do Cdigo de guas. J em 1941 foi regulamentado o "custo
histrico" com vistas ao clculo das tarifas de energia eltrica, fixando a taxa de
remunerao dos investidores em 10% (Memria da Eletricidade, 2009).
O ano de 1945 deu inicio a uma fase de concepo de grandes empresas do setor, com a
criao da primeira empresa de eletricidade federal, a Companhia Hidro Eltrica do So
http://www.memoria.eletrobras.com/hist_regulamentacao.asp## -
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Francisco - CHESF. J Em 1947, os sistemas da Light no Rio de Janeiro e em So Paulo
foram interligados por uma linha de transmisso de 230 kV, possibilitando intercmbio
de energia entre os estados (Memria da Eletricidade, 2009).
Aps a 2 Guerra Mundial so lanados programas estaduais de eletrificao. Nesse
perodo, a produo de energia eltrica no acompanhava a demanda. Com o
acontecimento de racionamentos, estimulou-se a participao da autoproduo. Com
vistas capitalizao do setor eltrico nacional, algumas medidas governamentais
tornaram-se imprescindveis. Ento, por meio da Lei n 2.308, de 31 de agosto de 1954,
criou-se o Fundo Federal de Eletrificao, alm da instituio do Imposto nico sobre
Energia Eltrica IUEE (Jannuzi, 2007).
J em 1952 foi criada a empresa Centrais Eltricas de Minas Gerais CEMIG,
atualmente denominada Companhia Energtica de Minas Gerais S/A. A Figura 2.4 -
Anncio da Cemig mostra um propaganda da CEMIG no peridico O Observador
Econmico e Financeiro.
Figura 2.4 - Anncio da Cemig no peridico O Observador Econmico e Financeiro, Rio de janeiro,
1955 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional).
Em 1953, em decorrncia do incio da construo da usina de Rio Bonito, criada a
empresa Esprito Santo Centrais Eltricas S.A.- ESCELSA. J em 1954 o governo do
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estado do Paran criou a Companhia Paranaense de Energia Eltrica - COPEL (hoje
apenas Companhia Paranaense de Energia). No mesmo ano, entrou em operao a Usina
Hidreltrica Paulo Afonso I, pertencente CHESF (primeira grande hidreltrica
construda no rio So Francisco com potncia inicial de 184 MW). Ademais, j em 1955
foram criadas as Centrais Eltricas de Santa Catarina S.A. CELESC e as Centrais
Eltricas de Gois S.A. CELG. Em 1956 foram criadas a Companhia de eletricidade
do Amap CEA e as Centrais Eltricas Matogrossenses S.A. - CEMAT.
Com o objetivo de aproveitar o potencial hidreltrico do Rio Grande, em Minas Gerais,
foi criada em 1957 a Central Eltrica de Furnas S.A. posteriormente denominada Furnas
Centrais Eltricas S.A. FURNAS. Graas ao pioneirismo do presidente Juscelino
Kubitschek, ilustrado na Figura 2,5, viabilizou-se a construo da Usina Hidreltrica de
Furnas, importante empreendimento para sustentar o desenvolvimento e a qualidade de
vida da populao (Furnas, 2009).
Figura 2.5 - O presidente Juscelino em uma de suas visitas s obras da Usina Hidreltrica de Furnas
(Furnas, 2009).
Outras empresas de energia eltrica tambm foram sendo criadas nesse perodo, com
destaque para a Companhia Energtica do Maranho CEMAR (1958) e para a
Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia COELBA (1960).
Porm, ainda em 1957, um ato lembrado como outro importante marco no setor
eltrico nacional: a publicao do Decreto n 41.019, de 26 de fevereiro de 1957,
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documento responsvel pela regulamentao dos servios de energia eltrica. O prprio
Cdigo de guas j previa a regulamentao dos servios de energia eltrica. Ademais,
ainda em 1939, o Decreto nmero 1.699/1939 conferiu, ao Conselho Nacional de guas
e Energia Eltrica, as atribuies de elaborar e submeter ao Presidente da Repblica a
regulamentao do Cdigo de guas e das demais leis que regiam a utilizao dos
recursos hidrulicos e da energia eltrica. Assim, considerando a necessidade de
regulamentar a legislao vigente poca sobre energia eltrica, foi estabelecido, pelo
presidente Juscelino Kubitschek, o Decreto n 41.019/1957, fixando normas para
facilitar a ao fiscalizadora da administrao. Destaca-se que, atualmente, o Decreto n
41.019/1957 ainda possui disposies vigentes, embora o setor eltrico seja, nos dias de
hoje, bem diferente da realidade daquela poca.
No governo de Juscelino, o programa econmico Plano de Metas, que buscava um
crescimento de "50 anos em 5, considerou prioritrios setores como os de energia e
transportes, destinando ao primeiro mais de 43% dos investimentos, dos quais pouco
mais da metade foi para a rea de energia eltrica (Gomes et al., 2003). Devido ao
programa econmico, a potncia instalada no Brasil atingiu a marca de 4.777 MW em
1960 e, em 1965, alcanou o montante de 7.411 MW, o que correspondia a 89% do
previsto (Eletrobrs, 2009a).
Na rea industrial, destacava-se ainda o setor de bens de consumo durveis, a includas
as fbricas de eletrodomsticos e automveis, conforme ilustrado na Figura 2.6.
Figura 2.6 - Anncio da Light sobre a contribuio do setor na indstria automobilstica, Revista A
Cigarra, So Paulo 1958 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional).
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J em 1960, no ano de criao da atual capital federal - Braslia, com o desenvolvimento
da poltica desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek, foi criado o
Ministrio das Minas e Energia MME, constitudo pela Lei n 3.782, de 22 de julho de
1960. O MME incorporava o Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica - CNAEE
e a antiga diviso de guas do Ministrio da Agricultura, alm de incluir sob sua
jurisdio a CHESF e a Comisso Nacional de Energia Nuclear CNEN. Assim, as
questes polticas, econmicas e tcnicas do setor eltrico passaram a ser tratadas pelo
Ministrio.
No final dos anos 50 e nos primeiros anos da dcada de 60, as empresas pblicas de
energia ganharam destaque: o Plano de Metas props a reorganizao do setor e
empresas federais investiriam na produo, ficando, de modo geral, a distribuio com o
setor privado.
2.2.3 1961 a 1989: A criao da Eletrobrs, do DNAEE e das grandes usinas
Aps a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o Brasil foi marcado por profundas
reformas no modelo de desenvolvimento econmico, conforme comentado. No perodo
de 1946 a 1962, o Estado assumiu funes produtivas, financeiras e de planejamento.
Nesse contexto, a queda gradual do setor tradicional de bens de consumo no durveis
na indstria ganhava destaque e ocorria a criao e o desenvolvimento do setor de bens
de capital e insumos bsicos como ao, cimento, produtos qumicos e equipamentos
eltricos.
O avano de novas reas industriais e o processo de urbanizao induziram a um
aumento do consumo de energia eltrica e, em conseqncia, ocorreram as primeiras
crises no fornecimento das grandes cidades. Fazia-se necessria a adoo de estratgias
que colaborassem para a expanso da oferta de energia eltrica no Brasil. A idia para
essa expanso rondava em torno de criao de uma empresa que viabilizasse
empreendimentos.
O projeto de criao das Centrais Eltricas Brasileiras - ELETROBRS foi apresentado
ainda 1954 pelo presidente Getlio Vargas. Porm, a proposta afrontou-se com a
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oposio e s foi consagrada em 1961, aps sete anos de tramitao no Congresso
Nacional.
A instalao da ELETROBRS ocorreu oficialmente no dia 11 de junho de 1962, em
sesso solene do CNAEE, no Palcio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, com a presena do
presidente Joo Goulart (1961-1964). A empresa recebeu a atribuio de promover
estudos, projetos de construo e operao de usinas geradoras, linhas de transmisso e
subestaes destinadas ao suprimento de energia eltrica do Brasil, o que passou a
contribuir decisivamente para a expanso da oferta de energia eltrica e o
desenvolvimento nacional (Eletrobrs, 2009b). A Eletrobrs passou a operar com
empresa holding das concessionrias pblicas de energia eltrica do governo federal.
Com isso, foi constitudo o sistema de empresas controladas atuantes em mbito
regional, responsvel pela gerao e pela operao do sistema eltrico e hdrico
interligado, fazendo parte dele as j existentes CHESF e FURNAS, e posteriormente, a
Centrais Eltricas do sul do Brasil ELETROSUL, organizada em 1968 e a Centras
Eltricas do Norte do Brasil ELETRONORTE, organizada em 1972.
Ainda em 1962, entrava em operao da primeira usina a ser utilizada para a
regularizao do Rio So Francisco: a usina hidreltrica de Trs Marias, pertencente
Cemig.
J em 1963 entrava em operao, na cidade de Passos - MG, a maior usina do Brasil na
poca de sua construo: Usina Hidreltrica de Furnas, ilustrada nas Figuras 2.7 e 2.8. O
empreendimento, que ainda nos dias de hoje de vital importncia para consumidores
da regio Sudeste, utilizou cerca da metade dos recursos aplicados nos dois primeiros
anos da Eletrobrs. A usina foi o primeiro passo para a viabilizao da interligao dos
sistemas eltricos do Sudeste e parte do Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal
(Furnas, 2009).
Na usina de Furnas, a entrada em operao da primeira unidade ocorreu com potncia
instalada inicial de 152 MW em setembro de 1963 e em novembro do mesmo ano foi
duplicada. O empreendimento possui atualmente capacidade de 1.216 MW e barragem
com reservatrio de 1.250 km de rea, com capacidade para cerca de 23 bilhes de m
de gua.
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Figura 2.7 - Usina Hidreltrica de Furnas - vista area poca da construo (Furnas, 2009).
Figura 2.8 - Usina Hidreltrica de Furnas - recente imagem area da usina (Furnas, 2009).
Sobre a padronizao de freqncia no Brasil, existia uma meno no art. 46 do Decreto
n 41.019/1957 que estabelecia a possibilidade de operao em freqncias de 50 e 60
Hertz. Mas em 1964 ocorreu a unificao: a Lei n 4.454/1964 definiu procedimentos
para a unificao da freqncia em 60 Hertz e estabeleceu que nenhuma nova instalao
de gerao e distribuio de energia eltrica, para servios pblicos ou de utilidade
pblica, seria autorizada sem que opere ou possa operar em 60 Hertz.
Em 1965, iniciou-se a operao da Usina Termeltrica Jorge Lacerda I, que atualmente
faz parte do maior complexo termeltrico a carvo vapor do pas. Ainda no ano de 1965,
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a Diviso de guas do Departamento Nacional da Produo Mineral foi transformada
no Departamento Nacional de guas e Energia - DNAE, pela Lei n 4.904, de 17 de
dezembro de 1965. Posteriormente, esse departamento sofreu alteraes, j que o
Decreto n 63.951, de 31 de dezembro de 1968, alterou a denominao do rgo para
Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica DNAEE (Memria da
Eletricidade, 2009).
E em 1967, a nacionalizao do setor eltrico foi acelerada com a aquisio, pelo
governo federal, dos ativos das empresas do Grupo Amforp, quando foi sancionada lei
especifica.
Pela Portaria n 234/1977, do Ministro das Minas e Energia, foi aprovado o Regimento
Interno do DNAEE, que dispunha sobre a natureza e finalidade do Departamento.
Assim, pelo referido Regimento, o DNAEE, possua autonomia financeira assegurada e
se constitua no rgo Central de Direo Superior, responsvel pelo planejamento,
coordenao e execuo dos estudos hidrolgicos em todo o territrio nacional; pela
superviso, fiscalizao e controle dos aproveitamentos das guas que alteram o seu
regime; bem como pela superviso, fiscalizao e controle dos servios de eletricidade.
Exemplos importantes da atuao da DNAEE so a Portaria n 46/1978 (continuidade
de servio), Portaria n 47/1978 (tenso de fornecimento), Portaria n 158/1989
(iluminao pblica), Portaria n 5/1990 (participao financeira) e as Portarias n.
222/1987 e n. 466/1997 (que se referem s condies gerais de fornecimento).
Assim, em suma, a regulao setorial do perodo foi atribuda ao DNAEE, vinculado ao
MME, substituto da Diviso de guas e que incorporou em 1967, as antigas atribuies
do CNAEE, extinto em 1978. O DNAEE acumulou as atividades normativa e
fiscalizadora dos servios de energia eltrica, alm de receber a competncia pela
apreciao dos pedidos de concesso e pelos processos de outorga de concesso para
aproveitamento hdricos e demais servios de eletricidade.
O desenvolvimento econmico foi acelerado, especialmente entre 1968 e 1974, perodo
nomeado como milagre brasileiro com ndices anuais de crescimento de 11%. Esse
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perodo caracterizou-se por abundantes investimentos no setor de infra-estrutura, com
destaque para a rea de energia eltrica (USP, 2009).
Em 1968 entrou em operao a maior termeltrica do pas, a Usina Termeltrica Santa
Cruz, de Furnas - Centrais Eltricas S.A. (Memria da Eletricidade, 2009).
No ano seguinte, foi criado o Comit Coordenador de Operao Interligada CCOI,
com o escopo de reduzir os problemas operativos e aperfeioar o processo de interao
das empresas do setor eltrico nacional. Em substituio ao CCOI, em 1973, foi
institudo o Grupo Coordenador para Operao Interligada GCOI, organismo
colegiado para a coordenao da operao dos sistemas eltricos Sul e Sudeste.
Tambm em 1973 foi consolidado o tratado entre Brasil e Paraguai, regulando a
construo e operao de hidreltricas no Rio Paran, quando ocorreu a criao da
Itaipu Binacional - ITAIPU. No mesmo ano, com o objetivo de desenvolver tecnologia
em equipamentos e em sistemas eltricos, foi criado o Centro de Pesquisas de Energia
Eltrica CEPEL.
O Comit Coordenador da Operao Norte/Nordeste CCON foi criado em 1975,
mesmo ano da criao do Comit de Distribuio da Regio Sul-Sudeste CODI
(Memria da Eletricidade, 2009). Ainda em 1975 ocorreu a entrada em operao da
usina Salto Osrio, primeiro aproveitamento hidreltrico do Rio Iguau (atualmente da
empresa Tractebel energia, com 1.078 MW). Trs anos aps, destaca-se a entrada em
operao no Rio Paran o complexo Ilha Solteira - Jupi, com potncia atual de 4.995
MW (ONS, 2009).
A situao econmico-financeira das concessionrias apresentava desvios negativos.
Para que esse problema fosse equacionado, foram criadas novas disposies sobre a
remunerao das empresas: a correo monetria dos ativos passou a ser fixada abaixo
da inflao, foi criado o mecanismo de remunerao mdia do setor (Jannuzi, 2007).
Durante o governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) ocorreu a equalizao das
tarifas de energia eltrica em todo o Brasil, instituindo-se a Reserva Global de Garantia,
um novo fundo que seria administrado pela Eletrobrs. A equalizao foi justificada
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como fator de desenvolvimento regional, com objetivo de extinguir as diferenas
tarifrias que desestimulavam investimentos industriais nas regies Norte e Nordeste.
Porm, o sistema de tarifas equalizadas incitava a ineficincia administrativa,
penalizando empresas eficientes e transferindo os recursos para as empresas
ineficientes. Ademais, as tarifas tiveram seu valor real densamente abatido, uma vez que
o governo federal serviu-se da compensao das tarifas como mecanismo de controle
inflacionrio.
Aps cerca de oito dcadas sob o controle estrangeiro, a Light foi nacionalizada em
1979, mesmo ano em que entrava em operao a Usina Hidreltrica Sobradinho,
realizando o aproveitamento mltiplo do maior reservatrio do pas que regulariza a
vazo do rio So Francisco.
O ano de 1982 se destacaria por uma das mais grandiosas obras do setor de infra-
estrutura no mundo, j que foi inaugurada a Usina Hidreltrica Itaipu Binacional, aps 8
anos de construes e mais 50 mil horas de trabalho. Itaipu foi a nica grande obra
nacional a atravessar a fase mais aguda da crise econmica brasileira do final dos anos
1970 mantendo o status de incondicional prioridade.
Assim, a 5 de novembro de 1982, com o reservatrio j formado, os presidentes do
Brasil, Joo Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionam o mecanismo que
levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberam a gua represada do
Rio Paran e, com isso, inauguram oficialmente a maior hidreltrica do mundo.
O primeiro giro mecnico de uma turbina ocorreu em dezembro de 1983 e, finalmente,
Itaipu Binacional iniciou a produo de energia em maio de 1984, quando entrou em
operao a primeira das 20 unidades geradoras do projeto. A usina de Itaipu, ilustrada
na Figura 2.9, praticamente dobrou a capacidade do Brasil e a potncia instalada, que
era de 16,7 mil MW e passou a contar mais 14 mil MW. Com isso, o pas materializa a
opo pela energia produzida por meio do aproveitamento da fora dos rios.
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Figura 2.9 - Usina Hidreltrica Itaipu Binacional - foto area com a usina vertendo (PROMOM, 2009).
Tambm em 1984, a Usina Hidreltrica Tucuru, da ELETRONORTE, entrou em
operao e foi a primeira hidreltrica de grande porte construda na Amaznia. No
mesmo ano, foi concluda a primeira parte do sistema de transmisso Norte-Nordeste,
permitindo a transferncia de energia da bacia amaznica para a regio Nordeste (ONS,
2009).
Um ano depois, em 1985, entrava em operao a Usina Termonuclear Angra I, primeira
usina nuclear do Brasil. J em 1986 ocorreu a entrada em operao do sistema
interligado Sul-Sudeste, o mais extenso da Amrica do Sul, transportando energia
eltrica da Usina Hidreltrica Itaipu at a regio Sudeste.
Ao fim desta etapa, destaca-se que em 1989 a Eletrobrs inaugurou o Centro Nacional
de Operao dos Sistemas CNOS, localizado na capital federal (ONS, 2009).
2.2.4 1990 a 2008: Privatizao, criao da ANEEL e o Novo Modelo
Inicialmente sobre esse perodo, cabe destacar que em 1990, a Lei n 8.028/1990
extinguiu o MME e transferiu suas atribuies ao Ministrio da Infraestrutura, criado
pela mesma Lei. Posteriormente, o MME voltou a ser criado em 1992, por meio da Lei
n 8.422/1992.
http://www.memoria.eletrobras.com/hist_estatizacao.asp## -
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Tambm nesse perodo, seguindo uma tendncia mundial, iniciou-se na dcada de 90 a
reestruturao do setor eltrico brasileiro, caracterizada pela poltica de diminuio do
controle empresarial do Estado na economia. No Brasil, presenciava-se a gradativa
exausto da capacidade de investimento das empresas estatais, causado em parte pelo
endividamento e pela poltica de conteno tarifria praticadas desde a dcada de 1970.
Assim, em atividades at ento monopolizadas por empresas pblicas, como nos
servios de eletricidade, ocorreu um estmulo competio com a existncia da
privatizao das concessionrias federais e estaduais de energia eltrica. O processo de
privatizao permitiria que a administrao pblica concentrasse seus esforos nas
atividades em que a presena do Estado fundamental para a consecuo das
prioridades nacionais, como, por exemplo, educao e sade.
Outra caracterstica da reestruturao do setor a desverticalizao da cadeia produtiva,
que previa a separao das atividades de gerao, transmisso, distribuio e
comercializao de energia eltrica, caracterizando-se como segmentos independentes.
Os setores de gerao e a comercializao foram progressivamente desregulamentados
com insero de regras de mercado. J os servios de rede presentes nos segmentos de
transmisso e a distribuio foram tratados como servios pblicos regulados, j que se
constituam em monoplios naturais.
A reorganizao do setor incluiria a reformulao dos agentes envolvidos no setor
eltrico, alm da criao de novos rgos responsveis pelo planejamento da expanso,
pela operao dos sistemas interligados e pela regulao e fiscalizao.
Deste modo, essa fase iniciada em 1990, quando o Presidente Fernando Collor de
Mello sanciona a Lei n 8.031, de 12 de abril de 1990, criando o Programa Nacional de
Desestatizao PND, com o objetivo de reordenar a posio estratgica do Estado na
economia, transferindo iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo
setor pblico, contribuindo par a reduo da dvida pblica e para o saneamento das
finanas.
A partir do governo de Itamar Franco (1992-1994), o processo de reestruturao do
setor foi impulsionado com a edio da Lei n 8.631, de 4 de maro de 1993, conhecida
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como a Lei da Desequalizao Tarifria, que estabelecia a novo regime tarifrio para as
empresas de energia eltrica. A referida Lei previa a extino do regime de remunerao
garantida e, em conseqncia, o fim da Conta de Resultados a Compensar - CRC e o
fim da Reserva Nacional de Compensao de Remunerao RENCOR.
Em 1995, as empresas controladas pela Eletrobrs foram includas no Programa
Nacional de Desestatizao que orientava a privatizao dos segmentos de gerao e
distribuio. Nesse mesmo ano, em consonncia com a poltica de privatizao do
governo federal, foi realizado o leilo de privatizao da ESCELSA, inaugurando nova
fase do setor de eltrico brasileiro.
Tambm no ano de 1995, dois marcos legais de destaque foram sancionados pelo
Fernando Henrique Cardoso. A reforma do Estado no Brasil se desenhava com a
aprovao da Lei de Concesso dos Servios Pblicos, Lei 8.987, de 13 de fevereiro de
1995. Os artigos dispostos nesta primeira iniciativa precisavam ser aprofundados para
permitir o ingresso de recursos da iniciativa privada no aumento da oferta de energia
eltrica. Ento, quatro meses depois, a Lei 9.074, de 7 de julho de 1995, regulamentou a
legislao anterior e detalhou a matria, principalmente no que diz respeito ao setor de
energia eltrica.
Com isso, a Lei n 8.987/95 sancionou s disposies sobre o regime de concesso e
permisso da prestao de servios pblicos previsto no art. 175 da Constituio
Federal. Alm da caracterizao do servio adequado, a Lei dispunha sobre os e editais
de licitao, contratos de concesso, direitos e obrigaes dos usurios entre outros
itens.
J Lei n 9.074/95 mais focada no setor eltrico e trata das concesses, permisses e
autorizaes dos servios de energia eltrica. Essa Lei foi responsvel por instituir a
figura do produtor independente de energia eltrica, alm de estabelecer, em seus
artigos 15 e 16, as opes de compra de energia eltrica por parte dos consumidores
livres. Destaca-se ainda a determinao, expressa na Lei, do livre acesso aos sistemas de
transmisso e distribuio.
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Em 1996 o Ministrio de Minas e Energia coordenou e implantou o Projeto de
Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro (Projeto RESEB), trabalho a ser
desenvolvido por um consrcio de consultores liderados pela empresa britnica Coopers
& Lybrand. Posteriormente, o Projeto RESEB indicaria a necessidade de preparao de
um documento consolidado que estabelecesse os procedimentos de distribuio do setor
eltrico nacional, o que constituiria na recomendao para a elaborao do PRODIST
(MME, 1996).
Tambm em 1996 foi sancionado outro ato legal de relevncia, desta vez responsvel
pela criao do novo rgo regulador do setor de energia eltrica: a ANEEL. A Lei n
9.427, de 26 de dezembro de 1996, institua ANEEL, definindo-a como autarquia sob
regime especial, vinculada ao MME, com sede e foro no Distrito Federal, com a
finalidade de regular e fiscalizar a produo, transmisso distribuio e comercializao
de energia eltrica, em conformidade com as polticas e diretrizes do governo federal.
A ANEEL seria efetivamente constituda em 1997, com a publicao do Decreto 2.335,
de 6 de outubro de 1997, e com a Portaria MME n 349, de 28 de novembro de 1997. O
Decreto estabelece as diretrizes da ANEEL, suas atribuies e estrutura bsica, bem
como o princpio da descentralizao que permite agncia reguladora estender sua
ao aos mais diversos pontos do Brasil. J a Portaria do MME aprova o Regimento
Interno da Autarquia. Assim, ficava extinto o DNAEE, cujas atribuies foram
transferidas ANEEL.
A Agncia foi criada com a misso de proporcionar condies favorveis para que o
mercado de energia eltrica se desenvolva com equilbrio entre os agentes e em
benefcio da sociedade. Alm das funes de fiscalizao e regulao, a ANEEL deve
mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor eltrico e entre estes e os
consumidores; atender as reclamaes das partes; conceder, permitir e
autorizar instalaes e servios de energia; garantir tarifas justas; zelar pela qualidade
do servio; exigir investimentos; estimular a competio entre os operadores e assegurar
a universalizao dos servios.
Tambm em 1997 foi criada a Eletrobrs Termonuclear S.A. - Eletronuclear, empresa
que passou a ser a responsvel pelos projetos das usinas termonucleares brasileiras. O
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Conselho Nacional de Poltica Energtica - CNPE foi institudo pela Lei n 9.478, de 6
de agosto de 1997, assumindo a atribuio de formular e propor ao presidente da
Repblica as diretrizes da poltica energtica brasileira.
No ano seguinte seria constitudo o Mercado Atacadista de Energia Eltrica - MAE,
sendo legalmente autorizado como pessoa jurdica de direito privado sem fins
lucrativos, submetido autorizao, regulamentao e fiscalizao da ANEEL. O rgo
foi criado com finalidade principal de viabilizar as transaes de compra e venda de
energia eltrica nos sistemas interligados.
Igualmente em 1998 foram estabelecidas as regras de organizao do Operador
Nacional do Sistema Eltrico - ONS, para substituir o Grupo Coordenador para
Operao Interligada - GCOI. Com isso, as atividades de coordenao e controle da
operao da gerao e da transmisso de energia eltrica, integrantes do Sistema
Interligado Nacional - SIN, sero executadas pelo ONS, pessoa jurdica de direito
privado, sem fins lucrativos, tambm fiscalizado e regulado pela ANEEL.
Em 1999 entrava em operao a primeira etapa da Interligao Norte-Sul, representando
um passo essencial para a integrao eltrica do pas. J no ano de 2000 comeou a
operar a usina hidreltrica Ita (capacidade atual de 1.450 MW), na divisa do Rio Grande
do Sul com Santa Catarina (ONS, 2009).
Tambm em 2000, a interligao de 1.000 MW de energia em Garabi da Argentina
utilizou novas linhas e uniu subestaes argentinas e brasileiras. Assim, nesse ano
entrou em operao a primeira linha transmisso em 500 kV da interconexo entre
esses pases por meio da subestao conversora de freqncia (50/60 Hz) de Garabi I,
no municpio de Garruchos - RS. J em 2002, o projeto foi concludo com a entrada em
operao da segunda interconexo, estao Garabi II e a segunda linha de 500 kV
com 1.100 MW.
Ainda em 2001 o Brasil sofreu sua maior crise de energia eltrica, influenciada pelo
mau planejamento realizado no pas na dcada de 90 e acentuada pelas condies
hidrolgicas desfavorveis verificadas nas regies nordeste e sudeste. Com a escassez
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de chuva, o nvel de gua dos reservatrios das hidreltricas atingiu nveis alarmantes e
o pas se viu obrigado a criar meios para racionar energia.
No mbito da crise energtica, o governo brasileiro instituiu a Cmara de Gesto da
Crise de Energia Eltrica - GCE, com o objetivo de recomendar e implementar aes de
carter emergencial visando compatibilizar a oferta e demanda por energia eltrica no
pas. Ainda no mbito da crise, o governo criou a empresa Comercializadora Brasileira
de Energia Emergencial CBEE para realizar a contratao das trmicas emergenciais.
A regio sul no entrou no programa de racionamento que se extinguiu aps cerca de
um ano. A Figura 2.10 mostra uma charge sobre a conjuntura de deficincia energtica
que ficou conhecida popularmente como apago.
Figura 2.10 - Charge sobre a crise energtica ocorrida no Brasil em 2001 (Rett, 2001).
Em 2002 entrou em operao Usina Hidreltrica Machadinho, localizada na regio sul
do pas, totalizando o total de 1.140 MW. Ainda em 2002 foi extinta a GCE, substituda
pela Cmara de Gesto do Setor Eltrico - CGSE, vinculada ao CNPE, sendo incumbida
de sugerir ao CNPE diretrizes para a elaborao da poltica do setor de energia eltrica.
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O Governo Federal introduziu em 2003 o programa Luz Para Todos, com vistas a
disponibilizar, at 2008, energia eltrica aos 12 milhes de brasileiros que no possuam
acesso ao se