da expressão à liberdade 2

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Da Expressão à Liberdade Por Francikley Vito O homem é um ser que tem em sua essência a necessidade de comunicação. Desde os primeiros tempos o ser humano tem tentado se comunicar com sua geração e com as gerações subsequentes, e por causa dessa necessidade intrínseca ele desenha, rabisca, escreve; tornando comum a outros de seus semelhantes o seu pensamentos, medos e reflexões por meio das artes em geral. É por causa dessa sua necessidade que o homem escreve, noticia e noticia-se. Tornando a si, e aos seus, eterno. A comunicação é uma necessidade perene no homem; não há como negar essa sua característica e não há como, de qualquer forma ou por qualquer modo, querer anulá- la. Se olharmos a história da humanidade, veremos que desde as narrativas desenhadas em cavernas, passando pelos contos mitológicos e chegando às histórias da Bíblia judaico- cristã, veremos que o ser humano é primordialmente comunicativo. Ele vive para se tornar comum ao outro, para se fazer conhecido no outro, para se projetar no outro com o intuito de preservar a si e a história dos seus pares, os outros seres humanos. O homem não se faz sozinho, ele se faz com e no outro. Daí o porquê de não ser bom “que o homem esteja só”, pois ele, o homem, se completa com o outro. Talvez venha desta característica humana a sua constante necessidade de ouvir histórias e de contar histórias, de se expressar. Como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, “O galo sozinho não tece um amanhã/ Ele precisa sempre de outros galos./ De um que apanhe esse grito [...]/E o lance a outro; de um outro galo [...]/Pra que o amanhã, desde uma teia tênue,/ Se vá tecendo, entre todos os galos.” (A Educação pela Pedra, 1996). Nas palavras do poeta pernambucano, o homem é como um galo que solta o seu grito e que precisa de outros galos para construir o futuro, futuro esse que é costurado em conjunto como uma teia, por um e com todos. É por esse motivo que dizemos que

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Da Expresso Liberdade Por Francikley VitoO homem um ser que tem em sua essncia a necessidade de comunicao. Desde os primeiros tempos o ser humano tem tentado se comunicar com sua gerao e com as geraes subsequentes, e por causa dessa necessidade intrnseca ele desenha, rabisca, escreve; tornando comum a outros de seus semelhantes o seu pensamentos, medos e reflexes por meio das artes em geral. por causa dessa sua necessidade que o homem escreve, noticia e noticia-se. Tornando a si, e aos seus, eterno. A comunicao uma necessidade perene no homem; no h como negar essa sua caracterstica e no h como, de qualquer forma ou por qualquer modo, querer anul-la. Se olharmos a histria da humanidade, veremos que desde as narrativas desenhadas em cavernas, passando pelos contos mitolgicos e chegando s histrias da Bblia judaico-crist, veremos que o ser humano primordialmente comunicativo. Ele vive para se tornar comum ao outro, para se fazer conhecido no outro, para se projetar no outro com o intuito de preservar a si e a histria dos seus pares, os outros seres humanos. O homem no se faz sozinho, ele se faz com e no outro. Da o porqu de no ser bom que o homem esteja s, pois ele, o homem, se completa com o outro. Talvez venha desta caracterstica humana a sua constante necessidade de ouvir histrias e de contar histrias, de se expressar. Como disse o poeta Joo Cabral de Melo Neto, O galo sozinho no tece um amanh/ Ele precisa sempre de outros galos./ De um que apanhe esse grito [...]/E o lance a outro; de um outro galo [...]/Pra que o amanh, desde uma teia tnue,/ Se v tecendo, entre todos os galos. (A Educao pela Pedra, 1996). Nas palavras do poeta pernambucano, o homem como um galo que solta o seu grito e que precisa de outros galos para construir o futuro, futuro esse que costurado em conjunto como uma teia, por um e com todos. por esse motivo que dizemos que a liberdade de comunicao uma necessidade primordial da criatura chamada homem.Sendo assim, furtar do homem a sua liberdade de comunicar-se com seus pares no apenas um crime, mas uma tentativa de ir contra uma das suas necessidades mais nobres e pungentes. importante esclarecer que em plena vigncia do Estado Democrtico de Direito, ao tornar conhecidas suas opinies e idias, o homem exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5, da Constituio Federal. Relembrando que os referidos textos constitucionais so claros em dizer que: livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e " livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena" (inciso IX). Alm disso, cabe salientar que a proteo legal da comunicao por quaisquer meios tambm se constata na anlise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em apreo, quando sentencia que " inviolvel a liberdade de conscincia e de crena". O homem livre para sua expresso, pautando-se sempre na pureza de conscincia e verdade seja de fatos seja de suas crenas. Pois so essas caractersticas que fazem do homem sbio um animal racional, sbio. A propsito: crena e comunicao esto intimamente ligadas, pois um depende do outro. Na crena estamos e na comunicao nos mostramos. No h crena sem comunicao. No h comunicao sem crena. No h futuro sem comunicao. No h homem que no se comunique. No h homem sem comunicao. Quando nos comunicamos deixamos transparecer aos outros de nossa espcie nossos anseios, nossos desejos, nossos medos; enfim, o que somos e em que cremos. , no mnimo, interessante observarmos que, em um mundo como o nosso em que tantas pessoas tem ao seu dispor tantas tecnologias e mobilidade, falte a essas mesmas pessoas o bsico da boa comunicao: Convvio, conversa e comunho. Dentre os desafios que esto a nossa frente seria salutar a todos ns priorizarmos o estar com o outro para ouvi-lo e seu ouvido por ele, pois s assim alcanaremos a liberdade e o crescimento que tanto esperamos. Quem no se comunica no cresce, e quem no cresce definha.

Francikley Vito professor de Lngua Portuguesa e Teologia e ps-graduando em Comunicao & Cultura.