da escola pÚblica paranaense 2009 · somente ler, escrever, contar para os atos de aprender a...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

A UTILIZAÇÃO DA MÍDIA (VÍDEO) EM SALA DE AULA: A TV PEN­DRIVE.

Autor: Eliseu Engelmann1

Orientador: Marcos Luis Ehrhardt2

Resumo

A escola deve acompanhar as modificações da sociedade quando elas trabalham a favor do progresso do ensino. Isto ocorre também com relação à utilização da mídia (TV Pen­drive) em sala de aula, tecnologia que permite ao professor passar vídeos, imagens, fotos ou textos em slides na tela de uma TV, por meio de um pen­drive (dispositivo   “USB”   de   armazenamento   de   dados).   Observa­se   que   o   ensino   de História  e  de outras disciplinas poderia  aproveitar  muito  esta  tecnologia.  Vídeos, imagens, textos ou fotos, quando agregados aos conteúdos, enriquecem o estudo dos conteúdos, ou seja, incentivam, instigam os alunos, que passarão dos atos de somente ler, escrever, contar para os atos de aprender a raciocinar, refletir, pensar, tirar conclusões e resolver problemas. Os recursos tecnológicos podem auxiliar no desenvolvimento   e   no   aprimoramento   do   ensino­aprendizagem   do   aluno,   e   o professor terá ao seu alcance um expediente facilitador na assimilação de conteúdos e habilidades programados e planejados.

Palavras­chave: TV pen­drive; multimídia; História; tecnologia.

1 Introdução

A aula tradicional tem se mostrado, por diversas vezes, ineficiente 

quando se observa a fixação do conteúdo pelo aluno. Isto ocorre tendo em vista que 

estes seres estão vivenciando uma nova era, a era tecnológica, em que os mesmos 

1 Professor de História da Rede Pública Estadual/Toledo/PR, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Graduado em Filosofia pela Unioeste de Toledo.2 Professor da UNIOESTE, orientadora no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, durante o período de 2008­2009.

cresceram   vendo   nas   telas   de   computadores   ou   de   televisores   informações 

cercadas de novos métodos, armadilhas, sistemas e estratégias de persuasão de 

seus leitores ou telespectadores. Desta forma, a figura tradicional do professor não 

mais se mostra hábil para convencimento dos estudantes de que o que expõe em 

um simples quadro de giz, em livros didáticos, em textos impressos ou em simples 

aula expositiva é também relevante para suas vidas.

Diante deste novo cenário escolar, a escola, como centro formador 

das pessoas que é visto, deve se adaptar às novas tecnologias, até porque elas não 

vêm a prejudicar o aprendizado. No mínimo, só podem contribuir, já que os alunos 

são   diferentes   entre   si,   tendo   cada   um   sua  maneira   particular   de   apreender   o 

conteúdo e as mídias contribuem na diversificação de exploração dos mesmos. A 

sala de aula, então, passa a disponibilizar aos alunos os conteúdos na forma escrita, 

em imagens, vídeos, sons, estimulando todos os sentidos do ser humano que está 

em processo de aprendizagem e contribuindo para a mesma.

Tendo   em   vista   esta   nova   necessidade,   as   escolas   estaduais 

paranaenses oferecem ao professor  as  TV Pen­drives,  nas  quais  pode­se  exibir 

imagens, textos, vídeos e sons. Mas, em que pese ser uma ótima ferramenta ao 

educador,  muito deles não sabem aproveitá­lo em beneficio da compreensão do 

conteúdo. Desta forma, surgiu um preconceito quanto à mídia em sala de aula, pois 

muitos docentes utilizavam­na de forma a simplesmente “preencher” o  tempo em 

sala de aula. Entretanto, tal situação não pode permanecer e, por isto, percebe­se 

que os professorado necessita de instrução acerca das maneiras possíveis de se 

utilizar a TV Pen­drive em prol dos ensinamentos.

Neste artigo, pretende­se expor as diversas formas de utilização de 

um vídeo em sala de aula, especificamente quanto às aulas de História, tendo em 

vista ser esta uma disciplina que propicia grandes chances de manejo da mídia para 

despertar   a   curiosidade   do   aluno   sobre   a   matéria.   Assim,   o   texto   narra   a 

problemática da utilização do vídeo; as formas de exposição e seus efeitos; o porquê 

da utilização, o porém colocado de que a tecnologia, ainda que funcional, não é a 

solução de todos os problemas educacionais; falta de preparação dos professores 

para agregar a tecnologia à aula.

2 A tecnologia do vídeo na TV Pen­drive em aulas de História

Na   aula   tradicional,   o   professor   faz   uma   aula   expositiva, 

demonstrando   “seu   saber”.     Nesta,   os   alunos   podem   ficar   extremamente 

impressionados com o conhecimento do professor, porém, o contrário também pode 

acontecer e a aula será extremamente “chata”, desinteressante e cansativa. É claro 

que   aqui,   quanto   ao   conhecimento   do   professor   e   desconhecimento   do   aluno, 

postam­se as críticas do educador Paulo Freire, no sentido de que 

na “visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização   da   ignorância,   que   constitui   o   que   chamamos   de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. 3       

Os   diversos   métodos   de   ensinar   têm   duas   faces,   a   positiva   e 

negativa. Se o professor não souber usar os recursos para fazer a mediação com os 

conteúdos,   o  aluno  não  aproveitará   a   atividade  proposta.  Este  problema  ocorre 

principalmente quando estes recursos são inovadores, como é o caso da TV Pen­

drive, presente na maioria das salas de aula paranaenses e utilizada para exibição 

de slides e vídeos.  

Destaca­se   o   fato   de   que   o   vídeo   modifica   substancialmente   a 

relação   pedagógica   com   o   aluno.   Este   e   a   televisão,   estão   intimamente 

relacionados,  porque o aluno  fica muito   tempo  realizando atividades extra­classe 

pautadas nestes instrumentos de mídia (internet, tv e computador). Quando chega 

na escola, ele já esta íntimo destes equipamentos e com a linguagem apresentada. 

Segundo José Manuel Moran:

Antes   da   criança   chegar   à   escola,   já   passou   por  processos   de educação   importantes:   pelo   familiar   e   pela   mídia   eletrônica.   No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e emocionalmente, a criança   vai   desenvolvendo   as   suas   conexões   cerebrais,   os   seus roteiros   mentais,   emocionais   e   suas   linguagens.   [...].   A   criança também   é  educada   pela   mídia,  principalmente   pela   televisão. Aprende a informar­se, a conhecer os outros, o mundo, a si mesmo – 

3 FREIRE, 1987

a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo, ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, que lhe mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. 4

           Quando a escola coloca à disposição dos alunos a tecnologia, essa 

deve estar ligada à realidade sócio­econômica dos alunos. Entretanto, a escola deve 

saber que nem todos os alunos têm a sua disposição um computador e uma internet 

em suas  casas.  Por   isso,   toda ação  desenvolvida,   referente  aos  conhecimentos 

tecnológicos   junto   aos   alunos   deve   levar   em  consideração   essa  defasagem   na 

comunidade  e  propiciar   a   todos  a   inclusão,  de  uma   forma  ou  de  outra.   Litwin5 

assevera que é

(...) necessário reconhecer que não todos se encontram nas mesmas condições   de   acesso   à   tecnologia.   Hoje   em   dia,   a   alfabetização digital   é   um   requisito   cultural,   pelo   que   há   de   se   fazer,   tanto   o possível   como   o   impossível   para   diminuir   a   brecha   digital   que promova a inclusão e a democratização do conhecimento.   

A inclusão digital é assunto fértil e rende várias discussões. Isto se 

deve em parte pelo fato de a mesma ter influências de alguns fatores mundiais, tal 

como o capitalismo e sua influência no mercado de trabalho, campo a que estarão 

sujeitos   os   alunos   após   o   término   de   suas   fases   escolares.   É   exigência   das 

empresas, mantenedoras da mão­de­obra, que o empregado esteja preparado e em 

consonância com o mundo globalizado e minado de tecnologias. Virgínia Fontes6 

aponta que:

“(...)   a   expansão   do   capitalismo   conviveu   com   todas   as   formas mencionadas   de   segregação   e   de   exclusão.   Ao   generalizar­se   e universalizar­se a mercantilização da vida social, consolidou­se um espaço de pertencimento comum ­ o próprio mercado ­, para cuja formação   contribuíram   procedimentos   de   inclusão   forçada   e   de exclusão interna que se tornaram, de alguma forma, ‘naturalizados’”. 

Segundo Adam Schaff, atualmente podemos observar uma divisão 

clara – algo parecido com a incultura das massas e a cultura de um número ainda 

reduzido   de   pessoas   iniciadas   na   ciência   dos   computadores   –   entre   as   que 

conhecem  e   as   que   desconhecem   o   funcionamento  dos   computadores7.   Diante 

deste  cenário,  a   sociedade,  guiada  por   suas   instituições  maiores,  exige  que  as 

escolas   participem   da   preparação  do   indivíduo,   colocando   a   sua   disposição   os 

4 MORAN, 20075 LITWIN, 20096 FONTES, 1996, p. 197 SCHAFF, 1990, p. 49

instrumentos que lhe propiciem o preparo adequado a este novo mercado, a que 

todos pertencem. A instituição que propicia educação formal (pois existem muitas 

modalidades de educação) à população é considerada uma etapa da formação do 

indivíduo para sua existência e atuação no mercado, independente qual seja a área 

deste   mercado.   Assim,   a   tecnologia   é   exigida   do   futuro   trabalhador,   ainda   em 

formação neste período escolar, pois a mesma será  crucial a sua boa atuação e 

permanência  no  mercado.  A  discussão   limita­se,  então,   na  definição  do   caráter 

desta   tecnologia   no   ambiente   escolar,   que   não   deve   servir   somente   à   mera 

formação mercadológica, mas à formação pessoal do aluno. 

Outro   fator   importante  está   relacionado à   importância  que  muitas 

escolas dão à tecnologia como solução de todos os problemas da instituição e da 

própria educação. Segundo Litwin, não se deve:

(...)   colocar  a   tecnologia   como uma solução  mágica  de   todos  os problemas, nem concebê­la em relação causal com o êxito futuro. Não se converte, por simples introdução, no caminho mais direto e efetivo   para   alcançar   a   qualidade   educativa.   Distinguir   as   boas propostas   educativas   no   uso   das   tecnologias   de   outras   que   se vinculam   mais   aos   negócios,   reconhecer   o   valor   pedagógico   das diferentes propostas, em resumo: alcances, limites e possibilidades nos fazem desenrolar o fio do novelo que nasce nos sonhos bem­intencionados de muitos e atravessa um longo caminho até chegar, com sentido educativo, à sala de aula de todos. 8

Portanto, o professor deve também selecionar as tecnologias úteis 

para o processo ensino­aprendizagem. Fazer uso deliberado e  inconseqüente da 

mídia  em  sala   de  aula   pode   inverter   o   resultado   final   desejado  pelo   educador, 

prejudicando o andamento da classe e não realizando o plano de aula delineado.

O   alemão   Dieter   Prokop9  investiga   o   feitio   de   compreensão   do 

produto televisivo, indo além da manipulação da consciência. Analisa a situação do 

espectador   como   uma   tensão   constante   entre   “fascinação”   e   “tédio”   diante   do 

aparelho.  Podemos   considerar,   dessa   forma,   que   o  espectador   (aluno)   também 

vivencia essa situação de deslumbramento ao iniciar um vídeo, podendo ocorrer o 

contrário,   de   fastio   (aborrecimento)   em   caso   de   não   agrado,   compreensão   ou 

percepção da importância do conteúdo proposto.

8 LITWIN, 20099 PROKOP apud BITTENCOURT, 2009, p.  156

           Quando não há uma preparação e um encaminhamento por parte do 

professor devida da aula, o aluno, ao assistir um vídeo, automaticamente relacionará 

a aula ao lazer, um passa­tempo, uma “embolação” ou “tapa­buraco”. Não é esse o 

procedimento   correto   na   utilização   dessa   ferramenta   de   interação   com   os 

conteúdos.   As   várias   formas   de   aprender   estão   intimamente   relacionadas   à 

capacidade do professor interagir com seus alunos. José Manuel Moran10 exalta que 

este novo professor (que se alia às tecnologias) “será um professor que desenvolve 

situações   instigantes,   desafios,   solução   de   problemas   e   jogos,   combinando   a 

flexibilidade dos espaços e tempos individuais com os colaborativos grupais”, o que 

proporciona   o   estímulo   às   formas   visuais,   auditivas   ou   sinestésicas   de 

aprendizagem.

       O vídeo pode ajudar o professor em seu planejamento e sua relação 

pedagógica  com o  ambiente  escolar.  Para  exemplificar,   ao   trabalhar  o   tema  “O 

Feudalismo”,   o   professor   se   refere,   geralmente,   a   esse   período   da   História, 

descrevendo  e   relatando   os   seus   aspectos   fundamentais,   como  a   formação   do 

feudalismo, a sociedade feudal e sua economia, a cultura, a relação social, os seus 

castelos. Partindo do aspecto da arquitetura medieval tomamos o caso dos castelos. 

Um vídeo, mostrando os diversos castelos de várias épocas, identificando técnicas 

de construção estilos, funções, transformações na sociedade, contatos com outros 

povos, etc., pode servir de suporte para a ampliação dos conhecimentos do aluno. 

O vídeo será valorizado com a sua introdução como meio de fixação. 

É importante, contudo, que o professor tenha conhecimento amplo sobre o assunto, 

pois o aluno poderá  criar várias perguntas antes da avaliação final. Dentro desta 

temática, ainda, afirma­se que há várias formas de se trabalhar com mídia em sala 

de  aula,   em  que  o   vídeo  não   só   reforça,   não  é   apenas   ilustrativo.   Os   alunos, 

assistindo   ao   filme   com   um   roteiro   ou   atividade   a   cumprir,   podem   chegar   a 

conclusões muito mais profundas do que somente com uma aula expositiva,  por 

exemplo.  As práticas com a TV Pen­drive são variadas e dependem da escolha 

subjetiva,   calcada   em   situações,   requisitos   e   situações   reais   dos   alunos   em 

10 MORAN, 2005, p. 13

específico, para que surtam o efeito máximo desejado pela boa didática e prática 

pedagógica.

Litwin11 destaca que “a tecnologia posta à disposição dos estudantes 

tem por  objetivo desenvolver as possibilidades  individuais,   tanto cognitivas como 

estéticas, através das múltiplas utilizações que o docente pode realizar nos espaços 

de interação grupal”. Com a tecnologia à disposição dos estudantes, há, portanto, 

maior exigência em relação à prática pedagógica.

Com   todos   os   recursos   disponíveis,   para   muitas   escolas,   a 

tecnologia   pode   parecer   a   solução   de   todos   os   problemas.   Ledo   engano!   A 

sociedade tecnológica está em franco desenvolvimento e o caminho correto a ser 

percorrido tem que compreender a exigência de ensinar primeiro o professor, porque 

nem todos têm conhecimentos suficientes para interagir com os alunos. Porém há 

uma grande maioria que tem pavor de lidar com esses meios. Não basta colocar à 

disposição   dos   professores,   da   equipe   pedagógica   e   dos   alunos   uma   enorme 

quantidade de computadores, se os planejamentos da escola, como um todo, não 

contemplam a verdadeira prioridade que as tecnologias oferecem, qual seja, a de 

utilização eficiente como auxílio na transmissão dos conteúdos, de maneira mais 

atualizada, globalizada, abrangente e rápida.

Assim sendo, justifica­se a necessidade de discussão a respeito das 

TV­Pen­drive  e o  uso de mídias  em sala  de  aula,  quanto  mais  aos estudos de 

História,  pois,  caso estas   tecnologias  não  sejam bem utilizadas,  geraríamos um 

efeito contrário, em que as mesmas seriam rechaçadas do contexto escolar, pois 

nem alunos,  nem professores   teriam se  adequado  a  elas.  E,  então,  estaríamos 

perdendo uma grande oportunidade de melhorias e adequação do processo escolar 

ao mercado, mas não só com um objetivo de formar futuros trabalhadores, como de, 

principalmente, desenvolver um novo cidadão, que saiba se aliar às tecnologias em 

prol de sua melhor qualidade de vida social.                    

11 Apud SANTOS, 2009. 

3 O uso da tecnologia em sala de aula: histórico e professores despreparados

Qualquer  professor  que hoje  ministre  aulas  no  ensino  público  no 

Paraná   passou,   ou   passa,   pelo   questionamento   de   como   usar   a   tecnologia   da 

informática e da mídia (TV Pen­drive) em sala de aula. É uma técnica inovadora nas 

escolas públicas atuais e, como toda novidade,  traz  incertezas e medos em sua 

aplicabilidade perante os alunos de hoje, tão ávidos pelo que se passa no mundo 

(são   os   chamados   “nativos   digitais”,   por   Prensky12).   O   mesmo   autor   coloca   os 

professores como aqueles que chegaram à era digital como imigrantes digitais, e 

desta forma, “suas habilidades estão limitadas às tecnologias tradicionais”13 e ainda 

estão se  adaptando à  nova  realidade da escola.  Esta é  uma nova mudança do 

mundo escolar, que está constantemente em transformação quanto às pedagogias e 

didáticas de ensino. 

No início da educação no Brasil, o plano de instrução era baseado 

numa   formação   humanista   e   acrítica,   em   que   víamos   jesuítas,   principalmente, 

lecionando a cultura geral, enciclopédica e alheia à realidade da vida de Colônia, 

segundo Veiga14. Após muito tempo sem mudanças no ensino, por volta somente de 

1930,   iniciou­se  a   influência  da  Pedagogia  Tradicional,   que deu à  Didática  uma 

centralização no intelecto, sendo que a mesma passou a ser compreendida como 

um conjunto de regras que norteiam os professores e estes deveriam ser autônomos 

em  relação à  política  e  à   sociedade.  Como outra  etapa,   tem­se a   influência  da 

Pedagogia Nova, em que “o ensino é concebido como um processo de pesquisa”15 

acentuando­se o “caráter  prático­técnico do processo ensino­aprendizagem, onde 

teoria   e   prática   são   justapostas.”16.   Depois,   centrou­se,   através   das   influências 

pragmatistas,   nos   procedimentos   metodológicos   em   detrimento,   até   mesmo,   do 

conhecimento,   em   que   não   se   frisava   o   contexto   político­social.   A   Pedagogia 

Tecnicista também se fez presente quanto à sua influência na Didática, tanto que o 

12 Apud PERECIN, ___, p. 02.13 Ib, ibdem, p. 02.14 VEIGA, 1996, p. 26.15 Ib, ibdem, p. 26.16 Ib, ibdem, p. 31.

planejamento   didático   formal   foi   altamente   valorizado   nesta   época   (pós­1964), 

exaltando  o   formalismo  do  ensino.   Já   hoje,   tem­se  uma  educação   centrada  na 

questão da formação do homem, conforme Veiga17. E é assim, ao clarificar o papel 

sócio­político  do  ensino,   que  a  escola   tem buscado  se  aprimorar.  Dentro  deste 

contexto, entretanto, não se pode esquecer da força externa do mercado sobre os 

ideais educacionais. Ele tem força determinante sobre o Estado e, portanto, sobre as 

escolas   por   ele   administradas,   o   que   leva   a   esta   instituição   uma   tecnologia 

alicerçada no objetivo de formação mercadológica, o que deve ser evitado. Portanto, 

a   educação   centrada   no   homem   deve   ser   prioritária   e,   assim,   impor   que   a 

tecnologia, ainda que não “neutra”, seja paradoxalmente usada em nosso favor.   

Desta feita, o professor precisa se atualizar constantemente e deve 

aplicar   didaticamente   estas   novidades   ao   ensino,   para   que   tudo   se   transforme 

conjuntamente. Quanto à nova tecnologia da Tv Pen­drive, muitos professores não 

sabem, não querem ou têm medo de usá­la, por falta de conhecimento. Quanto a 

isto, vejamos o alerta de Karling, de que “por melhores que sejam os recursos, se o 

professor não os utilizar com habilidade e criatividade, pouco valor terão. Para saber 

utilizá­los, é preciso imaginação e treino”. 18 

Os professores ainda não estão capacitados totalmente para o uso 

da “pedagogia da tecnologia”, já que abrir mão de todo o aparato técnico sem ligá­lo 

ao que se passa em sala de aula, pode fazer com que os alunos se distraiam e não 

se focalize os conteúdos propostos. Como hoje os alunos exigem mais da aula e de 

seus ministradores, estes têm de estimular os vários sentidos do estudante, e não 

mais só a audição. A TV Pen­drive vem para auxiliar neste ponto. 

Os  professores  das  mais  variadas  disciplinas   têm uma variada  e 

ampla gama de opções de multimídias,  como os  vídeos,   textos,   imagens,   fotos, 

entre  outros  que podem auxiliá­lo  nas  mais  diversas atividades de   trabalho  dos 

conteúdos em sala de aula. O estudo dos conteúdos das variadas disciplinas por 

meio da exposição oral por parte do professor, tão somente, para alguns alunos é 

tedioso, pois não é suficientemente interessante, nem melhor do que ele tem acesso 

no   extrassala.   Deve­se,   então,   estimular   a   curiosidade   dos   mesmos   com   uma 

17 Ib, Ibdem, p. 38.18 KARLING, 1991, p. 254.

demonstração didática e metodologicamente estudada de multimídias na TV Pen­

drive da classe. Percebe­se que, quando o professor revela interesse pelo assunto e 

traz novos materiais para o convívio com o aluno, o estudante sente­se instigado e 

começa a responder, efetivamente, aos estímulos do professor. É aplicando novos 

métodos de ensino e alterando o foco para o aluno, retirando­o do professor, como 

único   ator   no   “cenário”,   que  a   relação   aluno­professor   cada   vez  mais   se   torna 

interessante e motivadora. E é esta modificação quanto às práticas de ensino que 

pode assustar os professores, pois, nem mesmo, sabem aliar o antigo processo de 

ensinar, calcado só  na exposição, às novas tecnologias, mormente as mídias, tal 

qual as que podem ser utilizadas na Tv­Pen Drive. Stahl19 pondera que: 

(...) os professores precisam entender que a entrada da sociedade na   era   da   informação   exige   habilidades   que   não   têm   sido desenvolvidas na escola, e que a capacidade das novas tecnologias de propiciar  aquisição de conhecimento  individual  e  independente, implica num currículo mais flexível, desafia o currículo tradicional e a filosofia educacional predominante, e depende deles a condução das mudanças necessárias. 

Segundo José Manuel Moran20, especialista em projetos inovadores 

na educação presencial e à distância, quanto à metodologia, o vídeo na sala de aula 

deve obedecer a vários critérios de aplicabilidade aos alunos, alertando quanto às 

diversas etapas de compreensão do método e seu uso. Para ele, existem várias 

propostas   de   utilização   do   vídeo   para   introduzir   um   novo   assunto,   despertar   a 

curiosidade, motivar ou ainda fixar e desenvolver uma nova forma de estudar, como: 

vídeo  como  ilustração,  sensibilização,  simulação,  produção,  conteúdo de ensino, 

avaliação, espelho, integração/suporte.

Mudar paradigmas é algo conflitante, mas necessário, neste caso. A 

adequação da escola ao meio em que está inserida deve ocorrer, porém isto deve 

se dar cautelosamente quanto ao modo de fazer, sendo que a tecnologia pode ser 

benéfica   e   muito,   se   didaticamente   bem   aplicada,   especialmente   ao   estudo   da 

História.  Adam Schaff21  profetiza:   “O certo  é  que quanto  mais sabemos sobre a 

realidade, mais claro será o horizonte da nossa ignorância.” 

19 STAHL,  ___, p. 0620 MORAN, 2007.21 SCHAFF, 1990, p.149.

4 Projeto de implementação pedagógica

Nas atividades realizadas com alunos,  foram implementadas duas 

formas de repassar um conteúdo. Na primeira, um texto que se referia à peste negra 

e suas consequências foi aplicado para que os alunos o lessem em grupo. Após a 

leitura,   aplicou­se   um   questionário   com   atividades   referentes   ao   assunto   com 

objetivo de fixação do aprendido.

Em um segundo momento desta primeira forma de implementar o 

conteúdo, foi passado um vídeo referente à peste negra e suas consequências e, 

depois, foi feita nova avaliação. A conclusão desta primeira forma foi muito positiva 

porque os alunos conseguiram relacionar o texto com o vídeo, o que proporcionou 

uma maior compreensão do conteúdo proposto.

Numa segunda forma de implementar o conteúdo, foi utilizado um 

vídeo referente à  arquitetura gótica e românica do período feudal. Depois que os 

alunos   assistiram   o   vídeo,   tiveram   que   responder   a   um   questionário   para 

compreender o conteúdo que estava inserido no vídeo. Ao terminar esta fase, um 

texto do mesmo conteúdo foi passado aos alunos para que pudessem ler em grupo 

e, depois, analisar as diferenças entre o vídeo e o texto. Também foi entregue um 

questionário referente ao texto para que os alunos pudessem fixar o conteúdo.

Utilizando­me de algumas das diferentes formas de se apresentar 

um vídeo em sala de aula, percebi que ambas foram produtivas. Tanto a primeira 

atividade   quanto   a   segunda   forma   de   trabalhar   texto   e   vídeos   são   muito 

interessantes, pois é um meio de fixar o conteúdo com maior compreensão, além de 

abarcar  os diversos  tipos de aprendizagem existentes  (visual,  auditiva,  sensitiva, 

entre outros). É evidente que o trabalho do professor é muito mais intenso, porque 

todas   as   aulas   devem   ser   preparadas   com  maior   cuidado   para   que   os   alunos 

realmente   tenham   maior   entendimento   do   conteúdo   e   que   tudo   não   passe   de 

simples “enfeite” da aula.

Utilizar o vídeo para introduzir um assunto pode ser essencial para 

turmas   que   necessitem   do   “lúdico”/visual   para   despertar   interesse.   Assim,   o 

professor, sabedor das características dos alunos de determinado grupo, deve exibir 

o   vídeo   anteriormente   ao   conteúdo   escrito   ou   expositivo,   caso   este   seja 

desinteressante à turma em um primeiro momento. Se os estudantes são dispersos 

e   não   se   prendem   à   aula   tradicional,   com   a   exposição   oral   do   professor,   por 

exemplo,   um   vídeo   na   Tv   Pen   drive   pode   ser   mais   chamativo   e   corretamente 

didático. Assim, desperta o interesse no aluno e o mestre consegue, então, centrá­lo 

e concentrá­lo naquilo que se pretende ensinar em momentos posteriores.

De forma inversa, o vídeo como mídia posterior ao já consolidado 

aprendizado  pode  ser  essencial   em uma aula  que  se  pretenda  apresentar  uma 

crítica diferenciada a certo conteúdo ou outra visão dele, para enaltecer o espírito 

questionador do aluno, por exemplo. Pode ser utilizado, ainda, para frisar o assunto 

ou expô­lo de modo a atingir as outras espécies de aprendizado existentes entre os 

estudantes, saneando assim qualquer falha que tenha ficado no processo ensino­

aprendizagem.

Assim   sendo,   procurei   me   utilizar   do   vídeo   das   mais   variadas 

formas: como introdução, como fixação e como comparativo a outros textos. Ambas 

foram hábeis, pois se avaliou, primeiramente, a turma, o conteúdo e a probabilidade 

em a atividade concretizar­se eficientemente. Então, após o devido planejamento, 

em consonância com o conteúdo a ser estudado, preparei o material, desde o vídeo 

até os questionamentos, podendo, então, auferir os resultados destas atividades, os 

quais se sagraram positivos.

A   crítica   que   se   pode   realizar   é   a   referente   ao   tempo   que   os 

professores  não  possuem para  planejamento  adequado  de  suas  aulas.  Quando 

muito,  os professores preparam suas aulas baseadas nos  livros didáticos ou em 

planejamentos de anos anteriores, eis que suas horas­atividade são insuficientes ao 

real  enquadramento  de  cada plano de aula  às  condições específicas  de   turmas 

específicas e particulares. Não é que não exista a preocupação ou vontade em se 

“modernizar” o ensino. Faltam o incentivo, a devida preparação e horas suficientes à 

pesquisa  e   idealização  da  aula.  Este  olhar   diferenciado   para   cada   turma   exige 

preparo didático, alguma experiência e paciência na pesquisa de vídeos adequados 

e   “certeiros”,   o   que   não   se   disponibiliza,   não   se   estimula   nem   se   ensina   aos 

professores.

Referências

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