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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

INCLUSÃO ESCOLAR: ENFRENTAR OS DESAFIOS E VIABILIZA R AÇÕES

Elaine Braun1

Nelba Maria Teixeira Pisacco2

Resumo

A inclusão é hoje um movimento mundial que se impõe, cada vez mais, no cotidiano escolar. Em decorrência disso a escola precisa se reestruturar para oferecer uma educação adequada às necessidades de todos os alunos, o que gera algumas dificuldades por parte dos profissionais envolvidos nesse processo. O presente trabalho objetivou investigar tais dificuldades, bem como possibilitar subsídios teóricos, fundamentação legal e sugestões de ações para inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais. A proposta foi desenvolvida, contando com a participação de 19 professores do Colégio Estadual Manoel Ribas, no município de Telêmaco Borba, durante o segundo semestre letivo de 2010. Com a opção metodológica da pesquisa-ação, foi realizado um levantamento de dados do contexto escolar, aplicado um questionário aos professores e equipe pedagógica, formação de grupo de estudos e intervenção pedagógica durante a hora atividade do professor. A discussão da temática também foi levada à 10 professores do Estado através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que auxiliou na construção do Caderno Pedagógico, utilizado como material de apoio nas intervenções ocorridas na escola. Durante a implementação, constatou-se que a escola não atende aos critérios contidos na inclusão e sim na inserção de alunos com necessidades educacionais especiais. Percebeu-se que as dificuldades encontradas são resultantes, em parte, do despreparo do professor e pela forma como acontece o processo educacional. Os dados demonstraram que a proposta interventiva desenvolvida na escola contribuiu para tornar mais compreensível aos professores o sentido da inclusão e sua viabilidade através da transformação da escola. Palavras chave : Inclusão. Necessidades Educacionais Especiais. Ensino Regular Abstract

Inclusion is now a worldwide movement that is imposed, increasingly, in the classroom. As a result the school must be restructured to provide an adequate

1 Professora PDE 2009 na área de Pedagogia. Pedagoga da Escola de Educação Especial São Geraldo – Telêmaco Borba - Pr 2 Orientadora PDE, Pedagoga, Mestre em Educação, especialista em Psicopedagogia, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa

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education to the needs of all students, which creates some difficulties for the professionals involved in this process. This study aimed to examine these difficulties and enable theoretical basis, rationale and legal actions suggestions for inclusion of students with special educational needs. The proposal was developed with the participation of 19 teachers from State College Manoel Ribas, in Telêmaco Borba, during the second semester of 2010. With the methodological approach of action research, a survey was conducted of data from the school context, a questionnaire to teachers and pedagogical staff, training and study group educational intervention during the activity hours of the teacher. The discussion of the issue was also brought to 10 teachers across the State of Working Group Network - GTR, who helped build the Teaching Dossier, used as support material in the interventions occurred at school. During implementation, it was found that the school does not meet the criteria contained in the inclusion but the inclusion of pupils with special educational needs. It was felt that the difficulties are due in part to the lack of preparation by the teacher and how does the process of education. The data showed that the proposed interventional developed in the school helped to make it more understandable to teachers the sense of inclusion and its viability through the transformation of the school. Keywords: Inclusion. Special Educational Needs. Regular Education

1 Introdução

Segundo a Declaração Mundial sobre a Educação para Todos

(UNESCO, 1998), a educação básica deve ser proporcionada a todas as

crianças, jovens e adultos. Para tanto, é necessário universalizá-la e melhorar

sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir desigualdades.

A educação para todos, na visão de Carvalho (2004), refere-se aos

movimentos de inclusão de todos em escolas de qualidade, independente de

suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras

e para garantir-lhes a permanência, bem sucedida, no processo educacional

escolar desde a educação infantil até a universidade.

A inclusão social e educacional é hoje, um movimento mundial que vem

se intensificando a partir da década de 90. No Brasil, a educação inclusiva se

materializa na transformação do sistema educacional em sistema educacional

inclusivo.

Ao repensar a escola como inclusiva, percebe-se que seu papel torna-

se cada vez mais amplo e abrangente, fator que exige o empenho não só dos

3

governos federal, estadual e municipal, mas de toda comunidade, na condição

de autores e atores de um projeto político pedagógico voltado para a qualidade

de respostas educacionais que beneficiem a todos os alunos, oferecendo aos

professores subsídios para reorganizarem sua prática pedagógica dentro deste

novo paradigma.

Nos dezoito anos de coordenação pedagógica em escola especial e no

acompanhamento de alunos com necessidades educacionais especiais no

ensino regular, constataram-se as dificuldades que os professores apresentam

no processo de inclusão. O argumento mais frequente dado por eles é de não

estarem e/ou não se sentirem preparados para esse trabalho.

Essa experiência profissional apontou a necessidade de possibilitar aos

professores, que atuam com alunos inclusos em suas salas de aula,

repensarem suas práticas docentes com vistas a superar suas resistências e

viabilizar ações efetivas de inclusão no contexto escolar.

A constatação da demanda, acima descrita, motivou a elaboração e

execução do projeto Inclusão Escolar: Enfrentar os Desafios e Viabilizar Ações,

no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, no período letivo de

2009-2011, de iniciativa da Secretaria de Estado de Educação do Paraná.

Consolidando estudos teóricos à prática, teve como objeto de intervenção o

Colégio Estadual Manoel Ribas, no município de Telêmaco Borba. O trabalho

envolveu pesquisa bibliográfica e de campo, elaboração e implementação de

um projeto de intervenção pedagógica na escola; construção de um Caderno

Pedagógico e tutoria de um Grupo de Trabalho em Rede – GTR.

A descrição da proposta e os resultados obtidos são o objeto de estudo

descrito neste artigo. Na primeira parte, encontram-se os subsídios históricos

das políticas, bem como conceitos e princípios da inclusão apresentados em

documentos nacionais e internacionais para um melhor atendimento do aluno

com necessidades educacionais especiais. Na segunda parte, descreve-se a

metodologia adotada e finaliza com análise e discussão dos resultados

alcançados durante a intervenção pedagógica do projeto na escola.

2 Aspectos históricos, políticos e legais da inclus ão escolar

4

2.1 Visão histórica

Na história da humanidade é frequente observarmos que muitas

condições sociais têm sido consideradas como deficientes, em função de

valores e de atitudes culturais específicas.

Assim, a problemática da deficiência reflete a maturidade humana e

cultural de uma comunidade.

Há implicitamente uma relatividade cultural que está na base do julgamento que distingue entre “deficientes” e “não deficientes”. Essa relatividade obscura, tênue, sutil e confusa, procura, de alguma forma, “afastar” ou “excluir” os “indesejáveis”, cuja presença “ofende”, “perturba” e “ameaça” a ordem social. (FONSECA, 1990, p.9).

Desde a seleção natural, para além da seleção biológica dos espartanos

que eliminavam as crianças malformadas ou deficientes, passando pelo

conformismo piedoso do Cristianismo, até a segregação e marginalização na

Idade Média, os estigmas sofreram alterações semânticas significativas.

Durante os séculos XVI e XVII, a mitologia, o espiritismo e a bruxaria

dominaram e afetaram a visão da deficiência, de onde decorreram julgamentos

morais, perseguições, encarceramentos, etc.; meios claramente

demonstrativos de valores de ordem social e de controle social.

A Revolução Francesa foi, neste sentido, um novo período em que as

atitudes filosóficas e antropológicas se conjugaram numa perspectiva mais

humanista da deficiência.

Porém, somente no século XIX é que se iniciam os primeiros estudos

científicos da deficiência, mais inclinados para a deficiência mental do que para

as outras deficiências.

Com o desenvolvimento de pesquisas na área da Medicina, um novo

enfoque passou a ser dado à deficiência, centrado em concepções clínicas que

se ocupavam da doença, dos tratamentos e da cura. Desse modo, pode-se

afirmar que as primeiras práticas científicas de atenção à pessoa com

deficiência tinham como finalidade sua segregação, em instituições, para

cuidado, proteção ou tratamento médico, caracterizando o paradigma da

institucionalização.

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O paradigma da institucionalização permaneceu como modelo de

atendimento até meados da década de 1950, quando surgiram inúmeros

movimentos sociais no mundo ocidental, decorrentes do clima de insatisfação

social, gerado após o término da Segunda Guerra Mundial. As principais

bandeiras ideológicas desses movimentos foram sintetizadas na Declaração

Universal dos Direitos Humanos, redigida sob o impacto das atrocidades

cometidas durante a guerra e apontam que a essência dos direitos humanos

está no direito a ter direitos.

Percebemos que durante muito tempo a perspectiva da deficiência

andou ligada a crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas. Estes

antecedentes da concepção de deficiência historicamente sustentados pela

sociedade não estão muito distantes da realidade atual, pois a falta de

conhecimentos acerca da questão e o preconceito em relação as pessoas com

deficiências ainda são causadores de atitudes de culpa, compaixão, desespero

e indignação.

No Brasil, segundo dados do IBGE (2000), são 24,5 milhões de pessoas

com deficiência, o equivalente a 14,5% da população do país, com as

seguintes deficiências: visual 48,1%, motora 22,9%, auditiva 16,7%, mental

8,3% e física 4,1%.

Recentemente foram divulgados os resultados da pesquisa sobre

Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela FIPE

(Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e pela FEA (Faculdade de

Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo). Os

indicadores revelaram forte presença de discriminação entre estudantes, pais,

professores, diretores e funcionários das escolas brasileiras, principalmente em

relação às pessoas com deficiência, com destaque para a deficiência

intelectual. Dados específicos demonstraram que 99,3% dos entrevistados têm

algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível

de distanciamento social das pessoas com necessidades especiais,

homossexuais, pobres e negros. Focalizando as pessoas com necessidades

especiais, os índices revelaram que 96,5% são alvos de preconceito. Desse

grupo, aquelas identificadas com deficiência intelectual são as que sofrem

maior preconceito, representando 98,9% das pessoas entrevistadas que

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preferem ter, em relação a elas, algum nível de distância social, seguido pelos

deficientes físicos (96,2%).

O estudo, pioneiro no Brasil, abre espaço para inferir que as escolas

são ambientes onde o preconceito está ativo e presente de modo generalizado,

uma vez que, a maioria informou ter de três a cinco áreas de preconceito,

sendo as pessoas com deficiência as mais afetadas. A realidade do

preconceito e da discriminação nas escolas já estava denunciada no discurso

dos que sofrem os seus efeitos no presente, dando continuidade aos séculos

de exclusão e marginalização social contra essa população específica.

A Educação de deficientes no Brasil iniciou em Instituições

Especializadas, na década de 50, sob a influência dos Estados Unidos. Nesta

época iniciou-se um movimento para a integração do deficiente em escolas

comuns, instalando-se as primeiras salas de recursos.

Nas décadas de 60 e 70, aumentaram os movimentos sociais que

mobilizaram pais e educadores, em decorrência da democratização da escola

às camadas mais desfavorecidas economicamente. Organizaram-se também

as primeiras associações de pais e pessoas com deficiência.

A partir da década de 70, os avanços nas áreas de Ciências Sociais e

nas teorias ambientalistas da Psicologia, passaram a considerar as origens dos

distúrbios e deficiências como, também, motivados por determinantes

socioculturais. Surgem então, os princípios de individualização, normalização e

integração, os quais buscavam ampliar as oportunidades de participação social

de pessoas com deficiência, oferecendo-lhes o convívio em ambientes os

menos segregadores possíveis.

O movimento pela integração de pessoas com deficiência, dominante nas décadas de 1970 e 80, teve grande importância histórica pela ruptura que promoveu de idéias e práticas cristalizadas acerca de sua ineficiência e incapacidade. Certamente, a principal delas foi a superação, definitiva, do caráter da incurabilidade como critério básico de todo tipo de deficiência. (MARCHESI e MARTIN, 1995 apud PARANÁ, 2006, p.23).

Na década de 90, com inspiração nos documentos internacionais como

a proposta de Educação para Todos (Jomtien - Tailândia) e a Declaração de

Salamanca (Espanha), abriu-se espaço para a ampla discussão sobre a

necessidade dos governos contemplarem, em suas políticas públicas, o

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reconhecimento da diversidade dos alunos e o compromisso em atender as

suas necessidades nos contextos escolares comuns.

Estabeleceu-se uma nova concepção de atendimento especializado que

se estende à diversificada rede de apoio dos recursos humanos, técnicos,

tecnológicos e materiais oferecidos, de modo a apoiar e complementar as

práticas do ensino comum, substituindo a idéia de que os serviços

especializados se resumem às classes e escolas especiais.

2.2 O momento atual

Nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (BRASIL, 2001),

consideram-se alunos com necessidades educacionais especiais os que, no

processo educacional, apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem

ou limitações para acompanhar as atividades curriculares (não vinculadas a

uma causa específica, ou relacionadas a condições, disfunções, limitações ou

deficiências), condições de comunicação e sinalização diferenciada dos demais

alunos, demandando uso de linguagens e códigos aplicáveis e altas

habilidades ou superdotação.

A proposta educacional escolar, inspirada pelo princípio de integração,

renova-se e avança em linhas de ação que conduzem a uma escola inclusiva.

Apesar das mudanças nas concepções e nas leis que fundamentam as

políticas públicas, ainda permanece a hegemonia por parte da iniciativa privada

na oferta da Educação para o aluno com necessidades educacionais especiais,

o qual, como destacam as Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a

construção de currículos inclusivos/Paraná:

[...] encontra sustentação no pensamento neoliberal, que preconiza a organização autônoma da população na formação de associações privadas, de tal modo que estas, ao se responsabilizarem por serviços de atendimento de setores da sociedade, através de ações (assistenciais, filantrópicas, comunitárias) de “parceria, colaboram para o afastamento gradativo do Estado da responsabilidade sobre várias questões (obrigações) sociais (daí a força das instituições privadas)”. (KASSAR, 1998, apud PARANÁ, 2006, p.28).

A Política Nacional de Educação Especial proposta pelo Ministério da

Educação apresenta as diretrizes político-pedagógicas que contribuem para a

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organização do sistema de ensino, embora ainda sob a perspectiva da

integração.

O Parecer CNE/CEB nº 13/2009 (Brasília, 2009) trata das diretrizes

operacionais para o atendimento educacional especializado para os alunos

com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação matriculados em classes regulares e no atendimento educacional

especializado. O documento aborda exclusivamente o atendimento educacional

especializado - AEE, a ser oferecido tanto pelas escolas públicas como pelas

entidades filantrópicas sem fins lucrativos, com recursos do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB.

Embora esses dois documentos proporcionem o direcionamento teórico

para o atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, a

prática cotidiana ainda não se apoderou de seus preceitos.

Conforme Mantoan (2006, p.31):

Os caminhos propostos por nossas políticas de educação continuam insistindo em apagar incêndios. Elas não avançam como deveriam, não acompanham as inovações e não questionam a produção da identidade e da diferença nas escolas. Continuam mantendo um distanciamento das verdadeiras questões que levam à exclusão escolar.

A exclusão escolar, segundo a mesma autora, manifesta-se das mais

diversas formas, e quase sempre o que está em jogo é a ignorância do aluno

diante dos padrões de cientificidade do saber. A escola se democratizou,

abrindo-se para novos grupos sociais, mas não aos novos conhecimentos. Por

isso exclui os que ignoram o conhecimento que ela valoriza e, assim, entende

que a democratização é massificação de ensino.

Faz-se necessário diferenciar os termos integração e inclusão na busca

de entender melhor esse processo. A Integração refere-se a intervenções

necessárias para o aluno com necessidades especiais acompanhar a escola; o

trabalho é feito individualmente com a criança e a escola fica fora do debate. A

escola não muda como um todo, mas os alunos têm que mudar para se

adaptar às suas exigências. A Inclusão é o oposto, tem outro movimento: o de

achar o currículo correto, encontrar caminhos para incluir o aluno. Está voltado

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para atendimento às necessidades do aluno. O princípio fundamental é a

valorização da diversidade ( MANTOAN, 2006).

A educação inclusiva abandona a idéia de que o aluno tem que ser

“normal” para contribuir e participar. Todos os alunos, sem exceção, devem

frequentar as salas de aula do ensino regular. Implica uma mudança de

perspectiva educacional, porque não atinge apenas os alunos com deficiência

e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que

obtenham sucesso na corrente educativa geral.

Embora os termos integração e inclusão tenham significados

semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes

e se fundamentam em posicionamentos teórico-metodológicos diferentes.

No entanto, a inclusão não pode depender apenas dos documentos que

a legitimem e lhe dão suporte legal, é necessário que os professores, atores

fundamentais para o desenrolar do processo, sintam-se capazes de responder

às tarefas que decorrem da inclusão.

2.3 Estratégias pedagógicas

Atitudes facilitadoras de inclusão implicam, por conseguinte, que os

professores trabalhem em conjunto e em cooperação e que perspectivem a

escola para todos os alunos, partindo do princípio de que não há um aluno-

padrão, como normalmente a formação de professores trabalha.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a

Construção de Currículos Inclusivos (Paraná, 2006), encontramos três

tendências sobre o modo de pensar e praticar a inclusão nos sistemas

educacionais:

• Inclusão Condicional – é a forma mais conservadora de todas as

tendências. Ouve-se afirmações do tipo “se todos os professores forem

capacitados antes”, “quando todas as escolas estiverem adaptadas”,

“apenas se diminuírem o número de alunos por turma”, “se eu tiver um

especialista como auxiliar”. São afirmações que remetem a um futuro

incerto e que, pela impossibilidade de concretizar-se a curto prazo,

inviabiliza o direito de acesso e permanência desses alunos à escola.

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• Inclusão Total ou Radical: defende a inclusão irrestrita a todos os alunos

no ensino regular, que deverá adaptar-se às particularidades de todos

os alunos. Acredita em uma reforma educacional mais ampla.

• Inclusão Responsável: vista como uma forma de repensar e reestruturar

políticas e estratégias educativas, de maneira a criar oportunidades

efetivas de acesso para crianças e adolescentes com necessidades

educacionais especiais, e, sobretudo, garantir condições indispensáveis

para que possam se manter na escola e aprender. Conta com uma rede

de apoio aos educadores, alunos e familiares.

Esta última tendência é preconizada atualmente pela SEED do Paraná.

O processo de inclusão escolar provoca o surgimento de várias

expectativas a respeito da efetivação, na prática, de uma escola pública de

qualidade para todos. Exige planejamento e mudanças sistêmicas político-

administrativas na gestão educacional, que envolve desde destinação de

recursos até a flexibilização curricular.

O papel do professor se torna relevante nesse processo, porém

conforme Paraná (2006, p.41):

A resistência dos professores em relação à proposta de inclusão

escolar pode ser motivada pela insegurança de não corresponder às expectativas, ao fato de não terem sido preparados para lidar com esses alunos, ou por razões menos nobres como o preconceito e a discriminação.

Deve-se considerar que, atualmente, qualquer alusão à educação de

alunos com necessidades educacionais especiais depreende uma

interpretação essencialmente pedagógica. Estando ou não em situação de

deficiência, em qualquer área ou qualquer outro problema de aprendizagem, é

fundamental que o professor tenha em mente que se trata de um sujeito social,

historicamente situado, com interesses e necessidades relativos à sua faixa

etária e que tem direitos e deveres, entre os quais o do acesso à educação

escolar, como qualquer outro aluno.

Segundo Carvalho (2004, p.48):

Estamos, pois, num momento muito sério em termos de decisões e de ações; o avanço das idéias e dos ideais precisa concretizar-se no cotidiano das escolas sem desmontes, sem medidas apressadas e sem perpetuação do estatuído e que não deu certo.

11

A escola somente irá atender à diversidade de necessidades, de acordo

com Ribeiro e Baumel (2003, p.16), se forem equacionados os seguintes

aspectos:

• Ter um currículo global e flexível, de modo que todas as necessidades

de todos os alunos possam encontrar nele resposta adequada.

• Dotar as escolas com recursos contínuos (físicos, pedagógicos,

didáticos, humanos), para atender as constantes necessidades dos

alunos e proporcionar efetivo acesso ao currículo.

• Fazer diagnóstico sistemático e adequado das características e

necessidades dos alunos, com particular ênfase em eventuais

desajustes entre a situação proposta e os estilos de aprender, para

servir de base e fundamento a propostas curriculares e metodológicas,

bem como a ajustamentos no decorrer do próprio processo de ensino-

aprendizagem.

• Ter equipe multiprofissional de apoio ao professor do ensino regular.

Portanto, pretende-se, que a homogeneização dê lugar à

individualização do ensino, na qual os objetivos, a seqüência e

ordenação de conteúdos, o processo de avaliação e a organização do

trabalho escolar em tempos e espaços diversificados contemplem os

diferentes ritmos e habilidades dos alunos, favorecendo seu

desenvolvimento e sua aprendizagem.

De acordo com Marquezine (2003, p.21), podemos apontar alguns

aspectos que se requer do professor ao se trabalhar com a inclusão:

• Maturidade em busca de um trabalho efetivo, de uma vivência para a

construção do conhecimento.

• Capacidade de desenvolver recursos próprios para lidar com a

frustração de estar limitado quanto às possibilidades.

• Conhecer o aluno para educá-lo.

• Conhecer como aprende para ensiná-lo.

• Saber quais aprendizagens estão construídas neste sujeito.

• Saber quais marcas estão definindo suas escolhas.

• Estar disposto a vincular-se ao sujeito.

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• Ter possibilidade para vínculo afetivo.

• Ter disponibilidade para aceitação do outro em sua maneira de ser.

• Ter flexibilidade para avaliar sua própria trajetória como educador e

mudá-la, se necessário for.

3 Metodologia

O Projeto de Intervenção Pedagógica, Inclusão Escolar: Enfrentar os

Desafios e Viabilizar Ações, foi implementado no Colégio Estadual Manoel

Ribas, no município de Telêmaco Borba, durante o segundo semestre do ano

letivo de 2010.

A opção metodológica foi da pesquisa ação, pois interviu na prática

durante a própria pesquisa.

Segundo Engel (2000, p.182):

A pesquisa ação procura unir a pesquisa à prática. [...} É portanto, uma maneira de fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja melhorar a compreensão desta. [...] É hoje aplicada amplamente na área de ensino. [...] Instrumento ideal para uma pesquisa relacionada à prática.

Para tanto, a construção desse trabalho final do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, deu-se através de várias etapas que

foram aqui contempladas compreendendo as seguintes atividades:

3.1 Projeto de intervenção pedagógica na escola

O projeto de intervenção pedagógica3 na escola teve como tema a

inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais,

possibilitando aos professores subsídios teóricos, fundamentação legal e

sugestões de ações.

Como etapa preliminar, buscou-se traçar um diagnóstico da realidade

escolar, com vistas a obter subsídios para a organização do trabalho, por meio

3 Projeto de intervenção pedagógica disponibilizado para os professores cadastrados no Dia a Dia Educação – Portal Educacional do Estado do Paraná: http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/ no sacir.

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de: levantamento dos alunos com necessidades educacionais especiais da

escola e rede de apoio existente no município junto a equipe de educação

especial do NRE de Telêmaco Borba, verificação das dificuldades encontradas

pelos professores na inclusão dos mesmos, e a busca do referencial teórico

para fundamentar os estudos da temática em questão. Essas primeiras ações

foram fundamentais para o desdobramento das etapas subsequentes, tais

como: produção didático-pedagógica e implementação do projeto de

intervenção pedagógica na escola.

3.2 Produção didático-pedagógica

Refere-se ao material didático elaborado como estratégia de apoio e

orientação para intervenção do projeto na escola.

Foi construído no formato de Caderno Pedagógico4, contendo referencial

teórico e sugestões de atividades. Organizado em quatro partes, uma para

cada encontro:

- no primeiro encontro “Conhecendo melhor o tema”, ofereceu uma visão

geral sobre as concepções e processos de inclusão;

- a caracterização dos alunos foi abordada no segundo encontro “quem

são os alunos com necessidades educacionais especiais”;

- o terceiro encontro “adaptação curricular” tratou do atendimento e

práticas educativas a serem desenvolvidas pelos professores que trabalham

com esses alunos;

- o quarto encontro “exercitando estratégias inclusivas”, analisou estudo

de casos, identificando suportes necessários e trata das adequações

curriculares nas práticas dos professores em sala de aula para favorecer a

inclusão.

Este material objetivou trazer discussões a respeito da temática na

escola, bem como ampliar as possibilidades reais de desmistificação da

inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais.

3.3 Tutoria do Grupo de Trabalho em Rede – GTR

4 Produção didático-pedagógica disponibilizado para os professores cadastrados no Dia a Dia Educação – Portal Educacional do Estado do Paraná: http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/ no sacir.

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O Grupo de Trabalho em Rede – GTR5 é parte integrante do Plano

Integrado de Formação Continuada do PDE, possibilitou a inclusão dos

professores da rede nos estudos, reflexões, discussões e produções

realizadas.

A tutoria deste GTR, caracterizou-se pela interação virtual entre o

professor PDE e 10 (dez) professores, todos os participantes eram do sexo

feminino e profissionais da Educação Especial, de 7 (sete) municípios do

Estado, entre eles: Telêmaco Borba, Piraquara, Curitiba, Sertanópolis, Faxinal,

Londrina e Rio Bonito do Iguaçu.

As discussões do grupo referentes à temática em foco, vieram

(re)afirmar as idéias propostas no projeto de intervenção e auxiliar na

construção da produção didático-pedagógica.

3.4 Implementação do projeto de intervenção pedagógica na escola

A intervenção pedagógica aconteceu no Colégio Estadual Manoel Ribas

– Ensino Fundamental e Médio, no município de Telêmaco Borba, durante o

segundo semestre do ano letivo de 2010. Envolveu a professora autora PDE,

professores, equipe pedagógica e alunos com necessidades especiais inclusos

da escola.

Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado um levantamento de

dados do contexto escolar, formação de grupo de estudos e intervenção

pedagógica durante a hora atividade do professor.

Foi aplicado um questionário ( Anexo 1) à 19 (dezenove) professores da

escola com a pretensão de investigar as dificuldades encontradas frente à

inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais.

Os grupos de estudos aconteceram em dois encontros:

- No primeiro encontro contamos com a participação de 19 (dezenove)

professores onde foram trabalhados conteúdos sobre a concepção de

5 Orientações sobre o GTR estão disponibilizadas no Dia a Dia Educação – Portal Educacional do Estado do Paraná: http://www.pde.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/PDE%202010/documento%20sintese/documento_sintese.pdf

15

deficiência, política, conceito de inclusão e de necessidades educacionais

especiais,

- No segundo encontro houve a participação de 15 (quinze) professores

onde foram abordados conteúdos sobre a rede de apoio existente, práticas

educativas como: registros, estratégias e recursos. As discussões desse

encontro se deram através dos depoimentos de alunos, em todas as categorias

de deficiência, já inclusos na rede estadual de educação. Esses depoimentos

encontram-se registrados na parte II do Caderno Pedagógico.

4 Análise e discussão dos resultados O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE proporcionou o

retorno às atividades acadêmicas, oferecendo condições de atualização e

aprofundamento dos conhecimentos teórico-práticos, permitindo a reflexão

teórica sobre a prática possibilitando mudanças no cotidiano escolar.

No percurso do estudo percebeu-se que, apesar da inclusão do aluno

com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino ser

garantido por lei, isso não foi suficiente para garantir a construção e o

desenvolvimento de um sistema educacional inclusivo. Para tanto, é necessário

ainda que a comunidade escolar se disponha a aceitar e a participar desse

processo, que é mais complexo do que somente inserir o aluno com

deficiência, fisicamente, numa sala de aula.

Através das contribuições elucidadas pelo grupo GTR nos textos dos

diários e fóruns postados pelos participantes, podemos dizer que:

a) Foram grandes os avanços conquistados pela Educação Especial ao

longo da história, especialmente nos últimos vinte anos.

b) O movimento de transformação não pode ser imposto, mas também

não pode depender exclusivamente de decisões pessoais e das reações

emocionais de um ou outro profissional. Inicia-se na atuação dos dirigentes

educacionais e alicerça-se nas ações dos professores que, como líderes, são

agentes de essencial importância na transformação desse sistema em sistema

educacional inclusivo.

c) A política adotada pelo Estado do Paraná é denominada de Inclusão

Responsável, com ela se pretende garantir oportunidades efetivas de acesso

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aos alunos com necessidades especiais, criando condições indispensáveis

para que possam se manter na escola e aprender, sendo a qualidade um dos

principais objetivos.

d) Foi unânime a opinião do grupo, que o projeto apresentado, vem

colaborar com o processo de inclusão, viabilizando estratégias de formação

continuada aos professores, subsidiando discussões a respeito, buscando

alternativas que possibilitem a efetivação de uma Escola para Todos.

Destacamos alguns comentários do grupo:

“Acredito que é extremamente necessário a troca de experiências entre professores com formação na educação especial e professores do ensino regular. É por meio desta troca que nossos alunos inclusos terão oportunidade de receber o atendimento diferenciado que tanto defendemos”. (Prof. GTR 1, 2010)6. “Seu projeto está maravilhoso. Com bastante fundamentação para a formação docente e atividades que nos fazem refletir sobre a importância da real inclusão. Partindo do conhecimento sobre o tema e investigação dos alunos inclusos, as adaptações curriculares pertinentes para cada necessidade educacional, bem como as instruções normativas para a prática, para concretizar a inclusão. Pena que a inclusão, apesar de se falar há muitos anos, ainda não ocorre como deveria, pois há poucos docentes preparados para esse fim. Necessita formação em massa e as escolas devem estar adaptadas para recebê-los”. (Prof. GTR 2, 2010). “É bastante esclarecedor, acho que mais professores do ensino regular deveriam estar participando deste GTR para que pudessem trabalhar em seus ambientes tranquilamente e fazer da inclusão um processo natural e não obrigatório como vem sendo tratada”. ( Prof. GTR 3, 2010).

Na implementação do projeto, alguns resultados se destacaram no

questionário, Anexo 1, aplicado aos professores e equipe pedagógica da

escola.

Na questão 1, que trata das características pessoais e profissionais, o

quadro nos mostra que a maioria dos professores já possuem uma longa

caminhada na educação e que poucos possuem em sua formação a

preparação para a inclusão de alunos com necessidades educacionais

especiais (GRÁFICO 1).

6 Para preservar as identidades dos participantes, optou-se em codificá-los da seguinte forma: para os professores do Grupo GTR o código será Prof. GTR e numerais de 1 a 10 e para os professores do grupo de intervenção da escola será Prof. e numerais de 1 a 19.

17

GRÁFICO 1 : Características pessoais e profissionais dos professores (Colégio Estadual Manoel Ribas, Telêmaco Borba – 2010). Fonte: A autora

No dia a dia da escola parece existir uma correlação muito forte entre a

formação dos docentes e a inclusão escolar.

Para Mantoan (2006), o argumento mais freqüente dos professores é de

não terem sido preparados para a inclusão.

Acreditam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar alunos com deficiência ou dificuldade de aprender referem-se primordialmente à conceituação, à etiologia, aos prognósticos das deficiências e dos problemas de aprendizagem; e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses alunos, se tiverem de “aceitá-los” em suas salas de aula. Querem obter o mais rápido possível, conhecimentos que resolvam problemas pontuais a partir de regras gerais.

Esta questão se enfatiza quando lhes questionamos sobre as condições

que consideravam mais relevantes, por ordem de prioridade, para que a

inclusão se efetive nas escolas regulares (Tabela 1).

Condições para que a inclusão se efetive Vezes citada como prioridade

%

Formação específica para trabalhar com alunos com

N.E.E.

8 42%

Técnicos especializados (professores, psicólogos,

terapeutas)

5 26%

18

Atitudes do professor 3 16%

Avaliação e acompanhamento do aluno 2 11%

Colaboração entre os professores 1 5%

Metodologias de ensino 0 0%

Materiais e recursos 0 0%

TABELA 1 – CONDIÇÕES PARA A INCLUSÃO ESCOLAR, POR ORDEM DE PRIORIDADE – COLÉGIO ESTADUAL MANOEL RIBAS – TELÊMACO BORBA – PR – 2010.

Os professores esperam uma formação para ensinar os alunos com

necessidades educacionais especiais, que lhes permita aplicar esquemas de

trabalho pedagógico predefinidos, em suas salas de aula, garantindo-lhes a

solução dos problemas que presumem encontrar nas escolas inclusivas. Vêem

fora de si as condições de trabalhar com a inclusão.

Ressalta-se que para ensinar numa perspectiva inclusiva, é preciso

ressignificar o papel do professor, da escola, da educação e de práticas

pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso ensino.

Segundo Carvalho (2003), quando se pensa em espaço escolar, a

primeira ideia que se tem são as suas dimensões físicas. Excluindo-se desse

espaço outra dimensão, que compreende as atitudes daqueles que transitam

no dia a dia, no interior da escola. Esse espaço é difícil de ser quantificado,

pois envolve elementos não mensuráveis como conhecimentos, experiências,

sentimentos e filosofia de educação. Portanto, trata-se de um espaço

extremamente complexo, impregnado de regras e valores nem sempre

consensuais.

Perceberam-se esses sentimentos contraditórios pelo grupo de

professores entrevistados quando escolheram a alternativa que melhor

expressa a sua idéia de inclusão escolar. ( Tabela 2)

Inclusão Escolar CT CP I DT DP

a) A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular contribui para que os outros alunos assumam condutas inadequadas.

0 7 2 8 2

b) O aluno com necessidades educacionais especiais não pode enfrentar os mesmos desafios colocados para os demais alunos da turma.

2 6 1 5 4

c) É difícil manter a ordem numa sala de ensino regular que possua alunos com necessidades educacionais especiais incluídos.

1 10 1 4 2

d) Normalmente os alunos com necessidades educacionais especiais comportam-se adequadamente no ensino regular.

1 10 3 0 3

e) A eficácia do professor fica reduzida quando precisa trabalhar com diferentes níveis de aprendizagem.

5 5 2 4 3

19

f) Os professores de Educação Especial deveriam apoiar os seus colegas professores e não diretamente os alunos.

4 8 0 2 4

g) Os alunos com necessidades educacionais especiais obteriam mais resultados se freqüentassem apenas instituições de Educação especial.

4 2 0 6 5

h) A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular obriga a alteração das atividades normais em sala de aula.

9 5 1 2 1

i) Todos os alunos, quaisquer que sejam as suas necessidades educacionais, tem o direito de freqüentar o ensino regular.

6 8 0 1 3

j) A atenção que requerem os alunos com necessidades educacionais especiais não prejudica o sucesso dos outros alunos da turma.

5 6 1 2 4

k) Os que estão a favor da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, na realidade estão pouco interessados em melhorar a qualidade do ensino.

1 7 2 8 1

l) A presença de um aluno com necessidades educacionais especiais em turmas do ensino regular proporciona novas situações de aprendizagem para todos os alunos.

10 7 0 1 0

m) Incluir na turma regular alunos com necessidades educacionais especiais ocasiona mais benefícios do que problemas.

1 10 1 1 5

n) Sem formação especializada, dificilmente o professor do ensino regular poderá dar resposta adequada aos alunos com necessidades educacionais especiais.

11 6 0 0 1

o) Nas classes regulares os alunos com necessidades educacionais especiais podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem, pois tomam como estímulo e modelo os alunos ditos “normais”.

0 10 0 2 6

p) A heterogeneidade das turmas é fator de insucesso escolar.

2 1 4 10 2

TABELA 2_ ALTERNATIVAS QUE MELHOR EXPRESSAM A INCLUSÃO ESCOLAR – COLÉGIO ESTADUAL MANOEL RIBAS – TELÊMACO BORBA – PR – 2010. LEGENDA CT = concordo totalmente CP = concordo parcialmente I = indiferente DT = discordo totalmente DT = discordo parcialmente

Nas respostas apresentadas na Tabela 2, identifica-se um discurso a

favor da inclusão, mas diferenças na prática. Muitas das respostas mais

votadas pelo grupo de professores se contradizem.

A escola, como espaço de todos e para todos, precisa priorizar

alternativas de acesso e permanência, proporcionando aos alunos

possibilidades de aprendizagem. Para que isso aconteça de fato é necessário

um esforço mútuo de todos os profissionais na busca pelo aprimoramento da

prática educativa.

São muitos os conteúdos curriculares a serem atingidos durante o ano

letivo, que tornam professores e alunos reféns de um programa que abre pouco

espaço para a individualidade do aluno. A escola trabalha com um padrão de

aluno e quem não se encaixa nele fica de fora.

20

Algumas respostas (sem identificação) dos professores aos

questionários, anexo 1, podem ilustrar tal discussão:

“Não consegui adaptar minhas aulas à necessidade desse aluno bem como atividades, avaliações e até mesmo explicações do conteúdo”.” (Prof. 1). “Devemos estudar mais esse lado humano, pois a falta de interesse é muito grande da nossa parte”. (Prof. 2). “Alguns colegas julgam os alunos inclusos como coitados e ao invés de fazer um trabalho diferenciado (avaliações), acabam facilitando, quando não muito contando as respostas”. (Prof. 3).

Assumir a inclusão escolar pressupõe tratar de questões relacionadas à

diversidade social, a diferença, logo, de preconceitos culturais. Pressupõe

também pensar em termos legalistas. O direito à educação para todos e o

respeito às diferenças já estão garantidos desde a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, mas a partir da década de 90 que entra em

ascensão.

Tais conquistas são definidas, cada vez mais, por instrumentos

elaborados pelo MEC/SEED/NRE. Quanto ao acesso a este material por parte

dos professores obtivemos o seguinte resultado (Gráfico 2)

GRÁFICO 2: Acesso aos documentos do MEC/SEED/NRE sobre inclusão (professores do Colégio Estadual Manoel Ribas, Telêmaco Borba – 2010).

Fonte: Questão no 4 letra c, do questionário (Anexo 1).

21

Constatou-se, pelas respostas dos professores, que aqueles que

conhecem os instrumentos normativos para inclusão ainda não os vivenciam

na prática.

No entanto Mantoan (2006, p.32) nos afirma que:

nem sempre levamos a sério nossos compromissos neste e em outros momentos de nossa história educacional. Desconsideramos o que nós mesmos dispusemos a realizar quando definimos nossos planos escolares, nosso planejamento pedagógico, quando escolhemos as atividades que desenvolveremos com nossas turmas e avaliamos o desempenho de nossos alunos e o nosso como professores. Uma coisa é o que está escrito, e outra é o que acontece, de fato, nas salas de aula, no dia-a-dia, em nossas rotinas de trabalho. Somos certamente, bem pouco sinceros com nós mesmos, com a comunidade escolar, com os pais e com nossos alunos! Por isso, podemos ter propostas educacionais avançadas sem precisar “suar a camisa” para colocá-las em ação”

Outra dificuldade apontada por grande parte dos professores foi o

número excessivo de alunos na sala de aula prejudicando o trabalho junto aos

alunos com necessidades educacionais especiais. A partir disso, consideramos

válida a citação registrada de Mantoan, nos parecendo haver um descrédito

naquilo que está escrito e que nos serve de norma. O artigo 11, item IV da

deliberação 02/03 nos garante a redução de número de alunos por turma, com

critérios definidos pela mantenedora, quando estiverem nela incluídos alunos

com necessidades educacionais especiais.

Durante o período de implementação do projeto prestou-se assessoria à

escola e junto com a equipe pedagógica buscou-se toda a documentação

necessária para fazer a redução do número de alunos da turma onde estava

inserido um aluno com TGD (Transtorno Global do Desenvolvimento) e para o

ano letivo de 2011 esta turma já iniciou com um número reduzido de alunos.

Isto prova que muitas vezes as coisas não acontecem porque há um espaço

entre o que está escrito e o que colocamos em prática; e por vezes utilizamos a

expressão errônea “é bonito só no papel”.

Essa questão do cumprimento de planejamentos, não cabe só à escola

e profissionais que nela atuam, ela diz respeito também aos dirigentes da

educação. No decorrer do trabalho de intervenção, houve alteração do

calendário escolar, por determinação do NRE, o que ocasionou a redução da

22

carga horária planejada para a realização dos grupos de estudos no trabalho

de intervenção.

No entanto, realizamos dois encontros para os grupos de estudos, com o

objetivo de atualizar e orientar os professores e equipe pedagógica sobre as

questões relacionadas à inclusão, tendo como subsídio o Caderno Pedagógico

elaborado no segundo período do PDE.

Esse momento da intervenção foi bastante interessante, pois se

caracterizou num espaço rico de interação entre os professores, em que se

aproveitou para esclarecer dúvidas e pensar em propostas educacionais

alternativas.

Notou-se ainda, a importância de se realizar esses momentos no

cotidiano escolar, para que os professores possam refletir sua prática e

reconhecer a importância do seu papel, tanto na construção do conhecimento

como na formação de atitudes e valores de cidadão. Os encontros devem ser

organizados a partir dos interesses e necessidades comuns dos professores,

dos problemas reais do dia-a-dia, incentivando-os a interagirem com os

colegas, a estudar juntos e a colaborar na busca dos caminhos pedagógicos da

inclusão.

Para tentar colocar em prática os estudos e discussões realizados nos

encontros, foi prestada assessoria na hora atividade para os professores que

desejassem. Houve interesse por parte dos professores das disciplinas de

Português e Matemática, levantando principalmente a dificuldade do registro da

adequação de conteúdos e avaliação. Para tanto, apresentamos e orientamos

os professores na elaboração do Relatório Individual de Adaptações

Curriculares, modelo fornecido pela equipe de Educação Especial do NRE. O

modelo encontra-se na parte III do Caderno Pedagógico.

Em síntese, o trabalho de implementação do projeto de intervenção

pedagógica , veio confirmar que é urgente e necessário que melhore as

condições da escola para que de fato se efetive a inclusão de alunos com

necessidades especiais no ensino regular. O que ainda estamos vivenciando

não atende aos critérios contidos no conceito de inclusão e sim na inserção de

alunos com necessidades especiais.

23

É oportuno ressaltar que: [...]”sempre existe a possibilidade de nos

transformarmos, mudarmos nossas práticas de vida, enxergarmos de outros

ângulos o mesmo objeto” ( MANTOAN, 2006, p.7).

5 Conclusão

Pelo trabalho desenvolvido, percebeu-se que os professores do ensino

regular têm consciência que a escola precisa mudar para atender melhor os

alunos com necessidades educacionais especiais. No entanto, há um

descompasso entre as propostas contidas nos documentos oficiais e as reais

condições das escolas.

Compreendemos que as dificuldades enfrentadas pela escola para

lidarem com a inclusão de alunos com necessidades especiais são resultantes,

em parte, da falta de preparo dos professores, e em parte pela forma como se

dá o processo educacional nas escolas.

Foi possível, através da implementação do projeto, tornar mais

compreensível o sentido da inclusão e demonstrar a viabilidade da inclusão

pela transformação da escola aos professores participantes.

Para Mantoan (2006), inovar não tem necessariamente o sentido do

inusitado. As grandes inovações são muitas vezes a concretização do óbvio, do

simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado para ser

compreendido por todos e aceito sem muitas resistências.

Acredita-se que o desafio foi lançado aos professores e que cabe a cada

um encará-lo, de forma a contribuir para que aconteçam avanços e

transformações no espaço escolar, ainda que pequenas, mas que possam

propiciar o início da inclusão escolar.

24

Referências

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.9394/96.

BRASIL. Inclusão: Revista da Educação Especial . Brasília: MEC/SESP,

2005.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Parecer CNE/CEB

n.o17/2001.

BRASIL. Saberes e Práticas da Inclusão. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2003. CARVALHO, Rosita Edler. Removendo Barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2004. ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação . Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/view/2045/1697. Acesso 03/10/09.

FONSECA, Vitor da. Educação Especial. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,

1990.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? 2.ed. São Paulo: Moderna, 2006.

MARQUEZINE, Maria Cristina et al (org). Inclusão. Londrina : Eduel, 2003.

MASINI, Elcie F. Salzano. Quais as expectativas com relação à inclusão escolar do ponto de vista do educador. In: Temas sobre desenvolvimento, V.7, n.42, p. 52-54, São Paulo: Memnon, 1999.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a construção de currículos inclusivos. Curitiba: SEED, 2006.

RIBEIRO, Maria Luisa Sprovieri; BAUMEL, Roseli C. Rocha de Carvalho (Org.). Educação Especial: do querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003.

25

STAINBACK, Susan; STAINBACK, William. Inclusão: um guia para educadores . Porto Alegre: Artmed, 1999.

UNESCO & MEC-Espanha. Declaração de Salamanca e linha de ação . Brasília: CORDE, 1994.

UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos:satisf ação das necessidades básicas de aprendizagem Jomtien, 1990. 1998. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf, Acesso: 03/10/2011.

Anexo 1

(Aplicado em 11/08/2010)

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO Projeto de Intervenção Pedagógica - Inclusão Escolar: Enfrentar os desafios e viabilizar ações. Professora PDE: Elaine Braun Orientadora: Me. Nelba Maria Teixeira Pisacco Prezado Professor: O presente questionário tem como objetivo investigar as dificuldades encontradas no Colégio Estadual Manoel Ribas face a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. O estudo só será possível com a sua preciosa colaboração. Lembrando que não é necessário a sua identificação e que não existem respostas certas ou erradas, o que importa é a sua opinião. Muito obrigada!!!!! 1) CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS: a) Idade: ( ) menos de 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) mais de 50 b) Gênero: ( ) masculino ( ) feminino c) Anos de docência: ( ) menos de 3 anos ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 25 ( ) 25 a 35 d) Nível de ensino que atua: ( ) Ensino Fundamental ( séries finais) ( ) Ensino Médio e) Na sua formação inicial teve alguma disciplina (s) que o preparasse para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais? ( ) sim ( ) não Em caso afirmativo, indique quais: __________________________________________

26

f) Em atividades de formação continuada já participou de cursos relacionados à inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais? ( ) sim ( ) não g) Possui formação especializada em Educação Especial? ( ) sim ( ) não 2) CONDIÇÕES PARA A INCLUSÃO ESCOLAR: a) Assinale por ordem de prioridade crescente de 1 a 7, as condições que considera mais relevantes para que a inclusão se efetive nas escolas regulares, de modo que os numerais não se repitam. 1 2 3 4 5 6 7 Atitudes do professor

Avaliação/ acompanhamento dos alunos

Metodologias de ensino

Formação específica para trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais

Materiais e recursos

Colaboração entre os professores

Técnicos especializados (professores, psicólogos, terapeutas)

b) Se considera que existe outra condição além das anteriores indique qual: 3) QUANTO A INCLUSÃO ESCOLAR: Marque a alternativa que melhor expressa a sua opinião, segundo a legenda: CT = concordo totalmente CP = concordo parcialmente I = indiferente DT = discordo totalmente DT = discordo parcialmente CT CP I DT DP a) A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular contribui para que os outros alunos assumam condutas inadequadas.

b) O aluno com necessidades educacionais especiais não pode enfrentar os mesmos desafios colocados para os demais alunos da turma.

c) É difícil manter a ordem numa sala de ensino regular que possua

27

alunos com necessidades educacionais especiais incluídos. d) Normalmente os alunos com necessidades educacionais especiais comportam-se adequadamente no ensino regular.

e) A eficácia do professor fica reduzida quando precisa trabalhar com diferentes níveis de aprendizagem.

f) Os professores de Educação Especial deveriam apoiar os seus colegas professores e não diretamente os alunos.

g) Os alunos com necessidades educacionais especiais obteriam mais resultados se freqüentassem apenas instituições de Educação especial.

h) A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular obriga a alteração das atividades normais em sala de aula.

i) Todos os alunos, quaisquer que sejam as suas necessidades educacionais, tem o direito de freqüentar o ensino regular.

j) A atenção que requerem os alunos com necessidades educacionais especiais não prejudica o sucesso dos outros alunos da turma.

k) Os que estão a favor da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, na realidade estão pouco interessados em melhorar a qualidade do ensino.

l) A presença de um aluno com necessidades educacionais especiais em turmas do ensino regular proporciona novas situações de aprendizagem para todos os alunos.

m) Incluir na turma regular alunos com necessidades educacionais especiais ocasiona mais benefícios do que problemas.

n) Sem formação especializada, dificilmente o professor do ensino regular poderá dar resposta adequada aos alunos com necessidades educacionais especiais.

o) Nas classes regulares os alunos com necessidades educacionais especiais podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem, pois tomam como estímulo e modelo os alunos ditos “normais”.

p) A heterogeneidade das turmas é fator de insucesso escolar.

4) ALGUMAS QUESTÕES: a) Quais dificuldades encontradas com mais freqüência no seu trabalho para a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais? b) Existe na escola algum trabalho voltado para a inclusão de alunos que se mostram resistentes à aprendizagem, à sociabilidade ...., enfim, à educação que ela oferece? c) Você tem acesso aos documentos do MEC/SEED/NRE sobre a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais? ( ) sim ( ) não Qual a sua posição frente aos documentos ?

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d) Este espaço destina-se a comentários/observações que deseje fazer e considere importante sobre a temática do projeto e que não foram contemplado(as) neste questionário. Data do preenchimento: ___/___/2010.