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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

4

INTRODUÇÃO

Este caderno pedagógico tem como objetivo conceituar texto,

intertextualidade e paródia.

As atividades aqui propostas poderão ser trabalhadas em sala

de aula, com alunos do Ensino Fundamental e médio.

Os textos apresentados são de diferentes gêneros textuais:

narrativos, charges, Anúncios Publicitários, Poesias, Provérbios Populares,

Quadrinhos e Histórias Infantis.

A proposta é diferenciar as aulas de língua portuguesa

tornando-as mais agradáveis e produtivas.

5

CONCEITO DE TEXTO

A palavra texto provém do latim textum, que significa tecido,

entrelaçamento. Fica evidente assim, que já na origem da palavra

encontramos a idéia de que texto resulta de um trabalho de tecer, de

entrelaçar várias partes menores a fim de se obter um todo inter-

relacionado. Daí podemos falar em textura ou tessitura de um texto, que é a

rede de relações que garantem sua coesão, sua unidade.

Para Koch (2009), Na concepção interacional da língua, na

qual os sujeitos são vistos como atores, construtores sociais e o texto

passam a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores,

como sujeitos ativos que dialógiamente nele se constroem e são

construídos. Dessa forma, há lugar, no texto, para toda uma gama de

implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem.

Como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da

interação.

Para Platão e Fiorim, o texto não é um aglomerado de frases.

Observe este pequeno texto:

Diálogo desencontrado

Um garoto pergunta para o outro:

- Você nasceu em pelotas?

- Não, eu nasci inteiro.

Quando o garoto pergunta: - Você nasceu em Pelotas, está se

referindo à cidade em que nasceu. O outro garoto entendeu se ele havia

perguntado se ele nasceu em pedaços.

Toda a Leitura, para não ser equivocada, deve

necessariamente levar em conta o que pode vir manifestado explicitamente

por palavras ou pode estar implícito na situação concreta em que é

produzido.

6

Observe este texto: “Chama o Aurélio”

Certos casos de política, de tão inacreditáveis, acabam virando

parte do anedotário. Ou vice- versa: algumas piadas traduzem tão bem

determinadas características da cultura política que assumem ares de

verdade.

Em uma das hipóteses se encaixa a correspondência trocada,

cerca de 20 anos atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então

Secretário estadual do Interior, Ovídio de Abreu.

Conta o deputado Elias Murad PSDB- MG) que Abreu sempre

gostou de falar difícil. Numa certa ocasião, o secretário recebeu a

informação de que Bom Sucesso (MG) sofreria um tremor de terra capaz de

quebrar copos e trincar pratos.

Preocupado, expediu rapidamente um telegrama ao prefeito:

“Movimento Sísmico previsto essa região. Provável epicentro movimento

telúrico sua cidade. Obséquio tomar providências logísticas cabíveis”.

O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois

chegava o telegrama do prefeito: “Movimento Sísmico debelado. Epicentro

preso, incomunicável, cadeia local. Desculpe demora. Houve terremoto na

cidade.

Folha de São Paulo, 24/11/92

Explorando o texto:

1) Há quanto tempo ocorreu o fato narrado?

2) Baseando-se exclusivamente no texto, responda se o fato

narrado realmente ocorreu, ou se trata de uma anedota.

3) Pode-se afirmar que houve comunicação entre o secretário e

o prefeito?

7

4) Por que razão o telegrama do secretário não foi entendido

pelo prefeito?

Como pode se notar, a história relatada demonstra a

importância do vocabulário nos atos de comunicação.

O não conhecimento do significado das palavras pode impedir

que as pessoas se comuniquem. E È evidente que comunicar-se não é

fazer uso de palavras difíceis que poucos conhecem.

Percebemos que, neste texto Abreu não conseguiu transmitir a

sua mensagem.

Lendo o texto, chegamos à conclusão de que, para entender

qualquer passagem de um texto, é necessária confrontá-la com as demais

partes que o compõem sob pena de dar – lhe um significado oposto ao que

ela de fato tem.

Em outros termos, é necessário considerar que, para fazer uma

boa leitura, deve-se sempre levar em conta o contexto em que está inserida

a passagem a ser lida.

Para koch (2009), Para que duas ou mais pessoas possam

compreender-se mutuamente, é preciso que seus contextos sociocognitivos

sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes.

8

Atividades sobre conceito de texto

1 ) Observe a 3ª placa presente no site

Http:///WWW.reporterbrasil.org.br (24/07/2010)

a) Qual o problema dessa placa?

b) Procure sugerir o que poderia ser feito para evitar a

interpretação indesejada.

2) Montagem de um painel com vários tipos de textos a ser

montado em sala de aula pelos alunos.

( os alunos poderão escolher os textos em revistas e jornais).

Leia o trecho que se segue:

Certa vez uma família inglesa foi passar as férias na Alemanha.

No decorrer de um dos passeios, viram uma pequena casa de campo, que

lhes pareceu boa para passar as férias de verão.

Foram falar com o proprietário, um pastor alemão, e

combinaram alugá-la no verão seguinte.

De volta à Inglaterra discutiram muito sobre a planta da casa.

De repente a senhora lembrou-se de Ter visto o WC Confirmando o sentido

prático dos ingleses, escreveram imediatamente para confirmar tal detalhe;

a carta foi escrita assim:

“Gentil Pastor,

9

Sou membro da família inglesa que há pouco visitou-o com o

fim de alugar a sua propriedade no próximo verão. Como esquecemos um

detalhe, muito agradeceríamos que nos informasse onde se encontra o WC”

O pastor, não compreendendo o significado da abreviatura WC

e julgando tratar-se da capela da seita inglesa White Chapel, respondeu nos

seguintes termos:

“Gentil Senhora,

Tenho o prazer de comunicar-lhe, que o local de seu interesse

fica a 12 quilômetros da casa. É muito cômodo, sobretudo se existe o hábito

de ir lá freqüentemente. Nesse caso é preferível levar comida para passar lá

o dia inteiro. Alguns vão á pé, outros de bicicletas.

Proposta de redação:

Continue, dando ao texto uma progressão coerente com o

fragmento escrito.

10

Intertextualidade

“Um discurso não vem ao mundo numa inocente solicitude,

mas constrói-se através de um já dito em relação ao qual toma posição”

A poesia não se volta sobre si mesma apenas para discutir sua

própria criação e o ofício criador do poeta, ela também se alimenta de temas já

explorados em outros textos, procurando estabelecer um diálogo entre

diferentes visões do mundo, vale ressaltar que esse diálogo entre poemas e

poetas é chamado de intertextualidade.

Nesse processo, haverá sempre um texto original, que servirá

de ponto de partida, e um texto-produto elaborado com base em alguma

atitude com o original. Esse texto-produto pode resultar numa simples

imitação, ou pode pretender a paródia, a polêmica, chegando na maior

parte dos casos, a repensar o tema investigado segundo uma nova

perspectiva histórica, ideológica e estética.

Para o entendimento de um texto, frequentemente, acessam-se

os conhecimentos prévios, decorrente de leituras anteriores e do próprio

cotidiano. Desse modo, a intertextualidade ocorre quando o autor utiliza

conteúdos referidos direta ou indiretamente de outros textos.

Há varias formas de intertextualidade e cada qual possui suas

peculiaridades, tais como: temática, estilística, explícita, implícita,

autotextualidade, intertextualidade com textos de outros enunciadores entre

outras. Assim, a intertextualidade temática é encontrada em textos

científicos de uma mesma área ou corrente do pensamento onde se

partilham e servem-se de conceitos e terminologia próprios (SANT’ANNA,

1995).

Já a intertextualidade estilística ocorre quando o produtor do

texto devido a seus objetivos, repete, imita e parodia estilos ou variedades

linguísticas, sendo comuns as reproduções bíblicas.

Nesse contexto, Alves (2002) vale-se da passagem bíblica do

livro do Novo Testamento. Nessa passagem, o apóstolo Mateus cap. 4, v. 4,

11

relata a resposta dada de Jesus ao diabo, no momento em que é tentado no

deserto “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra da boca de

Deus” (BÍBLIA, [s. d.] p. 1.214) . A reinterpretação do autor é assim escrita

“Não só de repolhos, nabos e batatas viverá o homem, mas também de

violetas, orquídeas e rosas [...] (ALVES, 2002, p. 73), ou seja, ao homem

não basta o alimento para viver, mas também a beleza, representada pelas

flores.

Quando o próprio texto menciona a fonte do hipertexto, ou seja,

quando um outro texto ou fragmento é citado e atribuído a um outro

anunciador recebe-se o nome de intertextualidade explícita. As citações,

referências, menções, resenhas entre outros é um exemplo claro, tais

como: “como diz o povo”, “segundo o povo”, “de acordo com os antigos”

(SANT’ANNA, 1995).

Na intertextualidade implícita, o produtor do texto introduz em

sua obra intertexto de uma segunda pessoa sem mencionar explicitamente

a fonte, tendo como objetivo de fazer com que o leitor siga a sua

argumentação, orientação ou contraditar, ridicularizar e até mesmo

argumentar em sentido contrário (KOCH & CAVALCANTI, 2007).

Carvalho (2008, p. 50) aponta que a intertextualidade ocorre

apenas quando há “o cruzamento de um texto anterior materializado num

novo texto”. Assim, a intertextualidade é implícita quando se introduz, no

próprio texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com

o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativo, quer de

contraditá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar em

sentido contrário.

Na intertextualidade implícita com valor de subversão, a

“descoberta” do intertexto torna-se crucial para a construção do sentido. Por

seres fontes dos intertextos, de maneira geral, trechos de obras literárias,

de músicas populares bem conhecidas ou textos de ampla divulgação pela

mídia, bordões de programas humorísticos de rádio ou TV, assim como

provérbio, frases feitas, ditos populares, etc. Esses textos–fonte fazem parte

da memória coletiva (social) da comunidade, imaginando-se que possam,

12

em geral, ser facilmente acessados por ocasião do processamento textual,

embora, evidentemente, não haja nenhuma garantia de que isso venha

realmente a acontecer. Os exemplos são extremamente abundantes, como

na publicidade, na música popular, no humor, na literatura e na mídia em

geral.

(Pensando nos provérbios e ditos populares, temos o

“détournement”, segundo Grésillon e Maingueneau 1984), ele “consiste em

produzir um enunciado que possui as marcas lingüísticas de uma

enunciação proverbial, mas que não pertence ao estoque de provérbios

reconhecidos”.

O détournement envolve, em grande parte dos casos de

subversão, uma contradição ao texto – fonte, por intermédio da negação de

uma parte ou do todo, pelo apagamento da negação que aquele encerra,

ou, ainda, pelo acréscimo de expressões adversativas. Por meio destas

formas de détournement, entre os quais se podem mencionar:

a)Détournement de provérbios, frases feitas, títulos de filmes,

muito frequente, por exemplo, na publicidade, no humor na música popular,

em charges políticas e nos textos humorísticos irônicos.

Ducrot (1980, 1984), em sua teoria polifônica de enunciação,

postula a existência, de pelo menos dois enunciadores: E1 e E2, ou seja,

sob a voz de um único locutor, fazem-se ouvir outras vozes, uma das quais

é endossada pelo locutor. E1 representa o enunciador genérico (on), e E2,

o enunciador que contradiz o texto fonte, e ao qual o locutor adere ao

proceder à retextualização.

13

Atividade sobre intertextualidade

1) Qual o provérbio matriz da paródia?

2) Que recurso sonoro é usado no texto?

3) Qual o significado do desenho que aompanha o texto verbal?

4) Qual recurso gráfico o autor utiliza na paródia?

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1)Que provérbio matriz inspirou o autor?

2) Qual a intenção desse provérbio?

3) O resultado da paródia é irônico. Que sentido a frase passa a ter?

Desafio: Você vai criar uma paródia de um provérbio e também uma

ilustração que tenha ligação com o texto. Escolha um entre os seguintes:

“ Quem espera, sempre alcança.”

“D evagar se vai ao longe.”

Leia o texto abaixo:

Terezinha de Jesus

Deu uma queda e foi ao chão:

Acudiu três cavalheiros,

Todos três chapéu na mão

O primeiro foi seu pai,

O segundo seu irmão

O terceiro foi aquele que a tereza deu a mão.

Da laranja quero um bago,

Do limão quero um pedaço,

Da morena mais bonita

Quero um beijo e um abraço.

Terezinha levantou-se,

Levantou-se lá do chão,

E sorrindo disse ao noivo

Eu te dou meu coração.

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O texto que você vai ler e a letra de uma música composta por

Chico Buarque, cujo título é Terezinha.

O primeiro me chegou

Como quem vem da florista

Trouxe um broche de ametista

Me contou suas viagens

E as vantagens que ele tinha

Me mostrou o seu relógio

Me chamava de rainha

Me encontrou tão desarmada

Que tocou meu coração

Mas não me negava nada

E, assustada eu disse não

O segundo me chegou

Como quem chega do bar

Trouxe um litro de aguardente

Tão amarga de tragar

Indagou o meu passado e cheirou minha comida

Vasculhou minha gaveta

Me chamava de perdida

Me encontrou tão desarmada

Que arranhou meu coração

Mas não me entregava nada

E, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou

Como quem chega do nada

Ele não me trouxe nada

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Também nada perguntou

Mal sei como ele se chama

Mas entendo o que ele quer

Se deitou na minha cama

E me chama de mulher

Foi chegando sorrateiro

E antes que eu dissesse não

Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração.

Chico Buarque.”Terezinha”. In: Poesia fora da estante – v.2, coord de

Vera Aguiar Porto Alegre: Projeto, 2002. P107.

Atividade 1

Compare os textos.

a)O que é semelhante em ambos?

b)O que é diferente?

Atividade 2:

a)Perceba o modo como cada texto está escrito, o jeito de descrever e de

contar. Qual a finalidade de cada texto?

Atividade 3

Nos dois textos, a mulher revela que se apaixonou. Essa revelação é

expressa de modo diferente, mas a idéia é a mesma. Que versos indicam

isso em.

“Terezinha de Jesus.”

“Teresinha”

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Atividade 4

De qual texto você gostou mais? Explique sua preferência.

Atividade 5:

Observe a tirinha 18 presente no site WWW.monica.com.br comics

tirinhas.htm.(29/07/2010)

a)Com qual texto esta história em quadrinhos dialoga?

b)Explique o que você entendeu da fala da Mônica no último quadrinho.

Atividade 6:

Observe uma charge política no Jornal e responda as questões

propostas:

a)Qual o assunto abordado na charge?

b)Qual aspecto da realidade brasileira está sendo criticado pela desenhista?

18

O 3° quadrinho sugere que Garfield:

a)desconhece tudo sobre arte, por isso faz a sugestão.

b)acredita que todo pintor deve fazer algo diferente.

c)defende que para ser pintor a pessoa tem que sofrer.

d) conhece a história de um pintor famoso e faz uso da ironia.

e) acredita que seu dono tenha tendência artística e, por isso, faz a

sugestão.

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Atividade 7

Texto 1

Provérbios do planalto (JÔ Soares)

A cargo dado não se olha o dente.

Quem rouba um tostão é ladrão, quem rouba um milhão está

defasado.

Depois da impunidade vem a bonança.

Aqui se faz, aqui se pega.

Há malas que vem para o bem.

A corrupção tem razões que a própria razão desconhece.

A comissão faz o ladrão.

Uma aliança só não faz verão.

Texto 2

Mínimas ( Luís Fernando Veríssimo)

Deus ajuda a quem cedo madruga.

Pense duas vezes antes de agitar.

Em terra de cego, o trânsito deve ser uma loucura.

O sol nasce para toldos.

Penso, logo hesito.

Hoje em dia é mais fácil pegar uma coxa do que um mentiroso.

Observe os provérbios de Jô Soares e de Luís Fernando Veríssimo e

responda a questão proposta.

a)Escolha cinco provérbios e escreva-os na forma original.

20

.

Pensando que a paródia é um gênero textual, para Ingedore

(2007):

O texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e

os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente nele se

constroem e são construídos. Para a autora, o texto é uma atividade

interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza,

evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na

superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a

mobilização de um vasto conjunto de saberes e sua reconstrução no interior

do evento comunicativo (p. 16).

Todo o texto é, portanto, um objeto heterogêneo, que revela

uma relação radical do seu interior, com seu exterior. Dele fazem parte

outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais

dialoga que ele retoma a que alude ou aos quais se opõe. Nas palavras de

Bakhtin (1982, p. 162):

O texto só ganha vida em contato com outro texto

(Com contexto). Somente nesse ponto de contato entre

textos é que uma luz brilha, iluminando tanto o posterior

como o anterior, juntando dado texto a um diálogo.

Enfatizamos que esse contato é um contato dialógico

entre textos. Por trás desse contato, está um contato de

personalidade e não de coisas.

Dessa forma, de acordo com este autor, um texto sempre

estará impregnado de outros textos, quem fala sempre se apóia em outras

falas, assim, o discurso não é neutro, pois traz em seu interior outras

mensagens anteriormente internalizadas.

21

Um Gênero textual : A Paródia

O termo paródia tornou-se conhecido a partir do século XVII,

por usar o estilo épico para representar os homens não como superiores ao

que são na vida diária, mas como inferiores.

O dicionário de Literatura de Brewer, apud Sant’Anna (1995, p.

12), define paródia como “uma ode que perverte o sentido de outra ode”.

Por meio de seus estudos sobre os efeitos cômicos da paródia, Bakhtin

(1998) a considerou como oposição a estilização, dando a mesma um

caráter central na literatura.

Há segundo Shipley (apud Sant’Anna1995), três tipos de

paródia: a verbal que altera uma ou outra palavra do texto, já a formal, o

estilo e os efeitos técnicos de um escritor são utilizadas por meio de

zombaria; por último a temática que se utiliza da caricatura para expressar a

forma de espírito de um autor.

Para Hutcheon (1989), a paródia pode ter caráter

desestabilizador e/ou transgressor, todavia, também pode ser conservadora

já que é naturalmente uma forma de Paródia.

A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros

textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e, por isso, é objeto de

interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque

de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu

sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas

anteriormente, com esse processo há uma indagação sobre os dogmas

estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do

raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo

dessa arte, frequentemente os discursos de políticos são abordados de

22

maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a

respeito da demagogia praticada pela classe dominante.

Gerzeli et al. (2002) chama atenção para os radicais do termo

paródia, no qual nele o elemento ode remete a ode, ou seja, uma

composição poética lírica composta de estrofes simétricas. E assim, sua

origem remete ao conceito de carnavalização e suas relações com a

comédia e consequentemente o riso. Entende-se que “o parodia dor é um

inconformista que, paradoxalmente, assume e recusa a própria cultura”

(ARAGÃO, 1980, p. 19).

É necessário ter em mente de que a elaboração de uma

paródia requer entendimento de que ela é uma brincadeira realizada a partir

de textos, independente se poemas, letras musicais, provérbios, entre

outros, tendo como objetivo a produção do humor. Na paródia, o significado

do texto é modificado com o objetivo de produzir o humor.

Sendo assim, a paródia é um dos maiores modelos de

construção formal e temática de textos, no qual sua a função hermenêutica

implica simultaneamente a questão cultural e ideológica (HUTCHEON,

1989), ou seja, como diz Millor Fernandes “em terra de cego quem tem um

olho é estrangeiro”, ou melhor, segundo dizia Vicente Matheus (1908-1997),

“quem sai na chuva é para se queimar”.

23

Atividades sobre paródia

Atividades:Para responder as questóes de 1 a 3, observe as fotos no site:

http://www.brasilescola.com/

A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um dos quadros mais famosos do

mundo.. O olhar, o meio-sorriso, a postura, a posição das mãos da

personagem são alguns dos elementos que têm encantado milhões de pessoas

ao longo dos séculos. A personagem retratada, também chamada Gioconda, é

um dos símbolos universais da feminilidade.

1) A pintura de Marcel Duchamp, feita quatro séculos

depois,evidentemente cita a Mona Lisa renascentista.

A) O que essencialmente diferencia o quadro de Duchamp do quadro de

Da Vinci?

B) Para você que sentido tem a “novidade” introduzida por Duchamp:

originalidade, inovação, criatividade, agressão, destruição ou

provocação?

2) O quadro de Duchamp mantém um diálogo com o Davinci.

a) O quadro de Duchamp também pode ser considerado uma paródia?

Justifique a sua resposta.

24

3) Leia os textos a seguir. O primeiro foi escrito no século xIx por Casimiro

de Abreu, poeta romântico. O segundo foi escrito por Oswald de

Andrade, escritor Modernista do Século xx.

Meus oito anos

Oh que saudade que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores

Naquelas tardes fagueiras

Á sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

(Casimiro de Abreu)

Meus Oito Anos

OH que saudades que tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

Naquele quintal de terra

Da rua de Santo Antônio

Debaixo da bananeira

Sem nenhum laranjais.

Ambos os poemas se intitulam “Meus Oito Anos”. Compare-os:

a) Qual é o tema de ambos os textos?

b) Como é o tema abordado no poema de Casimiro de Abreu?

c) E como é abordado no poema de Oswald de Andrade?

25

d) Na opinião de Oswald de Andrade, como seria uma infância de verdade

no Brasil?

Os poemas que seguem são três canções do exílio. A primeira

é de Gonçalves Dias; a segunda, de Murilo Mendes; a terceira de Carlos

Drummond de Andrade.

Texto1

Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá

As aves que aqui gorjeiam

Não gorjeiam como lá

Nosso céu tem mais estrelas

Nossas várzeas têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida

Nossa vida mais amores.

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá,

Sem que desfrute os primores

Que tais não encontro eu cá, Sem que inda aviste as palmeiras

Onde canta o sabiá.

Texto 2 Canção do Exílio (Murilo Mendes)

Minha terra tem macieiras da Califórnia

Onde cantam gaturamos de Veneza

Os poetas da minha terra

26

São pretos que vivem em torres de ametista,

Os sargentos do exército são monistas, cubistas

Os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

Com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em Família têm por testemunho a Gioconda.

Eu morro sufocado em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

Nossas frutas são mais gostosas

Mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

E ouvir um sabiá com certidão de idade.

Texto 3 Nova Canção do Exílio (Carlos Drumond de Andrade)

Um sabiá na

Palmeira, longe.

Estas aves cantam

Um outro canto.

O céu cintila

Sobre flores úmidas.

Vozes na mata,

E o maior amor.

Só, na noite, seria feliz:

Um sabiá,

Na palmeira, longe

Onde tudo é belo

E fantástico,

27

Só, na noite, seria feliz.

(Um sabiá, na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e

Voltar, para onde tudo é belo e fantástico:

A palmeira, o sabiá,

O longe.

Questão 1

Qual das estrofes da canção do texto1 é lembrada no Hino Nacional

Brasileiro por uma citação parcial?

Questão 2

No primeiro texto, a oposição e a distância são marcadas por dois

advérbios insistentemente repetidos ao longo do poema. Quais são eles e o

que cada um representa?

Questão 3

Há passagens do poema de Murilo Mendes que lembram outras do

poema de Gonçalves Dias.

Comprove esta afirmação transcrevendo do texto de Murilo trechos

similares aos de Gonçalves Dias.

Questão 4

No poema de Murilo Mendes Há também exaltação da pátria como no

poema de Gonçalves Dias°

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Questão 5

A “Nova Canção do Exílio” (texto três), de Drummond, contém como

a de Gonçalves Dias, cinco estrofes. È possível afirmar que ambas são

semelhantes sob o ponto de vista de metrificação?

Questão 6

Os dois versos de Gonçalves Dias “Minha terra tem palmeiras/ Onde

canta o sabiá” vêm retomados por dois versos da “Nova Canção do Exílio”,

os quais se repetem várias vezes no percurso do poema. De que verso se

trata?

Proposta de redação:

1) Observe os textos: “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias e “meus oito

Anos” de Casimiro de Abreu.” Escreva uma paródia baseando-se num

destes textos. Não esqueça, sua paródia deverá ter: Crítica, humor e

originalidade.

29

Leia o texto abaixo:

CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA

- Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho

da vovó, fica.

- Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que é que

houve? 22

- Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar

para você. Aliás, está queimada, heim?

- Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me

leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão

grande! Tá tão esquisito, vovó.

- Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a

industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo

respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue.

- Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas

para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de

quinze minutos chego aqui com a minha moto.

- Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?

- Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas

para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns

pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu?

Lembra da indigestão do carnaval?

- Se lembro, se lembro...

- Vovó, sem querer ser chata.

Ora, diga.

- As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por

cima, peluda. Credo, vovó!

- Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que

você me deu. Onde á se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me

30

desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que

diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas.

Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu

tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta

juventude está perdida mesmo.

- Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato,

hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. O que é isso?

- Também tenho que entrar na moda, não é minha filha? Ou

você queria que eu fosse domingo ao programa da Chacrinha de coque e

com vestido preto com bolinhas brancas?

Chapeuzinho pula para trás: 23

- E esta boca imensa???!!!

A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava:

- Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar

é?!

Atividade 1

Assim como outros autores, você pode criar uma versão

diferente e divertida de uma história infantil que você conheça.

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