da escola pÚblica paranaense 2009 - … · consegue definir o que é um átomo, ao passo que o...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIDADE DIDÁTICA OU SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES
TÍTULO: Tira de humor: uma proposta de leitura para a sala de aula
PROFESSOR PDE ORGANIZADOR: Carlos Emiliano Filho
PROFESSOR ORIENTADOR: Flavio Brandão Silva, Me.
IES: UEM-FAFIPA
OBJETO DE ESTUDO E INTERVENÇÃO: Leitura
GÊNERO PRINCIPAL: Narrativo
GÊNERO DE APOIO: Tira de humor
SÉRIE: 6ª série
ESCOLA: Escola Estadual Presidente Castelo Branco
MUNICÍPIO: Tapira
NÚCLEO: Umuarama
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Tapira, 2009/2010
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Unidade Didática
Unidades didáticas ou de atividades, ou sequência didática, são conjuntos de
atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero
textual, no caso específico de língua portuguesa, seja ele oral ou escrito, um tema ou um
autor e que desenvolvam atividades variadas sobre um tema.
As atividades aqui propostas englobam o todo da leitura, ou seja, sua preparação,
o antes; a atividade em si, o durante; e os exercícios para sua fixação, o depois. Devem
ser orientadas e mediadas pelo professor.
Como a proposta é de trabalho com um gênero textual, optei por iniciar com
atividades demonstrando os diferentes gêneros, ou seja, o geral, para, enfim ir ao gênero
tira de humor, ou específico, e só então para as diferentes leituras dele.
É necessário ter em mente que, durante a execução das atividades, surgirão
diferentes leituras, ou mesmo propostas para tal, a que o professor deve estar atento para
que sejam bem aproveitadas no sentido de tornar o ato de ler mais dinâmico.
Com a finalidade de facilitar o desenvolvimento desta intervenção, esta sequência
está dividida em blocos em número de oito, referentes ao número de aulas, com
previsão de quatro aulas por cada um, os objetivos a serem atingidos por cada bloco e a
sugestão de exercícios no decorrer do trabalho com eles.
As tiras aqui postas tiveram seu uso autorizado e quero agradecer a:
Rubens Vilela, do site Ivo Viu a Uva;
Paulo Tadeu, do site Eramos6;
Sobre os autores acima, que responderam prontamente a minha solicitação de
cessão gratuita de direitos autorais, quero ressaltar que consideraram o uso das imagens
de sua propriedade em um trabalho voltado para a educação pública gratuita como uma
forma de elogio ao trabalho que desenvolvem.
Finalmente, um agradecimento especial ao orientador deste trabalho, Professor
Mestre Flávio Brandão Silva, principalmente pela praticidade.
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SUMÁRIO
MÓDULO I ....................................................................................................................... 5
Texto: Gêneros Textuais. ............................................................................................... 5 MÓDULO II ...................................................................................................................... 9
Gênero Narrativo ........................................................................................................... 9 MÓDULO III ................................................................................................................... 13
A narrativA dos quadrinhos ......................................................................................... 13 MÓDULO IV .................................................................................................................. 19
AS LINGUAGENS DOS QUADRINHOS ................................................................. 19 MÓDULO V .................................................................................................................... 22
ELEMENTOS PARA COMPREENDER A TIRA DE HUMOR ............................... 22 MÓDULO VI .................................................................................................................. 25
a intertextualidade nA NARRATIVA DA TIRA DE HUMOR .................................. 25 MÓDULO VII ................................................................................................................. 28
A INFERÊNCIA PARA O EFEITO RISÍVEL DA TIRA DE HUMOR .................... 28 MÓDULO VIII ................................................................................................................ 31
A INTERPRETAÇÃO DA TIRA DE HUMOR ......................................................... 31 Referências ...................................................................................................................... 35
Sugestões de leitura ......................................................................................................... 38
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MÓDULO I
TEXTO: GÊNEROS TEXTUAIS.
Para o professor:
É necessário que se tenha a mão diversos gêneros textuais para que os alunos
possam perceber suas diferenças, fazer o reconhecimento dos textos que circulam pelo
meio social em que vivem, identificar suas características e usos.
- O que é um texto?
- Tudo aquilo que lemos pode ser chamado de texto?
- Quantos tipos de texto existem?
Na definição do Dicionário Aurélio, a etimologia da palavra remete a ‘tecido’, ou
seja, a trama de fios. É bem adequado se levarmos em conta a trama de palavras e
entendimentos que levam a um texto.
Ainda de acordo com o Aurélio, a definição de texto se opõe a uma ilustração, por
exemplo, pois o dicionarista o classifica como um conjunto de palavras ou frases
escritas. Neste caso, nem tudo é texto.
Mas existe uma variação muito grande de textos. São os chamados gêneros
textuais. Identifique alguns dos gêneros abaixo:
Atividade Proposta:1.
Garoa do Meu São Paulo Garoa do meu São Paulo,-Timbre triste de martírios-Um negro vem vindo, é branco!Só bem perto fica negro,Passa e torna a ficar branco. Meu São Paulo da garoa,-Londres das neblinas finas-Um pobre vem vindo, é rico!Só bem perto fica pobre,Passa e torna a ficar rico.
6
Garoa do meu São Paulo,-Costureira de malditos-Vem um rico, vem um branco,São sempre brancos e ricos... Garoa, sai dos meus olhos.
Mario de Andrade
2.
Caro amigo,
Espero que você esteja se recuperando bem do acidente que sofreu. Desculpe por
não poder ir te visitar, mas é que por aqui as coisas estão meio corridas e não dá tempo
para mais nada além do trabalho.
Por falar em trabalho, sabia que o teu amigo aqui vai ser promovido? Pois é,
rapaz, nem te conto a alegria que a Carol ficou porque eu vou ganhar mais. Sabe como
é, mais dinheiro é igual, na cabeça dela, a casamento.
3.
Ingredientes:
• 2 xícaras (chá) de arroz cozido
• 3 ovos batidos
• 2 colheres (sopa) de salsinha picada
• ½ xícara (chá) de presunto picado
• 2 colheres (sopa) de manteiga
• sal a gosto
Modo de Preparo:
Em uma panela, derreta a manteiga em fogo alto, junte o presunto e frite por 4
minutos. Acrescente os ovos e o sal e frite por mais 2 minutos, ou até ficarem secos.
Acrescente o arroz e cozinhe por 2 minutos, ou até aquecer. Salpique a salsinha e sirva.
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Estes são só alguns dos gêneros textuais que circulam entre nosso meio social.
Para cada um deles, como você pôde perceber, temos finalidades diferentes, assim como
são diferentes os suportes em que os encontramos.
Podemos afirmar que são tantos os tipos de texto quanto à necessidade que temos
deles, ou seja, usamos tipos diferentes de texto para cada uma das nossas necessidades.
Inicialmente, trataremos aqui dos gêneros que são mais comuns na escola: os
gêneros literários.
O que diferencia um texto literário de um texto não-literário?
Veja este exemplo:
O que é um átomo
Um átomo é uma partícula que compõe tudo, um átomo é composto de um núcleo que
contem prótons e nêutrons, em volta do núcleo ficam elétrons. Existem três tipos de
átomo: o átomo positivo, negativo e neutro
Positivo: Quando tem mais prótons do que elétrons.
Negativo: Quando tem mais elétrons do que prótons.
Neutro: Quando existe o mesmo numero de elétrons e prótons.
Fonte: Texto escrito para este trabalho
Como você pode perceber pelo texto acima, não há qualquer dúvida na explicação
de o que é um átomo. Não poderia ser diferente, uma vez que este tipo de informação,
para ser exata, depende de uma linguagem denotativa, ou seja, sem expressividade.
Então, podemos dizer que o texto literário se faz com uma linguagem conotativa,
ou expressiva, mas também subjetiva, na qual se insere as opiniões do autor, ou do
personagem. Veja um exemplo:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
Soneto 11, Camões.
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Os dois textos trazem definições sobre átomo e amor, mas somente o primeiro
consegue definir o que é um átomo, ao passo que o segundo, apesar de tentar dar
explicações, estas são contraditórias, cheias de figuras de linguagem, o que não ocorre
no primeiro. Além do que a explicação do primeiro texto é aceita universalmente,
enquanto que a segunda depende da opinião de quem ama.
Para o Professor:
Pode-se levar à sala mais textos que sirvam para diferenciar as linguagens
literárias das linguagens não literárias. Ou ainda gêneros textuais diferentes, em uso
social pelos alunos, como o email, o depoimento do Orkut ou a mensagem do twitter.
Existem basicamente dois grupos de gêneros literários que se subdividem em
outros gêneros: os textos em verso e os textos em prosa. Os textos em verso são os
poemas, aqueles que são formados por versos; os textos em prosa são aqueles
construídos em linha reta, organizados em frases, parágrafos, capítulos, partes etc.
Os gêneros literários são comumente divididos em: lírico, épico e dramático. São
líricos os textos em que um eu lírico expressa manifestações de sua subjetividade
perante o mundo exterior. Normalmente em primeira pessoa; são épicos os relatos de
feitos heróicos de povos ou pessoas, em forma de poema e que contam com a presença
de um narrador em terceira pessoa; são dramáticos os textos com a finalidade de serem
dramatizados, as peças de teatro.
Independente da forma como são construídos, estes textos literários usam uma
linguagem literária, cheia de expressividade e subjetividade. E, destes gêneros literários,
o que veremos a seguir é o gênero narrativo, que pode ser encontrado tanto no lírico,
quanto no épico ou no dramático.
Para o Professor:
A apresentação dos gêneros literários pode contribuir para uma melhor
visualização de suas diferenças. Uma epopéia como Os Lusíadas, um trecho de uma
peça de teatro com suas rubricas, ou mesmo um poema bastante intimista, como os da
Cecília Meireles, deve ajudar na diferenciação destes gêneros.
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MÓDULO II
GÊNERO NARRATIVOAtividade Proposta:
Responda:
É possível ler da mesma maneira qualquer tipo de texto?
Como se lê um texto?
Veja exemplos de dois textos abaixo. Primeiro uma notícia extraída de um jornal:
Para o professor:
O professor deve distribuir os dois textos para os alunos e pedir que identifiquem
similaridades entre eles. Pode ser necessária aqui a explicação de que ambos são
narrativas e este tipo textual, não importando o formato, tem elementos comuns em
qualquer forma que ele se apresente.
Atropelamento deixa dois idosos feridos na Avenida Batel
Um atropelamento na Avenida Batel, no trecho de cruzamento com a Francisco
Rocha, em Curitiba, deixou dois idosos feridos por volta das 9 horas da manhã deste
sábado (20). As vítimas são irmãos e têm 71 e 74 anos e idade. Eles atravessavam a rua
pela faixa de segurança, quando foram atropelados por um Corsa que avançou no sinal
vermelho. O condutor se identificou à polícia e vai prestar depoimento.
As vítimas foram socorridas e encaminhadas ao Hospital do Trabalhador. O idoso
de 74 anos chegou ao hospital consciente e com ferimentos leves. Ele já recebeu
atendimento, está sob observação médica e passa bem. O irmão dele, de 71 anos, por
volta das 16 horas, estava internado em estado grave, na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) do hospital, acompanhado pela equipe de neurologia. A família das vítimas estava
no local, acompanhando o atendimento.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml
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O próximo texto é um poema:
PARDALZINHO
O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos.
Manuel Bandeira
Agora observe um gênero narrativo que é mais comum de encontrarmos em nossa
convivência:
Continho
Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco.
Na soalheira danada do meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando
bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo:
-Você aí, menino, para onde vai essa estrada?
-Ela não vai não: nós é que vamos nela.
-Engraçadinho duma figa! Como você se chama?
-Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé.
Paulo Mendes Campos.
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É uma história mais parecida com as que estamos acostumados. Também são
textos narrativos as lendas, mitos, fábulas, apólogos, crônicas, contos, romances,
novelas, histórias em quadrinhos, tiras de humor etc.
Para o professor:
Exemplificar cada um dos gêneros narrativos pode parecer uma tarefa muito
extensa, mas, como a cada vez mais o que vemos são os gêneros textuais, um trabalho
bem feito neste nível pode dar uma base permanente aos alunos nesta questão. Assim,
seria preciso dar-lhes exemplos dos diversos gêneros narrativos citados acima e levá-
los a perceber as diferenças entre cada um deles. Definições para cada um dos gêneros
podem ser encontradas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Gênero_literário ou em:
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080624144122AA25qF0. Os
gêneros narrativos principais, aqueles que permeiam a convivência dos alunos, ao
menos, devem ser exemplificados e identificados. Como a finalidade deste trabalho é
leitura de tiras de humor, este será um gênero visto à exaustão, mas alguns outros
como lendas, mitos, fábulas e contos são material permanente do trabalho em sala.
Nada mais justo do que os alunos poderem identificá-los pela sua estrutura narrativa.
Entre os três textos citados acima, há muitos elementos em comum. Por exemplo:
- Enredo, ou o desenrolar dos fatos;
- Ambiente ou espaço físico em que os fatos acontecem;
- Personagens;
- Tempo: cronológico quando se mede o tempo e psicológico quando não é
mensurável racionalmente, mas pode ser percebido seu transcorrer.
Existem diversos gêneros que a narrativa pode se utilizar e mesmo assim
conservar alguns de seus elementos intactos em quaisquer deles.
Vamos então fazer um exercício sobre os elementos da narrativa a partir dos três
textos narrativos transcritos acima:
Atividade proposta:
a. Identifique o enredo de cada um deles.
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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
b. Qual ou quais são os personagens que fazem parte de cada texto?
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c. Os tempos dos textos acima são cronológicos ou psicológicos? Exemplifique.
_______________________________________________________________
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d. Quais os ambientes ou espaços físicos em que eles ocorrem?
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MÓDULO III
A NARRATIVA DOS QUADRINHOS
Observe os quadrinhos abaixo:
http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/imagens/2lugar_Yellow-Kid.jpg
No início os quadrinhos eram simples como acima. Esta história em
quadrinhos, com o personagem Mickey Dugan, mais conhecido como The Yellow Kid,
desenhado por Richard Felton Outcault e publicada no final do século XIX, é o início
deste tipo de narrativa. Ainda primária em comparação com as comics books dos dias
atuais, mesmo assim é possível fazer o seguinte exercício:
Atividade proposta:
Identifique os elementos narrativos nos quadrinhos acima:
a) Personagens:
b) Tempo:
c) Espaço:
d) Enredo:
Para o professor:
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Uma pesquisa na internet pode fornecer mais exemplos de histórias em
quadrinhos que podem ser usados sem a necessidade de pagamento de direitos
autorais. Também uma campanha entre os alunos pode ser feita para arrecadar gibis
para se fazer um repositório de narrativas do gênero. Uma pesquisa entre os
estudantes também dará base para que sejam identificados os tipos de histórias em
quadrinhos que eles mais gostam. Para as séries iniciais, exemplos de narrativas com a
Turma da Mônica, que agora tem versão Jovem, ou para as séries finais, com histórias
de personagens que viraram filmes, tais como Homem-Aranha, Batman etc.
Nas HQs, a passagem do tempo é comumente marcada pelas cores dos
quadrinhos ou mesmo por desenhos de lua, estrelas, sol etc.
O espaço físico deve ser percebido também pela linguagem não-verbal. O
desenhista usa tais elementos visuais para a representação de espaços. Nos quadrinhos
abaixo, identifique os espaços:
Atividade Proposta:
__________________________ __________________________
________________________ _________________________
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Para o professor
É possível realizar um trabalho interdisciplinar neste ponto com as aulas de
Artes. O professor pode pedir que os alunos, supervisionados pelo professor de Artes,
criem quadrinhos com ambientes específicos, tais como: dia, noite, chuva, interior de
uma casa, uma rua em uma cidade, um campo etc.
O enredo desta narrativa é feito através de um narrador em terceira pessoa, que
no caso é o desenhista, agindo através do traço como narrador.
Percebe-se, na história em quadrinhos, dependendo dos elementos inseridos no
texto, do detalhamento dele, do traço do artista, que pode ser mais ou menos detalhado
de acordo com o propósito, o leitor e mesmo o veículo em que se encontra a história.
Os aspectos visuais são diferentes e têm função importante. Nas charges ou nos
cartuns, por exemplo, cumprem a função de intertexto. Dão informações para que o
leitor possa localizar no seu “arquivo de memória” o fato a que se refere, os
personagens que o compõem, identificando e fazendo a graça do desenho.
Distingue-se a charge do cartum pela marcação temporal de seu enredo. Na
primeira, esta temporalidade é bem marcada, pois é necessário um conhecimento sobre
um fato ocorrido em uma época definida, dentro de um determinado contexto cultural,
econômico e social específico e que depende do conhecimento desses fatores para ser
entendida. Fora desse contexto, ou na falta desta informação, ela provavelmente perderá
sua força comunicativa, portanto é perecível.
O cartum, por outro lado, é atemporal. Não há nele nada que se reconheça
como uma época. Seus personagens são universais, podem ser entendidos em qualquer
parte do mundo por diferentes culturas em diferentes épocas. O bem e o mal, o pobre e
o rico, todas as dicotomias são exploradas por ele. Também é comum que não tenha
texto, apoiando-se exclusivamente na linguagem não-verbal.
É possível inclusive traçar um paralelo entre estes dois tipos de desenho e dois
gêneros textuais literários, principalmente no tocante à temporalidade de ambos: o conto
e a crônica. O cartum se aproxima, por este aspecto, mais da crônica, enquanto que a
charge é mais próxima do conto.
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Ambos os tipos de desenho necessitam de atenta leitura dos elementos não-
verbais para seu entendimento, mas mais ainda de conhecimento anterior sobre estes
elementos para a total compreensão do texto.
Atividade Proposta:
Como podem ser classificados os quadrinhos acima?
Atente para o primeiro quadrinho e responda:
a) Que elementos não-verbais são necessários ser entendidos para localizá-lo
no tempo?
b) A que evento ele se refere?
c) Qual o conhecimento anterior que é exigido para que seja bem
compreendido?
Agora o segundo quadrinho:
a) Que elementos da linguagem não-verbal permitem compreender o tempo
em que acontece a história?
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b) Em relação ao primeiro quadrinho, qual dos dois pode ser compreendido
sem que se necessite de grande “bagagem” ou conhecimento anterior?
c) Qual é a charge e qual é o cartum?
Atividade Proposta:
Nos quadrinhos abaixo, temos dois cartuns e duas charges, classifique cada um
deles de acordo com o que foi aprendido acima:
_______________________________ _________________________________
________________________________ ________________________________
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Para o professor
É muito comum que a charge seja política, trate de temas mais específicos, enquanto
que o cartum trata de temas mais gerais. Nos dois primeiros quadrinhos, temos
cartuns, ou desenhos que tratam de temas gerais, como a falta que faz uma mensagem
de celular na hora certa, exemplificada com os personagens Romeu e Julieta, de
Shakespeare, ou o fato de mulheres grávidas “ganharem” assentos nos ônibus. Mesmo
no segundo quadrinho, o fato de o leitor não saber quem são Romeu e Julieta não
interfere no entendimento da narrativa. Já os dois últimos são charges, e aqui é preciso
ter um conhecimento antecipado sobre as referências que há nelas. O terceiro
quadrinho é uma charge relativa ao fato de uma cadela ter mordido o jogador
argentino Diego Maradona; o quarto é sobre garotas de programa montarem um site
sobre suas atividades no estilo da Wikipédia.
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MÓDULO IV
AS LINGUAGENS DOS QUADRINHOS
Identificamos linguagem e leitura com o texto, explicitamente com a definição
de texto que encontramos no dicionário, por exemplo, que o liga a palavras, frases,
expressões, conjunto de expressões, enfim, tudo aquilo que possa ser lido através da
transcrição do alfabeto. Porém, sabemos que o conceito de texto hoje é muito mais
amplo que isto, e o de leitura ainda mais. Senão, como poderíamos ler os seguintes
“textos” abaixo?
A linguagem utilizada aqui foi a não-verbal. Nos quadrinhos, ela apoia a
narrativa. Como foi dito no módulo anterior, os elementos visuais, ou não-verbais fazem
as vezes de alguns dos elementos da narrativa.
Assim são gestos, expressões, detalhamento maior ou menor do desenho e
mesmo os balões, que passam a exercer funções específicas nos quadrinhos.
Atividade Proposta:
Veja as expressões abaixo nos emoticons e classifique-as de acordo com o que
aparentam:
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___________________________________________________________________
Além das expressões, tornou-se convenção usar nos quadrinhos os balões, que
ajudam a exprimir determinados sentimentos nos personagens, sendo estes sentimentos
mais facilmente identificáveis quanto maior for o costume de ler estes quadrinhos.
Atividade Proposta:
Se você fosse inserir um dos textos abaixo em um dos balões que seguem, em
qual balão iria qual texto?
Balões:
- Um pensamento
- Um grito de dor
- Uma fala normal
A linguagem verbal nestes casos é apoiada pela não-verbal. Contudo, é
possível entender a primeira sem que haja a segunda? De que outra forma é possível
expressar um grito, um pensamento sem a convenção destes balões?
Também se convencionou que algumas onomatopéias (sons traduzidos para a
linguagem fonética) também traduziriam determinados sons, apoiando assim a
linguagem verbal. São comuns nos quadrinhos e tiras as onomatopéias:
- CRASH
- SOK
- PUM
- BAM
- RRRRRRR
- PLOFT
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Pela ordem, barulho de batida de automóvel, soco, explosão, explosão, barulho
de motor e queda de algo mole no chão.
Para o professor:
Pode-se propor também a seguinte atividade: emoticons comuns em
programas de trocas de mensagens instantânea, (MSN, por exemplo)podem ser usados
pelos alunos para exprimir diversos sentimentos. Também podem ser desenhados
balões para que os alunos os preencham com falas, ligando-as aos diversos tipos de
balão conforme a expressão usada.
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MÓDULO V
ELEMENTOS PARA COMPREENDER A TIRA DE HUMOR
Observe a descrição da tira de humor abaixo:
1º quadrinho: Um garoto lendo de ponta cabeça;
2º quadrinho: O mesmo garoto lendo só que sentado na lateral do quadrinho;
3º quadrinho: Ainda o mesmo, lendo sentado no chão do quadrinho;
4º quadrinho: Uma menina gira o globo terrestre e põe de volta na posição em
que a América está no topo;
O conceito de compreensão de texto se baseia na capacidade mínima de leitura
do público alvo a que ele, o texto, se dirige. Esta compreensão se dá no nível mais
superficial do texto, pois este é o foco da leitura, dele vêm todas as informações
necessárias para sua compreensão.
Na tira acima há uma narrativa que pode ser compreendida independente do
conhecimento anterior do leitor sobre quem são seus personagens. No caso, Miguelito e
Mafalda.
Atividade Proposta:
Descreva os acontecimentos dos quadrinhos acima sem necessidade de pôr os
nomes dos personagens.
Para o Professor:
O quadrinho descrito é possível ser encontrado em Toda Mafalda da Editora
Martins Fontes. Também é possível fazer esta atividade com outro quadrinho sem
palavras, ou linguagem verbal.
Fazer a transcrição deste texto, com sua linguagem não-verbal para a
linguagem verbal demanda certo conhecimento linguístico do leitor-produtor, mas não
é esta a exigência aqui, ainda que erros ortográficos ou sintáticos devam ser
corrigidos. A ideia aqui é reforçar a compreensão de ações praticadas pelos
personagens. Faça com que os alunos elenquem as ações dos personagens, respeitando
a ordem cronológica da sucessão de quadrinhos, depois reunindo estas ações para
eliminar as repetições.
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Atividade Proposta:
Responda às questões sobre esta narrativa em quadrinhos:
a) Quem é o narrador da história?
b) Quem são os personagens?
c) Quem é o personagem principal?
d) O que se percebe que eles fazem?
e) Qual a intenção do personagem nos dois primeiros quadrinhos?
f) Ele consegue seu intento?
g) Qual a solução que eles encontram para o problema que se apresenta?
Não é necessário, para o entendimento da narrativa, que o leitor reconheça os
personagens como a da turma da Mafalda, porém este conhecimento é imprescindível
para a compreensão desta tira que se descreve abaixo:
“Chove e dois personagens estão em uma disputa de força em que um deles,
um garoto, está sob a marquise, abrigado da chuva e puxa um lado de uma corda, ao
passo que, do outro lado dela, está uma menina, sob a chuva, também puxando.
O diferencial dos personagens é que um deles tem feições assustadas (o
menino) enquanto que o outro (a menina) parece fazer muita força.”
Há aqui a necessidade de reconhecimento dos personagens. O menino é o
personagem Cascão, enquanto que a menina é a Mônica.
Esta tira pode ser acessada em: http://www.monica.com.br, sob o número
5929.
Atividade Proposta:
É preciso que o professor exiba a tira para os alunos, após o que deve propor:
Descreva o que acontece neste quadrinho sem citar os nomes dos personagens
envolvidos, ainda que você os reconheça.
Como se pode perceber nas descrições feitas, não há humor nelas. Por que não?
Ainda que seja possível descrever os fatos deste quadrinho, ou mesmo construir uma
narrativa sobre ele, não há possibilidade de compreensão total do mesmo a menos que
se saiba quem são e como são estes personagens.
O conhecimento anterior exigido é o seguinte:
- A menina que puxa a corda é a Mônica.
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- Mônica é a menina mais forte de toda a turma.
- A força da Mônica é suficiente para mover qualquer objeto ou pessoa.
Dadas estas informações, pergunta-se: Por que então ela não consegue puxar o
menino?
Aqui novo conhecimento é exigido:
- O menino chama-se Cascão.
- Cascão é um menino que não toma banho.
- Na verdade, o Cascão faz coisas que seriam impossíveis para qualquer pessoa
para não ter de se molhar.
Depois deste conhecimento, é possível compreender o efeito risível. Aqui o
nível de leitura exigido é maior, pois não depende, como no quadrinho anterior, somente
das informações dadas pelo texto, mas também daquelas que o leitor têm. Desta forma,
sem as informações, lê-se de forma superficial, porém, com elas, esta leitura acontece
de forma mais completa, em um nível mais profundo. Este nível, da leitura intertextual,
vem da diversidade de conhecimentos que o leitor tem sobre o que trata o texto ou se já
leu aquilo em outros textos e será tratado no próximo módulo.
Para o Professor:
É preciso fazer uma comparação da primeira descrição com a segunda e levar
os alunos a perceber que o conhecimento ou desconhecimento dos personagens têm
grande relevância para o entendimento da tira. Seria interessante que se levasse à sala
de aula outras tiras de humor que trabalhassem com a linguagem verbal e a não-verbal
para que os alunos fizessem descrições e narrativas. Também seria importante que o
professor selecionasse alguns quadrinhos que exigissem um conhecimento antecipado
do leitor sobre os personagens para que a leitura pudesse ser feita em níveis mais
profundos. Também quadrinhos que pudessem ser compreendidos na superficialidade
seriam interessantes para trabalhar a narração, a descrição e a transformação do
discurso direto visual do quadrinho para o discurso direto ou indireto no texto escrito,
dando assim início a um trabalho para que percebam a diferença da organização
composicional dos gêneros textuais propostos.
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MÓDULO VI
A INTERTEXTUALIDADE NA NARRATIVA DA TIRA DE HUMOR
Para um correto entendimento da mecânica do texto, é necessário um certo
conhecimento que o leitor deve ter antecipadamente, ou seja os conhecimentos que ele
adquiriu ao longo de sua vida, seja através de leituras ou não, contribuirão para dar
significação maior ao texto.
Uma charge que se tornou famosa na década de 80, principalmente pela
polêmica que causou à época foi a que Millôr Fernandes fez. Sua descrição:
“Algumas mulheres de biquíni em uma praia e a seguinte frase como título do
desenho: ´Nossos corpos nus pertencem...´”
No nível mais superficial, é possível fazer esta mesma descrição, acrescentando
elementos como cores, alguns elementos visuais, como o sol, o mar, areia, se as
mulheres eram brancas, negras, ruivas, louras etc.
Mas houve a informação que a charge gerou certa polêmica, principalmente
entre as feministas. Qual o motivo?
Compare-se a frase dela com uma frase que as feministas usaram à época para
discussões sobre aborto:
“Nossos corpos nos pertencem.”
Atividade Proposta:
a) O que há de diferente na grafia das duas frases?
b) E na pontuação?
c) A substituição do pronome “nos” pelo adjetivo “nus” provoca que sentido?
d) E a substituição do ponto final pelas reticências, que sentido provoca?
e) Você considera necessário o conhecimento do lema feminista para o
entendimento da charge?
Como se pode perceber, é preciso certo conhecimento para que a charge seja
lida corretamente. Este conhecimento pode vir de leituras variadas ou de conhecimento
de mundo que todos possuímos. Um texto anterior assume um papel primordial na
leitura e significação de outro texto.
Agora, observe a tira abaixo:
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Atividade Proposta:
a) Quem são os personagens do primeiro e segundo quadrinhos?
b) Você consegue relacioná-los com algum personagem que já conhece?
c) Como é possível saber o nome do personagem que aparece o rosto entre
nuvens?
d) Que textos são necessários ter conhecimento para ler e entender esta tira na
sua totalidade?
Existem alguns elementos necessários para a compreensão da tira de humor, ou
melhor, de qualquer texto que nos propomos a ler e entender. Um deles é o que
conhecemos como intertextualidade.
Não existem textos “puros”. Talvez você já tenha ouvido esta frase. Ela dá
certa medida de como os discursos que proferimos estão cheios de citações de outros
discursos. Em língua portuguesa, estes textos citados por outros textos fazem o que
chamamos intertextualidade.
Para quem já leu Os doze trabalhos de Hércules, fica fácil reconhecer que este
texto mitológico é retomado aqui para provocar a graça da história.
Caulos, um cartunista, tem uma tira que pode ser encontrada em livros
didáticos de português do ensino fundamental: Um pássaro voa e declama os dois
primeiros versos da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras /
Onde canta o sabiá. A certa altura diz: - Eu sou o sabiá. E sobrevoando uma floresta
devastada, diz: - E esta era a palmeira.
Aqui existe a citação do texto anterior, o que torna mais fácil a leitura, mas o
conhecimento das condições de produção da Canção e do texto integral também fazem
diferença no grau de entendimento da tira de Caulos.
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Para o professor:
A Canção do Exílio é talvez o texto literário mais citado da literatura
brasileira, sendo inclusive parte do Hino Nacional Brasileiro e da Canção do
Expedicionário. Além disso, mostrar como se dão os diversos tipos de intertextualidade
(paródia, citação, paráfrase, metáfrase, alusão, epígrafe, estilização)pode ser um
trabalho interessante. A retomada de textos em outros textos, como, por exemplo, o
casamento de Jacó, no Gênesis, sua retomada em forma de poesia por Camões, sua
paródia do estilo camoniano pelo brasileiro Furnandes Albaralhão e sua paráfrase por
Bastos Tigre. Também, como sugestão, a carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, citada
por Renato Russo na canção Monte Castelo.
Atividade Proposta:
“A cena é um quarto e, pelos elementos não-verbais, percebe-se que de criança,
com bichinhos de pelúcia. Parece ser noite, pois o desenho é escuro, o que, nos
quadrinhos sempre denota noite. Uma mulher lê um livro para uma menina:
- ... e ano após ano, o príncipe foi se tornando um sapo.”
a) Que tipo de texto a mulher lê?
b) De onde você reconhece esta história?
c) É preciso conhecer a história original para entender esta tira?
Mas há elementos postos na descrição acima da tira que não estão nela. Por que
se sabe que é um quarto de criança? Como se pode ter certeza que é noite? Por que seria
uma mulher? Como saber se é uma menina se não há elementos do desenho que
confirmem esta afirmação?
E na tira do Hércules, como saber que estão, no último quadrinho, em um
fórum? Que elementos levam a esta conclusão?
Aqui é exigido, além do conhecimento intertextual, mas fazendo parte deste
cabedal de conhecimentos, a inferência, que será tratada no próximo módulo.
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MÓDULO VII
A INFERÊNCIA PARA O EFEITO RISÍVEL DA TIRA DE HUMOR
De acordo com o Aurélio, inferência é uma indução, uma conclusão que, pela
lógica, partindo-se de certa premissa, faz-se uma ilação, ou inferência.
Inferir é, de certa forma, um trabalho detetivesco. O foco da leitura é dividido
entre o leitor e o texto. É preciso que aquele traga para este sua bagagem de
conhecimentos que, em conjunto com as linguagens verbal e não-verbal do texto,
formarão o todo de entendimento para completar o sentido.
Observe a descrição de uma tira abaixo:
Uma menina pergunta a um menino:
- O que é isso, Felipe?
- Um ioiô.
- Um você-você?
- Não. Um ioiô!
- Ah, um Felipe-Felipe?
- NÃO! NÃO É IO DE EU! É IOIÔ, ENTENDEU? IOIÔ!
A menina então grita, segurando pelo colarinho:
- EGOCÊNTRICO!
O conhecimento exigido aqui é linguístico, da língua espanhola. Se não se sabe
que “Yo” significa “Eu” em espanhol, não há como compreender esta tira. Quando
Mafalda pergunta a Felipe “O que é isto?” e ele responde “Um ioiô”, o nome do
brinquedo soa como “eueu” em espanhol. Ela entende que o nome do brinquedo então é
“vocêvocê”.
Quando o menino a corrige e diz novamente o nome do brinquedo, ela entende
que seria então “Felipe-Felipe”, que é o nome do menino. A confusão se instala quando
da correção, algo irritado, como se percebe pela expressão dele, de que é um “ioiô” e
repete várias vezes.
Ela então o chama de egocêntrico, pois entende que ele é um personalista, pois
a repetição de “eueu” (no entendimento dela) dá a impressão de que se refere a si como
o centro de tudo.
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Não há como entender a graça desta tira, aquilo que faz o efeito risível dela,
sem que o conhecimento do leitor se junte às informações do texto para que se forme
uma teia de compreensão.
A inferência também se processa pela dedução pura e simples, através de
premissas. Na descrição que faço de uma tira, é possível perceber este silogismo:
“São três personagens: duas cobras e um sapo. Este está indo embora e elas vão
se despedir. A primeira diz:
- Espero que você seja feliz.
A outra deseja:
- Que você encontre uma mulher para se casar.
Então a primeira torna:
- Ei! Uma das duas coisas, né?”
Por dedução, percebe-se que a primeira cobra não crê que casamento possa
trazer felicidade. Como se deduz isto? Da seguinte forma:
As alternativas dadas ao sapo são felicidade e casamento.
A expressão “Uma das duas coisas” exclui uma alternativa.
Portanto, só se pode ter uma, não as duas, ou seja: ou casamento ou felicidade.
Atividade Proposta:
Leia a reprodução de um diálogo da tira abaixo e, por dedução, responda:
- Gostou, Susanita, foi minha mãe que deu? – pergunta Mafalda mostrando um
boneco negro.
- Ah, um negrinho! – exclama Susanita tocando-o com o dedo.
- Não me diga que você tem preconceito racial?
- Claro que não. Afinal, somos todos iguais.
- Aonde você vai, Susanita?
- Lavar o dedo.
a) Susanita acredita que todos somos iguais?
b) Susanita diz a verdade quando afirma não ter preconceito no segundo
quadrinho?
Para o professor:
Na página <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?
cid=14&min=30&orderby=titleA&show=10> é possível encontrar algumas tiras
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sobre a reforma ortográfica que podem ser usadas inclusive para o trabalho com as
novidades da reforma. O seu uso é público e gratuito.
Atividade Proposta:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/4portugues/86.jpg
a) Como justificar a seguinte informação sobre esta tira: “Grump, o
personagem humanoide, bebe muito álcool”?
b) Existem elementos não-verbais que confirmariam esta afirmativa?
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MÓDULO VIII
A INTERPRETAÇÃO DA TIRA DE HUMOR
Duas meninas, andando pela casa, conversam:
- O que você vai ser quando crescer, Susanita?
- Vou ser mãe.
Ao responder isto, elas passam em frente a uma porta em cuja soleira está o pai
da primeira menina, Mafalda, segurando um vaso de planta. No terceiro quadrinho ele
está desmaiado, e Susanita diz:
- Seu pai tem um jeito muito original de se deitar.
Na tira acima, há uma interpretação das falas: o que é dito no segundo
quadrinho é interpretado, de acordo com as informações que possui, pelo pai da
Mafalda no terceiro quadrinho.
Como ele não tem todos os elementos, principalmente a informação dada no
primeiro quadrinho, sua interpretação da fala de Susanita é incompleta, porém, podemos
afirmar que ela está errada? Ou ao menos sua reação é exagerada? Ou melhor, existem
interpretações erradas de um texto? Se considerarmos a visao do pai, sua interpretação
está correta, porém considerando o todo, está fora do contexto.
Mas e sua reação à informação dada no segundo quadrinho, ela é proporcional
ao fato ou é exagerada?
É neste nível que acontece a leitura interpretativa, ou seja, o leitor torna-se o
foco do texto. Dependendo de suas condições ou formação social, histórica, cultural e
mesmo econômica, seus conhecimentos é que preencherão os “claros” do texto e farão
com que ele o entenda de uma ou de outra forma.
É preciso, neste nível, ir além do texto, usando as informações disponíveis nele
para que possa formular hipóteses, e estas serão baseadas exclusivamente nessas
condições de formação do leitor, em suas relações sociais e culturais.
Atividade proposta:
Responda as questões abaixo levando somente em consideração a formação
social do leitor:
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- A reação do pai de Mafalda (desmaiar) é proporcional ao seu entendimento
da informação?
-Na visão de Susanita e Mafalda, existe o contexto em que um homem adulto
estaria deitado no chão desmaiado após o diálogo que tiveram?
- Considerando-se as condições sociais e culturais de hoje, é comum que
alguém desmaie ao saber que uma criança (na visão do pai de Mafalda) será mãe?
- Uma criança ser mãe é um fato incomum hoje?
Deste ponto em diante é possível acrescentar as informações que o leitor tem
sobre gravidez na adolescência, ou infância, que é o caso, e então desviar-se o foco e
entendimento do texto para o campo de conhecimento do leitor.
Temos, nesta tira, três histórias distintas, ou três visões distintas, e nem todas
dentro do contexto integral da história:
- Das crianças, que não entendem o motivo de um adulto estar deitado daquela
forma no chão;
- Do adulto, que ouve somente uma criança dizer que será mãe e, na sua
interpretação, ela está necessariamente grávida;
- Do leitor, que tem acesso a todos os fatos, ao quadro total da história, ou big
picture, segundo expressão do inglês, e entende o todo, lendo que Susanita diz que será
mãe e inferindo o motivo pelo qual o adulto está desmaiado.
Percorrido este caminho, pode-se ressaltar a reação do adulto ao fato de, na sua
visão, uma criança ter ficado grávida e daí partir para a interpretação de sua formação
sócio-cultural, segundo a qual isto seria motivo de tal espanto que causou o desmaio.
O leitor se torna produtor de um texto argumentativo, expondo suas opiniões
acerca de gravidez na adolescência, deixando transparecer, nesta argumentação, seus
conceitos sobre o assunto, vindos de sua formação sócio-cultural.
Para o Professor:
Aqui partimos da tira de humor, mas em quase todo texto é possível fazer uma
interpretação privilegiando o conhecimento e opiniões do leitor. Diversos temas podem
ser tratados neste ponto, tomando-se o cuidado em proporcionar aos alunos momentos
para que expressem suas visões de mundo sobre estes temas através da formação
cultural que receberam.
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No campo das imagens, caso das tiras mas também do cartaz de propaganda,
charges e cartuns, é possível encaminhar discussões de visões distintas de mundo dos
alunos sobre temas da transversalidade.
No site <http://www.slideshare.net> é possível encontrar apresentações feitas
com cartazes de propagandas que darão margem e tais trabalhos.
Lembre-se que, neste ponto, o que importa é a visão social e cultural do aluno
sobre os temas e a produção do texto argumentativo sobre eles.
Atividade Proposta:
Dos quadrinhos propostos nesta e nos módulos anteriores, pode-se propor
diversos assuntos para argumentação:
- Na página 26, há a tira de humor em que o empregado (Hércules, ou
Héracles, seu nome grego) se sente lesado em seus direitos trabalhistas e recorre à
justiça para ter seu contrato cumprido, fato hodierno muito comum. Do conhecimento
do leitor podem sair temas como a exploração do trabalho escravo, por exemplo;
- Na charge da página 16 é possível perceber que o autor dá seguimento a
uma rivalidade existente entre Brasil e Argentina, quanto não seja no futebol, também
na vida diária, o que pode provocar uma discussão sobre a formação do preconceito,
da xenofobia etc;
- Ainda na página 16, o cartum que descreve a “indústria” das multas dos
radares nas estradas brasileiras, ou a lei que coíbe o excesso de velocidade dão
margem a textos argumentativos sobre educação no trânsito.
De toda forma, o tema do qual a tira de humor dispõe para realizar o efeito
risível nem sempre é o tema que pode ser interpretado dela.
Por vezes, um leitor pode interpretar uma imagem com soluções próprias e
discordantes de todos os presentes à mesma leitura.
Não faz muito tempo, houve uma polêmica séria sobre alguns desenhos de um
cartunista dinamarquês que “brincava” com a ideia do céu dos terroristas islâmicos e
traziam imagens do profeta Maomé e que causou efeito contrário ao pretendido no
mundo islâmico pelo fato de não aceitarem que isto provocaria efeito risível, mas
degradação de sua religião.
Para Millôr Fernandes, não existe humor a favor. Ele sempre é do contra.
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De todo modo, a tira de humor sempre se pautou pela irreverência, pelo
aproveitamento de assuntos em pauta para, usando-os expressar as contradições a que se
submetem os leitores do mundo moderno.
Um exemplo claro disto é a tira abaixo:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/4portugues/88.jpg
Atividade Proposta:
- Qual o tema desta tira?
- O uso dos termos do segundo quadrinho, cujos acentos foram abolidos pela
reforma ortográfica, tem a finalidade de prever qual termo utilizado no terceiro
quadrinho?
- O tema desta tira é o mesmo que é usado para causar o efeito risível ou é
somente um pretexto?
Para o Professor:
De acordo com determinadas convenções dos quadrinhos, a personagem desta
tira tem olhos e um tipo de sorriso que normalmente caracterizam o bêbado. Esta
informação, mais a palavra mocreia do terceiro quadrinho, provocarão no aluno
interpretações diversas. É interessante que se explore estas hipóteses sempre que
surgirem.
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REFERÊNCIAS
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ZILBERMAN, R. & SILVA, E. T. Leitura: perspectivas interdisciplinares, 5ª ed. 8ª impressão. São Paulo: Ática, 2005.
38
SUGESTÕES DE LEITURA
A contribuição das histórias em quadrinhos na formação de leitores competentes.
Trabalho de Adriana Galvão Fogaça sobre a utilização das HQs pelos professores em
sala de aula. Um bom motivo para ler este trabalho é a discussão das chamadas
comunidades interpretativas, dentre as quais está a escola e seu papel na formação de
leitores. Também versa sobre a formação dos sentidos que o leitor dá ao texto,
considerado como “um conjunto de obrigações mais que uma mensagem”. Foi
publicado na Revista PEC, Curitiba, v.3, n.1, p.131-131, jul. 2002-jul. 2003. Também
pode ser encontrado em
<http://www.bomjesus.br/publicacoes/pdf/revista_PEC_2003/2003_contribuicao_hist_q
uadrinhos.pdf>
A leitura do gênero tira de humor em uma perspectiva enunciativa.
Tese de doutorado em Estudos Linguísticos de José Ricardo Carvalho da Silva que traz
toda a história da história em quadrinhos além do trabalho com o gênero tira de humor
em especial como estrutura enunciativa. Traz também as diversas linguagens presentes
nas tiras e como proporcionam a formação do humor. O trabalho pode ser acessado em
<http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/id/28639680.html>
O gênero tira de humor e os recursos enunciativos que geram o efeito risível.
Artigo de José Ricardo Carvalho da Silva, que pode ser acessado em:
<http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/O gênero tira de humor e os
recursos enunciativos que geram o efeito risível - JOSÉ.pdf>. Explicita os processos
pelos quais se dão, na leitura de tiras de humor, os efeitos de humor, ou efeito risível.
Tiras jornalísticas e ensino: Estratégias de leitura do texto icônico-verbal.
Dissertação de Mestrado de Jair Alcindo Lobo de Melo que trata principalmente da
linguagem não-verbal presente nas tiras de humor. Neste trabalho estão presentes
conceitos fundamentais sobre o processo de formação da inferência, indispensável para
quem pretende realizar um trabalho mais profundo de conhecimento deste gênero
textual. Pode ser encontrado no seguinte endereço:
39
<http://www.unitau.br/cursos/pos-graduacao/mestrado/linguistica-aplicada/dissertacoes-
2/dissertacoes-2008/2006-2008 MELO Jair Alcindo Lobo de.pdf>
Para conhecer a história dos quadrinhos no Brasil, o site Wikipédia traz boas
informações sobre o assunto. O endereço é:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/História_em_quadrinhos_no_Brasil>
Alguns endereços na internet que podem trazer mais informações sobre histórias em
quadrinhos:
http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/06-historia-hq-jarcem.pdf
http://pt.shvoong.com/social-sciences/1646498-longa-história-dos-quadrinhos/
Endereços virtuais com tiras de humor, charges e cartuns:
http://www.quino.com.ar/
http://www.ivoviuauva.com.br
http://www.eramos6.com.br
http://www.maquinadequadrinhos.com.br
http://depositodocalvin.blogspot.com/
http://comicshagar.blogspot.com/
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