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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

ELENIRA APARECIDA PASCHUINI

Produção didático - pedagógica do PDE, na área de educação Especial com o tema de intervenção: Recursos tecnológicos na aprendizagem do aluno surdo de EJA.

Orientadora: Profª. Ms. Celma Regina Borghi Rodriguero.

MARINGÁ - PR 2010

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Produção didático-pedagógica:

Elenira Aparecida Paschuini*

Nos últimos anos, o acesso dos surdos à educação de jovens e adultos tem

sido em número cada vez maior. Todavia, o fato de esses alunos frequentarem a

escola não lhes tem garantido o desenvolvimento de sua aprendizagem. Esse

contexto, sugere alguns questionamentos, que precisam ser considerados quando

se tem o intuito de buscar atender as especificidades do alunado da área de surdez

na modalidade de educação de jovens e adultos, entre os quais: Os métodos de

ensino para educação do aluno surdo têm fracassado? O material didático utilizado

não corresponde às práticas da pedagogia surda? As relações entre o que se

ensina e o que o surdo consegue aprender, geram uma grande complexidade no

processo ensino-aprendizagem? Tem-se oportunizado a este aluno o acesso à

aprendizagem embasada em LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais?

Assim, refletindo sobre uma pedagogia voltada à necessidade do enfoque na

percepção visual, este projeto sugere algumas ferramentas metodológicas

vinculadas ao uso do computador, como instrumento educacional.

Para as estratégias de ação deste Material Didático-Pedagógico, faremos

inicialmente uma discussão sobre a importância das experiências visuais na vida e

na educação do aluno surdo adulto.

A seguir, apontaremos encaminhamentos para um possível trabalho com os

elementos da narrativa – conteúdo que constitui o foco central deste material,

contemplando este assunto como conteúdo curricular da disciplina de Língua

Portuguesa do Ensino Fundamental – Fase II.

*Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. E-mail:

[email protected]

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A percepção visual em discussão:

Aos poucos e a partir da década de 90, o Bilinguismo passou a ser

desenvolvido nas práticas pedagógicas da educação de pessoas surdas. No

entanto, não há como negar que o canal visual seja extremamente importante na

aquisição de conhecimento do alunado surdo, uma vez que este aluno depara-se

no cotidiano, com outdoors, placas de trânsito, rótulos, comerciais e histórias que

lhes chamam a atenção devido ao interesse despertado pelo canal visual.

As novas tecnologias trazem uma série de informações que possibilitam aos

alunos surdos a interação com os textos em LIBRAS e outros materiais

direcionados a eles e que já circulam no meio educacional.

Conforme destaca Quadros (1997), há questões essenciais a serem

consideradas na implantação de uma proposta bilíngue para surdos, destacando-

se, primeiramente, a necessidade de conhecimento das duas línguas envolvidas

neste processo educacional e o lugar ocupado por cada uma delas.

Tais lugares são defendidos - pela autora e pela legislação brasileira - como

sendo a aquisição de L1 (primeira língua, língua nativa) a LIBRAS e,

posteriormente a aquisição de L2 (segunda língua), a Língua Portuguesa.

É fundamental no processo bilíngue que a conscientização, de que os

fatores sociais, culturais e linguísticos, distintos em cada língua, influenciam

diretamente na educação dos alunos surdos (QUADROS, 1997).

As características das línguas espaço-visuais, que são diferentes das línguas

orais-auditivas, são exploradas em estudos surdos por vários autores como: Skliar

(2006), Strobel (2006), Stumpf (2006), Vilhalva (2004), entre outros, que relatam os

resultados de experiências realizadas em suas pesquisas.

Quadros (1997) salienta que se faz necessário destacar alguns fatores que

influenciam a educação do aluno surdo, entre eles, a criação de um ambiente

linguístico apropriado às formas particulares de processamento cognitivo e

linguístico dos alunos surdos, enfatizando que estes necessitam de mediação

voltada à sua cultura.

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Percebe-se, atualmente, que há uma longa discussão sobre a implantação

da educação bilíngue para surdos, porque além das dificuldades em conhecer

profundamente a cultura dos envolvidos neste processo, é fato, a ausência de

profissionais que tenham formação específica para atuarem na educação de

surdos.

Com a regulamentação das leis que refletem a luta da comunidade surda,

Lei nº 10436 de 24 de abril de 2002, que reconhece a LIBRAS como meio de

comunicação e expressão e o Decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005, que

implanta a LIBRAS no ambiente educacional e social, busca-se uma formação

específica de profissionais para atendimento educacional à pessoa surda.

Vilhalva (2004, p. 03) enfatiza que “o trabalho pedagógico requer muita flexibilidade

e criatividade dialógica sinalizada, sempre reafirmando a importância da

compreensão da cultura Surda existente.”

Aspectos relevantes da história do surdo:

Atualmente, os surdos, enquanto parte de um grupo minoritário, buscam na

escolarização a inserção social na tentativa de conquistar seus direitos de

cidadãos.

Estudos de Strobel (2006), esclarecem que para compreender melhor o

porquê da busca de uma educação diferente ao povo surdo. Explica que na

atualidade os surdos pensam que estão em um bom momento em relação a muitos

anos atrás. Salienta que o conhecimento das profundas transformações do

processo de desenvolvimento da educação dos surdos, é essencial para resgatar a

valorização do surdo no contexto da inclusão educacional.

O cenário brasileiro tem sido palco de influências pedagógicas de fora do

país e isto tem representado o poder da cultura dominante sobre os interesses do

povo surdo.

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Nas pesquisas históricas, Strobel (2006, p. 247) afirma:

na antiguidade, os sujeitos surdos eram estereotipados como ‘anormais’, com algum tipo de atraso de inteligência, devido à ausência de trabalho e pesquisas científicas desenvolvidos na área educacional. Para a sociedade, o ‘normal’ era que: é preciso falar e ouvir para ser aceito, então os sujeitos surdos eram excluídos da vida social e educacional(...)

Somente a partir de século XVI, pedagogos e filósofos envolvidos nas

problemáticas da educação dos surdos começaram a buscar alternativas na

sinalização.

No início da Idade Moderna, professores desenvolveram, simultaneamente,

os métodos com sinais e a oralização na educação de sujeitos surdos em vários

lugares da Europa. Iniciava-se a aprendizagem dos sujeitos surdos com o uso da

língua de sinais e o do alfabeto manual.

Porém, no ano de 1880, aconteceu em Milão, na Itália, o Congresso Mundial

favorável ao Oralismo, banindo o uso da língua de sinais em todo o mundo.

Como conseqüência deste fato, durante cem os anos subsequentes, as

pessoas surdas foram levadas a aceitar idéias ouvintistas, abandonando sua

cultura e sua identidade surda. Os surdos eram forçados a imitar os ouvintes e

tinham que parecer também ouvintes (STROBEL, 2006).

Atualmente, o indivíduo que pertence ao povo surdo identifica-se como

“surdo”. Os surdos que assumem sua limitação – perda auditiva - formam um grupo

que possui características linguísticas específicas, cognitivas e culturais.

Na âmbito educacional, mesmo com o desenvolvimento das tecnologias

essencialmente visuais, as metodologias empregadas na educação de surdos,

seguem utilizando hábitos da escrita mecânica, que não tem sentido, continuando

uma reprodução das práticas ouvintistas.

Aos professores cabe a responsabilidade de organizar situações de ensino-

aprendizagem e realizar as mediações necessárias ao atendimento do aluno surdo,

uma vez que o desenvolvimento da aprendizagem deste aluno, precisa de

intervenção pedagógica específica.

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Fernandes (1998), fundamentada em estudos de Skliar (2006), defende a

formação de professores alicerçada nas concepções sócio-antropológicas,

enfatizando o envolvimento da comunidade surda no gerenciamento da educação

voltada aos alunos surdos.

A autora esclarece em seus estudos, que quando os professores se

deparam com alunos surdos em suas classes, é importante entenderem que têm

diante de si um usuário de uma língua diferente, com diferenças individuais,

lembrando que a perda auditiva que eles possuem é apenas um aspecto de sua

subjetividade.

É fundamental na educação de alunos surdos, adultos ou não, introduzir

metodologias e estratégias visuais complementares à língua de sinais, promovendo

uma interação dos professores do ensino regular e com os especialistas da área da

surdez.

O ensino de qualquer aluno com necessidades educacionais especiais

requer o reconhecimento de sua especificidade, o que ele tem de diferente em

relação aos outros, sem que seja enfatizada a diferença. No caso do aluno surdo, a

diferença é de ordem linguística.

O professor, juntamente com os outros membros da comunidade, terá de

realizar adaptações curriculares que atendam aos aspectos lingüísticos

diferenciados na comunicação das pessoas surdas.

A linguagem não-verbal:

A linguagem estabelece relação de comunicação entre os seres humanos. É

por meio da linguagem que o humano diferencia-se dos animais.

Os processos comunicativos englobam diversas formas de discurso. O

discurso definido por Orlandi (1999) é a expressão em movimento na prática da

linguagem, seja esta expressão oralizada ou não.

O discurso observa o homem estabelecendo sentidos em suas

manifestações sociais comunicativas. O enfoque na socialização distancia-se do

modo como o esquema elementar da comunicação apresenta seus elementos

básicos: emissor, receptor e mensagem. (ORLANDI,1999)

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O discurso é o efeito de sentidos entre locutores. Nesta perspectiva, a

Análise de Discurso em questão concebe a linguagem como mediação necessária

entre o homem e a realidade e torna possível a permanência, a continuidade e a

transformação dessa realidade em que vive. (ORLANDI, 1999)

Os homens são vistos enquanto sujeitos que fazem parte de uma

sociedade.

O discurso é articulado no conhecimento das Ciências Sociais e no domínio

da Linguística. Este discurso é um objeto sócio-histórico e na sua prática reflete-se

como a linguagem utilizada está materializada na ideologia e como a ideologia é

manisfestada na língua. Nesse sentido e, concebendo a LIBRAS – Língua

Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda, percebe-se que o

discurso em ação não é visto livre, e sim com condicionantes linguísticos ou

determinações históricas. Com a LIBRAS, que representa a cultura surda, não é

diferente, pois a representação do discursos em linguagem não-verbal, ou seja,

sinalizada, não é fechada em si mesma.

É pela ideologia que a língua faz sentido, completando com fragmento do

prefácio da autora:

Problematizar as maneiras de ler, levar o sujeito falante ou o leitor a se colocarem questões sobre o que produzem e o que ouvem nas diferentes manifestações da linguagem. Perceber que não podemos não estar sujeitos à linguagem, a seus equívocos, sua opacidade. Saber que não há neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos.(...) é contribuição da análise do discurso.”(ORLANDI, 1999, p. 2)

As condições de produção compreendem fundamentalmente os sujeitos e a

situação, é o contexto imediato, incluindo-se o contexto sócio-histórico e ideológico.

Em um discurso na língua portuguesa, basta saber português que o

enunciado está inteligível, interpretando-se o sentido em um contexto ou situação.

Porém, a compreensão em LIBRAS é mais que isto, é uma interpretação

mais ampla, buscando-se a explicitação dos processos reais de significação, como

o discurso nos sinais está investido de significância.

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É hora de exercitar:

Primeiro momento:

Inicialmente, será apresentado um vídeo em LIBRAS com uma história

narrativa, buscando explorar as diversas situações textuais e abrindo discussões

sobre a narração apresentada.

Coleção Clássicos da Literatura em LIBRAS/Português

Volume 9 – Relógio de Ouro – Machado de Assis

Realização: Editora Arara Azul

RELÓGIO DE OURO

Machado de Assis - 1873

Agora contarei a história do relógio de ouro. Era um grande cronômetro,

inteiramente novo, preso a uma elegante cadeia. Luís Negreiros tinha muita razão

em ficar boquiaberto quando viu o relógio em casa, um relógio que não era dele,

nem podia ser de sua mulher. Seria ilusão dos seus olhos? Não era; o relógio ali

estava sobre uma mesa da alcova, a olhar para ele, talvez tão espantado, como

ele, do lugar e da situação.

Clarinha não estava na alcova quando Luís Negreiros ali entrou. Deixou-se

ficar na sala, a folhear um romance, sem corresponder muito nem pouco ao ósculo

com que o marido a cumprimentou logo à entrada. Era uma bonita moça esta

Clarinha, ainda que um tanto pálida, ou por isso mesmo. Era pequena e delgada;

de longe parecia uma criança; de perto, quem lhe examinasse os olhos, veria bem

que era mulher como poucas. Estava molemente reclinada no sofá, com o livro

aberto, e os olhos no livro, os olhos apenas, porque o pensamento, não tenho

certeza se estava no livro, se em outra parte. Em todo o caso parecia alheia ao

marido e ao relógio.

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Luís Negreiros lançou mão do relógio com uma expressão que eu não me

atrevo a descrever. Nem o relógio, nem a corrente eram dele; também não eram de

pessoas suas conhecidas. Tratava-se de uma charada. Luís Negreiros gostava de

charadas, e passava por ser decifrador intrépido; mas gostava de charadas nas

folhinhas ou nos jornais. Charadas palpáveis ou cronométricas e sobretudo sem

conceito, não as apreciava Luís Negreiros.

Por esse motivo, e outros que são óbvios, compreenderá o leitor que o

esposo de Clarinha se atirasse sobre uma cadeira, puxasse raivosamente os

cabelos, batesse com o pé no chão, e lançasse o relógio e a corrente para cima da

mesa. Terminada esta primeira manifestação de furor, Luís Negreiros pegou de

novo nos fatais objetos, e de novo os examinou. Ficou na mesma. Cruzou os

braços durante algum tempo e refletiu sobre o caso, interrogou todas as suas

recordações, e concluiu no fim de tudo que, sem uma explicação de Clarinha,

qualquer procedimento fora baldado ou precipitado.

Foi ter com ela. Clarinha acabava justamente de ler uma página e voltava a

folha com o ar indiferente e tranqüilo de quem não pensa em decifrar charadas de

cronômetro. Luís Negreiros encarou-a; seus olhos pareciam dois reluzentes

punhais.

Que tens? perguntou a moça com a voz doce e meiga que toda a gente

concordava em lhe achar.

Luís Negreiros não respondeu à interrogação da mulher; olhou algum tempo

para ela; depois deu duas voltas na sala, passando a mão pelos cabelos, por modo

que a moça de novo lhe perguntou:

Que tens?

Luís Negreiros parou defronte dela.

Que é isto? disse ele tirando do bolso o fatal relógio e apresentando-lho

diante dos olhos. Que é isto? repetiu ele com voz de trovão.

Clarinha mordeu os beiços e não respondeu. Luís Negreiros esteve algum

tempo com o relógio na mão e os olhos na mulher, a qual tinha os seus olhos no

livro.

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O silêncio era profundo. Luís Negreiros foi o primeiro que o rompeu, atirando

estrepitosamente o relógio ao chão, e dizendo em seguida à esposa:

Vamos, de quem é aquele relógio?

Clarinha ergueu lentamente os olhos para ele, abaixou-os depois, e

murmurou: Não sei.

Luís Negreiros fez um gesto como de quem queria esganá-la; conteve-se. A

mulher levantou-se, apanhou o relógio e pô-lo sobre uma mesa pequena. Não se

pôde conter Luís Negreiros. Caminhou para ela, e segurando-lhe nos pulsos com

força, lhe disse:

Não me responderás, demônio? Não me explicarás esse enigma?

Clarinha fez um gesto de dor, e Luís Negreiros imediatamente lhe soltou os

pulsos que estavam arrochados. Noutras circunstâncias é provável que Luís

Negreiros lhe caísse aos pés e pedisse perdão de a haver machucado. Naquela,

nem se lembrou disso; deixou-a no meio da sala e entrou a passear de novo,

sempre agitado, parando de quando em quando, como se meditasse algum

desfecho trágico.

Clarinha saiu da sala.

Pouco depois veio um escravo dizer que o jantar estava na mesa.

Onde está a senhora?

Não sei, não, senhor.

Luís Negreiros foi procurar a mulher, achou-a numa saleta de costura,

sentada numa cadeira baixa, com a cabeça nas mãos a soluçar. Ao ruído que ele

fez na ocasião de fechar a porta atrás de si, Clarinha levantou a cabeça, e Luís

Negreiros pôde ver-lhe as faces úmidas de lágrimas. Esta situação foi ainda pior

para ele que a da sala.

Luís Negreiros não podia ver chorar uma mulher, sobretudo a dele. Ia

enxugar-lhe as lágrimas com um beijo, mas reprimiu o gesto, e caminhou frio para

ela; puxou uma cadeira e sentou-se em frente de Clarinha.

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Estou tranqüilo, como vês, disse ele, responde-me ao que te perguntei com a

franqueza que sempre usaste comigo. Eu não te acuso nem suspeito nada de ti.

Quisera simplesmente saber como foi parar ali aquele relógio. Foi teu pai que o

esqueceu cá?

Não.

Mas então...

Oh! não me perguntes nada! exclamou Clarinha; ignoro como esse relógio se

acha ali.... Não sei de quem é... deixa-me.

É demais! urrou Luís Negreiros, levantando-se e atirando a cadeira ao chão.

Clarinha estremeceu, e deixou-se ficar aonde estava. A situação tornava-se

cada vez mais grave; Luís Negreiros passeava cada vez mais agitado, revolvendo

os olhos nas órbitas, e parecendo prestes a atirar-se sobre a infeliz esposa. Esta,

com os cotovelos no regaço e a cabeça nas mãos, tinha os olhos encravados na

parede. Correu assim cerca de um quarto de hora. Luís Negreiros ia de novo

interrogar a esposa, quando ouviu a voz do sogro, que subia as escadas gritando:

Ó seu Luís! Ó seu malandrim!

Ai vem teu pai! disse Luís Negreiros; logo me pagarás.

Saiu da sala de costura e foi receber o sogro, que já estava no meio da sala,

fazendo viravoltas com o chapéu-de-sol, com grande risco das jarras e do

candelabro.

Vocês estavam dormindo? perguntou o Sr. Meireles tirando o chapéu e

limpando a testa com um grande lenço encarnado.

Não, senhor, estávamos conversando...

Conversando?... repetiu Meireles.

E acrescentou consigo: Estavam de arrufos... é o que há de ser.

Vamos justamente jantar, disse Luís Negreiros. Janta conosco?

Não vim cá para outra coisa, acudiu Meireles; janto hoje e amanhã também.

Não me convidaste, mas é o mesmo.

Não o convidei?...

Sim, não fazes anos amanhã?

Ah! é verdade...

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Não havia razão aparente para que, depois destas palavras ditas com um

tom lúgubre, Luís Negreiros repetisse, mas desta vez com um tom

descomunalmente alegre:

Ah! é verdade!...

Meireles, que já ia pôr o chapéu num cabide do corredor, voltou-se

espantado para o genro, em cujo rosto leu a mais franca, súbita e inexplicável

alegria.

Está maluco! disse baixinho Meireles.

Vamos jantar, bradou o genro, indo logo para dentro, enquanto Meireles

seguindo pelo corredor ia ter à sala de jantar.

Luís Negreiros foi ter com a mulher na sala de costura e achou-a de pé,

compondo os cabelos diante de um espelho:

Obrigado, disse.

A moça olhou para ele admirada.

Obrigado, repetiu Luís Negreiros; obrigado e perdoa-me.

Dizendo isto, procurou Luís Negreiros abraçá-la; mas a moça, com um gesto

nobre, repeliu o afago do marido e foi para a sala de jantar.

Tem razão! murmurou Luís Negreiros.

Daí a pouco achavam-se todos três à mesa do jantar, e foi servida a sopa,

que Meireles achou, como era natural, de gelo. Ia já fazer um discurso a respeito da

incúria dos criados, quando Luís Negreiros confessou que toda a culpa era dele,

porque o jantar estava há muito na mesa. A declaração apenas mudou o assunto

do discurso, que versou então sobre a terrível coisa que era um jantar requentado, -

qui ne valut jamais rien.

Meireles era um homem alegre, pilhérico, talvez frívolo demais para a idade,

mas em todo o caso interessante pessoa. Luís Negreiros gostava muito dele, e via

correspondida essa afeição de parente e de amigo, tanto mais sincera quanto que

Meireles só tarde e de má vontade lhe dera a filha. Durou o namoro cerca de quatro

anos, gastando o pai de Clarinha mais de dois em meditar e resolver o assunto do

casamento. Afinal deu a sua decisão, levado antes das lágrimas da filha que dos

predicados do genro, dizia ele.

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A causa da longa hesitação eram os costumes pouco austeros de Luís

Negreiros, não os que ele tinha durante o namoro, mas os que tivera antes e os

que poderia vir a ter depois. Meireles confessava ingenuamente que fora marido

pouco exemplar, e achava que por isso mesmo devia dar à filha melhor esposo do

que ele. Luís Negreiros desmentiu as apreensões do sogro; o leão impetuoso dos

outros dias tornou-se um pacato cordeiro. A amizade nasceu franca entre o sogro e

o genro, e Clarinha passou a ser uma das mais invejadas moças da cidade.

E era tanto maior o mérito de Luís Negreiros quanto que não lhe faltavam

tentações. O diabo metia-se às vezes na pele de um amigo e ia convidá-lo a uma

recordação dos antigos tempos. Mas Luís Negreiros dizia que se recolhera a bom

porto e não queria arriscar-se outra vez às tormentas do alto mar.

Clarinha amava ternamente o marido, e era a mais dócil e afável criatura que

por aqueles tempos respirava o ar fluminense. Nunca entre ambos se dera o menor

arrufo; a limpidez do céu conjugal era sempre a mesma e parecia vir a ser

duradoura.

Que mau destino lhe soprou ali a primeira nuvem?

Durante o jantar Clarinha não disse palavra, - ou poucas dissera, ainda

assim as mais breves e em tom seco.

Estão de arrufo, não há dúvida; pensou Meireles ao ver a pertinaz mudez da

filha. Ou a arrufada é só ela, porque ele parece-me lépido.

Luís Negreiros efetivamente desfazia-se todo em agrados, mimos e cortesias

com a mulher, que nem sequer olhava em cheio para ele. O marido já dava o sogro

a todos os diabos, desejoso de ficar a sós com a esposa, para a explicação última,

que reconciliaria os ânimos. Clarinha não parecia desejá-lo; comeu pouco e duas

ou três vezes soltou-se-lhe do peito um suspiro.

Já se vê que o jantar, por maiores que fossem os esforços, não podia ser

como nos outros dias. Meireles sobretudo achava-se acanhado. Não era que

receasse algum grande acontecimento em casa; sua idéia é que sem arrufos não

se aprecia a felicidade, como sem tempestade não se aprecia o bom tempo.

Contudo, a tristeza da filha sempre lhe punha água na fervura.

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Quando veio o café, Meireles propôs que fossem todos três ao teatro; Luís

Negreiros aceitou a idéia com entusiasmo. Clarinha recusou secamente.

Não te entendo hoje, Clarinha, disse o pai com um modo impaciente. Teu

marido está alegre e tu pareces-me abatida e preocupada. Que tens?

Clarinha não respondeu; Luís Negreiros, sem saber o que havia de dizer,

tomou a resolução de fazer bolinhas de miolo de pão. Meireles levantou os ombros.

Vocês lá se entendem, disse ele. Se amanhã, apesar de ser o dia que é,

vocês estiverem do mesmo modo, prometo-lhes que nem a sombra me verão.

Oh! há de vir, ia dizendo Luís Negreiros, mas foi interrompido pela mulher

que desatou a chorar.

O jantar acabou assim triste e aborrecido. Meireles pediu ao genro que lhe

explicasse o que aquilo era, e este prometeu que lhe diria tudo em ocasião

oportuna.

Pouco depois saía o pai de Clarinha protestando de novo que, se no dia

seguinte os achasse do mesmo modo, nunca mais voltaria à casa deles, e que se

havia coisa pior que um jantar frio ou requentado, era um jantar mal digerido. Este

axioma valia o de Boileau, mas ninguém lhe prestou atenção.

Clarinha fora para o quarto; o marido, apenas se despediu do sogro, foi ter

com ela. Achou-a sentada na cama, com a cabeça sobre uma almofada, e

soluçando.

Luís Negreiros ajoelhou-se diante dela e pegou-lhe numa das mãos.

Clarinha, disse ele, perdoa-me tudo. Já tenho a explicação do relógio; se teu

pai não me fala em vir jantar amanhã, eu não era capaz de adivinhar que o relógio

era um presente de anos que tu me fazias.

Não me atrevo a descrever o soberbo gesto de indignação com que a moça

se pôs de pé quando ouviu estas palavras do marido. Luís Negreiros olhou para ela

sem compreender nada. A moça não disse uma nem duas; saiu do quarto e deixou

o infeliz consorte mais admirado que nunca.

Mas que enigma é este? perguntava a si mesmo Luís Negreiros. Se não era

um mimo de anos, que explicação pode ter o tal relógio?

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A situação era a mesma que antes do jantar. Luís Negreiros assentou de

descobrir tudo naquela noite. Achou, entretanto, que era conveniente refletir

maduramente no caso e assentar numa resolução que fosse decisiva. Com este

propósito recolheu-se ao seu gabinete, e ali recordou tudo o que se havia passado

desde que chegara a casa. Pesou friamente todas as razões, todos os incidentes, e

buscou reproduzir na memória a expressão do rosto da moça, em toda aquela

tarde.

O gesto de indignação e a repulsa quando ele a foi abraçar na sala de

costura, eram a favor dela; mas o movimento com que mordera os lábios no

momento em que ele lhe apresentou o relógio, as lágrimas que lhe rebentaram à

mesa, e mais que tudo o silêncio que ela conservava a respeito da procedência do

fatal objeto, tudo isso falava contra a moça.

Luís Negreiros, depois de muito cogitar, inclinou-se à mais triste e deplorável

das hipóteses. Uma idéia má começou a enterrar-se-lhe no espírito, à maneira de

verruma, e tão fundo penetrou, que se apoderou dele em poucos instantes. Luís

Negreiros era homem assomado quando a ocasião o pedia. Proferiu duas ou três

ameaças, saiu do gabinete e foi ter com a mulher.

Clarinha recolhera-se de novo ao quarto. A porta estava apenas cerrada.

Eram nove horas da noite. Uma pequena lamparina alumiava escassamente o

aposento. A moça estava outra vez assentada na cama, mas já não chorava; tinha

os olhos fitos no chão. Nem os levantou quando sentiu entrar o marido.

Houve um momento de silêncio.

Luís Negreiros foi o primeiro que falou.

Clarinha, disse ele, este momento é solene. Responde-me ao que te

pergunto desde esta tarde?

A moça não respondeu.

Reflete bem, Clarinha, continuou o marido. Podes arriscar a tua vida. A moça

levantou os ombros.

Uma nuvem passou pelos olhos de Luís Negreiros. O infeliz marido lançou

as mãos ao colo da esposa e rugiu:

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Responde, demônio, ou morres!

Clarinha soltou um grito.

Espera! disse ela.

Luís Negreiros recuou.

Mata-me, disse ela, mas lê isto primeiro. Quando esta carta foi ao teu

escritório já te não achou lá: foi o que o portador me disse.

Luís Negreiros recebeu a carta, chegou-se à lamparina e leu estupefato

estas linhas:

Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos; mando-te esta lembrança.

Tua Iaiá.

Assim acabou a história do relógio de ouro.

Questões interpretativas:

1 - O que aconteceu durante a história? Que personagens viveram os fatos?

Onde ocorreram as cenas? Por que eles demonstraram atitudes de desconfiança?

2 - Como terminou a história do casal e qual a importância do relógio no final

da narrativa?

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Segundo momento:

No segundo momento, será realizado um estudo direcionado ao conteúdo

curricular que enfocará os elementos da narrativa da Língua Portuguesa,

utilizando-se de informações traduzidas em LIBRAS.

Elementos da narrativa:

Contar histórias é uma atividade praticada por muita gente: pais, filhos,

professores, amigos, namorados, avós... Enfim, todos contam toda espécie de

narrativa: histórias de fadas, casos, piadas, mentiras, romances contos, novelas...

Assim, a maioria das pessoas é capaz de perceber que toda narrativa tem

elementos fundamentais, sem ao quais não pode existir, tais elementos de certa

forma responderiam às seguintes perguntas: O que aconteceu? Quem viveu os

fatos? Como? Onde? Por quê?

Em outras palavras a narrativa é estruturada sobre cinco elementos

principais:

- enredo;

- personagens;

- tempo;

- espaço;

- narrador.

Enredo:

O enredo é a estrutura da narrativa, é o desenrolar dos acontecimentos.

Narrador:

Narrador é quem conta a história. Não deve ser confundido com autor. Autor

é a pessoa que existe fisicamente; o narrador é inventado pelo autor para relatar os

fatos. Ele é o elemento estruturador da história.

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Tipos de narrador:

Dependendo da posição que o narrador assume para narrar uma história,

podemos ter dois tipos de narrador que poderão ser identificados pelo pronome

pessoal usado na narração: primeira ou terceira pessoa do singular (eu ou ele/ela).

1 – Terceira pessoa ou narrador-observador: é o narrador qu está fora

dos fatos narrados, portanto seu ponto de vista tende a ser mais imparcial. O

narrador em terceira pessoa é chamado de narrador-observador e suas

características são:

a - Onisciência: o narrador sabe tudo sobre a história, não apenas narra o que se

passa com os personagens, em 3ª pessoa, mas também o que eles sentem; e em

outras palavras, ele sabe mais que os personagens;

b - Onipresença: o narrador está presente em todos os lugares da história.

2 – Primeira pessoa ou narrador personagem: é aquele que participa

diretamente do enredo como qualquer personagem, portanto tem seu campo de

visão limitado, apresentando a sua versão dos fatos, assim como ele os vê. A

história é contada em 1ª pessoa (eu) e o narrador é chamado narrador-

personagem.

Personagens:

A personagem constitui o elemento fundamental de um texto narrativo. Não

há história em personagem. Em torno dela, o narrador constrói o texto.

A personagem só vai existir se participar da história agindo ou falando. Se

um ser é apenas mencionado, não será considerado personagem.

Tipos de personagem:

a - Protagonista: é a personagem principal, em torno da qual os fatos ocorrem;

b - Antagonista: é a personagem que se opõe à protagonista;

c - Secundárias: são as personagens menos importantes na história, isto é, que

têm uma participação menor ou menos freqüente no enredo.

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Características das personagens:

Para conhecermos melhor as personagens o narrador descreve-as física e

psicologicamente.

a - Características físicas: é como a personagem é apresentada fisicamente

(aquilo que é externo, que está fora). É a aparência física: a voz, a altura, os

gestos, a idade, como são os cabelos, os olhos, a roupa, etc.

b - Características psicológicas: é como a personagem é apresentada

interiormente. É o seu jeito de ser, a sua personalidade, as suas preferências, o

seu temperamento, o caráter, etc.

Ações, falas, pensamentos, sentimentos, características, ambiente

constituem os elementos através dos quais o leitor a conhece.

Tempo:

Os acontecimentos de ume enredo estão ligados ao tempo através:

a - da época em que se passa a história. Os fatos estão relacionados a um período

histórico, é o pano de fundo de um enredo.

b - da duração da história, período de tempo de uma história que pode ser curto

(uma tarde) ou longo (anos).

c - do tempo cronológico, aquele que pode ser contado em dias, meses, anos ,

séculos. É um tempo linear que segue a linha do tempo.

d - do tempo psicológico, aquele que altera a ordem natural dos acontecimentos.

Ele é determinado pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou dos

personagens.

O que diferencia, basicamente, um texto narrativo de um texto descritivo é o

tempo. Na narração ele é dinâmico, na descrição ele é estático, parado, como

numa fotografia.

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Espaço-Ambiente:

O espaço da narrativa é o lugar, o cenário onde se desenrolam os

acontecimentos.

Ambiente é o espaço carregado de características sócio-econômicas,

morais, psicológicas, em que vivem os personagens. A confluência entre dois

referenciais, espaço e tempo, é que determina o chamamos clima da narrativa. O

ambiente, então, reflete o clima da narrativa: alegre, triste, rico, pobre, suntuoso,

sombrio, violento..., etc.

Estrutura da narrativa:

Para entendermos a organização dos fatos no enredo não basta perceber

que toda história tem começo, meio e fim; é preciso haver um problema, um conflito

que vai criar o suspense a partir do qual se organizarão os fatos da história e

prenderão atenção do interlocutor.

Em termos de estrutura, o texto narrativo apresenta as seguintes partes:

a) situação inicial;

b) desenvolvimento ou complicação;

c) clímax;

d) situação final ou desfecho.

Situação inicial ou apresentação:

É o momento, quase sempre no início da história, na qual são apresentados

os fatos iniciais, os personagens, às vezes, o tempo e o espaço. Enfim, é a parte

na qual se situa o leitor diante da trama narrativa que indica a construção e

organização dos fatos, revelando o trabalho de criação do autor.

Desenvolvimento ou complicação (nó):

O fato narrativo que interrompe o equilíbrio da situação inicial e dá início à

complicação da narrativa, criando, um problema, é o nó. Ele é o desencadeador do

conflito.

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Conflito:

O conflito é qualquer elemento da história (personagens, fatos, ambiente,

idéias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão ou suspense que

organiza os fatos da história e prende a atenção. Na verdade, pode haver mais de

um conflito na narrativa.

Clímax:

O clímax é o momento de maior tensão, no qual o conflito chega a seu ponto

máximo, encaminhando a narrativa para o final.

Situação final ou desfecho:

É o momento da resolução do conflito central da narrativa, podendo ser feliz

ou não. Há muitos tipos de desfecho: surpreendente, feliz, trágico, cômico,

esperado e outros.

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Terceiro momento:

No terceiro momento, serão analisadas histórias de quadrinhos, charges,

história sem áudio (vídeo), entre outros materiais, como forma de exercícios e

aprendizagem do conteúdo trabalhado.

História em quadrinhos 1

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Questões interpretativas:

1 - O que aconteceu durante a história? Que personagens viveram os

fatos? Onde ocorreram as cenas? Por que os indiozinhos queriam demonstrar

coragem?

2 - Como terminou a história? Por que os indiozinhos riram muito e,

ao final da narrativa, demonstraram decepção?

História em quadrinhos 2

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Questões interpretativas:

1 - O que aconteceu durante a história? Que personagens viveram os

fatos? Onde ocorreram as cenas? Por que Chico Bento procurava cuidar da

segurança da galinha?

2 - Como terminou a história? O que Chico Bento pediu para sua mãe

e por quê?

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Questões interpretativas:

1 - O que aconteceu na charge? Que personagens estão retratados?

Onde ocorreu a cena? Por que a mãe demonstra estar zangada com o filho?

2 – Qual a importância do desenho do menino e o que você pensa

sobre a atitude da mãe? Está certa ou errada?

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Questões interpretativas:

1 - O que você vê nesta charge? O que o personagem está fazendo?

Onde ocorre esta cena? Que história você poderia contar sobre o passarinho?

2 – Por que o desenho mostra as consequências da ação do homem

sobre a natureza?

Vídeo em LIBRAS: JOÃO e Maria (LIBRAS) 11:40 min. Disponível em

http://video.google.com/videoplay?docid=816404731024540131#docid=135821117

8395353973>

Analisar os elementos da narrativa no vídeo em LIBRAS.

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Reflexões sobre as atividades relacionadas à percepção visual:

Tanto nas charges como no vídeo, as imagens são importantes, pois levam o

aluno surdo a envolver-se em construções significativas de aprendizagem.

Ao trabalhar com linguagem não-verbal, instiga-se este aluno a localizar

informações explícitas e implícitas em uma mensagem narrativa.

É um exercício de compreensão do currículo escolar e uma descoberta das

informações que já foram assimiladas pelo aluno surdo.

Verifica-se também, com estas atividades, o conhecimento do mundo do

aluno, ligando-o a fatos contemporâneos que produzem idéias conectadas às

realidades vivenciadas no cotidiano.

Por meio destas atividades, avalia-se a capacidade do surdo em reconhecer

os diversos elementos narrativos, bem como interpretar as histórias como um todo,

inferindo significados importantes para seu desenvolvimento cognitivo e social.

Reconhecendo o assunto principal das narrações apresentadas e

conhecendo melhor a ferramenta tecnológica utilizada, pretende-se desenvolver

perspectivas de aprendizagem real do aluno surdo de EJA.

Quarto momento:

No quarto momento, serão realizadas visitas a sites direcionados à

comunidade surda e buscar-se-á critérios de análise, procurando identificar

aspectos do conteúdo trabalhado nesse projeto.

• www.ines.org.br

• www.feneis.org.br

• www.surdosol.com.br

•http://politicaemlibras.blogspot.com

•www.prolibras.ufsc.br

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Ao apresentar aos alunos surdos do CEEBJA de Sarandi alguns sites

relacionados à cultura surda, espera-se que estes alunos possam reconhecer

diferentes formas de manifestações lingüísticas e que eles percebam quantas

informações poderão ter ao seu alcance.

Conclusão:

As atividades que foram apresentadas neste material foram elaboradas com

o objetivo de auxiliar o trabalho do professor. Junto ao conhecimento das

experiências de atendimento à pessoa surda, acredita-se que tais sugestões

possam contribuir para melhorar a aprendizagem dos alunos incluídos na

modalidade de educação de jovens e adultos.

Por meio da intervenção pedagógica, fundamentada neste material pelos

estudos da teoria Histórico-Cultural, pretende-se abrir caminhos para reflexões,

adaptações e flexibilizações no atendimento do aluno surdo adulto.

Concluindo, vale destacar que atualmente existem várias ações pedagógicas

possíveis, envolvendo um projeto de educação inclusiva. O importante é

considerar, na proposta curricular, a cultura surda, propondo a utilização de novas

tecnologias educacionais, principalmente visuais e buscar alternativas eficazes

para o processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdo adulto.

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Referências:

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FERNANDES, S. F. Surdez e Linguagem: é possível o diálogo entre as

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Jovens e Adultos. Língua Portuguesa. Ensino Fundamental – Fase II . Caderno

7. Paraná: Imprensa Oficial, 2003.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação de

Jovens e Adultos. Língua Portuguesa. Ensino Médio. Caderno 2. Paraná:

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