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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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A inclusão de Educando da Modalidade de Jovens

e Adultos, por meio da Arte.

Elenice Lazilha Pereira Gomes1

Aurea Maria Paes Leme Goulart2

Resumo

O objetivo deste artigo é refletir sobre a inclusão de educandos com Necessidades

Educacionais Especiais (NEE) freqüentadores da EJA (Educação De Jovens E

Adultos), por meio da arte em seus diferentes modos de expressão, nos diversos

contextos em que se encontram. É também, parte dos requisitos exigidos para a

conclusão do curso proposto pelo Programa de Desenvolvimento Educacional. A

pesquisa teve origem na necessidade de buscar meios para a inclusão educacional

desses alunos, pela arte e educação que pudessem auxiliar os docentes a superar

as dificuldades encontradas em sua trajetória profissional, no trabalho com Jovens e

Adultos com deficiência intelectual e física. Selecionamos como instrumento de

1 Graduada em Educação Artística e Desenho Geométrico pela Faculdade de Filosofia Ciências e

Letras de Penápolis. Especialista em Educação Especial pelo Instituto Paranaense de Ensino Faculdade Maringá. 2 Profª. da UEM Mestre e Doutora em Educação pela FEUSP

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trabalho, a produção de pesquisadores em Arte e Educação que se identificam com

os propósitos de uma Educação Inclusiva. Para compreender, sentir e estimular o

comportamento discente nos apoiamos nos pressupostos da abordagem Histórico-

cultural e procuramos explorar no decorrer das atividades desenvolvidas durante as

aulas as contribuições da mediação, dos instrumentos e signos. Percebemos que as

mesmas, por se constituírem em exercício do sensível, nos auxiliaram no esforço de

promover o desenvolvimento das habilidades cognitivas e sociais dos educandos.

Palavras Chave: Arte, Inclusão, Mediação, Aprendizagem.

1 Introdução

Quando começaram a chegar os primeiros alunos de inclusão nas salas

regulares me senti perdida e impotente com a nova situação e como poderia

transmitir conhecimentos em arte a estes alunos. Para atender a esses alunos foi

necessário realizar um, curso de formação na área (Pós-graduação “lato sensu”) em

Educação Especial e desde então abraçamos a causa com muito respeito, coragem

e determinação. A prática docente instigou nosso olhar para interesses e

necessidades desse público - Jovens e Adultos com necessidades especiais (NEE).

Ao trabalhar com ensino da Arte em uma instituição na cidade de Maringá, com

alunos jovens, adultos e múltiplas deficiências, pretendemos com este estudo

resgatar prováveis falhas do passado e delimitar melhor as especificidades

pertinentes à educação e desenvolvimento deste segmento da sociedade atual.

Durante mais de seis anos pudemos conviver com uma extraordinária

variedade de pessoas, vindas das mais distantes regiões do Brasil, e até de outros

países. Pessoas de diferentes raças e etnias, representantes de diversos grupos

culturais, jovens recém excluídos das escolas regulares, pais de família, ou melhor,

pessoas na terceira idade há muito tempo distantes de uma sala de aula, e alunos

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com necessidades especiais e vários tipos de deficiências, tiveram a oportunidade

de freqüentar o espaço educacional ora investigado. Nas salas de aula eram

atendidos entre vinte a trinta alunos por período.

Além de ser um trabalho profissional, é um ato de respeito desenvolver e

devolver junto aos meus alunos todo o saber que me proporcionaram nesta relação

de ensinar e aprender, aprender e ensinar, transformar o olhar e os caminhos

necessários para a humanização desses sujeitos.

A pesquisa caracteriza-se como um estudo teórico e prático sobre a Inclusão

de Joven e Adultos, por meio da Arte. Com respaldo na legislação: Lei de Diretrizes

e Bases do Ensino Nacional (BRASIL, 1996); Diretrizes Curriculares de Arte- Ensino

Fundamental e Médio; (PARANÁ, 2008b); Diretrizes Curriculares da Educação de

Jovens, Adultos; Diretrizes Curriculares EDUCAÇÃO Especial (BRASIL, 2008a)

buscamos meios de contribuir para a aprendizagem e o desenvolvimento. Para isto,

articulamos a arte como forma de conhecimento, uma vez que esta se encontra

presente nos processos mentais de raciocínio, memória, imaginação, atenção,

abstração, generalização e a capacidade de planejamento. Nos aprofundamos nos

estudos da abordagem Histórico-Cultural, para compreender o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores, em alunos com necessidades educacionais

especiais, o estudo do conceito de mediação e a arte como meio de transformação

do aluno pela música, dança, artes cênicas e plásticas. Para isto, tomamos a

concepção de arte como fonte de humanização, a qual incorpora as três vertentes

das teorias críticas em arte: “[...] arte como trabalho criador, arte como ideologia e

arte como forma de conhecimento, por reconhecê-las como aspectos essenciais da

arte na sua complexidade humana” (PARANÁ, 2008, p.18).

2 Educação de Jovens e Adultos com e sem Necessidades Especiais.

Neste artigo tratamos principalmente das transformações manifestadas por Jovens e

Adultos com NEE, em processo de Inclusão na disciplina de Arte.

Os conteúdos estruturantes, elementos formais, composição, movimentos e

períodos, presentes nas Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2008) foram explorados

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nas atividades de dança, música, dramatização, nas artes plásticas e visuais.

Segundo Vásquez

O homem é um ser que produz socialmente, e que nesse processo se produz a si mesmo. Esse auto produzir-se como processo no tempo faz dele um ser histórico. E como ser histórico participativo das transformações que ocorrem por meio de lutas de classes sociais, cada qual buscando melhores condições (VÁSQUEZ, 1977, p. 265).

As produções nas diferentes linguagens permitem a transformação do homem

em um ser sensível, critico, participativo e pela sua produção se transforma,

interfere, modificando o seu ambiente físico, cultural e social. A arte é uma

linguagem necessária, como forma de expressar-se de comunicar-se própria dos

seres humanos e nesta linguagem do sensível, do criativo, e toda produção artística

é que ocorrem as transformações. A sensibilidade ao ser trabalhada, alerta as

pessoas para as riquezas que existem dentro de cada um, as quais foram castradas

ou não trabalhadas, fazendo-nos esquecer de nosso corpo e suas possibilidades, do

desenvolvimento da mente e de nosso espírito. Por estas razões vemos, mas não

conseguimos desenhar, ouvimos e perdemos os significados, não sabemos ler as

entre linhas e acabamos como robôs, repetindo e repetindo. As mudanças são

necessárias para que possamos acompanhar a dinâmica do homem e da sociedade.

Torna-se importante dar abertura as novas tecnologias, e as novas formas de

comunicação, na vida e na arte tudo é movimento e vemos a importância desta

formação para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem na

contemporaneidade.

As pessoas com necessidades especiais, apesar do respaldo das leis como,

Plano Nacional de Educação- Educação Especial e a Lei N0 10.845-março de 2004,

e os órgãos: CONPED, CONADE, estão na maioria das vezes, lutando participando

de encontros, debates fóruns para fazer valer seus direitos como cidadãos, sabendo

que os documentos nem sempre materializam as necessidades pelas quais esperam

encontra respaldo. O poder da linguagem, das mobilizações faz-se necessário, para,

nestes momentos nos mostrar a força coletiva sobrepondo a aparente fragilidade

destes alunos com deficiências, mas também o homem participativo, transformando-

se como ser histórico como afirma Vásquez (1977). O mesmo acontece com a

Educação de Jovens e Adultos participando, intervindo a favor da continuidade da

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alfabetização como direito de todos, em encontros nacionais, estaduais e regionais,

tendo em vista os sujeitos da EJA, formada por jovens, adultos, idosos, população

rural, mulheres, negros e índios (PAIVA, 2004). Com todas essas experiências os

alunos vão apropriando-se do conhecimento já produzido anteriormente e

socialmente disponível. O seu nível de desenvolvimento resulta sempre em

conhecimento e busca de satisfação das próprias necessidades. Processo este,

consciente e dinâmico na procura da melhoria da qualidade de suas vidas.

Os conteúdos estruturantes, elementos formais, composição, movimentos e

períodos presentes nas Diretrizes Curriculares, como já informamos, foram

explorados nas atividades de dança, música, dramatização e nas artes plásticas e

visuais. Nas aulas previstas, os conteúdos abordados em Arte foram: auto-

conhecimento e auto-estima, tendo sido utilizados um filme como possibilidade

pedagógica e discussão da inclusão, a dança como conhecimento do corpo, ritmos

musicais, dramatização e jogos dramáticos, escultura e auto-avaliação.

2.1 Apresentando-se: auto- estima, autoconfiança

A auto-estima começa a ser cultivada na família, até mesmo antes do

nascimento da criança, e continua com a relação entre os pais, colegas e grupos, na

relação com professores.

Quando o aluno é aceito e compreendido, devolve os mesmos sentimentos para o professor, que também se sente reconhecido, valorizado. Assim se gera um círculo de bem estar, onde a tarefa é gratificante para ambos e o clima é propício para o desenvolvimento das potencialidades. (VILA; JENICHEN, 2002).

As relações humanas são um campo muito vasto e muito difícil, uma vez que

as pessoas têm seu modo de ser e viver. Respeitando, valorizando e acreditando no

potencial de mudança e aprendizagem é que pretendemos alcançar o

desenvolvimento do aluno. Nosso objetivo foi propiciar por meio de atividades, a

autoconfiança, a segurança, o senso do próprio valor, e de seus talentos, valorizar

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suas conquistas, estabelecendo metas para o estudo e a vida. Propusemos o

resgate da autoconfiança perdida, por tantos percalços encontrados no curso

regular, ou seja, o senso do próprio valor do aluno com necessidades especiais, do

pai ou mãe de família há vários anos sem estudar. É preciso não nos esquecer que

a diversidade é muito grande exigindo do professor e da comunidade escolar,

acolhimento e compreensão de todos os problemas.

Figura 1- Apresentação

Fonte: arquivo da autora- com autorização por escrito dos participantes

Nos procedimentos usados durante as atividades propostas, sobre as

apresentações (figura 1), estimulamos alunos a falarem de si próprios, de onde

vieram, qual era o seu trabalho, o que esperavam do curso, suas expectativas

prementes e futuras, o que conheciam sobre a Arte e a inclusão. Foi um momento

que sentimos bastante dificuldade, pois estava no início da implementação do

projeto, com pouco conhecimento ainda a respeito desse grupo de alunos, refletindo

sobre a qualidade das aulas e ansiedade para que contribuísse de forma prazerosa

em sua aprendizagem. Embora pudesse parecer invasão de privacidade,

consideramos ser uma forma de conhecer o aluno já que teríamos que caminhar

juntos por um determinado tempo. Neste ponto a minha experiência foi fundamental:

fiz a minha apresentação começando pelo nome, família, as dificuldades

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encontradas no percurso de estudante e mostrando que apesar de já dar aulas há

vinte e quatro anos, ainda continuo a estudar. Enfim, procuramos evidenciar que

todos temos fragilidades enquanto seres humanos. Aproximamo-nos desta forma,

dos alunos para que os mesmos ficassem mais a vontade, expondo seus projetos,

sonhos, ideais, nos conhecendo melhor, investigando a amplitude do seu

conhecimento em arte e da sociedade da qual fazem parte, oportunizando por meio

do uso da oralidade, o momento de ouvir e fazer-se ouvir, tão necessário e raro nos

dias atuais. Alguns alunos preferiram observar, olhar, refletir e confiar. Outros

apenas disseram somente o próprio nome, mas respeitamos o seu tempo deixando-

o mais a vontade para opinar, participar quando sentissem mais seguros.

O texto, “Superando Barreiras,” (acesso 16/1/2010) objetivando a

socialização dos alunos, por vezes, nos surpreendeu pela colaboração,

disponibilidade, afetividade intensificando a união e o desenvolvimento em conjunto,

vivenciando as transformações sociais e culturais. A superação de barreiras ocorre

em nosso cotidiano, não somente com as pessoas com necessidades especiais,

como disse um aluno... “superamos todos os dias barreiras, quer no trabalho, na

família, na escola, na sociedade, viver é superação a todo dia e há todo momento.”

Sentimos algumas dificuldades, quando um dos primeiros alunos começou a

falar e depois cada qual quis dar a sua contribuição e contar sua própria história. As

ciências e novas tecnologias, as quais tem influenciado o homem, nesta primeira

década de novo milênio, interferindo em seus valores, ações, percepções, visões de

mundo, relações profissionais e educacionais nos inquietam, vemos que os

problemas continuam, apenas mudam de pessoa para pessoa, isto mostra todas as

carências do homem enquanto ser humano, participativo de uma sociedade que

mesmo com os avanços não consegue solucioná-los. A pessoa com necessidades

especiais precisa sentir segurança, independência e autonomia e isto implica uma

outra visão e mudança da sociedade. A nossa contribuição deve ser em favorecer

cada vez mais a sua independência, desenvolvimento e senso crítico. Cada qual

com suas particularidades devem ser tratados como capazes de desenvolvimento e

participação. Com a finalidade de atingir o objetivo, que é a inclusão de alunos com

necessidades especiais na modalidade da Educação de Jovens e Adultos por meio

da arte, e das linguagens artísticas, buscamos primeiramente aprofundar os

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conhecimentos na abordagem histórico - cultural, o conceito de mediação,

compreender as funções psicológicas superiores e como as artes, seus diferentes

modos de expressão e intervenções práticas refletiram sobre os resultados obtidos.

2.2 Organização do ensino e mediação

De acordo com a abordagem Histórico-Cultural (VIGOTSKY, 1984) as

mudanças que ocorrem nos homens estão vinculadas às interações entre os sujeitos

e a sociedade e, em especial, na escola, na qual ocorrem oportunidades e situações

de aprendizagem, respeitado o tempo do aluno, e de oportunidades para o professor

intervir nas dificuldades de aprendizagem que se apresentarem. Sabemos que os

níveis de consciência não são iguais, tanto nos alunos com necessidades especiais,

como nos outros freqüentadores da EJA, uma vez que, os modos e o tempo para a

aprendizagem são diferentes de aluno para aluno. As dificuldades surgiam de

acordo com o nível de comprometimento físico ou mental, procurávamos incentivá-

los a ultrapassar as dificuldades, quer por meio de textos, discussões ou mesmo nas

atividades práticas realizadas. Na obra Psicologia da Arte (VIGOTSKY, 1999) o

homem é um ser criativo, a sua atividade vital é o trabalho e a capacidade de

desenvolvê-lo, de auto-criar e de gerenciar sua produção com flexibilidade e

criatividade. Fayga, também reafirma essas idéias de Vigotsky;

A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo individuo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vida. No indivíduo confrontam se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura (OSTROWER 2009, p. 5).

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Diante das afirmativas acima, entendemos que o ser humano desenvolve-se

de acordo com a sociedade em que está inserido. Se, vivemos numa comunidade

acomodada tendo convívio com pessoas com pouco estudo, sem criticidade e

vivência de mundo, esta pessoa vai reproduzir o continuísmo em que vive. Antes as

crianças ou mesmo os adultos deficientes viviam escondidos dentro dos seus lares

pela própria família. Hoje, os pais têm uma visão diferente, vemos os deficientes

participando, trabalhando, no lazer ao lado da família e com a inclusão estão sendo

estimulados a participar, socializar-se, desenvolver a sensibilidade para a arte e a

vida de uma forma geral. Desta forma notamos a importância da intencionalidade em

propiciar meios de oportunizar o fazer artístico, o trabalho criativo e o que o mesmo

provoca na aprendizagem.

[...] é perfeitamente admissível a opinião de que as Artes representam um adorno à vida, mas isto contradiz radicalmente as leis que sobre elas descobre a investigação psicológica. Esta mostra que as Artes representam o centro de todos os processos biológicos e sociais do indivíduo na sociedade e que se constituem no meio para se estabelecer o equilíbrio entre o ser humano e o mundo nos momentos mais críticos e importantes da vida. Isso supõe uma refutação radical das Artes como adorno (VIGOTSKY, 2001, p. 145).

A nossa sociedade segue ainda com esta concepção errônea sobre a Arte,

caracterizando-a como lazer ou um conteúdo supérfluo, mas ao contrário, a Arte

está direcionada para a formação total do ser humano, o desenvolvimento cognitivo,

social e psicológico. Os conteúdos da Arte permeiam pela história, geografia,

sociologia, ciências, matemática e português, estamos lutando tanto pelo ensino

como também por uma posição igualitária da disciplina dentro do contexto escolar,

resgatando os termos educativos as questões específicas da Arte. É uma área do

conhecimento que explora todos os saberes desenvolvendo-os e tornando o homem

mais crítico, sensível e por meio dela promover a socialização e a inclusão de todos

na sociedade atual. Cabe ao professor por criar e estabelecer vínculos com os

alunos garantindo o interesse dos mesmos em questionar sustentando desta forma

o desenvolvimento das capacidades globais dos alunos.

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Usamos um filme como possibilidade didática que viesse de encontro com a

nossa proposta, que era justamente a inclusão e a superação tendo como meio a

mediação.

Figura 2: Assistindo e debatendo a respeito do filme Fonte: acervo da autora

O filme baseia-se nas necessidades concretas de sobrevivência e do

conhecimento, a discriminação, determinação, sensibilidade, potencialidade,

confiança e superação. Todos os alunos deram a sua contribuição no debate

demonstrando ter entendido a mensagem do filme. Para a aluna M. com deficiência

visual, ouviu o filme, ela escreveu a sua resenha em Braille, a linguagem usada para

entender foi uma a auditiva e para demonstrar a aprendizagem ela usou a linguagem

oral e a linguagem em Braille. Foi uma troca de aprendizagem muito significativa.

Para o aluno T. com deficiência auditiva o filme DVD foi colocado com legenda.

Após assisti-lo, os alunos debateram a questão sobre a inclusão social e as

possibilidades de aprendizagem das pessoas com necessidades especiais. Este

momento foi de extrema valia para os alunos com deficiência mental, intervindo com

perguntas ou mesmo respondendo aos colegas os questionamentos que foram

surgindo.

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As possibilidades de transpor limites, de superação de algumas necessidades

por meio do incentivo e mediação foram abordadas. Como disse Cassirer (1977),

que somos seres simbólicos, capazes de inventar e criar símbolos e nesta atividade,

os alunos serviram de vários tipos de símbolos para se expressarem e comunicar o

que haviam entendido com o filme. No cartaz ( figuras 3 e 4) foi organizado por eles

com recortes de revistas e serviu de apoio para as discussões. Demonstraram que

suas dúvidas haviam sido esclarecidas e entendido a mensagem do filme. Passaram

ater um novo comportamento perante os colegas de sala dando-lhes mais atenção

dentro da sala e nos intervalos, convidando-os a participar do se grupo, contribuindo

para sua integração na comunidade escolar. Durante o debate, tiveram a

oportunidade de desenvolver, a oralidade expressando suas idéias, raciocínio,

superando sua inibição e defendendo seus argumentos, dando-lhes mais atenção

dentro da sala de aula e também nos intervalos, contribuindo para sua integração.

Figura 3: Organização do Cartaz Fonte: acervo da auto

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Figura 4: Fonte: acervo da autora

Durante o debate tiveram a oportunidade de desenvolver, a oralidade

expressando suas ideias, raciocínio, superando sua inibição e defendendo seus

argumentos.. Para os alunos da sala o momento foi mágico, porque sem ver

nenhuma cena, somente entendendo os diálogos do filme por meio do som, a aluna

M. deficiente visual torcia pelo rapaz dizia: “Não vai não Rádio, ele quer te enganar!”

O momento foi muito emocionante para todos por sentir-se que as limitações nos

proporcionam uma força, outros sentidos são acionados, motivação, sensibilidade e

as limitações podem ser superadas. Embora fosse apenas uma atividade, foi

possível constatarmos o domínio da atenção, memorização, pensamento abstrato,

raciocínio dedutivo, o pensamento e a fala como instrumentos mediadores da

aprendizagem e desenvolvimento na maioria destes alunos. As dificuldades aos

poucos foram sendo superadas por meio da mediação, incentivo, pondo em prática

suas idéias, com sua sensibilidade mais apurada, vivência pessoal e o

conhecimento adquirido. (VIGOTSKY, 1997, p. 11- 40.)

Durante as atividades pedagógicas aplicadas, nas quais notamos algumas

dificuldades ao executá-las, como o caso da aluna M. deficiente visual, e do aluno T.

deficiente auditivo, as explicações e atenção eram redobradas. Faziam parte deste

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grupo, alunos com DV, DM leve, DF, DA e um (Síndrome de Asperger) necessitava

de atenção redobrada, mas ao todo não nos deparamos com recusa em participar

das atividades e desenvolver o que havia sendo proposto. O aluno J. (Síndrome de

Ásperger), requeria interferência a todo momento, no desempenho das atividades,

embora não apresentasse atraso no desenvolvimento da fala e cognição. Era

bastante desatento, jogava os seus materiais no chão, retornava e pedia desculpas,

recolhendo-os. Seu comportamento repetitivo e a dificuldade de interação social e

emocional com os outros, não o impediram de participar de todas as atividades, no

entanto seu desenvolvimento não evoluiu como o esperado. É muito difícil dar uma

atenção especial a todos os alunos com necessidades especiais, enquanto atende

um o outro se dispersa, este ainda é o grande desafio da inclusão. Este ponto ainda

requer muita atenção para que o aluno possa estar incluído realmente numa sala de

aula e receber atenção e desenvolver-se como pessoa e cidadão.

Vigotsky e seus colaboradores centraram sua atenção dedicando-se ao

estudo das funções psicológicas superiores, controle consciente do comportamento,

atenção e lembranças voluntárias, memorização ativa, pensamento abstrato

raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento, dentre outros (VIGOTSKY, LURIA,

1996). Em seu processo evolutivo o homem passou por varias etapas, o

pensamento e a fala foram importantes instrumentos mediadores do seu

desenvolvimento. Para alcançar melhor desenvolvimento das funções acima citadas,

foram propostos e explorados os conteúdos contextualizados de Arte por meio de:

dança, música, arte dramática e plástica:

A linguagem torna-se o instrumento do pensamento e mais ainda, um instrumento de reforço, um instrumento mnemotécnico( a associação daquilo que se deve ser memorizado com dados já conhecidos ou vividos[...]. A fala assume o comando: torna-se a ferramenta cultural mais utilizada: enriquece e estimula o pensamento também, como acreditam vários autores, lançando os alicerces para o desenvolvimento da consciência (VIGOTSKY ; LURIA, 1996, p.213).

De acordo com a abordagem histórico critico, instrumentos físicos (objetos)

signos (diferentes formas de linguagem são Fundamentais para a interação com os

outros, visto que são portadores de mensagens da própria cultura. A linguagem não

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exerce apenas o papel de instrumento de comunicação, mas permite ao homem

formular conceitos e conduzir as suas operações mentais encontrando solução para

os problemas enfrentados. No caso dos alunos M. e T., o filme colaborou para

aumentar seu envolvimento na realização das práticas de observação, atenção,

memória, experiência interpretativa. Os instrumentos e signos são elementos

mediadores colaboram no controle dos processos da natureza, e os signos: escrita,

linguagem,números,interferem sobre as ações psicológicas Leontiev, ( 2004, p. 164).

Já a mediação permite que os processos psicológicos mais complexos tomem forma

primeiro interpsiquicamente e, em seguida intrapsiquicamente, com o auxílio das

apropriações dos meios historicamente determinados e culturalmente organizados .

A todo o momento estes processos foram acionados por meio de atividades

propostas com o objetivo de superação das próprias dificuldades: discussões sobre

a história da arte, valorização do conhecimento estético, a arte na modernidade, no

nosso dia a dia, a maneira de ver e ouvir,os significados ocultos, os simbolismos das

idéias os quais não percebemos. A prática educativa implica em acionar os

processos de aprendizagem dos alunos e nesse momento a mediação tornou-se um

poderoso recurso provocador de seu desenvolvimento, oportunizando a

familiarização com a linguagem artística.

Fala e ação, que inicialmente se desenvolvem independentes uma da outra em determinado momento do desenvolvimento se convergem, e esse é momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem as formas puramente humanas de inteligência (LEONTIEV, 2004, p.184).

Tanto a fala como a ação foram acionados por meio do debate sobre o filme

assistido. Ficou também comprovada a apropriação dos conceitos explorados por

meio do cartaz em que cada qual apresentou uma ou mais diferenças na sociedade

em que vivemos. Os alunos fizeram dois cartazes onde cada grupo teve a

oportunidade de colocar as diferenças encontradas ou as discriminações sofridas ou

presenciadas. Pelos cartazes percebemos o quanto eles aprenderam justamente

porque não fizeram os trabalhos visando somente as deficiências. Colocaram

diferentes segmentos da sociedade que sofrem exclusão como o negro, o obeso, o

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magérrimo, o velho, a prostituta, os homossexuais, pessoas pertencentes a

diferentes raças, religiões. Por solicitação de alguns, foi dada oportunidade de

relatarem as discriminações sofridas no trabalho, pela sociedade em geral e quais

os sentimentos acionados. Respeitamos a necessidade que tinham de expor as

violências sofridas, suas revoltas e angustias perante a impotência, de como

deveriam agir para que suas necessidades e respeito as leis fossem cumpridos.

Neste processo de comunicação por meio da oralidade (debate) e do cartaz, os

alunos expressaram e compartilharam seu conhecimento.

2.3 Dança e Música

As proposições em dança e música priorizaram o movimento e a capacidade de usar

a sensibilidade, a criatividade, equilíbrio, liberar emoções, relacionar-se, saber ouvir

e movimentar-se de acordo com o ritmo das músicas. Nesse sentido, Laban escreve

que:

Quando tomamos consciência de que o movimento é a essência da vida e que toda forma de expressão (seja falar, escrever, cantar, pintar ou dançar) utiliza o movimento como veículo, vemos quão importante é entender esta expressão externa da nossa energia vital interior, coisa a que podemos chegar mediante o estudo do movimento (LABAN, 1990, p.100).

Com base no autor acima citado, fica evidente a necessidade e a importância

de envolver o corpo por completo nas atividades de dança e não fragmentá-lo como,

trabalhar as partes separadamente, pois mesmo estando imóvel, os nossos órgãos

vitais continuam a movimentar-se. Desta forma temos uma educação global,

integrando o conhecimento intelectual e a livre expressão dos alunos, a consciência

e as possibilidades do corpo.

Não priorizamos movimentos corretos nas atividades, mas o conhecimento e

as possibilidades infinitas que ele nos proporciona. A participação das práticas

corporais, o movimento como forma de expressão e comunicação, a capacidade

expressar-se em várias linguagens, desenvolvendo a auto - expressão e pensando

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em termos de movimento. A dança é uma forma de expressar os sentimentos:

desejos, alegrias, pesares, gratidão, respeito, temor, poder. Estes sentimentos estão

relacionados com as necessidades humanas desde o homem primitivo dias de os

dias de hoje. O uso do movimento com um propósito definido seja como atividade no

dia a dia, ou para refletir determinadas atitudes e estados de espírito ou mesmo

escolhendo movimentos no sentido de termos uma sensação de corpo, nos auxilia a

tomarmos consciência de nossos desejos e impulsos. Alguns alunos no início

achavam incapazes de realizar os movimentos sugeridos, mas encontraram uma

relação prazerosa, tivemos a sensação de que voltaram a fase infantil e inocente da

própria criança ao brincar e descobrir que é capaz de realizar com o próprio corpo. O

espaço destinado, para nossas aulas, era pequeno e muito incômodo que acabaram

por restringir as nossas atividades. Antes das atividades de dança, fizemos

alongamentos (figura 5), citando cada parte e completamos com o corpo completo.

Após o alongamento um relaxamento para depois iniciar as atividades,

Mudanças vagarosas podem ser levadas a cabo por via de uma compreensão consciente da estrutura e do ritmo dos padrões habituais de esforço da pessoa, mas alguns destes poderão estar tão enraizados que se torne difícil modificá-los, ampliá-los e conseqüentemente, trocá-los por outros (LABAN,1978, p.171).

A reflexão desse autor foi constatada em sala de aula durante a

implementação do projeto, na atividade proposta por meio da dança e da música. O

aluno A., deficiente físico, demonstrou algumas dificuldades primeiro pelo uso do

aparelho como suporte para se movimentar, depois porque o exercício fugia dos

padrões do seu dia a dia. Não se sentia seguro por nunca ter experimentado

movimentos diferentes e, demorou para desenvolver as atitudes internas, confiar em

si e nos colegas para realizar as atividades em dança (figura 6). Depois parecia

uma criança descobrindo os primeiros movimentos. O pouco espaço, também

dificultou os movimentos, mas, com esforço e determinação, conseguimos explorar

outras possibilidades, além do movimentar segundo o compasso da música, e o

dançar com os movimentos da cabeça, dos braços e superar até mesmo o cansaço

e aparente fragilidade do corpo deficiente.

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Figuras 5 e 6: Dança e Música Fonte: acervo da autora

A alegria da socialização, da aceitação do outro, confiança no seu par o

esforço e a mudança de postura frente a suas limitações enfrentando uma situação

nova acionou o lado psicológico da confiança e do bem estar numa situação nunca

antes enfrentada. A aluna M. sentiu-se insegura porque não usou o guia para

explorar o espaço, mas com acompanhante dançou e até ensinou alguns passos

para os colegas. Podemos afirmar que algumas funções psicológicas superiores

como: atenção, memória, percepção ,estavam presentes em todas as atividades e

procuramos desenvolvê-las, respeitando, valorizando, incentivando e acolhendo os

que necessitavam de maior apoio para seguir em frente estimulando-os a transpor

os desafios. Os alunos com necessidades especiais tinham apoio das professoras e

a cooperação dos colegas de turma, mudança de procedimentos, adequação da

turma como, alguns ficavam sentados enquanto outros participavam das atividades

e depois revezavam para que não atrapalhassem uns aos outros. Nesse sentido a

aula caracterizou-se pela ludicidade na qual havia, o prazer de se comunicar,

adquirindo confiança, enfrentando temores, reconhecendo suas possibilidades de

superação das limitações, conhecendo seu corpo pelos movimentos de cada

membro, as articulações, movimentos sucessivos, experimentados e compreendidos

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como uma totalidade. Pesquisamos, para os alunos, sequências de exercícios, e

estratégias para o desenvolvimento da criatividade e espontaneidade nas quais os

movimentos pudessem ser reconhecidos, treinando a observação e as

possibilidades de movimento do corpo. O momento da dança foi marcante para

todos os alunos, foi um momento de completa socialização, permitindo que eles

percebessem o mundo ao se redor e que as operações motoras estavam em

desenvolvimento, acompanhando o movimento e ritmo da música.

Tivemos muitas dificuldades em trabalhar com os alunos com necessidades

educacionais especiais, pelo pouco espaço e por não acreditar em suas

potencialidades, porque nunca antes havia experimentado tais possibilidades ou

medo e vergonha do próprio corpo. A resistência foi quebrada com a intervenção da

professora e dos colegas, aos poucos foram se tornando receptivos e tiveram a

oportunidade de conhecer vários ritmos, movimentar o corpo conhecendo ou melhor,

experimentando as possibilidades e momentos de descontração e socialização.

2.4 Dramatização e Jogos Dramáticos

No teatro buscamos pela memorização, raciocínio rápido, exploração dos

movimentos corporais, criatividade e a socialização. Todos os alunos tiveram a

oportunidade de participar, e as relações vivenciadas, o envolvimento com o outro e

a complexidade das relações estavam presentes quer no individual ou nos grupos,

demonstrando sua sensibilidade que, segundo Ostrower (2009, p.12), “a

sensibilidade é uma porta de entrada das sensações”. Trabalhamos com

alongamento, postura de voz, pantomima e jogos teatrais. Dividimos os alunos da

sala em apenas dois grupos, e cada qual recebeu a tarefa de vestir um aluno do seu

grupo usando somente jornais.

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Figuras 7 e 8: Dramatização Fonte: acervo da autora

Um grupo teria que vestir uma aluna com traje feminino, e o outro com traje

masculino (figura 7 e 8). Todos os alunos deviam dar a sua contribuição até que o

traje se completasse. A criatividade e improvisação ajudaram na realização da

tarefa, usando jornais, fita adesiva cola muita criatividade e colaboração de todos.

Foi uma experiência inovadora para os alunos, os quais participaram cada qual

demonstrando suas habilidades na comunicação, na improvisação, articulando a

racionalidade e o sensível na construção dos trajes. Coube a nós, orientar os

processos de criação artística oferecendo suporte, e acompanhando-os no

enfrentamento das dificuldades encontradas, fazendo-os acreditar em si próprios. A

socialização para definir modelo, as divisões de tarefas, respeito pelas idéias,

envolvimento possibilitou e contribuiu para o sucesso do trabalho alcançado. O

prazer na realização da atividade foi uma conquista tanto pessoal como no grupo,

tanto que pediram para a Orientadora Pedagógica se poderiam passar pelas salas

demonstrando a “Glória” do trabalho alcançado”.

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Nos jogos dramáticos a participação por hora foi difícil, a vergonha em expor

corpo deficiente perante os colegas, “pagar o mico”, errar, não conseguir foi outra

barreira a ser transposta. Foi um trabalho que exigiu, muito de todos nós,

professores. Os alunos sem deficiências por vezes, colaboravam convidando-os a

participar, mas as dificuldades já se arrastam por muito tempo a pessoas com

deficiências continuam a carregar o estigma da segregação imposta pela sociedade.

Foi necessário dispensar muita atenção, paciência e mediação, por este motivo as

aulas, para implementação não foram suficientes sendo, aumentados em um

número em número de mais quatro aulas.

Quanto à mediação Vigotsky, em suas pesquisas mostra:

[...] a estrutura mediatizada do processo psíquico forma-se inicialmente nas condições em que o nó mediatizante tem a forma de estímulo exterior. Isto permite compreender a origem social da nossa estrutura que surge do interior, não se inventa, mas se forma necessariamente na comunicação que no homem é sempre mediatizada (COLE, SERIBNER, LEONTIEV, 2004, p. 165).

Em todas as propostas de atividades a mediação estava presente, por meio

da linguagem, estimulando, incentivando e participando junto com este aluno, ora

com mais facilidade em convencer a participar, ora com muita dificuldade. As

propostas em jogos dramáticos foram organizadas de forma bastante livre,

promovendo primeiramente a socialização, descobrindo os entraves para poder

solucioná-los. Os jogos dramáticos (figura 9) foram fundamentais por proporcionar

as relações entre as pessoas e os grupos e ao mesmo tempo exercer influências no

desenvolvimento psíquico e das interações sociais. A mímica oferece a ocasião para

expressar conceitos espirituais e mentais, nas cenas com movimento.

Laban afirma que o conhecimento da expressão dos esforços e do mundo dos valores capacita-nos a provar para nós mesmos e para os outros que a linguagem do movimento não se restringe à representação de eventos físicos (1978, p.225).

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O esforço e os movimentos são os únicos meios de ação, na mímica as falas

são substituídas pela ação. Movimento e expressão tornam-se os veículos de

comunicação entre ator e espectador.

Figura 9: Dramatização

Fonte: acervo da autora

Os movimentos para a mímica necessitam de estudo, leveza e lentidão, para

que o público possa lê-lo, o fazer artístico implica numa série ordenada de

processos mentais, interligando a criatividade, conhecimento, sensibilidade,

transformando aquilo que já existe e a criação de novos saberes

A montagem de uma estória usando objetos os quais eram retirados de

dentro de um saco foi uma experiência muito gratificante, cada aluno cumpriu sua

função seguindo a ordem de retirada do objeto e dando continuidade à mesma. No

início os alunos estavam receosos, mas com o passar do tempo e percebendo que

os colegas estavam participando, cada um procurou melhorar a continuação da sua

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estória, acrescentando locais, viajando nos sonhos da imaginação. O grupo todo

cresceu, acrescentando novos personagens, ampliando a estória, incentivando e

possibilitando a participação de todos. Houve um desenvolvimento social, intelectual

e humano respeitando as potencialidades especificas de cada um e sua maneira de

interagir com o outro. O que antes era uma barreira agora não existe mais, a

apresentação para o público passou a ser diversão. Alguns alunos queriam repetir o

exercício.

2.5 Escultura: obras, leituras e contextualização

A proposta para o conteúdo escultura constituiu-se da leitura de imagens de

David de Michelangelo, e da leitura da obra “O Desbravador” de Henrique de Aragão

e suas respectivas contextualizações históricas. Objetivando o conhecimento de

períodos históricos diferentes, a leitura da representação dos homens realizada de

forma diferenciada por esses artistas, foi explorada e discutida com os alunos. Nesta

proposta de apreciação de obras os alunos desenvolveram sua capacidade de

crítico-prática, de emitir opiniões (posicionamento) a respeito de imagens ou

conjunto de obras. O espaço de tempo destinado a este conteúdo foi maior que o

previsto. Os alunos com deficiência intelectual demonstraram mais dificuldade em se

situar na história e compreender “os porquês” das representações serem tão

diferentes.

Pois este conteúdo abrangia o homem do Renascimento, com proporções

perfeitas, ideal de beleza, inspirado nos modelos gregos e o material usado para a

escultura, considerado nobre por ser mármore de Carrara (região da Itália),

enquanto o outro período refere-se ao homem é o homem moderno, com outras

formas, liberdade de materiais, formas, cores, linhas, texturas a procura de novos

valores.

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O Desbravador Maringaense, feita intencionalmente com significados,

sentimentos, intenções, atitudes e expectativas é um exemplo da nova abordagem

do homem, carrega um sentido humano e deve ser compreendida e percebida.

Figuras 10 e 11: Escultura em Argila

Fonte: acervo da autora

O trabalho prático, que inicialmente deveria ser executado no epóxi, foi

realizado em argila para dar mais segurança e evitar acidentes com os alunos com

deficiência visual. Trabalhamos desta forma, com argila (figura 10), sendo uma

atividade individual, na qual cada um manifestou, no trabalho de modelagem ou

escultórico, a sua visão de Pioneiro, do “Desbravador” fazendo surgir do bloco de

argila a sua concepção, com sentimento, criatividade e todo seu aprendizado.

Todo conhecimento do homem só é possível por via mediação (Leontiev, 2004) [...] Na medida em que a atividade é mediatizada por estes

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fenômenos particulares (reflexos do mundo) e comporta de certa maneira em si, torna-se uma atividade mentalizada (BARROCO 2007, p. 178).

Todos os instrumentos e signos são indispensáveis para o entendimento das

relações sociais e desenvolvimento da sociedade. A palavra como instrumento do

pensamento, age decisivamente na reestruturação das funções psicológicas, como

ferramenta básica para a construção de conhecimento e para o desenvolvimento

das funções psicológicas superiores, do mesmo modo que os instrumentos criados

pelo homem modificam as formas humanas da vida. Diante do exposto, não é difícil

visualizar a mediação, os instrumentos técnicos e os sistemas de signos

(ferramentas auxiliares) construídos historicamente, que fazem a mediação dos

seres humanos entre si e deles com o mundo. A linguagem é um signo mediador,

pois carrega em si conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana. A

criação e uso de novas ferramentas são exclusivas da espécie humana e

fundamentais para que haja interação com a cultura e o social.

O instrumento na perspectiva histórico cultural tem a função de regular as

ações sobre os objetos e os signos (ferramentas auxiliares) regula as ações sobre o

psiquismo das pessoas:

A teoria vigotskyana coloca em destaque a qualidade das mediações escolares para envolver o aluno ao desenvolvimento. Torna-se necessário o engajamento de todos os envolvidos no processo, a busca do conhecimento para lidar com o novo, bem como a disposição para o aprimoramento constante (BARROCO 2007, p.187-188).

As afirmativas dos pesquisadores foram observadas durante os trabalhos

desenvolvidos pelos alunos, e que com o processo de implementação, os mesmos

já dominavam os processos criativos, ora pela mediação, ora por saberes já

construídos.

Nas esculturas (figura 11) criadas por eles percebíamos a criatividade, a

sensibilidade, reflexão, raciocínio e a confiança na sua produção que reflete uma

aprendizagem atendendo aos três eixos, fazer, interpretar e refletir sobre a arte,

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contextualizando como produção social e histórica. Os Pioneiros ou Desbravadores

criados pelos alunos demonstram a que vieram, para trabalhar construir com as

próprias mãos uma cidade, homens fortes, rudes, corajosos, simples como podemos

ver pelas ferramentas como, pás, enxadas e principalmente a família presente

contribuindo para a formação da sociedade local, não trouxeram a tecnologia dos

grandes tratores, correntes ou guindastes.

3 Conclusão

A arte e suas expressões, razão dessa pesquisa, são os elementos

fundamentais da proposta de inclusão de jovens e adultos com necessidades

educacionais especiais. Acreditamos numa arte como fonte de humanização, que

contribui para o despertar do sensível, do imaginário, do encontro e inclusive, para a

socialização do homem. Consideramos que esse estudo nos comprovou a

importância da Arte na mediação e socialização dos alunos, manifestando-se como

fonte humanizadora do desenvolvimento do homem. Pudemos observar que os

participantes passaram a constatar por meio da mediação estabelecida com a Arte,

a existência das artes plásticas e visuais, cênicas, da música, da dramatização em

nossas vidas no dia a dia, em nossas casas, nas ruas, nas praças, nos museus, nas

galerias e em vários outros lugares, manifestando no decorrer da pesquisa um maior

desenvolvimento de algumas funções psicológicas superiores, como percepção,

memória, atenção, generalização. É interessante atentar que diferentes autores têm

defendido a arte como elemento mediador para a humanização dos sujeitos.

Cada estudioso defende seu conceito, mas em quase todos aparece o

trabalho e forma de humanização do sujeito com Arte, como por exemplo Maria Inês

Harmans Peixoto (2003) e Pareyson (1974). Segundo Pareyson (1974) o ensino da

arte, está voltado para a humanização, libertação e possibilidades de amplitude nas

leituras de mundo, fazer, conhecer e exprimir, manifestada nas linguagens da forma,

do tempo e do espaço.

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Com o desenvolvimento desta pesquisa observamos que a abordagem

histórico - cultural nos auxiliou muito para a compreensão e construção do

conhecimento, pelos alunos de forma geral. As habilidades foram emergindo durante

as práticas tanto em grupos como nas atividades individuais; o relacionamento entre

eles e por meio de uma interação mediada por diversas relações intra e

interpessoais permitiram a apropriação do conhecimento. Tivemos dados quanto à

prática pedagógica do ensino da arte e seus modos de representação os quais

reforçaram a pertinência da proposição da pesquisa e sua implementação,

demonstrando que o processo mediado pedagogicamente na dança, na

dramatização, nas artes visuais e plásticas promoveram o desenvolvimento dos

participantes. Pretendemos, com o resultado positivo da pesquisa, continuar com a

mesma prática nos anos posteriores.

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