da escola pÚblica paranaense 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode...

31
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

Upload: others

Post on 31-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

Page 2: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE ENSINO: FATO OU IDEÁRIO NA CONCEPÇÃO DE DOCENTES

PULCINA MARIA SOUZA RIBEIRO1

Orientador:Jorge Uilson Clark

Resumo

No projeto de intervenção a intenção foi investigar se o método dialético faz parte da prática ou apenas do ideário dos professores, bem como perceber se os alunos e alunas do curso estão sendo capacitados para planejar suas aulas de acordo com os pressupostos teóricos desta metodologia. Partindo das considerações feitas pelos professores e alunos, a luz do conceito de dialética foi realizada uma análise teórica sobre o modo como esse processo está ocorrendo em uma instituição escolar que oferta o curso de Formação de docentes, na cidade de Curitiba. Oriundos deste estudo foram apontados entraves, avanços e possibilidades quanto à efetivação da proposta. Os professores quase na íntegra abordam o tema nas aulas, porém os alunos, ainda não compreendem o método na sua essência, enquanto contradição entre capital e trabalho. Em termos de estratégias, reconhecem como pressuposto do método os princípios democráticos que transpassam as relações interpessoais. Para ampliar o entendimento dos futuros professores e contribuir com uma prática, mas contundente capaz de relacionar os conteúdos a prática social, faz-se necessário elucidar nas práticas pedagógicas a relação intrínseca entre educação e sociedade. Compete aos professores a disseminação deste entendimento, entretanto nem todos têm noção de pertencimento a uma classe social, nem da influência dos condicionantes sociais na prática educativa escolar. A superação deste entrave somente será possível a partir da consciência coletiva, os que compreendem estas implicações, devem tornar-se intelectuais orgânicos que lutam em prol da efetivação de uma proposta critica de educação voltada para emancipação política do cidadão.

Palavras-chaves: Dialética; prática; formação de docentes;

1SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDFACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAGUÁ-

FAFIPAR - PARANAGUÁ - PARANÁPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE - 2009 - 2010

1

Page 3: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Abstrat

In the intervention project was intended to investigate whether the dialectical method is part of the practice or just the ideas of teachers and students to understand the course and students are being trained to plan their lessons according to the theoretical assumptions of this methodology. Taking the assumptions made by the teachers and students to the concept of the dialectic was performed a theoretical analysis on how this process is occurring at an educational institution that offers the course to train teachers from Curitiba. Arising from this study were identified obstacles, progress and possibilities as to the effectiveness of the proposal. Teachers almost fully address the topic in class, but students still do not understand the method in its essence, while the contradiction between capital and labor. In terms of strategies, recognize as a precondition for democratic principles of the method that runs through interpersonal relationships. To increase the understanding of future teachers and contribute to a practical, yet convincingly able to relate the contents to a social practice, it is necessary to elucidate the pedagogical practices the intrinsic relationship between education and society. It is for teachers to spread this understanding, though not all are aware of belonging to a class, or the influence of social conditions on school education practice. Overcoming this obstacle is only possible from the collective consciousness, those who understand these implications, should become organic intellectuals who fight for the implementation of a proposal critique of education aimed at political empowerment of the citizen.

Key Words: dialectic; pratic; teachers formation;

2

Page 4: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

1 INTRODUÇÃO

Considerando que a partir do ano de 2003, no Estado do Paraná as

propostas pedagógicas, inclusive a de Formação de docentes, foram reelaboradas e

resignificadas, trazendo no seu bojo apontamentos, que indicavam a opção da

Secretaria Estadual da Educação, por uma concepção crítica de ensino. Couberam

as seguintes indagações: Os professores do curso de fato dominam a concepção

dialética; As alunas estão sendo capacitadas para elaborarem planejamentos, que

expressem está opção metodológica; O planejamento é um momento decisivo que

envolve procedimentos técnicos e posicionamento político; as propostas de atividade

devem superar parâmetros advindos do senso comum. Para planejar as ações

pedagógicas faz-se necessário pensar no cidadão que queremos formar, bem como

na organização social que pretendemos deixar para as futuras gerações.

A possibilidade de avanços na perspectiva de uma educação crítica de

qualidade, sem dúvida, está vinculada aos conteúdos e encaminhamentos

metodológicos propostos pelo corpo docente. Compete a eles conduzir o processo

de desvelamento da realidade, para além da teoria. O encaminhamento teórico

metodológico precisa evidenciar a concepção de sociedade. Tão importante quanto

o ensino dos conteúdos é a coerência de ação. Nas aulas, os alunos e alunas

precisam deparar-se com referências positivas, assim sendo gradativamente o ideal

torna-se real, revelando a práxis pedagógica, concretização entre teoria e prática.

Este procedimento engloba ações técnicas e finalidades políticas. Pensar em

dialética é romper barreiras, mas contraditoriamente retomar ideias e práticas, o

antigo pode ser resignificado, novidade, não é sinônimo de qualidade! Perde-se

muito tempo em educação na busca de soluções metodológicas definitivas e

inovadoras, uns anseiam por receitas infalíveis, outros teorizam incessantemente

sobre como deveria ser feito. Teoria ou prática é uma pergunta milenar, porém

continua sendo uma boa pergunta, porque impulsiona a busca pela coerência, que

reconhece a relação intrínseca que ocorre entre os dois momentos. É esse

entendimento que deve conduzir o processo de ensino e apropriação de

conhecimento. na perspectiva dialética.

3

Page 5: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Neste artigo, a partir das considerações feitas pelos professores, alunos e a

luz dos conceitos de dialética seguem análise sobre o modo como esse processo

está ocorrendo em uma instituição escolar que oferta o Curso de Formação de

docentes na modalidade subsequente em Curitiba. Serão apontados entraves,

avanços e possibilidades. A produção deste, deu-se a partir de uma intervenção

pedagógica realizada no ano de 2010. A sistematização das ideias é fruto das

reflexões coletivas ocorridas em diferentes instâncias: Curso à Distância (GTR) com

a participação de três professores do Estado do Paraná que atuam nessa

modalidade de ensino; reunião com apresentação do tema dialética com

professores, que atuavam como docentes na prática de ensino no referido

estabelecimento, e questionário respondido por vinte e nove alunos do 2º ano

oportunizados a realizarem curso sobre o tema dialética, antes de responderem as

questões solicitadas.

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Quando o assunto é metodologia, o tema dialética fica sempre evidenciado,

nos apontamentos científicos pedagógicos, os estudos deste tema são inúmeros.

Em função da impossibilidade de mencionar a variedade de discussões recorrentes

ao assunto, no decorrer desse trabalho, com o intuito de aguçar algumas questões

suscitadas no decorrer do artigo, serão arrolados os seguintes tópicos: Breve

histórico, diferenças entre dialética e metafísica, além de categorias e considerações

sobre a organização do trabalho pedagógico na sala de aula, com ênfase no papel

da escola e função do professor enquanto intelectual orgânico.

Normalmente, no cotidiano escolar, o terma dialética está vinculado a figura

de Karl Marx. Realmente, esse autor e seu companheiro de trabalho, Engels, foram

estudiosos do tema, entretanto não podem ser considerados como os primeiros a

utilizar o termo, e/ou idéia de mudança. Anterior a eles, muitos filósofos, já

apresentavam nos seus esquemas filosóficos ideias com princípios dialéticos. A

partir dos estudos dos seus antecessores, Marx e Engels aprofundaram a questão,

analisando as conclusões filosóficas estabelecidas e o contexto histórico, vinculado

4

Page 6: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

à economia e à política, criaram o método dialético na perspectiva crítica.

Realizaram uma ruptura com uma visão estática do mundo e, consequentemente do

conhecimento, enfatizando a possibilidade de transformação social, para além da

simples mudança de lugar.

Os pensamentos dos autores posteriormente citados neste breve histórico,

em principio não apresentam algo em comum entre si, ou com o Marx, porém,

embora diferentes aparentemente, possuem semelhanças, porque expressam

contradição, instaurando a possibilidade de dúvida e consequentemente de

mudança.

Neste sentido podemos afirmar que Sócrates já se utilizava da dialética, no

seu método da maiêutica. Não se contentava com as primeiras conclusões e

instigava seus discípulos a fim de obrigá-los a chegar a um conhecimento mais

profundo, não admitindo uma única verdade inicial. Desejava ajudar partejar

(referente a parto) um conhecimento vindo do âmago do ser. Embora este autor seja

idealista, é possível relacionar sua busca pelo conhecimento aprofundado com a

essência materialista do Marx, que busca o aprofundamento do conhecimento da

realidade.

Conforme Gadotti, Lao Tsé, que viveu 7 séculos antes de Cristo, é

considerado o autor da dialética, por ter fundado suas leis nesse princípio. No

entanto, o pré-socrático mais citado como pai da dialética é Heráclito, com a célebre

frase: “não é possível banhar-se no mesmo rio: na segunda vez o rio não será mais

o mesmo e nós mesmos já teremos mudado." Foi uma ideia revolucionária para

época, e apesar de antiga, ainda hoje, continua atual... Chega a ser poética, pois

traduz metaforicamente o sentido da profunda transformação, pela interação. A

teoria denota o valor da contradição, luta dos contrários: frio-calor, vida-morte, bem-

mal, saúde-doença, um se transformando no outro. Este pensamento foi refutado

pelos dirigentes da época, porque poderia desmistificar a legalidade, ou seja, a

naturalidade apregoada pela sociedade hierárquica. Devido a este fato prevaleceram

as conclusões de Parmênides, mais apropriadas, porque sustentava que o

movimento era uma ilusão e a sociedade imutável.

Nos seus estudos Aristóteles concluiu que a dialética era apenas uma

auxiliar da Filosofia, lógica do provável. Percorrendo essa idéia, conseguiu conciliar

Heráclito e Parmênides, tão antagônicos. Na sua teoria afirmava que as mudanças

existem, mas são apenas atualizações de potencialidades, já preexistente, porém

5

Page 7: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

ainda não desabrochada. Nessa afirmativa, para além de Platão, seu mestre, abre a

possibilidade de pensar na transformação da natureza, criando a ideia de potência.

Provavelmente por este aspecto foi muito respeitado por Marx e considerado por ele

como o maior pensador da antiguidade.

Em função das relações de poder presentes na idade média, a filosofia

oficial condenou a dialética, por ela desconsiderar a onipotência divina, e conter no

seu interior a ideia de mudança. A metafísica foi eleita mais apropriada, justamente

por defender a estagnação necessária para manter a ordem social vigente. No

renascimento o homem contesta o poder da igreja, substituindo o teocentrismo, pelo

antropocentrismo. Jean Jacques Rosseau, o filósofo e pedagogo da liberdade

individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio

destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio, admite que o

indivíduo é condicionado, e assim, traz à tona a concepção dialética da história. Foi

possível esta retomada porque nesta época a sociedade já não estava mais regida

sob o poder supremo da igreja.

Na hegemonia do pensamento liberal, concretizada pela ascensão política e

econômica da burguesia, a sistematização propriamente dita da dialética,

fundamentada em esquema filosófico deu-se com Hegel, que negou o idealismo,

mas não conseguiu efetivar uma dialética partindo das relações concretas. Segue

uma citação que pela clareza teórica sintetiza o pensamento de HEGEL, que é muito

complexo para ser detalhado neste projeto, cujo objetivo principal é compreender a

dialética marxista.

"O pensamento não é mais estático, mas procede por contradições superadas. ...Uma proposição (tese) não existe sem oposição a outra proposição (antítese). A primeira proposição será modificada nesse processo de oposição e surgirá uma nova. A antítese está contida na própria tese que é por si contraditória. A conciliação existente na síntese é provisória na medida em que ela própria se transforma numa nova tese "(GADOTTI, 1987, p.18).

Para Hegel o mundo não passava de uma sucessão de ideias. Acredita na

contradição, mas focaliza o movimento na lógica formal, portanto capta o movimento

mais imediato não aprofundando a realidade, por isto sofre a crítica marxista.

Marx realiza a superação por incorporação, porque não nega a dialética de

Hegel, mas avança em relação as suas proposições. Percebe as contradições

6

Page 8: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

presentes no interior dos próprios fenômenos. Em uma perspectiva materialista

dialética o estudo do desenvolvimento de um fenômeno deve partir do seu próprio

conteúdo interno e das relações com outros fenômenos, reconhecendo a ligação e a

interação entre eles. O que possibilita um conhecimento mais aprofundado da

realidade. É esclarecedora, nesse sentido, a seguinte citação:

"A dialética considera cada objeto com suas características próprias, o devir, as suas contradições. Para a dialética não existem, portanto, "regras universais”... Observar as coisas e os fenômenos não de maneira estática, mas no seu movimento contínuo, na luta de seus contrários '(POLITZER, p.21-22).

No processo educativo tomar a dialética como referência filosófica é

essencial para que ocorra o desvelamento da sociedade capitalista, tão contraditória

e excludente. É o método apropriado para compreendermos a atual realidade social

brasileira. Compete ao educador, comprometido com a formação de um pensamento

crítico, ao destacar um conteúdo, explicitar que ele contém as contradições

presentes na sociedade capitalista. Assim sendo embora seja apenas uma parte do

todo, está repleto de relações sociais, políticas, econômicas e culturais, que devem

ser analisadas tendo como parâmetro a maior contradição a ser vencida capital x

trabalho.

2.1 CATEGORIAS DA DIALÉTICA - CONFORME POLITZER, (S/D).

2.1.1 1ª Categoria

Existe uma relação de interdependência mútua entre sociedade e educação,

que relaciona os fenômenos sociais com as condições históricas que lhe deram

origem. Em uma abordagem dialética os aspectos precisam ser analisados na

totalidade, incluindo também o lugar e o tempo. Por exemplo, pensando em um

conteúdo de ciências: o corpo humano. Para entendê-lo não basta estudá-lo

isoladamente, é preciso entender a relação entre suas partes. Isto é, perceber que

para o braço levantar, muitos órgãos são mobilizados.

7

Page 9: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Em educação é fundamental compreender que toda tendência educacional

vigente está relacionada com a sociedade, assim sendo as áreas do conhecimento

são diferentes entre si, mas possuem um elo de ligação, que garante a unidade. No

caso, uma concepção clara de homem e de sociedade é fundamental para o

educador aprender a reconhecer e estabelecer na sua prática estes elos, pois

somente desta forma poderá superar a fragmentação dos conteúdos, algumas vezes

expressada nos próprios materiais didáticos. Reafirma esta ideia a citação seguinte:

"...O homem não busca apenas uma compreensão, mas pretende uma visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo particular com outros processos e, enfim, coordená-lo com uma síntese explicativa cada vez mais ampla... Totalidade não quer dizer todos os fatos e nem a soma de partes... Dados isolados não passam de abstrações. Por isso, a totalidade é concreta' (CURY, 2000, p. 27, 36).

2.1.2 2ª Categoria

A dialética não se detém nas aparências atinge as coisas em seu

movimento. É salutar compreender que as sociedades não nasceram da forma como

estão organizadas no presente, por isto, mesmo, podem ser mudadas. Tratando-se

de educação escolar, dizer, não às mudanças pode ser sinônimo de cristalização de

preconceitos, ou ainda significar, não investir no ensino dos mais pobres, sob

alegação até mesmo de pena, que na verdade é um mito da falta de competência

hereditária de ordem biológica. Assim sendo:

"Reduzir a realidade a um dos seus aspectos, reduzir o processo a um dos seus momentos, é acreditar que o passado é tão forte que não possa haver futuro, é desconhecer a dialética do real... O verdadeiro revolucionário é aquele que como dialético, cria as condições favoráveis ao advento do novo" (POLITZER, s/d, p.54-56).

8

Page 10: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

2.1.3 3ª Categoria

Para explicar esta característica cita-se: O método dialético ensina que o

movimento assume duas formas: a forma evolutiva e a forma revolucionária.

'O movimento é revolucionário, quando esses mesmos elementos se unem, espontaneamente em seu trabalho cotidiano, acarretando mudanças mínimas (quantitativas) no velho estado de coisas. O movimento é revolucionário, quando esses mesmos elementos se unem, se imbuem de uma ideia comum e se lançam contra o campo do inimigo para aniquilar, pela raiz, o velho estado de coisas, para proporcionar à vida mudanças qualitativas, para instituir um novo estado de coisas. A evolução prepara a revolução, e cria, para ela, um terreno favorável, enquanto que a revolução completa a evolução, e contribui para que ela prossiga ulteriormente... A revolução é um processo... Temos dito que as pequenas mudanças quantitativas levam a mudanças radicais. ... Somente o dialético compreende que é preciso lutar para obter reformas e que deve fazê-lo, porque sabe que a revolução está ligada à evolução... As pequenas mudanças quantitativas levam as mudanças qualitativas radicais" (POLITZER. s/d, p 64, 68 e 69).

A educação escolar, sem dúvida, é uma das instâncias que pode contribuir

para efetivação de mudanças, quando cumpre sua função política de socialização do

conhecimento. Para isto, deve privilegiar os conteúdos, mas vinculando-os à prática

social.

2.1.4 4ª Categoria

A contradição é interna é inovadora, ela é a essência; nela há unidade entre

os contrários e, nela que está à fecundidade, razão de ser da luta.

"A unidade dos contrários é condicionada, temporária, passageira, relativa. A luta dos contrários, que, reciprocamente, se excluem, é absoluta, como absolutos são o desenvolvimento, o movimento. ...Aquele que se esquecer de que a unidade dos contrários se dá, se mantém e se resolve pela luta, mergulhará na metafísica" (POLITZER. s/d, p. 79).

9

Page 11: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

O sentido está em superar as desigualdades entre capital e trabalho. O

homem não nasceu homem, tornou-se homem pelo trabalho. Desenvolveu a

capacidade de abstrair, se humanizou; no entanto contraditoriamente, é reduzido

pelo mercado a animal irracional, realiza um trabalho alienado, não se reconhece, é

impedido de criar.

O próprio professor, quando realiza a atividade docente, sem ter clareza dos

condicionantes sociais, apenas reproduzindo, aceitando novas teorias, geralmente

importadas, sem reflexão, torna-se vítima da alienação. Contraditoriamente, ajuda a

alienar quando na sua metodologia apresenta um conteúdo, mas não ajuda a revelar

os antagonismos presentes na sociedade de classes. Na metodologia está embutida

uma concepção de mundo, que possibilita alienação ou impulsiona para criação.

Conforme citação:

"A articulação de um discurso pedagógico a partir da contradição possibilita a percepção do caráter contraditório da educação, das suas possibilidades e limites. A possibilidade de ultrapassar os discursos pedagógicos que ocultam ou escamoteiam o real está na descoberta do caráter contraditório das mesmas relações que esses discursos pretendem encobrir'" (CURY. 2000, p.16).

2.2 LÓGICA FORMAL E MÉTODO DIALÉTICO

Esta abordagem explicativa, não é reducionista, assim sendo, embora faça

considerações sobre a metafísica. (modo de ler o mundo, não pautada em

elementos reais concretos), não desconsidera a importância histórica deste

conhecimento.

As regras da metafísica, criadas, na Grécia para explicar as regras do

universo, recebem o nome de lógica formal, portanto possuem a mesma ótica.

"A lógica formal, constituída nos primórdios das ciências, é suficiente para o uso corrente: permite classificar, distinguir. Quando, porém queremos aprofundar a análise, ela já não pode bastar. Por que?

Porque o real é o movimento, e a lógica da identidade não permite que as ideias exprimam o real em seu movimento. A lógica formal, em suma, não atinge senão aspectos imediatos da realidade. O método dialético vai mais longe ele tem por objetivo atingir todos os aspectos de um processo "(POLITZER. s/d, p.34).

1

Page 12: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Algumas limitações do método metafísico: Para Descartes e outros

metafísicos, o movimento se reduz à mudança de lugar. Esses autores ignoram as

contradições internas, explicam as mudanças por intervenções externas

(sobrenaturais), assim sendo:

O metafísico menospreza o poder inovador da contradição. Para ele, a contradição nada de bom pode acarretar. Como ele tem uma "concepção estática, imobilista do universo, como ele pretende que o ser (natureza ou sociedade) seja sempre idêntico, a contradição é, para ele sinônimo de absurdo. Ele se empenha em evitá-la. Desse modo, as crises econômicas que, para o dialético, são o sinal nítido das contradições internas fundamentais do capitalismo, são para o metafísico, inquietações passageiras. Também, a luta de classes é acidentes desagradável, causado pela falta de vigilância dos dirigentes "(POLITZER, s/d, p.74).

Em suma a filosofia marxista, não negou os avanços da metafísica e da ciência, mas

sim recuperou pontos coerentes, negando apenas as ideias incoerentes. Entende

que o homem, é determinado, mas, ao mesmo tempo pode criar a sua história,

justamente lutando contra esta determinação imposta pela sociedade. O trabalho

teórico dos homens, deve ir além da especulação, atingindo a transformação. Neste

caso, compete ao professor, não desvincular a teoria a prática.

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA SALA DE AULA

Um tema bastante abordado no final da década de 1990, foi a

interdisciplinaridade, na perspectiva dialética ela deve ser entendida como unidade

de concepção. Cada área do conhecimento tem seu objeto específico de estudo, é

através dessa lente que será possível compreender o mundo. Assim sendo no

planejamento de ensino, acontece um permanente diálogo entre as áreas do

conhecimento, que foram concebidas em um único bloco, mas, separadas

didaticamente na seleção do saber escolar. Manter o diálogo e ao mesmo tempo

preservar a essência de cada área, que é seu objeto de estudo é um grande desafio

a ser vencido. A comunhão entre as diferentes disciplinas tem que se dar pela

mesma visão de mundo e nunca pela simples repetição de conteúdos afins.

11

Page 13: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Explicita melhor a ideia a seguinte citação:

"A interdisciplinaridade diz respeito ao uso das categorias e leis do materialismo dialético no campo da ciência. Na realidade, a ausência destas categorias e leis faz com que a interdisciplinaridade seja usada como forma de aumentar artificialmente a relação entre as áreas de conhecimento. Tais áreas tem alto nível de intercomunicação na realidade objetiva, no mundo, mas foram desenvolvendo fragmentariamente, dentro de uma metodologia e de uma classificação de ciências positivistas" (FREITAS,1995, p. 91).

A pedagogia socialista, vê no trabalho material a categoria central para a

educação, assim sendo aposta na interdisciplinaridade, para ajudar a superar o

positivismo e tentar garantir a indissolubilidade entre teoria e prática social.

Equivocadamente nos planejamentos de projetos de ensino, não raramente, as

áreas do conhecimento são englobadas, sem aprofundamento teórico, com falsas

articulações. Uma postura interdisciplinar requer o entendimento da construção do

conhecimento na origem, estabelecendo relações sociais, políticas, econômicas e

culturais. Nessa lógica um único professor poderá agir de forma interdisciplinar, mas,

nem sempre o envolvimento de vários professores em um mesmo projeto significa

garantia de comunicação entre as áreas.

Uma prática educativa que concebe os conteúdos nesta abordagem,

reconhece que a prática social é o ponto de partida e de chegada no processo de

ensino - aprendizagem. Nas palavras de Gasparim, (2005):

"A proposta pedagógica, portanto, derivada dessa teoria dialética do conhecimento tem como primeiro passo ver a prática social dos sujeitos da educação... O segundo passo... Conduzem à busca de um suporte teórico que desvele, explicite, descreva e explique essa realidade. O processo pedagógico deve possibilitar..., através do processo de abstração, a compreensão da essência... A fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da prática social histórica... A teorização possibilita, então, passar do senso comum particular, como única explicação da realidade, para os conceitos científicos e juízos universais que permitem a compreensão dessa realidade em todas as suas dimensões" (GASPARIM, 2005, p. 6-7).

Conforme Wachowicz (1995), baseado nos estudos do Saviani, o

pensamento do aluno é sincrético e o próprio professor, embora esteja em um

patamar de estudo diferente do aluno, não possui total clareza de conhecimento.

Neste sentido, é fundamental para que ocorra a síntese (visão de totalidade), que os

1

Page 14: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

dois travem diálogo mediatizados, pela cultura presente nas práticas sociais,

divulgadas por intermédio de diferentes linguagens.

O primeiro educador brasileiro a sistematizar uma proposta valorizando a

cultura da comunidade articulada com questões de ordem social mais ampla, foi

Paulo Freire. No método de alfabetização criado por ele, inicialmente o grupo de

trabalho seleciona as palavras do seu universo cultural, os alunos são sujeitos da

pesquisa e não objetos, pois participam ativamente do processo de seleção. Em um

segundo momento o educador de posse das palavras eleitas, estabelece relações

com o contexto social maior. Os temas são constituídos visando a conscientização

da comunidade, assim sendo são pensados em uma perspectiva dialética

priorizando o debate e consequentemente a indagação, que sempre gera novas

perguntas. Conforme Freire, in Brandão, 1981: "Não há educadores puros... Nem

educandos. De um lado e do outro do trabalho em que se ensina e aprende, há

sempre educadores-educandos e educandos-educadores. De lado a lado se ensina.

De lado a lado se aprende" (BRANDÃO, 1981, p.22). Pode-se afirmar, que o diálogo

com a realidade local e posteriormente com a realidade mais ampla, mediados pela

linguagem é o ponto forte dessa proposta pedagógica crítica de educação,

valorizada e reconhecida mundialmente como de vanguarda.

O autor Luckesi (1994) ao tratar da relação entre método e realidade sem

desconsiderar os saberes dos alunos, afirma que uma abordagem pedagógica

precisa considerar duas dimensões: A primeira é a teórico-metodológico, significa

modo de abordar a realidade. Não é possível fazer uma abordagem reducionista do

conteúdo, focando em apenas um aspecto. Durante séculos, principalmente os

assuntos de história, seguiram esta linha, assim sendo princesa Isabel foi

considerada a heroína responsável pela libertação dos escravos. Ainda hoje,

conteúdos como: habitação e vestuário, não passam de mera classificação, quando

é mostrado, diferentes tipos, sem efetivação de análises da essência, dando a falsa

ideia de que tudo ocorre por acaso, dependendo exclusivamente da vontade

pessoal. Somente análises mais aprofundadas da realidade ajudarão na construção

de um conhecimento na sua totalidade, este é o método dialético, na sua abordagem

teórica. Alguns livros didáticos da atualidade já trazem tentativas de análises mais

críticas, porém em função da própria formação, os professores e equipe pedagógica,

nem sempre compreendem as análises e recaem nas práticas tradicionais que

dominam.

1

Page 15: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Quanto a dimensão técnica-metodológica, toda organização didática deve

prever o envolvimento do aluno durante todo processo, não adianta falar de algo que

não se pratica. O autoritarismo, às vezes, está encoberto, em discurso democrático.

Por melhor que seja a intenção, se não for voluntária, perde o próprio sentido da

dialética, vira puro dogmatismo.

"Todo pensamento dogmático é antidialético. O marxismo acadêmico, reduzindo Marx a um código, transformando o seu pensamento em lei sem nada lhe acrescentar, é, por isso antidialético ...Enquanto instrumento de análise, enquanto método de apropriação do concreto, a dialética pode ser entendida como a crítica dos pressupostos, das ideologias e visões de mundo, crítica de dogmas e preconceitos. A tarefa da dialética é essencialmente crítica" (GADOTTI, 1987, p.38).

Marx criticou a igreja do seu tempo, porque exercia, somente a inculcação,

reafirmando o poder, mas atualmente marxistas equivocados, contrariamente ao que

prega a dialética, tentam fazer do marxismo uma religião, com espírito antigo,

excludente, sem diálogo. Concepção se constrói, no confronto com o diferente, por

isso é importante disponibilizar, para os alunos textos com teor antagônicos para

serem analisados. Ouvir a opinião deles, faz parte do processo, somente escutando,

sem impor ideias, é possível contrapor e ajudá-los a compreender entraves teóricos

de ordem científica e popular.

A sala de aula deve constituir-se em um espaço rico de debate, onde todos

tenham oportunidade de expor suas ideias, mesmo que a principio pareçam

absurdas. A troca deve ocorrer entre alunos, com a interferência do professor,

instigando a discussão. Esta afirmação, não deve ser confundida com o sincretismo,

que deseja conciliar tendências opostas, pregando que o bom método mistura tudo.

É evidente que o conflito existe e, não pode ser camuflado, porém obrigar a ação

revolucionária, bem como a realização de uma leitura coerente das relações sociais,

sob pena de morte, é sem dúvida sectarismo, e no caso da coerção ser realizada

pelo professor, torna-se naturalmente abuso de poder. Um bom revolucionário

conforme Politzer in Gadotti (1987): "cria as condições favoráveis ao advento do

novo" (GADOTTI, p.33), em suma é fundamental ter paciência histórica, pois não se

aprende tudo de uma vez, nem se nasce revolucionário, o desejo e o querer

pertencem ao sujeito, como resultado de práticas sociais desafiadoras. O outro, no

caso o professor pode ajudar a desvelar, mas a ação propriamente dita, é

1

Page 16: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

exclusivamente pessoal, devendo prevalecer sempre a consciência de classe e o

livre arbítrio.

Considerando que a interferência do professor como mediador é

imprescindível pra que ocorra aprendizagem e mobilização mediante as questões

sociais, a metodologia se utilizará de procedimentos diversos, privilegiando, inclusive

o acesso aos bens culturais nem sempre disponíveis à classe trabalhadora como

música, arte de qualidade... Às vezes, o próprio professor precisará buscar e

aprender a gostar e valorizar esses aspectos culturais distantes até mesmo da sua

prática cotidiana, por isso, nem sempre apreciada e considerada. Para o

aprendizado ser exercitado, é insuficiente a aquisição dos conteúdos, importa

aprender à aplicá-los. Assim sendo problematizar é essencial na sistematização dos

conhecimentos, aí reside a concretização da teoria aliada a prática social, ao ser

desafiado o aluno desenvolve a capacidade de abstração alcançando sua autonomia

e independência de pensamento.

O autor GASPARIM, demonstra na obra: Uma didática para a Pedagogia

Histórica-Crítica (2005) mais detalhadamente estas considerações. Ressalva para

as dimensões dos conteúdos: conceituais, científicas, históricas, econômicas,

ideológicas, políticas, culturais e educacionais porque, sem dúvida colaboram

sobremaneira para pensar o conhecimento na sua essência, possibilitando várias

abordagens, superando a perspectiva, tradicional do conteúdo, com função em si

mesmo. Nesse ponto reside a diferença, desmistificando a crítica tão contundente,

conferida à Pedagogia Histórica-Crítica de conteudista , no sentido restrito.

Outro fator a ser considerado no processo de aprendizagem é a importância

que o aluno confere ao professor companheiro, capaz de compartilhar

conhecimento. Eles valorizam o domínio do conteúdo, mas, sobretudo admiram no

docente a capacidade de interferência, durante o processo. Conforme pesquisa

realizada na década de 1980 (Universidade Federal do Paraná), pela autora

posteriormente citada. São os mestres que apresentam este perfil, que permanecem

na lembrança dos alunos.

"O professor de Língua Portuguesa, a cada aula, chamava alunos voluntários ao quadro negro, um ou dois de cada vez. “Mandava escrever frases depois perguntava o que havia ali para analisar...” A reflexão não se efetivava como um diálogo entre o professor e os alunos. O professor já sabia o que estava errado na frase. O diálogo que se instalava era entre a frase, no quadro, e a classe com o

1

Page 17: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

professor. Enquanto o professor tem a autoridade e a exerce, conduzindo a reflexão, os alunos exercitam passo a passo o seu pensamento" (WACHOWICZ,1989, p.118-119).

Para ajudar o aluno a pensar a realidade é necessário, além da opção

teórica pelo método dialético, buscar procedimentos afins, o que sem dúvida, é uma

decisão técnica-metodológica. Diferentes estratégias desacompanhadas do método

de aprofundamento da realidade, são vazias, sem sentido, servem para animar,

distrair, porém não são sinônimos de garantia de aquisição de conhecimentos.

Entretanto para que haja envolvimento as técnicas diferenciadas, aliadas a postura

do professor são fundamentais, neste caso ele é o modelo mais próximo de

coerência com os princípios democráticos anunciados na proposta pedagógica. A

não veracidade na prática cotidiana causa por parte dos alunos desconfiança,

desconforto, levando-os a buscarem exemplos fora dos muros da escola, sem ter

clareza dos seus objetivos, tendem a copiar aqueles que aparentemente "se deram

bem,” independentemente dos meios usados.

"... Na sociedade capitalista os modelos alienam-se de tal forma que passam a ser modelos criados pela mídia, totalmente vazios de conteúdo e ineramente caracterizados pela superficialidade e adaptação aos padrões do mercado. O ideal torna-se, nesse caso, algo que é capaz de guiar as pessoas no limite, para a autodestruição, como é o caso das adolescentes anoréxicas que escolhem as top modelos como as grandes referências para formação de suas personalidades "(DUARTE, 2006, p.93).

O referido autor citado, acredita que observar os jogos de papéis

representados nas brincadeiras infantis, é um excelente recurso, para entender a

prática social e discutir com as crianças as alienações presentes no cotidiano,

simplificando o discurso, é possível suscitar na cabeça dos pequenos algumas

interrogações, semeando dúvidas e incertezas, pois esse é o papel filosófico da

educação. Alessandra Arce (2006), adepta da concepção dialética, acredita que

usando o jogo como estratégia, é possível trabalhar, desde a educação infantil nesta

perspectiva. Defende o conteúdo aliado à prática social como diretriz pedagógica,

também para esta faixa etária, faz crítica ao espontaneísmo presente no referencial

nacional para educação infantil, critica a abordagem do jogo, presente no

documento, mostrando a necessidade de retomar o seu vínculo com a cultura e

sociedade da sua época, como atividade principal, capaz de fazer grandes

1

Page 18: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

revoluções no desenvolvimento infantil. Reafirmando a teoria de Vygotsky, lembra

que o jogo abre novas zonas de desenvolvimento potencial, possibilitando a

mediação do adulto, da cultura... na zona de desenvolvimento proximal, (distância

entre o nível real e potencial), assim sendo, as análises e conclusões que a criança

fará com ajuda, no momento, posteriormente se efetivará sem ajuda. Este, sem

dúvida, é um processo dialético. A prática inicialmente imitativa, gradativamente,

pela interferência do outro, tornar-se-á criadora, emancipada, cumprindo a função

social da escola.

Para pedagogia progressista a escola reproduz as relações capitalistas,

porque está inserida neste contexto, mas, ao mesmo tempo pode ser uma instância

de resistência. Não é preciso esperar ter uma sociedade igualitária, para termos uma

escola que de fato socialize os conhecimentos, de acordo com esse pensamento ela

pode ser um dos agentes de mudanças quantitativas. O professor é um dos

elementos principais da contradição, precisa abarcar o movimento de

desvendamento da realidade. Porém, não é uma tarefa muito fácil, porque, apesar

de pertencer à classe trabalhadora, muitas vezes, traz no seu ideário, aspirações e

valores da sociedade burguesa perdendo o vínculo com seu grupo, para resgatá-lo é

importante o trabalho coletivo, porque colabora para formação de uma consciência

individual de classe. Confirma Ribeiro (2001):

"Importa compreender que esta luta é uma luta travada a um tempo na sala de aula, na unidade escolar e fora dela num duplo sentido. De um lado, é uma luta que necessariamente deve levar (e vem levando) à união dos educadores das várias unidades escolares. De outro, é uma luta que necessariamente deve levar (vem levando) o educador, na condição de cidadão, a lutar por transformações sociais de base econômico - política e cultural mais gerais ."(RIBEIRO, 2001 p. 42).

Reafirmando sobre a importância dos agentes de transformação, entre eles

a docência, de acordo com os relatos de Schelesener (2009), Gramsci faz

colocações muito pertinentes sobre as características do professor e do método.

Para o autor o ensino torna-se uma arte quando o professor consegue entender e

transformar o processo de conhecimento num fogo vivo, numa energia vital que une

os aprendizes em torno de objetivos comuns, tornando a aprendizagem em um

processo de criação e participação ativa da vida social. A questão metodológica

insiste no diálogo, que deve ser iniciado na escola elementar e ser aprofundado nas

1

Page 19: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

séries posteriores com rigor, disciplina e criatividade. "O mestre ensina a dialogar, a reconhecer, a desvelar os sinais de grandeza do passado, a descobrir novamente o que os outros já souberam, o que a história lhes contou e a sua experiência recriou; é ele que inicia o aluno na dimensão simbólica... Desperta a curiosidade por detalhes escondidos, incentiva a reconhecer ambiguidades, a perceber a beleza das coisas simples" (SCHLESENER, 2009 p.101).

É um desafio pedagógico para o educador consciente de seu papel na

sociedade, formar um cidadão consciente da sua individualidade e ao mesmo tempo

engajado nas lutas sociais, comprometido com socialização dos bens culturais,

construídos na interação entre os homens de todas as etnias e classes sociais.

Na atualidade, as diferenças sociais e culturais, ainda estão um pouco

camufladas, no interior da escola. Nessa década tem sido apresentado como

solução para os problemas da educação, observar a prática do professor, assim

sendo, esta ocorrendo uma supervalorização do pragmatismo, conhecimento tácito,

saber utilitário em detrimento da teoria. Sem sombra de dúvidas é essencial a

realização de pesquisas do cotidiano escolar que valorizem o saber do professor,

entretanto, elas somente terão validade na relação teoria-prática. Porque mesmo

aqueles considerados bons professores, podem satisfazer em termos de conteúdo

ou/ estratégias, porém se não conseguirem teorizar sobre sua prática, correm o risco

da eterna alienação, sem abstrair sobre seu próprio trabalho. Com certeza a

academia não ensina sobre toda a prática, mas ajuda na construção desta. É uma

relação dialética onde a prática gera a teoria, que por sua vez, conduz a nova

prática, o movimento se repete sucessivamente.

Luckesi (1994) diz que é preciso na trajetória pedagógica, com auxílio de

referencial teórico, inventariar sempre nossos valores, mediante a análise, é possível

inclusive reafirmar a prática, modificar algo, ou negar totalmente. Assim sendo, a

prática sem a teoria é insuficiente, mantem a divisão do conhecimento que se

pretende superar.

Historicamente, conforme as colocações tão bem articuladas de Ponce, no

seu livro, Educação e Luta de classes (1986), o conhecimento está intrinsecamente

relacionado com as relações de poder desde início das organizações sociais. No

Egito antigo, o saber começou a ter caráter hierárquico e hereditário, e essa prática

permaneceu durante séculos. Fazendo-se um recorte histórico, é possível identificar

que, com a instituição do estado burguês, após a Revolução Francesa, em 1789,

1

Page 20: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

ocorreu de fato a disseminação do saber pela instituição escola, porém, o

conhecimento a ser transmitido, continuou sendo determinado pelo Estado, que

distribuía a quantidade e a forma, para cada classe, conforme os interesses do

mercado. Cita-se Snyders, in Cury, 2000: “O capitalismo exige que a escola lhe

forme trabalhadores que se saibam vulneráveis; espera-se, devido sua formação

restrita, que não venham a revelar-se demasiado exigentes em matéria de salários ,

proporcionar-lhes o mínimo possível de instrumentos intelectuais que os ajudariam a

questionar o sistema" (p.76).

Como o Estado em uma sociedade capitalista, representa os interesses do

capital, esta relação entre mercado e escola permanece, com o aval do Estado, que

é o representante legítimo da burguesia, que luta constantemente pela sua

hegemonia, utilizando-se de vários mecanismos, entre eles a educação escolar. Os

professores públicos, como funcionários que são, devem servir aos interesses da

mantenedora, por isso são alvo de pressão. Uma vez que devem cumprir o currículo

imposto, são avaliados e vigiados, principalmente pela burocracia.

Contraditoriamente fazem parte da sociedade civil, pertencem à classe trabalhadora

e deveriam lutar pelos seus próprios interesses fazendo um pólo de resistência,

tanto nas organizações, como nos sindicatos e, também, individualmente, nos seus

locais de trabalho.

Fazer a resistência não é tarefa fácil... Em alguns momentos, o espaço de

contradição, por questões políticas, fica muito reduzido, parecendo que a hegemonia

é de cem por cento, mas é preciso bloquear, mesmo que pareça impossível, pois as

conquistas são frutos de luta. Gadotti, observa e posiciona-se em relação a essa

questão: “As mudanças... operam-se por dentro, pela evolução interna das

contradições, no interior do sistema. Se não forem aproveitadas as oportunidades

oferecidas pelas lutas existentes no interior da hegemonia do Estado, esse mesmo

Estado se fortalecerá, homogeneizando-se, cimentando a sua ideologia ocupando

cada vez mais espaço" (GADOTTI, 1987, p.162).

No Brasil, durante a década de 1980, a sociedade civil, de modo particular,

os sindicatos de professores, lutaram pelos seus direitos e reivindicaram educação

de qualidade, sem determinação do Estado. Almejavam uma educação que

abarcasse os interesses da classe trabalhadora, conseguiram resultados

significativos, pois, alguns currículos estaduais dessa época, traduzem esse

compromisso. Muitos intelectuais da academia deram sustentação teórica a estas

1

Page 21: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

ideias, mas, na década de 90, o cenário político, aos poucos, foi sendo modificado e

os espaços de luta tornaram-se cada vez mais restritos, muitos idealizadores de

propostas progressistas foram cooptados, junto com eles professores, também

modificaram a direção do seu trabalho.

Pode-se dizer que nesse momento as massas populares ficaram quase que

totalmente imobilizadas, perante as ações e argumentos do neoliberalismo para

educação. Aparentemente, pela ideologia do discurso, transparecia cumprimento

legal de muitos direitos, mas estavam imbuídos de falsa democracia. Vale, então,

ressaltar que compete mais uma vez à sociedade civil, através dos seus intelectuais

orgânicos aproveitar os ganhos e revertê-los na perspectiva da verdadeira

autonomia com a participação popular. Os conselhos de escola precisam tornar-se

espaço de instância política, e não apenas local de legitimação dos interesses do

Estado.

O professor não pode conformar-se com o papel de submissão, que lhe é

imposto, precisa ter clareza do seu papel de agente de transformações na

sociedade. É essencial que esse profissional perceba que não pode ser massa de

manobra, a mercê dos interesses do governo. Gadotti (1987): explicita sobre o

relevante papel social do professor na construção de uma sociedade mais

democrática:

"A mudança de qualidade nas relações que mantem a sociedade ativa é fruto de uma lenta e por vezes violenta maturação quantitativa, no interior dessas mesmas relações. É uma guerra surda, cotidiana , e , até certo ponto , inglória. É o trabalho muitas vezes anônimo, do professor, por exemplo. A educação só pode ser transformadora nessa luta surda, no cotidiano, na lenta tarefa de transformação da ideologia, na guerrilha ideológica travada na escola" (GADOTTI, p.162).

Neste momento histórico, especialmente no Paraná, o discurso político traz

proximidade com a dialética e, desse modo, compete aos profissionais da educação,

apropriar-se teoricamente e, fazer de fato na sala de aula uma opção por esta

metodologia. Caso contrário, cada vez que houver mudanças políticas, corre-se o

risco da alienação da espera pela determinação, sem o compromisso efetivo com a

democratização, permanecendo a eterna pergunta: e agora que mudou o governo o

que fazer? Por que não inverter a relação e conduzir a situação para que as políticas

educacionais perguntem aos educadores o que, de fato, precisa a sociedade civil?

2

Page 22: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

Como poderá a educação pública contribuir? Qual metodologia? Mesmo que o

governo eleito seja mais democrático e proclame os interesses da classe

trabalhadora, não pode sob hipótese nenhuma, determinar no gabinete a diretriz

educacional. Todo governo, tem o direito de propor, mas cabe à sociedade civil,

orientada pelos intelectuais orgânicos rejeitar ou acatar as propostas

governamentais. Vale dizer que ter ou não ter uma educação de qualidade,

comprometida com a socialização do saber, depende da conscientização social,

realizada, sobretudo, na escola que é o espaço privilegiado da transmissão do

conhecimento acumulado. Nessa concepção é o método dialético como síntese da

expressão da realidade social que, intencionalmente, contribuirá para a

transformação social, através da democratização do ensino.

Com objetivo de explicitar metodologicamente a dialética no interior da

escola, serão utilizados três autores: GASPARIM, 2005, FREIRE,1996,

WACHOWICZ, 2009.

O primeiro autor trabalha com o método propriamente dito, tanto no sentido

teórico (posicionamento político), como de estratégias apropriadas para

internalização dos conhecimentos, tendo como parâmetro prática-teoria- prática. Na

perspectiva psicológica histórico- cultural o conteúdo é retirado do social é

internalizado pelo sujeito e retorna ao social diferenciado, porque ocorreu um debate

entre senso comum e conhecimento científico que dependendo do encaminhamento

gera um desconforto diante da realidade e suscita o movimento e o

comprometimento.

Assim sendo, todo trabalho pedagógico deverá ter como ponto de partida a

prática social seguida de problematização, instrumentalização e catarse, que é o

momento onde professores e alunos traçam estratégias de ação diante da realidade

encontrada. Quanto a importância da prática social explicita a seguinte citação: "Os

conteúdos não interessam, a priori e automaticamente aos aprendentes"

(GASPARIM, 2005, p.17), terão significado se forem relacionados aos conceitos e

opiniões trazidos pelos alunos. Os conteúdos científicos, por si só, não dizem nada,

compete ao professor especialista além de ter o domínio específico da área,

aprender constantemente a estabelecer as relações existentes, não visíveis

aparentemente. Dessa forma, a parte será vista na sua totalidade, a parte passa a

ser um recorte que contém várias dimensões que possibilitam a compreensão da

realidade. Quando prática e conteúdo científico se confrontam surge a

2

Page 23: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

problematização, que é o incentivo para aquisição do conteúdo. Assim sendo fica

estabelecido uma aliança entre conteúdo e prática social. Investir só no conteúdo é

manter a escola tradicional na sua essência, porém enfatizar o senso - comum em

detrimento do conteúdo é manter a alienação, uma vez que o saber possibilita a luta

por direitos iguais para todos os homens.

Gasparim (2005), a partir dos estudos de Saviani (1999), acrescenta aos

conteúdos diversas dimensões: científica, histórica, filosófica, social política. São

fundamentais para responder as problematizações e trabalhar com a categoria da

totalidade nas diferentes interfaces, que formam o todo.

Enfim, a catarse é o momento da verdadeira apropriação do saber por parte

dos alunos, é o último momento da síntese, superação do conhecimento imediato da

aparência em substituição ao conhecimento mais articulado provindo da essência.

Compete ao professor mediar a passagem da síncrise para síntese atual e

dialeticamente provisória. Nesse sentido tem a função de apresentar as lentes de

contato, auxiliando na leitura das linhas e entrelinhas, para junto com os alunos

ampliarem constantemente a visão de mundo estabelecendo um mútuo

comprometimento.

A possibilidade da efetivação de uma proposta crítica passa pela democracia

da fala e autenticidade da ação do professor que conduz o processo, mas não é

dono dele. O autor que melhor exprime o respeito pelo outro, o sentimento de amor

necessário na empreitada de compartilhamento é Paulo Freire, que sempre soube

ouvir, calar e se posicionar sem desrespeitar. O autor critica o ensino bancário que

treina, deposita, mas pretende matar a curiosidade, a dúvida e a rebeldia. Ressalta

que felizmente alguns professores resistem e remam contra a maré. Quebram as

correntes e se lançam nos vôos livres. Complemento dizendo correm o risco de se

quebrar, até se quebram mesmo, mas o importante é que tentam.

Para Freire (1996), o aluno deve ser educado para autonomia. A citação

traduz esse posicionamento.

"A arrogância que nega a generosidade nega também a humildade, que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que se regozijam com sua humilhação. O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos, se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico" (FREIRE, 1 996, p.92).

2

Page 24: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

O diálogo é a estratégia principal do trabalho, entende que essa não é uma

concessão, mas sim uma prerrogativa no processo de aprendizagem conjunta entre

alunos e professores.

A última autora referendada é Wachowicz (2009), por explicitar a teoria de

Vigotsky, evidenciando a importância da mediação e outros pontos que ajudam a

pensar na significação do conteúdo para o sujeito que aprende, lembrando que o

professor é parceiro do aluno, portanto devem entrelaçar projetos e ações. Compete

ao professor conhecer profundamente a sua área de conhecimento para dar-lhe um

valor de aplicação. Propõe como estratégia principal de conhecimento a pesquisa.

Os próprios alunos podem efetivar a pesquisa ou buscar dados de pesquisas

existentes. Estas são de suma importância pois são frutos do real, inibem um

julgamento parcial, baseado no imediatismo, não condizente com a perspectiva

dialética.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nos estudos realizados com os professores tanto pessoalmente como no

GTR, todos diziam ter como concepção a dialética marxista e participaram

ativamente das discussões. Nos encontros do colégio ficou explícito que embora

haja uma pretensão declarada em prol desta metodologia, na prática é difícil manter

coerência teórica. A dicotomia ocorre por diversos motivos, mas foi ressaltado que a

falta de consistência teórica aliada a poucos encontros de estudo, mas rotatividade

do grupo de professores são os principais entraves neste processo de internalização

que só pode ser viabilizado mediante exercício sistemático de reflexão coletiva

Concluímos que. alguns avanços ocorrem principalmente no que se refere a

estratégias mais democráticas de participação, contraditoriamente quando

transparecem práticas muito conservadoras o questionamento dos alunos e alunas

Uma teoria nasce da observação do trabalho material, portanto só terá

sentido na relação com a prática, pois estão intrinsecamente ligadas. Percorrendo

este raciocínio recorremos a Luckesi (1994), quando diz que é preciso inventariar

2

Page 25: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

sempre, complementa-se ressaltando que às vezes revemos a prática a luz de uma

teoria e não precisamos mudar, pelo contrário reafirmamos, outras vezes somos

denunciados, mediante a comparação estabelecida entre ação de fato e teoria de

sustentação. Assim é o processo, não pode ser linear, contem subidas e descidas

nunca buscando uma verdade absoluta, mas sim um pressuposto básico para o

contexto histórico estudado no momento. É a clareza de concepção que inibe uma

troca constante de discurso, conforme os ideários educacionais dos dirigentes

políticos, mas dialeticamente também nega a cristalização e ao mesmo tempo

impulsiona a reflexão e as permanências de ideais políticos, como lutar por uma

sociedade mais justa e igualitária.

O conceito de dialética marxista para os alunos e alunas, ainda está muito

relacionada com a oposição de ideias. A categoria maior que é a contradição de

classes foi apontada como pertinente ao conceito, mas, apareceu em escala menor.

Fica evidenciado que para eles ainda não está explícito o papel da escola enquanto

instrumento de luta a favor da transformação social, talvez este conceito se

aproxime mais de Hegel do que de Marx, por estar desvinculado da sociedade.

No que diz respeito à abordagem do assunto em sala, afirmam sempre

escutar o tema nas aulas, principalmente nos fundamentos de educação: Sociologia

e Filosofia. Em menor escala citaram Organização do Trabalho Pedagógico e

Fundamentos Históricos da Educação. Não houve referência a Prática de Ensino o

que causa certo estranhamento por ser a disciplina responsável pela articulação

teoria/prática. A referência de planejamento nessa série é do Celso Vasconcelos,

com a intencionalidade de contribuir na direção de uma metodologia com tendência

mais crítica. Como os alunos e alunas, não fazem menção a esta disciplina

possivelmente não conseguiram estabelecer a relação do planejamento com os

fundamentos teóricos estudados.

Quanto à citação de autores que sustentam a concepção citaram: Gasparim,

Saviani, Vygotsky e um pouco menos citado aparece Paulo Freire. Outro autor

lembrado com a mesma incidência foi Piaget, que em tese sustenta uma visão

construtivista liberal. Sua teoria é clássica precisa ser estudada e é de suma

importância, porém não contempla o método dialético marxista nos quesitos

transformação social e intervenção de aspectos culturais e econômicos. Seria

interessante que os alunos e alunas conseguissem fazer as distinções teóricas, não

com o intuído de excluir, mas de estabelecer consistência pedagógica que possibilite

2

Page 26: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

diálogo teórico coerente. Em outra questão uma aluna afirma ser construtivista como

sinônimo de dialética. O mesmo equívoco ocorre no cotidiano escolar, não

raramente educadores conferem ao construtivismo o teor crítico progressista que

não está na sua essência. A referida teoria traz no seu bojo uma inovação

estratégica, mas não se compromete com a mudança coletiva de cunho social de

caráter cultural político e econômico. Retomando as análises em relação à

profundidade dada aos autores, relatam que foram arrolados somente no contexto

das discussões.

No que tange as características do método dialético, para os alunos e alunas

o ponto mais significativo é o diálogo seguido da priorização da fala do aluno. Outros

aspectos citados foram a importância da mediação do professor e a crítica ao senso

comum. Demonstraram compreender os princípios fundamentais da dialética que é a

democracia o direito a vez e a voz, conforme citação:

"O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, ás vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele... o espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem, falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala "(FREIRE, 1996, p113-117).

As colocações traduzem a importância do diálogo no processo de aquisição

do conhecimento.

Em que medida os alunos e alunas acham que as aulas traduzem a opção

metodológica. Alguns afirmam que sim, outros parcialmente, a justificativa do

primeiro grupo é o diálogo. O segundo grupo fala o contrário, conteúdo passado sem

diálogo. Outro aspecto levantado foi a imparcialidade, só ressaltar um ponto de vista,

em detrimento de outros.

A educação escolar, sem dúvida, é uma das instâncias que pode contribuir

para efetivação de mudanças, quando cumpre sua função política de socialização do

conhecimento. Para isto, deve privilegiar os conteúdos, mas os vincular à prática

social. Gramsci nos seus escritos, traduzidos em diferentes obras, depositava muita

esperança na escola, por isto defende a escola única, onde operários e capitalistas

tenham acesso ao mesmo conhecimento. Neste sentido o conteúdo é o instrumento

de luta, alguns professores equivocadamente fazem na sala politicagem,

dogmatismo, exigindo que todos pensem da mesma forma, aderindo o socialismo. A

2

Page 27: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

imposição de idéias, não é dialética, depõe contra a própria ideologia divulgada.

Muitas acusações são feitas aos professores críticos, da década de 1980

intitulados em muitos casos como panfletários. Em algumas práticas equivocadas

procede a denúncia, mas é necessário deixar claro, que para os educadores dessa

linha especialmente o GASPARIM, 2005, é o próprio conteúdo e forma de

abordagem que subsidiam o aluno no entendimento da realidade, uma vez que

desenvolvem a capacidade de abstração. Nesse fato reside o posicionamento

político do professor, partilhar conhecimento, construído por todos, mas negado para

muitos.

Retomando no que diz respeito aos procedimentos mostram domínio do

assunto. Exigem coerência de ação. Ainda não compreenderam a concepção teórica

na essência- contradição de classe, mas na ação cotidiana dos docentes

reconhecem os princípios democráticos como inerentes a ação dialética: “Os

procedimentos de ensino, que usamos diariamente na sala de aula, estão

comprometidos com as duas óticas metodológicas: a teórica e a técnica. A prática

docente tem por objetivo produzir resultados, mas não quaisquer resultados: e, sim,

resultados politicamente definidos” (LUCKESI, 1990, p 153).

A pergunta chave foi se de fato os alunos e alunas sentem-se preparados

para planejar tendo como referência o método dialético. As respostas foram sim em

maior quantidade e parcialmente. Entre as justificativas para o parcial reafirmaram a

preocupação com o dogmatismo, então ficam registrados os seguintes

questionamentos: Os professores doutrinam ou formam sujeitos autônomos capazes

de reelaborar a partir dos referenciais teóricos internalizados? Só é capaz de criar

aquele que se apropria da concepção, inicialmente tende a imitar, mas

gradativamente de posse do saber transcende e cria. Comungar deste entendimento

é fundamental para elaboração de propostas pedagógicas desafiadoras que

ampliem a visão de mundo do outro

2

Page 28: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho suscita algumas reflexões importantes a respeito do ensino na

perspectiva dialética no curso de Formação de docentes. No ideário dos professores

realmente está presente esta metodologia. Os mesmos expressam nas aulas esta

opção principalmente no que se refere a estratégias do ensino e relação

interpessoal. Os alunos têm direito à voz, as aulas são dialogadas, estes são

princípios democráticos que condizem com o método dialético. Entretanto, a

dimensão política mostra-se fragilizada, porque os alunos não compreenderam o

princípio da contradição entre capital e trabalho. No interior da sociedade capitalista

as contradições são visíveis, porém ideologicamente maquiadas, não é possível no

momento fazer uma mudança estrutural na sociedade, mas as mudanças

qualitativas contribuem para que ocorra de fato a transformação social. Ter esse

discernimento é fundamental para que o aluno compreenda a função da escola, que

é determinada, porque faz parte da sociedade, portanto é influenciada, pelos

condicionantes políticos, econômicos e culturais, mas contraditoriamente também

pode determinar ao discutir as relações desiguais presentes no modo de produção

capitalista.

É fundamental resgatar com as futuras docentes a relação estreita entre

educação e sociedade, a fim de ajudá-las a enxergar além da aparência e quiçá de

posse de conhecimentos adquiridos na reflexão pedagógica cotidiana enjangar-se

na luta por mudanças sociais. Para efetivação dessa ação, é preciso superar o

dogma. Compete ao professor explicitar a concepção e ter atitudes pedagógicas

coerentes com o discurso. Os que se apropriaram deste entendimento precisam

socializar com os colegas e alunos, sem desmerecer autores de outras concepções,

pois o acesso a vários posicionamentos tem que ser disponibilizado. O aluno neste

momento, ainda não consegue sozinho, estabelecer diferenças. É pela mediação do

professor que aos poucos aprenderá a fazer distinções entre autores e teorias da

educação. Para conciliar fins técnicos e políticos, faz- se necessário transitar por

várias tendências pedagógicas estabelecendo diálogo sem perder a identidade que

abarca: concepção de sociedade e fins políticos que movem a luta por uma causa,

que deve se dar pela conscientização, caso contrário, será superficial, não resistirá

2

Page 29: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

as apelações e modismos educacionais impostos socialmente. O diálogo entre

teorias dicotômicas, ou uso de estratégias utilizadas em tendências divergentes, não

se caracteriza como ecletismo pedagógico, se forem explicitados a intencionalidade

política.

O Entendimento teórico destas questões arroladas possibilita aos alunos

pensarem nos seus planejamentos atividades que abordem o conteúdo aliado a

prática social, considerando no processo a fala do sujeito que aprende. É uma tarefa

difícil que para cumprir-se precisa se aliar ao estudo e comprometimento político.

Esta aprendizagem está diretamente vinculada às leituras teóricas propostas pelo

professor, que nem sempre possui uma visão crítica apurada. Assim sendo ampliar

os avanços depende de um processo coletivo de comprometimento, caso contrário

as ações continuarão restritas (pessoais), portanto menos abrangentes. Quando a

concepção for uma opção do grupo, poderá transparecer em todas as aulas, pelo elo

teórico político, que preserva a especificidade da área, mas mantem a essência que

direciona os discursos.

Futuramente mais dados poderão ser coletados se forem analisados os

planejamentos dos alunos e professores e o projeto político pedagógico. É uma

sugestão para próximos trabalhos.

Concluindo, fica evidenciado que os possíveis avanços metodológicos nos

planejamentos dos alunos são reflexos do processo interativo entre professores

alunos e colegas. Assim sendo o processo da passagem do ideário dos princípios

dialéticos no curso de Formação de docentes para ação efetiva pressupõe reflexão

coletiva e ação compartilhada para ser concretizado com maior propriedade nesta

instituição.

REFERÊNCIAS

ARCE, Alessandra; DUARTE, Newton (organizadores). Brincadeira de papéis sociais na educação infantil: as contribuições de Vygotsky, Leontiev e Elkodores. São Paulo: Xamã, 2006.

CURY, Carlos R. Jamil. Educação e Contradição. São Paulo, Cortez. Editora / Autores Associados, 1983.

GASPARIM, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico – Crítica. Campinas, SP: Cortez, 2000

2

Page 30: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2001.

FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. Campinas, S P: Papirus, 1995.

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação; um estudo introdutório. SP, Cortez, 1983. (Educação Contemporânea)

GASPARIN, J.L. Uma didática para pedagogia histórico - crítica. Campinas: Autores Associados, 2005. (Coleção Educação Contemporânea).

GENTILI, P. SILVA, da. T da Escola S. A.: quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo. Brasília: CNTE, 1996.

KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. 4ª ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1986.

LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. SP: Cortez, 1994. Coleção Magistério 2º grau. Série formação do professor.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Educação Profissional. Proposta Pedagógica curricular do curso de formação de docentes da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, em nível médio na modalidade normal. Curitiba: SEED - Pr, 2006.

POLITZER, Georges. Princípios fundamentais de filosofia. SP, Hemus, s/d.

PONCE, Aníbal. Educação e luta de classes. 9ª ed. Tradução e prefácio J. Severo de Camargo Pereira SP, Cortez e Autores Associados, 1986. (Educação Contemporânea).

RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Educação escolar: que prática é essa? Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleção polêmica s do nosso tempo.).

SAVIANI, D. Pedagogia histórico - crítica: primeiras aproximações. Campinas. Autores associados, 1997.

_____. Escola e democracia. 9ª ed. SP; Cortez, 1993.

SCHELESENER, Anita Helena. A Escola de Leonardo: Política e Educação nos escritos de Gramsci. Brasília: Liber Livro, 2009.

SEVERINO, A. J. Filosofia da educação. Construindo a cidadania. SP: FTD, 1994.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

WACHOWICZ, L. A. O método dialético na didática. Campinas: Papirus, 1995.

_____; Lilian Anna. Pedagogia Mediadora. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

2

Page 31: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · individual, ao defender que o homem livre na natureza, pode traçar seu próprio destino, sem ser corrompido pela sociedade a exemplo de Emílio,

3