da escola pÚblica paranaense 2009 · dealmo poersch representa a udn. dos vereadores eleitos na...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
LUCIANA GRESPAN ZAGO
MEMÓRIA POLÍTICA: AÇÕES POLÍTICAS MUNICIPAIS DURANTE A DITADURA MILITAR
Marechal Cândido Rondon2010
LUCIANA GRESPAN ZAGO
MEMÓRIA POLÍTICA: AÇÕES POLÍTICAS MUNICIPAIS DURANTE A DITADURA MILITAR
Material Didático apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED e junto ao Curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo José Koling.
Marechal Cândido Rondon2010
APRESENTAÇÃO
Este trabalho foi elaborado como parte do Programa de Desenvolvimento
Educacional, junto a Secretaria de Estado de Educação do Paraná e sob a orientação do
Professor Dr. Paulo José Koling, vinculado à Universidade Estadual do Oeste do
Paraná.
O texto apresentando a seguir pode ser utilizado pelos professores e alunos
visando ampliar o conhecimento e entendimento sobre as disputas político-partidárias
que ocorreram no município de Marechal Cândido Rondon durante a Ditadura Militar;
principalmente aqueles relacionados ao executivo e ao legislativo e as relações
econômicas e sociais que se estabeleceram nesse período.
Para ZAMBONI,
O lugar nos dá o sentimento de pertencer e concretiza a nossa identidade. O estudo do lugar tem um papel essencial no ensino da História, como um espaço onde ocorre naturalmente a inter-relação entre os elementos físicos, biológicos e humanos, e como ponto de partida para a aquisição de novos conhecimentos. (s.d, p.73)
Assim, ao fazer o estudo da história local conseguimos ter uma identificação e
um sentimento de pertencimento ao local. Muitas vezes os alunos pensam que a história
somente é feita pelos outros. Ao tratar os processos históricos próximo de nossa
vivência podemos colaborar para que todos se percebam enquanto sujeitos históricos.
As disputas político-partidárias em Marechal Cândido Rondon
Quando ocorreu o golpe militar em 1964 no Brasil havia a pluripartidarização, ou
seja, existiam vários partidos políticos que atuavam no cenário municipal, estadual e
nacional. A maioria desses partidos políticos começou a se formar a partir de 1945, pós-
governo de Getúlio Vargas.
Dentre todas as agremiações partidárias que surgiram podemos destacar:
- UDN: União Democrática Nacional que representava as camadas médias urbanas,
grandes proprietários de terras e os militares, que se opunham a Getúlio Vargas e ao
PSD. Apoiou o golpe político-militar de 1964 e vários de seus integrantes ocuparam
cargos públicos durante a Ditadura Militar. No Paraná a “UDN dividia-se em duas
facções: uma de Londrina, constituída por políticos mineiros transferidos para o
Paraná,” por causa da expansão cafeeira, “e outra de Curitiba com as famílias
tradicionais do estado.”1
- PSD: Partido Social Democrático representava proprietários de terra, industriais,
funcionários públicos, comerciantes. Sua fundação tem origem nos políticos que
apoiavam Getúlio Vargas e possuíam uma extensa base eleitoral do Estado Novo
getulista. Num primeiro momento apoiou o golpe militar, mas após a cassação de
Juscelino Kubitschek o partido passou a fazer oposição aos militares.
- PTB: Partido Trabalhista Brasileiro fundado por Getúlio Vargas em 1945 representava
as camadas populares, os trabalhadores urbanos e políticos vinculados ao trabalhismo.
Por ser o partido de João Goulart, presidente deposto em 1964, passou a fazer oposição
ao regime militar e muitos de seus políticos tiveram seus mandatos cassados. No Paraná
o PTB era muito forte no oeste paranaense, porque a maioria dos colonos era oriundo do
Rio Grande do Sul, terra natal de Vargas e onde o PTB tinha muita influência política..
Em Marechal Cândido Rondon, os prefeitos Arlindo Lamb (1961-1965) e Werner
Wanderer (1965-1970) foram eleitos sob a legenda do PTB
- PCB: Partido Comunista do Brasil e a partir de 1961, como Partido Comunista
Brasileiro, fundado em 1922 representava vários setores da classe trabalhadora urbana.
Em 1947 foi declarado ilegal, como medida de apoio e alinhamento do estado brasileiro
1 ABREU, Alzira Alves de e et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós 1930. Ed. Revista e Atualizada. Editora FGV/CPDOC: Rio de Janeiro, 2001. V.4. p.5843
4
a política dos Estados Unidos contra o comunismo internacional. Este partido estava
mais presente em grandes centros urbanos.
Além desses partidos políticos que tinham um número maior de filiados e estavam
presentes em quase todos os municípios do país, podemos citar: o PDC (Partido
Democrata Cristão) apesar de ser inexpressivo no país consegue eleger como
governador de estado Ney Braga (1961-1965) e Jânio Quadros como presidente da
República; o PTN ( Partido Trabalhista Nacional) também sem muita expressão a nível
nacional e elege para governador Paulo Pimentel (1965-1969); o PSP ( Partido Social
Progressista) e o PL (Partido Libertador) que na maioria das vezes se coligavam a
outros partidos nas eleições.
Em 3 de outubro de 1965, houve eleições em 11 estados brasileiros, sendo que
o PSD venceu em cinco estados: Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Santa Catarina,
Minas Gerais e Guanabara. Além disso, Juscelino Kubitschek desembarca no Rio de
Janeiro logo após as eleições e é recebido por uma grande manifestação popular. A
derrota do partido governista em Minas Gerais e Guanabara, estados de grande
importância política e a chegada triunfal de JK no Rio de Janeiro foi considerado uma
afronta ao regime militar e serviu de pretexto para a decretação do Ato Institucional nº 2
no dia 27 de outubro de 1965.
Entre as várias medidas tomadas nesse ato, o governo tornou indireta as
eleições para presidente em 1966 e governador de estado nas futuras eleições, cassou
mandatos de políticos e extinguiu todos os partidos políticos existentes e criando
somente dois: a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) partido da situação e MDB
(Movimento Democrático Brasileiro) partido de oposição, mas uma oposição
consentida. Os políticos que ainda tivessem mandato deveriam ingressar nesses dois
partidos e futuros filiados também.
Nas eleições para governador no Paraná, em 1965, elege-se Paulo Pimentel sob
a legenda do PTN com apoio de Ney Braga, que era do PDC, com receio que Bento
Munhoz da Rocha Neto do PTB se reelegesse. Mas em seguida os partidos políticos
existentes são extintos e Ney Braga organiza a ARENA no Paraná, fazendo com que
seja a principal liderança política paranaense durante a Ditadura Militar. A maioria dos
deputados estaduais, federais e senadores acabam filiando-se a ARENA. Dos 56
5
representantes do legislativo paranaense em 1965, 36 se filiaram a ARENA e 18 ao
MDB.2
Em Marechal Cândido Rondon em 1965 também são eleitos vereadores e um
novo prefeito, Werner Wanderer sob a legenda do PTB, mas o vice-prefeito eleito
Dealmo Poersch representa a UDN. Dos vereadores eleitos na mesma eleição 4 eram
do PTB, 3 do PSD, 1 do PSP e 1 da UDN. Quando da extinção dos partidos e criação do
bi-partidarismo em 1965, tanto prefeito, quanto o vice e vereadores filiaram-se na
ARENA. Como se percebe eram muitas rivalidades e disputas internas para serem
administradas, por isso o governo federal autoriza a criação de sublegendas dentro dos
partidos.
Em Marechal Cândido Rondon, além da ARENA, foi autorizado a ARENA 1 e ARENA 2, que acomodaram os diversos grupos, que já eram oposição entre si antes do novo regime. Na ARENA 1 ficaram os antigos petebistas, aliados de Wanderer e Lamb. Na ARENA 2 ficaram os antigos udenistas, aliados de Poersch.3
O Ato Institucional 2 (AI-2) decretado em 1965 pelo presidente da República
Castelo Branco tirou o direito da população brasileira de escolher boa parte dos
representantes ao poder executivo, haja visto que a partir daquela data o Presidente da
República seria escolhido de forma indireta, ou seja, o Alto Comando das forças
Armadas escolhia um candidato que representava a ARENA e a oposição poderia
indicar um candidato também. O colégio eleitoral formado por todos os deputados
federais, senadores e por seis representantes de cada estado, escolhido pelo partido que
tinha o maior número de deputados na Assembléia Legislativa estadual, escolhia o
próximo presidente. Além disso, os governadores de estado seriam indicados pelo
Presidente da República e os prefeitos das capitais pelos governadores. A população
cabia votar para prefeito, vereador, deputado estadual, deputado federal e senador.
Basicamente a população votava para eleger representantes do legislativo, poder que
durante a Ditadura Militar foi sendo esvaziado em detrimento do poder executivo.
Em 1967 uma nova constituição foi promulgada e todos os atos institucionais e
decretos impostos pelo governo militar foram incorporados. Essa constituição trazia
2 MAGALHÃES, Marion Brepohl de. Paraná: Política e Governo. Curitiba: SEED, 2001. Coleção História do Paraná. p.863 ZAGO, Luciana Grespan. Fronteira e Segurança nacional no estremo oeste paranaense: um estudo do município de Marechal Cândido Rondon. Passo Fundo: UPF, 2007, p.59-60. Dissertação
6
mudanças políticas para alguns municípios do país, pois foram criadas as Áreas de
Segurança Nacional.
Com a promulgação da Constituição de 1967 os municípios localizados na fronteira internacional, estâncias hidrominerais e que possuíssem indústrias estratégicas foram considerados Áreas de Interesse da Segurança Nacional. Nesses municípios a nomeação de prefeito era de competência do Presidente da República, que recebia uma lista tríplice encaminhada pelo Governador do Estado. Esses municípios tinham que seguir normas ditadas pelo Conselho de Segurança Nacional, quanto à concessão de terras, estabelecimento de indústrias estratégicas, instalação de meios de comunicação e construção de pontes, estradas e campos de pouso.4
A constituição só criou as Áreas de Segurança Nacional, mas a Lei nº 5449 de
4 de junho de 1968 regulamentou a criação dessas áreas, bem como nominou todos os
municípios que foram enquadrados nessa situação. No Brasil, foram criadas a princípio
132 Áreas de Segurança Nacional, sendo que 10 estavam localizadas no Paraná. Mas no
decorrer do tempo outros municípios eram colocados nessa situação seja por
desmembramento de outro município como é o caso de Santa Helena, no Paraná, ou por
ser considerada uma área estratégica como é o caso Guariba no interior do estado de
São Paulo por ser município produtor de cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada na
fabricação de álcool etílico ou etanol.
O que levou o governo militar criar as Áreas de Interesse da Segurança
Nacional? Vários fatores podem ter contribuído para essa decisão. Diminuir o poder que
políticos do PTB tinham nesses municípios, aumentar o controle sobre regiões situadas
na fronteira já que essas áreas estavam quase todas localizadas na fronteira e assim
poder combater com mais eficácia o que era considerado o principal inimigo dos
militares, o comunismo. Enfim, essa decisão acabou influenciando muito os caminhos
da política nesses municípios durante o regime militar.
4 ZAGO, op cit, p. 50
7
FIGURA 1 - Localização dos Municípios da Área de Interesse da Segurança Nacional
no Paraná em 1971.
Fonte: Adaptado PADIZ, 1981, por Luciana Grespan Zago
Como foi citado anteriormente o prefeito do município era nomeado pelo
Presidente da República, que contava com a ajuda do governador de estado e de seus
aliados mais próximos. Com isso as nomeações passaram a ser uma disputa política
dentro da própria ARENA. Para entender como isso acontecia em Marechal Cândido
Rondon é preciso saber um pouco mais sobre os primeiros prefeitos do município, pois
a sua influencia política foi muito grande durante e depois da ditadura militar.
O primeiro prefeito eleito de marechal Cândido Rondon foi Arlindo Alberto
Lamb eleito pela coligação PTB/PL com 2.374 votos. Veio para o município em 1955,
era agricultor, proprietário de uma empresa de ônibus e de uma fábrica de telhas e
tijolos em Pato Bragado. Logo que chegou ao município por influência de Willy Barth
se filia ao PTB e no mesmo ano de sua chegada candidata-se a vereador pelo então
distrito de General Rondon e é eleito. Foi Presidente da Câmara de Vereadores de
Toledo entre os anos de 1957 e 1958 e participou da emancipação do município.
8
Werner Wanderer foi eleito prefeito pela coligação PTB/UDN, sob a indicação
de Arlindo Lamb. Seu pai foi vice-prefeito de Marechal Rondon de 1963 a 1965.5
Werner Wanderer era funcionário da prefeitura municipal e ocupava o cargo de fiscal
geral de tributos. Foi durante a sua gestão que o município de Marechal Cândido
Rondon passou a ser considerado Área de Segurança Nacional e seu mandato foi
prorrogado indeterminadamente até que se nomeasse o novo prefeito.
O primeiro prefeito nomeado pelo regime militar foi Dealmo Selmiro Poersch
18 de fevereiro de 1970. Poersch era vice-prefeito de Marechal Rondon, mas na sua
eleição representava a UDN, partido da qual tinha sido presidente municipal entre os
anos de 1960 e 1961. Era comerciante e participou da emancipação do município.
Nos primeiros anos pós-mudança partidária, a convivência entre os políticos da
ARENA parecia estar bem. Segundo Urnau, as desavenças políticas dentro da ARENA
se intensificaram a partir da nomeação de Dealmo Selmiro Poersch para prefeito.
Werner Wanderer se lançou a candidato a deputado estadual em 1970, mas caso não
fosse eleito retornaria ao cargo de prefeito. “Além do mais, Werner Wanderer e seu
grupo político não receberam apoio do prefeito Dealmo Poersch na campanha para
deputado estadual, pois o prefeito apoiou o candidato a deputado estadual Paulo Poli,
concorrente de Werner Wanderer.”6 Wanderer não foi eleito e não poderia mais retornar
ao cargo de prefeito, pois a nomeação de Poersch já havia sido feita pelo governador.
O que pode ter colaborado para Poersch ser nomeado prefeito foi o fato de ser
da UDN, partido que apoiou o golpe militar de 1964. E o que contribui para Werner
Wanderer não ser nomeado prefeito do município é sua origem partidária petebista. O
governador Paulo Pimentel e seu aliado mais importante Ney Braga não gostavam dos
prefeitos petebistas, como declara Arlindo Lamb, “o Ney Braga foi eleito pelo PDC
Partido Democrata Cristão e ele não queria ver um prefeito do PTB, ele odiava
elemento eleito pelo PTB, mas eu nunca fui maltratado pelo governador.”7 (Entrevista)
A partir desses episódios, as desavenças entre ARENA 1 e ARENA 2 se
intensificaram, com os dois grupos atacando-se mutuamente, principalmente na Câmara
de Vereadores, que era composta por sete vereadores que apoiavam Poersch e dois que
5 De acordo com Arlindo Lamb, o cargo de vice-prefeito foi criado em fins de 1963 e sua escolha foi feita pelos vereadores. Lamb lançou o nome de Alfredo Wanderer, que era vereador suplente pelo PTB. 6 URNAU, 2003, Iraci M. W. Autoritarismo, Rádio e Idéia de Nação. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2003. Dissertação. p.757 LAMB, Arlindo Alberto. Entrevista. Realizada por Antonio Benatti, Emilio G., Marcos Stein, Andrea Silva e Vanessa F. em 28/09/2000. Fita 01 nº 7224. Fita 02 nº7225. Arquivada no CEPEDAL – UNIOESTE.
9
apoiavam Wanderer, de um total de nove vereadores.Os vereadores tinham sido eleitos
em 1969 e todos eram da ARENA, mas tendo a subdivisão de legendas. Os vereadores
oposicionistas alegavam que Poersch não estava realizando um bom trabalho como
prefeito, que necessitava de mais empenho na obtenção de verbas junto aos governos
federal e estadual. Também alegavam que o prefeito estava mais preocupado em
administrar seus negócios do que o município. 8
Já Poersch e seus vereadores aliados diziam que buscavam verbas junto ao
governo estadual e federal, mas muitas de suas contribuições não eram atendidas.
Alegava ainda que como não recebia salário para ser prefeito, era dos seus negócios que
sustentava a sua família.9 Os ataques constantes que eram feitos a Poersch fizeram com
que ele pedisse a renúncia de seu mandato junto ao governador, em 9 de agosto de
1972.
Essas disputas políticas entre as sublegendas fizeram com que houvesse uma
enorme campanha para que os eleitores se filiassem a ARENA, tornando o município
conhecido como o mais arenista do país, por causa da grande quantidade de eleitores
filiados a ARENA.
A saída encontrada para diminuir a disputa pelo poder dentro da ARENA foi a
nomeação de um prefeito que não tinha ocupado nenhum cargo político. Almiro
Bauermann foi nomeado prefeito do município dois dias depois da renuncia da Poersch.
Werner Wanderer que controlava politicamente a ARENA 1 articulou rapidamente com
as elites locais a escolha de um nome considerado neutro.
Depois da não eleição para deputado estadual em 1970, Werner Wanderer se
mudou para Curitiba e passou a se dedicar a atividade comercial na capital. Mas
também começou a traçar alianças políticas mais sólidas que o levassem a ser candidato
novamente para deputado estadual em 1974 e pudesse se eleger. A partir dessas alianças
estabelecidas rapidamente articulou a nomeação de Almiro Bauermann para prefeito.
Almiro Bauermann tinha sido professor de vários educandários do município,
contador e foi sócio fundador do Sindicato Patronal do município, sendo seu primeiro
presidente. Não era um desconhecido da comunidade local. De acordo com Nedel a
indicação de seu nome se deu por sugestão de Alfredo Nied, pois era contador de seu
estabelecimento comercial. Entre algumas pessoas houve certa apreensão sobre quem
8 Atas de Sessões da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon, 12 de março de 1972; 18 de abril de 1972; 26 de maio de 1972; 14 de junho de 1972. 9 Arquivo do FAN, Rádio Difusora, Marechal Cândido Rondon, 22 de abril de 1972; 19 de junho de 1972.
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seria o novo prefeito, pois dependendo do indicado as rivalidades dentro da ARENA
poderiam se acentuar ainda mais.
Trocar o prefeito agora? Vai colocar quem? Alguém do prefeito que estava sendo destituído? Alguém do grupo que estava brigando pelo cargo? Então a medida encontrada naquela ocasião foi colocar alguém neutro, que não tinha ligação com um, nem com outro grupo, mas que fosse fiel, digamos assim, ao principio da indicação do governo, já que era feito via governo de Estado.10
Almiro Bauermann nunca confirmou que sua indicação se deu por articulação
das elites locais. Em entrevista ao Jornal O Presente relata o seguinte: “Eu era filiado à
Arena e fui solicitado pelo Exército para ser prefeito. Para mim foi uma surpresa, mas
tinha que cumprir sem questionar e eles também não deram explicação.”11 Efetivamente
a participação de Werner Wanderer na sua indicação foi fundamental pois Bauermann
rapidamente estava alinhado politicamente com ele, de acordo com as afirmações de
Dilmo Bedin.
Almiro Bauermann foi uma pessoa que pintou dentro de sua modéstia, se articulou. Grande parte ele sempre soube utilizar, consultar constantemente o grande capitão Werner. Na verdade, fez uma boa administração. Sabia ser simpático ao público, mas, em grande parte, posso dizer, ele nunca tomou a iniciativa sem estar de acordo com o que pensava ou o que dizia, o que deliberava o Werner.12
A partir da nomeação de Bauermann para prefeito e as campanhas de filiação
para a ARENA que ocorriam dentro do município, fortaleceram ainda mais a ARENA1
e consequentemente Werner Wanderer que se tornou o principal líder da política local.
Anteriormente a esse período é importante lembrar que o padrinho político de
Werner Wanderer era Arlindo Lamb. Ambos eram importantes nomes da política local e
acabaram se desentendendo ainda quando Wanderer era prefeito, por causa da
construção da fábrica de óleo, fazendo com que Lamb se filiasse ao MDB. De acordo
com Lamb, “fui eu e o DR. Osmar Lautenschleiger um advogado que tinha terra aqui
embaixo, nós fomos os dois primeiros a nos filiar ao MDB aqui em MCR. Nós fizemos
a filiação através de Curitiba. Eu fiquei no MDB até que voltaram a ser liberados os
10 PRIESNITZ Apud URNAU, Op.cit., p. 78.11 Jornal O PRESENTE, quarta-feira, 31 de março de 2004, p.07.12 BEDIN Apud URNAU, Op.cit., p.77
11
partidos velhos de novo.”13 Segundo Nedel depois dessa desavença Lamb passa a apoiar
a ARENA 2, mesmo sendo filiado ao MDB.
Após esse desentendimento, Arlindo Lamb parece ficar de fora das decisões
políticas locais. Mas a sua articulação se dá através da Radio Difusora, pois era sócio
proprietário. Também participou da fundação da Coopagril, sendo presidente por duas
gestões. Ser presidente da cooperativa dava prestígio e poder porque depois da
prefeitura, a Coopagril era a segunda empresa que mais tinha empregados. Mas em
março de 1974, um grupo opositor liderado por Leopoldo Piotrowski assumiu a gestão
da cooperativa. Arlindo Lamb não gostou e também não aceitou pacificamente a sua
derrota.
O primeiro presidente apesar do pedido dos novos dirigentes para que reconsiderasse sua decisão, fundou juntamente com outros associados, na maioria grandes produtores, uma empresa comercial que tinha os mesmos objetivos da Coopagril: a comercialização de cereais e insumos.14
Essas questões desarticularam politicamente Arlindo Lamb, apesar de
economicamente ser muito forte.
Nos municípios maiores e capitais de estado o MDB foi organizado
rapidamente, o que não aconteceu nas cidades pequenas, levando alguns políticos a se
filiarem em centros maiores como foi o caso de Arlindo Lamb. Outro fator que
contribui para o retardamento da criação do MDB nas pequenas cidades, é que este
partido foi associado ao comunismo, inimigo declarado do regime militar e que causava
temor na população.Falar em comunismo em Marechal Cândido Rondon, como em grande parte do território nacional, assustava a população. Pois desde os anos 60, fazia-se necessário calar a oposição do país e nada melhor, do que defini-los com certos estereótipos. Muitas das lideranças dos municípios do interior encamparam essa idéia.15
A associação do MDB ao comunismo fez com que os políticos dos municípios
menores aderissem, quase na totalidade, a ARENA. A visão que muitos dos
rondonenses tinham do MDB, fica evidenciada na fala de Ilmar Priesnitz,
MDB, um partido que aqui se dizia era a extensão do comunismo, que era partido que ia liquidar com os alemães, que era partido que ia liquidar com a
13 LAMB, Op.cit.14 GERKE, Arno A. Copagril:uma análise do cooperativismo no oeste do Paraná. Curitiba: UFPR, 1992. Dissertação. p. 126-127. Essa empresa não teve êxito e suas instalações foram compradas pela Coopagril no início dos anos de 1980. 15 URNAU, Op.cit., p.74
12
democracia do Brasil, que era enfim, um representante daquilo tudo que não prestava.16
Em Marechal Cândido Rondon o MDB começou a ser organizado por volta de
1975, em função das desavenças que ocorrem entre os políticos da ARENA 1 e ARENA
2.
A partir de entrevista realizada com João Arno Nedel, este relata que a criação
do MDB ocorreu por causa da eleição a deputado estadual em 1974. No município
sairiam dois candidatos a deputado estadual pelo município Werner Wanderer,
representante da ARENA 1 e Levi Martins Gomes pela ARENA 2. Mas Wanderer tinha
receio de não conseguir se eleger como tinha ocorrido em 1970, por isso com apoio do
governador Emilio Gomes tentaram convencer Levi Martins Gomes a não se candidatar.
Levi Gomes saiu candidato e obteve 2.802 votos contra 12.824 votos de Werner
Wanderer, que conseguiu se eleger. “Em Marechal Cândido Rondon Levi Martins
Gomes fez em torno de 400 votos, sendo que o restante fez em outras cidades do
Estado. Essa derrota, segundo Dilmo Antonio Bedin desestruturou a Arena 2 e a partir
daí o MDB começa a criar seu espaço no município.”17
A luta interna dentro da ARENA se intensificou a tal ponto que após as
eleições de 1974 para deputados e senadores, a ARENA 1 saiu fortalecida com a eleição
de Werner Wanderer para deputado estadual, enquanto que a ARENA 2 saiu derrotada
pois Levi Gomes não se elegeu para deputado abrindo caminho para a estruturação do
MDB no município. Os correligionários aliados de Gomes não gostaram da intervenção
feita pelo governador e Wanderer, então criaram o MDB para fazer oposição mais
contundente a ARENA.
Outro fator que pode ter colaborado para a criação do MDB no município foi
que nas eleições de 1974, o MDB saiu vitorioso, pois aumentou a representatividade
tanto para deputado federal como para senador. “O MDB quase dobrou sua
representação na câmara baixa [...], saltando de 87 para 165; a ARENA caiu de 223 para
199.” De um total de 364 deputados federais. “O resultado do Senado não foi menos
dramático. A representação do MDB subiu de 7 para 20, enquanto a ARENA caiu de 59
para 46. Na votação para senador ( o melhor indicador da opinião nacional por ser a
eleição majoritária), o MDB fez 14,6 milhões de votos contra 10 milhões da ARENA.”18
16 PRIESNITZ Apud URNAU, Idem, p.7417 URNAU, Idem, p.7818 SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Castelo a Tancredo. 8a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. p. 337
13
O Paraná é um exemplo do que aconteceu no restante do país. O Senador eleito
Francisco Leite Chaves era do MDB e teve 1.090.831 votos, fazendo mais de 300 mil
votos do que o representante da ARENA. Para deputado federal foram eleitos 16
representantes da ARENA e 15 do MDB, sendo que na totalidade de votos o MDB
recebeu 781.455 enquanto que a ARENA teve 611.117 votos. Para deputado estadual
foram eleitos 29 da ARENA e 25 do MDB.19 Apesar de eleger mais deputados a
ARENA perdia em totalidade de votos.
Esse número de votos recebido pelo MDB na eleição de 1974 era um reflexo
de vários fatores que se interpunham naquele momento. A inflação que aumentava a
cada ano, arrocho salarial, censura aos meios de comunicação, perseguição das pessoas
contrárias ao regime militar, torturas, desaparecimento de pessoas. Todos esses fatores
fizeram com que para uma parte da população brasileira a única forma de protestar
contra o regime militar era votando no MDB, que era o partido de oposição.
Em Marechal Rondon o MDB surgiu não como oposição ao regime militar,
pois muitos de seus integrantes fizeram parte da ARENA e de certa forma apoiaram o
Golpe Militar de 1964. O MDB surgiu para fazer oposição ao grupo político local que
detinha o poder, liderado pelo deputado estadual Werner Wanderer e pelo presidente
local da ARENA Guido Port.
Em 1976, nas eleições para vereador o MDB consegue eleger dois vereadores,
Nilton Hamm, representante do distrito de Mercedes e Decio Greff, representante do
distrito de Pato Bragado. Ao todo os candidatos do MDB receberam 5.455 votos,
enquanto que os candidatos da ARENA totalizaram 16.642 votos.20 O número de votos
recebido pelo MDB nas eleições de 1976 corresponderam ao recebido pelo candidato ao
senado Leite Chaves no município. De acordo com Priesnitz, Leite Chaves recebeu nas
eleições de 1974 em torno de 6.000 mil votos.21 Para Dilmo Bedin, apesar de eleger dois
vereadores, o que importava era estar dentro do grupo que detinha o poder.
Como nós, na verdade, não tínhamos uma oposição clara e os elementos que tínhamos eram apenas dois do interior e sem destaque, sem um trabalho ideológico, se um uma pressão maior, automaticamente você estava dentro de uma coligação, dentro de um grupo e no qual se fazia de tudo para que se permanecesse.22
19 Tribunal Eleitora Regional do Paraná -TRE/PR20 TRE/PR. 21 PRIESNITZ Apud URNAU, p. 79.22 BEDIN Apud URNAU, Op.cit., p.85.
14
Esses vereadores passaram a fazer críticas cada vez maiores a administração
municipal, principalmente no que diz respeito ao fato do prefeito ser nomeado pelo
governador do estado com aval do presidente da república. Para os grupos políticos
locais ter o controle sobre a prefeitura era muito importante, em função do prestígio e
poder que esses grupos obtêm. Logicamente com as nomeações de prefeitos filiados a
ARENA, o MDB tinha seu poder restrito aos vereadores. Além disso, o país enfrentava
uma grave crise econômica que se refletia nas prefeituras com a diminuição na
arrecadação de impostos e também no envio de recursos a nível estadual e federal. Com
menos recursos, as obras solicitadas pelos vereadores muitas vezes não eram realizadas,
e quando aconteciam procurava-se beneficiar as proposições dos vereadores da
ARENA.
No início de 1978 surgiram alguns boatos de que Almiro Bauermann
renunciaria ao cargo de prefeito, o que acabou ocorrendo em abril, depois de muitas
conversas entre Wanderer e o governador do Estado. A princípio Guido Port presidente
da ARENA local era o mais cotado para assumir o lugar de Bauermann, mas para que
isso acontecesse o diretório local deveria aprovar o nome antes de ser enviado ao
governador que nomearia o novo prefeito. Também houve boatos de que Ilmar
Priesnitz, secretário da educação assumiria a prefeitura. Mas esse nove não era de
agrado de Wanderer, que com outros políticos locais incluindo o prefeito pressionaram
para que Ilmar pedisse demissão do cargo, o que acabou acontecendo.
Como o município não podia ficar sem prefeito, assume provisoriamente o
presidente da Câmara de vereadores Verno Scherer, que
com forma simples de administrar, conquistou a população. Conseguiu isto, principalmente através das chamadas “interiorizações”, que eram realizadas uma vez por mês e consistiam no deslocamento da administração municipal e a equipe de governo para as sedes dos distritos.23
Nessas interiorizações o deputado estadual Werner Wanderer sempre
comparecia e anunciava alguma verba para o local. Essas ações popularizaram o
prefeito, que foi efetivamente nomeado prefeito em 1º de maio de 1979 e ainda mais
Wanderer, fortalecendo seu nome para uma possível reeleição nas próximas eleições.
23 Idem, p.86
15
Mas a primeira grande vitória do MDB rondonense foi a eleição de Gernote
Kirinus para deputado estadual em 1978. Kirinus se elegeu com 11.812 votos e Werner
Wanderer se reelegeu para deputado estadual com 32.635 votos.24 A eleição de Kirinus
fortaleceu ainda mais o MDB no município. Gernote Kirinus foi pastor luterano no
distrito de Entre Rios25 entre os anos de 1975 e 1977, depois assumiu a função de
secretário-geral da Comissão Pastoral da Terra do Paraná (CPT), atuando
principalmente com os desapropriados de terra por causa da formação do Lago de
Itaipu, que exigiam indenizações justas e uma política eficaz para os pequenos
proprietários de terra.
Em 1979 o governo federal resolve acabar com a bi partidarização política e
liberar novas organizações partidárias – pluripartidarismo. Essa resolução tinha um
objetivo claro por parte do governo, que era dividir a oposição que tinha crescido muito
nos últimos anos, recebendo o apoio da OAB, Igreja Católica, trabalhadores urbanos e
rurais, todos descontentes com a política sócio-econômica do governo.
A estratégia governista era beneficiar-se das divergências internas do MDB, que a essa altura reunia muitas forças políticas conflitantes e, por isso, certamente se fragmentaria em diversas organizações, tão logo o bipartidarismo fosse extinto. Os defensores do regime, entretanto, deveriam concentrar-se num só partido político, com base na antiga Arena.26
Assim, os políticos da ARENA formaram o PDS (Partido Democrático Social).
Uma parcela dos emedebistas criou o PMDB (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro). Políticos liderados por Tancredo Neves e Magalhães Pinto formaram o PP
(Partido Popular), mas em função das regras estabelecidas pelo governo para se
constituir acabou se fundindo ao PMDB. Leonel Brizola que tinha retornado do exílio
disputou com Ivete Vargas, sobrinha de Getulio Vargas, o controle da legenda PTB
(Partido Trabalhista Brasileiro) e acabou vencedora. Então Brizola fundou o PDT
(Partido Democrático Trabalhista), “27muito mais fiel ao antigo populismo varguista do
que o novo PTB.” Todas essas formações partidárias eram previstas pelos estrategistas
do governo federal, mas não contavam com a formação de um partido extremamente
popular, o PT (Partido dos Trabalhadores).24TRE/PR25 Atualmente o distrito de Entre Rios é o município de Entre Rios do Oeste, localizado no extremo-oeste paranaense. Foi desmembrado politicamente de Marechal Cândido Rondon em 1990.26 NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro: 1964-1985. 4ª edição. São Paulo: Atual, 1998. p. 81.27 Idem, p.81.
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Quase ao mesmo tempo em que perceberam que não bastava reivindicar, que era preciso alterar o regime para obter melhorias de vida que fossem duradouras, os metalúrgicos do ABC descobriram também que dificilmente conseguiriam fazer do movimento sindical a ferramenta eficaz para essa luta. 28
Para os operários a forma mais eficaz para conseguir uma vida melhor era uma
ampla participação política partidária e que todas as decisões deveriam ser discutidas
por toda a sociedade. E para isso nada melhor do que um partido independente dos
trabalhadores. Por isso em 1979 fundaram o Partido dos Trabalhadores (PT).
Os partidos políticos começaram a se organizar em 1980, com a obtenção de
registro provisório, organização de comissões partidárias e a busca por filiações. Em
Marechal Cândido Rondon, os principais integrantes da ARENA logo se filiaram ao
PDS, organizaram a comissão partidária passando a visitar os distritos e as comunidades
urbanas em busca das filiações necessárias.
O mesmo aconteceu com as lideranças emedebistas que se filiaram ao MDB e
passaram a fazer o mesmo procedimento dos outros partidos. Ariovaldo Bier e Pedro
Rauber, vereadores eleitos pela ARENA em 1976, se filiaram ao PMDB. Saíram da
ARENA por causa de vários desentendimentos com Wanderer, Scherer e Elio Rush que
era o líder arenista na Câmara de Vereadores. A partir desse momento Ariovaldo Bier e
Ademir Bier, que se tornou o presidente do PMDB local, passaram a ter o controle
político sobre esse partido.
Também se formou o PP que tinha como lideranças políticas locais Walter
Schneider, que foi o primeiro presidente local do partido, Elio Winter, um dos sócios
proprietários da Radio Difusora e genro de Arlindo Lamb, Renato Kaefer, comerciante,
Nelson Kuhn, dentista, Willian Schurt, Waldemar Dahmer, representantes do distrito de
Quatro Pontes. A nível estadual o principal articulador do partido foi o ex-governador
Jaime Canet Junior.29 Em função das várias regras impostas para a fromação de novos
partidos, o PP acabou fundindo-se ao PMDB e muitos dos nomes citados acima
ingressaram nesse partido.
Em 1980 era para acontecer eleições municipais e os partidos políticos
procuravam se organizar rapidamente para indicar seus candidatos. Algumas notícias
começaram a circular pelos meios de comunicação expressando a possibilidade de haver
28 KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a história de uma crise. São Paulo: Editora Brasil Debates, 1982. p. 15629 Jornal O ALENTO, Marechal Cândido Rondon, 28/03 a 3/04/1980, p.3, nº33.
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eleição nos municípios considerados Áreas da Segurança Nacional. Mas em maio de
1980, o governo federal decidiu cancelar as eleições municipais que aconteceriam no
final daquele ano. “A grande maioria dos prefeitos e dos vereadores pertencia ao PDS, e
o governo receava uma grande derrota se o pleito ocorresse no prazo previsto.”30 A
oposição também concordou pois acreditava que precisava de mais tempo para se
organizar. Em setembro de 1980, o congresso nacional aprovou a lei adiando as eleições
para 1982 quando seriam eleitos diretamente os governadores estaduais, um terço do
Senado, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. Somente não seria eleito o
presidente da República e os prefeitos das capitais estaduais e dos municípios
considerados Áreas de Segurança Nacional.
Nas eleições de 1982 a oposição teve uma grande vitória, elegendo
governadores nos principais estados do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Paraná. Para a Câmara Federal elegeram 240 contra 235 do PDS, mas este
partido tinha a maioria no Colégio Eleitoral que escolheria o próximo presidente por
causa do maior número de senadores. “Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e
Acre, a soma de votos dados aos 3 partidos menores (PDT, PTB e PT) ultrapassou 5%
do total, nos demais estados permaneceu o dualismo de forças, na realidade uma mera
troca de nomes de ARENA versus MDB, para PDS versus PMDB.”31
Em Marechal Rondon não aconteceu diferente do que o restante dos
municípios do país, pois o PDS elegeu 5 vereadores enquanto que o PMDB elegeu 4.
Interessante observar que na totalidade o PDS recebeu 11.866 votos contra 10.987
votos. Além disso, ambos os partidos reelegeram seus representantes estaduais, Werner
Wanderer pelo PDS e Gernote Kirinus pelo PMDB. No Paraná foi eleito José Richa
para governador e Álvaro Dias derrota o ex-governador Nei Braga para o senado. Tanto
para deputado estadual quanto para deputado federal o PMDB elege a maioria.
Em fins de 1983, grupos sindicalistas e o próprio PT iniciam uma campanha
pedindo que a escolha do próximo presidente da República fosse de forma direta. Esse
movimento ficou conhecido como Diretas Já e recebeu apoio de vários segmentos da
sociedade brasileira, como, políticos ligados a vários partidos políticos, artistas,
sindicalistas, igreja católica. Enfim aos poucos milhares de pessoas foram às ruas em
grandes comícios exigindo o retorno de eleições diretas para presidente.
30 SKIDMORE, Op.cit., p. 43231 LAMOUNIER, Bolivar. Partidos políticos e consolidação democrática: o caso brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 68
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Era o ressurgimento do espírito cívico com uma dimensão sem precedentes, acrescendo que nenhum candidato estava pedindo voto para si mesmo. Ao contrário, o objetivo era restaurar o direito de voto. Era uma dramática mensagem da sociedade civil que firmemente reconquistava a sua voz.32
Apesar do apelo popular, a emenda constitucional não foi aprovada pelos
deputados federais e o próximo presidente seria escolhido pelo Colégio Eleitoral.
Interessante destacar que em muitas cidades da região houveram vários
comícios do movimento Diretas Já. Em Marechal Rondon não houve nenhum desses
comícios, ou qualquer outra manifestação a favor do movimento, demonstrando o
conservadorismo existente na sociedade rondonense. Até porque esses comícios não
precisariam ser organizados necessariamente por um partido político, mas por qualquer
associação de classe, infelizmente quase inexistente no município naquele momento.
Após esse movimento, a campanha para presidente tomou corpo com a
definição dos candidatos: Tancredo Neves, pelo PMDB; e Paulo Maluf, pelo PDS.
Conforme a campanha foi seguindo, partes dos políticos do PDS que tinham apoiado o
movimento das Diretas Já não concordando com a indicação do candidato formaram
uma ala dissidente chamada de Frente Liberal. Fizeram acordo com o PMDB e
indicaram José Sarney33 como vice-presidente.
Esse grupo formado pelo PMDB e pela Frente Liberal, denominado Aliança
Democrática, saiu vencedor nas eleições indiretas que ocorreram em 15 de janeiro de
1985. A posse aconteceria em 15 de março do mesmo ano, mas Tancredo Neves não foi
empossado devido a problemas graves de saúde, vindo a falecer em 21 de abril de 1985.
No seu lugar assume o vice-presidente José Sarney.
A Frente Liberal tornou-se o Partido da Frente Liberal (PFL), o que
desencadeou uma debandada em massa de uma elite política que tinha apoiado o regime
militar, com o objetivo de continuar no poder. O PDS que tinha como origem a ARENA
foi perdendo seu prestígio no cenário político nacional, estadual e municipal. Como
aconteceu em todo o país os vereadores eleitos pelo PDS em 1982 juntamente com
Werner Wanderer e outras lideranças políticas do partido se filiaram ao PFL em 1985.
32 SKIDMORE, Op.cit., p. 472.33 José Sarney iniciou na política pelo PSD, mas com a bi partidarização aderiu a ARENA. Com o retorno de vários partidos em 1980 automaticamente ingressou no PDS. Quando foi indicado a vice-presidente compondo chapa com Tancredo Neves fazia parte desse partido, mas na ala dissidente, a Frente Liberal, que em 1985 tornou-se o Partido da Frente Liberal. Atualmente é senador pelo estado do Maranhão e está vinculado ao PMDB.
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Com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney, o país vivia a
expectativa da redemocratização política. Falar em democracia34 em Marechal Cândido
Rondon era a mesma coisa que as eleições diretas para prefeito. Mas para que
ocorressem eleições nos municípios considerados Áreas de Segurança Nacional e nas
capitais dos estados era necessário que houvesse mudanças na Constituição Federal.
Então, muitos políticos começaram a articulação para que essas eleições acontecessem
já em 1985.
Em maio de 1985 os deputados aprovaram uma Emenda Constitucional
marcando as eleições para esses municípios para 15 de novembro de 1985. A seguir o
Presidente da República José Sarney decretou que todos os prefeitos nomeados
deveriam sair, e passou provisoriamente para os Presidentes das Câmaras de Vereadores
dos municípios, no caso de Marechal Rondon, Dieter Seyboth assumiu o cargo de
prefeito. Verno Scherer tinha pedido afastamento do cargo alegando problemas de
saúde.
Segundo Urnau, isto foi uma artimanha política do PFL, pois Verno Scherer
era o candidato mais forte do partido e caso continuasse como prefeito não poderia se
candidatar para o cargo. Antes que fosse impossibilitado de se candidatar pediu
afastamento da prefeitura.35
Com as eleições marcadas para novembro cada partido foi fazendo as
convenções e indicando seus candidatos. Apesar dos arranjos feitos pelo PFL em favor
de Verno Scherer, o partido escolheu como candidato Eldor Egon Lamb e para vice Elio
Lino Rusch. O PDS, apesar de ter seu poder diminuído, indicou para prefeito Noroaldo
Boska e para vice Vitor Giacobbo. O PMDB indicou Ilmar Priesnitz tendo como vice
Ademir Bier.
A convenção do PMDB foi uma disputa acirrada de dois grupos dentro do
partido e o grupo vencedor teria o controle do partido. De um lado Ilmar Priesnitz, que
era pré-candidato, Ademir Bier e Ariovaldo Bier, do outro lado Elio Winter, também
pré-candidato e Arlindo Lamb. O que se acreditava dentro do partido era que o
candidato indicado seria o futuro prefeito do município. Depois de muitas articulações
de ambos os grupos, como a retirada de filiados convencionais e troca por outros,
favorecendo principalmente Ilmar Priesnitz, houve empate entre os dois candidatos do
partido e Ilmar Priesnitz por ser o mais velho acabou sendo indicado.
34 O termo democracia utilizado nesse momento político refere-se à participação direta ao voto.35 URNAU, Op.cit., p.86
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A partir da convenção Elio Winter e Arlindo Lamb se desligaram do PMDB e
passaram a apoiar o candidato do PFL, que era irmão de Arlindo Lamb.
Ilmar Priesnitz e Ademir Bier foram eleitos com 13.256 votos, contra 9.782 de
Eldor Lamb e Elio Rusch, do PFL e 2.738 votos de Noroaldo Boska e Vitor Giacobbo
de PDS, conforme os dados eleitorais do TRE do Paraná.
O retorno das eleições diretas para prefeito marcou o fim da Ditadura Militar
no município, apesar de historicamente ter ocorrido com a posse de José Sarney em 15
de março de 1985. Mas os resquícios desse período permaneceram, principalmente, na
política do município.
A disputa política iniciada na Ditadura Militar entre MDB e ARENA
permaneceu com o mesmo perfil, porém com a alteração das siglas para PMDB e PDS/
PFL. Os novos partidos políticos que surgiram no município passaram a ser utilizados
basicamente para ampliar a força política do PMDB e PFL.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ZAGO, Luciana Grespan. Fronteira e Segurança nacional no estremo oeste paranaense: um estudo do município de Marechal Cândido Rondon. Passo Fundo: UPF, 2007. Dissertação
ZAMBONI, Ernesta. O ensino de história e a construção da identidade. Boletim Pedagógico. UNICAMP. São Paulo, s.d., p. 73-77
Fontes Orais:
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NEDEL, João Arno Nedel. Entrevista. Realizada por Paulo Koling, Luciana Zago, Cristiano, Crisitane Bade em 20/02/2010.
WANDERER, Werner. O alemãozinho bom de voto. Revista Oeste. Cascavel, v.7 n.71, p.8-12, abril 1992.
Pesquisas em Arquivos:
ATAS de Sessões da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon, 12 de março de 1972; 18 de abril de 1972; 26 de maio de 1972; 14 de junho de 1972.
FRENTE AMPLA DE NOTÍCIAS, Arquivo da Rádio Difusora, Marechal Cândido Rondon, 22 de abril de 1972; 19 de junho de 1972.
O ALENTO Jornal, Marechal Cândido Rondon, 28/03 a 3/04/1980. Arquivo CEPEDAL- UNIOESTE
O PRESENTE JORNAL, quarta-feira, 31 de março de 2004. Arquivo CEPEDAL-UNIOESTE.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL–TRE/PR. Resultado das eleições municipais de 8 de outubro de 1961; de 3 de outubro de 1965; de 30 de novembro de 1969; de 15 de novembro de 1972; de 15 de novembro de 1976; de 15 de novembro de 1982; de 15 de novembro de 1985. Dados disponíveis no site: http//www.tre-pr.jus.br
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL – TRE/PR. Resultado das eleições gerais de 15 de novembro de 1970; de 15 de novembro de 1974; de 15 de novembro de 1978; de 15 de novembro de 1982.
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