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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO/ 2009-2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

PROFESSORA PDE: NAJLA CLIMANE NERY

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

CADERNO TEMÁTICO

2010

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................4

INTRODUÇÃO..............................................................................................................5

A FAMÍLIA INDÍGENA: OS TUPINAMBÁS...................................................................6

A FAMÍLIA ESCRAVA.................................................................................................10

O LADO FEMININO DO BRASIL COLONIAL.............................................................11

A EDUCAÇÃO DAS FILHAS NO BRASIL COLONIAL...............................................14

A FAMÍLIA PATRIARCAL...........................................................................................15

MULHERES NO PERÍODO PATRIARCAL – BRASIL................................................18

AS MULHERES NO BRASIL......................................................................................20

A MULHER PAULISTA................................................................................................22

AS MULHERES DE ECKHOUT..................................................................................23

AS FRONTEIRAS DA EDUCAÇÃO ...........................................................................24

DO LARGO DA GLÓRIA A NOVOS ALAGADOS......................................................25

A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA.................................................................................26

A PROSTITUIÇÃO NO SÉCULO XIX.........................................................................29

MERETRIZES MINEIRAS...........................................................................................30

MULHERES NO MAGISTÉRIO..................................................................................34

RELIGIÃO E SOCIEDADE NA AMÉRICA PORTUGUESA........................................36

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................40

REFERENCIAS ..........................................................................................................41

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MULHERES

Martinho da Vila

Já tive mulheres de todas as cores

De várias idades de muitos amores

Com umas até certo tempo fiquei

Pra outras apenas um pouco me dei

Já tive mulheres do tipo atrevida

Do tipo acanhada do tipo vivida

Casada carente, solteira feliz

Já tive donzela e até meretriz

Mulheres cabeça e desequilibradas

Mulheres confusas de guerra e de paz...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA PRODUÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICO

CADERNO TEMÁTICO

1. IDENTIFICAÇÃO

1.1 ÁREA: História

1.2 PROFESSORA: Najla Climane Nery

1.3 PROFESSOR ORIENTADOR: Dr. Edson Armando da Silva

1.4 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

1.5 ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Prof. Milton Benner – Ensino

Fundamental e Médio

1.5 PÚBLICO OBJETO DA IMPLEMENTAÇÃO: Docente e Discente

2. TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO: O papel da mulher na sociedade

Brasileira.

3. TÍTULO DO PROJETO: A contribuição das educadoras do município de

Wenceslau Braz.

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APRESENTAÇÃO

O presente Caderno Temático refere-se ao registro a serem desenvolvidos na

proposta de Intervenção Pedagógica na Escola, como parte integrante do Programa

de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do

Estado do Paraná.

Esta proposta metodológica parte de uma perspectiva que privilegia o estudo

das mulheres e sua educação ao longo da história. Essa preocupação se justifica

dada a importância do tema para se entender a natureza das sociedades, tanto no

presente como no passado, levando em conta que a mulher é uma figura

fundamental dentro da representação familiar e das instituições sociais, e o ensino

de história deve ser trabalhado de forma que o aluno possa compreender a sua

identidade e o seu papel na sociedade na qual está inserido.

O tema escolhido está relacionado à constatação de que nos livros didáticos

de História, não existe uma abordagem tão aprofundada sobre o tema, e faz-se

necessidade de valorizar a importância do papel da mulher e o processo cultural no

qual se transcorreu, para que haja uma relação de identificação social básica para

qualquer educando.

Este Caderno Temático aborda as mulheres e suas conquistas no processo

histórico educacional, fazendo um resgate no tempo e espaço: a mulher primitiva,

mulher egípcia, mulher na antiguidade clássica, mulher medieval, mulher colonial,

mulher indígena, mulher afra e a mulher na sociedade atualidade brasileira. O

modelo de mulher que hoje parece natural é o único existente e muito menos o mais

“correto”, obviamente, sem antes, contudo esgotar ou apresentar um estudo mais

completo sobre o tema abordado.

O presente Caderno Temático tem como objetivo apresentar algumas

possibilidades de reflexão que permitam ser capaz de abrir novas perspectivas

interpretativas sobre o tema trabalhado, constituindo-se em aporte para professores

e alunos.

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INTRODUÇÃO

O tema “Mulher” é um assunto bastante atual, não apenas em história como

também em outras áreas do conhecimento, um exemplo é sociologia entre outras,

que discute a sua estrutura, suas crises e peculiaridades no transcorrer do tempo.

Cada momento histórico corresponde a um modelo de mulher preponderante,

e não significa que este seja único. Em outras palavras, paralelamente aos modelos

dominantes de cada época, sempre encontramos outros. Não devemos falar de

“Mulher”, mas de Mulheres para contemplar a diversidade das relações que

convivem em nossa sociedade.

Por muito tempo a “Mulher” como objeto de pesquisa foi erroneamente

considerado exclusivo da sociologia. Se sociólogos tiveram na Mulher um campo

sempre privilegiado de discussões, o mesmo não se deu com os historiadores. A

historiografia manteve, inicialmente, certa resistência ao tema e isso ocorreu porque

a Historia sempre esteve restrita ao estudo da vida pública, deixando a análise

acerca do aspecto da educação que estas mulheres receberam, quando as mesmas

obtiveram oportunidade no campo profissional para exercer uma profissão liberal.

Trata-se de desvendar as intricadas relações entre a mulher, o grupo e o fato,

mostrando como o ser social, que ela é, articula-se com o fato social que ela

também fabrica e do fazer parte integrante das transformações da cultura e as

mudanças nas idéias nascem das dificuldades que são simultaneamente aquelas de

uma época e as de cada indivíduo histórico, homem ou mulher.

Nosso esforço foi o de trazer algumas respostas a questões que são

formuladas por nossa sociedade: qual foi, qual é, e qual poderá ser o lugar das

Mulheres?

Vamos fazer uma reflexão sobre as mulheres ao longo do processo histórico?

A finalidade desse caderno temático é trabalhar com um compêndio de textos

que vão retratar sobre as mulheres, não se esquecendo do espaço e a

temporalidade dos fatos. Como eram educadas? E as suas conquistas. Para fazer

uma relação do passado com o presente.

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A FAMÍLIA INDÍGENA: OS TUPINAMBÁS

Os Tupinambás tiveram relevante papel na conquista e colonização do litoral

brasileiro.

Em relação ao casamento, eles observavam apenas três graus de

consangüinidade, onde nenhum pegava como esposa sua mãe, sua irmã ou sua

filha.

O casamento dos Tupinambás baseava-se em regras muito simples, assim

como a maneira de se firmarem os contratos para a realização desses enlaces, não

existindo a cerimônia do casamento como concebida pelo europeu. Entretanto,

existiam regras de comportamentos observadas pelos indivíduos da tribo. Aquele

que quisesse uma esposa, e com o consentimento da mesma, se dirigia ao pai da

índia e na falta dele, aos parentes mias próximos e lhes perguntava se queriam

concedê-la como esposa. Se a resposta fosse afirmativa, já poderia desposá-la,

caso contrário, o jovem se afastaria da sua pretendida sem fazer maiores

especulações sobre a questão. Raras vezes existia o conflito numa eventual recusa,

haja vista que dentro dos códigos morais estabelecidos pela comunidade e

transmitidos oralmente, de geração em geração, sabia-se que essa era uma maneira

de se viver enquanto membro de uma sociedade, visando ao bem comum de todo o

grupo.

A fidelidade feminina era regra após o casamento. Os maridos vigiavam suas

esposas de perto e eram ciumentos. Não era hábito a mulher trair o marido depois

de casada, pois este, no caso de surpreendê-la em adultério, não hesitaria em matá-

la, visto que considerava esta falta como uma das mais graves que existia. Ao

marido traído cabia o direito de matar a esposa adúltera ou repudiá-la, mas nada era

feito contra o homem que a havia acompanhado na efetivação do ato, pois caso

fosse morto, acarretaria para o marido a inimizade de todos os parentes do morto.

Era muito raro entre os Tupinambás uma jovem casar-se virgem. A questão

da virgindade não era considerada importante, pois era costume ceder uma jovem a

um visitante, bem como a um prisioneiro de guerra, para servi-lo durante o tempo

em que ele ali permanecesse, ou enquanto assim o preferisse. Mesmo que o destino

do prisioneiro fosse a morte, durante o tempo que lhe restava a viver, dispunha de

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uma mulher para lhe servir e fazer companhia. A liberdade sexual existente antes do

casamento, em que as jovens podiam manter relações sexuais tanto com os

rapazes indígenas, como com os prisioneiros ou aventureiros europeus, era proibida

após o casamento.

Quando uma mulher estava grávida, pouca coisa mudava nas suas atividades

cotidianas; somente tinha o cuidado de não carregar muito peso, mas mantinha toda

a sua rotina. Não eram raras as vezes que a mulher tinha o seu filho sozinha ou

então era ajudada pelas outras mulheres da tribo. Nos partos complicados, o marido

poderia ajudar a esposa comprimindo o ventre para apressar o nascimento.

Sendo a criança recém-nascida do sexo feminino, era-lhe feito um colar com

dentes de capivara, pois acreditavam que assim teria dentes saudáveis e fortes

quando adulta, para mastigar a mandioca e preparar o cauim. Como a guerra e a

vingança eram fortemente apreciadas pelos Tupinambás, os filhos do sexo

masculino eram mais estimados que as do sexo feminino, embora reconhecessem

que a mulher representava um papel importante para gerar filhos fortes e saudáveis.

As crianças eram criadas próximas às mães, que as carregavam envolvidas

em panos de fio de algodão sobre as costas, enquanto faziam todos os seus

afazeres, amamentando-as ao seio toda vez que solicitasse. Desde cedo criavam

filhos ensinando-lhes pequenos afazeres necessários para a sobrevivência. Se

fossem meninos, eram educados para caça e preparados para atirar com arcos e

flechas em alvos e depois em pássaros. Cada filho entregava tudo o que caçava à

sua mãe, preparava o alimento e, em seguida, repartia com os outros.

Os ensinamentos dados às meninas eram relativos às atividades domésticas,

como fiar o algodão e fazer o serviço da casa. Ficavam sempre junto às mães e

aprendiam desde cedo a divisão das tarefas. Essas atitudes dos pais em relação

aos filhos eram tanto para as crianças nascidas da primeira esposa como das

demais, pois todas eram consideradas legítimas. Para os Tupinambás, o principal

autor da geração era o pai e não a mãe.

A criança era criada livre e isso não causava grandes problemas, pois a

obediência dos jovens às pessoas mais velhas era uma regra aprendida desde cedo

e seguida com rigor por todos os membros da comunidade. Os viajantes

perceberam que fazia parte do cotidiano e educação dos Tupinambás o respeito aos

velhos da tribo, o que significava a valorização da experiência de vida dos anciões.

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Antes dos quinze anos, as jovens deixavam de ser consideradas crianças e

passavam a aprender as tarefas que competiam à mulher na divisão do trabalho

dentro da comunidade.

Fonte: http://www.historianet.com.br

Aprendiam tudo sobre o que deveria saber uma mulher, ou seja, fiar o

algodão, tecer as redes, semear e plantar as hortas, fazer a farinha, preparar os

vinhos e preparar as carnes. Esses ensinamentos eram passados pela mãe, ou na

sua falta, pelas tias e parentes mais próximos. As atividades que faziam parte da

educação da jovem Tupinambá serviam para suprir as necessidades básicas para o

cotidiano da tribo e da família. A moça passava a ser motivo de satisfação para seus

parentes, estava preparada para conseguir um marido valente.

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A FAMÍLIA ESCRAVA

Havia no Brasil uma maior quantidade de homens escravos do que mulheres,

isto ocorreu pelo fato de se traficar uma quantidade superior do sexo masculino, em

decorrência do trabalho que exigia um desempenho ligado à força. Esta situação

criou, no mundo escravo, um mercado matrimonial que possuía leis claras; os

homens mais velhos eram os que se casavam com as escravas jovens e para os

homens mais novos restavam às escravas mais velhas, que tinham entre trinta a

quarenta e cinco anos.

As moças africanas casavam-se cedo em sua terra natal, entre os dezesseis

e vinte anos e aqui, no Brasil, isto continuou a ocorrer principalmente pela falta de

mulheres.

As famílias escravas podiam ter arranjos familiares de grande extensão,

sendo formada por avós, tios, primos e parentes de segundo grau, o que era

comum, apesar de existir um alto índice de mortalidade infantil.

Os escravos casados tinham benefícios; poderiam possuir a sua própria casa,

não precisando dormir com os demais escravos nas senzalas, não sendo uma regra.

A criação dos filhos em sua grande maioria acontecia com a presença dos

pais pelo menos até os dez anos de idade. Para cuidar dessas crianças, os pais

contavam com a participação dos compadres, pois quando um filho de escravo

nascia, geralmente ele era batizado na Igreja Católica e, com isso, as crianças

ganhavam padrinhos.

As relações afetivas, assim como os valores, presentes na constituição

dessas famílias não seguiam padrões, eles iam se formando a partir das condições

de vida e pela vontade dos escravos. A família escrava vai se formar principalmente

através das experiências cotidianas e a partir da cultura africana.

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O LADO FEMININO DO BRASIL COLONIAL

Quando os portugueses descobriram o Brasil em 1500, conquistaram um

mundo, milhões de quilômetros quadrados de terra fértil, um éden desconhecido de

madeiras, frutas e raízes comestíveis, e um subsolo riquíssimo. Mas deram pouca

atenção ao novo território, e quando resolveram conquistá-lo para valer, já em

meados do século XVI, assustaram-se com o que viram. Os poucos brancos, negros

e índios que aqui estavam haviam aprendido a viver longe da civilização, numa

sociedade que parecia confusa aos olhos dos portugueses.

Casamento, por exemplo, praticamente não havia. Pelo menos na forma

como se entendia na Europa. Homens e mulheres viviam em concubinato,

amasiados, ou sob diversas outras variantes da vida em comum. Ainda no século

XVIII, o índice de concubinato era altíssimo: alcançou 80% dos casais na Bahia,

mais de 70% no Rio de Janeiro e em tornou de 50% em São Paulo. Apenas entre as

classes mais abastadas havia casamento convencional, que mantinha intacto o

patrimônio da família e assegurava proteção às filhas após deixarem a casa paterna.

Fora dessa minoria absoluta, ninguém casava mesmo.

De acordo com a historiadora Mary Del Priore, da USP, os hábitos atuais e a

maneira de ser da mulher brasileira começou a ser moldados a partir do século XVI,

pelos agentes da Igreja e do Estado português. [...]

Queriam por a casa em ordem, e logo perceberam que uma forma de fazer

isso era instituir o casamento à moda européia. Essas duas instituições passaram a

remodelar o papel da mulher naquela sociedade, tentando convencer a população

das vantagens do casamento. Mas começaram instituindo proibições de todos os

tipos, determinando o que era ‘certo’ e o era ‘errado’ para uma ‘mulher direita’. Um

recurso bem prático, usado então, eram as altas multas que o Estado cobrava pelos

concubinatos, em contraposição ao baixo preço dos casamentos celebrados pela

Igreja.

[...] no Brasil de 1650 não existiam tabus como o da virgindade obrigatória até

o casamento. [...], era difícil achar alguém que se casasse sem antes ter tido

relações sexuais. Mas o motivo era bem diferente do atual. É que naquela época, ter

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filhos era muito importante. A mulher precisava provar ao homem que era fértil,

engravidando antes do compromisso, uma regra consentida por toda a comunidade

– inclusive pela Igreja, desde que tudo terminasse em casamento.

[...] Foi preciso modificar milhares de regras. E o que é pior, numa era de

grande liberdade, em que os afetos e o namoro eram públicos, aconteciam nos

quintais, nas redes, nas festas religiosas. Então veio a Igreja dizendo que tudo isso

era pecado, diz Mary. Ela perseguiu o cantar, o dançar, tudo o que era vida,

qualquer exercício da libido. As relações sexuais na visão dos religiosos serviam

para a salvação da alma por trazer crianças ao mundo. Afirmavam que a única

posição permitida era com o homem por cima. A própria paixão era combatida. Amor

era um sentimento que se devotada exclusivamente a Deus; ao marido, a mulher

devia mera obediência, reverência e temor. O marido, por sua vez, deveria sentir

apenas piedade da esposa. Um casamento nesses moldes, sem excitação ou afeto,

era considerado ideal. Indiretamente, então se reforçou o papel da prostituta na

sociedade colonial. Ela já existia, é verdade, quando os portugueses voltaram para a

colonização. No período posterior, porém, não havia situação intermediária: ou a

mulher era ‘da casa’ ou era ‘da rua’. Ou era a ‘santa mãezinha’ ou a ‘prostituta’. E

ser apenas casada não resolvia: era preciso parecer casada, ou seja, vestir-se, falar

e portar-se como tal. Nada de decotes ou panos transparentes sobre os seios. Nada

de mostrar os dedos do pé, muito eróticos. Nada de perfume ou maquilagem. Era

vaidade condenável tanto sorrir demais e mostrar dentes bonitos, como sorrir de

menos para não mostrar dentes ruins. Ficar à janela era coisa de mulher

melancólica. As prostitutas, por sua vez, foram afastadas do convívio com a

comunidade. Antes viviam como as outras mulheres, trabalhando em casa, cuidando

dos filhos e dos pais desvalidos. Depois sofreram dura perseguição. Mas isso não

impediu que fossem procuradas pelos homens em busca do prazer e do

divertimento vivamente desaconselhados dentro do lar. As prostitutas dançavam,

cantavam, vestiam roupas provocantes, e, é claro, tinham relações sexuais com a

liberdade de sempre. As celibatárias também não eram aceitas. Seu maior pecado

era não terem filhos. Elas se enquadravam em duas categorias. À primeira

pertenciam as luxuriosas, que faziam tanto sexo que não tinham tempo para gerar

filhos. À segunda, as melancólicas, para as quais ‘tudo era tormento’ [...]

As mulheres de vida independente na Colônia também eram perseguidas,

principalmente as das camadas mais baixas. Bastava elas não seguirem a religião

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oficial (eram sacerdotisas dos cultos africanos) o saber oficial (receitavam remédios

à base de plantas medicinais) e o comportamento oficial.

A perseguição às “práticas sexuais desviantes”, pela Santa Inquisição, era

impressionante. O antropólogo Luiz Mott por meio de importante pesquisa, informa

dos processos das visitas da Inquisição no Brasil, que prendiam e levavam a Lisboa,

para serem julgados, aqueles acusados de “pecado” como homossexualismo, o

lesbianismo, a masturbação, etc.

Fonte: http://upload.wikimedia.org.

Apesar da repressão a que eram submetidas, as mulheres não eram “pobres

coitadas”. Souberam resistir se defender. Não eram passivas. Muitas vezes eram

violentadas.

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A EDUCAÇÃO DAS FILHAS NO BRASIL COLONIAL

A educação das meninas tinha por objetivo evitar que se tornassem “um

instrumento do Demônio”, como dizia um padre da época. Por isso elas deveriam

seguir regras específicas, afastando-se de divertimentos e de certos pecados

ocultos. Às mães caberia conservar as filhas em sua companhia, evitando o contato

com outras que lhes ensinassem o que nunca deveriam saber sobre os meninos. As

meninas deveriam ser orientadas a falar pouco, com discrição e apenas sobre

assuntos úteis e honestos. Não podiam vestir-se para agradar os rapazes, nem ler

romances, nem comédias, nem poesias perigosas. Era, ainda, considerado um ato

gravíssimo uma menina olhar fixamente para um homem. O cuidado em preservar a

pureza da jovem, sobretudo na elite senhorial, explicava-se pela preocupação em

torná-la um “bom partido”. Mantendo-a alheia a toda a informação que o teatro ou a

leitura pudessem trazer, a família garantia seu comportamento submisso ao pai e,

mais tarde, ao esposo.

Vivendo com suas mães, tias, avós e comadres da casa, as crianças desde

cedo, eram cercadas de cuidados. Aos sete anos recebiam o sacramento da

comunhão e deixavam de ser consideradas “inocentes”. Por ocasião da Páscoa,

eram obrigadas a comungar e, desde essa idade, iniciavam uma vida de adulto,

estudando ou trabalhando.

Meninas ricas eram encaminhadas para o recolhimento de freiras, onde

aprendiam a ler, contar, escrever e bordar, enquanto esperavam um marido. Caso

ele não aparecesse, a família deixaria um dote, em dinheiro, escravos, benfeitorias

ao convento, e a jovem lá permanecia, tornando-se freira.

Entre as famílias mais pobres, os filhos, depois de crescidos, continuavam a

morar com os pais e trabalhavam para ajudá-los no sustento da casa. Os filhos

constituíam parte importante da estrutura familiar, auxiliando e amparando seus

familiares numa sólida rede de solidariedade.

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A FAMÍLIA PATRIARCAL

À testa da grande família patriarcal se encontra um dos anciões, o dono da

casa, que dirige toda a vida da comunidade familiar. O chefe mencionado é, às

vezes, eleito; seu poder é limitado pelo conselho da família, composto pelos adultos,

homens e mulheres, da família, a que o mencionado chefe deve prestar contas de

seus atos. Os assuntos mais importantes – alienação de bens, medidas disciplinares

contra os membros da família, casamentos dos jovens etc. – dependem desse

conselho.

Na família patriarcal, a posição mais importante é a do homem. O papel

subalterno da mulher já transparece no casamento, que, as mais das vezes, se

reduz realmente a uma compra da mulher, cuja infidelidade é, além disso, passível

de severo castigo, ao passo que o marido chega a ter o direito de escolher

concubinas entre as escravas da casa. O marido pode enviar de volta, sem maiores

formalidades, à casa do seu sogro, sua mulher, enquanto esta só raramente

consegue o divórcio. Mais ainda, às vezes, por ocasião da morte do marido, a

esposa e as concubinas são sacrificadas: enterradas vivas, juntamente com o

cavalo, as armas e os objetos preferidos do defunto.

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Negra tatuada vendendo caju, 187.Jean Baptiste Debret. Aquarela sem papel, 15,5x21cm Museu da Chácara do Céu do Rio de Janeiro. Livro de Arte, pág. 219. Livro didático Público do Ensino Médio. Secretária de Estado da Educação

Instalada geralmente em engenhos ou fazendas, a família patriarcal

concentrou-se na área rural até o século XIX. Esta não se compunha apenas de

marido, mulher e filhos. Era um verdadeiro clã, incluindo a esposa, filhos legítimos e

ilegítimos, parentes, padrinhos, afilhados, amigos, dependentes, concubinas e

escravos. Uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível e

temida da figura do patriarca.

A família patriarcal era, portanto, a espinha dorsal da sociedade e

desempenhava os papéis de procriação, administração econômica e direção política.

Na casa grande, coração e cérebro das poderosas fazendas, nasciam os numerosos

filhos e netos do patriarca, traçavam-se os destinos da fazenda e educavam-se os

futuros dirigentes do país. Cada um com seu papel, todos se moviam segundo

intensa cooperação.

Por mais enaltecido que fosse o papel da mãe, um obscuro destino esperava

as mulheres. Uma senhora de elite, envolta numa aura da castidade e resignação,

devia procriar e obedecer. Com os filhos mantinha poucos contatos, uma vez que

os confiava aos cuidados de amas-de-leite, preceptoras e governantas. Sobravam-

lhe as poucas leituras e a supervisão dos trabalhos domésticos. Até mesmo as

linhas de parentesco, tão caras à sociedade patriarcal, só se tornavam “efetivas”

quando provinham do homem. Desse modo, a mulher perdia a consangüinidade de

sua própria família de origem, para adotar a do esposo.

Até meados do século XIX, a casa-grande era o modelo perfeito do fechado

mundo patriarcal. A reduzida elite das grandes cidades, comerciantes, profissionais

liberais e altos funcionários públicos, transportavam esse modelo para os austeros

sobrados urbanos. A mulher restringia-se as quatro paredes de sua casa,

supervisionando o trabalho doméstico dos escravos (que se alojavam no andar

térreo), como a confecção de roupas e a destilação de vinho.

Na família, muitas vezes o comando do lar era responsabilidade da mulher,

pois esta deveria administrar o lar e educar os filhos; a ausência do homem era

comum em seu domicílio, devido à dedicação aos negócios, o que acabava

diminuindo a autoridade paterna.

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Compondo um quadro geral da família paulista, 26% dos domicílios eram do

tipo “patriarcal” e 74% das casas predominavam outras formas de organização.

Desde o início do período colonial, era freqüente em São Paulo a existência

de pessoas solteiras morando sozinhas (celibato), além da prática de concubinato,

no qual as mulheres (amantes) viviam sozinhas com seus filhos ilegítimos. Por

vezes, formava-se um sistema de “proteção” dessas famílias nas quais coabitavam

crianças ilegítimas com as mães e outros parentes.

As famílias monoparentais, aquelas constituídas por mulheres viúvas ou

abandonadas, e a concubinagem encontravam-se presentes em todo o período

colonial, sendo que a sua prática permaneceu nas classes populares e

trabalhadoras nos séculos XIX e XX.

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MULHERES NO PERÍODO PATRIARCAL – BRASIL

O Senhor do Engenho gostava de ostentar poder e riqueza. Cercava-se de

escravos domésticos sua esposa usava vestidos luxuosos e jóias, cavalos e

promovia grandes banquetes (na casa grande a cozinha costumava ser o cômodo

maior). Viajantes estrangeiros contavam que a preguiça e a ociosidade dos

latifundiários eram impressionantes.

As mulheres da casa-grande cabiam coordenar as tarefas domésticas, não se

expor aos estranhos só ir ao povoado para as cerimônias religiosas e entrar para o

convento se não se casassem. As esposas, extremamente submissas aos maridos,

assumiam o controle do engenho durante a ausência deles.

Evidentemente, nem todas seguiram esse modelo. Os documentos históricos

revelam casos de traição entre as esposas, mesmo correndo o risco de serem

mortas pelos maridos. Fugas de filhos que se recusavam a aceitar os casamentos

encomendados pelos pais ou outros casos de desobediência eram duramente

castigadas, até com a perda da herança.

O senhor da família, o patriarca, muitas vezes se aproveitava sexualmente

das escravas, o que gerava um grande número de mestiços, a quem ele protegia ou

rejeitava.

As filhas quando solteiras dos pais, e quando se casavam dependiam de seus

maridos. As leis e normas jurídicas na reconheciam a liberdade pessoal das

mulheres.

Na família patriarcal, a submissão e a obediência absoluta ao pai eram

características fundamentais. O casamento dos filhos e filhas nesse tipo de

organização familiar, na maior parte das vezes não era resultado de livre decisão

dos jovens, mas atendia aos interesses das famílias de ambos.

Outra figura que se destacava nesta cultura, era as chamadas ama-de-leite.

“Na vasta massa de escravos a ama-de-leite ou mãe preta gozava de uma posição

privilegiada. Por sua função, recebia cuidados especiais e era particularmente

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amada pelas crianças brancas... Por seu contato direto com ‘nhonhôs’ e

‘sinhazinhas’ a ama-de-leite exercia uma influência marcante sobre os jovens

corações, criados à distância dos pais.

Amamentando o filho do senhor, embalando-o na rede ou no berço,

preparando-lhe a comida, ensinando-o a falar e a andar, a mãe preta criou um fluxo

de influências culturais sobre o brasileiro em formação que sobreviveria à

escravidão. ‘Foram as negras que se tornaram entre nós as contadoras de

histórias... A linguagem infantil também aqui se amoleceu ao contato da criança com

a ama negra’, afirma Gilberto Freyre. Palavras africanas foram incorporadas ao

nosso vocabulário por essa via: “bumbum, neném, pipi, cocô, dindinho e muitas

outras, que vieram enriquecer a linguagem diária do brasileiro.” (Nosso século, vol. I,

Abril Cultural, p. 20).

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AS MULHERES NO BRASIL

No Código Civil do Brasil, de 1916, as mulheres eram consideradas tuteladas,

assim como os menores e os indígenas. Isto significa que, antes de casarem,

deviam obedecer aos pais e, depois do casamento, aos maridos. Em 1932, as

brasileiras conquistaram o direito de votar, mas somente a partir de 1962 puderam

trabalhar fora de casa, sem ser necessária a permissão do marido. Mesmos com

essas conquistas, a mulher brasileira continuou subordinada, já que o homem

continuava a ser considerado o chefe do casal.

Mas as mulheres nunca aceitaram o preconceito e a discriminação

passivamente. A líder feminista Berta Lutz (1894-1976) foi a pioneira na defesa dos

direitos da mulher no Brasil. Desde 1918, várias entidades foram criadas para

defender a cidadania feminina: a Liga da Emancipação Intelectual da Mulher (1919);

a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (1922); a Aliança Brasileira pelo

Sufrágio Feminino (1922); a União Universitária Feminina (1929).

O feminismo ganhou força no mundo todo no final da década de 1960. O

ponto em comum desta luta que uniu mulheres de todas as partes do mundo

ocidental foi o questionamento da divisão tradicional dos papéis sociais entre

homem e mulher.

Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU), reconhecendo a

legitimidade das denúncias da discriminação contra o sexo feminino, instituiu o Ano

Internacional da Mulher.

No Brasil, o movimento das mulheres ganhou força. Elas passaram a lutar

com mais intensidade por seus direitos, a partir do Movimento Feminino pela Anistia

na década de 70. Esse movimento não estava ligado somente à questão feminina;

era também uma luta contra a violência do regime militar brasileiro.

Ainda na década de 70, dois outros movimentos de mulheres ganharam

importância no cenário político do Brasil: o movimento contra a carestia do custo de

vida e o de luta pelas creches. Eles simbolizavam o empenho de uma “nova mulher”

brasileira: aquela que integrava o mercado de trabalho, que começava a “trabalhar

fora”, receber seu próprio salário e a participar do orçamento doméstico. A questão

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da alta do custo de vida e a necessidade das creches para que pudessem deixar

seus filhos em segurança e sair para trabalhar tornaram-se fundamentais para essas

novas mulheres.

De 1981 a 1990, a participação da mulher no mercado de trabalho passou de

33,6% para 37,8%. E quanto mais crescia essa participação, mais discutia-se a

cidadania feminina. Vários movimentos passaram a defender a mulher no que se

refere à dupla jornada de trabalho, à violência sexual, ao aborto, etc. Foram

fundados os SOS, entidades que apóiam as mulheres vítimas da violência

doméstica, e as Delegacias de Mulheres.

A partir de 1986, com o início dos trabalhos da Assembléia Constituinte,

responsável pela elaboração da nova Constituição, a luta das mulheres se

intensificou, pressionando os constituintes a aprovarem dispositivos que lhes fossem

favoráveis; e conseguiram muitas conquistas. Em seu artigo 5º, inciso 1, a

Constituição de 1988 garante ao sexo feminino o princípio da igualdade: “homens e

mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Além desse artigo, 28 outros

dispositivos da Constituição de 1988 são inovadores com relação às mulheres.

Apesar dessas conquistas, essas organizações femininas não cessaram sua

luta, porque, apesar do dispositivo na Constituição de 1988, a igualdade entre

homens e mulheres não foi concretizada em sua totalidade na sociedade brasileira.

As mulheres continuam não tendo acesso a vários setores da economia brasileira:

são pouco empregadas nas indústrias automobilística, química e de papel. Seus

salários também continuam menores que os dos homens – para cada seis salários

mínimos recebidos por um empregado do sexo masculino, a mulher, exercendo a

mesma atividade, recebe três ou quatro salários mínimos. No campo, a situação é

ainda pior. O homem recebe o dobro do salário pago à mulher. Examine o gráfico ao

lado, para ter uma idéia sobre a disparidade dos salários das mulheres.

Por isso, as organizações de defesa dos direitos da mulher apresentaram 956

emendas referentes à cidadania feminina para serem votadas na revisão da

Constituição de 1988. Apesar da discriminação que ainda sofre, a mulher tem

ocupado um espaço cada vez maior na vida política e econômica do Brasil.

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A MULHER PAULISTA

A mulher paulista (que assombro é a mulher paulista), a mulher paulista

entrou em cena. (...) Todas as classes e todas as profissões comungaram no

mesmo fervor de sacrifício e dedicação, desde a operária modesta ao grupo de

estrelas da moda, desde a serviçal doméstica às princesas de salão.

Epidermes que nunca haviam conhecido o calor de um fogão improvisaram-

se rancheiras de batalhões e sofriam por longas horas em murmurar o martírio da

lenha verde molhada, cuja fumaça lhes arrancava lágrimas dos olhos; melindrosas

assustadiças, cheias de não-me-toque e dengues, capazes de desmaiar ao contato

de uma barata ou vista de um camundongo, alinhavavam por oitos dias um curso de

enfermeira para acorrerem aos hospitais de sangue, e ali, por vezes debaixo de

bombardeio, ajudarem as mais terríveis operações; mãos que só de nome

conheciam a existência da agulha e do dedal começaram a não conhecer outra

coisa na vida, curvadas dia e noite sobre a roupa dos soldados. Todas trabalham;

todas cooperam; todas solicitam; todas dão; todas inventam; todas organizam.

Graças a essa atividade de abelhas nada falta e tudo sobra. Sobram as rações.

Cada soldado recebe, além da ração quotidiana, uma lata com outra que, além de

sobressalente, é excelente. Faz frio nas montanhas e nas trincheiras; aparecem às

centenas os agasalhos e as mantas de lã, feitas em crochê. É preciso assistir as

mulheres e filhos dos combatentes. De um momento para outro, surgem instituições

que os põem ao abrigo da necessidade e do desconforto. Há uma formidável

emulação de fazer mais, em contribuir mais, em sacrificar-se mais pela terra querida.

Somem-se todos os interesses superficiais da vida e todo São Paulo rutila no

esplendor de um heroísmo sobre-humano.

Durante os preparativos para a Revolução de 1932, as mulheres paulistas,

inclusive as da elite, trabalharam confeccionando fardas, recolhendo donativos nas

praças e participando intensamente da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”.

Essa campanha estimulava a população a doar suas jóias de ouro a fim de

que os constitucionalistas comprassem armas do exterior. Na ocasião, os paulistas

precisavam armar 200 mil voluntários, mas possuíam apenas 30 mil armas leves.

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Embora tivesse conseguido recolher grande quantidade de ouro, a campanha

foi inútil, pois o governo federal bloqueou o porto de Santos, local por onde entrariam

as armas importadas.

AS MULHERES DE ECKHOUT

Durante muito tempo, as obras de Eckhout sobre a Nova Holanda foram

vistas como retratos fiéis da realidade de sua época. Porém, como todas as obras

de arte, elas são uma mistura de ideal e realidade.

Em primeiro lugar, deve-se notar que a composição dessas imagens segue

um padrão encontrado em ilustrações de livros de viajantes: a figura é colocada no

centro do primeiro plano, em tamanho natural e em posição frontal. Suas posturas

remetem a retratos europeus da época. Ao fundo, a linha do horizonte está situada

bem abaixo da linha mediana.

Elementos característicos do hábitat de cada etnia aparecem em suas obras.

Por exemplo, os enfeites da Mulher Africana nos alertam para o caráter idealizado

da figura. O cesto em sua mão direita é originário de Angola ou do Congo,

associando a mulher ao ponto de origem da maioria dos escravos negros dos

holandeses no Brasil. Talvez por isso essa mulher assemelha-se tão pouco à

imagem real de uma escrava da época.

Ao representar um cão selvagem entre as pernas da Índia Tapuia, o autor

poderia querer caracterizá-la como uma selvagem. Já os porquinhos-da-índia aos

pés da Mulher mameluca, a única que tem seu corpo todo coberto, poderiam

significar que o autor deseja representá-la como menos selvagem.

VOCABULÁRIO

Etnia: Coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade

sociocultural, refletida principalmente na língua, religião e maneiras de agir.

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AS FRONTEIRAS DA EDUCAÇÃO

Mais do que em disputas políticas, uma nação se constrói na escola, com

professores qualificados e com consciência social.

[...] Nas linhas avançadas da Educação brasileira, não há pesquisadores

enclausurados em laboratórios de ponta, mas educadores estudando as melhores

formas de ensinar e promovendo integração social ou mesmo civilizatória em

situações reais. Tenho encontrado exemplos notáveis dessa atuação na “fronteira

educacional”. Nas minhas andanças pelas escolas do país, identifico personagens

que, por reunirem qualidade pedagógica, consciência social e envolvimento humano,

poderiam simbolizar essa luta permanente de construção nacional, como nos

exemplos a seguir.

Há áreas centrais na cidade de São Paulo que já foram importantes regiões

fabris ou de residências burguesas. Hoje, esses bairros concentram imigrantes

recentes-latino-americanos, africanos e asiáticos, trabalhando em inúmeras

confecções clandestinas e outras atividades informais ou marginais. Bruna,

excelente pós-graduada, é professora numa escola de um bairro como esses e

encara com clareza e competência o desafio de ensinar Ciências a quem por vezes

nem sequer domina nossa língua. Mas é na habilidade com que enfrenta problemas

de defasagem idade-séria, de descompassos culturais a até mesmo de exploração

ilegal de trabalho juvenil que se percebe nela a verdadeira educadora, mais do que

“apenas” professora de Ciências. [...]

[...] Essa “educadora sem fronteiras” sabe adequar atividades para crianças

em diferentes estágios de letramento – muitas filhas de pais analfabetos -, usar

informações trazidas por elas para lidar com uma realidade que precisa ser

transcendida, valorizar qualidades não cognitivas para aumentar a participação de

todos ou ainda estimular a leitura com o bom exemplo de colegas que sejam

efetivamente leitores. Tudo isso baseado no que há de mais atualizado em

conhecimento didático.

Nesse mesmo local conheci Dalva, lecionando numa escola cercada de bares

e bordéis. Ela sabe que sua atuação tem um papel importante na definição do futuro

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de uma menina – que pode virar enfermeira, professora ou prostituta, ou de um

menino, que se tornará motorista, comerciante ou pistoleiro, numa região em que as

chances de trabalho digno competem de igual para igual com a marginalidade e o

crime. [...]

DO LARGO DA GLÓRIA A NOVOS ALAGADOS

Vera Maria Machado Lazzarotto é educadora e fundadora da Sociedade 1º de

Maio, no bairro Novos Alagados, em Salvador.

[...] No próximo ano, completo 50 anos de Magistério, marcados pelo antes e

o depois. O antes, fase em que era professora de Literatura no Rio de Janeiro, e o

depois, quando me mudei para Salvador e fui trabalhar na favela de palafitas Novos

Alagados.[...]

[...] No balanço de minha vida, que orgulho sinto em ter optado por trabalhar

entre os mais pobres! Uma opção minha e de mau marido, feita em 1977. Juntos, e

com o apoio da comunidade, fundamos a Sociedade 1º de Maio, que busca garantir

o direito de estudar. Jutaí foi uma ds mais de 10 mil crianças e adolescentes que

aprenderam a ler e escrever e a valorizar a comunidade em que vivem e a si

mesmos. [...]

[...] A escolinha comunitária, uma palafita de 60 metros quadrados, se tornou

a segunda casa dela. [...]

[...] Já são 35 anos de trabalho! Temos três escolas, mais de 100 educadores,

um centro de reintegração de meninos de rua, um centro profissionalizante, uma

creche, uma banda filarmônica, grupos de esporte e de música e um projeto de

urbanização de Novos Alagados. Resultado disso tudo? Erradicação do

analfabetismo, dos meninos de rua, das palafitas, do consumo de drogas, da

violência entre os jovens.

Ah, se eu tivesse de voltar aos meus 17 anos, começaria tudo de novo. [...]

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A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

A década de 20 foi chamada de os anos loucos. Para quem era intelectual ou

pertencia à elite, pelo menos. Tempo de diversão, juventude, descompromisso. O

cinema de Hollywood tornou-se um espetáculo para milhões. A música era o jazz e

as danças eram frenéticas como o tango, o fox-trot, o charleston. Nos salões de

baile, as orquestras. Mas o rádio e as vitrolas tocando música através das válvulas

eletrônicas não eram mais a última novidade.

As mulheres fumavam, usavam cabelos curtíssimos e vestiam roupas

colantes e sensuais. A Primeira Guerra Mundial fez as mulheres ocuparem postos

de trabalho em balcões de lojas, escritórios e fábricas. A moda americana de

namorar sem compromisso de casamento imediato e o voto feminino iam ganhando

as consciências. E nada mais interessante do que a novidade de tantas mulheres

intelectuais, independentes, sexualmente livres.

É difícil classificar um único estilo familiar para os brasileiros e seria muito

complicado julgá-los como sendo certos ou errados, pois eles se formam a partir das

características temporais da sociedade onde habitam, e das necessidades e anseios

de cada indivíduo.

As transformações na economia influenciaram as mudanças nos costumes.

Por exemplo, o crescimento do número de mulheres no mercado de trabalho. Elas

arrumavam emprego nas fábricas, nos escritórios, no comércio. O trabalho fez com

que elas conquistassem uma independência que no século anterior não passava de

um sonho.

Nos anos 20, nas grandes cidades do Ocidente, algumas mulheres de classes

média e alta já podiam freqüentar a universidade. Usavam cabelos curtos, fumavam,

namoravam, iam a bares sozinha ou com as amigas, tornavam-se pintoras ou

cientistas, falavam sobre a emancipação feminina. Algumas eram até intelectuais

socialistas.

Desde o fim do século XIX, as feministas enfrentavam até a polícia pelo

direito de voto, Finalmente, a partir dos anos 20, os EUA e alguns países da Europa

Ocidental começaram a adotar o voto feminino.

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Mas, infelizmente, apesar de tudo isso a sociedade continuava muito

machista. A maioria dos homens não aceitava a independência feminina.

Escravizadas mentalmente, temendo a liberdade, muitas mulheres ainda

aceitavam os velhos papéis.

Fonte: Gêneros da Atualidade. Livro de Arte, pág. 206. Livro didático Público do Ensino Médio. Secretária de Estado da Educação

Na nossa sociedade, cada vez mais as pessoas reconhecem que as mulheres

devem ter os mesmos direitos dos homens para estudar, trabalhar e amar.

Apesar disso, ainda existem muitos homens (e mulheres) que acreditam que

as mulheres não são tão inteligentes quanto eles. Essas pessoas acham que a

melhor coisa que as mulheres devem fazer é estudar pouco, casar logo para

obedecer ao marido e se dedicar apenas a cuidar da casa e dos filhos. Acham que

essa é a vida “natural” das mulheres. Mas será tão natural assim? Os estudos dos

historiadores mostram que não.

A História revela que nem todas as sociedades consideravam os homens

superiores às mulheres.

Em muitas comunidades antigas, os homens e as mulheres dividiam as

tarefas. Como as mulheres quase sempre estavam grávidas ou amamentando,

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tinham de se dedicar a tarefa que não exigiam movimento nem força bruta. Assim, a

caça, a pesca e a criação de animais ficaram com os homens. As mulheres

trabalhavam na agricultura, na tecelagem, cuidavam das crianças e das habitações.

Era uma divisão natural do trabalho. Muitas vezes, a caça era ruim, a pesca era um

fracasso, e o que salvava a comunidade da fome era o trabalho das mulheres de

plantar e depois armazenar a comida.

Na hora de tomar as decisões da comunidade, homens e mulheres tinham o

direito de dar opinião.

Os homens não mandavam nas mulheres. A vida sexual feminina era muito

livre. Elas podiam ter relações com vários homens que ninguém considerava errado.

Por causa disso, nem sempre era possível determinar quem era o pai dos bebês.

Assim, as crianças eram educadas por toda a comunidade.

Fonte: Gêneros da Atualidade. Livro de Arte, pág. 207. Livro didático Público do Ensino

Médio. Secretária de Estado da Educação

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A PROSTITUIÇÃO NO SÉCULO XIX

Este é tema polêmico, enraizado em questões históricas complexas. Nesta

abordagem, Luís Carlos Soares destaca que o aumento da população e o

desequilíbrio sexual (maior número de homens, especialmente entre escravos e

imigrantes) fizeram com que surgissem um “mercado” muito ativo para a prostituição

no Rio de Janeiro, a partir da metade do século XIX.

A maioria das mulheres pobres que se prostituíam eram libertas, imigrantes

ou escravas (alguns senhores obrigavam suas cativas a se prostituírem).

“A partir do momento em que os médicos e as autoridades policiais

constataram que a prostituição era um “mal necessário”... Foram adotadas medidas

coercitivas* que impusessem o acantonamento ou a concentração das prostitutas

em determinadas áreas da cidade, em casas especiais, dirigidas por ‘regentes’ ou

‘patroas’... Além de funcionarem como um espaço para as prostitutas exercerem seu

‘ofício’, essas casas especiais possibilitariam o controle policial e médico da

prostituição...” (SOARES, 1992, p. 102.)

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MERETRIZES MINEIRAS

A prostituição, entretanto, não se restringiu a esse grupo específico, sendo

largamente disseminada e aceita pela cultura popular em Minas Gerais.

Muitos autores, como Caio Prado Jr., generalizam o fenômeno para todo o

Brasil colonial. Amparados quase sempre por relatos de viajantes, afirmavam não

haver “recanto da colônia em que houvesse penetrado”. Chegaram a admitir que a

prostituição era uma espécie de expressão tipicamente feminina da pobreza e

miséria social, sendo que a vadiagem e a criminalidade representavam seu

contraponto masculino. Gilberto Freire foi outro importante autor na conformação

das imagens em torno da prostituição colonial, sobretudo das negras, assinalando o

aspecto de crueldade intrínseco à exploração das escravas. Os autores enfatizaram,

de um lado, os elementos de crueldade do escravismo ao obrigarem à prostituição já

suficientemente exploradas pelos rigores do trabalho. De outro, tentaram enxergar

em sua generalização um efeito desagregador sobre a estrutura social, econômica e

familiar, uma vez que acabaram motivando conflitos pessoais entre aqueles que

circulavam em torno da prostituta e multiplicando o número da população mestiça,

encarada como um perigo político naqueles tempos.

As prostitutas mineiras nos primeiros tempos chegam ao território

acompanhando o rápido povoamento no sertão por homens (e mulheres) ávidos da

riqueza imediata que o ouro parecia proporcionar. Um dos códigos legais voltados

para regular a mineração, o regimento das minas de Guaianeses, chegava a

prescrever em um de seus capítulos: “Não deixará por nenhum acontecimento

passar às ditas minas mulher [de] má suspeita, nem mulata, por ser proibido e

sempre prejudiciais nas ditas minas, deixando passar as negras escravas que forem

com seu senhor”.

Dessa forma, anos mais tarde no centro político da região mineira de

produção de diamantes, o governador conde de Galveias expulsaria do arraial do

Tijuco as mulheres “de vida dissoluta e escandalosa”, visto que costumavam

transitar pelas ruas e igrejas transportadas por escravos em cadeiras e serpentinas,

trajando “vestidos ricos e pomposos, e totalmente alheios e impróprios de suas

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condições”, o que era suficiente aos olhos do governador para se “reputar como

contágio dos povos e estragos dos bons costumes”.

Nas Minas Gerais, a prostituição parece ter atingido uma proporção bem mais

elevada que em outros pontos da Colônia, além de apresentar traços bastante

peculiares. Como em outras regiões coloniais, ali os casamentos legais encontravam

uma série de exigências burocráticas por parte da Igreja e do Estado, que tornavam

o matrimônio oficial uma realidade quase inacessível à grande maioria. Porém, um

dos traços mais característicos da sociedade mineira, e que irá explicar a

generalização da prostituição, decorreu da extrema mobilidade de contingentes

dedicados à mineração. Para grupos de mineradores solitários e em permanente

movimento na busca de veios mais férteis, a constituição de laços familiares

tornava-se pouco adequada.

No interior das vilas e cidades mineiras os prostíbulos, mais conhecidos à

época pelo termo “casas de alcouce”, instalavam-se indistintamente, aproximando-

se de residências familiares ou de autoridades locais. Eram geralmente domicílios

de pessoas pobres, servindo como ponto de encontros amorosos conforme a

oportunidade. Essas “casas de alcouce” situavam-se ainda na periferia das vilas,

sendo sua administração entregues a escravos ou escravas cujos proprietários

encontravam uma forma de diversificar seus investimentos. Expressivo foi um

comentário feito por uma proprietária de escravos nas Minas, “que gostaria

imensamente que os negros se lhes convertessem em negras, porque lhe rendiam

mais os jornais...”.

A prostituição foi duramente combatida ao longo do século. O que parecia

assustar as autoridades locais diante de sua disseminação era a multiplicação dos

enjeitados-crianças abandonadas normalmente à porta das casas de autoridades ou

de potentados locais cuja criação constituía responsabilidade dos cofres municipais.

Diante da situação de extrema pobreza em que muitas mulheres viviam, a

prostituição se constituiu em um caminho obrigatório para que conseguissem pagar

o imposto direto e escapar de confiscos, multas ou prisões.

Expressando o descontentamento geral que o sistema de capitação causara,

muitas das câmaras municipais lançariam mão desse argumento para pedir a

substituição do método de capitação e censo de indústrias. No “Clamor da câmara

de São João de Rei” argumentava-se contra a iniquidade desse tributo: “Até o

escravo do cego mendicante paga, e também as meretrizes querem fazer da

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capitação necessidade para as ofensas de Deus”. A câmara de Sabará bateria na

mesma tecla, reforçando as imagens dos danos morais causados: “Inumeráveis

mulheres pretas e pardas pagam a capitação por sua pessoa por não terem algum

escravo; é certo [que] vivendo de ofensas a Deus, necessariamente a sua

contribuição há de sair do pecado”.

Diante disso tudo, como se passaria o cotidiano dessas mulheres? Um dos

componentes essenciais que permitiu que os encontros sexuais tivessem sucesso

naquele tempo foi a prática da alcoviteirice: homens e mulheres se dedicavam a

facilitar as condições para o intercurso. Podiam oferecer sua própria casa para isso

ou somente passar bilhetes e cartas em que detalhes do encontro seriam acertados,

tirando daí algum ganho.

Alguns pareciam viver da função de leva-e-traz da comunidade, facilitando o

serviço das prostitutas, como ocorreu com Leandro, da freguesia de Morro Grande,

“acostumado a levar recados a mulheres para homens, induzindo-as para com eles

procederam mal”.

A pobreza extrema transparecia nesses ambientes. Em Conceição do Mato

Dentro, outra cidade com elevado índice de prostituição graças a seu papel de

entreposto de todo o comércio com o norte da capitania, a mulata forra Adriana,

“além de alcovitar mulhres para homens [...], consente que na sua casa se

desonestem dando a sua própria cama para sua torpeza”. Não faltariam mulheres

que formavam prostíbulos de fato, sobrevivendo graças a sua administração.

Por vezes as prostitutas recorreriam a outros poderes a fim de sustentarem

sua atividade. Utilizavam a feitiçaria para atrair clientes, como a moradora da

freguesia de Ouro Preto, Florência do Bonsucesso, que provocava “alguns homens

a usarem mal dela e que para este efeito tem uma criança mirrada em casa da qual

tira carne seca e reduz a pó para com ele fazer suas feitiçarias”, chegando a adotar

método mais eficiente ao levar “às encruzilhadas carvões e invocava o demônio

lançando os carvões pelo caminho e que deste fato resultava vir o homem que ela

queria logo de manhã bater-lhe à porta e [...] desonestar-se com ela”. Usando

fórmulas mágicas ou as chamadas “cartas de tocar” escritos com orações que

julgavam servir para aproximar-se da pessoa desejada conseguiam garantir com

sucesso a atração de clientes. Como Aqueda Maria que “tinha um papel com

algumas palavras e cruzes que ela dizia servir para tocar em homens para terem

com ela tratos ilícitos”.

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A pobreza em que muitas dessas mulheres viviam fez a prática do meretrício

invadir o tecido familiar. Essa talvez constitua a dimensão mais dramática do

fenômeno nas Minas. Muitas prostitutas atuavam no domicílio que partilhavam com

parentes. Havia irmãs, como Domingas e Inácia, “mulheres meretrizes expostas a

quem a procura”, e primas, como Narcisa e Rosa, que “admitem frequentemente

homens em casa para fins torpes e desonestos”. Ou ainda esposas, filhas,

enteadas, cunhadas, revelando que a prostituição constituía caminho de

sobrevivência para mulheres pobres, no âmbito das unidades familiares.

Pais consentiam na prostituição de sua prole, como Luís Pereira, cujas filhas

ele permitia que “usem mal de si, tanto duas que moram junto a ele em casa

separada como também uma que tem consigo”. Muitas viúvas parecem ter trilhado o

caminho do meretrício e, assinalando uma embrutecedora realidade criada diante da

morte do marido, arrastavam suas filhas consigo. Como nos informa uma denúncia

que se reporta a Lagoinha, onde...

As punições que alcançavam algumas dessas mulheres revelam de modo

ainda mais contundente as condições de extrema miséria em que viviam. Um dos

casos elucidativos a esse respeito envolve a preta forra Cristina, escrava trazida de

Angola que foi presa na cadeia de Ouro Preto, cidade onde morava, depois que o

visitador descobria que ela negociava sua filha, a mulata forra Leandra.

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MULHERES NO MAGISTÉRIO

No século XIX a educadora autodidata Nésia Floresta, nascida em 12/10/1812

no Rio Grande do Norte, além de professora era escritora e poetisa. Seu nome de

batismo Dionésia Gonçalves Pinto, mas utilizava o pseudônimo Nésia Floresta

Brasileira Augusta. Nésia final de seu nome. Floresta o nome do sítio onde nasceu.

Brasileira é o símbolo do seu ufanismo, uma necessidade de afirmação já que viveu

quase três décadas na Europa. Augusta uma recordação de seu segundo marido o

qual amou muito.

Era conhecida como revolucionária na época uma voz feminina que

denunciava a condição de submissão em que viviam as mulheres no Brasil e

reivindicou a emancipação feminina e elegendo a educação como instrumento o

qual esse objetivo seria alcançado. Na realidade que seria os mesmos homens e

grupos sociais que continuavam garantindo suas posições estratégicas nos jogos de

poder, que construíam a imagem do país. O tempo passa e o Brasil caminha para o

século XX e tanto nos grandes centros como na área rural grande parte da

população continuava analfabeta.

Por volta de 1827, se estabeleceram “as escolas de primeiras letras” as

chamadas pedagogias em todas as cidades.

A leitura e a escrita, as quatro operações, noções de geometria, bordado e

costura esses conteúdos eram divididos para os meninos e as meninas, onde os

professores do sexo masculino ministravam aula para os garotos e a moça ou

senhora para as meninas, tendo também aula de noções religiosas, os professores

tem que ter uma moral inquestionável.

Para os filhos de grupos sociais mais privilegiados seus currículos

apresentavam uma variedade de disciplinas maior como língua francês, piano,

habilidades culinárias, habilidades de mando das criadas e serviçais o domínio era

claramente seu destino e para tal deveriam estar plenamente preparadas.

Estas escolas na maioria das vezes eram conduzidas por religiosos

(congregações ou Ordens religiosas) que escolas estes mantidas por leigos além da

moral dos docentes ser inquestionável suas casas deveriam ser ambientes decentes

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e saudáveis, uma vez que as famílias lhe confiavam a educação de seus filhos e

filhas.

Fonte: Laboratório de informática. Livro de Geografia, pág. 175. Livro didático Público do Ensino Médio Secretária de Estado da Educação.

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RELIGIÃO E SOCIEDADE NA AMÉRICA PORTUGUESA

A sociedade colonial tem sido caracterizada, quer nos “domínios rurais” quer

nos “domínios urbanos”, como patriarcal. De acordo com esse modelo, a família

colonial brasileira apresentava um núcleo central composto pelo chefe da família,

sua mulher, filhos e netos por linha materna ou paterna, além de um núcleo de

membros considerados secundários, formado por filhos ilegítimos ou de criação,

parentes, afilhados, serviçais, amigos, agregados e escravos.

O patriarca, na liderança dos dois núcleos, cuidava dos negócios, mantinha a

linhagem e a honra familiar, procurando exercer sua autoridade sobre a mulher, os

filhos e demais dependentes sob sua influência. Com frequência, o filho mais velho

herdava o patrimônio (primogenitura), enquanto seus irmãos eram encaminhados

aos estudos para se tornar bacharéis em Direito, médicos ou padres,

independentemente de terem vocação para essas carreiras.

Ligados ainda à família patriarcal ou sob sua influência, por razões

econômicas, políticas ou laços de compadrio, estavam os vizinhos: sitiantes,

lavradores e roceiros, gente que mantinha laços de dependências e solidariedade

para com o chefe da família.

No nordeste açucareiro, entre os grandes proprietários de terras, predominou

a família extensa, um verdadeiro centro de poder econômico e político local. Dela

faziam parte os parentes de sangue, os parentes simbólicos (padrinhos, compadres

e afilhados), os agregados ou protegidos e até escravos.

Em contrapartida, ao lado do núcleo familiar patriarcal, coexistiram formas de

estruturas sociais não menos importantes. Uma dessas formas foi a família nuclear,

hoje predominante. Ela difere da primeira por ser formada pelo núcleo principal,

representado pelo pai, sua esposa e descendentes legítimos.

Nesse modelo, o chefe da família não tem o mesmo poder de mando que o

patriarca, pois quando casam, seus descendentes constituem sua própria família,

em outro domicílio. Poucos casais reúnem em torno de si filhos casados, genros,

noras e netos.

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Muitas vezes, a ausência dos homens de suas casas, devido principalmente a

fatores econômicos, diminuía a autoridade paterna. Nesse caso, as mulheres

ficavam responsáveis pela administração do lar e a educação dos filhos.

De maneira geral, o aprendizado dos filhos decorria da experiência dos pais,

uma vez que o estudo era privilégio de poucos. Por isso, e especialmente nas

famílias mais carentes, os filhos ingressavam cedo no mundo do adulto, do trabalho.

Tudo isso nos sugere que, para compreendermos a sociedade brasileira

atual, não basta analisar a família patriarcal do passado, pois ela não existiu

sozinha. Os diversos modelos da família apresentaram facetas bem mais

diferenciadas do que em geral se imagina.

O casamento, em geral realizado segundo as regras da Igreja Católica, era

quase um monopólio da elite branca, interessada na manutenção do prestígio e da

estabilidade social. Para a maioria da população, mais pobre, o comum era a união

simples, considerada ilegítima pelas autoridades eclesiásticas.

A Igreja não via com bons olhos estas relações “ilícitas”, pois as considerava

desrespeito às normas do sacramento do matrimônio. Por isso, durante os séculos

XVII e XVIII, combateu o concubinato. Chegou até a ser elaborado um código

denominado Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia para tratar desses e

de outros assuntos religiosos.

O Estado, porém, mostrou-se condescendente em relação às uniões

consideradas “ilícitas” pela Igreja. Até porque, no início da colonização, eram

raríssimas as mulheres européias no Brasil. Por exemplo, João Ramalho e outros

portugueses que viviam entre os nativos tinham dezenas de mulheres indígenas.

Mesmo quando o número de mulheres vindas de Portugal aumentou, o que

interessava às autoridades era reprodução da força de trabalho e, para tal, não se

fazia necessária legitimar as relações entre um homem e uma mulher.

Entretanto, o poder público e a Igreja Católica se uniam para condenar os

abortos e os infanticídios. Não obstante, para as famílias menos favorecidas, essas

práticas muitas vezes resultavam da falta de perspectiva de um futuro promissor

para os filhos.

Se por um lado, o casamento constituiu privilégio de poucos, por outro, as

separações simples, anulações e até mesmo o divórcio mostraram-se comuns na

América portuguesa, ocorrendo nas mais diversas camadas sociais. A decisão dos

processos era tomada pela Igreja através do Tribunal Eclesiástico.

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De modo geral, as separações dos casais em litígio estavam relacionadas a

adultério, sevícias, injúria grave, abandono voluntário do lar e até mesmo

incompatibilidade de gênios.

A idéia do marido dominador e da mulher submissa aparece nos registros

históricos e nos romances ambientados no período colonial. Mas esse não foi o

único padrão de comportamento feminino dessa época.

Sem dúvida, muitas mulheres foram enclausuradas, desprezadas, vigiadas,

espancadas, perseguidas por seus maridos e pais. Em contrapartida, várias

reagiram às violências que sofriam. Pelos relatos ou evidências da época percebe-

se que, de um lado, parte da população feminina livre esteve sob o poder dos

homens, enquanto outra parte rompeu uniões indesejáveis e tornou-se senhora do

próprio destino. E mesmo as mulheres privadas da liberdade acabaram

desenvolvendo uma maneira própria de viver, criando cumplicidades ou alianças

capazes de desordenar ou suavizar os obstáculos que encontravam na sociedade.

As práticas consideradas “mágicas”, que chegavam a causar temor entre os

homens, foram uma das maneiras pelas quais as mulheres enfrentaram as

contrariedades do cotidiano. Numa época em que o conhecimento científico era

privilégio de poucos, acreditava-se que as “feiticeiras” tinham o dom da “cura” ou o

poder sobre o amor e a fertilidade, masculina e feminina, através de “poções

mágicas”.

Percebe-se, portanto, que nem sempre as mulheres foram dóceis, submissas

e enclausuradas: nas relações homem-mulher; o comportamento feminino muitas

vezes divergiu do estereótipo imposto pela história tradicional.

Durante o período colonial existiu um conjunto heterogêneo de elementos, na

maioria pobres, designados como desclassificados. Esses homens e mulheres

desempenhavam papéis diferentes e até opostos: ora exerciam funções necessárias

à manutenção da ordem, ora ameaçavam-na, na medida em que muitos não se

incorporavam ao mundo do trabalho.

Esse contingente era formado pelos escravos libertos, mulatos, mamelucos

(mestiços de brancos e índio), índios aculturados e brancos pobres. Os homens

tendiam a concentrar-se nos ofícios de artesão, alfaiate, sapateiro, carpinteiro,

barbeiro e pescador: Já as mulheres costumavam trabalhar como costureiras e

vendedoras ambulantes.

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Outro conjunto de pessoas, predominantemente brancas, situava-se acima

dos desclassificados na hierarquia social mas sem integrar as elites coloniais. Eram

classificadas como pertencentes ao povo – termo usado em Portugal para os

setores intermediários.

Esse grupo heterogêneo englobava desde os pequenos proprietários rurais,

soldados, funcionários inferiores, pequenos comerciantes até os artesãos urbanos.

Raras vezes essa gente conseguiu assegurar uma posição entre os “homens bons

das vilas”.

Os postos mais altos da sociedade colonial eram ocupados pela aristocracia

açucareira, pelos donos das ricas lavras de mineração e pelos grandes

comerciantes importadores e exportadores. Num plano secundário, participavam

também alguns criadores de gado e os maiores fazendeiros de algodão, tabaco e

cacau.

Da metrópole à colônia americana, a escravidão fez a passagem de uma

instituição secundária para outra dominante, impulsionadora da economia.

No início da colonização, os indígenas foram obrigados a trabalhar no sistema

de plantation ou nas roças de subsistência. Mas eles estavam longe de serem os

escravos ideais: tinham baixa resistência às doenças de origem européia; alguns

povos indígenas, resistiam com armas à captura; e, sempre que possível, fugiam

para os sertões. Além disso, os índios contavam com a proteção dos jesuítas, o que

provocou conflitos entre essa ordem religiosa e os colonos. Outro fator importante foi

o alto lucro que o tráfico negreiro representava para a metrópole portuguesa. Esses

aspectos contribuíram para a substituição do trabalho escravo nativo pelo do

africano. Mas nas regiões mais pobres, tais como São Paulo, Maranhão, Piauí e

outras, continuou a predominar a escravidão do indígena, o “negro da terra”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condição feminina na história é um tema que tem sido muito discutido, seja,

em relação às mulheres profissionais, às mulheres chefes de família ou ao número

de mulheres nas escolas. Nessa perspectiva, a história das mulheres é fundamental

para se compreender a história geral: a do Brasil ou mesmo aquela do ocidente

cristão.

Hoje as mulheres representam a maioria da população brasileira, estando em

todos os lugares e desempenhando variados papéis, como os homens elas

trabalham no campo, nas fábricas, nas escolas, nos hospitais, em escritórios, são

comerciantes, industriais, empregadas ou empresárias. Além de tudo ainda são

donas de casa, esposas, mães e muitas vezes assumindo uma parte maior na

educação dos filhos.

Sabe-se que, se os direitos femininos começaram a ser respeitados, foi

porque as próprias mulheres conquistaram seus direitos ao longo da história.

Escrever a história das mulheres a partir da visão dos excluídos da história

significa escrever uma história de resistência, lutas, fracassos e problemas

cotidianos. No entanto, a sua história está delineada diante de uma realidade que

tem desafiado a mulher a transpor dificuldades e conflitos que somente um ser

feminino pode através do tempo superar e viver uma realidade totalmente diferente

da realidade vivida pela mulher do passado, sem nunca deixar de ser MULHER.

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VERIANO, C. E. O que foi o Apartheid. Revista Nova Escola. Outubro de 2002.

Edição Especial.

SUGESTÕES

Filmes/seriados:

Sonho impossível

Escritores da Liberdade

O sorriso de Monalisa

Anjos rebeldes

A casa das 7 mulheres

A cor púrpura

Site: www.mulhernegra.org.br