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F F D I S C U R S O D E F L O R E S T A N N A M A R I A A N T Ô N I A M agnífico Reitor, Dr. Flávio Fava de Moraes, Sra. Deputada Ângela Amim, meus colegas da Câmara dos Deputados, do ensino nesta Universidade e na PUC, e a todos os companheiros que estão aqui, homens e mulheres, jovens e pessoas que já passaram os limites da idade madura, como é o meu caso. Na verdade este é um momento muito árduo para mim, eu sou uma pessoa que não gosta de receber elogios. Eu prefiro debater as críticas e me senti um pouco envergonha- do quando companheiros e companheiras que eu admiro e respeito fi- zeram elogios em pú- blico à minha pessoa (1). Em termos de mi- nha modéstia, fico naturalmente desmem- brado, porque eu não mereço tanto, nunca fiz mais do que cumprir o meu dever e, no cum- primento desse dever, nunca fiz tudo que pre- tendia fazer. É uma pena para mim que isso tenha sucedido, mas já escrevi uma vez um artigo meio triste a respeito da chamada “ge- ração perdida” – eu chamei assim –, que hoje parece estar perdida num mar de elogios e de saudações. Eu devo isto, Sr. Reitor, à tolerân- cia do brasileiro, à complacência do inte- lectual. Talvez ao fato de que tenham convi- vido comigo durante tanto tempo e de eu ter que enfrentar dificuldades, que são pequenas em comparação com as dificuldades que outros sofreram. Então querem me compen- R E V I S T A U S P , S Ã O P A U L O ( 2 9 ) : 8 - 13 , M A R Ç O / M A I O 1 9 9 6 8 F L O R E S T A N F E R N A N D E S Uma outra versão deste texto, corrigida pelo prof. Florestan Fernandes e com o título de “Florestan, um Discurso”, foi publicada pela revista Temporaes. Portanto este que ora publicamos é a transcrição original do discurso, com notas elaboradas pelo prof. José de Souza Martins.

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FF

D I S C U R S O D E F L O R E S T A NN A M A R I A A N T Ô N I A

M agnífico Reitor, Dr. Flávio Fava

de Moraes, Sra. Deputada Ângela

Amim, meus colegas da Câmara

dos Deputados, do ensino nesta

Universidade e na PUC, e a todos

os companheiros que estão aqui,

homens e mulheres, jovens e pessoas que já

passaram os limites da idade madura, como

é o meu caso.

Na verdade este é um momento muito

árduo para mim, eu sou uma pessoa que não

gosta de receber elogios. Eu prefiro debater

as críticas e me senti um pouco envergonha-

do quando companheiros e companheiras que

eu admiro e respeito fi-

zeram elogios em pú-

blico à minha pessoa

(1). Em termos de mi-

nha modéstia, fico naturalmente desmem-

brado, porque eu não mereço tanto, nunca fiz

mais do que cumprir o meu dever e, no cum-

primento desse dever, nunca fiz tudo que pre-

tendia fazer. É uma pena para mim que isso

tenha sucedido, mas já escrevi uma vez um

artigo meio triste a respeito da chamada “ge-

ração perdida” – eu chamei assim –, que hoje

parece estar perdida num mar de elogios e de

saudações. Eu devo isto, Sr. Reitor, à tolerân-

cia do brasileiro, à complacência do inte-

lectual. Talvez ao fato de que tenham convi-

vido comigo durante tanto tempo e de eu ter

que enfrentar dificuldades, que são pequenas

em comparação com

as dificuldades que

outros sofreram. Então

querem me compen-

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F L O R E S T A N F E R N A N D E S

Uma outra versão deste texto, corrigidapelo prof. Florestan Fernandes e com o

título de “Florestan, um Discurso”, foipublicada pela revista Temporaes. Portanto

este que ora publicamos é a transcriçãooriginal do discurso, com notas elaboradas

pelo prof. José de Souza Martins.

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Florestan, 1975

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necessita. O Reitor mencionou aqui um dosartigos com que eu colaborei na Constituição(2), mas eu colaborei com outro mais impor-tante, sobre a autonomia da Universidade (3).A autonomia da Universidade criou progra-mas financeiros grandes: como é que umaUniversidade pode ser autônoma se ela nãodispuser de recursos financeiros numa escalasuficiente e, ao mesmo tempo, crescente?Como manter um nível de remuneração de-gradante? Há professores que sempre luta-ram por um nível de vida melhor, mas quehoje se vêem reduzidos a uma escala de aper-to que os ameaça como setor médio ou baixodas classes médias. Como selecionar o talen-to sem oportunidades educacionais e iguali-tárias, sem dar ao estudante não só o ensinogratuito, mas também a bolsa de manutençãodo estudante pobre – porque há um tipo deestudante que não pode ir à escola pública,apesar de ela ser gratuita, porque a famílianão pode manter, enfrentar os gastos indire-tos da manutenção de um trabalhador dentroda escola. Aos desiguais é preciso dar opor-tunidades desiguais, oportunidades ao estu-dante pobre, ao negro, ao indígena que varouas barreiras da segregação étnica, àquelesmalditos da terra, os trabalhadores mais sa-crificados do Brasil, jogados em diferentesáreas de miséria no campo e nesta selva quenasceu dentro da megalópole, da metrópole,das pequenas e médias cidades, todas incha-das, todas explodindo, porque têm necessi-dades humanas que precisam ser atendidascom urgência.

Então é preciso refletir sobre essa greve,não para condenar os Reitores, que ocupamuma posição intermediária de delegados daUniversidade junto ao Governo e de repre-sentantes do Governo junto à Universidade –se o Reitor não fosse capaz de fazer isso, eletambém não teria a condição de ser Reitor. Eo que aconteceu foi que o único estado quedestinou uma verba própria para o ensinosuperior, que foi o estado de São Paulo, aca-bou criando obstáculos ao crescimento dessarenda, que deveria ser intocável, deslocandouma parte dos recursos ou eliminando outraparte e esquecendo que tudo aquilo era insu-ficiente para as necessidades de um estadocomo o estado de São Paulo.

sar, além dos limites, da pequena grandezaque eu possa ter. Devo agradecer à DeputadaÂngela Amim, que foi a relatora da 2a versãoda Lei de Diretrizes e Bases, por ter ouvidocalada referências que a excluem desse méri-to. Eu naturalmente contribuí com outroscolegas e mesas, em que nós discutimos du-ramente as coisas. Nem todos os deputados enem todas as comissões são compostas porpessoas inertes e incapazes. Então, ela é tes-temunha das tentativas que fiz para ajudá-laa fazer uma lei que começou tentando ser amelhor possível e acabou sendo aquilo quemerecemos.

Eu gostaria de ressaltar uma coisa que sem-pre preocupa a nós todos e que foi mencionadaaqui por quase todos: a má situação do ensino,a diversidade do ensino público que advémnão apenas da falta de recursos, mas advémtambém de uma tentativa de sufocar a demo-cratização da consciência crítica através dacultura, da pesquisa construtiva e criadora.

Ainda recentemente nós vimos um movi-mento em que todos os Reitores, o Reitor Flá-vio, o Reitor da Unicamp e o Reitor da Unesp,viram-se envolvidos dentro de uma situaçãoque, eu diria, está vinculada a um empobre-cimento da compreensão do que é a pesquisa,do que é o ensino, do que é a alta cultura paraum país pobre. Há por trás de tudo isso a idéiade que para países da periferia basta umacultura periférica importada em pacotes,quando, na verdade, nós temos de construir aciência, a arte, a tecnologia, todas as formasde saber, de conviver, de construir, de quegozam outros povos. Nós não somos inferio-res aos demais povos chamados desenvolvi-dos, embora Monteiro Lobato, que foi citadoaqui, tenha dito num conto amargo e irônicoque o inglês teria andado melhor se tivesseposto, não o macaco, mas um brasileiro nofim da evolução. Como piada está muito boa,mas na verdade eu me imagino na situaçãodos Reitores e conheço bem as agruras dosprofessores, dos assistentes, dos estudantes,dos funcionários técnicos e administrativos edos funcionários mais modestos, que traba-lham em ocupações menos compensadoras.

Essa incompreensão, essa tendência a que-rer esganar a cultura criou a tendência a tirarda escola pública todos os recursos de que ela

2 O reitor Flávio Fava deMoraes havia destacado oartigo 218, § 5o, que permi-tiu volitivamente a cadaestado e ao Distrito Fede-ral a criação das respecti-vas Fundações de Amparoà Pesquisa, à semelhançada Fapesp.

3 Referiu-se ao artigo 207 daConstituição Federal de1988.

1 Discursaram o prof.dr. An-tonio Candido (pela USP),a Deputada Ângela Amim(Câmara Federal), o Depu-tado Hélio Bicudo (PT), oProf. Dr. Aziz N. Ab’Sáber(SBPC), Gisela Gorovitz(PNBE), a profa dra ZildaIokoi (Adusp), Roberto M.B. Carvalho (ANPg), PaulaLousada (DCE-USP), Clau-dio S. Brederode (Sintusp)e Hilário Bispo (Núcleo deConsciência Negra).

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De modo que eu senti no coração a punha-lada que isso representou, sangrei por vocês,meu desejo era estar na greve – com todo orespeito que tenho pelo Reitor, que já demons-trou, de várias maneiras, que não é uma pes-soa de espírito retrógrado; ao contrário, elerealizou tanta coisa importante –, mas euqueria estar com vocês para que nós lutásse-mos, para que haja uma compreensão por partedo Governo – no caso, o Governo Estadual,porque o Governo Federal, apesar de podercontar com um bom Ministro da Educação,está também manietado pelo Ministério daFazenda. O Ministro decide uma coisa, oMinistério da Fazenda diz outra, a Câmarados Deputados e o Senado fingem que nãoentendem nada, que o assunto não é com eles,e tudo fica como antes no quartel da Brinks.

É preciso que nós olhemos para isso e lu-temos, porque essa Universidade não é umaherança vazia. Ela faz 60 anos, mas são 60anos de uma vida fecunda, de grandeza histó-rica e de esclarecimento do pensamento críti-co. É verdade que, em 64, como me contou oProf. Eurípedes Simões de Paula, duasmatronas, da melhor estirpe dos 400 anos,apresentaram-se a ele para me substituir, di-zendo: “Sr. Diretor, o Prof. Florestan Fernandesé uma figura nefasta. Nós viemos aqui nosprontificar para dar o ensino de Sociologiagratuitamente para a Universidade de SãoPaulo”. Isto revela uma coisa fantástica: hou-ve um descongelamento e os dinossauros atra-vessaram pelas grandes cidades do País!

Mas essa mentalidade foi a que acabouprevalecendo e ainda dura no horizonte inte-lectual de muitos setores das elites das clas-ses dominantes. Nós não podemos aceitar isso,a ruína da PUC, a ruína da USP, a ruína daUnicamp, a ruína da Unesp, temos que en-frentar com todo denodo, com a pressão dosprofessores e as suas exigências, com a pres-são dos estudantes e as suas exigências, coma pressão dos funcionários e as suas exigên-cias – porque eles estão lutando por todosnós, estão lutando para manter o passado esuperá-lo, às vezes sem saber se estão defen-dendo uma utopia, a utopia de uma Universi-dade que se propôs um modelo avançadodemais para as limitações do Brasil.

Antonio Candido diz, em certa passagem

de seu trabalho, que ele ama a literatura bra-sileira porque ela é a única literatura que nóspossuímos. Eu iria além: eu amo a Universi-dade de São Paulo e outras Universidades poiselas são capazes de nos levar além daquiloque nós possuímos. De modo que aqui fica aminha solidariedade aos companheiros, a qualeu não pude trazer de viva voz, mas que éimperativa. Ninguém pode desertar da lutano momento em que ela é imperativa.

Que o futuro nos traga dias melhores e acapacidade de construir a Universidade queestá nos nossos corações, nas nossas mentese nas necessidades do povo brasileiro. Inclu-sive para trazer para cá todos os talentos quepodem ser aproveitados; não só os das elites,das classes dominantes, mas também das debaixo, da classe média em proletarização, dosproletários, dos trabalhadores dos campos, dosnegros e de todos aqueles que são oprimidos.Porque esse é o padrão que tem prevalecido:a “cultura da ignorância” é suficiente para opovo, não precisa mais que isso para ser feliz.A nossa resposta é que o povo, para ser feliz,precisa não só de alimentos, não só de habi-tação, não só de assistência médica. Precisade cultura e precisa de consciência crítica,

Florestan Fernandes

em entrevista na

Maria Antônia

a um jornalista

do jornal Tribuna

de Santos, 1960

Jar

bas

Mar

cond

es

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Estados Unidos, da França, da Alemanha, doJapão, da Inglaterra etc., não começa no 3o ouno 4o mundo. Ela começa dentro das própriasnações centrais, através de toda essatecnologia que deveria ser uma fonte de reno-vação da humanidade. Mendel Sachs, numlivro que eu costumo citar, afirma que há in-venções, como essas que eu arrolei aqui – eoutras, sobre a produção de energia nuclear,etc. – que só poderiam existir sob o regimesocialista, porque em outro regime haveria orisco de que essas invenções caíssem nas mãosde estratos sociais insensíveis ao destino dahumanidade, e infelizmente ele tinha razão.

Há um primeiro problema a considerarquando se pensa a respeito dessa tecnologia:ela pôs a Universidade diante de um dilemadevastador, porque essa tecnologia afetou amedula do pensamento, não a sua aparência.Não se converte um trabalhador num autô-mato sem transformar a sua cabeça numa parteda máquina. Aí está o grande problema paraa filosofia, principalmente, e que os filósofospreferem ignorar, ou acusando a ciência e atecnologia científica, ignorando que elas de-veriam ser necessariamente assim, ignoran-do que elas foram usadas pervertidamente,ou então esquecendo que a função do filóso-fo, a função do cientista está em pensar anatureza das coisas. E é da natureza das coi-sas que nós devemos retirar reflexões cons-trutivas, porque a outra saída seria dar um tirona cabeça – e não é agradável fazer isso, nemcom o auxílio do médico.

O raciocínio, que deveria seguir regrascriadas pelo homem, acaba sendo dominadopelos meios para atingir os fins. Eles acabamafetando a estrutura da mente e a capacidadeexplicativa, lógica, científica, tecnológica oude qualquer outra natureza do conhecimento,das descobertas científicas, etc.

Portanto, a Universidade precisa se pre-parar para esse desafio. Quando se fala emespírito crítico, não se pensa apenas em com-bater uma burguesia de espírito estreito, taca-nho, que tornou um país rico num país mise-rável. Quando se fala em consciência crítica,está se pensando em coisas distintas também,e uma delas é essa: qual é a natureza dessepensamento que instrumentaliza a técnica paradepois ser escravizado por ela; que não sabe

para se tornar um povo capaz de universalizara cidadania e construir, dentro do País, ten-dências e modelos novos, pelos quais nós,brasileiros, daremos uma contribuição ao cres-cimento da civilização moderna.

Eu não quero ser chato, mas acho quevocês também não gostariam que eu esque-cesse um assunto que não pode ficar de lado.(Aqui há muita coisa que eu tenho que dei-xar de lado...) A Universidade de hoje não éa Universidade de 34, não é a Universidadeda época em que o Antonio Candido partici-pava na crítica literária e outras figuras sur-giam no cenário intelectual brasileiro. Não éa Universidade dos ditadores, não é a Uni-versidade dos nossos dias. É a Universidadeque se abre para o futuro no momento emque há uma civilização vinculada àquilo queeu chamo de “3a fase do capitalismomonopolista”, que é um capitalismo maiscruel do que foi o colonialismo direto dosséculos XVI, XVII e XVIII – conforme opaís da América Latina que se considere –,e, às vezes, até indo além, como no caso deCuba, de Porto Rico, pensando só neste uni-verso pisoteado da América Latina.

Essa é a Universidade que vive esse mo-mento de extrema grandeza na história da hu-manidade, mas que, ao mesmo tempo, é ummomento terrível, porque o capital já não reti-ra o excedente econômico apenas do trabalho.É um erro supor que o trabalho não é a fonte doexcedente econômico, que há uma interaçãodialética entre capital e desenvolvimento daempresa, e que, portanto, trabalho e capital sãoentidades articuladas. Nós estamos numa eraem que essa exploração é muito mais forte emuito mais profunda, porque o capital avançaatravés da tecnologia dos computadores, daautomação e da robotização para outro pata-mar da história, no qual está cabendo a estahumanidade do ocidente ou se desvanecer ouse refundir e se recriar.

Eu não gostava muito de Oswald Spengler:era um pensador que nós vimos como quemé obrigado a tomar um litro de óleo de rícino.Mas ele fez muitas reflexões importantes, e,entre elas, essa de que a civilização ocidentalenfrentava os riscos de uma era de decadên-cia. Isso é verdade hoje, está patente, porquea periferia das grandes nações centrais, dos

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barbaria parecia o produto de pequenas “tri-bos selvagens”. Os conquistadores encontra-ram selvagens que comiam carnes humanas.E o que nós fazemos hoje? O que fazem osEstados Unidos querendo uma guerra igua-lha, criando uma guerra aqui, outra lá? Que-rendo transformar a ONU, de um instrumen-to de paz, num meio de guerra, usando má-quinas mortíferas que aniquilavam milharesde pessoas em segundos e que, depois, eramenterradas sem que se pudesse separar vivosde mortos. O que vai interessar fazer isso?

Portanto, à Universidade cabe um papelde renovação, que coligue com o conceitocapitalista de globalização. Globalização domercado não é globalização da cultura, não églobalização do espírito crítico. É globa-lização do lucro, da turbinação das naçõespoderosas sobre as nações mais frágeis, e, àsvezes insensivelmente, nações que estavamsubindo para o 1o mundo se viram lançadasem prantos inventados do exterior, manipu-lados do exterior, que resultavam em terrí-veis crises, que custam fome, perda de em-prego, falta de perspectiva para o futuro,animalização daqueles que não podem, atra-vés do trabalho, chegar à consciência do queé a natureza humana.

O homem falha. Essa é a condição, é apremissa de outro tipo de homem, que é ohomem político, o homem da razão, o ho-mem que pensa, que cria, que é agente sólidoe que hoje só pode ser pensado numa escalade grandeza muito ampla.

(Eu tomei umas notinhas aqui no papelque nem servem de guia, servem de desorien-tação...)

Sem alongar mais esta exposição, que eureconheço que está se tornando maçante, nóstemos que rever a Universidade, a nossa idéiade Universidade, o grau de prioridade que eladeve ter para o Brasil. Temos de indagar se oBrasil tem alguma perspectiva dentro dessacivilização, se nós não temos a capacidade deconstruir uma Universidade nova como ali-cerce da renovação, da civilização, no senti-do exato de eliminar a barbaria e de criar umasociedade verdadeiramente democrática,igualitária, e na qual prevaleça a felicidadehumana.

Muito obrigado a todos.

mais trabalhar sem computadores, e pelo qual,muitas vezes, muitos países deixam de lado apesquisa básica, construída com base na ima-ginação científica ou filosófica ou artística,para se conduzir através dessa tecnologia.

Haveria muita coisa a dizer sobre isso. AUniversidade de São Paulo tem seus núcleosde estudos avançados, e é preciso, nesses nú-cleos avançados, não apenas recuperar a idéiade uma comunidade de escolas, de acadêmi-cos, de professores, a idéia que floresceu nacabeça do historiador que se tornou norte-americano, Frank Tannenbaum, que se espe-cializou no estudo da História do México. AsUniversidades não são mais humanidades, nósnão vemos professores, estudantes e pessoasque estão fora desse circuito debaterem deuma maneira viva o conhecimento ou as uto-pias. Cada qual quer tomar nota de suas aulaso mais depressa que pode, ou então desempe-nhar o papel obtido pelo professor que deve-ria ensinar. Ou seja, querem todos terminarlogo o trabalho de grupo de estar esperandouma dada realidade que lhes foi imposta comoobjeto de discussão.

A Universidade se massificou. Mas isso querdizer que a massificação nessa civilização exi-ge a Universidade, exige o pensamento crítico,exige novos instrumentos de conhecimento quesão proporcionados por essa tecnologia; mastambém deve criar instrumentos de invençãoque coloquem na mão, ou melhor, na cabeçados investigadores a capacidade de produção,para que eles não sejam massas de trabalhobarato para o grande capital financeiro, para asgrandes empresas internacionais. E essa neces-sidade aparece em outros níveis, como o do com-portamento político.

Esta sociedade de massas não é uma soci-edade de renegados, é uma sociedade de se-res humanos. Quem educará os educadores?O que ficará do educador, nesta Universida-de, se ele não souber realizar a sua vocaçãotrabalhando com salas de aulas de 800 pesso-as, de 1.000 pessoas, de 2.000 pessoas? Nãoé necessário difundir manuais superficiais queemasculam o pensamento e, ao mesmo tem-po, divorciam a consciência humana do vir aser da criação de uma sociedade nova e, prin-cipalmente, da separação terrivelmente ame-açadora dessa civilização com a barbaria. A