custas e fatores do desfecho de … batista vila-nova da silva custas e fatores do desfecho de...

191
DIONE BATISTA VILA-NOVA DA SILVA CUSTAS E FATORES DO DESFECHO DE PROCESSOS JUDICIAIS EM CIRURGIA PLÁSTICA NO RIO GRANDE DO SUL. Dissertação apresentada à Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação em Cirurgia Plástica. SÃO PAULO 2011

Upload: voquynh

Post on 28-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • DIONE BATISTA VILA-NOVA DA SILVA

    CUSTAS E FATORES DO DESFECHO DE

    PROCESSOS JUDICIAIS EM CIRURGIA

    PLSTICA NO RIO GRANDE DO SUL.

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal de So Paulo Escola Paulista de

    Medicina para obteno do Ttulo de

    Mestre em Cincias pelo programa de

    ps-graduao em Cirurgia Plstica.

    SO PAULO

    2011

  • DIONE BATISTA VILA-NOVA DA SILVA

    CUSTAS E FATORES DO DESFECHO DE

    PROCESSOS JUDICIAIS EM CIRURGIA

    PLSTICA NO RIO GRANDE DO SUL.

    Dissertao apresentada

    Universidade Federal de So

    Paulo Escola Paulista de

    Medicina para obteno do

    Ttulo de Mestre em Cincias

    pelo programa de ps-graduao

    em Cirurgia Plstica.

    ORIENTADOR: Prof. Dr. FBIO XERFAN NAHAS

    CO-ORIENTADOR: Prof. GAL MOREIRA DINI

    CO-ORIENTADOR: Prof. RODOLPHO ALBERTO

    BUSSOLARO

    SO PAULO

    2011

  • Vila-Nova da Silva, Dione Batista.

    Custas e fatores do desfecho de processos judiciais em Cirurgia Plstica no Rio Grande do Sul. Dione Batista Vila-Nova da Silva. So Paulo, 2011.

    XIV, 170f.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de So Paulo. Programa de Ps-Graduao em Cirurgia Plstica. Ttulo em ingls: The costs and the factors of outcomes in litigation against Plastic Surgery in Rio Grande do Sul.

    1.Direito Civil. 2.Processo Legal. 3.Cirurgia Plstica. 4.Custos e Anlise de Custo. 5.Erros Mdicos.

  • III

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    CIRURGIA PLSTICA

    COORDENADOR: Prof. Dr. MIGUEL SABINO NETO

  • IV

    DEDICATRIA

    Ao Senhor meu DEUS.

    As pessoas que acreditaram no meu trabalho e sempre me incentivaram no

    intuito de sua finalizao. As dificuldades que fortaleceram a vontade de

    vencer.

    Homenagem pstuma: (Me) Antonia Vila-Nova da Silva, (Pai) Manoel

    Batista Pereira da Silva, (Irm) Diva Vila-Nova Aniceto, (Me adotada)

    Norma Severina Pompeu Pumar, (Irmo) Manoel Batista Vila-Nova da

    Silva.

    Professor Doutor Armando Fortuna, que sempre me ajudou neste estudo.

    Antonio Lessa amigo e professor que esteve presente nos momentos de

    trabalho.

    Ademir Narciso e Anglica Bogatzky, queridos amigos que me apoiaram.

    Aos amigos da ps-graduao que trilham pelos mesmos caminhos.

    Ao Professor Doutor ngelo Sementilli, que nunca me deixou desistir.

    A todos os meus amigos do Centro Esprita Chico Xavier.

    A professora Jocelina Carpes da Silva Rodrigues, amiga e advogada de

    todas as horas. Sempre pronta a ajudar nas dificuldades.

    A professora Tania Vasques pela competncia e pacincia no Ingls.

    A todas as pessoas que contriburam direta ou indiretamente para

    finalizao deste trabalho.

  • V

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Doutor MIGUEL SABINO NETO, COORDENADOR DO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA, pela

    conduta tica e profissional no Programa de Ps-Graduao, dando

    continuidade alta qualidade e propriedade das gestes anteriores,

    possibilitou a realizao desta tese do seu incio ao fim.

    Professora Doutora LYDIA MASAKO FERREIRA, PROFESSORA

    TITULAR DA DISCIPLINA DE CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP.

    Ao Professor Doutor FBIO XERFAN NAHAS, PROFESSOR

    ORIENTADOR DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    CIRURGIA PLSTICA, PROFESSOR AFILIADO DA DISCIPLINA DE

    CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pelas correes realizadas nesta

    tese, sem as quais no seriam ultimadas.

    Ao Professor GAL MOREIRA DINI, PROFESSOR CO-ORIENTADOR

    DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA,

    PROFESSOR AFILIADO DA DISCIPLINA DE CIRURGIA PLSTICA

    DA UNIFESP, pela co-orientao e correes realizadas nesta tese, sem as

    quais no seriam ultimadas.

  • VI

    Ao Professor e amigo RODOLPHO ALBERTO BUSSOLARO, CO-

    ORIENTADOR e EX-ALUNO DE DOUTORADO DO PROGRAMA DE

    PS-GRADUAO EM CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pela

    colaborao na redao do texto desta dissertao e de artigos derivados

    deste estudo.

    amiga MARIA JOS AZEVEDO DE BRITO ROCHA, ALUNA DE

    DOUTORADO DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    CIRURGIA PLSTICA DA UNIFESP, pela colaborao na redao desta

    dissertao e de artigos derivados deste estudo.

    s secretrias: SANDRA DA SILVA, SILVANA APARECIDA DA

    COSTA E MARTA REJANE DOS REIS SILVA, pela

    inestimvel participao direta e indireta no desenvolvimento deste

    trabalho.

    Aos PS-GRADUANDOS DO PROGRAMA DE PS GRADUAO

    EM CIRURGIA PLSTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO

    PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA, pelo incentivo e

    amizade.

  • VII

    CONFIA SEMPRE

    No percas a tua f entre as sombras do mundo.

    Ainda que teus ps estejam sangrando, segue para frente, erguendo-a por

    luz celeste acima de ti mesmo.

    Cr e trabalha.

    Esfora-te no bem e espera com pacincia.

    Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do cu permanecer.

    De todos os infelizes, os mais desditosos so os que perderam a confiana

    em Deus e em si mesmos, porque o maior infortnio sofrer a privao da

    f e prosseguir vivendo.

    Eleva, pois, o teu olhar e caminha.

    Luta e serve.

    Aprende e adianta-te.

    Brilha a alvorada alm da noite.

    Hoje, possvel que a tempestade te amarfanhe o corao e te atormente o

    ideal, aguilhoando-te com a aflio ou ameaando-te com a morte ...

    No te esqueas, porm, de que amanh ser outro dia.

    Mei Mei & Xavier (1972)

  • VIII

    SUMRIO

    DEDICATRIA ........................................................................................IV

    AGRADECIMENTOS ................................................................................V

    EPGRAFE ...............................................................................................VII

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................IX

    LISTA DE QUADROS E TABELAS .......................................................XI

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS .......................................XIII

    RESUMO ..................................................................................................XX

    1. INTRODUO ......................................................................................01

    2. OBJETIVO..............................................................................................05

    3. LITERATURA........................................................................................07

    4. MTODOS..............................................................................................15

    5. RESULTADOS.......................................................................................26

    6. DISCUSSO...........................................................................................41

    7. CONCLUSO.........................................................................................61

    8. REFERNCIAS......................................................................................63

    9. ARTIGOS PUBLICADOS......................................................................72

    10. NORMAS ADOTADAS.......................................................................77

    11. ABSTRACT..........................................................................................79

    12. APNDICES.........................................................................................81

    13. ANEXOS.............................................................................................121

    14. FONTES CONSULTADAS...............................................................169

  • IX

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza o cone

    Jurisprudncia..........................................................................18

    Figura 2- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza os campos de

    pesquisa para preenchimento..................................................19

    Figura 3- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam: 1. Inteiro

    teor e 2. Nmero do processo..................................................20

    Figura 4- Frequncia das aes contra mdicos que realizaram cirurgia

    plstica no Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no

    perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008...................................28

    Figura 5- Custas totais em Reais dos processos contra mdicos que

    realizaram cirurgia plstica no Tribunal de Justia do Rio

    Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008........29

    Figura 6- Valores mdios anuais em Reais das aes contra Cirurgia

    Plstica no Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no

    perodo de janeiro 2000 a dezembro de 2008 ........................30

    Figura 7- Correlao entre o laudo pericial favorvel ao mdico (20) e ao

    paciente (18) e o acatamento desse parecer pelo juiz. Em 30%

    o juiz divergiu do laudo pericial favorvel ao mdico e houve

  • X

    divergncia em 10% quando o laudo favorecia ao

    paciente....................................................................................32

    Figura 8- Correlao da condenao com o pronturio mdico e o termo

    de consentimento informado...................................................33

    Figura 9- Em mais de 50% das aes (22 de 39) o Juiz concedeu justia

    gratuita.....................................................................................38

  • XI

    LISTA DE QUADROS E TABELAS

    Quadro 1 Custas de sentenas..................................................................25

    Tabela 1 Critrios utilizados como incluso e no incluso...................18

    Tabela 2 Medidas-resumo das custas anuais mdias, totais e nmero de

    processos...................................................................................28

    Tabela 3 Distribuio dos especialistas por quantidade de processos

    2000-2008...............................................................................31

    Tabela 4 Distribuio dos pacientes por laudo, pronturio e termo de

    consentimento informado........................................................35

    Tabela 5 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis

    ao mdico segundo sentena ..................................................36

    Tabela 6 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis

    ao mdico segundo sentena, excluindo-se a situao do

    pronturio ...............................................................................37

    Tabela 7 Frequncia e percentual das operaes em cirurgia plstica

    envolvidas nos processos contra mdicos do Rio Grande do

    Sul entre 2000 e 2008 .............................................................39

  • XII

    Tabela 8 Frequncia das queixas alegadas pelos pacientes, das cirurgias

    plsticas realizadas .................................................................40

  • XIII

    LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS, SMBOLOS

    E TERMOS JUDICIAIS UTILIZADOS

    AJG Assistncia Judiciria Gratuita.

    Art Artigos.

    CDC Cdigo de Defesa do Consumidor.

    CEM Cdigo de tica Mdica.

    CF Constituio Federal.

    CP Cdigo Penal.

    CPC Cdigo de Processo Civil.

    CREMESP Conselho Regional de Medicina do Estado

    de So Paulo.

    ECA Estatuto da Criana e do Adolescente.

    GAASP Guia da Associao dos Advogados do

    estado de So Paulo.

    IGP-M ndice Geral de Preos Mercado.

    MP Ministrio Pblico

    NCC Nascie

    OAB Ordem dos Advogados do Brasil.

    PMMA Poli-Metil-Meta-Acrilato.

    RS Rio Grande do Sul.

    SUS Sistema nico de Sade.

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justia

    STJ/SP Superior Tribunal de Justia de So Paulo.

  • XIV

    TCI Termo de Consentimento Informado.

    TJ Tribunal de Justia.

    TRF Tribunais Regionais Federais.

    UFIR Unidades Fiscais de Referncia.

    UNIFESP Universidade Federal de So Paulo.

    Pargrafo

    And e

    Agravo de Instrumento um tipo de recurso previsto no cdigo de

    processo civil. Pode ser utilizado em

    decises que no so sentenas, que no

    pem fim ao processo. usado, por

    exemplo, quando o Juiz no concede um

    pedido de antecipao de liminar e o

    advogado de defesa tenta reverter deciso.

    Apelao recurso que a parte prejudicada por sentena

    definitiva ou que tenha a mesma fora

    proferida por Juiz interior, interpe em

    tempo hbil para a segunda instncia a fim

    de que este a reexamine e julgue.

    Acrdo a deciso judicial proferida em recurso nos

    Tribunais.

    Custa Judicial quando se ingressa com uma ao preciso

    recolher um valor inicial para a justia.

  • XV

    Citao ato, a requerimento do autor para que o Juiz

    ordene e o oficial de justia execute o

    chamamento a juzo do ru ou do

    interessado, a fim de que defenda seus

    direitos e interesses, se assim lhe aprouver.

    Carta Precatria realizao de prova testemunhal ou pericial

    em jurisdio alheia do Juiz que preside a

    causa.

    Demanda ao cvel judicial.

    Diligncia custas para o oficial de justia citar ou

    intimar a parte contrria. Emolumentos de

    cartrio.

    Deferido quando o Juiz concorda com um pedido, ele

    deferido.

    Deciso interlocutria os incidentes do processo so resolvidos pelo

    prprio juzo ou tribunal, admitindo-se a

    apreciao do merecimento das decises

    interlocutrias (despacho deferido no

    decurso de uma ao). Somente em recurso

    da deciso definitiva.

  • XVI

    Embargos execuo o tipo de ao parecido com a contestao.

    Pode versar sobre a autenticidade de ttulo

    extrajudicial, como uma nota promissria ou

    um cheque, ou sobre valores de crdito

    Edital ato escrito divulgado pela imprensa e afixado

    em lugar pblico na sede do juzo ou aviso

    emanado de autoridade competente.

    Instncia o foro de que h apelao.

    Inteiro teor transcrio integral, com todos os elementos

    constantes de registro.

    Improcedente quando o Juiz nega o pedido, ou seja,

    considera que os autores do processo no

    tm direito ao que pedem.

    Jurisprudncia termo jurdico que significa conjunto de

    decises e interpretaes das leis.

    Juiz inferior Juiz que julga na 1 instncia.

    Litgios pendncias pertinentes a uma ao. So as

    discordncias entre as partes (autor/ru) que

    compem um processo judicial.

  • XVII

    Normalmente se discutem litgios nas reas

    de direito do trabalho e civil.

    Mandato judicirio aquele mandato especial com poderes

    limitados, que a autoridade judiciria, no

    interesse da justia, defere a algum para que

    exera o cargo ou funo meramente

    judicial.

    Oficial de justia auxiliar da justia que, por mandado do Juiz

    ou por fora de lei, efetua citaes e

    intimaes e autos das diligncias que efetua

    dentro da circunscrio judiciria em que

    exerce as suas funes e de outras funes

    explicitas em lei.

    Procedente quando o Juiz decide algo positivamente.

    reconhecer e conceder o direito de busca. s

    vezes o Juiz julga que algo procedente em

    parte do que foi pedido, negado o restante.

    Porte de remessa e

    retorno

    pagamento das custas judiciais para

    viabilizar o recurso.

    Processo o movimento dos atos da ao em juzo.

  • XVIII

    Pessoa jurdica aquela que, sendo incorprea,

    compreendida por uma entidade coletiva ou

    artificial, legalmente organizada, com fins

    polticos, sociais, econmicos e outros, a que

    se destine, com existncia autnoma,

    independente dos membros que a integram.

    sujeita, ativa ou passivamente, a direitos e

    obrigaes.

    Pecnia dinheiro.

    Recurso um remdio jurdico, meio de demonstrar

    ao Juiz o inconformismo em relao a uma

    deciso por ele proferida, seja ela final

    (sentena), ou no. uma oportunidade para

    uma nova na analise do caso.

    Recurso especial o recurso prprio do Superior Tribunal de

    Justia, para conhecer as causas decididas

    pelos Tribunais Regionais Federais ou

    Tribunais do Estado.

    Recurso extraordinrio o recurso de natureza constitucional, da

    competncia do Supremo Tribunal Federal,

    cabvel das causas decididas em nica

    instncia ou ltima instncia por outros

    tribunais.

  • XIX

    Responsabilidade

    objetiva

    a responsabilidade sem culpa, para sofrer as

    consequncias penais da conduta, no

    necessrio caracterizar-se a culpabilidade.

    Responsabilidade

    subjetiva

    a responsabilidade caracterizada pela

    imprudncia, impercia ou negligncia de

    quem causou.

    Sucumbncia perda, derrota; s quem vencido em sua

    pretenso debatida pode interpor recurso.

  • XX

    RESUMO

    Introduo: O nmero de processos contra mdicos aumentam no mundo,

    especialmente contra cirurgies plsticos. Custas so despesas obrigatrias

    do processo, o nus financeiro gerado mensurvel indiretamente pelo seu

    valor. O desfecho do processo dado pela condenao ou absolvio do

    mdico. No h, na literatura, estudo de clculo das custas em cirurgia

    plstica. Objetivo: Quantificar as custas de demanda mdico/paciente e

    avaliar suas caractersticas. Mtodos: Na pgina do Tribunal de Justia do

    Rio Grande do Sul, verificou-se dados do inteiro teor de processos contra

    Cirurgia Plstica entre 2000 e 2008. Compuseram os valores das custas:

    honorrios advocatcios, percentual do valor da causa (1%), oficial de

    justia, mandato judicial, edital, laudo pericial, agravo e apelao.

    Anotaram-se as caractersticas de 39 processos e adotou-se nvel de

    significncia estatstico (p) de 0,05. Resultados: As custas totais subiram

    de 8.927,80 reais (um processo em 2000) para 65.834,60 (oito processos

    em 2008), p=0,03; o valor mdio por processo (R$4.917,50 e R$12.779,40)

    manteve-se estvel ao longo dos anos (p=0,97). Os fatores elencados pelo

    juiz para a sentena e sua frequncia foram: pronturio mdico ruim em 22;

    termo de consentimento ausente em 17; laudo pericial favorvel ao

    paciente em 18. O mdico foi condenado em 22 processos. Concluso: O

    nmero de processos anuais aumentou. As custas tiveram o valor mdio

    constante que variou de R$4.917,50 e R$12.779,40. Os fatores que

    influenciaram no desfecho foram: cirurgias estticas, pronturio mdico

    ruim, termo de consentimento ausente e laudo pericial desfavorvel.

  • INTRODUO

  • Introduo

    2

    1. INTRODUO

    O direito de questionar danos materiais e morais decorrentes de

    procedimentos mdicos est assegurado juridicamente e citado no artigo

    29 do Cdigo de tica Mdica (CDIGO DE TICA MDICA, 2009) e

    no artigo 186 e 951 do Cdigo Civil (FIUZA et al, 2005). tambm

    mencionado no terceiro e quarto pargrafos do artigo 121 e no artigo 129

    do Cdigo Penal (DELMANTO, 1991) e no quarto pargrafo do artigo 14

    do Cdigo de Defesa do Consumidor (GRINOVER et al, 2004).

    Processos contra mdicos ocorrem em grande nmero de pases

    (PATAN & PATAN, 1996), seu nmero cresce rapidamente (B-

    LYNCH et al, 1996; MAVROFOROU et al, 2004) tomando grandes

    propores devido s rpidas mudanas de valores da sociedade

    (MACGREGOR, 1984).

    O Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo

    (CREMESP) acolheu 1.874 denncias contra mdicos em 1998 e em

    menos de uma dcada em 2007, foram 4.498 (aumento de 240%) e a

    Cirurgia Plstica foi especialidade mais envolvida durante o ano de 2008

    (CREMESP, 2008).

    Parte dessas denncias transformou-se em processos de

    responsabilidade civil. No Superior Tribunal de Justia do Estado de So

    Paulo, em 2002 foram 120 processos protocolados no (STJ-SP) e em 2008

    foram 398 (aumento de 332%). (TRIBUNAL JUSTIA, 2008)

    Diante desse fenmeno social, a comunidade mdica transformou-se

    e ocorreram mudanas para mdicos, pacientes e sistema de sade

    (MELLO et al, 2005; STUDDERT et al, 2005). O prejuzo financeiro

  • Introduo

    3

    decorrente deste problema aumenta a insegurana de todos indistintamente

    (ZULIANI, 2006).

    Com o objetivo de diminuir o nmero de litgios, requerem-se

    condutas conjuntas da sociedade (PATAN & PATAN, 1996), bem como

    individuais da categoria mdica (BRANCHET, 2003; SHIFFMAN, 2005;

    ROHRICH, 2007).

    A complicao um evento inerente aos procedimentos mdicos

    (FERRAZ, 2006). Todo mdico enfrenta, a cada cirurgia, o risco de ser

    processado (PATAN & PATAN, 1996).

    O conhecimento do sistema jurdico e seu funcionamento so

    necessrios para auxiliar a todos na busca pela reduo dos processos

    (MAVROFOROU et al, 2004) e consequentemente a reduo dos gastos

    envolvidos.

    O nus financeiro do dano moral pode ser estimado parcialmente

    pelas custas processuais, valor calculado pela intensidade da culpa e do

    dano e consequncia suportada pelo ofendido (GOUVA & SILVA, 2005).

    O aprimoramento da legislao sistemtica constitucional vigente

    faz-se necessria para os direitos e garantias fundamentais da Constituio

    Federal (PINTO et al, 2005). As custas processuais e sua interferncia no

    ordenamento jurdico permitem livre acesso justia pelo processo legal

    garantindo a plena cidadania (PRUDENTE, 1994). O Estado prestar

    assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia

    de recursos (PINTO et al, 2005).

    Custas so despesas judiciais relativas informao, propulso e

    determinao do processo; taxas de lei, carregadas ao vencido

    independentemente de condenao; so gastos das partes por qualquer

    razo de procedimento, diferem da indenizao que a reparao de perdas

  • Introduo

    4

    e danos decorrentes da infrao penal (HORCAIO, 2006). Pode at no

    haver indenizao, porm para a existncia de um processo, sempre haver

    custas. Um por cento do valor da causa constitui o preo inicial das custas

    que recai sobre as duas partes envolvidas e um valor que pode variar

    bastante (NEGRO & GOUVA, 2007).

    Caber s partes prover as despesas dos atos que realizam ou

    requerem, antecipando-lhes o pagamento desde o incio at ao final e na

    execuo, at a plena satisfao do direito declarado pela sentena. O

    pagamento ser por ocasio de cada ato processual. Compete ao autor

    adiantar as despesas relativas a atos, cuja realizao o juiz determinar de

    ofcio ou a requerimento do Ministrio Pblico. A parte perdedora sempre

    arcar com este nus, mas a parte vencedora no ser restituda deste valor

    nos casos de justia gratuita (NEGRO & GOUVA, 2007).

    O nus financeiro, gerado pelas aes contra a cirurgia plstica,

    mensurvel indireta e parcialmente pelo valor das custas citado nas

    sentenas definitivas publicadas pelo sistema judicirio. E so acessveis no

    endereo eletrnico do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul. Essa

    informao til e imprescindvel para a Cirurgia Plstica e para a

    sociedade brasileira que vivenciam o fenmeno do crescimento de aes

    bem como o conhecimento das caractersticas das aes judiciais.

  • OBJETIVO

  • Objetivo

    6

    2. OBJETIVO

    Quantificar custas processuais e analisar os fatores que

    influenciaram no desfecho de demanda mdico/paciente em

    Cirurgia Plstica.

  • LITERATURA

  • Literatura

    8

    3. LITERATURA

    PRUDENTE (1994) analisou o conceito de custas processuais.

    Segundo o autor, este conceito era fundamental para o exerccio do direito

    e acesso justia mediante garantia do processo legal e plenitude da

    cidadania. Custas processuais seriam as despesas ou gastos necessrios

    para se iniciar, desenvolver e terminar um processo, nos termos legais. Elas

    eram regidas pelo princpio do adiantamento das despesas e da

    responsabilidade objetiva do vencido, que deveria arcar com todo nus da

    sucumbncia. Os honorrios advocatcios eram custas processuais e seriam

    pagas pelo vencido. A exceo legal favorecia os beneficirios da justia

    gratuita, no se incluindo as entidades da Fazenda Pblica. A

    responsabilidade pelo pagamento das custas seria individual, nos termos do

    artigo 5 da Constituio Federal em seu inciso LXXIV.

    B-LYNCH et al (1996) analisaram, de forma prospectiva 500

    processos contra mdicos atuantes em Ginecologia e Obstetrcia entre 1984

    e 1994 no Reino Unido, Irlanda e Hong Kong, com o objetivo de identificar

    as principais causas de litgio. Os autores consideraram o teor das queixas

    dbio em 46% dos casos. As causas apontadas foram: m qualidade no

    atendimento, a falta de comunicao e compreenso tanto em relao ao

    atendimento como s intercorrencias clnicas e ao funcionamento

    hospitalar, e ainda a influncia de terceiros na deciso de mover um

    processo. Concluram que, as falhas na comunicao entre mdico e

    paciente representaram a causa principal dos litgios e sugeriram que, a

    melhora deste aspecto poderia prevenir e evitar este tipo de transtorno.

  • Literatura

    9

    MAVROFOROU et al (2004) avaliaram o alto ndice de problemas

    que envolviam a cirurgia plstica com a lei, e o valor do Termo de

    Consentimento Informado como medida de proteo profissional. Os

    autores afirmaram que a demanda por cirurgia cosmtica parecia

    concentrar-se numa classe de nvel socioeconmico elevado. Entretanto, a

    cirurgia plstica cosmtica estava exposta a um nmero alto de demandas

    judiciais. A maior parte das reclamaes no era consequncia de falhas

    tcnicas, mas da falta de triagem na seleo dos pacientes e da dificuldade

    em estabelecer uma comunicao apropriada. Os autores sugeriram que, a

    adoo do Termo de Consentimento Informado, com os devidos

    esclarecimentos ao paciente, era de fundamental e necessria importncia,

    sobretudo, no caso de litigncia jurdica.

    SHIFFMAN (2005) investigou a responsabilidade civil em um

    quadro social especfico: disputas de mercado entre especialidades, que

    resultavam no incentivo a processos judiciais de pacientes contra mdicos.

    O autor salientou nos procedimentos cosmticos falhas na qualidade do

    relacionamento mdico/paciente, no Termo de Consentimento Informado,

    nas informaes da histria pregressa (anamnese), com os procedimentos

    cirrgicos, no diagnstico e no tratamento de complicaes, bem como na

    falta de um laudo pericial adequado. As queixas, que expressaram as

    principais demandas, permitiram analisar o grau de responsabilidade da

    cirurgia plstica (esttica), tendo como principal objetivo a preveno e

    soluo dos problemas apresentados. As recomendaes foram as

    seguintes: 1 O mdico deveria explicar os riscos possveis e complicaes

    referentes cirurgia, 2 As explicaes e recomendaes dadas ao paciente,

    deveriam ser documentadas por escrito; 3 A assinatura do consentimento

    mdico informado deveria ser seguida da seguinte frase: O paciente

  • Literatura

    10

    afirmou ter lido e entendido todo o material e assinou. Todas as questes

    foram respondidas., 4 No dia da operao, o profissional deveria

    conversar com o paciente e fortalecer um vinculo de confiana.

    MALLARDI (2005) relacionou a origem do Termo de

    Consentimento Informado ao aspecto moral, religioso e avano da

    biotecnologia. Segundo o autor, Hipcrates se preocupava que o paciente

    nunca fosse negligenciado do dever profissional de se fazer o melhor. Na

    civilizao egpcia, gregos e romanos apresentavam os princpios

    fundamentais em relao doena: cuidar para melhorar e no para causar

    danos. O Termo de Consentimento Informado teve origem nos EUA, ainda

    no sculo 18, que estabelecia o foco no direito do paciente informao.

    Assim, no incio do sculo 19, uma srie de aes legais em

    responsabilidade mdica induziu magistrados italianos a adotar postura

    rgida. Todavia, foi em 19 de dezembro de 1946 os juzes americanos

    definiram o Cdigo de Nuremberg: a cincia nunca deveria transformar ou

    considerar o ser humano como instrumento para propsitos cientficos. O

    cdigo de Nuremberg foi revisado no artigo 32 da Constituio. Entretanto,

    documentos mostraram evidncias anteriores a este cdigo, onde o uso do

    consentimento j era usado em cirurgias.

    FERRAZ (2006) relatou quando um tratamento mdico no

    apresenta bons resultados frequente a duvida se o insucesso foi um mal

    resultado ou um erro mdico. O tratamento mdico no isento de risco. A

    cirurgia esttica tem o agravante de ser realizada em pessoa sadia.

    Recentemente representantes do judicirio tm considerado que a ausncia

    do termo de responsabilidade poderia ser considerada como negligncia

    mdica. Dentre as figuras dos Cdigos Civil e Penal a impercia

    teoricamente mais fcil de ser imputada, sendo muito importante

  • Literatura

    11

    considerar a experincia e os resultados prvios do cirurgio no tipo de

    procedimento realizado. A complicao um evento inerente aos

    procedimentos mdicos e deve ser cuidadosamente separados dos casos em

    que ocorre negligncia, impercia ou imprudncia que caracterizam o erro

    mdico.

    ROHRICH (2007) analisou o valor da culpa, frente a um erro mdico

    em cirurgia plstica, com o objetivo de reduzir custos financeiros para os

    profissionais. Desta forma, implantou um programa de reeducao mdica,

    aplicado ao quadro clnico profissional do hospital da Universidade de

    Michigan (EUA). Os litgios sofreram uma reduo de 61,5%, aps a

    implementao destas medidas (www.sorryworks.net). O autor afirmou que

    o reconhecimento do erro por parte do mdico, ou mesmo o

    reconhecimento de uma complicao teve efeito benfico no vnculo de

    confiana e afetou de forma positiva a relao mdico-paciente.

    AMODEO (2007) relacionou o papel central do nariz na face e seu

    aspecto psicolgico. Na Sociedade Americana de Cirurgies Plsticos em

    2006, a rinoplastia foi a maior incidncia aps as cirurgias estticas na

    adolescncia. tambm a cirurgia mais requisitada por pacientes com

    transtorno dismrfico corporal. No banco de dados (Medline, Pubmed)

    foram selecionados 30 estudos. A reviso analisou o aspecto psicolgico na

    rinoplastia no sculo passado, considerando sua influncia. critico para o

    cirurgio a responsabilidade no fsico e psquico. Reconheceu-se a

    importncia dessa implicao e o cuidado da histria na seleo dos

    pacientes no pr-operatrio.

    ALDERMAN et al (2009) analisaram o uso do banco de dados

    nacional para avaliar as complicaes de abdominoplastias e colocao de

    prtese. De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgies Plsticos,

  • Literatura

    12

    mais de 148.000 abdominoplastias e 347.500 de prtese mamria so

    realizadas anualmente. A pesquisa foi de 2003 a 2007. As complicaes em

    abdominoplastias foram: 0,5% com hematoma, 0,7% de infeco e 0,1%

    com trombose venosa profunda/tromboembolismo. As complicaes em

    colocao de prtese foram: 0,7% de hematomas, 0,1% de infeco e

    menos de 0,01 de trombose venosa profunda/embolia pulmonar

    respectivamente. Chegaram concluso de que as complicaes para

    abdmen e prtese foram semelhantes. O baixo ndice se deve a segurana

    dos procedimentos feitos por cirurgies plsticos.

    Para FUJITA & SANTOS (2009) a cidadania refora os

    instrumentos de defesa dos direitos individuais. Os atuais modelos da sade

    diminuem a comunicao entre mdicos e pacientes. Cresce o nmero de

    queixas contra as atitudes mdicas, e o impacto social grande. Foi um

    estudo descritivo, retrospectivo, sobre as denncias formalizadas em Gois,

    entre 2000 e 2006. Leitura interpretativa da evoluo processual das

    queixas ajuizadas no Conselho e clculo da eficcia das aes dali

    decorrentes. No foi grande a flutuao na frequncia de reclamaes entre

    2000 e 2006; 62% das queixas alegaram incompetncia do profissional e

    inadequada relao mdico/paciente. O nmero de queixas em cirurgia

    plstica e ortopedia so iguais a 50% dos especialistas. Houve 73 denncias

    contra quatro profissionais da cirurgia plstica e um mdico foi denunciado

    49 vezes. Em 60% dos casos a denncia foi feita por pessoa fsica. Foram

    consideradas improcedentes 17% das denncias e 35% das restantes se

    transformaram em processos ticos (10% arquivados). O julgamento levou

    advertncia e censura em alguns casos e suspenso (5%) e cassao do

    direito (3%). Mais de 90% dos casos anuais foram resolvidos. O problema

  • Literatura

    13

    tem sido abordado com eficcia e eficincia, apesar de graves imperfeies

    na gesto do banco de dados, que impedem anlises qualitativas da questo.

    Segundo MARCHESI et al (2011) os procedimentos de cirurgia

    esttica esto aumentando em todo o mundo, e assim relacionados com

    questes mdico-legais e os casos de litgio. As mamoplastias estticas so

    frequentes e muitos casos de erro ocorrem. A maioria leva a processos

    judiciais onde os cirurgies plsticos raramente so exonerados. Cada caso

    baseado na avaliao de ambas as documentaes utilizadas pelo juiz e

    por dois especialistas envolvidos na avaliao do erro presumido. Os casos

    estudados (N = 50) foram divididos em 34 casos de mamoplastia de

    aumento, 11 casos de mamoplastia redutora, e cinco casos de mastopexia.

    A maioria dos problemas de queixa pelo pacientes estavam em fase pr-

    operatria e intra-operatria. Em apenas 10% dos casos, o consentimento

    informado foi contestado e uma expectativa de reduo dos danos foi

    individualizada em menos de metade dos casos. A avaliao do dano

    esttico uma questo complicada, devido a diferentes aspectos, tais como

    o componente psicolgico ou a frequente falta de documentao fotogrfica

    adequada do paciente antes da operao. Alm disso, sempre que possvel a

    reduo dos danos proposta, a vontade do paciente se submeter outra

    operao, com todos os seus custos e benefcios.

    Para SABOYE (2011) a cirurgia plstica o direito assistncia

    tambm se tornou jurisprudncia. Este direito obriga o cirurgio a tomar

    parte ativa na tomada de deciso de seu paciente. O contrato mdico

    obsoleto, pois a lei de 4 de maro de 2002. Assim, equipes mdicas so

    apenas responsveis se eles esto em falta. Por outro lado, a obrigao legal

    de estabelecer uma estimativa antes de operar e dar uma data de

    restabelecimento a constitui um contrato de consumo, entre o cirurgio e

  • Literatura

    14

    seu paciente. Talvez esta seja a razo pela qual o direito assistncia, que

    prtica comum em contratos comerciais ou de servios, agora tambm

    importante para o cirurgio plstico.

    LYU et al (2011) objetivando investigar os fatores-chave nas

    disputas mdica entre pacientes do sexo feminino aps a cirurgia cosmtica

    em Taiwan e para explorar as correlaes de litgio mdico. Um total de

    6.888 pacientes (3.210 pacientes de dois hospitais e 3.678 pacientes de

    duas clnicas) se submeteu a cirurgia esttica de janeiro de 2001 a

    dezembro de 2009. Dos 43 pacientes que tiveram uma disputa mdica

    (hospitais, 0,53%; clnicas, 0,73%), 9 demandantes entraram com uma ao

    contra os seus cirurgies plsticos. Tal resultado apresentou uma tendncia

    decrescente anual. Os hospitais e clnicas no diferiram significativamente

    em termos de perfis de pacientes. A maioria das pacientes com uma

    disputa mdica tinham mais de 30 anos, se divorciaram ou casaram, tinham

    realisado operaes sob anestesia geral, no tinham estresse econmico,

    tinham um histrico de litgios mdicos e, eventualmente, no processaram

    os cirurgies. Os resultados tambm mostraram que idade e experincia do

    mdico influenciaram na possibilidade de disputa mdica e no ao legal.

    As pacientes que decidiram entrar em litgio tiveram fatores relacionados:

    estresse marital e escolaridade sem nvel superior. Os resultados do estudo

    sugerem que as principais caractersticas dos pacientes e dos cirurgies

    devem ser consideradas no apenas na busca para melhorar a comunicao

    pr e ps-operatria, mas tambm como informao til para depoimento

    de um especialista no sistema de direito.

  • MTODOS

  • Mtodos

    16

    4. MTODOS

    4.1 DESENHO DE PESQUISA

    Este foi um estudo primrio, observacional, retrospectivo, analtico e

    no controlado. Foi realizado de forma consecutiva (no aleatria), sem

    mascaramento (aberto), a partir do endereo eletrnico do Tribunal de

    Justia do Rio Grande do Sul.

    O estudo foi realizado atravs do Programa de Ps-Graduao em

    Cirurgia Plstica da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP) e

    aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da UNIFESP sob o parecer:

    CEP 0619/07 em quatro de maio de 2007 (Apndice 1).

    4.2 CRITRIO DE INCLUSO E NO INCLUSO

  • Mtodos

    17

    Como critrio de incluso e no incluso foram considerados os

    seguintes itens. (Tabela 1).

    Critrios

    Incluso: No incluso:

    - processos de demanda

    mdico/paciente,

    - processos contra Cirurgia Plstica,

    - em primeira (1) e segunda (2)

    instncia,

    - da sentena definitiva da ltima

    instncia publicada,

    - processos em segredo de justia

    (sigilo em determinadas causas),

    - em andamento (sem sentena

    definitiva),

    - contra empresas de convnio

    mdico,

    - contra hospitais,

    - contra o Estado,

    Tabela 1 - Critrios utilizados como incluso e no incluso

    4.3 AMOSTRAGEM

    Foram selecionadas noventa e oito aes disponveis no endereo

    eletrnico: www.tjrs.jus.br no perodo de 01/01/2000 a 31/12/2008, que

    envolveram Cirurgia Plstica, publicadas no Dirio Oficial pelo Tribunal

    de Justia do Estado do Rio Grande do Sul. Foram estudadas com foco nas

    trinta e nove aes de demanda mdico/paciente.

    4.4 PROCEDIMENTOS

    http://www.tjrs.jus.br/

  • Mtodos

    18

    4.4.1 BUSCA DA AMOSTRA

    No endereo eletrnico do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul

    (www.tjrs.jus.br) seguiu-se pelo cone Jurisprudncia (Figura 1) que

    abriu o menu de pesquisa em: www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2 /index.php.

    .

    No campo Pesquisa livre digitaram-se as palavras Cirurgia

    Plstica e jurisprudncia. No campo Tribunal selecionou-se a opo

    Tribunal de Justia do R/S. Digitaram-se as datas 01/01/2000 at

    31/12/2008 no campo Data de Julgamento. (Figura 2).

    FIGURA 1- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localiza o cone Jurisprudncia.

    http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2%20/index.php

  • Mtodos

    19

    4.4.2 COLETA DE DADOS

    No campo do resumo onde estava escrito Inteiro Teor (Figura 3)

    foram encontrados os processos de 2 instncia e deles buscou-se o resumo

    das sentenas. Por meio do nmero do processo foram verificados os dados

    das custas na 1 instncia.

    FIGURA 2- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam os campos de pesquisa para preenchimento.

  • Mtodos

    20

    No nmero do processo, foram coletados os dados:

    - taxas cobradas no processo e resumo na 1 instncia.

    Por meio do inteiro teor de 2 instncia, foram obtidos os dados:

    - resumo de todas as sentenas que continham, nmero dos processos

    includos na demanda mdico/paciente,

    - data do julgamento,

    - procedimento(s) cirrgico(s) contemplando cirurgias combinadas ou no

    no mesmo paciente, frequncia das queixas relacionadas; 1. Cicatriz e

    forma. 2. Complicao. 3. Insatisfao do resultado. 4. Outros,

    - caractersticas das amostras; quantos mdicos foram demandados uma vez

    e quantos foram demandados mais de uma vez e desses quantos eram

    especialistas, e no especialistas,

    - laudo pericial, se era a favor do mdico ou a favor do paciente,

    - presena de termo de consentimento informado,

    - qualidade do pronturio mdico,

    FIGURA 3- Endereo eletrnico do Tribunal onde se localizam:1. Inteiro teor e 2. Nmero do processo.

  • Mtodos

    21

    - tipos de cirurgias que mais frequentemente levaram ao litgio,

    - sentena definitiva como procedente ou improcedente,

    - justia gratuita, se foi concedida ou no,

    - valores das custas em moeda corrente na sentena definitiva

    compreendendo a todas as instncias,

    Atravs do Inteiro teor do processo, foram coletadas todas as

    informaes acima citadas de forma escrita ou de maneira tcita no resumo

    da sentena do Juiz. Os dados de cada processo foram anotados em

    protocolo de coleta de dados, para se concretizar a pesquisa (Apndice 2).

    4.4.3 CLCULO DE CUSTAS DO ESTADO:

    Para efeito de clculo das custas foi considerado 1% do valor da

    causa, (taxa fixada pelo tribunal, e calculada mediante o preo total da ao

    inserida no contexto e presente no Inteiro teor encontrado no endereo

    eletrnico) como determinado pelo cdigo 230-6 do Guia da Associao

    dos Advogados do estado de So Paulo (GAASP, 2008) fundamentado pelo

    Cdigo de Processo Civil. (NEGRO & GOUVA, 2007).

    Tambm compuseram s custas, as taxas de selo e registro (relativas

    aos atos processuais) e os valores:

    - emolumentos de cartrio e dos oficiais de justia,

    - honorrios dos advogados (nos casos que houve condenao os

    honorrios advocatcios foram fixados nos termos, citado no Artigo 20

    Pargrafo terceiro do Cdigo de Processo Civil de NEGRO &

    GOUVA, 2007). Os honorrios foram fixados entre o mnimo de 10% e

    o mximo de 20% sobre o valor da condenao (o Juiz determina a

  • Mtodos

    22

    percentagem sobre o total da sentena e das custas), atendidos: o grau de

    zelo do profissional, o lugar de prestao do servio, a natureza e

    importncia da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo

    exigido para o seu servio.

    - despesas com testemunhas, peritos e diligncias.

    As despesas acima citada esto fundamentadas conforme as taxas

    legais referentes aos atos de que se trate. Ou conforme a quantia efetiva da

    despesa considerada ou, ainda, conforme a avaliao do juiz (PRUDENTE,

    1994).

    O valor pago ao oficial de justia (emolumento), foi estipulado pelo

    tribunal em R$ 11,84. O valor estipulado pelo tribunal para o mandato

    judicial foi de R$ 8,30 conforme o cdigo 304/9. So taxas fixadas pelo

    tribunal segundo as tabelas. Todos os valores foram calculados mediante os

    nmeros das sentenas presentes em cada resumo de inteiro teor.

    4.4.2.2 CUSTAS RELATIVAS S PROVAS:

    Nos casos onde exigiram prova pericial, o valor dos honorrios do

    perito ficou a critrio do Juiz. Este valor variou de R$ 1.000,00 a R$

    3.000,00. Os Artigos 145 a 147 do Cdigo de Processo Civil mencionam

    que: quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou

    cientfico, o Juiz ser assistido por perito, segundo o disposto no artigo

    421- (NEGRO & GOUVA, 2007).

    4.4.2.3 CUSTAS DOS RECURSOS:

  • Mtodos

    23

    O agravo um recurso que se interpe, para a instncia superior, de

    deciso interlocutria e nos casos especificados na lei, de sentenas

    definitivas a fim de que ali seja modificado ou reformado o veredicto do

    Juiz inferior. (Lei 5.869/73, Cdigo de Processo Civil de NEGRO &

    GOUVA, 2007). Segundo o GAASP no Cdigo 110-4, o porte de remessa

    deste recurso foi de R$ 10,48.

    A apelao o recurso que a parte prejudicada por sentena

    definitiva ou que tenha a mesma fora proferida por Juiz inferior, interpe

    em tempo hbil para a 2 instncia, a fim de reexamin-la e julg-la.

    (HORCAIO, 2006). O seu valor de 2% do valor da causa (GAASP,

    Cdigo 230-6) com o porte de Remessa no valor de R$ 20,96.

    Todos os valores citados anteriormente neste estudo so atualizados

    anualmente pela tabela da Ordem dos Advogados de So Paulo. E tambm

    no endereo eletrnico de Custas do Rio Grande do Sul. A fundamentao

    das Leis est no Cdigo de Processo Civil (NEGRO & GOUVA, 2007).

    O quadro 1 (abaixo) mostra a forma como se calculou o valor das

    custas. O termo procedente referiu-se ao processo julgado como

    fundamentado e o termo improcedente, referiu-se ao processo julgado

    como no fundamentado. Honorrios advocatcios foi o termo usado para

    definir a remunerao dos profissionais liberais. O termo custas fez

    referencia as despesas de processos judiciais. O termo laudo pericial

    referiu-se ao parecer tcnico em concluso percia. Recurso o termo

    que designou meio para resolver uma dificuldade. Derrota ou perda foi

    referida como sucumbncia. (AULETE, 2004).

  • Mtodos

    24

    QUADRO 1 Custas de Sentenas

    SENTENA Improcedente Procedente

    HONORRIOS ADVOCATCIOS

    10% a 20% 10% a 20%

    CUSTAS 1% valor da causa

    Oficial de justia = R$

    Mandato judicial = R$

    Carta precatria = R$

    Edital = R$

    1% valor da causa

    Oficial de justia = R$

    Mandato judicial = R$

    Carta precatria = R$

    Edital = R$

    LAUDO PERICIAL

    R$ R$

    RECURSOS Agravo = R$

    2% Apelao = R$

    Agravo = R$

    2% Apelao = R$

    HONORRIOS ADVOCATCIOS CONTRRIO

    10% a 20%

    SUCUMBNICA

    NO SIM

    TOTAL DAS CUSTAS EM REAIS (R$)

    R$ + 1% do valor da causa + 2% Apelao

    R$ + 1% do valor da causa + 2% Apelao + 10% a 20% causa em Honorrios advocatcios do autor + ru.

    Os dados para efeito de clculo das custas, dos processos, esto no

    (Apndice 3).

  • Mtodos

    25

    Os valores foram anotados em moeda nacional vigente no perodo

    (Reais) e receberam atualizao monetria disponvel no endereo

    eletrnico: http://drcalc.net/correcao.asp para a data de dezembro de 2008.

    4.4.2.4. AVALIAO ESTATSTICA.

    Sobre a anlise estatstica aplicada a todos os resultados gerados:

    A- Inicialmente os dados encontrados no estudo foram avaliados

    descritivamente. Desta forma so apresentadas as mdias, mnimos,

    quartis, mximos e desvios padres das variveis do perodo.

    B- A avaliao das evolues foram realizadas pelo teste Qui-quadrado e a

    quantificao desta associao foi mensurada via coeficiente V de

    Cramr. O V de Cramr para tabelas 2x2 varia de zero a um, sendo que

    quanto mais prxima de 1 maior a associao. Foi utilizado tambm o

    Teste exato de Fisher (pelo fato da amostra ser pequena).

    C- O teste de Cochran Armitage foi utilizado para verificar presena de

    tendncia entre nmero de condies desfavorveis aos mdicos e

    sentena; laudo favorvel a paciente, ausncia de termo de

    consentimento e pronturio ruim, que apresentou uma variao de zero

    a trs.

    O nvel de significncia menor ou igual a 5% foi adotado para as

    anlises.

    http://drcalc.net/correcao.asp

  • RESULTADOS

  • Resultados

    27

    5. RESULTADOS

    5. 1 AMOSTRAGEM

    Noventa e oito processos foram encontrados no perodo de janeiro de

    2000 a dezembro de 2008. Foram selecionadas 45 demandas que

    envolviam diretamente mdicos e pacientes. Deste total seis foram

    excludas pelas seguintes razes: em trs casos houve omisso de sentena

    final; e outros trs eram procedimentos de um mesmo processo

    Desta forma, foram includos no estudo trinta e nove processos

    (Apndice 4: no 01, 02, 06, 10, 11, 12, 14, 16, 18, 19, 21, 25, 27, 29, 30, 33,

    34, 35, 39, 40, 41, 45, 47, 49, 51, 53, 54, 60, 63, 67, 71, 72, 77, 80, 83, 88,

    90, 91, 96).

    A frequncia anual dos processos variou de um a oito e aumentou ao

    longo do perodo estudado, com relevncia estatstica (p=0,03). Houve um

    aumento mais perceptvel do nmero de processos aps 2004 (Figura 4).

    De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que a mdia anual das

    custas mdias, totais e nmero de processos entre 2000 e 2008 foram

    respectivamente de R$38.252,55, R$8.616,13 e 4,3 processos. Os valores

    medianos (R$ 37.950,60, R$ 8.927,80 e 4,0, respectivamente para custas

    mdias, totais e nmero de processos) neste mesmo perodo permaneceram

    muito prximos mdia, indicando ausncia de valores muito destoantes.

  • Resultados

    28

    Tabela 2 Medidas-resumo das custas anuais mdias, totais e nmero de processos

    Custas anuais mdias

    Custas anuais totais

    Processos

    Mdia 8.616,13 38.252,55 4,3

    Desvio Padro 2.212,04 23.515,82 2,3

    Mnimo 4.917,50 8.927,80 1,0

    1o. Quartil 7.175,14 16.499,22 2,5

    2o. Quartil (Mediana) 8.927,80 37.950,60 4,0

    3o. Quartil 9.451,35 61.854,14 6,5

    Mximo 12.779,38 65.834, 63 8,0

    n 9 9 9

    A frequncia das aes aumentou no perodo (p=0,03 avaliado por teste

    no-paramtrico). Figura 4.

    FIGURA 4 - Frequncia das aes contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008.

  • Resultados

    29

    As custas totais, apresentadas em reais, tambm cresceram durante o

    perodo (p=0,03 avaliado por teste no-paramtrico). Figura 5.

    FIGURA 5 - Custas totais em Reais dos processos contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados obtidos do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de 01/01/ 2000 a 31/12/2008.

  • Resultados

    30

    O valor mdio por ao variou de R$ 4.919,50 a R$ 12.779,40 e

    permaneceu estvel ao longo do perodo estudado (p=0,97 avaliado por

    teste no-paramtrico). Figura 6.

    .

    5. 2 CARACTERSTICAS DAS AMOSTRAS OU PROCESSOS

    Dos 39 processos contra mdicos em cirurgia plstica: 27 mdicos

    sofreram uma nica ao enquanto cinco sofreram duas ou mais aes por

    pacientes diferentes.

    5. 3 CARACTERSTICAS DOS MDICOS PROCESSADOS

    FIGURA 6 - Valores mdios anuais em Reais das aes contra mdicos que realizaram cirurgias plsticas. Dados obtidos do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul no perodo de janeiro 2000 a dezembro 2008.

  • Resultados

    31

    Trinta e dois mdicos diferentes foram processados (Apndice 5).

    Destes 16 eram especialistas e 16 no eram especialistas. Quatro

    especialistas sofreram mais de uma ao. 1 mdico; (no16, 40, 90, uma

    condenao); 2 mdico: (no14, 33, duas condenaes); 3 mdico: (no45,

    60, 8, trs condenaes); 4 mdico: (no72, 77, duas absolvies) e um no

    especialista sofreu mais de uma ao (no54, 71, duas condenaes).

    (Apndice 6). Vinte e dois mdicos foram condenados (12 no eram

    especialista e 10 eram especialista).

    Teste exato de Fisher: p=0,3326

    5. 4 PERCIA MDICA

    O mdico perito foi contratado nos 39 casos e em apenas um, ele no

    emitiu relatrio.

    Dos 38 laudos periciais, 20(53%) laudos favoreciam o mdico e 18

    (47%) no. O Juiz condenou o ru (mdico) em 22(56%) e inocentou-o em

    TABELA 3 - Distribuio dos especialistas por quantidade de processos 2000-2008.

    Processo

    Especialidade Total

    Cirurgio plstico No cirurgio plstico N % N % N %

    Total 16 100,00% 16 100,00% 32 100,00% 1 processo 12 75,00% 15 93,75% 27 84,38% 2 ou mais

    processos 4 25,00% 1 6,25% 5 15,63% Teste exato de Fisher: p = 0,3326.

  • Resultados

    32

    17(44%), (um caso teve o laudo prejudicado pois a paciente foi reoperada

    antes da percia, inocentando o mdico).

    Dos 20 processos com laudo pericial favorvel ao mdico, o Juiz

    acatou o laudo inocentando-o em 14. Dos 18 laudos favorveis ao paciente,

    o Juiz condenou o mdico em 16.

    Portanto o mdico foi inocentado em 16 casos dos 38 com laudo

    pericial, sendo que destes o laudo favorecia o mdico em 14 e o

    prejudicava em dois. Por outro lado quando o laudo favoreceu o paciente

    (18 casos) o paciente ganhou a causa em 16. (Figura 7).

    FIGURA 7 - Correlao entre o laudo pericial favorvel ao mdico

    (20) e ao paciente (18) e o acatamento desse parecer pelo juiz. Em 30% o juiz divergiu do laudo pericial favorvel ao mdico e houve divergncia em 10% quando o laudo favorecia ao paciente.

    5. 5 TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

    Laudo No Acatado

    Laudo Favorvel Paciente

    Laudo Acatado

    Laudo Favorvel ao Mdico

  • Resultados

    33

    O termo de consentimento informado foi assinado pelo paciente

    antes da cirurgia ou entendido pela descrio do resumo do processo pelo

    Juiz de maneira tcita em 18(46%) e ausente em 21(54%) casos dos 39

    processos. (Figura 8).

    5. 6 QUALIDADE DO PRONTURIO MDICO

    A condenao estava presente em 22 casos e a absolvio em 17

    casos. O pronturio mdico estava bem descritivo em 17 e ruim em 22 dos

    39 processos. O consentimento informado estava presente em 22 e ausente

    em 17. (Figura 8).

    FIGURA 8 - Correlao da condenao com o pronturio

    mdico e consentimento informado.

  • Resultados

    34

    De acordo com a Tabela 3, observou-se associao entre Laudo e

    Sentena (p< 0,0001). Comparando-se as propores de sentenas

    favorveis a pacientes, quando o laudo era favorvel a pacientes (94,4% -

    IC95%=[83,9 ; 100,0]) e sentenas favorveis a mdicos, quando o laudo

    era favorvel ao mdico (75,0% - IC95%=[ 56,0;94,0]), no se verificou

    diferena entre essas duas propores (p=0,1007).

    Pode-se notar tambm nessa mesma tabela que a situao do

    pronturio determina nesta amostra 100% das sentenas. Assim, se o

    pronturio ruim, a sentena de condenao do mdico e vice-versa, caso

    o pronturio seja bom. Observa-se tambm associao entre termo de

    consentimento e sentena (p

  • Resultados

    35

    Tabela 4 - Distribuio dos pacientes por laudo, pronturio e termo de consentimento

    Sentena

    Total Condenado Inocente

    N % N % N %

    Laudo 22 57,9 16 42,1 38 100,0

    Paciente 17 94,4 1 5,6 18 100,0

    Mdico 5 25,0 15 75,0 20 100,0 2=18,74 (p

  • Resultados

    36

    Foi avaliado o nmero de condies desfavorveis ao mdico (laudo

    favorvel a paciente, ausncia de termo de consentimento e pronturio

    ruim) que apresentou uma variao de zero a trs. De acordo com a Tabela

    4, observou-se associao entre o nmero de condies e sentena

    (p

  • Resultados

    37

    maior o nmero de condies desfavorveis, maior a proporo de

    condenados (p< 0,001).

    Tabela 6 Distribuio dos casos por nmero de condies desfavorveis

    ao mdico segundo sentena, excluindo-se a situao do pronturio.

    Condies

    Resultado

    Total Condenado Inocente

    N % N % N %

    Total 22 57,9 16 42,1 38 100,0

    0 2 11,8 15 88,2 17 100,0

    1 6 85,7 1 14,3 7 100,0

    2 14 100,0 0 0,0 14 100,0

    Teste exato de Fisher = 29,30

    (p< 0,0001)

    Teste Cochran Armitage para tendncia =5,01(p< 0,0001)

    5. 7 JUSTIA GRATUITA

    A liberao do pagamento de custas por meio da justia gratuita a

    pedido do interessado (paciente) foi acolhido pelo Juiz em 22(56%) dos 39

    processos.

  • Resultados

    38

    5. 8 TIPOS DE CIRURGIAS

    As cirurgias plsticas que mais frequentemente levaram a litgio

    foram a Abdominoplastias (dez), Rinoplastia e lipoaspirao (nove casos

    cada). J a cirurgia de mama (quando computadas: mastopexia, implante

    mamrio e mamaplastia redutora) estavam envolvidas em 13 casos. (Tabela

    6).

    Em 14 dos casos foram realizadas cirurgias associadas.

    FIGURA 9 - Em mais de 50% das aes (22 de 39) o Juiz concedeu justia gratuita.

  • Resultados

    39

    5.9 QUEIXA ALEGADA

    Queixa sobre a cicatriz e/ou forma foi alegada em 23 processos

    (48,9%). A segunda queixa mais freqente referiu-se s complicaes ps-

    TABELA 7 - Frequncia e percentual das operaes em cirurgia plstica envolvidas nos processos contra mdicos do Rio Grande do Sul entre 2000 e 2008.

    CIRURGIA FREQUNCIA PERCENTUAL

    Abdominoplastia 10 16,39%

    Rinoplastia 09 14,75%

    Lipoaspirao 09 14,75%

    Face lifting 06 9,84%

    Blefaroplastia 06 9.84%

    Mastopexia 03 4,92%

    Implante mamrio 03 4,92%

    Reduo mamria 07 11,48%

    Procedimentos ancilares 03 4,92%

    Implante capilar 01 1,64%

    Sequela queimadura 01 1,64%

    Contratura Dupuytren 01 1,64%

    Prtese gltea 01 1,64%

    Orelha 01 1,64%

  • Resultados

    40

    operatrias (que foram: infeco, necrose e seroma) e que ocorreram em

    doze casos (25,5%).

    A insatisfao ou resultado proposto no atingido, foi alegado em

    oito processos (17,1%). Outras quatro queixas perfizeram 8,5% e foram:

    um caso de hipertenso arterial iniciada aps correo cirrgica de

    contratura palmar de Dupuytren, uma queixa com percia prejudicada

    porque a paciente fez outra operao antes da concluso do processo, e

    duas queixas foram em cirurgias combinadas onde uma delas no estava no

    acordo pr-operatrio. (Tabela 7).

    TABELA 8- Frequncia das queixas alegadas pelos pacientes nas cirurgias plsticas realizadas.

    QUEIXA FREQUNCIA PERCENTUAL

    Cicatriz e Forma 23 48,9%

    Complicao 12 25,5%

    Insatisfao 08 17,1%

    Outros 04 8,5%

  • DISCUSSO

  • Discusso

    42

    6. DISCUSSO

    A sociedade sofre com o aumento dos litgios contra mdicos,

    prejuzos como o tempo de trabalho das duas partes durante as diversas

    sesses e instncias do prprio sistema judicirio; conforme o artigo 5

    LXXVIII da Constituio Federal (PINTO et al, 2005).

    Fenmenos econmicos e sociais influem nos custos financeiros j

    que o Juiz sempre considera a intensidade da culpa e do dano gerado, bem

    como o status social/econmico do paciente e do mdico (VILA-NOVA

    DA SILVA et al, 2010). Esse fenmeno tambm ocorreu nos Estados

    Unidos, onde o fato dos cirurgies disporem de seguro para proteo

    profissional com cobertura monetria alta, foi um dos fatores que propiciou

    a escalada dos valores financeiros (B-LYNCH et al, 1996; MELLO et al,

    2003). Medidas defensivas dos mdicos e cirurgies plsticos contra esse

    fenmeno social por meio do uso de seguros, no parece ser uma soluo

    sensata. Este tipo de fenmeno gera transformaes negativas da boa

    prtica mdica como: excesso de exames e documentos no sentido de evitar

    possveis demandas (MELLO et al, 2005; STUDERT et al, 2005).

    As transformaes fsicas so importantes pelo impacto que

    produzem e o funcionamento psicolgico do paciente (a imagem corporal,

    autoestima e sade mental) no deve ser afetado negativamente no ps-

    operatrio de at um ms (BRUNER & JONG, 2001). Mas, deve-se

    ressaltar o aspecto emocional tpico do ps-operatrio que frgil e

    quando o paciente d muita importncia ao aspecto da rea operada. Este

    um momento passageiro do processo que requer o preparo e ateno de

    todos os membros da equipe cirrgica (BORAH et al,1999).

  • Discusso

    43

    Possivelmente o que ocorreu no cenrio estudado tenha sido

    motivado por fatores que vo alm da qualificao/certificao

    profissional. Muitos procedimentos estticos no invasivos (procedimentos

    como: peeling) so praticados atualmente por no cirurgies plsticos, os

    quais tem melhor qualificao para tal (DAMICO et al, 2008).

    Possivelmente os cirurgies plsticos brasileiros persistam realizando

    procedimentos mais invasivos do que o no cirurgio plstico, afinal, os

    resultados mostraram que 79% das cirurgias realizadas (excluindo

    rinoplastias e procedimentos ancilares) podem ser consideradas de grande

    porte.

    Dentre os fatores que motivaram os litgios, obviamente a relao

    mdico e paciente estava ruim em todas; possivelmente porque houve a

    deteriorao da relao no perodo ps-operatrio, o momento do incio das

    aes. A qualidade de relao e do vnculo estabelecido, entre mdico e

    paciente, que ir definir a adeso e o comprometimento do paciente ao

    processo cirrgico que escolheu realizar (COADY, 1997; CHAHRAOUI et

    al, 2006). Portanto, ateno ao perodo ps-operatrio crucial para a

    manuteno da boa relao mdico/paciente.

    O envolvimento das sociedades de especialistas motivando seus

    integrantes a se aperfeioarem em percias mdico judiciais uma boa

    proposio para que os cirurgies plsticos que sofrerem aes

    injustamente sejam defendidos com um laudo pericial corretamente

    elaborado por um especialista da rea (PATAN & PATAN, 1996).

    A natureza do vnculo estabelecido entre mdico e paciente que

    determinar o desenrolar dos acontecimentos. O erro mdico e a fatalidade

    fazem parte do imperfeito universo humano. Este resultado, embora no

    desejado, pode ser atenuado quando o vnculo mdico/paciente efetivo.

  • Discusso

    44

    Os nveis de satisfao indicam a qualidade desta relao. (MARTELLO &

    BAILEY, 1999).

    Atitudes psicolgicas defensivas como a negligncia e o abandono

    por parte de um profissional da rea da sade, so condutas pouco ticas.

    Por outro lado, a atitude de vtima do paciente colocado em um sistema

    exageradamente assistencialista pode mascarar comportamentos de

    carter perverso, como estelionato. Essas duas possibilidades so premissas

    fundamentais na prtica do Direito (GOUVA & SILVA, 2005).

    A atitude afirmativa, solcita e amorosa na assistncia imediata

    vulnerabilidade deste paciente, em todos os momentos exigidos, vem sendo

    adotada em universidades com resultados interessantes. Notou-se uma

    reduo do nmero de pacientes que processam mdicos e/ou hospitais

    quando os mdicos concordaram em reconhecer falhas e prestar reparao

    (ROHRICH, 2007).

    Quando o Juiz recebe o processo, ele poder determinar se

    procedente (conformidade com o Direito, contendo fundamento legal; que

    atende aos requisitos da ao; acolhimento, deferimento), ou no quando

    improcedente (qualidade do pedido, da reclamao, da denncia ou do

    recurso falta fundamento na prova dos autos) (HORCAIO, 2006).

    No ocorreram recursos especiais e extraordinrio nos casos

    estudados.

    Trinta e dois mdicos que realizaram cirurgias plsticas sofreram 39

    aes (cinco mdicos sofreram aes duas ou mais vezes) naquele Estado

    no perodo de nove anos. Metade deles no era especialista.

    Esta amostragem pode ser considerada pequena, porm o nmero

    representa a sua totalidade do perodo 2000 a 2008 no Rio Grande do Sul.

  • Discusso

    45

    Cinco (31%) dos 16 cirurgies plsticos foram julgados culpados e

    sete (44%) dos 16 no cirurgies plsticos tambm foram condenados. H

    pouca discordncia, sobre o grau de qualificao de profissionais que

    executam cirurgia cosmtica, e h unanimidade em se exigir grau de

    instruo, treinamento e educao continuada para profissionais que atuam

    na rea (ORTON, 2002). As sociedades de especialidades podem executar

    essa tarefa de educao continuada para a comunidade (PATAN &

    PATAN, 1996). Quase 50% dos pacientes litigantes realizaram cirurgias

    combinadas. Embora essa opo aumente o tempo cirrgico e aumente o

    risco de complicaes, no h correlao entre cirurgias plsticas

    combinadas e maior nmero de complicaes ps-operatrias de acordo

    com a literatura. (YOHO et al, 2005; STEVENS et al, 2009).

    A distribuio dos processos no perodo estudado (2000 a 2008), foi

    capaz de mostrar o aumento na frequncia com relevncia (p=0,0333). Isto

    condizente com o observado em outras reas da medicina no mundo. Este

    fenmeno tomou grandes propores devido s rpidas mudanas de

    atitudes e de valores sociais (MacGREGOR, 1984; MELLO et al, 2003;

    FITOUSSI, 2003).

    O valor mdio dos processos foi constante ao longo dos anos

    (diviso dos gastos em cada caso, pelo nmero de processos por ano). A

    presena de gastos representa uma ameaa aos cirurgies plsticos

    condenados e inocentados, porque mesmo nos casos em que o mdico

    sofreu ao injustamente, ele arcar pessoalmente com as custas das taxas

    legais obrigatrias do curso do processo e com danos pessoais outros no

    mensurveis (VILA-NOVA DA SILVA et al,2008). J o valor financeiro

    mdio de cada processo estvel oscilando entre R$ 4.917,50 e R$ 9.487,7

    de 2000 a 2008. Apenas um processo (caso 54) em 2004 elevou o custo a

  • Discusso

    46

    R$12.779,4 (o mdico, por no ter fornecido recibo, levou o Juiz a

    considerar o preo fornecido pelo autor).

    O laudo do perito judicial, quando a infrao deixar vestgios, ser

    indispensvel ao exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo

    supri-lo a confisso do acusado (JESUS, 1996). Atestando que o equvoco

    praticado na conduta do cirurgio foi decisivo no julgamento do juiz,

    apenas trs (15%) dos 20 laudos favorveis ao mdico foram incapazes de

    inocent-lo.

    O acordo entre mdico e paciente deve ser transformado num

    contrato, com o nome de termo de consentimento informado (TCI). A

    cirurgia plstica ameniza deformidades fsicas e, consequentemente

    psquicas, sendo que, a falta de esclarecimento prvio uma das razes da

    insatisfao. A ausncia do TCI apresentado ao paciente antes da realizao

    de cirurgias plsticas ocorreu em 21 dos 39 processos (53,8%), todos os

    mdicos condenados no tinham o TCI do paciente. O TCI considerado

    parte integrante do pronturio mdico em vrios pases, nem sempre ele,

    significa que o paciente compreendeu o seu contedo. Por essa razo a

    ateno do cirurgio e o dilogo com o paciente devem estar sempre

    presentes na medida exigida. Em muitas aes o paciente afirma que no

    recebeu assistncia e informao pelo mdico logo aps a operao.

    (MAVROFOROU et al, 2004).

    A alta frequncia desta falha de conduta acusa a possibilidade de

    uma qualidade precria na comunicao entre os mdicos e os pacientes

    litigantes. Pode-se supor a existncia de desinformao do paciente quanto

    ao tratamento que lhe era proposto e at a no percepo de falsas

    expectativas de resultado.

  • Discusso

    47

    Trs dos casos (5%) eram de procedimentos ancilares e compuseram

    a amostra estudada. Uma equipe de assistentes treinados fundamental

    para prevenir incidentes bem como a normatizao sistemtica das rotinas

    do consultrio e dos tratamentos oferecidos pelo mdico e medies do

    grau de satisfao dos pacientes atendidos ao longo de curtos perodos de

    tempo (ANDERSON, 2000), tpicos dos processos ancilares. Essas so

    condutas melhores do que a simples prtica da medicina defensiva, porque

    podem prevenir aes que sempre oneram o mdico.

    6.1 OS LITGIOS CONTRA MDICOS

    O mdico no o nico a figurar como ru nas aes propostas por

    pacientes insatisfeitos; os hospitais, operadoras de sade, clnicas,

    laboratrios e o Poder Pblico podem ser chamados a responder aes

    indenizatrias decorrentes dos alegados erros mdicos (CREMESP, 2008).

    O comportamento e o perfil profissional do mdico mais processado

    so identificveis por falta de dilogo e ausncia de TCI (ADAMSON et al,

    1997). Seu conhecimento til e necessrio quando se pensa em fazer

    alguma anlise pormenorizada com objetivo de descrever para depois

    propor intervenes no problema.

    Todos os cirurgies plsticos convivem com a possibilidade de

    serem processados (PATAN & PATAN, 1996). Portanto, o mdico deve

    ter algum grau de conhecimento de leis.

    A cirurgia plstica no precisa se amedrontar diante da epidemia

    de aes porque ela pode e deve estudar os fatos de forma analtica. Pode-

    se continuar planejando e executando boas estratgias preventivas e

  • Discusso

    48

    modificar esse panorama geral. A participao ativa de colegiados e

    sociedades de especialistas e a boa compreenso da linguagem jurdica e do

    funcionamento do sistema judicial pelos cirurgies plsticos so

    fundamentais para que se atinja o sucesso nessa misso (MAVROFOROU

    et al, 2004).

    Para o incio de um trabalho preventivo sobre algo desta natureza

    necessrio que se tenha um diagnstico quantitativo deste panorama. Este

    estudo foi capaz de provar o aumento do nmero de processos contra

    cirurgia plstica ao longo da ltima dcada, desde 2000 a 2008. Tanto

    mdicos quanto pacientes, planos de sade e instituies hospitalares so

    prejudicados pelo crescimento de litgios. Todas as esferas do sistema de

    sade esto envolvidas neste fenmeno social.

    6.2 O SISTEMA JURDICO E O MDICO

    Para se responsabilizar civil ou penalmente necessrio que o

    mdico conhea as leis e suas exigncias legais (ULDELSMANN, 2002).

    Por isso discorreu-se sobre a fundamentao do sistema jurdico

    diretamente ligado ao resultado produzido nos casos do presente estudo.

    Neste estudo todos os 39 casos eram da esfera civil.

    6.3 O CDIGO DE TICA MDICA

  • Discusso

    49

    Este estatuto no apenas a codificao da tica, mas um

    compromisso dos mdicos em favor da sociedade e do ser humano, que

    assume uma dvida no interesse superior da comunidade (FRANA, 2000).

    Este Cdigo contm as normas que devem ser seguidas pelos

    mdicos no exerccio de sua profisso, bem como quaisquer outras

    atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo da

    medicina. Mesmo as organizaes de prestao de servios mdicos esto

    sujeitas s normas deste Cdigo.

    6.4 A CONSTITUO FEDERAL

    A Constituio definida como: 1) lei fundamental da organizao

    poltica de uma nao soberana que determina a sua forma de governo. Ela

    institui os poderes pblicos, regula as suas funes e estabelece os direitos

    e deveres essenciais do cidado. 2) ato de estabelecer alguma coisa, em

    favor de algum (HORCAIO, 2006).

    Desde 1988 impera a Constituio Federal. Ela regula modernizando

    e proporcionando o equilbrio nos diversos setores conferindo o Poder da

    Nao (PINTO et al, 2005).

    As pessoas que vivem sob esta Constituio tm assegurados seus

    direitos fundamentais. No artigo 5 do Ttulo II, Captulo I da CF 2005,

    termos de I a XX, apresentam aspectos relevantes para o estudo dos litgios

    entre mdico e paciente. O termo III afirma que ningum pode ser

    submetido tortura nem tratamento desumano ou degradante. Existem

    situaes cotidianas na medicina em que isso pode acontecer; quando a

    relao mdico paciente fica desgastada e o paciente devido a sua

  • Discusso

    50

    fragilidade pode sentir-se em tratamento desumano. Essa foi uma alegao

    presente em todos os casos aqui estudados.

    No caso de uma cirurgia em paciente que trabalhe valendo-se de sua

    imagem (por exemplo: modelos, artistas, pessoas do ramo de comunicao

    social), os termos V e X do art. 5 so de notada relevncia. Eles afirmam

    serem inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

    pessoas, assegurando o direito de indenizao pelo dano material ou moral

    decorrente de sua violao. Pacientes com esse perfil, obviamente nos

    casos de complicao com leso permanente, podem requerer indenizao

    por danos moral, como ocorrem nos casos deste estudo.

    O termo XIII do art. 5 afirma que o profissional deve estar

    qualificado ao que se dispe a fazer. Portanto a qualificao do profissional

    mdico processado foi objeto de investigao deste estudo.

    O termo XIV do art. 5 assegura o sigilo profissional em relao ao

    paciente. No se observou nenhum caso de publicidade indevida usando

    imagem do paciente ou quebra do sigilo.

    No Capitulo VII, art. 37, 6 da CF 2005 mostra o direito de

    regresso dos Hospitais que, se acionados por erro mdico, tero

    responsabilidade objetiva. O Hospital dever pagar indenizao

    independente de sua prpria culpa; assim, o Hospital que se sentir lesado

    pelo mdico culpado, poder mover ao contra o mesmo para ser

    ressarcido de seu prejuzo. Neste estudo no se observou essa ocorrncia.

    Titulo VIII, Capitulo II, da ordem social da sade; art. 196 e 199

    afirmam que tanto o Estado quanto a iniciativa privada tm direitos e

    deveres com a populao de promover a sade. Pacientes de ambos os

    sistemas moveram ao contra mdicos (PINTO et al, 2005).

  • Discusso

    51

    6.5 O CDIGO CIVIL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS

    MDICOS

    Em 11 de janeiro de 2003, com a entrada em vigor no pas do novo

    Cdigo Civil (CC), o regime geral da responsabilidade civil no se alterou,

    mantendo-se a necessidade de comprovao da culpa do agressor, inclusive

    quando decorrente de erro mdico, como se verifica no disposto dos

    artigos: 186, 187, 188, 927, 943, 944, 945, 946, 947, 948, 949, 950, 951.

    A responsabilidade objetiva foi limitada s atividades que implicam,

    por sua natureza, risco para os direitos de outros (artigo 927, 1 do CC).

    Essa responsabilidade recai sobre a instituio hospitalar e basta a

    existncia de um dano e da prova da ligao do mesmo, gerando nexo

    causal, para que surja o dever de indenizar. Cabe ao ru provar a existncia

    do dano somado ao nexo causal gerando a comprovao da

    responsabilidade objetiva.

    O artigo 186 CC fala sobre o mdico que cometeu omisso

    voluntria. Por exemplo: uma paciente deste estudo moveu ao de danos

    morais por este motivo contra o mdico que suspendeu sua cirurgia

    algumas horas antes do momento agendado, por compreender que a

    paciente era portadora de transtorno do humor depressivo e poderia

    apresentar problemas posteriores. Este profissional foi inocentado, porm

    este caso poderia ser evitado por uma melhor abordagem psicolgica na

    histria inicial da paciente.

    Negligncia a palavra que designa a falta de ateno ou cuidado,

    inobservncia de deveres e obrigaes (HORCAIO, 2006). Neste contexto:

    uma paciente submetida a uma lipoaspirao (caso 30), associada

  • Discusso

    52

    abdominoplastia, recebeu alta hospitalar no mesmo dia. A paciente

    desenvolveu seroma no ps operatrio. Posteriormente foi submetida a

    abdominoplastia com o mesmo mdico, mas dessa vez o profissional

    manteve a internao por dois dias e no desenvolveu seroma. A paciente,

    aps a segunda interveno, moveu ao contra o seu mdico. E o Juiz

    entendeu que a alta no mesmo dia da operao foi precoce e considerou

    uma negligncia na primeira cirurgia, condenando o ru. O caso dois deste

    estudo, se refere a um peeling qumico em que a mdica, ao invs de

    executar o procedimento, delegou esteticista. A paciente, que tinha

    dvidas sobre a evoluo de sua terapia aps muita reclamao e

    insistncia, conseguiu conversar pessoalmente com a profissional. O juiz

    classificou o caso como negligncia mdica e condenou a r.

    Imprudncia um ato impensado e irresponsvel (HORCAIO, 2006).

    Neste estudo, uma paciente foi submetida rinosseptoplastia (caso n 53),

    com um cirurgio plstico e um otorrinolaringologista no mesmo tempo

    cirrgico. O otorrinolaringologista, aps operar o septo, retirou-se da sala

    operatria, mas surgiu uma hemorragia de difcil correo que foi coibida

    pelo cirurgio plstico com um tamponamento intranasal, o qual gerou

    comprometimento do resultado esttico final. Como o

    otorrinolaringologista foi indicado pelo cirurgio e aps sua sada no foi

    encontrado, o caso foi considerado como imprudncia e o cirurgio plstico

    foi condenado pelo ato imprudente de permitir a sada do

    otorrinolaringologista antes do trmino da operao causando dano ao

    paciente que contratou apenas o cirurgio plstico.

    A obrigao de indenizar um princpio tico (Captulo III da

    responsabilidade profissional no seu artigo 1), bem como nos artigos 186,

  • Discusso

    53

    187, 927, do CC. Nestes casos, de acordo com o princpio da boa

    convivncia e justia, paga-se pelo que fez de errado.

    necessrio tambm que haja um nexo causal do resultado alegado e

    do ocorrido. Os 22 casos apresentaram condenaes mdicas por danos

    materiais, morais e ou estticos obrigaram os rus a indenizar os

    reclamantes.

    6.6 AS ESPCIES DE INDENIZAO

    O dano nada mais do que a leso a um bem protegido

    juridicamente como: a sade, a vida, a integridade fsica, moral e esttica.

    De acordo com a legislao, o dano pode ser moral, material e/ou esttico,

    ensejando cada qual indenizaes especficas (CREMESP, 2008).

    Indenizao por dano material: o artigo 402 do CC trata do dano

    material, compostos pelos chamados danos emergentes (efetiva perda de

    patrimnio) e pelos lucros cessantes (o que a vtima deixou de ganhar em

    funo do evento danoso). Porm, h uma ressalva no novo Cdigo Civil

    (art. 944, nico e art. 945, do CC). O gasto envolvendo a cirurgia tambm

    considerado dano material, toda amostra contempla este tipo de dano.

    6.7 O CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

    Indenizao por dano moral: no se questiona o seu reconhecimento,

    j que est expresso na CF (art. 5, incisos V e X), no CDC (art. 6, V) e no

    novo CC (art. 186).

  • Discusso

    54

    Indenizao por dano esttico: assim como a indenizao por dano

    moral, a reparao do dano esttico tem finalidade compensatria. A

    cumulao do dano moral e esttico admitida pela Justia. (Art. 5, V)

    O Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC): Agora comea a verdadeira

    vida da Lei. Ela se encarregar de mostrar os seus acertos e suas

    imperfeies. A jurisprudncia exercer o papel de acrisolar textos, em

    confronto com a realidade social. A doutrina cumprir o ofcio de

    esclarecer e apurar conceitos e preceitos (GRINOVER et al. 2004).

    GRINOVER et al. (2004) afirmam que com a promulgao do CDC

    (Lei n. 8.078/90), vigente desde 11 de maro de 1991, as relaes de

    consumo passaram a ser regidas pelo sistema da responsabilidade objetiva,

    consultvel nesta tese.

    Os mdicos e os demais profissionais liberais so exceo regra da

    responsabilidade objetiva. No CDC a categoria dos profissionais liberais

    manteve-se em responsabilidade subjetiva, como se pode observar do

    artigo 14, 4, do CDC.

    A natureza da atividade mdica , em regra, de meio, e no de

    resultado, no se justifica a imposio da responsabilidade objetiva

    (independentemente da apurao de culpa). Os profissionais liberais

    continuam a responder perante seus clientes apenas quando demonstrada

    sua culpa (negligncia, imprudncia ou impercia) GRINOVER et al.,

    2004.

    O CDC prev, em seu artigo 6, inciso VIII, como direito bsico do

    consumidor, a facilitao da defesa de seus direitos; inclusive com a

    inverso do nus da prova a seu favor no processo civil, quando, a critrio

    do juiz, ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias da

    experincia (GRINOVER et a,, 2004).

  • Discusso

    55

    No caso 35 desta amostra, a paciente moveu ao contra o mdico

    que realizou a retirada de trs lipomas no abdome em regime ambulatorial.

    Ela alegou que a cirurgia tinha sido uma abdominoplastia, e gerou um

    resultado insatisfatrio com cicatrizes. O juiz considerou a paciente

    hipossuficiente por ter reconhecido o fato de ser incapaz de compreender a

    diferena entre Retirada de Lipoma em abdome e abdominoplastia no

    esttica e coube ao mdico provar que era inocente da acusao e explicar

    a diferena entre as duas operaes. O mdico foi, ao final, inocentado.

    Nenhum mdico desta amostra foi processado com alegao de leso

    corporal.

    6.7 A INFORMATIZAO DO SISTEMA JURDICO

    O problema mais grave do Judicirio brasileiro a morosidade. Uma

    ao judicial demanda muito tempo e recursos para ser concluda.

    Esse fator gera uma descrena no sistema Judicirio brasileiro,

    conforme apurado em estudo do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada,

    realizado em 2000 e 2003. (LESSA & NETO, 2007)

    Como tentativa de tornar o sistema mais clere criou-se a Lei

    n11.419, de 19.12.2006 que entrou em vigor em 21/12/2006 (NEGRO &

    GOUVA, 2007). Esta lei determina diretrizes de informatizao do

    sistema judicirio, o que ser de grande valia para estudos similares.

    6.8 A INFORMATIZAO DO SISTEMA JURDICO DO ESTADO

    DO RIO GRANDE DO SUL

  • Discusso

    56

    Vale destacar que a lei um passo importante para modernizar o

    Poder Judicirio Brasileiro e torn-lo mais rpido e eficiente, em

    obedincia ao preceito constitucional de que assegurado a todos a

    razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

    tramitao (art. 5 LXXVIII da CF).

    A lei convalida experincias realizadas por alguns tribunais, como os

    Juizados Especiais Federais da regio Sul, que j adotam a intimao por

    meio de acesso a um portal eletrnico, tornado o trmite processual mais

    rpido e eficiente, o que fez o tempo mdio entre a distribuio da ao e a

    prolao da sentena diminuir de 765 dias para menos de 50 dias nesses

    Juizados Especiais. Todavia, a falta de recursos e as dificuldades tcnicas

    de algumas regies do pas tendem a fazer com que o processo eletrnico

    demore a ocorrer ou se d sem padronizao dos sistemas pelos diversos

    tribunais brasileiros, o que poderia comprometer a efetividade da Lei.

    (LESSA & NETO, 2007).

    6.9 OS DADOS SOBRE O PRONTURIO

    Um protocolo de pronturio mdico padronizado pelo CFM junto

    com a SBCP foi estruturado em 2010. Nele foram definidos todos os itens

    que devem constar no documento. (CFM, 2010).

    Entretanto este estudo analisou o perodo de tempo no qual tanto a

    informatizao de pronturios quanto a cobrana e normatizao do

    contedo obrigatrio eram debatidos e ainda no estavam constitudos.

  • Discusso

    57

    6.10 OS DADOS SOBRE O TERMO DE CONSENTIMENTO

    INFORMADO

    Anotou-se a presena ou ausncia do TCI nas aes, essa informao

    estava em todos os inteiros teores. Mesmo de maneira tcita comentada

    pelo Juiz.

    O TCI pr-impresso considerado item de pr-operatrio por

    PATAN & PATAN (1996) e sua ausncia tem sido considerada por

    representantes do judicirio como negligncia mdica (FERRAZ, 2006). A

    qualidade do termo de consentimento deve ser buscada. Recomenda-se:

    reviso do texto por um advogado e um autor que fale a linguagem clara

    (PATAN & PATAN, 1996). Ainda que as explicaes constem no

    pronturio, dever do mdico garantir que o paciente tenha sido informado

    e tenha compreendido todos os aspectos prs e contras - limitaes da

    operao (GORNEY & MARTELLO, 1999).

    Uma paciente apresentou quelide (caso 41) abdominal no ps-

    operatrio. A grande complexidade etiolgica do quelide (HOCHMAN,

    2008) demonstra que a ocorrncia desta complicao independe da ao do

    mdico. Apesar de no ser culpa do mdico, a sentena foi desfavorvel

    por falta de informao ao paciente (o Juiz fundamentou a sentena com

    essas palavras).

    Se o mdico no obteve o consentimento informado por escrito ou

    verbal, o risco de problemas legais por uma complicao ou resultado

    adverso ser grande, mesmo se o problema no for causado por

    negligncia. No consentimento informado alguns elementos so

    fundamentais como: o diagnstico ou a suspeita da leso ou deformidade, a

    natureza e o propsito do tratamento com seus benefcios; os riscos;

  • Discusso

    58

    possveis complicaes e efeitos colaterais; a probabilidade de sucesso nas

    condies individuais do paciente; tratamento alternativos e finalmente as

    possveis consequncias, se as advertncias medicas no forem seguidas.

    GORNEY & MARTELLO, 1999.

    Em pacientes de cirurgia plstica com transtornos psiquitricos

    relacionados aparncia, a insatisfao pode concentrar-se

    simultaneamente em diversas partes do corpo. (EDDY et al, 2008; PAVAN

    et al., 2008; VINEIS, 2004). Aspectos neurocognitivos gerados por uma

    grande insatisfao, podem estar presentes em pacientes que querem

    m