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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ASPECTOS SOBRE A INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO ART. 475-J NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Por: Diego Barbosa Araújo Orientador Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS SOBRE A INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO

ART. 475-J NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Por: Diego Barbosa Araújo

Orientador

Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS SOBRE A INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO

ART. 475-J NO CUMPRIMENTO DE SENTEÇA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil

Por: Diego Barbosa Araújo.

3

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos, clientes, colegas de

trabalho, estagiários, aos professores e

em especial à turma K196 que

mostrou-se unida durante todo curso.

4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e à Fernanda, que sempre

me apóiam nas minhas caminhadas e

desafios. Amo vocês!

5

RESUMO

O presente trabalho monográfico analisar as quase recentes alterações

do Código de Processo Civil com o advento da lei nº 11.232, de 22 de

dezembro de 2005, mais especificamente no que se refere à introdução do

artigo 475-J do mesmo codex.

Além da nova sistemática processual trazida pela lei 11.232/2005, que

uniu o antigo processo de conhecimento e o antigo processo de execução de

sentença, tornando o procedimento sincrético e apresentando uma nova fase

processual de execução, como é chamada por alguns doutrinadores, restou

uma lacuna deixada pelo legislador. Isto porque ao determinar que o

pagamento da condenação seja feito pelo devedor no prazo de 15 dias sob

pena de acrescimento do percentual de 10% da condenação, não fixou o

termo a quo para início da contagem do prazo.

Por conta da falha do legislador surgiram diversas interpretações a

cerca do marco inicial para contagem do prazo para pagamento espontâneo da

condenação imposta ao devedor, cabendo aos interpretes da lei dirimir as

duvidas, sendo este o objeto do nosso estudo.

O estudo também abordará de forma mais ampla duas outras questões

polêmicas a cerca da lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, sendo a

primeira relativa à possibilidade de incidência da multa prevista no artigo 475-J

do Código de Processo Civil. O outro ponto que será abordado está ligado à

nova sistemática processual que, ao tornar o processo sincrético, sendo

desnecessária nova citação do executado, não seriam devidos honorários em

sede de execução, ficando, pois, questionada a revogação tácita do artigo 20,

§ 4º, do Código de Processo Civil.

6

METODOLOGIA

O estudo que se propõe visa analisar as diversas interpretações quanto

ao marco inicial para contagem do prazo previsto no art. 475-J do Código de

Processo Civil, introduzido no ordenamento jurídico através da lei nº 11.232 de

22 de dezembro de 2005.

Para tanto optamos, a partir do método bibliográfico, por realizar análise

de diversos livros que abordam a matéria, além de sites da internet. Também

buscou alguns julgados dos tribunais superiores e do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro que darão maior visibilidade à análise da

controvérsia da matéria abordada.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Das Inovações da Lei 11.232/2005 10

CAPÍTULO II - Dos Aspectos da Multa do Artigo 475-J 14

CAPÍTULO III – Outras Considerações A cerca da Lei nº 11.232/2005 34

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ÍNDICE 47

8

INTRODUÇÃO

Antes das alterações promovidas pela lei 11.232 de 22 de dezembro

de 2005, muito se discutia quanto a morosidade das execuções promovidas

junto ao poder judiciário, que arrastavam-se durante anos dados os

“benefícios” processuais que possuíam os executados, retirando grande parte

da eficácia prática das sentenças.

Com o fim de combater a insatisfação não só daqueles que operam o

direito no foro, mas também das partes litigantes e de toda sociedade em

geral, no dia 15 de dezembro de 2004, os Poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário formalizaram um Pacto de Estado em favor de um Judiciário mais

Rápido e Republicano, com um único fim: Promover maior celeridade aos

processos no Poder Judiciário.

O acordo foi intitulado “Pacto por um Judiciário mais rápido e

republicano” e consta do tratado entre os poderes que "a morosidade dos

processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o

desenvolvimento nacional, desestimulam investimentos, propiciam a

inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos no regime

democrático".

Em 19 de outubro de 2005 ocorreu a primeira mudança concreta com

o fim de promover maior rapidez aos processos no judiciário quando foi

sancionada a lei nº 11.187, que alterou a Lei nº 5.896, de 11 de janeiro de

1973 – Código de Processo Civil, trazendo nova disciplina ao cabimento dos

agravos retido e de instrumento, tornando o primeiro a regra.

Posteriormente foi sancionada a Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de

2005, importante marco na legislação processual civil pátria, sobretudo porque

9

acabou com a autonomia do processo de execução das sentenças judiciais,

tornando-o parte, uma fase seguinte ao processo de cognição.

Dentro das alterações processuais promovidas pela referida lei a que

gerou as maiores dúvidas e interpretações por parte dos operadores do direito

foi a inserção do artigo 475-J do CPC. Isto ocorreu em função de o legislador

ter deixado de especificar no referido artigo qual o termo a quo para início da

contagem do prazo de 15 dias para que o devedor promova o pagamento

espontâneo da quantia que fora condenado.

O consenso quanto ao início do prazo de 15 dias para que o devedor

realize o pagamento do valor devido sem o acréscimo do percentual de 10%

não foi atingido. Neste diapasão apareceram alguns entendimentos,

doutrinários e jurisprudenciais, que nem sempre promoveram o fim pretendido

pelo Pacto por um Judiciário mais rápido e republicano uma vez que,

dependendo do entendimento, pode-se atrasar o início da execução com atos

processuais por vezes desnecessários.

Os próximos capítulos apresentarão uma análise das teorias propostas

pelos estudiosos do direito bem como o entendimento dos aplicadores da lei,

de forma a promover uma compreensão dos prós e contras de cada teoria.

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CAPÍTULO I

DAS INOVAÇÕES DA LEI Nº 11.232/2005

A lei nº 11.232/2005 em vigor a partir de 24 de junho de 2006,

ingressou no ordenamento jurídico pátrio como uma verdadeira faxina a tudo

que existia, alterando sensivelmente o código de processo civil.

A necessidade da reforma do Código de Processo Civil foi muito bem

fundamentada pelo o Ministro da Justiça Thomaz Bastos que escreveu a

Exposição de Motivos que acompanhou o Anteprojeto de Lei elaborado pelo

Instituto de Direito Processual:

"A execução permanece o „calcanhar de Aquiles‟ do

processo. Nada mais difícil, com freqüência, do que impor

no mundo dos fatos os preceitos abstratamente

formulados no mundo do direito. Com efeito: após o longo

contraditório no processo de conhecimento,

ultrapassados todos os percalços, vencidos os sucessivos

recursos, sofridos os prejuízos decorrentes da demora

(quando menos o „damno marginale in senso stretto‟ de

que nos fala Ítalo Andolina), o demandante logra obter

alfim a prestação jurisdicional definitiva, com o trânsito em

julgado da condenação da parte adversa. Recebe então a

parte vitoriosa, de imediato, sem tardança maior, o „bem

da vida‟ a que tem direito? Triste engano: a sentença

condenatória é título executivo, mas não se reveste de

preponderante eficácia executiva. Se o vencido não se

dispõe a cumprir a sentença, haverá iniciar o processo de

execução, efetuar nova citação, sujeitar-se à

contrariedade do executado mediante „embargos‟, com

11

sentença e a possibilidade de novos e sucessivos

recursos. [...] Lopes da Costa afirmava que a intervenção

do juiz era não só para restabelecer o império da lei, mas

para satisfazer o direito subjetivo material. E concluía: „o

que o autor mediante o processo pretende é que seja

declarado titular de um direito subjetivo e, sendo o caso,

que esse direito se realize pela execução forçada‟ [...] O

presente Anteprojeto foi amplamente debatido em reunião

de processualistas realizada nesta Capital, no segundo

semestre de 2002, e buscou inspiração em muitas críticas

construtivas formuladas em sede doutrinária e também

nas experiências reveladas em sede jurisprudencial. [...]

b) a „efetivação‟ forçada da sentença condenatória será

feita como etapa final do processo de conhecimento, após

um „tempus iudicati‟, sem necessidade de um „processo

autônomo‟ de execução (afastam-se princípios teóricos

em homenagem à eficiência e brevidade); processo

„sincrético‟, no dizer de autorizado processualista. Assim,

no plano doutrinário, são alteradas as „cargas de eficácia‟

da sentença condenatória, cuja „executividade‟ passa a

um primeiro plano; em decorrência, „sentença‟ passa a ser

o ato „de julgamento da causa, com ou sem apreciação do

mérito‟(...)"1

Em linhas gerais a proposta da lei em estudo é de aproximar os

processos de conhecimento e o de execução, antes autônomos, tornando-os

sincréticos, apresentado a execução como sendo fase posterior á prolação de

sentença transitada em julgado. Visa, assim, desta maneira, minimizar:

1 Disponível em http://jus.uol.com.br/revista/texto/12537/a-multa-do-art-475-j-do-codigo-de-processo-civil-e-a-sua-aplicabilidade-no-processo-

trabalhista/4. Acesso em 12 de janeiro de 2011.

12

(i) distanciamento lesivo à consecução do direito adquirido, já

que não caberá mais ao vencedor a necessidade de promover

um processo autônomo para demonstrar a pretensão executiva;

(ii) a sobrecarga financeira lançada ao vencedor, mediante o

pagamento de novas custas processuais decorrentes da

interposição do novo processo; e, ainda,

(iii) o efeito procrastinatório utilizado pelo devedor da

demanda, já que este poderá deixara de aferir dos lucros em

investimentos financeiros, no interregno da ação, em razão do

pagamento dos juros legais, ao final da ação, neste caso,

considerados irrisórios em relação aqueles.

Cabe relatar que o sincretismo proposto pela nova lei não está ligado à

extinção do processo de execução, posto que permanece inalterado nas

demais modalidades, como é o caso da execução de títulos executivos

extrajudiciais, da execução das prestações alimentícias e da execução contra a

Fazenda Pública.

Outras alterações positivas foram introduzidas prometendo a

celeridade buscada com a edição da Lei, quais sejam:

(i) desnecessidade de citação para início na fase de

liquidação e para início dos atos executórios;

(ii) exigência de sentença líquida para processos sob rito

sumário;

(iii) natureza interlocutória da decisão proferida em sede de

liquidação de sentença, que passa a ser atacada apenas por

meio de agravo de instrumento;

(iv) imposição automática de multa em caso de não

cumprimento espontâneo da obrigação líquida;

(v) início dos atos executórios após mera petição requerendo

a execução do devedor, sem a necessidade das formalidades de

uma petição inicial;

13

(vi) expedição imediata de mandado de penhora e avaliação;

(vii) intimação da penhora através de advogado, ou, em sua

falta, representante legal do executado, possibilitada a sua

realização via postal;

(viii) avaliação efetuada pelo próprio oficial de justiça;

(ix) substituição dos embargos do devedor por mera

impugnação, exigindo a delimitação de valores em caso de

alegação de excesso de execução;

(x) impugnação sem efeito suspensivo;

Faz-se necessário também relatar que o procedimento trazido pela lei

nº 11.232/2005, naquilo que não for incompatível, as regras de execução por

título extrajudicial aplicar-se-ão solidariamente às da execução por título

judicial.

Fato é que a lei estuda visa a certificação do direito e o cumprimento

da decisão judicial, em um processo uno, não mais autônomo. Com isso, não

há mais a necessidade de ser ingressar com a ação de execução, aumentando

a segurança jurídica do vencedor da ação e agilizando a marcha processual.

14

CAPÍTULO II

DOS ASPECTOS DA MULTA DO ART. 475-J

O artigo 475-J do Código de Processo Civil foi inserido no

ordenamento processual como mais uma das inovações trazidas pela lei nº

11.232/2005. O artigo revela a tendência atual de um processo sincrético, se

não houver o cumprimento voluntário da sentença, o que será permitido no

prazo de 15 dias, ao débito será acrescido de multa de 10 % (dez por cento),

sendo facultado ao exeqüente, no seu requerimento para expedição do

mandado de penhora e avaliação, indicar desde logo os bens do executado

para penhora.

Com a inserção do artigo 475-J no Código de Processo Civil, este

passou a ter a seguinte redação:

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de

quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no

prazo de quinze dias, o montante da condenação será

acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a

requerimento do credor e observado o disposto no art.

614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de

penhora e avaliação.

§ 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato

intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts.

236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal,

ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo

oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.

§ 2º Caso o oficial de justiça não possa proceder à

avaliação, por depender de conhecimentos

15

especializados, o juiz, de imediato, nomeará avaliador,

assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo.

§ 3º O exeqüente poderá, em seu requerimento, indicar

desde logo os bens a serem penhorados.

§ 4º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no

caput deste artigo, a multa de dez por cento incidirá sobre

o restante.

§ 5º Não sendo requerida a execução no prazo de seis

meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de

seu desarquivamento a pedido da parte.

Como se pode observar, apesar de buscar de maior efetividade das

decisões de mérito proferidas pelo juízo, o Legislador terminou por omitir o

termo a quo para contagem do prazo para o pagamento espontâneo da

condenação o que revela a necessidade de estudar os aspectos da multa do

artigo 475-J do Código de Processo Civil.

2.1 – Da Natureza Jurídica da Multa

A doutrina ainda não está concisa quanto ao caráter da multa do artigo

475-J do Código de Processo Civil, não chegando ao consenso de se a

referida multa seria ela uma medida coercitiva ao devedor-executado para o

cumprimento da sentença condenatória, ou uma medida punitiva ao

cumprimento intempestivo da obrigação?

Uma parte da doutrina defende tratar-se de uma multa legal com

objetivo de forçar o cumprimento da obrigação imposta no comando sentencial,

revelando uma medida de coerção indireta, dispensando a manifestação

judicial, diferente do que ocorre com a multa coercitiva, como a dos §§ 4º e 5º

do artigo 461 do Código de Processo Civil.

16

Do entendimento acima partilham Luiz Rodrigues Wambier; Teresa

Arruda Alvim Wambier2; José Miguel Garcia Medina e Cássio Escarpinella

Bueno.

O time de doutrinadores defendem o caráter coercitivo da multa, o

fazem sob o argumento que a simples existência de sanção pelo não

pagamento espontâneo geraria no devedor um caráter psicológico para

promover o adimplemento da dívida a qual fora condenado dentro do prazo

estipulado pela lei que é de quinze dias, ou seja, a existência da multa forçaria

o devedor ao pagamento tempestivo, sob pena de sua incidência.

Vale trancrever o entendimento de Cássio Scarpinella Bueno, que trata

a multa da seguinte forma:

“tem clara natureza coercitiva, visando incutir no espírito

do devedor que as decisões jurisdicionais “devem ser

cumpridas e acatadas de imediato, sem tergiversações,

sem delongas, sem questionamentos, sem hesitações, na

exata medida em que elas sejam eficazes, isto e, na

exata medida em que elas surtam seus regulares efeitos.3

Por outro lado há quem entenda que o caráter da multa é punitivo, haja

vista que somente ocorrerá sua incidência no caso de o devedor não efetue o

pagamento voluntário do valor devido pela sentença condenatória dentro do

prazo estabelecido no artigo, pois a multa somente incidirá caso não haja o

cumprimento voluntário da obrigação dentro do prazo legal, sendo desta

maneira o devedor penalizado com a multa, ou seja a aplicação da multa seria

ope legis, antes mesmo do início da fase de cumprimento.

2 WAMBIER, Luiz Rodrígues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentarios à Nova Sistemática Processual

Civil, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006

3 BUENO, Cássio Scarpinella. A Nova Etapa da Reforma do Código de Processo Civil - Comentários sistemáticos às Leis n. 11.187, de 19-10-2005, e

11.232, de 22-12-2005. 1 v. São Paulo: Saraiva, 2006. p.102

17

O entendimento é encabeçado por Fredie Didier Júnior, Sergio

Shimura; Flavio Cheim Jorge; Marcelo Abelha Rodrigues; Daniel Amorim

Assumpção Nevese Vitor J. de Melo Monteiro.

Como já explanado a multa coercitiva tem o cunho de compelir o

devedor ao cumprimento da determinação do comando sentencial dentro do

prazo estabelecido na lei, sob pena de ter que pagar o valor devido com

acréscimo de 10%. Neste caso, em sendo efetuado o pagamento no prazo

previsto, somente a possibilidade de incidência da multa já exerceria sua

função coercitiva, ou seja, pressionando o devedor ao pagamento naquele

momento, sob pena de majoração no seu débito.

Pelo outro pensamento, utilizando o mesmo exemplo, contudo, na

hipótese do devedor não haver cumprido a determinação judicial dentro dos

quinze dias conforme dispõe o artigo 475-J do Código de Processo Civil,

sumariamente incidirá sobre o débito exeqüendo a multa de 10%, nascendo

neste momento o seu caráter punitivo em virtude do descumprimento do

comando judicial, acrescendo-se a multa ao total do débito.

Aprofundando um pouco mais o estudo da multa, apesar de distintos

posicionamentos dos doutrinadores citados, existe também a discussão no

sentido de que a multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil

teria uma natureza dúplice que segundo professor Fredie Didier Júnior:

“a multa tem, assim, dupla finalidade: servir como

contramotivo para inadimplemento (coerção) e punir o

inadimplemento (sanção)”4

Também pactuam do mesmo entendimento Paula Sarno Braga e

Rafael Oliveira, e segundo os mestres esta natureza híbrida está interligada

diretamente à análise do caso concreto, pois caso seja cumprida sentença

4 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2008. p 515.

18

dentro do prazo estabelecido pelo art. 475-J do CPC, não há que se falar em

incidência da multa. O que se conclui é que a simples existência da norma foi

capaz de compelir o devedor ao pagamento da quantia de forma voluntária.

Todavia aquele devedor de quantia certa ou já fixada em liquidação que não

tenha realizado pagamento dentro dos quinze dias, seja lá qual o termo a quo,

a multa será automaticamente devida, mostrando-se, pois, uma medida

punitiva ao devedor que deixou de efetuar o pagamento tempestivamente.

2.2 – Das teorias da incidência da multa do art. 475-J

Após análise dos aspectos gerais sobre a imposição da multa prevista

no artigo 475-J do Código de Processo Civil, cabe neste ponto trazer os

entendimentos e interpretações acerca marco inicial para contagem do prazo

de 15 dias a que se refere o artigo.

Conforme já relatado anteriormente o artigo 475-J do CPC, apesar de

fixar o percentual do valor da multa que deverá ser aplicado, deixou de

estabelecer o a partir de quando estaria sujeito o devedor ao pagamento do

valor. Não é demais transcrever o caput do artigo supra:

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de

quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no

prazo de quinze dias, o montante da condenação será

acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a

requerimento do credor e observado o disposto no art.

614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de

penhora e avaliação.

A partir de agora serão expostas interpretações formadas pelos

estudiosos e pelos operadores do direito que não formaram ainda um

19

consenso sobre a matéria, o que demonstra ainda mais a necessidade do

presente estudo.

2.2.1. – Do Início a Partir da Intimação: Pessoal do Réu ou de Seu

Advogado?

Dentro deste entendimento parte da doutrina acredita que, para o

cumprimento da obrigação constante da sentença referida no art. 475-J, caput,

do CPC, faz-se necessária prévia intimação do Réu e a outra entende bastar

que a intimação se dê na pessoa de seu advogado.

A norma processual deve ser interpretada de acordo com a realidade

que se apresenta nos autos, proporcionando a celeridade, efetividade e

simplificação do direito e desta maneira deve-se enaltecer a idéia de

desenvolver o processo de forma mais simples e menos suscetível à promoção

de incidentes processuais desnecessários.

Como já dito, existe uma corrente que entende necessária a intimação

do executado para que este cumpra a sentença. É por este motivo que a

intimação para o cumprimento da sentença deve se dar na pessoa do devedor,

e não deve ser feita através de seu advogado, sendo diversas as razões que

conduziriam à esta conclusão.

Segundo os defensores da teoria com o art. 475-J, caput, “caso o

devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em

liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação

será acrescido de multa no percentual de dez por cento”. Note-se que não há

na regra jurídica qualquer menção quanto à necessidade de intimação do

advogado do devedor para início do prazo de 15 dias.

Na mesma linha, de acordo com o § 1º desse mesmo dispositivo legal,

“do auto de penhora e avaliação será de imediato intimado o executado, na

20

pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237) ou, na falta deste, o seu

representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo

oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.” Entretanto, a

intimação do auto de penhora e avaliação somente ocorrerá em momento

diverso, isto é, se e no ato da penhora, diante da negativa do devedor em

cumprir a obrigação, após ter sido a isso adequada e suficientemente aceito

pelo Poder Judiciário.

Neste caso é plenamente justificável que a intimação que seja feita na

pessoa do advogado, porque o ato a ser realizado – apresentação de

impugnação à execução – é ato para o qual se exige capacidade postulatória,

isto é, o ato é inerente à atividade advocatícia, o que também ocorre no caro

do artigo 475-A, § 1º do Código de Processo Civil.

O entendimento dos defensores da teoria é que faz-se necessária

distinção entre atos estritamente processuais, que exigem atuação do

advogado através de sua capacidade postulatória dos atos materiais de

cumprimento da obrigação, seja ela de pagar ou de fazer e no caso da

imposição de multa deverá ser cumprido pela própria parte,

independentemente da participação do advogado, sob pena de sanção

pecuniária que será suportada ao próprio e não ao seu advogado.

Por outro lado há quem entenda que, em razão de a execução ter que

ser processada no juízo de origem, em caso de interposição de recurso aos

Tribunais de instâncias superiores, apenas quando os autos estivessem

disponíveis poderia o devedor promover o pagamento da condenação. Nesse

sentido, leia-se o ensino de Humberto Theodoro Júnior:

“Se o trânsito em julgado ocorrer em instância superior

(em grau de recurso), enquanto os autos não baixarem à

instância de origem, o prazo de 15 dias não correrá, por

21

embaraço judicial. Será contado a partir da intimação às

partes, da chegada do processo ao juízo da causa”5

Pela teoria apresentada caso o advogado não informe a parte a

respeito da publicação da sentença, para que tome ciência do tramite

processual ou mesmo informe de que todas as possibilidades recursais

encontram-se esgotadas, é sinal de desídia do causídico, que deverá

responder pelos danos que causar ao seu cliente.

Desta maneira, caso não tenha sido interposto recurso, após 15 dias

da decisão que fixa o montante da condenação, incidiria uma multa de 10%

sobre este valor.

2.2.2. – Do Início do a partir do momento que a condenação torna-se

exigível – Desnecessidade de Intimação

Alguns processualistas vem entendendo que o prazo para o

pagamento espontâneo do valor da condenação teria início a partir do

momento em que a condenação se tornar exigível, seja pelo fato de ter

transitado em julgado seja por ter sido interposto recurso sem efeito

suspensivo, uma vez que o artigo 475-J do Código de Processo Civil não

estabelece qualquer procedimento especial que o devedor proceda o depósito.

Mas, como o prazo flui a partir do momento em que o crédito se torna exigível,

e a exigibilidade se pauta na liquidez, presumindo a ciência do executado do

valor da dívida.

Neste contexto Araken de Assis manifestou-se da seguinte forma:

“Além desses aspectos, o art. 475-J, caput , estipulou o

prazo de espera de quinze dias, no curso do qual o

condenado poderá solver a dívida pelo valor originário, ou

5 THEODORO JUNIOR, Humberto. Revista iob de direito civil e processual civil, v. 8, n. 43, set/out.,2006, p.64

22

seja, sem o acréscimo da multa de 10% (dez por cento).

O prazo flui da data em que a condenação se tornar

exigível. É o que se extrai da locução “condenado ao

pagamento de quantia certa, ou já fixada em liquidação”.

(...) O prazo de espera visa à finalidade, sempre louvável,

de evitar o processo. Vencido o interregno de quinze dias,

automaticamente incidirá a multa de 10% (dez por cento).

Por tal motivo, constará da planilha que instruirá o

requerimento executivo.”

Portanto, tem-se que o prazo do art. 475-J inicia-se a partir da ciência

do devedor da quantia a ser adimplida. Em outras palavras, sendo a

condenação certa, não ensejando processo de liquidação, o prazo para o seu

cumprimento se inicia do seu trânsito em julgado.

É notório que existe uma certa demora no retorno dos autos ao juízo

de origem que os processou em primeiro grau de jurisdição – tempo mais do

que suficiente para ser implementada a multa estipulada no art. 475-J.

Nesta hipótese existe um evidente impedimento do devedor

condenado ao cumprimento da obrigação que lhe fora imposta não sendo

razoável sua punição por não ter cumprido espontaneamente a obrigação no

prazo legal por estar impedido de efetivá-la.

Por esta ótica a solução da controvérsia aponta em uma integração da

reformas introduzida pela Lei 11.232/05 com as propostas da Lei 8.952/94 (§4º

do artigo 461 do CPC) e pela Lei 10.444/02 (artigo 461-A do CPC), que

promoveram as alterações do CPC de 1994 e 2002.

Analisando a abordagem do entendimento trazidos pelas leis acima

citadas, temos que a intimação do devedor para o cumprimento espontâneo da

23

obrigação por quantia certa é a interpretação que mais se aduna ao espírito

das reformas que vem sendo submetido o CPC pátrio.

Assim uma vez devolvidos autos das Instâncias Superiores, ou

transitado em julgado a sentença, o credor informará ao juízo o montante de

seu crédito, nos termos do artigo 475-B do Código de Processo Civil, com

todas as cominações legais ou as que forem determinadas pela sentença,

salvo os casos que necessitem de liquidação, com requerimento de execução

com aplicabilidade da multa do artigo 475-J do CPC e dos Honorários

Advocatícios pela execução.

Com a manifestação do exeqüente, caberia ao juízo determinar a

intimação do devedor, que, ai sim, se não cumprir espontaneamente com a

obrigação no prazo de 15 dias, terá expedido contra si, automaticamente, o

mandado de penhora com as penalidades trazida pela nova legislação.

Por estes termos, sopesando a redação dos artigos 461 §4º e 461-A,

ambos do Código de Processo Civil, a orientação que norteia toda nossa

sistemática processual é de que, não cabe aplicação de penalidade antes de o

devedor ter tido a oportunidade de promover o cumprimento espontâneo da

obrigação, definindo desta forma um marco um marco zero de início para a

contagem de seu prazo, uma vez que o legislador com isso não se preocupou.

2.2.3. – Do Início do prazo com o trânsito em julgado

Parte da doutrina tem o entendimento de que o início da contagem do

prazo inicia-se com o mero trânsito em julgado, independentemente de

certidão ou intimação, baseando sua tese, entre outras coisas, na

impossibilidade por parte do devedor de cumprir a sentença em primeiro grau

se os autos estivessem em instância superior.

24

Neste diapasão os defensores desta corrente afirmam que por questão

de segurança jurídica, seria de bom alvitre a intimação pessoal do Réu para

cumprimento da sentença (tal como ocorre com as sentenças mandamentais

referentes a obrigações de fazer, ao arrepido do que dispõe a súmula 410 do

STJ6), não podendo aquele se sujeitar à multa por eventual falta de

comunicação de seu advogado.

Outro contraponto à esta teoria está pautada na premissa que em

diversos casos inexiste no processo de conhecimento o valor líquido a ser

executado, mostrando-se claro artigo que a multa só incide quando o devedor

for “condenado ao pagamento da quantia certa ou já fixada em liquidação”.

Em caso concreto cabe transcrever aresto do Superior Tribunal de

Justiça no leading case, no qual se decide, pela primeira vez nos tribunais

superiores, sobre a desnecessidade de nova intimação do devedor para que

se inicie o prazo para o cumprimento da sentença, bastando para tanto o

transito em julgado:

“ ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA.

MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE

VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da

sentença que condena ao pagamento de quantia certa

consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários,

a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária

a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada em julgado

a sentença condenatória, não é necessário que a parte

vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja

intimada para cumpri-la. 3. Cabe ao vencido cumprir

6 “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não

fazer”

25

espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena

de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%".”7

Este mesmo posicionamento vem sendo adotado nos Juizados

Especiais Cíveis do Tribunal do Estado do Rio de Janeiro o que pode ser

verificado nos julgamentos abaixo:

“AUTOR: TATIANE GUERREIRO DE OLIVEIRA

LINHARES RÉU: SONY ERICSSON MOBILE COM DO

BRASIL LTDA. PROJETO DE SENTENÇA Dispensado o

relatório, na forma do art. 38 da Lei nº 9099/95. (...) Por

tais fundamentos JULGO PROCEDENTE o pedido para

condenar a ré a realizar a troca do aparelho por outro

similar ou compatível em 15 dias, sob pena de multa a ser

fixada em execução, bem como, a pagar o valor de R$

600,00 a título de danos morais, corrigido monetariamente

pelo índice da Corregedoria Geral de Justiça e acrescido

de juros de 1% ao mês desde a data da sentença. O réu

deverá efetuar o pagamento do valor da condenação

no prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em julgado da

sentença, sob pena de incidência da multa de 10%

(dez por cento) sobre o valor da condenação prevista

no artigo 475-J do Código de Processo Civil. Sem

custas nem honorários na forma do artigo 55 da Lei n°

9.099/95. Após as formalidades legais, dê-se baixa e

arquive-se. P.R.I. Anote-se onde couber o nome do

advogado da parte ré para futuras publicações. Rio de

Janeiro, 06 de agosto de 2010. LILIAN MEIS CARNEIRO

JUÍZA LEIGA Projeto de Sentença sujeito à homologação

7 Disponível em www.stj.jus.br: RECURSO ESPECIAL N.º 954.859 - RS (2007/0119225-2) RELATOR: MINISTRO HUMBERTO GOMES DE

BARROS. EMENTA: LEI 11.232/2005

26

pelo MM. Juiz de Direito, SENTENÇA Homologo a

decisão acima, nos termos do artigo 40 da Lei n°

9.099/95, para que produza seus efeitos jurídicos e

legais. Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2010. MARCO

JOSÉ MATTOS COUTO JUIZ DE DIREITO”8

“PROJETO DE SENTENÇA Dispensado o relatório, na

forma do art. 38 da Lei nº 9099/95. LIVIA ALVES RAMOS

moveu ação indenizatória em face de RIO SPORT

CENTER LTDA em que pretende reparação por danos

morais por não ter o réu permitido a entrada em seu

estabelecimento. (...) Por tais fundamentos JULGO

PROCEDENTE o pedido para condenar a ré a pagar o

valor de R$ 1.000,00 a título de danos morais, corrigido

monetariamente pelo índice da Corregedoria Geral de

Justiça e acrescido de juros de 1% ao mês desde a data

da sentença. Os réus deverão efetuar o pagamento do

valor da condenação no prazo de 15 (quinze) dias do

trânsito em julgado da sentença, sob pena de

incidência da multa de 10% (dez por cento) sobre o

valor da condenação prevista no artigo 475-J do

Código de Processo Civil. Sem custas e honorários

advocatícios, na forma do que dispõe a cabeça do artigo

55 da Lei 9.099/1995. Transitada em julgado, dê-se baixa

e arquivem-se. P.R.I. Projeto de sentença sujeito à

homologação pelo MM. Juiz de Direito, com base no art.

40 da Lei nº 9099/95.9

Pela observação dos comentários da doutrina e do que vem sendo

aplicado pela jurisprudência, podemos concluir que a teoria apresentada pode

8 Disponível em www.tjrj.jus.br: Processo nº 2009.203.038763-7 9 Disponível em www.tjrj.jus.br: Processo nº 0006728-61.2010.8.19.0209

27

ter efetividade quando o assunto tratado são processos em que a liquidação da

sentença não se faz necessária, como é o caso dos juizados especiais cíveis.

Porém a mesma dialética não se aplica aos processos em que a liquidação

deve ser realizada, pois o devedor quando do trânsito em julgado, até então,

não tem ciência do valor devido ao credor

2.3 – Do posicionamento do STJ

Após a demonstração dos diversos entendimentos e aplicações no

tocante ao termo a quo para incidência da multa prevista no caput do artigo

475-J do Código de Processo Civil, para engrossar o estudo apresentado, cabe

a demonstrar a evolução do entendimento do Superior Tribunal de Justiça que,

de certa forma passa por alguma das teorias apresentadas.

Assim que as demandas foram sendo levadas ao Órgão Superior da

Justiça, o primeiro entendimento dos Ministros foi de interpretar a lei na sua

concepção pura, sem qualquer análise do contexto que do código. Neste ponto

o entendimento adotado era de que o prazo de 15 dias previsto no artigo 475-J

do Código de Processo Civil teria início automático com o trânsito em julgado,

seja da sentença ou do acórdão, sendo desnecessária intimação prévia do

devedor ou de seu patrono para o cumprimento espontâneo da decisão

condenatória.

O entendimento foi adotado pelas 6 Turmas do Superior Tribunal de

Justiça e podem ser observadas nos julgamentos abaixo transcritos:

“AGRAVO REGIMENTAL – RECURSO ESPECIAL –

ARTIGO 475-J DO CPC – TERMO INICIAL PARA A

INCIDÊNCIA DA MULTA. O termo inicial do prazo que

trata o art.475-J, caput, do Código de Processo Civil é

o próprio trânsito em julgado da sentença

condenatória, não sendo necessário que a parte

28

vencida seja intimada pessoalmente ou por seu

patrono para saldar a dívida. Agravo Improvido.”10

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI N. 11.232/2005.

ARTIGO 475-J. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA.

INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE VENCIDA.

DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que

condena ao pagamento de quantia certa consuma-se

mediante publicação pelos meios ordinários, a fim de

que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a

intimação pessoal do devedor.2. Transitada em julgado

a sentença condenatória, não é necessário que a parte

vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja

intimada para cumpri-la.3. Deve a parte vencida cumprir

espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena

de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%.4.

Agravo regimental desprovido.11

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. LEI

11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA

SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA

PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. SÚMULA

83/STJ. 121. "Transitada em julgado a sentença

condenatória, não é necessário que a parte vencida,

pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada

para cumpri-la" (REsp 954.859/RS, Rel. Min. Humberto

Gomes de Barros, DJU de 27.08.07). O executado deve

cumprir espontaneamente a obrigação, no prazo de

10 AgRg no REsp 1076882/RS, 3ª Turma, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 23/09/2008, DJe 08/10/2008) 11 STJ – 4ª T., AgRg no Ag nº 1.046.147/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 06.10.2008 12 (STJ – 2ª T., AgRg no REsp nº 1.024.631/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJe 10.10.2008)

29

quinze dias, sob pena de multa de 10% sobre o valor da

condenação.2. Agravo regimental não provido”

No entanto, de forma inovadora, a 4ª Turma do STJ em julgamento do

processo da relatoria do ministro João Otávio de Noronha mudou seu

entendimento e passou a defender a existência de necessidade de intimação

do devedor através de seu patrono para o início da contagem do prazo de 15

dias para o pagamento espontâneo da condenação imposta ao devedor, senão

vejamos:

"(...) 2. A fase de cumprimento de sentença não se efetiva

de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em

julgado da decisão. De acordo com o art. 475-J

combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC,

cabe ao credor o exercício de atos para o regular

cumprimento da decisão condenatória, especialmente

requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o

montante apurado, consoante memória de cálculo

discriminada e atualizada"13

A nova interpretação foi de suma importância à pratica forense, uma

vez que existe uma dificuldade de se cumprir o a sentença quando os autos

não se encontram no juízo em que se processará a execução14, sendo, pois,

necessária intimação da parte por seu patrono do retorno dos autos à origem.

A idéia parte da interpretação conjunta com o que dispõem os artigos

475-J e 475-P, inciso II e § único:

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de

quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no

prazo de quinze dias, o montante da condenação será

13 EDcl no Ag 1136836/RS, 4ª Turma, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 04/08/2009, DJe 17/08/2009 14 Artigo 475-P, inciso II do Código de Processo Civil

30

acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a

requerimento do credor e observado o disposto no art.

614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de

penhora e avaliação.

Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á

perante:

II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de

jurisdição;

Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste

artigo, o exeqüente poderá optar pelo juízo do local onde

se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do

atual domicílio do executado, casos em que a remessa

dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

Todavia o entendimento da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça

não foi não foi unânime dentro do Órgão, que deveria uniformizar o

entendimento dos Tribunais a quo, e desta forma a matéria em estudo foi

levada à Corte Especial através do julgamento do Recurso Especial nº

940.274/MS que destaca muito bem a temática da execução e o entendimento

da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, senão vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005.

CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. EXECUÇÃO POR

QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE. ART. 475-P,

INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO

INICIAL DO PRAZO DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA

PESSOA DO ADVOGADO PELA PUBLICAÇÃO NA

IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA.

JUROS COMPENSATÓRIOS. INEXIGIBILIDADE.

1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma

automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da

decisão. De acordo com o art. 475-J combinado com os

31

arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o

exercício de atos para o regular cumprimento da decisão

condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê

ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante

memória de cálculo discriminada e atualizada.

2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença

condenatória com força de executiva (sentença executiva)

ocorrer em sede de instância recursal (STF, STJ, TJ E

TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a

aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, o

devedor haverá de ser intimado na pessoa

do seu advogado, por publicação na imprensa oficial,

para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a

partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir

sobre o montante da condenação, a multa de 10% (dez

por cento) prevista no art. 475-J, caput, do Código de

Processo Civil.

3. O juízo competente para o cumprimento da sentença

em execução por quantia certa será aquele em que se

processou a causa no Primeiro Grau de Jurisdição (art.

475-P, II, do CPC), ou em uma das opções que o credor

poderá fazer a escolha, na forma do seu parágrafo único

– local onde se encontram os bens sujeitos à

expropriação ou o atual domicílio do executado.

4. Os juros compensatórios não são exigíveis ante a

inexistência do prévio ajuste e a ausência de fixação na

sentença.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.”15

Como se observa o julgamento do Recurso Especial confirmou o

entendimento da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça que defende a

32

tese de que começa a ser computado somente a partir da intimação do

advogado do devedor, haja vista que a execução deverá ser promovida junto

ao juízo de origem dos Autos. Isto levou à Corte elaborar o informativo nº 429,

que deveria servir de parâmetro para os Tribunais, abaixo transcrito:

“CUMPRIMENTO. SENTENÇA. INTIMAÇÃO. Tratou-se de REsp remetido pela Terceira Turma à Corte

Especial, com a finalidade de obter interpretação

definitiva a respeito do art. 475-J do CPC, na redação que

lhe deu a Lei n. 11.232/2005, quanto à necessidade de

intimação pessoal do devedor para o cumprimento de

sentença referente à condenação certa ou já fixada em

liquidação. Diante disso, a Corte Especial entendeu, por

maioria, entre outras questões, que a referida intimação

deve ser feita na pessoa do advogado, após o trânsito em

julgado, eventual baixa dos autos ao juízo de origem, e a

aposição do “cumpra-se”; pois só após se iniciaria o prazo

de quinze dias para a imposição da multa em caso de não

pagamento espontâneo, tal como previsto no referido

dispositivo de lei. Como destacou o Min. João Otávio de

Noronha em seu voto vista, a intimação do devedor

mediante seu advogado é a solução que melhor atende

ao objetivo da reforma processual, visto que não

comporta falar em intimação pessoal do devedor, o que

implicaria reeditar a citação do processo executivo

anterior, justamente o que se tenta evitar com a

modificação preconizada pela reforma. Aduziu que a

dificuldade de localizar o devedor para aquela segunda

citação após o término do processo de conhecimento era

um dos grandes entraves do sistema anterior, por isso ela

foi eliminada, conforme consta, inclusive, da exposição de

15 REsp 940.274/MS, 3ª Turma, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 07/04/2010, DJe 31/05/2010

33

motivos da reforma. Por sua vez, o Min. Fernando

Gonçalves, ao acompanhar esse entendimento, anotou

que, apesar de impor-se ônus ao advogado, ele pode

resguardar-se de eventuais acusações de

responsabilidade pela incidência da multa ao utilizar o

expediente da notificação do cliente acerca da

necessidade de efetivar o pagamento, tal qual já se faz

em casos de recolhimento de preparo. A hipótese era de

execução de sentença proferida em ação civil pública na

qual a ré foi condenada ao cumprimento de obrigação de

fazer, ao final convertida em perdas e danos (art. 461, §

1º, do CPC), ingressando a ora recorrida com execução

individual ao requerer o pagamento de quantia certa,

razão pela qual o juízo determinou a intimação do

advogado da executada para o pagamento do valor

apresentado em planilha, sob pena de incidência da multa

do art. 475-J do CPC. Precedentes citados: REsp

954.859-RS, DJ 27/8/2007; REsp 1.039.232-RS, DJe

22/4/2008; Ag 965.762-RJ, DJe 1º/4/2008; Ag 993.387-

DF, DJe 18/3/2008, e Ag 953.570-RJ, DJ

27/11/2007.REsp 940.274-MS, Rel. originário Min.

Humberto Gomes de Barros, Rel. para acórdão Min.

João Otávio de Noronha, julgado em 7/4/2010.”

Apesar de não possuir qualquer efeito vinculante é inegável a

existência de avanço do raciocínio do Superior Tribunal de Justiça ao entender

que o prazo previsto no art. 475-J do CPC somente tem início quando da

intimação do advogado do devedor do retorno dos autos ao juízo de origem.

34

CAPÍTULO III

OUTRAS CONSIDERAÇÕES A CERCA DA LEI Nº

11.232/2005

Não só quanto ao momento da incidência da multa prevista no artigo

475-J do Código de Processo Civil a lei nº 11.232/2005 em vigor a partir de 24

de junho de 2006, também gerou outras divergências no mundo jurídico que

terminaram por gerar outras discussões que, muito embora não seja, o objeto

principal de nosso estudo, também merecem análise e os devidos

comentários.

A primeira controvérsia refere-se ao fato da possibilidade imposição da

multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil quando da

execução provisória, ou seja, se é possível aplicar a penalidade quando ainda

pendem de julgamento recursos não recebidos no efeito suspensivo.

O segundo ponto que iremos apresentar está ligado à sistemática do

processo civil com a concretização de um sistema unitário como uma das

alterações mais significativas para a execução de obrigação por quantia certa

disposta na sentença, pois deixou de ser um processo autônomo, passando a

ser considerado como fase procedimental. Por conta disto abriu-se a discussão

se a Lei nº 11.232/05 alterou ou não a redação do art. 20, § 4º, do CPC, não

fazendo a lei distinção entre o título judicial ou extrajudicial.

3.1 – Da imposição da multa nas execuções provisórias

O ordenamento processual jurídico vigente faculta ao credor a

possibilidade de proceder a execução, adiantando os atos executivos e

concedendo maior possibilidade de êxito no resultado prático da execução de

35

forma provisória, quando esteja pendente recurso recebido apenas no seu

efeito devolutivo.

Nesta esteira o artigo 475-L, §1º do código de processo civil dispõe o

seguinte:

Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme

os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de

obrigação por quantia certa, por execução, nos termos

dos demais artigos deste Capítulo.

§ 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste

artigo, considera-se também inexigível o título judicial

fundado em lei ou ato normativo declarados

inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou

fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato

normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como

incompatíveis com a Constituição Federal

O que se extrai da leitura do artigo é que a execução provisória permite

ao credor a possibilidade de concretizar um julgado que lhe foi favorável,

mesmo havendo a pendência de eventual recurso desprovido de efeito

suspensivo.

Desta maneira antes das reformas havidas no Código de Processo

Civil, ocorridas no ano de 2002, a execução provisória se diferenciava da

definitiva pela impossibilidade de o vencedor/exequente chegar ao fim do

procedimento. Entretanto, como explica o Professor Fredie Didier Júnior, a

diferença substancial entre estas duas espécies de execução não reside mais

na possibilidade de chegar-se ou não à fase final do procedimento executivo,

com a entrega do objeto da prestação ao credor.

36

Esta distinção entre espécies de execução passou teve mais

embasamento tomando por base este critério, que agora repousa na

estabilidade do título executivo que se funda a execução, ou seja, em se

tratando de decisão abarcada pela coisa julgada material, a execução é

definitiva, porém se estamos falando em decisão judicial ainda passível de

alteração (reforma ou invalidação), em razão da pendência de recurso contra

ela interposto, a que não tenha sido atribuído efeito suspensivo, a execução é

provisória.

Após estas considerações necessárias cabe-nos analisar a

possibilidade ou não de incidir a multa do artigo 475-J do CPC no caso de uma

execução provisória, ante as reformas introduzidas pela lei 11.232/2005.

O ponto principal desta questão está pautada na redação do artigo

475-O do Código de Processo Civil que prescreve o seguinte:

Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á,

no que couber, do mesmo modo que a definitiva,

observadas as seguintes normas

Da leitura do artigo fica evidente que a execução provisória será

promovida da mesma forma que a definitiva.

Ocorre que não nos parece razoável aplicação da multa do artigo 475-

J do CPC quando ainda não ocorreu o trânsito em julgado da sentença e

corroborando com este entendimento Humberto Theodoro Júnior defende que

a multa de 10% (dez por cento) do artigo 475 – J do CPC não é devida na

execução provisória. Segundo o doutrinador:

“(...) A multa em questão é própria da execução definitiva,

pelo que pressupõe sentença transitada em julgado.

Durante o recurso sem efeito suspensivo, é possível a

37

execução provisória, como faculdade do credor, mas

inexiste, ainda, a obrigação de cumprir espontaneamente

a condenação para o devedor. Por isso não se pode

penalizá-lo com a multa pelo atraso naquele

cumprimento”.16

Por esta ótica podemos inferir que se a multa prevista no art. 475-J

pressupõe a existência de sentença transitada em julgado e, com efeito, a

própria estabilidade do titilo executivo, não seria razoável aplicá-la aos casos

de execução provisória, pois estar-se-ia infringindo o direito constitucional do

executado de recorrer de uma decisão que lhe é desfavorável e com a qual

não concorda

O Superior tribunal de Justiça vêm entendendo pela incompatibilidade

da incidência da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil em sede de

execução provisória, o que muito provavelmente será a próxima e nova

tendência dos nossos Tribunais. Vejamos o quanto decidiu aquele Tribunal

maior:

“PROCESSUAL CIVIL – MULTA DO ART. 475-J DO CPC

– INCIDÊNCIA NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA –

IMPOSSIBILIDADE – INCOMPATIBILIDADE LÓGICA –

NECESSIDADE DE AFASTAMENTO DA MULTA.

1. O artigo 475-J, com redação dada pela Lei n.

11.232/2005, foi instituído com o objetivo de estimular o

devedor a realizar o pagamento da dívida objeto de sua

condenação, evitando assim a incidência da multa pelo

inadimplemento da obrigação constante do título

executivo.

16 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Processo Civil. Processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. Rio de

Janeiro: Forense, 2007. p 53

38

2. A execução provisória não tem como escopo primordial

o pagamento da dívida, mas sim de antecipar os atos

executivos, garantindo o resultado útil da execução.

3. Compelir o litigante a efetuar o pagamento sob pena de

multa, ainda pendente de julgamento o seu recurso,

implica em obriga-lo a praticar ato incompatível com o seu

direito de recorrer (art. 503, parágrafo único do CPC),

tornando inadmissível o recurso.

4. Por incompatibilidade lógica, a multa do artigo 475-J do

CPC não se aplica na execução provisória. Tal

entendimento não afronta os princípios que inspiraram o

legislador da reforma. Doutrina. Recurso especial

provido”.17

Assim podemos observar que a interpretação da norma pelos

magistrados e pela doutrina é no sentido de inexistir a possibilidade de

incidência da multa prevista no artigo 475-J do CPC, uma vez que a natureza

provisória da execução de adiantamento dos atos executórios não permite a

inserção da sanção imposta quando o devedor efetivamente tiver que ser

compelido a pagar o valor devido

3.2 – Dos honorários advocatícios em sede de execução

Com o advento da Lei 11.232/2005 ficou evidente a concretização de

um sistema processual unitário, pois deixou de ser um processo autônomo,

passando a ser considerado como fase procedimental, o chamado sincretismo.

Com o fim da nova fase de execução e a dispensa da formação de

novo processo nasceu a duvida se, em razão de tratar-se de um processo só,

17 REsp 1100658 / SP RECURSO ESPECIAL 2008/0236605-3; Relator(a) Ministro HUMBERTO MARTINS; Órgão Julgador T2; – SEGUNDA TURMA; Data

do Julgamento 07/05/2009

39

seriam devidos novos honorários advocatícios em razão da necessidade de

execução forçada por parte do credor.

Nos termos do art. 475-J do Código de Processo Civil e seus

parágrafos, o legislador visou a criação de mecanismos processuais para

impedir a formação de uma execução autônoma, privilegiando a efetivação da

decisão prolatada. Assim, a relação processual seria preservada, sendo

complementada por atos subseqüentes e conseqüentes da sentença, caso não

venha o devedor cumprir com a sentença condenatória.

De modo geral a execução de título judicial deixou de ser um

procedimento autônomo o que, para alguns juristas, em razão do

desaparecimento da figura da “execução de sentença”, afastou-se a incidência

de honorários advocatícios na fase de cumprimento da decisão, assim como

ocorreu em alguns tribunais, proferiram decisões neste sentido:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE DE

CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. Com o advento da Lei

11.232/2005, não há mais diferenciação entre processo

de conhecimento e processo de execução de título

judicial, porque essa não mais existe no mundo jurídico,

substituída que foi pelo cumprimento de sentença.

Inexistindo processo de execução, mas tão somente

cumprimento de sentença, que corresponde à mera

continuação do processo de conhecimento, incabível a

fixação de honorários advocatícios. Nunca foi da tradição

do nosso direito a imposição de verba honorária na

execução por título judicial, o que somente surgiu em

nosso direito positivo com a Lei n° 8.952, de 13 de

dezembro de 1994. Com muito mais razão agora, em que

não existe mais essa modalidade de execução (por título

judicial) e já é imposta ao devedor a multa de 10%,

40

prevista no novo art. 475-J da Lei processual, descabe a

condenação ao pagamento de tal verba. O § 4° do art. 20

da Lei processual, com a redação que lhe deu a Lei nº

11.232, de 22 de dezembro de 2005, somente é aplicável

às execuções por título extrajudicial, única que existe no

processo civil pátrio. Incabível, pois, pretender cobrar

honorários advocatícios.18

FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE

DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - NÃO

CABIMENTO. Na sistemática do cumprimento de

sentença introduzida pela Lei nº 11.232/2005, a

condenação determinada no título executivo judicial

passa a ser efetivada por meio de mero incidente

processual, não ensejando a fixação de novos honorários

advocatícios.19

No entanto o entendimento de que a nova sistemática processual

introduzida pela Lei nº 11.232/05 ter passado a considerar a execução como

um mero procedimento incidental impediria o arbitramento de verba honorária

não vigorou por muito tempo, pois fato de a referida lei ter alterado a natureza

da execução de sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo

e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo em que o

provimento é assegurado, não traria nenhuma modificação no que tange aos

honorários advocatícios.

Com relação à matéria o Superior Tribunal de Justiça decidiu pela

possibilidade de incidência de honorários advocatícios na fase processual de

cumprimento de sentença. Com relatoria da Ministra Nancy Andrighi, o Tribunal

enfrentou a matéria pela primeira vez em sede de recurso especial desde a

18 TJ-RJ – AI 2008.002.08269 – 15ª Câm. Cív. – Rel. Des. Sérgio Lúcio Cruz – Julg. em 24-3-2008

19 (TJ-RJ – AI 2007.002.32595 – 13ª Câm. Cív. – Rel. Des. Arthur Eduardo Ferreira – Julg. em 19-3-2008

41

edição da Lei nº 11.232/05, vem sendo alvo de discussões e divergências

jurisprudenciais através do REsp 978545-MG que corrobora o entendimento

que já vinha sendo apresentado pelos Tribunais Estaduais de todo Brasil, que

teve a seguinte ementa:

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - NOVA SISTEMÁTICA

IMPOSTA PELA LEI Nº 11.232/05 - CONDENAÇÃO EM

HONORÁRIOS - POSSIBILIDADE. O fato de se ter

alterado a natureza da execução de sentença, que deixou

de ser tratada como processo autônomo e passou a ser

mera fase complementar do mesmo processo em que o

provimento é assegurado, não traz nenhuma modificação

no que tange aos honorários advocatícios. A própria

interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa

margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do

referido dispositivo legal, os honorários são devidos “nas

execuções, embargadas ou não”. O art. 475-I, do CPC, é

expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos

casos de obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora,

se haverá arbitramento de honorários na execução (art.

20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz

por execução (art. 475, I, do CPC), outra conclusão não é

possível, senão a de que haverá a fixação de verba

honorária na fase de cumprimento da sentença. Ademais,

a verba honorária fixada na fase de cognição leva em

consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado

até então. Por derradeiro, também na fase de

cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio

espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei nº

11.232/05, em especial a multa de 10% prevista no art.

475-J do CPC. De nada adiantaria a criação de uma

multa de 10% sobre o valor da condenação para o

42

devedor que não cumpre voluntariamente a sentença se,

de outro lado, fosse eliminada a fixação de verba

honorária, arbitrada no percentual de 10% a 20%,

também sobre o valor da condenação. Recurso especial

conhecido e provido.20

Não obstante entendimento contrário à jurisprudência do STJ o tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, bem como de outros Tribunais

Estaduais, revisaram seus entendimento e passaram a adotar posicionamento

adequado ao STJ, destacando os seguintes julgados:

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - ALTERAÇÃO DA LEI

11.232/2005 - ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS DE

ADVOGADO – CABIMENTO. Diante da omissão do

legislador em prever no art.475-J o arbitramento de

honorários de advogado, devem ser aplicadas, de forma

subsidiária, as regras entabuladas para a execução de

título extrajudicial. Para essas hipóteses, é legítima a

aplicação do art. 614-A do CPC, quando não houver o

cumprimento de sentença espontâneo pelo devedor.

Recurso provido na forma do art. 557 § 1º - A do CPC.21

HONORÁRIOS DE ADVOGADO - AUSÊNCIA DE

CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO DA SENTENÇA - LEI

11.232/2005. Em razão da Lei nº 11.232/2005, deve a

sentença ser cumprida por sua própria força, eliminando o

processo de execução autônomo, cabendo ao vencido

cumprir espontaneamente a obrigação em 15 dias, sob

pena de ver sua dívida automaticamente acrescida dos

acessórios legais. Os honorários são cabíveis quando

20 . STJ – REsp 978545-MG – 3ª Turma – Relª Minª Nancy Andrighi – Publ. em 1º-4-2008 21 TJ-RJ – AI 2008.002.07519 – Rel. Des. Cláudio de Mello Tavares – Julg. em 13-3-2008

43

intimado para cumprir o julgado voluntariamente o

devedor queda-se inerte, iniciando-se, então a fase

executória do título judicial, incidindo subsidiariamente as

normas relativas à execução de título extrajudicial – cf.

artigo 475-R do CPC –, sendo certo que o artigo 652-A,

incluído pela Lei nº 11.382/2006, prevê a fixação dos

honorários de advogado na forma do artigo 20 § 4º do

CPC. Recurso provido, na forma do artigo 557 § 1º-A do

CPC.22

Assim podemos concluir que o devedor, condenado em quantia certa

ou já fixada em liquidação, em caso de não efetuar o pagamento da

condenação de forma integral, no prazo de 15 dias, aplicar-se-á

subsidiariamente as normas que regem o processo de execução de título

extrajudicial, conforme dispõe o artigo 475-R e 614, II, do CPC, cabendo a

fixação de honorários advocatícios, o que deve ser feito pelo juiz a quo,

observada a regra contida no artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil.

22 TJ-RJ - AI 2008.002.03755 – Acórdão COAD 124700 – 5ª Câm. Cív. – Rel. Des. Paulo Gustavo Horta – Publ. em 3-3-2008

44

CONCLUSÃO

O trabalho apresentado demonstra que a execução da sentença

condenatória através das inovações trazidas pela lei nº 11.232, de 22 de

dezembro de 2005 gerou grandes discussões, apesar de a reforma processual,

ter caminhado no sentido de agilizar, simplificar e dar efetividade à sentença,

ou seja, transformar aquela fase processual no reconhecimento do direito do

credor, efetivando o bem da vida, que através do processo de conhecimento

condenou o devedor em reparar aquilo que causou de prejuízos.

A excessiva simplificação do procedimento culminou em algumas

lacunas do legislador ordinário, sobretudo ao deixar de computar o termo a quo

para a contagem do prazo de 15 dias para que o credor efetue o pagamento

espontâneo da condenação. Isto implica em deixar, de forma errônea, aos

intérpretes das novas normas o dever fazê-lo.

Não obstante as correntes expostas possuírem cada qual seus

fundamentos muito bem embasados, alguns destes esbarram em questões

técnicas e físicas que por evidência impedem o cumprimento voluntário da

sentença, que é o ponto principal do Pacto de Estado em favor de um

Judiciário mais Rápido e Republicano no tocante ao pagamento da

condenação.

Em razão de todas as divergências apresentadas mostrou-se

necessária intervenção do Superior Tribunal de Justiça que, após algumas

discussões, pacificou o entendimento de que o prazo de 15 dias para o

pagamento espontâneo da condenação somente terá início da intimação que

deve ser feita na pessoa do advogado, após o trânsito em julgado. Na hipótese

de baixa dos autos ao juízo de origem o prazo inicia-se com a aposição do

“cumpra-se”.

45

Desta maneira nos parece ser o entendimento do STJ o mais

adequado, uma vez consegue unir tudo que foi apresentado pela doutrina e

jurisprudência apresentando uma solução apropriada à interpretação teológica

do fim proposto pelo legislador quando da elaboração da lei nº 11.232, de 22

de dezembro de 2005, sem causar prejuízo às partes, seja ele processual ou

financeiro. O próximo desafio é uniformizar a jurisprudência dos Tribunais a

quo, haja vista inexistência de caráter vinculante do Informativo nº 429 do STF.

46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVIM, José Eduardo Carreira. Alterações do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Impetus, 2006.

BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução Civil e Cumprimento de Sentença. São Paulo: Método, 2006.

CIANCI, Mirna; QUARTIERI, Rita (Coord.). Temas Atuais da Execução Civil. Estudos em Homenagem ao Professor Donaldo Armelin. São Paulo: Saraiva, 2007.

BUENO, Cássio Scarpinella. A Nova Etapa da Reforma do Código de Processo Civil - Comentários sistemáticos às Leis n. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1 v. São Paulo: Saraiva, 2006.

BUENO, Cássio Scarpinella. Aspectos polêmicos da nova execução de títulos judiciais – Lei 11.232/05. Teresa Arruda Alvim Wambier (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2008.

GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil: Execução e Processo Cautelar: Volume 3 – 3ª Edição – São Paulo; Saraiva, 2010. Revista de Processo, vol. 98, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

JORGE, Flavio Cheim; DIDIER JUNIOR, Fredie; RODRIGUES, Marcelo Abelha. A Terceira Etapa da Reforma Processual Civil - Comentários às Leis n. 11187 e 11232 de 2005; 11276, 11277 e 11280, de 2006. São Paulo: Saraiva, 2006.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Reforma do CPC: Leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e 11.280/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

SANTOS, Evaristo Aragão. Breves notas sobre o novo regime de cumprimento de sentença. In: Processo de execução civil – modificações da Lei 11.232/2005. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

SHIMURA, Sérgio. A Execução da Sentença na Reforma de 2005. In: Aspectos polêmicos da nova execução de títulos judiciais – Lei 11.232/05. Teresa Arruda Alvim Wambier (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

WAMBIER, Luiz Rodrígues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentarios à Nova Sistemática Processual Civil, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Processo Civil. Processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. Rio de Janeiro: Forense,

2007

47

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

DAS INOVAÇÕES DA LEI 11.232/2005 10

CAPÍTULO II

DOS ASPECTOS DA MULTA DO ARTIGO 475-J 11

2.1 – Da Natureza Jurídica da Multa 15

2.2 – Das teorias da incidência da multa do art. 475-J 18

2.2.1 - Do Início a Partir da Intimação: Pessoal do Réu ou de Seu

Advogado? 19

2.2.2 - Do Início do a partir do momento que a condenação torna-se

exigível – Desnecessidade de Intimação 21

2.2.3 - Do Início do prazo com o trânsito em julgado 23

2.3 – Do Posicionamento do STJ 27

CAPÍTULO III

OUTRAS CONSIDERAÇÕES A CERCA DA LEI Nº 11.232/2005 34

3.1 – Da imposição da multa nas execuções provisórias 34

3.2 – Dos honorários advocatícios em sede de execução 38

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ÍNDICE 47