curso superior de tecnologia em gestão ambiental mariana ... · the watershed ribeirão cambé and...
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Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental
Mariana Pauletti Lorenzo
CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS E
MEDIDAS MITIGATÓRIAS DO PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO
LAGO IGAPÓ, LONDRINA - PR
LONDRINA
2011
Mariana Pauletti Lorenzo
CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS E
MEDIDAS MITIGATÓRIAS DO PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO
LAGO IGAPÓ, LONDRINA - PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à UNIFIL - Centro Universitário Filadélfia - como requisito parcial para a obtenção do título de tecnólogo em Gestão Ambiental
Orientador: Profa MSc. Cássia Valéria
Húngaro Yoshi
LONDRINA
2011
Mariana Pauletti Lorenzo
CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS E MEDIDAS MITIGATÓRIAS DO
PROCESSO DE ASSOREAMENTO DO LAGO IGAPÓ, LONDRINA - PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para
obtenção do título de graduado em Tecnologia em Gestão Ambiental da UNIFIL -
Centro Universitário Filadélfia, submetida à aprovação da banca examinadora
composta pelos seguintes membros:
Profa MSc. Cássia Valéria Húngaro Yoshi
Prof. Dr. Tiago Pellini
Profa. MSc. Andrea Cristina Fontes Silva
Londrina, 26 de outubro de 2011.
“Veja só, naquele lago
onde pescavas carás
agora pousa sofás
e tem patrulha das águas
Faz aqui tua oração
catando aquele papel
teu exemplo neste templo
entre terra, água e céu”
Domingos Pellegrini, 2006
LORENZO, Mariana. P. Caracterização dos impactos ambientais negativos e
medidas mitigatórias do processo de assoreamento do lago Igapó, Londrina –
PR. 2011. Trabalho de Conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Gestão
Ambiental. Londrina, Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL. 2011, Londrina, 2011.
68 p.
RESUMO
O presente trabalho analisou o processo de assoreamento do lago Igapó localizado
em Londrina – PR, com a descrição do histórico do lago desde sua inauguração em
1959 até a situação atual. A Bacia hidrográfica do Ribeirão Cambé e suas
microbacias foram apresentadas, apontando a localização do lago Igapó. Além de
descrever o lago Igapó como um todo, foram caracterizados os quatro lagos que o
compõe e seus afluentes. Foram ressaltados os fatores principais que contribuem
para o assoreamento do lago, os impactos ambientais negativos decorrentes desse
processo e algumas medidas mitigatórias necessárias para desassorear o lago.
Palavras chave: Sedimentação, Ribeirão Cambé.
LORENZO, Mariana. P. Characterization of negative environmental impacts and
mitigation measures of the sedimentation process on the lake Igapó, Londrina -
PR. Course Conclusion Work – Filadelfia Universitary Center – UNIFIL, Londrina,
2011. 68 pages.
ABSTRACT
This study analyzed the sedimentation process on the lake Igapó located in Londrina
–PR, describing the history of the lake since it´s inauguration to it´s present situation.
The watershed Ribeirão Cambé and his sub watershed were presented explaining
the location of the lake Igapó inside this watershed. Besides the lake Igapó, the four
lakes that composed him and the tributaries were also characterized. The principal
factors that contribute to the sedimentation of the lake were analyzed, the negative
environmental impacts from this process and some measures mitigation necessary to
improve the situation of the lake.
Keywords: Sedimentation, Ribeirão Cambé.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1. Lago Igapó. ............................................................................................ 1
FIGURA 2.1. Afluentes do Ribeirão Cambé entre a nascente e a barragem do lago Igapó 1. ....................................................................................................................... 4
FIGURA 2.2. Delimitação da área de estudo. ............................................................. 5
FIGURA 3.1. Lago Igapó 2. ......................................................................................... 6
FIGURA 3.2. Localização dos lagos Igapó 1, 2, 3 e 4 no município de Londrina........ 8
FIGURA 3.3. Nascente do Ribeirão Cambé: (a) localização da nascente; (b) nascente com proteção; (c) Ribeirão Cambé – cerca de 30 m da nascente; (d) vista do Ribeirão Cambé. .................................................................................................... 9
FIGURA 3.5. Lago Igapó 4. ....................................................................................... 10
FIGURA 3.6. Localização do lago Igapó 3, destacando as ruas de início e término do lago. .......................................................................................................................... 11
FIGURA 3.7. Lago Igapó 3. ....................................................................................... 11
FIGURA 3.8. Localização do aterro do lago Igapó 2, destacando as ruas de início e término do lago. ......................................................................................................... 12
FIGURA 3.9. Aterro do lago Igapó 2: (a) passagem do Ribeirão Cambé pelo aterro; (b) barragem intermeditária do lago Igapó 3 para o aterro. ....................................... 12
FIGURA 3.10. Localização do lago Igapó 2, destacando as ruas de início e término do lago. ..................................................................................................................... 13
FIGURA 3.11. Lago Igapó 2: (a) vista da margem; (b) vista da margem; garça sobre o leito indicando ser muito raso em profundidade. .................................................... 14
FIGURA 3.12. Localização do lago Igapó 1, destacando as ruas de início e término do lago. ..................................................................................................................... 14
FIGURA 3.13. Igapó 1: (a) barragem vista à jusante; (b) barragem vista à montante. .................................................................................................................................. 15
FIGURA 4.2. Afluentes do Lago Igapó 4 e 3: (a) e (b): Córrego Baroré – afluente do lago Igapó 4; (c) e (d): Córrego Rubi – afluente do Lago Igapó 3. ............................ 17
FIGURA 4.3. Localização dos córregos que deságuam no Lago Igapó 2 e no lago do aterro. ........................................................................................................................ 18
FIGURA 4.4. Afluentes do aterro do lago Igapó 2 e do lago Igapó 2: (a) e (b): Córrego Colina Verde – – afluente do Ribeirão Cambé que percorre o aterro do lago Igapó 2; (c) e (d): Córrego Água Fresca – afluente do lago Igapó 2. ........................ 18
FIGURA 4.5. Localização dos córregos que deságuam no Lago Igapó 1. ................ 19
FIGURA 5.1. Igapó 1 em 1960. ................................................................................. 20
FIGURA 5.2. Fase da construção da barragem no Ribeirão Cambé. ....................... 21
FIGURA 5.3. Igapó 1 na década de 70. .................................................................... 22
FIGURA 5.4. Construção de uma Avenida margeando o lago Igapó 1, em 20 de agosto de 1969. ......................................................................................................... 23
FIGURA 5.5. Movimento “O Igapó é Nosso”. ............................................................ 26
FIGURA 5.6. Esvaziamento do lago Igapó 2 em 2001. ............................................. 27
FIGURA 6.1. Bairro Gleba Palhano, que abrange o lago Igapó 2. ............................ 30
FIGURA 8.1. Processo de assoreamento: (a) deposição de sedimentos no interior do lago Igapó 4; (b) elevação do fundo do corpo hídrico no lago Igapó 2; (c) ilha de vegetação no lago Igapó 2; (d) material fino em suspensão na coluna d’água no lago Igapó 3. ..................................................................................................................... 37
FIGURA 9.1. Alguns dos elementos que contribuem para o assoreamento do lago Igapó: (a) rede de águas pluviais; (b) falta de conscientização da população; (c) materiais de construção sem mureta de proteção; (d) terrenos sem muretas de proteção com solos expostos com processos erosivos ............................................. 39
FIGURA 9.2. Causas e o processo de assoreamento do lago Igapó 2: (a) tubulação da rede de águas pluviais, processos erosivos e resíduos no lago; (b) tubulação da rede de águas pluviais e ilha de vegetação; (c) material de construção são mureta de proteção; (d) expansão da Gleba Palhano; (e) erosão fluvial lateral nas margens do córrego Água Fresca; (f) lago com poucos centímetros de altura ........................ 42
FIGURA 9.3. Causas e o processo de assoreamento do aterro do lago Igapó 2: (a) ilhas de vegetação em uma das margens devido à sedimentação; (b) rede de águas pluviais; (c) árvore caída; (d) processos erosivos nas margens do lago; (e) materiais de construção expostos nas adjacências do lago; (f) ilha de vegetação. .................. 44
FIGURA 9.4. Ilhas com vegetação no lago Igapó 3, decorrentes do assoreamento. 45
FIGURA 9.5. Causas e processo de assoreamento no lago Igapó 3: (a) solo exposto (falta de mata ciliar) adjacente ao córrego do Rubi, próximo ao ponto de confluência; (b) erosão fluvial em uma das margens do córrego do Rubi; (c) terreno com solo exposto; (d) materiais de construção sem muretas de proteção (e) falta de mata ciliar em uma das margens do lago Igapó 3; (f) árvore caída em uma das margens do lago Igapó 3, deixando o solo exposto; ............................................................................. 46
FIGURA 9.6. Ilhas com vegetação no lago Igapó 4. ................................................. 47
FIGURA 9.7. Causas e processo de assoreamento do lago Igapó 4: (a) resíduos jogados pela população atingindo o lago; (b) turbidez; (c) peixes com o dorso fora d’água; (d) erosão lateral nas margens do córrego Baroré; (e) árvore caída adjacente ao córrego Baroré; (f) materiais de construção desprotegidos de muretas. .................................................................................................................................. 48
FIGURA 10.1. Impactos na biodiversidade lacustre e no homem: (a) garça-branca-grande (Ardea alba) se alimentando de peixe contaminado; (b) garça-branca-grande (Ardea alba) na água turva do lago Igapó 4; (c) pessoas pescando; (d) jaçanã (Jacana jacana) no aterro do lago Igapó 2 rodeado de resíduos jogados pela população. ................................................................................................................. 50
FIGURA 10.2. Biguá (Phalacrocorax brasilianus): (a) bomando sol para secar as penas; (b) mergulhando para abordar sua presa. ..................................................... 51
FIGURA 11.1. Obra hidráulica que diminui a velocidade das correntes. .................. 53
FIGURA 11.2. Draga. ................................................................................................ 55
FIGURA 11.3. Materiais de construção e terrenos baldios: (a) material de construção (areia) com mureta de proteção na Rua Urbelândia, próximo ao Igapó 4; (b) materiais de construção desprotegidos de mureta na Rua Urbelândia, próximo ao Igapó 4; (c) terreno com mureta na Rua Prof. Joaquim de Matos Barreto, paralela à uma das margens do lago Igapó 2; (d) terreno sem mureta de proteção na Rua Cabo Frio, próximo ao Igapó 4. .......................................................................................... 57
FIGURA 11.4. Lei n° 4.771/65: Largura da faixa de mata ciliar a ser preservada relacionada com a largura do curso d'água. .............................................................. 61
Figura 11.5. Recomposição da mata ciliar no Igapó IV pela UTFPR e IEIJ em jun 2011. ......................................................................................................................... 63
FIGURA 11.6. Em destaque as mudas plantadas pela UTFPR e IEIJ em 5 junho de 2011. ......................................................................................................................... 63
FIGURA 11.7. Ocupação Imobiliária (Gleba Palhano) próxima ao Lago Igapó 2. ..... 64
FIGURA 11.8. Terceiros contratados pela prefeitura para a realização da limpeza do lago. .......................................................................................................................... 66
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO CAMBÉ .................................................. 3
3 LAGO IGAPÓ .......................................................................................................... 6
3.1 NASCENTE DO RIBEIRÃO CAMBÉ ............................................................................... 9
3.2 LAGO IGAPÓ 4 ....................................................................................................... 10
3.3 LAGO IGAPÓ 3 ....................................................................................................... 11
3.4 ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2 ..................................................................................... 12
3.5 LAGO IGAPÓ 2 ....................................................................................................... 13
3.6 LAGO IGAPÓ 1 ....................................................................................................... 14
4 AFLUENTES DO LAGO IGAPÓ ............................................................................ 16
4.1 CÓRREGO BARORÉ E RUBI ...................................................................................... 17
4.2 CÓRREGO COLINA VERDE E ÁGUA FRESCA ................................................................ 18
4.3 CÓRREGOS LEME E CAPIVARA ................................................................................. 19
5 HISTÓRICO ........................................................................................................... 20
5.1 ANOS 1950: INAGURAÇÃO DO LAGO E A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM ....................... 20
5.2 ANOS 1960 E 1970: A DESVALORIZAÇÃO DO LAGO IGAPÓ 1 E SUA REVITALIZAÇÃO ..... 21
5.3 ANOS 1980: ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2 .................................................................. 23
5.4 ANOS 1990: REVITALIZAÇÃO DA MARGEM DO IGAPÓ 1 E SURGIMENTO DO PRÓ-IGAPÓ 24
5.4.1 Revitalização do Igapó 1 .................................................................................. 24
5.4.2 Pró-Igapó .......................................................................................................... 25
5.4.3 Aterro do Lago Igapó 2 torna-se Parque Ecológico .......................................... 25
5.5 ANOS 2000: DESASSOREAMENTO DO LAGO; PROGRAMA ÁGUAMETRÓPOLE E
ECOMETRÓPOLE .......................................................................................................... 26
5.5.1 Áquametrópole ................................................................................................. 28
5.5.2 Ecometrópole ................................................................................................... 28
6 URBANIZAÇÃO ..................................................................................................... 29
7 PROCESSOS EROSIVOS ..................................................................................... 32
7.1 EROSÃO FLUVIAL .................................................................................................... 33
7.2 EROSÃO PLUVIAL ................................................................................................... 34
8 ASSOREAMENTO ................................................................................................. 36
9 SITUAÇÃO ATUAL DO LAGO IGAPÓ ................................................................. 39
9.1 LAGO IGAPÓ 2 ....................................................................................................... 41
9.2 ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2 ...................................................................................... 43
9.3 LAGO IGAPÓ 3 ........................................................................................................ 45
9.4 LAGO IGAPÓ 4 ........................................................................................................ 47
10 IMPACTOS AMBIENTAIS ................................................................................... 49
10.1 BIODIVERSIDADE LACUSTRE .................................................................................. 49
10.2 EUTROFIZAÇÃO .................................................................................................... 52
11 MEDIDAS MITIGATÓRIAS .................................................................................. 53
11.1 DRAGAGEM DO LAGO ........................................................................................... 54
11.2 FISCALIZAÇÃO DOS TERRENOS .............................................................................. 56
11.3 BUEIROS ECOLÓGICOS ......................................................................................... 59
11.4 RECUPERAÇÃO OU REPOSIÇÃO DA MATA CILIAR..................................................... 60
11.5 PLANO DIRETOR E OCUPAÇÃO IMOBILIÁRIA ............................................... 64
11.6 LIMPEZA DO LAGO ................................................................................................ 66
12 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 69
1
1 INTRODUÇÃO
O lago Igapó, localizado ao sul de Londrina – PR teve sua origem a
partir do represamento do Ribeirão Cambé, com o objetivo de solucionar o
problema de drenagem do ribeirão e tornou-se um espaço natural de lazer e
práticas esportivas, contribuindo para o embelezamento paisagístico da cidade
(Figura 1.1). O lago, portanto, tornou-se um atrativo da cidade, sendo que por
sua causa a região centro-sul é considerada a mais valorizada da cidade, onde
cada vez mais novos empreendimentos verticais ocupam suas áreas adjacentes.
Porém, apesar de ser considerado o cartão postal da cidade, encontra-se com
uma série de impactos ambientais negativos que atingem a biodiversidade
lacustre e a qualidade de vida da população.
FIGURA 1.1. Lago Igapó. Fonte: Lorenzo, 2011.
O lago Igapó, principalmente nos segmentos 2, 3 e 4, encontra-se em
processo de assoreamento. A raiz do assoreamento encontra-se,
principalmente, na falta de conscientização da população, falta de fiscalização
de terrenos baldios e inadequado armazenamento de materiais de construção e
2
a pequena concentração de mata ciliar em suas margens. De modo geral, o
assoreamento danifica a fauna a flora lacustre e reduz a qualidade da água.
Desta maneira, torna-se indispensável o conhecimento do problema para se
estabelecer um conjunto de medidas mitigatórias que possam evitar ou amenizar
o processo de assoreamento. Vale lembrar que este processo está associado a
processos erosivos e de movimentação de solos, não possuindo controles
geotécnicos. Deve-se analisar não apenas os quatro lagos, mas também seus
afluentes, que influenciam no processo de assoreamento do Lago Igapó.
Diante deste contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o
processo de assoreamento do lago Igapó de Londrina (PR) com base em
trabalhos acadêmicos, artigos e levantamento de campo em agosto de 2011
com registros fotográficos. Foram analisados, em especial, os lagos 2, 3 e 4 e
seus afluentes.
Será descrita, primeiramente, a bacia hidrográfica do Ribeirão Cambé, e
em seguida caracterizado o lago Igapó e alguns de seus afluentes. Para analisar
as causas do assoreamento será descrito de forma sucinta seu processo de
evolução até a situação atual, apontando, em seguida, a influência da
urbanização no processo de assoreamento. Para uma melhor análise de suas
principais causas, serão descritos de forma resumida os conceitos de erosão e
de assoreamento. Depois será feita uma análise do diagnóstico realizado em
campo, enfatizando algumas fontes de assoreamento. Em razão dos processos
de assoreamento do lago Igapó 2, 3 e 4 estarem numa situação mais crítica que
o lago Igapó 1, este não entrou no diagnóstico. Ao final serão descritos alguns
impactos ambientais negativos decorrentes do assoreamento e medidas
mitigatórias necessárias para desassoreá-lo.
3
2 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO CAMBÉ
O lago Igapó encontra-se na bacia hidrográfica do Ribeirão Cambé, que
faz parte da bacia do Ribeirão Três Bocas e localiza-se em sua maior parte no
Município de Londrina (PR) no sentido noroeste-sudeste, possuindo uma
pequena parte no município de Cambé. Constitui-se de oito microbacias e possui
área de aproximadamente 76 km2, sendo 50 Km2 na área urbana e 26 km2 na
área rural (ROCHA, 1995; SOARES et al, 2010; BARROS et al, 2008;
ISHIKAWA et al, 2009; BRITO & SANT’ANNA, 2007).
O Ribeirão Cambé mede aproximadamente 27 km de extensão. Sua
nascente se encontra no oeste de Londrina, no trevo das estradas Londrina/
Cambé – São Paulo/ Curitiba - e sua foz está localizada no Ribeirão Três Bocas.
A bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas faz parte da Bacia Hidrográfica do
Rio Tibagi, que se liga às bacias hidrográficas dos rios Paranapanema, Paraná e
finalmente à Bacia Platina (ROCHA, 1995; SOARES et al, 2010; BARROS et al,
2008; ISHIKAWA et al, 2009; BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Vale dizer que o Ribeirão Cambé abrange parte do núcleo urbano de
Londrina, constituindo os quatro lagos que formam o lago Igapó. O ribeirão
Cambé, de sua nascente até a barragem do lago Igapó 1, recebe oito afluentes:
córrego Cacique; córrego da Mata; córrego Baroré; córrego Rubi; córrego Colina
Verde; córrego Água Fresca; córrego Leme; e córrego Capivara, como se pode
observar na Figura 2.1 e 2.2 (ROCHA, 1995; SOARES et al, 2010; BARROS et
al, 2008; ISHIKAWA et al, 2009; BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Para a delimitação da área de estudo além de utilizar imagens do
DigitalGlobe disponível no Google Earth, utilizou-se a Carta Topográfica de
Londrina, folha SF.22-Y-D-III-4 (MI - 2758/4), com cotas topográficas
eqüidistantes em 20 metros, e o programa AutoCAD Map 2008 para o
referenciamento e delineamento das curvas (Figura 2.2).
4
Vale ressaltar que o objetivo principal do mapa formulado é materializar
a área de estudo e assim possibilitar a visualização completa da mesma.
FIGURA 2.1. Afluentes do Ribeirão Cambé entre a nascente e a barragem do lago Igapó 1. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006. Google Earth, 2006.
Córrego Água Fresca
Córrego Rubi
Córrego Baroré
Córrego da Mata
Córrego Colina Verde
Córrego Capivara
Córrego Leme
Córrego Cacique
Nascente
Barragem do lago Igapó 1
5
FIGURA 2.2. Delimitação da área de estudo. Fonte: Valores de curvas de nível obtidos através da carta topográfica Sf.22-Y-D-III-4, folha Londrina. Elaborado por DALBÓ & CAINZOS, 2011.
6
3 LAGO IGAPÓ
Igapó na língua Tupi Guarani significa transvazamento de rios. O lago
Igapó localiza-se ao sul do sítio urbano de Londrina, município do Paraná
(Figura 3.1). Possui extensão de 4,5 quilômetros e faz parte do Ribeirão Cambé,
que também forma outro lago no Parque Municipal Arthur Thomas, também
localizado na área urbana de Londrina. Este ribeirão nasce a oeste da cidade,
próximo ao município de Cambé, fazendo divisa entre esses municípios. Grande
parte do seu curso percorre a área urbana de Londrina seguindo em direção
leste (MENDES, 2000; FRAZÃO, 2009; BORTOLO, 2009; BARROS, 2008).
FIGURA 3.1. Lago Igapó 2. Fonte: Lorenzo, 2011.
Segundo Cabrera (1992 apud BORTOLO, 2009), o lago Igapó foi criado
em 1959, a partir do represamento do Ribeirão Cambé, subdividindo-se em lago
Igapó 1, 2, 3 e 4 (Figura 3.2) devido à sua fragmentação por ruas e avenidas. O
principal objetivo deste represamento era inicialmente solucionar o problema da
7
drenagem deste ribeirão, e mais tarde, consistiu em ampliar áreas de lazer e o
embelezamento paisagístico da cidade de Londrina. Isso valorizou a região
centro-sul do município, tornando-a uma das mais belas áreas de lazer da
cidade. O lago Igapó, portanto, tornou-se um dos principais pontos turísticos de
Londrina, sendo considerado o cartão postal da cidade (MENDES, 2000;
FRAZÃO, 2009; BORTOLO, 2009; BARROS, 2008).
O lago, atualmente, pode ser considerado um exemplo de valorização de
espaço público, visto que consiste em uma área de lazer para a população e se
caracteriza por uso intenso e diversificado em relação aos segmentos sociais e
faixas etárias de seus freqüentadores, os horários de utilização do local e as
atividades nele realizadas. Por outro lado, vale ressaltar que devido a diversos
fatores, tais como crescimento urbano, falta de conscientização e de fiscalização
de terrenos e de deposição adequada de materiais de construção, o lago
encontra-se assoreado, prejudicando sua qualidade ambiental, sendo que
algumas medidas mitigatórias para desassoreá-lo encontram-se ainda em
projetos e outras foram efetuadas, mas com pouco resultado (MENDES, 2000;
FRAZÃO, 2009; BORTOLO, 2009).
8
FIGURA 3.2. Localização dos lagos Igapó 1, 2, 3 e 4 no município de Londrina. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006. Google Earth, 2006.
Como se observa na Figura 3.2, o lago Igapó se subdivide em 4 lagos,
localizados, respectivamente, entre os bairros:
Lago Igapó 1: bairros Lago Parque, Parque Guanabara, Petrópolis,
Caiçaras, Colonial e Igapó;
Lago Igapó 2 e aterro: bairros Gleba Fazenda Palhano, Lima
Azevedo, Parque Guanabara e Parque Residencial do Lago;
Lago Igapó 3: bairros Jardim Presidente e Universitário; e
Lago Igapó 4: bairros Hedy e Jardim Tókio.
Será realizado a seguir uma caracterização, de maneira sucinta, de cada
lago e da nascente do Ribeirão Cambé.
9
3.1 NASCENTE DO RIBEIRÃO CAMBÉ
A nascente do Ribeirão Cambé (Figura 3.3) se encontra no bairro
Parque Ney Braga ao oeste de Londrina, no trevo das estradas Londrina/ Cambé
– São Paulo/ Curitiba.
FIGURA 3.3. Nascente do Ribeirão Cambé: (a) localização da nascente; (b) nascente com proteção; (c) Ribeirão Cambé – cerca de 30 m da nascente; (d) vista do Ribeirão Cambé. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 13 Out de. 2009. Google Earth, 2006; Lorenzo, 2011.
O Ribeirão Cambé, após a nascente, constitui primeiramente o lago
Igapó 4, cuja descrição de sua localização será feita a seguir.
a b
a
c d
10
3.2 LAGO IGAPÓ 4
O lago Igapó 4 começa na avenida Castelo Branco e se estende até o
Jardim Tóquio (Figura 3.4 e 3.5).
FIGURA 3.4. Localização do lago Igapó 4, destacando as ruas de início e término do lago. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
FIGURA 3.5. Lago Igapó 4. Fonte: Lorenzo, 2011.
Será descrito a seguir a localização do lago Igapó 3, que dá continuidade ao
Ribeirão Cambé.
11
3.3 LAGO IGAPÓ 3
O lago Igapó 3 começa na rua Prefeito Faria Lima e termina na avenida
Castelo Branco (Figura 3.6 e 3.7).
FIGURA 3.6. Localização do lago Igapó 3, destacando as ruas de início e término do lago. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
FIGURA 3.7. Lago Igapó 3. Fonte: Lorenzo, 2011.
O Ribeirão Cambé continua pelo aterro do lago Igapó 2, que será descrita a
seguir sua localização.
12
3.4 ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2
O aterro do lago Igapó 2 começa na avenida Maringá e termina na Rua
Prefeito Faria Lima (Figura.3.8 e 3.9).
FIGURA 3.8. Localização do aterro do lago Igapó 2, destacando as ruas de início e término do lago. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
FIGURA 3.9. Aterro do lago Igapó 2: (a) passagem do Ribeirão Cambé pelo aterro; (b) barragem intermeditária do lago Igapó 3 para o aterro. Fonte: Lorenzo, 2011.
O Ribeirão Cambé tem sua continuidade pelo lago Igapó 2, cuja
descrição de sua localidade e um breve histórico serão feitos adiante.
a b
13
3.5 LAGO IGAPÓ 2
O lago Igapó 2 tem seu início na avenida Higienópolis e termina na rua
Prefeito Faria Lima (Figura 3.10 e 3.11).
A margem esquerda deste lago passou a ser ocupada por loteamentos
de médio a baixo padrão social desde sua inauguração. Seu lado direito ficou
parcialmente ocupado até a década de 90, quando loteamentos de alto padrão
começaram a ser construídos, constituindo o bairro Gleba Palhano, tornando-se
desde então, a área mais valorizada da cidade. Como aponta Bortolo (2009),
este processo gerou novos mecanismos de revitalização do lago Igapó
(BORTOLO, 2009, p. 26).
FIGURA 3.10. Localização do lago Igapó 2, destacando as ruas de início e término do lago. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011. Google Earth, 2006.
14
FIGURA 3.11. Lago Igapó 2: (a) vista da margem; (b) vista da margem; garça sobre o leito indicando ser muito raso em profundidade. Fonte: Lorenzo, 2011.
A passagem do Ribeirão Cambé pelos quatro lagos Igapó finaliza após a
barragem do lago Igapó 1, que será descrito a seguir.
3.6 LAGO IGAPÓ 1
O lago Igapó 1 compreende a barragem do Ribeirão Cambé até a
Avenida Higienópolis do município de Londrina (Figura 3.12 e 3.13).
FIGURA 3.12. Localização do lago Igapó 1, destacando as ruas de início e término do lago. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 26 Jul. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011. Google Earth, 2006.
15
A ocupação em seu entorno começou desde sua inauguração, em 1959,
mas se intensificou nos anos setenta, quando processos de renovação de
bairros de menor poder aquisitivo via programas federais permitiram a
implantação dos primeiros bairros de elevado status social. Uma parcela do
entorno do Lago Igapó 1, abrangendo sua margem direita e esquerda, passou a
ser ocupada por loteamentos de alto poder aquisitivo (BORTOLO, 2009, pg. 26).
Atualmente, dentre os quatro lagos Igapó, o lago Igapó 1 é o que se
encontra menos assoreado e sofre menos impactos ambientais negativos.
FIGURA 3.13. Igapó 1: (a) barragem vista à jusante; (b) barragem vista à montante. Fonte: Lorenzo, 2011.
a b
16
4 AFLUENTES DO LAGO IGAPÓ
O processo de assoreamento do lago Igapó pode estar relacionado aos
processos erosivos identificados nos seus afluentes, em suas margens ou em
solos adjacentes, principalmente. Foi realizado em campo, no mês de agosto de
2011, uma análise visual e com registros fotográficos dos afluentes que
deságuam no lago Igapó 2, 3 e 4 em relação a processos erosivos em suas
margens. Através do levantamento das fontes de assoreamento é possível
estabelecer medidas mitigatórias para amenizar o processo. Todavia, vale
lembrar que para obter melhores resultados é preciso realizar um diagnóstico
detalhado de todos os afluentes do Ribeirão Cambé.
Será descrito, primeiramente, a localização de cada córrego que
deságua no lago Igapó com registros fotográficos da ida ao campo em agosto de
2011.
17
4.1 CÓRREGO BARORÉ E RUBI
Os afluentes do lago Igapó 4 e 3 são o Córrego Baroré e o Córrego
Rubi, respectivamente (Figura 4.1 e 4.2).
FIGURA 4.1. Localização dos córregos que deságuam no Lago Igapó 4 e 3. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 8 Ago. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
FIGURA 4.2. Afluentes do Lago Igapó 4 e 3: (a) e (b): Córrego Baroré – afluente do lago Igapó 4; (c) e (d): Córrego Rubi – afluente do Lago Igapó 3. Fonte: Lorenzo, 2011.
c d
a
b
18
4.2 CÓRREGO COLINA VERDE E ÁGUA FRESCA
Os afluentes do aterro do lago Igapó 2 e do lago Igapó 2 são o córrego
Colina Verde e o Água Fresca, respectivamente (Figura 4.3 e 4.4).
FIGURA 4.3. Localização dos córregos que deságuam no Lago Igapó 2 e no lago do aterro. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 8 Ago. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
FIGURA 4.4. Afluentes do aterro do lago Igapó 2 e do lago Igapó 2: (a) e (b): Córrego Colina Verde – – afluente do Ribeirão Cambé que percorre o aterro do lago Igapó 2; (c) e (d): Córrego Água Fresca – afluente do lago Igapó 2. Fonte: Lorenzo, 2011.
a b
c d
19
4.3 CÓRREGOS LEME E CAPIVARA
Os afluentes do Lago Igapó 1 são o Córrego Leme e o Córrego
Capivara, como mostra a figura a seguir (Figura 4.5).
FIGURA 4.5. Localização dos córregos que deságuam no Lago Igapó 1. Fonte: Imagem de DigitalGlobe de 8 Ago. 2006 e MapaLink/ Tele Atlas de 2011.
No capítulo 9 (nove) - Situação Atual do Lago Igapó - são descritas as
observações feitas do levantamento de campo dos afluentes e dos 3 lagos:
Igapó 2,3 e 4. A seguir será descrito o histórico do lago Igapó.
20
5 HISTÓRICO
5.1 ANOS 1950: INAGURAÇÃO DO LAGO E A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM
O lago Igapó começou a ser idealizado em 1957, na gestão do prefeito
da época, Antonio Fernandes Sobrinho, e foi inaugurado dia 10 de dezembro de
1959 quando Londrina completou 25 anos (Figura 5.1). O lago foi construído na
área urbana, porém afastado do núcleo urbano à época. Foi formado através do
represamento do Ribeirão Cambé, que corta a porção sul de Londrina, visando
solucionar o problema da drenagem deste ribeirão, dificultada por uma barragem
natural de pedras que afligia as áreas rurais das proximidades da região por criar
um grande charco (BORTOLO, 2009; MENDES, 2000; ECOMETRÓPOLE, 2009
apud FRAZÃO, 2009, p. 8; IWANAGA, 1989 apud BORTOLO, 2009; HIGUCHI,
1986, apud BORTOLO, 2009).
FIGURA 5.1. Igapó 1 em 1960. Fonte: IWANAGA (1989) apud BORTOLO (2009).
Para a construção da barragem (Figura 5.2) foram chamados os
engenheiros Amilcar Neves Ribas e José Augusto de Queiróz. Segundo
21
HIGUCHI (1986, apud BORTOLO, 2009), a barragem é composta por comportas
para seu esvaziamento e controle de nível, transformando em uma passarela de
6,5 metros de altura e 142 metros de comprimento com 753.360 metros cúbicos
de água ocupando uma área de 438.000 metros quadrados (HIGUCHI, 1986,
apud BORTOLO, 2009).
FIGURA 5.2. Fase da construção da barragem no Ribeirão Cambé. Fonte: BORTOLO, 2009.
5.2 ANOS 1960 E 1970: A DESVALORIZAÇÃO DO LAGO IGAPÓ 1 E SUA REVITALIZAÇÃO
Após a construção das barragens, nas gestões municipais seguintes, a
região do lago (Figura 5.3) sofreu um processo de desvalorização, sendo que o
lago ficou abandonado até o ano de 1969 devido à dificuldade de acesso ao
local e também pelo descuido dos órgãos municipais. Vale dizer que devido ao
descuido do município e à distância do núcleo urbano, as margens do Igapó 1
encontravam-se com curtumes, passagem de caminhões, contaminação da
agricultura, dentre outros elementos de impacto. Além disso, outro fator que
influenciava em seu descuido era o lixão que se localizava próximo ao lago,
onde hoje é o Conjunto Jerumenha (BORTOLO, 2009).
22
FIGURA 5.3. Igapó 1 na década de 70. Fonte: BORTOLO, 2009.
Em 1969, o prefeito Dalton Paranaguá (1969 – 1973) queria revitalizar o
lago para melhorar a saúde e qualidade de vida da população e para isto
contratou o paisagista paulistano, Burle Marx, para desenvolver o projeto de
revitalização do Lago Igapó 1, que foi entregue no final da administração de
Paranaguá e deixado como herança para o próximo prefeito, que foi José Richa
(1974-1976). Foram construídas avenidas nas margens do lago Igapó 1,
facilitando o acesso. Esse investimento em infra-estruturas ao redor do lago
Igapó 1 o tornou local público para práticas esportivas e de lazer, resultando nas
primeiras ocupações próximas ao lago. Apesar do investimento, o projeto foi
executado parcialmente, com seu término em 1974. Segundo o arquiteto Léo de
Judá Barbosa (2000), que acompanhou o projeto original, este não tinha apenas
como objetivo a restauração da paisagem, mas a restauração da mata atlântica
subtropical com espécies nativas (BORTOLO, 2009; MENDES, 2000;
ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO, 2009, p. 8).
23
FIGURA 5.4. Construção de uma Avenida margeando o lago Igapó 1, em 20 de agosto de 1969. Fonte: Acervo da PML (apud BORTOLO, 2009).
Em 1974 na gestão de José Richa, foi ampliada a margem pública do
lago Igapó 1 (Figura 5.4), dentre elas foi executada a ligação entre a rua Duque
de Caxias e o início da Rua Bélgica (na altura da barragem), melhorando o
acesso e o tráfego ao redor do lago. Ao construir essas novas pistas foi
implantado também um sistema de drenagem e canalização pluvial, visando
evitar problemas decorrentes das correntes pluviais. Foi instalada uma rede de
galerias destinadas a recolher águas pluviais na margem do logradouro, que
conduz as vias subterrâneas à represa do lago. Vale ressaltar que na
administração de Richa foi realizado o primeiro esvaziamento e limpeza
(desassoreamento) do lago Igapó 1 (BORTOLO, 2009; BRITO & SANT’ANNA,
2007).
5.3 ANOS 1980: ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2
Durante a década de 1980 houve uma crescente urbanização em
direção ao lago devido ao crescimento demográfico, justificado pelo resultado da
continuidade do processo migratório imposto pelas mudanças e transformações
24
na estrutura econômica de produção. Tal fato juntamente com a melhoria da
infra-estrutura do lago, o tornou um espaço público mais visitado e melhor visto
(LUIZ, 1991 apud BORTOLO, 2009).
O aterro do lago Igapó 2 foi construído em 1985, quando o prefeito
Wilson Moreira, sob alegação sanitária, instalou drenos no Igapó 2 para recolher
águas das nascentes e autorizou o aterramento do ribeirão com 30 cm de terra
(MENDES, 2000; ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO, 2009, p. 8).
5.4 ANOS 1990: REVITALIZAÇÃO DA MARGEM DO IGAPÓ 1 E SURGIMENTO DO PRÓ-
IGAPÓ
5.4.1 Revitalização do Igapó 1
Em 1990, durante a gestão de António Belinati, foi feito um mutirão
envolvendo pescadores, voluntários, Corpo de Bombeiros, dentre outros, para a
retirada de entulhos e detritos existentes no lago (ECOMETRÓPOLE, 2009 apud
FRAZÃO, 2009, p. 8; BORTOLO, 2009).
Na administração de Luiz Eduardo Cheida, em 1996, devido ao aumento
de poluentes no lago, foram realizadas ações para localizar as fontes de
poluição. Além disso, o lago foi esvaziado, desassoreado e limpo e foi realizada
a revitalização de sua margem. Também foi feita a transposição ligando a
Avenida Maringá à Rua Bento Munhoz da Rocha Neto. Para aumentar a
segurança da população ao redor do lago foi construída a iluminação no local.
Ainda neste ano, a ocupação no bairro Gleba Palhano aumentou devido à
construção do Shopping Catuaí em 1990, o que levou a um aumento de visitas
ao lago (ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO, 2009, p. 8; BORTOLO, 2009).
25
5.4.2 Pró-Igapó
Em 1998 foi incorporado o conceito de gestão por bacias hidrográficas
em Londrina com o lançamento do Pró-Igapó – Programa Permanente de
Promoção Preservação e Recuperação da Bacia do Cambezinho - administrado
pela ONG Patrulha das Águas e coordenado pelo ambientalista João Batista
Moreira conhecido como “João das Águas”. Porém, o programa foi desarticulado
um ano depois, pois não houve a participação efetiva da Prefeitura e das demais
instituições (ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO, 2009, p. 8; BARÃO,
1998).
5.4.3 Aterro do Lago Igapó 2 torna-se Parque Ecológico
Em setembro de 1998, durante a gestão de Antônio Belinati, foi feito um
pedido em virtude de um projeto do executivo municipal, aprovado pela Câmara
dos Vereadores, que determinava a doação da área do aterro do lago Igapó 2
para empresas ou consórcio para realizarem empreendimentos de lazer. O
projeto foi aprovado em junho de 1998 e sancionado em agosto do mesmo ano
por meio de manifestações e abaixo-assinados da escola SETA – A Nossa
Escol(h)a, cuja diretora é Mira Roxo. “O Igapó é Nosso”, o lema das
manifestações, despertou a população sobre a ilegalidade do projeto proposto
(Figura 5.5) (HORTA, 1998).
26
FIGURA 5.5. Movimento “O Igapó é Nosso”. Fonte: SARIS, 1998.
Com a polêmica em relação a destinação do aterro do lago Igapó 2 que
teve seu início com a aprovação pela Câmara de Vereadores no mês de
Setembro do projeto do Executivo que determinava a doação do local para
empreendimento de lazer, em 17 de outubro de 1998, Antônio Belinati assinou
um decreto que transformou a área do aterro do lago Igapó 2 em Parque
Ecológico. Segundo Belinati (1998), “esta decisão coloca um ponto final sobre a
questão do aterro e significa um gesto de respeito ao pensamento da grande
maioria da população de Londrina sobre o assunto” (SILVA, 1998).
5.5 ANOS 2000: DESASSOREAMENTO DO LAGO; PROGRAMA ÁGUAMETRÓPOLE E
ECOMETRÓPOLE
No início dos anos 2000 começou a construção de novos
empreendimentos no entorno do lago Igapó devido à implantação do Shopping
Catuaí. Na margem direita do lago Igapó 2, no bairro Gleba Palhano, ocorreu um
processo de verticalização voltado para consumidores de alto poder aquisitivo.
Tal fato levou a um aumento nas visitas ao lago (BORTOLO, 2009).
27
FIGURA 5.6. Esvaziamento do lago Igapó 2 em 2001. Fonte: Paccola, 2001.
Durante a gestão de Nedson Micheleti em 2001 foi realizado o
esvaziamento do lago 2 para a retirada, principalmente da lama tóxica, “a lama
contaminada que estava em uma parte do lago foi espalhada”, disse
ambientalista João Batista (2001) (Figura 5.6). Realizou-se além da limpeza, o
desassoreamento, mas a ação tornou-se um grande problema ambiental, pois
segundo Batista (2001), o serviço foi mal planejado, prejudicando a fauna e flora
do local. Como ressalta o ambientalista (2001), as obras causaram o
assoreamento do lago Igapó 1 e do próprio Igapó 2 (PELEGRINO, 2001).
Em 2002, Micheleti urbaniza o Igapó 2, com a instalação de cascata,
pista de caminhada, pontes e iluminação (ECOMETRÓPOLE, 2009 apud
FRAZÃO, 2009, p. 8).
28
5.5.1 Áquametrópole
Em 2007, o programa Ácquametrópole foi estabelecido e o conceito de
gestão por bacias hídricas se consolida ainda mais. No mesmo ano a prefeitura
lançou o projeto Rio da Minha Rua, com foco em gestos de marketing, que não
acarretou em efeitos práticos para o lago e cursos hídricos da cidade
(ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO, 2009, p. 8).
5.5.2 Ecometrópole
No ano de 2009 é estabelecido o Programa Ecometrópole, que visa a
preservação do Igapó e dos recursos hídricos de Londrina, além da
ecocidadania e cuidado com as ruas (ECOMETRÓPOLE, 2009 apud FRAZÃO,
2009, p. 8).
A seguir será descrito o processo de urbanização em Londrina como um
dos fatores contribuintes do assoreamento do lago Igapó.
29
6 URBANIZAÇÃO
Segundo Faria (2001 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007), a partir da
década de 1970 a urbanização da região da bacia do ribeirão Cambé deu-se em
razão de dois motivos: 1) projeto implementado pelo prefeito Dalton Paranaguá
de provisão de infra-estrutura e; 2) em face ao desinteresse do cultivo do café
naquela área. Por conseguinte, tal área tornou-se propícia para a expansão
urbana ou para a agricultura de outras culturas. Como aponta o autor, devido a
essa urbanização desordenada e acelerada, formou-se “vazios urbanos” além de
áreas impermeabilizadas, proporcionado o escoamento hidráulico com alta
energia. Nesse sentido, o escoamento de águas pluviais passa por áreas com
solo exposto susceptível a erosão, acarretando em processos erosivos e
transporte de solo para o interior de cursos hídricos, causando,
conseqüentemente, o assoreamento (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Já durante a década de 1970 e 1980, de acordo com Faria (2001 apud
BRITO & SANT’ANNA, 2007), a urbanização contribuiu também para a
diminuição da mata ciliar na bacia do ribeirão Cambé, o que igualmente deixou
esta área vulnerável a processos erosivos. Nos anos noventa, essa tendência de
urbanização firmou-se, em especial, ao redor do Igapó 1 e 2, que,
posteriormente, tornaram-se áreas nobres (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Conforme BRITO & SANT’ANNA (2007), o bairro Gleba Palhano (Figura
6.1), que abrange o lago Igapó 2,
[...] carece de uma preocupação especial, por estar localizada praticamente nas margens do lago Igapó 2 e ainda com uma ocupação incipiente podendo-se utilizá-la como uma “área piloto”, para que sejam adotadas medidas que inibam a produção de sedimentos e o assoreamento de cursos d’água e do lago. As áreas ocupadas por áreas verdes e pelos lagos devem ser mantidas e aumentadas, no caso de vegetação, pois além de enriquecer a cidade em áreas de lazer e áreas de relativo “equilíbrio” ambiental, vide que essas áreas são responsáveis pela existência de um clima local e pela existência de uma biota muitas vezes difíceis de ser observadas em ambientes urbanos. Além dessas áreas serem praticamente as únicas permeáveis, o que contribui para o balanço hidrogeológico (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
30
FIGURA 6.1. Bairro Gleba Palhano, que abrange o lago Igapó 2. Fonte: Lorenzo, 2011.
Devido à impermeabilização dos solos decorrentes da urbanização, a
quantidade de água na superfície aumenta e o nível freático meteórico abaixa.
De acordo com Oliveira (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007),
[...] os elementos físicos do uso do solo, como ruas, cercas, caminhos, estradas e galerias de água pluvial causam a concentração do escoamento superficial, formadores de enxurradas, que quando encontram áreas com solo exposto, sem cobertura vegetal, formam feições erosivas lineares (OLIVEIRA, 1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Convém citar um problema verificado por Oliveira & Herman (2001): em
núcleos urbanos deve-se levar em conta os sedimentos originados de
construção civil, como areia e brita além do solo varrido de áreas expostas, que
são transportados através da rede de galeria pluvial até a bacia. Pode-se dizer,
portanto, que a suscetibilização de áreas a processos erosivos e de
assoreamento ocorrem devido à perda da vegetação original e pelas técnicas de
uso e ocupação do solo (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
31
A água consiste no maior agente transportador de sedimento para uma
bacia e devido às características da urbanização com formas que concentram as
águas, o poder de transporte se torna maior. De acordo com Foster et al (1982
apud BRITO & SANT’ANNA, 2007), “a capacidade de produção de sedimento é
mais indicativa da capacidade de transporte do escoamento superficial do que
da intensidade dos processos erosivos” (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Será descrito adiante outro elemento que contribui para o assoreamento:
os processos erosivos.
32
7 PROCESSOS EROSIVOS
Como os processos erosivos são uma das principais causas do
assoreamento, serão descritos seus conceitos e tipos.
Erosão em geologia consiste em
conjunto de processos geológicos que implicam em retirada e transporte de material solto (solo e regolito) da superfície do terreno, provocando o desgaste do relevo. Os principais agentes de transporte são: água; vento e gelo. O material transportado recebe o nome de sedimento e vai dar origem aos depósitos aluvionares e às rochas sedimentares (DICIONÁRIO PRO, 2011).
Além da erosão ocorrer por causas naturais, vale dizer que o homem
também provoca processos erosivos ao retirar a cobertura vegetal de um solo,
deixando este sem consistência. Através dos agentes intempéricos, as partículas
soltas do solo são transportadas para as partes mais baixas dos relevos,
assoreando cursos hídricos. Para minimizar a erosão deve-se adaptar práticas
de conservação de solo. Em solos cobertos por vegetação, a erosão torna-se
quase inexistente; porém, ela é um processo natural para a formação dos solos.
A erosão torna-se grave quando atividades antrópicas acarretam no solo sem
cobertura vegetal e assim, vulnerável à erosão, podendo levar à desertificação.
Se o terreno tem pouco declive, a água da chuva irá "correr" menos e,
conseqüentemente, erodir menos. As águas da chuva quando transportam
partículas do solo provocam o enchimento dos leitos dos rios e lagos com esses
materiais e esse fenômeno denomina-se assoreamento (DICIONÁRIO PRO,
2011; SUA PESQUISA, 2011).
Fatores antrópicos que contribuem para os processos erosivos:
desmatamentos (desflorestamentos) que desprotegem os solos das
chuvas;
o avanço imobiliário em encostas que, além de desflorestar, provocam
a erosão acelerada devido ao declive do terreno;
33
as técnicas agrícolas inadequadas, quando se promovem
desflorestações extensivas para dar lugar a áreas plantadas;
a ocupação do solo, impedindo grandes áreas de terrenos de
cumprirem o seu papel de absorvedor de águas e aumentando, com
isso, a potencialidade do transporte de materiais, devido ao
escoamento superficial (DICIONÁRIO PRO, 2011; SUA PESQUISA,
2011).
Há sete tipos de erosão, porém, para este estudo vale citar os dois tipos
principais que contribuem para o assoreamento do lago Igapó, a erosão fluvial e
a pluvial.
7.1 EROSÃO FLUVIAL
Erosão fluvial consiste no desgaste do leito e das margens dos rios
pelas suas águas, podendo levar a alterações no curso do rio. O relevo
resultante da sedimentação das rochas no processo de erosão é denominado
colúvio. A erosão das rochas pode gerar ravinas, voçorocas e deslizamentos de
terra, no qual estes sedimentos são escoados para as partes mais baixas,
formando colúvios e depósitos de encosta. A erosão fluvial possui três fases:
desgaste; transporte; e a acumulação. Estas três fases acontecem ao longo de
todo o percurso do rio (DICIONÁRIO PRO, 2011).
Segundo DICIONÁRIO PRO (2011), a erosão fluvial é
[...] causada pelas águas de rio ou de riacho. Quando as águas de chuva se acumulam formando torrentes, a erosão deixa de ser pluvial e passa a ter a mesma dinâmica da erosão fluvial, mesmo que estas torrentes não estejam presentes durante todo o ano, como é o caso dos cursos d'água intermitentes das regiões áridas e semi-áridas (DICIONÁRIO PRO, 2011).
34
De acordo com Oliveira (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007) a
erosão fluvial também contribui para produção de sedimentos, isso acontece, por
exemplo, quando ocorre o solapamento de margem, jogando grande quantidade
de solo para dentro do curso hídrico. Quando o sedimento atingir os cursos
hídricos, ele começará a responder aos processos fluviais (OLIVEIRA, 1994
apud BRITO & SANT’ANNA, 2007).
7.2 EROSÃO PLUVIAL
DICIONÁRIO PRO (2011) conceitua a erosão pluvial como:
A erosão pluvial é provocada pela retirada de material da parte superficial do solo pelas águas de chuva. Esta ação é acelerada quando a água encontra o solo desprotegido de vegetação. A primeira ação da chuva se dá através do impacto das gotas d'água sobre o solo. Este é capaz de provocar a desagregação dos torrões e agregados do solo, lançando o material mais fino para cima e para longe, fenômeno conhecido como salpicamento. A força do impacto também força o material mais fino para abaixo da superfície, o que provoca a obstrução da porosidade (selagem) do solo, aumentando o fluxo superficial e a erosão (DICIONÁRIO PRO, 2011)
Vale dizer que a ação da erosão pluvial aumenta à medida que mais
água da chuva se acumula no terreno, sendo que a retirada do solo se dá de
cima para baixo. Por outro lado, a erosão remontante acontece através da
retirada do material de baixo para cima, como é o caso das boçorocas.
Uma ravina de origem pluvial pode progredir em direção a uma boçoroca, mas não necessariamente. Da mesma forma podemos ter a progressão de boçorocas independente da erosão pluvial, pois esta depende do fluxo subterrâneo e não do fluxo superficial (DICIONÁRIO PRO, 2011)
Há duas formas de erosões pluviais principais: erosão laminar ou em
lençol; e a erosão linear. De acordo com Carvalho (1994 apud BRITO &
SANT’ANNA, 2007) a erosão laminar se processa durante chuvas intensas, com
solo superficial saturado, sendo caracterizada por um desgaste suave e uniforme
35
de camada superficial. A erosão laminar apenas retira o horizonte A do perfil
pedológico, não produzindo grande quantidade de sedimento, dando uma feição
regular a superfície, não havendo rupturas (CARVALHO, 1994 apud BRITO &
SANT’ANNA, 2007).
Por sua vez a erosão linear que acontece quando o escoamento
hidráulico ocorre de forma concentrada, gerando sulcamento nas encostas.
Esses sulcos, dependendo das precipitações e das feições do solo, derivam
rapidamente para ravinas que podem formar voçorocas quando alcançam o nível
freático. Vale dizer que esse processo gera grande quantidade de sedimento,
pois as voçorocas são as feições erosivas que produzem mais sedimentos em
uma bacia (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Como aponta Mildner (1982 apud OLIVEIRA, 1994, BRITO &
SANT’ANNA, 2007) “as feições como voçoroca e ravina não só transportam os
sedimentos que elas produzem, mas também os que elas recebem da erosão
laminar. Portanto agem como produtora, coletora e transportadora de sedimento”
(MILDNER, 1982 apud OLIVEIRA, 1994, BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Diante da descrição dos fatores causadores do assoreamento, será
descrito a seguir o que é assoreamento.
36
8 ASSOREAMENTO
Assoreamento consiste no processo acelerado de deposição de
sedimentos detríticos (Figura 8.1) em uma área rebaixada. Do ponto de vista
geológico a sedimentação é um processo natural, decorrente da erosão, porém
devido à ação antrópica o processo é acelerado e acarreta diversos impactos
ambientais negativos. Assoreamento corresponde, portanto, à sedimentação
acelerada por meio de processos de ocupação do espaço geográfico pelo
homem, com suas atividades decorrentes: desmatamento, pecuária, agricultura,
mineração, urbanismo, dentre outras (DICIONARIO PRO, 2011).
De acordo com Oliveira (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007),
[...] a deposição do sedimento, ou seja, o assoreamento em si, ocorre quando a produção de sedimento excede à capacidade de transporte dos cursos d’água, sucedida de entalhe quando a capacidade de transporte é readquirida. Portanto, quanto maior a vazão maior é a capacidade de transporte e maior e maior é o assoreamento (Oliveira, 1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Interessante dizer que Oliveira (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007)
denomina os depósitos formados de depósitos tecnogênicos, pois são
resultantes das atividades antrópicas associadas ao uso do solo (OLIVEIRA,
1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007).
Vale acrescentar que o processo de assoreamento (Figura 8.1) está
relacionado aos processos erosivos, sendo que estes fornecem os materiais
que, ao serem transportados e depositados darão origem ao assoreamento.
Segundo DICIONARIO PRO (2011), “assoreamento e erosão são dois
processos diretamente proporcionais na dinâmica de uma bacia hidrográfica:
quando aumenta a erosão, haverá o conseqüente aumento do assoreamento em
algum lugar a jusante na bacia hidrográfica” (DICIONARIO PRO, 2011).
37
FIGURA 8.1. Processo de assoreamento: (a) deposição de sedimentos no interior do lago Igapó 4; (b) elevação do fundo do corpo hídrico no lago Igapó 2; (c) ilha de vegetação no lago Igapó 2; (d) material fino em suspensão na coluna d’água no lago Igapó 3. Fonte: Lorenzo, 2011.
Segundo Oliveira (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007), “o
assoreamento ocorre quando a produção de sedimentos excede a capacidade
de transporte do curso d’água, podendo assim refletir a dinâmica dos processos
erosivos”. Oliveira & Carvalho (1994 apud BRITO & SANT’ANNA, 2007)
ressaltam que o assoreamento de reservatórios relaciona-se à produção de
sedimentos, o transporte desses até os cursos d’água e a deposição. Os
mesmos autores supramencionados apontam que a produção de sedimentos
advém de processos erosivos existentes na bacia hidrográfica (OLIVEIRA, 1994
apud BRITO & SANT’ANNA, 2007).
De acordo com DICIONÁRIO PRO (2011), as conseqüências do
assoreamento em lagos, lagoas, baías e golfos são:
a b
c d
38
Elevação do fundo do corpo hídrico, prejudicando a navegação e
diminuindo a lâmina d'água, o que provoca seu maior aquecimento e
menor capacidade de dissolver oxigênio;
Alteração da circulação e dos fluxos das correntes internas,
comprometendo a vegetação da orla (manguezais) e as zonas
pesqueiras;
O material fino em suspensão na coluna d’água (turbidez) é uma
barreira à penetração dos raios solares, prejudicando a biota que
realiza fotossíntese e conseqüentemente diminuindo a taxa de
oxigênio dissolvido (OD) na água.
Segundo o ambientalista, João Batista (2010), o assoreamento de lagos
artificiais consiste em um processo natural, que leva cerva de mil anos para
acontecer. Mas o que diferencia o processo natural da situação atual do Igapó
(Figura. 8.1) é a velocidade em que o assoreamento está acontecendo, sendo
que o processo no Igapó está muito acelerado (ELORZA, 2010).
Diante desse contexto, será descrita adiante a situação atual do lago
Igapó.
39
9 SITUAÇÃO ATUAL DO LAGO IGAPÓ
O processo de assoreamento no lago Igapó (Figura. 9.1) não é recente,
sendo que já aconteceu algumas vezes e foi necessário esvaziar o lago para
dessasoreá-lo. O assoreamento suscetibiliza áreas adjacentes a inundação em
períodos de chuva intensa além de impactar a qualidade da água,
desequilibrando os ecossistemas do local. Também causa impacto social
negativo, pois o lago Igapó é considerado um espaço de lazer e para práticas
esportivas e sua depreciação pode acarretar no afastamento dos
freqüentadores. Vale lembrar também que o lago é um elemento importante no
controle climático de Londrina e região (BRITO & SANTA’ANNA, 2007).
FIGURA 9.1. Alguns dos elementos que contribuem para o assoreamento do lago Igapó: (a) rede de águas pluviais; (b) falta de conscientização da população; (c) materiais de construção sem mureta de proteção; (d) terrenos sem muretas de proteção com solos expostos com processos erosivos Fonte: Lorenzo, 2011.
a b
c d
40
Segundo BRITO & SANT’ANNA (2007),
O assoreamento do lago Igapó é um processo que há muito tempo vem se repetindo, onde algumas vezes já foi feita a remoção do sedimento do lago, sendo que em curto período de tempo uma grande quantidade de sedimentos volta ao seu fundo. Isso ocorre porque não é feito um trabalho de identificação das causas do assoreamento, com base no qual se possa propor medidas que venham a diminuir a quantidade de sedimento remobilizado para dentro do lago (BRITO & SANTA’ANNA, 2007).
Segundo o Secretário de Obras do município de Londrina, Agnaldo Rosa
(2011), o processo de assoreamento do Lago Igapó se iniciou há mais de
cinqüenta anos. Os elementos causadores do assoreamento são à falta de
conscientização da população londrinense que joga diariamente resíduos nas
ruas, à falta de fiscalização nos terrenos sem muretas de proteção e nos
materiais de construção e ao despejo irregular de esgoto, que não seguem o
Código de Posturas do Município (sem calçadas, sem muretas e sem controle de
erosão) (Figura. 9.1). Esses resíduos são levados pela água das chuvas até o
lago passando pelos bueiros e tubulações (Figura 9.1.a), ou atingem o lago
diretamente, devido à escassez de mata ciliar. Segundo o ambientalista, João
Batista (2011), o lago Igapó 3 já possuiu mais de três metros de profundidade e
hoje apresenta 20 centímetros, no máximo (RPC, 2011).
Além dos elementos citados que causam o assoreamento do lago Igapó,
segundo FRAZÃO (2009) vale citar que os efluentes de tratamento de empresas
alimentícias e os estabelecimentos de lavagem rápida de veículos que despejam
resíduos nas galerias de escoamento de chuvas além centenas de ruas
conectadas por bueiros que direcionam os resíduos e efluentes das ruas do
município ao lago Igapó, aumentando seu nível de poluição e o assoreamento.
Nessa esteira, óleos, graxas de carros, entulhos, areia de obras, calçadas
destruídas ou em terra nua e resíduos jogados pela população nas ruas formam
uma massa de poluição que atinge diariamente a Bacia do lago Igapó,
diretamente ou pela alimentação de seus oito afluentes (FRAZÃO, 2009).
Diante deste contexto, pode-se concluir, portanto, que os principais
elementos que contribuem para o assoreamento são:
41
Uso e ocupação do solo;
Falta de conscientização da população por jogar resíduos nas ruas;
Falta de fiscalização em terrenos e armazenamento de materiais de
construção sem muretas de proteção; e
Falta de dissipadores de energia adequados.
Segundo Elorza (2010), o lago Igapó em toda sua extensão encontra-se
assoreado, sendo os lagos Igapó 3 e 4 os pontos mais críticos (ELORZA, 2010).
Será analisado o assoreamento do lago Igapó 2, 3 e 4. Devido ao lago
Igapó 1 não estar em um processo de assoreamento tão acelerado quanto os
demais, não entrou neste estudo.
9.1 LAGO IGAPÓ 2
Segundo o ambientalista, João Batista Moreira de Souza, que monitora o
Igapó e as demais bacias da cidade desde a década de 90 com a Patrulha das
Águas, o Igapó 2 (Figura 9.2) começou a sofrer impactos ambientais negativos
com o crescimento do bairro Gleba Palhano (Figura 9.2.d), onde localiza-se o
lago (ELORZA, 2010).
Como apontam BRITO & SANT’ANNA (2007),
A carga sedimentar encontrada no seu leito é transportada pelos rios que deságuam no lago, Ribeirão Cambé e o córrego Água Fresca, pelas diversas galerias de água pluvial e, com menor importância, o sedimento erodido das margens do próprio lago. Essa tendência foi também observada por Oliveira (1994), onde a influencia dos sedimentos de margem do reservatório é muito menor em relação aos sedimentos que vem de fora (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
42
FIGURA 9.2. Causas e o processo de assoreamento do lago Igapó 2: (a) tubulação da rede de águas pluviais, processos erosivos e resíduos no lago; (b) tubulação da rede de águas pluviais e ilha de vegetação; (c) material de construção são mureta de proteção; (d) expansão da Gleba Palhano; (e) erosão fluvial lateral nas margens do córrego Água Fresca; (f) lago com poucos centímetros de altura Fonte: Lorenzo, 2011.
Foi constatado em campo, em agosto de 2011, erosões fluviais laterais
em alguns pontos das margens do córrego Água Fresca, que deságua no lago
Igapó 2, o que contribui para o seu assoreamento. Ainda em campo, observou-
se formação de ilhas de vegetação decorrentes do assoreamento no lago Igapó
2. Também foram detectados terrenos sem muretas de proteção com solo e
a b
c d
e f
43
materiais de construção expostos em ruas adjacentes ao lago, como na Rua
Bento Munhoz da Rocha Neto, que percorre uma de suas margens, fator que
também promove o assoreamento. Neste diagnóstico do lago Igapó 2, observou-
se que o lago encontra-se com apenas alguns centímetros de altura, como pode-
se observar na Figura 9.1.1.f. Isso provoca seu maior aquecimento e menor
capacidade de dissolver oxigênio, ocasionando em uma má qualidade de vida da
biodiversidade lacustre (Figura.9.2).
9.2 ATERRO DO LAGO IGAPÓ 2
Com uma largura mais estreita, o Ribeirão Cambé percorre uma de suas
margens enquanto o córrego Colina Verde deságua na outra margem. Devido a
sua menor largura em relação aos outros lagos, ocorre uma maior
sedimentação, encontrando-se em um estado crítico (Figura 9.3).
Em campo, constatou-se ilhas de vegetação devido à sedimentação
além de terrenos com materiais de construção e solo exposto sem mureta de
proteção na Rua Bento Munhoz da Rocha Neto, que consiste na rua adjacente
ao córrego Colina Verde. Foram vistos tubulações da rede de água pluvial
desaguando na margem do córrego. Isso acarreta numa concentração de água,
com alta energia, encontrando trechos de solo exposto localizado na margem,
dando início a processos erosivos. Foram observadas árvores caída próximas ao
córrego, haja vista que ao cair abre-se buracos, que com a ação das chuvas
podem evoluir para ravinas (Figura 9.3).
44
FIGURA 9.3. Causas e o processo de assoreamento do aterro do lago Igapó 2: (a) ilhas de vegetação em uma das margens devido à sedimentação; (b) rede de águas pluviais; (c) árvore caída; (d) processos erosivos nas margens do lago; (e) materiais de construção expostos nas adjacências do lago; (f) ilha de vegetação. Fonte: Lorenzo, 2011.
b a
c d
e f
45
9.3 LAGO IGAPÓ 3
Elorza (2010) ressalta que o lago Igapó 3 possui, devido ao processo de
assoreamento, várias ilhas e penínsulas com vegetação de médio porte
avançando pelas águas (Figura 9.4) (ELORZA, 2010).
Foram observados em campo vários pontos nas margens do córrego
Rubi de solo exposto, vulneráveis a processos erosivos. Além de erosão fluvial
lateral em alguns pontos da margem do córrego. Também se constatou terrenos
com solo exposto e materiais de construção sem muretas de proteção na Rua
Bento Munhoz da Rocha Neto, paralela a uma das margens do lago Igapó 3.
Observou-se, ainda, a falta de mata ciliar nas margens, principalmente na da rua
citada acima, como mostra a Figura 9.5.e. Árvores caídas também foram
detectadas, o que indica a falta de monitoramento da área. Ao cair, deixa o solo
exposto, vulnerável à erosão. Todos os elementos citados contribuem para o
assoreamento do Lago Igapó.
FIGURA 9.4. Ilhas com vegetação no lago Igapó 3, decorrentes do assoreamento. Fonte: Lorenzo, 2011.
46
FIGURA 9.5. Causas e processo de assoreamento no lago Igapó 3: (a) solo exposto (falta de mata ciliar) adjacente ao córrego do Rubi, próximo ao ponto de confluência; (b) erosão fluvial em uma das margens do córrego do Rubi; (c) terreno com solo exposto; (d) materiais de construção sem muretas de proteção (e) falta de mata ciliar em uma das margens do lago Igapó 3; (f) árvore caída em uma das margens do lago Igapó 3, deixando o solo exposto; Fonte: Lorenzo, 2011
a b
c d
e f
47
9.4 LAGO IGAPÓ 4
O lago Igapó 4, considerado o mais prejudicado, está com sua lâmina
d’água com apenas centímetros de profundidade, que acarreta na má qualidade
de vida dos peixes, que se locomovem com seus dorsos fora d’água, e dos
demais seres lacustres atingindo todos os ecossistemas existentes no local
(Figura 9.7.c) (ELORZA, 2010).
Em campo, como se pode observar as figuras abaixo, constatou-se ilhas
de vegetação avançada, resíduos jogados pelos londrinenses atingindo o lago e
materiais de construção sem muretas de proteção na Rua Uberlândia, próxima
ao Igapó 4. Além disso, detectou-se material fino em suspensão na coluna
d’água (turbidez), que bloqueia a entrada de luz para o interior e assim, impede
que a fotossíntese ocorra. Conseqüentemente, ocorre a diminuição da taxa de
oxigênio dissolvido (OD). Também foram observados vários pontos ao longo das
margens do córrego Baroré com erosão fluvial lateral e árvores caídas (Figura
9.6 e 9.7).
FIGURA 9.6. Ilhas com vegetação no lago Igapó 4. Fonte: Lorenzo, 2011.
48
FIGURA 9.7. Causas e processo de assoreamento do lago Igapó 4: (a) resíduos jogados pela população atingindo o lago; (b) turbidez; (c) peixes com o dorso fora d’água; (d) erosão lateral nas margens do córrego Baroré; (e) árvore caída adjacente ao córrego Baroré; (f) materiais de construção desprotegidos de muretas. Fonte: Lorenzo, 2011.
a b
c d
e f
49
10 IMPACTOS AMBIENTAIS
10.1 BIODIVERSIDADE LACUSTRE
O processo de assoreamento atinge diretamente a biodiversidade
lacustre. Sem controle e programas específicos de cuidados e monitoramento do
que ocorre nas ruas, Londrina cresce e atinge diariamente os recursos hídricos e
os animais que vivem nele e dele (Figura 10.1) (FRAZÃO, 2009).
Segundo Francisco Striquer (2009), doutor em Ecologia e Recursos
Humanos, após várias reformas e reestruturações do lago Igapó, a fauna
lacustre do local tem se adaptado ao ambiente urbanizado por uma questão de
sobrevivência. Vale lembrar que após percorrer o Lago Igapó, a água poluída de
resíduos jogados pela sociedade londrinense segue seu curso no Parque
Municipal Arthur Thomas, onde animais ameaçados de extinção como a irara
(Eira Barbara) e a jaguatirica (Leopardus pardalis) bebem a água (FRAZÃO,
2009).
50
FIGURA 10.1. Impactos na biodiversidade lacustre e no homem: (a) garça-branca-grande (Ardea alba) se alimentando de peixe contaminado; (b) garça-branca-grande (Ardea alba) na água turva do lago Igapó 4; (c) pessoas pescando; (d) jaçanã (Jacana jacana) no aterro do lago Igapó 2 rodeado de resíduos jogados pela população. Fonte: Lorenzo, 2011.
Segundo o presidente da ONG MAE – Meio Ambiente Equilibrado,
Eduardo Panachão (2009), a biodiversidade aquática do lago Igapó, como os
peixes, moluscos e algas, encontra-se com uma má qualidade de vida devido ao
acúmulo de resíduos, óleos e poluentes no interior do corpo hídrico. Tais
elementos são levados dos logradouros pelas as águas pluviais até o lago,
passando pelas galerias pluviais. Além de contaminar a fauna aquática,
Panachão (2009) enfatiza que aqueles que se alimentam dos peixes
encontrados no Lago Igapó passam a acumular os poluentes em seu próprio
organismo, ou seja, ocorre efeito cumulativo (Figura. 10.1) (FRAZÃO, 2009).
Além disso, a diminuição da lâmina d’água atinge, em especial, as aves
aquáticas como as três espécies de martim-pescador (Megaceryle torquata,
Chloroceryle americana e Chloroceryle amazona) e o biguá (Phalacrocorax
a
b
c
d
51
brasilianus), existentes no Igapó que dependem do mergulho para abordar suas
presas (SIGRIST, 2009) (Figura 10.2).
FIGURA 10.2. Biguá (Phalacrocorax brasilianus): (a) bomando sol para secar as penas; (b) mergulhando para abordar sua presa. Fonte: Lorenzo, 2011.
a b
52
10.2 EUTROFIZAÇÃO
Eutrofização consiste no aumento da quantidade de nutrientes,
principalmente nitratos e fosfatos, resultante da poluição das águas por ejeção
de adubos, fertilizantes, detergentes e esgoto doméstico sem tratamento prévio
que provocam o aumento de minerais e, conseqüentemente, a proliferação de
algas existentes na superfície do corpo hídrico. Essa camada espessa de algas
na superfície hídrica impede a entrada de luz no interior da água, não sendo
possível a realização da fotossíntese pelos organismos presentes nas camadas
mais profundas, acarretando na morte das algas, a proliferação de bactérias
decompositoras e o aumento do consumo de oxigênio por estes organismos.
Este fenômeno resulta na escassez de oxigênio na água o que gera a
mortandade dos peixes e os demais seres aeróbicos, danificando a
biodiversidade aquática. A decomposição orgânica, na ausência do oxigênio,
torna-se anaeróbica produzindo gases tóxicos, como sulfúrico, causador do
cheiro forte característico do fenômeno. Vale dizer que a eutrofização promove a
proliferação de inúmeras doenças causadas por bactérias, vírus e vermes
(INFOESCOLA, 2009).
Esse fenômeno se destacou em 2003 e 2004 no lago Igapó 3 e 4,
decorrente da contaminação por esgoto e aumento de resíduos que chegam até
o lago através das águas pluviais (MENEGHEL, 2003; ARAÚJO, 2004).
Para recuperar a qualidade ambiental do lago Igapó reduzindo a
magnitude dos impactos ambientais negativos é preciso aplicar um conjunto de
medidas mitigatórias, que serão descritas a seguir.
53
11 MEDIDAS MITIGATÓRIAS
De acordo com Sánchez (2008), medidas mitigatórias (ou mitigadoras,
ou ainda, de atenuação) “são ações propostas com a finalidade de reduzir a
magnitude ou a importância dos impactos ambientais adversos” (SÁNCHEZ,
2008).
Para combater o assoreamento deve-se adotar um conjunto de medidas
que reduzam a erosão. Dentre elas:
Manutenção da cobertura vegetal do solo, ou, na sua impossibilidade,
proteção do solo com coberturas artificiais;
Obras hidráulicas que diminuam a velocidade das correntes, como
escadas e obstáculos transversais ao longo do talvegue;
FIGURA 11.1. Obra hidráulica que diminui a velocidade das correntes.
Fonte: Lorenzo, 2011.
54
Construção de reservatórios ao longo da drenagem, que possam
represar a água, o que, além de diminuir sua velocidade e volume,
passam a se constituir em locais de deposição de sedimentos,
evitando que cheguem ao local que se pretende proteger
(DICIONARIO PRO, 2011).
Segundo João Batista (2010),
O que precisa: gestão, fiscalização e autuação, por parte da Prefeitura, e o envolvimento da comunidade. [...] o povo tem que saber que a bituca de cigarro que ele joga na rua vai parar no Igapó. A maioria ainda confunde galeria pluvial com escoamento de esgoto. [...] É preciso ser mais científico, conhecer os problemas, estabelecer metas, saber as diferenças de cada área. Uma microbacia é diferente da outra, tem problemas diferentes e precisa de soluções diferentes (BATISTA, 2010).
De acordo com o ambientalista, as cidades, de forma geral são
gerenciadas de forma amadora e empírica. Além disto, para ele o Programa
Ecometrópole, desenvolvido em parceria pelo Instituto Ecometrópole e diversos
órgãos e entidade, além de ONGs ambientais da cidade, visa promover, dentre
outros elementos, a conscientização ambiental da população londrinense, sendo
esta uma das etapas para solucionar o assoreamento do lago Igapó (ELORZA,
2010).
11.1 DRAGAGEM DO LAGO
Uma das sugestões, segundo o Secretário de Obras do município,
Agnaldo Rosa (2011) e o ambientalista João das Águas consiste em dragar a
terra para recuperar o leito, além de fiscalizar as obras no entorno visando evitar
que os resíduos dos terrenos adjacentes com proteção inadequada se
direcionem até o lago (Figura 11.2) (RPC, 2011).
55
FIGURA 11.2. Draga. Fonte: Medeiros, 2011.
Rosa (2011) explica uma medida mitigatória para desassorear o lago
Igapó, conforme o projeto estabelecido no início de 2011 na administração de
Barbosa Neto, que visa colocar uma draga no lago, sendo que foi solicitado em
janeiro de 2011 um orçamento a uma empresa especializada para a construção
do equipamento. De maneira sucinta, de acordo com o secretário, o projeto
consiste em colocar uma draga com uma bomba cascalho - como se faz
extração de areia – em toda bacia do Ribeirão Cambé, principalmente nos locais
mais críticos, e com o auxílio de um banco de dados e levantamentos da
Ecometrópole, o desassoreamento ocorrerá com o tempo, sendo que os
resíduos acumulados serão dragados aos poucos para fora do lago. Rosa (2011)
ressalta que o projeto não deve apenas ser administrado na gestão atual do
prefeito Barbosa Neto, mas também deverá ter continuidade nas futuras gestões
para evitar que o lago volte a assorear, “já que não é apenas um cartão postal
da cidade londrinense, é um dos maiores patrimônios de nossa cidade”, afirma
(RPC, 2011).
Porém, João das Águas afirma: “Dragar o Igapó não é a solução se não
for feito um gerenciamento dos problemas. Que adianta gastar milhões se o
processo vai continuar? Temos que fazer a chamada solução na origem”
(ELORZA, 2010).
56
11.2 FISCALIZAÇÃO DOS TERRENOS
Segundo o Secretário de obras do município, Agnaldo Rosa (2011), para
solucionar a questão dos terrenos sem mureta além dos materiais de construção
deixados em calçadas sem proteção, é preciso haver a cobrança dos
proprietários de cumprir a legislação vigente através de multas e notificações
(Figura 11.3). O Secretário (2011) ressalta que, devido ao início do Ribeirão
Cambé ser próximo a PR - 445 com a BR – 369, essa fiscalização deve ser feita
desde este local até a foz do rio Tibagi, abrangendo a bacia do ribeirão Cambé,
e suas microbacias. Rosa afirmou à RPC em janeiro de 2011 que além das
ações da prefeitura será realizada uma campanha solicitando que os
proprietários cuidem de maneira adequada de seus imóveis (RPC, 2011).
Barros (2010), presidente do CONSEMMA (Conselho Municipal do
Ambiente de Londrina), afirmou que o conselho recomendará o cumprimento da
legislação ambiental, exigindo que a prefeitura fiscalize e multe os proprietários
cujas obras e terrenos vazios não estiverem em conformidade com as
determinações do Código de Posturas do Município (nº 4.607/90) (Figura 11.3)
(BARROS, 2010 apud ELORZA, 2010).
57
FIGURA 11.3. Materiais de construção e terrenos baldios: (a) material de construção (areia) com mureta de proteção na Rua Urbelândia, próximo ao Igapó 4; (b) materiais de construção desprotegidos de mureta na Rua Urbelândia, próximo ao Igapó 4; (c) terreno com mureta na Rua Prof. Joaquim de Matos Barreto, paralela à uma das margens do lago Igapó 2; (d) terreno sem mureta de proteção na Rua Cabo Frio, próximo ao Igapó 4. Fonte: Lorenzo, 2011.
Segundo a lei nº 4.607/90 em seu artigo 50:
É proibido embaraçar ou impedir, por qualquer meio, o livre trânsito de pedestres ou de veículos nas ruas, praças e passeios, exceto para efeito de obras públicas ou quando exigências policiais o determinarem. § 1º Em caso de necessidade, poderá ser autorizado o impedimento de meia pista de cada vez.
§ 2º Sempre que houver necessidade de se interromper o trânsito, deverá ser colocada sinalização claramente visível de dia e luminosa à noite (Lei nº 4.607/90).
O artigo 51 da mesma lei continua:
Compreendem-se na proibição do artigo anterior o depósito de quaisquer materiais, inclusive de construção, entulhos e podas de árvores e jardins. § 1º Tratando-se de materiais que não possam ser depositados
a
c
b
d
58
diretamente no interior dos prédios ou dos terrenos, serão toleradas a descarga e permanência na via pública, com o mínimo prejuízo ao trânsito, por tempo estritamente necessário à sua remoção, não superior a seis horas (Lei nº 4.607/90).
No que diz respeito à preparação de reboco ou argamassa em calçadas
(Figura 11.3.a) o artigo 53 determina:
Não será permitida a preparação de reboco ou argamassa nas vias públicas, senão na impossibilidade de fazê-lo no interior do prédio ou terreno. Neste caso, só poderá ser utilizada a área correspondente à metade da largura do passeio e sem prejuízo para o trânsito de pedestres (Lei nº 4.607/90).
Em relação ao transporte de materiais como terra, entulho, areia, dentre
outros, o artigo 54 aponta:
Todo aquele que transportar detritos, terra, entulhos, areia, galhos, podas de jardim e outros, e os deixar cair sobre a via pública transitável, fica obrigado a fazer a limpeza do local imediatamente, sob pena de multas e apreensão do veículo transportador. Parágrafo único. No caso de colocação dos referidos materiais na via pública para serem removidos, o prazo será de seis horas no máximo, e não poderão ser colocados próximos as bocas-de-lobo, de maneira a comprometer a captação de águas pluviais (Lei nº 4.607/90).
No caso dos terrenos o artigo 111 da mesma lei estabelece:
Os proprietários de terrenos, dentro dos limites da cidade, vilas e povoados devem manter os quintais, pátios, datas, lotes e terrenos em perfeito estado de conservação e manutenção e manter os terrenos murados e calçados, de acordo com a legislação vigente (Lei nº 4.607/90).
O artigo n°154 da mesma lei institui: “Os proprietários de terrenos são
obrigados a murá-los ou cercá-los e a executar e conservar o respectivo passeio
dentro dos prazos fixados pela Prefeitura”. Em seu artigo 156 reza: “Os terrenos
da zona urbana serão fechados com muros, rebocados e caiados, ou com
grades de ferro ou madeira, assentados sobre alvenaria, devendo em qualquer
caso ter uma altura mínima de um metro e trinta centímetros” (Lei nº 4.607/90).
59
11.3 BUEIROS ECOLÓGICOS
Segundo Elorza (2010), o Conselho Municipal de Meio Ambiente
(CONSEMMA) cobrará do Município o cronograma para a substituição de todos
os bueiros e bocas de lobo atuais pelos bueiros ecológicos, que retêm a maior
parte da terra e dos resíduos que se direcionam ao Igapó. A retenção dos
resíduos acontece devido ao revestimento de pedras no fundo dos bueiros para
que a água infiltre no solo ao invés de serem apenas de concreto. A instalação
desses bueiros, segundo o presidente do CONSEMMA, Fernando Barros (2010),
vai amenizar o assoreamento do lago (ELORZA, 2010).
Vale dizer que em 2007, de acordo com FRAZÃO (2007) o projeto
Bacia-Escola Água Fresca, constituído pelo Ministério Público, Conselho
Municipal, ONGs ambientais e CONSEMMA, efetuou a instalação de bueiros
ecológicos na Rua Goiás de Londrina. A principal idéia era construir bueiros de
ecologicamente corretos, diferente dos atuais, com a função de reter o lixo
jogado nas ruas pela população antes que chegasse ao Córrego Água Fresca,
afluente do Lago Igapó. “A iniciativa vai nos permitir rios mais limpos e com
melhor qualidade”, ressaltou a promotora Solange Vicentin (2007). A cada chuva
os resíduos jogados pelos londrinenses se direcionam pelo subterrâneo pelas
galerias não só até o Córrego Água Fresca, mas atingem também os 84
córregos da cidade. Segundo o ambientalista João Batista de Souza (2007):
Geralmente o que interessa numa obra é o custo financeiro e a drenagem tornou-se um sistema que transforma os nossos rios e lagos em verdadeiras lixeiras a céu aberto após as chuvas. É a retenção da poluição na origem. Assim grande parte dos resíduos, como brita, areia, dejetos, deixará de ir diretamente para o rio (SOUZA, 2007).
Segundo FRAZÃO (2007), os bueiros ecológicos têm um maior
comprimento, de até três metros, com uma grade que possa ser aberta, onde
uma espécie de lixeira interna impede a entrada do lixo e possibilita a passagem
apenas da água (FRAZÃO, 2007).
60
Como aponta o engenheiro Fernando Barros (2007):
A poluição dos rios pelas águas pluviais é tão grave quanto a do esgoto. Nós engenheiros temos que mudar a nossa forma de pensar. Sou engenheiro e não dá mais para aprender na faculdade ou fazer bocas-de-lobo como há 30, 40 anos. É arcaico demais (BARROS, 2007).
11.4 RECUPERAÇÃO OU REPOSIÇÃO DA MATA CILIAR
Mata ciliar consiste na formação vegetal localizada no entorno dos rios,
córregos, lagos, represas e nascentes, ou seja, localizada nas margens dos
corpos hídricos. A mata ciliar também é conhecida como mata de galeria, mata
de várzea, vegetação ou floresta ripária. “Mata ciliar é uma área de preservação
permanente obrigatória” (GOVERNO DO PARANÁ, 2011), que desde 1965
estão incluídas na categoria de áreas de preservação permanente (APPs) pelo
Código Florestal (Lei n° 4.771/65) (Figura 11.3). Como se observa na Figura
11.4, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada está relacionada com a
largura do curso d'água. A vegetação natural (arbórea ou não) existente ao
longo das margens dos rios, e ao redor de nascentes e de reservatórios, deve
ser preservada de acordo com essa legislação, que em várias ocasiões não foi
cumprida, como no caso do lago Igapó, que possui uma mata ciliar escassa
(GOVERNO DO PARANÁ, 2011; LICENCIAMENTO AMBIENTAL, 2011).
Segundo o artigo 2°, inciso II, da RESOLUÇÃO CONAMA nº 302/02, a
área de preservação permanente é:
a área marginal ao redor do reservatório artificial e suas ilhas, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas (CONAMA, 2002).
Ainda nesta mesma legislação, seu Artigo 3° define:
61
Constitui Área de Preservação Permanente a área com largura mínima, em horizontal, no entorno dos reservatórios artificiais, medida a partir do nível Maximo normal de: I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas consolidadas e cem metros para áreas rurais (CONAMA, 2002).
FIGURA 11.4. Lei n° 4.771/65: Largura da faixa de mata ciliar a ser preservada relacionada com a largura do curso d'água. Fonte: GOVERNO DO PARANÁ, 2011.
Como aponta Elorza (2010), o lago Igapó foi formado antes do Código
Florestal, sem exigência das áreas de preservação permanente (APPs), que
consiste na mata ciliar que protegeria as margens. Segundo a promotora de
Defesa do Meio Ambiente, Solange Vicentin, “Se não se cria barreiras de
contenção, a tendência é de se juntar ali uma maior quantidade de água pluvial.
No Igapó, como lago urbano, é muito complicado barrar tudo isso” (ELORZA,
2010).
Segundo as dimensões apresentadas na Figura 11.4, o lago Igapó se
encaixa entre 10 a 50 metros por ter larguras diferentes em toda sua extensão,
tendo que possuir de 30 a 50 metros de mata ciliar dependendo da área
(GOVERNO DO PARANÁ, 2011).
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A escassez de mata ciliar em todo o entorno do lago Igapó faz com que
aumente o escoamento superficial das águas pluviais, diminuindo sua infiltração
no solo e assim, diminui o armazenamento no lençol freático. Desta maneira,
reduze-se o volume de água disponível no subsolo e acarreta em enchentes nos
córregos, rios e os riachos durante as chuvas (LICENCIAMENTO AMBIENTAL,
2011).
Em relação ao assoreamento do lago Igapó, a mata ciliar é essencial
para evitá-lo, pois sem ela, as águas pluviais transportam o solo das margens
erodidas para dentro do lago, causando o assoreamento e os sólidos em
suspensão acarretam em danos ambientais. Vale dizer também que o processo
de erosão dos solos se agrava devido, principalmente, à ocorrência de
enchentes nas épocas de chuva. Pode-se concluir, portanto, que a mata ciliar é
de suma importância para a qualidade da água do lago, pois reduz a erosão das
margens e conseqüentemente o assoreamento, cujo acúmulo de resíduos
danifica a biodiversidade lacustre. Vale acrescentar que a mata ciliar se
recuperada e preservada, torna-se um corredor ecológico para a biodiversidade
local que passa a garantir seu fluxo gênico (LICENCIAMENTO AMBIENTAL,
2011).
Desde sua inauguração, foram realizados alguns projetos de
recuperação da mata ciliar do lago Igapó, porém sem muitos resultados. Um
exemplo foi a atividade desenvolvida no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de
junho) de 2011 com o objetivo de recuperar a mata ciliar do lago Igapó IV e
despertar a conscientização e sensibilização ambiental da população. Foram
plantadas 200 mudas de espécies de árvores nativas na margem do lago por
alunos de Técnico em Controle Ambiental e Engenharia Ambiental da UTFPR –
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - e pelos alunos do ensino infantil e
fundamental do IEIJ - Instituto de Educação Infantil e Juvenil. Porém, com a falta
de monitoramento poucas mudas sobreviveram (Figura 11.5 e 11.6)
(AGUILLERA, 2011).
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Figura 11.5. Recomposição da mata ciliar no Igapó IV pela UTFPR e IEIJ em jun 2011. Fonte: Lorenzo, 2011.
FIGURA 11.6. Em destaque as mudas plantadas pela UTFPR e IEIJ em 5 junho de 2011. Fonte: Lorenzo, 2011.
64
11.5 PLANO DIRETOR E OCUPAÇÃO IMOBILIÁRIA
A ocupação imobiliária da região em volta do lago contribui para o seu
rápido assoreamento, sendo a fiscalização da Prefeitura a ação fundamental
para evitar que isso ocorra. Porém, segundo Elorza (2010), “não é possível exigir
que as construtoras assumam a responsabilidade de resolver o problema já
instalado sem que, de fato, se comprove uma infração ambiental.” Solange
Vicentin, promotora de Defesa do Meio Ambiente, afirmou que é preciso que os
órgãos de fiscalização identifiquem a infração e encaminhem a ela para que
possa tomar medidas necessárias. “Mas eu preciso de um fato concreto.
Poluição difusa é muito complicado identificar a fonte”, explica Vicentin (2010)
(Figura. 11.7) (ELORZA, 2010).
FIGURA 11.7. Ocupação Imobiliária (Gleba Palhano) próxima ao Lago Igapó 2. Fonte: Lorenzo, 2011.
65
Como aponta BRITO & SANT’ANNA (2007),
Os principais problemas de urbanização estão na falta de planejamento adequado na concepção de cidades, sendo que isso ocorre, uma vez que o parcelamento do solo e a implantação de infra-estrutura para suprir as demandas urbanas, são feitas de maneira acelerada. O papel do plano diretor ainda é visto somente como instrumento para traçar um zoneamento de ocupação, sem tocar nas peculiaridades do meio como: suscetibilidade a erosão e assoreamento, identificação de áreas de risco, monitoramento de qualidade e balanço hidrogeológico, entre outros. Cabe aos analistas ambientais indicarem a importância desses fatores para que sejam traçadas novas diretrizes que contemplem o plano diretor com uma nova visão de ocupação do ambiente urbano (BRITO & SANT’ANNA, 2007).
66
11.6 LIMPEZA DO LAGO
A limpeza dos lagos é realizada freqüentemente através de terceiros
contratados pela prefeitura municipal para fazer a limpeza do lago como mostra
a figura a seguir (Figura 11.8). Através da limpeza, resíduos que foram
descartados pela população e levados através das galerias pluviais até o lago
além de elementos que atingiram o lago de forma natural como folhas e galhos,
são retirados do corpo hídrico manualmente, amenizando o assoreamento.
FIGURA 11.8. Terceiros contratados pela prefeitura para a realização da limpeza do lago. Fonte: Lorenzo, 2011.
67
12 CONCLUSÃO
Diante do presente trabalho, ao analisar o histórico do lago Igapó e o
diagnóstico realizado de sua situação atual, pode-se concluir quais são as
medidas mitigatórias para amenizar o assoreamento, sendo que algumas já
foram executadas e outras ainda estão apenas em projetos.
Vale lembrar que a criação do lago tem sua raiz no represamento do
córrego para solucionar o problema de enchentes nesse local somado a idéia de
criar um espaço público para os londrinenses. Nos anos seguintes passou por
um processo de desvalorização e devido à implantação de infra-estruturas, vias
de acesso e a construção do Shopping Catuaí, o lago Igapó virou um espaço
natural de lazer e para práticas esportivas, obtendo certa valorização. O lago já
foi desassoreado duas vezes, porém o processo de assoreamento continua e de
forma acelerada, pois praticamente não são efetuadas medidas para seu
controle. Analisando seu histórico e com base diagnóstico feito em campo nos
lagos 2, 3 e 4 e em seus afluentes, podem-se levantar alguns pontos que
contribuíram para o assoreamento no lago.
Convém lembrar que o assoreamento consiste na deposição de
sedimentos detríticos em uma área rebaixada, sendo que a sedimentação é
resultado principalmente de processos erosivos. Foram detectados processos
erosivos em alguns pontos das margens dos lagos e de seus afluentes além de
pouca concentração de mata ciliar, suscetibilizando o solo à erosão.
Terrenos com solo exposto e materiais de construção civil como areia e
brita, sem muretas de proteção, também foram detectados em áreas adjacentes
ao lago e aos seus afluentes, haja vista que o solo exposto é vulnerável à
erosão. Estes materiais de construção e partículas de solo, além de outros
resíduos, são carregados pelas águas pluviais que se direcionam através de
tubulações até os lagos e seus afluentes, onde ocorre sua sedimentação e,
conseqüentemente, seu assoreamento.
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Devido ao crescimento urbano em conjunto com a falta de planejamento
de instalação de bueiros e sua estrutura, a falta de conscientização da
população em relação aos aspectos ambientais da cidade somado a falta de
projetos e campanhas para conscientizá-la, o assoreamento do Lago Igapó, o
cartão postal de Londrina, se agrava. Além disso, vale citar a falta de
fiscalização dos terrenos para ficarem em conforme com a legislação vigente, a
falta de mata ciliar nas margens do lago, a falta de práticas de conservação do
solo e recuperação de áreas degradadas, dentre outros elementos.
Para desassorear o lago Igapó é necessário efetuar um conjunto de
medidas mitigatórias, não só no lago Igapó, mas em todo o ribeirão Cambé e em
seus afluentes, que irão reduzir a magnitude ou a importância dos impactos
ambientais adversos. Deve-se fazer um mapeamento e estabilização de
erosões, instalação de bueiros ecológicos, monitoramento da vegetação de suas
margens e recomposição da mata ciliar de todo o lago Igapó e de seus afluentes
- para evitar ocorrência de solapamentos de margem. Além disso, é preciso que
haja a fiscalização em terrenos e materiais de construção desprovidos de
muretas, campanhas de conscientização e dragagem do lago.
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