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Curso LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE Disciplina LINGUAGENS EXPRESSIVAS

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Curso

LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE

Disciplina

LINGUAGENS EXPRESSIVAS

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Curso LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE

Disciplina

LINGUAGENS EXPRESSIVAS

Eveline CARRANO Gerassina COSTA

Ivan COROMANDEL Juliana OHY

Maria Estela LOPES Naila BRASIL Renata CURY

Virginia Maria de SOUZA

www.avm.edu.br

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Olá, meu nome é RENATA CURY e sou arteterapeuta e pós-graduada em

Arte e Educação pela Candido Mendes. Hoje, estou em formação reichiana. O estudo do corpo sempre me atraiu e não vejo como ter êxito no meu trabalho se não perceber o ser humano como um todo. Procuro trazer as minhas vivências para o meu espaço, tanto nos atendimentos

individuais como no grupo. O estudo do corpo é muito encantador.

Sou JULIANA OHY, formada em Psicologia. Possuo cursos na área clínica focados em psicodiagnóstico infantil, Psicologia Junguiana, Dançaterapia; Minha experiência profissional engloba tanto a área clínica em hospital psiquiátrico, atendimento clínico individual e em grupo, como a área escolar, auxiliando no processo psicopedagógico na educação infantil.

Minha profissão é, sem dúvida, minha maior realização atualmente.

Olá! Meu nome é GERASSINA CARVALHO. Trabalho atualmente como docente e atuo, também, como supervisora pedagógica na rede pública de

ensino. Fico feliz com o convite de fazer parte desta instituição de ensino tanto como aluna que fui concluindo pós-graduação em Arteterapia e como professora conteudista para uma área que é a fotografia. Espero que possa ajudá-los nesta caminhada sempre que precisar.

EVELINE CARRANO HENRIQUES PORTO, psicóloga, arteterapeuta, arte-educadora; pós-graduada com especialização em Psicoterapia Junguiana e o Imaginário (PUC-RJ) Terapia de Família (UCAM-RJ) e Arteterapia na Saúde e na Educação (UNIRIO); curso de mestrado na área de Psicologia Social e da Personalidade (FGV - RJ). Professora na pós-graduação em Arteterapia e Psicopedagogia e Terapia de Família no Projeto A Vez do Mestre (UCAM - RJ), na graduação do curso de Pedagogia (UCAM - RJ); na

pós-graduação (UVA - RJ). Membro Fundador da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro - AARJ.

Olá! Eu me chamo NAILA BRASIL. Sou professora de Música (estudei na Escola Nacional de Música da UFRJ), especialista em Arteterapia (UCAM) e, também, arteterapeuta (formada pela Clínica Pomar): tudo no Rio de Janeiro, onde nasci e onde resido. Tenho trabalhado dando aulas de

música e, também, de história da arte.

Sou VIRGINIA MARIA CASTILHO RIBEIRO DE SOUZA, carioca, de 1955, setembro. Estou mestre em Design, PUC/RJ, na linha de Pesquisa Design: Tecnologia, Educação e Sociedade, 2005: pelo LILD (Lab. Living Design,). Trata-se de Design em trabalhos lúdicos para Arteterapia em Educação e Saúde, pesquisa aplicada no Ensino Básico da rede pública, em nosso Estado do Rio de Janeiro. Um estudo de casos envolvendo materiais

biológicos como bambu e flores, com a linguagem da música e da dança, como atividade complementar pedagógica para Matemática, Ciências Naturais e Português. Sou pesquisadora-associada do NIMA, Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente, pelo NimaEdu, sou professora I de

Artes da rede estadual do Rio de Janeiro, Município de Nova Iguaçu, Ciep 390, Chão de Estrelas.

MARIA ESTELA LOPES possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1975). Atualmente, é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá. Tem experiência na área de Psicologia, com

ênfase em Psicologia. É especialista em arteterapia na Educaçãoe e Saúde pela Universidade Cândido Mendes e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá.

Meu nome é IVAN COROMANDEL. Sou psicanalista, ex-membro fundador da formação freudiana do Rio de Janeiro. Sou formado em Arteterapia e sou professor de História da Arte e Educação Artística. Sou arte-educador.

Como psicólogo do município do Rio de Janeiro, formei núcleos de artes para crianças e dei supervisão para os núcleos de arte e criatividade para

psicólogos do município do Rio de Janeiro. Faço palestras e, neste ano de 2009, lanço meu livro sobre paradigma ético-estético na Psicanálise.

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Su

mário

07 Apresentação

09 Aula 1

Corpo e expressão

35 Aula 2 Linguagens literárias

65 Aula 3

Música

97 Aula 4

Dança

127 Aula 5 Teatro

163 Aula 6

Fotografia

203 AV1

Estudo dirigido da disciplina

206

AV2 Trabalho acadêmico de

aprofundamento

208 Referências bibliográficas

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Linguagens Expressivas

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Olá, caros alunos: neste caderno apresentaremos as diversas

linguagens expressivas, distribuídas em seis aulas. Na primeira

aula, trataremos do tema corpo e as mais diversas expressões,

onde abordaremos a importância da consciência corporal. Na

segunda aula, o nosso encontro está marcado no prazer da

literatura e suas diversas expressões, conhecendo um pouco mais

sobre as linguagens literárias. Na terceira aula, é hora de ouvir

música e seus encantos, compreendendo sua importância para a

formação do ser. Na quarta, é hora de dançar e trazer o

movimento para o nosso dia a dia.

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Este caderno de estudos tem como objetivos:

Conhecer a aplicar as diferentes linguagens expressivas;

Entrar em contato com dinâmicas e conteúdos das linguagens

expressivas;

Aprender a utilizar as diversas formas expressivas em sintonia

com o corpo e o movimento.

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Corpo e expressão

Renata Fiani Cury

Juliana Bastos Ohy

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ão

Olá, seja bem-vindo! Você agora vai entrar em contato com o

mundo corporal. O corpo aqui vai ser abordado dentro de uma

visão de integração entre corpo, mente, espírito e o meio. Para

isso, vamos despertar a consciência corporal e a sua importância

na forma de expressão. Vamos manter um diálogo com o nosso

corpo. Para que isso ocorra, aqui vai um convite: Estamos

entrando em um processo de percepção, onde será necessária

uma transformação do olhar para depois poder haver a integração

dessa linguagem no seu dia a dia. O processo requer

envolvimento, abertura e ter um objetivo. O objetivo é trabalhar a

consciência corporal.

Segundo Elisabeth Bauch Zimmermann, “Quando pensamos em

educação, surgem diante de nós os diversos níveis da existência

humana: o do corpo, o das emoções e da energia, o da mente e

dos valores. Tomo como exemplo um exercício meditativo:

fazendo um gesto que contenha toda nossa pessoa naquele

momento, tal como abrirmos uma das mãos lentamente, de olhos

fechados: reconhecemos a presença de nossa realidade física - a

mão com seus músculos e nervos, a realidade vital - a energia da

moção - e a mental - a intenção de abri-la. Estamos presentes e

vivos nesse único gesto, simples e aparentemente delimitado.

Esse gesto simbólico talvez represente o germinar de uma

semente, o desabrochar das pétalas de uma flor ou o despertar da

natureza com seus primeiros sons na manhã e a expectativa da

chegada de um novo dia. No plano humano e com referência à

educação, pode representar o começo da formação do indivíduo.

Esse movimento de abertura lenta da mão expressa a minha

reflexão neste momento sobre a existência da educação e que

significado ela tem em nossa vida.”

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Estar em contato consciente com o seu corpo;

Entender a importância do trabalho corporal;

Ser capaz de ministrar algumas vivências corporais, inclusive

utilizando a arte como meio expressivo do trabalho de corpo.

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Aula 1| Corpo e expressão 10

História do corpo

Abordaremos a história do corpo dentro da

relação que o homem estabelecia com o seu corpo e

como se dava o processo de cura desde o homem

primitivo. Essa relação é importante, pois vamos

perceber que cada vez mais, com o desenvolvimento do

mundo capitalista e a era mecanicista, o homem foi se

distanciando do seu corpo e se relacionando apenas

com o seu mundo intelectual. Essa relação foi ficando

fragmentada e o homem passou a ser um reflexo dessa

fragmentação. O corpo expressa de diversas formas

essa cisão sendo através da doença, da dor física ou na

não expressão ou expressão parcial de estados

emocionais.

Modelo Primitivo

O xamã (...) ouvia a história do

paciente não em busca do sintoma,

mas para descobrir qual tinha sido o

erro do doente. A doença era sempre a

consequência da violação de um tabu

ou de uma ofensa aos deuses. A cura

estava no restabelecimento da ligação

do homem com o divino por

intermédio de arrependimento e

sacrifício.

Nesse sentido, doença e transformação

são conceitos interligados. (...) A

doença pode ter muitas causas

(diferentes transgressões), mas tem

sempre uma finalidade: a

transformação(...).

(Ramos, Denise, p. 22)

Neste modelo, o homem e a natureza eram um

só. A totalidade era a existência. Não existia uma forma

de ser separada da natureza. As relações se davam a

um nível em que o homem era subjugado pelo poder

das forças da natureza, as quais sua mente não era

capaz de entender.

História do corpo 10 O corpo e a criança 14 O corpo na adolescência 17 O corpo e a meia idade 18 O corpo e sua simbologia 19 Dica de atividade 23 Gestos e posturas 25 O corpo contemporâneo 27 Atividade 28 Respiração 30

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Aula 1| Corpo e expressão 11

Modelo Grego

(...) Assim como não é possível

tentar a cura dos olhos sem a da

cabeça, nem a da cabeça sem a do

corpo, do mesmo modo não é

possível tratar do corpo sem cuidar

da alma. (...).

(Platão, 380 a.C., cit. Ramos, p. 25)

No séc V a.c., surge Hipócrates, pai da medicina

moderna. A busca do conhecimento da natureza no

sentido de entender o funcionamento do corpo fez com

que a palavra tivesse uma importância menor. Mas, de

qualquer forma, a finalidade maior era a busca do

conhecimento da natureza, e não o desejo de dominá-

la.

Modelo Cartesiano

(...) O corpo podia ser comparado

com uma máquina que funcionaria

igualmente bem ou mal, com ou sem

psique.

(Ramos, Denise, p. 27)

Modelo cartesiano, séc. XVIII. Ocorre a

desintegração entre o corpo e a natureza. No modelo

cartesiano, ocorre a cisão do homem e sua relação com

o seu corpo. Prevalece o racionalismo e o

determinismo. A visão do todo se perde.

Modelo Romântico

(...) na medicina do futuro, a

interdependência da mente e do corpo

será mais plenamente reconhecida e a

forma como uma poderá influenciar a

outra nem sequer é possível imaginar

agora.

(Lipowiski, 1984, cit. Ramos, Denise,

p. 31)

Meados do séc. XIX. Ocorre uma volta à busca

do homem como um ser total e ligado à natureza.

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Aula 1| Corpo e expressão 12

Ênfase na maneira de ver, sentir, reagir, própria de

cada pessoa. A doença era vista como um fator ligado a

diversos fatores que não só biológicos, mas a fatores

morais, psíquicos, espirituais e biológicos também.

Modelo Biomédico

Final do séc. XIX. Ocorrem o reducionismo, o

determinismo e o universalismo. O homem não é visto

na sua individualidade, mas de uma forma geral. O

olhar clínico é deslocado dos aspectos individuais para

os aspectos universais da patologia. Séc. XX - visão

fragmentada do homem.

Psicossomática

Esse termo parece ter sido usado pela primeira

vez em 1808. Dunbar (1935) trouxe a base principal

para a formação desta área. A psicossomática veio

trazer a união entre corpo e mente. Conteúdos

emocionais e biológicos não podem ser separados.

Existe uma relação entre eles que determina o estado

de saúde do indivíduo. Alguns teóricos criticam este

termo psicossomática, pois deixa de fora a relação do

homem com o meio externo, social.

Modelo Holístico

Década de 80. Holos=todo. Traz a idéia do todo.

O homem existe em muitos níveis de igual importância:

corpo, mente, espírito, meio. Cada pessoa deve ser

vista como única e tratada como tal. Saúde Integral:

Físico, psíquico-emocional, social e energético.

SOBRE A SOMATIZAÇÃO

É de suma importância entender a o que ocorre

no corpo quando este não se expressa. O corpo que

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Aula 1| Corpo e expressão 13

falo aqui não é somente o corpo físico mas também o

corpo emocional. Quando não há espaço para

simbolizar verbalmente a dor emocional, ela vai ser

vivida a nível corporal. O sintoma traz a ideia de que

algo está lhe faltando e traz consigo a possibilidade de

cura, desde que se entenda para que aquele sintoma

apareceu. Segundo Groddeck, pai da medicina

psicossomática, “curar significa interpretar

corretamente o que esta totalidade está tentando

expressar através dos sintomas.”

Observando pessoas que tendem a

reagir aos conflitos internos e externos

através de manifestações somáticas,

Joyce MacDougall relata que muitas

delas se revelam superadaptadas à

realidade e mesmo às dificuldades de

sua existência. Em seu

comportamento, as pessoas são

frequentemente impelidas à ação em

vez de lidar com os conflitos pela

elaboração psíquica, solicitando

permanentemente dos objetos do

mundo exterior a realização de

funções que deveriam ser asseguradas

por objetos internos simbólicos

ausentes ou comprometidos.

(Mente e Cérebro, Linguagens do

Corpo, Edição Especial nº 14, pág. 11)

O sintoma pode ser vivido através de uma

rigidez corporal. Geralmente, as pessoas transitam

muito pouco, flexibilizam pouco os seus movimentos e

sem perceber caem em uma rotina corporal. Não

experimentam transitar pelas diferentes plásticas ou

personagens e ficam prisioneiras delas mesmas. Isso

causa uma rigidez muscular e emocional, que pode ser

flexibilizada através da consciência corporal e da

expressividade. Essa rigidez restringe a capacidade que

a pessoa tem de se comunicar, relacionar, de estar no

mundo de uma forma mais prazerosa.

É importante trabalhar o corpo expressivo desde

cedo, mas, se isso não foi possível, sempre é tempo de

começar.

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Aula 1| Corpo e expressão 14

Vamos estudar o corpo e a criança.

O corpo e a criança

O bebê quando nasce é todo corporal. Não há

uma distinção entre eu-outro. Ele vivencia tudo

corporalmente. A criança vivencia a eternidade,

estando em um universo que a envolve, a contém, a

circunda e a nutre. O bebê explora o seu próprio corpo.

Esse período é chamado por Piaget de período

sensório-motor.

Esse período vai de 0 até 2 anos de idade e a

criança começa a diferenciar os objetos externos e o

próprio corpo.

Nesta fase, os trabalhos corporais devem ser

bastante incentivados. O trabalho deve focalizar o

universo sensorial. Ela vai tentar elaborar, repetindo e

vivenciando as mesmas atividades.

Passar dentro de um túnel (o pano do túnel

deve ter uma certa transparência para a

criança enxergar o lado de fora), onde o

facilitador da atividade deve estar à espera da

criança. É importante ela ver o facilitador do

outro lado, pois isso passa segurança.

Dar contorno corporal. A criança nesta fase

gosta de se esconder e aparecer. Pode se

esconder atrás de almofadas, debaixo de

panos... qualquer material que toque o seu

corpo de forma suave e segura.

Fazer trabalhos em cima de panos que

permitem o balanceio da criança.

Como a criança está conhecendo os objetos

externos e o seu corpo, também, é interessante

trabalhar com 2 bacias de água: uma com água morna

e outra com água fria e a criança colocar as mãos na

Dica da professora

Procure conhecer as fases de desenvolvimento de Piaget! É muito importante para o trabalho de arte e corpo!

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água sentindo essas duas temperaturas.

Aos poucos, a criança vai criando a percepção de

um envelope corporal. Com o passar do tempo,

seguindo o desenvolvimento da criança, podem se

introduzir objetos diversos como bolas grandes e caixas

grandes.

Na fase inicial do desenvolvimento, a criança

arremessa objetos ao chão para em seguida a pessoa

que cuida recuperar este objeto e retornar para a

criança. Ela faz isso experimentando a possibilidade de

perder e recuperar o que ama. Depois, engatinhando e

andando, ela mesma se aproxima e se afasta dos

objetos que deseja.

Seguindo o desenvolvimento, a criança vai

precisar experimentar sua força e sua capacidade de

ação no mundo. É importante a criança vivenciar isso

de forma segura. Pode correr, pular, soltar a voz e,

também, fazer uso de objetos que possam soltar a

raiva.

Depois, a criança começa a gostar das

brincadeiras de roda e jogos cantados. Eles

desenvolvem a coordenação motora, linguagem e a

consciência corporal.

A criança vai crescendo e sempre será

importante manter atividades que trabalhem esse lado

corporal. Atividades de música, teatro, arte, dança,

exercícios físicos.

Podemos observar como nas fases de

desenvolvimento o corpo sempre foi estimulado, pois a

criança, inicialmente, se comunica com o adulto através

do corpo. O desenvolvimento psíquico ocorre junto com

o desenvolvimento corporal.

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Aula 1| Corpo e expressão 16

Sempre estivemos intimamente ligados ao nosso

corpo e em um determinado momento ocorreu a

fragmentação dessa união. É necessário recuperar este

contato e esse olhar.

Uma atividade que gosto de fazer com crianças

é o contorno do corpo. Eu faço com crianças de três

anos e meio para cima, mas vai da percepção de cada

um.

Atividade:

Você pode usar papel pardo ou papel 40kg.

Prenda o papel na parede na posição vertical. Peça para

a criança ficar encostada no papel e enquanto isso você

vai contornando o corpo dela com caneta ou lápis.

Depois que terminar, peça para a criança pintar o seu

corpo contornado no papel. Use tinta guache ou pintura

a dedo.

Essa atividade permite que a criança entre em

contato com o seu corpo de uma forma plástica,

concreta. Traz a noção corporal e o uso das cores.

Atividade para crianças a partir de 7 anos:

TÍTULO: Brincando com a argila.

TEMA: Expressar os sentimentos através da

argila.

OBJETIVO: Se expressar através da argila

TÉCNICA: Modelagem.

MATERIAL: Argila, água, papel pardo, cd.

PROPOSTA:

Atividade corporal;

Brincar de estátua;

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Aula 1| Corpo e expressão 17

Mexer na argila seguindo os comandos dados

pelo arteterapeuta;

Compartilhar.

RELAXAMENTO: Movimentar pela sala ao som

da música e se imaginar nas seguintes situações:

Caminhar com os pés bem firmes no chão;

Caminhar na ponta do pé;

Atravessar a grama alta;

Andar no barro;

Asfalto (chão quente);

Rodopiar;

Se arrastar como cobra.

Brincar de estátua. Ao desligar a música, todos

devem se congelar no movimento.

DESENVOLVIMENTO: Após os trabalhos de

corpo, sentar em roda e pegar um pouco de argila.

Ficar um momento com as mãos sobre a argila e

respirar profundamente. Sentir como o monte de argila

é. Fique amigo dele. Ele é liso? Mole? Ondulado? Frio?

Quente? Seco? Molhado? Agora pegue-o e segure-o. É

leve? Pesado? Belisque. Use as duas mãos. Belisque

devagar, mais depressa. Dê beliscões grandes e

beliscadas pequenas. Aperte a sua argila e alise-a

usando cada parte da sua mão. Junte tudo formando

uma bola. Depois, com outro pedaço, faça uma bolinha.

Junte tudo de novo. Agora, você já o conhece bem.

Do que você mais gostou?

Do que menos gostou?

O corpo na adolescência

O adolescente passa por inúmeras

transformações tanto corporal quanto psíquicas. Essas

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Aula 1| Corpo e expressão 18

transformações trazem desequilíbrios e instabilidades

extremas. Este período é marcado por mudanças

hormonais, corporais e emocionais e, também, por uma

forte insegurança e ansiedade no movimento de

conquista de um espaço no mundo dos adultos. O

trabalho corporal traz a possibilidade da expressão dos

conflitos de identidade, elaboração da despedida do

corpo infantil, do papel infantil e da profunda mudança

na relação com os pais. Todo adolescente vai passar

por estas transformações.

Uma boa dica para o trabalho corporal com

adolescente é trabalhar esta nova imagem do corpo

que está se manifestando. Como já citei antes,

trabalhar o contorno do corpo, buscar a autoimagem,

trabalhar com espelho. A expressão como forma de

entrar em contato com sentimentos confusos, dúvidas e

conflitos de identidade. A dramatização traz um suporte

muito positivo para este tipo de trabalho. Vocês

entrarão em contato com o teatro nas próximas aulas.

O corpo e a meia-idade

Ele envolve finalmente enfrentarmos

nossas dependências, complexos e

temores sem a mediação de terceiros.

Requer que deixemos de culpar os

outros pelo nosso destino e

assumamos total responsabilidade pelo

nosso bem-estar físico, emocional e

espiritual.

(Hollis, James. A Passagem do Meio.

São Paulo, Editora Paulus, 1995)

Torna-se fundamental na meia-idade que

algumas questões estejam melhores resolvidas como:

Aprimorar os relacionamentos;

Melhor adaptação ao mundo exterior;

Equilíbrio da psique.

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Aula 1| Corpo e expressão 19

Quanto mais eu souber a respeito de

mim mesmo, maior parte do meu

potencial poderei personificar, mais

diversificados serão os tons e os

matizes da minha personalidade e

mais rica será a minha experiência de

vida.

(Hollis, James. A Passagem do Meio.

São Paulo, Editora Paulus, 1995)

Desse modo, o corpo também sofre muitas

alterações (a hormonal e a corporal). O metabolismo

fica mais lento. O cuidado e a atenção com o corpo

devem ser maiores. A relação com o corpo se modifica.

Trabalhar a respiração, a meditação, o relaxamento, os

exercícios de alongamento e, através destes exercícios,

trazer a consciência corporal. Abaixo, segue um bom

relaxamento para ser trabalhado com pessoas na meia-

idade. As atividades devem ser feitas em um ambiente

confortável, com almofadas ou cadeiras. Se possível, as

atividades de relaxamento pedem um ambiente

silencioso e com uma música tranquila de fundo.

Relaxamento: Sentar em uma posição

confortável, fechar os olhos. Inspirar pelo nariz e soltar

o ar pela boca. Sentir o ar chegar até os seus dedos

dos pés... (fazer uma pausa) sentir o ar chegar até

suas mãos... (fazer uma pausa) sentir o ar na sua

cabeça, massageando seus cabelos... Inspire fundo

novamente e solte o ar pela boca e se estiver sentindo

alguma tensão em qualquer parte do corpo, respire

nela e vá deixando com que ela se desfaça. Agora,

inspire felicidade e expire tristeza. Inspire confiança e

expire o medo, inspire amor e expire a raiva. Aos

poucos, abrir os olhos e se espreguiçar.

O corpo e sua simbologia

O corpo é a nossa memória mais arcaica. Nosso

corpo não se esquece de nada. Tudo que vivemos fica

guardado em nosso corpo. E o corpo, também, nos

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Aula 1| Corpo e expressão 20

comunica algo. Existem centros específicos no corpo

que devem ser trabalhados para se buscar um

equilíbrio e harmonia. Devemos conhecer o nosso corpo

físico para desenvolvermos através das atividades

propostas um trabalho que ajude a modificar os

aspectos rígidos de nossa personalidade e assim poder

trazer à tona a criatividade.

Nosso corpo é o meio de expressão mais direto

de nossas emoções. Quando estas são conflituosas e

nos fazem sofrer, reprimimos como algo nocivo no

lugar de direcionar e harmonizar no todo. Isso produz

um estancamento da energia em algum lugar do nosso

corpo. Chamamos de couraças a essas cargas

energéticas que se localizam em nossos músculos e

articulações, impedindo de nos expressarmos como

realmente necessitamos e causando limitações físicas,

mal-estar e enfermidades.

Seguem, abaixo, algumas características

principais do nosso corpo.

Planta dos pés, calcanhares, canelas, pernas

O trabalho de corpo visando o desenvolvimento

e o alongamento destas partes proporciona

principalmente a expressão da autoafirmação e da

confiança em si mesmo. Os movimentos rítmicos dos

pés batendo firmes no chão trazem a confiança e a

capacidade para enfrentar a vida. Traz o indivíduo para

a realidade, ajuda na concentração, na capacidade de

realizar, traz energia física, "pique", capacidade de

criar, sexualidade, capacidade de ação.

Atividade proposta: Trabalhar ao som de música

tribal o movimento rítmico com os pés, como em uma

grande dança em uma aldeia indígena. Movimentar as

pernas e sentir bem os seus pés no chão. Será muito

bom utilizar a argila em atividade artística. A argila

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Aula 1| Corpo e expressão 21

trabalha essa relação com a terra e fortalece estes

aspectos.

Abdômen, virilha, lombar, parte interna das

pernas, pés.

O trabalho de corpo visando o desenvolvimento

e o alongamento destas partes proporciona alegria e

prazer. Traz a necessidade de se opor às resistências e

vencê-las, de lutar e de vencer, de conquistar espaço.

O importante é o movimento das pernas e da cintura. O

não desenvolvimento e o atrofiamento destas áreas

acarreta a perda da capacidade de sentir prazer nas

coisas da vida. É sempre bom lembrar que a

enfermidade surge primeiramente no plano energético

e depois no corpo físico. Então, estar consciente e

trabalhar corporalmente, alongando e movimentando,

reduz a depressão, fortalece a autoconfiança, re-

equilibra a área renal, a intestinal, a capacidade de

fazer amigos, estabelecer relações emocionais, o modo

de encarar o cotidiano, a liberação da criatividade

através da emoção, herança familiar na expressão

emocional, na sexualidade.

Atividade proposta: Colocar uma música bem

alegre e dançar livremente movimentando bastante a

parte da cintura. Depois expressar com tinta estes

movimentos. A tinta usada pode ser guache.

Estômago, fígado, vesícula e intestino.

Esta área situada acima do abdômen traz a

capacidade de lidar com a raiva, o medo, a tristeza e

também com o prazer de comer e beber, de descansar

e de sentir-se protegido na companhia de outros.

Aprender a se expressar, dizer sim ou não de uma

maneira correta. A função abdominal tem uma função

de união e de separação assim como a digestão. A

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Aula 1| Corpo e expressão 22

emoção é entendida aqui como reação emotiva frente a

um estímulo interno e ou externo.

Emoções estão a serviço:

Da vida biológica;

Da vida psicológica: ego se sente ameaçado –

raiva, medo, tristeza. Ego carícia afetiva –

alegria como se o corpo tivesse recebido uma

gratificação alimentícia ou sensorial de outro

tipo.

O trabalho corporal permite amenizar distúrbios

digestivos. Consciência do ser e do querer,

autocontrole, maior realização de desejos, maior

progresso material.

Atividade proposta: Fazer o contorno do seu

corpo em uma folha de papel pardo. Ou você mesma

pode fazer (colar o papel na parede e em pé encostada

na folha ir contornando o seu corpo) ou pode pedir para

contornarem o seu corpo. Depois ache figuras de

revistas para colar em todo o corpo. Observe as figuras

coladas. Veja o que gostou ou não. Esta atividade

permite um olhar mais profundo sobre como você está

lidando com o seu corpo.

Região do tórax e parte interna dos braços

compreendendo as palmas das mãos

Aqui o bem-estar do outro é tão importante

quanto o nosso. O bom desenvolvimento e a

consciência desta região do tórax faz com que a pessoa

veja a melhor parte dos outros e se reconheça nelas,

em vez de buscar as diferenças. O tórax é o centro da

pulsação. É o ponto central da nossa vida. Todo fluxo

do organismo depende da pulsação do coração.

Trabalhar esta área gera calor suavemente, alivia a

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Aula 1| Corpo e expressão 23

tensão, equilibra as emoções, liberação de trauma

emocionalmente reprimido, consciência alma/coração,

expressão do amor em ações, amar a si próprio e aos

outros, autoestima, autovalorização, afetividade,

mágoas, carências, coração. Ajuda a curar as feridas do

coração e transformar o amor em amor incondicional

Atividade proposta: Em uma atividade de grupo,

pedir aos participantes que formem duplas. Uma

pessoa deve massagear a outra e depois quem recebeu

a massagem agora vai fazer. Uma massagem simples.

Massageando os ombros, cervical, cabeça e braços.

Esta atividade permite doar e receber. A música pode

ser suave como música clássica.

Olhos, ouvidos, nariz, língua, lábios, laringe

Ponte entre cabeça e coração, mente e corpo.

Inclui os órgãos dos 5 sentidos. Função principal

expressiva e de comunicação das emoções,

sentimentos, ideias e pensamentos. Criatividade

superior, do mundo não material. Qualquer coisa que

sentimos, pensamos, queremos e opinamos necessita

de uma forma para passar do nosso mundo interno

para o mundo exterior e se manifestar.

Atividade proposta: Falar, cantar e criar algo

com as mãos. Além disso, todas as funções expressivas

estão ligadas a este centro. Na aula de teatro, vocês

entrarão em contato com algumas atividades de

expressão que serão muito ricas para trabalhar os

órgãos dos sentidos.

Assim, podemos verificar que o corpo físico é,

também, corpo emocional.

Dica de atividade

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Aula 1| Corpo e expressão 24

Esta atividade deve ser feita em grupo de

adultos. Esta atividade traz a consciência para o corpo.

TÍTULO: O que faria com mais quantidade de

energia se a tivesse?

TEMA: O que me faz perder tanta energia?

OBJETIVO: Conscientização.

TÉCNICA: Dramatização.

RELAXAMENTO: Trabalhar o corpo. Alongar

primeiro o pé direito e movimentar a cintura com

movimentos circulatórios. Depois, o mesmo com o pé

esquerdo. Apoiar sua mão no ombro da pessoa ao lado

e colocar o pé sobre o joelho e inclinar a coluna

soltando a cabeça. Esticar as mãos à frente e subir

lentamente. Peito para frente e cabeça para trás. Soltar

o ar. Deixar a mão descer pela perna direita e depois

pela perna esquerda, lembrando que a cabeça sempre

acompanha. Repetir esse movimento. Descer com a

mão direita e elevar (empurrar) para cima com a palma

da mão esquerda e olhar para cima. Fazer com o outro

lado. Repetir. Ir com a cabeça até o peito e depois com

a cabeça para trás. Depois, girar para um lado e para

outro. Depois, me abraçar com o braço direito por

cima. Colocar a perna direita à frente e ir até o chão. Ir

subindo e, ainda, abraçada elevar o cotovelo e ir

desfazendo, abrindo espaço para outras coisas

entrarem. Fazer o mesmo com o pé esquerdo e mão

esquerda. Voltar para o eixo. Em dupla, proporcionar

uma massagem no ombro e no braço da outra pessoa.

DESENVOLVIMENTO: A energia fica presa:

atitudes repetitivas/acomodar-se a sua forma de existir

até que algo dê errado.

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Aula 1| Corpo e expressão 25

Para dispor de energia, uma nova Educação se

faz necessária. Como dispor de energia? Como usar sua

energia?

Depois, escolher uma frase de como perco

energia e expressar corporalmente. Fazer

exageradamente o movimento e desfazer. Como é? O

que sente? O que mudou?

Gestos e posturas

Hoje, já sabemos como os gestos falam. Como

diz o ditado popular, “um gesto fala mais do que mil

palavras”. O tempo todo nosso corpo está se

comunicando, um simples aceno pode transmitir uma

série de desejos.

Segue uma entrevista feita pela revista Mente e

Cérebro à linguista Cornelia Muller, da Universidade

Livre de Berlim. Cornelia Muller pesquisa a importância

dos gestos na comunicação.

Mente e Cérebro: Europeus do sul (italianos,

por exemplo) gesticulam realmente mais que pessoas

de outras regiões?

Cornelia Muller: É opinião comum, mas

empiricamente não está provada. Numa pesquisa

comparativa entre espanhóis e alemães, não pude

constatar que os germânicos utilizam menos gestos.

Mas é inegável que gesticulam de outra forma, partindo

do pulso. Espanhóis usam ombros e cotovelos mais

frequentemente, isto é, seus movimentos são mais

amplos e visíveis. Isso talvez despertasse a impressão

de que eles usam gestos com maior frequência.

Mente e Cérebro: Por que a pesquisa dos

gestos foi negligenciada por tanto tempo?

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Aula 1| Corpo e expressão 26

Muller: Nos anos 70, muitos pesquisadores

tinham a convicção de que a linguagem do corpo e a

mímica tinham a ver só com as emoções e com as

relações que as pessoas constroem entre si. No plano

semântico, a comunicação verbal parecia ser a única

responsável pelos significados. Por isso, muitos

linguistas e psicólogos não perceberam que os gestos

podem mais que expressar apenas sentimentos.

Mente e Cérebro: O que os gestos dizem e as

palavras não?

Muller: Um único gesto é capaz de transmitir

muitas informações ao mesmo tempo. A linguagem

sonora precisa ordenar mais palavras. Se estendo

minha mão com a palma da mão para cima, posso

enviar a mensagem: “Isto está claro para você?”. Um

movimento breve pode significar duração, então

enfatizo um período de tempo e não um momento

isolado.

Mente e Cérebro: Gestos, portanto, não são

responsáveis pela empatia?

Muller: Certo. É um equivoco atribuir a uma

pessoa um “emocionalismo” exacerbado só porque ela

gesticula muito.

Mente e Cérebro: Mas em treinamentos para

oradores é comum que se tente atenuar o hábito que a

pessoa tem de gesticular.

Muller: Desde o retórico romano Quintiliano, a

gesticulação excessiva é vista como expressão de um

fraco domínio da linguagem falada. Muitos concluem

que quanto menos gestos, melhor. Mas os oradores

profissionais sabem o quão poderoso pode ser um

movimento bem colocado. É muito mais inteligente

Para navegar

Vá correndo buscar mais informações no site www.berlingesturecenter.de Centro Berlinense de Pesquisa do Gesto.

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Aula 1| Corpo e expressão 27

usar a linguagem do corpo como canal adicional de

informação do que reprimi-la.

O corpo contemporâneo

Hoje em dia, muitas pessoas se preocupam com

o bem-estar físico e mental. Mas apesar destas

preocupações de unir corpo e mente, em tentar trazer

para a consciência a importância de cuidar do corpo,

como na Yoga, meditação, Pilates, dança, biodança e

outros, o corpo vem sofrendo fortes pressões por parte

da mídia, no sentido da perfeição do corpo. A indústria

e o comércio que norteiam a estética é muito sedutor.

Com o corre-corre do dia a dia as pessoas buscam

resultados imediatos. Mas é preciso tentar sair um

pouco desse vício e tentar buscar uma alimentação

mais equilibrada, um olhar para o seu corpo de uma

forma mais natural, integrando-o, buscando atividades

que permeiam esse olhar.

Hoje, temos muitos procedimentos violentos

sobre o corpo e sobre a vida psíquica para a eliminação

de sintomas, de traços de dor, do mal-estar. A indústria

do corpo busca anestesiar as experiências mais

profundas de vazio. As formas de mal estar da pós-

modernidade tem no corpo e na ação os registros de

sua apresentação. Na ação, estão as compulsões, que

evidenciam o descontrole dos impulsos – ânsia do

consumo. No plano da corporeidade, vivemos o polo da

dor que está intimamente relacionada ao narcisismo.

As patologias contemporâneas são depressão,

anorexia, bulimia, obesidade que tangenciam no vazio

e nas questões narcísicas.

Pensando nessas questões, é importante você

entrar em contato com técnicas que promovam a

capacidade de expressão espontânea, buscando trazer

a pessoa para o seu centro.

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Aula 1| Corpo e expressão 28

Atividade

Movimento: Trabalhar o chegar. Como está o

seu corpo agora. Sinta os seus pés firmes no chão e

comece a entrar em contato com a sua respiração.

Inspire e expire lentamente cada um no seu ritmo.

Solte o ar pela boca. Sente alguma tensão? Alguma

parte do seu corpo que precise de cuidados? Inspire

mais intensamente pela boca e solte o ar, soltando um

som. Agora, leve lentamente a cabeça até os pés. Solte

a cabeça, sinta alongar a parte de trás do pescoço,

joelhos flexionados e esvazie os pensamentos. Solte a

respiração, esvaziando os pensamentos. Suba

lentamente, a cabeça é a última a voltar para o eixo.

Alongue o corpo, gire um pouco o pescoço, apóie no

ombro do colega do lado e vamos alongar um pouco os

pés. (Até aqui sem música).

Colocar a Música:

Vamos começar entrando em contato com o

nosso corpo e se apossar do movimento que vai ser

feito. Acompanhar o movimento, lembrando que todas

as partes estão presentes em cada movimento,

inclusive o olhar, a cabeça, o tronco. Entrar em contato

e sentir o que esse movimento está dizendo.

Começar trabalhando mãos, braços. Movimento

de abrir e fechar. Depois, soltar bastante o braço.

Buscar o infinito e conter. Fazer esse movimento mais

rápido. Conter e abrir. Mãos e braços esticados em

lados opostos. Fazer um mergulho até o chão. Flexionar

um pouco os joelhos e caminhar com as mãos para

frente. Sinta abrir os espaços da coluna. Respire na

coluna. Dobre os joelhos e fique aí um pouco.

Experimente não fazer nada... Coloque agora os braços

para trás. Aos poucos, vamos desenrolando a coluna e

vamos sentar e deitar. Sinta sua coluna no chão, se

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Aula 1| Corpo e expressão 29

entregue ao chão. Agora, lentamente, vá levando seus

braços para trás. Sinta o peso dos seus braços.

Lentamente, vá voltando e entregue seus braços ao

chão, palmas das mãos inteiras no chão. Sinta esse

movimento de conter e se entregar. Faça mais uma

vez. Agora leve a cabeça até os joelhos e os joelhos até

a cabeça, mãos atrás da cabeça. O que sente? Como é

fazer esse movimento? Faça lentamente. Conter e

soltar e se entregar ao chão novamente. Repita esse

movimento mais 2 vezes. Fazer a torção. Como está

sendo torcer, está mexendo com tudo dentro de você.

Vamos prestar atenção nessa torção. Na respiração.

Volte à posição e fique um pouco aí. Estique as pernas

e mantenha os braços ao longo do corpo e não faça

nada.

Atividade em dupla:

Seguindo a vivência, cada dupla receberá uma

folha de papel A3 e pastel oleoso colorido, onde deverá

expressar com rabiscos o movimento. Cada dupla não

deverá se comunicar verbalmente. Apenas deixar

sentir. Esse espaço é de vocês!!!

Depois, entre em contato com o resultado desse

rabisco em conjunto e perceba as formas, o

movimento, as imagens, as cores, o espaço ocupado.

Pode se comunicar com a sua dupla verbalmente.

Agora, vamos soltar a mão e expressar todos os

sentimentos que surgiram durante a vivência. Não

pense, apenas faça. Não use a crítica lembre que essa

arte é uma arte de expressão e não uma arte estética.

Comecem utilizando uma cor e depois de esgotá-la

peguem outras.

Vamos compartilhar sentando em roda.

Primeiro, começamos a falar e depois cada um falará

da sua experiência. Depois, falaremos da pintura final e

vamos em conjunto buscar um título para esta pintura.

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Aula 1| Corpo e expressão 30

Respiração

A respiração tem um papel funcional no

organismo que é oxigenar o sangue e, por este motivo,

fazer a limpeza dos órgãos e músculos. O cérebro mal

oxigenado é responsável pelos pensamentos confusos,

pelos pensamentos negativos, pela dificuldade de

concentração e falta de memória.

Já sabemos da importância de trabalhar a

respiração de uma forma consciente, conhecendo e

trazendo o movimento do corpo junto com a

respiração. Em vários trabalhos com o corpo, a

respiração é vista como fator principal de qualquer

movimento e exercício. Já está comprovado que os

exercícios de meditação e relaxamento ajudam na

recuperação e no equilíbrio da saúde.

Segundo Sylvie Lagache, a respiração com

movimento tem o poder de:

Descarregar as tensões;

Facilitar o alongamento muscular graças à

liberação de energia;

Ajudar na concentração, porque o esforço

para coordenar a respiração com o movimento

torna o movimento perceptível e sensível, não

simplesmente um ato mecânico;

Criar um movimento circular e harmônico,

recolhendo ao inspirar e expandindo ao

expirar;

A prática da respiração torna a dança mais

livre, mais viva, inclusive no balé clássico.

A respiração permite a liberação da tensão

mental quando mentalizamos no movimento que o ar

percorre ao entrar e sair pelo nariz. Depois, quando se

inspira pelo nariz e expira pela boca, sentimos um

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Aula 1| Corpo e expressão 31

relaxamento da laringe, trazendo à tona a criatividade

e a comunicação. Ajuda, também, a liberar as tensões

emocionais, estimula as forças vitais, pois está

relacionada com a caixa torácica e a abdominal.

Sendo assim, é de suma importância a relação

da respiração com os fatores emocionais. Trabalhar e

estimular a respiração ajuda a mexer e a reacender a

vida, pois estamos falando dos sentimentos. Não

somente os sentimentos de medo, raiva e tristeza, mas

também os sentimentos de alegria e amor que, por

muitas vezes, ficaram anestesiados pelo medo de

sofrer. Respiração é vida e deve ser trabalhada sempre

de forma consciente.

EXERCÍCIO 1

Marque a alternativa correta sobre o corpo e a criança:

( A ) O bebê quando nasce é todo corporal;

( B ) O bebê não precisa de atividades que o estimule

corporalmente;

( C ) Passar dentro de um túnel não é indicado para

crianças;

( D ) A alternativa 1 e 2 são corretas;

( E ) Nenhuma das resposta anteriores.

EXERCÍCIO 2

Coloque Falso ou Verdadeiro:

(oba) Corpo e mente são um só;

(oba) Trabalhar os pés traz a questão da auto-afirmação;

(oba) O corpo é a nossa memória mais arcaica;

(oba) Os adolescentes não passam por transformações

psíquicas e corporais;

(oba) A respiração tem um papel funcional no organismo.

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Aula 1| Corpo e expressão 32

EXERCÍCIO 3

Citar duas características essenciais da respiração para

o bem-estar da pessoa.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Quais são as sete fases da história do corpo?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Na aula de corpo, algumas questões que

poderão ser de grande valor na sua prática

escolar ou terapêutica. Espero que você possa

utilizar os conhecimentos e as propostas

sugeridas com bastante criatividade e

proporcionar aos seus alunos ou clientes

atividades enriquecedoras e que os auxiliem

no crescimento pessoal;

Em seguida, contei um pouco da história do

corpo e espero que você se interesse em apro

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Aula 1| Corpo e expressão 33

fundar seus conhecimentos, pois é um estudo

fascinante;

Finalizando, conversamos um pouco também

sobre a importância do corpo em cada fase da

vida: bebê, criança, juventude e meia-idade.

Trouxemos, também, a respiração como

primordial para um trabalho de corpo.

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Linguagens literárias

Virginia Maria Castilho Ribeiro de Souza

Maria Estela Lopes

Renata Cury (revisora)

AU

LA

2

Ap

res

en

taç

ão

Quem viajar no mundo da imaginação verá o que nós já vimos por

lá: A riqueza dos contos para o desenvolvimento, principalmente,

o da criança. Depois, falamos dos mitos, contos, lendas e fábulas

e como o contador de histórias deverá estar atento à expressão e

à memória.

Foram abordadas diversas técnicas para o contador entrar em

contato com o mundo das histórias e poder fazer uma boa

apresentação. As histórias podem ser apresentadas de diversas

formas, desde que quem as conta esteja em contato com quem

ouve, interagindo e tornando a história dinâmica. Vem que você

vai gostar.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Trabalhar as linguagens literárias com o seu grupo;

Diferenciar e conhecer as diferentes linguagens literárias;

Criar novas atividades utilizando os contos;

Estabelecer uma linha constante de contato com o mundo da

imaginação.

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Aula 2 | Linguagens literárias 36

O contador de histórias

E em noite de lua cheia, o índio Taipi

buscava em vão alcançar a lua pelo

seu arco e flecha; às vezes chorava

olhando aquela enorme bola prateada

no céu escuro, pedindo a Tupã uma

árvore bem alta para chegar até ela...

(anônimo)

O menino brinca de pirata

Sua espada é de ouro e sua roupa é de

prata

Atravessa os sete mares

Em busca do grande tesouro

Seu navio tem setecentas velas de

pano

E é o terror do oceano

Mas o tempo passa e ele se cansa

De ser pirata

E vira outra vez menino.

(cantiga de roda – Roseanna Murray)

No mundo mágico do faz de conta, da libertação

das histórias, sejam contos de fada, lendas, mitos,

fábulas ou contos populares, o essencial é compartilhar

a fantasia.

Nenhuma formação prescinde da

educação do espírito, porque esta é a

que vai formar o homem, despertando

a sensibilidade, os valores éticos para

a conscientização do ser humano e seu

relacionamento.

(Carvalho, P., 1998)

Aqui se inclui uma discussão sobre cultura e

civilização, seus significados e como estão relacionados.

A cultura vai fornecê-la, através da

Literatura, como fonte de

conhecimentos e informação. E a

poesia é a primeira manifestação de

expressão literária, é pela poesia que

se iniciam todas as Literaturas.

(Id., 1998)

Câmara Cascudo já nos dizia que o leite materno

era temperado com os contos populares, considerados

O contador de histórias 36 Expressão corporal e estudo das vozes 52 A importância da leitura 55 Conclusão 59

Importante

Analisar a questão cultural é muito importante quando falamos em histórias, seja no âmbito da Literatura ou do Folclore. Lembre-se sempre da questão do MULTICULTURALISMO e pense o quanto as histórias podem trazer para dentro da escola as diversas culturas regionais com as quais convivemos no cotidiano educacional.

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Aula 2 | Linguagens literárias 37

como a “alma do povo”, pois só através deles

conhecemos o verdadeiro perfil dos moradores de um

lugar. O folclore, portanto, trabalha a psicologia

coletiva, trazendo o imaginário do homem comum.

E essa fonte também foi abordada pelo nosso

saudoso Monteiro Lobato, com seu estilo único:

“...Agora vou contar pra vocês uma história bem

comprida...” Já dizia D. Benta, um dos personagens

centrais de sua obra.

Só de ouvir esse nome, muita gente já revive

cenas gostosas da infância. Parece que todos os

personagens nos chegam numa viagem da Via Láctea:

Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa,

todos nos convidando para cenas com tantos outros (o

Saci, tio Barnabé, a onça pintada, fadas)...

O autor sabia, como poucos, combinar os mais

diversos ingredientes em seus livros, como a história de

Peter Pan, de autoria de James Barring (viva o Capitão

Gancho, a fada Sininho, as sereias, Wendy e seus

irmãos) em sua obra. E, assim, ia aproximando

elementos pouco humanos, uma vez que não possuem

a vida humana interior da psique, de outros com quem

é fácil nos identificarmos.

O uso de histórias envolve vários ingredientes:

invenção das próprias histórias trazendo elementos de

nosso dia a dia, a leitura de histórias de livros, escrever

histórias, ditá-las, utilizar coisas para estimulá-las

como figuras, testes projetivos, bonecos, painel de

feltro, mesa de areia, desenhos, fantasias de final

aberto, entre outros.

Sendo a história da criança uma projeção, ela

reflete algo sobre a vida da própria pessoa; cada

Para navegar

Para saber mais sobre Monteiro Lobato, conhecer um pouco de sua vida e obra, consulte o site www.lobato.com.br

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Aula 2 | Linguagens literárias 38

história é encerrada com uma lição, uma filosofia de

vida extraída da situação. Portanto, ao se utilizar esta

técnica, você deve ter em mente a importância de

perceber o outro ouvinte; é essencial saber algo sobre

a criança (ou o participante em qualquer faixa etária) e

entender rapidamente o tema central da história

apresentada.

Daí também a ênfase que o próprio contador

enquanto orientador, deve dar ao olhar. Ao perceber

sua “plateia”, ele dará o exemplo do que deve ser

seguido, estará guiando o participante do grupo para se

ver, buscando o reflexo do que está sendo contado, no

outro. Trata-se, portanto, de uma pesquisa paciente

que muitas vezes nos conduz a ver, ouvir, sentir e

calar...

“A importância do Olhar"

Bernardo Arraes Gonzalez Cruz*

Atualmente, as pessoas mal se falam,

muito menos se permitem o olhar

sincero. O olhar que existe é o da

crítica raivosa, ofensiva, para diminuir,

desmoralizar, confundir e estimular a

baixa autoestima das pessoas. Nos

desacostumamos a ver os rostos e até

sentimos vergonha muitas vezes de

olhar nos olhos de nosso semelhante.

A que ponto chegamos. Nos sentimos

cansados com tanta pressão, opressão

e cobranças descabidas, sem o

interesse pelo afeto e pelo calor

humano.

Daí a necessidade do olhar, que

desperta na alma a troca do

sentimento humano, da emoção do

próximo. Quando olhamos com

sinceridade nos olhos de uma pessoa,

ficamos mais próximos. É esse olhar

intenso, cheio de vontade, com

sentimento, que permite o alcance de

um amor sincero, que nasce do desejo

de ajudar, porque tem vontade de

amar. É dentro dessa proximidade que

se permite a troca de experiências e

até da descoberta dos desejos em co-

Quer saber mais?

Dicas de alguns meios e técnicas para contar histórias: Usar o próprio livro

– Contar a história apontando as figuras ricas de ilustração;

Figuras sobre um

cenário – Pode ser feito de cartolina, papel cartão. Cada

suporte pode conter figuras e cenários diversos conforme o desenrolar da história;

Criando bonecos e

fantoches – Criar vários personagens e narradores. As crianças também podem manusear os fantoches;

Criação de

cenários – Estes devem ser criados com a ajuda das crianças. Ex.: Casinha de papelão, Floresta de papel crepom;

Avental de

histórias – Um avental com desenhos, bolsos e personagens para contar histórias.

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Aula 2 | Linguagens literárias 39

mum. Porque só o olhar consegue o

saber sem palavras, o sentir sem

dizer, o conhecer sem saber, a troca, a

proximidade, a igualitariedade e a

compreensão. Este olhar sincero é

naturalmente ético e, por isso,

puramente humano.

Nas civilizações primitivas, bem como

nas tribos indígenas, as pessoas

sentavam-se em roda, olhavam-se

umas para as outras e então os mais

idosos, com toda naturalidade pessoal,

contavam as histórias de seu povo, de

sua vida e até das explicações dos

fenômenos da natureza. Já na Idade

Média, surgem os menestréis, que

contavam histórias, cantando notícias.

Estes foram os primeiros contadores

de história.

O contar histórias parte do princípio

deste olhar, da necessidade de

comunicação, do desejo de estar junto

de outras pessoas e compartilhar o

sentimento que se move do coração e

sai pelo olhar, pela história oralizada,

pela palavra.

O contar histórias não só exige como

resgata a questão da comunicação

pelo olhar, como pela palavra que,

junto ao sentimento, à voz e ao corpo,

transmite o desejo de proporcionar ao

outro momentos agradáveis, em que

retornamos sentimentos puros,

vivenciados em nossa infância. Nada

mais agradável do que isso, neste

mundo tão conturbado em que

vivemos e muitas vezes não sabemos

mais o que fazer.

E é absorvido nesse mundo do

imaginário, no momento em que se

conta ou em que se ouve uma história,

que podemos pensar em ser felizes,

porque conseguimos levantar o sorriso

de alguém ou até mesmo fazer feliz

esse alguém”.

(Entrevista -1999)

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Aula 2 | Linguagens literárias 40

SUGESTÃO DE ATIVIDADE PARA INICIAR OU

FINALIZAR UMA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

Sentados, solicita-se que todos fechem os olhos,

se quiserem, trabalhando a respiração de forma suave,

pedindo que se imaginem no único lugar onde

gostariam de estar naquele instante, seu lugar especial.

Imaginar um sol ameno, agradável e uma suave brisa

ao redor. Pede-se que façam movimentos leves com as

articulações, que tragam alguém para compartilhar com

aquele lugar sugerindo-se que se abracem, se

quiserem. Lentamente, vão retornando ao local de onde

vieram e, num movimento lento, inclinando a cabeça e

abrindo os olhos devagar.

Em círculo: todos de pé, vamos procurando um

par para desenvolvermos movimentos juntos. Sempre

nos olhando nos olhos, procurando o reflexo do que

estamos passando no próprio olhar, nos gestos, na

expressão corporal.

Uma pessoa vai ser a imagem real e a outra, a

virtual. A primeira vai guiando os movimentos, nos três

planos (superior, médio e inferior). E a outra, sendo o

“espelho”, vai procurar imitá-la, sem desviar o olhar

“dentro dos olhos’’. Num segundo momento, as duplas

vão se alinhar umas às outras em duas filas, uma em

frente à outra. Numa sequência, cada dupla vai

repetindo os movimentos feitos pelas duplas que as

antecedem à sua esquerda; o que era imagem virtual

agora vai liderar a expressão, copiando-a e

repassando-a para seu parceiro, sem desviar o olhar

deste.

Esta dinâmica deve levar cerca de 20 minutos.

Uma vez realizada, todos podem concluir os

movimentos com calma e retornar aos lugares.

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Aula 2 | Linguagens literárias 41

SE VOCÊ ESCREVEU UMA HISTÓRIA, É SÓ

CONTAR...

Agora, incluiremos a fala de Bernardo Arraes

(1999) sobre sua experiência como oficineiro da arte de

contar histórias. Pois, indo ao encontro do que

dissemos antes, saber trabalhar as propriedades de

cada ferramenta agiliza a imaginação e potencializa a

criação, pois favorece a desinibição:

Não sendo um trabalho específico para

uma editora, o contador de histórias

poderá pesquisar e escolher com

calma seu repertório. Esse, quando

desenvolvido em grupo, é enriquecido

pelas qualidades literárias existentes

nas histórias.

Alguns contadores escolhem as histórias

gradativamente e cada uma delas, sendo apresentada

mais de uma vez, torna-se um encanto para o público,

pois novos ângulos vão sendo mostrados e a expressão

sendo melhor elaborada. Um registro por escrito é

importante para se preservar a forma como foi

contada, facilitar a memorização e as futuras

apresentações.

Ao se fazer a seleção das histórias, os elementos

essenciais da estrutura definem sua classificação em

lendas, mitos, fábulas, contos populares e contos de

fadas. Todos apresentam introdução, enredo e

desenlace.

Apresentam diferenças significativas entre si;

um conto de fadas, segundo a Dra. Marie Louise von

Franz (1993), “não é produzido pela psique do

indivíduo e não constitui material individual” (Franz, M.,

1993: 12-13). Podem se associar fenômenos

parapsicológicos. Um outro tipo de conto de fadas é o

da saga local que contém referências a um

determinado local, o herói se torna um ser humano

Dica de leitura

PAVONI, A. Os contos e os mitos no ensino: uma abordagem junguiana. São Paulo: EPU, 1989.

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Aula 2 | Linguagens literárias 42

definido e o conto é narrado associado a um evento

concreto que realmente aconteceu, mesmo com

características de contos de fadas. Nas sagas, os

elementos fantasmagóricos são mais frequentes.

Luís da Câmara Cascudo já nos anunciava que:

O conto nasceu do povo e foi feito para

ele. É um documento vivo,

denunciando costumes, ideias,

mentalidades, decisões e julgamentos.

Para todos nós, é o primeiro leite

intelectual.

(Oaklander, V., 1980, p. 113)

As mensagens simbólicas transmitidas, tanto

nos contos de fadas como nos populares, emergem das

profundezas da humanidade, tratam dos problemas

existenciais, relacionando, portanto, momentos alegres,

tristes, extremamente dolorosos, corajosos, que vão

favorecendo, aos poucos, a estrutura psíquica da

criança. Essa passa a incluir elementos sólidos em sua

personalidade que vão ajudá-la a dar respostas na vida,

sob forma lúdica.

São compreensíveis para a criança

como nenhuma outra forma de arte é;

como toda arte significativa, o sentido

mais profundo dos contos de fadas,

por exemplo, será diferente para cada

pessoa, e diferente para a mesma

pessoa em momentos diversos de sua

vida. A criança extrairá um sentido

diferente do mesmo conto de fadas,

dependendo de seus interesses e

necessidades do momento. Sendo-lhe

dada a oportunidade, ela voltará ao

mesmo conto de fadas, dependendo

dos seus interesses e necessidades do

momento; quando estiver pronta a

ampliar significados ou substituí-los

por novos.

(Id., 1980, p. 113)

Os contos de fadas são verdadeiros tesouros da

sabedoria humana, passados de geração a geração,

estão no maravilhoso mundo da fantasia, carregados de

Dica da professora

Mesmo não mais na infância, os contos nos ajudam a encontrar respostas para nossa vida, não é verdade? Você se lembra de uma história que seja significativa para sua vida?

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Aula 2 | Linguagens literárias 43

emoções. Os contos de fada têm uma linguagem

internacional de toda espécie humana, estão além das

diferenças de idade, raça e cultura ou crenças.

As famílias se reuniam em roda e o mais velho

contava histórias que prendiam a atenção e a todos

encantavam, principalmente as crianças, com suas

fantasias, imaginação, alegria.

Existe uma diferença entre contos de fadas,

saga local e mito. Os contos de fadas não têm raízes,

eles são de todos os lugares e não são destruídos. A

saga local é um conto de um determinado lugar, tem

raízes no local.

O mito é uma produção cultural, expressa o

caráter da civilização de onde surge, onde continua

vivo.

Agora, falaremos um pouco sobre as lendas e as

fábulas.

As lendas são uma narrativa fantasiosa

transmitida pela tradição oral através dos tempos.

De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas

combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que

são meramente produto da imaginação aventuresca

humana. Já diz o ditado popular: “Quem conta um

conto aumenta três pontos.”

Também, segundo a Dra. Von Franz, a saga

local e a lenda histórica têm fundamentos reais, que

foram vivenciados, detalhados e depois ampliados até

se resumirem numa história, passando a ser recontada

durante um longo período de tempo.

Dica de leitura

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.

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Estudar uma lenda é como estudar o

corpo todo de uma nação.

(Id, p. 15)

Nas fábulas, os animais têm características

humanas e transmitem lições morais de grande

simplicidade com mensagens relacionadas ao

comportamento no cotidiano, com singelos conselhos

sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.

Quase sempre os animais apresentam comportamento

humano, satirizando os defeitos dos homens e

revelando verdades universais sobre a natureza

humana.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

Se os contos são contados por pessoas, com

imaginação e/ou talento de um contador de histórias,

tornam-se mais bonitos e interessantes.

Cada pessoa tem, em cada momento,

os conflitos mais emergentes a serem

enfrentados. Quando entra em contato

Marie-Louise Von Franz nasceu em 1915, em uma

família austríaca que veio se fixar na Suíça depois

de 1918. Depois de terminar seus estudos literários,

ela se encontra com o homem que iria mudar toda a

sua vida: Jung. Ela veio a falecer em fevereiro de

1998.

Aprofundou-se no estudo da alquimia e se tornou

uma colaboradora importante na tradução dos

textos em grego e em latim.

Tornou-se uma Analista e participou de vários

trabalhos junto com Jung. Von Franz publicou vários

livros, em particular sobre a interpretação dos

contos de fadas.

Além de sua brilhante carreira como psicoterapeuta

e escritora, ela ainda construiu uma brilhante

carreira como professora e conferencista no Instituto

C.G. Jung de Zurich.

Para saber mais sobre suas obras, acesse o site

http://www.salves.com.br/jb-franz.htm

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Aula 2 | Linguagens literárias 45

com uma história que traz esse tema,

cria-se a oportunidade de se

estabelecer uma rede de associações

que lhe permite chegar a um

significado psicológico essencial. Este

pode ser desvendado e compreendido

através das figuras e eventos

simbólicos que as histórias trazem.

(Dias, C., 1999, p. 93)

As crianças, ao ouvirem contos de bruxas, ficam

esperando aparecer a ajuda da fada ou de um outro

herói.

Na história de João e Maria que se perdem de

casa e a bruxa os coloca em uma gaiola, retrata os

temas de abandono, medo, solidão, desamparo, mas

faz com quem ouve entre em contato com estes temas

e a possibilidade de poder elaborar os seus conflitos.

As religiões e os cultos baseiam seus

ensinamentos através dos contos de conteúdo moral.

Da mesma forma, existem também as histórias de

ensinamento de tradição sufi, que são documentos de

contos que há milênios os povos do oriente usam, os

contos são como instrumentos para ensinamentos

importantes da humanidade.

Exemplo:

O empréstimo

Na casa de chá, um homem dizia aos

amigos:

- Emprestei uma moeda de prata a uma

pessoa e não tenho testemunhas.

Receio que quem a recebeu negue que

a pus em suas mãos.

Os amigos ficaram com pena dele,

mas um sufi que estava sentado a um

canto ergueu a cabeça e disse:

- Convide-o para tomar um chá aqui e

diga-lhe, na presença de todas as

pessoas, que você lhe emprestou vinte

moedas de ouro.

- Como posso fazer isso se só emprestei

uma de prata?

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Aula 2 | Linguagens literárias 46

- É exatamente isso que ele vai

responder indignado - disse o sufi - e

todos poderão ouvi-lo de seus lábios.

Você não queria testemunhas?

(Nícia, G., 1993)

Um conto de fadas leva você para bem longe,

para o mundo sonhador da infância, do inconsciente

coletivo, onde não se pode ficar e por isso toda história

tem que ter um fim para entrarmos novamente na

realidade.

Os contos podem ser entendidos como materiais

muito ricos no trabalho com arte. Normalmente, todos

gostam de ouvir e contar histórias e através delas

podem-se abordar diversos temas.

Quando se inventa uma história, projetamos

algo de nossa vida, falando de algum tema que nos é

importante. A forma que se encerra a história mostra

como se resolvem os conflitos e se pensa sobre outras

alternativas. Em cada personagem, se encontra

parte de nós mesmos.

Na microssérie da emissora de TV, Rede Globo,

“Hoje é dia de Maria – Segunda Jornada”, se buscou

um imaginário popular brasileiro. Falou-se, também, do

poder que os contos de fadas têm na arqueologia da

infância no Brasil e na reinvenção de um território

lúdico, tão sacrificado no cotidiano das grandes cidades.

Em entrevista feita à Revista da TV, do jornal O

Globo, o diretor Luiz Fernando Carvalho faz uma crítica

social ao mundo de hoje, tão distante da nossa

infância:

Onde está a nossa infância? Onde ela

foi morar? Os contos de fadas revelam

o nosso imaginário mais arcaico, a

origem dos nossos medos e

fantasmas. São histórias ancestrais,

seculares da tradição oral, que têm co-

Dica da professora

Por vezes nos identificamos mais com uma personagem da história. No entanto, se prestarmos atenção, todos temos um pouco do herói, do vilão, da fada, do mago e das outras personagens que compõem os contos e os mitos. Faça esse exercício. Identifique em uma história o que você tem de cada personagem.

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Aula 2 | Linguagens literárias 47

municação muito direta, simples.

(CARVALHO, 2005, pp. 22-24)

Nesse conto, o autor busca o confronto não só

das crianças, mas também dos adultos de enfrentar o

medo e o desejo de tudo. O mundo do faz de conta foi

utilizado para mostrar sentimentos da modernidade

como o desejo de justiça, a necessidade de reatar uma

relação lúdica com o mundo, confrontando com a

descrença que assola a cidade, a falta de poesia, o

excesso de raciocínio e a falta de criatividade e, assim,

o apelo aparece: não fechem a porta ao sonho humano.

O processo que se vive através da fantasia, do

imaginário, com invenção de personagens mágicos

como fadas, bruxas, animais e plantas que falam, todos

têm significados que pode-se não saber o simbolismo

real, porém ele é assimilado ao nível do inconsciente.

Encontramos o amor, os medos, as dificuldades,

carências, perdas, solidão, encontro, buscas,

descobertas, entre outros. Os símbolos apresentados

nos contos de fadas, como os monstros e as bruxas,

representam nossos próprios temores e incapacidade

que temos para lutar, enquanto as fadas representam

nossas capacidades e possibilidades.

Para as crianças pequenas, os contos devem ser

curtos e com poucos personagens, elas acreditam que

tudo à sua volta tenha vida (animismo), para elas a

história está acontecendo no tempo real, pois ainda não

separam a realidade e a fantasia. Gostam de histórias

de animais, plantas e objetos que falam. Quando já

alfabetizadas, elas se interessam por detalhes, prestam

mais atenção em contos mais longos.

Na pré-adolescência e na adolescência,

exigem riqueza de detalhes e maior elaboração com

diálogos e cenas. Gostam de temas ligados à realidade,

ao social, às ficções, às aventuras e aos mitos.

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Aula 2 | Linguagens literárias 48

Segundo Marie Louise von Franz (1993), os contos de

fadas são parábolas que narram a trajetória de vida do

ser humano. O período da adolescência, quando está

iniciando uma vida independente, é uma tarefa difícil e

nos contos são representados diante de várias

aprovações, tendo que vencer as bruxas e gigantes até

encontrar o verdadeiro amor que está simbolizando a

conquista na vida real, o encontrar-se a si mesmo, o

assumir compromissos.

Na oficina de arte, podem-se usar os contos de

diferentes formas. Vejamos alguns exemplos:

Fazer um relaxamento, depois usar um

desenho que tenha feito, um objeto, um

brinquedo, uma planta ou qualquer outra coisa,

pedir para inventar uma história com início,

meio e fim;

COMPLEXO DE CINDERELA

Francisco Antônio Pereira Fialho

“O tema de Cinderela é uma viagem de iniciação,

que conduz ao estado de adulto e de maturidade. De

acordo com a época, o país e o autor, os contornos

da história variam tal como os cenários, mas o

progresso da adolescência à maturidade, mantém-se

a preocupação central. Em Cinderela é a fada-

madrinha quem, tal como em A Bela Adormecida,

fornece o toque mágico necessário para cumprir um

destino que também envolve a descoberta do amor

e os trâmites que daí vêm e advêm.

Os contos de fadas, contados e recontados no

decorrer dos tempos, escondem arquétipos que, ao

serem revelados, desnudam a alma do mundo.

Os personagens não estão lá simplesmente para

mostrar a personagem central. O príncipe, partindo

das cortes, tentando encontrar um verdadeiro

significado para a sua vida; as irmãs e a madrasta,

tentando tornar-se num ideal de beleza, o pai,

deprimido; todas estas figuras são indispensáveis à

emergência de Cinderela.”

Para ler o texto na íntegra, acesse o site:

http://www.psicologiabrasil.com.br/rev_07/capa/cap

a.htm

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Pedir para dramatizar uma história qualquer;

Solicitar que o participante invente um final

ou qualquer outra parte de uma história

contada anteriormente;

Fazer um fantoche que represente um

personagem que gostou muito.

Assim como existem “contos infantis”, também

existem os “contos de meias idade”, ou seja, contos

para adultos acima de 40 a 50 anos, eles surgiram há

muito tempo. Esses contos simbolizam as tarefas de

desenvolvimento que se têm que realizar na segunda

metade da vida, retratam o envelhecimento, mas com

crescimento espiritual e psíquico. Ajudam a mostrar o

sentido da vida, na maturidade e na velhice, de uma

forma agradável, com sabedoria e autoconhecimento.

Esses “contos de meia idade” são muito comuns

na cultura oriental, nos países árabes, na Índia e na

China, onde o idoso é valorizado e respeitado por sua

sabedoria e experiência.

O sábio mercador (conto judaico)

Há muito tempo, um mercador e um

filho já moço partiram em viagem por

mar. Levaram consigo uma arca de

jóias para vender durante a viagem. A

ninguém falaram sobre sua fortuna.

Um dia, o mercador ouviu os

marinheiros cochicharem entre si.

Haviam descoberto o tesouro e

estavam tramando matá-los para

roubar as jóias!

O mercador, fora de si de tanto medo,

andava de um lado para o outro em

sua cabina, procurando uma forma de

se livrar daquela situação perigosa.

Seu filho perguntou o que estava

acontecendo e o pai lhe contou.

- Precisamos enfrentá-los! – o jovem

exclamou.

- Não – o velho respondeu - eles nos

venceriam!

Dica de leitura

CHINEN, Allan B. E foram felizes para sempre. Contos de fadas para adultos. São Paulo: Cultrix. Exposição de uma psicologia da maturidade mediante a reunião de contos de fadas em que os personagens são adultos. Esses contos, ricos em significado psicológico e espiritual, ligam-se a temas arquetípicos.

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Aula 2 | Linguagens literárias 50

Um pouco mais tarde, o mercador

assomou, abruptamente, ao convés. -

Você é um tolo, meu filho! – ele gritou.

Nunca escutou os meus conselhos!

- Velho! – gritou o filho de volta – Você

não tem nada a dizer que valha a pena

ouvir!

Os marinheiros, curiosos, cercaram o

pai e o filho que começaram a soltar

imprecações entre si. Então o velho

correu para a cabina e trouxe,

empurrando com esforço, a arca

pesada de jóias.

- Filho ingrato! – o mercador gritou –

Prefiro morrer de miséria do que

permitir que você herde a minha

fortuna! – Dizendo isso, o mercador

abriu a arca do tesouro e os

marinheiros engasgaram à vista de

tanta riqueza. Então o mercador

correu para a balaustrada do navio e,

antes que alguém pudesse retê-lo,

atirou seu tesouro ao mar.

- No instante seguinte, pai e filho

olharam para a arca vazia e se

abraçaram chorando pelo que haviam

feito. Mais tarde, quando a sós na

cabina, o pai falou:

- Tínhamos que fazê-lo, filho. Não havia

outro meio de salvar nossas vidas!

- Sim – respondeu o filho - seu plano foi

o melhor.

Em breve, o navio ancorou e o

mercador e o filho correram para o juiz

da cidade. Acusaram os marinheiros

de pirataria e tentativa de homicídio e

o magistrado os prendeu. O juiz

perguntou aos marinheiros se haviam

visto o mercador atirar seu tesouro no

mar e eles responderam que sim. O

juiz então condenou todos à morte.

Que homem iria se desfazer das

economias de uma vida senão por

medo de perdê-las? – o juiz ponderou.

Os piratas se ofereceram para dar

novas jóias ao mercador e, em troca, o

juiz lhes poupou a vida.

(resumo do conto “O sábio mercador”

da obra de G. Friedlander)

... E a poesia é a primeira

manifestação de expressão literária, é

pela poesia que se iniciam todas as

Literaturas.

(Carvalho, B., 1998)

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Aula 2 | Linguagens literárias 51

A IMPORTÂNCIA DA LIVRE EXPRESSÃO

Quando se pede a alguém que escreva um

poema, começam as preocupações com rimas... Essas

podem ser trabalhadas, mas como um ponto à parte. O

mais importante é se desenvolver a expressão livre,

uma vez que a poesia vem do coração, podendo fluir de

todas as formas, até sem aparente nexo.

Exemplo de dinâmica:

Apresentar um poema e pedir aos participantes

que repitam frase por frase, caminhando pelo espaço

em que estão de forma descontraída, compondo o todo.

Depois, que se organizem em duplas e contem o

poema, com expressão corporal.

Em um segundo momento, cada um pode repetir

parte do poema deixando sentenças inacabadas, a

pessoa seguinte pode completar com criações suas. Por

esse meio, os integrantes (de qualquer idade) são

encorajados a falar de si próprios.

A partir daí, pode-se pedir ao grupo que faça um

desenho de seus sentimentos acerca do poema. Podem

vir expressões de inúmeros sentimentos: alegria. raiva,

tristeza, ódio. Uma janelinha se abre para o interior da

pessoa, às vezes, facilitando a abertura de uma porta

gradativamente.

Outra expressão plástica - utilizando-se a

mesa de areia, pede-se, com antecedência, que tragam

pequenos objetos decorativos de casa: animais, anéis,

mobiliário, bibelôs, como se fossem compor a

“maquete” de um cenário (= modelo minimizado de um

ambiente em tamanho natural, real). Estes são

colocados dentro de uma caixa com areia; se houver

possibilidade de se preencher sua parte inferior com

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Aula 2 | Linguagens literárias 52

água, tampando-a com um vidro e colocar a areia por

cima deste, cria-se um espaço mais lúdico. A partir daí,

os objetos são colocados, delineando mais uma

história.

O fato de podermos olhar a cena com largura,

altura e profundidade, leva-nos a visualizar a história

que nos pertence, que traduz uma passagem de nossas

vidas como espectadores, ajudando a esclarecer

situações, a clarificar problemas e cisões.

Segue mais uma orientação do oficineiro

Bernardo Arraes:

Apresentando um conto popular, o

contador fará uma estrutura oral,

semelhante a do contador de “causos”.

Ele usa as palavras, pausas etc. com

uma naturalidade tão grande, que

parece um ator, mas não é.

(Entrevista, 1999)

Memória

É importante conhecer bem a história

selecionada, com relação aos detalhes formais:

suspense, conflitos, ações, sentimentos dos

personagens. Ele poderá contar a história sem risco de

esquecer momentos importantes da mesma. E recriará

a narrativa em caso de esquecimento ou entusiasmo

visual causado pelo envolvimento da memória.

Não convém memorizar a história sem esquecer

um artigo. Isso acaba com a naturalidade emotiva,

bloqueando a espontaneidade do narrador. O

estrelismo, também, deve ser evitado.

Conhecer bem a história é fundamental.

Entretanto, saber com exatidão os acontecimentos que

a compõem não significa necessariamente decorar.

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Aula 2 | Linguagens literárias 53

Esquecer certos detalhes podem fazer com que os

personagens fiquem sem coerência interna entre eles.

É fundamental perceber as nuanças do texto:

os momentos emotivos, de humor, os momentos que

revelam os espaços em que ocorrem os conflitos e

desenlaces, onde está o suspense, que poderá levar ao

desfecho; as circunstâncias que provocam a

“plasticidade visual” do que o contador está narrando. É

preciso estudar os personagens, sob os aspectos

psicológicos (situação econômica, afetiva, sexual).

O autor deve elaborar análises do texto para dar

destaque aos elementos essenciais da história. Pode

sublinhar no texto as passagens principais do mesmo, o

que indicará que não podem ser esquecidas.

Deve-se estar atento para perceber o objetivo

principal da história e observar como os personagens se

relacionam e solucionam os conflitos para realizar esse

objetivo. Uma boa história desperta no leitor a vontade

de continuar vivendo a narrativa, despertando inclusive

o desejo de conhecer o texto para ler e reler.

Expressão corporal e estudo das vozes

Experimentar determinados tipos de gestos,

brincar com as diversas vozes e falas; tudo dependerá

de como você poderá passar para o(s) ouvinte(s) a

história. Um contador, às vezes, não muda a voz, não

teatraliza o texto (gestos e dramatização exagerada) e

consegue um efeito muito forte, emocionando os

ouvintes, apenas com a naturalidade da voz e do

gestual. A emoção do contador será espontânea e

descobrirá o que fazer, se ensaiou antes, e relaciona

esse ensaio (história memorizada ou decorada) na

comunicação com o outro.

Importante

No momento de contar a história, essas nuanças do texto podem aparecer na voz do

contador. Sem ser caricatural, o tom da voz ajuda na emoção do relato.

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Aula 2 | Linguagens literárias 54

COMO ENSAIAR

O ensaio deve significar uma preparação

carinhosa para quem nos assiste. Se temos o dom da

comunicação oral, corporal, só pode ser para

compartilharmos pensamentos, ideias, sentimentos.

Há algumas sugestões para se elaborar uma

apresentação:

Diante de um espelho;

Com um gravador ou uma câmera de vídeo;

Diante dos colegas do grupo que ouvem a

história ou, em caso de não ter um grupo,

para amigos e familiares;

Escrevendo a história, além de estudos e

resumos, para compor um repertório.

APRESENTAÇÃO

O contador de histórias utiliza como recursos,

além das histórias, é claro, seu sentimento, a memória,

a leitura, o olhar, a voz e o gestual. A linguagem não

verbal também conta a história e deve ser empregada

com frequência. Muitas perguntas podem surgir

nesse momento:

Qual será o público? Crianças? Adultos?

Público misturado?

Existe algum tema específico para a

apresentação no qual as histórias têm que

estar relacionadas?

Estudar a ordem em que serão apresentadas

as histórias pode envolver emocionalmente o

contador e seus ouvintes?

Como é a acústica do espaço? É necessário o

microfone? Ou basta a projeção da voz?

Como ficarão acomodadas as pessoas?

Dica da professora

Atenção a estas dicas! Elas são fundamentais para um encontro agradável para o contador da história e seu público.

Importante

Contar bem uma história requer prática! Já dizia Picasso que a arte é 1% inspiração e 99% transpiração! É fundamental estudar a história e ensaiar!

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Aula 2 | Linguagens literárias 55

Qual o espaço disponível para o contador se

movimentar?

Com relação às perguntas acima, é

importante observar:

É interessante que a plateia fique num

semicírculo, e um único terá repertório específico. Mais

de um contador já implica a seleção mais depurada de

um repertório (histórias selecionadas quanto ao núcleo

temático).

Uma sessão varia de 30 a 50 minutos (crianças)

e até uma 1h e 30m para adultos. Deve-se verificar a

duração da história (curta, longa), se são engraçadas,

dramáticas e, principalmente, as reações dos ouvintes

durante a apresentação da estória.

O prazer é maior e o encantamento toma conta

dos ouvintes. Paira nesses momentos uma energia que

nos leva ao início de tudo, quando ainda éramos

crianças, ou quando o homem não sabia escrever, não

sabia ler. Mas contava o que sentia. E até hoje, ele

sente e narra as suas experiências humanas no planeta

azul.

A leitura para o contador de histórias.

Augusto Rodrigues disse uma vez,

numa entrevista para meu pai:

“Melhor do que ler é reler.” Tinha

apenas oito anos nessa ocasião, e sem

bem entender por que, guardei essa

frase no íntimo do meu coração. Hoje

aos quase 21 anos de idade, no meu

trabalho como contador de histórias e

nas oficinas que realizo, percebo a sua

importância.

A leitura é de fato necessária para

todos, não havendo como negar.

Torna-se mais importante ainda para o

contador de histórias. Principalmente

no ponto que se refere à releitura.

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Aula 2 | Linguagens literárias 56

No primeiro contato com o texto,

temos uma ideia geral ou um

encantamento, um amor à primeira

vista. Se gostamos, realmente,

relemos depositando mais cuidado,

mais atenção e ternura. Conseguimos

saborear as palavras, a idéia do autor,

só que com um gosto especial.

É preciso sentir o sabor das palavras,

o que elas nos dizem, ao que elas nos

reportam. Só que, para isso, torna-se

necessário, primeiro, dar-se o direito

de descobrir e conhecer esse mundo.

Pode parecer estranho dizer isso,

mas... já pararam para ouvir o pulsar

do coração das palavras? As palavras

têm vida, influenciam, não têm corpo

físico, mas nos tocam com seu corpo

cheio de propriedades do sentimento.

Dentro deste universo da leitura, a

palavra lida transporta-se para o nosso

imaginário e sentimos a vontade de

pronunciá-la, de contá-la antes de

tudo para nós mesmos e depois para

os outros ouvirem. É como se

voltássemos a ser um bebê

pronunciando sua primeira palavra. E

ao mesmo tempo em que sentimos as

palavras GRÁVIDAS, vamos

desconstruindo o texto, descobrindo

nosso próprio ritmo de leitura, nossa

própria pausa.

É aí que reside o ponto fundamental,

quando ocorre a decodificação, a

desburocratização dos pontos, das

vírgulas e damos uma nova leitura às

palavras com seus significados.

(Bernardo Arraes Gonzalez Cruz)

A importância da leitura

Nada substitui a leitura, ela é uma atividade

básica, essencial para aprender e para ajudar a compor

a estrutura de nosso pensamento. É um dos objetivos

da introdução do contador de histórias na oficina de

artes, motivando a pesquisa das diversas fontes

necessárias ao nosso desenvolvimento. Nenhum

equipamento, por mais sofisticado que seja, substitui a

leitura, que nem sempre é um prazer, pois em certos

Dica de leitura

ORLANDI, Eni Pulcinelli. A leitura e os leitores. Campinas: Ed. PONTES, 2003.

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Aula 2 | Linguagens literárias 57

momentos não estaremos interessados, atraídos pela

forma de texto ou pelas habilidades requeridas:

atenção, concentração, acuidade, perseverança ou,

ainda, pelo nosso momento pessoal, emocional.

A leitura é parte essencial do trabalho,

do empenho, da perseverança, da

dedicação em aprender.

(Rangel, M., 1999, p. 11)

DINÂMICAS

Poema coletivo

O facilitador da atividade destaca e lê um trecho

de um poema, indica dois participantes do grupo para

que o comentem usando as próprias palavras e pede a

uma terceira pessoa que o reconte usando palavras

iguais às usadas pelos dois colegas.

A brincadeira dos espelhos

Com a leitura de alguns contos onde aparece a

palavra espelho, desenvolveremos dinâmicas.

Alice através do espelho.

No momento seguinte, Alice passava

através do espelho. A 1ª coisa que fez

foi olhar para ver se tinha fogo na

lareira e ficou muito satisfeita de ver

que tinha e de verdade, tão

resplandescente quanto do outro lado.

(extraído da obra Alice no País das

Maravilhas, de Lewis Carol)

Atividade

Agora, todos os participantes do grupo devem

ficar em pé, num grande círculo e o facilitador solicitar

que fiquem separados em duplas, se organizando para

um ser a imagem real e o outro, a imagem virtual; uma

primeira dupla se apresenta no centro, fixando a

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Aula 2 | Linguagens literárias 58

atenção no olhar (sem desviá-lo), fazendo movimentos

nos 3 planos (superior, médio e inferior) em qualquer

ritmo. Os demais devem adivinhar qual é a real.

Dessa forma, cada um vai destacar o sentimento

que melhor percebeu na atividade, podendo usar

palavras do texto.

Estátua

Os integrantes do grupo devem ficar em pé, de

costas para o arteterapeuta. Esse vai dar uma sugestão

de movimento, através de uma palavra. O qual deve

ser “congelado”. E cada um vai à frente, repetindo o

convite do facilitador.

Num momento seguinte, o arteterapeuta lê a

lenda de Igaranhã, a canoa encantada.

Um índio da tribo Kamaiúra iniciou a

construção de uma canoa com a casca

do jatobá. Ao terminá-la, retornou

para junto de sua mulher, que há

pouco dera à luz, permanecendo por

alguns dias.

Algum tempo depois, voltando à mata,

onde havia deixado a canoa, não mais

a encontrou. Entristeceu-se e,

pensativo, tentou imaginar o que

ocorrera. Talvez a tivessem roubado

ou algum animal a tivesse destruído.

Como poderia pescar agora?

Absorto, despertou com um ruído. Foi

grande o seu espanto ao perceber que

em sua direção movimentava-se,

lentamente, por si mesma, uma canoa,

a mesma que ele construíra, agora

com vida e olhos na proa. Talvez

houvesse se transformado em um

animal, pensou. Dar-lhe-ia então um

nome: Igaranhã – o crocodilo.

Entrou na canoa, ordenando-lhe que

seguisse em direção ao lago. Assim

que Igaranhã tocou a água, cobriu-se

com muitos peixes, dos mais variados

tipos, cores e tamanhos, que saltavam

sem cessar da água para dentro da

embarcação. Os primeiros, a própria ca

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Aula 2 | Linguagens literárias 59

noa devorou, ficando a maior parte

para o índio.

A sua mulher, maravilhada, falou

apenas de um lugar ideal para a

pesca, que houvera encontrado. Dias

depois, retornando ao mesmo local,

nada encontrou sob a frondosa árvore.

Só que novamente, como por encanto,

surgiu um crocodilo da mata,

dirigindo-se ao lago e o fenômeno

repetiu-se.

O índio ambicioso recolheu

rapidamente os peixes, sem deixar à

Igaranhã sua parcela do alimento.

Esta, então, muito contrariada, acabou

por devorar o seu próprio dono.

(Farjani, A., 1991)

Agora, se repete a dinâmica da “estátua”,

observando-se a mudança de atitude, se houve

variação na leitura, usando-se o discurso objetivo

(quantificador) ou subjetivo (qualificador).

MAIS UM MOMENTO DE OFICINA

Vamos continuar com a presença da poesia,

trazendo alguns exercícios.

É sempre divertido fazer um poema em grupo.

Cada integrante pode ser solicitado a escrever uma

linha, que expresse um desejo. Todas as linhas são,

então, reunidas num poema. Ao ler, as pessoas ficam

emocionadas com as habilidades poéticas, de como as

partes vão se integrando com harmonia.

Nosso outro contador de histórias entrevistado,

Juareis Mendes, desenvolve uma atividade interessante

com sons e desenhos, fazendo da forma gráfica obtida,

verdadeiros poemas, como os que seguem. O grupo

pode ser motivado para fazer o mesmo, e, a partir das

imagens, desenvolver histórias e cantigas de roda.

A ideia, portanto, é dar exemplos de como

nossas habilidades podem ser exploradas com recursos

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Aula 2 | Linguagens literárias 60

da linguagem literária, projetando nosso interior,

brincando com a realidade. Lembrando que, assim

como os adultos, “as crianças têm imaginação bastante

poderosa, para prescindir das histórias de fantasia”.

(Emmanuel Kant)

E fica o convite para rir, brincar, conversar,

fazer poesia, trocar histórias durante todos os dias do

ano. Afinal, nosso Monteiro Lobato já nos animava,

dizendo:

Olhem, vamos ter novidade amanhã:

uma história nova que vou contar,

muito comprida...

Conclusão

Os recursos da vida são inesgotáveis, assim

como em nós. Da infância à fase adulta, o meio

interfere de forma que o poder instintivo, natural e

criativo da pessoa fica enfraquecido frente aos desejos

e demandas dos outros. Todas essas infinitas

possibilidades de percepção, crescimento e estímulo

ficam limitadas de muitas maneiras, principalmente

com o pensamento. Na experiência do trabalho com

arte, usando a fantasia e, como aqui abordado, nas

linguagens literárias, a pessoa tem a possibilidade de

descansar o cérebro e relaxar, confiando na percepção

que lhe chega por meio de seus sentidos. Cada um de

nós, humanos, é tanto forte quanto frágil. As

polaridades, em tudo o que existe, trazem a

complexidade ao ser humano e as infinitas

possibilidades de usar a criatividade para lidar com

momentos diferentes da vida.

Você pode descobrir muito sobre a sua

percepção de si mesmo e sobre seu

senso de identidade pessoal quando

para de preencher mentalmente as

formas que alguém lhe impõe. Deixe

emergir as formas singulares e únicas,

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Aula 2 | Linguagens literárias 61

criadas por você mesmo; os dados que

as suas formas apresentam não

precisam fazer sentido, nem mesmo

para você. Na experiência de arte,

você pode relaxar, parar de pensar

como deveria pensar, e deixar

acontecer o que for.

(RHYANE, p. 178)

EXERCÍCIO 1

Segundo Arraes (1999), o contar estórias advém de

várias necessidades. Assinale a única alternativa que

não corresponde a uma dessas necessidades:

( A ) Comunicação;

( B ) Desejo de estar com o outro;

( C ) Compartilhar sentimentos;

( D ) Fugir da realidade;

( E ) Proporcionar momentos agradáveis.

EXERCÍCIO 2

Os contos são:

( A ) Úteis como materiais ricos que revelam projeções

através da história;

( B ) Inúteis por se referirem a um "um mundo de faz

de conta";

( C ) Mais facilmente utilizados com pessoas da terceira

idade;

( D ) Só devem ser utilizados em sessões realizadas

com crianças;

( E ) Favoráveis ao processo de superação da

transferência.

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Aula 2 | Linguagens literárias 62

EXERCÍCIO 3

De que formas os contos podem ser usados nas oficinas

de arte?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Cite duas sugestões para ensaiar uma apresentação.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Uma introdução ao mundo da imaginação;

A riqueza dos contos para o desenvolvimento

principalmente da criança;

Os mitos, os contos, as lendas e as fábulas e

como o contador de histórias deverá estar

atento à expressão e à memória;

Dicas de algumas perguntas importantes para

se preparar para a apresentação de uma

história;

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Aula 2 | Linguagens literárias 63

Foram abordadas diversas técnicas para o

contador entrar em contato com o mundo das

histórias e poder fazer uma boa

apresentação;

As histórias podem ser apresentadas de

diversas formas, desde que quem conta

esteja em contato com quem ouve,

interagindo e tornando a história dinâmica.

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Música

Naila Brasil

AU

LA

3

Ap

res

en

taç

ão

É muito difícil definir o que seja música. Seria ela uma linguagem?

Uma manifestação artística que nos atinge profundamente? Ou

simplesmente uma sucessão de sons?

E será possível descobrir a verdadeira essência da música?

Manifestação sonora do universo? Talvez, mas podemos dizer que

ela está tão ligada às emoções, à linguagem não verbal, que

passa a ser uma forma privilegiada da expressão humana, através

da qual os seres humanos comunicam-se entre si e, poeticamente

falando, por vezes pretendem dialogar com o cosmo.

Essas são questões que abordaremos nesta aula, além de

considerações teóricas e conceituais. Tudo isso para auxiliar você

em seu trabalho, seja ele na sala de aula ou em seu espaço

terapêutico.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Procurar, repensar e estruturar caminhos que o ajudem a

desenvolver uma prática musical adequada à sua atividade

profissional;

Estar atento às necessidades de seus alunos e pacientes no

sentido de lhes proporcionar um caminho, pela música, que

lhes favoreça esse caminhar;

Desenvolver autoconfiança, senso estético-crítico e capacidade

de análise e síntese para trabalhar com e através da música,

utilizando-se mais deste precioso recurso.

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Aula 3 | Música 66

Introdução

As palavras podem mentir, os homens

fingir, somente a música é incapaz de

nos enganar.

(Confúcio)

Apresentação:

Eu sou a música; das artes, a mais

antiga. Eu sou mais que antiga, eu sou

eterna. Mesmo antes da vida começar

nesta Terra, eu já estava aqui - nos

ventos e nas ondas. Quando as

primeiras árvores, flores e pastos

apareceram, eu estava entre eles. E

quando o ser humano surgiu, tornei-

me imediatamente o veículo mais

delicado, mais sutil e mais poderoso

para a manifestação das emoções das

pessoas.

Quando os seres humanos eram pouco

mais que animais, eu os influenciei de

forma benéfica. Em todas as eras,

inspirei-os com esperança; inflamei o

seu amor; dei-lhes voz para suas

alegrias; estimulei-os para realizarem

valorosas façanhas; e consolei-os nas

horas de desespero. Representei um

grande papel no drama da vida, cujo

alvo e propósito eram a grande

perfeição da natureza humana. Graças

à minha influência, a natureza humana

elevou-se, abrandou-se e tornou-se

mais aprimorada. Com a ajuda das

pessoas, tornei-me uma Arte Superior.

Possuo uma grande quantidade de

vozes e de instrumentos. Estou no

coração de todas as criaturas humanas

e nas suas línguas, em todas as terras

entre todos os povos; o ignorante e o

analfabeto me conhecem, tanto quanto

o rico e o erudito, pois eu falo a todos,

numa linguagem que todos me

entendem. Até os surdos conseguirão

me escutar, se prestarem atenção às

vozes de suas próprias almas. Sou o

alimento do amor. Ensinei aos seres

humanos a delicadeza e a paz: e os

conduzi na direção de feitos heróicos.

Levo conforto aos solitários e concilio

os conflitos das multidões. Sou um

luxo necessário a todas as pessoas.

Eu sou a MÚSICA.

(Anônimo)

Introdução 66 O que é música? 68 Breve história da música 79 Pré-história e antiguidade 80 Música e educação 88

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Aula 3 | Música 67

Então, o que é música? Você saberia responder

antes de ler a definição? Experimente elaborar várias

respostas para essa pergunta. Escreva tudo o que lhe

vier à cabeça.

E... vamos lá:

Ah! Mas antes de falarmos propriamente da

música, temos que falar daquilo que é anterior à

música, que é essencial para que ela exista: o SOM.

O susto provocado pelo trovão, a tranquilidade

que uma chuva fina traz, o encantamento produzido

pelo canto de um pássaro ou pelo som de uma flauta

são, todos, sentimentos produzidos por efeitos

determinados pelos diferentes tipos de ondas

eletromagnéticas de diferentes frequências e

comprimentos de ondas, que exercem influência sobre

o ser humano.

Após 16 semanas de gravidez, o feto já

responde a sons externos e, após 21 semanas, tem o

sistema de audição completamente formado. A

percepção dos sons acontece também pelo tato, sendo

que a pele do bebê recebe as vibrações sonoras como

uma continuidade de seu ouvido. Sons e ritmos ouvidos

ainda no útero materno podem conter importantes

informações para o bebê. A música gera energia

criativa e pode fazer com que a mãe passe informações

ricas em conteúdos emocionais para o filho, mantendo

aberto esse elo de comunicação entre eles.

Na linguagem sonora, existe um reencontro com

o primitivo, o antigo, o ancestral.

Recuperar os nossos sons é recuperar os nossos

corpos, é recuperar fragmentos de consciência.

Agora que já conhecemos o que é som,

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Aula 3 | Música 68

voltemos à nossa pergunta inicial:

O que é música?

A música pode ser considerada um meio de

comunicação conhecido pelo menos desde a época de

Pitágoras, na Grécia Antiga. A ideia de que todos nós

participamos de uma realidade sonora menor ou maior,

seja ela individual, coletiva ou universal, nos coloca

diante de uma questão básica: a música tem por si

mesma um efeito terapêutico mediato ou imediato.

“Música é alegria” nos diz uma canção popular, mas

não somente alegria: ela nos devolve o sentido da vida,

nos remete às nossas ligações mais profundas, não só

com nossas mães, geradora individual, mas com forças

arquetípicas da Mãe-Terra e quem sabe, a “divina Mãe”

tão decantada pelos místicos. Quando pensamos no

que a música pode oferecer, podemos ver o seu teor

terapêutico: sobre os corpos, sobre a mente, sobre o

organismo como um todo.

A música é uma forma direta de comunicação:

ela fala de um coração a outro. O poder da música de

trazer à tona memórias poderá facilitar a criação de

uma história, de um clima, de um ambiente. Todos os

sons e músicas são acompanhados de uma resposta

emocional bastante complexa.

Nosso corpo é uma expressão de ritmo, melodia

e harmonia. O ritmo dos nossos pés e pernas, a

cadência do nosso andar, as batidas do coração, os

tons de voz suaves e ternos. Seria infinita a

enumeração de possibilidades musicais do nosso corpo.

E a música se escuta com todo o corpo; embora

tenhamos esse ouvido especializado para compreender

e nos sensibilizar com a complexidade da música, o

corpo todo tem receptores para senti-la.

Dica da professora

Dê uma paradinha mais tarde para ouvir uma música. O que acha? A final de contas, estamos estudando sobre ela.

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Aula 3 | Música 69

Acreditamos na potência da música. Estudos

científicos sobre os sistemas nervoso, endócrino e

imunológico mostram que a música em nós faz sentido

e esta palavra já diz tudo: sentido pelo aparelho

sensorial, sentido pela emoção e sentido dado ao que

se passa internamente. A música, portanto, transcende

o mundo físico das vibrações e suas percepções, e

alcança a dimensão do eu mais profundo.

AÇÃO/ PODER/ UTILIZAÇÃO DA MÚSICA

A música enquanto linguagem não-verbal pode

motivar uma expressão gráfica, uma expressão

plástica, uma expressão escrita. Quem puder se

beneficiar com essa técnica, não terá necessidade de

aprender música; poderá apenas sentir, compreender e

criar.

A música desperta as mesmas emoções tanto

em músicos como em pessoas sem formação musical, o

que comprova que a percepção das emoções musicais é

muito estável tanto no plano individual como em

diferentes ouvintes.

Descartes dizia que era preciso excluir a emoção

para conhecer a razão: na sua época, a teoria era que a

cognição gerava processos inconscientes de alto nível,

enquanto a emoção envolvia mecanismos regidos pelo

sistema nervoso central. Hoje se sabe que ambas estão

intimamente ligadas, e que a emoção desempenha

papel determinante nos comportamentos racionais.

Essas três palavras podem resumir sua ação:

sentir, compreender, conhecer. A ordem de sucessão

desses três processos não pode ser modificada. É o

desenvolvimento normal do indivíduo e deve, portanto,

ser o da pedagogia e da terapia.

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Aula 3 | Música 70

Façamos, então, uma sábia escolha – deixar-nos

«tocar» pela música e usufruir seus efeitos. Para isso,

porém, é necessário que entremos em contato com

nosso silêncio interno para poder ouvir as músicas do

nosso coração.

Quando o homem se percebe como um

instrumento, como um corpo sonoro, e

descobre que estes sons podem ser

organizados, nasce a música.

(Mário de Andrade)

As propriedades de funcionamento e a utilização

adequada da música em educação e saúde:

Estimular a atenção – a exposição ao som

desperta e estimula a atenção;

Organização temporal de atividades – a

música é um fenômeno estruturado: possui

início, duração e fim definidos. Esta estrutura

torna mais fácil organizar e lembrar

atividades ou impressões conduzidas

simultaneamente. Esse é o motivo pelo qual

apreciamos e, frequentemente, achamos mais

fácil fazer certas coisas com música –

principalmente quando ocorre movimento do

corpo (dança, por exemplo);

Lembranças (memória) e expectativas –

a repetição de uma peça musical pode trazer

tanto a lembrança quanto a antecipação de

acontecimentos relacionados a ela. Música

ainda cria a associação que nos possibilita

lembrar eventos ocorridos há muito tempo;

Manter a atenção e a organização

sequencial da experiência – quando uma

sequência de temas musicais é regularmente

repetida, ao se ouvir um determinado tema,

lembramos o tema seguinte. Numa trilha

sonora conhecida, sempre sabemos qual

música virá a seguir, antes mesmo de escutá-

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Aula 3 | Música 71

la. A utilização de temas musicais,

combinados com definidas atividades

seqüenciais, facilita a ordenação e a memória.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Qualidades do som:

Os sons possuem quatro qualidades que os

distinguem:

Altura ou entoação: depende do número de

vibrações executadas pelo corpo sonoro –

graves ou baixos: correspondem às vibrações

mais lentas;

agudos ou altos: correspondem às vibrações

mais rápidas.

Na música, a altura do som é representada pela

notação musical (escrita musical: notas, pauta etc.).

Duração ou quantidade: é o maior ou menor

tempo produzido pelos sons e podem ser

classificados em longos e curtos.

Intensidade: é a força maior ou menor dos

sons; aumenta com a amplitude das

vibrações. Podem ser fortes ou fracos.

Timbre: é a característica própria de cada

som; pelo timbre é que distinguimos a

fonte sonora, ou seja, através dele podemos

reconhecer os sons.

Elementos formadores da música:

De que é formada a música? Os principais

elementos que a formam são:

1º) Ritmo

É o movimento dos sons, regulados pela

maior ou menor duração dos mesmos;

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Atua na área física, e depois, na emocional;

provoca alterações no metabolismo,

respiração, pressão sanguínea.

É o mais importante dos três: base e

fundamento de toda expressão musical – sem

ele não existe música; é o único que pode

existir sozinho, independentemente dos

outros; diz-se mais ainda: que a música

surgiu a partir dos movimentos corporais do

ser humano;

2º) Harmonia

Refere-se à execução simultânea de vários

sons;

Segundo elemento mais importante;

responsável pelo desenvolvimento da arte

musical; a música instrumental surgiu a partir

da harmonia das vozes humanas;

Atua na área mental: organiza o raciocínio e a

aprendizagem;

3º) Melodia:

É a sucessão de sons que formam um sentido

musical; ou seja, é desenvolvida a partir da

sucessão de notas musicais que segue um

padrão rítmico e harmônico reconhecível;

Atua na área emocional; está ligada à

afetividade.

Tons maiores e menores:

Você já deve ter ouvido um cantor pedir aos

músicos que o acompanham: “por favor, um lá maior”

ou: “toca aí um ré menor”. Sabe o que significa? O

artista está pedindo que seja tocado nos instrumentos

que estão lhe acompanhando, o acorde que identifica

aquela melodia. Esse acorde (3, 4 ou 5 notas musicais

executadas simultaneamente, e que guardam entre si

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Aula 3 | Música 73

uma relação pré-definida) pode ser em tom maior (do

exemplo – lá maior) ou em tom menor (ré menor, no

nosso exemplo).

E agora você deve estar se perguntando: e eu

que não estudei música, como posso reconhecer

quando é maior ou menor? E eu lhe respondo: não é

preciso conhecer, basta sentir:

No modo menor – são acordes/tons que

remetem à introspecção e podem demonstrar

tristeza, melancolia, saudade, meditação ou

mesmo relaxamento;

No modo maior – são acordes/tons que

podem provocar alegria, vigor, entusiasmo,

euforia, extroversão, sensação de liberdade e,

também, os mesmos sentimentos e

sensações gerados pelo modo menor.

Bom, agora confundiu de vez! Mas saber

discernir entre um tom e outro não é importante para

que você utilize a música e faça a escolha adequada

para o momento, seja em sua sala de aula, em seu

consultório ou em seu ateliê. Você pode perceber

algumas daquelas sensações/sentimentos em relação

àquela música e, na maioria das pessoas, ela ocorre de

maneira similar.

Outros dados para ajudar você a entender esse

assunto e a poder escolher com mais segurança a

melodia que deve usar em cada circunstância:

o medo tanto quanto a alegria provocam uma

forte reação da pele (transpiração),

excitamento fisiológico causado pelo

andamento rápido e pela dinâmica musical;

trechos musicais mais lentos e menos

dinâmicos, que exprimem tristeza e

serenidade, não acarretam reação cutânea;

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Aula 3 | Música 74

harmonias agradáveis melhoram o humor.

O fato dessas reações fisiológicas serem

independentes dos julgamentos subjetivos demonstra

que a música exerce grande poder sobre o corpo

humano e que o ouvinte não está necessariamente

consciente do efeito que a música exerce sobre ele. A

razão é conhecida: a música – quando utilizada de

maneira correta – consegue ativar no cérebro os

mesmos centros de recompensa que uma comida

saborosa, drogas ou sexo. No entanto, estilos musicais

diversos afetam as pessoas de formas diferentes.

Andamento e Modo:

O estudo das emoções moduladas por

parâmetros como o andamento ou o modo indica que é

possível identificar efeitos psicológicos como raiva,

alegria, tristeza ou serenidade.

Modo – série de notas sucessivas organizadas

segundo um padrão de intervalos definidos, podendo

ser menor ou maior.

Andamento – grau de velocidade que se imprime

à execução de um trecho musical.

Você vai compreender melhor ao ler os tópicos

abaixo que mostra a combinação desses dois

parâmetros.

Foram efetuados estudos combinando-se os dois

parâmetros, um para evocar uma mesma emoção –

condição “convergente”, outro para evocar emoções

diferentes – condição “divergente”. Quando os dois

parâmetros são combinados e divergentes, os ouvintes

utilizam prioritariamente o andamento para julgar

emocionalmente as melodias: o andamento é uma

informação mais fácil de processar que o modo.

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Aula 3 | Música 75

Andamento lento + modo menor = dinâmica

calmante, podendo também remeter à

tristeza, a melancolia;

Andamento rápido + modo maior = alegria,

vibração;

Andamento rápido + modo menor = emoções

diferentes, podendo provocar sentimentos de

raiva ou de medo;

Andamento lento + modo maior = dinâmica

apaziguadora.

Para que você possa entender melhor o sentido

da música dentro da arte, é importante conhecer a

origem dela. Segundo estudiosos, a música é dividida

em duas categorias:

A vocal – produzida pela voz humana, na

expressão de sentimentos e a instrumental – fenômeno

natural de soar em conjunto dois ou mais sons. E, em

ambos os casos pode ser executada por uma só

pessoa, um pequeno grupo ou um grupo grande. Esse

grupo grande – você já deve ter adivinhado qual é –

chamamos orquestra.

Vozes e instrumentos:

Origem do canto

As opiniões sobre a origem do canto são

polêmicas e muitas vezes divergentes. A palavra

cantada tinha um caráter ritual, o que a distinguia da

palavra escrita. E podia servir para exorcizar temores,

como linguagem sexual ou como parte dos atos

litúrgicos. Desde muito cedo o homem se utiliza do

canto, da expressão vocal, criando novos universos e

aumentando sua comunicação.

O canto está presente em todas as culturas, seja

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Aula 3 | Música 76

na magia dos feiticeiros, nas festas ou funerais, na

expressão de sentimentos, na sonoridade dos idiomas,

na variedade de sotaques, nas rodas de amigos, nos

pregões de feira, nas casas de espetáculo, nas

arquibancadas dos estádios, nos carnavais da Grécia

antiga e nos desfiles de Escolas de samba. As canções

são antigas companheiras do ser humano. Cantamos

nas mais variadas situações.

Existe um fenômeno intrigante conhecido por

canção de Ur, nome dado a um tipo fundamental de

melodia, cantada por crianças em todo mundo,

independente da cultura a que pertencem. De 18

meses a 2 anos de idade, as crianças cantam pequenos

trechos melódicos de maneira espontânea. Até os três

anos, passam a emitir sons mais elaborados e, a partir

daí, começam a ser influenciadas pelo estilo musical

particular da própria cultura. Segundo Leonard

Bernstein, a canção de Ur seria um padrão arquetípico.

Este fenômeno é um importante elemento no

desenvolvimento psicológico da criança, demonstrando

uma possível relação entre os processos mentais e o

fluxo natural da consciência musical.

As sereias, que encantam fatalmente os

marinheiros, são entidades míticas que fazem do canto

seu maior poder. Diz a lenda que aquele que ouve seu

canto é de tal forma seduzido que pode até morrer no

mar procurando encontrá-la. O canto como sedução,

como feitiço fatal, nos fala de uma de suas facetas. Os

hindus, na Antiguidade, afirmavam que teria sido o

canto a primeira forma de arte.

A música e os instrumentos sempre estiveram

ligados ao ritual, às danças, à religião ou à magia.

Muitos são os mitos e as lendas que explicam como

surgiram os instrumentos musicais. Para os gregos, Pã,

deus dos pastores, amava uma ninfa que foi

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Aula 3 | Música 77

transformada em bambu. Para poder ficar perto dela,

Pã cortou o bambu em pequenos pedaços e com eles

fez uma flauta – flauta de Pã – encontrada em diversas

partes do mundo.

Os instrumentos mais antigos conhecidos são

flautas feitas com falanges de ossos de animais e que

só produziam um único som. Muitos outros

instrumentos nasceram das atividades cotidianas, como

por exemplo, o sino que avisava um acontecimento

importante ou o tambor que marcava o andamento de

marcha na guerra. Por serem confeccionados com uma

variedade de materiais e pelas diversas formas que

possuem, os instrumentos emitem sonoridades

diferentes.

Tradicionalmente, a orquestra é composta por

três diferentes grupos de instrumentos:

De cordas;

De sopro;

De percussão.

Vamos, então, conhecer mais de perto cada

um desses grupos de instrumentos:

Instrumentos de cordas – são tocados com arco

ou com os dedos.

Com arco ou de cordas friccionadas:

Violino, viola, violoncelo e contrabaixo.

Todos eles são muito parecidos, quando você

olha pela primeira vez, pode até achar que a única

diferença é o tamanho. Mas, veja só:

O violino é o menor de todos e o que tem os

sons mais agudos;

A viola é um pouco maior e seu som é

ligeiramente mais grave;

O violoncelo é muito maior e tem um som

mais grave e aveludado;

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Aula 3 | Música 78

O contrabaixo é o maior de todos e seu som

é muito grave.

De cordas dedilhadas:

Tocadas diretamente com os dedos e chama-se

harpa.

Existem outros instrumentos de cordas

dedilhadas, mas eles não são parte essencial de uma

orquestra. Como exemplo: o famoso violão.

Instrumentos de sopro – são mais numerosos e

classificados em dois grandes grupos: os de madeira e

os de metal:

Madeira:

Flauta - é um dos instrumentos mais

antigos e, também, o que possui o som mais

agudo, no grupo das madeiras, embora hoje

em dia seja feita de metal;

Oboé – já existe há muito tempo e é um

pouco parecido com a flauta;

Clarineta, corne inglês e o fagote têm

um som mais grave que a flauta e o oboé; e

também mais aveludado.

Metal:

Trompete – o de som mais agudo;

Trompa;

Trombone;

Tuba – que é o mais grave de todos.

Instrumentos de percussão - tocados

geralmente com baquetas ou varetas, acentuando o

ritmo. O mais importante deles é o tímpano, uma

espécie de tambor.

Neste grupo também encontramos o xilofone,

formado por lâminas de madeira de variados

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Aula 3 | Música 79

comprimentos, o triângulo, o bombo ou bumbo e os

pratos.

Quando você tiver a oportunidade de assistir a

um concerto – no teatro, na praça, na televisão –,

observe a forma como o maestro e os músicos estão

posicionados no palco.

De repente, você pode estar se perguntando:

cadê o piano? Por que esse instrumento tão conhecido

e tão completo – ele sozinho faz a festa – não

apareceu?

É que ele é um instrumento solista, ou seja, ele

é que faz a melodia, e é acompanhado pela orquestra.

Ele faz parte do grupo dos instrumentos de cordas; só

que suas cordas são percutidas. Se você já teve

oportunidade de ver um piano por dentro, deve ter

observado que lá existem uns martelinhos que são

acionados quando os dedos do pianista tocam as teclas.

Assim o som é produzido.

Breve história da música

Toda expressão artística tem uma estreita

relação com a História. A vida cotidiana do povo, suas

alegrias, frustrações, esperanças, dores e festas, tudo

isso é transformado em canções. Também podemos

contar nossa história pessoal através dos cantos de

nossa cultura. As músicas atravessam fronteiras,

diminuem distâncias geográficas, promovendo uma

ligação maior entre os homens: a música é realmente a

linguagem universal.

A existência da música é quase tão antiga

quanto a da humanidade. Pesquisas feitas mostram que

é provável que o homem tenha cantado antes de falar.

Som e ritmo são tão velhos como o homem, por

fazerem parte do ser humano nos movimentos do

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Aula 3 | Música 80

coração, no simples ato de respirar, no caminhar, nas

mãos que percutem um instrumento e na voz que

produz o som. Quando o homem se percebe como um

instrumento, como um corpo sonoro e descobre que

estes sons podem ser organizados, nasce a música.

Pré-história e Antiguidade

Os arqueólogos encontraram pedaços de ossos

com formas estranhas que poderiam ter sido os

primeiros instrumentos musicais da humanidade. Mas,

disso não podemos ter certeza. O que realmente temos

comprovado é que, no Egito, há mais de três mil anos,

já se fazia música. E como é que sabemos disso? Muito

simples: em várias pinturas egípcias aparecem pessoas

tocando flauta, harpa, tambor e outros instrumentos.

Na Grécia, também, existia música muitos

séculos antes de Cristo. E eles deixaram essas

informações registradas nos seus vasos pintados, onde

se observam pessoas tocando lira, pandeiro, flauta. Foi

com os gregos que surgiu o deus protetor da música e

dos músicos – Apolo que, além de extraordinariamente

belo, tocava maravilhosamente todos os instrumentos

musicais (também pudera, ele era um deus!!)

Ainda foram os gregos que estabeleceram as

bases para a música do Ocidente. A própria palavra

música nasceu na Grécia, onde «Mousike» significava

«a arte das deusas», abrangendo a poesia e a dança. O

ritmo era o denominador comum das três artes,

fundindo-as numa só.

No teatro grego, também, a música estava

presente: cantada e tocada. Mas o sistema de notação

musical que utilizavam era muito complicado: eles

usavam letras do seu alfabeto para representar a altura

e duração dos sons, além, é claro, das pausas na

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Aula 3 | Música 81

melodia.

Durante muitos séculos, os músicos tentaram

criar um sistema mais simples e funcional, mas foi

somente no século XI que um monge italiano – Guido

d’Arezzo – organizou a escrita musical e deu nome para

os sons musicais – as notas: ut, ré, mi, fá, sol, lá, si.

Somente o “ut” passou a ser dó; as outras

permaneceram da forma como foram criadas.

Bem, voltemos lá para a época antiga e

continuemos nosso passeio pela história da música:

Roma: a cultura dos romanos era muito menor

do que o seu poder, de maneira que a conquista da

Grécia foi muito importante para eles: herdaram dos

gregos o que não possuíam em ciência, arte e

refinamento. No caso da música, em especial, Roma

quase nada acrescentou àquilo que acontecera na

Grécia.

Os hebreus utilizaram a música com fins

guerreiros e religiosos. No Antigo Testamento, é

mencionado o poder da música e seu valor terapêutico.

Podemos, como exemplo, falar das trompas que

fizeram ruir os muros de Jericó, do “Cântico dos

Cânticos”, composto pelo rei Salomão.

A cura através da música era muito respeitada nas

civilizações antigas. Esta cura era baseada na utilização

de vibrações: cantos sagrados, ritmos hipnóticos e

padrões de música eram usados para esse fim.

Pausas são figuras que indicam duração de silêncio

entre os sons; também chamadas figuras ou valores

negativos. Cada figura positiva (representação do

som) tem sua respectiva figura negativa (pausa)

que lhe corresponde ao tempo de duração. Veja no Glossário o desenho destas figuras.

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IDADE MÉDIA

Neste período, a música foi utilizada

basicamente como um instrumento de fé. O

Cristianismo mostrou ao homem um mundo interior

que ele desconhecia, e essa revelação transformou a

sua visão de si mesmo, bem como a sua posição face

às coisas. Movidos por esse novo modo de ser, os

primeiros cristãos desenvolveram sua própria arte com

o objetivo de exteriorizar não somente sensações, mas

sentimentos de integração religiosa. Os grandes centros

da igreja – Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém –

eram os grandes centros da música, cada qual com sua

liturgia musical particular.

Nessa época, havia os menestréis, pessoas que

cantavam, tocavam e compunham músicas

consideradas profanas. Os menestréis eram

contratados pelos nobres. Havia, também, os

saltimbancos, verdadeiros malabaristas que eram

músicos e saíam cantando pelas ruas.

Nesta época, os assuntos musicais eram

investigados pela medicina; havia, também, o costume

de tornar-se mestre em música antes de estudar

medicina.

A RENASCENÇA

No clima da Renascença, a polifonia católica

passava das igrejas para os salões da aristocracia. Os

reformistas protestantes faziam o oposto, indo buscar

entre o povo os seus temas musicais. Enquanto isso, os

flamengos percorriam a Europa propagando o seu

estilo, que propiciou o florescimento de vários gêneros

de canção.

Foi durante o Renascimento que surgiram os

madrigais – antigas composições poéticas ou musicais

::Polifonia:

Palavra de origem grega que significa várias vozes

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Aula 3 | Música 83

para vozes que celebravam a beleza das mulheres e a

vida pastoril. Acredita-se que os madrigais surgiram na

Itália, para a celebração do casamento de um membro

da família Médicis, de Florença.

A igreja católica cultivou principalmente o canto.

Em 540-604, o papa Gregório modificou a estrutura da

liturgia da igreja, criando o canto gregoriano, de

melodia simplificada e que podia ser cantado por todos

os fiéis. De forma simples, o cantochão permaneceu

durante toda a Idade Média e até hoje é utilizada pela

Igreja Católica.

Desta época temos registro de muitos médicos

que, também, eram poetas e musicistas.

SÉCULO XVII

Neste período, a ideia de existir uma relação

entre música e medicina persiste. Existia a crença de

que a música permitia que loucura e tristeza fossem

afastadas e que causava efeito de cura sobre o corpo

humano, afastando, inclusive, o próprio diabo.

Inicialmente, a música deste período buscou

centralizar numa única voz, a comunicação musical,

porém o apogeu do período Barroco – a música do

século XVII – ganhou vida nova na recuperação da

polifonia, por Georg Friedrich Haendel (1685-1759) e

Johann Sebastian Bach (1685-1750). Estes dois

“A música é a arte dos profetas; é a única arte, além

da teologia, que tem o poder de acalmar as agitações da alma e afugentar o demônio”. (Lutero)

CANTOCHÃO

A música mais antiga que conhecemos, tanto sacra

como profana, é feita de uma única melodia, sem

acompanhamento (cantochão). Eram melodias que

fluíam livremente, desenvolvidas com suavidade, em

ritmos irregulares; a linha melódica obedecia aos acentos naturais das palavras latinas.

::Canto Gregoriano:

Gênero de música vocal monofônica, não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o ritmo livre e não medido, utilizada pelo ritual da liturgia católica romana.

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Aula 3 | Música 84

grandes compositores barrocos dominavam

magnificamente a arte da composição musical, criando

peças em quase todos os gêneros de música vocal e

instrumental. E foram eles que conduziram o estilo

barroco ao apogeu.

SÉCULO XVIII

Este período foi denominado clássico. No

decorrer do século XVIII, realizou-se plenamente aquilo

a que os últimos compositores já aspiravam: a criação

de uma arte abstrata. Os classicistas não pretendiam

que sua música fosse linguagem para cantar a religião,

o amor, o trabalho ou qualquer coisa. Buscavam dar-

lhe pureza total, a fim de que o mero ato de ouvi-la

bastasse para dar prazer. A perfeição da forma – como

também aconteceu com os pintores e escultores deste

período – era o ideal estético.

O compositor mais representativo de espírito

classicista foi Joseph Haydn (1732-1809), autor de uma

obra vastíssima, na qual as possibilidades musicais da

sinfonia foram exploradas com grande riqueza

inventiva.

Neste período, destacou-se no cenário musical a

figura de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791),

reconhecido como o grande gênio da música, o menino

prodígio. E quando se fala em período clássico, é o

primeiro a ser lembrado. Mozart valorizou a música

instrumental, principalmente a sonata, a sinfonia e o

concerto clássico, e sua música é referência no estilo

clássico.

Mas, o que significa a palavra “clássico”?

“... seu sentido, para nós, está associado a algo que

consideramos de alta classe, de primeira ordem, de

extremo valor. Assim como ‘clássicos’ da literatura,

falamos, por exemplo, das peças de Shakespeare ou dos romances de Charles Dickens; descrevemos como

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Aula 3 | Música 85

Entre o fim do século XVII e o começo do XIX, o

classicismo estava em declínio e nenhum outro estilo

surgia. Mozart sugerira novas concepções, mas, como

morreu muito cedo, não chegou a enquadrá-las numa

Sinfonia é uma palavra de origem italiana e tem

conotações que vão além do seu significado mais

divulgado e conhecido, consolidado a partir do

classicismo e que se refere a uma peça para

orquestra construída na forma sonata.

Na origem do termo, sonata era uma música para

instrumentos de sopro ou para cordas. Com o

passar do tempo, sonata passou a designar uma

obra musical em vários movimentos cuja estrutura

era definida. A sonata clássica, desenvolvida por

Mozart no Classicismo, era constituída de três ou

quatro movimentos:

1. Um primeiro movimento rápido, cuja forma se

baseava na forma-sonata.

2. Um movimento lento, geralmente em forma de

variações;

3. Um movimento dançante (um minueto, por

exemplo, remanescente da suíte);

4. movimento final, de caráter enérgico e

conclusivo.

No Barroco, o termo sonata era usado para definir

qualquer gênero puramente instrumental - assim

como cantata era um gênero vocal.

Fonte:http://pt.wikipedia.org

O concerto clássico teria sua origem no concerto

solo do período barroco. Seus três movimentos

(moderadamente rápido, lento, rápido) correspondem

aos da sinfonia, mas sem o minueto.

Fonte: http://passeiweb.com

‘clássico’ o estilo arquitetônico da Grécia e Roma

antigas... As pessoas, às vezes, usam

genericamente a expressão ‘música clássica’,

considerando toda a música dividida em duas

grandes categorias: ‘clássica’ e ‘popular’. Para o

musicólogo, entretanto, ‘Clássico’ com ‘C’ maiúsculo

tem sentido muito especial e preciso. O termo

designa especificamente a música composta entre

1750 e 1810 – período bem curto, que inclui a

música de Haydn e Mozart, bem como as

composições iniciais de Beethoven.” (Bennett, 1988, p.45)

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Aula 3 | Música 86

tendência definida. Uma espécie de expectativa reinava

no campo musical. Era a fase hoje chamada pré-

romântica, na qual a obra de Ludwig van Beethoven

(1770-1827) causaria um tremendo impacto, dando à

música maior energia. Beethoven considerava-se o

“Napoleão da Música”, e com razão. Indiscutivelmente,

era único. Foi o primeiro compositor a impor condições

aos editores. Compôs com liberdade, contrariando o

racionalismo do século XVIII,e deu plena vazão ao seu

temperamento impulsivo e violento, mas também

sonhador e bucólico. Em sua obra, deixou clara a

superação do refinamento do velho classicismo,

denunciando o fim da aristocracia e apontando o

romântico mundo novo que estava pela frente.

As investigações sobre os efeitos fisiológicos,

principalmente nos batimentos cardíacos, além da

influência sobre as emoções, foram-se aperfeiçoando.

SÉCULO XIX

Este período vai de 1810 a 1910. Excepcionais

compositores fazem parte desse rico período: Frédéric

Chopin (1810-49), Robert Schumann (1810-56), Franz

Liszt (1811-86), Johann Brahms (1833-97), Piótr Ilitch

Tchaikóvski (1840-93), entre outros tantos. Os

compositores passaram a colorir suas peças com

produtos da cultura popular; este período, também, se

caracterizou pelo subjetivismo dos temas musicais.

Outra característica do estilo romântico foi a

estreita ligação com a pintura e a literatura: quadros e

romances são fonte de inspiração para as composições.

Aparece, também, nesse momento, a música

programática, ou seja, música que conte uma história

ou leve o ouvinte a trabalhar com a imaginação.

No final deste século, a música europeia viu-se

em choque. Questionava-se a possibilidade de criar

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algo realmente novo – idealizava-se uma música que

“exalasse cheiro”, “provocasse visões” e “sugerisse

cores”. Claude Debussy (1862-1918) resolveria o

problema com uma concepção musical nova: o

Impressionismo. Esteticamente, Debussy visava a uma

“arte de nuances, que sugerisse em vez de descrever”.

Para isso, desenvolveu a técnica de explorar o

encadeamento de acordes que sugeriam várias

tonalidades. Seu contemporâneo Maurice Ravel (1875-

1937) não foi menos extraordinário: a obra que compôs

para piano, canto e orquestra revela traços

impressionistas.

Esse século foi especialmente importante na

história da música e, também, da medicina, já que

numerosos médicos se convenciam do papel da música

na recuperação de problemas mentais e emocionais.

SÉCULO XX

As catástrofes sociais que abalaram o mundo na

primeira metade do século XX mostraram o quanto era

falso continuar fazendo música em termos do passado.

Pesquisas rítmicas, o ressurgimento de formas musicais

antigas para resultados modernos, o uso de várias

tonalidades refletem, com a força do real, a verdade de

nossa época. Grandes nomes como Ígor Stravinski

(1882-1971) na Rússia, Béla Bartók (1881-1945) na

Hungria, George Gershwin (1898-1937) nos EUA e

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) no Brasil voltaram suas

atenções para o interior de suas respectivas pátrias,

indo em busca de fontes originais de expressão musical

de seu povo.

Surge, em meados deste século, a

musicoterapia. Nota-se, neste momento, que se

estende pelos dias atuais, que existe uma tentativa de

resgate do inter-relacionamento entre as duas artes:

medicina e música.

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Música e educação

A MÚSICA E A CRIANÇA

As crianças gostam de acompanhar as músicas

com movimentos do corpo. E é a partir dessa relação

entre o gesto e o som que a criança – ouvindo,

cantando, imitando, dançando – constrói seu

conhecimento sobre música, percorrendo o mesmo

caminho do homem primitivo na exploração e na

descoberta dos sons.

Música é linguagem. Assim, devemos seguir, em

relação à música, o mesmo processo de

desenvolvimento que adotamos em relação à

linguagem falada, ou seja, devemos expor a criança à

linguagem musical e dialogar com ela sobre e por meio

da música. Como acontece com a linguagem, cada

civilização, cada grupo social, tem sua expressão

musical própria. Deve-se, antes de se transmitir nossa

própria cultura musical, pesquisar o universo musical a

que a criança pertence, e encorajar atividades

relacionadas com a descoberta e com a criação de

novas formas de expressão através da música.

Como vimos no início da nossa aula (dê uma

olhadinha), já dentro do útero, sentimos as vibrações

sonoras, demonstrando que, nesse momento, nosso

relacionamento com o mundo exterior dá-se pela nossa

audição. Logo ao nascer, seus sentidos não estão

totalmente formados, com exceção de um... (se

pensou: audição, acertou). Neste momento de sua

vida, sons suaves e ritmos tranquilos acalmam os

bebês. Por outro lado, o que se escuta é totalmente

incontrolável e todo e qualquer som, melodia ou ruído

impressionam o aparelho auditivo do ser humano. Na

verdade, aprendemos a falar porque ouvimos. Com um

ano, a criança já emite sons como forma de se

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Aula 3 | Música 89

comunicar e de liberar energia. Durante todo seu

processo de crescimento e desenvolvimento, a criança

vai aperfeiçoando a forma de utilizar sons e,

gradualmente, tanto som como ritmo ganham em

complexidade, enriquecendo a troca com o mundo. A

música, portanto, é um fator preponderante na

socialização, além de favorecer a livre expressão.

Segundo o pedagogo Kodaly, o que uma criança

escuta nos seus primeiros seis anos de vida jamais

poderá ser apagado. E, segundo a teoria das

inteligências múltiplas, de Howard Gardner – uma delas

sendo a inteligência musical – o tempo ideal para se

desenvolver a habilidade para a música é entre os 3 e

10 anos de idade. Muitas pesquisas apontam para o

fato de que a estimulação bem como a formação e

informação musical promovem um aumento

significativo no rendimento escolar.

Promova junto a seus alunos ou seus pacientes

a apreciação de uma obra-prima musical: você estará

lhes proporcionando uma experiência única de contato

com a beleza e a perfeição. As atividades com música

precisam de tempo e se desenvolvem no tempo. Torne

a música parte integrante do dia a dia de seu trabalho,

reproduzindo-a em todas as oportunidades. Mas

comece por melodias mais conhecidas. Por exemplo:

músicas utilizadas em jingles comerciais e trilhas

sonoras de desenhos animados. O conhecido é sempre

mais agradável. Geralmente, quando se trabalha com

crianças, principalmente, pode-se perceber que elas

não gostam de músicas mais elaboradas quando a

ouvem pela primeira vez. Porém, a insistência em ouvir

aquilo que é novo aumenta e refina o nível crítico delas.

Podemos dizer que quanto mais ouvimos uma obra

musical, mais aprendemos a gostar dela. Nem todas as

crianças (e adultos também) são tocados pela música

da mesma maneira. O acesso a obras diversas permite

Dica da professora

Trabalhar com música é, antes de tudo, ouvir música. É fundamental que o professor, tanto quanto o terapeuta, tenha sempre à mão, músicas de compositores famosos. Posso sugerir Tcháikovski, como um dos mais apreciados.

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que cada uma delas se identifique com alguma e, por

meio dela, chegue a outras.

Percebendo todo manancial que a música possui,

os Parâmetros Curriculares Nacionais estabeleceram as

normas para a sua utilização nas escolas.

1. IMPROVISAÇÃO E COMPOSIÇÃO.

Interpretações de músicas existentes

vivenciando um processo de expressão,

individual ou grupal, dentro e fora da escola;

Arranjos, improvisações e composições dos

próprios alunos baseados nos elementos da

linguagem musical, em atividades que

valorizem seus processos pessoais, conexões

com a sua própria localidade e suas

identidades culturais;

Experimentação e criação de técnicas

relativas à interpretação, à improvisação e a

composição;

Experimentação, seleção e utilização de

instrumentos, materiais sonoros,

equipamentos e tecnologias disponíveis em

arranjos, composições e improvisações;

Observação e análise das estratégias pessoais

e dos colegas em atividades de produções;

Seleção tomada de decisões, em produções

individuais e/ou grupais, com relação às

idéias musicais, letra, técnicas, sonoridades,

texturas, dinâmicas, forma,

Utilização e elaboração de notações musicais

em atividades de produção;

Percepção e identificação dos elementos da

linguagem musical em atividades de produção

explicitando-os por meio da voz, do corpo, de

materiais sonoros e de instrumentos

disponíveis;

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Utilização e criação de letras de canções,

parlendas, raps como portadoras de

elementos da linguagem musical;

▪ Utilização do sistema modal/tonal na prática

do canto a uma ou mais vozes;

▪ Utilização progressiva da notação tradicional

da música relacionada à percepção da

linguagem musical;

▪ Brincadeiras, jogos, danças, atividades

diversas de movimentos e suas articulações

com os elementos da linguagem musical;

▪ Traduções simbólicas de realidades interiores

e emocionais por meio da música.

2. APRECIAÇÃO SIGNIFICATIVA EM MÚSICA:

ESCUTA, ENVOLVIMENTO E COMPREENSÃO DA

LINGUAGEM MUSICAL.

▪ Percepção e identificação dos elementos da

linguagem musical (motivos, formas, estilos,

gêneros, sonoridades, texturas) em

atividades de apreciação, explicitando-os por

meio da voz, do corpo, de materiais sonoros

disponíveis, de notações ou de

representações diversas;

▪ Identificação de instrumentos e materiais

sonoros associados a ideias musicais de

arranjos e composições;

▪ Percepção das conexões entre as notações e

a linguagem musical.

Tomando por base os PCN, podemos traçar os

alguns objetivos para o ensino da música:

Desenvolver a percepção auditiva e a

memória musical;

Alcançar desenvolvimento musical rítmico,

melódico e harmônico;

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Desenvolver autoconfiança, senso estético-

crítico e concentração;

Pesquisar, explorar, compor e interpretar

sons de diversas naturezas e procedências;

Utilizar a voz como meio de expressão e

comunicação musical;

Conhecer, apreciar e adotar atitudes de

respeito diante da variedade de

manifestações musicais;

Conhecer usos e funções da música em

épocas e sociedades distintas.

REPENSANDO NOSSO DIA A DIA

Apesar de tanto ódio no planeta, já reforçamos

diariamente as ondas da compreensão, em todos os

cantos, em diferentes linguagens... resta apreendermos

esses códigos, sinais de uma revitalização que já são

sinais da tão prometida Nova Era: as vertentes

harmoniosas das artes como um emblema de equilíbrio

cósmico, uma espécie de força pacificadora das moções

violentas, dos desequilíbrios tanto coletivos como

individuais.

Como despertar o indivíduo para perceber e

refletir sobre suas emoções, evidenciadas pelo entorno

musical?

É extensa a pesquisa, no meio terapêutico,

sobre a música e seus usos no que se refere à redução

do estresse e dor, assim como sua relevância em

técnicas de relaxamento desenvolvidas para o equilíbrio

de processos fisiológicos. Esta produção aponta sobre a

importância da escolha da música, que deve ser

flexível, local, respeitando-se os aspectos culturais do

universo de cada um, a partir da primeira infância. O

ser humano tem uma qualidade inerente à sua

condição: a sua capacidade de se adaptar e improvisar

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Aula 3 | Música 93

condições de adequação a momentos críticos. O

momento atual do planeta pede mais do que nunca

essa nossa resposta à necessidade de integridade local

e global, como uma obediência às leis naturais. Mais do

que nunca, as regras ecológicas, que possibilitam a

coexistência com o ambiente, devem ser revistas,

repensadas, traduzidas também através da forma

musical, lembrando que

cantar é mover um dom.

(Djavan)

Atividades musicais:

Para você entrar em contato mais direto com

a expressão musical, sugiro que, a partir de

letra de músicas (escolha, por exemplo,

canções de Tom Jobim, Chico Buarque ou

Djavan, entre outros), defina com suas

palavras o que você imagina que os

compositores quiseram expressar com os

trechos das canções escolhidas;

Outra sugestão é que ouça música, desta vez

música erudita (popularmente chamada

“música clássica”) e tente “ver” que cor cada

música sugere; pode, também, usando

música impressionista, perceber que imagem

esta música traz pra você;

Assista ao DVD “A Flauta Mágica”, de Mozart

– um filme de Ingmar Bergman: Continental

Home Vídeo, 1975 e também a “Amadeus” de

Milos Forman: Condor Vídeo, 1984, para

conhecer um pouco mais do mundo da

música.

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Aula 3 | Música 94

EXERCÍCIO 1

Um menino brincando de batucar numa lata vazia está

demonstrando o seguinte elemento que compõe a

música:

( A ) O ritmo;

( B ) A melodia;

( C ) A harmonia;

( D ) O andamento.

EXERCÍCIO 2

A qualidade do som pela qual reconhecemos a fonte

sonora que produziu determinado som é:

( A ) Altura;

( B ) Intensidade;

( C ) Harmonia;

( D ) Timbre;

( E ) Duração.

EXERCÍCIO 3

“A música é tão antiga como a humanidade”. Justifique

essa afirmação, criando um pequeno texto.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 3 | Música 95

EXERCÍCIO 4

Por que se fala tanto no “poder da música”? Disserte

sobre o assunto, focando na atividade que você

desenvolve (educação/ terapia)

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Na aula de música, algumas questões

poderão ser de grande valor na sua prática

escolar ou terapêutica. Espero que você possa

utilizar os conhecimentos e as propostas

sugeridas com bastante criatividade e

proporcionar aos seus alunos ou clientes

atividades enriquecedoras e que os auxiliem

no crescimento pessoal;

Procuramos definir Música, falando antes do

Som. Depois conversamos sobre sua ação,

seu poder e as diversas formas de utilização

da música;

Nos fundamentos teóricos, procurei colocar

algumas considerações básicas para uma

iniciação ao estudo da música e que poderão

ser úteis na escolha do seu repertório de

trabalho. Esses conceitos são:

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Aula 3 | Música 96

Qualidades do som;

Elementos formadores;

Tonalidades (tom maior e tom menor);

Andamento e modo;

Vozes e instrumentos.

Em seguida, contei um pouco da história da

música e espero que você se interesse em

aprofundar seus conhecimentos, pois é um

estudo fascinante. Quando for pesquisar

alguma coisa nesse sentido, procure sempre

aliar o texto sobre o compositor à audição de

suas obras;

Finalizando, conversamos um pouco,

também, sobre a utilização da música com

crianças, pois acredito que, se lhes for dada a

oportunidade de começar cedo a aprender a

escutar e a gostar de música, com certeza

veremos crescer adultos mais sensíveis, mais

atentos e mais felizes.

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Dança

Virgina Maria Castilho Ribeiro de Souza

Ivan Coromandel

Eveline Carrano

Renata Cury (revisora)

AU

LA

4

Ap

res

en

taç

ão

Esta aula tem por finalidade trazer a dança como linguagem

expressiva. O movimento, a dança, traz em si a possibilidade de

sair da postura rígida para uma postura mais flexível, onde a

energia tencionada pode ser liberada e tornar-se fluida.

Quando crianças, temos a necessidade de nos movimentar, pois

assim expressamos a nossa vontade de rir, chorar ou brincar.

Enquanto crescemos, o nosso corpo sofre as consequências dos

tabus da civilização que corrompe nossa necessidade de

expressão, perdendo, cada vez mais, o desejo de mobilidade.

Como consequência, devemos recorrer a experiências para

melhorar o físico em academias, onde sem nem pensar, mais do

que melhorar nosso aspecto, descarregamos a energia acumulada

em tantas “negativas” impostas. Mas como seria bom se

soubéssemos nos comunicar com o corpo, estimulados pelo desejo

de expressar-nos.

São muitas as técnicas de movimento, pois o movimento é vida e

esta se expressa de muitas formas. Aqui a dança será abordada

como possibilidade de entrar em contato consigo mesmo,

colocando em fluxo não apenas as ideias e emoções, mas também

junto com elas o corpo.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Desenvolver fluidez e expressividade corporal e psíquica. A

dança como movimento tem como finalidade a tradução mais

profunda dos significados que a vida imprime em nós e nos faz

devolver em forma de expressão. Um olhar, um gesto, um

andar, uma atitude corporal pode traduzir milhares de

informações. Na dança, o corpo se libera das amarras do dia a

dia, cria movimentos, ganha espaço tanto no físico quanto no

emocional, assumindo a autoria de sua expressão;

Conhecer um breve histórico da dança;

Entender a importância da dança no desenvolvimento humano;

Ver os PCNs relativos à dança;

Relacionar a dança com a inclusão e a integração, a partir de

grupos;

Conhecer a dança como facilitadora no processo terapêutico;

Praticar com algumas sugestões de exercícios.

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Aula 4 | Dança 98

História da dança

Como as artes visuais, a dança faz parte da

história do homem. Estudos mostram que a dança

começou a configurar-se em torno dos sons dos pés

que dançavam e a partir daí passou-se a prestar

atenção ao ritmo, essência da dança.

Os movimentos rítmicos constituem uma

linguagem que vem do inconsciente e antecede a

palavra como meio de comunicação. Acredita-se que,

desde tempos primordiais, o homem usava a dança

para realizar rituais e para comemorações. Na dança

primitiva, o homem imitava os fenômenos da natureza

e os animais que o rodeavam como uma forma de

entender o mundo. Com o tempo, o homem primitivo

começa a realizar práticas que considerava mágicas

com o intuito de controlar a natureza e fazer com que

ela atuasse a seu favor.

Antes de exprimir em imagens sua

experiência de vida, o homem a

traduzia por meio de seu corpo.

Alegria, tristeza, amor, terror,

nascimento, morte, tudo para o

homem primitivo era oportunidade

para dançar. Instintivamente, ele

tentava ordenar seus violentos

tumultos emocionais por meio de

movimentos rítmicos, isto é, a dança.

(Nise da Silveira, O Mundo das

Imagens, Ed Ática, 2006)

De acordo com algumas pesquisas feitas nessa

área, as primeiras manifestações de dança eram

relacionadas com as conquistas amorosas, e depois

Para você entender a importância da dança, é

preciso conhecer um pouco sobre a sua história.

Sendo considerada como uma manifestação

instintiva do ser humano, a dança não necessita de

nenhum instrumento para se manifestar, somente o

corpo, o ritmo e a vitalidade de quem a executa,

sendo usada como forma de comunicação antes do

aparecimento de qualquer outra atividade.

História da dança 98 Dança e desenvolvimento 100 Dança e integração 105 Dança e inclusão 109 A dança como facilitadora no processo terapêutico 110 Caso de autismo 116 As mãos 118

A DANÇA, HENRY MATISSE, 1910

Quer saber mais?

“O “primitivo”, ao dançar, divertia-se, trabalhava, comunicava-se e rezava, isto é, a sua manifestação era integrada e articulava, dentro de si mesma, os diversos níveis de estar frente à vida ativamente, de forma individual e social. O nível físico, o psicológico e o

espiritual eram dados conjuntamente.” (Liomar Andrade em TERAPIAS EXPRESSIVAS). Reflita como isto hoje está desmembrado!

PRIMITIVO

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Aula 4 | Dança 99

eram executadas como manifestações coletivas

associadas à espiritualidade como forma de

conseguirem êxito em guerras, proteção ou mesmo

como louvor ou agradecimento, dançavam para se

exprimir, para comemorar ou como ritual,

apresentando os mesmos movimentos que vemos hoje,

isso é o que nos mostram as pinturas encontradas em

cavernas pré-históricas. Era uma atividade em que

todos participavam, eram ritmos puros e simples assim

como as emoções que eles exprimiam.

Essa forma de expressão não se perdeu com o

passar do tempo, no Egito Antigo, muitos séculos antes

da era cristã, encontramos a dança nos rituais ao deus

Osíris, o que era comum aos rituais religiosos dos

povos asiáticos.

Na Europa, ou melhor, na Grécia Clássica, a

dança fazia parte dos jogos olímpicos, onde se

evidenciavam o perfeito e sábio equilíbrio dos músculos

e articulações, a respiração e a circulação, conjugando

dança e fogo.

No Renascimento, após um período de extinção,

a dança teatral reaparece com grande força, passando

a fazer parte das sessões palacianas, permanecendo

como uma manifestação autêntica das emoções e

sentimentos do homem, através dos tempos.

Desta forma podemos acompanhar a dança

desde os rituais dos povos mais primitivos, passando

por comemorações festivas, religiosas e míticas, até os

dias atuais no carnaval. Percebemos que, cada vez

mais se toma consciência da importância da dança

como forma de expressão do ser humano. A dança hoje

é percebida pelo valor em si. Muito mais do que um

passatempo, um divertimento ou mesmo um

ornamento.

Quer saber mais?

Osíris, deus do Antigo Egito Osíris era um deus

da mitologia, associado à vegetação e à vida no Além. Era ele quem julgava os mortos.

OSÍRIS

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Aula 4 | Dança 100

Dança e Desenvolvimento

Uma criança que na pré-escola teve a

oportunidade de participar de aulas de dança,

certamente, terá mais facilidade para ser alfabetizada,

uma vez que toda ação humana envolve a atividade

corporal, e a criança utiliza-se dela para conhecer o

mundo que a cerca, e a si mesma.

O movimento físico é necessário para que a

criança se harmonize de forma integrada,

desenvolvendo suas potencialidades físicas e psíquicas,

ou seja, suas potencialidades motoras, afetivas e

cognitivas.

A linguagem corporal é a primeira forma de

aprendizagem da criança, estando ligada a sua

capacidade mental. Ela se movimenta pelo prazer do

exercício, pelo interesse de exploração do ambiente em

que vive e pelo prazer de obter respostas, conquistando

alguns comportamentos que lhe permitam dar uma

organização à realidade.

É essa característica própria da criança, que está

sendo aproveitada muito sabiamente na educação, que

se utiliza da dança como uma linguagem, dando à

criança a oportunidade de se conscientizar do corpo, do

gesto e do movimento como um meio de

conhecimento.

À medida que vai se expandindo o movimento, a

dança se torna mais ampla, trazendo a percepção de si

e do espaço e sua relação com ele.

Judith Kestenberg, psicanalista infantil

americana, em sua teoria sobre movimento, afirma que

há sequências previsíveis de desenvolvimento do

movimento e que podem ser observadas paralelamente

Importante

A dança educativa revela a alegria de se descobrir através da exploração do próprio corpo e da importância do controle do movimento.

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Aula 4 | Dança 101

com o desenvolvimento emocional. A partir de modelos

rítmicos pode-se traçar um percurso evolutivo, que

caracteriza a criança no seu desenvolvimento normal,

mas que pode ser interrompido por uma situação

traumática ou interação inadequada com o ambiente.

Assim, observando o movimento corporal, é possível

evidenciar qual andamento seguiram os ritmos e os

esquemas de movimento e intervir para restabelecer a

sua evolução onde foi interrompida.

As necessidades de sugar, defecar, urinar são

satisfeitas pelos ritmos do fluxo. Ou seja, com o início

do funcionamento psíquico, o aparelho do fluxo de

tensão é usado para descarregar impulsos de tal forma

que os impulsos orais, anais, uretrais e genitais

encontrem a própria expressão em ritmos motores

apropriados.

Em cada fase evolutiva, o ambiente pode ter um

efeito positivo ou negativo, contrapondo-se ao

aprendizado e à integração: a energia de movimento

tem uma função, portanto, adaptativa e é usada para

cooperar com o mundo externo.

O fluxo de forma descreve as mudanças da

forma corporal em resposta a estímulos agradáveis ou

desagradáveis (alongar, retrair, expandir); observando

estes ritmos, é possível compreender a forma com a

qual um indivíduo coloca-se em relação ao ambiente.

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs):

Então, é importante que você esteja atento aos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Os PCNs

quando colocaram a dança na proposta educacional

tinham o objetivo de atingir o desenvolvimento

integrado do aluno, através da experiência motora,

uma vez que esta permite observar e analisar as ações

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Aula 4 | Dança 102

humanas. Isso vai propiciar o desenvolvimento

expressivo que é o fundamento da criação estética.

Os objetivos propostos foram estabelecidos de

acordo com os seguintes critérios:

1. A DANÇA NA EXPRESSÃO E NA

COMUNICAÇÃO HUMANA

Reconhecimento dos diferentes tecidos que

constituem o corpo (pele, músculos e ossos)

e suas funções (proteção, movimento e

estrutura);

Observação e análise das características

corporais individuais: a forma, o volume e o

peso;

Experimentação e pesquisa das diversas

formas de locomoção, deslocamento e

orientação no espaço (caminhos, direções e

planos);

Experimentação na movimentação

considerando as mudanças de velocidade, de

tempo, de ritmo e o desenho do corpo no

espaço;

Observação e experimentação das relações

entre o peso corporal e o equilíbrio;

Reconhecimento dos apoios do corpo

explorando-os nos planos (no próximo ao piso

até a posição de pé);

Improvisação na dança, inventando,

registrando e repetindo sequências de

movimentos criados;

Dica da professora

Dê uma paradinha e vá correndo conferir as informações dos PCNs de Arte.

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Aula 4 | Dança 103

Seleção de gestos e movimentos observados

em dança, imitando, recriando, mantendo as

suas características individuais;

Seleção e organização de movimentos para a

criação de pequenas coreografias;

Reconhecimento e desenvolvimento da

expressão em dança.

2. A DANÇA COMO MANIFESTAÇÃO

COLETIVA

Reconhecimento e identificação das

qualidades individuais de movimento,

observando os outros alunos, aceitando a

natureza e o desempenho motriz de cada um;

Improvisação e criação de sequência de

movimento com os outros alunos;

Reconhecimento e exploração de espaço em

duplas ou outros tipos de formação em

grupos;

Integração e comunicação com os outros por

meio de gestos e dos movimentos;

Criação de movimento em duplas ou grupos

opondo qualidades de movimentos (leve e

pesado, rápido e lento, direto e sinuoso, alto

e baixo);

Observação e reconhecimento de movimentos

dos corpos presentes no meio circundante,

distinguindo as qualidades de movimento e as

combinações das características individuais.

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Aula 4 | Dança 104

3. A DANÇA COMO PRODUTO CULTURAL E

APRECIAÇÃO ESTÉTICA

Reconhecimento e distinção das diversas

modalidades de movimento e suas

combinações como são apresentadas nos

vários estilos de dança;

Identificação e reconhecimento da dança e

suas concepções estéticas nas diversas

culturas considerando as criações regionais,

nacionais e internacionais;

Contextualização da produção em dança e

compreensão desta manifestação autêntica,

sintetizadora e representante de determinada

cultura;

Identificação dos produtores em dança com

agentes sociais em diferentes épocas e

culturas;

Pesquisa e frequência às fontes de informação

e comunicação presentes em sua localidade

(livros, revistas, vídeos, filmes etc);

Pesquisa e frequência junto a grupos de

dança, manifestações culturais e espetáculos

em geral;

Elaboração de registros pessoais para a

sistematização das experiências observadas e

documentação consultada.

Então, aqui vai um convite!!!

Quando movemos o corpo físico, ativamos a

energia vital que alimenta o movimento, e este

movimento energético se expandirá, também, para o

Para pensar

E você caro aluno, o que pensa sobre essas normas? São suficientes?

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Aula 4 | Dança 105

corpo emotivo, que fará aflorar sensações e emoções.

O corpo em movimento já traz em si a idéia de uma

dança. Você, agora, vai entrar em contato com o

movimento do seu corpo. Coloque uma música que

você goste. E um ambiente agradável para você.

Será muito interessante se você puder

experimentar, descobrir as articulações na busca da

flexibilidade das partes móveis do seu corpo: cotovelos,

ombros, pulsos, joelhos, tornozelos. Comece a

movimentar todo o seu corpo. Procure ir relaxando,

inspirando pelo nariz e soltando o ar pela boca. Comece

movimentando cada parte para depois mover o todo.

Deixe o seu corpo dançar. Ao dançar, procure perceber

qual o pensamento, o sentimento e a sensação que te

acompanham nesse momento.

Pensamento: Pode ser uma frase

Sentimento: Alegria, tristeza, medo, raiva...

Sensação: Corporal

Anote! É importante você vivenciar e, a partir da

experiência, ir conhecendo e percebendo como funciona

o seu corpo. Aqui não falo somente do corpo físico, mas

também do corpo emocional, por isso é importante

responder aos três itens propostos acima: pensamento,

sentimento e sensação.

Dança e integração

No grupo, a possibilidade de troca é muito

grande. As relações podem ser vividas de maneira mais

direta. Um grupo não é uma realidade estática. É um

processo em desenvolvimento. Através da arte e do

corpo e pelo envolvimento do trabalho de grupo, buscar

o autoconhecimento e soluções criativas para o

momento presente e conflitos.

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Aula 4 | Dança 106

O movimento de restauração psíquica e física da

dança pode acontecer em qualquer fase de nossas

vidas, em qualquer segmento. O objetivo geral,

também, vai ser resgatar a boa convivência, a partir de

si próprio e com o grupo, bem como a autoestima

(admiração, respeito e confiança).

Durante a sessão, a escolha das músicas deve

estar em harmonia com o tom emotivo predominante

no grupo. Um grupo em que domina a depressão

iniciará com valsas lentas, para passar a valsas mais

alegres... com um grupo de pacientes excitados, a

sessão poderá iniciar com o movimento sobre uma

música forte, vivaz, e terminará com a audição de uma

música contemplativa.

É muito importante trazer a harmonia e o

acolhimento para o grupo. À medida que as pessoas

começam a relaxar e acompanhar a música, a

expressão contraída da musculatura do rosto e do

corpo como um todo relaxa gradualmente. As linhas

duras perdem a sua definição e os olhos têm uma

qualidade mais suave e expressiva. É curioso descobrir

como as mãos, a cabeça, o corpo se movem por

estímulos sonoros musicais, cuja expressão representa

maravilhosos movimentos próprios, espontâneos,

originais, ricos, multiplicadores de ações diversas que

interagem numa fala poética. Nesse aspecto, podemos

observar como o fator criatividade, através da

espontaneidade, trabalhada em forma sistemática,

pode surgir na dança, na medida em que os

movimentos aparecem, pessoais e, ao mesmo tempo,

sincronizados no grupo, singulares, promovendo no

ser-do-corpo, uma revolução que vai do estático para o

dinâmico.

É interessante reparar nas relações que se criam

nos grupos mediante o movimento que encoraja os

Dica da professora

Parabéns! Seja bem- vindo ao mundo da dança e da terapia do movimento corporal. Esperamos que esta aula lhe seja de grande valia pessoal e profissional. Bom estudo.

Para refletir

“Através do movimento no contexto do tempo e do espaço, a pessoa pode adquirir

consciência do que acontece com seu próprio corpo.” (Lola Brikman in “Linguagem do movimento corporal”). Já pensou nisto?....

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Aula 4 | Dança 107

participantes a guiar, um por vez, o grupo. A liderança

do grupo se alterna. Assim, o comportamento do outro

que antes era bizarro, torna-se compreensível e

aceitável para os outros, na medida em que as pessoas

entram em relação com ele com base nas emoções

expressas através da dança.

A atividade rítmica compartilhada em grupo é

um local de estruturação do comportamento de cada

indivíduo que permite, ainda, compartilhar um

sentimento de profunda solidariedade e participação.

O brasileiro é um dançarino por excelência!

Segundo pesquisas, nós, povo brasileiro, temos um

legado de saúde a transmitir ao mundo: o saber

desejar... dançar. Nosso folclore é riquíssimo, pela

bênção de um grande caldeirão cultural, onde vários

grupos étnicos se combinam e produzem vertentes tão

variadas. Nosso anseio maior de “ordem (como

manifestação do coração) e progresso” indica o nosso

país como uma das civilizações solares... Com a

vontade de facilitar ações movidas pela evolução dos

sentimentos.

Brasil, China, Índia, Japão, Peru, Espanha, entre

outros, são os chamados países do sol. Refletindo sobre

isso, revendo algumas de nossas origens indígenas,

poderíamos dizer que o sol, centro do universo,

representaria o próprio Deus... o Deus em movimento.

O sol no seu trajeto circular, de constante

deslocamento... favorecendo o trabalho conjunto.

A dança resgata momentos de amorosidade,

afetividade, facilitando o desbloqueio de centros vitais

de nossos corpos. Em determinados momentos e com

elementos a serem bem observados, pode-se perceber

certa liberação no toque do corpo, (mantendo-se o

cuidado de não invadir nem ser invadido).

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Aula 4 | Dança 108

O carnaval carioca, numa troca de afetividade,

através da dança popular, é inaugurado por um de seus

desfiles mais tradicionais, o Cordão do Bola Preta,

abrindo, então, o grande cenário do samba, por ruas do

centro do Rio de Janeiro, percorrendo pontos históricos,

onde a cantora Chiquinha Gonzaga, grande estrela da

primeira metade do século passado, fazia suas

aparições nesta festa de fevereiro / março.

Ali, numa manifestação colorida pela alegria,

pessoas de todas as idades, desde crianças pequenas

até adultos numa idade maior (em torno de setenta,

oitenta anos), dançam, pulam, sambam, num exercício

de memória. É, ainda, o carnaval de antigamente, onde

prevalece o espírito maior de descontração, onde se

facilita a comunicação de todos pelo simples prazer de

dançar.

Apenas dançar. Ao mesmo tempo, todo o grupo

participava e essa participação global, na qual as

“diferenças” não se notam nem são apontadas, faz

prevalecer a crença de que “sua simplicidade pode

conduzi-los ao amor”. É a indústria de uma dança

maior que envolve pessoas da chamada “periferia”,

estimuladas a trabalhar o ano inteiro, dedicando-se à

verdade de que mais do que nunca é preciso “cantar,

cantar e cantar”, como já diz o compositor

Gonzaguinha na música “O que é o que é?”.

Durante o último carnaval, na Av. Rio Branco e

nos Arcos da Lapa, ainda na cidade do Rio de Janeiro,

apresentaram-se blocos de espetáculo afro, como re-

vivificação de nossas origens, aberto ao público. Uma

oportunidade imperdível para, também, se celebrar

nossa identidade cultural, pela qual podemos nos

reconhecer como seres autônomos, producentes; pela

dança, que libera nosso potencial criador, com

expressões próprias, permitindo a cada um que

Quer saber mais?

Em 1940, Walt Disney apresentou ao mundo um desenho em longa

metragem chamado “Fantasia”. Naquele momento, partituras musicais clássicas eram apresentadas às crianças e adultos tendo como “atores” personagens do mundo animal e vegetal. Como representavam?... Através de danças e expressão corporal!!! Vá a uma locadora e assista hoje mesmo.

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Aula 4 | Dança 109

introduza o próprio ritmo, em meio a um ritmo maior. A

autonomia é um dos maiores predicados humanos,

preceito básico em todas as correntes

psicoterapêuticas, desde os humanistas existenciais

como Carl Rogers, Rollomay, Maslow, passando por

Carl G. Jung, Sigmund Freud.

Dança e inclusão

Dada a importância deste tema, na atualidade,

algumas instituições educacionais têm desenvolvido

atividades como debates que abordam temas como as

possibilidades do ensino da dança como veículo de

inclusão para segmentos sociais historicamente

excluídos da vivência dessa prática. A ideia é de

combinar ações básicas de cidadania, numa revisão

constante, facilitando ao indivíduo, enquanto ser social,

produtivo, construtivo e criativo, envolvendo-o no aqui

e agora, usando materiais prazerosos – o próprio corpo

na poesia do movimento – com a complexidade

operacional de cada ato adequado a cada um.

Foi feita uma mostra de dança com bailarinos

profissionais e amadores, complementada por debates

acadêmicos, num encontro entre deficientes físicos e

portadores da síndrome de Down. Outro foi a

apresentação de pessoas atuantes em movimentos de

inclusão com crianças e adolescentes moradores de

favelas como a do Pavãozinho, complexo da zona sul do

Rio de Janeiro.

Ficaram demonstrados caminhos para a

educação e a cidadania pela prática da dança e a

ludicidade inerente.

O maior pecado para com o próximo

não é odiá-lo, é ser-lhe indiferente. É a

essência da desumanidade.

(Bernard Shaw)

Para refletir

“Um dos objetivos educacionais da dança é a compreensão da estrutura e do funcionamento corporal e a investigação do movimento humano.” (PCN, vol 6, ARTE) Como estão procedendo as escolas da sua comunidade? Estão dando importância às atividades ligadas à dança?

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Aula 4 | Dança 110

Tanto em terapia como em sala de aula, não é

necessário que sejam feitos exercícios complexos e com

coreografias planejadas, pois o que interessa não é a

dança em si, mas a descontração que os movimentos

corporais provocam. Sendo assim, é possível fazer uma

aula pedindo para que as pessoas se espreguicem

apenas. É interessante que depois toquem seu próprio

corpo, sentindo os cabelos, mãos, rosto. Havendo

espaço físico, pode-se pedir que os participantes

caminhem pelo local e toquem os objetos a sua volta,

sentindo-os em formato, textura. Pronto, só com isso já

acontecerá uma aula de expressão corporal ou dança

com um sentido mais terapêutico, sem precisar que os

participantes utilizem recursos especiais, nem de

“retorcer” em exercícios ineficazes.

Ou seja, é preciso muito pouco para que pessoas

de qualquer classe social ou com alguma resistência

físico-emocional à dança possam participar de uma

aula.

A dança como facilitadora no processo

terapêutico

A dança moderna realiza diversas conquistas

para o nascimento da dançaterapia como, por exemplo,

como é usado, simbolicamente, o espaço, o uso do

corpo e do movimento com finalidades expressivas, a

relação com o solo, a respiração como estímulo rítmico

primário.

A dança tem o poder de levar o homem além

dos limites impostos pela sua consciência e pela sua

realidade de vida.

Antes de falarmos de Maria Fux, a maior

personalidade da dançaterapia, serão apresentadas

duas importantes pessoas que fizeram parte dos

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Aula 4 | Dança 111

primórdios da dança como terapia: Marian Chace e

Trudy Schoop. Passaremos pelas suas principais ideias

brevemente.

A atenção para o corpo das suas possibilidades,

distorções, contrações e impedimentos e a relação

existente entre essas tensões e o sofrimento psíquico

são a base das primeiras tentativas de fazer da dança

uma arte além de estética, também, terapêutica.

Marian Chace baseia-se na improvisação criativa

para ensinar um estilo de dança com potencial

terapêutico. Seu enfoque é a comunicação, ou seja, a

possibilidade implícita na linguagem do corpo de

expressar os próprios sentimentos e as próprias

emoções através do movimento.

Contando uma história de VIDA para você:

Angel Vianna é uma das maiores coreógrafas

contemporâneas do Brasil. Ela e seu falecido marido,

o grande bailarino Klauss Vianna, já muito jovens

em Belo Horizonte, MG, tinham sua escola de dança,

que fazia muito mais do que ensinar os primeiros

passos de ballet. Klauss foi o pioneiro da expressão

corporal em nosso país.

Vieram para o Rio de Janeiro, já com um filhinho,

aqui continuaram seu trabalho, cada vez mais

reconhecido por todos os que se dedicavam ao

trabalho de corpo, à dança, à psicomotricidade, à

dança como terapia. Klauss já não está entre nós.

A extraordinária Angel, internacionalmente

conhecida, dirige a única Escola Superior de Dança

do Rio de Janeiro e tem cursos voltados ao trabalho

para pessoas portadoras de necessidades especiais.

Coreografou seu próprio renascer quando, após

praticamente desenganada de andar novamente

(um terrível acidente deixou-a cheia de parafusos

pelo corpo), através da coragem, força de vontade e

da dança, apresentou-se num palco.

Uma grande profissional.

Uma mulher de coragem. Uma mulher que vive para

que conheçamos a dança!

(Meu nome é prof.ª Mary Sue e tive a honra de ser

aluna de Angel Vianna).

ANGEL VIANNA

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Aula 4 | Dança 112

Para Chace, as tensões e as distorções do corpo

são a resposta de adaptação ao conflito e à dor. As

lembranças e vivências reprimidas tomam forma,

simbolicamente, no movimento. Assim, a dança pode

ajudar a pessoa a relaxar e ao mesmo tempo a retomar

um contato profundo com o corpo, aprendendo a sentir

e expressar emoções, a experimentá-las através da

ação.

O ensino da dançaterapia de Trudy Schoop é

diretamente ligado à sua experiência pessoal da

eficácia terapêutica do movimento. Diz: “Sei que, no

que me diz respeito, eu me curei graças à dança,

quando tentei dar corpo aos meus sentimentos e

mostrar como eu era, com toda a crueldade e horror

que estavam em mim. Expressando todos esses

aspectos por meio da dança, aprendi a aceitá-los, vivi o

mal e o obscuro em mim como parte viva de mim

mesma. Gostaria que meus pacientes conseguissem

fazer o mesmo”.

A principal finalidade do trabalho é que as

pessoas tornem-se conscientes do próprio corpo,

sentindo-o no movimento e fazendo experiências com

ele, ampliando a gama das próprias possibilidades

motoras.

Para Schoop, a dança permite que o paciente se

sinta vivo e perceba quem ele é, através da tomada de

consciência entre a intenção e a ação.

Tanto para Chace como para Schoop, o valor

terapêutico da dança está na função catártica,

liberatória do movimento, que dá voz às próprias

emoções.

A dançaterapia, desde seu surgimento, está

ligada a uma concepção do homem como totalidade

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Aula 4 | Dança 113

mente-corpo e que no Ocidente foi perdida pela

imposição de paradigmas culturais.

Maria Fux, em seu livro Formação em

Dançaterapia, nos fala de sua própria experiência de

vida, enquanto releitura de sua linguagem corporal,

quando, depois dos sessenta anos, passou por uma

crise, sofrendo de depressão durante um ano.

Menciona que, com a ajuda de sua psicóloga Léa

Teitelman, conseguiu recuperar-se através da magia da

dança, encontrando “aberturas para sair unida ao

movimento1.”

A autora, profissional da dança, natural da

Argentina, teve uma infância tida como socialmente

pobre com poucos recursos materiais. Esta situação, na

realidade, lhe abriu portas e janelas para a visualização

de um mundo conhecido por poucos: em cada instante

de um aparentemente fechado “não”, descobriu muitos

“sins!”. Isso lhe valeu ter absorvido, bem cedo, essa

lição de vida de que nem tudo é só “sim”, nem tudo é

só “não”. Como tinha poucas roupas, costumava tingi-

las e virá-las de trás para frente. E ao longo de sua

vida, foi aprendendo a perceber a sua própria essência,

a partir do “nada”, da contemplação do que poderia ser

apenas um ponto negro e a transformá-lo em um

grande círculo, abrangendo vários significados.

Apreendeu a essência dos elementos: terra – água –

fogo – ar, traduzindo-os em componentes da dança.

MARIA FERNANDA, UMA ALUNA COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Segue o relato de uma experiência feita por

Maria Fux2, com Maria Fernanda, uma aluna com

deficiência auditiva, de dezoito anos, por cinco anos,

1 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, p. 9.

2 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, pp. 15 –17.

Dica da professora

Faça um resumo de suas impressões sobre o relato.

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Aula 4 | Dança 114

formando-a em dança, com um trabalho coletivo, na

integração em um grupo com audição normal desde

adolescente. Nunca lhe deu aulas particulares.

M. Fux idealizou um espetáculo, que estreou em 87,

intitulado “Diálogo com o Silêncio”. É o encontro de

dois mundos que se interrogam dançando; inúmeras

perguntas, algumas das quais têm mil respostas.

Segue-se o que foi falado e dançado:

M. Fernanda: Por que você dança?

M. Fux: Danço porque estou viva (continuo dançando

no silêncio, movendo-me).

M. Fernanda: Você dança porque escuta?

M. Fux: Não, danço porque sinto.

M. Fernanda: Sente o quê?

M. Fux: Coisas que estão dentro e fora de mim.

M. Fernanda: O movimento tem som?

M. Fux: O movimento tem vida.

M. Fernanda: O que é o som?

M. Fux: O som está dentro e fora do corpo (fez sons

com a boca e o movimento dava ideia daquilo que a

palavra som pode significar para uma pessoa surda).

M. Fernanda: O que é ritmo?

Como ela não escuta, M. Fux procurou, em fotos,

imagens que representassem ritmos diferentes, com os

quais ela pudesse, por meio do movimento, explicar-

lhe, e para que ela pudesse realizá-los como nós, que

escutamos e podemos fazê-lo com a música.

M. Fux: Como são os seus medos?

M. Fernanda: (mostra-os para Fux aterrorizada,

movendo-se pelo espaço assustada).

M. Fux: (acaricio-a).

M. Fernanda: Como são os seus?

M. Fux: (movo-me em círculo dentro de meu corpo,

onde posso esconder-me através de meus medos).

M. Fernanda: O que são ruídos?

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Aula 4 | Dança 115

Como contar-lhe, dançando, o espanto dos ruídos que

povoam nossa vida urbana, onde ficamos loucos,

suportando-os e buscando-os, e buscando um lugar

que nos isole?

M. Fernanda: Como é a voz?

A voz, como é a voz? Sai do corpo, tem força, tem

volume, tem ódio.

M. Fux: (grita) Maria Fernanda (por todo o espaço).

M. Fernanda (grita) Maria, Maria.

As duas se unem e extraem sons do corpo, que se

convertem em voz. M. Fux a ouve e M. Fernanda o

sente.

M. Fernanda: Como é a alegria?

M. Fux: A alegria é dançar com você, Maria Fernanda.

Saber que com minha vida posso dar-lhe essa

linguagem que amamos, a dança. Isso é alegria. Eu

quero saber como é o seu silêncio, Maria Fernanda.

E M. Fux se deparou com algo que a arrepiou. O ódio, a

impotência, o desespero e a enorme solidão de M.

Fernanda. Tudo isso dançando.

M. Fernanda: Como é o silêncio?

M. Fux: Eu amo o meu silêncio. É como uma porta que

posso abrir e fechar quando sinto que é necessário.

Quando estou em silêncio, descubro a cada dia quem

sou e o que fiz comigo. É um lindo “poder estar”.

Escuta-se uma música que ela não sabe que existe. M.

Fux a dança.

M. Fernanda: Como é a música?

M. Fux: A música vem de fora. É como um fio que, no

espaço, se faz forma, que também é como nossa vida.

Tem doçura, ódio, medo. Tire fios do meu corpo.

M. Fux está de pé, diante dela; M. Fernanda vai tirando

fios imaginários de seu corpo e dança com eles.

Dica da professora

E você o que pensa dessa definição do que seja música? Registre suas opiniões, pois elas poderão ser úteis para a elaboração de sua monografia.

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Aula 4 | Dança 116

A música e os sons foram compostos

especialmente por Sérgio Aschero, filho de Maria Fux,

que compreendeu bem a mensagem.

Caso de autismo

O bambu, uma proposta de exercício de Maria

Fux 3

Maria nos relata, em seu livro Formação em

Dançaterapia, um caso de autismo muito especial,

referente a uma menina de doze anos, com uma figura

muito bonita.

Foi trazida pelo pai e, apesar de andar, não

movimentava o corpo. Foram meses de trabalho em

grupo, semanal. Lentamente, seus braços e mãos se

tornaram mais leves, mas não fazia nenhum

movimento por si mesma. O estado de rigidez ainda era

constante. Maria Fux, finalmente, elaborou uma forma

de facilitar a saída deste estado, através de um

elemento externo: o bambu.

Um dia, antes que o grupo chegasse, colocou trinta

pedaços de canas de bambu, de 1,30m de

comprimento, muito leves e rígidas, no chão. Depois

que todos entraram, o grupo e Maria Fux se

aproximaram, sentando-se uns próximos dos outros.

Maria começou uma história. A menina fazia parte do

grupo, em que há crianças surdas, com problemas

psíquicos e algumas com síndrome de Down.

- Quem é você?

- Me chamam de Cana. Bambu é meu sobrenome. Não

posso me mover, sou tão dura! Preciso de ajuda.

Mostre-me como é seu corpo.

Movendo-se em torno dela, começaram a dançar com o

3 Apud Maria Fux. Formação em Arteterapia. São Paulo: Summus editorial, 1996, pp. 47- 65.

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Aula 4 | Dança 117

corpo elástico, que escuta música e dança. Ela

pergunta à Maria Fux:

- Você gosta de mim como sou? Gostaria de ser sua

amiga.

M. Fux se aproxima lentamente e coloca suas mãos nas

duas pontas da cana. E lhe diz:

- Se você quer ser minha amiga, deve conhecer meu

corpo.

Então, todas passaram a cana por todas as partes do

corpo, sentindo sua rigidez, mas, ao mesmo tempo,

dando-lhe todos os movimentos que seus corpos lhes

permitiam. No chão, sempre segurando a cana, muito

suavemente, com as duas mãos e fazendo-a aderir ao

corpo, rodando com o corpo no espaço, para que a

cana sentisse como é lindo ser flexível.

M. Fux observava a jovem; apenas um elemento do

grupo movimentava a cana. Em determinado momento,

todas foram solicitadas a subir em cima da cana e, de

repente, algo aconteceu com a menina, que podia ser

chamada de Marisa; e sentiu-se que todo o grupo, o

qual estava impregnado da ideia de dar a essa cana

dura a flexibilidade de seus corpos, podia compartilhá-

la como elemento de trabalho. Então, cada uma delas

segurou a ponta da cana da outra. Aí M. Fux percebeu

que a ideia da rigidez, evidente na cana como elemento

intermediário, era o que Marisa sentia em alto grau em

seu corpo, dava resultado.

Marisa, sentada, alternava movimentos de relaxamento

e alongamento, seguindo o ritmo da música em torno

delas. Ao mesmo tempo, todo o grupo integrava essa

participação global, na qual as “diferenças” não se

notam nem são apontadas, fizeram com que Marisa

relaxasse em seu estado de tensão e participasse,

dentro de suas possibilidades e limitações, com um

elemento estranho de seu corpo e mais endurecido que

ela.

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Aula 4 | Dança 118

As mãos

As mãos que dançam... Espelhos do

meu corpo, reflexos para o outro.

As mãos refletem o nosso íntimo, o nosso

pensamento. São condutores, terminais de nosso

pensamento. Em uma associação com termos de

computação, os dedos são o nosso “teclado”. Terminais

nervosos. Podemos desvendar uma série de poemas

em movimentos através delas. “A palavra mão está

ligada ao conhecimento. Tocar a mão é se apresentar,

é firmar um conhecimento. Através das mãos,

comunicamos nossa energia, nosso coração. Na nossa

mão, há a mão da vida.” (Jean Yves Leloup. O Corpo e

seus Símbolos. Ed Vozes, 1998).

CURIOSIDADE

O indicador é o dedo de Júpiter e está ligado à

vesícula biliar. O médio é o dedo de Saturno, ligado ao

baço e ao pâncreas. O anular é o dedo do Sol ligado ao

fígado. O mindinho é o dedo de Mercúrio ligado ao

coração. Podemos observar, então, que cada parte está

ligada à totalidade do corpo.

Agora, proponho que faça algumas atividades

para entrar em contato com esse conteúdo. Vamos lá?

Atividade Proposta:

Dica: É muito importante você vivenciar a

atividade antes de aplicá-la. Procure fazer as suas

anotações e estar atento às percepções.

Sente em uma posição confortável, pés no chão.

Coloque uma música própria para meditação. Feche os

olhos e comece a entrar em contato com o som da

música. Deixe os pensamentos passarem pela sua

Quer saber mais?

A primeira atividade graficoplástica com crianças na Educação Infantil

deve ser a pintura com os dedos. O contato da mão e dedos com a tinta cremosa, os movimentos iniciais circulares são prazerosos e com o desenvolvimento todo o corpo estará também se manifestando naquela atividade (cotovelos, braços e até corpo inteiro em extensões de plástico que colocamos no chão com a tinta). É uma interessante experimentação.

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Aula 4 | Dança 119

cabeça, não se prenda a nenhum deles. Procure

inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Ao expirar,

procure soltar um som. Sinta todas as partes do seu

corpo que estão presentes na respiração. Perceba se o

ar encontra algum obstáculo. Respire nesse obstáculo

desfazendo a tensão. Respire por mais alguns

minutinhos e perceba suas mãos. Toque os seus dedos

e leve suas mãos ao seu rosto. Sinta a temperatura do

seu rosto, as linhas, o formato do nariz, da boca. Deixe

suas mãos percorrerem o seu rosto. Ainda de olhos

fechados, você vai pegar a argila que está na sua

frente. Pode utilizar 1kg ou meio de argila. A argila vai

estar em formato circular, uma bola de tamanho médio.

Pegue a argila, sinta sua textura, sua temperatura.

Veja se está lisa, dura, macia. Depois, deixe que o

movimento interno do seu corpo vá esculpindo a argila

com as suas mãos. Faça todo o processo de olhos

fechados. Quando terminar, abra os olhos e entre em

contato com o que você fez. Faça as suas anotações.

Proposta de Relaxamento:

1- Inspirar e expirar lenta, suave e

profundamente, harmonizando a mente e as

emoções;

2- Você receberá um toque com uma gotinha de

óleo em suas mãos;

3- Convide suas mãos a se tocarem, a se

descobrirem. Lentamente, vá descobrindo a

sutileza do segredo de cada dedo, vá

reconhecendo, dedo a dedo, do polegar ao

mindinho;

4- Reconheça suas mãos como instrumentos de

construção do seu dia a dia, do toque, da

forma, do desejo, do afago e por vezes do

tapa, do troco, por que não?;

5- Se você as coloca em prece, elas lhe servem

de intermediárias, facilitando o contato com o

divino;

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Aula 4 | Dança 120

6- Com elas, você traça linhas, trança fios,

modela o barro, marca ritmos, risca o ar, o

papel, a areia, aponta uma nova direção,

define um rumo;

7- Quando colocadas em concha se abrem para

receber;

8- São ferramentas de muitos bordados das

delicadas tramas de afetos;

9- Lentamente, vá tocando seus braços, seu

rosto... Ao colocá-las em movimento, vamos

redescobri-las como sensíveis instrumentos

de captação das formas, da temperatura, das

nuances, dos sentimentos... Perceba os

limites do seu corpo;

10- E assim vá redescobrindo cada parte do seu

corpo, que textura, que emoção ela carrega.

Estabeleça um diálogo com cada parte de seu

corpo. Convide suas mãos a conhecer seus

pés. Massageie seus pés, cada dedinho, o

dorso, a sola. Perceba que cuidados você tem

dispensado ao seu corpo. Se você tem

escutado o que seu corpo lhe conta;

11- Permaneça mais alguns instantes de olhos

fechados;

12- Lentamente, vá tomando algumas

respirações. E no seu tempo vá abrindo seus

olhos.

A DANÇA COM OS PANOS 4

Fazer um exercício com panos traz inúmeras

possibilidades de “transformação” de materiais e

formas.

Neste exercício, vamos trabalhar a respiração:

buscar o controle emocional, através do treino

4 Baseado em vivência do curso Desenvolvimento Criativo, da Fundação Mokiti Okada, S.P., elaborado

pela Profª. Ms. Eunice Yoshiura.

Para pesquisar

Nosso folclore está repleto de exemplos onde dançamos com lenços, a barra das saias, fitas. Procure no folclore representativo do seu estado algumas destas danças.

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Aula 4 | Dança 121

respiratório; o movimento corporal, percebendo a

relação entre respiração e movimento e a percepção

espacial; o relaxamento, observando o

autodirecionamento; a expressão, visando a

harmonização do grupo e redefinição de caminhos.

Material específico: música, corpo e tecidos

coloridos.

Respiração e movimento corporal: em

círculo, respirar devagar, cada um ao seu tempo:

inspiração e expiração. Lentamente, ir acrescentando à

respiração os movimentos corporais (livres), variando o

seu ritmo (lento e acelerado), utilizando as várias

partes do corpo.

Estabelecer um eixo vertical que liga o corpo ao

alto e o mantém fixo no chão através dos pés. Em

seguida, ocupar o menor espaço possível, imaginando

estar no interior de uma bolinha de gude. Perceber

como está sua respiração e como seu corpo está

acomodado. Lentamente, visualizar esta bolinha

inflando e cada participante abrindo os movimentos e

saindo de dentro dela. Fazer movimentos livres,

acompanhando a melodia ambiente.

Relaxamento: mental; concentrar a atenção na

mente para visualizar uma bola de luz branca, a qual

irradia filetes luminosos para todo o corpo. Esta luz se

concentra no coração e, a partir daí, se expande

desdobrada nas cores azul, rosa e dourada... Procurar

perceber o corpo e sua posição neste momento,

projetando-o em uma tela mental. Visualizar seu corpo

com os feixes de luz colorida, dançando em suas várias

partes: cabeça, braços, mãos, tórax, região pélvica,

coxas, pernas, pés...

Devagar, ir trazendo a consciência para os

Importante

Na literatura, você poderá encontrar os termos: Espaço alto / espaço médio / espaço baixo. Eles têm o mesmo significado de plano superior / plano médio / plano inferior. Fazemos exercícios em pé, sentados ou ajoelhados ou agachados e, também, no chão, deitados, esticados.

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Aula 4 | Dança 122

movimentos corporais e para o espaço físico;

sincronizando o movimento e a projeção na tela

mental.

Serão distribuídos os panos coloridos e os

participantes vão dançar com este tecido, explorando o

espaço nos três planos: superior, médio e inferior;

cobrindo-se e descobrindo-se com eles, imaginando-se

esculturas. Em seguida, em duplas, preencher vazios,

numa dança livre. Para finalizar o movimento, solicitar

aos participantes que descrevam uma forma livre com

os vários panos no chão.

Retorno da Atividade: Os participantes devem

entrar em contato com a arte final. Se perceber como

“ser” atuante dentro de um grupo, gerando harmonia

através dos movimentos, explorando os materiais,

incluindo a criação plástica corporal.

Deve-se facilitar a análise e a síntese do

processo do grupo, pela reflexão conjunta sobre o papel

de cada integrante nas diversas etapas.

UMA REFLEXÃO DE NOSSA LINGUAGEM

CORPORAL

A dança foi uma forma de expressão

de vários acontecimentos que

marcaram época na humanidade, deu

um grande salto, e das paredes

limitadas de um teatro, buscou o seu

espaço no mundo exterior. Abandonou

seus valores tradicionais – técnica,

diversão e narrativa – e enfrentou as

transições políticas, sociais e morais.

Então, podemos dizer que a dança é a

arte do movimento e que a partir dela

o homem pode demonstrar papéis

sociais e também desempenhar

relações dentro de uma sociedade seja

ela qual for. E ao amanhecer do século

21, dispomos de muitos artistas e

pesquisadores dançando a realidade

do homem, se preocupando com os

sinais dos tempos e desenvolvendo

métodos para integrar – mundo,

homem, dança e educação – tendo a cer

Quer saber mais?

Mary Whiehouse e Suzan Wallock são duas dançaterapeutas que nos deixam o seguinte: “A primeira lei, em terapia pelo movimento, é que o corpo não mente jamais, mesmo que o indivíduo, por motivos quaisquer, esteja dizendo outra coisa.”

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Aula 4 | Dança 123

teza que esta seja o único caminho

contra o conformismo para as coisas

que ainda virão.

(http://www.cdof.com.br/dança1.htm)

A dança moderna, em especial, redescobre o

sentido da dança na sua ligação com a vida, na

dimensão psíquica interior e social, abrindo caminho

para uma concepção da dança como transformação de

si, como auxílio ao desenvolvimento pessoal em uma

contínua exploração das possibilidades do corpo.

Hoje o que se vê é um enriquecimento da arte

pela influência multicultural. Na dança pela mistura de

ritmos ocidentais e orientais traduzidos em novas

modalidades de expressão com todas as suas variantes

regionais, folclóricas, suas pantomimas e gestos e seus

conteúdos dramáticos permitem uma comunicação de

estilos, mas respeitando as qualidades peculiares de

cada cultura.

Muito bem! Você concluiu mais esta aula.

Verificou o que conseguiu aprender com ela?

Espero revê-lo em breve! Se ainda tiver dúvidas,

não deixe de rever esse conteúdo.

Até mais!

EXERCÍCIO 1

Um "sim" e um "não" na vida de muitas pessoas, como

vimos na vida de Maria Fux, podem representar:

( A ) Ter somente opções diretivas na própria vida e

para ofertar aos outros;

( B ) Canais abertos para a descoberta da arte de

viver;

( C ) Imbricamento de situações;

( D ) Canalizar o uso de linguagem corporal, na dança;

( E ) Todas as respostas anteriores estão corretas.

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Aula 4 | Dança 124

EXERCÍCIO 2

A dança, por ser fundamentalmente aglutinadora

(socializante):

( A ) Facilita a interação humana;

( B ) Permite ao homem um contato consigo e com o

outro (alteridade);

( C ) Promove situações de poder viver ludicamente a

realidade;

( D ) Torna o homem mais consciente;

( E ) Todas as respostas estão corretas.

EXERCÍCIO 3

"A arte nasce quando viver não é suficiente para

exprimir a vida". Esta frase é do escritor francês Guide

(1869-1951) comente pensando na seguinte questão:

As artes permitem um acesso maior às formas de

expressão próprias da vida?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 4 | Dança 125

EXERCÍCIO 4

Cite duas propostas dos parâmetros curriculares

nacionais (PCNs) dentro da dança como manifestação

coletiva.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

A dança tem a finalidade de desenvolver a

fluidez e a expressividade corporal e psíquica;

É a tradução mais profunda dos significados

que a vida imprime em nós e nos faz devolver

em forma de expressão;

Um olhar, um gesto, um andar, uma atitude

corporal podem traduzir milhares de

informação;

São muitas as técnicas de movimento, pois o

movimento é vida e esta se expressa de

muitas formas;

Aqui a dança foi abordada como a

possibilidade de entrar em contato consigo

mesmo. A dança fala por si só.

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Teatro

Virgina Maria Castilho Ribeiro de Souza

Ivan Coromandel

Eveline Carrano

Renata Cury (revisora)

AU

LA

5

Ap

res

en

taç

ão

Você, agora, entrará em contato com a aula de Teatro. Você vai

se encantar com o desenvolvimento do teatro e com as dinâmicas

propostas.

As técnicas abordadas aqui irão permitir que você possa criar seus

próprios métodos de trabalho a partir do conhecimento adquirido

com esta aula.

Então, vamos lá!

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Conhecer as diversas técnicas e autores importantes do teatro;

Abordar as técnicas do teatro;

Aprender sobre a história do teatro;

Aplicar algumas das atividades propostas aqui no caderno.

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Aula 5 | Teatro 128

História do Teatro

Quando pensamos em teatro, nas peças a que já

assistimos, nos atores, autores e diretores dos quais

gostamos é difícil nos remetermos à sua origem,

imaginarmos como essa arte surgiu e muito menos

que, há muito tempo, era algo sagrado, que utilizava

rituais como formas de invocar poderes sobrenaturais

que controlavam todos os fatos necessários à

sobrevivência (fertilidade da terra, casa, sucesso nas

caças e batalhas). Isso mesmo!

Esses rituais se apresentavam sob a forma de

dança, música, cantos e encenações de histórias dos

deuses, que deveriam, assim, ficar felizes com a

homenagem feita a eles pelos homens da época. Era

assim que estes homens acreditavam serem perdoados

e merecedores dos privilégios. No Oriente, ainda hoje,

muitas espécies de teatro encenam as histórias de

deuses e utilizam rituais sagrados.

O teatro não vem da época medieval, sua

história é bem mais antiga, surgiu na Grécia Antiga, no

século IV a.C., cabendo aos gregos o mérito de

transformá-lo no maior e mais eficiente transmissor de

cultura e de arte. Ao povo cabia o direito de frequentar

o teatro como compromisso social. Os teatros eram

patrocinados pelos cidadãos ricos e o governo chegava

a pagar aos pobres para que eles frequentassem as

apresentações.

O teatro grego surgiu de uma forma muito

inusitada. Contam os historiadores que um participante

resolveu vestir uma máscara humana, ornada com

cachos de uvas, subir no tablado em uma praça pública

e dizer: “Eu sou Dionísio!” Todos ficaram espantados

com a coragem de um ser humano colocar-se no lugar

de um deus, coisa que não havia acontecido até então,

História do teatro 128 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) 131 O teatro e a educação 135 Construindo personagens 138 Psicodrama de Moreno e Boal 142 Jogos para programas em empresa/instituição 154 Proposta de atividade 156 Conclusão 159

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Aula 5 | Teatro 129

uma vez que um deus era para ser louvado, um ser

intocável. Este homem chamava-se Téspis e foi

considerado o primeiro ator da história do teatro

ocidental.

Assim, os festivais anuais eram em honra ao

deus Dionísio em representações de tragédias e

comédias.

Nessa época, as peças eram representadas

apenas por homens, não sendo possível a participação

de mulheres.

Os romanos já tinham seu teatro, também, e

apesar de se basearem nos moldes gregos, inovaram

com a implantação da pantomima, na qual apenas um

autor representava todos os papéis, utilizando uma

máscara para cada personagem e sendo acompanhado

de música e coro. Dois nomes importantes na história

do teatro romano foram Plauto e Terêncio.

Com o aparecimento do Cristianismo, o teatro

foi considerado pagão, não conseguindo patrocinadores

e sendo, então, totalmente extinto.

Curiosamente, o teatro reapareceu através da

igreja, na Era Medieval. Como assim?

Bom, o que aconteceu foi que novas

representações foram feitas para que se revivesse a

história da ressurreição de Cristo. Assim, o teatro

passou a ser um meio de propaganda dos conteúdos

bíblicos.

A partir de meados do século XVI, o teatro

medieval religioso foi declinando. Foi na Itália, em

especial, que se pôde observar novas criações nas

estruturas teatrais, através das representações do

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Aula 5 | Teatro 130

teatro humanista. Os atores italianos eram amadores

no início, mas a profissionalização destes se deu

através da "Commedia Dell'Arte", em que alguns tipos

representados provinham da tradição do antigo teatro

romano: eram constantes as figuras do avarento e do

fanfarrão. Foi nesse teatro que ficou marcada a

participação da mulher que, aos poucos, foi se

expandindo para outros países como Inglaterra e

França, a partir do século XVII.

E no Brasil? Como se deu o surgimento do

teatro?

A implantação do teatro no Brasil foi obra dos

jesuítas, empenhados em catequizar os índios para o

catolicismo e coibir os hábitos condenáveis dos

colonizadores portugueses. Eles encontraram nas tribos

brasileiras uma inclinação natural para a música, a

dança e a oratória. Ou seja: tendências positivas para o

desenvolvimento do teatro, que passou a ser usado

como instrumento de "civilização" e de educação

religiosa, além de diversão. O teatro, pelo "fascínio" da

imagem representativa, era muito mais eficaz do que

um sermão, por exemplo.

O padre José de Anchieta, em quase uma

dezena de autos inspirados na dramaturgia religiosa

medieval, sobretudo Gil Vicente, notabilizou-se nessa

tarefa, de preocupação mais religiosa do que artística.

As peças eram escritas em tupi, português ou

espanhol (isso se deu até 1584, quando então "chegou"

o latim). Nelas, os personagens eram santos,

demônios, imperadores e, por vezes, representavam

apenas simbolismos, como o Amor ou o Temor a Deus.

Com a catequese, o teatro acabou se tornando matéria

obrigatória para os estudantes da área de Humanas,

nos colégios da Companhia de Jesus. No entanto, os

personagens femininos eram proibidos (com exceção

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Aula 5 | Teatro 131

das Santas), para se evitar uma certa "empolgação"

nos jovens.

Os atores, nessa época, eram os índios

domesticados, os futuros padres, os brancos e os

mamelucos. Todos amadores, que atuavam de

improviso nas peças apresentadas nas Igrejas, nas

praças e nos colégios.

No teatro moderno, século XX, um nome ganha

destaque por suas ideias ecléticas e fazer o ator tomar

consciência de sua representação, não colocando sua

personalidade na vida do personagem. Bertolt Brecht,

para auxiliar os atores a manterem sua imparcialidade

em seus papéis, desenvolveu recursos que ajudavam a

transformar qualquer ligação com a realidade nas

encenações, para que os espectadores não criassem

qualquer ilusão ou semelhança com a mesma. Ou seja,

a cenografia tinha muitos efeitos não realísticos e as

próprias atividades de mudança de palco podiam ser

vistas pelo público.

Mas e hoje? Como é o teatro hoje?

Com tantas misturas, o teatro hoje é muito rico.

Temos o teatro dos bonecos, a ópera, o teatro de rua, o

teatro-dança e muitos outros. Hoje em dia, as regras

não são tão rígidas e os espectadores exigem

mudanças, inovações a cada dia.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram

elaborados com a intenção de construir referências

nacionais comuns ao processo educativo em todas as

regiões brasileiras, porém respeitando as diversidades

regionais, culturais e políticas existentes no país.

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Aula 5 | Teatro 132

Assim, possibilita-se nas escolas, condições favoráveis

aos jovens para que tenham acesso ao conjunto de

conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos

como necessários ao exercício da cidadania.

A partir dos PCNs, veremos a seguir os

conteúdos de teatro que os alunos poderão aprender:

1. O TEATRO COMO EXPRESSÃO E

COMUNICAÇÃO

Participação e desenvolvimento nos jogos de

atenção, observação, improvisação;

Reconhecimento e utilização dos elementos

da linguagem dramática: espaço cênico,

personagem e ação dramática;

Experimentação e articulação entre as

expressões corporal, plástica e sonora;

Experimentação na improvisação a partir de

estímulos diversos (temas; textos dramáticos,

poéticos, jornalísticos, entre outros; objetos;

máscaras; situações físicas; imagens e sons);

Experimentação na improvisação a partir do

estabelecimento de regras nos jogos;

Pesquisa, elaboração e utilização de cenários,

figurino, maquiagem, adereços, objetos de

cena, iluminação e som;

Pesquisa, elaboração e utilização de

máscaras, bonecos e de outros modos de

apresentação teatral;

Seleção e organização dos objetos a serem

usados no teatro e da participação de cada

um na atividade;

Exploração das competências corporais e de

criação dramática;

Reconhecimento, utilização da expressão e

comunicação na criação teatral.

2. O TEATRO COMO PRODUÇÃO COLETIVA

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Aula 5 | Teatro 133

Reconhecimento e integração com os colegas

na elaboração de cenas e na improvisação

teatral;

Reconhecimento, e exploração do espaço de

encenação com outros participantes do jogo

teatral;

Interação ator-espectador na criação

dramatizada;

Observação, apreciação e análise dos trabalhos

em teatro realizado pelos outros grupos;

Compreensão dos significados expressivos

corporais, textuais, visuais, sonoros da criação

teatral;

Criação de textos e encenação com o grupo.

3. O TEATRO COMO PRODUTOR CULTURAL E

APRECIAÇÃO ESTÉTICA

Observação, apreciação e análise das diversas

manifestações de teatro. As produções e

concepções estéticas;

Compreensão, apreciação e análise das

diferentes manifestações dramatizadas da

região;

Reconhecimento, compreensão das

propriedades comunicativas e expressivas das

diferentes formas dramatizadas (teatro em

palco e outros espaços, circo, teatro de

bonecos, manifestações populares

dramatizadas);

Identificação das manifestações e produtores

em teatro nas diferentes culturas e épocas;

Pesquisa e leitura de textos dramáticos e de

fatos da história do teatro;

Pesquisa e frequência junto aos grupos de

teatro, de manifestação popular e aos

espetáculos realizados em sua região;

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Aula 5 | Teatro 134

Pesquisa e frequência às fontes de

informação, documentação e comunicação

presentes em sua região (livros, revistas,

vídeos, filmes, fotografias ou qualquer outro

tipo de informação);

Elaboração de registros pessoais, para a

sistematização das experiências observadas e

da documentação consultada.

AVALIAÇÃO DE TEATRO

Para avaliar os seus alunos, o professor deverá

seguir a seguinte orientação:

a) Compreender e estar habilitado para se

expressar na linguagem dramática.

Com esse critério, ele avalia se o seu aluno

desenvolve a atenção, concentração, e a criatividade

que o teatro exige. Se ele consegue articular a fala ao

gesto. Se tem se empenhado para se expressar de

forma pessoal dentro do contexto dramático exigido;

b) Compreender o teatro como uma ação

coletiva.

Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno

sabe se organizar e trabalhar em grupo, se tem

empenho na construção do grupo, tanto quanto ao

cenário, figurino, iluminação, maquiagem, como na

construção dramática em si;

c) Compreender e apreciar as diversas formas

de teatro produzidas nas culturas.

Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno

conhece e aprecia as diversas formas de teatro: de

sombras, de circo, de bonecos, entre outras,

Dica da professora

De acordo com os PCNs, nós veremos algumas sugestões para avaliação do teatro em sala de aula.

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Aula 5 | Teatro 135

compreendendo as suas mensagens, transformando-as

em fonte de conhecimento e de cultura.

O Teatro e a Educação

A criança ao entrar para a escola, por sua idade,

apresenta uma capacidade enorme para a

representação, isso devido ao período criativo que

atravessa ajudado pelas brincadeiras de faz de conta,

pela vida que coloca nos objetos que a cercam. Cabe,

então, à escola aproveitar e desenvolver suas

características próprias da idade, que irão, inclusive,

aumentar sua capacidade de aprendizagem.

O teatro, então, nesse processo de

desenvolvimento da criança cumpre o seu papel

integrador, uma vez que propicia experiências que

permitem a convivência social, o desenvolvimento da

criatividade, da imaginação da percepção, da emoção,

do discernimento, da memória, do raciocínio, além da

autoconfiança. No processo educacional, tem um

caráter lúdico, pois permite a realização da fantasia, da

afetividade.

Seu papel no ensino fundamental é, então,

proporcionar experiências para o crescimento integrado

da criança tanto no plano individual quanto no coletivo.

No plano individual, permite o desenvolvimento

de suas capacidades expressivas e artísticas, além de

dotá-la do desembaraço necessário para lidar com as

Os objetivos que as escolas buscam alcançar,

através do teatro, nos mostram que esse é o

caminho para atingirem uma integração entre os

indivíduos de forma criativa, produtiva e

participativa.

É um recurso pedagógico eficaz no desenvolvimento

do educando, preparando-o para enfrentar e

discernir os problemas com que irá se deparar no

transcurso da sua vida.

Para navegar

Entre no site do MEC e conheça mais de perto os PCNS do qual estamos falando. http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=265&Itemid=255

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Aula 5 | Teatro 136

questões do dia a dia.

No plano coletivo, favorece a socialização, uma

vez que é uma atividade grupal, seja em cena ou na

organização do espetáculo.

O Teatro na Educação consiste em trazer para a

sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na

comunicação do conhecimento. Esteja o aluno como

espectador ou como figurante, o Teatro é um poderoso

meio para gravar na sua memória um determinado

tema ou para levá-lo, através de um impacto

emocional, a refletir sobre determinada questão moral.

No caso do Teatro Pedagógico, não existe a

figura do dramaturgo profissional: a peça será escrita,

montada e dirigida por um educador, visando apenas a

educação dos alunos que estão sob sua

responsabilidade educacional.

O teatro escolar não é um projeto que possa ser

imposto. É preciso ser aceito pela turma.

Ao se utilizar o teatro na educação, dá-se a

oportunidade ao educando de um conhecimento

diversificado e lúdico, propiciando um clima de

liberdade onde o aluno libera as suas potencialidades,

expressa os seus sentimentos, emoções, aflições e

sensações, pois é um meio de expressão para o aluno.

Quando ele interpreta um personagem ou faz uma

dramatização, pode ocorrer uma situação que revela

parte de si mesmo, mostrando como se sente, como

pensa e como vê o mundo. É uma atividade artística

Reconhecendo a importância do teatro, a escola o

introduziu no seu currículo, buscando com isso o

desenvolvimento do seu aluno de uma maneira

global, tornando-o crítico, criativo e responsável

pela criação do seu próprio mundo de vida e de trabalho.

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Aula 5 | Teatro 137

que utiliza todas as formas de comunicação humana,

ampliando o seu horizonte, melhorando a sua auto-

imagem, tornando-o com isso mais social e mais aberto

ao mundo.

Além disso, o teatro na escola permite que, na

elaboração do cenário, a criança esteja presente

atuando e ajudando o educador. O mundo da fantasia

se torna algo a ser materializado e a criança vai ter a

possibilidade de atuar por meio das artes plásticas e do

corpo no processo de criação.

Assim, pode-se convidar o aluno mais

indisciplinado a fazer um personagem disciplinado; ao

mais arrogante, fazer o papel de um personagem

cordato e conciliador; ao menos responsável, o papel

de um personagem que, no drama, está carregado de

graves responsabilidades. Em caso de resistência, uma

estratégia seria talvez dizer aos alunos que o bom ator

é aquele que é capaz de representar o papel que ele

próprio considere ser o mais difícil para si.

No caso de um aluno procedente de um bairro

da cidade onde a insegurança for maior, onde

supostamente ele já viu uma arma, ou já pegou em

uma arma, dar-lhe o papel de um policial. Alunos

dessas áreas, e que, frequentemente, vão mal nos

estudos, têm um surpreendente conhecimento do

mundo que os cerca e o teatro pode lhes dar a

oportunidade de expressar suas ideias sociais e seus

sentimentos. Em contrapartida, o teatro poderá lhes

O teatro na educação dá ao aluno a oportunidade de

valorizar-se, de integrar-se a um grupo, dando-lhe

ao mesmo tempo a noção da responsabilidade do

sucesso deste grupo, uma vez que ele é o resultado

da soma dos esforços do conjunto. Esta visão

permite o desenvolvimento de cada um,

fundamentado na complementaridade das

diferenças. Ensina aos educandos a aprenderem

com as diferenças, pois somente assim é que acontece a aprendizagem do ser humano.

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Aula 5 | Teatro 138

passar lições morais e inspirar confiança em melhorar

sua própria condição social. Os papéis ruins podem

ficar com personagens que são apenas mencionados, e

não serão encarnados por nenhum aluno.

Construindo Personagens

Você poderá valer-se do recurso de transformar

as produções simbólicas sugeridas em desenhos e ou

pinturas, em personagens trabalhados no plano

tridimensional. Esse procedimento facilita à criança o

confronto com as informações contidas nestas

produções. Os mecanismos de construção de

personagens deverão levar em conta as possibilidades

de desempenho de cada criança com os diferentes

materiais, suas preferências expressivas e seu

desenvolvimento motor. Geralmente, o recurso mais

produtivo é o mais simples, utilizando materiais

bastante rudimentares ou até mesmo o próprio corpo

da criança.

ESTÓRIAS

O uso de estórias em terapia envolve:

invenção das minhas próprias estórias

para contar às crianças; as crianças

inventarem suas próprias estórias; a

leitura de estórias de livros; escrever

estórias; ditar estórias; utilizar coisas

para estimular estórias, tais como

figuras, testes projetivos, bonecos, o

painel de feltro, a mesa de areia,

desenhos, fantasias de final aberto; e

envolve também o emprego de

recursos e aparelhos tais como

gravador de fita, aparelho de vídeo-

tape, aparelhos portáteis de

intercomunicação (walkie-talkies),

microfone de brinquedo, ou um

televisor imaginário (uma caixa

grande).

(Oaklander, Violet, Descobrindo

Crianças, Summus Editorial, 13a

Edição, 1980)

Cena da peça teatral

A Bela e a Fera.

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Aula 5 | Teatro 139

O uso de estórias e todas as suas possibilidades

são infinitos. Vai muito da criatividade do educador, do

ambiente de trabalho e o grau de interação e vínculo

com as crianças. É muito importante conhecer diversas

estórias e estar por dentro dos personagens atuais.

Também pode ser bastante interessante o educador

enfeitar um avental e contar a estória fazendo uso

deste como cenário. Use a sua criatividade!

TEATRO DE BONECOS

Os espetáculos de bonecos são muito

semelhantes a contar estórias. A criança escolhe o

boneco que lhe despertou o interesse, manipulando-o

livremente, junto com as outras do grupo. Aos poucos,

espontaneamente, a criança sentirá vontade de criar

um diálogo ao qual irá aliar os movimentos que faz com

o boneco. O educador, também, pode apresentar o

espetáculo e neste caso pode pedir a ajuda da criança

sobre o tema a ser abordado.

É um trabalho espontâneo, que surge da sua

experiência com o mundo, sendo importantíssimo na

educação, pois desenvolve não só a comunicação como

também a expressão sensorial-motora.

TEATRO DE FANTOCHES

Temos diversos tipos de fantoches e podem ser

criados de diversas formas. Temos os fantoches de

dedo, podendo ser feito de feltro e outros materiais

maleáveis, ou pintado diretamente no dedo da criança.

Podem-se explorar os personagens de diversas formas,

inclusive representando famílias inteiras.

Temos os fantoches feitos com canudos e

cartolina com diferentes imagens. Pode ser feito de

bola de isopor e palitinho de churrasco ou arame.

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Aula 5 | Teatro 140

Muitas vezes, ao iniciar o trabalho, a criança

encontra-se tão bloqueada que precisará da ajuda de

alguns brinquedos ou objetos já prontos como estímulo.

É interessante ter bichos de pano, bonecos e

brinquedos diversos.

A origem dos fantoches remonta à antiguidade

quando os bonecos eram feitos de barro. Aos poucos,

esses bonecos foram sendo aprimorados,

permanecendo até hoje, sempre com muito boa

aceitação.

TEATRO DE SOMBRAS

Este é um tipo de teatro pouco divulgado no

Brasil, mas que estimula muito a criatividade. É

originário da China e sobre ele existe uma lenda:

Diz a lenda que, no ano de 121, o imperador Wu

Ti, da Dinastia Han, desesperado com a morte de sua

bailarina favorita, ordenou ao mago da corte que a

trouxesse de volta do “Reino das Sombras” ou seria

decapitado. O mago usou a sua imaginação e, através

de uma pele de peixe macia e transparente,

confeccionou a silhueta de uma bailarina.

Quando estava pronta, organizou um espetáculo

no jardim do palácio, pondo uma cortina branca

transparente por onde penetrasse a luz do sol,

colocando a silhueta da bailarina atrás dela, fazendo-a

dançar suavemente ao som de uma flauta. Nesse

momento, estava criado o teatro de sombras

TEATRO DE MÁSCARAS

Esta é uma forma de teatro muito bem aceito

pelas crianças, que gostam muito de usar máscaras,

principalmente dos seus super-heróis que elas veem na

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Aula 5 | Teatro 141

TV. O importante é aproveitar a oportunidade para que

elas confeccionem as máscaras, podendo para isso se

utilizarem de cartolinas, tecidos, sacos de papel, pratos

de papelão, tintas, jornal, material de sucata, elástico.

Esta é uma atividade fácil de ser executada,

sendo, inclusive, muito prazerosa às crianças que

poderão representar uma história com um material que

elas mesmas elaboraram.

AS MÁSCARAS NO TEATRO

As máscaras são usadas pelos homens desde a

Pré-História, quando se utilizavam delas nos rituais

religiosos. Na África, elas são esculpidas em madeira e

pintadas. Na Oceania, são feitas de conchas e madeira,

com pérolas incrustadas. Os índios americanos para

fazê-las se utilizam de couro pintado e adorno de

penas, além de usarem, às vezes, a tinta sobre a

própria pele nos rituais religiosos e nas guerras.

Na China, eles se utilizam das cores nas

máscaras para representarem os sentimentos e, no

Japão, os homens usavam as máscaras representando

femininos.

No século XVIII, em Veneza, as máscaras faziam

parte do vestuário da época. No Brasil, as máscaras

também são usadas, mas só no carnaval ou nas festas

populares.

O teatro de máscaras promove a recreação, o

jogo, a socialização, a melhoria na fala e a desinibição

dos alunos mais tímidos.

Exercício para adultos utilizando máscaras:

Uma atividade interessante para se trabalhar

Máscara utilizada no Teatro Grego

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Aula 5 | Teatro 142

com máscaras é colocar no centro de uma roda uma

variedade grande de máscaras de emoções: alegria,

tristeza, raiva, medo, pavor e muitas outras.

Geralmente, essas máscaras podem ser compradas ou,

caso não encontre, podem ser confeccionadas por

artistas plásticos. Procure entrar em contato com um

artista na sua cidade e peça as máscaras que quer

trabalhar.

Depois de colocadas no centro da roda, peça ao

grupo para experimentar uma por uma. Depois devem

escolher uma máscara de que mais tenham gostado.

Devem ficar com ela e pensar em uma situação para

ser encenada. Esta pode ser feita individualmente ou,

se for necessário, pode pedir a participação de algumas

pessoas do grupo ou do grupo todo.

Esta atividade permite entrar em contato

consigo mesmo de uma forma lúdica. No final é

interessante pedir para que cada participante fale da

experiência vivida.

Psicodrama de Moreno e Boal

O psicodrama não deve ser confundido com o

Teatro Pedagógico, onde não é possível a livre

expressão ou, então, o aspecto pedagógico ficará

perdido. Já no psicodrama, a livre expressão dos

participantes é útil à terapia e é um princípio básico do

método.

Vejamos um pouco sobre o psicodrama e dois

nomes importantes para o mesmo: Moreno e Boal.

Jacob Levy Moreno nasceu em 20 de maio de

1889, na cidade de Bucareste. Faleceu em 14 de maio

de 1974, em Beacon, Nova Iorque. Moreno era de

família judia e foi em Viena que se formou em Medicina

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Aula 5 | Teatro 143

e Filosofia.

Muito atuante, nunca foi de trabalhar ao estilo

psicológico de escutar horas intermináveis seus

pacientes. Sua teoria é praticamente dialógica. Há

necessidade da participação e da interação de outras

pessoas.

Para Moreno, no cenário psicodramático, o

passado é presente e o futuro também o é. Tudo é

atual. A vivência do mundo atual é um convite a uma

comunicação humana transformadora, no sentido de

‘desintelectualizar’ o ser humano para um contato mais

verdadeiro, mais pessoal e emocional – o encontro.

O encontro, para Moreno, é essencial. A

tradução mais próxima desse encontro deriva do

francês “rencontre”, que expressa duas ou mais

pessoas que se encontram, não só para olhar-se ou

enfrentar-se, mas para viver e experimentar-se, como

atores, conservando seus direitos. Não é a empatia,

mas sim a realização própria através do outro: é

reciprocidade total, no nível mais intenso de

comunicação.

Ao falar sobre o encontro, Moreno diz:

No começo foi a existência. Mas a

existência sem alguém ou algo que

exista não tem sentido. No começo foi

a palavra, a ideia – mas o ato foi

anterior. No começo foi o ato, mas o

ato não é possível sem o agente, sem

um objeto em direção ao qual se dirija

e sem um tu a quem encontrar. No

começo foi o encontro, tal como o

descrevi em meus primeiros escritos.

(1914)

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Aula 5 | Teatro 144

Podemos acompanhar o percurso de Jacob

Levy Moreno, que nos apresenta a pedagogia do

psicodrama aplicado a ambientes de trabalho, seja de

que natureza for, instituição, empresa, escola e clínica.

Nesta técnica, o essencial é resgatar o item

espontaneidade, ativando o papel do pré-consciente,

através da teoria, de exercícios de sensibilização que

envolvem o relaxamento psicofísico. O relaxamento

psicofísico, envolvendo o trabalho de alongamento

muscular, libera energias que podem deslocar

conteúdos aprisionados em determinadas situações.

Estes, mobilizados por novos fatores, ajudam a

desbloquear caminhos em sintonia com ambos os

hemisférios do cérebro.

A essência do teatro pode traduzir a ideia do

realce emprestado aos diversos elementos das

situações. Ressaltar sensações (percepções),

pensamentos (atividades que envolvam crítica,

discriminação e classificação), sentimentos (liberação

das emoções e relações interpessoais), intuição (o

imaginário, a fantasia, buscando as origens e o

desenvolvimento dos fenômenos). Nesse contexto, o

quesito originalidade, a tolerância ao que nos parece

novo, incongruente, inusitado é explorada; surge o eu

do momento, a resposta intuitiva; vamos desenvolver o

conceito de raridade, da capacidade de apreciar

qualidades como únicas.

Com um espírito místico e artístico, Moreno

buscou fundamentos para sua teoria no teatro, na

filosofia e na religião. Muito otimista e positivo, fundiu

suas criações no jogo vivo da alegria. Dizem que teria

dito a respeito do desejo de ter em seu epitáfio: “Aqui

jaz um homem que abriu as portas da psiquiatria à

alegria.”

Assim, o psicodrama surgiu do jogo que, como

um fenômeno ligado à espontaneidade e à criatividade,

MORENO

Quer saber mais?

Moreno buscava resgatar a espontaneidade e a criatividade, sufocadas pelas instituições. Sua inspiração provinha das tradições antigas da filosofia grega e do drama clássico como catarse, embora fosse um profundo estudioso de sociologia e psiquiatria. Saiba toda sua história no site sobre HOMENS DA HISTÓRIA: http://www.morasha.com.br/conteudo/ed35/jacob.htm

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Aula 5 | Teatro 145

seria o princípio da autocura e da terapia de grupo. A

atitude lúdica conduziu Moreno ao teatro da

improvisação e depois ao teatro terapêutico, que

alcançou seu cume na inversão de papéis, no

psicodrama e sociodrama dos dias atuais.

O teatro é uma forma de comunicação

entre os homens e as formas teatrais

não se desenvolvem de maneira

autônoma, antes, respondem sempre

a necessidades sociais bem

determinadas e a momentos precisos.

Um ritual é todo um sistema de ações

e reações predeterminadas. Para

atravessar a rua, há que aguardar a

luz verde. Ao entrar na igreja, fala-se

em voz baixa. As relações entre os

seres humanos processam-se segundo

ações e reações mais ou menos

preestabelecidas pelas leis, tradições,

hábitos, costumes etc.

Não às “máscaras psicológicas”, que determinam

que os nossos rostos sejam ferozes ou fleumáticos,

bons ou maus, ou seja lá o que for” (Augusto Boal).

Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro, em

1931. Desde pequeno escrevia, ensaiava e montava

suas próprias peças para sua família. Sua formação em

Engenharia Química caminhou paralelamente à

pesquisa e à montagem de textos teatrais lidos e

comentados por Nelson Rodrigues.

Estudou na Columbia e, em 1956, volta ao Brasil

para dirigir o Teatro de Arena em São Paulo. Esse

grupo contribui muito para a criação de uma

dramaturgia brasileira.

Mas sua maior criação foi o Teatro do Oprimido,

onde sempre buscou restituir aos oprimidos o direito à

palavra e de ser. Seu propósito sempre foi “humanizar

a humanidade” e realizou isso através dos seus livros

escritos por outros autores sobre sua obra e outros

publicados em dezenas de línguas.

Dica de leitura

BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de

dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 6ª ed., 1985.

AUGUSTO BOAL

Quer saber mais?

Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro em 1931. Falecem em 02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro. Estudou na School of Dramatics Arts da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde foi aluno do dramaturgo John Gassner. Sua maior obra é o Teatro do Oprimido, que transforma o espectador em elemento ativo,

protagonista do espetáculo.

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Aula 5 | Teatro 146

Na sua filosofia de viver, a solidariedade e a

multiplicação estão incorporadas. Acreditava em

multiplicadores de conhecimento e não apenas

consumidores.

O Teatro do Oprimido é um método estético que

reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais que

objetivam a desmecanização física e intelectual de seus

praticantes e a democratização do teatro,

estabelecendo condições práticas para que o oprimido

se aproprie dos meios de produzir teatro e amplie suas

possibilidades de expressão, estabelecendo uma

comunicação direta, ativa e propositiva entre

espectadores e atores.

No Brasil, o Centro do Teatro do Oprimido

dirigido por Augusto Boal trabalha em várias vertentes:

TEATRO NA EDUCAÇÃO - em escolas onde se

desenvolve uma nova pesquisa, a Estética do Oprimido,

restaurando as capacidades estéticas de todo ser

humano de produzir teatro, música, artes plásticas,

poesia e narrativas. Palavra, Imagem e Som: o

Pensamento Sensível e o Pensamento Simbólico unidos

na melhor compreensão do mundo;

TEATRO DAS PRISÕES - onde se dá a busca por

pacificar as tradicionais hostilidades entre funcionários

e presidiários, entre as prisões e as populações locais,

através da criação de “espaços de liberdade dentro dos

muros da prisão” - os presidiários estão presos no

espaço, mas tem o tempo livre: há que aproveitá-lo;

TEATRO NA SAÚDE MENTAL - onde se busca

enquadrar os “Delírios Patológicos dentro dos quadros

estruturados dos Delírios Artísticos”;

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Aula 5 | Teatro 147

TEATRO DO OPRIMIDO NOS PONTOS DE

CULTURA – A maior ambição de Augusto Boal é que

todos pratiquem o Teatro do Oprimido, uma vez que

tem provado ser potente ferramenta para a

conscientização de todos que o praticam e assim serem

alcançados os princípios da Declaração Universal dos

Direitos Humanos: “... que a Liberdade, a Justiça e a

Paz tenham por base o reconhecimento da dignidade

intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos

os membros da família humana”.

Dica de Exercício:

Entre as técnicas do Teatro do Oprimido, a mais

praticada é o Teatro Fórum, um espetáculo baseado em

fatos reais, na qual personagens oprimidos e

opressores entram em conflito de forma clara e

objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. Neste

confronto, o oprimido fracassa e o público é convidado

a entrar em cena para substituir o oprimido e buscar

alternativas para o problema encenado.

JOGOS DRAMÁTICOS

Nos Jogos Dramáticos, considera-se o processo

evolutivo da autodescoberta e a integração no grupo. O

autoconhecimento, assim adquirido, lhe permite ser

sujeito (aquele que observa) de um outro sujeito

(aquele que age). Permite-lhe as alternativas de sua

ação.

Este espectador não é mais novamente um

objeto, passa a ser um sujeito porque ele é o ator e

age sobre o ator, ele pode guiar e modificar. O

indivíduo deve ser avaliado, assim como o seu

desenvolvimento, no trabalho grupal.

Através dos jogos dramáticos, pode-se encontrar

o caminho mais curto e mais atuante de se chegar, ou

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Aula 5 | Teatro 148

melhor, de se voltar a um estado de receptividade, de

espontaneidade, de libertação da imaginação (perdida

na infância), ao mesmo tempo em que desenvolve o

espírito de observação, o sentido estético e social da

vida. Através da observação de situações dramáticas, a

pessoa toma consciência de sua personalidade, de suas

próprias reações e, também, de suas

responsabilidades.

Moreno, em sua Teoria de Papéis, ressalta que

um papel apresenta três fases distintas: role-taking,

que é a adoção, a tomada de um papel; role-playing,

que é o jogar com o papel e o role-criating, que é a

fase final, onde o indivíduo cria sobre o papel.

Segundo Yozo5 (1996), são quatro os

movimentos básicos de cada indivíduo:

1. Eu-comigo - é o momento em que se localiza

e se identifica num grupo: quem sou, como estou,

como sinto;

2. Eu e o outro - a partir do momento em que

se identifica, começa a identificar o outro, quem é o

outro, como me aproximo, como me sinto;

3. Eu com o outro - nesta etapa, procura

perceber o outro e principia a inversão de papéis.

Relacionado ao reconhecimento do tu: como é o outro,

como ele se sente, pensa e percebe em relação a mim

e vice-versa;

4. Eu com todos - após desenvolver a

percepção de si mesmo e do outro, amplia essa relação

com todos, em busca de identidade e coesão grupal.

A importância existente nesses movimentos é

5 Yozo, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos. São Paulo: Ágora, 1996.

Quer saber mais?

Yudi Yozo (SP) – Psicólogo, psicodramatista, psicoterapeuta, professor-supervisor credenciado pela Federação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama, professor em cursos de especialização e pós-graduação em

Psicodrama Aplicado e Terapêutico; palestrante em congressos nacionais e Internacionais. Autor do livro: “100 Jogos para Grupos – uma abordagem psicodramáticas para empresas.”

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Aula 5 | Teatro 149

que, através dos jogos, é possível mobilizar as pessoas

para a tomada de consciência de seu funcionamento, e

dos outros membros do grupo, além de contribuir para

que identifiquem comportamentos favoráveis ou

desfavoráveis a um relacionamento mais harmônico no

ambiente em que estiverem inseridas.

Os jogos psicodramáticos facilitam, então, o

processo de mudança pessoal, através dessa busca

pelo autoconhecimento e pelo conhecimento do outro e,

ainda, a compreensão de como os vínculos afetivos são

formados, condições tais, imprescindíveis para que

ocorra essa mudança.

Para se desenvolver o primeiro movimento

básico, o Eu-comigo, são apresentados jogos de

Apresentação, Aquecimento, Relaxamento e

Interiorização e de Sensibilização.

Este caracteriza-se pelo aprofundamento da

sensação e princípio de percepção. Pode haver a

interação do indivíduo com o meio (pesquisa de espaço,

ambiente, aguçando suas percepções tátil, auditiva,

olfativa e gustativa).

Nesta fase, não há contato físico entre os

participantes. Para garantir ao indivíduo a descoberta

de si mesmo. Promove-se um princípio de integração

entre os elementos, a fim de desenvolver o

conhecimento grupal.

No segundo movimento básico, acontecem os

jogos de interação com o outro, podendo ser individual

ou em duplas, utilizando-se de objetos intermediários

ou não. Acontece o princípio da descoberta do outro.

Envolve o senso da percepção e o princípio de

comunicação que serão mais aprofundados no terceiro

estágio.

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Aula 5 | Teatro 150

Os jogos desta etapa dividem-se em Percepção

de Si Mesmo, Percepção do Outro / Espelho e Pré-

Inversão. Em geral, pouco ou nenhum contato físico se

dá, uma vez que é o momento em que o indivíduo se

percebe através do outro (Espelho).

No terceiro movimento, o Reconhecimento do

tu, acontecem os jogos de interação direta com o

outro. Inicia-se com duplas, trios, quartetos e até com

o grupo todo (Eu-Ele). Permite verificar até onde o

indivíduo percebe o outro e o quanto inverte os papéis.

É o momento do Eu com o Outro. Envolve contato

físico, sem ser ameaçador, pois já existe uma

predisposição e abertura do indivíduo. Além disso,

podem-se construir personagens, avaliando a qualidade

dramática, a espontaneidade e a criatividade na

construção e desempenho de papéis.

Aqui, ainda, se incluem jogos com características

de comunicação e integração (Eu-Ele x Eu-Nós),

podendo avaliar as redes sociométricas do indivíduo e

do grupo. É o momento do Eu com Todos.

Aplica-se tanto para a preparação como para a

configuração da integração entre os participantes

(podendo envolver um grande número de pessoas).

São os jogos sociopsicodramáticos ou grupais, onde o

protagonista é o grupo, sem excluir o indivíduo dele.

Os tipos de jogos desta fase são denominados

de Jogos com Personagens ou Papéis, Inversão de

Papéis e os de Identidade Grupal / Encontro.

Nos jogos, a novidade qualitativa

reside no fato de que é o processo de

aprendizagem em si, e não a

realização de ato consumatório, que

fornece a motivação.

(Konrad Lorenz)

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Aula 5 | Teatro 151

O orientador do grupo deve estar atento para o

contexto em que se insere o grupo, incluindo o fator

“tempo” para cada estágio de realização em sua

proposta de trabalho.

A série de exercícios em qualquer uma das fases

nunca deve ser fechada em si própria; pode ser

combinada com a seguinte, dependendo da integração

de todos, lembrando que cada situação é única.

Exemplo de jogos (Yoko, R., 1996)

Situação 1 (1ª etapa)

1. Material: não há.

2. Instruções:

grupo sentado, em círculo;

cada participante deverá escolher o nome de

uma fruta, que seja correspondente à pessoa

à sua direita;

depois, apresentará ao grupo, dizendo qual é

a fruta e o porquê desta escolha (ex: cor da

pele, expressão facial, roupa, atitudes);

compete ao arteterapeuta permitir que a

pessoa “eleita” concorde ou não com a

descrição feita e o porquê.

Nota: É um jogo de apresentação pertinente a

grupos desconhecidos, onde a única referência é o

externo.

Variação: pode-se substituir a fruta por qualquer

referência (exemplo: instrumento musical, carro, flor,

artista, animal).

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Aula 5 | Teatro 152

Situação 2 (1ª etapa)

1. Materiais: não há.

2. Instruções:

cada participante pensa em suas

características pessoais e escolhe um bicho

que o identifique;

cada um deverá representar, no contexto

dramático, as características do bicho

escolhido, mostrando-as uma por vez;

se acertar o “bicho”, deve acentuá-la e, em

seguida, mostrar outra característica,

passando a adivinhação à pessoa seguinte. Se

errar, mantém a mesma característica e

passa a palavra ao próximo e assim por

diante;

depois, o grupo procura descobrir qual é o

bicho escolhido;

comentários.

Situação 3 (1ª etapa)

1. Materiais: papéis e canetas.

2. Instruções:

a) Cada pessoa escreverá duas qualidades e

duas manias suas num pedaço de papel, sem que os

demais vejam;

b) O orientador recolhe os papéis, mistura e

redistribui, de modo que ninguém fique com o seu;

c) Cada participante deverá, através da mímica,

representar tais características para que o grupo as

descubra. Em seguida, tentar-se-á acertar o autor das

mesmas, que explicará o porquê de tais escolhas.

d) Ao final, promover comentários do grupo

sobre a experiência.

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Aula 5 | Teatro 153

Situação 4 (combinação da 1ª e 2ª etapas):

Identidade do Eu e reconhecimento do Eu

1. Materiais: não há.

2. Instruções:

O grupo divide-se em duplas;

Cada dupla apoia mão com mão;

Quem comanda pode inventar quaisquer

movimentos, enquanto quem acompanha

deve repeti-los como se estivesse

hipnotizado;

Após um determinado tempo, invertem-se os

papéis, repetindo o processo;

Dando prosseguimento, trocar de duplas,

seguindo o próximo até o final;

Ao final, promover os comentários sobre a

experiência.

Nota do autor: embora este jogo envolva a

inversão de papéis entre os participantes, foi

classificado na 2ª fase, pois permite avaliar até que

ponto o participante tem a percepção de si mesmo,

antes de inverter o papel a ser seguido pelo outro.

Situação 5 (combinação das 2ª e 3ª fases):

Reconhecimento do Eu e Reconhecimento do Tu

1. Materiais: papel sulfite e canetas.

2. Instruções:

Dividir o grupo em três subgrupos (com

número igual de participantes), neste caso,

aqui de A, B, C;

Cada subgrupo escreve uma história contendo

uma cena do cotidiano, contendo início, meio

e fim (com o número de personagens igual ao

de participantes);

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Aula 5 | Teatro 154

O subgrupo A montará uma cena da sua

história de forma estática. O subgrupo B

entra nos papéis de cada um e dá

movimentos (dinâmico) sem verbalizações. O

subgrupo C entra nos papéis, dá os

movimentos e a verbalização aos

personagens;

Este processo se repete nos três subgrupos,

ou seja:

A - cena estática;

B - cena com movimentos;

C - cena com verbalização e movimento;

B - estática;

C - movimento;

A - verbalização e movimento.

C – estática;

A – movimento;

B - verbalização e movimento;

Verificar o que foi alterado da cena original.

Se quiser, pede-se a demonstração da

imagem inicial de cada subgrupo;

Comentários acerca da experiência.

Jogos para programas em empresa/

instituição

Como objetivos principais, os jogos são

utilizados para a integração, para desenvolver a

comunicação, para trabalhar competição versus

cooperação e, muitas vezes, para promover a mudança

organizacional.

A utilização dos jogos em organizações é algo

valioso, pois integra a razão e a emoção

harmonicamente, além de possibilitar o aprendizado de

uma forma vivencial. Quando o trabalho realizado com

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Aula 5 | Teatro 155

grupos em organizações se limita apenas ao nível mais

racional, enfatizando somente o intelecto dos

participantes, pode dificultar a aprendizagem. Isso

porque uma proposta essencialmente teórica não

mobiliza as pessoas para a ação, e elas com frequência

não conseguem visualizar de maneira clara a relação do

conteúdo transmitido com as mudanças

comportamentais necessárias no ambiente

organizacional.

É importante que as pessoas estejam

preparadas para olharem para si próprias e se

assumirem responsáveis em parte do processo de

mudança organizacional. As pessoas precisam conhecer

o que as leva a reagir de determinada forma,

diferentemente da forma como reagem as pessoas com

as quais convive. Elas precisam conhecer e explorar

mais seu universo interno e saber identificar o porquê

das diferenças de comportamento. Isso foi promovido

com a proposta aplicada na pesquisa de campo.

O Psicodrama pode ser aplicado como facilitador

para a mudança à medida que mobiliza as pessoas para

reverem suas posturas, seus valores, suas atitudes e

comportamentos manifestados no ambiente de

trabalho, proporcionando-lhes maior disponibilidade

para a mudança pessoal.

JOGO DOS BALÕES

As pessoas costumam resgatar o aspecto lúdico

que o próprio jogo dos balões nos reportam pela

informalidade da brincadeira; esse “brincar com a

realidade” remete a cenas do cotidiano no ambiente

empresarial, onde, muitas vezes, é necessário se

passar a bola, com a leveza necessária para a produção

continuar fluindo. Sempre, se possível, com muito

humor...

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Aula 5 | Teatro 156

É pedido aos integrantes que brinquem, num

primeiro momento, sozinhos, com um balão, escolhido

pela cor ou não; devem evitar que caia no chão;

usando todas as partes do corpo (mãos, testa, joelhos,

coxas, quadris, nádegas, pés, braços, antebraços e por

onde mais a imaginação conduzir).

Num segundo momento, os participantes devem

jogar em duplas, observando as mesmas regras;

depois, em trios, quartetos, até reunir todo o grupo.

Para finalizar, a quantidade de balões jogados

deve diminuir, caindo ao chão, até que se brinque com

um único. O orientador deve facilitar uma troca de

impressões, sensações sobre como os envolvidos se

sentiram no jogo.

Proposta de Atividade

AMPLIANDO A PERCEPÇÃO

Antes do trabalho expressivo, é importante ser

trabalhada a percepção – sensação. Cada parte do

corpo deve ser “acordada”, para depois poder haver a

integração de todo o corpo.

A proposta da atividade é criar um diálogo sobre

as experiências individuais dos participantes ocorridas

durante a semana (no caso de um curso em

desenvolvimento, relacioná-las com as atividades

praticadas).

Segue abaixo alguns passos de trabalho corporal

para facilitar e otimizar a proposta acima.

Respiração: Em círculo, em pé.

Respiração abdominal com flexão do tronco e

pernas, utilizando-se quatro tempos para inspirar e

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Aula 5 | Teatro 157

quatro tempos para expirar.

Movimento Corporal:

Expandir os movimentos de todo o corpo,

mudando o ritmo da respiração:

Trabalho com as articulações de forma

integrada e consciente. Expansão do

movimento para o espaço da sala;

Expressão com o corpo através das formas

sugeridas: sol, lua, montanha, árvore,

trepadeira, cadeira, fio de telefone, janela,

rio, lago tranquilo.

Relaxamento: vai-se objetivar

despertar a sensação do estado de

relaxamento;

desenvolver a percepção corporal;

desenvolver a percepção gustativa;

harmonização emocional.

(Deitados)

Exercícios de tensão e relaxamento de cada

parte do corpo, utilizando a respiração

(inspirar / tensionar; expirar / distensionar).

Relaxamento físico: enfocando a musculatura

de todo o corpo; conscientizar o aparelho

digestivo e perceber a sua função como

catalisador da energia da terra através do

alimento; perceber o aparelho gustativo,

explorar toda a região da boca, preparando-a

para receber o alimento (nesse momento, o

facilitador se aproxima das narinas de cada

participante com sal, fruta e cravo, variando

os elementos entre eles).

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Aula 5 | Teatro 158

Relaxamento mental: visualização do sol, com

sua luz dourada que se torna azul e penetra

em todo o corpo e se expande criando uma

esfera ao seu redor. Lentamente, os

integrantes podem ir se espreguiçando,

girando o corpo de um lado para o outro,

abrindo os olhos devagar e se levantando.

Expressão:

Solicitar ao grupo que eles se imaginem num

ambiente qualquer, dividindo-se em subgrupos, se

possível, com um mínimo de quatro elementos em

cada. Devem imaginar uma cena do cotidiano inerente

àquele ambiente escolhido e interpretá-la sem o uso da

palavra, apenas com a expressão corporal, evitando a

mímica.

Exemplo: uma família reunida para a limpeza de

partes da casa; pessoas em uma sala de cinema. Cada

grupo se apresenta por vez.

Conclusão: Deve-se facilitar a troca de

experiências, favorecendo os comentários, se quiserem.

Exercício de relaxamento que também trabalha

a percepção. Ideal para ser usado no início de uma

atividade:

Todos de pé, se possível em círculo.

Sempre trabalhando a respiração, inspirando

pelas narinas e expirando lentamente pela boca; a

respiração deve ser um ato de todo o corpo, retesando-

se os músculos ao inspirar, sentindo o oxigênio

circulando por todo o corpo, através das artérias, e o

gás carbônico sendo expulso através das veias.

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Aula 5 | Teatro 159

Com os pés ligeiramente abertos (uma distância

de cerca de 20cm), paralelos, girar a cabeça da

esquerda para a direita, por três vezes, em círculo;

depois, o mesmo movimento da direita para a

esquerda.

Voltando ao eixo principal. Girar o ombro direito

para a frente e para trás; a seguir, o mesmo

movimento com o esquerdo. Em seguida, ambos os

ombros para a frente e para trás.

Erguer-se sobre os calcanhares, levantando os

braços até a altura dos ombros, lentamente ir pousando

os pés no chão, descendo os braços e o tronco,

abaixando a cabeça em direção ao chão. Com o tronco

ainda dobrado, balançar os braços da direita para a

esquerda e vice-versa, procurar manter a contagem de

três tempos. Depois, ir subindo lentamente,

desenrolando o tronco, encaixando os quadris, os

ombros, a cabeça deve ser a última parte a ser

levantada, lentamente.

Conclusão

Só o ser humano tem essa faculdade de

observar a si mesmo, através de um espelho

imaginário. Sem dúvida, ele antes teve essa

experiência de outros espelhos tal como os olhos de

sua mãe, os quais refletem seus olhos. Mas de hoje em

diante, ele pode se ver pela própria imaginação.

Existe um exercício dramático denominado “O

espelho e o índio” que fala um pouco sobre entrar em

contato consigo mesmo, com sua imagem, suas

surpresas. Veja abaixo:

Um índio, andando pela mata, encontra um

pedaço de espelho. Ao ver um objeto tão estranho,

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Aula 5 | Teatro 160

sente medo e curiosidade; finalmente, a coragem

vence. Pega o espelho. O sol se reflete e ele pensa

estar segurando o próprio sol. Sente que o objeto é

duro e liso. Ao ver sua própria imagem se assusta

tremendamente; cada movimento que faz é uma nova

descoberta, nova sensação. Medo. Alegria. Depois de

um jogo entre ele e a própria imagem, leva consigo o

milagroso objeto.

A maior qualidade do teatro reside no permitir

que o ser humano se observe, veja a si mesmo. A

teatralidade é esta capacidade que permite ao ser

humano se ver em ação, em atividade. E, além disso,

através do teatro, a pessoa entra em contato com o

seu corpo e suas emoções de forma integrada e total. O

corpo é essencial na apresentação, assim como a fala,

a postura, o olhar, o tom da voz, a expressão e as

emoções de uma forma geral. O teatro permite a

integração e o autoconhecimento do ser humano.

EXERCÍCIO 1

Os quatro movimentos básicos propostos por Ronaldo

Yozo, fundamentados nos jogos dramáticos criados por

J. J. Moreno, estabelecem:

( A ) Movimentos de análise e síntese de situações-

problemas para a evolução das relações inter e

intrapessoal em grupos;

( B ) Não incluem o autorreconhecimento por mais de

um caminho;

( C ) A falta de complexidades que permita observar a

evolução de "relação do Eu-com o mundo";

( D ) A ausência da noção de grupo enquanto universo

de vários;

( E ) Não propôs nenhum movimento.

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Aula 5 | Teatro 161

EXERCÍCIO 2

Jacob Levy moreno buscava resgatar através do

psicodrama:

( A ) A teatralidade e a felicidade;

( B ) A dramaticidade e a espontaneidade;

( C ) A afetividade e a criatividade;

( D ) A criticidade e a flexibilidade;

( E ) A espontaneidade e a criatividade.

EXERCÍCIO 3

Fale sobre o teatro de fantoches e suas possibilidades.

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____________________________________________

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EXERCÍCIO 4

Discorra sobre o teatro como expressão e comunicação

dentro dos PCNs.

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Aula 5 | Teatro 162

RESUMO

Vimos até agora:

A história do teatro e algumas técnicas

necessárias para se desenvolver o trabalho de

teatralização nas escolas. Os PCNs e suas

normas;

Algumas dinâmicas propostas importantes

para trazer para a prática o entendimento

teórico;

Vocês, também, entraram em contato com

as teorias de Boal e Moreno;

O teatro exige do ator um domínio do corpo,

do gesto, da voz, da expressão e da sua

capacidade de transmitir ao público a

mensagem do autor;

É uma entrega total, embora o ato de

representar seja inerente ao homem como

forma de transmitir sua visão do mundo e da

compreensão da realidade.

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Fotografia

Gerassina Carvalho Costa

AU

LA

6

Ap

res

en

taç

ão

Por meio desta aula, temos a intenção de sensibilizar seu olhar

para uma alfabetização de uma leitura visual, ou seja, uma

combinação do saber ver e perceber as manifestações visuais,

criando valores de consciência e compreensão do mundo,

colocando a fotografia lado a lado com a arte, buscando trabalhar

outras possibilidades de integração da imagem.

Colocamos a fotografia como uma linguagem visual e

pedagogicamente aplicável em sala de aula, tornando as aulas

diversificadas e dinâmicas. Para tanto, é importante que ocorra a

interação da proposta para auxiliar na compreensão e,

consequentemente, na reflexão que surgirão a respeito da

mesma.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Abordar a relação da fotografia e a arte;

Mostrar a fotografia e a arte como uma possibilidade nova e

atual dentro do saber ver e perceber;

Dar um enfoque histórico ao princípio do ver, do olhar desde os

primórdios até os dias atuais;

Fazer uma abordagem da linguagem fotográfica como uma das

possibilidades do ensino das artes;

Mostrar que a área da saúde, também, tem espaço para a

fotografia.

Page 164: Curso LINGUAGENS EXPRESSIVAS E HISTÓRIA DA ARTE … · perceber que cada vez mais, com o desenvolvimento do mundo capitalista e a era mecanicista, o homem foi se distanciando do

Aula 6 | Fotografia 164

Princípio do “ver” e “olhar”

(...) criando a arte, encontrou para si

um modo real de aumentar seu poder

e de enriquecer a sua vida.

(FISCHER, 1979, p. 45)

O velho hábito da humanidade em relação ao

olhar permanece irremediavelmente preso a imagens.

As imagens englobam tanto as alusões ao concreto

(momento histórico ou contexto do sujeito) como

também apontam para uma realidade que não se

esgota nessa referência concreta. O mito da caverna de

Platão ajuda a entender a humanidade como se

estivesse dentro de um mundo e que sua realidade não

passasse disso. Estão presos a um método incorreto de

ver a realidade e só conhecem e mantêm contato com

esse mundo comum. Na Alegoria da Caverna, Platão

afirma que:

Imagine uma caverna separada do

mundo externo por um alto muro, cuja

entrada permite a passagem da luz

exterior (...) Acima do muro, uma

réstia de luz exterior ilumina o espaço

habitado pelos prisioneiros, fazendo

com que as coisas que se passam no

mundo exterior sejam projetadas

como sombras nas paredes do fundo

da caverna. Por trás do muro, pessoas

passam conversando e carregando nos

ombros figuras de homens, mulheres,

animais cujas sombras são projetadas

na parede da caverna (...) Um dos

prisioneiros, tomado pela curiosidade,

decide fugir da caverna. Fabrica um

instrumento com o qual quebra os

grilhões e escala o muro. Sai da

caverna, no primeiro instante, fica

totalmente cego pela luminosidade do

Sol, com a qual seus olhos não estão

acostumados; pouco a pouco, habitua-

se à luz e começa ver o mundo (...).

(Chauí Marilena, 2002)

O caráter do encontro com essa realidade

implica uma atitude específica do mundo, das coisas,

do tempo e do espaço. Essa separação do momento

Princípo do “ver” e “olhar” 164 Fotografia e ideologia 174 A fotografia e a educação 187 A relação da fotografia com a saúde 195

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Aula 6 | Fotografia 165

reflete no olhar onde a tradição dominante prevalece.

Estamos habituados a decifrar a imagem visual que ao

ver mascara o que existe por trás da imagem em si.

Contudo, ao partir de um estudo da história da

arte, verifica-se um grande número de técnicas e

invenções que, apesar de atenderem aos objetivos de

cada época, cumprem o papel de aproximar as imagens

criadas pela mão humana ao retrato fiel da realidade.

Nesse sentido, a técnica fotográfica se torna um dos

instrumentos que, desde sua invenção, traz mudanças

radicais para a produção de imagens. O inventário da

fotografia iniciou-se em 1839 e desde então quase tudo

tem sido fotografado, ou pelo menos assim parece.

(SONTAG,1981,p 3)

Ao ensinar um novo código visual, a fotografia

transforma e amplia as noções sobre o que vale a pena

olhar e o que efetivamente vale a pena observar para

ver. Nesse sentido, Dubois afirma que:

Quase tudo em que acreditamos, e a

maior parte das coisas que sabemos,

aprendemos e comparamos,

reconhecemos e desejamos, vem

determinado pelo domínio que a

fotografia exerce sobre nossa psique.

(2003, p. 13)

A fotografia talvez seja, dentre todos, o objeto

mais misterioso que compõe e dá consistência ao

mundo que identificamos como moderno. Constitui uma

gramática importante do ver. Na verdade, a fotografia

consiste em experiências que se captam e a câmara é o

instrumento ideal para o espírito ávido.

A atitude de estranhamento pode ser

definida como uma abertura para lidar

com a novidade, o desconhecido, o

inesperado, o descontínuo do objeto

que queremos conhecer, elaborando

sobre o mesmo um olhar mais criativo,

diferente do habitual.

(BARBOSA, 2003, p. 96)

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Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. É

envolver-se numa certa relação com o mundo que se

assemelha com o conhecimento e, por conseguinte,

com o poder. A imagem fotográfica tem a maior parte

das informações acerca do passado e do presente. A

fotografia aparentemente não se constitui como um

depoimento sobre o mundo, mas fragmentos desse,

como uma miniatura de uma realidade que todos

podem construir ou adquirir. Assim como Barbosa

coloca a respeito da arte, em seu livro Inquietações e

Mudanças no Ensino da Arte, a fotografia se coloca em

seu universo:

(...) A arte capacita um homem ou

uma mulher a não ser um estranho em

seu meio ambiente nem um

estrangeiro no seu próprio país. (...)

Por meio da arte é possível

desenvolver a percepção e a

imaginação, apreender a realidade do

meio ambiente, desenvolver a

capacidade crítica, permitindo ao

individuo analisar a realidade

percebida e desenvolver a criatividade

de maneira a mudar a realidade que

foi analisada.

(BARBOSA,2003, p. 18)

A fotografia, mesmo brincando com a escala do

mundo, através de suas possibilidades reduzindo ou

ampliando, cortando ou colando, consertando ou

distorcendo, cria a linguagem que expressa, que

compartilha, que traz o conhecimento de um mundo e

reflexões resgatando ou invertendo diferentes olhares e

pontos de vistas.

PARTINDO DA ORIGEM: ARTE E FOTOGRAFIA

A origem da arte vem de forma elementar do

início primitivo do desenho. Ao analisar, por exemplo,

os desenhos da caverna de Lascaux, localizada na

França, não há uma preocupação com o edificar e o

fazer, mas uma referência à utilidade. A pintura aqui se

dá pelo decalque ou impressão.

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É impossível entender esses estranhos começos

sem relacionar com os dias de hoje. O sentimento que

essas imagens passavam para aquele povo não está no

bonito para se contemplar tão presente no censo

comum, mas na sua significação e importância. A

imagem simples exposta na pedra ou nas paredes tem

o mesmo valor expressivo que a tela onde o artista

projeta sua imagem com tintas, pinta, colore e

desenha. Podemos chegar, também, ao processo da

fotografia como comparação desse contexto, onde a

imagem exposta no papel, à projeção da luz, a revela.

Notam-se diferenças de materiais utilizados, mas com o

mesmo resultado obtido: a imagem. (DUBOIS, 2003)

È improvável que o nascimento da arte seja

compreendido sem suas finalidades e propósitos. Pode

parecer que tudo isso tem pouco a ver com origem da

arte; no entanto, é preciso entender que a origem da

arte não é uma história de progresso técnico, mas uma

trajetória de ideias, concepções e necessidades em

permanente evolução. A fotografia, também, tem esse

ponto em comum.

Toda a história da arte é enfocada através de

obras-primas, lugares, nomes, datas e estilos que

valorizam a intimidade com a arte, deixando-nos mais

próximos de seu entendimento. No entanto, é difícil

definir sua origem mesmo partindo de pressupostos e

informações colocadas por muitos historiadores.

A ARTE A PARTIR DE UM REFERENCIAL

A abordagem da origem da arte dentro dessa

proposta de estudo é um encontro para entender,

também, o nascimento da fotografia. Percebe-se com

isso que há uma ligação e um reflexo da arte na

fotografia chegando muitas vezes a considerar que a

fotografia é uma pintura e a pintura é uma fotografia.

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Essa concepção não deve ser colocada como um acaso,

mas como um advento importante para ascensão da

fotografia.

A melhor maneira para esse entendimento seria

a partir do estilo. São esses estilos que definem não

apenas um método expressivo, mas uma posição

geográfica distinta. Segundo Dondis (1997), embora

isso mude de autor para autor, cada nome evoca uma

série de pistas visuais identificáveis que, em conjunto,

abarca a obra de muitos artistas, além de um período e

um lugar como, por exemplo: bizantino, renascentistas,

barroco, impressionista, dadaísta, flamengo, gótico,

Bauhaus, Vitorino. O requinte e as várias técnicas

podem servir para identificar a individualidade

estilística de um artista específico, mas uma análise

mais específica definirá o estilo ou o período que

pertence à obra. Segundo Dondis (1997), em seu livro

Sintaxe da Linguagem Visual, não desconsiderando

outras colocações de outros autores, ao longo de toda a

história da arte, as categorias se apresentam sob cinco

grandes estilos visuais, a saber: Primitivismo,

Expressionismo, Classicismo, Ornamental e Funcional.

PRIMITIVISMO

Certamente, a intenção do primitivismo como

início de um estilo artístico vem da intenção do homem

primitivo em criar suas obras. Em quase todos os

casos, os próprios desenhos dentro deste estilo

representavam toda uma simbologia com forte carga de

significações. O registro da informação visual é

comprovado nas pinturas das cavernas, onde a

representação era expressa graficamente a tudo aquilo

que via. São esses desenhos que trazem a proximidade

da criação de uma linguagem onde todos podiam

entender. Essa simbolização podia ser reproduzida,

falada e entendia por todos.

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Sobretudo na arte primitiva, o traço de

simplicidade e a representação plana contribuem para

detectar obras visuais primitivas, assim como todas as

técnicas descritas, segundo o autor Dondis (1997),

embora não esquecendo que outros autores podem

alterar essas colocações, mudando de autor para autor:

Exagero, espontaneidade, atividade, simplicidade,

distorção, planura, irregularidade, rotundidade,

colorismo (1997, p 171).

EXPRESSIONISMO

O expressionismo sempre dominou a obra de

artistas individuais ou de escolas inteiras, cuja

produção pode ser caracterizada por sentimentos

intensos e por grande espiritualidade. Seria inútil não

colocar como um dos estilos que deu origem à arte bem

como suas técnicas visuais que se fazem presentes até

hoje, segundo Dondis: Exagero, espontaneidade,

atividade, complexidade, rotundidade, ousadia,

variação, distorção, irregularidade, justaposição,

verticalidade (1997, p 173).

CLASSICISMO

O estilo produz sua inspiração na racionalidade

e, para formalizar sua arte, os artistas utilizavam a

matemática e, além disso, o pensamento. Seus

esforços produziram um estilo visual dotado de

racionalidade e lógico, tanto na arte quanto no design.

Grécia e Roma foram a fonte do Renascimento, um

período cujo nome significava, uma retomada da

tradição clássica. É nesse período que se encontra o

desenvolvimento da perspectiva e de um tratamento

único da luz na pintura, conseguindo em seus quadros

relatar o ambiente como se fosse a imagem refletida de

um espelho. Não é coincidência que os primeiros

vislumbres da futura invenção da fotografia tenham

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surgido no Renascimento, na forma de câmara escura.

Dondis coloca as técnicas clássicas como: Harmonia,

simplicidade, exatidão, simetria, agudeza,

monocromatismo, profundidade, estabilidade, estase,

unidade.

ORNAMENTAL

Neste estilo, há uma ênfase nos ângulos agudos

com técnicas visuais discursivas e as exageradas

ostentações floridas trazem os seus significados ligados

a efeitos cálidos e elegantes associados à riqueza e ao

poder. É um estilo que é tratado com uma simbologia

de glória e poder, não havendo espaço para a

objetividade e a realidade. Um exemplo deste estilo é o

Barroco, onde se destaca expressivamente em todo a

sua representação. Dondis coloca as técnicas deste

estilo ornamental como: Complexidade, profusão,

exagero, rotundidade, ousadia, fragmentação, variação,

colorismo, atividade, brilho. (1997, p. 177).

FUNCIONALIDADE

O estilo funcional é a busca da beleza nas

qualidades temáticas e expressivas da estrutura básica

de qualquer obra visual, por isso está ligada

estritamente à regra de utilidade e às considerações de

ordem econômica. A busca de reconciliação do artista

com a máquina é constante e presente nesse período e

vários grupos surgiram, inclusive a escola Bauhaus,

cujo seu objetivo era a criação de novas formas e o

encontro de novas soluções para as necessidades

básicas do homem, sem deixar de lado suas

necessidades estéticas. Uma das questões tratadas por

esse estilo está presente na formulação das novas

definições do belo no âmbito prático e não ornamental.

As principais técnicas funcionais que Dondis cita são

(1997, p. 180) simplicidade, simetria, angularidade,

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previsibilidade, estabilidade, sequencialidade unidade,

repetição, economia, sutileza, planura, regularidade,

agudeza, monocromatismo, mecanicidade.

Nota-se que cada estilo expressava um

sentimento dinâmico que refletia um novo tempo da

arte e, surpreendentemente, era capaz de abordar

diferentes caminhos que, consequentemente, dá

origem a outras possibilidades de criação.

Qualquer que seja a reação pessoal diante da

origem da arte traz nitidamente a compreensão e o

verdadeiro sentido da arte, onde é cercada de

intenções que permite instruir, impressionar e glorificar

sentimentos, conforme (Gombrich 1999), onde o artista

busca envolver efeitos de composição na intenção de

relevar, à primeira vista, um traço, uma linha, um

plano de luz, de sombra, um volume, desenvolvendo

uma imagem dentro de uma composição.

O nascimento da fotografia e sua origem,

também, seguem uma trajetória assim como a história

da arte. Regras de proporção e perspectiva para a

representação do homem e do espaço eram elaboradas

e reelaboradas desde os gregos. Foram utilizadas as

regras geométricas em que os homens da Renascença

refinaram a sugestão de profundidade em suas

pinturas, criando as regras da perspectiva e um novo

código cultural para interpretar o mundo, apreendendo

o espaço tridimensional numa tela bidimensional. A

solução era matemática: o cenário e as figuras

retratadas eram reduzidos proporcionalmente, de

acordo com suas medidas reais. O ponto de vista do

pintor gerou um olhar fixo, que comandava a feitura do

quadro e o olhar do espectador - escolhia-se o motivo

principal, sua posição no quadro e reorganizavam-se os

outros objetos com dimensões proporcionais à sua

distância em relação à figura principal, dando a ilusão

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de profundidade numa tela plana. Por isso, a palavra

perspectiva: “ver através”. Já se tinha uma expressiva

e forte intuição da chegada de uma nova invenção, a

câmara escura.

Até então, o auxílio da câmera escura limitava-

se à cópia da realidade. E foi no século XVIII, que se

realizaram as primeiras tentativas de fixação da

imagem produzida na câmera escura. No entanto, o

que chega diante desta parte da história é, sem

exagero, o maior fascínio que a história da imagem já

havia presenciado. Percebe-se que a fotografia crescia

como uma nova modalidade de expressão visual. Em

1822, um inventor francês chamado Joseph Nicéphore

conseguiu fazer a primeira fotografia (JANSON p. 424).

O interesse pela fotografia crescia e estimulava cada

vez mais outros percursos que buscavam da técnica

artística e não somente de utilidade prática, novos

esboços de imagens que acabavam por refletir na

fotografia. Já precocemente tinha, de forma clara, uma

transformação geral do caráter da arte.

A invenção da fotografia foi uma resposta aos

anseios artísticos da época. Grande parte do impulso

veio de uma busca do verdadeiro e do natural.

Mas com as revoluções Francesa e Americana, a

fotografia teve um grande impacto sobre a imaginação

do período, uma paixão pelo exotismo mostrando o

potencial em ampliar a visão do homem sobre o

mundo. A crença da fotografia é tanta que chegavam a

afirmar “a câmara fotográfica é o olho da história

(Mathew Brady, apud Carol Trickland,1999)”. “A

fotografia cria uma visão do mundo através do mundo,

molda um imaginário novo, uma memória” (Susan

Sontag, 1981). Em sua superfície, o tempo e o espaço

inscrevem-se como protagonistas absolutos, não

importa se imobilizados, ou não imobilizados a esses

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dois instrumentos tempo e espaço para assim gerarem

a imagem. Contudo, essa linguagem que, às vezes,

parece evocar uma “fala”; em outros casos, parece

silenciar ou até revelar um duplo sentido. Essa

duplicidade de imagem sobre uma determinada

realidade parece ser mais importante, pois permite a

fuga, a seleção, a autossatisfação de um mundo na

medida de cada indivíduo.

Diante da aceitação por imagens de todos os

tipos em consequência do surgimento da fotografia os

estilos traçados por Donnis já citados anteriormente

passam, assim, a surgir na fotografia. A fotografia

primitiva que vem enumerar o primeiro estilo, além de

revelar uma época, reflete o ponto de vista e uma

crença inabalável de que tudo podia ser descoberto.

Curiosamente, a fotografia segue seus próprios estilos

assumindo impactos sobre o período e incansáveis

experiências. Um outro estilo aparecido como um

descobrimento do potencial da fotografia em ampliar a

visão do homem do mundo que o cerca é chamado

Estereofotografia.

A cada estilo ou mesmo o tipo que se criava, a

fotografia não se limitava à “morte”, pelo contrário

passa a construir invenções e inovações que lideravam

o período da época.

O fotojornalismo trouxe um novo tipo de

fotografia no qual era totalmente convincente por

possuir o mesmo realismo visível da realidade. É neste

estilo que surge a fotografia documental.

Diante dos estilos fotográficos enumerados

nesse estudo, verificamos que a fotografia consegue

desenvolver uma visão independente que é capaz de

desafiar até hoje a própria imaginação do homem.

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Aula 6 | Fotografia 174

Fotografia e ideologia

Não se pode discorrer a respeito da imagem,

seja na arte ou na fotografia, sem reter essa parte que

constitui um momento que, direta ou indiretamente,

mexe com todo um contexto social e histórico de uma

época: a ideologia.

Ideologia é um conjunto de ideias

desenvolvidas de forma integrada, em

torno de uma ideia central

reformadora que pode ser progressiva

(mudar todo um sistema ou

reacionários resultados de sua

aplicação efetiva), dependendo do tipo

de ação modificadora a ser produzida.

(PEREIRA, 1987, p. 19)

Começa-se a falar da fotografia e da ideologia

em seu ponto em comum: a sua origem. A fotografia e

a ideologia começaram a se comunicar no início do

século do XIX. Ideológicos da época como Marx, Freud

e Nietzsche recorreram a metáforas ópticas e

fotográficas para explicar o processo ideológico. Cada

um com sua concepção começou a estruturar a

linguagem para nomear aquilo para o qual ainda não

existiam palavras. Tanto Marx, Freud e Nietzsche, em

sua linguagem, começam a adotar metáforas como

“câmera escura” e “reflexo” para descrever a inversão

ideológica na representação do real. Podemos constatar

isso na maneira como Freud (1987) escreve a respeito

do aparelho psíquico fazendo uma comparação com

uma máquina fotográfica, segundo o autor Luiz

Humberto Pereira, pois todo fenômeno passa por uma

fase inconsciente, pela escuridão, assim como o

negativo, antes de aflorar à consciência. Nietzsche

(1987) faz alusão à câmara escura, onde declara que

existe a suposta transparência do conhecimento, que a

verdade não se alcança por um desvelamento.

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Aula 6 | Fotografia 175

A estrutura de linguagem balbuciante, sem

muita comprovação, inaugura a desconfiança em

relação às camadas ideológicas, encontrando na

fotografia o modelo de falar sobre o real de maneira

nova. A adoção metafórica de mecanismos ópticos e

fotográficos para “explicar” o funcionamento da

ideologia é indispensável para se repensar as

estruturas do trabalho fotográfico e seu papel de

transformador social. Hoje, se entende a fotografia

como prática de um olhar distinto e diferenciado do

existente no senso comum.

Isto é dito somente para que

reflitamos sobre a mesma

possibilidade de flutuação que existe

no papel que deve ser desempenhado

pela fotografia, ao qual se deve

atribuir uma importância modificadora

maior por que este cabe ao homem,

ao valer-se dos meios de expressão

inventados por ele, e somente a ele

cabe a inteira responsabilidade por

seus usos.

(PEREIRA, 1987, p 19)

RELAÇÕES ENTRE IDEOLOGIA E FOTOGRAFIA

Ultimamente, houve uma tendência ao ver a

determinação da realidade sobre as imagens como

casual, mecânica e unidirecional, quando na realidade

esta se mostra estrutural, reversível e multidirecional.

O que torna claro que a consciência é determinada por

múltiplos condutores de ordem material envolvendo as

relações socioeconômicas. Pensando bem, observar que

qualquer prática constitui um nível do sistema social

onde, simultaneamente, a economia e a ideologia

podem ser distintas.

É necessário lembrar que o fotográfico não

copia o real, que reduz o aspecto bidimensional da

imagem. Entende-se que a fotografia mantém com os

demais elementos do seu produtivo e comunicacional,

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Aula 6 | Fotografia 176

sua perspectiva própria. A técnica fotográfica é tida

como um meio que pode representar fielmente a

realidade. Desde seu início, foi criada para captar a

imagem real projetada pela câmara escura, como se a

mão humana pudesse transformá-la. Portanto, a

imagem fotográfica carrega o peso do real. Assim, a

fotografia só pode cumprir um papel de mostrar uma

realidade se for capaz de perfurar as máscaras e propor

olhares não familiares sobre o mundo.

A fotografia pode não ser confiável

como constatação de uma verdade ou

pode mesmo não conter um indicativo

seguro da ideologia de seu autor, mas

será certamente um resultado

subsequente a se relacionar com o

mundo à sua maneira e, portanto,

capaz de transformar-se em

testemunho importante, talvez até

mesmo de denunciar as angústias e

aspirações de tempo.

(PEREIRA, 1987, p. 19)

Conhecer implica imaginar e inventar. A

reprodução mais fiel do real pode ser a que consegue

maior sugestão, que supera a reprodução do visível

mediante a indagação do virtual. Segundo Pereira

(1987), a Arte da Fotografia permite trabalhar de uma

forma puramente visual, onde a questão do olhar

deverá ser inserida e trabalhada de forma a abrir o

presente ao pressentido do conhecimento. O trabalho

fotográfico como conhecimento não se move no campo

da verdade, mas na verossimilhança. Quem pode

assegurar com segurança, diante de uma foto de um

grupo de soldados que corre empunhando suas armas,

que se trata de um combate ou de um treinamento? A

foto não capta a velocidade, não apresenta o ato,

apenas o gesto, em vez do movimento, a força que o

impulsiona. Assim como na arte, a verdade da foto não

está contida na foto, mas no conhecimento do

contexto. Toda comunicação fotográfica deve expor a

relação entre o que o artista quer dizer, os recursos

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Aula 6 | Fotografia 177

linguísticos de seu meio, os códigos de verossimilhança

sobre uma mensagem que a torna inteligível aos seus

receptores.

A fotografia é suscetível de

interpretações as mais diversas,

dependendo do universo de

conhecimento, predisposição ou

recepção de quem a contempla e tem

deste modo um amplo risco de

distorção dos verdadeiros propósitos

que a geraram. Mas as imagens

sempre transmitem ideias que podem

ser ampliadas em função da

capacidade de imaginação do receptor

e, deste modo, expandir sua atuação

ao nível da esfera de estímulo

intelectual, que lhe confere uma

importância muito maior que a de ser

simplesmente elemento de

comprovação da realidade.

(PEREIRA, 1987, p. 20)

A ideologia da produção fotográfica não está

contida na imagem somente, mas a um conjunto de

processos sociológicos e semióticos com relação a

quem faz ou olha uma fotografia, que se restringe à

objetividade real restrita e particular do olhar de cada

um.

Na verdade, o fotógrafo trabalha o

sentido de suprir suas necessidades

como sensível. Quando tem

consciência justa dos compromissos

sociais a que está submetido,

preocupa-se muito pouco com a

reação favorável de futuras plateias.

Procura alcançar pessoas sintonizadas

numa mesma faixa de sensibilidade,

porque no fundo a fotografia é produto

de uma relação lúdica com a vida.

(PEREIRA,1987, p. 19)

Ainda que se queira estudar exclusivamente os

aspectos ideológicos do fenômeno fotográfico, não se

podem limitar as imagens, os textos (o título, o

catálogo, as críticas), também, podem ser vistos como

manifestações ideológicas, assim como as organizações

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Aula 6 | Fotografia 178

do espaço (localização da galeria de arte, disposição

interna das obras exibidas) e as relações ou processos

observáveis da ação social (o comportamento do

público, a interação do grupo, suas atitudes em relação

a públicos diferentes). São todos esses processos

significantes que configuram o sentido ideológico da

fotografia.

A partir do que foi discorrido, é possível uma

afirmação a respeito da ideologia com relação a sua

prática, tomando por parte a relação entre o fotógrafo e

o espectador, condicionado sobre quatros fatores, a

seguir discriminados, conforme CANCLINI, 1987, p. 17:

A) A origem de classe que determina a

possibilidade econômica de acesso à prática fotográfica,

a um tipo de máquina e a particularidade cultural num

sistema de hábitos, de gostos;

B) A concepção perceptiva que gerou o

equipamento fotográfico;

C) Os códigos sociais de perspectiva e

legibilidade que formam o fotógrafo e o espectador;

D) A estrutura do campo cultural ou

socioeconômico em que o fotógrafo trabalha.

O campo artístico o levara a privilegiar o valor

estético, o campo comercial, os valores publicitários, o

campo jornalístico da comunicação. Ao reconhecer que

o ideológico é constituído pela ação combinada destes

quatro fatores e que se manifestam nos quatro campos

anteriormente mencionados (as imagens, os textos, a

organização do espaço e as relações sociais), temos um

modelo para o estudo dos processos ideológicos na

fotografia. Um modelo muito mais complexo que o

esquema do reflexo que, por contraste, evidencia a

simplificação de sua linha interpretativa.

Mas indagar a respeito desse condicionamento

ideológico cria a possibilidade de livrar das ideologias e

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Aula 6 | Fotografia 179

transgredir lugares-comuns. Uma das possibilidades é a

modificação das relações sociais da produção

fotográfica, que possibilita contribuir para o

conhecimento social, oferecendo melhores condições de

compreensão contextual das mensagens. Poucas

linguagens artísticas apresentam semelhantes ao

público os meios de produção cultural. Outra

possibilidade, talvez, seria propagar seu uso e sua

experimentação. Talvez não tenha função histórica

mais importante que a de contribuir para a formação de

uma nova visão e socializá-la. Uma visão que acabe

com os estereótipos, com as maneiras reflexas de

apresentar o real que as ideologias dominantes

impõem.

LINGUAGEM VISUAL DA IMAGEM NA FOTOGRAFIA

A questão da forma da linguagem visual da

imagem em fotografia baseia-se no “ver para crer”, ao

mesmo tempo em que atesta a existência daquilo que

mostra. Porém, essa questão parte do princípio de

realidade fotográfica da imagem fotoquímica com o seu

referente (objeto) que vem desde o surgimento da

fotografia.

Para o melhor entendimento em relação a isso, é

preciso esclarecer alguns pontos. A princípio, parte-se

do pressuposto da existência de três tempos distintos

como nos coloca Dubois (1996, p. 26), que são a

fotografia como espelho do real, a fotografia como

transformação do real e a fotografia como traço de um

real.

A FOTOGRAFIA COMO ESPELHO DO REAL

Tanto a pintura como a fotografia se encontram

nesse ponto. Está ligada à “semelhança existente entre

a foto/imagem e seu referente/tema”. Esse discurso é

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percebido tornando a imagem de maneira

“automática”, “objetiva” e “natural” que reflete a época

do século XIX.

Outrora, eram homens que apanhavam um

punhado de terra colorida e com ela modelavam as

formas na parede das cavernas; hoje, alguns compram

suas tintas e desenham cartazes para tapumes, eles

faziam e fazem muitas outras coisas. A fotografia

também surge como essa atividade de imagem. Tanto

a fotografia como a arte conservam em mente o seu

significado em tempos e lugares diferentes.

É nesse século XIX em pleno Romantismo que

acontecem as reações dos artistas contra o domínio e

crescimento da indústria técnica na arte (DUBOIS,

1993, PP. 28). É tão forte a ideologia presente que

aparece junto à necessidade de assinalar diferenças,

denunciar as confusões, a cada prática, o seu campo

próprio: a Arte aqui (pintura), a Indústria ali (foto).

Baudelaire (apud, Dubois, 1993, PP. 29) coloca isso

claramente quando afirma que:

Estou convencido de que os progressos

mal aplicados da fotografia

contribuíram muito para o

empobrecimento do gênio artístico.

Na realidade, nos causa um choque em suas

colocações e lutamos contra a repulsa de sua tremenda

sinceridade.

É importante ressaltar ainda que Baudelaire, a

partir desse trecho, coloca a fotografia “como simples

instrumento de uma memória documental do real e a

arte como” pura criação imaginária. “(DUBOIS, 1993,

p. 29)”.

Diante de tantos discursos e correntes que

tiveram a respeito da prática da fotografia e da arte,

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talvez seja interessante ressaltar, mudando um pouco

essa linha, uma afirmação de Picasso, no livro O Ato

Fotográfico (DUBOIS, 1993):

Quando você vê tudo o que é possível

exprimir através da Fotografia,

descobre tudo o que não pode ficar por

mais tempo no horizonte da

representação pictural. Por que o

artista continuaria a tratar de sujeitos

que podem ser obtidos com tanta

precisão pela objetiva de um aparelho

de fotografia? Seria absurdo, não é? A

Fotografia chegou no momento certo

para “libertar a pintura” de qualquer

anedota, de qualquer literatura e até

do sujeito. Em todo caso, um certo

aspecto do sujeito hoje depende do

campo da fotografia.

(1999, p 31)

De fato, não tarda em descobrir um grande e

inegável encanto que a fotografia pode representar e

que, no entanto, a pintura não deixa de ser atraente,

mas não é possível considerá-la como infinitamente a

única representação da linguagem visual ou a imagem

em si.

Assim como Picasso, outra citação parece

prolongar esse tipo de discurso “libertador”:

Rematando o Barroco, a fotografia

libertou as Artes Plásticas de sua

obsessão da semelhança, pois a

Pintura esforçava-se, em vão, em nos

iludir, e essa ilusão bastava à Arte,

enquanto a Fotografia e o Cinema são

obsessão ao realismo (...) libertando

do complexo da semelhança, o Pintor

Moderno – cujo mito é hoje Picasso –

abandona-o ao povo que identifica a

partir de então, por um lado, à

Fotografia e, por outro, apenas à

Pintura que se aplica a isso.

(André Bazin apud, Dubois 1993)

É interessante perceber nesses dois discursos da

Fotografia, que busca a função documental, a

referência, o concreto, o conteúdo, enquanto a Pintura,

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o outro busca o formal, a arte, o imaginário.

Entretanto, gostos e padrões se dividem com uma

graciosidade e encanto que o tempo se encarrega de

descobrir em ambas um gosto intrínseco variável.

A FOTOGRAFIA COMO TRANSFORMAÇÃO DO REAL

Segundo Dubois, a ideia que o século XIX deixa

é da imagem fotográfica como da semelhança; já, no

século XX, vem insistir na ideia da transformação do

real pela foto, não descartando vestígios presentes do

século XIX, que, direta ou indiretamente, aparece. É

com essa atitude de denunciar essa faculdade da

imagem de se fazer cópia exata do real que nos coloca

a foto aqui, como um conjunto de códigos dotado de

um valor da própria representação. É importante

ressaltar que a fotografia não tem muito sucesso em

relação à restituição do real, embora composta por uma

paleta de cores que o pintor experimenta em expressar

fielmente a imagem, na fotografia, a certos detalhes

como meios-tons, sombras que mesmo na tentativa de

transmitir o real acaba ficando numa mera pretensão.

A FOTOGRAFIA COMO TRAÇO DE UM REAL

A questão do realismo da fotografia não poderia

ser abordada senão por essa visão, a fotografia como

traço do real. É exatamente aqui que a forma de

concepção da imagem fotográfica tem um valor

absoluto. Ela implica que a imagem é dotada de um

valor singular ou particular determinado por um

referencial: traço de um real. Portanto, a fotografia

começa a ganhar conexão de três vertentes: índice,

ícone e símbolo (DUBOIS, 1993, p. 62). Já na arte, o

esquematismo gráfico do real, muitas vezes, causa

certo protesto quando envolvido com a arte moderna,

onde o certo em desenhar coisas de um modo diferente

ao nosso olhar, modifica-se ou distorce, mostra

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insolência, agressividade e estupidez ao que é

fielmente percebido ao nosso olhar, e a reprodução do

mundo visível são, por certo, dignas de admiração.

Analisando separadamente estas vertentes,

coloca-se como índice porque é construtiva, através

desta construção, aparece como ícone e, finalmente,

adquire um sentido, ou seja, tornar-se símbolo.

... Todo mundo; ao falar de Fotografia,

dela fala como de uma outra pintura...

Estamos ainda na querela deformada

da imitação ou não da natureza, que

faz ou não faz com que a fotografia

seja uma arte, como na pintura, ou

bem ao contrário, de forma alguma

como a pintura etc. num vasto negócio

de enfoque e enquadramento (um

“depósito de saber e de técnica), no

pavor do momento inelutável, quando

o indicador recurvado e rijo vai se

apoiar no disparo ou lançar ao mesmo

tempo um relâmpago eletrônico (um"

depósito de saber e técnica”), na

brutalidade do golpe de polegar que

faz um filme progredir de uma foto a

outra, o que é bem sentido pelos

músculos da falange...”....” no que

pesa entre as mãos, mantido na altura

do olho, ou na barriga, ou com os

braços esticados; depósito do saber e

técnica, tiro cruzado... caso necessário

de tempo e de morte... a questão

decerto não é mais ”qual a questão

que nos é colocada por uma foto?” e

nem”o que um filosófo pode fazer com

uma foto?... mas em que se faz ?

(Denis Roche, apud Dubois p. 57

1978)

Essa citação leva a uma espécie de síntese

reflexiva a respeito dos fundamentos da linguagem

fotográfica, ou seja, a imagem e o fato que a define.

Não é apenas uma imagem produzida por um ato, é

verdadeiramente um “ato icônico”.

A imagem tem sua razão e seu processo de

transmissão visual, ou seja, constitui uma capacidade

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de informação do observador do seu próprio mundo,

cobre outros tempos e lugares, distantes e

desconhecidos. Assim, não é mais possível a imagem

como força do seu modo constitutivo, fora do que a faz

ser como é.

O real deixa de ser rígido,

preestabelecido para sempre e passa a

ser algo que eu possa olhar de vários

ângulos para encontrar a melhor forma

de compreendê-lo.

(BARBOSA, p. 29)

A arte e a fotografia se colocam dentro desta

categoria que, além de participar de formas novas, de

combinações de ideias, de representações e expressões

de diferentes contextos, introduz uma relação

específica com os signos de tempo, de espaço, do real,

do sujeito, integrando o ser e o fazer.

Partindo desse princípio, tem-se o início do nível

mais elementar de linguagem visual da imagem

fotográfica - o traço de um real. Esse princípio traz uma

clara definição e conceito da fotografia:

Impressão luminosa, fixado num

suporte bidimensional sensibilizado por

cristais de haleto de prata, de uma

variação de luz emitida ou refletida por

fontes situadas à distância num espaço

de três dimensões.

(DUBOIS,1993, p. 60).

Talvez se pode considerar essa como sendo uma

definição mínima da fotografia em relação com que dirá

Roland Barthes:

Dizem muitas vezes que foram os

pintores que inventaram a Fotografia

(transmitindo-lhe o enquadramento, a

perspectiva Albertina e a ótica da

câmera escura). Eu digo: não foram os

químicos. Pois a “noema” isso foi só foi

possível no dia em que uma

circunstância científica (a descoberta

da sensibilidade dos haletos de prata à

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luz) permitiu captar e imprimir

diretamente os raios luminosos

emitidos por um objeto iluminado de

forma divina. A foto é literalmente

uma imaginação do referente. De um

corpo real que estava ali, são partes

das radiações que vêm me tocar, eu

que estou aqui, ouço importa a

duração da transmissão; a foto do ser

desaparecido em me tocar como os

raios atrasados de uma estrela.

(Barthes apud Dubois,1999, p 60)

A partir desta definição, se tem claramente

explícito todo um conjunto de traços que a mesma

compõe. Tendo essa concepção, pode-se dizer que a

fotografia, antes de qualquer outra consideração

representativa, antes mesmo de ser uma imagem, é

uma ordem da impressão, do traço, da marca, do

registro. É a busca do equilíbrio e compreensão de

forma simples e realista.

Deve-se, sobretudo, observar que a fotografia

distingue-se fundamentalmente de sistemas de

representação como a pintura ou até mesmo o

desenho, bem como os propriamente linguísticos (dos

símbolos). Para a fotografia e também para obras de

artes, a composição e a apresentação destes sistemas

são classificadas em três elementos: o ícone, o índice e

símbolo.

De acordo com Philippe Dubois e segundo

discursos de Pierce, vem fazer as significações dos

mesmos:

...chamo de índice o signo que

significa seu objeto somente em

virtude do fato de que está realmente

em conexão com ele...

...os índices são signos cuja relação

com os seus objetos consistem numa

correspondência do fato...

...Ícone remete ao objeto que ele

denota simplesmente em virtude das

características que ele possui quer

esse objeto exista realmente, quer

não...

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...O símbolo é um signo que remete a

um objeto que ele denota em virtude

de uma lei, normalmente a uma

associação de ideias gerais...

A compreensão desses elementos é

particularmente importante quando percebemos a

relação de cada um, seja na arte, seja na fotografia

passa para informação da linguagem visual. Basta

entender que, quando se referir a um ícone, é a

representação do real ou imaginário em si. O índice traz

a existência do real do objeto, quer este pareça, quer

não com o objeto. E os símbolos são a compreensão da

palavra comum da língua. A comunicação visual,

através da construção das formas visuais, permite ao

visualizador compreensão e diversidade, dando maior

liberdade para opções compositivas possíveis.

Portanto, percebemos que não é possível pensar

a fotografia fora de sua inscrição referencial como o

próprio Pierce nos coloca:

As fotografias, em particular as

fotografias instantâneas, são muito

instrutivas porque sabemos que, sob

certos aspectos, elas se parecem

exatamente com os objetos que

representam.

(Pierce, apud Dubois, 1993 p. 65)

A partir dessa colocação, nos traz a

compreensão da originalidade da linguagem visual da

imagem fotográfica, levando em consideração que em

cada imagem entra todo um campo da referência, tanto

para sujeito – operador, quanto para o sujeito –

espectador.

Essa relação da imagem fotográfica não está

ligada somente ao aparelho fotográfico como sendo

indispensável, muito menos colocar em segundo plano

os químicos, mas toda uma estrutura de composição do

mundo exterior.

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A mensagem fotográfica ao ser

percebida, põe em funcionamento um

complexo mecanismo subjetivo que

reconstrói a imagem de acordo com o

valor emocional e intelectual que o

indivíduo lhe confere.

(BERNAL, 1987 p. 137)

É inevitável que essa preocupação da fotografia

se estenda à arte e, simultaneamente. compartilhe

desta interação, onde artista e fotógrafo buscam um

equilíbrio perfeito e uma relação exata para esta

composição da linguagem visual e da imagem. Tudo

que foi dito aqui recai sobre a imagem fotográfica em

manifestação com o seu tempo. Qualquer foto mostra o

passado por mais próximo ou distante que seja. A

distância temporal traz a fotografia como uma

representação sempre atrasada, adiada dessa imagem.

Na arte, é iminente o poder que o pintor tem de, a

qualquer momento, corrigir o que já está inscrito,

reorientar suas linhas de composição, acrescentar um

toque de cor, fazer variar, a cada pincelada, a vontade

de sua imaginação. Já a fotografia, mesmo com um

abismo, o fotógrafo conta com a focalização sobre a

cena, enquadramento, escolha da lente, filtro, abertura,

velocidade, asa do filme (depois da captura), revelação

da película, contraste da ampliação e, hoje,

manipulação digital. Depois de, no lampejo de um único

segundo, pressionado o disparador com o seu

indicador, uma vez marcada a película, a imagem é

capturada e registrada; o fotógrafo, assim como pintor,

abre espaço para mudanças. Cumpre-se reconhecer

que a complexidade de criação da imagem fotográfica é

muito maior do que se imagina.

A fotografia e a educação

Ao nos colocarmos diante de uma máquina

fotográfica, poderia nos referir segundo Matheus Brady,

fotógrafo americano que cobriu a Guerra Civil Norte-

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Americana, como “o olho da história”. Quando visualiza

imagens fotográficas, enxerga como testemunhas

oculares um contexto histórico, ou seja, passam a ser

janelas que se abrem para relatar um momento, a

ponto de contar a história através de imagens.

Sem dúvida que, ao longo da história da

fotografia, toda a representação nos possibilitou a

criação de uma marca histórica representacional, que

nos possibilitou a realidade do passado e a criação de

uma memória futura, onde podemos distinguir esta

história de seus períodos, estilos e épocas anteriores.

Tudo vem construir um catálogo que nos aproxima de

uma realidade do nosso passado, assim como na

própria História da Arte, essa mesma janela se abre e

encontramos um mundo de imagens, onde temos

conhecimentos da existência da Idade da Pedra,

sabemos que houve uma era Feudal e uma Revolução

Industrial, esses períodos sucessivos progridem em

direção ao nosso tempo, para além deste, mergulham

no futuro.

Todos esses registros vêm para nós como prova

do que se experimentou, num determinado tempo, e se

vive como memória ao longo dos tempos. Não podemos

separar a fotografia da nossa vida, ela é presente

desde o nosso nascimento até a nossa documentação

social.

A presença da câmara e a produção

subsequente da imagem constituem

um alimento indispensável para nutrir

o instinto e o desejo do ser humano de

ficar fixado para “a eternidade” num

retângulo de papel fotográfico.

(FABRIS,1987, p. 73)

Todo esse processo de produção, de circulação

ou até mesmo de consumo de imagens fotográficas faz

parte de nosso “habitat natural”, próprio da cultura

técnica que habilita a imagem como forma de

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identificação de construção de uma autoimagem do

próprio indivíduo ou até mesmo de uma nação.

FORMAS DIFERENCIADAS DE PERCEPÇÃO COM A

ARTE E A FOTOGRAFIA EM SALA DE AULA

Partindo da aproximação do senso comum,

descobre-se que ver, olhar e pensar são práticas

inseparáveis para o entendimento de qualquer imagem

visual. A prática da fotografia e a história da arte

trazem como fio condutor às múltiplas formas de

percepções que, além de uma memória, conseguem

traduzir valores, ideias, tradições e comportamentos

em diversas épocas históricas.

É possível assegurar uma prática metodologia

dentro da sala de aula através da fotografia, assim

como a história da arte, onde as imagens ainda se

perduram e atuam como elementos de ligação ao

conhecimento do processo ensino-aprendizagem. As

múltiplas formas de percepções são encontradas no

decorrer de toda a nossa história, criando instrumentos

de transmissão do processo de objeto de estudo da

arte-educação.

(...) A novidade e a força do olhar

renascentista é recriar a pintura dos

Antigos e fundar a ciência do Moderno

(...) o olhar racionalista clássico

examina, compara, esquadrinha,

mede, analisa, separa... mas nunca

exprime. (...) O olhar do marxismo e o

da psicanálise criticam o olhar do

ideológico do burguês e o olhar do

cego com sua ilusão de sujeito

ominisciente.

(CIAVATTA, 2002, p18)

É essa percepção diferenciada que molda o

olhar, a vida e a forma de compreender e expressar o

mundo que é reproduzido pela “máquina fotográfica”

que se faz proposta para a sala de aula. A busca da

compreensão da totalidade implícita, mas oculta na

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fotografia, supõe o esforço de articular as partes em

um todo e seus significados. Isso supõe investigação,

produção e uso da fotografia.

Na aprendizagem, a aquisição é um

dos ingredientes do processo. (...)

Pressupõe uma curiosidade que não

focaliza o acerto ou o erro, mas a

possibilidade da descoberta (...) o que

quer dizer imaginar e perceber dados

da experiência como vistos pela

primeira vez, com olhos de criança,

nas palavras de Matisse.

(BARBOSA, 2003, p. 177)

A importância da fotografia, como uma

linguagem dentro do processo ensino-aprendizado,

precisa ser levada para as escolas como forma de

expressão e compreensão pelo olhar, os modos de ver

e as relações que acompanham toda a vida humana,

como memória e expressão da cultura de um povo, de

uma época, onde a compreensão de novas

comunicações nos desafia a compreendê-la e nos leva

ao complexo do processo educativo fora da realidade de

muitos educandos e escolas.

Todas essas possibilidades são viáveis quando

nos deparamos com a proposta da educação pela arte,

buscando construir um indivíduo completo que interage

com um universo de manifestações múltiplas e

informações diversas.

Observando o universo da arte, descobrimos a

complexibilidade e o dinamismo que a linguagem visual

exerce dentro do processo conhecer, entender e saber

das artes visuais que, expandindo as fronteiras

eventuais de conteúdos sem significados, possibilita

encontro de parâmetros e direcionamentos do ato

fotográfico, que levam a novos questionamentos e

novas modificações entre o ensino e a aprendizagem.

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A arte é um produto da imaginação, da

criação, do pensamento do artista, de

sua capacidade de percepção e

formulação de realidades (...) A não

conformidade, tanto na forma quanto

no conteúdo da criação, permite

pensar em novas maneiras de organizar

e de inter-relacionar os elementos

significativos, atribuindo formas

inéditas de existência. Esse encanto

pelo novo permeia, também, novos

materiais, tecnologias, interações e

possibilidades de sentido. A arte como

área do conhecimento exige do

indivíduo a utilização da mente: os

sentidos, as emoções, a intuição. (...)

Assim sendo, durante o Ensino Médio,

o contato como os processos de novas

possibilidades de estudo, apreensão e

domínio favorecerão o

desenvolvimento dos processos

superiores e ampliará a percepção e

sensibilidade estética do educando

contribuindo para a formação e

preparação para a atuação e interação

consciente, junto à realidade que o

cerca.

(SECRETARIA, 2000, pp 94 e 95)

O alcance educativo dos processos ligados à

fotografia para a obtenção da imagem, que, também,

se estende à história da arte, não é somente o ensino

estético e histórico da linguagem de um específico

contexto histórico, nem tão pouco o entendimento do

ponto de vista da relação dos elementos visuais como

linha, forma, claro-escuro, cor, unidade, repetição,

equilíbrio, proporção, mas envolve o desenvolvimento

da capacidade de formular hipóteses, julgar, justificar e

contextualizar acerca das imagens e opor um olhar em

busca da compreensão dessa realidade, dentro de

centenas de janelas entreabertas, onde o universo da

fotografia e da arte nos apresenta um foco histórico

determinado.

A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO CAMPO DA

FOTOGRAFIA E DA ARTE DENTRO DA SALA DE

AULA.

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Aula 6 | Fotografia 192

A Arte e a Fotografia dentro da sala de aula,

como já mencionado anteriormente neste capítulo,

precisam trabalhar o ver e o olhar, principalmente

porque ao chegar dentro da sala de aula a maioria dos

educandos tem o “olhar” sem o “ver”. Alguns teóricos,

como Smith, 1997; Canizal, 1998; Zamboni, 1998,

ressaltam que começamos olhando para depois

chegarmos ao ato de ver. Assim, a busca da

compreensão é muito particular e própria do olhar de

cada um. Quando se coloca a forma de possibilidades

diferentes que supere os limites da percepção, o

alcance de um conhecimento e a construção de um

entendimento dar oportunidade para que esse aluno

passe do limiar do olhar para o universo do ver que se

realiza dentro do ato de percepção e de reflexão de um

determinado contexto.

A proposta da educação do olhar começa com a

busca do possibilitar, da construção das próprias

imagens e das reflexões sobre as criadas. A fotografia

como as outras linguagens visuais não se esgotam na

ação do fotógrafo e muito menos se encerram com o

ato fotográfico, mas abre espaço para articular dentro

de um processo ensino-aprendizado uma abordagem

triangular produzindo, apreciando e contextualizando. É

possível com a Abordagem Triangular defendida por

Ana mae Barbosa, e dentro de um plano de

possibilidades e compreensão das imagens fotográficas

lançarem mão para trabalhar com a fotografia sem

desconsiderar elementos visuais da imagem. A

interpretação e a percepção da imagem, além de

traduzirem significações técnicas, traduzem uma

mensagem visual. Por exemplo:

O ESPAÇO

Onde o educando pode identificar a distribuição

dos objetos, dos personagens, das linhas e das formas.

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Isso pode ser trabalhado com imagens fotográficas da

vivência do aluno como também serem criadas pelo

próprio aluno.

Fayga Ostrower coloca o espaço como:

Vivência básica para todos os seres

humanos, o mediador entre nossa

experiência subjetiva e a

conscientização dessa experiência.

(1989, p. 30)

A noção do espaço é parte de nossa experiência

sensível. Tudo que vivemos precisa assumir uma

imagem espacial para obter uma forma consciente.

Através das dimensões espaciais, podemos criar

diferentes representações do espaço e novas

modalidades de expressões espaciais. Para Umberto

Eco, o espaço é uma intuição pura, a forma como

organizamos e classificamos nossas experiências para

poder elaborá-las.

De qualquer forma, a manipulação espacial

dentro da fotografia se faz importante pela

interatividade e abertura de participação direta dos

alunos que participam de uma realidade tridimensional

e bidimensional.

OS PLANOS

São definidos de acordo com o posicionamento e

a distância entre a câmara e o objeto fotografado. A

utilização destes planos em uma foto abre espaço para

se trabalhar as proporções dos objetos retratados, ou

seja, a perspectiva que dá informação sobre a forma e

o tamanho dos objetos, a partir da posição da qual eles

são vistos, além de permitir detalhes descritivos dos

vários planos que determinada imagem fotográfica traz.

Outro ponto que pode ser levado para um assunto em

sala de aula são as linhas presentes dentro de um

plano na fotografia. As linhas convergentes são

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interpretadas pelo cérebro humano como indicadoras

de distância (SENAC, 2004, p. 80), na fotografia elas

são um dos modos mais eficazes de conferir

profundidade à imagem.

O ENQUADRAMENTO

Diz respeito ao posicionamento do objeto dentro

do limite de margens das imagens. Em relação ao

enquadramento, podem-se abordar diferentes

percepções do objeto centralizado, descentralizado,

oblíquo etc. Este componente permite a intenção do

fotógrafo em determinar o seu enquadramento. A

proposta para uma atividade em sala permite ao aluno

a descrição perceptiva detalhada de temas da

atualidade que trazem informações visuais detalhadas.

A COMPOSIÇÃO

As composições de vários elementos podem ser

trabalhadas como conteúdos significativos dentro da

sala de aula, entre eles, a imagem figurativa ou

abstrata, as formas, linhas, cores, tons, luzes, sombras

que até então eram trabalhadas apenas com imagens

de obras de artes, são tomadas por fotos e imagens

que o próprio educando traz ou de sua própria criação.

TEMPO E MOVIMENTO

A peculiar e, talvez, a principal característica da

fotografia é a paralisação do movimento. A fotografia é

a única imagem técnica que altera a percepção do

movimento no ato de sua produção. Diferente do

cinema, ela paralisa um momento escolhido do

contínuo tempo para ser imobilizado. Tempo e

movimento são tão importantes quanto a luz. Isso pode

ser constatado nas diversas imagens fotográficas que

fazem de seus registros a fixação de um momento

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histórico existente e atual. A Arte e a Fotografia dentro

da sala de aula se completam e caminham para uma

alfabetização visual perfeitamente aceita. Segundo os

PCNs, em sua introdução, coloca possível e aceito o uso

da máquina fotográfica para a produção de informações

visuais, na medida em que permite o registro de cenas,

ambientes e acontecimentos da vida cotidiana, ou

fenômenos ambientais para serem observados,

comparados, analisados e refletidos. Pode ser usada

para obter informações visuais sobre a arte popular,

produção e saúde, espaço urbano e rural, por meio da

comparação entre semelhanças, diferenças e

transformações. Além disso, as variações temáticas

levam a uma ampla e variável abordagem dentro do

contexto e realidade do educando, permitindo a

flexibilidade e a unidade da aprendizagem.

A relação da fotografia com a saúde

A relação da saúde com a fotografia, ainda, está

por ser compreendida. A fotografia e a saúde estão

simultaneamente ligadas a uma atitude real dentro de

um contexto bem como a cada olhar uma situação

diferente. No contexto atual, as fotografias que antes

ilustravam e enfeitavam o mundo sendo colecionadas

em álbuns, emolduradas em portasretratos, pregadas

nas paredes como quadros, expostas nos museus como

arte deixaram de ser vistas apenas como “fatias da

realidade” passando a ser misturadas e dissolvidas,

produzindo notáveis ramificações em diversos e novos

meios do conhecimento humano, onde o mais

importante não é o nunca visto, mas mostrar o

conhecido de forma verdadeira através da visão.

Ao longo da trajetória da fotografia, a criação de

uma marca histórica nos possibilitou a realidade do

passado e a criação de uma memória futura, onde

podemos distinguir esta história de seus períodos,

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estilos e épocas anteriores. No âmbito da saúde, isso

não foi diferente. As primeiras descrições de doenças

datam de 2000 anos antes da era cristã. Algumas eram

obras-primas literárias ou pictóricas, que permanecem

até hoje como referência para a atividade médica.

Como o juramento de Hipócrates ou as descrições da

peste e de vários outros males da época. Na fotografia,

sua virtualidade revela dimensões científicas, artísticas

e o entendimento de um fato histórico. A fotografia,

assim como outras linguagens, expressa a

compreensão pelo olhar, para a saúde se faz

fundamental a compreensão de sua prática e cura,

levando-se em consideração o olhar, o ver e o pensar

que é o fio condutor para essa análise.

Através da História, buscamos a compreensão

para essa relação entre fotografia e saúde, extraindo as

diversas formas de olhares. Começaremos pelo olhar

renascentista, onde Descartes recortou que o mesmo

apenas analisa a forma que está a sua frente. Já o

olhar racionalista examina, compara, esquadrilha,

mede, analisa, separa... mas nunca exprime. O olhar

do Marxismo e o da psicanálise criticam o olhar do ego

e o ideológico com sua ilusão de sujeito onisciente. A

fotografia faz esse elo com a saúde, com o olhar da

mente e do corpo, esse olhar que molda a vida na

busca do equilíbrio, evocando um olhar que orienta e

age. Essas relações de olhares colocados no cotidiano

expressam a compreensão dos modos de ser, das

relações manifestadas em emoções, sentimentos e

pensamentos.

As imagens fotográficas cumprem um papel

educativo e de propaganda. Sua circulação, produção e

consumo buscam a possibilidade de transformação pela

promoção da saúde. Podemos constatar isso nas

imagens veiculadas nas embalagens de cigarros que

fazem parte das estratégias no combate ao tabagismo,

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tais imagens trazem o discurso oficial de especialistas e

constroem narrativas, entendidas como verdades,

alicerçadas no conhecimento científico. Além disso, a

fotografia é um dos mais importantes protocolos

aplicados às diversas outras áreas da saúde, é a

utilização desse recurso que o profissional de

odontologia evidencia a qualidade de adaptação de uma

prótese dentária, por exemplo, o ajuste de uma

restauração, o antes e depois de um procedimento

estético. O exercício da fotografia induz as pessoas a

valorizarem e compreenderem melhor a imagem

através do olhar. Um exemplo disso está no âmbito da

saúde onde o corpo pode ser revelado, lido e tornar-se

legível, levando o profissional da área a criar atalhos

para solucionar problemas com mais urgência.

Apesar do seu inegável caráter indicial, a

imagem fotográfica é resultado de uma escolha visual e

narrativa que, no caso, cria uma história prática

construída sobre memórias. Memórias que com o seu

tempo próprio, também, constroem a história. A

história da imagem interna de um ser vivo é

relativamente recente. Na noite do dia 8 de novembro

de 1895, o físico alemão William Conrad Roentgen, que

trabalhava com tubos de Crookes em um pequeno

laboratório na cidade de Würzburg, descobriu o que

denominou como raios X. Observou que estes raios,

diferentes de outros conhecidos até então, como a luz,

por exemplo, eram capazes de atravessar objetos de

densidade menor como a madeira, porém não metais.

No início de dezembro, ao expor um cachimbo de

chumbo a estes raios, enquanto o segurava, verificou,

assombrado, após a revelação da chapa fotográfica, os

ossos dos seus dedos segurando o cachimbo. Com o

intuito de comprovar esta descoberta, convidou alguns

dias depois sua esposa, Bertha Roentgen, e a fez

colocar a mão esquerda em cima de uma chapa

fotográfica, ligou o equipamento e o deixou agir por

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Aula 6 | Fotografia 198

cerca de seis minutos. Após a revelação, comprovou a

propriedade dos raios X penetrarem os tecidos moles e

serem retidos pelo mais denso, como os ossos e o anel

de ouro que a esposa portava. Esta foi a primeira

radiografia, a primeira imagem de uma parte interna do

corpo realizada sem processo cirúrgico ou dissecação.

Nestes poucos mais de 100 anos que nos separam

desta descoberta, o progresso da medicina para

promoção da saúde tem sido vertiginoso, mas sem este

passo inicial da descoberta dos raios X dificilmente

chegaríamos onde estamos. Hoje, contamos com um

arsenal de possibilidades de imagens que dão apoio ao

diagnóstico anatômico, funcional, prognóstico e decisão

terapêutica.

A interpretação e a análise final da relação da

fotografia com a saúde se inserem num processo de

comunicação a partir de um determinado assunto,

evidenciando a dualidade entre o representado e a

representação da imagem, o que ela é e o que ela

significa, ampliando a visão e o olhar para revelar

segredos e soluções futuras.

EXERCÍCIO 1

Julgue os itens abaixo em C para certo, em E para

errado e, de acordo com o texto, a relação da

fotografia com a saúde. Em seguida, marque a

sequência correta:

(sss) As primeiras descrições de doenças datam de

2000 anos antes da era cristã;

(sss) No âmbito da saúde onde o corpo pode ser

revelado, a fotografia só atrapalha o profissional, pois

não dá chance para solucionar problemas com mais

urgências;

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Aula 6 | Fotografia 199

(sss) As imagens fotográficas cumprem um papel

educativo e de propaganda, sendo que dentro da saúde

elas não contemplam esse objetivo;

(sss) Entre os diversos olhares citados no texto, podemos

destacar o de Freud onde coloca que o olhar

renascentista apenas analisa a forma que está a sua

frente;

(sss) As imagens fotográficas dentro da área da saúde

só veio criar uma série de possibilidades dão apoio ao

diagnóstico anatômico, funcional, prognóstico e decisão

terapêutica.

( A ) C;E;E;C;E;

( B ) C;E;E;E;C;

( C ) E;C;E;C;E;

( D ) E;C;C;C;E;

( E ) Nenhuma das alternativas.

EXERCÍCIO 2

O primeiro físico alemão a dar início à história da

imagem interna do ser vivo criando o que chamamos

até hoje de RX foi:

( A ) Bertha Roentgen;

( B ) Hipócrates;

( C ) william Conrad Roentgen;

( D ) Freud;

( E ) nenhuma das alternativas.

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Aula 6 | Fotografia 200

EXERCÍCIO 3

O texto traz a seguinte afirmação:

“No contexto atual, as fotografias que antes ilustravam

e enfeitavam o mundo sendo colecionadas em álbuns,

emolduradas em porta-retratos, pregadas nas paredes

como quadros, expostas nos museus como arte

deixaram de serem vistas apenas como “fatias da

realidade”, passando a ser misturadas e dissolvidas,

produzindo notáveis ramificações em diversos e novos

meios do conhecimento humano.”

De acordo com essa afirmação, comente com suas

palavras, concordando e/ou discordando.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

No texto lido nos coloca a fotografia e a saúde em

constante relação principalmente no que diz respeito ao

olhar com suas palavras, faça também essa relação

voltada para o cotidiano.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 6 | Fotografia 201

RESUMO

Vimos até agora:

Esta aula demonstrou uma abordagem acerca

da relação da fotografia e a arte,

considerando que a fotografia e a arte são

uma possibilidade nova e atual dentro do

saber ver e perceber;

Foi dado um enfoque à exposição histórica ao

princípio do ver do olhar desde os primórdios

até os dias atuais;

Destacamos os caminhos da origem da arte e

da fotografia;

Também foi evidenciado o entendimento da

prática de um olhar distinto e diferenciado

que se constrói dentro da fotografia e da arte,

importando com isso que cada um tem um

processo de criação singular;

Por fim, ressaltamos que a união da arte à

fotografia e vice-versa surge como uma

contribuição ímpar na construção de uma

aprendizagem significativa e coerente. Sem

contar o toque final.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1A; 2(V,V,V,F,V). AULA 2 – 1D; 2A. AULA 3 – 1A; 2D. AULA 4 – 1E; 2E. AULA 5 – 1A; 2E. AULA 6 – 1B; 2C.

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AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina

CURSO: Linguagens Expressivas e História da Arte

DISCIPLINA: Linguagens Expressivas

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

QUESTÃO 1: Explique com suas palavras as 7 fases da história do corpo.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: “A música é tão antiga como a humanidade”. Justifique essa

afirmação, criando um pequeno texto que demonstre sua opinião a respeito desta

temática em sua vida.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

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QUESTÃO 3: Escolha duas propostas dos parâmetros curriculares nacionais (PCNS)

e explique como você percebe sua importância dentro da dança como manifestação

coletiva.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Você entende o teatro como expressão e comunicação dentro dos

PCNS? Justifique sua resposta.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

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ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma

argumentação com suas próprias palavras.

Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender

aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é

fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem

outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas

(citações), quando este for o caso.

Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados

com freqüência para as respostas das avaliações.

Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas

e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.

AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO

SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.

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AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento

CURSO: Linguagens Expressivas e História da Arte

DISCIPLINA: linguagens expressivas

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

ATIVIDADE SUGERIDA: Apresentar, em torno de 20 linhas, uma síntese da

mensagem dos filmes principalmente sob o olhar da importância da dança em si

enquanto reestabilizadora das emoções e promovedora de relações. Essas questões

são presentes nos filmes e relevantes de serem discutidos tanto nas questões

educacionais como terapêuticas.

INSTRUÇÕES: Analise os filmes apresentados abaixo e elabore um fichamento.

Atenção: A análise deverá ser sua, portanto o texto deverá ser feito com suas

palavras. Texto retirado de internet não será aceito cabendo ao professor lançar

nota zero.

REFERÊNCIA DO FILME:

Vem dançar

Um dançarino profissional passa a dar aulas em

uma escola pública, criando com seus alunos um

novo estilo de dança. Pierre Dulaine (Antonio

Banderas) é um dançarino de salão profissional,

que se torna voluntário para dar aulas de dança

em uma escola pública de Nova York. Pierre tenta

apresentar seus métodos clássicos, mas logo

enfrenta resistência dos alunos, mais interessados

em hip hop. É quando deste confronto nasce um

novo estilo de dança, mesclando os dois lados e

tendo Pirre como mentor. Dança comigo?

Richard Gere interpreta John Clark, um homem

com um emprego maravilhoso, uma esposa

charmosa (Susan Sarandon) e uma família

amável, mas que sente algo lhe faltar a cada dia.

Toda noite em sua volta do trabalho, John vê uma

linda mulher (Jennifer Lopes) com uma expressão

perdida através da janela de um estúdio de

dança. Numa noite, John desce do trem, e

encantado com a moça impulsivamente se

matricula para aulas de dança, na esperança de

encontrá-la. Ele prova não ter muita afinidade

com a coisa, mas apesar de tudo, se apaixona

pela dança. John tem que fazer algo para

continuar o seu sonho e realizar aquilo que ele

realmente busca.

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NOME DO FILME ESCOLHIDO:

ANÁLISE DO FILME (com suas palavras, mínimo 20 linhas):

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