curso de teologia- módulo ii

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  • CURSO DE TEOLOGIA

    DOUTRINA DE CRISTO CRISTOLOGIAHISTRIA DE ISRAEL ^ 7 y

    DOUTRINA DOS ANJOS ANGELOLOGIA PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO "O AT ^

    PRTICAS LITRGICAS (matriasuplementar)

    faculdade teolgica betesdaI Wi Moldando vocacionados

    . *

  • D IG ITA LIZA D O POR: PRESBTERO

    (TELOGO APOLOGISTA) PROJETO SEMEADORES DA PALAVRA

    VIS ITE O FRUMh ttp ://sem eadoresdapa lavra .forum eiros.com /fo rum

  • CURSO DE TEOLOGIAMODULO 2

    DOUTRINA DE CRISTO CRISTOLOGIA HISTRIA DE ISRAEL

    DOUTRINA DOS ANJOS ANGELOLOGIA PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

    PRTICAS LITRGICAS (m atria s u p le m e n ta r!

    faculdade teolgica betesdaMoldando vocacionados

  • CRISTOLOGIADoutrina de Cristo

    1

  • SUMARIO

    IN T R O D U O ................................................................................................................................................................13

    1. D EFIN I O DE T E R M O .................................................................................................................................14

    2. A HUM A NIDAD E DE C R ISTO .................................................................................................................... 15

    3. A DIVINDADE DE C R ISTO .......................................................................................................................... 17

    4. N O M ES E NATU REZA DE C R IS T O ............................................................................................................. 194.1 O NOME JE S U S ............................................................................................................................................. 194.2 O NOME C R IST O ............................................................................................................................................. 194.3 FILHO DO HOMEM .....................................................................................................................................204.4 FILHO DE DEUS .............................................................................................................................................204.5 SENHOR.............................................................................................................................................................. 21

    5. A VIDA, ENSINOS E OBRAS DE J E S U S ....................................................................................................22

    6. A DIVINDADE DE C R IST O NOS E V A N G E L H O S ............................................................................... 23

    7. JESU S E M ATOS DOS A P STO LO S ....................................................................................................24

    8. A D O U TRIN A DE JESU S C R IST O NAS EPSTO LA S .....................................................................27

    9. A D O U TRIN A DE JESU S C R ISTO NO A P O C A L IP S E ......................................................................30

    10. ALGUNS ENSINOS DA PARTE DE JESU S C R IS T O .............................................................................. 32

    11. FO N TES NO -CRIST S QUE ESC R E V E R A M SOBRE JESU S ...................................................3511.1 FORA DAS ESCRITURAS ........................................................................................................................ 3511.2 FLVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.) ...............................................................................................3511.3 TCITO (55/56 - 120 d.C)...................................................................................................................... 3611.4 PLNIO, O JOVEM (61 - 120 d.C) ................................................................................................. 3711.5 SUETNIO .....................................................................................................................................................3711.6 MARA BAR SERAPION ........................................................................................................................ 3811.7 TALMUDE ......................................................................................................................................................3811.8 AVALIAO HISTRICA ....................................................................................................................... 38

  • 12. HERESIAS SOBRE APESSOADE JESUS CRISTO............................................................ 3912.1 AT O CONCILIO DE NICIA (100-325 d.C.).....................................................39

    a) GNOSTICISMO..................................................................................................................39b) EBIONISMO...................................................................................................................... 40c) DOCETISMO......................................................................................................................40d) MONARQUIANISMO.......................................................................................................41

    1) Monarquianismo dinmico........................................................................................... 412) Monarquianismo modalista............................................................................................ 41

    e) ARIANISMO ..................................................................................................................... 42

    12.2 O PERODO PS-NICENO (325-600 d.C.)................................................................. 42a) APOLINARIANISMO....................................................................................................... 42b) NESTORIANISMO.............................................................................................................43c) EUTIQUIANISMO..............................................................................................................43d) OS ELQUESATAS.............................................................................................................43e) MONOFISISMO..................................................................................................................44f) MONOTELISMO................................................................................................................44

    BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................45

  • MDULO 1 1 DOUTRINA DE CRISTO

    INTRODUOiDesde seus primeiros passos na Terra, o homem reflete sobre Deus. Reflexo que aflige os cticos e os crentes,

    os indiferentes e os msticos. Destino e origem de todos os homens, afirmam uns, vlvula de escape dos fracos e incultos, dizem alguns, instrumento de dominao, alegam outros. Inveno humana, ousam os ateus. Como vemos, mesmo para aqueles que no lhe atribuem nem mesmo existncia, Deus um grande incmodo.

    O incmodo aumenta medida que se tem conhecimento da Bblia, a Palavra de Deus, o livro mais amado e 0 mais odiado da histria da humanidade. Por meio do registro de fatos histricos, de salmos, de parbolas, de oraes, de queixas, de suas pginas emana algo transcendente, inexplicvel, mas muito real, palpvel e prtico. A Bblia no um livro antiquado, relicrio de histrias morais e de narrativas de milagres, mas um livro especial, pois revela Deus e seu interesse especial pelo homem.

    exclusivamente nesse livro que encontramos uma pessoa mpar: Jesus Cristo. H os que no crem nEle, h os que o consideram apenas um bom homem, um exemplo a ser seguido ou um Mestre. Existem muitos que o excluram de suas vidas, chegando ao ponto de afirmarem que Ele jamais existiu (Salmos 14.1). Outros tm passado a vida inteira tentando anular e desacreditar a influncia bem como diminuir a importncia de Jesus. Em tempos recentes os intelectuais da modernidade profetizaram: aposentaremos Deus num canto desnecessrio do universo, condenaremos a divindade ao ostracismo. Sartre falava do silncio de Deus.1 Jaspers falava da ausncia divina. Buber gostava de mencionar 0 eclipse de Deus.2 Hamilton props a teologia da morte de Deus. No ensaio Por que no sou cristo, Bertrand Russel escreveu: Historicamente muito duvidoso que Cristo tenha sequer existido, e se existiu no sabemos nada a seu respeito . Jamais houve um tempo em que ataques mais blasfemos tivessem sido feitos contra Jesus Cristo, o Messias. Cada fase de seu messiado est sendo desafiada: seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreio... tudo questionado.

    Entretanto, a Bblia revela que Ele muito mais do que isso: um dom, um presente de Deus para o homem. Na verdade, tudo 0 que Deus sempre desejou foi dar Cristo para o homem que criou. Quando o homem assim corresponde a esse anelo divino, vidas so transformadas, passam a desfrutar da vida em seu sentido mais pleno, amplo, celestial e prtico.

    Nosso objetivo neste mdulo apresentar as caractersticas inerentes a Cristo que as Escrituras atribuem a Ele tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, no apenas para termos mais conhecimento, mas para sermos despertados a conhecer o Senhor Jesus Cristo de maneira viva, real e sempre nova.

    1Famoso ateu francSs do sculo XX (1905-1980), filho de cristos nominais (mistura de catlicos e protestantes). Estudou na Alemanha

    e ensinou filosofia na Frana. Aprendeu 0 atesmo com Friedrich Nietzsche (1844-1900). Como outros atestas, Sartre acreditava que a existncia de Deus era impossvel porque, pela prpria natureza. Deus um ser autocausado. Antes de morrer voltou-se ao Deus que 0 criou afirmando: No acredito que sou resultado do acaso, um gro de areia no universo, mas algum que foi esperado, preparado, antecipado. Em resumo, um ser que apenas um Criador poderia colocar aqui; e essa idia da mo criadora refere-se a Deus (SARTRE apud GEISLER, 2002, p. 799).1 Existencialista judeu (1878-1965), nasceu em Viena, ustria, e estudou filosofia e arte nas universidades de Viena e Berlim.

    13CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 11 DOUTRINA DE CRISTO

    DEFINIO DE TERMO

    Cristologia a doutrina que estuda de modo racional e sistemtico a pessoa de Jesus Cristo. E derivada do termo grego - Christos, ungido, e logia, estudo, portanto estudo sobre Cristo. E nas Escrituras, fonte primria de todo conhecimento sobre Deus, que encontramos as informaes sobre suas palavras e obras. Partindo dessa premissa, Deus Filho se revelou, portanto podemos conhec-lo. Entretanto, nosso conhecimento de Jesus Cristo no intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele mesmo atravs dos meios que soberanamente escolheu. Estudar Cristologia, portanto, no inventar teorias a respeito de Cristo e de suas obras, nem mesmo descobrir a Cristo, mas conhecer e compreender a revelao que Ele prprio deu de si. Por isso, qualquer estudo de Cristo que no tiver a sua revelao como base, meio e princpio regulador no Cristologia, devidamente entendida.

    A histria dos seres humanos, desde sua concepo, tem sido a histria da preparao para a vinda de Jesus Cristo. O Antigo Testamento prediz essa vinda atravs de tipos, smbolos e profecias diretas. A preservao de seu povo, Israel, uma histria de expectativa, de anseio e de preparao.

    Com brilho, E. H. Bancroft concluiu que a pessoa de Jesus Cristo no somente est firmemente engastada na histria humana e gravada nas pginas abertas das Escrituras Sagradas, mas tambm experimentalmente materializada nas vidas de milhes de crentes e entrelaada no tecido de toda a civilizao digna desse nome .3 O ensino de Jesus comumente chamado de Boa Nova ou feliz anncio. Ele mesmo o considerava assim: Besorah, em aramaico, que em grego foi traduzido por euaggelion, isto , boa notcia, informao alvissareira.

    Jesus no trouxe ao mundo uma nova doutrina filosfica, nem um projeto de reformas sociais, tampouco a conscincia dos mistrios do alm. Jesus transformou pela raiz a prpria relao do homem com Deus, mostrando abertamente a todos a face de Deus, que antes mal podiam vislumbrar. A boa notcia de Jesus fala precisamente desta vocao sublime do homem e da alegria oriunda da unio com o Criador. Como disse certo escritor: uma bela tarefa estudar a respeito de Deus. A mente humana jamais pode ser empregada para qualquer assunto to rico em recompensas quanto na tentativa de descobrir 0 conhecimento de Deus. Sondar o carter e a perfeio de Deus a cincia mais elevada, a filosofia mais profunda, a poesia mais altiva, a histria mais sublime, a teologia mais verdadeira e a mais dramtica biografia.4

    Extrair em poucas pginas a riqueza inexaurvel de Cristo impossvel. Limitar-nos-emos, portanto, a expor aqui apenas o essencial.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 11 ) 0 que significa o termo Cristologia?2) Como o Antigo Testamento prediz a vinda de Cristo?3) O que significa a palavra evangelho?

    3 BANCROFT, E.H. Teologia elementar. So Paulo: Batista Regular, 1995. p. 97.4 WATSON apud PRATNEY, 2004, p. 11.

    CURSO DE TEOLOGIA14

  • MDULO ! I DOUTRINA DE CRISTO

    A HUMANIDADE DE CRISTOA humanidade de Jesus passou pelos diversos estgios de desenvolvimento, como qualquer outro membro da

    raa humana. Da infncia idade adulta houve crescimento constante, tanto em seu vigor fsico como em suas faculdades mentais. No temos parmetros para aferir at que ponto sua natureza impecvel exerceu influncia em seu crescimento. claro, entretanto, pelas Escrituras, que seu crescimento e suas limitaes estiveram sujeitos s leis ordinrias do desenvolvimento humano (Lucas 22.40; 24.39; Joo 11.33; Hebreus 2.14).

    Nos evangelhos temos o relato do seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreio, tudo registrado por seus discpulos, principalmente no evangelho de Lucas, cujo propsito apresentar a humanidade do Salvador, mostrando-o como um homem genuno, normal e perfeito, que revelava Deus aos homens, com sua graa salvadora para a humanidade cada. Em sua reverncia pelo Cristo divino, s vezes os homens se esquecem do Cristo humano. No se deve salientar o esplendor da Sua divindade a ponto de obscurecer a Sua verdadeira humanidade.5 Foi o que fizeram os gnsticos e os docetas, de quem falaremos em outro captulo.

    A Bblia declara que o Senhor Jesus veio ou foi manifestado na carne: E 0 Verbo se fez carne e habitou entre ns, cheio de graa e de verdade, e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai (Joo 1.14). Aqui precisamos ser muito cuidadosos. A Bblia nos diz que Cristo se fez carne, mas apenas na semelhana da carne do pecado. Romanos 8.3 diz: Porquanto 0 que fora impossvel lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu prprio Filho em semelhana de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, 0 pecado, a fim de que 0 preceito da lei se cumprisse em ns, que no andamos segundo a carne, mas segundo 0 Esprito (grifo nosso). Quando Cristo se fez carne, Ele no tomou sobre si a corrupo da carne, mas apenas sua semelhana. O termo carne denota a natureza humana de Jesus. As Escrituras revelam claramente que Jesus possua as caractersticas essenciais da natureza humana, isto , um corpo material e uma alma racional.

    Sua humanidade, conforme registrada nas Escrituras, algo de que no se pode ter dvidas. Ao nascer, Jesus Cristo sujeitou-se s condies da vida humana, bem como do corpo humano. Sua humanidade demonstrada:

    Nasceu de uma mulher: Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua me, desposada com Jos, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grvida pelo Esprito Santo (Mateus 1.18). Vindo, porm, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebssemos a adoo de filhos (Glatas 4.4-5, grifo nosso).

    Cresceu como uma pessoa normal: E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graa, diante de Deus e dos homens (Lucas 2.52).

    Sentiu sofrimento e dor: E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tomou como gotas de sangue caindo sobre a terra (Lucas 22.44).

    Sentiu cansao: Estava ali a fonte de Jac. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto fonte, por volta da hora sexta (Joo 4.6).

    Teve fome: E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome (Mateus 4.2).

    Teve sede: Depois, vendo Jesus que tudo j estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! (Joo 19.28).

    15CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    Tinha emoes: Naquela hora, exultou Jesus no Esprito Santo e exclamou: Graas te dou, Pai, Senhor do cu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sbios e instrudos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado (Lucas 10.21). Na morte de Lzaro Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no esprito e comoveu-se (Joo 11.33).

    Possua um corpo fsico: Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes; pois, derramando este perfume sobre o meu corpo, ela 0 fez para o meu sepultamento (Mateus 26.11-12). Caindo a tarde, veio um homem rico de Arimatia, chamado Jos, que era tambm discpulo de Jesus. Este foi ter com Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Ento, Pilatos mandou que lho fosse entregue. E Jos, tomando o corpo, envolveu-o num pano limpo de linho e o depositou no seu tmulo novo, que fizera abrir na rocha; e, rolando uma grande pedra para a entrada do sepulcro, se retirou (Mateus 27.57-60).

    Possua alma racional: Ento, lhes disse: A minha alma est profundamente triste at morte; ficai aqui e vigiai comigo (Mateus 26.38).

    Possua esprito humano: Ento, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mos entrego o meu esprito! E, dito isto, expirou (Lucas 23.46).

    Jesus se fez came e foi sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado. Ele foi revestido do corpo humano porqueo pecado entrou por um homem e pela justia de Deus tinha de ser vencido por um homem. A Bblia diz que 0 pecado entrou no mundo por meio de Ado: Portanto, assim como por um s homem entrou 0 pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim tambm a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram... Pois assim como, por uma s ofensa, veio 0 juzo sobre todos os homens para condenao, assim tambm, por um s ato de justia, veio a graa sobre todos os homens para a justificao que d vida. Porque, como, pela desobedincia de um s homem, muitos se tomaram pecadores, assim tambm, por meio da obedincia de um s, muitos se tomaro justos (Romanos 5.12, 18-19).

    Desde que o homem pecou era necessrio que ele sofresse a punibilidade. A Bblia mostra que todo gnero humano est condenado; que o homem est perdido debaixo da maldio do pecado (Salmos 14.2-3; Romanos 3.23). Era necessrio que Cristo assumisse a natureza humana, no somente com todas as suas particularidades indispensveis, mas tambm com todas as fragilidades a que est sujeita, depois da Queda, e, assim, devia descer s profundezas da degradao em que o homem tinha cado. As Escrituras so categricas em afirmar que somente Deus pode salvar: Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim no h salvador (Isaas 43.11). Portanto, somente um Mediador verdadeiramente humano, assim, que tivesse conhecimento experimental das misrias da humanidade e se mantivesse acima de todas as tentaes, poderia entrar empaticamente em todas as experincias, provaes e tentaes do homem, Hebreus 2.17, 18; 4.15-5.2 e ser um perfeito exemplo humano para os Seus seguidores, Mateus 11.29; Marcos 10.39; Joo 13.13-15; Filipenses 2.5-8; Hebreus 12.2-4; 1 Pedro 2.21.6 Jesus, 0 verdadeiro Deus e o homem perfeito, tomou-se carne para suprir a necessidade da humanidade. Quando assumiu a forma humana na Terra, Jesus no se apegou s prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhana de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tomando-se obediente at morte e morte de cruz (Filipenses 2.7-8).

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 21) Qual o propsito do evangelho de Lucas?2) O que denota 0 termo came em Jesus?3) Como demonstrada a natureza humana de Jesus?

    5 BERKHOF, Louis. Teologia sistemtica. Campinas: Luz Para 0 Caminho, 1996. p. 318. Idem, ibidem, p. 318-319.

    CURSO DE TEOLOGIA16

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    A DIVINDADE DE CRISTOA maioria das pessoas afirma respeitar os ensinamentos da Bblia. Muitas delas chegam a afirmar a inspirao

    divina das Sagradas Escrituras, entretanto alegam que os ensinos da Bblia contm apenas uma parcela da revelao de Deus, e que Ele tem falado, ou continua falando, de uma forma extrabblica, parte das Escrituras, no levando em considerao a admoestao do apstolo Joo em Apocalipse, que diz: Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se algum lhes acrescentar alguma coisa, Deus far vir sobre ele as pragas que esto escritas neste livro; e, se algum tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirar a sua parte da rvore da vida e da Cidade Santa, que esto escritas neste livro (Apocalipse 22.18-19).

    A Bblia a autoridade final na determinao de questes doutrinrias (2 Timteo 3.16-17). A Palavra de Deus no permite novos ensinamentos que possam alterar seu contedo ou fazer-lhe acrscimos. O apstolo Paulo disse: Mas, ainda que ns mesmos ou um anjo do cu vos anuncie outro evangelho alm do que j vos anunciamos, seja antema (Glatas 1.8). Ao considerar a divindade de Cristo, a questo no reside em se fcil crer nessa divindade, ou mesmo compreend-la, mas se ela ensinada na Palavra de Deus. Saber quem Jesus Cristo algo to importante quanto o que Ele fez. Muitos acreditam que Ele esteve na Terra, fez muitos milagres e muitas outras coisas. A dificuldade para alguns : quem Cristo? Que tipo de pessoa Ele ?

    Sendo assim, devemos permitir que Deus d a ltima palavra a respeito de si mesmo, quer possamos ou no compreend-la inteiramente. A Bblia ensina que Jesus Deus: No princpio era o Verbo, e 0 Verbo estava com Deus, e 0 Verbo era Deus. Ele estava no princpio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Joo 1.1-3; 20.28; Tito 2.13; 1 Joo 5.20). Jesus Cristo conferiu para si os nomes e ttulos dados a Deus no Antigo Testamento e tambm permitiu que outros assim 0 chamassem. Quando Ele reivindicou esses ttulos divinos, os principais dos judeus ficaram to irados que tentaram mat-lo por blasfmia. Ele reivindicou para si o nome mais respeitado pelos judeus, tido como to sagrado que eles nem mesmo o pronunciavam: YHWH.

    Deus revelou pela primeira vez o significado desse nome ao seu servo, depois de haver lhe perguntado por qual nome deveria cham-lo: Disse Deus a Moiss: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: assim dirs aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vs (xodo 3.14). EU SOU no a traduo de YHWH. Todavia, trata-se de um derivado do verbo ser, do qual tambm deriva 0 nome divino Yahweh (YHWH) em xodo 3.14. Portanto, 0 ttulo EU SOU O QUE SOU indicado por Deus a Moiss a expresso mais plena de seu ser eterno, abreviado no versculo 15 para 0 nome divino YHWH.

    A Septuaginta, a verso grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expresso EU SOU em xodo 3.14 por ego eimi no grego. Em vrias ocasies Jesus empregou o termo ego eimi referindo- se a si mesmo, na forma unicamente usada para Deus. Um exemplo claro este: Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda no tens cinqenta anos e viste Abrao? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abrao existisse, eu sou! (no grego: ego eimi ). Ento, pegaram em pedras para atirar nele, mas Jesus se ocultou, e saiu do templo (Joo 8.57-59). Jesus atribuiu esse ttulo a si mesmo tambm em outras ocasies. Neste mesmo captulo Ele declarou: . .eu vos disse que morrereis nos vossos pecados... se no crerdes que eu sou (no grego:ego eim i), morrereis nos vossos pecados (Joo 8.24). Disse ainda: Quando levantardes o Filho do Homem, ento, sabereis que eu sou (no grego: ego eim i) e que nada fao por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou (Joo 8.28). Quando os guardas do templo, juntamente com os soldados romanos, foram prend-lo na noite anterior crucificao, Jesus perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Ento Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ego eimi )... Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ego eimi'), recuaram e caram por terra (Joo 18.4-6). No resta dvida quanto a quem os lderes judaicos pensavam que

    17CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    Jesus estava proclamando ser. Fica, portanto, bem claro que, na mente daqueles que ouviram essa afirmao, no havia qualquer incerteza de que Jesus tivesse dito perante eles que Ele era Deus. Essas afirmaes foram consideradas blasfmias pelos lderes religiosos e resultaram em sua crucificao porque a si mesmo se fez Filho de Deus (Joo 19.7). Os atributos divinos que so dados a Deus Pai tambm so encontrados em Jesus, o que evidencia sua divindade, portanto o Filho Deus como o Pai e o Esprito Santo (Mateus 28.19; 2 Corntios 13.13; Efsios 4:4-6, 1 Joo 5.7). Vejamos na tabela:

    Atributos Pai Filho Esprito Santo

    Onipresena Jeremias 23.24 Efsios 1.20-23 Salmos 139.7

    Onipotncia Gnesis 17.1 Apocalipse 1.8 Romanos 15.19

    Oniscincia Atos 15.18 Joo 21.17 1 Corntios 2.10

    Capacidade de criar Gnesis 1.1 Joo 1.3 J 33.4

    Eternidade Romanos 16.26 Apocalipse 22.13 Hebreus 9.14

    Santidade Apocalipse 4.8 Atos 3,14 1 Joo 2.20

    Santificador Joo 10.36 Hebreus 2.11 1 Pedro 1.2

    Fonte de vida eterna Romanos 6.23 Joo 10.28 Glatas 6.8

    Inspirador dos profetas Hebreus 1.1 2 Corntios 13.3 Marcos 13.11

    Deus xodo 20.2 Joo 20.28 Atos 5.3-4

    Diante do exposto, o estudo da Pessoa de Cristo se reveste de congruncia por causa da relao vital que Ele sustm com o cristianismo. Conclumos que durante esta vida podemos e devemos conhecer Deus at o ponto necessrio para a salvao, confraternizao, servio e maturidade, mas na glria do cu passaremos a conhec- lo mais plenamente.7 Assim, pois, de forma bem real, o estudo da vida de Jesus Cristo e sua importncia , ao mesmo tempo, uma sondagem na significao da nossa existncia e uma previso de nosso destino. Por certo todos ns deveramos nos interessar nessa inquirio.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 31) Ao considerar a divindade de Cristo, a questo no reside em qu?2) Qual o nome mais respeitado pelos judeus, tido como to sagrado que eles nem mesmo o

    pronunciavam?3) A Septuaginta, a verso grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expresso EU

    SOU em xodo 3.14 por qual termo correspondente?4) Os atributos divinos que so dados a Deus Pai tambm 0 so encontrados em Jesus. Cite quatro deles.

    7FALCO, Mrcio. M anual de teologia sistemtica. So Paulo: 0 Arado, s.d.

    CURSO DE TEOLOGIA18

  • MDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO

    NOMES E NATUREZA DE CRISTOEstudos lexicais da Bblia (ou estudo das palavras) tm um grande valor; eles nos ajudam a ver como o

    Esprito Santo usou palavras gregas e hebraicas para expressar seus pensamentos para ns. Os nomes para os judeus no so apenas um designativo de pessoa ou coisa, mas trazem consigo alguma caracterstica inerente ao seu possuidor. Portanto, os nomes atribudos a Cristo retratam suas naturezas, em parte sua posio oficial e em parte a obra para a qual Ele veio ao mundo. Assim, a melhor forma de comear olhando para o modo como os escritores sagrados usaram as palavras hebraicas e gregas para se referirem ao Messias que Deus havia prometido para a redeno da humanidade, o Cristo anunciado pelos profetas e esperado pelo povo de Israel para sua redeno: o centro das Escrituras (Lucas 24.44-47), a alegria dos homens, o Desejado de todas as naes (Ageu 2.7), a nossa glria e esperana.

    4.1 O NOME JESUSO nome Jesus (Ihsou/j Iesous) a forma grega do nome hebraico Jehoshua ( - Yehoshua), ou

    ainda de Jeshua (171 - Yeshu a), nome usado nos livros histricos ps-exlicos (Esdras 2.2).8 A Septuaginta traduziu ambas as formas, de modo uniforme, como Iesous. Segundo o Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, 0 nome mais antigo que se forma com o nome divino Jav, e significa Jav socorro ou Jav salvao.9 Esse nome foi dado a dois conhecidos personagens do Antigo Testamento (tipos de Jesus). Um deles foi Josu, filho de Num, prefigurando Cristo como o grande General que conduz seu povo em triunfo, e a Josu, filho de Jozadaque, tipificando Jesus como o sumo sacerdote carregando os pecados de seu povo.

    4.2 O NOME CRISTOO ttulo Cristo (gr. - Christos) que aparece junto com o nome Jesus 0 equivalente de Messias

    (hb. - Mashiyach) do Antigo Testamento. Simboliza uma pessoa que foi cerimonialmente ungida para um cargo. Durante a Antiga Aliana, os reis e os sacerdotes eram ungidos (xodo 29.7; Levitico 4.3; Juizes 9.8;I Samuel 9.16; 10.1; 2 Samuel 19.10). No perodo da realeza, os monarcas eram conhecidos como ungido de Yahweh - aluso ao rito da uno real (1 Samuel 24.10). Entretanto, este ttulo no se reserva exclusivamente ao rei: todo homem de Deus encarregado de uma misso especfica pode t-lo. assim que em Isaas 45.1 0 prprio Ciro chamado de Messias, ungido.

    O leo utilizado para a uno desses oficiais simbolizava 0 Esprito Santo (Isaas 61.1; Zacarias 4.1-6), e a uno representava a transferncia do Esprito para a pessoa consagrada. O conceito de M essias ou ungido inclui trs importantes elementos: 1) a designao para um ofcio especfico; 2) 0 estabelecimento de uma relao sagrada entre 0 ungido e Deus; e 3) a comunicao do Esprito de Deus ao que tomou posse do ofcio. 10

    A concepo judaica da vinda (acham que ele ainda no veio) do Maschach e da redeno Messinica um dos princpios fundamentais da f j udaica.11 Os judeus acreditam que 0 Maschach ser um ser humano, descendente da famlia do rei Davi, dotado de qualidades nicas de liderana, erudio e piedade, e trar a redeno total e final para os judeus e para toda a humanidade. Segundo consta em suas literaturas, todo judeu deve acreditar que Maschach surgir e restaurar o reino de David em seu estado e soberania originais, reconstruir o Bet Hamicdash (Templo

    COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionrio internacional de teologia do Novo Testamento. 2. ed. So Paulo: Vida Nova, 2000. p. 1075., Idem, p. 1075.10 OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da Bblia. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p. 88.II MAIMNIDES, Moshe. Princpios da f, Artigo 12.

    19CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 1 DOUTRINA DE CRISTO

    Sagrado de Jerusalm), reunir os dispersos de Israel, e em seus dias, todas as leis da Tora sero reinstitudas, como o tinham sido nos tempos antigos.12 Quo triste saber que no reconheceram o seu Messias! O prprio Cristo disse: Jerusalm, Jerusalm, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vs no 0 quisestes!.

    Os autores do Novo Testamento sabiam da importncia desse ttulo, por isso desde cedo adquiriram o hbito de associar 0 ttulo Cristo ao nome de Jesus. Jesus Cristo significa Jesus - Messias.

    4.3 FILHO DO HOMEMA expresso Filho do Hom em aparece mais freqentemente nos trs primeiros Evangelhos que em

    qualquer outro escrito cristo primitivo (aparece 69 vezes). Este ttulo aparece nos sinpticos unicamente quando Jesus quem fala. Assim, a cristologia do Filho do Homem no dos Sinpticos, ainda que esta expresso aparea mais freqentemente que em qualquer outro escrito do Novo Testamento, j que ela ocorre no menos que 69 vezes .13

    De acordo com os evangelhos sinpticos, este ttulo messinico o nico que Jesus aplicou a si mesmo, pois jamais designou a si prprio como Messias. O nome por certo expressivo sua misso escatolgica a ser realizada no futuro, como tambm relacionado sua misso terrestre. Ao mesmo tempo em que Ele falava de seus sofrimentos e de sua morte, tambm deixava evidente sua vinda futura entre as nuvens do cu em glria celeste. O ttulo Filho do Homem, quando Jesus o aplica sua misso terrena, expressa tambm sua humilhao. Ele disse que o Filho do Homem no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Marcos 10.45) e que era necessrio que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos ancios, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de trs dias, ressuscitasse (Marcos 8.31).

    Enquanto os sinpticos expuseram a natureza humana do Filho do Homem, 0 evangelho de Joo, ao empregar a expresso Filho do Homem, como em 3.13: Ora, ningum subiu ao cu, seno aquele que de l desceu, a saber, 0 Filho do Homem que est no cu, deixa transparecer 0 homem celestial preexistente e divino que desce do cu, aparece sobre a Terra, incorpora-se humanidade cada e volta ao cu em glria. Joo, ao utilizar esse ttulo, quase sempre 0 faz para acentuar a majestade do Filho do Homem e no para expor a debilidade inerente sua humanidade. Em sua glorificao Jesus avoca para si esse ttulo: E chegada a hora de ser glorificado 0 Filho do Homem (Joo 12.23 c.c. 13.31, grifo nosso). Em outro texto Jesus atribui a si a funo jurdica do Filho do Homem: Porque assim como 0 Pai tem vida em si mesmo, tambm concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque o Filho do Homem (Joo 5.26-27, grifo nosso).

    4.4 FILHO DE DEUSO nome Filhos de Deus era usado em Israel para os seres espirituais, como os anjos (J 1.6; 2.1; 38.7;

    Salmos 29.1; 89.6), mas s vezes tambm se referiam aos justos do povo de Deus (Gnesis 6.2; Salmos 73.15; Provrbios 14.26), ou aos monarcas ungidos no momento de subir ao trono, especialmente ao rei prometido da casa de Davi (2 Samuel 7.14; Salmos 89.27). Por isso, era habitual atribuir tal apelativo inclusive ao Messias.

    Ser Filho de Deus significa em Cristo ser homem-Deus. Indiscutivelmente, este ttulo caracteriza de maneira particular e totalmente mpar a relao entre o Pai e o Filho. Pelas suas palavras fica evidente que o seu relacionamento com 0 Pai era substancialmente diferente de qualquer outro. Com efeito, ele dizia: Ningum conhece o Filho seno o Pai, e ningum conhece ao Pai seno 0 filho. Atravs do Messias, o mundo veio descobrir que o ser supremo amor, que ele um pai para cada homem.

    11 SCHOCHET, Jacob Immanuel. Maschach: 0 princpio de Maschach e da era messinica segundo a le i Judaica e suatradifo. So Paulo: Maayanot, 1992. p. 17.19 CULLMAN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. So Paulo: Lber, 2001. p. 238-239.

    CURSO DE TEOLOGIA20

  • MDULO 2 ' DOUTRINA DE CRISTO

    4.5 SENHORA Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico 1 - YHWH e seu correspondente - Adonay pela

    palavra grega Kuriov (kyrios), que quer dizer Senhor, nome divino. O tetragrama era e continua sendo o nome impronuncivel de Deus entre os judeus. No temos como precisar exatamente quando os judeus deixaram de pronunciar o tetragrama, porm a partir de certa poca - certamente no sculo I a.C. e no sculo I d.C. - o substituram na leitura litrgicapor^fcwa/ .14 Moiss, o legislador de Israel, havia advertido os israelitas quanto ao nome sagrado de Deus, dizendo: No tomars o nome do SENHOR (YHWH), teu Deus, em vo, porque 0 SENHOR (YHWH) no ter por inocente 0 que tomar o seu nome em vo . O fato que os judeus conheciam bem a substituio do tetragrama em seus ofcios religiosos pelo correspondente em hebraico - Adonay .O nome Adonay e 0 tetragrama YHWH so to sagrados para os judeus que eles evitam pronunci-los na rua, no seu cotidiano. O segundo nem mesmo nas sinagogas pronunciado. Para o dia-a-dia eles usam - h a :'shem(que significa O Nome) para designar a Deus. A idia bsica do nome Adhonay a da soberania de Deus, da suprema posio do Criador, em todo o Universo que criou.15

    As Sagradas Escrituras no deixam nenhuma dvida de que Cristo o Senhor. No Novo Testamento,Zacarias, o pai de Joo Batista, profetizou dizendo que seu filho seria chamado profeta do Altssimo, porque preceders o Senhor ( ), preparando-lhe os cam inhos... (Lucas 1.76), uma clara referncia a Jesus.Os anjos anunciaram o nascimento de Jesus aos pastores em Belm dizendo: ...hoje vos nasceu, na cidade de Davi, 0 Salvador, que Cristo, 0 Senhor ( ) (Lucas 2.11). Houve muitos que chamaram Jesus de Senhor ( ):

    a) Seus discpulos: E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que 0 barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discpulos vieram acord-lo, clamando: Senhor, salva-nos! Perecemos! (Mateus 8.24-25).

    b) Os apstolos: Ento, disseram os apstolos ao Senhor: Aumenta-nos a f (Lucas 17.5).c) Paulo: Ele perguntou: Quem s tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas

    levanta-te e entra na cidade, onde te diro o que te convm fazer (Atos 9.5-6).d) Os que foram tocados por Jesus: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrar no reino dos cus, mas

    aquele que faz a vontade de meu Pai, que est nos cus (Mateus 7.21).e) Ser chamado Senhor pelos no-crentes juntamente com os crentes no ltimo dia: Pelo que tambm Deus

    o exaltou sobremaneira e lhe deu 0 nome que est acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos cus, na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo Senhor, para glria de Deus Pai (Filipenses 2.10-11).

    Cristo verdadeiramente 0 Senhor dos senhores (1 Timteo 6.15; Apocalipse 17.14; 19.16). O prprio Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que sobre todos os nomes (Filipenses 2.9), pois Cristo foi feito mais excelente do que os anjos (Hebreus 1.4), coroado de glria e de honra (Hebreus 2.9) e assentado destra da majestade nas alturas (Hebreus 1.3).

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 41) O que retratam os nomes atribudos a Cristo?2) O que significa o nome Jesus?3) O que simboliza 0 ttulo Cristo?4) De acordo com os evangelhos sinpticos, qual 0 ttulo messinico que Jesus aplicou a si mesmo?5) Para quem o termo Filhos de Deus era usado em Israel?6) A Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico por qual correspondente grego?

    14 CUUMAN, Oscar. Op.cit., p. 263.15 SILVA, Esequias Soares da. Como responder s Testemunhas de Jeov. So Paulo: Candeia, 1995. v. 1, p. 135.

    CURSO DE TEOLOGIA . :- .

  • MDULO 2 [ DOUTRINA DE CRISTO

    A VIDA, ENSINOS E OBRAS DE JESUSNotcias a respeito de Jesus e da sua mensagem comearam a se espalhar porque 0 que Ele dizia e fazia

    deixava as pessoas perplexas. Elas simplesmente no conseguiam parar de falar sobre Ele. Depois que Jesus deixou este mundo, seus seguidores saram proclamando seus feitos nas ruas, cidades e em qualquer lugar onde as pessoas se reunissem. Com o passar do tempo, os primeiros seguidores do mestre da Galilia comearam a escrever s comunidades o que eles haviam visto e ouvido.

    Dos quatro Evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas so chamados sinpticos (i., adotam a mesma vista histrica).16 Os trs oferecem uma vista tridimensional de Jesus Cristo, das suas aes e doutrinas. Marcos o mais breve e direto, e tanto Mateus quanto Lucas contm (nunca em linguagem exatamente idntica, nem na mesma ordem) a maior parte dessa histria, mas cada um deles contribui com muitos relatos e ensinos para completar o quadro.

    A. Huck produziu uma Sinopse dos trs primeiros Evangelhos com 0 texto grego e as anotaes em alemo (Tbingen, Mohr, 1906), que segue a ordem histrica, onde passagens semelhantes entre os trs so colocadas em colunas paralelas, e as demais entre elas na sua devida ordem. Tischendorf fez a Sinopsis Evanglica incluindo Joo, tambm no texto grego - com explicaes em latim. Quatro colunas em paralelo aparecem, por exemplo, na Entrada Triunfal em Jerusalm, mas Joo usualmente tem blocos inteiros encaixados sozinhos, na ordem dos eventos.

    O interesse do texto grego se v nisto: os sinpticos usam linguagem e vocabulrio diferentes em textos paralelos, mas as lnguas modernas no refletem essas diferenas. De qualquer forma, Joo se diferencia por conter muitos discursos de Jesus que revelam a sua pessoa, especialmente em particular com seus discpulos e, mais adiante, receber tratamento separado, inclusive no item Jesus era o Filho de Deus? .

    Em portugus possumos a tabela de referncias que nos indica como fazer uma Harmonia dos Quatro Evangelhos no Manual bblico de Halley, e o livro Harmonia dos Evangelhos, de Robert Thomas e Stanley Gundry. No entanto, na maioria das nossas Bblias, todo e qualquer texto de um Evangelho Sinptico acompanhado por uma referncia a outro (ou dois) que contm um item semelhante. Na apostila Sntese do Novo Testamento, neste Mdulo 2, temos breves anlises dos Evangelhos, suficientes para orientar o leitor numa base histrica dos atos e palavras de Jesus.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 51) Quais foram os primeiros livros a tratar da vida, ensinos e obras de Jesus entre os fiis?2) Por que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas so chamados de sinpticos?

    16 Veja Panorama do Novo Testamento: Evangelhos Sinpticos.

    CURSO DE TEOLOGIA22

  • M DU10 JOUTR1NA DE CRISTO

    A DIVINDADE DE CRISTO NOS EVANGELHOSJesus, com o ttulo Filho de Deus e Filho do Homem, estava afirmando a sua divindade, e muitos dos seus

    atributos so exclusivamente privativos do prprio Deus. Os prprios judeus que o ouviam entendiam isso muito bem: Por isso, os judeus ainda mais procuravam mat-lo, porque no somente violava o sbado, mas tambm dizia que Deus era seu prprio Pai, fazendo-se igual a Deus (Joo 5.18).

    Quando Jesus disse: Eu e o Pai somos um, a reao dos judeus foi: No por boa obra que te apedrejamos, e, sim, por causa da blasfmia, pois sendo tu homem, te fazes Deus a si mesmo (Joo 10.30-33). Quando Jesus curou um paraltico, dizendo: Filho, os teus pecados esto perdoados, os escribas judeus disseram: Est blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a no ser somente Deus? . Jesus confirmou ter autoridade para perdoar pecados (Marcos 2.7-11). Quando foi interrogado diante do Sindrio (Suprema Corte Judaica), o sumo sacerdote lhe perguntou: Voc o Cristo, o Filho do Deus Bendito? . Jesus respondeu: Sou, e vereis o Filho do homem assentado direita do Poderoso vindo com as nuvens do cu (Marcos 14.61-64 - NVI).

    To ntima era sua relao com Deus que Jesus declarou que conhec-lo era conhecer o Pai (Joo 8.19; 14.17); v-lo era ver o Pai (Joo 12.45; 14.9); crer nele era crer no Pai (Joo 12.44; 14.1); receb-lo era receber o Pai (Marcos 9.37); odi-lo era odiar 0 Pai (Joo 15.23); honr-lo era honrar 0 Pai (Joo 5.23).

    Cristo revelou um poder sobre as foras da natureza que s Deus, autor dessas foras, poderia possuir. Acalmou uma furiosa tempestade de vento e vagalhes no mar da Galilia. E ao faz-lo, arrancou dos que estavam no barco a pergunta cheia de reverncia: Quem este que at 0 vento e 0 mar lhe obedecem? (Marcos 4.41). Transformou a gua em vinho (Joo 2.1-11), alimentou cinco mil pessoas com cinco pes e dois peixes (Mateus 14.21), devolveu a uma viva aflita seu nico filho levantando-o dentre os mortos (Lucas 7.12) e trouxe vida a filha morta de um pai esmagado pela dor (Marcos 5.35). A um antigo amigo morto e sepultado, Jesus disse: Lzaro, vem para fora! e de forma dramtica o levantou dentre os mortos. Seus inimigos no podiam negar esse milagre e procuravam mat-lo para evitar que todos cressem nEle (Joo 11.48).

    Jesus demonstrou possuir 0 poder do Criador sobre as enfermidades e a doena. Ele fez os coxos andarem, os mudos falarem e os cegos verem - inclusive um caso de cegueira congnita em Joo 9. O homem curado, submetido a interrogatrio sobre a cura que recebera de Jesus, reafirmava: Eu era cego, e agora vejo, e confirmou: Desde que h mundo, jamais se ouviu que algum tenha aberto os olhos a um cego de nascena. Se este homem no fosse de Deus, nada poderia ter feito (Joo 9. 32-33).

    A suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade foi a sua ressurreio dentre os mortos. Conforme profetizara aos seus discpulos, foi morto, e em trs dias ressuscitou e apareceu de novo diante deles. Os quatro Evangelhos narram com pormenores a histria (Mateus 26.47; Marcos 14.43; Lucas 22.47-53; Joo 18.2).

    O Novo Testamento e a f crist s fazem sentido se reconhecermos a divindade de Cristo. Todos os grupos e seitas que alegam ser cristos, mas negam a divindade de Cristo, so classificados como hereges. Um Jesus Cristo que no fosse totalmente divino, totalmente Deus, no seria suficiente para outorgar a vida eterna, no seria o Messias prometido por Deus desde os primeiros captulos do Gnesis.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 61) Quando Jesus disse: Eu e o Pai somos um, qual foi a reao dos judeus?2) To ntima era a relao de Jesus com Deus que ele declarou o qu?3) Qual foi a suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade?

    23CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    JESUS EM ATOS DOS APOSTOLOSAgora garimparemos 0 livro de Atos em busca de pepitas espirituais preciosas. A importncia especial de Atos

    na Cristologia que o mesmo Lucas que escreveu seu Evangelho tambm escreveu Atos como a sua continuao; seria como um Quinto Evangelho, ou 0 Evangelho de Jesus, demonstrado e pregado pelos seus seguidores (Atos 1.1-11 - texto este que reafirma a vida, morte, ressurreio e ascenso de Jesus Cristo). Aqui, tambm, Jesus Cristo reafirma a promessa da vinda do Esprito Santo sobre seus seguidores (cf. Joo 14.15-27; 16.5-16).

    O cumprimento dessa promessa (Atos 2.1-13) revestiu de poder os apstolos, e Pedro pregou, com poder, um resumo do Evangelho, enxergado luz da Ascenso e da vinda do Esprito Santo: Jesus, o Nazareno, varo aprovado por Deus diante de vs com milagres, prodgios e sinais, os quais o prprio Deus realizou por intermdio dele entre vs, como vs mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado desgnio e prescincia de Deus, vs 0 matastes, crucificando-o por mos de inquos; ao qual, porm, Deus ressuscitou, rompendo os grilhes da morte; porquanto no era possvel fosse ele retido por ela (Atos 2.22-24).

    Trata-se de um resumo do contedo dos Evangelhos, com a concluso ps-pentecostal: Portanto, que todo 0 Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocs crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo (v. 36), e a aplicao: Arrependam-se, e cada um de vocs seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdo dos seus pecados, e recebero 0 dom do Esprito Santo (v. 38). Esses versculos denotam a pregao do Evangelho - as boas novas da salvao mediante a obra completa de Jesus Cristo.

    No captulo 3, aps uma cura em pblico em nome de Jesus Cristo, Pedro disse diante do povo: Vs, porm, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida. Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que ns somos testemunhas (v. 14-16). E depois, o convite: Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presena do Senhor, venham tempos de refrigrio, e que envie ele 0 Cristo, que j vos foi designado, Jesus... (v. 19-20).

    Em Atos captulo 4, interrogados diante do Sindrio, os apstolos explicaram: ...tomai conhecimento, vs todos e todo 0 povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vs crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome que este est curado perante vs (v. 10). A concluso: E no h salvao em nenhum outro; porque abaixo do cu no existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (v. 12). J temos aqui a Pregao Apostlica da Cruz, a Crucialidade da Cruz (ttulos de livros existentes em ingls). E um grande tema adotado pelo apstolo Paulo: Porque decidi nada saber entre vs, seno a Jesus Cristo e este crucificado (1 Corntios 2.2).

    No captulo 7, Estevo fez sua defesa, ou apologia de Jesus Cristo, diante do Sindrio, demonstrando que a totalidade da histria de Israel e das Escrituras do Antigo Testamento tinha o Salvador como seu alvo, propsito e cumprimento. Foi apedrejado at a morte por isso, estando presente Saulo, que posteriormente passou a ser o apstolo Paulo. O ponto de partida de Paulo, nas suas viagens missionrias, era pregar dessa mesma maneira nas sinagogas judaicas, em Chipre (13.5), em Antioquia da Psdia (13.13-51), em Icnio (14.1-7), em Tessalnica (17.1-5), em Beria (17.10-15), em Atenas (17.17), em Corinto (18.1-8), em feso (19.8-9).

    No captulo 8, 0 evangelista Filipe explica para o tesoureiro da rainha da Etipia 0 significado de Isaas 53.7-8 e 0 leva a Cristo. Quando o eunuco (usado como ttulo de oficial com livre acesso aos aposentos reais) perguntou: Eis aqui gua; que impede que seja eu batizado?, Filipe respondeu: lcito, se crs de todo o corao . E o eunuco disse: Creio que Jesus Cristo o Filho de Deus (8.26-40). Esta pode ser considerada a primeira (e mais breve!) Confisso de F que as igrejas exigem para algum ser recebido como cristo.

    Em Atos 9.1-19 Paulo recebeu uma viso de Jesus Cristo, que o encaminhou a quem 0 instrusse na f,

    CURSO DE TEOLOGIAm

  • MDu )UTRINA DE CRISTO

    impusesse-lhe as mos para curar a cegueira provocada pela forte viso e lhe transmitisse a plenitude do Esprito Santo - e assim Paulo foi batizado (v. 18). Em seguida, Paulo passou a ser evangelista e apologista de Jesus entre os judeus (v. 20-22).

    No captulo 10, como resultado de vises recebidas pelo centurio romano, e tambm ao apstolo Pedro, houve em territrio judeu um encontro entre um judeu cristo e uma autoridade romana (gentia). Quando os gentios que aceitaram a pregao de Pedro receberam 0 Esprito Santo como no dia de Pentecostes (10.44- 46), foi-lhes concedido o batismo como membros plenrios da Igreja - e a concluso, num concilio em Jerusalm, foi: Ento, Deus concedeu arrependimento para a vida at mesmo aos gentios! (Atos 11.18) - com confirmao no concilio do captulo 15. E isto deu mpeto para a evangelizao dos gentios (13.1-3 o ponto de partida).

    Nas viagens missionrias, Paulo deu aos judeus, nas sinagogas, a primeira oportunidade de aceitarem a Cristo. Como os judeus repudiaram a pregao bblica a respeito do Messias de Israel, Paulo passou a oferta aos gentios. Assim foi em Antioquia da Psdia, onde Paulo teve de concluir: Cumpria que a vs outros, em primeiro lugar, fosse pregada a Palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vs mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis a que nos volvemos para os gentios (13.46). E o resultado foi imediato: Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna (v. 48).

    Em Atos captulo 16 Paulo e Silas pregaram na colnia romana de Filipos, foram encarcerados por isso, e 0 bom testemunho deles em meio s torturas e um terremoto levaram converso do carcereiro, que perguntou: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Cr no Senhor Jesus e sers salvo, tu e tua casa (16.30-31). Aps a pregao da Palavra de Deus, houve batismo daqueles que creram em Deus (16.32-34).

    Em Beria, os membros da sinagoga foram elogiados porque examinaram todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim m esm o (Atos 17.11). O padro crer no Senhor Jesus da mesma forma que se cr em Deus, e isso em total consonncia com as Escrituras, a Palavra de Deus. Em Atenas, Paulo anunciou Jesus na praa de uma grande cidade intelectual, tendo como ponto de partida um altar ao Deus D esconhecido e aluses aos pensadores gregos. O Deus que fez o mundo, disse, agora (i., com a vinda de Cristo) ordena que todos, em todo lugar, se arrependam (17.24-31).

    Em Atos captulo 20 Paulo, encerrando sua terceira viagem missionria, ao despedir-se dos presbteros em feso, fez este resumo da sua obra em Cristo (passado e futuro): ...servindo ao Senhor com toda a humildade, lgrimas e provaes que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram, jam ais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e tambm de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a f em nosso Senhor Jesus Cristo. E, agora, constrangido em meu esprito, vou para Jerusalm, no sabendo o que ali me acontecer, seno que o Esprito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulaes. Porm em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministrio que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graa de Deus (v. 19-24).

    Jesus Cristo recebe total dedicao dos seus convertidos, e estes recebem a ajuda do Esprito Santo para testemunhar do evangelho da graa de Deus. Este trecho prenuncia a obra missionria de Paulo como encarcerado por causa da sua f em Cristo, tanto nas suas apologias de Cristo diante de vrias autoridades quanto nas Epstolas que continuava escrevendo na cadeia (Filipenses, Efsios, Colossenses, Filemom, 1 e2 Timteo, Tito). i

    No captulo 22, Paulo, preso por causa de um tumulto provocado pelos judeus contra ele no templo, recebeu do oficial romano licena para fazer sua defesa. Ressaltou seus slidos fundamentos judaicos, deu testemunho da sua converso a Jesus, mas no queriam escutar mais nada depois de ele declarar que Jesus o mandou evangelizar os gentios. Diante do governador Flix e do rei Agripa, Paulo confirmou que toda a sua pregao de Cristo estava dentro daquilo que as Escrituras do Antigo Testamento profetizavam,

    25CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    prenunciavam e ensinavam: ...acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos p ro fe tas ... (24.14), e ...nada dizendo, seno o que os profetas e M oiss disseram haver de acontecer, isto , que o Cristo devia padecer e, sendo 0 primeiro da ressurreio dos mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios (26.22-23).

    Depois da pregao histrica da doutrina de Jesus Cristo em Atos dos Apstolos, fundamentada nos Evangelhos, e em plena consonncia com 0 contedo das Escrituras do Antigo Testamento, passamos para a continuao e aplicao dessa mesma doutrina nas Epstolas.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 71) Qual a importncia especial de Atos na Cristologia?2) Em Beria, por que os membros da sinagoga foram elogiados?

    CURSO DE TEOLOGIA26

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    A DOUTRINA DE JESUS CRISTO NAS EPSTOLAS

    As Epstolas tm como tema central a pessoa e a obra de Jesus Cristo, conforme so reveladas nos Evangelhos, confirmadas para os fiis pelo Esprito Santo e pregadas por eles, historicamente, em Atos dos Apstolos. Tudo isso tomado por certo, como fundamento, pelos autores das Epstolas, sendo que estas foram escritas s pessoas e s igrejas - as comunidades daqueles que j de antemo tinham crido em Cristo como Salvador e sido batizados, conforme vimos no captulo sobre Atos dos Apstolos.

    Repassando a narrativa cronolgica da vida de Jesus Cristo nos Evangelhos, podemos ver repetidas aluses a ela nas Epstolas:

    Jesus nasceu como judeu: ...v indo, porm, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebssemos a adoo de filhos (Glatas 4.4-5).

    Jesus descendente de Davi: ...com respeito a seu Filho, 0 qual, segundo a carne, veio da descendncia de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo 0 esprito de santidade pela ressurreio dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor (Romanos 1.3-4).

    As qualidades de Jesus: manso - ...pela mansido e beniginidade de Cristo (2 Corntios 10.1); sem pecado - Aquele que no conheceu pecado, ele o fez pecado por ns; para que, nele, fssemos feitos justia de Deus (2 Corntios 5.21); humilde - Tende em vs 0 mesmo sentimento que houve tambm em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, no julgou como usurpao o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhana de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tomando-se obediente at morte e morte de cruz (Filipenses 2.5-8).

    Nestas primeiras citaes j vemos que os fatos histricos singelos passam a ser, depois da Ressurreio, da Ascenso e do derramamento do Esprito Santo, esclarecidos como Cristologia, Soteriologia (a Doutrina da Salvao), Eclesiologia (a Doutrina da Igreja), alm de ser aplicados vida devocional e ao andar na f. E assim que as Epstolas fazem a cada passo. Continuemos a nossa lista:

    Jesus foi tentado: Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, poderoso para socorrer os que so tentados (Hebreus 2.18). Porque no temos sumo sacerdote que no possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, nossa semelhana, mas sem pecado (Febreus 4.15).

    Jesus foi transfigurado: ...pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glria, quando pela Glria Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este 0 meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do cu, ns a ouvimos quando estvamos com ele no monte santo (2 Pedro 1.17-18).

    Jesus foi trado: Porque eu recebi do Senhor 0 que tambm vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi trado, tomou o po (1 Corntios 11.23-24).

    Jesus foi crucificado: ...mas ns pregamos a Cristo crucificado, que escndalo para os judeus, loucura para os gentios... (! Corntios 1.23).

    27CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 1 DOUTRINA DE CRISTO

    Jesus ressuscitou: Cada um, porm, por sua prpria ordem: Cristo, as primicias; depois, os que so de Cristo, na sua vinda. E, ento, vir o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destrudo todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convm que ele reine at que haja posto todos os inimigos debaixo dos ps (1 Corntios 15.23-25).

    Jesus subiu aos cus: Por isso, diz: Quando ele subiu s alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, seno que tambm havia descido s regies inferiores da terra? Aquele que desceu tambm o mesmo que subiu acima de todos os cus, para encher todas as coisas (Efsios 4.8-10).

    Jesus instituiu a Ceia do Senhor: Porque eu recebi do Senhor o que tambm vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi trado, tomou 0 po; e, tendo dado graas, 0 partiu e disse: Isto o meu corpo, que dado por vs; fazei isto em memria de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou tambm0 clice, dizendo: Este clice a nova aliana no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memria de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este po e beberdes o clice, anunciais a morte do Senhor, at que ele venha (1 Corntios 11.23-26).

    Podemos continuar percebendo, nesses textos (e em muitssimos outros), que os fatos histricos de Jesus Cristo passam a ser Doutrina, Cristologia, o contedo da f crist.

    MAIS DOUTRINAS DE CRISTO NAS EPSTOLASO que tambm fica claro nas Epstolas (em acrscimo ao ttulo Filho de Deus nos Evangelhos) a divindade

    de Jesus Cristo, nos seus vrios aspectos:

    A Jesus so dirigidas oraes como a Deus: ... igreja de Deus que est em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso... (1 Corntios 1.2).

    Jesus colocado em igualdade com Deus Pai nas saudaes de algumas Epstolas: .. .graa a vs outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (1 Corntios 1.3).

    Jesus Deus revelado a ns: ...nos quais o deus deste sculo cegou o entendimento dos incrdulos, para que lhes no resplandea a luz do evangelho da glria de Cristo, o qual a imagem de Deus... Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecer a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso corao, para iluminao do conhecimento da glria de Deus, na face de Cristo (2 Corntios 4.4,6). Este [Jesus] a imagem do Deus invisvel, o primognito de toda a criao (Colossenses 1.15). Devemos entender a palavra imagem como expresso exata, manifestao perfeita, e subentender primognito do Pai, de quem surgiu toda a criao. Ele, que o resplendor da glria e a expresso exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder... (Hebreus 1.3).

    Jesus Cristo referido muitas vezes como Senhor nas Epstolas: No Antigo Testamento, SENHOR traduo do tetragrama YHWH (erroneamente transcrito como Jeov), que Deus Pai Onipotente. As Testemunhas de Jeov, que negam a divindade de Cristo, querem que Senhor no Novo Testamento seja Deus Pai, mas os crentes entendem que ttulo de Cristo, com sua plena divindade, dentro da doutrina da Trindade. Em1 Corntios 7.10, 12, 25, Senhor aluso histrica a Jesus Cristo e seus ensinos (no contexto do casamento); no v. 17,0 Senhor (Jesus Cristo) equiparado a Deus Pai, e no v. 20 a palavra Senhor claramente o prprio Jesus Cristo. Temos a mesma definio em Efsios 6.5-7. O Senhor Jesus (2 Tessalonicenses 1.7) um conceito ensinado pelo Esprito Santo queles que se convertem, conforme temos em 1 Corntios 12.3: ...ningum pode

    CURSO DE TEOLOGIA18

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    dizer: Senhor Jesus!, seno pelo Esprito Santo . Como cristos, entendemos a palavra Senhor, dirigida to freqentemente a Jesus Cristo, no seu pleno significado divino.

    Jesus Cristo confessado como Deus: ...no me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele poderoso para guardar 0 meu depsito at aquele Dia (2 Timteo 1.12). Grande 0 mistrio da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em esprito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glria (1 Timteo 3.16). ...aguardando a bendita esperana e a manifestao da glria do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus (Tito 2.13). Pedro escreveu: ...aos que conosco obtiveram f igualmente preciosa na justia do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, graa e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor (2 Pedro 1.1-2).

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 81) Qual 0 tema central das Epstolas?2) Repassando a narrativa cronolgica da vida de Jesus Cristo nos Evangelhos, podemos ver repetidas aluses

    a ela nas Epstolas. Cite trs exemplos.3) O que tambm fica claro nas Epstolas em acrscimo ao ttulo Filho de Deus nos Evangelhos?

    29CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    A DOUTRINA DE JESUS CRISTO NO APOCALIPSE

    O livro inicia dizendo que uma revelao de Jesus Cristo (Apocalipse 1.1). Jesus Cristo a pessoa e 0 tema central do livro. Ele apresentado como 0 Cordeiro de Deus que cumpriu as profecias do Antigo Testamento. Ele notificou ao seu servo Joo as coisas que em breve devem acontecer e disse a ele: Escreve, pois, as coisas que viste, e as que so, e as que ho de acontecer depois destas (1.19).

    O senhorio ou soberania de Jesus Cristo se ressalta do comeo ao fim do livro. Quando Jesus se manifesta, andando entre sete candelabros de ouro e segurando sete estrelas na mo direita, passa a explicar que os candelabros so as sete grandes igrejas da sia Menor (onde Joo estava) e as estrelas eram os anjos dessas igrejas. Jesus est pessoalmente vigiando as igrejas, presente entre elas, naqueles tempos e at hoje.

    As cartas que Jesus mandou escrever quelas igrejas tm aplicao imediata a cada uma delas, naquele momento histrico, mas tambm so consideradas admoestaes a vrios tipos de igreja durante toda a Histria da Igreja, e muito comum identificar cada uma delas, na ordem em que aparecem, como profecia do que se sucederia cristandade no decurso dos sculos.

    Neste contexto, temos duas declaraes paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divindade de Cristo: Eu sou 0 Alfa e Omega, diz 0 Senhor Deus, aquele que , que era e que h de vir, o Todo-Poderoso (1.8); e ainda: No temas; eu sou o primeiro e 0 ltimo e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos sculos dos sculos e tenho as chaves da morte e do inferno (1.17-18).

    Nas cartas s sete igrejas, Jesus Cristo est ditando, mas cada uma delas termina com a exortao: Quem tem ouvidos, oua 0 que o Esprito diz s igrejas (2.7, etc.). Aquilo que Cristo diz fica em p de igualdade com aquilo que 0 Esprito Santo diz. J nos Evangelhos estamos acostumados com essa exortao de Jesus: Quem tem ouvidos, oua! (Mateus 11.15), com referncia aos seus ensinos - e h muitas expresses paralelas.

    A soberania divina de Jesus Cristo, tema que percorre o Apocalipse, j anunciada em 1.5: .. .Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, 0 Primognito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, em plena harmonia com a declarao de Jesus nos Evangelhos: Toda a autoridade me foi dada no cu e na terra (Mateus 28.18). Temos ainda 0 cntico de milhes de milhes de anjos proclamando: Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos ancios, cujo nmero era de milhes de milhes e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e fora, e honra, e glria, e louvor. Ento, ouvi que toda criatura que h no cu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo 0 que neles h, estava dizendo: Aquele que est sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glria, e o domnio pelos sculos dos sculos (Apocalipse 5.11-13).

    Ttulos messinicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, reaparecem no Apocalipse, como: .. .0 Leo da tribo de Jud, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos (Apocalipse 5.5); e Jesus disse, no ltimo captulo: Eu sou a Raiz e a Gerao de Davi, a brilhante Estrela da manh (22.16).

    A Segunda Vinda de Cristo, referida nos Evangelhos e declarada mais pormenorizadamente na primeira e na segunda Epstola aos Tessalonicenses, declarada j no incio do Apocalipse: Eis que vem com as nuvens, e todo olho o ver, at quantos 0 traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentaro sobre ele. Certamente. Amm! (Apocalipse 1.7).

    Na mesma linguagem da parbola do servo vigilante (Lucas 12.35-48) temos: Eis que venho como vem 0 ladro. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que no ande nu, e no se veja a sua vergonha (Apocalipse 16.15).

    No decurso dos eventos narrados no Apocalipse, Jesus Cristo sempre enaltecido como o Senhor ressurreto

    CURSO DE TEOLOGIA30

  • MDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO

    e glorificado, Soberano, operante em favor do seu povo: O reino do mundo se tomou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinar pelos sculos dos sculos (Apocalipse 11.15); Ento, ouvi grande voz do cu, proclamando: Agora, veio a salvao, 0 poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso 0 acusador de nossos irmos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, no amaram a prpria vida (Apocalipse 12.10-11).

    No captulo 19 de Apocalipse Jesus Cristo vencedor: Vi 0 cu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justia. Os seus olhos so chama de fogo; na sua cabea, h muitos diademas; tem um nome escrito que ningum conhece, seno ele mesmo. Est vestido com um manto tinto de sangue, e 0 seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exrcitos que h no cu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as naes; e ele mesmo as reger com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES (Apocalipse 19.11-16). Aqui temos aluso a vrias expresses profticas messinicas do Antigo Testamento, e voltamos ao Princpio com Joo, onde Cristo j era a Palavra (ou Verbo, em Joo 1.1).

    No ltimo captulo do Apocalipse, aps revelar os eventos tumultuosos, Jesus volta a prometer a sua Segunda Vinda, mais em linguagem de consolo e encorajamento, para os seus fiis: Eis que venho sem demora. Bem- aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro (Apocalipse 22.7); E eis que venho sem demora, e comigo est 0 galardo que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras (22.12); Aquele que d testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amm! Vem, Senhor Jesus! (22.20).

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 91) Quais so as declaraes paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divindade de Cristo?2) Quais so os ttulos messinicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, que

    reaparecem no Apocalipse?3) Em Apocalipse captulo 19 temos Jesus Cristo como Vencedor. Como Ele chamado?

    21CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 i DOUTRINA DE CRISTO

    ALGUNS ENSINOS DA PARTE DE JESUS CRISTO

    Jesus discursava em pblico aps formar seu grupo de doze discpulos (cf. Lucas 6.12-16), e uma multido se aglomerava ao derredor, que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; tambm os atormentados por espritos imundos eram curados (Lucas 6.18). Fica evidente que os milagres de Jesus eram sinais que apontavam para a autoridade sobrenatural da sua Pessoa. Seu discurso era: Bem-aventurados vs, os pobres, porque vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vs, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vs, os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem (Lucas 6.20-22).

    Aqui comea a plataforma religiosa de Jesus Cristo, que se contrape aos valores mais estimados pelo mundanismo. Os valores divinos so eternos, e a recompensa pela prtica deles se achar no cu (v. 23) - mas aqui na Terra que so a norma tica para os fiis, que pertencem ao Reino de Deus no sentido de serem leais Soberania do Rei Jesus, num mundo de trevas e de rebelio contra Deus.

    Sua mensagem era direta. Dizia ele: Amai, porm, os vossos inimigos, fazei 0 bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; ser grande o vosso galardo, e sereis filhos do Altssimo (Lucas 6.35). contundentemente clara, porm h uma enorme luta espiritual para po-la em prtica. Continua Ele: No julgueis e no sereis julgados; no condeneis e no sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos daro; porque com a medida com que tiverdes medido vos mediro tambm (Lucas 6.37-38). Crticas, condenaes, perdo e generosidade voltaro a ns na mesma medida em que os distribumos.

    A solidez da nossa vida religiosa analisada em Lucas 6.43-45, resumida nas palavras cada rvore conhecida pelo seu prprio fruto, e em Lucas 6.46-49: Por que me chamais Senhor, Senhor, e no fazeis o que vos mando? Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem semelhante. semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lanou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se 0 rio contra aquela casa e no a pde abalar, por ter sido bem construda. Mas 0 que ouve e no pratica semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando- se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a runa daquela casa . Essa ilustrao mostra que nossa comunho com Cristo deve servir de alicerce profundo da construo que a nossa vida.

    Sobre a orao, Lucas 11.1-13 registra mais outros ensinos pblicos de Jesus. Na narrativa, Jesus estava orando e, depois de terminar, um discpulo pediu: Senhor, ensina-nos a orar (v. 1), e Jesus ofereceu o modelo a ser seguido, o Pai-Nosso (v. 2-4), e exemplificou como um amigo terrestre atende petio urgente de outro amigo (v. 5-8), e um pai terrestre atende aos pedidos dos filhos (v. 11-12), de modo que, muito mais, nosso Pai celeste nos atende s oraes, mormente as com inteno espiritual (v. 13).

    Sobre a firme confiana em Deus, Jesus ensina (Lucas 12.22-34): ...no andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes (v. 22-23). Preocupar tem muitos sentidos comuns em portugus, e a palavra em grego semelhante a tarraxa (instrumento para fazer rosca em parafusos) - ficar mesmo contorcido ou em parafuso. Numa civilizao oriental na qual a tamareira cuidadosamente plantada e cuidada, para dar frutos quarenta anos mais tarde, no se pode entender que ficar despreocupado deixar de trabalhar, estudar, preparar-se e precaver-se. Tudo uma questo de prioridades: investir tempo e dinheiro nas coisas que agradam a

    CURSO DE TEOLOGIA32

  • MDULO 1 1 DOUTRINA DE CRISTO

    Deus, de valor etemo, ou seja: Onde estiver o seu tesouro, ali tambm estar 0 seu corao (v. 34).Em Mateus Jesus disse: Vs sois 0 sal da terra; ora, se 0 sal vier a ser inspido, como lhe restaurar o sabor?

    Para nada mais presta seno para, lanado fora, ser pisado pelos homens. Vs sois a luz do mundo. No se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para coloc-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe tambm a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que est nos cus (Mateus 5.13-16). Em Mateus 5.17-20 Jesus deixa claro que no desaparecer da Lei [aqui se refere totalidade do Antigo Testamento] a menor letra ou o menor trao, at que tudo se cumpra. Mas o cumprimento no ser segundo uma interpretao meramente superficial, farisaica: Porque vos digo que, se a vossa justia no exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos cus (v. 20). Nesse contraste entre as injunes literais do Antigo Testamento e as intenes do corao do crente em Cristo, Jesus passa a considerar os assuntos do homicdio, do adultrio, do divrcio, dos juramentos, da vingana e do amor aos inimigos, conforme segue.

    O homicdio j est no corao de quem odeia o seu prximo (v. 21-26). O adultrio j est no corao de quem cobia uma mulher (v. 27-30). Quem se divorcia da sua esposa j a expe ao adultrio, e quem se casar com a mulher divorciada est adulterando (v. 31-32). Os juramentos no podem ser prestados em nome de nenhum objeto no universo; basta um simples sim ou no diante do prprio Criador do universo (v. 33-37).

    Havendo cada vez mais oposio por parte dos lderes religiosos judaicos contra Jesus, por rejeitarem sua autoridade divina e os indcios de ser ele o Messias, Jesus passou a usar muitas parbolas, histrias baseadas na vida diria bem conhecida, que apontavam para as verdades divinas. Quando Jesus dizia: O Reino de Deus semelhante a... fazia sem elhanas , comparaes, e a Bblia de Lutero chama parbola de Gleichnis = semelhana.

    Antes de passarmos a algumas parbolas, podemos ressaltar que grande volume do que Jesus falava s multides era em resposta aos ataques verbais dos escribas e fariseus, que sempre queriam desmoraliz-lo em pblico. Quanto aos lderes religiosos que fingiam viver uma vida religiosa enquanto viviam de modo contrrio, e que eram os inimigos mais virulentos do crente em Cristo, a palavra hipcrita (gr. - hupokrites), que em grego significava ator mascarado no palco, foi-lhes aplicada por Jesus (fingidos a traduo na parfrase Bblia Viva - Mundo Cristo), e o fato que a hipocrisia (no sentido que temos em portugus, fiel ao uso por Jesus Cristo) o pecado mais fortemente condenado por nosso Senhor nos Evangelhos - quanto freqncia do uso e linguagem contundente usada. No fim do seu ministrio pblico, imediatamente antes da crucificao, Jesus proferiu um discurso que catalogou todo esse comportamento hipcrita (Mateus 23).

    Jesus ensinava as multides por meio de parbolas. Exemplificaremos algumas aqui, citando-lhes apenas os nomes, cada uma com sua referncia bblica, e a respectiva lio ensinada, preferivelmente quando 0 prprio Jesus tira a concluso com as suas prprias palavras. Em cada referncia bblica aqui escolhida 0 leitor poder achar na sua Bblia se h similar em outro Evangelho (pois as parbolas de Jesus so assunto dos quatro Evangelhos).

    A primeira, pela ordem, a parbola do semeador, que mostra como cada ouvinte recebe a Palavra de Deus e frutifica conforme sua receptividade a ela (Marcos 4.1-20). A parbola do joio (Mateus 13.24-30) ensina que s Deus (no ns), no fim, pode definir a condio de quem supostamente crente. A parbola do gro de mostarda (Marcos 4.30-32) mostra 0 crescimento da doutrina de Jesus Cristo, a partir de uma semente mnima at uma hortalia grandssima. Os superlativos aqui representam os superlativos em grego. No a menor semente, nem a maior hortalia. A parbola do fermento (Marcos 4.33) mostra como a f em Cristo cresce invisivelmente at afetar profundamente a humanidade.

    As parbolas do tesouro escondido e da prola de grande valor (Mateus 13.44; 13.45-46) mostram que, na converso, a pessoa considera lixo todos os valores mundanos em troca de ficar com 0 Salvador (cf. Filipenses 3.8-9). A parbola da rede fala de uma pesca crist que alcana muitas pessoas, mas nem todas se convertem em seguidores genunos (Mateus 13.47-50). Nos ensinos de Jesus existem muitas expresses figuradas, lies morais ou exortaes em linguagem de exemplificao, que so parablicas (Lucas 14.7-11), mas nem sempre so tradicionalmente classificadas como A parbola de....

    33CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

    Na parbola do grande banquete (Lucas 14.15-23) Jesus mostra que muitos convidados para a ceia com ele no cu inventaro desculpas para repudi-lo, mas muitas pessoas na pior situao podero ser procuradas nos becos e campos para preencherem as vagas.

    Lucas 15 mostra Jesus dedicando tudo recuperao e salvao dos perdidos. A ovelha perdida (15.1-7) tinha se desviado pelos seus prprios apetites, sempre em busca de coisa melhor, l longe. A dracma perdida (v. 8-10), cada pela fora da gravidade, no tinha a mnima condio de se movimentar, nem gritar por socorro. O filho prdigo queria total independncia e liberdade, sem medir as conseqncias (v. 11-31). As definies so nossas, mas a lio de Jesus, para os trs casos, : Digo-vos que, assim, haver maior jbilo no cu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que no [alegadamente] necessitam de arrependimento (v. 7).

    A parbola da viva persistente (Lucas 18.1-8) ensina a persistncia na orao (ver tambm Lucas 11.5-13). Essa viva conseguiu enfrentar um juiz injusto, e a lio apontada por Jesus foi: No far Deus justia aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora parea demorado em defend-los? Digo-vos que, depressa, lhes far justia. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achar, porventura, f na terra? (Lucas 18.7-8).

    Na ordem da narrativa histrica em Lucas, com os lderes religiosos (fariseus, escribas, mestres da Lei, saduceus, sacerdotes) j tramando contra ele, Jesus contou a parbola do fariseu e do publicano (Lucas 18-9-14), na qual o fariseu se jactava (numa suposta orao) em voz alta de todos seus (supostos) merecimentos diante de Deus, ao passo que o publicano orava distncia: Deus, tem misericrdia de mim, que sou pecador (v. 13) - a atitude que leva justificao diante de Deus, mediante a f em Jesus Cristo.

    Contra esses mesmos lderes religiosos Jesus dirigiu a parbola dos lavradores (Lucas 20.9-19). Esses lavradores recusavam render os frutos devidos ao dono, que mandou seus servos e, finalmente, o prprio filho para pedir prestao de contas. Os lavradores acabaram matando 0 filho do dono, assim como os lderes judeus planejavam fazer com Jesus. Mas perderiam tudo e seriam reduzidos a p (v. 16-18).

    Jesus se referiu a um homem de nobre nascimento que foi para uma terra distante para ser coroado rei, e depois voltar (Lucas 19.12), mas cujos sditos 0 repudiavam (v. 13), mas, no fim de tudo, mandou executar esses inimigos (v. 27). H alguma aluso histrica a Herodes Magno, que assim foi para Roma para ser nomeado rei dos judeus; e tambm ao prprio Jesus, que estava para se ausentar da Terra mediante a Crucificao, a Ressurreio e a Ascenso. No nterim, aplica-se a lio da parbola das dez minas (Lucas 19.11-26), de cada um ser fiel s coisas de Cristo, como leal servo sdito cujo legtimo rei no est visivelmente presente. As minas eram moedas gregas (valendo uns trs salrios mnimos cada), assim como os talentos so pesos de ouro ou prata na parbola dos talentos (Mateus 25.14-28).

    Enquanto aguardamos a volta de Jesus, devemos ser fiis ao lidarmos com as responsabilidades que ele nos delegou (nossos talentos) e, como na parbola das dez virgens (Mateus 25.1-14), mantermo-nos vigilantes, preparados e equipados para quando Jesus precisar de ns, e mormente para a sua Segunda Vinda.

    O Evangelho segundo Joo no registra parbolas no sentido de histrias ilustrativas, mas linguagem semelhante usada nas declaraes Eu sou.... Examinando uma delas, Eu sou a videira verdadeira (Joo 15.1-17), vemos que os crentes so os ramos, e o Pai, o agricultor. E Deus quem faz a poda (com corte, limpeza), visando nossa frutificao. O segredo do ramo, para frutificar, ficar bem firme, agarrado, na videira que Jesus. E isso inclui ficar sempre no amor de Jesus, confirmado pela obedincia aos seus preceitos, e pelo amor ao prximo do mesmo tipo que Jesus sempre nos dedicou.

    VERIFICAO DE APRENDIZAGEM

    CAPTULO 101) A solidez da nossa vida religiosa analisada em Lucas 6.43-45. Ela resumida em que palavras?2) O que significa a palavra hipcrita no grego?

    CURSO DE TEOLOGIAm

  • MDULO 2 1 DOUTRINA DE CRISTO

    FONTES NO-CRISTS QUE ESCREVERAM SOBRE JESUS

    Jesus Cristo nada escreveu, apesar de haver milhares de livros escritos a seu respeito. Viveu na Terra h cerca de dois mil anos. Ele pertenceu a um povo que, segundo as Escrituras, era 0 povo escolhido de Deus. No passado, eles eram conhecidos como povo de Israel, entretanto, na poca de Jesus, eram tambm chamados de judeus. Jesus viveu na terra que havia sido lar de seu povo por centenas de anos, uma faixa de Terra situada no litoral oriental do mar Mediterrneo.

    Seus ensinos atraam as classes menos favorecidas, especialmente os pobres e desprezados, o que fazia com que os lderes religiosos ficassem intrigados com o que Ele dizia a ponto de planejarem sua morte. Depois de calarem o rei dos judeus, seus seguidores continuaram a espalhar a sua mensagem. O que eles diziam sobre Ele deu incio a um novo movimento, primeiro entre os judeus, depois entre os gentios, chamado de cristianismo.

    Imprios surgiram e se foram, civilizaes inteiras desapareceram; revolues militares, convulses sociais e polticas mudaram a ordem do nosso mundo. Mas aquela pequena comunidade de pescadores fundada pelo judeu Jesus, da aldeia de Nazar, a sua Igreja, permanece em p at hoje, como um rochedo firme no meio de um mar em contnuo movimento.

    Os crticos da Bblia alegam ou sugerem que os documentos do Novo Testamento no so confiveis, pois foram escritos pelos discpulos de Jesus ou por cristos posteriores. Mencionam como prova que no h confirmao da existncia de Jesus em nenhuma fonte no-crist. Vejamos.

    11.1 FORA DAS ESCRITURASAlgumas informaes sobre Jesus podem ser extradas dos historiadores que foram contemporneos dele

    ou viveram logo depois. Ele mencionado pelos historiadores romanos Tcito (Anais XV. 44), Plnio, 0 jovem (.Epstolas X.96), Suetnio (Cludio, 25; Nero 16) e pelo famoso historiador judeu Flvio Josefo, em uma passagem suspeita de conter interpolao (Ant. XVIII. 3.3).

    11.2 FLVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.)Historiador judeu, filho de sacerdote, fariseu de famlia abastada. No ano 66 estava comandando a guerra

    judaica contra Roma na Galilia, onde foi preso. Tendo profetizado a ascenso de Vespasiano ao poder, quando isso realmente se concretizou Vespasiano o libertou das cadeias. Desde ento viveu sob a proteo dos flavianos em Roma, onde comps seus escritos histricos e apologticos. Ele no menciona Jesus em sua Guerra judaica, mas o menciona por duas vezes nas Antiguidades judaicas (Ant. 18.63s; 20.200), sua histria do povo judeu.

    Em Ant. 20.200 Josefo descreve 0 julgamento e apedrejamento de Tiago e de outros por transgredirem a Lei, de acordo com 0 Sindrio dirigido pelo sumo sacerdote Ananos no ano de 62. Josefo apresenta Tiago como irmo de Jesus, que chamado Cristo (Tou adekvou Igsour kecolemor Wqistor), identificando-o assim por meio de seu irmo mais conhecido.

    O Testimonium Flavianum (Ant. 18.63s.)O chamado Testimonium Flavianum {Ant. 18.63s.), que dado por todos os manuscritos de Josefo sem

    variao digna de meno, onde ele relata sobre Jesus Cristo, o seguinte:

    35CURSO DE TEOLOGIA

  • MDULO f | DOUTRINA DE CRISTO

    Neste tempo vivia Jesus, um homem sbio, se que se pode cham-lo um homem. Ele realizava feitos incrveis e era 0 mestre de todos os que aceitavam com alegria a verdade. Desta forma ele atraiu judeus e tambm gentios. Ele era 0 Cristo. E apesar de Pilatos. movido pelas pessoas mais eminentes de nosso povo, t-lo condenado morte, seus discpulos no lhe foram infiis. Apareceu-lhes pois em vida no terceiro dia; os profetas enviados por Deus haviam anunciado antecipadamente isso e outras coisas maravilhosas sobre ele. At o dia de hoje subsiste o povo dos cristos, chamados assim segundo seu nome.

    Desde 0 sculo XVI esse texto tem sido objeto de fortes controvrsias por especialistas de todas as crenas. Alegam ser duvidoso que um judeu que viveu e trabalhou fora do contexto cristo tenha dito tais coisas sobre Jesus. Discutiu-se em primeiro lugar se 0 pargrafo precisa ser interpretado como testemunho autntico de Josefo ou se uma interpolao crist. No sculo XX o debate deslocou-se cada vez mais para a pergunta se o Testimonium Flavianum tem por base um relato mais antigo de Josefo, que teria sido reelaborado por cristos, e se possvel reconstruir 0 fraseado ou a tendncia desse relato original de Josefo. Assim, trs hipteses so apresentadas: a autenticidade, a interpolao e a reelaborao.17

    Este mesmo escritor faz aluso a Tiago, irmo de Jesus:

    Anano, o mais jovem, cuja nomeao para sumo sacerdote acabei de citar... pertence seita dos saduceus, que, como j se observou antes, mais inflexvel e impiedosa no tribunal do que todos os outros judeus. Ananos acreditou que tinha uma oportunidade favorvel para a satisfao dessa sua dureza de corao, porque Festo estava morto e Albino ainda estava a caminho.18 Por isso, ele reuniu os juizes do Sindrio e ps diante dele um homem de nome Tiago, irmo de Jesus, que chamado Cristo, e alguns outros. Ele os acusou de transgresso da lei e os mandou para 0 apedrejamento. Mas isso exasperou at os mais zelosos observadores da lei, que mandaram um encarregado ao rei 19 com 0 pedido de exigir por escrito de Ananos que desistisse de quaisquer outras aes, pois no havia sido correto em seu primeiro passo. Alguns deles foram ter com Albino... e o informaram de que Ananos no tinha nenhuma autoridade para convocar 0 Sindrio sem seu consentimento. Em virtude desse incidente, Agripa o destituiu de seu cargo de sumo sacerdote que ele ocupara por trs meses...

    11.3 TCITO (55/56 - 120 d.C)P. Cornelius Tacitus, membro da aristocracia senatorial, ocupou cargos habituais (foi procnsul da sia em

    112/113), entretanto ficou conhecido como historiador por suas duas grandes obras histricas: as Histrias (c. 105 - 110) e os Anais (c. 116-117).

    Tcito, em sua biografia, relata os cinco primeiros anos de governo do imperador Nero, chamado quinquennium 54-58 d.C. {Ann 13) e 0 reino de horror que se seguiu a este (Ann 14-16); entre os exemplos desse perodo est a execuo cruel de cristos afflicti suppliciis Christiani, genus hominum superstitionis novae ac maleficae foi aplicada pena de morte contra os cristos, um grupo de pessoas de uma superstio nova e malfica (Nero 16.2). O motivo pelo qual ele se refere aos cristos o incndio de Roma no ano de 64 d.C. {Ann 15.38-44), que Nero atribuiu aos cristos para desviar a suspeita de si prprio.

    Ele descreve de forma breve e precisa 0 que sabe sobre o autor {auctor) da superstio, a fim de esclarecer a origem dos Christiani,20 que so odiados no meio do povo por causa de seus vcios {Ann 15.44,3):

    17Para uma melhor compreenso sobre as hipteses possveis, ver THEISSEN, Gerd. 0 Jesus histrico. So Paulo: Loyola, 2004. p. 86." Prcio Festo (60-62) e Luceio Albino (62-64) eram procuradores romanos na Palestina. Como Festo morreu inesperadamente, houve um vcuo de poder aps sua morte at a chegada de seu sucessor. A referncia ao rei jud