curso de introdução à economia política paul singer

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BANDllx ): , E .1.11,'l' t "', O objelivo prlncipiìl(ll) | | , sociâ1, discíimlnâr as divcr1,,ir. I , ,, por tal fenôÍnenoe explr(:iìr rLr. ,r, mêsmo no mundo conlcrÌìl)oÌ,1Ì , I clâraedirêla.o iv'oq,i . ,. cullo que não demanda Lrrnr r,rr,, mente especializado poÍ partI rtr , I seguramenle listas dê I di",r.,- proÍessores universiìários da5 rìì,r' cursos de Ciências Socìais, Hirì1,,r . nomia, Apesar disso, não dev(, :,. leilurâ Íestrita a universì1ár os ^lrrrr, I mais amplo e diversiÍÌcado, rnctusrv, I , material iconográfico. PROXIMO LANCAMI tt tl O DESENVOLVII\4ENÍO DESIGUAL ÍII Formações Sociais do Capitâljsmo peíÍ(j ,, Neste livro o autoÍ apresenta uma anirt , ,r.l mia do desenvolvjmenio segundo a quât u||ì e ultrapassado tomândo-se como ponto dc lr,rr r, ., cenÌÍoJ mas sim a sua periferia, Dots exemJ)t():i ..,, , , sentados: o aparecimento do capilalìsmo a l),LrI|r r,, rerrâ dos sislemas das grardes ctv izdçoes n e a cnse que alrâvessa atualmente. O primeiro capÍtulo trata da gênese do (:,Lt) ,r . e os quatro seguintes do apareciÍnento do so.i,rÌ .,r,, , segundo capítulo âpresenta as leis do cap trlt:ìÌÌr,, l, lético. Tomandocomo base estâ análise dupla o lllrtr)Ìrr ,. tía no capitulo quatro os mecanismos da dírp.l|(1,,Ìr, ., esctarecenoo, ao mesmo iempo, o pTocesso do ,(t, ,,.,1 volvjmento do subdesenvolvimento,', antes de atpÌ4rìr,lÌ no quinto capitulo,o balançodas Íormações socirìi:ì í.rt) lalisias periféricas. PL^ l\\7 D/l | ,r-1 SI CURSO DE INTRODUÇN / ECONryI/II\ rìl-\t r-rrr- n KrLl ll\-.f1 ER

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Page 1: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

BANDllx ) : ,E .1. 11, ' l ' t " ' ,

O objel ivo pr lncipi ì l ( l l ) | | ,sociâ1, discí imlnâr as divcr1, , i r . I , , ,por ta l fenôÍneno e explr( : i ì r rLr . , r ,mêsmo no mundo conlcr Ì ì l )oÌ ,1Ì , Ic lâraedirêla.o iv 'oq, i . , .cul lo que não demanda Lrrn r r , r r , ,mente especial izado poÍ part I r t r , Iseguramenle l is tas dê I d i" , r . , -proÍessores universi ìár ios da5 rì ì , r 'cursos de Ciências Socìais, Hir ì1, ,r .nomia, Apesar disso, não dev(, : , .le i lurâ Íestr i ta a universì1ár os

^lrrrr , I

mais amplo e diversi Í Ìcado, rnctusrv, I ,mater ial iconográf ico.

PROXIMO LANCAMI t t t lO DESENVOLVII\4ENÍO DESIGUAL Í I IFormações Sociais do Capitâl jsmo peíÍ( j , ,

Neste l ivro o autoÍ apresenta uma anir t , , r . lmia do desenvolvjmenio segundo a quât u| | ìe ul trapassado tomândo-se como ponto dc l r , rr r , . ,cenÌÍoJ mas sim a sua peri fer ia, Dots exemJ)t() : i . . , , , ,sentados: o aparecimento do capi lal ìsmo a l ) ,LrI | r r , ,rerrâ dos sis lemas das grardes ctv izdçoes ne a cnse que alrâvessa atualmente.

O pr imeiro capÍtulo trata da gênese do (: ,Lt) , r .e os quatro seguintes do apareci Ínento do so. i , r Ì . , r , , ,segundo capítulo âpresenta as le is do cap tr l t : ì Ì Ì r , , l ,lético.

Tomando como base estâ anál ise dupla o l l l r t r) Ì rr , .t ía no capitulo quatro os mecanismos da dírp. l | (1, , Ì r , . ,esctarecenoo, ao mesmo iempo, o pTocesso do ,( t , , , . ,1volvjmento do subdesenvolvimento, ' , antes de atpÌ4rìr , l Ìno quinto capitulo, o balanço das Íormações socir ì i : ì í . r t )lalisias periféricas.

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CURSODE INTRODUÇNO/ ECONryI/II\

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Page 2: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

Paul Singer

CURSO DE INTRODUÇÃOA

ECONOMIA POLJTICA

3. EDICÃO

FORENSRE-UdNTIWRSITT{RIA

Page 3: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

INDICE

EXPLICAçÕES E AGRADECIMENTOS

1llúm.ia Aúa

-, T€orias do Valor

/zsegunda ÁulaRepart ição da Renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . , . , . . . . . 26

Terceira AulaO Excedente Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , , . , . . . . , 42 /

Quarta AulaÀcumuÌação de Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 '

Quinta Aula (A Concentração do Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74,

Sexta AulaMoeda . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89-

Sétima ÁuÌaCrédi to . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . t03 /

Oitava AulaO Nívêl de EmpÍego . . . , . , . . , , l l1z

Nonâ, AulaO Capital o o Capitalismo em Perspectiva Histôrica ,.. . 132 /

Décima AulaComércio lDternacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . , . , . . 146/

Décìma PriÌneirs Aula

-A.Ìrál isê alo Desenvolvimedto Econômico . . . , . . . . . . . . . . 158Déciina Segudda Aula

Economia Planif icada , . . . . . . . . 172

Page 4: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

DGLICAçÕES E AGRADECIMENTOS

Ás aulas deste cu$o foram originaÌnento proferidas em 1968,no Teatro de Arem, eír São Paulo, a convite do eútidades estudan-tis da Fâculdade de Filosofia, Ciênciar € Letras da üniveÍsidade deSão Paulo. Ás aülâs emrn dâdas aos sábados de manhã, a um audi-tório compacto que circuDdava o palco, numa atmosfeÌa dô entu-siástica vodtâde d€ aprgadet que €xplodiâ em vivos debates ao fitndg cada exposição. As gravações das aulas eram rapid3mente trans-critas das fitas, corÍigidas e mimeogmfadas, a tempo de as primeirasainda poderem ser vendidas aos frcqü€liadores enquanto o cuÍsoêstavâ em andamento.

EnceÍado o cursq formulei um vago pÍojeto de um dia Ìees-crev€r :rs aulâs e tmnsformá-las trum manual introdutório à ecotlo-mìa política. Outros trabalhos, do entanto, iarn ímpondo o adiamen-to sücessivo deste proioto, até qu€ descobÌi, para minha surpresa,que as modo€tas aulas do Arela estavam seDdo ativamênte repro-duzidas po! estuda[tes de vários centros de ensino superior de difê-rentes cidades do país. Havia bvidcútemeDte uÍÍâ IacunÊ que estêmaterial, âpesar de suas insuficiêtrcias, estava preenchendo. Pensoque esta lacuna decoffe da Íecusa, câda vez mais fr€qüente, Dorgarte dos cstudaDt€s, de aceitar o dogmatismo coÍti que são dx-postas as idéias das duas grandes escolas de pênsamento que com-põem a economia política. Não fatam mêtruais de introdÌrção àêconomia, nem margbalistas-kelmesianos, nêm marxistas. O que fal-ta, ao que parece, é uma exposição comlmntiva e cdtica das duascofientes e foi plecisamênte este o cooteúdo do Curso do Arena, doque decoffe, parecs.me, sua contínua Ìeprodução e utilização.

Finêlmento, chegou o momênto de enfÌentar a tarefa de darao curso caráter mais acabado, permitirdo sua püblicação sob aforma de li\.ro. Das 12 aulas dadas origiúaÌmedte, havia a gtavaçãocorrigida de apenas nove. TÍês gÌavaç5es s€ perderam, em circuDstân-ciâs que üft dia, em outms co[dições, Berá possível esclaÌecer. Destas

Page 5: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

só me Íestarâm os esquemas de ítens, a partìr dos qLìah cu desen-volvia a exposição. Passados meja dúzia dc anos. naturâlmcnte nãome lembÌava mais com precisão de como dcscnvolvi âs idÚ;as apcnasindicadas nestes esquemas. Resolvi manter o lcxto das nove aulasgravadas, apenas melhora[do o estilo, quando iÍnprcscindível, c pre-enchendo certas lacunas da exposição, que provavclmcnlc foram ob-jeto de indagações e escÌarecimento aús o término da âprcsentaçãoo ginal, mas que não foram gravados. Deixei qüc o tom vivo daexposição oral permanecesse no texto e tratei de não "atualizâr" otmtamento dos pÍoblemas, embom seja pÍováveÌ que minha abor-dagem dos mesmos seria, hoje, em muitos pontos, ditcrente. Opteipor esta soÌúção porque s€náo teria que escrever um novo livro,tarcfa pam a qual não dhponho de meios, por ora. QueÍo frisaÍ, noentanto, que tudo que consta neste terto Êvisto eu considero essen-cialmenle corrcto.

Deseflvolvi as três aulas faltantes do âcordo com os esquemasde que dispuÍrha, mas é óbvio que o tom do texto é outro e o tra-tamenlo da problemática é datado de 1974 e não de 1968, pois eraimpossível desconhecer o que peDsei e li nestes últimos seis anos. OÍesultado é um cuÍso algo desigual e não totalmcnte concatenado,o que não me desesp€ra, pois estes defoitos - se é que o são -refletem as vicissitudes da vida intelectual e poÌítica no Brâsil, noatuâl período.

Devo agradecimentos aos que me estimuÌaram a me empenharnessa târefa, desde os que organizaBm o Curso do Arena, os qüeassistimm a eÌe e mediante süas indagações e objeções me levaram amelhor pÌecisar o pensamento até os que tÉrscreveÍam as gÉva-ções e os que persisterÌtement€ as r€prodÌraram, lÍansfoÍmando-asem elemento vivo de nossa cultura. Quero também agradecer, pelaeficiência e dedicação com que s€ €mPeDìaram m reprodução dati-Ìográfica destos originâis, a.MaÌia do Carmo Bayma de Carvalho eRaq,rel Lourdes de Paulo.

São Paulo, I de ìaneiro de 1975

Paul Singer

TEORIAS DO VALOR

Exiíe um conÍ l i to básico que divide a econom:a em duas esco_las ooosta*. EstáãiììõÌiã-econ;mia em corrrnLes que se riFìi-m-ãìnãrgêm e que, inclusive. não tèm Lrma l inguagem comum. dis-tjngue os partidáÍios da Economia Marginalisra dos da EconomjaMarxista. TaÌ divisão é muitas vezes escamoteâda pelos representan_tes dos grupos opostos. Em obrâi de economiâ política marxistâ en_contra-se, geÍalmentg. apenas uma exposição do assunto do seu ân_gulo, sem nenhuma menção à existência de outra análise compÌeta_mente diferente e oposta, E a mesma coisa ocorrc co;Ìì a ÌiteratuÌamârginalista, incÌusive com o ensino nas üniveÍsidades do mundoocidenlal, em que o marxismo acaba sendo ou completamente esque-cido ou então é abeÌto um pa!êntese ao longo da exposição, e sediz: exi ' te uma escola arcaica que ainda se prende â conhecjmen'tos superados, por motivos ideoÌógicos: o maúismo; fecha-se o pa-rênlese e se contjnua. O que se vâi tentar fazeÍ neste culso é mostralcomo as duas orientações estão ligadas às divergências e às lutasdo nosso Iempo. Não e um deb"le que se dá meram_ente no plâng.da interprelaçáo õLr da consLalação do' falos. Btá profundamenteligado à inleÌpieiação da vida social, da evolução da sociedade edod .umos desta evoÌução.

DentÍo dos cânones da ciência positivista, é müito difícil enten-der um debate cientifico motivado desta maneira. ry9_!49jl"rdebare "obiet ivo". t le depende, em últ ima anál ise, de uma loma-aì de po.:çr io ãnïer io r , pr;-c ienl i l ica. Talvez a exi íència desÌa dico-lomja na ciência econômica, seja um dos argumentos mais irnpor-tantes contra esses cânones .d9 -o-bj9t&i4?!!e,cjç!]4!i!9. Não vou en-lrar nisto longamente; só gostaia do alertálos para esta implicaçãodos debates que vão entremear todâs as exposições que serão feitas.

Comcçaremos com o que me parece básico €m economia, oüseja, com o p'ohrema da*gbL.5__9!9!9rnja é üma ciência socjaloue d if ere das demah ciènciaì

"oaiai;õ':;;õiiì;;;;õ6'l'&ìãde quanri ; icaçao que o* demais não rèfr . Pôr-èieftptóieãïõìòtQiã,

PRIMEIRÀ ÃULÃ

t0 1t

Page 6: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

quando fâlamos d€ Íelações sociais, cías po(lcnì scf dislinsu'das'

aÍaljsadas, classificadas; podemos fâÌar enì rrìlrìçocs sìnìclncas c assr-

métÍ icas. iguais e desiSuais, ânta8ônicas e dc coopcrt Ìção Há di fe-

rcntes formas d€ classificar as relações sociais o, uma vez clas-sj f icadas, podemos passar à sua anál ise, ao cntcndimcnlo de suadinâmica, e assim poÍ diânte. Mas não podemos quanl i f icálàs. nãopodemos dizer, por exemplo, que uma íelação ó 3, 6 vczcs mais in_i"nsa que outtu. Em psìcologia, faÌa_se em peÍcepç:ìo, tnì emoções,etc., mas tambérn quase semprc de um ângulo qualitarivo.

Náo pretendo mè alongar na análise dc outras ciôncias sociais,das quais não conheço mìrito, mas estou conv;clo dc qu€ a cconomla'neste ponlo em particrlar, é diferente. Porque ç1q ó câpaz de qu-an-

tificâr, senão a âtividâde econômica pelo menos seus fÍulos, ouseìã. ii orodito SociaÌ. A maior paíle das lci. econòmicâq poJe seÌexÌieisi frriie 'n a r icá me nle e veriÍicada empiricdmen!c A lei Jâ oteÍ'títda Drôcüra. a lei do valõr da moeda eta, quase sempr€' ou tal_voz sem;re, são pâssíveis de mediçáo, e podem, portânto, ser avaliadasnão somente em termos do que âcontece ou não acontece' mas emque medida acontece. tssa poss;b! l idgde dc quanl i f icãção dtcoÍreorecisamente da teoÍ iâ do valoÍ Oü seja, ha um conccitõ bávco nai:cono. iu, qr. e Jao

"uìoi . que p.tmite a ut i l izaçào de umâ uni-

dade de medição e\sencial para, pral icamenle. lodos o' Íenómenosdo mundo económico. É poÍ is$, ev'dentemenle que o conreúdotlesta medida - o valor ec;nômico - é essencial, é â pedra funda-Àeníal de todo o edifício científico.

ErìsLem, na ciéncia econômicâ moderna. d-üas maneiÍds com-p!44r[e!l!e dif€rentes dc se definiÍ yqlor: uma delas ÍeiiÍa o vaÌorãe uma relacão ilo homem com a na,ut.-, o,l do homem com asioisas. E)a parte da idéiâ de que o homem seúte uma série de.riecessidades e é na procura da sathfaçáo dessas necessidades queele se engaja na atividade econômica. Po anto, o que ele cria naatividade ecoÍômica, or seja, o rolor, é o grau de satjsfação ou-autilidade derivada dessa atividade. De acotdo com esta abordagem, aatividade econômica se dá €ssencialmente entÍe o homem e o melofhico e o homen atribui valor aos objetos ou aos servlços, na me-dìda em que estes satisfazem suas necessidade3 A-abordagem opdsttrerira o valor não das relações d,o homem com as co$as. mas dohomem com outros homens. isto é, das relaçòes'sociais' O valot,neste caso, é o fÍuto das leÌações que se ctiarn entre os hoÌlelts rtaâtivida(b econômica. E elo se mede pelo tempo do trabalho PÍo'dÌ!!i:vo qu€ os homens gasiáiiì-iià átiìiiitâde eaônômica- A primeila é ateorìa do valor-utìIidaàe e a seguldâ, a teoÌia ilo valor'trabalho

.

t2

Í

A rcotìa do voÌor-ulilìdade parte da reÌação enlre uma nece's-dade humdna e o seruìço ou obìelo q!!-al3Jj !bçì. Eu lenho fome.

.^- . ' - - - - ,o al imenro qJe pode:at i \ 'a7er a fome e objelo de uma àt i r ìdadeeconômica que valorjzo na medida em que ele satisfaz esta necessi-dade. PaÍa mim, e-ste !ei.9!!iq.aq9 é subjetiva. Ela depende de quan-ta fomô eu sjnta, de minha preferência por €ste ou aqu€le aÌjmento.Em princípjo, cada necessidade humana pode seÍ sâtisleita por maisdÕ üm objeto. Estou, portanto, em condjções de escolher e posso\alor izar os obietos de acotdo com rninha Dref€rènc;a subiet td. Areíiu do ,anrãiiiaàJe i"", i" i'Ã'..;^pi,,"iiãrò

'io-i"i;'a. n;o

se trala da "verdadeìra" necessidade àõ lnii-ivíduã-êfr-teriros deum critério objetjvo. Em relação ao exemplo utilizado - a fome -os nulrólogos podem dizer quâl é a quantidade de caÌorias, de pro-teinâs, de goÍduÍas e vitamjnas de que precisamos para nos alimen-larmos adequadamentÕ, quais âs quantidades mínimas necessáriaspara a manutenção da saúde das pessoas. Tomarei isso como neceslsidade objetjva, que pode s€r perfeitamerte medjda. Ela náo irte-Íessa, no entanto, à teoria do valor"ltilidade; o que Ìrteressa é amanejra como as pessoas experime Íam essa necessidade, como elasa senlem e isio evidentemerte varja de indivíduo para indivíduo.

O valor, neste sentido, é urna manifestação de comportamento€ss€ncialmente subjetjvo. É claÍo que, pelo falo de ser subjetivo. eÌenão está isento de anáijse. O comportamento subjelivo pode ser estu-dado, pode-se verifjcar em que medida ele é condicionado por váriosfatores que, por sua vez, não são subjetivos. O caÌáteÍ subjetivo docomportamenio individual não foi mais que um reconhecimento, porparle dos marginaÌistâs, de qüe,na reâlidade,há bastante variedadenas preferências dos individüos na escoÌha entre dif€r€ntes formasde satisfazer suas necessidades. Mas, curiosamente, o marginalismoìnunca foi câpaz de desvendar as leis que governam esta subjetjvi- idade. E não o conseguiu, apesar de teÍ feito do consumidor o cen-ttÌo do seu sistema, porque precisou justificar a "soberaíia do conisumjdor", supondo-o, no fündo, sempre ÍacionaÌ e capaz de ÌeconheiceÍ suâs necessidades e os modos de melhor satisfazêìas. Quanddas grândes empr€sas descobriram que poderiam, através da publici-dads. manipLìlar a vontade do consumidor, impingiÌÌdolhe uma "imâ-gem dâ marca" e corÌdicionarÌdo-o a se tornar "fìel" a elas, se pas-sâÍâm a fazê-lo, tÍansformando o comportamento supostâmenle "au-tônomo" do consumidor numa série de reflexos sabiamente condicìonados, PoÍém o marginaÌismo não tomou conhecim€nto do qucâcontecia de fato no mercado e continuou DostulâÌrdo oue as em-

l .

I3

Page 7: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

Dresâs sc ílesdobmvâm paÍa atender aos desejos livremente IoÍmu'

iarlos do consumidor individual. Os caPitalhtas passaÍam â adotar

uma atilude âÌgo inconseqüente: nas grandes ocasiões as parábolas

rnareinalhtas aõerca rle "súa úajestade, o consumidor" contiruavam

sendã proclamadas, o que Dão impedia que no dia-3-dia campanhas

Dublicitárias cuidâdosamente PÌanejadas Íossem desenvolvìdas' vr'an_

ão i"i". o "..i do mercado-" a comPÍar e consumir em medida

muiro maior e em dìreção muito difeÍente da que esponlaDeâmente

faria. (Ísso foi demonsttado por J. K. Calbtaith en o Novo bstaao

I ntLttrìalt . i-*.-:+PoÍ outro lado, at't"ono ao ,ator',,ãìiìõ\'aíe da idéia de que

a atividaaÌe e conômicats-essënciãÍmeì-te coletinã Ou seja eÌa Úão jn-

i"."iru no .rtoao da ciência econômica;-iqÍãnto atividade indivi-

alual. É claro que os indiYíduos, vez PoÌ oütÍa, fazem co;sas PaÍa sl

DÍóorios. isolâ;amente. Quando a enceradeiÍa qì'ebra' o dono da

lasâ, tendo habilidade. c;oseÍta-â. Esta atividade poderia ser feita

Dor um eletdcista; se o eletlichta é chamado,sua atividade é econô-

mica. é um sewiço remunerado, constitui uma mercadoia' poíanlo

! otiito ao estuaã da economia. se é o próprìo dono dâ enc€râdeiÍa

oue ïaz o lÉbalho, este Dão é. do ponto de vista da teoria do valor-

;abalho, uma atividade econômica. É uma alividade partícular qúe

o indivíáuo faz. assim como toma banho, que é uma alividade in-

dividual do adulto.,ll õ;, na medida em que a ativìdade econômica é uma atividadelll

"nt.tiuu. ersen"iutm.nte úcial, ela decorte da divìsão social do tra-

lllUlrr", r" quaì as pessoâs desempenbam Íuoções dileÍeacìadas e

"' co^olemeotares. ou seja, Dão é todo mundo que Íaz a mesma coisâ'

Sem usar exemplos longe da nossa realidade. basla oÌbar para a

economia urbaaà brasileira para verificarmos que cada indivíduo que

oaÍticiDa da atividade econômica desempeDha uma função muito

àspeciálizuaa. Ud é professor' outro motorisla de ônibus' oulro é

r!Ai"r. out.o ator di tealro. E estas atíidades só adquirem seDtido

ou -"diau

a^ que as outÍas eÍistem. O atoÍ de teatro só pode de-

simoeúar sua -funçao na medida em que existo o eletricista' o

r"r'""nai.o qu" faz -os cenários, o bilheteiro que cobÍa as eÍltradas'

E na medi<la em que existe o agÍicuhor que úo produz a alimen'

;"ã";;r; "

lÍoc;, em úttima análise, p€Ìos seus serviços anísticor'

ü Oia. o uâtor, de acordo com a teoria do valor{mbâlho' decone pte_ìì.ii"i"*t" dosta divisão social do lrabalho rmaginemos uma socie-'ã"J" rtãun" sem divisão social do trabalho (na realidadê â An-

tropologia não Dos Íevelou nenhum.a mas para argumenlar po_

aè-:;;;". nela), €m qüe cada indivíduo como Robinsot CÍusoé

I4

sozinho em sua iÌha, lenta sobreviver sem auxíÌio de niÍIguém, de_sempenhando todas as funções produtivas e sê satisfazendo compÌe-tameÍrte em contato com a natureza, Em tal sociedade náo haveÍiaarìvidâde econômica e a alividâde produtiva não geraria valor' f\

-valo. ë o valor do pÍodÌrto sociat. da aLividade coletiva coDjuDta g:-l[íltodos os membÍos ativos da sociedade.

Na medida em que o valor é o valoÌ do produto so€ial, eÌe re_sulta de uma atjvidaãe iõiãliãì pode ser medido pelo tempo derrabalho sociai iDvestido ne^ste pr.qdJ&. Éte tìirlro dé irãbã16õ-ë[uã;Ìizã todos os Aileientes compònentes do produto .ocial. Enlào possodizer qüe uma sessão de teatro é igral a tantas viage$ de ônibus,que é por sua vez igral a oütros lantos parcs de óculos, maços dccigarros e assim por diante, porque todos esses produtos resultamde uma mesma atividade social: o trabalho socializado, realizado me-diante a divisão social do trabalho. E nesso sentido o valor é objeti-vo, porque pode seÍ medido objttivamelte

Portanto, em resumo e quanto a essa parte, a teoria do valor-utilidade é uma teoria subjetiva, na medida em quo ieflete um con-portâmento subj€tivo, que é objetivado enquanto obÌ€to de estudo.Á rêoda do valor-tmbalho pârte da idéìa de que o valor é algo so-cial e objetivo. Do po!ìto de üsta da teoria do valor-utilidade, ovalor do mesmo ob.ieto muda se a opinião das pssoas a respeito delemüdar. seu valor pode âumontar ou diminuir: bâsta que as pessoasmudem de opinião a seu respeito, hto é, a respeito de sua capacidadede satisfazer üÍra necessidade humana, Por exemplq um vestidoque passou da moda perde o valor porque deixou de satisfazer umalecossidade. Ele. fisicamente. é o mesmo. O tmbalho social nele in-corporado é o.mesmo. Ele !ão mudou. Na loj4 custava Crg 100,00enquan[o estava na moda. No enlanto, a moda mudou. O que mü-dou foi o gosto do consumidor, sua íecèssidade subjetiva do v€stjdo.Então este vestido peÍde valor, seu preço cai a Crg 20,00, Crg 10,00,ou é dado de brindo a quem compÉr um vestido novo, sem que,no enlanto, Íísica e socialmente tenha havido alguma mudança emrelâção a este ob.ieto.

utilidadedos

âvaliaçâo que d€Ìes fazem os. agentcs econômicos' tro ,nomeúto etDque os transacionam no mercado. É um somatóÍio de cotaçõas, apli

Um ouÍro-potrtqrespeito aot !Íoduto I

que as duas teoÍìas difercm é úo qüe diz[ Ësto é concabido pela teoria do valor:

_de todos os obietos e servio som&-

15

Page 8: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

cada, a di fercnles quant idade' de bens. e que \ar iam segundo muJ'nr

ôr eoitos. as Dreferèncias e as eÍpectalivas FaÍa 4teona do valor-

iÀË"inã" *]o. do produto sociâl Íesulra de um determinado tsInPo-dg-rrcb-atL"-!esq+{.*"e,c=e:ì*.1?: j;,ïi#f #

j,ï'#ffi :Ììdade de mercadorras. E claro que eslasi i i nea.sidaAe, humanas, pois. senào. não Ier iam \aìor ' Dado o ra-

manho da população, sua composição eÌária e de sexo e o podeÍ

-" i . i , i "o a'ut

"a. i* . laqses. â sal i r fação de cada nece'sidade do

J"i".i" a"t consumidoÍes tequer umu ilercrminado quantìdade de

Àelcaaor;as. QualqueÍ mercâdoriâ prodüzida além deíe limìte não

i necessaria, à ttubulho gu.to em sua produção náo é socialnìenle

necessáÍio e, portanto, não tem valoí

dl Porém, objelam os marginal idas. a quanl idade deÍì ' "nJ'Jd de

lf l aeterminaaa mãrcadorìa depende do seu pÍeço: se e're lor nÌd;or ' al louanridade que Dode seÍ vendida rera menor € vice_'er(a Logo a

ãuantidade demándada, isto é, "necessária" dePende do preio o'r

\eja, do valor. o qual nâo pode.er determinado indepenJentercnleda quanLidade. A eía objeçáo. os paÍ l idar ios da leorìa do vaÌoÍ ra-

balho respondem que as mercadotias não chegam ao mercado semDreco. só o recebendo al i ao sabor das f lutuaçôes da olerÌa e daproirra. Nu verddde. as mercadorias provém de empÍe'a' câpiLâl i=tâs, que aÌmejam se manter e se expandir e que, portanlo, Jamalspoderiam vender seus produtos por um preço que náo.cobrisse ade_

ãuailamente scus cuslos e thes prcporcionasse uma adequadâ mar_

eem de lucro. Ora, e"te preço. determinado pela competiçào enlre

ãt atpa"tu. capi lalhtas, corresponde íembota LÍansformadame0le)ao tempo ale trabalho socialmente necessário gasto na pÍodução de

carla mìrcadoria, e a soma dos Preços vezes as quânlidades de cada

mercadoda produzida corresponde (diretamolte) ao lempo de tm_bâlho socialmetrte necessário dìspendido Íro ploduto sociaÌ como um

A teoria do valor-ut i l idad€ pÍeteÍ ldg-se .a-históI icê, ou seja. ocomporlamento humano na área econÕmlca c esrenclalmenle loenrFco sempre, embotà possa rnudar na sua manifgstaçáo concreta Adiferença entro a atiüdatl€ econômica em relação ao vaÌor, de umindivíduo em São Paulo agora, e de um indivíduo em São Paulono temDo dos bandeirantes, não existe, ela é essencialmente a mesma'embora sua manifestação concÍeta seja úuito diferente. Mas a manifestação concreta da relação do indivíduo com a sua atividade econô-mica'hoje e anteo[t€m é também diferente. Não há diferença entrehoje e anteonlem, e entre hoje e lrezenfos anos atrás Âs diferelçassão colocadas num mesmo pÌano; sc um bandeirânte resolve se em-

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pel l )âr numa bandeira. penetÍar no inter ior do Bía\ i l , caçar ind:os- dpara \enJéìos como escratos. ele está basicâmente agindo da mesma [4,r^

Y

maneira que un indivíduo que sai de manhã, comp:.a o Düirio Po- / LçFiar, e proctttl um anúncío de empr.cgo. Fu4dam4ltlalmclte, é amesma cojsa, ambos estão procumndo coÌocat o seu esforço, que pode 2,,ser precisamente r ÍabalhaÍ num e,cr i tór io ou i r , paÍa o mato buscar qíú/{indios, em lroca de objetos e serviçor que \at is laçam suas necesst- "Y'dades.

- Náí ' .há. le{Ìpo hisrór i Ío aì, As di ler€Dtes ioÍmas de organiza-

ção.ocial , de vida eóõãômica, sào eÍ lglobâdas no mesmo quadro deanáljse. Existe sempre o mercado, mesmo quando o jndivíduo estásozinho. Acho que esie exemplo. basiante citado porque é extrcmomoslra bem esla concepção a-histórica do valor: Tarzan está deitadono s€u galho de árvore e descansa. De repenle,sente fome, mas nãotanta a ponto de sair e procurar alimento, Ele prcfere descansar, emlugar de se movimentar, num esforço para satisfazer a fome queó uma necessidade pequena, ainda. Porém, à medida que o lempopassa, a fome aumenla e num mom€nto qualquer ele se levanta e vaicd(aí. Esse comporLâmeDlo do TaÍzân é essencialm€ntJ económico.para a teoda do valoÍ-utilidade.

O mesmo tipo de análise se faz do desemprcgo: se há derem- ll,píegados é porque o nivel d€ remuneração que o indivíduo pode / f la.lcatrçâr oão é suficiente para fazélo sâiÌ do seu ócio. Esta éÍlía análise que se faz e qüe se fez e qüe foi absolutamenle predomi-nante Da economia "ocidental", pelo menos até Keynes, Foi Keynesquem mostrou a existêncja do desemprego involuntário, qu€ mesmoque o indivíduo quejrâ trabalhâr por muito pouco, ele pode nAoencontrar otortunidadg Ín divjsão rociaÌ do trabellp. Mas cm t€oria,nem isso se aceita. Em teoria o sujeío pode s€mpro aÍÍanjar algìrm"bico", pode ajudar a mulher do vizinho a lavar a louça e ganharum pÍato de comida. Dessa forma, s€mpre que o indivíduo está de-sempregado é porque ele pÍefere o óc;o à pequena remuneração queÌhe pode ser oferecida.

De fato,Iqentanto. a teoria ilo valgr-utilidâde úo é â-históÍica,p9t9$-1"-i@-"ug3. s1@aa!!S.q14la!ìecê$ã{$numânâs \Jo Dâsrcamente estarer\ , e essâs socleoa0es pÍeeocneramralrez t$5 da hlslofla humana ate hotê, Em contrasLe com a so-ciedade modema, de ús-revolução industrial, as sociedades anteÍio-res eram relativamelie pouco dinâmicas no seu tmo de transfor-mação econômica. Entre o padráo de consumo de um camponês daIdade Médja e de seü avô, não havia essencialmente grande difeÍen-ça, o mesÍno o,corrcndo entre o padrão de consumo de um dono de

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fazenda paulista nos fins do século passado e do seu !rai. À base dassociedades que nós estudamos hhtoricamente, as necess dades hu-manas, que podem ser sathfeìtas p€la e€onomia, vatiam lentamenteou não variam. Ora, numa economia assim, o bapel da prefeÍêll-cia subl:eliva, o papel do consumidor, como elemento dinâmico daecorÌomia, é nuÌo. Porque eÌe já é educado, iá é criado num ce(opadrão de consumo com uma possibiÌidadc de escolha extreúamenlelimitada. E o aparelho prodlrtivo da sociedade já está montado, jáestá constÍuído e estrutumdo pata sâtisfâzer essa quantidade limita-da e esÌática de necessidâdes. Logo não teria e não tem sentidoprocurar expÌicar a atividade ecoüômica e sua variâção, a partiÍ dasnecessidades humanas, potque elas são um elemeÍto qllase conslanle,

A teoria do vaÌor-utiljdade Imssa a t€r uma aceitação relativa-mente gmnde como ferÍamenta de explicação econômica na socie-dade moderna, e apenas nesta. Porque na sociedade moderna odinâm smo, que é gerado no ato de produçáo, estimula constante-mente o consumidor a escolher, a ampliar a escala de suas necessi-dades, a mudáìas. E na medida em que rcspondgm a esses estímu-Ìos. na medida em que seu comportamenlo muda. ele torna viá\eluma-sérÌe de rmnsformaçòes econômicas. Expl icar a eco0omic capi- l r /Ial isLa moderDa a parLir do comporLamento do consumidor e vidvel. l -Não quercmos dizeÌ que é certo, mas €xiste uma certa correspon:dência entre a teoria e os fatos, corrcspondência suficiente pam sepoder trabalhar nesse sentido. E é por isso que consideramos a teoriado valor-ulilidade uma teoria histórica, porque ela €stá prcsa a umareaÌidade contitrgente no tempo,

A teoria do vaÌor-trabaúo é histórica por definição. Na medidaem qüe ela explica o vaÌot do produto socjal pela divisão social dotrabalho, ela só é válida Âa medida em que hô esta divisão sociatdo trabaÌho. E câda traDsformação nessa diviúo, que é a linha mes-tÍa da evolução econôúica, jnflui sobre o valor criado. Em últimaanáliso, poder-se-ia dizer que, ao longo da história econômic4 a dlvi-são social do trabalho sempre se €xpandiu. No ponto de partida his-lórico, que não sei exatametrúe qual é, uma graDde parte da ativi-dade dos indivíduos é não-ecoDômica. Os indivíduos trabalham pamsi próprios e boa parte de sua atividade não contribui Dara o DÍo-duto social. À medida que vamos caminbaDdo das sociedades pre-hislóricâs até às modemâs, assistimos a uma âmpüação da dilhãosocial do tÉbalho. Ela vai eüglobando uma proporção cada vez maiorda atividade humaDa, até chegarmos ao ponto (qüe não atiúglmosaitrda, evidentemeíte, mas do qual estamos nos aproximândo), ,ernquo praticamente Íoda a atividade humana adquire catáter econô-

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mko poÍque se toma social. Ou seia, elâ não é realizada pdmor-

dialmente, ilitetametrte, para satisfação de necessidades do PÌóprioinalivíduo qüe produz, mas de oulros iÃdivíduos' obtendo, €m com-

Densacão.;m produto equivalente. em lempo de trabalho, da ativi-àud. àos ourro. individuõs É essâ ampÌjação da atividade €conómi-

ca, no coniunto da atividade humana, que é revelada pela abordâgeÍÍ

dâ teoria do valotìÌabaÌho.Gostaria ale terminâr esta exposição aúalisâído várias iÌnpli_

cacões das düâs teoÍias do valor, implicações essas que seúo objeto de

expljcações mais aproÍundadas nas próximas exposições' PoÍ eÍem-

olá. a ieoria do vaior'utilìdade, na medida em que começa a expli-car o valor de cada obieto e de cada se iço, PaÍte essencialmentealeste segmento da realidade Í]ne é o mercado ou seia, é na Íroco

oue o va-iot se mxnife\ta concretamente. Qual é o valor que atÍibuoaos meus óculos? Todos nó' ìrsamos óculoc Para etrxergar melhoÍ'

Mas islo nào quer dizer que atribuimos aos óculos o mesÍo valoÍ'

Não há unjformidade nesta Íelação subjetivâ. Pode 3€! que a pcs_

soa, por moliv4os estéticos. odeie os óculos. Há pegsoas,.que pÌafeÍem

sentar em cima deles, Há outÍos que Dão podem üver-slm os ócüìosPortanlo, há uma gama de talor'zações clo mesmo obleto por olr€-rentes individuos. Não cabe à Economia, nem ela tem condiçõe\

DaÍa isso. estudar essa variâção gnquânÍo atividade de consumo ou

ieìa. enquanro eu uso os óculo', mas aPenas na rÍedida em que os

.riou tràcando por ouÌro tipo d€ objeto de uso qualquer' Nessecaso, o valor €mbora subjetivo, aparece no comPoÍtamenlo objetivodas oessoas ÍIa troca, E como a economia Dão é uma ciÈncia mera-menie descritiva. mas teÌìde ou pelo menos deve cheSôr a ÍesultadosopeÉcionaìs, o que interessa a ela Dão é o compoÌtamento na tlo'ai;dividual,mas coletivâ. O quo interessa é o pr€ço qüe os óculos atin-gem no mercâdo. EÍe preço é uma média de diferentes pÍeços que

ãil"."nt"r indiuídno. pagadam pelos óculos. Se estes folem duasvezes mais câros do que o são, menos indivídüos os comptariâm,mas alguns ainda os comprariam; se os óculos custassem a metade,mais indivíauos os comPnriam. lsto é, há iDdivídlos dispostos aDasar qualquet preço pclos óculos e o Dümeto de individuos vaí

"a.ianaõ. O que'jnierei.a é o preço efelìvâmente pago Portanto.

a teoria alo vãlor-utilidade enconlÌa sua aplicação prática imediata,na explicação dos pteços efetivos no meÍcado. E na medida em que

isto é assim, o seü ponto de abordagem é do indivídüo que se en_conira no úercado. A leoda reduz efçtivametrte todo o compolta-mento econômico ao comportamento do mercado, O próPric ato depÌoílução é,asirtiÌado a uma atividade de troca: o indilídüo estd

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tÍocando seu ócio, que é gostoso, pelo esforço, que sempro é desa_grâdável. A atividad€ do tÍabalho humano é encarada sempre comoÍegatjva. Na atividade produtiva o indivíduo está trocando um asra_dável (o ócio) pelo desagradável (o tÍabalbo). que leva a um o;troagradável (a satisfação de uma outra necessidade),

 teoria do valor{Íâbalho Darte da produção: o valor não sur-ge no m9Ícado, €le suÍge na produção, no lrabalho. Este Dão é en-carado como algo negativo, como a renúncia ao ócio, ao d€scansqmas colno uma atividade que afirma o homem etrquaDto homem. Oindivíduo é encarado como ptodutor social, como indivíduo integradona divisão social do tÍabalho.

A leoria do valor-utilidade explica o excedente socìal a partirda Íenúncia. O excedente social é o que a sociedade produz e quenão se desti[a ao consumo imediato, Bse excedonte surge sob aforma física de máquinas, matéÍias-primas, edifícios não Íesidenciais,etc. Tudo aquilq enfim, que serve para algüma coisa que não éconsumo humano imediato, constjtui o excedente socìâl. pois bem,esto excedente socìal é explicado pela teoria do valor-utiÌidade comoo ÉsuÌtado de uma Íenútrcia ao consumo imediato a favor de ümconsumo futuro. O eiccdente social se produz porque há uma pou-pança, ou seja, porque alguns indivíduoü voluntaÍiamente, poÍ cál-culo econômico, não gastam tudo o que ganham em consumo eguardam uúa partq poupam uma paÍe e a itrvestem para obterno futuro um valor maior. Neste sentido, o excedent€ é o rosuìtádode um sacrificio, e sendo assìm, deve ser temunerado. Os indivíduosque poupam e deste modo tornam possivol o exced€nte social, fazemum sacÍifício em prol da sociedade e esta, Írara estimulálos, com-p9Íìsa-os desle sacdfício por moio de uma remunemção que é a taxad€ juros.

.{i apârece então um dos elemeútos imDortantes e verdadeiros.vamos dizer, nà constataçâo ime.líata dos farãs, revelados peÌa reoriádo vâÌoÍ-ulilidade: sempre há uma preferêÍrcia pelo consumo ime-dialo em relação ao consumo mediato, ou seja, o consumo adiado,O tempo cotrta para o consuÍlo bumano. Se Dosso oscolher entre teÌum objeto hoje ou daqui a um més. prefirò rè-to hoje. Em igual-dade de condições. prefiro télo hoje. portanto, se reDuniio à-suaposse lmeorara, se €u adlo a posse e o uso de um objoto por ummes, corro o risco de não estar vivo até lá ou de mudar úinhaopjnião a respeito de sua utilidade e ele não me servir mais alâquia um mês. Est€ Ìisco que cofto é o sacrifício que faço e que temque ser remuneÍado_ em relação ao espaço de lempo pelo qual re_nuncrc ao uso do obìeto-

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Esta Íemuneração toma a forma de juÍos, os juros são calcula-dos em relação ao tempo; crescem na medida em que o tempo passâA produção do excedente social. por sua vez, explica o pÌóprio cres-cimento da economia pois é a a reinversão deste exced€nte que faza economia cresceÍ. Tudo isso se explicâ, a partir da teoria dovalor-utilidâde, pela preferência peÌo consumo imediato e pela valo-rjzaçáo do tempo. Por exempÌo, há êlguns iDvestim€ntos que levamüm tempo relativâmente longo paÍa se materialjzaÍ, como uma es-trada de ferro, uma usina hjdroelétrica, uma usina d€ aço etc. Sãoempr€endimentos que levam 5, 7, l0 ânos até que se matelializem.O sâcrificio feito é, po anto, muito longo, o Ìisco que os irdivíduoscorrem de jamak usÌrfruircm pessoalmente deste sâcrifício tambémé longo, Conseqüentemente, este sacrifício tem que ser remunerâdocom maior quantidade de recursos e o rnercado de câpitais funciona€stritamente de acordo com €sta !ógica. Esses investiÍÌlentos são fi-nanciados mediante a venda de ações, cujo pÍeço sofre um !:ságioque é proporcionsl ao tempo de matuiação dos iíve!time!!9s. OÍefÌoÍestamento é uma atividade cÌrjos resultados demorâm às vezes50 anos, prazo que vai bastanto além da erpectativa de vida da majoÍparte dos indivr'duos adultos que não podem esperar viver muitoâlérn de 50 anos- Numa sociedade capitalista, o Íeflorestam€nto qua-se nunca é deixado à iniciativa privada, ao comportamento indivi-dual essencialmente econômico; ele é quase sempre uma obÍigaçãoÌegal, umâ jmposição da sociedade aos individuos, ou então é feilopelo poder públjco.

Todo o comportâmento do poder público, do Estado, na econo-mia, náo se explica pela leoria do valoÌ-utilidade. Não t€m lógicâem termos da teoria do vaÌor-utilidade. O comportamento econômicodo poder público não obedece à mesma racionalidado qüe a do individuo, sempÍe pÍocurando tornar máximâ a utilidade a seu dispor.

Para a teoda do valor-trabalho, o excÕdente social é fixado deacordo com o tipo de sociedade que se analhâ. A abordâgom é essen-cialmente histórica. Nas sociedades em que o caráter social da eco-nomia é conscienÍ€mente Íeconhecido, isto é, quando ele não surgecomo üna Ìesultante final de muitos comportamentos individuâisdesarticulados, como é o caso tanto nas sociedadd coÌetivistas dopassado como nas sociedades coletivhtas do presente, o excedento so-ciaÌ é a jniciativa mais importante do grupo. Numa sociedade co-munista primitiva, poÍ exemplo, a primeiÌa coha que o grupo fazé decidìr quantos p€ìxes ';ão pescâr, quânto de mandioca vão plan-tai (mandioca é o ljpo do prodüto que fica na teÍÍa quanto tempose queri é uma rcserva), para depois decidir quanto vai ser pÍodu-

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zido para o consumo imedjato. Numa sociedade centraÌmente Dla-nejada hoje em diâ, a fixação do excedenre. ou seja,do produto ôuenão será deslillado ao colsumo, mâs à ampliação da própria econo-mia, é uma decisão coletiva, corÌsciente, deliberada, discutida. Se Mum sacrifício, este sacÍìfício é coletivamente delib€rado e assumido.

Numa economia capitalista, de mercado generalizado, o exce_dente decorre de forças sociais que não são deljberadamenle fixadâs.DecoÍe essencialmente da produtivìdade do túbâlho e do custo dereprodução da força de tÍabalho. Vamos analisar o aue sisnif,camestas duas Íorças. De um fado a sociedade dispòe de lorça de trobalho,ou seja, da capacidade fisica e mental de seu! indivíduos de oxeÍ-cerem funções prodÌrtivas e socìais. FJla capacidadô tem um cÌrsto.quo é a soma dos recursos necessários pa; manter os jndivrduosvivos e parâ garantir sua reFodução. Para qìre a força de tÉbalhoexrsLa e possa_ ser Íeproduzida, é preciso que os iDdividuos. que â,ncorporam, vrvam. E o mítrimo fisiológico de sobretjvèDcia e dereprodução d€ todos aqueles que trabaÌham em suas atividades. Ea isto, há que somar os Íecu$os necessfuios paÌa qualificá-los paraexeÌcer as.fütrções dilerenciada. e complemetrtares detioidas poladivisão socia! do trabalho. Ísro é, a escola e vários ourÍos lipo; deorganizações quê a sociedade cria para qualÍicar o trabalbo humaEo.somando rslo ao custo de subsisÉncia da populaçào trabalbadora,nós temos a parcela do produto social que Marx chamou de ..prq_duto necessário". ou seja, sem a qual a ecodomia nào pode sequerse reproduziÍ, muito menos crescer, Ora, dado este mlDiúo. nójte-mos, por outro lado, o produto socia.l total dado Dela. üodutiyììladeda íorya de oabalho. A força de trabalho oÍetivamãnle ìsada oroduzuma ceía quaEtidade de recursos que geralmente é maior do queeste minimo, ou seja. o produro necessário. A difefença êntre o pio_duto social total, rcsuÌtado do uso da força de trâbalho, e o produtonecessário é o elcedente social

,- ê.1."91u do valor-utilidade começa com o iDdivíduo que poupa.Um ìndividuo galha 3.000 cruzeiÍos por mès, resolve gairar'2.ob0e LrJUU ele poupa, tendo em vjsta que daqui a um teúpo. graçasaos JuÍos-_qüô ìra obter, ele possuifá mais qu€ isso. JuoÌando,s-. todosesses mdrviduos, a sua poupança constitui o excedent€ social, Ateoria do ÌaÌor-trabalho parte da jdéia de que o produto socìal éjml qra,ndeza dâda e reÍlere a produlividade da lorça de trabalho.Deduzitdo do produto social roraì o produto necessário, o que sobrae o excesetrte. rgmo ! que o somatório das poupanças ind:viduais,Ìeltas por um cálculo individuaÌ. vai corresponder à difeÍença entreo produto total e o produto Decessário? Á expücação se oncóntra, e

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é a teoÍia do vaÌor-trabalho que a dá, na concorrêÍrcia que pÍevâlecenq soci€dade capitalhta. A sociedade capitalista tem um taÌ tlpo deorgãnização €conômica que leva os detentorcs do excedente, os de-tenlores dos meios de produção, a um comportamento tal, que elesgeralmente acumulam a maioÍ parle dos Íecursos qüe vêm ter Àssuas mãos e que não sío normâlmente ulilizados pâra o seu con-sumo. A teorja do valor-trabalho diz o seguinte: é absolulamenleocioso, diletanie, bizantjno, pÍocurar expÌica( o comportamento depoupança do indivíduo que ganha uma fábula, dono de umâ fábri-ca, dono de um banco, dono de uma faz€nda, em funçáo de suasnecessidades de consumo. Ele ganha 5, 10, 15 vezes mais do qu€noÍmalmente consome. ainda que consuma muiÌo. E âssim, ele éjncapaz de consümìr ll3 or 1/4 do que normalmcnle ganha. Équase forçado â acumular pela compelição €nlre as empresas econô-micas; a necessidade de cresc€r €nquanlo capitalista o jnduz a estaalividade de acumulação.

Em úhìma anáüse, a teoria do valor-trabalho explica o exceden-te possível e èxpìica por qup o excedente ÍeaÌ tende a se aproximat dopossível. A teoriâ do valor-utilidade tenta explicar a r.Ìrìotivação huma-na, tenta expücar por que -4 poüpa mais qu! ,, por que alguns iÍrdivlduos são estimulâdos a poupar e outros não. A teoria do valorìftba-lho é essencialmelte macroeconômica, consìdera a economia sempÉcomo um conjunto, e dá a grânde medida do exccdente social possiveÌ.Ádmhe de antemão que esia possibilidade nem sempre tende a serealizar numa economìa capjlaìhta. O grand€ mérito da teoria dovaloÍ-trabalho é que ela explica a pÍópria evolução do €xced€nle,porque este sempre lende a cresceÍ em relação à produtividade scciaÌ do tÍabalho. EIa nos dá instrumenlos econômicos € sociológìcospara explicar como o produto necessáÍio também cresce. Por que osindivíduos que lrabalham lendem a Ìutar por uma participação pelomenos não decresc€nte do produto social, e como, apesar disso, opÍoduto necessário como proporção social tende realmente a de-crescer'ÌlÍo será moÍrâdo mah adìante. Porém, €la não tem, r?e$enívéI, a possibiÌidâde de expiicar a variação do dia a dia, de ano aano, do apârecimento concreÌo do excedente socjal. Assim como elalem uma visão macro€conômica do conjunto da atividade total daeconomiâ, ela tende lambém a ter uma vjsão do tempo a Ìongo prazo.Na medida em que a t€òria do valor{rabalho passa do mah abs-trato ao mais concrelo, ou s€jâ, tenta explicar o excedenle de umpãís capitaiisla especifjco, com suâs características num certo mo-meÌÌto, vamos dize., um país não tolalmenle capilalisla, não pura-menÍe capitalista como é o Brasil, país subdeseÌrvolvido, em que a

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posse dos mejos de produção não está em grande parte âqüi, masno exlef ior e em que o excedenre sociâl pode ser apl cado ìqui ounão. pode seÍ exporrâdo e em que parle do excedente de fato lnves_tjdo vem de fora para dentro, na medjda em que a reoria do valor-lrâbalho passa â formas rnais corcretas € imedjatas de análise_ eìâpassa a jncorpoÍar o instrumental da teoriâ do valoÍ-utilidade. ApaÌtir-do mon€nÌo €m que queremos expljcar o excedente pÍeciso,o.do_Brasì l em 196?, aí o comportamenro de poupançâ, o ;aciocinlo oos gÍandes grupos que detêm a mais_valia passa a ser o enfo_

-que adequado E como esle e o enioque de.de o pr incrpio dâ teor id

dô,.valor-ur i l idadê, mui las dd, exDticaçõe. enconr;âdas petos marg:_nâlistas passânÌ a ser valjdas.

O exemplo do excedente mostra bem em que medjda as duasabordagens tendem a uma certa complemenrariãade. A abordagemdâ teorÌa do raloÊtraba'ho é essenciâìmenre màcroeconómica. só \ePreocupa com a economia como üm todo e a um púzo rclativamentelongo e rÌesse sentido ela é váÌida. porém, na mediila em que eÌaassim atua, essa teoÍj4 é pouco op€racionrìl em relação ao dia-a:diâ d,economia. A teor ia do vâlor-ut i l idade. que pârÌe de outra anat ice,de uma base qüe eu dir ja muiLo pouco váÌ ida. que e â base Je .eenÌe-ndeÍ o comporramenro jocial a pârt i r dos indi \ iduos. preocupd.semuìto marr com a sua operacional idade, co,n a vi ,ào do dia_;_did-com o comporlamenlo concreto imedialo. e na medida em qLre etao faz. dá contr ibuições vál ida< para o conhecimenLo económicó. Náoacho qüe se po\sà pegaÍ ludo que os mdÍginal i \ Ìas f iTeram de ì870para.cã, e jogar fora di , .endo que rudo is!õ é ideológico. apologerico,que.Judo isso jusÌ i f ica apenas a atual organiza(ão da sociedade rJamel loa em que esça teor ia lambém é operac;onar, eslá sendo ur i l i_zaoa por economrstas da escola da teor ia do valor_rr"br lho. ou ceja.peÌos maüistas.

. A polèmica feroz entre os represenÌanr€s da. duas (endêncja,oDscureceu est."- lalo. A. lenÌar iva e o de.ejo de negar inlegrarmentei-r-i:llig.In

direrenre simpteçmenre não permiriram percebir que o.economtstas marxislas, na medida em que se aproiundavam nâ aro.r ìse oo conpoÍamenlo.do dia-a-dia dâ economia capiral js la, eía\"rnÌncorporando umâ série de conhecimenros que Ì ìnham surgido ddeconomia margjnalista. Foi com Oscar Lange, o gúnde economistal-"1:::Ì^11 :sse.leconhecimenro pôde ser Ìeìro Ë.t" p.irii." ""'-reconhecrmcnlo públ ico poÍ um homem baslanle considerado no càm_po maÍxÌsta, rJ maÍr i .mo é capaz de faz€r isso sem sofrer renhumaìncoerencrâ básica, Doroue oârte conscientemeDtg de Um Donrooe vìsÌâ hÌstór ico e macroeco.1ómico, Na medida em oue DarÍe Darâ

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o comÉortamento mars concrelo, ele passa a;ncorpoÍar os vár ios fa-toÍes pcculiâres, e chega evidentemente a um nível de concrecãocm que a n-opriâ âr; ! idade individuat do capi la, i \ ta ae.emoerna umcerlo pap:Ì l i ï i 'âJo. O proprio Marr Ía7 nso. euem ter O copiíolpeÍccbe que o, grândes c\quemd. do pr imeiro volume e do .egundovo ume se rrdnstormam, n;o que mudem essenciâlmente. mas adouj_rem \;da. cor, cheiro, constréncia, na medida em que. no tercerovolume, ele pâ(sa a expl icar como a mai(-val ia efet ivãmenre aoareceao. olhos dc cada Ìrm dos parLicipantes, dos arores do dramà eco_nomico. Ë e,se rrrbalho do rerceiro votume que. podemos dÍzeÍ. foicortâdo, jnterrompido durante meio século por mara polêmica, peìoesfoÌço ideológico de afirmar uma ou outri abordagem. Se a ieoriado valor-trabalho, sem sacrjfício de sua coerência, iicorpora as con_tr ibuiçòes vál idas da teor ia marginal isra, o inverro nào é veÍdadeiro.l \1o é. a leof ia marghal isra não pode psrsar para o macÍo€conòmicoacerlando âs premis\a\ da reoria do valor_trabalho. Keyner. que érealm€nte o fundador da macroeconomia moderna, precjsou de_umâmedida objetiva do produto social. Macroeconomia só pode ser fei_ta p€n\ando.se num produto social g 'obal. Não adian,a àgreear ut i , ; ,daJes: porranto. Kevncs jn\entou uma unidade que e-te

-chamouunidade-salário, intrôduzindo a teoria do vator+ralalto como uminsÍÍumento de medição do produto social, meramente; mas man_t€ve, ao mesmo tempo, o seu instrumentai nìaÍgjnaÌhta. O resultadodesle,compo amenro de Keyne\ moíra que eìe era um homeÌnòem lntetrgenle. mas moíra. ÌambeÍÌ . a complerã incomparibi l idadebaqrca enlre a reor:ã do valor_urrt idade e a reoriâ do v" lór_trabaìho.Ele não foi capaz de refazer a análise em termos da teoria alo vaÌor_lÌabalho, ap€nas usou um instrumento de medida qÌre era o traba_Iho.hÌrmano. Isto levou a uma atitude njhilista do,

"'"ono-i.iu, tày-

nesianos. !e)o menos uma (er ie detes. que e metho" exen pt, i icaj lpor Joan,Rob.n\on. se-n dúvida â dkcipula mais br i lhanle de Keynes.Jorn RoDlnson. em seu en\âio Fitosolia Ercnòmi.o. arrâsa com arouaç'eorras do valor e lenra mo\rrar que a teor ia do varor é um ele-nen o çLbjelrvo não.cientr f :co. na economia e que se pode pas(rrmuito bem sem qualqüe. teoria do vâÌor. Esta atitude, quã eu charnode_n:hi l \ la. e\pl icaae porque Robinson- mais q". qr"fqr*_ãrirãaulor. çent u o i ' r ìoaclo das insut ic iências do marginaiìsmo. no qualela foi educada, para a compreensão de processoi tirtA.;"o,

" ilu-

E,pero. que e\ lx al la siru€ de inrrodu(ão pa.a o que prerende-mos râzer dâauj p! Í diante. Vamo\ abordar os a.pecto, mais impo.tar 'es do econonia modtrna. a parr l r scmpfe de.r i dicolom;a, e re_verar as suas drÌerenÌes imoÌicacões.

I

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RERARTIçÃO DA RENDA

O ploblema da rcparlição da re[da é um dos tópicos ma;s an_tisos e clássicos dâ Economia Política.

rdiããiìò:que foi um dos pais da ciènc;a, considerava a repar-tiçaàffi iomo sendo o ve;dadejro objeto da tconomia Poltiica.E dizia que a ciêrÌcia econômica tjnha muilo pouco a dizer a Íes-peito do volume total do produto. Mas poderia e deveria determi-nar as leis que presidem a repartição do produto social entrc asdifoÉntes classes que compõem a sociedâde. De uma forma g€ral,a repaÍtição da renda tenta explicar de que maneira o pÍodutosocial é repartido entÍe as class€s fundamentais da sociedade, ouseja, entre ce os rendimentos, dos quah classicamente se estudam/o salário, o lucro, a retrda da Ìerra. e-o juro, Essas são as quaÌro

1 iaregorìai-qdeìu;se-sempie consriLirìm ã .*rruLuru da repairição' ' da renda.

Vamos t€ntar apÍesentaÌ a teoria da repartição da renda, d€acordo com as düas escolas fuDdamentais da ciência ecotrômica, oÌrseja, a escola maÍginalista e depois a escola marxista, e no fimtentaremos coÍÌfrontar as duas € mostËr em que medida a reâlidadeda economia capitalista conÍirma ou não os pressupostos e os resul-lados dg cada üma dessas teodas.

Ôornecemos com a teo a marginalista. os economistas margi-nalistas dizem que, a cada reldimento - ao salário, ao lucrc, ao

.._juro e à renda da Ìerra - corresponde dereÍminado falor de prG, ; / duìão e essea rendimenlos consLiLuem a remuneração dos t i rulares- ' o_l proprietários desses Íarores: ao salário corresponde o fator tra-

balho, ao lucro correspodde o fator empresa, ao juro correspondeo fator capitâl mon€tário e à renda da terÍa, o falor rccursos natu-rais. PaÍte-se do prcssuposto que qualquer atividade produtiva se-Íaz medianre a combìnação de trés d€stes farores: lrabalho. capiral 7e Íecursoç naÌurais. o mâis difíciì na teoria margioalisÌa é a disj

tinção enlre lucro eillq pcrque úuranle um longo periodo. Iucros cjiidlãffiãüffirn-", coiocactos em pe .Ìe iguatãade. Supunha+eque realmente os juros fossem a remuneÍação do capital, ou seja,aquilo que ganhârì os capilaìistas e que o trabâlho de combjnaresses fator€s, o tÍabalho de assalariar trabalhadores, arrendü a terta,pedir ernprcr lalo crpi lal e portdnlo gerir a enpreÉ-se{ia rcmune-:âdo pelo 'ucro. EsL" ser ia_ a po. ic lo neocìá\r i a. q.cvnc.. ho entan-lo, mosl loL que o i r Ío não e realmenle â remuneracào do caDi lalcomo lal . pofem,a_remuneraçao do captràl na st ,a [orma mô'. 'n io,or seja. na suâ torrnâ de Ì iquidez maxima. E, portânto, d remune-raçáo pÍoprìamente dìta do capital seria o lucro, e uma paÍte dolucro serja então passado adjante paÌa o emprestador de dinheiroque pode ser !m banco, um inveslidor ou um agiota.

Vamos nos conceítmr na versão mais moderna, que é a versã{)pós-keynesiana. De acordo com esta versáo, portanto, temos basicâ-t(mente fatores de produção, eÌementos necessários à prodLìção que\(são propriedâd€ particular de indivíduos ÌjvÍes, que podem alìenar ( lou vender o uso desses fatores e em virtude disso fazeí jus a uma lJrem.rneraçào qu€ loma a Íorma desse( Íendimenlo\.

o centro do problema esrá em saber €9rlíL-sçlglelE_.ll-pI9g9lgpor esses rí i í ios rendimenros. Ou sejâ, qual i a pdrcela do produto;ÌïEae-Íí;;r#ìm lã-m samÍro, . pórrunro se rransloÍma em Íemu-neração do lrabalho, qual é a paÍcela do produto que se rransfoÍma€m lucÍos e se torna entáo remuneração do capital e do cap:talista,qual é a parcelâ do produto que se transformâ em juros e quale m renda dd ,reJËL_Ejl9g9u:I1jj:91!99_!qescola mareina-l rsra 3 parrìr oa(reorìa qos ren0lment05 oecre5cenles, lNa combinacdooos Ìarores. e esla comDìnacao e dada Dela lecnolosra- nâ medrda(m que se aumenra a Daf l lc lDacao oe um taLoí. mantendo o\ demaisconrrurres. o. rendimenlos obLidos desle Íaror. decre.\cgG Esla é. emsfieie. a lei dos rendimenros decrescenle.. vaï-ol àai um exempropara tornar jsto mais claro. Suponhamos uma plantação de café. Sesou empresário, aüendo üma área de terra, pago uma .€nda poresta terra e assâlario lrabalhadoÍes. Então combino teÍÍâ. isto é. re-cuÍsos naturais com trabalho. E usarei instÍumentos de trâbalho:enxadas, gaÌpões. máquinas de beneficiar café, também numa certaproporção que a !écnìca de produzir café me ensina. Não posso, porexemplo, usar 200 trâbalhador€s para cuidar de üm hectare de café.Os trabalhadores não lerjam o que fazer. Também não possousar um lmbalhador para cultivar oB cu;dar de 200 hecrâres decafé. PoÌtanto, aj9lnbinação quanttuâtiva dos fâtores de ploduçqo

arorrrarra, ela e oaoâ peta tecnìca. Na agÍ lculLura

SEGUNDÁ ÃULÁ

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posso usaÍ uma técnica mah modema, mais avançada, com maismáqujnas. Nesse caso, aumento a participação do fator capital e re-duzo a particjpação do fator trabaÌho. O capitâl subsiitÌri X trala-Ìhadores lê_llsduqáo da lnesma quantidade de valores de uso. Ouso de üm arâdo de discos €m Ìugar de um mais primiÌivo peimitedispensâr ceÍto númeÍo de trabalhadores para obt€r o mesmo pro-duto. A tecnologia me dá os limjtes em que posso usar os fatores,mas dentro dest€s limìtes existe uma certa flexibilidade. O mesmose dá na produção industrial. Uma fábrica têxtil pode empregar umdturmâ de trabaÌhadores para colocála em movimento oito horas por

. dja, pode eínpre9 duas turmas para movjm€ntálâ dezesseis horaspor dia, ou lrâ tuÍmas paú movim€ntálâ durânte vinte e quatrohoras por dia. Entáo combina-se a mesma quantidâde de capital comdiferentes qüantidades de trabalho. lortânto, cada um destes fato-resr recrÌrsos natuÌais, trabalho o capital (pensando agora no aapì-tâl fisico) podqn qçr co4bjnados em proporções vâriáveh, porém4!!!Lqóü!!!ias .

ii O ponto de partida básico da tooria é que supondo dados doisdos fatoÌes, pode-se vadar o terceiro, porém, na medida em que se

l,t for introduzindo mais elementos desse mesmo fator, o rendimento dolinovo elemento jntroduzido é decrescente. Vamos voltar ao cafezal:' se são usados três trabalhadores, uma família com três pessoas, pro-

duz-se uma ceÌta qüantidade de café. Suponhâmos que a área docafezal não aumente, isto é, usa-se a mesma quantidade de terra ea mesma quantidade de capitâI, porém, só mais trabalho: um quâÍtotrabalhador é empregado. O rcndimento doste quarto trabaÌhadorserá menor, provaveÌmente, do qüe a média dos tÍês anteÍiormentoempregâdos. Se for empregado uÌin quinto, aquito que eÌe vai adicio-nar à produçãq seÍá menor que aquilo que o quarto proporcionou eassìm sucessivamente, até chegar o momento em qüe se se adicjonarum novo trabâlhador à fazenda de café, ele não vai fazer com queaumenre â produção. Se ele for admitido, é possívèl que eÌe venhaa ler o que fazer, porém os outros deixarão de fazeÍ aquilo quefaziam antes, haverá uma r€distribuição das tarcfas, mas o pÍodutonão crescerá mâis. Este último trabalhador teú o que se chama"produtividade marghal" igual a zeÍo. Estamos calculando na mar-g€m, mediante a adição de uma ünjdade elementar mínima, quenão deveria ser üm trabalhador, mas uma hora de trabaÌho a maispor mês. Então, poder-se-ia, a partir do número de hoÍas-homemde trabalho, caÌcular a adição de cada hom-homem de tmbalho aoproduto. Na medida €m que vai aumentando a participação domesmo fator, fatalmente se chega a üm momento em que o seu

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produto mârginal, ou seja, o fluto que se consegue gÍaças â essaadição, será cada vez meno! até chegar a zero. Poder-so-ia inverteÍo exemplo, supor dado o tÍabalho, aumentar a terÍa. Então com cincotrabalhadores e um hectare de lerra obtém-se um ceÍto prduto.Se passam os mesmos cinco homem a tÌabâlhar em dois hectaresde term, aumenta em ceÍta medida o seu produto. Mas os cincotrabalhadores não vão produziÌ o dobro só porque dobrou a ársa.Então aquele hectare adicional dá um produto metror que o pÍi-m€iÍo. Se a áÍea tmbalhada passâr a três hectares, haverá um au-mento do pÍoduÍo, mas já será coqsideravelmente moDor e assim su-cessivamente. Quando foÍ adicionado o vigésimo hectare à mesmeforça de tÍabalho, eles já não poderão pÍoduzrr mais, simplesmentoporque a suâ capacidado de produiÍ estârá esgotada.

Esta é a essêncìa da lei dos rendimentos decÍescentes. OÉ, todoo úciocínio marginalhta s€ baseìa num compoÍtamento Íaciolal doempÍeendedor, esse fulano que faz jus ao lucto, o capilalista Írarealidade, So ele deve se comportar racionalmeDtg, ele nunca iráêmplegâÌ um fatoÍ cujo púduto mârginâI, queÍ dizer,. aquito comqÌre elc contribui paÍa o awnento do pÍodütq não sejâ pelo merlos,igüal ao rendimento que o empreendedor tem que pagar ao seu titülar,oìl seja, juros ao quo lhe emprcsta dinheiro, ou saláÌio ao tÍabalha-dor, Isto significa que cada um desses tendimeÍrtos seÍâ, a maÍgem,igual à produtividade margiml do fator. Vejamos aiída o exemploda fazendâ de cafó: com cìnco trabalhadores. ela Droduz café novator de Crg 10.000,00 por aDo; se foÍem empíegadós seis tÍâbalha-dores, o valor do café seÍá, vamos dizer, de Crg 10.300,00; se sete, ovaÌor produzido será de Crg-10.400,00: se lorem oìto. o valoÍ con-tinüará seDdo de Crg 10.400,00. Tío si8nifica que o prduto mar-ginâl do sexto trâbalhador, é de Crg 300,00, ou seja,a diferençaentÍe Cr$ 10.300,00 e Crg 10.000,00. Se ele não fosse empregado,aquantidâde de café prodüzida valeria Crg 10.000,00. Com o seu em-pregq o valor produzido é Crg 10.300,00. Já o sétimo tmbalhadortem como produto marginal Crg 100,00. E o ojtavo, zero. Etrião éóbvio que o oitavo trabaÌhador não seú empregado se o empreúrioâgiÌ Íacjonalmente. PoÍquo elo, em últimâ ânálise, não lhe renalenada. Se o salário for poÍ exomplo Crg 300,00 poder-se-ão empregarcinco ou seis trabalhadores, poh o produto marginal do sexto é exa-taments CÍg 300,00. Se o sâÌário for CrS 250,00, o sexto tÍabalha-dor dá uI! ìucro de pelo mellos Crg 50,00. Mas o setimo trabalhadordá prejuízo. Como supõe-se que os salários sejam todos iguais, porquehá um mercado de !Íabalho no qual a concorrência faz com quepelo mesmo tipo de tÉbalho se pague a úesma Émuneração, então

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será enìpregado ce[to número de trabaihadoÍes até o ponto emque a sua remunetação sejà pelo menos igual ou inferioÍ ao pro-duto margjnal que eÌes proporcionam. Esta teorja dá,por!ânlo,doiseementos: o emprego total, quer dizer, o rúmero de trabaÌhadoresempregados taj depender da.sua produl iv idaJc marginal e do ni !elde saiaÍro:: e o nivel d€ saìár io. vai prederermindr o nr\cl de empÍe-go. Supõ€-se que o nivel de salárìos acaba sendo mais ou menosequìvâlente à produtividade marginâÌ., Ágõra vamos falar do oÌrtro lado da cquação que é a ofertada força de trabalho. Supõe-se que o trabalhadoÍ raciocjne como oempr€sário, isto é, tenha o mesmo comportâmcnto ..racional", Aeconomia marginalsla raciocina como "e to, tor os pcrsonagens dodrama se pautassem peÌo mesmo tipo de lógica. No fundo o traba-Ìhâdor é como um pequeno empresáÍio que tem unÌa mercadoÍiapara vender,que é a süa própria força de trâbalho. Süpõeae que otÍabarhador raciocine assim: o \acr i f rc io que cu rr ,o de r-ab;ÌharrÌre é compensado por um salaÍio. uulÍìo, <l'ircr. de Crl 200,00. En-tão, até Crg 200,00 por mês trabalho. Por menos, não trabalho. Osétimo trabâÌhador não estará disponíveÌ porque o empresário nãopode pagar a ele mais do que Crg 100,00; se pagar mais do quejsso, !eÍá prejuízo. Porém, o trabalhador não se considera remune-rado pelo sacrificjo que faz na atividade produriva por Crg 100,00.En!ão eÌe não se empregará. O nivel de salários scrá dado pelo pontode encontro entrc o produto marginaÌ do trabalho c a rcmuneraçãomínima aceita peÌo trabalhador. Posso fazer o mesmo raciocínio emreÌação à term. Então ao jnvés de cìnco, s€is ou scre trabaÌhadores.tenho cinco, seis ou 7 hectares de terra- Na medida em oue acres-cento lerra à empresa, o seu produtb marginal vai decìesccndo.Se o dono da teÍa diz qÌre por menos de Crg 100,00 ou Crg 200,00ele não arrenda a terra, pode rÌão vaÌer a pena, pois o produromarginaÌ poderá ser menor que o Ìalor da renda paga pelo seu uso.A quantidade de teÍa que será empregada será o ponto de encontroentre a renda mínìma desejada peÌo proprietárjo da t€rra e a suaprodutividade marginal- E aìnda se pode faze! o mesmo raciocínio€m Í€lação ao capital, ou seja, os capitalistas só enlpÍegarão os seusrecu$os na medida em que os juros que poderão obter remunerena ab\tenção do consumo. pora que poupem. e o f :sco que co.Ícmcm emtrestar o seu capital ao empresário. É cÌaro que os jurosofeÍecidos não podem ultrapassar o pmduro marginaÌ alo capital_ Ju-ros, saÌários e renda da terra seráo determinados pelas Drodurividaclesmargina;s dos re\pecrivos fdlores. e peta reivlnáicaçio n. inima do,litulares daqueles fatores_

. A oÍerta-dos latores supõe um custo que é s€mpre medido sub-Jerrrâmente, U custo do trabalho Dão coírespotde, na teoria marei_nalisra, ao nivel tormaÌ de coosumo da família do r*b"lh;;;;. É;corresponde a uma estimação subjeÌiva do sacrifício do rrabaltrã.LoÌçroera-se qüo o trabaÌhadoÍ, quando não está empÍegado, estásempre volunlariamente de*mpregado. ou seia, e'e não 1e zuieitaa lraDathar por menos de um certo nível de salário. Da mésmalorma. se. parte do capiÌal oão é empÍ€gada, é porque o dono docaprral suòJetlvamenre estima que a remuneração ofeÍecida sob Íor_

nao é sulicjente para compeosar o risco do emprego ouo adiamenlo do consumo imediato daqueles ÍecuÍsos. Entào el; Dre-tere ou consumi-Ìos ou_ guardá_los à espfra de uma ínelhor opo;tu_nrdade de emprego. Um re\ultado iÍD€diato deste tiDo de Ìe;rja é

-que qualquer inreÍwnçãõ-õrtìFecooórnjca. {i.re etene à rerìi.,".ràçaã

e-ü-Ìãìòr, criâ-;tmàior margem rle ctesemprego dete. Vâmossupor.que o sâtãoo minjmo fosse CrS 90.00. A quant idade de lrâ_oarnacorcs empregados serìa no nosso exemplo de sete. pois a pro.dutividade maÌsinat do sétimo rmbalhâd;

i c.O_ rrÍO,oô, irtã-e,maior que Cr$ 90,00. Se a lei do salário mÌnrmo eleva esta temu-neração a-CrS 130,00, então este sétirno trabalhaaor que aava iucìo,P-q'ì: "

j": prejuizo. Ou seja, ele rem que ser remunerado, se aieì roÍ obedec,da, lcrq- l3g!0 por mês..no entanro ete apen;s adi_c,ona ao produto Cr$ 100.00. Enlão. ele é despedido. poitanto, de

::ï:"_j:i esÍa r€oria! sempre que um etemenlo não econòmico,

5ìe_e ! f lncìpalmenÌe o governo. mas pode ser lambém un sindicato,rnre ere no _mercado de um Íator ícâpiÌal, trabalho ou recursosnãruraìs.) ,e eleva a remuDeração desle fator. um certo Dúmero detllurares de_ fatores. de tÍabalbadores. de capitaìisLas ou de donosoe rerra. rao ter que ser des€mpÍegados, pois a sua DÍodutivìdartemaÍgìnat será inierior a este novo nrvel de remuneraCáo. Daí o ar_1$mento Ì ìberaj . baslante comum. coDrra qualquer t ip" a. ;"L*"r- lçao do govefto.no mercado de lrabalho. no sent id; de elerar o- l

:1ïïï,ü:: barxos' pois seu re'ultado seria aumentar o nivet del

Vãmãs agora examinar a ourra teo a,la boria 1n".iú;.. Eí^'começa.com uma def inição do que há a repaÍt ;r , ou seia. ao oueconsrìÍul, o pÍod,uto social. Como já foi vislo. o produio sociai eo rruÌo oo trabalho socialmenle necesçtário de toda populaçào ativaala.socied_ade. EsÌa defjnição geral precha agora ser methorada coma.oÌsrrnçao do qìe é rraÌalho prldurivo e Lrabalho não Drodur:vo.rrr_èse-{ue-!.rmbatho e produtivo na mcdidâ em que ele ê remune_údo p!Í uma parte do capital, ou se1a, do caplta! varióva, i"paite

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do capital que se destina a remunerar o tmbalho e s€ transfoÍmacm saiãiió. Eía parte do capiLal c denominada capital variável por-qúe ela vai retornar ao seu dono. ao capital ista, aumentada com âmais-valia, ou seja, com o mais-tmbalho produzido pelo trabalhador.Seu valor

'd.ia, portanto, no próprjo processo de produção. Trabâlho

produtivo é o trabalho que produz mais-vâÌia, é üm trabalho feitopara üm capiÍalista, que portanto, não somente reproduz o valor daforça de trabalho gasto, porém produz um valor a mais.

Vejam que isto é formalmente sem€lhante a djzer que é umtrabalho que produz um produÌo marginal maior que sua remune-ração, com a diferença profunda, no entanto, de que pârâ Marx€sta é uma determjnação não técnica, mas social. O trabalho pro-dut i !o e aquele que é fei lo como Lrâbalho assalar iado para umcapitaÌjsta e que produz uma paÍcela, portanto, do excedente social,que toma a forma dô mais-valia no (egime capitaljsta. Outros tiposde trabalho são trocados por rendimentos e não são produtivos, ouseja, não produzem mais-valia. Um €xemplo: üma cozjnheira de umrestauranto é ìrma trabalhadora produtiva, eÌa trabaÌha e o salárioque ela recebe coÍresponde ao gaslo de sua força de trabalho, poÍémo trabalho que ela produz, que ela enúrega ao capilaÌista, é maiorque o número de hoÍâs de trabaÌho socialmente necessário oue eìarecebe para a sua propria manuLençào. Enráo, rrabalhando paÍa otesiaurante ela é uma trabalhadora ïodutíya. Se ela trabalha nacasa de uma família, ela não é uma trabalhaìlotu rrcìlutiya. cmborí.fjsicamente o seu trabalho seja idêntico, ela faça a mesma coisa,isto é, prepare comida. Ela está recebendo uma pâÍe da renda destafâmília, que pod€ ser salárìo, juro, lucro ou o que fot e está trans-formando esta renda monetária em um serviço qug ela presta. MaseÌa em nada contribui para a mais-valia, para o excedentg social e,portanto, eÌa não contribui pata o produto social. Ela trarÌsformauma paÍte do produto so€jal, que aparece na mão do seü empÍegado!como dinheiro, em serviço.

Os serviços domésticos, de uma foÌma geraÌ, íáo úo consjde-rados produtivos poìs em nada contribuem pam o produto cujarepdÍrição hÍ! que explicar. Esla disrinçáo e esseÌrcial. Tomemos oexemplo de um médico. Se o medico tem a sua clinica. llào exDloraninguém. rrabalha sozinhq entáo o l rabalho dele é un trabathonão produtivo. Ou seja, ele troca ÍendimerÌtos dos seus clientes porsÌ:ryjços médicos, na medida em que é remunerado. O serviçodele roma a forma de uma mercadoria mâ, nào e essencialmenreuma mercadoÍia capitalista. Como o médico ou a empregada domés-ticâ, numa sociedade em que se generalizou a ptodução de merca_

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dorias, qualquer seÍviço prestado tomâ a forma de uma mercadoriae seu vâÌoÍ é det€rminado de uma maneiÍa geral como o vaÌor dasdemais mercadorias. No entanto, ía rnedida em que alguém traba-lha independontemente, em nâda contdbui pala o €xcedgnte sociale, portânto, em nada contribui pala o pr(úuto social. Suâ atividâdesó transforma o produto: aquilo qìre ele entrcga sob a forma des€rviços ele rccebe de volta sob a Jorma de diúeiÍo que vaigastar em oütras mercadotias. llá umâ tÌansformação dos vaÌorcsde uso, mas nenhuma adição ao valor gÌobal prodüzido naquela so-ciedade.

Supõe-se que o trabalhador que não trabalha para um capìta-l;sta não seja explorado. Isto significa que ele tÍoca o frìrto doseu lrabalho por outro produlo, no qual está incorporado o mesmolempo de Ì íabalho gocialmente neces)ár io. É clato que o produiosociàl *ria maior se nele fos\e incluido o produto decles tã5áÌ6a-i6iãs. mas o exc€dente, jsto é, a diferença entre o produto social eo Drodülo necessáÍio permaneceria o mesmo. Se um médico tmba-ú; parã ;m hospi;;l ó,r paru ,rma firma de serviços médicos, dessasqu€ f^zem medicina coletiva pâra emprcsas, enJim sD ele se tomaum assalarjado, imedialàmente eÌe entÍa pâra o rol dos lrabalhado-rcs proìluÍíttos. FormaÌmenae o trabâlho do médico é vendido sem-pre. Vócê vai a uma clínica, Ìá está o médico, você recebe o scuservjço e paga a consulta, Este é um ato de compm e veirda. Namedida em que ele trâbalha isoladamentô, o que Íez eÌe? Pegou oseu dinheim, que é fruto de uma renda, saláÌio, Ìucro ou juro eo transformou num seÌvìço médico. Há uma troca de valores igüaisem que cada paÌ!ô saiu com um valor de uso diferente do que trou-xe, Se, no €ntanto, ele trabaÌha paía uma clínica, paÍa üm gÍupomédìco, para algum grupo capitalista, ele pode exerccr o m€smotipo de tmbalho, porém aqujlo que ele vai receber como remune-ração em termos de horas de trabalho so€ialmente necessário, seránecessariamenté infeÍior ao número d9 hoÍas de trabalho social-mente necessário que eÌe disp€ndeu no seÍvjço. Esta diferença vaiÌdler Darle da mair-vâl ia qlobâl da òociedade ou do excrdeote soc;al .O qrc ;nrere"sia Mari ì aos Ínarxi ías é precisam€nte a divisãodo produto, enlre produto necessfuio e excedente, O interesse dateoria marxisla, que é basicamente uma teoria úacroeconômica,não está tanto em explicâr como se tepaale o produto por váriosfator€s, mas como é que se reparte o pÍodulo global entre a pârcelânecessárìa para a manuíenção da capacidad€ produtiva, física emeltal dos tÍabalhadores e aqueÌa outm pa e que é o excedeniesocial .

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Estamos agora irÌteressados nesta p mejÉ divisão, as outrâssão um _segundo pâsso. Precìsamos primeiro delimitar aquele tipode lrabalho que contr ibui para o produLo necessár;o e parã o.r .e_deDle- sociaJ, eliminando os trabâlbos que nào contribìem para oexcedenLe social . que não produzem mais-vaì ia. em essència,òs r Ía_baìhos que não produzem mercadorias no sentido estrjtamente ca_pjtalista.

A r€paÍ l ição do produLo enÌÍe..produlo nece.sário. e -exce_t, :dente lociaì_ se dá essenciatmenle pela lura de classes. Não exisLe l ,nã04 oe lnÌ nsecamente econômico, oLl . . récnico..como supõe a reo_Í ia.rnarginâl isra. na deÌerminâção do nível de remuneraçáo do rra_Dalhâdor e porlanro do , ,produlo neces(ár io ' . EsLe nivel depende,essencialmente, da sua capacidade de luta; se os tÍabalhadore; estãoou não organizados em sindicatos, se eles têm ou não Íêm umparrdo que reprcsenta os seus inÌeresses. capaz de pre\sìonar e obterdo Eslado meìlìorias desre nível de remuneração. O salário não Lemuma deteÍmjnação econômica estÍj'tâ, ele depende do equilíbrio dâsrorças em pres€nça no mercado de trabalho, sendo o mercado detmbalho o centro de toda economia social úm alos aspectos Íoii-neiros. diár ios,-da_lula de classe é precisamedte a determinação ea redetermrna(ão do nível de remuneração do trabalho. É uma tutaconstante, que s€ faz_entte o corÌjunto dos assalaÍiados e o conjuntodos empregadores e é desta luÌa que resulta o nível do remuneiacãoque pod€ crescer ou não. dependendo precisâmenle das conting?n_cìas qesra tulâ. Em qualquer momenÌo há um ceÍto nivel de remu_neração do lrabalho. quer dizer, estâ luÌa dá enfim resultados ouêpodem ser influencìados por certas insLiLuições, como o salárìo irí-nrmo. ltmite legaÌ.dâ jomada de Ìrabâlho. térias pagas. pârLicipaçãonos lucros, previdência socr'âl etc. A cada momento que urna_initituição dessas é criada oÌr é eÌiminada,

" nlu"t a" ."rnirn"ofào ìoì"

_ Po.de-se qizjr. por exemplo. que ío Brâsil o Dívet de remune_ra(ao dos trâbathadores dÌminuiu no. úl t imos anos. a parLir de ì964,pela eliminação da estabilidade no emprego. e estabilidade do tra_Darno. que erâ um direi Ìo dos trabalhadores que se traduziâ nu;nâ::.ljïili:

rec€bida l'ero rÍabarhador por ocásião de sua despcdi_oa..esta sendo €liminada, É um processo moroso pois os empregadosmars antigos puderam optaì- pelâ esÌabilidade, mai roao recem-ãamiÌrqo_num emprego é obrigado a. 'opÌar! 'pelo Fundo de CaÍant iaoe rcmpo de Serviço (FCTS). Na medida em qDe o número deempr€gados antigos ..estávois" vai decrescenalo poi

-o.t", "porioú_doria etc., a estabilidade no emprego está sendo eliminada. o aue

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acaÍÍe[a a queda da ÍemuDeração média do trabalhador, não sÓ

aliÍetamente (menos indenizações pagas) mas talnbém iÍIdiretamen-

te. Dois o sjstema do FGTS facilila às empresas demitirern empre_gudôs muis cato, e em seu lugal admitil outros úais bâÍatos lsto

ãu-"otu u outtu parte do produto, oü seja, o excedente social, a

mâ;s-vaÌia. Ou, na medida em que um Sovemo, através de sua poli

ticâ salarial, limita os âumentos de saláÌio nominal, eú dinhoiro,âbaixo alo aumento do custo do vida, e com isso força a queda denível de remunerâção do lrabalho, el€ ao mesmo tgmpo aumentaa mais-vaÌia ftcebida pela massa dos capitalhtas

É claro que a possibilìdade de deprimiÍ o ÍIível de salários temlii'Ìites fisiológicos e polílicos. UÌtrapassados os pdmeiros, a forçade trabalho não se Í€pÍoduz mais plenaúente, decaìndo sua quan-

tidâde e/ou sua qualidade. No caso de s,erem ultrapassados os se_sundos (que depindem de ciÍcunsráncias hhtóricasì. o desesperoiode levai a clãsse operária a formas de píotesLo que põem emDeriso a contìnuìdade ào p.ocetto de produção e rêprodução social'ilá ãbuiur.nt" também um limile superior à elevação do nivel desslários. oue é dado pelo tamanho do ercedente neo:ssárìo ao sus-tdnto dos_elementos improdulivoç e ao pÍocesso de acumì)laçào decÂpital. Se os trabalbadàres coDseguem elevaÍ sua Íemunerâção acimà deste lirnite, a acumulação de capital se Íestringe. cai o nivelde emprego e a economia entra em crise. Nestas condições plova-velmente os saláÍios também acabam voltaDdo a um nivel "conve-niente" pam o sistema Pois a cÍise auÍenta o desemptego e tendea debilitar o poder de baÍganha dos assalariados.

A repartição se dá essencjalmonte neste sentido Uma vez de_terminâdo assim, o excedente social, ou seja, a mâis_valia, é Porsua vez repartida entre os demais personagens do drama por urnasérie de passos secundáÍios,

O juro, por exemplo, depetde essencialÍente do mercado decapital monetário ou do melcado de diÍlheiro. A economia capitaÌis_ta exige que toda sua pÍoduÉo seja metamofoseada e Passe pelomenos uma vez pela folma úonetária. O produto sai da fábrica e évendido, tra$fomado em dinheiro. Se o comprador for üm consu_midor, o processo acaba. Mas se for um comeÍciante, €le tem quevoltâr a ser vendido, até acâbaÌ nas mãos do consumidor. O produtoasrícola e peralmenlê vendìdo Dâra o comerciante atacadista e esreoãr sua vez-o vende ao varel'istã, que d€pojs o veode ao consumidorlinal. cada vez que há uma metamolfose dessas, ou seja, cada ve2qus o prodüto passa pot difereútes mãos, elo tem que passar pelaÍorma monetáÍia- Conseqüentement€, tem qu€ havel um fÌlxo mo-

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íe!ário. que pelo menos seja t-gual ao valor do produto. Exhte, por-rânlo. uma nece)r idade objeÍ i !a de djnheiro. ou ,eja. roJo o c"pirr ÌsociaÌ se transforma pelo menos em cadâ roração, em cada cicl; deprodução, uma vez eÍn dinheiro, para depois poder voltâr â funcio_nâr como capital. Em virtude disso exhle uma certa deÍìandâ d€mejos de pagamento. E exislem, por outro lado. individuos oue Dos-quem capirais sob lormd de moeda. Enlão, conlorme a olertã e oro_cura de meios de pagamenLo se derermina uma roxa de juro. i+alaxa de juros tem que ser necessariâmente inferjor à taxa de lucros,

O capjtaÌjsta financeiro é, na teorja, totalmerte distinto {:to caDi_lal ina produrho. O pr:meiro d o porsuidor de capirat que o o.erecesob a forma de empréstimo, por não poder ou não desejar €mpregá_lo produtivamente. O segundo é o capitalista qìre r€aÌjza â metam;Í_Jose do capital-hto é, cornpra meios de pÍodução e força de tra_balho, põe em movim€nto o pÍocesso produrivo e vende as merca-dorid ' f -oduTiddr com recunos p.opÍ ios e emprcnddo,. Na prá_f ica, l rnto um como ou' io são empresas. na mdior parte J. , . ve,,e, ,Em dererminado, moïenlos. a en pÍe<a converLe paite do ,eu capi-lal cm dinheìro e/ou oblem tucÍo\ cm Íorma de moeda scm pojerconvcrtô,los de imediaÍo em capjraÌ produtivo, isro é. mah meios depÌodução e mais força de t.abaÌho, seja porque o mercâdo em queela âÌua não é favorável a uma eÌpânsão da produção ou seja pãr-que o volume de moeda acumuÌâdo ainda não é suficiente pira'co_brir os cusros das inrersdcs plânejada,. Nenas conJiçó€,, convcnì àempresa nào deixar e.re d nheiro . .ocio,o e ela pisaìa no ouÌco domcrcâdo Í inânceiro como capiral i , ra Í indncf iro. Isso não imperl i ráque num outÍo momento erra me.ma eÍnpre(a decida que agora eladeve tazcr ìnvefsões. or sejd, t ransÍofmar capi.al_dinì.eiro em ca_pital lrodutivo, _e então eÌa não apenas vai recolher os fundos queânterjormente eÌâ tirha emprestado a terc€iros, mas vai procurarobter emprésiimos. Neste momento, então, ela vai despií su; idenri_dade de capitalhla financeiro e assumiÍ a de capiratjstt produtjvo. Ot€mpo todo as empresâs estão mudando de Ìado, no mércarto finan_cejro, ora oferecendo empréstimos orâ os lomando. É preciso norar,aindd,-que ?o lado dd( ernpÍesa, soem pan:cipar do mercâJo Í i1èn_cerío Iamirra( e õrgãoj governamenrais talém de oulrac enl iJade\ l-ora como oemandanles ora como ofertanles de emDréí imos_. .NLm momenLo de ,uperabuodáncia Je dinhei ;o ( . ) , â raxade".juÍos pode ser negâliva, como ela o foi no BrasiÌ no périodo dernÌraçao ma,s âguda, em que normalmenle a taxa de juros €râ infe_

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. Á ofeía slobal de meios de pâgatuento é ânalhada na ó.. e 7.. aula.

Íior à desvaÌor;zaçáo do dinheiro. Portanto, os possuidores de dinheiío. oue o emDrerlavam a iuÍo9, t iveram Prejuizo. Porque rece-biâm ro t im uln valor menor do que t inham emprestado e i \ to

favoreftu evidentemenle os €mprcsários que iam usâr este dinheìÍocomo capital pÍoduiivo. Numa situaçáo de inflação' quando os juros

são bâixós e até negaÍi!'os, o capitaljstâ produtivo se apodera de uma

DarceÌa maioÌ da mah-vaÌia. Se, por outro Ìado, há uma sjluaçãoinversa, de deflação ou uma situaçáo de inflaçáo decrescente, comoa da e;onomia brasiÌeirâ entre 1964 e 1971, â taxa de juros tendea scr muito al la. fmpreí imo\ a ìongo pÍâ7o. por eÀemplo. pâr ' ì

fjns inob;liários, são feitos a juros Ìeais, isto é, acima dâ inflação'de 109ó ao ano, o que é consid€Íâdo juro de agìota em qualquer

lugar do mundo. Há uma espécie de compensação e neste momento

enlão, os possuidoÍes de diúejro, aqueÌes que têm capìtal sob afoÍma monetá{ia, têm a possibilidade de obter uma laxa de ltìrosmais aÌta, ou seja, üma paiceÌa maior do bolo iotal da mãis-valia' No

enianto, esta parcela geralmmte não pode ser maior que a taxa delÌrcros pois quem está pedindo dinheiÍo empreÍâdo paÍa empre-eá. lo Drodul ivamenLe para obter lucro que d a mâìs-val id globaì.ãviaenremenLe náo vâi, a náo ser poÍ inadveíència pagar juÍos

maiores que os lucros obtidos. A única coisa que se pode dizer decerto, a r;speito da taxa de juros, é que ela pode variar de Degativaa positiva até o limite máximo dado Pela taxa de lucro, que é Porsua vez função da taxa de eiploração, ou sejâ, da relação eÍÌtre Pro-duto nec€súrio e excedente social.

Outro elemento da teoda marxhla da repartição é que a taxado lucÍo, ou seja, o lucro dividido pelo capital invertido, ó deter'minado no plano macloeconômico, como resultado da luta cíncor-tencial entr€ os capitais, Sabe-se que a taxa de lucros tende a serequitjzada sempre qüe há um mercado de capitais em que o capitaìtem certa libeÌdade de movimonto. Na época de Marx esta liber-dade podìa ser consideúda total. No capitalismo contemPorâneo istoabsolutamente não é verdade. Mas em certa medida, o capital tema possibiÌidade de se movimentar por diferentes ramos de produ-

ção. Os donos do capitaÌ, isto é, as empresas, podem hoje investì-lomah na inddslr ia farmacèul icd, amanhà em maior propofção naindústÍia automobilística e depoh de amanhã em maioÍ medida naag cultuÌa. E devido a essa possibilidade de mudar de emprego docapital há uma tendência à equaÌização de sua rcmuneraçáo Por isso,aqueles úmos que estão dando menos lucros serão aqueles que se_úo abandonados pelo câpital e isio falá com que o produto destesÍaÌnos seja mais escasso e o seu preço suba, o qüe faÍá com que,

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enfim, eles tenham um maior lucro no futuro, Aqueles ramos queestão daldo lucÍo maior terão um aflüxo de capital, terão a prefe-Íência dos câpitâlìstas ê isto faÍá com que, doÍ,ois de algum tempo,aumente a capacìdade produtiva destes Émos, eles oferccerão umamaìor quantidade de mercado as e isto, enfim, fará com que seupreço baixe e o lucro que eles proÍ'oÌcioíam também. Esta movi-mentação do câpjtaÌ produz uma Íendência sempre à equalizaçãoda taxa de lucro, t€ndência essa que é peÍmaÍelltemente contÍarjadapelo dinamismo tecnológico do shtema que faz com que sempre sur-jam inovações que tornem um ou outro mmo ma.s lucrativo quea média. É uma le[dência de equiJrbr io que é desÌruída pelo alanço

tecnoÌógico, pelas mudanças na ecorÌomia e é permânentemente r€-estabelecida pela movimerÌtâção do capital.

Suponhamos que num certo momento, o produto social, que édado pelo trabalho prcduzido durante determinado ano, seja iguala 150. Suponh?mos que o côpital social, que é todo o trabaiho ;ar-sado acumujado sob a forma de máquinas, insralações. matériaçpri-mas €tc- seja_igual a 500. E tuponhâmos qüe o produto seja reiar-tido assirn: 50 parâ repoÍ o câpital constante gasao,40 parã a rnais-valia e 60 pâra a roposição da força de trâbâlhq ou ieja, para opagamento de saÌários. Então a taxa de lucros será dada pela mais-valia roLal. ou seja, 40 dividido. Íão pelo produto. mas p;to capitalinvestido, ou seja, 500. lsÌo dá umâ taxa méd:a de lucro de 0,08.ou em porcenragem. 8o/o, EÍa seria então. Íresle ano especifico, ataxa de.-lucJo média, Face ao exposto acima, deve-se admitir que:L"-Dif ic i Ìmente a tara de juros poderá ser major que 8lo;2.2-Dificìlmente um ramo de pÍodução esrará dando muito mais oumì.rito menos d€ 8qo de lucros, dumnte Ínuito tempo. poderá acon-lecer que algum Íamo de produção dè loqo, outros ;arão ó9o. Então.dos râmos que dào ó9o de tucro sairão capjtais que se encarninha-rão- para o mmo que alá loqo de lucro. Depois de algum tempo, pela

mudança de preços haveú um reequilíbrio.

._A taxa de juíos poderá ser. dèpendendo da conjuntura e dapolitica monerária, desde negaliva âté de 5qo. 6qo. 7qa, o! Ado. Êprovável que âlgumas empresas tenham superestimado seus lúcÍosruruÍoç e Iomaram empréstimos a juros maioÍes que oc lucros o:et!vamente obtidos, Neste caso, as empresas sofrem piejuízos finan-cefos, mesmo que como capitalistas produtivos elas tenha?n tido

, . Há tambem, nâ teoria maÍxista, um pressuposto de racional!saoe. ìupoÈse. em pnncipio, que os câpitalhlas sabem o que estàorazenoo, t que aqu€tes que sobfevivem na selva econômica do capi-

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taÌìsmo são aqueles aptos, que Ìrão agem iÍacionalmente, Existe paraajudar os capitalistâs a agirem racionaÌmente, desde a administrâçãocientifica dos negócios. que se prerende cieDlíÍica e em certa medidaaté pode sêlo, até a experiência acumulâda, uma certa capacidadeempí.ica de p€rcebe. as coisas. De modo que o conjunto dos capi-talistas tende a agjr racjonalm€nte, É claro que um certo númeÍodeles sempre erÍa e desapaÍece, o que lembra ã luta pela vlda numaselva. (Não poÍ acaso inspirou-se Darwin num economista: Mal-thus). Porém, outrôs capitalistas, poÍ sua vez, surgem e tomam oIu€lar dos qu€ foÍarÊ eliminado,s.

As duas teorias que tentam daÍ uma erplicação racional de comose reparte o produto entÉ os diferentes fatores de produção, sãobastante diferentes € partem de um pressuposto básico difere[t€. pama teoria marginaÌista o valor do produto final é uma incógnita, por-que vaì defrender da sua utilidade, que é resultado de uma estimaçãosubjetiva dos compradotes. Os marginalistas tém que explicat a re-partição a paÌtir de um produto marginal que é, por sua vez, oexemplo da fazenda de câfé: na medida em qüe aumcnta o númeÍode trabalhadores, o seu produto marginal vai decfìsceldo; entãoaquel€ famoso 7." trabalhador, que produzia 100, não poderia serempregado se o salário fosse 200. No etrtanto, se o preço do cafédobrasse e o preço do café dependesse essencialm€nte da vonladgdos bebedores de câfé, o mesmo produto físico do 7." tmbalhadorpassaria a vâler 20O. Etrtão passaÍia a s€f interossante empregálo,A teoria da repaltição marginalhta tem um grau de hdeterminaçãoque é o valor do própÍio produto finaÌr que depende em última aná-lise da preferência do codsumidol corNiderando cada lamo e cadaempr€sa sel)aÍadiìmente. Ela é, portatrlo, uma teoria que paÍte dêuma visão microrconômica, pÂrte de uma vhão do empresáío e daempresa, para o qual, num sjst€ma coacomencial, o valor do oro-duto será sempre uma incógnita, pois ele não rem a capecidad; dedominaÍ o mercado e não tem, portanto, a possibilidade de fixálode antemão. Dai então, a úaica coisa qüe a t€oria marginalista derepartição pode dizer é que se €lo aBjr racionalmente. qualquerque seja o valor do prodüto, o Àível de Ìemuneração dos fatofts nãoÍ)ode ser maior do que a sua produtividade mârgital.

A teoÍia do valor-tmbaÌho, entretanto, prcssuúe conhecido o va-lo. do prbduto, pois ele é a soma das homs de irabâlho sociaÌmentenec€ssáÍio. A repèÍição deste valor conhecido, determinado, se fazfundaúentalmente por um elemento "extÍa-econômico,', que é a lutade classgs. E só depois que a luta de classgs, no sentjdo maìs rot!neiro, difuio, do funcionamento normal da economia caoitalisla. de-

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lirri!1;:tlx'.::,":,'"ïïï:ï.,:':iïi.':",: !ï"': .ï,' l;'iü:;:;:fol;" J,:;':ì.ï:fi ïï:'", ïil"i";.:,Í ;ï ï:xnil ìít*"JLTf JJi*ïï,,: nï.,:ïïï:,,,:ï:ì;:, ï:;ï .ntxlf::Ícomo o Íel â econom," marginal:ra. n r \ c mu,lo Ínar r€atrr ta.

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ffi'ï:ï",;i,.a ::ï:ï"",i:,'#::s',,,,"iilï.ï:r:ïü1'.,"ü: :;J"Hï.",:"ilÌï:'il;::':: ;"9:: Ìni;,;i:dâ_poputação em rermos de beqs ae cor jcumo. r . ,o . icni f i .u- qï* ã:#:ï'ïïïil:lï""ffi:?ï:í;ï,""ïïffie emprego groba, E,a me-

iüi Í."" ;'"'*ïÌ'*ïdilïd: ï# *,J,..r ïj:1 Jïri.:ïï;",,i,:"ï{;ï1ï"'[iïïï,ï::ii""",,ilÍ;'-i#,ï;*h._ï40

ii;iï;iï'*i? ;ïi,",:iililxliïïffi Jí:s l: ïn#:âËï;Ëï"ïi",ii"'ïÍ"';5!'tiïi?""iïitïlX;r;:S:,:í:r;:ffï::il::ï"1.ï":":ïJ#'i:.#ii sovemo e â certos faioÌesramenros indivjduais,

-,".*"*uãi"ãilti33 lïï",t"u.ãïìos

compor-

l Ì , . , .1 , .or 'u da reparr jção da renda mârginat isL; e âtra,nenre apo.tI j:''"i j"":*,H: ;lxJ.""ï. i""ï ï;ï:,i,",:i:ï,:ï.,;:iil. .T

ï:Ëiïi::ii::",1ïii'ï:Ëï:ï :"::"i:1;,w ;*i"'::,;,r;Ë Jã:,'"".iï:ã: ::,i',""ï"1ïl:,"1,i. ï"',1ï""iï,,ï"1,J;1, j";:lÏn:;:."ü:1'il:'#"""'.ïïïli:ï:.ï".ïi;'",ï";1"'xí{::m::#i :ï trJ"' ï':',ï.",", j':.ï:ï::i:ffi r' r'à ro i u' J.È;;; ","":;.Ul,"lf X.h:1,ti:lïi,.j jf :J.ff "l.1ï;:ïïj;*ï:ìeve, a remuneração'do i;;b;rh;;;; ;,*'ï1,:ïï;l:' r':ïï:,.f,ï:

ftlijlf gil::;l' ;1,1il',ï,ãã:";i::ttï." .::.ru:;il; :j,ljÈfïïËrï"

o excedente rica igual a zéro. r'a* ""t"

i*il]"ïãìì

_^.-Álguém_Fod€ a pensar que, afìnâl, esta é uma discüssão supe_rada. mas não é:. o, ecoDomistas a.aãê_,*s oo mundo ocidentâÌ

;ilï.^"i.ï'ïï1fi:"ï"".ïJ"0"ï';,""TrT |odo de que e a"uiãà àãneres rremendo aJ,i,i.e. áììilïi"'aãl'#.ï':iïï"ïiï: :::.lliili.ïT"Jiïi.:ffi ii::ï:ìf .."i1átHii.'"Jf; ;lliíll jì :kì:::triii,;ï il ".i,;Xï"I""Jïir#;,?;,"ra,., .,. p"i..ì1ãJ ã.,Jìi

tr Hil#ïï' I' r:;ilÍï:: : ;ïËilïïlï:r #jïi'",",*il;tï'"'Ëlïiffi 1ï;l:::ï:ï::"iï1i-" es,a é uma discus'ão

rut;;.-nnmrìï jy'Í;.f hr"ï:{."r;:,ï'il::.4Ì

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TERCEIRÀ ÃULÁ

O EXCEDENTE ECONÔMICO

Nesta aüla, vamos primeiÍo definìr e amljsar a geração alo exc€-dente econômico sob o ponto de vista da ecorÌomia marqinalista edepois da economia marxi \ra e, Í inatmenle, ver i f icaf em oie medidaa real idade económica conf irma uma ou ouÌra desras abordasens. ouparte delas.

É precjso advertir, desde o itrícìo. que a defjnição do excedenrsecooõmico não é precisamente iSual Da análhe maÍginal i rra e namarxÌsta, Há diferenças, embora, em teÍmos gerais, a concepção doque seja excedente econômico seja mais ou menos a mesma, isto ó:o,e,xcedenk:cg!!2LL9:jj9È!3l4:!& lhjjgduçáo que não é abso!

'rda p.ros

-cëiosì@bs à mÃmarroaüdEãEìj-dÉiiããigeral do que è o er,cedente econômico. Os amerìcanos usam o. con-ceilos de inpü e oupur, que em portuguès foram traduzidos porinsunos e piõdìíàõ. Texcedenre seria a diferença entre o oarpaì eo ,npur, ou seja, entre aquilo que foi colocado na produçâo (inclu-sive,o. l rabàlho humaíio) e aquito que se obreve. mei ldo por aigumatlnidade d€ vaÌor

Na^Jnál ise marginal is la o excedenle é jdenl i f icado com a pou-p3!ç4. U quc \em a ser precisamenLe . .poupança'? poupança ê

-l.ogo rendiÍnenro. recebido por alguma enÌidade, qr,. nao e *ììiì

Ì I Ìq.o L.sa entìddde pode ser: ì rma famìl ia. uma empre\a econô_mÌca. uma empresa não-econômica. ou o próprjo golerno, Todâ( asenlrdade. qìrc lenham ârg!m rendimenlo sào susceríeis d€ leremp0up^ânça. desde que não c-on(umâm inÌegÍalmenÌe esle rendìmenlo,

. suponhâmos que o íendimenlo de urnâ famíl ;a sejâ a \oma dossalárìos _dos seus componentes; se esta família gasta -integralnrenieesse.saÌário, então a poupança dessa famílja é igual a zeio. Se elagasta mdir do que o saláriq e isto acontece, infelizmente. muitasveze:. enlão \e poderiâ fd 'ar em poupança negaÍ iva. Agora. quandoe a g sta menos do que .eu rendimenlo ã poupânçâ é posir iva. O

mesmo se dil com uma empresâ que tem rendimenio e gastos deconsumo. Ela distribui umâ parte dos lÌìcros aos seus dotros, isto é.âos acionisias, aos proprietários. Mas ela não pÍecis4 necessaria-mente, distribuir rodo o seìÌ Iucroj umâ paÍte desse lücÍo pode ficaÍÍetìda pâra a próprja empÍ€sa investir majs aârde, ou constituirreservas elc. Esta parte da renda não disrrjbuída nem consumirtapeìa empresa paÌa pagamentos de ma!érias-primas, salárjos etc, é âpoupança da empresa. O governo tem a sua rec€ita qüe é prilcipal_mente tribulárja; existem outros ilens de menor jmportância. masesqenc'aÌmenle. o que o go\erno .ecebe è o que cobia sob a Íormadê taxas e jmposÌos. Na medida em que o governo gasta suâ receita,pagando o funcionalhmo público, comprândo material etc., ele aestá consumindo. Se não a consome integralmente, o çIue resta é âpoupança do- governo Assim.. poupança e rl,ceira ou rcndìmenlo nãoc-onsum r ao. r1 a anatì\e maf grnatÌst a o excedente econômÍïõ' dâ-ìÌÍi-socjedade. de um pais. cada ano. é a di ierença enlre a rcnda na_cional deste país, tudo o que neÌe se produzìu em bens e serviçosdumnte !m ano, merÌos aquilo que se consumiu por paÍte dos indi_viduos, famíÌias, empÍesas (econômicas ou rÌão) e góverno.

Á gÍande qu€stáo está em saber o que determina o nível depoupança numa economjâ. A primeira análise maÍginalista pÍopu-nha como expl icâçào. como faror fundamenral do nívì l de oouoancanuma economia capiral is-a. t faià-re numa economiâ Jm leiat , naru-ralmente).aqui lo que a poupança vir ia proporcionar aó indiurduo

. ou a enLldade poupadora como ganhos futuÍos, uma família r,oupapoÍque com o dinheiro poupado poderá ganhar juros, poderá còtoc;ro dinheiÍo num banco, por exemplo, ou então compÍ;Í uma aúlicede seguro de vldâ, e essa poupança virá pmpoÍcioDar a esta famíliaüma receita com acréscimo no valor, Dum tempo futuro. Este acrés_cìmo será cada vez maior quanlo mais tempo esta família se abs-

.r tjver.d_o consümo. A poupançâ era concebìda como ato positivo, umll ato deliberado de absr€nção do consumo imedjato, port;nto üm atoli desagrâdável, conrrário ào pÉzer, que é consumir, é aproveitâÍ ol Ì

que se tem imedialamenre. EÁse sacÍ i f ic io. representado peta abslen-çao. rerìa que ser remunerado por um valor fururo maior. geralmentedef inido pela laxa de juros. Dai se propunha que a poupança seriatanto ma or quanto ma,or fosse a raxâ de juÍos, portanlo, a poupançaseria em princípjo proporcional à taxa ds juros ügente em iadâ mo-menÌo. Q!!ro mais al los or juros. tanto maior o excedenle econômi_co. ìsto e. a poútançâ. Os marginal isras evidenre;ìente enLendjamque a tàxa de juros é paga por alguém, que toma esse alinhejÍo em-prestado e o investe produtivamente, portanto, a maximização da

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taxa de juros não é o que eÌes propunnam. O que eles diziam é qucharendo um mercddo de cap:rais em que ha atguns que oÍere"èmpoupança, rsto é, que oferecem o excedente aos emDÍesários e. deourro Iado. uma demanda de câp:Lais por pane dós empresarios,nesse meÍcado de capjtais se estabelece unÌ preço do uso do capitâI,qü€ é a taÌa de juros. Esra taxa de juros é que vai, por sua vez,jnflujr decisìvamente sobre o nível de poupançâ.

Esta concepção é ben característica do Densamenio maÍeinalista.por i \ ro. ape.ar de arualmenre e\raf um t;n.o abandonrd"i nào ,epode deixâr de menc'onala. Fta pral icamel le pòe no me:mo pe apoupancâ de uma famíl ia que ganha. por exemtìô. do;s \ataÍosminrmos por .na( e coÌoca CrS t0,00 por mês na Caixa Econômicae LÌma famiÌia miljonária, que simplésmenre resolve colocar 90cr,do que ganha por mês nÌrm banco suíço ou numa empresa sjderúr-gìca. É claro que sendo a distÍibujção da renda tremendamenre de-sigual, é muito difícil dar à poupança uma mesma explicação decaraÌer subjel ivo e p\ icológi.o, de modo a ab:,rcar tanro; Íenóm€node pe,soas de renda baixa. que poupan. como o de pe.soas de rendatão aha que sào praricamenLe obigoàas a laupat porque lhes é fisica e economicamente jmpossível gastaÍ todâ sua renda em consumo.Para a teoriâ marginaÌista não havia difeÍencâ alsÌrma entre a fâ-míl ia qìre põe Crg t0,00 na Caixa Económ:ia e ; fam ia de umbilionárjo que simplesmente não consegue gastar toda sua recejta:no Ìundo, a poupança sempre é um ato de sâcrifício e conseoüente_menle ela é tanlo maior quanto mâioÍ fór a remuneÍaçào esDeradasob.a lorma de juros.

Seyne\ percebeu o ob\io. ou seja. qÌre o grau de absrraçao ou lo tipo-Ëabsrração usado pelo peÍÌsamento maíginalisla ..clássico..,

/srmplesmen,e abrrraía Ìrm elemento essenciâl da Íeal idade, i r lo é, de I

do ftndimcnlo cn rctacào àr ncces.;idodcs nornais Ide tonlumo e reaÌmenle o elemenlo fuÍ ldamenÌa] nara exnl:car a Ipoupançâ. A poÌÌpânça de 90qo da familia mjlionária náo' tem a Imesma signifícação que a poupança de 1qo de uma fâmília pobÍe.Portanto, a poupança está esrreitamente vìnculada âo volume derêndimenlos e à neccss'dade de consumo dâ entidade que se consideÍa.A píìr l j r daì Ke)ne\ loÍmulou o que chdmou de teì

^ icotòpìca

eeroÌ ^do Drcpeltsào o consumìr. De ecór,ro com ..ru rìliìíìììËiio lr

€\Dì icar não e a póupança ma. , jm o consumo. e pòuoaria e o l -que roófd do consurlo. .)

De acordo com a distrjbuição íla rendâ âs diferenres entidades_(Keynes está pensando fundamentalmente nas pessoas e nas famí,Ìíat têm certos padrões de consumo que são socialmente dador:

ceftas convenções socjais levam a certos padrõ€s de consumo. Áspesçoas sf wsl€m.. se àl imenram. habi lam d: âcoído com convençòessocìars., ,oependendo da classe social a que pertençam, ou da clàsseae rcndtmen(o de qLre [a7em pârte. Ouando a receita de uma Ìamll jaìaumenra. o.consurÌ ìo tâmbem aumenla. porem. aumenLa *"ro" o". lproporcronatmenre. rs lo ë. ,e uma famìt id ganha CÍ$ t .000.00 e de ìrep€nte.p€s\a.a ganhar Crg 2.000.00. e prô!avel que ela reaiuíe ìseur paofoes de con5umo. que passe a consumir mais, porem rào ë Iprovavet que passe a consumir duas vezes mais do que consumìa ?anres. ,a sua propen,ão a consumir- que e a percentagìm da rendaque a famiria co-iõõ.iliãiìã!-iãïiiqundo iü., ìã,idr; ã;#.ì-iffi;e. erd . lende a poupar ma;s. hLe f loìqúe'ó consüi io é-roff i rnenre:_", i :1. ' f "*"

e,é di Í ic i l . por var io" morivos psicotogicos e cutLuÍai . ,(arrar oe uma ctas\e de consumo pafâ outra, A lamrl ia de, ie exem_

doD-ou. em lermo. reais, sua receitâ. não irá imedidram;nre mudarao Darrro operarro em que mora. para ourro. por exemplo. de cla\semeora, ts lo demora e taìvez ela nem chegue a faze-lo. Ela ni lo ;rá)meora'amente adquir i r padíóes mai, elevaCos de conjumo al imen_lar de re\ iuar;o eLc. Ponanto.. " .^.rmo e um etemenro ae esraUj i i_

As pessoas, as familiâs (isto tambem se rÃÌ€;eas enlpresat iendem, em princípio, a conservar seus pâdrões habitüaisoe consumo, ,{ mesma coisa é verdade no caso de ìma Ìedução dorendjmento

^Suponhamos que uma lamil ia lenha um ,enaimenio a"( rs r .uuu.uu e por atgum mori ! ìo perde ume parte desse rendimento

:^La-::::.saihir cll 500.00 em vez de cre l 000.00. Há uma sranderesr(rencÌa da Iamiì ja para Íeduzir seu padrão de consumo à m;tade.E crâro que çeÍã obcjgada a Íeduzir seu consumo âpós cerlo prazo,EÌa poderá se endividar após algum tempo, depoìs reduziri seuconsumo, porém essa redução será menor que a alo seu Íendimento.PorÌanlo. nesre caso, sua poupança se reduz e sua propensao a con_sumìr aumenra, Denom;na_se , .propensào a consumir; a proporçãooa renda que uma dererminada etrLidad€ (famìl ia, l i rma ou go,erno.yga5la em consÌrmo. A ..propensão a poDpar.. é a proporçào ia rendaque é poupada. ObviamenLe, a soma da propen,ão a consumir com apropensão a poupar de uma entidade ou co[junto ale entidades t€mque seÍ igual a um, ou cem pot cento.

.4-propen'ão _a cooqumir _-,e _inver,cmetrre proporciooal ásv.rìaçoe\ da renda da Í+qi[a. Sè a aaniilia gaú; CiS-Ì:0Õ0,0d,o-seu ronsumo- poìeria ser Crg 900,00. Se sua recejra pas,ar âLr+ z,uuu,uu, nao e provaveÍ que seu consumo também aumente na

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mesma proporção. O aumento do consumo sèÌá menor. EÌe subirá,digamos, a Cr$ 1.600,00. Isto significa qüe a taxa de Poupançadesta famíiia, que é de 107o (CÍ$ 100,00 em Cr$ 1 000,00) passa

a seÍ de 20qa ic.$ aoo,oo em cr$ 2.000,00). Nesle exemPlo.hìpo'tér;co, a fâmil ia, âo dobrar sua renda. red . ' iu sua pÍopensão a con-sumir de 909o pan a04o. E conseqüentemcnte aumentou sua pro_pensão a poupar de IU4o a 20qa. Suponhamos agora o contrário: aieceita que erâ de Cr$ 1.000,00 passou a CÍ$ 500'00 (estamos

considerando variações muito grandes da rcnda, merament€ para toÍ-naÍ mais claro o f€nômeno; se a variação fo. menoÍ os efe;tos serãom€nores). Neste caso, o consumo, que era CÍ$ 900,00, não cai neces-sariamente à metade, ou seja, a Cr$ 450,00, porque há muita resjs-tôncia por paÍte dâs pessoas em abrir máo de padrões de consumo.Àssìrn, o consumo pod€rá caìr para Cr$ 500,00. Nesle caso â prc_pensão a poupar que eÍa de loqo passou â zeÍo Esta famílìâ quepoüpava quando sua receita era de Cr$ 1.000,00 passa a não pouparmajs porque sua Íeceita caiu à metade A poupança poderia inclu-sive se tornar negativa, se suPüs€rmos qìÌe a familia passe a con-sumi em vez de Cr$ 500,00, CÌ$ 550,00. Neste caso ieríâmos ümapÍopensão a poupar regativa. Pode-se perguntar: como é possívelãlguéin ganhar Cr$ 500,00 e gastar Cr$ 550,00? É possível: a fa-mília pode ter acumulado valores no passado e está simplesmenteagora se descapitalizândo, isto é, consìlmindo os vaÌoÉs que acumu-lou; poderá s€ endividar, e então, pelo menos por algunì tempo, seráDossível viveÌ além de seu Íendimento' É claro que Kelnes se aproximoLl muito mais da real idâde. por-.1qLre efeLi lamenl€ a poupança è o rcsiduo de renda não consumidal llanto de famílias pobres como de famílias bem iicas, tanto de em-presas como do governo. uma empresa tem um certo grau de con-sumo, isto é, lem um cerlo número de opeúrios quo têm de serpagos, o qìÌal pode âumentar ou djminuir com o tempo, mas basi-camente ela tem um quadro de pessoâl, uma foìha de pagamenlo,além do consumo normal de matérias-primas, energia elétrica, alu-gu€I, jmposios etc. Isto dá uma base para seu consumo Se seüs"llucror aumentam, a empre\a, geraìmente. | lão tende a aumenlar a Jdistr ibuição de(es lucros. T.to ê hoje um lato comProtado inclu' ive Inas empÍesâs d€ Lipo monopol is la. Elas em geral manlèm o mesmolpadrào de dir idendos pagos âos seus acionislas. Aumentaní lo o lu- lcro, a emprcsa tende a aumentar a poupança e a diminuir a sua pÍo_pensão a consumir. Quando cai a rèceita, a empresa, por moiivosóbvios - náo se despreÍigiar no mercado de capitais e náo desva-lorizar suas ações - tende a náo Ìeduzir a 3üa distribuição de div;'

dendos, imediatamenÌe. Pelo contrário, ela tem reseÍvas, acumuladasna época das "vacas gordâs',, para poder então sustentar mais oumenos a mesma distribujção de divjdendos aos acionjstas na éDocadas vaç6, 62912*". E nesse momento elâ se compoíla coíno aouelafamrl ia, que reduz sua propensão a poupar no momento em que sua

Quanto ao govemo, é mais difícil desenvolver quaÌquer tiDo aleanálise geral. porque a sus poìír;ca rendc a ser, princiDaÌmenledepois da aceirâçào da teor ia keyne. iana. uma poìnica anrjcícl ica, .Ì r to è. o,govefno Lende a se compoflar de uma fôrma dpúslÂ.Ìãntoas.râmìtÌas como as empresas para cornpen:ar as vaf iaçoes e im.pedir a cr j je ou a inf l lação. Nesse s€nt ido, o comporlaÍenLo econó_mlco do governo em termos de geração do excedente é um compor-tamento reflexo e compensatóÌio. No momento em que tanto a fam!Ìia_ como a €mpresa tendem a manter seus padrõei de consumo ereduzrÍ a poupança, o goveÌno pode achâr necessário aumentaÍ suapoLpançd. prectsamente para impedir que ddí ocorra uma presjãoinftacioná'iâ

t- Fm úl l imà ândl:se, o comportamento do govemo é um coÍì-I

ponâmenro que nào se expl ica por este mecanismo. porque ele é\exaÌameíÌe o oposio e tende a querer influencìar o próprio meca_Ìnismo exDÌicado.\ Qual é a conseqüêncjâ fundamental desta teoria?

A de que o excedente, numa sociedade qualquer, será, numcerro_ moÍìenro, ranto major quanto mais desigualmenLe tor dis-tr ìbuida â renda. Se mmpârarmos dois pai,es, , { e , . que renhama mesma renda nacronaì, mas no pâis ,4 a rendâ é distr ibuida maisdtsigrralmente que no pjr 's B, no país,4. os l0ôo ma;s r icos da popu.lâçao Íecebem a metade da renda e no paü I os loao mais r i iosrecebem apenas 25qo da Íenda, então no país,{, daqueles 50qo darencla, que. são apropriâdos peÌos loqo mais cos da nação, vai sairuma granoe poupança, porque estes 10qo de dcos dificilmerÌte vãopodeÌ gssrdr rudo. isto. Ao pa\\o que no pr ir , . em que a Íendâ édrslr ìbuida mais i fuaÌìrar iamenle. a pouprnça das iamil ias mai,ncas serã pÍoporcionalmenle menoÍ. Lma conreqüéncia imDonanledesta tror ia ë que o próprio excedenle é,r" f"r iç;" a, À"L, J.r , i -Buar0a0e da dAtrrbuição da renda. E e uma jusLif icâl iva muitasvezes usÂda para que haja uma crescente aesiguaidaae nu ,;p;.ti;Jda renda. O economista Joâo paulo de AlnÌeúa Magaffraer, 'qoe 'foldurante muitos anos o chefe da assessoria econômica da Coni€dera-:::,"Y:.1:,1"1. d" Tndúsrria. susÌenroìr que a inÍtaçáo.

"" Ãi",; i. p*

reorsrnbulr regressivamente a renda ou seja. poÍ Lornar os r icos

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mais rjcos e os pobÍes mai pobÍes, foi um mecanismo essenciaÌ paraâumenlar o excedente do país. Poh ao transfedr a renda de gentepobre quo ja gasÌaÍ para gente dca que não lem como fazêlo e por-tanto vai poupar, a inflação criou um âumento do excedente econô-Ìnico que fo; ur i l i /ado para acelerdr d indu\ lr d :7açio do pais. É o Í-que se chama de poupança forçada.

Outra conseqüência, e no caso muilo significâtiva, é que àmedida que aumenla a renda, o excedente cresce ainda mais, Vamossrìpol um pais em crescimento. A renda do pais €stá crescendo anoapós ano. Isto, aliás, é o normal em quâlqüe1 economia capitâlista:a longo pÍazo a economia cresce. Historjcamçnte tem sido assim. Arenda dâs fâmílias tende a crescer, não digc qÌre cresça na mesmaproporção, o grau de desigualdade na repartiçãço da Íenda pode medificar-se, mas, a longo pÍazo, a recejtâ da major paite das familiase das ompaôsas t€nde a crescer. Neste caso, a pÍopensão a consumirterÌdo sistematjcamenle a cair e a pÍopensáo a poupar t€nde sistema-r;câmenle a sübir . Ha uma tendèncid numa rconomia em cÍesci-mento que o excedente cresça mais que pÍoporcionalmente em rela-ção à Ìendâ nacionâI, Se a renda de um país foi num certo nomento100 e o excedento 10qo desla renda, quando â renda passou a 200,uns l0 oìr 15 anos depois, o excedeÌrte não passou de 10 paÍa 20 masde 10 pâra 40. Há uma tendência do oxcedente para cresc€r com a€conomja c cÍescer mais que pÍoporcionalm€nte do que eÌa, isto é,cle se toma una pa e cade vez maìor do prcúuto socíal.

O próp o Keynes acabou afirmando que era necessário, aparÌ i r Je um cerLo ponto. e.r imular de alguma maneira o consumo,porque o excedente cada vez maior pode levâr a economia à estâg-nação e à depressão. O que é preciio constatar por €nquâíto é que aIei psicoÌógica de Keynes nos leva a esta corclusão: na medida emque a ecolromiâ cfesce, o excederÌt€ deve teoricamente crcscer e mais^nê

ôr^nô.. iô-âl-ê-rêì"_ I -1-.-."'.-".- .-. /------------\

Passernos agora à !.!:Drdagem marxi)E)De acofdo com e.taabordagem o excedente ecòi6frìõõ-'ióiriíóe con a mais-vdì a Ìolatproduzida na economia durânte um certo tempo. Segundo Marx, oproduto socàl (que châmaremos de P) é jgual ao capitaÌ cons-tante (c) mais o capital varjável (Ì) e mâis a mais-valia (mr):

P:c-rv+mv.

O capital constante é constituído por todos os elem€ntos produtivosgastos para obter-se este produto P: matérjâs-primas, matérias auxi-liares, máquinas e instaìações, estas últimas formando o chamado

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capjtal fìÌo._ O capjial constante compõe-se de certos elementos quech?mamos de capítal .ciÍculante, qus entram totalmente no produìo,tais como matérjas,prjmas, e de capital lìrc !|tre são certos eÈmêítosq]re entram €radativamente no valor do produto, na nÌedjda enì queeles vão se desgasrando, tais como os equjpamentos, construções €ìc.O capítal va óvel ê

^ quantidade de satários pagos peto rrabalho prc_

dutivo, ou seja, é o valor da foÍça de rrabalho gasta;a obt€nção d;steproduto P. Ora, a diferença elltre o valor total de p e a ioma docapjtaÌ conÍanle gasto e do capjtâl varjável gasto dá o excedenleeconômico, que aparece sob a forma de mais-valia numa economiacapital ista:

P-(c+v):mv.

Esta é a defjnição de excedente e vê-se de jmediato a diferencade abordagem enrre a teoÍ ia rnaÍr isra e a reoÍ ia marsinal i ía, A abo;-dagem maÍr i , ra nào depende de uma pÍopensão ot-de um compor-tamento subjer ivo. Ela é objer ivamenre dererminada. O excedenrè. Lrqualqu€Í momento, é sempre o rcsuftado desta diferênça objetiva.O c, ccpítol constante, ê determinâdo pela tócnicâ da produção utili-.?ada p.ârd obrer P. Numa agricul lura pÍ imi l i ta, poÍ exemplo. comoa brasl ierra. em que o capiral consrante u\ado e sobreludo â enxada.e muiro pouco além disLo, esle elemento c será muito oeoueno, Amaior paf le do cuío do produlo agrícola sera represénàda pelaÍorça de trabalho ul i l izada para obté- lo tu). Numa agl icul tura adian-tada, moderna, c seÍá repr€sentado pelo combustível gasto nos tra_lorel . por semenres seìe{Ìonadas que a empíerâ agricoja compra, porâdubos quimrcos. in 'er ic idas. pf í ic ida. e pe!o de\gasLe dds máquinasagí lcolas. fortanLo. proporcion.Ìmenre, c s€rá muiro maior. A rec_nologia usada para produzjÍ p p.é-determina o montante do capitaÌconstante. O valor do capital variável, como já foi mostradò na àubanterjoÍ, é delerminado em última análise pelâ luta de classes, jstoé. pela capacidade qu€ os trabalhadores têm de def€nder o seq Dadrãode vida. melhora. lo. e pela capacidade que os empregadores iôm decontrâriâr este esforço e reduzir ao máximo a r€muneÍação paga aosrrabalhâdores. Desr€ choqu€ de ;nLeres,es. qu. e regulaao pãr var io,'droles ìnsLrluc onaìs, já mencionados na 2," aula, resul la ceÍto caD -lal \sÍ ia!el y, também socialmenre dererminado. Enráo dado c.dado r, e Jado P a mais-val ia. o erceden'e econômico é macroecono_micamen!€ determiíado:

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Ele não é resuÌtado de propensões subjetivas, mas resulta de umaconfiguração, que é ao mesmo tempo social e técnica, da estruturâprodutiva do país.

O excedente marxista é, digamos, um excedente potencial, queâ sociedade pode usar de üúa oìl outra maneila, o que é difefentedo excedente keynesiano que é um excede[te real, a posteriori, islgé, aquilo que efetivamente â sociedade por algum motivo não con-sumiu. Para os marxistas o ponto de partidô da análise é o exce-dente irtual Apenas as parcelas do produto que sâo Íepresentadaspor c e por ì, não podem ser tocadas. suponhamos. poÍ exemplo, "que a sociedade gaste improdutivamente, não somente todo o exce-dente (mais-valia), porém também uma parte de c, ou seja, Ìrmaparae do valor do produto quo é Íepresentadâ pelo capitaÌ conslante,não é roinverlida na produção. O que acontece é que ro ano seguinteP será provavelmente m€nori o volume dispoúív€l de matéÍiás-primasou de eneÍgia eÌét ca ou de maquinaria, seÍá reduzido e, portanto,a capacidade da economia de produziÍ será menor do qìle foi este,ano. Assim, o excedent€, do ponto do vista marxista, é tudo aquiloÌque sobra além do necessário para Cue os gastos de ÍêpÌodüção sejam/satisfeitos, para que pelo menos o produto se mântenha no nívelatingido. É. porlanto, un excedenk rirr,.dl, potencial. que de algu-Ima forma será posteriormente utiÌizado p€la sociedade, produtiva-nìente, isto significa com toda probabiìidade que P aumeítará tam-bém. Se não for usado FodutivamenJ€, P rão aumentará. Enfim,a mais-valia terá duas utilizações possívoh: urna utilização produ-tiva ou uma utilização impÌodutiva.

Quais são as leis, do ponto de vista da análise maüista, quedeterminam o tâmanho do excadente ao longo do terÍpo?

Essâs leis se refercm precipuamenle ao montante do capital va-riável. Exhtom duas formas de aumenlar o excedente. isto é. a mâis-vaÌia: a pÍodução de nais-valia absoluta e a prod\rção de mais-ralía

A mais-valia absoÌuta dêcorÍo do fato de se aumentaÍ o mon-tânle do trabalho humano gasto dumnte o anq sem se aümentar aremuneração da força de trabalho. Isto geÌará um acréscimo de rnais-valja que MaÍx chamou de mais-valia absoluta. LembÍ€mo-nos deqüe o produto é medido em hoús de trabalho socialmente necassá-rio, âcsim como o capiral constante, o capìÌal variável e â mais-valiâ.Sìrponhâmos que certa quantidade de trabalho hümâno foi gastadumnte o ano e que as pessoas trâbalhem 8 horas poÌ dia durante250 dias por ano, que ó mais ou menos normal numa sociedadecapitalhta moderna. Isto dá 2.000 holas d€ trabalho possoa-ano.

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1.000.000 de pessoas vão prodrÌzir arÌualmente 2 bilhões de horas detrabalho socjalmente íecessários. Podemos supor que estes 2 bilhõ€sde horas de lÍabalho sejam repartidos do s€guinle modo: 1 bilháoe 200 miÌhões para remuneração da força de trabalho e 800 milhõesconstjtuindo o exceden!€. Se for possível fazer o empÍegado tÍabalhâr,e vez de 2.000 hoÌas, 2.200 hoÍas por ano sem âumentar â suaremuneração, o valor de v, o capjtal vadávcÌ, continuará sendo deI bilhão e 200 Ìnilhões de horas, porém, â mais-valìâ passará de800 miihões para 1 bilháo de horas. Est€ acréscimo de 200 miÌhões-de horas é o que Marx dnamou de maís-vaÌi.L absolrrd A Ìnâh-valia IabsoÌuta foi a forma de aumentâr o excedente no início da industria-l ização, no pr incip:o dd Re\olu(ào lBduslr ial . PÍocurou^e ele\a- aomáximo a jornâda de trabalho. Trâbâlhava_se, ertão, 14, 15 e até 16horâs por dia e hâvia uma constante pressão por pârte dos empÍega_dores no sentido de aumenlâr essa jomâda sem aumentâ. a remune_ração dos tÍabalhaCores, geúndo com isto um aumento de maìs-valia, jisro e, au'nenlando o excedente,

Depois desse início heÍóico (heróico para os trabaÌhadores)da RcvoÌução Iúdustrjal, a forma de âümentar o exÚèdente já nãofoi a mais-valia absoluta, pelo contrárjo, a tendência foi reduzjr ajornadâ de iÍabalho. Em vez de mais-valja absoluta passou_se à n ait_valia relaÍi'a. Mâs o que significa a mâh-valia Íelâtiva? Tomemosesta cifÍa hipotética de I bilhão e 200 niÌhões de horas de trâbalhosocialmente necessárìas que servem, no exemplo acima, pala lecons-tituiÍ â força de trabalho de 1 milhão de pessoas, servem pârã que1 milhão de pessoas s€ alimente, se vista, crie seus filhos Este I bì-lhão e 200 m;lhões de horas de'trabalho estão incorporados numâsérie de bens de uso, tâis como Íoupas, alimentos etc. Se a produti_vidade aumenta, oü seja, se através do progresso tecnoÌógico é pos-sível produziÌ os mesmos beÍs de uso - aÌjmentos, vestuálios etc- em menos horâs de tÍâbalho, e este é o sentido do desenvolvìmentotecnológico, pode-se reduziÍ, o montante do capilal variáveÌ no pro-duto social- de I bithão e 200 milhões de horas de trabalho pâra di-gamos 1 biÌhão. Isto é possibilitado pelo aumento da prolutivjdadedo Ìrabâlho. Cada hora de trabalho, agora, prodüz mais alimentos,camjsas ou móvejs etc. Âssim, sem reduzir o padrão de vida dos tra-balhadores, cai o montant€ do capitâl variável e conseqüentemenleaum.nra o excedente social. com este aumenlo de 200 milhões dehoÌas, o excedent€ passa, portanto, a I bilhão de horas: esta é âmaís+alìa rclatír'd.

No caso de mah-valia absolüta o volume lotal de trabalho social--mente necessário aumentou de 2.000 milhões parâ 2.200 milhões, a

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favor do excedente. No caso da mais-valia relativa, o volume total dotmbalho socialmente necessário l1ão va a, o que varia é a sua dhtÍi-hniçâo y e mv, ou sèja, entÍe capital variável e mais-valia. Hhtori-camente. foi a geraçáo de mais-v;lia r€lativa a forma qre o cãpiiu-liaiá-eÌrcõ;tóu e utilizou paÍa aumentar o excedsnte. A evolução docapiialhúo nos úiiimoi iso anos torna hto mais ou menos óbvio. Ngcorneço.da Revolução Induííìal. por pioÍes que fossem as condiçõesa. uiáu-a* úúittràaores, cerlamenr; uma iane nuito granae aetúb;Ìho vjvo, (, Ìnah rnv) dove ter sido destinada à nanutenção daflorçá de trabalho. Por mais Írobros qÌre foss€m os tmbaÌhadores, a prc-dútividade era tão baixa qüe talvez 80 ou 90qo do trabalho vivoeram necessáriôs pam que os trabalhâdores pudessem viver e trâba-lhaÍ no dia seguinte o que, daí a alguns anos, seu filho pudesse tomar'o seu lugaÍ. Pojs bem, Íestes 150 anos, o avanço tecnoÌógico foi tãofabuloso, que foi possíveÌ pÍoporcionar à massa dos tBbalhadores, nospaíses mais adiantados, um padÍão d€ vida substancialme4te mèìhor,tendo baixado ao mesmo tempo a proporção de trabalho vivo dest!nâdo à reconstitujção da foÍça de trabalho no prodüto social. Marx,para medìÍ a pÍoporção em que o tÍabalho vivo se reparte entrc ca-pital variável (v) e mais-valia (mv), propôs o conceito de tarca ileexploração, dada pelo quocieÍrte mv/v. No exemplo acima, sendo y;gual â 1.200 milhões de horas ale tmbalho ê. m, igual a 800 milhões

800de horas, a taxa de exploÍação se a de -J00 = 0,67 oD 67qa.

Isso significa que, em média, a câda hora do trabalho produtivogasta para repÍoduzir a força de tmbalho cortespondem 40 m:nu:os@u fiqo de uma hoÍa) de trabalho "explorado", ou seja, eÍcedenteque toma a forma do mais-valja,

No início da jndustÍialização, devido ao prolongamento da jor-nada de tÍabalho, o aumento do trabalho socialmente necessário ex-traído dos rrabaÌhadores se fez predominantemente sob a lotma demaìs-rãlìa absoluta. D€poh (a paÍir dos meados do sécülo XIX) âtendência passou a ser aumentar a, maìs-va|ía relatba, isto é, usar oaumento da pÍodulividade para tomaÍ a dhtribìtição do valor gÕÍadoduÍante o ano cada vez majs favoÍável à maievalia, elevando o exce-dente, Isto não quer dizer que 1rão exislam, ajnda, casos em que seuse â geração de mais-vaÌja absoluta. Um exemplo é Hong-Kong.Hong-Kong é uma das mais novas €conomias industt ais do mundo;foj crjada pelos refugiados da Revoluçáo Chjresa e ali se trabaÌha,em médìa, 12 horas por dia, 7 dias por semana, 52 s€minas porâno. TrabâÌham-se todos os dias exceto 4 ou 5 feriados ÌeÌisiosos

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chinescs. A vântagem de Hong-Kong no mercado mundial é obvia'mente a geÍação de majs-vaÌia absoluta. Provavelmenle, depois d€algum tempo, com a melhoria tecnológica, Èmbém lá se daÍá o quese deu na Ìnglaterrâ, Fiança, Alemanha e no Bmsil, que é a utili-zacáo câda vez m€nor de horâs de tmbalho para produzir os elemenlosnecessáÍios para a Íeconstituiçáo da fotça de trâbaÌho, e, conseqüen-temente, sobra mais para o excedente.

Conseqüência: a mesma da teo a keynesiana. Isto é, o excc-denre sempre tende a crescer, Tanto Jìa teorìa ke)'ne\ianâ como nateoria marxìsta, a tendéncia do axcedente é sempre ser ma or. anoáfõs ano, põrque a fração do produto social pala Éconstituir afôria de tra6atho tonde a ser cada vez menoÌ. Ao contÍáÍio, noéíiãntó, da teoria keynèsiana, quidizia que o excedente não só cr€s-ce absolutamente mas cresce em proporção ao produto, Ì\4êIlCid4que o excedenle como ptopotçào do pÍoduto náo tende a crescer.porqw eiè supunha que o capital constante tenderia a crescer mui loma;s iapidamenLe que o l rat talho vivo (u mais Ì t tv). O que permitea geração da mais-valia relativa é o aumento da produlividade, gm-

çâs ao qual, cadâ vez menos horas de trabaìho são Fecessárias paracÍiar vestuárìo, aÌimentâção etc., para toda População trabâÌhadorâ.Ìsto se torna possível gÍaças a uma utilização câda vez mais jnt€n-

siva e extensiva do capital e porlanto a parcela do c tende a sercada vez malor. Em termos proporcionais, o excedente da economiacapilaÌista não deve crescer, ele cresce cm termos absolutos. Daqüe-lâs 2.000 horas de trabalho ânuais d€ câda tÍabalhãdor, o excedentetalvez fosse âpenas de 100 horas há 150 anos; depois passou a 200,500, 1.000 horas, pode ser até do 1.500. Porém, pata que isso fossepossível foi pÌecho usar uma quantidade de instaÌâções e máquirÌascada vez maior, como pÍoporção do produto.

Marx supunha que o excedente serja uma fraçáo do produto,que podeÍia ser decrescente. Marx semprc se t€feriu a isto comoa uma tendência histórica a longo prazo. Esta proposição marxista,de que a mais-valia é uma fração decrescente do pmduto, emboraaumente em t€rmos absolutos, não foi comProvada histoÍicamente,Há estudas recentes feitos por economistas ma.xistas, particular-mente pelo economista americano Gillúan, qìre mostra, com dadosestâtislicos, em relação aos EUA e à Grã-Bretanha, qüe a majs-vâÌia como propoÍção de todo o Produto se manteve a longo prazo.(100 ou 150 anos mais ou menos), constante, embora flutuasse,é claÍo. Mâs náo houve nenhuma tendência ao decréscimo Notempo de Marx não haviâ possiÌìilidade de comprovação empíricadessa lendência. Foi pÍeciso espeúr até teceDtemedte, paÍa que fos-

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-* ìï:':ï. j,:f,'#",:ïï"*:ff l:"ff :ïi:ï,,ïf ï lïï",154

1âÌismo monopoljsta: o capitalismo monopoÌhtâ é algo mah plane.jÀdo de rc da ?mprcso, o qre permite quì a revotução tecnoiogicaseja menos deslrur jra do que foi no passado. Schumpeter, que nàot€m nada de marxista, mas foi um homem que d€dicou tod; aten_ção ao processo de inovação tecnológicâ, c nhou a expressáo ..des-lruição cÍ iadora' para designâr o processo pelo qual 'a cada mo_mento em que a tecnologia dá um passo à frente ela Dão somentecria novas foÍmas de pmduçào como deírói as formas anrisas. Cadaìinovação tecnológica rende a âumentar o exc€denre. úrenr. uo Imermo tempo el imina Ìrma pÀae do capiral social por obsàlescència. /e_ hã. enrão. uma tendência à compensação. ou seja. o vigor do Iete.to tecnotógtco no se' Ì t ido de fazer crescer o excedeote ser ia ate- Inuado pelo aspecro de.rrur ivo, Numa economia bem monopol izada. lcomo é ã norre-americanâ. por exemplo, c não há dúvida aìsuma'que a f Ì rropa e.rá caminhando em drÍeção a um capirat i .mò lãomonôpo|| \ la quan'o o arÍ ìer icano. esta . .destruição cr iadora.. Í icdcada v€z m€nos necessária, porque o monoFilio, a gÍande empresa,o truste têú condições de esperar o momento mais propício parainiroduzjÍ a jnovação, isto é, quando o equipamdàtó que vaì selornar oõsolelo já eíá f is icamente desgaíado. Deste moìo. nào épfecìso Jogar Ìora mãquinas quase novas porque se cr iaram má-quÌnas melhores. Daì \e ver i Í icar a aftntu1ção de uma lendéncia,que nâ veÌdade é de toda a hhtória do capitalismo: a de que oexcedente virtüal tende realmente a crescer,. ar"l!. ao excedente õ poste oi, real, dado pela poupança,jsso também. é veÍdadeiro pelo menos em c€rta medida. A;ropo_sição keynesiana.está se verjficando, as taxas de poupança nós paises capitalistas têm crescido quase sempre quando eites países nãose €ncontram €m gueÍra, A gu€rra tem sido geralmente o gÍandemelo. de redu/ìr o excedenÍe. A guerra. do ponro de rÀra keyne, ia_no. é uma forma de redução do ercedenre medianle o inue.r imenrodestrutivo, um investimento que não aumenta a capacidade pro-dutiva da economia. O excededle dado pela poupança, excedàntereal, tem üma tendêícia imanente para o aumento, que é perma_nentemente anulado peÌas contínuas gueÍas em que as maioÌespotêncjas imperialistas têm-se eÍvolvido, como fruto do próprio im_perjaÌismo, nos últimos 20 ou 30 ânos.

Convém consideia. ainda que uma forma jgualmente eficientede reduzìr o excedefiie (poÌrpança) é o gâsto €m armamgntos. mes_mo que eçtes não sejam utjlizados em gueüasr o estado leduz âsÍ.endas.das Jamílias e emptesas aumentam os impostos, o quediminui mah do que proporcionâlmente (como se viÜ) a propèn-

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são a poupaÌ; com os recu$os assim aüecadaalos, comDÍam-se aí_m?mentos ou se Í inanciam \, , ragens interplanerár:as. o qi , . or. ; . i i ._Í l ] rza enquanlo e\cedente. pois armamenros ou fogueìes náo ser_:.^-'1-

p1*,-:u11.." *l o pÍduro íou a rendar no peiiodo seguinrt.rerÌa.murto dtlerente se o goveÍno üsasse os recurJos arrecadadosl i ' " - l ] l l l "" | . rnvesrimenro_s produLivos _ para conÍruir ,por exem_pio,eslrddas_ou represas, como conseqüéncia. no periodo seauinLeo proqulo le renda) cresceriam ainda mais, o que levaria -a

umcresclmenlo mais que proporcional do excedenre.-Como o caojtà_rì lmo nâo suporta um eÌcedenle . .ercessi to. {como ainda se v; Íá, .guerral e corr idas armameoti t tas parecrm ser f" , .*

" ì ." . i . ; ì .susrenraçao da prosperidade nos paí\e( capilalisras adidntado,.

QUÀRTÃ ÀULÀ

ACUMULAçÃO DE CAPITAL

Áo estudaÍ a acumulação de capital, vamos verificar o funcio-namento geral do mecanismo de crescimento e de cÍis€ do shtema

q acDmulaçáo de capirâl é o processo pelo qual uma parte doe.xcedente econômico e cof lvert ida em no!o caDital , Isto é a essència.daqui lo que úamamos de . .acumutaçào do iapiral" . . paÍâ a qualna s.nonrmos lmpeÍleiLos tra l i tefatura econômica, tai i como, ;nves-Írmento ]íquido e formação Íqüida de capital. Vamos ver aaoraconlo.o excedenle económico é ÌransÍormado. em parte, em novocapital e que vai se

"ãmãr ao esroque de capilal qìe a sociedadeC9.sqjrn!lg4!o alua capaõiããde de pr-oduçao. rsro quer Oizerqu€ o eteÌLo da acumutação de capi lal e sempre aumenlaÍ a capa_croade de produzrÍ. Uma parte do produto social tomâ a formarÉica de meios de vida de mais trabalhadores e outra.de máoui-nas. de marérjas-primas, iníalações, pÍédios e que vão si somar'aoequrpamento produtivo já exhteDte. Desta maneira se amplja a po_tênciâ produtiva, o qüe permite aumentar o nível do produçáo noperiodo seguinte, Ìnteressa sabea cono esse processq 4JacumuÌaçãode-,.3f!3!x _94._qyis sao os faiõÃ-que o conorcnnam, que oaqereEg ou o retem. em djÍerenles condições.. vamos começar, denLro da sjstemÍitica adotada, com a abor_

d,agem marginalisÌâ majs moderna, que é aqueta ;;. ;.";.;;'.^€ynes.

Inlet,zmente não hd Ìempo de se fazer um hisLórico em_lomlco a respetto dcste assunto, e âssjm vamos nos füar no que é,conÌemporaneamente, a teoria aceita pela economia acadêmicj ocì_-dental.

, Á abordagem marginalista sempre parte da ação individuale oe sua motivação subj€tiva. Então, o problema se coÌoca assim:o que taz com que os indivíduos apliqu€m a sua poupança em

Page 29: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

é,em última análise,a pe pectiva de refldimento de um novo inves-

timento. Dai a palavú m(vginaL pois ele eÍá focâljzando um acÉs_cjmo ao estoque de caPital já exhtente. Todo investimento capita-ljsta (pelo menos no selor privado da ecoromia) é propríedade pri'

ìddd. Esta propriedade Privada dá um Íendimento, que é a mais-vâlia distrib;ida entre os prgpdetários individuais deste capjtal (já

descontada a parte qìle vai sob a forma de imposlos, aluguel etc'para outros elemenlos improdutivos da sociedade) O que interessa

lara explicar a acumulação d€ capital não é o rendimento do inves-

timeÍÌto passado) mâs o rcndim€nto provável do acréscimo a esto

investimento.

€lementos produtìvos? Supôe-se qÌìe o somatório das ações individuais deva dar a acumuìação de toda a economja

o que Íg!e( di7ìa é que o Ì.llrn9jllgrngElaoj9_Jq!'tildeoende de dois talores: da eltciencú marStnol do captÍat e aa

tãìZíjìõsõ@-ele châmou de eficjêncja marginal do capital

âlguém emprêsta a uma grande ìnsriluição bâncá.ia que é garân-tjda pelo Banco Central, o risco é ilrjsório, é praticamente zero.

Segundo Keynes, o jnvestidoÍ, o acumuÌador de capital, çom-pâ-â a ef icré1cia marginàl do capiral (a renda esperâda do inves-' imen'o adicional, com â laxa de juÍos que não imporlr t emi-scor.çgjslrggE:9iTlr'c9{9r r,"9-s."-&o captdÌr \ la 'a7 a si oÍóprio. I :Como se eÌe emprestasse dinheìroà sua pÍópÍia empresa e ele sabe quais são os Íiscos que co[e,se a empresa é capaz, realmente, de ir paÍa frente, ou se €la podesoçobrar no camirÌho. Em parte,o empresário tÉbalha tambémcom capital alheio. PoÍ este capital alhejo eÌe t€m que pagâr juros.Em qualqueÍ üma das düas hipóteses, trabalhando com capitaÌ pró-píio ou alheio, ele só vai fazer o jnvestimento se a eficiência maÍ-ginal do capitaÌ fot supeior à taxa de juros. A eficiência maÌginaldo capital é sempre uma estìmativa subjetìva, é algo que o inves-tidor espera em flÌnção das informações que tem, que sempresão parcas e insul ic ieares para rer cerLeza. pois ele vai rrabalharnum mercado cujo comportamento rlão pode prcvet com segu-rança. EIe só vai se decidiÍ a fazer o inveÍimentol se aquilo quepode espeÍar de rendjmento for maior que a taxa de juros v!gente. Isso por doh motivos: em primeiro lugar, se o empÍesádotoma djnheiro emprestado, a taxa de juros que ele vai ter quepagar é.Ijxada por contrato. Não tem sentido lomar dinheiro. â 6qoâo ano, se esta for a taxa de juros, espemndo timr 6qo de lucrod€ste capìtal. Porque assjm, o empresário não vai ganhar nada,toda mais-Ìalia gerada por esse investimento vai ficar rÌo bolso doemprestador. Em segundo lugar, se ele estiver trabalhando com os€Ìr próprio câpital, tâmbém não faz sentido, porque é muiro maisseguro para ele entrcgar dlnheiro a 64o de juros a umâ instituiçãofinanceira que praticamente não oferece rjscos, do qu9 investi-Ìocom os riscos ínerentes a qualquer negócio,

Segundo Keynes ainda, a eficiênciâ marginal do capitaÌ vaidecrescendo na medida em que os inveslimentos vão sendo feitos,como resuÌtâdo dâ lei dos rendìmentos .lecrescentes. Como foi visto,a lei dos rendjmentos decÍesceltes af€ta todos os fâtores de pto-duçìo. Ela afera nào só o rrabalho. ma\ rambem o capj lat . Namedida em que mais capital vaì sendo investido, os rendimentosque se pode obter deste capital vão decrescendo, Então, chega necos-sa amenle o momenlo em que a eficiência marginaÌ do capitalcai ao nível da taxa de juros. Aí o investimento cessâ. Exhte. Dor-tanLo. uma cerla quanridade de i Í lvest imento. ou seja. uma cir taacumulâção de capital quc é pté-determjnada pelo sjstema. Este vo-

Quando um capitalista Ésolve ampliaÍ a sua fábÍica, cons-

tÌuir uma usina, abrir uma âgência de ttancq construlr uma novafazenda ou ampliar a fâzenda que tem, ele age em função de uma

expeciativa de rendimento que este novo iDvestimento vai lhe pro-

DoÍcjonaÍ dali em diante. O capitâüsta é semPÍe encaÍado como

ã ina;uiauo racional que age com um allo $nso de oPortünidâde'Ele só vai investir em alguma coisa oÍodutiva se o req4imedo-dsi

"ineìãdo for supãiìôr à taxa d€ iuros maìs baixâ €xistelle no moÍ_

. íaquela que é tótalmenrã isentad@ emPléslrmo.çIndìÏÍ:err_iÌõ a alElãín. E o i-uro Tãiú evidentemente de acordo como-ãu ãë-ïisco-ué o empÍéstimo imPlica. Se empresto dinheiroa un banco ou a uma companhia de seguros (se algúém faz umse$rro de vida, está emprestando dinhejro à companhia de segutosqJc vai devolvêìo quando o sêguÍado molÍel ou elìlão, ao cabo deu. certo oruro, com juros), o bâDco ou a companhia de segutosoodem falit. Se isco aconÌecer, o dìnheiro pâgo sob a forma deãeúsito no banco ou de pÌêmio à companhia de seguros se pet-

deu. Assim, qualqüer empréstimo imPlica um ce o risco. Esterjsco varia muito e os juros variam em proporção aos liscos Sealguém empresta dinhgiro a cürto püzo a um comelciante em difi_

""ìaua"r,pôa" cobtar juros de atê 5qo ao mês. São iuros absurda_

mente altos, porém o dsco também é muito grande: se o homemestá em difìcìrldades, pode ser que o empÉstimo o salve' mas pode

sgr tambóm que ele afunde e o c*doÍ vá iuÍrto. Âo pesso que se

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ì:ii",:i,:ï,1".ï'ï'[1",:,,::ï.###;"'ï duas ]eis objerivas e uÌÌì

::il:i"ï" ":.,:ïï:ï;"rur::"r.,:iïii,ïï:' "{xf*!: l::l"ì:,ïf:ï'Ï.""'r?'i;i:;ï;;Jï ;'n""

subjetivo rundarnen'

;:u:, xïi:rr-'*'ff ï"r.trrïfi1ï$:'j*itï *ru'do \e| o) 'ado de eÀpecral iva, na expres\ào de Ke)nes.

1ffitï'i" i","::ï'i,.1:l':iliJilï"':".ii,",,::iJ#'#Ë:Hï*'ï:ïi,Ì:;,:ï;.'; 'on"'o o' oens ae con

iíi,ïËtT.'ìí',:"',ïïi,#if ï;ï*"'"{"ïïl:1ï:ï':ifiïi".i'.Ïl?3iï .'.i,1,Ì:: i""ii:i^ïï:rï

por sua vez dim€nsionada

íiïrïi.Trï"+"'iïtr,Iiïi*hïjï.;i#rü1i'i:,úïË'\dLr ,,d. m ,oa que vendem

"** J;iï";"::;;;ij i:i?,ï:qaoe-produtr\a vai depender da propensão para cõíff i ,r . Eviaenre_Ìnemè _o iacr-ocìnio acima está -sim ptificajo. p";.

"ì" ."*ià.r" ï

?1.11ã" j. m€ios de produção .,lo uso e produz.r mxh neio.

i;";:Ël"l;íï',,ïllii,j:,::",i;'á.[ïlï;,':ï::, ]1". :ï jïï,,ï;ïïi.""ï.ï.ilff i""oi:oï",ïïi.Ï";";:l; ï:; iïJ,:::ï"1ï,#;: ;"ì: ;::ïï"ï: ;:e ïi5.iïïË, ;"il:i,,i"i,'ili, ;:::ï ';J:l,'1ï, ï:,;:ïi::'È,ì:I,Ëiï; .'"K',Íï ï:-::::;,.:"""'ïïïição l€ynesiana. que podem ser acumutados. O. S09r' i,ã.

-J.Íj.ío rncenrÌvo ao jnvesl imenlo. O. empresários que \ ,ào jnvesl i r rémuma Í 'erspecrla de vender or seus produtos a delerminâdo nirel deprcços e saDem o s€u nivel de cuslos. A diÍeÍença entre cusros epreços é que vai dar a et ic iênciâ do seu capi lal pani.utar. Oüvla_ment€,,se.eÌ€s âcham que a olela adicional de mercaaoria, ããcìÈ

:: T.,c-:l de Ìucro seÍá pelo menos manrjda, senão aunenlâda*

-encarado como o somatório de ,? alos individuais <ìe' invesrimentoc"19, _"_i' l i : j l raz o çeu cahuro. rendo eÌL \i\ra

" a","".,t" p.ü.

scus prodL o.. 5e d empresa for. por exemplo. ,ma e.rraaá aeÍerro. eta. ioz o seu plano de in\est j íncnto: compfdr -nâ;s vdqóejuu não? É preci .o saber se havera."rgu prr, , . r ' , , r ì , ; i " l r ï .eÍes,r3goe:. L5td carga vai depender, em ulr ima,.náÍte. da dc_manda d€ consumo, Se o estudo da demanda de carga para estaferÌovia mostÍar que é vjável colocar mais - turt"r,, -r"j0.., qr"eles terão carga suficienie úo somente paü cobrjr seus iustãs:deoperação e a 'ua amorr i , ,açào. mas que rambdm

"ao a". , . , . ._

:,T_:il_:.I-rl:' que a Ìa\a de juros. enrào compram_5e os \asòe.,

:- l l : : t ' ]1* 'g è lerro^e LoÍnã+e uma parceta da acumutaçal ao

ruióï.ËJ':"t"."-cqr'#ffi #ììËì1,ï1"'.rï,1;11,ï jJ,:l+j+E+::lg+.e*ru{dagra o cdtcuro dos capiraìi,ras que rãorazel o tnvçsÌrmenle. Desta maneira, a propensao a consumir t ;mira.re oelne perteÌtamente a acumulação do capi lâl e uo n . . ro r ._oo i l

;::,ï: ï,ï:H1"" ::ï.",i',ï"ïïï ï"iïi"ï',lil;.'l ::'l"'Jfr?:'mos quâÌ é a taxa dê jures, poderemos, colocanrto as devidaseqlraçoes num computador, saber qual é a quantidade pÌovável de

i;Ïf;r"-, ou seja, qual a raxa dã investim'ento. q;; ;;i ;;;;

, Is.o náo sign ica. pordm, que /orla pggpança e \empre inver_:ro::-o.1Ì:

aconrece, por exempto. sa h;Ì ,"er u;a aÌr" p,oprnsão

:-rT"rgïï,"iiï'J"ï"iï,tf "ïi#i,"*ïra:;ï;,:y?"1:,4: :!,.iq 9-ws 4+sila a eÍicióncia Íargildr do *pii"i, nr,.exrcre um pequeno excedente. pois-a poupancà e reduridá. Ha\eráumd rendenc,a. en.ro. { ruperàcunuìàçü.

"" *r".-à, üpi,"ì i ì"ï

l1: l lnl:r jnves:,r ba.ranri.Tóiìn-.Ìres esrao em iondrçocr ae ven_

:: l _":!,11. â bon, prcço\.porem o excedenLe sociar serrdo n;o:'aÌ.eïmìjrr que jsro se reâlize.,O excedente se.a ;n"utiLient" iu"e

ãì.=urr*t"*t*uq $:s éàpiiãlisrãs o qu" 'ur ;";nì"1"''ã

fsf' Gìá cons€qüôncja de um aumerTlIla eÍe r ;va.íque cre.ce devido à elevada p16p..n5;. a consumir) . , r" a.""nlà

Ít Ì te do invesÌ imenlo (o recido a mais. tâbr icado com;;;""* ì ;res, por eÃempÌõ) vài lq?ql com que bu,xen os preços. tazendoãi+ì"údË".Ë;#-ËqËi "1ï'#í;::3ï lJ':ï i:íïi:a expecrarìva tor de que a oferta ãdicional \di sar istazer umaprocura adicional, de modo que os pÍeços não vao precisar baiiãi

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6l

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por bens de produção (que cÍ€sce devido ao desejo dos emprcsá-dos do acumulaÍ muito). A demanda efetiva disDara na fteDte daofefla gìobal de bens e seÍviços, o que acarretâ a el€vaçào dospreços. EÍa elevaçào de preços vai fazer com que o volume de Imeios de pagamento, composto não só lror dirheiro, mas também Ì\peÌos deúsitos bancários, seja jnsuficiente Íace à demanda porJ

_Haverá enrão @j!!a3!t-."'umâ supõe uma WljJjla !!9:nerarra neutrq, quo seÍâ a de pqfmitir qtue a taxa de juros auJtreotec3Íng lggrlls_S nr9!9rlt_e.;anda di dinheiÍo. Esrã etevaçáo daraxa qe Juros vat cortar a acumÌrlâção de capiLal. já que esla é

possíveis: ou se permite à taxa de juÍos subir e eliminar assim aacumulação que não é viável, ou se mantém a taxa do juros baixa,o crédito abundant€, emitindo dinheiro de úodo que auÍreute oníveÌ de preços, do qÌre resulta uma Édistribuição regressiva daÍenda, com a conseqüente queda da propensão a consumir, o quefaz aumenlar o ercedenle e a acìrmulação seÍá eÍÌão maior do que

-,_no pÍimeiÍo caso. AZ-Vamos supor agora o contrário, ou seja, uma situaçáo de !4lxa

p_!gp9!gq a coffulnir, devido ou ã distribuìção muito desiguaì daÍerÌda ou âo alto nível desta renda que faz cúm que uma grandepropoÍção dela não seja consumida. Então, haverá uma boa partedo produto que não será consumida, mas também não será acumu-lada, pois a baixa demanda por bens de consumo desestimüla ojnvestimento. q,9êp!4E!e!_!e!-I19_!9ll$g!Ilq pqr3-3s!Le4rs!a sua caDacidade DÍodutìva se o consumo não está aumentando.ParLe da renda seÍá poupada, mas o excedente não será acumulado.Ele seú entesourado, ou sej'a, as pessoâs manterão aquela parte doseu rendimento, que não consumirem, sob a foüÍa de dinleiro,sem tran.ÍormáJo em bens Í€ais. O eltesoummento Dode ser foito 'diretamente pelos poupadoreç ou estes podem deçnsitàr seu dinhei- llro em instituições financeiÍas, sem que estas eÍrcontrem empreú- llrios dispostos a tomar estes recuÍsos emplestâdos pam acÌrmulá-los. lr

Sendd €.rrc€deútê-!ãp totalmente acumulado, hâvetá uma teÍr-dência à subacumulação. )Conseqüentemente uma pârte da rendanão se trâ i.nanda efetiva, o que faÍá com que

diDheirc.

sempre o resultado da comparação entre a eficiência maÍsirÌal docapjtal e a taxa de juÍos vjgeole no momenro. Suponbamos que aeficiência marginal do capìtal seja de 8qo âo âno, jsto é. oJ em-presários esperâm que o rlovo investimedto lhes dê uma renda detlo ao ano e vamos supor que a taxa de juros fosse noste mo-mento de 59o, Neste caso os empreúrios tendeÍìam a acumular atéqüe a efìciência marginal do capital caíss€ ao nível de 5qo. Masse o .oxcedente for insufìcientg, se não houve ecursos fisicos paraeste iüvestimento, haverá elevação de pr€ços, maror escassez alem€rcs oe pagam€nto, o que podeÍó fazü com que â taxa de jurossuba â 8olo. o que vâi impedir quô a acumulação oÍoisisa. Enlio ,a acumulação verdadeira, real . será aquela que a poupança permi_,1.l l r , ou seJâ, aqueÌa parÌe do produto social que não tenha r idoì lconsumida. pois ela não pode ir atém dhso. E é a elevacao aa ìltaxa de juros o mecaDismo que impede que a sociedade teni" umu 'acumulação que é fisicamente invjável.

preços baixem. pois haverá mais meÍcadorias pÍoduz:das do queáqGiãi_-s que seraà vendidas. IÈcoÍrq-.Caí a típicà siruação de crisecapitalhta, caracteÌizada por\deflaçãoJ

A queda de preços, sem.'.iÌÍIeírata Íedução d€ custos, tomaìrma série de opeÍações produtivas não rcntáveis, o que leva a que

'lão sejam pÌosseguidas. Algumas empresas reduziÌão suas ativida-

des, eliminando as que dão prejuízo, ao passo qug outms setãoobrigadas a fechar inteimmente as poÍas. No conjunto, haveúuma queda no níveÌ de atividad€s e, pottaÍrto, uma redução doproduto. Este cairá até üm ponÍo em que a propensão a consumir ì[\volÍe a ser suficiente para permitir â acumulação de capital, por llìcomo vimos na aula passada, uma diminuição da renda sernprc acar- lììreta uma diminuição menos que proporcjonal do consumo e, por- Itanlo. um aumenlo da propetrsão a consullit--eorÌÌo--3e--14-nestecaso o equilibrio é atiDgido medjante urfií queda na Droducãõ.

No que se relere à repanição. xelt-cs-paìiatrio-eã ãã qucnuma sociedad€ i[dustrial modema, o poder dos sìndicatos é su-

A o&e_-p9$jU!!!4ge e o sglglq_qulriplicaÌ os meios depecgtf"lg_S_qf tt!,-Er!g eerar uma cena Gflãçao. síããovãinorrzer ìsso. d,z Keynes. e ao mesmo tempo não aumentar os salá_nos, o que âcontece é que ele vai traDsformar consumo em pou_pança. quer dizer. vai reduziÍ o poder aquisitivo da grande mãssada popuìação e Íedistribuir a renda â favo! dos mais ricos contrâos mais pobÍes, e como são os licos_ .lle poupam mars (comovrmosr âumentará a chamada*qlzgrça /orçadaì Assim aumenla ovorume do excedente, reeqüilibrando DõìIã.rÍçf,ío desejo de acumu_lar, ( onseq úen teme nre. baverá uma acumulaçào de capital major,porque vai âum€ntar o excedente atEvés d; uma politica.lnflaicionji!iaÌ-Ê\

\R$:AÌn9 na hipóres€.de uma atla propensão para o con_sumo e um-excedenle pequeDo, há uma tendència de a acumula_ção ultrapassar os limites do possível. Daí ocoüem duas saídas

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fjcì€nte para pÍeseúar os salâÍjos nominaìs dos trabathadores. Ossjndicatos nem sempre têm conaljções de forçar a manutenção oüo aumento dos saÌáÍios /sdrs, ou seja, cada v€z que numentam osprôços, nem sempre os sjndicatos fazem gÍeve para oblenção ime- \diata de âumento dos saládos. Mas, tâmbém, i" os p."çó, .u".n, Ios patrões não têm condições de jmed:atamente reduzir os salárjos Ì'nomjnais. No caso de haver deflâção, a manutenção dos salários Inominais faz com que os salários reah cresçam em detÍjmento .los /Ìucros, e como os assalariados soem ter m;jor propensáo a consu_ Imir. eda âumenra em toda economia. i rcremenran,to a er i iônciamargjndl do cap;tdÌ. Derta maneira,a acumulaçào \olLd o se rornâ(viável o chega'se a_uma nova siruação de eoui l ibr io.

. O que a anáÌise de Keynes lenta mostrar é que o sjslemácapitaÌlsÌa possui um mecanjsmo bâslante comDlexo. Dorém bemÍler, i \e l , funcionando sobrerudo atravd. do meriado de capirais edas iÌrstjtuições financeiras, que faz com que nunca a acumulaçãoseia por mul'to tempo diferente do excedente. No finaÌ, o excede;teacaba semDre sendo acumìrlado. Para se alcançar o equilibrio, eais-tem duas alternativas muito dif€rentes: 1 o excedente comeca Dorser inruÍ ic iente e,nesle caso.ou a elevaçáo da raxa de juros-ajusraa acumulação à disponibiÌidade de excedente ou a inflação faz comque o e)rcedenre ar inja o tamanho requerido e 2. ò exceJenrecomeça por ser exc€ssivo e Ìreste caso a cÍise leva à sua diminuicão-ao mesmo tempo que a red:slr ibuiçào progre., iva da renda. prãro_cada peÌa deflação, age no mesmo sentido. As corteções Dodem ser.evidentemenle. do, dois lados. A propensáo a conìumii e a pro-pensáo a poupar, embora determjnadas por uma lei psicológicageraÌ, são condicionadas pelo ptocesso de acumulçaão de caDital.Na pr imeira . i ruaçào, quando hâ excesco de consumo, IeuanJo aum excesso de vontade de acumular e o excedente é insuficiente.o nr\el de aLividade, pode.ubir ao máximo quàndo se cr ia umasítuaçao inllacíontuia. Na segunda siluaçáo, peto cortrárjo, há umexcesso de poupança, uma jnsuficiêncja de consumo. o nilel derenda da sociedade rende a bdì iar e enconrrar o equ;t ibr o nìrmponto infe or ao ponto d€ partjda.

De um lâdo. Lemos cre\cinento económico, do ourro,decÍcsci .mo de al iv idade econômica. Diz Keynes que o ponro de eqri t ibr ioe Inuerermìnavel em pr,ncipio. reor icam€nle nào se pode diTer quaLé o ponto em que a acumulação efetivamente Ieiti vai essotai oexcedenle, le ja aumentando ou redu,/ indo o excedenle. s; ia au,menrdndo ou diminuindo o incent ivo â acumular. euando o-ponlode equiÌibrio vai mudaÌ, ninguém sabe e é por isso que não se pode.

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I como os seus pÍedecessor€s mârginalista3 tinham diLo. postulara iaeia quç.-o- efriliúÈluma sociedade câpitalistâ rempre se dáao nivel dQ pleno enpregl. Pelo contráÍio, e perÍeiÌament€ possi-vel cncontÍìÌ--o-lqljl{írio muito abaüo do plcno cmprcgo.Podg, portatrto, haver üma situação em quê realmente se Íedlrzo excedente ao níveÌ possível de acümulação, mas que implique emque 5qo, 6qa ou l09o das pessoas que qu€iram trabalhar !ão en_contÍom lugar na divisão social do tÉbaìho.

K€ynes conclÌri, po anto, que apenas uma âdequada políticaeconômica pode fazer com que este ponto de eqüilíbÍio seja coin-cidente com o grau de pÌeno emprego deseiado. O ponto dc equi-líbrio entÌe acumulação e exc€dente (se a sociedade fot dêixadalivre, se o gov€Íno se mantém como um árbitro neutÍo, que so_menle faz resixitar as regra5 do jogo sem iDleÍfeíir no própriojogo) pode-se dar, e ele afirma que lende

^ se dâr, na medida em

que a rcnda sobe e a propedsão a poupar também vai aumen-tando, a um nivel Merior ao pleno empreSo. As sociedades capi_ .Ìtalhtas, quarìto mais prósperas, tanto mais tendern à depÌessão. il\Cabe pois ao governo, mediante a tedução da tata do jutos e uúa Ì \políticê detibedadamente idÌaciorÌáÍia, irnpedir que esta tendência \ \se rcaÌize.

Foi a pârtiÍ de Keynes, efetivamente, que a política econômicada maior, paÍte dos países capitalfulas passou ô incorporar, comoum dos séus objetivos f\ndameatais, o pleno emüego. Hok a fiaiotparte dos .goveÍnos cÂpitalistas tem lodo um afienal de medidâsde política econôÍica, pam tentar, pelo menos, impedir que oponto de equiÌíbdo entre erc€dente e acumulação do capital se dênuma situação de desemprego. Mas, o ônus pago por tal Política éuma certa inflação. Para foÍçar a elevação do nível de acumulação,o goveÍno lança mão de medidas que geúlmente tendem a s€rinflacionárias. o sistemâ,no entanto,não comporta inJlação infinita. As €conomias cÂpitalistâs funcionam, dependendo de sua eslru_tuÍa social e políticâ, com inllações de 2,3, 4oh ao ano, mas urnainflação de 20 ou 30qo iende a sê acelerar e toÌrìar-se,a longo prazqinvjáveÌ. A poütica in-flacionária, que Keynes sugere, para sê man-ter o ritmo de acumulaÉo prórimo do pleno emPlego, tende aforçar a adoção de uma política oposla, quando o trível d!inflação pass a ser perigoso. Então, o goveüo passa doliberada-mente a reduziÍ a demaÍrd efetiva, a rcduziÍ a plopensão a con-sumir e com isto gera ceío desemprego para re€quilibrar moneta-damente a economia. Bquematicamente, é este a forma que ascrjses cíclicas âssumiram depois de 1930.

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Vamos, agora. tÍaLâr da análise mârxista da acumuÌação decapira I. A â nãl ise m arxisra c 6Éoì-á-ìãsu-liãÌlõl-i"tõEõiãúíõ àsusc-er ib ' l idade do capiLat ismo ài cr ises,e parte dos leórìcos mar-xistas usa o jnslrumental analítico keynesiano paÍa ânálhe daconlunluÍa a curto prazo.

Marx, em O Capial, supõe um capitalismo €m que há muitosconcorrentes em câda râmo d€ pÌoduçáo e que nenhum deles étão grande que possa sozinho determinar o nivel de preços do mer-cado em que atua. A definição do que é um meÍcado coÍrcorreÌr-ciaÌ pode se. resumida assim: uma situação, nunÌ ramo qualqueÍda produçáo (de tecidos, relógios, livros etc.) em que nenhum dosparticipantes. nenhum dos produtores ou compradorcs teÌn capa-cidade de sozinho determinar o pÍeço, Neíe caso, cada um sesubmete ao preço do mercado, pois se alguém tentar cobrar umpreço maior do que os concorrentes, não vende nada; se alguémcobrar o preço do mercado, vend€ tudo; e se alguém vender a me-nor, também vende quanto quer, mas ganha menos do que poderia,o que seria jrracional. O pressuposto de Marx. que correspondjamais oÌr menos â realidade da época em que viveu, foi a d€ ümsistema comPetitivo,

Dizia ele que,num sistema dessa espécie, o jmpuho a acumulaÍé dec:sivo, oìr seja, o capitalista usa a Íais-valia para âcumularporque a luta pela sobrevivência num sisíema competitivo força-oa isso. Aquele que Íráo cresce, que náo amplia sua empresâ, tendea desapârecer. Vamos veÍ na próxima aula como Marx Feviu queo caráter comp€tilivo do capitalismo iria desapareceÍ, que haviaforças que tendiam a eliminálo. Mas no ÉJerente à acumulaçãocoÍsiderou o câpitaÌismo em sua fase concorenciaì, Süpunha queo estímulo a acumulaÍ provinha sobretudo da concorrêÍrcia. Qu€mnão acompanha o Ìitmo de crescimento da economia (e ao acom-panháìo gera este tmo ao mesmo tempo) tende a ser elimiÍrado.Há uma compuÌsão a acumulaÍ que é tremenda.

Para Marx, o limite da acumulação é atingido quando o exér-cito industÍial da leserva, ou seia, o conjunto dos desempÌegados,passa a sei jncoÍpoÌado à economia. Todo o sistema capitalhta ten-de a ter uma parte da sua força de trabalho desemprêgada ousubempregada. Quando a acumulação se aceÌera, um número cadavez maior de empregos vai sendo cnado e csses empÌegos võodando ocupação ao exército de rcsefla, Chega o momento em quenão há mah Íeserva de força de tÍabalho, ou seja, uma situaçãode "pleno emprego", na frâseologia ke]'Íresiana. Neste momento ossalários tendem a subir, pois o poder de bârganha dos tÍabalhade

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res aumenta muito e eles têm condições de obtel aumentos daqueÌapa e do produto soc'al que Íeconstitui a süa Ïorça de írabalho.Aumentando o prcduto necessário reduz-se a mais_vâlia, ou seja,reduz-se o cxcedente social. Reduándo-se o.ercedente social, d acurÌlu_lação tende a parar. MaÍx tem uma fmse que é inteìramerte aná'loga ao conceito de "eficiência marginâl do capital" de Keynes: oestimulo a acumular é sufocado quando as persPectivas de lucrofuturo vão sendo cada vez menores Os própÍios capitalistas per-cebem qne, na medida em que vão aumontando sìra capacidadôdo pÍoduzir, eles têm que pagaÍ salários mais altos porque começaa escasseaÍ mão-de-obra e pagaldo saÌários mais altos os seus lìl-cros vão ser menores. Então, eles passam a se desìnteressar emacumular mais.

Também para MaÍx, chegâ-se a um equilíbÍio enlre o exce-dente g€rado e â tendência â acumulálo, que é dado, fundamen_talmente, pelo volume do produto necessáio, do câpital variável'qu€ é a contÍapaÍida do próprio excedente. Só que MaÍx vai além

ó6m oor máquinas, passam a ser âltamente rendosas. porque ossarartuosesÍõi@sío-sõnììfo-dõ G --st€nder a capacidâde produtiva, mas de aprofün_dála, oü seja, de müdar a tecÍrologia e âümentar a prcdutividadedo trabalho e de, porLanto. novamenle gerar desemprego. q're. nestecaso, é o chamado "desemprego tecnológico" Marx exPÌica aacumulação de capital como sendo um mecanismo que gera umâextensão da capacidade produtiva até o Domento em que o exércÍoindustrial de r€serva se esgota e a paíil daí ele ter'de a aptulundata capacjdade produlila. Com islo so volta a reconstituiÍ o exéÍcito\industrial d€ reseÍva. Depois que as üovaçõer lecnoÌógicas que Ilevam a poupar mão-de-obm e usar mais capital, já se impuseram' Ìhá uma noü opo unidade de estender a capacidade ptodutiva e I

Âsslm sucesslvamente.A Dassaeem dâ acuÍDulaçào "extensiva" para a acumuÌação

"inÌensiva" é marcada Dela cÍise. Na medicla em que a acumuia-

çaõ- txtensiva" vai levando à diminuição dos lucros, ela cessa, ademanda por bens de produçáo cai e a economia gntrâ em crise,verificando+e queda no nível de produção e de empÌego. Só depoisque a crise atinge seu ponto mais baixo e s€ prolonga na deprcssãoé que a acumulaçào _inteDriva' começa. A acumulação " intensiva"loÍ;a parte dor equipamentos obsoteros, impoÍIdo sua srìbstituição.

e diz: A oart i r do momenlo em que a economia se qoroxima dopleno emoÍeso. as inovações t4n9!9glq9! l!a.:!9!!4!!I 49911

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o que jntensifjca a acumulação e leva a economia novamente a

Esta anáÌise é indtlbitaveÌmente vefdadeira e explica o cres-cim€nto a longo pÍazo do sistema capitalisla. Ela expüca poÍ qu€o sistema capitalislâ geralmenie não tende a caiÍ nem em depres-são crônìcÈ nem te[de a um crescimento infinitamente aceÌerado.Há um cerro r i lmo de acumulacão de caDiral . que é dado.em úl-t ima analrse. oela ooDu,acao exDrorâver e Dela Ìecnorosìa otsoonlvele poLenc.almenle olsponlvel , l r to e. pelas lnovaçoes que eslao nagãvêG-e-qG passami s€r-utilizadas no momento em quo elas setornam €conomicâmente interessantes.

Mas onde é que entra a demanda efetiva? Em que medida oscapitâlistâs podem investir e aumentâr a capâcidade produtiva?Isto e assencial : a caDacidade Drodut iva aumenlâ cada \ez ouend urì Inveslimenlo. Um InvestìmenÌo so sl lqalllj- jq q4]f!_ll!çtQlespcrados (a cl lc ièncra margrnal do câoúal) na medida em oue ospÌ6ãú6s. gerados pela noui capaciaade de oõãì7irllãõ-uËíãiiãíSanão se vendem os produlo' . ,e eìe, Í icam estocados, a mais-val ianão se realiza, eÌa não se tÍansforma em dinheiro que pode sergasto pelo capitâlista para o seu consumo, ou para pagar os jmpos-tos,ou pam s€r novam€nte acumuÌâdo. Uma coldição essencjaÌ aofunc;onamento do sjstema capitalista é esta metamorfose do pro-dulo social: ele tem que ser, de cadâ vez, trânsformado em valoresde uso, em produto material,e este produto materiâl tem que setvendido o transformado em dinheho, pala que então, em sua for-m monetáriâ, o câpital possa ser novamente acumulado, hto é,tÍânsfoÍmado em nolos bens (físicos) de produção. A demaldacfetivâ é certamedte um elemeÌrto que condiciona o processo deacrìmuÌação.

É cÌaÍo que há uma falta de demanda efeliva quando o€sgotanìenlo do exCrcìto rndusLrial de reser\a c a elevacão de saìá-nor começàm a ateÌar a Ìâxa oe lucro. Iâ7enoo com oue o rr tmode acumulaçao drmrnua. Uma parre dos t ,ens de produção e Iam-5dm de bens de consumo que serìdm comprados, tendo em r i5Laumplíar a r{od]o.çío (os bens de consurno seriam adquiridos pelosnovos tÌabalhadores), deixam de sêlo, fazendo com que a demandaglobaÌ passe a s€r inf€íjor à ofeÌta global. Desta maneira, !ão éa fal ta de demanda eleLita que l imi la a acumulacáo (como suDõer(evnes' .@q!4 4_demâ4CÂjalal e acaba por precipitaÍ a economia na crise.

Quem levantou a possibiÌidade de a demanda efetiva constituirpoÍ si só üm Iimite para a âcumuÌação foram alguns marxistas

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russos úicialmente, e principaìmente Rosa Luxembülgo, num livroimpoÍtante -l Acumulação do Capital- em que ela coloca oploblema de umâ forma baslante pÍecha. De acordo com a teoriamarxista,o pÍoduto social P é igual à soma do capital co$tante c,do capital varjável v, e da mais-valia mv. P : c + v + mv. Amais-valia se divide en düas patles. a mais-valia consumida, qitevamos chamar de mvo, e a mais-valía acumulada, que v-amos cha-maÍ de mvac, O que Rosa LuxembüÍgo pergrnta é como estes ele_menlor do produro social serao v€ndidos, ou seja. como seÍão Íea-lizados no mercado. O capital constante setá Íeâlizado vendendo-seaos capital'stas as matérias-piimas e os equipamentos que foramdesgastados no peÍíodo de produção anterior. A própriâ produçãode P engiu um consumo de matérias-primas, de instalações, demáquinasre €ste consumo tem que ser Íeposto. As empresas nor-malmente têm um fundo ile depreciação e têm recu$os pam man-ter seus estoques de maté as-p mas etc,, no nível que permita omesmo tmo de produção. O capital variável seú consumjdo pelostrabalhadores, já que é aquela parte do capitâl que q. paga em sa-lários e os trabalhadoÍes gastam lormaìmente todo b seu salárioem consumo, Á maís-valia consumida também seiá disDendida Deìoscapitalistas, pelo estado e Í,or todas as partes da socieãade quj nãocontribuem diretamente para o paoduto, mas paÍticipam do erce-dente. PoÉm, quem vai realizar a mais-valia acumulada?

Esta mah-valia acumulâda aparece sob a fotma dg produtosmateriais, como valores de Ìrso, e têm qüe ser tünsformados emdinheiro para podeÍem ser acumulados. Numa sociedade em quesó existem capitalistas e trabalhadores (e esta é a sociedade hipoté-tica em que se baseia a análise de MaÍx ) úo se encontra um con-sumidor para a maigvalia acumulada a não s€Í os próprios capi-tâÌistas que vão fazer a acumulação, Então, o que Rosa Luxem-burgo pergunra é basicamente o que Koynes peÍguDrou, isto é._J9_que vai levar os capitalistas a acumular.se o nivel de demanìaeE!ryglflle existente só justilica a reprodução simples. só justi-fica maDler a pÍodução no nivel em que ela se encontÍa? RosaLuxemburgo rcsponde à pe.guta dizetrdo que há necessidade deuma demanda extema ao sisteÍra para que haja condições deacumulação. A demanda ofetiva tem que crescer o tempo todo paÌaqu€ se justifique a acumulação, que sempÍe Ìesulta em aumentoda capacidade pÍodutiva. Para que se aumente a capacidado pro-dutiva, é precigo ter em vista alguém que vá complar os prdutosadicionais oue se vai DroduzL.

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Essa demanda que é ÍrecessariameÍrte extema ao sistgma sim-pÌificado, sobÍe o qual Marx Ìaciocinou, pode vir lanlo do exteÍioÍou seja, de economìas não-capitalislas, com as quais o sjstema ca-piÍalista está em int€rcâmbio (e daí Rosa Lux€mburgo deduz suateoria do jmperiaÌjsmo), como de dentÍo do sistema, na pafte,vâmos dizer, não-capitâlista, que soda fundam€ntalmente o Estado,na medida em que eÌe fornece produtos que não sáo competitivoscom os do setor privado da economiâ, destacando-se, neste caso, osgaslos mil;tarcs. Na medida em qué o Estado retira uma parte do€xcedente paÍa gastos que não são produtivos mas destÍutivos, oìrseja, gâslos mjlitares, eìe vai criâr a demanda necessária para quea parceìa da mais-valia, que vai ser acumulada, se Íealize.

Estâ colocação de Rosâ Lüxemburgo deu Ìugâr a um grandedebate. Verificou-se que há realmente aÌguns erros de raciocíniode Rosa, principalmenle porque ela paÍle, como Marx paÍtiu, deuma situação de reprodução simples,e daí ela chega à reprodução,âmpÌiada, ou seja. ela paíe de acumulaçào zero para uma acumu-Iação maior que zero, É nessâ passâgem que o problema da deman-da se coloca, quando, na realidade, a acumulação zero é altamenreimprovável. Ocorre que a acumulaçáo varia de tamanho, ela sóchega a zero nos momelltos de crise, e nesse sentido a teoria deRosa Lüxemburgo é muito mais uma teoria das crises do que umateoria geral da acumulação, Mas,apesâr de certos repaÍos qüe sepode Íazer. o fundamental eslá cer lo, ou seja, é preciso que hãjauma demanda cre5cenre no sisrema e nâ meáida t6-ãr;ãìisre;ãrenoe a aumenrar a poupança e nao o conrumo, prrncrpaìmente dê.vrdo a seu caraler cle classe ( ' ) . esle crescimento da demandâre@-quetal tou em Marx propriamente Íoi a r igorosa união de vár ios asFec-tos de sua anáìise no que s€ rcfeÍe ao processo d€ acìrmulação docapital. Rosâ começou a fazê-lo e houve outros autores que És-pondeúm a ela e'exjste hoj€, no seio da comunidade maÍxista, umagünde discussão a respeito do que condicjona a acumulaçãodo capital.

Nesta djscussão se apresentâm basicamente doh pontos de vh-la: L os que dão toda ènfase aos efeilos do progreslo récnlco so-bre a taxa de lucro (cociente do lucro anual d;vidido Delb caDital

- -. O caráter d. clúse do c.pirâtismo faz com qDê 6 sdhos de prG

dutividade se trEnsfomem em nais-vaìia relaliva, fÂzendo caiia parricipáçaodd a$âfâriâd6 oo produto. Sendo p.quena â proporção con,uniaà Ooexc€{leatê (mâir-vatia), há umâ lendéncia Derene âo subconsuno no silteúa.

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total inveÍtìdo), Marx tentou demonstaar qu€, a Ìongo prazo, ataxa de lucro tende a diminuir devido ao aumento mais rápido dodenomjnador, foÍmado pelo capital invertido, em confÌonto com ocrescímento mais Ìento do numerador, constituído pelo lucÍo. S€-gundo esla coÍrente, na medida €m que a acumulação incoÍporatécnicas mais avançadas, aümonta o vaÌor do capital aplicado portrâbalhador (e lrorlanto a "composição orgânicÈ do capitaÌ", isto é,a relação entÌe o capital constante e o capital vadável), êté qqea qüeda da taxa de lucro impede que â acumulação prossiga, oque lânça a economia à crise, com as conseqüéncia3 acima apon-tadas; 2. os que sustentam que o aumento da comPosição orgfuricaó nÀ Íealidade contido pelas contÉtendências igualm€nte aponta-dâs por Marx (a pÍincipal delas é o baúteamento do capital cons-lante como Íesultado do mesmo piogresso tecnológico) e que ascrises a que as economias capitaÌistas estão sujeitas decorÍem daIendência ao subcoDsumo.

Na medida €m que o nível de abstração em que Marx op€rouao elaborar O Capilal o le\a) a considerar o capiteli/ìmo como ìrmshtema fechado, ele náo analisou o coméÍcio oxterio, nem consi.deroü o intercâmbio das economias capitalistas com as economiasnão-capjtalistas. O fenômeno do imperìali$no, inclusive r€slá fora desìra anális€. Álém disso, Marx não consideÍa a exis!êlcia do Estadoe hoje o Estado âbsorve quase 2090 do produto nacional bruto dosEUA, po. oxemplo. Na medida eln que a gente passa a um nível'de maior concÍeção, na medida €m quo se itrtÍoduzeú estes cle-mentos todos, veÍifica-se que efetivamente a acümulação depgfldernuito da demânda efetiva e dopcnde de uma demanda efetiva quenão é a de Kelnes. Neste ponto é que a análhe úarxista foi mâisrealista que a de K€ydes. Porque KeyÍres também está pensandonum sistema fechado, em que Ílão há exportação de capital, nãohá demanda erterna, não há Estado, Keynes só entÍa çom umaesÉcie de €ntidade metafísica - o Estado - pa.a salvar o siste-ma, paÍa fazer o s:stema âtingir o equilíbrio do pleno empÍego,quaído na ânálise marxista conlemporânea tende-se a consideÍare própria ação do Estado como sendo econômica € politicamentecondicionada.

O Estado. DrinciDalm€trLe no caDitalismo conlem Doráneo, tanl onQSllarses suo0esenvolv,oos como ÍÌos desenvolvloos, Ìem uma pos-srotrìaoe ci ãruar o erameiG iÌniiìÈiãmeÌre -sobrE-õ-ÍitaÌ ïéacumüEçao. È, quaiquer Ìrpo qe Ìeofla quê €squeça o EsÌaoo estâ

Ít esììãIosf-ra, €stá analisando algum sistema que não é r€levantepaÍa a síuação p.esente do capitalhmo. Nos palses capitalistas o

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EÍado investe diretamente na área pública da economia, na áreaqìre é estatal, um volume de recuÍsos, que no caso do Brasil! cor,respordê a provaveÌmente 50qo do jnvestimento total. Então, paÍase entender a acumulação do capital, é preciso se entender a acumu-lação do capital por parte do Estado. Além disso,ele regula a taxade juros e não há dúvida que a taxa de juÍos é um limite paraa tendência à acumulação. AÌiás, isto foi mencionado tambémpoÍ MaÍx.

. Q Egtado tem hoie iÍ,slrumênlos Dâra fazeÍ com oue excedenteeacu@rehão lem poss'bilidâde é lazer com qutãsìE-ìfiëÍ-tl-acumulaçãose mantenha próximo ao pleno emprego indefinidamente. Ele pr€-cisa brecar o ritmo de acumulação a inteflalos ceÍos para iú-pedir- que uma crise inflacionária poÍÌha em perigo toda estrutura

_ No. capitalismo cootemDorâneo, e isso vale tânto Dara Daisesdesenvolvrdos (como os Eslados Unidos ou a Alemanha Ocidenral)como para países não dgsenvolvidos (como o Brasil), o Estado teÍl-de a assegurar um clevado nível de âcumulacão medãnGÌlõìì-rry!4IDtrl5-p4llipais (além de numerosos- ouríoì, de menor sig-

acumulação Desta maneira, o Estado mesmo se encaffêga de conteÍa expansão da demanda efetiva e de elevar a laxa de juros, com oobjetivo explícito de redìrzir o ritmo de acumulação de capital, Áoprovocâr, desta formâ, recessõ$ periódicas, o Estado passÊ a produ-zjÍ um ciclo de corÌjutrtura política qtte,nem por ser deliberado,deixa d€ refletir a profunda inacionalidade dâ eeonomia capiialista.

rificação). Um dcles é o que ass€gura o ctescimento -adequado"da demanda €fetiva. mediante a manipulação do setorJúblico daeconomia e qo orçamento !llhlj!ò. Verìfica-se assim o que RosaLuÌemburgo já havia aponrado: o Estado, mediante gastos não-re-produtivos (nos países adiantados, de caúter militar ou parami-litar, em geÌal) faz com que a parte não consumida da mais-valiasejâ efetivamente realizada pâra depois ser convertida em mais ca-pital. O outro mecanismo corÌsiste numa oolítica monetária e decrédito "generosa', que rarifica a inftação--írìiõcìdãl-ëfr-analìse. pero caÍâter anârqutco do mercado capjtâlista. A infÌaçãotem um duplo efeito favorável à ácumulação: de um lado Íeduza taxa de juÍos Íeal favorccendo a invelsão, por oütro,redistÌibui arenda contÌa os assaÌariados e com isso incÍemênta a ..poupançaforçada".

Como se verificará mais adiante (8., auÌa), a in[errenção doEstado na economia só tesolveu as contradições do antigo capitalh-mo concoraencìal c ândo novas contradições, das quais o controleda inflação é certamente o mais agudo. Ìncapaz de manter o'..soproinflacionário" dentro dos Iimites em que ele efetivamente favorecè aacumulação, sem perturbar o funcionamento normal da economia, oBtado na maior parte dos paises é obrigado a lutâr contra a infla-ção mesmo quo seja com o sacrifício (considerado temporário) da

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Page 37: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

QUINTÃ ÃULÀ

A CONCENTRAçE O DO CAPTTAL

Como das vezes anteriorcs, vamos procuÍar analisar este tópicodo ponto de vista marxhta e do ponto de vista maryjnalisra. porém,ôO contrário do realizado até âgoÍâ, em que se examinou prim€iÍO Avarsão marginalista o deDojs â maÍrista, no caso da corcettmção docapi laì é conveniente inverrer a.ordem e começar com a coDcepçãomarxjsta, porque ela é cÍonologicamènte anteÍioÍ, além de funda-mentar meÌhoÍ a compl€ensão do.fenômeno,

Marx foi provavelmente o primèiro a declaÌar que a conceítra-

mõ:O-qi-e era um ponto de visla. na sua época, baslante novo o dj-ferente daquele manlido pela maior pâÍte dos pensadores econômi-

çào do capiLal è u(nã Gndência cenÍat e lunìtamenTal õ-Cãõfiãfií

esforço. Om, o que Marx aceÌrtuava é gue o aumento da produtividade do tEbalho humano era obtidi, no câpiialismo, antes de maisnada através de se coÌocar à disposição do tmbaÌhador, um volumecada vez maio. de rccursos produtivos. Este volume crescenle de Í€-cursos produtivos é tânto condição como conseqüôncia do aumentoda procutividade. Ê conseqüência, n medjda em que o aum€nto daplodutjvjdade coloca tro fluxo produtivo uma maioÍ quantidade dematérias-pÍimas È, cons€qüeÌrtemente daí sai urna maior quanÍidâdede produtos. Mas é ]uma condição, na medida em que, paÍa se obteruma maior pÍodutividade, é preciso colocar à disposição do traba-Ìhador, um coljunto de máquinas e f€üametrtas cada vez maior. Emúltima análise, se a pÍodulivjdade do tÍabaÌho humano nos EUA ébem maior do que no Brasil, a dif€lo!ça não está no irabalhadoÌbrasileiro ou no americano, mas lro fato de que o americano dispõeem média de um equipamerìto muito superior ao que dispõe o tú-balhador brasileìro. Na medids em quê o sist€ma pIogrid% tra medidaëm que o sistema não só se amplia qua[titativa mente , mas mudaqualllatrvamenle, êsta mudança st exprime alravés.de um âumenlodo volume de capiral ou de mdquinas, equipamentos, insralaçòes, porindivÍduo €trgajado tro processo produrivo. É com o auxilio desÌamaquinar;a cada vez maior que ele coúsegue produzjr cada vez mais.Ë isto que Marx chamou de conceitrcção ìlo c.tpìlat.

cos. Mârx dá uma definição muito interessante da conc€ntrâcão aodizer que cada capiral itdiridual é, em maior ou meÍtor grau, umaconcenrração de meios de produçáo. A mera existência do caDital da

"l"pr.T inOl";a""1

c.io. rj,h:g coÌ,ngndo ú epfoprìetArros, Nâ própria essênciâ do capitalismo, em contrâsre comoutros modos de produção anteriores, a eistôncia da empr€sa capitâ-Ìista com um pequeno €xército dê trabalhâdoÍes sob seu cornando iájmpli€a uma concentração de recurro. produrjvos. Marx define. a oa;-tir daí. dois processos que hoje englobârÍamos no conceito gerai deconcentração de capital. Ele distjngue c.rncentação de eentralízação.

.Diz Marx,_ quc a acumulação de capital (assutrto da 4.. aula)lende a se acelerar o tempo todo, nâ medida em que a economiacresc€, pois o sentido do progÍesso é o de aumentar a Drodutividadedo trabalho humano. Esr€ conceito é hoje quase que universalmenteaceito. O qÌre sigr'ficâ progresso? Significa fazer com quê aquiloque era pÍoduzido por 10 pessoas passe a ser feito por t. Rçau;mosa inveÌsão de esfor{o humano paÍa obter o mesmo tesultad-o ou, deoutro ponto de vista, aumentamos o resultado obtido com o mesmo

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o, que trão someDte permitem que se

nicas a que o processo produtivo eíá sujeito Do sistema câpilalista.Diz Mârx lambém que. obyiameote. este proc€sso de concelLra-

ção do capilal rem um limire. que é a pÍópria acumulaçáo da socie_dade inteira. Os capitâis individuais só podem crescer tra m€djda emque o capitaÌ de toda sociedade cÍgsce. E como este crescimento. estaâcumulaçào de capital nào s€ dá sem coDlradiçòes. sem crises, sem,ntÉüupçõos, o processo de concentÉção que é,na definição dele,o cresctmento por acumutctção .los copitais indìvìduais, estâ stjeiro aeste lrmrle que é a capacidade do sistema de se amDl:ar.

- - Além da congenlraçã.o no eltanlo. há um outr-o processo que

Marx chama delacedrulização\ è a exprcpriação ae capfarcus por-'../

. -{ concoffêtrcia entte os capitaüstas fo-rçs-os a adotar a melhottécnica disponív€I, quo é aquela que propoiciona a melhoÍ pÍodutividade € que soe sêr a que requet mais capìtal. Os capitai; idiv!duais tendem a crescer, mediante a acumulação dé

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Page 38: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

oLtros capitalistas. É um fato ainda decorrente da proDa!ìçã!' ante-a Droduúvidãde do ir do voÌume de

nores ou se fundem entre si, para poder enfrentar e resistir à pressãodos grândes capitah transformando-se, pôrtânto, em gmndes capitaÌstambém, ou então são quebrados e absorvidos pelas grandes empresas.

bém se Íeduz muito, havendo descapitâlizâção de algumas empresase uma p€quena capitalização de oulras. É neía fase que se dá a cen-uutt'ação.tlaf aseau,"vãcasmagras",íorner-Ãããd-õìã-ìõiGã!ãõlãedificuldades de vendas, é que a concorÍência se acirra, se LoÍna cadav€z mais violenta, o é nesta fase que os pequenos são eÍÌgolidos pelosgÍandes, em que âs pequenas emFesas não resistem às dificuldadese âcabam ou se fundindo ou desaparecendo. Deste modo, ao longo dodesenvolvimento do capitalismo, temos fases de acumulação e concen-tração e depoh fases de depÍessão, €m que a acumuÌação é muito re-duzida ou zeÍo,e se ìá a centraÌjzação.

Esta descrição geÍal do prccesso corresponde bastante bem àexperiência hhtórica do capitalismo até hoje. Examinândo-se a exP€-riência bÍasileiÍa, o que se verifica nos últimos anos? Durante osaros 50, até l9ó2, houve um pÊ odo de asceNão do nosso processode industrialização. Houve nesta época uma multiplicação de €mpre-sas- Não somente muitas empÍesas crcsceram, acumulando capital,mas também novas surgiram, empresas pequenas tÍarsformamm-sê emmédias e algumas médias transformaram-se em Itandes. A partir del9ó3 o sistema entrou em crise, crises intermiteDtes {le rccessões compequenas Íecuperações. Até 1968 a economia bmsileira est€ve predo-minantemente em depressão. Nestes anos houve um nítido processode centÍalização do capital. O número de falências e o númeÍo de coÍI-cordatas mais do que tripÌicou. Os dados referentes à cidade de SãoPaulo mostlam que muitas pequenas empÌesas foram eliminadas pelaluta concorr€ncial, outras se ÍundiÍam, eÌitratam em aliança, s€ asso-ciarâm ao capital estrangeiro ou com outras empresas brâsileiÍas eassim sucessivamente. E é fiuito claro que os pÍocessos de concenha-ção e. acumuÌação foúm comandados pelas difelentes fases do ciclode conjuntura no pâís.

Um outro autor maÍxista impoíante para o estudo deste pro-blema foi Rudolf Hilferding, que escrcveu, no começo deste seculo,O Capital Fìnanceìrc, que tev€ importância e jnÍìuência muito gran-des nos anos seguintes, tendo inspiúdo, por €xemplo, Lenine ao escÍe-\eÍ O ltnperialismo, Estágío Supe or do Capítalismo.

Hilferding retoma o estudo da codcentração do capital mostún-do que chegou um momento, no desenvolvimento capitalista, em quea empresa indìvìdual tomou-so jncapaz dc levatrtaÌ o capilal neces.sáÍio paÍa se manter no tmo de desenvolvimento tecnológico que ocÂpjtalismo estava gerando. Já MaÍx tinha feito esta observação emÍolação às estradas de feÍro. Dizia ele que, se se tivesse memmentefundamentado o d€senvolvimenlo do capitalismo, na propÍiedade in-dividual da emprcsa, as estradas de ferro jaúais teriam surgido. E

q!g!!4-3-ç9trú!3!iz4ç4o, dccorre dir€tamente da luta concoüencial edas vantagens das maioÌes empresas, por possuírcm ma'oros €scalasde produção. em relação às mcnores. EnquaDto o primeiÍo pÌocessoeÍá suieito ao limite que â acumulação da rjqueza de loda sociêdâdelhe coloca, o segundo processo não tem limite, a não ser o limite ló-gico de todos os mcjos de produção estaÍem concentrados na mão deum único DroDrierário. Há uma t€ndência ao monoúlio. que sê veri-ltca em tooos os Íamos oe pÍoouçâo, senoo que esÌa tenoellcla ao mo-nopólio só páú na medida em quo o monoÉlio puÍo se estabelece,ou seja, que haja uma empresa só em cada ramo e,finalmenle,quehaja uma empresa só em todos os ramos, Portanto, a centmìizaçãonão iem limite, na mesma dedida em que a concentÍação o tem.

Mostra Marx que o ciclo de conjuntura da econom'a capitalislas€ camcterjza por períodos de "vacas gordas e vacas magÍas", poÍuma fase de crescimento da produção, e depois por cdse,à qual sesegue uma fase de alepressão. Nestas Imrtes antagôúicas do ciclo deconiunlura. na fase de asc€nsào o na fase de deDressão se realizam

@. No p€rÍododggt-'!g!!ig.-ôo período em que cresce a produção, em que os mercâdos

Assim.existem duas tendências que é imDorrante disl ìnÂuir : umaoe.!aÂ_el!4!114!-[:4149:-tlj_!!9!9]Iq!!lq oa emllesa_4gorg,ç!Ì ÍIrÍlslod-a procura de maior pro g-urn!]!9q9l!!gp&ìl.ou sejá. pela lrânsíormação de uma parÌe dos lucros em novo câp tal;

des empresas. N

s€ exDandem e há euforja econômica. as emDresas crescem poÍ acumu-lacão de caoital . As emDresas Dequenas nesta fase não estão surei lasa pressâo concofrenclal, na amprÌaçâo oos mercaoos, o qüe rnes per-mite acompânhar, em iÍlâ, o ritmo de crescimento das gran-

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conlígurãda e Hjlferding a analisa e rjra suas vá.iâs con;eqüências.

em :Ì.1â !ida. a rocÌedade anonima enrer-prec-ãmenriÌãì-ÌfilFJ:srgnrtrca que o proprjeLiÍ jo não aparece com o seu nome nã {tenomi_

sem as egtradas de ferro o capitalismo não teria tido os avancos oro,du ivor que acabou t€ndo.

. Acontece que,na época em que Marx escrcveu, a sociedade anô_nlmâ_e o mercado de capitais estavam reÍrjtos principalmente àsestradâs d€_ferro e_a outÍas poucas grândes fi.mas, iornoìompanhiasde nâvegâção marítima etc. A grande maioria das empresai aindaerâm fundâmentâlmenle individuais, emborâ Marx já tiv;sse jndicadoque a tendêncja provável serja a de uma conc€ntÍâção que Ìevâsse àgeneraüzação da sociedade anônima e do mercado de càDitais.

"No inic io de,re ceculo, ena reãt idade j Í i eslava co;pteramenre

nação da empresa. Ì \a medjda em que nào aparece com o seu nome,deslrgr-se o seu desrìno individual do deí ino da empresa. Náo exi"reum "Generaì Morors , embora as cr;anças rmagrnem que e\Ìs la umgencral chamâdo ascim. Tampouco eÌ isre um..Ceneral Eleclr jc. , eassim pordranre. O falo de que a..Ford.. . por exempto, manrenhâ onome da Íamrl ia ford no ssu íronl ispicio e mero acidenLe hi , tór ico.E que a "Ford" Íoi jn ic ialmente uma empreça individual. Mas a re_gra Êerâl e

-que a.moderna empre,â capi lal ista concentre â poupançâ

de dezenas de mithares de pessoas e a coloque nas mào, aã um pi_qÌreno grupo de direroÍes que podem ou não ser proprietar ios de açáeroe\Ìa empresa em paÍÌ icuÌar.

. , A. pa5sagem do capiral i \mo. que é chamado mui las vezes de udj_u-:i!!!!s!\ par,? o lapa rnsÌrÌucionarlzaçao do meft"ado de copircì, A propriedade das em_@aad. Eìaestataosuúãividida.,que mesmo uma pessoa de .""ursos moAertos pod" furricip-dela. N.eías condiçóes. há uma .epãÍação enlre a condução jo pro;es_so produt ivo e.da \ ida econômica e a propriedade dos meios àe pro_ouçao. vuem d.flge o processo não i mais necessâriamente o oroDrie_tário dos meios de pÌodução. para dar uma idéia da ordem de gìan_deza,.do fenómeno. a maior companhia anericana. a compãnhiarrcl l de tetelones. tem, presumivclmente, já que njnquém sabc ao

ceflo. üm numero lolal de acionhlas tão grande que se losse feitauma assemLìlera de todos eles nào haverja Denhum lugar nos EU.{em que Íodos sc Dudessem reunir.

!]lleIdfnagrLru que es\e processo,€ Íez alraves da inlerten_fão Jo caoial ba@

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mediários de crédito. Pessoas que tém dinheiro disÍ,onivel, coÌocâm-nono banco e recebem juros. O banco pega aquele dinheiÍo e o emprcstaa empresários. O banco passou depois a ser o instrumento fundamen-tal de transformação da emprcsa individual om sociedade anônima.O banco subscrevia (compÍava) um grande número de ações poÍ umvalor bem abaixo do par e as rcvendia pouco â pouco no mercado decapitais por uú vaÌor bem mais alto.

Acontece que o acionicta que Íecebe dividendos é social e econo-micâmente um indivíduo que empresta dinheiro a juros. Em últimaanálhe, aquilo que s€ espera ao compÉr uma ação, em termos devaloÍizaçáo e rcndimento, não é muito difereÂte daquilo que se es-peÍa, poÍ exemplo, ao comprar um título de dívida púbÌica, umaIetm do Tesouro Nacional, quãlquer papel que signifique uú em-préstimo ao Governo ou mesmo a uma companhia particulaÌ. Então,o nível de dividendos se reduz geralmente ao nível da taxa de juros etem que seÌ portanto meror que a taxa de lucros (*). Com isso, é ge-Íado o que HilfeÌding chama de ccpital íictício. Süponhamos qüe nümc€rto momento a taxa de iúrôs seia {e 5qo e a, taxa d! lucros sejaloqo. Suponbaúos agora qu€ se ìance no m€rcado de éapLais açôesno valor de 1.000 (pode sër €m cftzeiÌos, dólares etc.). Esses 1.000coÌrespondem ao valor efetivo dos meios de produção coÍrtidos na em-presa (fábrica, câsâ comeÍcial etc.). Eles correspondem ao valor deumâ cerla quanlidade de bens flsicos, o chamado "vaÌor patriÌnonial"da ação, As pessoas que compram estas ações, no eÍìtanto, esperarÌÌum Íendimento pÍóximo à taÍa de juros, que é igual a 5qo. As for-mas allernativas de aplicar dinheirc, €m empréstimos ou em outrâsâções, têm liquidez e camcteÌísticas muito semelhantes. Se, efetiva-mente, a taxa de Ìucros ê de lwq ent6o o lucro dessa empresa é de10qú de 1.000 igual a 100, porém como se estó espeÍatrdo 5qo apenas,isto vai tÉnsformâr o valor dessas ações €m 2.000, No mercado decapitah essas ações passam a valer 2.000 em vez de 1.000 pòrque100 de 2.000 é efetivÂrnento 5qo.

O valor de uma ação (assim como de qualquer outÌo título de cré-dito) em bolsâ é determinado especulalivâmente pela 'txpectativa"

. Dividêído. conttituëb â Dartê dô3 lucla da .npÍcsa que é distli-híd! en alinh.ko aB .oiotrill8. A dD!* náo pleci.a distribui. a tota-üdadê dos !eu! lucror lob a fotDa d€ dtvidêíd$. habitualnent. nõo o laz.À prit. úo dbtÌibulda doe lucÌo€ é tnadida em ÍeseÍvâ, nâ cmp.€M, .lodc s€Í utilizada pâÍ. manter â diltÍibúçáo do€ dividmdos no mëmo!lv.l, nëno .É rúo€ dc bâixos lucro!, ou então parâ ahpliar o câpital dreÍnp.$a nüm Ídoú€i{o que suÀ di!êçáo cotrridd6 ÀpropliÀdo. Quando iÂ5o3ê dá,03 eionÈtli r@h@ lova açõ6, dmomiDad.8 bonificaçô€s.

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de rerdimentos futuros a que ela dá direito. S€ndo esta expectativadada pela taxa de lucÍo cotrente e, ao mesmo tempo, sendo a valoriza-ção feila por uma taxa de juros menor (e já loi visto na 4.. aula quea laxa de juros tem que ser menor que a de lucros), é claro que ovalor de bolsa de qualquer ação tende a set substâncialmente maiorque o seu valor patrimonial.

Este prccesso de valodzação do capitaÌ por ações cria o chamado"capitaÌ fictício" porque as máquinâs e as instalações não estao va-lendo 2.000, mas ap€nas 1.000, poÍém as @çõer que representam €stasmáqÌrinas passam a valer 2.000. É a diferença en!Íe a taxa de jurose a taxa de lucros que dá lugar â este capital fictício, o qual eraapropriado pelo capitâl àdncíílio. Os bancos comptavam açõej e espe-mvam que os _orimeiros lucros viessem a valorizá-las e esta vatorizacãodas açòes muhiplicava o lucro do banco. Este, que rinha comprádoações no valor de l 000, esperava um ano e com o primeiro lucio daemp.€sa âs revendiâ por 2.000.

Hilferdjng mostra que o banco desempenha papel essencjal noprocesso de centraÌização do capital, passando a seÍ o jnstrumento deILrsão entÍe várias companhias. O banco, ao se encarÍegar de levantarcapìral para as companhias. de adianrar capirâI. se enriquece, lornan-oo-se co-proprietário de muiras indúsLrjas. Na medida em oue ele setorna co-proprretáíio de váfias empÍesas, o bânco impede que hajaconcorréncia eDrre elâs e força sua progressiva associaião. Hjlferdinedefine o conceilo de capital financeiro... que é o resuìtadidã-ÌuÌíõ

tema capitalista caminha para ufrã-ìiuã{ão de concentraçõo e cen-tnlização cada vez maior, em cuja direção gelal se encontra um pe-queno gnrpo de banquejros e indüstriais associados.

Surge, por ocasião da Primeira cueÍra Mundial (19t4 /lgt9),um debare impoÍtanlíssjmo entre os próprios marxistas, que eíá bojesefldo lravado aindâ: tÍata-se de sab€r se este tiDo de caDitalismo cadavez mais concentrado..qle chamamos hoje de capìrclismo monopotísía.eJê_5!.Ì!I9i-'I!4ÁlIt!9La contradições maìs profundas. ou se Delocont iâ. i"

" l : i .nde

nanoo-se caoa vez mats ptaneJado e poctendo, jncÌusive, dicimir suasdivergências e passat a um pacífico domínio do mündo intejro. É ateoria do 'tuperimperialismo", sustentada por Kautsky (mestÍe deHilfpÌding e seu companheiro de lutas) e que foi negada por tenine.

O que Kautsky dizia é que, na medida em qüe os grand€smonopólios dominam a economia das mah impo antes nações im-perialhlas, eles podem chegar a um acordo entte si. Assim comoeÌes se associam no plano Dacional, podem se associar no

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plano internacional. Hitferding, aliás, mosua esle processo comvários dados. Na medida em que gmndes Íirmas se associam elormam uma rede de iÌrleresses estreitamente interligados, elas po-dom djminuir seus conflitos e pâssar a constitujr uma Dotência i;a-balável. Lenine, ão conlrár io, refuÌâ esre ponro de vi , ìa com umaconsideração que é vátida e importante: por majs que os mono_pólios possam se associar no plaÌro mundial, a sua iorça provémdo mercado nacional em que eles possuem seu ceútroj estandoestrgitamente Ìigados ao estado nacional de sua origem. Um .lruste',americano pode rer fábricâ. em 80 países do mundo, pode estarrì840o a compânbìâs Japonesas, iDglesas e francesas, rÌas o seupoder é ajnda em boa medida rcflexo do poder dos próprios EUAno cenário econômico, político e milita. do mutrdo. O mesmo éverdade.para companhias alemãs, japooesas e assim por diante.rrz Lenrne que, derte modo, âs col l rad:ções se elelam, as Íorçâse os interesses que se contrapõem se tomam mars poÌenaes e asua ,contradição se roÍnâ mais âbefla. impossivel de ser coocüada.Lenrne anLepoe. portanto. à Ìeorja do superimpeÍialismo, uma teo_Íìa de conflitos intedmperjalìstas caalâ vez mai!' Drofunalos. E..em dú\ ida. a Prìmeira Cuerra Mundial e a Segunda buerra Mun_dial confirmaram a prevjúo de lrnino E úo a visão de Kautsky.

Vâmos âgora, por alguns momeotos, abandonaÍ esta liuha deraciocínio de base mafiista e verificar o que a coEente matgina-iista_fez.em relação ao Íne;EqllgqE4q:

Inicialmetrre, roaa a /ggfõmiã mãEjnâ-listt Íecusou-se a eE--d;c3!L!3184o. l,esde o rnicio, o marginalisÍno foi uma correnrãìFÌogérica do sisÌoma capitalista, sempre lentaDdo mostÍar que ;bè o sistema mais racional, sendo o r€sultado de longa e;oluçãohumana que alcânçou sua f,erfÊição no capitalismo -überal.

Sus_lenlavam os. marginâlistas que o capìtalissro sempre é capaz dearingir a melhor urilização dos recursos econômicos ãi,çnniveis. Elesdesenrolveram esre raciocínio apologitico em função di urn rnodelode lrvre concorÌéncia, A concorrência i a con!Íapartida, no platoeconomico. da l :berdade indiv;duat, da igualdade peÍanre a lei eoe uma sene de oÌrtros valores burgue6es, que ÍundâmetrÌam adoutrina do IibeÍalicmo. desde a Revolução Francesa. Ássim, aconcorrencia seria o mecanismo que faria o capitalismo desempe-nhar suds [unçòer atÌamenre benéf icas para a humanidade.

)a nledida eILqllç_3lirre coocoiréncia esrava sendo esrran_êf!99a-p!- la,seorcalizaçà.' .rô .apiral, p.Ia G@iããi@rqesta Lendència era encarada como um mero-dêsvio, como algumì

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cgl _g!:_!:jjjq ser impedida pelo Esrado. IÍo nào foi apenasrrÈã ãÌltu-de rtdijcìf ;mislas marginatista\ forurn'"_;_cos-oa -renoencra

a concenlração do capiral e eles passâram oesÌem^omenLo_a,representâr cerLos interesse.. pr inc palm€;le dos pequÈnos empresanos, qìre eslatâm sendo premidos e oprimrdoi ie la:::corrénclâ irr€sisrivel da, srandes empresas. e rambèm de ceflasarras economrcas em que a concentraçáo do capiral era mujro di f i_cìr . pr incipalmente na agricul lura. e que porLanro eslava solrendoo píejuizo de um-ÍetaLivo arraso recnotgicã e

"""r .qü; i_; ; ;" ' ; ;Ìrma_sjruação drslâvorável na r€pârÌiçã; da Íenda.

^^_ loTT :a:caTente pequ€nos empresádos e Iavúdores que for_

çardm a âdoção de uma seveÌa legistação ânritÍusres oo" ÈUe "que argumds vezes tbj aplicada, roÍnando_se um relarivo obsráculo

1:::l"fçà.,9" pÍoresso de cenrralizaçào. EÍa legistação Dão con_5Èguru rmpeorr a centralização como ral, porém lhe colocou certos

:::ï:b: 1ï" impediram que se caminhasse ao monopólro puro esrmpres, Acaoou+e IicaDdo numa situação de ..concorr;ncia

mono_poxsla . Um erempto classico é o da indústria auromobiljsrica ame_:iil": ii,q'.,bá

hojo J grâqdes empresas _ a GeoeÍal Morors, aforo e a ( nrysteÍ _ e uúa beE pequeDa, que mat sobrevite, que éa Amer:can MoLors. Bras + empresas dividom roao o mercado à_e_ncano e uma Imrte do mercado mundiai, na medida em que ex_porlam automóveis para fola dos EUA. A legisÌaçãe antitrtrstesrmpedlu provaveÌm€nre que esÌas empresas ainda se fundissem numalïi1-*l'-ll"

consesuru e Dem poderia jmpedir a desapariçào das

::ïlï"' #';:'.,;'."iff ì"ooï,l?,ï:n-"' de auromóveis que havia

em que os.margjtraljslas rentaram iimpedlra por meros poljrrcos,elesloram reacioÍár ios. É qu€ eles nào t ioham uma alrernàriva quanto

ifjiïïlïïrf;:J"ï131*:,-ïS,"ïà*:ïïJ"*u.::zl":j jos marginaÌistas pretendiam ela manter o

i;".i""',ï"":,.*yl;ïïili""ï;ïffi ;i'"ï:":ï:.ïïJ;'Jifi :

^^ Mas, de qualqueÍ Íorma, o margjmlismo ate a década dosr-ljfl!ryll!4,lsl3gtepre tregariva e cnricã-Èrcì concen-

t

.. .Noì 1"o^t 20. um grupo de ecoDomislas, prìrcipaÌmente. iDgÌe_sers (os dois Robinmn. Chamberlain e outros, acoÍoarâm para a rea_Doaoe e dtsseram que seria nêcessáÍio reformular toda a rooÃ

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da formação de preços e dos mercados, que e o centro da reoriamargìna s'â. F:!e: !.lf!9!l5__d!ìf!rolls!anL lelos em que oDeramcom oÌerra e procura, roma-ndo por base nã-a !.vre cõéòrrén_cra. p_orem o monop9ì io. No começo dos anos J0, suieiu umasene de rÌvÍos tentando propor modelos económico, e maiemáticosÍ"- .C": . : l l , . :

concorrëncia enrre monopót ios ou enríe ol igopót ios.l nJo hã dúvidd nenhLma de que esses €sÍorços no campo reorico tëmum ceÍlo vâloÍ explicalivo da realidade.

tle, Í'o,rram que a rendéncia d. "t9r9p9!9__q+jglg!,GT:l4sls+]at_Igr,Ini,ãi * setiTcr"s

na uma rendencra do monopolio "

.oo,u, ,nffiffïï#*,ïseÍÌa vìgcnte numa si tuacão de concorÍència, ,"r , i . t .g", ã i .preço "má{imo' ' . O monopotio Lem l iberdade de Í ixar seis precos-

l:11,. . !"91i.., rem que recorrer ã-eiêl-poré,n et-ìãá-pÈdìg=+Sr!r!r sl:--g!:1ss! v"'o" .i"'ninu".'' .::_i:1"p",1"

puro, uma Íerrovia. EIà impoe o preço aa pas.agèmaos passageiÍo\ : esle, náo l inham atr.rnar iua. numa epocu'om ïì inão hâvia l inha\ de ónibus nem de av:ão: ou iarn d. ' Ì ; . ; ; ; ; ; ;iam de maneira atguma. É uma , i ruaçao a. monopxif ià,-po?m-ã1i]r" Ì .1 ""?

podra derermÌnar quaDros bi lheres ser iam vendidos,: ]"_.1": - l " i l " . Ìorçar

as pessoâs a viajar. O monoúrio rem por_tânlo cçta I ìmitação: na medidâ em nrre ele auminta o prãqo.uendc mcnos do seu proìììo.--EìilGìfrËrL" pre$1"ó rrreìu-lne,iìaos rucros ao maxjmo e é nesLa faiyd que ele vai oDerar,. . O prcço que marimiza òs lucros do Ínonopol i rru é aquele ouerhe permrte vrnder uma determinada quanÌ idáde X de mercaáo-:':. ::l lr

rucro unjrarìo de y. tat que o produÌo Xy seja o mâiorpos\Ìvet. euando há ganhos de escalâs. o que é mLl iro comum, serápossrver manler y ao mesmo tempo em que,para s€ vender mâis,opreço Ìenna que ser menor. Assim, por exemplo, suponhamos que:

Qtlanlidade (x)

26

242E

38

36

JO

40

r0E642

1.000 2.000 3.000 4.000 5.000Lucro torat (xy) r0.o0o 16.000 18.000 ló.om r0.0oo

No ex€mplo, o monopolista alinge o lucÍo máxjmo vendendosua mercadorla ao preço de 39, o qual é se4sjveÌmenie infedor aopreço "márimo" de 50_

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Há várias situâções difercntes de conco ência monopolísticâ:quando há um ú vendedor (monopoÌista) e um só comprador (ri1o-nopsonista) fala-se em duopólio. No caso em que exisle um com-prador e muitos vendedoÍes, a situação é de monopsônio, Na agrr-cuÌlum é comum que uma sérje de pequenos Ìavradores venda seusproclutos a uma grande companhia. É o caso da "Cia. Cica,, quecompm tomat€s de um grâlde Írúmero de pequenos ]avradoresque só à "Cica" podem vendet. A "Cica", se quiser, impõe o pre-ço do tomate, porém ela não pode determinaÌ quantos tomatesserão plantados; se ela rcduzfu o preço demais, ela acaba nãoconseguindo comptar nenhum tomate, Então, a ..Cica" tem oueÌegular o preço de âcordo com a quanlidâde de tomatcs quedeseja, Numa situação de concoÍrência haveria 5. l0 ou 20 fábricasd0 massa de tomate. Provavelmedt€ o preço do tomate seria maìor,p-oÍque estas companhias teriam que competir entre si para a obten-çao oo proouto.

EnJim, dos aDos 20 em diante, a economia maaginalista desen-volveu, com bastatrte peÍfeição, modelos de como opera o úetcaalomonopolista, o que é uma contÍibuição jmportante paÊ se enien-deÍ o que acodtece üuma economia em qìre os motrolúlios ou asgÍardes omplesas passam a ptedomiüar cada vez mais.

AtuaÌmente, o debate sobre as conseqüêícias da concentraçãosobre a natureza do capitalismo pÌossegne em iovos lermos.

"*r"um procesro..--q''-uanriráiitqìaÍÍõãÌõÍiãilâiìvõ;ãilõu õ;sre_

EUA (usândo os EUA como exemplo extremo ale uma tendênciaquê. eslá acotrÍec€ndo em todo mundo capitaljsta). a economia e asocleoade senam essenciajmente dif€renles do que o foÍam tro capi_talisúo da -Êmn.êsâ isdivrC,,âl IsLo se daria. em primeiro lugàr,

Ë1ffi ffi i**r#l+:',#;.H.;:i.,,:,J#"ï;Xilnii'rffi:cogBjqj!4gdCt. e elesãriffiã empr:sar:-È ten mìbuìsÌnteresses d€la, o_ seu próprio crescimeoro, a sua segurança e nâdamais. Por outro Ìado,como a empresa motroËìoìista (não rnonopóÌiopuro, mâs no setrtido de dorDinar um ou vários ,amos de prodì;ção)!ão tem condições de contrclar a economia do país inteiio, principalme,rte os ciclos. de c_onjunrura, foi preciso S.. o EJEqgjIgrcg$eestre'to controle da vida económica.

a

. The Ntu ltulutníal Jrcre, Boston. 196?.

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Estes âutores (calbraith particularmente no seu último Ìivro.).af;rmam que hd Ìr!!q rendflcia muito rápida à fusâo da alta buro-cr.asia:ou -da.aìta tecnocracia esLatat com-ããíì;-ì;;;ãã;ãilã-GãG-tdal E ele dá exemplos muito curiosos nostrando com que faci-lidade, por exemplo, o governo ameÍicano r€cruta s€us dirigentesFolítícos nâs empresas. O ex-SecÍetário de Defesa nos EUA Mac_Namara, gra da "Ford", fez sua caÍeita naquela emprcsa, chegoúa ser diretor-presidente dela, antes d€ se tofiâr,po! cerca de ? a;osrSecretáÍio de Defesa, quer dizer o p ncipal elemento de todo ocomplexo industrial-militar do país. Aliás, tmdjcionalmente, a Se-cretaria de Defesa é ontregüe a alguém dos grandes trustes indus-trjajs. O antecessor de MacNamaÉ eÍa diretor da ..Genemì MotoÍs".Quando houve a passagem do govemo republicano para o goveÍnodemocrâtrco.com a eteição de Kennedy em 1960, a Secretariâ deDefesa passou da "CaneÉl Motots', para a ..Ford". Da mesmârorma as empresas recrutam o tempo todo gente que fez sua car-reira no erército. É muito comum enconttaÍ-se nos altos postos deempresas industriais, genemis, almirântes ou brigadeiÌos aposeitados.Pdncipalmente naquelas empresas que vendem o seu !úuto ao os-tado,_ empresas de material aeronáutico, de material béiico, de produ.tos eÌetrônjcos e âssim por diaDte.

Na medida em que socjologicameDte há umâ fusão dos 2 gru-pos, fazer carrein no Estado ou fazer caEeiÌa na indústria Dassaa ser uma coisâ perfeitâm€trte equivalente: onde quer que o iDdi-viduo tenha iniciado sua caüeira, nunca s€ sabe onde elc vai aca-bar. Há no funcionamento normal da ecorDmia, uma coÌabomçãocada vez mais estÍcita ontre a alta direção buÍocrática do Estadoe a aìta tecnocracia indust.ial. Verifica-se uma úudaÌça da estÍu-tura de poder da s.ociedade: os pÌoletários e os donos das empresasestão, ambos, marginalizados, Tanto os tnbalhadorcs como os acio-nistas. Os acionistas porque se subdìvidiram tatrto quo não tém maisvoz ativa nenhuma na empresa. Nas grandes emptêsas americanâs,os maiores acionistas, que têm 5,8 ou 10qo do vôlor do capital, sãogeralmente outms empÍesas, são compalhias de seguro, bancos oücoftpanhias de investimento.

Por sua vez, a classe operária (aiada Da anáìise de Galbraith)teria a possibilidade de uma ação independente na modida em quêela está organizada em sindicatos. Mas os sindjcatos também forãmabsorvidos pelo complexo estatal-indust al. A alta direção dos siddi

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calos opeÍários é obrigada a colaboÍar com o Estado, restrjngindo,por exempÌo, as reivindjcações salariais dos seus assocìados paia im-pcdir que haja jnflação. de modo a que o governo nào se vlja obri-gado a deler a inf lação causando uma cr ise mui lo pior. Há p;rrantouma leDdència lambëm em inclui Í a cúpÌr la sindjcãl nesre àicetor ioelevadi lstmo que dìr ige toda a sociedade, Alem disso. pelo menosnos EUA,.o dir igenre sindical r ip ico lambdm mudou. Antes o di í_genÌe sìnotcat. era um trabalhâdor que, pelo seu espir i ro de luLa,,úeatrsmo e de,prendimento. arr iscou_se, gânhou a conf iaDça dosseus companherrost tornou_se Ìíder, foi eleito e sucess:vamentJ trans-lormou-s€. num dir igenle sindical . Agora. há uma carreira. BastaaDrrÍ um lornat amel icano e se vê na seçi io de empíegos, si Ì rdicatosprqrnoo economlslas. socjóÌogos. jovens com al8um grau uni\ersi tá_r io. que que Íâm |azeÍ carÍejra no movimento oDeÍár io.. De acordo com CalbÍai lh. nesras condiçOes, a economia ame-

Ìrcâna estã camjnhando para Ìrm ripo de sociedade muito parecidacom a que tende a se desenvolver na União Soviética e nos paísescofiiderados Comunisras . Nerles, dê um lado há uma buroiraciapolLrca mutro impoflante dir igindo o parr ido e o EsLado, e de ourÍoraoo uma tecnocracja nas empresas exigindo relaÌ iva âu!onomia eno enlanto coÌaborando com a burocmcia também. portanto, os doissrstenras_rondem a se djr igir pâra um t ipo de soci€dade que Calbrairhcna.ma de hdustrial- Na medida em que ele pinta os deLalhes desrasocreuaoe. sua rmagem se âproxjma muito mais de um modelo de"socjalismo tecnocrático,, do que do modelo capitalista. O que cal-Dralth sugere, po.tanto, é uma coisa muito parecida coÍr a queKaÌttsky expunha, ou seja, uma passagem Indolor para o socialis;o.òeno_o que o pâpet a que eì€ se propõe é o do abrir os olbos sobÍe osrgnìtrcado das translormações, que Denhuma foÍça seÍia capaz de

-. Contra este porÌto de vista se contrapõe a tese de Swe€zy e

Bamn, num livto que trata do mesmo assunto, escrito praticam;tena. mesma época e publicado também nos EUA (**). b que essesdois autores.marxislas propôem e que o capiLatismo il";"I,ì;;;ao. l rpo ameÍtcano, acentua cada vez mâis as contrâdiçòes dò caDi-taÌismo como ral, em vez de resolvélas. O fato de que u è*n;;;esteja sendo diÍigida de uma forma cada vez mais óentralizarla porgrandes lrusres com a colaboraçáo do Estado náo sieni ca áuehaJa uma Ìerdâdeira socjalização dos objetivos da ernoreú. lo l,ìn-

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.. O Catital Múopditta,

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do, âiÍrda os c térios que regem a condução da economia são c!i-tédos privatistâs tetrdo por objetivo o lucro das empÍesas. O objetívodo lucrc não loi abfidonano. E na medida em que o lucro é cotrtra-ditóúo com uma repaÍtição menos desigual da r€nda e com umacrescente produção de b€trs de uso, èlc gera ìrm excedetrte que écada vez maior, sem ao mesmo tempo asseguÉr uma procuÉ capazde fazer com que este excedente se.ia de fato acumulado. Esta seriaa contmdição essencial do capitalismo motropolista.

Para que o excedente seja acumulado (como foi visto na 4."aula) é preciso que a prccura cÍesça em certa medida paË jus.tificar a acumulação, Pois bem, o capitalismo monopolista, ao limi-tar a rcceita da gúndê maioria formada por assâlariados, impedeque esta procuÉ apareça; com isto ele impede quc uma parte ponde-Íável do excedente seja de fato acumulada, Íazendo com que elatenha que ser desperdiçada. PaÌa tanto há uma série de fotmas qua-se "doentias", das quais a principal seria a publicidade, os meios decomunicação de massa, etc., além da prccura deseq)€radâ de rÍerca-dos ext€rnos. através do imperialismo. que, por sua vez, não sometr-te Í€alìza assim uma paÍe deste excedente, mas cria as condiçõespolíticas internas para que outÌa parte do excedente seja desperdiçada em gastos bélicos. Na medida em que o imperjalismo, a oxpaD-são externa €ncontra resistôncia, isto justifica que qualquer co sacomo loqo do Produto Nacional dos EUA sejam gastos com a segu-rança nacional.

Sweezy, Baran e Gâlbraith, na medida em que eles constatamos fatos o na medida €m que eÌes escolhem os falos que achammais significativos, não diferem essencialmente. Eles realmente eÍ!caÍam a concentração do capitaì como tendo mudado qìralitatìva-mentg a sociedade.

A divergência apaÍece lla interpretação do sêlrtido desta mu-dança. Galbraith a ençara como decotÍêtrcia do progresso técnicqque impõe a necessidad€ do plaDejamento em latga escala e a loDgoprazo, o que naturalmgnte faz com que o poder passe pôm quempossui conhecimentos especializados. Â süa crítica ao "Novo ÊstadoIndustrjal" se didge à Ìimitação dos objeiivos do plaüojamento, qu6se cmgem a aumentar a produção como fim em si, sem consideÍaroutms aspectos importantes quc compõem a "qualidade da vida".Sweezy e Baran, no entanto, não dêixartr de apontar psra as contm-dições que decorÍem do fato alê quê a vida econômica ainda estáorganizada, no capitalismo modemo, em emptesas privadas, cujosinteresses "r€presentados" pelos administradores profissionais se con-trapõem aos da sociedade como um iodo. Assim, na medida em qüc

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o caprtal se concentra c o podeÌ econômico se funde com o político,a majoria constituída pelos trabalhadores se acha cada vez majs ex-propÍiada polílica e economicamente. A sobrevivéncia do capitaÌismo,nestas condjções, requer um desperdício crescente ao mesmo tempoqu€ as necessjdades de úma grande paÍe da população continuamnão satisfeitas.

A análise de calbraith, por menos apologética que seja, seressente aìnda das limitações decoüent€s da tradição maÍginaÌista,que sempre enfatiza a racionalidade do comportamento econômico,É isso que não lhe peÍmite ver, ou considerar €m sua devida exten-são, quê o planejamento no capitalismo hodiemo não pode ultÍapas-sar e muito menos substjtuir â anarquia de produção. Dai o fato d€que  "tecnostrutüra" no poder seja incapaz de rcalìzar, no plano dasociedade global, tanto o objetivo do crescimento com estabilidadecomo a €onciliação efetiva dos inteÍesses de clâsse. Nem por isso,no entanto, pode-se negaÍ qüe sua análise apresenta contdbuiçõesváÌidas, que autores na tÉdição marxjsta estão tmtalrdo de incoryo-rar calicamelrte em scu tÍabalho.

MOEDA

Iniciamos agora a aboÍdâgem de um aspecto relalivamente poü-co disculido, ao menos peÌos maÍxìstas, mas de grande rel€vânciâpara o enlendimento da realjdadô econômica modemâ, que é o prc-bÌ€ma da moeda. Havcrá três aulâs sobÍe €ste assunto. A Dróximâ(ob_c creJIo e oulra.ob'e o _nrvel de enrDrego, que corsr tuemproblemas jnterligados- Esta aula será dcdicaJa à abordagcm nar-xista do ,roblema da moeda e a próxinÌa, à abordag.m keynesìana.

A análise marxista da moeda pârte da análhe dâ função daÌÌoca ou do mercado numa economiâ caDitaÌistâ. Uma €conomiâcrDi.alrcrd d arÌ iculdda ped dir i . io \oc;al do l rab, i lho. D ÍerenresjndivÍduos, eÌn diferentes empresâs, se especializâm na p(odução debens de uso diferenles e que sáo depois r€djstribuidos de taÌ mâ-neira a sâlisfazer as recessidades do conjünlo da população, emceÍÌa medida, e as necessidades das próprias empresas, em sua ativi-dade produtjva. É a divisão do trabalho que torna o conjunto dasociedade capjtaÌista um todo articuÌado ecoflomicâmente. Uma em-presa pÍoduz aço, a oulra produz máqÌìinâs e usa o aço, uma outraproduz o cârvão parâ a produção do aço eic. Estas djferenaes ativì-dades cÍão articìrladas, elas são estreitamente jnterdependentes. Masa socjedade capitalista é desarticulada pela propÍiedade privada dosmeios de pfodução, que tornâ câda uma destas empresas pÍatica-mente autônoma na d€terminação de como prcduzjr, do que produ-zjr, de quanto pÍoduzir e de que prcço cobrar. Portanto, é_!Iqê_!!g:

lorES-91t4!f4!4!E ljvisro de rr"balho e de,Jrriculadá palà pro.píedade pf lvaoa dos metos de píoduçao. oue dá autonomia a caJ" umdo\ \eus corìponenres. a qual r fm que ser depois supeÍada, nuÍÍsegundo momenro. @que \e realrTar. e se reatrza \L9J9-4eJ!eç!

A função da tro.a ou do metcâdo (mercado, lugar em qüea generaljdade das trocas se reaÌjza) é precisamenle superar a de-

SExrÀ ,AuLÁ

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sarticuÌação da economiâ capitalhta ou aquilo que Ms.x chamoude "anarquia de produção". Isto decorre do fato de que a economiacâpilaÌisia não dispõe d€ um órgão central que consciente s delibe-mdamente coordenâ e harmoniza a âtividade econômica das miÌharcsde emprcsas que compõ€m esta economia. Essa harmonização, poÍexempÌo, o fato de que a produção de carvão não pode ser nemmaror nem menor que o co4sumo de carvão pelas sideúrgicas ouestmdas de feffo, nem a produção de aço em Íelação à demandadas indústdas que consomem aço e assim sucessivâmente, não se farza priori, não s. fâz prevjamente atrâvés de um pÌano gÌobal, mas sef^z a posleríorí no mercado. Deste modo, o mercâdo substitui aquiloque numa economia plalejada seÍia feito pelo órgão planejâdor.

Esse problema da coordenação e haÌmonizâção das ativdadesprodutivas nüma economja modeúa, Ílo âlto nível de diviúo dotrabalho que já foi aÌcançado, não é um pÍobl€ma excÌusivo de uma€conomia capilâlistâ. Ele se coÌoca também, com toda agÌdez, nas€conomias centmlment€ planejadas. Á meÍa instituição de um óÍ-gão de planejamento, que paÍecia ser uma solução simples e óbvia,ao substituiÍ o mecanismo do mercado por uma ação consciente edeliberada, mostrou-se muito compl€xa em termos do seu funciona-Íìento oficìente. A soma de conhecimentos, que o pÌanejamento€entral de uma economia socialista prcssupõe, é tão grande, quequase não há meios para se coletar estas informações e pala s€ pro-cessáìas de uma maneira a que elas s€ traduzam em diretivas ade-quadas ao crcscimento harmônico da produçáo. Substituir o mer-lcado por plan€jamento cenlral, embora em teoda possa parecer mui- ffto fácil, na prática é algo trem€ndamente compÌexo, erntmra pro-l'gressos notáveis tenham sjdo feiíos nas últimas décadas a esse Ícs-peito e só na práiica, quer dizèr, só tendo algümas economias ten-tado f^zer isso, é que esses pÍogressos foÉm possív€is,

Numa economia câDitalista. Dor definicão. a tarefa da coorde-naçao e narmonrzaçao oas allvrsaoes produ_!lf!! !g_!34_!!!9= âde Lrocas, rsLo e, p€lo ststema de ctÍculaçáo. Tomemos poÍ exemplok-pÍodução de sapatos. Vamos admiÌir que a demanda de sapatos,rum celto momento, seja equivaÌent€ a um milhão de pares e queo momento seria um ano. Isto trão significa que a rlecessidade desapatos seja de um milhão de paÍes, pura e simplesmentc, isto é,que haveria um milháo de habitantes e qìre cada um usa a um pârde sapatos por aoo. Sigtrifica, poÍém, que os Ìecu$os dispoúveh paÉcomprar sapatos por parte dos usuários são suficient€s para cobriros custos de produção de um milhão de pares, e úais uma margemde lucro capaz de prcpoÌcionar aos fabricantes, comerciantes etc. a

tâxa de Ìucro média. Isro é que s€ria a @gg!qq-!9ryliL9l. euen Ìemum paÍ de pés, mas náo t€m dinheiro Fia comprã;-íapatos, analadescâlço, Podemos, teoricamente pelo menos, admitir que,se conhe-ccssemos não só a n€cessidade física ou a necessidade social de usarsapatos, mâs os recursos al€ que as pessoas dispõem para sathfazer€ssa necessidade e a pÍioridade que lhe atribuem, poderíamos caÌculaÍo monlante de sua demanda poÍ sapatos, que selia de um milháo de

Se a produçáo de sapatos fot de apenas 100 mil pares, ela será,evidentement€, bastante metror que a demanda e isto fará com qìreo preço do sapato suba e a sociedade, por assjm düer. dá um pÍèmioâqueles que eíão sâtisfazendo essa necess'dade ou a essa demandasolvável, em alguma medida. Como o preço dos sapatos é bem maisalto do que o normal,eÌe proporciona uma laxa de lucro b€m maisaltâ que a média,dando.um estímulo muito forte paÍa-que rccunoslrodulivos se erÌcaminhem à fabricação de sapatos. Então, a produ-ção passa dos 100 mil pares para os 200 miì, 300 mit, 400 Ìnil, 500mil , I mi lhão e podeÍá i r além. Como não há trada, a.não ser o mer-cdìo, para conlar aos fabricanres de sapalos a quarfiidade que elesf,odem e devem produzir para satisfaTer a demânda, é bem DÍovavelque o pre(o d-- saparos leve a uma superprodução deste artigo. Eo-lao. â produção poderá chegar a 2 milhô€s de paÍes do sapatos. Ago-Ía se dá o desequilíbrio inverso, ou seia, como â demanda éìeI milhão d€ pares de sâpatos e 2 milhões estão sèndo lançados Domercado, evidenl€mente náo há reculsos para cobrir os custos doprodução mais a taxa média de lucÍo de 2 milhões de pares desapaLos, As\im. o preço dos sapatos agora vai descer, E em vez deum prêmio, os fabdcantes de sapatos vão sofrer uma punição peloseu erro de prodüzir demais e isto significará,na realidad€.que elesnào vào poder alingir a taxa de lucro média !,Í€vâlecente n; econo_mia. É preciso lembrar stmpre que os custos de produção são â\su-mjdor de anlemão pelo fâbricanre. ou seja, o pagamento de salários,de.aluguéis. de maréÍjas-primas. o desgasre das máquitras. Este ônuse ìmposlo ao empÍesário indÊpendeDtemente do preço que ele vaiobleÌ pelo seu produto. O valoÍ que os sapatos váo alcançar. pelavenda de 2 miÌhões de pares, vai ser coÍrespondente ao trâbÀhoìocialm€nte necessário à produção de apenâs I milhão de paÍes.Haverá um milhão de paÍes redundantes.

_. I que os marxisla: chg4gm de !.Íabqtho socialmente nccjìlilq

i?::,:mïT:!re um lrmercaoo, m-as corJesDolde lambém à r€lação ettre o volume produ_ztoo e a oemandâ J'etô esnecilico lrem de uso êm consideracão.

91

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Deste modo, atrarés dessa punição, um certo número de fabricantesde sapatos vai sai. do mercado, vai ser expulso da economia, ab rfalêícia, oü mudâr de ramo, alé que fimlmente a oferta de sapatos

Portanto, é absolutamente necessário para que esla circulaçãoJ€ dè,e o mercado possa de.empenhar suâl]t!4gls! que h3E_g!epossibi l idàqe de iÊualaf o \aìor co.nt iLJo na mercadoria oue se le!aao mercado e o \alor das mercador.d. que re procura rel i Íar doÍn-ceu foj privilegiar uma mercadoria especifica para esta função deegyigE!E__g!!!L!!g_!!!9!, Se, por exemplo, o sapato fosse esseequivalente g€Íal, o trabalhador receberia o salário em sapatos, masnão precjsaria procurar um i[divíduo que quisesse aqueles sapatos,ele podeÍia compràr qualquer meÍcadoria com sapatos, porque apessoa que lhe vendesse a mercadoria aceitarìa sapatos, pois comeles também poderja comprar alguma outra coisa sem mâior dificuÌ-dade. Uma mercadoria qualquer acaba sendq não por deliberaçáocoÌetiva, mas através de um Ìongo pÍocesso de depuração, sÊleciona-da para servir de equivalerÌte de todas as demais. A característicadqla Tìercâdor;a é que elg perd€ 9 seu lal.o/ de

-uroil/ginal para

oa$âr a Ìer um outro: o oe sewrr 0e eoulvalente das demaK merca-donas. 5e losse o saparo. ele deìxaria de ter o seu valor de uso desÈiiiípara calçar e passaria a servìr especificamenír de eqüivalentepala as demais mercâdorias. Não se usariam mais os sapatos paÍâvesti-los, porém para s€Íem mejo de troca, o instÍumcnto de circula-ção das mercadorias.

Todos sabem que não foi o sapato a metcadoúa que acabouse indo de equivalenie geÉI, embom praticamedte todas as meÌ-câdorias, alguma vez na história, para algum Írovo, serviÍam já demoeda. Para a maior parte da economia capitalista o equivalonlegêÍal que acabou s€ndo llgqlhjdo foi o rnetat orecioso,Gãììãpe-õiÍF-camenle o ouro e a Dmta, A razao de que o ouro e â prala lenhamsido escolhidos se resume na coincidêDcia eDlre os recuisitos sociaisdo equivatente a€Íal e as qualilaì:-ães-ÌÈìiã!ìõfõãGì;;Eõõ!õ-Põieffi*'ãoìi,-aanaoperde süas caractedsticas fisicas âo loÍrgo do tempo. Isto é uma.calactefistica indispensável do equivalente geral, pojs ele tem qu€passar de mão em mão, conservando a sua jdentidade física. Se seusasse o feÍro, por exemplo (já se üsou esse Ìratedal em aÌgumasocasiões), ele enfeÍrujaria e acabaria desapar€.endo, tro próprio pÍo.cesso de circulação. O fato também de que o ouro ó unifoÍme, po.dendo .er divi<liào à vonrade em barras bu po, ÌõiõüÌEliãiidádefisicâ que correspondeu a um tequisito do equivalente. Não seriapossível se, por ex€mlpq se usassem bois, subdividi-los à vontade,embora a palavÍa pecunidijo mostre que ìa se usou o boi como moe-d4 E muito diÍíciì compÍar meio quilo de lariDba com um boi, por

função do mercado em ajustar, a posterìorí, as

€speram obter.--EiiãÍiìïáo do mercado se reaÌiza atÌavés do Neesso de cïcula-

çãa Ás diferenlos mercadorias, os diferentes valores de uso prcdu-zidos por milhares de empresas, eítram em circulação, são trocados,e nesse pÍocesso de tÍoca é que a s.ociedade, através da ação incons-ciente de milhares de ìndivíduos, coletivâmente ajusta sua atividadepÍoduliva. Podenãmos imapinar esse DÍocesgo de circulacão comoprocesso ge Imca de mercadona por melcadoÍ'a. u labflcante des@alários, oatuguele os meios de subsistência dele, capitalista. E poderia, inclusive,compraÍ com sâpatos aqu€la parte da mais-valja que ele vai acuúu-lar, ou seia, matérias-primas e máquinas pala ampliar o processoprodulivg-Acqllece, no entanto. que este tipo de lroca que chama-mos deQscamóo:t absolutamenle impossivel no momenlo em guea divisãoìôõra-fiÍó rrabalho atinge umierto nívet, em que o núm;Íode bens de uso diferentes passlr a ser muito grande. O tempo e cúoÍçoque seriam necessários paÍa a circulação social seria tão tremèldoque não permitiÍia que a própria produção fosse reahzâda. Pode-sepensar no seguinte problema: o trabalhador do fabÌicante de sâpÂtosrcceberia um cetto número de parcs como saláno. Se ele quisess€comprar, por exemplo, leite, ele não somenle teria quc achar uln tra-baÌhador de laticínìo, qu€ rccabesse o seu salá o em leitq mas espe-cificamelte um trabalhador de laticínios que quisessc sapatos emtroca d€ ssu leite. E trão some e que quisesse sapatos, mas que os qui-sesg€ do tamanho e do valor qì.re o outro tem pffâ oferecer. O queseria iÍrviável, emtora haja Égistros históricos e altropológicos desociedades com divisão do trabalho bastante rudimentar € que fun-cionavam efetivamente truma base de €scambo. Para uma economìâcapitalista é óbvio que isto está completâmente fora de cogitação.A troca direta,_g escambo, sjmplesnieDto fo!çaria o copjunto dapopulação ãtiva a passar â míuoÍ pâÍle do lçg!9 procuraudo trocar_oglL-gm _Y93_9!lI9S!4ls!-

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le mmo de

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Page 47: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

causa do lÍoco. O ouro pela suâ divisibiÌidade apresenta a vantagemde poder seÍ Íransformado em ifláãÍi?lãÌG-pequenas ou gÍandes.

socrâlmente necesrár io numa Deouena ouanÌ idade f is icat ele é fa-olmente oorlável, A Drata a meíos õÍeciosa mas Ìambém concen-tra baslanle valor em pequeno volume. Andar por aí. com umapequena bolsa com moedas de prata ou ouro, não apÍesenta maiordificuldade.

Estas caracteríslicas físicas dos metais preciosos é qìre os pivil€-giaram para se trânsformar no equivalente geftl, isÍo ê, em moeda,

No momento em que o ouro se transforma em moeda, o seur 'âìor de uso, que é pr incipalmenre seÍvir para ourivesaria. parafazer jójas ou ornamentos, desaparece. O ouro monetário, o ouroqu€ \erve de moeda deixa de ler qurtqt A-õiìio--t--- u.|or d-ìso.ìnão sef o de equivâlente Êeral . ou seiâ. o da ÍeoÍeselracão socjaldg_lqlgl j.q-!Iqge. cada mercadoÍ'a é compârada com o ouro eret:ra o seü valor de taoca desta comparação com o oüro. O ouÌo.g porlanto. coÌocâdo ao Iado das demais mercadorias. como uma-especie de espelbo que reflet€ a quantidade de rrabatho soìãÌãèãGrys:::3!s-q9!.!s!-!.I!!-!3se_4sl!3!9lfÉ. E este traoalho socralmenlenecessárjo refÌele por sua vez a relação entÍ€ o volume produzidoe a demanda por este .valoa de uso, Deste modo, a circulação se faznáo na ÍoÌma M x M, pc jciÀ a mercadoria por-ìiÌiãiõiìãlìã

de dinheiÍo pela outra mercadoria, D x M. Os fabricantes de sapatosquando chegam com 100 mjl pares de sâpâtos ao meÍcado, ao ven-derem esses sapatos, ou ao reaÌìzar o valor contido no sapato. verifi-cam que esses ì00 mil pares de sapatos rém uma quanridàde de rra-balho socialmente necessáÌio muito maior que o tmbalho físico aliinveslido. Porque neste caso a quantidade de parcs de sapatos produ-zidos é mujto jnfeÍioÍ à sua demanda. Da mesma forma quando eÌestrazem ao mercado 2 milhõas de pares de sapatos e os vendem, aotrocá.los por dfuheiro é que eles passam a saber que prcduziramuma quantidade excessiva de calçados e que pottanto uma parte da.queÌe trabalho, cont;do na produção de 2 milhões de Imres de sapatos,é sociâlmente jnútil e poÍtanto não é trabâlho socialmente necqssádo.

. Esta é. porlanto. a funçào social e econômica qa moeda, numa\\ econgmìa capitaüsÌa. Fìa e â retrê\enLaçào daquito qüETãïã-ã-èiõì'\ngl@l_!":t,ó'E!g,!s3gprd--enagó-ceìã-ã--craro

monetária é qu€ substitni o pÌanejam€nto central. Portanto, a exis-Íêncìa da moeda é o elemento centÌal de qualquer ecoromia capi-talista, pelo fâto de que ela desempenha a furção de ;nfoÍmaÍ aosdiferentes produtores da viabilidado econômica da sua atividadepfegressa.

Coloca-se. agom. o problema de sabeÍ qual e a quantidade demoeda que deve circulâr nâ economia. Ed;=ã;;tdde-ìõG-fâcìlmenle exDÍessa Delo somatorro da9 traD'âcões M x D. A quanli-dade de equìvarenre gerar oe ouro, por €xemp,o. em cìrcuraçao.tem que ser pelo menos igual à soma de transações em que entrao oÌr Ío. lsro no enlanro @{que a_!$nìê,4idjC!- ínqÊttuia. o mesmo"pedacinho de ouÍo que

IDOde ser cruzerro. dolar. lìDra elc., Dooe luncronar para mals oe ïuma transação. O fabricanre de sapaìos vendãìi-GÈiõl-jiidã,rãálEã-õ-lõ-valor em dinheiÍo. tom este dinheiró ele compraforça de tmbalho, paga salários. O trabalhador pega o dinheiro ecompra mercadorias por sua vez. O comerciante põe o dinheiro nobanco. O banco o empresta novamente aos fabricantes de sapatos.A mesma ìrnidade monetária, em cuÍo pmzo de tçrnpo, intewémem 4 oü 5 transações de compla e venda. Deste modo, a quanti-

pÍessão lécnica "velocidâde média de ci aÉda"). Supo-motda. ou sejâ, em dinìeiro. e ljIB opeÍãçào M x D é que o mer-cado sancrona o tmbaÌho socialúente necessório contido fm M. Só nhamos, por exemfio. que o volume lolaÌ de trâDçâções, duÍanledffitroca o ano Ía eco4omia sel'a algo corno 100 (pode ser 100 bilhões de

cruzeiros). Se cada unidade fionotáÍia duÌante o ano hteflieÍem média em l0 tmnsações, a quantidade de moedas ptecisaú serapenas 100 dividido por 10. Deste modo, em cada momento, eÍiste

\i uma quantidade necessár,'a de moeda íO), que é o Íesultado daI I divkão do volume total de ÌÍânsações na economia Dela velocidade

O pÍoblema que se coloca agora é o de saber o que scontec€se esta ouantìdade o é maior ou menor do oue ela.;reo^-ffiÉ;.Nesle slslema, q moe{â e uma mfrcadona quatquer, eta e pÍoou-zida para seÍ vendida, só que o prcdütor da moeda, isÍo é, do ouro,não tem o problerna, em pdncípio, de sabeÌ se o trabalho que eÌeinvaste na produção do ouro enconlra saída no mercado. A moedasempre é aceita. Porém. se elqpÍoduzir mais do que Q,ìi-seja"se a Drooucao oe ouÍô rot ma10r oo ouê a ouântÌdade necessâírâ_

t

se a ploouçao oe ouÍo ÍoÍ malof oo que a qualludade necessâí,a,bâveÍá uma desvaloúação da moedâ, htoE-aõDIgura-x uma si-

de tra.nlaço9s !! r Dj mas podo.ser este ralor dividido pelg nújnç'Ío mêdlo de transacoes oue caoa umdade monetâfla rcatÌzâ. isteÍo m-o módio de Íiànsacões oue cada uniilade moletáÍia realìza. Eíeíumero medìo de transaçoes se cnâma oe_v {âDÍevlaçao oa ex-

94 95

Page 48: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

No caso da moeda-mercadoÍia. a inllacào e a d€llacão não de.ì1 Correm oa slmDrcs alterÂcao aa ouÌnlkloÁe de moeda em clrcula-\Ì çÌõ:Jnas de mudanças oo vafoidãìoêda-mercãdõna" medido, como\l o das-demãìa mercadorias, peloTempo dõ trabalht socialúente De-

cessário à sua produçáo. Assim, a GÍatrde ÌnJlação do século XVInão resulta apenás do grande volume de ouro tÍazido à Europa pe-los conquistadores espanhóis mas do fato de qu€ se tomou ImssíveÌobtêìo com um rnenor gasto de tempo de tÍabalho socialmente ne-cessário, Não fora assim e o afluxo de ouro logo eslancaÍiâ, poissua venda não permilirìa cobriÍ os custos de produgão aléú deProporcionar os lucros esperados. Não cabe, pois, imâginar qucMarx tivesse de alguma forÍìa aderido à Teoria Quatrtitatìva doValor da Moeda. Esta teoria só seria aplicável à moeda-meÍcado aà base de uma teoria do valor que at buisse o valor de cada mer-cadoria, e portanto da mercadoria monetáÌìa, à sua escassez relativa.O caso muda, no €ntanto, quando se trata de moeda-papel ou depapel-moeda,

No século XVIII, é que se descobriu pela pÍimeira vez, emtermos socialmente significativos, que não é Preciso que a merca-dorja-moeda circule Íisicamenle. Não se precisa pegaÍ o ouro, co-iõEã-]õ-ïõ-Tõko c sair para se fazer compras. Pode-se deixar oouro no cofre de alguém que a comunidade rospeite e obter desteaÌguém, que pode ser um banqueiro, notas em que ele diz "Fulanode Tal 1em depositado comigo uma ceÍa quantidadê de moeda".E o individuo laz os pagamenlos com €sres pap€;s

Depositar ouro com terceiros é vantagem Por vários motil"os:é desconfortável guardar o ouÍo em casa polquo atrâi ladrões, alémdisso,a própÍia circuìação do ouro, com o tempo, o desgasta fisi-camente por mais imutável que ele soja. A passagem de mão emmão fâz com que o ouro perca um pouco de peso. Há uma sériede gastos d€ circulação que pod€m ser poupados usaddo_se emlugar da moeda-mercadoria, a moeda-pâpel. A moeda-DaDel. nesta

@Marxthâ-mou a moeda-papel de "weÍtzerchen , que serla --slgno oo valor ,uma representação do vaÌor. É um pedaço de papeÌ, mas que re-Dresenta o ouro. Na medida €m que a moeda-papdi não passa disso,àm teoria pelo mãiõs, a {-üãììAãA;ìt no€ía--pâpel em circÌ açãoes.-lã-:úFÍããs mesEãíÌõis--(-a mercadoria-moeda. Não se pode co'lo@lidâdede moÈda-mercadoria que €fetivameate existe tros cofrcs. PoÍém, a exrstêlciada moeda-DapeÌ itrflui sobre /, islo é, sobre a velocidade media deórrÍuf-a1ffiue oTínqueiro *be que aquele ouro dos doPo'sitantes não seÍá reclamado por eles erÌquanto seu crédito da pmçafor ború. o indiüduo que recebe o papel do banqueiro o usa porsua vez para fazer pâgamontos, o seguinte tambéú o usa ê assimsuc€ssivamente. O banqueim t€m assim a po6sibilidade de emitirmais moeda-papel do güe a quantidade de ouro de qüe elê efeti-vamente dispõe. Ele se aÍisc4 êvidêntemente, pois s€ ele emite amah, é possivel que num ceÍo momenlo de pânico, todos venhamreclamar o ouro correspondeDte às notas emitidas. E ele não oteddo, arÍisca-se à falência. O bauquciro joga com esta possibdi-dade q na medida om que assim procede, a velocidade média'd€-circuìação vai aumentar. O mesmo ouro vai funciotrar em umamaior quantidade de traDsações do quê seria possível se ele fisica-mente circuiasse,

A eísréncia da moeda-DaDel Dermite. Dortatrto. um divórciolempoÍáÍio enÌÍe a moeda-mercadoria e a própria moedÂ-DaDel, Ospiimeiros banqueiros que descobrimm esta coisa Daraülbosa, dese poder criar moeda a partir da coDfiançâ, coúeçaram â lançar

/' --\\luação de \llyglgrNa mrdida em que âumentâ a produção doouro além da quantidade Q. o ouro se desvaloriza em relação àsdemais mercâdorias. Este fenômeno aconte@u váÍias vezes na his-tória da circulação monetária, tanto m chamada Grande Inflação,na época das descobeÍtas das mjnas de ouÍo na América Espanho-la, como mais receEtemente nos meados do século XIX, quandoda descoberta das minas de oì.rro Da Califómìa e na Austrália. AinfÌação vai até o ponto em que o p!9d!.!9Ulg!g:9_!i!gddc-+orpÍodurir mais ouro do que o nececaário Dara a circulação socjaldas mercaclonas, Ele não cons€gue repor a foÍca de trabaibo e osdemais recursos produtivos que gaíou na mi49lêç49j9,!!!Lo.FnÌtq obviamenLe, a produção do ouro tende a diminuir. E ovalor do ouro tendêrá novamente a subiÌ em relação Fe4or dasdemais mercâdoÍias, o que levará a uma situação de k$sçaa).

Quando há escassei de ouÍq Dáo se pÍoduz ouroìÉíuanti-dade suficiente, os pÍeços de todas as detuais mercâdoÍias, medidas êm ouro, vão descer. Conseqüentemenle a mcsma quantidadede meÍcadoria>. o mesmo valor em meÌcadoÌias pode circulaÍ commenos ouro. (No úecanismo da c!q!qêdl:!9!C949!9qq9!{._aquant'dade de moeda é âutomatjcameúrc Íesulâda Delas Íecessida-oes oa ctrculacâo socEl e Delos cuslos de oÍoouc:to em hrrnos der;atffiisiãìõìomeóãcuanqo a m{rcaoofla- pe3

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iïj-,:ji:1ïi, ïË,{i'iï}ïili*ï"i^,:"-ffi10f;:'":ïiË; ".J :;i!!ï,ï,i:"lr:JÍft "T:#"ï"1l:ï.ï""J,,::*:*:t:.";lïJ ::à':ï"-Ìi,:ïtï;:l"fT :ïl:"h-'ea,mi' ioaas as noiasït ,..,,:1' ;;;;.";';ì;ï ; :ï:J,ï.;'""""J,1*ff"1ï, :ï:iüï:;:.ïli,il jH,,ïJïï,ï...ïi,ii,jlïïï!';3ft

"*#*:J:papel em excesso em relação à moeda_mercadoria exisrenre é sei_#'ïïïiffi trJïï,'ïï',*:'i""1:.f ,ï:'?;"ï'"",*l;iïJ;r:,*í@:i;;i:ï:#ï;-ãtrï;#:H,,1,'.ï'il*" rusar, sempre que o:.^Ì-.r,.1t1 .

posto em dúvida, o govemo usÍì seu poder coercitivo

í::,"'lï*l" #ffi ;fu ff #1, i: ï:i::'j ;i"ï",."ïmenre o. ouro ou a prata e querem trocar, ro guichê do banco, asnoÍas pelo detal, o goverDo simpÌesmetrtee Ìorça os pa iculares. os âsenres ."""uït"""ï ï

tffiH:i,tiï:ra!ìqo _aa úotas, ou seja. a mo€da_papel. O goveruo poOe impor ocu*o Jo-rçado porque ete desempenha'o papeú" g;rïú;;;;ï;";

.r_ïË"i,"::""-.:h'ï'10ff"ï"'lï""'"0ï,ï'oi#*.ot#:",ïXï.l;:ï,*::::ã:'ffi..::.j;:l,H'ïff fi;,ï"':l*r gã:'*"i: Ia lorma. com que o saÌdamento desÌas dívidas "e

ae,e ,iafirai. Ëoi- |:il1;;::'iï"."*il:ãÌoeda_papeÌ a """inçao a" tú* olìï,nuï,J

a,E,precíso leru braÍ qu..ffi

:j::":^":f^-Si. i,á em circutaçã, vai depenaer aa necessiaade lb]e-iva d.a circulação e do uao. al".tu ^o"ãã_*Ë#;:"^ilï:ï:ï;ern qÌre _o Btado, derrro de uma *-rrt" *iúìãì. p"ü'irpà.a acriÍação dos seus papéis. eÌe invetrta a moeoa ntonveÌstyet. HilteÍd'ns (+) roi o auror rnarxÌiãìuãìãììTiìõ-6ìã-Elõlìi"-.-e

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. O Cdpìtd Fiaaceirc

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nopólio da emissào por pârte ftrlle lqLqglqlaquanticlade cle moecla eú circuÌação, iDd€pendeDtemente do valoÍ

ã.nõ-€iúirrJ:ìiãíiõ;Ìõfibilidade do funcioüamerto norúal de uma eco.nomÌa capitalista com um sistema monetário puramente de pâpel.El€ djz que ela !ão pode funçionar a longo prazo, eo primeiro lu-gar porque o Estado não dispõe d€ poder suficietrte, nem de coÂhe-cimeDtos para poder garantir a estabìlidade do valor da moeda. Seo Estadq arbitrariametrte, determina o volume de !ìapel-moeda emcirculação, ele pode cometer eÍos terÍíveig, e esses erroÁ, emboÍanão dêem escâddalos fiDanceiros, poÍque o Estado llutrca entm embancarrota, podem levaÍ a llutuações abruptas de preços, a siiuaçõesde inflação aguda e deflação aguda que vão atrapalhar o funciona-mento nomal da economia. Alóm disso, como não hÉ uma auto.Íidade monetária intemacional, as tÉtrsações entre paises necessa-riâmento têm que se fazer com o uso de mo€da-mercadoria,

Esta obseúação de HilfeÍding é curiosameÂte profética, porquêele escreveu isÍo há cerca de 70 a.úos e a alual cDse do dólaÌ de-monstÍa, claramente, quo ele linìa Íazão. O ouro ainda luncionacomo meÍcadoria-Íìoeda no comércio internacional e a tentativa d€sììbstituir ou complementar o ouro com moedâs-papel úacioíais(dóÌar ou libra) ú pode lurciouar em pe odos oxcetrcionais, comofoi o peúodo posterior à 2.. cuerra Mundial, mas normalmentoacabâm s€ criando sitüações de crise que fazem com que haja umretomo à moeda-mercadoÌia.

O probl€ma que se c.oloca é o segÌinÍei é possível haver umacìrcuÌação molretáÍia contÍolada a DartiÍ do Êoverno enouanÌo o

'capllaUsta? O papel-mocda exisLe, isso Dão se discute mâis. adãìõilaÍte dos países o usa dentrc da sua economia nacional.A moeda-mercadoria pmticamgnte trão futrciodâ mais em nenhum

r. Existe umo em toda

que é e não é moêda, se a verdadeim moeda é a rnoeda-merca-doria e toda circulação de papel é apenas um rcfl€xo dola ou se opapel-mo€da é realmente uma ltroeda. Não teDho dúvidas de queele é uma moeda, a verdadgira questão está no cootrole do seuvolume. Toda a discussão sobre iúlação se faz em função disto.

país capitalista. O que se D€rÊunta é se o soveno tem r€Àlmenteúnapóssibiüdadeaìar l i r iar iamcntedet;õíãi-õ-eaum--AGr

ou sê êlena

Page 50: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

Eri .re Ìrma tendéncia dos governos capiral is las de u5ar o seumonopol lo de emìs9ào da moeda do mesmo modo ;r Ícrponsável oue1.".1:,-t:y: usou. na Fr€nça no sécuro xvut.

"; ,;j;:;;;;;;

suas olvloas, Lm lugar de procurar dumenÌar a renda rr ibuLdria, 'deaumenlar os imposLos, qu€ e sempre

"rn" lorrn" pof i , ; . "* .ni . -no. i

:^" l " l ! Ì :1 '"CTr soía de pasar, os gorernos rendem simptesmen-:-i "r.*1ll

g. oÌ seja. faze. surgir da máquina impressàra umama of rquanl

dade de,eq!ìvalenre geral e pagar com ãla suas pró-

conrraoo tra ânatÁe de Mrrx que nos dá. p€lo meoos, uma pr imeiracnave para o seu entendjmento. euando o governo emite, o efeitoe o mrsmo qÌre qÌrando havia maior produçào de ouro, no casooa ,mercadorla-moedâ. A quant idade de moeda e[er ivamenle neces-\ana e pre,oetermtnada. é um cerlo O. No momenLo em ouê ôgoverno Inrroduz um acrescimo àqrJla quanridade o qu. o.olr"

"que, eÍe acresclmo.vai reduzir o valoÍ do equivalenri em relaçãoas demais mercadorias. A economia s€ aiuO"-pçqor. .ig, ou..tuffi:#'n+;jï:*:*--*Tï*+9::3 uaror au .ì.oa a.sãie

reÌâção -a,o

tempo de trabalho soiial necesário qo" ,uu';;;l;ç;;requer, Nestas condições não existe este Ipoáe aesvarorizai a'rn;;il ;;;il:'ïàT'if.ïiïi íXi,,',ij; Xïi

ffi i,iry.ï,i$"::3ï,,:1""'J:ïi#:ï J':fr $"":f n ïi:::muÍo curto de lempo. Mas, na medicla crn que o governo produzfÍna,

mdioÍ quunt jdâde de moeda. ele aumenrâ a necessidade demoeoâ na economta e cr ia assim um circulo vic ioso. No momenroem que ele_aumcÌrta C, ele automatjcamente aumenta o valor no_mìnal de todas âs rransaçòer. poÍque os preços sobem. No momenlo

ìii",jiï'; i.'i.ilïjiìf ,:';;]:: .:#'i,Jï,ïflïïJ":ï: l;,:i.:vado, PoÍlanto, se o goveÍno jnsjste em oDrer uma maioÍ parcela

:""- 0","1:i:,_'.-.."1 ,,'*ds do seÌ| podeÍ de emissáo ele rem qJe vor_

ü! i,'p:; ï'ïx",;,iï,i"::ïi t::"';:ï1,: i;'ï.,:ï:.ï:;ï:;:iliï;ïx,áï:...iï,;ï

":;ïï?, 1.,. " a;.r,,u o. uusrun t.,;,io.- f-uiu

;,'-ffi üq#ÉF-8,:.mf;,,:L';n]:, jtÈ

Por ouÌro lado, 4 eÌ jstencja de ür

; :

100

que se é possíveÌ qÌìe haja o funcionamonto normaÌ de uma eco-nomia capitaÌista sem mercado a-moeda, isto é, com uma moedaque sela apenas Dfia rqpre\cnração do vaÌor. que o Fíado emiiee Joga Í la circuìação. Esra que.rão deve-se colocaÍ, em nosos djas,d€ntro do contexto do capitâÌisrno monopolistâ em que o governodispõ€ de outros recursos também pam o controle da economia.Isto é um el€mento importante paÌa se fâzer uma leoria contem-poÍâneâ marxista da moeda. O EsÌado, em todos os países capita-Ìjstas, contrcla diretamente p€lo menos l/4 da produção sociaÌ, jstoé, o volume de rêcursos que eÌe absorve coÍesponde em geral amaìs de l/4 do produto social. Desta maneila, o Estado contÍoÌa Oe ao mesmo tempo uma grande pârcela do conjunto de mercâdoriasque estão sendo transacionadas. Um shtema monetárjo âdministra-do centraÌmente, que é realmente üm passo para o planejamentocenlral dâ economia, vai-se tonando cada v€z mais vjável na me-didâ em que o governo vai aume4tando também as outras formasde controle sobre a economia.

É realm€nte correto por pârte de Hilferding dizer qüe o siste-na de papeÌ-moeda inconversível é incompatívelr com o sistemacapjtaljsla não-controÌado por qüalquer aÌrtoridade centml. Mas talsjstema não existe mais hoje, principalmente depois da 2." GueÍraMundial. O capitalhmo monopolista se üansforma pouco a poucotambém ÌÌum capitaÌismo de estado, em que as aütoridades econô-micas dispõem de um conjunto de instÍumentos de contÍoÌe sobrea economìa que não se rcstringe apenâs ao conirole sobre a quan-tidade ou volume de moeda. Suponhamos, por ex€mplo, quo o go-verno aumente a quantidade de moeda, gerando com isto urna pres-são inflacionária, ou seja, reduzindo o valoÍ do eqúivalente. Elepode ao mesmo tempo âumelrtar os impostos ou diminuir suas des-pesâs e com issq aniquiÌa uma paÍte das transações roduzilrdonovamenle 0. Se o governo conrrola 25qo do produto sociaì (ou doprodulo nacjonal bruto) e se ele reduz as suas desresas a 2oqo doPNB e ao mesmo lempo emite, uma coia compenia a ourÍa. Esraé uma das técnicas de luta contrâ a inflação, tendo sido posta emprátjca no Bmsil, recentemente. No ano de 1964 o govemo emitiuum voÌum€ de moeda maioÍ do que em qualquer ano anle or, ge-rando com isto o que foi €hamado de "inflação cofietiva,,. po.ém,ao mesmo tempo, o governo reduziu seus iatvestimentos, reduziuuma boa pa e dos s€us própÍios gastos, contraiu neste sentido ademanda pela moeda, ao mesmo tempo que aumentou sua ofeÍta,Crìou com isto um impasse que se manifestou sob a folma de umâ

101

Page 51: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

crise, mas cujo resultado Íoi coÍtaÌ a subida dos preços ero 50 ,Os preços subiram em 9gqo en 1964 e en 45qo eú 1965.

O úpo do clpitalismo com que nos defroota.:úos hoje é Íadi-calmente diferc'lte do capitalismo qug Íoi pftseDciado poÌ Marxou mesmo por Hilfeding no começp do século. Parâ a coúprcerr-são do significado da circulação moíetária € do pdpel do Estadonele, é preciro levaÍ em coNitleração as caracteúticas globais destecapitalismo do Dosro tempo.

s,ND!"iifËdfr .i8lïslïi",,ó,"Ëtsff ô'igË,#,;,{Â",)

-_ Sinser, p.ìrt.

ìõr{c _ Cu6o de -iitrodução

à economia DolÍjca. Rio de JaDeiro, J.. edi_çao, l È.r€nseuriveBiÉria, 197j.

Autâs proferidai em 1966 f,o T€atro qe arena, em são paúlo.t. Economiá. I. Tiruto.

cDD - 130cDU - 33

l.

r0276-0t40

Page 52: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

l4o.

adi-.ali)eÀ-ado

CURSO DE INTRODUCÃO

ECONOMIÂ POLITICAA

SÉTIMÃ ÃULÀ

CRÉDITO

Vamo. anal i 'ar o credi lo do poDlo de vista keynesiano A aná-Ite do cÍédito teita oor-fuaìx é uma da. pafles menos compleladasde O CapilaÌ. Da misma forma que Keynes, Marx também enca_lava o sistema de crédito como uma exlensão do sistema monetâ-do, mas eÌe não chegou a desenvolver todas as implicações da"política dê crédito" para as mudanças de corÌlunlura e o mesmotampouco foi feito Pelos seus sucessor€s.

Depois da gmnde cÍise de 1929, os países capitaüstas foramãbândonando a moeda-mercadoÍia como bâse dos seus ststemas mo-rieìários nacionais, embom livessem que maDtê'la como meio dei;ôcà nas transações idtemaciotrais. Desta lraneiÍa, o volume demeios de pagamenlo em cada País deixou de ser determinado pelosmecanismos âutomáticos do mercado, passando a seÍ regulado pclogovemo. (Isto já foi mostrado na última aìda, mas deve ser lecoÌ_dado, porque vai set uma das bases da anáüse do cÍédito). E €mvirtude disso, a teoria contemPolânea do crédito se baseia muitomâis na análise que foi ofeÍecida por Keynes, em A Teoia Geraldo Emüeqo, do Jurc e da Medq do qtJe Dâs teorias erpostas PoÍMaÍx, que aitrda não folam atualizadas Para os sistemas moDetá_rios modernos.

Para se eDtender o problema do crédito é necessário leÍ_se umadefinicão d€ liquì.lez, qtte é um conceilo ecoDômico deÍivado dafisica. se ima?inarmos diÍerentes substáncias, variaDdo desde o só-lido até o Ìíqu:jdo, é claro que quanto mais líquida for uma $rbetÍincia, mais facilmente cla muda de forma, porque ela toma a formado continente: do copo, gamafa, vaso etc,, em que a coÌocam. Estaidéia de Ìiquidez é aplicada aos vaÌoÍes. Há valorcs mais líquidosou menos líquidos confoÍme a facilidade que seus possuidores en-contram em mudar sua lorma. Uma casa constitui um valor,ou seja, ela tem um preço e Pode-se tÍansformála em qualquer

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oulro bem, vendendo-a e comp.ando ourro bem. pofém. é precisoenconrfêr um comprador pâra a casa. A casa representa ÌÌm volu-mr mu:lo grande de !ator qur não pode ser (ubdir idido cenr que\eu.varor scja dimirÌrdo. por lanlo. o ca.a náo ê um valor nu: lol ìqu do. PdÍa mudof- lhe a Ío,nd leva lenpo. d preci .o arr"njrr Ì r ïcorrelor que a vendd e aqim por dianÌe. Caìa.. navio(, xulomor. issao vâroÍer Êeratnenle pouco r iquido. J. j un valor igu"l ao da ca.^,

de eíoque\ de rnercadorias que \e vendem comcomo por e\emplo càderno\ e,colâres rd epocdoo Inrcro dâ\ "J las. pode,er t .ãn\ formarìo em outrr , form", de

l :1" ' - . - : ] ILrr i . fâci l ,d.de. rodo( o\ vârur(r po$uroo. po- empÍe_çaq. entÌdadeç ou Ìndrviduos téÍ, mdior ou meror t iquidiz e a rormà mais líquida do vator e o propÍio dinheiÍo, â moedo. pode ,e

:,1", ' :1T.", ." moedâ em quatquer ou-ra Íormâ de vaìor. poi( etae oe acerÌaçao obf leator ià e .med:ât. . Sc em rez de cása. aìgue,nlner Jinheiío. pode comprar.o que qÌrLer. porÌân,o, u forr ia aemâxjrnâ lrqurde/ dos \atofes é a moeda lesal_

. A moeJa.d dira.. tegat ' quando e emirúa peto go!erno: o cru-zerro no Bfasj l . o Jolar no. EUA. a t ;bra na TnglaleÍra, o francona Françd e a$rm por d:anre. Os valore5 sob a lormâ de moedareg,r l iao os valores mais t íquidos que podem exi,r i r .. ,Uma rorma de valor um pouco menos l iqu'do. emboÍa de l i_qu oez

-quase abqoìurâ é a chamada moeda c\.rhurcl. A moeílaescrrrural e composla pelos depo\ iro. bancários à vi , ta. Se Ìenho

9anco, .oos.o di ,por deìe. emir indo um cheque. De,deque,o vendedof ace re o meu cheque. es,e deú,ì to LeÍÍr a me.mâj l Í Ì : : : '__q".

- i pÍóprid moeda.tesar. No enLanLo. há uma pequena

orrerençr. poìs em aìgumãs áÍeas o cheque não será aceiro. por

ï lTl ' i_i l eu toÍ viaiar paÍa roÍa de são Paulo e pto.u.u, pug"i

mrnna conra do ho.et em Recife com um cheque sacado cànìraum banco d--_Sáo Paulo. é possrvel que nâo o aceitem. Enlâo devore.|rar o,dtnheiÍo do banco e l rdnsÍormar a moeda escr iLÌrral , ooepos ro bancâno. em moeda legal para podeÍ pagar con,as forada sede da minha agéncla bancai,a. ì 'ortunto. o depósito bancáÍ io:e^f*1..1'." ,".:

tiquidez_um pouquinho inrerior "

aa rn..a" r.er,pois o€pende da âceitação do cheque, que é um docümento como. quaÌ se movimenra o depóriro úancái io. Ourra forma de vatàraìnda un) poìrco. meno, l iqujdo \ão o. chamados Trlu,os publ ims,

:-:1'1,"^ pi1:.

li:r^. em ó mesei. s. c..p; ;;;scmpro. uma Letra do Tesouro \ac'onâl ou do governo de Sàoi:l'"_-:i

d" de Minas ceÍai\. e\ses tírulos rém garaìr,a quâse abso_rura poÌs governos nunca abrem falência e- em vi íude disso. Do.so

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ili::4.-- este lirulo em moeda lesal com srande facilidade na

. Temoq. porlanto. Íormas de vator que sào cada rez menos I i_quìdas at i chegarmoc a lo.md\ eirremdmenle iLquida!. por exempìo. pos\o ler umd grande qurnt idâde de valor im um .eto raro.num qLadro de Van Cogh. ou em ourro objeLo cuja dem"nd.ì e. lár€írila a um grupo de aficcionados. podem ser objetos muito pre,ciosos, mas não são fáceis de vendeÍ. Eies consriruem formas ex_tremamente iÌjquidas. As formas de valor mais líquidas, moeda Ìegale. e.cr. ÌuraJ. 5io con,ìderadd. em conjunlo. mo./o. Os rírutos pu_D rcos de \enctmenlo d curro píazo \ão conside-adoç qua5c moedo., O.crédilo é principalmente a traÌÌsação entre valores de ljqui_Je/ dJeienLe _Qurndo empreío d;nheiro a aìguem, esrou abrindomâo od lrqutdeT. eslou eolregando a quem roma empreslado Ìrm\aror âbsoturamenlc t iqu'do. sob a fofma de diúeifo, e recebo deeu1ì docLmenro de dìvida. que pode ser uma dupl icarâ, uÍ ,a nolâ

oe venc mento mas e sempre menot que a do dinheiro. EÍa e ae\.ancid de uma transação de cÍédito.. Quando depos;Lo dinheiro no banco. r Íanslormo minhà moeda.eg. l em moedd €scr i tural . l ran.Íorno. pof lanto. um vaÍor de l i_qu-ldez_ maxima €m um valor de liqujdez um pouco monor, eu abromão de âlguma liquidez. Islo acontece hmbém quando o bancoenpre"rd dinheiÍo a mim. euando romo dinheiro empreíado doDarco para ap,rcar em atguma coisa. eslou Lransformando dinheiro

è moeda legat. de t :quidez absolutâ. num documen.ooe or!roa que eü enlrego ao banco como garanria, O valor e omesmo, porém o banco só tode dispor deste vaÌot daÌi a um certoprazo, que é o prazo da divjda.

^ A,,oro. de jutus e a /emunefaçào peta rcnúncia à tiquide_

Vud.rdo o banco paga juros a mim porque depositei dinheir ; nele,ere e\r .a pagândo d minha renúncia a l iquidez. pois esrou abr,ndomao de moedn tegat. de qu€ eu poso dispor a qualquer momenro,R":" :" ' ,T depo,rro bancãrio. que rem l iquidez um pouco menof.rero ldlo de qüe a di Íeren\a enrre a t iquidez da moeàa kgal e daerc.rrurat e mui lo pequena. os juros que se pagam sobre deoosito,a \ . r . . a rdmb.Ám rão ' Ì l r i ro pequeno,. Mas exslem e são geraìmenrepo.r l r \o. . embora ocrsionalmente posam ser negarivos: ;e( les ca_sot. arem do bdnco não pagar jüros. ajnda cobra uma r,rxa de admi.nrstração do depósjto.

, Se coÍÌpfo.t i lu los publ icos por moeda legal. por exempto, e, louabrrndo mão de cef ld I iquide,, , embora o t i tuJo públ ico seia

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baslante líquido, é fdcil tnnsformá-lo em diDbeiro. Por hso o títuìopúblico rende juros.

Se vou emprestar dinheto a uma possoa cujo c!éditq ou seja,a confiaDra qüe os demais depositam nele, não é muito gÉtrde, aliquidez de sua duplicata ou de sua aota promisúria é pequedâ-Dificilmente vou conseguiÍ v€üder esta nota promhsóda aDtes doseu vencimento, Por isso vou cobrar juros mais altos.

DefiDimoü desta forma, âl tÍaDsaçõ€s de crédito e a taxa dejuros básica. É preciso acrescentar que embora estejamos tratan-do, iDclusive nas aulas a[teriores, da taxa de iuÍos como se fosseuma sóJ na Ì€alidade há toda uma gÌande faixa de taxas de juÌosque corieapondom a vários elemetrtos diferentes daquele essetrc-iQlque é a difereuça de üquidez. Po! exeBplo: há o problma dqÌisco.Ao abrir mão de liquidez, eDtregando o dinheiro ao banco, as_pes-soas suÉem que podem emitir cheques e assítr dispor deste d;nhei-Ío com bastatrte üquidez, úas o baico lode abrir fâlêicia acate-tando pÍojuízo total aos depositatrtes. Esse risco iDfìui sobre a taxade juros.

Portantq a taxa de juros real aão someDte reflete a diferençade liquidez, mas refl€te também um elemenb dê Ìisco. Além disso,úas trocas de liquidez, isto é, Das tmtrsações dê créditq intervêm,em geral, intermediárìos: badcos, compaDhias de segurq compa-rhias de financiamento, corÍetores. Q trabalho do itrtermediiáÌioevideniemente tem que ser rcmunemdo. Há toda uma série de em.Frèsas que !êm capfual investido Eesta ativialade, visardo lucro, eesses custos de intermediação, islo é, o preço destes serviços tam-bém vai oneÌar a laxa de juros. Dest€ modo, a tatê de juros realé maior do que meramêdte o valõ; da diferênça entre a üquidezdos vários tipos dc valot que estão setrdo tÍocados. PoÍatrto, à tarade -i!!os, vamos dizer, puÌ3, básica se somam 2 elèmentos a mais:o custo da própÍia transação.(a Íemuneração do itrtermediário) e oêlemento de Íiscõ. A ta.\a de juros tambéú depeude dos diferentes

. pmzos pelos quais se renuDcia à üquidez. Depósitos em bàiicos po.

- dem ser a prazo fixo, por exemplo,de 6 meses ou de 1 ano. Nestescasos evidentemetrte a renúncia à liquidez é tatrto maior ouantomaior foÍ o prazo. Os juÍos teddem ; ser proporcioDais ao prazopelo qual se renuncia à ìiquidez. Na prática há üúa fata do taxasde juros, na qual s€ pode distiÍguir a taxa de iuros a cuÌto prazoe a taxa de juros a longo prazo, entre muitas taxas de jurcs, desdea mah baìxa até a mais aha.

O plqb=lgmq centrâl da anális€ do créditq do papel qu€ ele de-semp€nha €m uma sociedade capitalista, é o que determina a taxa

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de- iuro-s. Considemmos apenas a taxa de juros pura, à quâl s€ so-mam os eÌementos de risco e de custo de tÉnsação pode-s€ con_siderar o elemento d€ risco e o elemento de custo como dados epÌocúrãi ÌÌeterminar quais são os fatorcs que fazem varjaÍ a taxade juros fundamentalmente em tetmos de transação de liquidez.Para isto, diz Keynes, é preciso determinaÌ o,_que constitui a de-mandâ por dinheiro, qu€ Keyn€s chamou de M, prcvavolmente por-que é a letra inicial de moeda (none!>. Ele dü que a demandapor moeda de umâ economia provém basicamente de 2 molivos:o morivo dâc -qqngções e o moÌivo especulativo. O morivo dastransações dá lugar a uma demanda Mr por moeda e o motivoespeculativo dá lugar a uma demanda M, de tal rúodo que:M: M1 + M!.

O motivo dâs hansações decorre basicamente do sesuinte: todae qualquer pessoa ou entidade (econômica ou Dão). ;ecessita deuma certa quanÌidade de valór líquido pâm as suas rÍânsaaô€s nor-mars. A pessoa rec€be o saláÍio em sua cotrLa de banco, faz ospagamentos fiaiores com cheque, (aluguel ou pÍestações), porémpam pagâr o ônibus, o táxi, o lanche no baÍ. e outras transacõespequeDas. usa moeda legal. É pÌeciso ter para isso a forma de valormajs líquida: a moeda legal. A gento èm geral sabe por elperiênciade quanto vâi prgcisar: quando sê coloca o diíheiro no bâtrco, .iáse relira uma certa quadtia, pot sematra por eiemplo, paÍa essâstransações que não valiam muito de valor. Além dessas tmnsacõesÍotineiras. existem c€Ítas transações que podem se! besperadas,mas pala as quais é necessáÍio teÌ certo diÃheiro de reservá, comopor exemplo: pagar o médico ou a farmácia úo sábado à üoite-quando os bancos estão fechados. Desta maDcirq a demanda F;moeda para lransações Ìotinoiras e para casos impreviiros por pirtedas p€ssoas constiÌui parte de M1._ O racjocítrio é idènrico para as empresas, órgãos públicos eÌc.Esles lâmbém tèm uma séÍie de pagameaìos rotineiros a seÌemf€itos por meio de moeda escrituial, ou moeda legal. Ccrtas em-presas pagam o saÌário em cheque, outÍas pâgam em dinheiro vivo,Eslão nesse úÌtimo caso principalmelte empresas que têm grandenúmero de trabalhadoÍes que ganham salário mínimo. què Dãousam, porlânto, coÍrta bancáÍia e precisam levaÍ dìnhejÍo Dãra casâpara pagar a conra da venda no fim do mês. Essas emoiesas têmque dispor do moDranÌe de dinheiro constante na fothã de paga-mento.. O.mgliyq de "prêcaução" funciona lambóm paú as empÉ-sâs po$ elas precisam ter uma ceÍta rcserya de moeda legal pârâpagamettos de emergéncia que podem suÍgir, Deste modq o con-

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junto de demanda por mo€dâ, dos jndivíduos e das empresas. paÍatrunsações constiltJi a demanda poÍ moeda, Mr.

Por outÍo lado existe uma dç4qnda especulatfia por moedâ.O indivíduo ou a empresâ só se iÍraeressa em renìuciar à liquidezdaqüeles vaÌores de cue não vaì precisar paÍa tÍansações. Se a taxade juros que for receber se mantiver mais ou menos constante,pode valer a pena renunciar à ìjquidez. S€,no-entanto,é de se espe-mr que a taxa de juros vá subjr, não lhes in!€ressa renunciaÍ àl iquidez no nomento.

Digamos, por exempÌo, que voü receber o 13." salário e nãopreciso gaíar o djnheiro imedialamerÌte. Então posso coÌocálo ajLros. Posso complar um l i lu lo do go\erno ou mesmo uma açãode uma empresa, alguma coìsa qLre seja menos líquida que o diúei-ro, mas que em compersação me garanta o juro. se este juÍo for,por eÌemplo, de 5qo ao ano, vou imobilizar meu dinheiro por umano a 5qo. Se tiver mzões para acreditar que daqui a rìm mês ataxa de jums será ainda de sqo, \âo hâ Ìazão nenhuma para queeu espere para fazer a transação. Se eu achaÍ que daqui a um mêsos juÍos seÍão não de 5qo, mas de 4qa, pot èxemplo, por maìs raáoainda vou me apressar a compÉr a forma menos liquida de vaÌorpara aproveitaÍ a taxa de juÍos maioÍ. Porém, se eu tiver algummol.vo paÍa acÍedilar qus daqui a um mês a taxa de juros será deó9o, por exemplq eu vou esperar um mês, mantendo o meu valorsob a forrna de moeda legal, ou de moeda escdturaÌ, tanto faz,aLe que d mjnha expectaliva de aumenro de juro se Íealize, islo e.qu3 eÌerivamenle o juro suba, ou até qüe minha sxp€ctatìva mude,ou s€ja, até que eu úude de opinião. Isto é o que Keyoes chamoude preíeftn ía NÌa liquriea. Do ponto de vista da especuÌação, possosempre preferiÍ manter-me líquido, ou seja, manteÍ uma parte dosmeus vaÌores sob a forma de moeda legal ou de moeda escdtural,Ora, na medida em que várias pessoas fazem isto, o juro tende real-menle a aubii. Porquè, assim ôomo existe üma oferta de liquidezpor parte de quem tem fundos sobrando há uma demanda por Ìi-quidez por parte de quem precisa de diDheiro para transações.Então, ta m-Ldida em_quj o dinheiÍo se túnsfere de M1 para Mr,ou seja, o dinheiro se tmnsferg do fluxo comercial paÍa os estoquesde dinheiro pâra especulacão, cria-se uma escassez ale Dumerfuio,uma escarsez de. l ;quidez. A l iquidez passâ, então, a cuì laÍ .maiì . Arenuncla a uqurdez Passa a ser lnars card e a expecraíva de que ojuÍo vai auÍietrtd €fetivamente se realizâ. Isto significa que a taxadè juros é ern grande parie gwernada pela expectativa em Íelação

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a ela própfia. A taxa de juros vai ser aqujlo que as pessoas esp€_ram que ela seja.

, A demanda por moeda compòe^e. pois. de duas paÍrer fun_

oam€nrâls:. â demanda paÍa trunsa(òes qxe e umâ funçáo do niveloe arr! jdade da economjã: Mr sera lanro maior. quânto mâis hou__ver tÍansações. (Na aula passada mostrei que a quãntida<te de moe-da do sisrema. na anál ise de Mârx. depe;dia. . .

"" tn. iu, Ao ,o_

maroflo das Lrân.açòes M_D. pois bem. a demanda de moedanecossária para estas transâções é o que Keynes chamou de M1).E uma segunda- parre da demanda que é puramenÌe espe,ulaLivâe que s-. rege. nao peta râxa de juros exjslenre, mas pela e;pecrat iva <r_com reração a eta. É um elemento subjer ivo dos espeiutadori . , sendoque se 5upo€. que todo mundo seja.em alguma medida,especulador.i ìaoõs-. conslderã

, somenLe. o rspeculador prof issional. que operand t lot .a. comprando e vendendo Lirulos o rempo Ìodo, mas lam_bem pessoâs de clas\e média paÍa cima que tèm recursos ocioso,do ponto de.vls la de sua lr i l iaçáo imediata e que lèm que decidirse vâro aflr:aroJ a-curro ou Ìongo prazo ou se não vão aptica-loc.

Na lelermrnação da raxa de juÍos hÍ i rambém um outro el+menro obtelno que é a oferta de moeda. que chamamos, na úlajmaauLà de Q. Q e a qua,)t idade de moeda exisrenle Da economia emum certo momento, Esta moeda é a soma de moeda l€gal maismoeda escrituraÌ. Como se dotermjna esle e? Suponhamãs oue amoeda Ìegal seja papel-moedâ. que não rern lastro, que nal reÀn€nnumd retação com qualquer mercadon-a-moeda. como e a si tua_$o oo brasr l e da ma.or paÍ le dos pahes capiral isLas hoje. A ouan-Ì ìonoe de moeda legat é n€sLe caso determinada, em r i l r ima anãt isepeìas chamadas auÍor idades emhsoràs. ou 5eja. pelo b"". ; . . "1; ; l :que pode.Ìegular erra quanridade nào somente emiLindo, mas inclu_srve rccotnendo dlnheiÍo.

^. .--911i1., , moeda escÍ i rurat. sua quanridade é umâ funçào daquanroade de moeda ìegal. Suponhamos que o governo int ioduza

cm crrcuraçao uma cefla quantidade de moeda le8al, que podemoscha_mar de 100. Pois bem, este dinheiro rÌa neaiai em iue'ele naìesLa sen, lo,nece,si tado paÍa l rdnsaçòes vai se transformaì em lepó_

.^^ Se o banco Á, que rec€beu os depósrlos, puoesse pegar estes100 e JeempÍe,tá-los de novo e a pesso; que os lomou emprestadoo: colocasse no banco B. e csre fizcsse â mcsma coisa com relaçàoâo,banco C-.e esLe para o banco A e a,srm suces\rvamente. uma€mrssao de dtgamos. t00 milhòes de cruzeiros de moeda leqai crìa-na üma quanrrdade inJìnih de 'Ì|oeda escritural. porém, o; bancos

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não podem fazer isto. O banco A que Íecebe 100 não pode ft€m-prestar 100. EIe tem que reter uma pafie dessos 100 pâra poderpagar as r€timdas, quoÌ dizer, a tÌansfoÌmação da moeda batrcária€m moeda legal. Ássim como há muita getrte que faz deÉsitos, hánuila gente que reÌira diúeiro. Esla rcservâ em moeda legal. queo banco tem qu€ ler, é o chamadg enúìxe. E o encaixe. ôú seja.â reseÌva do banco em moeda legal,é üma certa fmção coDstantedos depósilos, que o bânco tem, Quando o Degócio batrcáÍio gene-ralizou-se, esta fração acabou se JixaDdo em mais ou menos 8qo,como r€sultado da observação do comportame[to dos depositântespelos banqueiros. Estes conclüíÍam, depois de muito erlar, que umareseÍa d€ 8qo em moeda legal dos depósitos é suficieÀte Wta iazeílace às ÍetiÍadas. I&&, geralaeDte, o €trcaire é detormimdo pelogovemo. Os bancos são obrigados a ter um certo encaixe, que édeFositado no banco centÍal. Este etrcaixe é getalqelte mais queloqo dos depósitos, Ele pode ser, vamos dizer, (aoqo.'tlsto significaque o barco A, se ele recebeu depósitos de 100, só pode omprestar80 para alguém e se este alguém vai depositaÍ esta quantia ro ba.rcoB, o banco B só pode eúprestar 64 (ou soja, 80qo de 80), que s€rádepositado no banco C, que só pode emp-restâÍ 51,2 (861o de 64)e assim suc€ssivameíte. Qgqldo mais voltas o dinheiÍo dá, tantomajs gs qovos depósitos tendem a zero. No caso de um encaixe dee20ôo. a quaDtidade de moeda escrituml cÍiada por uma adiçào de)'moeda l€gal é cioco vezes o valor desta mo€da legal adiciotral.

Quanto maior for o encaixe, monoÌ seÌá o volume de mo€daescdtuml criado. Se o encaixe for de 20qo o volume total do moedaescritural criado por uma emissão de 100 de moeda legal sêÌá100+80+64+51+. ..... : 500. Se elo tot de 25qo, o voluúe domoeda escrituml criado seú de 400.

O volume de moeda escrituül criado sempre é uÍd mútiplodo aumento de moeda legal: s€ndo o etcaire iglal a r, o volumo

de moeda escritural será o inverso de a ;s16 6, -l vezes o acrés-

cimo ale mo€da legaÌ. S€ x ïor 2U4o, por exenrilo, o inverso de1l

20qa ort seja - é úual a 5, se r for 25qr o itrveÍso ........._0,2 0,25

é igual a 4 e assim por diatrie.O mais impoÍtante é entender que a moeda escritural érseír-

pre úna 1unçU aa moeila legal. O volume de moeCa oscrituial émaior que o de moeda legal, mas é um mútiplo que o próprio

TIO

governo pode controlar alravés de fixação do encaixe, atÍavés daooÌrgaçao que ete tmpõe aos Intermediáíios de maDterem um ên_caiÌe,em mo€da legal como Íração dos seus depósiros.A. questão básica esrá em saber end" M j.'ú;'';l;; ;; j";'ï;;ül*ï"Ti*ï ã: ïili'::ì

::. A_1r".^1,.",1 porqÌre a.demanda M, para rransações vài poderser mals racdmentf sarisfeÌta, pois existe um majo,r estooue demoeoa. t€gat o escÌiluraÌ cm circulâção. O govemo pode au;enÌar

v. emrrÌnoo moeda legal ou m€ramente reduzindo o encaüe dosoancos. fazendo uma coisa ou outÍa. ocriu varo,"s riquiaãs'ia i"ããiriï'ï''""áj"1,,f; 3;"ïl i*ïjiJï,?muneração pela renúncia à liquidez. Isto cria uma expectativa ìe::,.^ ",,:*i.-d,. iuros caia. Se as pessoas esperam que a taxa de jurosrdra. ivr2 val o,mtnurÍ: não val€ a pena esÌocar dinheiro esteril_menÌe. é,Ìelhor aplicálo imediarame;te, antes que a tar.a de juÍos

o que ocorre reaÌmente é nue quatrdo aumentu i) (aoleía de meios de pagamento), dininuì M,-o que rena" a fìzìiflï.^quj

u.,1"* de iu.os caia mâis depressa. Éoreln, existe utr,ÌrrmrÌe. d,z Keynes. que está na psicologia dos esperulaaores. a ei-periëncia pas\ada dos especuladoies thei ensiua que a taxa de-iuios:lo.j.d.

.r" abaixo de um cerÌo timire. Se a taxa ae juroiloise )"/o e o governo aumenh o volume de moeda legal e Ëscriturala. taxa de juÍos cai paÍa 4qo. Os eslrculadoÌes a"ìsent"roui"_,_ãdinheiro.passa de M, para M1, isto é, passa das maos dos entesãu_Íadores às mãos dos que vão usá-lo iara tmtrsações e a taxa dejuros cai para 3qo. Esta taxa de juros de fV, C o .ioi"t.,-u"1ni":ïryl. !".:. "t

especuladores aceirâm. A parrir dai os ."p."utudor.,nao-acredllam mais que_a Ìaxa de juros vá cair maìs, porque o ele_menÌo de-flsco e custo da inteÍmediação do crédito teode u mautera taxa acìma de um c€rto nivel mínimo. Á panir d€sre momeDto,lodi

-o dinheiro adicionat que o governo for logando na ciúaúì

nao lem mats eteito \obre a laxa de juros. As expectativas se ìn_vertem. as pesroas teÍrdem a acreditar que daÍ poì djante a raxaoe luíos so pode aumenlar, Entào M, vai aumenlaÍ, o enrcsouramed_ro,rar aumentar. Em úhima análise. o dinleiro que for sendo criadop€ro govemo_ var sendo entesourado pelos €speculadores HaveÍáuÌna Lranslerencia de_liquidez do go\,erno pâra o €speculador, semererÌo sobÍe Mj. tsto é. sobro o volume de meios de pagam€Dto utilj_za.lo

.em. lransações '.reais.. portanÌo, o governo tem possibilidâde

:: ::"Í1. I taxa de jüro, poíém só ari um ceno limire, que deprnde

oo esrado dê expectatjva dos especuladores.

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Quâis são os efejtos da variação da tâxa de juros sobÍe a ativi_dade ecorômica no shtema capiratista? Se há uma rcdução na tâxade juros porque o governo dumenrou e. e fez diminui i ao mesmotempo ì4r, a demanda especuÌâtiva por moeda, €nrão, dada umac€rla ef ic iéncia marginal do cap: lal , ou .eia, uma expecral iva de IucÍooos rnvêsl l00fes. os rnvest lmenl0s tão aumentâr, Na aula sobre.acumulação de capitâÌ, mostÍej que o investimenlo se dá até o ponto€m que o lucrc esperado é jgual à taxa de juros vigente. e;andosÉ chega neste ponto, não há in!€resse em continuar úvestindì oor-.qu-. e mâi5 Ìnlere(cdnLe coÌo(ar o dinheiro a juros. pois o crco émenor. Se a taxa de juros caì, uma série de i[vestimentos que antesnão €ram viávejs passam a sêìo. Ìsto deve levaÍ ao aumento do fluxo'de investjmentos, resultando daí tanto a expânsão da capacidadepÍodutìva como o aumento da produção.

Se â economia egt iver com capacidade ociosa, isto q, com Lra_baÌhadores desrmpregados e com capacidade de produçào que náoeslá sendo utilizada, a reduçãô dâ taxa de juros e o ãumento dosjnveslimentos fará com que a atividade €conômica aumente. Comìslo vai cÍescer Mr, a necessidade de moeda pam traÍsação, pohlanto os lÍabalhâdores adicionais àgora passam a receber saiários emmo€oa qu€ usam parâ seus gastos, como âs empresas, que tÍabalha_vam com parte apenas de sua capacidade passam a usar maior DroDor_ção da me\ma e con5eqüentemenle necessi lam de mais moedà parasuas transações. Haverá portanto, Ìrm aumento de M1 e, em teoriapelo m€nos, o nível de preços deveÍá p€rmanecer o mosmo, portanto,1ìavendo desemprego € capacidade ociosa, o fato de o govemo au-mentar 8, pode ter por efeito meramente elevar o nível de empÌego,sem geÍar quaÌquer efeito no nível de p.eços.

Este mecanismo funcionaria até se chegar a uma situação depleno emprego. Âcontece que o governo Dão sabe realmente quale o ponLo do pleno emprego. A part i r do pleno emprego,u renrui iuade u\ar moeda para invesÌìr se Írustra, Inlest i r s:gni Í ica cr iar novasfábricãs, novas fazendâs, novos bancos, novas casas cometciais etc.Mas se não existem pessoas disponíveis para tÍabalhaÍ nos novos em-pÌeendimentos. a estes só resra tenlar procurar alrair empíegados dosjá exisÌentes, medianLe â olerLa de salár ios mais elevados. É óbvioque as emprcsas mais atrtjgas Íesjstifão oferecendo aos seus tÍabâ_ÌhadoÌes também remuneração maior. Desta competição entre,os em-pregadores por mão{e-obra resultará uma cbváçãJ geral do preçoda força do trabâlho, sem que o volume desta se expanda. Destá ma-ngira, se algumas das novas €mpresas cons€guircm emprogados istosó se dará à custa de outras, O aumento de Fodução em algüns se-

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toÍes será compensado pela Ìedução da atividade, por falta de mão_de-obra, em outros, PorLanro. a paÍlir do momenlo em que a econcmia entra em pleno empÍego, qualqueÍ aumento da ofe a de meiosde pagamento O só pode ter por ef€ito uma elevação de saÌáÍios quenecessafiamente se transmite aos preços, dando início a um processode inÍ laçào.

Assim, em t€oria, a ação do govelno de controlaÍ a quanlidadede moeda pode levar a economia a ìrma siluação de pleno em_prego! porém a partir daí, qualqu€r lentativa de ainda reduziÍ ataxa de juros e aumentat o emprego é impossível e se transformaem inflação, Diz Keynes, com muito realismo, qÌre numa economiacapjtalista, não planifjcada, este esquema não é tão simples nemLão lógico cono foi descr i lo. Porque quando caminhamos de umal jruaçào de d€semprego e de câpacidade ociosa parâ um aumenloda capacjdade produriva, podem surgir pontos de estrangulamenro.Por exemplo: quando combino trabalho com capiral, ou seja, em-pr€go lrabalhadores para rrabalhâr com üm ceÌto equipamento, náosomente preciso de trabalhador€s não quâlifjcados crdmo tambémde trabalhadores quaiificados. Então, pode acontecer que todos osrrabaÌhadores qualificados já eslejam empregados. Desre modo, atenlaliva de inv€stimentc aÌém do pleno empÍego dos trubalhadTres qualìlicados se torna impossível, mesmo que haja uma grandeqÌran!ìdade de trabalhadores não qualificados ainda não emprega,dos. Cria-se üm ponto de estúngulamento que joga a economiaem uma srtuação de Íalso ple^o emprcgo e toda, tentativa de esai-muÌar a atividade produriva aumentando a quantidade de moeda\a,ae_rrânslormar em int laçào anres que o pìeDo emprego reat secr,e, Ene e um exemplo de ponÌo de e,trangulamenLo gerado poruma insuficjência d€ rrabalhadores especiaijzâdos. Outro exempÌoseria a falta de energia elérÍica. Para se criar capacidade adicional deproduzir energia eÌéLrìca. os invesLimcnÌos demoram 5,6 ou 7 anospara "amadurecer", dependendo do timpo de construção de novâsus'nas c rcsoectivas redes de tmnsmissão. Quando se pÍocura am_pÌjar a capacjdade produtiva industrjâlJ que usa energìa elétrica, atéo ponto de plena capacidade do sistema de geração, ctia_se umponto de estÍangulamento. A parrjr daí rovos investimetrtos jndus-triais toÍnam-se impossíveis e a tentativa de elevar a caDacidadede produt;o 'ndusrr idl se Íru ' t ra gerândo rensões inf lacionàrias. Oransporle pode seÍ ourro ponto de estrangulamento. Ênfim. é sópcn)ar no aÌo, le qui a divisáo sociâl do l rÂbalho represenìa umsist€ma tremcndamenle dElicado de equìlíbrjo e harmônização rte

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muilaç al i t jdades complemenrare\ para \e perceber que é mu;torac| cue ern uFìd_ economjâ nãG.pldnejadâ o crescimelro dâ al iv j_oaoe va. Ínaìs cedo ou m3,s larde, e\bârrar em pontos de eslrân_gìrnmen!o.

Esres pontos de estrangulamento, em gerãÌ, não são âbsolutos.no se1Í ido de que. a par. i r dai . nenhuma capdcidade produrjra poJes€ expandjr. Certas atividades, como aqueÌas que usam energia elé-trJca. serão barradas, porém outÍâs, que não a usam, poderáo crcs-cer. Desra mâneiÍa. o que vai aconrecer nâ pÍál ics ; que remoreque (e cr ia um aumenLo do volume de moeda ìegal ou e.crìruralem uma sjÌuação qüe não é de pleno emprego haverá os dojs efeiÍossimultaneamente: de um lado um ceÍto aumento da câpacidadeprodutjvâ e ao mesmo tempo um aumento de pr€ços. o aumenÌode preços é o Íesultado dos vários pontos de estrangülamenro. quevão su.gindo nâ economia, poüco n pouco, e na rnedida em queeìes se multiplicam váo barrando a expaÍrsão da ativjdadô produtivaare üm ponto em que passa a ser impossível expandi_la mais. Nâmedida em que ìsto vai acontecerÌdo, os âümentos de O vão setranlformando cada vez mais em aumentos de preços. vec;Í ica_se,

l \ âs, i rn. a inrer-relaçào enrre a laxa de juros, credità, moeda e ar i_lr v idade produt iva.

Á irracionalidade do processo está no fato de que os Donrosde e.tranguiâmenlo Fão são previ .ros de antemào. A;nál ise d-o cré_dìro é üÍ; l pard se enlender a chàmada ecoDomia capiLa,5ra moderna, que é um tipo d+ Capitalismo de Estado. O Estado rem umjnstrumento poderosíssiÍÌo para influh na atividade Droalutivâ. namedida em que d ele que condicìora a evolução de e. ao controlarnão somelte a moeda legal mas o sistema bancá o e. Dortanto. amoedâ eqcrÌ Ìural . PoÍém. eìe somente pode est imuìar ar i cerroponlo.a al iv idsde píoduriva. nào Ìendo poi. ib i l idadcs de impedir quesucesívamenle miì tç e mats ponLos de esÌÍangulamenÌo apareçdm,Eles só se tornam conhecidos tarde demais _ pelos seui eteitos.Só, se. pode peÍceb€., por exemplo, que há um àesequilibrio entremão-d€-obra .especializada e úo-especializada (que só pode ser sìr-perado especiaÌjzârÌdo-se uma parte desta mão_dì_obra, expandindo"se o apareÌho educacional. colocando-se gente nã escola e a,sim pordlaÍ l re. .o que d_eÍr 'orâ muiLos anosì d€pois que eleLivamenlc os sa.laf los do lrabathador especial izado foÍem muiro superiores ao dotmbaÌhador não-especjaljzado. Só a diferença de salãrios e a escas_sez reaÌ do trabalhadores €specjaljzados vai Íevelar o ponto de eetmngulamento e a medida do desequiÌíbrio. Só ai é q;e Drovidên-

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c:as vão ser tomadas, A mesma coisa quanto a uma série de outrospo[tos-chaves ou estra!égicos na economia.

D€sejo concluj. esta exposição insistitrdo mais Ìrm pouco nL!!:Í luËnc,a Ja_var:dçáo do nr\el de preços. que vaì ser objelo da pró-r imd aLlJ, sobre eíe mecanjsmo, que é t ÍemeÍIddmente aulo-esl inìulante. qe se crìa inflação, islo é, se aumenlam os preços, a pre-ferência pela liqüidez passa a ser tremendamente oneÍosa. As reser-vas d€ moeda para especulação, Mr, vão se reduzh com Sranderapidez, pois serja irracional manter valores em uma moeda que vaise d€svâÌcrizar. O vaioÌ da moeda é dado pelo inveÌso dos preços.Quando o governo aumenta o volume de moeda provocando certaelevaçáo de preços e, portanto, pe.da de podr,r de compra da moe-da, ele está forçândo o desentesouramento da moeda legaÌ nas mãosde €mpresas e indjvíduos. PoÍtanto, há uma espécie de muÌtipÌìca-dor, qrìe reforça a açáo do governo. S€ o goveÍno iança 100 mjlhõesem circulação paÍÈ que o sisaema baflcário crie mais 500 milhõ€sem moeda escritural, aumentando 0 de 600 milhões, na práticaacaba acont€cendo que 0 cÍesce muito majs, porqÌIe todo rÍundoque esrava espefando um aumento da taxa de juros pâra âpLicardinheiro, no momento em que se loma conhecido que o governoestá emitindo, espera não somente uma baixa na taxa de j'uÍos, mastambém um aum€nto los pÍeços. Obviamente, paÍa proteger o va-lor de sua pÌopÍiedade, tgdos procuram converter a moeda em seupoder em bens. Deste modo, o efeito que o govemo provoca podeser muito major e muito além do que ele espera. Por mais expe-Íiência que os gsvellros capitaÌistas tenhâm disto, e estas manobÍâsvêm sendo feiias sistematicamente desde o fim da 2." Guerra Mun-diaÌ, ajnda assim €les erram sisternaticâmentô, crjando muito maisinflação do que esperam.

Às vezes o goveÌno faz o contÌáÌio, oìl seja, paÌa impedir ainflação ele retúa moeda de circulaçáo. PaÉ tanio, o governo au-menta o encaire dos bancos e reduz a moeda escÍitural, ou criaum oÍçamento superavi!ário, isto é, ele retira dinheiro da circulaçãoatravés dos impostos e gasta menos do que retira, diminuindo amoeda legal em circulação. EÌe, assim, rão someDte está reduzindoO, mas cda uma expectativa de qug a taxa de juros vai aumentar,estimuÌando a demanda especulaliva por liquidez (M2) e as pessoas\,ão entesoürar o dinheiro, esperando poder aplicaÌ a melhores ta-xas de juros mais tarde. Álém disto o goveÍno ao Ìeduzir O criaüma expectâtiva de qüeda de preços a qual também estimula a É-tenção especuÌativa da moeda: é melhor comprar mais tarde a pÍe-ços merores. Com isto se retém muito mais dinheirq os investi-

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mentos caem, Mr, a demanda de moeda para transações, tambémvai cair, porque a ativjdade econômjca cai e a rentativa de aca,rarcom a inflação acaba lançando a economiâ em depressão. Assjm,perc€be-se como todos essrs fatores formam círculos viciosos emtermos de um efeito que tende â repercutf por toda a economiae, embora o governo tenha o comando do processo. eÌe não con-,segue tazer com que a economia cresça est;velmente. A tragediae a irracionalidade do sistema capitalisia moderrÌo ó de que embo-ra o governo renha podcÍ para condicionar o f l Ì lxo econõmico, háforças que ele não pode controlar, quc fazem com qüe de Jâto osciclos de inllação e defÌação, de pleno emprego e dosemprego, decÍise, depressão e ascensão se verifiqÌrem, emboÉ agora muito de-pendentes da poiítica económica do governo.

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OITÁVÀ ÃuLÀ

O NIVEL DE EMPREGO

A economia capitaÌista se apÍesenla como um compleLo sisle-ma de vasos comunicantes, em que milhares de diferentes vaÌoresde uso (bens e scrvìços) são produzidos e intetcambiados sem qìlehaja üm plano geraÌ que asseguÍ€ que cada uma das múÌliplas ne'cessjdades dos membros da soci€dade seja satisfeìla. Em lugar desteplâno geral há um conjunto de mecânismos "aìrtomáticos" quêdevem induzir produtoÌes e Consumidorcs a tomâr ãs decisões ade-quadas de modo que o resüllado do esfoÌço produlivo efetivamertecorrcsponda aos desejos e necçssidades de todos. O importante aquió qÌre Ìajs decisões são tomadas isoiadamente, o que coÌÌsliÌìri a "1i-berdade econômica" ao ver dos partidáÌios do sistema ou a "anar-quia de produçáo'âo veÍ dos seus adversáÍ ios.

Os mecanismos prete$amente aÌrlomáticos que deveú condu-zìr à alocação ótima de recursos - isto é, que devem assegurarque a quantidade produzida de cada valor de uso corresponda omelhor possível às necessidades - são os mecanismos de mercadosem que predomina a livre concorrêncja. Tais mecanismos fìrncio,nariam do seguinte modo: a) a cada valor de uso corresponde ummercado em que um grand€ número de plodutoÍes encontra uÌnnúmero aambém grande de consumidores; nenhum produtor ouconsumidor é tão foÍte economjcamente a ponto de poder, pelasua ação individual, influir no pÌeço; b) em câda metcadq a quan-tidade d€mandada p€los consìrmidotes é tâitto maior quantomenor for o preço, já que a preço mais bâixo, câda consumidorpode comprar maioÌ quantidade e um númerc maior de consu-midores pode entrar Íro mercâdo; é claÍo que se o preço aumen-ta deve"se esperar o contrárìo, ou seja, que o voÌume d€man-dado caía, seja porque cada consumidor agoÍa só pode comprarmenos c alguns teÍão mesmo que se retiraÍ do mercado; c) emcada mercado, a quantidade ofertada pelo3 produtoÍes cresce

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quando o preço aumenta, e decresce quândo o pr€ço cai, o quedecoÍre do fato de que, com determinado nível de cìrstos, a mar-gem de lucro em câda unidade é tanto maior quanto maior é opreço e vice-versa, teÍdendo os pÍodulores a elevar a ofeÍaquaÍdo o lucro unitá o é maior,e a diminuir a oferta quando olucro ünitáÌio é menor.

São estas condições que permitem afirmar que, em cada mer-cado, o encoítro dos interesses opostos de compradorcs e vendedo-res defìne ao mesmo tempo um único preço de equilíb.io e umadada quantidade de mercadorias qre, a, este preÇo, é transacionada,Com efeito, se a pÍocura varia inversamente e a, oÍÊÍla ìlietamentecom o preço, só pode haver um úDico preço em que a quantidadede mercado.jâs que os consumidorcs desejam compÍa. coincide comâ quantidade que os produtores desejam vender. Este aspecto podesea melhor ilustrado com um produto novo que é lançado no mer,cãdo sem que os produtores conheçam as mndições de procüÉ.Suponhamos que este produto seja um novo tipo de tecido préìes-botado e pré-âmarrotado e que sua of€rta seja inicjalmente de ummilhão de metms v€ndidos a CÍg 1.000,00 o metro.  este preço,pofém! poucos podêm comprar o tecido de modo que apenas500.C00nì são efetìvamenle verdidos. Vão sobrar, portanto, outros500.000m o que vai forçar a baixa do preço Darâ, digamosrCrg 800,00 o mctro e a este preço haverá meÍro6 lucÍo, de modoque alguns produtoÍes vão desjstir des[e tipo de tecido e a ofertacai a 750.000m. O preço mais baixo no entanto, atÉi maior núme-ro do compradorcs, que adquirem toda a produção e até fazem filasnas lojas, evidenciando qüe agoig hâ falta do produto. Desta ma-neirâ o preço deverá subir de novo até que se atinja o equilíbrio,djgamos,em que a um preço de Crg 930,00 o metro s€jam transa-cìonados 870.000m do tecido.

É claro qÌre, na pútica, o funcionam€nto dos mercados nãocorresponde bem a este figurino teóÍico. Em primeiro 1ügar polqueos mercados, sobretudo no capitaÌismo hodiemo, esião Ìotrge de sercompetitivos. As c-onseqüências deste fâto seÍão examinadas na pró-xima aula, Por ora basta assinaÌar que, quando os mercatdos se tor.nâm monopoìíslicos, os preços varjam muiio menos e os produlorestenaâm induzir os consumidores - e em geral o consegÌem - acompiar a qüantidade de mercadoias qüe eles lhes desejam ven-der. Ën segundo lugar - e este é o ãspecto que nos interessaaqui - a teoÍia do ajustamento automático de oferta e pmcuÍamedjante a fÌutuação do preço Dão.leva em conta (em veÌdad€,âbstÍai propositadame[te) o fator tenpo. lsso significa que entre

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o momento em que o tecido do gxemplo acima é lânçado aCrg 1.000,00 o metro até o momento em què os pÍodulorcs per-cebem que a este preço a procüra é müìio ìderioÌ à oferta,tÍans-corre üm certo período de tempo, deDtro do qual as condições tantoda oferta como da procura podem mudaÌ. Em outms paÌavras, deâcordo com a teoria do ajustamento automático, o equilíbrio é al-cançado mediante uma série de moviúento pendulares em que opÌeço aprcsenta oscilações alecrescentes ao rcdor da posição d€ equi-líbrio. Mas para que isso aconteça é preciso que tudo o mah peÍ-maneça coNtaÍrt€, a famosa condjção "coeteris paribus", e é issoo qüe via de Íegra não se dá no capitâlismo, cuia dilâmica revo-luciona permanentemente tanto produção como consumo.

 produção é afelada sobretudo Èor inovações técnicas, ouedenominamos "mudânças de processo" a! quais permitem aÌcânçâro mesmo resultado com menor gsfoÍço, ou melhor, cada unidadepassa a ser obtida com menor gasto total de tempo de trabalho.É o que acontece, por exemplo, quando o tecido passa a ser pro-duzido por teaÍes âutomáticos e não mais por teares lnecânicos ouquando os televisores passam a ser eqüjpados por tranÀistores c nãomais por válvulas, Ás mudanças dg processo não rcduzem simpÌes-mente o tempo de trabaÌho necessário à prodìrção de cada unidade,elas tambéú alterâm a distribuição deste tempo eIItÉ a produçãodo equipamentq que auüÌenta, e a produção do valor de uso final,que dìminui, Tgares automáticos são mais caros, isto é, absorvemmais tempo de tÌabalho, do que teaÍes Íìecâdicos, porém peÍmilemredüzir em tal medida o tempo de trabalho gasto na opelação detccer que, no final, o custo do mctro de tecido (sgmpre em tempode trâbalho, mas que se Íeflete também no custo em dinheiro) émenor.

Quando um ramo de produção passa 1mt uma mudança de pro-cesso, a quantidade de tÍabalhadoÍes nas etapas finajs d€ elâbora-ção do produto cai fortemenle, ao mesmo tempo qug o empregona produção de equipamentos se expande. Durant€ detorminadoperíodo * enquanto o equipamento qle se tomou obsoleto é subs-tiÍuído - o emprego totaÌ aumenta. Is:o significa que os consumi-dores de tecido, cuja grande maioriâ é composta po. assaìariados,estão ganhando mais dinhejro e ao mesmo tempo o preço do tecidoestá baixândo: a mudança de processo afeta simultaneamente de-manda e oferta, Como Ìesültado, pode-se espeÍar, numa fa3e inicial,uma úpida elevação do volume de vendâs, o quo enseia um amplocÍescimento da produçãc, Assim, o novo equipamerìto vai não so-mente subslituir o antjgo - teaies automáticos em lugat de leares

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mecânicos - mas vai proporcionar uma capacidade de produçáomuìto maior.

Mas, após algum tempo,não havotá mais equipameito antigopara sìrbstituir,e a produção de teares automáticos so irá apenaspaÌa repor os que se desSastaram. Nestas condições, o emprego naprodução de eouipamento,assim como na sua instalação^vài iajr ea um ponto ral que o emprego roral Do ramo tèxr i l , incluindo fa-bricação de teares e fabricação de tecidos, será menor quo antes.quando r indú\Lr ia estâva equipada com teares mecánicos, Isso Lemque ser assim, pois, se não fosse, o custo do metÍo de tecido emtempo de trabalho náo diminuiria como resultado da mudança deproce(so. A conseqüéncia Íinal de qualquer mudança de processote,m que ser umâ Íedução líquidâ do emprego, pois esra é sua jus-Ir t ,catra econômica. embora seu efeiro inic ial (e que dura algumtempo) seia o de incrcmentar o €mDrego.

Quando entÍamos na segulda fass, a da queda no nível deemprego, a renda dos consumidores (na maioúa assaÌariados) cai.o que Iaz com que a demanda por tecidos dimitrua, determhandouma redução do volumê transacionado e poÍanto produzido e,desta fo.ma, uma queda agora no emprego om teceÈgem, o queval por sua vez provocar nova Édução do consumo. vemos, por_lanlo, que as mudânças de processo fazem o pêndulo do mercadosubrr durante um ceÍro peíodo e cair no seguinte. Tão logo aban_donamos a cond'ção "coeteris pa bus,' e olhamos pala v; o oÌ1gse_ encontra por delrás da d€manda - que é a renda dos coniu_mrdores e sua repânjção - e por detrás da ofeÌÌa _ que é umaeíruLuÌa de cuslo de produção peíodicamenre revolìrci;Dada porrnov€ções lecnológicas - veífícamos que os âjusÌamentos auÌo_malìco5 Jamars atcançam a posjção de equilíbrio. Ántes p€lo contrá_rÌo, o gue este exame nos falia espeÍar e a his!6ria do capitalismopÌenâmente confirma é que a ecotromia evolui ciclicame;te. Das_sanJo.periodicanente por tases de ascensào, crise e aepreeúo. Ociclo de conjunrura e na verdâde prct'ocaito pelo funcionãmrnto au-lomãljco dos mecanismos de mercado. ao ampliar desmesuradametr_Íe os €stíÌnulos à expânsão e à retração da atividade econômica.,. A.ânalise marxisLa do processo de inovação Ìécnica no capita-smo rÊva a conclulÍ que uma economia de mercado está sujeita a

prolundos desequilibrios interseloriais, que decorÍem essenciaimeDte0o laro de que ìrma economia induír ial modema, alem de se re_pmduzir corretamente, também vive destruindo € Íeconsfruinalo seuaicaboüço de capital fixo. A aplicação de idovações tócnicas e aconseqüenle renovação de capital fixo se dá geÍalmente om ondas:

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os conhecimentos científicos e téctricos vão se acumulando, massua apÌicaçáo exige quâse sempre um auúetrto da escala de produ_ção, de modo que só na fase ascensional do ciclo se aDre;Írlamcondiçòes propícjas. A elevaçào do dvel de alividade e d; emDrepoliâbiliza a inrrodução de mudânças de processo e esÌas vao expãnd'jro emprego na esfera de produção de eÌemetrtos do capital fixo _equipamentos e instalações - o que acentua o aumento do nivel deatividade, tornando viáveis outras inovações técnicas, cujos efeilossobre o nivel de emprego vão se somaÍ aos das anteriores, desen-cadeando um procêsso cumulalivo de expatrsào,

Em telmos da análise de Mart a €conomia se divide em doisgrardes depaÍtamentos: o DepaÍamenlo I, que se dedica à produ-ção de meios de produção - equipameDtos, instaÌações, estradas,etc. - e o Departameúto ÌI, onde são produzidos os meios de vida,ou seja, todos os bens e serviços de consumo. Na fasg de ascensãodo cÌclo, o efeito das mudaÍrças de processo e. em prjmejro lugar.tdzer com qìre o ÌltepLo, I passe a crescer a um rilmo muilo maiorque o DepLo. l l , ja que o crescimenLo desre ul l imo é induzido Deloprimeiro. Nio somenle aumenta o fornecimetrro de máquinas eequipamenros do Deplo. I ao Depro. I Í como lambem s; ampl iaa produção de máquims que pÍoduzem máquinas €!c. A aplicaçãona prátca de jnovações técnicas perúite verificar seus evetrtuaisdefeitos e _insuficiêrcias, o que dá lugaÌ a ape eiçoamentos, hto é,a rnovaçoes que podem acarretar o .,ohjolêtismo tecnolósi-co" prematuro de €quipametrto ainda Íelatjvameúte Dovo. A hisiij-ria do compuraüor jluslrâ bem ede processú: poucu depois de sur-8rÍem os pÍlmelros compuLadores foram lançados os de 2,. geração.depois os de 3." etc.; os computadoÍes,mais antigos, a váÌrìrlas; ti-veram que ser sucateados simplesmente porgue algum tgmpo depoisque foram substiruídos pelos de !ÉDsistores e de ciÍcuitos intesra-do!, náo havia mais peças de reposiçáo. tornaúdo sua manuren-çãoe rcparo mvlave$,

Durante esta fase, o emprego se expando e a capacidade aleproduçAo das empr€sas é urilizada om nivel mais alto - clm o em-prego de 2 e aré 3 turnos de trabalhadores - o que faz com quetanro os Ìucros como a renda dos assaladados se expanda. Umaparle crescenLe dos lucros € acumulada. o que vai f inanciar a ex_pansão do D€pto, I, ao passo que a expânsão da masss de saláriosval pÌesslonar para cima os preços dos bens e sewiços de consumo,E claro que, nessas corÌdições, o equiÌibÌio entÌe ofertâ e demandanos vários mercados destes bens o servìços Dão poderá ser atingido,slmpiesmente porque a chegada de novos consumidorcs (oü seja, os

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recém-empregados) e â eÌevação da renda dos consumidores maisantigos (que já Ìinham empÌego, mas agora ganham majs) faz comque â procura se expãnda continuamente, impelindo o preço pâracrmâ, o que induz o( p-odutores a procurar incessantemenLe am_plrar sua capacidade de produção. Esles pas\âm a fazeÍ pedidos aoDepto. L que nâtural .r ìenre não deixa de ârendê-los.;xDandjndosJa própria caDacidade

' le produção mai, uma vez.

_ Á situação se inverte drasticamente, porém, quando a âmplia_ção da câpacidade de produçáo, sobÌetüdo no DepÌo. I. se comDle_1â. Uma câ-aclerkr ica da Lécn;ca indusrÍ ial modeina e que a caoa_cidâde de produção e cada ve7 mâior, levando sua in, ialacào umperiodo cada vez mai. longo. Acsim. por exemplo, usinas i iderúr_gicã.. rel inarìa, de pelroÌeo. cenlrais hidÍeletr icâs ou nucleares sãoünjdades jmensas, que requerem vários anos a paÍtjr alo momentoenr que são projetâdas até o momenro em que entram em funcio_nâmento. Isto sjgnifica que a ofeÍta de bens e serviços d€ consumo,no Depto. II, não se expande de forma gradativã, à medida €mque a procura cresce, mas aos sâltos, na medjda em que novas íegrande. ' unidddes de produçáo se somam às jd tunciona;Ler. É óbvioque após vár ios desses sal los. a capacidade de produção supera, emvâr 'o5 rãmos,.a demanda correlre, o que fa7 com que paf le delapermaneça ocrosa. O surgimeDro d esses capac idade ociosa em de_terminados mmos tem po. rcsuÌtado a €essação alos pedjdos denovos eqÌripamentos ao Depto. I. Isse pode levar facjimãnte a uma\j iud(Jo em que /odd capàcidade f ique oc:osa nos ramos aferadosoo uepLo. t . o que narurâÌmenLe faz com que âs empresas desÌesramos deixem de comprar nào apenas novos equipamentos, masÌambem ma Cflâ) pr imas. podendo alé mesmo despedir uma grandeparte de suâ mão-de-obra. Desta maneira, o surgimento de õapaci_dâde_ociosa no Depto. ÌÌ pode acarretar uma queda do nívei deativjdades no Depto. I, a qual se difunde pelos vàsos comunjcantesda economia, atingjndo sempre novos ramos, até Ìançar o coniuntonuma [à,e de cr ise e depois de depres,áo.

Retomemos o exemplo da substjtuição de tearcs mecârÌicos porautomálicos. Suponhamos que rÌo ano 70, a indústria têxtil uliÌizàva5-000 teares mecânjcos para produzh l0 milhões de melros de te_crdo por.ano. que efa lendido po. Crg 100.00 o metro. Surge o tearaÌr 'omático. que prodìrz duar vezes mais recido por ano e a umcusto menor, de modo que o preço pode câjr a CÍg 9,00. A estepreço e dadas as cond çõe. de cÍe,c:menÌo do empreÀo e dos salá_íios, a demanda se expande, djgamos a toqo ao ìnã dando lugarà segujnle evolução:

122

(r)

0I23

56

5.0004,5004,0003.500,*

(j)

10.000.00011.000.00012.100.00013.3r0.00014.640.00016.110.00017.720.000

[email protected]@7.000.000ory*

10.000.0ü)11.000.00012.000.00013.400,00014.,100.000ló.000.00022.000.000

5001.0001.6002.6VJ4.0005.500

2.000-00o4.000.0006.400.000

10.400.00016.000.00022.000.000

Os números fictícios alinhados acima pretendem ilustrar oeieilo conlradilório da mudaDçâ de processo no Depto. ÌÍ e íoDep'Õ. I. Á expansão da demanda de lecido faciÌita a progressivasubstituição de uma rnáquina menos produtiva - p tear mecânico

poÌ outra mais produtiva - o tear âutomático. Assjm, no anoT1, 500 teares são substr'tuídos, o que permit€ elevar a ofeÍta detecido de l0 pâra 11 miÌhões de m e dêsta formâ ateBder à expan-são da demanda. No ano Tr, 500 teares são novamente substitüidos, com o mesmo Ìesultado, mas no ano Ts, 500 teares mecânicostêm que se. sübstituídos pot 600 teaÌes automáticos, pois a manu-t€nção da mesma Ìaxa de expansão da demanda de tecido - 10qo- acaÍreta acréscimos c/€,ícalrter da ptocura, Resulta daí que ademanda por teaÌes automáticos tamÉm cresce: 500 nos anos T1e T!,600 no ano T3, 1.000 no ano T4 e 1.400 no ano T5. É estaexpansão no uso de Íeares automáticos que gâralrte o contínuo aten-dim€nto de uma procura em plena expansão. Mas, no ano T5 osúltimos teares mecânicos foÍam sucateador A partir do ano T6, ademanda de teares automáticos só tem por fiú atender a gxpansãoda demanda de tecidos. Se, no entanto, os empreendedorcs doDepto. II contjnuaÌem a ampliaÍ suas compras dg t€ar€s automá-ticos, adqu;rjndo 1.500 deles, como indica o quadto acima, a capa-cidade instalada alcançará 2?.000.000m de tecido para uma de-mânda de apenas 17-720.000m. Deste modo, ceÍca. de 20qa da capa-cidade não poderá ser utìlizada, o que evidentemente fará com qüeos jndustriais têxteis não encomeddem mais nenhum tear Ío anoT7 e, mesmo que a demanda continuasse a cÍescet a 1090 porano, tampouco no ano Ts, pois nesse ano ela ch€garja â apenas21.450.000m.

(s) | tì) +

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Vejamos agora a siluação do ponio de v'sta do fabÍicanle deteiìres automáticos, do Depto. Ì: ele começou vendendo 500 unida_d€s por âno em Tl e Tr, depois expandjü sua produção para 600em T3, para 1.000 €Ìn Ta e para 1.400 em T.. Nest€s poucos anos,ele anlpÌ'ou fortemenle sua capacidade de produção, pratjcamentea lr ip l ìcando, € alcançâ o seu ápice em Td, quando vende i .500teares. A súbita satuÌação do mercado de tecjdos, poróm, reduzseu movrmento a zero no ano T? e segujntes. EnquaÌrto as indús_trjas iÉrleis do Depto. II sofÌem uma margem de 20qo de capaci-Jdde u- ' io.a. que pode ,er co'1r ideraod íazoj\et , a indurtr i ; deequipamentos do Depto. I \ê toda fia capaciílade fjcar ociosa.Obvjamenle, nestas condições mesmo se os fabr icanles de leares re-solvêss3m reduzir drasticâm€nre seus preços, eles ÌÌão conseguìÍjamatrair novos compradofes, pelo sinlples nori \o de que seu produroé uìn meio d€ pÍodução, cuja ulilização num mercado salìrrado nãopodeÍá scr lucraliva. É claro que aos fabricantes de teares só resraenceiraÍ suas arividades, pelo menos lemporarjamente, de modo quesua demanda por motores € dômais componentes do lear tânìbémcai a zero. Assim, à contração da alividade nunr seror do Depro. Ivai se irradiar a oulros

Se a "deslruição cdadoÍa" (como a denoninou SchumDeteÍ)de capiral l i \o s: esgola apena) num râmo (em no,o er,empio, rod: tôcjdos), enquanto eÌa ainda prossegue nos demais, o efei to de-presslvo deste esgotamento no Depro. I poderá ser compensado peloaumenlo da demanda de equipamentos poÍ parte de outros ramos,Porém, o que soe ocorr€r mais comumente é que do mesmo modoque as jnovaçõ€s técnicas são aplicadâs em ondas, o seu esgotamentotanìbém lende a coÌncidir no i€mpo, mesmo que o ÍitÌno de subÍiLu;ção d€ equipamento antigo por novo não seja idêntjco em iodosos ramos. tsasta que em alguns ramos signjficativos, do ponto devjsla !ìe sua parlicipação no produto e ro empr€go, â substjruiçãose conìplele para que süa repercussão ampÌiada sobrc o conjunrodo Deplo. lp.o\oque umd invcÍsào dc conjunrura: o emprego rdprodução de mejos dc produção caì, acarrelando diminujção do\olunre de salários pagos, portanto da denÌandâ por bens e seÍviçosde cor)umo. o que rai redu,,- o emprego no Depto. ì t . anr<cipan,do nÌesmo o fjm do pÍocesso de substituição de capital fixo emrano! nos quâis el€ a:nda não se Ìinha compleiado, pojs a quedada deÌnanda leva a que o equipamenlo obsoleto seja simplesmenre'Jcd c"do. n;o repo\ lo. De.ta rraneird. a procuÍa pelos píodulo.do Depto, I volta a sofret uma nova queda, acârretaído nova dinrj-

nujção do emprego, com os mesmos ef€itos depr€ssivos sobrc a de_manda pelos produros do Deplo. l l e a.sim por diante.. Importa assinalar aqui que a chamada ..indústria pesada" _

sideruÍgia, quimìca, produtos de borracha, vidro, ciménto, papelelc. - devido âo grande valor de seu capital fixo, desempenha pa_pel crucial no desencadeamento dessâ espiral negativa. Na medidâem que a demanda poÍ bens de consumo € por equipamentos dimi,nui, lìá xnìa rcdução da procura pelos produtos da indúslda pesadaa quaÌ Íeduz o gÌau do utiÌização de sua capacidade, fazendo comque sua lucratividade desapareça rapidamente. Isto se dá em vir-tude do grande valor de seus custos fixos, particularmente da amoÍ-tìzâção do seu capjtal fixo. A fragitidade destas empÍesas, fac€ aum mercado em Íecesso ó devida basicamente à infleribilidade d€sua eslnrtum de custos. Assim, a título d€ iÌustÌação, suponhamosque uma usina de aço tedha custos füos (eú sua maiot-Darle de_liJo à amorLizaçào de inshlações e equipamentos) no valor deCrg 50 milhões anuajs e que'os custos dir€tos de mAo-de-obÌa €mâtérias-pÍimas sejam de CÍg 10,00 por t. Assim, rne essa usinaproduz,a plena capacidade,s milÀões de t por anq seus custos totarssotnm:

50 nilhões (firos) + 10 X 5 milhões (direros) : 100 miÌhões,de modo que v€ndendo a pÍodução a um preço acima de CÍg 20,00Ior tr eìa cobre seus custos e usufÍui ceÍa margem de lucro, Su_ponhamos que o pÍeço seja de CrS 22,00 por r mas que, devjdo âqueoa 0a demanda, a usjna só possa produzir e vender J milhòesde t. Neste câso, sua rccoita s€ria de Crg 66 milhões. mas suasclespesas seÌiam 50 milhões (fixos) + (10 X 3 milhões) = 80 In!Ìhões, de modo que ela passaÍia a operâÍ com prejuízo, o que apóscerto periodo acarÍetaria seu fechamento, DesemDenha desta ma_ne;râ a indúsÌí ia pesadâ um papel de ampl i f icador dos efei loq,e.c3ssivos da quoda da demanda por todo Depto. I e, devido à gÍan_de rmporlancia Jo .eu volume de emprego, rambem em relaçá-o aoDeolo. I Ì .

. Pocle-se djzer que numa economia regiala pelo funcionameniodo mercado, o senrido da inovação é perve ido. A inovação técn!ca, parhcularmente a mudança de pÍocesso, decorÍe do crescenteJomrn;o dã natureza peto homem, o que lhe permire sar is iazer suâsnec-.sndades com menor esforço ou, allemalivamenle, satisÍazefcom o m€smo esforço (medido em tempo de tÍabalho sociaÌ) asnecessidades de Ìrm maior número de pessoas. Neste sentido, a ino_vação técnica é a mola do progresso econômico, só podendo sorsaudada como uma bénção para o géneÍo humano. Más. para que

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a inovação seja tealmenle posta a serviço do homem é preciso. prjncipaìmente numâ economja industrial moderna, que seus efeitos gÌo,bais sejâm cujdadosamente avaÌiados e previslos, de modo que asvantagens usufruidas pclos consumidores não sejam jndevidanìenrepagas com o sofÍimento de lma grandê paÍte dos trabâlhâdorcs. Arnovação torna cerios trabalhadores "redundantej'e eles acabams€ndo excÌuídos do processo social dè produção, sobretudo na faseda crise e depr€ssão, que o refluir da onda de jnovações jnevita,velmente (numa economia apenâs r€gjda pelos mecânismos de meÍ-câdo) pÍovoca. Trânsforma*€ assim a inovação lécnica de bênçãoem maldição, âo ocasjonar o "desemprego tecnológico", que atjngede modo parlicularmente viruÌenlo rrabâÌhadoÍes idosos. cuias quâ-I i t icaçòer são tornada, ob(ole'aj da me,ma mdneira que o eqJi-pamenlo que costumavam utiÌizar. O funcionamento cego do mer-cado provoca não só a "destruìção crjadora" de capitat fiÌo mastâmbém de seres hÌìmanos, cujo "sucateamento" produz sofÍimen-tos, que um planejamenio do pÍogresso técnico poderia evitar.

É preciso assinalar que ao lado da mudança de pÍocesso há umouiÍo tipo de inovação técnica: a criação de "novos produtos!', ouseja, de valores dc uso que sarìsfazem necessidades até então nãoâtendidas ou que salisfazem de modo superioÍ necessidades até entãoatendidas de maneira imperfeita. São exemplos de "pÍodutos novos"mâis ou menos rccenles:a TV, o transporte aéreo de massas, os ànt!bióticos, os alirnentos congeiados, os tecjdos que não âmarrotam, ar-tigos de matérias-pÌásticas e!c.. €tc.. . Ao contrário dâs "mudançasde processo", que sempre se orjgìnam no Depto. I da economia, os"novos produlos" surg€m no Dcpto. II e jndüzem o público a djspen-der em consumo uma parceÌa adìcional de sua renda.

Os "novos produÌos" têm um efeìto iniciat análogo ao das ..mu-danças de processo": ao serem Ìançados requercm a jnstajação denova câpacidade de p.odução e portanto têm üm jmpacto mujloforte no Depto. L Porém, como o novo equipamento não substituio antigo, a expansão dâ capacidade não tende a cessar bruscanìen-te. Após o lançamenìo injcial do "novo produto", els sofre em geraluma sérje de âpc eiçoam€ntos, não só em seu desenho, mater ialetc., mas também no lrodo como ó produzido, o que dá lugar auma sérje de "mudanças de pÍoccrso", com seus jmpactos _sucess _vos no DepÌo. Ì. O conjünto dôssas inovações, €m que tanÌo o valo.de u\o f inal coïo o moJo de produzi lo ;o suces, ivrme.1rc rer -vados, compõe o châmado "cìcÌo do produto", que é ponderavcÌ-menie mars longo - em geral se estcnde por nÌuitas décadâs .-quc o ciclo de conjunrurâ, de modo que se pod€ atrjbrrir um rJaÌrel

t26

essencialmente expansivo às irÌovâções técnicas que consisttm nâcrjação de "novos produtos". É claro, porém, que "novos piodutoi'apÌesentam riscos ponderáveis, já quc Íequerem vultosos investi-mentos antes que se possa estar certo de sua aceitação pilo mer-cado de modo que eles tendem a seÌ Ìançados ap€nas quando aprocura em Seral está em expansão, ou seja, ía fase de ascensãodo ciclo de conjuntuÍa. Nestas condiçõos, os "novos pÍodutos" tam-bém surgem em ondas, .€forçando os altos e baixos dâ vida econô-mica, que são típicos do capitaÌjsmo, em lugar de compenúlos.

Á análise keynesia!Ìa dos elementos que condicionarÌÌ o nívelde empÍ€go se ocupa. em g€ral, do curto prazo. em que se supõeque a técnica de produção é dada, de modo que ela não leva emconsideração a mudança tecnológica. Parte+e de uma situação emque, dada c€rta capacidade de prodüçãô em todas as empresas, onlveì de empÍego resultaÍá do grau em que esta €apacjdâde é apro-veitada. Como já foi visto na 3." aula, Ke],Íres considerava a pro-pensão a consumir como relativam€nte estável, dado o tamanho darenda e sua repartição, de modo que a parte da Íônda cuja desti-nação é realmente variável é o investimento. Os fatores que condicionam o investimento, segundo Keynes - a eficiência marginaldo capital e a taxâ de jüros - já foram examinados na 4.â aula,O que intercssa considerar aqui é o efeito do volume de investi-mento sobre o nível de emprego,

Para tanto, há que distinguir dois tipos de investimento: ovoluntário e o involuntáÍio. O investimenlo voluntário conshte nacompm de €quipâmentos e na formação de estoques, por paÍte dasempresas, tendo em vista ampliar suas atividades no futuro. O in-vestìmenlo jnvoluntário consiste na folmação de estoques iÍvendá-veis, devido à Íetração do mercado. O raciocínio básico é qu€, nofinal de contas, o valor do inv€stim€nto não pode seÌ diferente,nem maior nem menoÌ, que o valor da poupança. Este raciocíniodecoffe dâ constatação d€ que numa €,{onomia de mercado todâ pro-dução tem oue ser vendida. Em cada itrtervalo de tempo - um ano,por exemplo - o valor de toda renda paga é igúal ao vâlor de rudoo que se Foduziu. É claro que esta rcnda, composta por salár;os,lucros, juros, aluguéis, rendâ da teÍra, tributos et€. é qüe p€rmiteque toda produção seja transacionada. Os que a rccebem - tÌaba-Ihâdores, câpitalhtas, cÍedores, proprietários, governo etc. - têm,em princípio pelo menos, a possibilidade de comprat tudo o que foiproduzido.

Como já foi visto, os dispêídiôs de consumo são sempre infe-ÌioÍes à renda total, de modo que uma parte desta é poupada. Ao

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permitiria a ninguém viver apenas de rendas.Dâí sì.ra pr€visão deque a salvação do capilalhmo requererá, mais c€do ou mah tarde,a "eutanásia do rentista".

Nâ verdade, poÍém, o capitalismo sobrcvive e escapâ, pelo me-nos transitoriamente, da estagnação na medida em qüe conseÍva seudinamismo tecnolócico. Cada vez que a ìntÍodução de mudançasde processo acarÍeta a "destruição cÍiadoÍa" do capital fixo de râmosinteiros de produção, a eficiêncja margiml do capital, isto é, a peÌs-p€ctiva de lucros do novo capital acumuÌado ne.ller romos se elevafortemento. desencadeando uma onda d€ investimentos volüntários.Como vimos mais acima, a expaffão econômica assim geÍâda pro-picia a introdução de novas mì.rdanças de processo, cujo efeito con-junlo é o de lançaÍ a economia numa fas€ de ascensão.

Há que lembrar ainda que o pessimismo de Ke).nes deconiatambém da idéia que o crescimento da Íenda per capíta acaÍretaum aumento da "propensão a poupar" e portanto um crescimentomajs que proporcional da poupança. Ocorle, porém, qüe isso de fatoé evìtado pelo sürgimento incessant€ de novos produtosu.gÍande partedos quaìs dirigidos especificamente às camadas de elevada renda,de modo que mesmo estas, eú vez de passar€m gÉdativamcnle auma situação em que suas necessidades d€ consumo estão satuÍadas,são induzidas a gastar em lovos bens e serviços de consumo umaparcela apreciável do seu âcréscimo de reDda. PaÉ se verificar queé isso mesmo que acontece! basta lembraÌ que muitos dos novosprodutos são belrs e serviços de luro: âpaÍelhos de TV a coÉs, caÍos€spoÍte, veÌeiros e lanchas de recÍeio, tuÍismo intemacional, opeÉ-ções plásticas, transplante d€ órgãos etc. À estes novos produtosque, apesar de sua fütiÌidade, podem ser consideÌados g€ruínos Írosentido de que de fato satisfazem necessidades, há que acrescentaros novos pmdutos ficlicios, que só são "novos" por convenção social.Trâta-se de produtos que só se diferetrciam de outros mais antìgospelo esljÌo: novos modelos de automóveis, de eletrodomésticos, novasmodas de mupas femininas, de roupas masculinas, de decoração ir-teÍna, de Ìoupa de cama e mesa etc. PoÍ mais artificiais que estasmudarÌças de estilo sejam, o qüe impo a é que, forçados pot umapubljcidade efici€nte, os consumidores adquiÍem estes "novos" pro-dutos, sucateando seüs peÍences fom de moda que sofrem, da mesmamaneira qüe os elementos do çapital fixo, de "obsolelismo tecno-lógico".

Isso não significa, é óbvio, que as economias capitalistas con-sigam manter-se, de forma estáveì, em pleno emprego. O que apoÌítica econômjca inspirada em Keynes e seus discípulos consegue

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é eÌevâr o nivel de investìmenro voÌuntário, sempre que a economiacai em recessão, mânipulando a ofeÌta de meio; de pagamento e ataxa d€ juros (como vìmos na 7." aula), expandindo os irvestimentosestatâis e os gastos de consumo do governo e, eventuâlmente. subsi_diando os inveÍ imenros pr ivados. Não cabe dúvida que os governoscapitaljstas aprenderam â usar estes instrumentos desde o fim da 2..GìleÌra Mundial, de modo que as profurdas crises e prolongadas de-pressões, características do período anterior, não mais se reD€tjrâm.O problema que se moslrou insolúvel não foi o de levar a eionomiaà eÌpansão, mas o de limitar o ritmo desta expansão às reajs Dossi_bi l idades mater iais. que obviamente a condicionarn,

Deste modo, retornamos ao início desta âulâ: o funcionamentodo rncrcâdo não revela ?n tempo qu,ando a expansAo esbarra emlimiLeg maler iais que não podem ser elrminâdos pelo menos em cuÍ loprazo, Estes limites podem ser decortentes da satuÌacão de certosseÍviços de infrs-esrutura. tâis como energia eiéÌr ica óu transporte,que não podem ser expândidos ÌâpidamenÌe, ou pelâ escassèz demão.de-obra com dererminados qutr l i f icaçõe9. qÌre tampouco foCc çerI r ' r íada cft pouco lempo, Em csço\ cômo e.scs, o rnerc.do r. , .3a cscrì(scz p€lo r ìrnlenlo do !reço, mas a ofer ia nÍo pode âunìcr!âr,p€ro menos â curÌ i i prazo, de ruodo que mesnro o preço nìa;s cÌevâ_do r i ìo condu. a unì equi l jbf io csr i ivet enrrc procufa e oelúa. Anrespclo conlÌdf io, o l rcqr, air elcvado das mercadorias fal tantes siani i icu cr l l lo muL Âlto dus ìereuJÕfi . , , cnr cujr pro.ìr- ," , o" pr imeìra\ \ão uqãdãs, Acsim, se Íãl tam,pôr cxemplo,engcnhciÍos e mcciÌnFcos. os saÌárÍos desres profissionais vão subir, o quc se traduz emcustos rnÀid elev6dos dàs rnercadorias produzidas Com o auxllio deêngenheitug e mccônicos, É óbvio què èstes cuslos msiores deslocama cLlrva de olerts !'sr cima. ou sèja, os preços destas mercadoÍiâstambém vão subir , desde que os consumidorei aceiÌêm estes prêçosmais el€vados. Aconrece que a polÍric econômica de inspiraçaã kãy-nesrãn const! Ìe precrssmente em manter sbundÀnte â ofer la demelos de pagamenlo. o que signi f ica que os comprâdores recêbemo ornnelro necessáÍ lo psta lentar coÌÌ ìpr l r a mesma quant idade demercâdorras, âinda que a preços mais akos, Deste modo, os pontosdo €slrangulamento se tftnsformam eft locoÍ inílacìonó;íos e'a ele-vação dos preço( relalivos dos pÍodutos escassos é ..âfogada" por su-cesslvas vagas de eÌevâção geÌal de preços.

., È,xprrcâ-se agslm que as tentativas de manler eco[omiâs capilal'slas eln pleno empÍego tenham provocÂdo, em praticamente tod;sos patset €m qüe

_ocoÌr€râmj condìções de ioflação cúnica, queanulam  capacidÂde alocativs do mecânismo de mercâdo. eìÌanìo

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todos os prcços sobem, as varÌâções de pÍeços úão podem mais equi-ljbrar procura e ofeÍta e muito menos iDdicâr às empÍesas em queesferas da economia os investimentos são mais necgssários. Decoüedaí o gÍande dilema enfrentado pelos país€s capitalistas hoje em dia:ou rcstabelec€Í a "verdade dos preços" mediatrte a estabiÌidade úone-tárìa com o sacrlfício do Eível de emprego ou manter este elevadoaom o sacÍifício dos mecanismos de. meÍcado, que leriam qug s€L rÍaiscedo ou mais tarde, substituídos por algum tipo dc planejamento.

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NoNÀ AULÁ

O CAPITAL E O CAPITALISMO EMPERSPECTIVA HISTÓRICA

O capìtal é, na veÍdade, muìto mâis ânrigo que o capì lal ismona históriâ da humanidade. Já na antiguidade, o capìtal comercialdesempenhava papel imporlante na economja: o desenvolvimentodas trocas mercântìs ensejava â inserção de intermediáíjos erÌtre pro-dutores e consumjdores. A função do mercador surge como umaespecialização a mais num processo de divjsão de rÍabâlho que seaprofundavâ. Até determìnâdo momenÍo, os pÍodutores mermos se(ìavam ao trabalho de levar seus produtos ao mercado e aí real izaras tÍansaçõcs de compra e vcnda n€cessárias ao prosseguimento desua al iv idade pÍodut iva. Qììândo o mcrcado se expande além de umcerlo ponto, multiplicândo-se o número de produtores que delc parti-cipam, lorna-se viáv€l e vantajoso o aparccim€nto do mcrcador, quepoupa aos produtofes o trâbalho de ir ao mercado, bârganbar, etc.,comprando dcstes os pÍodutos erh suas casas e lhes vendendo aÍ tam-bónÌ as mercadorìas que neccssjtam. Ex€cutando a alividade mercan-l i l de nrui los produtores, o comeÍc:ante não conlr jbui dirctamentepaÍa a produção materìal nas permite aos que o fazem dìspor demaìs lempo para dedicar à produção düeta.

O que Íâz do comeÍciante um capitaljsla é exatamente o fatodo que, embora não scja üm pÍodutor direto, cle participa doprodulo. Em sentjdo eíriro, exccutava o com€rciante funções pro,dulì\,as (tais como o transporrc por exempÌo) e funções imprõdu-trvas, emboÍa necessárias (tais como as transações de compÍa evenda, escriturâção e!c.). É possivel âbstrair as funções produtivasdo comerciante que, em pÍincípio, podeÍiam seÍ execuradas por trans-porladores especìalìzados e1c. Reíaria então o comercjanle puro,unicamente engajado em compfar e vender_ Seu ganho resulta, nesteca\o, da diferença enlre o preço pelo quaÌ compra as mercadorjas

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e o pÍeço pelo qual as vende. A relação entre o lucro unitárjo e opr€ço de venda constitui a mârgem de lucro. O lucro total do comer-ciante resulta po anto de tÌês elementosi â) da margem de lucroib) do valor das transações; c) do número de tÍansações realizadasdurante certo período de lempo. Pâra melhor visualizar como estes3 elementos interagem para formaÍ o Ìücro cometcialr vamos supotque a margem de Ìucro seja de_109o, isto é, que o comerciante vende

as me.cadorias a um preço -l 5gp";91 ao que elas Ìhe cuslaram,l0

que o dinhejro de que o comercjante dispõe - isto é, seu capital -Ihe permite compÍar de.cada vez mercadorjas no valor de 100 miÌcruzeiros (que vende portanto por 110 mil) e quo leva um mês paraadquirir e vender este voÌüme de meÍcadoriâs. É fácil ver que,neste caso, o Ìucro comercjal é de 10 mil cruzeiros pot mês e, por-tanto, de 120 mil cruzeiros [roÍ ano.

O ponto crucjal é que a margem de lucro, que geralmente éìmposta ao comerciante pela concofiência, determipa üma relaçáode proporcionaÌidade entre o moniante de dinhejro de que o comer-ciante dispõe - isto ê, selr capítal e o lucm. Se, no exemploacima, o com€.cìant€ puder aumentar seu capital pam,digâmos,l60mii (acumulando poÍ exemplo metade do seu lucro anuaÌ), o seuÌucro aumentaÍá proporcionalmente, atingindo 16 mil mensais ou192 mil ao ano. Assjm, dadas a margem de lucro e a velocjdade derotação do capital - condições jmpostas por circunstâncias exter-nas ao operador - o seu ganho depende essonciaÌmente do tamanhodo seu capital. Ou por outm, havendo rnais de um meacador opeÍan-do no mesmo mercâdo, os ganhos de cada um rcfletirão em médiao montaÌríe de capital de que cada um dispõe.

Isso nos permite discutir brevemente as duas loções de capitalque correspondem às duas escolas de peÍrsamento econômico queestamos analisaÌÌdo. Para o marginaljsmo, o capital é repres€ntadopelo conjunto de recufios materiaìs oü mentajs que peÌmitem ao ho-mem elevar sua produtividade. O capiral pode str portanto consti-tuído por máquinas, implementos, redes de distribuição de energia,poços de petÍóleo assjm como de conhecimentos técni€os, pat€ltes etc.Neste caso, o capjtal é essencìaÌmente constituído Dor coisas de oueos homens se podem apropriar. fusas'icoisas", úsàrirlas no oroceisode produçáo. permirem que o esforço do produlor direro, d; rraba-lhador, enfjm, aÌcance um resultado süperior, de modo qug o pto-pdelário do câpi!âl faz jus à parcela do produto que é devida aouso do seu câpital. Desla maneira, o Ìucro se del,ne como a diferen-

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ça entre o tâmanho do produto que seria obtido com e sem a utilização do capìtaÌ. É claro que estâ noção nos leva a reconhecer o"capital" desde os âlbores da existência dâ espécie, a paÌtjr do mo.mento em que o homem passou a usaÍ machado de pedú e outrosjnstrumentos igualmente Íudimentarcs.

Parâ os marginalistas não Íem müita importância saber quems€ apropria de capilal: se o próprio Ì.âbalhaìor ou alguma óurrapersonagem. Os mârginall'stas supõ€m que são os socióÌogos quedevem se preocupar com isso. Mas, para os marxistas eÍe é o pro-blema crucial. Para eles, o capital não é constituído por "coisas" maspoÍ luma. rclação socíal: só há capital quando aqueÌas "coisas" - istoé, os meios de produção podem ser aproprjados individualmentec quando esta apropriação permite aos apropriâdores particjpar doproduto sem contribuìr diretamente paÍa o seu surgimento. Em outraspalavras, só há capilaÌ quando o produtor direto perde o domíniodos seus meios de produção, perdendo desta maneiÍa também a pro-prjedâde do seu produto. Este passa a ser do dono do capital quedevolve umâ parte do produto ao trabalhador a Íítrlo de saÌtirio. Otrabalho assâlarjado é o resuÌtado necessário de penetração do capi-tal (entendido como relação sociaÌ) no processo produtivo.

Acontece que o capitaÌ comercjal é uma relação socìaÌ que sulgehistoÌjcamente anles qtle a produção se tenha tornâdo capitaÌista.Na antigu;dade, por exemplo, a prodüção estava a cargo de €scÉvosou erÌtáo de pequenos produtores independentes, camponeses e ârte-sãos. O fato de que parte desta produção era constituída por merca-dorias permitia que se estabelecessem estas reÌações não de pÌoduçãomas de drculação, mediânte as quâis o comercianie podia obter ga-nhos diferenciais. Surge desta maneim um capital exteíno à pro.lução,que se empenha apenas na ciÍculação das mercadotiâs. É um capitalque atüa, porlanto, sem qüe haja capìtalismo, entendido este comoum modo de produÇão dominado pela "relação capital,,.

Na altura em que sÌlrge o capital comerciâl como um elementorxpÌessivo no quâdro econômico, as trocas mercantis íá âtingemnecessariamente grande âmplidão, como foi vhto acjma, o que sig-nifica qìre elas sáo também necessar;amente monetárias. O escaÍnbojamais poderìa dar lugar a uma especiaÌizâção meÍcantil. A trocadiÌeta de mercadoÍia por mercadoria, M X M, é, pela sua natureza,de âmbito limitado, estando em geraÌ circunscdta ao intemâmbio dcm€ros excedeÌttes de produção. A aparição de um equivalente geÍal, deuma mercadoria de aceitação univeÍsal, peÍmite a geneÍalização dastrocas de valorcs de uso diferentes, segundo a forma M1 X D X Mr,em que tanto M1 como M: valem a mesma quanti d€ dinheiro D,

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diferindo apenas peìa sua utilidade (t go por p€les, por eÍemplo).A pÍesença de D toma possív€l Íomper a unidade M X M, sépaÍandono tempo e no espaço a transação M1 X D da transação D X Mr,ou seja, havendo dinheiro é possível vender "hoje e aqui" e comprar"amanhã o acolá". Mas, é claro que é csta separação que toftapossível também inverter o processo, realizando-se a opemçãoD X M X D', cujo objelivo não é mais a troca de valores de usodiferente mas uma sucessão de transações cujo poDto de partida éuma quantia D de dinheiro e cujo ponto de chegada é uma quaÍrtiaD' maioL A relaçáo representada pelo câpital comercral pode serdescrita sint€ticamente por: D X M X D', em que o valoÍ de usoÍepresentado por M náo tem impoÍtância: tanto pode seÍ peÌes, comotrjgo ou outra coisa qualque.. O essencial é que a c.ompra de umamercadoÍia peÍmita que haja sua revenda posteÍiol a um preço maisalto, de modo que D' > D e daí surgiÍ o lucÍo comercial represen-tado po. D' - D.

A existência da moeda dá lugar a uma outÍa êspécre de capitalde ciÍculação (em contraposição ao câpiial produtivo): é o capil,íiftanceiío, qre surge primeiro sob a forma de capital usuúrjo. Suaorigem vem do fato de que a moeda é, duma economia de mercadomonetária, uma Íeserva de valor. Quem tem dinheiÍo acumülado,isto é, "tesouro", pode ter acesso â uma parcela do Produto socjal,já que o lesouro é poder de compra congelado, que podê seÍ lique_fejto a qualqu€í momenlo. Acontece que o processo de reproduçãosocial soe ser inteÍrompido por âcontecimentos originados na natu-Íeza (secas, ìnundações, doenças) ou ptuvocados pelo homem (guer-És, saques, assaltos etc.) que privam o pfodutor dos meios parapÍosseguir em sua atividade. Nestas ocasiões, a ÉProdução só podeser prese ada lançando-se mão de estoques de recürsos produtivosanteriormente constituídos. O câmponês que perdeu sua colheita sópode voltar a produzir s€ alguém lhe fornecer sementes e úverespara que possa se sustentar âté a próxima c€ifa. o mesmo acontececom o artesáo que perdeu sìras ferrameÍÌtas ou mesmo com o donode escÌavo! que não tem m€ios de Íeencetar a produção. Numaeconomia monetária, sáo os donos de tesouÍo que tem acesso aosestoqües de valorcs de uso. Eles lÍansfercm êste acesso aos ProdÌl-toÍes necessitados, coÍcedendolhes crédito, ou seja, emprestando-lh€s a somâ de dinheiro de que recessitam em troca de sua ÍestiluiçãofuluÍa acrescida de juros. Os juros são ptoporcionais ao montanteemprestado e ao tempo qu9 durâr o empréstimo, Os ganhos do usu-rário dependem poÌtanto de 3 elementos: a) da taxa de juros, ou!eja, da relação entÍe o montante de jüros e o valor empÍestado

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- o 'pÍ;ncipaÌ" - em determinâdo pedodo de tempo; b) alo valordo princjpal, isto é, do capital usurário; e c) do temDo que duraro empréí imo. {ssim. por eìemplo. se o cap;Ìal is la us;rár io pos,ui Íum tesouro ro vâlor de 1 milhão que ele empresta à taxa íe l04oao m€s, ele receberá juros de 100 nil cruzeiros mensais ou 1.2 mi_Ìhão de cruzeiros por ano.

. É fáci l veÍ que o lucro do capjtal f inanceiro decorre deetementos Iormâlmenre semelhanres ao( que dererminam o montanÌedo Ìucro comercial: da mesrna maneira que a margem de lucro, tam_bém a taxa de juros resülia da competição entte diveÍsos capitaljs-las-usurários, que atuam no mesmo mercado; o tamanho dos iuÍose dado. lambëm nesre caso. pelo valor do câpital de que dispõe ousurário. A única dif€rençâ é que o lucro do capìtat comeriial éran o maior ouamo menor loÍ o tempo necessário pâra que a ope-ração D X M X D'seja liqÌÌidada, ao passo que o lucroìo capiìalusurarro cresce com o t€mpo de duÌação do empréstimo. No exem-plo acrmâ, supusemos que um capital comercjal de 100 mil cruzêjrossofreÌia 12 mtações por ano, dândo 10 mil de lüc.o em caala rotação.É claro que nesÌe caso o lucro anual seda de 120 mil. Se, de algunamaneiÍa, fosse possíveÌ reduzjr o tempo médio de caala rotaçã; deI Ínès para. digamos, 20 dias, o mesmo capital comeÍcial sòfrer iaem lugar de 12 um tolal de 18 rotaçòes por aDo, o que Ihe elevaÍ iao lucro anual de 120 para t80 mil cruzeiros. Já o mesmo trão se dácom o capital usurário, em cuja rotação não entra a morcadoria,setrdo Ìepresentada simplesmelte por D X D'. O lucro do capitalusuráÍio em caòa rotação, isto é, om cada operação de crédito, éÍalrto maìor quanro mor'r tempo ela levar. A loqo por mês. um capi_tal usurário de um milhão colhe t00 rDil cruzeiros Dor més. 200 m.ilem dois e assim por dianle. Não há para ele qualquer vaút;gem emabÍevÌar a duração do empféslimo, Se esta Íor curÌa, muhiplicam-seos rnÌervalos 9ntre uma oporação e outra, nos quais o capital usuúdopermanece entesouÍado e entesourado elo não renda iuros.

- Alesar dessa difereDça eú relação ao capiral comercial, trõo

caDe^dúvrda que o câpitaÌ do uzurário permÍô a este ertÍar DumaÍ€raçao com os produtoÍes ou com não-produtores que tro eotÍrílose aprotrniam do produto - donos de escravos, senbores feudeis.ctc. - € através desta rclação se apropriam do uma DaÍe do Dtodütopara o quâl ele nào conrÍibui direramente. Eis, portÀDto, um; outra"relafão capjlal" exÌerna ao processo produtivo e que por isso podeexisrjr foÍa do modo de produção capitalista e de fato historicam;trreo precedêu. Dumnte a Antjguidade assim como durante a Idaile

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Média, onde quer que se tenha desenvolvido a produção mercântjl,o capjtal-usurárìo marcoü sua presença.

O capital comeÍcial e o capital usurário. embora conceitual-mente bem djferenciados, podendo poÍtanto levar existênciâs jnde,pendenles, soem aparece. fr€qüenlemente nas mesmas mãos. euandoocorre uma desgraça, o produtoÍ desamparado se volta em ge.aÌpara o comeÍclânte que íoÌmaìmente Ìhe adquire as mercadorias.No momento em que €ste adianla dinheiro ao produtor, pagandoantecipadamente pela produção €m trocâ de juros, o capjtâl ato co-m€rciante se torna capital usurário. Nada mais natural que o mesmoc.pi .âlL 'a Llcsemoenhe ds duaç Íunçòes. H;sLoricamenre esra possibi-lidade perÌniliu o surgimento de poderosas famíl;as de meÍcadoÍes-financhtas, na Europa, a partir do fim da Idade Médja, como osFugeÍ, os Medicis e majs tarde os Rothschild.

O capitaìismo só sirrge como modo de produção no sécuÌo XVI,na Europa, sob â forma de "manufatura,'. A penetração do capitâÌna esferâ da produção se dá basicamente de duas maÌr€iras: üma.de foÍa parã denrro, qDando comerciantes começdm a a\salaÍ iarartesãos, desenvolvendo a indústria doméstica; a ouirâ. de deniÍopdÍa iora, ouando cef los mesrrer rompem as l imirâções corporât ivase assaladam um grande número de artífices, d€ixando de !Íabalhardìretamente na produção para se transformar em capitalistâs DÍo-pr iamente diros. enÌregues unicamente às rareÍas i rnprodut ivai desupeÌvìsionar o trabalho alheio, empregar e despedir, comprar evender etc, A prjmeira maneira de fora paÉ dentro _ levou emg€ral a uma subordinação meramente formal do Drocesso Drodutivoao capiLaì: os arlesàos conlinuavam dispersos, rrábalhaodo em suascasas (em geral com o auxíljo de mulher e dojs filhos), usando asm€smas técnicas etc. Já a segìlnda maneiÌa tendeu a Íevolucionaro processo produtivo: os antigos mestres transformados em caDita-lhla, manufâlureiros agrupatdm numerosos artesào, sob o mesmoteto, fazendo cortr qüe cada um se dedicasse a uma só tarefâ. nâqual acabavâ âdquìÍindo grânde destÍeza. Este avanço na divisãodo trabalho dentrc da oficií permitiu criar feúamentas esDeciali-zadas: dezenas de Lipos de marLelos, de al icates etc, , o que conlÍ i -buiu pâra um norável aumento da produriv idade do trabalho. NesÌecaso, a suboÍdinaçáo do pÍocesso produtivo ao capital não em mera-menle formali o capitaÌ, ao penetrar no processo pÍodutivo, revolu-cionou a técnica de pÍodução e isso de uma forma contínua. A pro-duç;o arresandl européia. gÍaças à manufatura. melhorou de qual i -dade e se tomou mâis barata, o que pÍopoÌciolou a base emnô;icaindjspensável à conqujsta comerciaÌ-militar da Ámédca e de srande

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)arte da Ásia, que foi consumada antes da Revolução Industrial. A)onquhta de colônias em outros contjnentes abriu norcs mercados ànanufatura européia, permitindGlhe expândiÍ-se em novos campos.

 RevoÌução IndìrstÍial inaugì.lrou, a partir do último quarteÌlo século XVÌII, uma nova fase oa hhtória do capitalismo. SurgeI máquina capaz de empunhar as fenamentas, que antes só podiamt:r manejadâs pelas mãos do artesão. A manufatura havia, ao lon-go de três séculos, desenvolvido a técnica a esanal até os limitesimpostos peÌa anatom;a e pelo sistèma neÍoso do tÍabâlhâdor: afoÍça, a veÌocjdade de reação, a maleabilidade do organismo hu-mano estavam s€ndo exploÍados ao máximo. Daí €m diaíte, ganhossignjficativos de produtividade do trabalho só poderjam seÍ atingidoss€ o corpo humano pudesse ser substituído por um mecanismo muitomajs podeÌoso. É o que a máquina, tmzida pela Revolução Indus-Ìrial, mostrou ser. O tear m€cânico cons€gue executaÍ um númex)muito maior de movimentos por minuto que o mais hábil dos tece-lõ€s manuâh, assim como o maÍelo mecânico desenvolve muito maisforça que qualquer combinação tecnicamente viável de músculoshumanos. Guindastes, pontes rolantes, prensas, tornos, fresas etc.movjdos por eneÍgja a vapor rompemm definitivamente os limit€smilenares que a ìrtilização da "máquina humana" titrha até entãoimposto. Não importa discutir aqui se foi a üveíção do tear mecâ-nico ou da máquina a vapor o passo decisivo que encaminhou a Re-voÌução ÌÍrdustrial. Ìmporta que, por volta de 1770, as condições es-tavam maduras na Inglaterra, o país em que o câpìtâlhrno rnanüfa-tureiro mais sê havia desenvolvido, para que lais inventos pudessemser pmntament€ apÌicados à produção, tendo por conseqüência umnotável avanço do capitalismo que, p€la primeira vez, tende a abar-car todas as âtividades produtivas de uma nação.

DuÍante o período em que predominou o capitalismo manufa-tureiro, este na verdade se limitou a deteÍminados ramos de pro-duçáo - o ârtesanato, a mitreúção etc. - mâs !ão foi capaz nemde eÌiminar destes Íamos a competição do artesão ìndividual nem depenetBr em outros, como a agricultura, que aitrda continuava emgrânde parte camponesa e feudaÌ. Mesmo na Inglaterra, a maiorpa.te do aÍesanato ainda estava oÌganizado em corpoÍações, Èvésperas da Revolução Industrial, c a agÍicultuÍa estava ape,nas par-cialmeDte nas mãos de proprietários oÌr arrendatários capitalistas.Tudo ìss$ vai mudar com a itrtrodução das máquims e o início daprodução fabril. Ás novas técnicas de produção são tão supcrioÍes€m relação às antigas, que o pequeno empreeÃdedoÌ acaba Âetrdototalmente expuho de um rârlro após outÍo. O prccesso é relativa.

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mente rápido, consideÍando-se os imensos deslocamentos sociais queele provocou: milhões de camponeses perdem suas terras e são obÍi-gados a emigÍar para as cidâdes, onde se proletarizam, ou para oalém-mar, onde ainda podem rcconstruiÍ, poÍ mais algumas geÍâções,sua ant8a maneira de viver; do mesmo modo centerlas de milharcsde aÍtesãos são aÍruinados, sua habilidade profissional perde valor,sendo degradados à condição de meros pmletários quando não caemno limbo do "lumpenproletariado". Mesmo assim, só no fim do sé-culo XIX pode-se dizer que a Revolução Industrial chegou ao fimde sua tÍajetória na lltglaterra, que assim se loma o prìmeiro paísinteiramente capitalista na históÍia.

Para que o capitalismo ss apoderasse de todos os râmos deprodução, não bastou no entanlo süa superioridade econômica. Erapr€ciso que as jnstituições que regem a vida econômica cessassemde proteger o mais fraco, que a livre concorrêncja nos mercadosr€inasse sobemna, abolitdo-se tarifas protecionistas, regulameÍrtoscorporativos, companhias p vilegiadas etc. Foi necessário, enfim,o triunfo político do liberalismo paÍa que a máqui43, sob a formade caphal induírìal. pudesse penerÍar em rodas as esfeÍas da vidaprodutiva, revolucionando a lécnica, aÍegjmontando os pÍodutores€ expandjndo de modo notável a escala dê produção.

O capitalhmo jndustrial iniciou sua trajetória triutrfante naCÍã-Bretanha, ainda IIo último quartel do século XIX, petretrou nocontjllente €uropeu após as GuerÉs Napoleônicas, expandindo-secom grande vigor llos Estados Unidos após a aboÌição da escÉvatuÉ(1864), no Japão após â Revolução Meiji (1868) e na Álemanhaapós â unificação (1871). C ou-se, desta maneira, a partir de 1870mais ou menos uma economia capitalista mundjaì, na qual a hege-monia bdtâÍ ca começava a seÍ disputada principalmenk pelos Es-tados Unidos e pela Alemanha, À este mercado foram atraídos comofoÍnecedores de matériâs-primas e alimentos várias nações da Í,erife-

a, como a Rússia, Argentina, BÍasil etc. A expansão desta econo-mia mündjal era condicionada pela aceitação do tiberalismo (queno comércio mundial se traduzia em "livre cambismo") a qual al-cançou seu auge na véspeÍa da Primeira GuerÍa Mundial.

Aos pÍimeiros avanços tecnológicos, que abdram caminho à Re-volução lrdustrjal, segujÍam-se outros sem cessar. A en€rgia a vaporpassou a ser substituída, com vatrtagem, pela energia elé!Íica e pelomotor a erpÌosão. O desenvolvimelto da eletrotécnica Ìevou à ilu-minação elétrica, ao aquecimento €létrico e à eletroquímica, que usaa energia elét ca para provocar reações químicas (uma de suasaplicações é a galvanoplastial por exemplo). Mais tecentemente se

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deserÌvoÌveu a eletrônica, o que permitiu revolucioÍrar as telecomu.nicações. Avanços no campo da química permitimm o surgimentode fertil:zantes e inseticidâs, de novos materiais (como os plásticos)e sobÍetudo da quimioterapia, com profundas rep€rcussões sobÍe aIongevidade humana. A energia elétrica permitiu o desenvolvimentode motores de pequeno pofie, com os quais foi possível cÍiar nume-rosos utensílios, que facilitam notavelmente a execução do serviçedoméstico, O motor a explosão, capaz do aproveitaÍ â energia emalto grau, permitiu a criação de veículos automóveis leves e econô-micos e de aviões - ambos inventos que revolucioíaúm a vida dohomem no século XX. Resta ajnda mencionâr a penetração da má-quina no âmbito da recreação, com o suÌgimeíto do cinema, dorádio e da televisão.

Este incessante avarÌço técnico passou a exigir capitais ctescen-tes para sua aplicação. As novas usinas sideúrgicas, fábricas de p.o-dutos químicos ou de automóveh emm muilo maiotes do que astecelagens e fiações do início da Revolução Industnal. Ás novastécnjcas não apenas exigiam escalas maiores de prcdução, mas tam-bém as premiavam gen€Íosamente. Como foi visto na 6," aula, atécnica modena pÍoporciona ga[hos de escala câda vez maiores, oque const i tui o pr incipal fator da mDceDlração do capital . É precisorcssallar aqui que estes ganhos de escala não se realizam só na pÍo-dução, mas também no laboratório. A prcdução de novas técnicâs,que iniciaÌmente eÉ o r€sultado na!ìtrâl do trabalho do artesão ouentão constituía atjvìdade especializada do inventor individual -Tomas Edison e seus assistentes loram dos últimos exemplos destaespécie - passou a constituir a atividade de gmndes equip€s deespecialjstas dirclamente sob o comândo do grânde capital. A van-tagem desta nova organização da atividade inventiva, hoje rotuladade "Investigação e Desenvolvimento", é que é possível cooÍdenarestreitamente o desenvolvimeDto de novas técnicas coú as necessi-dades mercadológicas das grandes empÍesas, acumulando-se enormesquantidades de dados cuia utilìzâção obedece aos ditaíres do departa-IneíÍo de ma*etíng. Em última atrálise, a partir de uma certaextensão do trabalho científico e tecnológico, o knotv-how acrtm.'J,-lado peÌmite à emprgsa manter certa dianteira face aos c-ompetido-res em det€Íminados campos, o que the assegura, na prática, priülé-gios monopolísticos em uma série de mercados

Os marginalistas acreditavam clue o monoúlio desencoÍajavao progresso técnico simplesmente poÌque o monopolista, Dáo tendocompetidores, não teria intetesso em inovar os Dtocessos de oro-dução, Ácootece. no enLanro. que mesmo não hávendo guerrai de

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preços entre os oligopólios €m cada meÍcado, eles competem entÍesi, usando como armas a püblicidade, a imagem da marca, a apa-rência e as caÍâcterísticas do produto. É claÍo que isso estjmulâ oavanço tecnológico, emboÍa o disÍoÍça muitas vezes, quando s€ en-vidam esfoÍços tendentes a merâmenle redesenhar produtos antigos,sem de fato melhoÍáìos. Mas, não há dúvida d€ que a concorrênciamonopolística oferece os maiores incentivos ao invento de novosprodulos, mesmo quc sua utiljdad€, do ponto d€ vista dos consumj.dores, seja, às v€zes, duvidosa.

A1ém do mais, a mudança de processo permite obter o mesmoproduto com custo menor, o que pÍoporciona aos que dominamos novos processos de produção margens mais elevadas de lucros.Uma das característjcâs do capitalhmo monopolista é de que, nosmercados oligopóljcos, os gânhos de produtividade não

^catíeÍaÍr,,em geraÌ, queda dos preços dos produtos, como costuma ocorrer emmercados concorÍenciais. Nestes, a firma que desenvoìve novos pÍo-cessos de produção usufrui uma vantagem temporária: eÌa obtémsuperlucros apenas enquanto os oÌrtros concoÍeDtes náo aplicâremigualmente o novo processo, quando enião os preços téìdem a baixâÍna mesma medida em que diminuíram os custos. Em mercados oli-gopólicos, no entanto, esta vântagem tende a ser permanente -mesmo que a empresa oligopoÌista que domina o novo pÍocesso resoÌ-va Íeduzjr algo os preços, favorec€ndo o consumidor, e tahez elevealgo os saiários que paga, favorecendo seus trabaÌhadores, o fatoé que ela tem ìrm domínio mujto maior sobre os frutos do avançoiécnico. Nestas condiço€s, ela tem razões de sobejo paÍa se empe-nhaÍ neÌe.

Argumenta-se que, como resuÌtado destes avanços técnicos, deu-se umâ Segunda Revoluçáo Industrjal, da qual surgiu um capitalis-mo "pós-jndustrial". O ponto de rutuÉ erÌtre o antigo capitalismoinduírjaÌ e o novo câpitalismo pós-jndLìstÍial leÍia sido a invenção docomputador e do servomecanismo. O papôl do computador é duplo:como máquìna de calculaÍ, realiza um enorme númeÍo de cálculosem pouco tempo, ampliando poderosamente o raio de ação do pÍó-pÍio trabaÌho científlco; como máquina de conlar, armazenaÍ e pÌo-cessar informações, o computador realjza, com grânde economia delrabâìho humano, alividades de controÌe, de arquivo de irÌformações,ampliando a capacidade dos centros de decisão de coordenar e oden-tar atividades. O computadcr torna possível, desta maneira, ativida-des de plânejamento centÍaÌjzado que anles não €ram vìáveis. Eledeu lugâr a umâ nova ciência do estudo e tratamento de j ormação

 informáticâ.

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O seflomecanismo é uma espécie de minicomputadol adaÈtado a ìrma ou diversas máquinas, as quais diÍige. O computadoré chamado de "cérebro eÌetrônìco" porque consegue realÌzar ope-rações de raciocínio, emboÍa elem€ntares. Isto significa que eÌe édotado de disposilivos de rcâlimentação (leed-back\, qÌre peÍmfuemqüe se autocorrija. Assim, uma máquina automática, dirigida porum servomecanismo, não somente pára se houveÌ algum defelto,mas ela podeú, confoÍme o caso, corrigi-lo e voltar a funcionat.Estas caÍactedsticas do sewomecanismo, demonstradâs por exempÌo,pelos vôos à Ìua inteiramÕnte diÍigidos por computadorcs, permit€mampÌa substituiçáo do hom€m por máqui[as na atividade produtiva.Tearcs que trabalham sem tecelão, tratores que aram campos serntrator:stas, fábricas inteiras de processamento de materiais que seautocontrolam, aviões didgidos por pilolos-automáticos são aìgunsdos aspectos que caËcterjzam o atlveÍl,o da aulomação,

Mârx já linha dito que "o aìriôniâro ó o finÌ para o qual tcnderodo o, i ' .cnrâ, je mdqri I | " . . Dc Ír Ìo. .omo r rnos.: n| i !u i l .a j , il ìnha subst i lu ido rJ aÍtesão qüc e punha â ferÍamenta. Ào homen'rsobrou â tar.fa dc Íigiar e suplrvjsiorar a nìáqujÌÌa. AparentcroentcÈlo perl ieu erta Iunção pi , fa o seÍomecanisrro. De lato, j ioÍón, ohoÌÌì.n continra scn,:Ìo indisÈÌìsávei não eó pâra projelar e cons-1ruìr os coìnpuiadorÈs rìas tanìbéÌn parê protramá-Ìos, âlÉnì de lerqüe . ìar lêìos e boas cordiçóe!. Ì . , jão parÊcÈ, portanlo, qde â aulonação devcrá acaÍreÌar uÍrì inìenjo desemprego ÌecnoÌógico, comose lonì iâ quando suas losibi Ì jdad.s foram scndo anal isadas peÌa pi i -nrrjra vcz. Mas, agora, um qualio dc sócüÌo depois, pode-sÈ afiÌ lÌrque a nrarcha dâ automação eslá sendo bem mais lenla do qÌlc ajnicialmente prevista Ê sua aplicação tendc sobretudo a afetar o âm-bito dos serviços - bâncos, correio, transporte, collabilidade, se-gurcs etc. - do que a ocasionar úa indústÍia a imediata substituiçãodo homem p€la máquina. Não há dúvida, porém, de que a aütomaçÃotênde a afastar o homem das atividades rotileims, repetitivas ouque respondem a estímulos Ìelativamente simples e padÍonizados,Autômatos já operam hoje as luzes do tdfego, elevadores, trerlssubterÍâneos, teÌefones etc. É de se espeÉr que tro futuÍo o homomseja afastado gÍadativamente de toda atividade produtiva direta, fi-cando apenas sob sua responsabilidado o controle, ptogramação emanìrtenção dos autômâtos e âtividades Dão rotìúeiras de pesquisacientífica, criação a ística, educação etc.

Pergünta-s€ freqüentemelte como o capitalismo iÌá se adaptarao mundo pós-ìndustrial. Parece, porém, adequado petguntar se alentidão do avanço da âutomação não se deve ao capitâlismo. De

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fato, é muito difícil imaginaÌ uma economia capjtalista em que a

Droducáo direla não seia feiLa por homens. em que estes estão ape-

nas limirados a Larefas que sào estriÌameÍIle ìmprorlulivas Teorica

mente, numa ecoÍIomia aomo esta, as mercado as só incorpoÍaÍiaÍ-Ìo trabalho humano necessário à coilslrução, ptogmmação etc., dos

aulômatos. Apenas as fábricas de autômatos utilizarjâm tÍabalho

"vivo", que gèra mais-valia Todâs as demais empresas utilizariamaDenas úabâiho molto, incorpoÍado nos autômatos que Íealiãms;a produçào. Nestas condições, a separação entre o Produtor dìrelo

e o; Íneio; de produçáo casssíia, simplesmente porque o produtor

direto reria um meio de produção. obviamente, a Propriedade pri-

vada d?sÍ4 meios de produção deixatia de ter qüaÌqueÍ sentido, já

oue elg não DassaÍia de Ìrma excrecência histórica, face a um Pro_cesso de oroducão inteiíam€nle socializado

Irnagjne-se, por exemplo, umâ rcde de Postos de gasolina aulo-máticos,-Os cIe;tes se auto-âbastecem e pagam com um €âÍtão de

crédilo, sendt, as quÂntias diretamente creditadas a unÌà conta bancária, Os postos são reabaslccidos automaljcamente poÍ. coÌldutos 11-gados dirètameDte â unra reiinâria. a qual dcbita da ìnesma contaúarcárja seus fomecinÌentos. Quando uma bomba, num posto quaL-

iruer. i , le\ârr ,rni" , (13 pu r e 'e r r iocon (r lâ orr enÍ;o úvi \dúrna cornpanhia ílc seguros que â substjlui. A âdminhlração deí!compânhia de distribuição de gasoÌina não tem oullo servìço que

o de reriiicar qual é o saÌdo da conta bâncária res Ìlado da

djleÍcnça entle vendas a vaÌejo e compras Ío âtacado de gasoìnÌa

- e a;ossÂr-se dele. Admitindo-se que a Âmortizaçào do caPiÌalseja igual aos prêmios pagos à companhiâ de seguÍos (tan]bcm aÌrro-mâtic;mente). este saÌdo deverá correspondet à lÂxa de ÌucÍos médlaaplicada ao capital dô companhi de gasolina. É claro que, em taiscircuns!âncias. será muilo dificil juslificar socialmente esÌe lucÍo,já que eÌg não corresponde s quaÌquer função aiiva Os que seaoossôm dele não teÌiam outra juslificativa do que a de que elesd;íinam parte doste lucro À consttução do novos postos de gasolina.Mas é a outÍa parle, quê eles usam para seu consumq que não en-contÌa justificação, já que, mesmo de acordo co1Ír a idoologia caPi-talhta, o lucro do empÌeendedor correspondc ò Iunção vital de com-binar os fatores de produção. Numa economia em que os fatores dêprodução s€ combinam automsticamotrte, o eÍrpr€endedor !ão temmais funçáo.

A consideração destes fatos talvez leYe a suspeitar de que a aPli_cação prática da automação seia ainda Írüito inciPiente nos paísescapitôlistâs, mesmo los mais adiautados, porque os que domiÍram o

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pÌocesso produtivo têm de fato muito menos entusiasmo Dela auto_mação do que proÍessóm em púbjico. Eía suspeita úo cònrradiz oque foi al ; rmado mair acimâ. de que o capiral ismo moDopol istaoÌerece grandes vanlagens its empresas que cooseguem reduzir seuscustos medjante o aumento da produtividade. É prcciso, apenas, queesie aumento não vá ao ponto de s€ tornar ìnfinitq ou seja, de ejimi_nâr dâ produção qualqueÌ custo diÍeto em tÍabalho bumano. Isso setraduziria, na prática, em aplicações pdrci4ir da automacáo, seletiva_rnenle alocadas a alividades cujas condjções de trabalbo, por seremp3ngosas. rnsalubíes. moÌestas, humilhaoles eÌc. . dj l iculrem a arresi_menlaçáo de mào-de-obra. A,sim, seÍiâ de se esperar que o rrab;-Ìho em minas de carvão, junto a âltos fomos ou noJ friso ficoss€ja automarizado, em elevado grâu, muito aDres que o sejam ariv i-dades pâra as quais haja adequado suprimento de força de trabalho.

E lnteressante obseúâr, neste contexto, que a automação parcceler.avançado maìs nos serviços públ icos - Do lranspo e. n; le le-ronra, nos coÍleros, nos serviços de energia elélrica _ do que narnousrrra, exceto nos Íamos em que se dá processamenÌo coÍrtinuo,como na peltoquimica, na química etc. Parece provável, portanto,que a organização capitalisla da produção seja um obsráculo à plenaapljcação das conquisLas da chamada ..Revoluçào Técnico-Ci;nrifi-câ", nã medida em que elas ameaçam â produção do valor e porranto{la mars-varta. o que se traduziÍiâ no plano imediato da aparétrcia,nâ LransfoÍmaçào do lucro num mero tribuÌo aa vaorin, serÁqualqueÌ correspondêncja com o processo Íeal de Fodução.

Poder-se-ia objetar a isso com o fato de que oJ paísei tle econo.mrâ cenlralmenle planejada lampouco e\rão mais adianlados nasâplrcações da auromâçáo ao processo produtivo. É possivêl que esteÌaro se expuque pelo retati\o âtrâso recnológico de,tes países, masnão se pode descorÌsiderar a hipótese ale qlre os grupos ou camadassocìa6 que domroam o processo produLirc Dessas ecoDomiâs tam-bem lenhâm.lnteresse em justif;car a posição dê maodo que ocupam,o^que poder;a se rornaÌ igualmenre dificil com a compúla aur;ma_ção do proce\:o produtivo. O que trão se pode negar é qu" r"o,o oo.palses caprtatrsLâs como nos paises de economia cenlralmente Dlâ.nelada, os esloÍços que se dedicam ao deseDvolvimento da automaçãonão se comparam aos que se de\,otam à inveÍrção e aperfeìçoarnentode novos insÌrLrmentos bél icos,

.-. Âliás, nos países capitalistas mais adiaütados, o trabalho cien.Íífìco que levou ao desenvolvimento dos computarlores e rla maio.da dos processos automáticos, foi e é financiadq

"- g".u! ;;,ÍecuÌsos públicos t€ndo por objetivo a invenção ale urmu-"nÍos.

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t

PaÍece claro que novos avanços da ciência requerem recursos vul-tosos e que estes podem ser Ìevantados mâis facjlmente peÌo eÍado,tendo poi pretexlo ou justificariva a defesa nacìonal. Nos EsradosUnidos, por eÌemplo, est€ rrabaÌho é efetuado, sob contrato com oDepdÍrdn,enro ae DÉle)a. no, Iaboralór ios das grandes empresas oudâs universidades e é claro que a âplicação "civil" dos ÍesuÌtadosfica a câÍgo das mesmas empresas, s€m maior ônus. Este subsídiopelo governo mostra também que, do ponto de vista do capilal, a3l i \ idade.:enlr f :ca apresenta um gLaÌr de r ism excessivo na maior iados casos, devendo por hso seÍ financiada por todâ comunidâde.

Economìcanìent€, a alividade de pesqujsa cientifica é ânálogaA prospecção: os resultados são incerlos e na hipótese do se daÍ umadescoberla, esta proporcjona ao financjadoÍ üma renda sob a formarqatties pelo uso de patente que assegura â pÍopriedade dâ des-coberta, o que é análogo à Íenda que uma empresa petrolífera poÌexemplo, aufere da exploração de uma jazida. No es!ágio de deson-volvimento cientifico a qüe aiualmenre se chegou, ,p capitâl derisco djsponivel para financiar a pesquha é jnsuficiente para susten-laÍ o rilmo de pfogr€sso, havendo portanto necessidade de so recorrerao tribülo para se feunir os recursos requeridos.

Como vemos, ludo indica que o capitatismo está esgolando oseu papel histórico: aendo surgido como um modo de produção querevoÌucionou a tócnica d€ modo contínuo e sislemático, ele elevouos niveis de pÍodulividade do trabaiho huÍraro a ruv€rs nunca ânressonhâdos. A Revolüção ÌÌrdusr.iâl foi â grande Íeâtjzação históricado capitalismo, e sua rápida difusão permitju ao capilalismo tornar-.se o primeiro modo de píodução universal da hìstórja. Mas a Revo-ÌÌrção IndustrjaÌ teve por base a sistematização da atividâCc cjenlífi-ca e sua conexão inlima com a produção. Dai surgiÍam descobeÍtasque peÌmttem, ao menos polenciaÌmenre, superaÍ os iimires da pró-pria Revolüção Industrial e ljbertar o homem do encarso de orõverpclo scu pfópÍ io esiorço direlo os meio. para 5eü su.ren.o. O áU;rnroque se abÍe entre esta pot€ncialidade e as rcalizações do capiralismoindjcam que ele não tem condições de Ievar a humanidade à erapós-jndustriaÌ. A transfoÍmação das promessas da RevoÌução Técni_co-CjeniiÍica cm Íealidade exjge um outro modo de proàução, emquc o conLroÌc do processo produtivo seja retomado pela sociedadecomo um l , ' (1, , , Je modo a et iminar qualquer Lipo de pr iv legio queesleta no ! . ,nì rr l \ ì da subsriruição do homem peto aulomaro. Sóassim a vclha profeciâ de que em lugar do governo dos homenshai€Íá apcn s l| tìdnìinistÌação das coisas podeÍá ser reaÌizada.

14S

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DÉCIMÃ ÀUL,1

COMÉRCIO INTERNACIONAL

As primeiras teorias explicativas das rclações comercìais entreâs nâções suryiíâm como reâção às doutrìnas mercantilisras, queprevaleceram na Europâ a partir do século XVI. Tais dourÍinas pres,crevìam a cada nâção exportâr o máximo c importar o Ìnínìno, demodo a obter üm saldo positivo na balanca comercial, que viriaacr€scer o seu lesouro de metal precjoso. vìsto que acumular ouro ouprata eÍa consideradâ a única forma de âtrmcntar a Ìiqueza nacionâI.o comercio inrer ldc onal pa, .â\ , a ser encarado como uma dispurapor umâ quantidade (necessariameÌrte limiiada) de metal precioso, naqual cada pais só poderia obter vantag€ns âs cuÍas dos dômaÈ.

Adam Smjlh, em seu famoso livro A Rìqueaa dãs NaÇões(publìcado em 11'/6) defendja üm ponto de vistâ radicalmente dife-Íente: as Írocas comercjais beneficiavam todds as nações quc delâsparticjpavam. A sua teoria, conhecida como das "Vântagens Com-paÍatjvas", psftia do pressuposto de que cada país tinha vantâgensmâiores ou menores na produção de cada meÍcadoÍia. Quanto mâiora vantagem, lanto menor o custo da mercadoria e, portanto, seuvalor- medido em tempo de tmbalho. Estas vantage$ tanto podiams€r naturais como adqujridâs. Um exempÌo dc vânlagem naluralseria o falo de que vinho dÕ boâ qualidade podia ser produzido aum custo muito menor em paises de clima mediterrâneo, comoa Frânça ou Portugal, do que em países de clìma nórdico, comoa IngÌateÍra ou â Suécia. Já as vantagens adquiridas provinham daespecjaljzação em determinadas linhâs de produção, a qual permitja à máo-de-obra de determinados país€s adquirir deslreza e do-minar â técnicâ de produção, obtendo,em função dhso,custos maisbaixos que os que prevaleceriam em países cuja mão-de obÌa nãotjvcssem adquirido experiêncìas ãnálogâs. É isso que explicaria asvantagens íeÌativas da Ìnglaterra na trodução dg tecidos ou daFrança, na de perfìlmes.

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Se o comércio internacional não fosse obstacuÌizado por iÌÌter-ferènc., go\ernamenLãi ' . a compel içào do meícodo mund:al iar iacom qre cadl pdrs se especial :za5(e naç l inhas de prodlìção em qLe

livesse majs vantagens comparativas - naturais ou adquìÍ;das -de modo que todas as melcadorias seriam sempre obtidas pelo seuvalor mâiabaixo. O ganho de todas as nações participantes estariaprechamentc nisto. Smilh, como os demais clássicos, negava quaÌ_queÍ importância à acumulação de tesouros de metais pr€ciosos Ri-qurza, para e]e, siSnjfìcava obter os bens de uso necessáÍios ao con'iumo ãa população com o menor gasto de tempo de trabalhohumano. Nesie sentido, o comércjo intemacional, livre de interfe-Éncias não-econômicas, promoveria a Ìiqueza de todas as nações.

A titulo dc ìlustração, imaginemos que na IÍglaleÍÍa a produ-

ção de Ììm metro de tecido cÌlÍasse 5 horas de tÍabalho e a de ümlilro de vinho 15 horas de trabalho, ao passo que em PortugaÌ ummetro d€ tecìdo cüstasse 15 horas e um litro de vinho,s horas. Éóbvio que a troca de vinho português por tecido inglês permitiÍiaaos ìngiesss obteÍ vinho poÍ um terço do vâlor que ele lhes custaria,se fossem produzi-lo em seu próprio país, e aos poÍingLres€s obtertecido também por um vaÌor que sena apeÍlas um teÌço do quetcr;am de dispender se fossem fabricá_lo em PoÍlugal.

No íundo, os gânhos de um comércio irteln'ìcional livre seriamanálogos aos derivados da divjsáo social do trabalho dentÍo de umpar' . Nun c".o coÍro no oulro. a espec;al ìzação perï i te aumenlaÍà orodurjr jdade do trabdlho, reJu/ i f os ctrslos de píoduçào e. denanáneira, multipljcar a riqueza. E o coroláÍio poÌitico também erao môsmo: se para expandir a divisão socjaÌ do trabalho dentro deLrm Dais eÍa Dreciso elininar as barreiÍas à livre circulação de meÌ-caaórias, ta;i como os monopólios locais dâs corpoÍações e a co_brança de direitos de passag€m, â expânsáo do comércio internacio-nal iambónr requ€Íia a supÍessão das companhias pÍivilegiadas deconrórcio (corno as famosas companhias das Índiat e das baÍÍeiÍastarifárias às importações. Propunham, portanto, os cláss;cos,subs-!ituiÍ â doultina mercanlilìsta, ainda em voga no século XVIII, pela

doutrina do livre-câmbioJá no sécuÌo XlX, David Ricardo deu forma definitiva à Teo-

Íìa das Vantagens Comparativas, ao demonslrar que cada pais de-veria se especializar na produção das m€rcadorias em que íivesr;emaiorcs vanÌagens Íelatfuas, alr. a que para tanto lrvesse que rm"Dortâr mercadorias por um valoÍ mais alto do que Ìh€ custarìa

iabr ical" ' . Suponh"Ão., por exemplo. que produTir avióe' e cdìçd-r lo, cuslar$ tpor unidade;, re.pecl ivamente. 10 000 e ì0 horas de

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trabalho nos Estados Unidos e 30.000 e 15 horas no Brâsil. É claroque os Estados Unidos terjam vantagens tanto na produção deaviõcs €omo na de sâpatos, em relação ao BrasjÌ, mas a vantagemna prodÌrção de aviões seria bem mâior que na de sapatos. Assim,se os Estados Unidos expo.tassem aviões ao BrasjÌ a um preço algomenor do que custaria ao Brasil fabricá-los - digamos por 25.000horas e jmportâsse sapatos pelo vaÌor de 15 horas, a venda de 3aviões (por 75.000 hoüs) permitir-Ìhes-ia obter 5.000 Dares alesapâr05. A vanÍagem dos Estados Unidos esrar ia no Íatõ de terdispendjdo 30.000 horas (3 vezes 10.000 hoÍas) Da.â obter saDatosque ìhc tcr iam cuslado. se os r ivesse fabr icado, nada menoi oue50 000'ìo-as (5.000 vezes l0 horas). Mas o Brasi t rambém €sLai iagânhando, pois os 3 aviões the custariam 75.000 homs ao comprá_los por sapatos, mas ele Íerja qüe gaslar 90.000 horas (3 vezes30.000 ho(as) se fosse fabricá-los. Demonstrou assim Ricardo oue.

pars Ì j resse grandes vanÌagens na!uÍais e adquir idase^ todas as esferas de prodüçáo, a especjalização apenas noa ramosem que suas vantag€ns relctiyd.r fossem maiores lhe traÌia mah van_tag€ns do que â aìrto-suficiência econômica_

Um dos ptessupostos não explícitos da Teoria das Vântag€nsCornpârativas é que, para o livre-câmbio proporcjonat ganhos Íeâisa um país, seÍia preciso que os demais países também seguissgmuma poÌitica de livre-câmbio, ou sejâ, abdssem seus mercados in_ternos à livre concoÍrência dos produtos ertrangeircs. ResuÌtâria daíqr le nas l inhds dr produçáo em que um país se e\pecial jzasse have-lra Lrma dem3nda exlerna. seDão i í i in i ta, pelo m€nos Lão elásLicâque eÌe sempre poderja vender um volume dc metcadorias suficien-t€menÍe amplo para poder adquirir todas as demais me.cadoriasde qur necessitasse. Caso este ptessuposto não fosse verdadeiro _e elc nâo o era na maioria dos casos - quanto mais um país sêespecjalizasse na produção para o metcado mundiaÌ, tanto maior€seram os Ììscos de qúe sua balança comercial ficasse crcnicâmentedeficìtária. Nos teÌmos do exempÌo acìma, emboÌa em fulcão doscu.'o. de produção ío5se vântâjoso ao Brdsil especializar-se nã pro-Jução de raparos. nada garanl i r ;a que ete poderia vender uma qúan_tidade. suÍiciente para poder pagâr todos os aviões de que vieise a

No tempo de Adam Smith este problema não se coÌocava. Doisa pol i r ica nercanl i l isrâ, ajnda em pleno vigor, Linha por l im Dreci-samenre evilar que a balança comeÍciâl foss€ deficiÌária. Mâj. nasprime;râs décadas do século XlX. o livÍe-cambismo vinha Íazendoevidentes pmgressos e a preocüpâção com o equilibrio da bala!ça

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comercjal passou a crcscer. Rica.do enfrentou o probleÌna parlindodo pressìlposto de que em câda pais a moeda íeÍia um laslro deouro (ou oulro metal pÍecioso, contanlo qu€ fosse o mesnlo emtodos os países) e que os países com baÌança comercjal deficiÌáriasaldaÍiam seus débjtos, corr€sponde4tes ao excgsso de imporlaçõesem reÌação às exportações, em ouro. Tais pagamentos reduziÍiam,nos paises deficitáÍios, a circulação de metal precioso e, portÂnto,o volume de meios de pagam€nto se contraiÍiar cÍiando-se uma situa-ção de defÌação: custos e pÍeços, expressos em ouro, cdiridn, tôndopor cons:qüência á/eydr as vantagens compaÍalivas desses paises, oque se manìfesraria concÍeíamenle numâ queda dos preços dos seusprodutos de exportação, fazendo com que o volume exportado pas-sass3 a crescer. Nos países supeÌavìtários, os efeitos do ÍecebinÌenlodo saldo de balança comercial em ouro seriam naturaÌmente opos-tos: ampliação do volume de meios de pagamento, dando por con-seqi;ência aumenlo dos preços exprcssos em ouro, do qìre resultarjaperda de vantagens comparalivas, que se exprimiria em elcvação dospreços dos produtos de exportâção, acârrerando um d:minuiçãodo volume exportado- Demonstrou deste modo Ricardo que o fuÌt-cionanìento irrestrjto do chamado "padrãGouro" permiliria combi-nar o ìivrc-câmbìo com um equilibrio, sujeito a oscilação compen-sator iâ, da balarça comeÍcial de todos os pais€s

Duranle uma boa parte do século XIX, o coméÍcio inlefMcio-nal se desenvolveu nas linhas previslas pela Teoria das VanÍagensComparativas. A R€volução Irdustrial proporcionou à crã-Brcta-nha vanÌagens muito nítjdas na produção de bens rnanufaturados.Para produzi-los, no entanto, eÍa necessário importar aljmentos emaiériâs'pÌimas. Desta maneira, tomou-se â Grã-BÍotanha o centrode umâ ampla rede de tÍocas, importardo algodão dos Estados Unj-dos e da India, açúcar do Brasil e dos países do continente europeu,chá do Ceiláo e da Chjna, caüre e trigo da Argentjna s do Canadá,Iá do Uruguai € da Austrálja etc., e exportando a todos esses paí.ses tecidos, artigos de vestuáÍio, carvão, materiâl ferroviário, má-quinas de vários t;pos elc. Surgiu assià uma djvjsão inteÍnacionaldo trabaÌho que contrapunha a Ìrm g.ande conjunto de pâíses, cadaum se especiaÌizando em uma ou poucas esfeÍas de produção à basede suas vantagens naturais, Dm único país cuja especialização seêstendia por ampÌa gama de produtos e se bas€ava quase que só emvaúage,l.s adquiidas. Estava claro que a cÍã-Bretanha desfrutavade uma situação nitidamente privilegiada por ter sido o pr;meiropaís a realizar a Revolução Indüstrial e que o comércio internecio-naÌ à basê das vantagens compamtìvas tendia a impedir que ou!Íos

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Daises lhe sesuissem o exemplo. As vantagens adquir :das pela In-

i laLerra lhe-permit ìarn tender produtos manufaLurados a preços

ã. i t bui*ot do que os custos de Produção de paise' ení estagio ini 'cial de industrializaçáo.

Á constâtação deste fato levou à formulaçio do chamado "ar-gumento da indústÍia infanle": se um país deseja a1qrlrit vantagensãomparativas em determinado ramo, d€ve proleger seu rnercado itr-

tern; (do retoddo mmo) contm a concorrêncja estÍangeira até que

sua i[dústria lenha adquilido "maturidade" suficiente para poder

co[corÍer em pé de igualdade com indústriae dos outros pâises, im-Dlanladas hâ mais remoo. Esle argum3nlo leva em con. iderâção qJeà. uunrun.nt adouìrìda' não são obra do acaso ou do dest ino, masresultado_ de umá evolução hislórica, que pode ser reproduzida numccrto lapso de tempo, mediante polì l icâr adequadas O argumenÌoda indúiLr ia infante não desLruiu a Teoria das Vantâgens Compa-raLirâs, mas le\ou a sua reiormulaçáo, dandGlhe um cara(er maiçdinâmico. DuÍanle o perlodo em que um pais protege reu mercadopara âdquit i r vanlagens comparat ivas, a 'ua

produl ivìdade é menorque a mãxima, ou seja! o seu lrabalho lbe propotciotra um volumetl_e valores de uso menor do que se adotasse uúa polÍtica eslrita-

medte livre-cambista, mas a mais longo pÍazo sua intggração no

comércio internacional se amplia, o que lhe perúite aliÍgir níveis

mais elevados de produtividade do que se se limitasse à especializa-cão em menor número de mmos.

Desla maneira a teo â do comércio internac:onal incorPorou,

iuíiÍicando-a Íacjonalmenle, a politica prolecioni\la que vários

pases que desejaram se jndustr ialLaÍ - a começar pelos Estados

Ünldos-e a Aiernanha - coúeçavam a pôr em prátìca Com a

crescente industrialização cie diversos paises, a Partir do 1370'-a

concorência no merc;do muÍdial Passou a sel cada vez mais acil_

Íada. As pr:ncipais nações jnduslrializadas passaram a prolegeÍ não

aDenas o ìeu mercado interno metroPolilano mas tambèm o de suds

còlônias e paises depondentes, constÌujndo "esferas de influência",alentro rlas quais vigoram sisl€mas de "pÉferências imperiais"'A lei das Vantagens ComPaútivas continuava vigorando de,t"o dasesferas de influê;cia, ondc as vantagens adquiridas das metÍópolescontinuavam thes garantindo o monopólio da indústria, mas pas-

sou a ter força cada vez menor nas relações comercìâìs g''tre asesfeÍas.

Na periferia dc cada uma destas esfeÍas, os países DãGindus-tÍializados desenvolviam uma patte de suas ecoDomlas que se vol-tava inteiramente para o comércio gxterrÌo, à base, em SeaaÌ, de

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vantagens naturais. N€Ía pârte de suas economias, que dcllomina'mos Setor de Mercado Exlerno (sME), as forças prodütivas atrn-

sìam niveL elevado, o mesmo se dando com determinadâs alividadesãe apojo à exportação, como os meios de tmnsporte e de comuni-cação e os serviços urbanos nas cidades que servram de entrepostosaos fluxos de expoÍlação e de imporlação Mas, o reslo da €cono-mia desses países, que não se benefìciava de qualquer ÌÂntagenlnatÌrral . em ternos de so1o, cl ima ou depósitos mìnerais permâne-cìa exlremamenle atrasado, dando orìgem ao famoso "dualìsmo"

ouc carÂclerizâ os países chamâdos 'tubdeservoÌvidoi" Pod€-se di-t"., po.tunto, que ã diuisao do mundo em país€s desenvolvidos e

não'áesenvoìr,idãs resuÌtou da maneira como se estruturou o comér-cio jnternacionaÌ a parliÍ da Revolúção Industrial.

É óbvio qre essa estÌulurâção condicionava toda dinâmica da

iÌivisão inlerntcionaÌ do lrabalho à dinârn;câ das economiâs indus-

triaÌjzadâs. Na medida em que os hábitos d€ consumo e o avanço

tecnológico destas expandìam a demanda por certos produtos, os

oaises cue tinham vantagens natürais em reÌâção a estes produtospodiam-aumentar sÌÌa parlicipaçáo no comércio inteuacionâÌ e' emconsecüêncja. exDandiÍ seus SetoÍ€s de M€Ícâdo Externo, elevandoo nivei aas forças produÍivas. Na medjda, poúm, que a evoluçãodos hábitos de consumo e o progresso tecnológico tornava deteÌ-minados produtos "obsoletot', reduzindo a demanda por eles, ospaises que se tinham especìaiizado em sua produção vjam seus Se-iorcs de Mercado Externo (ou parte deles, ao menos) enlÍar emcrise até desaparecerem. A jnvenção do motor a exPlosão e o de-scnvoÌvimenÌo da indúsiria automobilísrice oferecem üm bom exem-plo deste fato. Graças à úpida expansão desta indústÍia nas primeÌ-

ras décadâs deste sécuÌo, sobr€tudo nos Estados Unidos, o petróÌeolornou sc importante produlo do comércìo interÍLacional, benÌefi-ciando os paiies nos quais foúm encontradas jazjdâs deste minefaÌ,o mesmo s€ dando com a borracha, o que beneficion inicialmenteoì pa.ses que por.uran ser inBJeiÍd ' nal ivàs das qua's se exlraiao Irreì . Na pí imeir" ddcala de'Le 5eculo â borrachd compel ia coïìo café peÌo prineìÍo lugâr na paula de exportação do BÍasjÌ. Logodepois, poféÌn, o deservoÌvimento das planlações de serjngueìrastrânfeÍiü â vanlagem compaÍativa para certos países do Exlrefioor: .nÌe Mal!r , . Cei 'ào. Indonesia e a econom;a de exp"r-1ação dâ Amazônia entrou em profunda crise, da qual aÌé hojenão se recuperou.

Após maìs de um século de desenvolvimento do comércio à basedas vantagens CompaÍativas, ou seja, com crescenle liberdade de

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Ìroca entre as enìpÍesas privadas dos diversos Daíses. o ÌesÌrllado nãofoì unra partìlha igualitária dos ganhos da esp€cializaÇão enlre to_dos o. pa .e. . Ín, \ o r içr \et er . iqrecim"4rJ dè um punhado deleq.enquolro 05 der-. p€rmânec;a-n e,.er. .aln.(nre Dotres. EÍa claÍoque fcjrdm r ico, ol pd.( . ' , que ,c ndr. tr iat i rdfam, que obriveramïanrdgen, "dqJ r :d. , \ e qLe de\fru.am de at los nrvei. de produr: ! i_dade em nunrcrosos ramos, orjentadcs ianto para o mercado intemocomo pâÍa o me.cado exÌeÍno. contìnuarâm pobres os oaises ou€'o pu, lerr ì .

-1. nçrr âtra produr r idade., u" i pou.o, râmos onJeposuÌam \Jnr igcn. nalurdi( . ,crdo a expanr;o de,re, ramos I imi.tadâ p€la demândâ exiernâ poÍ seus produtos e pela concorrênciade outros paises com vantagens naturais análosas,

Frc crrado Je cor\a\ toi reconhec do. Iogo-depoir da -2.. Guer-ra Mundial. pela chamada Tese prebisch-sjnger (ãmbos os autoresa apoca eÍam aÌros funcionárjos das Nações Unidâs): D ponto deparlida era constituido pcla constatação de uma tendôncìa a lonsoprazo ípeÌo meno' do Í i .n Jo seculo XIX àlé a 2." Cuef la M;_dial) de deterioÍação dos iermos d€ jntercâmbio dos Daíses aue ex_poÍrar im al imcr.o. e mardr.as-pr imJs. ou seja, que ó, p,eçó* rela_Ìr !o\ dc\rrs produtos tendiam d baixar rm relação ao. do, proJu,o.manuÍarurddo. que e\re\ parçes imporra\Jm. Erra evotução; consrd_laod arra\eJ üaç estat i . l jcrs de comifcjo externo Jd Grà-Breranha(quc..sendo o grânde eÁpofl"dor de p'oduro, manuÍdturados e im.porLddor de mercddoÍ jas . .colon:d:." durante e\re pef lodo, Le\e con_rin\la methôría dos seus termos de inrercâmbio), eìa de certa forrnao,contrar io

^do qur )eÍ ia de e,pefâr. de acordo com a Teoria das

vânÌageÌB (omparat jva\. pok houve durante €sle periodo maiofganho de produliv;dade na pÍodução iÌÌdustrial do que na de ali-Tel lo. e marir ia.-pÌ imd,. t ra ob\:o que num mercado mundiâlúe Jr\re ( .oncorrancrd, o, preços dos produros ;ndu.(r iâis deveriamÌer bar\aJo em retação aos do5 ar l igo\ . ,coloniais. . e não subido,como (uD rm. u que aconteceu \o se expl ica pelo IaÍo de que,embora tenha hav,do concorrência no mercado mundial formàdópelas nações jndustÌiâlizadas entrc sí, tal concoÍrêncja não exjstianas reìdçóe5 com€rciâis en'rc nâ(ões jnduslr ;al izadas e nrçOes naoqeqen\oivrd-(. poi t es,a\ d?pcndpm economicamenre daqueÌas. Esradependência sc man-fe.ra no Íato de que a otef la da Àaior Darreoos proouros pr lmano\. no mercrdo mundial . e controlada poiem_presas dos-par.es ;mpofladoÍe,. Empre.as como a Unìted ËruiL. asrandard ur-. a Anderson Clal ton e outras !endem evidenremenÍea onenÌar seus investimentos de modo a asseguÍar uma oferta abur-dante e barata de matérias-plimas e alimentos para seus países de

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ong€m e é claro quc, por outro lado, os países não desenvolvidÕsnão tém qualquer conrÌole sobrc a oferta dos produtos ;ndustrjaisque impoflam. Dai se concluir que o comércio inteÍnaciondl sopods seÍ muluamellte benéfico entre paises quando todos se encon-tram em p€ de jguaÌdade. Êm mercados em que a oferia é conlro_lada. pelos

"países compradores os pÍeços tend,m a ser fixados num

nrvel que lavorcce apenas a estos.Esre ljpo de crítica ao funcionamelto do comércio inteÍnacio-

nal. que naturdÌmente Ie!e foÍ le repercussão fdvorável nos paise,nJo d senvolvidoj . inspìrou a Teoria da Troca Desiguaì, torm;ìadano inicio da década dos sessenta p€lo marÌhta francês A. EmanueÌ.Na verdade, esta teoria já estava contjda implicitâment€ na formu_Iaçáo r icardiana da TeoÍ ia das Vanlagens Compararj !as e foi erpl !cì tâmente rrenc onada ímas nào des€nvoìvjdâ) por Mafx. No exém_pÌo anterioÍ, vimos que a troca de 3 aviões amcricanos por 5.000pare. Je .Jparos brâ\r leiros l rar i ganhos de 20.000 hor;s de tra-balho para os Eúados Unidos e de 15.000 paÌa o Brasil. É cÌaroque a troca seÍia ainda mutuamente vantajosa, mesrno se os ame_rÌcanos cobrassem 29.000 horas por avião: neste 'èaso 3 aviõescuslarìam 87.000 horas e seriam rÍocados por 5.800 pares de sapa-tos (a 15 horas o par); os ganhos do Brasil cajriarn ã 3.000 hoìas(90.000 horas que seriam o custo dos aviões s€ fabrjcados, meüos87.000 hord. cobrada\ peto, Eslados Unidos) c os dos americanosJüb.fkm a 28.000 hoÍa. t )8.000 hora, que lhes cuÍar ia fabr icaros sapatos menos 30.000 hoÍas qÌre ihes custam efetivamente os 3a\ iõeì. E\te, dados mosrram que a Teoria dâs Vanlagens Compa-raLi\as não detefmina de que modo os ganhos da erpecúl zaçao iâose reparl i r entre as. nações que paÍ l ic ipam do inrercámbio.

rara se oelermrnaf como os ganhos da especiaüaçào se Íepâr_1Êm è precr\o - fazer mais algumas h poreses. Emanuel admite queno, parses não deser\olvido,. os $lar ios sào mujro mais bairos do queno. pd:.e. de:envolvidoc e que pof lanro as taxas de exploraçÃo (âreratao enrre a mar\- tdt ja produridâ e o valoÍ do saláÍ io) sào muiÌomai e-crddas no\ pr imejros do que nos segundos. Esras bipóteses\e _JJ.rr l rc"m pelo Íalo de que a Lécnica de produçào adoLáda noSME dâ Ìnaioria dos paises não desenvolvidos é, engeral, bastanr€avançddâ (bâ\ta pensar nas plantações de banan;s da Uniredr.rurr ou no\ poço5 de perróìeo da Srandard Oi l , . o que leva â con-clurr que â pÍodurividade do tmbalho neste caso não deve ser in_f€Ìior à qÌre prevalece nas economias industrializadas. So isto forassim, é óbvio o que se segue: que, ganhando salárjos maìs baixos(o qÌre, de fato, se verifjca), o iÍabalhador do SME dos Daís€s não

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Page 78: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

desenvolvidos deve propotcionaÍ ao capitalista um 1ücÍo bem mais€Ìevado. Emanuel supõe, no entanto, que há um mercado inteÍra_€ional de capitais e que, po anto, a concoÍência entrc os próprioscapitalhtas não permite que persista por müito tempo uma situação€m quô algumas ômpÍesas, que investiram nos Setores de M€rcadolxterno dos países rÌão desen!'olvidos, tenham taxas de lìlcÍo subs-tanciaÌmente maiores do que as que invesliÌam úos países desonvo!vjdos. É de se esperar que, neste caso! o capital aflua ao SME dos

Daíses nào desenvolvidos, à procura de uma laxa de Ìucro majsi lerada. o oue dete acarÍetar uma olcÍ la cre5cente de ârr igos 'colo-

niai ' , corÍ f a conseqüenLe quedâ do. seus PÍeços. alé que -a

tâÍade lucÍo dos empreendimentos nestes tamos não seja significaiìva-mente maior do que nos demais Íamos dos países desenvolvidos'

Explicar-se-ia assim a delelioraçáo dos telmos de intercâmbiodos paises não desenvolvidos por uma tendência à superinversãono. óor.or rat'o* de exportâção dede( países. que são muitas vezes

domìnados peìas firmai dos paises ìmPortadores. Esta tendèncraseria. Dor sua vez. cada vez ma:s ÍoÍle Íla medida em que o diÍe-

rencial 'de salár ios enlre paices desenvolvidos e Dáo dese0volvidos1e âmDlia. Os dados colelados Por Emanuel mostram que elet iva-m€nte â dilerenca entÍe os níveis de saiáíio de diversos países (em

aumentado rlurante os últimos 100 ou 150 anos, Íáo só entre osDaíses desenvolvidos e não desenvolvidos, mas também dentrc do

ionjunto dos desenvolvidos. Assim, os salários nos Estados Unidoschegarâm, em 195G55 a ser cerca de 5 vÕzes maioÍes qüe os da

Alemanha Ocidental e quase 4 vezes maior€s que os da Gtã-Breta-nha. A expÌicação de polque os salários tendem a ser cada vez-mâisdesiguais èntre países (assiÌn como dentro dos diversos paíset de-pende de uma comPlexa interâção de fatorcs e€oÍômicos, demo-gráficos e institucionais que no momento não convém tenlar des_iinaar. o que importa, do ponto de vista da teoria do comércio ìÍI-lemacionaÌ é que - havendo uma divisão intemacional do trat'a-tho r€Ìativamente rígida, cada pais tendo s€ especializado em de_teÍmjnadâs ljnhas de produtos - os fluxos de capital entrc os

laíses lendem a equalizal as taxas de lücro mediante a variaçãoàos preços dos produtos, que terrdem a baíxar Dos países de salá-rios em queda (em relâção à média mundial) e a aumentar íospâíses de saÌários em alta. Isto sigtrifica que se o nível de saÌáriosiobe nos Estados Unidos, poÌ exemPlo, em relação ao Brasil, DumDrimeiro momeíto a taxa de lucto será maior aqui do quÔ lá. Istoãtraiú capitais para cá, què vão €xpandir lossa produção para omeÍcado externo (digamos de saPatos) e ao mesmo tempo os ca'

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pitais tendeÍão a s€ rgtirar da produção aÍericana paÌa o mercadoexterno (digamos de aviões). Quando este movimento de capitâistiveÍ atingido ceÍto nÍvel, afetando significativamenie o nívelde produção, a oferta de sapatos deveÍá cÍescer ao passo que a deaviões iÍá diminuir. É claro que nestas circunstâncias os preços dossapatos dgveÍão acabaÍ caindo o os dos aviões, pelo contráÍio. de-\aião subír até que as taÍas de lucrc em ambas âs indústrias vol-tem a se aproximar. MostÍa assim a Teoria da Troca Desiguâl porque, numa econamia capitalista internacional em que os capitaisse transferem facilmetrte de um país a oütro, os termos de inter-cânìbio têm que deteriorar pam os países em que os custos de pro-dìrção (com parliculaÍ ênfase no saÌário) tetdem a cair em relaçãoao dos seus parceiÌos de intercâmbio.

Um dos pressupostos c ciais da Teoía da Troca Desiguâl é arigidez da divjsão internacional do tübalho. Se essa rjgidez nãoexjstjsse, no exemplo acima os capitais viriam ao Brasil (e demaispaíses em qüe o nível de salários baixou, em termos relativos) náoapenas pala fabricâr sapatos mas também para fabdpar aviões. Nes-te câso, o efeito da elevação dos salários nos Estados Unidos seria,a cu o e a longo pmzo, um decréscimo da acumuÌação de capitale, no limite, uma paralisação do desenrElvimento das forças prcdutivas.

Na v€rdad€, a divisão inteÍDacional do trabalho é de fato tígidaquândo se tmta do pÌodutos cuja oferla depende de recutsos natü-rais Íelativament€ escassos. O caso recetrte da elevação do preçodo petÍóleo ìlustra bem este caso. Os países expo adores de petró-leo - os quais são todos países não desenvolvidos - se organi-zaram na OPEP e d€cidimm anular a deterioÍação dos termos deirtercâmbio, fixando o preço do petÍóleo em nível muito mais ele-vado. Esta decisão política mostrou ser factível a partir do momentoem que os membrcs da OPEP se assenhoriaram do controìe de suaprodução p€trclifera, rompendo deste modo a dependência em quoantes se encodtravam dos paises compradoÍes. O fato d€ que estesnão pudemm, pelo menos a prazo médio, substituir o potróleo daOPEP pelo de outras fontes, tendo qu€ aceitar o preço fixado pelosexportadores, confirma bÍiÌhanlemente um dos pontos básjcos daTeoria da TÍoca Desigual: o de que a elgvação dos custos de umproduto de exportação (que pode ser originada numa alta de salá-rios oü numa decisão política) tedde a melhomr os teÍmos de ;r-tercâmbio dos países exportadores, desde que estes disponham damaior parte dos recunos nalumis de que é extraído o refeÍidopÍoduto,

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Um outro t;po de produto em que há rigidez nâ djvisão intelnacionaÌ do trabalhc é o dâs meÍcadorjas que são fruto d€ desen-volvjmento tecnológico mais ou menos recente, EsÌe fato foi am-plamente jnveíigâdo pelos proponentes da TeoÍja do CicÌo do Pro-duto âplicado ao comércio jnternacionaÌ. Esta teoriâ (surgida nosúliimos anos) pârte da constatação qué cada mercadoria passa porvárias fases, desde o momento em qÌre €la sürge como ftuto deuma lnovaçáo técnica até que seu consumo se expande, a técnicade produção se padroniza e os custos de produção caem a nível re-latjvâmenie baixo. Quanto mais "no!'o" é um produto, tanto maisele requer sofistjcação tecnológìca, máo-de-obra altamente qualifi-cada e consumjdoÍes de elevado pod€r aquisitivo. Quando o p.o-duto "enveÌhece", tais requjsìios se torllam menos importantes eas vantagens comparalivas de quem o pÍoduz passam a dependetpÍimordialmente do baixo cìrslo dos fatores de produção, principaÌ-mente da mão-de-obra. A partjr daí é fáciÌ entender que na divjsãoinÍernacjonal do lrabalho, os países fo.temeÍte industriaÌizados ede aÌlo nível salarjaÌ tendem a monopoüzar a exportação do produ-tos "novos" ao passo que os países pouco indüstrialjzados e de bai-xos saláÍjos tendem a se €specializar em produtos ..v€lhos". É estaa raáo por que os Estados Unidos continrìam exportando aviões.ape.ar do' ralar ios dl i seÍem aìto), em vez das empresas aeronáuLi-cas se transferjrem aos países úo desenvolvidos, onde o cuslo damão-d€-obra é muito mais baixo. É que o avião ainda está sujeitoa um vlgoroso processo de aperfeiçoamento técnico, assjm comôos computadores, ce os produtos químicos, aparolhos eletrônicosetc., etc. O fato destes produtos Serem exportados exclusivamentepor um punhado de nações aÌtam€nte industdalizadas confirma opressuposto da Teorja da Troca Desigual e atesta a dependênc;atecnoÌógica do rcsto do mundo em relação a estas poucas naçõ3s.Assirn como o Japão ou os Estados Unidos são obrigados a pãgaros preços do petÍóleo fixado pelos países particjpânles da OpEp,est€s e os demais países não desenvolvidos são obrigados a pagatp€los avjõ,-s, computadores etc., os preços qìte os mo;opólios_aÃe-ncanos, lâponeses etc. por eles cobram,

O pressuposto da Teoria da Troca Desigual é menos verídicono que se refere aos produÌos que estão ..envelhocendo,'. isto é. ouenão esr;o,olr€ndo inovaçõe. recnológ;cas há algum tempo. Êsiaonesie caso muitos bens de consumo semiduráveis, tais como tecidos.arligos de vestuário, sapatos, móveis, bicicletas etc. Tais Drodutoscomeçam numa pr imeira la,e a teÍ a sua importação sutsr i ruidapor produção nâcionat nos mercados internos dõs paises em e.táglo

1Sts

in:c:âl de indu.rr jal ização. É claro que no caso destes produtos in-du\ lrrJ i( o\ cuctos de produ(ào dependem. em grande medida, dae,câÌd de produçáo. \os paÀes a;nda em desenvolvimento. de sran_de população e. por i \so. de amplo mercado inrerno, a indústr ia-tevè(produtora de beÌrs de consumo semiduráver's) consegue atiÍgjr vo-Iümes ponderá\ei de produçào e. graças à economia de iscala.Dâ xo. cusros, tsso permtte quc estes paises. numâ segunda fase, sclornem exportâdores destes produtos, jncÌusive parâ os países mâjsdesenYolvidos.

No caso do BrasiÌ, por exemplo, a prim€ira fâse da substituicãode imporL"(des de ben. de consumo semidurávet se deu . .pro;sonìndo". durapre â pf:meira metade desre século. A sesunda fas; teveseu inicio algo retardado. poi os paises induíÍiatizãdos protegiam- como arnda protegem, em parte _ seüs mercados intemos con-lÍa a concorrênciâ de produtos industÍiais de países não desenvol-vjdos. A partir da década dos sessentâ, no entanto. houve conside_ráveÌ ljberalização do comércjo internacìonal, o que teve poÌ efeitoa tÍânsferêncja da exportação de uma séÍie de prodttos industriais"velhos" dos países desenvolvidos para alguns ainda em desenvoÌ-vrmelro. O Brasi l . gíaça\ em parle ao seu extenso mercôdo inlerno,Ìor um..do(- parres que. sem ter ât ingido ainda elevado gÍau de jn_oucÌ_raIzaçao. tornou-5e erportddor de numerosos produtos indus-

Nesta área, poÌtanto, não foram os termos de intercâmbjo quemudaram (como faz supor a Teoria da Troca Desigual), rnas â ã!visão jnternacional do trabalho. Na medida em qu; a difeÍençâ denÍveis saÌarjâis entre países desenvolvidos e nãó desenvolvidôs seacenruar, oev€-se espeÍar umâ contínua tmnsferê[cia de especiâÌi-zação (de produtos "velhos", ó€m erÌtendido) dos primeiroì pamoc regundos. l \a medida em que e5la trançferèncit se dá sób aêgide Jas companhias mul l inacionais. ela deve ser encarada comoa resposta do câpital às exigências câda vez mais prementes da clâs-se operáÍia dos países industrializâdos capitalistaJ.

De.ta maneira. devê-se concluir que. enquanlo o pfocesso deìnovâçro lecnologìcd conlìnuàr como monopól io de um Dequenonúmero de paises capjtalistas e o diferencial de salários còntinuaraumenÌando, haverá de um lado uma tendência à deterjoração dostermos de jntercâmbio (como a Teoria da Troca Desigì'lal - prevó)e de outro,uma contínìra transformação da divisão internacional dótÌabaÌho, peÌa qual uma parcela cada vez maiot da indústria mun-dial . (dominada pelo grande capirat in lemacionat) rende|á ; . ; ;rocatìzada em paise. de baixos salár ios e amplo mercado interno.

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Page 80: Curso de Introdução à Economia Política Paul Singer

DÉCIMÀ PRIMEIRÁ ÃULÀ

ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O desenvolvimento é um problema que assumiu uma certâ Ìm'porÍáncia no deb"Ìe económ:co ape'1dr no' úl l imoi 20 ano.. prdl i 'camenle depois da Segundâ GuerÍa Mundial. É um tema especì-ficamente novo no campo da economia. Por isso não serja possívslfzzer o que foi feito com os demais tópicos, ou seja, uma abor-dagem cdtica dâs düas correntes fundamentais do pensamento eco_nômico a rcspeito do d€senvolvimenÍo. É posúvel, porém, moslrarcomo os herdeiros, os Íepresentantes contemporâneos dessas duascorrentes, estáo pensando o assunto. Pois não havia uma cogilaçãoa Ìespejto do desenvolvimenlo nem em Mârx dÍetamente ÌIem nosteóricos seus contemporâneos, qì.re demm origem à escola mârgi_nalhla. Marx, por exemplo, achava qüe o futüro dos países queestavâm s€ndo colonizados oÌr dominados coÌonialmente pelas po-téncias capitalisias seÍia semelhante ao dos países industrializadosHá uma famosa Írase dele em qìre dizia que a Inglaterra "é o es_pelho do futuro dos países menos adiartados " A IngÌaterra ela,enÌão, a maior po!ência industrìal. Portanto, Marx não concebeuo desenvoìvimento como um processo específico, difelente do cres_cimento, nem anal isou as conlr ìbuiçõe\ que haveria em um mundoom qus apenas alguns país€s estivessem indusirializados e em estÍei-ta reìaçãó econômica com os demais com um tipo de oconomiamuilo djfererÌte e mais atmsado, pol outm ìado,o ploblema sequers€ colocavâ paÉ os marginaljstas. Sê Marx, devido à süa aborda-gem histórica. deìl uma so1üção que em tcrmos abstÍatos não deixaãe scr verdadeira. mas que em lermo\ do qu€ acontece hoje nãoé relevante, os margiÌral is las nem sequer se coÌo.aram o pÍoblema do

d€senvolvimento. Isto devìdo à sua ênfase Éicrceconômica, comovimos na pdmeira aula, Os marginalhtas, seqüel se colocavam oorcblema ãe saber se uma dcterminada economia, enquânto taÌ'ionesponrlia oü não ao está8io possível de desenvolvimento das foF

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çâs produtivas. Toda cogitação qüânto ao desenvoÌvimento é, por_ianto, recente e, como 1a1, âs aboÍdagens refletem a eYolução du-iantc as úÌtimas dócadas dessas duâs correntes básicas do pcnsamen-io cconôm;co contemPorâreo

vamos examinaÌ primeiro a concePçáo marxista os economjs'tas maÍxistas quândo abordam o desenvoÌvimento goíalmente come_

çam a se peÍguntar de onde süÍgo o Problema, qual é a origem

hjstórica o cconômica da divisão do mundo cm pahes desenvol-vidos e não-dcsenvolvìdos. Pojs, evidcntemente, o processo de supe_

Íâção destâ difeÍença, deste abismo enlre um tipo de país Ô oulro

só pod€ ser analisado e enlendido a partir da análise e da comPre-ensao da origem dà diferençâ. E €sta origem se expÌica pela ,eoriado ìmyliatis o. O capilalismo, pÍincìpalmente o capjtalismo in-duslrjâ1, iem iorças jmanentes de expansáo O capitalismo irdustrìal

não consegue permanecer deÌrtÌo dos lìmjtes estreitos de uma área

ou íle unÌ lerritório nacional. As suas foÍçâs de expanúo, o ritmofebil de acumulação de capilaÌ exigem, como vimos, lanto umademan.la crescente dos seus produtos, ou seja, me1òados cada vez

maiores, como lambém áreas cada vez maiores de investimento de

câpital. As duas são condições necessárias para o funcionamentoÍomal do sistena capitatista. É pol isso qu€ o sistema câpitalisÌanão permâneceu reslrito a um determinado país.

À Revolução IndustriâI, que deu à InglaterÍa uma posiçãomuilo privilegiada no mundo do século XIX, se expandru para aEuropa ContineniaÌ, paÌa os Estâdos Unidos da Amédca, paÍa oJapào, e acabou atingindo indiÍetamente todos os demais países daAmérica Lalina, da África e Ásia. Mesmo que fosse do int€resseda bJ gue, ia ingles" ou do polo ingl i r o seu pais conL;nuar a "ero único completamente industrializado, a lógica do sislema não po-dia impedir que âs meÌcadoriâs inglesas e o câpital inglês simulta_neamente destruissem as folmas de economia pré-câpitalista, quais-quer que fossem, praticamente em todos os conlinenles do mundo"

E\,identemente, o capitalismo, levado Para a EuÍopa, pelâs mct-cadofias inglesâs, pelo ccméÍcio inglês, pela fjnança inglesa, repÍodu_ziu cìnqücnta anas mais taÍde, no Contincntc. a mesma RevoÌução In-dustrial que se tjnha dado Íta Inglaterra Ao jmperialismo ingÌêssomaram-se o fÍancês, o aÌemão, mais taÍde o russo, o japonês e oamericano. O cenário mundial, no qual o problema do desenvoÌvi-mento se coloca, é o fruto de uma expansão impedalista que co-meça no século XVI, com a expânsão do caPital comercial ibélicoe mais larde holandés € ingÌés e que tomou suas formas definitivas

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e atingìu o âuge de sua força expansiva no século XIX com o ca_pital ismo industrìal .

., O que foi que o irÌrperialismo fez para os países não_desenvol_vÌoos. para ãs economras que não eram câphâlistas? Ás análisesclássìcas marxistas do imperìalhmo são duas: uma provém de RosaLuxembureo. oulr" Je Lenine Aïbâs basicanenLe ãborda.r a questão do ponto dc vista do pais imperiâlista. Eles esravam interássa_dos em entender quâl ó a repeÍcussão do jmper;alismo nos país€salrâmerÌe induslr idÌ izàdoç. onde se e.per"va a ectosào da Rivolu_çio Sociâì i (rd. Apena) Ro\a Lu\emburgo, no seu l i \ to Acunuta_ção do Capital, dá cerra ênfase também âc que âcontece nos pajsescolonizados. Ela tem análises realmente magnificas do procesìo decolonização da Argéliâ, da Índia e do o€ste dos Esraàos Unidosda Améfica- EÌa eÍüda a colonização desta paÍte dos Estados Uni-dos da Amérlca, mostÍando como o índio foi extermjnado e expro-pfr"do pelo avanço dor pequenos agrrcutrores. As rerras da . . Í ion-re'râ . que âvdnçava pruìat inamente para o pacrÌ jco, iâm .endodr\ idida' em hom€steâds.. em pequenas propr:cdades Íaï i l iare,dando lugar a umd economia do l ipo cdmponesd. Uma scgundavâga, a penetração das grândes estradas de ferro, leva à expràpria_ção de parte dos pequenos proprietáÍios pelos magnatas firràvìá_rlos. Á construção das esÍüdas de ferro tmnscontinentaìs. que cor-ra.n o\ E,tado) Unidos da Américâ hoje, de São Francjsco ateNovà York. , leu lugar a grande expropriação de terras e â ìrrâssdngíenÍaq. As eDopi jac do Far-Weí !ào rreqüenremente episódiosdessa grande Ìura do capitâÌ colonjzador, que seguiu nos câlcanha-re\ üoc pequenoc âgÍ iculLores e os expropriou, acarretândo a trans-lo 'maçJo. de-todo o Ìerr iLór io, hoje compreendido nas fronteirasoo. ts\ Ìdooc Untdoc. em uma economia capi lal ista adjantada_

De Rosa Luxemburgo, portânto. a anãl i r€ marxisla do de\en-volvìmento rccebe um subsidio importante. Ela nos permite enten-ler que na Economia Cotoniat, que é o re,ul lado di erpanrão im-pef la sla em paises que nào sofreram auÌenl icamenre a Re!oluçãoIndunriâl . .se cr ia_um enclave câpiratt ta I ,gado peta divisão iniernrcìonar_oo trabatho ã economìa dos pâise5 capi la ' ;s las indu,(r ia_Ì119!9s. E o que nós chamâmos de Setor do Mercâdo EÌremo(f!18) que aparece na histórìa do Brasil sob a torma aos farnosãscicÌos: ciclo do açúca., do oüro, do café, ata bormcha. Cria_se. oot-ranÌo. em uma parle da economia um s€tor que ref lele as t Í ;n$foÍmações da economia capjtalisÍa industrial eiterna. É, portanto,umê economia reflexa: ela crcsce ou decai pela açao dá ìemardáe da exportação de capital dos países capit;fistas industrjaú;t;

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O reío da economia colonial permanece na sjtuação iìnterior, ouseja, de ecoromìa de subsistência que, no entânto, é suborditladainteiramente às nec€ssidades do Setor de MeÍcado Externo.

EntÍe o Selor de Mercado Externo, refletindo a penetraçáo ca-pilalista, e o SetoÍ de Sübsistência (SS), herança do passado pré-capitaÌista, se espreme um peqüeno SetoÍ de Mercâdo InteÌno(SMI) que representa o embdão do capitalismo ÍIacional, mas queé, enquanlo a economia permanec€ colonial, compÌetametrte depen-dent€ do Setor de Mercado Externo. O SMI é constituido peloscomerciantes, tÍanspoÌtadores, armazenadores, enfim prlos empresá-r:os nacionais de exportâção e de jmporLação.

Como se iniciâ o desenvolvjmento? Eie começa, em geraÌ, pro-vocado exlernamenre pelas crjses mundiais do capitâlismo, O capi-l!Ììsmo mundjal sofre crises que se manifestam tanto sob a formade cr:s€s de coniunÌura cíclicâ, ou s€ja, pela sucessã'o dc fases deascensão, de crjse aguda € de depressão, ou então sob a formad€ guerÍas mundiais. Os dois fenômenos que evidenlemenle sãomuilo diferentes quanlo à sLìa essêncja, tém o mesmojfeito sobreas Economias Coloniais. Eles reduzem enormemente o fluxo de co-mércjo internacional, po anto lêm um jmpacto foriemente n€ga-tivo sobÍe o SetoÍ de Mercado Externo, o que deve.ia fâzer, à pri-meiÍa vjsta, a economìa recuaÍ para o seu estágio mais pré-capita_liía. Acontece, no enianto, que em determinados pâíses (emboranão em todos) quândo esta cíise do Selor dc Mercado Extemo semanislesta, cr;am-sc as possibiljdades de substituição de ìftporta-çõer. o selor de Mercado Intemo, que era merameÌÌte um apendicedo SetoÍ de MeÍcâdo E,1tterno. passã a crescer auionomamente,subsrituindo peÌa sua produção os pÍodutos antedormenle imPot-

Como jluslração desse processo pod€mos tomar poÍ base a his_tória brasileiÍa. No fim do sécìrlo XIX o nosso Setor de MercadoExterno era pfedominantemente represenlado pela cafeicultura. OBrasil era Ìnternacionalmente conhecido apenas Pelo seu café, pro.dulo que era, em certa medjda, um encÌave estÌangeiro ÍIa economia brasileiÍa, pois depe'ldia tolalmente da demanda exl€rna. Áolado do Setor de Mercado Extemo desenvolveÍam-se atividades co-mefciais, sobretudo de Mercado Inlemo, tealizadas por companhiascomeÍciajs, bancos, companhias de serviços públ:cos, ferrovias e as-sim por diante, qÌre vivjam essenciâlmedte do comércio de expoÍta-ção do café e da importâçáo de mercadorias e bens manufâturados.

A primeira crhe de sup€rproduçáo do café, em 1896, encontrao Setor de Mercado Interno começando a gerar algumâs indústrias

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e ela i'ai ajudar o desenvolvimento jndustrjal. na medida em ouep-oreie Ì ìais a indu,rr ia bra( i le irâ da concorréncia esrranpeÍa.Quando ,c dá a Primeira Cuerra Mundi"r . o mesmo fenómeio .erepete. Com a cÍise mundial de 1929 segujda por üma década ded€pfessão e por um qüjnqüênio de guerra mìlndial, o processo deinJu( 'r ia l i /ação. alrave, da (ubsl i lu iç;o de imponaçòe.. prossegue._ E preclso entender que o pÍocesso de des€nvolvimento capitâ_lista é estimulado pelâs contradjções mundiais do sistema e é Íes-pondido pelo capitalismo dos país€s adiantados de umâ formaposjtiva. EÍe foi um dos pontos-chaves da mudança que a análhemarxi . tâ da si luacào do. p"rses náo-d€.crÌvolvidos ie!s oue sotrer.Ale o r in da segundd Cuerra Mdnd;a' , isro e. ante( q;e se Den-sa\re 1() proce\so de desenvol\ im€nro como ì jm Droces5ó esDeciÌ icode rran, lo-Ínaçáo económica. era lugdc,comum ã anál ise marxi ,rasupor que o capiral imperialista esbva estreitamente lisado e aljadoa chamdda ol igarqu'a locat que se fundam€nra!à no S;tor de MeÍ_cado ExleÍno, Supunhâ-se que o imp€Ìialìsmo estava iÍrteressadoexclusìvamente na manutenção de todos os Daíses africanos. asiáti_co. e lal ino-americanos e do .udeste errop.u . Ìn uma si tuacâo deeconomia colonidl . E que qualquer desenvohinenro. qualquer rrans-foÍmação dessas economias no sentido capjtaÌhta seria obsiaculizado,na Ìedjda_do poç, iveÍ. pela pol i r ica das poléncias imperial inas. poisrrm. nao toi o qre ocoríeu. As poréncias impenal:5tas preíeÍ i ram.0as'aÌ le ìnlel lgenlemenre. parrìc ipar do procesro em vez de procurârderèJo e isLo ena\a perrei lamente em haímonia com os seus inr€_resses econômicos e politicos. Em pdmeiro lügar, porque na m€didaeï que se dá o d<scnrohimenro por (ub(r i ruiçào de imporrdçõe,cresce o mercado jnlerno destcs pa^e(: obviamenre,cre(ce o merca_do paÍa expoÍtação dos paises industrjaljzados. Süpunha_se, ingenuâ_ments que na medida em que o Bfa, i Ì . por eiempo. produTisre le_c.do,. a indúit- ia léxr i ingle:d perderia o mercado. Foi evidenÌe_menle o que aconteceu. Porém os tecidos brasileìros eram de fioinglés. Após algum t€mpo, o tecido nacional fjcava mais barato e.enr conreqüéncia. amptia\a-se o mcrcado bra. i tei Ío de tecidos. oque levdva d impofldÍ um r, tor ma,or em rermos de f io. do oueânte". .c ;aìporrd\â {m recidos. Depot é que se deu a .ubst i tuiç;odo Jro in" ' Ìè\ pelo br"( i le iro. Mas esres eram f iados por máouinasjnglesas assjnÌ como, depojs, eram tecjdos por reares irìgleses ê eramtngldos por coÍantes alemães e, provavelmento, embalados Dor al_gum oulro mdler ial imporrado.

O proces,o de sub. l i lu içào de impoflaçòe, não acarÍeta Lmadrmìnuição abiolul" do vâtor das ;mporlaçòes, mâs uma mudanca

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em süa composjção: passam a ser jmpoltâdos menos bens de con_sLrmo final. porém mais bcns de produção A tendêncìa do des€n-lolv imento ; forçâr uma impoúação maioÍ, porque lodo processo

de crcscimcnto ìnduslrial, no país que se desenvolv€' sc dá a pârtrr

Jc bens de l íoJrÌçào 'mporrado. l nláo do ponto Je vi ia mcrdmen-te do mercado, c;nvém lotalm€nte aos países adiantados que os paí_

ses de economia coÌonìal se desenvolvam. Evidenlemente, há umlimitc para essa importação, conslituído pelo valor da erportâçáo dos

DJr.es náo-de\e1!ol \ idos. A capdc:dade de imponar do Brd' i ì . poÍ

ixcmolo. c dada oelo volume de divisas recebido poÍ aqui lo que

nós vindemos ao; países jndustriatizados. Na medida em que estesâbsorvem nossas meÍcadorias, eÌes criam mercado para os seus pro-

dutos, O processo de desenvolvimenlo não âfeta, em absoÌuto, este

Em segundo lugar, o proc€sso de descnvolvimeÍlo abriu mag-nífìcas áreâs de invesÍimento de capital aos países mais adjantadosE eÍe foj um dos componentes essenciais do desenvolvìmento capr-taljsta. Uma vez criadas as condições Para o eslab€lecirnenlo de novosÍamos indüstriais, o capjtal americano, o alemão, o iigÌês, o fÍancêse ass;m pof dìantervão se colocar lucrativamenie nos países em

desenvoÌvimento.Sob esse ponto de vista lambém o desenvolvimento favoÍeceu

os interesses dos países imperialislas qüe, anl€s' linham nas eco-nomias coloniais uma área extremamente restÍita de investimento:bâ, ic"mcnre Íerror iac, ser! iço' publ ico\ e. eventualmenle. minera-

ção Hoie a inJú\ lra européia. ameíicana. japonesa encon'Í4. possi-

ú;l;aua"i ae jnvestimento, nos pâíses subdesenvolvidos, na sideÍuÍ-gìa, na produção de materjal elétrico. de materjal d€ transporte,de alimentos e assim por diante. Não há, portanto, essa contradiçãoou seja, que o desenvolviÍnento capitalhtâ é necessariamente ânta-gónico a pcrclraçio jmperial is la Pe'o conÌÍár io o deser!olr imenloãbre mclhorcs pãap. 'cLi ia ' dc jnLegraçào desras economì4, no capitalismo inlernacioíaÌ.

É precìso tinalmente salientar que a anáÌise maÍxistâ apontaas conlÍadições do processo, qÌìe tem suas limitações fundamenlajsno fato dc que o desenvolvimento capitalista (que seria enÌendidoconìo pÍocesso his!órico de superação do retardo, que impediu que

cíes paíscs âtingissem o m€smo gÌarì de expansão das foÍças pro-dutiva! que os países industí;alizados), na realidade, é frustradopelo seu próprio caráter. Vários dos países não-desenvolvidos se de_senvolvem. mas sempre com um certo retardo O desenvoÌvjmentoé real cnl termos do passado do própdo país. Se pensarmos no

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Blasi l de hojc, comparâdo com o de há 30 anos. sem dú.! jda alcumao Dri \ :c rnlu ' l r i r l izou. Mas sc Íornìo, fczer e compernçìo enìr< oBrasi l de 1930 e os EUA de 1930, c o Brâsì l dc l9ó8 c os EUA de1963, ver i f icarcmos que a Ll i i r rcnça relal iva não d:nì inui .

O dcscnvolvinìcnro capiraÌ is la é unì proccsso de rJdistr jbuìçãode inveÌsôes do grândc cap:ral jn lcÍnâcional, organizâdo em conìpa-thirs muhinir j .u . . : . . no pt3no mundi. Ì1. Esre capirul procuÍc condi-ções rnais fa\,or:iycis pariÌ se valorizar, dirjgindo-se a países comnìÃo-de'obra abundnntc e baraÌa, poÍtanto com ampÌo mercado in-leÍno polenci i ì l c quc já lnìciaram, de forma autônomâ. o DrocessoJc sub:r.rrr i \ .1o Jc i j IForrrLÇó.js. Ntto há dúviJa de que o inÍ iuxo Je,nversaÌcs das nìLl ì t inrcioDais cìn paÍses como o Btasi l , poÍ exemplo,aceÌcra o processo dc jnduslrialização, nlas ÌanÌbóm o freia na me-didâ cm quc l&is ilìvcrsões reforçânÌ o monopólìo tecnológico dasnaçõcs jÉ industr ial ìzadâs, As mult inaciônajs l ransferem às subsi-diáÍ:as apcDâs o k ow-how ptonto, continuando o dcsenvolvinÌen-to dc inovaçõcs lecnológicas ü ser atrjbuição exclusjva das rnâtrizcs.Embota Íolsc po$sÍvcl eos países enì desenvolvimento romÊer cslarc diJo dL J( f inJi ìc ia Jo g-0nJ( c-pi .r l inrcrnac,on:r l . poi . o t ,o, ,l?op tàmbóm pode ser comprado sem se cntregar o mercâdo irter-nô às subsidiár ias das mult inacloDais, o fato é que €sla possibi l idadenuÌìca 5e concreLjza. A raz.ão básjca é política: um processo de de-senlolvrmenlo aulônomo leria que ser realizado com pâ(ricjpaçãopredominantc do eìììpresas estâlajs, já que só o Estado serja capazJe muLJi. za. e colccordr 05 rccursoJ de rapiral nece:.ár ios. F"ceàs allernêlivas do sc vcr subordjneda a uÍn estado empresário ou âogranüc cap.r.r l inLrr[Âcional, d9 classcs dominantcs úos pahes emüc5cn\olvrm.. . Ì ì to l inr consislentementc prefcr ido a scgÌ lndâ, aindaquc er ld lnìpl .qu! nh msnuLençdo do 6trãso rclet ivo dcstcs paÍses.

Ns rcali.lade, pot vúrios lâlores (vistos nô êula antcrior), prin.cipalütènte o car{ilor nìah recenlè do descnvolvimcÌtto tçcnolóEjco,À dj lcrunir rchr iv cntÍê ot pâÍ ieg que cstõo na vanguarda do de.scntol ! inìcnro indu5tr is l c os pâises quc eíão na Ìclaguarda tendea aumentâr. O dcacnvolvinento tecnológico cstá lêvândo a ümacfisc mundi{Ìl do capilalismo pojs clê êxigc, pata suâ cfetiv jmplâll-tlìção, un1ô plrìnif icÂçdo plovavèlrÌlclttc intêrnacional da econòmjaíluo, J{nl dúriüu. é incon)pôtlvel com ât rcÌações dc produção caDi-r.rli!r&. Eirr crisc undiâl só cíó sé esboçsnd; hoje; icus cãnrorriospoJun) 5cr nìüis ndivinhtdos do que dcf inidog, porém els já existc,em cerlo graur c se manifcsts concrotamcntc nos p8ísrs cm descn-volvirììento, Sc hojc s Holônda e e Itálja êncontfam t!êmendasdificuldades cnÌ sc ÂpropriaÍ 9 efetivamentê usar os mais Íecent€s

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avanços científicos, em termos d€ inovações tecnológicas, o qu€dizer de um pais como o Haiti, o Nepal, o Ceilão ou as Filipjnas emuitos outros? Paises que, além de s€u reduzido tamanho, têm todaa pobreza e todo o atnso de séculos de exploração colonial!

Es!â seria, portanto, uma análise marxista do processo de de-senvolvimenlo, que concluiria com uma análise critica da lentatìvade superar esses obstácuìos através de uma jntervenção cada vez maisâtiva do Estado na economiâ, na lentativa de realmeflte subÍituiros processos clássicos do capilalismo por uma espécie de capitaÌismode Esrado.

A expressío de Caio PÍado JúnioÍ, fâÌando de nossa burgu€siacomo uma "buÍguesia burocrática", que foi criada por mecanismosde intervenção estatal, é perfeitamente justifjcada. Esta análise talvezpermila, no fuluÍo, desenvolver a crítica de um capilalismo de Esta-do que é o resultado dâs contrâdições do desenvolvjmento nas con-dições capjtalhtas.

Vamos agoÍa ver a co[cepçáo pós-keynesiana, que é a concep-ção mais corrcnle nos meios governam€ntais, tanto dos países não-desenvolvidos como dos desenvolvidos e, evid€ntementg, também nosmeios acadêmicos.

Em primeiÍo lugar, não se coloca o problema do não-descn-volvimento como um fenômeno hìslórico. Ele é exclusivamente en-tend;do e analisado como um caso de crescimento ÍetaÍdado, Daí,inclus;ve, a expressão "subdesenvolvimento", qu€ procuro evitar oüusar enlre aspas. Porque o "subdesenvolvimenlo" implica a idéiade qLre, fatalmente, a economia sempre se desenvolv€ e qu€ apenasalgumas economjâs se desenvolvçram mais depressâ e outras maisdevagar; algümas, por circunÍâncias qLìe não vêm ao caso (do pontode vjsta da análise keynesiana), puderam caminhar depressa e outrasse re!ârdaram e €ntão ficaÍanì subdes€nvolvidâs, Porónì tambémestas podeúo se desenvoÌveÍ normalmente. Não há probÌema eslru-tufal algum; o que existe são características €xógenas à análkc eco-nômjca, que explicariam o Ìetardo. Daí irÌclusive a expressão deque o desenvolvimento econômìco é assunto excessivament€ sóriopara ser lralado apenas por economistãs e que a contÌjbuição dopsjcólogo, do anlropólogo e do sociólogo é muilo impoúante. Acon-tece que a sociologia, a antropologia e a psicologia do tjpo acadèmi-co não são Í€levantes para a análise do pÍobÌema. Recentementeli uÌn sstudo sociológico tentando explicar porque a poupança, nosudoeíe asját;co, é relatjvamente baixa; poÍque o camponês dâMalásia úo lende a ÌepÌâfllar as seringueiras que eÍá explorando,antes que €las desapaÍeçam. Enquanto ele lem com o que vjver, eÌe

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não pensa em acumular. Aponta-se este traço culluml e se explicapor ele o subdesenvoÌvimento. Não se peÍgunta de onde veio a se-ringueira e paÍa onde vai a borÍacha extrâída. ConsideÍa-se o subde-senvolvimento, de um ponto de vjsta estritamonte econôm;co, comoum processo de crescimento rctârdado qüe não se explicâ, mas semede pela renda per cap,la, peÌo Dúmeto de dôlaÍes per capita e sefazem, a meu ver, Ìongas e bizantinas dhcìlssões sobre se o limiteentre o des€nvolvimento e o subdeseDvolvimento está nos mil dólâresou nos quinhentos dólaÍes per capita.

Como é que se explicaria, economìcamente, este retardo e, po.-tanto, a caracterìzação de suas dificüldad€s? Uma das teorias maisem voga na ânálise ús-keynesiana é o chamado "círculo vjciosoda pobÍeza" que, em poucas palavms, serja o seguintô: sendo a rendaper capita mnito baixa, a propensão a consumir teDde a ser muitogranda; cada elevação de tenda se tmnsforma em consumo e nãoem poupançâ. Na aÍáÌhe keynesiana a divisão da Íenda em poupançae consumo é explicada, antes de mais nada, pelo consumo, O con-sumo é o elemento positivo. As pessoas consomem a renda; o quesobra é poupddo. O consLrmo é que é dado socialmenÌe e é o ele-menlo fundamental da explicação. É dâ comparação entre consumo€ rendâ que sar a poupança, como resto. sendo.b3üâ a renda, iuo/dto, a poupançâ tem qüe ser pequena. Não há muita sofislicação.Quando se chega aos deralhes, porém, e se examìnâ a te.riveÌ desi-gualdade na dislribuição da renda dos países não-des€nvolvidos, per-cebe-se, evìdentemente, que uma parte muito grande da r€nda vaipara as mãos de uma minoriâ que, poÌtanto, tem ótimas condiçõ€spara poupar. Mas ai surge uma explicação de fuDdo psicológico ouseja, o chamado "€feito demonstração". O fato ó que as clâsses rìcas.nos paises D ão-desenvolt idos. copiam os padrões de consumo dasclasses dominrnlss dos paises derenvol! idos. o que significa que. mes-mo que suas rendas sejam reÌativamente altas. elas lendem a serlotâlmente desperdiçadas em bens de ostentação.

Eis po anÌo uma explicação inicial qìle já não é totalmente€conômica, mas psico-econômica, do ,,círculo vjcioso da Dobteza,'.O lalo de que somos pobres nos leva â consid€Íar que co;tinuare-mos a sgr pobresr pois que consumimos quase tudo que ganha_rnose, assim, não podemos poupar, não podemos pois aumentar nossaprodutividade e então continuaremos pobres. Dai a granale conclusão:só podemos nos desenvolver com o auxílio estrangeiro; é precisoque os paises adìantados nos forDeçam capitaÌ, uma pequeúa ougraÌÌde paÍle de sÌra poupança que, aliás, já é excessivà para eles,do ponto de vjsta da ânálise keynesiana.

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O problema dos países industriaÌizados é o oposto: o consumonão lende, peÌo menos imanentemente, a acompanhar o crescimeDtoda Íenda, Há poÍlanto uma tendência a poupar, na mesma mgdida,uma parcela cada vez maior de cada acréscimo de Íenda, sem queos investimentos sejam estimulados. Então, por que não transferito exc€sso de poupança para as áreas mais pobres? Daí os esquemasdo "Ponto 4", USAID, de tmnsferências inÍernacionais de capitais.O invesijmento de capital nos países em desenvolvimento, pelos paí-ses industrjaÌjzados, é encarado como a mola essencial do desenvol-vimento. Não se faz diferençiação aÌguma, se este iÍrvestimelto édirigido ao Setor dê MeÍcado Externo, por eÍemplo para a produçãode petróÌeo, o que torna recessário exportá-lo para os próprios paísêsinvestidoÍes ou se ele se aplica no Selor de Mercado lÍrterno, parasubstituição de importações qu€ não apresentem aquele requisito.

Uma outm conseqüência deste mesmo tipo de análise é a rci-v;ndicaçáo dos economistas, que representam os inteÍosses das clas-ses dominant€s dos país€s em deselvolvimetrto, a respeito do co-mércjo inteÍnacionaì. Refiro-me om particular à tese Prebisch e àchamada Conferência das Nações Unidas para o Coméfcio e Desen-volvimento (UNCTÂD), qre ê o lorum onde as burguesias subde-senvolvidas apresentam as suas reivindicàções. O que elas desejamé obter, através do comércio inteÍnacional, üma maior rcnda, iá queé o probÌema dâ poupança e da r€nda, evidonteìnente, o fulcÌo quoexplica o crescimento rctardado. Mostra-ss que a queda dos preço,sdos produlos expoÍtados pelos países nãGdesenvolüdos (açúcaÌ, pe-tróÌeo, outros miÍérios, etc.) levou a uma perda de retrda por partedess€s paises, que é qüase equivâlente ao "auxílio" recebido sob aforma de empréstimos e investimentos de capital. EIIrãq diz Pre-bisch, o que adianta que os EUA, AlemaÍlha, Japão e oüttos invis-tam r milhões de dóÌares nos países não-desetrvolvidos, se eles reto-mam este dinheiro sucessivamente, atÉvés da queda dos preços dasmatériâs-pÍimas importadas destes mesmos paísgs?

Em vez de se propor uma planificação intemacional do comét-cio, que serìa a única solução mdicaÌ, e uma conseqüente rediviúointernacional do arabaÌho, propõem-se fundamenralmetrte a ab€rtúÍados mercados dos países jnduíriaÌizados a ceÍas madüfaturas dospâíses em desenvolvimonto e a garantia de preços às suas exporta-ções tmdiciorÌais.

FinaÌmento, üma ouira coliúbuição da análise pós-keynesiana- indubitavelmente a mais vaüosa contribuição, ds um certo ca-rátor cjentífico - é aquela que nasce da próprja práticâ, ou seja,a eslmtégia do desenvolvimento. Por mais que a concepção geral

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seja. pouco inspiradora, os economìstas que adotaú a concepçãopór-keynesiâna. ião âqueles que eíào no; minìsrérios, nos và;io;oÍBaos.de asstsÌencia aos paises em deseDvolvimeDto e que têmque entrentâr pÍoblemas concretos. E e no ÌÍabalbo prárico de pro_cuÍar resolver esles pÍobÌemas que se deseovolveu uma polèmica in-teressanris5ima. à qual quero me ÍeferjÍ apenas râpidamente. Mos-trcu-se que, para que haja desenvolviÍìento, tem que haver mudan_ça estrutural na economia, Não se trala meramente ale cÍesçimentoda es!Íuturâ exjstente, mas de uma tmnsformação da mesma cdacãod_e novos ramos especiÂlizados. O desenvolvimeoto teva a uma ilivi-são nacional do trabalho e erÌe i um pcocesso exrremamenre delt_cado.que tendeã gemÌ_desequi l íbr ios. euando se montam, por exêú_pro, determ:nadaì indúslr ias. em uma área, é comum que fal te olrânspofle parã_ levâ. o pÍoduto ao resto do pais. que i..lu o ..,mercado:, que lal te energia eléLr ica para expandir essâs indúsrr ias.arem"de la ' tar f fão{e-obÍa especial izada. pois o sistema educacionsÌ11_,']i-11p]rd: ã- indusrriatizÀção erc. Eíes ponros de esrran$la_mento lend(m. enlão. a reLer o desenvolvimenÌo. Dai a Orooosã dese. implanlâr o ptanejametr lo pelo meÍ,os dâ ul i l jzação a ; ; ; ; ;s; ;Irtcos e a utrlyâção de medidas fiscais e o crédjto. por exemDlo_para que os recursos parr iculaÍes se encaminbem. o-mah rapiaalm€nle possÍveÌ, para os futuros pontos de estrangulamento, de Àodoque e:Le\ não ve[ham a sufocâr o Drocesso.

E\la rese. do desenrolvirneDr; e crescimenro equìtibrcdos, foiconrrad a - e com ceÍla razio . por economsÍas como Hirsch_mann. por er(empto._que dl7ja o seguinte: como os recursos sào muitoescasso). como o círcuìo vicioso dâ pobreza nào peÍmiÌe oue haiarn-ve(rrmenlos âbundâtrres. a sì la di fusão. por muirãs áreas,ìende anao,geÍar resuttados. AIém dÌs\o. a tenlat i \a de um crescimeoLoequü bfado tem que ser Decessariameflte lenra. pois é previso prerertodos os fururos ponros de estÍangulamenro ã Oiviaiì os reiursosmu.ro e9cas\os por todos eles. em vez de cr iar t rovas indú,Lr ia. ouevâo cr,:rr desequìtibÍros. A laha de capacjdade empresarial. a corripçao oo apâretho eslaLal- Loda uma série de aspectos nào_econômicòsse cpõem à iníiluiçào derrma econom'a capilalisrâ, que deve sermcronar para ser et'cjente. Tais atiLudes podem ser rompidas somen_:: ì1ï_::::.:.'

se concenLraÍem em arsumas áreas p;jviresiadas eos oesequrtìbnos provocados depois encontÍarom a sua solução.. um €xempto coocreto da opçÀo de desenvolvimenro eouilibrado

seria procurar ìndustriaÌizar o rerritório brasilejro. que nao é peque_no, da forma mais homogénea pos,ivel: procuraÍ-se_nm cnar itrdús-rnas comptementares por toda a drea habitada do país e, com tfo.

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impedjr grandes desníveis regionajs e, ao mesmo tempo, evitaÍ ospontos.notór ios de fst ÍaDgulamento. que rém atormentádo a eco-nomta Drasì lerra. Argumenta_se coútra is lo que o r iLmo de cresci_mento, nessas condìções, serja bastante p€queno e nao haveria esilmuto êo.aumenlo de poupança, a uma conc€n!Íação de esÍoÍços-poìr nao fiaveria a pÍessão das nececsidades pf€meoles Daqueb ;n-tido..A concenlraçào dos recursos no eixo pJo-São p"ulo';;rriì;;uÍn, desenrolvjmenlo industÍ ia l , pelo meDos Dessa área, muìro mai,raproo e cÌrJos rrulos agora podem ser redistribuÍdos com mais Íacili-oâoe pof outrâs áreas do leÍrilór;o. Ao mesmo tempo, os desequi_líbrìos crjados po. €sre desenvolvimento indusr

"l ."ú;;;;;;r';

,o permitiÍam a geração de forças sociais que tendem a suDerar ;soos;acuto\ âo desenvolvimeDlo nas demais áÍeas, por exemDlo. senvessemos Ì.do um deseotolvìmenro jDdusrÍial bomogéneo. rèlaiiva_mente lento. a l ransÍoímâçào do sisLema educaciotrai e. .ua aaaoru-ç:: ao novo mercado de trabalho, criado pelo industÍjalização, t;rìasroo mutLo mdjs letrta e todos os interesses criados tra uoiver.idadee lambém no en.ino médjo teriam rjdo majs .ap"ci/tad" de ;;,1;;a rnovaçles, porque a pÍessão da demanda teria sido relativamenlemenor. Eía discussão sobre a estÍatégja do d","ouot i*;;l;;-;ìl_sa.pf lncìpatmente na5 condiçôes de uma €conomia Dão-DIaneiadâ.e era moslrâ o caráter aÌgo precár:o do processo de deseDvólvim;nlo-que se a| lmenta de suas próprja. conlmdições.

. r ,ara terminaÍ a exposiçào, vamos considerar a seguinte oueslão:perspectitas que o desenvolvimento apre*ent6, ngsta,(-onoì(oes, nos paise\ qÌre não pafliciparam. tro momeoto hi.Lóricopróprio, da Revolução IDdusÌr ial?

_ Os economistas da escola ús-keynesiana são bastante pessimh-

las a esse rcspeìro. Eles fa7em. por exemplo. extrapolaçõe; numé_rìcar a Íespeìto das taras de crescimenlo dos países Dão,desenvol-vidos e prevêem que, no futuro, o seu nao-aesenvotvimento retatlvoserá b_astante_mais grave do que é hoje. Nos EUA a rcnala per capiraé de 3.500 dóÌares; um crescimento znna.l, por exemplo, ie 2qo' percapíta (meaos do que a economia ame cana tem cons€guido) dá70, dolares por aDo. No BÍasil.a rc^da. per Mpìta e pro"iía à ziõsorares: mesmo que a ecooom,a cíescesse à ta_Ìâ muito favorável de3qo ao ano, isto permiti a um acréscimo atrual de apenâs 7,5 dóla-res, Deste modo, mesmo çlue, em termos da taxa'geométrica decrescrmento. haja uma vantagem pâra o Brasil, em teÍmos absolutosa oìreÍença tende a aum_eolar, Daj as prevjsòes do HudsoD Inst:ÌuLe,segundo ar quajs os EUA, oos fins do século. estariam aioda comuma economÌa que el9s chamam de '.pós_jndustriâ1", âo passo que

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o Brasi l e muitos outfos países estaÍ jâm com uma economia , .pré-induÍÍìaI". Eíe pessimismo dos economisÌas pós-keynesianos se re-força poÍ um raciocíÌìio d€mográfico ou seja, que nos países não-desenvolvidos a popuÌação eíá crescendo com rapidez extraordiná-ria, em termos hístóricos; ela eÍá dobrando a cada 23 anos majs oum--nos. Como se calculâ a rcnda per capìta pela fração Renda Na-cional/População, este cÍesc;mento rápjdo do denominador imDedeo crc\cimento do quoc,enLe. A jcnd" ppr coprld tende, por lanio. a.e eÌe\dÍ de\âgJr. m€\mo qLe a rendz globar ecreja aumenrando comceÍta intensidade. Daí toda â aflição com respeito à ..explosão popìj,lacionaÌ" e a grande voga do pessìmismo malthusjano.

Por outro lado, os economistas d€ tÌâdição marxista procuÍammui 'o mai, os exemplos de decenvolvimenro não-caprrr t i i tâ comomedida do possiveÌ, daquilo que se pode fazer. SeÍá quç os paísesnão-desenvoÌvidos estão condenados a pe.nanecer em seu retardo,pelo menos relatìvo, enquanto 'vjva a pÍesenie gefação? É imporran!elembrâÍ que a expeÍ iéncia de economi", centramenle ptdlejaJas,de passado realmente coloniaÌ, é bastânte recente. A Rússia não efaexatamente uma economia colonjal, emboË tivesse algumas de suascaracteristicas. M€smo os pâises da Europa Oriental tinharn jüiciadosua industrializaçáo há bastante rempo. A gÍande expeÍiéncíâ dodesenvoÌvimerÌto socialisla é realm€nre a China. a Coréia do Noúe_o V:elni do \oÍre e Cuba: emboía a experiència reja mriro recel le(geralmente menos de 20 anos) e os dados não se enconlrem bas,tante bem levantâdos, tudo leva a crer que a capacjdade de avançoe de desenvolvjmento das forças produtivas, mostrada poÍ essas ex-periênciâs, demonstra cabãÌmenle que é possívet vencer o relardoeconômic-o no espaço de uma geração.

O que está aconlecendo na China, por exemplo, é que eslepais está dominândo a tecnologia moderna no qüe ela tem de maissignifìcativo. As famosas bombas atômicas e de hjdrogênio chinesasnão são apenas uma proeza mili!âr; são produtos de loda uma infra-eÍrutura cjenlifìca muilo pond€rável. É jmpossivel um des.envolv!mento tecnoÌógico no campo energérico, como o da Chlna, sem leÍtodo o deseÌÌvolvimento eletrônico coüespondente, isto é, compu-ladores e rudo o que €les signi t icam. t eles o l i , ,eram a parr j r deuma base que era a mais pobre do murdo. A rcr\da per caDitachines". no inic io da Revoluçáo, deveria ser da ordem de 50 aoúresmajs ou menos. Assim, a partir de um pais s€midesrruido por umaÌonga guerÍa cìvil, Iigada à guerra contra a itrvasão japonesa, foipogsível em majs ou menos5 anos, chegar a alcançar, senão econo-

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micamente, pelo menos tecnologicamente, os países mah adianlados

As Íepercussões desse des€nvolvimento tecnológico sobre a êco.nomra prometem ser exiÉordinárias, isto porque o retardo tecno-lógico tem, à medidâ em que ele é vencido, uma certa vantaaem.O chinés _pulou" para o computador; ele Írào passou pelas miqui-nas inteÍmediárias. A aplicação da energia atômica, a apìicação demdÌodos ulLramodernos de. inJormação e plaDejamenro eegionaì. aaprìca(ao 0a quìmrca a agrìcul lura. em um pais como foi a china,podem se fazeÍ de imediato. Qüando os chiÍÌeses afìrmavam quedobrâram sua produção agrícola em questão de 3 ou 4 anos, iitofoi saudado com risadas pelos americanos. Hoje eles praticamenteacejtâm o fato. Mesmo partindo de 50 dólarcs per capíta é possívelchegâr aos 3.500 em um przzo estupendamente curto, poÌ âpìjcaçõesmaciças de tecnologja. Tudo Ìeva a crer que o grand; inveìtimèntoque se tem a fÍuer nestes países é fundâmentalmente na pÍeparâçãoda mão-de-obra. Este é o ponto difícil de v€dcer. provavelmente odesenvolvimento chinês ainda está retatdado poÌque é.precho mu-dã _completamente a concepção, a maneim de viver e dg produzirdo homem chinês.

Não há porque assumit uma atitude de apologia do ..paraísovermeÌho", Porém é prcciso codsider4r às potenciaìidades do desen_lolvimenro hoje. quândo os recursos sào aplicados com rigor e ra_cionalidade, O exemplo destes países provavelmente será uma alasarmas mais efetivas para se rcfutarem as conclusões Dessimistas dacorrenLe.pós-keynesiana. quanlo ao desenvolvimento d;s pahes não-

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DÉCIMA SEGUNDÁ ÃULÀ

ECONOMIA PLANIFICADA

Eu acho que é lógico lerminar um curso de InlÍodução Criticaà Economia Política com esle tema porque a economia planificadareroÍnd neces.ar irmente Ioda a problemál icr qtre a economia modeÊna apresenla em um nív€l essenciâÌ e superior. EssenciaÌ porque 4aeconomia planificada os problemas são abordados não como forçasreÌativanente cegas e jmpessoah que uma ação coleliva não-ordenâ-da e não-deÌiberada coÌocam. mas como ploblemas decorrentes deuma condição humana, de uma voniade coletiva previamente deter-minad". E \up€riof poíque apresenla ao hom€m um grau mái.mode libcrdade e dominjo sobre as forças oconômicas que ele mesmodesencâdeia na atividade produtiva.

Teremos, porlanto, agora,ocasião de fazer uma síntese de mujtâscojsas que já vimos, poiém não só uma síntese como uma possibjli-dade de abordar esles problemas de um ângulo completamente dife-Íente, pois eles aparec€m aÌìenadamente no exame da economia ca-pilalisla que nos ocupou na maior parte deste cuÍso.

Eu diria que a essência da problemática econômica desde o co-meço da sociedado humana (ou peio meros o que conhecemos deÌa),está na conexão entre pÍodução € consumo. O homem se erÌgâja naatividade produtiva com o fim, pelo menos imediâlo, de obter meiospâra sua sobrevivência € paÍa o gozo de uma série de prazeres queadvém da satisfação de necessidades. Entre esta atividade píodutìvae o coÌÌsumo se eslabelece, portanto, necessariamente, alguma cone-xão, PoÍém esta colrexáo varja historicamente, eÌa muda de formae nesta medida propõe a prcblemálica econômica em form4s tam-bém baslante difereDtes.

Em uma sociedade "prjmiliva" a conexão entre produção e con-sumo é direta e imediata pois pÍevaÌece neste tipo de sociedade, quenós podemos chamaí de comunismo primilivo, o autoconsumo: oindivíduo que produz consome a maior parte de seu próprio produto.

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O indígena vai ao rìo, pesca e os pejxes que ele assjm obtém serãocomidos por ele e lrelo conjunto de famílias que com eld convivemdireiamente. Não há nada que afaste (nem em termos jurÍdjcos,de propriedâde, iem €m terftos físjcos) a produção do consumo.Produz-se Da medida em que as necessidades de consumo vão-semanjfestando, É clâro que pode haver algum atmâzenamento: pode-sc colher mandioca e não comêla totalmente. Entre pÍodução e con-sumo se coloca,neste caso,um defasamento no tempo. Há a necessi-dade de umâ previsão de quais serão as necessidades futurâs deconsümo. Mas €ste afastâmento entie coDsumo e produção é muitotênue e a própria tradição, a experiêncja acumulada, peÍmitem quenoÍmas bastante simples goyerlem a prdução para o consumoimedjato (no presente) ô mediato (no Íuturo),

Quando passamos às formas mais complexas de orgânizaçãoeconômica, c Àí é mah importânte, evident€m€nte, a pÍodução paÍao úercado, a conexão entre produção e consumo tornâ-s9 indirelae medjata. Ela é indircla porque na produção para o mercado caitaprodulor se insere na divisão social do trâbalho e pdduz Ìrm pÍo-duio só, ou um lipo de bem ou de serviço que ele gemlmente nãoutiliza para si. O sapâleiro não produz sapatos para si, o médiconão prodLrz consultas médicas para si, o cabeleireiro não corta seuprópío cabelo. A divisão social do trabatho especjaÌiza os indi-viduos e eÌes necessa amente produzem para os oÌrtros. Então aconexão entre produção e consumo torna-se indjrgta obrjgando cadapÍodulor a adivinhar o que os outÌos querem; ele precisa, atravésdos mccÂnismos dg r[ercado, tomaÍ coúhecimento indireto de quaÌé a situâçÁo da demanda para eltão procuraÍ adequaa a sua pro-dução à rcprsscntação nccessaliamente deformsda das verdadeimslêcessidades dc consumo, que aparecem m demaidô do mercâdo.Da masmâ foÍÌns s rclação entre consumo e prdução é mediati-zêda no melcado por uma série de trocas que necessariametrte acat.r€tam ümê dêfasâgem não ó tro tempo mas também no espaço entrea produção ê o consumo. A produção Âgrícola, que se dá em certâsórcas do paÍs, é compradô por atacadistas, lêvada a uú úetcadoextremâmeÍrte especulôtivo (â Bolsa de Cêreais, por exemplo), aí éobjeto dê uma série dc tralsações, pode passaÍ pelas mãos de muitosinlermediários, pode se! ârmazenada por muito tempo ou pode voltara,ser jogadÀ rro mercado a qualqüer mometrto e só âí então ela vaiapalecê! na! mãos do varojista e fitraìmento Da mesa do consumidor. Verìfice-sa, portanto, um afast&mento pondeÍávcl úo espaço etlo temPo entre pÍodução e consumo.

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Na economia planificada ou socialista â conexão entre produ'

cão e consumo. er dilia, ê dircta porém mediata. Ela é dir€ta por_

áue náo existe um mercado que imponha uma Íepresentação denecessirlades e ofereça um aguìÌhão indireto à produçáo para satis-fazeÍ necessidades, que seda o objetivo do Ìucro É possível Pro_duzir diretamert€ para a satisfação das necessjdades Neste sentidoreDroduz-se â conexão entre produção e consumo, que caÍacterzao

_comunismo primitivo. Não há necessidade de Produzir para se

obteÍ lucro, para uma demanda que aparece sob a forma de gastosno mercado mas pode-se produzir para atender a uma necessidademesmo que ela possa não estar consciente nas pessoas. Pol exgmpÌo,pode-$ usar uma gmnde pârte da produção social para dar educa-

ção a lodas as crianças do país, mesmo que os pais íealment€ não odesejem ou tenham consciência dô sua importâflcia ErÍ uma econo_mia de mercado, na medida em que a educação é também uma ati-vidade d€ mercado, o aparelho de ensino só cresce na medida emque há uma demanda solvável Por ensino, capaz de pagal o seu

_ A economia planificada pode estabeleceÍ uma definição de quais

são as nec€ssidades coletivas e quais destas são pÍioritárias e pode_se,então, planejaÍ a produçáo para o atendimento de necessidades assimcompÍeendidas. Por outro lado,a congxão entrc produção e consumoé mediata. Pois a complexidade na organização produtiva, que a eco-nornìa pìanificada herdâ do capitaìismo, deverá provaveÌmente setornâr maior ainda, na medida em que a tecnologia âvança. No ca-piralismo,a pÍodução já se especiâliza e s€ afastâ cada vez mais doconsumo no espaço e no tempo (é o que Permìte aumerlto da pÍo_dütivjdade peìo desenvolvimento de técnicâs de transporte, de con-servação, de comunicação e assim por diante). No socialismo, pro_vâvelmenle, o mesmo vai-se dar, com mais vigor ainda.

A problemática dâ economia pla fjcada aParece, pois, sob aforma de uma corÌexão que ê dìrela eítlÍe produção e consumo masqne ê mediaÍa efi leÍmos de um processo müito complexo de repaÍ_tìção e dislribuição da pÌodução.

CoÌocada assim, em teÌmos muito amplos, esta ploblemática,pod€r-se-iâ dividir o funcionamento de.üma economia planificadano plânejamento da demanda e no planejamento da oferta de Pro-dutos. QuarÌto ao planejamento dâ demanda, o pdmeiro problemaque s€ coÌoca é a repartição da pÍodução total da sociedade entreconsumo imediato e consumo fuiuro oìl indircto. Uma parte dapÍodução evidentemerÌte tem que ser destinada a repor os meiosde produção gastos. Uma outÍa paÍe tem que ser utiiizada Para

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ape.feiçoar os métodos produtivos. Isto s;gnjfica, em úllima ânáli-se, acumulação. A soma destas duas paÍtes - reposição e acumu-lação - pode ser de loqó, lsqa o! 20qa do produto. O .esto deÌepoderá ser consumido imedjatamente pela população.

Vjmos que a rcparlição do produto entre o consumo e a pou-pança, no sisÌema capitalista, se dá normalmente por mecanismosobjetivos d€ m€rcado, alheios à vontade humanar que equacionama eficiência maÍg;nal do capital e a tala de jurcs. A políticâ dogoverno procura desviar estes mecanismos parâ certos objelivos mas,em última análise, há uma sérje de leis objetivas, iÍrdependentes, emboa parte, da jntervenção conscie'te do homem, que determina areparljção do produto entre poupança I consumo.

No sislema de economia planejada essas leis IIão pÍecham vigo-Íar. É possível à sociedade decidir se deseja acumular mais, o quesignifjca privar-s€ de um consumo imediato, ou então acumularmenos, consumir mais no momeíto e ab r mão, com jsto. de umapossjbilidade de acelerâr o avanço econômico. Quanto à possibilida-de desta dechão coletiva, úo há nada que impeça rtrm país ou apopuÌação de todo o globo de, através de fomas políticas adequadas,deliberaÍ coÍscientemente sobre as várias opções. Á dificuÌdade quese coloca é uma dificuldade técnica, de cálculo econômico. É umadas questões majs gÍav€s da teoriâ de uma economia planejada aconfusão enlre a decisão política e djficuldade técnica de ofeÍeceropções válidas àqueles que dovem decidir.

Gostarja de explicar a dificuldade técnica e mostmr como, ameu ver, eÌa náo tem nada a ver com o Foblema de fundo. Emuma economia capilalista, vamos dÈer, no Brasil, posso ter o se-guinte problema: tendo que fornecer en€rgia elétrica para uma de-terminadâ .egião ou cidâde, terÌho duas opções técnicaa. Uma opçãoé construir uma usina hidrelétrica, ou seja, contruir uma reDresanum pon.o e colocaf aÍ i umd usina; a outra e coostruir uma usinatermelélÍica. São duas soluções que fornecem o mesmo pÍoduto.A soÌução da hidrelétrica obriga a imobiÌizar uma quantidade enoÍ-me de rccursos, que significa basicamente trabaÌho humano, nâconstrução da tepÍ€sa. Por isso a hidrelétrica custa muito mais catodo que a lermelélrica, que é basicamento umâ fábrica em que seusa um outro tilo de combustivel, por exemplo,um derivado ãe pe-1ÍóÌeo, ca ão ou energja arômica para gerar energia elétdca. Neitecaso por que não escoÌheÍ a termeÌétrica? Porque para operar a usi_na termelétrica as despesas de ano a ano são substanciâlmente maio-res do que para opeÍar a hidreÌétricâ. Na hidrelétÍica investe_setremendâ quantidade de trabalho e recunos paÍa construir a Ìrdna,

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mas o custo operacional paÌa produção da eneÌgia é müito baixoporque ela prcvém da água que desce das moltanhas som quâlqueriuÍo. A energia solar faz a água evâporal e, pelas chuvas, elaretoflâ às montanhas. A captação desta energia das áglas cotrentgs,uÌna vez construída a üsina, não Équer mais do que umâ pequena€quipe de operação de usila e uma outú equipe de mâlutenção,que também é Èlativamente pequena. Pode-sg comparar estas duasopções e verificâr se se deve inveslir hoje dez vezes mais na const _

ção de umâ usina hidrelétrica para depoh ter dcspêsas coÍrentes quesão um dócimo das que ocoüem na usina teÍmelétrica ou ter úuitomais despesas depois, cada ano, pata obler energia. Isso polque nalêrm€létrica tem-se que usar combustível que custa bastante e termuito majs gente tmbalhando pam maútê-la funcioÍIaúdo Islo se re-solve no sistema capitalista através da taxa de juÍos que é o preço,no tempo, do uso dos Íecürsos, Assim grava-se o câpital investidona hidrelétricâ e também rta termelétrica com uma taxa de juros,

5qo oD 6qo ao ano. Esla taxa de juros vai €ncarecer mais a energiaproduzidâ na hidreÌétrica, pois eÌa requer capital fixo em muitomaior proporção do que a termelétrica Assim, se se escoÌher umaiaxa de juros alta, a teÍmelélrica será a opçáo mais válida se seescolhe. uma taxa de jurcs baixa, a hidrelétÌica sairá mais barataÉ claro que em ce as cilcunstâncias ou uma ou oulm opção ficaobviamenìe mais baÍata mas, fazendo varia. a taxa de juros, eÌa al_cança um valor delerminâdo que toma jguais as düas opções

Eúe é um problem técnicq oü seja, de como escoÌheÍ rÌmataxa de iurcis colreta, A economia de mercado, por meio de uma

lei objetiva, oferece uma ildicação efetiva de qual é a preferéncia

dominãnte pelo uso mediato e imediato dos recuIsos. É o mercadode caDitais que determina a taxa de juros para váÍios emPÍéslimosoe veiios tipos, É claro quo o planejamento câpitalhla oferece aquem o reaiiza várias opções: pode escolber a tâxa de juros médiados úlÌìmos dois anos ou dos úhimos dez anos ConfoÍmc estasmédias vaÍiarem, uma ou outla oPção s€rá mais econômica. Decualquer modo a Ìealidade lhe oferece os dados e o planeiador secuic oor este Donto de apojo colelivo I iiconscienle.- Ë no sjsrirna socialisla como se resolvetia este problemâ? Qualé a taxa de juros quo a sociedade deseia?

Do ponÌo de vista puÍamente !écdco não hâ maior dificul-dade, embora os cálculoi possam ser muito difíceis. É greciso, emúltima análise, calcular quais seriaú as fotmas de utilização alter_nativa dos Écursos que vão seÍ gastos na hidreléttica. É preciso telüma séde de equaçõos qüe permilam a foünulação tecdcamente

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corÍeta das opçõss, pois a decisão polílica, a decisão das preferên-cjas humanas que terá de ser tomada !ó será eficjente. só corÌgsDon_derá às necessidades e aos desejos humânos. se as opçòcs foremformuladas tecnjcamente de uma foÌma exata. Não sè pode, po,exemplo, dizer: vamos acuúular rapjdamenle, vamos nos sacdficaÍhoje, vamos colocaÍ 4 fâmílias em cada aparramenlo. vamos cons-truir fábÍicas em vez de casas o isto permitirá, daqui a 5 anos, rc_soÌver o pÍoblema da moradia com casas pré-fabrjcÀdas, muito mahbaratas. Se o cálculo foÌ errado, daqui a 5 anos o pÌoblema continuao mesmo. Neste caso, evidentemeDte, a decjsão política é faÌha, aspessoas estão se engânando. Por isso o aspecto técnico tem suâ im_poÍtância.

Na discussão teórica destes problemas chegou-se à conclusão ileque o númeÌo de equaçõ€s slmultâneas que teriam de ser tesolvi_das em _cálculos desla espécie esta.ia além do período normaÌ deuma vida humana, em quâlquer circunstâncja.- Acontecê que ocomputador eletrónico reduzju, de uma formâ fantástica, o tem_oo ilecálculo. Sem exagero, certamenle o computâdor é çjn dos insfru_mentos que tomaram a economia planificada mujto úais viável hojedo q e ela o foi no passado. Ántes do surgimento do compuÍailor,os cálculos que s€ faziam eram extremamente grosseiros; 99go daseqrações eram substituídas por uma sé.ie de suposições, que poCiamesaar cerbs ou erÌadas.

, Hoje o computadoÌ permite que a parte técnica rccebâ soluçõescada vez m:Ìhores. É impoilanre perceber-sc o que significa subst!rurr.o luncroname-nto

'mpessoal do m3rcado de capitais por de: sôes

oerì0."Íaoas. UìgnlÌica. em úìtima análise. dar aos recuÍsos o uso rÌìaiseconomlco. ou seja, o mâis €ficienle, para isto é necesúrio efetjva_mente ter-se conhecimento do uso aÌternativo dos rccuasos c o te-curso bí is ico, que é o l rabalho humano, é de uma adaprabi l idaderanrasrìca. posso usar o trabalho humano paÌa pÍaticamente tudo,Então, como no fundo o recurso escasso é oì."t"ìno turnano, ã.*rac onal utilização exjge um conhecìmento perfeiro do funcionánentãde

-Ìtma- rconomia,baíante complexa. Mas gostaria de insislir que

a"soruçao nao C tCcnica. O que nós podemos tecnicamente fazei éorerecer atgumas opções, A escolhâ enlre elas são as pessoâs. oureja.. o po-vo.- a comunidade, que rem que t"r". ., f*çáo-ão, s"uìoes€Jos, nao hâ lecnlcâ oue subslitua taÌ decisão.Uma oulra opçào que nâo se coloca expljcilamenle numa eco_nomta caprral Ìsta. mas apenas numa economiâ planif icada. é a dasÌormas de consumo, Uma vez resolvido quanto vai se consumir.

existem lormas coletivas e individuais do sátistazer n";"id;l; ;

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claro que. de acordo com a heÍança cultural que rccebemos domurdo ocjdenlal e que eÍá hoje se expândindo, provavelmenre atéo mundo oricntal, as foÍmâs d. consumo individual são âs prefe-ridas. Isto dá uma nova dimensão à liberdade humana. O exemploclássico deste cont l iLo é o auromó!cl ve-sus o melrò: ou devemosinvestir de modo a prover câda indi,íduo, e não cada familja, deum automóveÌ e ter veículos rodando com 3 ou 4 lugaÍes vâzios,que é um desperdicjo óbvio de recuÍsos, mas em compensação tor-na a mobi l idade das pessoa\ muiro mais l ivre, ou enLão Díot;r me;oscolet ivos de transporte, cujo rendlmenLo económico c mui lo maior.Esla mesma opção s3 pod€ colocaÍ em termos de moradia. aÌimen-!ação. educaçào, saúde erc.

Esta discussão esrá começando hois no Brasjl, âpesar de estar-mos Ionge de umâ economia plânifjcada. Não podemos fugj. destaproblemátjca pois ela reaparece no seror Dúblico da economia, comopor exemplo o prcblema da livre escolha d€ médico, de dentistaetc. A livre escolha é um ideal de consumo individual. O fato decada ìndivíduo, no lugaÌ em gue moÍa, no Ìugâr em que trabalha,ler que usar uma equip3 médica pré-deleÍmjnada aumcnta a eÍiciênciado sislema, porém restring€ a liberdade humana. Esta é outrâ oDcãoque tcm de ser encarada pol i l icamenre, isro é, em termos de oãder.Alguém sempÍe Íepresen!â o poder coleÌ ivo: pode ser um góvernoditatorjal, pode se. uma socjcdade democÌática. A economd pÌane-jada deverá camiÌlhar para lormas cada vez mais democráticas;_iestesentido, a deçisão de optaÍ por isto ou aqìrilo deverá refletiro consenso coletivo, que não deverá ser meramelrte o somatórjodos desejos individuais.

Também aí se coÌoca, é óbvio, o problema técnico: como cal_cular quanto custa à economia entrar na em do automóvel? A Rússiadecidiu entmr pelo caminho americano, produzir automóvejs emmassa e pmver, ao longo do tempo, um ca.ro a cada russo adulto,o que.repÍesenta Ìrm invesl imento muiLo grande. não só na produção0e velculos! mas em l jas pavimentadas pâra circulâção dos veículoi .ctc. I alvez o aspsclo màis caro do automóvel não e que ele rode equeim€ gasolina (e, [o futuÌo, energja elélricâ) para 4 lugares vâ_zlos: e o espaço que ele ocupa, no meìo urbâno, para estaciotrar epara circulâr. Há todo um elenco de serviços neclssários para sus_lenlar a economia do automóvel. A opção Íei ta peìa Rúisia devecomprometer o futuÍo cconômico e ético da economìa russa pormui lo e muito lempo. Não sei aré que poÌrto as impl icaçõ.s loramcìaramcnle expl icì ladas. De qualqÌrer lorma, esra opção ìsmpre es-tará presente na economia planificada e sua resoluçã; não se;á eco_

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nômicâ em si. A função da economia é calcuìar tecnicamente, dacorreta possivcÌ, a, cons-.qúénciar da escotha enlre

uma.troeroade lndt\ iduat maìor ou um desfrute maior dos bens eco_nômicos, de forma coletiva_

. Um ouLro.âspecto_ do planejàmenro da deÌnanda, que é muiro

i!ii:i"1,t".i"il: .'; J:iã:i""ïï i:.ü:,; or:ì,"0ï";,i:".01,::ì:do pÍoduto social : a form€ de reparr jção do, proCuros podJ Ler aaparencìa de mercado: pode haver lojas, em oue o indjvíduo compracom notaq mas que no fundo const i tuem apenas um direi to oui a\oc coads the conÍere de usufruir . Ì horas de trabalho incorooiaaarnuma ou no.rrra Íorma de mercadoria. ,qssim o ino;viauo vaì a iãiãe compra sÌras coj,as, vai ao cinema. ao teatro. ao hospital etc. Nesiecaso., a, demanda do mercado Ícl let i r ia com cerla exat idio as ne_orsíoace! humànas. poìs lodo indivíduo pode exprimir suas ne.es_sidades em aÌoç de compra. na medida em que a soj iejade IheconÍef iu lat poder. Anrcs já Íoi decid;do quanÌo oesÌe consumo seÍácoierìvo € ql . lanto ì Í ld ivìdual. É quanto a esLe úìt ìmo qLe o indivÍduolem â etcoÌha, Mesmo que se ople pelo consurno colet iuo, erte nunial : i_": l " ic: l

lodo o.consumo humano. Na medida em que a socje_

l"ïï: ï"ii'Ï1 ïi'.J,"ïòqï[ïãJ'" marsem cr:scente de consumo

Na medida em que houver plena igualdade de rendimenlos, ha-verá cnrão uma demanda que iorrespãnderá às reais necessidades::T:::_'j_::T"

sào enrendidas peros individuos . p.t" ";úÌ;i;;;;;ao conÌrano do caprtat ismo em que a reparr ição trèmendamente a. jsrgr-Lat da renda deloÍma cvidenlemente t representaçào das vonladesnumanas atraves da demanda, pois aqueles que tém renda maiorpoo€nìL sarr5tateÍ mesmo necessidades pouco prior;Larias, aisponJooe qrnnetro para ranto. ao passo qÌre aqueles que tèm ÌeDda -bajia

sequeÍ podem dispor do indisD€nsáìel. -

. , Logo. estaria na lógica di economia planiÍicada a repartição to_

l l lm, l l 'c. icìral .da renda ou. peto menos, a rendència á uIn

"" i ,oiq:1lL1:.T9.Tnt rendéncia, no enLanÌo, parcce âcarrerar Ìrm pro_orema muìro gÍave que é o do incentivo à atividade produtival Éprecrso lembrar que a economia planificada que estamãs discutindoé^uma cconomia que.ainda esÌá muiro próxiia d;

";;ì;r,,:;-iï"ï;vcmos em um mundo -em

que a. major parre ainda é capiral istá,em^-que.as economjas planificadas acabaram de sai. d" "a;i;;;;;:Economìas em qÌre a popülação ainda viveu üma granale_parta de

ll i,ol i9.*O1" capitalista, cuja herança cultu;at se rianifestana expectariva de que o esforço seja remunerado Oe acorao cãri

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6sa intensidadc c sua efÌciencia: a Íepartição da r.:nda deveria cor.responder ao Íesultado do esforço pÍoduti\o indivjdual. Na medidaêln que se oqualiza a Íenda, na medida em que o tÍabalhador não-quaÌ fjcado ganlìa tanto qualto o sábio, há um derencanto da alivi-dade pÍodutive. As pessoas tendem, já que estão com seus ganhosgarantidor, a não sc jmportar com a produção, não só no sentidode ape eiçoar süa côpacidade de produzir estudando, pesquisaÍrdoe assim por diante mas, jnclusive, Ilo trabalho cotidiano. Daí a n.trodução, na URSS pcr eÍem?lo, dos chamados "ilcentivos mato-riajs à pÍodução". Assjm o sislema oìre foi adotado, pÍincipalmentona época de Stalin, foi fixaÍ o salár o básico muito baixo o comple-menlálo ccm prêm:os por produção. Então, pâra cada indivíduo,coÌocava-se üm ob.ìetivo mínimo a âtingir; tudo o que ele pudesseprodìrzjr além disso proForcionavâlhe ganhos adicionah. Evident€.mente islo cÍou novâment€ uma Slande desigìjaldade na rêpaÌtiçãoda Íenda, Hcuve estudos que mostraÌam oue, no auge do stalinismoIla Rússia, a des;gualdade na repaÍtição da rcnda não loi muito dife-rentc da que havia elrr alguns países capjtalhtas mais adiantados.Evjdentemcnte isto füstÍaria a maiot vantageú da ecoÍrom a pla-nificâdâ, como forma superioÍ de âtende! às neoissidades hümanâs,

Exjstem robÍe cste ponto várias djscussões jmportantes. Aprg-scntam-se duas soluções: uma d9lâs é a de substituir os inosntjvormateriais por jncentivos moÌais ou, como dizem os chjneses, incen"tivos políticos: dá-so ao tÍabalhador a consciência política de oue oÉeu csfoÌço mâiot vai teverter €m seu bgnefício indiretamente, nãoatmvés de um aumcnto de saládo, mas mediante os frutos do au.mento da pródutivjdade social. Não há uma ligação dÌeta entrco tiabalho do indivíduo e o que ele Vai ganhar; há, jsto sim, umsügação indir€ta, ou seia, Ìlm aumentg de produtìvidade vâi levaro um aümèIlto de ganhos no futurc. Ìsto está Da lógica da tecno.logja mais Ínodcrna, oue torna â produção cada vez menos depeÍr-dènte do esfoÌço 'ndividual, mÀs do funcionamento cada vez maiseficaz da equipe. Porém, embora têoÌicamente se possa dizer qucela é viável, esta solugão não é fácjl de apìicar. Como os paísesquê estão pÌanejando a €conomia são países pob&s (exceto talveza Alemanhá Orientâl e Checoslováquia) e por isso são obrigadosa maximizaÌ o seú Íitmo de acumulação de capital, eÍrtro o.esforçomaior nô pÍodução e o seu resultado pode mediar uma g€raçãoAss_ú não cxiste a veaificação conclela, empíÍica, da correlaçáo€ntle âumentos de produção e de consumo, já que o excedente terÁque seÍ transformado eÍ! rÌovos meio! de produção, que vão acâbarpÌopiciando maior quantidade de bens de coosumo somente decê-

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Dios mai! tarde. Fundamentar o moral da produção na consciôn.cia pública não é fácil. O sentido da Revolução Cultural Chinesa,êm grânde parte, é èste: tentar, atnvés de formâs FuúmeÍrte politicas ou educacionais, através dê gúndes campanhas de conscie[-tização, de uma luta política muito árdua, crjar entusiasmo peÌotÍâbalho, sem qualquer fundameltação dÕ inteÍesse do individuohquanto consumidot.

A outra solução, que é evìdentemente oposta, é de se usaÍemos incentivos materiais poÍquc são eficientes, até o ponto em quea produtividâde se clevc tanto que o conjünto das necessidades ma-tcÍiais de toda a popuÌação possa seÍ satisfeito. Assim pod€r-se-áchegar novamentc a um igualitarismo tra repaÍtição da renda, ele-vando âs rendas mais baixas e mantendo as mais ahas, que já sãostilfatórias, crescendo muito m€nos, Deste modo, a longo pÍazo,pode-se chegar à situação ideal, usando-se o incantivo material. Estafoi a soìução adotada pela URSS, Iugoslávia e parec€ que está sendocada vez mais utílizada na Europa Oriental e Central.

lq. opção de se dar toda ênfase aos incentivos pqlticos, Íro sen-tido dê cÍiaÍ desigualdades sociais. por um perlodó longo. foi âopção de Cuba, da Coréia do No e, Vìetnã do Norte e certamenteda China. De modo $re ho.ie as economias pladficadas estão divi-didâs neste ponto fundamellal por duas opções bastante diferentes.

O planejamento da oferta, como é feito?Èm primeiro lugar, é claro que se pde produziÌ aquilo que

a demanda deseja. Acontece, no entanlo, que, na medida €m quese usâm mótodos ainda mercanlis, os preços vão refletiÌ pÍcferên-cias individuais que podem estar €m contradição c:om deteminadosobjetivos políticos, principalmente do caso de qna economia plane-jada que é culturalm€nte ôinda o produto de uma sociedadc capila-lista pré-exhte[te. As economias planejadas hoje cxistentes aiídanão têm meio século, a maior parte delas não tem mais que 20 anc!'s,Então, como fazer com que as prioridades coletivas gov€mem arealidade €conômica? Uma das foÍmas adotadas foi a fixaçáo doschamados "prcços administÌados". Os preços de oferta, quê real-meÍlte se cÍbÌam peios serviços e bens, acabam sendo difere[tcs doque scÌiam sr fossem só pâú atender a demanda na forma comocla se manifesta monetariamente no mercado: alguns produtos scvcndem bâstânte abajxo do custo (remédio6, livros, discos, mateÍÍalcultural etc.); em compensação, coloca-se uin preç.o bem acimâ docusto em prcdqtos como por exemplo, bcbidas alcoólicas c ccrtosbens e serviços de luxo. De modo qile este sobrêpreço, quc iá Íoi

TEI

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denominado de ìmposlo jndireto. contido no púprio preço, é iguaÌao subsídio. ou sejê. à rel ìuç:o dos Jì feços do\ Uens pr;oi i rar iosìAoui novamenle s9 coloca um probìenra tdcnico e um proble-

ma políLico. O problema técnìco esr; em conieguir Íazer corn nueos preços âdmin;\ l rados nào anarquizem o calcuto eçonOm;co i . in:1:-T..-"t1,:r

que se.reduz o preço dos livros ìOao abaixo do cusÌo,quanÌos t ìvros a mais !ai_se vender? po"que é preciso então car_regaÍ no preç-o de uma outra mercadoria que vá tirar dos consu-midorcs um talor equivalenre áquele qu€ se vai perder vendendoos rìvros mars baraLos. É preciso ter um conhei imento ba*anteexaro oâqurro que os economisLas chamam de €last ic idade-preço dapfocura.lsLes preços administÍados podem ser flexiveis. pódem sermooìrrcados, Nem por is(o dexa de ser nicessdrjo que o cálculoeconómico seja tecnicamente perfeiro. pos.f . t .nt ,* f f . i " , l iü i"os rnvesl lmentos. a tongo prczo. A câpacidàde pÍodul iva de certosoenr, uma vez trxada, só pode ser mod;f icada com custos elcvadose cm prazot. t ìaslrr te longor, Ao lâdo do problema Lécnico se co-ioca o" pol i t ,co: oj preços adninislrados tém que ser o rel lexoof pre.rerencras cotetjvas. Não podem ser imposjçõ€s ou não deve_rram^se-to., ls lo_eslá l jgâdo novamente âo pÍoblema mais comp,exoaìnoa que e o da gestão autônorna versus â gestão centralizada ds

* A geslão âuLônoma. oue é a oue eslá se introduzindo hoje íãEuÍopa Oriental, rli a cada empresa Ìrma série de inÍormacaes oueTl, ï .T "^Sy"

em uma empr€sa capi lat is la seÍ ia a or jeoraçào dem€rcaoo, Lada empresa recebe. do órgão de planejamento, iniorrna-çao sobre quanto vaj cuslar a malér ia-pr ima, de ouanto vai cuíaÍ:.."1^",lcii.:]:irj"1,

do vator dos imposroì que a empresa vâÌ prgar.ou seja. quanto do seu lucro tem que reverrer ao órgao de plãni ja_menlo; a parLir daí ela €jrá l ivre pãra usaÍ esres recursos produrivosoa Ìorma que achar melhor, procuÍando evidenlemente â maior ra_cionalidade na produção de mercadoriâs que ela pode vender,

È,sre e o esquêma, em termos gerais, da gestão autónoma, Eslecsqüemâ eía Seratmente ligado aos inceDLivos mateÍiâis e à desiguâroade na ÍeparUção da renda. Esrá na sua lógica, segundo aquql,se..9: indivíduos não est j rerem diretamenle jnreresúdos namaÌor eirc lencra produLiva! na maior racional idade econômic4 elâoão..s€. realiza. É ajnda a âceiraçáo de que a herança culturai docaprrarsmo nao.pode ser superada, a não s:r quando o desenvolvi-menÌo oa- produr 'v idade t iver levâdo àquele reino de abundánciacom.qìre Mar.x, EDgels o muitos outros sonbaram. É uma cont in_gêncìa que ninguém defende como ideal, mas como seddo a Dais

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)'

;il:ï'',,3i:1, ïïfiã"""""ï:::",ïdï?,ffi ",l"ï::"*ãï.ïïï'ff ï:^_

ConlÌa-argumen"ta-s€ qu€ esta gestão âìrtônoma diviale o povo:1 1"1:**" anrâg,ónims, faz com que as empresas concorlam:: lT

r ] ,T conscnúanc,a. cr ia desemprego, inctusive poÍque a em_p:err. ,pdra p-oduz.r €f ic ientemente, tem que usar o mínimo de tm_o conjunLo das empre,âs cÀi neste processo de ràcio-

l l ] l Ìú: . " Í ì , "rruação de desempreso recnotogico é perÍëjLâmenre:, . i , ' . "

q"g nao derxa de consl;Lui Í um desperJicro. Cada rÍaLa_rnloor.prrrdo por um dja é um Jia de ser i . jço que se p-,rd:. I \ rocon'raJr o proprio planejamenro. e gertao uurOnoÌna,. qire orur ica_mrr:c-u"f , cÍ i tcr :os anátogos aos Jo capiral ismo no sent ido d€ ouea €Ucrcncra se traduz em lucro, conlrapõc_se à imperfejção de u;aÂdninistração cen!Íaljzada.

. A ge"r io cenÌrât izada i de hro mujro di f íc i l por not i ,o, lec.nJcos. emborã reja preferível pol i t :camenle, Uma economia como acnÌnesi. por exemplo. procura promover a uLi l izaçào,t€cnicamenteftcronal das terÌas, ou seja, há um recurso Èscasso chamado terraï l l : - j , ! l? l

é ìrr i l i?ada para asr icutrura. ourra não. Na que cüÌrr iTada paÍâ agricuÌrura, parte é inigada. outra nào. Conlorme oreor qu,mico de,sas terÍar. o cl ;mt, a capacidâde dos camOonrles:'_:ì

.lT -p9d..

ser ultizadas por vários tipos de produção; Jìole_searroz,. teno paÍa o gado e assim por dianre. Comoe pos$vet. num Dajr da extensáo da Chinâ, com os seus 900 milhõesoe n3olranÌec, âtocar correl imenl€ eslas vár ias pfoduçõe(? A des-cen. ' ÍaÌ izdção nâ Ch;na tornou_se i ínposi l iva devido ao atraso recno.LogÌco oo ptanelamento econômico

^_^_-ir ! i : O"r ex.emplo, oplou peta gesrào toratmenre cenrrâI lzada,EpesJr

_dos r€suÌtado( negarivos que teve na URSS, po, urnu ua"u_mcnÌaçâo que tor. âo mesmo lempo, pol i t ica e empir lca. Gueuãrooìsse a uma cerÍa a ura: . .Em Cuba exislem menos Ìábr icas do cuena cidade de Moscou. por que não adminisrráìâs ";" iã; ;" ì ; ;Nussa populâção não é de mais que 7 mithões de habi lanres. as vánas opçoes sao.concomi!anremenre l imi!adâs. Temos caÍ,acidade degef lr rsLo cenLralzadamenle.-A extensão do país é pequéna e remosnoas vras de comunicação. Então, por que desceotializar? por oueusar.mcÌodo-s caprratrslas que dividem o povo?,, Aí se coloca umproDremâ, rào só de

'deal, mas de luÌa polÍtica. já que Cuba é umdeconomia amea-çâda de iDvasão. de pr€ssão potjiica'de

"ária; e;;;:

ïl1r;".jl,Jï drvrdir o povo? por que premiar os que sabem pioduzir melnor, que podem scÍ os pol i r icamenre mcnor conscienies,

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Por que coÍÍer o rhco de cÍíaÍ camadas privilêgiadas que, mais taÍ-de, poderão se opor à süpcração desta contjngêtrcia? Vâmos usatadmjnistraçiio totalmÊltc centlalizada, ioc€ntivos morais o assimpor diante.

costaria de mcstÍaÍ a inteÍl gação entre o polítiço e o técnicosem confundir as duas coisas. Certa! opções políticas são inviáv€isporque, tecnicameÍte, vão além do que se pode fâze! no momento.Talvez a econom;a chinesa possa seÍ planejada cenlralmenle dâquia algumas décâdas. Não há nada de impossível nisso. Mas, no mo-m€nto, o âcervo de informações, de experiêÃcias codificadas nãoé suficiente. Á sabedoria imptessa !o subconsciente de centenas demilhões de camponeses não pode ainda ser rcsumida em memóÌiasde cofiputadores nem no rcduzido número de técnicos que com-põem as comissõcs de pÌanejamenlo.

Finalmente gosÍaÍia de colocar o problema, que tem sido bas-tante ccntral nesta discussão, da existência ou não de leis objetivasno socialjsmo. Stalin, por ex€mplo, o vários outrcs autores. têm co-locado o probleúa de qìre a lei do valor e ceÍas leis independcn-tes dâ \,ontade humana rcgem a economia socialistâ, da mësmafoma como regem a capitalista. Oaro que sêÍiam leis diferentes.Elta colocação, assim feita, reduzir'a as cpções àqüeÌas qüe a pr&

. pda tecnologia definiria. Se há uma lei de valor que rege a produ-ção socialista; csta lei é resultante do nív€l de desenvolvimento dasforças produtivas e isto significa que úo há b4sicamentê opçãopolítica aÌguma. O que o govemo pode fazer é meramente sancio-trar os cálcuìos econôfticos de uma comissão central de plan€jamen-to, o que lelira da área política toda dhcussão econômica.

Como se coÌo3am e se ÍesoÌvem estes prcblemas eÍ1 uma eco-nomia capitalista como a brasileira? Há leis objetivas que, de cerlaforma, os Íesolvem: as preferêncjas dos consumidoÌes Íeveladaspelos seus gastos resolvem a opção entre o consumo coÌelivo e oiídividüal; o ccmpo amento dos poupadores e investidores no mer-cado de càpitais decide as opções entrc acumulação de capitaÌ econsumo imediato. Emborâ haja iuterfcrências governâmentais emum ou outro sentido, ô fieÍcado dá a palavrâ final,

* o mesmo ripo de leis, embom não sejam as tneeÌtdr, gover-na a prodÌrção socialhta, as opções econômicas se reduzem semprcâ uma única, que é economicamente a mais válidA. Então existêuma taxa de jurcs que aparcce al€ aÌguma manoiÌa na economia(talvez calculada por computadoÍ) qur delemÌina. por eremplo, sese devem construir usinas hidreÌétricas ou lermelétricâs. Não há aque discutiÍ. ContÌa esta posiçãô se colocam oütros, como Guevarâ

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e Fidel Cas!Ìo, cue dizcm o seguinle: "O qua e ste nìllra e.onomiasocialista são leis objetivâs de jnterdependência jndustrja!, ou sejâ,há c€Ìtas propcÍções da €conom'a que são dadas pela técnica. dasquais não se pode fugir. Se se quer produzir um prego, tem-s€ q{reler a sjderúrgnca que pÍoduz a matéria-prima, o miÉrio de ferroo carvão, os meio! ds transpofte etc. Qüalquer obFtivo econômicopode ser assoc;ado a uma série de equâções Íegidas por leis mate-máticas que têm de ser salisfeitas, qualquer que seja o rêgÌme. Exk-to, poÍém, foÍâ desta jnterdep3ndência, uma áreâ de esaolha huma-na," E são essas áreas que estiv€mos anaìisando. Não é fatal qugcsta escolha humana só possa se dar no chamado reino da liberda-de, ou seja. ouando a produção foÍ de tal forma elevada que todasas necessjdades humanas, pelo m€nos materiais, possam ser pÌena-merlte satìsfeitas e a opção fundamental do homem será então pro-duziÌ majs, obter mâis ó.io, ou dedicar majs tempo a atividadescontemplativas etc.

No fundo a discusúo está se trâvando alnda, Uma economiâplanejada de escasssz, que não tem capacidade dé satisfazeÌ todasas necessidâdes humanas, pode náo se submeter a leis objelivas?Eìl actedito que pode. E âcrèdito inclusive qu€ a opção por ümaou outm destas soluções vai confoÌmar o tipo de economiâ que vaipredomjnar no fuluÍo. O que quero dizêr com isto é simplesmenteo segujnte: se re vai fÉlo caminho de que existem lcis objelivas,s9 se exclui o povo de umâ tomada consciente de posição peranteas opções econômicas, se sÕ relega ao compulador e àqueles queo mânejam estas opções, o que impljca aulomaticamente em geslãoÂutônoma das empresas, ut'Ìjzaçáo do meca smo do mercado, in-centivos materiais e desigualdades na lepartição dâ renda, o qüese vai ter provâvelmente no futuro é a chamada socíèdade de c.on-s',Ìno. Os próprios valorcs humanos, não-econômicos, tenderão âexpandh a vontade do consumir muito além do que talvez fosseracionÂI. Entraremoi no chamâdo "consumo conspícuo", como oiEUA estão nos mostrando briihantemente. Existe o per'go daURSS e vários paises da EuÍopa Oriental cinìinharem pâra ser umaesÉcie de EUA do ponto de vista das molivações humanas. Sweezye Hubermann, por exemplo, nÀ ÍevlstÀ Monthly ReyiÉ, no núme-ro dedicâdo ao 50.. anjvcrsário dã Reuolüião de Outubro, âpontamclaramente este perigo e com argumentos nuito pondeúvcjs. Estâoptâo, a URSS praijcamente já a está pondo em -pútica, sendosìmboljzâda pela indÌistrja automoblistica. Elâ foi adotada ess.en-cialmente por aquelos qu€ decidjmm, p.ovavelmente por voltâ de1929, quc o plânejamenlo na LrRSS seria feìlo de uma forma autô.

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ritáriâ. Não há opção. Ao passo que aqueles países que optarampoÌìma gestao mals centfalizada, que seja tecnicamente viáiel. ouerejeÍamm a idéia de que a economia esrá sendo regida por leis obje-Lrvas, que reconh€ceram a eisténcia de opções e que lutaÍam paraque estas opções fossem colscigntemente tomadas, se possívcl,pelamajoÍia da população. pÍovavelmente vão produzjr uni"

".onàïúoe_aounoâncla. qÌre_seÌá qualjtativameEte diferente, do ponto dcvrsra da quaÌidade da vids humana, dâ sociedade de coniumo. Oque var ser eu não sei, mâs do meu ponto de vjsra eu preferia viveÌna segunda,

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lrnprerso no3 Estab. crá-ficos Borsoi S.^. Indústriso Conélcio, à Rua FÌancis-co Manuel, õ5 - ZC-15,BeDfio, Rio de Janeiro

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