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Curso de Especialização em Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL ATES DO INCRA NO SUDESTE DO PARÁ NAJOMARY VASCONCELOS COSTA Brasília 2010

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Curso de Especialização em Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais

A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES DO INCRA NO SUDESTE DO

PARÁ

NAJOMARY VASCONCELOS COSTA

Brasília 2010

Universidade de Brasília - UnB Instituto de Ciências Humanas - IH

Departamento de Serviço Social - SER Conselho Federal de Serviço Social - CFESS

Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS

A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE ASSESSORIA

TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES DO INCRA NO SUDESTE DO PARÁ

NAJOMARY VASCONCELOS COSTA

Trabalho monográfico apresentado ao Departamento de Serviço Social – SER/IH da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Especialista em Serviço Social.

Orientadora: Marilda Martins Moraes

Brasília, outubro de 2010.

Banca examinadora

_________________________ Marilda Martins Moraes

Mestre

_________________________ Lauriene Barbosa de Araujo

Mestre

Aos meus pais, irmãos, esposo, sobrinhos e amigos pelo apoio incondicional.

À Deus pela presença constante em todos os momentos da minha vida. À minha família pela paciência e confiança em mim depositada, o que me fortalecia a cada obstáculo encontrado rumo à esta construção. À orientadora pelos valiosos ensinamentos que contribuíram sobremaneira para conclusão deste trabalho e pela capacidade de sensibilização e acolhida nos momentos de angústia. Às famílias dos projetos de assentamento, aos técnicos e coordenadores das Prestadoras de Serviços de Assistência Técnica, Social e Ambiental, ao coordenador da ATES do INCRA, aos colegas de trabalho do INCRA e todos que direta ou indiretamente se dispuseram a contribuir para concretização deste trabalho.

RESUMO

O presente trabalho monográfico procurou investigar de que forma o Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental - ATES do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA está sendo executado no sudeste do Pará com vistas a verificar seus aspectos qualitativos e sua relação com o desenvolvimento rural sustentável. Para tanto foram utilizados recursos metodológicos da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo. O lócus da pesquisa envolveu quatro projetos de assentamento (PAs) situados no município de Marabá, nestes utilizou-se como instrumento de coleta de dados o questionário. Incluem-se, ainda, entre sujeitos da pesquisa, dois profissionais envolvidos na execução do programa: o responsável pela coordenação do Programa no âmbito do INCRA no município de Marabá, sul do Pará, e o responsável pela entidade prestadora do serviço de ATES nos PAs pesquisados. Percorrendo as ações de desenvolvimento da Política de Reforma Agrária no sudeste do Pará, especificamente do programa de assistência técnica do INCRA podemos afirmar que há a intenção de todos os atores em fazer cumprir os dispositivos legais do programa de ATES, e qualitativamente contribuir para promoção do desenvolvimento rural sustentável nos projetos de assentamento, dentre eles a busca pela apropriação coletiva de conhecimentos, a construção de processos de desenvolvimento sustentável, especialmente, viu-se uma tentativa de desenvolver ações democráticas, adotando metodologias participativas. No entanto, a implementação passa por vários obstáculos, o que acaba por limitar o sucesso do Programa no sudeste do Pará.

PALAVRAS CHAVE: Assessoria Técnica, Social e Ambiental. Desenvolvimento Rural Sustentável. Projetos de Assentamento.

ABSTRACT

This monograph sought to investigate how the Programme of Technical, Social and Environmental - ATES National Institute for Colonization and Agrarian Reform - INCRA is running in the southeast of Pará in order to verify their qualitative aspects and its relationship to sustainable rural development. Therefore, we used methodological tools of bibliographical, documentary research and field research. The locus of the research involved four settlement projects in the municipality of Maraba, these were used as an instrument to collect data in the questionnaire. Included are also among the research subjects, two professionals involved in implementing the program: the responsibility for coordinating the program under INCRA in the city of Maraba, southern Para, and the responsible entity providing the service in the PA studied ATES. Walking along the developmental actions of Agrarian Reform Policy in southeast Pará, specifically the technical assistance program of INCRA can say that there is the intention of all actors in enforcing the legal provisions of the program of ATES and qualitatively contribute to the promotion of sustainable rural development in the settlement projects, including the search for collective appropriation of knowledge, the construction of sustainable development processes, especially, found himself trying to develop a democratic actions, adopting participatory methodologies. However, the implementation goes through several obstacles, which ultimately limit the success of the program in the southeast of Pará.

KEYWORDS: Technical Social and Environmental Sustainable. Rural Development.

Projects Settlement.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

1. QUESTÃO AGRÁRIA E REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL .............................. 13

1.1 A CONCENTRAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO BRASIL ................... 14

1.2 BREVE HISTÓRICO DA REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL ........................... 18 1.3 A REFORMA AGRÁRIA QUE SE PRETENDE ................................................. 24 1.4 O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DO CAMPO NO SUDESTE DO

PARÁ..................................................................................................................... 27 1.5 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL ....................32

2. CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA DE ASSESSORIA, TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL - ATES ............................................................................................. 38

2.1 ANTECEDENTES DO PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES ............................................................................................. 38 2.2 O PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES DO INCRA ............................................................................................................. 49 2.3_ESTRUTURA_DE_COORDENAÇÃO,_GESTÃO,_EXECUÇÃO_E_PARTICI PAÇÃO SOCIAL .................................................................................................... 52 2.4 TEMAS TRATADOS PELA ASSESSORIA TÉCNICA ..................................... 56 2.5_A_OPÇÃO_PELA_SUSTENTABILIDADE_COM_BASE_NO_ENFOQUE AGROECOLÓGICO .............................................................................................. 59 2.6 O ENFOQUE METODOLÓGICO DO PROGRAMA DE ATES ........................ 60

2.7 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATES................... 62

3. ELEMENTOS AVALIATIVOS ............................................................................. 66

3.1 A EXECUÇÃO DOS TRABALHOS NOS ASSENTAMENTOS ......................... 67 3.2 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATES ................. 79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 84

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 88

ANEXOS ................................................................................................................... 90

7

INTRODUÇÃO

Cerca de 30 milhões de brasileiros dependem da utilização da terra para o

seu sustento. No entanto, em virtude de uma acentuada concentração da

propriedade fundiária que caracteriza a economia agrária brasileira, bem como das

circunstâncias econômicas, sociais e políticas que direta ou indiretamente decorrem

de tal concentração, a utilização da terra se faz predominantemente e de maneira

acentuada, em benefício de uma minoria da população, conforme destaca Prado

Júnior (1979). Disto decorrem padrões ínfimos de existência daquela considerável

parcela da população brasileira, sejam padrões materiais ou culturais.

Segundo Gomes da Silva, citado por Sparovek (2003), a reforma agrária é

um processo amplo e imediato de redistribuição da propriedade da terra com vistas

à transformação econômica, social e política do meio rural, com reflexos no conjunto

da sociedade. Um amplo e efetivo programa de reforma agrária que alterasse de

fato a estrutura agrária, permitindo o acesso à terra a uma parcela significativa de

trabalhadores rurais, incorporando milhões de hectares ao processo produtivo, em

um período de cinco a dez anos, potencialmente teria um impacto fortemente

positivo sobre a economia e a sociedade em seu conjunto (CAMPOS, 1994, citado

por Sparovek, 2003). Nesse sentido, a reforma agrária deve necessariamente vir

acompanhada de uma política agrícola eficaz, incluindo tópicos como crédito rural,

assistência técnica, garantia de preços e outros similares.

No Brasil o órgão responsável pela promoção e execução da reforma

agrária é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA, que tem

como finalidade promover e executar a reforma agrária visando a melhor distribuição

8

da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos

princípios de justiça social, dentre outros (INCRA, 2006, pg.4).

Neste contexto cabe ao INCRA atuar no desenvolvimento de projetos de

assentamento1(pas), e desta forma desenvolver programas visando contribuir para o

desenvolvimento rural sustentável.

O desenvolvimento sustentável de uma determinada microrregião pode ser entendido como um conjunto de referência conceitual orientador de estratégias, políticas e programas de desenvolvimento rural nacional, o qual serve de fundamento tanto para alcançar mudanças nas causas estruturais e funcionais dos desequilíbrios espaciais e socioeconômicos, como para corrigir determinadas tendências inadequadas e promover a transformação do meio rural com uma perspectiva de longo prazo (SEPÚLVEDA, 2002).

Todo esse processo precisa estar vinculado ao contexto de estratégias

nacionais de desenvolvimento e com as devidas vinculações ao comércio nacional e

internacional.

O tratamento multidimensional do desenvolvimento sustentável é apenas o

reflexo da complexa realidade do sistema nacional e de cada um daqueles

componentes que se buscam modificar para transformar o meio rural (SEPÚLVEDA,

2002). Não obstante, constata-se que cada dimensão possui suas características

próprias, e por sua vez, está condicionada e condiciona as demais dimensões.

Conceitualmente se concebem quatro dimensões (político-institucional,

econômica, social e ambiental) do desenvolvimento sustentável. Essas dimensões

correspondem ao número de componentes do sistema de ordenamento das

sociedades nacionais, a lógica desses ordenamentos tem como base, além da

organização das citadas sociedades, os mecanismos de articulação entre os

1 Projeto de Assentamento é uma unidade populacional que reúne um determinado número de

pessoas em uma dada extensão de terra, na qual passam a desenvolver as atividades necessárias à sua reprodução, especialmente às vinculadas à agricultura e à pecuária (SILVA, 2003).

9

diversos grupos, para cumprir com as atividades básicas de produção e reprodução,

o que representa a dimensão social (SEPÚLVEDA, 2002).

Para garantir o funcionamento das sociedades nacionais foram

estabelecidos diversos arranjos institucionais e políticos, cujo objetivo é normatizar e

orientar suas atividades e relações – dimensão político-institucional. Esse esquema

de ordenamento social se enfatizou, especialmente nas normas das atividades

produtivas e na utilização da tecnologia como instrumento para assegurar a

sobrevivência das suas populações e para garantir excedentes que viabilizem o

comércio com outros países. Todas essas atividades produtivas utilizam energia e

recursos naturais renováveis e não renováveis como insumos básicos e geram bens

de consumo e/ou produtos primários. Por sua vez, na maioria dos casos, ocasionam

externalidades ambientais negativas: a exemplo de efluentes contaminados, erosão,

desmatamento, entre outras – trata-se da dimensão ambiental.

Neste contexto de busca de um desenvolvimento rural sustentável, encontra-

se o Programa o qual foi o objeto de estudo deste trabalho de pesquisa: o Programa

de Assessoria Técnica, Social e Ambiental - ATES, criado em 2003 com o objetivo

de assessorar técnica, social e ambientalmente as famílias assentadas, nos Projetos

de Assentamento da Reforma Agrária, criados ou reconhecidos pelo INCRA,

tornando-os unidades de produção estruturadas, com segurança alimentar

garantida, inseridos de forma competitiva no processo de produção, voltados ao

mercado e integradas à dinâmica do desenvolvimento municipal, regional e

territorial, de forma ambientalmente sustentável (MANUAL DE ATES, 2008).

O Programa de ATES foi criado com base na Política Nacional de

Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER, uma vez que a Constituição

Federal de 1988 e a Lei Agrícola(1991) determinam que a União mantenha serviços

10

de Assistência Técnica pública e gratuita para os pequenos agricultores. Os

Serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural-ATER, foram iniciados, no país,

no final da década de quarenta, no contexto da política desenvolvimentista do pós-

guerra, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população

rural e apoiar o processo de modernização da agricultura, inserindo-se nas

estratégias voltadas à política de industrialização do país.

Os aparatos públicos de Ater se propõem a transformar sua prática

convencional e introduzir outras mudanças institucionais, frente aos desafios

impostos pela necessidade de implementar estratégias de produção agropecuária

que sejam compatíveis com os ideais do desenvolvimento sustentável (PNATER,

2003). As crises econômicas e socioambiental, geradas pelos estilos convencionais

de desenvolvimento, recomendam uma clara ruptura com o modelo extensionista

baseado nos tradicionais pacotes da “Revolução Verde”2, substituindo-os por novos

enfoques metodológicos e outro paradigma tecnológico, que sirvam como base para

que a extensão rural pública possa alcançar novos objetivos.

Com base na PNATER (2003), o desenvolvimento sustentável almejado

pelo país supõe o estabelecimento de estilos de agricultura, extrativismo e pesca

igualmente sustentáveis, que não podem ser alcançados unicamente por meio da

transferência de tecnologias. É certo que a transição agroecológica, indica a

necessidade de resgate e construção de conhecimentos sobre distintos

agroecossistemas e variedades de sistemas culturais e condições socioeconômicas.

2 A Revolução Verde relaciona-se à difusão internacional das chamadas variedades de alto

rendimento. O pacote tecnológico básico da Revolução Verde se montou a partir das sementes de variedades de alto rendimento e de um conjunto de práticas e insumos agrícolas necessários para assegurar as condições para que as culturas alcançassem níveis crescentes de produtividade (CAPORAL e COSTABEBER, 2007).

11

Isto implica que a Ater, como um dos instrumentos de apoio ao desenvolvimento

rural, adote uma missão, objetivos, estratégias, metodologias e práticas compatíveis

com os requisitos deste novo processo.

Seguindo as diretrizes da Política Nacional de Assistência Técnica e

Extensão Rural, o INCRA criou o Programa de ATES que tem fundamental

importância no desenvolvimento dos projetos de assentamento, uma vez que visa

colaborar com a transformação da realidade das famílias assentadas, fortalecendo o

elo entre os assentados e o meio onde estão inseridos.

Por esta razão, o trabalho da assistência técnica deve assumir como

princípios, a promoção da igualdade entre trabalhadoras e trabalhadores rurais

assentadas (os), a utilização de métodos participativos, a adoção dos conceitos da

agroecologia, cooperação e economia popular solidária, e a garantia da capacitação

continuada dos assentados. Tem como objetivo principal, promover a viabilidade

econômica, a segurança alimentar e nutricional; a sustentabilidade socioambiental e

a promoção da igualdade nas relações de gênero, geração, raça e etnia nas áreas

de assentamento (INCRA, 2008, pg 03).

Diante disso é que se propõe como desafio deste trabalho de pesquisa a

investigação acerca da implementação do Programa de ATES no sudeste do Pará.

Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo investigar de que forma o Programa de

Assessoria Técnica, Social e Ambiental do INCRA está sendo executado no sudeste

do Pará com vistas a verificar seus aspectos qualitativos e sua relação com o

desenvolvimento rural sustentável.

Dessa forma, constituem-se objetivos específicos da pesquisa: analisar a

estrutura do Programa de ATES identificando sua pertinência com o que preconiza

12

o programa de Reforma Agrária; verificar se as ações desenvolvidas pelas entidades

responsáveis pela execução do Programa de ATES no sul e sudeste do Pará

respondem pela melhoria da qualidade de vida das famílias assentadas; investigar

de que forma o INCRA tem coordenado o programa; verificar se os meios utilizados

na implementação do programa estão ou não em consonância com as metas

previstas pelo mesmo; conhecer as potencialidades e dificuldades na

implementação do programa; conhecer o que deve ser realizado para melhoria das

ações de ATES visando o aperfeiçoamento do programa.

O trabalho está estruturado em três capítulos: o primeiro traz a

caracterização da questão agrária e da reforma agrária no Brasil, assim como uma

contextualização do processo de territorialização do campo no sudeste do Pará,

visando subsidiar as discussões realizadas ao longo do trabalho. No segundo,

discorre-se sobre o processo de desenvolvimento rural sustentável, contextualizando

a Política Nacional de Extensão Rural e o Programa de Assessoria Técnica, Social e

Ambiental do INCRA. O terceiro capítulo apresenta os resultados da pesquisa de

campo, analisando-se os dados que remetem à implementação do Programa de

ATES nos assentamentos pesquisados. Por fim, seguem as considerações finais

acerca da implementação do Programa nos projetos de assentamentos em questão,

apontando sua relação com o desenvolvimento rural sustentável.

13

1. QUESTÃO AGRÁRIA E REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

A Reforma Agrária aparece na história, em geral, relacionada às lutas,

revoltas ou mesmo revoluções camponesas, e às ações de governo visando

modificar a estrutura agrária de regiões ou países. No primeiro caso, a ideia central

de reforma agrária está mais relacionada ao conceito de revolução agrária, enquanto

no segundo caso está mais relacionada a ideia de reforma agrária propriamente dita

(PRADO JÚNIOR, 1979).

No século XX, a reforma agrária apareceu principalmente nos países em

desenvolvimento com grande concentração de propriedade privada da terra em

poucas mãos, e uma grande massa de camponeses sem terra ou com pouca terra.

Nesses países a reforma agrária constituiu-se em instrumento político dos governos

para frearem movimentos revolucionários cujo objetivo era a revolução socialista,

neste sentido, muitos governos desses países passaram a incluir em seus planos de

desenvolvimento econômicos a implantação de projetos de reforma agrária para

tentar anteciparem-se às revoluções (OLIVEIRA, 2007).

A reforma agrária constitui-se, portanto, em um conjunto de ações

governamentais realizadas pelos países capitalistas visando modificar a estrutura

fundiária de uma região ou de um país. Ela é feita através de mudanças na

distribuição da propriedade e/ou posse da terra e da renda com vista a assegurar

melhorias nos ganhos sociais, políticos, culturais, técnicos, econômicos e de

reordenação do território. Este conjunto de atos de governo deriva de ações

coordenadas, resultantes de um programa mais ou menos elaborado e que exprime

um conjunto de decisões governamentais ou a doutrina de um texto legal.

No Brasil, a lógica neoliberal e o modelo de globalização baseado no capital

financeiro deixou como saldo negativo a exclusão social, o crescimento da pobreza,

14

da desigualdade social e da destruição ambiental. Esse modelo veio acompanhado

de políticas econômicas que desfavoreceram o setor rural, particularmente os

pequenos agricultores e agricultoras que trabalham em regime familiar e as

comunidades rurais tradicionais, promovendo, ainda, a degradação da terra, dos

recursos hídricos, do ar e da biodiversidade.

Segundo Prado Junior (1979), mais de 30 milhões de brasileiros dependem

da utilização da terra para o seu sustento. No entanto, em virtude de uma acentuada

concentração da propriedade fundiária que caracteriza a economia agrária brasileira,

bem como das circunstâncias econômicas, sociais e políticas que direta ou

indiretamente decorrem de tal concentração, a utilização da terra se faz

predominantemente e de maneira acentuada, em benefício de uma minoria da

população. Disto decorrem padrões ínfimos de existência daquela considerável

parcela da população brasileira, sejam padrões materiais ou culturais.

1.1 A CONCENTRAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO BRASIL

A forma como é distribuída a propriedade de terras em um país é

denominada estrutura fundiária ou concentração da propriedade da terra. A variação

da concentração da propriedade da terra é medida por um índice estatístico

chamado índice de Gini. Esse mede o grau de concentração ou de distribuição das

terras de um país entre seus proprietários e varia de zero a um (STÉDILE, 1997). Se

num país as terras pertencessem a um único proprietário, o índice de Gini seria 1,0,

neste sentido, ao medir-se o grau de concentração, quanto mais injusta e

concentrada for a propriedade das terras mais próxima estará de 1,00.

15

Segundo Stédile, 1997, baseado em dados da FAO (Organização das

Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o Brasil é o segundo país do mundo

em nível de concentração da propriedade da terra, seu índice de Gini alcançou 0,86

na década de noventa.

Em 1992 foi planejado e implantado um recadastramento rural o qual

indicou que no Brasil havia 3.114.898 imóveis rurais e, entre eles, 43.956 imóveis

(2,4%), com área acima de 1.000 hectares, ocupando 165.756.665 hectares (50%)

de uma área total de 331.364.012 ha. Enquanto isso, outros 2.628.819 imóveis

(84,4%), com área inferior a 100 hectares, ocupavam apenas 59.283.651 hectares

(17,9%) (OLIVEIRA, 2007).

Foi na década de 90, que as lutas pela reforma agrária aprofundaram-se, e

o Estado teve que responder com políticas públicas de assentamentos fundiários.

Ainda assim, a realidade existente nos dados cadastrais do INCRA em 1998,

indicava que 1,6%(57.881) dos imóveis com mais de 1.000 hectares continuavam

ocupando 52,9% de uma área total de 415.570.812 ha. Enquanto isso, as pequenas

propriedades – aquelas com menos de 100 ha, representavam 85,3% dos imóveis

rurais, e ocupavam uma superfície de 16,5% (68.674.638 ha).

Estas grandes extensões de terras estão concentradas nas mãos de

inúmeros grupos econômicos, já que no Brasil, a propriedade da terra funciona, ora

como valor, ora como reserva patrimonial. Ou seja, como instrumento de garantia

para o acesso ao sistema de financiamentos bancários, ou ao sistema de políticas

de incentivos governamentais (OLIVEIRA, 2007).

De acordo com Oliveira, 2007, na década de 90, havia no Brasil mais de 32

milhões de brasileiros abaixo da linha de miséria absoluta, ou seja, quase 7 milhões

de famílias classificadas como indigentes. E ainda, 38% das famílias, ou seja, mais

16

de 14 milhões foram classificadas como pobres. A lógica tem sido a seguinte: o

desenvolvimento capitalista que concentra a terra, ao mesmo tempo, empurra uma

parcela cada vez maior da população para as áreas urbanas, gerando nas mesmas

uma massa cada vez maior de pobres e miseráveis.

Isto demonstra o quanto é preocupante a questão agrária no Brasil, e a

relevância de políticas comprometidas com a realização de uma reforma agrária

justa com vistas à diminuição das condições de pobreza e miserabilidade de milhões

de brasileiros.

A estrutura fundiária do Brasil é, historicamente, um dos principais fatores

responsáveis pela desigualdade social e pela formação desordenada de cinturões

de miséria em médias e grandes cidades. A desigualdade no acesso à terra no

Brasil é ainda maior do que a desigualdade de distribuição de renda.

Tal contexto serve apenas para situar a questão agrária brasileira e colocar

em evidência a relação de efeito e causa entre a miséria da população rural

brasileira e o tipo da estrutura agrária do País, cujo traço principal consiste na

acentuada concentração da propriedade rural (PRADO JÚNIOR, 1979).

Destaca-se que não faltam esforços em diferentes setores da literatura

social, econômica e política brasileira, bem como nas diretrizes da administração

pública, para situar o assunto (a questão agrária brasileira) sob outro aspecto, surge

o discurso da agricultura tomada em bloco, tenta-se colocá-la em contraste a outros

setores econômicos, como a indústria. Sob este aspecto a análise do problema

deriva para questões relativas ao aparelhamento técnico, comercial e financeiro das

atividades agrárias, relegando-se a um plano secundário, as condições de vida da

população rural e a maneira com que é dado à grande maioria dessa população

utilizar a terra.

17

Com base em Prado Júnior, 1979, o que se entende e deve entender por

reforma agrária nas atuais circunstâncias do Brasil, é a elevação dos padrões de

vida da população rural, sua integração em condições humanas de vida, o que está

longe de acontecer no país. A grande maioria da população que vive no campo e

tiram seu sustento do trabalho da terra, se encontra em nível de miserabilidade

extremo. Segundo o autor, este certamente é o grande e fundamental problema

nacional brasileiro, de cuja solução depende o desenvolvimento e progresso real de

nosso país em qualquer outro setor. Não é possível construir um país moderno e

integrado nos padrões econômicos e culturais do mundo em que vivemos, sobre a

base precária e de todo insuficiente de um contingente humano como este que

forma a grande massa da população brasileira.

O primeiro passo para mudar tal situação é a modificação das condições

reinantes no campo brasileiro e elevação dos padrões de vida humana que nele

dominam, é por este motivo que se deve centralmente objetivar a reforma agrária.

Caio Prado Júnior (1979), propõe dois caminhos distintos para tratar a

questão. Trata-se, de um lado, da extensão da legislação social-trabalhista para o

campo, isto é, de proporcionar ao trabalhador rural proteção legal adequada que lhe

assegure melhores condições de vida, tal como vem sendo praticado, com relação

ao trabalhador urbano da indústria e comércio. De outro lado, prevê-se a

modificação da estrutura da propriedade fundiária rural no sentido de corrigir a

extrema concentração que caracteriza essa propriedade, a fim de proporcionar aos

trabalhadores rurais maiores oportunidades de acesso à posse e utilização da terra

em proveito próprio. Isso lhes assegurará desde logo melhores condições de vida; a

uns, já que se tornarão proprietários; aos demais, porque lhes outorgará outra

alternativa, a de se empregarem a serviço alheio e aceitarem quaisquer condições

18

de trabalho que lhes sejam impostas. Na situação atual de grande concentração da

propriedade rural e inexistência de terras aproveitáveis acessíveis à grande maioria

e quase totalidade da população trabalhadora rural, não existe para essa população

outra perspectiva de trabalho e ocupação que aceitar aquelas condições

desfavoráveis de trabalho e emprego e se sujeitarem à exploração que caracteriza

as relações de trabalho no campo. Neste sentido, a alternativa de trabalho por conta

própria em terra própria, na medida em que efetivamente se verificar e propuser à

livre escolha do trabalhador rural, contribuirá evidentemente para a melhoria das

condições de vida do trabalhador.

1.2 BREVE HISTÓRICO DA REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL

No Brasil, na década de 60, acumulavam-se problemas sociais no campo,

pela pressão de enormes contingentes de camponeses pobres, e continuava

inexistindo uma política governamental comprometida (STÉDILE, 1997). Os

movimentos camponeses se fortaleceram, sob a influência de organizações políticas

e partidárias, consolidaram suas propostas e exigências de uma reforma agrária

imediata.

É nesse cenário que o debate sobre o modelo de desenvolvimento para o

campo foi retomado a partir da compreensão de que ele envolve um conjunto de

políticas necessárias para reverter um quadro de degradação social, econômica e

ambiental. Os trabalhadores rurais e suas organizações passaram a ter uma

participação crescente na discussão e construção de políticas públicas. Essa

novidade surgiu também como resposta a um outro efeito negativo do atual modelo

19

de globalização, o déficit democrático e a destruição dos espaços de diálogo e

discussão.

Neste contexto, em 1962, foi criada a Superintendência de Política Agrária –

SUPRA. Em 1963, foi aprovado e sancionado o Estatuto do Trabalhador Rural, que

inseria o trabalho no campo dentro da legislação trabalhista. No início de 1964, o

governo federal tomou uma série de providências com vistas a efetivar a

desapropriação de terras, além de propor mudanças na Constituição para permitir a

reforma agrária (GOMES DA SILVA, citado por SPAROVEK, 2003).

Com o golpe de Estado ocorrido em 31 de março de 1964, o governo

passou a ter liderança militar. Devido ao intenso debate sobre o tema e ao

comprometimento de outros países latino-americanos com a realização da reforma

agrária, firmado através da Carta de Punta del Este, o novo governo incluiu-a como

uma de suas prioridades. Foi elaborada e aprovada a Emenda Constitucional, de 10

de novembro de 1964, que permitia à União promover a desapropriação por

interesse social, mediante pagamento de prévia e justa indenização em títulos

especiais da dívida pública. Em 30 de novembro de 1964, foi sancionada a Lei

4.504, que dispõe sobre o Estatuto da Terra. Ao mesmo tempo, foram criados o

Instituto Brasileiro de Reforma Agrária – IBRA e o Instituto Nacional de

Desenvolvimento Agrário – INDA. O Brasil passou, com isso, a dispor de aparato

jurídico e institucional que permitiria iniciar um programa nacional de reforma agrária

(GOMES DA SILVA, citado por SPAROVEK, 2003).

As primeiras iniciativas do IBRA foram direcionadas ao levantamento de

dados, zoneamento, cadastro e tributação, áreas de atuação consideradas

prioritárias, em contraposição à desapropriação por interesse social. Mais tarde, em

1967, o IBRA passou a priorizar a colonização e a expansão da fronteira agrícola,

20

relegando a desapropriação para fins de reforma agrária para um segundo plano.

Essas distorções quanto ao direcionamento das prioridades do IBRA foram

apontadas por grupos de avaliação, incluindo a FAO, que na época propôs medidas

para o início de um efetivo programa de reforma agrária no Brasil.

Em 1970, foram extintos o IBRA e o INDA e foi criado o Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária – INCRA, este de acordo com seu Regimento

Interno, 2006, é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento

Agrário, criada pelo Decreto-Lei Nº 1.110, de 09 de julho de 1970, dotada de

personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira,

com sede e foro em Brasília-Distrito Federal- e jurisdição em todo o território

nacional, tem como finalidade:

I-Promover e executar a reforma agrária visando a melhor distribuição da terra,

mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos

princípios de justiça social ; dentre outros.

No que se refere ao desenvolvimento dos projetos de assentamento de reforma

agrária, cabe ao INCRA:

a) Garantir às famílias assentadas o acesso aos créditos, serviços de infra-

estrutrura básica;

b) Promover a integração de políticas públicas para o desenvolvimento

sustentável dos projetos de assentamento, objetivando a consolidação do

Programa de Reforma Agrária;

c) Proporcionar a educação formal em todos os níveis, ensino básico,

profissionalizante de nível médio e superior, para o público da reforma

agrária, visando a promoção da igualdade no meio rural;

21

d) Promover o acompanhamento do desenvolvimento dos projetos de

colonização oficial e particular até a sua consolidação. (Regimento Interno do

INCRA, 2006).

A partir da criação do INCRA diversos programas especiais de

desenvolvimento regional foram lançados. Dentre eles, destacaram-se o Programa

de Integração Nacional – PIN e o Programa de Redistribuição de Terras e de

Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste – Proterra. O PIN teve o objetivo de

colonizar a Amazônia, a partir da rodovia Transamazônica, atraindo o povo

nordestino para aquela região. No entanto, o impacto desse programa foi muito

pequeno se comparado às metas propostas e aos recursos alocados. O Proterra

também teve pequeno alcance no que diz respeito ao número de famílias

assentadas, além do pagamento das terras ter sido feito à vista, em dinheiro,

contrariando o previsto por lei. Dentro desse cenário, em 1979, constatou-se que o

índice de Gini da distribuição de terra no Brasil havia aumentado ligeiramente

(HOFFMANN, citado por SPAROVEK, 2003).

Em virtude dos conflitos crescentes pela posse de terras na região Norte, o

governo Figueiredo criou o Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários –

MEAF e os Grupos Executivos de Terras do Araguaia/Tocantins – GETAT e do

Baixo Amazonas – GEBAM, que funcionaram paralelamente ao INCRA, e que

posteriormente foram extintos. A ênfase da ação fundiária desse governo passou a

ser a de titulação de terras. Um balanço da ação fundiária dos governos militares

(1964-1984), feito pelo INCRA, mostrou que o número de famílias assentadas em

programas de colonização (maioria) e reforma agrária (minoria) foi de 115 mil, tendo

sido desapropriados 13,5 milhões de hectares de terras e 185 imóveis (INCRA,

1995).

22

A década de 1980 é marcada pelo surgimento do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (formalmente constituído em 1984). O MST

atua até hoje através de Coordenações Estaduais e tem sido um fator constante de

pressão sobre o poder público pela reforma agrária. Outro movimento social de

destaque é a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG,

com sua capilaridade nas Federações Estaduais e nos Sindicatos de Trabalhadores

espalhados por todo o Brasil. A CONTAG organiza mobilizações anuais chamadas

de Grito da Terra Brasil e tem papel decisivo na inclusão da reforma agrária na

agenda política nacional. Além do MST e da CONTAG, diversas outras organizações

não-governamentais e setores da igreja incluem, atualmente, na sua agenda o tema

reforma agrária.

O ano de 1985 também foi marcado pelo final dos governos militares,

quando tomou posse um presidente civil, o vice-presidente José Sarney, após a

morte do presidente Tancredo Neves. José Sarney criou o Ministério da Reforma e

do Desenvolvimento Agrário – MIRAD, ao qual o INCRA passou a ser subordinado.

O INCRA elaborou o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, que previa o

assentamento de 1.400.000 famílias em cinco anos. Diante de pressões contrárias à

reforma agrária, o plano original sofreu alterações significativas, dificultando o

processo de desapropriação, como resultado, o número de beneficiários de projetos

de reforma agrária no final do governo Sarney (1990) não atingiu 10% da meta

inicial.

Nesse governo, o INCRA chegou a ser extinto (1987) e restabelecido

posteriormente (1989). Durante o governo Sarney, foi também elaborada a

Constituição de 1988, que trata da questão da desapropriação de terras para fins de

reforma agrária no capítulo III (Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária) e

23

no título VII (Ordem Econômica e Financeira). Ressalta-se que diversas disputas

judiciais da atualidade advêm do fato de a Constituição garantir a não

desapropriação da “propriedade produtiva” (inciso II, do artigo 185), sem que haja

uma definição mais clara sobre esse termo (SPAROVEK, 2003).

O governo Collor (1990-1992) extinguiu o MIRAD, e sua meta de assentar

500.000 famílias não foi atingida (o programa foi paralisado), não tendo sido feita

nenhuma desapropriação para fins de reforma agrária (AMSTDDEN, citado por

SPAROVEK). O governo seguinte, de Itamar Franco (1992-1994), resgatou a

iniciativa de desenvolver projetos de reforma agrária.

Através da promulgação do rito sumário (Lei Complementar 76), o governo

retomou o processo de desapropriação, lançando um Programa Emergencial para o

assentamento de 80.000 famílias. Nesse programa, 23.000 famílias foram atendidas,

com a implantação de 152 projetos (INCRA, 1993). Uma análise dos 30 anos de

existência do Estatuto da Terra (1964-1994) mostrou que o número de famílias

assentadas foi de 350.836, em 1.626 assentamentos, entre os de reforma agrária,

de colonizações (ambos feitos pelo governo federal) e de ações fundiárias

estaduais.

No governo Fernando Henrique Cardoso, após o massacre de Corumbiara

(RO), em agosto de 1995, e de Eldorado do Carajás (PA), em abril de 1996, foi

criado o Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA, responsável pela reforma

agrária e, posteriormente, também pela agricultura familiar. Impulsionadas pela

pressão de movimentos sociais e pela opinião pública, diversas iniciativas buscaram

a efetivação dos assentamentos. Entre elas se destacam o aumento do número de

desapropriações e a atuação através de linhas de crédito específicas, como o

24

Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária - PROCERA e o Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF.

De acordo com dados do INCRA, de 1995 a 1999 foram assentadas

372.866 famílias, tendo sido o governo brasileiro que mais investiu em projetos de

reforma agrária mundialmente (INCRA, 1999). Também nesses últimos anos, vários

estudos sobre os sistemas de produção, a qualidade de vida, os sucessos e

insucessos dos projetos de assentamentos têm sido feitos. Destaca-se também a

realização, nesse período, do I Censo da Reforma Agrária em 1996. Contrapondo

essas informações, outros estudos demonstram que mesmo com o número

significativamente maior de projetos de reforma agrária implantados, a estrutura

fundiária do Brasil, avaliada pelo o grau de desigualdade na distribuição da terra,

continua praticamente inalterada (SPAROVEK, 2003). Ou seja, o Brasil continua a

ser um país com imensa concentração de terras, e, portanto com um número

incalculável de indivíduos em situação de pobreza, especialmente na zona rural.

1.3 A REFORMA AGRÁRIA QUE SE PRETENDE

A Reforma Agrária deve combinar uma política de massiva distribuição de

terras com uma política agrícola que combata o atual modelo agrícola implantado

nas últimas décadas. A luta por este novo modelo agrícola deve corresponder com a

busca de uma alternativa viável que contemple a pequena e média propriedade, os

sem-terra e assentados e os assalariados rurais (STÉDILE, 2005).

Por outro lado, a população e a sociedade como um todo precisa se

conscientizar de que um programa de reforma agrária interessa a sociedade como

um todo, uma vez que não se trata de uma solução apenas para os problemas dos

25

sem-terra. Os reflexos seriam sentidos não só no campo, mas também nas grandes

cidades, auxiliando no equacionamento do seu crescimento desordenado,

diminuindo a competição por empregos e aumentando a oferta de produtos agrícolas

para a população urbana.

Há várias definições e reflexões sobre qual Reforma Agrária servirá aos

interesses de toda a sociedade, dentre elas:

A estratégia de Reforma Agrária no Brasil precisa enfatizar prioridades simultâneas e equivalentes às linhas de: 1) obtenção e redistribuição de terras para atendimento de demanda social por reforma agrária, segundo critérios que viabilizem ganhos de produtividade; 2) adoção de um conjunto de políticas de fomento técnico, econômico e comercial dos assentamentos já constituídos, suscetíveis de elevar a produtividade do trabalho e gerar excedentes monetários. Esta estratégia, detalhada em seqüência, criaria em médio prazo condições de igualdade de capacidades aos assentados para alcançar metas de desenvolvimento econômico com justiça social, consistentes com sustentabilidade econômica e ambiental das famílias assentadas. (SAMPAIO, 2007).

Segundo Gomes da Silva, citado por SPAROVEK, 2003, a reforma agrária é

um processo amplo e imediato de redistribuição da propriedade da terra com vistas

à transformação econômica, social e política do meio rural, com reflexos no conjunto

da sociedade. Um amplo e efetivo programa de reforma agrária, que alterasse de

fato a estrutura agrária, permitindo o acesso à terra a uma parcela significativa de

trabalhadores rurais, incorporando milhões de hectares ao processo produtivo, num

período de cinco a dez anos, potencialmente teria um impacto fortemente positivo

sobre a economia e a sociedade em seu conjunto (CAMPOS, 1994, citado por

Sparovek).

Nesse sentido, a reforma agrária deve necessariamente vir acompanhada

de uma política agrícola eficaz, incluindo tópicos como crédito rural, assistência

técnica, garantia de preços e outros similares.

26

Destacam-se de forma objetiva algumas condições fundamentais para a

realização da reforma agrária, dentre elas:

1- A reforma agrária deve ser um processo amplo, geral e massivo de redistribuição dos direitos sobre as terras e águas; deve ser amplo para poder atingir com suas metas em um curto prazo toda uma região ou todo o país; além disto, necessita ser geral para eliminar a estrutura latifundiária e desenvolver em seu lugar um plano de democratização de acesso a terra e a água, tendo por base a produção camponesa; e ser massivo afim de beneficiar a totalidade dos camponeses sem terra, dos que possuem pouca terra e dos demais trabalhadores que desejarem ter acesso a terra; 2- A reforma agrária deve ser parte de um programa de desenvolvimento agrário e de um plano geral de desenvolvimento econômico e social nos quais tenha previamente assegurada sua cota-parte no total dos investimentos programados; 3- Deve ser planejada, coordenada executada em todos os seus aspectos por um órgão ou entidade pública com poderes, prestígio político e dotada de recursos financeiros e humanos suficientes, com uma estratégia de execução participativa e descentralizada; 4- A reforma agrária deve mobilizar todas as forças políticas existentes-movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos de trabalhadores, instituições, entidades e organizações populares-que representam a massa dos camponeses e demais trabalhadores interessados, para participarem direta e intensamente da elaboração, implantação e gestão dos seus planos, programas e projetos; 5- A reforma agrária deve ser executada em cada área prioritária tendo como princípio fundamental os fatores sociais, políticos, econômicos, técnicos e institucionais específicos, garantindo-se a ação integrada de todos os órgãos e entidades públicas na área reformada; 6- A reforma agrária deve incidir preferencialmente sobre as grandes propriedades que não cumprem a função social da terra e nas quais existam condições favoráveis de exploração; 7- A reforma agrária deve limitar ao mínimo o pagamento de indenizações pela desapropriação da terra, através de uma nova conceituação do que seja valor justo; deve fixar de forma progressiva, prazos mais longos para o resgate dos títulos da dívida agrária, quanto mais baixos os índices de produtividade, e suprimir a cláusula de garantia contra eventual desvalorização da moeda; 8- A reforma agrária deve criar uma nova estrutura da propriedade fundiária, apoiada exclusivamente na pequena propriedade familiar camponesa integrada ou não em cooperativa ou outra forma associativa de produção agrícola; e em unidades de produção de camponeses baseadas no direito real de uso da terra de propriedade da União, face à existência da empresa agrícola capitalista (pequena, média ou grande) assim qualificada segundo o grau de utilização dos recursos da terra, o uso da tecnologia moderna, o capital investido por unidade de área, e do emprego de mão-de-obra assalariada; 9- A reforma agrária deve modificar as relações de trabalho existentes no campo, de sorte à assegurar mais justa distribuição de renda agrícola; cumprimento integral da legislação pertinente e defesa dos direitos e garantias do trabalhador assalariado;

27

10- A reforma agrária deve adotar um sistema econômico de investimento que priorize a utilização dos camponeses e demais trabalhadores beneficiários da mesma;

11- A reforma agrária deve conservar e ampliar as áreas de proteção ambiental, bem como desenvolver uma agricultura saudável que não comprometa o uso sustentável dos recursos naturais. (ACCIOLY BORGES, citado por OLIVEIRA, 2007)

1.4 O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DO CAMPO NO SUDESTE DO PARÁ

A imigração de contingentes populacionais para a Amazônia se constituiu

num fenômeno de longa data. Desde o período colonial, a riqueza da região exigia

da Coroa Portuguesa medidas para a proteção das fronteiras e expansão de áreas

com população permanente (ALMEIDA, citado por ASSIS, 2008). Povos de diversos

países aqui vieram em busca de especiarias, chamadas também de „drogas do

sertão‟, tornando o extrativismo vegetal um dos primeiros itens da pauta de

exportação da Amazônia, seja de acordo com as regras do comércio da época, seja

de forma clandestina.

A partir dos anos 60, a ideologia militar desenvolvimentista com o propósito

de romper com o “atraso” da região, e expandir a fronteira do capital, cria um

conjunto de instrumentos com o objetivo de promover mudanças radicais na lógica

de ocupação e uso do espaço amazônico.

A construção de infra-estruturas como rodovias, ferrovias, a Usina

Hidrelétrica de Tucuruí e a implantação do Programa Grande Carajás são

componentes centrais de uma política que incentivou à migração massiva para a

região (Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Pará, 2006). Essa

mesma política concedeu incentivos fiscais para grupos empresariais, instituindo

outras formas de apropriação da terra, com privilégios para grupos empresariais,

28

bancos, fazendas, madeireiras, mineradoras e outras. Com isso, o governo militar

privilegiou esses setores em detrimento de uma massa de migrantes sem terra,

duplamente desterritorializados: de suas regiões de origem e do direito à terra no

novo lugar. O efeito foi um quadro de grande concentração fundiária por setores

privilegiados econômica e politicamente.

O loteamento ao longo da transamazônica não foi suficiente tendo em vista o

grande contingente populacional vindo de todas as regiões do país. Na década de

80 houve um novo “boom” da migração com a descoberta da Serra Pelada. As

décadas de 70 e 80 refletem momentos de explosão de conflitos no campo na

disputa pela terra. Os camponeses se organizam e se articulam, passam a fazer

ocupações de castanhais e de fazendas, formam sindicatos na região e recebem o

apoio de várias entidades recém instaladas na região como CPT (Comissão Pastoral

da Terra), SDDH (Secretaria de Direitos Humanos), setores da Igreja Católica,

dentre outros.

Tem-se neste período um forte processo de territorialização da luta pela

terra, e ao mesmo tempo conquistas significativas como fruto da forte pressão dos

movimentos sociais: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST,

Federação dos Trabalhadores em Agricultura-FETAGRI, e os Sindicatos de

Trabalhadores Rurais da Região. Na década de 90 há um súbito crescimento das

ocupações, e da criação de assentamentos, justamente num momento da forte

organização camponesa na região, organização do MST na região, com a instalação

de uma secretaria em Marabá no início dos anos 90 e a fundação da FETAGRI

Regional Sudeste em 1996. Soma-se a isso, a tragédia da “Curva do S”, na qual

foram mortos vários trabalhadores rurais acampados na rodovia que liga Marabá à

Mina de Ferro, explorada pela Companhia Vale do Rio Doce. Eram famílias de

29

trabalhadores rurais que lutavam pelo direito à terra. O episódio aconteceu no dia 17

de abril de 1996, na gestão do governo Almir Gabriel, e ficara conhecido,

internacionalmente, como “a chacina de Eldorado do Carajás”, a maior chacina de

trabalhadores rurais já ocorrida. Nesse momento o país é chamado a repensar o

tratamento dado ao campo, e as instituições oficiais são forçadas a regularizar as

terras já ocupadas pela massa de agricultores e agricultoras distribuídas por toda

região (PTDSP, 2006).

A massa dos camponeses residentes no sudeste do Pará é na sua grande

maioria migrante de várias regiões do país, principalmente do nordeste brasileiro,

com destaque para o estado do Maranhão. Estudos constantes no Plano Territorial

de Desenvolvimento Rural Sustentável bem como no trabalho de Assis, 2008,

levantaram diversas hipóteses sobre as motivações que levavam os nordestinos a

se disporem a participar do empreendimento de colonização proposto pelos

governos da Amazônia e, em especial, do Pará. Uma dessas hipóteses foi que, em

diferentes períodos, a estiagem castigava o Nordeste. Outra hipótese dizia respeito

à possibilidade de que os núcleos coloniais no estado do Pará serviam apenas como

“degraus” para se alcançar os seringais (SANTOS, citado por Assis, 2008). Os

seringais representavam no imaginário de muitos nordestinos, a verdadeira

possibilidade de libertação de situações de extrema dificuldade em que viviam, seja

pelas intempéries da natureza, a estiagem, seja pela mão dos “coronéis”, a

subjugação pelo trabalho e pelo desapossamento da terra.

Portanto, a mola propulsora do deslocamento de nordestinos para a

Amazônia não era só a iniciativa governamental, por meio de seus diferentes

programas. A imagem formada de uma região rica e cheia de fartura, em contraste

com a situação desesperadora gerada pelas sucessivas estiagens e a subjugação,

30

movia indivíduos e grupos obstinados a transformar suas vidas, mesmo que a

centenas de quilômetros dos familiares.

A história da Amazônia é marcada por correntes migratórias, segundo a

dinâmica econômica do momento.

O sul e sudeste do estado do Pará se integraram à dinâmica dos fluxos

migratórios mais intensos a partir do momento em que se especulava sobre a

possibilidade de ocorrência de pastagens naturais de excelente qualidade na região

do Araguaia e se descobriu a planta produtora de látex de alto valor para a indústria

da época (VELHO e SANTOS, citado por ASSIS, 2008).

A região tinha uma baixa densidade populacional e diferentes grupos

indígenas compunham a maioria da população regional. A presença do Estado na

região era débil devido às dificuldades de acesso a partir da capital (Belém). A

malha hidrográfica, formada a partir dos rios Araguaia e Tocantins e seus afluentes

facilitou, na virada do século, a ocupação da região por populações não indígenas. A

descoberta da planta produtora do látex nos vales dos rios Araguaia, Tocantins e

Xingu estimulou o deslocamento de populações do Nordeste do país para as regiões

sul e sudeste do Pará, e sua exploração possibilitou a implantação de um complexo

sistema de infra-estrutura com a construção de estradas para o tráfego de tropas de

animais, de barracões de venda e revenda e de portos rústicos para atracação de

barcos de diferentes calados.

Simultaneamente ao fim da exploração de látex, deu-se início à exploração

comercial da castanha. Antes de ganhar importância internacional, o uso desse

produto já era bastante difundido em toda a Amazônia, seja na alimentação, na

fabricação de cosméticos ou na iluminação nas áreas rurais e urbanas. Extrapolando

seu uso local, a castanha passou a ser exportada para a Europa e Estados Unidos

31

ainda no final do século XIX e início do XX e desempenhou papel fundamental na

economia do Pará, em particular da região de Marabá, a partir do colapso da

exportação da borracha. Devido à sua sazonalidade, sempre conviveu com a

exploração e/ou produção de outros produtos. À medida que a safra da castanha

terminava, uma parte da população envolvida se dedicava às atividades secundárias

como a garimpagem.

Assim, as diversas fases do extrativismo na Amazônia se encarregaram de

tecer fluxos de migrantes para a coleta das chamadas drogas do sertão: borracha,

castanha do Pará, diamante, ouro e mais recentemente ferro e madeira. Esses

fluxos se intensificaram a partir da década de 50, com a abertura de eixos

rodoviários como a Belém-Brasília e a Cuiabá-Santarém e nos anos 70, com a

Transamazônica. No início dos anos 60 a Superintendência para Valorização

Econômica da Amazônia estimava dois milhões de migrantes ao longo da

Transamazônica, e cidades como Marabá, Gurupi e Araguaína mostravam

crescimento populacional de cerca de 200% (PTDSP, 2006).

Neste sentido, essa região, particularmente, o sudeste do Pará, torna-se

uma região alvo daqueles que sonham ter um pedaço de terra para dela retirar o

sustento da família. Desta forma, esse território tornou-se uma das mais conhecidas

fronteiras agrícolas da Amazônia, especialmente pelo forte impacto social, cultural e

ambiental aqui gerado. A ocorrência de inúmeros conflitos pela posse da terra, com

assassinatos, chacinas, torturas, prisões e perseguições a posseiros, foi reflexo da

forma como essa região foi exposta a homens e mulheres com condições e

perspectivas de vida diferentes, pertencentes a setores sociais antagônicos. O

marco histórico do movimento migratório são as décadas de 60 e 70, momento da

ocupação desordenada, marcado por mudanças significativas na estrutura

32

econômica, política, social e cultural que ocorriam no país. A propaganda enganosa,

somada a necessidades como: emprego, terra e melhores condições de vida de

milhares de famílias brasileiras de regiões carentes, se encarregaram de tecer a

rede migratória para as matas amazônicas.

1.5 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

A fim de se compreender os objetivos do Programa de ATES faz-se

necessária uma contextualização acerca do desenvolvimento rural sustentável.

Inicialmente há de se destacar que o desenvolvimento sustentável diz respeito a

uma sociedade ser capaz de manter, no médio e longo prazo, um círculo

considerável de crescimento econômico e um padrão de vida adequado. Não se

trata de abolir os ciclos econômicos com suas flutuações, mas de manter

expectativas, com realizações, de melhoria contínua do padrão de vida, a despeito

das flutuações setoriais e crises econômicas localizadas. Neste sentido, a

sustentabilidade é uma questão multidimensional e intertemporal.

Segundo a Unesco (citado por Becker, 2002), o desenvolvimento

sustentável é definido como aquele que permite responder às necessidades

presentes sem comprometer a capacidade das futuras gerações em responder às

suas próprias necessidades.

O desenvolvimento sustentável de uma determinada microrregião pode ser

entendido como um conjunto de referência conceitual orientador de estratégias,

políticas e programas de desenvolvimento rural nacional, o qual serve de

fundamento no trato para alcançar mudanças nas causas estruturais e funcionais

dos desequilíbrios espaciais e socioeconômicos, como para corrigir algumas

33

tendências indesejáveis e promover a transformação do meio rural com uma

perspectiva de longo prazo (SEPÚLVEDA, 2002). Todo esse processo precisa estar

vinculado ao contexto de estratégias nacionais de desenvolvimento e com as

devidas vinculações ao comércio nacional e internacional.

A busca de um novo modelo de desenvolvimento implica a conceituação de

agricultura sustentável. A nível geral, o conceito de sustentabilidade significa uma

reorganização das relações essenciais da sociedade e uma redefinição das ações

dos governos, das empresas e das instituições de pesquisa e ensino (BECKER,

2002). Faz-se necessário haver uma conciliação entre aspectos econômicos e

sociais com as características biofísicas dos recursos naturais e à própria

capacidade dos distintos ecossistemas em responder à demanda das sociedades

humanas.

Existem várias definições sobre o desenvolvimento sustentável, no entanto,

para Veiga (citado por BECKER, 2002), a maior parte das definições coincidem nos

seguintes elementos: manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da

produtividade agrícola; minimizar os impactos adversos ao meio ambiente; retorno

econômico adequado aos produtores; otimização da produção com um mínimo de

insumos externos; satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda e

atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais.

Podemos destacar que neste contexto há uma preocupação tanto pela

conservação dos recursos naturais como solução dos problemas sociais. Altiere

(citado por BECKER, 2002), afirma que o desenvolvimento sustentável deverá

garantir a igualdade social, para isso os mecanismos políticos deverão incentivar a

substituição de capital por mão-de-obra, reduzir os níveis de mecanização e o

34

tamanho das propriedades, diversificar a produção agrícola e dar ênfase à

participação dos produtores no processo de desenvolvimento.

O tratamento multidimensional do desenvolvimento sustentável é apenas o

reflexo da complexa realidade do sistema nacional e de cada um daqueles

componentes que se buscam modificar para transformar o meio rural (SEPÚLVEDA,

2002). Não obstante, constata-se que cada dimensão possui suas características

próprias, e por sua vez, está condicionada e condiciona as demais dimensões.

Conceitualmente se concebem quatro dimensões (político-institucional, econômica,

social e ambiental) do desenvolvimento sustentável.

A dimensão social não está somente relacionada à distribuição espacial, de

gênero e etária da população, mas se relaciona, de maneira especial, ao conjunto de

relações sociais e econômicas que se estabelecem em qualquer sociedade e cuja

fundamentação é tão variada como a religião, a ética e a própria cultura. Neste

sentido, essas relações que fundamentam o grau de acesso às diferentes formas do

processo político regional e local.

Sepúlveda, 2002, coloca que essa dimensão destaca a população como

referencial obrigatório. Agrega atores do desenvolvimento, com ênfase, em primeiro

plano, às diversas formas de organização e de participação nos processos de

tomada de decisões e à organização dos diversos grupos de interesses, formados

em torno das necessidades percebidas em comum. Em segundo plano, ao tipo e

força das interações ente a sociedade civil e os governos locais e regionais, assim

como em outras instâncias institucionais do setor público. Destaca-se que esse

elemento de análise tem como fundamento o princípio de que a população deve

comandar seu próprio processo de desenvolvimento, retomando a diversidade

inerente aos grupos humanos como um potencial que não impede satisfazer a

35

necessidade do bem-estar comum. Neste sentido, as diferenças de gênero, de

idade, bem como a diversidade étnica, devem ser vistas como atributos ou recursos

socioculturais que pedem formas específicas de tecido social para o bem comum.

Para garantir o funcionamento das sociedades nacionais foram

estabelecidos diversos arranjos institucionais e políticos, cujo objetivo é normatizar e

orientar suas atividades e relações – dimensão político-institucional. Essa dimensão

necessita de particular interesse no processo de democratização e participação

cidadã. De fato, o princípio que a sustenta é que democracia viabiliza a reorientação

do caminho do desenvolvimento e, portanto, o redirecionamento de recursos para

diferentes atividades e grupos sociais.

A dimensão político-institucional considera a estrutura e o funcionamento do

sistema político no âmbito nacional, regional ou local. Assim também é o nicho onde

se negociam posições e se tomam decisões sobre o rumo que se deseja dar ao

processo de desenvolvimento econômico. Por outro lado, conforme Sepúlveda,

2002, se concretiza em um sistema institucional público que responde às

características do caminho de desenvolvimento escolhido. Portanto, nessa dimensão

se definem os grupos e os papéis hegemônicos dos atores que representam os

diversos grupos de interesses e se explicitam os diversos tipos de equilíbrios

políticos por meio do processo de negociação.

No que diz respeito à dimensão econômica, esta se relaciona com a

capacidade produtiva e com o potencial econômico das regiões e das microrregiões,

visualizada a partir de uma perspectiva multissetorial que envolve as interfaces das

atividades intermediárias que se relacionam com o processamento de produtos

vinculados a determinadas cadeias agroalimentares e, portanto, inclui atividades

produtivas primárias e secundárias de diversos setores da economia.

36

Um ponto importante da dimensão econômica refere-se às relações

econômicas e produtivas geradas nos mercados de cada unidade territorial e em

outros localizados em diferentes unidades, mas devido à sua dimensão e presença,

induzem transformações e modificam as tendências produtivas tradicionais na

microrregião. A globalização trouxe parâmetros transnacionais de qualidade de

produtos, notadamente os que se referem à gestão ambiental da produção, e,

consequentemente, o fortalecimento ao direito dos consumidores de adquirirem

produtos ambientalmente livres de agroquímicos.

Todas essas atividades produtivas utilizam energia e recursos naturais

renováveis e não renováveis como insumos básicos e geram bens de consumo e/ou

produtos primários. Por sua vez, na maioria dos casos, ocasionam externalidades

ambientais negativas: a exemplo de efluentes contaminados, erosão,

desmatamento, entre outras – trata-se da dimensão ambiental. Conforme

Sepúlveda, 2002, essa dimensão surge da hipótese de que o futuro depende da

capacidade que tenham os atores institucionais e os agentes econômicos para

conhecer e manejar de maneira integral, segundo uma perspectiva de longo prazo,

seu acervo de recursos naturais renováveis e seu meio ambiente. Dispensa especial

atenção à flora e à fauna como base da biodiversidade e, em especial, aos recursos

naturais renováveis como o solo, a água e a cobertura vegetal.

Nesta perspectiva, qualquer atividade que se promova deve adequar-se a

um conjunto de parâmetros que assegurem o manejo racional e integral do estoque

de recursos naturais e do meio ambiente. Essa visão adquire um especial alcance,

visto que a unidade territorial de ação de desenvolvimento sustentável está

particularmente condicionada por sua base de recursos naturais. Assim, a dimensão

ambiental se relaciona principalmente com o potencial produtivo de zonas

37

agroecológicas e com os conflitos que surgem entre o potencial de uso de seus

recursos naturais e de seu uso efetivo.

Neste contexto de busca de um desenvolvimento rural sustentável encontra-

se o Programa o qual será o objeto de estudo da atual pesquisa – Programa de

Assessoria Técnica, Social e Ambiental, este foi criado em 2003 com o objetivo de

assessorar técnica, social e ambientalmente as famílias assentadas, nos Projetos de

Assentamento da Reforma Agrária, criados ou reconhecidos pelo INCRA, tornando-

os unidades de produção estruturadas, com segurança alimentar garantida,

inseridos de forma competitiva no processo de produção, voltados ao mercado e

integradas à dinâmica do desenvolvimento municipal, regional e territorial, de forma

ambientalmente sustentável (MANUAL DE ATES, 2008).

38

2. CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL - ATES

2.1 ANTECEDENTES DO PROGRAMA DE ATES

O Programa de ATES foi criado com base na Política Nacional de

Assistência Técnica e Extensão Rural– PNATER, uma vez que a Constituição

Federal de 1988 e a Lei Agrícola(1991) determinam que a União mantenha serviços

de Assistência Técnica pública e gratuita para os pequenos agricultores. Os

Serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER foram iniciados no país no

final da década de quarenta, no contexto da política desenvolvimentista do pós-

guerra, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população

rural e apoiar o processo de modernização da agricultura, inserindo-se nas

estratégias voltadas à política de industrialização do país.

A partir dos anos 1950, quando se consolida a produção de bens de capital

no Brasil, a extensão rural passa a se implantar no país assumindo para si a tarefa

de “educar o homem do campo para tirá-lo do atraso”. Neste período, tinha início o

processo de industrialização da agricultura e não podia o desenvolvimento deste

setor prescindir de políticas e instrumentos capazes de assegurar o consumo

crescente de bens industriais orientados para a produção agrícola. Era preciso que o

Estado atuasse no sentido do modelo urbano-industrial em andamento, devendo

assegurar a educação para o homem rural, a fim de que este passasse a aceitar as

mudanças que o modelo impunha. Desde então, o extensionista tenta se adaptar ao

grande processo de mudança das forças produtivas e relações de produção

inerentes ao modo de produção predominante e motriz do modelo de

desenvolvimento (CAPORAL e COSTABEBER, 2007).

39

A contribuição da extensão rural neste período é expressiva, trabalhando na

interiorização e difusão das novas tecnologias agrícolas, os extensionistas viram o

campo mostrar um crescimento significativo no consumo de bens industriais. No

entanto, a extensão rural neste período conclui que o trabalho com pequenos

agricultores não gera os resultados esperados e recomenda o trabalho com médios

e grandes produtores, com aqueles que estejam aptos a adotar as tecnologias

modernas.

A partir de 1965, soma-se à extensão rural mais um elemento de política

pública, o crédito rural subsidiado, a extensão rural aparelhada com o crédito à

atividade agropecuária, continuou privilegiando médios e grandes produtores.

O fato é que a partir dos anos 80, o sistema de extensão rural adotado

começa a dar sinais de estagnação, trabalhando a partir de uma compreensão

equivocada, a extensão não se deu conta de que contribuiu para o agravamento dos

danos ambientais e para o acelerado processo de diferenciação social na

agricultura.

Neste sentido, o intenso processo modernizador da agricultura brasileira

acarretou impactos ambientais e transformações sociais em magnitudes tão amplas

que, por si só, justificam a revisão de todo o modelo de desenvolvimento imposto ao

setor agrícola (CAPORAL e COSTABEBER, 2007). A literatura a respeito do tema

indica que novos rumos devem ser tomados em busca de um desenvolvimento rural

equilibrado e sustentável no médio e longo prazos.

Os aparatos públicos de Ater se propõem a transformar sua prática

convencional e introduzir outras mudanças institucionais, frente aos desafios

impostos pela necessidade de implementar estratégias de produção agropecuária

que sejam compatíveis com os ideais do desenvolvimento sustentável (PNATER,

40

2003). As crises econômicas e socioambiental, geradas pelos estilos convencionais

de desenvolvimento, recomendam uma clara ruptura com o modelo extensionista

baseado nos tradicionais pacotes da “Revolução Verde”, substituindo-os por novos

enfoques metodológicos e outro paradigma tecnológico, que sirvam como base para

que a extensão rural pública possa alcançar novos objetivos.

Segundo Caporal e Costabeber (2007), duas referências precisam ser

tomadas para se propor uma nova extensão rural. A primeira diz respeito à crise do

modelo de desenvolvimento imposto ao setor rural, cujo desempenho prático

mostrou-se frágil diante da realidade, excludente e concentrador de renda e da terra,

além de ter sido responsável por uma crescente degradação ambiental. A segunda

referência é quanto a própria extensão rural, esta se tornou insuficiente diante do

quadro econômico-social dele conseqüente. A reafirmação do modelo de

desenvolvimento imposto ao setor rural tende a agudizar a crise social. Neste

sentido, um novo paradigma de desenvolvimento deve ser pensado e debatido com

a sociedade, um paradigma que resgate a dívida social que se tem com a população

brasileira, que para ser alcançado depende de uma nova visão política, na qual a

transparência e a participação popular sejam efetivadas.

A extensão rural pode vir a ser um dos instrumentos para a construção deste

novo paradigma, capaz de abrir espaços para a construção/reconstrução da

cidadania da maioria do povo brasileiro. As entidades de extensão rural e

assistência técnica da esfera pública ocupam hoje posição de destaque entre as

instituições do Estado, que por sua disciplina, pelo esforço de seus técnicos, pelo

empenho no sentido de bem gerir os recursos públicos, pela transparência, e pela

abertura que tem se operado nos últimos anos frente às demandas dos movimentos

sociais (CAPORAL e COSTABEBER, 2007).

41

Autores como Graziano Neto, Caporal e Costabeber discutem o fato dos

tradicionais “métodos de extensão” desenvolvidos para dar conta dos processos que

levam à adoção de tecnologias que, em geral, caracterizam-se por colocar o

extensionista numa posição de dominador e os agricultores numa posição de

dominados, deverão dar lugar a uma nova postura metodológica. A nova extensão

rural para dar conta dos desafios postos pela realidade precisa abrir-se à

interferência do seu público, voltar-se para as suas demandas objetivas, reconstruir-

se como instrumento das classes subordinadas. O extensionista deverá passar a

entender o público como sujeito da história, respeitando e potencializando sua

cultura e seus conhecimentos, favorecendo a ação participativa do grupo familiar e

da comunidade, em detrimento ao paternalismo e as soluções prontas. A nova

extensão rural precisará fortalecer estratégias de valorização e uso adequado dos

recursos naturais disponíveis e do potencial humano envolvido, de maneira a

favorecer soluções endógenas mais adequadas, de menor custo e sustentáveis do

ponto de vista econômico e ambiental. Metodologias capazes de assegurar a

participação e a ação organizada das famílias rurais, que permitam melhor

compreensão das causas dos problemas, o entendimento das conseqüências destas

no processo de desenvolvimento, bem como a possibilidade dialética de partir do

concreto para o abstrato, voltando à prática e à reflexão, deverão ser os

instrumentos que darão o formato para a atuação extensionista.

Com base na PNATER (2003), o desenvolvimento sustentável almejado pelo

país, supõe o estabelecimento de estilos de agricultura, extrativismo e pesca

igualmente sustentáveis, que não podem ser alcançados unicamente por meio da

transferência de tecnologias. É certo que a transição agroecológica, indica a

necessidade de resgate e construção de conhecimentos sobre distintos

42

agroecossistemas e variedades de sistemas culturais e condições socioeconômicas.

Isto implica que a Ater, como um dos instrumentos de apoio ao desenvolvimento

rural, adote uma missão, objetivos, estratégias, metodologias e práticas compatíveis

com os requisitos deste novo processo.

Neste sentido, conforme a PNATER, 2003, pg.6:

Os serviços públicos de Ater (realizados por entidades estatais e não estatais) devem ser executados mediante o uso de metodologias participativas, devendo seus agentes desempenhar um papel educativo, atuando como animadores e facilitadores de processos de desenvolvimento rural sustentável. Ao mesmo tempo, as ações devem privilegiar o potencial endógeno das comunidades e territórios, resgatar e interagir com os conhecimentos dos agricultores familiares e demais povos que vivem e trabalham no campo em regime de economia familiar, e estimular o uso sustentável dos recursos locais. Ao contrário da prática extensionista convencional, estruturada para transferir pacotes tecnológicos, a nova Ater pública deve atuar partindo do conhecimento e análise dos agroecossistemas aquáticos, adotando um enfoque holístico e integrador de estratégias de desenvolvimento, além de uma abordagem sistêmica capaz de privilegiar a busca de equidade e inclusão social, bem como a adoção de bases tecnológicas que aproximem os processos produtivos das dinâmicas ecológicas.

Neste sentido, princípios agroecológicos devem embasar as ações na nova

extensão rural proposta. Com base em Caporal e Costabeber (2007), o paradigma

agroecológico surge como um enfoque de intervenção inovador e multidisciplinar e

vem sendo construído a partir de uma clara e cientificamente comprovada crise no

atual modelo tecnológico e de organização da produção dominante na agricultura. A

agroecologia – entendida como campo de conhecimento e de investigação – oferece

ferramentas importantes para subsidiar a intervenção da nova extensão rural em

suas estratégias de promoção do desenvolvimento rural sustentável.

Conceituar a agroecologia pressupõe, inicialmente, vincular seus interesses

e suas pretensões no campo da agricultura e da sociedade. Sob uma perspectiva

mais superficial, a agroecologia geralmente incorpora idéias ambientais e de

43

sentimento social a respeito da agricultura. Por outro lado, sob um ponto de vista

mais restrito, a agroecologia se refere ao estudo de fenômenos puramente

ecológicos que ocorrem no âmbito dos cultivos, o que traduz o enorme potencial de

aplicação deste campo de conhecimento para resolver questões tecnológicas na

agricultura, favorecendo assim o desenho e a gestão de agroecossistemas

sustentáveis.

Podemos dizer que a agroecologia se aproxima ao estudo da agricultura numa perspectiva ecológica, embora sua estrutura teórica não se limite a abordar os aspectos meramente ecológicos ou agronômicos da produção, uma vez que sua preocupação fundamental está orientada a compreender os processos produtivos de uma maneira mais ampla. Isto é, encara os agroecossistemas como uma unidade fundamental de estudo, onde os ciclos minerais, as transformações energéticas, os processos biológicos e as relações sócio-econômicas são investigadas e analisadas em seu conjunto. Dito de outra forma, a pesquisa agroecológica preocupa-se não com a maximização da produção de uma atividade em particular, mas sim com a otimização do agroecossistema como um todo, o que implica uma maior ênfase no conhecimento, na análise e na interpretação das complexas interações existentes entre as pessoas, os cultivos, os solos e os animais (Altiere, citado por CAPORAL e COSTABEBER, 2007, pg. 88).

Neste sentido, a extensão rural agroecológica poderia ser assim definida,

com base no conceito de Caporal e Costabeber, 2007, pg.64:

Um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de investigação-ação participante, que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os leve a incidir conscientemente sobre a realidade, com o objetivo de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente equitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da agroecologia com critério para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas implicadas em seu manejo.

Tal definição também serviu de base para definir os princípios do programa

de ATES do INCRA.

44

A construção do desenvolvimento rural sustentável, a partir de princípios da

agroecologia, deve assentar-se na busca de contextos de sustentabilidade

crescente, alicerçados em algumas dimensões básicas. As estratégias orientadas à

promoção da agricultura e do desenvolvimento rural sustentáveis devem ter em

conta seis dimensões relacionadas entre si, são elas: ecológica, econômica, social,

cultural, política e ética.

DIMENSÃO ECOLÓGICA

A manutenção e recuperação da base de recursos naturais – sobre o qual se

sustentam e estruturam a vida e a reprodução das comunidades humanas e demais

seres vivos – constitui um aspecto central para atingir-se patamares crescentes de

sustentabilidade em qualquer agroecossistema. Segundo Caporal e Costabeber

(2007), não importa quais sejam as estratégias para a intervenção técnica e

planejamento do uso dos recursos, mas importa ter em mente a necessidade de

uma abordagem holística e um enfoque sistêmico, dando um tratamento integral a

todos os elementos do agroecossistema que venham a ser impactados pela ação

humana.

Alguns aspectos relacionados à dimensão ecológica podem ajudar na

definição de indicadores, dentre eles: conservação e melhoria das condições físicas,

químicas e biológicas do solo; utilização e reciclagem de nutrientes; incremento da

biodiversidade funcional; redução do uso de recursos naturais não renováveis;

proteção dos mananciais e da qualidade da água; redução das contaminações por

agrotóxicos; preservação e recuperação da paisagem natural.

45

DIMENSÃO SOCIAL

A dimensão social representa um dos pilares básicos da sustentabilidade,

uma vez que a preservação ambiental e a conservação dos recursos naturais

somente adquirem significado e relevância quando o produto gerado nos

agroecossistemas, em bases renováveis, também possa ser equitativamente

apropriado e usufruído pelos diversos segmentos da sociedade. Esta dimensão

inclui, ainda, a busca contínua de melhores níveis de qualidade de vida mediante a

produção e o consumo de alimentos com qualidade biológica superior, o que

comporta, por exemplo, a eliminação do uso de insumos tóxicos no processo

produtivo mediante novas combinações tecnológicas, ou ainda através de opções

sociais de natureza ética e moral.

Alguns aspectos indicativos de êxito ou de fracasso das estratégias

orientadas pela dimensão social podem ser: produção de subsistência (quali-

quantitativa) nas comunidades rurais; auto-abastecimento local e regional; qualidade

de vida da população rural; acesso à educação; acesso à serviços de saúde e

previdência social; auto-estima das famílias rurais; adesão à formas de ação coletiva

baseadas em processos participativos.

DIMENSÃO ECONÔMICA

Estudos realizados ao longo dos anos, segundo Caporal e Costabeber

(2007), têm demonstrado que os resultados econômicos obtidos pelos agricultores

são elementos-chave para fortalecer estratégias de desenvolvimento rural

sustentável. Não se trata somente de buscar aumentos de produção e produtividade

de cultivos e criações a qualquer custo, pois eles podem ocasionar reduções de

renda e dependências crescentes em relação a fatores externos, além de danos

ambientais que podem resultar em perdas econômicas no curto ou médio prazos.

46

Além disso, a sustentabilidade de agroecossistemas supõe a necessidade de obter-

se balanços energéticos positivos nos cultivos e criações, sendo necessário

compatibilizar a relação entre produção agropecuária e consumo de energias não

renováveis.

Caporal e Costabeber (2007) ressaltam a importância da produção de

subsistência, assim como a produção de bens de consumo em geral, que não

costumam aparecer nas medições monetárias convencionais, mas que são

importantes no processo de reprodução social e nos graus de satisfação dos

membros da família. Igualmente, a soberania e segurança alimentar de uma região

se expressam também na adoção de estratégias baseadas em circuitos curtos de

mercadorias e no abastecimento regional e microrregional, não sendo possível,

portanto, desconectar a dimensão econômica da dimensão social.

DIMENSÃO CULTURAL

Na dinâmica dos processos de manejo de agroecossistemas – considerando

a perspectiva agroecológica – deve-se considerar a necessidade de que as

intervenções respeitam a cultura local. Os saberes, os conhecimentos e os valores

locais das populações rurais precisam ser analisados, compreendidos e utilizados

como ponto de partida nos processos de desenvolvimento rural que, por sua vez,

devem espelhar a “identidade cultural” das pessoas que vivem e trabalham em um

dado agroecossistema. A agricultura, nesse sentido, precisa ser entendida como

atividade econômica e sociocultural realizada por sujeitos que se caracterizam por

uma forma particular de relacionamento com o meio ambiente. Sendo assim,

práticas culturalmente determinadas, mas que sejam agressivas ao meio ambiente,

prejudiciais ao fortalecimento das relações socias e às estratégias de ação social

coletiva, não devem ser estimuladas.

47

Seguem alguns elementos que podem ser considerados no estabelecimento

de indicadores de sustentabilidade: correspondência das técnicas agrícolas com a

cultura local; incorporação do conhecimento local nas formas de manejo; resgate e

aplicação dos saberes locais sobre a biodiversidade; resgate e respeito aos hábitos

culturais que tenham relação com etapas de processos produtivos; observação de

elementos culturais determinantes da diversificação da produção e sua relação com

segurança alimentar.

DIMENSÃO POLÍTICA

A dimensão política da sustentabilidade se relaciona com os processos

participativos e democráticos que se desenvolvem no contexto da produção agrícola

e do desenvolvimento rural, assim como com as redes de organização social e de

representações dos diversos segmentos da população rural. Sendo assim, o

desenvolvimento rural sustentável deve ser concebido a partir das concepções

culturais e políticas próprias dos grupos sociais, considerando-se suas relações de

diálogo e de integração com a sociedade maior, através de representação em

espaços comunitários ou em conselhos políticos e profissionais, numa lógica que

considera aquelas dimensões de primeiro nível como integradoras das formas de

exploração e manejo sustentável dos agroecossistemas.

Conforme Altieri, citado por Caporal e Costabeber (2007), sob a perspectiva

da produção, a sustentabilidade somente poderá ser alcançada no contexto de uma

organização social que proteja a integralidade dos recursos naturais e estimule a

interação harmônica entre os seres humanos, o agroecossistema e o ambiente,

entrando a agroecologia como suporte e com as ferramentas metodológicas

necessárias para que a participação da comunidade venha a se tornar a força

48

geradora dos objetivos e atividades dos projetos de desenvolvimento rural

sustentável.

Destacam-se aspectos que podem auxiliar no estabelecimento de

indicadores de sustentabilidade referentes à dimensão política: presença de formas

associativas e de ação coletiva; ambiente de relações sociais adequado à

participação; existência de espaços próprios à construção coletiva de alternativas de

desenvolvimento; existência de representação local em defesa de seus interesses

no âmbito da sociedade maior.

DIMENSÃO ÉTICA

A dimensão ética da sustentabilidade está diretamente relacionada com a

solidariedade intra e intergeracional e com novas responsabilidades dos indivíduos

com respeito à preservação do meio ambiente.

Conforme Caporal e Costabeber (2007), a dimensão ética exige pensar e

fazer viável a adoção de novos valores, que não necessariamente serão

homogêneos. Para os povos do norte rico, por exemplo, a ética da sustentabilidade

tem a ver com a necessidade de redução do sobre-consumo, da hiper-poluição, da

abundante produção de lixo e de todo o tipo de contaminação ambiental gerado pelo

seu estilo de vida e de reação com o meio ambiente. Para nós do sul, provavelmente

a ênfase deva ser em questões como o resgate da cidadania e da dignidade

humana, a luta contra a miséria e a fome ou a eliminação da pobreza e suas

conseqüências sobre o meio ambiente.

A ética ambiental vincula a conservação da diversidade biológica do planeta

com respeito à heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana. Ambos os

princípios se conjugam no objetivo de preservar os recursos naturais e envolver as

comunidades na gestão de seu ambiente. Assim a dimensão ética da

49

sustentabilidade requer o fortalecimento de princípios e valores que expressem a

solidariedade entre gerações atuais e a solidariedade entre as atuais e futuras

gerações.

2.2 O PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES DO INCRA

Seguindo as diretrizes da Política de ATER – Assistência Técnica e

Extensão Rural, o INCRA criou em 2003 o Programa de ATES – Assessoria Técnica,

Social e Ambiental, o qual surgiu anos após a extinção do Projeto Lumiar3, é

considerado de fundamental importância no desenvolvimento dos projetos de

assentamento, uma vez que visa colaborar com a transformação da realidade das

famílias assentadas, fortalecendo o elo entre os assentados e o meio onde estão

inseridos. Por esta razão, o trabalho da assistência técnica deve assumir como

princípios, a promoção da igualdade entre trabalhadoras e trabalhadores rurais

assentadas (os), a utilização de métodos participativos, a adoção dos conceitos da

agroecologia, cooperação e economia popular solidária, e a garantia da capacitação

continuada dos assentados.

Tem como objetivo principal, conforme Norma de Execução Nº 71, de

outubro de 2008, promover a viabilidade econômica, a segurança alimentar e

nutricional; a sustentabilidade socioambiental e a promoção da igualdade nas

relações de gênero, geração, raça e etnia nas áreas de assentamento. O Programa

de ATES tem como objetivo geral:

Prestar assessoria técnica, social e ambiental às famílias dos Projetos de Assentamento, criados ou reconhecidos pelo INCRA,

3 Lumiar foi um projeto de assistência técnica criado em 1997 para atender agricultores familiares

nas áreas de assentamentos, o Projeto foi executado entre os anos de 1997 a 2000.

50

tornando-os unidades de produção estruturadas, com segurança alimentar e nutricional, inseridas no processo de produção, voltadas para o desenvolvimento rural sustentável e solidário. (MANUAL DE ATES, 2008, pg.16).

A Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária – ATES,

coordenada pelo INCRA, está prevista no Plano Plurianual do Governo Federal

como uma ação orçamentária integrante do Programa de Assistência Técnica e

Extensão Rural na Agricultura Familiar, visando implantar um processo

descentralizado de apoio às famílias dos (as) agricultores (as) assentados (as) em

Projetos de Assentamento criados ou reconhecidos pela autarquia. A ATES é

executada em parceria com instituições públicas, privadas, entidades de

representação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e organizações não

governamentais ligadas à Reforma Agrária.

Metodologicamente o Programa de ATES, tem como referencial o que está

proposto na PNATER. Assim, a metodologia de ATES tem um caráter educativo,

buscando promover a geração e apropriação coletiva de conhecimentos, a

construção de processos de desenvolvimento sustentável e a adaptação de

tecnologias voltadas para a construção de agriculturas sustentáveis. Deste modo, a

intervenção dos agentes de ATES deve ocorrer de forma democrática, adotando

metodologias participativas por meio de um enfoque pedagógico construtivista e

humanista, tendo sempre como ponto de partida a realidade e o conhecimento local.

Isso se traduz, na prática, pela animação e facilitação de processos coletivos

capazes de resgatar a história, identificar problemas, estabelecer prioridades e

planejar ações para alcançar as soluções compatíveis com os interesses,

necessidades e possibilidades dos atores envolvidos. Esta metodologia deve

permitir, também, a avaliação participativa dos resultados e do potencial de

replicabilidade das soluções encontradas, para situações semelhantes em diferentes

51

contextos. De certo trata-se de um programa ousado, no sentido em que visa a

mudança de paradigma, no sentido em que enfatiza e põe em evidência ações

modernizadoras, práticas, princípios e diretrizes compatíveis com o desenvolvimento

rural sustentável.

Objetivando proporcionar maior entendimento acerca do programa,

destacam-se alguns princípios do mesmo, conforme Manual de ATES, 2008, pg. 14:

I – disponibilizar, com exclusividade às famílias assentadas em Projetos de Assentamento criados ou reconhecidos pelo INCRA, os serviços de assessoria técnica, de forma pública, gratuita e de qualidade visando o desenvolvimento dessas áreas e o apoio ao fortalecimento da agricultura familiar e camponesa; II - contribuir para a promoção do desenvolvimento rural sustentável e solidário, com ênfase em processos de desenvolvimento endógeno, apoiando as famílias assentadas na potencialização do uso sustentável dos recursos naturais; III - adotar uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, estimulando a adoção de novos enfoques metodológicos participativos e de um paradigma tecnológico baseado nos princípios da agroecologia; IV - estabelecer um modo de gestão capaz de democratizar as decisões, contribuir para a construção da cidadania e facilitar o processo de controle social no planejamento, monitoramento e avaliação das atividades, de modo a permitir a análise e melhoria no andamento das ações; V - desenvolver processos educativos permanentes e continuados, a partir de um enfoque dialético, humanista e construtivista, visando à formação de competências, mudanças de atitudes e procedimentos dos atores sociais, que potencializem os objetivos de melhoria da qualidade de vida e de promoção do desenvolvimento rural sustentável e solidário; VI - promover a viabilidade econômica, a segurança alimentar e nutricional e a sustentabilidade ambiental das áreas de assentamento, tendo em vista a efetivação dos direitos fundamentais do (a) trabalhador (a) rural na perspectiva do desenvolvimento territorial; VII – contribuir no processo de construção de relações igualitárias entre trabalhadoras e trabalhadores rurais assentados (as) da reforma agrária, favorecendo o protagonismo da mulher na construção e implementação dos projetos. VIII - contribuir no fortalecimento das organizações sociais dos (as) assentados (as).

Com base nos princípios expostos acima, tendo o Programa de ATES o

propósito de contribuir para a autonomia, efetivação da cidadania e desenvolvimento

52

rural sustentável dos projetos de assentamento do INCRA é que se insere a

presente pesquisa.

A fim de contribuir para aperfeiçoamento e garantia de direitos dos

assentados a pesquisa pretende investigar de que forma o Programa de Assessoria

Técnica, Social e Ambiental está sendo executado no sudeste do Pará com vistas a

verificar seus aspectos qualitativos e sua relação com o desenvolvimento rural

sustentável.

2.3 ESTRUTURA DE COORDENAÇÃO, GESTÃO, EXECUÇÃO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

O Programa de ATES é coordenado e gerido pelo INCRA, por intermédio da

Diretoria de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento (DD), em nível nacional,

e pelas Superintendências Regionais (SR), em suas áreas de atuação, em estrita

observância às diretrizes da PNATER do Ministério do Desenvolvimento Agrário -

MDA.

Sua estrutura é composta por instâncias de coordenação e supervisão, de

participação social e de execução técnica em nível nacional e estadual, tendo como

objetivo coordenar, executar e viabilizar a comunicação entre o público beneficiário e

o INCRA, promovendo a participação e o debate entre as diversas instituições

atuantes na área da assessoria técnica no âmbito da reforma agrária, com vistas a

conferir maior transparência no processo de planejamento, implementação e

avaliação das atividades de ATES.

A coordenação e supervisão do programa fica a cargo do INCRA através da

Diretoria de Desenvolvimento e Superintendências Regionais.

53

Nas instâncias de participação social tem-se o Fórum Nacional de ATES, o

qual é um espaço destinado ao diálogo e à interação entre o público beneficiário e o

INCRA com o objetivo de aprimorar a implementação do Programa nas diversas

regiões. O seu caráter é consultivo, sem vínculo institucional, nem remuneratório. A

nível regional tem-se o Fórum Regional de ATES, este se constitui em espaço de

diálogo e articulação entre os diferentes níveis de governo, os beneficiários do

programa, movimentos sociais e organizações da sociedade civil, com o objetivo de

discutir a implementação do Programa de ATES no estado, propor ações de

melhoria e aperfeiçoamento das atividades do programa. O seu caráter é consultivo,

sem vínculo institucional e remuneratório. Nos estados que possuem mais de uma

Superintendência Regional do INCRA (SR), a área de abrangência do Fórum será a

área de abrangência da SR.

Atualmente tanto a nível nacional como regional (jurisdição do INCRA

Marabá) estas instâncias de participação social encontram-se desativadas, portanto,

tais fóruns não tem sido utilizados a fim de cumprir os objetivos propostos. No que

se refere ao Fórum Regional este apenas teve suas atividades em pleno

funcionamento durante os anos de 2004 e 2005.

No que se refere às instâncias de execução técnica, são elas: Equipe de

Articulação e Núcleos Operacionais. A equipe de articulação é uma unidade

constituída por profissionais de nível superior de formação multidisciplinar (ciências

agrárias, sociais, econômicas, ambientais e outras). Essa equipe é responsável pela

integração e assessoramento às equipes técnicas dos Núcleos Operacionais, em

sua área de abrangência, visando garantir a qualidade dessa assessoria técnica,

social e ambiental aos (às) beneficiários (as) da reforma agrária. A entidade

54

prestadora do serviço de articulação deverá apresentar base física e infraestrutura

operacional adequada para a prestação dos serviços.

No que se refere aos Núcleos Operacionais, as entidades prestadoras de

serviços de ATES deverão se organizar em núcleos, com infra-estrutura física

adequada e equipe técnica de caráter multidisciplinar, responsáveis pela execução

da ATES junto às famílias assentadas. Os núcleos serão constituídos de

profissionais de nível médio e superior, com formação multidisciplinar nas áreas de

ciências agrárias, sociais, ambientais e econômicas.

Segundo os normativos de ATES (Manual Operacional, 2008 e Norma de

Execução, 2008), compete às entidades responsáveis pela execução das ações de

ATES:

a) executar as atividades de ATES, baseadas nos princípios e objetivos do

Programa, junto às famílias assentadas dos Projetos de Assentamento criados e

reconhecidos pelo INCRA;

b) elaborar, assessorar e acompanhar a implementação dos (PEA4, PDA5, PRA6 e o

RAS7), observando os normativos existentes, especialmente a Resolução CONAMA-

Conselho Nacional de Meio Ambiente Nº 387/2006;

c) adequar, assessorar e acompanhar a implementação do PDA e PRA já

existentes, mesmo que elaborados por outras entidades;

d) desenvolver estudos, em articulação com o INCRA, para selecionar e identificar

as áreas produtivas, de reserva legal e de preservação permanente, buscando

viabilizar a elaboração do PEA;

4 PEA – Plano de Exploração Anual.

5 PDA – Plano de Desenvolvimento do Assentamento.

6 PRA – Plano de Recuperação do Assentamento, estes são instrumentos de planejamento do

assentamento. 7 RAS - Relatório Ambiental Simplificado.

55

e) orientar a aplicação do Crédito Instalação, dentre outras linhas, com o

envolvimento das famílias assentadas em todo o processo de elaboração e

implementação dos planos e projetos;

f) Divulgar as atividades de ATES, junto aos (às) assentados (as) beneficiários (as),

buscando o pleno entendimento, sintonia e participação desses atores para o

perfeito funcionamento do Programa;

g) orientar e capacitar os (as) agricultores (as) para a elaboração e implementação

dos projetos produtivos nas áreas de Reforma Agrária;

h) elaborar projetos técnicos que viabilizem o acesso dos (as) agricultores (as) às

diferentes modalidades de crédito produtivo;

i) orientar e acompanhar a aplicação dos recursos e a implementação dos projetos e

produzir relatórios técnicos, a serem encaminhados à SR, conforme preceitua o

Manual de Crédito Rural;

j) elaborar projetos técnicos que assegurem a recuperação das Áreas de

Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (RL) e dos recursos naturais

dos assentamentos. Esses projetos ainda podem prever ações de gestão e

educação ambiental;

k) elaborar os projetos técnicos dos assentamentos que permitam o acesso ao

Programa Terra Sol8, bem como orientar e acompanhar sua execução.

l) trabalhar os aspectos de beneficiamento e comercialização da produção dos

assentamentos.

8 Programa Terra Sol é uma ação do INCRA que visa o incentivo à agroindustrialização e atividades

pluriativas solidárias nos assentamentos de Reforma Agrária e trabalha financiando projetos inovadores.

56

m) estimular e orientar a organização social do assentamento apoiando o

fortalecimento e qualificação das associações e outras formas organizativas dos

assentados.

n) estimular e promover ações afirmativas visando a equidade de gênero, geração,

raça e etnia nos projetos de assentamento.

o) orientar as famílias assentadas de forma a ampliar o seu conhecimento e as

oportunidades de acessos aos direitos básicos de cidadania e as políticas públicas

existentes.

2.4 TEMAS TRATADOS PELA ASSESSORIA TÉCNICA

De acordo com o já visto acima, o Programa de ATES busca romper com a

visão restrita de assistência técnica, a assessoria técnica visa proporcionar um

serviço muito mais amplo e abranger temas como: o acesso a serviços sociais

básicos, o fortalecimento das organizações dos/as agricultores/as, a segurança

alimentar, além de temas mais convencionais como a consolidação dos sistemas

produtivos e a ampliação das oportunidades de mercado. Assim, a expectativa é que

a assessoria técnica fornecida pelo Programa de ATES para as famílias assentadas

seja verdadeiramente polivalente. As equipes das entidades prestadoras deverão

poder mobilizar as diferentes competências que este tipo de assessoria exige.

Desta forma, conforme previsto em Manual Operacional de ATES, 2008,

destacam-se algumas linhas de trabalho a serem seguidas equipes técnicas.

A esfera dos sistemas produtivos

Constata-se tanto em assentamentos mais antigos, como naqueles mais

novos, a necessidade de agir no sentido de melhorar a performance dos sistemas

57

produtivos, tanto no que se refere aos volumes de produção e da produtividade,

como também em termos da sustentabilidade ambiental. Trabalhar a dimensão da

sustentabilidade muitas vezes deverá levar a buscar uma intensificação

(aumentando a produtividade das áreas cultivadas) que permita aumentar a

produção e, ao mesmo tempo, que promova um melhor manejo dos recursos

naturais, favorecendo a sua regeneração. Assim, é possível afirmar que o ponto de

partida para a assessoria técnica do Programa de ATES é a idéia de que o desenho

ou geração de sistemas produtivos mais sustentáveis (num sentido amplo) é uma

tarefa central, sendo ao mesmo tempo um instrumento de luta contra a pobreza, e

um meio de preservação dos recursos das unidades produtivas, a agroecologia é

vista como uma ferramenta crucial para esta atividade.

A esfera ambiental

Agindo para tornar os sistemas produtivos mais sustentáveis, a preservação

e o manejo correto de recursos naturais tais como os solos, a vegetação nativa, a

fauna e a água têm uma enorme importância. Assim será necessário implementar

iniciativas práticas deste tipo, além de promover atividades de educação ambiental.

Também será preciso trabalhar junto com os assentados para regularizar a situação

dos projetos de assentamento naquilo que se refere aos licenciamentos ambientais.

O beneficiamento da produção e o acesso aos mercados

Com base na premissa de que produzir mais e preservar os recursos são

elementos importantes, mas não suficientes para que as famílias tenham uma

qualidade de vida melhor, o Programa de ATES deve estimular a assessoria técnica

a tratar também do tema do acesso ao mercado em melhores condições para a

agricultura familiar. Uma forma de fazer isto é trabalhar para aproximar os

assentados das redes de Economia Solidária. O acesso aos mercados locais

58

através das cadeias curtas de comercialização também pode ser um caminho

interessante para a ATES. Neste mesmo sentido, sendo o beneficiamento da

produção agropecuária uma forma de agregar valor e renda para as famílias, o

Programa de ATES deve apoiar, sempre que possível, iniciativas deste tipo.

O apoio à pluriatividade para as famílias assentadas

É bastante comum famílias agricultoras desenvolverem atividades

econômicas que não são estritamente agropecuárias para aproveitar melhor o

potencial que nelas se encontra, o apoio a estas atividades (tais como o artesanato,

a montagem de micro-empreendimentos de corte e costura, etc.) pode e deve ser

tratada como uma tarefa muito importante para a ATES.

O acesso às políticas públicas e aos direitos da cidadania

Partindo da constatação de que muitas famílias assentadas não têm tido

acesso a diversos direitos básicos dos cidadãos (documentação, educação, saúde,

previdência social, etc.), cabe às equipes de ATES trabalhar no sentido de mudar

esta situação, através do estabelecimento de parcerias com instituições e órgãos

públicos responsáveis pela execução de políticas de educação, saúde, previdência,

dentre outras. De forma semelhante, existem diversas políticas públicas que têm

como público preferencial a agricultura familiar, mas que este público pouco tem se

beneficiado com elas. Por isso, o Programa de ATES estabelece como um de seus

objetivos o de trabalhar para ampliar as oportunidades de acesso das famílias

assentadas às políticas públicas destinadas ao público amplo da agricultura familiar.

O fortalecimento das organizações

Para o Programa de ATES, atuar para melhorar o desempenho das

unidades produtivas familiares não é o suficiente. Incorporando análises sociais que

estabelecem uma relação entre a pobreza e falta de organização, o Programa afirma

59

que é preciso atuar no campo da organização e mobilização social. Isto significará

certamente dar acompanhamento e apoio às associações dos assentamentos, além

de trabalhar com outras formas organizativas (grupos de mulheres, cooperativas,

movimentos, etc.)

2.5 A OPÇÃO PELA SUSTENTABILIDADE COM BASE NO ENFOQUE AGROECOLÓGICO

Conforme já apontando em tópicos anteriores, o Programa de ATES visa

substituir a promoção da „modernização‟ dos sistemas de produção agrícolas com

base principalmente na trilogia clássica das variedades de alto rendimento, a

adubação química e o controle químico de pragas, pelo apoio na agroecologia a fim

de sugerir inovações que sejam ao mesmo tempo mais produtivas em termos

econômicos, mas também mais sustentáveis do ponto de vista social e ambiental

(MANUAL ATES, 2008).

A estratégia de conversão agroecológica preconizada pelo Programa de

ATES busca ter um impacto nos agroecossistemas familiares e na qualidade de vida

das famílias. Assim, espera-se que as propostas inovadoras agroecológicas

produzam resultados em duas frentes. Por um lado, espera-se um incremento na

produção agrícola e pecuária, o que tem um impacto na renda, mas também reforça

a segurança alimentar das famílias. Ao mesmo tempo, as inovações também tentam

fazer com que as unidades familiares tenham uma maior estabilidade e maior

resistência, o que implica na preservação da base de recursos destes sistemas

produtivos.

60

2.6 O ENFOQUE METODOLÓGICO DO PROGRAMA DE ATES

Partindo da premissa que a extensão rural foi durante muito tempo uma

tarefa desempenhada quase que exclusivamente por organizações governamentais,

com uma opção técnica baseada no que é chamado de „pacote da revolução verde‟,

o Programa de ATES busca romper com esta realidade. Ele afirma a sua identidade

com a visão renovada da extensão rural explicitada na PNATER (Política Nacional

de Assistência Técnica e Extensão Rural), já tratada anteriormente. Partindo de uma

crítica do modelo convencional de extensão, a ATES postula a necessidade de uma

assessoria técnica que esteja presente na vida das famílias assentadas, e defende e

estimula o uso de uma série de inovações no âmbito das metodologias de trabalho.

Inicialmente, destaca-se a importância da participação das famílias, as

ações do programa deverão ser planejadas, implementadas e avaliadas de forma

participativa, junto com os principais interessados /beneficiários. Isto busca inverter a

lógica com que funciona a extensão convencional: para o Programa, a assessoria

técnica deverá deixar de ser movida pela „oferta de inovações‟, para passar a ser

mais orientada pela demanda vinda da realidade das famílias agricultoras.

Este opção pela participação exige um processo de planejamento

adequado. Quando uma prestadora do Programa de ATES for iniciar um trabalho

num assentamento, o primeiro passo é a realização de um diagnóstico da realidade,

deste diagnóstico deve se construir um plano de trabalho para o período. Os ajustes

que vierem a ser apontados como necessários deverão ser feitos na periodicidade

definida pelo processo de monitoramento e avaliação do Programa.

Outro aspecto metodológico inovador que a ATES deve adotar é a inclusão,

em todas as suas ações, da preocupação com a garantia da igualdade e equidade

61

de gênero, a dinamização da participação dos jovens e a inclusão étnica visando

fortalecer a cidadania das populações negras e indígenas.

Outro destaque do caráter inovador do Programa, que complementa o

enfoque participativo aqui mencionado, refere-se à interpretação que se faz do

próprio processo de inovação tecnológica. Ao contrário da interpretação

convencional, que postula que a inovação é criada pela pesquisa científica e „levada‟

aos usuários-agricultores pelos extensionistas, a ATES reconhece que as soluções

tanto técnicas, quanto sociais, organizacionais ou institucionais devem ser

produzidas, testadas, inventadas, adaptadas e acompanhadas com medidas

adequadas, num processo coletivo de aprendizagem e gestão de conhecimento. Ou

seja, a Assessoria Técnica é vista como um processo de diálogo e aprendizado

mútuo entre técnicos e agricultores (MANUAL DE ATES, 2008).

A renovação do arsenal metodológico requer também o uso de novos

instrumentos. Assim, o programa visa trocar o sistema de treinamento “puro e

simples” aos agricultores, efetuado principalmente através de visitas individuais,

característico do enfoque convencional da assistência técnica, e recomenda o uso

de instrumentos tais como as visitas de intercâmbio, os „experimentos pedagógicos‟

de agricultores/as, etc. Em muitos casos, a solução de problemas, assim como o

aproveitamento de potencialidades até então não aproveitadas numa região ou

comunidade, requer informação que outros agricultores já dominam. Neste caso é

mais interessante que as famílias interessadas busquem esta informação junto a

quem a detém, através da visita de intercâmbio. O estímulo à realização de

„experimentos pedagógicos‟ dos agricultores/as pode atender diversos objetivos. Em

primeiro lugar, estes „experimentos‟ podem servir como instrumentos para a

assessoria técnica visando uma ação mais eficaz de mobilização de conhecimentos,

62

especialmente no que concerne à troca de saberes entre assessor técnico e

agricultores e entre estes últimos. Por outro lado, eles podem propiciar à

comunidade os meios para a experimentação de propostas técnicas e/ou

organizativas promissoras para a solução de problemas e/ou para o melhor

aproveitamento de potencialidades, se constituindo assim em um processo de

inovação.

2.7 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATES

Entende-se por monitoramento a coleta e análise sistemática e contínua de

informações sobre o progresso de uma tarefa ao longo do tempo, para identificar os

pontos fracos e fortes e para fornecer, aos responsáveis pela tarefa, informações

suficientes para tomar as decisões corretas no momento correto, de modo a

aprimorar a qualidade do trabalho (MANUAL DE ATES, 2008). Deve ser realizado

por meio da observação, registro e documentação do andamento das atividades,

utilizando instrumentos diversos, com o objetivo de apreender, avaliar e decidir

sobre as adaptações necessárias à execução adequada das ações previstas em

cada instrumento firmado, envolvendo tanto o nível institucional (INCRA) como os

articuladores, prestadoras e o público-alvo (os assentados e suas organizações).

O processo de monitoramento deve contemplar, ainda, a análise e a

divulgação de informações, a partir de uma base/banco de dados, que embasará

continuamente a adaptação do planejamento e a implantação das ações. No mesmo

sentido, deve-se buscar a construção gradativa de um sistema de monitoramento e

avaliação a partir de alguns indicadores básicos descritos a seguir, levando em

conta a experiência institucional do INCRA, o envolvimento dos técnicos de campo e

63

as condições das prestadoras de serviços. Para avanços no sistema, propõe-se um

espírito de negociação do alcance futuro do sistema, aí incluídos os indicadores, as

ferramentas a serem utilizadas e os prazos de execução. Este processo de

monitoramento, além de servir às famílias assentadas e aos técnicos de campo no

que se refere à verificação constante do trabalho e de seus resultados, tem

importantes funções institucionais ao INCRA em termos de verificar o andamento

dos serviços de ATES desenvolvido pelas prestadoras, face às metas pactuadas e

prover à autarquia informações confiáveis sobre suas atividades finalísticas.

Segundo Manual de ATES (2008) estão previstos dois tipos de

monitoramento: o de processo e o de resultado:

√ Monitoramento de processo: prevê um conjunto de procedimentos

contínuos que têm por finalidade acompanhar, de forma sistemática, e registrar a

evolução do trabalho de ATES, verificando essencialmente:

as ocorrências relacionadas à consecução do objeto, com adoção de

medidas necessárias à regularização das falhas observadas;

a comprovação da boa e regular aplicação dos recursos de acordo com

a legislação aplicável;

a compatibilidade entre a execução do objeto, o que foi estabelecido no

Plano de Trabalho, e os desembolsos e pagamentos, conforme

cronograma;

o cumprimento das metas por parte das entidades prestadoras;

aspectos qualitativos e quantitativos dos serviços prestados pelas

entidades no que diz respeito a sua metodologia de trabalho, atribuições

inerentes aos núcleos operacionais e outros aspectos relacionados às

particularidades das superintendências.

64

Este monitoramento deve ser coordenado pelas Superintendências

Regionais/Equipe de Coordenação e Supervisão do Programa, com a participação

dos técnicos de campo (prestadoras) e articuladores do Programa, cabendo ao

INCRA sede, subsidiar e consolidar o processo em nível nacional.

√ Monitoramento de Resultados: deve ser realizado periodicamente a fim de

avaliar os resultados do programa de ATES no desenvolvimento sustentável dos

Projetos de Assentamento contemplados com o Programa de ATES. Isto significa

analisar a evolução das dimensões econômica, social, ambiental, cultural e político-

institucional dos PAs, de forma a correlacionar o trabalho de ATES com este

processo. Pode ser executado pelas pessoas envolvidas com o Programa, citadas

no monitoramento de processo, ou não envolvidas (externas) nas atividades. Neste

último caso, por meio de contratações/convênios ou outros instrumentos específicos

para esta finalidade. Este processo de monitoramento visa aferir os resultados

finalísticos do programa e das atividades de ATES, a partir de algumas dimensões e

indicadores constantes nos normativos de ATES, aos quais poderão ser agregadas

novas dimensões e/ou indicadores que se mostrarem necessários com o decorrer do

tempo.

Ressalta-se que o interesse e a participação de todos os atores envolvidos

em um processo de monitoramento, seja de processo ou de resultados, é condição

fundamental para conseguir alcançar impactos positivos.

AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATES

Conforme previsão no Manual de ATES (2008), as ações do Programa

serão avaliadas de forma permanente por todos os atores envolvidos em quaisquer

de suas etapas, conforme definido na Oficina de Planejamento Operacional,

65

utilizando-se do processo de monitoramento e acompanhamento definidos

previamente. Com base nas informações levantadas no monitoramento serão feitas

avaliações do resultado dos serviços prestados, da atuação de todas as instâncias

envolvidas, da articulação entre elas e demais aspectos relacionados ao andamento

das ações planejadas.

As Organizações dos Assentados deverão ser estimuladas a realizar

avaliações permanentes dos trabalhos de ATES realizados tanto pelos técnicos dos

Núcleos Operacionais, quanto da presença e atuação dos Articuladores e equipes

de ATES do INCRA.

No mesmo sentido, as entidades responsáveis pela execução dos serviços

deverão realizar avaliações junto às famílias beneficiadas em sua área de

abrangência e avaliações internas, devendo registrá-las em seus relatórios e

encaminhá-las aos articuladores e INCRA.

As Equipes de Articulação deverão realizar avaliações junto às famílias e

Núcleos Operacionais, e realizar, ainda, a avaliação de sua própria atuação,

devendo registrá-las.

Cabe às equipes de ATES das Superintendências Regionais desenvolver

formas de avaliação periódicas junto às famílias, Núcleos Operacionais, Prestadoras

de ATES, Equipes de Articulação e outros atores envolvidos no Programa. As

equipes, com base nas avaliações realizadas deverão visualizar o seu papel para

contribuir na melhoria das dificuldades encontradas.

As avaliações deverão necessariamente direcionar para um novo

planejamento das atividades visando proporcionar as correções e adequações

necessárias para atingir os resultados esperados.

66

3. ELEMENTOS AVALIATIVOS

No período de 2006 e 2007, no sul e sudeste do Pará, foram beneficiados

pelo programa de ATES 32.734 famílias distribuídas em 257 projetos de

assentamento. As famílias foram atendidas por 11 entidades conveniadas com o

INCRA.

Para análise e compreensão do objeto de estudo, utilizou-se os recursos

metodológicos da pesquisa bibliográfica (livros, periódicos e legislação pertinente ao

tema); da pesquisa documental (relatórios, pareceres, e documentos institucionais),

e da pesquisa de campo, utilizando-se como instrumento de coleta de dados o

questionário e a entrevista semiestruturada. O questionário foi aplicado entre 17

(dezessete) pessoas de ambos os sexos, integrantes das famílias atendidas pelo

Programa de ATES nos Projetos de Assentamento (PA) do sudeste do Pará durante

os anos de 2006 e 2007, região esta sob jurisdição do INCRA / Superintendência

Regional do Sul do Pará - SR/27, com sede em Marabá. Incluem-se, também, entre

sujeitos da pesquisa, dois profissionais envolvidos na execução do programa: o

responsável pela coordenação do Programa no âmbito do INCRA no município de

Marabá, sul do Pará, e o responsável pela entidade prestadora do serviço de ATES

nos PA‟s pesquisados.

O lócus da pesquisa envolveu 04 (quatro) Projetos situados no município de

Marabá: Dourada, Lajedo, Piquiá, Escada Alta. A escolha dos PAs deu-se em

virtude destes estarem sendo atendidos através do programa desde o início, ano de

2004, bem como ao fato destes já terem sido beneficiados com outros programas de

assistência técnica, a exemplo da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER,

67

através do programa PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar).

3.1 A EXECUÇÃO DOS TRABALHOS NOS ASSENTAMENTOS

No que se refere à execução dos serviços de ATES pela entidade

responsável, os assentados responderam a um questionário o qual visou

inicialmente identificar a execução das atividades em campo, a freqüência destas

atividades, sua qualidade e o grau de satisfação do assentado, sejam nos aspectos

produtivo, social ou ambiental, tendo em vista a contribuição dos trabalhos para o

desenvolvimento sustentável dos assentamentos.

No que se refere à coordenação do Programa no INCRA, o responsável foi

inicialmente questionado acerca da execução e acompanhamento das ações de

ATES durante os anos de 2006 e 2007 nos PAs Lagedo, Dourada, Piquiá e Palmeira

Jussara, pelo seu depoimento as ações transcorreram em plena normalidade, de

acordo com os normativos da ATES, algo que só poderá ser efetivamente

constatado no decorrer da análise dos dados.

A execução do Programa de ATES nos referidos projetos de assentamento foi realizada através de convênio entre INCRA e instituição prestadora de serviços de ATES para o período de 2004 a 2007. O convênio foi regido pelo Manual Operacional de ATES e pela legislação vigente sobre a matéria à época. Os trabalhos focaram principalmente os aspectos sociais, técnicos e ambientais,

diretrizes principais do Programa de ATES. (COORDENADOR DO

PROGRAMA DE ATES NO INCRA) O acompanhamento foi realizado por técnicos do INCRA do setor de ATES, os quais desenvolveram questionário específico a ser trabalhado junto aos clientes do programa em campo. Este instrumento era composto de perguntas que abordava o trabalho das prestadoras. A partir da tabulação dos resultados tinha-se um “espelho” dos trabalhos ora realizados, sendo que quando necessário, as instituições recebiam sugestões da equipe do INCRA para o desenvolvimento dos trabalhos e uma maior eficácia dos mesmos (COORDENADOR DO PROGRAMA DE ATES NO INCRA).

68

No que se refere à entrevista com as famílias, quando os assentados foram

questionados acerca da realização pela prestadora de ATES de planejamento

participativo para construção do calendário de ações no assentamento, a maioria

dos entrevistados afirmou ter havido tal atividade, fato que demonstra a busca da

entidade em cumprir com as diretrizes e objetivos do programa, e assim, viabilizar a

construção coletiva e democrática do mesmo.

Tal direcionamento das ações de ATES pode ser constatado em seu inciso

oitavo dos objetivos específicos, bem como no item acerca dos procedimentos

metodológicos e operacionais, constantes no Manual de ATES.

VIII - promover uma relação participativa e gestão compartilhada, pautada na co-responsabilidade entre os agentes do processo de desenvolvimento, estabelecendo interações efetivas e permanentes com os assentamentos. (MANUAL DE ATES, 2008, pg.16) • A participação das famílias Em primeiro lugar, afirma-se que as atividades de ATES deverão ser planejadas, desenhadas, implementadas e avaliadas de forma participativa, junto com os principais interessados/beneficiários. Isto busca inverter a lógica com que funciona a extensão convencional: para o Programa, a assessoria técnica deverá deixar de ser movida pela „oferta de inovações‟, para passar a ser mais orientada pela demanda vinda da realidade das famílias agricultoras. (MANUAL DE ATES, 2008, PG. 45).

O gráfico 1 abaixo, traz a tabulação dos dados obtidos pela pesquisa com

as famílias assentadas, ilustra a prioridade da entidade prestadora do serviço de

ATES em realizar o planejamento participativo. Estão descritos abaixo itens da

pesquisa, como forma de trabalho da entidade, assunto e método da visita dos

técnicos, participação dos assentados em cursos de capacitação e contribuição para

melhoria de vida e/ou produção; tais aspectos serão detalhados no decorrer do

texto.

69

Gráfico 1

Entrevista com os assentados sobre a implementação do Programa de ATES

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0otim

o

boa

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sim

não

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pecuária

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os

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o

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o

lote

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str

a

curs

os

sim

não

sim

não

Forma de Trabalho Planej.

Particip.

Assunto Visita Método da Visita Partic.

Cursos

Contrib.

Melhor. da

produção

PA´s Visitados: Dourada, Piquiá, Escada Alta e Lagedo

%

A busca pela execução do programa tendo em vista o planejamento

participativo também pôde ser observada na entrevista do responsável pela entidade

prestadora dos serviços de ATES, quando foram questionados acerca de como se

deu a execução do Programa nos PAs Lagedo, Dourada, Piquiá e Palmeira Jussara,

obteve-se a seguinte resposta:

Ao iniciar as atividades nos PAs foi elaborado junto com os assentados o planejamento participativo, elegendo as prioridades de cada assentamento, o que determinava a formação da equipe multidisciplinar, bem como a aplicação da metodologia construtivista para atender o público alvo. Assim, os técnicos foram capacitados na metodologia participativa em extensão rural (RESPONSÁVEL PELA ENTIDADE PRESTADORA DO SERVIÇO DE ATES).

No mesmo sentido, quando na entrevista, a representante da entidade foi

questionada acerca de como foi desenvolvido o serviço de ATES, se a partir das

demandas dos beneficiários e/ou das diretrizes dos programas e solicitações

institucionais, a mesma afirmou que inicialmente foi elaborado um plano de trabalho

observando as diretrizes e metas do programa, o qual foi ajustado conforme

demanda e prioridade dos assentados.

70

Diante das informações constata-se que todas as ações planejadas através

do Programa buscaram em primeiro lugar privilegiar o interesse e participação dos

assentados, fazendo com que se cumpra um dos requisitos básicos da ATES o qual

se traduz na garantia da gestão democrática das decisões, enfim, promovendo desta

forma uma relação participativa e gestão compartilhada.

No que diz respeito ao assunto das visitas os assentados entrevistados

afirmaram que os profissionais trataram de diversos assuntos, dentre eles: crédito,

agricultura, pecuária e questões ambientais. Ressalta-se que boa parte afirma que o

assunto mais freqüente refere-se à temas relacionados a crédito e orientações

produtivas. Tal informação reflete ainda um grande entrave na execução das ações

de ATES que é o privilégio aos assuntos produtivos, especialmente relacionados à

crédito, o que acaba por relegar a segundo plano temas sociais e ambientais.

Ressalta-se que por ser o programa baseado no interesse dos assentados tal

direcionamento pode ter sido demandado pelos agricultores, no entanto, há que se

ter a clareza de estabelecer um planejamento mínimo a fim de não prejudicar as

demais dimensões do Programa.

Neste sentido, os assentados afirmaram que a prestadora de serviço de

ATES não desenvolveu ações relacionadas à saúde humana, digo, trabalhos sócio-

educativos nesta área. No mesmo sentido, poucos ressaltaram o desenvolvimento

de ações de orientações acerca de saneamento básico e tratamento da água para

consumo.

No entanto, afirmaram que foi realizado trabalho com questões sociais, a

exemplo de orientações sobre práticas de associativismo e cooperativismo, incentivo

à formação e fortalecimento de grupo de mulheres, dentre outros. Não por acaso,

boa parte dos assentados informaram participar ativamente das atividades da

71

associação, bem como a entidade de ATES atua em parceria com a mesma. Tal

ênfase em trabalhos coletivos nos remete à concepção do Programa, quando no

Manual de ATES é enfatizado que a facilitação de processos coletivos capazes de

resgatar a história, identificar problemas, estabelecer prioridades e planejar ações

para alcançar as soluções compatíveis com os interesses, necessidade e

possibilidades dos atores envolvidos.

O programa de ATES por ser uma ação nova cujo enfoque foge à orientação

apenas acerca da aplicação do crédito produtivo, a exemplo do Programa Nacional

de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF, e inova com a visão holística do

meio rural e a ênfase no desenvolvimento sustentável dos assentamentos, ainda

possui muito o que aperfeiçoar, especialmente no que se refere ao desenvolvimento

de ações pelas prestadoras de serviço na área social, percebe-se a fragilidade do

trabalho da entidade neste aspecto. O trabalho sócio-educativo desenvolvido

transparece certa falta de planejamento, de direcionamento, planejamento este que

pode ser construído com base nas diretrizes do próprio programa, especialmente

quando se refere ao acesso às políticas públicas, bem como pode ser construído

considerando a realidade e necessidade das famílias. A título de exemplo, com base

no Manual de ATES, cabe às entidades de ATES estimular e orientar a organização

social do assentamento apoiando o fortalecimento e qualificação das associações e

outras formas organizativas dos assentados; estimular e promover ações afirmativas

visando a equidade de gênero, geração, raça e etnia nos projetos de assentamento;

orientar as famílias assentadas de forma a ampliar o seu conhecimento e as

oportunidades de acesso aos direitos básicos de cidadania e as políticas públicas

existentes, dentre outros.

72

No que diz respeito à atividades relacionadas ao meio ambiente, boa parte

informou o desenvolvimento por parte da prestadora de ações nesta área, a exemplo

de cursos sobre legislação ambiental, orientações sobre destino do lixo, controle de

queimadas, dentre outros. Tal questionamento visa atender ao requisito do

programa em tratar com responsabilidade e zelo à questão ambiental nos PAs, e

assim buscar qualificar os assentados para conviver de forma sustentável com os

recursos naturais da região.

Tais informações das famílias assentadas podem ser melhor observadas no

gráfico 2 a seguir.

Constata-se a pouca observância da entidade responsável pelos serviços de

ATES ao atendimento às questões sociais e ambientais, percebe-se que o foco da

entidade foi a realização de atividades voltadas a temas como associativismo.

As famílias entrevistadas informam que as ações desenvolvidas pela

prestadora de serviço de ATES são realizadas através de visitas nos lotes, reuniões

e cursos, sendo que a maioria afirma não ter participado de algum curso promovido

pela entidade.

73

Gráfico 2

Entrevista com assentados

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

sim não sim não sim não sim não sim não sim não sim não sim não

Atividades

de Saúde

Trabalho

com

questões

sociais

Participação

na

associação

Trabalho

junto com a

associação

Orientação

sobre Água

Orientação

Banheiros

Orientação

Meio

Ambiente

Orientação

Lixo

PA´s Visitados: Dourada, Piquiá, Escada Alta e Lagedo

%

Complementando a informação acima, a representante da prestadora de

ATES nos PAs quando da entrevista informou que os instrumentos utilizados para o

desenvolvimento do trabalho de ATES foram: implantação de unidades

demonstrativas, visitas de campo (individual), dia de campo (troca de experiência),

cursos de capacitação, reuniões com agricultores e reuniões entre equipe técnica.

Tais informações atendem aos requisitos legais do Programa uma vez que

orienta-se privilegiar o desenvolvimento de ações coletivas, a exemplo de cursos de

capacitação, palestras, dias de campo, os quais irão certamente proporcionar uma

maior troca de experiência e aprendizado coletivo.

A fim de identificar a disponibilidade da entidade em atender a demanda dos

assentamentos, questionou-se as famílias sobre a freqüência das visitas e/ou

desenvolvimento de alguma atividade pela prestadora, as mesmas responderam na

sua maioria que tal freqüência chega a uma ou duas vezes por mês, sendo a última

74

visita realizada neste mês ou mês passado, fato que demonstra a presença e

atendimento um tanto contínuo nos assentamentos.

As informações dos assentados não diferem muito daquelas repassadas

pela responsável pela prestação dos serviços de ATES nos Projetos de

Assentamentos (PAs) Lagedo, Piquiá, Dourada e Palmeira Jussara, com maior nível

de detalhamento, as principais atividades que se destacaram foram:

PA Lagedo:

Área Social: foi dado ênfase ao fortalecimento da associação com

capacitação dos assentados no curso de organização social, e posterior

preparação para eleição da diretoria da associação. Foi incentivado a formação de

grupos culturais como: capoeira, xadrez e futebol.

Área de produção: foram elaborados projetos de PRONAF (Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) linha A (destinada à

agricultores familiares) objetivando melhoria da estrutura produtiva nos lotes,

segurança alimentar bem como geração de emprego e renda para a família.

Área ambiental: foi implantada uma unidade demonstrativa em um lote

em parceria com uma siderúrgica de Marabá tendo como culturas: eucalipto, milho

e mandioca, objetivando organizar o sistema produtivo, possibilitando ao assentado

ter colheitas em períodos diferenciados, garantindo renda à família durante todo o

ano.

As atividades de educação ambiental foram desenvolvidas atingindo toda

a família. Na escola foram realizadas palestras sobre o tema, apoio à ações como

arborização escolar e feira de ciências. Junto aos assentados foi realizado um

trabalho de pesquisa sobre áreas degradadas com grau de erosão acentuado,

gerando como resultado uma cartilha indicando sugestões para o problema.

75

PA Dourada

Área Social: foram desenvolvidas atividades de associativismo para motivar

os assentados a fundarem a própria associação, desvinculando da associação da

Vila Santa Fé. Assim, foi criada a primeira associação no PA, com os assentados

participando de todo o processo democrático.

Foram priorizadas ações na área da saúde por ter sido identificado através

de diagnóstico local, a precariedade quanto ao uso da água no consumo humano e

ao destino do lixo e dos dejetos humanos. No que diz respeito ao problema da água

foi feito uma campanha com distribuição de hipoclorito, onde o técnico visitou todas

as famílias ensinando como usá-lo. Devido ao grande problema no destino do lixo no

PA, foi realizado trabalho de orientação a fim de que as famílias destinassem um

local adequado para queima dos resíduos.

Área de Produção: Foi elaborado projetos de PRONAF objetivando melhorar

a estrutura produtiva, a renda, e a segurança alimentar. Foi introduzido gado mestiço

com aptidão leiteira para melhorar a produção, uma vez que existe laticínio na vila

próxima o qual absorve toda a produção do entorno.

Área Ambiental: Devido à inexistência de vila no assentamento, as

atividades desenvolvidas foram de forma individual na orientação da recuperação de

mata ciliar e áreas de reserva legal.

PA Piquiá

Área Social: Foi desenvolvido um trabalho de fortalecimento das

organizações sociais junto à associação dos produtores e a associação dos

moradores, este trabalho permitiu a criação da cooperativa do Piquiá e entorno,

organizando a produção, possibilitando a elaboração do projeto de um laticínio em

parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura e outras entidades, através do

pólo produtivo da região do bico do papagaio.

76

Área de Produção: Foi elaborado projeto de PRONAF A e PRONAF D; a

linha D foi uma parceria junto ao Banco do Brasil com o projeto de desenvolvimento

rural sustentável – DRS fortalecendo a cadeia do leite, estruturando os lotes para

desenvolver a atividade e garantir produto para o laticínio.

Área ambiental: A entidade implantou Sistemas Agro Florestais

Sustentáveis-SAFs, financiados através do PRONAF A, com plantio de cupuaçu e

essências florestais.

A educação ambiental foi trabalhada, ainda, nas escolas através de oficinas

e trilhas ecológicas nos lotes dos assentamentos do PA.

PA Palmeira Jussara

Área Social: A prestadora realizou um trabalho de fortalecimento da

associação e a formação de grupo de interesse local voltado ao público feminino,

foram ministrados cursos como: produção de doce de leite, doces em compotas,

doce cremoso aproveitando as frutas produzidas no PA, bem como curso de

aproveitamento da palha do milho na confecção de bolsas entre outros.

Na área da produção foi elaborado projetos produtivos de PRONAF A,

observando principalmente a aptidão dos assentados e o tamanho dos lotes, assim

foram financiados projetos de psicultura, hortaliças, maracujá e milho, objetivando

geração de renda durante todo o ano, abastecendo feiras e mercados de Marabá.

Ainda na área da produção foi elaborado projeto de PRONAF D, através de

parceria com o Banco do Brasil na elaboração do projeto de desenvolvimento rural

sustentável para produção da mandioca, esta parceria se estendia até a Secretaria

Municipal de Agricultura, a qual seria responsável pela implantação da infra-

estrutura (casa de farinha mecanizada).

77

Na área ambiental foram financiadas através do PRONAF A várias represas

a fim de suprir a necessidade de água nos lotes. O trabalho de SAF-Sistema Agro

Florestal foi desenvolvido através de formação de grupo de interesse local onde os

assentados junto com os técnicos da prestadora fizeram coletas de sementes na

mata para o plantio dos SAFs.

As palestras, oficinas e trilhas ecológicas também envolveram assentados e

filho de assentados nesta metodologia de educação ambiental.

Diante do exposto e com base nas informações dos assentados pode-se

perceber que houve uma preocupação da entidade responsável pela prestação dos

serviços de ATES visando atender todas as dimensões do Programa, seja produtiva,

e assim, valorizando a diversificação da produção, incentivo à praticas sustentáveis,

apoiadas na agroecologia; social e ambiental. No entanto, conforme já relatado

acima, percebe-se uma certa fragilidade das ações sociais e ambientais, estas

precisam ser melhor planejadas, discutidas com os assentados, visando a

contribuição efetiva para o desenvolvimento rural sustentável.

Explicitadas todas as atividades desenvolvidas nos assentamentos, os

assentados foram questionados acerca da opinião acerca da forma de trabalho da

prestadora de serviços de ATES, neste sentido a maioria dos entrevistados afirmou

considerar boa ou regular. Neste mesmo sentido, questionamos sobre como foi o

relacionamento entre assentado e técnico bem como a satisfação dos mesmos com

o conhecimento dos técnicos e obtivemos como resposta uma ótima relação entre

os agricultores e profissionais e conseqüentemente, uma satisfação considerável

com o conhecimento e com o repasse de informações tanto nas áreas produtiva,

social e ambiental, constatação esta ilustrada através do gráfico abaixo, e que

78

demonstra a boa aceitação por parte dos agricultores aos profissionais habilitados a

realizarem atividades de assistência técnica em geral.

No entanto, quando os assentados foram questionados acerca da

contribuição dos serviços de ATES para melhoria da produção do lote e/ou da

melhoria da qualidade de vida, boa parte considerou que tal serviço, apesar da

gama de orientações não traduz em melhoria significativa para suas vidas. Tal

constatação é uma constante e um grande desafio a ser enfrentado pelos atores do

Programa, uma vez que até por uma questão cultural, muitos agricultores estão

acostumados com a assistência técnica tradicional, convencional, e vinculados

predominantemente ao aspecto produtivo. Por outro lado, tal constatação pode ser

utilizada para avaliar até que ponto o programa está cumprindo seus objetivos, bem

como desencadear um processo de avaliação em todas as instâncias do programa

79

objetivando apontar falhas, acertos e redimensionar as ações visando verdadeira

contribuição para desenvolvimento rural sustentável.

No que diz respeito aos responsáveis pela execução das ações no

assentamento, quando na entrevista, a coordenadora foi questionada se a execução

seguiu o planejado pelas diretrizes do Programa, levando em consideração a

contribuição para melhoria da qualidade de vida dos assentados e sua relação com

o desenvolvimento rural sustentável, obtivemos como resposta:

O programa de ATES revolucionou a extensão rural com uma proposta inovadora metodológica, com objetivos direcionados à segurança alimentar, à geração de renda e a sustentabilidade ambiental, estes aspectos foram implementados através de várias parcerias com agentes financeiros, com o SENAR, Secretarias Municipais, com a SAGRI, Universidades e com o próprio INCRA-MDA. No entanto, apesar da avaliação positiva dos assentados que consideram que melhoraram a qualidade de vida neste período, para as prestadoras ficou o nó na garganta de oito meses sem receber o repasse do recurso, causando sérios problemas de ordem financeira e desestimulando os técnicos quanto ao Programa. (RESPONSÁVEL PELA ENTIDADE PRESTADORA DO SERVIÇO DE ATES)

Tal depoimento só confirma a necessidade de se adotar formas de avaliar o

programa objetivando correção no andamento das ações a fim de que a ATES

realmente sirva como instrumento de viabilização de direitos e garantia da qualidade

de vida dos assentados.

3.2 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATES

No que se refere a um importante instrumento de análise e verificação do

andamento das ações questionamos o coordenador do Programa no INCRA e da

prestadora de serviço de ATES. As respostas obtidas demonstram a fragilidade do

monitoramento e avaliação desenvolvidos no período do convênio, não foi definido

80

um procedimento padrão a ser seguido, desta forma foi realizado a cargo de cada

ator responsável pelo andamento das ações e sem haver um entrosamento quanto

ao atingimento dos resultados e tomada de decisões. O fato é que se não há um

processo de monitoramento e avaliação eficiente provavelmente as adaptações e

redirecionamentos necessárias ao bom andamento do programa ficarão

prejudicados, uma vez que não foi desenvolvido a contento ações como a

observação, registro e documentação do andamento das atividades, utilizando

instrumentos diversos, com o objetivo de apreender, avaliar e decidir sobre as

adaptações necessárias à execução adequada das ações previstas para o alcance

dos objetivos da ATES.

Conforme relato do coordenador do INCRA à época, o monitoramento

aconteceu da seguinte forma:

O monitoramento se deu a partir da elaboração de um questionário a ser aplicado em campo junto aos agricultores beneficiados com o Programa..... A avaliação se dava a partir da condensação dos resultados obtidos através dos questionários aplicados em campo, o qual se podia observar quais os temas mais ou menos abordados quando da realização dos trabalhos pelas prestadoras de serviços, como também poderia observar o grau de satisfação do agricultor beneficiado com a ATES. A nossa avaliação é que há época não tínhamos diretrizes concretas para realização do monitoramento e avaliação do programa......Tivemos que criar no âmbito da Superintendência Regional de Marabá, procedimentos para realização do monitoramento.....Os procedimentos criados com certeza deixou a desejar em vários aspectos, mas era o que tínhamos. (COORDENADOR DO PROGRAMA NO INCRA).

Visão não muito diferente foi apresentada pela responsável pela entidade

prestadora dos serviços de ATES, o que demonstra a fragilidade do processo de

monitoramento e avaliação desenvolvido.

Seria feito (o processo de monitoramento e avaliação) através do Lasat (Equipe de Articulação), mas como todos éramos principiantes, muito deixou a desejar. O processo se resumiu ao curso de capacitação de ATES; cada prestadora elaborou seu

81

próprio planejamento e escolheu a metodologia a ser trabalhada, a avaliação não foi diferente, pois em nenhum momento foi indicado ou sugerido algo para melhorar o que estava sendo executado. A avaliação feita pela equipe de ATES/INCRA, gerou um relatório apontando o nível de satisfação dos assentados com a prestador. (RESPONSÁVEL PELA ENTIDADE PRESTADORA DOS SERVIÇOS ATES)

A dificuldade encontrada pelo Programa de ATES na sua implementação

também pôde ser verificada quando os atores foram questionados acerca dos

aspectos facilitadores do trabalho desenvolvido no período de 2006 e 2007, o fato de

ser uma proposta inovadora encontrou obstáculo como a inexperiência dos atores

envolvidos, aqui não se fala em inexperiência com extensão rural propriamente dita,

mas com o novo viés sugerido pelo programa de ATES, o qual enfatiza não apenas

aspectos produtivos, mas especialmente sociais e ambientais.

Poucos aspectos atuaram como facilitadores durante o período abordado, uma vez que o Programa era relativamente novo e os profissionais envolvidos (principalmente do INCRA), com pouca experiência na condução dos serviços. (COORDENADOR DO PROGRAMA NO INCRA).

O Programa de ATES surgiu com uma proposta brilhante no que se refere à

contribuição para garantia de direitos dos assentados e promoção do

desenvolvimento rural sustentável nos assentamentos, no entanto, como toda

experiência nova, vários aspectos acabaram por prejudicar o planejamento das

ações, aspectos que vão desde a burocracia administrativa na tramitação dos

convênios até falhas na execução das ações nos PAs, claro que dificuldades são

constantes em todos os programas, no entanto, algumas são determinantes para o

sucesso ou insucesso de tal proposta, e por exemplo, falha como atraso (por parte

do INCRA) no repasse do recurso à entidade responsável pela prestação de serviço

superior a seis meses (conforme constatado nas entrevistas) corresponde a uma

enorme probabilidade de decretar o fim de uma ação, uma vez que por mais que a

82

entidade possua recurso extra (e/ou) capital de giro, dificilmente será suficiente para

manter todas as atividades planejadas inicialmente.

Sendo assim, teremos como reflexo, diminuição das visitas dos profissionais

aos PAs, e consequentemente menor número de orientações produtivas, cursos de

capacitação em associativismo, cooperativismo, palestras sócio-educativas na área

de direitos sociais, orientações sobre práticas de conservação dos recursos naturais;

enfim, as ações ora planejadas visando atingimento dos objetivos da ATES estarão

fadadas ao insucesso, ou senão limitadas a um sucesso parcial.

Provavelmente falhas como indefinição na metodologia de monitoramento e

avaliação dos serviços de ATES e atraso no repasse do convênio refletem nas

sugestões dadas pelos atores envolvidos quando questionados acerca das

sugestões para aperfeiçoamento do Programa tendo em vista sua contribuição para

o desenvolvimento rural sustentável.

A maioria das famílias sugere que sejam realizadas mais visitas ao

assentamento, consequentemente mais atividades de orientação e capacitação, isto

reflete, provavelmente, a insuficiência de ações desenvolvidas as quais poderiam

ser melhor planejadas, de maneira mais contínua se o pactuado no convênio e nas

normativas de ATES estivessem sendo cumpridas a contento, a exemplo do

desenvolvimento de um sistema de monitoramento e repasse em dia do recurso.

No mesmo sentido deu-se a resposta do responsável pela entidade

prestadora dos serviços de ATES, a principal sugestão é que o acordando, quando

da época da formalização do convênio, fosse cumprido, ou seja, que não houvesse

atraso no repasse de recurso à entidade a fim de que não houvesse impedimento no

desenvolvimento das atividades. Outra sugestão relacionou-se à questão do

monitoramento do programa, falha detectada por todos os atores, o que certamente

83

reflete no desempenho das ações, sugeriu-se que fosse elaborado um banco de

dados no qual pudesse disponibilizar em rede todas as atividades desenvolvidas

pelas prestadoras, desta forma, se teria um raio-x das ações e poderia haver uma

avaliação e balanço das atividades a fim de aprimorar o trabalho.

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A legislação agrária brasileira, especialmente no que se refere à

contribuição para o desenvolvimento rural sustentável, não deixa a desejar no que

diz respeito à garantia de direitos dos agricultores familiares, a exemplo da

legislação acerca do desenvolvimento rural sustentável, da política de assistência

técnica e extensão rural - PNATER, da Política de Reforma Agrária do governo

federal, nesta, encontram-se todos os Programas do INCRA, dentre eles, o

Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental - ATES, enfim, na teoria está

plenamente garantida a melhoria da qualidade de vida das famílias assentadas bem

como a contribuição para garantia do desenvolvimento rural sustentável. No entanto,

na prática o que se vê está distante da real efetivação dos direitos dos assentados,

consegue-se visualizar uma intenção dos atores envolvidos no Programa de

Assessoria Técnica, Social e Ambiental em atender as prerrogativas explicitadas na

normativa, mas não a real efetivação de direitos.

A pesquisa como um todo reflete uma intenção de todos os atores em fazer

cumprir os dispositivos legais do programa de ATES, e qualitativamente contribuir

para promoção do desenvolvimento rural sustentável nos projetos de assentamento,

dentre eles a busca pela apropriação coletiva de conhecimentos, a construção de

processos de desenvolvimento sustentável, especialmente, viu-se uma tentativa de

desenvolver ações democráticas, adotando metodologias participativas. No entanto,

a implementação passa por vários obstáculos, o que acaba por limitar o sucesso do

Programa no sudeste do Pará, dentre eles destaca-se a inconsistência de um

processo de monitoramento e avaliação dos serviços bem como a descontinuidade

no repasse do recurso às entidades conveniadas com o INCRA.

85

A descontinuidade no repasse do recurso acaba por prejudicar todo um

planejamento construído levando em consideração a participação democrática das

famílias assentadas no Programa, fato este que faz com que os beneficiários

percam a credibilidade no Programa como um todo, uma vez que não se consegue

cumprir com o que fora previamente construído coletivamente. Neste sentido, há que

se criar formas de garantir a descentralização financeira de forma contínua, a fim

que se possa cobrar com mais rigor das entidades o cumprimento fiel das ações ora

planejadas, visando atender as dimensões produtiva, social e ambiental, e desta

forma, contribuir para melhoria da qualidade de vida das famílias bem como

promoção do desenvolvimento rural sustentável.

Existem muitos desafios a serem vencidos, como exemplo, a continuidade

dos serviços, o desenvolvimento de ações em todas as áreas do programa

(produtiva, social e ambiental), sem o privilégio de uma em detrimento de outra,

enfim, a qualidade dos serviços como um todo ainda deixa a desejar. Sabe-se que

historicamente há um privilégio do desenvolvimento das ações produtivas,

especialmente porque tais orientações geralmente estão acompanhadas de acesso

à crédito para investimento na unidade familiar, algo que traduz no anseio de grande

parte dos agricultores. No entanto, o desenvolvimento de ações sociais e

ambientais, atreladas ao acesso a demais políticas públicas, como políticas de

saúde, educação, infraestrutura, dentre outras, são determinantes para o alcance do

desenvolvimento completo do assentamento. Não há como falar em

desenvolvimento sustentável se em um projeto de assentamento apenas existe um

bem sucedido projeto de diversificação da produção, no entanto, o agricultor não

possui infraestrutura básica, como energia para armazenamento da produção;

estradas, para escoamento da mesma, ou se não há na região escolas ou posto de

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saúde que atendam sua família. O programa de ATES, não é a solução para todos

os problemas do meio rural, no entanto, contribui para o processo de

conscientização das famílias e busca de efetivação dos seus direitos, a fim de se

garantir uma vida digna nos projetos de assentamento.

Faz-se necessário, encontrar formas de fazer com que a Equipe de

Articulação de ATES realmente cumpra a contento seu papel no que se refere ao

monitoramento dos serviços. Neste sentido, é preciso avançar de forma sistemática

num programa de monitoramento e avaliação dos serviços de ATES, buscando

corrigir as deficiências apresentadas em cada prestadora de serviços de forma

eficiente e eficaz.

No mesmo sentido, é de fundamental importância a retomada do

funcionamento do Fórum Nacional de ATES, bem como do Fórum Regional de

ATES, uma vez que está sendo desperdiçado um espaço democrático privilegiado

no qual todos os atores envolvidos no programa podem dialogar, apontar falhas,

propor alternativas visando aperfeiçoamento das ações de ATES, e assim, contribuir

para efetivação dos direitos das famílias assentadas.

No que pese as falhas e inconsistências detectadas, a entidade responsável

pela prestação dos serviços de ATES nos PAs pesquisados conseguiu desenvolver

atividades que contribuíram com a melhoria da qualidade de vida dos assentados,

no mesmo sentido, todos os atores envolvidos, contribuíram a fim de cumprir o

constante no normativo do programa, e desta forma, contribuir para o

desenvolvimento rural sustentável dos assentamentos. O programa de ATES tem,

portanto, um potencial muito maior do que o exposto aqui. Combinado com as

demais políticas públicas para o campo como de crédito, infraestrutura,

comercialização, dentre outras, possui capacidade de viabilizar assentamentos,

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qualificar os assentados tecnicamente e de desenvolver de forma sustentável a

agricultura familiar no sul e sudeste do Pará.

88

REFERÊNCIAS

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Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Desenvolvimento Territorial, Laboratório Sócio-Econômico do Tocantins, 2006.

89

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, 2003. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Regimento Interno do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, 2006. ROMERA, V. M. & PAULILO, M. A. S. Avaliação em políticas sociais: dimensão constituinte e constitutiva. In Revista Agora: Políticas Públicas e Serviço Social, ano 2, n° 4, julho de 2006 – ISSN – 1807-698X. Disponível em http: www.assistentesocial.com.br. Acesso em: 13.06.2010.

SAMPAIO, Plínio de Arruda. Qual é a questão agrária atual? Revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária-ABRA. São Paulo, V.34, Nº2, julho/dezembro, 2007. SEPULVEDA, Sergio. Desenvolvimento microrregional sustentável: métodos para planejamento local. Tradução de Dalton Guimarães. Brasília: IICA, 2005. SILVA, Luis Mauro Santos. Impactos do crédito produtivo nas noções locais de sustentabilidade em agroecossistemas familiares no território sudeste do Pará. 2008, 233 f. Tese( doutorado). Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2007. Disponível em http: www.ufpel.edu.nr. Acesso em: 15.07. 2010. SPAROVEK, Gerd. A qualidade dos assentamentos da reforma agrária brasileira. São Paulo: Página e Letras, 2003. STEDILE, João Pedro. A questão agrária no Brasil: Programas de Reforma Agrária 1946-2003. 1 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2005. __________________Questão agrária no Brasil: o debate da esquerda 1960-1980. 1 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2005. __________________ Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997.

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ANEXOS

1- ROTEIRO - ENTIDADE PRESTADORA DE SERVIÇOS DE ATES 1-De forma geral, como se deu a execução do Programa de ATES nos anos de 2006

e 2007, nos PAs Lagedo, Dourada, Piquiá e Palmeira Jussara?

2- Os serviços de ATES foram desenvolvido prioritariamente de forma individual ou

grupal (seja em grupos comunitários, reuniões, etc.)? Comente.

3-O serviço de ATES foi desenvolvido prioritariamente a partir das demandas dos

beneficiários e/ou das diretrizes e metas dos programas e solicitações institucionais?

4-Que instrumentos foram utilizados para o desenvolvimento do trabalho de ATES?

Instrumentos Sim Não

Experimentações (unidades demonstrativas)

Visitas a campo (individual)

Dias de campo (grupos)/Troca de experiências

Capacitação (cursos)

Reuniões com agricultores

Validação de tecnologia

Reuniões entre os membros da equipe

Reuniões entre equipes

Reuniões das equipes com os articuladores

5- A execução seguiu o planejado pelas diretrizes do Programa, levando em

consideração a contribuição para melhoria da qualidade de vida dos assentados e

sua relação com o desenvolvimento rural sustentável?

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6- Como se deu o processo de monitoramento e avaliação do Programa? Qual sua

avaliação sobre o mesmo?

7-Quais aspectos atuaram como facilitadores do trabalho nos referidos PAs?

8- Quais as deficiências/limites do Programa (em toda sua dimensão) neste

período?

9- Quais sugestões para aperfeiçoamento do Programa de ATES tendo em vista a

sua contribuição para o desenvolvimento rural sustentável?

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2- ROTEIRO - COORDENADOR DO PROGRAMA DE ATES DO INCRA À ÉPOCA

1 - Como se deu a execução e o acompanhamento por parte do INCRA do

Programa de ATES nos anos de 2006 e 2007, nos PAs Lagedo, Dourada, Piquiá e

Palmeira Jussara?

2- A coordenação seguiu o planejado pelas diretrizes do Programa, levando em

consideração a contribuição para melhoria da qualidade de vida dos assentados e

sua relação com o desenvolvimento rural sustentável?

3 – Quais aspectos atuaram como facilitadores do trabalho desenvolvido neste

período?

4- Como se deu o processo de monitoramento e avaliação do Programa? Qual sua

avaliação sobre o mesmo?

5 - Quais as deficiências/limites do Programa (em toda sua dimensão) neste

período?

6 - Quais sugestões para aperfeiçoamento do Programa de ATES tendo em vista a

sua contribuição para o desenvolvimento rural sustentável?

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3- QUESTIONÁRIO INDIVIDUAL ÀS FAMÍLIAS ASSENTADAS – PROGRAMA DE ASSESSORIA TÉCNICA, SOCIAL E AMBIENTAL – ATES 1 - Nome do PA: _________________________________________________

1.1 Nome do Assentado: _________________________________________

2 – Foi realizado um planejamento participativo das atividades da prestadora no PA?

( ) Sim ( ) Não

3 – Vocês têm participado de algum curso de capacitação ou algum evento

educativo?

( ) Sim ( ) Não

4 – MÉTODO / Geralmente qual é o método utilizado pelo técnico para realizar as

visitas?

( ) Visita nos lotes ( ) Reunião ( ) Palestra ( ) Cursos

4.1 - Quando foi a última visita?

( ) Neste mês ( ) Mês passado ( ) Últimos 6 meses ( ) + de 6 meses

4.2 – Qual costuma ser o assunto das visitas do Técnico?

( ) Crédito ( ) Agricultura, Pecuária ( ) Social ( ) Ambiental

5 - Com que freqüência os técnicos visitam seu PA/Lote?

( ) 2 vezes / mês ( ) 1 vez/ mês ( ) 3 vezes / ano ( ) Nunca

5.1 - Como é a relação entre você e os técnicos da prestadora?

( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não existe

5.4 – Você está satisfeito com os conhecimentos específicos do técnico?

( ) Sim ( ) Não

5.5 - O que você acha da forma de trabalho da prestadora?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim

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6 – A prestadora contribuiu para a melhoria da produção e/ou qualidade de vida em

seu lote?

( ) Sim ( ) Não

SAÚDE E ORGANIZAÇÃO SOCIAL

7 – A prestadora tem desenvolvido atividades relacionadas à saúde?

Exemplo:

√Palestras sobre saúde humana e prevenção de doenças;

√Orientação sobre a forma de tratamento da água;

√Orientado sobre a forma de tratamento dos dejetos humanos da casa.

( ) Sim ( ) Não

7.1 – A prestadora tem desenvolvido atividades relacionadas a questões sociais?

Exemplo:

√Palestras / cursos sobre artesanato e atividades manuais;

√Trabalho com crianças, jovens, idosos e mulheres;

√Atividades de lazer / esporte, etc.

( ) Sim ( ) Não

7.2 - Você costuma participar das atividades da associação?

( ) Sim ( ) Não

7.3 – A prestadora tem trabalhado junto com a associação do assentamento?

( ) Sim ( ) Não

MEIO AMBIENTE:

8 – A prestadora tem orientado vocês sobre práticas de conservação e recuperação

do meio ambiente?

Exemplo: Plantios de Árvores para Proteção de Mananciais; Recuperação de Áreas

Erodidas;

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Agrofloresta.

( ) Sim ( ) Não

8.1 – A prestadora tem orientado sobre o destino do lixo produzido no seu lote?

Exemplo: Queima, Enterra e Recicla/Reaproveita lixo inorgânico.

( ) Sim ( ) Não

9 – Qual a sua sugestão para que a prestadora melhore seus serviços