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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O Programa Bolsa Família: Uma Análise de seus Limites e Potencialidades enquanto Política Pública Intersetorial, Transversal e Focalizada Ivanilda Sousa Alves 1 Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB Shirley Pereira de Mesquita 2 Professor Assistente do Departamento de Economia - UFPB RESUMO Os objetivos deste estudo se constituem em traçar uma análise da concepção do Programa Bolsa Família indicando alguns pontos importantes para a compreensão das suas potencialidades e limites, bem como identificar a sua eficácia/eficiência enquanto política pública capaz de ampliar direitos sociais básicos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa exploratória. Envolve a investigação a partir de documentos publicados e disponíveis na área em questão (Políticas Sociais) reunindo a bibliografia correlata ao tema em estudo. Os resultados demonstram suas potencialidades na redução da pobreza e desigualdades sociais no País, bem como a elevação dos indicadores na área da saúde e educação pública. Entretanto, versam sobre os seus limites enquanto determinante de condicionalidades, bem como demostra a sua fragilidade no que tange a focalização e intersetorialidade. Desse modo, O desenho do Programa, levando em consideração as suas diretrizes Focalização, Condicionalidades e Intersetorialidade ainda possui inúmeras fragilidades a serem superadas, mesmo sabendo de suas pretensões acerca da garantia do acesso a direitos sociais básicos, no sentido de potencializar impactos positivos sobre a autonomização das famílias atendidas. Palavras-chave: Políticas Sociais, Programa Bolsa Família, Políticas Públicas 1 Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal UFPB. E-mail: [email protected] . Telefone: (83) 91252787 2 Doutoranda em Economia na Universidade Federal da Paraíba PPGE/UFPB. Professora Assistente do Departamento de Economia - UFPB/Campus I. Email: [email protected] . Telefone: (83) 8831- 9466

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O Programa Bolsa Família: Uma Análise de seus Limites e Potencialidades enquanto

Política Pública Intersetorial, Transversal e Focalizada

Ivanilda Sousa Alves1

Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB

Shirley Pereira de Mesquita2

Professor Assistente do Departamento de Economia - UFPB

RESUMO

Os objetivos deste estudo se constituem em traçar uma análise da concepção do Programa

Bolsa Família indicando alguns pontos importantes para a compreensão das suas

potencialidades e limites, bem como identificar a sua eficácia/eficiência enquanto política

pública capaz de ampliar direitos sociais básicos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de

natureza qualitativa exploratória. Envolve a investigação a partir de documentos publicados e

disponíveis na área em questão (Políticas Sociais) reunindo a bibliografia correlata ao tema

em estudo. Os resultados demonstram suas potencialidades na redução da pobreza e

desigualdades sociais no País, bem como a elevação dos indicadores na área da saúde e

educação pública. Entretanto, versam sobre os seus limites enquanto determinante de

condicionalidades, bem como demostra a sua fragilidade no que tange a focalização e

intersetorialidade. Desse modo, O desenho do Programa, levando em consideração as suas

diretrizes – Focalização, Condicionalidades e Intersetorialidade – ainda possui inúmeras

fragilidades a serem superadas, mesmo sabendo de suas pretensões acerca da garantia do

acesso a direitos sociais básicos, no sentido de potencializar impactos positivos sobre a

autonomização das famílias atendidas.

Palavras-chave: Políticas Sociais, Programa Bolsa Família, Políticas Públicas

1Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal – UFPB. E-mail: [email protected].

Telefone: (83) 91252787 2

Doutoranda em Economia na Universidade Federal da Paraíba – PPGE/UFPB. Professora Assistente do

Departamento de Economia - UFPB/Campus I. Email: [email protected]. Telefone: (83) 8831-

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1 – INTRODUÇÃO

Políticas públicas são ações que visam garantir o acesso efetivo da população aos

direitos constitucionais que, muitas vezes, são exercidos apenas pelos cidadãos que dispõem

de mais recursos. Uma política pública deve ser pensada a partir do diagnóstico dos

problemas que demandam intervenção governamental. O diagnóstico representa uma leitura

da realidade, ou seja, a compreensão e a sistematização dos problemas e necessidades das

famílias, assim como o conhecimento de suas características culturais e socioeconômicas

(RUA, 2009).

A garantia dos mínimos sociais por parte do Estado, viabilizada por políticas públicas,

especialmente por transferências condicionadas de renda, é hoje uma ação governamental

consolidada em nosso País, e alguns autores defendem a ideia de que este tipo de política

social é fundamental e necessária em Países marcados por desigualdades econômicas

profundas, como o Brasil.

A partir da Constituição de 1988 o fenômeno da pobreza ganhou status e dimensão de

problema nacional, compromisso que foi estendido às três esferas de governo, e também à

sociedade. Isso permitiu que a Assistência Social passasse a ser considerada uma Política de

direito, procurando romper com a cultura do favor, fazendo de todos, mesmo os excluídos do

mercado de trabalho, um cidadão brasileiro. Nesse contexto a partir de 1991 entra na agenda

pública brasileira o debate sobre Programas de Transferência de Renda (SILVA, 2007).

É neste cenário que é criado o Programa Bolsa Família e que este se torna referência

de política intersetorial, transversal e focalizada ao promover o acesso à renda de forma

condicionada, aliada à oferta de serviços de educação e saúde e a participação em programas

emancipatórios que visam à melhoria da qualidade de vida da população de baixa renda. O

Programa está amparado numa estratégia de assistência social focalizada e que exige o

cumprimento de determinadas condicionalidades pelas famílias beneficiadas, sendo concedido

conforme disponibilidade de recursos do orçamento.

Um elemento estruturante do Programa Bolsa Família são as condicionalidades que

devem ser cumpridas pelo núcleo familiar para que possam receber o benefício mensal.

Segundo os idealizadores do Programa essas condicionalidades representam contrapartidas

com vistas a certificar o compromisso e a responsabilidade das famílias atendidas e

representam o exercício de direitos para que as famílias possam alcançar autonomia e,

conseqüente inclusão social sustentável (BRASIL, 2005).

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Além da transferência monetária, o Bolsa Família propõe o desenvolvimento de ações

complementares no campo da educação, saúde e trabalho. Isso para possibilitar que crianças e

jovens de 06 a 15 anos tenham acesso a escolas e a postos de saúde e os adultos da família,

acesso à alfabetização, capacitação profissional, pequeno crédito, além de serem oferecidas

ações de saúde para mulheres grávidas, objetivando integrar esforços para permitir a

autonomização das famílias. Também tem como proposta promover a articulação com outras

políticas e programas sociais, criando a possibilidade de, em tese, romper com a fragmentação

típica das políticas sociais brasileiras e facilitar a adoção de ações intersetoriais (SENNA et al,

2007).

Nesta direção, os objetivos deste estudo se constituem em traçar uma análise da

concepção do Programa Bolsa Família, principal política pública de cunho social do Governo

Federal, indicando alguns pontos importantes para a compreensão das suas potencialidades e

limites, bem como identificar a sua eficácia/eficiência enquanto política pública capaz de

ampliar direitos sociais básicos, tendo em vista que, por vezes é passível de críticas por parte

de especialistas na área, ao impor condicionalidades a direitos inalienáveis ao ser humano e

incondicionais para a cidadania, mesmo sendo suas exigências consideradas, por seus

formuladores, como medida estratégica para favorecer o acesso aos serviços sociais e romper

o ciclo da pobreza. O fato de encontrar-se ancorado num diagnóstico de carências sociais e

supondo a fome como principal problema dos pobres brasileiros - quando se sabe que hoje a

desnutrição e a fome crônica atingem apenas uma parcela reduzida dos milhões de pobres

brasileiros - é mais um dos pontos que justificam a sua análise.

Além do que, uma de suas principais fragilidades está relacionada ao alcance de uma

qualidade na educação pública condizente com as exigências atuais do mercado de trabalho,

uma vez que o objetivo maior do Programa seria a futura independência das famílias com

relação ao benefício conseguido através de uma educação de qualidade. Enquanto também é

oportuno investigar a capacidade real dos serviços de saúde para absorver o aumento de

demanda que possivelmente ele provocará.

2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O Estado, enquanto instituição garantidora da ordem pública surge como um produto

da sociedade quando esta chega a determinado grau de desenvolvimento e a necessidade da

garantia de direitos considerados inalienáveis ao homem seja mantida vêm à tona, como o

direito a liberdade e a propriedade. É necessário um poder colocado acima da própria 3

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sociedade para que os antagonismos gerados de classes sociais com interesses econômicos

colidentes não a devore e/ou a consuma numa luta estéril. Dessa forma é nascido e deve ser

posto o Estado acima da própria sociedade, a partir da transferência da força física de cada

indivíduo, utilizada como instrumento de representação popular, como fundamento do

exercício do poder político e cujo objetivo maior é a garantia da justiça social. Temos então o

Estado enquanto representante dos interesses sociais e garantidor dos direitos humanos

(COELHO, 2009).

A intervenção Estatal nas relações que intermediam as decisões do Mercado e

sociedade civil, em economias capitalistas como a nossa é imprescindível. Atualmente a

sobreposição de interesses econômicos com a incessante procura por satisfação financeira

através de uma verdadeira corrida em busca do lucro e acúmulo de riquezas, contrapondo-se a

interesses que valorizam a coletividade, como a implementação de políticas de cunho social e

igualdade de direitos e de oportunidades, têm gerado disparidades sociais gritantes. Portanto é

necessário exercer um mínimo controle, para que muitas vezes, direitos humanos básicos

possam ser garantidos em nossa sociedade, como alimentação, saúde, educação, moradia,

saneamento básico, entre outros.

A preocupação em prover assistência social aos mais pobres acompanha a história da

formação e posterior desenvolvimento do capitalismo. As primeiras iniciativas

governamentais voltadas à proteção social data do século XIV e XVII na Inglaterra com a

criação da Lei dos pobres e instituição do Estado Moderno, condição essencial para o

surgimento de políticas de proteção social conhecidas por nós como "Políticas Públicas

Sociais" (MONNERAT et al., 2007; SENNA et al., 2007).

No Brasil, já na década de 80 com os sentimentos políticos advindos do Estado de

bem-estar social e a política do neoliberalismo, ocorreu o desenvolvimento e manutenção na

agenda de compromissos do Estado das Políticas Públicas Sociais. Algumas delas seriam

compensatórias, como afirma Coelho (2009, p. 103), temporárias e focadas nos mais pobres e

atingidas pelo processo de ajuste da economia patrocinado pelo Estado – como as de

transferência de renda para o combate da pobreza absoluta e de seguro desemprego -, mas

outras deveriam ser universais e permanentes – como as de educação, saúde pública e

formação profissional.

As políticas sociais desenvolvidas durante esse período fazem parte do Arcabouço

Legal de iniciativas presentes nos textos da Constituição de 1988. Elas deveriam caminhar na

direção da descentralização, da participação dos beneficiados nas decisões, do combate ao uso

clientelista das iniciativas na área social, da racionalização e aumento da eficiência do gasto, 4

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da universalização e da busca de maior equidade na prestação de benefícios e serviços sociais.

Dessa forma, o desenvolvimento de Políticas Públicas Universais, baseadas na oferta Estatal

focariam a ênfase no “direito do cidadão” e no “dever do Estado” devendo-se eliminar

gradativamente práticas do clientelismo e do assistencialismo; priorizando-se a preocupação

com a eficiência, a eficácia e a efetividade dos programas e das ações do Governo, com o seu

monitoramento e avaliação e com a sua fiscalização ou controle por parte da sociedade. Sua

execução deveria ser pensada a partir da oferta “massiva e indiferenciada” e os bilhões

destinados para programas de previdência social, saúde e saneamento, educação, qualificação

para o trabalho, combate a pobreza e distribuição de terra e renda comporiam uma extensa

“rede de proteção social” (FRANCO apud MOURA, 2007).

Nesta concepção ampliada de desenvolvimento social seria necessário ao Estado a

busca de parcerias e sinergias entre todo os setores (Estado, Mercado e Sociedade Civil)

partindo do pressuposto que, políticas públicas não são necessariamente sinônimos de

“políticas governamentais”, para efetivamente garantir, de forma segura, os direitos sociais,

em especial aos grupos considerados na faixa de risco social e direcionando suas ações para

públicos-alvo específicos, tais como os envolvidos em trabalho infantil, portadores de

deficiências, crianças, gestantes e nutrizes em situação de risco, dentre outros (FRANCO apud

MOURA, 2007).

É no esteio desse processo que se verifica, desde os anos 1990, uma profusão de

experiências de implementação de programas de transferência condicionada de renda

dirigidos à população pobre. Entretanto é somente com a criação do Programa Bolsa Família

(PBF), que este tipo de programa se espalha por todo o País, atingindo grau de cobertura

significativo (MONNERAT et al., 2007).

Criado através de medida provisória nº 132 de 20 de outubro de 2003, transformado

em Lei nº 10.836 em 9 de janeiro de 2004 e regulamentado por Decreto nº 5.209 de 17 de

setembro de 2004, o Programa Bolsa Família é o principal Programa de Transferência de

Renda do Governo Federal. Constitui-se em uma Política Pública de cunho social no âmbito

da Estratégia Fome Zero. Tem por objetivos: combater a fome, a pobreza e as desigualdades

por meio da transferência de um benefício financeiro associado à garantia do acesso aos

direitos sociais básicos – saúde, educação, assistência social e segurança alimentar; promover

a inclusão social, contribuindo para a emancipação das famílias beneficiadas, construindo

meios e condições para que elas possam sair da situação de vulnerabilidade em que se

encontram (BRASIL, 2004).

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Destina-se a famílias extremamente pobres, com renda per capita mensal de até R$

60,00, independentemente de sua composição e a famílias consideradas pobres, com renda per

capita mensal de entre R$ 50,01 e R$ 120,00, desde que possuam gestantes, ou nutrizes, ou

crianças e adolescentes entre 0 a 15 anos. O primeiro grupo de famílias recebe um benefício

fixo no valor de R$ 50,00, podendo receber mais R$15,00 por cada filho de até 15 anos de

idade, até três filhos, totalizando o benefício mensal em até R$ 95,00 por família. As famílias

consideradas pobres recebem uma transferência monetária variável de até R$ 45,00, sendo

R$15,00 mensais por cada filho de até 15 anos de idade (BRASIL, 2006).

O PBF prioriza a família como unidade de intervenção, sendo destinado àqueles que se

encontram em situação de pobreza ou de extrema pobreza e, o seu objetivo primordial é a

garantia de uma renda mínima para as famílias em situação de vulnerabilidade social e fome.

A gestão do Programa deve se pautar na descentralização, intersetorialidade e controle social

e exige das famílias beneficiadas condicionalidades – traduzidas na obrigatoriedade da

inserção de crianças, adolescentes, gestantes e nutrizes em determinados Programas de Saúde

e de crianças e adolescentes na escola. Em situação de não cumprimento de tais exigências, as

famílias beneficiadas devem ser desligadas do Programa. O tempo de permanência no

Programa não é estipulado, mas a Legislação do PBF (Portaria Interministerial 551 de 9 de

novembro de 2005) é muito clara quanto aos motivos de desligamentos das família, sendo um

deles justamente o descumprimento das condicionalidades (MONNERAT et al., 2007).

Nesta perspectiva temos nas exigências de contrapartidas um ponto central do desenho

do Programa Bolsa Família. Em seu trabalho Monnerat. G. L; et al (2007, p. 1460) induz a

nossa reflexão ao afirmar que,

[...] ao exigir uma contrapartida dos beneficiários, os Programas de

transferência de renda monetária introduzem, ao mesmo tempo, a difícil

escolha entre, de um lado, romper com a noção de direito incondicional, à

medida que os compromissos tornam os beneficiados co-responsáveis pela

superação de suas dificuldades e, de outro lado adotar a estratégia de exigir

contrapartidas com a perspectiva de atacar, de uma só vez, várias dimensões

da pobreza. Esta última vertente visa, portanto, suprir uma deficiência de

longa data, atendendo a um conjunto de carências jamais consideradas no rol

das Políticas e Programas brasileiros.

Para os formuladores do Programa, o cumprimento de tais condicionalidades significa

favorecer a cidadania, relacionando-se a ampliação do exercício do direito à saúde e educação

estando, pois, ligadas a um amplo processo de inclusão social e emancipação das famílias

beneficiadas.

São, então, destacadas as seguintes condicionalidades:

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a) Na área da educação - freqüência mínima de 85% da carga horária mensal de

crianças ou adolescentes de 6 a 15 anos de idade que acompanham as famílias beneficiárias,

matriculadas em estabelecimento de ensino;

b) Na área da saúde - o cumprimento da agenda de saúde e nutrição para famílias

beneficiárias que tenham em sua composição gestantes, nutrizes e ou crianças menores de 7

anos, constituída principalmente por exame de rotina, pré-natal, vacinação e acompanhamento

nutricional das crianças.

A expectativa, segundo justificativa explicitada na legislação e documentos oficiais do

programa, é de que o cumprimento de condicionalidades tanto possibilite o acesso e a

inserção da população pobre nos serviços sociais básicos como favoreça a interrupção do

ciclo de reprodução da pobreza, configurando, assim, uma espécie de “porta de saída” do

programa (SENNA et al., 2007).

Entretanto, a exigência de contrapartidas se traduz em uma questão bastante polêmica.

A controvérsia aparece, por um lado, no reconhecimento de que as condicionalidades do

programa têm potencial de pressionar a demanda sobre os serviços de educação e saúde, o

que, de certa forma, pode representar uma oportunidade ímpar para ampliar o acesso de um

contingente importante da população aos circuitos de oferta de serviços sociais e, por outro

lado, se traduz na ideia de que, à medida que um direito social é condicionado ao

cumprimento de obrigatoriedades, podem ser ameaçados os princípios de cidadania

(MONNERAT et al., 2007).

Pode-se dizer que se, por um lado, tais exigências têm potencial para facilitar o acesso

das camadas da população que dificilmente conseguiriam chegar aos serviços, por outro,

coloca a dúvida sobre a capacidade de os serviços de educação e saúde absorverem

adequadamente o aumento de demanda resultante da implementação do programa. O mais

grave é que estamos diante de uma situação em que se questionam as condições e a

capacidade mesma dos municípios ofertarem o que de mais básico está presente no elenco dos

direitos sociais, isto é, as ações de saúde e educação (MONNERAT et al., 2007).

Entre as principais propostas do PBF encontramos a Intersetorialidade, propondo-se a

atuar como eixo integrador de outros programas, perpassando as condicionalidades e atuando

como condição ao desenvolvimento de ações complementares presentes no arcabouço legal

do Programa; e a Integralidade , uma vez que amplia a intervenção sobre o indivíduo, agora

pertencente a um determinado grupo familiar, inscrito em um território específico e cuja

situação de pobreza ou extrema pobreza – como define o Programa a partir da renda - tem

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vários determinantes sociais necessitando, portanto, de uma ação integrada para dar conta da

multicausalidade e complexidade da situação de vulnerabilidade social (SENNA et al., 2007).

Recomenda-se a adoção de programas complementares, tais como aqueles voltados à

geração de emprego e renda; cursos profissionalizantes; micro-crédito; compra de produção

agrícola familiar, entre outros. Estas ações, no entanto, não integram o conjunto de

condicionalidades imposto pelo Bolsa família, fato que levanta questões sobre o alcance das

contrapartidas como estratégia de inclusão social, tal como enunciado em documentos oficiais

do programa (MONNERAT et al., 2007).

A legislação do programa define ainda que todas as instâncias de governo têm

responsabilidades na gestão das condicionalidades, porém é sobre os municípios que recai a

maior parte das tarefas, principalmente àquelas relativas à oferta de serviços de educação e

saúde previstas (MONNERAT et al., 2007).

Ademais, estamos também diante de uma problemática crucial do Programa – avaliar

a capacidade real dos municípios brasileiros em suprir as demandas pressionadas pelo

programa através de ações de saúde e educação de qualidade capazes de atender às

necessidades da população e às exigências atuais do mercado de trabalho, tendo em vista

promover a independência das famílias com relação ao benefício (MONNERAT et al., 2007).

Sobre a focalização do Programa, um primeiro aspecto a considerar é o uso da renda

monetária como critério único de seleção das famílias, o que é largamente criticado na

literatura especializada. Ademais a definição arbitrária de um valor per capta muito baixo

tende a impossibilitar a inclusão de famílias que, apesar de situadas em uma faixa de renda

acima do valor definido, encontram-se também em situação de pobreza (SENNA et al., 2007).

Com efeito, somente a renda não é suficiente para qualificar a pobreza, fenômeno

multifacetado que engloba outras dimensões de vulnerabilidade social, tais como: saúde,

esperança de vida, educação, saneamento e acesso a bens e serviços públicos, que vão além da

privação de bens materiais (TOWSEND, 1993; SEN, 2001 apud SENNA et al., 2007).

Neste contexto a pobreza é entendida na sua dimensão histórica, econômica, social,

cultural e política; é complexa e multidimensional; é essencialmente de natureza estrutural,

sendo, portanto, mais que insuficiência de renda. É produto da exploração do trabalho; é

desigualdade na distribuição da riqueza socialmente produzida; é não acesso a serviços sociais

básicos; à informação; ao trabalho e à renda digna; é não participação social e política

(SILVA, 2002); Em verdade, uma das mais difíceis tarefas a ser enfrentadas por programas

focalizados como o PBF é a construção de critérios e mecanismos de seleção de grupos

sociais que serão ou não contemplados, de forma a considerar o conjunto de vulnerabilidades 8

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sociais a que esses segmentos estão expostos (MAGALHÃES et al., 2004 apud SENNA et al.,

2007). Sobre este ponto, talvez o principal problema seja o baixo valor do corte de renda para

pobreza extrema (RS60), o que, na prática, representa um grande risco de excluir muitas

dessas famílias pobres (SENNA et al., 2007).

Também aqui falta clareza na definição das estratégias de implementação da

intersetorialidade, assim como são frágeis os mecanismos de indução por parte do Governo

Federal. Em realidade ainda não foram construídos canais de diálogo eficientes entre os

diferentes setores de governo nas três esferas político-administrativas. O desenvolvimento

concreto da intersetorialidade ainda se encontra dependente da iniciativa do nível local, o que

não é suficiente para sustentar experiência exitosas nesta área (SENNA et al., 2007).

No entanto, uma questão crucial colocada pelo Bolsa Família é a conhecida fragilidade

da institucionalidade pública para acompanhar o cumprimento das condicionalidades, o que

permite que se questione a capacidade dos municípios para realizar esta tarefa a contento

(MONNERAT et al., 2007).

Além do que, a perspectiva de punir as famílias que não cumprirem as

condicionalidades parece incompatível com os objetivos de promoção social do programa,

uma vez que nesta direção não se pode deixar de considerar as condições que as famílias

pobres dispõem para atender as requisições impostas, tendo em vista as dificuldades

cotidianas de sobrevivência a que a maioria está exposta (MONNERAT et al., 2007).

Com relação à autonomia das famílias, como afirma Senna et al., 2007, pode-se dizer

que a ausência de indução de programas de geração de emprego e renda representa uma

importante debilidade do PBF, uma vez que não há uma diretriz clara pautada na

intersetorialidade e intergovernabilidade para atuar sobre as causas da precariedade de

inserção da população adulta no circuito produtivo.

A forma de execução do programa em nível nacional é outro grave problema que

merece nossa atenção, enquanto seres capazes de modificar a realidade. O desvio de

benefícios a famílias que não se enquadram no perfil de renda que o programa contempla, é

grave e carece de controle maior por parte da sociedade, uma vez que sabemos que o controle

social é de importância ímpar na garantia da justa distribuição do benefício, apesar de sua

difícil institucionalidade diante da insuficiente tradição democrática do poder público

brasileiro. Para Senna et al. (2007), a busca de maior transparência ao processo e

responsabilização dos diferentes atores envolvidos, através da exigência de indicação, pelo

nível local, do gestor municipal do PBF e do conselho de política pública que formalmente

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responderá pelo acompanhamento do programa é uma questão que merece destaque uma vez

que, temos o Controle Social, possivelmente como uma das facetas mais frágeis do Programa.

3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa é de natureza qualitativa. Segundo Neves (1996, p. 2) “os métodos

qualitativos trazem como contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos

de cunho racional e intuitivo capaz de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos”.

De acordo com este mesmo autor esse tipo de pesquisa tem por objetivo, “traduzir e expressar

o sentido dos fenômenos no mundo social”. Possui cunho bibliográfico e envolve a

investigação a partir de documentos publicados e disponíveis na área em questão (Políticas

Sociais). Dessa forma reúne a bibliografia correlata ao tema em estudo - O Programa Bolsa

Família: Uma Análise de seus Limites e Potencialidades enquanto Política Pública

Intersetorial, Transversal e Focalizada - buscando subsídios teórico-documentais que irão

amparar o objeto da pesquisa e ampliar o conhecimento na área.

Para Gil (1999, p. 43),

[...] um trabalho é de natureza exploratória quando envolver levantamento

bibliográfico entrevista com pessoas que tiveram (ou tem) experiências

práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a

compreensão. Possui ainda a finalidade básica de desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e ideias para a formulação de abordagens posteriores.

Dessa forma, este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento

para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular

problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por

estudos posteriores.

Portanto esta pesquisa se caracteriza como sendo qualitativa exploratória uma vez

que, pretende obter mais informações acerca do assunto abordado, além de gerar informações

para estudos futuros.

4 - ANÁLISE DE RESULTADOS

Temos na literatura uma ampla variedade de trabalhos que tratam de discutir os

impactos do Programa Bolsa Família na melhoria das condições sócio-econômicas do povo

brasileiro, desde a sua implementação pelo Governo Federal, em 2003, até os dias atuais. Bem

como avaliam seus desafios e limites. O universo de avaliações sobre o tema é vasto, porém

aqui se faz apenas um resumo breve dos resultados considerados mais relevantes para esta

pesquisa.

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A discussão sobre o indicador desigualdades é ampla e inúmeros autores desde o

início da implementação do PBF buscam avaliá-lo. Para Soares; Sátyro (2009), levando em

consideração resultados de vários outros trabalhos , as transferências sociais focalizadas, cujo

peso na renda total é de cerca de 1%, contribuíram com um terço da queda na desigualdade.

Só o PBF influenciou 20% desta redução. O mesmo autor defende que tal fato se deve à

progressividade dos benefícios, que por sua vez está ligada à focalização do Programa.

Em pesquisa intitulada Programas de transferência de renda e redução da pobreza e

desigualdades sociais no Brasil, no período de 2004 a 2011 de Paes-Sousa; Queiroga (2010)

os Autores defendem que, o país vem assistindo à redução da desigualdade social medida pelo

Índice de Gini, que reflete a concentração de renda de uma população. Segundo o estudo,

calculado com dados da PNAD, o Índice de Gini da renda domiciliar per capita no Brasil

passou de 0,597, em 1995, para 0,538, em 2009 e relata que, 16% desta queda se deve às

transferências do Programa Bolsa Família.

Analisando os dados de 2008 da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um grupo de técnicos

de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea mostra

que, em 2008, houve uma queda da pobreza e uma diminuição da desigualdade de renda dos

domicílios brasileiros.

Os resultados mostraram que, as transferências governamentais foram responsáveis

por um terço da redução na desigualdade e ainda é possível aumentar sua progressividade

para que continuem agindo para gerar uma sociedade mais justa e não mais para reproduzir

desigualdades, que é o que ocorreu nas cinco décadas antes do final dos anos noventa.

Dados desta mesma pesquisa demostram que sem as transferências governamentais a

queda na desigualdade teria sido 34% menor. Porém, utilizamos aqui a concepção de

desigualdade citada em estudo realizado pelo IPEA (2010) – Bolsa Família 2003-2010:

avanços e desafios no qual defende que esta não diz respeito apenas a aspectos econômicos de

renda e riqueza, mas relaciona-se também à desigualdade nos indicadores de saúde, educação,

qualificação profissional e de acesso às políticas públicas em geral, a condições precárias de

moradia e à baixa participação, entre outros, tornando-se fundamental, tendo em vista a

complexidade do problema, uma articulação de tais políticas, de forma a empoderar as

famílias em situação de pobreza para o desenvolvimento de seus projetos de vida, de modo

inclusivo e emancipatório.

Nessa perspectiva igualmente defendemos que o PBF deve apresentar-se apenas como

parte de uma estratégia maior de combate à pobreza, que proporciona a complementação de 11

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renda e que incorpora, por meio das condicionalidades, a questão do reforço ao exercício dos

direitos sociais e da articulação com as redes de proteção e desenvolvimento social das

famílias. Há que considerar para Silva (2007, p. 1437) que,

[...] para alcançar essa intencionalidade é necessário que ocorram mudanças

significativas no Sistema Educacional, de Saúde e de Trabalho, para permitir

a melhoria do ensino, do atendimento à saúde e do acesso e permanência no

trabalho, o que também demanda continuidade e sustentabilidade dos

Programas.

Indicações de diversos estudos anteriores evidenciam ainda um grande descompasso

entre a manutenção da transferência monetária e o oferecimento de serviços sociais básicos,

suficientes e de qualidade, para atender às necessidades das famílias e criar condições

favoráveis a sua autonomização.

Em relação aos impactos no quesito Pobreza, Soares; Sátyro (2009) demonstram que,

não houve impacto significativo no percentual de pessoas existentes na linha de pobreza

traçada pelo próprio Programa, ou seja, aquelas que sobrevivem com valores abaixo de R$

120,00, isso porque as transferências executadas por este são substantivamente menores que a

linha de R$120,00 per capta.

Para Silva (2007, p. 1438), tal fato se encaixa no campo dos limites do Programa, onde

destaca que, “um valor monetário muito baixo transferido às famílias, permite tão somente

manter as famílias beneficiadas num nível de mera reprodução biológica, sendo insuficiente

para produzir impacto efetivo na redução da pobreza”.

Ainda que se leve em consideração o que demonstra o estudo realizado por Sousa;

Queiroga (2010), quando definem a relação do PBF com melhoria de renda das famílias

apontando para um acréscimo de 21% na renda das famílias beneficiadas pelo Programa,

estamos aquém dos índices aceitáveis de pobreza. Porém de acordo com dados de 2008 da

PNAD o País foi capaz de reduzir a pobreza e, em particular, a extrema pobreza de forma

espetacular.

De acordo com o Perfil das Famílias Beneficiárias do PBF em 2009 dos 12,4 milhões

de famílias então beneficiárias, cerca de 4,3 milhões superaram a linha da extrema pobreza

(R$ 70,00 per capita/mês) graças à participação no Programa. Os benefícios do Bolsa Família

provocaram um aumento médio de 48,7% na renda familiar mensal per capita da população

atendida (de R$ 48,69 para R$ 72,42). Em 2008, a extrema pobreza foi reduzida à metade de

seu valor em 2003, portanto, fizemos em cinco anos o que o Primeiro Objetivo de

Desenvolvimento do Milênio (ODM) estabelece que seja feito em 25 anos. Entretanto, ainda

de acordo com esta mesma pesquisa, apesar da estrondosa melhora, o nível de desigualdade

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brasileiro continua muito elevado. Enquanto os 40% mais pobres vivem com 10% da renda

nacional, os 10% mais ricos vivem com mais de 40%. Embora a situação uma década atrás

fosse certamente pior, ainda hoje, a renda apropriada pelo 1% mais rico é igual à dos 45%

mais pobres.

Para Paes-Sousa; Queiroga (2009), a análise da série histórica da PNAD permite

constatar que 27,9 milhões de pessoas superaram a pobreza entre 2003 e 2009. Contudo, é

alarmante a persistência de extrema pobreza em cerca de 16,2 milhões de indivíduos,

conforme os dados do Censo 2010. Nesse sentido, os Programas de Transferência de Renda

devem integrar uma estratégia ampliada de combate à desigualdade e à pobreza, composta por

ações diversas.

Em relação às condicionalidades que o Programa impõe a os seus beneficiários, uma

síntese do 1º Relatório sobre os Impactos do Programa Bolsa Família – 2ª rodada,

demonstram os resultados positivos de tais condicionalidades nas áreas da saúde e educação à

saber:

A quantidade de crianças nascidas a termo, ou seja, após um período de gestação

entre 37 e 41 semanas, foi 14,1 pontos percentuais maior nas famílias beneficiárias, em

comparação com as famílias não beneficiárias;

A proporção de crianças beneficiárias consideradas nutridas foi, por sua vez, 39,4

pontos percentuais mais alta em comparação com crianças não beneficiárias, considerando-

se o Índice de Massa Corporal (IMC), que estabelece uma relação entre o peso e a altura das

crianças;

Vacinação em dia, especialmente quando se observam os índices de vacinação contra

Poliomielite. A proporção de crianças beneficiárias que receberam a primeira dose da Polio

no período apropriado foi 15 pontos percentuais maior do que a proporção de crianças de

famílias não beneficiárias. No caso da terceira dose, a proporção foi 25 pontos percentuais

superior. A vacinação contra Tétano, Difteria e Coqueluche (DTP) também foi mais

frequente entre as famílias beneficiárias do PBF, com uma diferença de 18 pontos

percentuais na segunda dose e de 19 pontos percentuais na terceira;

A frequência escolar de crianças de 6 a 17 anos das famílias beneficiárias foi 4,4

pontos percentuais maior em comparação com a frequência escolar das crianças das famílias

não beneficiárias. Somente na região Nordeste, essa diferença foi de 11,7 pontos percentuais

a favor das crianças das famílias beneficiárias;

Além disso, a progressão de ano para crianças de 6 a 17 anos de famílias

beneficiárias foi 6,0 pontos percentuais maior em comparação com famílias não 13

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beneficiárias. O impacto é maior entre as meninas de 15 e 17 anos, quando a diferença chega

a 19 e 28 pontos percentuais, respectivamente.

No Estudo de Paes-Sousa; Queiroga (2009), os autores expõem comparações de dados

das duas pesquisas de Avaliação de Impacto do Programa Bolsa Família, realizadas em 2005

e 2009 respectivamente a 1ª e a 2ª etapas e concluem que a comparação entre os resultados

mostra melhoras significativas na vida das famílias entrevistadas, conforme os dados

anteriormente apresentados.

Entretanto, as famílias beneficiárias informaram que, em geral, não têm dificuldades

em cumprir as condicionalidades do PBF, mas nas regiões rurais a dificuldade em cumprir

condicionalidades de saúde é superior à encontrada nas regiões urbanas, especialmente devido

a problemas de acesso aos postos e unidades de saúde. Nesse sentido para Soares; Sátyro,

(2009, p. 14) “a função de proteção social do Programa se enfraquecer na medida em que

serão provavelmente as famílias mais vulneráveis as que não conseguirão cumprir as

contrapartidas mais rigorosas”.

Ocorre aqui a importância de reafirmar a relevância do posicionamento dos autores

citados quando declaram ser, apenas a transferência de renda insuficiente para o

enfrentamento da pobreza. É preciso associar as transferências à oferta de serviços e, se

necessário, à ampliação da rede de equipamentos públicos. Nesse sentido, as

condicionalidades não se aplicam somente às famílias beneficiárias, mas também ao Estado –

que deve prover a oferta de serviços e equipamentos. Atente-se ao fato de que os serviços,

neste caso, incluem os serviços de assistência social que, pela concepção do PBF, atuam de

maneira sinérgica com a transferência de renda. A integração entre benefícios e serviços é

essencial para assegurar a ruptura do ciclo intergeracional de pobreza, atacando não somente a

insuficiência de renda, mas também os aspectos multidimensionais da vulnerabilidade.

Além do que, ainda na concepção Soares; Sátyro (2009 p. 15),

[...] obrigatório ou não, o cumprimento dessas contrapartidas por parte das

famílias que vivem em situação de extrema vulnerabilidade social e de renda

não é tão simples quanto o é para as famílias menos vulneráveis. São

famílias cujo vínculo com a formalidade e a institucionalidade é mais frágil.

Vivem longe das escolas e dos postos de saúde. Frequentemente vivem além

do alcance dos correios. Supõe-se, portanto, que o Estado deva entrar

cumprindo seu dever constitucional de criar condições para que as famílias

façam a parte que lhes cabe, ainda que o acompanhamento de tais

contrapartidas seja crescentemente satisfatório atualmente.

Este mesmo estudo demonstrou que, na educação, o cumprimento de tais

condicionalidades passou de 62% das crianças em 2006 para quase 85% no final de 2008. Na

saúde, os indicadores de cumprimento das agendas passou de meros 6% das famílias no

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primeiro semestre de 2005 até quase 60% no segundo semestre de 2008. Para o mesmo autor

não é que não existe necessidade de contrapartidas, mas deve-se entender que é exatamente

em função do alto grau de vulnerabilidade social que muitas famílias não conseguem atender

às exigências e, portanto, devem ser encontradas formas de lhes prestar ainda maior

assistência social, e não alijá-las do processo de resgate social.

Na visão de Silva (2007, p. 1430),

[...] é necessário não apenas a concessão do benefício às famílias em

condições de vulnerabilidades mas, sobretudo a articulação de transferência

monetária com políticas e programas estruturantes, enquanto um dos

pressupostos centrais dos Programas de Transferência de Renda no Brasil,

demandado a expansão e a democratização de serviços sociais básicos. Isso

exige a expansão quantitativa e qualitativa dos Sistemas de Saúde, de

Educação e de Trabalho, ainda muito precários entre nós.

Em relação à atuação da Intersetorialidade como possível estratégia necessária e

condicionante da futura emancipação das famílias beneficiadas pelo PBF, a que se pese a

concepção de alguns autores ao defender que, a posição do governo brasileiro é rejeitar a

busca pelas portas de saída, mas ao mesmo tempo deixar a porta entreaberta para políticas

sociais que busquem auxiliar as famílias beneficiárias a saírem da condição de pobreza. Isto

se faz mediante os programas complementares, que focalizam, nas famílias beneficiárias do

PBF, políticas de treinamento, de microcrédito ou de outros tipos. Alguns exemplos de

programas complementares são o Programa Brasil Alfabetizado, o ProJovem, o Projeto de

Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária, o Programa Nacional da

Agricultura Familiar, Programas de Microcrédito do Banco do Nordeste, a Tarifa Social de

Energia Elétrica e o Programa Luz para Todos, embora nenhum destes programas tenha sido

desenvolvido explicitamente para os beneficiários do Bolsa Família. Até agora, o único

programa desenhado explicitamente para os beneficiários do Bolsa Família foi o Plano

Setorial de Qualificação (PLANSEQ), que visa formar beneficiários do Bolsa Família para o

setor de construção civil.

Em relação ao perfil de Focalização do Programa a de se considerar os resultados da

pesquisa intitulada Bolsa Família 2003-2010: avanços e desafios, realizada pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada em (2010). A pesquisa demostra que, quanto mais pobres as

pessoas, mais recebem o benefício. No entanto, há considerável erro de focalização quando se

considera a elegibilidade. Quase metade das famílias que recebe o PBF não atendia aos

critérios de entrada no programa. Resultados mostram que em 2004 e 2006, respectivamente,

42,5% e 49,2% das famílias que recebiam o PBF tinham uma renda per capita líquida da

transferência acima do critério de elegibilidade então vigente para o programa.

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Para Silva (2007, p. 1436),

[...] o mais problemático seriam os critérios de elegibilidade utilizados para

inclusão das famílias. Além da centralidade dada à renda para qualificar

famílias pobres e extremamente pobres, o patamar de renda indicado para

inclusão é muito baixo. Isso faz com que, mesmo que o Programa consiga

alcançar todas as famílias brasileiras com renda per capita de R$ 120,00, fica

limitado ao atendimento do que se pode considerar da extrema pobreza.

Ademais, na medida em que o benefício da transferência monetária é em

médio R$ 61,43 mensais por família, estas estão destinadas a permanecer

num nível de extrema pobreza, com poucas possibilidades de autonomização

pelos limites de oportunidades concretas de inserção em políticas

estruturantes, como o trabalho, e devido a situações decorrentes dos próprios

traços da população atendida: pobreza severa e estrutural, baixo nível de

qualificação profissional e de escolaridade dos adultos das famílias, além de

limitado acesso a informações.

Este mesmo autor atenta para o risco de o PBF adotar uma perspectiva neoliberal/

conservadora de focalização cujo objetivo é tão somente atenuar a pobreza. Orientando-se

pela desresponsabilização do Estado e por corte de recursos dos programas sociais, centrando-

se em programas sociais compensatórios, emergenciais, assistencialistas, insuficientes,

descontínuos, direcionados para populações que vivem em situação de extrema pobreza. Essa

focalização fragmenta mais que focaliza na população pobre por ser incapaz de alcançar a

totalidade dos segmentos populacionais que estão demandando atenção especial.

5 – CONCLUSÕES

Há que se considerar que o Programa Bolsa Família se constitui hoje em um Programa

de extrema importância no panorama das Políticas Sociais no Brasil. Levando em

consideração o número de beneficiários assemelha-se às grandes Políticas Públicas do País,

como a saúde, educação pública e a previdência social e, por este motivo, compõe junto com

essas a espinha dorsal da política social brasileira. Ademais sabemos de seus impactos nos

indicadores que compõe a agenda de saúde, bem como as de educação, além da garantia dos

avanços na redução da pobreza, na diminuição da desigualdade de renda e na garantia de que

as crianças beneficiárias não se submetam ao trabalho infantil como antes.

Entretanto, não deixando de creditar as suas potencialidades e impactos como

demostrado na bibliografia citada ao longo desta pesquisa, devemos também expor os seus

limites e desafios e o fato é que, embora os números que medem a pobreza e a extrema

pobreza no País estejam em progressivo decréscimo desde a implantação do Programa, o fato

é que, ainda se constitui num desafio atacar os seus diferentes determinantes num País

marcado por profundas desigualdades sociais.

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O desenho do Programa, levando em consideração as suas diretrizes – Focalização,

Condicionalidades e Intersetorialidade – ainda possui inúmeras fragilidades a serem

superadas, mesmo sabendo de suas pretensões acerca da garantia do acesso a direitos sociais

básicos, no sentido de potencializar impactos positivos sobre a autonomização das famílias

atendidas.

Em relação às Condicionalidades, o que se discute é o fato de estarem ligadas ao

cumprimento de uma agenda de obrigações ligadas ao campo da saúde e educação, estando,

muitas vezes, os serviços indisponíveis em quantidade e qualidade suficientes para atender à

necessidades de emancipação futura das famílias beneficiadas. Além disso, fere o princípio da

não condicionalidade peculiar ao direito de todo cidadão ter acesso ao trabalho e a programas

sociais que lhe garantam uma vida com dignidade. O fato é que, em tese deveriam está

intrinsicamente ligados à Intersetorialidade, porém, apenas um único Programa complementar

foi pensado, até então, para instrumentalizar uma demanda reprimida de oportunidades, tendo

em vista as condições de vulnerabilidades a que estão expostos.

Por conseguinte, o conceito de Focalização traduz a escolha da implantação de uma

política restrita a um determinado grupo alvo, determinado mediante critérios estabelecidos

sejam eles de pobreza, deficiência, idade, renda, etc. Apesar de sabermos quão relevantes para

as famílias beneficiadas são suas ações, sabemos que investimentos em Políticas Públicas

Universais como saúde e educação mostrar-se-iam, claro que em longo prazo, mais efetivos

não apenas para que estas famílias pudessem, de fato, obter um futuro mais justo, próspero e

independente, mas, e, sobretudo porque Políticas Sociais de cunho Universal são aplicadas a

toda população, sem restrições de qualquer natureza, garantindo direitos sociais universais e

incondicionais, reduzindo as desigualdades e a pobreza por meio da inclusão e justiça social,

mediante a prática e implementação de suas ações de forma equânime e sustentada.

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MINI CURRICULO

Ivanilda Sousa Alves

Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba

Pós Graduada em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal da Paraíba –

UFPB VIRTUAL

Coordenadora da Atenção Básica do município de Teixeira PB

[email protected]

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