curso de especializaÇÃo em engenharia...

25
4 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO DISCIPLINA: M5 D3 ERGONOMIA GUIA DE ESTUDO DA AULA 61 INTRODUÇÃO À ERGONOMIA PROFESSOR AUTOR: Profª Sylvia Volpi PROFESSOR TELEPRESENCIAL: Profª Sylvia Volpi COORDENADOR DE CONTEÚDO: Engº Josevan Ursine Fudoli DIRETORA PEDAGÓGICA: Profa. Maria Umbelina Caiafa Salgado 30 de outubro de 2012

Upload: lydat

Post on 01-Aug-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

4

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA

DE SEGURANÇA DO TRABALHO

DISCIPLINA: M5 D3 – ERGONOMIA

GUIA DE ESTUDO DA AULA 61

INTRODUÇÃO À ERGONOMIA

PROFESSOR AUTOR: Profª Sylvia Volpi

PROFESSOR TELEPRESENCIAL: Profª Sylvia Volpi

COORDENADOR DE CONTEÚDO: Engº Josevan Ursine Fudoli

DIRETORA PEDAGÓGICA: Profa. Maria Umbelina Caiafa Salgado

30 de outubro de 2012

5

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA: ERGONOMIA

O desenvolvimento desta disciplina está organizado em cinco partes, nas quais

serão tratados os seguintes conteúdos:

Parte I: Introdução à Ergonomia: Introdução. Conceitos. Correntes de Ergonomia. Análise Ergonômica e Intervenção Ergonômica. Aspectos biopsicossociais na saúde ocupacional. Mecanismos de defesa que podem levar às somatizações. Ergonomia nos equipamentos de proteção. Movimentação e transporte de ferramentas. Salas de descompressão: um oásis no trabalho. Harmonia nas relações sociais. Motivação para a luta pela prevenção. Referências bibliográficas.

Parte II:

Parte III:

Parte IV:

Parte V:

O Calendário atualizado da Disciplina encontra-se no quadro a seguir.

2012

aulas

Guia de

Estudo Textos Complementares de Leitura Obrigatória

No Lista

Exercícios

30 out Parte I

Ergonomia: um estudo sobre sua influência na

produtividade. Acessar o site:

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=

S1809-22762009000400006&script=sci_arttext

61

06 nov Parte II 62

13 nov Parte III 63

20 out Parte IV 64

27 out Parte V 65

6

Objetivos da aprendizagem

Conceituar ergonomia

Conhecer os aspectos biopsicossociais

Descrever a análise ergonômica do trabalho

Conceituar a harmonia nas relações de trabalho

Descrever a intervenção ergonômica do trabalho

7

INTRODUÇÃO À ERGONOMIA

ÍNDICE

1.0 – INTRODUÇÃO ........................................................................................ 08

2.0 – CONCEITOS DE ERGONOMIA ........................................................... 08

3.0 – CORREENTES DE ERGONOMIA .................................................. 09

4.0 – ANÁLISE ERGONÔMICA E INTERVENÇÃO ERGONÔMICA ....... 10

5.0 – ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS NA SAÚDE OCUPACIONAL .. 13

6. 00 – MECANISMOS DE DEFESA............................................................16

7. 00 – ERGONOMIA NOS EPIS .............................................................. 17

8.00 – MOVIMENTAÇÃO E TRANSPORTE DE FERRAMENTAS .......... 20

9.00 – SALAS DE DESCOMPRESSÃO: UM OÁSIS NO TRABALHO .... 22

10.00 – HARMONIA NAS RELAÇÕES SOCIAIS ..................................... 24

11.00 – MOTIVAÇÃO PELA LUTA PELA PREVENÇÃO ......................... 26

12. 00 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 27

8

INTRODUÇÃO À ERGONOMIA

1 – INTRODUÇÃO

Segundo (ALMEIDA, apud OLIVEIRA, 1997), há 27 séculos, o poeta grego Hesíodo

escreveu os versos do Erga (Os Trabalhos e os Dias). Naquela época, Érgon é enaltecido como o trabalho relacionado à subsistência e dignificação do homem. Pónos, um dos males que sai da jarra de Pandora, é o trabalho árduo, fatigante, que humilha o homem. Foi na raiz grega érgon que se inspirou o engenheiro inglês Murrel para, em 1949, cunhar o termo ergonomia, para significar o estudo sistemático do trabalho, tendo como referência o bem-estar do homem.

No sentido etimológico do termo, ergonomia (ergon = trabalho e nomus = lei)

significa o estudo das normas e regras do trabalho, visando à sua humanização. Por humanização do trabalho, entende-se aplicar os conhecimentos da fisiologia, psicologia e ciências congêneres ao trabalho humano, com a perspectiva de uma melhor adaptação dos métodos, meios e locais de trabalho ao homem (BART, 1978).

A epistemologia ergonômica repousa sobre a noção de “sistema”, isto é, um conjunto

de elementos em interação tão estreita que não podem ser estudados isoladamente, nem podem ser compreendidos sem o conhecimento das leis que regem o funcionamento do todo. É assim que o homem é considerado: um sistema psicossomático; o trabalho individual, como um sistema cibernético homem-máquina; a empresa, como um sistema hierárquico homem-máquina e homem-homem, articulado com um sistema global sociopolítico de comunicação (BART, 1978). 2 – CONCEITOS DE ERGONOMIA

A ergonomia é uma ciência multidisciplinar que estuda o ambiente de trabalho, para preservar a saúde psicofisiológica do ser humano, promovendo a adaptação dos equipamentos, mobiliários, máquinas, ferramentas, ambiência e do posto de trabalho para que o ser humano possa executar suas atividades com segurança, conforto e eficiência.

A ergonomia não é uma especialidade médica, devido ao seu caráter multidisciplinar,

mas é eminentemente preventiva e tem nos conhecimentos da fisiologia humana o seu principal pilar. A ergonomia está conceitual e eticamente comprometida com o ser humano. Deve ser entendida como a ciência da aplicação do conjunto dos conhecimentos relativos ao homem, aos produtos e processos, visando ao funcionamento harmônico e seguro dos sistemas homem-máquina.

Outros autores conceituam a ergonomia, englobando um conjunto de atividades que tendem a adaptar o trabalho ao Homem, consistindo essa adaptação em otimização do Sistema Homem - Trabalho.

Eis as principais definições desses autores:

"A Ergonomia é um conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao Homem e necessários para conceber os utensílios, as máquinas e os dispositivos que possam ser utilizados com o máximo conforto, segurança e eficácia" (WISNER);

9

"A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar que compreende a psicologia do trabalho, a antropologia e a sociologia do trabalho. O alvo prático da Ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos utensílios, das máquinas, dos horários e do meio ambiente às exigências do Homem. A realização dos seus alvos a nível industrial, dá lugar a uma facilitação do trabalho e a um aumento do rendimento do esforço humano" (GRANDJEAN);

"A Ergonomia é uma disciplina científica que estuda o funcionamento do

homem em actividade profissional" (A. LAVILLE); "A Ergonomia é uma tecnologia que agrupa e organiza os conhecimentos de

modo a torná-los úteis para a concepção dos meios de trabalho" (A. LAVILLE); "A Ergonomia é uma arte quando trata de aplicar os conhecimentos para a

transformação de uma realidade existente ou para a concepção de uma realidade futura" (A. LAVILLE);

"A Ergonomia é entendida como o domínio científico e tecnológico

interdisciplinar que se ocupa da optimização das condições de trabalho visando de forma integrada, a saúde e o bem estar do trabalhador e o aumento da produtividade" (Departamento de Ergonomia da Faculdade de Motricidade Humana).

Conceituadas Organizações internacionais também definem Ergonomia, como podemos ver abaixo:

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE: "A Ergonomia é uma ciência que visa o máximo rendimento, reduzindo os riscos do erro humano ao mínimo, ao mesmo tempo que trata de diminuir, dentro do possível, os perigos para o trabalhador. Estas funções são realizadas com a ajuda de métodos científicos e tendo em conta, simultaneamente, as possibilidades e as limitações humanas devido à anatomia, fisiologia e psicologia".

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE TRABALHO: "A Ergonomia consiste na aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto com as ciências de engenharia, para alcançar a adaptação do homem com o seu trabalho medindo-se os seus efeitos em torno da eficiência e do bem estar para o Homem".

3 – CORRENTES DE ERGONOMIA

Os estudos da ergonomia, nos últimos 30 anos, permitem classificá-la em duas principais correntes:

a) primeira corrente, a mais antiga, a Anglo-Saxónica considera a Ergonomia como a utilização de algumas ciências para melhorar as condições de trabalho humano. A título de exemplo, a Anatomia e a Fisiologia permitem conceber assentos, écrans e horários mais adaptados ao organismo humano e a Psicologia permite, por exemplo, uma melhor apresentação das informações. Esta corrente orienta a Ergonomia para a concepção de dispositivos técnicos (máquinas, utensílios, postos de trabalho, ecrãs, impressoras, programas, etc.);

b) a segunda corrente, a mais recente, a Europeia, considera a Ergonomia como o estudo específico do trabalho humano com vista a melhorá-lo. Sem querer pretender constituir uma "Ciência do Trabalho", completamente autónoma, a Ergonomia reivindica, no

10

entanto, a autonomia dos seus métodos. Nesta perspectiva, a Ergonomia preocupar-se-á menos com o assento ou com o ecrã isolado do que com o conjunto da situação de trabalho e do trabalhador em questão. Nesta perspectiva, a sua fadiga e os seus erros só podem ser realmente explicados e minorados se a sua tarefa particular e a forma como ela é realizada (a sua atividade) forem analisadas pormenorizadamente nos seus locais específicos. A

Ergonomia está, pois, nesta corrente orientada essencialmente para a organização do trabalho, levantando questões como, por exemplo:

Quem faz? O que faz? Como faz? Como poderia fazer? Etc.

Resumindo, podemos dizer que a Corrente Americana centra-se sobre o fator humano, considerando o Homem como um componente do sistema de trabalho e que a Corrente Europeia centra-se sobre a atividade humana, considerando o Homem como um ator do sistema de trabalho.

Com relação ao objeto de intervenção ergonômica, podemos ter: a ergonomia de produção e a ergonomia do produto.

A Ergonomia da Produção está direcionada para a procura das condições de trabalho adequadas, em termos organizacionais, de posto e ambiente de trabalho, adaptados às características e capacidades dos trabalhadores.

A Ergonomia do Produto centra-se na área de estudos e pesquisas, colaborando com o setor comercial, em estudos de mercado; com o setor de produção, na avaliação dos custos da produção e na definição da sua finalidade; e com outros setores da concepção do produto, desde o "design" ao controlo da qualidade.

Quanto ao objetivo de ergonomia, temos a ergonomia de concepção e a ergonomia de correção.

A Ergonomia de Concepção permite agir desde a fase inicial, sobre um produto ou posto de trabalho, criando condições de trabalho adaptadas e perspectivadas no sentido da eficácia, da segurança e do conforto.

A Ergonomia de Correção dá resposta às inadaptações, que se traduzem por problemas na segurança e no conforto dos trabalhadores, ou na qualidade e quantidade da produção.

4 - ANÁLISE ERGONÔMICA E INTERVENÇÃO ERGONÔMICA

Distinguimos na prática da Ergonomia duas fases: uma primeira, chamada de Análise Ergonômica e, a segunda, denominada de Intervenção Ergonômica, entendendo-se que:

1. Análise Ergonómica consiste na identificação e compreensão das relações existentes entre as condições organizacionais técnicas, sociais e humanas que determinam a atividade de trabalho e os efeitos desta sobre o operador e o sistema produtivo.

11

2. Intervenção Ergonómica consiste na operacionaIização de planos de ação resultantes da análise ergonómica. Pode situar-se a diferentes domínios de atuação: concepção e/ou reformulação, formação profissional, higiene, segurança e saúde ocupacional.

Concepção ou Reformulação

Um dos domínios em que se poderá centrar a Intervenção Ergonómica é na Concepção ou Reformulação de situações de trabalho, como seja:

Fornecendo informações sobre novos cenários da atividade de trabalho; Participando na concepção de produtos, serviços e/ou sistemas produtivos ao

nível: Forma, dimensão, disposição, acessibilidade, funcionalidade e inteligibilidade; Dos suportes informacionais e respectivos fluxos de informação. Otimizando, sob o ponto de vista ergonómico, a interface operador/sistema

técnico; Desenvolvendo e implementando as especificações ergonómicas nos

produtos e/ou serviços, tendo em vista a satisfação das necessidades dos utilizadores/clientes alvo;

Colaborando na implementação de novas formas de organização do trabalho.

Formação Profissional

Outro nível de Intervenção Ergonómica, e não menos importante, é a Formação Profissional. Neste domínio, a Intervenção Ergonómica visa desenvolver, implementar e avaliar programas de formação centrados:

na compreensão do funcionamento do sistema sócio-técnico; na utilização segura e eficiente dos materiais, ferramentas e máquinas; na adaptação à utilização de novas tecnologias; na adaptação aos postos de trabalho dos colaboradores com "handicaps" ou

dificuldades;

Ainda neste domínio, promove ações de formação visando à sensibilidade para a Análise e Intervenção Ergonómicas.

Higiene, Segurança e Saúde Ocupacional

Tendo por base toda a avaliação realizada, quer sobre as variáveis que influenciam a situação de trabalho e do correspondente impacto na Saúde e Bem-Estar do trabalhador, quer sobre a própria Actividade de Trabalho, no domínio da Higiene, Segurança e Saúde Ocupacional, a Intervenção Ergonómica visa:

desenvolver estratégias de melhoria das condições de trabalho; definir e divulgar critérios e acções para o desenvolvimento da educação

sanitária e de uma atitude de prevenção; promover a aplicação de normas relativas à higiene, segurança e saúde

ocupacional;

12

projetar alterações tendentes a melhorar o funcionamento do sistema organizacional no âmbito da higiene, segurança e saúde ocupacional.

Na ergonomia, é necessário:

Compreender o trabalho, entendido como expressão da atividade humana, ou seja, como algo que põe em jogo capacidades físicas, psicológicas, de competência, de experiência.

Transformar o trabalho, a partir da concepção de um projeto centrado sobre o Homem no Trabalho, com vista a proporcionar-lhe conforto, segurança e bem estar mas, ao mesmo tempo, favorecer a eficácia e a produtividade.

É importante entender o que é Análise do Trabalho, cuja tarefa não é nada fácil. Uma reflexão sobre a análise do trabalho não deve fazer-se sem uma atenção especial sobre o entendimento do objeto desta análise - o trabalho.

O conceito de trabalho assume pontos de vista diferentes, dentro e fora da empresa.

O economista falará do resultado do trabalho em termos do valor produzido. O sociólogo verá no trabalho, as normas e os valores sociais e concentrar-se-á nas relações entre os operadores. O representante sindical reportar-se-á a "uma situação vivida", global, donde emergem as necessidades dos trabalhadores.

Assim, o termo "trabalho" designa, quer o resultado de uma ação, quer as condições de realização, quer ainda, a função ou a atividade do operador que a realiza, e neste sentido, admite-se que existam traços típicos de análise do trabalho, bem como, modalidades várias.

Sendo objetivo da Ergonomia, conceber situações de trabalho adaptadas às características dos operadores, ao trabalho que lhe é confiado e às condições em que o trabalho é realizado, a análise ergonómica do trabalho tem como objeto, o estudo das exigências e das condições de trabalho, das atitudes e das sequências operatórias que emergem quando da realização de uma determinada tarefa.

A análise psicológica visa, essencialmente, analisar os mecanismos da atividade (preceptivos, sensório-motores e cognitivos) presentes na situação de trabalho, enquanto a análise ergonómica visa analisar a situação de trabalho no sentido de transformá-la, sendo a Psicologia uma das suas dimensões, mas não, necessariamente, a principal.

A análise ergonómica, ao procurar dar resposta a questões fundamentais, como "qual o trabalho a executar?", "como é que o operador executa o trabalho?", afasta-se da análise tradicional do trabalho, dado que esta se limita a enumerar o que o operador deveria fazer e não o que o operador faz, isto é, considera apenas o trabalho prescrito e não o trabalho real, podendo esta diferença ser essencial para a transformação de uma determinada situação de trabalho.

13

A análise ergonómica reside, então, numa análise realista do trabalho, efetuada momento a momento sobre o terreno, partindo das exigências do trabalho, sendo esta, a única forma de melhorar as verdadeiras causas de desadaptação, nomeadamente, da carga de trabalho suportada pelo indivíduo. Este tipo de análise distingue-se das que só consideram os dados relativos ao trabalho prescrito e dos que contemplam apenas as declarações dos agentes do trabalho.

Uma análise ergonómica do trabalho não poderá, de modo algum, restringir-se a estes dados, mas integrá-los numa análise mais ampla da atividade. É neste sentido que falamos em Análise do Trabalho, como Método de Análise Ergonómica do Trabalho.

Atualmente, diz-se que a Análise do Trabalho caracteriza a Ergonomia, porque constitui uma etapa indispensável para todo o estudo ergonómico e toda a intervenção ergonómica. Segundo alguns autores, a Análise do Trabalho confronta uma dupla perspectiva, a do "que" e a do "como". Refere ainda que, considerando a evolução da organização do trabalho importa ainda saber, "quem faz?" e "quem faz o quê?". Diz-nos que a Análise do Trabalho se fixa sobre duas abordagens complementares: a da Tarefa e a da Atividade.

Tarefa indica o que é para fazer; evoca a ideia de obrigação: "um objetivo a alcançar em condições determinadas"; é o trabalho prescrito.

Atividade indica o que realmente é feito por um operador para executar uma tarefa precisa num dado momento. A atividade reporta-se, portanto, às condutas, aos processos operatórios do indivíduo, ou seja, ao trabalho real.

Entre uma e outra há, invariavelmente, diferenças por vezes profundas e que são reveladas pela análise da atividade. Mas porque a primeira condiciona a segunda, a análise da diferença torna-se extremamente importante.

Podemos sintetizar dizendo que a Análise do Trabalho comporta sempre, em paralelo: uma descrição da tarefa e uma descrição da atividade.

As atividades de trabalho humanas permitem identificar, descrever e quantificar os comportamentos observáveis, nomeando:

ações exercidas diretamente sobre o objeto de trabalho e/ou dispositivos técnicos;

a comunicação interpessoal; os deslocamentos no envolvimento de trabalho; a recolha de informação diretamente sobre o objeto de trabalho

e/ou dispositivos técnicos; as posturas de trabalho.

5 – ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS NA SAÚDE OCUPACIONAL – ESTRESSE

A ergonomia se preocupa com a qualidade de vida total do indivíduo, visa preservar sua saúde psicofisiológica, promover segurança, conforto e eficiência.

14

Parte do princípio de que todo ser humano é único, ou seja, não se pode separar o corpo físico do corpo psíquico, pois eles estão, a todo momento, interagindo. Embora a ergonomia trate cada ser humano desta forma, é frequente presenciar nas empresas uma luta maior pela melhora física e não da organização do trabalho.

Hoje é sabido que todo trabalho possui dois componentes: o físico, que é realizado através da utilização dos mecanismos fisiológicos musculares e o mental (cognitivo e psíquico) que, através também de mecanismo próprio, trata as informações.

Os componentes não se separam, a carga é que se divide. Há alguns anos atrás o componente físico era o mais presente no trabalho, o que associava a ideia de penosidade e falta de conforto; atualmente este quadro se modifica e a atividade mental em algumas atividades predomina cada vez mais, mas a ilusão de que esta forma de trabalho tornaria extinto o sofrimento durou pouco. A visibilidade do estresse psíquico é diferente da do físico e surge pela insuficiência de recursos interiores para enfrentar algo vivido como ameaça. Estresse é o conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige um esforço para adaptação.

Preservar a saúde mental do trabalhador se tornou, então, grande desafio para a

ergonomia, pois a carga mental é a mais complexa. A carga mental é subdividida em carga cognitiva, psíquica e emotiva. As exigências cognitivas das tarefas se referem ao conhecimento e à compreensão através do uso da inteligência.

A inteligência é a capacidade de atingir objetivos diante de obstáculos por meio de decisões baseadas em regras racionais. É a organização do trabalho que passa pelo psíquico impondo modos de funcionamento de acordo com a exigência da tarefa.

Fatores socioculturais, herança sociocultural e fatores individuais como idade,

sexo, saúde momentânea, capacidade psicomotora, capacidade sensorial, capacidade intelectual, nível de instrução, experiências anteriores, aprendizagem etc. devem ser considerados de acordo com a exigência cognitiva da atividade.

15

Nota-se que esta falta de aproximação, sem espaço para negociações, restringe as tarefas, tornando-as monótonas, criando impasses psicopatológicos permanentes, os trabalhadores se transformam em autômatos, levando a um bloqueio no prazer de trabalhar e gerando frustrações. O ideal é respeitar o perfil do trabalhador e harmonizar o trabalho com as características fundamentais de sua personalidade.

Fatores ambientais podem agravar ainda mais estes problemas. O ruído

causa uma diminuição de atenção, rapidez e destreza; iluminação inadequada altera as velocidades de certas funções psíquicas; temperaturas muito altas ou muito baixas também diminuem o nível de vigília, comprometendo a atenção. Possivelmente por esta razão seja tão comum verificar-se que o trabalho prescrito (como a empresa diz que deve ser feito) esteja distante do trabalho real (como é executado pelo funcionário).

Uma das funções da ergonomia é fazer com que esta distância entre os dois

tipos seja a menor possível. A carga psíquica diz respeito à maneira como o indivíduo lida com as situações de seu dia a dia diante de seu principal instinto de preservação de vida que é “fugir ou enfrentar”. Como na vida laboral a grande maioria das situações obriga que o indivíduo as “enfrente”, embora seu instinto de preservação lhe diga para “fugir”, este acaba por se desgastar. Tal desgaste se reflete num desequilíbrio que se traduz em carga psíquica, podendo levar a consequências sérias e indesejáveis.

A carga emocional está ligada ao sentimento, reflete como se sente o

indivíduo ao lidar com seu trabalho. É extremamente subjetiva, pois cada indivíduo reage de maneira diferente a cada situação. Ocorrências que para alguns podem ser extremamente penosas ou alegres, para outros podem ter conotações diferentes. Portanto, cada indivíduo “sente” a carga emocional de modo peculiar e próprio.

Podem vir a ocorrer somatizações que são transformações dos conflitos e

tensões psicológicas em alterações e enfermidades orgânicas. Diz a medicina psicossomática que várias doenças podem ser atribuídas a efeitos crônicos da excessiva ativação em pessoas expostas a riscos psicossociais, sobretudo aqueles vinculados ao trabalho. È quando o estresse passa a ser chamado de distresse. O corpo acaba por se transformar na vítima da situação para que se possa cumprir o restante. Dores de cabeça podem ser geradas pela dificuldade e bloqueios da expressão corporal e emocional.

Tem-se que tensões mais excessivas geradas pela responsabilidade e o

perigo eminente de acidentes e risco de vida podem se transformar também em lombalgias. Ocorre então a síndrome de adaptação geral que é o conjunto de respostas específicas que o organismo apresenta ao receber um estímulo que ameace sua homeostase (manutenção do equilíbrio interno estável, apesar das alterações exteriores).

Se o indivíduo consegue alcançar a adaptação, volta ao seu equilíbrio. O ideal

é que o indivíduo consiga nivelar estes sentimentos para que a equipe trabalhe coesa, atingindo assim seus objetivos comuns e preservando a saúde mental de cada um e do grupo. Como cada um sente à sua maneira cada situação, a equipe

16

passa a se autorregular, assim buscando o equilíbrio. Indivíduos que são menos sensíveis a determinadas situações vão suprindo o desequilíbrio causado pela sensibilidade maior dos outros que serão supridos quando em outras situações se sentirem sensíveis.

Quanto maior o grau de intimidade, cumplicidade, sentimento de ajuda mútua,

de equipe, mais fácil se tornará este mecanismo de equilíbrio. O comprometimento da empresa em sanar suas defasagens também é fundamental. Apenas a ação conjunta pode levar ao sucesso na prevenção. Sempre foi alertado pela ergonomia que todo trabalho realizado em condições incorretas causa doenças, encurta a vida e pode até matar.

6 – MECANISMOS DE DEFESA QUE PODEM LEVAR ÀS SOMATIZAÇÕES

Em algumas situações de nosso dia a dia, assim como no trabalho, nossos instintos (sempre presentes) utilizam-se com mais intensidade de alguns mecanismos de defesa que podem, caso não sejam equilibrados em determinado tempo, levar a distúrbios físicos e psíquicos.

Somatizações são transformações dos conflitos e tensões psicológicas em alterações e enfermidades orgânicas. Várias doenças podem ser atribuídas a efeitos crônicos da excessiva ativação em pessoas expostas a riscos psicossociais, sobretudo aqueles vinculados ao trabalho. Medo, preocupação, insegurança, estresse, ansiedade e outros, podem provocar doenças físicas, porém, a "cura" também deverá ser psicológica.

Medo - Esta é a resposta que a natureza nos deu para garantir que

ficássemos afastados do perigo. O medo é uma emoção desagradável que experimentamos quando somos ameaçados. Os humanos desenvolveram a capacidade de abusar do medo. Preocupação, estresse, ansiedade, apreensão e muitas outras emoções semelhantes são variações da resposta básica representada. Quando a necessidade de fugir, é bloqueada ou evitada por alguma razão, com frequência o medo transforma-se em agressividade.

Ansiedade - É um tipo de “Imobilidade”, o indivíduo não entende direito a

natureza da ameaça. No mundo moderno, a maioria das ameaças é mais de origem psicológica que física. A ansiedade é uma emoção causada por uma ameaça previsível e uma preparação do indivíduo para enfrentar tal ameaça.

Preocupação - A preocupação é gerada pela ansiedade. Temos medo do que

poderia acontecer, em lugar de temer o que realmente está acontecendo. É muito comum se preocupar. Seu significado é o mesmo que se inquietar (perturbar, abalar), recear (temer). Agora, analisemos a palavra: pré = antes, ocupar + tomar posse de, estar na posse de. Portanto, quem se preocupa está antecipando um acontecimento, e como nossa mente é mais tendenciosa ao pessimismo, antecipamos temores. Quem se preocupa demais, em geral é uma pessoa bastante sensível.

Estresse - O estresse é uma espécie de ansiedade que não acaba nunca. O

mecanismo de estresse é uma Síndrome de Adaptação Geral. A mente e o corpo reagem a uma ameaça de uma mesma maneira como reagem ao medo. Porém, se

17

a ameaça não some, a reação permanece. Resistência, estado de ansiedade contínua, a resposta física do corpo é o cansaço gradativo até chegar à exaustão, levando a colapso físico ou mental, estado de ansiedade aguda ou de uma doença depressiva.

Culpa - Ocorre após o final de um dado acontecimento, onde achamos que agimos de maneira não adequada. Profundos sentimentos de culpa são sintomas similares aos de uma severa ansiedade. Vale ressaltar também que: o medo é resposta de sobrevivência do corpo diante de um perigo imediato; a ansiedade é uma ameaça à qual a pessoa pode dar fim; o estresse é ansiedade e/ou preocupação que não terminam nunca e às quais o corpo reage sem cessar porque a causa não é resolvida.

Quando ocorrem as somatizações, grosso modo, o corpo reagiu a estes

mecanismos de defesa com mudanças fisiológicas. No caso do medo e ansiedade, o corpo volta ao normal quando a ameaça desaparece, sem sofrer danos permanentes. Porém, as consequências da preocupação, do estresse e da culpa, são mais sérias. Colapsos nervosos, as várias mudanças químicas produzidas no corpo durante um longo período de ansiedade podem causar doenças físicas, “doenças induzidas pelo estresse”.

Tudo que foi citado cria condições ideais para aumento das situações de risco

generalizadas e até mesmo surgimento de novas, dentro das atividades laborais. Quando se busca a prevenção, são instaurados todos os mecanismos possíveis e imagináveis, no intuito de evitar tais situações que possam comprometer a saúde psicofisiológica do indivíduo, tanto no seu trabalho como em sua vida.

7 – ERGONOMIA NOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO: VESTIMENTAS

Saúde, conforto, segurança e até mesmo eficiência produtiva estão ligados a um mínimo de cargas fisiológicas. Para que o organismo mantenha sua integridade e obtenha seu máximo desempenho é necessário o conforto térmico. Desta forma fazem-se necessários locais de trabalho com ambiente térmico favorável, onde o ambiente térmico seja considerado neutro ou favorável. O ambiente neutro é considerado assim quando permite que a produção de calor metabólico ou termogênese se equilibre com as perdas de calor sensível (convecção, radiação, condução), com as perdas de calor pela respiração e transpiração, sem que tenha que lutar com o calor, ou com o frio.

18

O equilíbrio térmico é condição de bom funcionamento do corpo humano devido à sua condição homeotérmica. O ser humano precisa manter o cérebro, coração e órgãos internos a uma temperatura de 37 graus C. Qualquer variação em poucos graus pode ser indicador de morte. Os músculos, os membros e, sobretudo a pele permite certas variações. Condições ambientais desfavoráveis ao equilíbrio térmico produzem estresse térmico ao qual o corpo responderá com mecanismos fisiológicos de termorregulação regidos pelo centro de controle térmico situado no hipotálamo. A intensidade de resposta dependerá do que a pessoa sente, conforme o limite superado, conforto, desconforto, dor, etc.

Com relação aos fatores ambientais, o corpo humano, como qualquer corpo

físico, tende igualar sua temperatura com o meio que o rodeia, cedendo ou aceitando calor por convenção, conforme seja a diferença de temperatura entre a pele e o ar. Ocorre o intercâmbio de calor com os objetos que o rodeiam por radiação. A estas formas de intercâmbio de calor deveria se agregar à condução e a evaporação. A primeira é irrelevante, a não ser que haja temperaturas desagradáveis provenientes de manivelas, alavancas, volantes, etc.

A evaporação de suor, que é um mecanismo eficaz para dissipar calor, embora

a sua presença seja um sintoma de desconforto, situação a qual não é desejável se chegar. O movimento do ar tem efeito refrigerador, porém de acordo com a tarefa que se exerce pode se tornar fator de desconforto. Elevados graus de umidade dificultam a evaporação do suor. Em contrapartida, um baixo grau de umidade pode produzir problemas respiratórios.

Com relação aos fatores fisiológicos, o centro de termorregulação situado no

hipotálamo interpreta os sinais procedentes dos nervos sensíveis ao calor colocando em funcionamento, se necessário, uma série de mecanismos. Entre eles está a circulação sanguínea da pele, onde ocorre a dilatação ou constrição dos vasos sanguíneas periféricos, de acordo com a temperatura ambiente quente ou fria, o sangue se situará na pele, não tendo dificuldade de dissipar calor ou estabelecerá uma barreira impedindo a perda de calor.

Também pode ocorrer a sudorese que regula a transpiração.

Com relação à carga de trabalho e calor, a energia doa alimentos consumidos se transforma em trabalho mecânico e, sobretudo em calor. Este último denominado termogênese. O corpo humano mecanicamente pode ser considerado de baixo rendimento. sendo importante se conhecer a carga de trabalho, haja vista que a energia que se vai dissipar estará relacionada a esta carga.

Sensações de conforto e desconforto - A sensação de desconforto é uma resposta do mecanismo biológico de proteção a qualquer perturbação do equilíbrio térmico que leva o indivíduo a colocar roupas e modificar seu ambiente. Esta sensação também é o reflexo dos mecanismos termorreguladores.

Em um ambiente desconfortável, afora a sensação desagradável, existe uma

maior predisposição a se cometer erros, o que acarreta variações das condições de segurança.

A exposição às condições ambientais dos locais de trabalho não deve oferecer risco para a segurança e saúde dos colaboradores. Como raramente as condições ambientais de temperatura são fixas a vestimenta entra como fator de adaptação.

19

Vestimentas como equipamento de proteção - Um dos fatores que propicia a

adaptação do ser humano às diversas condições climáticas é a vestimenta adequada. A vestimenta possui a função de barreira de proteção a agentes climáticos e também em alguns casos físicos. Desta forma, a vestimenta também é considerada como equipamento de proteção individual. pois protege o colaborador, deve proporcionar seu conforto o que influi na sua eficiência. Em nosso país, em termos de vestimentas para o trabalho, ainda estamos pouco desenvolvidos. Utilizam-se modelos padrões que podem ser modernizados levando-se em conta as necessidades de cada tarefa.

A empresa não é obrigada a utilizar uniformes padrões, pode-se junto aos

fabricantes desenvolver-se a vestimenta adequada para cada tarefa, o que é de extremo bom senso se tornar prática. Não basta apenas adquirir uniformes, estes devem ser avaliados em vários quesitos, principalmente no quesito térmico como foi explanado. O tecido é importantíssimo: quando não houver riscos mecânicos, tecidos leves para o verão e mais encorpados para o inverno são ideais. Vivemos em um país de clima quente e a maioria das empresas se depara com o problema de calor ambiente, portanto os tecidos de vestimentas podem contribuir para maior conforto de cada colaborador.

Analisemos mais alguns deles. No quesito de mobilidade, os uniformes apertados dificultam o movimento,

podendo até levar a lesões. Os uniformes devem ser largos, propiciando a amplitude de movimentos e evitando compressões musculares. No caso de camisas, sempre que possível, devem ser substituídas por camisetas de algodão com manga raglã que facilitam os movimentos de ombro e proporcionam conforto térmico. Mais finas e de mangas curtas para dias quentes e mais grossas e de manga comprida nos dias frios.

Há empresas que utilizam as costas da camiseta para mensagens educativas o

que torna cada camiseta um outdoor ambulante altamente eficiente. As cores devem ser adequadas e como já foi dito em artigos anteriores, proporcionam maior conforto visual e influem na carga psicológica. Sempre que possível deve-se utilizar cores agradáveis, tentando sair das cores muito mortas que, por vezes, deprimem o ambiente.

Uniformes bonitos visualmente levam a uma maior autoestima, prazer em

utilizá-los, reforçam a integração entre os colaboradores, entre outros. Em caso de necessidade, faixas luminosas podem ser colocadas aumentando o grau de visualização em relação ao indivíduo. Embora pouco utilizados na atualidade, os macacões proporcionam maior conforto térmico, oferecem maior mobilidade e evitam compressões abdominais geradas pela utilização de cinto, ou o que é muito comum de se ver, por calças apertadas na cintura. Deve-se utilizar o mínimo de botões: eles dificultam a colocação do uniforme, podem enroscar em equipamentos, além de caírem ou quebrarem. O velcro tem se mostrado muito mais eficiente.

20

E, mais uma vez, vale o tão precioso bom senso: a empresa deve fornecer quantidade de troca de vestimenta suficiente para que haja tempo de higienização doméstica, quando for o caso.

Vista-se bem e sinta-se melhor!

8 – MANUTENÇÃO: MOVIMENTAÇÃO E TRANSPORTE DE FERRAMENTAS

De todas as atividades dentro de qualquer empresa, o pessoal de manutenção é o que tem as mais variadas e, frequentemente, inusitadas tarefas. As situações de trabalho exigem inúmeras e também inusitadas exigências posturais, biomecânicas, em alguns casos, muita criatividade e consequentemente maior risco de acidentes físicos e ergonômicos. Neste tipo de atividade, posturas das mais variadas são exigidas, havendo sobrecargas constantes para os membros superiores e coluna vertebral com ênfase na região lombar.

Embora os membros inferiores sejam mais resistentes, problemas em

articulações e músculos podem ocorrer. Quando da utilização de bicicletas seguida de subida de escadas, é aumentada a condição de risco principalmente para a articulação dos joelhos. Necessário se faz, em todos os casos, o treinamento periódico para orientação postural e ginástica laboral específica no intuito de minimizar os efeitos negativos gerados pela atividade, além de tornar os locais de trabalho mais racionais no que toca à manutenção.

Determinadas situações podem ser amenizadas para tornar esta atividade

menos penosa. O fornecimento e utilização correta de EPI´s e EPC´s eficientes e próprios para cada situação são primordiais e cabe à empresa estudar cada situação de trabalho para implantá-los com sucesso. Soluções criativas como lanterna em capacetes e presas a determinadas ferramentas podem por fim a muitos problemas.

Enfrentar as intempéries, quando o trabalho é realizado externamente, agrega

condições de desconforto e riscos, em algumas situações, extremas. Dentre as inúmeras tarefas de quem trabalha na manutenção está a movimentação e o transporte de ferramentas até o local do serviço. A tarefa é considerada muito penosa pelos colaboradores desta área.

Dificilmente você vai encontrar alguém que vai fazer manutenção só com uma

chave de fenda na mão e um alicate na outra. Vale lembrar a necessidade premente de que as ferramentas sejam adequadas para o serviço a ser executado e que estejam totalmente preparadas para a função. Carregar e transportar peças ou receptáculos de ferramentas pesadas de difícil agarre são situações comuns.

O carregamento de peso manual em condições de temperatura elevada pode

levar a sintomas similares aos de trabalho pesado sob calor. Caixas, bolsas ou maletas de ferramentas pesadas levam à extrema exigência

física no seu deslocamento, pois, além do peso das ferramentas, há o peso do receptáculo; pior, ainda, quando a caixa é de metal. Os receptáculos com alças incorrem em peso apenas de um lado do corpo, ocasionando pressão nos discos intravertebrais e levando a uma descompensação para a Coluna Vertebral e toda a

21

musculatura envolvida. Além do risco de acidentes (lesões) com os discos intravertebrais ocorre extremo desconforto na movimentação.

Quando o receptáculo exige utilização das mãos para transporte, devido ao

peso, as mãos necessitam de extrema força de agarre, forçando articulação dos dedos, propiciando adormecimentos, dores, desconforto e levando a risco de lesões com o passar do tempo. Neste caso também, o agarre fica ainda mais comprometido com a presença de suor nas mãos em dias de calor ou quando se molham em dias de chuva e carregá-las usando luvas.

Uma boa saída é emborrachar as alças manuais, aumentando assim a

condição de agarre. Melhor ainda é trocar estes tipos de receptáculos por mochilas apropriadas. Como são “estas” mochilas? Cada empresa tem sua necessidade específica neste quesito.

Prefira confeccionar seu modelo específico, não sai caro, sendo mais útil e

funcional que comprar qualquer uma pronta. Ela deve contemplar as necessidades de cada atividade. Você pode ter mais de um modelo: um para cada necessidade. Promova um estudo minucioso de cada atividade para determinar as exigências da mochila, não “esqueça” (isto é tão comum...) de “junto com o futuro usuário” discutir as necessidades e modelos prováveis. Faça um modelo piloto para testes e modificações conforme necessidade.

Seguem algumas sugestões:

ser confeccionada em material impermeável e fluorescente (ou com faixas fluorescentes)

alças almofadadas reguláveis

alça para carregamento manual almofadada

outra alça para ser pendurada

faixa (cinto) abdominal (evita impacto com a Lombar)

abertura lateral (como um livro)

repartições internas para acomodar cada ferramenta

repartições para colocação de EPI´s (às vezes se usa mais de um, como no caso de óculos)

espaço para agasalho, capa de chuva, entre outros

local para garrafa de água

e tudo mais que for necessário...

Havendo distribuição racional do seu conteúdo e de acordo com a necessidade da tarefa, sua utilização minimizará o esforço e riscos gerais. As mãos ficarão livres para apoio e utilização de corrimãos de escadas (se utilizados), aumentando a condição de segurança nos deslocamentos. E... o mais importante: o usuário deve ser treinado nos quesitos posturais e de utilização do equipamento, como sempre, é claro...

Todas as condições de risco citadas se agravam quando o colaborador necessita subir escadas. Neste caso, podem-se utilizar mecanismos mais práticos e seguros posturalmente para que o receptáculo de ferramentas chegue ao seu destino. Quando existem locais muito altos e de manutenção constante a colocação

22

de elevador possibilita, além de menor desgaste postural, a economia de tempo nas operações e o mais importante: a segurança.

Quando não for este o caso, pode-se proceder a içamento ou outros métodos

por meios mecânicos, evitando-se assim o desgaste de se subir escadas com o peso das ferramentas. Os colaboradores das empresas alegam ser comum, detectar-se a falta de ferramenta (s) quando chegam para executar algum trabalho, por não saberem da necessidade desta, ou por puro esquecimento.

Tais ocorrências geram extrema perda de tempo, aborrecimentos, desgaste

físico e comprometem o bom andamento do processo. Em algumas empresas, já implantei um sistema para solucionar o problema: criar um Manual de Procedimentos de Manutenção. O colaborador simplesmente acessará o manual e terá a listagem completa de todas as ferramentas necessárias para cada operação.

Deve-se também gerar um check-list baseado no manual para conferência

dos receptáculos antes de ir para o local de execução dos serviços. Visando total exatidão desta prática, toda vez que for executar serviços, o colaborador, caso constate a necessidade de alguma ferramenta além das usuais, fará um informe para anotação no manual e no check-list. Em alguns casos, os receptáculos já conferidos podem ser lacrados para que não seja retirada nenhuma ferramenta.

Havendo a correta aplicação do processo e colaboração de todos, em pouco

tempo não existirão os citados problemas quanto à falta de ferramentas. Vale a lógica: melhor ter tudo em ordem que perder tempo e ficar irritado procurando ou buscando ferramentas.

9 – SALAS DE DESCOMPRESSÃO: UM OÁSIS NO TRABALHO

Jornadas de trabalho contínuas e estressantes acabam com a produtividade e com o colaborador. Podem gerar grandes problemas de relacionamento entre eles em empresas de qualquer porte. Colaboradores estressados ficam extremamente irritados, têm dificuldade de raciocinar, faltam com maior frequência devido a problemas de saúde e facilmente podem perder o controle.

O que são salas de descompressão? Descomprimir: suprimir ou aliviar a tensão ou a pressão. Nem sempre se trabalha sob tensão ou pressão e, mesmo assim, pausas são necessárias. A meu ver, o nome descompressão dá uma sensação psicológica de extremo sofrimento.

Para mim deveriam se chamar: salas de revitalização. Revitalizar: restituir à vida, dar vida nova. Não fica mais coerente e inspirador? Enquanto o nome “não pega” totalmente, vamos nos referir a elas pelo nome mais conhecido.

Pausas na jornada de trabalho são necessárias e este conceito é mais antigo do que se imagina... Exemplo disto é o fechamento do comércio na hora da sesta nas regiões mediterrâneas de Itália e Espanha. Na China, a sesta (xiu-xi) é compulsória, amparada constitucionalmente. No Japão, as empresas normatizaram os “salões de sesta”. Nos Estados Unidos e Europa, além do cochilo ser considerado

23

saudável, virou um way of life nos ambientes de trabalho. Os benefícios do descanso após o almoço, já foram motivos de estudo pela Nasa, que verificou um aumento considerável de performance do indivíduo quando ocorre o repouso no meio de uma jornada.

Há pouco tempo, o dono de uma lojinha de materiais de construção aqui perto de casa (já idoso) queixou-se de que andava muito cansado. Sugeri que fechasse na hora do almoço e descansasse e assim sua jornada seria menos penosa e as pessoas se acostumariam com isso e viriam comprar em outros horários. Sua reação foi erguer as sobrancelhas e disse: “Nunca pensei nisto, vou tentar...” Tentou e... gostou!

Hoje está lá a plaquinha: ”Fechado para almoço das 12 às 13 h” e ele se diz mais descansado, mais bem humorado e as vendas continuam no mesmo nível. Mas... já se foi mais adiante: além do descanso após o almoço, pausas periódicas levam a uma maior produtividade e menor desgaste do colaborador, além de ser ferramenta poderosa na prevenção de Doenças Ocupacionais.

Aqui no Brasil ainda, (por incrível que pareça) algumas empresas se utilizam da antiga frase: “Ele tá aqui pra trabalhar, pra descansar... que descanse em casa!”. Isto, felizmente, já está mudando, principalmente com a filosofia das multinacionais utilizando-se das salas de descompressão. As salas de descompressão chegaram ao Brasil através de empresas dos Estados Unidos, Japão, Europa e China. Nesses ambientes, o colaborador relaxa e se descontrai, voltando ao trabalho revigorado.

O ambiente proporciona descanso físico e mental que proporcionam, entre outras coisas, o aumento da criatividade e da produtividade. Os ambientes podem ser unicamente para o descanso, ou setorizados, de acordo com a necessidade e o porte da empresa, oferecendo TV, revistas, livros, net, sala de jogos, espaço para hobbies, música, café... Há ainda os mais incrementados, com poltronas de relaxamento, redes, massagem - em alguns casos, os funcionários são treinados a desenvolver técnicas de relaxamento, respiração e automassagem ou existem profissionais à disposição para isto. Nestes ambientes ocorre naturalmente a integração da equipe.

Adoro as que têm aquários. Ficar vendo os peixinhos nadando: relaxa que só! Algumas empresas (muitas agências de publicidade) têm pets comunitários (cachorros, gatos etc.), todo mundo cuida, todo mundo relaxa e se diverte, principalmente os pets! Não há regras definidas: a sala deve proporcionar o que os colaboradores necessitam.

A pesquisa mais recente da Organização Internacional do Trabalho, que data de 2006, mostra que os profissionais brasileiros ficam em média 43,9 horas por semana nas empresas. Para quem cumpre expediente de segunda a sexta-feira, seria o equivalente a trabalhar quase nove horas por dia. Em 2000, a carga semanal era de 42 horas. Está provado que é necessário um espaço na empresa para revitalizar os colaboradores. E, isto não é só para o pessoal de escritório, o pessoal do “chão de fábrica” também necessita disto. A ideia está começando a se proliferar.

24

Onde já existem, são um grande sucesso, pois, sem dúvida, trazem qualidade de vida para o trabalho. Algumas empresas dizem ser um Investimento na Saúde Coorporativa, com o que concordo plenamente. Já é sabido: “Promover o bem-estar dos empregados é função da empresa”. Esta é uma maneira. Então: mãos à obra! Comece a planejar a Sala de Revitalização de sua empresa, antes que seja tarde! Ergonomia: preservando o ser humano para torná-lo mais feliz.

10 – HARMONIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS

O que nunca deve ser esquecido é que, ao final, somos donos de nosso próprio destino, podemos escolher entre uma vida agradável ou fazer dela uma tortura, apenas mudando nossa maneira de encarar a vida.

A mim, não me importa se o ser humano que encontro numa empresa é o

presidente ou a faxineira, para mim todos são apenas e totalmente seres humanos que merecem ser tratados da mesma maneira, com o mesmo respeito, o mesmo carinho e a mesma consideração, será que estou tão errada assim?

Quer uma prova disto? Por que quando encontramos pessoas de cargo mais

elevado que nos tratam bem (como simplesmente deve ser feito) nos espantamos e dizemos: “Pô, seu fulano, é muito gente!”?

Isto porque temos o conceito que nos foi imposto erroneamente pela

sociedade de que quem está mais alto na hierarquia tem o direito de humilhar quem está abaixo. Por sorte muitos que estão acima não acreditam nisso e... por azar... a grande maioria, ainda acredita nisto!

Que diferença trabalhar em uma empresa em que os “grandões” vêm para o

chão de fábrica para perguntar: “Você está bem?” Será que a produtividade a harmonia dentro destas empresas acontece simplesmente por acaso?

É muito comum encontrar pessoas no ambiente de trabalho que fazem de sua

atividade a missão única de ganhar dinheiro. Quantas vezes você já não ouviu de algum companheiro de trabalho: - Pagando o meu no fim do mês... a empresa que se... (aqui você completa como achar melhor). É nítido que este companheiro não está engajado no grupo: Não basta ser funcionário, tem que participar! Sentir-se parte do grupo como alguém necessário e produtivo. Sentir que a empresa também é um pouquinho dele.

A empresa também tem uma grande responsabilidade nesse processo,

quando seleciona o pessoal, quando seleciona quem vai ser o Líder - Chefe não - nas condições de trabalho oferecidas, no treinamento e capacitação entre muitos outros aspectos, não se esquecendo do primordial: reconhecer que o elemento humano é valioso e quase sempre imprescindível.

Para tudo sempre diz: - Que maravilha, dá prá fazer fácil! , ou ainda – Xá

comigo ! O que vale lembrar é que o que se busca sempre é o bom senso, o equilíbrio

que nos leva ao Ambiente Psíquico Laboral ideal: a Harmonia que tem o significado

25

de: disposição bem ordenada entre as partes de um todo, ordem, simetria, paz e amizade entre pessoas. A busca da harmonia não está só nas relações pessoais, mas no ambiente de trabalho como um todo, ou seja, Organização do Trabalho, nos Métodos de Trabalho, na Ambiência, nos Postos de trabalho: em tudo. Aquele dito popular: “A vida é dura para quem é mole” possui grande sabedoria.

Para mim significa que se não fizer minha parte, fica muito mais difícil. Mesmo

que por vezes não queiram me deixar fazer minha parte, ainda vale o dito, tenho que lutar e enfrentar os obstáculos para conseguir fazer minha parte.

Somos Penta! Grande exemplo da Harmonia das Relações Laborais. Ergonomia analisando futebol? Claro! É uma equipe trabalhando, executando suas tarefas, com o objetivo de criar condições para se obter o produto final: o título! Veja como as narrativas têm tudo a ver com a sua empresa.

Ganhamos a Copa do Mundo: apenas capacidade técnica? Onde estava ela

nas eliminatórias e nos primeiros jogos da Copa? Não vi não, você viu? Todo ser humano possui um potencial nato, mas se ele não for motivado, se não existirem condições para que o potencial aflore, sinto muito: não acontece nada! Foi o que aconteceu inicialmente com a nossa Seleção Canarinho: convocou-se uma grande quantidade de craques, e daí? Se não há a consciência de trabalho em equipe, determinação, o sentir-se importante para o país, de valorizar o companheiro, (porque sem ele não sai jogada e nem gol), de que "eu dependo dele e ele de mim": danou-se!

Ninguém resolve seus problemas mantendo o nível de preocupação e

estresse no limite, além de "acabar dando tudo errado", não há como criar soluções inovadoras e eficazes. O Técnico, (grande Felipão!) mostrou com todas as letras o que é ser Líder e não Chefe. Mostrou que todos têm problemas e que, o que os resolve é a maneira de encará-los. E... "Jogador Chato"? Existe sim, como lidar com o estrelismo de alguns? Como fazer com que muitos deles sobrepujassem a dor física e até históricos de sofrimento?

O Técnico utilizou-se da imagem de "paizão" mesclada com a de professor:

aquele que ensina, ama seus filhos, porém, é rígido quando precisa. Uma associação perfeita de utilização de imagens psíquicas (Análise Transacional) e que deu certo. Será que ele leu meus outros artigos? Pode até ser... Acredito mais que ele tem a capacidade de enxergar o óbvio (não, não se iluda, não é fácil enxergar o óbvio) e usou também a famosa Técnica do BS (Bom Senso).

Ninguém se sentia melhor que ninguém, mas sim, necessário, valorizado e

reconhecido. Existia humildade, que coisa preciosa e rara de se ver....Primeiro lutadores, depois a determinação de competidores para serem, então, vencedores. O Técnico elevou o grau de motivação, o sentir-se útil e importante para a população de toda uma nação, quando pegou aquela fita preparada pela TV mostrando o povo em festa, confiante, vibrando, agradecido pelo resgate de sua autoestima e a do país perante o mundo todo... que divino, um show de liderança!

A fita era mostrada antes do jogo, no vestiário, "os meninos saiam que nem

feras" para o campo. Cadê a fita da sua empresa? Será que cada um de seus colaboradores tem consciência da importância do "parafuso" que fabrica, que sem o

26

"parafuso" muita gente não seria feliz? Que a grandeza de seu país também depende do tal "parafuso" ? Cada vez que saio de uma empresa e vejo o quanto é difícil e, muitas vezes, às custas de quanto sofrimento é fabricado um produto, que eu não dava a devida importância: respeito ainda mais o trabalhador. Já conseguiu perceber que a "Nossa Seleção" é como a "Seleção de Nossa Empresa"?

Todos são selecionados (convocados) por serem os melhores. Repletos de

potenciais diversos, mas... se não usarmos a "tática certa", se o "Técnico" não for competente: "caimos fora do campeonato" e, neste caso, dificilmente percebemos. "Caimos fora", pois não há produtividade, reconhecimento, ficamos doentes, tristes e .... muito, muito frustrados, nós e a empresa. Que tal levar o exemplo da Seleção para sua empresa, acredito piamente que pode dar certo.

Nós somos um país "Penta"! Não só no futebol, mas em muitas outras coisas, vamos nos dar valor e lutar para ser "Hexa" e tudo mais a que temos direito, em todos os setores de nossas vidas. Não esqueça que "o jogo sempre começa empatado". o que "você vai fazer em campo" (suas atitudes) é que pode ou não te levar à vitória. Aqui fica minha homenagem à Seleção Canarinho: uma grande equipe com um grande líder! Obrigada pela alegria com que vocês presentearam a todos nós, que temos orgulho de ser Brasileiros.

11 – MOTIVAÇÃO PARA A LUTA PELA PREVENÇÃO

Todos nós, que estamos direta ou indiretamente ligados à Segurança do Trabalho, somos prevencionistas. Muitas vezes sou indagada sobre como devemos agir, como seriam as Relações Laborais dos prevencionistas, já que é muito comum nossas salas serem "embaixo da escada", temos ainda imagem de que o empresário tem de "nos engolir", porque a lei exige, que se estiver em ordem a documentação não servimos para mais nada, quando não abarcamos funções que não têm nada a ver com nosso cargo... Se você não vivencia tais situações: maravilha! Se vivencia... há momentos que... ai, ai, ai... Mas, como tudo na vida pode ser mudado, e às vezes nos falta um pouco de motivação... Vivenciei esses tempos, uma situação que, creio, pode motivar ainda mais nossa luta pela prevenção. Reflita.

- Ah não ! Prefiro a escada rolante, é mais divertido. - No elevador... dá uma coisa... dizia Eva, num Português invejável, apertando

as mãozinhas miúdas contra o peito. - Parece que o coração vai explodir!

Eva, menininha, oito anos, do interior, de uma cidade do interior de São Paulo, temporariamente à mercê de pessoas de bom coração que resolveram tentar diminuir seu sofrimento, ao menos, por enquanto...

Eva é a filha mais jovem de uma família. Filha de um pai que está na UTI,

lutando desesperadamente por sua vida. Para tristeza de todos, no dia de Natal ele estava trabalhando, foi ver o andamento dos serviços, e caiu dentro de um forno, o restante com certeza, todos nós somos capazes de imaginar. Eva, por sua vez, ainda não sabia de nada, apenas estava fascinada com a cidade grande, descobrir que existiam prédios, que Shopping Center era "uma casa muito grande e cheia de lojas", exultante por saber que existia "carro que tinha ventilador com ar geladinho", incrédula em ver "o tanto de coisas que havia ganhado", em dois dias, de um "monte de pessoas legais", ela achava que aqui na cidade grande "todo mundo era rico, muito bonzinho e gostava de dividir suas coisas".

27

Apenas Eva não sabia o que havia acontecido, o "monte de pessoas legais"

sabia, aí é que a gente se enche de orgulho, de sempre estar constatando que em nosso país as pessoas são extremamente solidárias, não diria que é uma qualidade e sim uma grande virtude.

Em pouco tempo Eva faria uma triste descoberta... que seu pai nunca mais

seria o mesmo, iria "engrossar" as estatísticas da previdência, seria com o tempo apenas mais um acidentado. Nós, prevencionistas, sempre estamos a par das estatísticas, cada vez que "leio" aqueles números, imagino o que eles realmente representam: estádios inteiros de futebol, gente, muita gente, acidentada, sofrendo, quando não, sem vida.

Maior ainda, a quantidade de estádios de futebol, repletos pelos familiares

dessas vítimas, desses de que não existe estatística, e não há como medir também o seu sofrimento. Quando seremos capazes de realmente enxergar que cada acidente traz um número imenso de vítimas, sofrimentos que podem perdurar por toda a existência dessas pessoas, traz necessidades, transforma crianças inocentes em seres humanos marcados por toda a vida?

Muitas vezes me perguntam os prevencionistas: - Que fazer? Ninguém quer nos escutar, acaba cansando... dá vontade de desistir de tudo... Então conto uma estória que sempre me pareceu muito sábia... Todos os dias uma pessoa subia num caixote no meio de uma praça. Enquanto os transeuntes passavam apressados, ia dizendo tudo em que acreditava.

Um belo dia um dos transeuntes lhe perguntou: - Por que você não desiste de

tentar convencer as pessoas? Todos os dias você está ai tentando e... nada. Responde a sábia pessoa do caixote: - Seu eu desistir, foram eles que me convenceram... Jamais me esquecerei de Eva, de seu sorriso na despedida, feliz por tantas descobertas, enquanto eu lhe dizia: - Nunca se esqueça de que sempre vamos estar aqui, de que somos seus amigos, para tudo o que você precisar... A porta se fechou, Eva se foi, para novas descobertas... A todo instante me pergunto, e agora você também, que conhece a estória de Eva perguntará: - Que será de "nossas" pequenas Evas? Agora, com certeza, temos mais um motivo para "não descer do caixote".

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OLIVEIRA, Chrysóstomo Rocha de Oliveira e Colaboradores. Manual Prático de LER – Lesões por Esforços Repetitivos. Editora HEALTH. Brasil – Belo Horizonte – MG. 1997.

BART, P. Ergonomia e Organização do Trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, nº 6, vol. 21, pág. 6-11, 1978.

SANTOS, Neri & FIALHO, Francisco Antônio Pereira. Manual de Análise Ergonômica no Trabalho. Editora Gênesis – Brasil – PR – 1997.

28

DEJOURS, C. A loucura do trabalho. Tradução: A. I. Paraguai e L. Leal. São Paulo: Cortez- Oboré, 5ª ed., 1992.

DUL, J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. Tradução Itiro Iida. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1995.

GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia. Porto Alegre: Bookman, 1998.

LAVILLE, Antoine. Ergonomia. Tradução: Márcia Maria das Neves Teixeira. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1977.

VERDUSSEN, R. Ergonomia: a racionalização humanizada no trabalho. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.

WISNER, Alain. A Inteligência no Trabalho, Textos selecionados de ergonomia. São Paulo: Editora da UNESP, 1994.